mudanças climáticas e ambientais
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Mudanças climáticas e ambientais:Contextos educacionais e históricos
Presidente da República
Dilma Vana Rousseff
Ministro da Educação
Aloizio Mercadante
Secretaria de Educação Profissional Tecnológica
Marcelo Machado Feres
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande
do Norte (IFRN)
Reitor
Belchior de Oliveira Rocha
Diretor do Campos Central de Parnamirim
Ismael Felix Coutinho Neto
Pró-Reitor de Pesquisa e Inovação
José Yvan Pereira Leite
Coordenador da Editora do IFRN
Samir Cristino de Souza
Conselho Editorial
André Luiz Calado de Araújo
Dante Henrique Moura
Jerônimo Pereira dos Santos
José Yvan Pereira Leite
Samir Cristino de Souza
Valdenildo Pedro da Silva
CARLOS MAGNO LIMA F. E SILVA
Mudanças climáticas e ambientais:Contextos educacionais e históricos
Editora do IFRNNatal2015
Mudanças climáticas e ambientais: Contextos educacionais e históricos
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Ficha catalográfica
(Ficha elaborada pela Seção de Processamento Técnico da Biblioteca Nísia
Floresta Brasileira Augusta do IFRN Campus Parnamirim)
SI586m Silva, Carlos Magno Lima Fernandes e.
Mudanças climáticas e ambientais: contextos educacionais
e históricos/. Carlos Magno Lima Fernandes e Silva. — Na-
tal:IFRN, 2015.
329p.:il.
ISBN: 978-85-8333-150-6
1. Educação ambiental. 2. Meio ambiente — Mudanças
climáticas. 3. Sustentabilidade. I. Título.
CDU 502:37
Genival Teixeira Vasconcelos Filho
Revisão linguística
Reben Rudson Mendes Gomes
Diagramação e Capa
Este livro é dedicado as três rosas do meu jardim:
Roseane, Júlia e Cecília
Agradecimentos
— A Reben Gomes por formatar o livro e me ensinar a
operar no programa Latex.
— Ao orientador do doutorado, Francisco Alexandre, pela
ideia de escrevê-lo.
— Ao professor Gilvan Borba por suas sugestões de es-
tudo.
— Ao professor Carlos Chesmann pelo convite para fazer
o doutorado.
— Ao Departamento de Física da UFRN, em especial a
todos professores e funcionários do Programa de Pós-
Graduação em Ciências Climáticas.
— Ao revisor em anonimato pelos apontamentos de corre-
ção.
— À vida por me dar a oportunidade de chegar a concluir
este trabalho a um bom termo.
Prefácio
“Dada a crise generalizada que vivemos atualmente, toda
e qualquer educação deve incluir o cuidado para com tudo
o que existe e vive. Sem o cuidado, não garantiremos uma
sustentabilidade que permita o planeta manter sua vitali-
dade, os ecossistemas, seu equilíbrio e a nossa civilização,
seu futuro. Somos educados para o pensamento crítico e
criativo, visando uma profissão e um bom nível de vida, mas
nos olvidamos de educar para a responsabilidade e o cuidado
para com o futuro comum da Terra e da Humanidade. Uma
educação que não incluir o cuidado se mostra alienada e até
irresponsável.”
O trecho acima, extraído de um dos inúmeros artigos
do teólogo Leonardo Boff, evidencia a importante interface
que deve haver entre educação e sustentabilidade, temática
muito instigante na atualidade e que me tem inquietado
como educador e dirigente de uma instituição de educação
profissional e tecnológica.
Em face disso, foi com muita satisfação que recebi o con-
vite do Prof. Carlos Magno Lima Fernandes e Silva para
prefaciar este seu livro, que trata justamente da educação
como elemento indispensável para mitigar as causas e os efei-
tos das mudanças climáticas e ambientais que vivenciamos
em nossos dias: desmatamento, elevação das temperaturas,
geração de resíduos sem tratamento adequado, poluição dos
mananciais, escassez de água potável etc.
Obra didática, cuidadosamente produzida como fruto de
diversos anos de estudo e experiência do autor, que é profes-
sor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia
do Rio Grande do Norte – onde atuou inicialmente no Cam-
pus Ipanguaçu, uma de suas unidades agrícolas que vem
sustentando alguns aspectos desse debate em seus cursos
técnicos e superiores na área de agroecologia e meio am-
biente – o trabalho aqui apresentado tem como finalidade
principal despertar a consciência para a sustentabilidade
como uma das metas da educação.
Para o autor, esse deve ser o trabalho da educação, promo-
ver o convencimento das pessoas para ter atitudes socioam-
bientais, o que, segundo ele, passa por mudanças no estilo
de vida e tomada de decisões com características solidárias.
Para tanto, ao longo do livro, são discutidas as intervenções
antrópicas no meio ambiente, os diversos movimentos am-
bientalistas emergentes, passando pela análise do modelo
desenvolvimentista e sua relação com as florestas, a crise
da água, entre outros aspectos relevantes. Nesse contexto,
este livro constitui, pois, importante material para subsidiar
educadores e educandos no desenvolvimento de sua consci-
ência para responder aos desafios dos nossos tempos. Não
se trata somente de obter uma sólida base de conhecimen-
tos, desenvolver a capacidade de análise, reflexão e criação
e dominar as novas e diferentes tecnologias. É necessário,
além disso, estar atento ao apelo para uma formação que
conduza ao exercício da cidadania e ao trabalho em prol do
bem comum e da Terra.
Belchior de Oliveira RochaReitor do IFRN
Sumário
INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
1 A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DAS MUDAN-ÇAS CLIMÁTICAS E AMBIENTAIS . . . . . . 5
2 A IMPORTÂNCIA DO PASSADO AMBIENTAL 29
3 O MOVIMENTO AMBIENTALISTA E O IPCC . 65
4 O QUINTO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DOIPCC . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107
5 CONTEXTO HISTÓRICO DO DESENVOLVI-MENTO SUSTENTÁVEL E SUSTENTABILIDADE 145
6 DESENVOLVIMENTISMO E FLORESTAS . . . . 181
7 A CRISE DA ÁGUA . . . . . . . . . . . . . . 213
8 EDUCAÇÃO NAS MUDANÇAS CLIMÁTICASE AMBIENTAIS . . . . . . . . . . . . . . . . . 251
9 EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTOSUSTENTÁVEL . . . . . . . . . . . . . . . . . . 277
REFERÊNCIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 297
Introdução
A elaboração deste livro exigiu pesquisas em diversas áreas
do conhecimento, pois seu tema central, a mudança climá-
tica e ambiental, possui uma natureza interdisciplinar exi-
gindo um diálogo entre saberes de ordem ambiental, social,
econômica, educacional e histórica.
A degradação ambiental e a aceleração da mudança cli-
mática imposta ao Planeta, nos últimos dois séculos, são
referenciadas em diversos trabalhos, livros, relatórios e arti-
gos científicos. O Painel Intergovernamental de Mudanças
Climáticas (IPCC) é uma das fontes de validação para a
afirmação de que existe um aumento do efeito estufa. Os
objetivos do IPCC, sua organização e estrutura foram exa-
minados, bem como a polêmica científica em relação aos
seus dados e cenários. Um capítulo do livro foi dedicado ao
exame do quinto relatório de avaliação do IPCC, buscando
focalizar os temas de mitigação, desenvolvimento sustentável
e sustentabilidade.
O principal agente da degradação ambiental e acelera-
ção da mudança climática é o consumismo praticado pela
Mudanças climáticas e ambientais
sociedade. O consumo irrefletido dos recursos naturais da
Terra, entre outras causas, resultou da explosão populacio-
nal acontecida no século XX e da adoção do desenvolvimen-
tismo como modelo de progresso. A interpretação equivocada
do meio ambiente pelo desenvolvimentismo criou uma visão
deturpada do planeta possuir recursos infinitos refletindo,
em parte, o tipo de educação que está sendo ensinada e pra-
ticada. Uma educação racionalista, científica, conteudista,
tecnicista, competitiva e desvinculada do saber ambiental
não forma pessoas com valores ambientais nem educa para
o consumo sustentável.
Educar no contexto da mudança climática e ambiental é
desenvolver no ser humano a consciência do real valor do
meio ambiente, e essa conscientização pode ser alcançada
pelo estudo do contexto histórico. Os exemplos de algumas
civilizações que ruíram ao degradarem o meio ambiente, e
também as pesquisas sobre a evolução do movimento ambi-
ental, a descoberta da mudança climática, o desenvolvimento
sustentável e sustentabilidade, educam quando trazem à
tona questões de ordem política, pessoal e social.
Contudo, mesmo com o exemplo dos erros do passado,
da confirmação dos dados de pesquisas em órgãos oficiais
e um razoável consenso científico a respeito da mudança
climática, o consumismo continua a degradar os solos, supri-
mir a biodiversidade, desmatar as florestas, poluir e exaurir
os recursos hídricos. A agressão à floresta e à água, dois
recursos naturais imprescindíveis à vida e aos ecossistemas,
essencialmente ligados à mudança climática e ambiental,
2
Contextos: educacionais e históricos
demonstra de forma inconteste a deficiência do sistema edu-
cacional e do modelo social.
Água, floresta, mudança climática e ambiental, desenvol-
vimento sustentável e sustentabilidade estão ligados à teia de
influência da educação e serão tratados com mais detalhes
no decorrer do livro. A educação ambiental e a educação
para o desenvolvimento sustentável tiveram seus pressupos-
tos e objetivos examinados. Uma contextualização histórica
dessas vertentes educacionais, suas possíveis contribuições
tanto para a implementação de mitigação da mudança climá-
tica e ambiental quanto para o desenvolvimento sustentável
e a sustentabilidade foram apontadas.
O livro não ousa ser uma palavra final em nenhum dos
assuntos tratados. O seu objetivo é educar através da divul-
gação científica dos efeitos da atividade antrópica na Terra.
Dessa forma, se a leitura remeter a uma reflexão sobre a
crise socioambiental do mundo, o livro estará educando,
pois também se educa quando se ensina conhecimentos que
para muitos estavam ocultos, inexistentes e improváveis até
então.
3
1
A importância do estudo das
mudanças climáticas e ambientais
Para a Terra o ser humano é completamente dispensável,
mas para o ser humano a Terra é insubstituível.
Teilhard de Chardin, teólogo e filósofo francês
O ser humano nasce, cresce e se desenvolve dentro do
meio ambiente. É também no meio ambiente que ele
habita, respira e retira o sustento de sua sobrevivência, es-
tabelecendo entre a dimensão humana e ambiental uma
relação de elevada dependência. A interação entre humani-
dade e meio ambiente acontece naturalmente por meio das
relações inexoráveis de suas existências, e é marcada, espe-
cialmente, pelo usufruto dos serviços ambientais ao longo de
milênios.
Durante milhares de anos atrás, o homem coletor/caçador
viajou pelas extensões da Terra, sendo limitado pelas mar-
gens dos oceanos e tendo suas mudanças de moradia or-
Mudanças climáticas e ambientais
denadas por longas secas e intensos invernos, numa época
longínqua onde o meio ambiente ainda era preservado. Dessa
forma, o ser humano enfrentou estações climáticas adversas,
adaptando-se às mudanças de habitats e aperfeiçoando-se
em retirar os recursos da natureza.
A humanidade levou mais de 99% do tempo de sua exis-
tência praticando um nomadismo ocioso e sedentário, sem-
pre em busca de lugares com melhores condições de co-
mida, água e conforto, utilizando-se dos serviços ambientais
oferecidos pela natureza. Contudo, cerca de 10.000 anos
atrás — um pequeno tempo na existência humana — a Terra
presenciava o nascimento de uma força social no seio da
humanidade que a transformou numa sociedade com o po-
der de manipular e dominar a natureza. Essa modificação
aconteceu quando o homem descobriu a agricultura e a do-
mesticação dos animais, tornando obsoleta a necessidade
de se deslocar atrás de alimentos. Assim, ele se fixou em
lugares com condição de sobrevivência, multiplicou-se for-
mando vilas e cidades, e com isso começou a modificar o
meio ambiente.
Há aproximadamente um século, o homem entrou na era
da tecnologia moderna transformando rapidamente a paisa-
gem e provocando mudanças ambientais sem precedentes
na natureza. Hoje, em certos centros urbanos, a vegetação
se resume a pontos isolados de árvores, e o que se vê é uma
grande selva de concreto e campos de asfalto, as novas for-
mas das paisagens urbanas da sociedade atual. As trilhas
das matas com grande biodiversidade deram lugar às ruas
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Contextos: educacionais e históricos
congestionadas de carros, o ar puro filtrado pelas árvores foi
substituído pelo ar poluído emitido pelas indústrias e moto-
res, e os grandes edifícios quase impedem a visualização do
firmamento azul celeste (SAGAN, 1996b).
É importante lembrar que as mudanças do meio ambiente
e do clima, um de seus componentes, não são causadas
somente pela atividade humana, mas também pela dinâmica
de transformação do planeta através de processos naturais
como glaciação, vulcanismo, deriva continental e outros
eventos geológicos. Estes processos naturais, apesar de
possuírem o poder de transformar o clima e meio ambiente
de forma significativa, não serão avaliados neste livro.
Com efeito, qualquer mudança no planeta está interligada
com todos os seus ecossistemas, e por isso as mudanças do
clima estão fortemente conectadas com as alterações ambien-
tais. Inserido nessas transformações climáticas ambientais
está o ser humano, vivendo, interagindo e modificando, um
agente que influencia e é influenciado pelas mudanças ecos-
sistêmicas da Terra. As relações entre o homem, o clima e o
meio ambiente têm implicações de várias ordens, estabele-
cendo fortes interações com aspectos econômicos e políticos,
ligadas ao modo de produção, consumo e desenvolvimento
da sociedade.
Essas mudanças geradas pela intervenção do homem
no meio ambiente aconteceram mais fortemente a partir da
primeira revolução industrial, e vêm se intensificando até
os dias atuais, ao ponto de extinguir espécies e ecossiste-
mas, consumindo os recursos naturais de uma forma nunca
7
Mudanças climáticas e ambientais
antes vista (CAPRA, 1982). As intervenções na natureza,
chamadas de ações antrópicas, estão avançado e atingindo o
limite crítico em alguns ecossistemas1, tornando irreversível
a possibilidade de recuperá-los no tempo de uma existência
humana.
Dessa forma, sem a recuperação dos ecossistemas, com
a diminuição da biodiversidade e a crescente degradação do
meio ambiente, gera-se um clima de insegurança ambiental
global a respeito do futuro da humanidade, levantando dú-
vidas e críticas ao modelo de desenvolvimento atual usado
pela sociedade (RIBEIRO, 2001).
Essas preocupações fomentaram grande quantidade de
estudos sobre a mudança climática e ambiental nas décadas
anteriores, em diversas áreas do conhecimento. Desses es-
tudos emergiram dúvidas em alguns setores da sociedade:
a humanidade conseguirá se perpetuar, mantendo sua ma-
neira de interagir com a natureza? Permanecendo com o
padrão atual de vida, o nível de sobrevivência será precário,
com poucos recursos na Terra? E por último, o pior cenário.
A possibilidade de extinção! (SUGUIO, 2008). São inúmeros
os apontamentos e as incertezas sobre os efeitos das ativida-
des antrópicas na natureza nos últimos anos, sem falar no
messianismo catastrófico propalado por algumas pessoas e
setores da mídia.
Esses cenários são importantes porque trazem à tona
alertas sobre a interferência do homem na mudança climá-
1 Limites críticos de vários ecossistemas já foram atingidos e serão tra-tados nos próximos capítulos.
8
Contextos: educacionais e históricos
tica, pois o clima ao longo da história submeteu, submete e
submeterá a humanidade, por um lado, a momentos difíceis
de fome e sofrimento e, por outro lado, a momentos próspe-
ros de progresso, bonança, épocas de paz e desenvolvimento.
O clima atual da Terra em média ainda é confortável2,
todavia em algumas partes do planeta acontecem eventos
climáticos extremos que trazem graves problemas para a
população dessas regiões. Tais eventos podem ser classifica-
dos por: aquecimento global, impactos de El Niño/La Niña,
ciclones, inundações e secas (MENDONÇA, 2000). Nesse
contexto, o clima se torna um dos principais elementos da
interação entre a natureza e a sociedade, transformando-se
num centro de debates relevantes sobre a problemática soci-
oambiental, sobretudo no que diz respeito à magnitude dos
riscos e impactos ambientais oriundos da atmosfera.
Os estudos das mudanças climáticas têm despertado
interesse de boa parte da sociedade, principalmente no que
concerne os efeitos provocados pelas atividades antrópicas
com consequências diretas no meio ambiente, visto que tais
atividades provocaram uma crise ecológica (CAPRA, 1982;
IPCC, 2014b). Nesse sentido, existe um consenso entre
boa parte dos pesquisadores de que os impactos ambientais
oriundos das mudanças climáticas podem alterar de forma
vital as estruturas básicas da sociedade (IPEA, 2011).
Conforme um dos cenários do Painel Intergovernamental
das Mudanças Climáticas — Intergovernamental Panel on
2 Segundo (SUGUIO, 2008, p.14), “Os últimos 10.000 anos podem serconsiderados como de clima interglacial pós-Würm. Nós estamos vi-vendo em ambiente natural favorável muito agradável”.
9
Mudanças climáticas e ambientais
Climat Change — um aquecimento global com elevação de
temperatura entre 1,8 °C e 4,0 °C até 2100 causaria mo-
dificações extremas no meio ambiente com consequências
drásticas (IPCC, 2014b). Segundo o Instituto de Pesqui-
sas Econômicas e Aplicadas (IPEA, 2011), os efeitos de um
aumento de temperatura global dessa magnitude ocasio-
nariam um aumento da intensidade de eventos extremos,
trazendo uma maior ocorrência de secas e enchentes, devido
às mudanças nos valores de precipitação das chuvas. Esses
estudos demonstram que, além de colocarem em risco a vida
de populações inteiras, por aparecimento de epidemias e
pragas, trariam também implicações na infraestrutura de
abastecimento de água e luz, nos sistemas de transporte e
em outros serviços.
Os prejuízos estimados de um aquecimento global são
significativos e têm sido divulgados com certa frequência,
tornando-se conhecidos — mesmo que superficialmente —
pelo cidadão de leitura regular, devido a uma exposição
significativa em diversos tipos de mídia que, em boa parte,
apresentam o fenômeno com uma abordagem catastrófica e
fatalista, quase sempre com informações muito concisas e
algumas vezes imprecisas (MARENGO, 2007).
No início do século XX, a pesquisa em mudanças climá-
ticas engendrou estudos e alimentou debates sobre suas
causas e consequências, incentivando a criação de órgãos,
fóruns e reuniões de cientistas em diversos campos do co-
nhecimento, nas universidades e nos centros de pesquisas.
Destaca-se sobretudo que a influência do clima e do meio
10
Contextos: educacionais e históricos
ambiente consegue transcender as pesquisas, fazendo a mo-
bilização de forças políticas, da sociedade civil e de agências
governamentais e não governamentais (WEART, 2004).
Vale salientar que o estudo do aumento da temperatura
global já possui aproximadamente quase dois séculos de
existência (ARRHENIUS, 1896; TYNDALL, 1873). A busca de
obtenção, análise e estudo de dados climáticos e ambientais,
para chegar ao século XXI com estimativa madura baseada
em argumentos sólidos sobre o aumento da temperatura
do planeta, não foi fácil. Exigiu e exige dedicação de inú-
meros cientistas em várias nações, através de um trabalho
cumulativo, contínuo e cooperativo, durante algumas gera-
ções. Segundo o Físico e Historiador da Ciência Climática,
Spencer Weart, a convicção do aquecimento global e suas
consequências são recentes (WEART, 2004, p.viii),
Em 2001, uma extraordinária mobiliza-ção organizada por milhares de cientis-tas em todo o mundo descobriu o aque-cimento global, como um fenômeno men-surável, que começava a afetar o clima eera susceptível de ficar muito pior.
Na figura 1 vê-se o gráfico gerado por modelos do IPCC
2014 contendo informações a respeito da variação de tempe-
ratura superficial da Terra, entre 1901 e 2012, resultado da
compilação de quase um século de dados envolvendo muitas
áreas de estudo.
Os estudos das mudanças climáticas e ambientais têm
demandado um tempo significativo de pesquisa, necessi-
tando de altos investimentos em recursos financeiros, uma
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Mudanças climáticas e ambientais
Figura 1 – Variação na temperatura de superfície da Terra entre1901-2012.
Fonte: (IPCC, 2014b) (Traduzido e adaptado pelo autor). Áreasterritoriais do Brasil, próximo a Natal (RN), uma variação de tem-peratura com maior valor.
vez que o entendimento do meio ambiente e do clima requer
estudos com um número elevado de dados, pesquisas em
locais geográficos de difícil acesso e equipamentos de alta
tecnologia em várias áreas do conhecimento.
Esses estudos são divulgados por alguns órgãos oficiais,
validando um aquecimento global. O IPCC é um desses
órgãos3, e no sumário de política do seu quinto relatório
(IPCC, 2013, p.121), informa que as atividades humanas
3 O IPCC tem o objetivo de compilar e avaliar os estudos científicossobre a mudança climática. Um tratamento mais detalhado do IPCCserá feito mais à frente.
12
Contextos: educacionais e históricos
estão interferindo no balanço de energia da Terra, nas pro-
priedades de sua superfície e na concentração de gases de
sua atmosfera. Dessa forma, já existe um consenso de boa
parte da comunidade científica afirmando que a atividade
antrópica é um dos principais agentes de aceleração da mu-
dança climática e, com maior certeza, de mudanças no meio
ambiente. Veremos mais adiante que o alerta dado por am-
bientalistas e estudiosos da atmosfera, no início da década
de 1970, sobre os perigos das atividades antrópicas gerando
consequências maléficas ao clima e ao meio ambiente vem
sendo confirmado, através dos dados coletados por vários
grupos de pesquisas (IPEA, 2011; MENDONÇA, 2000; IPCC,
2013).
Além da confirmação dos dados das pesquisas, os efeitos
das mudanças climáticas e ambientais sobre a humanidade
se tornaram mera questão de observação. As consequências
das mudanças do clima sobre a atividade humana são dire-
tas, e mesmo aquelas que não apresentam efeitos diários e
imediatos estão presentes de forma marcante, em eventos
extremos de curta e longa duração, gerando, entre outros
fatores: prejuízos socioeconômicos, causando a diminuição
da produção de alimentos devido a secas severas; e enchen-
tes em cidades urbanas e regiões rurais, prejudicando a
infraestrutura dos municípios e dos estados (IPEA, 2011).
A figura 2 nos dá uma boa noção das mudanças ocorri-
das na temperatura do oceano, na superfície da Terra e na
quantidade de calor nos oceanos, ao longo do último século.
Os gráficos mostram as diferenças de valores da tempera-
13
Mudanças climáticas e ambientais
tura, considerando as forças naturais da Terra e as forças
antrópicas somadas as naturais. Percebe-se claramente uma
tendência à elevação da temperatura quando as atividades
antrópicas estão presentes.
Figura 2 – Mudanças das médias globais.
Fonte: (IPCC, 2013). Comprovações da influência antrópica noclima. (Traduzido e adaptado pelo autor)
Em vista disso, tanto as causas quanto os efeitos das
ações do homem no clima e no ambiente são complexos e
acontecem no seu dia a dia de múltiplas formas: vivendo
ele numa metrópole ou num sítio rural; dependendo da
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Contextos: educacionais e históricos
idade, do tipo de alimento consumido e da energia usada e
produzida; se pertence a uma classe rica ou pobre, sobretudo
perpassando o regime social e influenciando direitos civis
com o poder de destruir os meios de sustento, enfraquecer o
desenvolvimento e eclodir migrações (JACOBI, 2011).
Os processos supracitados ocorrem simultânea e veloz-
mente, tendo sido, nas últimas décadas, continuamente
aumentados e impulsionados, pelo aumento natalidade e
pelo poder da tecnologia, alterando todos os aspectos físicos
e químicos no lugar onde agem. Os resultados negativos
dessas intervenções humanas no meio ambiente se apre-
sentam de diversas formas: poluição do ar com material
particulado e da água com contaminantes; desmatamento
de áreas verdes; aumento do consumo dos recursos naturais
sem sustentabilidade; produção de grandes concentrações
de lixo urbano, e outros problemas. A esse respeito ainda
é válido o alerta de Capra, dado há mais de três décadas,
apontando um sério problema (CAPRA, 1982, p.227),
A tecnologia humana está desintegrandoe perturbando seriamente os processosecológicos que sustentam o meio ambi-ente natural, e que são a própria base denossa existência. Uma das mais sériasameaças, quase que totalmente ignoradaaté recentemente, é o envenenamento daágua e do ar por resíduos químicos agro-tóxicos.
Assim, o problema da mudança climática é inerente às
alterações do meio ambiente, tendo o homem como um dos
agentes, protagonista dessas modificações e ao mesmo tempo
15
Mudanças climáticas e ambientais
vítima de seus próprios atos. Mesmo na posição de algoz
e vítima do meio ambiente, e apesar de ciente de sua total
dependência dos recursos naturais oferecidos pela natureza,
como o ar puro, água potável, solo produtivo, clima ameno e
biodiversidade, a humanidade continua numa rota insana
de depredação (DIAS, 2013).
Diante dos problemas expostos, o estudo da mudança
climática e ambiental se torna relevante para uma melhor
capacitação em propor soluções aos seus efeitos. O aumento
da compreensão científica sobre a complexidade das mudan-
ças climáticas e ambientais, da dinâmica de influências e das
dependências da ação antrópica na natureza impulsionará
a implementação de mitigação em busca de uma sociedade
mais sustentável, diminuindo os problemas socioambientais
causados pelo modelo de desenvolvimento praticado atu-
almente. Portanto, a importância do estudo da mudança
climática e ambiental se centra também em examinar a dico-
tomia entre a sustentabilidade e o desenvolvimentismo.
Sustentabilidade e desenvolvimentismo
O modelo desenvolvimentista4 praticado pela sociedade
é claramente insustentável, por diversos motivos. Entre al-
guns, está provocando a aceleração da mudança climática,4 Modelo que usa qualquer tipo de política econômica baseada na meta
de crescimento da produção industrial e da infraestrutura, com parti-cipação ativa do estado, tendo como base da economia o aumento doconsumo. O desenvolvimentismo e a sustentabilidade serão tratadoscom mais detalhes posteriormente.
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Contextos: educacionais e históricos
uma crise ambiental e o agrave da desigualdade social. Cons-
truído sobre as regras do capitalismo, que impõe a expansão
contínua da produção e do consumo, o desenvolvimentismo
aliena o homem a um único objetivo de vida — a prática do
ter, fazendo-o esquecer de um sentido maior, o exercício do
ser.
Tal perspectiva de vida gera uma crise intersetorial, atin-
gindo todas as camadas sociais e alterando os valores hu-
manos de virtude e ética, promovendo uma alienação consu-
mista que já ultrapassou os limites de resiliência de alguns
ecossistemas. Os sintomas do consumismo desenvolvimen-
tista perpassam a diversas áreas da existência humana,
afetando a intelectualidade, a moralidade e a espiritualidade,
refletindo na saúde, relações sociais, economia, política, tec-
nologia e na qualidade ambiental (CAPRA, 1982; VIOLA;
FRANCHINI, 2012).
É notório que as forças conservadoras no capitalismo
fazem oposição ao processo de conscientização de um novo
paradigma, uma vez que parte de seus interesses são o de
manter a lógica da produção e do consumo em massa de
muitos produtos supérfluos de maneira acrítica, sem se pre-
ocupar com os recursos naturais no futuro (ASSADOURIAN,
2010).
Para convencer a sociedade dos benefícios do consumo
insustentável e manter a sua dinâmica, o capital possui di-
versas ferramentas, entre elas: vastos recursos financeiros
direcionados à corrupção da mídia e da política, objetivando
a alienação da população; compra de argumentos de escri-
17
Mudanças climáticas e ambientais
tores, pensadores e pesquisadores, na busca de falsear os
alertas ecológicos, confirmando a influência do capital sobre
o cientista (BASTOS, 1988).
Entretanto, tais esforços, mesmo com apoio financeiro,
argumentações e alienações, se mostram agora ineficientes,
pois já não conseguem esconder a crescente visibilidade do
aumento dos problemas ambientais no mundo (CARVALHO;
FARIAS; PEREIRA, 2011). Ainda assim, apesar da visibili-
dade da degradação do meio ambiente e da diminuição da
biodiversidade, na maioria dos fóruns, debates e conferên-
cias, as preocupações com a sustentabilidade e as falhas do
desenvolvimentismo são tratadas como mera retórica. Nas
grandes reuniões internacionais, as preocupações ambien-
tais ficam no campo da divulgação, enquanto ao final de cada
negociação política, o que têm prevalecido são defesas de in-
teresses das nações em manter suas vantagens econômicas
(RIBEIRO, 2001; LAGO, 2006).
Para o desenvolvimentismo, o lucro está acima da vida.
E mesmo com a sua insustentabilidade se mostrando clara,
cruel e real, as estratégias de suas forças econômicas bus-
cam ocultar e descredenciar as evidências negativas de suas
ações. O objetivo central do desenvolvimentismo consumista
é manter as bases de suas estruturas inalteradas, mesmo
sob ataque de diversos setores da sociedade. Esse confronto
de intenções, entre o desenvolvimentismo e a sustentabili-
dade, tem sido apontado por alguns estudiosos conforme
relata Born (BORN, 2009, p.1),
18
Contextos: educacionais e históricos
Enquanto cientistas, ambientalistas e ati-vistas de diversos movimentos sociais egrupos da sociedade civil reiteram suasdemandas por políticas e ações robus-tas, efetivas e urgentes para lidar comas causas antrópicas e os efeitos das mu-danças de clima, com o atendimento deprincípios de justiça, direitos humanose equidade, continuamos a presenciar ojogo de forças poderosas que se valem deargumentos e estratégias diversas, paraevitar a alteração dos paradigmas e mo-delos de desenvolvimento.
Nesse jogo de poder quem perde é o meio ambiente, e
existem poucos beneficiados. Bilhões e Bilhões de dólares
engordam as contas bancárias dos concentradores do capi-
tal5 às custas da degradação ambiental e expropriação da
classe de maior vulnerabilidade, os pobres. Os beneficiados
de hoje, com suas atitudes destruidoras de florestas e po-
luidoras da água, na verdade também serão as vítimas de
amanhã. Estão envenenando a si mesmos e aos próprios
filhos no futuro, fazendo que o valor pago por esse péssimo
e excessivo hábito cultural seja a contínua diminuição da
qualidade de vida presente no ar contaminado que se respira,
na água poluída que se bebe, no alimento com conservantes
que se come e no meio ambiente degradado onde se vive
(SRINIVASANA; CAREY; HALLSTEIN, 2008; CAPRA, 1982).
Fazer previsões pessimistas para o futuro é fácil, podem
argumentar alguns defensores do modelo desenvolvimen-
tista. Todavia, existem os fatos evidentes. A mata atlântica
5 Agropecuaristas, ramo petroleiro e indústria farmacêutica, são trêsexemplos entre outros.
19
Mudanças climáticas e ambientais
foi destruída em 95% e o bioma do cerrado está a meio cami-
nho do esgotamento. Será que precisaremos ver a floresta
amazônica totalmente destruída para poder crer? Será que é
necessário se passar de um bilhão de famintos a três bilhões,
para perceber que os recursos naturais da Terra são limi-
tados? Por que persistimos nessa jornada de destruição do
meio ambiente em nome de um progresso que nunca chega?
Qual a ferramenta a ser utilizada para fazer o ser humano
perceber que, frente a degradação do meio ambiente, ele só
tem a perder e nada a ganhar? (DIAS, 2013; IPEA, 2011)
A busca dessas respostas urge e encontrar essa ferra-
menta conscientizadora pode iniciar uma melhor compreen-
são entre a complexa questão da mudança climo-ambiental
e a sociedade de risco. A espera da certeza por dados cien-
tíficos para agir não reduzirá os perigos não palpáveis ou
visíveis dessa mudança na vida cotidiana. O que se percebe
na área de redução do risco climático ambiental são ações
paliativas acompanhadas por grande omissão social. Por
mais que sejam divulgadas previsões catastróficas das mu-
danças climáticas, a inércia comportamental da sociedade é
grande, e quase nada de concreto e duradouro se faz a res-
peito. Esperar pela validação de dados globais dos trabalhos
para um consenso científico e pela visibilidade ou cronici-
dade dos efeitos dessas mudanças fará com que seja tarde,
para se ter a eficiência nas mitigações aplicadas (GIDDENS,
2010). Assim fica clara a importância do alerta do Físico
James Hansen (HANSEN, 2012): pagar o preço pela demora
em esperar para ver, com certeza sairá bem mais caro.
20
Contextos: educacionais e históricos
Mais do que nunca o tempo avança e as mitigações de
agora já estão em atraso. A transformação para uma so-
ciedade mais sustentável, sem queimadas criminosas de
florestas, toneladas de alimentos desperdiçados, poluição de
rios e mananciais de água, produção de lixo não reciclado e
grande desigualdade social, só ocorrerá com o aumento da
consciência ambiental e do uso de instrumentos sustentá-
veis. Esses fatores determinantes só serão obtidos através
de uma ampla reforma do sistema educacional que consi-
dere a educação como uma forma eficaz de mitigação das
mudanças climáticas e ambientais.
Educação: uma mitigação das mudanças cli-máticas e ambientais
As pesquisas em mudanças climáticas, apesar de apresen-
tarem um traço quantitativo e objetivo das ciências exatas,
exigem um conhecimento cooperativo em várias áreas, deli-
neando um estudo interdisciplinar com suporte em diversas
disciplinas. A pluralidade de conhecimentos relacionados
aos estudos das mudanças do clima e do meio ambiente
aponta que, além das disciplinas exatas, existem outros
vieses de estudos importantes transcendendo o olhar das
quantificações objetivas e adentrando na metodologia inter-
disciplinar de aspectos sociais, históricos e educacionais da
nossa sociedade. Nessa perspectiva a mudança do sistema
consumista atual passa indiscutivelmente por uma reforma
21
Mudanças climáticas e ambientais
educacional, pelo entendimento do contexto histórico e social
(LEFF, 2000).
Qual instrumento deve ser usado para minimizar essas
ações consumistas dos recursos da natureza? Defendo que
a resposta é a consciência ambiental. Como adquiri-la? Pelo
processo educativo. Realizar uma educação que mude a
consciência e o sentimento das pessoas, desenvolvendo uma
massa crítica intelecto ambiental, formadora de opinião, que
alterará as decisões políticas e econômicas, transformando
as velhas práticas poluidoras e insustentáveis em práticas
ecológicas e sustentáveis (GADOTTI, 2008; BRANDÃO, 2008;
FREIRE, 2000). Exercitar uma forma pedagógica centrada
em virtudes ecológicas, facilitando a transformação do ci-
dadão político para o cidadão sociopolítico ambiental. Uma
mudança verdadeira e urgente como afirma Paulo Freire
(FREIRE, 2000, p.31),
Urge que assumamos o dever de lutar pe-los princípios éticos como do respeito àvida dos seres humanos, à vida dos ou-tros animais, e das aves. Não creio naamorosidade [...], entre os seres huma-nos, se não nos tornamos capaz de amaro mundo. A ecologia ganha uma impor-tância fundamental neste fim de século.Ela tem que estar presente em qualquerprática educativa de caráter radical, crí-tico ou libertador [...]. Neste sentido meparece uma contradição lamentável fa-zer um discurso progressista, revoluci-onário, e ter uma prática negadora davida. Prática poluidora do mar, das á-guas, dos campos, devastadoras das ma-tas, destruidora das árvores, ameaçado-ra dos animais e das aves.
22
Contextos: educacionais e históricos
A transformação desse comportamento poluidor só ocor-
rerá por meio da prática da educação para a sustentabili-
dade, da educação para o desenvolvimento sustentável ou
da educação ambiental, durante toda a vida. Em essência,
essas educações guardam os mesmos princípios básicos:
o respeito ao meio ambiente e aos seus recursos naturais,
o respeito pela vida, sua diversidade e a igualdade social,
isto é, essas educações possuem em comum os alicerces
da sustentabilidade. Alicerces firmes de um paradigma teó-
rico holístico, mas frágeis no contexto de sua prática pela
sociedade (ENGELMANN, 2013).
A prática desses princípios deve ser iniciada na infância,
ensinando as crianças a desenvolver amor pela natureza,
capacitando-as a contribuir de forma ativa e significativa
no mundo (GADOTTI, 2008; BRANDÃO, 2008), tal como se
encontra no princípio 14 na Carta da Terra: “integrar, na
educação formal e na aprendizagem ao longo da vida, os
conhecimentos, valores e habilidade necessárias para um
modo de vida sustentável” (BRASIL, 1992, p.6)
A implementação de uma educação com esses princípios
não se consolida num curto prazo, pelo contrário, necessita
um trabalho sistemático de longo prazo com ações perseve-
rantes e constantes, com o objetivo de reduzir a distância
do sonho ideal e a execução do plano real. O foco dessa
educação é a busca da mudança do atual estilo de vida da
sociedade, por meio de conscientização das gerações futuras
sobre a importância do meio ambiente para a humanidade.
Educar para cientificar as pessoas de que o mundo possui
23
Mudanças climáticas e ambientais
recursos finitos com restrições ambientais frágeis, e não su-
portará o estilo de vida exemplificado por tanto tempo pelo
ocidente rico, para os 9 bilhões de pessoas projetadas para
2050 (JACKSON, 2008).
As educações sustentáveis e ambientalistas citadas an-
teriormente promoverão uma mudança de entendimento do
mundo, do meio ambiente, do modo de vida e da transfor-
mação para a nova civilização. Uma civilização pautada em
sólidos conceitos de ambientalismo, ecologismo, sustenta-
bilidade, solidariedade e outras características condizentes
com uma nova moral (CARVALHO; FARIAS; PEREIRA, 2011;
BRANDÃO, 2008). Uma moral ecológica profunda6.
Sabiamente Rubens Alves afirmou que da educação podenascer um povo (ALVES, 2007). O nascer de um povo gerado
pela educação é um nascimento de um povo criativo. Por
meio do processo criativo, a educação transforma a socie-
dade. E pelo processo repetitivo, ela coíbe as mudanças
e impede o poder de examinar e argumentar, e engessa
a capacidade de trazer o novo como alternativa às velhas
concepções. A força da educação, nesse sentido, pode ser
sintetizada pelo raciocínio de Paulo Freire quando afirma
(FREIRE, 2000, sn): “Se a educação sozinha não transformar
6 As moralidades ecológicas têm expressão tanto na preocupação coma solução de problemas relacionados ao desenvolvimento das socieda-des industriais, quanto no surgimento de novos padrões de comporta-mentos individuais e coletivos, normas éticas e religiosas, regramen-tos nos campos político e jurídico, de certo modo fundados em umsenso mais ou menos compartilhado sobre modos de superar a condi-ção crítica das relações sociais com o ambiente (CARVALHO; FARIAS;PEREIRA, 2011).
24
Contextos: educacionais e históricos
a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda”. A edu-
cação é o instrumento social que faz o educando se tornar
crítico construtivo e se perceber no mundo com o mundo
(FREIRE, 1987), podendo, como prática educativa, gerar
consciência de intervenção no modelo de desenvolvimento
da nossa sociedade.
A força educacional pode muitas coisas, mas é importante
ter os pés no chão e não entrar em caminhos ideológicos
imaturos achando que a educação por si só — em base teó-
rica — realiza o objetivo a contento. Se há outros processos
ou planejamentos de mudança de paradigma, com certeza
a influência da educação está presente. Porque é a educa-
ção que dá a condição de se realizar como seres humanos,
quando se experimenta as vivências da existência e se toma
ciência delas (CARVALHO; TOMAZELLO; OLIVEIRA, 2009;
LOUREIRO, 2004). A mudança pela educação não é uma
tarefa fácil, exige uma mudança nela própria e existem empe-
cilhos, cuidados e condições de contorno, entretanto existe
um entendimento comum. A educação pode fazer emergir
uma busca de soluções para a complexa relação das mudan-
ças climáticas e ambientais com as atividades antrópicas.
Neste sentido comenta Carvalho (CARVALHO; TOMAZELLO;
OLIVEIRA, 2009, p.15):
Está posta a relação direta que se estabe-lece entre a solução dos problemas ambi-entais e a educação. A não ser que este-jamos dispostos a fechar os olhos paraas evidências, não nos parece ter alter-nativa se não a de procurarmos mais pro-fundamente tal proposição [...].
25
Mudanças climáticas e ambientais
Com essa condição a educação se coloca como o elemento
reformador do atual modo de vida, da maneira de produzir e
consumir, sendo a única capaz de despertar o amor à vida e
ao meio ambiente. O trabalho da educação conscientizadora
não é fácil, tamanha é a envergadura dos seus objetivos ao
denunciar a danosa inversão de valores, na qual o homem
coloca a dimensão econômica como absoluta, estabelecendo
a todo elemento da vida um preço, ao mesmo tempo que se
desvaloriza as virtudes da condição humana.
Ao mesmo tempo que a nova educação almeja extrair as
raízes do analfabetismo ambiental plantadas pelas grandes
corporações e cultivada por parte da mídia alienante7, ambas
comprometidas com os lucros obtidos na manutenção do
atual sistema de produção e consumo (DIAS, 2013). Tais
objetivos redentores dessa educação podem parecer para
alguns um sonho. Entretanto sonhar e propor ideias trará
menos prejuízo do que a omissão ou a contribuição com o
modelo vigente, consumidor da energia do mundo. Uma dis-
cussão maior sobre o potencial da educação para implantar
sistemas sustentáveis está nos capítulos finais.
Além da educação, dentro do amplo corpo de pesquisa
que abrange a relação antrópica na natureza, um breve es-
tudo a respeito da história da mudança climática e ambiental
se mostra importante. O exame da história das causas e con-
sequências nocivas da antiga degradação ambiental torna
7 A mídia alienante é aquela que promove o consumismo irrefletido enão conscientiza a população de sua responsabilidade na interaçãocom o meio ambiente. A mídia usada de forma correta é uma impor-tante ferramenta de mitigação da mudança climática e ambiental.
26
Contextos: educacionais e históricos
o cidadão mais consciente e o capacita a realizar melhores
ações no agora. Com efeito, o estudo da mudança climática
e ambiental é importante para os nossos atos no presente
e no futuro. Esses estudos estimularão a sociedade a dar
uma maior atenção ao recente alerta do IPPC no seu mais
novo relatório (IPCC, 2014f, p.137) “A mudança climática é,
definitivamente, um dos desafios mais graves que os seres
humanos enfrentam”, e também evidenciará que as toma-
das de decisão do agora dependerão, em muito, da nossa
consciência das intervenções antrópicas do passado.
27
2
A importância do passado
ambiental
A destruição do passado — ou melhor, dos me-
canismos sociais que vinculam nossa experiência
pessoal à das gerações passadas — é um dos fenô-
menos mais característicos e lúgubres do final do
século XX. Quase todos os jovens de hoje crescem
numa espécie de presente contínuo, sem qualquer
relação orgânica com o passado público da época
em que vivem.
Eric Hobsbawm, A era dos extremos.
Na sociedade atual, preenchida com uma quantidade de
informações astronômicas e sujeita a uma tecnologia
que avança em bom ritmo, o passado fica esquecido rapi-
damente quanto mais distante estiver (CASTELLS, 2000).
Parte dessa amnésia social é causada pelo modelo desenvol-
vimentista defensor da ideia de um crescimento econômico
Mudanças climáticas e ambientais
essencial e imediato, muitas vezes fusionando presente e
futuro, com inovações de mídias, processos de globalização
e transmissão rápida de informação. Nessa focalização ex-
cessiva do presente e do futuro, o passado é relegado a um
depósito de memórias, quase sempre sem nenhuma reflexão
sobre sua importância.
A humanidade tem deficiências no que diz respeito às
suas memórias, as lembranças são esparsas e obscuras
sendo, em alguns momentos, tratadas sem interesse ou como
narrativas históricas de direitos, deveres e datas (CHEW,
2008). Dessa forma, o passado para maioria das pessoas é
colocado em segundo plano, diminuindo ainda mais a possi-
bilidade de se aprender com ele. Assim, somente nas áreas
especializadas em pesquisas restritas nas universidades e
em outras instituições acadêmicas é que o passado se torna
um campo de estudo no qual se analisa a sua importância
social e sua possível influência no futuro. Contudo, por meio
desses estudos cresce a compreensão de que a história da
interação dos seres humanos com a natureza pode auxiliar
a esclarecer quais as melhores vias de gerenciamento do
nosso interligado sistema global (COSTANZA; GRAUMLICH;
STEFFEN, 2007).
O passado tem muito a nos ensinar. Somente tendo o
conhecimento de como se deu a evolução de diversos fenôme-
nos, tais como a expansão da população, mudança do clima
e do ambiente, propagação das doenças, cultura, guerra e
suas influências nas mudanças de atitudes humanas ao
longo da história, poderemos compreender completamente a
30
Contextos: educacionais e históricos
nossa condição atual. Um exame do passado e do presente,
mais ampliado e fino, dá a capacidade de imaginar com mais
clareza e certeza que os problemas sociais do amanhã são
naturalmente dependentes da interação do homem com o
meio ambiente hoje.
Dizendo de outra forma, os processos de degradação am-
biental do passado, a exemplo de inundações, cobertura e
erosão do solo, transgressões de limiares ecológicos, entre
outros, podem ensinar a melhorar as atividades humanas
futuras em relação aos ecossistemas. Com efeito, a humani-
dade não pode fazer previsões certeiras a respeito do futuro,
todavia, se puder compreender o presente e o passado sa-
tisfatoriamente poderá fazer uso benéfico e influenciar as
decisões de agora, na busca de criar um mundo mais sus-
tentável no futuro (DIAMOND, 2006).
Entretanto, fazer a defesa de que o estudo das complica-
ções ambientais do passado trará a solução para os proble-
mas do presente é uma infantilidade. Além do conhecimento
histórico, características de cada civilização influenciam para
a defesa das consequências da mudança climática e ambi-
ental. Na presente sociedade, fatores como população mais
numerosa, ciência aplicada e medicina mais avançada possi-
bilitam melhores condições de defesa e mais resiliência aos
graves desastres climáticos e ambientais. Contudo, essas
vantagens não isentam a sociedade dos riscos, pois apesar da
atual consciência a respeito dos danos ambientais ser maior
que em séculos atrás, a percepção a respeito do esgotamento
dos recursos naturais parece não ter mudado.
31
Mudanças climáticas e ambientais
O raciocínio de não valorizar o passado como se deve é
presente no contexto da mudanças climáticas. Quando a
problemática da mudança climática ou ambiental entra em
cena, dois aspectos emergem com frequência: as discussões
sobre suas consequências e as possibilidades de caminhos
futuros. Para alimentar essa lógica imediatista, munição
é o que não falta. Diariamente existe um bombardeio de
informações recém-nascidas a respeito da temperatura de
superfície global, sobre o nível dos oceanos, do desmata-
mento, das perigosas consequências para à reprodução da
vida e uma gama de assuntos correlacionados (CHEW, 2008;
DIAMOND, 2006).
Tamanha é a atenção dada ao presente e ao futuro na
sociedade atual, que a pergunta a respeito do passado do
sistema climático é quase imperceptível, isto é, feita por
poucas pessoas. Será que a atividade antrópica sobre o
meio ambiente no passado existiu de forma significativa? Se
existiu, será que essa lembrança pode nos ensinar a não
repetir o erro?
Sem saber as respostas sobre o que ocorreu nas épocas
antigas, ficamos a olhar para um futuro com muitas incerte-
zas. Caminhar para um futuro incerto, sem ter ciência das
falhas antigas, pode ser um atalho perigoso para repetir um
passado obscuro e duvidoso de certas civilizações. Nesse
sentido, podemos entender de forma mais fácil o alerta das
palavras enigmáticas do ecologista Chew em Ecological Futu-
res, “É para o futuro que nós olhamos e não para o passado
que nos voltamos” (CHEW, 2008, p.11).
32
Contextos: educacionais e históricos
Interferências antrópicas do passado
Desde tempos remotos o ser humano vem interferindo na
natureza, fazendo modificações em sua estrutura. A capa-
cidade humana de transformar o meio ambiente aumenta
por vários fatores, entre eles o aumento da população, o
crescente avanço da tecnologia e o seu modo de vida con-
sumista. Tais transformações na natureza geram inúmeras
consequências no mundo contemporâneo, sendo boa parte
delas prejudiciais ao meio ambiente, fato constatado em
diversos exemplos pelo uso abusivo e descontrolado dos
recursos naturais.
A humanidade ainda não percebeu com clareza a existên-
cia de uma nociva e inversa correlação entre a destruidora
intervenção humana local e seus efeitos extensivos regionais
e até mundiais. Colocando de outra forma, as intervenções
humanas que geram impactos ambientais podem ser feitas
localmente, mas as degradações ambientais possuem efeitos
globais, porque estão conectadas geográfica e biologicamente,
atingindo todos os ecossistemas em certo grau (WWF, 2014).
Um exemplo nítido atual é o desmatamento da amazônia
alertado pelos ambientalistas e cientistas há quase duas dé-
cadas, apresentando suas consequências em outras regiões1.
A atenção do ser humano para com os efeitos das mudan-
ças climáticas e ambientais deve estar sempre em prontidão
para que não se repita o que ocorreu em várias civilizações
dos tempos antigos. Antropólogos e arqueologistas (CHEW,
1 O desmatamento da amazônia será examinado no capítulo sete.
33
Mudanças climáticas e ambientais
2008; DIAMOND, 2006) levantam possibilidades de que civi-
lizações antigas ruíram devido a aspectos econômico, sociais
e culturais, fortemente ligados à degradação ambiental.
Práticas inadequadas do passado são realizadas hoje, evi-
denciando a insistência humana em não valorizar a natureza.
Degradação de recursos minerais, aumento significativo da
população urbana e do consumo inadequado, desconheci-
mento de limites dos recursos naturais, antropocentrismo
exacerbado, entre outros desmandos, são práticas antigas
amplificadas na sociedade atual e que contribuem a cada
dia para o aumento da emissão dos gases do efeito estufa.
A história aponta algumas civilizações2 que trilharam esse
caminho e não chegaram ao fim da caminhada, porque o
combustível acabou, isto é, os ecossistemas que mantinham
essas civilizações não suportaram a contínua agressão e
faliram (CHEW, 2008; DIAMOND, 2006).
Essas ruínas civilizacionais são apontamentos da história
humana buscando ensinar a humanidade a não repetir os
erros do passado, testificando que os alertas a respeito das
mudanças ambientais e climáticas já foram dados desde os
tempos antigos, mas a humanidade, movida por ideias de
imediatismo e desenvolvimento sem sustentabilidade, não
tem escutado. Nos tempos remotos, sem a presença da
tecnologia com base em máquinas movidas a combustão e
2 Algumas sociedades serão comentadas mais a frente, entretanto, exis-tiram outras que passaram por processo parecido: civilização Maia,Groenlândia medieval e o povo Anasazi. Os fatores que levaram algu-mas sociedades a colapsarem foram vários e não exclusivamente porcausa de danos ambientais (DIAMOND, 2006).
34
Contextos: educacionais e históricos
eletricidade, com uma população bem menor do que a de
hoje, a humanidade interferia na natureza de forma mais
amena. Diversos fatores contribuíram para essa pequena
pegada ecológica3, baixa velocidade na extração dos recursos
naturais, a exigência de uma menor quantidade de alimentos
e o modo de vida do ser humano requerendo pouca energia
extra (COSTANZA; GRAUMLICH; STEFFEN, 2007).
A interferência do homem no meio ambiente é algo ine-
rente à sua existência e necessário à sua sobrevivência.
Desde que a nossa espécie — o Homo Sapiens — evoluiu,
de aproximadamente 200.000 anos até 10.000 anos atrás,
em comparação com a época atual, ela interferiu na natu-
reza de forma branda, principalmente com o uso do fogo
para alimentação e aquecimento. De forma progressiva, o
homem foi usando os recursos naturais para transformar
a paisagem construindo cidades, estradas e grandes obras
de engenharia realizando conquistas e aumentando suas
posses. Além disso, quando ameaçado usou recursos para
fortalecer sua defesas.
