mudanÇa organizacional na administraÇÃo … · lacunas durante o processo de transição, bem...
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Centro de Convenções Ulysses Guimarães Brasília/DF – 16, 17 e 18 de abril de 2013
MUDANÇA ORGANIZACIONAL NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA MINEIRA:
UMA ANÁLISE DA TRANSIÇÃO ENTRE O PROGRAMA ESTADO PARA RESULTADOS
E ESCRITÓRIO DE PRIORIDADES ESTRATÉGICAS
Paula Braga Batista Diego Otávio Portilho Jardim
Felipe Michel Santos Araújo Braga Welson Kleiton Antônio de Souza
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Painel 51/196 Novos formatos, novas institucionalidades
MUDANÇA ORGANIZACIONAL NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA MINEIRA:
UMA ANÁLISE DA TRANSIÇÃO ENTRE O PROGRAMA ESTADO PARA RESULTADOS E ESCRITÓRIO DE PRIORIDADES ESTRATÉGICAS
Paula Braga Batista
Diego Otávio Portilho Jardim Felipe Michel Santos Araújo Braga Welson Kleiton Antônio de Souza
RESUMO O estudo analisa um processo de mudança organizacional na administração pública, qual seja o processo de transição entre o Programa Estado para Resultados e o Escritório de Prioridades Estratégicas, ambos do Governo de Minas Gerais. A metodologia de trabalho incluiu a análise documental de relatórios institucionais e das leis delegadas que estabeleceram a criação e/ou extinção dos órgãos, além de entrevistas realizadas com colaboradores que permaneceram na equipe de trabalho após a mudança organizacional promovida. As entrevistas foram realizadas a partir de questionário elaborado com base nos instrumentos para avaliação da mudança organizacional propostos por Neiva, E. R.& Paz, M.G.T. (2005). Apesar de tratar-se de uma mudança planejada, foram identificadas lacunas durante o processo de transição, bem como a realização de uma implementação adaptativa do que fora planejado. Os resultados demonstraram que a mudança organizacional ocorreu não apenas no âmbito estrutural, como também na política de gestão do órgão, em decorrência de alterações nas chefias das equipes e principalmente de um novo contexto institucional, impulsionado pela mudança na estratégia de atuação do Governo.
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INTRODUÇÃO
No início de 2003, visando colocar Minas Gerais em um caminho de
desenvolvimento sustentável, o governo mineiro implantou uma nova política
gerencial no estado. Esta nova política, o “Choque de Gestão”, diferencia-se das
outras reformas administrativas (reforma do Estado) por constituir uma adequação
institucional voltada para o desenvolvimento e por ter sido constituída numa
perspectiva integradora de políticas públicas (VILHENA; MARTINS; MARINI, 2006).
A primeira fase do choque de gestão (2003-2006) buscou reequilibrar a
situação financeira do Estado, de modo a possibilitar a atração de novos
investimentos. Neste momento foram remodelados, por exemplo, os processos de
gestão e suporte administrativo, com a criação das unidades de Planejamento,
Gestão e Finanças (SPGF) em todos os órgãos.
Em 2007, após o saneamento das contas públicas, iniciou-se a segunda
fase da mudança gerencial, com a implantação de uma gestão orientada para
resultados. Neste contexto, foi criado o Programa Estado para Resultados (EPR), por
meio da Lei Delegada nº 112/2007. O EPR assumiu a atribuição de fomentar a gestão
estratégica no Governo, bem como efetivar uma gestão por resultados no Estado.
A terceira fase do Choque de Gestão no Governo de Minas veio com o
início do mandato do Professor Antônio Augusto Junho Anastasia em 2011. A
orientação do Governo neste momento passou a ser a Gestão para a Cidadania,
onde no centro de tudo e de todas as políticas públicas está o cidadão.
Nesse novo cenário, foi criado pela Lei Delegada nº 181/2011 o Escritório
de Prioridades Estratégicas do Governo de Minas Gerais (Escritório), com a missão
de cooperar com as unidades setoriais para o alcance das metas prioritárias da
Gestão para a Cidadania.
OBJETIVOS
O estudo tem o objetivo de analisar um processo de mudança
organizacional na administração pública do estado de Minas Gerais ocorrido entre
2010 e 2011: a transição entre o Programa Estado para Resultados e o Escritório de
Prioridades Estratégicas.
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A análise da mudança implementada foi baseada nas seguintes
categorias: características organizacionais, situação política, comportamento
individual e no grupo de trabalho, estrutura organizacional e processos de trabalho.
MUDANÇA ORGANIZACIONAL
O advento da globalização econômica acarretou a necessidade das
organizações se tornarem mais competitivas, de forma sustentável e,
consequentemente, implantar programas de mudanças em busca da melhoria do
seu desempenho (OBADIA; VIDAL; MELO, 2007). Seja por pressões internas ou
pelo ambiente em que estão imersas, as empresas, cada vez mais, necessitam se
adaptar às demandas dos seus clientes, dos governos, das legislações e do
contexto mundial (ROCHA-PINTO; MUNIZ, 2010).
Nesse sentido, destaca-se o conceito abaixo:
"Qualquer alteração, planejada ou não, em componentes que caracterizam a organização como um todo – finalidade básica, pessoas, trabalho, estrutura formal, cultura, relação da organização com o ambiente –, decorrente de fatores internos e/ou externos à organização, que traz alguma consequência, positiva ou negativa, para os resultados organizacionais ou para sua sobrevivência." (NEIVA, 2004 apud NEIVA; PAZ, 2007, p. 32)
O papel que a arena política desempenha nessa dinâmica é discutido por
Neiva e Paz (2005, p. 4) ao ressaltarem que "a mudança consiste na alteração de
uma configuração (características organizacionais) para outra configuração,
possibilitada pela ação política dos jogadores que confrontam o sistema de
influência legítimo e promovem um realinhamento do poder, de maneira imprevisível,
instalando a arena política na organização".
