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O amor em múltiplas leituras: na literatura, na música (MPB, Pop rock), na pintura – uma trajetória ao longo dos séculos
Autor: Nery Apolinário de Oliveira1 Co-autora: Luciane Fracasse2
Resumo: Partindo do princípio de que existe uma certa dificuldade em
interpretar textos verbais, e dificuldades ainda maiores quando o texto é
não-verbal. Escolheu-se um dos grandes temas universais; o amor.
Trabalhou-se, nesta temática, com alunos de Ensino Médio (3º ano). O
ambiente escolar é um dos meios de acesso do conhecimento, contou-se
com os professores de Língua Portuguesa, para atingir o principal objetivo:
como a temática amorosa interfere no cotidiano dos seus educandos. Foram
propostas atividades que despertassem o interesse dos alunos por meio de
interpretações de textos literários e letras de música MPB e Pop Rock, bem
como pinturas. A arte é uma possibilidade de reflexões e esclarecimentos do
amor. A arte é universal, mesmo particular, convive com núcleo comum
partilhado por todos os seres humanos. Foram evidenciadas as diferentes
formas de conceber o amor. Na literatura, em prosa, a temática amorosa
através dos clássicos da literatura universal como: Tristão e Isolda, Abelardo
e Heloísa, Romeu e Julieta, Dom Quixote, Werther e Carlota. Nas músicas:
MPB - Se Quiser de Tânia Mara, no Pop Rock Amor Maior de Jota Quest, Amor
e Sexo de Rita Lee. Na pintura O nascimento de Vênus de Sandro Botticelli.
Obteve-se um resultado satisfatório, pois notou-se que a arte, em especial a
imagem estática ou dinâmica, está presente no cotidiano dos estudantes,
facilitando a interpretação, desde que mostre um caminho para ser trilhado.
Palavras-chave: Arte. Amor. Clássicos. Músicas. Pintura.
1 1986 – 1990 Graduação em Letras Português Literatura. Fundação Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras de Guarapuava (UNICENTRO), Brasil. 1996 - 1997 Especialização em Ensino de Língua Portuguesa. Universidade Estadual do Centro-oeste - UNICENTRO, Brasil.
2 1997 -1999 Graduação em Letras Português-Inglês e suas Literaturas, Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Jandaia do Sul, FAFIJAN. 2002-2004 Mestrado em estudos da Linguagem, Universidade Estadual de Londrina, UEL
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Abstract: Assuming that there is some difficulty in interpreting verbal texts,
and even greater difficulties when the text is non-verbal. Chose one of major
themes universal; love. Worked in case that , in this thematic, with students
from high school (3 years). The school environment is one means of access to
knowledge, told with the Portuguese-speaking teachers, to achieve the main
goal: like the thematic loving interferes at the cotidiano their students. Were
proposed activities that arouse the interest of students through
interpretations of literary texts and song lyrics from MPB and Pop Rock, as
well as paintings. The art is an opportunity for reflection and clarification of
love. The art is universal, even particular, live with common core shared by
all human beings. Have been evidenciadas the different figures of designing
the love. In literature, in prose, the love theme through the classics of
literature universal as: Tristan and Iseult, Abelard and Heloisa, Romeo and
Juliet, Don Quixote, Werther and Charlotte. In music: MPB - If you want to
Tania Mara, in the Pop Rock Jota Quest of Greater Love, Love and Sex of Rita
Lee. In painting The Birth of Venus de Sandro Botticelli. Obtained a
satisfactory result because realize that art, in particular the static or dynamic
image, is present in the daily lives of students by facilitating the
interpretation, since that shows a path to be pursued.
Keywords: art. Love. Classic. Music. Painting
1- Introdução
Levando em conta a quantidade de imagens, músicas e filmes
que os estudantes recebem diariamente via Internet, TV, no cinema, no
vídeo. Surgiu o interesse desta pesquisa de interpretar o verbal e o não-
verbal. O tema escolhido foi O amor em múltiplas leituras pois sabe-se que
uma das grandes preocupações, entre tantas, aos professores de Língua
Portuguesa é a interpretação de textos pelos educandos. Tão desafiantes
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são os textos verbais quanto os não-verbais, no caso os textos literários,
letras de música MPB e Pop rock e pictóricos.
Partindo do princípio de que o sentimento humano baseia-se nas
relações amorosas, e o amor é um sentimento universal, a pesquisa
justificou-se na intencionalidade de evidenciar as diferentes formas de
conceber o amor, a qual se apresenta, de maneira estereotipada, a visão do
amor, sedução, relações íntimas.
A arte será uma possibilidade de reflexões e esclarecimentos do
amor. A arte sendo, em sua essência, transformadora, é utilizada com o
intuito de interação e apreciação de experiências anteriores; percepção;
habilidades comunicativas; visuais e espaciais; informações; sensibilidade;
imaginação. Os estímulos artísticos influenciam o indivíduo de forma
particular e especial, levando em conta sua faixa etária, experiência,
sensibilidade, cultura e informação. Ela é um exercício de liberdade porque
joga perguntas ao mundo não existindo uma única resposta, mas várias
possibilidades de respostas. Segundo Beckett (1997, p.5 ):
Olhar, realmente olhar, continua a ser uma responsabilidade pessoal, e a reação de mais ninguém (...) servirá de substituta. Mas é do mundo exterior que o conhecimento precisa vir a nós, pela leitura, audição e contemplação. (...) O amor e o conhecimento andam de mãos dadas...
