notícias da paz dezembro 2013

8
1 CPPC Notícias da Paz Conselho Português para a Paz e Cooperação Dezembro 2013 Paz, progresso, Abril C onstruir a Paz com os Valores de Abril»: mais do que o lema da 24.ª Assembleia da Paz, e da conferên- cia que a seguir de realiza – no dia 7 de Dezembro nas instalações da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universi- dade Nova de Lisboa –, esta frase é, sobre- tudo, uma palavra de ordem certeira, um ob- jectivo justo e, mais do que nunca, actual e necessário. Num momento como aquele em que vive- mos, no qual o povo português, tal como muitos outros, vive um período dramático de retrocesso social e civilizacional, os valores da Paz, da solidariedade, da cooperação, da soberania – que se ligam, como a história demonstra, às aspirações socio-económicas fundamentais – são o caminho mais sólido para construir um País e um Mundo mais justos, desenvolvidos e soberanos. Na verdade, a situação dramática que atinge largas camadas da população por- tuguesa (à medida que uma ínfima minoria enriquece), resultante da política de empo- brecimento e saque prosseguida pelo Go- verno e pela troika ocupante dos credores – FMI, UE, BCE –, não é mais do que a outra face da moeda das guerras de agressão, chantagens militares, bloqueios económicos e corrida aos armamentos que marcam o nosso tempo. Com a exploração, assim como com a guerra, ganham os mais ricos entre os mais ricos; ao mesmo tempo que a grande maioria empobrece, sofre, morre. Lutar contra a guerra, a ingerência e a chantagem contribui, assim, para isolar os que vivem da exploração dos recursos e do trabalho alheios; dá mais força aos que, por todo o Mundo, reclamam soberania, justiça, progresso; ajuda a abrir caminho às profun- das transformações progressistas que po- nham fim às causas que estão na origem das guerras e das desigualdades. Assim foi em Abril de 1974, quando a acção determinada da aliança do povo português com os mi- litares do MFA pôs fim à guerra colonial e colocou Portugal na senda do progresso, da liberdade, da democracia e da justiça social. Alargar o movimento da Paz Esta luta pela Paz – que é também pela justiça, o progresso e a soberania – neces- sita, para que possa progredir e reunir em seu torno mais e mais gente, de um Con- selho Português para a Paz e Cooperação mais forte, em todas as suas expressões: mais aderentes, mais núcleos, mais activi- dade, mais diversidade. À 24.ª Assembleia da Paz cabe eleger os órgãos dirigentes do CPPC para o próximo biénio; reafirmar princípios e causas; definir prioridades de acção. Entre estas sobressai, pela sua importância decisiva, o reforço do movimento da Paz, ou seja, daqueles que, de forma organizada e em articulação com a luta popular em defesa de direitos e da própria soberania nacional, erguem a voz em defesa da Paz, do desarmamento, da soli- dariedade e da cooperação entre países e povos. No fundo, prosseguir o caminho trilhado nestes últimos anos, marcados pela criação e reactivação de núcleos do CPPC, pela re- alização, um pouco por todo o País, de sessões públicas, debates, acções de rua e petições e pela intensificação da cooperação entre o CPPC e outras entidades, como sindicatos, escolas, colectividades, grupos culturais, associações juvenis e outros movi- mentos igualmente empenhados na defesa da paz, da solidariedade, do progresso so- cial. «

Upload: conselho-paz

Post on 28-Mar-2016

213 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

 

TRANSCRIPT

1 CPPC

Notícias da PazConselho Português para a Paz e Cooperação

Dezembro 2013

Paz, progresso, AbrilConstruir a Paz com os Valores de

Abril»: mais do que o lema da 24.ªAssembleia da Paz, e da conferên-

cia que a seguir de realiza – no dia 7 deDezembro nas instalações da Faculdade deCiências Sociais e Humanas da Universi-dade Nova de Lisboa –, esta frase é, sobre-tudo, uma palavra de ordem certeira, um ob-jectivo justo e, mais do que nunca, actual enecessário.Nummomento como aquele em que vive-

mos, no qual o povo português, tal comomuitos outros, vive um período dramático deretrocesso social e civilizacional, os valoresda Paz, da solidariedade, da cooperação, dasoberania – que se ligam, como a história

