nas escolas municipais de são mateus es
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X EPEA Encontro Pesquisa em Educação Ambiental VII ESEA Encontro Sergipano de Educação Ambiental
São Cristóvão - SE 1 a 4 de setembro de 2019 1
Universidade Federal de Sergipe
O tema “lixo” em atividades de educação ambiental
nas escolas municipais de São Mateus – ES
Poliana D. Mariano – UFES
Rayane Oliosi – UFES
Marcos C. Teixeira – LabEA/UFES
Resumo: Avaliou-se como as escolas de São Mateus vêm conduzindo o tema “lixo”.
Realizou-se uma pesquisa mista do tipo exploratória com coleta de dados por meio de
questionário semiestruturado aplicados a 103 alunos de 10 escolas. O tema “lixo” foi
indicado por 33,98% dos participantes como o mais urgente a ser trabalhado pela
escola. Foram encontradas as seguintes categorias como foco de interesse dos
estudantes: gestão de resíduos (35,5%), “degradação ambiental” (30,0%),
“saúde/saneamento” (9,6%), “consumo” (7,1%), “educação” (2,5%), consequências
para o futuro” (2%), “não se lembra” (7,5%) e “outras” (5,8%). Estes resultados foram
atribuídos à predominância da tendência naturalista/antrópica, que privilegia o discurso
ecológico em detrimento da politização do tema. Diante da ausência de uma gestão mais
adequada dos resíduos na cidade de São Mateus sugere-se, a partir dos resultados, a
abertura de debates sobre qual educação ambiental dará conta de enfrentar o problema
dos resíduos.
Palavras-chave: Resíduos, educação, meio ambiente, ensino fundamental
Abstract: It was evaluated how the schools of São Mateus have been conducting the
theme "garbage". A mixed exploratory type survey was conducted with data collection
through a semi-structured questionnaire applied to 103 students from 10 schools. The
theme "junk" was indicated by 33.98% of the participants as the most urgent to be
worked by the school. For students, the focus should be on waste management (35.5%),
"environmental degradation" (30.0%), "health / sanitation" (9.6%), "consumption" 1%),
"education" (2.5%), consequences for the future "(2%)," do not remember "(7.5%) and"
other "(5.8%). These results were attributed to the predominance of the naturalistic-
anthropic tendency, which privileges the ecological discourse to the detriment of the
politicization of the theme. Given the absence of more adequate management of waste
in the city of São Mateus, it is suggested from the results, the opening of debates about
which environmental education will deal with the problem of waste.
Key-words: Waste, education, environment, elementary School
1 Introdução
As mudanças nos hábitos e modos de vida promovido pelo modelo econômico
de base industrial ocasionou um modo de vida consumista que tem, entre outras
consequências, a produção de um grande volume de resíduos sólidos cujo destino
principal são os lixões onde se dá a contaminação do solo e os recursos hídricos, além
de saturação de aterros sanitários (SANTOS et al., 2010). Por isso, o “lixo”1 vem sendo
1 Em latim a palavra “lix” significa “cinza”, daí vem “lixo”. De acordo com o dicionário, “lixo é tudo aquilo que não se quer mais e se joga fora; coisas
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apontado pelos ambientalistas como um dos mais graves problemas ambientais urbanos
da atualidade, tornando-se alvo de programas de educação ambiental (LAYRARGUES,
2002).
De acordo com uma pesquisa da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza
Pública e Resíduos Especiais - ABRELPE, a geração de lixo no Brasil aumentou 29%
de 2003 a 2014, aproximadamente cinco vezes a taxa de crescimento populacional neste
período. Porém, a quantidade de resíduos com destinação adequada não acompanhou o
crescimento da geração de lixo (ABRELPE, 2014). Esses dados reforçam a necessidade
de projetos de educação ambiental direcionados aos resíduos sólidos.
As propostas educacionais para o meio ambiente têm, em geral, “enfatizado os
aspectos técnicos e biológicos da educação e da questão ambiental em detrimento de
suas dimensões políticas e éticas” (LIMA, 1999, p. 136). Estes projetos de debate e
gerenciamento do “lixo” se desprenderem da perpetuação das discussões que buscam
uma mudança de comportamento acerca das questões éticas e sociopolíticas e enfatizam
apenas a reciclagem. Em de chegar à tal venerada sustentabilidade, só agravarão o
consumismo e gerarão ainda mais “lixo” (LAYRARGUES, 2002).
