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O FUTURO DA CIêNCIA EM PORTUGAL VOLTA AO DEBATE E spaço de apresentação e debate do que fazem muitos dos laboratórios de investigação, lugar para a criação de redes e contactos, momento de afirmação da vitalidade da ciência que se faz em Portugal, das relações com a indústria e com o resto do mundo, o Encontro Ciência 2016 contribui ainda para estimular o debate sobre o futuro da ciência em Portugal. Marca o lançamento de um esforço coletivo de preparação de um Plano Nacional de Investigação e Desenvol- vimento, a apresentar em julho de 2017. O programa do evento deste ano resultou da consulta prévia a todas as unidades e centros de Investigação e Desenvolvimento (I&D) durante os últimos meses. Inclui cerca de 100 sessões temáticas, 50 demonstra- ções e mais de 300 posters de estudantes e investigadores projetados nos átrios do Centro de Congressos de Lisboa. Abrange também o debate sobre estratégias emer- gentes em muitas áreas e temas, capazes de fazer surgir as melhores ideias e as melhores lideranças, assim como de juntar pessoas, recursos e instituições, realismo e prospetiva, gerações, ensino e investigação, indústria e ciência, cultura e tecnologia. O Encontro reúne cientistas de todas as áreas, empresas e instituições culturais, O Encontro Nacional Ciência 2016 é a mais importante e diversificada reunião de cientistas e investigadores de diferentes disciplinas e instituições que se realiza em Portugal. Após ter sido lançado em 2007 e realizado anualmente até 2010, este evento volta a realizar-se em 2016, assinalando a dinâmica do nosso desenvolvimento científico e tecnológico e um esforço renovado de ligação da ciência à sociedade. ENCONTRO COM A CIêNCIA E TECNOLOGIA EM PORTUGAL 4 JULHO #newsletter responsáveis por instituições de investi- gação públicas e privadas, estabelecimen- tos de ensino superior e outras entidades implicadas no desenvolvimento científico e tecnológico do país, além de cientistas e organizações estrangeiras especialmente convidadas. O evento é aberto ao público e conta com jovens estudantes envolvidos em atividades de investigação, esperando- -se mais de 2500 participantes. Agradeço o esforço conjunto de todos aqueles que contribuíram para o programa, assim como de todos aqueles que vão par- ticipar ativamente nas sessões e no pro- cesso de construir uma sociedade baseada no conhecimento. Agradeço ainda o esforço de organização pela Fundação para a Ciên- cia e a Tecnologia, a Agência Nacional para a Cultura Científica e Tecnológica Ciência Viva, a Academia das Ciências de Lisboa e a Co- missão Parlamentar de Educação e Ciência, tendo por base o trabalho do Comissário Carlos Salema, vice-presidente da Acade- mia das Ciências e presidente do Instituto de Telecomunicações. MANUEL HEITOR Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior BEM-VINDOS AO CIêNCIA 2016 O Ciência 2016 procura ser uma montra da ciência que se faz em Portugal, aberta tanto aos cientistas como ao público em geral. O programa foi construído a partir das sugestões de sessões temáticas re- cebidas de mais de 140 unidades de investigação em todos os domínios da ciência e da tecnologia. Estas sessões contam com a participação de mais de 300 investigadores. As imposições do tempo e espaço obri- garam a uma seleção e a uma junção de propostas apresentadas, que nem sempre terá sido a mais óbvia, mas que foi sempre bem recebida e aceite. Obri- gado a todos pelas vossas sugestões e pela compreensão demonstrada. Além das sessões temáticas, identifica- ram-se temas abrangentes, aos quais dedicamos, em cada dia, duas sessões plenárias, nas quais temos como convi- dados cientistas nacionais e internacio- nais de méritos firmados. Os trabalhos dos jovens doutorandos são mostrados em mais de 300 posters que dão uma ideia, ainda que pálida, do muito que se faz em Portugal, so- bretudo no ramo das tecnologias. Esta mostra é complementada por cerca de 50 demonstrações que permitem vi- sualizar a concretização de ideias, algu- mas das quais originaram (ou estão em vias de originar) produtos no mercado. Durante os intervalos para café e para um almoço leve podem ser trocadas impressões, ideias e contactos, tão im- portantes para o desenvolvimento de futuras atividades. CARLOS SALEMA Comissário do Ciência 2016

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O futurO da ciência em POrtugal vOlta aO debate

espaço de apresentação e debate do que fazem muitos dos laboratórios de investigação, lugar para a criação de

redes e contactos, momento de afirmação da vitalidade da ciência que se faz em Portugal, das relações com a indústria e com o resto do mundo, o Encontro Ciência 2016 contribui ainda para estimular o debate sobre o futuro da ciência em Portugal. Marca o lançamento de um esforço coletivo de preparação de um Plano Nacional de Investigação e Desenvol-vimento, a apresentar em julho de 2017.

