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Morangueiro Irrigado Aspectos técnicos e ambientais do cultivo Luís Carlos Timm Vítor Emanuel Quevedo Tavares Carlos Reisser Junior Carina Costa Estrela (Editores) Morangueiro Irrigado: aspectos técnicos e ambientais do cultivo

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Morangueiro IrrigadoAspectos técnicos e ambientais do cultivo

Luís Carlos Timm

Vítor Emanuel Quevedo Tavares

Carlos Reisser Junior

Carina Costa Estrela(Editores)

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Morangueiro Irrigado

Aspectos técnicos e ambientais do cultivo

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Luís Carlos Timm

Vitor Emanuel Quevedo Tavares

Carlos Reisser Júnior

Carina Costa Estrela

Editores

Morangueiro Irrigado

Aspectos técnicos e ambientais do cultivo

Pelotas – RS – Brasil

Universidade Federal de Pelotas

2009

Page 5: Morangueiro irrigado-completo+capa

Obra publicada pela Universidade Federal de Pelotas Reitor: Prof. Dr. Antonio Cesar Gonçalves Borges Vice-Reitor: Prof. Manoel Luiz Brenner de Moraes Pró-Reitor de Extensão e Cultura: Prof. Dr. Luiz Ernani Gonçalves Ávila Pró-Reitor de Graduação: Prof. Dra. Eliana Póvoas Brito Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação: Prof. Dr. Manoel de Souza Maia Pró-Reitor Administrativo: Eng. Francisco Carlos Gomes Luzzardi Pró-Reitor de Planejamento e Desenvolvimento: Prof. Ms. Élio Paulo Zonta Pró-Reitor de Recursos Humanos: Admin. Roberta Trierweiler Pró-Reitor de Infra-Estrutura: Mario Renato Cardoso Amaral Pró-Reitoria de Assistência Estudantil: Assistente Social Carmen de Fátima de Mattos do Nascimento

CONSELHO EDITORIAL

Profa. Dra. Carla Rodrigues Prof. Dr. José Estevan Gaya Prof. Dr. Carlos Eduardo Wayne Nogueira Profa. Dra. Luciane Prado Kantorski Profa. Dra. Cristina Maria Rosa Prof. Dr. Luiz Alberto Brettas Profa. Dra. Flavia Fontana Fernandes Profa. Dra. Maria Tereza Fernandes Pouey Profa. Dra. Francisca Ferreira Michelon Prof. Dr. Volmar Geraldo da Silva Nunes

Editora e Gráfica Universitária R Lobo da Costa,447 – Pelotas, RS – CEP 96010-150 Fone/fax:(53)3227 8411 e-mail: [email protected] Diretor da Editora e Gráfica Universitária: Prof. Dr. Volmar Geraldo da Silva Nunes Gerência Operacional: Bel. Daniela da Silva Pieper Chefe da Seção Gráfica: Carlos Gilberto Costa da Silva

Impresso no Brasil Edição: 2009

© Copyright 2009 by – Luís Carlos Timm, Vitor Emanuel Quevedo Tavares, Carlos Reisser Júnior, Carina Costa

Estrela

ISBN: 978-85-7192-612-7 Tiragem: 150 exemplares Capa, layout e editoração eletrônica: Vitor Emanuel Quevedo Tavares

Dados de catalogação na fonte:

(Marlene Cravo Castillo – CRB 10/744)

M829 Morangueiro irrigado: aspectos técnicos e ambientais do cultivo / editado [por] Luís Carlos Timm.../et al./. Pelotas : Ed. da Universidade Federal de Pelotas, 2009 163 p. : il. 1. Irrigação. 2. Qualidade da água. 3. Atributos do solo.

4. Sistemas de produção de morango. 5. Fragaria x ananassa Duch. I. Timm, Luís Carlos. II Tavares, Vitor Emanuel Quevedo. III Reisser Júnior, Carlos. IV. Estrela, Carina Costa. V. Título.

CDD 634.75

Apoio:

Processo CNPq/ CT-Agronegócio nº 554299/2006-2

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Informações sobre os Autores e Co-Autores

Luís Carlos Timm - Eng. Agrícola, Prof. Adjunto, Depto de Engenharia Rural, Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel, UFPel, Cx. Postal 354, Pelotas-RS, 96001-970, Bolsista de Produtividade em Pesquisa CNPq – Nível 2, [email protected].

Vítor Emanuel Quevedo Tavares - Eng. Agrícola, Prof. Associado, Depto de Engenharia Rural, Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel, UFPel, Cx. Postal 354, Pelotas-RS, 96001-970, Bolsista PET/SESu/MEC, [email protected].

Carlos Reisser Júnior - Eng. Agrícola, Pesquisador, Embrapa Clima Temperado, Cx. Postal 403, Pelotas-RS, 96001-970, [email protected].

Carina Costa Estrela - Ecóloga, MSc. em Ciências, Pelotas-RS. [email protected]

Denise de Souza Martins – Eng. Agrônoma, Mestranda no PPGSPAF, Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel, UFPel, Cx. Postal 354, Pelotas-RS, 96001-970, Bolsista CAPES.

André Samuel Strassburger – Eng. Agrônomo, Doutorando no PPGSPAF, Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel, UFPel, Cx. Postal 354, Pelotas-RS, 96001-970, Bolsista FAPEG.

Roberta Marins Nogueira Peil – Eng. Agrônoma, Profa. Associada, Depto de Fitotecnia, Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel, UFPel, Cx. Postal 354, Pelotas-RS, 96001-970.

José Ernani Schwengber – Eng. Agrônomo, Pesquisador, Embrapa Clima Temperado, Estação Experimental Cascata, Cx. Postal 403, Pelotas-RS, 96001-970.

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Leonardo Göetzke Furtado – Eng. Agrônomo, Depto de Solos, Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel, UFPel, Cx. Postal 354, Pelotas-RS, 96001-970.

Luís Carlos Philipsen – Técnico Agrícola, EMATER – Escritório Municipal de Turuçu-RS.

Luís Eduardo Correa Antunes - Eng. Agrônomo, Pesquisador, Embrapa Clima Temperado, Cx. Postal 403, Pelotas-RS, 96001-970.

Noel Gomes da Cunha - Eng. Agrônomo, Pesquisador, Embrapa Clima Temperado, Cx. Postal 403, Pelotas-RS, 96001-970.

Maria Laura Turino Mattos – Eng. Agrônoma, Pesquisadora, Embrapa Clima Temperado, Cx. Postal 403, Pelotas-RS, 96001-970.

Leandro Sanzi Aquino – Eng. Agrônomo, Mestrando do PPGA-Solos, Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel, UFPel, Cx. Postal 354, Pelotas-RS, 96001-970, Bolsista CAPES.

Gabrieli da Cunha Pereira – Tecnóloga em Gestão Ambiental, Pelotas-RS.

Manoela Terra de Almeida – Acadêmica do Curso de Química Ambiental, Universidade Católica de Pelotas, Pelotas-RS.

Carla Denize Venzke – Tecnóloga em Gestão Ambiental, Pelotas-RS.

Adilson Luís Bamberg – Eng. Agrícola, Doutorando do PPGA-Solos, Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel, UFPel, Cx. Postal 354, Pelotas-RS, 96001-970, Bolsista CAPES.

Eloy Antonio Pauletto – Eng. Agrônomo, Prof. Associado, Depto de Solos, Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel, UFPel, Cx.

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Postal 354, Pelotas-RS, 96001-970, Bolsista de Produtividade em Pesquisa CNPq – Nível 2.

Luiz Fernando Spinelli Pinto – Geólogo, Prof. Associado, Depto de Solos, Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel, UFPel, Cx. Postal 354, Pelotas-RS, 96001-970.

Álvaro Luiz Carvalho Nebel – Eng. Agrícola, Doutorando do PPGA-Solos, Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel, UFPel, Cx. Postal 354, Pelotas-RS, 96001-970.

Wildon Panziera – Graduando em Agronomia, Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel, UFPel, Cx. Postal 354, Pelotas-RS, 96001-970.

Gláucia Oliveira Islabão – Química, Doutoranda do PPGA-Solos, Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel, UFPel, Cx. Postal 354, Pelotas-RS, 96001-970.

Ledemar Carlos Vahl – Eng. Agrônomo, Prof. Titular, Depto de Solos, Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel, UFPel, Cx. Postal 354, Pelotas-RS, 96001-970.

Danilo Dufech Castilhos – Eng. Agrônomo, Prof. Associado, Depto de Solos, Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel, UFPel, Cx. Postal 354, Pelotas-RS, 96001-970.

Rodrigo Bubolz Prestes – Graduando em Agronomia, Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel, UFPel, Cx. Postal 354, Pelotas-RS, 96001-970, Bolsista BIC FAPERGS.

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Colaboradores

• Sérgio Leal Fernandes (DER/FAEM/UFPel-Pelotas-RS)

• Eroni Emilio Konrad (Secretaria da Agricultura-Turuçu-RS)

• Lauro Francisco Schneid (EMATER – Escritório Municipal de Turuçu-RS)

• Dalgisa Philipsen (EMATER – Escritório Municipal de Turuçu-RS)

• Michel David Gerber (CEFET/RS-Pelotas-RS)

• Fioravante Jaekel dos Santos (DER/FAEM/UFPel-Pelotas-RS)

• Jocelito Saccol de Sá (CEFET/RS-Pelotas-RS)

• João Carlos Medeiros Madail (Embrapa Clima Temperado-Pelotas-RS)

• João Soares Viegas Filho (DEA/FEA/UFPel-Pelotas-RS)

• Marco Moro (EMATER – Escritório Regional de Pelotas-RS)

• Gilnei Manke (Eng. Agrônomo-Pelotas-RS)

• Clênio Nailto Pillon (Embrapa Clima Temperado-Pelotas-RS)

• Marilice Cordeiro Garrastazu (Embrapa Clima Temperado-Pelotas-RS)

• Orlando Pereira Ramirez (DEA/FEA/UFPel-Pelotas-RS)

• Endrigo Pereira Lima (CEFET/RS-Pelotas-RS)

• Gabriel Rodrigues Bruno (CEFET/RS-Pelotas-RS)

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Agradecimentos

Para a concretização do presente trabalho, os autores receberam apoio financeiro bem como a concessão de bolsas de estudo do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, CNPq. Também agradecem a CAPES e a FAPERGS pela concessão de bolsas de estudo.

Os autores agradecem aos produtores de morango que contribuíram para a realização do projeto intitulado “VARIABILIDADE ESPACIAL E TEMPORAL DA QUALIDADE DA ÁGUA DE IRRIGAÇÃO E SEU IMPACTO AMBIENTAL NO SISTEMA FAMILIAR DE PRODUÇÃO DE MORANGO DO PÓLO PRODUTIVO DO MUNICÍPIO DE TURUÇU-RS”, especialmente aos produtores Abel Winter, Arnildo Weinert, Cassio Peter, Dioni Stern, Ermindo Milech, Fábio Zitzke, Gilso Zuge, Ildo Beiersdorf, Paulo Scherdien, Paulo Tuchtenhagen, Pedro Bonow, Silmo Stocker, Teodorico Kabke, Valdenir Hartwig e Valdomiro de Souza, os quais pertencem a Associação dos Produtores de Morango do Município de Turuçu-RS.

A todos, NOSSO MUITO OBRIGADO pela colaboração e compreensão ao longo do projeto.

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SUMÁRIO

CONSIDERAÇÕES INICIAIS ............................................ 14

CAPÍTULO 1 - FISIOLOGIA DA PRODUÇÃO DE MORANGUEIRO ........................................................... 16

1.1 INTRODUÇÃO ................................................................. 16

1.2 CARACTERÍSTICAS DA PLANTA ...................................... 17

1.2.1 Botânica ............................................................... 17

1.2.2 Sistema radicular .................................................. 18

1.2.3 Fisiologia da planta .............................................. 20

1.2.4 Exigência hídrica .................................................. 22

1.3 CULTIVARES .................................................................. 23

1.3.1 Características das cultivares utilizadas em Turuçu-RS ............................................................ 24

1.3.2 Novas cultivares para a Região Sul ...................... 25

1.4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................ 27

1.5 LITERATURA CITADA ..................................................... 28

CAPÍTULO 2 - SISTEMA DE PRODUÇÃO DO MORANGUEIRO: FATORES QUE INFLUENCIAM O MANEJO DA IRRIGAÇÃO............... 30

2.1 INTRODUÇÃO ................................................................. 30

2.2 UTILIZAÇÃO DE COBERTURA DO SOLO ........................... 31

2.2.1 Materiais de origem vegetal ................................. 32

2.2.2 Materiais sintéticos .............................................. 33

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2.2.3 Influência da cobertura do solo no aporte de água ................................................................. 33

2.3 UTILIZAÇÃO DE TÚNEIS ................................................. 34

2.3.1 Manejo dos túneis ................................................ 34

2.3.2 Influência dos túneis de cultivo sobre a irrigação ............................................................. 36

2.4 ESCOLHA DO SISTEMA DE IRRIGAÇÃO ............................ 36

2.4.1 Aspersão ............................................................... 36

2.4.2 Gotejamento ......................................................... 37

2.4.3 Influência dos sistemas de irrigação na incidência de doenças e pragas ............................ 38

2.5 FERTIRRIGAÇÃO ............................................................ 41

2.5.1 Aspectos nutricionais do morangueiro ................. 42

2.5.2 Tipos e fontes de nutrientes para a fertirrigação .. 44

2.5.3 Utilização de soluções de origem orgânica .......... 45

2.5.4 Estrutura necessária .............................................. 46

2.5.5 Manejo da fertirrigação ........................................ 47

2.6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................ 48

2.7 LITERATURA CITADA ..................................................... 48

CAPÍTULO 3 - SOLO E MANEJO DA ÁGUA ................ 51

3.1 O SOLO .......................................................................... 51

3.2 ATRIBUTOS FÍSICO-HÍDRICOS DO SOLO .......................... 54

3.2.1 Textura do solo ..................................................... 54

3.2.2 Estrutura do solo .................................................. 55

3.3 ÁGUA NO SOLO .............................................................. 59

3.3.1 Umidade do solo .................................................. 59

3.3.2 Retenção de água no solo ..................................... 61

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3.3.3 Capacidade de campo e ponto de murcha permanente ........................................................... 62

3.3.4 Capacidade de água disponível ............................ 62

3.3.5 Armazenamento de água no solo ......................... 63

3.4 DETERMINAÇÃO DA UMIDADE DO SOLO ......................... 65

3.5 MANEJO DA ÁGUA ......................................................... 69

3.5.1 Produção de mudas .............................................. 69

3.5.2 Produção de frutos ............................................... 72

3.5.3 Resposta do morangueiro à disponibilidade hídrica ................................................................... 80

3.5.4 Manejo da irrigação localizada ............................ 84

3.5.5 Fertirrigação ......................................................... 87

3.6 LITERATURA CITADA ..................................................... 88

CAPÍTULO 4 - QUALIDADE DA ÁGUA ........................ 92

4.1 A ÁGUA USADA NA AGRICULTURA ................................. 92

4.1.1 A água usada na cultura do morangueiro ............. 94

4.2 QUALIDADE DA ÁGUA USADA NA IRRIGAÇÃO ................ 95

4.2.1 Qualidade da água usada na irrigação localizada ............................................................. 97

4.3 FONTES DE CAPTAÇÃO DE ÁGUA PARA IRRIGAÇÃO ........ 99

4.4 ESTUDO DE CASO: QUALIDADE DA ÁGUA USADA PARA IRRIGAÇÃO DO MORANGUEIRO NO MUNICÍPIO DE TURUÇU-RS ........................................................... 100

4.4.1 Caracterização e origem das fontes de captação de água para irrigação ......................... 103

4.4.2 Potencial de risco de danos ao sistema de irrigação do morangueiro ................................... 106

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4.4.3 Variabilidade espacial e temporal da qualidade da água de irrigação ........................... 109

4.5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................. 110

4.6 LITERATURA CITADA ................................................... 111

CAPÍTULO 5 - QUALIDADE FÍSICO-HÍDRICA DO SOLO E A PRODUÇÃO DE MORANGO................. 115

5.1 QUALIDADE DO SOLO ................................................... 115

5.1.1 Solos do Município de Turuçu-RS ..................... 118

5.1.2 Qualidade do solo e a produção de morango ..... 121

5.2 ESTUDO DE CASO: INDICADORES DA QUALIDADE FÍSICO-HÍDRICA DO SOLO ............................................. 125

5.2.1 Estabilidade de agregados em água: distribuição de agregados do solo em classes de tamanho e diâmetro médio ponderado (DMP) .................... 125

5.2.2 Porosidade do solo ............................................. 130

5.2.3 Curva de retenção de água no solo ..................... 132

5.2.4 Capacidade de Água Disponível (CAD) ............ 134

5.3 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................. 135

5.4 LITERATURA CITADA ................................................... 136

CAPÍTULO 6 - INDICADORES QUÍMICOS E MICROBIOLÓGICOS DO SOLO NA PRODUÇÃO DE MORANGO .................................................................. 140

6.1 INDICADORES DE QUALIDADE DO SOLO ........................ 140

6.1.1 Indicadores químicos ......................................... 141

6.1.2 Indicadores microbiológicos .............................. 145

6.1.3 Indicadores relacionados à fertilidade ................ 146

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6.2 ESTUDO DE CASO: INDICADORES QUÍMICOS E MICROBIOLÓGICOS DO SOLO NA PRODUÇÃO DE MORANGO DO MUNICÍPIO DE TURUÇU-RS .................... 148

6.2.1 Indicadores químicos ......................................... 148

6.2.2 Indicadores microbiológicos .............................. 154

6.2.3 Indicadores de fertilidade ................................... 156

6.3 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................. 159

6.4 LITERATURA CITADA ................................................... 160

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CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Ao longo dos últimos anos, a técnica de irrigação vem sendo usada em sistemas de produção de morango em propriedades familiares no município de Turuçu-RS. Entretanto, as informações regionais sobre a qualidade da água que vem sendo utilizada na irrigação, a eficiência dos sistemas já implantados bem como os possíveis impactos da água de irrigação sobre os atributos do solo são escassas. Aliado a este fator, a dificuldade de assistência, a falta de informações e a não disponibilização e apropriação de conhecimentos e tecnologias aos produtores, tem conduzido a um manejo de irrigação completamente empírico, causando impactos negativos que estão comprometendo o desenvolvimento da cultura e afetando os recursos naturais, trazendo conseqüências tanto sociais como para a atividade econômica propriamente dita. Em vista disso, informações referentes ao solo, à planta, ao clima e aos sistemas de irrigação podem ser úteis para o manejo de água, além de permitir o uso dos recursos hídricos de modo mais eficiente.

As relações entre os componentes do Sistema Solo-Água-Planta-Atmosfera são complexas, o que torna o manejo da irrigação uma tomada de decisão criteriosa. Este manejo compreende o uso combinado de informações, sendo o nível técnico e o grau de interesse do produtor fatores primordiais para o seu sucesso. Ressalta-se que tal manejo deve ser praticado e analisado continuamente, para que com o decorrer dos anos o produtor adquira maior experiência e conhecimento técnico, e se torne mais eficiente quanto ao uso da água. Desta forma, o objetivo do presente texto é apresentar, de modo simples e direto, aos técnicos e produtores, como as

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informações do solo, da planta, do clima e do sistema de irrigação são importantes ao manejo de irrigação.

O texto está dividido em seis capítulos. O primeiro trata da fisiologia da cultura do morangueiro; o segundo tem como enfoque os diferentes sistemas de produção de morango; o terceiro traz informações básicas sobre o solo do ponto de vista agronômico e manejo da água de irrigação; o quarto aborda questões ligadas a qualidade da água de irrigação; o quinto e o sexto capítulos abordam aspectos relativos a qualidade do solo do ponto de vista físico-hídrico, químico e microbiológico. Acreditamos que a apresentação de estudos de casos, nos capítulos quarto, quinto e sexto, seja um importante diferencial deste texto em relação aos demais nesta mesma temática.

Palavras-chave: irrigação, qualidade da água, atributos do solo, sistemas de produção de morango, Fragaria x ananassa Duch.

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CAPÍTULO 1 - FISIOLOGIA DA PRODUÇÃO DE MORANGUEIRO

Denise de Souza Martins

André Samuel Strassburger

Roberta Marins Nogueira Peil

José Ernani Schwengber

Carlos Reisser Júnior

Leonardo Göetzke Furtado

1.1 INTRODUÇÃO

O morangueiro é cultivado e suas frutas apreciadas nas mais diversas regiões do planeta. A produção mundial é estimada em cerca de 3,1 milhões de toneladas e, a brasileira, em 100 mil toneladas (CARVALHO, 2006).

No Rio Grande do Sul, a área plantada é estimada em 600 ha, com produção aproximada de 18 mil toneladas anuais (IBGE, 2005 apud CARVALHO, 2006), sendo a cultura conduzida, predominantemente, em propriedades agrícolas familiares, devido à grande necessidade de mão de obra.

No município de Turuçu, o cultivo do morangueiro passou a ganhar maior importância a partir do ano de 2001, pela implantação de tecnologias como túneis baixos, sistema de irrigação por gotejamento, cobertura do solo e fertirrigação, e, sobretudo, pela organização dos agricultores. Hoje a

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Capítulo I

17

Associação de Produtores de Morango de Turuçu - RS conta com 22 agricultores, com predominância de áreas de até 1 ha.

As cultivares mais utilizadas em Turuçu são Camarosa e Camino Real. Para alcançar o potencial produtivo destas cultivares, assim como para outras recomendadas para nossa região, é necessário entender a fisiologia da planta, ou seja, como a planta responde aos estímulos ambientais externos durante o seu ciclo.

Neste capítulo serão abordados aspectos relativos à botânica e fisiologia da planta, caracterização de algumas cultivares utilizadas e de outras com potencial para utilização na região.

1.2 CARACTERÍSTICAS DA PLANTA

1.2.1 Botânica

O morangueiro pertence à família Rosaceae, ao gênero Fragaria e à espécie Fragaria x ananassa Duch. É um híbrido interespecífico resultante do cruzamento das espécies F. chiloensis e F. virginiana. As plantas que compõem o gênero Fragaria são herbáceas, atingem de 15 a 30 cm de altura, podendo ser rasteiras ou mais eretas. Formam pequenas touceiras (hábito de crescimento em roseta) que aumentam de tamanho à medida que a planta envelhece. É uma planta perene cultivada como planta anual, principalmente por questões sanitárias e fisiológicas (RONQUE, 1998).

A folha do morangueiro normalmente é constituída por um pecíolo longo e três folíolos. Os folíolos são dentados e apresentam um grande número de estômatos (300 a 400 por mm2 de folha) o que confere ao morangueiro uma maior sensibilidade à falta de água, à baixa umidade relativa do ar e às altas temperaturas (SANHUEZA et al., 2005 apud SILVA et al., 2007).

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Morangueiro Irrigado

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Os estolões são caules verdadeiros, muito flexíveis, que se desenvolvem em contato com o solo, permitindo que, a partir da roseta foliar existente em seus nós, cresçam raízes que penetram no solo, dando origem a novas plantas independentes (RONQUE, 1998). O estolão é a forma mais utilizada de multiplicação vegetativa do morangueiro (SILVA et al., 2007).

As flores do morangueiro estão agrupadas em inflorescências do tipo cimeira, ou seja, depois de aberta a primeira flor, os botões laterais vão se abrindo um a um, acompanhando o desenvolvimento da inflorescência. O número de inflorescências por planta é variável dependendo da cultivar, assim como o número de flores por inflorescência. As inflorescências se formam a partir das gemas existentes nas axilas das folhas. A primeira flor normalmente origina o primeiro fruto, em geral o mais desenvolvido de cada inflorescência (SILVA et al., 2007).

Os frutos do tipo aquênio são minúsculos de coloração vermelho amarronzados, duros e superficiais, que normalmente as pessoas confundem achando que é a semente. Na verdade estes aquênios são os frutos verdadeiros. O que chamamos de fruta do morangueiro é, na verdade, o receptáculo floral que engrossa e se torna carnoso e doce, de formato e sabor variável de acordo com a cultivar utilizada (SILVA et al., 2007).

As características botânicas da planta são importantes, pois as cultivares de morangueiro são caracterizadas com base nas diferenças morfológicas da folha, da planta ou do fruto (CONTI et al., 2002 apud SILVA et al., 2007).

1.2.2 Sistema radicular

O sistema radicular do morangueiro é formado por raízes adventícias e fasciculadas. As raízes adventícias ou primárias são grandes e perenes (não morrem de um ano para o

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Capítulo I

19

outro), com função de reserva, contribuindo na absorção de água e nutrientes (PIRES et al., 2000).

As raízes fasciculadas ou secundárias são longas e se desenvolvem lateralmente ao rizoma, em camadas sobrepostas, ficando as camadas de raízes mais novas acima das raízes mais velhas. Estas raízes têm a vida mais curta (NATIVIDADE, 1940 apud INFORZATTO; CAMARGO, 1973).

As raízes do morangueiro se renovam continuamente durante o ciclo da cultura, e devido a essa forma de renovação das raízes, o sistema radicular do morangueiro é pouco profundo (GALLETA; BRINGHURTS, 1990 apud PIRES et al., 2000).

A distribuição do sistema radicular no solo depende de muitos fatores, como a compactação do solo, a umidade, a aeração e a fertilidade do mesmo. Para fins de irrigação, a profundidade efetiva das raízes (que representa a camada desde a superfície do solo até onde se encontra a maior parte das raízes absorventes) é um dos parâmetros básicos para projetos de manejo de água para a cultura (PIRES et al., 2000).

A quase totalidade das raízes do morangueiro encontra-se até 60cm de profundidade. Todavia, a maior parte do sistema radicular se concentra nos primeiros 30cm do solo, profundidade recomendada para fins de irrigação (RONQUE, 1998; PIRES, et al., 2000).

As raízes servem de órgão de reserva de fotoassimilados da planta, para que ocorra a brotação do próximo ano.

A vida saudável do morangueiro, no que diz respeito às suas raízes, depende da contínua produção de novas raízes principais do caule e da possibilidade dessas raízes produzirem novos tecidos, assegurando a existência duradoura da planta (INFORZATTO; CAMARGO, 1973).

Como o sistema radicular do morangueiro é bastante superficial, a área de cultivo deve ser mantida sempre limpa e

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Morangueiro Irrigado

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protegida por cobertura morta, mantendo úmida a camada superficial do solo, evitando que as plantas espontâneas concorram por nutrientes e água com o morangueiro.

