Uma das áreas onde têm sido procuradas soluções mais inovadoras é certamente a do Mobile Payment. As aplicações são vastas, desde utilização em caixas ATM, máquinas de vending, ticketing, "Mobile Wallet", pagamentos de serviços, fidelização, autenticação e nos POS (Point-of-Sale). Os fabricantes de terminais móveis, em conjunto com os operadores, têm procurado desenvolver várias soluções recorrendo a tecnologias tais como o IrDA, Bluetooth, MMS ou mesmo as SMS.Por: Justino Lourenço*

A revOlUçãO nAS TrAnSAcçõeS elecTrónIcAS DO DIA-A-DIA.

Tecnologia Near Field Communication (NFC)

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dispositivos (initiator) gera o sinal RF. O segundo dispositivo, utiliza a tecnologia de Load Modulation para transferir os blocos de dados para o initiator.

Existem ainda três modos distintos de operação: Read/Write, NFC card emulation e Peer-to-Peer.

No primeiro dos modos descritos as aplicações têm permissão para a transmissão de dados (respeitando o formato de mensagem do NFC). Este é um modo não seguro, sendo um modo suportado pela Contac-tless Communication API. No modo NFC card emulation, o dispositi-vo comporta-se como um standard Smartcard. Ao contrário do anterior, a transferência de dados é segura e é igualmente suportada pela referida API. No modo Peer-to-Peer é supor-tada uma comunicação link-level en-tre os dispositivos. No entanto é um modo não suportado pela Contactless Communication API.

Tecnologias concorrentesTendo em conta as tecnologias de

suporte num terminal móvel, a pri-meira comparação inevitável seria com o IrDA e com o Bluetooth. O IrDA apresenta-se igualmente como uma solução wireless e de curto alcance, apresentando taxas de comunicação superiores ao NFC. Tem igualmente como vantagem o facto de recorrer a

Para evitar colisões (mais do que um dis-positivo tentar aceder em simultâneo ao único canal de comunicação disponível) é utilizada uma abordagem "listen befo-re talk protocol". Para uma aplicação de curto alcance, onde os tempos de pro-pagação dos sinais são desprezáveis, esta aproximação é passível de implementação com performances adequadas.

A conectividade entre dispositivos é as-segurada sempre que estes se aproximam, dependendo a distância de vários factores, sendo que no limiar teórico poderá che-gar a mais de uma dezena de centímetros. As potências envolvidas e o baixo alcance da comunicação acabam por funcionar como mecanismos de segurança.

Actualmente, a taxa de transmissão poderá ser 106, 212 ou 424Kbps, valores razoáveis para o tipo de transferências de dados que vão ser feitas recorrendo a es-ta família de dispositivos. O processo de ajuste de taxa de comunicação é efectu-ado pela aplicação e pode ser reajustado em função das exigências e condições da comunicação.

O standard define dois tipos distintos de dispositivos: o initiator e o target. O dispositivo que inicia a comunicação é o que controla o fluxo de troca de informa-ção.

Estão definidos dois modos diferentes de operação: modo activo e modo pas-sivo. No modo activo ambos os disposi-tivos geram um sinal RF para envio de dados. No modo passivo, apenas um dos

A perspectiva de se poderem estender as funcionalidades dum telemóvel para um equipamento mais abran-

gente traz vantagens do ponto de vista do utilizador (simplicidade de concentrar num dispositivo funções de pagamento – electronic wallet) do operador (passa a ser um intermediário nas transacções) e do fabricante de terminais móveis (diferen-ciação do produto).

A tecnologiaA solução NFC, referenciada na litera-

tura como a terceira geração de pagamen-tos electrónicos, é uma tecnologia wireless de curto alcance que permite efectuar transacções electrónicas entre dispositi-vos. A tecnologia é uma extensão da ISO/IEC14443, que combina a interface de um Smartcard e leitor num único dispo-sitivo. Qualquer equipamento NFC pode comunicar com qualquer leitor de car-tões ou Smartcard ISO/IEC14443, bem como com outro dispositivo NFC. Esta funcionalidade permite a sua interacção com qualquer infra-estrutura já instalada do tipo contactless, habilitando o acesso e pagamento, por exemplo, na rede de transportes públicos.

A preocupação no desenvolvimento do NFC foi no sentido de agilizar a comuni-cação de curto alcance, reduzindo o tem-po envolvido na transacção. A tecnologia opera na banda não regulamentada dos 13.56MHz, que apresenta uma elevada disponibilidade a nível global. Desta for-ma, é possível conceber uma solução uni-versal e que não requer qualquer tipo de licenciamento para operar.

