navio negreiro – castro alvescolegiosantarosa-pa.com.br/material_do_professor/... ·...
TRANSCRIPT
![Page 1: NAVIO NEGREIRO – CASTRO ALVEScolegiosantarosa-pa.com.br/material_do_professor/... · CONDOREIRISMO Albatroz! Albatroz! águia do oceano, Tu que dormes das nuvens entre as gazas](https://reader035.vdocuments.mx/reader035/viewer/2022071117/600413b723654a258440486a/html5/thumbnails/1.jpg)
NAVIO NEGREIRO – CASTRO ALVES
ADRIANA LETE/ ANA MARIA/ TELMA PAES.
![Page 2: NAVIO NEGREIRO – CASTRO ALVEScolegiosantarosa-pa.com.br/material_do_professor/... · CONDOREIRISMO Albatroz! Albatroz! águia do oceano, Tu que dormes das nuvens entre as gazas](https://reader035.vdocuments.mx/reader035/viewer/2022071117/600413b723654a258440486a/html5/thumbnails/2.jpg)
Na poesia abolicionista, Castro Alves se apresenta
fecundado por sincera adesão a uma causa social e
humanitária de caráter atual e dá expansão ao seu
talento de orador.
Amós Coelho da Silva - Professor da UERJ/UGF.
![Page 3: NAVIO NEGREIRO – CASTRO ALVEScolegiosantarosa-pa.com.br/material_do_professor/... · CONDOREIRISMO Albatroz! Albatroz! águia do oceano, Tu que dormes das nuvens entre as gazas](https://reader035.vdocuments.mx/reader035/viewer/2022071117/600413b723654a258440486a/html5/thumbnails/3.jpg)
► Foi publicado pela primeira vez em 1868 (20 anos
antes da abolição da escravatura no Brasil).
► Dividido em seis partes, apresenta a liberdade
formal do Romantismo.
►Pertenceu à última fase do Romantismo (3ª
geração), condoreira, Pré-Realista.
►Poema narrativo, retrata o traslado dos escravos da
África para o Brasil.
►Ideologicamente, defende o abolicionismo num
país sustentado pela mão de obra escrava.
![Page 4: NAVIO NEGREIRO – CASTRO ALVEScolegiosantarosa-pa.com.br/material_do_professor/... · CONDOREIRISMO Albatroz! Albatroz! águia do oceano, Tu que dormes das nuvens entre as gazas](https://reader035.vdocuments.mx/reader035/viewer/2022071117/600413b723654a258440486a/html5/thumbnails/4.jpg)
O Navio Negreiro exige ser
declamado em praça pública, em
tom de discurso político para
contagiar, atingir grandes
platéias, tal a carga emocional
que possui. É poema rico em
hipérbole (imagens grandiosas,
exageradas), recurso poético
usado para reforçar a exposição
de ideias. Assim, o poeta
expressa linguagem
grandilouquente, pomposa,
altissonante.
![Page 5: NAVIO NEGREIRO – CASTRO ALVEScolegiosantarosa-pa.com.br/material_do_professor/... · CONDOREIRISMO Albatroz! Albatroz! águia do oceano, Tu que dormes das nuvens entre as gazas](https://reader035.vdocuments.mx/reader035/viewer/2022071117/600413b723654a258440486a/html5/thumbnails/5.jpg)
1ª Parte: Descrição do Cenário
“O mar, o céu
e o infinito são
descritos
configurando
o ambiente
onde será
desenvolvida a
“Tragédia no
Mar”.
![Page 6: NAVIO NEGREIRO – CASTRO ALVEScolegiosantarosa-pa.com.br/material_do_professor/... · CONDOREIRISMO Albatroz! Albatroz! águia do oceano, Tu que dormes das nuvens entre as gazas](https://reader035.vdocuments.mx/reader035/viewer/2022071117/600413b723654a258440486a/html5/thumbnails/6.jpg)
BELEZA NATURAL X HORROR DA
ESCRAVIDÃO
O Poeta nos conduz imaginariamente ao mar. Mostra a beleza da noite de luar e o contraste do
cenário (céu estrelado, mar) com a tragédia descrita, narrada dentro do Navio Negreiro.
