neoplasias hepáticas: caracterização pela us, tc e...
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Neoplasias Hepáticas: Caracterização pela
US, TC e RM
Sebastião Oliveira Alcântara
Resumo: Ocorre uma variedade de tumores malígnos e benígnos no fígado. A caracterização de lesões
hepáticas focais, embora possa ser um desafio para o radiologista, a maioria das lesões se comportam
com características de imagem que permitem o seu diagnóstico.
Objetivo: O objetivo deste trabalho é o de rever os principais aspectos de imagem de tumores
hepáticos benígnos e malígnos principalmente no fígado adulto.
Unitermos: Fígado; Neoplasias; Ressonância Magnética; Ultra-sonografia; Tomografia
Computadorizada.
Abreviaturas: FNH- hiperplasia nodular focal; HCC-carcinoma hepatocelular; HE-hematoxilina-
eosina.
Abstract: Takes place a variety of malignant and benign tumors in the liver. The characterization of
focal liver lesions, although it can be a challenge for the radiologist, most lesions behave with imaging
characteristics that highlight its diagnosis.
Objective: The objective of this paper is to review the main aspects of imagm of benign and
malignant liver tumors in the liver adult.
Keywords: Liver, neoplasms, MRI, Ultrasound, Computed Tomography.
Abbreviations: FNH, focal nodular hyperplasia, hepatocellular carcinoma, HCC, HE, hematoxylin-
eosin
Trabalho de conclusão de curso de Pós-graduação em Ressonância Magnética pelo Instituto
Cimas/Faculdade Redentor.
Coordenador e Profº do curso de Pós-graduação em RM Homero José de Farias e Melo
Sebastião Oliveira Alcântara Formado em Tecnologia em radiologia médica pelo Centro
Universitário Nove de Julho em São Paulo-Brasil.
Email: [email protected] cel: 11-8358-0340 - São Paulo, 06/12/2011
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Artigo de revisão 12/2011
2
1 INTRODUÇÃO
Ocorre uma grande variedade de
tumores benígnos e malígnos no fígado. A
caracterização de lesões hepáticas focais
embora possa ser um desafio para o
radiologista, a maioria das lesões se apresenta
com características de imagem que permitem o
diagnóstico.
O objetivo deste trabalho é rever o
aspecto de imagem dos tumores hepáticos
benígnos e malígnos mais comumente
encontrados no fígado em adultos. Este artigo
de revisão foi descrito as principais
características do hemangioma, da hiperplasia
nodular focal, do adenoma, do carcinoma
hepatocelular, do colangiocarcinoma intra-
hepático e das metástases hepáticas observadas
em exames de ultra-sonografia (US),
tomografia computadorizada (TC) e
ressonância magnética (RM)¹
1.1Fatores etiológicos:
Exceto para FNH, nódulos hepáticos
geralmente se desenvolvem em fígados
previamente danificados. Danos ao fígado
podem ser causados por vários fatores:
1 A aflatoxina, um produto do fungo:
endêmica Aspergillus flavus, que cresce
indevidamente em grãos armazenados em
nozes (incluindo o amendoim), é considerado
uma importante causa de HCC na África e
Ásia.
2. Doenças metabólicas e genéticas, incluindo
hemocromatose (hepatocelular aumento de
deposição de ferro), doença de Wilson
(hepatocelular aumento de deposição de
cobre), e deficiência de antitripsina, pode levar
à cirrose, nódulos hepáticos, e HCC.
3. Alimentares: obesidade, diabetes (tipo II),
bem como o alcoolismo pode levar à
infiltração gordurosa do fígado (esteatose),
esteatose hepática e cirrose.
4. A hepatite viral: causada principalmente
pela: Viral hepatite B e vírus da hepatite C é
atualmente o mais importante fator etiológico
levando a fibrose hepática e cirrose na
América do Norte.²
1.2 ADENOMA HEPATOCELULAR
Adenomas do fígado normalmente
ocorrem em mulheres jovens com antecedente
de uso de contraceptivos orais. Uma
associação com outras condições ou
hepatocelular agentes estimulantes, como
familiar diabetes mellitus, galactosemia,
armazenamento de glicogênio doença do tipo
3
1, e os esteróides anabolizantes. Necrose e
hemorragia são causas frequentes de dor. Além
disso, de acordo com o uso atual da
terminologia, adenomas hepatocelulares são
classificados como nódulos pré-malígnos.
