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O BAIRRO MORRINHOS E A ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA – ESF: AVALIANDO INDICADORES SOCIAIS RELACIONADOS À ATENÇÃO BÁSICA 1 Yara Maria Soares Costa da Silveira Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES [email protected] Mário Sérgio Costa da Silveira Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Norte de Minas Gerais – IFNMG [email protected] Thaisa Pereira da Silva Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Norte de Minas Gerais – IFNMG [email protected] Resumo: Avaliar alguns indicadores sociais referentes à Atenção Primária na Unidade Básica de Saúde (UBS) do bairro Morrinhos, na cidade de Montes Claros (MG), através dos serviços prestados pela Estratégia Saúde da Família (ESF),bem como suas contribuições, e a satisfação da população atendida, a partir de uma análise comparativa de dados coletados dos usuários que mais utilizam os serviços da UBS-Morrinhos na Área II, Micro-áreasI e III. A metodologia utilizada, de caráter quali-quantitativo, constou em pesquisas bibliográficas, entrevistas não dirigidas e aplicação de questionário semi-estruturado a 25% da população adstrita no território no ano de 2011. Utilizou-se observações nas visitas a campo, análise documental, elaboração de mapas, gráficos e tabelas. O bairro Morrinhos está localizado na região central da cidade de Montes Claros sendo caracterizado como relevo residual com presença de escarpas. A área é totalmente ocupada, inicialmente,como aglomerado subnormal pelo fato das famílias terem baixa renda. O bairro é antigo com grande quantidade de autoconstruções, onde o poder público tem procurado investir no planejamento. Nota-se uma melhoria da saúde da população com a implantação da UBS local a partir de 2006. Conclui- se, com base na pesquisa, que os serviços de saúde ali prestados têm sido bem avaliados e existe satisfação de grande parcela da população. Palavras-chave: Estratégia Saúde da Família, Atenção Primária à Saúde, Satisfação da População. 1 Relatório de Pesquisa – Comunicação Coordenada.

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O BAIRRO MORRINHOS E A ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA – ESF:

AVALIANDO INDICADORES SOCIAIS RELACIONADOS À ATENÇÃ O BÁSICA1

Yara Maria Soares Costa da Silveira Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES

[email protected] Mário Sérgio Costa da Silveira

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Norte de Minas Gerais – IFNMG [email protected]

Thaisa Pereira da Silva Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Norte de Minas Gerais – IFNMG

[email protected]

Resumo: Avaliar alguns indicadores sociais referentes à Atenção Primária na Unidade Básica

de Saúde (UBS) do bairro Morrinhos, na cidade de Montes Claros (MG), através dos serviços

prestados pela Estratégia Saúde da Família (ESF),bem como suas contribuições, e a satisfação

da população atendida, a partir de uma análise comparativa de dados coletados dos usuários

que mais utilizam os serviços da UBS-Morrinhos na Área II, Micro-áreasI e III. A

metodologia utilizada, de caráter quali-quantitativo, constou em pesquisas bibliográficas,

entrevistas não dirigidas e aplicação de questionário semi-estruturado a 25% da população

adstrita no território no ano de 2011. Utilizou-se observações nas visitas a campo, análise

documental, elaboração de mapas, gráficos e tabelas. O bairro Morrinhos está localizado na

região central da cidade de Montes Claros sendo caracterizado como relevo residual com

presença de escarpas. A área é totalmente ocupada, inicialmente,como aglomerado subnormal

pelo fato das famílias terem baixa renda. O bairro é antigo com grande quantidade de

autoconstruções, onde o poder público tem procurado investir no planejamento. Nota-se uma

melhoria da saúde da população com a implantação da UBS local a partir de 2006. Conclui-

se, com base na pesquisa, que os serviços de saúde ali prestados têm sido bem avaliados e

existe satisfação de grande parcela da população.

Palavras-chave: Estratégia Saúde da Família, Atenção Primária à Saúde, Satisfação da

População.

