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R E S U M O Revêem‑sealgumasinscriçõesdeSantiagodeCacém,VilaMaior(TorredeMoncorvo),
Nespereira(Cinfães)eFaião(Sintra),nunscasosparadiscutirarestituiçãodostextose,nou‑
tros,paraasintegrarempossíveiscontextoshistóricosqueasexpliquem.Analisam‑seainda
topónimoscitadosnacartadocruzadoRaulsobreaconquistadeLisboaaosMouros.
A B S T R A C T TheauthorreconsiderssomeRomaninscriptionsfromSantiagodeCacém,
VilaMaior(TorredeMoncorvo),Nespereira(Cinfães)andFaião(Sintra).Attemptsaremade
toestablishthetextsandtobringlighttothehistoricalcircumstancesthatcanhavejustified
theirsettingup.Someplace‑namesreferredtointheletterofthecrusaderRandulphuson
theconquestofLisbonin1147arealsoconsideredinordertoidentifythesesites.
Novolume7destamesmarevistainiciámosapublicaçãodepequenasnotasdeArqueologia,EpigrafiaeToponímia,umasmaisdesenvolvidas,outrasmaisbreves,masnenhumasuficientementeextensaparamerecerashonrasdeumartigo.Tendoapresentado,emvolumessubsequentes,outrosblocosdenotas,prosseguimosagoracommaisalgunsapontamentosdomesmoestilo,numesforçodereverepassaralimpoobservaçõesrascunhadasaolongodemuitosanosdeinvestigação.
29. A inscrição de Aureliano (e outras) em Mirobriga Celtica
AsruínasromanasdeSantiagodeCacém(Almeida,1964;Biers,1988;Correia,1990)corres‑pondemcertamenteaumacapitaldecivitas.
TêmsidoestasruínasidentificadascomaMirobriga CelticadePlínio,IV,35,118ecomaMiro-brigadePtolemeu,II,5,5.Talidentificaçãonãopodeapoiar‑secominteirasegurançanarestitui‑çãoM(unicipii)F(lavii)M[IROBRIG(ensis)]deumaepígrafedeSantiagodeCacém(CILII25;IRCP,n.º150;Encarnação,1996,p.133).Primeiro,porquetal leituranãoéhojeconfirmável,dadoodesaparecimentodainscrição.Segundo,porque,aindaquetalepígrafe,afinalnãodestruída,rea‑parecesse,poderíamoscontinuarnadúvidasobreoverdadeironomedacidade,seacasoapenasselessenela,abreviadamente,M.F.M.
Apesardetudo,seriaimportanteoreaparecimentodainscriçãoeaconfirmaçãodoM.final.Considerandoestaletra,etendoematençãoascidadesquePtolemeu,II,5,5registanaparteoci‑
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JORGEDEALARCÃO
REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 11. número 1. 2008, pp. 103-121
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dentaldoAlentejo,adúvidapoderiaserentreMirobriga eMerobriga.Ora,porqueMerobriga era,segundootestemunhodePlínio,IV,35,116,umacidadelitoralouacessívelànavegaçãofluvial,arestituição M[EROBRIG(ensis)] não seria aceitável e teríamos, como mais credível,M[IROBRIG(ensis)].
CremosqueasruínasdeSantiagodeCacémsedevem,efectivamente,identificarcomaMiro-briga Celtica dePlínio.Pretendemos,nestanota,reforçaraideia.
Contraaidentificaçãopodealegar‑sealápidefuneráriadeC(aius) Porcius Severus,Mirobrigen(sis) Celticus encontrada em Francisquinho, na freguesia de Santa Cruz do concelho de Santiago deCacém(IRCP,n.º152).AlocalidadeficarianoterritóriocujacapitalcorrespondeàsruínasdeSan‑tiagodeCacém.Ora,dadonãosercomumaindicaçãodeorigonocasodeumindivíduosersepul‑tado no território da civitas de onde era natural, nesta inscrição pode apoiar‑se alguma dúvidasobreseasruínasdeSantiagodeCacémcorrespondemaMirobriga Celtica (Ribeiro,1994,p.80).Averdade,porém,équehámuitoscasosemqueindivíduos,sendosepultadosnacivitas desuanaturalidade,levamaindicaçãodeorigo.AcrescequeainscriçãodeFrancisquinhonãoéinteira‑menteinsuspeita(Encarnação,1984,p.233,1996,p.135).
ÉimportanteanalisarmosainscriçãoIRCP,n.º149.Trata‑sedeumaplacademármorequeseencontroufragmentadaeincompleta.Apresentatextosemambasasfaces.Joséd’Encarnação(1984,p.227)admitiuapossibilidade“desetratardamesmainscrição,gravadadosdoislados,ou,ainda, que um dos textos tenha sido abandonado incompleto”. Diz ainda o mesmo autor:“…somoslevadosapensarqueainscriçãodoversoéumatentativafalhada,sendoainscriçãoquerestituímosotextodefinitivo”.
ÉaseguinteareconstituiçãoapresentadaporJoséd’Encarnação:
IM[P(erator)CAESARDOMITIVSA]VRELIA[NVS]/PI[VSFELIXAVGVSTVSP]ONTIFE[X]/M[AXIMVS PARTHI]CVS MAXIMVS PAT/ER [PATRIAE TR(ibunicia] POT(estate)] VI (sexta)CONSVLIII/[…]NTIORO[…]MVLO/[…][IS?PROV(inciae)?][…]SMIROC[…?]ENSIVM
AreconstituiçãodeJoséd’Encarnação,sendopacienteeengenhosa,nãosenosafiguraintei‑ramente convincente. Devem salientar‑se, aliás, as dúvidas que o autor exprimiu quanto à suaprópriareconstituição.
AsindicaçõesdeFernandodeAlmeida(1964,p.57)quantoaosfragmentosopistógrafossãoconfusas e incompletas e alguns fragmentos desapareceram (ou não pôde José d’Encarnaçãoencontrá‑los),tornandoaverificaçãoimpossível.
Temosdoisfragmentos(oumelhor,três,massendodoisdelesperfeitamenteajustáveis).Desig‑naremosessesfragmentosporAeB(coincidentescomasdesignaçõesAeBdeJoséd’Encarnação):
FragmentoA FragmentoBIM VRELIAPIV ONTIFEM AXIMVTR NSVLI NTIORO SMIROC
Nasua tentativade reconstituição, Joséd’Encarnaçãousouaindaumtexto recolhidoporHübneremCILII25:
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[…]III/[…]MVLO/[…]ENSIVM
Prescindindodestefragmento,pornãoserseguroquepertençaàmesmainscrição,apresen‑tamosaseguintereconstituiçãodoquepoderiamserasprimeirasquatrolinhasdainscriçãodeAureliano:
IM[PCAESARLDOMITIVSA]VRELIA[NVS] 28letrasPIV[SFELIXAVGVSTVSP]ONTIFE[X] 25M[AXIMVSGERMANICVSM]AXIMV[SPP] 26TR[IBPOTIIPROCONSVLCO]NSVLI 25
Seeraesteotexto,aausênciadostítulosdeGothicus,DacicuseParthicus(emcadacasoseguidosdeMaximus)sugereadatade271.Nesseano,Aurelianoteveopodertribuníciopelasegundavez,eraprocônsulerecebeuoconsuladopelaprimeiravez.