O programa do evento deste ano resultou da consulta prévia a todas as unidades e centros de Investigação e Desenvolvimento (I&D) durante os últimos meses. Inclui cerca de 100 sessões temáticas, 50 demonstra-ções e mais de 300 posters de estudantes e investigadores projetados nos átrios do Centro de Congressos de Lisboa. Abrange também o debate sobre estratégias emer-gentes em muitas áreas e temas, capazes de fazer surgir as melhores ideias e as melhores lideranças, assim como de juntar pessoas, recursos e instituições, realismo e prospetiva, gerações, ensino e investigação, indústria e ciência, cultura e tecnologia.

O Encontro reúne cientistas de todas as áreas, empresas e instituições culturais,

O Encontro Nacional Ciência 2016 é a mais importante e diversificada reunião de cientistas e investigadores de diferentes disciplinas e instituições que se realiza em Portugal. Após ter sido lançado em 2007 e realizado anualmente até 2010, este evento volta a realizar-se em 2016, assinalando a dinâmica do nosso desenvolvimento científico e tecnológico e um esforço renovado de ligação da ciência à sociedade.

encOntrO cOm a ciênciae tecnOlOgia em POrtugal 4 JulhO

#newsletter

responsáveis por instituições de investi-gação públicas e privadas, estabelecimen-tos de ensino superior e outras entidades implicadas no desenvolvimento científico e tecnológico do país, além de cientistas e organizações estrangeiras especialmente convidadas. O evento é aberto ao público e conta com jovens estudantes envolvidos em atividades de investigação, esperando--se mais de 2500 participantes.

Agradeço o esforço conjunto de todos aqueles que contribuíram para o programa, assim como de todos aqueles que vão par-ticipar ativamente nas sessões e no pro-cesso de construir uma sociedade baseada no conhecimento. Agradeço ainda o esforço de organização pela Fundação para a Ciên-cia e a Tecnologia, a Agência Nacional para a Cultura Científica e Tecnológica Ciência Viva, a Academia das Ciências de Lisboa e a Co-missão Parlamentar de Educação e Ciência, tendo por base o trabalho do Comissário Carlos Salema, vice-presidente da Acade-mia das Ciências e presidente do Instituto de Telecomunicações.

Manuel HeitorMinistro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior

bem-vindOs aO ciência 2016O Ciência 2016 procura ser uma montra da ciência que se faz em Portugal, aberta tanto aos cientistas como ao público em geral.

O programa foi construído a partir das sugestões de sessões temáticas re-cebidas de mais de 140 unidades de investigação em todos os domínios da ciência e da tecnologia. Estas sessões contam com a participação de mais de 300 investigadores.

As imposições do tempo e espaço obri-garam a uma seleção e a uma junção de propostas apresentadas, que nem sempre terá sido a mais óbvia, mas que foi sempre bem recebida e aceite. Obri-gado a todos pelas vossas sugestões e pela compreensão demonstrada.

Além das sessões temáticas, identifica-ram-se temas abrangentes, aos quais dedicamos, em cada dia, duas sessões plenárias, nas quais temos como convi-dados cientistas nacionais e internacio-nais de méritos firmados.

Os trabalhos dos jovens doutorandos são mostrados em mais de 300 posters que dão uma ideia, ainda que pálida, do muito que se faz em Portugal, so-bretudo no ramo das tecnologias. Esta mostra é complementada por cerca de 50 demonstrações que permitem vi-sualizar a concretização de ideias, algu-mas das quais originaram (ou estão em vias de originar) produtos no mercado.

Durante os intervalos para café e para um almoço leve podem ser trocadas impressões, ideias e contactos, tão im-portantes para o desenvolvimento de futuras atividades.