E ainda Hughs (2007) afirma: “Seria um exagero dizer que se pode
educar alguém por meio da arte. Mas ela é capaz de fazer de nós pessoas
melhores”.
A arte é uma necessidade do ser humano.
2 . Fundamentação teórica
2.1- História e literatura
Quando se pensa em literatura, em música contemporânea e pintura,
na temática amorosa, faz-se, necessariamente, um retrospecto histórico da
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forma como tal sentimento fora concebido na antiguidade e como evoluiu,
se é que evoluiu, até o presente momento nas mais diversificadas
manifestações artísticas.
Há um número grande de pesquisas voltadas para os problemas que
envolvem ensino de literatura no país. Apresentando resultados não
satisfatórios, ou seja, segundo Limoli ( 2001):
A maioria delas apresenta uma situação caótica do ensino, paralela e concomitante à crise maior da escola como um todo. Numa época em que a supremacia do texto, sobretudo escrito, desmorona face à penetração progressiva e inexorável dos meios de comunicação de massa. As deficiências e dificuldades apontadas no ensino de literatura devem ser entendidas no contexto de uma problematização maior que envolve as relações literatura-leitura nas escolas.
“Os nossos jovens”, uma grande parte, “lêem pouco e entendem
menos ainda”, poderia ser só um jargão, mas infelizmente é uma realidade.
Mesmo estando inseridos na chamada “Era da Comunicação”,
“Globalização”, eles vão depender de uma dose imensa de responsabilidade
salutar dos professores para amenizar tal realidade. O desafio é trabalhar
com uma temática para interpretação que desperte o aluno, trazendo
informações e esclarecimentos que contribuam para sua formação, não só
como leitor, mas também como crítico da realidade a sua volta, melhorando
como ser social.
Essa dificuldade complica ainda mais quando o texto é o não-verbal.
Nota-se por parte do professor, salvo raras exceções, uma insegurança
quando está diante de um quadro de arte. Para Martins (1993, p.97):
O fato de, especialmente na escola, ainda se restringir à noção de leitura a uma processo racional de atribuição de significado à palavra escrita talvez seja a primeira dificuldade a enfrentar, se a proposta for a de ler uma expressão visual. Esta, por sua natureza, pode parecer “ilegível”. Em sua formação letrada, os professores de Português, talvez mais que quaisquer outros, estão imbuídos de que os textos são “para ler”, enquanto, por exemplo, cinema e quadros são “para ver”. (...) Ela continua vigente, mesmo quando não propalada, enquanto se deixa de explorar a legibilidade da imagem.
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Uma das ironias é que a duras penas mal se dá conta do be-a-bá,
então, como acrescentar à linguagem visual com toda sua complexidade
que se apresenta no mundo contemporâneo? Martins (1993, p.101)
questiona: “Como ler desvendando o invisível nas imagens e ultrapassando
o evidente nas palavras?”
Segundo Dondis (2002, p. 17):
Uma das tragédias do avassalador potencial do alfabetismo visual em todos os seus níveis da educação é a função irracional, de depositário da recreação, que as artes visuais desempenham nos currículos escolares, e a situação parecida que se verifica no uso dos meios de comunicação, câmeras, cinema, televisão. Por que herdamos, nas artes visuais, uma devoção tácita ao não – intelectualismo? O exame dos sistemas de educação revela que o desenvolvimento de métodos construtivos de aprendizagem visual são ignorados a não ser por alunos especialmente interessados e talentosos.
2.2- Contribuição da teoria semiótica
O texto verbal e o não-verbal serão interpretados pela semiótica.
Esta objetiva elaborar uma teoria da significação, com uma abrangência
maior, que possa dar conta não só das línguas, mas também de todas as
linguagens.
A semiótica estudada será a proposta por Greimas, a qual concebe o
sentido como um processo gerativo (vai do mais simples e abstrato ao mais
complexo e concreto) indo da semiótica literária à semiótica da arquitetura,
da pintura, da música, à teologia, direito e ciências humanas em geral.
Etimologicamente a palavra semiótica (e a semiologia) vem do grego
semion: significa “signo”. Há três grandes teorias semióticas: uma que se
elabora nos Estados Unidos e se constitui em torno da obra de Charles
Sanders Pirce; uma que se organiza na França e se constrói a partir da obra
de Algirdas Julien Greimas; uma que se desenvolve na Rússia e se
estabelece a partir da obra de Iuri Lotman.
O presente estudo estará referindo-se à Semiótica francesa. Para Greimas (1976, apud FIORIN, 1995 p.164):
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Que embora não ignore que o texto seja um objeto histórico dá ênfase ao conceito de texto como objeto de significação e, por conseguinte, preocupa-se fundamentalmente em estudar os mecanismos,que engendram o texto, que o constituem como uma totalidade de sentido.
O estruturalismo lingüístico de Hjelmslev, a antropologia estrutural de
Lévi-Struss, a teoria formalista do conto de Propp e a teoria das situações
dramáticas de Etienne Souriau são as fontes da semiótica de Greimas... A
lingüística greimasiana tem as suas raízes no conceito saussureano de
estrutura como diferença, nos princípios de oposições binárias e da
pertinência. Segundo Pietroforte (2004, p.11):
Para a semiótica, o sentido resulta da reunião de dois planos que toda linguagem possui. Toda linguagem possui o plano da expressão e o plano de conteúdo. Para a semiótica o sentido resulta da reunião desses planos. Podemos definir o texto relacionando entre um plano de expressão e conteúdo. O plano de conteúdo é o significado do texto. Uma afirmação semiótica: “o texto diz e como ele faz para dizer o que diz”. O plano de expressão refere-se à manifestação desse conteúdo em um sistema de significação verbal, não-verbal ou sincrético.Os sistemas verbais são as línguas naturais e os não-verbais, os demais sistemas, como a música e as artes plásticas. O sistema sincrético é quando temos a manifestação tanto verbal quanto não-verbal. Exemplo nas canções e nas histórias em quadrinhos.