Devido ao seu potencial de hemorragia e
degeneração malígna, adenomas
hepatocelulares são preferencialmente tratados
cirurgicamente (1,2)
Na RM as características de imagem
que sugerem adenoma incluem hipersinal nas
imagens ponderadas em T1 e em T2, sendo
mais discreto nas últimas. A queda do sinal da
lesão em seqüências gradiente-eco ―fora de
fase‖ indica a presença de gordura intralesional
e é um dado que favorece o diagnóstico de
adenoma. O padrão de realce pelo meio de
contraste paramagnético é similar ao visto na
TC (Fig. 1).
O adenoma pode ser detectado na US,
mas normalmente não apresenta padrão
ecográfico característico, complementações
com TC ou RM são usualmente necessárias
para melhor avaliação da lesão. A
característica que favorece o diagnóstico de
adenoma na TC contrastada multifásica inclui
a presença de lesão única (ou eventualmente
múltiplas), bem delimitada e às vezes
encapsulada. A presença de gordura ou focos
hemorrágicos intralesionais é bastante típica. A
lesão tende a se mostrar isoatenuante ao
parênquima hepático na fase pré-contraste,
com realce homogêneo na fase arterial,
tendendo a tornar-se novamente isoatenuante
ao parênquima hepático nas fases portal e de
equilíbrio.
a b c
d e f
Figura 1. Adenoma hepático na RM (setas). A:
FSE T2 com saturação de gordura, TE 90 MS;
B: FSE T2 sem saturação de gordura, TE 180 MS; C: GRE T1 em fase; D: GRE T1 fora de
fase; E: GRE T1 pós-contraste fase arterial;
F: GRE T1 pós-contraste fase portal. Notar acentuada queda do sinal da lesão na
seqüência GRE T1 fora de fase, indicando
componente de gordura lesional. Liver neoplasms: imaging characterization Radiol
Bras. 2008 Mar/Abr; 41(2): 119–127
1.3 HEMANGIOMA
Os hemangiomas hepáticos são as
lesões benígnas mais comuns que afetam o
fígado, ocorrendo em até 20% de casos de
autópsia, e seu aspecto na ultra-sonografia
4
(US), tomografia computadorizada (TC) e
ressonância magnética (RM) são bem
conhecidas.
No entanto, em número considerável
de casos a sua apresentação pode ser atípica
nos diversos métodos de diagnóstico por
imagem, dificultando o seu diagnóstico,
principalmente nos pacientes em estadiamento
tumoral ou em acompanhamento evolutivo da
doença neoplásica. Apesar de aspectos
incomuns do hemangioma hepático ocorrerem
em até 20% dos exames de imagem, na
maioria dos casos o diagnóstico pode ser
estabelecido combinando-se os resultados
obtidos nos diversos métodos, com destaque
para a RM (3). Para se obter resultados
satisfatórios, é importante reconhecer esses
achados incomuns e se familiarizar com os
principais sinais que permitem o diagnóstico
de hemangioma, evitando, assim, biópsias ou
outros procedimentos invasivos
desnecessários. (8,7)
Na US, o hemangioma hepático se
apresenta como lesão nodular, periférica,
hiperecogênica, homogênea, bem definida e
que, mesmo quando volumosa, não causa
distorção vascular. Cerca de 80% dos
hemangiomas apresentam estas características
na US. Quando maiores que 4,0–5,0 cm, os
hemangiomas podem apresentar
heterogeneidade central correspondente a
necrose, hemorragia ou fibrose, que pode
dificultar o seu diagnóstico ultrasonográfico
(Figura 2).
a
b Figura 2 (a) Hemangioma típico e volumoso,
hiperecogênico e homogêneo, sem distorção
vascular. (b) Volumoso hemangioma hepático, heterogêneo pela presença de necrose central.
Apresentações incomuns do Hemangioma
hepático-Giuseppe D`Ippolito -Radiol Bras 2006;39(3):219–225 ref.(8).
