música medieval doc sisuama
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2. MÚSICA MEDIEVAL
O termo medieval refere-se ao período de tempo que se situe entre a antiguidade e a Era
moderna. A era medieval corresponde a um vasto período de aproximadamente dez séculos (de V a XV)
que parte da dissolução do Império Romano do Ocidente (476 d. C) até 1453 data que marca o fim do
Império Bizantino ou Império Romano do Oriente. Portanto, Idade Média é o período intermédio da
divisão clássica da História ocidental que se subdivide em três períodos: a Antiguidade, Idade Média e
Idade Moderna, sendo frequentemente dividido em Alta e Baixa Idade Média.
O quadro mais comum dos analistas da história europeia sempre considerou a periodização da história
em três grandes períodos, isto é, antiguidade, Idade média e a Era moderna que compreende a Idade
moderna e contemporânea. “O primeiro historiador a definir a periodização tripartida foi Leonardo Bruni
na sua História do Povo Florentino em 1442”. O mais antigo registo com termo Idade médio data de 1469.
Entretanto, ele será adotado padrão de periodização histórica somente em 1683 aquando da publicação
da obra História Universal dividida nos períodos antigo, medieval e novo do historiador alemão *Christoph
Cellarius. (Idade Média. 2013). A problemática divisória de período antigo retrata uma das razões pela
qual alguns peritos na matéria musical preferem associar o estilo medieval e o renascentista num só
estilo musical que eles intitulam de música antiga. John Burrows na coordenação do livro música clássica
alega que a terminologia “Música Antiga” faz referência ao repertório de períodos históricos menos
familiares aos músicos experientes e seus públicos que o das Eras romântica e clássica. A música antiga
desta feita é uma intitulação que abrange a música da idade média e do renascimento, um vasto
panorama de séculos de ideias musicais, desenvolvimentos e estilos de execução. (Música clássica.
2010: 47) Normalmente, o princípio e o final de um período – seus marcos históricos – coincidem com
factos que possuem capacidade de ruptura com o tempo anterior e de influência sobre o tempo seguinte.
É de salientar que na matéria de delimitação de tempo adopta-se de forma fortuito acontecimento
fenomenal como marco histórico para marcar a passagem periódica de certo espaço de tempo. Isto faz
com que haja mais de uma datação que marca limites do mesmo período de tempo ou época. Por
exemplo, para a professora Jacqueline Jamim e eventualmente outros teóricos, indicam o fim do medieval
em 1492, data correspondente a descoberta de América (12 de outubro) pelo Cristóvão Colombo,
também considerado como o início dos tempos modernos. Actualmente os historiadores contemporâneos
consideram a data de 11 de Novembro 2011 que presenciou o ataque de torres gémeos dos Estados
Unidos de América como a data do inicio da Era pós-contemporânea.
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*Cristóbal Cellarius (1638-1707, em Alemanha Cristoph Keller) : Historiador alemão e professor de retórica e história na
Universidade de Halle. Fundamentalmente é conhecido por sua introdução sobre a divisão clássica da periodização histórica ou
das idades da história: antiguidade, média e moderna.
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Considerando a extensão do seu cumprimento, a movimentação populacional devido das “migrações e
incursões dos godos e dos hunos durante os séculos V e VI” (Encarta corporation. 2002) e a perplexidade
do poder público em disputa entre o Estado e as autoridades eclesiásticas; a leitura do seu período e a
reconstrução da sua história torna-se uma tarefa mais difícil e sujeita a marcação fortuita e pragmática.