Ainda de acordo com o autor,
Um mesmo conteúdo pode utilizar-se de expressão de ordens diferentes como verbal, não-verbal ou sincrético. Exemplo: Um romance, tendo o conteúdo que se manifesta no sistema verbal, pode ser adaptado para o cinema, em um plano de expressão sincrético, ou inspirar uma sinfonia ou uma tela em planos de expressão não-verbal.
O sentido de um texto está em seu plano de conteúdo.
A semiótica pode estudar os fatos da linguagem sem depender de
uma outra ciência da “realidade” quer seja a física, a sociologia, a
antropologia, filosofia. Para a semiótica as linguagens não se sobrepõem às
outras. Exemplo: as linguagens visuais não são mais fiéis à “realidade” que
outras: um desenho, mesmo figurativo, é tão arbitrário quanto uma palavra.
A partir daí, a semiótica está empenhada em analisar as crenças, os
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sentimentos e as atitudes que cada sociedade adota frente às suas
linguagens. Para a semiótica segundo Floch, (2001, p.10):
O universo da significação não pode se reduzir no fenômeno da comunicação. A produção de sentido deve ser o objeto de uma análise estrutural que tem por horizonte a organização que o homem social faz de sua experiência. Os códigos são apenas perspectivas sobre este horizonte, oferecidos pela sociedade ao analista, que não deve deles depender.
A semiótica foi fundada pela necessidade de não se limitar a estudar
apenas a significação lingüística. A substância é a matéria, o suporte
variável que a forma articula. A substância é, pois, a realização, num
determinado momento, da forma. Hjelmslev considera que a substância é
como “o conjunto dos hábitos de uma sociedade”.
O objeto de estudo da semiótica é a relação de pressuposição
recíproca (porque só há expressão se houver conteúdo, e não há conteúdo
se não houver expressão) entre as duas formas, sendo elas que produzem
essas diferenças sem as quais não haveria sentido.
Na semiótica, o referente não tem pertinência, pois é a sociedade
que adota as atitudes frente à linguagem. Quando apoderar-se de uma
linguagem é expor-se ao julgamento individual ou coletivo dos outros.
Temos aí, o fenômeno da conotação. Para Floch, (2001, p. 12 ): “As
unidades de expressão, como de conteúdo, de forma como de expressão de
uma linguagem segunda, cujo conteúdo será esses julgamentos e essas
atitudes, essas práticas lingüísticas próprias a cada época, à cada grupo, e
até a cada indivíduo.”
3. Metodologia
3.1- Após a escolha do tema “O amor em múltiplas leituras: na pintura, na
literatura, na música (MPB e Pop rock) – uma trajetória ao longo dos
séculos”, buscou-se a interação com os mais variados tipos de textos:
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Selecionou-se Clássicos da Literatura Universal em ordem cronológica
de acordo com o nível de pertinência ao tema. O primeiro clássico foi:
Tristão e Isolda – é de origem céltica, a primeira versão do francês Chrétien
de Troyes, restando apenas fragmentos. Eilhart von Oberge deu versão
alemã à tragédia, mas a versão do alemão Gottfried von Strassburg entre
1202 e 1210, deu um caráter eminentemente moderno à obra. Seguindo
partiu-se para Abelardo e Heloísa – a correspondência de Abelardo e
Heloísa, datada do século XII. A independência da mulher. Recusa o
casamento para não sufocar o seu amado o que causa a tragédia. A
terceira obra foi Romeu e Julieta – publicado em 1595 por W. Shakespeare.
Uma das obras mais popular dentre as literaturas, dispensando quaisquer
outros comentários pela abrangência de artes que já representaram a
tragédia Shakespeareana. A quarta obra foi Dom Quixote – Miguel de
Cervantes Saavedra, 1615. O amor de Dom Quixote pela sua “casta
Dulcinéia”. Finalizando a parte dos clássicos com Werther e Carlota de
Johann Wolfgang Von Goethe, 1774. Pela comoção causada pela sua leitura
(desmaios) e a primeira grande jogada de marketing (xícaras com o nome
de Werther e Carlota).
Na seqüência partiu-se para filmes com a temática amorosa e
que dialogassem com esses clássicos como: “Romeu + Julieta” do diretor
Baz Luhrmann (1996). Baseado na obra clássica de Shakespeare, uma
versão moderna, passada nos dias de hoje, da tragédia de amor entre
Romeu (Leonardo DiCaprio e Lulieta (Claire Danes). Depois “Tristão e
Isolda” do diretor Kevin Reynolds (2006). O filme é baseado na milenar
lenda Celta de paixão jurada, que virou uma famosa ópera de Richard
Wagner e inspirou William Shakespeare a escrever "Romeu e Julieta". E por
fim o filme “Em nome de Deus” de Cline Donner (1988). O amor de Abelardo
e Heloísa, resumido e ilustrado, o que torna interessante a leitura para uma
primeira aproximação.