![Page 7: NAVIO NEGREIRO – CASTRO ALVEScolegiosantarosa-pa.com.br/material_do_professor/... · CONDOREIRISMO Albatroz! Albatroz! águia do oceano, Tu que dormes das nuvens entre as gazas](https://reader035.vdocuments.mx/reader035/viewer/2022071117/600413b723654a258440486a/html5/thumbnails/7.jpg)
O Espaço/ O Narrador/ O Leitor...
'Stamos em pleno mar... Doudo no espaçoBrinca o luar — dourada borboleta;
E as vagas (grandes ondas) após ele correm... cansam
Como turba de infantes inquieta.
'Stamos em pleno mar... Do firmamentoOs astros saltam como espumas de ouro...
O mar em troca acende as ardentias(fosforescência marítima),— Constelações do líquido tesouro...
![Page 8: NAVIO NEGREIRO – CASTRO ALVEScolegiosantarosa-pa.com.br/material_do_professor/... · CONDOREIRISMO Albatroz! Albatroz! águia do oceano, Tu que dormes das nuvens entre as gazas](https://reader035.vdocuments.mx/reader035/viewer/2022071117/600413b723654a258440486a/html5/thumbnails/8.jpg)
Céu e Oceano... “Dois Infinitos...”
'Stamos em pleno mar... Dois infinitos
Ali se estreitam num abraço insano,
Azuis, dourados, plácidos, sublimes...
Qual dos dous é o céu? qual o oceano?...”
![Page 9: NAVIO NEGREIRO – CASTRO ALVEScolegiosantarosa-pa.com.br/material_do_professor/... · CONDOREIRISMO Albatroz! Albatroz! águia do oceano, Tu que dormes das nuvens entre as gazas](https://reader035.vdocuments.mx/reader035/viewer/2022071117/600413b723654a258440486a/html5/thumbnails/9.jpg)
O Narrador visualiza o navio'Stamos em pleno mar. . . Abrindo as
velasAo quente arfar das virações
marinhas,Veleiro brigue corre à flor dos mares,Como roçam na vaga as andorinhas...
Donde vem? onde vai? Das naus errantes
Quem sabe o rumo se é tão grande o espaço ?
Neste saara os corcéis (cavalo veloz) opó levantam
Galopam, voam, mas não deixam traço
![Page 10: NAVIO NEGREIRO – CASTRO ALVEScolegiosantarosa-pa.com.br/material_do_professor/... · CONDOREIRISMO Albatroz! Albatroz! águia do oceano, Tu que dormes das nuvens entre as gazas](https://reader035.vdocuments.mx/reader035/viewer/2022071117/600413b723654a258440486a/html5/thumbnails/10.jpg)
ALUSÃO À LIBERDADE...
Bem feliz quem ali pode nest'hora
Sentir deste painel a majestade!
Embaixo — o mar em cima — o firmamento...
E no mar e no céu — a imensidade!
Oh! que doce harmonia traz-me a brisa!
Que música suave ao longe soa!
Meu Deus! como é sublime um canto ardente
Pelas vagas sem fim boiando à toa!
![Page 11: NAVIO NEGREIRO – CASTRO ALVEScolegiosantarosa-pa.com.br/material_do_professor/... · CONDOREIRISMO Albatroz! Albatroz! águia do oceano, Tu que dormes das nuvens entre as gazas](https://reader035.vdocuments.mx/reader035/viewer/2022071117/600413b723654a258440486a/html5/thumbnails/11.jpg)
A BELEZA POÉTICA DO CENÁRIO DESCRITO.
Homens do mar! ó rudes marinheiros,
Tostados pelo sol dos quatro mundos!
Crianças que a procela acalentara
No berço destes pélagos profundos!
(Pélago: mar alto)
Esperai! esperai! deixai que eu beba
Esta selvagem, livre poesia
Orquestra — é o mar, que ruge pela proa,
E o vento, que nas cordas assobia...