1.2.3 Fisiologia da planta

Para a melhor exploração da cultura do morangueiro é de fundamental importância o conhecimento sobre os aspectos fisiológicos da planta.

Segundo Duarte Filho et al. (1999), durante a série de transformações que a planta passa em seu ciclo, existem diferenças marcantes entre as fases de desenvolvimento vegetativo - formação de biomassa como folhas, caules e estolões, e desenvolvimento reprodutivo - formação de componentes da flor como pétalas, estames e pistilo.

A fase vegetativa é verificada logo após o transplante das mudas, que no município de Turuçu geralmente ocorre no mês de abril (ESTRELA, 2008).

A diferenciação do meristema vegetativo para floral, que resultará no florescimento, é muito dependente de um conjunto de fatores, sendo o fotoperíodo (duração do dia), a temperatura e a interação entre estes os de maior relevância (SILVA et al., 2007; RONQUE, 1998).

Em função da resposta da planta ao fotoperíodo, as cultivares se classificam em cultivares de dias curtos, cultivares de dias neutros (ou indiferentes ao fotoperíodo) e cultivares de dias longos. Atualmente, as cultivares de dias longos não são utilizadas no Brasil (WREGE et al., 2007).

As cultivares de dias curtos são aquelas que florescem quando há redução do comprimento do dia (menor que 14 horas de luz) e da temperatura (menor que 15°C) (SILVA et al., 2007). Nesse grupo, encontram-se a maioria das cultivares utilizadas no Brasil, como Camarosa e Camino Real,

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Capítulo I

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amplamente utilizadas no município de Turuçu (ESTRELA, 2008).

As cultivares de dias neutros são aquelas que apresentam uma menor sensibilidade ao fotoperíodo em comparação às de dias curtos, prolongando o florescimento até que as baixas temperaturas paralisem suas atividades (SILVA et al., 2007). As cultivares Diamante, Aromas e Albion são cultivares de dias neutros que já estão sendo introduzidas nos municípios da região Sul do Rio Grande do Sul.

Para que o florescimento seja abundante é preciso que a planta tenha suprido as horas de frio necessárias para a indução floral no período anterior ao transplante (período em que está no viveiro), que varia de acordo com a cultivar. Esse requerimento de horas de frio, geralmente abaixo de 7°C, é necessário para uma normal formação de folhas e flores na planta (SILVA et al., 2007).

Segundo Ronque (1998) é interessante que os viveiros de mudas estejam localizados em regiões de latitude e/ou altitudes elevadas, a fim de que o número de horas acumuladas de frio (380 a 700 horas, dependendo da cultivar) seja suprida.

Devido a este aspecto fisiológico e também pelo aspecto sanitário, a grande maioria das mudas utilizadas no Rio Grande do Sul é importada do Chile e Argentina, pois os viveiros destes países possuem as condições climáticas mais favoráveis.

Wrege et al. (2007) realizaram um zoneamento agroclimático para produção de mudas no Rio Grande do Sul e verificaram que, na Região Sul do Estado, as horas de frio estão abaixo das exigência da cultura. Assim, a produtividade das mudas produzidas nessa região pode ser inferior àquelas produzidas em locais mais recomendados para a produção de mudas, conforme demonstra Oliveira e Scivittaro (2006).

Dependendo do estímulo de luz (fotoperíodo) e temperatura que a planta recebe após o transplante nos

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canteiros, ela pode vir a ter uma florada precoce, sem que a parte vegetativa esteja bem desenvolvida. Nestes casos, aconselha-se que estes primeiros cachos florais sejam removidos da planta, ainda quando pequenos, para que haja um incremento no crescimento vegetativo da planta e, assim, ela suporte o crescimento das frutas que virão posteriormente. Em plantas que são mantidas com cultivo de 18 meses, além do incremento no crescimento vegetativo que ocorre no primeiro ano quando se adota esta prática, existe um incremento na produtividade das plantas no segundo ano (DAUGAARD, 1999).

Em cultivares de dias curtos, como a Camarosa e a Camino Real, o aumento do fotoperíodo e da temperatura estimulam a planta a emitir estolões, em detrimento da emissão de inflorescências. As cultivares de dias neutros ou indiferentes, como Aromas e Albion, são menos influenciadas por esses dois fatores, e, portanto, apresentam uma menor emissão de estolões e uma continuidade na emissão de inflorescências. Se a intenção é a produção de frutas, se aconselha retirar os estolões das plantas, pois eles são fortes drenos, favorecendo o desenvolvimento das inflorescências e das frutas.

1.2.4 Exigência hídrica

O morangueiro é extremamente sensível ao déficit hídrico do solo. A irrigação é, portanto, uma prática cultural indispensável para que a lavoura atinja níveis satisfatórios de produtividade e qualidade das frutas (SANTOS et al., 2005).

Pela característica do sistema radicular pouco profundo, a cultura do morangueiro exige um bom manejo da irrigação, evitando-se deficiências, assim como excessos, reduzindo a incidências de doenças.

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Capítulo I

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As necessidades hídricas do morangueiro estão relacionadas ao clima, às condições de umidade do solo e à fase de desenvolvimento da planta, necessitando de 900 a 1100 mm de chuvas bem distribuídas durante o ciclo de cultivo (CARVALHO, 2006).

A fase de maior exigência hídrica do morangueiro é a de frutificação. Nessa fase, a planta necessita mais água para formar os frutos, que possuem baixos teores de matéria seca, e, também, por ser a fase que coincide com a primavera-verão, quando a transpiração da cultura aumenta devido ao calor.

Segundo Severo et al. (2006), 86% da água consumida durante o ciclo do morangueiro é durante a fase de frutificação. Como essa fase é longa, atenção especial deve ser dada para o manejo da água neste período, para que não ocorram excessos e nem déficits.

1.3 CULTIVARES

As principais cultivares de morangueiro utilizadas no Brasil provêm dos programas de melhoramento dos Estados Unidos, destacando-se: Aromas, Camarosa, Camino Real, Diamante, Dover, Oso Grande, Sweet Charlie e Ventana; da Espanha: Milsei-Tudla; do programa de melhoramento genético da Embrapa Clima Temperado: Bürkley, Santa Clara e Vila Nova; e do Instituto Agronômico – IAC: cultivar Campinas (OLIVEIRA et al., 2005 apud OLIVEIRA; SCIVITTARO, 2006).

No Rio Grande do Sul, as cultivares Aromas e Camarosa são, respectivamente, as cultivares de dias neutros e de dias curtos mais utilizadas, sendo ambas indicadas para consumo in natura e industrialização (OLIVEIRA; SCIVITTARO, 2006).

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1.3.1 Características das cultivares utilizadas em Turuçu-RS

Segundo ESTRELA (2008) as cultivares de morangueiro mais utilizadas no município de Turuçu são Camarosa e Camino Real, ambas de dias curtos.

A cultivar Camarosa (Figura 1.1) foi obtida na Universidade da Califórnia, em 1993, apresentando plantas vigorosas, com folhas grandes de coloração verde-escura, ciclo precoce, com alta capacidade de produção, frutas grandes, uniformes, de coloração vermelho-escura, polpa firme e sabor sub-ácido, sendo indicada tanto para consumo in natura quanto para industrialização (SANTOS, 2003).

Figura 1.1 - Cultivar Camarosa (foto: Denise de Souza Martins).

A cultivar Camino Real (Figura 1.2) é nova no mercado brasileiro. Foi desenvolvida na Universidade da Califórnia em 2001 e introduzida no Brasil a partir de 2006 (OLIVEIRA et al., 2007). Mostra-se tão produtiva quanto a Camarosa e a Aromas, com até 1 Kg de frutas comerciais por planta, sendo a colheita concentrada no período de agosto a dezembro (OLIVEIRA et al., 2007).

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Capítulo I

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Figura 1.2 - Cultivar Camino Real (foto: Denise de Souza Martins).

1.3.2 Novas cultivares para a Região Sul

Algumas cultivares de dias neutros vem sendo testadas com sucesso na região Sul do RS. Como exemplos, pode-se citar as cultivares Aromas e Albion.

A cultivar Aromas (Figura 1.3) também foi obtida na Universidade da Califórnia, porém em 1997. É uma cultivar muito produtiva, com hábito de crescimento ereto. As frutas são de tamanho grande, coloração vermelha-escura, sabor agradável e qualidade excelente para consumo in natura e industrialização (SHAW, 2004). Essa cultivar já está sendo implantada na região, com resultados de produtividade semelhantes às cultivares Camarosa e Camino Real, que possuem maior produção na fase intermediária do período produtivo, enquanto a Aromas apresenta maior produção na fase final do ciclo produtivo (OLIVEIRA; SCIVITTARO, 2006).

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Figura 1.3 - Cultivar Aromas (foto: Denise de Souza Martins).

Outra cultivar que está sendo introduzida no Estado é a Albion (Figura 1.4). Essa cultivar apresenta folhas mais coriáceas e mais eretas que a Camino Real, assim como as inflorescências, que também são mais eretas, deixando os frutos suspensos, diminuindo o ataque de insetos como a broca das frutas e os danos por queimaduras devido ao contato com o plástico. É relativamente resistente à antracnose (SHAW, 2004) o que pode facilitar seu cultivo a céu aberto. As frutas são de tamanho grande, de sabor excelente, com formato cônico alongado, sendo de coloração vermelho escuras quando bem maduras, tanto internamente quanto externamente, mostrando aptidão tanto para consumo in natura quanto para industrialização.

Uma das principais vantagens do cultivo de plantas de dias neutros juntamente com as de dias curtos é o escalonamento da produção durante o ciclo, pois as plantas de dias curtos são mais precoces e as de dias neutros produzem até janeiro ou fevereiro, aumentando o período de oferta da fruta no mercado.

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Figura 1.4 - Cultivar Albion (foto: Denise de Souza Martins).

1.4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O conhecimento da fisiologia da produção e os aspectos botânicos da planta são de fundamental importância para o adequado manejo da cultura. A utilização de cultivares de dias neutros conciliadas às cultivares de dias curtos, já cultivadas no município de Turuçu, mostra-se uma alternativa interessante para aumentar o período de oferta da fruta no mercado.

O maior conhecimento sobre fatores como a característica do sistema radicular, a exigência hídrica da cultura, a qualidade da muda e as respostas da planta aos fatores climáticos, permite uma otimização do sistema de produção e, consequentemente, melhores resultados em relação à produtividade.

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1.5 LITERATURA CITADA

CARVALHO, S. P. Boletim do morango: cultivo convencional, segurança alimentar, cultivo orgânico. Belo Horizonte: FAEMG, 2006. 160p.

DAUGAARD, H. The effect of flower removal on the yield and vegetative growth of A+ frigo plants of strawberry (Fragaria x ananassa Duch). Scientia Horticulturae, v. 82, n. 1-2, p. 153-157, 1999.

DUARTE FILHO, J. et al. Aspectos do florescimento e técnicas empregadas objetivando a produção precoce em morangueiros. Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v. 20, n. 198, p. 1-9, 1999.

ESTRELA, C. C. Variabilidade espacial e temporal da qualidade da água de irrigação no sistema de produção de morango em propriedades familiares no município de Turuçu-RS. Pelotas, 2008. 98p. Dissertação (Mestrado em Sistemas de Produção Agrícola Familiar) – Faculdade de Agronomia “Eliseu Maciel”, Universidade Federal de Pelotas, 2008.

INFORZATTO, R.; CAMARGO, L. S. Sistema radicular do morangueiro (Fragaria híbridos), em duas fases do ciclo vegetativo. Bragantia, Campinas, v. 32, n. 8, p. 185-191, 1973.

OLIVEIRA, R. P.; SCIVITTARO, W. B. Desempenho produtivo de mudas nacionais e importadas de morangueiro. Revista Brasileira de Fruticultura, Jaboticabal - SP, v. 28, n. 3, p. 520-522, 2006.

OLIVEIRA, R. P.; SCIVITTARO, W. B.; FERREIRA, L. V. Camino Real: nova cultivar de morangueiro recomendada para o Rio Grande do Sul. Pelotas: Embrapa Clima Temperado, Comunicado Técnico 161, 4p., 2007.

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Capítulo I

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PIRES, R. C. M. et al. Profundidade efetiva do sistema radicular do morangueiro sob diferentes coberturas do solo e níveis de água. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v. 32, n. 4, p. 793-799, 2000.

RONQUE, E. R. V. Cultura do morangueiro; revisão e prática. Curitiba: Emater, 1998. 206 p.

SANTOS, A. M. Cultivares. In: SANTOS, A. M.; MEDEIROS, A. R. M. (Ed.) Morango: produção. Pelotas: Embrapa Clima Temperado; Brasília: Embrapa Informação Tecnológica, 2003. p. 24-30. (Frutas do Brasil, 40).

SANTOS, A. M.; MEDEIROS, A. R. M.; WREGE, M. S. Sistema de produção do morango: irrigação e fertirrigação. Embrapa Clima Temperado, ISSN 1806-9207 Versão Eletrônica, novembro 2005. Disponível em: <http://sistemasdeproducao. cnptia.embrapa.br/>. Acesso em 18 de março de 2009.

SEVERO, F. D. et al. Consumo hídrico do morangueiro cultivado em ambiente protegido. CD do Congresso de Iniciação Científica – UFPel, 2006.

SILVA, A. F.; DIAS, M. S. C.; MARO, L. A. C. Botânica e Fisiologia do morangueiro. Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v. 28, n. 236, p. 7-13, 2007.

SHAW, D. V. Strawberry Production Systems, Breeding and Cultivars in Califórnia. In: II Simpósio Nacional do Morango; I Encontro de Pequenas Frutas e Frutas Nativas do Mercosul. Pelotas: Embrapa Clima Temperado, p. 16-21, 2004.

WREGE, M. S. et al. Zoneamento agroclimático para produção de mudas de morangueiro no Rio Grande do Sul. Pelotas: Embrapa Clima Temperado, 2007. 27p. Documento 187, versão online.

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CAPÍTULO 2 - SISTEMA DE PRODUÇÃO DO MORANGUEIRO: FATORES QUE INFLUENCIAM O MANEJO DA IRRIGAÇÃO

André Samuel Strassburger

Denise de Souza Martins

Carlos Reisser Júnior

José Ernani Schwengber

Roberta Marins Nogueira Peil

Luís Carlos Philipsen

2.1 INTRODUÇÃO

Dentre as práticas culturais empregadas na cultura do morangueiro, a irrigação apresenta-se como uma das mais importantes. Esta prática torna-se fundamental, pois a cultura é altamente exigente em relação à disponibilidade hídrica e os regimes de chuvas em algumas regiões podem não ser suficientes ou não apresentar uma distribuição adequada.

Para que as plantas expressem o seu potencial produtivo, é necessário que as condições adequadas de cultivo sejam proporcionadas, tornando-se fundamental a manutenção da umidade do solo dentro dos parâmetros exigidos pela cultura. O déficit hídrico, assim como o excesso por períodos de tempo prolongados, pode causar danos irreversíveis à planta, reduzindo a produtividade.

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Capítulo II

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Algumas práticas culturais adotadas no cultivo do morangueiro influenciam de maneira significativa o manejo da irrigação, como a utilização de cobertura do solo e túnel baixo. O sistema de produção predominante entre os agricultores do município de Turuçu-RS caracteriza-se pela utilização de cobertura do solo com plástico de coloração preta, pela utilização de túneis baixos e irrigação por gotejamento.

A adubação segue as recomendações tradicionais, utilizando-se adubos químicos. Alguns produtores eventualmente utilizam adubos de origem orgânica e fertirrigação. O controle de pragas e doenças é realizado com agrotóxicos tradicionais ou, menos comumente, produtos alternativos.

O manejo da cultura e o sistema de produção adotado exercem fundamental importância para o sucesso da lavoura. Neste capítulo, as principais práticas culturais utilizadas para o cultivo do morangueiro serão abordadas destacando-se o adequado manejo e a influência destas sobre a irrigação.

2.2 UTILIZAÇÃO DE COBERTURA DO SOLO

Uma das práticas culturais mais importantes para a cultura do morangueiro é a utilização de cobertura do solo, que consiste na aplicação de qualquer cobertura na superfície do solo que forme uma barreira física à transferência de energia e vapor d’água entre o solo e a atmosfera.

Tem como principais objetivos: evitar o contato direto dos frutos com o solo, aumentando sua qualidade; reduzir a incidência de plantas invasoras; reduzir as perdas de nutrientes por lixiviação; modificar o microclima do solo; reduzir as oscilações de temperatura; e reduzir as perdas de água do solo por evaporação (RONQUE, 1998; SANTOS; MEDEIROS, 2003).

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Os materiais utilizados como cobertura do solo para a cultura do morangueiro podem ser de origem vegetal (como a acícula de pinus e a casca de arroz) ou sintéticos (como os filmes de polietileno).

A cobertura do solo deve ser realizada aproximadamente 30 dias após o transplante, quando as mudas já estiverem com o sistema radicular bem desenvolvido, evitando maiores danos ao manuseá-las (RONQUE, 1998; SANTOS; MEDEIROS, 2003).

2.2.1 Materiais de origem vegetal

Os principais materiais de origem vegetal utilizados como cobertura do solo na cultura do morangueiro são: casca de arroz, acícula de pinus, sabugo de milho picado, serragem, maravalha, palhas, hastes de cereais e folhas diversas.

Ronque (1998) destaca que os materiais utilizados como cobertura do solo devem ser isentos de contaminantes ou qualquer outra substância que possa vir a prejudicar o adequado desenvolvimento das plantas.

A camada formada pelos resíduos vegetais deve ter uma espessura suficiente para evitar que os raios solares penetrem, mantendo a umidade do solo devido à menor evaporação da água.

Dentre as vantagens da utilização da cobertura com resíduos vegetais destacam-se: menor ataque de ácaros, em razão do microclima úmido abaixo das folhas; menor custo; e enriquecimento do teor de matéria orgânica do solo, com a incorporação da cobertura morta após o término do cultivo (SANTOS; MEDEIROS, 2003). A dificuldade de manejo e danos físicos às frutas são os principais limitantes da utilização de materiais de origem vegetal em comparação aos materiais sintéticos.

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Capítulo II

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2.2.2 Materiais sintéticos

Os primeiros materiais sintéticos a serem utilizados como cobertura do solo foram o papel e resíduos de petróleo. Com o surgimento da indústria petroquímica, a partir da década de 50, materiais mais baratos, como os filmes de polietileno, passaram a ser utilizados como cobertura do solo (STRECK et al., 1994). Atualmente, para a cultura do morangueiro a cobertura mais utilizada é o polietileno opaco preto, com 30 ou 50 micras de espessura.

As coberturas plásticas têm como principais vantagens: a redução da umidade relativa, o que diminui a incidência de fungos, especialmente aqueles que ocasionam podridões de frutos, preservando sua qualidade; o estímulo à produção precoce; e a redução da mão-de-obra de transporte e colocação, em comparação com outras opções de coberturas.

As principais desvantagens são o elevado custo do plástico, o estímulo ao desenvolvimento de ácaros pela formação de microclima seco (SANTOS; MEDEIROS, 2003) e o impacto ambiental causado pelo plástico após sua retirada do solo.

2.2.3 Influência da cobertura do solo no aporte de água

Um dos principais efeitos esperados pela utilização de cobertura do solo é a redução da perda de água do solo. A magnitude da redução da evaporação pelo material de cobertura depende da sua natureza. A cobertura morta de palha seca reduz menos a evaporação da água do solo que os materiais sintéticos, possivelmente porque o vapor d'água difunde-se através da camada de resíduos (STRECK et al., 1994).

Com a utilização de cobertura plástica a evaporação da água da superfície do solo pode ser reduzida em até 21%, em comparação ao solo nu (STRECK et al., 1994). Dessa forma, a

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utilização de cobertura mantém a umidade do solo por um período de tempo maior que o solo descoberto, o que significa um aumento da eficiência da irrigação e uma economia de água e energia, caso a irrigação não seja por gravidade.

2.3 UTILIZAÇÃO DE TÚNEIS

Com a introdução da plasticultura na produção agrícola, o morangueiro passou a ser cultivado com algum tipo de proteção plástica, seja em túneis baixos, altos ou casas plásticas. Grande parte dos agricultores tem preferência pela utilização de túneis baixos para a cultura do morangueiro em comparação a outras estruturas de maior porte, devido ao menor custo de implantação e a possibilidade de rodízio das áreas de cultivo, fator importante para evitar maiores problemas com doenças.

Dentre as vantagens que os túneis proporcionam em relação ao cultivo a céu aberto, podem ser citadas a antecipação da colheita, maior produção e melhor qualidade, oriundas da maior proteção quanto aos fenômenos climáticos como geadas, excesso de chuvas, queda acentuada de temperatura durante a noite, proteção do solo contra a lixiviação e, consequentemente, redução dos custos com fertilizantes e agrotóxicos. Como principais desvantagens têm-se o elevado custo do plástico e o aumento da mão-de-obra para abrir e fechar os túneis.

2.3.1 Manejo dos túneis

Para que as vantagens da utilização dos túneis sejam obtidas, é importante que o manejo adotado seja adequado. Caso contrário, pode ocorrer aumento na incidência de doenças, culminando em uma redução da produção. Abaixo segue o manejo adequado dos túneis a ser adotado, baseado nas

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Capítulo II

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recomendações de Santos e Medeiros (2003) e em observações da equipe.

Abertura dos túneis: deve ser realizada logo pela manhã. Ambas laterais devem ser abertas de forma que toda a umidade seja eliminada. Em dias de ventos moderados, pode-se abrir apenas o lado oposto àqueles predominantes, evitando danos ao plástico e as plantas. Quanto maior a ventilação menor será a ocorrência de doenças;

Fechamento dos túneis: no final da tarde, deve-se realizar a operação inversa, ou seja, deve-se fechar as laterais dos túneis para aumentar o acúmulo térmico, elevando a temperatura noturna dentro dos túneis. Em dias de chuva, os túneis devem ser mantidos fechados, sendo abertos assim que as condições climáticas melhorarem.

A manutenção do túnel fechado durante o dia aumenta a temperatura do ar e a umidade relativa dentro do túnel. Nessas condições, tem-se um aumento da ocorrência de doenças que se desenvolvem sob condições de alta umidade relativa. O cultivo protegido, desde que bem manejado, e a irrigação localizada constituem práticas valiosas para o manejo de doenças na cultura do morangueiro e possibilitam a redução do uso de agrotóxicos.

Outra questão importante a ser observada em relação ao manejo dos túneis é a polinização. Na cultura do morangueiro a polinização é realizada principalmente pelas abelhas. O acesso às flores deve ser facilitado, ou seja, os túneis devem estar abertos no horário de maior atividade das abelhas.

Quanto maior o número de visitas, melhor será a polinização e, consequentemente, a qualidade das frutas. Em locais nos quais não exista uma grande ocorrência de abelhas, para melhorar a polinização recomenda-se colocar caixas de abelhas próximas à lavoura.

Caso os túneis sejam mantidos fechados por um período de tempo prolongado, o número de visitas será

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reduzido, com reflexos negativos sobre a polinização, assim, a qualidade e a produtividade da lavoura serão afetadas.

2.3.2 Influência dos túneis de cultivo sobre a irrigação

A utilização de abrigos plásticos está diretamente ligada à necessidade de um sistema de irrigação, mesmo quando a estrutura de proteção utilizada é o túnel baixo. O ciclo natural da água nesse tipo de estrutura é quebrado e o fornecimento de água para as plantas na forma de precipitação não ocorre.

Em se tratando do cultivo do morangueiro em túneis baixos, embora ocorram precipitações elevadas, a água acumula-se nos corredores, sendo que parte dela infiltra nos canteiros, parte volta para a atmosfera na forma de vapor e parte é perdida por percolação.

Muitas vezes a fração infiltrada nos canteiros não é suficiente para manter a umidade do solo em níveis adequados. Assim, mesmo com precipitações abundantes, pode existir a necessidade de se realizar a irrigação, sendo necessária a observação da umidade do solo, para a definição do momento de irrigar.

Quando se utilizam túneis para o cultivo, a irrigação por aspersão fica inviabilizada, sendo necessária a implantação de irrigação localizada.

2.4 ESCOLHA DO SISTEMA DE IRRIGAÇÃO

2.4.1 Aspersão

No Brasil, até a década de 80, grande parte das lavouras de morangueiro era irrigada por aspersão (SANTOS et al., 2005). Esse sistema propicia condições favoráveis ao aparecimento de doenças, devido ao molhamento que ocorre na

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parte aérea das plantas. As gotas de água da irrigação também servem como disseminadoras dos esporos de patógenos.

Para Santos et al. (2005) e Carvalho (2006), os únicos benefícios de um sistema de irrigação por aspersão são a diminuição do ataque de ácaros e o controle de geadas, podendo evitar dano às flores e frutos pequenos. Atualmente, esse método de irrigação é mais utilizado após o plantio, para garantir a sobrevivência das mudas a campo (SANTOS et al., 2005) e na produção de mudas de morangueiro em viveiros.

2.4.2 Gotejamento

O sistema de irrigação por gotejamento vem sendo amplamente adotado na cultura do morangueiro. Isso ocorre devido à maior eficiência no uso da água e menor incidência de doenças, pela redução do molhamento da parte aérea da planta. Como consequência, há um aumento na produtividade, no tamanho e na qualidade da fruta (SANTOS et al., 2005).

Além da redução do molhamento foliar, o sistema de irrigação por gotejamento reduz o consumo de energia elétrica e possibilita o uso de fertirrigação. Todavia, necessita água limpa, filtrada e manutenção constante dos equipamentos, o que acarreta um custo inicial mais elevado em comparação ao sistema de irrigação por aspersão (CARVALHO, 2006). Mesmo com essas desvantagens, o sistema de irrigação por gotejamento é o mais indicado para a cultura do morangueiro e amplamente utilizado entre os agricultores do município de Turuçu.

Porém, se o sistema não for bem manejado, pode conduzir a resultados negativos, como o excesso de água no solo, o que pode aumentar a incidência de fungos de solo, reduzindo a produtividade e até causando a morte das plantas (SANTOS et al., 2005; CARVALHO, 2006).

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2.4.3 Influência dos sistemas de irrigação na incidência de doenças e pragas

A irrigação por aspersão, pela característica do molhamento da parte aérea da planta, favorece o aparecimento de doenças nas folhas e nas frutas.

