nat%e1lia posser trentin

13
Prevalência de Anticorpos Irregulares em Doadores de Sangue do Hemocentro Regional de Passo Fundo-RS Prevalence of Irregular Antibodies in Blood Donors at Regional Blood Bank of Passo Fundo-RS atália Posser Trentin 1 * 1 Acadêmica do curso de Biomedicina da Universidade Luterana do Brasil, campus Carazinho-RS. Pesquisa realizada no Hemocentro Regional de Passo-Fundo – RS. Faculdade de Biomedicina, Universidade Luterana do Brasil, campus Carazinho-RS. * Dados para contato: Rua Darvim Marosin, 80 apto 503 telefone: (54) 3342-1487 Email: [email protected] Resumo Os anticorpos são produzidos com a principal função de neutralizar e eliminar o antígeno que o estimulou e são encontrados no soro/plasma ou ligados a membrana eritrocitária. Os anticorpos clinicamente significativos são da classe IgG, ativos a 37°C e capazes de destruir hemácias transfundias antígeno-positivas. Esta pesquisa foi realizada no Laboratório de Imuno-hematologia do Hemopasso, no município de Passo Fundo-RS, em uma população de 312 doadores que apresentaram resultados positivos na Pesquisa de Anticorpo Irregular, de 2001 a 2008. A pesquisa mostrou que a prevalência de anticorpos irregulares na população atendida pela entidade foi de 0,32% e os anticorpos mais prevalentes foram o anti-D, do Sistema Rh, e o anti-M. Estes resultados demonstraram que os anticorpos irregulares não são tão freqüentes em doadores de sangue hígidos, no entanto, a importância da sua identificação consiste em um fator de proteção para doador e receptor. Palavras-chave: anticorpos irregulares, reações transfusionais, identificação. Abstract

Upload: silvestre-goncalves-de-souza

Post on 19-Jun-2015

246 views

Category:

Documents


1 download

TRANSCRIPT

Page 1: Nat%E1lia Posser Trentin

Prevalência de Anticorpos Irregulares em Doadores de Sangue do

Hemocentro Regional de Passo Fundo-RS

Prevalence of Irregular Antibodies in Blood Donors at Regional Blood Bank of Passo

Fundo-RS

�atália Posser Trentin1*

1 Acadêmica do curso de Biomedicina da Universidade Luterana do Brasil, campus Carazinho-RS.

Pesquisa realizada no Hemocentro Regional de Passo-Fundo – RS.

Faculdade de Biomedicina, Universidade Luterana do Brasil, campus Carazinho-RS. * Dados para contato: Rua Darvim Marosin, 80 apto 503 telefone: (54) 3342-1487 Email: [email protected] Resumo

Os anticorpos são produzidos com a principal função de neutralizar e eliminar o antígeno

que o estimulou e são encontrados no soro/plasma ou ligados a membrana eritrocitária.

Os anticorpos clinicamente significativos são da classe IgG, ativos a 37°C e capazes de

destruir hemácias transfundias antígeno-positivas. Esta pesquisa foi realizada no

Laboratório de Imuno-hematologia do Hemopasso, no município de Passo Fundo-RS, em

uma população de 312 doadores que apresentaram resultados positivos na Pesquisa de

Anticorpo Irregular, de 2001 a 2008. A pesquisa mostrou que a prevalência de anticorpos

irregulares na população atendida pela entidade foi de 0,32% e os anticorpos mais

prevalentes foram o anti-D, do Sistema Rh, e o anti-M. Estes resultados demonstraram

que os anticorpos irregulares não são tão freqüentes em doadores de sangue hígidos, no

entanto, a importância da sua identificação consiste em um fator de proteção para doador

e receptor.

Palavras-chave: anticorpos irregulares, reações transfusionais, identificação.

Abstract

Page 2: Nat%E1lia Posser Trentin

2

Antibodies are produced with the major function to neutralize and eliminate the antigen

that stimulated it and are found in serum/plasma or linked to the erythrocyte membrane.