2.1 Europa Medieval
Aproximadamente no século II a.C., os Germanos (grupo de tribos indo-europeias) - também conhecidos
por povo que habitava a antiga Germânia, região da Europa central ou seja a Alemanha - já haviam
ocupado o norte da Germânia e o sul da Escandinávia (nome que se aplica em conjunto à Noruega,
Suécia que formam a península Escandinava e Dinamarca. Os três países se agrupam devido a um
passado histórico, cultural e linguístico em comum.) Esses três povos são herdeiros dos vikings
chamados também de normandos que eram conhecidos como piratas do mar de renome durante a alta
média. Vikings ou Normandos é o nome coletivo pelo qual se autodenominaram alguns povos nórdicos
(dinamarqueses, suecos e noruegueses) que se dispersaram em um período da expansão dinâmica
escandinava durante a idade média, de 800 d.C. a 1100. Esse período, chamada idade viking, foi
associado popularmente, durante muito tempo, a uma pirataria desenfreada a partir do momento em que
os assaltantes chegavam das terras nórdicas em seus barcos, assolando e saqueando tudo em seu
caminho pela Europa. Contudo, os modernos historiadores destacam os êxitos dessa idade viking no que
se refere à arte, ao artesanato, à tecnologia naval, às viagens de exploração e ao desenvolvimento do
comércio.
a) As rotas dos vikings
Os vikings eram um povo guerreiro que habitava a região escandinava. Sulcaram mares distantes de
seus domínios, não só com o propósito de conquistar novas terras, como também de estabelecer
povoações em outras regiões do mundo. Os vikings dinamarqueses se dirigiram ao sul, até a região
continental europeia, e às ilhas britânicas. Além disso, também avançaram em regiões do noroeste da
costa mediterrânea. Os vikings suecos viajaram até o leste da Europa, enquanto os noruegueses
chegaram à Groenlândia e América do Norte.
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O primeiro encontro com os romanos deu-se quando cimbros e teutões (antigo povo germânico que no
princípio vivia na península da Jutlândia. Em aproximadamente 120 a.C., uniu-se aos cimbros em sua
emigração para o sul) invadiram a Gália, sendo derrotados na atual Provença. Gália, nome romano dado
às terras dos celtas no oeste da Europa; cobria grande parte da atual França, embora se estendesse
além das fronteiras do referido país. Júlio Cesar aquando de seus comentários em seus Comentários,
narra sua conquista da região chamada Gália Transalpina. Descreve o país como dividido em três partes,
habitadas por belgas, aquitanos e gauleses ou celtas. As três nações tinham diferentes línguas, costumes
e leis. Os aquitanos, ademais, eram etnicamente diferentes dos belgas e celtas. Os romanos dividiram-na
em duas regiões principais: a Gália Cisalpina (atual norte da Itália) e a Gália Transalpina. Roma logo
estendeu seu controle a toda a Gália Cisalpina (os etruscos ou seja a Itália). As guerras das Gálias,
vencidas por Júlio César, resultaram na submissão da Gália Transalpina (os celtas ou galeses ou seja os
Franco-flamengo) e na formação de uma província nova, Aquitânia. No século V d.C., foi invadida pelas
sucessivas vagas de godos.
Os etruscos habitaram a costa noroeste da península Itálica, antes de aparecer a civilização romana.
Provavelmente procediam da Ásia Menor e chegaram à Itália ao redor de 800 a.C. Os reis etruscos,
influenciados pela cultura grega, governaram Roma no século VI a.C., até que a Etrúria foi eclipsada pelo
poder e influência romana ao redor do ano 200 a.C. A civilização etrusca representa a cultura criada e
desenvolvida na península italiana pelo povo da Etrúria, durante o primeiro milênio a.C. Na época de seu
maior poder, entre os séculos VII a.C. e V a.C., a Etrúria provavelmente englobava toda a Itália.
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Jutlândia é a península da Europa setentrional, que se estende para o norte, desde o rio Eider. Limita-se
ao norte com o estreito de Skagerrak, a leste com o estreito de Kattegat e o pequeno canal de Baelt e a
oeste com o mar do Norte. Compreende parte de Schleswig-Holstein, na Alemanha, e toda a terra firme
da Dinamarca. No século V, a região foi ocupada pelos jutos, tribo que deu seu nome à península, pouco
tempo depois, foram expulsos pelos vikings, ancestrais dos atuais daneses.