A mancha da micosferela (Figura 2.1) é causada pelo fungo Micosphaerella fragaria (Tul.) Lindau e ocorre na fase inicial e final do ciclo. Maiores danos ocorrem quando se utiliza altas densidades, irrigação por aspersão e excesso de adubação nitrogenada (FORTES; OSÓRIO, 2003).

Figura 2.1 - Mancha da micosferela (foto: Denise de Souza Martins).

A antracnose, causada pelos fungos Colletotrichum gloreosporioidis, C. acutatum e C. Fragariae, produz lesões e estrangulamento em estolões, pecíolo, pedúnculo, fruta (Figura 2.2) e coroa da planta. Quando ataca os botões florais causa a chamada flor-preta. Maior ataque às plantas é observado com o aumento da umidade. Assim, a irrigação por aspersão pode ser prejudicial, favorecendo o aparecimento da doença. Como controle preventivo recomenda-se a eliminação de restos culturais, uma vez que o fungo pode sobreviver neles e a utilização de túneis de polietileno que evitam o molhamento da parte aérea da planta.

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Figura 2.2 - Antracnose na fruta (foto: Denise de Souza Martins).

O mofo cinzento (Botrytis cinerea Pers) ataca principalmente as frutas (Figura 2.3) em qualquer estádio de desenvolvimento, desde que ocorram longos períodos com umidade. A água da chuva e da irrigação por aspersão são veículos para disseminar os esporos do fungo.

Figura 2.3 - Mofo cinzento na fruta (foto: Denise de Souza Martins).

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As principais pragas que atacam a cultura do morangueiro são o pulgão e o ácaro rajado. Os pulgões (Figura 2.4) são insetos de corpo mole, de coloração variada, dependendo da espécie. Vivem agrupados, em colônias, na face inferior das folhas. O dano dos pulgões ao morangueiro é devido à sucção da seiva da planta e pela possível transmissão de viroses que levam ao enfraquecimento e eventual morte da planta (SANTOS et al., 2005).

Figura 2.4 - Pulgão verde na folha. (foto: Denise de Sousa Martins).

O ácaro rajado (Tetranychus urticae Koch) ocorre no Sul do Brasil e onde são aplicados sistematicamente inseticidas e acaricidas no cultivo do morangueiro. Ele tem cor verde amarelado a verde escuro, com duas manchas escuras nos lados do corpo, não sendo visível a olho nu.

Os ácaros vivem em colônias, na face inferior das folhas, principalmente junto à nervura central, formando uma espécie de teia. Eles removem os tecidos superficiais da folha, causando perda de seiva junto às primeiras camadas do tecido foliar, ocorrendo amarelecimento ao longo da nervura central e um tipo de bronzeamento lateral da folha.

O período ou época de incidência dos pulgões e ácaros depende mais das condições climáticas (temperaturas elevadas

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Capítulo II

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e longas estiagens) do que do estádio de desenvolvimento da planta. Os ácaros predadores (ácaros vermelhos – Figura 2.5) ocorrem naturalmente nas lavouras, desde que não haja a aplicação de acaricidas.

Figura 2.5 - Ácaro predador, na parte superior da figura, e ácaros rajados, na parte inferior da figura (foto: Denise de Sousa Martins).

Como os pulgões e ácaros aparecem nas lavouras devido a altas temperaturas e baixa umidade, a irrigação por aspersão diminui a incidências destas pragas.

2.5 FERTIRRIGAÇÃO

A fertirrigação é o processo de aplicação de fertilizantes juntamente com a água de irrigação, visando fornecer as quantidades de nutrientes requeridas pela cultura no momento adequado para obtenção de altos rendimentos e produtos de qualidade (CARRIJO et al., 2004).

A utilização de sistemas de irrigação por gotejamento permite a aplicação concomitante de água e fertilizantes, pois apresenta características estruturais e operacionais que

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favorecem a implantação dessa prática. É uma maneira racional e eficiente de nutrir as plantas na agricultura irrigada. Representa aproximadamente 10% do custo de implantação do sistema de irrigação (COELHO et al., 2003), necessitando apenas a aquisição do sistema de injeção de fertilizantes quando o sistema de irrigação já está instalado.

Dentre as vantagens da fertirrigação podem ser citadas o atendimento das necessidades nutricionais das plantas, de acordo com a curva de absorção dos nutrientes; a aplicação dos nutrientes restrita ao volume molhado, na região de maior abundância das raízes; as quantidades e concentrações dos nutrientes podem ser adaptadas às necessidades da planta em função de seu estádio fenológico e condições climáticas; proporciona economia de mão-de-obra; reduz as perdas; e reduz a atividade de pessoas ou máquinas na área de cultivo, diminuindo a compactação e favorecendo as condições físicas do solo (COELHO et al., 2003).

Como inconvenientes do sistema podem ser citados possíveis entupimentos que podem ocorrer durante o processo, a salinização e a contaminação de solos e mananciais devido à lixiviação de nutrientes. Esses inconvenientes estão relacionados principalmente com o manejo incorreto do sistema de fertirrigação, pela não diluição total do fertilizante e pela aplicação em excesso.

2.5.1 Aspectos nutricionais do morangueiro

A primeira etapa para a determinação dos fertilizantes e corretivos a serem aplicados para o cultivo do morangueiro é a análise química do solo. De posse desta, deve-se realizar a correção da acidez do solo, se necessário, buscando alcançar pH próximo a 6,0 e com no mínimo três meses de antecedência ao transplante das mudas (COMISSÃO DE QUÍMICA E FERTILIDADE DO SOLO - RS/SC, 2004).

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Capítulo II

43

Como o período de cultivo do morangueiro é longo, recomenda-se o parcelamento da recomendação total da adubação para a cultura, visando reduzir as perdas de nutrientes e manter os níveis de fertilidade do solo sempre próximo ao ideal em cada fase de crescimento das plantas, reduzindo perdas por lixiviação. Dessa forma, o suprimento de nutrientes pode ser realizado todo via fertirrigação, começando o procedimento logo após o transplante das mudas ou com uma aplicação na base e o restante parcelado (CARVALHO, 2006).

Segundo Filho et al. (1999), até o início das primeiras colheitas, a planta absorve 37,2% do nitrogênio (N); 28,7% do fósforo (P) e 23,1% do potássio (K) requerido durante todo o período, fator importante a ser levado em consideração para o planejamento da aplicação dos fertilizantes.

O nitrogênio, apesar de ser um dos nutrientes mais exigidos pela cultura, não pode ser adicionado de forma indiscriminada. O excesso pode causar crescimento vegetativo exuberante em detrimento da produção (PACHECO et al., 2007), favorecendo o aparecimento de doenças devido ao desequilíbrio nutricional. Em contrapartida, a deficiência de N causa redução no crescimento das plantas. Por ser um nutriente móvel no solo, deve-se atentar ao fato de que irrigações pesadas podem causar lixiviação do nutriente, causando perdas substanciais.

A deficiência de P causa paralisia tanto no crescimento vegetativo (emissão de folhas e estolões), quanto no reprodutivo (emissão de flores). Os frutos tornam-se ácidos e com aroma desagradável. A adequada nutrição fosfatada é importante para aumentar a resistência do morangueiro às doenças, a consistência e o tamanho dos frutos (PACHECO et al., 2007).

O K é o nutriente que mais favorece a qualidade da fruta, aumentando os teores de sólidos solúveis totais, de ácido ascórbico e melhorando o aroma, o sabor, a cor e a firmeza

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(FILHO et al., 2000). Além disso, confere maior longevidade à planta, tornando-a mais produtiva por um período de tempo maior (PACHECO et al., 2007).

O cálcio (Ca) melhora a firmeza e resistência da fruta. Sua deficiência avançada ocasiona mortalidade das gemas associadas à emissão de novas folhas e raízes, sendo importante para definir a firmeza das frutas (PACHECO et al., 2007).

Os micronutrientes, embora absorvidos em menor quantidade, são tão importantes quanto os macronutrientes para um adequado crescimento e produção. O zinco e o boro são os dois micronutrientes para os quais as plantas mais comumente apresentam sintomas de deficiência (PACHECO et al., 2007). A carência de ambos os elementos produz uma diminuição na fertilidade do pólen e na frutificação e, consequentemente, na produtividade final.

2.5.2 Tipos e fontes de nutrientes para a fertirrigação

Para a cultura do morangueiro, tanto os macronutrientes como os micronutrientes podem ser aplicados via fertirrigação. Como fonte de nitrogênio, pode-se utilizar a uréia, o nitrato de amônio, o sulfato de amônio, o nitrato de cálcio, o nitrato de potássio, o fosfato monoamônico (MAP) e o fosfato diamônico (DAP).

As fontes de potássio mais utilizadas são o cloreto de potássio, o nitrato de potássio, o sulfato de potássio e o fosfato monopotássico. Para a adubação fosfatada, podem ser utilizados o ácido fosfórico, o fosfato monopotássico, o fosfato monoamônico purificado e o fosfato diamônico.

Para a adição de micronutrientes, existem outras fontes, que são menos utilizadas e mais difíceis de serem encontradas no mercado como nitrato de magnésio, sulfato ferroso, Fe EDTA, ácido bórico, sulfato de cobre, sulfato de manganês, sulfato de zinco e molibidato de sódio.

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Capítulo II

45

A escolha de um desses fertilizantes para suprir a demanda de um determinado nutriente deve ser realizada de acordo com o teor de cada nutriente presente no fertilizante, com a disponibilidade no mercado e com o preço.

Alguns desses fertilizantes são fontes de mais de um nutriente, como o nitrato de cálcio, que além de ser fonte de nitrogênio, também é fonte de cálcio, outro nutriente importante para a cultura do morangueiro. Dessa forma, em alguns casos, pode ser mais interessante a aplicação de um fertilizante que forneça mais de um nutriente do que a utilização de outro fertilizante que forneça apenas um nutriente.

2.5.3 Utilização de soluções de origem orgânica

Além dos fertilizantes químicos de alta solubilidade, também podem ser utilizadas soluções de origem orgânica para a fertirrigação. É uma das alternativas que os agricultores que se dedicam a produção orgânica de morangos encontraram para a aplicação de nutrientes juntamente com a irrigação durante o ciclo produtivo.

Uma das opções para a utilização desse tipo de fonte de nutrientes é o húmus líquido. A fertirrigação com húmus líquido tem sido utilizada com sucesso nos experimentos realizados na Estação Experimental Cascata (Embrapa Clima Temperado), demonstrando bons resultados para a cultura do morangueiro. O preparo do húmus líquido é simples. A seguir seguem as recomendações para a elaboração do húmus líquido de acordo com Schiedeck et al. (2006).

Para preparar 100 L de húmus líquido, na proporção de 1:10, utiliza-se 10 kg de húmus e mistura-se em 100 L de água, obtendo-se uma concentração aproximada de 5%, uma vez que a umidade do húmus é cerca de 50%. Em um recipiente, adiciona-se primeiramente a água e posteriormente o húmus, agitando-se de forma vigorosa para que todo o sólido se

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dissolva na água. Pode ser preparado em qualquer recipiente evitando que a solução fique exposta ao sol. Concentrações superiores a 5% não são recomendadas, pois são difíceis de serem filtradas. A mistura deve ser agitada pelo menos uma vez ao dia para que o máximo de nutrientes e microorganismos do húmus seja liberado na água. O processo de preparo dura cerca de 4 a 7 dias. Anteriormente a aplicação, o material deve ser muito bem filtrado em peneira fina, removendo-se todo o material sólido para evitar o entupimento do sistema de irrigação.

2.5.4 Estrutura necessária

Para realizar a fertirrigação, é necessário além do sistema de irrigação, equipamentos adequados para injeção dos nutrientes no sistema. Segundo Silva e Marouelli (2002), a injeção dos fertilizantes no sistema de irrigação pode ser realizada por três diferentes sistemas:

a) com tanques de injeção com cilindro hermeticamente fechado, onde o fertilizante é colocado e por onde parte da água que se destina às plantas passa por diferença de pressão, transportando, dessa forma, o produto até os emissores;

b) com bomba injetora de fertilizantes que retira o fertilizante a ser aplicado de um reservatório e o injeta diretamente no sistema de irrigação;

c) com o tubo de Venturi, que se baseia no princípio hidráulico de Venturi, que consiste de um estrangulamento de uma tubulação, causando uma sucção resultante da mudança na velocidade do fluxo e, assim, injeta a solução a ser aplicada no sistema de irrigação.

De acordo com as necessidades, qualquer um desses mecanismos pode ser utilizado. Observa-se que o mais simples, mais barato e que vem sendo amplamente utilizado para a

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Capítulo II

47

cultura do morangueiro, apresentando uma distribuição satisfatória da solução no sistema de irrigação é o tubo de Venturi.

2.5.5 Manejo da fertirrigação

O manejo adequado da fertirrigação requer que a injeção de fertilizantes seja iniciada quando toda tubulação estiver cheia de água e os emissores em pleno funcionamento. Caso contrário, a uniformidade de distribuição de fertilizantes será prejudicada. O processo de fertirrigação pode ser dividido em três etapas: a primeira para enchimento da tubulação; a segunda para aplicação propriamente dita da solução na água de irrigação; e a terceira para promover a lavagem da tubulação e dos emissores (MAROUELLI et al., 1996; SOUSA et al., 2003).

Em relação à frequência da fertirrigação, esta pode ser feita todas as vezes que for realizada a irrigação ou em intervalos maiores. A frequência depende de fatores como a capacidade do sistema, mão-de-obra disponível, tipo de solo, tipo de cultura ou mesmo da preferência do produtor.

O parcelamento deve ser realizado de acordo com os parâmetros químicos do solo ou pela taxa de absorção dos nutrientes pela cultura. Salienta-se que é importante o monitoramento do estado nutricional das plantas para determinar a necessidade da fertirrigação, observando-se sintomas de deficiências ou excessos de nutrientes nas plantas ou pela análise química foliar.

Aplicações de fertilizantes em regime de alta frequência e em pequenas quantidades têm a vantagem de reduzir a lixiviação dos nutrientes e manter o nível de fertilidade próximo do ótimo (SILVA; MAROUELLI, 2002).

Em solos arenosos, onde as perdas de água e nutrientes ocorrem com maior intensidade, o uso da fertirrigação permite

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48

reduzir significativamente essas perdas com aplicações mais frequentes de forma pontual, principalmente em relação a adubação nitrogenada (VÁSQUEZ, 2003).

2.6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A cultura do morangueiro reveste-se de importância para os horticultores da Região Sul do Estado, em especial no município de Turuçu, tornando-se uma alternativa que proporciona uma fonte de renda durante um longo período do ano.

O morango é uma fruta muito apreciada e de alto valor no mercado, no entanto, apresenta em seu sistema de produção uma série de detalhes que dificultam a produção de frutas de alta qualidade, sem contaminantes químicos ou biológicos.

Se o sistema de produção for bem manejado, ocorre uma redução na incidência de doenças e na necessidade de aplicação de agrotóxicos, obtendo-se um produto com um baixo nível de contaminantes químicos e, ainda, com um menor custo de produção.

2.7 LITERATURA CITADA

CARRIJO, O. A.; SOUZA, R. B. de; MAROUELLI, W. A.; ANDRADE, R. J. de. Fertirrigação de hortaliças. Brasília: Embrapa Hortaliças, 2004. 13p. (Circular Técnica).

CARVALHO, S. P. Boletim do Morango: cultivo convencional, segurança alimentar, cultivo orgânico. Belo Horizonte: FAEMG, 2006. 160p.

COELHO, E. F.; SOUZA, V. F. de; PINTO, J. M. Manejo de fertirrigação em fruteiras. Bahia Agrícola, Salvador, v. 6, n. 1, p. 67-70, 2003.

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Capítulo II

49

COMISSÃO DE QUÍMICA E FERTILIDADE DO SOLO - RS/SC. 2004. Manual de adubação e calagem para os Estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. Porto Alegre: SBCS - Núcleo Regional Sul UFRGS, p. 258-259, 2004.

FILHO, H. G.; SANTOS, C. H. dos; CRESTE, J. E. Nutrição e adubação do morangueiro. Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v. 20, n. 198, p. 36-40, 1999.

FORTES, J. F.; OSÓRIO, V. A. Morango. Fitossanidade. Embrapa Clima Temperado. Brasília: Embrapa Informação Tecnológica, 2003.

MAROUELLI, W. A.; SILVA, W. L. C.; SILVA, H. R. Fertirrigação em hortaliças. In: MAROUELLI, W. A.; SILVA, W. L. C.; SILVA, H. R. Manejo da irrigação em hortaliças. Brasília: Embrapa informação tecnológica CNPH, 1996. p. 48-52.

PACHECO, D. D.; DIAS, M. S. C.; ANTUNES, P. D.; RIBEIRO, D. P.; SILVA, J. J. C.; PINHO, D. B. Nutrição mineral do morangueiro. Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v. 28, n. 236, p. 40-49, 2007.

SANTOS, A. M.; MEDEIROS, A. R. M. Frutas do Brasil. Embrapa Informações Tecnológicas: Brasília, 2003. 81p.

RONQUE, E. R. Cultura do morangueiro, revisão e prática. Curitiba: EMATER-Paraná, 1998. 206 p.

SANTOS, A. M.; MEDEIROS, A. R. M.; WREGE, M. S. Sistema de produção do morango: irrigação e fertirrigação. Embrapa Clima Temperado, ISSN 1806-9207 Versão Eletrônica, novembro 2005. Disponível em: <http://sistemasdeproducao.cnptia.embrapa.br/>. Acesso em: 20 mar. 2009.

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Morangueiro Irrigado

50

SCHIEDECK, G.; GONÇALVES, M. de M.; SCHWENGBER, J. E. Minhocultura e produção de húmus para a agricultura familiar. Pelotas: Embrapa Clima Temperado. 2006. 12 p. Circular Técnica. Versão online. Disponível em: <http://www.cpact.embrapa.br/publicacoes/download/circulares/Circular_57.pdf> Acesso em: 10 mar. 2009

SILVA, W. L. C.; MAROUELLI, W. A. Fertirrigação de hortaliças. Irrigação Tecnologia Moderna, Brasília, n. 52/53, p. 45-47, 2002.

SOUSA, V. F.; FOLEGATTI, M. V.; FRIZZONE, J. A.; CORRÊA, R. A. L.; ALENCAR, C. M. Distribuição de fertilizantes em um sistema de fertirrigação por gotejamento. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, Campina Grande, v. 7, n. 1, p. 186-189, 2003.

STRECK, N. A.; SCHNEIDER, F. M.; BURIOL, G. A. Modificações físicas causadas pela cobertura do solo. Revista Brasileira de Agrometeorologia, Santa Maria, v. 2, p. 131-142, 1994.

VÁSQUEZ, A. N. Fertirrigação por gotejamento superficial e subsuperficial no meloeiro (Cucumis melo L.) sob condições protegidas. 2003. 174 p. (Doutorado em Agronomia). Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz. Universidade de São Paulo.

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CAPÍTULO 3 - SOLO E MANEJO DA ÁGUA

Carlos Reisser Júnior

Vitor Emanuel Quevedo Tavares

Luís Carlos Timm

Carina Costa Estrela

Luís Eduardo Correa Antunes

Noel Gomes Cunha

3.1 O SOLO

Do ponto de vista agronômico, o termo solo refere-se à camada externa e agricultável da superfície terrestre sendo constituído das fases sólida, líquida e gasosa. O material de origem, o tempo, o clima, a topografia da região e os organismos vivos são os fatores que atuam no processo de sua formação. Sua origem é a rocha que, por ação de processos físicos, químicos e biológicos de desintegração, decomposição e recombinação, se transformou, no decorrer das eras geológicas, em material poroso de características peculiares.

O solo é o reservatório de água e nutrientes para as plantas, além de permitir a sustentação dos vegetais. A Figura 3.1 ilustra um corte vertical no perfil de um solo, constituído de uma série de camadas superpostas, denominadas horizontes do solo.

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Morangueiro Irrigado

52

Figura 3.1 - Ilustração dos horizontes de um perfil completo de solo (REICHARDT; TIMM, 2008).

Um solo completo é formado de quatro horizontes: - horizonte A (horizonte de eluviação) - é a camada superficial do solo, exposta diretamente à atmosfera. Ele é o horizonte que perde elementos químicos por lavagens sucessivas com a água da chuva. Subdivide-se em Aoo (camadas superficiais em solos de florestas com grande quantidade de material orgânico, não decomposto: galhos, folhas e frutos); Ao (situa-se abaixo do Aoo, constituído de material orgânico decomposto); A1 (já é horizonte mineral, mas com alta porcentagem de matéria orgânica decomposta que lhe confere uma cor escura); A2 (que é o típico horizonte A, de cor mais clara, correspondendo à zona de máxima perda de elementos minerais) e A3 (é um

A

A00 M.O. não decomposta A0 M.O. humificadaA1 hor. mineral c/ m.oA2 hor. de perdasA3 hor. de transição

BB1 hor. de transição

B2 hor. de iluviaçãoB3 hor. de transição

CRocha em decomposição

D Rocha matriz

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Capítulo III

53

horizonte de transição entre A e B, possuindo características de ambos); - horizonte B (horizonte de iluviação) - é o horizonte que ganha elementos químicos provenientes do horizonte A, situado acima; - horizonte C – é o horizonte formado pelo material que deu origem ao solo, em estado de decomposição; - horizonte D – é o horizonte formado pela rocha matriz.

As espessuras dos horizontes são variáveis e a falta de alguns horizontes em determinados solos é bastante comum. Tudo isto depende da intensidade da ação dos fatores de formação do solo sobre o material de origem. A Figura 3.2 ilustra um perfil de solo ARGISSOLO VERMELHO-AMARELO Eutrófico Típico encontrado em uma propriedade situada no município de Turuçu-RS.

Figura 3.2 - Ilustração do perfil de um solo ARGISSOLO VERMELHO-AMARELO Eutrófico Típico encontrado em uma propriedade situada no município de Turuçu-RS.

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Morangueiro Irrigado

54

3.2 ATRIBUTOS FÍSICO-HÍDRICOS DO SOLO

Em se tratando do dimensionamento e do manejo de sistemas de irrigação é importante o conhecimento dos atributos físico-hídricos do solo que estão diretamente relacionados à retenção e o armazenamento de água no seu perfil. Aqui serão abordados de forma sucinta os seguintes atributos:

3.2.1 Textura do solo

A fase sólida do solo é constituída pela matéria mineral e orgânica que variam em termos de qualidade e de tamanho. Quanto ao tamanho, algumas são suficientemente grandes para serem vistas a olho nu, ao passo que outras são tão diminutas que apresentam propriedades coloidais.

Na maioria das vezes, as partículas do solo são divididas em três frações de tamanho, chamadas frações texturais: areia, silte e argila. Determinadas as quantidades relativas das três frações, o solo é enquadrado em uma dada classe textural (arenoso, siltoso ou argiloso) em função das diferentes proporções de areia, silte e argila. O tamanho das partículas é de grande importância, pois ele determina o número de partículas por unidade de volume ou peso e a superfície que estas partículas expõem. Por exemplo: partículas mais finas (argila) possuem uma maior superfície específica (maior relação entre área da superfície e o volume da partícula) e, portanto, possuem maior superfície de contato com a água e nutrientes o que confere ao solo uma maior capacidade de reter estas substâncias.

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Capítulo III

55

3.2.2 Estrutura do solo

O arranjo, a orientação e a organização das partículas sólidas do solo definem a geometria dos espaços porosos, ou seja, a estrutura de um solo. Como o arranjo das partículas do solo é geralmente muito complexo para permitir qualquer caracterização geométrica simples, não há meio prático de medir a estrutura de um solo. Devido a isso, o conceito de estrutura do solo é qualitativo.

A junção das partículas do solo dá origem aos agregados, os quais são classificados segundo a forma (prismáticos, laminares, colunares, granulares e em blocos) e o tamanho do agregado (de acordo com seu diâmetro). Um solo bem agregado (ou estruturado) apresenta boa quantidade de poros de tamanho relativamente grande (macroporos). Dizemos que possui alta macroporosidade, qualidade que afeta a penetração das raízes, circulação de ar (aeração), operações de cultivo (manejo do solo) e a infiltração de água (irrigação).

O solo possui poros de variadas formas e dimensões, que condicionam um comportamento peculiar a cada solo. A fração sólida do solo que mais decisivamente determina seu comportamento físico é a fração argila, já que é a mais ativa em processos físico-químicos que ocorrem no solo. As frações areia e silte têm áreas específicas relativamente pequenas e, em conseqüência, não mostram grande atividade físico-química. Elas são importantes quando o solo se encontra próximo à saturação onde predominam fenômenos capilares.

Tanto a textura como a estrutura conferem ao solo um espaço poroso, ou volume de poros, onde se encontram a parte líquida e a gasosa. Desta forma, a quantidade de água que o solo retém (capacidade de retenção), a passagem da água pela superfície do solo (infiltração) e a distribuição de água no interior do solo (drenagem) são dependentes da textura e da estrutura do solo.

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Morangueiro Irrigado

56

Se coletarmos uma amostra de solo (Figura 3.3) contendo as três frações e que represente certa porção do perfil do solo, é possível discriminar as massas e os volumes de cada fração e as seguintes relações massa-volume podem ser obtidas:

Figura 3.3 - Amostra do perfil de um solo ilustrando a fração sólida, líquida e gasosa.

glst mmmm ++= (3.1)

glst VVVV ++= (3.2)

onde: mt é a massa total da amostra de solo; ms é a massa das partículas sólidas do solo; ml é a massa líquida do solo, que por ser diluída, é tomada como massa de água; mg é a massa de gás, isto é, ar do solo, que é uma massa desprezível em relação a ms e ml; Vt é o volume total da amostra de solo; Vs é o volume ocupado pelas partículas sólidas; Vl pela água e Vg o volume dos gases (não desprezível como no caso de sua massa).