Como ressaltado por Srour (1994), as empresas atuam em ambientes
cujas relações de poder estão incrustadas num macroambiente que historicamente
constituiu determinada visão de relações de propriedade que limitam a forma de
gestão a ser adotada por uma organização. Sendo assim, as estratégias podem ser
definidas no sentido da manutenção ou da mudança de estruturas que afetam o
funcionamento organizacional. Novas configurações implicam em "[...] alternâncias
no poder, presença mais enfática de jogos políticos e grupos lutando para impor
suas diretrizes na organização, o que faz parte do processo de desenvolvimento
organizacional." (NEIVA; PAZ, p. 47).
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Para Mariz (2007), a mudança organizacional representa a alteração da
natureza das partes constituintes de uma organização, implicando no surgimento de
outra formatação interna, ou seja, uma nova identidade (distinta da anterior). O novo
padrão institucional provém de uma intervenção consciente e calculada que
representa um significado para os indivíduos que a compõe e também para o
sistema social que eles habitam, porque simbolizam aspirações das comunidades
em que se inserem.
A (re)construção da realidade, enquanto um fenômeno individual baseado
em desejos, necessidades e experiências individuais, é melhor bem percebida quando
vivenciada, mesmo que indiretamente, pelos atores que constroem aquele ambiente
(SCHREYÖGG, 2002). A mudança provoca uma releitura dos valores pessoais dos
indivíduos e da cultura organizacional vigente frente à alteração proposta. As novas
práticas organizacionais e administrativas serão objeto de deliberação - mediante
valores, interesses e crenças, sujeitas à aceitação ou resistência.
Valores informam estados de preferência de como as coisas devem ou
deveriam ser na organização. Caso eles estejam efetivamente incorporados à
filosofia da organização, prenunciarão muitos comportamentos que podem ser
observados no nível dos aspectos visíveis (OBADIA; VIDAL; MELO, 2007, p. 127)
sendo que:
“Mudanças nas práticas representam a margem de liberdade para influenciar a cultura organizacional, ou seja, os pressupostos fundamentais podem ser modificados a partir da introdução de novas práticas de gestão. Quando uma organização introduz uma nova prática para solucionar um determinado problema, essa só pode alcançar o nível de valor, uma vez que ainda não existe uma percepção compartilhada de sua realidade. Entretanto, se a solução proposta funcionar durante certo período de tempo, implicando em um reflexo correto da realidade, os membros do grupo se inclinarão a aceitar os valores como crenças e pressupostos, saindo do nível consciente e tornando-se inconscientes e automáticos [...]." (op. cit., p. 128)
Nesse sentido, a formatação da organização burocrática também é
afetada pelo grau de qualificação e de especialização do seu staff indicando que sua
configuração também é “contingenciada” por ela mesma. Além das questões
políticas, há interesses burocráticos (“técnicos”) que retardam ou impedem
alterações na estruturas organizacionais de governos (CHILD, 1973 apud
DONALDSON, 1999).
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Para Rocha-Pinto e Muniz (2010) mudar é um processo complexo,
limitado pelas atuais ideias de gerenciamento da mudança. Segundo Grey (2004), o
que melhor define a noção de gerenciamento da mudança são os esforços
empreendidos na gestão das respostas organizacionais (pró-ativas ou reativas) às
grandes mudanças na economia ou na tecnologia. O autor refuta a ideia clássica de
que ela dar-se-ia em três etapas 1 : descongelamento (sair da situação atual),
movimento (estar a caminho do objetivo desejado) e re-congelamento (quando se
chega à situação desejada).
Ao apontar alguns mitos relacionados à resistência das pessoas à
mudança como principal barreira ao sucesso da implantação, Hernandez e Caldas
(2001) construíram um modelo de Resistência Individual à Mudança para rebater
uma visão (equivocada e cristalizada) de que determinados ações (resistências) são
inevitáveis nos processos de mudanças. Dependem da forma de como são
compreendidas e quais sentimentos provocam (PENENGO, 1997). Portanto, a
resposta é amparada naquilo que é percebido - que nem sempre é aquilo que o é de
fato -, ou seja, está sujeita aos sentimentos e significados que os indivíduos
atribuem ao processo de mudança (HERNANDEZ; CALDAS, 2001).
Sendo assim, o entendimento da complexidade do ser humano (emoções
e sentimentos conscientes e inconscientes) é relevante para entender os aspectos
emocionais e relacionais da mudança organizacional. A re(construção) da identidade
organizacional (fruto de interpretações e interações entre o inconsciente dos
indivíduos e os processos organizacionais, circunscrita à estrutura de poder vigente)
podem gerar diferenciados mecanismos de defesa contra a ansiedade (repressão,
regressão, projeção, reação e negação) gerada pelas incertezas do processo de
mudança (SILVA; VERGARA, 2003).
Dado que a mudança mobiliza as emoções dos indivíduos, o mais
importante é como os indivíduos enxergam e respondem aos estímulos de
mudanças apresentados - de como é possível ocorrer uma ruptura mental entre a
realidade percebida e a situação-problema que resultará da reflexão (fruto de uma
desordem mental) e em um novo modo de pensar e enxergar sua realidade
1 Cf. modelo de Lewin (1951). In: LEWIN, K. Field Theory in Social Science, Harper Row,. London,
1951.
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(SCHREYÖGG, 2002) - e, no limite, ansiar pela mudança. Portanto, para atuar sobre
a complexidade inerente à mudança deve-se atentar para a estrutura informal
existente entre os membros da organização (ROCHA-PINTO; MUNIZ, 2010).
A mudança, ao implicar na adoção de uma nova forma de gestão, não
deve (pode) ser realizada de forma abrupta, pois pressupõe novas relações de
poder e de saber (SROUR, 1994). Os atores envolvidos serão confrontados com
novos modelos mentais, novas relações de poder e novas relações de saber que
serão frutos de uma construção social gradual, que requer adaptação e coesão por
parte daqueles (SROUR, 1994; WOOD JR.; CALDAS, 1998).