demonstra, às aspirações socio-económicasfundamentais – são o caminho mais sólidopara construir um País e um Mundo maisjustos, desenvolvidos e soberanos.Na verdade, a situação dramática que

atinge largas camadas da população por-tuguesa (à medida que uma ínfima minoriaenriquece), resultante da política de empo-brecimento e saque prosseguida pelo Go-verno e pela troika ocupante dos credores –FMI, UE, BCE –, não é mais do que a outraface da moeda das guerras de agressão,chantagens militares, bloqueios económicose corrida aos armamentos que marcam onosso tempo. Com a exploração, assim comocom a guerra, ganham os mais ricos entre os

mais ricos; ao mesmo tempo que a grandemaioria empobrece, sofre, morre.Lutar contra a guerra, a ingerência e a

chantagem contribui, assim, para isolar osque vivem da exploração dos recursos e dotrabalho alheios; dá mais força aos que, portodo oMundo, reclamam soberania, justiça,progresso; ajuda a abrir caminho às profun-das transformações progressistas que po-nham fim às causas que estão na origem dasguerras e das desigualdades. Assim foi emAbril de 1974, quando a acção determinadada aliança do povo português com os mi-litares do MFA pôs fim à guerra colonial ecolocou Portugal na senda do progresso, daliberdade, da democracia e da justiça social.

Alargar o movimento da Paz

Esta luta pela Paz – que é também pelajustiça, o progresso e a soberania – neces-sita, para que possa progredir e reunir emseu torno mais e mais gente, de um Con-selho Português para a Paz e Cooperaçãomais forte, em todas as suas expressões:mais aderentes, mais núcleos, mais activi-dade, mais diversidade.À 24.ª Assembleia da Paz cabe eleger os

órgãos dirigentes do CPPC para o próximobiénio; reafirmar princípios e causas; definirprioridades de acção. Entre estas sobressai,pela sua importância decisiva, o reforço domovimento da Paz, ou seja, daqueles que,de forma organizada e em articulação com aluta popular em defesa de direitos e daprópria soberania nacional, erguem a voz emdefesa da Paz, do desarmamento, da soli-dariedade e da cooperação entre países epovos.No fundo, prosseguir o caminho trilhado

nestes últimos anos, marcados pela criaçãoe reactivação de núcleos do CPPC, pela re-alização, um pouco por todo o País, desessões públicas, debates, acções de rua epetições e pela intensificação da cooperaçãoentre o CPPC e outras entidades, comosindicatos, escolas, colectividades, gruposculturais, associações juvenis e outros movi-mentos igualmente empenhados na defesada paz, da solidariedade, do progresso so-cial.

«

2 Notícias da Paz

Os dois anos passados desde a 22.ª As-sembleia da Paz (que elegeu os órgãos so-ciais do Conselho Português para a Paz eCooperação que agora cessam funções)foram marcados, no que ao CPPC diz res-peito, por uma intensa acção de denún-cia da agressão e da guerra e de defesaintransigente dos valores da Paz, da soli-dariedade, da cooperação e da soberaniade países e povos. Mas foram, sobretudo,anos de reforço e alargamento do campoda Paz, ou seja, daqueles que, de formaconstante e activa, se batem por estascausas, juntando-as à luta popular pelaigualdade, a justiça social, a democraciae a dignidade que marca – e de que ma-neira – os tempos em que vivemos.Foi, no fundo, um período marcado pela

concretização daquelas que foram, então,as principais linhas definidas pela as-sembleia: o reforço do movimento da pazem Portugal, a luta contra a guerra e o mi-litarismo e a solidariedade e cooperaçãocom todos os povos do mundo. E, ainda,a continuação da intervenção no âmbitodo Conselho Mundial da Paz (CMP), noqual o CPPC continua a manter um papeldestacado, como membro do Executivo eSecretariado e Coordenador dos movi-mentos da Paz para a Região Europa.Neste aspecto, importa salientar a im-

portância de que se revestiu a participa-ção do CPPC na Assembleia Mundial daPaz, que teve lugar no Nepal em 2012, ea realização, no Seixal, em Maio e Junho