Conforme Layrargues (2002, p. 179), a “compreensão da necessidade do
gerenciamento integrado dos resíduos sólidos propiciou a formulação da chamada
Política ou Pedagogia dos 3R's”, que nasceu com a seguinte ideologia: Reduzir,
Reutilizar e Reciclar. Contudo, quando há implementação de programas de educação
ambiental nas escolas, acaba sendo desenvolvida apenas a coleta seletiva de lixo para
promover a reciclagem, descartando a política da redução e reutilização. Desta forma,
um tema complexo torna-se falho, pois a reciclagem deveria ser vista como um “último
recurso” a ser utilizado. Antes disso, deveria efetuar-se uma reflexão crítica e
abrangente a respeito dos valores culturais da sociedade de consumo, do consumismo,
do industrialismo, do modo de produção capitalista e dos aspectos políticos e
econômicos da questão do lixo (LAYRARGUES, 2002).
Essa política ambiental defeituosa reflete uma sociedade mais preocupada com a
ascensão de uma mudança comportamental, associada a uma visão reducionista do
problema que o vê apenas pela ótica da dicotomia “coleta convencional X coleta
seletiva”. Assim, falta a reflexão sobre a matriz do problema cuja base é o modelo
econômico atual, que sustenta o estilo de vida de produção e consumo da sociedade
moderna. Desse modo, a coleta seletiva e a reciclagem dos resíduos sólidos, devem ser
inúteis, velhas e sem valor”. Já a Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT - define o lixo como os “restos das atividades humanas, considerados pelos geradores como inúteis, indesejáveis ou descartáveis, podendo se apresentar no estado sólido e líquido, desde que não seja passível de tratamento. Visto que lixo é tudo aquilo que não apresenta nenhuma serventia para quem o descarta, para outro pode se tornar matéria-prima de um novo produto ou processo, ou seja, resíduo sólido (http://unisite.com.br/Geral/13428/Meio-Ambiente:-A-diferenca-entre-lixo-e-residuo.xhtm). Nesse contexto tem sido corrente a discussão sobre as diferenças entre “lixo” e “resíduo”. Diante disso, neste estudo optou-se por utilizar o termo “Lixo” para se referir a todo tipo de material descartado como restos nas atividades humanas.
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vistos como tema-gerador e não como atividade-fim, devendo haver discussões e ações
que conduzam uma mudança dos valores culturais a que estes estão ligados e não tratá-
los de forma pragmática e alienada (LAYRARGUES, 2002).
No município de São Mateus, nota-se que a questão do lixo ainda não se tornou
objeto de demanda social específica pela criação de políticas públicas. Por isso, o
município vem sendo notificado pelo ministério público e demais órgãos públicos de
gestão do meio ambiente no sentido de desenvolver ações de gestão e de educação
ambiental para enfrentamento efetivo do problema e dar o devido cumprimento à Lei da
Política Nacional de Resíduos Sólidos.
Diante da urgência do problema da gestão dos resíduos, das possibilidades
concretas de enfrentamento do problema pela EA e da importância da escola nesse
contexto, faz-se necessário avaliar como as escolas vem conduzindo o tema. Neste
estudo, avalia-se as abordagens do tema “lixo” em atividades de educação ambiental nas
escolas municipais de São Mateus – ES.
2 Caminhos metodológicos da pesquisa
Os procedimentos metodológicos para realização da pesquisa apoiaram-se na
abordagem de pesquisa de métodos mistos (quantitativa e qualitativa). Segundo Dal-
Farra e Lopes (2013), a harmonização dos métodos qualitativo e quantitativo,
conjugando os elementos inerentes de cada um, pode dilatar a obtenção de resultados
em diversas abordagens, proporcionando ganhos expressivos para as pesquisas no
campo da educação. No planejamento de uma pesquisa de métodos mistos deve-se
considerar quatro aspectos principais: (1) distribuição de tempo, (2) atribuição de peso,
a (3) combinação e (4) teorização (CRESWEL, 2010). Sobre o primeiro aspecto, na
presente pesquisa os dados quantitativos e qualitativos foram coletados
concomitantemente e não foi atribuída diferença (peso) de importância entre os
mesmos. No que se refere à combinação, houve uma integração entre dados qualitativos
e quantitativos de forma que os mesmos estão fundidos e produzem informações que se
apoiam mutuamente. O último aspecto, a teorização, a pesquisa se guiou pela proposta
da educação ambiental crítica, especialmente pelas orientações do estudo “O Cinismo
da Reciclagem: o significado ideológico da reciclagem da lata de alumínio e suas
implicações para a educação ambiental” (LAYRARGUES, 2002).
