morte sÚbita e exercÍcio fÍsicolyceumonline.usf.edu.br/salavirtual/documentos/1318.pdf ·...

24
MORTE SÚBITA E EXERCÍCIO FÍSICO Marcos Nasinbene RA: 001200600988 Orientador Científico: Profª Ms Ana Caroline Prioli Universidade São Francisco Curso de Educação Física - Licenciatura Avenida São Francisco de Assis, 218 Jardim São José CEP 12916-900 Bragança Paulista-SP e-mail: [email protected] [email protected]

Upload: buikhanh

Post on 11-Nov-2018

223 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: MORTE SÚBITA E EXERCÍCIO FÍSICOlyceumonline.usf.edu.br/salavirtual/documentos/1318.pdf · excito-condutor cardíaco (OLIVEIRA, LEITÃO 2003). Assim, a atividade física desempenha

MORTE SÚBITA E EXERCÍCIO FÍSICO

Marcos Nasinbene RA: 001200600988

Orientador Científico: Profª Ms Ana Caroline Prioli

Universidade São Francisco

Curso de Educação Física - Licenciatura

Avenida São Francisco de Assis, 218

Jardim São José

CEP 12916-900

Bragança Paulista-SP

e-mail: [email protected]

[email protected]

Page 2: MORTE SÚBITA E EXERCÍCIO FÍSICOlyceumonline.usf.edu.br/salavirtual/documentos/1318.pdf · excito-condutor cardíaco (OLIVEIRA, LEITÃO 2003). Assim, a atividade física desempenha

RESUMO

A morte súbita relacionada à pratica esportiva é um acontecimento

trágico, que na grande maioria das vezes se deve a doenças cardiovasculares

congênitas ou adquiridas. A morte súbita relacionada ao exercício físico

somente pode ser caracterizada como tal nos casos de morte durante a

atividade física ou até uma hora após seu término. Essa morte acontece devido

a várias cardiopatias, na sua maioria de origem congênita.

Palavras Chave: Morte Súbita. Cardiopatias. Exercício Físico

ABSTRACT

The sudden death related to practices her sporting it is a tragic event,

that in the great majority of the times is due to congenital or acquired

cardiovascular diseases. The sudden death related to the physical exercise can

only be characterized as such in the cases of death during the physical activity

or until one hour after end of that. That death happens due to several heart

diseases, in majority of congenital origin.

Words Key: Sudden death. heart diseases. Physical Exercise

Page 3: MORTE SÚBITA E EXERCÍCIO FÍSICOlyceumonline.usf.edu.br/salavirtual/documentos/1318.pdf · excito-condutor cardíaco (OLIVEIRA, LEITÃO 2003). Assim, a atividade física desempenha

1

1. INTRODUÇÃO

Atualmente, devido ao estilo de vida sedentário levado pelas pessoas,

principalmente nas grandes cidades, a moda do momento é dedicar um tempo livre a

prática esportiva, geralmente nos finais de semana (PY; JACQUES, 1998).

O grande problema é que na grande maioria das vezes, essa prática esportiva

é praticada sem nenhum tipo de orientação por parte dos profissionais da área da

Educação Física. (PY; JACQUES, 1998).

Isso acaba gerando um mal, muitas vezes mais perigoso que os males

causados pelo sedentarismo: a morte súbita no esporte, que é como se chamam as

mortes ocorridas, geralmente por problemas cardíacos durante ou até uma hora

após a prática esportiva (PY; JACQUES, 1998).

Apesar de ser um mal que atinge relativamente poucas pessoas cerca de 1

para cada 165.000 (BRONZATTO; SILVA; STEIN, 2001), é preciso manter-se atento

para o risco, uma vez que geralmente as males que causam a morte súbita não

apresentam sintomas claros, limitando assim uma possibilidade de diagnóstico

precoce (BRONZATTO; SILVA; STEIN, 2001).

O estudo desse tema controverso permite uma chance a mais de se

reconhecer os grupos de risco e causas da morte súbita.

Trata-se de uma fatalidade lembrada apenas quando atinge atletas famosos,

como o caso do zagueiro Serginho, do time paulista São Caetano, morto em 2005

por um mal conhecido como miocardiopatia hipertrófica.

Esse panorama precisa ser mudado e um maior conhecimento das causas da

morte súbita torna-se imprescindível para que essa mudança seja efetuada de fato.

Page 4: MORTE SÚBITA E EXERCÍCIO FÍSICOlyceumonline.usf.edu.br/salavirtual/documentos/1318.pdf · excito-condutor cardíaco (OLIVEIRA, LEITÃO 2003). Assim, a atividade física desempenha

2

2. OBJETIVOS

O objetivo desse trabalho é entender através da revisão de literatura quais as

cardiopatias que causam a morte súbita e de que maneira essas cardiopatias podem

ser previstas, combatidas ou minimizadas.

2.1 Objetivos específicos:

Compreender as causas da morte súbita

Estudar através da revisão de literatura os meios de prevenção e combate às

cardiopatias

3. DESENVOLVIMENTO

3.1 Efeitos do exercício sobre o sistema cardiovascular

Antes de abordar especificamente as causas da morte súbita em si, deve-se

compreender primeiramente os efeitos que o exercício físico tem sobre o sistema

cardiovascular. O exercício físico, como se sabe, demanda um aumento no consumo

da energia utilizada pelo organismo.

Esse aumento no consumo de energia faz com que torne-se necessário

ajustes rápidos no fluxo sanguíneo, afetando todo o sistema cardiovascular

(MCARDLE; KATCH; KATCH, 2003).