The antibodies are clinically significant of IgG class, active at 37 ° C and able to destroy

red blood cells transfused antigen-positive. This research was conducted at the

Laboratory of Immune-Hematology of Hemopasso, in the city of Passo Fundo-RS, with a

population under study of 312 donors have tested positive in the Antibody Irregular, from

2001 to 2008. The research showed that the prevalence of irregular antibodies in the

population served by the entity was 0,32% and that the antibodies were the most

prevalent anti-D, of the Rh system, followed for anti-M. This results showed that the

irregular antibodies are not frequent in healthy blood donors, and the importance of

identifying them for greater protection of the donor and recipient.

Key words: irregular antibodies, transfusion reactions, identification.

Page 3: Nat%E1lia Posser Trentin

3

Introdução

Antígenos são substâncias reconhecidas pelo organismo como não-próprias a ele e

que podem estimular a formação de anticorpos1. A capacidade de um antígeno de

estimular a produção de anticorpos depende da sua natureza, que pode ser imune ou

natural. Os anticorpos naturais são de ocorrência universal, e como exemplos têm-se o

anti-A e anti-B, do sistema ABO. O surgimento de anticorpos imunes depende da

exposição da pessoa a antígenos que não estão presentes nos seus eritrócitos, e esta

exposição pode ocorrer devido a transfusões sangüíneas, gestações, injeções de materiais

imunizantes, transplantes de órgãos/tecidos ou enxertos. Estes anticorpos produzidos de

forma imune são os anticorpos irregulares ou aloanticorpos1, 2, 3.

Os anticorpos são produzidos com a principal função de neutralizar e eliminar o

antígeno que o estimulou e são encontrados no soro/plasma ou ligados a membrana

eritrocitária. Os auto-anticorpos irregulares são classificados também em reativos a

quente ou reativos a frio, conforme a sua temperatura de reatividade4. Os anticorpos mais

clinicamente significativos são da classe IgG, que são ativos à 37°C e capazes de destruir

hemácias transfundias antígeno-positivas. Os anticorpos da classe IgM são encontrados

como de ocorrência natural como o anti-A e anti-B4.

No Brasil, o anticorpo anti-D é o mais identificado, em seguida vem os outros

anticorpos do sistema Rh clinicamente importantes. Os outros anticorpos normalmente

encontrados, dos outros sistemas, são o anti-K e o anti-Fyª. Alguns anticorpos irregulares

não têm seu significado clínico totalmente conhecido. Assim, define-se que um anticorpo

clinicamente significativo é ativo à 37°C e/ou em fase de antiglobulina3.

A resolução 343 ANVISA/MS de 2002 determina que seja feita a pesquisa de

anticorpos irregulares em doadores de sangue, e que os hemocomponentes com pesquisa

de anticorpos irregulares positivos não sejam utilizados, mas sim descartados3.

As transfusões sanguíneas são uma importante forma de salvar vidas, no entanto,

o risco causado por transfusões feitas sem a realização correta dos testes de

compatibilidade sanguínea e a pesquisa de anticorpos irregulares, pode causar ao paciente

Page 4: Nat%E1lia Posser Trentin

4

risco de aloimunização, podendo levar a reações hemolíticas imediatas ou tardias as

quais, dependendo da gravidade e do anticorpo envolvido, podem levar à morte. O

Hemocentro Regional de Passo Fundo (Hemopasso) é um centro pioneiro na

identificação dos anticorpos irregulares, baseado no fato de que a maioria dos bancos de

sangue não realiza a identificação destes anticorpos, bem como muitos não sabem de sua

existência.

Assim, o objetivo desta pesquisa foi o de verificar a prevalência dos anticorpos

irregulares em doadores de sangue no Hemopasso com a finalidade de evidenciar a

importância da identificação destes anticorpos na prevenção de reações transfusionais.

Pacientes e Métodos

Local de realização da pesquisa

Esta pesquisa foi realizada no Laboratório de Imuno-hematologia do Hemopasso,

no município de Passo Fundo-RS.

Amostra populacional

A população em estudo foi constituída por 312 doadores do Hemopasso que

apresentaram resultados positivos na Pesquisa de Anticorpo Irregular (P.A.I), desde

junho de 2001 até o mês de julho de 2008.