Carlos saleMaComissário do Ciência 2016

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2 4 de julho | newsletter encontro CiÊnCia’16

entrevista

«É imPOrtante refOrçar Os laçOs entre as universidades e a indústria»

Sir John O’Reilly é o orador convidado da sessão de abertura do Ciência 2016. Especialista de renome na área das tecnologias da informação e comunicação e com

uma forte ligação ao meio académico, defende que «o verdadeiro sucesso requer um compromisso de excelência entre ensino superior, investigação e inovação».

Considerando o conhecimento que tem da realidade da ciência e inovação em Por-tugal, como vê a evolução do país neste setor? Os licenciados em áreas da ciência e tecno-logia nas universidades portuguesas estão bastante bem preparados, tendo em conta os mais elevados padrões internacionais. O «capital humano» para a investigação e a inovação é bom. No entanto, há outros aspetos – como a disponibilidade de ins-talações verdadeiramente avançadas e o financiamento de projetos de investigação – que, por vezes, têm sido mais problemá-ticos. Tem havido iniciativas positivas, por exemplo, da Fundação para a Ciência e a Tecnologia, mas, muitas vezes, tem sido

difícil mantê-las, devido aos recursos limi-tados e ao difícil contexto financeiro. Dada a importância da agenda de Inovação e In-vestimento, é necessário um bom nível de compromisso com a Investigação e Desen-volvimento (I&D) para impulsionar a eco-nomia na direção desejada.

Como está a colaboração entre a indústria/empresas em Portugal e o setor científico e quais os principais resultados?É importante reforçar os laços entre as universidades e a indústria e tem havido alguns progressos nos últimos anos atra-vés de iniciativas especiais apoiadas pelo Governo. Isto é bom para os estudantes universitários e pós-graduados, pois ajuda

a sensibilizar o setor industrial. Projetos de investigação colaborativa e inovação podem beneficiar as empresas e trazer também novas perspetivas para os investi-gadores académicos.

E a colaboração entre o meio académico nacional e internacional?Os programas de colaboração internacio-nal uniram as universidades e empresas em Portugal a outras de topo noutros países. São exemplos programas da União Europeia e também acordos com um só país, como o existente com os EUA. Estas iniciativas têm dado um estímulo precioso, garantindo o seguimento dos mais eleva-dos padrões internacionais.

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3newsletter encontro CiÊnCia’16 | 4 de julho

entrevista | números

Perfil

• Líder da Comissão de Avaliação Externa do programa Carnegie Mellon Portugal.

• Membro da Royal Society.

• Professor do University College de Londres.

• Presidente do Science and Engineering Research Council da A*STAR em Singapura.

• Presidente da NICC – UK Interoperability Standards.

• Antigo Diretor-geral para o Conhecimento e Inovação no Reino Unido (2013-2015).

Atualmente, quais são as principais áreas es-tratégicas ao nível global?Os grandes desafios não se limitam às fronteiras nacionais: os desafios globais exigem uma resposta global, sublinhando a importância das ligações internacionais em termos de investigação. Muitos de-safios são conhecidos e de longa data – por exemplo, nas áreas da energia, água, saúde ou das infraestruturas digitais to-talmente eficazes para todos. E a partir destes desafios – ou associadas a estes – surgem questões complexas funda-mentais, como as alterações climáticas, a influência das viagens modernas nas pandemias ou o recente reconhecimento do problema da resistência antimicrobia-na aos antibióticos, etc. Estes temas não se limitam às «disciplinas académicas tradicionais», precisam de contributos de um vasto conjunto de áreas. Apenas um exemplo: as Tecnologias da Informação e da Comunicação (TIC) são uma compo-nente essencial para abordar todos estes temas, por isso, precisamos de garantir o dinamismo da investigação e da inovação de forma transversal (incluindo as ciên-cias sociais e humanas).

Em que áreas considera que Portugal é mais forte?Dado o conhecimento que tenho, na minha perspetiva, o ponto mais forte de Portugal é a qualidade académica dos seus progra-mas universitários e licenciados. A área que conheço melhor em Portugal é a das TIC. Este é não só um setor com mérito próprio, como também é crucial para o sucesso de muitas outras áreas. Nesse sentido, é importante para a investigação e inovação enfrentar os grandes desafios atuais: globais, sociais e industriais.