Page 5: MORTE SÚBITA E EXERCÍCIO FÍSICOlyceumonline.usf.edu.br/salavirtual/documentos/1318.pdf · excito-condutor cardíaco (OLIVEIRA, LEITÃO 2003). Assim, a atividade física desempenha

3

Esse ajuste se dá da seguinte forma: os nervos e os metabólicos locais

atuam sobre as faixas de músculos lisos das paredes arteriolares, aumentando seu

diâmetro interno (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2003).

O aumento no diâmetro permite atender rapidamente à demandas de fluxo

sanguíneo. Além desse fator, a vaso constrição visceral e a bomba muscular

desviam um grande fluxo de sangue para dentro da circulação central (MCARDLE;

KATCH; KATCH, 2003).

Por meio desse mecanismo, o sistema cardiovascular desvia o sangue das

vísceras, levando-o até onde o mesmo é necessário no momento, ou seja, os

músculos que estão sendo utilizados no exercício físico. Essa ação obviamente

exige um esforço maior do coração (LEITE, 2000).

O coração, por sua vez, bombeia uma quantidade de sangue “x” por minuto

para o restante do corpo. Essa relação de sangue bombeado por minuto é chamada

de Débito Cardíaco. O valor máximo do débito cardíaco indica a capacidade do

sistema cardiovascular em atender as necessidades da atividade física (MCARDLE;

KATCH; KATCH, 2003).

Nesse contexto, podemos dizer que o rendimento do coração, como acontece

a qualquer bomba, depende de sua velocidade de bombeamento (freqüência

cardíaca) e da quantidade de sangue enviada a cada batida do coração (volume

sistólico da ejeção) (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2003).

O valor do débito cardíaco varia de maneira considerável no momento em que

o indivíduo se encontra em repouso. Diversos fatores influem nessa variação e entre

eles podemos elencar as condições emocionais. Modificações nas condições

emocionais fazem com que haja uma alteração no fluxo anterógrado cortical

(comando central). Essa alteração tem efeito sobre os nervos cardioaceleradores e

Page 6: MORTE SÚBITA E EXERCÍCIO FÍSICOlyceumonline.usf.edu.br/salavirtual/documentos/1318.pdf · excito-condutor cardíaco (OLIVEIRA, LEITÃO 2003). Assim, a atividade física desempenha

4

sobre os nervos que modulam os vasos de resistência arterial (MCARDLE; KATCH;

KATCH, 2003).

Durante o exercício o fluxo sanguíneo apresenta um aumento proporcional à

intensidade do exercício. Assim, o débito cardíaco aumenta de maneira muito rápida

durante a transição entre o estado de repouso e o exercício em ritmo estável. Desse

momento em diante, o débito cardíaco aumenta gradativamente, até o momento em

que atinge um ponto estável, quando o fluxo sanguíneo consegue suprir as

necessidades metabólicas exigidas pelos exercícios (MCARDLE; KATCH; KATCH,

2003).

A título de ilustração de ponto, McArdle, Katch e Katch 2003 afirmam que:

Nos homens sedentários em idade universitária, o débito cardíaco durante o

exercício máximo aumenta quatro vezes acima do nível de repouso, até um

máximo de 20 a 221 b/min. A freqüência cardíaca máxima para esses

adultos jovens é, em média, de 195 b/min [...] [...] Em contrapartida, os

atletas de endurance de classe mundial alcançam débito cardíacos de 35 a

401/min. Esse valor alto assume um maior significado quando se leva em

conta que a pessoa treinada em geral alcança uma freqüência cardíaca

ligeiramente mais baixa que uma pessoa sedentária de idade semelhante.

Assim sendo, o atleta de endurance alcança um grande débito cardíaco

máximo exclusivamente através de um grande volume sistólico de ejeção.

Isso significa que, por possuírem um maior treinamento, os atletas são

capazes de enviar mais sangue ao organismo a cada batido do coração, ou seja,

são capazes de suprir as necessidades do corpo durante o exercício com um menor

esforço para o coração (POWERS; HOWLEY, 2000).

Compreendidos esses fatores, pode-se partir para o estudo de como as várias

cardiopatias causadoras da morte súbita influenciam o funcionamento normal do

Page 7: MORTE SÚBITA E EXERCÍCIO FÍSICOlyceumonline.usf.edu.br/salavirtual/documentos/1318.pdf · excito-condutor cardíaco (OLIVEIRA, LEITÃO 2003). Assim, a atividade física desempenha

5

coração durante a atividade física e quais os principais grupos de risco atingidos por esse

mal.

3.2 Morte súbita: causas e grupos de risco

Conforme foi dito anteriormente, a morte súbita pode ser causada por

diversos fatores relacionados a várias cardiopatias. Para se entender melhor o que

podemos chamar de morte súbita relacionada a atividade física, é interessante

analisarmos a seguinte definição.

A morte súbita relacionada aos exercícios físicos pode ser definida como as

mortes que ocorrem por problemas cardíacos durante ou até uma hora após o

término de atividades físicas vigorosas (BRONZATTO; SILVA; STEIN, 2001).

Uma importante informação deve ser acrescentada a essa definição: deve-se

excluir as atividades esportivas que tenham em si risco de vida intrínseco, tais como

alpinismo, paraquedismo, automobilismo, entre outros (BRONZATTO; SILVA;

STEIN, 2001).

Com relação aos grupos de risco, é possível identificar dois grupos distintos:

indivíduos com menos de 30 anos, nos quais a principal causa da morte súbita deve-

se mais frequentemente a problemas na estrutura do miocárdio e o grupo dos

indivíduos com mais de 30 anos, nos quais a principal causa é a doença arterial

coronária (OLIVEIRA, LEITÃO 2003).