Durante o século III, godos, alamanos e francos penetraram pelas fronteiras. No século V, ocuparam
todo o Império Romano do Ocidente. Durante os séculos seguintes, converteram-se ao cristianismo e
definiram as bases da Europa medieval. No final do século V, o término de uma série de processos de
longa duração, entre eles o grave deslocamento econômico e as invasões e os assentamentos dos povos
germanos no Império Romano, transformou a face da Europa.
a) Império Romano
O cenário do poder romano começa com a governancia da república caracterizado pelo regime
republicano como forma de governo. Estende-se de 510 a.C., fim da monarquia, até 27 a.C., início do
Império. É durante o período histórico da monarquia romana (de 753 a 510 a.C.) que se narra enumera
lendas e histórias simbólicas. Segundo a lenda, Roma foi fundada em 753 a.C. por Rômulo e Remo. Os
sete reis do período monárquico foram: Rômulo, Numa Pompílio, Túlio Hostílio, Anco Márcio, Lúcio
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Tarquínio Prisco, Sérvio Túlio e Lúcio Tarquínio, o Soberbo. Tarquínio o Soberbo, Lúcio (?-496 a.C.),
sétimo e último rei de Roma (534-510 a.C.), diz-se que era filho de Tarquínio Prisco. Foi destronado por
uma revolta popular liderada por Lúcio Júnio Bruto, que proclamou a República romana em o 509 a.C.
Em lugar do rei, o conjunto da cidadania elegia anualmente dois cônsules. Apenas os patrícios podiam
ocupar as magistraturas, porém o descontentamento da plebe originou uma violenta luta e a progressiva
aparição da discriminação social e política. A conquista de Veyes, em 396 a.C., iniciou a decadência da
civilização etrusca. Roma obteve o controlo da Itália central. As coalizões formadas por etruscos, umbros
e gauleses, ao norte, e por lucanos e samnitas, ao sul, foram finalmente derrotadas. Em 264 a.C., Roma
começou sua luta contra Cartago pelo controle do Mediterrâneo. Cartago, que era a potência marítima
hegemônica, após as duas primeiras Guerras Púnicas perdeu sua posição em favor de Roma. A Gália
Cisalpina, Córsega, Sardenha e Hispânia foram submetidas. A Macedônia foi enfrentada nas Guerras
Macedônicas, depois das quais Roma conseguiu apoderar-se da Grécia, adotando boa parte de sua
cultura, e da Ásia Menor. Na terceira Guerra Púnica, Públio Cornélio Cipião Emiliano conquistou e
destruiu Cartago. Roma havia criado, em 131 anos, um império que dominava o Mediterrâneo. César
atraiu a inimizade da aristocracia ao ignorar as tradições republicanas e foi assassinado. Marco Túlio
Cícero tentou restaurar a República, porém Marco Antônio se uniu a Marco Emílio Lépido e a Otávio para
formarem o segundo triunvirato. Os triúnviros proscreveram e assassinaram seus opositores republicanos
e repartiram entre si o controle do Império. Otávio, que havia reforçado sua posição no Ocidente ao privar
Lépido de seu território, viu-se apenas diante de Marco Antônio. Após a batalha de Actium (31 a.C.),
Otávio obteve a supremacia total sobre o território.
O Império Romano é o período da história de Roma caracterizado por um regime político dominado por
um imperador, que compreende desde que Otávio recebeu o título de Augusto (27 a.C.) até a dissolução
do Império Romano do Ocidente (476 d.C.). O Império sucedeu à República de Roma. Augusto
reorganizou o território, acabando com a corrupção e extorsão que haviam caracterizado a administração
do período anterior. Esse período representa o auge da idade de ouro da literatura latina, em que se
destacam as obras poéticas de Virgílio (Considerado o maior poeta da Roma antiga, Virgílio, que viveu
entre os anos 70 e 19 a.C. compôs a Eneida, poema épico de caráter mitológico, durante os últimos 11
anos da sua vida. Moldada como a Ilíada e a Odisséia, do poeta grego Homero, foi a primeira obra-prima
do estilo épico. Numerosos escritores posteriores a tomaram como modelo, tanto nos temas como nas
técnicas, e renderam-lhe homenagem em seus textos e desenhos. Esta pintura de 1469 representa o
autor escrevendo o poema Geórgicas (36-29 a.C.) diante da estátua da deusa grega Artemis.),
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Horácio e Ovídio e a obra em prosa de Tito Lívio. Os imperadores seguintes da
dinastia Júlio-Cláudia foram: Tibério, Calígula, Cláudio I e Nero. Durante os últimos anos, cometeram-se
muitos excessos de poder. Vespasiano, junto com seus filhos Tito e Domiciano, constituíram a dinastia
dos Flávios. Ressuscitaram a simplicidade do início do Império e tentaram restaurar a autoridade do
Senado e promover o bem-estar do povo. Marco Cocceius Nerva (96-98) foi o primeiro dos denominados
cinco bons imperadores, junto com Trajano, Adriano, Antonino Pio e Marco Aurélio.