Como é Portugal visto no estrangeiro em termos de ciência e inovação?Os investigadores portugueses são bem recebidos e até mesmo procurados quando as universidades recrutam estudantes de doutoramento e investigadores pós--doutorados internacionais. Portugal tem excelentes padrões de ensino superior e é um parceiro muito valorizado em cola-borações internacionais na área da ciên-cia e tecnologia. Apesar disso, diria que os pontos fortes e capacidades de Portugal ainda têm um reconhecimento inferior ao merecido.

100Sessões paralelas

300Oradores

50Demonstrações

6sessões plenárias

300Posters de estudantes de doutoramento

2500Participantes

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Qual a importância de um encontro como o Ciência 2016 para o desenvolvimento do setor e até para o envolvimento dos cida-dãos com a ciência?Pode dar um contributo valioso em vários as-petos. Ao reunir investigadores, decisores po-líticos, líderes de opinião, entre outros, pode ajudar a criar ligações transversais, a parti-lhar conhecimento, a sublinhar a importância da ciência para a economia e a sociedade, a perceber a reciprocidade de interesses e inter-dependências. Além disso, pode ajudar a au-mentar a perceção do público em geral para a importância da ciência e da tecnologia.

Na sua opinião, como pode Portugal tornar--se mais competitivo, em termos económi-cos e sociais, através do desenvolvimento científico?Citando o bilionário norte-americano, in-vestidor de risco, Jim Breyer: «O melhor antídoto para a estagnação é a inovação, a criação de produtos e serviços que me-lhoram a vida… Todos os países querem fomentar uma cultura de inovação, mas não é fácil fazê-lo.» O que é importante é existir uma interrelação de apoio mútuo – uma simbiose – entre ensino superior, in-vestigação e inovação. O verdadeiro suces-so requer um compromisso de excelência entre estes três pilares.

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À descOberta de nOvOs fármacOsO trabalho dos investigadores nacionais tem levado a importantes avanços no desenvolvimento de novos medicamentos. Na sessão «Descoberta de Novos Fármacos» vão ser apresentados exemplos concretos do contributo nacional para esta área.

«nesta sessão, representantes de sete unidades de investigação irão apre-

sentar os respetivos contributos na área da Descoberta de Novos Fármacos. As palestras focarão, através de exemplos concretos, as principais contribuições de cada unidade nas suas várias vertentes», adianta Maria João Romão, uma das oradoras desta sessão.

«A descoberta de novos fármacos é um pro-cesso complexo e multidisciplinar, que envolve várias etapas, que vão desde a identificação de alvos terapêuticos (por exemplo, proteínas ou ácidos nucleicos) até à descoberta e otimiza-

ção de novas (bio)moléculas que possam ser usadas com sucesso no tratamento de doen-ças», explica Maria João Romão que é, também, coordenadora do UCIBIO – Unidade de Biociên-cias Moleculares Aplicadas.

Ainda segundo esta cientista, «muito do traba-lho desenvolvido nas nossas instituições tem permitido importantes avanços e descobertas que, em muitos casos, levaram a colaborações efetivas com a indústria farmacêutica nacional (ex.: Bial) e internacional (ex.: Merck)». Outras colaborações potenciais e parcerias em curso serão apresentadas durante a sessão.

em foco

a ciência que há na arte

O País À escala nanO

fOtOgrafia das «nOvas migrações»

O artista e investigador português, que está a realizar o doutoramento em Mé-

dia-Arte Digital e colabora com o Centro de Investigação em Artes e Comunicação (CIAC), explora novas práticas e experiências atra-vés de meios digitais interativos. «Produz-se ciência quando se está a criar arte, quando desenvolvemos um projeto de investigação e conseguimos transmitir de forma organiza-da uma inovação artística», explica Rudolfo Quintas, que cruza os dois mundos na conce-ção de instalações audiovisuais, performan-ces e peças de software.

Alguns exemplos são as esculturas sonoras, que permitem ao público desenvolver o som com o movimento do próprio corpo e a estru-tura Absorption, criada com a Harvard Medical School. Esta inspira-se no processo de endo-citose, através do qual as células absorvem nutrientes. «Peguei nessa interação para in-vestigar e desenvolver novas possibilidades e visões do comportamento das pessoas com objetos digitais».