Paralelamente a essas atividades, as civilizações degra-
daram o meio ambiente poluindo, esterilizando e desflores-
tando, deixando em todas as eras as marcas de seus feitos
na natureza. Apesar das degradações ambientais serem mais
amenas e as tecnologias menos sofisticadas do que as atuais,
é um engano achar que os povos antigos não transformavam
o ambiente onde viviam. Mesmo sem a tecnologia da soci-
3 A relação entre a quantidade de recursos naturais que a Terra conse-gue repor e a que a humanidade consome é conhecida como pegadaecológica.
35
Mudanças climáticas e ambientais
edade contemporânea, a transformação do meio ambiente
foi tamanha que segundo Chew (2008, p.45), na Idade das
Trevas “as condições ambientais desempenharam papel sig-
nificativo na organização das sociedades, reinos, impérios e
civilizações”.
A falta de entendimento dessas sociedades a respeito dos
limites da natureza somada às suas práticas insustentáveis
terminaram exaurindo os recurso naturais e, juntamente
com outros fatores, as levaram a um ecocídio (suicídio eco-
lógico) como afirma o Arqueologista Diamond (DIAMOND,
2006, p.6),
... desmatamento e destruição do habi-tat, problemas com o solo (erosão, sa-linização e perda de fertilidade), proble-mas com o controle de água, sobrecaça,sobrepesca, efeitos da introdução de ou-tras espécies sobre as espécies nativas eaumento per capita do impacto do cres-cimento demográfico.
Civilizações da Idade Antiga4, como a mesopotâmia, a
grega e a romana, utilizaram a madeira para usos diversos,
no consumo doméstico e urbano, em várias modalidades de
construção, provocando um desmatamento quase que total
das áreas onde povoavam. Na Mesopotâmia, tais práticas
combinadas com o cultivo de pastagens assorearam os sis-
temas de irrigação e, somando a isso, uma acentuação da
salinização feita por um sistema de irrigação inadequado fez
4 Foi o período que se estendeu desde a invenção da escrita até a quedado Império Romano do Ocidente (476 d.C.)
36
Contextos: educacionais e históricos
entrar em curso uma forte degradação ambiental (DIAMOND,
2006).
Por volta do ano 900 a.C., a situação foi agravada pelo
aumento do consumo quando as camadas mais periféricas
da sociedade tentaram igualar o estilo de vida das elites
provocando a exaustão do já deficiente ecossistema. Con-
sequentemente, em poucas décadas aconteceu o declínio
mesopotâmico (TAINTER, 2006; COSTANZA; GRAUMLICH;
STEFFEN, 2007).
O Império Romano foi responsável por um significativo
desflorestamento nos tempos antigos: só para mineração e
metalurgia, cerca de 500 milhões de árvores foram cortadas
durante 400 anos de fundição de prata na Península Ibérica
(TAINTER, 2006). Madeira vinda das Florestas de Marrocos,
da Judeia, Síria e outros locais era usada para construir
navios, portos e cidades estados para administração dos
governadores de Roma.
O desmatamento na Roma antiga gerou consequências
sérias: as terras sofreram erosão e foram desgastadas, a agri-
cultura diminuiu, a mineração se tornou inviável e houve
escassez de alimentos. A força do desmatamento e a degra-
dação ambiental foram tão intensas que suas consequências
corroeram a estrutura do Império Romano, ao ponto de al-
guns autores elencarem a degradação ambiental como uma
das causas do seu colapso (HUGHES, 1981; CHEW, 2008).
Outras civilizações também colapsaram com os efeitos da
degradação ambiental, como afirma Diamonds (DIAMOND,
2006, p.6),
37
Mudanças climáticas e ambientais
Há muito tempo se suspeita que muitosdesses abandonos misteriosos foram, pe-lo menos parcialmente, desencadeadaspor problemas ecológicos: pessoas, inad-vertidamente, destruindo os recursos am-bientais em que suas sociedades são de-pendentes [...] as consequências incluemescassez de comida, fome, guerras ondemuita gente luta por poucos recursos ea derrubada de elites governantes pelasmassas desiludidas [...]
Há vários registros históricos com interpretações na quais
as mudanças do clima tem relações com a atividade humana,
remontando a um tempo anterior à era cristã, todavia sendo
difícil precisar uma data e a pessoa que primeiro iniciou
esses estudos. Aristóteles, na Grécia antiga, realizou estu-
dos5 a respeito das nuvens, da chuva, do vento, do trovão,
do orvalho e das condições de tempo associadas ao clima.
Teofrasto6, aluno de Aristóteles, considerado por muitos o
primeiro estudioso das interferências humanas sobre o clima,
escreveu O livro dos Sinais (CPTEC, 2014), onde descreve
oito maneiras de previsão de chuvas e centenas de provérbios
sobre a previsão do tempo. Segundo relatos de Teofrasto, a
interferência humana no clima acontecia (ONÇA, 2011):
1) No século III a.C, num distrito próximo a Larissa, na
Tessália, uma parte da região tinha aparências de pân-
tano e quando a água foi drenada o distrito ficou mais
frio, afetando as oliveiras e as videiras;
5 Aristóteles, 384 a.C. a 322 a.C., filósofo grego que estudou as maisdiversas áreas do conhecimento, entre elas, a meteorologia.
6 Filósofo da Grécia Antiga nascido em Eresos, 372 a.C. - 287 a.C.
38
Contextos: educacionais e históricos
2) Nos arredores de Filipos, cidade do império romano,
os campos tornaram-se mais quentes porque foram
drenados e isso foi atribuído ao desmatamento para a
agricultura.
O avanço da transformação feita pelas atividades huma-
nas nas regiões do planeta é relatado em diversas áreas
geográficas. Algumas regiões desérticas do Oriente Médio
e África são exemplos dessas atividades, e um caso signifi-
cativo na história é a Líbia. No passado a desértica Líbia
destacava-se pela sua produção, sendo uma grande forne-
cedora de grãos para o Império Romano. Práticas agrícolas
destrutivas reduziram a produção e incentivaram o avanço
da desertificação (HUGHES, 1981). Inúmeros outros exem-
plos de ações humanas sem planejamento no meio ambiente
podem se encontrados na literatura de desertificação.
Na idade média7 um importante e misterioso exemplo a
não ser seguido é o da Ilha de Páscoa. A ilha de Páscoa,
localizada a 3700 quilômetros a oeste da costa do Chile no
oceano Pacífico, apresenta maravilhas impressionantes: 887
moais, estátuas gigantes do torso humano masculino, com
altura média de 5,0 m e pesando em torno de 10 tonela-
das, onde alguns são apoiados sobre imensas plataforma
de pedras como mostra a figura 3. Qualquer pessoa que
as vê rapidamente é remetida a uma reflexão e pergunta:
como aconteceu sua construção e transporte? Arqueologis-
tas estimam que em torno de 900 d.C. os primeiros seres
humanos chegaram à ilha de Páscoa para a construção de7 Idade média: 476 d.C. até 1453 d.C.
39
Mudanças climáticas e ambientais
estátuas, plataformas, ferramentas de trabalho e transporte,
consumindo muito energia do meio ambiente a ponto de
ultrapassar o seu limite crítico (DIAMOND, 2006).
Figura 3 – Um ahu com seis moais símbolos da Ilha de Páscoa.
Fonte: Wikipédia.
Para esculpir as estátuas era necessário alimentar vinte
escultores durante um mês, e o transporte delas exigia em
torno de 50 a 500 pessoas, e com isso um volume maior
de comida era requerido8. Durante o pico da construção
— a qual durou aproximadamente 300 anos — a produção
8 A maior estátua da ilha de Páscoa é a do Ahu Tongariki, pesa 88toneladas e tem 20 m de altura.
40
Contextos: educacionais e históricos
e transporte das estátuas aumentou em 25 % o consumo
de comida. Estima-se que os pascoenses usaram cordas
muito grossas feitas com casca de árvores e os seus troncos,
afim de transportar e posicionar os moais fazendo da ilha
de Pascoa a mais desflorestada da polinésia, um exemplo
radical de destruição da floresta.
A retirada da madeira teve péssimos resultados e influ-
enciou diretamente na falta de combustível para aquecer e
alimentar a população, uma vez que os barcos de madeira
usados para pescar não podiam ser construídos. Todo o
ecossistema da ilha sentiu o desequilíbrio ecológico e res-
pondeu com a diminuição das sementes de palmeira e da
produção dos frutos, além da redução do número pássaros e
moluscos. O pouco alimento restante contido nos frutos das
poucas plantas existentes foi corroído pela proliferação de ra-
tos disseminando doenças que se alastraram pela população
desnutrida. A devastação ambiental da fauna e flora che-
gou ao auge em 1400 d.C erodindo os solos, trazendo fome,
doenças e rebeliões, e por volta de duzentos anos depois a
civilização da ilha de Páscoa entrou em colapso (DIAMOND,
2006).
A primeira revolução industrial, a filosofia e as coloniza-ções no meio ambiente
Quando o assunto das atividades humanas influenciando
a temperatura da Terra vem à tona, a maioria das opiniões
identificam sua origem na primeira revolução industrial, com
41
Mudanças climáticas e ambientais
o surgimento das fábricas e indústrias movidas a carvão mi-
neral, dando início ao processo de emissão significativa de
CO2 para a atmosfera. Essa interpretação é quase um con-
senso, todavia, pelo que foi exposto acima, a interferência
humana no meio ambiente e no clima — mesmo de foram
mais amena — é mais antiga, e consequentemente as emis-
sões de CO2 também são.
O paleoclimatologista William F. Ruddiman concorda com
essa hipótese num artigo que escreveu, desafiando boa parte
do consenso científico a respeito do fenômeno do aqueci-
mento global. Segundo a Teoria de Ruddiman, agricultores
da América do Norte e da Europa deveriam ser gratos aos
povos antigos, pois sem eles o clima seria em torno de 4,0
graus Celsius mais baixo, tornando inviável a agricultura
atual naquelas regiões (RUDDIMAN, 2003).
No passado, bem antes da era industrial, existiu emissão
significativa de gases de efeito estufa por agricultores, dando
contribuições ao aumento de sua concentração na atmosfera.
Em diversas regiões do mundo antigo, os gases estufas foram
emitidos inicialmente pela prática da agricultura camponesa
simples e da estratificada feita por civilizações mais avança-
das. A figura 4 no trabalho de Ruddiman (2003) informa o
tipo de agricultura e onde elas foram desenvolvidas.
Toda polêmica abriga questões pertinentes,tal qual a se-
guinte: como populações com poucos indivíduos, somente
com agricultura e sem tecnologia avançada podem gerar efei-
tos globais de aquecimento? As respostas estão nos números
42
Contextos: educacionais e históricos
Figura 4 – Áreas de agricultura simples e estratificada
Fonte: (RUDDIMAN, 2003) Áreas de agricultura estratificada doleste da China, da Índia e do Império Romano, os quais tinhamsido áreas naturalmente florestadas.
fornecidos pelo gelo antártico, relacionados às pandemias9
da humanidade. A ligação está no grande número de mortes
provocadas por pandemias que ruíram determinadas comu-
nidades, e estas tiveram seu relevo reflorestado em torno
de 50 anos, aumentando a absorção de CO2 (RUDDIMAN,
2003).
Esses exemplos tipificam que o aspecto populacional de
uma civilização e suas atividades afetam o consumo e libe-
9 As doenças epidêmicas amplamente difundidas.
43
Mudanças climáticas e ambientais
ração de CO2. Portanto, na balança da troca de dióxido de
carbono, a variável de origem epidêmica é um parâmetro a
ser considerado. No contexto histórico algumas epidemias
foram marcantes na humanidade, dizimando até 40 % da
população. E entre as mais relevantes está a peste bubônica
por volta dos anos de 540 (a Peste de Justiniano) e 1350 na
Europa (a terrível Peste Negra), além da varíola trazida pelos
brancos que matou 50 milhões de índios na colonização das
Américas.
O aumento da população deu mais força à crescente in-
terferência no meio ambiente, como também impulsionou as
grandes navegações, o desbravamento de novas terras e as
colonizações em busca de explorar suas riquezas. Fortes mo-
dificações e degradações ambientais vieram com a expansão
do mundo colonial europeu e seus assentamentos no mundo
tropical, gerando uma rápida transformação de áreas cober-
tas por florestas em monoculturas e minas (GROVE, 1995).
Dessa forma, a concepção das ideias modernas sobre o clima
foi se desenvolvendo juntamente com os relatos e notícias
da expansão marítima europeia através de colonizadores,
exploradores e viajantes.
Com a expansão territorial das colônias europeias, os co-
nhecimentos oriundos de várias formas, de ambientes natu-
rais, sociedades e culturas desconhecidas, auxiliariam as pri-
meiras tentativas de explicar o clima. Essas explicações eram
baseadas na luz do determinismo ambiental10(FLEMING,
10 O determinismo ambiental justificava a expansão territorial, atravésda criação de colônias de exploração e de povoamento em regiões tem-peradas, a serem ocupadas pelo excedente demográfico europeu.
44
Contextos: educacionais e históricos
1998). Ainda com a ciência quantitativa incipiente, sem um
método científico definido, a filosofia detinha um grande po-
der de influência nas decisões do conhecimento a respeito
do clima e meio ambiente. As bases filosóficas sobre mu-
danças do clima que dominavam a discussão na segunda
metade do século XVIII eram centradas nas ideias de Du Bos,
Montesquieu e Hume.
Jean-Baptiste Du Bos foi diplomata, historiador, crítico
membro da Academia Francesa (mais tarde secretário perpé-
tuo) e autor de livros. Charles Louis de Secondat Baron de
Montesquieu foi filósofo iluminista, autor de diversas obras,
destacando-se entre elas, O Espírito das Leis, de 1748. Davi
Hume foi filósofo, historiador e ensaísta escocês, e se tornou
célebre por seu empirismo radical e seu ceticismo filosófico.
Segundo Fleminng11 (FLEMING, 1998):
1) Du Bos desenvolveu uma teoria ambiental da ascensão
e queda das eras criativas;
2) Montesquieu estava mais interessado no desenvolvi-
mento da capacidade dos homens para governar, mesmo
em climas inóspitos;
3) Hume especulou diretamente sobre mudanças climáti-
cas nas Américas.
Nessa época prevalecia o pensamento de que a mudança
do clima iria acontecer fazendo a derrubada da vegetação.
11 James Rodger Fleming, historiador da ciência e da tecnologia, espe-cializado em meteorologia e mudanças climáticas.
45
Mudanças climáticas e ambientais
Isso favorecia o aumento do fluxo solar, tornando o ar mais
puro e o clima mais agradável. A defesa dessa tese era
comum. Na Irlanda e na América do Norte, por exemplo
acredita-se que, as chuvas e neblinas excessivas atraídas por
suas florestas provocavam uma densa umidade e traziam do-
enças aos seus habitantes (FLEMING, 1998). Concordando
com essa lógica, John Evelyn, conselheiro da Royal Soci-
ety de Londres, afirmava que o desflorestamento permitiria
maior entrada de ar e luminosidade, tornando o clima mais
saudável e melhor.
Na busca de implantar no estudo do clima mais siste-
matização de dados e menos filosofia, o polímata Thomas
Jefferson12 defendia uma política prática que influenciaria o
pensamento posterior sobre a pesquisa climática. Jefferson
afirmava: “As medições do clima americano devem começar
imediatamente, antes que o clima mude muito drasticamente.
Estas medições devem ser repetidas em intervalos regulares”
(FLEMING, 1998, p.19).
Essas medidas regulares de temperatura e precipitação
— observações sistemáticas e construção de séries de dados
— marcam o nascimento da climatologia, meteorologia e
ciências afins.
12 Thomas Jefferson, 1743 - 1826, foi o terceiro presidente dos EstadosUnidos (1801-1809) e se destacou, entre outras coisas, como horticul-tor, líder político, arquiteto, arqueólogo, paleontólogo, músico, inven-tor e fundador da Universidade da Virgínia.
46
Contextos: educacionais e históricos
Antigos avisos científicos das mudanças climá-ticas
... se a quantidade de carbono aumenta em pro-
gressão geométrica, a temperatura irá variar em
progressão aritmética.
Svante Arrhenius, Worlds in the Making: The Evo-
lution of the Universe.
As primeiras medidas registradas de grandezas físicas
relacionadas ao clima já possuem séculos de idade. O termô-
metro, o higrômetro, o pluviômetro e o barômetro foram
inventados por volta do século XVII e com eles começou a
busca por saber como mudava o tempo e o clima, através de
registros de temperatura, precipitação e pressão. Assim, ano
após ano foram se formando grandes sequências de dados e
informações construindo as séries meteorológicas (BALLOT,
1872).
Nos dias atuais se tem séries longas com anos e déca-
das de registros climáticos contínuos. Todavia, séries de
dados meteorológicos com 200 anos ou mais existem em
poucas localidades, e a mais longa série de temperaturas foi
compilada a partir de 1659, com base em diversas séries de
dados da Inglaterra, pelo pesquisador Gordon Manley13. O
início dessas medições pode ser encontrado em Flemming,
(FLEMING, 1998, p.34),
13 Gordon Valentine Manley, 1902 - 1980, climatologista Inglês.
47
Mudanças climáticas e ambientais
O primeiro sistema documentado de ob-servações meteorológicas uniformes foi oda Accademia del Cimento, em Florença,fundado pelo Grão-duque Fernando II de[...]. As instruções foram emitidas pelopadre jesuíta Luigi Antinori, em 1654,e as observações foram feitas por mem-bros da ordem com barômetros, termós-tatos ("ampolla") e higrômetros em setelocais na Itália (Florença, Pisa, Vallom-brosa, Curtigliano, Bolonha, Parma, Mi-lan) e quatro no exterior (Osnabrück, In-sbruck, Varsóvia, Paris).
Várias pesquisas sobre o clima já estavam sendo desen-
volvidas no início de 1800 e os dados a seu respeito eram
fornecidos por várias regiões da Europa. Em 1853 iniciou-se
a coordenação internacional formal de observações meteoro-
lógicas a partir de navios (QUETELET, 1854). Dados sobre as
propriedades físicas dos sistemas climáticos, como pressão,
temperatura, precipitação, montante e jusante para a previ-
são do tempo atravessavam fronteiras nacionais, e por isso
as organizações de meteorologia começaram a ser criadas, a
exemplo da Organização Meteorológica Internacional (OMI)
em 1873 (BALLOT, 1872) e a sua sucessora, a Organização
Meteorológica Mundial (OMM) em 1950. O interesse pelo
clima era crescente e no final do século XIX foram feitas
observações sistematizadas do tempo em quase todas as
regiões com habitações no mundo.
O cientista Joseph Fourier14 vivenciou uma parte inicial
desse processo e desenvolveu vários trabalhos, entre eles a
14 Jean-Baptiste Joseph Fourier, 1768 - 1830, matemático e físico fran-cês.
48
Contextos: educacionais e históricos
pesquisa a respeito da temperatura da atmosfera. Fourier
perguntava: porque a Terra não esquentava ou esfriava conti-
nuamente? Em 1820, Fourier estimou com base na distância
da Terra ao Sol, que ela deveria ser mais fria e devia existir
algum adicional de calor para manter a sua temperatura
média. Ele então pensou a Terra como uma estufa15, com
sua superfície aquecida emitindo radiação infravermelha e
a atmosfera funcionando como um isolante. Fourier tentou
explicar isso comparando a Terra e sua cobertura de ar a
uma caixa coberta com um painel de vidro (WEART, 2004).
Algumas décadas depois do trabalho de Fourier, interes-
sado sobre as propriedades radiativas de vários gases, o
cientista britânico John Tyndall16 iniciou uma série de cui-
dadosos experimentos em seu laboratório no ano de 1859.
Tyndall confirmou suspeitas antigas de que os principais
gases na atmosfera, oxigênio e nitrogênio, são quase trans-
parentes a radiação infravermelha. Quando estava prestes a
sair do laboratório pensou em testar o gás de carvão, um gás
industrial produzido pelo carvão de aquecimento, que conti-
nha metano, o qual era utilizado para a iluminação (WEART,
2004). Tyndall descobriu opacidade nesse gás equivalente à
madeira, e motivado pelo resultado resolveu testar o dióxido
de carbono (CO2), na época chamado de ácido carbônico. O
resultado encontrado foi positivo, o CO2 apresentava opaci-
dade à radiação infravermelha e assim poderia provocar o
15 A Terra funcionando como retentor de calor, mantendo assim umatemperatura estável na atmosfera.
16 John Tyndall, 1820 - 1893, físico britânico, descobridor do efeitoTyndall.
49
Mudanças climáticas e ambientais
aquecimento do ar, mesmo sendo encontrado na atmosfera
da Terra em apenas algumas partes em dez mil (WEART,
2004).
A suspeita de que o CO2 absorvia a radiação infraverme-
lha transferindo calor para a atmosfera, e depois a atmosfera
irradiando calor de volta para a Terra, tornou o CO2 um
gás de efeito estufa, como é conhecido na sociedade atual-
mente. Apesar da descoberta do CO2 absorvendo radiação,
Tyndall era ciente de que o gás com maior poder de efeito
estufa é o vapor de água simples, com o poder de bloquear
prontamente a radiação térmica infravermelha. Os estudos
de Tyndall mostravam que a proporção de átomos de vapor
aquoso para átomos de oxigênio e nitrogênio na atmosfera
era de 1 para 200. Entretanto no que diz respeito à absorção,
o vapor era 80 vezes mais poderoso, fazendo do vapor aquoso
uma espécie de controlador da temperatura do ar.
De acordo com Tyndall (TYNDALL, 1873, p.423)
É perfeitamente certo que mais de dezpor cento da radiação do solo da Ingla-terra é barrada nos primeiros dez pés dasuperfície. Este fato é suficiente para de-monstrar a imensa influência que estapropriedade recém-descoberta do vaporaquoso deve exercer sobre os fenômenosda meteorologia. Este vapor aquoso éum cobertor mais necessário à vida ve-getal na Inglaterra do que as vestimen-tas são para o homem. Retire o vaporaquoso do ar que se estende pelo paíspor uma única noite de verão e você cer-tamente destruiria cada planta por umatemperatura congelante.
50
Contextos: educacionais e históricos
O esforço de Jonh Tyndall foi significativo e importante,
pois para conseguir esses resultados ele construiu um apare-
lho, mostrado na figura 5, que serviu de base aos posteriores
espectrofotômetros de infravermelho.
Figura 5 – Experimento criado por Tyndall para medir absorçãode radiação infravermelha pelos gases.
Fonte: (TYNDALL, 1873)
Às vezes no trabalho científico o objeto de pesquisa se
modifica com a descoberta dos dados. O interesse de Tyndall
era o estudo da idade do gelo pré-histórico, e os dados de sua
pesquisa com o CO2 apontaram outro caminho. O Químico
sueco Svante Arrhenius também mudou sua pesquisa do
enigma da idade do gelo e resolveu estudar a emissão de
CO2 retomando os estudos de Tyndall em 1896 (ARRHENIUS,
51
Mudanças climáticas e ambientais
1896). Em seu artigo mais conhecido — A influência do ácido
carbônico do ar sobre a temperatura de superfície da Terra17 — defendia a tese de que o fenômeno das glaciações era
provocado por reduções da quantidade de dióxido de carbono
atmosférico (WEART, 2004; FLEMING, 1998).
Arrhenius usava elementos de diversos assuntos para ex-
plicar a elevação da temperatura, afirmando que isso poderia
ocorrer se a quantidade de CO2 na atmosfera fosse alterada
por uma série de erupções vulcânicas. Caso ocorresse um
incremento de temperatura, o ar ficaria mais quente e reteria
mais umidade. O aumento da umidade traria um aqueci-
mento, uma vez que o vapor de água é um potente gás estufa.
Entretanto, no sentido contrário, com absorção de CO2 pela
Terra e pelos oceanos haveria um resfriamento, provocando
menos vapor de água no ar, o que causaria mais refrigeração.
Para Arrhenius esse é o tipo ciclo de auto-reforço que poderia
ter iniciado uma era glacial (WEART, 2004).
Nesse ciclo de auto-reforço são diversas as variáveis do
clima envolvidas, tornando o trabalho complexo. Numa ati-
tude simplificadora, Arrhenius procurou avaliar os efeitos
imediatos da mudança do nível de CO2. Estimou cinco pata-
mares diferentes de dióxido de carbono, tomando como base,
o valor de 300 ppm que era a concentração padrão de sua
época. Os níveis mais elevados foram obtidos multiplicando
o valor padrão por (×1,5; ×2; ×2,5 e ×3) e um nível menor
com fator multiplicativo de (×0,67) (ARRHENIUS, 1896).
17 On the Influence of Carbonic Acid in the Air upon the Temperatureof the Ground.
52
Contextos: educacionais e históricos
Arrhenius também calculou a umidade atmosférica, a
radiação que entra e sai da Terra para cada zona de latitude.
Os dados não possuíam justificativas científicas, ignorando
muitas características do mundo real, e estavam longe de ser
confiáveis (WEART, 2004). Ainda assim, Arrhenius publicou
seus resultados e anunciou nos seus trabalhos que o corte
na quantidade de CO2 no ar pela metade iria esfriar o mundo
por talvez 5 °C (ou seja, 8° Fahrenheit), mas isso poderia
levar vários séculos. Esse processo, somado ao ciclo de auto
reforço, como a neve adicional acumulada refletindo a luz
solar poderia ser o suficiente para trazer uma era glacial
(FLEMING, 1998).
Segundo Spencer (WEART, 2004), Arrhenius ainda não
tinha descoberto o aquecimento global, apenas havia encon-
trado um conceito teórico curioso que indiretamente remetia
à possibilidade dos seres humanos alterarem a composição
da atmosfera. Contudo, isso não foi absorvido pela popu-
lação. Nessa época, boa parte das pessoas certamente não
possuía estudo para entender as problemáticas mais co-
muns, como o aumento da natalidade e suas consequências,
muito menos entender que a atmosfera poderia esquentar e
afetar suas vidas.
Vale ressaltar que, para Arrhenius e a congelante Suécia,
o aquecimento não era uma coisa ruim e quase todo mundo
no final do século XIX acreditava que qualquer mudança com
previsão tecnológica seria o melhor. Um pouco diferente do
que é dito hoje, Arrhenius afirmava que o clima poderia ser
melhorado pelo aquecimento e o oceano absorveria a maior
53
Mudanças climáticas e ambientais
parte do dióxido de carbono produzido pela queima de com-
bustíveis fósseis. Nas suas próprias palavras18 (FLEMING,
1998, p.74),
Pela influência do aumento da percen-tagem de ácido carbônico na atmosfera,podemos esperar para desfrutar as ida-des com climas mais uniforme e melhor,especialmente no que diz respeito às re-giões mais frias da Terra, eras em quea terra trará muito mais abundância doque em culturas atuais, propagando rá-pido benefício para a humanidade.
O Sol e as mudanças climáticas
A Terra se aquece por causa do fluxo de energia emitida
pelo Sol. Existem outros processos que contribuem para o
aquecimento, mas o principal elemento regulador do clima
da Terra é a radiação solar. Os estudos sobre a influência
do Sol no clima começaram pela astronomia, com teorias
envolvendo mudanças nos parâmetros orbitais do planeta,
inicialmente desenvolvidas na Europa no século XIX. Elas
objetivavam explicar a ocorrência das eras glaciais (WEART,
2004).
Astrônomo e compositor alemão do século XVIII, William
Herschel19 deu importante contribuição para a ciência des-
cobrindo a radiação infravermelha e influenciando estudos
18 Arrhenius (1906), citado por Fleming (1998), p. 74.19 William Herschel, 1738 - 1822, fez observações sobre o Sol mos-
trando seu brilho variável, brilhantes fáculas, granulações na super-fície solar e manchas solares.
54
Contextos: educacionais e históricos
diversos na área climatológica. Uma importante ligação do
Sol com o clima foi feita pelo Astrofísico Charles Greeley
Abbot do Observatório Smithsonian, em 1913, indicando que
a interferência entre as tempestades solares com o campo
magnético da Terra poderia ter relação com clima (FLEMING,
1998).
O engenheiro sérvio Milutin Milankovitch20 deu grande
contribuição a respeito do comportamento da órbita solar
influenciando vários pesquisadores do clima. Milankovitch
melhorou os cálculos das distâncias variadas e ângulos da ra-
diação do Sol, apresentou resposta quantitativa dos mantos
de gelo e os relacionou com as mudanças na radiação solar.
Em 1920, Milankovitch publicou um artigo demonstrando
que as mudanças orbitais calculadas seriam suficientes para
provocar mudanças no clima e causar uma era glacial (IM-
BRIE, 1982).
Segundo Milankovitch, o próximo período é relativamente
livre do gelo, resultado da maior insolação no hemisfério
norte no verão, fenômeno parecido com o ocorrido há 10.000
anos, onde a média de temperatura global era ligeiramente
mais alta que a de hoje. As ideias dos ciclos orbitais de
Milankovitch em 1950 foram aceitas, mas com o avanço de
técnicas, volume de dados e pesquisas, foram praticamente
esquecidas pelas provas geradas por datações de carbono.
Pelo mesmo motivo que foram descartados, os ciclos orbitais
de Milankovitch posteriormente foram confirmados por al-
20 Milutin Milankovitch, 1879 - 1958, estudou a relação da idade dogelo com a órbita da terra.
55
Mudanças climáticas e ambientais
guns pesquisadores em 1960, através de medições de urânio
e outros isótopos radioativos em amostras cortadas de corais
e recifes (WEART, 2004).
Um importante aspecto da influência do Sol no clima é a
quantidade do fluxo de energia que ele fornece ao planeta e
a forma da distribuição dessa energia. O valor aproximado
da energia solar que atinge o topo da atmosfera da Terra a
cada segundo, em uma superfície de um metro quadrado de
frente para o Sol durante o dia, é de cerca de 1.370 Watts.
Cerca de 30% da luz solar que atinge a parte superior da
atmosfera é refletida de volta para o espaço (IMBRIE, 1982;
IPCC, 2014d; IPCC, 2007b).
A influência da emissão antrópica do dióxidode carbono nas mudanças climáticas
Apesar dos estudos de Arrhenius, o consenso dos espe-
cialistas era de que o homem e o CO2 não tinham relação
com um provável aquecimento da atmosfera, mas em 1938 o
engenheiro e inventor Guy Stewart Callendar (1898 -1964)
pensava de forma diferente. Embora não sendo meteoro-
logista profissional ou cientista, Callendar tinha interesse
amador no clima, passando muitas horas reunindo esta-
tísticas do tempo como um hobby. Mesmo sendo membro,
mas sem credenciais acadêmicas, corajosamente Callendar
se apresentou diante da Real Meteorological Society, em
Londres, para falar sobre o clima mostrando números que
56
Contextos: educacionais e históricos
indicavam o aquecimento global, e apontava o seu responsá-
vel. Na visão de Callendar, a combustão dos recursos fósseis,
realizada por diversos processos antrópicos, lançava dióxido
de carbono na atmosfera, tornando-se a grande culpada
(FLEMING, 2007).
O trabalho de Callendar sobre a variação da composição
atmosférica ao longo dos períodos geológicos foi significativo.
Para sustentar a hipótese do aquecimento, Callendar calcu-
lou: o uso mundial de combustíveis fósseis; os reservatórios
estimados de carbono; a absorção do dióxido de carbono pela
biosfera e oceanos; além de compilar medições históricas
que mostraram um aumento nas concentrações de dióxido
de carbono atmosférico (FLEMING, 1998). Segundo Callen-
dar (1938), 150 bilhões de toneladas de dióxido de carbono
foram lançadas na atmosfera, durante o último meio século,
representando um aumento de 6% nas concentrações desse
gás entre 1900 e 1936. Dos seus dados, apenas uma pe-
quena parte foi considerada defeituosa, porque tais dados
foram obtidos pela comparação entre diferenças de estações
vizinhas (IPCC, 2007b).
Especulações e boatos algumas vezes rondam as ativida-
des científicas, e por volta de 1940 circulava uma grande
quantidade de suposições sobre a mudança do clima. Clima-
tologistas e meteorologistas já tinham ouvido muitas ideias
vistosas e pouco práticas, e nesse sentido o trabalho de
Callendar era inovador. Os seus números e sua teoria pro-
porcionaram um original desafio intelectual, real e contem-
porâneo, pois estudos das eras do gelo estavam em um pas-
57
Mudanças climáticas e ambientais
sado remoto sem uma pesquisa palpável e aparentemente
sem nenhum interesse prático (WEART, 2004). Além da
originalidade, os argumentos de Callendar traziam à tona
especulações de muitos especialistas em mudança climática,
fruto de pesquisas em publicações antigas e obscuras com
medições de CO2 indicando que o nível do gás na atmosfera
havia subido um pouco, desde o início do século XIX. O
trabalho de Callendar trazia um problema da Terra para a
Terra, muito embora ele tenha pensado, como Arrhenius e
outros, que o aquecimento global seria uma coisa boa para a
humanidade, ajudando culturas a crescer em abundância
(WEART, 2004).
A mudança na opinião de vários cientistas, que passaram
a concordar com Callendar, foi lenta e começou a ocorrer
quando ele produziu, em 1941, outro artigo tratando de uma
revisão das medições espectroscópicas das bandas de ab-
sorção do dióxido de carbono. Ao longo de duas décadas,
Callendar focou seu trabalho na relação entre o dióxido de
carbono atmosférico e a temperatura do planeta, influenci-
ando e servindo de referencial teórico para futuras pesquisas.
A figura 6 explicita a evolução da mudança da temperatura
de superfície da Terra com absorção de dióxido de carbono
pela atmosfera.
Investimento militar no clima
Após a segunda guerra mundial o estudo do clima ficou
sendo desenvolvido com mais ênfase para fins militares. A
58
Contextos: educacionais e históricos
Figura 6 – O gráfico de Callendar
Fonte: (CALLENDAR, 1938)
Guerra Fria exigia pesquisas militares com diversas finali-
dades: segurança nacional exigindo a previsão e o controle
do clima, hegemonia econômica na produção de inteligência,
tecnologia e fabricação de armas. Uma tensão provocada
por um possível conflito nuclear, suas consequências catas-
tróficas como ondas de frio, calor e a possibilidade do clima
ser usado como arma de guerra, através da semeadura de
nuvens, eram preocupações recorrentes (ONÇA, 2011).
Parte da pesquisa em computação era destinada aos lan-
çamentos de satélites meteorológicos e à elaboração de siste-
mas de defesa nacional como o Nilo Azul, desenvolvido pelo
Departamento de Defesa norte-americano. O Nilo Azul era
empregado para testar a sensibilidade do clima em grandes
59
Mudanças climáticas e ambientais
perturbações, incluindo possíveis intervenções soviéticas di-
recionadas à guerra nuclear ou ambiental (FLEMING, 1998).
Como se vê, a situação de medo gerada pela Guerra Fria
resultou em alguns frutos tecnológicos ligados ao clima.
A meteorologia se desenvolveu no início do século XX e
se intensificou durante as guerras mundiais, com a criação
de alguns grupos de pesquisas e empresas do ramo. Com
o fim da segunda guerra mundial, muitas delas corriam o
risco de ficar inoperantes, então o governo americano de-
cidiu intervir e financiar a pesquisa básica, através de um
novo Escritório de Pesquisa Naval. Tal incentivo motivou o
desenvolvimento de algumas áreas de conhecimento ligadas
à mudança climática, a exemplo da Física, das Geociências
e da Meteorologia com atenção especial. Motivos não fal-
tavam ao governo para o estudo do clima: a dinâmica dos
ventos, previsão do tempo, nuvens, produção de chuva e
consequente aumento da produtividade agrícola (FLEMING,
1998; WEART, 2004).
Um pesquisador que teve financiamento militar e gos-
tou dos resultados dos trabalhos de Callendar foi o físico
canadense Gilbert N. Plass. Plass fez parte de um grupo
experimental na Johns Hopkins University, que estava es-
tudando a radiação infravermelha apoiado pelo Escritório
de Pesquisa Naval. Depois Plass mudou para a Califórnia
com o objetivo de pesquisar armamentos relacionados à ab-
sorção de calor infravermelho. À ele noite escrevia sobre
o efeito estufa (WEART, 2004). Nessa época, a tecnologia
computacional de ponta era militar e Plass tinha acesso a
60
Contextos: educacionais e históricos
ela. Com novos dados e longos cálculos, Plass afirmou que a
temperatura média global iria aumentar “à taxa de 1,1 °C por
século”, por causa da atividade humana. O trabalho de Plass
apontou que, num futuro próximo, o acúmulo de dióxido
de carbono na atmosfera iria se tornar um sério problema
climático. Segundo Plass (PLASS, 1956, p.387),
Se ao final deste século, as medições mos-trarem que as quantidades de dióxido decarbono na atmosfera subiram aprecia-velmente e ao mesmo tempo a tempera-tura continuar a subir pelo mundo, es-tará firmemente estabelecido que o dió-xido de carbono é um importante fatorde mudanças climáticas.
Contudo, os argumentos de Plass não convenceram al-
guns cientistas, mas ele apresentou a problemática do aque-
cimento global para um tempo próximo e com consequências
negativas, ao contrário do que pensava Arrhenius e Callen-
dar.
O dióxido de carbono no ar e no mar
Charles D. Keeling21 realizava grande parte se suas pes-
quisa no campo, em belas paisagens com montanhas e rios
fazendo do monitoramento do nível de CO2 ao ar livre um
trabalho agradável. Influenciado pela obra de Plass, Keeling
procurou aumentar a precisão das medidas do nível de CO2
21 Charles David Keeling, 1928 - 2005, climatologista americano.
61
Mudanças climáticas e ambientais
na atmosfera (WEART, 2004; FLEMING, 1998). Keeling cons-
truiu seu próprio aparelho de medida e investigou por meses
o nível de CO2 contido no ar nas proximidades da Califórnia
e da Antártida, e para sua surpresa os locais mais inabitados
apresentaram o mesmo nível de CO2 (KEELING, 1960).
As medições iniciadas por Keeling em 1958, com alta pre-
cisão na concentração de CO2 atmosférico, constituem uma
série importante que documenta a mudança da composição
atmosférica até o ano de 1998. Esta série representa um
marco de singular valor, evidenciando o efeito das atividades
humanas sobre a composição química da atmosfera global
(WEART, 2004; IPCC, 2007b). Suas medidas do ciclo de
carbono global feitas em Mauna Loa, no Havaí, tem precisão
suficiente que propicia aos cientistas separar as emissões
antrópicas daquelas devidas ao ciclo anual natural da bi-
osfera. Demonstram, assim, uma mudança de longo prazo
na troca sazonal de CO2 entre a atmosfera, a biosfera e os
oceanos (WEART, 2004).
O estudo sobre o carbono avançava e novas técnicas como
a detecção por radiocarbono surgiram. O químico Austríaco
Hans Suess, perito em radiocarbono, detectou em 1955 um
valor baixo de carbono antigo da queima de combustíveis fós-
seis na atmosfera (IPCC, 2007b). O oceanógrafo Americano
Roger Revelle se uniu a Suess em dezembro de 1955 para
estudar o carbono nos oceanos. Em 1957 os dois escreveram
o artigo descrevendo e explicando o comportamento em larga
escala do dióxido de carbono antropogênico nos oceanos e
na atmosfera (WEART, 2004).
62
Contextos: educacionais e históricos
Nesse trabalho, Revelle e Suess mostraram como e por
que os oceanos possuem um estoque total de carbono (36 mil
Gt), valor que em média é 50 vezes maior do que o estoque
atmosférico (730 Gt) (REVELLE; SUESS, 1957). Revelle e
Suess calcularam um ritmo de aumento das concentrações
atmosféricas de dióxido de carbono de 2% a 10% por século.
Mantida essa tendência, o resultado é um aumento de 20%
a 40% no final do século em comparação às concentrações
pré-industriais. Para reforçar esse contexto existiam ainda
as ideias correlacionadas ao aquecimento global, como a
explosão populacional de Keeling e a crescente industrializa-
ção apontada pelo geoquímico Harrison Brown, que relatou
a inserção de uma quantidade colossal de gases estufa no
planeta. Tais ideias eram conhecidas por Revelle, que as
corroborou escrevendo (REVELLE; SUESS, 1957, p.19),
Os seres humanos estão agora realizandoum experimento geofísico em grande es-cala de um tipo que não poderia ter acon-tecido no passado, nem ser reproduzidono futuro.
As descobertas foram colaborativas e acumulativas. Re-
velle22 e Suess, como Arrhenius, Callendar, Plass e muitos
outros, contribuíram para a descoberta do aquecimento glo-
bal (WEART, 2004; FLEMING, 1998). Seus esforços e in-
teresses fizeram emergir uma preocupação que poderia ter
ficado ocultada por décadas, se não houvesse tanta dedi-
22 Segundo Fleming (1998), Revelle usou bastante a mídia para promo-ver a ideia do aquecimento global, sendo apontado por alguns jornaiscomo seu avô ou padrinho.
63
Mudanças climáticas e ambientais
cação. Obviamente existiu ajuda de fatores extras, como
o investimento militar com largos financiamentos desde a
década de 1940 e o próprio desenvolvimento da mídia, cada
vez com mais alcance e influência, divulgando o aquecimento
global. Assim, os financiamentos foram se alargando e se
estendendo para outras esferas sociais, a exemplo da polí-
tica, pesquisa, ambientalismo, sustentabilidade e educação
ambiental (WEART, 2004; FLEMING, 1998).
64
3
O movimento ambientalista e o
IPCC
A dúvida é se a civilização pode mesmo travar esta
guerra contra a vida sem se destruir e sem perder
o direito de se chamar de civilizada.
Rachel Carson, Silent Spring.
As pesquisas sobre a emissão de dióxido de carbono após
1950 indicavam cada vez mais um possível aquecimento
global, reacendendo e acentuando os sentimentos de am-
bientalismo e ecologismo, tendo como resultado uma crise
ecológica iniciada na década de 1970. Esses sentimentos se
afloraram ainda mais, com os diversos impactos ambientais
que ocorreram durante o século XX. Suas raízes e acon-
tecimentos, acarretando consequências políticas, sociais e
ambientais foram se somando durante décadas, compondo a
história do ambientalismo.
Mudanças climáticas e ambientais
O livro o Homem e a Natureza, publicado em 1865 pelo
norte-americano Georges Perkins Marsh1, é apontado por
muitos historiadores ambientais como um dos marcos do
movimento ambientalista. Esse livro trouxe um alerta am-
biental denunciando a destruição provocada pela atividade
humana desde a Antiguidade na fauna, florestas, águas e
solos.
O alerta de Marsh era enfático quando afirmava que a
atividade da humanidade estava quebrando o piso, as vigas,
as portas e as janelas do nosso lugar de moradia (MARSH,
1865). As ideias de Marsh tiveram forte repercussão, atraves-
saram fronteiras e inspiraram a criação do primeiro parque
nacional do mundo, o Yellowstone National Park (CZAPSKI,
1998).
Uma discussão importante da relação do homem com
o meio ambiente foi feita em 1869 por Ernst Haeckel, bió-
logo e naturalista alemão, quando propôs o termo ecologia
para os estudos das relações entre as espécies e o ambiente.
A ecologia2 influenciou fortemente várias áreas de estudos
relacionadas às mudanças ambientais e também possuía
ligações com várias especificações de movimentos voltados
à natureza, como, o ambientalismo, o conservadorismo, o
naturalismo, entre outros.
1 George Perkins Marsh, 1801 - 1882, um diplomata e filólogo norte-americano considerado por alguns especialistas como o primeiro am-bientalista da América.
2 A palavra ecologia deriva do grego oikos, que significa casa, e logos,estudo.
66
Contextos: educacionais e históricos
No início do século XX a intervenção humana no meio
ambiente se tornava cada vez mais incisiva, uma vez que os
avanços científicos, sociais e tecnológicos resultaram numa
nova revolução industrial. A fumaça das indústrias no ar,
a devastação causada pelas guerras mundiais e ainda, a
incipiente explosão do consumo e da população deixaram
visível a possibilidade do planeta não suportar o ritmo de
exploração do seus recursos.
A divulgação desse impactos ambientais e suas con-
sequências futuras, por meio de uma mídia nascente, des-
pertava preocupação — mesmo em uma quantidade pequena
de pessoas — com o meio ambiente. Num movimento ainda
embrionário, essa preocupação era restringida a pessoas
ligadas à esfera governamental, resultando em tomadas de
decisão meramente políticas e econômicas, cobrindo com
panos transparentes a eclosão futura do movimento am-
bientalista de preservar a natureza (GALLI, 2007; SOUZA,
2004).
Quando acabou a segunda guerra mundial, em 1945, foi
criada a Organização das Nações Unidas para a Educação,
Ciência e a Cultura (UNESCO), órgão pertencente à ONU. A
partir daquele momento teve início um debate em torno da
educação de um modo geral, e também foram lançadas as
primeiras ideias da educação ambiental (BARBIERI, 2011).
A devastadora segunda guerra mundial, de forma contra-
ditória e inusitada, despertou uma consciência ecológica e
impulsionou o sentimento ambiental que cresceria nos anos
vindouros, como se vê em Grün (GRUN, 1996, p.16),
67
Mudanças climáticas e ambientais
Em julho de 1945, no deserto [...], Esta-dos Unidos, o azul do céu transformou-se subitamente em um clarão ofuscante.A equipe científica liderada pelo físico R.Oppenheimer explodia experimentalmen-te a primeira bomba H. Apenas dois me-ses depois eram jogadas as bombas atô-micas sobre as populações civis de Hi-roshima e Nagasaki. O Homo Sapiens,esta espécie [...] surgida há pouco maisde um milhão e meio de anos, havia con-quistado o poder de destruição total desi próprio e de todas as demais espéciessobre a face da Terra. Os seres huma-nos adquirem, então, a autoconsciênciada possibilidade de destruição completado planeta. Após o dia 6 de agosto de1945 o mundo não seria mais o mesmo.Ironicamente, a bomba plantava as pri-meiras sementes do ambientalismo con-temporâneo.
Em 1948 é fundada na Suíça a União Internacional para
a Conservação da Natureza (UICN), congregando instituições
governamentais e não governamentais que eram pautadas
pelo princípio de equidade e pelo uso ecologicamente susten-
tável dos recursos naturais. Em 1952 um impacto ambiental
ocorreu no país da revolução industrial, e sua capital Lon-
dres foi atingida por uma forte poluição do ar, conhecida
como Big Smokes. O evento trouxe ao menos algo positivo,
gerou preocupação e impulsionou o movimento ambientalista
que, por sua vez, pressionou a opinião pública conseguindo
a aprovação da Lei do Ar Puro, em 1956, e a introdução da
68
Contextos: educacionais e históricos
temática ambiental no ensino de ciências (CZAPSKI, 1998).
Alguns materiais e práticas nocivas empregadas na se-
gunda guerra mundial continuaram a ser usados em décadas
posteriores com outras finalidades. Um exemplo equivocado
foi o alto investimento financeiro na produção de armamento
bélico e na sintetização de materiais químicos. Uma des-
sas substâncias químicas sintetizada no século passado,
o organoclorado conhecido como (DDT) — Dicloro-Difenil-
Tricloroetano — ocupou um papel importante na história do
movimento ambientalista. Apesar de sintetizado em 1874,
o seu alto potencial venenoso foi descoberto em 1939, para
ser destinado a fins bélicos no combate ao tifo, contudo,
pelo seu baixo preço e incentivo à produção industrial, o
DDT começou a ser usado na agricultura como pesticida —
defensor agrícola — tornando-se sucesso mundial de vendas
(CZAPSKI, 1998; SOUZA, 2004), e sendo usado até a década
de sessenta.
A bióloga escritora Rachel Carlson é uma referência na
história da defesa do meio ambiente. Depois de lançar a tri-
logia sobre os oceanos3 resolveu estudar a fundo a questão
dos agrotóxicos e do pesticida DDT no ambiente4. O seu
livro Primavera Silenciosa — Silent Spring — lançado em
1962, é um ícone na história do ambientalismo e provocou
3 Sob o mar-vento (1941), O mar que nos cerca (1951) e Beira-mar(1955).
4 A contaminação por Dicloro-Difenil-Tricloroetano (DDT) pode estarrelacionada à morte de 114 funcionários da Fundação Nacional deSaúde (Funasa) no Acre, entre os anos de 1994 até hoje.
69
Mudanças climáticas e ambientais
um movimento em sua defesa. Com um texto envolvente e
provocativo, Carlson colocava em cheque a confiança des-
medida que o povo americano depositava na ciência. A sua
denúncia sobre o uso do DDT, os seus malefícios atingindo
todo o ecossistema, solo, águas, fauna e flora, contaminando
a cadeia alimentar dos seres humanos, teve forte repercus-
são e conseguiu influenciar a sociedade. É sentido isso ao
ler suas sábias palavras (CARSON, 1962, p.95),
Na medida em que o homem avança, noseu anunciado objetivo de conquistar aNatureza, ele vem escrevendo uma se-quência deprimente de destruições; asdestruições não são dirigidas apenas con-tra a Terra que ele habita, mas tambémcontra a vida que compartilha o Globocom ele. [...]. De conformidade com a fi-losofia que agora parece que guia os nos-sos destinos, nada deve interferir na tra-jetória seguida pelo Homem, quando elese acha armado da mangueira de pulve-rização ou de borrifo. As vítimas inciden-tais desta cruzada contra os insetos nãosão levadas em linha de conta.
Primavera Silenciosa foi um livro que trouxe à tona a
problemática das consequências da degradação do meio am-
biente pelas atividades humanas e impôs, de alguma forma,
um certo temor na sociedade quando alertava que a conta-
minação por substâncias químicas poderia extinguir várias
espécies de animais e plantas, atingindo o ser humano a
nível genético e biológico.
Esses e outros impactos ambientais ocorridos nas déca-
das de 1950, e gerados pela interferência do homem sobre o
70
Contextos: educacionais e históricos
meio ambiente deram impulso ao movimento pela proteção
ambiental que ganhava cada vez mais adeptos e vigor5. O ar
impuro em Nova York, entre 1952 e 1960, a diminuição da
vida aquática em alguns dos grandes lagos norte-americanos
e a contaminação do mar em grande escala causada pelo nau-
frágio do petroleiro Torrei Canyon em 1966 — veja a figura
7 — são alguns exemplos (CZAPSKI, 1998). Como resultado
houve mudanças revolucionárias nas leis de preservação do
ar, da terra e da água, com a criação, em 1970, da Agência
de Proteção Ambiental Norte Americana, dando mais energia
ao movimento ecológico das décadas posteriores.
O estudo ambiental cada vez interessava mais a diversos
extratos profissionais da sociedade. No final da década de
1960, mais precisamente no ano de 1968, o industrial Arílio
Peccei e o cientista escocês Alexander King lideraram um
grupo de 30 especialistas de várias áreas — economistas,
industriais, pedagogos, humanistas, cientistas, entre outros
profissionais — fazendo reuniões em Roma para discutir a
crise atual e o futuro da humanidade.
Tal grupo ficou conhecido como Clube de Roma. O Clube
de Roma recebeu notoriedade em 1972, ano da publicação
do relatório intitulado Limites do Crescimento, elaborado
por uma equipe chefiada pela cientista ambiental Donella
Meadows (CZAPSKI, 1998).
5 Em 1953, a cidade japonesa de Minamata conheceu os piores efeitosda poluição por mercúrio, causada por despejos industriais: milharesde pessoas sofreram com problemas neurológicos e nascimento de be-bês sem cérebro (anencefalia). O Mal de Minamata só foi confirmadonos anos 60, quando se repetiu em Niigata provocando a morte de12.000 pessoas e deixando outras 100.000 doentes.
71
Mudanças climáticas e ambientais
Figura 7 – Acidente ambiental com o Petroleiro Torrey Canyon.
Fonte: Blogmercante (2014). Ano do acesso à ilustração.