Na TC, o hemangioma comporta-se
tipicamente como uma lesão nodular
hipodensa, homogênea e bem definida na fase
sem contraste e que apresenta realce globular
periférico centrípeto na fase portal após a
injeção do contraste, tendendo a homogeneizar
5
nos cortes mais tardios (Figura 3). As lesões
menores que 3,0 cm podem apresentar realce
homogêneo e completo já na fase arterial,
refletindo o fino calibre dos seus espaços
vasculares, por isso são chamados de
hemangiomas capilares (Figura 4). Ao
contrário, quando as lesões são maiores que
5,0 cm de diâmetro,observa-se, com certa
freqüência, ausência de homogeneização nos
cortes de retardo, decorrente da presença de
áreas avasculares de necrose, fibrose ou
hemorragia (Figura 5)
Figura 3. TC com três fases pós-contraste demonstrando o realce globular, periférico e
centrípeto, tendendo à homogeneização na
fase de equilíbrio. Apresentações incomuns do hemangioma hepático: ensaio iconográfico-
Radiol Bras 2006; 39(3): 219–22)ref.(8)
Figura 4. Pequeno hemangioma hepático
(seta) com intenso realce precoce e
persistente. Apresentações incomuns do
hemangioma hepático: ensaio iconográfico - Radiol Bras 2006; 39(3): 219–225 (8)
Na RM, o hemangioma hepático
apresenta-se como nódulo ou massa
hipointensa em T1 e hiperintensa em T2, sem
queda de sinal nas seqüências obtidas com
Ecos mais longos (TE > 140 MS). Após a
injeção do gadolínio, o hemangioma apresenta
contrastação semelhante àquela observada nos
estudos tomográficos (Figura 6).
Aproximadamente 90% dos hemangiomas
apresentam estas características nos exames de
RM.(1)
a
b
C
Figura 5. (a) Hemangioma com 8,0 cm de
diâmetro e área hipovascularizada central nos
cortes de retardo (b). As imagens de RM
6
ponderadas em T2 (TE = 140) confirmam o
diagnóstico de hemangioma (c). Apresentações
incomuns do hemangioma hepático: ensaio
iconográfico - Radiol Bras 2006;39(3):219–
225 (8)
a
b
c Figura 6. Hemangioma atípico na US (a) e
com aspecto típico na RM (B, C). A massa
apresenta-se hiperintensa em T2 (B), sem
queda de sinal nos Ecos mais longos, com TE
= 140 e realce globular periférico e centrípeto
(C). Apresentações incomuns do hemangioma
hepático: ensaio iconográfico - Radiol Bras
2006;39(3):219–225 Ref(8)
1.4 HIPERPLASIA NODULAR FOCAL
Hiperplasia nodular focal (HNF) é
definida como nódulo composto por
hepatócitos de aparência normal e que ocorre
em fígado com aspecto histológico normal. É o
segundo tumor hepático benígno mais
freqüente, com incidência descrita de 0,9%.
Ocorre predominantemente no sexo feminino e
em pacientes jovens. Cerca de20% dos
pacientes têm lesões múltiplas e existe
associação da ocorrência destes tumores com
hemangiomas hepáticos.
A HNF pode ser dividida em clássica (80%) e
não-clássica (20%), segundo seus aspectos
histológicos. A clássica apresenta três
componentes: arquitetura nodular anormal,
vasos malformados e proliferação de ductos
biliares. A não-clássica contém dois dos três
componentes, incluindo a proliferação ductal.
A patogênese da HNF não é totalmente
conhecida. Malformação vascular e/ou injúria
vascular são sugeridas como possíveis
mecanismos para seu desenvolvimento. A
associação com esteróides é controversa. O
tumor é geralmente assintomático e, nestes
casos, não requer tratamento. É comumente um
achado incidental em exames de imagem,
especialmente após a incorporação e
aprimoramento dos estudos dinâmicos com
meios de contrastes intravenosos na TC e RM.