No Ciência 2016, Rudolfo Quintas aborda o projeto Blind Sound, que explora uma nova metodologia para auxiliar pessoas cegas a interagir em ambientes sonoros, intera-tivos e imersivos. Além de ser uma expe-riência de cariz artístico, procura também ter uma vertente de utilidade para a quali-dade de vida deste público, na expansão da sua corporalidade.

O país já se encontra no topo em al-gumas áreas da nanociência, como

no desenvolvimento de biossensores re-lacionados com a medicina, que estão agora a chegar ao mercado, e em senso-res de aplicação na produção industrial. «Temos as ideias, o IT, mas temos de ter uma maior capacidade de produção para sermos reconhecidos lá fora, não só por sermos muito bons ao nível científico, mas também pelo que produzimos», afirma o diretor do INL - International Iberian Nano-technology Laboratory, sediado em Braga.

Na sessão «Nanociências e Nanotecono-logias», intervenientes de diversas áreas vão mostrar o que tem sido feito em Por-tugal, do ponto de vista experimental e teórico. «Há pessoas que vão abordar temas relacionados com aplicações da na-notecnologia na área dos materiais, outras na saúde, na informática, na energia», adianta o cientista.

A trabalhar à escala nanométrica, isto é, ao nível dos átomos e moléculas, esta ciência não tem limites e os leques de aplicação são «extremamente variados». A nanomedicina é uma das áreas que tem atraído a atenção dos cientistas portu-gueses, com a criação de medicamentos inteligentes que podem ser ajustados a cada paciente.

cláudia Pereira, oradora na sessão e uma das autoras do estudo realizado pelo Ob-

servatório da Emigração, que integra o Centro de Investigação e Estudos de Sociologia (CIES-IUL) do Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL), mostra-nos «uma fotografia da emigração portuguesa: onde estão, quantos saíram nos últimos anos e quais as principais características».

Uma análise dos Censos de países da OCDE revela três características importantes, algu-mas do senso comum, agora confirmadas. Existe uma tendência para o envelhecimen-to dos portugueses que estão no estrangei-ro – entre 2001 e 2011, o número de pessoas com mais de 64 anos passou de 9% para 16%. Conclui-se também que prevalece o número de emigrantes com baixas qualificações, embora tenha havido um crescimento significativo dos portugueses com profissões qualificadas, prin-cipalmente em destinos recentes, como Reino Unido, Irlanda, Dinamarca e Suécia. Por último, verifica-se a tendência para a fixação da nova emigração. «Num questionário realizado a en-fermeiros portugueses no estrangeiro, mais de metade afirmou que não tencionava voltar a Portugal. É um dado a ter em atenção, pois nas migrações internacionais, normalmente, as pessoas têm projetos para regressar ao país».

É no cruzamento entre arte, design, tec-nologia e ciência que nasce o trabalho desenvolvido por Rudolfo Quintas, um dos oradores da sessão «Investigação em arte e design», do Ciência 2016.

Portugal já compete lado a lado com o resto do mundo na área das nanociên-cias e nanotecnologias. Falta a capacida-de de produção para poder dar o salto. Mas Paulo Freitas, diretor do INL, acredita que «falta pouco para lá chegarmos».

Em 2014, mais de 110 mil portugueses deixaram o país, o mesmo número re-gistado em 2013. É preciso recuar até às décadas de 60/70 para termos um número mais elevado. Esta é uma das conclusões do estudo Portuguese Emi-gration Factbook 2015, abordado, entre outros temas da atualidade, no Ciência 2016, na sessão «Novas Migrações».

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em foco

Com uma das maiores zonas económicas exclusivas da Europa e mais de 90% da Extensão da Plataforma Continental ocupada por mar profundo, Por-tugal tem uma região submarina com bastante potencial. Ainda há muito por descobrir.

na sessão «Exploração do Mar Profundo», Gui Menezes (MARE – Centro de Ciências do Mar e do Ambiente, Instituto do Mar, Centro do Mar e Ambiente e Departamento de Oceanografia

e Pescas da Universidade dos Açores) dá-nos uma perspetiva em termos planetários do mar profundo, centrando-se de seguida na realidade portuguesa.

