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MUSEU MUNICIPAL SEVER DO VOUGA

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Page 1: MUSEU MUNICIPAL · DE SEVER DO VOUGA PROMOTOR Câmara Municipal de Sever do Vouga ... PRODUÇÃO DE CONTEÚDOS FOTOGRÁFICOS Paulo Celso Monteiro Pedro Sobral de Carvalho João Cosme

MUSEUMUNICIPALSEVER DO VOUGA

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MUSEU MUNICIPALDE SEVER DO VOUGA

PROMOTORCâmara Municipal de Sever do Vouga

COORDENAÇÃO GERALAntónio José Martins Coutinho

COORDENAÇÃO TÉCNICAJosé Manuel Almeida e CostaRaul Alberto Conceição DuarteGraciela Henriques Bastos FigueiredoFernando Marques de Sá Marinheiro

CONSÓRCIOGlorybox, Lda.Eon, Indústrias Criativas, Lda.

MUSEOLOGIAGlorybox, Lda.Eon, Indústrias Criativas, Lda.

ARQUITETURA E MUSEOGRAFIASpaceworkersPaulo PassosGisela PatroniloAntónio Lopes

DESIGN GRÁFICOPaulo Passos

INVESTIGAÇÃO HISTÓRICAE PRODUÇÃO DE CONTEÚDOSPedro Sobral de CarvalhoPaulo Celso Fernandes MonteiroLara BacelarJoão Luís Inês VazAntónio LimaCarlos AlvesMaria Lucinda Tavares SantosMaria Manuela de Bastos T. RibeiroPedro RibeiroSérgio Rodrigues

PRODUÇÃO DE CONTEÚDOS FOTOGRÁFICOSPaulo Celso MonteiroPedro Sobral de CarvalhoJoão Cosme

MONTAGEMGlorybox, Lda.Eon, Indústrias Criativas, Lda.

RECOLHA DOCUMENTAL E OBJETOSPedro Sobral de CarvalhoFátima Beja e CostaPaulo Celso Fernandes Monteiro

CONSULTORIARaquel VilaçaSérgio Rodrigues

ILUSTRAÇÕES[Rodo] Luís Tacklim[Vitrinas] Paulo Passos

CONSERVAÇÃO E RESTAURO DO ESPÓLIOVera Moreira Caetano

RÉPLICAS DO TORQUES DA MALHADAArcheofactu

VÍDEO E MULTIMÉDIA

CONCEÇÃO, IDEIA E GUIÕESPaulo Celso Fernandes MonteiroSérgio Pereira

RECOLHA DE IMAGENSSérgio PereiraBruno BaessaJosé PereiraPaulo Celso Monteiro

MONTAGEM E EDIÇÃOSérgio Pereira

SONORIZAÇÃOBruno BaessaSérgio Pereira

BANDA SONORA ORIGINALDreamsfall - Chasing The WindMatt Aune (Romantic Cinematic Pack) - DreamscapeMovie Theme - End Credits, New Beginning, Passage to Other Worlds, The Odyssey.

PÓS- PRODUÇÃOSérgio Pereira

REALIZAÇÃOSérgio Pereira

APLICAÇÕES MULTIMÉDIAEon, Indústrias Criativas, Lda.Glorybox, Lda.M&A Digital, Lda.

AGRADECIMENTOSAlicia Ameijenda, Carmen Manzano, Jorge Fonseca, Sérgio Gomes (Arqueologia e Património - Ricardo Teixeira & Vítor Fonseca); Andreia Fonseca (Vougapark); Catarina Martins Gonçalves; Centro Regional das Beiras/ Universidade Católica de Viseu; Cooperativa Agrícola de Sanfins; Direção Regional de Cultura, Museu de Aveiro; EDP; Elisabete Henriques; Evasion Time – Desafio, Aventura e Formação; Fausto Macedo Silva; Felismina Coutinho; Liga dos Amigos do Folharido e Braçal; Márcio Martins; Maria Fernanda Vidal; Museu D. Diogo de Sousa; Museu de Jazigos Minerais Portugueses /LNEG - Laboratório Nacional de Energia e Geologia, I.P; Toni Martins de Lemos; União de Freguesia de Silva Escura e Dornelas.

FICHA TÉCNICA

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MUSEUMUNICIPALSEVER DO VOUGA

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M U S E U M U N I C I PA L S E V E R D O V O U G A 5

Sever do Vouga que te acolhe!

Que diz este Povo que de ti fez sua casa?

Que és terra acolhedora e farta, de natureza caprichosa, desenhada nos socalcos e terras de cultivo, recortados pelas florestas, rios e quedas de água…

Que por tudo isto, desde tem-pos áureos, encantaste o homem que por estas terras vagueou…

Até que um dia, reza a lenda, uma linda moura que se penteava nas margens do rio Vouga, ao ver refletida a sua linda imagem, dizia para todos que ia SE VER no Vouga!”… a esta len-da, podemos juntar outras mais que fazem parte da história e da cultura popular deste concelho.

Este território encaixado entre a Serra e o Mar, tem agora mais um espaço cultural que fala de longas via-gens e feitos dos seus antepassados mais remotos. Desde sempre, este território encantou e cativou o homem, existindo registos patrimoniais da sua presença.

U M M U S E U PA R A S E V E RA N TÓ N I O J O S É M A R T I N S C O U T I N H OP R E S I D E N T E D A C Â M A R A M U N I C I PA L D E S E V E R D O V O U G A

Desde o Paleolítico inferior (com as recentes descobertas na praia do Rodo, no Couto de Esteves, fru-to das escavações arqueológicas, nas obras da Barragem de Ribeiradio/ Er-mida), passando pelo Neolítico, Idade do Bronze e do Ferro, Romanização, Idade Medieval, vindo até à contempo-raneidade, com a Industrialização e to-das as manifestações de Fé e Tradição, este espaço cultural e museológico é de facto, um Museu de território que fala da Alma do Povo!

Nele, é tangido subtilmente e de modo atrativo, as heranças patrimo-niais e culturais mais paradigmáticas do concelho, não podendo, todavia, com-portar em simultâneo e de modo expo-sitivo, todas! Ciclicamente, através das exposições temporárias e dos serviços educativos, serão oportunamente, te-mas a aflorar e a oferecer a todos os que o visitarem.

Agora este museu que inaugu-ramos é a casa das nossas memórias, da nossa história, dos Severenses. É um sonho concretizado. Uma viagem pela Alma de um Povo!

O presente catálogo vem dar fundamento documental ao espólio existente no Museu e presta-se a ser um referencial de consulta do patrimó-nio concelhio.

Por todas estas razões, é para o Município de Sever do Vouga e Seve-renses, motivo de grande orgulho e de satisfação, tornando-se num espaço de convergência de todos os patrimónios do concelho de Sever do Vouga!

Deixo assim aqui expresso o meu convite a todos os severenses e vi-sitantes, a participarem connosco, nesta viagem à história e à Alma do Povo des-te concelho (lindo) de Se Ver: Sever do Vouga!

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Um Museu Municipal não se faz todos os dias e em Sever do Vouga a criação deste Museu foi, desde logo, um marco na história de como uma comunidade se relaciona com as suas memórias e passado.

Por isso este museu não é um espaço onde se colocam umas peças dentro de umas vitrinas, num ambien-te austero, com conteúdos feitos por alguns e só para alguns. Hoje, todos sabemos que os museus mudaram. Democratizaram-se, tornaram-se es-paços informais, próximos do público, fontes de conhecimento e pontos de encontro de toda uma comunidade. Atualmente, um Museu é um local que disponibiliza informação, que cria experiências e envolve, que educa, de-bate e possibilita encontros. Assim, o Museu Municipal de Sever do Vouga é produto de uma nova estratégia mu-seológica e museográfica, centrando--se nos objetos que expõem, usa novas ferramentas, metodologias e estraté-gias que se centram na interpretação dos mesmos e colocam o visitante no centro das atenções.