Estudos demonstram que, entre os grupos de risco citados acima, os

corredores de fundo tendem a apresentar maior risco de morte súbita que atletas de

outras modalidades esportivas (BRONZATTO; SILVA; STEIN, 2001). Evidentemente

que esse fator não isenta os atletas de outras modalidades esportivas do risco da

morte súbita, apenas demonstra um risco maior entre os corredores de fundo.

Page 8: MORTE SÚBITA E EXERCÍCIO FÍSICOlyceumonline.usf.edu.br/salavirtual/documentos/1318.pdf · excito-condutor cardíaco (OLIVEIRA, LEITÃO 2003). Assim, a atividade física desempenha

6

Estima-se que a proporção de mortes súbitas por ano é de uma para cada

165.000 entre as pessoas que praticam atividades físicas regularmente

(BRONZATTO; SILVA; STEIN, 2001). Embora seja uma baixa proporção, o risco não

pode ser completamente desconsiderado. Seria temerário afirmar que a proporção é

baixa demais para não gerar preocupação.

Entre essas mortes, é importante ressaltar que pessoas sem o hábito de uma

prática esportiva constante tem maior possibilidade de sofrer uma morte súbita do

que indivíduos com uma prática esportiva constante (OLIVEIRA, LEITÃO 2003).

Nesse contexto, pode-se dizer que o risco de se sofrer um infarto agudo do

miocárdio é de aproximadamente 5,9% no período de uma hora após o exercício

físico vigoroso (BRONZATTO; SILVA; STEIN, 2001).

No entanto, há uma queda significativa nesse risco quando a prática do

exercício físico é regular e quando a freqüência dessa atividade semanal aumenta

(BRONZATTO; SILVA; STEIN, 2001).

Assim como os demais eventos cardíacos agudos, a morte súbita apresenta

uma variação circadiana, ou seja, tem maior incidência em determinada hora do dia.

No caso da morte súbita, essa incidência é maior nas primeiras horas da manhã,

embora não há evidencias de que exercitar-se no período da manhã promova riscos

maiores que exercitar-se em qualquer outro período do dia (BRONZATTO; SILVA;

STEIN, 2001).

A atividade física não pode ser encarada como único fator causador da morte

súbita. Há todo um cenário a ser analisado, que envolve a patologia causadora, que

na maioria das vezes atua de forma silenciosa, ou seja, só dá sinais de suas

existência, no momento da morte súbita e também um momento crítico, que altera o

Page 9: MORTE SÚBITA E EXERCÍCIO FÍSICOlyceumonline.usf.edu.br/salavirtual/documentos/1318.pdf · excito-condutor cardíaco (OLIVEIRA, LEITÃO 2003). Assim, a atividade física desempenha

7

equilíbrio do sistema, de maneira que acaba desencadeando toda a cadeia de

eventos que acaba por culminar na morte súbita (OLIVEIRA, LEITÃO 2003).

Nesse contexto, a atividade física pode vir a desempenhar esse papel de

“momento crítico”, ou ainda como uma espécie de gatilho, pois, conforme visto

anteriormente, a atividade física causa diversas alterações no funcionamento do

sistema cardíaco, tal como o débito cardíaco, por exemplo (BRONZATTO; SILVA;

STEIN, 2001).

Com relação a esse gatilho, diversos outros fatores podem vir a desempenhar

esse papel, causando alterações que comprometem seriamente a função miocárdia,

seja por aumento excessivo do consumo de oxigênio sem que haja o mesmo em

quantidade suficiente para suprir a demanda, seja por desordem aguda no sistema

excito-condutor cardíaco (OLIVEIRA, LEITÃO 2003).

Assim, a atividade física desempenha um papel paradoxal nesse complexo

cenário: pode vir a produzir as alterações cardiovasculares necessárias para diminuir

o risco de morte súbita em pessoas que praticam atividades físicas regularmente,

possivelmente por proporcionar um aumento na atividade autonômica

parassimpática melhorando assim a estabilidade elétrica do coração; por outro lado,

é passível de aumentar o risco de eventos cardiovasculares agudos, especialmente

em pessoas que não praticam nenhuma atividade física regularmente,

possivelmente por ativar o sistema autonômico simpático e promover a ruptura de

placas ateroscleróticas vulneráveis (BRONZATTO; SILVA; STEIN, 2001).

Como visto anteriormente, dois grupos de risco distintos podem ser

observados com relação a morte súbita: o grupo que compreende os indivíduos com

menos de 30 anos e o grupo dos indivíduos com mais de 30 anos. No grupo com

menos de 30 anos, as doenças mais comuns são a miocardiopatia hipertrófica, em

Page 10: MORTE SÚBITA E EXERCÍCIO FÍSICOlyceumonline.usf.edu.br/salavirtual/documentos/1318.pdf · excito-condutor cardíaco (OLIVEIRA, LEITÃO 2003). Assim, a atividade física desempenha

8

todas suas variantes, anormalidades congênitas nas artérias coronárias, doença

arterial coronária e ruptura da aorta causada pela síndrome de Marfan. Outras

causas menos comuns que são dignas de notas: uso de cocaína, a displasia

arritmogênica do ventrículo direito, espasmo arterial coronário e prolapso da válvula

mitral. Em indivíduos com mais de 30 anos, a causa mais comum é a doença arterial

coronária. As valvulopatias adquiridas, o prolapso da válvula mitral a miocardiopatia

hipertrófica e outras causas diversas, correspondem a 5% das mortes súbitas

relacionadas a exercícios físicos nessa faixa etária (BRONZATTO; SILVA; STEIN,

2001).