busto do imperador trajano
Com Trajano, o Império alcançou sua máxima extensão territorial e seus sucessores estabilizaram as
fronteiras. Trajano foi imperador de Roma no ano 98 e expandiu o Império pela Europa Central e
Mesopotâmia graças às suas vitórias militares. Empreendeu importantes projetos de engenharia civil
(construiu estradas, canais e portos). Também instituiu reformas sociais para reconstruir as cidades e
reduzir a pobreza.
A dinastia dos Antoninos terminou com o sanguinário Lúcio Aurélio Cômodo. Constituíram a dinastia dos
Severo: Lúcio Sétimo Severo, hábil governante; Caracala, famoso por sua brutalidade; Heliogábalo,
imperador corrupto; e Alexandre Severo, que se destacou por sua justiça e sabedoria. Dos 12
imperadores que governaram nos anos seguintes, quase todos morreram violentamente. Os imperadores
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ilírios conseguiram que se desenrolasse um breve período de paz e prosperidade. Esta dinastia incluiu
Cláudio II, o Gótico, e Aureliano. Diocleciano levou a cabo um bom número de reformas sociais,
econômicas e políticas. Após seu mandato, houve uma guerra civil que só terminou com a ascensão de
Constantino I, o Grande, que se converteu ao cristianismo e estabeleceu a capital em Bizâncio. Teodósio
I reunificou o Império pela última vez. Após sua morte, Arcádio se converteu em imperador do Oriente e
Honório, em imperador do Ocidente. Os povos invasores empreenderam gradualmente a conquista do
Ocidente. Rômulo Augústulo, último imperador do Ocidente, foi deposto no ano de 476. O Império do
Oriente, também denominado Império Bizantino, perduraria até 1453.
Embora se creia que os nomes pertençam à ficção, existem provas sólidas da existência de uma antiga
monarquia, do crescimento de Roma e suas lutas contra os povos vizinhos, do estabelecimento de uma
dinastia de príncipes etruscos e de sua derrubada e abolição da monarquia. Também é provável a
existência de certa organização social, como a divisão dos habitantes em duas classes: patrícios e plebe.
Na mitologia grega o Rômulo é tido como o fundador e primeiro rei de Roma. Ele e seu irmão gêmeo,
Remo, eram filhos de Marte (na mitologia romana, deus da guerra, filho de Júpiter e Juno. Era
considerado pai do povo romano, porque era pai de Rômulo, o lendário fundador de Roma.) e da Réa
Sílvia, uma das virgens vestais. De acordo com a lenda, Rômulo foi levado por seu pai aos céus e depois
lhe foi prestado culto como deus Quirino.
Durante esse período não existiu realmente um mecanismo de governo unitário nas diversas entidades
políticas, embora tenha ocorrido a formação dos reinos. O desenvolvimento político e econômico era
fundamentalmente local, e o comércio regular desapareceu quase totalmente. Com o fim de um processo
iniciado durante o Império Romano, os camponeses começaram seu processo de ligação com a terra e
de dependência dos grandes proprietários para obter proteção. Essa situação constituiu a semente do
regime senhorial. Os principais vínculos entre a aristocracia guerreira foram os laços de parentesco,
embora também tenham começado a surgir as relações feudais. A única instituição europeia com caráter
universal era a Igreja, mas dentro dela também ocorreu uma fragmentação na autoridade. Em seu núcleo
havia tendências que desejavam unificar os rituais, o calendário e as regras monásticas, opostas à
desintegração local.