O Relatório Meadows — Limites do Crescimento — rece-
beu influência de diversos trabalhos, entre eles um livro — A
Bomba Populacional — escrito pelo professor Paul Ehrlich,
que chamou a atenção para as convulsões sociais, fome em
massa e a inviabilidade da civilização moderna devido a su-
perpopulação6. Embora o livro recebesse críticas pelo seu
6 A preocupação com a superpopulação não é algo inventado pela mo-derna civilização. Ela está presente em registros históricos da Babilô-nia gravados em tábuas de barro e que datam de 1.600 a.C. SegundoMorán (1990) certas tribos indígenas da Amazônia usam estratégiasde sobrevivência fazendo a manutenção do número de indivíduos desuas aldeias. Quando a população extrapolava um número a partir doqual não se manteriam com os produtos oriundos da florestas, faziamuma separação e criavam uma nova aldeia longe da original.
72
Contextos: educacionais e históricos
tom alarmista, como é mostrado na sua abertura contun-
dente (EHRLICH, 1968, p.xi):
A batalha para alimentar toda a huma-nidade acabou. Na década de 1970 cen-tenas de milhões de pessoas vão morrerde fome, apesar de se iniciar agora qual-quer choque de programas. A esta alturanada pode impedir um aumento subs-tancial na taxa de mortalidade mundial[...].
O livro de Ehrlich apesar de polêmico e carregar mensa-
gens catastróficas desempenhou um papel importante para
o ambientalismo, pois trouxe à tona o perigo da exaustão de
recursos naturais da Terra, um problema presente no debate
atual e na essência das preocupações com a sustentabilidade
no futuro.
Um outro ponto não relacionado à população, mas que
evidenciou de forma visual os recursos limitados da Terra,
veio do espaço como mostra a figura 8. A foto do espaço
profundo feita em 1968 mostrando a imagem da metade
do planeta envolto por uma atmosfera azul, trouxe uma
consciência visual de que o Planeta era pequeno e com limites
definidos. A gigante Terra, agora em tamanho pequeno,
trazia uma lição clara de que o planeta era um ecossistema
com muitas fragilidades e dependências, colocando o ser
humano no lugar de responsável por manter o seu equilíbrio.
73
Mudanças climáticas e ambientais
Figura 8 – A Terra em espaço profundo, fotografada pela Apollo 8.
Fonte: Nasa.
O ambientalismo de 1970 até a criação doIPCC
A busca obstinada da riqueza — ou seja, o mate-
rialismo — não cabe neste mundo, porque ela não
contém em si nenhum princípio limitador, enquanto
o meio ambiente onde se encontra é decididamente
limitado.
Ernst Friedrich Schumacher, Small is Beautiful.
A partir dos anos de 1970, os interesses de ordem climá-
tica e ambiental se uniam cada vez mais. O avanço em uma
área incentivava os objetivos da outra, isto é, os dados de
74
Contextos: educacionais e históricos
ordem climática indicando alterações em parâmetros meteo-
rológicos eram usados por pesquisadores da área ambiental
e campos afins, para validarem suas ideias principais na
defesa do meio ambiente.
Além da validação de alguns dados científicos, o ambi-
entalismo foi reforçado pelo alerta do Relatório Meadows,
que se tornou um Best-seller científico vendendo mais de 30
milhões de cópias em 30 idiomas, tornando-se o livro sobre
ambiente mais vendido da história. Em linhas gerais, o Rela-
tório Meadows modelava as consequências do crescimento
rápido da população mundial considerando os recursos na-
turais limitados da Terra e tratando, também, de outros
problemas diversos como energia, poluição, saneamento,
saúde, ambiente e tecnologia.
Dentre todos esses temas o Relatório Meadows reservava
uma atenção maior para analisar os contextos de alimenta-
ção da superpopulação e o consumo excessivo de recursos
naturais da seguinte forma (MEADOWS; MEADOWS; RAN-
DERS, 1972, p.20):
Se as atuais tendências de crescimentoda população mundial, industrialização,produção de alimentos, poluição e da di-minuição de recursos naturais continu-arem, os limites de crescimento no pla-neta serão alcançados nos próximos anose resultarão em declínio súbito e incon-trolável da capacidade industrial.
Em 1972, paralelamente a divulgação do relatório Me-
adows, ocorreu a Conferência da Organização das Nações
75
Mudanças climáticas e ambientais
Unidas sobre o Ambiente Humano, a Conferência de Esto-
colmo. Além de propor capacitação de professores e desen-
volvimento de novos métodos e recursos instrucionais para a
implementação da Educação Ambiental7 nos diversos países,
a conferência registrou, a nível internacional, a necessidade
de políticas ambientais dando o reconhecimento à Educa-
ção Ambiental como o provável instrumento de solução dos
problemas ambientais (MORADILLO; OKI, 2004). Desse en-
contro surge a Declaração de Estocolmo, expressando no
princípio 1 a seguinte convicção (UNEP, 1972, p.3):
O homem tem o direito fundamental àliberdade, à igualdade e ao desfrute decondições de vida adequadas em um me-io ambiente de qualidade tal que lhe per-mita levar uma vida digna e gozar de bem-estar, tendo a solene obrigação de prote-ger e melhorar o meio ambiente para asgerações presentes e futuras [...].
A crescente tendência da pesquisa em mudanças climáti-
cas impulsionou o governo a criar organizações para estudar
tanto o clima como o ambiente. Em julho de 1970, no
congresso americano, foi feita uma declaração pelo presi-
dente Nixon propondo a criação da National Oceanic and
Atmospheric Administration (NOAA), com objetivo de estudar
os oceanos e atmosfera. Quase dez anos depois do sur-
gimento da NOAA, o congresso aprovou a Lei Nacional do
Clima instituindo o Serviço Nacional do Programa do Clima,
7 Os primeiros registros da utilização do termo Educação Ambiental,data de 1948, num encontro da União Internacional para a Conserva-ção da Natureza (UICN) em Paris.
76
Contextos: educacionais e históricos
que possuía poucos recursos (WEART, 2004). Vale registrar
que no ano 1972 é criado o Programa das Nações Unidas
para o Meio Ambiente (PNUMA), com sede em Nairóbi no
Quênia e com várias atribuições, entre elas (PNUMA, 1972):
1) Manter o estado do meio ambiente global sob contínuo
monitoramento;
2) Alertar povos e nações sobre problemas e ameaças ao
meio ambiente;
3) Recomendar medidas para aumentar a qualidade de
vida da população sem comprometer os recursos e ser-
viços ambientais das futuras gerações.
Da década de 1970 em diante, os campos de estudo relaci-
onados ao aquecimento global eram bastantes diversificados.
Assim, o estudo do consumo de combustíveis fósseis e da
consequente concentração de CO2 na atmosfera se torna-
ria uma ciência interdisciplinar. Os horizontes de estudos
a cada dia se ampliavam, outros gases de efeito estufa —
(CH4), (N2O) e (CFCs) — estavam sendo estudados (RAVAL
A. E RAMANATHAN, 1989; WANG; YUNG; LACIS, 1976) e a
importância dos efeitos de aerossóis em nuvens, refletindo a
luz solar, era conhecida (TWONEY, 1974). Outro elemento
a se destacar foi o aumento da capacidade computacional
da década de 1970 até o presente momento, por um fator
próximo de um milhão, fazendo com que os modelos atmos-
féricos cada vez mais incluíssem outras variáveis físicas no
77
Mudanças climáticas e ambientais
Figura 9 – O aumento da complexidade dos modelos climáticos.
Fonte:(IPCC, 2007b). Quadros com diferentes variáveis físicas.
estudo da mudanças climáticas. As figuras 9 e 10 do IPCC
2007 (IPCC, 2007b) mostram essa evolução.
Em meados da década de 1970, parte dos especialistas
tomaram posicionamento contrário ao aquecimento global
divulgando na imprensa popular, com certo teor catastrófico,
vários artigos sobre um possível resfriamento do planeta.
As ideias do resfriamento global eram baseadas principal-
mente em dados de pesquisas das três décadas anteriores,
78
Contextos: educacionais e históricos
Figura 10 – Evolução das resoluções dos modelos nos quatro pri-meiros relatórios de avaliação do IPCC.
Fonte:(IPCC, 2007b)
indicando uma diminuição das temperaturas do Hemisfério
Norte (HN) (GWYNNE, 1975).
Entretanto, em 1977 o discurso de resfriamento do pla-
neta estava quase revertido. Essa reversão em parte se deve
à National Academy of Sciences, que empreendeu um estudo
sobre as tendências climáticas dominantes. Em seu relatório
final, não apenas considerava improvável um resfriamento
global a longo prazo, como acreditava num aumento das
temperaturas dentro de um ou dois séculos (IPCC, 2007b;
WEART, 2004; FLEMING, 1998).
79
Mudanças climáticas e ambientais
Os cientistas favoráveis da ideia do aumento da tempe-
ratura global, como Revelle e Schneider, insistiam na divul-
gação desses temas em artigos científicos, principalmente
na imprensa popular. Todos sabiam muito bem que a mí-
dia era o meio mais potente para convencer os governantes
através da pressão pública e dar a devida atenção ao estudo
das mudanças climáticas. No início da década de 1980, o
aquecimento global tornou-se suficientemente importante,
ao ponto de ser inserido nas pesquisas de opinião pública.
Em uma delas, em 1981, constatou-se que mais de um terço
dos adultos norte-americanos alegaram ter ouvido ou lido
sobre o efeito estufa (WEART, 2004).
Para aumentar a confiança na existência de um aque-
cimento global, mais evidências iam surgindo com novas
pesquisas. Um exemplo foi o metano (CH4), outro gás de
efeito estufa, o qual era produzido por bactérias em prolifera-
ção na lama de arrozais e na digestão ocorrida nos estômagos
dos bovinos. Esta última descoberta colocou a atividade pe-
cuária e seus desmatamentos para formação de pastos na
lista de poluidores dos ambientalistas (IPCC, 2007b).
Outro passo importante foi o estudo da expansão do mar,
provocada em parte pelo possível do derretimento das ge-
leiras, uma vez que a maioria dos pequenos glaciares de
montanha do mundo estava encolhendo. As preocupações
eram grandes em relação a esse aspecto, pois, entre inú-
meros prejuízos, a subida das marés nas regiões costeiras
alagaria centenas de metros com água salgada, comprome-
tendo os estuários e a reprodução marinha (WEART, 2004).
80
Contextos: educacionais e históricos
Na primeira conferência de Villach na Áustria, em 1980,
aconteceu uma série de reuniões com especialistas sobre a
atuação do (CO2) na variabilidade climática. Alguns dados
climáticos do ano de 1980 eram preocupantes, a exemplo
do aumento da temperatura média global de 1,5 °C a 3,5
°C, caso a concentração atmosférica de dióxido de carbono
dobrasse (ROTTY; MARYLAND, 1980).
A segunda conferência de 1985 em Villach foi um evento
bastante marcante para as ciências climáticas, porque dei-
xou a mensagem de que o efeito estufa antropogênico não
era mais considerado uma hipótese, mas um fato estabele-
cido, mesmo sem ter sido demonstrado seu funcionamento
(ONÇA, 2011; FLEMING, 1998). Sobretudo, os especialistas
chegaram a um consenso, na primeira metade do século
seguinte, de que um aumento da temperatura média global
poderia ocorrer e seria o maior na história da humanidade
(WEART, 2004).
Após as conferências realizadas em Villach, os pesqui-
sadores passaram a ser mais ativistas e pedir mais financi-
amentos usando a política e principalmente a mídia como
forma de convencimento. Um assunto muito divulgado pela
imprensa foi a descoberta, por um grupo britânico, de um
buraco na camada de ozônio sobre a Antártida em 1985,
criando uma polêmica entre grupos industriais que negavam
prontamente a culpa de seus produtos. O CFC era o princi-
pal candidato e a sua posição de réu poderia gerar prejuízos
às atividades econômicas na indústria química. Apoiando a
perspectiva econômica, os funcionários da administração Re-
81
Mudanças climáticas e ambientais
agan8 em boa parte deram suporte as indústrias no embate
contra os ambientalistas mais radicais (WEART, 2004).
A cada conferência, reunião ou pesquisa para estudar
o clima, novas áreas de conhecimento eram exigidas, nas-
cendo uma cooperação interdisciplinar entre universidades
e centros de estudo que incentivavam coalizões de grupos de
pesquisa em uma gama de variedade de campos. A exempli-
ficação dessa união aconteceu em 1983, com a criação do
Institute Geosphere Biosphere Internacional (IGBP), resul-
tado do apoio de várias organizações para reunir todas as
ciências geofísicas e biológicas. Essa coalização dos esforços
científicos é relatada por Spencer (WEART, 2004, p.149),
Especialistas [...] da estratosfera, em vul-cões, oceanos e até mesmo biologia, paranão mencionar a matemática da compu-tação, se encontraram compartilhandoos mesmos órgãos de fomento, institui-ções e até mesmo edifícios. Também cres-cente e comum eram reuniões científicasdedicadas a um ou outro tema interdis-ciplinar. A colaboração foi uma forte ten-dência não só em geofísica, mas em to-das as ciências. Com problemas de pes-quisa cada vez mais com maior complexi-dade, os cientistas com diferentes tiposde competências trocaram ideias e da-dos, ou trabalharam diretamente juntosdurante meses, se não anos.
8 O governo Reagan — ocorrido entre os anos de 1981 e 1989 —desprezaria as questões ambientais e cortaria os financiamentos parapesquisas relacionadas ao dióxido de carbono, considerando-as des-necessárias.
82
Contextos: educacionais e históricos
O aspecto interdisciplinar das mudanças climáticas era
crescente, claramente visto pela diversificada produção aca-
dêmica sobre tópicos relacionados a área. Em 1986, o IGBP
construiu uma grande estrutura de comitês, painéis e gru-
pos de trabalho promovendo conexões interdisciplinares. Em
1988 ocorreu, em Montreal, a Conferência Mundial sobre
a Mudança na Atmosfera: Implicações para a Segurança
Global. Esse evento ficou conhecido como a conferência de
Toronto e foi influenciado pelas ideias de Villach em 1985
(WEART, 2004), resultando no protocolo de Montreal, que
estabeleceu metas internacionais e orientações aos governos,
para a criação de suas próprias políticas, com o objetivo de
enfrentar o aquecimento global.
A força política para impulsionar os estudos do ambiente
e do clima tiveram o auxílio de Albert Gore. A entrada de
Gore na bandeira do ambientalismo climático foi por volta
do ano 1966, quando assistiu uma palestra de Roger Revelle
sobre o futuro da Terra, para alunos da Universidade de
Harvard. A tendência mostrada pela curva de Keeling (KE-
ELING, 1965) da absorção de CO2 na atmosfera, indicando
como o planeta respirava (FLANNERY, 2007), impressionou
bastante Gore. A ideia da perspectiva do aquecimento global
e de suas consequências seria defendida por Gore mais tarde,
com sucesso relativo no cenário político.
A imprensa em 1988 teve bastante assunto para divul-
gar sobre mudanças climáticas e ambientais. Relatos de
contaminantes químicos eram comuns em telejornais, secas
severas eram noticiadas nos jornais, barcos encalhados no
83
Mudanças climáticas e ambientais
rio Mississípi eram fotografados e capas de revistas estampa-
vam notícias de desastres ambientais. Outros eventos como
furacões destruindo cidades, ventos provocando grandes ero-
sões e incêndios florestais consumindo plantações também
eram bastantes divulgados.
Contribuíram para esse triste cenário uma das maiores
ondas de calor e a seca devastando várias regiões dos Es-
tados Unidos, fazendo as colheitas decaírem fortemente no
meio oeste americano. Com isso, o gado teve de ser sacrifi-
cado por falta de alimentos. A nível mundial também ocor-
riam sérios problemas ambientais, a seca atingia parte da
Ásia, principalmente a União Soviética, a China e o nordeste
brasileiro. Por outro lado, chuvas torrenciais assolaram par-
tes da África, Índia e Bangladesh (ONÇA, 2011; FLEMING,
1998; IPCC, 2007b).
De forma enfática no ano seguinte, em 2 de janeiro de
1989, representando a síntese da cobertura da mídia so-
bre os impactos ambientais, a capa da revista Time trazia
uma foto um tanto diferente do seu padrão. Não era uma
homenagem ao homem do ano, mas ao planeta do ano, um
alerta ambiental com um chamativo título "Terra ameaçada",
mostrado na figura 11.
Todos esses acontecimentos reforçaram ainda mais o
movimento ambientalista, que interiorizou o aquecimento
global como causa principal dos eventos climáticos. Nesse
sentido, existiu uma canalização de forças da sociedade para
reduzir os efeitos climáticos. Segundo Spencer (WEART,
2004, p.156),
84
Contextos: educacionais e históricos
Figura 11 – Capa da edição de 2 de janeiro de 1989 da revistaTime.
Fonte: (Revista Time,1989). Denúncia da degradação ambiental edo aquecimento global.
Grupos que tinham outras razões para apreservação das florestas tropicais pro-moveram a conservação de energia, a de-saceleração do crescimento da populaçãoou redução da poluição do ar, como cau-sa comum e ofereceram várias maneirasde reduzir as emissões de CO2. Somandosuas vozes a esse coro, pessoas procura-ram argumentos para enfraquecer o pres-tígio de grandes corporações e de pes-soas prontas para repreender o desperdí-cio. Para melhor ou pior, o aquecimentoglobal tornou-se firmemente identificadocomo uma questão de "verde".
A resultante dessa convergência entre cientistas e ambi-
entalistas aumentou a pressão sobre a opinião pública. Nos
85
Mudanças climáticas e ambientais
Estados Unidos, no campo político, Al Gore e outros congres-
sistas apareciam frequentemente em audiências alertando
para os perigos das emissões de gases estufa. Em vários
tipos de mídias, Revelle e Schneider insistiam na divulgação
das ideias defendidas em seu artigos científicos, relaciona-
dos ao aquecimento global (WEART, 2004). No término de
1988, sob todas as pressões supracitadas, a Organização
Meteorológica Mundial e a Organização das Naçoes Unidas
reconheceram formalmente a ameaça do aquecimento global,
e sob a presidência de Bert Bolin9 foi criado o Painel Intergo-
vernamental sobre Mudanças Climáticas.
O Painel Intergovernamental de Mudanças Cli-máticas
Foi exposta uma pequena síntese das alterações ambien-
tais e climáticas provocadas pela atividade humana, como
também algumas pesquisas sobre o aumento da temperatura
da Terra e das emissões antrópicas de CO2 para a atmosfera.
O objetivo foi a busca de uma conscientização pelo processo
histórico. Os diversos tipos de eventos, atividades, reuniões
e pressões — científica, política, pública e ambiental — ci-
tados acima se somaram por quase vinte anos e foram os
motivadores da criação do IPCC.
9 Bert Bolin, 1925 - 2007, climatologista sueco, vencedor do PrêmioNobel da Paz em 2007.
86
Contextos: educacionais e históricos
Contudo, o reforço de diversas evidências científicas ob-
tidas por uma quantidade incomensurável de dados sobre
variáveis climáticas, e sobretudo as ocorrências de impactos
ambientais significativos tiveram uma relevância especial
para a formação do IPCC. Nesta seção faremos uma análise
superficial do IPCC e dos quatro primeiros Relatórios de Ava-
liação (RA), descrevendo sua estrutura, função e evolução, e
observando suas conclusões relacionadas ao aquecimento
global.
Todavia, antes de expor os dados e as estimativas do
IPCC, examinar-se-á a polêmica criada por um grupo de
cientistas que não concordam com a tese do aquecimento
global antrópico. Tal polêmica teve início quando o tema
das mudanças climáticas tornou-se recorrente e importante,
assim as controvérsias foram se apresentando em duas li-
nhas de pensamento discordantes. Os grupos contrários à
opinião do IPCC se diferenciam da seguinte forma: um grupo
não acredita na tese de que está existindo uma mudança
climática, e outro grupo afirma que a mudança climática
existe, mas não é acelerada pelas atividades antrópicas.
O grupo mais cético afirma que a mudança climática com
aumento da temperatura média da Terra — aquecimento
global — é uma falácia10, não acredita nas análises dos cli-
matologistas, nos dados climáticos e nem nas previsões dos
modelos computacionais. Tanto um grupo quanto o outro
questiona as conclusões do IPCC e boa parte defende a hi-
pótese de que os ciclos naturais da Terra em períodos de
10 Ver (MOLION, 2008) e (ONÇA, 2011).
87
Mudanças climáticas e ambientais
glaciação e inter glaciação são os responsáveis pelas mudan-
ças do clima (CASAGRANDE, 2011; NETO, 2010).
Suas argumentações contraditórias se pautam na faci-
lidade em contextualizá-las11 devido à enorme quantidade
de dados e incertezas inerentes a área de ciência climática.
Para defender suas ideias publicam artigos, escrevem em
sites, usam como exemplos eventos ou fatores climáticos iso-
lados e não apresentam pesquisas com densidade, estudos
globalizados de volume quando comparados com o estudo
do IPCC (TAMAIO, 2010). Na defesa do IPCC, um dos seus
membros, o cientista brasileiro Carlos Nobre, do Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), expõe em entrevista
alguns aspectos por trás das críticas, comentando (NOBRE,
2010, sn):
Esses acontecimentos servem de impulsopara os céticos porque não conseguemtrazer qualquer fato científico novo, sur-preendente, que coloque realmente emdúvida a ciência robusta e sólida do aque-cimento global. Assim, se apegam a qual-quer coisa — por exemplo, o inverno ri-goroso no hemisfério norte — para con-testar o aquecimento do planeta. Comonão têm condições de debater no nívelda ciência, por isso querem jogar o de-bate em um nível político. Existem aíenormes interesses econômicos afetadospela mudança do paradigma da geraçãode energia, pela troca de todo o sistemade produção a partir do qual construí-mos o bem estar moderno.
11 O grupo, conhecido como “céticos” do aquecimento global, não reco-nhece os resultados do IPCC, possui poucos trabalhos publicados e,em geral, sem revisão por pares (TAMAIO, 2010).
88
Contextos: educacionais e históricos
A natureza do clima a nível global permite a entrada de
polêmica, porque sua mudança se dá numa escala de tempo
muito superior à vida humana e pela falta de provas sólidas
da relação do clima com os povos em eras antigas. Todavia,
a maioria dos cientistas concorda com as análises do IPCC:
a atividade antrópica tem provocado um aumento na injeção
de gases de efeito estufa na atmosfera — dióxido de carbono
(CO2), metano (CH4), óxido nitroso (NO2), perfluorocarbonos
(PFCs), hidrofluorcarbonos (HFCs), hexafluoreto de enxofre
(SF6 ) e clorofluorcarbonetos (CFCs) — e isso tem aumentado
a temperatura da Terra nos últimos séculos. O presente
trabalho concorda com as análises do IPCC (IPCC, 2014d).
A mudança do clima provocada pela atividade humana
pode suscitar dúvidas, mas quanto às mudanças ambientais,
— desmatamento e queimada das florestas, poluição dos
recursos hídricos, ataque aos ecossistemas, degradação dos
solos — elas são tão evidentes que não permitem a menor
possibilidade de incerteza.
No mundo atual salta aos olhos a rapidez com que a ativi-
dade humana tem modificado e degradado o meio ambiente:
mais da metade das florestas do mundo foi desmatada, boa
parte para extração de madeira e para criação de pasto na
atividade pecuária; a oferta de água potável tem diminuído
pelo contínuo assoreamento e poluição de rios; o esgota-
mento de recursos minerais, a esterilização dos solos por
uso de materiais tóxicos e um consumo crescente devido a
explosão populacional impedem o planeta de recompor os
seus recursos.
89
Mudanças climáticas e ambientais
Infelizmente essas degradações ambientais estão contidas
nos cenários dos relatórios de avaliação do IPCC, com alta
confiança. Contudo, os relatórios também nos fornecem
formas de agir para mitigar os cenários climáticos ligados
aos problemas socioambientais. As formas de mitigações
das emissões de gases estufa para atmosfera, buscando
diminuir os efeitos das mudanças climáticas, e as indicações
de como devemos nos preparar, realizando adaptações a
essas mudanças, são as contribuições dos Relatórios de
Avaliação (RAs) do IPCC para humanidade.
IPCC: Estrutura, dados e objetivos
O IPCC é um tipo de assessor científico dos decisores
políticos do mundo e reflete pontos de vistas de uma parcela
da comunidade científica. Sendo um órgão intergoverna-
mental, é compreensível que os decisores queiram exercer
pressões políticas, uma vez que os cenários e previsões divul-
gados pelo IPCC podem influenciar conjunturas nacionais
de ordem econômica, política e social.
Ao tratar de um assunto da complexidade do clima e do
meio ambiente, fontes de uma enorme quantidade de dados
e pesquisas, é concebível que algumas previsões apresentem
falhas e suscitem alguma polêmica. No geral, os relatórios do
IPCC são pautados em evidências científicas publicadas em
artigos de revistas especializadas, pesquisas feitas em Insti-
tutos e Universidades de reconhecido valor (NETO, 2010).
90
Contextos: educacionais e históricos
Quais as finalidades do IPCC? As suas atribuições são
várias, porque ele precisa cobrir um vasto campo interdisci-
plinar de conhecimento e avaliar uma gigantesca quantidade
de dados climáticos fornecidos pela pesquisa em mudan-
ças climáticas. Seu papel é fornecer ao mundo uma visão
científica clara sobre o estado atual de conhecimento em
mudanças climáticas e seus potenciais impactos ambientais
(IPCC, 2010)12.
Para conseguir gerir essa responsabilidade, o IPCC possui
uma considerável estrutura. Sua composição é formada
por cientistas e pela sociedade civil, e atualmente são 194
estados-membros que produzem um fórum de exposição e
discussão de ideias, dedicado especificamente ao tema das
mudanças climáticas. De forma voluntária, milhares de
cientistas em todo o mundo contribuem para o trabalho do
painel, seja como autores, colaboradores ou revisores (IPCC,
2010).
A avaliação do contexto político, econômico e social é feita
pelos representantes de estados que a priori não pressionam
e nem influenciam os pesquisadores em busca de distorcer
os resultados científicos. Os representantes se reúnem com
centenas de funcionários e especialistas de agências dos paí-
ses membros, formando sessões plenárias uma vez por ano,
num trabalho orientado por um conjunto de princípios e pro-
cedimentos (IPCC, 2010). Quando se observa a magnitude
12 O número de publicações relevantes na elaboração de um relatóriocresceu de cerca de 5.000, entre 1991-1995, para cerca de 19.000para o período de 2001-2005 [...]. Mais de 90 mil comentários foramrevisados para o Quarto Relatório de Avaliação (IPCC, 2010, p.3).
91
Mudanças climáticas e ambientais
dos números envolvidos é fácil ter uma ideia do tamanho
da dificuldade do trabalho do IPCC, principalmente se for
levada em consideração a meta de produzir consenso em
meio a tantas diferenças e valores
Como resultado desse trabalho é gerada uma compilação
revisada de uma crescente produção científica que almeja
ser compreensiva, objetiva, transparente e aberta. Uma
das funções mais importantes do IPCC é produzir relatórios
numa média de quatro a cinco anos, e o principal tipo são os
Relatórios de Avaliação (RAs). Foram produzidos até agora
cinco RAs, publicados em 1990, 1995, 2001, 2007 e em
2014.
Quando prontos, formam volumosas compilações de in-
formações científicas, técnicas e socioeconômicas sobre as
mudanças climáticas13. A revisão de procedimentos dos rela-
tórios de avaliação do IPCC feita em 2010 informa que seus
objetivos (IPCC, 2010, p.7)
13 Segundo a Revisão de procedimentos do IPCC (IPCC, 2010, p.2) a“[...] avaliação de clima intergovernamental é uma tarefa inerente-mente difícil. Ela envolve milhares de pessoas com conhecimentos di-ferentes, culturas, interesses e expectativas. A informação disponívelsobre a mudança climática é extensa, multidisciplinar e multinacio-nal na natureza; estende-se através de múltiplas escalas espaciais etemporais; está sujeita a diferentes interpretações; e tem uma amplagama de incertezas [...]. Os processos e procedimentos para a reali-zação da avaliação devem ser detalhados, mas não demasiadamentenormativos. Quanto aos representantes do governo, devem ter umpapel importante na avaliação, devem exercer as suas funções semperguntar aos cientistas questões de endereços que estão além dafronteira científica, sem distorcer as descobertas científicas.”
92
Contextos: educacionais e históricos
... são destinados a fornecer uma aná-lise abrangente e objetiva da literaturadisponível sobre a natureza e as causasdas mudanças climáticas, seus potenci-ais impactos ambientais e socioeconômi-cos e possíveis opções de resposta.
Pode se ter uma ideia de como são significativos os nú-
meros de artigos, dados e pesquisas, avaliados pelo IPCC em
sua evolução a cada relatório, pelos números contidos na
figura 12.
Figura 12 – Trabalhos avaliados nos relatórios do IPCC
Fonte: (IPCC, 2010) (Legenda do gráfico adaptada pelo autor.)
A constituição do IPCC é formada por três Grupos de
Trabalho (GTs) — O GT I, O GT II e o GT III — e eles elabo-
93
Mudanças climáticas e ambientais
ram os seus relatórios do IPCC. O GT I é o grupo que lida
com a base física das alterações climáticas. O Grupo de
Trabalho II com Mudanças Climáticas, Impactos, Adaptação
e Vulnerabilidade, e o Grupo de Trabalho III com Mitigação
das Alterações Climáticas14. O GT II e o GT III são os grupos
de estudo que descreveremos com mais detalhes.
Esse detalhamento será feito inicialmente nos quatro
primeiros relatórios. Foi descrito um resumo deles, em or-
dem cronológica, buscando argumentos e dados sobre a
tendência do aumento da temperatura da Terra provocado
por atividades antrópicas. Dentro dos resumos são aponta-
dos elementos do desenvolvimento sustentável e formas de
mitigação e adaptação às mudanças climáticas voltadas ao
contexto da educação.
O primeiro relatório de avaliação
O primeiro relatório de avaliação (PRA) do IPCC foi apre-
sentado em 1990 e confirmou a mudança climática como
14 De forma mais específica:
1) O GT II: avalia a vulnerabilidade dos sistemas socioeconômicos enaturais às mudanças climáticas, suas consequências positivas enegativas, e as opções para se adaptar a ela;
2) O GT III: estuda a mitigação das mudanças climáticas em seusaspectos científicos, técnicos, ambientais, econômicos e sociais;avalia as opções políticas e tecnológicas para as mitigações, atra-vés de limitações ou impedimentos às emissões de gases de efeitoestufa, e propõe atividades de aprimoramento que os remova daatmosfera.
94
Contextos: educacionais e históricos
um problema global e que possuía bases científicas. O GT III
deste RA corrobora a existência de um aquecimento global
em andamento quando afirma (IPCC, 1990, p.xxv),
Estamos certos de que emissões resul-tantes de atividades humanas estão au-mentando substancialmente as concen-trações atmosféricas de gases de efeitoestufa: dióxido de carbono, metano, clo-rofluorcarbonetos (CFC), e óxido nitroso.Estes aumentos irão aumentar o efeitoestufa, resultando, em média, num aque-cimento adicional da superfície da Terra.
O desenvolvimento sustentável — um dos pontos de es-
tudo desse livro — se apresenta como um dos seus principais
elementos no PRA, figurando como estratégia de resposta
no enfrentamento das mudanças climáticas. Em qualquer
sociedade existe a necessidade de crescer economicamente
para diminuir índices como pobreza e escassez de recursos.
Entretanto, frisa-se que a existência do crescimento econô-
mico contínuo só terá êxito se for construída numa base
formada no desenvolvimento sustentável com valores de con-
servação ambiental. Sendo isso verdade, o desenvolvimento
sustentável só pode ser construído com a implementação de
estratégia social, econômica e ambiental compatíveis com
suas premissas e que só serão aperfeiçoadas com um maior
entendimento das mudanças climáticas (IPCC, 1990).
Um exemplo são as políticas de curto prazo incentivando
tecnologias, podendo aumentar a produtividade ou eficiência
— por unidade de terra ou água — nos plantios, florestas,
95
Mudanças climáticas e ambientais
pecuária, pescas e assentamentos humanos. Essas realiza-
ções configuram processos de mitigação buscando a redução
da emissão de gases de efeito estufa, e o primeiro relatório
do IPCC recomendava ações com ênfase na mitigação em
políticas agrícolas e pecuárias (IPCC, 1990).
Quanto ao aspecto educacional, o que foi tratado? A
educação pública — no sentido do grande público — foi con-
siderada uma boa política de freamento das emissões, pois
a população mundial bem informada, mesmo que superfici-
almente, é essencial para poder lidar com um problema tão
complexo como o das mudanças climáticas. Nesse sentido,
o IPPC orienta a adoção de uma série de ações nacionais e
internacionais para difundir amplamente informações sobre
as mudanças climáticas15.
O objetivo dessa difusão global é facilitar a adoção e im-
plementação de mitigação necessária e apropriada16. Vale
destacar que as abordagens educacionais e de informações,
apesar de terem alcance global, devem ser singulares em
suas características, para atender as necessidades especí-
15 Segundo o IPCC (1990): incentivar a ampla participação de todosos setores da população de todos os países desenvolvidos e em de-senvolvimento, na abordagem da problemática em mudança climá-tica buscando o desenvolvimento de respostas adequadas; enfatizarespecialmente principais grupos-alvo, tais como crianças e jovens, etambém os indivíduos em níveis domésticos, políticos e líderes, mídia,instituições de ensino, cientistas, empresas e setores agrícolas.
16 É orientado o seguinte princípio na política de mecanismo financeiropara uma opção de mitigação (IPCC, 1990, p.Li): “medidas que au-mentem a capacidade dos países em desenvolvimento para desen-volver programas visando enfrentar a mudança do clima, inclusiveatividades de pesquisa, desenvolvimento, conscientização pública eeducação.”
96
Contextos: educacionais e históricos
ficas de determinados locais, países ou regiões, uma vez
que será uma exigência da diversidade social, econômica e
cultural envolvida no processo.
O segundo relatório de avaliação
O Segundo Relatório de Avaliação (SRA) veio a público em
1995 e representou um marco importante para a proposição
do Protocolo de Quioto em 1997. Este protocolo surgiu
propondo um calendário de redução da emissão de gases de
estufa, no período entre 2008 e 2012, pelos países ricos, de
pelo menos 5,2% em relação aos níveis de 1990, o qual não
se cumpriu.
O SRA apresentou um nível de detalhamento maior e
um olhar mais apurado sobre os efeitos socioeconômicos
dos impactos das mudanças climáticas, propondo soluções
antrópicas em curto e longo prazo, a nível regional e global
(IPCC, 1995). Examinou o aspecto da vulnerabilidade17 e
reafirmou que as concentrações de gases de efeito estufa
continuaram a aumentar, mas ressaltou a impossibilidade
de se estabelecer firmemente uma ligação clara entre as
mudanças climáticas e as atividades humanas.
17 Vulnerabilidade é o grau pelo qual um sistema é susceptível ou inca-paz de enfrentar efeitos adversos da mudança climática, incluindo avariabilidade e os extremos do clima. É função do caráter, magnitude,rapidez da mudança climática, da variação a que um sistema estáexposto, de sua sensibilidade e sua capacidade de adaptação (IPCC,1995).
97
Mudanças climáticas e ambientais
Algumas responsabilidades do GT II e GT III foram modi-
ficadas no segundo relatório (IPCC, 1995). O GT II adquiriu
responsabilidade de avaliar a viabilidade técnica e econô-
mica de uma série de medidas adaptativas e mitigatórias,
que antes pertencia ao GT III. Uma gama de abordagens para
reduzir as emissões e aumentar os sumidouros de gases do
efeito estufa, com vistas a estabilizar suas concentrações
atmosféricas, foram examinadas, mas não se tentou medir
as potenciais consequências macroeconômicas. Um exemplo
seria mensurar o custo em termos de empregos pela redução
do consumo de energia a base de petróleo.
O SRA já alertava que a mitigação das emissões de ga-
ses estufa depende da redução das barreiras de difusão e
transferência de tecnologia, da mobilização de recursos fi-
nanceiros, de abordagens para ajudar na implementação de
mudanças comportamentais e da geração de oportunidades
tecnológicas, em todas as regiões do globo (IPCC, 1995). O
IPCC reitera que as mitigações são importantes pois incenti-
vam o desenvolvimento sustentável. Por outro lado, se tais
barreiras não forem eliminadas, a interferência da atividade
humana no clima e no ambiente podem atingir níveis perigo-
sos trazendo danos sociais e ambientais consideráveis, talvez
sem remediação.
A ligação entre o desenvolvimento sustentável e o aspecto
ambiental é fortalecida pelas implementações de mitigação
das emissões de gases estufa e das degradações no meio
ambiente, ações que podem evitar uma interferência an-
tropogênica perigosa no sistema climático. Preparar boas
98
Contextos: educacionais e históricos
condições para o melhoramento das componentes do de-
senvolvimento sustentável — dimensão econômica, social e
ambiental — é o caminho para uma maior qualidade de vida.
Segundo o relatório (IPCC, 1995, p.15),
A UNFCCC18 observa que as respostasàs alterações climáticas devem ser coor-denadas com o desenvolvimento social eeconômico de forma integrada, com vis-tas a evitar impactos adversos sobre esteúltimo, levando plenamente em conta as[...] necessidades prioritárias dos paísesem desenvolvimento para a realização dodesenvolvimento sustentável e da erradi-cação da pobreza. A convenção tambémobserva as capacidades comuns, mas di-ferencia as responsabilidades de todasas partes para proteger o sistema climá-tico.
A recomendação da UNFCC, de integração do desenvolvi-
mento social com o econômico, afim de erradicar a pobreza e
implementar o desenvolvimento sustentável, está condicio-
nada a uma melhoria no nível de educação. No âmbito da
educação, o SRA cita a sua importância em alguns procedi-
mentos de forma genérica, entre elas o seu poder em facilitar
a penetração de tecnologias menos emissoras de gás estufa
e a possibilidade de conseguir modificação dos padrões de
consumo.
18 United Nations Framework Convention on Climate Change. Conven-ção regulada pelas Nações Unidas que estabelece um marco legal paraas mudanças climáticas.
99
Mudanças climáticas e ambientais
O terceiro relatório de avaliação
A síntese do Terceiro Relatório de Avaliação (TRA) do
IPCC foi lançada em 2001 e as responsabilidades dos GTs
sofreram alguns ajustes. O GT III avaliou aspectos científicos,
técnicos, ambientais, econômicos e sociais da mitigação das
mudanças climáticas, aprofundando as conclusões do SRA e
de outros relatórios especiais.
A certeza a respeito do aquecimento global antrópico au-
mentou, uma vez que o GT I trouxe significativas evidências
com bases científicas em observações meteorológicas nos úl-
timos 50 anos. O GT II se concentrou sobre a sensibilidade,
a vulnerabilidade e a capacidade de adaptação dos sistemas
naturais e humanos. A preocupação com a análise da di-
mensão social aumentou, e foram consideradas propostas
de medidas para adaptação à mudança climática, à imple-
mentação do desenvolvimento sustentável e à ampliação da
equidade social.
As políticas atuais e potenciais de mitigação das mu-
danças climáticas foram um dos temas centrais estudados
pelo GT III, que avaliou as dificuldades operacionais de mi-
tigação, seus custos e os benefícios gerados. A certeza da
existência de uma forte relação entre a mitigação e o de-
senvolvimento sustentável estava impressa no TRA, sendo
apontado que a eficácia do desenvolvimento sustentável ocor-
rerá se existirem políticas climáticas integradas às políticas
de desenvolvimento, isto é, políticas climáticas de mitigação
trazendo benefícios em certas áreas externas às mudanças
100
Contextos: educacionais e históricos
climáticas. Observe quais políticas voltadas às mudanças
climáticas foram citadas no TRA:
1) Aumentar o emprego;
2) Reduzir os impactos ambientais negativos (como a po-
luição do ar);
3) Proteger e valorizar as florestas, solos e bacias hidro-
gráficas;
4) Onerar através de impostos as atividades que aumen-
tam as emissões de gases de efeito estufa;
5) Induzir a mudança tecnológica e sua difusão, contri-
buindo para os objetivos mais amplos do desenvolvi-
mento sustentável (IPCC, 2001b, p.32).
Uma mitigação importante citada acima e que será tra-
tada com mais detalhes é a parte relativa às florestas, terras
agrícolas e outros ecossistemas terrestres. Já em 2001, o
TRA mostrava um potencial significativo de mitigação do
carbono se fosse feito o uso de estratégias adequadas nessas
áreas (IPCC, 2001b). Por certo, a conservação das flores-
tas significa também fazer a manutenção dos depósitos de
carbono existentes, e um reflorestamento eficaz em áreas
depredadas aumenta o tamanho dos reservatórios para se-
questro carbonífero.
São diversas as modalidades de mitigação propostas, no
entanto elas também produzem consequências. Por exem-
plo, uma mitigação de natureza biológica — implantação
101
Mudanças climáticas e ambientais
de biomassa energética — pode trazer benefícios e prejuí-
zos ambientais, como perda de biodiversidade e poluição da
água subterrânea. Este é um exemplo de uma barreira téc-
nica, mas a implementação das opções de mitigação de gases
estufa precisa superar outras barreiras de caráter político,
comportamental, institucional, social e econômico.
Observe um caso de barreira social: os pobres de qual-
quer nacionalidade possuem oportunidades limitadas para
adotar tecnologias ou mudar seu comportamento social, es-
pecialmente se eles não fazem parte de uma economia de
circulação de capital. Os pobres não possuem recursos para
possuir os produtos oferecidos por uma mitigação social
com tecnologias limpas, embora essa mitigação traga um
aumento de poder compra, beneficiando o comércio e o nível
de consciência, diminuindo assim, a depredação e a emissão
de poluentes.
Também foi descrito que a adaptação para as mudanças
climáticas é uma estratégia necessária em todas as escalas e
setores para complementar os esforços de mitigação. Con-
tudo, mesmo que aconteçam as reduções de emissões de
gases estufa até a estabilização das suas concentrações na
atmosfera a um nível baixo, isso não vai impedir completa-
mente as mudanças climáticas ou a elevação do nível do mar,
e nem evitar seus impactos (IPCC, 2001a; IPCC, 2001b).
Muito pouco foi comentado a respeito da educação no
TRA, a não ser uma citação apontando-a como uma das
opções influenciadoras da capacidade de adaptação às mu-
danças climáticas. No que concerne o desenvolvimento sus-
102
Contextos: educacionais e históricos
tentável, foi ressaltado que deveria ocorrer sinergia entre
as políticas do clima e as políticas gerais. Essas políticas
deveriam ser redutoras das pressões sobre os recursos, me-
lhorando a gestão dos riscos ambientais e aumentando o
bem-estar dos membros mais pobres da sociedade (IPCC,
2001a, p.8).
O quarto relatório de avaliação
As evidências obtidas por meio de observações
de todos os continentes e da maior parte dos
oceanos mostram que muitos sistemas naturais
estão sendo afetados pelas mudanças climáti-
cas regionais, principalmente pelo aumento de
temperatura.
Relatório Sintético do IPCC, 2007
Os Grupos de Trabalho do quarto relatório de avalia-
ção (QRA) tornaram públicas suas contribuições antes de
o finalizarem, ao término do ano de 2007. A existência
do aquecimento global foi reafirmada pelo QRA com base
num número maior de evidências e dados a respeito das
mudanças climáticas. Um exemplo foram as observações
do aumento na temperatura média global desde meados do
século XX causado, muito provavelmente, pelo crescimento
registrado nas concentrações antrópicas de gases de efeito
estufa (GEE). Dessa maneira, o QRA foi enfático ao defender
que existe uma menor incerteza a respeito da responsabili-
103
Mudanças climáticas e ambientais
dade humana no aquecimento global, como está exposto nos
formuladores de política (IPCC, 2007a, p.2):
O aquecimento do sistema climático ago-ra é inequívoco e evidente, a partir de ob-servações de aumento mundial de tem-peraturas médias do ar e do oceano, der-retimento generalizado de neve, gelo eelevação do nível médio global do mar.
O GTI usou modelos climáticos mais complexos com si-
mulações mais confiáveis e aumentou sua base científica
constatando que as emissões de gás carbônico continuavam
crescendo, mesmo com os avisos dos relatórios anteriores
e com os compromissos assumidos pelos governos (IPCC,
2007a). O GT II manteve seu foco tratando dos impactos das
mudanças climáticas sobre os sistemas naturais e humanos,
de sua vulnerabilidade e da capacidade de adaptação.
O GT III avaliou instrumentos e políticas de mitigação
concluindo que se forem bem aplicadas, com o desenvolvi-
mento sustentável, os benefícios econômicos da mitigação
devem superar seus custos. Indo mais além dos relatórios
anteriores, o QRA analisou os impactos de forma mais am-
pla, aprofundou o estudo da adaptação e reforçou que os
danos do aquecimento global serão maiores nas regiões sub-
desenvolvidas e em desenvolvimento. De forma progressiva,
o QRA continuou os estudos dos relatórios anteriores exa-
minando novos setores e sistemas até então não relatados
(IPCC, 2007a).
O quarto relatório indica que a adaptação e a mitigação
feitas sozinhas não evitam todos os impactos das mudanças
104
Contextos: educacionais e históricos
climáticas, mas podem reduzir significativamente seus riscos
se forem executadas de forma mútua e complementar. Al-
guns benefícios e alertas da mitigação, além de sua lentidão
de aplicação, são colocados no relatório da seguinte forma
(IPCC, 2007a, p.19):
Muitos efeitos podem ser reduzidos, atra-sados ou evitados pela mitigação. Os es-forços de mitigação e de investimentossobre as próximas duas ou três décadasterão um grande impacto sobre oportuni-dades para alcançar níveis de estabiliza-ção mais baixos. Reduções de emissõestardias restringem significativamente asoportunidades, para alcançar os níveismais baixos de estabilização, e aumen-tam o risco de impactos mais graves damudança climática.
Processos de mitigação, além de gerar benefícios diretos
em longo prazo, podem gerar benefícios indiretos em curto
prazo diminuindo uma parte substancial dos custos de sua
implementação. Isso pode ser visto na melhoria da saúde,
evitando gastos hospitalares devido à redução da poluição
atmosférica. Há elevada concordância — jargão usado pelo
IPCC — mostrando que mudanças no estilo de vida, padrões
de comportamento e práticas de gestão podem contribuir
para a mitigação das mudanças climáticas em todos os seto-
res (IPCC, 2007a).
Pelo exposto, a mitigação, a adaptação e o desenvolvi-
mento sustentável são bons instrumentos para diminuir as
consequências das mudanças climáticas. Contudo, o relató-
105
Mudanças climáticas e ambientais
rio informa que, mesmo com políticas de mitigação e práticas
de desenvolvimento sustentável feitas em conjunto, haverá
ao longo das próximas décadas um crescimento da emissões
globais de GEE. Obviamente que se essas práticas forem
executadas separadamente e fora do tempo previsto, não
trarão os efeitos mitigadores desejados, e as emissões de
GEE serão ainda maiores.
Assim fica cada vez mais claro que o desenvolvimento
sustentável possui forte relação com os processos de mitiga-
ção e adaptação a serem implementados. Ressalta-se uma
última informação a respeito do desenvolvimento sustentá-
vel contida no QRA: a implementação de uma rota para o
desenvolvimento sustentável, como opção de resposta às mu-
danças climáticas, é feita sem retardamento quando se evita
conflitos entre suas dimensões. Esses reveses entre o de-
senvolvimento econômico, ambiental e social serão tratados
com mais detalhes no próximo capítulo. Quanto à educação,
o relatório sintético não faz comentários precisos, contudo
no sumário dos formuladores de política é informado, com
generalidade, que a educação pode gerar impactos positivos
na mitigação (IPCC, 2007a, p.59).
106
4
O quinto relatório de avaliação do
IPCC
A influência humana sobre o sistema climático é
clara e as emissões antrópicas de gases de efeito
estufa recentes são as maiores da história. As
recentes mudanças climáticas causarão impactos
generalizados sobre os sistemas humanos e natu-
rais.
Relatório Sintético do IPCC, 2014
Agora vamos analisar pontos importantes do Quinto Rela-
tório de Avaliação (QR5) para os objetivos deste livro. A
presente análise se tornou um pouco mais extensa devido a
esse relatório ser o mais recente e possuir consequentemente,
mais dados e informações a serem examinados. Contudo,
buscou-se manter o foco nos aspectos estudados nos RAs
anteriores. Será sintetizado o previsto no QR5 na área de
mitigação, adaptação e desenvolvimento sustentável. Essas
Mudanças climáticas e ambientais
análises servirão para o contexto da educação, tema a ser
trabalhado nos próximos capítulos.
Foi confirmado pelo QR5, com maior grau de certeza
em relação aos estudos contidos nos RAs anteriores, que a
interferência humana no sistema climático está ocorrendo, e
uma mudança climática pode colocar em riscos os sistemas
naturais e humanos (IPCC, 2014b).
O GT II contribui com a avaliação de impactos, adaptação
e vulnerabilidade, calculando como os padrões de riscos e
benefícios potenciais estão mudando devido às mudanças do
clima. Com uma base de conhecimento substancialmente
maior da literatura científica, técnica e socioeconômica, o GT
II realizou uma avaliação abrangente através de um conjunto
mais amplo de temas e setores (IPCC, 2014b). O Grupo de
Trabalho III do QR5 toma como base o trabalho de avaliação
do QRA, incorporando novas descobertas e resultados de
pesquisas posteriores. O referido grupo avaliou a literatura
da mitigação climática sobre os aspectos científicos, tecnoló-
gicos, ambientais, econômicos, sociais e ainda, suas diversas
opções em diferentes níveis governamentais, em distintos
setores da economia e suas implicações sociais em diferentes
políticas (IPCC, 2014c).
A mitigação e adaptação no QR5
No aspecto relativo à mitigação, o QR5 a define como uma
ferramenta de intervenção humana para reduzir as fontes de
108
Contextos: educacionais e históricos
emissão ou ampliar os sumidouros de gases de efeito estufa
(IPCC, 2014c), e alerta que políticas de Redução de Dióxido
de Carbono (RDC) provavelmente precisam ser implantadas
em grande escala e em pelo menos um século, para surti-
rem efeito e serem capazes de reduzir significativamente as
concentrações de CO2 (IPCC, 2014d).
A adaptação segundo o QR5 é um ajustamento nos siste-
mas naturais ou humanos, em resposta a estímulos climáti-
cos reais ou esperados, com objetivo de reduzir os impactos
da mudança climática. De uma forma geral, as sociedades
normalmente se adaptam aos impactos do tempo e do clima.
Esses ajustamentos climáticos e ambientais estão ocorrendo
na sociedade atual, todavia em escala e bases limitadas. As
medidas de adaptação são efetivadas de forma rápida quando
comparadas à mitigação, e geram benefícios por reduzirem
as vulnerabilidades à variabilidade climática1 e à mudança
do clima.
O QR5 reafirmou que a adaptação e a mitigação podem
reduzir os impactos e riscos da mudança climática, devendo
ser implementadas com planejamento, uma vez que podem
influenciar de forma positiva ou negativa2 a realização de
outros objetivos sociais. Em determinados casos, processos
de mitigação e adaptação podem apresentar efeitos indesejá-
veis relacionados à saúde humana, à segurança alimentar,
1 A variabilidade climática é uma variação das condições climáticas emtorno da média climatológica.
2 Alguns dos efeitos climáticos e ambientais de métodos de RDC, estãoassociados com albedo da superfície de arborização alterada, oxigena-ção, fertilização dos oceanos e as emissões de N2O aprimorados (IPCC,2014d).
109
Mudanças climáticas e ambientais
à biodiversidade local, à qualidade ambiental, ao acesso à
energia, aos meios de subsistência e ao desenvolvimento
sustentável e equilibrado. Assim, é importante considerar as
estimativas na precisão dos benefícios de uma mitigação e
das diversas possibilidades de impactos que as mitigações
podem trazer (IPCC, 2014c). Um destes benefícios é a redu-
ção da necessidade de futuras adaptações, uma vez que a
mitigação e a adaptação são estratégias que guardam entre
si uma relação inversa.