As seguintes definições relacionadas à fração sólida do solo são importantes tanto no dimensionamento como no manejo de um sistema de irrigação:

A densidade do solo (Ds, g/cm3), definida como a

relação entre a massa das partículas sólidas ms (g) e o volume total de solo Vt (cm

3), é um parâmetro útil que indica se um

ms,Vs (sólidos)

ml,Vl (líquidos)

mg,Vg (gases)

Vv = Vl +VgPoros ou vazios:

mt , Vt

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Capítulo III

57

solo está estruturado (menor densidade) ou compactado (maior densidade). Coletando-se amostras de solo de estrutura preservada com anéis cilíndricos de volume conhecido, a Ds pode ser calculada por meio da seguinte equação:

t

ss

V

mD = (3.3)

A densidade do solo varia de acordo com o seu volume total Vt. Ao se compactar (comprimir) uma amostra, ms permanece constante e Vt diminui, por conseguinte Ds aumenta. A densidade do solo é, portanto, um indicativo do grau de compactação de um solo. Para solos de textura grossa, mais arenosos, as possibilidades de arranjo das partículas não são muito grandes e, por isso, os níveis de compactação também não são grandes. Pelo fato de possuírem partículas maiores, o espaço poroso também é constituído, sobretudo, de poros grandes denominados, de modo arbitrário, de macroporos; de forma aparentemente paradoxal, nesses, o volume de poros é pequeno. A faixa de variação dos valores de densidade do solo para solos arenosos é de 1,40 a 1,80 g/cm3. Para um mesmo solo arenoso, esse intervalo de variação, a diferentes níveis de compactação, é bem menor. A compactação do solo representa uma mesma massa de solo ocupando um volume de solo menor. Isso modifica sua estrutura, seu arranjo e seu volume de poros.

Para solos de textura fina, mais argilosos, as possibilidades de arranjo das partículas são bem maiores. Seu espaço poroso é constituído, essencialmente, de microporos e o volume de poros Vv é grande, razão pela qual os valores Ds apresentam uma faixa de variação maior (0,90 a 1,60 g/cm3).

A relação entre a densidade do solo e a densidade da água (1,0 g/cm3) é denominada densidade relativa do solo (Dr), a qual é adimensional.

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Morangueiro Irrigado

58

A densidade das partículas do solo (Dp, g/cm3) é a

relação entre a massa das partículas sólidas ms (g) e o respectivo volume ocupado pelas partículas Vs (cm

3).

s

sp

V

mD = (3.4)

A densidade das partículas depende da constituição do solo e como varia relativamente pouco de solo para solo, não varia de modo excessivo entre diferentes solos. A densidade das partículas aproxima-se da densidade das rochas. O quartzo tem Dp = 2,65 g/cm

3 e como é um componente freqüente nos solos, a densidade das partículas oscila em torno desse valor. A média para uma grande variedade de solos é 2,70 g/cm3. Se a constituição do solo for muito diferente, como é o caso de solos turfosos (com muita matéria orgânica), seu valor pode ser mais baixo.

A porosidade total do solo (P), que está diretamente ligada à definição de densidade, é uma medida do espaço poroso do solo. É definida pela relação entre o volume de poros (Vv) e o volume total do solo (Vt):

100 ×

−==

t

ST

t

V

V

VV

V

VP (3.5)

Ela é adimensional e, em geral, expressa em porcentagem.

Quanto maior a porosidade total de um solo, maior a sua capacidade de reter água. Por isso os solos de textura fina (argilosos), em geral, têm maior capacidade de retenção de água. A porosidade total também é, logicamente, afetada pelo nível de compactação. Quanto maior Ds, menor P.

Uma equação muito utilizada para estimar, de forma indireta, P a partir de dados de Ds e Dp é a seguinte:

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Capítulo III

59

1001 ×

−=

p

s

D

DP (3.6)

A fase gasosa do solo (ar do solo) ocupa os espaços vazios não ocupados pela água do solo. A presença de camadas de impedimento (compactação) pode diminuir essa aeração, por meio da redução dos poros, resultando em uma infiltração e redistribuição mais lenta da água no solo.

A fase líquida do solo é uma solução aquosa de sais minerais e substâncias orgânicas, sendo os sais minerais os de maior importância.

3.3 ÁGUA NO SOLO

3.3.1 Umidade do solo

A determinação quantitativa da fase líquida, que não leva em conta os solutos, ou simplesmente da água do solo é feita de várias formas, dependendo da finalidade da medida:

- Umidade à base de peso U

s

st

s

l

m

mm

m

mU

−== (3.7)

onde mt, ml e ms foram definidos na equação 3.1. A umidade U é adimensional (g/g), mas suas unidades

devem ser mantidas para não confundir com a umidade à base de volume, que também é adimensional, mas numericamente diferente. A umidade U também é, com freqüência, apresentada em porcentagem. Sua medida é bastante simples: a amostra é pesada úmida mu (= mt) e, em seguida, deixada em estufa à 105oC, até peso constante ms (24 a 48 h ou até peso constante), sendo a diferença entre essas massas a massa de água ml. A amostra pode ter qualquer tamanho, desde que não seja muito

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Morangueiro Irrigado

60

pequena, nem muito grande (ideal de 50 a 500 g) e pode ter sua estrutura deformada. Para sua determinação servem, portanto, amostras retiradas no campo com qualquer instrumento (trado, pá, enxada, colher etc.), devendo-se, porém, ter o cuidado de não deixar a água evaporar antes da pesagem úmida.

- Umidade à base do volume θ

t

su

t

l

t

l

V

mm

V

m

V

V −===θ (3.8)

onde Vl e Vt foram definidos na equação 3.2. A umidade θ é adimensional (cm3/cm3) e, com

freqüência, é apresentada em porcentagem. Sua medida é mais complicada, pois envolve a medida do volume Vt e, por isso, a amostra não pode ser deformada. Normalmente toma-se Vl = ml (considerando a densidade da solução do solo como 1,0 g/cm3). O volume Vt é o mais difícil de ser medido. A técnica mais comum é a do uso de anéis volumétricos, idênticos aos utilizados para a medida da densidade do solo.

O procedimento mais conveniente para determinar θ é medir U e depois multiplicar o resultado por Dr:

rDU ×=θ (3.9)

sendo U dado em g de água/g de solo e Dr adimensional resultando θ em cm3 de água/cm3 de solo. Logicamente Dr precisa ser conhecido, mas a densidade do solo não varia muito no tempo, a não ser quando são realizadas operações de manejo (aração, gradagem, subsolagem, dentre outras). Mas, em geral, as maiores variações de Dr ocorrem nos primeiros 30 cm. Para maiores profundidades, geralmente considera-se Dr constante.

Exemplo: Coletou-se uma amostra de solo com um volume de

150 cm3, cuja massa úmida é 228 g e a massa seca é 193 g. Dessa forma:

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Capítulo III

61

% 18,1ou / 181,0193

193228ggU =

−=

% 23,3ou /m 233,0150

193228 33 cmc=−

Note-se que para a mesma amostra, U é diferente de θ, daí a necessidade de manter as unidades, mesmo sendo ambos os valores adimensionais.

/ 287,1150

193 3cmgDS ==

287,10,1

287,1==rD

33 m/cm 0,233287,1181,0 cDU r =×=×=θ

Vê-se, portanto, que só para o caso particular de Dr = 1, θ = U, que é o caso de solo bem fofo. Ainda usando o valor médio de 2,65 g/cm3 para a densidade das partículas:

% 51,4ou /cm 514,0650,2

287,111 33 cm

D

DP

p

S =−=−=

3.3.2 Retenção de água no solo

A retenção de água no solo ocorre devido a fenômenos de capilaridade e adsorção. A capilaridade atua na retenção da água no solo quando os poros estão cheios de água (solo úmido). A medida que o solo vai secando, os poros vão se esvaziando, filmes de água recobrem as partículas sólidas do solo e a adsorção passa a predominar na retenção de água. A

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Morangueiro Irrigado

62

energia requerida para se retirar a água na condição seca é muito maior que na condição úmida.

3.3.3 Capacidade de campo e ponto de murcha permanente

Diz-se que um solo está saturado quando todos os poros estão cheios de água. Nesta condição, a água que drena é aquela retida devido à capilaridade nos poros maiores. Quando essa drenagem cessa, o solo atinge a capacidade de campo (θcc). Continuando a drenagem, a adsorção passa a predominar no processo de retenção de água e, neste caso, os poros menores passam a perder água. Quando a umidade do solo é tão baixa que a quantidade de água existente faz com que a planta murche, sem recuperar o turgor mesmo com o umedecimento do solo, diz-se que o solo atingiu o ponto de murcha permanente (θPMP).

3.3.4 Capacidade de água disponível

A diferença de umidade entre a capacidade de campo e o ponto de murcha permanente é definida como a capacidade de água disponível (CAD). A CAD (mm) é calculada pela seguinte equação:

( ) zCAD PMPcc ×−= θθ (3.10)

onde θcc é a umidade do solo na capacidade de campo (cm3/cm3), θPMP é a umidade do solo no ponto de murcha permanente (cm3/cm3) e z é a espessura da camada de solo (mm).

A quantidade de água disponível em um solo está relacionada com a energia com que a água é retida na matriz do solo, ou seja, o potencial matricial da água no solo (Reichardt e

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Capítulo III

63

Timm, 2008). Essa relação origina a curva de retenção de água no solo, que é elaborada em laboratório.

3.3.5 Armazenamento de água no solo

Dados os valores de umidade do solo, que são pontuais, como se determina a quantidade de água armazenada em uma dada camada de solo?

A quantidade de água que cai sobre um determinado local, comumente, é expressa em termos de altura. Por exemplo, em Turuçu/RS chove em média 1.900 mm por ano. O que representa isso? A água de chuva é medida em pluviômetros, que são recipientes coletores de água expostos ao tempo (Figura 3.4). Eles têm uma área de captação S (m2) (seção transversal de sua boca) e coletam um volume V (m3) de água durante a chuva. A altura de chuva é h (m) = V/S, que pode ser convertida em mm. O interessante é que h independe do tamanho da boca do pluviômetro, pois um pluviômetro de boca 2S coletará o dobro do volume, isto é, 2V, resultando no mesmo valor de h. O significado de h pode, então, ser melhor visualizado para o caso de S = 1 m2, isto é, h igual ao volume de água que cai sobre a superfície unitária.

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Morangueiro Irrigado

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Figura 3.4 - Ilustração de um pluviômetro tipo “Ville Paris” utilizado para medir a quantidade de água da chuva em uma propriedade no município de Turuçu/RS.

Se jogarmos 1 L de água sobre uma superfície plana e impermeável de 1 m2, obteremos uma altura de 1 mm. Assim, 1 mm de chuva corresponde a 1 L/m2 e, portanto, 1.900 mm a 1.900 L/m2. Então, se toda a água que precipita em Turuçu não infiltrasse, nem escorresse ou evaporasse, ao final de um ano teríamos 1,9 m de água distribuídos por toda a área. Água aplicada via irrigação, água perdida por evaporação, etc., são todas medidas em mm. Seria interessante, portanto, medir também a água do solo em mm. Este é o armazenamento da água no solo (A, mm). É calculado multiplicando-se a umidade do solo (θ, cm3/cm3) de uma camada de interesse pela sua espessura (z, mm), ou seja:

zA ×= θ (3.11)

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Capítulo III

65

Assim como no caso da chuva, a altura de água armazenada pelo solo independe da área e, para o caso de uma superfície unitária, A = V. Para que esse conceito possa ser mais bem visualizado didaticamente, será utilizado o centímetro como unidade de comprimento. Tomemos, então, como superfície unitária (S) o cm2 e consideremos o primeiro cm de profundidade do solo. Nesse caso V = 1 cm3 de solo com umidade θ1 (cm

3 de H2O por cm3 de solo) e S = 1 cm2. Temos,

então, um volume de água V igual a θ1 cm3 de água em uma

área de 1 cm2 e, então, θ1 = A1. Vejamos um exemplo: se 1 cm3

de solo tem θ = 0,30 cm3/cm3, isso significa que nesse cubo de solo cuja base é 1 cm2 temos 0,30 cm3 de água. Portanto, a altura de água é 0,30 cm ou 3,0 mm.

3.4 DETERMINAÇÃO DA UMIDADE DO SOLO

Um dos atributos do solo mais comumente utilizado para o manejo de irrigação é a umidade do solo. Conhecendo-o em uma determinada camada de solo, pode-se determinar o momento e a quantidade de água a ser aplicada em uma irrigação.

O instrumento mais prático para se medir o potencial matricial de água no solo é o tensiômetro, que consiste, basicamente, de uma cápsula porosa conectada a um tubo de PVC (Figura 3.5), onde se encontra conectado um vacuômetro de Bourdon (Figura 3.6). As leituras de potencial neste vacuômetro são obtidas em mm de Hg (escala externa - cada traço equivale a -20 mmHg) ou em polegadas de Hg (inHg, escala interna – cada traço equivale a –0,5 inHg). Quanto mais úmido o solo, menor são os valores lidos de potencial matricial e vice-versa. Por exemplo, em um solo em condições de saturação o potencial matricial lido seria “0 mmHg”.

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Morangueiro Irrigado

66

Figura 3.5 - Ilustração de um tensiômetro (figura extraída de REICHARDT, 1994).

Figura 3.6 - Ilustração de um vacuômetro de Bourdon utilizado para a realização das leituras de potencial matricial na profundidade de intere

(figura extraída de

Ilustração de um vacuômetro de Bourdon utilizado para a realização das leituras de potencial matricial na profundidade de interesse.

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Capítulo III

67

Por meio das leituras do potencial matricial no tensiômetro e da curva de retenção de água no solo, são obtidos os valores da umidade do solo.

As unidades de potencial matricial podem ser convertidas pelas seguintes relações aproximadas:

1 atm = 1 bar = 760 mm Hg = 1000 cm H2O

1 atm = 100 kPa = 0,1 MPa = 14,7 psi

onde: atm = atmosfera;

bar = bar;

mm Hg = milímetros de mercúrio;

cm H2O = centímetros de coluna de água;

Pa = Pascal;

kPa = quilo Pascal = 1.000 Pa = 103 Pa;

MPa = mega Pascal = 1.000.000 Pa = 106 Pa;

PSI = pound ou libra por polegada quadrada (1 pound ou libra = 453,6 gramas; 1 polegada = 25,4 cm). A Figura 3.7 ilustra dois tensiômetros instalados em

um canteiro de solo cultivado com morango em uma propriedade localizada no município de Turuçu/RS. Os tensiômetros foram instalados em um determinado local do canteiro próximos a uma linha de irrigação com gotejadores, com o auxílio de um trado, nas profundidades de 20 e 30 cm, tomando-se o cuidado de garantir um bom contato entre a cápsula porosa e o solo. Eles foram instalados com o objetivo de avaliar e comparar o manejo empírico de irrigação que vem sendo adotado pelo produtor de morango ao longo do ciclo da cultura com o manejo baseado em informações técnicas que foram levantadas ao longo do projeto.

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Figura 3.7 - Ilustração de dois tensiômetros instalados em um canteiro de solo cultivado com morangueiro.

Exemplo de aplicação do tensiômetro: Um tensiômetro com um vacuômetro de Bourdon, foi

instalado a 30 cm de profundidade (altura correspondente à metade da cápsula porosa até a superfície do solo) e com uma altura do vacuômetro a superfície do solo de 10 cm, apresentando uma leitura de 160 mm Hg. Então, o potencial matricial (Ψm ) a 30 cm é:

160 mm Hg = 211 cm H2O

Ψm = 211 – 30 – 10 = 171 cm H2O Para se conhecer a umidade do solo, basta entrar com

este valor de Ψm na curva de retenção de água no solo, previamente elaborada no laboratório.

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Capítulo III

69

3.5 MANEJO DA ÁGUA

O manejo da água na cultura do morangueiro Fragaria x ananassa Duch apresenta-se de maneira diferenciada de outros sistemas de produção visto que a cultura apresenta particularidades importantes.

Apesar de ser uma planta perene, o morangueiro possui uma fase em que as mudas são produzidas e comercializadas e outra onde seus frutos são comercializados para o consumo “in natura” ou para industrialização (Figura 3.8). Para cada uma destas fases, que representam sistemas de produção diferentes, o manejo recomendado e normalmente adotado apresenta características totalmente distintas, como se fossem culturas diferentes.

3.5.1 Produção de mudas

O sistema de produção de mudas é baseado na fase de multiplicação da planta incentivada pelo fotoperíodo diário da época do ano, que faz com que a planta seja estimulada a desenvolver sua parte vegetativa/reprodutiva, em forma de estolhos.

Para esta etapa da produção, as mudas se desenvolvem ao redor da planta matriz, produzindo até 300 plântulas (filhotes) por planta mãe.

Como nesta etapa se formam as raízes, a partir de nós existentes nos estolhos, que necessitam de umidade no solo para que estas se desenvolvam, a disponibilidade de água é fundamental para o sucesso da produção. Todas as propriedades com esta atividade possuem a irrigação como fator fundamental no desenvolvimento desta fase.

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Figura 3.8 - Planta de morangueiro durante a formação de plântulas na fase reprodutiva (fase de produção de mudas).

A irrigação recomendada é a aspersão ou micro aspersão visto que toda a área ao redor das plantas matrizes necessita de umidade adequada ao longo de todo o ciclo (do transplante das matrizes até coleta das mudas). Quando as matrizes estão cultivadas no espaçamento adequado e existe crescimento compatível, o solo de toda a área fica coberto pelas plântulas a serem coletadas (Figura 3.9).

Em alguns sistemas de produção as mudas são cultivadas sob cobertura plástica e substrato artificial, que são recomendados em regiões com alta probabilidade de ocorrência de chuvas no período de produção de mudas. Nestes sistemas, o uso de irrigação por gotejamento é utilizado e recomendado, pois as plantas se desenvolvem dentro de recipientes que concentram as mudas juntas aos tubos gotejadores. Sempre que

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Capítulo III

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possível a irrigação por gotejamento deve ser usada, pois eliminando ou reduzindo o molhamento foliar, o risco de ocorrência de doenças é quase eliminado.

Figura 3.9 - Viveiro de produção de mudas na Argentina. Fase de cobertura total do solo cultivado (foto: Proplant Argentina).

O manejo da irrigação em viveiros de produção de mudas deve ser feito de modo que a umidade permaneça o maior tempo possível próxima à superfície. Isto é conseguido com irrigações freqüentes e volumes de irrigação menores.

Para o morangueiro, a boa disponibilidade de água durante a fase de crescimento vegetativo é fundamental, o que justifica o uso de irrigação complementar em regiões onde as chuvas são insuficientes para o consumo da planta (DWIER et al., 1987). Farias (1997) verificou que para uma maior produção de mudas e para produção de mudas de melhor qualidade, o potencial matricial da água no solo de -10 kPa é o

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mais adequado. No estudo este potencial foi assumido como equivalente à umidade do solo na capacidade de campo.

Portanto, recomenda-se, para se manejar a água de irrigação para produção de mudas de morangueiro com melhor qualidade e maior quantidade, o uso de tensiômetros, deixando a umidade no solo sempre próxima à capacidade de campo.

O método recomendado para o manejo é o de microaspersão ou de aspersão convencional, devendo-se fazer irrigação ao amanhecer ou nas primeiras horas da manhã.

Atenção especial deve ser dada à qualidade da água de irrigação, com o objetivo de reduzir inóculos de doenças. Conforme Balbino et al. (2004), a água pode ser portadora de linhagens patogênicas de Esclerotínia coli, Salmonella sp., Vibrio cholerae, Shigella sp., Cryptosporidium parvum,

Giardia lambia, Cyclospora cayetanensis, Toxiplasma gondii e os vírus Nowalk e hepatite A.

3.5.2 Produção de frutos

O sistema de produção de frutos inicia quando se faz o transplante das mudas ou plântulas para o canteiro definitivo. Normalmente nos canteiros são cultivadas duas linhas de plantas, estas espaçadas por aproximadamente 35 cm. Também podem ser usadas três ou quatro linhas de cultivo em cada canteiro (Figura 3.10).

O sistema radicular do morangueiro, que é fasciculado e superficial, surge na volta da coroa da planta. Apesar de poder chegar a 50 cm de profundidade, 95% das raízes encontra-se nos primeiros 20 cm (RONQUE, 1998).

Logo após o transplante das mudas, inicia-se um período vegetativo, onde o crescimento é rápido. Períodos de dias longos e temperaturas elevadas favorecem o crescimento vegetativo, que é fundamental para o número de gemas florais e, por conseqüência, para a produção (BRANZANTI, 1989). A

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Capítulo III

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qualidade de formação da muda também é um aspecto importantíssimo no potencial produtivo do morangueiro. A partir desta fase inicia-se a produção, que se dá juntamente com a ocorrência de novas flores, frutos, aumento da área foliar e do porte da planta.

Figura 3.10 - Canteiro de morangueiro em fase inicial de desenvolvimento, cultivado em três linhas no canteiro, com plantas espaçadas de 30 cm na linha (foto: Carlos Reisser Júnior).

O cultivo de morangos no Rio Grande do Sul, tem como características a utilização de túneis baixos, construídos com filmes plásticos transparentes, cobertura do solo dos canteiros com filmes plásticos pretos e irrigação por gotejamento sob a cobertura (REISSER JÚNIOR et al., 2004), tendo estas características elevada influência sobre o manejo de água da cultura, conforme descrito a seguir.

Cobertura do solo ou “mulching”: considera-se cobertura do solo todo o elemento colocado junto ao solo, que

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Morangueiro Irrigado

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tenha elevada resistência à transferência de vapor de água ou totalmente impermeável. Este tipo de cobertura, além de reduzir ou eliminar a evaporação da água nos canteiros, também é capaz de modificar totalmente o regime térmico do solo, conforme sua composição e coloração.

A variável que melhor se relaciona com o consumo de água pela planta, logo após o transplante das mudas, é a evapotranspiração de referência (ETo), com pouca influência da planta visto que esta se encontra com as folhas pouco desenvolvidas e sem a cobertura, a qual normalmente é colocada após o pegamento total das plântulas. A partir da análise da Figura 3.11 Coelho Filho et al. (2007) mostraram que no início do ciclo da cultura (até 50 dias após o plantio - DAP) a evapotranspiração da cultura ETc é totalmente dependente da ETo e semelhante na magnitude de seus valores.

Figura 3.11 - Variação da Evapotranspiração do morangueiro irrigado por gotejamento (ETc got) e por microaspersão (ETc mic) (A) e Evapotranspiração de referência (ETo) (B), no mesmo período, em função de dias após o plantio (DAP), município de Nova Porteirinha, MG (COELHO FILHO et al., 2007).

Estes valores semelhantes devem-se ao fato de que o solo no canteiro se apresentava sem cobertura. Logo após a

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Capítulo III

75

colocação de cobertura, os valores de Kc (coeficiente de cultivo) (que relaciona ETo com ETc) se tornam dependentes da área foliar da cultura e do método de irrigação (Figura 3.12).

Figura 3.12 - Coeficiente de cultivo do morangueiro irrigado por gotejamento (Kc Got) e por microaspersão (Kc Micro) em função da área foliar (AF), município de Nova Porteirinha, MG (COELHO FILHO et al., 2007).

Além dos filmes de polietileno, outros tipos de cobertura do solo também são importantes no aspecto consumo de água da cultura. Reisser Júnior et al. (2008) verificaram que em coberturas de polipropileno de tecido não tecido (TNT) a ETc é maior do que em coberturas de filme de polietileno preto. Os mesmos autores verificaram também que filmes de TNT branco, por não controlarem as plantas invasoras, tornam o consumo de água do sistema, mais elevado. Outro efeito das coberturas de solo impermeáveis verificado pelos autores é o retardo da infiltração de água da chuva ou redução do volume infiltrado junto à planta, quando comparado a outros sistemas de produção.

Cobertura das plantas (túneis e estufas): o uso de coberturas sobre as plantas dos canteiros é uma prática que está

0

0.2

0.4

0.6

0.8

1

1.2

1.4

1.6

1.8

2

0 0.02 0.04 0.06 0.08 0.1 0.12 0.14 0.16 0.18AF (m2)

Kc

KC Got KC Got = f (AF) Kc Micro Kc Micro = f (AF)

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presente nas lavouras de melhor qualidade, nas regiões onde ocorrem precipitações pluviométricas abundantes durante o ciclo de produção (Figura 3.13). A prática reduz a ocorrência de doenças ligadas à disponibilidade de água livre na folha e por este motivo reduz o aparecimento de doenças e o número de aplicações de fungicidas, melhorando a qualidade dos frutos.

Figura 3.13 - Sistema de produção de morangueiro com cobertura do solo e túnel baixo de polietileno branco (esquerda) e transparente (direita), no início do ciclo de produção de frutos.

Esta prática também produz impactos importantes no manejo da irrigação e outros aspectos ligados à água. A barreira exercida pelo plástico, além de reduzir a presença de água livre sobre a superfície das plantas, também apresenta outros benefícios como: aumento da temperatura junto ao dossel vegetativo, redução de danos mecânicos causados pelo vento e pela chuva e redução da radiação (dependendo da composição da cobertura), quando esta é excessiva (verão).

Com relação ao consumo de água, a evaporação e a evapotranspiração das culturas é reduzida dentro destes

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Capítulo III

77

ambientes, visto que em trabalhos comparativos verificou-se que tanto a evaporação do tanque classe A (FARIAS et al., 1994), quanto a evapotranspiração das culturas, medida com lisímetros (REISSER JÚNIOR, 1991), dentro de abrigos são menores. Sabe-se também que existe uma relação direta entre a redução da evapotranspiração das culturas em estufas plásticas e a redução da radiação global incidente sobre a cultura, provocada pela cobertura (REISSER JÚNIOR, 1991).

O polietileno de baixa densidade aditivado contra raios ultravioleta (PEbd anti-uv) apresenta transmissividade em torno de 80% da radiação solar global. Porém, com o envelhecimento, aderência de poeira e em conjunto com o efeito dos elementos estruturais, que lhe dão suporte, sua transmissividade média é reduzida para 70%. Outros materiais podem reduzir mais a radiação, como as telas de sombreamento ou os filmes não tecidos de polipropileno.

O motivo do aumento de produção em ambientes cobertos com polietileno, conforme Martinez Garcia (1978) é a redução do período diário de fechamento dos estômatos que, como conseqüência, aumenta a produção de matéria seca. Já para Reisser Júnior et al. (2003), as alterações morfológicas que ocorrem nas plantas cultivadas em estufas plásticas, típicas de plantas de sombra, contribuem para que estas mantenham os mesmos níveis de produção de biomassa em ambientes com redução de radiação. Outro efeito benéfico que influencia a produtividade é o aumento da eficiência de uso de radiação pelas plantas cultivadas nestes ambientes (RADIN, 2002).