Por que foges assim, barco ligeiro?
Por que foges do pávido poeta?(Pávido: temeroso, medroso).
![Page 12: NAVIO NEGREIRO – CASTRO ALVEScolegiosantarosa-pa.com.br/material_do_professor/... · CONDOREIRISMO Albatroz! Albatroz! águia do oceano, Tu que dormes das nuvens entre as gazas](https://reader035.vdocuments.mx/reader035/viewer/2022071117/600413b723654a258440486a/html5/thumbnails/12.jpg)
CONDOREIRISMO
Albatroz! Albatroz!
águia do oceano,
Tu que dormes das
nuvens entre as gazas
(transparências)
Sacode as penas,
Leviathan do espaço,
Albatroz! Albatroz!
dá-me estas asas.
![Page 13: NAVIO NEGREIRO – CASTRO ALVEScolegiosantarosa-pa.com.br/material_do_professor/... · CONDOREIRISMO Albatroz! Albatroz! águia do oceano, Tu que dormes das nuvens entre as gazas](https://reader035.vdocuments.mx/reader035/viewer/2022071117/600413b723654a258440486a/html5/thumbnails/13.jpg)
2ª PARTE: EXALTAÇÃO DOS MARINHEIROS.
Exalta a todos os marinheiros
independente da nacionalidade. É a
valorização do belo humano e suas ações
no espaço marítimo.
![Page 14: NAVIO NEGREIRO – CASTRO ALVEScolegiosantarosa-pa.com.br/material_do_professor/... · CONDOREIRISMO Albatroz! Albatroz! águia do oceano, Tu que dormes das nuvens entre as gazas](https://reader035.vdocuments.mx/reader035/viewer/2022071117/600413b723654a258440486a/html5/thumbnails/14.jpg)
O NAUTA E O MAR
Não importa aorigem (espanhol,italiano inglês,heleno = grego) dohomem do mar, oque importa é aexperiênciaadquirida nas suaatividades e asrecordações dosmomentosvividos.
Que importa do nauta o
berço,
Donde é filho, qual seu
lar?
Ama a cadência do verso
Que lhe ensina o velho
mar!
Cantai! que a morte é
divina!
Resvala o brigue à bolina
Como golfinho veloz.
Presa ao mastro da
mezena=vela/ mastro de ré
Saudosa bandeira acena
As vagas que deixa após.
![Page 15: NAVIO NEGREIRO – CASTRO ALVEScolegiosantarosa-pa.com.br/material_do_professor/... · CONDOREIRISMO Albatroz! Albatroz! águia do oceano, Tu que dormes das nuvens entre as gazas](https://reader035.vdocuments.mx/reader035/viewer/2022071117/600413b723654a258440486a/html5/thumbnails/15.jpg)
VIDA LIVRE X VIDA ESCRAVA
“Nautas de todas as plagas (país),
Vós sabeis achar nas vagas (ondas)
As melodias do céu! ..”
O homem do mar tende a cantar suas
saudades, soube buscar em sua liberdade
o conhecimento de Deus (melodias do
céu). A liberdade da vida do nauta
contrasta com da vida do negro
escravizado, subtraído de sua terra natal.
![Page 16: NAVIO NEGREIRO – CASTRO ALVEScolegiosantarosa-pa.com.br/material_do_professor/... · CONDOREIRISMO Albatroz! Albatroz! águia do oceano, Tu que dormes das nuvens entre as gazas](https://reader035.vdocuments.mx/reader035/viewer/2022071117/600413b723654a258440486a/html5/thumbnails/16.jpg)
3ª PARTE: ANUNCIA A TRAGÉDIA NO MAR.
No último verso da 1ª parte do poema, o poeta,
em exclamação altissonante, fala – “Albatroz!