Os museus não são peças, mas pessoas. Sem elas, não teríamos ob-jetos para mostrarmos, nem histórias para contar. As pessoas são por tudo isto a nossa maior preocupação no Mu-seu Municipal de Sever do Vouga. São o centro da nossa exposição!

U M M U S E U PA R A C O N TA R !

Deste modo, a narrativa mu-seográfica que apresentamos propõe um modelo de conteúdos que se baseia na interdisciplinaridade, nos conteú-dos, no design museográfico, na tecno-logia e no diálogo com o público ativo, potencial e virtual.

Procuramos na construção desta identidade, um paradigma que inclui uma coleção composta por ob-jetos com as suas características técni-cas, sociais, económicas e patrimoniais, ao qual se adicionam emoções, valores, processos de identificação comuni-tária, visões e sobretudo interações e inovações com os diversos públicos.

Inovar não se faz por decreto ou copiando, mas conjugando novas disciplinas, cruzando saberes, metodo-logias, usando novas técnicas de comu-nicação sem nunca perdermos o nosso foco com o público que visita a nossa exposição. Foi isso que fizemos no Mu-seu Municipal de Sever. Aproveitando novos suportes como a ilustração, com conteúdos científicos adaptados ao grande público, com tecnologias que permitem contextualizar e preservar as memórias de uma comunidade.

O Museu Municipal de Sever do Vouga conta uma história de uma comunidade através dos conteúdos apresentados, da museografia e dos objetos expostos, mas também pro-porciona o diálogo inter-geracional, uma educação não formal e um conhe-cimento de episódios desconhecidos. É a história do Homem, mas também das transformações que ele produziu no território, no modo em que o mutou e usou-o no seu caminho evolutivo.

Ao longo de 15 mil anos, ca-çamos, pescamos, criamos os nossos objetos, construímos os nossos lugares sagrados, demos sepultura aos nossos entes queridos, domesticamos animais, trabalhamos a terra, criamos tecno-logias e mudamos este território. São estas vivências e ensinamentos que a nossa viagem pela História nos conta. É neste caminho pelo tempo que con-tinuamos hoje, mas que só o fazemos porque temos um passado que não es-quecemos e um futuro que desejamos construir.

PA U L O C E L S O M O N T E I R OG L O R Y B O X

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Um dos principais desafios que se coloca quando se idealiza um espaço expositivo é a definição de critérios que nos permi-tam estruturar o discurso museográfico.

Assim, o primeiro passo é saber por que se elegem determinados temas ou peças e não outros que podem ser igualmente importantes. Podemos di-zer, por exemplo, que se mostram as peças mais significativas... mas para quem? É por isso crucial ter em con-ta os diversos públicos alvo. Sabemos que, por exemplo, para um público mais “científico”, no caso concreto arqueó-logos, pode haver um interesse redo-brado na magnífica “ponta azilense” proveniente do sítio do Rôdo, recen-temente descoberto, ou no vaso “tron-cocónico” do Castêlo de Cedrim. Mas, para a maioria dos visitantes “azilense” e “troncocónico” são apenas palavras de difícil pronunciação. É, por isso, que se deve descodificar todo este conjunto de informação e torná-la acessível a todos. Claro que também é muito importante não descuidarmos o aspeto científico, mas, “os mais entendidos” não preci-sam necessariamente de aprender nos espaços museológicos, pelos menos os conceitos.

U M M U S E UPA R AD E S C O B R I R

Por tudo isto, quisemos fazer o Museu Municipal de Sever do Vou-ga a pensar em todos vós, os que aqui vivem, os que vêm de fora, os mais pequenos, os mais idosos, os que têm menos estudos, os mais conhecedores, enfim, todos.

O museu inicia com a apresen-tação do território de Sever do Vouga, os seus aspetos naturais e humanos. É a sala de visitas, o primeiro impacto. Um espaço cuidado com uma instala-ção cénica numa das paredes e onde se pode assistir a um filme em grande formato.

Daqui, entra-se no corredor do Tempo, tendo-se privilegiado uma evolução cronológica da passagem do Homem por Sever do Vouga, desde as origens à Idade Média. Recorrendo a um ambiente gráfico cativante, onde a ilustração é um elemento importante, conta-se a história do Homem e mos-tram-se algumas das mais significativas peças que marcaram os diferentes pe-ríodos.

Entra-se, de seguida, num espaço dedicado à fé, numa sinfonia de imagens de alminhas e igrejas que proliferam no concelho. Este é o mo-mento em que se percebe o abandono progressivo dos conteúdos sobre a his-

tória do Homem para se entrar numa nova etapa do museu onde se fala da identidade de Sever, das suas gentes e dos modos de vida. Assim, podemos ab-sorver muita informação sobre as dife-rentes atividades económicas que têm moldado este território, como a agri-cultura e os seus característicos espi-gueiros, a produção de leite, a chegada do comboio, da iluminação pública, etc. Utiliza-se uma museografia apelativa onde as peças fazem parte de um todo, em perfeita união com o design exposi-tivo, aliado às soluções multimédia, com o recurso a uma mesa interativa.

Quase no final, surge um dos temas mais queridos do museu: as minas do Braçal/Malhada. Criou-se o ambien-te das minas, colocaram-se as vitrinas encastradas nas entivações das paredes, em madeira, as fotos da época que fa-lam por si, das pessoas e do seu sofri-mento. Um filme passa ao fundo desta sala onde podemos ver e ouvir alguns depoimentos de algumas pessoas que ainda lá trabalharam, as suas memórias e as emoções que sentem quando recor-dam esses momentos.

Por último, passamos por uma área dedicada a um dos ícones de Sever do Vouga: o mirtilo! Sublinha-se a cor, a textura e a luz.

P E D R O S O B R A L D E C A R VA L H OE O N

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O concelho de Sever do Vouga lo-caliza-se no limite oriental do distrito de Aveiro e confronta, a norte, com o município de Vale de Cambra; a oeste, com os de Oliveira de Azeméis e Alber-garia-a-Velha; a sul, com o de Águeda, concelhos todos pertencentes ao mes-mo distrito; a este, com o de Oliveira de Frades, pertencente ao distrito de Viseu. Beneficia da proximidade de al-guns centros urbanos importantes, tais como Aveiro, Porto, Viseu e Coimbra, e de dois dos principais eixos rodoviários portugueses: a A1 e a A25.

Do ponto de vista administra-tivo e relativamente ao nível II da No-menclatura das Unidades Territoriais (NUT), o município situa-se na Região Centro. Na delimitação de nível III da NUT, integra-se no conjunto de muni-cípios que fazem parte do Baixo Vouga, juntamente com Aveiro, Ílhavo, Vagos, Águeda, Oliveira do Bairro, Estarreja, Ovar, Murtosa, Albergaria-a-Velha e Anadia. A Sub-Região do Baixo Vouga é paisagisticamente marcada pela bacia do Vouga e pela Ria de Aveiro, elemen-tos importantes na construção da iden-tidade territorial.

T E R R I T Ó R I OSegundo a classificação cli-

mática de Köppen, o clima no Baixo Vouga é classificado como temperado (mesotérmico) húmido, com o verão e o inverno bem definidos e em que a estação seca é pouco quente e ocorre no verão. A temperatura média do ar, nos meses mais frios, está compreendi-da entre -3ºC e 14ºC e, nos meses mais quentes, é superior a 10ºC.

Composto por sete freguesias (União de Freguesias de Cedrim e Para-dela, Couto de Esteves, Pessegueiro do Vouga, Rocas do Vouga, Sever do Vou-ga, União de Freguesias de Silva Escura e Dornelas, Talhadas), o concelho ocupa uma área de 130 km2, sendo a vila de Sever do Vouga a sede do município. Ta-lhadas é a freguesia com maior área (28,64 km2), enquanto Sever do Vouga é a de menor dimensão (11,58 km2).