Os dados foram obtidos do banco de dados do Hemopasso.

Page 5: Nat%E1lia Posser Trentin

5

Técnicas utilizadas

Pesquisa de Anticorpo Irregular (P.A.I.)

Para a realização da P.A.I, amostras de sangue foram coletadas das bolsas em tubo

com EDTA (anticoagulante) e centrifugadas para obtenção do plasma.

Utiliza-se cartões LISS/Coombs e hemácias-testes (diluentes I e II) para a

pesquisa e em seguida incuba-se os cartões por 10 minutos à 37°C e centrifuga-se os

cartões por mais 10 minutos à 910 rpm.

A leitura dos resultados são realizadas da seguinte maneira:

• P.A.I. positivo (+) – as células aglutinadas formam uma linha vermelha na

superfície do gel ou dispersas ao longo do gel. Anota-se o resultado por cruzes (1+ até

4+).

• P.A.I. negativo (-) – as células aglutinadas formam um botão compacto no

fundo do microtubo.

Se a P.A.I der positiva, segue-se com a identificação deste anticorpo irregular.

Identificação do Anticorpo Irregular (I.A.I)

O Laboratório de imuno-hematologia do Hemopasso utiliza para a I.A.I 11

hemácias-teste (ID–DiaPanel) e cartões LISS/Coombs, cartões ID “NaCl/Enzima” e

papaína. Após, os cartões são incubados por 10 minutos à 37°C e centrifugados por mais

10 minutos à 910 rpm.

A leitura dos resultados segue-se da mesma forma que para a P.A.I. No entanto,

para a identificação dos anticorpos irregulares, os resultados são repassados para a ficha

de identificação que acompanha o kit de reagentes e comparados com a positividade dos

anticorpos. Quando não é possível identificar algum anticorpo irregular no Laboratório de

Imuno-hematologia do Hemopasso, a amostra de sangue é enviada para a DiaMed Latino

América, localizada na cidade de Lagoa Santa-MG, para a possível identificação.

Page 6: Nat%E1lia Posser Trentin

6

Aspectos éticos e legais

O projeto desta pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Seres Humanos da

Universidade Luterana do Brasil, Canoas-RS, sob protocolo CEP-ULBRA 2008-406H.

Resultados

População

De 97.083 doações de sangue que o Hemopasso recebeu de 2001 à 2008, 312

(0,32%) tiveram resultados de P.A.I positivas (Tabela 1). Destes, 202 casos (64,74%)

ocorreram no sexo feminino e 110 (35,25%) no sexo masculino (Tabela 2). Não foi

possível comparar a prevalência de anticorpos irregulares entre as diferentes raças, pois a

população atendida pelo Hemopasso é de origem Européia, sendo que mais de 90% dos

indivíduos eram da raça branca.

Tabela 1 - Número de doadores e incidência de Anticorpos Irregulares divididos por ano.

Ano Doações P.A.I +* 2001/2 7481 45 2002 13619 69 2003 13317 54 2004 13663 35 2005 14506 41 2006 13322 40 2007 12809 25 2008/1 8366 24 Total 97083** 333

* P.A.I +: Pesquisa de anticorpos irregulares positivos; ** Este número se refere ao número de doações, incluindo os doadores de repetição.

Page 7: Nat%E1lia Posser Trentin

7

Tabela 2 - Prevalência de anticorpos irregulares para ambos os sexos em doadores do Hemopasso de junho de 2001 a julho de 2008.

Sexo (N) (%) Masculino 110 35,25 Feminino 202 64,74 Total 312 100

N: número de amostras analisadas.

Identificação de anticorpos irregulares

O Laboratório de Imuno-hematologia do Hemopasso realizou 209 identificações

de anticorpos irregulares no período da pesquisa e 22 foram realizadas pela DiaMed. A

Tabela 3 mostra quantos anticorpos não foram identificados e as suas causas.

Tabela 3 - Circunstâncias que levaram a não identificação dos Anticorpos Irregulares pelo Hemopasso e pela DiaMed.

