monografia lucimara lyrio Água oziel alves

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE FLUMINENSE DARCY RIBEIRO CENTRO DE BIOCIÊNCIAS E BIOTECNOLOGIA AVALIAÇÃO DOS CONCEITOS E PERCEPÇÕES SOBRE O PROBLEMA ÁGUA NA COMUNIDADE DO ASSENTAMENTO OZIEL ALVES – CAMPOS DOS GOYTACAZES – RIO DE JANEIRO LUCIMARA DA CRUZ LYRIO BARBOSA Campos dos Goytacazes Dezembro, 2008.

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Page 1: Monografia Lucimara Lyrio Água Oziel Alves

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE FLUMINENSE DARCY RIBEIRO

CENTRO DE BIOCIÊNCIAS E BIOTECNOLOGIA

AVALIAÇÃO DOS CONCEITOS E PERCEPÇÕES SOBRE O PROBLEMA ÁGUA NA COMUNIDADE DO ASSENTAMENTO OZIEL ALVES – CAMPOS

DOS GOYTACAZES – RIO DE JANEIRO

LUCIMARA DA CRUZ LYRIO BARBOSA

Campos dos Goytacazes Dezembro, 2008.

Page 2: Monografia Lucimara Lyrio Água Oziel Alves

AVALIAÇÃO DOS CONCEITOS E PERCEPÇÕES SOBRE O PROBLEMA ÁGUA NA COMUNIDADE DO ASSENTAMENTO

OZIEL ALVES – CAMPOS DOS GOYTACAZES – RIO DE JANEIRO

Monografia apresentada ao Centro de

Biociências e Biotecnologia da

Universidade Estadual do Norte

Fluminense como exigência para

obtenção do grau de licenciatura em

Ciências Biológicas.

LUCIMARA DA CRUZ LYRIO BARBOSA

Orientador: João Carlos de Aquino Almeida Co-orientador: Antônio Henrique Almeida de Moraes Neto

Campos dos Goytacazes – R.J. 2008

Page 3: Monografia Lucimara Lyrio Água Oziel Alves

AVALIAÇÃO DOS CONCEITOS E PERCEPÇÕES SOBRE O PROBLEMA ÁGUA NA COMUNIDADE DO ASSENTAMENTO

OZIEL ALVES – CAMPOS DOS GOYTACAZES – RIO DE JANEIRO

Aprovada em 04 de Dezembro de 2008

BANCA EXAMINADORA

Prof. Dr. Fábio Lopes Olivares

Mestre Aline Nogueira Costa

Prof. Dr. João Carlos de Aquino Almeida

Page 4: Monografia Lucimara Lyrio Água Oziel Alves

Agradecimentos - Em primeiro lugar a Deus, que me permitiu chegar até aqui e estar conquistando mais esta vitória. - A toda minha família que esteve sempre ao meu lado me apoiando, me dando força e sempre me incentivando. Em especial minha mãe Célia e minha irmã Edlane. - A Thiago, meu esposo, que me acompanhou em todos os momentos difíceis sempre me apoiando. Sem seu incentivo não teria chegado até aqui. Obrigada! - Em especial a Marina Rodrigues (tia Marina) que esteve por muito tempo me substituindo como mãe enquanto eu estudava. Minha eterna gratidão! - Ao meu sogro (pai) e minha sogra (mãe) que me acolheram como filha e me incentivaram sempre, torcendo pela minha vitória. - Ao meu amigo e orientador João Almeida, que acreditou em mim, e me deu a oportunidade de trabalhar no Programa Parasitoses do Norte Fluminense, o qual me fez crescer muito como pessoa. Obrigada pelos ensinamentos e por ter me aturado. - Ao meu co-orientador Antônio Henrique, por colaborar para realização deste trabalho e pelos ensinamentos. - Ao Projeto Mosaico Terra da PETROBRAS, pelo apoio oferecido na realização desse projeto através da Parceria com o Programa Parasitoses do Norte Fluminense, no qual esse projeto se insere. - A todos os componentes do Programa Parasitoses do Norte Fluminense pelo trabalho em equipe desenvolvido pelo mesmo. -A Aline Costa por aceitar meu convite para banca e assim colaborar na conclusão deste trabalho. - Ao professor Fábio Olivares por aceitar participar da banca e pelos ensinamentos nas disciplinas. - Ao professor Clóvis que colaborou para a conclusão deste trabalho, aceitando revisar o mesmo. - Ao amigo Adilson pela companhia na saída de campo e pelo incentivo. - Ao amigo Leopoldo Coutinho pela colaboração dada para realização deste trabalho. - A pessoas especiais que sempre estiveram do meu lado me ajudando no que era necessário e cuidando do meu filho para que eu pudesse estudar Heloísa Souza (Helo) e Adriana Toledo.

Page 5: Monografia Lucimara Lyrio Água Oziel Alves

- A amiga Alessandra que me incentivou a todo o momento, não me deixando desistir. Obrigada pelo apoio e pela colaboração na realização deste trabalho. - A eterna amiga Maria Angélica que com suas orações me fortaleceu, obrigado por sempre ter estado ao meu lado me incentivando. - As minhas amigas de graduação Letícia, Suéllem, Suzana, Gabriela, Mariana, Manuela, Sheila, Virgínea, Jaqueline e Carla, que viveram comigo muitos momentos de tristeza, de angustia, mas de muitas alegrias. Vocês moram no meu coração. - A todos os amigos da graduação pelo companheirismo de sempre. Vocês são muito especiais pra mim. - A amiga Aline que de forma indireta colaborou para realização deste trabalho. - Ao meu coordenador Jorge e a Kátia Seabra (secretária) que me acolheram, obrigada pela atenção de sempre. - A todos os professores da graduação pelos ensinamentos e pelos momentos de stress. - Enfim a todos que torceram de alguma forma para meu sucesso, para minha vitória.