Os impactos das respostas de adaptação e mitigação são
mais fortes nos excluídos de qualquer ordem, pessoas que
são marginalizadas social, econômica, cultural, política e
institucionalmente (IPCC, 2014b). Portanto, a situação para
os mais desfavorecidos no contexto das mudanças climáticas
não é agradável, pois qualquer que seja a opção escolhida,
haverá um certo desconforto. Se não houver implementação
de mitigação, sentirão mais fortemente os efeitos da mu-
dança do clima e na segunda opção, com implementação de
mitigação — embora sejam mais leves os efeitos — ficarão
com a maior parte do ônus desagradável.
O IPCC é tácito ao afirmar que os pobres sofrerão mais,
todavia alerta que as consequências das mudanças atingirão
a todos, pois não há imunidade em processos climáticos e
ambientais. Com efeito, processos atmosféricos ocorrem em
escala global e todos são atingidos em determinado grau.
A maioria dos gases de efeito estufa se acumula ao longo
do tempo formando uma massa de gás homogênea com-
partilhada no mundo inteiro. Dessa forma, as emissões
110
Contextos: educacionais e históricos
por qualquer agente individual, comunidade, empresa ou
país afetam outros agentes. Uma mitigação eficaz deve ser
coletiva e colaborativa, anulando interesses individuais de
qualquer natureza3 (IPCC, 2014c; IPCC, 2014f).
Nessa busca por implementar mitigações para amenizar
os efeitos das mudanças climáticas, o fator tempo é um
elemento primordial. A demora na aplicação de mitigações
dificultará ainda mais a transição para baixos níveis de
emissões em longo prazo, e reduzirá a diversidade de opções
consistentes para a manutenção da temperatura em níveis
confortáveis. Em verdade, o atraso da implementação de
mitigação não devia nem ser cogitado, já que o IPCC mostra
a necessidade do aumento da densidade de mitigação para
evitar um aumento da emissão de CO2 (IPCC, 2014f, p.10):
Na ausência de ações concentradas demitigação, as próximas décadas iriam vera tendência prolongada, com um cresci-mento contínuo das emissões globais im-pulsionadas principalmente pelas emis-sões crescentes dos países em desenvol-vimento.
Outro fator importante a ser considerado são os limites
de adaptação às mudanças climáticas, uma vez que eles
podem dificultar o fornecimento de respostas e a implemen-
tação de mitigação. Tais limites podem ser físicos, ecológicos
3 Uma mitigação eficaz não será alcançada se os agentes individuaispromoverem seus próprios interesses de forma independente. Eladeve ser internacional, com características sintonizadas para as ques-tões de mudança climática e em caráter colaborativo (IPCC, 2014c,p.4).
111
Mudanças climáticas e ambientais
ou tecnológicos. Os limites físicos e ecológicos dependem
de dois fatores: resiliência dos sistemas socioecológicos às
mudanças climáticas e aparecimento de limites críticos4. Os
limites tecnológicos dependem da adaptação da sociedade à
tecnologia, podendo ser tecnologicamente possíveis, mas não
economicamente viáveis ou culturalmente desejáveis (IPCC,
2014b; IPCC, 2014c).
Uma atenção especial deve ser dada aos limites ecoló-
gicos, região fronteiriça da vida ecossistêmica onde deve
ser evitada qualquer aproximação! Mudanças climáticas de
alta magnitude podem fazer com que os limites ecológicos
sejam ultrapassados, e isso pode levar a falência sistemas
biofísicos e criar constrangimentos socioeconômicos, dimi-
nuindo sinergias positivas entre adaptação e mitigação, con-
sequentemente destruindo os alicerces para a construção do
desenvolvimento sustentável (IPCC, 2014b).
Algumas importantes mitigações no QR5
Os tipos de mitigação e adaptação às mudanças climáti-
cas citados pelo QR5 são inúmeros e descrever todos é um
processo exaustivo e desnecessário neste momento. Mesmo
porque a mitigação aplicada às florestas e aos recursos hí-
dricos será brevemente explanada por estar mais contextua-
4 A resiliência dos sistemas socioecológicos guarda dependência coma magnitude das mudanças climáticas e da velocidade com que elasacontece. Os limites críticos são atingidos quando existe alteraçãoradical do estado funcional e da integridade de ecossistemas, comoflorestais e recifes de corais.
112
Contextos: educacionais e históricos
lizada com os objetivos deste livro. Uma análise mais ampla
desses dois sistemas será feita posteriormente.
Um bloco dessas mitigações importantes contidas no QR5
está relacionado com à Agricultura, Florestas e Outros Usos
do Solo (AFOLU), desempenhando um papel central para a
segurança alimentar e o desenvolvimento sustentável. Miti-
gações nessas áreas oferecem o melhor custo-benefício da
seguinte maneira (IPCC, 2014c; LOCATELLI et al., 2011):
1) Mais rentabilidade na silvicultura com reflorestamento,
manejo florestal sustentável e redução do desmata-
mento;
2) Na agricultura pode-se obter mais rentabilidade com
gestão de terras agrícolas, pastagens e recuperação de
solos orgânicos.
Considerando só o setor de AFOLU, os processos de mi-
tigações e adaptações podem ser incentivados por um nú-
mero significativo de políticas em diversas áreas. Na área
econômica podem ser criadas: linhas de crédito especiais
para a agricultura de baixo carbono, silvicultura, práticas
sustentáveis, créditos negociáveis e pagamento por serviços
ambientais. Na área de regulação em forma de lei temos:
aplicação da legislação ambiental protegendo os estoques
de carbono florestal, redução do desmatamento e políticas
de controle da poluição da água reduzindo a carga de ni-
trato e as emissões de N02 (SCHOENEBERGER; BENTRUP;
GOOIJER, 2012).
113
Mudanças climáticas e ambientais
Em linhas gerais a redução das emissões de CO2 por meio
da diminuição do desmatamento e da degradação florestal,
além de serem políticas mitigatórias de rentabilidade, geram
benefícios diretos e indiretos nas áreas ambiental, econômica
e social, estendendo-se os benefícios para a conservação da
biodiversidade, gestão dos recursos hídricos e redução da
erosão do solo (IPCC, 2014c). Na silvicultura5, os vínculos
entre a promoção de estratégias mitigativas — como o plantio
de árvores, o desenvolvimento de sistemas agroflorestais ou
a conservação diversificada de ecossistemas — somados à
adaptação das pessoas para as mudanças climáticas têm
sido amplamente reconhecidos como benéficos (SCHOENE-
BERGER; BENTRUP; GOOIJER, 2012).
As medidas de mitigação do setor de AFOLU estão relacio-
nadas com o sistema de produção e consumo, isto é, incluem
opções de mitigação da oferta e da demanda. O aumento do
estoque de carbono através de sequestro em solo, a redução
do desmatamento, a conservação da terra e a gestão dos ani-
mais são exemplos de medidas de mitigação do lado da oferta.
Representando medidas do lado da demanda — mecanismo
de mitigação em grande parte não declarado para AFOLU
— temos o aumento da produção agrícola e florestal sem
um incremento proporcional das emissões de GGE, além da
redução de resíduos na cadeia de abastecimento alimentar e
da mudança na dieta da população.
5 Ciência dedicada ao estudo dos métodos naturais e artificiais de rege-nerar e melhorar os povoamentos florestais, com vistas a satisfazer asnecessidades do mercado e ao mesmo tempo estudar a manutenção,o aproveitamento e o uso racional das florestas.
114
Contextos: educacionais e históricos
A conservação do solo é um recurso essencial para o setor
de AFOLU, já que fibras e combustíveis saem do seio da
Terra para atender diversas finalidades no mundo, inclusive
a mais essencial, a alimentação e meios de subsistência para
7,3 bilhões de pessoas. A produção de alimentos depende da
água, um dos principais elementos ligados à AFOLU, fonte
da vida em abundância, diretamente ligada ao ciclo florestal,
cuja ausência desertifica os solos.
Mitigações de manejo florestal, como florestamento e reflo-
restamento, e também o contrário, ou seja, debaste florestal
e desmatamento, influenciam diretamente no rendimento de
água. A qualidade da água pode ser trabalhada com redu-
tores de erosão por meio de culturas com cultivo mínimo,
reduzindo o desmatamento, reflorestando bacias hidrográ-
ficas e margens de rios (TOWNSEND; HARPE; BRENNAN,
2012). Também as terras com alto teor de salinidade, que
possuem rebaixamento do lençol freático, podem ser remedi-
adas com plantio de cinturões de árvores.
Dentre inúmeras responsabilidades, a regulamentação do
clima por meio de mitigação é somente uma das funções da
AFOLU. A figura 13 do QR5 mostra um diagrama com grande
quantidade de informações sobre o setor AFOLU. Verifica-se
que políticas climáticas podem aumentar ou diminuir os su-
portes de serviços, tais como os processos evolutivos e o ciclo
da água. Também são apontadas múltiplas relações de troca
da AFOLU com a dimensão socioambiental na regulação,
suporte e provisionamento de serviços, bem como os serviços
culturais.
115
Mudanças climáticas e ambientais
Figura 13 – Serviços relacionados com o setor AFOLU.
Fonte:(IPCC, 2014a) (Traduzido pelo autor).
Existe uma dificuldade no setor AFOLU em separar as
emissões de GEE naturais da terra das emissões antrópicas.
Contudo, é sabido que no setor agrícola existe considerável
emissão de CO2, CH4 e NO2 para a atmosfera, resultante
do processamento de material orgânico e inorgânico. Com
exceção do CO2, o setor agrícola é considerado o maior emis-
116
Contextos: educacionais e históricos
sor de GEE, com 56% das emissões em 2005. Boa parte
dessas emissões provem da fermentação entérica, estrume
depositado em pastagem, fertilizantes sintéticos, cultivo de
arroz, manejo de dejetos, resíduos de colheitas, queima de
biomassa e adubo aplicado aos solos (SCHOENEBERGER;
BENTRUP; GOOIJER, 2012).
É bom lembrar, a exemplo de outros setores, que as mi-
tigações no setor de AFOLU alteram fluxos de GEE para
atmosfera e afetam processos biofísicos — como a evapo-
transpiração6 e o albedo7 — podendo acelerar ou reduzir a
mudança climática. Estudos indicam que a atividade an-
trópica no uso da terra, resultando em alterações na evapo-
transpiração vegetal e na rugosidade da superfície, provocou
um aumento de albedo. A supressão vegetal com o contínuo
desmatamento se enquadra nessas atividades, minimizando
mitigações nas florestas e maximizando os riscos de secas
invasivas (NOBRE, 2014b; SCHOENEBERGER; BENTRUP;
GOOIJER, 2012)
A mitigação do setor AFOLU para o meio ambiente e o
clima envolve inúmeros recursos interligados. Em termos
mais amplos, as mudanças geradas por políticas climáticas
em determinados setores afetam o comportamento de outros
setores. Sem dúvida as mitigações são exemplos, pois pos-
suem conexões múltiplas, fazendo com que seu processo de
6 Evapotranspiração é a perda de água do solo por evaporação e a perdade água da planta por transpiração.
7 Albedo é um importante parâmetro radiométrico adimensional, defi-nido como a razão entre a irradiância electromagnética refletida (deforma direta ou difusa) e a quantidade incidente.
117
Mudanças climáticas e ambientais
atuação em uma área com determinado objetivo influencie
outra área numa finalidade diferente. É importante observar
que as mitigações de reflorestamento possuem relações com
melhorias de eficiência no sequestro de carbono, e influen-
ciam mudanças de comportamento em relação ao consumo
de recursos hídricos.
Diante do exposto, percebe-se uma caminhada longa a
ser trilhada e os passos dados precisam ser coordenados,
para não perder a rota em busca da sustentabilidade. Prepa-
rar o terreno com implementação de mitigação e adaptação,
para reduzir os impactos das mudanças climáticas de forma
planejada e no tempo apropriado, é preparar um caminho cli-
mático resiliente para o desenvolvimento sustentável. Dessa
forma, um elemento importante — a educação — será ne-
cessário para que transformações trazidas pelas decisões
de ações econômicas, sociais, tecnológicas e políticas pos-
sam facilitar a construção de caminhos resistentes ao clima.
É certo que nesse planejamento, além das mudanças cli-
máticas, existem outros fatores estressantes envolvidos na
construção desse caminho: espaços não resilientes, estres-
sores biofísicos e sociais.
Observe a figura 14 do IPCC mostrando relações entre
os espaços resilientes, estressores biofísicos e sociais, com-
pondo caminhos, possibilidades futuras e seus riscos (IPCC,
2014c). A figura expõe grande quantidade de informações,
entretanto são destacadas as seguintes:
1) Estressores biofísicos e sociais: alterações e variabili-
dade climática, mudança no uso da terra, a degradação
118
Contextos: educacionais e históricos
Figura 14 – caminhos climáticos resilientes
Fonte: (IPCC, 2014b) (Traduzido pelo autor)
dos ecossistemas, pobreza e desigualdade e fatores cul-
turais afetando a capacidade de resiliência;
2) Espaço de oportunidade: resultado das escolhas feitas
nos pontos de decisão, levando a caminhos com menos
ou mais resiliência;
3) Vias superiores: caminhos climáticos resilientes obtidos
pelo aumento do conhecimento científico, da adaptação
e implantação de mitigação eficaz.
119
Mudanças climáticas e ambientais
Vale ressaltar que nessa busca de caminhos resilientes8,
aplicando mitigação e adaptação, os riscos são inerentes,
pois em todos os cenários analisados onde existiu implemen-
tação, algum risco de impactos adversos permanecerá (IPCC,
2014b). Aspectos importantes da mitigação citados pelo QR5,
como estilo de vida e mudanças comportamentais9, serão
tratados de forma mais específica no assunto de desenvol-
vimento sustentável. Entretanto é válido registrar o alerta
do IPCC “medidas de mitigação em atraso podem reduzir as
opções para caminhos resilientes ao clima no futuro” (IPCC,
2014b, p.25).
O desenvolvimento sustentável no QR5
No quinto relatório, os parâmetros influenciadores do de-
senvolvimento sustentável10 vão muito além das mitigações
e adaptações possuindo dependências diretas com o estilo
de vida, os valores e o comportamento, o capital social e
humano, o tipo de consumo e a produção da nossa socie-
dade. De forma sintética, outros fatores influenciadores do
desenvolvimento sustentável serão expostos a seguir.
8 Resiliência: no contexto das mudanças climáticas entende-se oquanto o agente em estudo está preparado para contornar as con-sequências trazidas pelo aquecimento global e se adaptar a elas.
9 Cenários indicam que o estilo de vida e mudanças comportamentaispoderiam reduzir os níveis atuais da demanda de energia em 20% nocurto prazo, e em 50% até meados do século (IPCC, 2014c).
10 O desenvolvimento sustentável e a equidade foram citados nos RAsanteriores, como elementos importantes para amenizar os efeitos dasmudanças climáticas.
120
Contextos: educacionais e históricos
O desenvolvimento sustentável para as mudanças climá-
ticas é primordial na ótica do QR5, posto que o capítulo 4
do relatório foi dedicado ao desenvolvimento sustentável e
à equidade. O QR5 simulou para esta avaliação cerca de
900 cenários com diferentes níveis de mitigação, por meio de
um banco de dados baseado em modelos integrados. Esses
cenários apresentam variedades de opções tecnológicas e
comportamentais, com diferentes características e implica-
ções para a sua implantação (IPCC, 2014c).
Uma das bases do desenvolvimento sustentável é a equi-
dade. Trata-se da igualdade que pode ser representada de
diversas formas no desenvolvimento sustentável, sugerindo
responsabilidades proporcionais à emissão de gases de efeito
estufa e à diminuição da pobreza entre as nações do mundo.
Uma atenção especial foi dada à pobreza, por ser conside-
rada uma barreira ao estabelecimento do desenvolvimento
sustentável, mas como opção para a sua redução foi indi-
cada a implementação de medidas democratizando alguns
serviços essenciais.
Para se ter uma dimensão do não partilhamento democrá-
tico dos serviços essenciais, cerca de 1,3 bilhão de pessoas
no mundo não têm acesso a eletricidade, e cerca de 3,0 bi-
lhões dependem de combustíveis sólidos tradicionais para
cozinhar e se aquecer, expondo a própria saúde e a dos ecos-
sistemas à poluição produzida, vulnerabilizando assim, a
própria possibilidade de desenvolvimento (IPCC, 2014d).
Um clima estável e tomadas de decisões sobre as mu-
danças climáticas são componentes fundamentais do desen-
121
Mudanças climáticas e ambientais
volvimento sustentável. Isso é de fácil constatação quando
se vê algumas políticas climáticas gerando benefícios indire-
tos para o desenvolvimento humano e econômico, enquanto
outras podem ter efeitos colaterais adversos e gerar riscos.
Algumas tomadas de decisão são apontadas no QR5 pela sua
relevância (IPCC, 2014f):
1) Mudança no estilo de vida e comportamento;
2) Escolhas tecnológicas corretas;
3) Procura do equilíbrio processual para tomada de deci-
são eficaz;
4) Exercício da ética e da distribuição equitativa dos en-
cargos nas avaliações das respostas do clima.
Pelas diversas características das tomadas de decisão,
realizar a transição para o desenvolvimento sustentável é um
processo multifacetário que vem exigir uma continuidade
política em várias gerações, um repensar na relação com
a natureza, a valorização do ambientalismo em todas as
suas vertentes e um acordo mundial onde todas as nações
tem parcela a ceder. Vale ressaltar que o desenvolvimento
sustentável e equitativo, para ser alcançado segundo o IPPC,
(IPCC, 2014f, p.3) “precisa ter vencido barreiras de várias
ordens, que estão profundamente enraizadas nos padrões
sociais, atualmente insustentáveis e altamente inerciais".
Esse processo de transição possui dilemas sociais de curto
prazo que podem conflitar com os interesses sociais a longo
prazo. Um exemplo é a diminuição da taxa de natalidade
122
Contextos: educacionais e históricos
versus o envelhecimento da população, que cria desafios
econômicos e sociais (IPCC, 2014f).
Nas subseções seguintes serão examinadas somente al-
gumas características importantes abordadas pelo QR5, re-
levantes para a implementação do desenvolvimento susten-
tável e que podem guardar dependências diretas com a edu-
cação.
Importância da sustentabilidade, equidade e políticaclimática no desenvolvimento sustentável
Sustentabilidade está intimamente relacionada
com a resiliência e a vulnerabilidade.
Equidade dentro de cada geração é muitas vezes
considerada um componente intrínseco de desen-
volvimento sustentável ligado ao pilar social.
Quinto Relatório do IPCC, 2014.
O IPCC continua validando o conceito do relatório Brun-
tland11 de desenvolvimento sustentável, e confirma a im-
portância da implementação de mitigação nas dimensões
econômica, social e ambiental. Essas dimensões são diretri-
zes básicas e estão sendo orientadas em vários documentos
abrangentes na busca da sustentabilidade (CMMAD, 1987;
IPCC, 2014b).
11 O relatório Bruntland, também conhecido como Nosso Futuro Co-mum, será estudado com mais detalhes no próximo capítulo, naabordagem histórica do desenvolvimento sustentável e da sustenta-bilidade.
123
Mudanças climáticas e ambientais
A sustentabilidade12 quando direcionada à esfera social
promove a qualidade das relações sociais, além da redução
de conflitos e instabilidades representadas por: desigualda-
des excessivas, discriminações, pobreza, falta de acesso aos
serviços básicos, recursos e instalações. Na esfera ambien-
tal, a sustentabilidade conserva a biodiversidade, habitat e
recursos naturais para a minimização de impactos no ecos-
sistema em geral. A sustentabilidade no setor econômico se
ocupa da preservação da qualidade de vida e convergência
das economias em desenvolvimento, em direção ao nível dos
países desenvolvidos.
Dois termos estão associados fortemente à sustentabili-
dade: a resiliência e a vulnerabilidade. Essas propriedades
dos sistemas possuem características dependentes de al-
gumas variáveis, e assim tornam a sustentabilidade um
parâmetro de difícil quantificação. Aspectos como bem-estar,
igualdade e preservação da natureza para atuais e futuras
gerações são exemplos que dificultam a medição da susten-
tabilidade. Esses elementos apresentam certa subjetividade,
e alguns modelos não conseguem identificar suas relações
causais. Dessa forma, reduzem parâmetros de medição e
simplificam ligações entre as dimensões perdendo muita in-
formação contida nos indicadores subjacentes. Isso pode
ser observado nas questões sociais e institucionais que são
12 O conceito de sustentabilidade é complexo, pois pode ser aplicado deforma específica a uma dimensão econômica, ambiental e social. Nosentido amplo é uma característica ou condição de um processo oude um sistema que permite a sua permanência, em certo nível, porum determinado prazo.
124
Contextos: educacionais e históricos
deixadas de fora, pois não possuem um preço de mercado,
isto é, não são quantificáveis. O IPCC conclui que na li-
teratura em geral não há atualmente nenhum indicador13
satisfatório de sustentabilidade (IPCC, 2014f; MARZZALL;
ALMEIDA, 2000; GATERSLEBEN; WHITE; JACKSON, 2010).
A sustentabilidade está fortemente relacionada à equi-
dade no QR5, uma vez que sistemas com grandes desigualda-
des sociais tendem a ser suscetíveis a processos beligerantes
e sérios riscos de degradação ambiental. No estudo das mu-
danças climáticas a equidade apresenta duas características
principais: a equidade processual e equidade distributiva.
A primeira característica vincula-se com à participação
das nações em tomada de decisão nas negociações inter-
nacionais, um passo essencial quando se busca soluções
eficientes para as mudanças climáticas. A equidade dis-
tributiva está relacionada à distribuição de bem-estar, no
contexto mais amplo da justiça social e da distribuição de
recursos como a repartição de encargos. A sustentabilidade,
quando fundamentada numa equidade distributiva, pode di-
minuir o consumo nos estilos de vida que têm maior impacto
ambiental, e isso pode trazer uma resposta global eficaz às
mudanças climáticas (IPCC, 2014f).
Nas negociações políticas é recorrente o conceito de equi-
dade, porque se discute partilha de encargos e alocação de
13 Os indicadores são parâmetros selecionados e considerados isolada-mente ou combinados entre si, sendo especialmente úteis para refletirsobre determinadas condições dos sistemas em análise. Eles deter-minam, em última instância, modelos de interpretação da realidadesocial ou visões de mundo. O desenvolvimento de indicadores de sus-tentabilidade está em seu início (MARZZALL; ALMEIDA, 2000).
125
Mudanças climáticas e ambientais
recursos para as mudanças climáticas. Dois pontos impor-
tantes nessa equidade precisam ser mencionados. Um deles
é a moral, apontando direitos e deveres básicos entre as
pessoas de uma nação e se estendendo também como di-
reito para as pessoas de outras nações. O outro ponto é a
divisão de responsabilidade na proteção do sistema climá-
tico em benefício da humanidade, e o compartilhamento do
ônus equitativamente, conforme estabelecido na UNFCCC
em 200214 (IPCC, 2014f; GATERSLEBEN; WHITE; JACKSON,
2010; ASSADOURIAN, 2010).
A figura 15 do IPCC mostra as relações de dependência
da equidade, o desenvolvimento sustentável e os objetivos
inter-relacionados como o desenvolvimento e a conservação.
Inclui as variáveis de bem-estar e igualdade, mostrando as
sinergias e compensações entre desenvolvimento sustentável,
política climática, equilíbrio processual e interação de cada
etapa, desde a conceituação até a implementação (IPCC,
2014f).
Consumismo, estilo de vida e comportamento no de-senvolvimento sustentável
O consumismo em bens e serviços é o motor da degrada-
ção ambiental e da aceleração do aquecimento global. Com
14 As partes devem proteger o sistema climático em benefício das gera-ções presentes e futuras da humanidade, com base na equidade e emconformidade com suas responsabilidades comuns.
126
Contextos: educacionais e históricos
Figura 15 – Desenvolvimento sustentável, equidade e política cli-mática.
Fonte: (IPCC, 2014f)(Traduzido pelo autor).
prova robusta e alta concordância15, o relatório mostra que
a causa está na grande disparidade do estilo de vida de
alto consumo em alguns países, enquanto em outras nações
grandes populações continuam a viver na pobreza16. Numa
15 São nomenclaturas de designação para a avaliação de níveis de con-fiança usadas pelo IPCC.
16 Perspectivas diferentes em relação ao consumo e à degradação am-biental podem ser encontradas em (FONTENELLE, 2013).
127
Mudanças climáticas e ambientais
escalada crescente, o valor do consumo mundial em bens e
serviços — representado pelo Produto Interno Bruto (o PIB
global) — aumentou seis vezes desde 1960, enquanto as
despesas de consumo per capita quase triplicaram (IPCC,
2014f).
Por outro lado, existe algo danoso ao ambiente que é o
subconsumo, fator social excludente ligado a variáveis como
a pobreza e a privação. Ainda não estão claros todos os pa-
râmetros relacionados à pobreza e à privação, mas recentes
estudos mostram correlações entre comportamento, estilo
de vida, bem-estar, cultura e excesso de consumo. Os efeitos
do subconsumo podem não ser diretos, mas são considerá-
veis. Um exemplo é o subconsumo de energia — pobreza e
privação energética —, que limita a mitigação e a capacidade
de adaptação provocando falta de resiliência e dificultando
o acesso ao desenvolvimento sustentável (ASSADOURIAN,
2010; GATERSLEBEN; WHITE; JACKSON, 2010).
Do excesso de consumo nasce a pressão ambiental ge-
rada principalmente pelo crescente estilo de vida de alto
consumo da classe social mais favorecida. Entretanto, é er-
rôneo concluir que os níveis de renda mais altos e o aumento
do consumo guardam entre si exclusiva relação de propor-
cionalidade. Onde o consumismo é a norma cultural, as
chances de consumir mais aumentam com a posse de mais
de renda, mesmo em consumidores ecologicamente consci-
entes (ASSADOURIAN, 2010). Desse modo, a sociedade deve
buscar um ponto de equilíbrio, evitando um desenvolvimento
entre extremos de subconsumo e consumismo, fontes de de-
128
Contextos: educacionais e históricos
gradação socioambiental e obstáculos à implementação de
mitigação, dificultando ainda mais a busca por um consumo
sustentável.
Buscar soluções para um consumo mais consciente e
igualitário deve ser uma meta bem implementada, para não
engendrar certos caminhos utópicos e insustentáveis, como
querer atender às necessidades da pobreza mundial repe-
tindo os padrões de consumo e processos de produção das
populações mais ricas. Por outro lado, qualquer tentativa
de proteger o clima mantendo um padrão de vida baixo
para grande parte da população mundial irá enfrentar forte
resistência política e certamente irá falhar (IPCC, 2014f;
ROCKSTRÖM; NOONE; PERSSON, 2009; ASSADOURIAN,
2010).
Na onda de consumo da sociedade contemporânea, ape-
sar de uma parcela significativa da população consumir
somente o necessário, está ocorrendo uma tendência de
aculturação nociva e alienante, aonde as pessoas buscam
significado, satisfação e aceitação no consumo excessivo.
As classes mais favorecidas dos países em desenvolvimento
imitam os estilos de vida consumistas dos países indus-
trializados (GUPTA, 2011), externando com mais clareza a
desigualdade social do mundo. Enquanto os pobres são
incapazes de pagar bens e serviços mais básicos, os ricos
usufruem de luxos e bens supérfluos que só eles podem
pagar (KHOR, 2011; IPCC, 2014f). Estas características
foram se consolidando no século anterior, erigindo um pa-
radigma chamado consumismo, uma cultura de consumir
129
Mudanças climáticas e ambientais
o desnecessário, um mundo onde o descarte de produtos
está ligado à efêmera situação de conforto e destaque, traços
de um comportamento social bem descrito por Assadourian
(ASSADOURIAN, 2010, p.187):
A posse e o uso de um número crescentede bens e serviços variáveis é a principalaspiração cultural e o mais seguro cami-nho para a felicidade, percebida pessoal-mente como status social e sucesso na-cional.
Quais os fatores que influenciam os padrões de consumo?
Quando se busca suas raízes descobre-se várias ramificações
de caráter econômico, informativo, psicológico, sociológico
e cultural, operando em diferentes camadas da sociedade.
Além disso, o consumo possui ação a nível individual e cole-
tivo, ação geográfica como a localização, o mercado e o local
de trabalho. Também existem diversos instrumentos estrutu-
rais servindo tanto como limitadores quanto aceleradores do
consumo: disponibilidade de produtos, normas culturais e
crenças, condições de trabalho e exposição de mídia (SANNE,
2002).
Uma ênfase maior deve ser dada à mídia ou à informa-
ção, por sua capacidade de influenciar a opinião pública, a
exemplo dos rótulos ecológicos e declarações pró-ambientais
que têm se revelado uma ferramenta eficaz para transfor-
mar alguns comportamentos de consumo perdulários em
atitudes sustentáveis. A rotulagem dos produtos com a sua
pegada de carbono pode ajudar a criar novos objetivos — um
exemplo é a promoção de ações para reduzir das emissões
130
Contextos: educacionais e históricos
de CO2 — incentivando programas ecológicos e a manuten-
ção de atitudes pró-ambienais como o consumo de produtos
sustentáveis17 (WEBER; JOHNSON, 2012; IPCC, 2014f).
Os impactos ambientais e as emissões de GEE tem liga-
ção direta com a relação produção/consumo, e por isso uma
conscientização nas escolhas dos consumidores influenciará
a base da produção. Nesse aspecto a educação tem forte
participação, pois por meio de ensinos sustentáveis e cons-
cientização é possível influenciar positivamente as escolhas
dos consumidores que, por sua vez, possuem um amplo es-
pectro de ação, indo da alimentação, mobilidade, habitação
e se estendendo a fatores como segurança, limpeza de ambi-
ente, laços familiares e amizades, mudando dessa forma os
padrões de consumo (FABER; SCHROTEN; BLES, 2012).
Pensar somente em melhorar a produtividade dos recur-
sos com soluções tecnológicas não é suficiente para minimi-
zar o impacto ambiental do consumismo. É preciso aplicação
de estratégias conjuntas — mitigação, adaptação, ecoeficiên-
cia na produção, estratégias de desenvolvimento sustentável
— tendo a educação como base. O objetivo comum dessas
estratégias é a mudança da cultura do consumismo para
uma sociedade com menos aspirações materialistas (MONT;
PLEPYS, 2001).
Dois fatores de especial importância gerados pela rela-
ção consumo/produção são o descarte e o desperdício. Boa
parte da fome no mundo poderia ser saciada se houvesse
17 A pegada de carbono mede a quantidade total das emissões de ga-ses do efeito estufa causadas direta e indiretamente por uma pessoa,organização, evento ou produto.
131
Mudanças climáticas e ambientais
uma melhor logística e gerenciamento de distribuição dos ali-
mentos. Pesquisas apontam que de toda produção destinada
à alimentação humana, um terço é desperdiçado — cerca
de 1,3 bilhões de toneladas por ano — e como se não fosse
prejuízo suficiente, o desperdício ainda produz emissões de
GEE. Denotando ainda mais a falta de uma educação vol-
tada ao ambiente e à sustentabilidade, esse desperdício é
provocado pela classe mais abastada, isto é, pelos países
desenvolvidos. Segundo a FAO18, enquanto na África Subsa-
ariana e no Sul/Sudeste da Ásia o desperdício de alimentos
é cerca de 6-11 kg/ano, na Europa e na América do Norte,
o desperdício por parte dos consumidores é estimado em
95-115 kg/ano (FAO, 2011).
O desperdício de alimentos e o descarte de produtos sem
reciclagem são características de um sistema de produção
consumo insustentável. A transição do desenvolvimentismo
para o desenvolvimento sustentável exigirá mudanças para
o consumo e a produção sustentável, isto é, essa transição
requer uma educação que conscientize que o consumo e a
produção sustentável — demanda consciente e oferta respon-
sável — são objetivos relevantes a se alcançar para alicerçar
o paradigma da sustentabilidade.
Esse serviço da educação é importante, pois diante de
tamanha diversidade na oferta de produtos, a escolha de
consumir produtos sustentáveis precisa de conscientização
e incentivo. Se não, qual a valia do trabalho do produtor
18 Food and Agriculture Organization of the United Nations. Organiza-ção de Alimentação e Agricultura das Nações Unidas.
132
Contextos: educacionais e históricos
em produzir produtos sustentáveis, se o consumidor não os
comprar (MOISANDER; MARKKULA; ERANRANTA, 2010)?
As barreiras e caminhos para o desenvolvimento susten-tável
Apesar da degradação ambiental provocada pelo atual
modelo desenvolvimentista, o QR5 registra um aumento da
maturidade científica, na compreensão de que a mudança
climática é apenas um exemplo de como a humanidade
está se auto pressionando ao forçar os limites planetários
(ROCKSTRÖM; NOONE; PERSSON, 2009; IPCC, 2014f). A
possibilidade de contenção dessa degradação é produzir um
caminho sustentável e equitativo através das mudanças cli-
máticas, sendo consciente de que esse caminho não depende
só da técnica, e sim de inúmeros fatores associados como
educação e capacitação dos tomadores de decisão, desta-
cando que qualquer abordagem para enfrentar o desafio do
clima pode apresentar fracasso ou sucesso (IPCC, 2014f).
No caminho para fazer a transição ao desenvolvimento
sustentável com equidade, dois componentes essenciais te-
rão presença garantida: as barreiras e os condutores, cha-
mados também de determinantes.
As barreiras representam as dificuldades de se progra-
mar redutores das emissões de carbono e normalmente são
associadas ao caráter financeiro, político e institucional. Um
exemplo de barreira seria a falta de recursos financeiros e
tecnológicos para implementação de avanços sociais.
133
Mudanças climáticas e ambientais
A solução para essas barreiras será através da coopera-
ção internacional com apoio aos processos de mitigação e
adaptação. Fora disso, a dificuldade de implementar um
desenvolvimento sustentável é grande, e para suprir essa
deficiência com mais eficácia vem ser preciso construir ca-
pacidades mitigadoras concentradas com adaptação (IPCC,
2014f).
Certos determinantes possuem várias características no
contexto das mudanças climáticas, e têm importância singu-
lar para a construção do desenvolvimento sustentável, em
razão de poderem agir como condutores quando se facilita
sua implementação. Em caso contrário, agem como barreira
tornando-se obstáculos à sustentabilidade. Os determinan-
tes estão presentes na dinâmica da sociedade envolvendo
aspectos materiais e culturais, nascendo das interações soci-
ais e fluindo daí as suas características conforme registra o
IPCC (IPCC, 2014f, p.18):
Referem-se a processos sociais, proprie-dades e artefatos, assim como os recur-sos naturais, que condicionam juntos emedeiam o curso do desenvolvimento dasociedade e, assim, as perspectivas parao desenvolvimento sustentável.
As barreiras e condutores examinados no IPCC são de
várias ordens, envolvendo uma gama de fatores relacionados
a diversas áreas de conhecimento. Alguns determinantes im-
portantes para o desenvolvimento sustentável, que possuem
dependências com fator educacional, estão listados abaixo:
134
Contextos: educacionais e históricos
1) Governança e política econômica;
2) População e demografia;
3) Valores e comportamento;
4) Capital humano e social.
Esses determinantes serão examinados a seguir em duas
subseções separadas, devido à afinidade conceitual de seus
conteúdos.
Governança, política econômica, população e demo-grafia no desenvolvimento sustentável
Os processos para implantação do desenvolvimento sus-
tentável, equidade e mitigação das mudanças climáticas
são articulados pelos determinantes governança e política
econômica. A governança de uma forma geral é feita pelos
indivíduos envolvidos em um problema comum, no tocante
às tomadas de decisão e nos processos de interação. Sua
influência permeia a autoridade política, o governo formal,
as instituições informais e as estruturas de incentivos, es-
tando presentes em diversos níveis de organização social
(ROSENAU, 1992).
Assim, a governança se apresenta quando as sociedades
desenvolvem formas de tomadas de decisões sobre proble-
mas coletivos criando normas, regras e instituições. Mais
especificamente quando direcionada ao clima, a denominada
governança climática se torna uma ferramenta de grande
135
Mudanças climáticas e ambientais
utilidade, criando mecanismos e medidas destinadas a ori-
entar os sistemas sociais para a prevenção, mitigação ou
adaptação aos riscos decorrentes das mudanças climáticas
(JAGERS; STRIPPLE, 2003)19.
É bom ficar clara a diferença entre governança e governo,
pois as palavras são parecidas e podem induzir a um erro de
compreensão. Um melhor entendimento dessa diferença com
suas funções é bem explicitado a seguir (ROSENAU, 1992,
p.15):
Governança não é o mesmo que governo.Pode, em casos extremos, haver gover-nança sem governo e governo sem go-vernança. Governo sugere uma autori-dade formal, dotada de poder de polícia,que garante a implementação de políti-cas instituídas. Governança refere-se aatividades apoiadas em objetivos comunse partilhados, que abrangem tanto as ins-tituições governamentais quanto meca-nismos informais, de caráter não gover-namental, mas que só funcionam se fo-rem aceitos pela maioria ou, mais preci-samente, pelos principais atores de umdeterminado processo. Em outras pala-vras, governança é um fenômeno maisamplo do que governo.
O quadro ambiental atual de boa parte dos países mostra
uma governança deficiente, porque existe uma considerável
19 Segundo a QR5, a governança pode ser vista como um fenômeno am-plo englobando não só a elaboração de políticas formais por parte dosEstados, mas todos os processos através dos quais a autoridade é ge-rada e exercida, para afetar a mudança climática e a sustentabilidade(IPCC, 2014f, p.20).
136
Contextos: educacionais e históricos
falta de sintonia entre as tomadas de decisão e o planeja-
mento mundial para enfrentar as mudanças climáticas e os
problemas ambientais. Além disso, serão necessários mais
esforços para reverter a deficiência de governança, mudar os
inertes padrões de comportamento e vencer as forças ocultas
ligadas principalmente ao capital. Tais demandas exigirão
uma mudança global significativa no sistema econômico
e social (MEADOWS; MEADOWS; RANDERS, 1972; IPCC,
2014f).
Outro determinante para o desenvolvimento sustentável é
a população e a demografia, uma vez que cada pessoa adici-
onada à população global aumenta as emissões de GEE. Po-
rém a contribuição adicional pode variar muito dependendo
das condições socioeconômicas e geográficas da pessoa adi-
cionada (IPCC, 2014e). Assim, as taxas de fecundidade e
mortalidade, fatores que influenciam no tamanho da popu-
lação, podem ser trabalhadas por políticas governamentais
reguladoras das normas sociais, da renda e dos dispositivos
para a saúde. A influência dessas taxas, a migração e outras
variáveis importantes na dinâmica demográfica possuem
relações com o desenvolvimento sustentável.
Com o crescimento da população surgem preocupações
que vão além do aumento das emissões de gases estufa,
representadas pela crescente produção alimentar, maior de-
manda de água, energia elétrica, combustíveis, enfim, uma
pressão enorme sobre os recursos naturais e uma produção
colossal de lixo. São 78 milhões de novas bocas acrescenta-
das à massa humana a cada ano, num ritmo crescente nada
137
Mudanças climáticas e ambientais
inteligente. O crescimento da população mundial se acelerou
a partir de 1900 e aumentou 87% — de 3700 a 7300 milhões
— entre 1970 e 2010. Embora a Europa, Japão e outros paí-
ses tenham tido um declínio populacional, a preocupação faz
sentido, porque estudos demográficos projetam um aumento
da população para um valor de 8 a 10 bilhões até meados
século XXI (DIAS, 2013).
Vale ressaltar a existência de incerteza sobre a tendên-
cia de aumento da futura taxa de natalidade, por conta
de processos imprevistos como a mortalidade por doenças
infecciosas e as consequências ainda incertas das mudan-
ças climáticas (BLOOM, 2011). A respeito da natalidade, a
educação feminina e a disponibilidade de serviços de saúde
reprodutiva têm papel fundamental nesse processo (BLOOM,
2011; IPCC, 2014f).
A educação feminina aliada ao serviço de saúde pode
conter uma alta taxa de natalidade como ocorre nos países
africanos, onde essa circunstância aumenta ainda mais o
índice de pobreza. Por outro lado, o declínio da fertilidade
e o envelhecimento são considerados grandes desafios do
sistema social, requerendo busca de soluções. Algumas de-
las surgiram através de programas utilizados na década de
1950 na Coreia do Sul e Ilhas Maurício, dando resultados
positivos e quebrando o círculo vicioso — pobreza gerando
aumento na natalidade e vice-versa — com políticas sociais
adequadas e ênfase na educação e planejamento familiar
(IPCC, 2014f).
138
Contextos: educacionais e históricos
O relatório aponta que o baixo desenvolvimento e o cresci-
mento populacional são processos retroalimentadores, pois o
crescimento populacional aumenta a demanda por água, ali-
mento e serviços estruturais como saúde e educação. Nesse
sentido, se não houver um desenvolvimento sustentável e
também se o processo educacional não avançar, o alto cres-
cimento da população irá contribuir ainda mais para a de-
gradação ambiental e para as mudanças do clima, inibindo
o desenvolvimento necessário para derrubar a fertilidade
(MCNICOLL, 2003; IPCC, 2014b).
Dessa forma, a busca em atingir índices de fertilidade pla-
nejada para viabilizar uma redução do crescente consumo,
representa uma meta essencial na implementação do desen-
volvimento sustentável, como bem afirma Karan Singh, o
ex-ministro da Saúde e Planejamento Familiar da Índia: “a
contracepção é o melhor desenvolvimento” (BLOOM, 2011,
p.565).
Em relação aos aspectos demográficos, as contribuições
para as mudanças climáticas e ambientais se diferem en-
tre as populações rurais e urbanas, devido principalmente
a diferentes níveis de renda, estilos de vida e ao consumo
de energia. Esses aspectos aumentaram a taxa global de
urbanização de 13%, no ano de 1900, para 36% em 1970,
chegando aos 52% em 2011 (IPCC, 2014f). Essa expansão ur-
bana repercutiu no radical aumento do consumo de energia
elétrica fornecida à base de combustível fóssil, aumentando
consequentemente a emissão de CO2.
139
Mudanças climáticas e ambientais
Valores, comportamentos, capital humano e capitalsocial no desenvolvimento sustentável
Os valores20 são conceitos conflitantes com diversos as-
pectos da ciência climática e ambiental, porque em alguns
casos as raízes da valoração estão plantadas em crenças
culturais e religiosas. É vivendo a experiência no mundo,
socializando-se e aprendendo que as pessoas adquirem os
valores, e com eles passam a influenciar suas relações soci-
ais no mais diversos níveis incluindo elas próprias, a família,
a empresa, a sociedade civil e o governo. O valor dado
pelo cidadão ao clima e ao ambiente tem determinação forte
para aceitação do desenvolvimento sustentável, em razão da
valorização ambiental possuir componentes de ordem psico-
lógica, numa relação passional com a natureza. Os valores,
por vezes, podem levantar dilemas sociais que a curto prazo
fazem interesses individuais conflitarem com interesses co-
letivos de longo prazo (PEPPER; JACKSON; UZELL, 2009;
GATERSLEBEN; WHITE; JACKSON, 2010).
Os valores ambientais, quando interiorizados pelas popu-
lações21, tornam-se determinantes importantes na aceitação
das medidas da política de mudança climática. A união dos
valores com as normas sociais consolida um bom instru-20 Da antropologia, valor é uma concepção do desejável, explícita e im-
plícita, característica de um indivíduo ou grupo, e que influencia aseleção dos modos, meios e fins da ação.
21 Os valores ambientais estão mais presentes nas populações ruraiscom um menor número de pessoas e maior dependência da natureza.A população urbana possui um maior número de pessoas e um me-lhor nível educacional, todavia, ainda carente do saber ambiental.
140
Contextos: educacionais e históricos
mento para o apoio à política do clima dentro das organiza-
ções públicas e privadas, influenciando também o comporta-
mento sustentável. No aspecto comportamental, um exemplo
interessante são os indígenas que se concentram no coletivo
em oposição a interesses individuais, muitas vezes resul-
tando em estratégias positivas de conservação de recursos
e bens (WATSON; MATT; KONTEK, 2011; GATERSLEBEN;
WHITE; JACKSON, 2010).
Na região urbana e rural, há uma diversidade de opções
para a mudança comportamental, tais como a remoção de
subsídios ambientalmente nocivos, incentivo ao consumo
das tecnologias mais verdes, implementação significativa
de programas educacionais de ambientalismo e sustenta-
bilidade e a adoção de formas mais abrangentes de con-
tabilidade ambiental e econômica (LEBEL; LOREK, 2008;
THOGERSEN, 2010). Entretanto, não existe solução defi-
nitiva para promover um comportamento ecologicamente
consciente e ambientalmente sustentável, uma vez que as
pessoas se dicotomizam entre níveis altos de preocupação
ambiental e de posses materiais (GATERSLEBEN; WHITE;
JACKSON, 2010; IPCC, 2014f).
Um dos principais determinantes rumo à transição para
o desenvolvimento sustentável é o ser humano e o que ele
possui, em termos de conhecimento e habilidade. A educa-
ção formal e outros processos educacionais podem fornecer
tais conhecimentos e habilidades, como apontam pesquisas
macroeconômicas revelando forte correlação entre os níveis
de desenvolvimento econômico e os níveis de capital humano,
141
Mudanças climáticas e ambientais
e vice-versa (SCHULTZ, 2003). Destaca-se o fato do capital
humano atrelar-se somente ao desenvolvimento econômico
vinculado a nutrição, saúde e políticas educacionais tecno-
cráticas visando uma melhor capacitação do trabalhador
como fator de aumento de produtividade (PUTMAN, 2002).
É evidente que o desenvolvimento sustentável guarda
proximidade maior com o capital social, por este apresentar
características cívicas fortes, ou seja, os cidadãos em sua
vida pública são chamados para o envolvimento com as polí-
ticas sociais — dentre elas as educacionais —, participando
de sua formulação, gestão e implementação.
O capital social ainda apresenta aspectos múltiplos po-
dendo aparecer sob a forma de obrigações de família, ami-
zade, redes de comunicação, associações e outros formas
institucionalizadas de ação coletiva (FUKUYAMA, 2002). Por-
tanto, bons resultados em educação, emprego, relações fami-
liares e de saúde, bem como o desenvolvimento econômico
e participativo, e o governo democrático podem também ex-
pressar o capital social (IPCC, 2014f, p.25).
Pelo exposto pode-se ver que a educação promove socie-
dades com elevado grau de consciência cívica, de confiança
entre seus membros e instituições atingindo níveis sociais
superiores de bem-estar (PUTMAN, 2002). Dessa forma, a
melhoria da educação aumenta o capital humano, social
e ambiental fornecendo uma base para o desenvolvimento
sustentável, podendo influenciar na capacidade das pessoas
em fazer escolhas mais sustentáveis e incentivando o envol-
vimento em ações de mitigação e adaptação.
142
Contextos: educacionais e históricos
Outras variáveis, estudos e pesquisas para realizar a mu-
dança de comportamento e valores foram relatados pelo IPCC,
entretanto não foi apontada a principal maneira de como
conseguir trilhar esse caminho mais sustentável. Qual deve
ser o elemento motivador para que realmente essas ações
sejam colocadas em prática? O ponto chave é o processo de
conscientização do ser humano em relação à importância do
meio ambiente. Qual a ferramenta que melhor desenvolve
essa conscientização ambiental? O nível de conscientização
ocorre pela valorização dos ensinos trazidos pelo processo
histórico e pela práxis da educação. Um pouco da história
dessa conscientização está transcrita no próximo capítulo,
através do estudo da evolução do conceito de desenvolvi-
mento sustentável e da sustentabilidade.
143
5
Contexto histórico do
desenvolvimento sustentável e
sustentabilidade
Se você tem metas para um ano, plante arroz.
Se você tem metas para 10 anos, plante uma ár-
vore.
Se você tem metas para 100 anos, então eduque
uma criança.
Se você tem metas para 1000 anos, então preserve
o meio ambiente.
Confúcio, pensador chinês.
Descreveu-se anteriormente parte das ideias, conceitos
e previsões feitas pelo quinto relatório de avaliação do
IPCC a respeito do desenvolvimento sustentável e da susten-
tabilidade na busca de minimizar os efeitos das mudanças
climáticas e ambientais. Muita informação existe no referido
Mudanças climáticas e ambientais
relatório quanto à possível aplicação do desenvolvimento
sustentável e da sustentabilidade, mas pouco se sabe sobre
suas raízes.
A compreensão da origem de um movimento social ou
ambiental é essencial para gerar uma certeza de sua real ne-
cessidade, tornando mais fácil a execução de seus princípios.
Em qual contextualização surgiu o conceito de sustentabili-
dade e desenvolvimento sustentável? Como eles evoluíram
em aceitação para se tornarem um tema tão presente na
sociedade?
Boa parte dos motivos já foram expostos anteriormente
quando se abordou o nascimento do movimento ambiental,
entretanto ainda existe mais a ser dito. Por isso um pequena
síntese histórica do desenvolvimento sustentável e da sus-
tentabilidade, na busca de contextualizar sua evolução com
a educação, se faz necessária.
A interpretação do conceito de desenvolvimento é próxima
ao conceito de crescimento, porém uma análise mais atenta
revela algumas diferenças. O desenvolvimento precisa ser
pensante, necessitando de uma inteligência para acontecer,
enquanto o crescimento é relacionado a aspectos materiais.
O modelo social seguido nos últimos tempos tem aproximado
o conceito de desenvolvimento ao de crescimento econômico,
e isso tem gerado reservas em algumas correntes do pensa-
mento ambientalista, em razão do modelo desenvolvimentista
de crescimento econômico apresentar características preda-
tórias e depredadoras do meio ambiente (GADOTTI, 2008;
NASCIMENTO, 2012).
146
Contextos: educacionais e históricos
Em economia, o crescimento econômico é considerado a
maior componente do desenvolvimento, que por sua vez é
compreendido como o resultado do crescimento econômico
acompanhado de melhoria na qualidade de vida. Com efeito,
mesmo com outros aspectos envolvidos no desenvolvimento,
alguns benefícios podem ser trazidos pelo crescimento econô-
mico fazendo que este não seja uma condição única para
o desenvolvimento, e sim um requisito para superação da
pobreza e para construção de um padrão digno de vida (OLI-
VEIRA, 2002; ROMEIRO, 2012).
Portanto, o desenvolvimento associa-se a qualidade de
vida da população geradas pelo crescimento econômico, tra-
zendo um aumento da riqueza de um país ou de uma região
(BARBIERI, 2011). Entretanto, é importante não esquecer
a dimensão ambiental, uma vez que o crescimento econô-
mico faz crescer a pressão sobre os ecossistemas da terra,
projetando uma relação crítica entre a diminuição dos ecos-
sistemas com o progressivo modo de produção e consumo.
Alguns resultados dessa dinâmica de pressão ecológica, es-
tabelecida pelo aumento do consumo de recursos naturais
de 1950 até 1997, são mostrados abaixo (UNESCO, 2005):
1) O uso da madeira para construção triplicou;
2) O uso do papel cresceu seis vezes mais;
3) A pescaria quase quintuplicou;
4) O consumo de grãos quase triplicou;
5) O uso do combustível fóssil quase quadruplicou.
147
Mudanças climáticas e ambientais
A ideia de sustentabilidade não é tão nova quanto parece.
Em 1713, o grande desmatamento de quase todas as flo-
restas europeias para uso de lenha nas minas de carvão e
minério provocou uma grave escassez de madeira. O capitão-
mor de minas, Hans Carl von Carlowitz, criou o termo alemão
Nachhaltigkeit, cuja tradução em português é sustentabili-
dade. Hans alertava que a extração de madeira da floresta
deveria ser feita de forma sustentável, para dar às florestas
condições de renovação (BOFF, 2007).
O exercício da sustentabilidade do capitão Hans Carl
proposto no passado se faz urgente para o agora, e sua com-
preensão tem que transcender o horizonte de ações paliativas
e pontuais de proteção ambiental. Essas ações são impor-
tantes, contudo não surtirão efeitos se forem executadas de
forma isolada ou desconectada, e só terão êxito se realizadas
paralelamente ao enfrentamento da pobreza e à mudança
radical no consumo dos recursos naturais, levando em conta
as estruturas do atual desenvolvimento.