Durante a Idade Média europeia, os camponeses passaram, obrigatoriamente, a viver e trabalhar em um
único lugar a serviço dos nobres latifundiários. Esses trabalhadores chamados servos que cuidavam das
terras de seu dono, a quem chamavam de senhor, recebiam em troca uma humilde moradia, um pequeno
terreno adjacente, alguns animais de granja e proteção ante os foragidos e os demais senhores. Os
servos deviam entregar parte de sua própria colheita como pagamento e estavam sujeitos a muitas outras
obrigações e impostos. A atividade cultural durante o início da Idade Média consistiu principalmente na
conservação e sistematização do conhecimento do passado. Isto implica dizer que até neste preciso
momento os modos gregos continuavam a bater o seu pleno e dominava o sistema sonoro da música
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eclesiástica. Essa primeira etapa da Idade Média foi encerrada no século X com a segunda migração
germânica e as invasões protagonizadas pelos vikings, procedentes do norte, e pelos magiares das
estepes asiáticas.
b) Império Sacro Bizantino (476 a 1453 a.C.)
parte oriental do Império Romano, que sobreviveu à queda do Império do Ocidente no século V d.C. Sua
capital era Constantinopla (a atual Istambul) que foi convertida na capital do Império Romano do Oriente
no ano 330, depois que Constantino I, o Grande, fundou-a no lugar da antiga cidade de Bizâncio, dando-
lhe seu próprio nome. Foi a capital das províncias romanas orientais, ou seja, daquelas áreas do Império
localizadas no sudeste de Europa, sudoeste da Ásia e na parte nordeste de África, que também incluíam
os países atuais da península Balcânica, Turquia ocidental, Síria, Jordânia, Israel, Líbano, Chipre, Egito e
a região mais oriental da Líbia. Seus imperadores consideraram os limites geográficos do Império
Romano como os seus próprios e buscaram em Roma suas tradições, seus símbolos e suas instituições.
O imperador Justiniano I e sua esposa, Teodora, tentou restaurar a antiga suntuosidade e os limites
geográficos do Império Romano. O Império sobreviveu às migrações e incursões dos godos e dos hunos
durante os séculos V e VI. No século VII, o imperador Heráclio I acabou com um grande período de
guerras com os persas, recuperando a Síria ocupada pelos persas, a Palestina e o Egito. Constantinopla
agüentou grandes cercos por parte dos árabes na década de 670 e durante os anos 717 e 718. No início
do século IX, o Império Bizantino experimentou uma grande recuperação, alcançando sua plenitude sob o
duradouro reinado da dinastia macedônica, que começou com seu fundador, o imperador Basílio I. A vida
intelectual reviveu. O renascimento cultural foi acompanhado por um retorno consciente aos modelos
clássicos na arte e na literatura. O maior imperador macedônico foi Basílio II, que reprimiu vigorosamente
uma abrangente rebelião búlgara (1014) e ampliou seu controle até os principados independentes da
Armênia e Geórgia. Em 1071, os Seljúcidas invadiram a maior parte da Ásia Menor bizantina. Os
bizantinos perderam suas últimas possessões na Itália e foram separados do Ocidente cristão devido ao
cisma de 1054 aberto entre a Igreja ortodoxa e o Papado. Grande cisma do ocidente significa
simplesmente a separação formal da unidade da igreja cristã. Na história do cristianismo, Cisma do
Ocidente é a expressão utilizada para fazer referência tanto à ruptura da Igreja Oriental e Ocidental, em
1054, quanto para definir o período, entre 1378 e 1417, no qual dois papas reclamavam, ao mesmo
tempo, a legitimidade. Miguel Cerulário, patriarca de Constantinopla, excomungou Leão IX depois de ter
sido excomungado por este. O Concílio de Constança (1414-1418) desautorizou e destituiu ambos e a
eleição de Martinho V (1417-1431) recebeu aprovação de toda a Igreja.