Page 6: Monografia Lucimara Lyrio Água Oziel Alves

Índice Índice de tabelas e figuras Resumo Abstract 1- Introdução -------------------------------------------------------------------------------- 1.1 Padrões microbiológicos de potabilidade da água ---------------------------------------------- ----------------------------------------------------------------------------------- 1.2 Doenças relacionadas ao consumo de água contaminada ------------ 2 - Justificativa ---------------------------------------------------------------------------- 3 - Objetivos --------------------------------------------------------------------------------- 3.1 Objetivos gerais ---------------------------------------------------------------------- 3.2 Objetivos específicos --------------------------------------------------------------- 4 - Materiais e métodos ----------------------------------------------------------------- 4.1 Levantamento de campo ---------------------------------------------------------- 4.1.1 Aplicação dos questionários -------------------------------------------------- 4.2. Inquérito parasitológico ----------------------------------------------------------- 4.2.1 Exame parasitológico de fezes ----------------------------------------------- 5 - Resultados ----------------------------------------------------------------------------- 5.1 Questionário: Análise dos conceitos e hábitos da comunidade ------ 5.1.1 Sintomas relacionados ao consumo/contato de água de má qualidade -------------------------------------------------------------------------------------- 5.1.2 Tipo de água utilizada ------------------------------------------------------------- 5.1.3 Tratamento de água --------------------------------------------------------------- 5.1.4 Tratamento de esgoto ------------------------------------------------------------ 5.1.5 Tratamento do lixo ---------------------------------------------------------------- 5.1.6 Presença de animais ------------------------------------------------------------- 5.1.7 Utilização de adubos ------------------------------------------------------------- 5.1.8 Contaminação da água de poço ---------------------------------------------- 5.1.9 Tratamento da água de poço para beber ---------------------------------- 5.2 Análise das possíveis fontes de contaminação da água --------------- 5.3 Análise da prevalência de parasitoses intestinais -------------------------- 6 - Discussão ------------------------------------------------------------------------------- 7 - Conclusão ------------------------------------------------------------------------------- 8 - Perspectivas futuras ------------------------------------------------------------------- 9 - Referência bibliográfica ------------------------------------------------------------- 10 - Anexo 1 ----------------------------------------------------------------------------------- 11 - Anexo 2 ---------------------------------------------------------------------------------

Page 7: Monografia Lucimara Lyrio Água Oziel Alves

Índice de tabelas e figuras

Tabela 1 Padrão microbiológico de potabilidade da água para consumo ---------------------------------------------------------------------------------------------------- Tabela 2 Principais doenças de veiculação hídrica ------------------------- Figura 1 Foto aérea do assentamento Oziel Alves mostrando sua área total ------------------------------------------------------------------------------------------- Figura 2 Aplicação dos questionários ------------------------------------------- Figura 3 Coleta de fezes no assentamento ------------------------------------- Figura 4 Laboratório Plínio Bacelar ----------------------------------------------- Figura 5 Problemas de saúde relatados na comunidade-------------------- Figura 6 Tipo de água utilizada nas residências ----------------------------- Figura 7 Poço (assentamento Oziel Alves) ------------------------------------ Figura 8 Tipo de tratamento da água utilizado pela comunidade ------ Figura 9 Filtro de areia ---------------------------------------------------------------- Figura 10 Tratamento de esgoto --------------------------------------------------- Figura 11 Número de casas com banheiro e vaso sanitário ------------- Figura 12 Tratamento de lixo utilizado pela comunidade ----------------- Figura 13 Vala onde o lixo é queimado ------------------------------------------ Figura 14 Animais próximo ao poço ---------------------------------------------- Figura 15 Utilização de adubo ------------------------------------------------------ Figura 16 Opinião sobre contaminação do poço ----------------------------- Figura 17 Opinião sobre o uso isolado dos tipos de tratamento da água ----------------------------------------------------------------------------------------------------- Figura 18 Resultado exame parasitológico ------------------------------------ Figura 19 Prevalência de protozoários ------------------------------------------ Figura 20 Vista panorâmica e aspecto das casas do assentamento Oziel Alves ---------------------------------------------------------------------------------------- Figura 21 Caixas para armazenamento da água da chuva ---------------- Figura 22 Poço com bomba manual -----------------------------------------------

Page 8: Monografia Lucimara Lyrio Água Oziel Alves

Resumo Embora no Brasil tenha-se aumentado a distribuição de água tratada, ainda

existem muitos distritos sem fornecimento de água, onde a maior fonte para

obtenção de água são os poços subterrâneos. Em regiões onde não existe

saneamento básico ou este é precário, e as condições socioeconômicas são

baixas a comunidade fica mais susceptível à infecções através de água

contaminada, pois esta é uma fonte de transmissão para várias doenças de

veiculação hídrica. Dessa forma, conhecer os hábitos e a percepção dessa

comunidade sobre a questão da água, as associações que o conhecimento

popular identifica entre o consumo de água contaminada e problemas de

saúde, e as relações que a população identifica entre os seus hábitos,

costumes e usos e a contaminação de fontes de água de consumo e suas

práticas de higienização é fundamental para orientar ações de cunho educativo

que visem a racionalizar o uso da água, preservando esse recurso e

melhorando a condição de saúde e qualidade de vida dessas populações, a

partir de práticas assimiláveis e de baixo impacto nos hábitos da população.

Neste trabalho foi realizada uma análise sobre os conceitos e hábitos da

comunidade do assentamento Oziel Alves com relação à qualidade da água.

Através de entrevistas (questionários) pode-se avaliar as possíveis fonte de

contaminação da água e relacionar as condições de vida da comunidade com a

qualidade da água utilizada pela mesma. Dados fornecidos pelos questionários

mostraram que 100% das residências visitadas utilizam água de poço e que

esta não recebe o tratamento adequado antes de ser consumida.

Embora os moradores reconheçam as fontes de contaminação da água

presentes na região, não existe uma associação direta deste conhecimento

com a prática de hábitos seguros no consumo da água, o que parece se dar

em parte pela desinformação, mas também pelo fato destes não associarem

esses fatos à sua condição de saúde. Isso demonstra a necessidade de se

implementar estratégias de educação sanitária que não apenas forneçam

informação adequada, mas que contextualizem e tornem essa informação

significativa e adequada à realidade dessas comunidades.