Nasextalinhapoderíamosteroseguinte:
[CIVITATI]SMIRO(brigensium)C[ELT(icum)]
José d’Encarnação considerou que a inscrição corresponde a uma homenagem prestada aAureliano.Dadoqueonomeetítulosdoimperadorseachamemnominativo,otextonãodeveserodeumahomenagemfeitapelosMirobrigenses.Maisparecequeneleserecordaactoqueoimpe‑radortenhapraticadoedequeosMirobrigensestenhambeneficiado.MasseAurelianodeualgoaMirobriga Celtica, nãodeveríamosterodativo civitatiemvezdecivitatis? Seráque,naúltimalinha,haveriaalgocomomuros civitatis Miro(brigensium)Celt(icum) fecit?Alinhateria27letras,númeroqueseharmonizacomodasquatroprimeiraslinhasdainscrição.
Arestituiçãomuros(oumurum)podeparecergratuita.NãoparecerátantoserecordarmosqueCruzeSilva(Silva,1946)recolheuanotíciadoachado,nasruínasdeSantiagodeCacém,deumainscriçãoondeseleriaPORTACIVITA[…].Anotíciafoidada,nasegundametadedoséculoXVIII,porFranciscodeBernardoFalcão:
Ultimamente achando‑se nesta vila em missão o Rev.mo Padre Mestre Frei Alexandre daSagradaFamília,hojemeritíssimobispodeAngola,noanode1775indocuriosamenteobservaroditosítiodeS.Brás(isto é, as ruínasda cidaderomana),descobriuumapedradebomlavor,quebrada,comoseapresentanestafigura(Silva,1946,p.341).
AfigurafoireproduzidaporCruzeSilvaeporFernandodeAlmeida(Silva,1946,p.337,fig.2;Almeida,1966,est.XIX).
Poroutrolado,AndrédeResendeescreveu,noséculoXVI:
Asmuralhascomtorres,emcertaspartesbemconservadasmasnoutrasmeiodestruídas,oaqueduto,apontenovalequecorreameio,afontedeáguacorrentecomumalápidequa‑drangular,advertiram‑medaantigacidade(Resende,1996,p.190).
CidadequeResendeidentificoucomaantigaMerobriga.Nãosãohojevisíveisvestígiosdemuralhas.DevemosacreditarnotestemunhodeAndréde
Resende?Teráohumanistatomadopormuralhaalgoqueonãoseria?Masadesaparecidainscri‑
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çãoPORTACIVITA[…]nãoconfirmaainformaçãodeResende?Seriaumainscriçãomaiscom‑prida,querecordariaquemfezourefezoupagoua(s)porta(s)damuralha?Nocasodeainscriçãorecordarumactodeevergetismo,deveríamos,porém, terumacusativoportam ouportas.Nãoécrívelque,numadasportasdeumamuralha,houvesseinscriçãoapenascomPORTACIVITATIS.
D.Hourcade(2004,pp.235‑236)julgateridentificadovestígiosdemuralhaemSantiagodeCacém,mastaisvestígiosnãoforamaindaconfirmados.E,aindaqueacidadetenhasidoamura‑lhada,seriamdotempodeAurelianoessasmuralhas?
André de Resende escreveu ainda que “na torre meio tombada existe um cipo onde estáescrito…”EdáotextoqueHübnerapresentoucomofalsoemCILII3*equeJoséd’Encarnaçãonemsequerjulgouoportunoreferir.Seráfalsaainscrição?TeráAndrédeResendecopiadomalumaepígrafequeseria,todavia,autêntica?
Acrescequeanossapropostadereconstituiçãodasextalinhadainscriçãocontemplaumfecitparaoqualparecenãohaverespaço.
AsdúvidasquenãopodemosdeixardeexprimirquantoàexistênciademuralhadotempodeAureliano em Mirobriga Celtica não afectam gravemente a hipótese de a inscrição de Aurelianorecordaralgofeitooumandadofazerpeloimperador,oualgoqueoimperadorterápermitidoàcidade.Nessamedida,umareconstituiçãohipotéticadaúltimalinhapoderiaserob merita optimi ordinis Miro(brigensium) Celt(icum).Sea inscriçãorecordavaobrafeitapelo imperadornacidade,essaobraseriaocirco,ouareconstruçãodocirco?Recordaremosqueesteparecetersofridoremo‑delaçãonoséculoIII,posteriormentea235d.C.(Biers,1988,p.42).
Aquintalinhadainscriçãoé,porém,enigmática.Confessamosnãoterpropostaconvincentepara[…]NTIORO[…].Nãoparecequesepossaimaginarnessalinhaapalavracurante eonomedequemteriaordenadodirectamenteaobra.
Joséd’Encarnação(1984,p.229)sugeriuareconstituição[…]NTIORO[…]MVLO.Nãonospareceseguro,comodissemos,queofragmentopublicadoporHübneremCILII25sedevaincluirnestetexto.TambémnosnãopareceindiscutívelapartiçãoNTIORO.Serestituíssemos[…]NTIORO[…],poderíamosterumverbodepoente,naprimeirapessoadosingulardopresentedoindica‑tivo(aliáscompatívelcomonomeetítulosdoimperador,emnominativo).Nessecaso,oO[…]seriaodeob eaúltimalinhacomeçariapormerita?
Ahipótesedeumverbodepoenteobrigaaexcluirum fecitdo finalda inscrição,vistoqueasuposta acção do imperador estaria traduzida por esse mesmo verbo depoente. Aliás, já anterior‑mentevimosquenãoparecehaverespaçoparaumfecitfinal.Poroutrolado,nahipótesedeumverbodepoentenaprimeirapessoadosingulardopresentedoindicativo,otextoteriaaestruturadeumdecretoimperial:osujeitodoverbo(istoé,oimperadorAureliano)declararia(comoeu)queeraoautordaacçãoexpressaporessemesmoverbo.Oraafigura‑se‑nosduvidosoqueotextodeumdecretoimperialtivessesidoreproduzido, ipsis verbis,numainscriçãoempedra.Mas,mantendo,apesardetudo,ahipótese,quepoderiateroimperadorAurelianoordenado?AideiadetersidoeleainstituirasfestasemhonradeEsculápioaqueserefereainscriçãoIRCP,n.o144nãoéadmissívelse,comopro‑põeJoséd’Encarnação,estainscriçãodatadoséculoIId.C.Alémdisso,estamesmainscriçãoparecedeverentender‑senosentidodequeasfestashaviamsidoinstituídaspeloordodeMirobriga Celtica.
Em dois outros fragmentos de inscrições de Santiago de Cacém lê‑se, respectivamente,[…]NTIO[…]/PROV[…]e[…]VSI[…](Almeida,1964,p.57eest.XVIII;Encarnação,1984,p.228).Mesmoadmitindoapossibilidadedeosdoisfragmentospertenceremaumamesmainscrição,nãoéóbvioquesedevaminserirnainscriçãodeAureliano.Teríamos,noutrainscrição,umflamen,umlegatusouumpraesesdaprovínciadaLusitânia?Nocasodeumpraeses,seriaomesmoAurelius Ursi-nus quefiguranumainscriçãodeOssonoba(Encarnação,1984,pp.47‑49)?