deste ano, de uma reunião do Secreta-riado do CMP, na qual estiveram presen-tes representantes de movimentos da Pazdo Brasil, Cuba, Estados Unidos da Amé-rica, Venezuela, Congo, Irão, Nepal, Pa-lestina, Alemanha, Bélgica, Chipre, Di-namarca, Espanha, Finlândia, Grécia,Irlanda, Letónia, Noruega, Turquia e,claro, Portugal. Após a reunião, da qualsaíram campanhas e iniciativas interna-cionais, teve ainda lugar uma conferên-cia, intitulada «Região de Setúbal: pelodesenvolvimento, pela solidariedade,pela Paz», promovida em parceria peloCPPC, a Associação de Municípios daRegião de Setúbal e a Câmara Municipaldo Seixal.

Levar mais longe a causada Paz

O reforço do movimento da Paz e dopróprio CPPC foi, porventura, o maior su-cesso alcançado ao longo deste mandato.Quer a direcção nacional quer os restan-tes órgãos sociais mostraram-se, nestebiénio, mais activos e capazes de reflec-tir e concretizar colectivamente os gran-des desafios colocados à luta pela Paz noPaís.Os sete núcleos actualmente existentes

– no Barreiro, em Beja, em Moura, emCoimbra, em Évora, no Porto e no Seixal(e a perspectiva de, a breve prazo, seremcriados novos) – revelam, desde logo,

uma disseminação nacional do CPPC e,portanto, das causas de defende e pro-move. Da mesma forma, os protocolos as-sinados e os contactos regulares entre oConselho da Paz e organizações sindicaise sociais, autarquias, escolas, colectivi-dades e associações contribuiu também,e de que maneira, para levar mais longeos valores da Paz.Um pouco por todo o País, o CPPC pro-

moveu ou participou em debates, sessões,ciclos de cinema, exposição de trabalhosde artistas solidários, petições ou acçõesde rua relacionadas com a defesa da Paz,da cooperação e da solidariedade. A dis-tribuição de folhetos e, sobretudo, dassete edições do Notícias da Paz (contantojá com esta) – mais três do que no man-dato anterior – foi igualmente um factorde difusão das causas e valores do CPPC.Se é certo que muito foi feito, não o é

menos que há muito mais por fazer, so-bretudo tendo em conta as imensas amea-ças à Paz, à soberania, ao progresso e aodesenvolvimento existentes no Mundo.Cabe, em grande medida, aos partidáriosda Paz de todos os países, unidos com asoutras forças progressistas e populares, atarefa de travar a violenta ofensiva emcurso contra direitos elementares – à Paz,ao desenvolvimento, ao progresso, à edu-cação, saúde e segurança social, a cres-cer e trabalhar no seu país… – e de cons-truir um Portugal e um Mundo maisjustos, desenvolvidos e pacíficos.

2011-2013

Dois anos a construir a Paz

3 CPPC

Contra a guerra! Pela Paz!A agressão, ingerência edesestabilização da Síria – promovidapor uma ampla coligação de países, dosEUA à Arábia Saudita passando porQatar, França, Turquia ou Israel –esteve, nestes dois anos, no centro daspreocupações e da actividade do CPPC,que não poupou esforços para defendera soberania daquele país do MédioOriente e a Paz na região. Estaimportante causa, que prosseguirácertamente ao longo do próximomandato, deu azo a tomadas de posiçãopúblicas, reunindo organizações sociaise personalidades, debates e sessões emesmo a desfiles e concentrações derua, com grande expressão pública (emLisboa e no Porto, em 2012 e emSetembro de 2013). A solidariedadecom o povo sírio na sua luta pela Paz, asoberania e o progresso expressaram-seainda através da participação do CPPCnuma visita ao país, em Abril de 2012,organizada pela União dos EstudantesSírios e pela Federação Mundial daJuventude Democrática.O CPPC esteve tambémparticularmente activo na reafirmaçãoda exigência de dissolução da NATO –expressa através de uma acção de ruarealizada aquando da cimeira deChicago, em 2012 –, e em não deixarcair no esquecimento as agressões aoIraque, ao Afeganistão e à Líbia, atravésde comunicados, sessões e debates.

