o aparecimento dos valentÃoes nos vilarejos do sertÃo em.doc

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O APARECIMENTO DOS VALENTÕES NOS VILAREJOS DO SERTÃO EM “CORPO FECHADO” DE GUIMARÃES ROSA Rochelle Mª Fernades Marques Escrito pelo o maior escritor brasileiro João Guimarães Rosa, Corpo Fechado é o sétimo conto que contém no livro pós-moderno Sagarana publicado em 1946, romance inaugural da obra ficcional; este é um dos contos onde se mostra o universo primitivo e fantástico do autor. João Guimarães Rosa nasceu em Cordisburgo, aos 27 de junho de 1908. Foi também médico e diplomata. Sua profissão como médico no interior de Minas Gerais lhe possibilitou conhecer um universo que mais tarde foi representado em sua obra. É conhecido pela sua linguagem revolucionária, com linguajar sertanejo mais recursos estilísticos, o regionalismo universalista onde é possível perceber a fala carregada de regionalismo, uma linguagem do povo. É essa característica marcante em seus livros, a recriação da linguagem colocando o falar popular e a vida nos seus escritos. Antes de partirmos para as análises propriamente ditas, iremos primeiro esboçar um rápido resumo sobre o enredo do conto. Corpo fechado conta a história de Manuel Fulô, um prosador bêbado metido a valente, amigo do médico do arraial onde vive, chamado Laginha. A narrativa conta a trajetória de Manuel Fulô desde seu deslumbramento pelos causos de famosos valentões até sua própria tomada do posto de valentão da região,

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Page 1: O APARECIMENTO DOS VALENTÃOES NOS VILAREJOS DO SERTÃO EM.doc

O APARECIMENTO DOS VALENTÕES NOS VILAREJOS DO SERTÃO EM “CORPO FECHADO” DE GUIMARÃES ROSA

Rochelle Mª Fernades Marques

Escrito pelo o maior escritor brasileiro João Guimarães Rosa, Corpo

Fechado é o sétimo conto que contém no livro pós-moderno Sagarana publicado em

1946, romance inaugural da obra ficcional; este é um dos contos onde se mostra o

universo primitivo e fantástico do autor.

João Guimarães Rosa nasceu em Cordisburgo, aos 27 de junho de 1908.

Foi também médico e diplomata. Sua profissão como médico no interior de Minas

Gerais lhe possibilitou conhecer um universo que mais tarde foi representado em sua

obra. É conhecido pela sua linguagem revolucionária, com linguajar sertanejo mais

recursos estilísticos, o regionalismo universalista onde é possível perceber a fala

carregada de regionalismo, uma linguagem do povo. É essa característica marcante em

seus livros, a recriação da linguagem colocando o falar popular e a vida nos seus

escritos.

Antes de partirmos para as análises propriamente ditas, iremos primeiro esboçar

um rápido resumo sobre o enredo do conto. Corpo fechado conta a história de Manuel Fulô,

um prosador bêbado metido a valente, amigo do médico do arraial onde vive, chamado

Laginha. A narrativa conta a trajetória de Manuel Fulô desde seu deslumbramento pelos

causos de famosos valentões até sua própria tomada do posto de valentão da região, que é

lograda por meio de um duelo entre o atual homem mais brabo da região e Manuel. O

protagonista tem como bem mais precioso sua égua: BeijaFulô. Ele tem uma noiva, Maria das

Dores, e também está prestes a se casar. O doutor, como já dissemos, é o seu melhor amigo e

também a pessoa para quem ele conta suas prosas.

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A respeito da narrativa, é em primeira pessoa, no qual é o próprio autor,

ou alguém muito próximo de sua experiência, que se faz presente como interlocutor e

provoca o relato do protagonista Manuel Fulô, é ele que fala sobre os valentões que

infestaram e ficaram na memória do lugar, o arraial da Lagoinha:

José Boi, Desidério, Miligido, Dejo... Só podia haver um valentão de cada vez. Mas o último, o Targino, tardava em ceder o lugar. O challenger não aparecia: rareavam os nascidos sob o signo de Marte, e Laginha estava, na ocasião, mal provida de bate-paus. (ROSA, Guimarães)

Nesse trecho, percebe-se que no primeiro momento, do conto o narrador não

participa da ação, faz a descrição de Lagoinha, suas crenças e valores.

Manuel Fulô é um homem mestiço; em tudo ele é misturado, é descrito

pelo o narrador com algumas características físicas de um animal, do que as

propriamente de um sujeito:

Mas gostava de fechar a cara e roncar voz, todo enfarruscado, para mostrar brabeza, e só por descuido sorria, um sorriso manhoso de dono de hotel. E, em suas feições de caburé insalubre, amigavam-se as marcas do sangue aimoré e do gálico herdado: cabelo preto, corrido, que boi lambeu; dentes de fio e meia lua; malares pontudos; lobo da orelha aderente; testa curta, fugidia; olhinhos de viés e nariz peba, mongol.

A mestiçagem de Manuel Fulô não se delimitava somente aos aspectos raciais; ela se faz no íntimo de sua criação, tanto de sua origem quanto de sua natureza, e são elas causadoras de suas ações.

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