Assim, uma vez conhecidos os fatores causais e os grupos de risco, é

pertinente conhecer mais a fundo as cardiopatias citadas, para uma melhor

compreensão de sua atuação sobre o sistema cardíaco e quais as possíveis

prevenções contras as mesmas.

3.3 Miocardiopatia hipertrófica – características e prevenção

A miocardiopatia hipertrófica ou cardiomiopatia hipertrófica é uma doença

caracterizada pela hipertrofia concêntrica do ventrículo esquerdo na ausência de

outra explicação fisiopatológica (BRONZATTO; SILVA; STEIN, 2001). Essa

hipertrofia pode afetar desigual o septo interventricular de um ventrículo esquerdo

não dilatado (BRONZATTO; SILVA; STEIN, 2001). Essa característica faz com que

seja produzida uma disfunção ventricular diastólica, devido à maior pressão de

enchimento do ventrículo esquerdo (OLIVEIRA, LEITÃO 2003).

A estimativa é de que a Miocardiapatia Hipertrófica atinja uma pequena

parcela da população, algo em torno de 0,02% e 0,2%. Por outro lado,

Page 11: MORTE SÚBITA E EXERCÍCIO FÍSICOlyceumonline.usf.edu.br/salavirtual/documentos/1318.pdf · excito-condutor cardíaco (OLIVEIRA, LEITÃO 2003). Assim, a atividade física desempenha

9

ecocardiogramas apontam ocasionalmente, algum grau de hipertrofia em cerca de

0,5% dos casos (BRONZATTO; SILVA; STEIN, 2001).

Apesar da baixa ocorrência na população, estudos demonstram que a

Miocardiapatia Hipertrófica é apontada como a principal causa da morte súbita em

atletas com menos de 30 anos (OLIVEIRA, LEITÃO 2003).

Nesse segmento, ela é apontada como responsável por cerca de 50% dos

óbitos. Um fator preocupante é que em muitos casos, a morte súbita é a primeira e

única manifestação da doença (BRONZATTO; SILVA; STEIN, 2001). Esse fator

acaba por reduzir e muito as chances de diagnóstico e tratamento.

A miocardiapatia hipertrófica atinge mais frequentemente os homens, embora

as mulheres ainda possam ser atingidas por essa cardiopatia. As mulheres, talvez

devido ao menor volume do ventrículo esquerdo, tendem a apresentar a doença

mais precocemente (BRONZATTO; SILVA; STEIN, 2001).

O grau de hipertrofia é também pode ser um fator chave na determinação do

grupo de risco. Essa afirmação é validada pelo fato de que o risco de morte súbita é

diretamente proporcional ao grau de hipertrofia ventricular esquerda, sendo a

proporção fixada em 0 para 1000 em indivíduos com espessura ventricular esquerda

com valor menor ou igual a 15 mm e de 18,2 para 1000 em indivíduos com

espessura septal maior ou igual a 30mm (BRONZATTO; SILVA; STEIN, 2001).

Por ser uma doença que praticamente não apresenta sintomas, a

miocardiopatia hipertrófica tende a passar desapercebida por toda a vida do portador

dessa cardiopatia. Nesse caso, é interessante a análise do histórico familiar, pois a

miocardiopatia hipertrófica é uma doença que tem um padrão genético autossômico

dominante em cerca de 50% dos casos. Assim, um histórico familiar de sincope, pré-

Page 12: MORTE SÚBITA E EXERCÍCIO FÍSICOlyceumonline.usf.edu.br/salavirtual/documentos/1318.pdf · excito-condutor cardíaco (OLIVEIRA, LEITÃO 2003). Assim, a atividade física desempenha

10

sincope ou morte súbita durante exercícios físicos pode servir como fator de alerta

para um possível diagnóstico desse mal (BRONZATTO; SILVA; STEIN, 2001).

Conforme dito anteriormente, a miocardiopatia hipertrófica praticamente não

apresenta sintomas específicos que permitam um diagnóstico preciso. Essa

afirmação fundamenta-se no fato que os sintomas apresentados são dispnéia,

angina e palpitações em mais de 50% dos indivíduos afetados (OLIVEIRA, 2002). O

que torna difícil o diagnóstico a partir desses sintomas é o fato de que os mesmo

ocorrem em diversas patologias cardíacas (OLIVEIRA, 2002).

Existem alguns fatores podem levar a suspeitar da miocardiopatia hipertrófica,

tais como a ocorrência de dispnéia na presença de ação sistólica normal ou a

presença de angina quando o indivíduo apresenta coronárias angiograficamente

normais (OLIVEIRA, 2002). Contudo, algo que poderia caracterizar a miocardiopatia

hipertrófica com muito mais propriedade seria o aparecimento de sincope ou pré-

sincope em indivíduos jovens e previamente assintomáticos (OLIVEIRA, 2002).

Pode-se notar entre os autores consultados um consenso no que diz respeito

à prevenção da morte súbita causada pela miocardiopatia hipertrófica. Tal consenso

seria de que a melhor forma de prevenção é a avaliação pré-participação em

exercícios físicos, observados os critérios para definição se o indivíduo encontra-se

ou não nos grupos de risco (OLIVEIRA, 2002).

Assim, observadas as características da principal cardiopatia causadora da

morte súbita, é importante analisar as características e meios de prevenção da

segunda cardiopatia mais significativa para a morte súbita.