Irrigação: os métodos de irrigação utilizados no sistema de produção de morangos são: irrigação localizada (sistema de gotejamento) e aspersão (sistema de aspersão convencional). Atualmente o sistema de gotejamento é o mais indicado, principalmente pela presença da cobertura plástica nos canteiros com túneis e pela redução do molhamento da folha da planta. Alguns sistemas de produção de morango,

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como é o caso da “Produção Integrada”, não aceitam outro sistema que não seja o de gotejamento.

-Aspersão: atualmente o sistema de irrigação por aspersão convencional e outros de alto consumo de energia, se encontram em desuso. Somente pequenos produtores menos tecnificados ainda adotam a prática, que somente seria recomendada para materiais genéticos de morangueiro resistentes às doenças, porém com baixo potencial produtivo. Estas lavouras, normalmente, utilizam baixa tecnologia e alcançam produtividades reduzidas, tornando o empreendimento pouco rentável (Figura 3.14).

Uma vantagem que o sistema apresenta é a possibilidade de uso para controle de geadas. Em locais onde é elevada a probabilidade de ocorrência de geadas tardias e é planejada a produção precoce (no início da safra gaúcha) é recomendado o uso desta técnica de controle de geadas.

Figura 3.14 - Lavoura de morangueiro irrigada por aspersão convencional, cobertura do solo com casca de arroz e mudas de baixa qualidade (foto: Carlos Reisser Júnior).

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Capítulo III

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-Gotejamento: o sistema de gotejamento se adequou perfeitamente ao sistema de produção de morangueiro, visto que a presença dos tubos gotejadores sob o filme de cobertura do solo (Figura 3.15) permite que se façam adubações em cobertura, sob o plástico, com adubos solúveis junto à água de irrigação (fertirrigação). A evolução deste sistema deve-se, além de sua eficiência de aplicação, à simplicidade dos seus componentes e dos acessórios que permitem outras utilizações. Uma das vantagens é a possibilidade de aplicação de produtos químicos no solo para controle de pragas.

Figura 3.15 - Lavoura de morangueiro irrigada por gotejamento, com cobertura do solo com filme plástico.

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3.5.3 Resposta do morangueiro à disponibilidade hídrica

De acordo com Krüger et al. (1999), o morangueiro é classificado como uma cultura susceptível e de baixa resistência ao estresse hídrico. Isto quer dizer que a cultura reduz muito seu potencial produtivo com pequenas reduções da umidade do solo. Os mesmos autores demonstraram que a produção, o tamanho e a qualidade dos frutos estão relacionados à irrigação.

O consumo de água das plantas varia dependendo de fatores como estágio de crescimento, potencial produtivo, condições climáticas e seus efeitos sobre a área foliar da cultura. Hoppula e Salo (2007) salientaram que estas variáveis podem se resumir na medida de umidade ou tensão da água no solo e proporcionar ao agricultor a informação mais importante na hora que ele desejar.

O morangueiro é tão sensível à falta de água que tentativas de elevar a eficiência do uso da água (relação entre a produção da planta e o consumo de água), mediante a redução da água aplicada, não foram eficientes para viabilizar a produção, visto que a redução da produtividade torna-se expressiva. Liu et al. (2007) verificaram que a redução do fornecimento de água para parte do sistema radicular é sentido pela planta como deficiência hídrica.

Em trabalhos em andamento na região sul do Brasil, verificou-se que a cultura responde claramente à disponibilidade de água ao longo do ciclo cultural. Manejando a irrigação com tensões mais elevadas (restrição de água) o morangueiro reduz sua produção (Figura 3.16).

O mesmo trabalho mostrou que a produção total por planta também apresenta relação com a tensão da água manejada. De acordo com a Figura 3.17, a tensão de água no solo mais adequada para produtividade máxima é próxima a 10 kPa ou 75 mmHg.

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Capítulo III

81

Figura 3.16 - Produção acumulada de morangos em função de dias após o início da produção (DAIC) para manejo da cultura com tensiômetros indicando tensões de 80, 120 e 160 mmHg. Caxias do Sul, 2008.

Figura 3.17 - Produtividade do morangueiro (Kg/planta) em função da tensão de água no solo, manejada com tensiometria. Caxias do Sul-RS, 2008.

0

200

400

600

800

1000

1200

1400

1600

1800

0 25 50 75 100 125 150DAIC

Prod acum (g/pl)

160

80

120

0

0,5

1

1,5

2

0 5 10 15 20

Tensão (KPa)

Produção (Kg/planta)

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Costa et al. (2007) recomendam que a disponibilidade de água não seja reduzida em mais do que 35% dos valores ideais indicados, mesmo em regiões ou períodos de baixa demanda atmosférica. Também recomendam que em períodos de alta demanda (ETo > 5mm/dia) esta redução não ultrapasse a 20%. Este tipo de informação indica que o produtor maneje a irrigação com alta freqüência e com redução do volume. Esta mesma recomendação é valida também para cultivos em solos de baixa capacidade de armazenamento.

Na região produtora de morangos do município de Turuçu-RS vários produtores já estão testando o uso de tensiômetros para o manejo da irrigação em suas lavouras. A Figura 3.18 apresenta a distribuição dos valores diários de tensão de água no solo, verificados em tensiômetros instalados a 20 cm de profundidade, em 15 lavouras pertencentes a produtores de morango de Turuçú, indicando os valores de tensão de água no solo adotados por cada produtor no manejo de irrigação.

Figura 3.18 - Valores de tensão da água no solo medidos em tensiômetros instalados a 20 cm de profundidade em lavouras de produtores de morango do município de Turuçu-RS. Turuçu, 2007.

Produtores

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17

Tensão (mmHg)

0

100

200

300

400

500

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83

Foi verificado que os produtores que atingiram as maiores produtividades, manejaram a água com tensões semelhantes entre os primeiros 30 cm de profundidade do solo (Figura 3.19). Também foi constatado que, nos períodos de maior demanda (próximo ao verão), a frequência de irrigação era de dois dias e o sistema ligado durante uma hora. Neste período, as tensões foram manejadas de modo a manter a tensão entre 40 e 70 mmHg (5,3 kPa e 9,2 kPa).

Na mesma Figura 3.19, observa-se que, na maior parte do tempo, a lâmina de água armazenada no solo permaneceu entre 60 e 80 mm, logo após as chuvas, quando cessava a drenagem de água livre, ou seja, umidade do solo referente à capacidade de campo.

Figura 3.19 - Leituras dos tensiômetros a 20 e 30 cm (20 e 30) de profundidade, utilizados para o manejo de irrigação na cultura de morangueiro, chuva, tempo de irrigação (irrig) e lâmina armazenada de água (LamDisp), até 30 cm de profundidade, no ano de 2007. Turuçu-RS, 2007.

Outras formas de manejo da irrigação da cultura, como os métodos climatológicos, baseados em balanços da água no

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solo, são possíveis porém há uma maior necessidade de dados do clima e do solo. Com manejos deste tipo, Trout e Gartung (2004) verificaram que o morangueiro atingiu as maiores produtividades (0,8 kg/planta) quando se aplicavam lâminas de água via irrigação iguais a 125% da ETc. No trabalho destes autores, a cultura foi cultivada sobre plástico preto e sem cobertura de túneis de cultivo.

Outros autores, usando um manejo climatológico semelhante, onde a ETo era calculada a partir dos dados de evaporação do tanque Classe A, verificaram que as maiores produtividades foram conseguidas com a aplicação de lâminas de água iguais a ETo (Kc=1,0) (YUAN et al., 2004). Estes autores realizaram o trabalho em estufas plásticas, onde a demanda atmosférica normalmente é menor do que em ambiente natural. Esta redução permite que se trabalhe com valores de umidade no solo mais baixos.

3.5.4 Manejo da irrigação localizada

A resposta às perguntas básicas, “quando?” e “quanto?” irrigar, é que definem a maneira correta de se aplicar água no solo para atender as necessidades hídricas da cultura, de forma a proporcionar a condição ideal de umidade do solo para o seu desenvolvimento. Porém, não é a maximização da produtividade o principal desafio do manejo correto, mas sim a viabilidade econômica da prática.

As formas de programação da irrigação baseiam-se em dados climáticos, ou em função da umidade do solo, ou também em função de indicadores de estresse hídrico.

a) Dados Climáticos: o manejo por meio dos dados climáticos é função do balanço hídrico do solo. Os volumes de água a considerar como “entrada” são os precipitados na área (chuva e irrigação). Estes volumes devem ser avaliados, pois devem ser considerados somente aqueles que ficam

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Capítulo III

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efetivamente disponíveis para a cultura. Já dentre os volumes considerados como “saída” de água, a evapotranspiração de referência (ETo) deve ser calculada ou estimada utilizando-se um dos vários métodos de cálculo descritos na literatura. O método de Penman é um dos que melhor calcula a ETo, porém apresenta como desvantagem a necessidade de medida de vários parâmetros meteorológicos. Outra maneira de se estimar a ETo é por meio da medida de Evaporação do tanque “Classe A”, que, juntamente com alguns coeficientes, permite estimar a evapotranspiração da cultura do morangueiro, quando multiplicado pelo coeficiente de cultura Kc (Figura 3.12).

Na Tabela 3.1 encontram-se valores de Kc do morangueiro determinados para as condições do Estado da Califórnia-EUA.

Tabela 3.1 – Coeficientes de cultivo (Kc) para o morangueiro em condições de ETo entre 1,5 a 4,7 mm/dia.

DAP 0 15 30 45 60 75 90

Kc 0,15 0,18 0,25 0,35 0,45 0,55 0,62

DAP 105 120 135 150 165 180 195

Kc 0,65 0,68 0,69 0,69 0,69 0,79 0,70

DAP- Dias após o plantio. Adaptada de Hanson e Bendixen (1985).

Os volumes ou lâminas de água a serem aplicados

devem ser administrados considerando o espaçamento da cultura (dentro do canteiro) e a profundidade do sistema radicular (em torno de 30 cm). A aplicação de água via gotejadores forma um bulbo úmido que deve ser considerado na hora de irrigar (Figura 3.20).

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Morangueiro Irrigado

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Figura 3.20 - Movimento da água no sentido vertical e horizontal, a partir dos pontos de emissão.

b) Umidade do solo: o manejo da irrigação em função da umidade do solo baseia-se na informação da tensão com que a água se encontra retida no solo. A tensão, quando medida com equipamentos como o tensiômetro, é relacionada com a umidade do solo (curva de retenção de água no solo) e pode ser medida em kPa, mmHg e também em bar.

Alguns problemas inerentes ao sistema, como falta de representatividade do ponto medido, podem ser reparados com um número maior de pontos de medição.

No caso de tensiômetros, recomenda-se a sua colocação em duas profundidades, uma informa o momento de iniciar a irrigar (o mais superficial) e o outro o momento de parar a irrigação (o mais profundo). Para o morangueiro, a instalação nas profundidades de 20 e 30 cm pode promover um bom manejo.

c) Indicadores de estresse hídrico: esta forma de manejar a irrigação é a mais técnica e também necessita de maior número de equipamentos e informações da fisiologia da planta. Mesmo sendo a mais correta, pois indica quando a

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Capítulo III

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planta necessita ou possui água em demasia, é a mais difícil, sendo indicada para pesquisas científicas.

3.5.5 Fertirrigação

Como foi comentado anteriormente, o uso de irrigação por gotejamento permitiu que fosse criada uma forma nova de aplicar adubos agrícolas. Nos sistemas brasileiros de produção, a colocação de adubos era feita em forma sólida e normalmente aplicada na base, pouco antes da implantação da cultura e por cobertura, quando a cultura estava em desenvolvimento.

A aplicação de base se recomendava para adubos menos solúveis e os de cobertura para os mais solúveis e necessários nos estágios finais da cultura.

O uso de coberturas plásticas para o controle de invasoras tornou a adubação de cobertura uma prática quase impossível de ser feita. Com o aparecimento das fitas gotejadoras ou tubos gotejadores e os adubos solúveis, esta prática viabilizou-se criando uma nomenclatura nova para esta prática que é a fertirrigação.

Por um lado a técnica promove economia de adubos, melhora a assimilação dos nutrientes, permite fracionar aplicações e adequá-las às necessidades das plantas, permite rapidez na correção das fertilizações e reduz o custo da prática. Por outro lado, pode reduzir a uniformidade de aplicação de água devido a entupimentos dos gotejadores, necessita de maiores conhecimentos técnicos para o manejo e pode salinizar o solo.

Basicamente o sistema é composto por um tanque de adubação, onde se realiza os preparos dos adubos a serem aplicados, um injetor e um dosador de adubos.

Cuidados devem ser tomados com esta prática, principalmente nas dosagens utilizadas e nas necessidades momentâneas da planta.

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O morangueiro é uma cultura que apresenta alta sensibilidade à salinidade. Esta sensibilidade é dependente do material genético, sendo que algumas cultivares apresentam maior tolerância ao estresse salino. Casierra-Posada e Riaño (2006) verificaram que níveis elevados de sais no solo, variando de 2,6 a 12,6 dS/m, determinaram reduções de até 20% na produtividade da cultivar Sweet Charlie. O aumento nos níveis de salinidade reduziu em até 50% a produtividade da cultivar Camarosa, a mais susceptível a este problema.

3.6 LITERATURA CITADA

BALBINO, J. M de S.; ATHAYDE, M. O.; TEIXEIRA, C. P.; COSTA, H. Tecnologias para produção de mudas e cultivo comercial de morango. In: BALBINO, J. M. de S. Tecnologias para produção colheita e pós-colheita de morangueiro. Vitória-ES, Incaper, p. 25-34. 2004. Incaper Documentos 124.

BRANZANTI, E. C. La fresa. Madrid: Mundi-Prensa, 1989. 386 p.

CASIERRA-POSADA, F.; RIAÑO, N. G. Produción y calidade de fruta en cultivares de fresa (Fragaria sp.) afectados por estrés salino. Revista de la Facultad Nacional Agrária de Medelin, v. 59, n. 2, p. 3527-3542, 2006.

COELHO FILHO, M. A.; COELHO, E. F.; COSTA, E. L.; OLIVEIRA, V. M. de O.; SILVA, T. S. M.; DINIZ, R. S.; SILVA, A. J. P. da. Evapotranspiração de morangueiro no norte de Minas Gerais. In: Congresso Nacional de Irrigação e Drenagem, 2007, Mossoró. Anais do XVII Congresso Nacional de Irrigação e Drenagem, 2007.

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Capítulo III

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COSTA, E. L. da; COELHO, E. F.; COELHO FILHO, M. A. Irrigação do morangueiro. Informe agropecuário. Belo Horizonte, v. 28, n. 236, p. 50-55, 2007.

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FARIAS, C. A. Produção e qualidade de mudas de morangueiro (Fragaria x ananassa Duch.) sob diferentes níveis de irrigação em Pelotas, RS. 1997, 53p. Dissertação. (Mestrado em Agronomia) - Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, 1997.

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HANSON, B.; BENDIXEN, W. Drip irragation evaluated in Santa Maria Valley strawberries. California Agriculture, v. 58, n. 1, p. 48-53, 1985.

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Morangueiro Irrigado

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REISSER JÚNIOR, C.; ANTUNES, L. E. C.; RADIN, B. Técnicas de proteção da cultura do morangueiro com filmes de polietileno de baixa densidade. In:. Simpósio nacional do morango, 2, Encontro de pequenas frutas e frutas nativas do mercosul, 1. 2004, Pelotas. Palestras... Pelotas: Embrapa Clima Temperado, 2004. p. 115-132, 2004 (Embrapa Clima Temperado. Documentos 124).

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Capítulo III

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REISSER JÚNIOR, C.; CARVALHO, J. C.; CASTAÑEDA, L. M. F.; RISTOW, N. C.; CARPENEDO, S.; ANTUNES, L. E. C. Water potential change in the beds of strawberry cultivated under different types of mulching. In: INTERNATIONAL STRAWBERRY SYMPOSIUM, 6., 2008, Huelva. Book of Abstracts VI International Strawberry Symposium ISHS. Huelva: Junta da Andalucia, 2008. v. 1. p. 292-292.

RONQUE, E. R. V. A cultura do morangueiro: revisão e prática. Curitiba: EMATER-Paraná, 206 p. 1998.

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YUAN, B. Z.; SUN, J.; NISHIYAMA, S. Effect of drip irrigation on strawberry growth and yield inside a plastic greenhouse. Biosystems Engineering, v. 87, n. 2, p. 237-245, 2004.

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CAPÍTULO 4 - QUALIDADE DA ÁGUA

Carina Costa Estrela

Maria Laura Turino Mattos

Luís Carlos Timm

Vitor Emanuel Quevedo Tavares

Leandro Sanzi Aquino

Gabrieli da Cunha Pereira

Manoela Terra de Almeida

Carla Denize Venzke

4.1 A ÁGUA USADA NA AGRICULTURA

Desde a antiguidade as principais civilizações originaram-se em regiões áridas e fixaram-se à margem de rios como o Nilo no Egito, Tigre e Eufrates na Mesopotâmia, Ganges na Índia e Huang Ho e Iang-tse-Kiang na China. O uso dos recursos hidráulicos possibilitou o surgimento e a conservação destes povos demonstrando que a irrigação sempre foi um fator de riqueza, prosperidade e segurança (MANTOVANI; BERNARDO; PALARETTI, 2006).

Considerada no passado como uma opção técnica para a garantia de produção em locais ou períodos onde predomina a seca, a irrigação passou a ser utilizada na atualidade, como estratégia para o aumento da produção e rentabilidade da propriedade agrícola (MANTOVANI; BERNARDO; PALARETTI, 2006). A irrigação proporciona ainda uma

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Capítulo IV

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produtividade considerada segura, pois, independentemente da ocorrência de precipitações, possibilita que normalmente a produção próxima à máxima esperada seja alcançada, viabilizando os investimentos de capital necessários à exploração agrícola (OLITTA, 1984).

O uso da irrigação na produção de alimentos é a atividade que mais utiliza água no mundo (MAÑAS; FUSTER; BELMONTE, 2005; TUNDISI, 2003). A irrigação é a técnica que complementa a necessidade de água, naturalmente fornecida pela precipitação, promovendo teor de umidade adequado ao solo que permite o crescimento normal das plantas, garantindo a produção agrícola (SETTI et al., 2001). Portanto, sendo considerada como elemento fomentador do desenvolvimento socioeconômico (TESTEZLAF; MATSURA; CARDOSO, 2002).

A alta demanda hídrica pela irrigação, embora esteja relacionada ao alto consumo das plantas, muitas vezes, também se deve a baixa eficiência no uso da água. Devido ao emprego incorreto dos métodos e/ou das técnicas de manejo da irrigação no Brasil, as perdas de água chegam ao valor estimado de 37,7% (CHRISTOFIDIS, 1999 apud VANZELA, 2004).

Quirino et al. (1999) descrevem que não só as águas superficiais, como também os mananciais subterrâneos tem sido prejudicados pelo desenvolvimento agropecuário devido às condições climáticas e ao despreparo dos agricultores quanto à utilização de um manejo adequado.

A agricultura brasileira, conforme descrevem Rodrigues et al. (2004), gera problemas ambientais tais como: destruição da cobertura vegetal e a consequente destruição dos solos; utilização de insumos e máquinas em excesso na tentativa de dirimir os problemas de fertilidade, associados a problemas de qualidade da produção e comprometimento da saúde dos trabalhadores e consumidores; e o avanço das áreas

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agrícolas sobre as reservas naturais como forma de reposição dos solos tornados inadequados à agricultura.

4.1.1 A água usada na cultura do morangueiro

Os estudos que fornecem a sustentação ao uso racional da água sob diferentes circunstâncias ambientais são de grande importância segundo Pires et al. (2006), sendo que no Brasil a irrigação é uma técnica essencial para o cultivo do morango, devido à sensibilidade da cultura aos déficits hídricos, podendo exercer forte interferência no crescimento da planta e na produtividade.

O nível tecnológico da irrigação empregado nos diferentes Estados é bastante variado, adaptando-se às condições de clima e à capacidade de investimento do produtor. Nos Estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, em virtude da ocorrência de registros pluviométricos elevados durante o ciclo da cultura, mais de 50% dos cultivos ocorrem sob plástico (túneis baixos, túneis altos e casas de vegetação).

No Brasil, até a década de 80, a maior parte das lavouras de morangueiro era irrigada por aspersão que, por meio dos respingos causados pelo impacto das gotas d'água, contribui na disseminação de patógenos, tornando indispensáveis os tratamentos fitossanitários, oferecendo alto risco à saúde do produtor e do consumidor. Estes fatores, conforme Santos, Medeiros e Wrege (2003), favoreceram a adoção da irrigação por gotejamento.

A irrigação por gotejamento permite que se mantenha o solo úmido e com boa aeração, devido ao fato de que este sistema permite aplicar pequenas quantidades de água com alta frequência de irrigação, mantendo sua umidade sempre próxima à capacidade de campo na zona radicular. Bernardo, Soares e Mantovani (2006) destacaram que o sistema de irrigação localizada permite uma maior eficiência no controle

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fitossanitário, não interfere nas práticas culturais e se adapta a diferentes tipos de solos e topografia.

4.2 QUALIDADE DA ÁGUA USADA NA IRRIGAÇÃO

A irrigação é definida por Lima et al. (2004), como o conjunto de técnicas destinadas a deslocar a água no intuito de modificar as possibilidades agrícolas de cada região, visando corrigir a distribuição natural das chuvas. Os mesmos autores ainda comentam que, enquanto complementação às demais técnicas agrícolas, a irrigação proporciona ao produtor alcançar a máxima produção, com o mínimo desperdício de água e energia quando desenvolvida por meio de um manejo racional, fornecendo a cultura a quantidade de água necessária e a aplicação no momento correto.

Qualquer atividade humana que altere o regime das águas influencia a qualidade e a disponibilidade da água em uma bacia hidrográfica, afetando drasticamente a qualidade dos recursos hídricos superficiais e subterrâneos (SETTI et al., 2001; COSTA et al., 2005). A irrigação, quando utilizada de forma incorreta sem a adoção de técnicas especiais para o aproveitamento racional visando o mínimo desperdício de água, além de afetar a qualidade do solo pode causar problemas quantitativos nos corpos hídricos.

Como forma consuntiva de água, onde parte da água utilizada não retorna ao seu curso original, a irrigação pode causar a redução efetiva da disponibilidade do manancial e a contaminação por meio da água que retorna, além de modificações no meio ambiente, salinização do solo nas regiões áridas e semi-áridas e problemas de saúde pública (LIMA et al., 2007).

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Os impactos negativos, gerados por sistemas de irrigação inadequadamente projetados e manejados de forma não apropriada, podem comprometer o desenvolvimento da irrigação, pois esses impactos afetam geralmente os recursos naturais (água, solo, flora e fauna) tendo consequências sociais (qualidade de vida) e econômicas (TESTEZLAF; MATSURA; CARDOSO, 2002). Ainda segundo os autores, o primeiro recurso natural que irá sofrer os efeitos do uso da irrigação é o recurso hídrico, pois a aplicação desuniforme e incorreta proporciona desperdício de água e de insumos químicos que venham a ser aplicados via irrigação. Além disto, as aplicações excessivas de água podem contaminar, por meio da lixiviação, águas superficiais e subterrâneas, prejudicando e comprometendo a fauna e a flora da região. O solo é outro recurso natural que pode sofrer o impacto destas aplicações excessivas, que podem vir a causar tanto a compactação quanto a desagregação de partículas. O escoamento superficial pode causar erosão, transportando sedimentos e nutrientes, retirando a camada superficial e expondo horizontes mais profundos inférteis.

Entretanto, os efeitos adversos acima citados, podem ser solucionados e algumas ações são recomendadas para aperfeiçoar o seu uso e minimizar os impactos, tais como: i) os dimensionamentos dos sistemas de irrigação devem estar adequados às necessidades da cultura e às condições da propriedade; ii) o manejo de água deve ser realizado racionalmente, atendendo as necessidades da cultura e as limitações do solo da propriedade; iii) a operação dos equipamentos deve atender as especificações de projeto e as técnicas de cultivo devem ser apropriadas à lavoura irrigada (TESTEZLAF; MATSURA; CARDOSO, 2002).

Os problemas mais comuns estão relacionados com a salinidade do solo, infiltração de água, toxicidade de íons específicos e outros problemas tais como excesso de nutrientes,

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Capítulo IV

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oligoelementos ou corrosão de equipamentos (AYERS; WESTCOT, 1999). Em relação à contaminação dos produtos agrícolas, os diferentes métodos de irrigação, devido a características que cada um apresenta, podem levar à contaminação de toda a planta, da parte aérea ou apenas do sistema radicular (MATTOS, 2003).

4.2.1 Qualidade da água usada na irrigação localizada

A irrigação localizada consiste na distribuição de água por uma rede de tubos que apresentam emissores afixados, responsáveis por aplicar a água muito próximo da zona radicular, em pequenas intensidades e alta freqüência, apresentando um elevado potencial de produtividade e uso eficiente da água na irrigação (MANTOVANI; BERNARDO; PALARETTI, 2006).

O sistema de cultivo e o sistema de irrigação adotados são determinantes quanto à caracterização da qualidade da água, especialmente na produção de vegetais consumidos crus, sem remoção de película, para os quais uma melhor qualidade de água é exigida a fim de evitar a contaminação dos produtos agrícolas. Neste sentido, a irrigação localizada por gotejamento propicia a aplicação de água diretamente ao volume de solo explorado pelo sistema radicular diminuindo a contaminação de folhas e frutos (MATTOS, 2003). A irrigação pode ser complementada pela cobertura do solo, que segundo Ronque (1998) e Santos e Medeiros (2003), tem como um dos principais objetivos evitar o contato direto dos frutos com o solo, proporcionando uma melhor qualidade.

Vieira et al. (2004) descrevem a uniformidade na distribuição de água como um dos aspectos mais importantes no método de irrigação localizada por gotejamento, porém, obstruções físicas dos emissores podem comprometer esta uniformidade, causando danos às culturas.

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De acordo com diversos autores (OLITTA, 1984; NAKAYAMA; BUCKS, 1986 apud VANZELA, 2004; VIEIRA et al., 2004; ZAMBERLAN, 2007), a obstrução física de tubulações e emissores é um dos principais problemas relacionados à qualidade da água usada neste método de irrigação.

As origens do entupimento de emissores foram classificadas quanto à causa como: físicas - entupimento por partículas minerais e orgânicas; químicas - precipitação de sais; e biológicas - desenvolvimento de microrganismos (MANTOVANI; BERNARDO; PALARETTI, 2006).