Albatroz! Dá-me estas asas...” Evidenciando o anseio
em desvendar os mistérios que envolvem o brigue
voador. Busca, assim, o poeta a liberdade criadora
que lhe permite participar da ação que observa. A
águia do oceano é o poeta, pois só ele poderia
transmutar-se e surgir como uma ave com o olhar
humano. É como ser humano que ele vê das alturas
com espanto o pavoroso quadro que segue....
![Page 17: NAVIO NEGREIRO – CASTRO ALVEScolegiosantarosa-pa.com.br/material_do_professor/... · CONDOREIRISMO Albatroz! Albatroz! águia do oceano, Tu que dormes das nuvens entre as gazas](https://reader035.vdocuments.mx/reader035/viewer/2022071117/600413b723654a258440486a/html5/thumbnails/17.jpg)
Desce do espaço imenso, ó águia do oceano!
Desce mais ... inda mais...
não pode olhar humano
Como o teu mergulhar no brigue voador!
Mas que vejo eu aí... Que quadro d'amarguras!
É canto funeral! ... Que tétricas figuras! ...
Que cena infame e vil... Meu Deus! Meu Deus! Que
horror!
![Page 18: NAVIO NEGREIRO – CASTRO ALVEScolegiosantarosa-pa.com.br/material_do_professor/... · CONDOREIRISMO Albatroz! Albatroz! águia do oceano, Tu que dormes das nuvens entre as gazas](https://reader035.vdocuments.mx/reader035/viewer/2022071117/600413b723654a258440486a/html5/thumbnails/18.jpg)
A EMOÇÃO DO NARRADOR...
O narrador age como se anunciasse o
início de um grande espetáculo. Condizente
ao Romantismo, a linguagem apresenta
recursos estilísticos (reticências,
exclamações), significativas pela carga
emocional... “Meu Deus! Meu Deus! Que
horror!”
![Page 19: NAVIO NEGREIRO – CASTRO ALVEScolegiosantarosa-pa.com.br/material_do_professor/... · CONDOREIRISMO Albatroz! Albatroz! águia do oceano, Tu que dormes das nuvens entre as gazas](https://reader035.vdocuments.mx/reader035/viewer/2022071117/600413b723654a258440486a/html5/thumbnails/19.jpg)
4ª PARTE: O Horror do Tombadilho Era um sonho dantesco... o tombadilhoQue das luzernas (clarão) avermelha o brilho.Em sangue a se banhar.Tinir de ferros... estalar de açoite...Legiões de homens negros como a noite,Horrendos a dançar...
O sonho dantesco é a descrição do inferno
feita por Dante na “Divina Comédia” em que as
almas condenadas ao suplício eterno, são
atormentadas pelo diabo.
![Page 20: NAVIO NEGREIRO – CASTRO ALVEScolegiosantarosa-pa.com.br/material_do_professor/... · CONDOREIRISMO Albatroz! Albatroz! águia do oceano, Tu que dormes das nuvens entre as gazas](https://reader035.vdocuments.mx/reader035/viewer/2022071117/600413b723654a258440486a/html5/thumbnails/20.jpg)
Negras mulheres, suspendendo as tetasMagras crianças, cujas bocas pretasRega o sangue das mães:Outras moças, mas nuas e espantadas,No turbilhão de espectros arrastadas,Em ânsia e mágoa vãs!
![Page 21: NAVIO NEGREIRO – CASTRO ALVEScolegiosantarosa-pa.com.br/material_do_professor/... · CONDOREIRISMO Albatroz! Albatroz! águia do oceano, Tu que dormes das nuvens entre as gazas](https://reader035.vdocuments.mx/reader035/viewer/2022071117/600413b723654a258440486a/html5/thumbnails/21.jpg)
E ri-se a orquestra
irônica, estridente...
E da ronda fantástica a
serpente
Faz doudas espirais ...
Se o velho arqueja, se no
chão resvala,
Ouvem-se gritos... o
chicote estala.
E voam mais e mais...
O riso reflete o
sarcasmo dos
mentores deste
horrendo
espetáculo. A
orquestra =o som
do chicote (espiral)
que estala, os
gritos de dor que
enchem o espaço.