A abordagem na comunicação é do tipo half-duplex – partilha do canal de trans-missão e recepção, de forma alternada.

QuALQuer eQuipAmentO nFC pOde COmuniCAr COm QuALQuer LeitOr de CArtões Ou smArtCArd isO/ieC14443, bem COmO COm OutrO dispOsitivO nFC.

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ligações por infravermelhos, que não são licenciadas e apresentam a vantagem de não sofrer interferências RF. No entanto, o IrDA tem vindo sucessivamente a per-der peso junto dos fabricantes móveis.

Numa análise comparativa entre o NFC e o Bluetooth, ambas são tecnologias com suporte em transmissão RF, mas a NFC é, no entanto, mais rápida a estabelecer a ligação, conseguindo-o em intervalos de tempo inferiores a 0,1 segundos. Ainda assim, a taxa de transmissão de dados do NFC é cerca de cinco vezes inferior (comparativamente com o Bluetooth 2.1) e apresenta uma distância máxima de comunicação bastante inferior. Ao con-trário do Bluetooth, o NFC é compatível com as infra-estruturas RFID existentes (ISO/IEC18000-3), o que é uma vanta-gem relevante. Em termos de potência, o NFC funciona com níveis baixos, de for-ma similar ao Bluetooth 4.0. Contudo, o NFC consegue comunicar com outros dispositivos não alimentados, como por

exemplo um contactless Smartcard ou um terminal móvel desligado. No entanto, a comunicação com tags passivas requer maior potência do que a solução Bluetoo-th 4.0 Low Energy.

Por último, as restantes soluções de mobile payment que actualmente são uti-lizadas são as apoiadas nas seguintes so-luções: SMS, pagamento directo no site de e-commerce, pagamento recorrendo a aplicações específicas para m-commerce ou soluções de pagamento recorrendo ao cartão de crédito convencional ou opera-dores como o PayPal. Todas estas solu-ções não são adequadas para transacções do dia-a-dia em lojas físicas. No entanto, continuam a ser usadas para soluções que envolvam compras em lojas online, não podendo ser consideradas soluções com-paráveis ou concorrentes do NFC.

Players a apostar no NFCA aposta nesta tecnologia já faz parte

dos planos de vários fabricantes. Segun-

do Richard Doherty, director do Envio-neering Group em declarações à agência Bloomberg, as próximas versões do iPad e iPhone deverão suportar o NFC. Alguns analistas vão mais longe ao vaticinar uma investida da Apple nesta área, criando um solução semelhante ao PayPal apli-cada aos seus dispositivos móveis. A sua forte implantação no mercado, segundo os analistas, poderá levar à criação de um sistema de pagamento fechado, com pouca necessidade de interacção com en-tidades bancárias. A apetência da Apple neste sector dos pagamentos móveis se-gue a tendência geral de crescimento do interesse pelo NFC. No final do ano pas-sado, a AT&T, a Verizon e a T-Mobile USA anunciaram o avançar conjunto no projecto ISIS, que é um projecto comum que engloba ainda os players financeiros Discover Financial Services e o Barclays. O objectivo é a introdução de um sistema global de pagamento móvel recorrendo ao NFC para os EUA.

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Segundo o analista do Aite Group – Gwenn Bzard, a grande vantagem da Apple reside no seu potencial de cresci-mento nesta área, já que é uma empresa que apresenta já um forte volume de tran-sacções móveis. Os cerca de 10 milhões de utilizadores do iTunes já recorrem às suas contas para com-prarem aplicações e música online. A entrada da Ap-ple no sector dos pagamentos mó-veis iria permitir a geração de no-vas receitas.

A tecnologia já foi incluída na platafor-ma Android, tendo a Google adicionado o NFC ao seu smartphone Nexus S. A própria PayPal tem-se desmultiplicado em parcerias nos EUA, com empresas como a Bing Nation, com o objectivo claro de permitir aos utilizadores de contas PayPal o pagamento via dispositivos móveis em

locais físicos. Existem notícias que apon-tam para o lançamento do Samsung Ga-laxy S2 no Mobile World Congress, e que também incluirá a solução de NFC.

Notícias veiculadas no website Boy Ge-nius Report indicam o esforço da RIM, que estará a desenvolver um novo smar-

tphone (com o nome de código Blackberry Dakota) que utilizará a tecnologia NFC.