No censo de 2011 do Instituto Nacional de Estatística, o concelho de Sever do Vouga registava 12356 habi-tantes, o que representa um decréscimo na população residente de 6,3% relati-vamente a 2001 e uma média densida-de populacional de 95,1 hab./km2. Com efeito, tem-se verificado, neste territó-rio, uma progressiva perda de população desde a década de 50 do século XX até aos nossos dias. Após 1960, a redução populacional é muito acentuada na fai-xa etária dos 0 aos 24 anos. Por outro lado, a população com mais de 64 anos aumentou consideravelmente, condu-zindo a um acelerado envelhecimento populacional.

Entre 2001 e 2011, todas as freguesias sofreram um decréscimo de população, à exceção de Sever do Vou-ga, que registou um ligeiro aumento. Apesar de não se tratar de um conce-lho com uma vasta área geográfica, os aglomerados populacionais distribuem--se de modo disperso pelo território. Os maiores aglomerados situam-se nas freguesias de Sever do Vouga (2777 habitantes, em 2011) e de Silva Escura/Dornelas (2318 habitantes, em 2011), enquanto Couto de Esteves apresenta o menor número de habitantes das sete freguesias (890 habitantes, em 2011).

Relativamente à área do Baixo Vouga, evidencia-se um claro contraste entre os concelhos mais próximos do litoral, mais densamente povoados, e os concelhos mais interiores. Em 2011, salientam-se Ílhavo (525 hab./Km2) e Aveiro (397 hab./Km2), por oposição a Sever do Vouga (95 hab./Km2). Tam-bém ao nível da variação da população é possível verificar a dicotomia litoral/interior. Nos últimos anos, o decrésci-mo populacional ocorreu nos municí-pios mais interiores (Sever do Vouga, Águeda e Anadia), enquanto Aveiro, Ílhavo, Murtosa, Ovar e Vagos regista-ram acréscimos.

T ER R IT ÓR I O

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Em 2011, cerca de 49% da po-pulação ativa do concelho trabalhava no setor dos serviços (terciário) e apenas 4,2% no setor primário (agricultura, silvicultura e pescas), contra 70,2%, em 1960. Face a 2001, assistiu-se a uma evolução significativa do setor terciário, a par da perda de importância do setor agrícola, tendência que também se ve-rificou a nível nacional.

O setor secundário (indústria e construção) passou de 53% para 46,5% da população ativa, entre 2001 e 2011. Apesar desta diminuição, continua a ser patente a tradição industrial da re-gião, se compararmos a estrutura da economia do concelho com a nacional. Na economia portuguesa, em 2011, os serviços tinham um peso maior (70%) e o setor secundário e a agricultura um peso menor (26,5% e 3,1%, respetiva-mente). As seis zonas industriais (Talha-das, Irijó, Padrões, Cedrim, Dornelas e Gândara) indicam que o setor secun-dário tem tido grande influência no desenvolvimento económico e social de Sever do Vouga.

A agricultura, afetada pelo au-mento da emigração e pelo domínio crescente da floresta, foi potenciada, na década de 90, pela introdução bem--sucedida da cultura do mirtilo, espécie que se tornou imagem de marca do concelho. A substituição de culturas tradicionais pelo mirtilo acabou por alterar um pouco o espaço dedicado ao setor primário, composto, predo-minantemente, por explorações de minifúndio, associado à utilização de técnicas agrícolas tradicionais e com

um caráter meramente de subsistên-cia. O fruto impulsionou a agricultura (exportação de 80% da produção para mercados internacionais), a gastrono-mia (licor e compota de mirtilo, doçaria, sopas) e o turismo (Feira do Mirtilo), tendo concedido a Sever do Vouga o título de “Capital do Mirtilo”. Os pro-dutos tradicionalmente locais, como a vitela e a lampreia, continuam a ocupar um lugar de destaque no património gastronómico.

De cunho geomorfológico e cultural típico de uma região do interior, o território de Sever do Vouga situa-se na transição entre as áreas planas do litoral e o interior montanhoso. A pai-sagem é indelevelmente marcada pelas serras do Arestal (a norte) e de Talha-das (a sul) e também pelo rio Vouga, cujo percurso, no concelho, se estende por 19 km. O Homem teve um papel preponderante na definição destas pai-sagens. Socalcos, muros de suporte de terras, açudes e levadas são alguns dos elementos da paisagem humanizada mais comuns no vale do Vouga. Se o relevo acidentado sobressai na paisa-gem, a elevada densidade hidrográfica é uma característica marcante. Os prin-cipais cursos de água que atravessam o concelho são o rio Alfusqueiro, o rio Fílveda, o rio Vouga e os seus afluentes: Teixeira, Lordelo, Gresso, Mau e Bom.

Rio que dá, parcialmente, nome ao concelho, o Vouga nasce na serra da Lapa, a cerca de 930 m de al-titude, trilha um percurso de 148 km e desagua na zona lagunar de Aveiro. No início do seu curso, é um rio de planal-to, de caráter torrencial, enquanto na parte média, entre São Pedro do Sul e Angeja, entra numa zona de relevo mais acentuado, de vales encaixados. Na secção inferior, é um rio de planície e desagua na Ria de Aveiro pelo canal do Espinheiro, constituindo o principal curso de água que alimenta a Ria.

A serra do Arestal, situada na margem direita do Vouga, tem cerca de 20 km de extensão e uma altitude má-xima de 830 m. Orientada no sentido NE-SW, é considerada um contrafor-te da serra da Arada e, conjuntamente com esta e com a serra da Freita, for-mam o maciço da Gralheira. Em ter-mos geológicos, a serra é constituída, maioritariamente por xistos, quartzitos e granitos e o subsolo rico em cobre, chumbo, estanho e volfrâmio. Entre os rios Vouga e Alfusqueiro, encontramos uma elevação conhecida como serra das Talhadas (681 m) que, de acor-do com Girão (1922), deve incluir-se na Serra do Caramulo, embora este enquadramento não seja consensual. Com uma orientação NE-SW, a serra das Talhadas é constituída, maioritaria-mente, por granitos e xistos.

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Nestas serras, o aproveitamen-to de recursos minerais metálicos tem estado presente ao longo dos tempos e remonta, pelo menos, ao período dos romanos, de acordo com os vestí-gios encontrados. O complexo minei-ro do Braçal, localizado nas freguesias de Sever do Vouga e de Silva Escura/Dornelas, nas margens do rio Mau, obteve concessão para exploração em 1836. As minas de chumbo do Braçal (mais antiga concessão mineira portu-guesa), da Malhada e do Coval da Mó constituíram um dos mais importantes centros mineiros do norte do país. A desvalorização do chumbo no mercado

internacional levou, porém, ao aban-dono da exploração do minério, em 1958, e ao definitivo encerramento do complexo mineiro, em 1972. As minas de cobre e chumbo do Vale do Vouga, vulgarmente conhecidas por "Minas das Talhadas", tinham a maioria das conces-sões implantadas na freguesia de Talha-das e laboraram entre 1889 e 1931.

Atualmente, a paisagem flo-restal em Sever do Vouga é dominada por monoculturas de pinheiro bravo (Pinus pinaster) e, principalmente, de eucalipto (Eucalyptus globulus). Espé-cies nativas como o carvalho-alvarinho (Quercus robur), o carvalho-negral

(Quercus pyrenaica) e o castanheiro (Castanea sativa) perduram apenas em áreas reliquiais. Foram várias as razões para a progressiva diminuição dos bos-ques caducifólios na paisagem do NW peninsular e para o aumento das mono-culturas referidas.

Num contexto ibérico e oci-dental mediterrânico, após a última fase glaciar, o clima tornou-se progressiva-mente mais ameno, com característi-cas de temperado ou mesmo um pouco quente; consequentemente, nos últi-mos 10000 anos (Holoceno), os bos-ques temperados da Europa começa-ram a recuperar. Na Península Ibérica,

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a propagação dos carvalhos (Quercus spp.), principalmente caducifólios, terá tido início entre os 10000 e os 13000 anos atrás (Costa Tenório et al., 2001). Se, inicialmente, a ação do Homem so-bre o meio não causou grandes danos ao coberto vegetal, ao dedicar-se às práticas agro-pastoris, os processos de desflorestação aumentaram, sentindo--se um maior impacte desde há cerca de 3000 anos (Van Der Knaap & Van Leeuwen, 1994).