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Nãodeixadesercurioso(eintrigante)que,noprimeirodestesdoisfragmentosqueacabámosde referir, se achem as letras NTIO que também encontramos na inscrição de Aureliano. Isso,porém,nãonosparecesuficienteparasustentarmosqueotextodeumadasfacesdalápiderepeteodaoutraface.ConsiderandoafotoqueFernandodeAlmeidapublicadestefragmento(Almeida,1964,est.XVIII,n.º56),eoespaçonãogravadoacimaeabaixodasduaslinhasinscritas,diríamosque[…]NTIO[…]/PROV[…]seintegrariamnumtextoqueteriaapenasduaslinhas.Istonãoexcluiapossibilidadedeestetextoser,dealgumaforma,complementardainscriçãodeAureliano.SeainscriçãodoimperadorrecordavaalgomandadofazerporAurelianooubenefícioporeleconce‑dido,podiahaverindicaçãodequemhaviacumpridoomandado.Seráquetalindicaçãoestavaexactamentenumtexto,autónomo,deduaslinhasdequeapenassobrevivemasletras[…]NTIO[…]/PROV[…]?Nãopodemos,porém,considerarahipótesedeopraeses AurélioUrsinotersidooexe‑cutordasupostaobradeAurelianoemMiróbriga,vistoquenãoteráexercidoocargoantesdefinaisdoséculoIIIoujánoIVd.C.
Oductusdasinscriçõesqueseachamgravadasnestaplacafragmentadaquetantosproblemasdeinterpretaçãosuscitaétãopoucomonumentalquemaispareceteraplacaservidoparafazerumensaioourascunhodepaginação.UmadasfacespodeterservidoparaensaiarapaginaçãodainscriçãodeAureliano,eaoutra,paraensaiarasduaslinhasdeumadiferenteinscriçãoemqueseidentificariaumpraeses Provinciae Lusitaniae.
ArestituiçãodainscriçãoIRCP,n.º149continuadifícildefazer‑se.Seareconstituiçãopro‑postaporJoséd’Encarnaçãonãosenosafiguraconvincente,nãosomoscapazesdepropormelhor.Mas,recusandoaquelarestituição,nãovemosobstáculoaque,nofinal,seleiaMIRO(brigensium)CELT(icum).
Umfragmentodaplacaquecontém,deumlado,ainscriçãodeAurelianoapresenta,dooutro,asseguintesletras:CV[…]/ROM[…]/MIRR[…].Atentaçãoégrandedeveraquiaminuta(porque,repetimos,aplacateráservido,numaoficinadelapicida,paraensaiarapaginaçãodetextos)deumainscriçãofuneráriaconsagradaaumC. Valerius Romulusporsuaesposa,cujonomeseriaMirria ouMirricia.Nãotemos,claro,apretensãodereconstituirotextotalcomoserianaíntegra.EmvezdeRomulus poderíamosteroutro cognomen começadoporRom.Quantoaonomendamulher,seriavariantegráficadeMurriaouMurricia.Recordaremosque,naáreadacivitas,seencontraainscriçãofuneráriadeumMurricius(Encarnação,1996,pp.139‑142).
30. Sobre vici do Alto Douro (Fig. 1)
SusanaBailarimpublicou,em2001,umaaraconsagradaa JúpiterÓptimoMáximopelosvicani Ilex(…)(FE,67,2001,n.º300).Foiaaraencontrada,durantetrabalhosdelavoura,naquintadeVilaMaior,namargemesquerdadaribeiradosCavalos,afluentedorioSabor,nafreguesiadeCabeçaBoa(enãodeCabanasdeBaixocomo,porlapso,aautoraindicou)doconcelhodeTorredeMoncorvo.
Osítiocorrespondecertamenteaumvicus,oqueparecededuzir‑senãosódaprópriainscri‑ção, comodosabundantesachados feitosno terreno (Lemos,1993, IIa,pp.340‑341en.º663;Cruz,2000,p.225).
SusanaBailarim,semterousadoproporumareconstituiçãodonomedovicus,nãodeixoudefazerumaaproximaçãocomIliberitani,Ilipenses,Ilerdenses,Ilurconenses…Apistaparece‑noserrada,dadoestesnomesfazerempartedeumhorizontelinguísticopré‑romanoquenãoseriaodoAltoDouro.
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RepublicandoainscriçãoemL’Année Épigraphique,2001,n.º1209,P.LeRouxadmitiualei‑turali(bentes) ex (voto posuerunt)econsideroupossívelqueosvicanisenãotivessemidentificado,nomeando‑se.Estahipótesenãonospareceprovável.
Ilex(…)recorda‑nos,deimediato,onomeilex, icis,“carrasco”.Separecemserpoucocomuns,nomundoromano,ospovoadosnomeadosapartirdeespéciesvegetais(aocontráriodoquesuce‑deunaIdadeMédia),talvezararidadedostestemunhosliteráriosouepigráficosseexpliquepelofactodeessesnomes(quepoderiam,afinal,nãotersidoraros)teremsidodadosaaldeiasdasquaisnãoficoutestemunhoescrito.Dequalquerforma,encontramos,naestradadeBracara Augusta aAsturica Augusta,passandoporAquae Flaviae,osnomesPinetum eRoboretum,depinus(pinheiro)erobur (carvalho).
Umtopónimoformadoapartirdeilexseria,porém,Ilicetum.AformaIlexetum,seadmissível,seriairregularebárbara.
Namesmaárea(ovaledaVilariça)havia,naIdadeMédia,umvaleIlgoso,mencionadonoforaldadoem1201porD.SanchoIa Junqueira (Azevedo,Costa&Pereira,1979,doc.n.º137).Nomesmodocumento,onomedapovoaçãodeJunqueiraaparecegrafadocomoIunqueira eGunqueira.Depreendemosdaquiqueo‑g‑podiacorresponderaonosso‑j‑.SeráquedevemoslerIljosoondeestáIlgoso?OuemIlgosotemosaoclusivavelarsonora‑g‑eumétimoIlicosus?Naraizencontramosomesmonomeilex, icis.
EstasconsideraçõeslinguísticassãoprovavelmenteociosasporquetalvezsejaoutroonomequeSusanaBailarimleu,aliáscommuitasdúvidas,comoIlex(…).Mas,porqueaautoraviuapedra
Fig. 1 Cartadoslugaresmencionadosnanotan.º30.
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e nós apenas conhecemos dela a fotografia, não queremos rejeitar liminarmente a sua leitura.Parece‑nostodaviapossívellerLir(…).
NacapeladaSenhoradaRibeira,nafreguesiadeSeixodeAnsiães(concelhodeCarrazedadeAnsiães),haviaumaaraconsagradaTutelae Liriensi.Ainscriçãofoirepetidamentepublicadacomodedicada Tutelae Tiriensi e dada como procedente do concelho de Sabrosa (Encarnação, 1975,pp.294‑295).AmílcarGuerra(1998,pp.185‑186,500)corrigiualeituraparaTutelae LiriensieF.SandeLemos (1993, IIa, pp. 149‑151) confirmou a proveniência, que, aliás, Leite de Vasconcelos (1905,p.197)jáderaaoindicá‑lacomoencontradanaigrejadeSantaMariadaRibeira,próximadaestaçãodoVesúvio:ainscriçãoprocededacapeladaSenhoradaRibeiranafreguesiadeSeixodeAnsiães.
Neste lugar,aabundânciadeachadossugereaexistênciadeoutrovicus (Lemos,1993,IIa,pp.149‑151en.º552;Cruz,2000,p.224en.º235).Masseficavaaquiovicus Liriensis,comopode‑remosadmitiroutrodomesmonomeapenasacercade13ou14kmdedistância,naquintadeVilaMaior?