O repúdio pela atribuição do PrémioNobel da Paz à União Europeia – quecada vez mais revela a sua naturezabelicista, agressiva e de aliança mais oumenos explícita com a política externados EUA – também mobilizou o CPPC ediversas outras organizações epersonalidades que com ele convergem.O abaixo-assinado promovido peloCPPC e assinado por mais de milpessoas foi uma das formas utilizadaspara expressar o repúdio por estatremenda hipocrisia.Os aniversários dos criminososbombardeamentos nucleares deHiroxima e Nagasáqui não foramesquecidos, mantendo-se constante efirme a reclamação de um Mundo Livrede Armas Nucleares. Também aexigência do fim das bases militaresestrangeiras deu mote a diversastomadas de posição públicas.

O CPPC, juntamente com outras expressões do movimento da Paz, foramincansáveis na manifestação da sua solidariedade para com os povos que, noMundo, combatem o imperialismo e a guerra e lutam pela sua soberania, pelodireito a escolherem o seu próprio caminho, pelo progresso e pela Paz. Os povos daPalestina, do Saara Ocidental, de Cuba, da Venezuela, Turquia e República PopularDemocrática da Coreia foram alguns dos povos a merecer a solidariedade dospartidários da Paz portugueses, através de concentrações de rua, debates públicos,tomadas de posição ou abaixo-assinados.

Solidariedade

O CPPC, enquanto organizaçãoportuguesa, é solidário com o seupróprio povo, alvo de uma violentaofensiva contra os seus maiselementares direitos, condições de vidae soberania. Assim, o CPPC participouem diversas acções de protesto e lutacontra a política de empobrecimento eexploração que está em curso emPortugal, por meio da troika estrangeirados credores e dos seus representantesinternos, como foram os casos dasgrandes manifestações nacionaispromovidas pela CGTP-IN.Na luta contra a privatização da águaou em defesa da Constituição daRepública – que, há que não esquecer,preconiza, no seu artigo 7.º, umapolítica de Paz – o CPPC disse sempre«presente!».

Presente na lutado povo

Desde Março de 2011 que opovo Sírio tem sido submetidoa uma guerra sem quartel,

movida por uma coligação que integra,entre outros, os Estados Unidos daAmérica, a França, o Reino Unido, Is-rael, Turquia e as monarquias árabes doGolfo e que conta também com apoiosinternos nomeadamente de grupos is-lâmicos fundamentalistas, como os Ir-mãos Muçulmanos ou a Al Nusra (Al--Qaeda).Como o Conselho Português para a

Paz e Cooperação sempre afirmou, oque se passa na Síria é um conflito mi-litar instigado, financiado e mantido apartir do exterior por aqueles paraquem os justos anseios do povo sírio demais justiça e democracia servem ape-nas para justificar mais uma guerra deagressão. É uma guerra conduzidaessencialmente por milícias de mer-cenários e jiadistas, bem armados eapoiados por instrutores militares(nomeadamente franceses), contandocom bases na Jordânia, Turquia, Líbia,Qatar e Iraque. Um dos seus objectivosé liquidar um dos poucos regimes laicose estáveis do Médio Oriente, procu-rando impor ao povo deste país um sis-tema de governo teocrático semelhanteao que vigora nas monarquias do Golfo,no Iraque, no Afeganistão ou, agora, naLíbia ocupada e destruída pela invasãodas forças da NATO em 2012.Mas esta guerra tem outros propósi-

tos, entre os quais a protecção e ampli-ação dos interesses económicos e geo--estratégicos das potências da NATO eda indústria militar a elas associadaque, no contexto da crise que o capita-lismo vive actualmente, procura asse-gurar o controlo dos recursos naturais eenergéticos da região e reafirmar a suapretensão a uma hegemonia planetária.