Na Idade Média, a agricultura, a pastorícia, a carvoaria e a construção naval reduziram os bosques caducifólios a pequenas manchas, sendo parcial-mente substituídos pelo pinheiro bravo. O aumento da população, as crescen-tes necessidades de madeira e lenhas, a ausência de replantação, o avanço das arroteias sobre espaços que antes tinham arvoredos e o desleixo foram causas apontadas por diversos autores para o progressivo desaparecimento dos bosques e o aumento dos incultos, nos séculos XVIII e XIX em Portugal. O pinheiro bravo foi usado para a reflores-tação, particularmente a partir do sécu-lo XIX, com o objetivo de incrementar a produtividade da floresta e proteger as bacias hidrográficas.

Se, na primeira metade do sé-culo XX, o forte crescimento demográ-fico e o grande impulso da economia agrária conduziram à sistemática uti-lização do fogo para regeneração dos pastos, degradando os espaços flores-tais de montanha, na segunda metade desse século, o despovoamento rural e o drástico abandono das terras conduzi-ram a uma acumulação de combustível nas florestas, que favoreceu o aumen-to significativo do número de fogos e da superfície ardida. Paralelamente ao declínio da população e das atividades agrícolas, várias medidas políticas para promover a florestação entraram em

vigor, reconvertendo a área de pasta-gens e incultos para terrenos de povoa-mento florestal, sobretudo pinhal.

Segundo Goes (1977), as pri-meiras introduções de eucaliptos em Portugal começam em 1829, enquanto os primeiros repovoamentos em grande escala datam de 1875. De acordo com o autor, os propósitos para a introdução dos eucaliptos teriam sido [I] ornamen-tais, [II] sanear terrenos alagadiços e [III] produzir material lenhoso para usar principalmente como combustível. Em 1953, com a implantação da fábrica de pasta de papel de Cacia e, sobretudo, após a década de 1970, procedeu-se à extensa reflorestação com Eucalyptus globulus, substituindo, principalmente, áreas de pinheiro bravo.

Em síntese, a exploração dos sistemas agro-silvo-pastoris no con-celho de Sever do Vouga favoreceu a uniformização do coberto vegetal e a localização de espécies nativas como os carvalhos e os castanheiros em refúgios, maioritariamente junto às margens dos cursos de água, onde se observam tam-bém amieiros (Alnus glutinosa), salguei-ros (Salix atrocinerea, Salix salviifolia), freixos (Fraxinus angustifolia) e ulmei-ros (Ulmus minor), formando bosques (galerias) ripícolas que, no caso do rio Vouga, determinaram a sua classifica-ção como Sítio de Importância Comu-nitária.

A Rede Natura 2000, uma rede europeia de áreas de interesse para a conservação, é o principal instrumento para assegurar a proteção, a longo prazo, das espécies e dos habitats mais amea-çados na União Europeia. Neste âm-bito, parte do rio Vouga foi classificado como Zona Especial de Conservação ou Sítio de Interesse Comunitário (SIC), mais concretamente o curso do rio que abrange os municípios de Sever do Vou-ga, Águeda e Albergaria-a-Velha.

Sever do Vouga integra, nos seus limites, 706 ha de área classificada que correspondem a 25% do SIC Rio Vouga e, apesar de se observar a expan-são de duas espécies de acácias invaso-ras nas suas margens, a mimosa (Acacia dealbata) e a austrália (Acacia melano-xylon), podemos encontrar uma galeria ripícola bem preservada que proporcio-na habitats para a ocorrência de muitas espécies consideradas prioritárias e de uma importante diversidade faunís-tica. A vegetação ribeirinha contribui de forma marcante para a estabilidade morfológica e ecológica dos cursos de água, refletindo-se na manutenção da qualidade da água.

O rio Vouga é um curso de água relevante para a conservação de espécies piscícolas migradoras, como o sável (Alosa alosa) e a savelha (Alosa fallax), e ainda um dos poucos locais de ocorrência confirmada da lampreia-de--riacho (Lampetra planeri). Juntamente com muitas das linhas de água do con-celho, possibilitam a presença de outras espécies com estatuto de proteção, tais como a boga (Chondrostoma polylepis), o bordalo (Rutilus alburnoides), o ruiva-co (Rutilus macrolepidotus), a lampreia (Petromyzon marinus), bem como de répteis e anfíbios que só existem na Península Ibérica, como é o caso do lagarto-de-água (Lacerta schreiberi), da rã-castanha (Rana iberica), do sa-po-parteiro (Alytes obstetricans), do tritão-de-ventre-laranja (Triturus bos-cai) e da singular salamandra-lusitânica (Chioglossa lusitanica). Nas áreas húmi-das adjacentes ao rio, surgem espécies de mamíferos como a lontra (Lutra lu-tra) e a menos conhecida toupeira-de--água (Galemys pyrenaicus). Já algumas espécies de morcegos, únicos mamíferos com voo ativo, escolhem como locais de abrigo os moinhos abandonados da bacia do Vouga. Tipicamente ribeirinhas, aves

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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como o guarda-rios (Alcedo atthis), a alvéola cinzenta (Motacilla cinerea) e o melro-d’água (Cinclus cinclus) depen-dem dos rios para se alimentarem e reproduzirem.

Naturalmente que, num con-celho com 130 km2 de área e com uma grande heterogeneidade de fatores am-bientais, muito mais biodiversidade pode ser encontrada. Afloramentos rochosos, bosques mistos, corredores ripícolas e jardins, constituem exemplos de im-portantes locais de abrigo, reprodução e alimentação para aves residentes e mi-gradoras. Só na área das minas do Braçal foram registadas mais de 30 espécies.

Relativamente às plantas, ape-sar da uniformidade do coberto arbóreo e da expansão de algumas invasoras, observam-se ainda espécies com esta-tuto de proteção, tais como o narciso martelinho (Narcissus cyclamineus), o azevinho (Ilex aquifolium) e a gilbardeira (Ruscus aculeatus), endemismos ibéri-cos, entre os quais a paradísea (Para-disea lusitanica) e o tojo-gatunho (Ulex micranthus), e mesmo endemismos lusitanos como, por exemplo, Anar-

rhinum longipedicellatum. Interessantes por terem uma distribuição restrita no nosso país são também o feto-do-bo-tão (Woodwardia radicans), a carnívora pinguícola (Pinguicula lusitanica), o hipericão-do-gerês (Hypericum andro-saemum) e o selo-de-salomão (Polygo-natum odoratum).

As potencialidades naturais que este território encerra constituem fa-tores de desenvolvimento por promo-verem a procura de atividades ligadas ao lazer, ao turismo de natureza, des-portivo, científico e cultural. Destaca--se também o vasto e rico património da região, patente nos monumentos, nas manifestações religiosas (festas e romarias), nas feiras, nos diversos tipos de artesanato, na gastronomia típica e em outras práticas culturais. Moinhos, levadas, pisões, pontes ferroviárias e rodoviárias, pontões, poldras, muros, açudes, túneis, locais de culto, pelouri-nhos, cruzeiros, minas antigas e peque-nas embarcações (bateiras), merecem um olhar atento de quem percorre os percursos pedestres do concelho ou de quem visita Sever do Vouga.

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O R IG EN S

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A S P R I M E I R A S C O M U N I D A D E S

Os mais antigos vestígios da presença humana no vale do rio Vouga remontam ao chamado Paleolítico Inferior, isto é, a um período que deverá rondar os 250 / 300 mil anos. Estes vestígios consistem em utensílios feitos a partir de pedra las-cada. Nesta época, os nossos antepassa-dos, ainda muito diferentes do Homem atual (Homo sapiens sapiens), talhavam frequentemente seixos rolados de quartzito para fabricar ferramentas, que tinham funções muito diversificadas. Como ainda não praticavam a agricul-tura, é provável que estas ferramentas fossem usadas para desenterrar raízes ou tubérculos de plantas comestíveis e, sobretudo, para desmanchar animais já mortos para serem consumidos.