De acordo com o objetivo geral, a pesquisa classifica-se como exploratória que
utilizou como campo de estudo 10 Escolas de Ensino Fundamental (EMEF) da rede
municipal de ensino de São Mateus-ES, conforme apresentação da tabela 1.
Tabela 1. Distribuição por escola dos alunos do 9º ano do ensino fundamental
participantes da pesquisa (EMEF = Escola Municipal de Ensino Fundamental; ECORM
= Escola Comunitária Rural Municipal)
Nº Escola pesquisada
Nº de alunos
Participantes/escola
01 EMEF “Prof. Herinéia Lima Oliveira” 06
02 EMEF “Guriri” 23
03 ECORM “Maria Francisca Nunes Coutinho” 10
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Para coleta dos dados, cada escola foi visitada pelo menos duas vezes. Na
primeira visita estabeleceu-se contato com o(a) diretor(a) ou outro responsável pela
escola para apresentação do projeto de pesquisa, e a obtenção da autorização de
execução do mesmo. Nesse momento também foi solicitado aos diretores um breve
diálogo com as turmas para esclarecer sobre o projeto de pesquisa e solicitar a
participação dos alunos. Nesta breve conversa era apresentada, de forma sucinta, as
especificações da pesquisa, convidando-os a participar, mas sempre esclarecendo os
aspectos éticos da mesma. Após essa explanação da proposta, foi entregue o termo de
consentimento dos pais ou responsáveis e do termo de assentimento dos estudantes para
que declarassem seu interesse em participar, pedindo-os para trazer o documento
assinado no dia combinado para aplicação dos questionários em suas respectivas
escolas, sendo essa a condição para seleção dos participantes.
Na segunda visita à escola, foi realizada a aplicação do questionário
semiestruturado junto aos alunos. As questões versavam sobre quais temas de educação
ambiental são abordados na escola e de quais formas o tema “lixo” é debatido em
discursos e projetos de educação ambiental nas escolas bem como os temas de interesse
dos alunos.
As folhas impressas com as cinco questões do questionário foram cortadas de
forma a separar as primeiras três questões das duas últimas, visto as opções de resposta
da questão quatro, especificamente, poderem influenciar nas resoluções das três
primeiras. A primeira parte do questionário foi entregue e assim que cada um terminava
de responder, recolhia-se a primeira parte e entregava-se a segunda parte contendo as
duas últimas questões. Imediatamente ao recolhimento dos questionários, os mesmos
eram codificados por meio da indicação das seguintes informações: Nome da escola, a
letra “E” em referência à palavra estudante e o número da ordem e entrega do
questionário.
O questionário semiestruturado foi aplicado a 103 alunos do 9º ano de 10 escolas
da rede municipal de ensino básico do município de São Mateus – ES nos meses de
setembro e outubro de 2016. A escolha por estudantes do 9º ano se deu em função de
estarem em fase de conclusão do ensino fundamental e, portanto, já terem contato com
grande parte dos conteúdos curriculares previstos para esta fase do ensino e, ainda
possivelmente, terem tido acesso às atividades de educação ambiental desenvolvidas nas
escolas. Portanto, esses alunos representam o perfil de formação final obtido pela escola
04 EMEF “Paulo Antônio de Souza” 03
05 EMEF “Professor João Pinto Bandeira” 13
06 EMEF “Aviação” 05
07 EMEF “Bom Sucesso” 06
08 EMEF “Marizete Venâncio Nascimento” 20
09 EMEF “Zumbi dos Palmares” 03
10 EMEF “Dora Arnizaut Silvares” 14
Total de alunos participantes da pesquisa 103
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no que se refere aos conteúdos previstos, entre os quais estão os conhecimentos sobre os
resíduos produzidos a partir das atividades humanas, que, conforme o esperado, são
estudados nas diversas disciplinas que compõem o currículo.