Guerra e manipulação

Quase três anos volvidos sobre o iní-cio do conflito, das dezenas de milharesde mortos e da destruição provocadapelos combates entre as forças doExército Sírio e os grupos armados, a

Síria tem vindo a confirmar opiniões in-suspeitas, como a do ex-secretário deEstado dos EUA Henry Kissinger, que,em Março de 2012, considerava queuma vitória militar das forças anti--regime seria difícil de alcançar. Nosmeses de Julho e Agosto de 2013, oExército Sírio tomou claramente a ofen-siva e recuperou importantes cidadescomo Al Qusair, Al Qanassir, Salamia,Al Soufaira e importantes vias de co-municação como as que ligam Homs aBeirute e as que conduzem a Alepo, asegunda maior cidade do país,deixando isolados muitos dos gruposmilitares.A 21 de Agosto, alguns órgãos de co-

municação de países ocidentais lançama «informação» – tendo com fonte gru-pos mercenários que combatem oregime sírio – de que o exértito sírioteria, nesse mesmo dia, usado bombasquímicas contra a população da cidadede Goutha matando centenas de pes-soas, entre as quais muitas crianças.Esta informação foi prontamente des-mentida pelas autoridades sírias, mas asuspeita estava lançada: desencadeou--se de imediato toda uma campanhaprocurando justificar uma intervenção

militar directa na Síria tendo comoprincipais instigadores os EstadosUnidos da América, a França e a Grã--Bretanha; a ela opunham-se a Rússia,a China, o Líbanoa, o Irão, os países daALBA (Brasil, Venezuela, Bolívia,Equador, entre outros), a que se jun-taram o próprio secretário-geral dasNações Unidas, o Papa Francisco, o Par-lamento Europeu e uma imensa maio-ria da opinião pública mundial – entreelas a norte-americana, cujo papel foideterminante na inviabilização de umainvasão já anunciada.A 27 de Agosto, o Conselho de Segu-

rança da ONU reúne-se e aprova a re-solução 2118, que decide o envio deinspectores da Organização para aProibição das Armas Químicas (OPAQ)à Síria para aí procederem a uma in-vestigação dos factos e para imple-mentarem um programa visando a eli-minação de todas as armas químicasexistentes neste país, a aplicar atéJunho de 2014.

A força da opinião pública

No entanto, a exemplo da invasão doIraque, os EUA, a Grã-Bretanha e a

5 Notícias da Paz

Os povos têm o direito a decidir dos seus destinos

O que há de novo na Síria?

5 CPPC

França mantiveram a posição inicial deintervirem militarmente no terreno,fazendo deslocar para o Mar Mediterrâ-neo, o Golfo Pérsico e o Mar Vermelhoum elevado número de navios deguerra, porta-aviões e submarinos ape-trechados com os mais modernos mís-seis. As bases militares dos EUA noKuwait, Qatar, Emiratos, Turquia,Chipre e Rota (Espanha) entraram deprevenção. A Rússia fez deslocar tam-bém navios de guerra para o Mediterrâ-neo e para o Golfo. Viveram-se dias emque o mundo parecia estar à beira deuma guerra de larga escala.Mas as forças da Paz mostraram ser

mais fortes: a 29 de Agosto, o Parla-mento britânico votou contra uma in-tervenção militar na Síria proposta peloGoverno; o primeiro-ministro recuou edeclarou respeitar a decisão. Nos Esta-dos Unidos, o Congresso não mani-festou apoio ao presidente Obama e,embora a 3 de Setembro tenham sido osEUA a lançar dois mísseis a partir dabase da Rota, cujo destino era, semdúvida, Damasco, estes foram neutra-lizados pelo sistema anti-míssil russo.Oficialmente, os EUA limitaram-se a

«pedir» a Israel que justificasse os dis-paros como parte de exercícios navaisconjuntos. O ministro da defesa russodeclarou que «atacar Damasco é atacarMoscovo».A 15 de Setembro, após o acordo

entre a Rússia e os EUA com vistas aodesmantelamento das armas químicasexistentes na Síria, a NATO e a UniãoEuropeia manifestaram oficialmente asua concordância com a solução encon-trada. A 5 de Novembro, os inspectoresda ONU e da OPAQ deram como termi-nados os seus trabalhos tendo reco-nhecido a disponibilidade das autori-dades sírias em lhes facilitar o acessoaos locais onde poderia haver armasquímicas e a sua determinação em asdestruir, conforme determina a Re-solução das Nações Unidas. O pro-blema será que se sabe que a partemais substancial do armamento quí-mico não estava na posse das autori-dades sírias, mas nas mãos dos gruposfundamentalistas islâmicos.No início de Novembro, a insuspeita

CNN publica uma reportagem sobre ocomportamento dos bandos islamitas daAl Nusra numa região por eles ainda

dominada. Nela podemos ver a pro-fanação e vandalização de uma igrejacristã, a imposição às mulheres daburka, a proibição de aulas mistas, oscastigos corporais impostos a um reli-gioso cristão. Pena é que reportagenscomo esta não tivessem sido publicadasdesde o início do conflito, pois pode-riam ter contribuído para evitar tantosofrimento ao povo sírio.