Na US tem padrão inespecífico e é
mal visualizada. Geralmente se apresenta como
nódulo ligeiramente hipoecogênico ou
hiperecogênico e sua caracterização definitiva
7
com este método não é possível. A HNF
clássica geralmente é caracterizada com grande
eficácia pela TC e RM. Atualmente, a TC
helicoidal e especialmente a TC com múltiplas
fileiras de detectores (multislice) permitem
estudo hepático multifásico (contrastação
hepática arterial, portal e de equilíbrio),
indispensável para a avaliação da
vascularização do tumor e sua correta
caracterização. Os aspectos típicos da HNF na
TC incluem lesão lobulada e bem delimitada,
iso ou levemente hipoatenuante na fase pré-
contraste, e com importante realce homogêneo
na fase arterial do contraste, com clareamento
(wash-out) rápido nas fases portal e de
equilíbrio. Comumente é vista pequena área
central estrelada que tende a se impregnar nas
fases tardias (cicatriz central), composta por
vasos mal formados (Figura 7).
Na RM, a HNF clássica apresenta-se
como lesão ligeiramente hipointensa em T1 e
com discreta hiperintensidade em T2. Em 85%
das lesões é possível a identificação da cicatriz
central, que se apresenta com maior sinal do
que o restante da lesão nas imagens
ponderadas em T2. O padrão de realce pelo
meio de contraste intravenoso da HNF é
semelhante ao descrito na TC. Quando estas
características são presentes, a especificidade
diagnóstica atinge 98%. (Figura 8). HNFs
atípicas podem se apresentar como lesões
grandes, heterogêneas e com múltiplas
localizações. O tumor pode apresentar menor
grau de realce pelo meio de contraste, ausência
de realce da cicatriz central e realce de
pseudocápsula nas fases tardias. Calcificações
puntiformes centrais podem ser
excepcionalmente observadas. Nestas
situações, a diferenciação da HNF com outras
lesões benígnas (adenomas) e malígnas
(hepatocarcinoma, carcinoma fibrolamelar e
metástases hipervascularizadas) pode ser
extremamente dificultada, sendo necessário
estudo histológico. (1,9,10)
Figura 7. Hiperplasia nodular focal típica na
TC (setas). Fases sem contraste (a), arterial (b), portal (c) e de equilíbrio (d). Notar
impregnação precoce na fase arterial e
clareamento rápido na fase portal. A cicatriz
8
central permanece hipoatenuante nas fases
precoces e se impregna tardiamente na fase de equilíbrio.
Neoplasias hepáticas: caracterização por
métodos de imagem- Radiol Bras 2008
mar/abr;41(2)119-127 ref (1)
Figura 8. Hiperplasia nodular focal na RM
(setas). A: FSE T2 com saturação de gordura,
TE 90 MS; B: GRE T1 com saturação de gordura; C: GRE T1 pós-contraste fase
arterial; D: GRE T1 pós-contraste fase de
equilíbrio. Notar acentuado realce arterial e
clareamento na fase de equilíbrio. A cicatriz central apresentahipersinal em T2 e realce
tardio na fase de equilíbrio. caracterização
por métodos de imagem- Radiol Bras 2008 mar/abr; 41(2)119-127 ref (1)
1.5 CARCINOMA HEPATOCELULAR
O carcinoma hepatocelular (CHC)
geralmente ocorre como complicação da
cirrose hepática, especialmente naquela
causado por vírus (B e C), e sua prevalência
em fígados cirróticos retirados em transplantes
atinge 14%. Pacientes com cirrose hepática
podem ser avaliados por US, TC e RM.
Embora cada método tenha sua particularidade,
a capacidade de detecção de uma lesão focal
depende do contraste existente entre ela e o
restante do parênquima, que pode ser
influenciada pela presença de gordura, necrose
e fibrose. Especialmente, a US apresenta
importantes limitações para a avaliação de
nódulos no fígado cirrótico. Devido ao maior
risco de pacientes com cirrose desenvolverem
CHC, ao se detectar qualquer nódulo sólido na
US, preconiza-se prosseguir investigação com
TC ou RM. É fundamental que tanto a TC
como a RM sejam realizadas utilizando meios
de contraste intravenosos e que seja possível
realizar estudos multifásicos incluindo a fase
arterial pós-contraste, imprescindível para a
detecção e caracterização do CHC.
Lesões nodulares no fígado cirrótico
podem ser separadas em duas grandes
categorias: Nódulos regenerativos e displásicos
ou neoplásicos. Nódulos regenerativos
representam áreas de parênquima aumentadas
como resposta à necrose e alterações
circulatórias. Nódulos maiores que 3–5 mm
são chamados de macrorregenerativos, mas
raramente são maiores que 20 mm. Nódulos
com dimensões maiores que 20 mm são
geralmente displásicos. Os nódulos
regenerativos podem conter ferro, e nestes
casos são chamados de nódulos sideróticos.