1 Relatório de Pesquisa – Comunicação Coordenada.

Introdução

O conceito de saúde foi considerado sob a óptica biológica como ausência de doenças. Com a

ascensão do capitalismo, globalização e neoliberalismo no terceiro milênio, a sociedade

mundial tornou-se cada vez mais competitiva e produtiva (CORREA, 2000). Tal fato, somado

aos avanços da tecnologia, deixa o homem mais vulnerável aos riscos adicionais relacionados

ao trabalho, saúde e ambiente, fatores que geram desigualdade, exclusão e restrição aos

acessos de bens e serviços indispensáveis a manutenção da vida. Esses evidenciam a

multicausalidade das doenças, em um modelo tecnicista que não foi capaz de solucionar as

necessidades de saúde do mundo contemporâneo, firmando-se principalmente em soluções

que buscam atenuar as falhas do sistema, deixando de lado as análises causais dos mesmos.

Surge daí, a necessidade de reestruturar uma nova forma de enfrentar os problemas

relacionados à saúde. Santos (2008) afirma que:

As concepções modernas de saúde implicam considerá-las em sua positividade, muito além, portanto, de suas consequências imediatas, indicadas negativamente, como doença, sequela ou morte. Saúde é, então, resultado de um processo de produção social que expressa a qualidade de vida de uma população, entendendo-se qualidade de vida como uma condição de existência dos homens no seu viver cotidiano, ‘um viver desimpedido’, um modo de ‘andar a vida’ prazeroso, seja individual, seja coletivamente. (MENDES, 1999, p. 237)

O modelo assistencial da atenção primária, materializada na Estratégia Saúde da Família

(ESF), do Sistema Único de Saúde-SUS, após a Constituição Federal do Brasil de 1988, vem

tentar quebrar o paradigma hegemônico centralizador com o objetivo de reorganizar os

sistemas de saúde no Brasil. Roncolleta (2003,inBESEN, 2007) ressalta que a ESF teve início

em meados de 1993, sendo regulamentada de fato em 1994, como uma estratégia do

Ministério da Saúde-MS para mudar a forma de prestação de assistência, que visava estimular

a implantação de um novo modelo de atenção primária que resolvesse a maior parte (cerca de

85%) dos problemas de saúde do país.

Este programa tem como objetivo priorizar ações de prevenção, promoção e recuperação da

saúde das pessoas de modo contínuo, agindo também na prevenção das doenças. Dentro da

ESF, o acompanhamento dos pacientes é feito através das Unidades Saúde da Família-USF e

também nos domicílios, onde os agentes, juntamente com outros profissionais da saúde,

fazem visitas mensais para acompanhamento dos casos de doenças crônicas como

hipertensão, diabetes, doenças cardíacas, entre outras. Assim, esses profissionais e a

população acabam por criarem vínculos de corresponsabilidade, o que acaba por facilitar a

identificação e o atendimento dos problemas de saúde da comunidade. Roncolleta (2003)

ressalta ainda que é necessária a vinculação dos profissionais com a comunidade, além da

perspectiva de promoção de ações intersetoriais.

A cidade de Montes Claros-MG possui, atualmente, 68 equipes completas da Estratégia de

Saúde da Família, segundo Relatório de Gestão do ano de 2011 da Prefeitura Municipal de

Montes Claros (PMMC). Estes números representam 65% de cobertura da ESF no município

de Montes Claros. Diante do exposto, este trabalho tem como objetivo avaliar alguns

indicadores sociais referentes à Atenção Primária na Unidade Básica de Saúde (UBS) do

bairro Morrinhos, na cidade de Montes Claros (MG), através dos serviços prestados pela

Estratégia Saúde da Família (ESF), bem como suas contribuições e a satisfação da população

atendida, a partir de uma análise comparativa de dados coletados dos usuários que mais

utilizam os serviços da UBS-Morrinhos na Área II, Micro-áreas I e III.

Metodologia

A metodologia utilizada na elaboração deste artigo teve como suporte a pesquisa a campo de

caráter quali-quantitativo. A pesquisa quantitativa utiliza técnicas estatísticas e normalmente

consiste na aplicação de questionários. Neves (1996) afirma que os estudos quantitativos

geralmente procuram seguir um plano previamente estabelecido, dizendo ainda que a pesquisa

quantitativa enumera e mede eventos, utilizando instrumentos estatísticos no momento de

análise dos dados.

Como o objetivo deste trabalho é avaliar alguns indicadores sociais referentes à Atenção

Primária na Unidade Básica de Saúde (UBS) do bairro Morrinhos, na cidade de Montes

Claros (MG), através dos serviços prestados pela Estratégia Saúde da Família (ESF), bem

como suas contribuições e a satisfação da população atendida, foram entrevistadas 39 famílias

da Micro-Área I e 25 famílias da Micro-ÁreaIII, perfazendo 25% do total de famílias de cada

micro, buscando informações necessárias que atendam o objetivo proposto.