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A música foi trabalhada pela presentidade do momento,
contextualiza mais do que a poesia, não perdendo o foco da temática
amorosa. As músicas foram da MPB Se você Quiser – Tânia Mara e Pop rock
como: Amor maior – Jota Quest, Amor e Sexo – Rita Lee;
A abordagem das pinturas e esculturas, a leitura do não-verbal, das
mais variadas épocas e autores como: Botticelli, Todalini, Munch, Steilen,
Hermann-paul, Klimt, Mölier, Picasso e Rodin que enfocaram tal temática.
3.2- Aplicação em sala:
No primeiro momento, foram apresentados os filmes: “Tristão e
Isolda”, “Romeu+Julieta”, “Em nome de Deus” como princípio incentivador
para discussão introdutória e feito a seguinte pergunta: “Você morreria de
amor?”
No segundo momento, apresentou-se as pinturas e esculturas com o
tema amor. E também uma cronologia das principais obras literária
mundiais, em prosa, que abordaram tal temática com o intuito de mostrar a
beleza interior existente na humanidade, diferentemente, dos modelos de
beleza única, veiculados pela mídia.
Em última instância interpretou-se as seguintes músicas: da MPB
– “Se você Quiser” -Tania Mara; Pop rock “Amor Maior” – Jota Quest; “Amor
e Sexo” – Rita Lee.
4. Análise do corpus
4.1-Breve Panorama das Obras.
Etimologicamente paixão significa sofrimento (coisa sofrida,
preponderância do destino sobre a pessoa livre e responsável). Desde o
amabam amare de Santo Agostinho até o romantismo moderno, amor é
procurar o sofrimento.
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Através da apresentação dos clássicos da literatura mundial
procuramos, dar possibilidades para nossos alunos, refletir a temática
amorosa. O amar, não tem como nós, pobres mortais, nos protegermos de
tal sentimento, quando chega é arrebatador como relata o poeta ,do
romantismo, Álvaro de Azevedo (1825):
“Oh! o amor! E por que não se morre de amor! Como uma estrela que se apaga pouco a pouco entre perfumes e nuvens cor-de-rosa, porque a vida não desmaia e morre num beijo de mulher! Seria tão doce inanir e morrer sobre o seio da amante enlanguescida! No respirar indolente de seu colo confundir um último suspiro!”
O sentimento amoroso é universal, atemporal sendo a paixão que se
sente por uma pessoa entre tantas outras: de objeto erótico, ela se torna
sujeito único e livre, em nossa imaginação e vontade. Ambrose Bierce, no
século XIX, descreveu o amor como: “insanidade temporária, curada pelo
matrimônio ou pelo afastamento do paciente das influências que lhe
infligiram o mal.”
A tradição literária ocidental que encanta leitores, apesar de
desfecho infeliz, define o padrão amoroso, inspirando obras em todas as
artes. Essas histórias, desde a Idade Média, povoaram o imaginário do
ocidente. As representações do amor dizem muito sobre a sociedade e sua
época.
4.2 - Análise dos clássicos
4.2.1 Tristão e Isolda
O casal Tristão e Isolda é uma conhecida história amorosa da Idade
Média, mostra uma relação entre o homem e a mulher, a sociedade cortês,
impregnada de cavalaria dos séculos XII e XIII, baseada na tradição oral.
Tendo uma importância literária comparável com as narrativas do Graal e
do Rei Artur.
Tristão nasce no infortúnio. Seu pai acaba de morrer, e sua mãe,
Bancaflor, não sobrevive ao seu nascimento. Daí o nome do herói, o matiz
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sombrio de sua vida e o céu tempestuoso que envolve a lenda. O rei Marke
da Cornualha, irmão de Brancaflor, adota o órfão em sua corte e o educa.
Tristão está incumbido de levar Isolda, princesa da Irlanda, ao seu
futuro esposo Marke. Durante a viagem apaixonam-se, pois acidentalmente
bebem de um elixir do amor o qual fora destinado a Isolda e Marke.
Os amantes rompem as convenções tanto sociais quanto as leis
religiosas. Esse amor é responsável por inúmeras desgraças aos dois e as
pessoas a sua volta. A tragédia final culmina com a morte dos amantes.
“Chegada a manhã, Tristão diz: ‘Meu amor, se o rei me
surpreendesse contigo neste quarto, mandarnos-ia matar aos dois.
Para tal salvação, embora me custe, tenho de me afastar de ti uma
vez mais!’ ‘Ah, Tristão, belo e doce amigo, sei que, em verdade,
nunca mais te verei neste mundo.’ Tristão respondeu-lhe: ‘Não sei o
que nos reserva o futuro, mas estou certo de que nunca cessarei de
te amar.’ “ (Tristão e Isolda,1987).
O êxito prodigioso do romance de Tristão revela em nós uma
preferência íntima pela infelicidade pois para o homem ocidental ou melhor
o romântico ocidental a dor amorosa é um meio privilegiado de
conhecimento. Infelizmente poucos preocupam- se em conhecer-se. Quando
desejamos o amor mais intenso, desejamos o obstáculo. Se não tiver
obstáculo nós o imaginamos. Sem entraves ao amor , não há “romance”. O
que amamos é o romance ou seja a consciência, a intensidade, as variações
e os adiamentos da paixão, seu crescente até a catástrofe, e não sua chama
fugaz.
Na literatura, a felicidade dos amantes só nos comove pela
expectativa da infelicidade que os ronda. Não somos comovidos pela
presença, mas sim pela saudade, pela lembrança. A presença só pode ser
um instante de graça, inexprimível, efêmero.
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Você já leu uma história, na literatura ocidental, de amor feliz? Não,
porque não tem. O amor só é considerado um verdadeiro amor se for
recíproco.