9
Apesar de histologicamente presentes em todos
os fígados cirróticos, os nódulos regenerativos
são vistos em uma minoria de pacientes na TC
e em cerca de 50% dos casos na RM, sendo os
nódulos sideróticos mais evidentes. (1)
Carcinoma hepatocelular HCC é definido
como uma neoplasia malígna composta de
células com hepatocelular diferenciadas. HCC
pequeno é definido como um tumor de 2 cm ou
menores . HCC tem intensidade de sinal
variável em imagens de T1 e T2. Alto sinal de
imagens ponderada em T1 é atribuída ao
intratumoral gorduroso, cobre ou glicogênio,
ou ao zinco no parênquima circundante. Teor
de gordura leva para sinalizar perda de
intensidade em oposição de fase.
Intensidade do sinal de alta moderada em T2 é
bastante específicos para HCC, desde que
nódulos displásicos não são hiperintensas a
menos que eles são infartado . No entanto,
HCC pode ser difícil de detectar em
ponderação T2 por causa da heterogeneidade
do fígado cirrótico, que obscurece levemente
hiperintensas e isointensa. Artefatos de
respiração, particularmente em pacientes com
ascite, pode também criar dificuldade na
detecção(11).
O CHC tem aparência variável na TC e RM.
Apesar de o hipersinal nas imagens ponderadas
em T2 da RM ser suspeito para CHC, o sinal
das lesões é variável, podendo se apresentar
com hipo, iso ou hipersinal em relação ao
fígado adjacente nas imagens ponderadas em
T1 e T2(12).
O hepatocarcinoma fibrolamelar é um
tipo de hepatocarcinoma incomum que
apresenta características clínicas (incluindo
prognóstico) e histopatológicas distintas do
CHC clássico encontrado no fígado cirrótico.
Ocorre preferencialmente em pacientes jovens,
sem hepatopatia de base e sem elevação de
marcadores tumorais (21). Os aspectos do
CHC fibrolamelar freqüentemente encontrados
na TC e RM incluem massas grandes em
fígados não-cirróticos, lobuladas, bem
delimitadas, heterogêneas e com septos
radiados e cicatriz central com componentes de
fibrose. Calcificações (mais bem avaliadas pela
TC) são vistas em cerca de 50% dos casos,
quase que exclusivamente na região da cicatriz
central. Os estudos dinâmicos com meios de
contrastes intravenosos evidenciam
vascularização preferencialmente
arterial, heterogênea. Nas imagens tardias há
uma tendência de impregnação persistente da
10
cicatriz central, o que denota o componente
fibroso de tal região (Figura 9). Na RM, o
tumor geralmente apresenta hiposinal em T1 e
hipersinal heterogêneo em T2, sendo que a
cicatriz central possui hiposinal em T2. Tal
aspecto ajuda na diferenciação de outros
tumores que podem apresentar cicatriz central,
especialmente a HNF, na qual a cicatriz central
apresenta hipersinal nas imagens de RM
ponderadas em T2. (13).
Figura 9. CHC fibrolamelar. Paciente jovem,
sem hepatopatia. TC sem contraste: grande
massa heterogênea no lobo direito e com calcificações centrais (a). TC com contraste:
nota-se realce heterogêneo e delimitação de
outras lesões no lobo esquerdo (b).
Caracterização por métodos de imagem- Radiol Bras 2008 mar/abr; 41(2)119-127 ref
(1)
Figura 10. Carcinoma hepatocelular na RM
(setas). A: FSE T2 com saturação de gordura, TE 90 MS; B: GRE T1 com saturação de
gordura; C: GRE T1 pós-contraste fase
arterial; D: GRE T1 pós-contraste fase de
equilíbrio. Notar sinais de hepatopatia crônica, com pequenos nódulos regenerativos
sideróticos esparsos, mais bem vistos com
hiposinal nas imagens ponderadas em T2. O carcinoma hepatocelular no lobo esquerdo
apresenta acentuado realce arterial e
clareamento na fase de equilíbrio, com realce da pseudocápsula fibrótica. Caracterização
por métodos de imagem- Radiol Bras 2008
mar/abr; 41(2)119-127 ref (1)
1.6COLANGIOCARCINOMA
Colangiocarcinoma é um tumor raro
com uma incidência de menos de 1%, o que
afeta mais homens que mulheres em uma
proporção de 1,5 / 1 e uma prevalência
máxima 60 anos. Sua origem vem do epitélio
biliar, com 90% de casos adenocarcinomas.