AaraTutelae Liriensinãofoiencontradanodecursodeescavaçõesoudetrabalhosagrícolas.Estavaencastradanumaparededacapela(Cardozo,1972,p.41).Nãosenosafiguraimprovávelque,encontradanosítiodaquintadeVilaMaior,aaratenhasidolevadaparaacapeladaSenhoradaRibeiraemtempomuitoantigo,tendo‑seperdidomemóriadoseuverdadeirolugardeorigem.Assim,ovicus Liriensisou,simplesmente,Liria ficarianaactualfreguesiadeCabeçaBoaeovicus daSenhoradaRibeira,emSeixodeAnsiães,teriaoutronome.
NãolongedaSenhoradaRibeiraficaumaaldeiadenomeColeja.Otopónimorecordaodaparóquia suévicade Coleia.Depoisde termospropostoparaestauma localizaçãoemAlmofala(FigueiradeCasteloRodrigo)(Alarcão,2001,pp.52‑53),perguntámo‑nosseaColeiasuévicanãocorresponderá, afinal, à povoação de Coleja da freguesia de Seixo de Ansiães (Alarcão, 2005a,p.14).AintegraçãodaparóquiasuévicanadiocesedeViseutorna,porém,duvidosaasuasituaçãoanortedoDouro.Podemosadmitirduaspovoaçõesdomesmonome,umaemAlmofalaeoutranafreguesiadeSeixodeAnsiães?SeráquenuncahouveumaColeiasuévicanestaúltimafreguesia?MascomoexplicarentãootopónimoColejaemSeixodeAnsiães?EquenometeriaovicusjuntodacapeladaSenhoradaRibeira?UmaaraconsagradaBandu Vordeaeco tambémaquiencontrada(Lemos&Encarnação,1992)nãonosparecequepossarevelaronomedovicus,dadoque,pelasualarga difusão, o epíteto Vordeaecus não derivará de topónimo (Olivares Pedreño, 2002, passim).PoderáserequivalenteaoepítetoMaximus ouSummusqueseaplicavaaJúpiter?
31. A paróquia suévica de Curmiano
No Parochiale Suevum, uma paróquia da diocese de Portucale (Porto) chamava‑se Curmiano,CurmanoouCurminiano.P.David(1947,p.34)eA.deAlmeidaFernandes(1997,p.72)optaramporCurmianocomoformapossivelmentemaiscorrecta.
TeráestaparóquiasidoinstaladanofundusdeumCoruniusouCoronius?Algumasparóquiasforamestabelecidas,emépocatardo‑romanaousuévica,emvillae.Assim
sucedeucomade Cantabriano,nadiocesedeLamego,oucomade villa Gomedei,nadiocesedePortucale.AprimeiraterásidofundadanavilladeumCantaber;asegunda,nadeum*Gumadeus,possivelmenteumsuevo(Piel&Kremer,1976,p.161).
OnomepessoalCoroniusouCorunius,nãosendodosmaiscomuns,estáatestadoemVárzeadoDouro,noconcelhodeMarcodeCanaveses,eemMérida,figurandoaquinumainscriçãofune‑rária de um Interamniensis (Abascal Palazón, 1994; Atlas Antroponímico). O fundus ou villa de um
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Coruniuschamar‑se‑iaCorunianum(ou,emlatimtardio,Coruniano).Seráestaaformacorrectadonomedaparóquiasuévica?Nestecaso,asletras‑un‑teriamsidolidascomo‑m‑.
Levanta‑se‑nostodaviaumadúvidasobreagrafia/u/por/o/Massãováriososcasos,naepi‑grafialatina,comoemex votuporex voto, CludiusporClodius,MuntanusporMontanus,etc.
Alocalizaçãodestaparóquiaéincerta.SugerimosasuasituaçãoaorientedorioSousa,nãolongedeMagnetum.PoderiaficarnoactualconcelhodeFelgueirasounodePenafiel?
32. O nebularium de Nespereira (Cinfães) (Fig. 2)
AigrejadeEspiunca(Arouca)foiconcedidaaomosteirodeAroucapelobispoD.CrescóniodeCoimbraem1094(PMH,DC,n.º811;Mattoso,2002,p.117).Em1108,ocondeD.HenriqueeD.Teresadoaram‑naaomongeTelo,quedeviaobedeceraobispodeCoimbra,nessadata,D.Mau‑rício (DMP, DR, n.º 13; Coelho, 1977, p. 123; Mattoso, 2002, p. 114). Haveria então aqui umpequenomosteiro(Mattoso,2002,pp.117‑118).
Em1117,omongeTelofezdoaçãodaigrejadeEspiunca,comaterraquedeladependia,aomosteirodePendorada(DMP,DPIV,n.º35;Mattoso,2002,pp.114,117)Odocumentorefereoslimitesdaterradoada:
…per suis locis antiquis per ubi eam mihi terminaverunt per scriptura et renovationes in concilio Vimara-nes, est terminata id est. ab illa portela de Paus et per illa itinera antiqua et fer in illa mola et inde a fonte Kameron et inde ad illo Gallinario et per illo Modurco et inde a foze de Donnim et inde venit ad ipsum nebularium de Nesperaria et inde a portella de Cornias et inde a foze de Laurido et unde in primiter inc(oa)vimus.
Traduzimos:
…pelosseuslugaresantigospelosquais(D.HenriqueeD.Teresa)madelimitaramporescri‑tura, renovada no concílio de Guimarães. São estes os limites: da portela dos Paus, pelaestradaantigaatéàMó,e,depois,dafontedeGamarãoaoGalinheiroepeloModurgoepelafozdeDonim.VemdepoisaonebuláriodeNespereirae,aseguir,àporteladeCórniaseàfozdeLouredoeaté(aolugarpor)ondecomeçámos.
Amanutenção,natoponímiaactual,damaiorpartedosnomescitadospermite‑nosrecons‑tituircombastanteaproximaçãooslimitesdaterradoada.OlugardeCórniasdodocumentode1117nãocorresponderáàqueleoutroqueteveomesmonomemashojesechamaVilaViçosa(Fer‑nandes&Silva,1995,p.238).
Oquesuscitaonossointeresse(mastambémasnossasdúvidas)éapalavranebularium.OqueseriaonebuláriodeNespereira?
Osentidodapalavranebulariuméduvidoso.Podemosadmitirquesetratedegrafiaalternativaanubilarium(Pexenfelder,1704,p.165;Michelet,2001,p.280,n.1).Varrão,De rerustica,13,usaestapalavraparaarmazémousimplesáreacobertaondeseresguardavamoscereaisdachuvaenquantonãoeramtratadosnaeiraedefinitivamenteguardadosnoceleiro.Massemelhanteárea,aterexis‑tido,emesmoadmitindoqueseriaáreadeutilizaçãocolectiva,nãodeveriaficarlongedapovoação—seéquenãoficavamesmonointeriordela.Emtalcaso,nãosevêrazãoóbviaparaqueodocu‑mentomencionasse,comolimitedagrandepropriedadedoada,taláreaenãoaprópriaaldeia.
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Nolatimmedievaldoespaçobritânico,nebulariusocorrecomosentidode“padeiro,fabri‑cantedebolachas”.Tambémnestecaso,eadmitindoqueonebulariumdeNespereiraeraumapada‑ria,deviaficarnointeriordaaldeiaenãoemedifícioisoladoquepudesseservirdereferêncianadelimitaçãodapropriedade.
Finalmente,nebulatrix ocorrecomosentidode“mulherdamáfama”.Seráqueonebularium deNespereiracorrespondeaorochedodolugardePindelo(Nespereira)ondeseencontragravadaumainscriçãocontroversaquantoaotexto,seusentidoesuacronologia?