Page 9: Monografia Lucimara Lyrio Água Oziel Alves

Abstract Although the distribution of treated water in Brazil has increased, there are still

many districts without water supply, where the main source for obtaining water

is underground wells. In regions where there is no sanitation or this is

precarious, and the socioeconomic conditions are low the community is more

susceptible to infections through contaminated water, because this is a source

of transmission for various waterborne diseases. In this work was carried out an

analysis about the concepts and habits of the community of the Settlement

Oziel Alves regarding the quality of water. By means of interviews

(questionnaires) we could identify the possible source of water contamination

and relate the conditions of life of the community with the quality of water used

by the same, besides the concepts and perceptions of the population on the use

of water in their daily lives. Data supplied by the questionnaires showed that

100% of households visited using water of well and that this does not receive

adequate treatment before being consumed. These data indicate that the

information is a preponderant factor for this population can consume quality

water, it is necessary to implement health policies which aim to provide correct

information for populations in similar conditions, to decrease the condition of

vulnerability to which they are exposed. Even though residents recognize the

sources of contamination of water present in the region, there is not a direct

association of this knowledge with the practice of safe habits in water

consumption, which seems to be given in part by disinformation, but also by the

fact that these do not associates these facts to their health condition. This

demonstrates the need to implement strategies for health education that not

only provide adequate information, but that contextualizes and make this

information significant and appropriate to the reality of these communities.

Page 10: Monografia Lucimara Lyrio Água Oziel Alves

1. Introdução A água é essencial para a manutenção da vida, por este motivo tem sido

alvo de vários trabalhos no meio acadêmico. A preocupação com a

contaminação dos aqüíferos tem sido foco de estudos, e esta preocupação

aumenta principalmente, quando a água é destinada ao consumo humano.

Segundo dados do IBGE publicados no Atlas de Saneamento (2004), no

Brasil apenas 2% do total dos municípios (o equivalente a 116 municípios), em

2000, não contavam com nenhum serviço de abastecimento de água. No

entanto, dentro de cada município, a rede de distribuição é muitas vezes

heterogênea, não alcançando zonas que ficam na periferia, locais de ocupação

irregular ou zonas rurais, onde normalmente se concentra a população de

menos poder aquisitivo.

Em domicílios que não recebem água tratada por rede de abastecimento

público ou privadas, uma das alternativas mais comuns é a utilização de

sistemas de poços domésticos para obtenção de água (Silva, 2006). Essa é

uma alternativa que muitas vezes pode trazer riscos à saúde, já que a água de

poços, além de não conter aditivos que auxiliam no controle microbiológico e

na prevenção de doenças, como o cloro e o flúor, podem estar expostas ainda

a vários tipos de contaminação. A contaminação das águas subterrâneas pode colocar em risco a saúde

da população, por ser veículo de transmissão para várias doenças. As

principais fontes de contaminação de águas subterrâneas são os lixões,

sistemas de saneamento “in situ”, vazamento de redes coletoras de esgoto,

uso incorreto de agrotóxicos e fertilizantes, irrigação que pode aumentar a

lixiviação de contaminantes para a água subterrânea e outras fontes dispersas

de poluição (CETESB, 2008). Além destas fontes de contaminação, os diferentes tipos de solo e

profundidade do poço também são fatores que evidenciam a possibilidade de

contaminação dos aqüíferos livres (Rocha, 2004). Assim como poços mal

construídos que tornam caminhos preferenciais para que os poluentes atinjam

a água subterrânea, quando não existe barragem para os mesmos através de

construção de tampa e parede de concreto em volta do poço.

O solo tem um papel importante na retenção de microrganismos, agindo

como um filtro natural. Por este motivo a água subterrânea de grandes

Page 11: Monografia Lucimara Lyrio Água Oziel Alves

profundidades é considerada satisfatória para o consumo humano, por

apresentar excelentes características físicas e químicas. O que mais

comumente coloca em risco a saúde da população é a contaminação gerada

pela ação antrópica (Rocha, 2004).

Campos dos Goytacazes é o maior município do estado do Rio de

Janeiro, está localizado na região Norte do estado, apresenta uma área total de

4.037 Km² e uma população de 431.839 habitantes. O abastecimento de água

no município é realizado através da empresa Águas do Paraíba, que distribui

água tratada, pelo aproveitamento de poços profundos e pelo rio Paraíba do

Sul. Em lugares aonde esta rede de fornecimento não chega à captação de

água subterrânea é feita através da construção de poços domésticos (Rocha,

2004).

Rocha (2004) em seu trabalho demonstrou que os poços do tipo

cacimba, muito utilizados pela população do município que não recebem água

por rede de abastecimento, são vulneráveis a diversos tipos de contaminação

e/ou poluição, como: por fossas sépticas, tubulações de esgoto com fissuras,

disposição inadequada de resíduos sólidos, dentre outras.

O conceito de vulnerabilidade de um aqüífero pode ser entendido como

um conjunto de características que determinam a suscetibilidade de um

aqüífero vir a ser afetado por uma carga contaminante (CETESB, 2008).

A contaminação das águas subterrâneas pode acontecer de forma

permanente, sazonal e acidental. A forma permanente de contaminação se dá

através do lançamento contínuo de resíduos nos corpos d’água, assim como

infiltrações oriundas de fossas e aterro sanitário. Acidentes com veículos de

transporte de materiais tóxicos, assim como rompimento de tubulações

caracterizam o tipo de contaminação acidental. E por fim lixiviação dos solos

agricultáveis é o que caracteriza a contaminação sazonal (PROSAB, 2001).

Uma segunda vertente com relação à contaminação corresponde às

variações espaciais, denominadas contaminação difusa, pontual e linear. A

primeira e a de mais difícil controle são de origem agrícola. A contaminação

pontual é de originária de resíduos sólidos e do lançamento de despejos

industriais e urbanos. E a contaminação linear acontece ao longo de estradas e

vias férreas (PROSAB, 2001).

Page 12: Monografia Lucimara Lyrio Água Oziel Alves

Segundo dados da Organização Mundial da Saúde a água destinada

para o consumo humano considerada segura é aquela cujos parâmetros

microbiológicos, físicos, químicos e radioativos atendam ao padrão de

potabilidade e não ofereça riscos à saúde (FUNASA, 2001).

A água destinada ao consumo humano dever ser isenta de

contaminantes químicos e biológicos, dentre os quais as bactérias, vírus,

protozoários e helmintos são organismos patogênicos e que veiculados pela

água podem, através de sua ingestão, parasitar os indivíduos (Souza et al.,

1983).

Nos países em desenvolvimento o uso de água de má qualidade e

condições precárias de saneamento, têm sido responsáveis pelos altos índices

de mortalidade infantil e casos de doenças de veiculação hídricas, como surtos

de doenças parasitárias que causam diarréia (Freitas et al., 2001).