Selznick2 (apud MARIZ, 2007) destaca o papel do líder para harmonizar
as disputas internas e as pressões do ambiente para que o (novo) caráter
organizacional seja decorrente de um comportamento adaptável. Como aponta
Damanpour3 (apud NEIVA; PAZ, 2007), as atitudes dos gerentes frente à mudança
determinam a participação dos empregados e o sucesso da implantação do
programa de mudanças, ressaltando a importância do processo cognitivo, visto que
"[..] o diálogo no processo de mudança organizacional é essencial para o bom
desenvolvimento do processo de mudança" (ROCHA-PINTO; MUNIZ, 2010, p. 5).
Portanto, cabe ao gerente atuar como facilitador ou sensibilizador do
processo de mudança por meio da promoção de uma cultura de vínculo institucional,
do desenvolvendo de valores de compromisso e colaboração e do incentivo à
capacidade criativa e inovadora dos empregados, ou seja, refutar os paradigmas
tradicionais do processo de mudança (PENENGO, 1997). Mas, isso também diz
respeito ao arranjo estrutural, na medida em que ele deve prover espaços de
negociação e mediação de conflitos. Ao disponibilizar mecanismos que permitam
resolver os possíveis conflitos, ele é capaz de liderar e não simplesmente chefiar
uma equipe baseado na autoridade do cargo ou na própria especialização técnica da
pessoa (MOTTA, 1970). No arranjo burocrático weberiano isso é mais patente –
inclusive nas organizações públicas.
2 SELZNICK, P. Leadership in administration. New York: Harper and Row. 1957.
3 DAMANPOUR, F. (1991). Organizational innovation: a metaanalysis of effects of determinants and
moderators. Academy of Management Journal, 34(3), 555-590.
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Como ressaltado em Bertero (2001), a visão mecanicista (top-down)
renega a importância da visão e conhecimento que existe na base das organizações
(executores das ações e tarefas), pois somente a chefia possui capacidade (visão)
para enxergar mudanças necessárias, relegando aos demais a tarefa de apenas
executar a estratégia construído pela alta hierarquia. O processo decisório, por mais
autoritário e centralizador que possa parecer, deve ser desempenhado amparado na
busca de limitar, inibir e diminuir os conflitos internos. Os valores, as qualificações e
as competências dos gestores e técnicos serão as mais variados, em cada nível da
organização. Porém, eles devem ser elencados e compartilhados para construção
de uma sinergia organizacional ao invés de uma simples concepção de comando e
controle tradicional.
Grey (2004), ao criticar a visão de que as organizações precisam estar
sempre se adaptando às mudanças, também utiliza a metáfora mecanicista para
ressaltar uma possível onipotência gerencial e de que a gestão da cultura ocorre de
cima para baixo. Para contornar os fracassos dos processos de mudança, a retórica
dos defensores valem-se das seguintes explicações: implementação imperfeita e
resistência à mudança. Na primeira, os atores não adotam todas as práticas das
receitas prescritas e, na segunda, eles adotam comportamentos (negação, defesa,
descarte, adaptação e não interiorização das práticas) que poderiam ser remediadas
por lideres fortes ao promoverem uma efetiva comunicação e participação.
Desse modo, o fracasso seria explicado porque a resistência decorre do
processo natural de as pessoas calcularem os possíveis ganhos e prejuízos que a
mudança lhe causará, dado que as pessoas tendem a reproduzir as estruturas de
poder e controle existentes na organização. Logo, repelindo mudanças que afetem
tal arranjo (GREY, 2004, p. 22). São exemplos típicos as reações dos tipos: "só pra
inglês ver" (adoção parcial sem alterar o status quo) e "frustração e negação"
(estruturas de poder e condições operacionais não aconselhavam a mudança).
Exemplos disso, são as reações apresentadas por empresas brasileiras frente à
importação de tecnologias gerenciais (WOOD JR.; CALDAS, 1998).
O fato é que, nos últimos anos, também na administração pública verifica-
se uma pressão (tendência) por mudanças no seu aparato organizacional através da
adoção de novas técnicas e ferramentas de gestão que produzem(riam) maior
eficiência e agilidade na implementação das políticas públicas assim como na
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melhoria dos resultados alcançados. Contudo, para Chaves e Marques (2006), as
especificidades da máquina administrativa estatal - em especial, a lentidão das
decisões e estabilidade ocupacional - atuam para a manutenção do status quo
desse tipo de organização.
IMPLEMENTAÇÃO PROGRAMADA E ADAPTATIVA
Gohr e Santos (2011, p. 1677) citam que a mudança estratégica pode
ocorrer (ou não) de forma planejada. Quando intencional, as organizações podem
gerenciá-la formalmente através de um processo de planejamento deliberado e
dedutivo. Quando emergente, a gestão da mudança pode ser feita informalmente
pelas organizações, pois as alterações na estratégia serão fruto de um processo
contínuo de adaptação (devido às pressões do ambiente incerto).
Além disso, podem ser incremental ou radical. Na primeira, as
transformações ocorrem gradualmente em aspectos específicos e em pequenos
passos durante longos períodos permitindo que as empresas aprendam por meio de
suas ações iniciais. Já na segunda, uma diversidade de variáveis mudam
concomitantemente gerando transformações profundas nas estruturas da
instituições, principalmente, nas relações de poder e nos processos decisórios.
Não obstante, há uma distinção típica na literatura entre a implementação
programada e a implementação adaptativa 4 . Berman (1978) discute as
circunstâncias que podem levar à escolha de cada uma, ou a uma mistura de ambas
as estratégias, sendo que cada qual tem uma finalidade.