![Page 22: NAVIO NEGREIRO – CASTRO ALVEScolegiosantarosa-pa.com.br/material_do_professor/... · CONDOREIRISMO Albatroz! Albatroz! águia do oceano, Tu que dormes das nuvens entre as gazas](https://reader035.vdocuments.mx/reader035/viewer/2022071117/600413b723654a258440486a/html5/thumbnails/22.jpg)
Presa nos elos de uma só cadeia,A multidão faminta cambaleia,E chora e dança ali!Um de raiva delira, outro enlouquece,Outro, que martírios embrutece,Cantando, geme e ri!
![Page 23: NAVIO NEGREIRO – CASTRO ALVEScolegiosantarosa-pa.com.br/material_do_professor/... · CONDOREIRISMO Albatroz! Albatroz! águia do oceano, Tu que dormes das nuvens entre as gazas](https://reader035.vdocuments.mx/reader035/viewer/2022071117/600413b723654a258440486a/html5/thumbnails/23.jpg)
O Riso de Satanás diante do horror...
No entanto o capitão manda a manobra,E após fitando o céu que se desdobra,Tão puro sobre o mar,Diz do fumo entre os densos nevoeiros:"Vibrai rijo o chicote, marinheiros!Fazei-os mais dançar!..."
(...)
E da ronda fantástica a serpenteFaz doudas espirais...
Qual um sonho dantesco as sombras voam!...Gritos, ais, maldições, preces ressoam!
E ri-se Satanás!...
![Page 24: NAVIO NEGREIRO – CASTRO ALVEScolegiosantarosa-pa.com.br/material_do_professor/... · CONDOREIRISMO Albatroz! Albatroz! águia do oceano, Tu que dormes das nuvens entre as gazas](https://reader035.vdocuments.mx/reader035/viewer/2022071117/600413b723654a258440486a/html5/thumbnails/24.jpg)
As imagens saltam do poema e desfilam na mente do leitor como se
fossem reais. Presos, os negros escravizados perdem o equilíbrio
físico e psicológico e enlouquecem de tanto martírio. Cantando, gemem, riem. A rotina torna insensíveis os
tripulantes do navio negreiro à desgraça dos infelizes.
![Page 25: NAVIO NEGREIRO – CASTRO ALVEScolegiosantarosa-pa.com.br/material_do_professor/... · CONDOREIRISMO Albatroz! Albatroz! águia do oceano, Tu que dormes das nuvens entre as gazas](https://reader035.vdocuments.mx/reader035/viewer/2022071117/600413b723654a258440486a/html5/thumbnails/25.jpg)
5ª Parte: O Poeta Interpela DeusSenhor Deus dos
desgraçados!Dizei-me vós, Senhor Deus!Se é loucura... se é verdadeTanto horror perante os céus?!Ó mar, por que não apagasCo'a esponja de tuas vagasDe teu manto este borrão?...Astros! noites! tempestades!Rolai das imensidades!Varrei os mares, tufão!
![Page 26: NAVIO NEGREIRO – CASTRO ALVEScolegiosantarosa-pa.com.br/material_do_professor/... · CONDOREIRISMO Albatroz! Albatroz! águia do oceano, Tu que dormes das nuvens entre as gazas](https://reader035.vdocuments.mx/reader035/viewer/2022071117/600413b723654a258440486a/html5/thumbnails/26.jpg)
Quem são estes
desgraçados
Que não encontram em
vós
Mais que o rir calmo da
turba
Que excita a fúria do
algoz?
Quem são? Se a estrela
se cala,
Se a vaga à pressa
resvala
Como um cúmplice
fugaz,
Perante a noite confusa...
Dize-o tu, severa Musa,
Musa libérrima, audaz!...
A Musa - “severa,
libérrima, audaz” – é
Melpomene, musa
da tragédia.
Segundo a mitologia
grega são nove
divindades que
presidem as Artes, a
História e a
Astronomia.
Mneumosine
(memória) é filha de
Zeus, tendo cada
uma função
específica.”