AinscriçãofoipublicadaporJoséd’EncarnaçãoeLuísM.daSilvaPinho(FE,66,2001,n.º299),quereconheceramadificuldadedasuainterpretação.Nósmesmos(Alarcão,2005a)propusemos,commuitasdúvidas,outraspistasdeentendimento.
NumareuniãoemArouca,em2005,oProf.ArmandoCoelhoF.daSilvamanifestouasuaopiniãodequesetratadetextocondenatório,deépocamedieval.Nãorevelouentão(nemposte‑riormente) a sua leitura (e reconstituição de um texto que se acha truncado pela fractura dopenedo).MasnãoteráoProf.ArmandoCoelhorazão,eestainscrição,condenatória,nãoexplicaráotermo nebulariumdainscriçãode1117?Onebulariumseriaopenedoemqueseencontrariaumainscriçãocondenatóriadegentedemáfama?
Nãoarriscaremosqualquernovaleituraeinterpretaçãodainscriçãorupestre.Masnãodeixa‑remosdeperguntar‑nosseoconciliumquenainscriçãoserefereterásidoalgumareuniãodebisposousínodoeclesiásticoregional (dobispadodeLamego?).Sesetratade inscriçãocondenatória,queméquesecondena?Eporquê?Eemquedata?Nãonosparecequeoconciliumdainscriçãosepossaoudevaidentificarcomoconciliumdodocumentode1117.
Fig. 2 Cartasdoslugaresmencionadosnanotan.º32.
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OproselitismodeS.MartinhodeDume(edahierarquiaeclesiásticadoseutempo)contrapráti‑caspagãsqueoscristãosaindaconservavamecontraosúltimosvestígiosdopriscilianismopropor‑cionaumcontextohistóricoaceitávelcomohipóteseparaadataçãodaepígrafe(nocasodeestasermesmocondenatória).Recordaremostambémque,noconcelhodeCinfães,nomeadamentenosvalesdorioBestançaedoribeiroSampaio,seobservamnumerosasgrutasquepoderãoterservidodecelaseremíticaseventualmenteutilizadasporheterodoxoscristãosrigoristas(Pinho,1997,pp.41‑43).
Aceitandoahipótesedeinscriçãocondenatória,podemospensarnoutrascircunstânciashis‑tóricas.Masnãonosparecemuitoprovávelqueainscriçãoserelacionecomacontendaque,nosfins do século IX ou nos princípios do X, opôs o bispo de Lamego a certo fidalgo de Moldes(Arouca)—contendaresolvidapeloacordoaqueseusfilhosLoderigoeVandiloterãochegadocomobispo(Coelho,1977,p.22).
Semrelaçãodirectacomotemadestanota,mascomaáreadeNespereira,acrescentaremosumoutroenigma:quemterásidoosantoErícioouIrícioqueépadroeirodeumacapelaruralnaáreadaquela freguesia?Nãoconseguimosencontrarnenhumaoutraatestaçãodestesantocujaimagem,veneradanaditacapela,fazlembrar(segundoinformaçãooral)umlegionárioromano.
33. O castrum Lora (Fig. 3)
AcartadopresbíteroecruzadoRaul,dirigidaaOsbertodeBawdsey,enaqualsecontaacon‑quistadeLisboaem1147(Nascimento,2001),contémumainteressantedescriçãodolitoral,dafozdoMondegoaLisboa:
Dieveroquasidecimasequenti,impositissarcinisnostris,unacumepiscopisvelificareincepi‑mus,iterprosperumagentes.DieveroposteraadinsulaPheniciisdistantemacontinentiquasioctingentispassibusfeliciterapplicuimus.Insulaabundatcervis,etmaximecuniculis:liquiri‑ciumhabet.TyriidicunteamErictream,PeniGaddir,idestsepem,ultraquamnonestterra;ideoextremusnotiorbisterminusdicitur.JuxtahancsuntIIinsulequevulgodicunturBerlin‑ges id est Baleares lingua corrupta; in una quarum est palatium admirabilis architecture etmultaofficinarumdiversoria, regicuidam,utaiunt,quondamgratissimumsecretalehospi‑tium.HabenturautemincontinentiaPortugalausqueadinsulamfluminaetcastra.Estcas‑trumquoddiciturSancteMarieinterfluviumDoiraetsilvamquediciturMedicainFrigore,incuiusterritóriorequiescitbeatusDonatusapostoliIacobidiscipulus.Et,post,fluviusVoga.Et,post, civitas Colymbria super fluvium Mundego. Ultram quam est castrum Soyra. Et, post,castrumquoddiciturMonsMaior.Et,post,castrumLora,superfluviumquidividitepiscopa‑tumLyxbonensemaColymbriensi.Et,post,silvaquaevocaturAlchubezlinguaeorum,circaquemheremivastitasusqueadcastrumSuhtrium,quoddixtataLyxebonamiliariaVIII. Ininsulaveropredictacumpernoctassemus,summomanevelificareincipimus,iterprosperumagentesdonecfereadhostiaTagifluminisventusprocumbensamontibusSuchtriisnavestamadmirabilitempestateconcuteretutparsbatellorumcumhominibusabsorberetur.
NatraduçãodeAiresA.Nascimento(2001,pp.73‑75):
Unsdiasdepois,porém,carregadasasnossasbagagens,emcompanhiadosbisposfizemo‑‑nosàvelaefizemosprósperaviagem.Nodiaimediato,aportámossemdificuldadeàilhadePeniche,quedistadaterrafirmecercadeoitocentospassos.Ailhatemabundânciadeveados
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esobretudodecoelhos;temliquiriza(isto é, funcho).Ostírioschamam‑lheEritreiaeoscarta‑ginesesGadir,quequerdizer“sebe”;paraalémdelanãohámaisterraeporissosedizqueéotermoderradeirodomundoconhecido.PróximodelaháduasilhasquenalínguadaterratêmonomedeBerlengas,queéumadeturpaçãolinguísticadeBaleares;numadelasháumpalácio de traça digna de admiração e muitos compartimentos de arrecadações, o qual,segundodizem,serviuemtemposdeabrigosecretomuitogratoacertorei.DenotarquedesdeoPortoatéàilhaháemterrafirmeriosecastelos.ÉocasodocastelodeSantaMaria,entreorioDouroeumaflorestaquedápelonomedeMesãoFrio(em Albergaria‑‑a‑Velha),emcujoterritórioseencontrasepultadoS.Donato,discípulodoApóstoloTiago.DepoisdaflorestaficaorioVougaedepoisacidadedeCoimbra,sobranceiraaorioMon‑dego.PassadaestacidadeficaocastelodeSoureedepoisocasteloquedápelonomedeMon‑temoredepoisocastelodeLeiria(Lora no texto latino),sobranceiroaorioquedivideobispadodeLisboadodeCoimbra.Depois,háumaflorestaquena línguadaterratemonomedeAlcobaça,eemtornodelaestende‑seumvastoermoatéaocastelodeSintra(castrum Suhtrium no texto latino)quedistadeLisboaoitomilhas.Depoisdetermospernoitadonaditailha,demanhãzinha,pusemo‑nosàvela,fazendoumaprósperaviagematéquepróximodoestuáriodorioTejooventoquecaíadaserradeSintra(a montibus Suchtriis no texto latino)seabateucomtemporaltãoforadovulgarqueumapartedosbatéisfoiapanhadacomosseushomens.