Os dados das questões objetivas foram analisados por meio da frequência com
que os participantes da pesquisa as indicaram nos questionários. Os dados obtidos nas
questões abertas foram submetidos à análise de conteúdo identificando-se as categorias
semânticas que emergiram e suas respectivas frequências.
3 Resultados e discussão A educação ambiental e o tema “lixo” nas escolas municipais de São Mateus-ES
Dos 103 alunos participantes 57,28% disseram nunca terem participado de
alguma atividade de educação ambiental nas escolas em que já estudaram. Esse
resultado pode ser um indicativo de que ou a EA vem sendo pouco abordada nas escolas
municipais de São Mateus – ES ou as atividades desenvolvidas não tem contribuído
para que os estudantes as relacionem com as questões ambientais. Nesse sentido, de
acordo com Guimarães (1995), a educação ambiental torna-se uma necessidade, um
processo contínuo e permanente que deve abranger todos os níveis escolares e etapas da
educação formal e informal.
As atividades de educação ambiental em espaços não formais de ensino são,
normalmente, muito valorizados pelos alunos (GUENTHER; FERREIRA E
SANTANA, 2019). No entanto, não foram lembrados pelos participantes desta
pesquisa. No caso específico do tema “lixo” a visita a lixões, aterros sanitários, usinas
de processamento de resíduos ou cooperativas de catadores podem contribuir para a
formação crítica dos alunos. Kondrat e Maciel (2013), demonstraram expectativas
positivas em relação ao auxílio fornecido por estes espaços para as atividades escolares,
embora muitas escolas não reconheçam a importância do espaço não formal.
Entre os alunos que declararam terem tido acesso à educação ambiental, 34,09%
mencionaram, espontaneamente, que as atividades das quais participaram abordavam o
tema lixo. Apurou-se ainda que o tema “lixo” foi mencionado pelos estudantes de 8 das
10 escolas participantes da pesquisa. Nessas escolas registrou-se a abordagem do tema
“recolhimento de lixo na praia”, atividade prática de coleta de lixo no Rio Preto,
passeata para evidenciar a relação entre lixo e dengue, estudos sobre reciclagem, visitas
aos manguezais para coleta de lixo e ações para gestão do lixo no ambiente escolar.
Esses resultados evidenciam que o tema persiste como um dos preferidos para
abordagem das questões ambientais na escola. Em 2007 a Secretaria de Educação
Continuada, Alfabetização e Diversidade do Ministério da Educação (SECADI/MEC)
apurou que o lixo está entre os temas ambientais mais frequentes abordadas nas escolas
brasileiras. Rodrigues et al 2019 realizaram uma análise sobre o estado da arte das
práticas didático-pedagógicas em educação ambiental no período de 2010 a 2017 tendo
como base os artigos publicados na Revista brasileira de educação ambiental e apurou
que o tema lixo/reciclagem foi abordado em 29,19% dos estudos.
Na EMEF Guriri, em uma conversa com um dos professores, obteve-se a
informação de que houve um projeto abordando lixo que envolveu toda a escola
(limpeza dos ambientes e separação de lixo para coleta seletiva). Contudo, dos 23
alunos desta escola que responderam ao questionário 17 alegaram não ter tido nenhuma
atividade de educação ambiental em sua trajetória escolar. Constata-se, portanto, uma
contradição entre a declaração do professor e dos alunos o que revela a necessidade de
se avaliar e repensar as formas de abordagens que estão sendo utilizadas nos temas de
atividades de EA trabalhadas na educação escolar.
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Quando os estudantes foram solicitados a indicar 3 temas sobre meio ambiente
que eles consideram mais urgentes/importantes a serem abordados no ensino
fundamental nas escolas foram obtidos 33,98% de evocações destacando o tema lixo.
Portanto, mesmo diante da multiplicidade de questões vinculadas ao meio ambiente na
atualidade, pode-se afirmar que o lixo representa um tema relevante para os jovens das
escolas de São Mateus e que deve ser mais explorado em atividades de EA. No entanto,
é importante destacar que o tema deve ser abordado de forma crítica, que contesta o
modelo de produção vigente o qual, por meio dos diversos aparelhos ideológicos, vende
a ideia de que todos nós, igualmente, somos produtores de lixo e, por isso, somos todos
igualmente responsáveis pela reciclagem (LAYRARGUES, 2002).