![Page 27: NAVIO NEGREIRO – CASTRO ALVEScolegiosantarosa-pa.com.br/material_do_professor/... · CONDOREIRISMO Albatroz! Albatroz! águia do oceano, Tu que dormes das nuvens entre as gazas](https://reader035.vdocuments.mx/reader035/viewer/2022071117/600413b723654a258440486a/html5/thumbnails/27.jpg)
São os filhos do deserto,Onde a terra esposa a luz.Onde vive em campo abertoA tribo dos homens nus...São os guerreiros ousadosQue com os tigres mosqueadosCombatem na solidão.Ontem simples, fortes, bravos.Hoje míseros escravos,Sem luz, sem ar, sem razão. . .
![Page 28: NAVIO NEGREIRO – CASTRO ALVEScolegiosantarosa-pa.com.br/material_do_professor/... · CONDOREIRISMO Albatroz! Albatroz! águia do oceano, Tu que dormes das nuvens entre as gazas](https://reader035.vdocuments.mx/reader035/viewer/2022071117/600413b723654a258440486a/html5/thumbnails/28.jpg)
A Severa Musa narra ao poeta a vida dos
negros desde a África ate o momento de
sua desventura. E compara a liberdade
vivida em sua terra, com a condição de
escravo manifesta na gradação
ascendente... “Míseros escravos,/ Sem
luz,/ sem ar, sem razão...”
![Page 29: NAVIO NEGREIRO – CASTRO ALVEScolegiosantarosa-pa.com.br/material_do_professor/... · CONDOREIRISMO Albatroz! Albatroz! águia do oceano, Tu que dormes das nuvens entre as gazas](https://reader035.vdocuments.mx/reader035/viewer/2022071117/600413b723654a258440486a/html5/thumbnails/29.jpg)
São mulheres desgraçadas,
Como Agar o foi também.
Que sedentas, alquebradas,
De longe... bem longe vêm...
Trazendo com tíbios=escasos
passos
Filhos e algemas nos
braços,
N'alma — lágrimas e fel...
Como Agar sofrendo tanto,
Que nem o leite de pranto
Tem que dar para Ismael.
![Page 30: NAVIO NEGREIRO – CASTRO ALVEScolegiosantarosa-pa.com.br/material_do_professor/... · CONDOREIRISMO Albatroz! Albatroz! águia do oceano, Tu que dormes das nuvens entre as gazas](https://reader035.vdocuments.mx/reader035/viewer/2022071117/600413b723654a258440486a/html5/thumbnails/30.jpg)
Personagem bíblica, escrava de Sara
(esposa de Abraão), foi expulsa de
sua casa com seu filho Ismael. Este
era filho do seu senhor. A
comparação prende-se a semelhança
do sofrimento das negras escravas
com o de Agar, que nem o leite do
peito tinha para dar ao seu filho, na
caminhada que empreendeu pelo
deserto de Sur, próximo de Canaã. A
liberdade vivida por essas mulheres
em seus países, é interrompida
quando por eles passa a caravana
maldita que lhes rouba a liberdade.e
as arrebata de sua pátria.
![Page 31: NAVIO NEGREIRO – CASTRO ALVEScolegiosantarosa-pa.com.br/material_do_professor/... · CONDOREIRISMO Albatroz! Albatroz! águia do oceano, Tu que dormes das nuvens entre as gazas](https://reader035.vdocuments.mx/reader035/viewer/2022071117/600413b723654a258440486a/html5/thumbnails/31.jpg)
Ontem a Serra Leoa,A guerra, a caça ao leão,O sono dormido à toaSob as tendas d'amplidão!Hoje... o porão negro, fundo,Infecto, apertado, imundo,Tendo a peste por jaguar...E o sono sempre cortadoPelo arranco de um finado,E o baque de um corpo ao mar...
Ontem plena liberdade,A vontade por poder...
Hoje... cúm'lo de maldade,Nem são livres p'ra morrer. .Prende-os a mesma corrente— Férrea, lúgubre serpente —Nas roscas da escravidão.