Uma das distinções da literatura européia é a obsessão pela dor,
donde bebemos na fonte, querendo ou não.
O romance e também o filme (Tristão e Isolda - nascido do romance)
mostram o entusiasmo, erotismo idealizado, difundido em nossa cultura, em
nossa educação.
O poema, Tristão e Isolda, na versão de Gottfried von Strassburg,
contendo 20 mil versos, inspirou outros escritores alemães como: Hans
Sachs, A.W. Schlegel, August von Platen, Karl Immermann e Thomas Mann.
A história amorosa e trágica de Tristão e Isolda fundamentou a ópera
homônima de Wagner.
O terceiro ato do drama de Wagner descreve bem mais do que uma
catástrofe romanesca: descreve a catástrofe essencial de nosso gênio
sádico, esse gosto reprimido da morte, o gosto de nos conhecermos ao
máximo, do impacto revelador que é sem dúvida a mais inextirpável das
raízes do instinto da guerra em nós. Os dois amantes influenciaram de
Voltaire aos românticos. Depois de Rousseau ter escrito A nova Heloísa.
Gottfried Bürger com Heloísa e Abelardo, Nikolaus Lenau Heloísa – ambas
obras em versos. Jean Paul, autor alemão da época romântica, nas suas
primeiras tentativas romanescas, também tratava da história dos dois
amantes.
4.2.2 - Abelardo e Heloísa
Abelardo e Heloísa são um casal do século XII que se correspondem
por cartas românticas. Sendo um dos casais mais conhecidos da Idade
Média.
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A História é do famoso professor de Teologia, Abelardo, com 40 anos
de idade que apaixona-se pela sua pupila Heloísa, de 16 anos. Ambos vivem
em Paris.
Apaixonado, Abelardo escreve canções de amor. O amor por Heloísa é
correspondido. “Trocamos mais beijos do que palavras de sabedoria e cada
vez mais minhas mãos buscavam seus seios em vez das páginas dos livros.
E bem mais do que a escrita, nós líamos nossos olhos”.
Heloísa fica grávida, Abelardo a seqüestra, à noite, vestida de freira,
levando-a para a casa da irmã dele, na Bretanha. Tendo o filho chamado
Astrolábio. O tio de Heloísa que a havia deixado sobre os cuidados de
Abelardo, exige o casamento. Abelardo aceita se casar. Entretanto o
casamento não se realiza pois Heloísa não quer atrapalhar a filosofia do
professor e sobrecarregá-lo com o matrimônio. Fulberto, o tio de Heloísa,
furioso com a não realização das núpcias manda castrar Abelardo. Após o
fato Heloísa é convencida pelo amado a adotar o hábito, tornando-se
abadessa.
Abelardo aumenta a correspondência melhorando como pessoa e
sendo influenciado por Heloísa disse: “só o amor diferencia os filhos de Deus
dos filhos do diabo”.
“Sabes a quantas indignidades minha imoderada libido arrastou nossos corpos, de modo que, sem nenhum pudor nem respeito a Deus, ela não me afaste de seu lamaçal imundo, nem mesmo nos dias da Paixão do Senhor, ou das outras solenidades religiosas. (...) De fato, estava tão unido a ti pelo ardor da concupiscência, que preferia aqueles míseros e obscenos prazeres”. (Abelardo-Heloísa – as cinco primeiras cartas,1996).
4.2.3 - Romeu e Julieta
A peça Romeu e Julieta publicada em 1595, pertence ao primeiro ciclo
das tragédias Shakespearanas. São ícones da literatura ocidental.
Shakespeare escreveu uma das maiores celebração do amor. A obra
Romeu e Julieta contém drama e romantismo, mostrando também humor.
A peça foi, com o tempo, abrangendo todas as artes. Romeu e Julieta,
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inspirado em fatos que realmente aconteceram na cidade de Verona,
viveram na Itália do século XVI, Romeu e Julieta apaixonam-se. Desafiando
leis e costumes para viver essa grande paixão. Nada é capaz de
vencer a ousadia dos amantes, no entanto as famílias são inimigas.
Esse amor na visão dos jovens não se realizaria em núpcias, optam
pelo suicídio. A tragédia que faz com que os pais inimigos se reconciliem
apenas diante dos cadáveres dos filhos amantes.
A peça teatral Romeu e Julieta inspirou inúmeras pinturas e foi
também musicadas. Em balé por Sérgio Prokofiev e no musical West side
story por Leonard Bernstein. A Sinfonia dramática de Hector Berliz, o coro
de Carl Maria von Weber e uma abertura de Tchaikovski. Os filmes de Ugo
Falena (1912), Ernst Lubitsch (1920), os de Castellani, Zeffirelli e Baz
Luhrmann entre tantos outros... que usam o tema.
O amor de Romeu e Julieta influenciou, na literatura, a novela realista
do alemão Gottfried Keller Romeu e Julieta na aldeia. Influenciou o drama
A família Schroffenstein, de Heinrich von Kleist, e o Best-seller Foi a cotovia,
de Ephraim kishon.
4.2.4 - Dom Quixote e Dulcinéia
Dom Quixote - Miguel de Cervantes, escrito em 1615, representa o
mito Hispânico em si, sendo o texto mais importante da literatura
espanhola. Obra concebida como novela curta, inspirada num caso real de
loucura, destinava-se a combater a cavalaria andante. Opondo-se à
realidade das novelas de cavalaria. Cervantes teria pretendido fazer uma
sátira dessa “propaganda” cavaleiresca e dos que se armavam cavaleiros
às cegas. Mas a caricatura de um estilo fantasioso se transformou no retrato
da aventura humana, no perfil do homem dividido entre o sonho e a
realidade. Dom Quixote e Sancho Pança, surgidos da fantasia do artista,
aparecem vivos como se fossem personagens históricas.