Os adeptos da implementação programada são aqueles que acreditam
que os problemas de execução de um programa político podem ser minimizados,
senão eliminados, pela cuidadosa e explícita pré-programação dos procedimentos
de implementação. A ênfase está no planejamento. Portanto, as especificações no
desenho do programa devem reunir, preliminarmente, clareza, precisão e alta
compreensividade da política. A decisão política, uma vez tomada, deve ser
fielmente seguida.
4A implementação programada e a implementação adaptativa são modelos ideais, polares ou
antagônicos. Programas políticos são usualmente uma mistura de ambas, ainda que com prevalência de uma delas. Na literatura esses modelos são discutidos também como estratégias top-down e bottom-up.
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Por essa linha de raciocínio argumenta-se que eventuais ambiguidades
no desenho deixam os implementadores desnorteados. Por isso devem ser
formulados objetivos específicos, detalhados e presumivelmente consistentes. A
ambiguidade poderia se originar também de ter muitos atores com poder de decisão.
Assim, é necessário estabelecer uma autoridade final, centralizada, que determina o
que e como fazer. Já a potencial resistência à implementação se derivaria da má
operacionalização das ações e do programa. Para evitar ou superar a resistência as
opções são restringir a liberdade dos executores, estabelecendo o que devem fazer;
monitorar o comportamento dos implementadores para que saibam que estão sendo
fiscalizados; e usar de incentivos extrínsecos.
Nesse cenário, a mudança organizacional ocorre de acordo com as
diretrizes expressamente derivadas da chefia, de forma pré-especificada. A relação
entre a decisão política e o produto da mudança deve comprovar que a execução foi
realizada conforme foi concebida. Se os resultados forem abaixo das expectativas, a
avaliação poderá ser usada de duas maneiras. Primeiro, se verificar que os
executores se desviaram do programado, então eles poderiam ser responsabilizados
e sanções (ou talvez mudanças na alocação de recursos e incentivos) seriam
empregadas. Segundo, se os executores aderiram à orientação e os objetivos não
foram alcançados, então as recomendações podem ser modificadas
incrementalmente. Incrementalmente, não de forma profunda. A implementação
programada assume que a base da decisão política está essencialmente correta. Se
evidências avaliativas demonstram o contrário, então a política será julgada falha.
Descartada, em vez de revista.
A implementação adaptativa é, no modelo ideal, o contraponto da
anterior. Ela é mais pessimista em relação ao planejamento e o concebe passível de
cometer falhas e confundir incentivos e respostas esperadas. Para seus adeptos os
problemas de implementação surgem da especificação exagerada e rigidez de
metas, do erro de não considerar atores relevantes no processo decisório e pelo
excesso de controle. A ênfase está na execução, em acompanhar os processos que
permitiriam modificações na política, adaptando-a dadas as interações da política
com a estrutura na qual ela atua.
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Destarte, opta-se por regras que podem ser revistas. Por conceder
arbítrio aos executores do programa - para potencializar o learning-by-doing. Por
aumentar a participação dos grupos envolvidos - para trazerem mais pontos de vista
e enriquecerem o processo.
Na implementação adaptativa os resultados da mudança organizacional
não são automáticos ou assegurados e a realidade parece-se mais com um
processo desordenado de aprendizado do que com um processo previsível. É
antecipado que o plano original vai sofrer mutações, quando posto em prática,
porque ajustes serão causados por condições idiossincráticas de cada local e como
desdobramentos do learning-by-doing.
Consequentemente, a mudança organizacional considerará a informação
disponível para que os ajustes locais e o aprendizado tomem lugar. Os dados
recolhidos e encaminhados aos tomadores de decisão serão sobre processos
adaptativos e resultados. Se a adaptação não se provar produtiva, haverá ajustes
para que possa evoluir. Nesse contexto a formulação não é moldada em concreto,
rígida, indiferente às circunstâncias. A implementação adaptativa é, pelo contrário,
um meio de procurar especificidade. A execução conclui a formulação, criando ciclos
de formulação e implementação.
Assim sendo, a mudança organizacional, conforme os traços de
implementação programada ou adaptativa, pode tomar caminhos bastante distintos.
Excelentes desenhos de estruturas organizacionais, sem a devida execução, podem
não ser satisfatórios. Excelentes execuções, mas de projetos mal elaborados,
também não trazem os benefícios desejados. As especificidades de cada caso ditam
a combinação a ser escolhida entre implementação programada e adaptativa.
A mudança organizacional no setor público pode combinar ambas as
estratégias, com predominância de uma ou outra, em função da a autonomia que os
técnicos e as equipes gerenciais possuem nos seus órgãos de atuação.
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MUDANÇA NO SETOR PÚBLICO
Assim como no setor privado, as organizações públicas precisam mudar
para tornarem-se mais eficientes e oferecer maior qualidade e mais serviços aos
clientes (cidadãos) deixando para trás o apego às regras e rotinas e a
supervalorização da hierarquia, ou seja, as características burocráticas (ROCHA-
PINTO; MUNIZ, 2010). Prova disso é que:
"Contribuintes e fontes de recursos estão insistindo que tanto o governo quanto as organizações não lucrativas podem fazer mais com menos. A resposta recomendável para essas pressões é organizar para haver mudança contínua, para se tornar uma organização flexível que possa se adaptar rapidamente às mudanças do ambiente. (...) A mudança, então, se tornará parte intrínseca do funcionamento organizacional.
5"
Em decorrência disso, para tornar o setor público menos burocrático e
mais ágil para responder às demandas do ambiente, busca-se: a inovação, a
redefinição de processos organizacionais, a busca por maior eficiência e a
reformulação de valores e da cultura organizacional (op. cit., p. 2).
No entanto, de uma forma geral, para Penengo (1997) havia (pode ser
que ainda exista) um cultura gerencial calcada no modelo gerencial tradicional. Para
o autor "predominam as estruturas piramidais, o clientelismo, traços autoritários, a
rigidez, a falta de estímulo à inovação, políticas de pessoal obsoletas, visões
antiquadas do trabalho do gerente e a burocratização."(op. cit., p. 80).