Ainsula PheniciiséailhadePeniche.ÉinteressanteestaconfirmaçãodequePenicheeraumailha,quedistava,daterrafirme,quase800passos,istoé,1200m.ÉailhaquePtolemeuchamaLondobris(Guerra,2005,pp.240‑241).NonomeErictreaparecehaverumarecordaçãodeMela,que,apropósito
Fig. 3 VestígiosdepovoamentoantigonaorladaLagoadaPederneira.
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deilhasdaHispânia,diz,emIII,6,47:In Lusitania Erythia est, quamGerionae habitabam accepimus,“naLusitâniaestáailhadeEritia(ouEriteia),quesabemostersidohabitadaporGeriões”.OuháantesrecordaçãodePlínio?Este,emIV,36,120,refere‑seàilhaErythea,massituanelaacidadedeGadir.
TalvezareferênciaexpressaaosFenícios,apropósitodePeniche,seexpliqueporleiturasqueocruzadotivessedosautoresclássicos.Parece‑nosmaisprovável,porém,quetenhamsidoportu‑galensesilustresacompanhantesdocruzadoquelheterãofaladodosFeníciosemPenicheenasBerlengas.Haveria,noséculoXII,umatradiçãoeruditadequeosFeníciosteriamchegadopelomenosaPeniche(edaíonomequeailhajáentãotinha)?
AáreadasBerlengasedePenichefoifundeadourodesdeépocasrecuadas(Blot&al.,2005;Alves,Soares&Cabral,2005)enãoadmiraqueoscruzadostenhamaífundeadonasuanavegaçãodoDouroparaLisboa.
Oobjectivodestanotaé,porém,ocastroLora.TemsidoesteidentificadocomLeiriaeonomeAlchubezconsideradocomoversãodotopó‑
nimoAlcobaça(Barbosa,1992,pp.22,40,n.47;Gomes,2004,pp.27,31).Nãoexcluindoapossi‑bilidadedeocastroLoracorresponderaLeiria,nãodeixaremosdemanifestaranossasurpresapelaformadadapelocruzadoaumtopónimoquedocumentosdamesmaépocaapresentamcomoLeirene (Gomes,2004,pp.30,57).Paraquemliaeescrevialatim(ecertamenteofalavafluente‑mente),apronúnciaLeirenesoariafácildeentenderetranscrever.SeráqueocastroLoradocru‑zadoélocalidadediferentedeLeiria?
NahipótesedeocastroLoracorresponderaLeiria,evistodizer‑senaquelacartaqueficavasobreorioqueseparavaosbispadosdeLisboaeCoimbra,orioquedelimitariaosdoisbispadosseriaoLiz.Éissocredível?
OforaldadoporD.AfonsoHenriquesaLeiriaem1142marca‑lheolimite,asul,nafozdorioAlcoa.AfronteiraseguiadepoisessecursodeáguaatéàFontedoSoão,passavaporAtaíja,pelalombadaMendigaepelascimalhasdeAlvadosedeMinde(Gomes,2004,p.79).Écuriosaacoin‑cidênciadestafronteiracomaquepodemospresumirparaacivitasromanadeCollippo (Bernardes,2007,pp.27‑28).
Ora,seorioAlcoaera,em1142,olimitedoconcelhodeLeiria,eseesteestavaintegradonadiocesedeCoimbra,olimitedestadiocesenãoseriaorioAlcoa?Sendoassim,ocastroLoraseriacastelooupovoaçãonasmargensdesserio,ounalagoadaPederneira,emqueoriodesaguava?
OcontornodalagoadaPederneiranaépocaromana,eaindanaAltaIdadeMédia,temsidotraçadoporváriosautores,aliásseguindoManuelVieiraNatividade(Barbosa,1992,p.22;Freitas&Andrade,2005,fig.5,queaquireproduzimos;Bernardes,2007,p.45).Dandoporboaarecons‑tituição,ocastroLoraficarianasmargensdessalagoa,constituindopontodeembarqueedesem‑barqueoucasteloquedefendiaomovimentoportuário?
NãoignoramosasdúvidasexpressasporRuideAzevedo(inDMP,DR,pp.671‑681)quantoaoslimitesmeridionaisdoconcelhodeLeirianaexactadatade1142.Oforal,nasuaversãoorigi‑nal,nãomarcarialimitesaoconcelhoou,pelomenos,nãolhedemarcariaafronteirameridional.Nãoconhecendonósodocumentooriginal,esendoatendíveisosargumentosdeRuideAzevedo,perguntar‑nos‑emostodaviasenãosãoexcessivasassuasdúvidas.Porrazõesestratégicas(querdenaturezamilitar,quereconómica)teriasidoconveniente,logoaseguiràconquistadeLeiria,tomarpossedalagoadaPederneiraeconstruiraíumcastelo(ouocuparoqueeventualmentejáexistisse).Afronteirameridionaldoconcelhopoderiatersido,poressarazão,delimitada.
LorasurgetambémnafamosaDivisio Wambae (Costa,1965,doc.n.º9).MasaquiélimitedasdiocesesdeCoimbraePorto.Seaceitarmosotestemunhodestecontroversodocumento,teremosdeadmitirquehaviaduaspovoaçõesdomesmonome.
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Asilva quae vocatur Alchubez lingua eorum,”amataquenalínguadeleschamamAlcobece”,devecorresponder, efectivamente, à região de Alcobaça. Talvez a expressão silva deva entender‑se nosentidodeáreanãopovoadaoupordesbravar.NoutrostextosdoséculoXII,aregiãoédescritacomo locus vastae solitudinis in confinio Sanctaren et Colimbrie positum ou como solitudo que est inter Colimbriam et Sanctaren (Gomes, 2004, p. 25). O topónimo actual Alguber, entre Cadaval e RioMaior,teráraizidênticaàdeAlcobaça?Viriapelomenosatéaquiaquelasilvaousolitudo,queocruzadotodavialevaatéaocastrum Suchtrium?Napróximanota,ocupar‑nos‑emosdestecastro.
QuantoàorigemdonomeLeiria,eatendendoaqueogentilícioLaeriusseencontraemduasinscriçõesfuneráriasdaantigacivitas deCollippo (Bernardes,2007,pp.217,233),podemosperguntar‑‑nossenãovemdessenomelatinoonomedacidade(aindaqueaevoluçãode*villa Laeriana paraLeiria,atravésdasformasLeirene ouLairena,possasuscitaralgumasdúvidas).
34. Mais alguns topónimos na carta do cruzado Raul
AcartadocruzadoRaulfala,emdiversospassos(nanotaanteriortranscrevemosapenasum),deumcastrum Suchtrium,Suchtriaou Suchtrio edosmontesSuchtriis (nestecaso,emablativo). TêmsidoestesnomesidentificadoscomSintradesdeaprimeiraediçãodacartaemPMH,Scriptores.
Ogrupoconsonântico‑cht‑deveconsiderar‑seequivalentea‑ct‑.Oraestegrupoevoluiu,emportuguês,para‑nt‑oupara‑it‑.Noprimeirocaso,temosoexemplodepictor>pintoroudepecten>pente.Nosegundo,odenocte > noiteoufructum>fruito,formaantigadefruto.Assim,SuchtriapodeterevoluídoparaSuitria ouparaSuntria.Épossívelquetenhamcoexistidoasduasformas,atéàfixaçãodonomeSintria,formamedievaldotopónimoactual.
NaediçãodacartadocruzadoRaulpublicadaemPMH,Scriptoressurgetodaviaumcastrum Suheriumque,emediçõesposteriores,designadamentenadeAiresA.Nascimento,aparececomocas-trum Suhtrium.SeráquealeituraSuheriumdeveserrejeitadacomopaleograficamenteincorrecta?