Page 13: MORTE SÚBITA E EXERCÍCIO FÍSICOlyceumonline.usf.edu.br/salavirtual/documentos/1318.pdf · excito-condutor cardíaco (OLIVEIRA, LEITÃO 2003). Assim, a atividade física desempenha

11

3.4 Anomalias congênitas nas artérias coronárias – características

e prevenção

As anomalias congênitas coronárias correspondem a cerca de 12% a 14%

dos casos de morte súbita relacionada ao exercício físico em pessoas até 30 anos

(BRONZATTO; SILVA; STEIN, 2001). Essa anomalia, entre diversas anomalias

coronárias, é a que mais comumente leva a morte súbita (BRONZATTO; SILVA;

STEIN, 2001).

Apesar dessa cardiopatia ser a segunda em incidência de casos de morte

súbita, é uma anomalia rara, ocorrendo numa proporção de 1 para cada 300.000.

Representa uma parcela pequena no vasto universo das cardiopatias,

representando cerca de 0,24% (TAKIMURA; NAKAMOTO; HOTTA; CAMPOS;

MÁLAMO; OTSUBO, 2002).

Essa anomalia apresenta-se em duas faixas etárias: a forma infantil e a forma

adulta. A forma infantil ou imatura caracteriza-se pela má circulação colateral ou

intercoronariana, podendo resultar em infarto do miocárdio, insuficiência cardíaca, ou

morte súbita. Estima-se que 80% a 90% das crianças atingidas por essa forma da

anomalia congênita coronária morra no primeiro ano de vida. Nesses casos, devido

às diversas complicações circulatórias, a morte súbita ocorre nos dois primeiros

meses de vida (TAKIMURA; NAKAMOTO; HOTTA; CAMPOS; MÁLAMO; OTSUBO,

2002).

Já a forma adulta da doença, pode ocorrer na criança e, necessariamente no

adulto em cerca de 10% a 15% dos casos. Nessa forma, a doença se caracteriza por

uma vasta circulação colateral intercoronariana, permitindo assim uma sobrevida

relativamente longa. Há relatos de sobrevida de indivíduos que alcançaram uma

Page 14: MORTE SÚBITA E EXERCÍCIO FÍSICOlyceumonline.usf.edu.br/salavirtual/documentos/1318.pdf · excito-condutor cardíaco (OLIVEIRA, LEITÃO 2003). Assim, a atividade física desempenha

12

sobrevida de cerca de 72 anos. A doença, nesse caso, pode se apresentar de forma

assintomática, com quadros de cansaço, dispnéia durante esforço físico e angina de

peito, podendo assim levar a morte súbita (TAKIMURA; NAKAMOTO; HOTTA;

CAMPOS; MÁLAMO; OTSUBO, 2002).

Nesse quadro, a estrutura anatômica normal é afetada, fazendo com que a

artéria coronária sofra um estreitamento, devido a sua passagem entre a aorta e o

tronco pulmonar, acabando por formar um ângulo agudo (BRONZATTO; SILVA;

STEIN, 2001).

Essa configuração anatômica acaba por provocar o pinçamento da coronária

esquerda entre esses dois grandes vasos durante a situação em que produzam

contração cardíaca vigorosa (BRONZATTO; SILVA; STEIN, 2001).

Esse acontecimento cardíaco acaba por ocasionar quadros de isquemia

aguda e pelo substrato arritmogênico que esses indivíduos apresentam

(BRONZATTO; SILVA; STEIN, 2001).

Uma vez levantada a suspeita de anomalia, o ecocardiograma é a principal

ferramenta para um diagnostico preciso, embora em alguns casos, mesmo esse

exame apresenta algumas limitações (TAKIMURA; NAKAMOTO; HOTTA; CAMPOS;

MÁLAMO; OTSUBO, 2002).

Se a diagnosticada a tempo, a intervenção cirúrgica se faz necessária, para

correção do defeito e para que se evitem possíveis seqüelas próprias da história

natural da doença, embora muitas vezes, nem mesmo a intervenção cirúrgica afaste

por completo o risco de morte súbita (TAKIMURA; NAKAMOTO; HOTTA; CAMPOS;

MÁLAMO; OTSUBO, 2002).

Page 15: MORTE SÚBITA E EXERCÍCIO FÍSICOlyceumonline.usf.edu.br/salavirtual/documentos/1318.pdf · excito-condutor cardíaco (OLIVEIRA, LEITÃO 2003). Assim, a atividade física desempenha

13

Embora as anomalias congênitas nas artérias coronárias sejam a segunda

causa das mortes súbitas, existe outra cardiopatia de origem coronária que também

pode vir a causar a morte súbita, como mostrado a seguir.

3.5 Aterosclerose coronariana prematura – características e

prevenção

A aterosclerose coronariana prematura corresponde, de acordo com estudos

a cerca de 10% das mortes súbitas em jovens praticantes de exercícios físicos. Essa

cardiopatia normalmente causa isquemia miocárdica e infarto do miocárdio,

geralmente na segunda ou na terceira década de vida (BRONZATTO; SILVA;

STEIN, 2001).

Uma das causas mais comuns para essa aterosclerose é formação de placas

de lipídios nas artérias. Um acúmulo de lipídios sugere dislipidemia, condição na

qual há uma concentração anormal de lipídios e lipoproteínas no sangue, condição

essa mais facilmente encontrada em pessoas acima do peso. Dessa, os indivíduos

apresentando sobrepeso com histórico familiar de aterosclerose coronariana

prematura tem uma chance mais alta de desenvolver a doença (ROMALDI; ISSLER;

CARDOSO; DIAMENT;FORTI, 2004).