As partículas minerais e orgânicas podem e devem ser evitadas instalando sistemas de filtragem (filtros de areia, ou de tela, ou de discos ou de ação centrífuga), comumente usados na irrigação localizada. Os filtros de discos, que são os mais utilizados pelos produtores de morango do município de Turuçu-RS, são compostos por um conjunto de pequenos anéis, com ranhuras, presos sobre um suporte central cilíndrico e perfurado, filtrando a água ao passar pelos pequenos condutos formados entre os anéis consecutivos. São mais eficientes que os filtros de tela e mais fáceis de limpar quando comparados aos demais (BERNARDO; SOARES; MONTAVANI, 2006).

A sensibilidade ao entupimento dos diferentes tipos de gotejadores e a qualidade da água a ser usada na irrigação são determinantes no dimensionamento do sistema a ser adotado bem como a viabilidade do uso deste método de irrigação. Sendo assim diversos trabalhos vêm destacando a importância de avaliar a qualidade da água principalmente em sistemas de irrigação por gotejamento: Resende et al. (2001), Ribeiro et al. (2005), Scatolini e Paterniani (2001) e Testezlaf et al. (2001), dentre outros.

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4.3 FONTES DE CAPTAÇÃO DE ÁGUA PARA IRRIGAÇÃO

As principais fontes de captação de água para irrigação são rios, lagos ou reservatórios onde diversos fatores devem ser considerados na análise da adaptabilidade da fonte para sua utilização na irrigação. Dentre estes estão o volume de água disponível e a qualidade da água (ALBUQUERQUE; DURÃES, 2008).

O correto manejo das lavouras e das áreas que influenciam as fontes de captação de água pode evitar danos à qualidade da água. Dentre estas práticas, a manutenção da vegetação ciliar é um exemplo, pois atua como uma barreira física entre os sistemas terrestres e aquáticos, promovendo a estabilização das margens, reduzindo as perdas de solo pela erosão e o assoreamento nos mananciais, reduzindo também, a possibilidade de contaminação dos cursos d’água por sedimentos e resíduos agroquímicos, por ser um excelente consumidor de nutrientes provenientes de agroecossistemas vizinhos. Sendo assim, a falta da vegetação ciliar pode levar à redução não só da quantidade e da disponibilidade como também da qualidade da água dos corpos hídricos (COSTA et al., 2005).

A irrigação depende tanto da qualidade quanto da quantidade de água de um determinado corpo hídrico, que pelos usos intensivos atuais vêm sofrendo alterações. Por este motivo, a demanda de água para irrigação, torna-se um assunto a ser tratado com mais atenção, devido à qualidade da água exigida para garantir uma produção que atenda as demandas, impostas pelos exigentes mercados compradores de frutas e produtos agrícolas in natura (RODRIGUES et al., 2004).

O conhecimento e a habilidade no manejo da água no sistema de irrigação, por parte do usuário, além do clima e do tipo de solo, são determinantes quando se trata de problemas

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relativos à qualidade da água de irrigação (AYERS; WESTCOT, 1999). Desta forma, é importante o desenvolvimento de estudos mais detalhados sobre a dinâmica da água e o manejo do solo no entorno das fontes de captação de água para irrigação, no que se refere a seus parâmetros de qualidade, que possam vir a interferir na eficiência da irrigação, por oferecerem riscos ao sistema e à qualidade do produto.

4.4 ESTUDO DE CASO: QUALIDADE DA ÁGUA USADA PARA IRRIGAÇÃO DO MORANGUEIRO NO MUNICÍPIO DE TURUÇU-RS

No município de Turuçu-RS, as principais atividades econômicas desenvolvidas são a pecuária leiteira, a produção de frutíferas de clima temperado, de fumo e de pimenta vermelha. Dentre as frutíferas, destaca-se o morangueiro que proporciona aos produtores rurais deste município, boa rentabilidade constituindo-se em instrumento de geração de emprego e renda, inclusão social e assim incrementando o padrão de qualidade de vida destes produtores.

A irrigação localizada por gotejamento foi um dos incrementos tecnológicos adotados na produção do morangueiro em Turuçu-RS, que possibilitou aos produtores alcançarem produtividades maiores desta cultura. Embora reconhecida a sua importância e seus benefícios pelos agricultores, existe uma carência de informações relacionadas à qualidade da água que vem sendo aplicada à cultura, justificando desta forma o presente estudo de caso.

Este estudo envolveu 14 produtores que pertencem à Associação de Produtores de Morangos de Turuçu – RS e teve como objetivos: i) caracterizar e avaliar as fontes de captação de água usada para irrigação das lavouras de morangos; ii) quantificar os parâmetros de qualidade dessa água, que

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Capítulo IV

101

indicam o potencial de ocorrência de danos ao sistema de irrigação localizada; iii) avaliar e quantificar a variabilidade espacial e temporal da qualidade dessa água.

Para o atendimento dos objetivos acima descritos, foram caracterizadas as fontes de captação de água usada para irrigação, sob os aspectos de recarga e origem de abastecimento. Também foram coletadas mensalmente amostras de água em cada uma das propriedades envolvidas, durante um período de 14 meses (outubro de 2007 a novembro de 2008), determinando suas características físicas (sólidos suspensos, sólidos dissolvidos e turbidez), químicas (pH, ferro total, oxigênio dissolvido, condutividade elétrica e dureza), e microbiológicas (coliformes totais e fecais).

Estas características foram avaliadas quanto ao potencial de causar danos ao sistema de irrigação por gotejamento (Tabela 4.1) e quanto a sua distribuição espacial e temporal ao longo do período utilizando gráficos em caixa.

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Tabela 4.1 – Classificação da qualidade da água de irrigação quanto ao potencial em causar danos no sistema de irrigação localizada, quanto ao excesso de sólidos e carga orgânica, quanto ao risco de salinização do solo e quanto ao risco de precipitação de sais (VANZELA, 2004).

Problema Limites Estabelecidos Referência

Dano a

sistemas de

irrigação

localizada

Classificação Baixo Médio Alto

Nakayama

e Bucks

(1986)

Sólidos

Suspensos

(mg/L)

< 50 50 – 100 > 100

Sólidos

Dissolvidos

(mg/L)

< 500 500 – 2.000 > 2.000

pH < 7,0 7,0 – 8,0 > 8,0

Ferro Total

(mg/L) < 0,2 0,2 – 1,5 > 1,5

Excesso de

sólidos e

carga

orgânica

Classificação Adequado Inadequado Resolução

CONAMA

nº 357/05

classe I

Turbidez (NTU) ≤ 40 > 40

Oxigênio

Dissolvido ≥ 6,0 < 6,0

Risco de

salinização

do solo

Classificação Baixo Médio Alto U.S.D.A.

Agriculture

Handbook

nº 60

Condutividade

elétrica

(µS/cm a 25ºC)

< 250 250 - 750 > 750

Risco de

precipitação

de Sais

Classificação Baixo Médio Alto Pitts;

Haman;

Smajstla

(1990)

Dureza

(mg CaCO3/L) < 150 150 – 300 > 300

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Capítulo IV

103

4.4.1 Caracterização e origem das fontes de captação de água para irrigação

A água para irrigação das lavouras de morangos em Turuçu é captada em reservatórios artificiais exceto em uma das 14 propriedades envolvidas, que utiliza como fonte de captação um corpo de água corrente. Os reservatórios artificiais utilizados nas propriedades envolvidas não foram construídos a partir de projetos técnicos, mas sim a partir da experiência e do conhecimento do produtor, em áreas identificadas com potencialidade de acumular água.

Em cada uma das propriedades, os reservatórios construídos apresentaram características diferentes quanto à origem e quanto ao tipo de recarga, sendo: seis fontes de captação com reservatórios originados por nascentes e abastecidos por água subterrânea; cinco fontes originadas de banhados e abastecidas por nascentes ou cabeceiras de cursos d’água; e três fontes de reservatórios construídos a partir de barramentos, utilizando a declividade natural do terreno sendo abastecidos pelo escoamento superficial.

As atividades agrícolas desenvolvidas em cada uma das propriedades apresentaram particularidades quanto à ocupação e uso do solo no entorno das fontes de captação. Foram identificadas: fontes de captação mais isoladas com difícil acesso pela densidade da vegetação do entorno (Figura 4.1); fontes com presença de animais domésticos em seu entorno, incluindo estábulos para o abrigo dos mesmos na área de contribuição do reservatório (Figura 4.2); fontes com lavouras de fumo em seu entorno (Figura 4.3); e reservatórios circundados por estrada sem barreira de proteção (Figura 4.4).

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Morangueiro Irrigado

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Figura 4.1 - Fonte de captação isolada com difícil acesso pela densidade da vegetação do entorno, Turuçu, RS.

Figura 4.2 - Fonte de captação de água com estábulo para o abrigo de animais, na área de contribuição do reservatório, Turuçu, RS.

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Capítulo IV

105

Figura 4.3 - Entorno de fonte da captação com lavoura de fumo, Turuçu, RS.

Figura 4.4 - Reservatório circundado por estrada, Turuçu, RS.

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Morangueiro Irrigado

106

4.4.2 Potencial de risco de danos ao sistema de irrigação do morangueiro

Dentre os parâmetros físicos utilizados para avaliar o risco de entupimento dos gotejadores, nos sistemas de irrigação do morangueiro em Turuçu-RS, a concentração de sólidos em suspensão apresentou o maior número de amostras classificadas como baixo potencial de risco. Os maiores valores foram obtidos nas fontes de captação em que o entorno apresentava pouca cobertura do solo, com presença de lavouras de fumo. Também foram encontrados valores elevados na água coletada em um reservatório circundado por uma estrada.

A concentração de sólidos dissolvidos apresentou baixo potencial de risco em quase todas as amostras analisadas, exceto em uma fonte, que apresentou potencial de risco moderado em uma amostra coletada no período em que o solo estava sendo preparado para a implantação da lavoura de fumo (Figura 4.5). Este fato possibilita relacionar o resultado mais alto da concentração de sólidos dissolvidos com o manejo do solo no entorno do reservatório.

Os valores de turbidez foram menores nas fontes de captação nas quais o entorno estava protegido pela cobertura vegetal. Os reservatórios construídos a partir de barramentos, utilizando a declividade natural do terreno e abastecidos pelo escoamento superficial, apresentaram maior número de amostras classificadas como inadequadas, em relação a este parâmetro.

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Capítulo IV

107

Figura 4.5 - Valores máximos da concentração de sólidos dissolvidos na água de irrigação, em cada uma das propriedades, ao longo do período de coleta, e o padrão de qualidade da água quanto ao potencial de risco de danos no sistema de irrigação.

Dentre os parâmetros químicos, os valores da concentração de ferro total, na maioria das amostras de água analisadas, apresentaram valores que caracterizam moderado potencial de risco de dano ao sistema, sendo que os valores máximos obtidos em cada uma das propriedades envolvidas estiveram muito acima dos limites estabelecidos para a classificação do potencial de risco como severo (Figura 4.6).

Já os parâmetros químicos condutividade elétrica e dureza total apresentaram potencial de risco baixo em todas as amostras de água analisadas ao longo deste estudo.

Valores Máximos da concentração de sólidos dissolvidos

0,00

500,00

1.000,00

1.500,00

2.000,00

2.500,00

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14

Propriedades

mg/L

Severo

Moderado

Baixo

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Morangueiro Irrigado

108

Figura 4.6 - Valores máximos da concentração de ferro total na água de irrigação, em cada uma das propriedades, ao longo do período de coleta, e o padrão de qualidade da água quanto ao potencial de risco a causar danos no sistema de irrigação.

Nas análises dos parâmetros microbiológicos, a presença de coliformes totais não foi detectada em quatro amostras de água. As bactérias do grupo coliformes são encontradas na água e no solo, sendo assim, dificilmente sua presença não é detectada em águas superficiais. Já as bactérias do grupo coliformes fecais são indicadoras de organismos originários do trato intestinal humano e de outros animais de sangue quente, sendo assim indicadoras de contaminação por fezes de animais. Na grande maioria das propriedades envolvidas foi observada a presença de animais no entorno das fontes de captação, o que explicaria os percentuais elevados de amostras com presença de coliformes fecais.

Valores Máximos da concentração de ferro total

0,00

2,00

4,00

6,00

8,00

10,00

12,00

14,00

16,00

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14

Propriedades

mg/L

Severo

Moderado Baixo

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Capítulo IV

109

4.4.3 Variabilidade espacial e temporal da qualidade da água de irrigação

Foram realizadas coletas mensais de água em cada fonte de captação, sendo feita uma avaliação do comportamento de cada um dos parâmetros acima descritos, ao longo do período, em cada uma das propriedades envolvidas.

Para cada um dos parâmetros analisados, a qualidade da água usada para irrigação do morangueiro nas propriedades envolvidas apresentou variabilidade espacial e temporal com diferentes magnitudes. A concentração de sólidos dissolvidos apresentou a maior variabilidade dentre os parâmetros físicos e o oxigênio dissolvido dentre os parâmetros químicos. A variabilidade destes parâmetros pode ser observada nos gráficos em caixa apresentados na Figura 4.7 e na Figura 4.8, respectivamente.

Meses

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15

Concentração de Sólidos Dissolvidos

(mg/l)

0

100

200

300

400

500

600

700

Figura 4.7 - Variabilidade espacial e temporal da concentração de sólidos em suspensão nas 14 propriedades durante os 14 meses de coleta de amostras de água utilizada para irrigação.

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Meses

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15

Concentração de Oxigênio Dissolvido

(mg OD/l-1)

0

2

4

6

8

10

12

14

Figura 4.8 - Variabilidade espacial e temporal da concentração de oxigênio dissolvido nas 14 propriedades durante os 14 meses de coleta de amostras de água utilizada para irrigação.

A variabilidade, tanto espacial como temporal, dos parâmetros químicos de qualidade da água de irrigação apresentou maior amplitude, quando comparada à variabilidade dos parâmetros físicos.

4.5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

As fontes de captação de água para irrigação das lavouras de morangos em Turuçu – RS merecem especial atenção, principalmente quanto às características de ocupação e uso do solo no entorno das mesmas.

Uma das fontes apresentou altas concentrações de sólidos em suspensão, sólidos dissolvidos e turbidez, com valores acima dos encontrados nas fontes de captação das demais propriedades. A particularidade desta fonte é a ausência de vegetação e a proximidade de uma lavoura de fumo, sistema de produção que exige o revolvimento do solo, não só para sua

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Capítulo IV

111

implementação, mas também pelos tratos culturais, deixando o solo exposto durante boa parte do ciclo da cultura.

Os resultados obtidos indicaram que pode haver correlação entre os parâmetros químicos (pH e condutividade elétrica) com o tipo de fonte de captação e entre os parâmetros físicos com o manejo no entorno destas fontes, indicando que futuros estudos deverão ser desenvolvidos no sentido de avaliar estas correlações.

A concentração de ferro total na água usada para irrigação apresentou o maior potencial de risco de danos no sistema de irrigação dentre todos os parâmetros analisados, podendo estar relacionada com as classes de solos da região abrangida neste estudo, sugerindo a necessidade de investigações futuras quanto às possíveis causas dos elevados valores deste parâmetro.

4.6 LITERATURA CITADA

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Morangueiro Irrigado

112

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RODRIGUES, G. S. et al. Diagnóstico Ambiental das Fontes Pontuais de Poluição das Águas nas Bacias Hidrográficas

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Capítulo IV

113

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RONQUE, E. R. Cultura do morangueiro, revisão e prática. Curitiba: EMATER-Paraná, 1998. 206 p.

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Morangueiro Irrigado

114

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115

CAPÍTULO 5 - QUALIDADE FÍSICO-HÍDRICA DO SOLO E A PRODUÇÃO DE MORANGO

Adilson Luís Bamberg

Luís Carlos Timm

Eloy Antonio Pauletto

Luiz Fernando Spinelli Pinto

Álvaro Luiz Carvalho Nebel

Wildon Panziera

5.1 QUALIDADE DO SOLO

Ao longo desses últimos anos, a preocupação voltada para a produção agrícola vem sendo modificada, com base na busca da sustentabilidade ambiental, incluindo a preocupação com os efeitos dos métodos de produção sobre a diversidade da fauna, da flora e do próprio recurso solo. Isso tem sido mais evidente em países desenvolvidos e industrializados, onde a função da agricultura moderna de fornecer alimentos em quantidades e a preços acessíveis já não é suficiente. As atenções também estão voltadas à qualidade da água, do ar e do solo, onde o manejo desses recursos naturais é determinante para a qualidade e sanidade dos produtos agropecuários e, ao mesmo tempo, para a conservação do ambiente e para o bem estar do produtor.

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Morangueiro Irrigado

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O solo é considerado como um sistema aberto, continuamente inter-relacionado com o ambiente devido às transferências e trocas de matéria e energia com a atmosfera (BRADY; WEIL, 2002; HILLEL, 2003). Por isso, ele deve ser capaz de exercer suas funções naturais, funcionando como um meio para o crescimento das plantas, regulando o fluxo de água no ambiente, estocando e promovendo a ciclagem de elementos na biosfera e servindo como um tampão ambiental para a formação, atenuação e degradação de compostos prejudiciais ao ambiente (LARSON; PIERCE, 1994; DORAN, 1997; KARLEN et al., 1997).

A utilização do solo como ferramenta para o ser humano, na produção agrícola e pecuária, teve papel decisivo na evolução da espécie. O homem passou a se alimentar mais e melhor, possibilitando um maior crescimento intelectual. Mas a ação antrópica de hoje é muitas vezes desorientada, desordenada e impactante. A camada superficial do solo composta pelo horizonte A, é a região de maior atividade biológica e geralmente enriquecida com matéria orgânica e nutrientes em relação às camadas inferiores, sendo, por isso, mais fértil. Entretanto, por situar-se na interface com a atmosfera é também a mais vulnerável quanto à perda de sua habilidade em cumprir suas funções no meio ambiente (HILLEL, 2003).

Mais do que nunca, a exploração racional dos solos é, atualmente, a condição necessária para que haja uma produção agrícola moderna e sustentável. Essa condição envolve a conscientização do produtor sobre a importância de minimizar os processos de degradação ambiental, que atingem grandes proporções em algumas áreas. Os agricultores hoje querem não só produzir bastante para garantir o sustento financeiro da família, mas também melhorar as condições de trabalho, o acesso à saúde, à educação e ao lazer, que influenciam o modo de viver no campo. Associado a isso, a percepção sobre a

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Capítulo V

117

qualidade do ambiente rural passa a ser também motivo de reflexão e de cuidado. Danos ao ambiente solo, como a erosão, a desagregação, a desestruturação, o encrostamento superficial, a compactação, a lixiviação acelerada de bases, a acidificação, a salinização e outros são, muitas vezes, decorrentes da utilização de sistemas de cultivo com técnicas que se contrapõem ao bom uso e conservação dos solos e da água e, conseqüentemente, à sustentabilidade da agricultura.

O conhecimento sobre as características específicas e as diferenças entre os tipos de solos são informações essenciais que contribuem para o seu uso adequado. Explorar os solos conforme sua aptidão agrícola, considerando as suas limitações de uso são ferramentas essenciais que os técnicos do setor agrícola precisam conhecer para a sua melhor aplicação.

Neste sentido, avaliar e conhecer a qualidade do solo e a velocidade das suas mudanças com o tempo são os primeiros passos para se buscar um manejo mais adequado e sustentável (DORAN, 1997). Para Costa et al. (2006), entretanto, determinar ou quantificar a qualidade do solo não é tarefa fácil. A dificuldade advém do fato de que a qualidade do solo depende de suas propriedades intrínsecas, de suas interações com o ecossistema e, ainda, de aspectos socioeconômicos e até políticos que definem prioridades para o uso do solo.

Ao se fazer uma análise mais clara e consistente a respeito do solo e de sua qualidade é fundamental definir (CAMARGO, 2000): o solo deve ter boa qualidade para que? Quais funções o solo deve ser capaz de cumprir? O que analisar do solo para avaliar a sua capacidade de desempenhar e suportar diferentes funções? A multifuncionalidade é, sem dúvida, a realidade mais observada na produção agrícola familiar. Nessa situação, o agricultor depende muito da fertilidade natural do solo e da manutenção de sua capacidade produtiva ao longo do tempo para manter o seu sustento.

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A seguir será feita uma abordagem com relação às características naturais dos solos do município de Turuçu-RS e suas implicações na produção de morango na região.

5.1.1 Solos do Município de Turuçu-RS

O Estado do Rio Grande do Sul pode ser separado em onze regiões fisiográficas. (Figura 5.1).

Figura 5.1 - Regiões Fisiográficas do Rio Grande do Sul (Fonte: http://coralx.ufsm.br/ifcrs/fisiografia.htm).

Dentre elas, a Encosta do Sudeste ocupa uma estreita e extensa faixa territorial situada entre o Litoral e a Serra do Sudeste. A parte mais elevada dessa região fisiográfica é

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Capítulo V

119

composta, em essência, por sedimentos graníticos e granitóides erodidos do Escudo Sul-rio-grandense, associada com maciços de rochas graníticas que, em muitos locais, afloram na superfície.

No Estado do Rio Grande do Sul, particularmente na Mesorregião da Metade Sul, grandes diferenças podem ser reconhecidas com relação à utilização e à ocupação do território. Enquanto que na maioria das várzeas e campos da região predominam médias a grandes propriedades, ocupadas com orizicultura e pecuária extensiva, algumas regiões da Serra do Sudeste e da Encosta do Sudeste, estão sustentadas na agricultura de base familiar, onde o solo é cultivado de forma mais intensiva e diversificada com hortigranjeiros, grãos e oleaginosas, frutíferas, pecuária de leite e de corte. Nos últimos anos, essa realidade vem sendo modificada pela introdução de florestas plantadas e, principalmente pela utilização mais intensa com a cultura do fumo. Apesar do aumento da renda, esse modelo estabelece uma mudança importante na forma de produção da pequena propriedade de base familiar, com reflexos na qualidade do solo e da água.

Inserido nesta realidade está o município de Turuçu, onde o sistema de produção agrícola familiar é predominante e que tem como principais atividades a pecuária leiteira, a produção de frutíferas, de fumo e de pimenta vermelha, cultura que deu ao município de Turuçu o título de Capital Nacional da Pimenta Vermelha, por ser o município com maior área plantada desta cultura em todo o Brasil. Dentre as frutíferas, destaca-se a produção de morango que vem ocupando uma área e importância cada vez maior no município.

A produção e a comercialização de morango “in natura” têm propiciado aos produtores uma boa rentabilidade, constituindo-se, portanto, em atividade alternativa para a diversificação das fontes de renda. As áreas de Turuçu que são utilizadas para a produção de morango in natura estão situadas

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em locais de relevo suave ondulado a ondulado e, em algumas situações, com relevo forte ondulado associado à presença de afloramentos rochosos. Nessas condições podem ser encontrados solos rasos a pouco profundos (Neossolos) associados aos solos mais profundos (Argissolos) (Figura 5.2).

Figura 5.2 - Mapa de Solos do Município de Turuçu-RS (Fonte: Tagliani, 2007).

A agricultura é a principal atividade econômica de Turuçu e região. Mas o seu desenvolvimento limita-se pela aptidão agrícola dos solos, pois a maior parte das terras

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Capítulo V

121

agricultáveis situadas na parte alta é mais indicada para a produção de culturas perenes do que para culturas anuais (CUNHA; SILVEIRA, 2000; CUNHA et al., 2006). Pelo fato do relevo ser ondulado e o solo frequentemente raso e pouco desenvolvido, as terras possuem uma alta susceptibilidade à erosão hídrica. Além disso, os solos possuem horizonte superficial com CTC (capacidade de troca de cátions) e fertilidade natural baixas, em consequência da textura arenosa e dos baixos teores de matéria orgânica (ELTZ; ROVEDDER, 2005).

5.1.2 Qualidade do solo e a produção de morango

A adequação do manejo da cultura do morango é uma das formas para melhorar a qualidade do fruto produzido, reduzir os custos de produção e também evitar a degradação do solo e da água. Para tal, é importante seguir algumas recomendações básicas que favorecem o desenvolvimento da cultura.

O morangueiro tem algumas exigências relacionadas às condições físicas e hídricas do solo: desenvolve-se bem nas áreas onde o horizonte A tem a textura média; prefere solos bem drenados, ricos em matéria orgânica e de boa estrutura; não tolera a falta de água tampouco o seu excesso, por isso, o emprego da irrigação e o seu correto controle é indispensável. Como o morangueiro é delicado, principalmente o seu sistema radicular, a técnica de construção de canteiros a cada novo ciclo de produção é amplamente utilizada para deixar o solo solto e remover camadas superficiais compactadas, além de facilitar o plantio das mudas e crescimento das raízes (DAROLT, 2001).

No entanto, a falta de ações estratégicas e coletivas de proteção e conservação do solo contribui para agravar os processos de degradação do solo e da água que causam sérios prejuízos. Entre eles, podem ser destacados:

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a) Erosão hídrica e assoreamento: segundo Omuto (2008), a erosão resulta da ação de chuvas torrenciais de alta intensidade (mm/h), provocando enxurradas que levam sedimentos, nutrientes e resíduos de agro-químicos para as partes mais baixas. A camada superficial e mais rica do horizonte A do solo é transportada para o leito de riachos, açudes, lagos e outros. Na região de Turuçu ainda predomina o sistema de preparo convencional do solo sem o uso de instrumentos de proteção como a implantação dos canteiros em nível ou pequeno desnível, a manutenção dos corredores entre os canteiros cobertos com palha, o uso de terraços e cordões vegetados nas áreas mais íngremes. Surgem também problemas de assoreamento e contaminação de rios e lagos, largamente utilizados para irrigação de hortifrutigranjeiros, além de afetar a qualidade da água consumida e a saúde da população. O prejuízo também ocorre para os peixes e outros organismos que habitam esses locais. No município de Turuçu e região, as chuvas com maior energia e potencial erosivo ocorrem nos meses de janeiro, fevereiro e março, sendo fevereiro considerado como o mês de maior erosividade (LAGO, 2000). A erosão no campo pode ser visualizada pela presença de sulcos e ravinas (Figura 5.3).

Figura 5.3 - Erosão em sulcos em Turuçu-RS (esquerda); Cobertura morta entre os canteiros para evitar a erosão (direita).