Num momento bastante mais recente, entre cerca de 14.000 e 10.000 anos (Paleolítico Superior), encontramos novos testemunhos da presença do Homem na região, desta vez atribuídos ao Homo sapiens sapiens. Aparentemente, as comunidades hu-manas desta fase terão frequentado, pelo menos, as zonas ribeirinhas. Aqui não só tinham acesso à água, como po-diam pescar, caçar, recolher alimentos vegetais e obter diversas rochas e mine-rais para produzir utensílios. Por vezes, estas comunidades construíam cabanas e faziam lareiras nestes locais, onde ten-diam a permanecer algum tempo. As cabanas e as lareiras, a par do vestuário

O R I G E N S

feito a partir de peles de animais, terão sido fundamentais para a superação do intenso frio que se fazia sentir na épo-ca. A presença de vestígios do Paleolí-tico Superior ao longo dos vales sugere que o Homem os utilizava como “vias” de circulação, que permitiam ligar, por exemplo, os territórios do interior aos do litoral.

Os trabalhos arqueológicos efe-tuados no âmbito do aproveitamento hidroeléctrico de Ribeiradio – Ermida, permitiram a identificação dos mais an-tigos vestígios do Homem na região e, concretamente, no concelho de Sever do Vouga.

Há mais de 10.000 anos, o sí-tio do Rôdo foi frequentado por grupos humanos que viviam da caça, da pesca e da recoleção de plantas silvestres. As escavações arqueológicas realizadas no sítio do Rôdo permitiram identificar utensílios de pedra lascada e algumas lareiras, que terão servido para cozinhar ou aquecer o Homem. É muito prová-vel que tenham sido também construí-das cabanas, mas delas não há grandes evidências. Estes grupos humanos es-colheram este local para permanecer algum tempo devido, possivelmente, à presença da água, à abundância de rochas e minerais para o fabrico de utensílios e à existência de recursos ali-mentares (mamíferos, peixe e produtos vegetais).

N E O L Í T I C O : A P R O P R I A Ç Ã O D O T E R R I TÓ R I O

As comunidades humanas do neolítico que viveram no território de Sever do Vouga são ainda muito mal conheci-das. De facto, do longo período gene-ricamente englobado pelos finais do vi milénio a.C. e os princípios do iii milénio aC, apenas possuímos vestígios da sua fase final que se deverá situar entre os 4.500 e os 3.700 a.C. Os sinais des-se passado são-nos transmitidos pelos imponentes sepulcros megalíticos, os dólmens ou antas, edificados sobretudo nos planaltos da Serra do Arestal e das Talhadas.

As comunidades humanas des-te período seriam formadas por peque-nos grupos de agricultores e pastores que completavam a sua economia com a caça e a recoleção de frutos depen-dendo, deste modo, do que o território lhes proporcionava.

O R IG EN S

P E D R O S O B R A L D E C A R VA L H O

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D Ó L M E N S E M E N I R E S : M A R C A S D E I D E N T I D A D E

No concelho de Sever do Vouga são co-nhecidos quase meia centena de monu-mentos funerários pré-históricos.

Embora não haja datações absolutas que atestem com exatidão as cronologias destes monumentos, podemos adiantar que os mais antigos dólmens terão sido edificados há cerca de 6500 anos.

A principal característica des-te fenómeno é, no entanto, a enorme variedade de soluções arquitetónicas destes sepulcros. Temos um primeiro momento, provavelmente datado dos finais do v milénio / inícios do iv milénio a.C., marcado por dólmens de câmaras simples, de corredores indiferenciados e com corredores bem demarcados. Estamos certos que, a dado momento, terão coexistido, assim, várias arquite-turas num mesmo espaço.

As principais necrópoles deste concelho encontram-se na Serra das Talhadas e na Serra do Arestal, onde podemos igualmente observar um raro menir, o Menir dos Lameirinhos, junto à capela de S. Tiago do Arestal.

Todos estes monumentos eram locais essenciais na coesão social, onde as comunidades ainda errantes de pas-tores e agricultores, encontravam um elemento aglutinador: a fé numa vida além da morte.

A M E TA LU R G I A E O I N Í C I O D E U M A N O VA E R A

O domínio gradual da metalurgia acar-retou impactos sócioeconómicos que viriam a transformar substancialmente o modo de vida das comunidades humanas.

Dos inícios da era dos metais, do Calcolítico ou Idade do Cobre (iii milé-nio a.C.), não existem vestígios conhe-cidos no concelho de Sever do Vouga, mas já dos períodos subsequentes, Ida-des do Bronze (ii/i milénio a.C.) e do Fer-ro (finais do i milénio a.C.) conhecemos algumas manifestações.

Agora, interessava essencial-mente controlar as vias por onde circu-lavam os bens e as matérias-primas que iam e vinham de longe. Implantaram--se, assim, nos finais da Idade do Bron-ze, povoados amuralhados no cume dos montes como o Castêlo de Cedrim, o Cabeço do Aro ou o Castro de Parada.

O território de Sever do Vouga parece ter beneficiado da proximidade ao litoral onde se desenvolviam popula-ções de origem fenícia.

A S I D A D E S D O B R O N Z E E D O F E R R O : O I N Í C I O D A S H O S T I L I D A D E S

Embora a agricultura continuasse a ser a base de sustento destas populações, as-siste-se a uma crescente especialização artesanal em que a produção do bronze (estanho + cobre) virá a criar uma dife-renciação social do trabalho. O artesão coabitava junto dos seus, mas a sua ca-pacidade técnica tornava-o um indiví-duo especial, trazendo-lhe prestígio.

Com a passagem da Idade do Bronze para a Idade do Ferro, aumen-tam as desigualdades, denunciadas numa hierarquização social atestada nos bens de prestígio, dos quais o tor-ques da Malhada é um bom exemplo. Desenvolvem-se muralhas nos povoa-dos que refletem uma instabilidade só-cio-política resultante dos crescentes conflitos regionais.

A morte era agora encarada de modo diferente, havendo rituais muito diversos que compreendiam a inumação individual, como aconteceu na Sepultu-ra do Rei, e a incineração, já nos finais da Idade do Bronze, há cerca de 3000 anos. As grandes construções megalíti-cas deram lugar a pequenos montículos nada monumentais que hoje passam despercebidos na paisagem.

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A A R T E R U P E S T R E :O I M A G I N Á R I O G R AVA D O

Entre o iv e o ii milénio a.C., a arte fixa--se na paisagem, ocupando o espaço vi-vido, no quotidiano, pelas comunidades humanas. Porém, também surge en-clausurada no interior de monumentos funerários que eram visitados, apenas por alguns, em ocasiões especiais.

Sever do Vouga guarda notáveis exemplares quer da arte pública – gra-vuras ao ar livre –, quer dessa arte pri-vada e mais intimista – arte megalítica – datadas do período Neolítico. Nessa época, as comunidades pré-históricas desta região adotaram uma linguagem simbólica abstrata que era partilhada por outras ao longo da fachada Atlânti-ca europeia. Embora não possamos de-cifrar as mensagens transmitidas pelas coreografias de círculos, covinhas, espi-rais, linhas quebradas ou sinuosas grava-das nas rochas, é de crer que serviriam como um meio de comunicação não só entre os diferentes grupos humanos, mas também talvez entre o universo da realidade visível e mundos imaginários.

Contadas de geração em gera-ção, e ainda conhecidas por muitos, len-das antigas relatam histórias de mouras encantadas -seres sobrenaturais que ‘vi-viam’ no interior dos penedos gravados. Estas lendas transportam para o presen-te a memória e relevância destes lugares para as comunidades que herdaram este mesmo território e que também nele gravaram sinais em pedras para delimi-tar o seu termo.