Foram, ainda, levados em consideração, os depoimentos obtidos através de comentários dos

moradores pesquisados entre uma pergunta e outra. Os dados secundários coletados pela

Secretaria Municipal de Saúde de Montes Claros mostraram-se imprescindíveis para se

caracterizar as áreas de estudo. Utilizaram-se ainda técnicas de geoprocessamento para a

elaboração de mapas e outro software para processamento dos dados da pesquisa e construção

dos gráficos. As ilustrações aconteceram simultaneamente com a aplicação dos questionários

e entrevistas.

Caracterização da área de estudo, exposição e análise dos dados

O bairro Morrinhos está localizado na área central da cidade de Montes Claros. Nestamacro-

área estãocadastradas 9.751 pessoas na base de dados da USF, sendo subdivididas em três

meso-áreas de abrangência. Cada meso-área é composta por seis micro-áreas sob a

responsabilidade de uma equipe multiprofissional (BORGES, 2007). Os critérios de

classificação das micro-áreas seguem o perfil socioeconômico e sanitário do bairro. A seguir

observa-se o mapa 01 que mostraa localização do bairro no perímetro urbano de Montes

Claros. No mapa 02 visualiza-se a localização do bairro Morrinhos dentro do perímetro

urbano de Montes Claros e a divisão da Meso-Área II em 06 Micro-Áreas.

Mapa 01: Localização do bairro Morrinhos na cidade de Montes Claros - MG.

Fonte:SIST COORDENADAS URM; ZONA 23 DATUM SAD-69; SEPLA, 2005. Org.: Silveira, 2010.

Mapa 01: Localização do bairro Morrinhos e das áreas de atuação do ESF dividida em micro áreas na cidade de Montes Claros. Fonte: Dados da UBS Morrinhos II. Base cartográfica: SEPLA. Org: SILVEIRA, 2010. A partir dos dados coletados verificou-se que as famílias do bairro vivem em boas condições

sanitárias. Sobre a infraestrutura, observou-se que 100% dos pesquisados são abastecidos com

água tratada e rede de esgoto; 94% das famílias utilizam da filtração como a única forma de

tratamento de água em seus domicílios e 6% destas consome a água sem nenhum tratamento.

Verificou-se ainda que 100% dos domicílios se servem da coleta de lixo pública como destino

final dos seus resíduos. No que se refere às residências, observou-se que 100% delas são de

alvenaria e usam energia elétrica. De acordo com os dados do Sistema de Informação Básica -

SIAB (2011), todas as crianças entre sete a quatorze anos frequentam a escola e 90% das

pessoas acima de quinze anos são alfabetizadas.

Na micro-área I estão cadastradas 145 famílias, de acordo com os dados fornecidos pela

Secretaria Municipal de Saúde da Prefeitura de Montes Claros/2011, correspondendo a 43%

do sexo feminino e 57% do sexo masculino, em que a faixa etária com maior quantidade de

indivíduos é a dos adultos, totalizando 59%.

Na micro-áreaIII está cadastrada 100 famílias, de acordo com os dados fornecidos pela

Secretaria Municipal de Saúde da Prefeitura de Montes Claros/2011, correspondendo a 51%

do sexo feminino e 49% do sexo masculino, em que a faixa etária com maior quantidade de

indivíduos é a dos adultos, em torno de 75%. No gráfico 01 visualiza-se a distribuição por

sexo nas micros em estudo e nota-se a grande similaridade entre elas.

Gráfico 01: Distribuição da População por Sexo em cada Micro-Área.Fonte: Silveira, 2011.

Ao analisar os dados coletados a partir da pesquisa de campo realizada, nota-se que, quanto à

escolaridade, a maior parte dos entrevistados não concluiu o ensino fundamental

(aproximadamente 27%), seguido do ensino médio completo (aproximadamente 33%). Uma

parcela considerável dos entrevistados possui ensino superior completo (aproximadamente

20%). As demais modalidades apresentam taxas menores e são elas: não alfabetizado, ensino

fundamental completo, ensino médio incompleto e ensino superior incompleto.