Cervantes de cara pinta Dulcinéia em cores duvidosas:
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“-Eu a conheço muito bem – disse Sancho – e sei dizer que atira tão bem uma barra como o mais forçudo pastor de todo o povoado. Juro pelo Dador que é moça de primeira plana, cheia das prendas e forte feito um touro, e que pode tirar de qualquer apuro qualquer cavaleiro andante ou por andar que a tenha por senhora. Ah, fidaputa, que corpaço que tem, e que voz! (...) E o melhor dela é que não é nada melindrosa, porque tem muito de cortesã: com todos brinca e a tudo faz careta e gracejo.” (Dom Quixote,1993, p.179).
A relação entre Quixote e Dulcinéia abranda-se diante da relação do
cavaleiro e Sancho Pança. Ainda assim, Quixote proclama seu amor aos
quatro ventos, e sai ao mundo enfrentando moinho de vento e inúmeras
peripécias em honra de Deus e da amada, a fim de defender virgens e
órfãos.
O relacionamento amigável entre Quixote e Sancho Pança é modelo
para a literatura universa como: Jacques, o fatalista, e seu mestre; Don Juan
e Leporello; Lorde Byron e Fletcher; o senhor Puntila e seu criado Matti ou
Lucky e Pozzo.
O que pode-se notar na obra é a predominância do amor entre Dom
Quixote e Sancho Pança, ou melhor, Dulcinéia.
4.2.5 - Werther e Carlota
Werther e Carlota - Johann Wolfgang von Goethe, 1774. Goethe tinha
apenas 23 anos quando o publicou. Os sofrimentos do jovem Werther pode
ter sido o mais famoso desses clássicos. Era um romance epistolar sobre um
fracasso amoroso, levando o jovem ao suicídio. Não passa de uma história
de amor contrariado. O romance causou uma comoção com os seus leitores.
Há relatos de choros convulsivos, desmaios e suicídios. Tornou-se Best-seller
na Europa no final do século XVIII. Para a contemporaneidade, momento de
internet e TV por satélite, tendo uma facilidade de recursos e imagens, é
difícil imaginarmos a força dessa paixão desvairada provocada pela leitura.
Goethe pertenceu ao Romantismo e assim como outros, não inauguraram o
romance epistolar, pois já havia sido publicado romances de sucessos mas
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sim, a carta introspectiva, com liberdade não só sentimental como na forma
relacionada a escrita.
O “eu” de Werther é dominante, vigoroso no romance, não permitindo
a aparição escrita dos correspondentes, tendo uma visão unilateral. O herói
escreve as cartas para Guilherme, suposto editor, o qual faz o papel de
leitor.
“Quando a imagem da adorável Carlota me persegue! Ou eu vele ou sonho, sempre está presente à minha alma agitada. Quando fecho os meus olhos, retratam-se os seus belos olhos pretos no meu cérebro escandecido; ali onde se reúne a força visual... não posso exprimir. Sei somente que no momento em que cerro os meus olhos os dela se me apresentam como um mar, como um precipício diante de mim, e ocupam todas as fibras do meu cérebro.” (Os sofrimentos do Jovem Werther, 2007).
O livro tem o episódio das “pedras de Bolonha”, um dos mais belos da
literatura universal. A certa altura do livro, Werther pede ao seu criado para
ir à casa de Carlota, não existindo nenhum motivo especial para a visita, só
para vê-la. “Com que impaciência o esperei, com que alegria tornei a vê-lo!”
E uma das mais belas metáfora:
“Falam que a pedra de Bolonha, quando exposta ao sol, absorve os seus raios e reluz por algum tempo durante à noite. Dava-se o mesmo comigo e aquele rapaz. A lembrança de que os olhos de Carlota haviam pousado em seu rosto, em suas faces, nos botões de sua casaca e na gola de seu sobretudo, tornava-o tão querido, tão sagrado para mim! Naquele momento, não daria aquele rapaz nem por mil tálares! Me sentia tão bem em sua presença.” (2007, p. 30)
Segundo Marcelo Backes (2007, p.33)
“A ‘pedra de Bolonha’ simboliza, pois, o fulcro irradiante de um amor que toca sem estar presente, que dói no fundo em cada lembrança ao se fazer ausente. Mais que isso, a ‘pedra de Bolonha’ representa a intensidade plena de dor que marca não penas o amor de Werther por Carlota, mas qualquer dos grandes amores da literatura universal.”
Werther é o romance que contribuiu para a transformação da
carta em pretexto para a compulsiva auto-revelação. Ou alinhando Werther
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à paródias e versões cômicas que fervilharam depois da primeira
publicação. Sendo a mais conhecida dessas cômicas publicações a de
William Thackeray, que descreveu dessa forma a cena do encontro dos
amantes: “Werther amou Carlota assim que a viu, /Tomando de indescritível
paixão./Sabem como ele a conheceu?/Ela passava manteiga no pão”.
É importante a republicação de Werther do início do século XIX,
porque serviu de base para a maioria das edições no Brasil, chegando,
provavelmente, a ser lida pelos românticos brasileiros, influenciando no
romantismo, especialmente da segunda geração ultra-romântica como
“escola de morrer cedo”.