«Temos um handicap, relacionado com os meios de que dispomos para estudar a nossa grande área de mar profundo. Possuí-mos alguns meios, mas não são ainda sufi-cientes para termos um bom conhecimento deste mundo». O potencial de mineração dos fundos marinhos, por exemplo, apenas poderá ser definido após a realização de um trabalho muito grande de prospeção e de mapeamento, além da análise dos impactos que essa atividade poderá ter nos ecossis-temas de profundidade. Outro dos desafios é a gestão das pescas no mar profundo, as quais têm características muito próprias. «Os recursos pesqueiros de profundidade são mais vulneráveis, devido a particularidades das próprias espécies. É necessário acautelar níveis de sobre-exploração, situação verifica-da na maioria dos locais do mundo onde se pratica esta atividade».

Por detrás destes pontos, existe outra grande questão: as alterações climáticas e o impacto que terão no mar profundo, uma vez que todos os organismo que aí habitam dependem do que cai da superfície. «Se esta se altera, em termos de alimento ou da circulação de cor-rentes, entre outros, vai afetar todos os ecos-sistemas e organismos desse ambiente».

À descOberta dO mar PrOfundO

cOnhecimentO de tOdOs e Para tOdOs

a democratização do acesso ao conhe-cimento é indispensável para uma so-

ciedade mais informada, qualificada, com maior equidade, justiça social, bem-estar e preparada para enfrentar o futuro. «Só desta forma poderemos ter um país mais desenvolvido», afirma Maria Fernanda Rollo, Secretária de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, que participa na sessão. A conferência conta também com repre-sentantes da Comissão Europeia, dando conta da importância que este tema assume além-fronteiras.

Maria Fernanda Rollo acrescenta que «o Go-verno está empenhado em prosseguir uma política de Ciência Aberta, que garanta de forma inequívoca a acessibilidade à for-

mação e promova contextos de partilha de conhecimento. Quando o conhecimento pro-duzido resulta do financiamento público, a sua partilha torna-se imperativa. É natural que esteja acessível à comunidade científi-ca, em primeira mão, e depois à população em geral, para efeitos de aprendizagem e de reutilização. Sempre observando os direitos da propriedade intelectual, segurança e pro-teção de dados».

O Ciência 2016 assume-se como um exem-plo do dinamismo e compromisso que se pretende consolidar. «Reúne diversas áreas do saber e, além da comunidade de investigadores e de instituições de ensino superior, abre as portas às empresas e à sociedade em geral. Ampliar a transferên-

cia do conhecimento científico para todas estas esferas reforça o seu impacto social e valorização». E, quando se fala em ciên-cia, o leque é amplo – dos ramos naturais aos sociais, passando pela arte. Quase sem darmos conta, «a ciência está em tudo o que viabiliza o nosso quotidiano».

Numa Era da digitalização do conheci-mento, esta pode ser uma «ferramenta poderosa, desde que bem utilizada», co-menta a Secretária de Estado. Será mais uma aliada na valorização do legado cul-tural e patrimonial do país, bem como da identidade nacional, tanto em contexto nacional como internacional, sobretudo junto dos países que partilham a Língua Portuguesa.

«O conhecimento é um bem comum de que todos devem beneficiar». Esta é a premissa subjacente à Política Nacional de Ciência Aberta e que tem lugar especial de debate no primeiro dia do Encontro Ciência 2016.

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a saber

As potencialidades únicas dos Açores como ponto estratégico da atividadecientífica estão em debate no Ciência 2016.

O arquipélago é o local eleito para receber um centro internacional de investigaçãopara o espaço, as mudanças climáticas, a energia e os oceanos.

Os Açores são já uma referência mundial no domínio do estudo das alterações climá-

ticas e da oceanografia. Mas, agora, «Portugal quer capitalizar o investimento e alargá-lo a outras áreas», afirma Paulo Ferrão, Presidente da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT). O objetivo é instalar um centro internacional de investigação nos Açores, que permita recolher dados científicos relevantes, quer para a inves-tigação de interesse público, quer para as em-presas, processá-los e disponibilizá-los.