1.1 Padrões Microbiológicos de Potabilidade da água Em relação aos padrões de potabilidade da água para consumo humano

a Portaria nº. 1.469 do Ministério da Saúde, estabelece os procedimentos e

responsabilidades relativos ao controle e vigilância da qualidade da água e o

padrão microbiológico de potabilidade, não permitindo a presença de

coliformes totais ou termotolerantes na água para consumo humano, como está

demonstrado na tabela 1.

Page 13: Monografia Lucimara Lyrio Água Oziel Alves

Tabela 1: Padrão microbiológico de potabilidade da água para consumo humano

Parâmetro VMP (1)

Água para consumo humano (2)

Escherichia coli ou coliformes termotolerantes (3)

Ausência em 100 mL

Água na saída do tratamento

Coliformes totais Ausência em 100 mL

Água tratada no sistema de distribuição (reservatórios e rede)

Escherichia coli ou coliformes termotolerantes (3)

Ausência em 100 mL

Coliformes totais

Sistemas que analisam 40 ou mais amostras por mês: ausência em 100

mL em 95% das amostras examinadas no mês;

Sistemas que analisam menos de 40 amostras por mês: apenas uma

amostra poderá apresentar mensalmente resultado positivo em

100 mL. Fonte: Ministério da Saúde

(1) Valor Máximo Permitido (2) Água para consumo humano em toda e qualquer situação, incluindo fontes

individuais como poços, minas, nascentes, dentre outras. (3) A detecção de Escherichia coli deve ser preferencialmente adotada.

As bactérias do grupo coliformes são consideradas os principais

indicadores de contaminação fecal. O grupo coliforme é formado por um

número de bactérias que inclui vários gêneros. O uso de bactérias coliformes

termotolerantes tem se mostrado bastante significativo para indicar poluição

sanitária (CETESB, 2008). O gênero Escherichia coli é considerado o mais

específico indicador de contaminação fecal recente e de eventual presença de

organismos patogênicos (FUNASA, 2001).

A determinação da concentração dos coliformes tem grande importância

como parâmetro indicador da possibilidade de microrganismos patogênicos,

responsáveis pela transmissão de doenças de veiculação hídrica (CETESB,

2008).

Page 14: Monografia Lucimara Lyrio Água Oziel Alves

Os coliformes totais são também utilizados para indicar contaminação,

mas seu uso é menos significativo, pois esta pode ser encontrada no solo,

enquanto os coliformes fecais são restritos ao trato intestinal de animais de

sangue quente.

1.2 Doenças relacionadas ao consumo de água contaminada A água é responsável pela transmissão de algumas doenças, algumas

delas transmitidas diretamente pela ingestão da água contaminada, outras se

dão de modo passível, onde através do contato, como ocorre durante a higiene

pessoal, o indivíduo as adquire. Existem ainda algumas moléstias cujo vetor

apresenta parte do seu ciclo de vida desenvolvido no meio aquático (PROSAB,

2001).

Os principais agentes biológicos encontrados em águas contaminadas

são as bactérias patogênicas, os vírus e os parasitos. As bactérias são

responsáveis pelos numerosos casos de enterites, diarréias infantis e doenças

epidêmicas (como a febre tifóide). Os vírus da poliomielite e da Hepatite

infecciosa são os mais comumente encontrados na água. E dentre os parasitos

que podem ser ingeridos através da água e causar patologias estão o Ascaris

lumbricoides que causa a ascaridíase, Tricuris trichiura que causa tricuríase

dentre outras verminoses (d’Aguila, 2000).

Entamoeba histolytica, Giárdia lamblia e Cryptosporidium paryum estão

entre os protozoários capazes de causar diarréias graves tanto em indivíduos

imunocompetentes quanto em imunodeprimidos (CETESB, 2008).

Na tabela 2 podem ser observadas as principais doenças relacionadas à

ingestão de água contaminada.

Page 15: Monografia Lucimara Lyrio Água Oziel Alves

Tabela 2: Principais doenças de veiculação hídrica

Principais doenças relacionadas à ingestão de água contaminada e seus agentes causadores

Doenças Agente causador

Cólera Disenteria bacilar Febre tifóide Hepatite infecciosa Febre paratifóide Gastroenterite Diarréia infantil

Vibrio chollerae Shiggella sp. Salmonella typhi Vírus da Hepatite do tipo A Salmonella paratyphi A e B Outros tipos de Salmonella, Shiggella, Proteus sp. Tipos enteropatogênicos de Escherichia coli

2. Justificativa Sabe-se que a falta de esgotamento sanitário, lixo e a atividade agrícola

são fatores que aumentam o risco de contaminação de águas subterrâneas e

que esta é um potencial veículo para transmissão de várias doenças, sendo

muito utilizada como fonte para obtenção de água em regiões não abastecidas

por sistema de rede de água tratada. A área escolhida para estudo apresenta

estas características, a população apresenta baixas condições

socioeconômicas e baixa condição de saneamento, desprovida da distribuição

de água tratada por rede de abastecimento, sendo utilizada para o consumo

oriunda de fontes subterrâneas captadas através de poços domésticos.

Dessa forma, conhecer os hábitos e a percepção dessa comunidade

sobre a questão da água, as associações que o conhecimento popular

identifica entre o consumo de água contaminada e problemas de saúde, e as

relações que a população identifica entre os seus hábitos, costumes e usos e a

contaminação de fontes de água de consumo e suas práticas de higienização é

fundamental para orientar ações de cunho educativo que visem a racionalizar o

uso da água, preservando esse recurso e melhorando a condição de saúde e

qualidade de vida dessas populações, a partir de práticas assimiláveis e de

baixo impacto nos hábitos da população.

Page 16: Monografia Lucimara Lyrio Água Oziel Alves

3. Objetivos 3.1. Objetivos gerais Realizar uma investigação sobre os conceitos e percepções do problema

água na comunidade do assentamento Oziel Alves com a finalidade de avaliar

os costumes da população com relação à água consumida por esta,

correlacionando assim com as condições de saneamento e de tratamento da

água utilizada pela comunidade, relacionando os seus hábitos e a

contaminação de fontes de água de consumo.

3.2. Objetivos específicos

1. Aplicar questionários na comunidade com a finalidade de conhecer os

hábitos e conceitos da população em relação à qualidade da água.