Um dos fatores que podem servir de alerta da presença de tal cardiopatia é a

aparição de xantomas (lesão cutânea amarelada, causada pelo acumulo de lipídios

no local, que pode apresentar-se na forma de placa, nódulo ou pápula) tendinosos,

bem como um histórico familiar positivo de tal doença, permitindo uma intervenção

rápida a fim de se evitar a morte súbita (BRONZATTO; SILVA; STEIN, 2001).

Page 16: MORTE SÚBITA E EXERCÍCIO FÍSICOlyceumonline.usf.edu.br/salavirtual/documentos/1318.pdf · excito-condutor cardíaco (OLIVEIRA, LEITÃO 2003). Assim, a atividade física desempenha

14

Embora infartos e pinçamentos da artérias sejam as principais causas do

morte súbita, como visto anteriormente, há ainda problemas com a ruptura de

artérias, algumas importantíssimas como a aorta. Uma das principais causas dessa

ruptura da aorta será tratada no capitulo seguinte.

3.6 Ruptura da aorta na síndrome de Marfan – características e

prevenção

A síndrome de Marfan é uma doença autossômica dominante,

causadora de uma mutação no gene da fibrilina – 1 (BRONZATTO; SILVA; STEIN,

2001).

Essa doença possui uma imensa variabilidade, podendo afetar os sistema

músculo-esquelético, ocular e cardiovascular (BRONZATTO; SILVA; STEIN, 2001).

As manifestações mais comuns da síndrome de Marfan incluem

aracnodactilia, pectus excavatum (tórax côncavo), frouxidão ligamentar, palato

estreito e alto, miopia, luxação do cristalino, prolapso da válvula mitral e dilatação da

raiz aortica (BRONZATTO; SILVA; STEIN, 2001). Assim, esses sinais externos

podem servir como alerta para o profissional de educação física da provável

presença da síndrome de Marfan, ou seja, indica que o individuo é passível de

possuir doenças cardíacas que podem leva-lo à morte súbita.

O prolapso da válvula mitral será tratado mais a fundo posteriormente. Quanto

à dilatação da raiz aortica, pode resultar em regurgitação aortica, com predisposição

para necrose da camada média da aorta, favorecendo a dissecção e a ruptura da

aorta, levando assim à morte súbita (BRONZATTO; SILVA; STEIN, 2001).

Page 17: MORTE SÚBITA E EXERCÍCIO FÍSICOlyceumonline.usf.edu.br/salavirtual/documentos/1318.pdf · excito-condutor cardíaco (OLIVEIRA, LEITÃO 2003). Assim, a atividade física desempenha

15

A dilatação e regurgitação da aorta podem na maioria das vezes ser

identificada através de ausculta, entretanto, cerca de 40% dos casos não podem ser

identificados dessa maneira. Nesses casos, mais uma vez o ecocardiograma é

ferramenta fundamental para a confirmação da patologia. Nesses casos, a

intervenção cirúrgica pode se fazer necessária (BRONZATTO; SILVA; STEIN, 2001).

A ruptura da aorta na síndrome de Marfan é responsável por cerca de 7% das

mortes súbitas de praticantes de atividades físicas (BRONZATTO; SILVA; STEIN,

2001).

Assim como a síndrome de Marfan e outras cardiopatias, a causa de

distúrbios no coração é genética. Essa característica genética é mantida na

cardiopatia seguinte, como visto a seguir.

3.7 Displasia arritmogênica do ventrículo direito – características e

prevenção

A displasia arritmogênica do ventrículo direito é uma cardiopatia de origem

autossômica dominante, que originalmente foi identificada em pessoas submetidas a

cirurgia para tratamento de taquicardia ventricular (ELIAS; TONET; FRANK;

FONTAINE, 1998).

Essa cardiopatia trata-se de uma alteração estrutural do miocárdio, que se

caracteriza por uma progressiva substituição das células miocárdicas sadias por

células de um tecido fribrogorduroso, interferindo assim no funcionamento correto do

músculo cardíaco, alterando de maneira fatal o ritmo das batidas do coração (ELIAS;

TONET; FRANK; FONTAINE,1998).

Page 18: MORTE SÚBITA E EXERCÍCIO FÍSICOlyceumonline.usf.edu.br/salavirtual/documentos/1318.pdf · excito-condutor cardíaco (OLIVEIRA, LEITÃO 2003). Assim, a atividade física desempenha

16

Pode-se identificar mais freqüentemente a displasia arritmogênica do

ventrículo direito em adultos jovens, predominantemente em indivíduos do sexo

masculino (ELIAS; TONET; FRANK; FONTAINE, 1998).

A displasia arritmogênica do ventrículo direito é a provável causadora de

cerca de 5,9% das mortes súbitas, sendo que, como acontece com a miocardiopatia

hipertrófica, muitas vezes a morte súbita é a primeira e única manifestação da

doença (ELIAS; TONET; FRANK; FONTAINE, 1998).

As alterações de ritmo têm sua origem em estruturas que normalmente não

existem dentro do ventrículo direito, que normalmente encontra-se dilatado e

recoberto pelo tecido fibro-adiposo. Essas alterações encontram-se em localização e

quantidade maior que o normal, sendo facilmente visualizadas através de

ecocardiogramas. Outra alteração digna de nota freqüentemente presente nesses

ecocardiogramas é a inversão das ondas T (ELIAS; TONET; FRANK; FONTAINE,

1998).

A presença de alguns sintomas durante a prática de exercícios físicos pode

alertar para a presença dessa cardiopatia, tais como palpitações, tonturas e sincope,

geralmente ocasionadas devido à taquicardias provocadas pela displasia

arritmogênica do ventrículo direito. Outro fator importante a ser considerado é a

antecedência familiar de tal cardiopatia, uma vez que trata-se de uma doença de

origem autossômica dominante (ELIAS; TONET; FRANK; FONTAINE,1998).