L A R A B A C E L A R A LV E S

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Os primeiros contactos entre os Ro-manos invasores e os habitantes do território de Sever terão ocorrido por altura das campanhas de Décimo Júnio Bruto na Península Ibérica. Nomeado pro-cônsul para a província da Lusitâ-nia em 138 aC, logo a seguir à morte de Viriato, o general romano lançou--se à conquista dos Calaicos seguindo, certamente, uma via atlântica passan-do muito próximo do atual concelho ou atravessando-o mesmo.

A ocupação do território que se deu a seguir levou à manutenção ou abandono dos castros existentes – Ce-drim, Rocas, Cabeço do Aro (Espi-nheiro), Outeiro (Serra do Arestal), Cabreia (Vila Fria), Quinta da Gân-dara (Silva Escura) e Pisões/Levada (Amiais) – e à adaptação aos novos hábitos e nova cultura introduzidos pelos Romanos, tanto na arquitetura como na agricultura ou no planea-mento do espaço.

As vias que atravessavam o atual concelho e que ligavam à grande espi-nha dorsal atlântica que era a via Olisipo (Lisboa) – Bracara Augusta (Braga), es-coavam o chumbo, a prata, o estanho e o cobre que eram explorados nas minas do Braçal, Malhada e Talhadas. Nestas minas apareceram lucernas, baldes, uma taça de sigillata (cerâmica fina da época) e outros objetos que, com as vias, cons-tituem os vestígios mais importantes e visíveis de há dois mil anos.

R O M A ,A Q U I TÃ O P E R TOJ O Ã O L . I N Ê S VA Z

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A construção da identidade de Sever do Vouga é um processo de longa duração que se inicia na Idade Média durante a “Reconquista”. A região foi disputada pelo poder civil (terras de Santa Maria, Lafões e Vouga), monástico (entre os poderosos mosteiros medievais de Va-cariça e Lorvão) e diocesano.

Embora todos os lugares que hoje constituem sede de freguesia já se encontrem referenciados nos sé-culos x a xiii, houve, ao longo dos últi-mos séculos, frequentes alterações na configuração, na integração adminis-trativa e até na sua designação. Entre as que se revelaram mais estáveis desde a sua formação, provavelmente ainda no século xii, contam-se Santa Maria de Sever, Santa Maria de Pessegueiro e São João de Silva Escura.

A criação da villa Severi e seu mosteiro, na sequência da integração destas terras nos domínios da monar-quia asturiana em finais do século ix, constituiu um passo decisivo na cons-trução dessa identidade. Quando as circunstâncias políticas o exigiram, a partir da reconquista cristã de Coimbra em 1064, o centro de poder ter-se-á transferido para uma fortificação vi-zinha da villa, fortificação essa que as inquirições régias do século xiii ainda recordam vivamente: o “Crasto que chamam de pena de Sever” que então ainda era “del Rey”.

No século xiii, uma vez ultra-passada a instabilidade e consolidado o poder da monarquia portuguesa, o exercício do poder judicial e admi-nistrativo regressa a uma sede civil e aquela que era então chamada “aldeia de Sever” passou a ser a sede do “julga-do de Sever de par do Vouga”, do qual a vila e o município atuais são herdeiros diretos.

S E V E R D O V O U G A : T E M P O S M E D I E V O SA N TÓ N I O L I M A

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A F É

Monumentos de fé, assim são as igre-jas, as capelas, os cruzeiros e as almi-nhas que proliferam pelo concelho de Sever do Vouga. A força da sua reli-giosidade manifesta-se na simplicidade das linhas que definem a arquitetura da igreja matriz de Sever do Vouga ou na exuberância decorativa da fachada da igreja de Cedrim. Por outro lado, as capelas, isoladas ou anexas às casas se-nhoriais, são o convite à vivência da fé de uma forma mais íntima, sem, con-tudo, deixar de apostar na sua decora-ção arquitetónica.

Os cruzeiros ornamentam os adros e praças do concelho, e recor-dam os passos da Paixão de Cristo re-presentada, principalmente, na deco-ração do cruzeiro de Silva Escura.

A relação das gentes de Sever com a morte ficou exposta nas almi-nhas que proliferam nos caminhos e encruzilhadas do concelho, incitando à oração das almas do purgatório. Estas manifestações de arte são uma profis-são de fé, renovada em cada esquina, em cada pedra, em cada imagem que anunciam a crença do povo de Sever do Vouga.

F É

A L M I N H A S

Este é o apelo que surge nas Alminhas da Cruz, em Rocas do Vouga dirigido, essencialmente, a todos os caminhan-tes, viajantes ou residentes para reza-rem pelas almas do purgatório. Assim se definem as centenas de alminhas que proliferam por Sever do Vouga: monumentos de dimensões variáveis que apelam ao culto das almas, difun-dido no séc. xvi.

As primeiras alminhas do con-celho de Sever do Vouga remontam ao século xviii, generalizando-se, poste-riormente, nos séculos xix e xx. Loca-lizadas no curso de caminhos e encru-zilhadas, as alminhas são geralmente em pedra de formato retangular ou semicircular. A parte inferior apre-senta normalmente um nicho onde se encontra uma pintura ou escultura alusiva ao culto das almas do purgatório e a superior um remate de uma cruz. É recorrente, ainda, surgirem gravados os instrumentos da paixão de Cristo.

C R U Z-D E--H O M E M-M O R TO

As cruzes de homem-morto são mo-numentos à memória de homens e mulheres que no cumprimento das suas tarefas diárias faleceram num de-terminado local.

Geralmente confundidas com as alminhas, as cruzes de homem-mor-to, ao invés de apresentarem um nicho perfeitamente definido onde surgem as representações iconográficas do purgatório, tem gravado em epígra-fe o nome do falecido e a data da sua morte. Uma vez mais, a fé e a vontade de perpetuar, no tempo e no espaço, a memória daqueles que partiram foi, e é, um dos traços característicos das gentes de Sever do Vouga.

“Ó VÓS QUE IDES PASSANDO LEMVRAIVOS DE NOS QUE ISTAMOS PENANDO”

C A R L O S A LV E S

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M EM ÓR I A

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M U S E U M U N I C I PA L S E V E R D O V O U G A 37

A V I D A N O C A M P O

O respeito e amor pela terra fez com que esta comunidade criasse uma rela-ção de simbiose, aproveitando os seus recursos através de atividades como: a agricultura, silvicultura, criação de ani-mais, entre outras.

Dedicados aos ciclos da terra, os Severenses dedicavam-se ao cultivo dos cereais, com particular destaque do milho, vinha e leguminosas. Em cam-pos retalhados pelas encostas deste concelho, construíram varias unidades de apoio que ainda hoje são a marca da paisagem. Espigueiros, eiras e moinhos são uma constante nestes horizontes e ocupavam um papel preponderante no ciclo do milho. Se nas primeiras se guardavam e secavam as maçarocas e o grão, nas segundas transformava-se o cereal em farinha. As elevadas linhas de água e um relevo acentuado levaram o Homem a construir neste território de Sever do Vouga um impressionante nú-mero destes moinhos de água, que ainda hoje não possuem paralelo na região.

A criação de animais tinha tam-bém um papel preponderante com ove-lhas, cabras e vacas a serem uma das prin-cipais fontes de riqueza destas gentes.

A pesca e o transporte de mer-cadorias pelo Vouga eram também atividades das populações ribeirinhas, enquanto nas áreas mais elevadas apro-veitavam-se os recursos florestais.

Era uma vida de trabalho, em que os escassos meios disponíveis leva-ram muitas pessoas a procurarem novos meios de vida em outras paragens. Mas esses novos tempos deram também ori-gem a um novo patamar na produção agrícola em que os velhos saberes são otimizados em novas industrias agroali-mentares como os lacticínios, as massas alimentícias entre outras.

A identidade de outrora mu-dou e desses tempos já restam muitas memórias e algumas fotografias.