Uma das principais componentes deste pro-jeto é a criação de uma base espacial para lançamento de satélites. Esta plataforma assume «particular importância, por exem-plo, para o estudo das mudanças climáticas e das suas interações com os oceanos. É fun-damental que os vários países do Atlântico reconheçam que este ponto de observação é essencial, em primeiro lugar, para a produ-ção de conhecimento e, depois, em termos económicos», acrescenta Paulo Ferrão. O projeto é valorizado dos dois lados do Atlân-tico, nomeadamente por entidades como o Massachusetts Institute of Technology (MIT), a Carnegie Mellon University ou a University of Texas at Austin.

É precisamente dos EUA que chega um dos convidados da sessão plenária «Ciências e Tecnologias para o Atlântico». Falamos de Eric Lindstrom, da NASA. A partir da sua experiên-cia na instalação de um laboratório oceânico no Havai e da colaboração no alargamento da zona marítima da Austrália, o cientista vem explicar a importância da implementação de um projeto como o que se pretende para os Açores.

A sessão conta também com a participação de embaixadores de países do Atlântico e de diversas organizações apostadas em conso-lidar esta iniciativa. A Deimos, empresa por-tuguesa de engenharia aeroespacial, é uma delas. O Diretor, Nuno Ávila, acredita que «um centro de investigação científica internacio-nal nos Açores é um ponto de partida para uma participação nacional de grande en-vergadura nos grandes temas da atualidade ao nível científico e tecnológico. Os Açores têm uma característica muito interessan-te: embora Lisboa fique a 2000 km e Nova Iorque a 3000 km, o espaço fica apenas a 600 km dos Açores. E este é muito vanta-joso para a observação dos oceanos, está presente em toda a sua dimensão, 100% do que está por cima dos oceanos é espaço!».

Por outro lado, a instalação deste centro em área portuguesa permite ter «uma grande abrangência de dados relativamente à nossa jurisdição. Os Açores são a nossa embaixada no meio do Atlântico».

Outra empresa nacional interessada em in-vestir é a UAVision. Nuno Simões, um dos res-ponsáveis da empresa dedicada a projetos de engenharia aeronáutica, elege os Açores como uma «localização privilegiada enquanto su-porte à investigação científica. Atualmente, na Europa, é impossível lançar satélites devido a todos os constrangimentos que existem por causa da atividade aeronáutica. Os Açores e as ilhas Canárias são os únicos sítios fora do continente que têm condições para alojar um centro desta natureza. Para a UAVision, os Açores são uma plataforma de testes funda-mental. E esta é uma oportunidade única para Portugal conseguir atrair todos os players da comunidade científica num local único».

Uma vertente igualmente importante neste projeto prende-se com a análise e gestão dos dados. «Temos de ter dados, capacidade para processá-los e disponibilizá-los ao mundo, numa lógica de política aberta», sublinha Paulo Ferrão. Por exemplo, ter na ilha do Pico um sistema sofisticado de medição de emissão de gases de CO

2 e, simultaneamente, um modelo de medição dos ventos permitiria estimar os níveis de CO2 emitidos pelos vários países do Atlântico e criar um método que permitisse compará-los com os níveis publicados nos inventários, no âmbito do Protocolo de Quioto. «Tudo isto tem um valor científico e económico enorme», conclui o responsável da FCT.

açOres: um «labOratóriO vivO»nO atlânticO Para tOdO O mundO

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testemunhos

antónio CunHaPresidente do Conselho de Reitores

das Universidades Portuguesas

O Ciência 2016 deve refletir sobre o modo como a socie-dade portuguesa cria conheci-mento, como o partilha e como o aplica, bem como se quer posicionar no contexto global da produção científica. É um debate essencial para as Universidades, no novo con-texto da Ciência Aberta e dos renovados desafios da articu-lação efetiva entre ensino e a investigação.

alexandre QuintanilHaPresidente da Comissão Parlamentar

de Educação e Ciência

Há vários anos que estávamos todos à espera deste momento! Exemplos do que de mais in-teressante se faz em Portugal em todas as áreas do conheci-mento, desde o mais abstrato ao mais aplicado. Teremos no evento Ciência 2016 uma forma de dar a conhecer à socieda-de portuguesa o trabalho dos nossos investigadores e das nossas instituições. O que es-tudam, que perguntas fazem, que respostas encontram e como testam as suas hipóte-ses e narrativas. Venha assistir e deixe-se transportar para lá das fronteiras do conhecimento.