No que se refere aos planos de saúde, verifica-se que a maior parte dos entrevistados não tem

acesso a esse produto. Como se observa no gráfico 02, somente 33% das famílias da Micro I

possui plano de saúde e 10% na Micro III. É importante ressaltar que o Instituto de

Previdência dos Servidores do Estado de Minas Gerais (IPSEMG) e a Sociedade Cooperativa

de Trabalho Médico (UNIMED) são os dois únicos planos citados pelos entrevistados. Foi

observado que os usuários dos planos mencionados possuem um maior nível de escolaridade

e, consequentemente, renda mais elevada permitindo a esses o acesso ao produto já

mencionado; a maior parte destes trabalha em instituições públicas e no comércio. Um dado

considerado relevante é que todos os entrevistados usam os serviços da ESF/UBS local,

entendendo-se que, mesmo para aqueles que têm acesso à saúde privada, o SUS tem

conseguido, mesmo que com deficiências, universalizar e integralizar suas ações.

Gráfico 02: Possui Plano de Saúde? Fonte: Silveira, 2011.

Os serviços oferecidos na UBS-Morrinhos são consultas médicas agendadas, eventuais e de

urgência, consulta de enfermagem, exames preventivos, puericultura2, procedimentos

diversos3, grupos educativos, dentre outros. Dentre esses serviços, os mais utilizados pelos

entrevistados foram: procedimentos diversos, consultas médicas agendas, eventuais e de

urgência, e puericultura. Percebe-se que a família tem priorizado os atendimentos infantis.

Quanto aos grupos educativos, os entrevistados alegam não poderem participar por falta de

tempo. As modalidades mais escolhidas nesta área são os grupos de hipertensão e diabéticos,

terceira idade (com terapias ocupacionais) e das grávidas.

Com relação a satisfação dos usuários quanto aos serviços prestados pela UBS, tem-se uma

análise detalhada visando um melhor entendimento. Nos gráficos 03 e 04 a seguir se visualiza

a opinião dos entrevistados quanto à competência e qualidade técnica da equipe

multiprofissional e ao relacionamento destes com os usuários.

2Ciência médica que se dedica ao estudo dos cuidados com o ser humano em desenvolvimento, mais especificamente com o acompanhamento do desenvolvimento infantil. 3 Os principais procedimentos são aferir pressão arterial, vacinas e curativos.

Gráfico 03: Competência e qualidade técnica da equipe de saúde/ESF. Fonte: Silveira, 2011.

Gráfico 04: Relacionamento dos usuários com a equipe de saúde. Fonte: Silveira, 2011.

No gráfico 03, mais de 80% dos entrevistados consideram boa e excelente a competência e

qualidade técnica da equipe multiprofissional de saúde. É perceptível que os entrevistados da

Micro-ÁreaIII avaliaram melhor a equipe em comparação com a Micro-Área I sendo

justificado pela situação socioeconômica desta micro que possui um relevo mais acidentado e

a presença de famílias com menor renda, umas inclusive carentes. Situação semelhante ocorre

no gráfico 04 que avaliou o relacionamento dos usuários com a equipe de saúde. Nele os

entrevistados da Micro-ÁreaIII avaliaram melhor a equipe do que os da Micro-Área I. É

importante se considerar: 1) que, de forma geral, houve uma boa avaliação do relacionamento

e qualidade da equipe técnica, 2) a população da Micro-ÁreaIII, pelo fato de ter menor renda,

utiliza com mais assiduidade os serviços da UBS desenvolvendo maior proximidade e,

consequentemente, afinidade com os profissionais da saúde envolvidos, 3) a Micro-Área I é a

que possui o maior índice de usuários de planos de saúde.

Ainda com relação à avaliação dos usuários quanto aos serviços prestados pela UBS, os

gráficos 05, 06, 07 e 08 resultam dessa temática. O gráfico 05 avalia o trabalho prestado pelo

Agente Comunitário de Saúde (ACS), onde se observa que os entrevistados avaliam como

excelente e bom. Esse fato está atrelado à frequência e desenvolvimento de afinidade do ACS

com os usuários através das visitas frequentes passando a ter a amizade e confiança das

famílias. Além disso, são profissionais oriundos do bairro e conhecidos por todos.