É visível que práticas estimuladoras do consumismo,
além de não diminuírem a desigualdade social e poluírem o
meio ambiente, degradando os ecossistemas, também não
condizem com o conceito de sustentabilidade. A mudança
para uma atividade imbuída de sustentabilidade se move
numa mentalidade, atitude ou estratégia ecologicamente
correta, viável a nível econômico, socialmente justa e com
uma diversificação cultural. No contexto do ambiente e da
vida, a sustentabilidade é bem definida por Carlos Rodrigues
Brandão (BRANDÃO, 2008, P.136),
148
Contextos: educacionais e históricos
Opõe-se a tudo o que sugere desequilí-brio, competição, conflito, ganância, in-dividualismo, domínio, destruição, expro-priação e conquistas materiais indevidase desequilibradas, em termos de mudan-ça e transformação da sociedade ou doambiente. Assim, em seu sentido maisgeneroso e amplo, a sustentabilidade sig-nifica uma nova maneira igualitária, li-vre, justa, inclusiva e solidária de as pes-soas se unirem para construírem os seusmundos de vida social, ao mesmo tempoem que lidam, manejam ou transformamsustentavelmente os ambientes naturaisonde vivem e de que dependem para vi-ver e conviver.
Com esse entendimento de sustentabilidade se constrói
uma possível ponte entre o debate antagônico de crescimento
e o desenvolvimento, conhecido atualmente como desenvolvi-
mento sustentável. Tal conceito começou a nascer por volta
do início da década de 1980, entretanto já estava embrio-
nário na época da gênese do movimento ambientalista na
Europa e nos Estados Unidos, entre as décadas de 1960 e
19701. Esse movimento trazia consigo medidas que ainda
hoje são atuais. Suas preocupações estão descritas abaixo
de forma sintética (OLIVEIRA, 2002):
1) Preservação da natureza;
2) Desenvolvimento do gerenciamento e da ciência ecoló-
gica nos trópicos;
1 O desenvolvimento sustentável em 1972 era chamado de ecodesen-volvimento, e foi introduzido por Maurice Strong, Secretário da Confe-rência de Estocolmo, e pelo economista Ignacy Sachs.
149
Mudanças climáticas e ambientais
3) Ambientalismo e crise global;
4) Ecologia global, conservação e meio ambiente.
As características do desenvolvimento sustentável come-
çam a florescer em 1972 com a carta de Estocolmo e o
relatório Meadows, citados anteriormente. Novamente a res-
peito do relatório Meadows, em 1972, foram analisadas com
mais propriedade as consequências do crescimento populaci-
onal, conforme mostra a figura 16. O relatório Meadows não
expressou claramente o termo desenvolvimento sustentável,
contudo foram feitas várias recomendações relacionadas ao
seu contexto. Isso pode ser verificado quando se aborda a
produção e consumo da sociedade da seguinte forma (MEA-
DOWS; MEADOWS; RANDERS, 1972, p.67):
Existem recursos suficientes para permi-tir o desenvolvimento econômico das 7bilhões de pessoas estimadas para o anode 2000 a um alto padrão de vida? Maisuma vez, a resposta deve ser condicio-nal. Depende de como as principais so-ciedades que consomem recursos lidamcom algumas decisões importantes pelafrente. Eles podem continuar a aumen-tar o consumo de recursos de acordo como padrão atual. Eles podem aprender arecuperar e reciclar materiais descarta-dos. Eles podem desenvolver novas ma-térias para aumentar a durabilidade dosprodutos [...].
150
Contextos: educacionais e históricos
Figura 16 – Crescimento populacional mundial
Fonte: (MEADOWS; MEADOWS; RANDERS, 1972). O aumentoda população num ritmo menor, de 1650 até 1950. De 1950 emdiante passou a crescer exponencialmente, até o ano 2000.
Três décadas desde a publicação de Limites do Cresci-
mento2 e, apesar da característica alarmista que lhe im-
puseram, algumas de suas previsões se realizaram (GRUN,
1996). As ideias propostas pelo Clube de Roma — Grupo
de Donela Meadows — sobre o crescimento zero para os
países em desenvolvimento teve forte contestação, gerando
um movimento de oposição tendo o Brasil como o líder.
2 Consumo e população foi estudado em 1798, por Thomas R. Malthus,em An Essay on the Principle of Population (OLIVEIRA, 2002).
151
Mudanças climáticas e ambientais
Com o impacto dos problemas ambientais e do aumento
do consumo ocorrido até a década de 1970, crescia o enten-
dimento de que os recursos da Terra eram finitos e podiam
ficar escassos. Essa consciência ampliou-se e os problemas
passaram a ser discutidos no cenário mundial, a ponto da
UNESCO, em setembro de 1968, organizar uma conferência
de peritos sobre os fundamentos científicos da utilização e da
conservação racional dos recursos da biosfera. Assim, moti-
vada por preocupações ambientais e climáticas causadas por
diferentes fontes, a conferência mundial sobre a proteção
do meio ambiente foi sendo pensada. Dentre os principais
fatores motivadores destacam-se quatro (PRESTRE, 2005):
1) A preocupação com a qualidade e a quantidade de água,
e com as mudanças climáticas, fruto da crescente coo-
peração científica na década de 1960;
2) A mobilização da opinião pública através da divulgação
da mídia, dos problemas ambientais causados por ca-
tástrofes e outros, como maré negra, desaparecimento
de territórios selvagens e modificação de paisagens;
3) A profunda transformação da sociedade e do seu modo
de vida, gerada pelo crescimento econômico caracteri-
zado pelo êxodo rural e crescente urbanização;
4) Diversos outros problemas que só poderiam ser resol-
vidos por cooperação internacional como poluição do
152
Contextos: educacionais e históricos
mar, chuvas ácidas3, acúmulos de metais pesados e
pesticidas nos peixes, vegetais e aves.
Retomando a conferência de Estocolmo — no contexto
do desenvolvimento sustentável —, as proclamações e prin-
cípios de sua declaração versavam diretamente sobre as
questões ambientais, boa parte interagindo com as bases
do desenvolvimento sustentável, como se vê no princípio 18
(UNEP, 1972, p.5):
Como parte de sua contribuição ao de-senvolvimento econômico e social, deve-se utilizar a ciência e a tecnologia paradescobrir, evitar e combater os riscos queameaçam o meio ambiente, para soluci-onar os problemas ambientais e para obem comum da humanidade.
Nosso futuro comum e as grandes conferên-cias sobre o meio ambiente
De 1970 ao início de 1980, o movimento ambiental e as
ideias de desenvolvimento sustentável perderam um pouco
o interesse, em razão dos países Europeus se preocuparem
com uma forte crise financeira, ao passo que os americanos
estavam com a atenção voltada para o controle do movimento
da armas nucleares após o fim da guerra fria. Em 1979 se dá3 Um acordo internacional para reduzir a emissão dos gases responsá-
veis pelas chuvas ácidas que caíram sobre os países nórdicos levarama Suécia, em 1968, a propor ao Conselho Econômico e Social dasNações Unidas (Ecosoc) a realização de uma conferência mundial.
153
Mudanças climáticas e ambientais
o primeiro uso público do termo desenvolvimento sustentável,
em um simpósio de meio ambiente na assembleia da ONU,
indicando que além da dimensão econômica, nele deveriam
estar inclusas as dimensões cultural, ética, política, social e
ambiental.
No primeiros anos da década de 1980 a noção de desen-
volvimento sustentável era usada de forma incipiente, pois
os conceitos de ambiente e desenvolvimento eram em parte
interpretados como antagônicos e não apresentavam facili-
dades de execução simultânea. Esse viés perdeu força na
publicação da Estratégia Mundial para a Conservação feita
pela IUCN 4, a qual enfatiza que a conservação e o desenvol-
vimento sustentável não são inimigos, muito pelo contrário,
são inseparáveis (PRESTRE, 2005).
Em 1982, na conferência de Nairóbi no Quênia, foi deci-
dida a criação da Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente
e Desenvolvimento, e no ano seguinte foi formulado o con-
vite do Secretário-Geral da ONU a Gro Harlem Brundtland,
mestre em saúde pública e ex-Primeira Ministra da Noruega,
para fazer o seu estabelecimento e presidi-la. A comissão
tinha como objetivo examinar críticos problemas ambientais
e de desenvolvimento em todo o mundo, além de formular
propostas realistas para resolvê-los. Dentro deste objetivo es-
tava inclusa a meta de fortalecer a cooperação internacional
em questões ambientais e de desenvolvimento, na busca de
elevar o nível de entendimento e compromisso com o desen-
4 União Internacional para a Conservação da Natureza e dos RecursosNaturais.
154
Contextos: educacionais e históricos
volvimento sustentável por parte de indivíduos, organizações,
empresas e governos (ROMEIRO, 2012).
Enquanto os estudos da comissão avançavam, alguns
desastres ambientais de grande impacto aconteceram no
mundo, mostrando com mais clareza a necessidade de um
instrumento criador de espaço para reflexão sobre o desen-
volvimento e seus efeitos. O avanço no setor energético e
químico revelou seus perigos em 1979, quando ocorreu o
acidente da usina nuclear americana de Three Mile Islan na
Pensilvânia, e em 1984, quando o acidente de Bhopal, na
Índia, emitiu 40 toneladas de gases tóxicos letais — compos-
tos de cianeto — provocando a morte de 10.000 pessoas e
afetando a saúde de outras 300.000.
Uma atenção deve ser dada ao acidente em 1986 na usina
de Chernobyl, situada no assentamento de Pripyat, 110 km
ao norte de Kiev, capital da Ucrânia. Em Chernobyl, o cho-
que humano e ambiental foi considerável, — os números
oficiais dos mortos são pequenos5, aproximadamente 37 pes-
soas — entretanto, seiscentas mil de alguma maneira foram
atingidas, 120 mil pessoas retiradas do local e mais 270 mil
residentes foram relocados das zonas mais contaminadas.
Os números indiretos não são computados, mas estimativas
mostram que milhões de seres humanos também foram afe-
tados por doses menores de radiação. Além dos prejuízos de
ordem ambiental, as dimensões sociais, estruturais, econô-
micas e genéticas estão inseridas em desastres como estes. A
figura 17 da cidade fantasma de Chernobyl dá uma ideia de
5 Estudo mostra que o número de mortos foi bem maior (DUPUY, 2007).
155
Mudanças climáticas e ambientais
quantas vidas foram alteradas por esse acontecimento, res-
guardando o leitor de ver as horrendas imagens de crianças
deformadas pelos efeitos da radiação (KINLEY, 2006).
Figura 17 – Cidade fantasma de Chernobyl.
Fonte: Wikipédia.
Até hoje as explicações oficiais com o números de mortos
são colocadas em dúvida, e as providências reparatórias
para as vítimas desses acontecimentos não conseguiram
acalmar a opinião pública mais esclarecida. O temor dos
perigos do avanço tecnológico, exemplificados nesse contexto
químico e nuclear, alertava a sociedade mostrando, por mais
longe que fossem os lugares onde as pessoas viviam, que
elas podiam ser atingidas pelo ar envenenado. O alerta ao
mundo de que as consequências de ordem ambiental não são
156
Contextos: educacionais e históricos
distribuídas uniformemente, de forma justa ou previsível, foi
um importante fator de contribuição para a conclusão dos
trabalhos da comissão de Brundtland em 1987.
A comissão realizou inúmeras reuniões, ampliando seus
conhecimentos sobre as questões ambientais e de desenvol-
vimento em diversas regiões do globo. Em três anos essas
reuniões e viagens formaram um conjunto de depoimentos
da ordem de dez mil páginas, organizadas, sintetizadas e
publicadas com o nome de Nosso Futuro Comum ou Relatório
Brundtland6. Segundo o professor Paulo Nogueira — único
brasileiro a integrar a comissão que possuía 23 membros
— com o trabalho feito em Nosso Futuro Comum, três fatos
importantes devem ser mencionados:
1) Reativou o movimento ambientalista e alertou o mundo
para questões ambientais;
2) Constatou de que a miséria também gera degradação
ambiental, e deve ser combatida;
3) Deu origem a RIO-92.
Nosso Futuro Comum foi um dos principais documentos
que divulgou as ideias concernentes ao desenvolvimento sus-
tentável, influenciando o nascimento de outros documentos
e eventos, como o IPCC e as futuras conferências e fóruns
6 Membros da comissão visitaram um país a cada três meses e no Bra-sil, nos locais de pesquisa, perceberam que para disfarçar a degrada-ção ambiental as fábricas paralisavam suas atividades. Em São Pauloregistrou-se a ira de centenas de cidadãos reclamando da degradaçãodo mundo (DEAN, 1978).
157
Mudanças climáticas e ambientais
ambientais no mundo, trazendo a sustentabilidade para uma
visibilidade maior a nível global. O Relatório Brundtland é o
documento no qual pela primeira vez aparece o termo desen-volvimento sustentável, textualmente escrito e definido com
as seguintes palavras (CMMAD, 1987, p.38):
O desenvolvimento sustentável é um pro-cesso de transformação no qual a explo-ração dos recursos, a direção dos investi-mentos, a orientação do desenvolvimentotecnológico e a mudança institucional seharmonizam e reforçam o potencial pre-sente e futuro, a fim de atender as neces-sidades e aspirações humanas.
Nosso Futuro Comum difundiu a expressão de desenvol-
vimento sustentável7 que popularizou-se ainda mais com a
Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento e
Meio Ambiente (CNUMAD), realizada no Rio de Janeiro em
1992, conhecida como RIO-92. Vale destacar que a definição
de desenvolvimento sustentável da Comissão Brundtltand,
citada na nota abaixo, ganhou grande espaço sendo mencio-
nada com certa regularidade pelo público com mais formação
socioambiental, em documentos oficiais de diversas entida-
des intergovernamentais, em leis, estatutos de sociedades e
ONGs. Atualmente se tornou um instrumento das empresas
para se tornarem mais populares e melhorarem a sua ima-
gem, na busca de obter mais lucros, reforçando o processo
de mercantilização da natureza (WALLIS, 2009).
7 Expresso no relatório da seguinte forma: é aquele que atende às ne-cessidades do presente sem comprometer a possibilidade das gera-ções futuras de atenderem as suas próprias necessidades.
158
Contextos: educacionais e históricos
Essa apropriação mercadológica do conceito de desen-
volvimento sustentável gera contradições e oposições à sua
implementação. Na prática, algumas correntes ambientalis-
tas não veem com bons olhos a forma rápida com que as
empresas e certos setores não governamentais incorporam o
desenvolvimento sustentável. Como revide, as empresas e
entidades acusam os ambientalistas de serem radicais eco-
lógicos e fontes de atraso do desenvolvimento sustentável.
Nessa polêmica, os interesses de ordem financeira e de poder
são os verdadeiros motivadores (BARBIERI, 2011).
Devido à expansão do termo, estudos diversos foram
feitos para entender o conceito de desenvolvimento susten-
tável, seu uso indiscriminado, interpretação e assimilação.
Atendendo a vários extratos sociais, o conceito de desen-
volvimento sustentável se adéqua aos vários interesses da
sociedade, moldando-se a várias profissões e até atendendo
a atitudes que fogem à moral e à ética, como bem coloca Léle
(LELE, 1991, p.613):
Desenvolvimento sustentável é uma meta[...] que une todo o mundo, do indus-trialista, com sua mente voltada para olucro, ao agricultor de subsistência, queminimiza os riscos de sua atividade, aotrabalhador e aos programas sociais liga-dos à busca de equidade com o indivíduodo primeiro mundo, preocupado com apoluição ou com a vida selvagem, bemcomo o formulador de políticas públicasmaximizadoras do crescimento, o buro-crata orientado por objetivos e, por con-seguinte, o político interessado em vo-tos.
159
Mudanças climáticas e ambientais
Com a divulgação dos fundamentos do desenvolvimento
sustentável, o relatório Nosso Futuro Comum recomendou
novos estudos e a construção de uma agenda de compro-
missos da nações, para diminuir a degradação ambiental
mundial. Em 23 de dezembro de 1989, a assembleia extraor-
dinária das Nações Unidas aprovou a elaboração da Agenda
21, e depois de três anos em acordos, planejamentos e re-
visões o resultado foi a criação da RIO 92 ou ECO-92. Em
linhas gerais, as recomendações sugeridas por Nosso Futuro
Comum que nortearam as bases da RIO-92 eram (CMMAD,
1987):
1) Propor estratégias ambientais de longo prazo para obter
um desenvolvimento sustentável, por volta do ano 2000
em diante;
2) Recomendar maneiras onde a preocupação com o meio
ambiente se traduza em maior cooperação, entre os
países em desenvolvimento e entre países em estágios
diferentes de desenvolvimento econômico e social;
3) Considerar meios e maneiras pelos quais a comunidade
internacional possa lidar mais eficientemente com as
preocupações de cunho ambiental;
4) Ajudar a definir noções comuns relativas a questões
ambientais de longo prazo e fazer esforços para tratar
com êxito os problemas da proteção e da melhoria do
meio ambiente, construindo uma agenda de longo prazo
para ser posta em prática nos próximos decênios.
160
Contextos: educacionais e históricos
Ressalta-se um evento histórico que auxiliou de forma
indireta a implementação da RIO-92: a queda do muro de
Berlim em 1989. Esse evento incentivou uma mudança de
foco da política mundial, desviando sua atenção dos países
do Leste-Oeste, para perceber as disparidades sociais entre
os países do Norte-Sul. O foco nessas disparidades sociais
descortinou ainda mais os problemas ambientais e assim
fortaleceu os objetivos para a criação da RIO-92.
Os números da conferência da RIO-92 foram grandes: ela
reuniu delegações de 172 países, 108 Chefes de Estado ou
de Governo, cerca de 10.000 jornalistas e representantes
de 1.400 organizações não-governamentais. Documentos
importantes que saíram da RIO-92 para impulsionar áreas
ligadas ao desenvolvimento sustentável serão descritos a
seguir, embora alguns deles não tenham sido ratificados por
certos países até hoje (LAGO, 2006).
Uma diferença evidente da RIO-92 em relação à conferên-
cia de Estocolmo foi o número de organizações não governa-
mentais, num evento paralelo aglutinando um número de
7000 membros exercendo sua influência na área ambiental e
detendo o poder de fazer com que o interesse público ficasse
ativo. Assim, essas ONGs supriam o fracasso do governo em
divulgar o desenvolvimento sustentável e ao mesmo tempo
exerciam pressão junto ao poder político, à mídia e, con-
sequentemente, junto à opinião pública. Devido à relação
de poder das entidades não-governamentais, algo diferente
circulava pelo ar, onde dessa vez a opinião pública iria ter
voz, isto é, existia um sentimento que a RIO-92 seria distinta
161
Mudanças climáticas e ambientais
da conferência de Estocolmo, não seria somente os burocra-
tas decidindo sobre o futuro de todos, e sim um trabalho
conjunto de especialistas, cientistas, acadêmicos e outros
representantes da sociedade (LAGO, 2006).
Contudo a realidade do capital se mostrou antes de ter-
minar a conferência, tirando o entusiasmo de ambientalistas
e da opinião pública, pois os interesses tratados pelas auto-
ridades foram questões de soberania e capital. Na prática as
ideias de ecologia, desenvolvimento sustentável e aspectos de
proteção à natureza ficaram à luz da teoria, e prevaleceram
os ganhos imediatos da produção econômica.
Ao menos foi criada a Agenda 21, tratando de temas do
desenvolvimento sustentável e estabelecendo a importância
do comprometimento local e global dos agentes governamen-
tais, não governamentais e de todos os setores da sociedade
com os problemas socioambientais. A recomendação era que
sua construção fosse feita por cada país e se tornasse um
instrumento norteador da sociedade industrial, passando a
um novo paradigma. Esse paradigma teria como base um
novo conceito de desenvolvimento, contemplando uma sinto-
nia do crescimento econômico com a preservação ambiental
(ONU, 1992a).
A Agenda 21 é um documento ambicioso constituído por
40 capítulos, distribuídos em mais de 600 páginas, com o
objetivo de fornecer uma programação de ações abrangentes,
direcionando o desenvolvimento da humanidade ao longo
de décadas rumo a uma rota socialmente justa e ambien-
talmente sustentável (BARBIERI, 2011). O desenvolvimento
162
Contextos: educacionais e históricos
sustentável é tratado em duas seções. Na primeira seção
foram expostas as orientações para as dimensões econômica
e social. A dimensão ambiental foi dividida em subsetores
como: proteção da atmosfera, desertificação e seca, ocea-
nos, água doce, resíduos, diversidade biológica e combate ao
desflorestamento. Um ponto tratado na Agenda 21 é a im-
plementação da educação ambiental, tema a ser examinado
com mais detalhes a frente.
Um outro documento produzido na RIO-92 foi a Decla-
ração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. A
declaração procurava sintetizar as decisões e diretrizes toma-
das em 27 princípios abrangentes e gerais, permitindo uma
vasta interpretação e produção de literatura. Alguns prin-
cípios resguardaram o direito dos países explorarem seus
recursos de acordo com suas políticas de meio ambiente e de-
senvolvimento, como afirma o seu princípio 2 (ONU, 1992b,
p.1):
Os Estados, de acordo com a Carta dasNações Unidas e com os princípios dodireito internacional, têm o direito sobe-rano de explorar seus próprios recursossegundo suas próprias políticas de meioambiente e de desenvolvimento, e a res-ponsabilidade de assegurar que ativida-des sob sua jurisdição ou seu controlenão causem danos ao meio ambiente deoutros Estados ou de áreas além dos li-mites da jurisdição nacional.
Na busca de reduzir os estragos ambientais e climáticos,
várias reuniões e conferências foram feitas depois da RIO-92.
Um importante evento foi um acordo internacional chamado
163
Mudanças climáticas e ambientais
Protocolo de Quioto, aspirando à redução da emissão dos
gases de efeito estufa feita pelas nações poluidoras (BIEL;
LUNDQVIST, 2012). Iniciado em dezembro de 1997 no Japão
e ratificado em março de 1999, o protocolo só entrou em
vigor em fevereiro de 2005, depois que a Rússia aceitou
suas condições em 2004, pois havia a necessidade de que os
países responsáveis por 55% das emissões o ratificassem. O
seu prazo expirou em 2012, contudo recentemente a COP-18
prorrogou suas metas até 20208.
Conforme dito no SRA esse documento propõe metas de
redução diferentes na emissão de GEE para países distintos,
com metas fixadas para os países desenvolvidos no período
entre 2008 e 2012. Alguns países em desenvolvimento, como
o Brasil, não receberam metas de redução, mas participam
de forma voluntária, por meio do Mecanismo de Desenvolvi-
mento Limpo (BIEL; LUNDQVIST, 2012).
Esses Mecanismos de Desenvolvimento Limpo são miti-
gações que produzem boas expectativas quanto aos benefí-
cios da implementação do desenvolvimento sustentável, e
ao mesmo tempo incentivam uma maior produção do conhe-
cimento tecnológico e científico. A previsão de êxito dessa
mitigação é obter a redução da temperatura aproximada-
mente em 1,4°C até 2100. Porém fica claro que se for feita
isoladamente, ela não reverterá as consequências do aqueci-
mento global.
8 Conferência das Partes é o órgão supremo decisório no âmbito daConvenção sobre Diversidade Biológica.
164
Contextos: educacionais e históricos
Até o momento, o único grande país poluidor que não
ratificou o protocolo de Quioto foram os Estados Unidos, ale-
gando que os compromissos impostos colocariam em risco a
economia americana que é alicerçada no consumo de energia
fóssil e também porque alguns americanos não acreditam
na elevação da temperatura do planeta pela emissão de po-
luentes atmosféricos9 (LAGO, 2006).
Diminuir ou alterar a produção industrial são metas que
as nações têm dificuldade de cumprir, porque podem compro-
meter sua estrutura política e social, e por isso foi criado pelo
protocolo outra ferramenta de redução, os sumidouros de
carbono. Um exemplo de sumidouro são as grandes florestas
com o poder de absorver carbono e esse serviço ambiental
pode ser trocado — uma espécie de contabilidade ecológica
— como crédito no controle da emissões.
Num primeiro momento a ideia pareceu boa, mas quando
os países desenvolvidos — os maiores emissores de CO2 e de
outros poluentes — optaram em manter sua produção indus-
trial transferindo parte de suas indústrias poluidoras para
países onde o nível de emissão é baixo, ela foi rejeitada. Usar
como barganha os créditos de carbono ou investimento nos
países subdesenvolvidos, mascarando a continuidade da prá-
tica poluidora com benefícios de conservação das florestas,
não convenceu. Essa proposta perdeu força na conferência
de Joanesburgo, porque estava claro que o problema não
9 Em 1997, o Governo de Bill Clinton bem que tentou negociar o Proto-colo de Quioto com o senado, mas não conseguiu e só em 2009 chegouao senado americano para ser ratificado a pedido do presidente BarakObama.
165
Mudanças climáticas e ambientais
seria resolvido poluindo onde existem florestas, mas sim
evitando a poluição em qualquer lugar (LAGO, 2006).
Ao longo da década de 1990, buscou-se a implementação
do desenvolvimento sustentável e alguns avanços foram ob-
servados nas áreas de conhecimento científico e progresso
tecnológico, ressaltando especialmente o fortalecimento da
legislação ambiental em certos países, a participação da
sociedade civil e o crescimento da informação.
Contudo, o avanço foi lento e a entrada no novo milênio
foi acompanhada pela velha dicotomia econômica e socioam-
biental, e pelas contínuas depredações ambientais frente ao
incansável protesto dos simpatizantes do movimento ambien-
talista. O páreo tem sido desigual e a inércia das atividades
pró-ambiental é tão grande em relação à velocidade da depre-
dação que Kofi Annan, o então Secretário-Geral das Nações
Unidas, afirmava em 2002: “o registro da década desde a
Cúpula da Terra é principalmente uma demonstração de
progresso penosamente lento e de uma crise ambiental que
se aprofunda” (ONU, 2002, p.22)
Com o objetivo de fazer uma avaliação dos avanços conse-
guidos pela propostas da Agenda 21, a Assembleia Geral das
Nações Unidas realizou um importante evento em Johanes-
burgo, na África do Sul no ano de 2002. A Cúpula Mundial
sobre Desenvolvimento Sustentável, ou RIO+10, foi criada
com objetivo de avaliar e estabelecer um planejamento para
fortalecer e acelerar os princípios aprovados pela RIO-92,
como também trazer consciência para a sociedade civil de
que sua participação junto ao governo é essencial na exe-
166
Contextos: educacionais e históricos
cução dos trabalhos rumo ao desenvolvimento sustentável
(LAGO, 2006).
Novamente foi tratada uma diversidade de temas como
água, saneamento, energia, saúde, agricultura, biodiver-
sidade e gestão de ecossistemas. Como resultado saíram
153 recomendações para o cumprimento da Agenda 21, no
sentido de fortalecer e melhorar a implementação do de-
senvolvimento sustentável, dando mais eficiência aos seus
resultados. Considerada um dos entraves à sua implementa-
ção, a pobreza foi um dos principais assuntos debatidos, e
foi decidida a criação de um fundo mundial de solidariedade
para sua erradicação.
A atenção à pobreza extrema encontrada principalmente
nos países da África era guarnecida pelo princípio 1 da RIO-
92: “Os seres humanos estão no centro das preocupações
com o desenvolvimento sustentável” (ONU, 1992b, p.1). To-
davia a pobreza não estava na lista de prioridades dos países
ricos, que visavam interesses em transferência de tecnologia
e acesso a mercados. Claramente a interpretação de causali-
dade entre pobreza e poluição ainda não era um consenso,
pois a elite do mundo entende a diminuição da pobreza como
uma questão de diminuir a natalidade, ao passo que os paí-
ses emergentes compreendem a redução da pobreza como
a rota principal para o desenvolvimento sustentável (LAGO,
2006; RIO+20, 2012).
Pontos esparsos de comprovação do desenvolvimento sus-
tentável tendo resultados positivos sobre a população foram
apontados em Johanesburgo. As empresas não governamen-
167
Mudanças climáticas e ambientais
tais e a sociedade civil tiveram o mérito nessa construção
e um destaque deve ser feito para a evolução da ONGs em
influenciar a opinião pública. Em Estocolmo, as entidades
não governamentais e suas ações muitas vezes foram este-
reotipadas como inconvenientes e até como intrusas, porém
na RIO-92 ganharam legitimidade e respeito.
Em 2002 percebeu-se a superação de visões idealistas
e radicais, permitindo a construção de uma ponte aproxi-
mando o caráter político do científico e assim amadurecendo
suas intervenções, de forma mais construtiva na conferência.
Óbvio que manifestações mais fortes por parte das ONGs
existiram, mas por outro lado, de forma inusitada alguns
de seus membros participaram de delegações defendendo
seus pontos de vista ora apoiando um país, ora outro (LAGO,
2006).
Quanto às empresas, destaca-se que suas ações sus-
tentáveis não eram feitas por altruísmo ecológico ou ideais
ambientais, e sim por uma mera questão de lucro. O viés
ambiental tinha se tornado um novo nicho de mercado com a
perspectiva de implementação do desenvolvimento sustentá-
vel (WALLIS, 2009). Algumas empresas logo perceberam com
o novo tempo que o prejuízo poderia vir com escândalos, mul-
tas, suspensão de licenças e escolha da opinião pública em
não comprar produtos com base na produção degradadora.
Apesar dessas restrições e dos progressos obtidos em
tecnologia, vários setores da sociedade continuaram a fazer
suas emissões em valores crescentes. O setor de energia,
cerceado por entraves políticos e lobbys econômicos, ignorou
168
Contextos: educacionais e históricos
a possibilidade de usar as energias alternativas em grande
escala e permaneceu usando energias sujas, como as fósseis.
Seguindo essa tendência de consumo crescente, é fácil imagi-
nar a situação dantesca, se as palavras de grande sabedoria
de Gandhi se confirmarem: “Deus nos proteja de que a Índia
se industrialize da mesma maneira que o Ocidente [...] O
Reino Unido usou a metade dos recursos do planeta para
atingir sua prosperidade. De quantos planetas vai precisar a
Índia?” E a China?
Um exame bem feito conclui que o sistema financeiro —
o capitalismo — já se apropriou do conceito de desenvolvi-
mento sustentável, usando-o banalmente de diversas formas
na busca de ’ambientalizar’ o capital, sob o disfarce de ser
politicamente correto e moralmente nobre, como afirmam
Perez e Pozo (PERES; POZO, 2006, p.28):
Converteu-se num tipo de instrumentomultiúso que colocou em contato ambi-entalistas e imobiliárias, empresários econservacionistas, políticos e gestores, a-pesar de o uso comum do termo nadase tenha feito; muito pelo contrário, coma confusão gerada, quem mais ganhoutêm sido os defensores do neoliberalismo,pois o termo desenvolvimento pode signi-ficar qualquer coisa dependendo de comose olhe e com que finalidades se empre-gue. Diante de uma dócil aparência deneutralidade semântica, podemos ver co-mo seu uso polissêmico permite acepçõesdiametralmente opostas.
Quando a gestão do capital é feita na sustentabilidade
o resultado é promissor, entretanto quando mascara a real
169
Mudanças climáticas e ambientais
intenção de só obter lucro, não se responsabilizando com
a origem da produção ou com as consequências do con-
sumo, o capital só atrasa a implementação do desenvolvi-
mento sustentável. Exemplos do contrassenso capital versus
sustentabilidade são as empresas de produção de cigarros,
armamento militar e civil.
Os produtos dessas empresas sabidamente disseminam
doenças, alimentam a violência, guerra e submissão, todavia
essas empresas buscam maquiar sua produção insusten-
tável afirmando que produzem com certificado de gestão
ambiental. Argumentos frágeis que se sustentam com base
no lucro obtido da venda desses produtos, mas não condizem
com a sustentabilidade, uma vez que a implementação do de-
senvolvimento sustentável exige também um comportamento
sustentável pautado em saúde e paz.
Considerando os dez anos entre as duas conferências a
respeito do desenvolvimento sustentável, ele pode não ter
evoluído ou até mesmo não ter acontecido na visão dos mais
exigentes. Quanto ao crescimento econômico, os números
não mentem, foi o maior da história. São vários os contextos
que impulsionaram a economia nesse intervalo: o fim da
Guerra fria e a China cada vez mais permitindo aspectos
capitalistas na sua economia; uma expansão tecnológica
mundial no setor de comunicação; aumento do poder da
especulação financeira e do número de transações comerciais
(WALLIS, 2009; GUPTA, 2011).
Esse crescimento econômico alimentou o modus operandi
do consumismo, tendo como exemplo a ser seguido o esban-
170
Contextos: educacionais e históricos
jador padrão de vida ocidental, isto é, nesse dez anos se ges-
tou a globalização do consumo que vem evoluindo em ritmo
crescente até os dias de hoje. Entretanto, essa globalização
não se afina com os tons humanísticos do desenvolvimento
sustentável, muito pelo contrário, reverbera processos con-
dizentes com o capitalismo selvagem e destoa dos anseios
ambientalistas. Na conferência de 2002, transvestida de uma
força que faria um amplo debate sobre a igualdade social,
sem muita demora a globalização10 centralizou a atenção mo-
nopolizando o debate, tirando muito do espaço e tempo que
deveria ser ocupado para as discussões do desenvolvimento
sustentável (LAGO, 2006; GUPTA, 2011).
Vinte anos depois da RIO-92 uma nova conferência foi re-
alizada na cidade do Rio de Janeiro, a RIO +20. A RIO +20 foi
considerada o maior evento feito pela ONU com a presença
de chefes de 190 países. No texto final da conferência, inti-
tulado O Futuro que queremos, diversos temas a respeito do
desenvolvimento sustentável como pobreza, falta de moradia,
governança, educação e outros foram novamente tratados.
O Futuro que queremos possui cinco capítulos propondo
encaminhamentos para implementação do desenvolvimento
sustentável e soluções para diminuir os seus entraves, e
10 A globalização e o desenvolvimento sustentável possuem duas rela-ções. Por um lado os efeitos da globalização podem ameaçar mino-rias como os índios, destruindo as florestas onde vivem, provocandomigrações, assentamentos sem estrutura e poluição através das mu-danças de padrões na produção mundial e no comércio. Por outrolado, a globalização através do aumento do fluxo de informação podeser usada contra ela mesma, no sentido de educar para deter os seusefeitos.
171
Mudanças climáticas e ambientais
estabelece o compromisso com a qualidade de vida e a sus-
tentabilidade. Em seu capítulo V, uma subseção possui
oito recomendações sobre a importância da educação para a
implementação do desenvolvimento sustentável.
A conferência reconheceu o valor da melhoria da educa-
ção para os jovens e o poder que ela tem de mudar o compor-
tamento das pessoas em busca da sustentabilidade, e apelou
para um esforço de cooperação entre escolas, comunidades
e autoridades, para que possa ocorrer a implementação do
desenvolvimento sustentável (RIO+20, 2012, p.46):
Reconhecemos que as gerações mais jo-vens são os guardiões do futuro, e queé necessário melhorar a qualidade e oacesso à educação para além do nível pri-mário. Nós, portanto, resolvemos dotarnossos sistemas educacionais de meiospara preparar melhor os jovens para apromoção do desenvolvimento sustentá-vel, nomeadamente através de uma me-lhor formação de professores, do desen-volvimento de currículos em torno da sus-tentabilidade; do desenvolvimento de pro-gramas escolares que abordem as ques-tões ligadas à sustentabilidade; de pro-gramas de formação que preparem os es-tudantes para carreiras em áreas rela-cionadas com a sustentabilidade; e deuma utilização eficaz de tecnologias deinformação e comunicação para melho-rar os resultados da aprendizagem. Ape-lamos para uma maior cooperação entreescolas, comunidades e autoridades, emseus esforços para promover o acesso àeducação de qualidade em todos os ní-veis.
172
Contextos: educacionais e históricos
A RIO+20 também reforçou que as metas da Década das
Nações Unidas da Educação para o Desenvolvimento Susten-
tável de 2005-2014 devem ser encorajadas e estendidas para
o futuro. Aspectos relativos a Década da Educação para o De-
senvolvimento Sustentável e outras vertentes educacionais
serão examinados mais a frente.
A prioridade da dimensão ambiental e os limi-tes planetários
É importante examinar as relações de hierarquia nas di-
mensões do desenvolvimento sustentável, quando se quer
obter mais eficiência em sua implantação. As dimensões
do desenvolvimento sustentável possuem atribuições e cam-
pos de influência distintos entre si. A dimensão ambiental
se vincula a uma dinâmica de produção e consumo equili-
brada, garantindo recuperação, capacidade e resiliência dos
ecossistemas. A dimensão econômica está relacionada à efi-
ciência da produção e do consumo com inovação tecnológica,
usando energias alternativas, e a dimensão social planeja
a erradicação da pobreza diminuindo a desigualdade social,
isto é, executando a justiça social.
Na implementação do desenvolvimento sustentável no
contexto atual, percebe-se na prática a valorização da di-
mensão econômica. O equívoco está ai. São os ecossistemas
os mantenedores da dinâmica do planeta, e somente com o
planeta saudável é que se pode conseguir estabilidade social
173
Mudanças climáticas e ambientais
e econômica. A hierarquia da dimensão ambiental, como
mostra a figura 18, segue a lógica correta da seguinte pre-
missa: as economias são mantidas pelos ecossistemas e nãoo contrário (WWF, 2014).
Figura 18 – Hierarquia da dimensões do desenvolvimento susten-tável.
Fonte: (WWF, 2014). Preponderância da componente ambiental.
A prioridade da dimensão econômica exercida pelo modelo
desenvolvimentista não tem apresentado resultados efica-
zes no combate à pobreza. A diminuição da pobreza é uma
das metas principais do desenvolvimento sustentável, como
está posto em vários documentos oficiais — ONU, IPCC e
outros — , pois a pobreza representa um dos piores entraves
à implementação da sustentabilidade. É nesse sentido que o
IPCC afirma que a degradação ecológica é mais acentuada
quanto maior for a pobreza, e esta diminui com o aumento
do desenvolvimento sustentável.
174
Contextos: educacionais e históricos
A afirmativa do IPCC e a célebre frase de Indira Gandhi
em 1972 na conferência de Estocolmo, “a pobreza é a maior
das poluições”, não podem ser confundidas em sua essência,
colocando nos pobres a culpa pela poluição do mundo e pelo
entrave à sustentabilidade. As afirmações estão corretas
e a interpretação da culpa dos pobres está errada. Essa
visão da pobreza é emitida em grande parte por ignorância,
preconceito, cobiça e por quem não vivencia a pobreza11.
Os maiores responsáveis pela degradação ambiental são
os ricos, que possuem muito mais do que o suficiente para
viver. Eles consomem o desnecessário e produzem uma
quantidade de lixo muito maior do que os pobres. Estes
últimos são excluídos pelo sistema do capital sem direitos
a serviços básicos, e então não fazem outra coisa a não ser
tentar sobreviver com o pouco que está à sua disposição,
como por exemplo usar madeira como combustível e água
que ainda não foi mercantilizada. Como afirma a UNESCO
em 2005, (UNESCO, 2005, p.28):
Os ricos estão aptos a fazer escolhas, en-quanto os pobres, presos em um círculode privação e vulnerabilidade, não podemfazê-lo. Enquanto os ricos podem adotarpadrões de desenvolvimento sustentávele mostram-se relutantes em fazê-lo, ospobres não têm alternativa além de fazeruso do seu entorno imediato.
11 Um órgão internacional com forte poder de influência entre os to-madores de decisão, o Banco Mundial (WORLD BANK, 1992, p. 67),afirmou que as famílias pobres iriam arruinar o capital natural cor-tando mais árvores do que conseguem repor.
175
Mudanças climáticas e ambientais
Na RIO+20 como no relatório Planeta Vivo identificou-se
que a falta de educação e consciência ambiental tem reflexos
no nível de segurança global, em razão dos limites planetários
estarem sendo rompidos pelo modelo de desenvolvimento
atual. Isso foi provocado pela inserção e retirada sistêmica de
materiais do meio ambiente, através de uma série processos
de origem antrópica que vêm acontecendo com mais força,
desde a revolução industrial até os dias de hoje.
Será que o planeta suportará a sistêmica mudança ambi-
ental provocada pelo homem? Até onde se estende a fronteira
ambiental para a humanidade viver em segurança? Estudos
de limites planetários e segurança global mostram o quão é
perigoso operar numa zona de risco, onde a resiliência ecoló-
gica e a ordem ambiental ficam ameaçadas. A Terra possui
nove limites planetários que comportam um amplo espectro
de atuação, e três deles já foram ultrapassados com claras
evidências, como mostra a figura 19 do relatório Planeta Vivo
(WWF, 2014), revelando um preocupante nível de ameaça à
sustentabilidade global.
Os estudos mostram (WWF, 2014; VIOLA; FRANCHINI,
2012) que os limites planetários estão sendo atingidos pelo
aumento do consumo, devido ao tamanho da população
mundial e à rapidez com que ela extrai os recursos da terra.
Uma das soluções sugeridas para manter a segurança global
com uma crescente população é conseguir níveis moderados
de consumo e aplicação generalizada de tecnologias susten-
táveis.Nesse sentido, justifica-se a importância da educação
em gerir uma governança que realize uma cooperação inter-
176
Contextos: educacionais e históricos
Figura 19 – Limites planetários.
(WWF, 2014) Os limites ultrapassados estão em vermelho.
nacional para resguardar os limites planetários e que tenha o
poder de impor legislação na qual essas fronteiras não sejam
sequer visitadas, muito menos ultrapassadas (HUFTY, 2011)
A escolha do desenvolvimento é pela educa-ção
No cerne de boa parte dos problemas socioambientais
é a ausência de educação com qualidade na dimensão am-
177
Mudanças climáticas e ambientais
biental12. Isso se refletiu claramente na RIO+20, onde foi
constatada uma falta de visão em tomadas de ações para
criar instrumentos cooperativos globais, como também foi ve-
rificada a lenta evolução dos mecanismos criados nos últimos
20 anos, mesmo com alertas e fortes evidências científicas
da degradação ambiental acumulada no período. Faltou
educação nos valores ambientais, nos valores cooperativos,
nos valores éticos e nos valores solidários aplicados aos de-
cisores políticos, resultando em corrupção e em decisões
ineficientes.
É pela estrada da educação que desenvolvimento e sus-
tentabilidade devem caminhar juntos. Todavia, com a sus-
tentabilidade liderando o processo afim de vencer o aumento
da poluição e da pobreza. Nesse sentido, Leonardo Boff ar-
gumenta que no desenvolvimento sustentável o principal é
a sustentabilidade, pois ela é quem deve dirigir o desenvol-
vimento e não o contrário (BOFF, 2007). Com evidência, o
desenvolvimento é necessário mas fica em segundo plano,
porque precisamos nos desenvolver, mas necessitamos tam-
bém viver uma sociedade sustentável, um trabalho susten-
tável e uma vida sustentável, e só assim poderemos nos
desenvolver sustentavelmente.
Por fim sustentabilidade e desenvolvimento sustentável,
um paradigma de vida e um modo de crescimento socioam-
biental guardam relações próximas entre si e também com a
educação. A implementação de ambos irá depender muito
12 Uma educação com qualidade na dimensão ambiental objetiva for-mará pessoas que coloquem a dimensão ambiental em primeiro planoe trabalhem com prioridades socioambientais de longo prazo.
178
Contextos: educacionais e históricos
do nível da educação voltada para a dimensão ambiental
exercida na sociedade. Felizmente, deu-se atenção à educa-
ção na RIO+20, indicando pontos importantes que devem
ser seguidos na década da educação para o desenvolvimento
sustentável, assunto que será analisado com mais detalhes
nos próximos capítulos.
No entanto, na observação do quadro ambiental e eco-
lógico do Planeta, percebe-se com clareza a necessidade de
uma mudança radical na forma de lidarmos com os recursos
naturais passando a conservar a riqueza ambiental da Terra,
como as florestas e os recursos hídricos. Um das metas da
reforma educacional é mudar a base do desenvolvimentismo
alicerçada no consumo de combustível fóssil, e melhorar a
míope visão da sociedade capitalista que projeta seus lucros
a curto prazo em benefício de uma minoria. Uma mudança
premente com objetivo de recuperar o capital ecológico des-
truído, uma vez que 50% da massa de animais da Terra e
do mar — peixes, répteis, aves e mamíferos — diminuiu em
meio século, enquanto o número de humanos aumentou de
3,5 bilhões para 7,3 bilhões e cerca de um quarto (24%) dos
solos do planeta está submetido à degradação, dado validado
pela falta de produtividade no período de 1980 a 2003 (CBD,
2010).
A Terra não suportará a gula do modelo racional desenvol-
vimentista, pois tal modelo, armado de ciência e tecnologia
e assistido por uma sociedade consumista tem produzido
uma farra gigante de bens materiais e serviços — sem fazer
uma distribuição igualitária destes —, através de retiradas
179
Mudanças climáticas e ambientais
consistentes e sistêmicas dos reinos da natureza. A antítese
do desenvolvimentismo é a sustentabilidade, um paradigma
baseado na vida tendo suas origens em contextos ecológicos
e ambientais. Na sustentabilidade estão contidos os tipos
equilíbrio, a preservação dos ecossistemas, a reciclagem de
resíduos sólidos, a economia verde e a conservação das flo-
restas tema a ser abordado no próximo capítulo (GADOTTI,
2008; BOFF, 2007; BRANDÃO, 2007).
180
6
Desenvolvimentismo e florestas
Mais do que nunca, é hora de aprendermos a cami-
nhar com as duas pernas e combinar justiça social
e prudência ambiental.
Ignacy Sachs, Dossiê sustentabilidade.
Centenas de milhares de anos se passaram até que hou-
vesse a transição do nomadismo para o descobrimento
da agricultura, a domesticação dos animais e o estabeleci-
mento das primeiras cidades. Entretanto, com o surgimento
das grandes navegações entre os séculos XV e XVII, a so-
ciedade foi marcada por duas características: a expansão
territorial e a colonização. Um mundo novo com uma natu-
reza selvagem se apresentava novamente para o homem, e
ele assumiu o papel de seu civilizador, domador e explorador.
Desse domínio explorativo, uma nova sociedade nasceu, e
com ela uma inovadora forma de produção e consumo se
Mudanças climáticas e ambientais
estabeleceria, de maneira sistemática e instrumentalizada
até os dias atuais.
A retirada de recursos fósseis servindo de combustível
para as máquinas a vapor se iniciou na primeira revolução
industrial, que nascia clareada sob a luz do determinismo
newtoniano nos primórdios da ciência moderna. A produção
industrial foi crescendo, a ciência avançando e cerca de 200
anos depois surgiu o advento da eletricidade. O poder da
energia elétrica moveu a segunda revolução industrial, ilu-
minando e transformando as paisagens da Terra, clareando
novos caminhos para a ciência e resultando na presente revo-
lução da cibernética, reduzindo distâncias entre as relações
sociais e encurtando os tempos da comunicação.
Essas conquistas contribuíram para originar um mundo
interligado, um tempo de globalização, abrindo as portas da
era do conhecimento para o homem. Boa parte desse conhe-
cimento1 foi e é direcionada para desenvolver uma tecnologia
que em parte é usada para exploração excessiva dos recur-
sos naturais, guerras e degradação dos ecossistemas, numa
visão de mundo onde os bens da natureza podem se destruí-
dos e mercantilizados. De certa forma, o ser humano atingiu
um alto grau em ciência e tecnologia, mas engendrou-se por
demais na sua objetividade em mudar a natureza, usando-a
como base de troca, passando a quantificar a vida e coisificar
1 O avanço da ciência representa um dos maiores bens conquistadospela humanidade, trazendo benefícios inúmeros: aumento da quali-dade de vida; cura de inúmeras doenças; aumento do conhecimentodo espaço sideral, entre outros. Entretanto, este livro se propõe a co-mentar alguns resultados negativos da aplicação do avanço científico.
182
Contextos: educacionais e históricos
o mundo, e esquecendo-se da subjetividade de viver (LEFF,
2000; CAPRA, 1982; GADOTTI, 2008).
Assim, no momento atual se vive um paradoxo ao usar
um modelo de sociedade buscando crescimento econômico
com transformação científico-tecnológica, ao mesmo tempo
em que se presencia uma forte desigualdade social, com
profundos problemas ambientais, sociais, éticos e ecológicos.
Essa dicotomia caracteriza um traço marcante do paradigma
racional moderno, que crê na conquista progressiva da racio-
nalidade sob o impulso do cientificismo (AGUILAR; JUNIOR,
2014). É notório que a ciência e a tecnologia têm evoluído,
trazendo consigo crescimento econômico em diversas áreas.
Entretanto, esse avanço não tem garantido um verdadeiro
desenvolvimento, porque o crescimento econômico por si
só não é capaz de fornecer à humanidade a capacidade de
visualizar um futuro com condições de existência.
Com essa dualidade, a ciência e a tecnologia se inserem
dentro contexto ambiental da sociedade apresentando dois
traços relevantes, um depredador e transformador do meio
ambiente em grande velocidade, dando condições ao homem
de poder aniquilar a si próprio, e outro lado apresentando
a característica de aumentar a força produtiva sob vários
aspectos, com o objetivo de atender a demanda da sociedade
e fornecer lucros ao capital.
O aumento dessa força produtiva é ditado pelo mercado
financeiro com base na lógica da produção e demanda, vali-
dando suas razões na necessidade de expansão da oferta de
emprego para o aquecimento da economia, isto é, aumentar
183
Mudanças climáticas e ambientais
o crescimento econômico. Na atualidade, para atingir essa
meta o mercado tem manifestado um comportamento agres-
sivo realizando atividades com impactos sociais e ambientais,
prejuízos indesejáveis para a sociedade.
Além disso, a saciedade da demanda de emprego da hu-
manidade não é atendida com satisfatoriedade. É um modelo
de sociedade que faz rápidas transformações no mundo, mas
não consegue fazer planejamentos futuros de longo prazo,
pois possui uma miopia acentuada para as questões ambien-
tais e só consegue enxergar o lucro imediato, sendo incapaz
de conseguir ver as reais necessidades do agora (SACHS,
2012). Um desenvolvimento benéfico pede planejamentos de
longo prazo — em décadas ou séculos — com sustentabili-
dade.
A civilização centrada no cientificismo, na tecnologia e na
produção industrial forte, quando somada a uma educação
sem qualidade, incentiva a alienação a um consumo de uma
parafernália de produtos oferecidos, e não promove uma
reflexão a respeito do poder da ciência e da capacidade de
esgotamento dos recursos naturais.
Na certeza da eficiência do paradigma racional científico
— talvez por falta de uma religação de outros conhecimentos
que não são somente científicos, mas transmitidos por ge-
rações e que foram aprendidos numa relação com a própria
natureza —, não há espaço para o saber ambiental. Dessa
forma, as relações causais são invertidas: produz-se a socie-
dade para a burocracia, o povo para a tecnocracia, o sujeito
para o objeto (JAPIASSU, 2006). A busca para fazer essa
184
Contextos: educacionais e históricos
reflexão e tornar a ciência mais útil ao ser humano — como
exemplo, produzir produtos necessários a vida mais eficien-
tes energeticamente — é dificultada pela má qualidade da
política social, ambiental e educacional.
A falta de recursos na educação é a causa principal dessa
inércia reflexiva, percebida no desinteresse da sociedade em
incentivar a pesquisa interdisciplinar para o desenvolvimento
sustentável e a produção de instrumentos educacionais com
vistas a deter a degradação ambiental. Sem dúvida, a so-
ciedade avançou em fazer máquinas com grande poder de
transformação, mas ao mesmo tempo se alijou do processo
de auto avaliação dos próprios atos, gerando uma exclusão
da participação crítica no desenvolvimento como afirma Leff
(2000, p.23)
Nunca antes na História houve tantos se-res humanos que desconhecessem tantoe estivessem tão excluídos dos proces-sos e das decisões que determinam suascondições de existência; nunca antes e-xistiu tanta pobreza, tanta gente alienadade suas vidas, tantos saberes subjuga-dos, tantos seres que perderam o con-trole, a condução e o sentido de sua exis-tência; tantos homens e mulheres desem-pregados, desenraizados de seus territó-rios, desapropriados de suas culturas ede suas identidades.