E assim zombando da morte,Dança a lúgubre coorteAo som do açoute... Irrisão!...
![Page 32: NAVIO NEGREIRO – CASTRO ALVEScolegiosantarosa-pa.com.br/material_do_professor/... · CONDOREIRISMO Albatroz! Albatroz! águia do oceano, Tu que dormes das nuvens entre as gazas](https://reader035.vdocuments.mx/reader035/viewer/2022071117/600413b723654a258440486a/html5/thumbnails/32.jpg)
Existe um povo que a bandeira empresta
P'ra cobrir tanta infâmia e cobardia!...
E deixa-a transformar-se nessa festa
Em manto impuro de bacante fria!...
Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta,
Que impudente na gávea tripudia?
Silêncio. Musa... chora, e chora tanto
Que o pavilhão se lave no teu pranto! ...
![Page 33: NAVIO NEGREIRO – CASTRO ALVEScolegiosantarosa-pa.com.br/material_do_professor/... · CONDOREIRISMO Albatroz! Albatroz! águia do oceano, Tu que dormes das nuvens entre as gazas](https://reader035.vdocuments.mx/reader035/viewer/2022071117/600413b723654a258440486a/html5/thumbnails/33.jpg)
Nos versos...“Meu Deus! Meu Deus! Mas que bandeira é esta,/ Quem imprudente na
gávea tripudia?” O poeta expressa o impacto que sente ao descobrir que a
bandeira é a de sua própria pátria. E ante ao silêncio, o poeta fala à musa... “Musa... Chora, e chora tanto/ Que o pavilhão se
lave no teu pranto!”
![Page 34: NAVIO NEGREIRO – CASTRO ALVEScolegiosantarosa-pa.com.br/material_do_professor/... · CONDOREIRISMO Albatroz! Albatroz! águia do oceano, Tu que dormes das nuvens entre as gazas](https://reader035.vdocuments.mx/reader035/viewer/2022071117/600413b723654a258440486a/html5/thumbnails/34.jpg)
Auriverde pendão de minha terra,
Que a brisa do Brasil beija e balança,
Estandarte que a luz do sol encerra
E as promessas divinas da esperança...
Tu que, da liberdade após a guerra,
Foste hasteado dos heróis na lança
Antes te houvessem roto na batalha,
Que servires a um povo de mortalha!...
Em tom de expressiva revolta, o poeta rememora os momentos grandiosos da Pátria em que a bandeira era ostentada com orgulho. Ele preferia que ela fosse manchada de sangue numa luta justa, do que cobrir de luto escravo
africano.
![Page 35: NAVIO NEGREIRO – CASTRO ALVEScolegiosantarosa-pa.com.br/material_do_professor/... · CONDOREIRISMO Albatroz! Albatroz! águia do oceano, Tu que dormes das nuvens entre as gazas](https://reader035.vdocuments.mx/reader035/viewer/2022071117/600413b723654a258440486a/html5/thumbnails/35.jpg)
Fatalidade atroz que a mente esmaga!
Extingue nesta hora o brigue imundo
O trilho que Colombo abriu nas vagas,
Como um íris no pélago profundo!
Mas é infâmia demais! ... Da etérea plaga
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo!
Andrada! arranca esse pendão dos ares!
Colombo! fecha a porta dos teus mares!
O poeta pede à fatalidade que exterminar o
brigue(navio) imundo, bem como o trilho
(caminho) que Cristovão Colombo abriu. Invoca
os heróis do Novo Mundo para que arranquem a
bandeira do mastro do navio negreiro. Com este
gesto acabaria o trafico negreiro e a escravidão
no Brasil.
![Page 36: NAVIO NEGREIRO – CASTRO ALVEScolegiosantarosa-pa.com.br/material_do_professor/... · CONDOREIRISMO Albatroz! Albatroz! águia do oceano, Tu que dormes das nuvens entre as gazas](https://reader035.vdocuments.mx/reader035/viewer/2022071117/600413b723654a258440486a/html5/thumbnails/36.jpg)