Pela Paz!

A questão síria não está resolvida.A Comunidade Internacional tem odever de responder favoravelmente àspropostas do governo da RepúblicaÁrabe da Síria, com vistas à realizaçãode uma Cimeira de Paz promovida pelaONU – Genebra 2 – que estabeleça asbases do desarmamento e a retirada dopaís dos mercenários estrangeiros, re-gule o processo de regresso dos refu-giados e garanta a estabilidade da Síria.Para bem de todos os povos da região eda própria humanidade.

Carlos Carvalho, membroda Direcção Nacional do CPPC

6 Notícias da Paz

Aconstante política de obstrução àliberdade e à democracia e a pri-oridade dada ao poder económico

e financeiro, em detrimento do poderpolítico e da defesa dos direitos humanos,não se compaginam com os valores da Paz.Os valores da liberdade e da Paz não sãonegócio.Com quase 900 anos de História, Portu-

gal tem hoje especiais responsabilidadesna cena nacional, europeia e inter-nacional. Os princípios consagrados naConstituição da República Portuguesa, eem particular no que concerne ao respeitopelos «direitos humanos» e pelos «direitosdos povos», constituem a fonte de ondedeve emanar a orientação da política doPaís.Temos motivos de força, temos razões de

esperança, apesar do tempo conturbadoem que vivemos. A História demonstra--nos que são possíveis outras políticas as-sentes na defesa da dignidade da pessoa,na defesa da Paz e da justiça para todos,porque irmanados na mesma comunidade– a comunidade humana.Todos os portugueses e portuguesas hon-

rados, sejam comunistas, católicos, repu-blicanos, socialistas, monárquicos ou sempartido, estamos interessados em que àsclasses trabalhadoras e classes laboriosasem geral seja assegurada umamelhor vida.Esta comunidade de interesses e aspi-rações explica porque milhares de traba-lhadores e homens, mulheres e jovens pro-gressistas católicos de todas as profissões,se estejam unindo a todos os democratasportugueses na luta por uma melhor vida eum melhor futuro.

Unidade pela Paz e pela justiça

Os objectivos que orientam o projectoCGTP-IN assentam na defesa e concretiza-ção da democracia nas suas múltiplas di-mensões – para uma sociedade em que osdireitos e as liberdades fundamentais e amulticulturalidade se afirmem como va-lores do quadro das relações sociais e cul-turais – no relacionamento solidário e decooperação entre os povos e os estados, nadefesa da independência, da soberania na-cionais e da Paz, na luta coerente e perma-nente pela transformação social e política,

garante de uma sociedade mais justa e de-senvolvida, onde o valor do trabalho e adignificação dos trabalhadores se con-cretizem. Nos 40 anos do 25 de Abril e do1.º de Maio vividos em liberdade, que embreve se comemoram, a unidade continuaa ser o caminho.Temos muitas e fortes razões para con-

tinuar o caminho até aqui percorrido.O País tem presente e futuro para todos, enão apenas para alguns, como a direita, ocapital e as troicas portuguesa e estrangeiratêm orquestrado, com a bênção do Presi-dente da República. Há que dar prioridadeaos anseios das populações, valorizar oque de melhor temos – as pessoas, os tra-balhadores, o povo português.São necessárias políticas que respondam

aos problemas sociais, às necessidades daspessoas, ao desenvolvimento do País. Não

podemos aceitar serviços para pobres eserviços para ricos. São direitos humanosque estão a ser postos em causa, que estãoa ser violados. E isso é inaceitável.Vamos continuar o nosso trabalho pela

Paz, pela liberdade, pela democracia e pelaigualdade. Reforçar a acção individual ecolectiva, reforçar solidariedades e com-promissos com todos e cada um. A unidadena acção dos dirigentes, activistas e dostrabalhadores contará com a presença e aforça de muitas mulheres e homens, mili-tantes da causa da dignidade humana al-cançada pelo trabalho e pela justiça social.A luta continua! Unamo-nos na edificaçãodesta causa maior!