O imperador Aleixo I Comneno, fundador da dinastia dos Comnenos, pediu ajuda ao Papa contra os
turcos. A Europa Ocidental respondeu com a primeira Cruzada (1096-1099). Embora, em um primeiro
momento, o Império tenha se beneficiado das Cruzadas, recuperando alguns territórios na Ásia Menor,
estas precipitaram sua decadência. O imperador Miguel VIII Paleólogo, recuperou Constantinopla das
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mãos dos latinos em 1261 e fundou a dinastia dos Paleólogos, que governaram até 1453. Os turcos
otomanos, em plena ascensão, conquistaram o resto da Ásia Menor bizantina no princípio do século XIV.
Depois de 1354, ocuparam os Balcãs e finalmente tomaram Constantinopla, o que representou o fim do
Império em 1453. Contudo, a tradição intelectual bizantina não morreu em 1453: os eruditos bizantinos
que visitaram a Itália durante os séculos XIV e XV, exerceram uma forte influência sobre o Renascimento
italiano.
2.1.1 Alta Idade Média
Até a metade do século XI, a Europa se encontrava em um período de evolução desconhecido até esse
momento. A época das grandes invasões havia chegado ao fim e o continente europeu experimentava o
crescimento dinâmico de uma população já assentada. Renasceram a vida urbana e o comércio regular
em grande escala. Ocorreu o desenvolvimento de uma sociedade e uma cultura complexas, dinâmicas e
inovadoras.
Durante a Alta Idade Média, a Igreja Católica, organizada em torno de uma hierarquia estruturada, com o
papa como o ápice indiscutível, constituiu a mais sofisticada instituição de governo na Europa Ocidental.
As ordens monásticas cresceram e prosperaram participando ativamente da vida secular. A
espiritualidade da Alta Idade Média adotou um caráter individual, pelo qual o crente se identificava de
forma subjetiva e emocional com o sofrimento humano de Cristo.
Dentro do âmbito cultural, houve um ressurgimento intelectual com o desenvolvimento de novas
instituições educativas como as escolas catedráticas e monásticas. Foram fundadas as primeiras
universidades; surgiram ofertas de graduação em medicina, direito e teologia, além de ter sido aberto o
caminho para uma época dourada para a filosofia no ocidente.
Também surgiram inovações no campo das artes. A escrita deixou de ser uma atividade exclusiva do
clero e o resultado foi o florescimento de uma nova literatura, tanto em latim como, pela primeira vez, em
línguas vernáculas. Esses novos textos estavam destinados a um público letrado que possuía educação
e tempo livre para ler.
Nesta óptica convém se referir da invenção do papel, um material mais adequado à impressão que o
papiro e o pergaminho, pelos chineses em volta do ano 105 da Era cristã e da técnica tradicional de
impressão de Johann Gutenberg. O papiro era frágil demais para ser usado como superfície de
impressão e o pergaminho, caro demais. Gutenberg com a sua tipografia lança as bases solidas que
sustentaram a evolução e o desenvolvimento conceituado da arte gráfica e das técnicas modernas de
impressão. A tipografia, a mais antiga forma de composição e impressão, originada com a invenção dos
tipos móveis de Gutenberg, foi, durante cinco séculos, o único processo viável de impressão em grande
escala. Só a partir de meados do século XX foi desbancada pelo offset, mas inovações técnicas como as
rotativas de alta velocidade e o emprego de chapas de foto polímeros, ainda a mantêm competitiva em
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alguns setores, como a impressão de jornais.“Em 1796, o alemão Aloys Senenfelder estabelece as bases
para o mais versátil processo de impressão, o offset.” (Enciclopédia Microsoft® Encarta®. © 1993-2001 Microsoft
Corporation).
O processo, batizado por Senenfelder de impressão química, logo se tornou popular entre artistas,
porque lhes permitia fazer múltiplas cópias de seus desenhos feitos a mão.