Circunstâncias (N) (%) Negativou 52 57,77

Não identificados pelo painel de referência 31 34,44 Não identificados por interferência AC* e CD** + 7 7,78

Total 90 100 * AC: Auto Controle - teste feito para investigar se o paciente apresenta anticorpos contra suas próprias hemácias, um auto-anticorpo; ** CD: Coombs direto – é utilizado para demonstrar a ligação in vivo de anticorpos e/ou frações de complemento às hemácias. É utilizado para estudo da doença hemolítica do recém-nascido, anemia hemolítica auto-imune, hemólise induzida por drogas e reações hemolíticas pós-transfusionais; N: número de amostras analisadas.

Na Tabela 4 estão distribuídos os anticorpos identificados em 231 doadores do

Hemopasso de junho de 2001 a julho de 2008, separados por grupo sanguíneo e Rh. O

tipo sanguíneo mais prevalente nos indivíduos em estudo foi o A positivo (37,23 %),

seguido do O positivo (35,93%). Os menos prevalentes foram AB positivo (1,3%) e AB

negativo (1,3%).

Page 8: Nat%E1lia Posser Trentin

8

Tabela 4 - Número de anticorpos identificados nos 231 doadores do Hemopasso que tiveram I.A.I positiva, separados por grupos sanguíneos e Rh.

Anticorpos A + A - B+ B - AB + AB - O+ O - Total D - 30 - 8 - 2 - 38 78 Leª 20 1 2 - - 1 7 1 32 M 11 1 2 - - - 14 5 33 K 10 1 1 - 1 - 5 7 25 E 9 3 1 - - - 7 2 22 Leb 4 1 - - - - - - 5 LeX 4 - - - - - - - 4 S 3 - 1 - - - 2 4 10 N 2 - 1 - - - 1 1 5 s 2 - 1 - - - - - 3 c 2 - - - - - 2 - 4

Kpª 2 1 - - - 1 - 4 8 C 1 5 - 4 - - 2 10 22 e 1 - - - - - 1 - 2 Jkª 1 - - - - - 4 - 5 Diª 1 - - - 1 - 5 2 9 Fyª 1 - 1 - - - 1 - 3 Cw - - - - - - 2 2 4 Luª - - - - - - 1 - 1 Jkb - - - - - - 1 - 1 P1 - - - - - - 1 1 2 Xpª - - - - - - 1 - 1 Jsª - - - - - 1 - 1 2 Fyb - - 1 - - - - - 1 Total 74* 43* 10* 12* 2* 5* 57* 78* 282

* Número de anticorpos irregulares nos diferentes grupos sanguíneos e Rh.

Discussão

As transfusões sanguíneas são uma importante forma de salvar vidas, no entanto,

o risco causado por transfusões feitas sem a realização correta dos testes de

compatibilidade sanguínea e a pesquisa de anticorpos irregulares pode causar ao paciente

risco de aloimunização, podendo levar a reações hemolíticas imediatas ou tardias, as

quais, dependendo da gravidade e do anticorpo envolvido, podem levar a morte.

Page 9: Nat%E1lia Posser Trentin

9

Os anticorpos irregulares ocorrem em até 3% dos pacientes transfundidos em um

hospital; mas, em certos pacientes, esse risco é bem maior como de 7 a 10 % em

politransfundidos, 6 a 36% em indivíduos falciformes e 3 a 10% em talassêmicos1. A

pesquisa realizada no Hemopasso, em Passo Fundo-RS, mostrou que a prevalência de

anticorpos irregulares na população atendida pela entidade, de junho de 2001 a julho de

2008 foi de 0,32%. Este dado já foi mencionado na literatura, confirmando que os

anticorpos irregulares são encontrados em 0,2 a 3,0% em uma população hígida5. A

prevalência destes anticorpos irregulares foi mais freqüente no sexo feminino do que no

masculino. Isto normalmente ocorre mais freqüentemente em mulheres, pois a gestação

faz com que ocorra contato do sangue do feto com o da mãe5.

Sabendo-se da imunogenicidade dos anticorpos, torna-se importante a

identificação destes. A I.A.I foi realizada em 71,15% dos doadores com a P.A.I positiva.