Apesar de recorrente na historia brasileira, constata-se que reformas
baseadas apenas na fusão, extinção e criação de órgãos não são suficientes para
imprimir maior dinamicidade e eficiência do aparato governamental. Deve-se evitar a
centralização e a superposição de órgãos e funções (BRASIL, 1995).
Adotando uma visão mecanicista, as organizações brasileiras focaram
sua atenção para a mudança estrutural e para os mecanismos e procedimentos
administrativos (WOOD, 1992) como se fossem máquinas e que de forma controlada
pudessem ser levadas do estágio atual a outro qualquer planejado (OBADIA; VIDAL;
MELO, 2007). Para Souza 6 (apud Chaves; Marques, 2006), os comportamentos
5 Cf. ZORN, T. E.; PAGE, D. J.; CHENEY, G. Nuts about Change: Multiple Perspectives on Change-
Oriented Communication in a Public Sector Organization. ManagementCommunication Quarterly. v. 13, n. 4, 2000. p. 516. 6 SOUZA, Wertson Brasil de. Interesse Público e resistência à mudança: Estudo de casos em uma
Secretaria de Estado. 1994. 211p. Dissertação (Mestrado) - Centro de Pesquisa e Estudos em
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humanos são ignorados no planejamento das mudanças e, mais uma vez, há uma
ingênua fé no poder dos documentos formais. Aliado a isso, tem-se a
descontinuidade administrativa verificada em muitas trocas de governo.
Entretanto, isso não significa que alterações na estrutura organizacional
não possam ser promovidas. A velocidade e a complexidade com que o mundo
contemporâneo muda, implicando em novas e variadas demandas sociais (somadas
àqueles ainda não atendidas) exige, por parte dos governos, a adoção de novos
arranjos e mecanismos institucionais que sejam capazes de responder aos desafios
impostos de maneira eficaz e efetiva. Apesar de um primeiro sinal de mudança ser a
alteração nos organogramas dos governos, a efetividade da mudança perpassa por
outras variáveis e, principalmente, pela mudança de comportamento.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
A coleta de dados deste trabalho envolveu análise da legislação,
documental, de artigos e demais materiais técnicos disponíveis, além de entrevistas
semi-estruturadas com três remanescentes do processo de mudança. Os
procedimentos utilizados seguiram a metodologia do trabalho de Neiva e Paz (2005).
Nas entrevistas, foram observados os seguintes aspectos gerais:
Visão geral da situação em que se encontrava a organização antes da
mudança;
Características organizacionais atuais;
Objetivos do programa de mudança e razões de sua elaboração;
Expectativas dos gerentes com o programa de mudança;
Atividades realizadas pelo programa de mudança.
O PROGRAMA ESTADO PARA RESULTADOS E O ESCRITÓRIO DE PRIORIDADES ESTRATÉGICAS
O Programa Estado para Resultados (EPR)
Administração, Faculdade de Ciências Econômicas, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 1994.
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Programa criado pela Lei Delegada 112/2007 com a atribuição de
fomentar a gestão estratégica no Governo, bem como efetivar uma gestão por
resultados no Estado. O Programa tinha um Coordenador Executivo, contudo
recebia suporte da Secretaria de Estado de Planejamento, Gestão e Finanças. Seu
quadro de pessoal era composto por funcionários de recrutamento amplo e restrito.
Quando da implementação do Programa, foi criado o cargo de Empreendedor
Público, pela Lei delegada nº 174, de 26 de janeiro de 2007. Havia possibilidade de
nomeação de 90 Empreendedores Públicos, em duas categorias.
Os objetivos do programa, definidos na Lei Delegada, eram:
I - viabilizar a ação coordenada do Estado nas Áreas de Resultado definidas no
Plano Mineiro de Desenvolvimento Integrado - PMDI;
II - alinhar as ações estratégicas de governo, de forma a proporcionar a atuação
articulada dos órgãos e das entidades encarregados da gestão de Projetos
Estruturadores e Projetos Associados;
III - incentivar o alcance dos objetivos e metas das Áreas de Resultado, Projetos
Estruturadores e Projetos Associados;
IV - acompanhar e avaliar os resultados das políticas públicas implementadas pela
Administração Pública do Poder Executivo estadual; e
V - oferecer conhecimento público das metas e resultados relacionados à gestão
estratégica do governo, de forma a contribuir para o seu controle social.
Sua estrutura, estabelecida em lei, foi composta de três unidades com
funções específicas, conforme se segue:
Unidade de Gestão Estratégica – responsável pela realização de reuniões de
acompanhamento da estratégia do Governo, presididas pelo Vice-Governador,
intituladas Comitês de Resultados;
Unidade de Indicadores – responsável pela montagem do sistema de monitoramento
e avaliação do governo, acompanhando um conjunto de indicadores, pesquisas e
avaliações que refletem o desenvolvimento do Estado e de suas políticas públicas;
Unidade de Empreendedores – responsável por um sistema que inova na seleção,
alocação, acompanhamento e avaliação de cargos em comissão – empreendedores
públicos – que tem por objetivo apoiar as ações estratégicas do Governo.
O Programa Estado para Resultados extinguiu-se em 31 de janeiro de
2011.
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O Escritório de Prioridades Estratégicas
O Escritório de Prioridades Estratégicas, criado pela Lei Delegada
181/2011, com status de Secretaria de Estado, é um órgão autônomo, ligado
diretamente ao Governador com a finalidade de contribuir para a definição e a
execução das prioridades estratégicas do Governo, assumindo papel colaborador
junto aos órgãos e entidades da Administração Pública do Poder Executivo.