É uma espécie de dormência coletiva onde alienados e
alienadores não percebem o perigo que os cercam, quando se
abstém de aplicar, entre outras medidas, a ética ambiental
no uso da ciência, na tecnologia e nos processos de interven-
ção na natureza. Desse sono se produz o conflito ambiental
185
Mudanças climáticas e ambientais
permeado por interesses do capital, visando o usufruto ime-
diato de seus investimentos e a manutenção dessa lógica
financeira, alimentada por práticas produtivas depredatórias.
Isso é visto claramente nesse sistema produtivo, exigindo a
cada safra colheitas maiores, realizando retiradas colossais
de recursos naturais de forma crescente, sem dar a oportu-
nidade do planeta se recompor, o que naturalmente só pode
trazer impactos climáticos e ambientais.
O resultado desses procedimentos se vê estampado nos
noticiários, com eventos extremos como furacões, ciclones e
tornados cada vez mais frequentes, além de mudanças am-
bientais como desmatamentos, incêndios florestais, degrada-
ção dos solos inviabilizando sua produtividade e outros agra-
ves ecológicos. Nesse sentido, urge acordar e buscar cons-
truir uma ponte que faça a união entre a ciência/tecnologia
e os conflitos ambientais. Uma quebra dos elos do poder
científico com os interesses econômicos e das medidas palia-
tivas de conservação ambiental, exigindo uma revalorização
da natureza com novos padrões culturais e estilos de vida
modificados, no sentido de conservar e saber usar os seus re-
cursos de forma sustentável (SACHS, 2012; RIBEIRO, 2001).
Uma saída é conectar a ciência tecnológica a um pa-
radigma ambiental holístico e integrador, para existir um
trânsito fluente entre o conhecimento científico e não cien-
tífico. Considerar também conhecimentos não científicos —
saberes ambientais obtidos durante gerações, valores cul-
turais específicos dos povos — como uteis ao paradigma da
sustentabilidade.
186
Contextos: educacionais e históricos
Emerge assim, mediada pela complexidade ambiental per-
mitindo a hibridização do conhecimento e o diálogo dos sa-
beres, a importância do saber ambiental e de sua influência,
em decisões de aplicações científicas e tecnológicas (BENTES,
2005; BOFF, 2007). É nessa abertura holística do conhe-
cimento que começará uma mudança de paradigma, tendo
como tema gerador a problemática ambiental, de onde fluirá
a diversidade de interpretações e a pluralidade de reflexões,
oriundas de uma gama de interesses socioambientais, pos-
sibilitando a implantação da sustentabilidade como modelo
padrão da sociedade.
No entanto, a simples fusão dos saberes econômicos, cien-
tíficos, culturais, sociais e ambientais não resolverá sozinha
os problemas socioambientais. A essa fusão precisa ser adici-
onada uma mudança individual e coletiva, a nível existencial,
de valores éticos e morais, relacionados ao uso correto dos re-
cursos da natureza, na dimensão da sustentabilidade. Caso
contrário, sem essa reflexão existencial, a natureza ficará
a mercê das leis globalizadas do mercado, interessadas em
extrair seus recursos numa visão exclusivista de fonte de
riqueza.
Portanto, com essa perspectiva redutora e gananciosa,
excluidora do comportamento reflexivo a respeito dos proble-
mas ambientais e direcionando o conhecimento produzido
para alimentar o sistema de produção e consumo insus-
tentável, consequentemente o resultado é mais poluição e
degradação ambiental.
187
Mudanças climáticas e ambientais
A importância da cultura ambiental e dos ecos-sistemas
Na década de 1970, os valores dominantes na sociedade
eram os de crescimento econômico, pois o desenvolvimen-
tismo era — como ainda é hoje — uma norma social2. No
início do ambientalismo, somente um número pequeno de
pessoas pertencentes à sociedade civil e ao estado se sen-
sibilizaram com a degradação do meio ambiente, todavia a
novidade dos valores ambientalistas foi ignorada e negada. A
cultura ambiental não era uma norma social, e o movimento
ambientalista não teve um forte apoio da sociedade, fazendo
com que seus primeiros integrantes sofressem preconceitos,
retaliações, indiferenças e até estereótipos de insanidade
(CARVALHO; FARIAS; PEREIRA, 2011).
Depois dos alertas ambientais — relatório Meadows (1972),
a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente Hu-
mano (1972) e a crise do petróleo (1973-1974) — o número
de ambientalistas aumentou, principalmente nas décadas de
1980 e 1990, e com isso os ideais do ambientalismo saíram
da exclusividade das agências estatais e foram assimilados
por órgãos não ambientais como universidades, televisão e
empresas. Paralelo a isto, a crítica ao desenvolvimentismo
aumentou, diminuindo os seus adeptos e fazendo com que
ambientalismo fosse legitimado como uma nova norma social.
2 Norma social é uma regra socialmente reforçada que se apresentacomo prescrição de comportamento.
188
Contextos: educacionais e históricos
Tratando-se de mudança sociocultural,é perceptível que o
ambientalismo como norma social ainda não foi assimilado e
está longe de ser consolidado (FONSECA; BURSZTYN, 2007).
A ascensão do movimento ambientalista se deve ao ní-
vel de consciência socioambiental ter aumentado quando
se identificou que os desastres ecológicos, a poluição e a
degradação do meio ambiente eram gerados por alguns dos
benefícios trazidos pela ciência, tecnologia e industrializa-
ção, com a possibilidade de inviabilizar a vida no planeta. A
mudança da norma social aconteceu porque existiu de certo
modo um avanço da educação ambiental e um aumento de
consciência socioambiental, associados ao grau de percepção
da história, do presente e da direção do futuro da humani-
dade (VECCHIATTI, 2004; CARVALHO; FARIAS; PEREIRA,
2011).
A massificação das tecnologias do modelo científico de-
senvolvimentista rompeu algumas fronteiras na exploração
dos recursos naturais com desmatamentos de imensas áreas
verdes, destruindo a biodiversidade e extinguindo espécies,
poluindo rios, mares, ar e redes de águas subterrâneas,
degradando e desertificando solos. Somada à degradação
ambiental existe a perda cultural, já que a ciência do de-
senvolvimentismo não reconhece os saberes culturais das
comunidades que são resultantes da interação do homem
com o meio ambiente, passados de geração em geração.
Um exemplo dessa desvalorização de cultura está repre-
sentado nas práticas de plantio e manejo ambientalmente
sustentáveis feita pelas comunidades locais, práticas cate-
189
Mudanças climáticas e ambientais
gorizadas como atrasadas pela ciência contemporânea. O
racionalismo da ciência contemporânea não só sepulta a
cultura ambiental dessas comunidades como também quer
aculturar o desflorestamento como uma tecnologia superior.
Quando se examinam os resultados dessas práticas, conclui-
se que a cultura atrasada conserva os recursos naturais da
região onde foi criada e a cultura avançada, baseada na ló-
gica científico-tecnológica, destrói e degrada solos e florestas
nos seus países e em parte de suas colônias (BENTES, 2005).
Para o desenvolvimentismo, o ambientalismo foi sempre
uma pedra no sapato, atrapalhando seu objetivo de trans-
formar e degradar o meio ambiente. Com efeito, os anseios
ambientalistas são invisíveis para a visão desenvolvimentista
de superação da pobreza e da marginalização, visão unidi-
recional que se pauta em realizar construções de grandes
obras estruturantes como estradas, pontes, hidrelétricas e
outras, intencionando garantir a oferta de empregos e a cir-
culação da riqueza. Todavia, não se consegue êxito, pois
não é garantida a divisão equitativa da riqueza obtida e o
mais sério, não se leva em consideração o prejuízo ambiental
gerado (FONSECA; BURSZTYN, 2007).
O Brasil no último século deu um exemplo forte de de-
senvolvimentismo ao priorizar o econômico, e destruiu feroz-
mente seu meio ambiente, desmatando o cerrado, a caatinga,
a amazônia e a mata atlântica. Na prática o país fez escolhas
menos sustentáveis a longo prazo. No setor de transportes,
por exemplo, optou por implementar meios mais degradan-
tes como fábricas automobilísticas e estradas, em vez de
190
Contextos: educacionais e históricos
meios mais sustentáveis como o uso de trens e ferrovias
(FEARNSIDE, 2005; DEAN, 1978).
Além de tornar invisíveis os objetivos do ambientalismo, o
desenvolvimentismo por vezes abafa sua voz. Em 1980 ainda
existiam ditaduras militares no hemisfério sul incentivando
o desenvolvimentismo, e mesmo assim, um documento cha-
mado Relatório Brandt, chefiado pelo ex-chanceler alemão
Willy Brandt, sugeria medidas para reduzir a desigualdade
social entre o hemisfério norte e sul. Contudo, o mercado
financeiro conseguiu tornar inaudíveis as propostas do rela-
tório com sua demanda de aumento de circulação de capitais,
ideias de livre comércio, remoção de barreiras ambientais e
trabalhistas sem a presença do estado.
No início da década de 1990, em política e ciência, o cená-
rio foi mais propício ao ambientalismo. A repressão militar
quase não existia e os movimentos por causas políticas, so-
ciais e ecológicas se multiplicaram através de organizações
civis. A ideia de mudanças climáticas, buraco da camada
de ozônio, pesca ilimitada, poluição, falência de ecossiste-
mas, perigo químico e nuclear, desmatamento e outras já
possuíam muitos defensores na ciência (PEREIRA, 2011).
Entretanto, a máquina desenvolvimentista arvorada na
busca de gerar empregos não parou e continua sistemati-
camente sua trajetória de transformar o meio ambiente e
desmatar as florestas. Na expansão do crescimento econô-
mico e do desmatamento, diversas mudanças ambientais
com seus feitos colaterais iam surgindo: perda da biodiversi-
dade pela supressão vegetal da mata atlântica, do cerrado e
191
Mudanças climáticas e ambientais
da amazônia; desordenada urbanização ocasionada por mi-
gração significativa, inchando as grandes cidades; aumento
de favelas, sujeira, poluição, falta de saneamento, degrada-
ção ambiental e, consequentemente, aumento do número
de doenças e dos gastos públicos (NETO, 2009). Segundo o
relatório Radar (PEREIRA, 2011, p.9):
Tornaram-se corriqueiros desastres eco-lógicos por conta de acidentes químicose derramamento de petróleo, poluição doar e dos recursos hídricos, desmatamen-to, devastação de mangues e áreas úmi-das, contaminação por agrotóxicos e ou-tras substâncias químicas e uma monta-nha de lixo que se esparrama por cida-des, mares, rios e lagos.
Com o aumento da urbanização e o enfraquecimento da
cultura ambiental, a poluição do meio ambiente só vem au-
mentando, trazendo sérios problemas de ordem ecológica
como a falência de ecossistemas e a extinção de espécies no
mundo. Estudos realizados a pedido da ONU para fazer a
Avaliação Ecossistêmica do Milênio entre 2001 e 2005 reve-
laram que cerca de 60% (15 entre 24) dos dos ecossistemas
examinados estão sendo degradados e utilizados de forma
não sustentável (ONU, 2007, p.16). Dois dos casos relevantes
que têm influência significativa na humanidade são a pesca
e a água doce, ecossistemas essenciais para o ser humano e
que já atingiram patamares perigosos de degradação.
São inúmeros os dados de perda de biodiversidade e enfra-
quecimento de ecossistemas no planeta. Segundo o relatório
192
Contextos: educacionais e históricos
Panorama da Biodiversidade Global 43, a biodiversidade nos
seus três principais componentes — genes, espécies e ecos-
sistemas — vem diminuindo de forma constante (CBD, 2014,
p.134). Dentre os diversos informes contidos no relatório
Biodiversidade 2010 foram selecionados alguns para mostrar
a grave situação da redução da biodiversidade (CBD, 2010):
1) As espécies avaliadas em risco estão se aproximando da
extinção. Anfíbios enfrentam o maior risco e espécies de
corais estão se deteriorando mais rapidamente no seu
estado de conservação. Quase um quarto das espécies
de plantas é considerado ameaçado de extinção;
2) As espécies de vertebrados nas populações avaliadas
caíram um terço em média, entre 1970 e 2006, e con-
tinuam em queda no mundo todo, com maior impacto
sobre as espécies de água doce das regiões tropicais;
3) Habitats naturais em algumas partes do mundo con-
tinuam a diminuir em extensão e integridade, embora
exista um progresso em retardar a taxa de perda de
florestas tropicais e manguezais em certas regiões;
4) Extensa fragmentação e degradação de florestas, rios e
outros ecossistemas também levaram à perda da biodi-
versidade e de serviços ecossistêmicos;
5) As cinco principais pressões que provocam a perda de
biodiversidade — mudança de habitat, sobrescavação,
3 Global Biodiversity Outlook 4.
193
Mudanças climáticas e ambientais
poluição, espécies exóticas invasoras e as mudanças
climáticas — estão constantes ou se intensificando;
6) A pegada ecológica humana excede a capacidade bioló-
gica da Terra e tem aumentado uniformemente desde
que a meta de biodiversidade para 2010 foi traçada.
A diminuição da biodiversidade através da redução e
enfraquecimento dos ecossistemas da Terra expõe a humani-
dade a situações perigosas. A retirada significativa de uma
espécie predadora de um ecossistema pode provocar a proli-
feração de outras (WWF, 2014). Um exemplo é a diminuição
do número de anfíbios ocasionando um aumento da popu-
lação de mosquitos, e isso consequentemente facilitará a
transmissão de doenças e o aparecimento de pandemias.
Além do mais, a extinção de espécies pode levar à perda
de material genético que pode ser usado como medicamento.
Uma ciência ainda recente, a etno farmacologia4 possui di-
versas linhas de pesquisa farmacológica no uso de compo-
nentes bioativos de animais (RODRIGUES, 2006). O Kampô,
conhecido como vacina do sapo — Phyllomedusa bicolor—5,4 Ciência que visa estudar o conhecimento popular sobre o uso de plan-
tas e animais para fins medicinais e seu potencial para a descobertade medicamentos.
5 O autor do livro usou a vacina do sapo quando esteve na florestaamazônica por quatro dias. Apesar de ter uma reação um tanto forte,após o efeito se sentiu bem disposto. Pesquisas (FLORES; MARQUES;RENNER, 2010) mostram que elementos do princípio ativo do Kampô,como deltorfina (potencial uso para tratamento de isquemia) e der-morfina (potente analgésico), podem ser utilizados para tratamentode doenças como Mal de Parkinson, AIDS, câncer, depressão, entreoutras doenças, sendo que tais substâncias já são fabricadas sinteti-camente.
194
Contextos: educacionais e históricos
e usado por povos indígenas ao longo de gerações para tratar
de fraqueza do corpo, é um exemplo da tecnologia ambien-
tal que o homem ainda não compreende e não alcançou, e
que pode ser perdida. Nesse sentido, existe uma tecnologia
biofísica presente na complexidade dos ecossistemas das
florestas, operando em nanoescala num regime colaborativo
para manter o equilíbrio ambiental que, sem dúvida, é uma
tecnologia mais avançada e benéfica (NOBRE, 2014b).
O ecossistema das florestas
A voz do vento segredos me conte [E me encante]
Em caules, folhas, flores e raiz
É água da vida que nasce da fonte [Bela fonte]
Vem beber nela pequeno aprendiz
Da Natureza, dá natureza, DA Natureza, d’A Natu-
reza.
É verde que aflora do chão e das copas
Que abraçam ramagens de grandes cipós
Suaves cantares em sonoras notas
nos ares cantigas da divina voz
Da Natureza, dá Natureza, DA Natureza, d’A natu-
reza...
Martônio Holanda, Florestal.
Um imenso tapete verde com 6 bilhões de hectares de
áreas florestais cobria a superfície da Terra há 6 mil anos.
A humanidade durante esse tempo derrubou em média um
195
Mudanças climáticas e ambientais
milhão de hectares por ano. Países que foram verdejantes,
hoje precisam importar madeira6 e junto com a derrubada
das florestas, uma série de benefícios ecossistêmicos são
retirados da Terra. São diversas as contribuições ambientais
fornecidas pelas florestas: elas fixam o carbono atmosférico;
protegem o solo da erosão e degradação; injetam oxigênio na
atmosfera; valorizam a paisagem; melhoram a qualidade da
água dos rios, represas, lagos e fornecem inúmeros produ-
tos para sustentar a economia das comunidades locais. A
floresta representa um patrimônio vivo, rico em biodiversi-
dade, um elemento vital do meio ambiente podendo também
ser usada de forma planejada, como espaço para desen-
volvimento de atividades sociais, ambientais e econômicas
(CORREIA, 2009).
Onde tem floresta com certeza tem água. Funcionando
como uma espécie de bomba hídrica, a floresta impulsiona
o ciclo hidrológico. Uma parcela das águas precipitadas é
absorvida pelas árvores e uma parte escorre para o chão,
infiltrando-se no solo permeável da floresta e formando aquí-
feros gigantes de água doce. No seu desenvolvimento as
árvores usam suas raízes com um fino de processo de suc-
ção, retirando a água do solo e passando ao seu caule, numa
subida vertical de 30 m a 60 m de altura, por meio de tubu-
lações, sob forma de seiva vegetal. Ao fim do processo elas
evaporam a água pelas folhas, transpirando e transferindo
imensos volumes de vapor d’água para a atmosfera. O re-
6 Segundo Célia Victorino (AITO, 2007), a Nigéria, até bem pouco tempo,exportava madeira e hoje se vê obrigada a importar.
196
Contextos: educacionais e históricos
torno de água transferida pela transpiração das árvores se
destaca no reino vegetal, sendo bem maior do que as gramí-
neas, arbustos e outras vegetações de menor porte (NOBRE,
2014b).
O ciclo de vida de muitos ecossistemas depende da repo-
sição de água para a atmosfera feita pelas florestas. Essa
reposição, chamada de evapotranspiração, é um mecanismo
vital do ciclo hidrológico, aumentando a umidade atmosférica
e provocando novas precipitações locais. A evapotranspira-
ção7 das árvores emite compostos orgânicos voláteis contri-
buindo para formar núcleos de condensação na atmosfera,
atraindo vapor d’água e funcionando como semeadura de
nuvens. Com isso, formam-se nas nuvens gotas maiores
e mais pesadas que se precipitam pela ação da gravidade.
A concentração de núcleos de condensação nas nuvens8
multiplica-se por um fator de 100, de uma estação seca para
uma estação chuvosa, e isso em grandes áreas de cobertura
verde como a amazônia é relevante (SOUZA; VASCONCEL-
LOS; MANTOVANI, 2002).
7 Segundo Nobre (NOBRE, 2014b): As folhas das árvores são vaporiza-dores otimizados de água e painéis solares químicos. As folhas sãoestruturas de tecnologia absolutamente sofisticada e avançada, e de-las não sai só água, saem também outros compostos orgânicos quechamamos de compostos voláteis — os cheiros da floresta.
8 Os núcleos de condensação podem ser vários — isoprenos, monoter-penos, esquiterpenos, álcoois, ácidos, aldeídos, cetonas e esteres —entretanto, o isopreno corresponde a um terço dessas emissões.
197
Mudanças climáticas e ambientais
O ecossistema da floresta amazônica
A dinâmica da troca de matéria e energia entre a atmos-
fera e a floresta é muito importante para a manutenção dos
ecossistemas da amazônia e dos ecossistemas vizinho. A
influência dessa troca é percebida nas regiões da floresta
amazônica que estão distantes da influência humana direta,
onde as árvores que formam o topo da floresta estão mu-
dando em proporção. O aumento nos níveis de CO2 estimula
as espécies de crescimento rápido e isso sufoca as de cres-
cimento mais lento, pelo excesso de sombreamento. Essa
dinâmica diminui a biodiversidade da floresta, reduzindo
o número de pássaros e outros animais dependentes das
espécies de crescimento lento (FLANNERY, 2007).
Quando essa dinâmica de troca entre a atmosfera e a
floresta é alterada por fatores externos como as queimadas,
o ciclo hidrológico pode ser alterado, devido à inserção de
grandes quantidades de aerossóis na atmosfera. Isso implica
no aumento da concentração dos núcleos de condensação
nas nuvens, provocando uma alteração da dinâmica de sua
formação e podendo diminuir o volume da precipitação.
O tamanho e o número das gotas de água formadas nas
nuvens são fatores relevantes nessa dinâmica, visto que uma
maior reflexão da radiação solar torna a atmosfera mais fria,
e isso acontece quanto maior for a densidade de gotas nas
nuvens. Em relação ao tamanho, as gotas com menores raios
possuem uma menor capacidade de provocar chuvas. Outro
fator relacionado à ausência de precipitação é o aumento da
198
Contextos: educacionais e históricos
evaporação nas gotas das nuvens, por estarem mais escuras
quando elas absorvem o carbono preto, a fuligem emitida
pelas queimadas (PAULIQUEVIS; ARTAXO; OLIVEIRA, 2007).
Das partículas naturais de aerossóis emitidas pela amazô-
nia, cerca de 60% a 80% atuam como núcleo de condensação
de nuvem, e é consenso que 20% a 30% das chuvas na re-
gião amazônica são originados pela própria floresta. Portanto,
seu desmatamento diminuirá o volume das precipitações tra-
zendo sérias consequências ao seu ecossistema e também a
regiões vizinhas (TAVARES, 2012). A imagem da figura 20
mostra a emissão de partículas por queimadas interagindo
com as nuvens.
Figura 20 – Queimada em Rondônia mostrando interação dasemissões na formação de nuvens.
Fonte: (FREITAS; LONGO; DIAS, 2005)
199
Mudanças climáticas e ambientais
A importância da floresta é superior à sua beleza e a
sua defesa deve se sustentar por conta de sua relevância
ecológica para a vida. Todavia, pelo analfabetismo ecológico a
interpretação das florestas para alguns setores da sociedade
é estética e não ecológica. Pela ausência de investimento
em educação voltada ao meio ambiente e sustentabilidade,
a floresta se tornou, para parte da elite, uma espécie de
ornamento de paisagismo e não uma necessidade premente
para diminuir a degradação dos solos. Isto se vê no modo
de habitar do seres humanos, e na dimensão real que dão a
vegetação.
A influência desse comportamento elitista por vezes pe-
netra na política relacionada à floresta amazônica e no mo-
vimento ambientalista, fazendo da amazônia um palco de
debate, estudo, conflito e interesses de ordens diversas. Por-
tanto, há de se desconfiar de parte das regras do ambienta-
lismo internacional, contaminadas às vezes pela ganância
do capital, principalmente quando se fala em conservação e
internacionalização da amazônia. Também é bom ter um pé
atrás com algumas opiniões científicas salvadoras da amazô-
nia e detentoras de uma neutralidade. É salutar refletir
calmamente e perguntar: onde esse conhecimento científico
salvador da amazônia foi produzido? Quais são realmente
os objetivos contidos neles? Biopirataria, interesses futuros
em mineração e outros recursos podem estar ocultos nessa
neutralidade.
Não se afirma com isso que toda a ciência internacional
relacionada à amazônia é prejudicial, e muito menos se
200
Contextos: educacionais e históricos
pretende pregar a implementação do monopólio científico
nacional sobre a amazônia. Evidencia-se que parte desse
conhecimento foi produzido na Europa e nos Estados Unidos,
refletindo uma realidade alheia à floresta amazônica e ao
seu povo. Na verdade essa ciência e política embasadora das
diretrizes a respeito do destino da amazônia são as mesmas
que produziram a tecnologia depredativa do meio ambiente a
nível mundial, ignorando os saberes ambientais e culturais
das comunidades locais. Esses saberes — como os saberes
indígenas — são considerados atrasados, entretanto, são
reconhecidamente os saberes mais ecológicos e sustentáveis
exercidos até o momento para amazônia. A propagação dessa
superioridade científica exterior, sobre os conhecimentos
locais e seus possíveis interesses, é colocada com clareza por
Roseane Bentes (BENTES, 2005, p.237)
A intervenção internacional reforça a pre-dominância na Amazônia de um conhe-cimento científico que reflete, prioritari-amente, os valores e a realidade euro-peia e norte-americana e que se consi-dera superior aos saberes e às práticaslocais, perpetuando o poder da palavra eo papel político de cientistas e tecno bu-rocratas desenvolvimentistas, decisivos,muitas vezes, nos processos decisóriose monopolizadores do papel de capacita-dor ecológico, inclusive junto às popula-ções que mais preservaram e que, por-tanto, têm mais a ensinar ao mundo. Elapode, portanto, enfraquecer a tradiçãoecológica da Amazônia e contribuir paraa destruição da floresta, em vez de preser-vá-la.
201
Mudanças climáticas e ambientais
Nessa ótica é bom também lançar um olhar com reserva
para algumas ONGs envolvidas com a amazônia. Em regra
geral, as ONGs dependem de doações financeiras e não é
uma tarefa fácil conseguir recursos financeiros de bancos
e indústrias para criticá-los. Por esses motivos, algumas
dessas ONGs preferiram abandonar o caráter político do mo-
vimento ambientalista — a crítica ao desenvolvimentismo —
e se voltar à conservação e ao estudo das florestas. Os novos
objetivos das ONGs agradaram a vários setores, inclusive
a elite científica e a indústria farmacêutica. Esses setores
apoiaram as ONGs na sua nova trajetória, com financia-
mento e planejamento político, a ponto de algumas ONGs se
tornarem hoje multinacionais ambientais (BENTES, 2005;
DIEGUES, 2008).
A desvalorização dos saberes ambientais e a mudança
nos objetivos de certas ONGs influenciam nas inserções de
ideias e tentativas para o convencimento de que a respon-
sabilidade internacional da amazônia deve prevalecer sobre
conceitos atrasados de territorialidade e soberania nacional.
Entretanto, existe uma dificuldade em aprovar uma interna-
cionalização das responsabilidades sobre as regulações das
emissões poluidoras desses países para com o mundo, como
propõe o Protocolo de Quioto.
Parcela dessas emissões poluidoras é resultado do des-
matamento da amazônia. A amazônia teve aproximadamente
20% de sua cobertura desmatada e continua sendo a maior
floresta preservada do planeta, representando 56% das flores-
tas tropicais da Terra. O ecossistema da amazônia influencia
202
Contextos: educacionais e históricos
o ciclo hidrológico, a circulação atmosférica e o transporte
de umidade da América do Sul. Quase 60% da precipitação
anual na floresta são alimentadas pela evapotranspiração de
seus ecossistemas, e sabidamente essas precipitações podem
se estender para outras regiões (NOBRE, 2014b; TAVARES,
2012).
Uma parte da água evaporada do oceano atlântico é absor-
vida pela amazônia e isso totaliza mais de três quartos de sua
umidade total. O volume de chuva da amazônia corresponde
à metade da umidade que circula em sua bacia, tornando-a
uma exportadora de umidade num valor igual a duas vezes o
volume precipitado. Um dos beneficiários é o Sul das Améri-
cas, recebendo mais da metade dessa exportação (TAVARES,
2012).
Muito embora os números do desmatamento tenha caído
nesses últimos anos, isso não quer dizer que o desmata-
mento parou e muito menos que não é acumulativo. O
desmatamento acumulado da floresta amazônica é grande,
correspondendo a uma área maior do que a da França9. Infe-
lizmente, a tendência do desmatamento é de continuar e se
acentuar, com os projetos de construção e asfaltamento de
rodovias. Essas rodovias estimularão ainda mais a expansão
do agronegócio, que por sua vez trará a urbanização com
9 Segundo Nobre (2014), só de corte raso, nos últimos 40 anos, foramtrês Estados de São Paulo, duas Alemanhas ou dois Japões. São184 milhões de campos de futebol, quase um campo por brasileiro.A velocidade do desmatamento na Amazônia, em 40 anos, é de umtrator com uma lâmina de três metros se deslocando a 726 km/hora— uma espécie de trator do fim do mundo. A área que foi destruídacorresponde a uma estrada de 2 km de largura, da Terra até a Lua.
203
Mudanças climáticas e ambientais
postos de abastecimentos, um ritmo maior de transforma-
ção das florestas em áreas agrícolas e pastos, redução do
volume de chuvas e do capital genético, maior incidência de
incêndios e uma savanização da paisagem.
A construção de estradas na amazônia é preocupante
e está em ritmo crescente. Alguns projetos de pavimenta-
ção ainda serão implementados, e outros já pavimentados
rompem as fronteiras nacionais, cortando a amazônia trans-
nacional e trazendo ao mesmo tempo desenvolvimento e
desmatamento, como descrito abaixo (SOARES et al., 2005):
1) Rodovias através dos Andes, ligando não só a Amazônia
mas o restante do Brasil a portos no Pacífico, como
Callao no Peru e Arica no Chile;
2) Pavimentação asfáltica do trecho da rodovia Transa-
mericana entre Assis Brasil, no Acre, e a cidade de
Cuzco. no Peru, a qual já se encontra asfaltada da
cidade peruana até a costa do oceano Pacífico;
3) Vislumbra-se também uma ligação entre Cruzeiro do
Sul, no Acre, a Pucalpa, no Peru;
4) A possibilidade de se construir uma rodovia ligando
Cárceres, no Mato Grosso, a Santa Cruz, na Bolívia.
Santa Cruz, localizada no interior da bacia Amazônica,
é hoje um centro urbano em franca expansão, com
importância econômica maior do que a sua capital La
Paz, graças aos seus campos de gás natural.
204
Contextos: educacionais e históricos
Projeções da influência de construções das estradas no
desmatamento da floresta amazônica foram feitas até o ano
de 2050 (SOARES et al., 2005). Dessas projeções ao cenário
mais pessimista, chamado de o mesmo de sempre — que
leva em conta as tendências históricas do desmatamento —,
foi adicionado um termo pela pavimentação das estradas.
O resultado encontrado em 40 anos estimou uma redução
de 40% de floresta amazônica, e para a amazônia brasileira
esse número será maior. O outro cenário, com uma melhor
governança exercendo atitudes organizadas para diminuir o
desmatamento, também foi considerado.
Em termos geográficos, exceto pelas áreas de florestas
protegidas, as grandes extensões de florestas do leste do
Pará e de todo Mato Grosso sumirão, ressaltando que as
áreas de conservação sofrerão efeitos em seus ecossistemas
devido às adversidades das mudanças climáticas e do fogo
constante, no processo de savanização. A figura 21 mostra a
supressão da floresta de acordo com dois esses cenários.
A circulação atmosférica na amazônia
Gérard e Margi Moss, aviadores ambientalistas, nave-
garam em rios aéreos quando participaram de um projeto
financiado pelo Programa Petrobras Ambiental, para pes-
quisar amostras de vapor d’água na circulação atmosférica
da amazônia. Em 1990 o pesquisador José Marengo, do
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), usou o
termo Rios Voadores, para designar massas de ar plenas de
205
Mudanças climáticas e ambientais
Figura 21 – Cenários do desmatamento até 2050 comparando umsistema de governança ao sistema mesmo de sempre.
Fonte: (SOARES et al., 2005).
vapor de água impulsionadas pelos ventos. Essa circulação
de ar é constituída por cursos de água na atmosfera carre-
gando umidade por uma coluna de vapor com milhares de
quilômetros de extensão, centenas de largura e cerca de três
quilômetros de altura. Em uma das viagens sobrevoando
a amazônia, Gérard Moss pôde registrar visualmente, em
grande escala, a dinâmica de reposição de água feita pela
floresta (MOSS; MOSS, 2007, p.4),
206
Contextos: educacionais e históricos
Estávamos no extremo oeste do Acre, vo-ando próximo à Serra do Divisor, e haviamuitas nuvens com chuvas esparsas naregião. Foi então que vi, pela primeiravez, a floresta funcionando como recicla-dora de umidade. Logo após a passa-gem de uma chuva, a floresta começavaa devolver a umidade para a atmosfera.Nós víamos as pequenas nuvens saindocomo bafos de vapor entre as copas dasárvores. Em contraste, essas nuvenzi-nhas nunca vi surgindo das pastagensque têm substituído as florestas.
A formação dos rios voadores exige uma complexa con-
tribuição de aspectos climáticos e ambientais. A massa de
umidade dos rios voadores é fornecida pela amazônia tropi-
cal e pela água evaporada do oceano Atlântico transportada
pelos ventos alísios10. A grande cobertura florestal da amazô-
nia funciona como um espécie de motor de sucção, e devido
à sua capacidade de condensação faz a umidade dos ventos
desaguar em chuvas. Num processo de retroalimentação,
novamente a floresta repõe uma parcela da água, pela evapo-
transpiração, para a circulação atmosférica. Essa dinâmica
suga a corrente, acelerando-a para o interior da amazônia.
Quando a corrente encontra o fluxo de umidade a leste
dos Andes, parte dela se precipita e auxilia na formação das
cabeceiras do rios amazônicos. Depois, parte do excedente
de umidade desvia para o sul levando água para o Paraguai,
Bolívia, todo o Centro Oeste do Brasil, Minas Gerais, São
Paulo e às vezes chegando aos estados da Região Sul (MOSS;
MOSS, 2007; MARENGO et al., 2004).10 Ventos alísios sopram dos trópicos para o equador.
207
Mudanças climáticas e ambientais
O serviço feito pela floresta amazônica não tem preço para
os povos da América do Sul, e principalmente para o Brasil.
Reciclar a água fornecida pelo oceano atlântico, devolvendo-a
na forma de umidade e alimentando rios voadores, servindo
como irrigador aéreo para o sul, são serviços essenciais para
o equilíbrio da vida em diversos aspectos. Além desses be-
nefícios, a floresta infiltra água no solo provendo lagos, rios
e mananciais, e auxiliando a abastecer o consumo humano
nas grandes cidades, também mantendo serviços de geração
da energia hidroelétrica. A amazônia ocupa um lugar funda-
mental nos ecossistemas do mundo, por isso fica evidente a
clareza das palavras do professor Antônio Nobre (2014,p.37):
“a Amazônia é uma poderosa e versátil usina de serviços
ambientais”.
Na figura 22 está representada a importância da cor-
dilheira dos Andes para o clima, auxiliando no desvio da
circulação atmosférica para o sul e confirmando o dito popu-
lar do povo nortista, segundo o qual o Acre é onde o vento
faz a curva. Essa diferença de umidade no exuberante verde
do Brasil, testifica uma singularidade geográfica que não é
vista nas latitudes da região Centro Oeste a nível mundial,
onde o clima é mais seco com desertos e savanas. Certos
serviços ambientais amazônicos já foram quantificados. Os
estudos do balanço hídrico da amazônia remontam a década
de 1970, iniciados por Enéas Salati, que liderou estudos
observacionais de chuva e evaporação demonstrando que a
reciclagem de água feita pela floresta mantém o ar úmido por
mais de 3.000 km continente adentro (SALATI et al., 1979).
208
Contextos: educacionais e históricos
Figura 22 – Desvio da circulação atmosférica ao chegar na cordi-lheira dos andes.
Fonte: (MOSS; MOSS, 2007) (Adaptado pelo autor).
A evapotranspiração faz da árvore uma bomba d’água na-
tural. Estima-se que uma árvore de grande porte, com uma
copa de 20 metros, bombeia 1100 litros em um dia para a at-
mosfera, e cerca de 5,5 milhões de quilômetros quadrados de
floresta cedem a atmosfera 20 bilhões de toneladas de água.
Esse número representa uma quantidade de água maior do
que o rio amazonas — o mais caudaloso do mundo —, desa-
guando por dia no oceano 17 bilhões de toneladas (MOSS;
MOSS, 2007; SALATI et al., 1979; FEARNSIDE, 2005).
A floresta é um ecossistema maravilhoso, trazendo só
benefícios para humanidade. Faz parte de um círculo vir-
tuoso com a seguinte dinâmica: onde tem muita floresta
209
Mudanças climáticas e ambientais
chove muito e onde chove muito tem muita floresta. Uma
troca ambiental onde existe uma retroalimentação, a florestachamando chuva e a chuva fazendo a floresta crescer.
Examinando esses números e comparando com o con-
sumo hídrico do ser humano — o qual em média precisa de
150 litros de água por dia — vemos a importância das árvo-
res. Sem dúvida nenhuma, o desmatamento das florestas
nessas quatro décadas anteriores cobrará um preço alto para
a humanidade, e quando a conta vier não terá ampliação de
prazo, nem renegociação e nem importará o lucro obtido pelo
agronegócio, como enfaticamente afirma Nobre em entrevista
dada ao jornal Valor (NOBRE, 2014a, p.sn),
Foram destruídas 42 bilhões de árvoresem 40 anos, cerca de 3 milhões de ár-vores por dia, 2.000 árvores por minuto.E o clima que sente cada árvore que éretirada da Amazônia. O desmatamentosem limite encontrou no clima um juizque conta árvores, não esquece e nãoperdoa.
O clima não dá a mínima para a soja,para o clima importa a árvore. Soja temraiz de pouca profundidade, não tem dos-sel, tem raiz curta, não é capaz de bom-bear água. Os sistemas agrícolas são ex-tremamente dependentes da floresta. Senão chegar chuva ali, a plantação morre.
Além de água as plantas produtoras de alimentos preci-
sam ser polinizadas. A polinização de boa parte das plantas
são feitas por insetos que em grande parte estão nas matas.
Com o desmatamento e até mesmo com fragmentação de
florestas, a saúde do ecossistema da floresta é agravada pela
210
Contextos: educacionais e históricos
diminuição da biodiversidade. Abelhas, vespas e outros inse-
tos são bastante sensíveis a qualquer mudança ambiental e
morrem. Com a diminuição de insetos polinizadores, diminui
também a reprodução das plantas, inclusive da soja, feijão,
verduras e outras que servem de alimento para a sociedade
(LAURANCE; VASCONCELOS, 2009)
Mais dois importantíssimos serviços ambientais são rea-
lizados pela floresta amazônica. Porque não existe deserto
perto das florestas? Porque também não existem furacões
e ciclones nas suas proximidades? As florestas, são tam-
bém freadoras de vórtices climáticos. O dossel da florestas,
quando atrita com a turbulência atmosférica, promove a
precipitação de chuvas regulares e uniformes em grandes
extensões. Isso impede a concentração de energia do ventos
pelo controle do vapor d’água, o que diminui o fluxo da ener-
gia alimentadora das tempestades, tormentas e tornados
(MARENGO et al., 2004; NOBRE, 2014b) .
O outro benefício da floresta amazônica é o impedimento
do processo de desertificação natural. Pelo exposto acima a
amazônia produz umidade, que é a distribuição de água no
ar. Na atmosfera a água não está distribuída de forma homo-
gênea, e sua concentração é maior na linha do equador. Uma
das características do deserto é possuir uma porcentagem de
umidade menor do que 12%. A condição de baixa umidade
— desertificação — não se estabelece no inverno brasileiro,
mesmo quando recebe o ar seco oriundo da Patagônia, por
causa das florestas que suprem a atmosfera com umidade.
Esses são mais dois segredos e benefícios da floresta amazô-
211
Mudanças climáticas e ambientais
nica — entre muitos ainda não descobertos — trazendo um
equilíbrio no clima e livrando o Brasil de eventos extremos
e desertificação, fenômenos com alto poder de destruição
(NOBRE, 2014b).
212
7
A crise da água
Águas escuras dos rios que levam a fertilidade ao
sertão.
Águas que banham aldeias e matam a sede da po-
pulação.
Guilherme Arantes, Planeta Água.
Cobrindo aproximadamente 70% da superfície da Terra,
a água possui um volume total de 1,4 bilhão de km3
(SHIKLOMANOV, 1998) e está presente em toda forma de
vida. Somente uma pequena parte de 3% da água é doce,
e uma fração ainda menor pode ser encontrada como água
potável. Além de compor a vida de forma direta no nível
biológico, a água também mantém as condições de vida no
nível externo. A sua abundância nesse planeta, associada ao
seu alto calor específico1 impede a ocorrência de variações
altas na temperatura média da Terra e proporciona um clima
1 Parâmetro físico que caracteriza a resistência de um material em va-riar sua temperatura diante da absorção de calor.
Mudanças climáticas e ambientais
estável em determinadas regiões. O fenômeno de grandes
variações térmicas pode ser facilmente percebido nos locais
em que há pouca água, como os desertos, onde o dia é
excessivamente quente e a noite muito fria.
Na atmosfera da Terra existe uma grande quantidade de
água na forma de vapor, que retem calor suficiente para
permitir o estabelecimento de uma faixa de temperatura
viável à sobrevivência do ecossistema, isto é, adequada a
vida2. Essa dinâmica de absorção e reflexão de energia
térmica do planeta constitui um fenômeno chamado de efeito
estufa.
A implementação do uso sustentável da água, tanto na
quantidade quanto na qualidade, é o desafio do século XXI
(PNUMA, 2011) por um motivo básico: o ser humano não
consegue sobreviver sem ela. Até mesmo para viver com
qualidade de vida nos aspectos pessoal, familiar e social, a
humanidade depende do acesso aos recursos hídricos. Em
relação à estrutura da sociedade, a água mantém a dinâmica
da produção de alimentos, influencia na produção industrial
e obviamente na atividade comercial, destacando-se como
nosso bem material mais precioso, estando presente nas
relações da vida humana em todos os contextos, de forma
direta ou indireta. Diante da sua extrema importância é
preciso saber usar a água e resguardá-la para o futuro, por-
que estudos mostram que as perspectivas da humanidade
com respeito à água, sua disponibilidade, pureza e distri-
2 Fenômeno único, pois nos planetas vizinhos, sem a presença da água,as variações de temperatura podem chegar a 50 graus Celsius, o queinviabiliza a vida como conhecemos.
214
Contextos: educacionais e históricos
buição, são obscuras e preocupantes nas próximas décadas
(UNESCO, 2012; WWF, 2014; TUNDISI, 2008).
Um ser humano precisa beber em média de 2 a 3 litros
de água por dia3. Em média cada pessoa usa 200 litros diá-
rios na sociedade atual, todavia esse valor é muito variável
dependendo da cultura e da educação que cada cidadão tem.
Em 2012, um indivíduo em Nova York usava em média 300
litros por dia, no Japão 600 litros, pessoas mais abastadas
de Brasília chegam a consumir 1000 litros, enquanto à mé-
dia africana nos países mais pobres é de 15 litros por dia4.
Comparado à média anual, o consumo de água dos países
mais ricos é elevado para o contexto atual de disponibilidade
hídrica mundial. Focando no Brasil, um agravante é o des-
perdício individual de água chegando a quase 200 litros por
dia, sendo o banho uma das atividades onde o desperdício é
maior, próximo de 80%. Observe alguns números fornecidos
pela pesquisa de Célia Victorino (AITO, 2007):
1) Um banho de 15 minutos consome 60 litros de água.
Num banho de imersão são gastos 350 litros;
2) Na descarga de válvula em vaso sanitário joga-se fora 18
litros de água, ou 6 litros quando a descarga é acoplada;
3 De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a proporçãode consumo de água ideal para um adulto saudável é de cerca de 35ml por quilograma de peso.
4 A OMS estabelece o consumo mínimo per capita de cem litros diáriosde água — o suficiente para uma pessoa saciar a sede, ter uma higieneadequada e preparar os alimentos.
215
Mudanças climáticas e ambientais
3) Durante a escovação dos dentes, com torneira aberta,
chega a se gastar 25 litros de água limpa;
4) Para lavar e enxaguar 10 quilos de roupa na máquina,
são necessários 140 litros;
5) No tanque com a torneira meio aberta, até 117 litros
escoam pelo ralo durante 15 minutos em uma casa, e
280 litros em um apartamento;
6) Sem fechar a torneira, ao lavar a louça, desperdiçamos
60 litros de água tratada;
7) Uma torneira aberta gasta de 12 a 20 litros por minuto,
e se estiver pingando são 46 litros por dia;
8) A lavagem das calçadas com mangueira consome 4
litros por minuto, portanto lavar o carro durante 25
minutos consome 100 litros.
Considerando apenas alguns dos itens acima, uma pes-
soa com alto consumo pode economizar, no seu dia a dia,
uma quantidade próxima de 200 litros de água. Um va-
lor alto comparado com o nível mínimo necessário de água
por pessoa, indicado pela Agenda 21 para o atendimento
das necessidades mais básicas, que é de 40 litros/dia. No
Brasil, o consumo de água também varia de região para
região, com vários fatores de dependência. Na figura 23 o
gráfico do Sistema Nacional de Recursos Hídricos informa o
consumo urbano médio per capita de água dos estados do
Brasil em 2011, de aproximadamente 160 litros/hab/dia.
216
Contextos: educacionais e históricos
O maior consumo possível foi do Rio de Janeiro, de 240
litros/hab/dia, e o menor foi de Alagoas, com aproximada-
mente 90 litros/hab/dia.
Figura 23 – Consumo médio per capita em 2011 e média dos últi-mos 3 anos nos estados do Brasil.
Fonte: Sistema Nacional de Recursos Hídricos (2011)
A projeção do aumento da população mundial em 2050
para aproximadamente 9,1 bilhões de pessoas resultará num
aumento significativo na demanda de água, acentuando a
crise hídrica já presente em alguns países, a qual dá sinais
de se expandir para um nível global. Estimativa da ONU
prevê que em cinquenta anos, mais de quatro bilhões de
217
Mudanças climáticas e ambientais
pessoas sofrerão com a falta de água e o seu consumo cairá
para uma média de 50 litros por dia, refletindo seriamente
na produção de alimentos e na quantidade de empregos.
Outro aspecto a ser considerado é o modo de vida influen-
ciando no consumo de água. Por exemplo, a forma de vida
rural utilizando essencialmente poços e sem água encanada
consomem menos água do que o modo de vida urbano. O
consumo nos países desenvolvidos no século XX cresceu
significativamente. Nos Estados Unidos de 1900, um cida-
dão comum consumia medianamente 10 m³ de água por
ano, e hoje ele consome 200 m³ (AITO, 2007). O aumento
de consumo de água aconteceu também em outros países
desenvolvidos e os motivos são os mesmos: crescimento da
população, crescente urbanização, as escolhas tecnológicas
e a gestão dos recursos hídricos (UNESCO, 2012).
O consumo de água se divide em três setores principais.
O mais importante é o setor doméstico — o qual obviamente
inclui água para beber —, que é ao mesmo tempo o setor
onde se consome menos água. Quanto aos outros setores, o
maior consumo é do setor agrícola seguido do setor industrial.
Na Ásia central e nos países desenvolvidos o consumo do
setor agrícola chega a 90% do total, na América do Sul a 40
%, na Europa e Rússia chega próximo de 30 % enquanto a
média mundial é próximo de 68 % (UNESCO, 2012).
A sucção das águas subterrâneas no mundo aumentou
muito no último século — triplicando nos últimos 50 anos
—, e continua a aumentar de 1 a 2% por ano. A maior parte
desse aumento foi destinado para a agricultura na produção
218
Contextos: educacionais e históricos
de alimentos e para o desenvolvimento rural. Entretanto, o
alerta é sempre recorrente, a capacidade desses aquíferos
não é infinita, muitos deles não são renováveis e no pre-
sente momento a disponibilidade de águas subterrâneas não
renováveis tem alcançado limites críticos (UNESCO, 2012).
Alguns países já possuem estudos a respeito do seu poten-
cial hídrico e estão cientes das consequências do consumo
de água dentro de limites críticos. A escassez de água e as
consequências de uma extração desmedida não farão dis-
tinção entre nações, sejam elas ricas ou pobres. Para se
ter uma ideia da premente escassez de água, a Inglaterra e
mais 50 países em 2020 estarão com dificuldades de acesso
à água. Com a crescente extração dos recursos hídricos
aumentando a cada dia, e seu consumo dobrando a cada 20
anos, aumentam as probabilidades de conflitos. Situações
preocupantes podem ser descritas (AITO, 2007, p.29):
A Arábia Saudita extrai 7 bilhões de me-tros cúbicos por ano do subsolo; se conti-nuar nesse ritmo, suas reservas estarãoesgotadas no ano 2048. No México, acapital explora seus aquíferos desenfrea-damente, o que vem causando o afunda-mento do solo da cidade. Em consequên-cia, edifícios, metrôs, rodovias e até a ca-tedral sofrem rachaduras e ondulações.No Arizona o Rio Santa Cruz desapare-ceu devido a exploração de minas d’águasubterrâneas, e na Flórida fundações sefenderam e [...] buracos se formaram.De fato, a extração contínua pode ter efei-tos rápidos e trágicos, como também, ge-rar efeitos imperceptíveis provocando odesaparecimento de pássaros, borboletas,peixes e até mesmo das árvores.
219
Mudanças climáticas e ambientais
Os conflitos pela água tem dimensões geográficas, pois
o acesso a água doce do planeta — só 0,27% do total —5
se encontra com fácil acesso em rios, lagos e mananciais.
Devido a esses problemas, uma política de educação para
conservação, preservação e distribuição da água deve ser
sempre incentivada, lembrada e executada (BACCI; PATACA,
2008). O aumento da demografia irá trazer consequências
inerentes, como problemas de infraestruturas, saneamento,
poluição ambiental e mais consumo de água. A pergunta a
ser feita é: até quando os ecossistemas hídricos, cada vez
mais enfraquecidos, poderão suprir essa demanda? Desde
2003 a ONU alertava que as nossas atitudes — poluição, des-
perdício e desmatamentos — são os principais motivos para
a causa da escassez de água, porque enfraquecem os ecos-
sistemas nas regiões dos mananciais e com isso impedem o
acúmulo das águas.
Mesmo com a ocorrência de precipitações de grande porte
em determinados locais, a quantidade de água não supre
a deficiência hídrica provocada pelo crescente aumento da
demanda e por anos seguidos de seca em algumas regiões,
fato explicado pelo potencial de regularização hídrica da
mudança climática de gerar secas em quase toda parte da
Terra (FLANNERY, 2007).
5 O Brasil possui 13% da água doce disponível do planeta, e cerca de80% dessa água está concentrada na Região Hidrográfica Amazônicaonde vivem pouco mais de 5% da população brasileira. Isso mostrauma desigualdade extrema na distribuição da água.
220
Contextos: educacionais e históricos
Importância dos oceanos
Apesar de toda abundância de água na Terra, parado-
xalmente, em algumas regiões se enfrenta problemas de
escassez de água potável e no decorrer do século XXI uma
crise hídrica global estará emergindo. A maior abundância
de água na Terra é de água salgada, imprópria para o con-
sumo humano mas com muita influência na sustentação da
vida no planeta.
Nas décadas anteriores surgiu uma divulgação de que a
amazônia era o pulmão do mundo. Um ledo engano, por-
que os oceanos produzem em torno de 50% do oxigênio na
Terra e além disso são responsáveis por outras demandas
ambientais. A influência da dinâmica do oceano no mundo
e na vida humana é indiscutível, porque ele realiza a in-
terface entre a água líquida e a atmosfera trocando calor,
absorvendo e liberando elementos, entre eles o dióxido de
carbono e o oxigênio. A produção de oxigênio é feita nos
oceanos pelas algas e fitoplânctons, estes últimos criaturas
microbiológicas que servem de base alimentar para muitas
cadeias tróficas. O oceano é também a fonte de alimento
para uma grande biodiversidade, principalmente para os
seres humanos, fornecendo peixes ao longo dos milênios e
influenciando geograficamente na economia dos países.
As águas dos oceanos se movimentam por meio de uma
circulação, executando um papel primordial na distribuição
de calor no planeta. A circulação das águas marinhas leva
221
Mudanças climáticas e ambientais
energia do equador para os polos, contribuindo com 10% à
20% da distribuição de calor na Terra. Muitos fatores estão
relacionados nessa circulação: densidades das águas super-
ficiais, excesso de evaporação, aumento de precipitação nos
oceanos, aumento de salinidade, entre outros (MCPHADEN,
2002).
Uma importante circulação chamada termohalina, repre-
sentada pelas setas na figura 24, é conhecida como corrente
transportadora, funcionando como misturadora de águas
oceânicas, em ciclos de 500 a 1000 anos (HATJE; COSTA;
CUNHA, 2013). A termohalina equilibra a concentração de
oxigênio entre as águas profundas e rasas, e sua origem está
na formação de gelo nos polos, onde as massas de águas
perdem calor para a atmosfera, aumentam a salinidade e
afundam por causa do aumento da densidade. A corrente
termohalina correspondem a 80-90% do volume de água dos
oceanos, exigindo uma dinâmica de variações de densidade,
fluxo de sal e calor (MCPHADEN, 2002).