Já o gráfico 06 retrata a opinião dos entrevistados quanto aos esclarecimentos dados pela

equipe da UBS. A maior parte desses esclarecimentos são prestados pelo enfermeiro, pelos

técnicos em enfermagem e pelos ACS’s. Observa-se que nas duas micros houve uma piora da

avaliação dos profissionais quando comparado com os gráficos já analisados. Isso pode ser

explicado pela falta de treinamento da equipe de saúde e baixa escolaridade de parte dos

entrevistados.

Gráfico 05: Trabalho realizado pelo Agente Comunitário de Saúde. Fonte: Silveira, 2011.

Gráfico 06: Esclarecimentos oferecidos pelos profissionais da UBS. Fonte: Silveira, 2011.

Quanto a avaliação dos serviços prestados pelo enfermeiro e pelos técnicos em enfermagem,

observa-se ainda que a populaçãoaferiu boas notas, onde se percebe que, com relação ao

atendimento do enfermeiro, na Micro-área I, a maioria dos entrevistados (79%) considerara o

serviço bom, como mostra o gráfico 07 abaixo. Já na Micro-áreaIIIvisualiza-se uma redução

das notas para os serviços avaliados onde 40% dos entrevistados os consideraram bons, 30%

consideraram excelente e 30% regular. Quando se compara com as notas recebidas pelos

técnicos em enfermagem percebe-se que não houve grande alteração já que, na Micro-área I,

ainda continua como bom o conceito para a maioria dos entrevistados (86%), como mostra o

gráfico 08.

Na Micro-áreaIII vê-se uma pequena alteração,visto que 60% dos entrevistados consideraram

os serviços como excelente, 30% como bom e somente 10% como regular. Essa variação

poder ser explicada pela falta de treinamento da equipe, como já referido anteriormente. Pode-

se inferir também que este resultado esteja atrelado ao nível de escolaridade da população de

cada uma das micros. Na Micro I, que avaliou melhor os serviços, nota-se um maior nível de

escolaridade que trás como consequência melhor entendimento dos procedimentos realizados

pelos técnicos, fato que interferiu nos dados da avaliação da Micro III.

Considerações Finais

A proposta do ESF busca compreender a família em seu próprio espaço social, através de

ferramentas do campo da promoção de saúde, para a construção de ambientes familiares mais

saudáveis, compreendendo seus contextos socioeconômicos, culturais e psicológicos. A

Unidade Básica de Saúde da Família (UBS) é considerada a porta de entrada para o acesso da

atenção primária, devendo ela estar integrada a outros serviços de diferentes níveis

decomplexidade, formando assim, um conjunto complementar que garanta o acessoaos

Gráfico 07: Atendimento por parte do enfermeiro. Fonte: Silveira, 2011.

Gráfico 08: Atendimento por parte dos Técnicos em Enfermagem. Fonte: Silveira, 2011.

serviços de saúde disponibilizados e permita que os pacientes sejam acompanhados

continuamente (BRASIL, 2001).

Entende-se que verificar quais as contribuições percebidas pela comunidade na melhoria da

saúde através dos serviços prestados pela ESF, como porta de entrada do Sistema Único de

Saúde (SUS), através de um novo modelo de atenção primária é decisório na melhoria das

ações desenvolvidas pelos gestores municipais responsáveis pelos serviços.

Dentre os aspectos avaliados é possível inferir que três fatores influenciaram nos resultados

da pesquisa sendo: 1) treinamento da equipe técnica da UBS, 2) nível de escolaridade das

famílias, e 3) renda familiar. Esses fatores demonstram que quanto maior o nível de

escolaridade, melhor foi a avaliação dos serviços prestados, especialmente com relação

aqueles prestados pelos enfermeiros e técnicos em enfermagem. A utilização dos serviços da

UBS é de grande significância para as famílias entrevistadas visto que todas utilizam mesmo

aquelas que possuem plano de saúde particular. O treinamento da equipe da UBS é importante

quando se pensa no atendimento à população, em especial, dos AGS’s, pois esses são os que

mais lidam com o dia-a-dia das famílias, conhecendo as particularidades do território.

Durante o período de realização da pesquisa de campo, percebeu-se que a ciência geográfica

está diretamente inserida no planejamento das ações do SUS/ESF, visto que, como ciência

que tem por base o estudo do espaço, muito tem a contribuir para o aprimoramento do

Sistema SUS. A geografia, em seus fundamentos, e seus partícipes buscam espaço definido

para colaborar com o trabalho de Atenção Primária à Saúde dentro dos princípios de

universalidade, equidade e integralização.

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