São objetivos do Escritório:
Estimular a definição das prioridades estratégicas nas áreas prioritárias
estabelecidas pelo Governador: Educação, Saúde, Defesa Social e
Trabalho/ Emprego;
Participar efetivamente da realização dos resultados das prioridades
estratégicas definidas pelo Governador de Minas Gerais e pactuadas
com as unidades setoriais;
Participar da implementação da Gestão para a Cidadania,
principalmente na coordenação do Projeto Movimento Minas;
Promover a utilização das informações qualificadas para a tomada de
decisão no Governo;
Acompanhar intensivamente os projetos do Governador.
Suas competências legais:
I - assessorar, quando por ele solicitado, o Governador e os órgãos e
entidades responsáveis pela execução das ações ligadas às prioridades
estratégicas na tomada de decisões, por meio da consolidação de
informações, da elaboração de estudos técnicos e análises conjunturais,
setoriais e regionais relevantes para o desenvolvimento econômico e
social do Estado;
II - apoiar, articular e alinhar as ações do Governo para a consecução das
prioridades estratégicas definidas no Plano Mineiro de Desenvolvimento
Integrado (PMDI), em cooperação com as unidades setoriais, sob a
orientação do Governador;
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III - viabilizar a ação coordenada entre os órgãos e entidades
governamentais para as entregas prioritárias do Governo e sua
divulgação, em articulação com a Subsecretaria de Comunicação Social,
com o objetivo de contribuir para a consolidação e a ampliação da
transparência da ação governamental, sob a orientação do Governador;
IV - coordenar o sistema estadual de monitoramento e avaliação de
políticas públicas e de programas, instituído por ato do Governador,
garantindo o rigor técnico, a objetividade e a utilização dos resultados das
avaliações realizadas para esse fim;
V - induzir a produção de informações regionalizadas, zelar pela
qualidade das bases de dados produzidas pelos órgãos e entidades
públicas do Estado e difundir metodologias de avaliação, visando ao
fortalecimento do sistema estadual de monitoramento e avaliação de
políticas públicas;
VI - apurar e acompanhar, em articulação com os órgãos e entidades
governamentais, indicadores relevantes para o monitoramento das
políticas públicas estaduais e contribuir para a divulgação de seus
resultados;
VII - promover o compartilhamento e as interfaces dos sistemas de
informação e das bases de dados georreferenciadas, a fim de subsidiar a
formulação, a implementação e a avaliação das políticas públicas;
VIII - realizar a alocação e a gestão estratégica dos Empreendedores
Públicos com o objetivo de apoiar a consecução das prioridades
estratégicas de governo;
IX - cooperar para o alcance do desenvolvimento integrado, com o
objetivo de facilitar a transversalidade necessária à implementação de
políticas públicas prioritárias;
X - colaborar na implementação e consolidação de iniciativas de inovação
que gerem aumento da efetividade da ação pública governamental;
XI - exercer atividades correlatas.
A estrutura do Escritório é assim organizada: Núcleo de Avaliação,
Análise e Informação, que tem por finalidade subsidiar as decisões estratégicas
governamentais por meio da disponibilização de informações tempestivas, confiáveis
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e relevantes, bem como promover a aprendizagem organizacional; Núcleo de
Entregas e de Empreendedores Públicos, que tem por finalidade apoiar a
consecução das prioridades estratégicas e gerenciar a alocação dos
Empreendedores Públicos; Núcleo de Sistemas e Gestão, que tem por finalidade
criar e gerir soluções tecnológicas para facilitar a consolidação e disponibilização de
bases de dados.
Quanto aos Empreendedores Públicos, com o Escritório houve ampliação
do quantitativo de cargos para 120, divididos em cinco categorias, conforme
estabeleceu a Lei Delegada 182, de 21 de janeiro de 2011.
O Escritório de Prioridades Estratégicas assumiu as ações desenvolvidas
no âmbito do Programa Estado para Resultados e extinguir-se-á em 31 de março de
2015.
ENTREVISTAS REALIZADAS
Foram realizadas entrevistas com três dos dez remanescentes do
processo de transição de um órgão para o outro.
O primeiro entrevistado atribuiu as mudanças mais à troca do paradigma
do Governo (enfoque na cidadania, em vez de nos resultados) do que à troca nas
pessoas, apesar de apontar diferenças de perfil entre as chefias, em especial no seu
ritmo de trabalho.
Foram apontadas mudanças gradativas na política de Recursos Humanos
e na própria estrutura do órgão, além das naturais trocas nas pessoas que o
compõem.
Apesar de não visualizar mudanças na política de recrutamento, este
entrevistado apontou uma aparente elevação no quantitativo de profissionais com
cargos de recrutamento amplo, conforme esperado com a troca no comando.
A troca foi atribuída por ele a uma mudança natural de governo, da
mesma forma que previu processo semelhante na mudança de governo posterior,
em 2014. Não foi identificada por ele uma estratégia de transição para tais
momentos.
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Não foram apontadas mudanças no contexto externo, nas atribuições e
demandas do Escritório, assim como nas atividades pessoais do entrevistado.
Sobre a atuação dos Empreendedores Públicos, concordou com a
afirmação de que haveria uma aparente contradição no papel atribuído a eles na
estrutura burocrática de Governo, apesar de visualizar esse como o próprio fim de
sua atuação.
Já o segundo entrevistado atribuiu a mudança tanto ao aspecto da gestão
quanto ao contexto institucional. No aspecto da gestão, com o entendimento de que
as secretarias finalísticas também precisam ser apoiadas para alcançar os
resultados esperados e com a percepção, após várias discussões da cúpula, da
necessidade de se incorporar essa visão ao entendimento de que as secretarias
deveriam ser cobradas e controladas para alcançar resultados.
A gestão para resultados continuaria como objetivo e embasamento para
as decisões a serem tomadas, mas com uma nova postura, de apoio e colaboração
para o alcance dos resultados (estruturação das unidades de entrega por prioridades
no Escritório), ficando para a Secretaria de Planejamento e Gestão (SEPLAG) a
função de checagem e medição (monitoramento de indicadores antes feito pelo
EpR).