O/h/intervocálicoocorrefrequentementeemtextoslatinosouportuguesesmedievaisparadesfazerouevitarohiato,oumesmoemcasosemqueparaissonãoserianecessário.Chamam‑lhecertosautoresaspiratio falsa vel contra consuetudinem admissa. Sendoassim,poderemosadmitir,paracastrum Suherium,aleituraSuerium.TeríamosumcastrooucasteloSoeiro(naformaantigaSoérioouSuário)?
AindanoséculoXIVsechamavamsueyrasousueirascertaspedrasqueViterbo(1966,p.574)supõeteremsidosafiras,masquepoderiamsergranadas.PlíniorefereaexploraçãodegranadasnasproximidadesdeLisboa(Guerra,1995,p.140).SeriaemSuímo,nafreguesiadeBelas,nocon‑celhodeSintra(Ribeiro,1994,p.82).
Talvezsechamassem sueyrasou sueiras aspedrassemipreciosasporseremexploradasnummontechamadoSoeiro.MasficariaestenoactualconcelhodeSintra?EosupostocastroSoeirodocruzadoficarianesseconcelho?Ahipóteseparece‑nosdignadeconsideração,tantomaisque,segundoocruzado,o castrum SuheriumdistavadeLisboa8milhas.Seconsiderarmosquesetratadamilharomanadecercade1480m,asoitomilhascorresponderiamaquase12km,distânciasupe‑rioràdocentrodacidademedievaldeLisboaaSintra.Devemos,écerto,teremvistaqueamilhadocruzadopoderianãoseraromana.Numtextodamesmaépoca,adistânciadeBranca(Albergaria‑‑a‑Velha)aCoimbraécomputadaem26milhas(Nascimento,1998,p.229).Dadoque,seguindoaestradaromana,adistânciaseriadecercade60km,temosaquiumamilhaqueseaproximadamilhagaulesade2222m(Mantas,1996,p.430).Mesmoadmitindoqueamilhadocruzadoseriatambémamilhagaulesa,enãoamilharomana,ocastroSoeiroficariaa17ou18kmdeLisboa.
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NaparteorientaldoconcelhodeCascais,queconfinacomodeOeiras,existeumaribeiracha‑madadasSassoeiras.Serápossívelarelacionaçãodonomecomodaspedras“sueiras”?PoderáSas‑soeirasserumacorruptelade*sôssoeirasou*sussueiras,esignificar“sob(ouabaixode)assueiras”?Chamar‑se‑iaassimaribeirapordescerdeummonteSoeiroemqueseexplorassemaquelaspedras?
SeconsiderarmosquealeituraSuheriumépaleograficamenteincorrecta,equedevemosacei‑taradeSuhtrium,acartadocruzadoRaulnãotestemunhariaaexistênciadeumcastroSoeiro.Devemospensarqueocastrum Suchtriumeocastrum SuheriumouSuhtriumsãoambos,nacartadocruzado,localizadosàdistânciadeoito(oucercadeoito)milhasdeLisboa,oquepareceobrigar‑‑nosajulgarquesetrata,defacto,damesmalocalidade.Mesmoassim,asnossasobservaçõesnãoserãoinúteis,poisumhipotéticomonteSoeiropoderáexplicaronomede“suárias”dadoàspedrassemi‑preciosasnaIdadeMédiaeonomedaribeiradeSassoeiras.
35. A duvidosa localização de Chretina e as inscrições cristãs de Faião (Sintra) (Figs. 4 e 5)
ApovoaçãodeChretinaencontra‑sereferidanaGeografiadePtolemeu,II,5,6.Seaceitarmosascoordenadasqueogeógrafolheatribui,devemossituá‑lanaactualprovínciadaEstremadura.Excluídaahipótesedesetratardecapitaldecivitas,tomá‑la‑emoscomoaglomeradosecundário,todaviaimportante,pois,deoutromodo,nãosejustificariaareferênciaquePtolemeulhefaz.
Nenhumoutroautorclássicomencionaeste lugar.Seonome,nãoconfirmadoporoutrafonteliteráriaouepigráfica,podesuscitardúvidas(há,naGeografia dePtolemeu,nomesincorrec‑tamentetranscritos),nãotemosfundadasrazõesparaduvidardaformaChretina,nãoobstanteasdificuldadesdasuaintegraçãonumounoutrohorizontelinguístico(Guerra,1998,pp.396‑397;GarcíaAlonso,2003,p.109).OuestaráChretina porChrestina?
ApovoaçãotemsidoidentificadacomCrato(Portalegre)(GarcíaAlonso,2003,p.109,comreferências), Faião (Sintra) (Ribeiro, 1982‑1983, pp. 160‑161) ou Torres Vedras (Mantas, 1996,pp.693‑695).
Aprimeiraidentificaçãodeveserrejeitada,nãosóporqueascoordenadasptolemaicasindi‑camumalocalizaçãomaispróximadeLisboa,comoporqueovicusqueselocalizavanaáreadoCratosechamavaCamaloc(…)(Encarnação,1984,p.672).
VascoMantasbaseouasuapropostadeidentificaçãodeChretinacomTorresVedrasnadis‑tânciaaqueopovoadoseencontrariadeOlisipoedeScallabis:a34milhas(=50km)daprimeiraea36milhas(=53km)dasegunda.Deveobservar‑se,porém,quePtolemeunãoindicadistânciasemmilhasequeestasforamdeduzidasporVascoMantasapartirdascoordenadasptolemaicas,assumindoqueograuequivaliaa63milhasromanaseominuto,a1,05milha(Mantas,1996,p.234).Aequivalênciaparece‑nosdemasiadamenteinsegurapara,apartirdela,podermoslocali‑zarcomummínimodefiabilidadeapovoaçãodeChretina.Sefosse indisputávelaequivalênciaproposta,játeríamoslocalizadonumerosasoutraspovoaçõesassinaladasporPtolemeuequecon‑tinuamporidentificar.Certoé,porém,queTorresVedrasdevecorresponderaumpovoadoromanodealgumaimportância,nafronteiraentreascivitatesdeOlisipoedeEburobrittium.
ApropostadeidentificaçãodeChretinacomFaião(Sintra)nãopodeapoiar‑sesolidamentenasupostaetimologiadonomedeSintra.Aindaquecertosautores(Machado,1993)tenhamadmi‑tido a possibilidade de este nome derivar de Chretina, nunca foi apresentada convincente linhaevolutivadeumnomeaoutro,nemmesmofazendointervirumapronúnciaemlínguaárabe.Mas,talcomoTorresVedras,Faiãoapresentanumerososvestígiosdeocupaçãoromanaeficavanumaviadecertomovimentoregional(Byrne,1993).
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Fig. 4 InscriçõesepedralavradadeFaiãoeCabrela(Sintra).
Fig. 5 InscriçãomedievaldeFaião(Sintra),quereutilizouosuportedeumepitáfioromano.
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Faiãopodetermantidoasuaimportâncianaépocavisigótica,aindaquepareçamapoiar‑senumequívocoosargumentosqueJ.CardimRibeiro(1994,p.88)utilizouparasustentarasuarelevâncianoséculoVII.
ReuniuCardimRibeirovárioselementosarquitectónicos(Fig.4),trêsdosquais,epigrafa‑dos,testemunhamaexistênciadetemplosaS.João,aS.MigueleSantoAdriano,eaSantaMaria.OautoratribuiuestasdedicatóriasaoséculoVII.