2. Identificar as possíveis fontes de contaminação presentes na região

estudada.

3. Relacionar as condições de vida e percepção da comunidade com a

qualidade da água consumida.

4. Relacionar a incidência de parasitoses intestinais na população com a

qualidade da água consumida. 4. Materiais e métodos 4.1. Levantamento de Campo O assentamento Oziel alves está localizado no Município de Campos

dos Goytacazes – RJ, situado na região da Baixada Campista. Apresenta uma

área medida de 410,7336 hectares (figura 1). Localiza-se a margem da

Rodovia BR 356, sentido Campos dos Goytacazes – São João da Barra (PDA

– Plano de desenvolvimento do Assentamento, 2008, dados não publicados).

Page 17: Monografia Lucimara Lyrio Água Oziel Alves

Figura 1 - Foto aérea do assentamento Oziel Alves mostrando sua área total

Fonte: Google Earth (Colaboração Leopoldo Coutinho)

Atualmente o Assentamento possui 34 famílias totalizando 151 pessoas,

entre crianças, jovens e adultos. A população apresenta um nível

socioeconômico e de condições de saneamento precárias, o abastecimento de

água é realizado por poços rasos e a região não apresenta rede de coleta de

lixo e esgoto, o que aumenta o risco de contaminação dessa fonte de

abastecimento, levando a comunidade às conseqüências do consumo de água

não tratada.

As casas apresentam aspecto precário e são distribuídas em ambiente

tipicamente rural. Algumas delas construídas utilizando-se madeiras

reaproveitadas e outras de alvenaria inacabada, todas sem condições

adequadas de luz (Figura 20, Anexo 2) e saneamento.

4.1.1 Aplicação dos questionários Esta etapa do trabalho é fundamentada na metodologia de pesquisa-

ação, os questionários em forma de entrevista (figura 2) são utilizados como

instrumento de investigação e avaliação de dados, onde se procura

diagnosticar a realidade da comunidade (Thiollente, 1986).

Page 18: Monografia Lucimara Lyrio Água Oziel Alves

Embora a comunidade apresente um total de trinta e quatro famílias

assentadas, nem todas vivem no local e por este motivo foram aplicados vinte

e seis (26) questionários (Anexo 1 ), sendo um por residência, abrangendo um

total de setenta e sete (77) habitantes, distribuídos entre crianças,

adolescentes e adultos. O questionário apresenta perguntas relacionadas a

condições de moradia e saneamento, tipo de água e tratamento utilizados pela

família, presença de animais domésticos e relação com problemas de saúde.

Figura 2 - Aplicação dos questionários

A partir dos dados obtidos com a aplicação dos questionários e

observações de campo, foi feita a identificação das possíveis fontes de

contaminação nessa comunidade.

4.2. Inquérito parasitológico Em conjunto com o Programa Parasitoses do Norte Fluminense que

também utiliza esta área para estudo em parceria com o Laboratório de

análises clínicas Plínio Bacelar, foi possível realizar inquérito parasitológico da

comunidade, onde se avaliou através de exames de fezes com amostras da

comunidade a incidências de parasitoses intestinais.

4.2.1 Exames parasitológicos de fezes Foram coletadas trinta amostras na comunidade, os recipientes

etiquetados para coleta de fezes foram entregues aos participantes da

pesquisa (figura 3) após orientação de como proceder a coleta. As amostras

Page 19: Monografia Lucimara Lyrio Água Oziel Alves

foram recolhidas no dia seguinte, acondicionadas em depósito resfriado e

encaminhadas para o laboratório de análises clínicas Plínio Bacelar, situado no

centro de Campos dos Goytacazes - RJ, para análise imediata de helmintos e

protozoários (Hoffman, Pons & Janer).

Figura 3 - Coleta de fezes no Assentamento (Colaboração Antônio Henrique)

Figura 4 - Laboratório Plínio Bacelar (Colaboração Antônio Henrique)

5. Resultados 5.1 – Questionário: análise dos conceitos e hábitos da comunidade. 5.1.1 – Sintomas relacionados ao consumo/contato com água de má qualidade

Page 20: Monografia Lucimara Lyrio Água Oziel Alves

Quando questionados se desde o início do ano alguém teve/tem tido

algum problema de saúde, as respostas foram relacionadas a sintomas como

diarréia, dor de barriga, problema de pele (cobreiro e frieira) e febre. O

resultado está apresentado na figura 5.

Problemas de saúde relatados na comunidade

19%

34%

42%

38%

Febre

Doenças de pele (cobreiro e frieira)

Dor na barriga

Diarréia

N= 26

Figura 5 - Distribuição percentual de casos de problemas de saúde relatados

pela comunidade 5.1.2 – Tipo de água utilizada

Verificou-se através dos dados fornecidos pelos questionários que a

fonte de água utilizada na comunidade em todas as residências é oriunda de

poços rasos, construídos pelos moradores, sendo que destes 34% utiliza

somente água de poço e 66% das famílias utilizam outra fonte além do poço,

como apresentado na figura 6. A figura 7 mostra um exemplo de poço

construído pelo morador. Em algumas residências a água proveniente da

chuva é aproveitada para atividades e para o consumo, os moradores utilizam

caixa d’água para captar e armazenar esta água (figura 21, Anexo 2)

Page 21: Monografia Lucimara Lyrio Água Oziel Alves

Fonte de água utilizada na comunidade

66%

34%

Só água de poço

Água de poço e outro(chuva, caminhão-pipa)

N=26

Figura 6 - Distribuição percentual do tipo de água utilizada nas

residências da comunidade

Figura 7 - Exemplo de poço mal construído (assentamento Oziel Alves)

5.1.3 – Tratamento da água

Foi questionado aos moradores se rotineiramente fazem algum tipo de

tratamento na água antes de beber e antes de utilizar em outras atividades

como cozinhar, tomar banho, lavar roupas e na limpeza de casa. Em mais da

metade das residências visitadas (73%) existe algum tipo de tratamento na

água antes de seu consumo, 27% da população não utiliza nenhum tipo de

tratamento na água de consumo. Dentre os tipos de tratamento utilizados a

filtração está em primeiro lugar, seguidos da fervura e cloração, como

apresenta a figura 8. A justificativa para o uso de tal tratamento na maioria dos

casos (filtração) está relacionada à praticidade, dentre as outras justificativas

relatadas pelos entrevistados estão “a água fica mais clarinha depois de

filtrada”, “a água fica mais sadia” ou então “é melhor”.