Um fato curioso, e provavelmente derivado dessa origem genética da doença

é a alta incidência da mesma na região de Veneto, na Itália. Nessa região, a maior

parte das mortes súbitas relacionadas ao exercício físico se devem da displasia

arritmogênica do ventrículo direito (BRONZATTO; SILVA; STEIN, 2001).

Page 19: MORTE SÚBITA E EXERCÍCIO FÍSICOlyceumonline.usf.edu.br/salavirtual/documentos/1318.pdf · excito-condutor cardíaco (OLIVEIRA, LEITÃO 2003). Assim, a atividade física desempenha

17

A displasia arritmogênica do ventrículo direito, assim como as demais

cardiopatias elencadas até o momento tende a causar morte súbita em pessoas com

menos de 30 anos. A próxima cardiopatia irá tratar da causa das mortes após essa

faixa etária, conforme tratado a seguir.

3.8 Doença arterosclerótica coronária – características e prevenção

Esse tipo de cardiopatia costuma afetar cerca de 10% dos praticantes de

exercícios físicos com menos de 30 anos, risco esse que se encontra dentro da

normalidade para a população em geral. O risco se torna muito maior para os

praticantes de exercícios físicos com mais de 30 anos, onde passa a apresentar o

índice de cerca de 77% (BRONZATTO; SILVA; STEIN, 2001).

Cerca de 1/3 dos praticantes de exercícios físicos que vêm a morrer depois

da pratica esportiva têm a morte súbita como primeira manifestação da doença

aterosclerótica coronária (BRONZATTO; SILVA; STEIN, 2001). Isso significa que um

montante considerável de indivíduos sequer tem a chance tratar a doença, vindo a

falecer sem nem mesmo desconfiar do risco que corre.

Entretanto, apesar desse 1/3 que nem sequer imaginam que sofrem dessa

cardiopatia, cerca de metade das pessoas que morrem subitamente durante

exercícios físicos experimentam algum tipo de sintoma padrão já sofrem de algum

tipo de doença coronária prévia (BRONZATTO; SILVA; STEIN, 2001).

A doença aterosclerótica coronariana é ainda a responsável por um tipo de

morte súbita, mais comumente entre os homens, curiosamente ligada ao esporte.

Muitos homens morrem em frente a TV ou em estádios, enquanto assistem aos

eventos esportivos (BRONZATTO; SILVA; STEIN, 2001).

Page 20: MORTE SÚBITA E EXERCÍCIO FÍSICOlyceumonline.usf.edu.br/salavirtual/documentos/1318.pdf · excito-condutor cardíaco (OLIVEIRA, LEITÃO 2003). Assim, a atividade física desempenha

18

Enquanto a doença aterosclerótica prematura atinge com mais freqüência

homens, outro causador de morte súbita atinge indistintamente homens e mulheres.

Trata-se do prolapso da válvula mitral.

3.9 Prolapso da válvula mitral – características e prevenção

Embora o prolapso da válvula mitral seja freqüentemente apontado como uma

das causas da morte súbita relacionada ao exercício físico, apenas uma pequena

porcentagem de pessoas, algo por volta de 3% morre efetivamente por essa razão

(BRONZATTO; SILVA; STEIN, 2001). Considerando essa porcentagem, o risco

percentual é baixo, embora não totalmente ausente (BRONZATTO; SILVA; STEIN,

2001).

Devido a esse risco, ainda que pequeno, é preciso estar atento para alguns

sinais, que podem indicar a presença dessa cardiopatia, tais como: sincope, dor

torácica incapacitante, arritmias ventriculares complexas, cardiomegalia moderada

devido a regurgitação valvular mitral ou caso algum familiar tenha apresentado morte

súbita.

Nesses casos, é interessante que a prática dos exercícios físicos seja

adequadamente avaliada, procurando uma atuação em parceria entre o médico e o

profissional de educação física para esse fim (BRONZATTO; SILVA; STEIN, 2001).

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como é fato conhecido que o exercício físico pode ter papel contributivo no

acontecimento da morte súbita em determinados tipos de indivíduos, a reação mais

costumeira de muitos médicos sem o devido preparo é desaconselhar por completo

Page 21: MORTE SÚBITA E EXERCÍCIO FÍSICOlyceumonline.usf.edu.br/salavirtual/documentos/1318.pdf · excito-condutor cardíaco (OLIVEIRA, LEITÃO 2003). Assim, a atividade física desempenha

19

a prática de exercícios físicos, com o intuito de diminuir o risco. Esse comportamento

por parte da classe médica acaba por refletir um aspecto importante a ser

observado, que é insistência dessa classe em se envolver na prescrição/proibição da

prática de atividades físicas, atitude essa cabível apenas ao profissional de

educação física. Nesse tipo de situação, talvez uma ação conjunta pudesse ser

levada em consideração.

Por conta disso, esse tipo de atitude por parte desses representantes da

classe médica mostra-se equivocada, já que embora eventualmente um ou outro

individuo possa vir a sofrer a morte súbita durante a pratica de exercícios físico, a

grande maioria dos indivíduos pode praticar exercícios físicos sem problemas, ou

seja, a chance real da morte súbita acontecer durante essas atividades é por demais

pequena.

Apenas esse fator já seria suficiente para que a classe médica não

desaconselhasse a pratica esportiva. Entretanto, há ainda uma questão a se

considerar. É sabido que na grande maioria das vezes a prática de exercícios

regularmente tem ação preventiva contra acontecimentos cardíacos agudos durante

atividades físicas não planejadas, e por isso mesmo impossíveis de serem evitadas.