Foi solicitado aos alunos que indicassem 3 questões especificamente sobre o lixo
que eles consideram mais urgentes/importantes para serem abordados na escola. Nesse
contexto, a categoria que emergiu com maior frequência foi a gestão de resíduos
(classificação, separação, coleta, reciclagem, compostagem, aterro sanitário, entre
outros), com 35,5% das evocações (Gráfico 1). Em seguida, destacaram-se os processos
de degradação ambiental que corresponde a 30,0% das evocações. Também foram
citados como relevantes, porém em menor percentual, a saúde/saneamento, com 9,6%, o
consumo (importância de reutilização de alguns materiais e diminuição do lixo urbano,
por exemplo), com 7,1%, a educação (como medidas para informar a importância de se
jogar lixo no local devido, educação como forma de boa conduta), com 2,5% e
consequências que o lixo trás (como danos ao planeta, e as consequências do lixo para o
futuro) com 2,0%. Um pequeno percentual de estudantes (7,5%), não se lembraram/não
sabiam ou não responderam. Foram registradas ainda respostas sem contexto,
totalizando um percentual de 5,8%.
A atribuição de maior importância dada a questões da gestão e não à redução de
consumo do lixo indica que a representação de meio ambiente trabalhada nas escolas
tem uma tendência naturalista-antrópica (REIGOTA, 2002). Nesta representação as
atividades de educação ambiental concebem a natureza como sinônimo de recursos que
devem ser conservados para garantia da qualidade de vida do homem.
Gráfico 1. Principais questões e respectivas frequências (%) envolvendo o tema “lixo”
de interesse de estudantes do 9o ano do ensino fundamental de São Mateus-ES (n=103
estudantes).
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Pedagogia dos 3R’s ou pedagogia da Reciclagem?
Na questão que buscou avaliar o conhecimento dos estudantes sobre qual a
sequência correta proposta pela Pedagogia dos 3 R’s, que aborda a sequência lógica e
ideal da educação ambiental a ser posta em prática (reduzir o consumo, reutilizar e
reciclar), obteve-se 37,25% de acertos contra 62,75% de respostas incorretas.
Considerando que o tema lixo é um dos mais abordados nas atividades de EA nas
escolas pode-se considerar que esse percentual de acerto é baixo e que ainda há um
equívoco na formação tanto de professores quanto dos estudantes quanto à atitude
correta frente ao problema do lixo. Esse resultado corrobora a seguinte constatação feita
por Layrargues (2002):
Analisando-se a literatura a respeito da interface entre a
educação ambiental e a questão do lixo, observa-se uma
excessiva predominância da discussão a respeito dos aspectos
técnicos, psicológicos e comportamentais da gestão do lixo, em
detrimento de seus aspectos políticos (p. 2).
Portanto, diante dos resultados, pode-se afirmar que as abordagens em EA
realizadas ao longo do ensino fundamental não contribuíram para que uma parcela
significativa dos estudantes compreendesse que no processo de gestão dos resíduos o
processo de reciclagem deve ser o último passo, privilegiando-se o consumo
responsável e a reutilização. Assim como sugere Oliveira e Nogueira (2019, p. 366)
após pesquisa sobre percepção ambiental de estudantes, possivelmente,
a visão da integração entre ser humano e natureza podem não ter
sido adquiridos durante a trajetória de vida escolar desses
estudantes, haja vista que, para o interesse do sistema
econômico dominante não é interessante que se faça a
associação do consumo e consumismo à questão ambiental, já́
que o consumo é o que faz com que o sistema econômico se
mantenha.
0 5 10 15 20 25 30 35 40
gestão
degradação
saúde/Saneam.
n. sabe/n. lembra
consumo
Sem contexto
Educação
Consequências
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Uma das questões buscou avaliar se os estudantes praticam a coleta seletiva em
casa e onde aprenderam. Do total de participantes, 33,98% afirmaram não praticar
coleta seletiva e a justificativa que teve maior percentual indicada pelos alunos foi a
categoria “Não tem costume ou não sabe como proceder” (25,71%) seguida de
“Ausência de coleta seletiva municipal” (20%). Um percentual de 17,14% alegou falta
de tempo e 14,28% alegaram outros motivos. Merece destaque o total de 22,85% que
não responderam ou deram respostas sem contexto. Os dados referentes aos alunos que
afirmaram não praticar a coleta seletiva estão dispostos na tabela 2.