Page 22: Monografia Lucimara Lyrio Água Oziel Alves

Método de tratamento da água

8%

53%

16%

23%

Filtração e cloração

Filtração

Cloração

Fervura

N=26

Figura 8 - Método de purificação da água utilizado pela comunidade antes do

consumo

Segundo os moradores a água que é captada pelos poços é de má

qualidade, apresentando-se ferruginosa e salobra. Para tanto utilizam da

construção artesanal de “filtros de areia” para modificar as características

organolépticas da água, tornando-a mais apropriada ao consumo segundo as

concepções dos moradores. A figura 9 mostra um filtro construído pelo

morador.

Figura 9 - Filtro de areia artesanal construído com camadas de areia,

brita e carvão

5.1.4 – Tratamento de esgoto A comunidade do assentamento Oziel Alves vive numa área rural e não

apresenta um sistema de coleta de esgoto. Uma parte da população utiliza o

sistema de “fossas” (sumidouro) e outra parte utiliza vala para a eliminação do

esgoto, que em muitos casos fica próximo aos poços, podendo ser fonte

contaminação para os mesmos, como demonstrado na figura 10.

Page 23: Monografia Lucimara Lyrio Água Oziel Alves

Tratamento de esgoto realizado na comunidade

77%

23%

Fossa (sumidouro)

Vala

Figura 10 - Distribuição percentual de casas que apresentam fossa

(sumidouro) ou vala

Dentre as casas que foram visitadas a maioria tem banheiro e vaso

sanitário, ainda que em condições precárias, como apresentado na figura 11.

92%

8%

92%

8%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

Sim

Não

Vaso sanitárioBanheiro

Figura 11 - Número de casas com banheiro e vaso sanitário

5.1.5 – Tratamento do Lixo

A comunidade não conta com o serviço de coleta pública. Quando

questionados sobre o tratamento do lixo, a maioria dos entrevistados

responderam que queimam seu lixo. Algumas famílias utilizam o lixo orgânico

para compostagem e algumas fazem seleção do lixo que pode ser reciclado e

vende para reciclagem. Uma parcela da comunidade descarta seu lixo em

valas presente no quintal das residências e próximas ao poço. A figura 12

Page 24: Monografia Lucimara Lyrio Água Oziel Alves

apresenta o tipo de tratamento do lixo utilizado na comunidade. A figura 13

mostra uma vala aberta no quintal da residência próxima ao poço, onde o lixo é

queimado.

Tratamento do lixo utilizado na comunidade

4%

8%

8%

11%

65%

Coleta

Queima e reciclagem

Compostagem e reciclagem

Vala

Queima

N= 26

Figura 12 - Distribuição percentual do tipo de tratamento do lixo utilizado pela

comunidade

Figura 13 - Vala criada para queima do lixo no quintal da residência próxima ao

poço

5.1.6 – Presença de animais

Em todas as residências existe a presença de animais domésticos e de

criação, como aves, cachorro, gato, porcos, gado entre outros, que em muitos

casos são criados próximos ao poço (figura 14) e até mesmo dentro de casa, e

ainda animais vetores de doença como moscas, ratos e mosquitos.

Page 25: Monografia Lucimara Lyrio Água Oziel Alves

Figura 14 - Presença de animais próximo ao poço

5.1.7 – Utilização de adubo Toda a população que vive no assentamento tem em seus lotes

plantação e/ou horta, onde 92% dos moradores utilizam adubo. As informações

sobre o uso de adubo e o tipo utilizado pelos moradores está apresentado na

figura 15.

73%

19%

8%

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80%

Adubo orgânico

Adubo orgânico equímico

Não usam adudo

Figura 15 - Utilização de adubo na plantação

5.1.8 – Contaminação da água de poço

Os entrevistados foram questionados também com relação à

contaminação do poço, foi perguntado se o uso de adubos pode contaminar

água de poço, onde 61% acreditam que o uso de adubo possa contaminar e

39% acreditam que não contamina. A figura 16 mostra a opinião dos

entrevistados em relação à contaminação do poço por esgoto, lixo e cemitério.

Page 26: Monografia Lucimara Lyrio Água Oziel Alves

96%

4%

96%

4%

92%

8%

Esgoto lixo Cemitério

SimNão

Figura 16 - Opinião sobre contaminação do poço pela falta de cuidados com

esgoto e lixo, e cemitério

5.1.9 – Tratamento da água de poço para beber

Através da análise das respostas dos entrevistados verificou-se a

opinião sobre a eficiência dos métodos de tratamento da água, quando

utilizados isoladamente, os resultados estão apresentados na figura 17.

42%

15%

34%

58%

85%

66%

Só ferver

Só filtrar

Só clorar

NãoSim

Figura 17 - Opinião sobre o uso isolado dos tipos de tratamento da água

5.2 Análise das possíveis fontes de contaminação da água A área de estudo apresenta precárias condições de saneamento, não

existe coleta de lixo e a obtenção de água é oriunda de fonte subterrânea, além

de ser uma área utilizada para agricultura. Sendo assim a fonte de água

subterrânea que é maciçamente utilizada pela comunidade está sujeita a

contaminação do tipo permanente, a partir das infiltrações oriundas de esgoto e

Page 27: Monografia Lucimara Lyrio Água Oziel Alves

aterro sanitário e também pela contaminação do tipo sazonal oriunda da

lixiviação do solo.

5.3 Análise da prevalência de parasitoses intestinais

Trinta moradores da comunidade disponibilizaram-se para a realização

do inquérito parasitológico, dos quais 33% estavam positivos para protozoários,

destes 90% estavam parasitados com Giárdia lamblia e 10% estavam com

Entamoeba coli, ambos parasitos de veiculação hídrica. Os resultados estão

apresentados nas figuras 18 e 19.