Uma questão interessante a ser abordada é que, embora o risco efetivo de

morte súbita durante a prática de exercícios físicos seja pequeno, o risco existe e

deve ser considerado. Nesse momento, é imprescindível a observação atenta por

parte do profissional de educação física aos possíveis sinais demonstrado pelo

aluno durante pratica esportiva, principalmente se o aluno em questão encaixa-se no

perfil de algum dos grupos de risco. Para que isso ocorra de maneira efetiva, o

profissional de educação física não pode ser furtar da responsabilidade de conhecer

Page 22: MORTE SÚBITA E EXERCÍCIO FÍSICOlyceumonline.usf.edu.br/salavirtual/documentos/1318.pdf · excito-condutor cardíaco (OLIVEIRA, LEITÃO 2003). Assim, a atividade física desempenha

20

esses grupos de risco, podendo assim estabelecer padrões que o auxiliem nesse

sentido.

Assim, é importante conhecer o perfil e o histórico do individuo em questão,

saber seu histórico familiar, se alguma vez apresentou sincope durante a realização

de um esforço físico, se apresenta dor torácica durante a realização de atividades

que aumentem o consumo miocárdico de oxigênio, se há presença de algum familiar

que possua ou tenha possuído alguma cardiopatia e em caso de resposta positiva,

qual a idade desse individuo quando veio a falecer. A resposta a essas questões

aliada ao exame físico e ao eletrocardiograma em geral podem oferecer condições

para o individuo ser liberado ou não para a pratica de exercícios físicos.

Uma vez identificadas, as pessoas portadoras de alguma das cardiopatias

citadas acima deve ser aconselhada de acordo com sua condição. Usualmente, os

indivíduos que possuem cardiopatias consideradas de alto risco, são

desaconselhadas a praticarem exercícios físico, a fim de se evitar complicações

maiores.

Com base nesses dados, decisão de desaconselhar ou não a prática de

exercícios físicos deve ser criteriosa, fundamentada em um risco realmente

presente. Uma avaliação errônea pode privar um individuo em condições de utilizar

uma medida simples e eficaz para evitar o risco de outras doenças cardiovasculares.

Assim, o exercício físico regular pode produzir diversos benefícios, não

apenas sobre a doença arterial coronária, mas também sobre seus fatores de risco.

Dessa forma, faz-se extremamente necessária uma parceria entre os campos

da medicina e da educação física, ambos atuando em uníssono, e trocando

informações para que haja uma constante atualização quanto às causas da morte

súbita relacionada ao exercício físico e suas diversas formas de apresentação.

Page 23: MORTE SÚBITA E EXERCÍCIO FÍSICOlyceumonline.usf.edu.br/salavirtual/documentos/1318.pdf · excito-condutor cardíaco (OLIVEIRA, LEITÃO 2003). Assim, a atividade física desempenha

21

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRONZATTO, Ha; SILVA, RP da; STEIN, R. Morte Súbita Relacionada ao Exercício

Físico. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, Rio Grande do Sul, vol. 7, nº 5,

p. 163-169, Set/Out 2001.

ELIAS, Jorge et al. Displasia Arritmogênica do Ventrículo Direito. Arquivo Brasileiro

de Cardiologia, São Paulo, vol 70, nº 6, p.449-456,1998.

LEITE, Paulo Fernando; Fisiologia do Exercício – Ergonomia e Condicionamento

Físico – Cardiologia Desportiva. 4ª Edição. Robe Editorial. São Paulo 2000.

MCARDLE, Willian D; KATCH, Frank I; KATCH, Victor L; Fisiologia do Exercício –

Energia, Nutrição e Desempenho Humano. 5ª Edição. Editora Guanabara Koogan

S.A. Rio de Janeiro, 2003.

OLIVEIRA, Marco Aurélio Brazão de; Cardiomiopatia Hipertrófica, atividade física e

morte súbita. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, Rio de Janeiro, vol 8, nº

1, p. 20-25, Jan/Fev 2002.

OLIVEIRA, Marco Aurélio Brazão de; LEITÃO, Marcelo Bichels. Morte súbita no

exercício e no esporte. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, Rio de Janeiro,

vol 11, nº 1, p.01-08, agosto 2005.

Page 24: MORTE SÚBITA E EXERCÍCIO FÍSICOlyceumonline.usf.edu.br/salavirtual/documentos/1318.pdf · excito-condutor cardíaco (OLIVEIRA, LEITÃO 2003). Assim, a atividade física desempenha

22

POWERS, Scott K.; HOWLEY, Edward T; Fisiologia do Exercício – Teoria e

Aplicação ao Condicionamento e Desempenho. 3ª Edição. Editora Manole Ltda.

Barueri, SP, 2000.

PY, Luiz Alberto; JACQUES, Haroldo; A Linguagem da Saúde. 1ª Edição. Editora

Campus Ltda. Rio de Janeiro, 1998.

ROMALDI, Ceres C. et al. Fatores de Risco para aterosclerose em crianças e

adolescentes com história familiar de doença arterial coronariana prematura. Jornal

de Pediatria, Rio de Janeiro, vol 80, nº 2, p.135-140, 2004.

TAKIMURA, Celso K. et al. Origem Anômala da Artéria Coronária Esquerda do

Tronco Pulmonar. Relato de caso de um adulto. Arquivo Brasileiro de Cardiologia,

São Paulo, vol 78, nº 3, p. 309-311, 2002.