A legislação anterior previa o fim do Estado para Resultados em 2011,
mas a pressão para concluí-lo como planejado, além da expectativa de um novo
salto em inovação, como foi com o Escritório de Projetos (GERAES) em 2003 e com
o EpR em 2007, além do sucesso alcançado por este órgão, permitiu que fosse
idealizado um órgão autônomo, independente da SEPLAG - o EpR era vinculado à
Secretaria de Planejamento e Gestão – e portanto com maior força institucional.
Houve alteração completa na estrutura organizacional, na medida em que
se trata de órgão autônomo, com outras finalidades, e um organograma construído
do zero. Foi alterada a natureza dos cargos e atribuições, para atender aos objetivos
e competências traçados para cada órgão nas respectivas Leis Delegadas.
A opinião do entrevistado foi que o trabalho dos Empreendedores nas
Secretarias continua com as mesmas atribuições, conforme cada setor ou projeto no
qual trabalham. Grande parte das demandas continuou, na medida em que o órgão
permanece como ponto de origem dos Empreendedores Públicos, é referência para
informações de ordem quantitativa, visto que herdou o pessoal do EpR que
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trabalhava com indicadores, e avaliação, por terem participado ou conduzido as
avaliações de impacto e executivas no tempo do EpR.
Mas também surgiram novas demandas, na medida em que os próprios
setores internos se diferenciavam das estruturas anteriores; o Núcleo de Entregas,
por exemplo, teria papel diferente do que o EpR fazia. Neste ponto, o trabalho não
se restringiria mais à elaboração de relatórios e pesquisas, mas à confecção destes,
com recomendações de adaptações e suporte para a realização das alterações que
fossem aprovadas e implantadas.
Uma grande inovação seria o Movimento Minas, projeto estratégico
dentro do Escritório, que tem agenda própria, com equipe específica e produtos a
desenvolver pactuados no Acordo de Resultados.
Outro exemplo de inovação seria o Núcleo de Sistemas e Gestão, que
desenvolve ferramentas e bancos de dados utilizando as informações
disponibilizadas pela equipe do Núcleo de Avaliação, balizadas pelo conhecimento
nesta área de quem veio do EpR, como o Mapa de Resultados. Desse modo,
internamente os atores com que o órgão tem de se relacionar são basicamente os
mesmos.
Externamente, houve uma mudança de acordo com as demandas de
cada um dos projetos, que são específicos por prioridade ou Secretaria. O Instituto
de Tecnologia de Massachusetts (MIT) nos EUA, por exemplo, é parceiro para a
área de emprego, na construção do Product Space de MG. A Consultoria McKinsey
& Company é parceira na expansão do Programa de Intervenção Pedagógica para
os municípios mineiros. A empresa que administra o QlikView, software utilizado na
gestão de contratos da Secretaria de Defesa Social e no Mapa de Resultados, é
parceira nessas iniciativas.
Outras mudanças nas equipes se derivam do fato de o Escritório ser bem
maior que o EpR. O número de Empreendedores Públicos, por exemplo, saiu de 90
para 120. No Escritório trabalham cerca de 60-70 pessoas, enquanto no EpR o
máximo deve ter sido de em torno de 40 pessoas.
O Recrutamento de Empreendedores passa pelo mesmo processo e o de
servidos efetivos e em comissão é igual ao de outras secretarias, sem nenhuma
carreira específica e exclusiva do EpR ou do Escritório.
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Sobre as atividades desenvolvidas, o Escritório atua menos focado em
monitoramento e avaliação, que era diferencial do EpR, e mais em realização junto
das Secretarias parceiras, principalmente nas Secretarias de Educação, Defesa
Social, Emprego, Desenvolvimento Econômico e Saúde, de acordo com as
prioridades definidas pelas chefias das pastas e do Escritório e com a anuência
direta do Governador.
Não houve alteração na estrutura de incentivos e recompensas, de modo
que o Prêmio de produtividade e o reconhecimento pelo trabalho continuam sendo
os grandes diferenciais, além do prestígio de trabalhar em unidade considerada um
núcleo estratégico de inteligência, o que atraiu profissionais qualificados para as
duas instituições (EpR e Escritório).
A estrutura de autonomia e responsabilidades foi alterada, levando em
conta que no Escritório há maior autonomia do ponto de vista legal e pelo respaldo
diário; as equipes têm certa liberdade para elencar quais são as intervenções mais
estratégicas e prioritárias, com maior potencial de impacto e urgência.
O Escritório, assim como o EpR, tem seu funcionamento validado pelo
Governador. No entanto, diferentemente do EpR, foca em algumas áreas, não em
todas. O EpR trabalhava indicadores e informações, como para os Comitês de
Resultados, para todas as áreas de resultado. O Escritório, com equipe maior, foca
em algumas áreas, nas quais objetiva causar mais significativos e perceptíveis
resultados.
Dentre os aspectos negativos da mudança, apontou-se que ainda não foi
realizada de forma sistematizada a transferência das responsabilidades do Estado
para Resultados para a SEPLAG, como o monitoramento dos indicadores e a
avaliação dos principais projetos do governo como forma de levantar as
oportunidades de melhorias.
Além disso, levando em conta que a iniciativa de buscar construir uma
unidade de entrega com o Escritório é bastante ousada e não há um mapa a seguir;
por muito tempo houve a percepção de que não se sabia o que/porque/como se
estava fazendo a diferença.
Já os aspectos positivos da mudança seriam que ambos os pontos
negativos estão sendo superados, apesar de esperar-se que já estivessem
consolidados no meio da atual gestão.