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Capítulo V

123

Outra forma de erosão não muito perceptível, mas muito danosa, é a erosão laminar. Ela acontece quando a água da chuva carrega uniformemente o solo, sem formar canais definidos sendo, portanto, mais difícil de ser visualizada. Tomando como exemplo os Argissolos dessa região, a presença de um horizonte A arenoso com baixos teores de matéria orgânica, torna-os muito suscetíveis à erosão hídrica e sujeitos à rápida decomposição de resíduos culturais, exigindo intensas práticas de manejo e conservação do solo (STRECK et al., 2008).

b) Dispersão e perda da fração argila, óxidos e materiais orgânicos: os componentes mais finos do solo precisam estar floculados (agregados) para evitar a sua lixiviação e a sua desagregação (LAVELLE; SPAIN, 2001). Quando alguns fertilizantes como o Salitre do Chile (que possui na sua composição química o íon dispersante Na+) são aplicados em excesso, podem ocorrer perdas da fração mais fina do solo (argila) pelo processo de lixiviação, a qual é a mais importante do ponto de vista físico-químico do solo para a produção agrícola.

c) Alterações na estrutura do solo: a produção agropecuária intensiva, em solos de baixa resistência a processos de degradação, requer a aplicação de práticas rígidas e permanentes de conservação do solo. O solo, submetido ao cultivo, tende a perder sua estrutura original, pelo fracionamento dos agregados maiores em unidades menores, com consequente redução da macroporosidade e aumento da microporosidade e da sua densidade (CARPENEDO; MIELNICZUK, 1990). A falta de cobertura vegetal no inverno e de utilização de culturas diversificadas em rotação e sucessão tem desequilibrado a ciclagem e reposição da matéria orgânica, particularmente nos Argissolos, Neossolos, e Cambissolos da região. Segundo Tisdall e Oades (1982) e Golchin et al. (1994),

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124

a contínua perda de matéria orgânica influencia diretamente o processo de degradação estrutural do solo.

d) Acidificação do solo: a manutenção do pH em valores adequados para a produção agrícola é uma condição importante no manejo do solo, pois afeta a disponibilidade de nutrientes e, consequentemente, a nutrição das plantas (JOHNSTON, 2004). Este tipo de degradação é comum nos solos da região, dado a facilidade de lixiviação dos nutrientes em face da textura arenosa. Uma alternativa para melhorar a capacidade de troca de cátions (CTC) desses solos é o incremento do teor de matéria orgânica, via adubação orgânica.

e) Redução da Capacidade de Água Disponível: a degradação da estrutura e a perda da matéria orgânica nestes solos diminuem a quantidade de água disponível para as plantas, fazendo com que as culturas fiquem mais susceptíveis aos períodos de estiagem.

Por outro lado, a forma como é cultivado o morango em Turuçu demonstra a capacidade dos produtores em aceitar e adotar técnicas apuradas para a maximização da produção: o uso da fertirrigação, da plasticultura e de variedades com alta sanidade e alto potencial produtivo são alguns exemplos. É fundamental que os produtores e os técnicos visualizem também a necessidade de preservar o solo e os mananciais hídricos, visando a manutenção da quantidade e da qualidade destes recursos para as gerações futuras.

A produção de morango, dentro dessa realidade, tem o desafio de cumprir requisitos que abrangem não só as necessidades humanas. Ela também requer a adoção de tecnologias e o controle de variáveis do ambiente (solo-água) onde a planta se desenvolve, levando em consideração as características e peculiaridades regionais. A avaliação de parâmetros físico-hídricos indica a condição atual do solo para o desenvolvimento das plantas, podendo também ser relacionada com o estado de conservação do solo.

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Capítulo V

125

5.2 ESTUDO DE CASO: INDICADORES DA QUALIDADE FÍSICO-HÍDRICA DO SOLO

A seguir são apresentados alguns resultados de pesquisas realizadas em propriedades de produção de morango no município de Turuçu-RS, ao longo da safra agrícola de 2007. Foram determinados parâmetros que avaliam a relação solo-água-planta, no intuito de diagnosticar o seu estado atual no sistema de produção, fazendo-se uma comparação com áreas no seu estado natural (mata nativa). Também buscou-se compreender como o sistema de produção de morango é afetado e/ou como ele interfere no ambiente enquanto se desenvolve o ciclo produtivo. Espera-se que esses resultados possam servir de base para ações concretas de recuperação e conservação dos recursos naturais utilizados no sistema de produção, bem como para ampliar a capacidade produtiva, a qualidade do fruto e a melhoria das condições de trabalho e renda para os agricultores familiares.

5.2.1 Estabilidade de agregados em água: distribuição de agregados do solo em classes de tamanho e diâmetro médio ponderado (DMP)

O termo estabilidade é usado para descrever a habilidade do solo em manter o seu arranjo de sólidos e espaços porosos, quando submetido a diferentes situações de estresse (ou perturbações). A estabilidade dos agregados e a sua distribuição em classes de tamanho são utilizadas como indicadores da qualidade do solo (KARLEN; STOTT, 1994), sendo intimamente relacionadas com os processos envolvidos na degradação do solo (TIPPKÖTTER, 1994). A importância também está nas relações que estes parâmetros têm com a erosão, a infiltração e o movimento de água no perfil do solo, além da penetração das raízes e da aeração do solo.

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Morangueiro Irrigado

126

A determinação da distribuição de agregados estáveis em água em diferentes classes de tamanho e do diâmetro médio ponderado (DMP) é realizada com base no peneiramento úmido de agregados (KEMPER; ROSENAU, 1986). Os agregados são distribuídos em peneiras, totalizando seis classes de tamanho: C1 = 9,52 - 4,76 mm; C2 = 4,76 - 2,00 mm; C3 = 2,00 - 1,00 mm; C4 = 1,00 - 0,25 mm; C5 = 0,25 - 0,105 mm e C6 < 0,105 mm.

A quantidade de agregados estáveis em água retida em cada classe foi obtida conforme a expressão (PALMEIRA et al., 1999):

AGRi = ( )

100

1

×

∑=

n

i

ii

ii

mMAGR

mMAGR (5.1)

Onde: AGRi = proporção de agregados estáveis em água na

classe i (g.g-1); MAGRi = massa de agregados + material inerte na

classe i (g); mi = massa de material inerte na classe i (g).

Na Figura 5.4 são comparadas as quantidades de agregados estáveis em água (distribuídos em seis diferentes classes de diâmetro) de 14 áreas de produção de morango, em quatro diferentes épocas de coleta (1ª, 2ª, 3ª e 4ª) ao longo do ciclo produtivo do morango, e em 14 áreas tomadas como Área de Referência - AF (área de campo natural, sem cultivo) onde foram coletadas amostras de solo somente na primeira coleta.

Observa-se que a distribuição dos agregados das AF se concentrou nas classes de maior tamanho (C1 e C2), apresentando, nessas classes, valores médios significativamente superiores (aplicando-se o teste de Tukey a 5% de nível de

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Capítulo V

significância) em relação às demais épocas de coleta. Nas áreas cultivadas, a maior parte dos agregados se concentrou nas classes de menores diâmetros, C3, C4 e C6, sobretudo na C4. Apesar de esses valores demonstrarem a degradação da estrutura do solo, não significa que simplesmente o fato de se cultivar morango, da forma que vem sendo feito, por si só, leva a tal situação. Isso se deve, provavelmente, aos sucessicultivos com alto revolvimento do solo e sem as devidas práticas conservacionistas, resultando em um decréscimo do teor de matéria orgânica. Além disso, ocorrem na região dois agravantes naturais: as áreas que têm sido utilizadas para o cultivo do morango possuem média a alta declividade e os solos apresentam, em sua maioria, elevados teores da fração areia, fato este que facilita a rápida decomposiçãoorgânica, tornando-os também mais erodíveis.

Figura 5.4 - Agregados estáveis em água, distribuídos em seis classes de tamanho, coletados em 14 lavouras de produção de morango, em 4 épocas do ciclo da cultura (1ª, 2ª, 3ª e 4ª) e áreas de referência (AF)somente na primeira coleta. Teste aplicado: a 5% de nível de significância.

127

em relação às demais épocas de coleta. Nas áreas cultivadas, a maior parte dos agregados se concentrou nas

6, sobretudo na C4. valores demonstrarem a degradação da

estrutura do solo, não significa que simplesmente o fato de se cultivar morango, da forma que vem sendo feito, por si só, leva a tal situação. Isso se deve, provavelmente, aos sucessivos cultivos com alto revolvimento do solo e sem as devidas práticas conservacionistas, resultando em um decréscimo do teor de matéria orgânica. Além disso, ocorrem na região dois

áreas que têm sido utilizadas para o a a alta declividade e os

apresentam, em sua maioria, elevados teores da fração este que facilita a rápida decomposição da matéria

distribuídos em seis classes de tamanho, coletados em 14 lavouras de produção de morango, em 4 épocas do ciclo da cultura (1ª, 2ª, 3ª e 4ª) e áreas de referência (AF)

coleta. Teste aplicado: Tukey

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Morangueiro Irrigado

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Outra constatação importante é que houve efeito do tempo na agregação. No início do ciclo produtivo a construção dos canteiros mediante uso de enxada rotativa fraciona os macroagregados. Com o tempo, cerca de quatro meses (3ª coleta) após a construção dos canteiros, o solo apresentou sinais de reacomodação e a quantidade de macroagregados aumenta significativamente nas classes C1 e C2, com um correspondente decréscimo na classe C4.

A predominância de agregados com diâmetros inferiores a 2 mm relaciona-se intimamente com a degradação da estrutura do solo. Esse fato também está ligado com a pulverização ou fragmentação, tornando o solo mais propenso ao transporte pela água, lixiviação rápida dos nutrientes adicionados via adubação, além de favorecer a diminuição da quantidade de matéria orgânica, mais protegida no interior dos agregados. O DMP é uma média ponderada do tamanho dos agregados, que está diretamente relacionada com o grau de desagregação do solo.

Para o cálculo do diâmetro médio ponderado (DMP) é utilizada a expressão (PALMEIRA et al., 1999):

DMP = ( )( )

( )

−×

=

=n

i

ii

n

i

iii

mMAGR

mMAGRDM

1

1 (5.2)

onde: DMP = diâmetro médio ponderado (mm); DMi = diâmetro médio da classe i (mm). O diagrama de caixa dos dados de DMP das 14 áreas

cultivadas com morango (TS, TM e TI), ao longo das quatro épocas de coletas de solo durante o ciclo do morango no ano de 2007, é apresentado na Figura 5.5.

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Capítulo V

Figura 5.5 - Diagrama de caixa dos dados de DMP

Os valores médios de DMP encontrados nas áreas cultivadas (em torno de 1 mm) são considerados baixos quando comparados com os encontrados em amostras de solos de outras regiões e quando comparados com os apresentados pelas áreas de referência (AF) (Figura 5.5). A figura ainda mostra que houve um aumento considerável do DMP, após seis mde cultivo (4ª coleta). Isso pode ter sido causado pela acomodação das partículas do solo, fato esse que aumentou gradualmente após a construção dos canteiros e, principalmente, devido aos sucessivos ciclos de umedecimento e secagem regidos pela prática da irrigação, o que favoreceu a aproximação das partículas e, conseqüentemente a sua agregação. Também pode ser considerado, em menor escala, o efeito das raízes do morangueiro que, ao se desenvolverem causaram a aproximação das partículas.

Um aumento considerável do DMP dos agregados solo está muito relacionado com o aumento da matéria orgânicano solo e com o número de vezes que este foi revolvido

129

dos dados de DMP.

Os valores médios de DMP encontrados nas áreas considerados baixos quando

comparados com os encontrados em amostras de solos de outras regiões e quando comparados com os apresentados pelas áreas de referência (AF) (Figura 5.5). A figura ainda mostra que houve um aumento considerável do DMP, após seis meses de cultivo (4ª coleta). Isso pode ter sido causado pela acomodação das partículas do solo, fato esse que aumentou gradualmente após a construção dos canteiros e, principalmente, devido aos sucessivos ciclos de umedecimento

ca da irrigação, o que favoreceu a aproximação das partículas e, conseqüentemente a sua agregação. Também pode ser considerado, em menor escala, o efeito das raízes do morangueiro que, ao se desenvolverem

agregados do matéria orgânica

no solo e com o número de vezes que este foi revolvido

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130

(WOHLENBERG et al., 2004). Sabe-se que é indispensável construir os canteiros para o morangueiro; porém, é recomendável diminuir o número de vezes que o solo é revolvido e também reaproveitar os canteiros para culturas posteriores ao máximo possível, visando aproveitar a adubação residual, a proteção da lona plástica e o sistema de irrigação já instalado.

O plantio de espécies forrageiras após a destruição dos canteiros, durante o período de pousio (descanso) da terra, e a sua posterior incorporação da palha ao solo também é uma prática recomendada. Exemplos de espécies tradicionalmente utilizadas para esse fim são: aveia, azevém, ervilhaca, nabo forrageiro, entre outras. A aplicação de resíduos de culturas e adubos orgânicos também são práticas reconhecidamente efetivas para a recuperação e conservação do solo.

5.2.2 Porosidade do solo

O espaço poroso do solo é constituído por cavidades de diferentes tamanhos e formas, dependentes do arranjo das partículas sólidas, que influencia na aeração, na condução e retenção de água, na resistência à penetração das raízes das plantas, bem como na sua ramificação e, conseqüentemente, no aproveitamento da água e dos nutrientes disponíveis (HILLEL, 2003).

Costuma-se fazer uma separação dos poros do solo em: i) macroporos: poros com diâmetro maior que 0,05mm, responsáveis pela aeração e drenagem do excesso de água no perfil; e ii) microporos: poros com diâmetro menor que 0,05mm, responsáveis pela retenção e armazenamento da água e dos nutrientes dissolvidos na solução, podendo estar disponíveis para as plantas.

Para os solos, de forma geral, a porosidade total ótima é próxima de 50% (0,5 cm3 de poros/cm3 de solo) normalmente

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Capítulo V

131

dividida na razão de 1/3 de macroporos e 2/3 de microporos. No entanto, deve-se considerar que solos utilizados por vários anos com agricultura normalmente se apresentam mais compactados, com menor porosidade, sendo os macroporos os mais afetados.

A natureza do solo também exerce influência na porosidade: solos de textura argilosa apresentam entre 40 e 60% do seu volume ocupado por poros, principalmente se tiverem altos conteúdos de matéria orgânica, ao passo que solos arenosos raramente ultrapassam os 50%.

Relacionada ao crescimento radicular das plantas, a porosidade de aeração (PA) corresponde ao volume de poros ocupado pelo ar. Para o desenvolvimento adequado da maioria das culturas, é desejável ter, no mínimo, 0,1 cm3 de poros/cm3 de solo (10% do volume total), de modo a proporcionar boas condições de aeração para as raízes e o desenvolvimento dos microrganismos aeróbios, importantes para a biociclagem de nutrientes para as plantas.

Nas 14 lavouras de morango de Turuçu (Figura 5.6), observa-se que, logo após a construção dos canteiros o solo apresentava bons níveis de porosidade total, macro e microporosidade. Com o término do ciclo produtivo do morango (4ª coleta), cerca de seis meses após a implantação da lavoura, ocorreu uma redução da porosidade total e da macroporosidade, enquanto que a microporosidade aumentou consideravelmente. Com isso, o solo passou a ter uma maior capacidade de armazenamento de água, com uma redução da capacidade de infiltração e de drenagem da água bem como da aeração para as raízes.

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Morangueiro Irrigado

132

Figura 5.6 - Variação da porosidade total, macro e microporosidade do solo ao longo de um ciclo de produção de morango no ano de 2007.

5.2.3 Curva de retenção de água no solo

A curva de retenção de água está relacionada à quantidade de água retida no solo e a energia com que esta é retida. Na medida em que se aumenta a energia de sucção aplicada para extrair água de uma amostra de solo (potencial matricial), menor quantidade de água (θ, conteúdo de água no solo expresso em base volumétrica) permanece retida. Essa relação pode ser expressa graficamente, sendo conhecida como curva de retenção da água no solo. Essa é fundamental para saber o quanto e quando irrigar uma cultura, perguntas freqüentes durante o manejo da irrigação.

No manejo da irrigação podem ser utilizados tensiômetros, que permitem medir o potencial matricial com

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Capítulo V

133

que a água encontra-se retida no solo e, conseqüentemente, responder se é o momento de irrigar ou não.

Para tal determinação, uma amostra de solo é coletada em anéis de aço inox, mantendo o solo na sua condição natural, e é submetida a diferentes valores de sucção (ou tensão quando expressa em módulo) que são aplicados por meio de equipamentos: pontos de baixas tensões (1 kPa a 10 kPa) são aplicados via Mesa de Tensão e os pontos de altas tensões (>10 kPa até 1500 kPa), via Câmaras de Pressão de Richards (RICHARDS, 1949), conforme Reichardt e Timm (2004). A partir dos pares de pontos, que relacionam a tensão aplicada (ou Potencial matricial quando expresso negativamente: -Ψm) com o conteúdo de água volumétrico (θ), elabora-se a curva de retenção de água no solo. Nesse estudo foram determinados sete pares experimentais θ – tensão aplicada.

A partir desses sete pares de pontos, obtém-se graficamente a curva de retenção de água. Estes dados podem ser ajustados a uma equação que permite calcular o conteúdo de água no solo em qualquer tensão, desde a saturação do solo (condição mais úmida) até tensões mais altas (condição de solo mais seco). A equação mais amplamente utilizada é a proposta por van Genuchten (1980), sendo necessária a aplicação de um programa computacional (software) para a determinação dos parâmetros dessa equação. O software SWRC, desenvolvido por Dourado-Neto et al. (1996), faz o ajuste dos dados experimentais da curva ao modelo de van Genuchten.

Na Figura 5.7 são apresentadas, como exemplo, as curvas de retenção de água em amostras de solo coletadas em uma lavoura de morango em Turuçu, elaboradas em quatro diferentes épocas de coleta ao longo de um ciclo produtivo no ano de 2007. A retenção de água no solo é influenciada pelo tempo, especialmente em baixas tensões e altas tensões. Comparando a curva da 1ª com a curva da 4ª coleta, a quantidade de água retida na condição de saturação diminuiu de

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Morangueiro Irrigado

134

0,53 para 0,38 cm3·cm-3, do mesmo modo que na condição de Ponto de Murcha Permanente (tensão de 1500 kPa), onde a quantidade de água retida diminuiu de 0,15 para 0,07 cm3·cm-3.

Figura 5.7 - Curvas de retenção de água em amostras de solo coletadas em uma lavoura de morango, em quatro diferentes epocas de coleta, ao longo de um ciclo de produção de morango, ano de 2007.

5.2.4 Capacidade de Água Disponível (CAD)

A CAD pode ser definida, de forma simples, como toda a água que se encontra retida e armazenada no solo de forma acessível para as plantas. Para uma melhor definição da CAD é preciso definir também outros dois conceitos: a

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

1 10 100 1000 10000 100000

Log Tensão aplicada (cm coluna de água)

θθ θθ (cm3.cm-3)

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Capítulo V

135

Capacidade de Campo (CC) e o Ponto de Murcha Permanente (PMP). Também de forma simplificada, pode-se definir que a CC representa o conteúdo de água no solo quando o movimento de descida de água no perfil do solo, após uma chuva ou irrigação, é mínimo. O PMP, por sua vez, representa a quantidade de água remanescente no solo, que está tão fortemente retida que as raízes das plantas não conseguem mais absorvê-la. Conhecendo-se a CAD de um determinado tipo de solo, pode-se estimar a quantidade de água a ser recolocada no solo em lavouras irrigadas.

De acordo com dados preliminares do estudo das 14 lavouras de produção de morango de Turuçu, pode-se constatar que houve um aumento no valor médio da CAD da ordem de 20 a 25%, após seis meses do início do ciclo produtivo em relação à construção dos canteiros (4ª coleta). Com isso, pode-se concluir que o solo, no final do ciclo apresentou uma maior retenção de água, em face da acomodação do solo nos canteiros, resultado de um aumento da microporosidade.

5.3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O solo é um recurso natural lentamente renovável, imprescindível para a sobrevivência humana. A manutenção da sua qualidade depende da função que se deseja que ele desempenhe e da forma como é manejado e conservado. A qualidade físico-hídrica dos solos de Turuçu-RS, quando direcionada para a produção de morango, pode ser considerada boa, pois estes solos apresentam características estruturais que favorecem o desenvolvimento dessa cultura, sobretudo dentro do sistema adotado atualmente, com a construção de canteiros. Entretanto, é preciso dirigir atenção para a conservação do solo, principalmente no intuito de minimizar a erosão e a redução dos teores de matéria orgânica.

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Morangueiro Irrigado

136

5.4 LITERATURA CITADA

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Capítulo V

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Morangueiro Irrigado

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Capítulo V

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140

CAPÍTULO 6 - INDICADORES QUÍMICOS E MICROBIOLÓGICOS DO SOLO NA PRODUÇÃO DE MORANGO

Gláucia Oliveira Islabão

Leandro Sanzi Aquino

Vitor Emanuel Quevedo Tavares

Ledemar Carlos Vahl

Danilo Dufech Castilhos

Rodrigo Bubolz Prestes

6.1 INDICADORES DE QUALIDADE DO SOLO

Os indicadores de qualidade do solo formam um conjunto de dados mínimos que são utilizados para avaliar o comportamento das principais funções do solo (KARLEN; DITZLER; ANDREWS, 2003). Segundo Doran e Parkin (1994), um bom indicador deve integrar processos e atributos físicos, químicos e/ou biológicos do solo, ser acessível aos diferentes usuários, ser aplicável em diversas condições de campo e ser sensível às variações do manejo e do clima.

Os critérios para a seleção de indicadores relacionam-se, principalmente, com a sua utilidade em definir os processos do ecossistema. Stenberg (1999) enfatizou que nenhum indicador individualmente consegue descrever e quantificar todos os aspectos da qualidade do solo, existindo uma relação entre todos os atributos do solo. Na literatura os indicadores

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Capítulo VI

141

químicos e microbiológicos têm sido apontados como os principais indicadores de qualidade do solo, entretanto, neste texto também será proposta a utilização de alguns elementos relacionados à fertilidade do solo como indicadores de sua qualidade.

6.1.1 Indicadores químicos

Dentre os indicadores químicos do solo destacam-se a matéria orgânica (MO), a capacidade de troca de cátions (CTC), a acidez ativa (pH em água) e a acidez potencial (H + Al), a saturação por alumínio (M%) e a saturação por bases (V%) que serão descritos nesse capítulo.

a) Matéria orgânica

O termo matéria orgânica do solo refere-se a todos os compostos que contêm carbono orgânico no solo, incluindo os microrganismos vivos e mortos, resíduos de plantas e animais parcialmente decompostos, produtos de sua decomposição e substâncias orgânicas microbiologicamente e/ou quimicamente alteradas (SILVA; CAMARGO; CERETTA, 2006).

Conceição et al. (2005) consideraram a matéria orgânica como um eficiente indicador para discriminar a qualidade do solo induzida por diferentes sistemas de manejo, sendo, ainda, fonte primária de nutrientes às plantas, influenciando na infiltração, na retenção de água e na susceptibilidade à erosão (GREGORICH et al., 1994). As diferentes práticas de manejo, de acordo com Karlen et al. (1994), que podem adicionar ou manter o carbono orgânico no solo, parecem estar entre as mais importantes para restabelecer, manter ou melhorar a qualidade do solo.

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Morangueiro Irrigado

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b) Acidez ativa e potencial

Existem dois tipos de acidez no solo: a acidez ativa e a acidez potencial. A acidez ativa refere-se à concentração dos íons H+ na solução do solo e sua medida é expressa pelo pH do solo em água.

A acidez potencial é constituída pelo somatório de todas as fontes de H+ que existem nos componentes sólidos do solo, principalmente, o alumínio trocável e os grupos funcionais orgânicos e inorgânicos. Ela é, portanto, proporcional aos teores de alumínio, de argila e de matéria orgânica existentes no solo e determina a necessidade de calcário (ERNANI, 2008). Um esquema dos principais componentes de acidez, em relação às frações ativas da matéria orgânica, minerais de argila e sesquióxidos de ferro e alumínio é mostrado na Figura 6.1, para uma consolidação mais efetiva destes conceitos.

Figura 6.1 - Componentes da acidez do solo, na fase sólida e na fase líquida. Fonte: Lopes & Guilherme (2004) adaptado de van Raij & Quaggio (1994).

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Capítulo VI

143

c) CTC efetiva e CTC pH 7,0

Os cátions retidos (adsorvidos) nos colóides do solo podem ser substituídos por outros cátions, ou seja, em termos práticos, significa que são trocáveis (LOPES; GUILHERME, 2004). A capacidade de troca de cátions (CTC) expressa a quantidade de cátions que o solo pode reter na forma de complexos de esfera-externa (íons trocáveis), representando indiretamente a quantidade de cargas negativas presentes no solo (MEURER, 2006). A CTC é de grande importância no que diz respeito à fertilidade do solo, uma vez que indica a capacidade total de retenção de cátions, os quais, em geral, estarão disponíveis às plantas (CHAVES et al., 2004). A Figura 6.2 apresenta uma visão esquemática do potencial de capacidade de troca de cátions entre dois solos de texturas diferentes e suas implicações práticas.

Segundo Ernani (2008), existem basicamente dois tipos de CTC: a efetiva e a potencial (determinada a pH 7,0). A CTC efetiva é a quantidade de cargas negativas existentes no solo em seu pH atual. O princípio de determinação de sua magnetude se baseia na troca de cátions. Por isso, ela é quantificada por meio do somatório das quantidades de todos os cátions trocáveis [cálcio (Ca+2), magnésio (Mg+2), sódio (Na+1), potássio (K+1) e alumínio (Al+3)] que se encontram neutralizando essas cargas até esse pH (pH atual do solo). Esses cátions são extraídos do solo com uma solução salina não tamponada. Uma vez presentes na solução, os cátions são quantificados e somados. Já a CTC determinada com solução tamponada a pH 7,0 quantifica o somatório das cargas negativas existentes no solo em seu pH atual com as que serão criadas por meio da dissociação dos grupos funcionais (saída de H+), desde o valor do pH atual do solo até o pH 7,0.