Os tipos móveis de Gutenberg, com letras, algarismos e sinais de pontuação gravados, eram colocados
lado a lado, à mão, para formar as palavras e as frases, sobre uma bandeja de madeira. A superfície era
então coberta com tinta e sobre ela pressionava-se uma folha de papel. A pressão era feita por uma
prensa de madeira, também criada por Gutenberg, e aparentemente inspirada na prensa utilizada pelos
produtores de vinho para espremer as uvas. Tal método, ao contrário da xilografia, permitia imprimir
ambos os lados de uma folha e resultava em impressos de melhor qualidade.
Assim sendo, o invento de Gutenberg foi sendo progressivamente aperfeiçoado, sem perder suas
características básicas. Durante o século XIX, as melhorias, quase todas destinadas a aumentar a
velocidade do processo, incluíram o desenvolvimento da prensa acionada por vapor; a prensa de cilindro,
que utiliza um rolo giratório para pressionar o papel contra uma superfície plana; a rotativa, na qual tanto
o papel como a chapa com o texto a ser impresso estão montados sobre rolos; e a rotativa de dupla
impressão, que imprime os dois lados do papel ao mesmo tempo. No final do século XIX, o alemão
Ottmar Mergenthaler inventou, e os Estados Unidos logo adotaram, a linotipia, técnica que utilizava uma
máquina, chamada linotipo, para compor o texto a ser impresso. Enquanto a composição manual
compunha o texto tipo por tipo, a máquina compunha e montava linhas inteiras de uma só vez (ver
Sistemas de edição).
No campo da pintura foi dada atenção sem precedentes à representação de emoções extremas, à vida
cotidiana e ao mundo da natureza. Na arquitetura, o românico alcançou sua perfeição com a edificação
de incontáveis catedrais ao longo de rotas de peregrinação no sul da França e Espanha, especialmente o
Caminho de Santiago, inclusive quando começava a surgir o estilo gótico, que nos séculos seguintes se
converteu no estilo artístico predominante. O século XIII foi o século das Cruzadas, defendidas pelo
Papado para libertar os Lugares Santos no Oriente Médio que estavam nas mãos dos muçulmanos.
Essas expedições internacionais foram mais um exemplo da unidade europeia centrada na Igreja,
embora também tenham sido influenciadas pelo interesse em dominar as rotas comerciais do oriente.
Portanto, o visionário das guerras santas para libertar os lugares santos em possessão dos infiéis, neste
caso os muçulmanos, foi o Papa Urbano II.
Foi respondendo “Deus o quer” que a multidão reunida em Clermont no dia 27 de novembro de 1095
acolheu a prédica do papa Urbano II em favor da guerra santa destinada a libertar o sepulcro de Cristo do
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controle dos “infiéis”. A repercussão a esse apelo foi tal, que as Cruzadas, que constituíram o fato político
e religioso mais importante da Idade Média, marcaram a história do Ocidente durante dois séculos.
Culver Pictures
2.1.2 Baixa idade Média
A Baixa Idade Média foi marcada pelos conflitos e pela dissolução da unidade institucional. Foi então que
começou a surgir o Estado moderno, e a luta pela hegemonia entre a Igreja e o Estado se converteu em
um traço permanente da história da Europa nos séculos posteriores. A espiritualidade da Baixa Idade
Média foi o autêntico indicador da turbulência social e cultural da época, caracterizada por uma intensa
busca da experiência direta com Deus, através do êxtase pessoal ou mediante o exame pessoal da
palavra de Deus na Bíblia. A situação de agitação e inovação espiritual culminaria com a Reforma
protestante. As novas identidades políticas conduziriam ao triunfo do Estado nacional moderno, e a
contínua expansão econômica e mercantil estabeleceu as bases para a transformação revolucionária da
economia europeia.
No fim da Idade média a Europa foi divida em pequenos estados feudais. A maioria deles fazia parte do
reino da França ou do Sacro Império Romano-Germânico.