Tabela 2. Respostas, respectivas frequências absolutas e exemplos de discursos de 35
estudantes do 9o ano do ensino fundamental de São Mateus-ES que não praticam a
coleta seletiva quando perguntado quais motivos os impedem de praticá-la em suas
casas.
Categorias Frequência Exemplos de Respostas
Falta de hábito ou de
conhecimento 9 (25,71%)
- “Porque não temos costume”
- “Não temos acesso a esse assunto”
- “Colocamos tudo no mesmo lixo”
Ausência de coleta
seletiva municipal 7 (20%)
- “Porque na maioria das vezes não
separamos nada e tudo vai tudo junto para o
lixo. Também é um pouco de falta de
orientação e preocupação em relação ao lixo.”
- “Porque na minha rua não tem lixeiras
específicas”
- “Porque o lixo que há na nossa cidade não é
reciclado”
Falta de tempo 6 (17,14%)
- “Porque não temos tempo”
“Por que não temos tempo ou preocupação
com isso”
Outros 5 (14,28%)
- “Porque nois somos preguisozos”
- “Não nos preocupamos muito com isso”
- “Só queimamos mesmo”
Não respondeu /
Resposta sem
contexto
8 (22,85%)
- “Como em minha casa, não possuímos
quintal ou locais parados, não é necessário e o
nosso lixo devidamente jogado na lixeira.”
- “Não utilizamos devido á casa ser sem
quintal”
- “Porque não temos tempo e porque o quintal
e enorme na verdade e um morro”
O auto percentual de estudantes que não responderam ou deram respostas sem
contexto, nos leva a sugerir que os mesmos ainda não compreendem o que é a coleta
seletiva. Respostas como “Por que não temos tempo ou preocupação com isso”,
corroboram o seguinte ponto de vista de Soares, Salgueiro e Gazineu (2007) a respeito
do pensamento geral das pessoas com relação aos resíduos por nós produzidos:
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Para o indivíduo, o lixo não é um problema, sobretudo porque
ele acredita que a sociedade já encontrou a solução devida para
o mesmo. Sua preocupação acaba no momento em que o
caminhão coletor passa recolhendo o lixo de sua casa (p. 2).
Esses resultados demonstram a gravidade do problema diante da ausência de
políticas públicas mais efetivas e explicita a necessidade e uma educação ambiental
mais compromissada com o enfrentamento do problema da gestão de resíduos no
município de São Mateus-ES.
Quanto aos alunos que disseram que praticam a coleta seletiva em casa (68
alunos), a maior porcentagem (25%) disse ter aprendido essa técnica “em casa com
familiares e/ou com mídia”, como visto na tabela 3. Portanto, o ambiente familiar é um
espaço relevante no processo de formação sobre os lixo. No entanto, Cembranel;
Francischett e Rodrigues (2019) ao desenvolver uma ação de coleta seletiva com
estudantes e familiares não obteve resultados satisfatórios.
Tabela 3. Respostas, respectivas frequências absolutas e exemplos de discursos de 68
estudantes do 9o ano do ensino fundamental de São Mateus-ES que afirmam praticar a
coleta seletiva sobre os locais onde aprenderam a prática.
Categorias Frequência Exemplos de Respostas
Na Escola 22 (32,35%)
- “Na escola”.
- “Na escola e no projeto”.
- “Na escola (Nas aulas Práticas)” .
Em casa com familiares e/ou
com a mídia (TV ou
internet)
25 (36,78%)
- “Em casa mesmo".
- “Em casa, nas TV’s entre outros
eletrônicos”.
- “Desde pequeno minha vó procurou
me ensinar”.
Em casa e na escola 7 (10,29%)
- “Na escola, com meus familiares”.
- “Na minha casa e também na
escola”
-“Na escola, propagandas da
televisão.”
Outros 9 (13,23%)
- “Em Londres”.
- “Na palestra ambiental”.
- “Com os agentes da dengue”.
Não respondeu / Resposta
sem sentido 5 (7,35%)
- “Aprendi jogar lixo no lixo”.
- “Com a separação de lixo fica mais
fácil reciclar”.
- “Aprendemos com as causa que o
lixo traz”.