Pesquisas químicas apontam presença de componentes
estranhos nas águas dos mares. O adensamento populacio-
nal perto dos oceanos — aproximadamente 60% da popula-
ção mundial vive numa faixa de distância de 0 a 60 km dos
oceanos —, principalmente os centros populacionais locali-
zados em regiões costeiras, descarregam 70% de sua carga
poluidora no mar, através de rios e da atmosfera (PNUMA,
2011).
Toda essa poluição acumulada traz uma alteração quí-
mica no oceano e isso representa um grande perigo para a
222
Contextos: educacionais e históricos
Figura 24 – Circulação oceânica termohalina.
Fonte:Brooks/Cole 2002
humanidade . Um dos fatores mais graves do analfabetismo
ecológico é a poluição dos mares com plásticos6 oriundos de
embalagens, objetos e toda uma parafernália de produtos
produzidos para o uso humano, que depois são descartados
como lixo (MILLERO et al., 2009). Outro fator relevante é a
acidez dos oceanos. E qual é a forma de se medir a acidez
6 Uma diversidade de produtos está inclusa na categoria plásticos, emregra geral são todas as substâncias sintéticas derivadas do petróleocomo: isopor, fibras, borrachas, espumas e muitas outras.
223
Mudanças climáticas e ambientais
dos oceanos? pelo pH7. E um dos fatores que aumenta o pH
é a absorção do CO2.
Desde a primeira revolução industrial, o lançamento de
CO2 na atmosfera vem crescendo e o oceano absorve aproxi-
madamente 25% das emissões anuais de CO2 antropogênico.
Aos poucos o oceano ser tornou um acumulador de carbono
(HATJE; COSTA; CUNHA, 2013; COX et al., 2000). A di-
nâmica de sequestro de carbono segue o seguinte padrão:
quanto mais dióxido de carbono for introduzido na atmosfera,
mais dióxido de carbono será absorvido pelo oceano.
A continuidade desse processo por séculos tem criado
um excesso de carbono no oceano. Tal dinâmica remete
às seguintes perguntas: para onde está indo o CO2 absor-
vido em excesso pelo mar nesses últimos séculos? O que
pode acontecer quando essa concentração de carbono se
supersaturar?
O processo equilibrado de sequestro do dióxido de car-
bono é feito pelas calotas polares, pois o CO2 se dissolve
nas águas geladas dos oceanos polares, principalmente no
Antártico, reagindo com água e íons de cálcio, gerando car-
bonatos e bicarbonatos. Nas altas latitudes, o processo de
congelamento da água de superfície exclui o sal marinho
para as águas abaixo do gelo, e isso aumenta a densidade
da água fazendo surgir as correntes oceânicas profundas. A
submersão da água salgada leva para as camadas profundas
dos oceanos Atlântico, Índico e Pacífico o CO2 na forma de
7 Símbolo da medida físico-química do potencial hidrogeniônico, umindicador da acidez, neutralidade ou alcalinidade de uma soluçãoaquosa.
224
Contextos: educacionais e históricos
carbonato, num processo retentor de carbono atmosférico
por milhares e milhares de anos (COX et al., 2000; MILLERO
et al., 2009).
Graças a essa dinâmica o pH da água dos mares tem se
mantido entre 7,4 e 8,5, entretanto, desde do começo da
revolução industrial já aumentou em aproximadamente 30%
a concentração de íons de hidrogênio (H+), significando uma
redução de 0,1 do pH (HATJE; COSTA; CUNHA, 2013; COX
et al., 2000). Porém, todo sistema possui ponto de saturação,
esgotamento e consequentemente, de liberação. Estudos
estimam que até 2100 os mares polares não conseguirão
absorver o excesso de carbono atmosférico antropogênico,
devido à saturação de carbonato no fundo dos oceanos.
A saturação de carbono no oceano pode trazer graves
problemas ambientais e climáticos, pois ainda é incerta a
relação do nível de concentração de dióxido de carbono no
oceano e a quantidade de gás metano acumulado abaixo do
leito oceânico. O mais certo é que o excesso do dióxido de
carbono e carbonato no oceano se dissocie sob a forma de
ácido carbônico, diminuindo o pH da água do mar, isto é,
tornando-a mais ácida (WWF, 2014).
Essa acidificação terá consequências desastrosas para
os ecossistemas em geral, porque os organismos marinhos,
segundo dados geológicos, não experimentaram aumento de
acidez tão veloz nos últimos 20 milhões de anos, e a acidez
oceânica atual é cerca de 100 vezes mais rápida em relação
à última ocorrida.
225
Mudanças climáticas e ambientais
A água mais ácida se tornará mais corrosiva e afetará os
organismos produtores de conchas e corais, comprometendo
seriamente a sua reprodução. Por consequência, o declínio
de recifes e corais tem implicações na produção de peixes —
já tão fragilizados pela sobrepesca praticada atualmente — e
reflexos nas atividades de turismo (WWF, 2014).
Uma das consequências mais graves da acidez oceânica
é a diminuição de sua capacidade de absorver o dióxido
de carbono. Isso trará o aumento de sua concentração na
atmosfera, gerando mais efeito estufa e maior elevação da
temperatura do planeta (FLANNERY, 2007; COX et al., 2000).
No entanto é importante ressaltar que a acidez oceânica não
é provocada pela mudança climática e sim pelas mudanças
ambientais8, isto é, um resultado direto da emissão de gases
estufa oriundos das atividades antrópica no meio ambiente.
Outros contaminantes dos oceanos são apontados por
alguns trabalhos científicos (HATJE; COSTA; CUNHA, 2013;
PASCAL; FLEEGER; GALVEZ, 2010). Essas pesquisas anali-
saram a composição química das águas oceânicas identifi-
cando presença de substâncias novas e aumento de poluen-
tes já existentes, tornando o pH do oceano mais ácido. As
pesquisas usaram como base inicial de valor o pH de 8,1
no ano de 2000. Millero e colaboradores (MILLERO et al.,
2009) fizeram projeções de valores do pH dos oceanos para
os seguintes anos: 8,0 em 2050, 7,9 em 2070, 7,8 em 2075,
7,7 em 2100, 7,6 em 2150, 7,5 em 2200 e 7,4 em 2250.
8 A mudança climática é acelerada pela emissão de CO2 para a atmos-fera. Entretanto, essa emissão é feita pelas mudanças ambientaisantrópicas, como o desmatamento e a urbanização.
226
Contextos: educacionais e históricos
A escassez da água
Sem a água não há vida, e a dificuldade ou facilidade em
obtê-la determinará qual o tipo de desenvolvimento, socie-
dade e política teremos no futuro. A água é uma necessidade
básica de todos os ecossistemas, uma garantia de possibili-
dade da vida futura. Quando as pressões sobre os recursos
hídricos aumentarem, a sua posse poderá se tornar mo-
tivo de conflitos entre as nações (BACCI; PATACA, 2008;
UNESCO, 2012). Os argumentos das tensões se pautam nos
cursos de águas transnacionais — grandes rios, águas sub-
terrâneas — onde todos se acham proprietários. Atualmente
inúmeras dessas tensões já ocorreram, a exemplo da adver-
tência feita à Etiópia pelo governo Egípcio, com declaração
de guerra, para que a Etiópia não diminua o fluxo de água
do Rio Nilo. Situações conflituosas se espalham no mundo
pela posse da água, e são apontadas novamente em Terra
Planeta Água (AITO, 2007, p.21):
A Síria já colocou até tropas na fronteiracom a Turquia para impedir que o paísvizinho utilize suas reservas de água. Nafronteira de Israel a situação é semelhan-te. No Sudeste Asiático, o Laos está emconflito com a Tailândia por este quererrepresar o Mekong, [...]. Egito e Ugandalutam pelo rio Nilo, que é sua fonte devida, já que o futuro da água no territórioegípcio é quase zero, [...]. Bangladesh,Índia e Nepal em conflito pelo rio Gangese assim por diante, em todo o canto doplaneta, com tendência de aumentar.
227
Mudanças climáticas e ambientais
No Brasil, indícios de escassez hídrica estão aparecendo
onde não existia, pois uma parte do Sudeste brasileiro tem
vivenciado o racionamento de água. Adicione a redução
da precipitação nessa região — lembrar do desmatamento
das florestas —, um aumento da demanda por água pelo
crescente consumo e uma maior urbanização provocada
pela escalada demográfica. Os resultados são óbvios os
reservatórios abastecedores da grande São Paulo operam
no nível de alerta, a ponto de usar a água do volume morto
— reserva de água abaixo do nível das comportas —, uma
quantidade de água que possui a capacidade de abastecer a
megalópole por apenas quatro meses.
A situação requer um planejamento bem pensado, com
programas de educação sustentável no uso da água e outras
políticas de recursos hídricos (KRASILCHIK; CARVALHO;
SILVA, 2010). Em breve, São Paulo terá que ir buscar água a
150 km de distância e isso é só a ponta do iceberg, pois não
há garantias de fornecimento de água no regime climático
e nem certeza de que a 150 km de distância haverá água.
Uma seca nessa região terá consequências relevantes porque
há muito em jogo, em razão de que uma megalópole com
aproximadamente 14 milhões de pessoas sem água pode
resultar em estressores sociais com sérias implicações.
Com efeito, a falta de água recai imediatamente na pro-
dução de energia hidrelétrica9, com consequências diretas
9 A respeito da falta de água, a seca em 2001 deu uma forte lição na so-ciedade, com os apagões de energia nos principais centros populacio-nais diminuindo o ritmo da produção industrial e agrícola, originandouma caça por culpados e resultando numa acusação coletiva.
228
Contextos: educacionais e históricos
na produção industrial e no setor de irrigação fornecedor de
alimentos. Como um efeito dominó, a redução da produção
industrial implicará em redução de emprego e a falta de água
na irrigação implicará em falta de comida. Portanto, imaginar
centros urbanos com alta densidade demográfica, pessoas
com sede, fome e sem recursos é um quadro nada animador,
e com facilidade de provocar uma convulsão social.
As causas da escassez de água na região Sudeste são
várias: má gestão de recursos hídricos, falta de incentivo
para educação ambiental e sustentável, cultura do desperdí-
cio, desmatamento do cerrado e principalmente da amazônia.
A contribuição do desmatamento das florestas brasileiras
para a escassez dos recursos hídricos no Sudeste do Brasil
já passou do patamar de especulação para o de consenso
científico (FEARNSIDE, 2005; NOBRE, 2014b; MARENGO,
2007).
A origem do desmatamento está no projeto desenvolvi-
mentista do Governo Federal para o desenvolvimento do
Centro-Oeste e da Região Norte, com construção de estradas,
infraestruturas e aumento da atividade pecuária e agrícola,
sem levar em consideração benefícios ecológicos como a ex-
portação de água fornecida pelas florestas para a região Sul
(FEARNSIDE, 2005).
Pesquisas apontam que a maior parte da precipitação na
estação chuvosa de São Paulo e do Rio de Janeiro depende do
vapor d’água amazônico provindo principalmente das flores-
tas de Rondônia, Acre, Oeste do Amazonas e Bolívia. Outras
pesquisas mostram que o desmatamento do cerrado diminui
229
Mudanças climáticas e ambientais
o aporte hídrico dos aquíferos subterrâneos alimentadores
dos rios dessa região (FEARNSIDE, 2005; LOCATELLI et al.,
2011; BARBOSA, 2014).
O desmatamento nessas áreas possui uma influência
maior nas secas no Sudeste, mas com isso não está se
dizendo que ele não influencia em outras áreas amazôni-
cas. Qualquer desmatamento na região amazônica incide
no volume hídrico que chega nas outras partes da floresta e
consequentemente afeta o volume de água exportado para
outras regiões.
O desmatamento não destrói só o bioma da Amazônia,
ele praticamente elimina o bioma do cerrado, possuidor de
importante serviço ecossistêmico. A função do cerrado é
muito especial para os aquíferos abastecedores dos rios que
cortam o Centro Oeste e correm para outras regiões. Uma
das maiores autoridades em cerrado, o professor Altair Sales
Barbosa — autor de vários livros sobre o cerrado — é categó-
rico ao afirmar que o cerrado como bioma já não existe mais,
e sem ele alguns reservatórios de água vão secar (BARBOSA,
2014).
O fim do cerrado é fruto de um planejamento irrefletido
na busca do aumento da produtividade de alimentos, sem
uma análise criteriosa dos prejuízos ecológicos e ambientais
futuros. Tal projeto incluiu o cerrado numa política de ex-
pansão agrícola a todo vapor, e isso promoveu a alteração na
qualidade do seu solo com uso contínuo de adubos, fertili-
zantes químicos e grandes desflorestamentos. A somatização
desses processos alterou a impermeabilidade do solo, e isso
230
Contextos: educacionais e históricos
diminuiu a infiltração de água afetando a capacidade hídrica
dos lençóis freáticos (BARBOSA, 2014).
Muitas nascentes brotantes do cerrado alimentam gran-
des bacias hidrográficas do Sul. Um dos fatores que propi-
ciam essa infiltração hídrica são as plantas do cerrado que
enraízam dois terços do seu corpo dentro da Terra, tornando
o seu sistema radicular um facilitador da alimentação do
lençol freático quando a chuva cai. Entretanto, com a re-
tirada da cobertura vegetal do cerrado, essa dinâmica foi
interrompida e a tendência dos aquíferos é diminuir o seu
volume (BARBOSA, 2014).
O nível dos aquíferos está caindo anualmente, pois o
crescente agronegócio retira água numa demanda cada vez
maior das áreas de recarga, sem dar tempo à reposição
hídrica. A tendência desse processo é fazer os rios secarem
por falta de alimentação pelos aquíferos, como alerta em
entrevista Altair Sales Barbosa (BARBOSA, 2014, sn):
Em média, dez pequenos rios do Cerradodesaparecem a cada ano. Esses riozi-nhos são alimentadores de rios maiores,que por causa disso, também têm suavazão diminuída e não alimentam reser-vatórios e outros rios, de que são aflu-entes. Assim, o rio que forma a baciatambém vê seu volume diminuindo, jáque não é abastecido de forma suficiente.Com o passar do tempo, as águas vão de-saparecendo da área do Cerrado.
231
Mudanças climáticas e ambientais
Água poluída
Com a contínua degradação ambiental, desmatamentos e
a escassez de água aumentando, a previsão para o mundo
é de mais tensões. É por isso que se tornam imprescindí-
veis planejamentos imediatos, com o objetivo de garantir
reservas hídricas potáveis para o futuro. A água é como
se fosse o sangue da Terra, mantendo os ecossistemas vi-
vos. As atividades humanas, usando os recursos naturais,
transformando as paisagens, poluindo o meio ambiente e
enfraquecendo os ecossistemas, estão modificando a circu-
lação hídrica planetária e a composição da água no mundo.
Esse comportamento trará consequências drásticas para a
humanidade.
A educação pode mitigar a poluição dos recursos hídricos
de diversas formas. Observe o exemplo das bacias hidro-
gráficas — elementos do meio ambiente fornecedores de
essenciais serviços ambientais — que são modificadas di-
retamente pela ocupação humana e pela ação dos diversos
grupos sociais. A mitigação da degradação ambiental da
bacia hidrográfica pode ser realizada por processos educaci-
onais, conscientizando os estudantes através de uma visão
integrada e interdisciplinar de que as ações antrópicas ou
naturais são capazes de fazer sérias transformações na ba-
cia, além de alertar para a importância da manutenção dos
ecossistemas (BACCI; PATACA, 2008).
232
Contextos: educacionais e históricos
A poluição de uma bacia hidrográfica atinge todos os
seus corpos de água, pois os ecossistemas aquáticos de rios
recebem carga poluidora e, por possuírem uma intercomuni-
cação com outros sistemas hídricos, transportam para eles
facilmente a poluição. Além disso, a grande inserção de
materiais químicos pelo manuseio do solo pode provocar a
eutrofização10 de águas superficiais — rios, lagos e represas
—, aumentando o nível de toxidade das nascentes e fontes de
abastecimento (DELLAMATRICE; MONTEIRO, 2014.).
A poluição dos corpos hídricos cresce em conjunto com
a transformação ambiental promovida pelo desenvolvimen-
tismo consumista, e os tempos dos rios urbanos limpos
ficam para a lembrança do passado. Outrora os rios lim-
pos, quando desaguavam nos oceanos, traziam o carbonato
das pedras calcárias. Infelizmente, hoje trazem também os
dejetos das atividades humanas. Essa injeção de poluen-
tes altera a composição química da água, trazendo grandes
prejuízos aos ecossistemas.
As formas e consequências dessas injeções são diversas,
a exemplo: esgotos e plantação de grãos injetando nitrogênio
e fósforo nas águas de ecossistemas costeiros e interiores,
estimulando o crescimento desordenado de algas e bactérias,
ameaçando, assim, os serviços ecológicos de recifes e corais
(PNUMA, 2011).
Quando isso acontece nas regiões próximas ao encontro
dos grandes rios com o mar, a vida marinha fica escassa,
10 É o fenômeno causado pelo excesso de nutrientes (compostos quími-cos ricos em fósforo ou nitrogênio) numa massa de água, provocandoum aumento excessivo de algas.
233
Mudanças climáticas e ambientais
criando uma região de zona morta nos oceanos. Segundo o
relatório Biodiversidade 2014 (CBD, 2014), desde a década
de 1960 até 2007 o número de zonas mortas já havia chegado
a mais de 500, com uma duplicação a cada dez anos, como
se vê na figura 25.
Figura 25 – Zonas mortas nas áreas marítimas costeiras com bai-xos níveis de oxigênio na água.
Fonte: (CBD, 2014)
Nas áreas urbanas esse processo de poluição dos corpos
hídricos cresceu tanto em volume como em diversidade de po-
luentes. No mundo atual, com a concentração da população
em zonas urbanas, os principais centros populacionais do
mundo que vivem perto de cursos ou mananciais de águas
descarregam neles seus rejeitos em esgotos. Nesse rejeitos
estão contidos também os poluentes do avanço da química
234
Contextos: educacionais e históricos
e das ciência de materiais, dos quais não se sabe ainda as
consequências11.
Examinando os serviços médicos — somente uma área de
geração desses poluentes — temos o gadolínio (Gd), elemento
químico das terras raras, que nos animais aquáticos pro-
voca danos nas membranas celulares. Esta substância tem
sido utilizada com frequência como agente de contraste em
exames de ressonância magnética, e tem deixado traços de
contaminação nas águas das grandes cidades. Sua presença
já foi identificada em rios da Alemanha e em águas conti-
nentais da Europa, América do Norte e Austrália (KULAKSIZ;
BAU, 2011). O gadolínio é um elemento químico entre tan-
tos outros, usado em vários serviços na sociedade, todavia
quando se abre o espectro de serviços em novas tecnologias
como metalurgia, motores elétricos, refino de petróleo, bi-
oquímica e medicina, tem-se uma ideia da magnitude de
elementos poluidores que são descartados nas águas12.
Esses elementos poluidores estão presentes nos produtos
descartáveis da nossa sociedade, como memórias de compu-
tador, DVD, baterias recarregáveis, celulares, conversores
catalíticos, magnetos, lâmpadas fluorescentes e a também
em atividades militares.
Obviamente que poluições mais obscuras e desconheci-
das estão por vir, em razão de nossa sociedade estar entrando
11 Um exemplo: um contaminante, o estrógeno (etinil estradiol), foi en-contrado nas águas de um lago no Canadá e foi observada a ocorrên-cia de feminização nos peixes.
12 Some a isso a quantidade absurda dos rejeitos e produtos químicosda drogas lícitas, como a cafeína, e ilícitas como a cocaína, que sãodespejadas nos esgotos.
235
Mudanças climáticas e ambientais
na era da nanotecnologia13. Poluentes na escala nanomé-
trica, com o poder de penetração em espaços mínimos podem
gerar efeitos ainda desconhecidos (QUINA, 2004; ECOLÓ-
GICO, 2009; HATJE; COSTA; CUNHA, 2013). Portanto, a
poluição de nanomateriais diluindo-se na água e seus pos-
síveis efeitos devem despertar no mínimo uma precaução
da sociedade, pois como bem disse Sagan (SAGAN, 1996a,
p.149) “a ausência da evidência não significa evidência da
ausência”
Diante dessa problemática da poluição e escassez de água
no Sudeste, São Paulo está considerando a opção de reuso
da águas cinzas, através de processos de purificação. No
entanto, o processo de filtragem não purifica completamente
a água de reuso, pois o avanço da tecnologia produz a cada
dia rejeitos novos, que até então não possuíam depuradores
eficientes. Os coliformes termotolerantes são facilmente reti-
rados, mas a água não tem recebido só este tipo de poluição
pelo exposto até aqui. A tabela da figura 2614 do trabalho de
Joice Santana contém parte dos contaminantes de origem
farmacêutica encontrados em diversos corpos hídricos do
mundo (SANTANA, 2013).
A preocupação quanto ao futuro do consumo de águas
reusadas, contaminadas por hormônios e componentes quí-
micos, que não conseguem ser filtrados, é válida, porque não
13 O governo brasileiro lançou em 2005 o programa ’Desenvolvimentoda Nanociência e Nanotecnologia’. O programa possui 15 prioridades,entretanto, em nenhuma dessas prioridades consta uma avaliação deriscos à saúde e ao ambiente.
14 As fontes que pesquisaram a presença das substâncias estão conti-das na tabela integral no trabalho (SANTANA, 2013)
236
Contextos: educacionais e históricos
Figura 26 – Exemplos de ocorrência de contaminantes emergen-tes no mundo em amostras de águas superficiais.
Fonte: (SANTANA, 2013). (Adaptado pelo autor.)
se sabe ao certo quais as consequências da ingestão dessas
substâncias. Algumas suspeitas são levantadas como este-
rilização, desenvolvimento de nódulos de tireoide e outras
doenças que podem surgir em longo prazo. Os riscos podem
237
Mudanças climáticas e ambientais
não ser imediatos, mas existem, então o melhor é investir
em programas de educação sustentável no uso dos recur-
sos hídricos. Água de reuso para demanda da agricultura,
indústria e uso doméstico são processos altamente susten-
táveis, entretanto, água de reuso para o consumo humano
é no mínimo discutível, precisando de mais pesquisa para
garantir a sua inofensividade.
Planejamento hídrico
As águas e as matas são ligadas pela força da natureza,
formando um elo indissociável do ciclo hidrológico15. A
vazão dos cursos d’água tem sua regularidade garantida
pela permeabilidade dos solos, favorecida pelas raízes da
vegetação. Essa dinâmica fica mais evidente quando se
observa o serviço ambiental feito pelas matas ciliares das
nascentes e dos rios, impedindo a erosão, estabilizando as
margens e evitando o assoreamento (CALHEIROS; TABAI,
2009)
Todo rio, lagoa ou lago tem uma origem comum, uma
nascente possuindo um valor ambiental inestimável, forne-
cendo água para toda uma sequência de processos ao longo
do curso hídrico. Na dinâmica hidrológica, a água das pre-
cipitações é absorvida pela bacia hidrográfica armazenada
em seu lençol subterrâneo, e depois é cedida aos poucos
15 Ciclo hidrológico é o caminho que a água percorre desde a evapora-ção no mar, passando pelo continente e voltando ao mar novamente.
238
Contextos: educacionais e históricos
às nascentes de dois tipos, de acúmulo ou sem acúmulo
de água. Longe da atividade humana produtora de fossas
negras e poluição, e longe de dejetos de animais, a água das
nascentes é potável (SEMA, 2010).
Na situação atual em que os rios urbanos estão quase
todos poluídos e o desmatamento está agravando a seca,
a recuperação nas nascentes para o fornecimento de água
potável é, indiscutivelmente, um procedimento de vital im-
portância. Essa relevância toma dimensão maior quando
se vê que a degradação ambiental foge da esfera urbana e
também atinge a área rural, com desmatamento de grandes
áreas verdes que ladeiam os cursos de água, acarretando
assoreamento dos rios, diminuição da vazão das nascentes,
alteração dos ecossistemas e modificação do micro clima
(CALHEIROS; TABAI, 2009).
Impedir o desmatamento das matas ciliares, reflorestar
as margens dos cursos de água, praticar a preservação e o
uso sustentável do meio ambiente, são ações que devem es-
tar contidas num planejamento dos recursos hídricos. Esse
planejamento deve ser fruto de uma política climática e am-
biental que promova enfrentamento organizado de situações
extremas, como secas, enchentes e mudanças climoambi-
entais. Além desses desafios, o planejamento hídrico deve
conter incentivos educacionais para uma mudança de com-
portamento do ser humano, no uso sustentável da energia,
consumo e comércio, isto é, ações diversas executadas de
maneira coordenada em diferentes setores da sociedade.
239
Mudanças climáticas e ambientais
Existe fartura de água na maioria das regiões do Brasil,
mas seu gerenciamento é falho, pois às vezes a capacidade
hídrica de uma região não é levada em consideração e o
resultado é que o volume hídrico não acompanha o ritmo
da extração de água exigida pela demanda do desenvolvi-
mento econômico. Isso pode ser constatado na falta de
planejamento hídrico durante a implementação de projetos
em áreas rurais, para urbanização e industrialização. O que
tem prevalecido são incentivos fiscais dados aos projetos na
busca de desenvolver algumas regiões rurais, criando polos
industriais, com promessas de desenvolvimento e geração
de empregos. Contudo, alguns locais escolhidos possuem
indícios de escassez de água ou não tem potencialidade hí-
drica, para demandas futuras. Depois de décadas, após
a inadequada ocupação de espaços e do uso dos recursos
naturais, o resultado é quase sempre o mesmo. Cidades
infladas, sujas, gerando contaminação dos recursos hídri-
cos pelo lançamento desordenado de esgotos domésticos e
industriais (TUNDISI, 2008).
Nesse sentido, a gestão de recursos hídricos e a imple-
mentação de polos industriais possuem uma dependência
com o setor da construção civil. A construção civil é uma
área primordial do desenvolvimentismo, e consolida-se na
gestão de recursos hídricos através da construção de hidro-
elétricas, canais e reservatários de água. A construção de
hidroelétricas tem despertado forte polêmica com o setor
ambientalista na última década, uma vez que o modelo de-
senvolvimentista ao realizar sua construção não contabiliza
240
Contextos: educacionais e históricos
os estragos ambientais de longo prazo nos orçamentos, além
de não considerar as águas um bem comum, mas sim uma
mercadoria a ser explorada e vendida na forma de energia.
A construção de grandes represas hidroelétricas e barra-
gens é associada a elevados impactos ambientais16. As em-
presas que constroem represas possuem lucros de momento,
entretanto, em grandes prazos, a contabilidade ambiental
não computada entra em cena, deixando a certeza de falhas
no planejamento. Em obras desse porte — existem aproxima-
damente 40.000 grandes barragens espalhadas pelo mundo
— é primordial levar em conta os impactos socioambientais
e os seus inerentes prejuízos, para poder ter um melhor
aproveitamento do investimento (AGUDO, 2011).
Além dos benefícios oferecidos pelas barragens, há de se
considerar os prejuízos em longo prazo. Estudos indicam
que mais de 40% da vazão mundial dos rios são agora inter-
ceptados por grandes barragens, e um terço dos sedimentos,
que eram destinados às zonas costeiras, já não as alcançam.
Outros riscos da construção de represas podem ser aponta-
dos com facilidade: a inundação das matas e áreas agrícolas
pode se tornar fonte de doenças como malária, esquistos-
somose e febre amarela, e com isso altas verbas têm que
ser usadas para a purificação do local; grande emissão de
gás metano e perda da biodiversidade; perigo de rompimento
com consequências drásticas para comunidades vizinhas
(AITO, 2007).
16 A cada ano, 200 grandes represas são construídas, incluindo outrasfinalidades que não a geração de energia (KNIGHTON, 1999)
241
Mudanças climáticas e ambientais
Além do impacto ambiental, é causado um enorme im-
pacto cultural e humano, uma vez que muitas pessoas são
desalojadas e recolocadas num ambiente totalmente alheio
ao que nasceram e viveram (UNESCO, 2012; KNIGHTON,
1999)17. Dessa forma, a produção de energia versus recur-
sos naturais se torna um problema de interpretação sócio
educacional, isto é, não está só na construção de hidroelétri-
cas ou de outras obras que levem a impactos ambientais.
Na prática é preciso mudar a visão da sociedade atual
em relação à natureza. Mudar a forma de ver os recursos
naturais, olhando as florestas como fonte de beleza, biodiver-
sidade, não somente como depósitos lucrativos de madeira e
riquezas. Olhar os rios como fonte de vida, não como meros
canais fornecedores de água para diversos usos ou como
escape para se jogar os dejetos das atividades humanas. Na
situação atual é inconteste a necessidade de uma legislação
ambiental mais rigorosa, executável e com alcance mais am-
plo. A humanidade pode começar a mudança educando-se
agora para não lamentar depois, ou então fazer como os paí-
ses desenvolvidos, que sofrem hoje os efeitos da destruição e
enfraquecimento de seus ecossistemas.
Todavia, em meio a tanta poluição e degradação existem
pessoas buscando soluções para amenizar os estragos. Uma
das boas atitudes tomadas no mundo, que serve de exemplo,
foi a do parlamento europeu estipulando uma meta de recu-
perar, até 2015, o estado ecológico de rios e aquíferos. Um
17 Nas barragens da Índia, 33 milhões de pessoas foram obrigadas asaírem de suas terras. Na China, 10 milhões de pessoas foram desa-lojadas.
242
Contextos: educacionais e históricos
bom resultado efetivo foi a recuperação do rio Tâmisa, pois
o salmão, que exige água limpa, voltou a aparecer em suas
águas18. Embora essas atitudes não tivessem o sentimento
ecológico como motivação, ainda assim o meio ambiente
agradece. E quais foram esses motivos? A verdade por trás
da limpeza é financeira. A sociedade europeia entendeu que
economicamente o prejuízo é maior destruindo o ambiente,
como comenta o especialista em economia e gestão de água,
Pedro Araújo Agudo (AGUDO, 2011, 39):
Mais rapidamente do que o mundo la-tino, o anglo-saxão tem entendido quedesmatar um bosque em nome do pro-gresso é um bom negócio para a empresaque leva a madeira, mas acaba sendonão apenas um atentado ecológico, masum desastre econômico para o país que opermite. Hoje vivemos a fase do pragma-tismo economicista anglo-saxão, do ego-ísmo inteligente. Portanto, prefiro umegoísta inteligente do que um egoísta ton-to.
Investir na reforma da educação e na recuperação do meio
ambiente é realmente algo lucrativo em termos de economia.
Segundo o pesquisador José Galizia Tundisi, investimentos
feitos no Sudeste e em outras regiões do Brasil, na área de
revitalização de rios, lagos e represas, têm a capacidade de
18 O rio Tâmisa na Inglaterra foi considerado não potável perto do anode 1610 e ficou conhecido como o ’Grande Fedor’ a ponto de interrom-per as sessões do parlamento em 1858. Um projeto de despoluição doTâmisa iniciou em 1895, mas ele foi novamente poluído pelo aumentoda população, sendo considerado morto em 1950 e depois novamentedespoluído.
243
Mudanças climáticas e ambientais
estimular a dimensão econômica e o principal, recuperar o
ciclo hidro social. Com efeito, a recuperação da saúde desses
corpos aquáticos e de seus ecossistemas impulsionou o sur-
gimento de novas oportunidades em diversas áreas de uso
sustentável da água. Desse modo, haverá uma facilitação
para o nascimento de empresas, comércios e indústrias, nas
áreas de gestão e sustentabilidade, e com elas o aumento do
emprego e da renda (TUNDISI, 2008).
Pelo exposto, as relações envolvidas com água, constru-
ção, contaminação e escassez comprometem a vida do ser
humano sob todos os aspectos. Alguns impactos ambien-
tais que geram o racionamento de água ou sua distribuição
contaminada são oriundos de uma má gestão dos recursos
hídricos, que põe em risco a saúde do ser humano, interfere
nos seus direitos de cidadão e compromete sua qualidade
de vida. Para não correr os riscos acima, o planejamento
hídrico deve primordialmente atender a demanda básica da
sociedade por água — atender a vida e a cidadania do ser hu-
mano —, e isso exige um volume mínimo de recurso hídrico,
com um percentual baixo no contexto geral do consumo, um
valor entre 9 a 12% do uso total de água. Essa demanda
mínima de água não inviabiliza nenhum rio, porém no uso
da água para atender a demanda da economia, há e haverá
escassez hídrica (AGUDO, 2011).
As expectativas a respeito da falta de água são grandes
e os especialistas na problemática da crise hídrica ainda
não chegaram a um consenso a respeito de suas causas,
dividindo suas opiniões em três linhas de pensamento. A
244
Contextos: educacionais e históricos
primeira aponta que o problema está localizado no gerencia-
mento da água e não na sua escassez. A segunda linha atri-
bui a crise de água ao desenvolvimento socioeconômico e ao
agravamento dos problemas ambientais. Já a terceira linha
indica problemas de disponibilidade e aumento da demanda
por água, além de gestão fragmentada sem planejamento
preditivo (TUNDISI, 2008).
Com efeito, todos os fatores citados influenciam na crise
da água, entretanto a poluição e a degradação dos ecossis-
temas aquáticos, juntamente com o aumento da demanda,
são as principais causas. De forma sintética, os problemas e
processos que causam a crise da água podem ser elencados
assim (TUNDISI, 2008):
1) Aumento da demanda de água para o desenvolvimento
social19;
2) Infraestrutura urbanas precárias e desperdício em torno
de 30% em perdas na rede após o tratamento das águas;
3) Estresse e escassez em razão de mudanças globais,
trazendo chuvas e secas intensas, comprometendo a
segurança alimentar e vulnerabilizando a população;
4) Falta de governança nos recursos hídricos e na susten-
tabilidade ambiental.
19 Pesquisas de modelagem identificaram áreas em que a diminuiçãoda pobreza tende a exercer uma maior pressão sobre recursos maisbásicos como a água.
245
Mudanças climáticas e ambientais
Os motivos da escassez de água denotam uma urgência
de uma nova visão de sociedade, com nova educação, um
novo modelo social que seja pautado em princípios de susten-
tabilidade. Para o contexto da água, novos comportamentos
são indicados:
1) Não poluir os sistemas aquíferos, mares, rios, mananci-
ais e outros corpos d’água. Começar a limpá-los até a
sua recuperação. Implantar o saneamento básico com
tratamento de esgotos globalmente;
2) Parar o desmatamento da amazônia, recuperar as áreas
degradadas e principalmente as nascentes de água;
3) Aumentar o nível de educação para o consumo de água
em todos os níveis: doméstico, industrial e agricultura;
4) Incentivar pesquisas para aumentar a capacidade de
armazenar água disponível para o futuro;
5) Evitar a acidez do oceano e manter seu nível trófico
saudável.
A preparação da consciência ambiental
Talvez o leitor tenha a impressão de que só foram apon-
tado os malefícios praticados pela humanidade através do
modo capitalista, científico e tecnológico de fazer as coisas.
Sabidamente a ciência trouxe inúmeras coisas boas e existe
farta literatura a esse respeito. Entretanto, existem erros
246
Contextos: educacionais e históricos
em seu uso colocando em risco a humanidade, e eles não
podem ser omitidos. Ao examinar as causas dos erros do
uso da ciência e tecnologia que degradam o meio ambiente,
constata-se em essência, a falta de consciência e educação
nas questões da natureza.
A agressão a recursos naturais como as florestas e a água,
são provas cabais desse comportamento. Por isso esses re-
cursos da natureza foram, escolhidos para estudo nesse livro,
pois além de incentivar um debate sobre a educação ele têm
relações diretas com as mudanças climáticas e ambientais.
A interação da floresta com a água cria um amplo espectro
de beleza e alimento, a água representando o reino mineral
dando a base de sustentação da vida e as florestas repre-
sentando o reino vegetal, substancializando a energia solar
e a força dos minerais. Esses dois reinos unidos nutrem a
humanidade com ampla diversidade de serviços ambientais,
medicamentos e alimentos.
O homem detentor de uma consciência e inteligência con-
seguiu sobrepujar as outras espécies e desenvolveu o poder
de transformar a natureza a seu critério. Na sua caminhada
evolutiva, o ser humano mitificou deuses, filosofou com os
elementos naturais, descobriu o método científico e criou a
tecnologia da era moderna. Numa escalada tecnológica cres-
cente, precisou aproximadamente de um século de ciência
contemporânea para reduzir a quantidade de vida no planeta,
poluindo significativamente o reino mineral, desmatando
grande parte do reino vegetal e matando criminosamente no
reino animal, em nome do desenvolvimento.
247
Mudanças climáticas e ambientais
Munido de ciência e tecnologia, o ser humano pisa fundo
no acelerador destruindo o meio ambiente, o seu próprio
sustento, rumando ao abismo do esgotamento planetário. O
seu modo de vida exibe a característica de uma sociedade que
conseguiu se desenvolver em ciência e tecnologia, mas muito
pouco em ética, sabedoria e em consciência ambiental. O seu
olhar preocupado somente com o imediatismo é míope, o seu
desejo de poder para poucos é ganancioso, a sua vontade de
manter na submissão grande parte de sua espécie é tirana e
a sua maneira de viver consumindo irrefletidamente esgota
os recursos naturais do planeta e interrompe os serviços
ecossistêmicos da vida na Terra, que servem à sua própria
sobrevivência.
A civilização humana conseguiu muitas coisas boas com
o avanço científico e tecnológico, mas quando se observa um
contexto mais amplo, e principalmente o aspecto ambiental,
constata-se um grande atraso. Não existe sabedoria quando
se destrói a fonte que nos sustenta. Sabedoria está presente
quando se usa a ciência e a tecnologia para a preservação
do meio ambiente, manutenção dos ecossistemas da terra
que irá garantir a sobrevivência da raça humana, isto é, usar
os recursos naturais de forma sustentável sem agredir a
natureza.
Essa sabedoria está faltando ao homem e ele deve buscá-
la o mais urgente possível. Trabalhar em busca de uma
mudança de consciência, para poder enxergar a natureza
como sua parceira da vida, e não como uma fonte inesgotável
de produtos comerciais. A humanidade precisa se educar am-
248
Contextos: educacionais e históricos
bientalmente, humanizar-se socialmente, reencantar-se com
a natureza urgentemente, antes que os efeitos oriundos das
mudanças climáticas e ambientais tragam um sofrimento
maior do que o previsto.
É preciso acordar e mudar os hábitos de consumo, mudar
a visão de economia onde se vive para produzir e não mais se
produz para viver. Aumentar a capacidade de análise crítica
do paradigma industrial científico, propondo novas alternati-
vas, valorando aspectos culturais, ambientais, emocionais
e éticos. Abandonar a posição de ser uma engrenagem da
maquinaria do modelo desenvolvimentista de produção e
consumo e iniciar uma nova maneira de pensar, privilegi-
ando a escolha de melhor ser do que a de mais ter (ALMEIDA,
1997).
É um trabalho de muitas gerações que com certeza não
será resolvido por esta, mas por ela pode ser iniciado. A
esperança está depositada nas crianças, os futuros homens
da humanidade, na educação que vai ser dada a elas. O
processo requer um investimento maciço na educação dessas
crianças, educar para preservar a natureza, educar para
diminuir a pobreza e a degradação ambiental, promover uma
educação dentro dos princípios básicos de respeito à vida e
à sustentabilidade.
Nesse sentido, todas as vertentes educacionais com essas
diretrizes são bem vindas: educação ambiental, educação
para a sustentabilidade, educação para as mudanças cli-
máticas, educação para o desenvolvimento sustentável, não
importa a terminologia ou arcabouço teórico, importam os
249
Mudanças climáticas e ambientais
efeitos práticos, salvar a natureza e o homem de si mesmo.
Desmatamento zero, redução no consumo de carne bovina,
processos eficientes de reciclagem de lixo, o fim do capital
especulativo explorador da pobreza, incentivo à economia
solidária, são conquistas que só virão por meio de uma mu-
dança no sistema de educação posto hoje no mundo. Nos
próximos capítulos falaremos de duas modalidades de educa-
ção e da esperança delas serem a ferramenta da mudança de
consciência da humanidade em relação ao meio ambiente.
250
8
Educação nas mudanças climáticas
e ambientais
Temos a impressão de que somos a espécie viva mais
evoluída. Tendencialmente, acreditamos que o pla-
neta é todo nosso. Tratamos todas as outras espécies
[...] como se fossem de nossa propriedade. Chegamos,
contudo, ao ponto de, com nosso espírito inventivo, a
nossa indústria, o número que somos, começarmos a
perturbar o funcionamento da natureza. Pondo-a em
perigo [...] Neste momento, é urgente que a olhemos
com novos olhos, “os olhos de quem progrediu no do-
mínio do conhecimento, e a quem falta ainda adquirir
a sabedoria”.
Alain Hervé, Obrigado Terra
Depois da invenção da escrita, a educação durante muitos
séculos se alicerçou no ensino de duas modalidades bá-
sicas do conhecimento: os contidos nas disciplinas literárias
Mudanças climáticas e ambientais
— religião, filosofia, história, ética e moral — e numéricas —
aritmética, música, astronomia e geometria —, que usavam
a matemática como base. Uma diversidade de disciplinas foi
surgindo com advento do método científico, criando a era do
saber específico, técnico e científico (BARBOSA, 2010).
Aos poucos a importante dimensão ambiental foi sendo
inserida no currículo acadêmico, sendo hoje um tema essen-
cial de debates, do qual se originaram inúmeras disciplinas
singulares, diversas linhas de estudo e várias pesquisas
científicas. Mesmo hoje, na sociedade globalizada pela infor-
mação, com uma diversidade de disciplinas fragmentadas
relacionadas ao meio ambiente, os requisitos básicos da
educação são saber compreender a leitura e a escrita, quan-
tificar os fenômenos da natureza, compreender a relação da
vida com os ecossistemas e utilizá-los de forma sustentável
(AGUILAR; JUNIOR, 2014).
Neste capítulo examinaremos as orientações educacionais
direcionadas para as mudanças climáticas e ambientais. Já
existe uma boa divulgação dos direcionamentos para enfren-
tar os efeitos das alterações do meio ambiente — implantar o
desenvolvimento sustentável; realizar medidas de mitigação
da degradação dos recursos naturais; preparar a humani-
dade para se adaptar as mudanças do clima; mudar o estilo
de vida; modificar o sistema de consumo e produção —, pois
já foram indicadas pelas conferências, relatórios e pesquisas
citados anteriormente.
No cerne de todos os direcionamentos mencionados acima,
um padrão argumentativo é identificado: a necessidade de
252
Contextos: educacionais e históricos
uma mudança no modelo de desenvolvimento atual da socie-
dade, colocando a dimensão da sustentabilidade ambiental
em primeiro plano. A pergunta é: como conseguir isso? De
que forma a humanidade pode dar novos passos para uma
rota tão diferente? Esse objetivo só será conseguido por uma
ampla reforma educacional, pois estudos apontam que a
educação, especialmente a educação ambiental, pode contri-
buir para a crise climática e ambiental (LOUREIRO, 2004;
LIMA, 2013).
O passo inicial é um investimento de grande porte em
projetos educacionais que fomentem ambientes geradores de
processos críticos e complexos, que conscientizem a socie-
dade da necessidade de interromper o ciclo de repetição das
experiências do passado, degradadoras do meio ambiente,
tão presentes na crise climoambiental atual (LIMA, 2013)
Essa retomada para uma rota mais consciente em busca
de uma vida coletiva, cooperativa, solidária e sustentável,
só acontecerá quando o ser humano conseguir assimilar
significativamente uma base firme de informações, conheci-
mentos e habilidades técnicas, alimentados pela motivação
(MEADOWS, 1989). Instrumentada com essas condições,
a sociedade fará acontecer de forma efetiva as mudanças
corretas, porque estará conscientemente convicta de que o
correto deve ser feito.
A instrumentação e a conscientização só podem ser ob-
tidas por meio da práxis educacional, porque a educação é
mais do que uma área de conhecimento ou domínio técnico-
científico, e consegue influenciar e abranger uma complexi-
253
Mudanças climáticas e ambientais
dade com muitas facetas, trazendo consigo um traço de cu-
nho transformativo, escalar, e interdisciplinar (MAGALHÃES,
2010).
Não há dúvida no argumento exposto acima, pois por
meio da educação se desenvolvem os valores de ética e moral
diminuidores da corrupção, esta última agente responsável
pelo desvio de recursos públicos e, por consequência, pelo
aumento da pobreza. Também é por intermédio da educação
que se aprendem os conceitos básicos da ciência, progressi-
vamente possibilitando existir o desenvolvimento tecnológico
aplicado nas diretrizes da sustentabilidade e do bem comum.
Sobretudo pela educação, o beligerante comportamento hu-
mano movido pelo desejo de posse e conquista será aplacado
por meio de ideais igualitários e de verdadeira democracia
(ALMEIDA, 1997).
Só com alto investimento no sistema educacional, tra-
zendo consciência para a humanidade, se conseguirá romper
com o capitalismo selvagem que, ao longo dos últimos sé-
culos, tem influenciado o homem a alimentar o interesse
individual acima do coletivo, a subjugar a natureza a ponto
de colocá-la em risco de extenuação, acelerando a mudança
climática, acentuando a degradação ambiental, e com isso
colocando em risco a si mesmo.
As conquistas educacionais citadas acima — em ética, co-
operatividade, moralidade e solidariedade —, só se efetivam
num processo de longo prazo, apresentando os primeiros
suaves benefícios no mínimo num tempo de meio século,
isto é, se as intervenções educacionais forem feitas de forma
254
Contextos: educacionais e históricos
correta a partir de agora. Nesse programa de longo prazo
se formará, principalmente nas crianças, uma consciência
ambiental global, tornando-as os defensores de um novo
paradigma a ser instaurado na sociedade. Um paradigma
calcado em premissas de preservação ecológica, incentivos
pró-ambientais, avanços sociais e um desenvolvimento com
prioridade na sustentabilidade (GADOTTI, 2008; UNESCO,
2008).
A mudança de paradigma desenvolvimentista por meio
da educação é uma defesa de poucos, parecendo uma uto-
pia para muitos e emergindo dai a omissão e a descrença,
dois entraves às mudanças para uma sociedade sustentável.
Esses entraves são alimentados por interesses econômicos,
inércia comportamental e outros fatores escusos, contudo,
com uma ampla reforma na educação, a lógica se inverterá
transformando a sustentabilidade numa realidade defendida
por muitos.
Os mais céticos podem interpretar esse discurso como
um sonho fantasioso que não pode ser concretizado, entre-
tanto, o educador que acredita no poder na transformação
educacional dirá que parece um sonho de um, mas só a
educação pode tornar um sonho comum. As bases funda-
mentais das vertentes educacionais desse novo paradigma
estão assentadas nos pressupostos da educação ambiental e
da educação para o desenvolvimento sustentável (JACOBI,
2011; LOUREIRO, 2004)
255
Mudanças climáticas e ambientais
A educação ambiental: um breve histórico
... a Educação Ambiental é uma coisa mais séria
do que geralmente tem sido apresentada, em nosso
meio. É um apelo à seriedade do conhecimento e,
uma busca de propostas corretas de aplicação das ci-
ências. Uma ação, entre missionária e utópica, des-
tinada a reformular comportamentos humanos e re-
criar valores perdidos e ou jamais alcançados. Um
processo de educação que garante um compromisso
com o futuro, envolvendo uma nova filosofia de vida e
um novo ideário comportamental, tanto no âmbito in-
dividual, quanto no coletivo.
Azib N. Ab’Saber, Conceituando Educação Ambiental.
Para cada lugar e época as mudanças ambientais surgem
com uma maneira peculiar. Para alguns, trazem tempos
difíceis em que o homem precisa mostrar a sua força para
se adaptar, e para outros vem trazendo a alegria na fartura
que só a natureza em sua infinita beleza pode fornecer. As
interligações entre a natureza e as sociedades humanas
constroem a história ambiental, e dessa forma o ser humano
se educa com o desenvolvimento do ambiente (FREIRE, 1987;
MEADOWS, 1989).
Na história ambiental, no que diz respeito ao movimento
ambientalista, destaca-se o estudo da educação ambien-
tal, aspecto relevante para a compreensão dos esforços da
humanidade na busca pelo desenvolvimento sustentável,
256
Contextos: educacionais e históricos
tornando-se uma ferramenta de primeiro plano conforme
(TREVISOL, 2003, p.166):
A educação ambiental não é um temaqualquer que pode ser adiado ou rele-gado a segundo plano. Trata-se de umanecessidade histórica latente e inadiável,cuja emergência decorre da profunda cri-se socioambiental que envolve nossa épo-ca. Educar para a sustentabilidade tor-nou-se um imperativo, sobretudo porqueas relações entre sociedade e naturezaagravaram-se, produzindo tensões ame-açadoras tanto para o homem quanto pa-ra a biosfera.
Os princípios ensinados pela educação ambiental se ins-
piram numa beleza lúdica e só são percebidos de forma
completa por quem vivencia o ecologismo e o ambientalismo.
Quando esses princípios são interiorizados e praticados, re-
formam o sentimento do cidadão fazendo com que a força e a
beleza da natureza sejam sentidas concomitantemente com
a misteriosa energia da biosfera. A vivência desses princípios
viabiliza compreender a responsabilidade da educação ambi-
ental, e com isso o cidadão passa a relacionar um problema
específico do meio ambiente — poluição, desmatamento, des-
perdício — com uma totalidade maior, sendo capaz de intervir
com ações sanadoras. Essa mudança comportamental, exer-
cida na prática diária dos princípios da educação ambiental,
pode ser representada por uma ação sintética que é pensarglobalmente agindo localmente (MEADOWS, 1989):
Embora algumas fontes queiram caracterizar a educação
ambiental como um ramo recente da educação, é necessá-
257
Mudanças climáticas e ambientais
rio ampliar a compreensão da história da interação entre o
homem e o ambiente. O meio ambiente tanto foi o primeiro
professor como a primeira escola da humanidade, então, a
primeira educação recebida foi a educação ambiental. Na-
quelas aulas iniciais, a professora era a silenciosa natureza
e o homem, o aluno autodidata com presença obrigatória. A
avaliação da aprendizagem era a sua própria sobrevivência e
a sua capacidade de intervenção era quase nula. As lições
eram diversas: aprender como coletar frutos mais altos e em
qual momento eles estavam maduros; quais tipos de vegetais
eram bons para uso medicinal, construção e fonte de ener-
gia calorífica; como confeccionar armas para se defender de
feras e aproveitar relevos para captação de recursos hídricos.
Em todas essas etapas em que o homem interagiu com o
meio ambiente, de alguma maneira se educou (SAUVÉ, 2005)
e uma infinidade de conhecimentos fornecidos pela educação
ambiental aconteceu desde primórdios tempos, como afirma
Meadows (MEADOWS, 1989, p.7),
Todos precisavam saber quais frutos ser-viam para comer, onde encontrar águadurante a seca, como evitar onças, queplantas serviam como bons materiais deconstrução, faziam um bom fogo ou umbom remédio. O conhecimento ambien-tal era também necessário para a prote-ção, contra ataques da natureza e parao aproveitamento de suas riquezas.
Desde o primeiro momento em que os se-res humanos começaram a interagir como mundo ao seu redor, e ensinaram seusfilhos a fazerem o mesmo, estava haven-do educação, uma educação ambiental.
258
Contextos: educacionais e históricos
Passado milhares de anos até os tempos atuais, a capa-
cidade do homem em modificar a natureza se tornou muito
maior. No século XX, com a forte alteração do meio ambiente,
nascia o movimento ambientalista e as sementes da educa-
ção ambiental moderna foram plantadas, com a criação de
órgãos oficiais como a UNESCO em 19461. No início dos anos
de 1970, as sementes da educação ambiental germinaram, e
ela tornou-se um instrumento de prática e mudança social,
acompanhando os movimentos da sociedade e neles interfe-
rindo, desenvolvendo-se e transformando-se (LAYRARGUES,
2004). Contextualizando essa época, além do movimento
ambiental, o início dos anos de 1970 foi marcado pelo es-
tabelecimento de regimes ditatoriais na América Latina, em
resposta a uma onda mundial crescente de direitos ao tra-
balho, liberdade, saúde e educação. O capitalismo estava a
todo vapor, movido por dois pressupostos: o projeto neolibe-
ral, pregando a obtenção do maior lucro possível num menor
espaço de tempo, e a era da industrialização acelerada, con-
sumindo os recursos naturais a toda força (RIBEIRO, 2002).