L AT I C Í N I O S

O Visconde de Nandufe António Cae-tano Rodrigues Viana comprou em 1893 uma desnatadeira centrífuga em França, que instalou em Sanfins, fun-dando a primeira fábrica de laticínios do país, que funcionou até Março de 1924.

Surgiu então a Cooperativa Agrícola de Laticínios que sofreu vá-rias privações financeiras e ataques dos industriais de laticínios. De Março de 1924 a Fevereiro de 1937, funcionou como Sociedade Industrial, até que em 1937, por Alvará foi oficialmente criada como Cooperativa, sendo a mais antiga do país.

Nos primeiros tempos, a Coo-perativa só separava a nata do leite. Esta era transportada em latas, por mulheres para ser vendida aos indus-triais, Martins e Rebelo, de Vale de Cambra, e a Custódio Pereira Dias, de Catives (Couto de Esteves) onde era usada no fabrico da Manteiga “Beleza”. Mais tarde adquiriu um pipo e um ma-laxador e passou a fabricar a sua própria manteiga, da marca “Delícia”.

Grande parte da produção de manteiga era vendida para a região de Lisboa, sendo as caixas transportadas à cabeça por mulheres, para a estação de caminho-de-ferro de Paradela.

Em 1962 formou-se a União de Cooperativas da Laticínios de Entre Douro e Vouga, composta pela Coope-rativa Agrícola de Laticínios de Sanfins, a Cooperativa Agrícola de Laticínios do Vale do Vouga e a Cooperativa Agrícola de Laticínios de Arouca.

Em 1967 inicia-se o fabrico de queijo e a recolha total do leite, bem como o processo de arrefecimento e pasteurização.

A extinção dos Grémios da La-voura, em 1977, levou a que a “Coope-rativa Agrícola de Sanfins, SCRL” to-masse conta das instalações e da parte comercial, até aí exercida pelo Grémio da Lavoura de Sever do Vouga.

O S S É C U L O S D A M E M Ó R I AM E

M ÓR I A

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A L I N H A D O VA L L E D O V O U G A

Datam de 1877, os primeiros projetos para uma linha ferroviária nesta região que unisse o litoral ao interior passando por Sever do Vouga. Após alguns anos de discussões e atrasos este projeto ini-ciou-se com a assinatura do contrato a 5 de fevereiro de 1907.

Construída pela Compagnie Française pour la Construction et Ex-ploitation des Chemins de Fer à l'Étran-ger, esta linha, que ligava Espinho a Viseu, de tipologia estreita (1 metro de distância entre os dois carris (bitola), foi aberta faseadamente. A 5 de Maio de 1913 entrou ao serviço a ligação Serna-da - Rio Mau e em 4 de Novembro a etapa entre Rio Mau a Ribeiradio, ten-do ficado totalmente operacional a 5 de Fevereiro de 1914.

A construção desta linha per-mitiu uma nova condição para a circu-lação de pessoas e mercadorias no Vale do Vouga, feito até então com grande dificuldade por via fluvial.

A 7 de Julho de 1923, naciona-lizou-se a Compagnie Française pour la Construction et Exploitation des Che-mins de Fer à l'Étrangere a 1 de abril de 1924 esta linha passou a ser gerida pela Companhia Portuguesa para a Cons-trução e Exploração de Caminhos-de--Ferro.

A 1 de janeiro de 1947, a linha do Vouga muda novamente de mãos e passa a ser explorada pela Companhia dos Caminhos-de-Ferro Portugueses.

Com a abertura de novas vias e o aumento do tráfego automóvel esta ligação começou a entrar em decadên-cia e a perder passageiros e mercado-rias. Nos inícios da década de 70, do século XX, existiam 6 ligações diárias entre Espinho e Aveiro e as viagens mais rápidas entre estes dois destinos demoravam cerca de 3h30min.

A 25 de agosto de 1972 fez-se a última viagem em comboio a vapor na linha do Vouga, pois o troço entre Ser-nada do Vouga e Viseu acabou sendo encerrado por causa dos incêndios que estas locomotivas provocavam nas flo-restas circundantes. Contudo, em 1975 a linha foi novamente reativada e pas-sou a usar material circulante a gasóleo (automotoras). A 1 de Janeiro de 1990 deu-se a ultima viagem de automotora entre Sernada e Viseu.

P O N T E D O P O Ç O D E S . T I A G O

Sendo o projeto da autoria do Eng. Paul Sejourné, a direção da sua cons-trução coube ao Eng. François Mercier tendo sido construída com a finalidade de servir de passagem aos comboios da linha do Vouga. Na sua edificação usou-se alvenaria emparelhada e ado-taram-se os vãos de grandes dimen-sões, o maior deles com 70 metros. A sua altura é de 28 metros, o que faz dela a mais alta ponte construída em Pedra do país.

Foi edificada, dentro do prazo previsto ficando concluída em 1913, mas mesmo assim importa referir que se demorou mais tempo a aprovar o projeto desta ponte do que a concluir a sua construção.

I LU M I N A Ç Ã O P Ú B L I C A

A primeira notícia da iluminação elétrica do concelho data de 1919 e a autorização para instalar uma rede em baixa tensão deve-se a João Mar-tins Pereira Amaral em 1923. Todavia, a Câmara não acedeu à solicitação e só em 1926 se concretizou a rede de energia elétrica na vila, sujeita a uma remodelação em 1934. O fornecimen-to fazia-se a partir da hidroelétrica de Sever do Vouga, instalada na Ribeira de Sever, na Arrota, propriedade de João Martins Pereira Amaral. Tratava-se de uma central hidroelétrica que possuía uma reserva térmica com a potência máxima de 15 KW.

Em 1926 surge então a primei-ra iluminação pública, em Sever, com apenas 10 lâmpadas. Posteriormente, em 1928, a Sociedade Industrial do Vouga instala no Rio Vouga, em Pesse-gueiro do Vouga, uma central hidroe-létrica com uma potência máxima de 602 KW.

A eletrificação do concelho concretiza-se a partir do contrato com a União Elétrica Portuguesa em 1948 e durante a década de 1950 estendeu--se às várias freguesias do concelho por decisão da Câmara Municipal.

Contudo, em Sever do Vouga, a Companhia Mineira e Metalúrgica do Braçal e a Sociedade Industrial do Vou-ga, construíram as suas próprias centrais elétricas para a execução das suas ativi-dades produtivas. A primeira, instalou três hidroelétricas duas nas Minas do Braçal e uma nas Talhadas, enquanto a segunda implementou uma central no rio Vouga, junto a Pessegueiro do Vouga.

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M U S E U M U N I C I PA L S E V E R D O V O U G A 41

P R O J E TO S H E L L

A "Experiência Agrícola de Sever do Vouga", decorrente do projeto Shell, ocorreu entre 1958 e 1968 e duran-te esse período a Shell colocou neste município o Eng.º Agrónomo Reinaldo Jorge Vital Rodrigues com o objetivo de aconselhar os agricultores. Porquê Sever do Vouga? Precisamente por se tratar de um concelho muito acidenta-do em termos topográficos, com uma propriedade agrícola extremamente fragmentada e uma população com muito baixo nível de escolaridade.

Deste modo, procurava-se in-crementar e realizar extensão agrícola e elevar o nível de conhecimentos dos agricultores do concelho.

Releve-se ainda a importância deste projeto em iniciativas de caráter social, de formação profissional e no apoio aos cuidados maternos.

S A N TA C A S A D A M I S E R I C Ó R D I A

Deve-se ao Comendador Augusto Martins Pereira a fundação desta obra de Assistência Social. Datada de 1950, por iniciativa de uma Comissão Insta-ladora, a denominada Casa dos Pobres, que tinha como objetivo acabar com a mendicidade nas ruas.

Depois da construção do Cine Alba em 30 de setembro de 1951, Au-gusto Martins Pereira inaugura a nova Casa dos Pobres, o Asilo dos Pobres e o Posto Hospitalar, para obviar às con-dições precárias de uma vasta camada da população do Concelho.