Resultado dos Exames de Fezes - Assentamento Oziel Alves - 2008

33%

67%

Positivos

Negativos

n= 30

Figura 18 - Resultados dos exames parasitológicos

10%

90%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

Entamoeba coli

Giardia lamblia

Prevalência de Protozoários

n= 10

Figura 19 - Prevalência de Protozoários nos resultados positivos

Page 28: Monografia Lucimara Lyrio Água Oziel Alves

6. Discussão Este trabalho foi iniciado com a aplicação dos questionários nas

residências, que visava a partir das respostas fazer uma análise sobre as

condições de saneamento e moradia da comunidade, bem como analisar os

hábitos da população com relação à água (fonte e tratamento utilizado) e às

possíveis fontes de contaminação da mesma.

Com os resultados obtidos foi possível verificar que toda a comunidade

do assentamento utiliza como fonte de abastecimento de água a construção de

poços superficiais, estes são construídos de qualquer forma, sem que haja uma

preocupação com os riscos de contaminação. A água proveniente destes

poços muitas vezes não é de boa qualidade para o consumo humano, devido

às características intrínsecas da composição do solo apresentando-se

ferruginosa e salobra. Além disso, a presença de animais domésticos, o uso

de implementos agrícolas, e a disposição incorreta de dejetos e resíduos da

atividade humana são fatores que certamente colocam em risco a potabilidade

da água para consumo humano.

Como esta é praticamente a única fonte de água que é usada para todas

as atividades domésticas, inclusive para o consumo, os moradores utilizam

comumente filtros de areia, onde a água passa por camadas de areia, brita e

carvão (figura 9), sendo assim filtrada, havendo a retenção de sedimentos e

partículas em suspensão. Em algumas residências a filtração é feita em duas

etapas, onde primeiro a água captada do poço é colocada no filtro de areia e

depois no filtro de barro. Isso é feito quando esta água é usada para consumo.

A filtração é uma das formas mais antigas de tratamento da água para

consumo humano (PROSAB, 2001), embora não seja adequada sua utilização

isoladamente, já que este tratamento consiste apenas na retenção de

partículas. No entanto, trabalhos anteriores de nosso grupo (Fonseca, 2005)

comprovaram que a utilização da filtração em velas de porcelana comum não

barra a passagem de bactérias, uma das principais fontes de contaminação da

água, embora seja eficientes na retenção de ovos de vermes e cistos de alguns

protozoários. A utilização corriqueira de filtros de areia e de velas de porcelana

pode ser em parte responsável pelo índice relativamente baixo de verminoses,

em comparação com aqueles encontrados em outras comunidades

investigadas pelo nosso grupo que não utlizavam o sistema de filtração. Além

Page 29: Monografia Lucimara Lyrio Água Oziel Alves

disso, o uso de medicação a base de derivados imidazólicos (Mebendazol), nos

quais os entrevistados declararam utilizar para “prevenir as verminoses a cada

6 meses” (Moraes Neto et al. 2008, dados não publicados). Tal fato pode ter de

certa forma dado a falsa idéia de que os indivíduos não eram parasitados por

helmintoses, mascarando os resultados, dadas às condições de saneamento

básico precário na área e a falta de informações por parte da comunidade

sobre o tema. Outro fato relevante é que estes indivíduos podem ser

portadores de infecções helmínticas ainda em período pré-patente ou mesmo

estas infecções podem ser unissexuais ou antigas, já que não foram

encontrados ovos de helmintos nas fezes dos indivíduos. Isto poderia ser

esclarecido se tivéssemos a oportunidade de realizarmos hemogramas em

todos estes sujeitos da pesquisa a fim de verificar a presença de eosinofilia e

leucocitose.

Em comunidades que não contam com o serviço de abastecimento de

água, a utilização de métodos alternativos de desinfecção é de suma

importância. Este método consiste na inativação dos microrganismos

patogênicos, realizada por meio de agentes físicos ou químicos, como o cloro

(PROSAB, 2001), que mata bactérias e, desde que usado adequadamente, e

em conjunto com o processo de filtração, garante uma proteção eficaz na

prevenção de doenças de veiculação hídrica. Na comunidade em questão

verificamos uma pequena utilização dessa metodologia, que deveria ser

estimulada, com a orientação correta, a fim de minorar os problemas de

contaminação da água para consumo de maneira eficaz, melhorando assim a

qualidade de vida e saúde dessa população.

Foi possível verificar com os questionários que a maioria dos

entrevistados relacionam qualidade da água com ausência de “gosto, cheiro e

cor”, conceito errôneo difundido na população de forma geral, e reforçado

muitas vezes pelos próprios livros didáticos (Silva, 2006), que necessita ser

modificado através de práticas educativas, mudando a atitude da população a

fim de que haja um resguardo maior quanto à utilização de água de fontes não-

confiáveis, baseada apenas em suas características organolépticas.

Sobre as condições de saneamento e tratamento do lixo verificou-se que

estas são possíveis fontes de contaminação direta da água de poço na

comunidade, já que não existe um tratamento adequado com os mesmos. Em

Page 30: Monografia Lucimara Lyrio Água Oziel Alves

77% das residências foram construídas fossas (sumidouro) e em 23% o esgoto

é jogado na vala. O tratamento do lixo é feito de diversas formas, o lixo

orgânico é aproveitado por algumas famílias para compostagem, o lixo que

pode ser reciclado também é aproveitado por alguns moradores, e mais da

metade das famílias (73%) utiliza a incineração como tratamento de lixo,

embora este seja acumulado em valas para depois serem incinerados o que

produz o chorume que contamina o lençol freático, diminuindo a qualidade da

água usada pela comunidade.

Como se sabe o lixo e o esgoto são fontes de contaminação

permanentes, com a produção do chorume, resíduo líquido formado com o lixo

e umidade do solo ou água de chuva, que infiltra pelo solo e contamina o poço

e com o esgoto que sem tratamento é uma fonte de contaminação direta (Silva,

2008).

Com a observação de campo foi possível verificar que não existe a

preocupação com relação ao tratamento tanto do lixo, quanto da água, sendo

estes mais susceptíveis a contaminação.