Devido à sua localização anatômica é
classificado em: intra-extra-hepáticos,
(geralmente perihilar), conhecida como tumor
de Klatskin e extra-hepáticos distalmente.
11
Cresce lentamente dando origem a obstrutiva
manifesta clínica por icterícia, dor também
pode estrear prurído, dores abdominais, perda
de peso ou complicações infecciosas. Vários
fatores têm sido relacionados com a presença
deste tumor (cálculos biliares, colangite
esclerosante, etc), embora em muitos casos a
etiologia permaneça indeterminada. O
diagnóstico de colangiocarcinoma não é difícil.
Eventuais análises laboratoriais específicos ou
marcadores tumorais para este tumor. Exames
de imagem continuam sendo o pilar de apoio
para o diagnóstico: Tomografia
computadorizada, ressonância magnética,
cholangio-RM e angiografia com menos
freqüência ou PET. O tratamento de escolha é
cirurgicamente, se isso é possível, reservando o
implante de prótese nos casos ducto biliar ou
cirurgia paliativa não é indicada. Outras
terapias dinâmicas incluem quimioterapia
fototerapia, e radioterapia. (14,15,24)
O colangiocarcinoma periférico
normalmente se apresenta como massa sólida,
bem delimitada, lobulada e com impregnação
periférica pelo meio de contraste na TC e RM.
É geralmente volumoso no momento do
diagnóstico, porque não costuma causar
sintomas nos estágios iniciais, quando
freqüentemente não promove dilatação das
vias biliares, ao contrário da apresentação
hilar. Costuma determinar dilatação focal de
ductos biliares circunjacentes em cerca de 30%
dos casos e retração capsular (Figura 11). A
persistência de impregnação no tumor em fases
tardias é um achado freqüentemente descrito e
é decorrente da presença de tecido fibrótico
intralesional (16).
Figura11. Colangiocarcinoma intra-empático
na RM (setas). A: FSE T2 com saturação de
gordura, TE 90 MS; B: FSE T2 sem saturação de gordura, TE 180 MS; C: GRE T1 pré-
contraste; D: GRE T1 fase portal pós-
contraste. Lesão heterogênea com acentuada
impregnação pelo meio de contraste. Notar discreta retração capsular hepática adjacente.
Caracterização por métodos de imagem-
Radiol Bras 2008 mar/abr;41(2)119-127 ref (1)
1.7 METÁSTASES HEPÁTICAS
São as lesões malignas mais freqüentes
do fígado. O diagnóstico correto é fundamental
para a conduta terapêutica e o prognóstico. A
informação precisa do número e da extensão
12
das lesões é pré-requisito para o sucesso da
ressecção cirúrgica e monitoramento
terapêutico. No paciente oncológico, além do
rastreamento de metástases hepáticas, é
imperativa a diferenciação entre estas e outros
nódulos hepáticos benígnos, comumente
encontrados de modo acidental em estudos de
imagem (17).
A US tem sensibilidade limitada para a
detecção de metástases hepáticas, variando
entre 50% e 70% (19). A maioria das
metástases não detectadas pela US são as
pequenas, principalmente as menores que 1,0
cm ou as isoecóicas em relação ao parênquima
hepático. O aspecto mais característico de
metástase hepática na US é o de lesão hipo ou
isoecogênica ao parênquima circunjacente
rodeada por um halo hiperecogênico, o que
confere à lesão o conhecido aspecto ―em alvo‖
ou ―olho de boi‖. A presença do halo tem alta
sensibilidade para o diagnóstico de
malignidade (cerca de 85%) (20). Apesar do
menor custo e da maior disponibilidade, o
método apresenta menor reprodutibilidade em
relação à TC e RM, o que pode dificultar o
controle evolutivo das lesões (19,20).