O operador Everything Everywhere (UK) e o Barclays têm planos, igualmen-te, para lançar um sistema de pagamento NFC no final do corrente semestre (notí-cias divulgadas em http://www.nfctimes.com). Segundo a referida notícia, os ob-

jectivos estendem-se além das transacções electrónicas móveis, procurando ir ao en-contro das áreas da fidelização dos clien-tes e promoções. A solução preconizada utilizará uma aplicação – MasterCard Worldwide PayPass no SIM do operador. A expansão agressiva que o Barclays tem

feito no rollout de pagamentos con-tactless no Reino Unido tem sido notável. Mais de 10 milhões de cartões de cré-dito e débito já são contactless.

Em termos de terminais para pontos de venda, os números apontam para cerca de 42500 terminais disponíveis.

O operador O2 anunciou igualmente o rollout do NFC durante o corrente ano.

Em França a Orange – France Telecom também planeia avançar uma Joint Ven-ture com a MasterCard para a prolifera-

ALguns AnAListAs vAtiCinAm umA investidA dA AppLe nestA áreA, CriAndO umA sOLuçãO semeLhAnte AO pAypAL

ApLiCAdA AOs dispOsitivOs móveis.

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ção da utilização da NFC neste país.Da vizinha Espanha surgem notícias,

no site da NFC Times, que o banco Bankinter planeia avançar com uma demonstração da tecnologia recorren-do ao Samsung S5230 (Star), de for-ma a testar as potencialidades da nova tecnologia. Segundo o site NFCNews, existe igualmente uma parceria entre a MastCard e a Telefónica no sentido de desenvolver uma solução de pagamen-tos móveis em doze países da América Latina. Os serviços de lançamento irão permitir o mobile wallet, transferências interbancárias, pagamentos de serviços e compras em lojas físicas.

Em Portugal está a ser efectuado um estudo piloto, que envolve a Otlis – Operadores de Transportes da Área Metropolitana de Lisboa, Oberthur Te-

chnologies, Optimus, TMN, Vodafone, Metro, Carris, CP e Transtejo/Soflusa para testar uma solução NFC para o pa-gamento dos transportes em Lisboa.

O outro player no segmento dos car-tões de crédito e débito, a Visa, anuncia igualmente estar a avançar com testes na Europa no sentido da utilização da tecnologia NFC suportada para dis-positivos da Apple (o chamado iWal-let). Uma sondagem aos consumidores efectuada pela Visa Europa no Reino Unido, Polónia, Itália e Turquia, per-mitiu concluir que cerca de 87% dos utilizadores do iPhone estão dispostos a utilizar a tecnologia no seu iPhone, de forma a permitir pagamentos mó-veis. A este propósito, a Visa Europa e a Wireless Dynamics desenvolveram uma solução NFC como acessório para o iPhone (apelidada de iCarte), sendo a aplicação descarregada na App Sto-re. Esta solução é apontada como uma primeira aproximação a antecipar a che-gada de terminais móveis com a funcio-nalidade integrada, e cartões SIM que contenham a aplicação que garante a se-gurança necessária, demonstrando mais um sinal de que a próxima geração de dispositivos do fabricante serão compa-tíveis com NFC.

Depois do avanço da McDonalds nos Estados Unidos, encontra-se igualmente confirmado o avançar da sua subsidiária no Reino Unido, no sentido de ser pos-sível efectuar pagamentos contactless nos seus restaurantes. É pois de esperar que esta tendência se popularize pelas cadeias de restauração pelo mundo fo-ra. A cadeia Starbucks avançou com um sistema de pagamento móvel apoiado na tecnologia 2D Barcode. No entanto, não fecha a porta a um posterior avanço no sentido do NFC.

ConclusõesA tecnologia NFC está a ser adop-

tada por vários fabricantes e torna-se igualmente um ponto de referência para os operadores de todo o mundo.

Definitivamente, será uma revolução na forma como iremos olhar para as transacções do dia-a-dia, tornando-se na nova carteira electrónica. A como-

didade e a segurança, que apesar de estar garantida pelo short-range da comunicação, poderá ser aprimorada a nível da aplicação.

A tecnologia inova igualmente ao in-troduzir os operadores de telecomuni-cações na cadeia de processamento de pagamentos, representando mais uma forma de obter retorno com as nossas compras diárias. Mais uma forte razão para esta funcionalidade útil se integrar no nosso telemóvel. Começamos por utilizá-lo para voz, em mobilidade, para envio de mensagens de texto, como má-quina fotográfica e de vídeo, como bro-wser e agora como uma forma cómoda e fiável de pagamento.

*professor e investigador do instituto superior politécnico gaya.

Consultor na área das telecomunicações. Contacto: jml@ispgaya.pt

pOrtugAL tAmbém está nA vAnguArdA nA ApLiCAçãO dA teCnOLOgiA nFC, nOmeAdAmente nOs trAnspOrtes púbLiCOs em LisbOA

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