Os dados da tabela 3 indicam que há outros espaços significativos para discussão
e aprendizado a respeito de técnicas de gestão de lixo, assim como de outras medidas de
educação ambiental que não estejam restritas à escola, podendo envolver a comunidade.
De acordo com pesquisas nacionais da Secretaria de Educação Continuada,
Alfabetização e Diversidade - SECADI/MEC, as escolas demonstraram estar distantes
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da comunidade perante o contexto da educação ambiental tratada na educação escolar
(BRASIL, 2007, p. 22).
A aprendizagem da coleta seletiva na escola foi indicada por 32,35% dos alunos
que disseram praticá-las em casa. Portanto, fica explícita a importância que a escola
possui na formação ambiental crítica dos estudantes. A questão do lixo costuma ser
muito familiar aos estudantes, por ser abordada desde as séries iniciais do Ensino
Fundamental, enfatizando sua geração, seu destino, sua ação danosa, sua redução e, até
mesmo, sua não produção (ANGELI E OLIVEIRA, 2016). Nesse aspecto, a escola, ao
planejar ações de educação ambiental deve considerar as diversas dimensões
(ecológicas, sociais, políticas, econômicas e culturais) que envolve a questão do lixo,
pois, Chierrito-Arruda et al (2018) após analisar as produções científicas sobre os
comportamentos pró-ambientais e a reciclagem, a fim de tecer apontamentos que
favoreçam as mudanças comportamentais previstas nas políticas públicas, constatou que
as atitudes ambientais e o comportamento de reciclar mostraram-se relacionados às
normas sociais, à motivação, à identidade, ao altruísmo e à conscientização. O estudo de
Fabris, Neto e Toaldo (2010, p.1135) verificou que “o comportamento voltado para a
separação do lixo é influenciado diretamente pelo contato pessoal: família e pares.
Porém, de maneira indireta, a escola, a mídia e os pares agem nos sentimentos, que são
considerados antecedentes do comportamento”.
Pode-se afirmar que o lixo constitui para as escolas municipais de São Mateus
pesquisadas uma forma concreta de trabalhar com a percepção de impacto e degradação
ambiental da sociedade. No entanto, de acordo, com os dados pode-se afirmar que a
educação ambiental praticada privilegia a reciclagem em detrimento de um debate mais
aprofundado sobre as causas do volume de lixo produzido pela sociedade e seus reais
impactos sociais e ambientais.
4 Considerações
Na presente pesquisa verificou-se que o tema “lixo” é trabalhado nas 10 escolas
da rede municipal de ensino do município de São Mateus-ES que representaram o
campo de estudo, nas quais os alunos o apontam como um dos problemas ambientais
mais urgentes de serem estudados, especialmente sobre os processos de gestão e os
efeitos da degradação que provocam no ambiente.
Embora demonstrem preocupação com o tema, ainda há uma parcela dos
estudantes da rede municipal de ensino de São Mateus que não praticam a coleta
seletiva os quais atribuem essa ausência à falta de tempo e de interesse e à ausência de
um serviço público para recolher o lixo separado nas casas. Entre os que praticam a
coleta seletiva, estes afirmam que adquiriram esse conhecimento na escola e em casa.
A pesquisa evidenciou que, apesar de o tema estar contemplado nas escolas, as
abordagens ainda são mediadas por uma perspectiva naturalista e comportamental,
corroborado pela valorização da reciclagem em detrimento da redução do consumo e da
reutilização. Além disso, a abordagem do problema tem se dado distante das
comunidades do entorno das escolas. Assim, faz necessária o desenvolvimento de um
novo olhar sobre a questão do lixo pautado na politização do problema.
Ainda que não se tenha verificado uma abordagem crítica de educação ambiental
voltada para o lixo, é importante ressaltar que estas constatações não invalidam ou
desmerecem os trabalhos identificados com a pesquisa, pois, por outra via, demonstra a
vitalidade do que ocorre na escola em termos de educação ambiental.
Visando garantir o direito da sociedade e cumprir os aspectos legais e técnicos, é
imperativo que a gestão pública desenvolva políticas e ações de gestão capazes de
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garantir a destinação adequada a cada tipo de resíduo como forma de incentivar a
participação da sociedade. Assim, mutuamente, se reforça a educação ambiental nos
âmbitos formal e não formal.
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