Deolinda Machado, membrodo movimento católico e da Comissão

Executiva da CGTP-IN

Dar prioridade aos anseios das populações

Trabalhar pela Paz

7 notícias da paz

Ao abrir um livro1 de vez emquando consultado, na procurade um fio condutor para parti-

cipação neste boletim, encontrei, per-dido no meio das páginas, um pedaço depapel com uns gatafunhos que me teriamservido de «muleta» para o início deuma intervenção num colóquio sobre aPaz, realizado em 8 de Setembro de2002, nem sei onde (talvez na «Casa daPaz») nem com que companheiros:«Saudar gerações anteriores, afirmarconfiança nas gerações que seguem – aminha, por simplicidade, foi, entre ou-tras coisas, a da luta pela paz num Paísem guerra.»

A partir desta saudação, terei partici-pado no colóquio servindo-me do livroque transcreve intervenções e documen-tos que estiveram na origem da criaçãodo Conselho Português para a Paz e aCooperação, e que sobretudo se rela-cionam com a realização da Assembleiados representantes da opinião públicapara a segurança e a cooperação eu-ropeias, realizada em Bruxelas de 2 a 5de Junho de 1972.Foi esta uma iniciativa de grande sig-

nificado – a que se deu o nome «A Eu-ropa na mão dos povos», com um suges-tivo cartaz… que noutras circunstânciaseventualmente encontrarei – em que se

releva a decisiva importância da entãomuito sublinhada opinião pública. Re-tira-se da chamada Declaração Solene:«A Europa encontra-se na encruzi-

lhada dos caminhos. Ou os seus povosse empenham numa acção que tornaráirreversível o desanuviamento em curso,ou então deixarão passar esta ocasião eos progressos adquiridos serão reduzi-dos a nada. Nós pronunciamo-nos reso-luta e vigorosamente a favor da segu-rança e cooperação. Não permitiremosque as esperanças, já nascidas, se trans-formem em decepção. Nós estamos cer-tos de responder assim à vontade detodos os povos da Europa, que aspiram aum desenvolvimento livre e soberano nocaminho do progresso.»2

Ontem como hoje

40 anos passaram. Neste longoperíodo de quatro décadas, muitascoisas aconteceram. Neste curto períodode quatro décadas, estas palavras, seexigem muita reflexão à luz do que nelese passou, não perderam sentido e terãoaté ganho maior e nova oportunidade.E porque parece, hoje, oportuno, lem-

bra-se que no muito (e justamente)citado relatório de Álvaro Cunhal RRuummooàà VViittóórriiaa, de 1964, por ocasião da assi-nalação do seu primeiro centenário,pouco citado terá sido o seu capítulo VIIque tem o título PPoorr uummaa ppoollííttiiccaa ddee ppaazzee ddee aammiizzaaddee ccoomm ttooddooss ooss ppoovvooss e oparágrafo final desse capítulo: «A via-bilidade do Portugal democrático deamanhã está intimamente ligada a umapolítica externa de paz e amizade comtodos os povos do mundo, na base daigualdade e do respeito pelos interessesmútuos. Um Portugal democrático teráde ser um Portugal pacífico.»3

Entretanto, vai-se tomando consciên-cia que, face ao crescente potencial dedestruição e ao desnorte das forçaseconómicas e financeiras dominantes, aPaz passou de uma necessidade para auma necessidade intrínseca à Hu-manidade e sua sobrevivência.