A maioria dos doadores 57,77%, que não tiveram a sua identificação realizada foi por

negativarem a P.A.I após nova pesquisa. Outras causas mais freqüentes foram a não

constatação de anticorpos pelo painel de referência de identificação e a influência de

coombs direto e auto-controle positivos.

O sistema Rh é o sistema de antígenos eritrocitários mais complexo nos seres

humanos, e não se refere somente a um antígeno específico de eritrócitos, mas sim a um

sistema de grupo sangüíneo constituído por quase 50 antígenos diferentes, com muitas

variantes fenotípicas e complexas relações etiológicas4,6. Segundo Novaretti (2007), no

Brasil o anticorpo anti-D é o mais identificado. No grupo pesquisado, o anticorpo

irregular mais prevalente também foi o anti-D. O antígeno D é o mais importante e

imunogênico de todos os antígenos do sistema Rh, devido ao seu envolvimento na doença

hemolítica perinatal e nas reações transfusionais hemolíticas6,7,8.

Depois do anti-D, dos anticorpos do sistema Rh, o anti-C e o anti-E foram os mais

prevalentes. Estes anticorpos incluindo o anti-c e anti-e são os responsáveis por 99% dos

problemas clínicos relacionados ao sistema Rh1. Os anticorpos Rh permanecem na

circulação por anos. Uma pessoa com baixos títulos de anticorpo Rh pode experimentar

uma segunda resposta de anticorpo, se exposta ao mesmo antígeno que a sensibilizou na

primeira vez4.

Page 10: Nat%E1lia Posser Trentin

10

Diferente de Novaretti (2007), onde afirma que os anticorpos normalmente

encontrados, dos outros sistemas, são o anti-K e o anti-Fyª, nesta pesquisa os anticorpos

dos outros grupos mais freqüentes foram o anti-M, anti-Leª e anti-K.

O anticorpo anti-M é o mais encontrado do Sistema MNS nos bancos de sangue, e

pode ser detectado no plasma4,6, o que também foi confirmado nesta pesquisa. Esse

anticorpo raramente é ativo a 37°C e por isso não é clinicamente significativo em

transfusões de sangue, mas nesses casos podem causar reações transfusionais

hemolíticas1,10. O anticorpo anti-Leª, na maioria das vezes, é da classe IgM, mas em

alguns casos podem ter componentes de IgG ou serem IgG completos. Esta forma não é

muito detectada na rotina dos Bancos de Sangue, pois não se ligam aos eritrócitos de

forma tão eficaz quanto a IgM4.

Para Harmening (2006), o anti-K é o anticorpo mais frequente em Bancos de

Sangue, depois dos anticorpos dos sistemas ABO e Rh, fato que não foi observado nesta

pesquisa, pois o anti-K foi o terceiro anticorpo mais prevalente após os sistemas ABO e

Rh. Devido ao seu forte potencial de causar doença hemolítica no recém-nascido, quando

se identifica um anti-K em uma gestante, deve-se fenotipar o pai para o antígeno K e

monitorar o feto para sinais da doença4.

Os anticorpos menos prevalentes nesta pesquisa foram o anti-Luª, anti-Jkb e anti-

Fyb. Os anticorpos contra os antígenos Lutheran são pouco encontrados nos bancos de

sangue; anti-Luª e anti-Lub podem surgir a partir da estimulação imune, mas encontram-

se muitos exemplos de anti-Luª de ocorrência natural6. Anticorpos anti-Luª são raros e

não são clinicamente significativos em transfusões sangüíneas, nem mesmo em casos de

doença hemolítica do recém-nascido, devido à sua baixa expressão nas células de cordão

umbilical4,10.

O anti-Jkb é produzido após transfusão sangüínea e gravidez, está envolvido em

reações pós-transfusionais graves e pode causar doença hemolítica do recém-nascido. As

concentrações de anti-Jkb caem rapidamente in vivo após o último estímulo e após reação

transfusional. Um anticorpo identificado hoje com altos títulos, pode não ser mais

detectável após certo período, o que demonstra a necessidade de verificar os registros

para anticorpos identificados antes da transfusão, pois pode levar a reação pós-

transfusional grave e a falsos resultados negativos na prova de compatibilidade4,11.