SeoscultosdeSantaMaria,SantoAdriano,S.JoãoeS.MigueljáexistiamnoséculoVII(Gar‑cíaDomínguez,1966,passim;Costa,1997,pp.473,484,488,500),issonãoésuficienteargumentoparadatarmosdesseséculoaspedrasdeFaião.OcultodeS.Miguel,aliás,pareceter‑sedifundidonaPenínsulaIbéricaapenasapartirdofimdoséculoIX(Gouveia,2007;Henriet,2007).
Revendoessasinscrições,MárioBarroca(2000,n.os13‑17)atribuiu‑asaoséculoX,dataçãoquenospareceponderadaecredível.
Ainscrição+S(an)C(t)EMARIEcorrespondeaolinteldeumaportadetemploquepodetersidoparoquial.
Ainscrição+(h)ECPORTAD(omi)NIpoderiapertenceraoutraportadomesmotemplo.SeécertoquenãoapareceuemFaião,masemCabrela,aproximidadedasduaspovoações,ambaspertencentesàmesmafreguesiadeTerrugemdoconcelhodeSintra,nãoexcluiaquelapossibili‑dade.ApedradeCabrelateriasidolevadadeFaiãoposteriormenteàruínaoudestruiçãodaigrejaemqueseacharia.
Umadestasinscriçõespoderiaachar‑senaportadeacessodirectoaotemplo,enquantooutraseachariaemnártex.Nãoexcluiremos,porém,outraspossibilidades,designadamenteaexistênciadetemplosdiferentes.
Aepígrafe+S(an)C(t)IIO(h)ANNISachar‑se‑iaembaptistérioautónomo.AinscriçãoS(an)C(t)IMICH[AELISET]ADR[I]ANIMARTIRISpertenceriaamosteiroexis‑
tentenomesmolocal?NãonospareceinteiramenteseguroqueolinteldaFig.4,3devadatar‑sedamesmaépoca.
QuantoaodaFig4,6,temconsiderávelsemelhançaestilísticacomumaimpostadaSédeLisboa,primeiramentedatadadossécs.VII‑IXporManuelReal(apudArruda,1994,p.232)masposterior‑menteatribuídapelomesmoautoraoséculoX(Real,2000,pp.53‑54).
UmaoutraepígrafedeFaiãorezaassim:INNOMINED(omi)NIN(o)S(tr)IHI(es)V(s)XPI/EGOEP(isco)BVSVESTERHILDEFON[S]V(s).Estaúltima(Fig.5)suscitaconsideráveisdúvidas.
Ainscriçãofoigravadanumepitáfioromano,doqualterásidoapagadaafórmulanormaldeconsagraçãoDMSdemodoapodergravar‑seainscriçãoepiscopal.Aformaedimensãodapedranãopermitemconsiderarasuautilizaçãocomolinteldeporta.Poroutrolado,oductuseaordinatiosãomuitoirregularesemanifestamentediferentesdosdasoutrasinscriçõesdeFaião.Afaltadeformaverbalcomosacravit, fecit ou aedificavit,oudeexpressãocomoperfectum est templum ab…,nãodevendoseremdemasiavalorizada,leva‑nosaperguntarseobispoIldefonsomandoufazerouconsagrouumtemploconstruídonoseuepiscopado.Haveráoutrahipótese?
ÉpossívelqueemFaiãohouvesseedifício(templo?)queestariadepéeatébemconservadonotempodobispoIldefonso.Naparededesseedifício,reutilizadocomosilhar,estariaoepitáfioromano,comotextovoltadoparaoexterior.AutilizaçãodeepígrafesromanasemedifíciosdaIdadeMédiaé,aliás,comum.Obisponãoterámandadoconstruiroedifício,masapenasseterá“apropriado”dele.Quemgravou,pormandadodobispo,ainscriçãocristã,nãoestariaatrabalharcomodamenteinstaladonumestaleirodeobra,ondepoderiacolocarapedranamelhoralturaecominclinaçãomaisadequadaparaumperfeitotrabalho.Teráfeitoagravaçãonumapedraqueseencontravaverticalmentecolocadaetalvezaalturapoucoconvenienteparaotrabalho.Daíairre‑
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gularidadedoductus eda ordinatio.ComeçandoporapagarasletrasD.M.S.,quepoderiamaindaservisíveis,gravouasduaslinhasqueobispolheencomendou.
Postaestahipótese,perguntar‑nos‑emos:quandoviveuobispoIldefonso?NalistadosbisposdeOlisipodeépocavisigóticanãofiguranenhumIldefonso.Sãoestesos
bispos conhecidos através das actas dos concílios de Toledo: Paulo (589), Goma (610), Viarico(633‑638),Neufredo(646),Cesário(656),Teodorico(666),Ara(683),Landerico(688‑693)(GarcíaMoreno,1974,pp.182‑183,sugerindo,paraalgunsdosbispos,asdatasprováveisdesagração,oquealargaoâmbitodosseusepiscopadosparaalémdasdatasapontadas,quesãoasdosconcíliosdeToledoemqueparticiparam).
Facilmente,écerto,podemosadmitirumbispoIldefonsoque,vivendonoséculoVII,nãotenhaparticipado em nenhum concílio de Toledo. Mas por que razão havemos de excluir outra data?PoderáobispoIldefonsotervividonoséculoX,istoé,naquelaépocaàqualMárioBarroca,justifica‑damente,atribuiasoutrasinscriçõesdeFaião?OuteráIldefonsosidobispodeLisboaem1093‑1095,quandoacidadeestevenapossedoscristãos?Estadataarticular‑se‑iacomahipótese,atrásposta,de“apropriação”,porIldefonso,deumedifícioexistente,quepoderiaatésermesquita.
Nãoterminamaquiasinterrogaçõesqueaepígrafesuscita.PorquerazãoIldefonsoseinti‑tula episcopus vester?Opossessivocorrespondeaumaenfatizaçãomais facilmenteexplicávelnocontextodeumadisputadepoderes.HaveriaoutrobispoemLisboaeambosseconsiderariamlegítimos,disputandoaautoridade?AocupaçãocristãdeLisboaem1093proporcionaumcon‑textocredívelparaessahipotéticadisputa.Umdosbisposseriaomoçárabe,queastropascristãsterãoencontrado,eooutroseriaoqueeventualmenteD.AfonsoVIteráfeitosagrar.OhipotéticoedifíciodeFaiãopoderiaentãoser,nãoumamesquita,masumtemplocristãoqueosdoisbisposdisputariam.Adisputa,aliás,nãoseriaapenasporumtemplo,masporumbispado.
Tendocomeçadoestanotapelaquestão(irresolúvelnestemomento)desaberseFaiãocorres‑pondeàantigaChretina,concluiremosoapontamentointerrogando‑nossobreaorigemdonomedeFaião.
Qualquerquetenhasidooseunomeantigo,opovoadopoderáter‑sechamado,naépocavisi‑gótica,*Fagilone(Piel,1936,p.101).Derivariaestenomedeumantropónimo*Fagilo.Nahipótesedeterhavidoumavilla Fagilonis,deveríamoster,porém,FaiõesenãoFaião.Onome*FagiloneseriaumdestesablativosqueencontramosnoParochiale Suevum (Aunone, Erbilione, Ovelione)ounonomedaprópriacidadedeLisboa(Olisipone)ouainda,emépocamaisantiga,noItinerário de Antonino?
Agradecimentos
AosDoutoresFranciscodeOliveiraeAntónioManuelRibeiroRebelo,pelosesclarecimentoscomquenosajudaram.
REfERêNcIAS
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