4.3- Contribuição da música
Hoje a música está mais presente na vida dos jovens do que a
poesia, pois vive-se em um mercado em que se consome muita cultura de
massa. Pode-se aproveitar essa preferência para mostrarmos textos
musicais de qualidade.
4.3.1 - Se Quiser
Tânia Mara
Composição: Cláudio Rabello / Louis Biancaniello / Sam Watters
Sempre que quiser um beijo
Eu vou te dar
Hei! Hei! Hei! Hei!
Sua boca vai ter tanta sede
De me tomar
Se quiser!
Sempre que quiser ir as estrelas
Me dê a mão!
Deixa eu te levar...
1
A música Se Quiser, de Tânia Mara, é uma das revelações da nova
cara da MPB, mostra a presentidade do tema amoroso na atualidade.
Apresenta profundidade, não é piegas e não está preso ao exagero. Na
relação homem-mulher o beijo é ponto inicial para um relacionamento de
sucesso.
4.3.2 - Amor Maior Jota Quest Composição: Rogério Flausino
Eu quero ficar só
Mas comigo só
Eu não consigo
Eu quero ficar junto
Mas sozinho só
Não é possível...
É preciso amar direito
Um amor de qualquer jeito
Ser amor a qualquer hora
Ser amor de corpo inteiro
Amor de dentro prá fora
Amor que eu desconheço...
Quero um amor maior
Um amor maior que eu
Quero um amor maior, hié!
Na música Amor Maior, de Jota Quest , o paradoxo no início da música
quando afirma que “Eu quero ficar só / Mas sozinho só / Não é possível...”
nota-se o comportamento comum para quem está apaixonado e não sabe
ainda administrar tal sentimento, e possivelmente uma primeira paixão
1
quando afirma, após uma idolatria ao amor, “Amor que eu desconheço...” e
pedindo um amor maior do que ele, podendo ser um exagero ou maior em
intensidade, curtição, vida.
4.3.3 - Amor e Sexo
Rita Lee
Composição: Cilze Mariane Costa Honório, Rita Lee, Roberto de
Carvalho e Arnaldo Jabor
Amor é um livro
Sexo é esporte
Sexo é escolha
Amor é sorte...
Amor é pensamento
Teorema
Amor é novela
Sexo é cinema..
Sexo é imaginação
Fantasia
Amor é prosa
Sexo é poesia...
O amor nos torna
Patéticos
Sexo é uma selva
De epiléticos...
Na música Amor e sexo, de Rita Lee percebemos um amor não
platônico, real, “pé-no-chão”. As metáforas “ Amor é ...”, “Sexo é...”
1
parecem leituras ingênuas, simples. Mas a complementação das metáforas
é que torna a letra interessante e criativa, dando um significado que nos
remete ao cotidiano como livro, esporte, novela, cinema, prosa, poesia, etc.
Mostra que o sexo deverá ser uma complementação do amor ou vice-versa,
fazendo parte do dia-a-dia como uma necessidade da natureza, sem o peso
conotativo, que a sociedade impõe na palavra sexo.
4.4-Uma leitura do não-verbal
O quadro “O Nascimento de Vênus” de Sandro Botticelli, foi pintado
em 1485 para um membro da família Medici,os influentes mecenas de
Florença. Corresponde ao período do Renascimento. Utilizando a técnica de
têmpera sobre tela, nas dimensões de 172,5 x 278,5 cm. Essa obra está na
galeria dos Uffizi, Florença. Segundo a mitologia grega, Vênus/Afrodite é a
deusa do amor, a qual nasce das espumas do mar. Essa espuma é a mistura
do sêmen e do sangue de Urano(o céu), pois seu filho Cronos/Saturno o
castrou numa luta de poder. Os genitais cortados caíram no mar e
concebeu-se a deusa do amor. “O nascimento de Vênus” é uma alegoria. O
momento retratado pela pintura é quando a deusa chega a Pafo, em Chipre
e está para sair da gigantesca concha dourada de vieira. Vênus foi levada
para a praia pelo vento oeste (zephyros), personificado o vento por um casal
de amantes Zéfiro e Clóris. Os ventos sopram o espírito da paixão,
materializado em rosas, cada rosa tem um coração dourado, Zéfiro sopra
vigorosamente, já Clóris exala o hálito quente. No lado direito da tela, vindo
do continente está uma das três Horas (as deusas gregas das estações que
eram acompanhantes de Vênus) cujo nome é Pomona, a qual traz um manto
florido para cobrir a nudez da deusa e a perfuma para conduzi-la ao monte
Olimpo, junto dos deuses imortais. O Manto e a roupa sintuosa da ninfa
Pomona é bordado com margaridas, prímulas amarelas e centáureas azuis.
Alusão a primavera, estação onde a sensualidade de “Vênus” está no ápice.
Pomona usa um colar de mirto ( a árvore de Vênus) e um cinto de rosas.
2
Sabe-se que a rosa simboliza o sexo feminino. Atrás da ninfa percebe-se o
jardim sagrado Hespérides com laranjal em flores. As folhas têm pecíolos e
contornos dourados. O toque dourado está também nos objetos e nas flores,
onde representa a condição divina de Vênus. A imagem de Vênus foi tirada
de uma antiga estátua, contudo seu estilo é linear. A postura sintetiza a
natureza dual do amor, ao mesmo tempo sensual e casto, especialmente no
rosto da deusa pode-se perceber certa tristeza e um desejo forte, pois é um
nu, na visão neoplatônica. A água é geradora de todas as coisas, fluxo
contínuo e Vênus é a beleza que toma forma na água informe. A pintura
afirma que não se pode contemplar o amor despido, não se suporta a
beleza, talvez o ser humano é fraco para tal apreciação.