Sérgio Ribeiro, economista e membroda Presidência do CPPC

Uma luta justa, que prossegue

A Paz – uma necessidade

1 A segurança e a cooperação europeias, Janeiro de 1973, Seara Nova-colecção de leste a oeste2 idem, pág. 49.3 Rumo à Vitória in Obras Escolhidas, volume III, edições avante, pág, 102

8 Notícias da Paz

Conselho Português para a Paz e Cooperação Rua Rodrigo da Fonseca, 56 - 2.º 1250-193 Lisboa Portugal Tel. 21 386 33 75 email:[email protected] www.cppc.ptVisita e adere à nossa página do Facebook

OCPPC esteve presente, no finalde Novembro, na reunião doComité executivo do Conselho

Mundial da Paz realizada na capital daVenezuela, Caracas. O CPPC fez-se re-presentar pela presidente da direcçãonacional, Ilda Figueiredo.Da agenda da reunião constava a dis-

cussão da situação internacional e emcada uma das suas regiões, o reforço domovimento da Paz e as campanhas alevar por diante. Houve ainda oportu-nidade para os participantes na reuniãoconhecerem mais aprofundadamente oprocesso anti-imperialista em curso naquelepaís da América Latina, tanto através devisitas a instituições e organizações so-ciais como de encontros com respon-sáveis políticos venezuelanos.Antes, nos dias 15 e 16, o CPPC par-

ticipou na Conferência «União Europeia– A Dimensão Militar», que teve lugarem Dublin, Irlanda, promovida pelas or-ganizações Aliança para a Paz e Neu-

tralidade (PANA, membro do ConselhoMundial da Paz) e do Movimento dosPovos. O CPPC esteve representado porFilipe Ferreira, da direcção nacional,que interveio no painel «A Construçãodo Movimento da Paz na Europa», naqualidade de coordenador do ConselhoMundial da Paz para a Europa.Na conferência estiveram em dis-

cussão questões relacionadas com acrescente militarização da União Eu-ropeia – e seus impactos no progresso edesenvolvimento dos povos –, a pro-moção e desenvolvimento da indústriade armamento, e a efectiva e crescenteparticipação em acções de agressão eingerência. A afirmação e reforço domovimento da Paz foi outra das matériasem debate.Entretanto, o CPPC recebeu na sua

sede o presidente da PANA, da Irlanda,e uma delegação do Instituto Cubano deAmizade com os Povos, ambas membrodo Conselho Mundial da Paz.

CPPC na Venezuela e Irlanda

Uma causa universalO núcleo do Porto do CPPC levou a caboduas marcantes iniciativas: umaexposição de artes plásticas, com leilãode obras; e a segunda edição do «Paz emCiclo», ciclo de cinema e debates sobretemas relacionados com a Paz e com aGuerra.A exposição, que esteve patente naFundação Engenheiro AntónioAlmeida/Casa Jardim, incluiu 18 obrasde artistas solidários: Acácio Carvalho,Agostinho Santos, Carlos M. Mendes,Evelina Oliveira, Filipe Rodrigues,Franchini, Henrique do Vale, HenriqueSilva, Isabel Cabral /Rodrigo Cabral,José Rosinhas, Manuela Bronze,Margarida Leão, Mirene, Nadir Afonso,Rui Aguiar, Susana Bravo e TeresaBrites. No último dia, teve lugar a vendade alguns dos trabalhos, com o resultadoa reverter para o Conselho Portuguêspara a Paz e Cooperação.O «Paz em Ciclo» – a decorrer entre 13de Outubro e 15 de Dezembro – temlugar nas instalações do Círculo Católicode Operários do Porto, conta com o apoioda Confederação, e consta de cincofilmes, que abordam assuntos como: aPaz no Médio Oriente, a Primeira GuerraMundial, o colonialismo em África e aluta pela independência, o armamentonuclear e a América Latina (Cuba). Ociclo, divulgado também pela UNICEPEe pela Universidade Popular do Porto,contou com os seguintes filmes edebates: «Um tempo para cavalosbêbados», de Bahman Ghobadi (Irão) eum debate sobre as questões do MédioOriente; «Horizontes de Glória», deStanley Kubrick (EUA) e um debatesobre início da Primeira GuerraMunidial com o coronel David Martelo;«A Batalha de Argel», de GilloPontecorvo (Argélia e Itália) e um debatecom o representante da Frente Polisárioem Portugal; «Doutor Estranhoamor», deStanley Kubrick (EUA) e um debatesobre as armas nucleares com o Prof.Frederico de Carvalho; e «Soy Cuba», deMikhail Kalatozov (Cuba e URSS), quedeverá contar um debate e a presença daEmbaixadora de Cuba em Portugal.

Pintura ecinema no Porto