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Com a ascensão de nova chefia foi estabelecida uma agenda de
aproximação com a SEPLAG, que tornou o trabalho de colaboração mais ef icaz:
colabora-se com as secretarias de ponta, porém acompanhando a cobrança feita
pelo órgão central, e transferem-se tecnologias (como a de seleção de
Empreendedores, que ajudou a modificar a seleção dos estagiários do Curso
Superior de Administração Pública nas secretarias).
Foi e seria bastante custosa a tarefa de descobrir o caminho de ação do
Escritório, já que não há referências anteriores no estado, mas a sensação deste
entrevistado é que foi descoberto um caminho e se está de fato trabalhando com
políticas estratégicas, que devem ser tratadas como prioridades.
Trabalhar com prioridades no governo lhe parece fundamental e a
atuação do Escritório ajuda a definir com mais clareza o que (e porque) precisa ser
feito primeiro nas áreas em que seus servidores atuam.
Em um cenário no qual há competição por recursos e por espaços o seu
trabalho tem sido o de buscar respaldo técnico e político para ajudar a fazer
escolhas e a implantar as recomendações derivadas das análises feitas junto das
equipes apoiadas7.
O terceiro e último entrevistado afirmou que a mudança decorreu do
novo arranjo institucional gestado no último ano de governo da gestão anterior.
Segundo ele, o Escritório foi projetado como uma estrutura temporária para
subsidiar a nova equipe de governo, mas devido à força e autonomia adquiridas
em relação à SEPLAG, passou a representar a possibilidade de uma nova
oxigenação para o setor.
A transição no órgão marcaria uma mudança do enfoque nos processos
(EPR) para um enfoque nos resultados efetivos (Escritório), substituindo a visão de
controle por uma postura de assessoria e consultoria aos órgãos e secretarias. A
proposta seria de repassar os antigos processos de controle em andamento para a
SEPLAG.
7 Exemplo de construção do Product Space de Minas Gerais e da expansão do Programa de Intervenções Pedagógicas para os municípios de Minas Gerais.
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Além dos trabalhos e tarefas desenvolvidos, um novo componente na
atuação do Escritório seria a necessidade de articulação com a sociedade civil
organizada. Haveria demandas novas, em especial das novas lideranças, e mesmo
nos processos “antigos”’ a visão de atuação e cobrança seria diferenciada.
Neste novo momento, a sociedade civil seria inserida no rol dos principais
atores com os quais o órgão tem de se relacionar, assim como secretarias, órgãos,
academia, dentre outros.
Segundo este entrevistado, a transição trouxe bastante alteração na
equipe, porém, de maneira balanceada entre as categorias de recrutamento amplo e
restrito, sendo que a forma de recrutamento em si teria sido pouco modificada, com
mudanças incrementais, especialmente sobre a alocação dos quadros de
Empreendedores Públicos fora do Escritório. A rotatividade seria alta devido à
natureza dos projetos.
A estrutura de incentivos e recompensas seria basicamente a mesma,
mas com o aumento da estrutura do órgão passou a haver uma maior cobrança e
um controle mais rígido por parte dos superiores, resultando em uma menor
autonomia de trabalho. Entretanto, o entrevistado considera que os
Empreendedores possuem relativamente maior autonomia.
Dentre os aspectos positivos da mudança, o entrevistado destaca que
seria gratificante e desafiador para os servidores obter o apoio e o reconhecimento
da alta gestão do governo, além do fato de lidar com algo "novo".
Ao mesmo tempo, aponta que representa um desafio a dificuldade de
mudar a cultura da administração 'tradicional', o que seria às vezes mais difícil do
que lidar com os anseios e a velocidade de resposta pedida pela sociedade.
Por fim, o terceiro entrevistado alega que o governo não teria mais tanto
tempo para lidar com a questão administrativa do Estado, e que por mais que haja
apoio, antes haveria maior força (“enforcement”) quando ele mesmo acompanhava
os projetos “inovadores” da administração.
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CONCLUSÕES
O processo de mudança estudado demonstrou ser predominantemente
adaptativo, na medida em que foram identificadas algumas reorientações sobre a
proposta original de mudança que foi planejada, que podem ser atribuídas ao
processo de transição de uma estrutura para a outra, ao processo de aprendizagem
decorrente da experimentação da própria mudança e da relativa autonomia dada
aos executores para discutir os rumos e as estratégias a serem adotadas pelo
Escritório de Prioridades Estratégicas.
Os argumentos devem ser ponderados pelo fato de ambas as estruturas
terem sido criadas com períodos delimitados de atuação, condicionadas ao período
de um mandato governamental, o que requisita maior agilidade nos processos de
transição, a fim de que as entidades possam alcançar os objetivos definidos para
elas dentro do ciclo restrito de vida que possuem. A mudança organizacional,
portanto, pela impossibilidade de coexistência das duas estruturas, o Programa
Estado para Resultados e Escritório de Prioridades Estratégicas, foi um imperativo,
uma necessidade, dada a decisão pela substituição do primeiro pelo segundo.
E a mudança foi significativa, conforme as respostas às entrevistas
realizadas e o estudo da legislação regulatória de cada uma das organizações, que
demonstraram que a mudança organizacional ocorreu não apenas no âmbito
estrutural, como também na política de gestão do órgão, em decorrência de
alterações nas chefias das equipes e principalmente de um novo contexto
institucional, impulsionado pela mudança na estratégia de atuação do Governo.
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AUTORIA
Paula Braga Batista – Instituto Mineiro de Agropecuária / Governo de Minas Gerais. Endereço eletrônico: [email protected] Diego Otávio Portilho Jardim – Secretaria de Estado de Esportes e da Juventude / Governo de Minas Gerais. Endereço eletrônico: [email protected] Felipe Michel Santos Araújo Braga – Escritório de Prioridades Estratégicas / Governo de Minas Gerais. Endereço eletrônico: [email protected] Welson Kleiton Antônio de Souza – Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão / Governo de Minas Gerais. Endereço eletrônico: [email protected]