5. UMA ANÁLISE SEMIÓTICA
Percebe-se, em “Tristão e Isolda”, linearidade dual homem vs. Mulher,
A manipulação ocorre por parte do rei Marke. Ele é manipulador. Já Tristão e
Isolda são manipulados. A performance de Marke é a de ser rei, numa época
em que o poder é absoluto. A sanção ocorre com a morte dos amantes. Nota-
se a presença da veridicção, pois nos passa a idéia de verdade.
Na história amorosa “Abelardo e Heloísa” pode-se fazer uma primeira
interpretação subjetiva, a firmação concomitante do velho vs. novo.
Abelardo tem 40 anos, Heloísa 16. A manipulação ocorre por total, pois ouve
cumplicidade entre manipulador e manipulado. Abelardo manipulador, já
Heloísa é manipulada. A performance de manipulador de Abelardo é a
seguinte: ele é professor, tem mais idade, sedutor, a tentação em pessoa
para uma adolescente. A sanção ocorre na castração de Abelardo, mas ele
continua manipulando, convence Heloísa a ser freira, para viverem um amor
por cartas, “platônico”. Mostra-se com isso todo o seu egoísmo. Também há
veridicção na história..
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Romeu e Julieta, o casal romântico, pode-se perceber a linearidade
dual amigo vs. inimigo. A manipulação ocorre por parte das famílias, elas são
os manipuladores dos jovens amantes. Os dois jovens são manipulados pelas
suas famílias não vendo outra saída, optando pelo suicídio. A sanção é esse
suicídio. A veridicção também está presente.
Dom Quixote, a linearidade dual está em realidade vs. fantasia,
também em conhecimento vs. ignorante. A manipulação ocorre na obra. Dom
Quixote é o manipulador e Sancho Pança é manipulado. A performance do
manipulador Dom Quixote: tem conhecimento, situação financeira invejável,
fantasioso. Cria uma dama que não existe, sendo fruto da imaginação de
Sancho Pança. É muito mais forte a veridicção nesse romance, acredita-se
que são personagens da história.
Em Werther e Carlota pode-se notar linearidade dual em ilusão vs.
desilusão, também em sucesso vs. fracasso. A manipulação está no amor dos
jovens, Werther é manipulado por esse amor. O manipulador de uma certa
forma é Carlota. Werther pela sua timidez sofre e conseqüentemente comete
o suicídio. O suicídio é a sanção.
Nas músicas: Se quiser de Tânia Mara, Amor Maior de Jota Quest,
Amor e Sexo de Rita Lee nota-se o discurso figurativo (autonomia e
abrangência no discurso). A música é um texto poético e também há isotopia
figurativa e temática. A isotopia figurativa é associação de figuras
aparentadas e correlacionadas ao tema amor e isotopia temática é a
repetição de unidades abstratas no mesmo percurso, o tema amor.
Na pintura “O Nascimento de Vênus” de Sandro Botticelli, pode-se
despreender a seguinte análise de linearidade dual da força vs. delicadeza, a
força esta presente na personificação do Zéfiro que contrasta a delicadeza
com sua acompanhante, com a ninfa e principalmente com Vênus. Nota-se
também linearidade dual direito vs. esquerdo. O mar está à esquerda, a
terra está à direita, ou seja, mar vs.terra. Podemos notar também linearidade
dual nu vs. não-nu. Esse nu da deusa contrastante com a ninfa Pomona que
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está vestida completamente. Lembrando que o quadro é um nu feminino, o
objeto é esse nu, a ancoragem está presa ao nascimento da deusa. O
manupulador é o autor do quadro, o manipulado somos nós que observamos
o quadro, apreciamos ou não. Também notamos a veridicção do quadro, pois
interpretamos como verdadeiro, no entanto, é composto de figuras
mitológicas.
Considerações finais:
As presentes leituras e interpretações dos clássicos, músicas e
pinturas foram feitas em sala de aula para alunos do Ensino Médio, 3º série.
Após isso, fizemos os seguintes questionamentos: Existe diferença entre
sexo e amor? O que é mais satisfatório em relação à felicidade. O objetivo
foi instigá-los para um texto argumentativo e também observar como a
juventude está vendo isso. Foi surpreendente as análises, pois notou-se
textos reflexivos, anexos, de conscientização interessante e
posicionamentos responsáveis como exemplos: “Sexo é prazer físico”;
“Sexo está relacionado com corpo, sensações, prazer”; “Sexo vem de
vontade, já o amor são longos suspiros que invade o coração”; “Sexo é
complemento do amor”; “Sexo é um momento físico, sem sentimentos, na
maioria das vezes; quando envolve sentimentos é melhor”; “O amor salva
ou destrói vidas, mundos, civilizações”; “O que os seres humanos têm em
comum é o amor”; “Em uma relação amor e sexo se complementam mas o
que prevalece é o amor”; “Confronto em busca de amor com sexo e sexo
com amor; “O amor e sexo devem ser levados à sério, pois não é
brincadeira”; “O amor é essencial para a felicidade”; “Para se chegar à
felicidade tem que passar por sofrimento”; “Felicidade não dissocia de
amor”; “Felicidade também é fazer as pessoas felizes”.
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6. REFERÊNCIAS BIBIOGRÁFICAS:
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Mário Vilela].
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instituto de letras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul,1995
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Anexos
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