A argumentação teórica usada pelo modelo neoliberal se
sustentava em boa parte nas certezas fornecidas pelo rea-
lismo científico — o positivismo científico —, gerando uma
interpretação redutora da natureza ao antropocentrismo e
instrumentalismo, o qual obviamente não atendia as deman-
das do ambientalismo, com características de complexidade
e interdisciplinaridade (LEFF, 2000; RIBEIRO, 2001; BOFF,
2007). Contra essa visão unilateral começaram a surgir críti-
1 Organização das Nações Unidas para Ciência e Cultura.
259
Mudanças climáticas e ambientais
cas ao processo de formação de pessoas técnicas e eficientes
voltadas para alimentar o modelo de aumento da produção e
consumo, isto é, as críticas à educação formal e tecnicista
apareciam exigindo mudanças para atender a dimensão am-
biental. Inserida nessa problemática de avanços econômicos
e críticas ao modelo desenvolvimentista, a educação ambien-
tal foi sendo gestada (BOLIA; MILIOLI, 2011).
No ano de 1972, algumas bases conceituais da educação
ambiental já estavam diluídas nos movimentos e reuniões.
Na conferência de Estocolmo, no seu princípio 19, essas
bases, mesmo de forma indireta, já estavam presentes, como
também o alerta à mídia e a sua capacidade de influenciar
os jovens (UNEP, 1972, p.6):
É indispensável um esforço para a edu-cação em questões ambientais, dirigidatanto às gerações jovens como aos adul-tos e que preste a devida atenção ao se-tor da população menos privilegiada, pa-ra fundamentar as bases de uma opiniãopública bem informada, e de uma con-duta dos indivíduos, das empresas e dascoletividades inspirada no sentido de suaresponsabilidade sobre a proteção e me-lhoramento do meio ambiente em todasua dimensão humana. É igualmente es-sencial que os meios de comunicação demassas evitem contribuir para a deterio-ração do meio ambiente humano e, aocontrário, difundam informação de ca-ráter educativo sobre a necessidade deprotegê-lo e melhorá-lo, a fim de que ohomem possa desenvolver-se em todosos aspectos.
260
Contextos: educacionais e históricos
Sem detalhar historicamente os eventos contribuintes
para o desenvolvimento da educação ambiental, serão apon-
tados os mais significativos, que contem as ideias de de-
senvolvimento sustentável e sustentabilidade. Na sequência
dos anos a educação ambiental foi sendo reconhecida como
uma importante ferramenta de gerir procedimentos para os
problemas do meio ambiente. Alguns eventos importantes
aconteceram (SOUZA, 2004; CZAPSKI, 1998; BRASIL, 1997):
1) Em 1973 houve o registro Mundial de Programas em
Educação Ambiental nos Estados Unidos e no Brasil e
a Universidade Federal do Rio Grande do Sul criou o
primeiro curso de pós-graduação em Ecologia do país;
2) No ano de 1974 ocorreu o Seminário de Educação Ambi-
ental em Jammi, Finlândia, reconhecendo a Educação
Ambiental como educação integral e permanente;
3) Em 1975 na cidade de Belgrado, Iugoslávia, com o apoio
do PNUMA, foi lançado o Programa Internacional de
Educação Ambiental (PIEA) pela UNESCO, considerado
o principal marco da educação ambiental trazendo seus
princípios orientadores, a exemplo: a Educação Ambi-
ental deve ser continuada, multidisciplinar, integrada
às diferenças regionais e voltada para os interesses
nacionais.
Desses três eventos, vale destacar a contribuição da carta
de Belgrado trazendo ideias relevantes: o tratamento con-
junto da erradicação das causas básicas da pobreza, como a
261
Mudanças climáticas e ambientais
fome, o analfabetismo, a poluição, a exploração e a domina-
ção. A carta de Belgrado é um importante documento, que
trouxe uma proposta para um programa mundial de educa-
ção ambiental, quando afirma na sua introdução (BRASIL,
1975. Disponível em, sn):
É nesse contexto que devem ser coloca-dos os fundamentos para um programamundial de Educação Ambiental que pos-sibilitará o desenvolvimento de novos co-nhecimentos e habilidades, de valores eatitudes, enfim, um esforço visando a me-lhor qualidade do ambiente e, sem dú-vida, uma qualidade de vida digna paraas gerações presentes e futuras.
Apesar de sofrer críticas de ser um pouco utópica e de
conter proposições abstratas, a carta de Belgrado contém
importante base conceitual na forma de princípios e dire-
trizes relacionados à conservação ecológica e a preservação
ambiental, elementos básicos da dimensão ambiental do
desenvolvimento sustentável. Dessa forma, a carta é dire-
cionada mais às questões de educação ambiental, todavia
trazia várias perspectivas do desenvolvimento sustentável,
conceito ainda não muito usado a não ser em círculos muito
restritos (BARBIERI, 2011).
A Conferência de Tbilisi2 é considerada o principal evento
internacional da educação ambiental, onde foram funda-
mentadas suas bases conceituais inspiradas pela carta de
2 Até Tbilisi a educação ambiental era mais conhecida como educaçãopara a conservação (conservacionismo). Tbilisi consagrou a expressão“educação ambiental”, na visão ampliada que temos hoje.
262
Contextos: educacionais e históricos
Belgrado. A partir de Tblisi a educação ambiental passa
a ter como objetivo conseguir o entendimento da natureza
complexa, do meio ambiente natural e do meio ambiente
modificado pelo homem, em nível coletivo e individual. Além
dessa compreensão, são também objetivos da educação am-
biental desenvolver capacidades para se produzir práticas
de prevenção a danos ao meio ambiente, propor soluções
aos problemas ambientais e à gestão da qualidade do meio
ambiente (UNESCO, 1977).
Os objetivos citados acima possuem um amplo espectro
de atuação, exigindo do corpo teórico da educação ambiental
um caráter interdisciplinar, crítico, ético e transformador,
elegendo a educação ambiental como portadora da carac-
terística singular de se inserir em diversas outras discipli-
nas. Por consequência dessa característica multidisciplinar,
teóricos recomendam evitar o reducionismo de privilegiar
uma determinada área específica, como a mais adequada
para aplicação da pedagogia ambiental (BRANDÃO, 2007;
TAMAIO, 2010).
Outro importante ponto é a indicação de que os con-
teúdos conceituais, os procedimentais e os atitudinais são
essenciais, devendo ser incorporados na transposição didá-
tica da educação ambiental, em outras palavras, a respeito
do contexto da sustentabilidade não basta fazer críticas ao
modo de produção capitalista, é necessário também fazer
a construção de soluções sustentáveis e executáveis. Essa
linha pensamento pode ser encontrada na carta de Tblisi
(UNESCO, 1977, p.2):
263
Mudanças climáticas e ambientais
O processo educativo deveria ser orien-tado para a resolução dos problemas con-cretos do meio ambiente, através de enfo-ques interdisciplinares, de participaçãoativa e responsável de cada indivíduo eda coletividade.
A conferência de Tblisi, além de confirmar as intenções
da carta de Belgrado, foi um prolongamento das ideias ela-
boradas em Estocolmo, um maturamento de uma pedagogia
ambiental com anos de elaboração, sintetizada em três dias
de duração3. Em Tblisi foram identificadas inúmeras lacu-
nas no sistema de ensino-aprendizagem para a dimensão
ambiental, e como contribuição foram formuladas 41 reco-
mendações, no sentido de obter uma união internacional
em prol de uma igualdade em riqueza e desenvolvimento,
usando como instrumento de execução a educação ambien-
tal. Tais ações estão registradas em sua carta na seguinte
forma (UNESCO, 1977):
1) [...] a educação ambiental deve contribuir para o de-
senvolvimento de um espírito de responsabilidade e de
solidariedade entre os países e as regiões, como funda-
mento de uma nova ordem internacional que garanta a
conservação e a melhoria do meio ambiente.
2) [...] a educação ambiental dever contribuir para con-
solidar a paz, desenvolver a compreensão mútua entre
os Estados e constituir um verdadeiro instrumento de
3 A participação do Brasil não foi oficial porque não matinha boas rela-ções diplomáticas com a Rússia.
264
Contextos: educacionais e históricos
solidariedade internacional e de eliminação de todas as
formas de discriminação racial, política e econômica.
3) Transformar progressivamente, mediante a educação
ambiental, as atitudes e os comportamentos, para fazer
com que todos os membros da comunidade tenham
consciência de suas responsabilidades, na concepção,
elaboração e aplicação dos programas, nacionais ou
internacionais relativos ao meio ambiente.
4) Considerando que todo o pessoal docente compreenda a
necessidade em conceder um lugar importante em seus
cursos à temática ambiental, recomenda-se incorporar
nos programas o estudo das ciências ambientais e da
educação ambiental.
No Brasil, nos finais dos anos de 1970 e início da década
de 1980, os eventos relacionados à educação ambiental ga-
nharam poder político e isso se refletiu na elaboração de
regulações ambientais. Apesar dos números da economia
não terem sido promissores, os setores da educação e meio
ambiente firmavam laços de simpatia. Todavia, o meio am-
biente avançou um pouco mais, devido a criação de novas
leis ambientais, ao passo que a educação continuava com os
números preocupantes, de evasão e reprovação escolar. A
cada 100 alunos que iniciavam os estudos, só 14 concluíam
a oitava série do primeiro grau4 (CZAPSKI, 1998)
No final dos anos de 1980 a educação ambiental começa a
ter novamente um destaque. Paralelo a publicação do relató-4 Série equivalente hoje ao nono ano do ensino fundamental.
265
Mudanças climáticas e ambientais
rio Nosso Futuro Comum, em 1987, aconteceu o Congresso
Internacional promovido pela UNESCO, sobre Educação e
Formação Ambiental em Moscou, realizando a avaliação dos
avanços desde Tbilisi, reafirmando os princípios de educação
ambiental e assinalando a importância da sua pesquisa e
formação, nas áreas formais e não formais (LAYRARGUES,
2004).
Nosso Futuro Comum já expunha claramente a incompa-
tibilidade entre o desenvolvimento sustentável com os atuais
padrões de produção e consumo, como também apontava
a importância da educação ambiental, muito embora sem
citá-la textualmente. Nas suas diretrizes estão contidas as
estratégias socioambientais de longo prazo, para conseguir
implementar o desenvolvimento sustentável. A importância
tanto do meio ambiente e do desenvolvimento sustentável,
quanto do papel da educação como um dos atores principais
na implementação de uma sustentabilidade, está claramente
apontadas no relatório (CMMAD, 1987, p.9):
Mas o meio ambiente é o lugar onde to-dos nós vivemos, e desenvolvimento é oque todos nós fazemos na tentativa paramelhorar a nossa sorte nessa morada. Osdois são inseparáveis [...]. Professores domundo terá um papel crucial a desempe-nhar em trazer esta mensagem [...].
Na elaboração da constituinte de 1988, uma frente par-
lamentar verde propôs uma moderna legislação de proteção
ambiental contendo a exigência de estudos de impacto e zo-
neamento ambiental, fazendo com que no final dos anos de
266
Contextos: educacionais e históricos
1980 a educação ambiental tivesse sua importância coroada
em forma de lei nacional expressa na Carta Magna do País,
no artigo 225.
A educação ambiental entra nos anos de 1990 com evi-
dência, proporcionada pelo sentimento de ambientalismo
mundial, trazido pela publicação de Nosso Futuro Comum
que, entre outras mensagens, colocava a dimensão ambi-
ental em lugar de destaque denunciando a degradação dos
recursos naturais, os responsáveis pela poluição do meio am-
biente, a crescente desigualdade social, apontando mudan-
ças significativas no modo de desenvolvimento da sociedade
(NETO, 2009; CMMAD, 1987).
Nosso Futuro Comum também afirmava da necessidade
de mudar a maneira de usar a tecnologia e ciência para
extrair as riquezas da Terra, e declarava que as mudan-
ças nas atitudes humanas dependem de uma campanha
de educação, debates e participação pública5 (NETO, 2009).
Nesse movimento de valoração da dimensão ambiental e de
incentivo a campanhas educacionais surgiu a proposta da
inserção da educação ambiental na educação escolar, em
todos os níveis e modalidades de ensino em 1991.
5 Nosso Futuro Comum trouxe mudanças radicais, pois almejava que:os mais pobres deveriam receber uma parcela justa dos recursos ne-cessários para manter o crescimento; os mais ricos deveriam adotarestilos de vida compatíveis com os recursos ecológicos do planeta; e oaumento populacional deveria ser controlado. Os países teriam decombater problemas herdados, como poluição do ar, da água, esgo-tamento dos lençóis subterrâneos, proliferação de produtos químicostóxicos e de rejeitos perigosos, além de enfrentar a erosão, acidificaçãoe novos tipos de rejeitos, relacionados às práticas agrícolas, industri-ais, energéticas e florestais (NETO, 2009).
267
Mudanças climáticas e ambientais
A educação ambiental esteve presente em vários pontos
na RIO-92, devido à intervenção de educadores ambientais
de diversas nacionalidades que conseguiram inserir vários
de seus temas na Agenda 21. Algumas políticas públicas de
educação ambiental relacionadas com as ideias de sustenta-
bilidade foram propostas e colocadas em debate, resultando
num Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sus-tentáveis e Responsabilidade Global (SOUZA, 2004). Essas
políticas públicas possuíam características de ser dinâmicas
e de estarem em permanente construção. Na Agenda 21
foram propostas três áreas para o desenvolvimento susten-
tável, onde a educação ambiental assume papel importante:
gestão de recursos naturais, agricultura sustentável e cida-
des sustentáveis.
Sobretudo, a essência dessas propostas orientava que o
exercício prático da sustentabilidade deve ser incentivado e
fortalecido, afim de educar as pessoas a reciclarem materiais,
entre outras atividades educativas, como está previsto na
estratégia em gestão de recursos naturais na seguinte forma
(ONU, 1992a):
Estabelecer, desenvolver e estimular o a-poio aos diferentes aspectos da gestãode recursos naturais, por meio da im-plementação de medidas estruturais queenvolvam o fortalecimento institucional,a capacitação e o treinamento dos recur-sos humanos, a educação ambiental e acooperação internacional.
Os estudos do meio ambiente e da educação ambiental
depois da RIO-92 avançaram bastante, evidenciados por um
268
Contextos: educacionais e históricos
bom número de reuniões ambientais e pela criação de órgãos
oficiais como o PRONEA em 19946, apresentando também
pontos negativos, por não conseguirem alcançar metas esta-
belecidas na Agenda 21. Contrário a década de 1980, onde o
desenvolvimento da educação ambiental foi morno, durante
a década de 1990 o desenvolvimento cresceu de uma ma-
neira tal que o saber ambiental se tornou enciclopédico, com
o conhecimento produzido em diversos encontros, produções
acadêmicas, literárias e projetos.
Os avanços vinham de todos os lados, as empresas procu-
ravam divulgar suas normas e objetivos ecológicos, grupos
civis simpatizavam com a educação ambiental e desenvol-
viam projetos. A mídia aproveitou o embalo das notícias e
cedeu espaço para divulgação de temas ambientais7 (SOUZA,
2004; CZAPSKI, 1998; BARBIERI, 2011).
A educação ambiental: contribuições para acrise do meio ambiente
Apesar da educação ambiental ter conseguido espaço no
cenário mundial, um ganho significativo no contexto educa-
6 Programa Nacional de Educação Ambiental.7 Dentre muitos outros eventos realizados, registra-se aqui os mais sig-
nificativos depois da RIO-92 até o fim dos anos 90: O CongressoIbero Americano de Educação Ambiental no México (1994); Conferên-cia Mundial do Clima em Berlim (1995); II Congresso Ibero-americanode educação ambiental no México (1997); Lançamento da revista in-ternacional, Tópicos en Educación Ambiental, no México, e a criaçãoda Política Nacional de Educação Ambiental (1999).
269
Mudanças climáticas e ambientais
cional brasileiro — ao menos oficialmente — se deu quando
o Conselho Nacional de Educação aprovou os Parâmetros
Curriculares Nacionais (PCN), trazendo importantes refor-
mas na educação e colocando o meio ambiente como tema
transversal das matérias a serem ensinadas (PCN, 2000).
Essa transversalidade do ensino ambiental pode ser en-
contrada no referido documento, na parte da “educação como
elemento indispensável para a transformação da consciência
ambiental” (PCN, 2000, p.180), indicando que a obtenção
dessa consciência ambiental deve ocorrer pela mudança de
mentalidade e por novos comportamentos, elementos neces-
sários para se conseguir uma nova ordem ambiental.
Mesmo inserida formalmente nos PCNs, a prática da
educação ambiental no contexto escolar brasileiro — tanto
naquela época quanto atualmente — é bem diferente do
que está proposto. Para uma maior clareza, em 1997 foi
elaborada uma carta, a Declaração de Brasília para a Edu-
cação Ambiental, composta por 45 problemáticas e 125 re-
comendações, tornando-se a contribuição brasileira para a
Conferência de Thessaloniki na Grécia.
A carta trazia enfáticas críticas ao sistema educacional
brasileiro, que não atendia aos pressupostos da educação
ambiental — integração e interdisciplinaridade — porque
aplicava um sistema de ensino baseado num paradigma po-
sitivista e na pedagogia tecnicista que postulam um sistema
de ensino fragmentado em disciplinas (BRASIL, 1997).
Nas três últimas décadas, a educação ambiental no seu
viés mais crítico propunha uma alternativa ao ensino redu-
270
Contextos: educacionais e históricos
cionista e fragmentado, proposto pelo paradigma tecnicista
positivista. A proposta da educação ambiental crítica era
de oposição à educação voltada para a transmissão de in-
formações e conteúdos particulares sobre o meio ambiente.
Entretanto, o que se viu nesses tempos e o que se vê nos
dias atuais é a realização não sequencial e pouca volumosa
de projetos de educação ambiental, visando um aperfeiçoa-
mento do cidadão numa abordagem interdisciplinar (BOLIA;
MILIOLI, 2011; LAYRARGUES, 2004).
Com efeito, na execução do projetos de educação ambi-
ental é relevante uma abordagem pedagógica que coloque o
educando como parte integrante da ação educacional. Nesse
sentido, não se deve colocar o educando como simples par-
tícipe observacional do novo modelo, e sim exigir na trans-
posição didática da implementação do projeto, o exercício
de práticas reflexivas que envolvam cidadania, direito e de-
veres ambientais, explorando a complexidade do problema
climoamboental em várias dimensões, em sua origem, nos
embates políticos e nas consequências socioculturais, sem-
pre visando o aumento da participação e consciência pública
sobre a mudança climática e ambiental (LIMA, 2013).
Para a redução dos efeitos dessas mudanças, propostas
de mitigação já foram elencadas: ecoeficiência tecnológica;
desacoplamento entre produção, energia e recursos naturais;
mercado de baixo carbono e mecanismos de desenvolvimento
limpo. Porém, essas medidas sozinhas não são suficientes
para frear o avanço da degradação ambiental e a crescente
emissão de gases estufa (LIMA; LAYRARGUES, 2014).
271
Mudanças climáticas e ambientais
Com efeito, a execução desses processos exige uma rup-
tura com as causa econômicas que estão gerando a mudança
climática e ambiental. O custo econômico para se desfazer
de toda estrutura implantada e implementar as mitigações
elencadas acima é alto, e ninguém quer pagar a conta (LIMA,
2013; FONSECA; BURSZTYN, 2007).
O retardamento dos efeitos negativos das ações antrópi-
cas no meio ambiente pode ser conseguido pelo aumento da
conscientização pública, promovido por uma reforma educa-
cional. A força de mudança da educação nas pessoas aliada
às propostas citadas acima, é capaz de atenuar a força dos
lobbys anticlima embasados na ideologia de crescimento
econômico8; diminuir o poder da mídia comprometida os
lucros da emissão da poluição — e que por vezes reforçam
a descrença na crise climoambiental —; despertar o público
da perplexidade e da inércia em relação à destruição do meio
ambiente (LIMA; LAYRARGUES, 2014; LIMA, 2013; DIAS,
2013).
Entretanto, apesar do processo educativo ser transforma-
dor e atuar de forma indireta na consciência do ser humano,
nas últimas décadas a educação exercida sem prioridade
na dimensão ambiental não tem contribuído para aumentar
a compreensão pública sobre a mudança climática. Urge
no sistema educacional uma modificação para capacitar os
8 Exemplo dessas forças: empresas de petróleo e carvão mineral ouvegetal — e seus usuários —, de cimento, aço, alumínio, celulose epapel, madeireiras, mineradoras, frigoríficos e outras empresas docomplexo agropecuário, muitas das quais têm financiado campanhasde descrédito da ciência do clima e dos relatórios já divulgados peloIPCC (LIMA, 2013, p.97).
272
Contextos: educacionais e históricos
alunos a exercerem ações transformadoras diversas, para
vencerem a inércia comportamental da sociedade e aumenta-
rem o entendimento da população sobre a mudança climática
e ambiental (LIMA; LAYRARGUES, 2014; LIMA, 2013).
Uma das formas de conseguir esse objetivo é agregar
informação para conscientizar a opinião pública, e assim
educar o cidadão inserindo-o no debate da política climá-
tica ambiental, e também suprimindo falsas controvérsias
sobre o aquecimento global. Vale destacar que essas mudan-
ças no sistema educacional e suas influências na mudança
climoambiental exigem mais tempo, criatividade e também
solidariedade. O nível de consciência ambiental será tanto
maior quanto maior for o nível de criatividade e capacidade
voluntária9 que a educação despertar na sociedade (LIMA,
2013; LIMA; LAYRARGUES, 2014).
Com esse nível de consciência ambiental, a educação
romperá com a ética antropocêntrica que tanto influenciou
seus currículos para o exercício racional do utilitarismo da
natureza, isto é, o exacerbamento do eu acima do nós. A
mitigação das mudanças climáticas e ambientais passa por
reforma no modelo educacional que provoque a transição
para uma ética ambiental, para a retirada da teoria do vale
tudo em busca do lucro fácil e imediato. Com a implantação
da consciência e da ética ambiental, as pessoas não terão
dúvidas em escolher entre benefício individual ou coletivo,
competitividade ou cooperatividade, imposição ou participa-
9 Não confundir o conceito de sociedade voluntária com o sacerdóciodo magistério.
273
Mudanças climáticas e ambientais
ção, ter ou ser, desmatamento ou florestas, esgotos ou água
potável.
Dentro desse complexo quadro social se enquadra grande
parte das causas da mudança climática e ambiental, tendo a
educação ambiental a capacidade de dar fortes contribuições
para sua repintura. Todavia, a contribuição para as miti-
gações dessas mudanças só será efetiva se o descompasso
dos pressupostos teóricos com as ações práticas for afinado.
Assim, faz sentido observar a influência do individual no
coletivo, a importância do exame de cada um ao se pergun-
tar: como querer mudanças no mundo se eu não mudo a
minha forma de viver? Como implantar as noções básicas do
ecologismo se continuo a aspirar os desejos do consumismo?
(LIMA, 2013; LIMA; LAYRARGUES, 2014; BACCI; PATACA,
2008)
Da entrada do novo século até os dias atuais as contri-
buições da educação ambiental são enormes, muito embora
seus resultados ainda não consigam fazer frente à contínua
depredação da natureza causada pelo modelo desenvolvi-
mentista consumista. Entretanto, sem a sua contribuição
em vários níveis de influência, o cenário da depredação am-
biental seria pior. O seu legado de trazer consciência, amor,
solidariedade, cooperativismo e doação em prol do meio am-
biente se tornou um incentivo às bases fundamentais de
outras linhas educacionais sintonizadas com os ideais da
sustentabilidade ambiental.
Às vezes estereotipada como sonhadora e fora da reali-
dade pelo realismo científico, a educação ambiental nos mos-
274
Contextos: educacionais e históricos
trou o contrário com bons exemplos espalhados no mundo,
em projetos de preservação, conservação e recuperação, se-
meando o ambientalismo e nos dando a esperança de que ele
é possível. Sua prerrogativa principal — a prática da teoria —
nos mostra a maneira eficiente de agir e a direção por onde
seguir, numa forma saudável de interpretar o mundo, com
uma nova filosofia de vida, um novo ideal de comportamento
praticado no dia a dia, em nível individual e também em
escala coletiva.
A prática é o que realmente modifica o mundo, provado
infelizmente pelo modelo de sociedade atual com suas ações
agressivas e intermitentes ao meio ambiente. A antítese
dessa prática depredativa da natureza é exercida em pequena
quantidade pela educação ambiental, e lamentavelmente
está ausente em muitas teorias da educação como a aponta
Brandão (BRANDÃO, 2007, p.12):
Ao contrário de outras vocações da edu-cação, vagas demais, ideológicas demais,não raro, até mesmo, fundamentalistasdemais ou restritas e uni dirigidas de-mais, a Educação Ambiental é um cená-rio cultural e pedagógico de convergên-cia de múltiplos outros campos de saber,de sentido e de ação.
É na seara aberta da educação ambiental, com seus ele-
mentos de interdisciplinaridade, diversidade de projetos e
propostas que envolvem teoria e prática, permitindo a sociali-
zação dos saberes culturais e educacionais, que se encontra
terreno fértil para semear a consciência ambiental. A cons-
ciência ambiental, juntamente com a reforma do sistema
275
Mudanças climáticas e ambientais
educacional e com a mudança do paradigma desenvolvi-
mentista, fará que mais pessoas se integrem na defesa da
natureza. Nesse sentido, urge um investimento significativo
em políticas climáticas e ambientais, na formação de pessoas
que serão futuros defensores e transmissores dos benefícios
da dimensão ambiental para a sociedade.
É visível que a educação ambiental sozinha não resolve a
grave situação ambiental, todavia quando se investiga qual-
quer planejamento, ação ou teoria na direção de melhorias
ambientais, impreterivelmente os métodos e pressupostos
da educação ambiental estão presentes de forma direta ou
indireta. Portanto, as bases da educação ambiental são
essenciais, e sem elas, as ideias de sustentabilidade não
se sustentam, o desenvolvimento sustentável não se desen-
volve e a dimensão crítica e libertadora da educação não se
totaliza.
276
9
Educação para o desenvolvimento
sustentável
Ninguém educa ninguém. Ninguém educa a si
mesmo. Os seres humanos se educam mediatiza-
dos pelo mundo.
Paulo Freire, Pedagogia do Oprimido.
As orientações contidas no capítulo 36 da Agenda 21 —
seção 36.2 — mostram as primeiras noções de uma nova
proposta em educação, afirmando em uma das áreas de pro-
gramas a necessidade de ter a reorientação do ensino no sen-
tido do desenvolvimento sustentável (ONU, 1992a, sn). Na
essência dessa medida estão incluídas outras, procurando
desenvolver nessa educação uma maior consciência ambi-
ental e ética ecológica, uma mudança de comportamento,
ações afinadas com as medidas socioambientais impressas
nas bases do desenvolvimento sustentável. No capítulo 36
existe uma diversidade de atividades educacionais propostas
Mudanças climáticas e ambientais
para vários níveis sociais, que pode contribuir com sua espe-
cificidade, tanto para a área de desenvolvimento como para
a ambiental.
Em 1994 a UNESCO propõe um projeto com nome Edu-
cando para um Futuro Sustentável: Ambiente, População e
Desenvolvimento Sustentável (EPD). Esse projeto faz parte
de uma cooperação internacional para avaliar e reforçar os
objetivos propostos no capítulo 36 da Agenda 21 (PEREIRA,
2011).
O EPD considerava a educação um meio de capacitar as
pessoas a se tornarem agentes de mudança, uma ferramenta
indispensável para alcançar a sustentabilidade. As diretrizes
da seção 36.2 da Agenda 21 foram expandidas em 1996,
com uma proposta de reforma do ensino em seu conjunto, e
não apenas por meio de modificações nos planos de estudos
vigentes ou pela adição de novos componentes (PEREIRA,
2011; UNESCO, 2008).
Essas expansões, projetos e conferências internacionais
resultaram num acúmulo de conhecimentos, e algumas fina-
lidades de diretrizes se tornaram recorrentes. Semelhanças
nas metas e pressupostos da educação ambiental, compa-
radas com uma educação voltada à sustentabilidade, come-
çavam a aparecer. Os tópicos centrais e consensuais do
debate eram consciência pública e educação, que sabida-
mente são estruturas básicas da sustentabilidade e, por sua
vez, ligavam-se a temas como população, desigualdade so-
cial, fome, paz, saúde, cidadania e outros (UNESCO, 1997;
RIBEIRO, 2002).
278
Contextos: educacionais e históricos
Esses assuntos eram tratados com repetição, tanto o é
que desde 1997 na Declaração de Thessaloniki essas con-
cordâncias educacionais relacionadas ao desenvolvimento e
ao ambiente aparecem como se vê na sua consideração 11
(THESSALONIKI, 1997):
A educação ambiental, como desenvol-vida no quadro das recomendações deTbilisi, e como evolui desde então, dirigin-do-se para o itens globais incluídos naAgenda 21 e nas Conferências das Na-ções Unidas, também tem sido voltada àeducação para a sustentabilidade. Issopermite que possa também ser referidacomo educação para o meio ambiente ea sustentabilidade.
Em Johannesburgo, em 2002, a proposta dessa nova
educação também se fez presente com diversas recomenda-
ções, em especial a de número 233, trazendo a decisão de
promover a educação para o desenvolvimento sustentável.
Essa promoção passa por várias atitudes, como: preparar
alunos através de programas de formação para carreiras na
área de sustentabilidade; desenvolvimento de currículos de
sustentabilidade; capacitar os nossos sistemas de ensino
para preparar as pessoas para buscar o desenvolvimento
sustentável (RIO+20, 2012; LAGO, 2006).
Em 2003, a educação foi reconhecida como estrutura
essencial ao desenvolvimento sustentável pela Assembleia
Geral das Nações Unidas, anunciando o Decênio das Na-
ções Unidas da Educação para o Desenvolvimento Sus-
tentável (Dnueds), com o objetivo de promover um ensino-
279
Mudanças climáticas e ambientais
aprendizagem universal durante toda a vida, na busca de
alcançar o desenvolvimento sustentável (BARBIERI, 2011).
Com a análise dos documentos publicados nas conferên-
cias se percebe que as terminologias educação para susten-tabilidade, educação para um futuro sustentável e educaçãopara o desenvolvimento sustentável1 tinham o mesmo sen-
tido e suas semelhanças com a educação ambiental eram
muitas. Quando se procura o ponto de encontro dessa con-
fluência, identifica-se duas linhas educacionais separadas
com objetivos definidos educação para o desenvolvimento
e educação ambiental. A educação para o desenvolvimento
com foco nas inter-relações sociais, políticas e econômicas, e
a educação ambiental com o foco nos conhecimentos, habili-
dades, atitudes e competências voltadas para a conservação
do meio ambiente
Os objetivos da educação para o desenvolvimento e da
educação ambiental, quando unidos, formam uma nova pro-
posta de educação. O sentimento de defesa do meio ambiente
da educação ambiental, somado à preocupação da educação
para o desenvolvimento com a pobreza, desigualdade social
e opressão, se complementam de forma necessária. Posta
essa justaposição de objetivos educacionais, nasce um novo
modelo educacional: a Educação para o Desenvolvimento
Sustentável (EDS).
Mas é válida a lembrança, para conseguir a meta am-
biciosa de transformar o comportamento individual do ser
1 Recentes trabalhos estão sendo feitos sobre a educação para mudan-ças climáticas.
280
Contextos: educacionais e históricos
humano e coletivo de uma sociedade, por processos educaci-
onais — além dessas vertentes educacionais — a educação
para o desenvolvimento sustentável necessitará de outros
tipos de educação, conforme afirma a UNESCO (HAAN, 2007,
p.7):
Não basta tirar elementos de educaçãopara o desenvolvimento e da educaçãoambiental e reuni-los para a EDS. Edu-cação do consumidor, estudos sobre apaz, educação para os direitos humanos,educação para mobilidade, educação emquestões financeiras e aspectos da edu-cação para a cidadania (educação paraa democracia) fornecerão conhecimentosque serão integrados na educação para odesenvolvimento sustentável.
A educação para o desenvolvimento sustentável se apre-
senta como uma possível solução para amenizar os proble-
mas da mudança climática e ambiental que hoje preocupam
a população. Os seus objetivos perpassam várias áreas de
conhecimento: economia, sociologia, ecologia e biologia, o
que a torna em si de difícil domínio e mais ainda de difícil
realização (BARBIERI, 2011).
Além disso, ela valoriza a questão ambiental e a trans-
cende, envolvendo aspectos transdisciplinares e transcultu-
rais do conhecimento, oferecendo um propósito maior. Pois
ao se colocar como fonte de geração de uma consciência am-
biental, usa a base paradigmática da sustentabilidade para
formar pessoas que criem iniciativas orientadas, objetivando
a construção de um desenvolvimento sustentável por um
longo prazo (BARBIERI, 2011; HAAN, 2007).
281
Mudanças climáticas e ambientais
Nesse sentido, a educação para o desenvolvimento sus-
tentável quer promover a capacitação de pessoas com compe-
tências que vão além de habilidades manuais ou de resolver
problemas. Ir além dessas competências é conseguir mudar
a consciência do ser humano em relação ao modo de inter-
ferir no meio ambiente, à forma gerir a produção e à sua
maneira de consumir, isto é, realizar um projeto quase utó-
pico que é a construção de um mundo sustentável, ecológico
e socialmente justo (GADOTTI, 2008; UNESCO, 2008).
A década da educação para o desenvolvimento sus-tentável
Iniciada em 2005, a Década da educação para o desen-
volvimento sustentável (Deds) propõe um maneira diferente
de aprendizagem, comportamento e valoração da sociedade
para obter um desenvolvimento sustentável. Dessa forma a
UNESCO recomenda (UNESCO, 2005, p.63),
A visão global da Década das Nações Uni-das de Educação para o DesenvolvimentoSustentável é um mundo onde todos tema oportunidade de se beneficiar de edu-cação e aprender os valores, comporta-mentos e estilos de vida necessários paraum futuro sustentável e para a positivatransformação da sociedade.
A Deds possui princípios que se forem implementados
com eficiência trarão benefícios de grande valor para o bem
estar da humanidade. Seus fundamentados possuem uma
282
Contextos: educacionais e históricos
visão igualitária de oportunidades em educação, na perspec-
tiva de aprender a viver nesse planeta com valores e compor-
tamentos condizentes com um futuro sustentável. De forma
sintética, os seus direcionamentos abrangem a valorização
da educação e a aprendizagem para o desenvolvimento sus-
tentável, buscando fornecer espaços e oportunidades para a
conscientização do cidadão.
Essa conscientização trará uma maior clareza para com-
preender a importância relacional das dimensões ambiental,
social e econômica, porque estará alicerçada em valores
essenciais de conhecimento universal, como respeito à diver-
sidade, à diferença, ao meio ambiente e ao próximo. Assim,
de 2005 até o 2015, a Deds será um instrumento de mobili-
zação, difusão e informação, procurando reunir parcerias em
diversas áreas de interesse, objetivando uma conscientização
da necessidade de um desenvolvimento com sustentabilidade
(UNESCO, 2005).
Diversas medidas de mitigação da mudança climática e
ambiental recebem influência do nível de clareza pública das
relações entre as dimensões ambiental, social e econômica.
Vale destacar que outras dimensões, como a cultural e geo-
gráfica, possuem relevância nos problemas ambientais, pois
esses últimos não são exclusividade de aspectos econômi-
cos. Desse modo, a facilidade em implementação de políticas
públicas com mais eficiência numa região, com ênfase na
educação para o desenvolvimento sustentável, dependerá em
muito da capacidade cultural de cada país em perceber os
benefícios gerados pela sustentabilidade.
283
Mudanças climáticas e ambientais
Assim, a reforma proposta pela educação para o desenvol-
vimento sustentável está ligada intimamente com a cultura
e a forma como influencia as três dimensões do desenvol-
vimento sustentável. Mesmo agindo como uma dimensão
subjacente, a cultura pode gerar renda através de arte, mú-
sica, dança, turismo — quando estiver atrelada ao desen-
volvimento econômico de uma região — e à preservação do
meio ambiente. No entanto, é importante ressaltar, a di-
mensão de cultura aqui abordada transcende o aspecto de
manifestações de música, dança e vestuários chegando a
“uma maneira de ser que está em constante evolução, uma
forma de se relacionar, de se comportar, de acreditar e agir
durante toda a vida.” (UNESCO, 2005, P.18).
Não se afirma com isso que a totalidade das causas da
mudança climática e ambiental ocorrida até aqui foram agu-
dizadas somente por falta da educação. A problematização
se centra na falha da educação atual, em não priorizar a di-
mensão ambiental em todos os seus aspectos — importância
biológica nos serviços ecossistêmicos, aumento da qualidade
de vida, segurança global, finitude dos recursos naturais,
entre outros —, na formação dos cidadãos.
Nesse sentido, uma reforma na educação deve objeti-
var o despertar da cidadania para a prática constante do
comportamento sustentável. A educação para o desenvolvi-
mento sustentável pode auxiliar na amenização dos efeitos
da mudança climática e ambiental, quando ensina o exercí-
cio contínuo da sustentabilidade em todas as atividades da
vida, levando em conta aspectos ambientais, culturais e so-
284
Contextos: educacionais e históricos
ciais, exercendo-as com responsabilidade e democracia. As
premissas da qualidade dessa educação estão sintetizadas a
seguir (UNESCO, 2005):
1) Ser interdisciplinar e holística. Ensinar desenvolvi-
mento sustentável de forma integrada em todo o currí-
culo, não como disciplina a parte;
2) Visar a aquisição de valores e princípios fundamentados
na sustentabilidade e ensiná-los;
3) Desenvolver o pensamento crítico e a capacidade de
encontrar solução para os problemas, ensinando a ter
confiança ante os dilemas e desafios em relação ao
desenvolvimento sustentável;
4) Estar bem relacionada com a vida local, abordando
tanto os problemas locais quanto os globais, usando
a(s) linguagem(s) mais comumente utilizadas(s) pelos
alunos.
O desafio de praticar constantemente um comportamento
sustentável exige procedimentos com um largo espectro de
atuação: deveres e responsabilidades das empresas quanto
a problemas ambientais; redução da pobreza; melhor plane-
jamento da demografia urbana e rural; governabilidade, paz
e saúde, e entre outros. A conscientização dessas práticas
sustentáveis, na busca de minimizar as mudanças climáti-
cas e ambientais, requer alteração estruturais nas políticas
de educação, desde a educação do jardim de infância até o
285
Mudanças climáticas e ambientais
curso superior, na busca de aprender conhecimentos susten-
táveis durante toda a vida adulta. Sem dúvida uma reforma
ampla, abrangendo uma nova formação de professores e
nova concepção de aula, uma modificação dos objetivos e
conteúdos curriculares, na busca de se interdisciplinar as
dimensões sociais, ambientais, econômicas e culturais com
a sustentabilidade (UNESCO, 2005).
Transcender o espaço escolar é outro traço característico
da educação para o desenvolvimento sustentável, expan-
dindo o local da aprendizagem para o mundo, a escola maior.
Com efeito, a interação com o mundo significando e ressigni-
ficando as coisas na nossa vivência diária é uma maneira de
aprendizagem, acontecendo de diversas formas, na interação
solitária com o sistema televiso e no mundo das comunica-
ções globais, nos simples atos de manuseio, enfim, vivendo,
errando, acertando e sempre aprendendo.
O programa da educação para o desenvolvimento susten-
tável dentro e fora do espaço escolar pode internalizar, no
individual e no coletivo, o exercício de práticas e compor-
tamentos sustentáveis que, se forem duradouras, passarão
às próximas gerações, tornando-se uma cultura sustentável.
Pequenos exemplos de sustentabilidade podem influenciar
no clima e no meio ambiente quando feitos de forma globali-
zada.
Uma boa atitude é o aprimoramento da reciclagem de
lixo, no qual inúmeros benefícios climáticos e ambientais
são obtidos, uma vez que a reciclagem diminui a emissão de
poluentes para a atmosfera; a extração de recursos naturais;
286
Contextos: educacionais e históricos
a poluição dos recursos hídricos e a degradação dos ecossis-
temas. Um exemplo de cultura educacional sustentável foi
dado pela torcida japonesa, na cidade de Natal, durante a
copa do mundo em 2014 no Brasil, como mostra a figura 27.
Os japoneses levaram sacos e ao término de cada jogo reco-
lheram o lixo produzido e o destinaram para o local correto.
Esse exemplo foi seguido por uma minoria de brasileiros
nos outros jogos. Para os japoneses essa ação educativa de
recolher o lixo produzido é uma norma cultural duradoura,
e para os brasileiros significa uma atitude bonita e efêmera.
É nesse ponto em que a educação age, ensinando valores
e boas maneiras de geração em geração, até que se tornem
normas de cultura.
Figura 27 – Japoneses dão exemplo de civilidade na copa domundo de 2014.
Fonte: band.com.br
287
Mudanças climáticas e ambientais
As noções de sustentabilidade e a prioridade da dimensão
ambiental estão diluídas no modelo de educação, que forma
para a competitividade na sociedade de consumo e gera
como um dos resultados a inércia reflexiva e a omissão
conivente perante a mudança climática e ambiental. Na
busca de minimizar essa apatia educacional, a educação
para o desenvolvimento sustentável propõe uma abordagem
holística que se consolide na prática, junto a uma reforma
íntima nas estruturas pessoais do ser humano.
Essa reforma exige abrir mão de certos confortos tecno-
lógicos imediatos, tornando o ser humano mais altruísta e
colaborativo. Por essa dificuldade de execução e pela magni-
tude do alcance de sua proposta, a educação para o desen-
volvimento sustentável é um conclame a todos. O individual
e o coletivo, o público e o privado, o governamental e o civil,
o regional e o internacional, todos são chamados a contribuir
de formas diversas e com intensidades diferentes. Como
qualquer ação cooperativa, o fracasso e o sucesso da edu-
cação para o desenvolvimento sustentável — como também
da implementação de mitigação para a mudança climática e
ambiental — dependerá muito do nível de comprometimento
coletivo. Formas de contribuição das partes sociais2 nesse
contexto podem se encontradas na tabela feita por (UNESCO,
2005).
Em 2015 termina o prazo da década da educação para o
desenvolvimento sustentável, e as mudanças conseguidas
2 Organizações governamentais, intergovernamentais, sociedade civil,organizações não governamentais e setor privado.
288
Contextos: educacionais e históricos
foram bem poucas. Avanços aconteceram, mas ainda são
ínfimos diante do quadro social e ambiental do mundo. Ao
menos a ideia foi lançada oficiosamente em 2005, e ainda
está no ar. O processo terá um engajamento maior e sur-
tirá mais efeito quando os cidadãos, de forma individual,
comprometem-se a fazer sérias reflexões. O que eu quero du-
rante minha vida nesse mundo? Somente gozar de prazeres
efêmeros trazidos pelo consumismo? Deixar a individuali-
dade se exacerbar ao ponto de impedir uma reflexão sobre
a mudança climática e ambiental que compromete o futuro
do Planeta? O início de uma nova caminhada se dá no reco-
nhecimento, pelo autoexame, de que estamos na rota errada,
e no desejo sincero de mudança. Urge a preocupação com
um amanhã melhor. A educação para o desenvolvimento
sustentável é uma boa opção de caminho para se chegar um
futuro com sustentabilidade, e só depende de se fazer as
escolhas de acordo com o sábio alerta da Deds (UNESCO,
2005, p.25):
Como pessoas, buscamos mudanças po-sitivas para nós mesmo, para nossos fi-lhos e netos; devemos fazer isto respei-tando o direito de todos de fazer o mesmo.Para isso, devemos aprender constante-mente sobre nós mesmos, nosso poten-cial, nossas limitações, nossos relacio-namentos, nossa sociedade, nosso meioambiente, nosso mundo. A educação pa-ra o desenvolvimento sustentável é umesforço vital e eterno que desafia indiví-duos, instituições e sociedades a olharpara o dia de amanhã como um dia quepertence a todos nós ou não pertenceráa ninguém.
289
Mudanças climáticas e ambientais
A sustentabilidade como meta final das educações
A sustentabilidade é superior às atitudes paliativas de
conservação isolada e ambientalismo radical, e deve ser o
objetivo central de todos os modelos educacionais citados
neste texto. O conceito de sustentabilidade é democrático
e procura atender as necessidades de todos, pautando-se
principalmente no ambiental e no social, com a seguinte
ressalva: sem o avanço da dimensão social, o conceito de
sustentabilidade se dilui.
Esse deve ser o trabalho da educação, promover o conven-
cimento das pessoas para ter atitudes socioambientais que
minimizem os efeitos da mudança climática e ambiental: lim-
par os rios poluídos e não poluir os limpos, sabendo que há
direito ético em pescar o peixe de forma sustentável para ali-
mentar a população que dele depende; ter consciência de que
sempre haverá rejeitos nas atividades humanas, mas fazer
a reciclagem eficiente do lixo produzido a nível doméstico e
empresarial; acabar com o desmatamento e reflorestar áreas
degradadas, mas fazer usufruto da silvicultura sustentável;
ter o direito de se deslocar para o trabalho e viagens, mas
saber que esse deslocamento pode ser feito com menos polui-
ção, andando a pé, bicicleta ou usando transporte de massa;
planejar famílias menores com compromisso de educá-las
para o comportamento sustentável; praticar prevenção da
poluição e de qualquer atitude degradadora como incêndios
em matas e outras atitudes similares.
290
Contextos: educacionais e históricos
Assim, a busca pela sustentabilidade ambiental passa
por mudanças de estilo de vida que, em alguns aspectos,
podem ser difíceis de colocar em prática, mas são plena-
mente realizáveis. Alguns países estão testando estratégias
sustentáveis seguindo recomendações da educação para o
desenvolvimento sustentável. Na Europa a opção escolhida
foi formar os educadores para que possam incluir o desen-
volvimento sustentável na sua atividade docente, e garantir
o acesso aos instrumentos e materiais necessários à EDS
(UNESCO, 2005). Na Hungria as Eco escolas usam a educa-
ção ambiental, a educação para democracia participativa, a
educação para uma vida mais saudável e valores de susten-
tabilidade. A Finlândia se envolveu com a Deds publicando
coletânea de artigos no ensino superior e envolvendo forte-
mente a educação de adultos (KAIVOLA; ROHWEDER, 2007).
No Japão colocaram a educação para a sustentabilidade na
formação de professores em conjunto com outros progra-
mas educacionais, como os Objetivos do Milênio. Outros
países na Ásia, como a Índia, também fizeram seu projeto
educacional relacionado com a sustentabilidade (GADOTTI,
2008).
Sem exceção, todos os tipos de educação relacionados
com o meio ambiente contribuem para o contexto geral da
mudança climática e ambiental. Cada componente educacio-
nal contribui de forma específica e globalizada para o meio
ambiente, cada um tem os seus defensores exaltando as
qualidades de seus paradigmas e apontando falhas no arca-
bouço teórico das teorias irmãs. Em meio a tantas teorias,
291
Mudanças climáticas e ambientais
ideologias e interpretações que envolvem a educação com
suas influências e limitações, com a desarmonia visível entre
os direcionamentos teóricos e a práxis cotidiana, tem-se uma
certeza: só através da prática é que as mudanças acontecem
(UICN, 2000; LIMA, 2013).
A mudança climática e ambiental será mitigada com efi-
cácia quando a contribuição da educação estiver embasada
na sustentabilidade e na ecologia profunda, realizando uma
alfabetização ecológica (CAPRA et al., 2006), pois com a prá-
tica dessa filosofia de vida a sociedade se conscientizará do
nível de sua dependência em relação aos ecossistemas do
planeta, e terá a certeza de que degradar o meio ambiente
é degradar moralmente a própria humanidade. A meta da
nova educação é conscientizar os seres humanos da pre-
mente realidade do meio ambiente, imposta pela mudança
climática e ambiental, com vistas a mudanças de foro íntimo
do homem, nas múltiplas faces das atividades antrópicas,
reflorestando o desértico coração humano ligado ao desenvol-
vimentismo, ecologizando a economia, pedagogia, educação,
cultura e ciência , projetando um futuro construído pelo
reencantamento do homem pela natureza (GADOTTI, 2008;
CAPRA, 1982).
O sucesso no objetivo de promover a evolução do nível de
consciência em relação as mudanças climáticas e ambien-
tais, e de questões que delas derivam, acontecerá com uma
junção dos saberes da educação ambiental e da educação
para o desenvolvimento sustentável, entre outros. A edu-
cação ambiental pode contribuir com suas características:
292
Contextos: educacionais e históricos
naturalista, científica e com foco de concentração no aspecto
ambiental. Unindo esses aspectos da educação ambiental às
características da educação para o desenvolvimento susten-
tável — um entendimento mais global a nível social, político
e econômico; uma independência com grupos de educado-
res; uma maior facilidade em debater com os tomadores de
decisão dos governos e das empresas —, obtêm-se uma boa
fusão das teorias.
Esse é o modelo educacional aqui defendido, um modelo
que possui nas suas premissas um desenvolvimento ambien-
talmente correto, socialmente justo, economicamente viável,
culturalmente respeitoso das diferenças e com uma exigência
de ser executável (GADOTTI, 2008). Essas premissas estão
presentes nas educações relacionadas ao meio ambiente,
com mais clareza em uma, indiretamente em outra, mas em
todas estão presentes.
A reforma proposta pela sustentabilidade em todas as
vertentes educacionais, com o objetivo de mitigar os efeitos
da mudança climática e ambiental, terá que reestruturar
as dimensões do desenvolvimento. No aspecto econômico a
educação deve apontar o benefício de se fazer o abandono de
um estruturante do capitalismo, o lucro como o centro de
tudo. Um limitador de fortuna individual e um redutor de es-
peculação do mercado financeiro devem ser implementados,
para evitar sua influência em riquezas comuns, materiais e
imateriais da humanidade, como os recursos naturais, bens
públicos, conhecimento, educação e, sobretudo, os seres
humanos.
293
Mudanças climáticas e ambientais
A dimensão econômica não deve se preocupar em só dar
comida ao ser humano, deve ir além e dar dignidade, cultura,
educação, ciência e condições de tomar decisões próprias.
Com essas condições a humanidade poderá vislumbrar a
importância da natureza e desenvolver com mais prática
os saberes ambientais, começando uma nova caminhada
em busca de realizar as mitigações climáticas e ambientais
relatadas anteriormente.
A realização dos propostas feitas acima não se faz com
revoluções extremas de paradigmas políticos — alterações de
capitalismo para comunismo ou socialismo para capitalismo
— que já aconteceram e se mostraram ineficientes. A condi-
ção de se fazer boas escolhas só será atingida pela mudança
interna movida pelo exame da nossa existência no planeta,
para o planeta e com o planeta, isto é, pela reflexão profunda
das relações antrópicas com o meio ambiente, e isso só pode
ser mediado pela educação.
Decisões com características solidárias, onde a riqueza
não precisa ser eliminada, precisam ser compartilhadas,
saindo da visão centralizadora de recursos para uma visão
descentralizadora, de uma maneira competitiva de vida para
uma forma cooperativa na vida. Somente exercendo essa
dinâmica de solidariedade é que se deixará o improfícuo
reino dos discursos teóricos e se entrará no chão real do
mundo prático, dando uma oportunidade para que nossa
humanidade não se robotize dentro dessa era tecnológica e
possa viver com ciência direcionada para a vida e a biodiver-
sidade, com tecnologia criativa em trazer conforto, mas de
294
Contextos: educacionais e históricos
forma ecológica e ambientalmente sustentável, largando o
comportamento depredador do meio ambiente sem perder o
horizonte da igualdade social, buscando sempre uma econo-
mia que traga os avanços sociais para os mais necessitados.
295
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