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144

Figura 6.2 - Visão esquemática do potencial de capacidade de troca de cátions (CTC) entre dois solos de texturas diferentes e suas implicações práticas. Fonte: Lopes & Guilherme (2004) adaptado do texto publicado pelo Instituto da Potassa e Fosfato (1998).

d) Saturação por alumínio

Expressa a fração da CTC efetiva que é “ocupada” por alumínio trocável, fornecendo um indicativo da probabilidade de fitotoxidez deste elemento às espécies vegetais (MEURER, 2006). De acordo com Lopes e Guilherme (2004), em termos práticos, ela reflete a percentagem de cargas negativas do solo, próximo ao pH natural, que está “ocupada” por Al trocável. Em geral, quanto mais ácido um solo, maior o teor de Al trocável em valor absoluto, menores os teores de Ca, Mg e K, menor a soma de bases e maior a percentagem de saturação por alumínio.

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Capítulo VI

145

e) Saturação por bases

Segundo Lopes e Guilherme (2004), este parâmetro reflete a percentagem dos pontos de troca de cátions do complexo coloidal do solo que estão ocupados por bases, ou seja, a percentagem das cargas negativas, passíveis de troca a pH 7,0, que estão ocupadas por cálcio (Ca+2), magnésio (Mg+2), sódio (Na+1) e potássio (K+1) em comparação com aquelas ocupadas por H+Al.

6.1.2 Indicadores microbiológicos

Dentre os indicadores microbiológicos do solo destacam-se a biomassa microbiana do solo (BMS), a respiração basal (RB) e o quociente metabólico (qCO2) que serão descritos a seguir.

a) Biomassa microbiana do solo

A BMS compreende a parte viva da matéria orgânica do solo, excluídas as raízes e os organismos maiores que 5x103 µm3, contendo em média 2 a 5% do carbono orgânico e 1 a 5% do nitrogênio total do solo (CERRI; VOLKOFF; EDUARDO, 1985; DE-POLLI; GUERRA, 1999). Atua como agente de transformação da matéria orgânica, na ciclagem de nutrientes e no fluxo de energia. O conhecimento da dinâmica da BMS pode auxiliar os estudos que visam à conservação da matéria orgânica do solo e ao melhor aproveitamento da matéria orgânica adicionada.

b) Respiração basal

A respiração basal do solo, que é a oxidação biológica da matéria orgânica ao CO2 pelos microrganismos aeróbios,

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146

ocupa uma posição chave no ciclo do carbono nos ecossistemas terrestres. A avaliação da respiração basal é a técnica mais frequente para quantificar a atividade microbiana, sendo positivamente relacionada com o conteúdo de matéria orgânica e com a biomassa microbiana (ALEFF; NANNIPIERI, 1995).

c) Quociente metabólico

O quociente metabólico (qCO2) é um índice que combina os resultados de biomassa microbiana com as determinações das taxas de respiração, representado pela taxa de respiração por unidade de biomassa microbiana na forma de carbono microbiano (ANDERSON; DOMSCH, 1993).

Sistemas agrícolas que promovam menores qCO2 indicam uma microbiota em equilíbrio, com menores perdas de CO2 pela respiração e maior incorporação de carbono à biomassa microbiana.

6.1.3 Indicadores relacionados à fertilidade

a) Nitrogênio

O nitrogênio (N) é o macronutriente absorvido em maior quantidade pelas culturas, sendo o solo a sua principal fonte. A exceção fica por conta das culturas leguminosas como a soja, que obtêm grande parte do nitrogênio via fixação simbiótica com bactérias do gênero Rhizóbium (BAYER, 1993; AMADO; MIELNICZUK; AITA, 2002). A dinâmica do N no solo é complexa, cujas transformações envolvem reações de natureza química e biológica, além de tratar-se de um nutriente muito móvel no solo, o que potencializa as suas perdas por lixiviação (AITA, 2003).

A transformação de N orgânico (resíduos vegetais e MO do solo) em N mineral é denominada de mineralização,

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Capítulo VI

147

enquanto a incorporação de formas de N mineral (NH4+ e NO3

-) na biomassa microbiana é denominada imobilização. Os processos de imobilização e mineralização do N ocorrem concomitantemente no solo, sendo que a intensidade de cada um é dependente, principalmente, do tipo de resíduo vegetal em decomposição (MARY; RECOUS, 1994; JENSEN, 1997; AITA, 2003).

b) Fósforo

Segundo Vale , Guilherme e Guedes (1993), dentre os macronutrientes, o fósforo é o exigido em menores quantidades pelas plantas. Todavia, trata-se do nutriente aplicado em maiores quantidades em adubação no Brasil. A explicação para este fato relaciona-se com a baixa disponibilidade de fósforo nos solos do Brasil e, também, com a forte tendência do fósforo aplicado ao solo reagir com outros componentes, formando compostos de baixa solubilidade. Portanto, ao contrário da adubação com os demais nutrientes, com o fósforo existe a necessidade de acréscimos superiores à exigência nutricional das plantas, pois é necessário satisfazer também a exigência do solo, saturando os componentes consumidores do elemento.

c) Potássio

O potássio é o segundo macronutriente em teor contido nas plantas. Depois do fósforo, é o nutriente mais consumido como fertilizante pela agricultura brasileira. Os teores totais em solos bem supridos podem superar a 1% de potássio. Grande parte desse nutriente encontra-se em rochas minerais que contêm o elemento nas formas cristalinas (van RAIJ, 1991).

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6.2 ESTUDO DE CASO: INDICADORES QUÍMICOS E MICROBIOLÓGICOS DO SOLO NA PRODUÇÃO DE MORANGO DO MUNICÍPIO DE TURUÇU-RS

No intuito de exemplificar e estabelecer uma discussão mais prática desses conceitos é apresentado, neste item, um estudo de caso avaliando o comportamento da variabilidade espacial e temporal de atributos químicos e microbiológicos ao longo do ciclo de produção da cultura do morango no ano de 2007. A área que abrange este estudo compreende a Associação de Produtores de morango do município de Turuçu–RS, totalizando quatorze propriedades que estão situadas nas microrregiões Picada Flor, Centenário e São Domingos.

6.2.1 Indicadores químicos

a) Matéria orgânica

O cultivo do morangueiro é altamente exigente, necessitando um solo com boa estrutura física, rico em matéria orgânica, bem arejado e com boa capacidade de drenagem (SANTOS; MEDEIROS, 2003). Na maioria das lavouras estudadas, os teores médios de matéria orgânica (MO) do solo encontrados ao longo do tempo são classificados como baixos (MO ≤ 2,5%) segundo CQFS (2004), com exceção de duas propriedades que, de acordo com as atividades desenvolvidas anteriormente pelos produtores, contribuíram para o incremento da matéria orgânica (Tabela 6.1). Como a matéria orgânica é fonte fundamental de nutrientes para as plantas, disponibilizando elementos como nitrogênio (N), fósforo (P) e enxofre (S), se o solo apresenta pouca matéria orgânica,

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Capítulo VI

149

disponibiliza poucos nutrientes, comprometendo o desenvolvimento das plantas.

Tabela 6.1 – Teores médios de matéria orgânica do solo (MO, %) nas lavouras de morango de 14 propriedades, em quatro coletas.

MO (%)

Propriedades Coleta

Média 1 2 3 4

1 1,4 a 1,3 a 1,2 a 1,6 a 1,4 2 1,6 b 1,7 ab 1,6 b 2,1 a 1,8 4 0,9 a 1,0 a 0,9 a 1,1 a 1,0 5 1,5 a 1,0 b 1,1 ab 1,4 ab 1,2 6 1,6 a 1,5 a 1,5 a 1,8 a 1,6 7 1,2 a 1,2 a 1,1 a 1,4 a 1,2 8 2,4 a 2,8 a 2,4 a 2,9 a 2,6 9 1,1 a 1,1 a 1,3 a 1,5 a 1,3 10 1,4 a 1,5 a 1,4 a 1,5 a 1,4 11 0,8 a 1,0 a 1,1 a 1,2 a 1,0 12 2,2 ab 2,1 ab 1,9 b 2,4 a 2,1 13 2,3 a 2,5 a 2,1 a 2,5 a 2,4 14 2,0 a 2,2 a 2,0 a 2,4 a 2,1 15 3,0 a 2,9 a 2,9 a 2,9 a 2,9

Média 1,7 1,7 1,6 1,9 Letras iguais ao longo da mesma linha não diferem entre si, ao nível de 5% de significância, aplicando o teste DMS.

A manutenção ou recuperação dos teores de matéria orgânica e da qualidade do solo pode ser alcançada pela utilização de pastagens ou em casos de sistemas agrícolas intensos, pela utilização de métodos de preparo sem revolvimento, ou com a mínima mobilização do solo e por sistemas de cultura com alta adição de resíduos vegetais. Isso resulta em menores taxas de perdas e maiores taxas de adição de matéria orgânica ao sistema solo (BAYER; MIELNICZUK, 2008).

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b) Acidez ativa e potencial

Analisando os valores médios de acidez ativa do solo em cada uma das quatorze lavouras estudadas, nas diferentes épocas de coleta (Tabela 6.2), verifica-se que estes se classificaram desde muito baixo (≤ 5,0), até alto (>6,0).

A necessidade de calagem (aplicação de calcário) depende do pH atual do solo e do pH considerado adequado para a cultura. Segundo CQFS (2004), o pH ideal do solo para o cultivo do morango é 6,0, sendo que em valores de pH mais elevados, o desenvolvimento da planta é prejudicado.

Baseado nisto, verifica-se que, nas amostras de solo coletadas nas lavouras das Propriedades 1, 6, 14 e 15, por apresentarem valores de pH em água acima de 6,0, não necessitam de corretivo de acidez. Nas lavouras das demais propriedades a calagem é necessária. A quantidade de corretivo a ser aplicada depende da acidez potencial, que é determinada pelo índice SMP. Conforme indicações da Tabela 6.3, o solo da lavoura pertencente à Propriedade 8 é o que necessita maior dosagem de corretivo (3,7 t.ha-1), por apresentar o menor índice SMP (5,9).

Nas lavouras das propriedades 4 e 11, as quantidades calculadas de corretivo a serem aplicadas foram de 0,68 t·ha-1 e 0,51 t·ha-1, respectivamente. Essas quantidades foram calculadas a partir dos teores de MO e Al, conforme sugerido pela CQFS (2004), pois em solos com baixo poder tampão de pH, o método SMP não é eficiente.

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Capítulo VI

151

Tabela 6.2 – Teores médios de acidez ativa e acidez potencial nas lavouras de morango de 14 propriedades, em quatro coletas.

a) Acidez ativa

Propriedades Coleta

Média 1 2 3 4

1 5,90 a 6,24 a 6,21 a 6,10 a 6,11 2 5,33 b 5,27 b 5,84 a 5,67 ab 5,52 4 5,56 a 5,59 a 5,90 a 5,90 a 5,73 5 4,86 a 4,69 a 4,65 a 4,53 a 4,68 6 6,21 a 6,11 a 6,51 a 6,09 a 6,22 7 5,92 a 5,52 a 5,88 a 5,77 a 5,77 8 4,58 a 4,26 a 4,26 a 4,37 a 4,36 9 4,84 a 4,67 a 4,43 a 4,53 a 4,62 10 4,94 a 4,88 a 4,68 a 4,61 a 4,77 11 5,93 a 5,73 ab 5,82 ab 5,44 b 5,73 12 5,48 ab 5,08 b 5,57 a 5,43 ab 5,39 13 5,04 a 5,03 a 5,12 a 5,15 a 5,08 14 5,96 b 5,75 b 6,47 a 6,13 a 6,07 15 6,50 a 6,76 a 6,71 a 6,92 a 6,72

Média 5,50 5,40 5,57 5,47 b) Acidez Potencial

Propriedades Coleta

Média 1 2 3 4

1 1,60 a 1,27 a 1,54 a 1,43 a 1,46 2 1,97 a 2,21 a 1,73 a 1,88 a 1,95 4 1,31 a 1,35 a 1,16 a 1,23 a 1,26 5 2,99 a 1,95 b 2,46 ab 2,39 ab 2,45 6 1,25 a 1,20 a 1,19 a 1,20 a 1,21 7 1,69 a 2,00 a 1,82 a 1,82 a 1,83 8 4,40 b 5,34 a 4,94 ab 4,77 ab 4,86 9 2,52 b 2,79 ab 3,31 a 2,61 ab 2,80 10 3,71 ab 2,95 b 3,80 a 3,60 ab 3,51 11 1,26 a 1,37 a 1,48 a 1,70 a 1,45 12 2,46 a 3,05 a 2,51 ab 2,58 ab 2,65 13 2,85 a 2,97 a 2,86 a 2,91 a 2,90 14 2,19 a 2,26 a 1,86 a 1,92 a 2,06 15 1,43 a 1,41 a 1,48 a 1,35 a 1,42

Média 2,26 2,29 2,30 2,24 Letras iguais ao longo da mesma linha não diferem entre si ao nível de 5% de significância aplicando o teste DMS.

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Tabela 6.3 – Quantidade de calcário (t.ha-1) necessária para elevar o pH em água do solo a 6,0, estimada pelo índice SMP.

Propriedade Índice SMP Quantidade de Calcário (média) (t·ha-1)

2 6,7 0,5 5 6,5 1,1 7 6,8 0,3 8 5,9 3,7 9 6,4 1,4 10 6,2 2,2 12 6,5 1,1 13 6,4 1,4

c) CTC efetiva CTC pH 7,0

A CTC está muito relacionada com os teores de matéria orgânica. A capacidade de troca de cátions reflete o poder de retenção de cátions que o solo tem, sendo que os fatores que alteram o poder de retenção de cátions também alteram a CTC. Por exemplo: se diminuir o teor de matéria orgânica, também diminuirá a CTC do solo. Solos argilosos, com argilas de alta atividade, podem reter grandes quantidades de cátions. Solos arenosos, com baixo teor de matéria orgânica e, conseqüentemente, baixa CTC, retêm pequenas quantidades de cátions, ocorrendo com mais frequência sua perda por lixiviação.

Na Tabela 6.4 pode-se observar que nas propriedades onde se tem os maiores teores de matéria orgânica, têm-se também os maiores valores de CTC, sendo que na microrregião da Picada Flor estes valores apresentam um patamar mais elevado do que nas microrregiões Centenário e São Domingos.

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Capítulo VI

153

Tabela 6.4 – Teores médios de CTC efetiva e de CTC pH 7,0 no solo nas lavouras de morango de 14 propriedades, em quatro coletas. a) CTC Efetiva (cmolc.dm

-3)

Propriedades Coleta

Média 1 2 3 4

1 4,54 a 3,63 a 3,77 a 4,46 a 4,10 2 5,41 a 5,11 a 5,98 a 5,92 a 5,61 4 5,16 a 4,29 a 4,06 a 5,41 a 4,73 5 2,44 a 2,49 a 1,82 a 2,34 a 2,27 6 5,54 a 5,21 a 5,16 a 6,34 a 5,56 7 4,88 a 4,23 a 4,00 a 4,20 a 4,17 8 4,33 a 3,82 a 4,45 a 4,98 a 4,40 9 2,77 a 3,27 a 2,48 a 3,01 a 2,98 10 3,79 a 2,88 a 3,06 a 2,99 a 3,18 11 3,19 a 3,29 a 3,84 a 3,45 a 3,28 12 9,46 a 7,83 ab 6,32 b 8,62 a 8,06 13 6,81 a 5,68 a 6,32 a 5,09 a 5,90 14 5,62 a 6,62 a 6,19 a 6,60 a 6,26 15 9,95 a 9,50 a 9,22 a 10,38 a 9,76

Média 5,27 4,85 4,76 5,27 b) CTC pH 7,0 (cmolc.dm

-3)

Propriedades Coleta

Média 1 2 3 4

1 5,96 a 4,62 a 5,25 a 5,82 a 5,41 2 7,18 ab 7,24 ab 5,61 b 7,70 a 6,93 4 6,32 a 5,56 a 5,19 a 6,53 a 5,90 5 4,71 a 4,07 a 3,71 a 4,24 a 4,18 6 6,64 a 6,35 a 6,31 a 7,44 a 6,69 7 6,41 a 6,12 a 5,75 a 5,90 a 6,04 8 7,70 a 7,90 a 8,15 a 8,69 a 8,11 9 4,87 a 4,52 a 5,20 a 5,04 a 4,91 10 6,36 a 5,23 a 6,28 a 6,12 a 6,00 11 4,35 a 4,56 a 4,26 a 5,05 a 4,56 12 11,75 a 10,67 a 8,68 b 11,07 a 10,54 13 9,33 a 8,37 a 8,72 a 7,86 a 8,57 14 7,61 a 8,73 a 7,99 b 8,44 a 8,19 15 11,22 a 10,86 a 10,64 a 11,63 a 11,09

Média 7,17 6,77 6,55 7,25 Letras iguais ao longo da mesma linha não diferem entre si ao nível de 5% de significância aplicando o teste DMS.

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6.2.2 Indicadores microbiológicos

a) Biomassa microbiana

A biomassa microbiana determinada através dos teores de carbono microbiano se encontra na Tabela 6.5. Tabela 6.5 – Teores médios de carbono microbiano (C) no solo nas lavouras de morango de 14 propriedades, em quatro coletas.

Cmicrob (mg.kg-1)

Propriedades Coleta

Média 1 2 3 4

1 162 a 141 a 63 a 146 a 128 2 234 ab 170 ab 94 b 321 a 205 4 114 a 111 a 208 a 127 a 140 5 302 a 137 a 168 a 296 a 226 6 253 a 225 a 73 a 172 a 181 7 216 a 133 a 123 a 205 a 170 8 358 b 591 a 505 ab 601 a 514 9 264 ab 215 ab 171 b 401 a 263 10 313 ab 266 ab 160 b 393 a 283 11 98 b 184 ab 68 b 337 a 173 12 505 a 360 a 118 b 296 ab 320 13 272 a 359 a 267 a 375 a 319 14 458 a 389 a 55 b 400 a 326 15 510 a 223 b 219 b 496 a 363

Média 290 251 164 327

Letras iguais ao longo da mesma linha não diferem entre si ao nível de 5% de significância aplicando o teste DMS.

Na maioria das lavouras, o teste de comparação de

médias DMS, ao nível de 5% de significância, indicou diferenças entre os teores médios de carbono microbiano determinados ao longo do tempo nas amostras de solo. Este fato era esperado, visto que o carbono microbiano é um indicador

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Capítulo VI

155

muito sensível a interferências causadas no sistema (por exemplo, variações na temperatura do solo, umidade do solo, etc.).

Os valores mais altos de carbono microbiano foram encontrados nas amostras de solos com os maiores teores de matéria orgânica, indicando que, apesar do teor de carbono da biomassa microbiana ser influenciado por outros fatores, ele representa a fração ativa e biodegradável da matéria orgânica, refletindo as mudanças que ocorrem nesse atributo do solo.

b) Respiração basal

As bactérias e os fungos são os principais responsáveis pela maior liberação de CO2 via degradação da matéria orgânica. A medida da respiração do solo é bastante variável e dependente de vários fatores, dentre eles a temperatura e a umidade do solo.

Na Tabela 6.6 são encontrados os valores médios de respiração basal (RB) determinados nas amostras de solo coletadas nas quatorze lavouras de morango ao longo do tempo. Verifica-se que os valores médios de RB variaram de 0,08 µg CO2.h

-1.g-1 de solo (Propriedade 11) a 0,26 µg CO2.h-1.g-1 de

solo (Propriedade 8). Dentre os indicadores microbiológicos estudados, os valores médios de RB não diferiram entre si ao longo do tempo, i.e. entre as coletas, somente nas amostras de solo coletadas na lavoura da Propriedade 11, quando aplicado o teste DMS ao nível de 5% de significância.

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Tabela 6.6 – Teores médios de respiração basal (RB) no solo nas lavouras de morango de 14 propriedades, em quatro coletas.

RB (µg CO2 h-1 g-1 solo)

Propriedades Coleta

Média 1 2 3 4

1 0,29 a 0,09 b 0,11 b 0,17 b 0,17 2 0,21 a 0,17 ab 0,12 bc 0,06 c 0,14 4 0,17 a 0,06 b 0,10 ab 0,06 b 0,09 5 0,24 a 0,03 b 0,11 b 0,06 b 0,11 6 0,43 a 0,15 b 0,12 bc 0,06 c 0,19 7 0,18 a 0,13 ab 0,15 a 0,06 b 0,13 8 0,39 a 0,26 b 0,23 bc 0,17 c 0,26 9 0,20 a 0,06 b 0,13 ab 0,06 b 0,11 10 0,17 a 0,08 bc 0,14 ab 0,05 c 0,11 11 0,12 a 0,06 a 0,09 a 0,07 a 0,08 12 0,39 a 0,17 b 0,09 b 0,14 b 0,20 13 0,25 a 0,13 b 0,09 b 0,09 b 0,14 14 0,28 a 0,11 bc 0,18 b 0,08 c 0,16 15 0,26 a 0,17 b 0,13 bc 0,08 c 0,15

Média 0,25 0,12 0,13 0,09

Letras iguais ao longo da mesma linha não diferem entre si ao nível de 5% de significância aplicando o teste DMS.

6.2.3 Indicadores de fertilidade

a) Nitrogênio

Como observado para outros atributos que são influenciados pela matéria orgânica do solo, os maiores valores de nitrogênio total do solo foram verificados nas lavouras em que se encontraram os maiores valores de matéria orgânica (Tabela 6.7).

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Capítulo VI

157

Tabela 6.7 – Teores médios de nitrogênio total (Ntotal) no solo nas lavouras de morango de 14 propriedades, em quatro coletas.

Ntotal (g.kg-1)

Propriedades Coleta

Média 1 2 3 4

1 0,58 a 0,58 a 0,58 a 0,51 a 0,56 2 0,72 a 0,78 a 0,70 a 0,73 a 0,73 4 0,37 a 0,45 a 0,31 a 0,41 a 0,39 5 0,57 a 0,34 a 0,47 a 0,45 a 0,46 6 0,68 a 0,54 a 0,47 a 0,60 a 0,57 7 0,49 a 0,56 a 0,54 a 0,48 a 0,52 8 1,10 a 1,12 a 0,98 a 0,99 a 1,05 9 0,55 a 0,54 a 0,57 a 0,51 a 0,54 10 0,64 a 0,73 a 0,64 a 0,53 a 0,63 11 0,46 a 0,45 a 0,46 a 0,38 a 0,44 12 0,88 a 0,83 a 0,72 a 0,86 a 0,82 13 0,99 b 1,04 b 1,35 a 0,87 b 1,06 14 0,92 a 1,02 a 0,95 a 1,03 a 0,98 15 1,28 a 1,40 a 1,42 a 1,18 a 1,32

Média 0,73 0,74 0,73 0,68

Letras iguais ao longo da mesma linha não diferem entre si ao nível de 5% de significância aplicando o teste DMS.

b) Fósforo

A Tabela 6.8 apresenta a distribuição dos teores médios de fósforo (P) determinados a partir da coleta de amostras de solo em cada uma das 14 lavouras de morango ao longo do tempo e do espaço. O teor médio de fósforo foi classificado como muito alto em todas as amostras coletadas, de acordo com a classificação encontrada em CQFS (2004).

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Tabela 6.8 – Teores médios de fósforo no solo nas lavouras de morango de 14 propriedades, em quatro coletas.

Fósforo (mg.dm-3)

Propriedades Coleta

Média 1 2 3 4

1 161 b 161 b 232 a 199 ab 189 2 140 b 210 a 166 ab 192 ab 177 4 248 a 209 a 211 a 236 a 226 5 70 b 131 a 118 ab 88 ab 102 6 125 a 116 a 131 a 169 a 136 7 110 a 101 a 138 a 110 a 115 8 50 ab 49 b 111 a 79 ab 73 9 106 a 114 a 139 a 117 a 120 10 127 a 99 a 143 a 146 a 130 11 78 a 77 a 85 a 101 a 86 12 155 b 139 b 218 a 178 ab 173 13 104 a 125 a 88 a 94 a 103 14 72 a 88 a 133 a 120 a 104 15 224 a 189 a 185 a 183 a 196

Média 127 129 150 145

Letras iguais ao longo da mesma linha não diferem entre si ao nível de 5% de significância aplicando o teste DMS.

c) Potássio

Os teores médios de potássio (K) determinados nas amostras de solo coletadas em cada uma das quatorze lavouras de morango envolvidas neste trabalho são apresentados na Tabela 6.9. Segundo a CQFS (2004), a classificação dos teores médios de K variou de muito alto (Propriedades 4, 5, 9, 11, 12, 13, 14 e 15) a alto (Propriedades 1, 2, 6, 7, 8 e 10). O teste de comparação de médias indica que os teores de K não diferiram significativamente ao longo do tempo nas amostras de solo coletadas nas Propriedades 1, 5, 6, 7, 8, 10 e 11.

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Capítulo VI

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Tabela 6.9 – Teores médios de potássio no solo nas lavouras de morango de 14 propriedades, em quatro coletas.

Potássio (cmolc.dm-3)

Propriedades Coleta

Média 1 2 3 4

1 0,36 a 0,27 a 0,23 a 0,26 a 0,26 2 0,46 a 0,28 ab 0,22 b 0,33 ab 0,33 4 0,72 a 0,30 b 0,27 b 0,44 b 0,43 5 0,33 a 0,27 a 0,17 a 0,25 a 0,26 6 0,30 a 0,27 a 0,24 a 0,39 a 0,30 7 0,31 a 0,24 a 0,23 a 0,24 a 0,25 8 0,34 a 0,28 a 0,18 a 0,21 a 0,25 9 0,46 a 0,29 ab 0,26 ab 0,24 b 0,31 10 0,34 a 0,26 a 0,21 a 0,24 a 0,26 11 0,35 a 0,30 a 0,22 a 0,40 a 0,32 12 1,03 a 0,59 b 0,30 c 0,65 b 0,64 13 0,62 a 0,32 b 0,27 b 0,30 b 0,38 14 0,50 a 0,48 a 0,24 b 0,44 a 0,41 15 1,18 a 0,30 b 0,27 b 0,30 b 0,51

Média 0,52 0,31 0,24 0,33

Letras iguais ao longo da mesma linha não diferem entre si ao nível de 5% de significância aplicando o teste DMS.

6.3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esse estudo possibilitou identificar que o manejo do solo utilizado pelos produtores deve ser conduzido em função de elevar os teores de matéria orgânica. Também, constatou-se que a aplicação de fertilizantes está acima do necessário, não seguindo as recomendações fornecidas pela análise de solo.

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6.4 LITERATURA CITADA

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