Page 11: Nat%E1lia Posser Trentin

11

Os anticorpos anti-Fya e anti-Fyb estão ligados a reações transfusionais

hemolíticas imediatas e tardias e também podem causar doença hemolítica do recém-

nascido. Os anticorpos anti-Fyb e anti-Jkb normalmente ocorrem associados a outros

anticorpos irregulares1,4,11.

Os resultados desta pesquisa demonstraram que os anticorpos irregulares não são

tão freqüentes em doadores de sangue hígidos e que, na sua grande maioria, quando

presente, consegue-se fazer sua identificação para maior proteção do doador e do

receptor. Acredita-se que esta pesquisa traga conscientização aos profissionais da área da

saúde e principalmente aos bancos de sangue sobre a existência e a importância da

pesquisa e identificação dos anticorpos irregulares, que na sua presença pode causar

agravamento da saúde do receptor de sangue, ou até mesmo a sua morte.

Agradecimentos

Ao Hemopasso de Passo Fundo-RS pela disponibilização dos dados.

A autora principal agradece, em especial, a Prof. Msc. Cláudia Cavalett pela

orientação e importante ajuda na montagem e realização deste artigo.

Page 12: Nat%E1lia Posser Trentin

12

Referências

1. GIRELLO AL, KÜHN TIBB. Fundamentos da imuno-hematologia eritrocitária. 2ª ed. São Paulo: Senac; 2007.

2. LABORATÓRIO WEINMANN. Tópicos de Patologia Clínica: T3. Transfusão de Sangue/Imuno-Hematologia: Anticorpos Irregulares (Aloanticorpos). Porto Alegre (RS) 1994. 3. NOVARETTI MCZ. Investigação Laboratorial em Pacientes com Anticorpos Eritrocitários. In: COVAS DT, LANGHI JDM, BORDIN JO. Hemoterapia: Fundamentos e Prática. São Paulo: Atheneu; 2007. p. 185-192. 4. HARMENING DM. Técnicas Modernas em Banco de Sangue e Transfusão. 4ª ed. Rio de Janeiro: Revinter; 2006. 5. LABORATÓRIO WEINMANN. Tópicos de Patologia Clínica: T3. Transfusão de Sangue/Imuno-Hematologia: Anticorpos Irregulares (Aloanticorpos). Porto Alegre; mar. 1994. 6. BEADLING WV, COOLING L, HENRY JB. Imunohematologia. In: HENRY JB. Diagnósticos Clínicos e Tratamento por Métodos Laboratoriais. 20ª ed. Burueri: Manole; 2008. p. 766 – 831. 7. QUINTAL VS, OLIVI GMGS, VAZ FAC. Imunohematologia dos grupos sangüíneos. Revisões e Ensaios, 1993. Disponível em: <http://pediatriasaopaulo.usp.br/upload/pdf/139.pdf.>. Acesso em: 10 maio 2008. 8. BARROS C et al. Avaliação de reagentes anti-D na detecção dos antígenos D fraco e D parcial. Rev. Bras. Hematol. Hemoter. Out/dez 2006; 28(4): 269-274. 9. BEIGUELMAN B. Os Sistemas Sangüíneos Eritrocitários. 3ª ed. Ribeirão Preto: Funpec; 2003. 10. KNOWLES SM. Antígenos e Anticorpos de Eritrócitos, Plaquetas e Granulócitos. In: LEWIS SM, BAIN BJ, BATES I. Hematologia prática de Dacie e Lewis. 9ª ed. Porto Alegre: Artmed; 2006.

Page 13: Nat%E1lia Posser Trentin

13

11. SANTOS MCP, OLIVEIRA MP, BRANDÃO MRV. Imuno-hematologia. In: ESCOLA POLITÉCNICA DE SAÚDE JOAQUIM VENÂNCIO. Textos de Apoio em Hemoterapia. Rio de Janeiro: Fiocruz; 2000. p. 73-113.