JoaQuiM MouratoPresidente do Conselho Coordenador

dos Institutos Superiores Politécnicos

(CCISP)

A ciência ainda não defrontou todas as questões, nem dissipou todos os dilemas. Ao responder a uma pergunta surgem outras e o mesmo se aplica à resolução de problemas. Pela sua relevância, o CCISP associa-se a esta iniciati-va, a qual dará nota da dinâmica do sistema científico e tecnoló-gico português, estimulando as instituições na busca pela des-coberta, intensificando a abertu-ra da ciência à sociedade.

Carlos MoedasComissário Europeu para a Investigação, Ciência e Inovação

O evento Ciência 2016 simbo-liza a abertura, a colaboração e o debate. Somos hoje her-deiros destas tradições, tão características da ciência na aceção mais ampla do termo. É nossa obrigação protegê-las e desenvolvê-las para a Europa alcançar os ideais sonhados pelos fundadores do Projeto Europeu.

Paulo FerrãoPresidente da Fundação para a Ciência e a Tecnologia

O Ciência 2016 é o ponto de en-contro dos cientistas portugue-ses das mais diversas áreas, permitindo cruzar experiên-cias e gerar novas ideias. É igualmente importante para dar a conhecer a ciência que se faz em Portugal às empresas e ao público em geral, tendo em vista a promoção do valor social e económico da ciência. Além disso, evidencia junto dos decisores a relevância que o conhecimento deve ter no âmbito da definição de políticas públicas.

rosalia vargasPresidente da Ciência Viva

No Encontro Ciência 2016 a abertura da ciência à sociedade e a cultura científica não pode-riam deixar de marcar presença. A educação científica e o ensino experimental das ciências são o primeiro passo para estimular a curiosidade, o gosto pelo conhe-cimento e a sua apropriação.

A cultura científica não poderá ser apenas uma forma de motivar os mais jovens para a ciência, mas será também para formar cida-dãos. Cidadãos mais livres e mais criativos, mais sabedores e mais ousados, mais abertos aos outros e ao mundo. O conhecimento é uma ferramenta dessa cidadania. Uma cidadania ambiciosa.

robert a. sHerManEmbaixador dos Estados Unidos

da América em Portugal

O Ciência 2016 dá a conhecer a investigação em ciência e tec-nologia de qualidade de topo realizada em Portugal. A Embai-xada dos EUA está empenhada em fortalecer os nossos laços transatlânticos a nível governa-mental, comercial, institucional e pessoal para encontrar solu-ções inovadoras e duradouras para os desafios globais de hoje.

7newsletter encontro CiÊnCia’16 | 4 de julho

www.ciencia2016.pt/programa

Page 8: #newsletter - ipl.pt · Os trabalhos dos jovens doutorandos são mostrados em mais de 300 posters ... quais os principais resultados? É importante reforçar os laços entre as universidades

9h30 sessão de abertura

11h00 intervalo

11h30 sessões Paralelas

Ciência aberta: desafios e oportunidades

Parcerias internacionais (Mit, Carnegie Mellon, ut austin)

Cooperação científica e tecnológica com a Ásia

agricultura sustentável

Comunicação de ciência

novas migrações

translação em saúde

13h00 intervalo para almoço

14h00 sessões Paralelas

ensino experimental

Ciência polar nas fronteiras da terra

Criação, conhecimento, território

Fabricação digital

inclusão social

linguística: conhecimento e utilizações

recursos florestais

15h30 sessões Paralelas

descoberta de novos fármacos

exploração do mar profundo

interdisciplinaridade: redes, dados e sistemas complexos

investigação em arte e design

Mobilidade e acessibilidade

nanociências e nanotecnologias

novas formas de comunicação

17h00 intervalo para café

17h30 sessão PlenÁria: CiÊnCias e teCnologia Para o atlântiCo – a interação entre a CiÊnCia dos dados, o esPaço, as Mudanças CliMÁtiCas e os oCeanos

PrOgrama resumidO | 4 JulhO

Impr

esso

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pap

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cicla

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ENCONTRO COM A CIÊNCIA E TECNOLOGIA EM PORTUGAL4 a 6 Julho Centro de Congressos de Lisboa

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