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2.2 Música Medieval (Música Antiga)
A terminologia música medieval contextualiza os estilos e formas musicais que foram envolvidos durante
a Idade media. Segundo Lord Maria (2008: 12) a música medieval foi fortemente influenciada pela
hegemonia predominante da Igreja Católica Romana enquanto força emergente de momento. Em
paralelo a música sacra ou litúrgica, a época medieval assinalou também a presença da música secular
constituída pelas canções de amor cortes e canções épicas. Por falta de registos escritos e matriz sonora
a verdadeira sonorização da música medieval nos escapa completamente. O pouco conhecimento
daquilo que nos é chegado se apresenta de forma parcial com partituras incompletas ou simplesmente
inexistentes. No entanto, algumas provas indicam as tradições de canções sobreviventes dos primeiros
tempos da idade média. Neste caso refere-se à existência de épicos germânicos e escandinavos tais
como o Nibelungenlied (Cantar dos Nibelungos) - poema épico mais importante do período médio do alto
alemão do século XIII - e as sagas (narração em prosa sobre heróis históricos ou legendários na literatura
medieval da Islândia. Confere a literatura irlandesa e norueguesa). A canção dos nibelungos é um
conjunto de poema épico medieval de autor desconhecido, escrito em alemão no início do século XIII. O
poema contém elementos das mitologias escandinavas e germânicas, e relata a história prematura da
Burgúndia (do burgo, palavra da idade média que indica uma povoação menor de uma cidade ou vila).
Richard Wagner baseou sua ópera O anel do Nibelingo neste texto, um poema profundamente trágico
que trata do tema do destino e da transformação da felicidade em dor. Foi uma das epopeias medievais
germânicas mais populares até o século XVI. No entanto a Islândia é famosa por suas sagas medievais,
contos escritos geralmente por autores desconhecidos entre os séculos XII e XIV, que tratam de reis
noruegueses ou de heróis lendários da Islândia e da Escandinávia. Foram escritas centenas de sagas
que podem ser divididas em três grupos: Sagas de reis, como o Heimskringla, de Snorri Sturluson, e as
sagas Knýtlinga, centradas nos reis daneses; Sagas lendárias, basicamente romances de cavalaria e
fantasia e Sagas de islandeses, em sua maioria ficcionalização de fatos, alguns deles reais, ocorridos na
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Islândia durante a “era das sagas” (900-1150). De facto a mais antiga prova real que o confirma vem de
um fragmento da Petruslied alemã que data aproximadamente de 850 d. C.
2.2.1 Música Religiosa ou Sacra
A canção religiosa cristã já existia desde os primórdios da alta medieval. A partir do primeiro milénio pode
se notar a presença de hinos de louvor e adoração dos hebreus dentro do templo aquando da sua
institucionalização na celebração do culto a cargo dos levitas pelo Rei David. Portanto, já no segundo
milénio até aproximadamente século IV o repertório religioso cristão espalhava-se em todo o território do
ocidente onde existiam as comunidades cristãs. Neste período de tempo o repertório cristão era
fundamentalmente formado pelos hinos judaicos, salmos e cânticos espirituais, o repertório Ambrosíaco,
Moçárabe, Galiano e Céltico.
Durante a alta idade média somente a arte religiosa é tolerada, a moral cristão reage contra os
divertimentos da civilização romana. Depois da queda do Império Romano de Ocidente a igreja triunfante
estende a sua influência sobre Europa; ela traz neste tempo perplexo um elemento de ordem e de
esperança. Esta época testemunhou não só a emergência da igreja católica enquanto grande força e
influência sobre estilos musicais e tradições, como também uma diversidade de músicas não litúrgicas,
em especial canções de amor e épicas.
a) Cantochão ou Cantus Firmus
Cantochão, melodia cantada sem acompanhamento, com ritmos e contornos melódicos estreitamente
relacionados com os ritmos da fala e as inflexões do texto. Os textos do denominado cantochão podem
ser tanto sagrados como profanos, ainda que o termo geralmente se aplique à música litúrgica sacra.