A TC, junto com a RM, é considerada
o principal método de imagem para o
rastreamento de metástases hepáticas no
paciente oncológico, por oferecer melhor
resolução espacial e maiores sensibilidade (ao
redor de 75%) e especificidade na detecção e
caracterização de lesões focais hepáticas.
Nódulos hipoatenuantes pequenos,
especialmente os menores que 1,0 cm, podem
ser de difícil caracterização na TC. Nestes
casos, a RM pode auxiliar na avaliação
diagnóstica, tendo em vista a alta
especificidade do método na caracterização de
pequenos cistos e hemangiomas, lesões
comumente presentes, inclusive no grupo de
pacientes oncológicos (22). A RM apresenta
sensibilidade (ao redor de 75%) e
especificidade muito semelhantes à da TC na
avaliação de lesões hepáticas secundárias. A
técnica convencional para avaliação do fígado
utiliza o meio de contraste paramagnético por
via intravenosa, com séries adquiridas durante
as fases arterial, portal e de equilíbrio hepático,
semelhante à TC. As imagens ponderadas em
T2 são muito importantes na caracterização das
lesões e representam uma vantagem adicional
em relação à TC, particularmente nas lesões
pequenas (22). (Figura12). A utilização de
meios de contraste hepato- específicos, como o
óxido de ferro superparamagnético, parece
13
aumentar a acurácia do método na detecção de
metástases, especialmente as de pequenas
dimensões (23). No entanto, este tipo de meio
de contraste não tem sido utilizado de forma
rotineira no nosso meio, por causa do seu
maior custo.
Figura 12. Metástase de neoplasia de cólon.
A: TC, fase portal; B: RM, FSE T2 com
saturação de gordura, TE 90 MS; C: RM, GRE
T1 fase portal. Lesão nodular Com discreto hipersinal em T2 na RM e realce anelar pelo
meio de contraste nas fases portais (TC e RM).
Caracterização por métodos de imagem- Radiol Bras 2008 mar/abr;41(2)119-127 ref
(1)
2.CONCLUSÃO
Com o avanço da tecnologia e
disseminação de equipamentos de diagnóstico
por imagem tem sido cada vez mais comum a
ocorrência de nódulos hepáticos
incidentalmente encontrados em exames de
imagem ou em pacientes em rastreamento
tumoral (25,26). O avanço tecnológico destes
equipamentos tem proporcionado maior
condição de detectar lesões cada vez menores,
o que dificulta a sua caracterização e que pode
ser ulteriormente comprometida pelas
frequentes pseudolesões hepáticas observadas
em exames de TC e RM com contraste (27,28).
Reconhecer os principais aspectos de imagem
dos tumores hepáticos mais comuns e algumas
das suas características (29) pode ajudar o
radiologista a contribuir concreta e
positivamente na abordagem diagnóstica e no
manejo deste grupo de pacientes.
3.AGRADECIMENTO
Agradeço a Deus pela força e condição
que tem me proporcionado ao longo do curso e
em segundo lugar sou grato a todos os
professores do curso do Instituto cimas
juntamente com os amigos e colegas que
juntos concluímos o mesmo objetivo.
4.REFERÊNCIAS
1. Tiferes Ariel Dário; Giuseppe D'Ippolito-
Neoplasias Hepáticas: Caracterização por
métodos de imagem. Radiol. Bras. 2008
Mar/Abr; 41(2): 119-127
2. Shahid M. Hussain, MD, PhD - Pieter E.
Zondervan, MD et al. Benign versus Malignant
Hepatic Nodules: MR Imaging Findings
with Pathologic Correlation. Radio Graphics
2002 v22 nº 5 - página 1024
3. Shahid M. Hussain, MD, PhD - Pieter E.
Zondervan, MD et al. Benign versus Malignant
Hepatic Nodules: MR Imaging Findings with
Pathologic Correlation. Radio Graphics 2002 v
22 – página 1024 nº 5
4. Tiferes Ariel Dário; Giuseppe D'Ippolito-
Neoplasias Hepáticas: Caracterização por
métodos de imagem. Radiol. Bras. 2008
Mar/Abr; 41(2): 119-127 página 122
14
5. Takayuki Kogure, Yoshiyuki Ueno et al.
Liver cell adenoma showing sequential
alteration of radiological findings suggestive of
well-differentiated hepatocellular carcinoma.
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