T R A N S P O R T E S ; V I A S E T E L E C O M U N I C A Ç Õ E S

Para o transporte de pessoas, merca-dorias e correio foi criado um serviço de diligência, pertença da “Compa-nhia Industrial Provinciana” fundada em 1885, pelo Comendador António Martins Henriques, sediada na Grela. Porém, após a inauguração da linha de circulação do Vale do Vouga, troço Sernada-Viseu, aquele transporte caiu em desuso em 1914. O troço Sernada--Viseu veio, também, a ser suspenso em 1972.

A S B A R C A S D O V O U G A

Considerado porto fluvial, no lugar do Poço de S. Tiago, embora não tivessem sido feitas obras para tal, o Rio Vouga era navegável de Pessegueiro do Vouga até à Ria de Aveiro, permitindo, assim, desenvolver trocas comerciais. Os bar-queiros eram essencialmente de Sóligo e levavam para Aveiro lenha, carqueja, laranja, etc., trazendo de Aveiro sal, peixe, tijolo, telha e as novidades.

P O N T E D E P E S S E G U E I R O D O V O U G A

Outra ponte de grande valor arquitetó-nico é a ponte sobre o rio Vouga, que liga as freguesias de Paradela a Pessegueiro do Vouga. A travessia e ligação entre as duas freguesias fazia-se atravessando o rio numa pequena barca poucos metros a jusante da referida ponte. Fazia-se, quando o rio o permitia. No Inverno, quando as cheias eram mais frequentes, a situação complicava-se. Esta ponte foi construída no local onde as margens

mais se aproximavam. Esta obra deve-se ao dinamismo do abade Manuel Antó-nio Dias Santiago, de Pessegueiro, o qual disponibilizou 8000 cruzados.

Posteriormente, com a cons-trução entre 1872 e 1874 da estrada de acesso a Sever do Vouga esta ponte foi usada para proporcionar uma mais efi-caz circulação de pessoas e de mercado-rias com a sede do concelho.

Na década de 30 do século XX, esta ponte passou a estar inserida na rede nacional de estradas criada pela Junta Autónoma de Estradas com o nome de EN16.

C O R R E I O S E T E L E F O N E S

O transporte da correspondência, que data de 1844, competia a um homem contratado para o efeito, tendo apenas sido arrematado o transporte das malas do correio entre a Vila e a estação dos ca-minhos-de-ferro em Paradela, em 1918.

Quanto às ligações telefónicas em 1931 foi solicitado à administração a montagem de uma cabina telefónica em Rocas. Em 1940, apesar de todos os pedidos insistentes, ainda não havia um posto telefónico na Vila.

Porém, a 14 de junho de 1940 é colocado o primeiro telefone público no Concelho de Sever do Vouga, nomea-damente na freguesia de Pessegueiro do Vouga.

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M U S E U M U N I C I PA L S E V E R D O V O U G A 43

M I N A S D O B R A Ç A L

A segunda fase da exploração de Galena nas Minas do Braçal iniciou-se no se-gundo quartel do século XIX, através de uma concessão a José Bernardo Miche-lis, por portaria de 6 de agosto de 1836. Em 1840 esta licença passa para o ale-mão Diederich Mathias Fewerheerd, radicado na cidade do Porto, que impul-sionou a exploração mineira através de técnicos e tecnologia alemã.

Em 1850 foi descoberta a mina da Malhada e logo de seguida em 1856 as minas do Coval da Mó. Pelo seu su-cesso, o Governo concedeu a isenção de impostos durante 10 anos, por portaria de 30 de janeiro de 1854.

As obras em 1851 já tinham mu-dado o curso do rio Mau e instalado três rodas hidráulicas e uma turbina que ser-viam para a extração de galena, sulfato de chumbo e pirite de ferro.

Em 1862 uma multidão, es-pecialmente de Ribeira de Fráguas e de Silva Escura, entra pelas instalações mineiras destruindo-as, uma vez que o fumo das fornalhas das minas estava a prejudicar as suas vinhas causando gran-des prejuízos à produção agrícola.

O Governo sentiu-se na obri-gação de indemnizar a empresa, autori-zando a construção de uma linha férrea do sistema americano que ligasse as explorações do Braçal, Malhada e Coval da Mó, pelo Rio Mau até ao Vouga. A construção da linha teve início em 1864 e foram transportados por ela grandes quantidades de minério para dois barcos que a empresa possuía no Vouga tendo, cada um, a capacidade de transportar 10 toneladas. Daqui seguiam para Aveiro tendo como destino Inglaterra e Ale-manha

Estes barcos traziam produtos e artigos para consumo e aplicação na ex-ploração mineira, sendo transportadas em vagões para o Braçal puxados por duas ou mais juntas de bois.

Em 1863, a empresa mandou construir uma oficina de fundição no Braçal, na margem esquerda do Rio Mau, à qual deu o nome de D. Fernan-do, marido da Rainha D. Maria II, deno-minação que foi autorizada em 24 de maio de 1862.

Esta oficina utilizou o mesmo modelo das fundições de Stolberg, na Prússia.

Entretanto, Diederich Mathias Fewerheerd morre no Porto em 1874. Como grande e reconhecido empresá-rio, foi condecorado pelo rei D. Pedro V com o grau de Cavaleiro da Ordem de Cristo e agraciado pelo Rei D. Luís com a Comenda da Conceição.

Depois da sua morte procede--se à reestruturação da empresa cons-tituindo-se uma sociedade com o nome de Administração das minas do Bra-çal. Dela faziam parte a viúva, D. Sofia Fewerheerd e outros herdeiros, man-tendo-se a exploração até 1882.

Os grandes melhoramentos realizados neste complexo, conduziram a Companhia a uma crise financeira, que ameaçava fechar, o que contribuiu para a constituição de uma nova Socie-dade em 14 de janeiro de 1882, aprova-da por alvará de 28 de junho do referido ano, com capitais luso-germânicos.

Estava criada a Companhia Mineira e Metalúrgica do Braçal. Foi nomeado seu administrador-delegado o Dr. António Lopes da Gama. Esta so-ciedade manteve-se até 1880 e faziam parte dela as três áreas de exploração – Braçal, Malhada e Coval da Mó – os escritórios, a oficina de fundição D. Fernando, a Serralharia, a Caldeiraria, a Fundição de Ferro e Bronze, a Carpin-taria e um laboratório devidamente ape-trechado para a avaliação da pureza dos metais extraídos e da sua composição.

Em 1904, as minas fecharam devido à falência do seu proprietário, voltando a ser reabertas anos mais tar-de, tendo sido encerrada a exploração mineira em a 31 de Dezembro de 1958. Contudo, o desmantelamento da mina continuou por vários meses até que na década de 60, do século XX, foram dis-pensados os últimos trabalhadores.

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M I RT IL O

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M U S E U M U N I C I PA L S E V E R D O V O U G A 47

O mirtilo (Vaccinium corymbosum), também conhecido por arando ou uva--do-monte, é um pequeno arbusto da família das urzes, do loendro e do me-dronheiro. Cresce espontaneamente nas montanhas e florestas da América do Norte e da Europa (em Portugal, apenas no norte). O fruto é uma baga azul escura e sumarenta, usado, há sé-culos, como alimento devido ao elevado valor nutritivo. O herbalismo do século XVI documentou o uso medicinal da planta no tratamento de pedras na bexi-ga, desordens biliares, escorbuto, tosse e tuberculose. Atualmente, a investigação no mirtilo (fruto e folha) está direciona-da para o tratamento de desordens ocu-lares, vasculares e diabetes mellitus.

M I R T I L OM I RT IL O

Introduzido em Portugal na dé-cada de 90, em Sever do Vouga, este fruto possui hoje um papel muito im-portante na economia local, tendo Se-ver do Vouga adquirido a marca 'Capital do Mirtilo'.

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SEVER DO VOUGA. 2016