Com os resultados obtidos nos questionários foi possível observar que a

área de estudo apresenta-se vulnerável a vários tipos de contaminação, além

da atividade agrícola, a falta de tratamento de esgoto e lixo, existe deficiência

no tratamento da água para consumo, deixando claro que são necessárias

medidas que visem minimizar os riscos de contaminação, desde a construção

do poço até o gerenciamento das práticas e usos rotineiros e da utilização do

solo. Algumas medidas que podem ser tomadas para minimizar o risco de

contaminação, como no momento da construção do poço é a proteção da

borda do poço por meio de revestimento das paredes em alvenaria ou

concreto, esta medida impede o carreamento das águas pluviais para o interior

do mesmo. Utilizar parede em volta e instalar tampa de concreto são outras

medidas que asseguram a qualidade da água subterrânea, além do uso de

bombas elétricas ou bombas manuais, pois a utilização de baldes e recipientes

para coleta da água pode ser fonte de contaminação (PROSAB, 2001). Embora

existam estas alternativas para diminuição do risco de contaminação, foi

possível observar na comunidade que nenhum destes cuidados são tomados

(figura 7 e figura 22, Anexo 2), mas uma vez deixando claro que a região se

Page 31: Monografia Lucimara Lyrio Água Oziel Alves

apresenta vulnerável e necessita de informações relativas aos cuidados com

contaminação.

Com os resultados dos exames parasitológicos de fezes realizados com

uma parcela de moradores da comunidade (30 amostras), pode-se constatar

que 1/3 destes estão infectados e que 90% dos casos mostraram-se positivo

para Giárdia lamblia, deixando claro que existe uma relação direta entre casos

de doenças parasitárias com a qualidade as água consumida pela comunidade,

já que este é um parasita transmitido por veiculação hídrica.

Page 32: Monografia Lucimara Lyrio Água Oziel Alves

7. Conclusão Esta pesquisa mostrou que existe uma grande necessidade de um

programa de educação que vise informar a comunidade sobre os riscos de

contaminação através da água, já que esta é utilizada sem que seja feito um

tratamento prévio ou quando é feito este tratamento é inadequado, e sua fonte

está sujeita a permanente contaminação. O que ficou comprovado através do

inquérito parasitológico, onde se tem contaminação por agentes patogênicos

veiculados pela água.

Orientações podem ser transmitidas à população e a prevenção pode

ser realizada, no sentido de se melhorar a qualidade de vida das pessoas, já

que muitos problemas são relacionados ao hábito de consumo e tratamento da

água, além da racionalização da relação do homem com o seu ambiente.

Page 33: Monografia Lucimara Lyrio Água Oziel Alves

8. Perspectivas futuras A partir dos resultados desta pesquisa ficou clara a necessidade de um

programa de educação sanitária na comunidade, tendo em vista que a

condição de vulnerabilidade em que se encontra à comunidade se deve em

grande parte à desinformação. Para que esse objetivo venha a ser alcançado,

é necessária a criação de material didático que seja relevante, estimulante e

significativo, além de ações de educação em saúde nessa comunidade, a fim

de que se possa prevenir e corrigir práticas nocivas que possam causar danos

à saúde do indivíduo e ao meio ambiente, promovendo a mudança de hábitos

nos indivíduos, além de fornecer conhecimentos à comunidade para que ela

possa reconhecer os seus próprios problemas e reivindicar melhores condições

sanitárias.

Page 34: Monografia Lucimara Lyrio Água Oziel Alves

9. Referências bibliográficas BRAGA, R.C.C, Valencia. L.I.O, Medronho, R. de A., Escosteguy.C.C.

Estimativa de áreas de risco para Hepatite A. Caderno de saúde Pública.

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CETESB. Companhia Estadual de tecnologia e saneamento ambiental.

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CETESB. Companhia Estadual de tecnologia e Saneamento Ambiental.

Disponível em: http://www.cetesb.sp.gov.br/Solo/agua_sub/importancia.asp

Acessado em 16/11/2008

D’AGUILA, P.S. Avaliação da qualidade de água para abastecimento público do Município de Nova Iguaçu. 2000. Caderno de saúde pública.

FONSECA, G. J. (2005) Novos Conceitos sobre água .

Dissertação de mestrado apresentada ao Centro de Biociências e

Biotecnologia da Universidade Estadual do Norte Fluminense.

FREITAS, M. B. Brilhante, O.M. Almeida, LM de. Importância da análise de água para a saúde pública em duas regiões do Estado do Rio de Janeiro: enfoque para coliformes fecais, nitrato e alumínio. Caderno de saúde

pública. Rio de Janeiro. vol.17, no.3, p.651-660. Junho/2001

FUNASA (2001). Portaria nº 1.469 – Controle e Vigilância da qualidade da água para consumo humano e seu padrão de potabilidade. [on line]

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Acessado em 20/11/2008

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http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?id_notic

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Page 35: Monografia Lucimara Lyrio Água Oziel Alves

INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL – disponível em:

>http://www.socioambiental.org/esp/agua/pgn/historicodaobra.html

acessado em: 15/11/2008

PROSAB – Programa de Pesquisa em Saneamento Básico. Métodos alternativos de desinfecção da água. São Carlos, SP. 2001 [on line]

disponível em: http://www.finep.gov.br/prosab/livros/LuizDaniel.pdf.

Acessado em 24/11/2008

ROCHA, S.F. (2004) Análise de Vulnerabilidade de Contaminação dos Aqüíferos Livres na Baixada Campista de Campos dos Goytacazes - RJ , Dissertação de mestrado apresentada ao Centro de Ciências e Tecnologia da Universidade Estadual do Norte Fluminense.

SILVA, A. O Lixo toma conta do mundo. Discutindo a geografia, SP, Ano 1,

nº 3, p. 25, março/2008.

SILVA, A. C. da. (2006). Análise Microbiológica da água em relação aos seus conceitos e percepções na comunidade Parque Santuário, Campos dos Goytacazes, RJ. Monografia apresentada ao Centro de Biociências e

Biotecnologia da Universidade Estadual do Norte Fluminense.

SOUZA, L.C. Iaria, S. T., Paim , G.V. e Lopes, C. A. M. . Bactérias coliformes totais e coliformes de origem fecal em águas usadas na dessedentação de animais. Revista de Saúde Pública. São Paulo, 17:122-22, 1983.

THIOLLENTE, M. Metodologia da Pesquisa-Ação. São Paulo:Cortez: autores

associados, 1986. 108p.

Page 36: Monografia Lucimara Lyrio Água Oziel Alves

10. Anexo 1

Projeto Água

•Nome:___________________________________________________________ •Endereço:________________________________________________________ •Data de nascimento:____________•Idade:________________ •Sexo: ( )M ( )F •Estado civil: ( )Solteiro ( )Casado ( )Viúvo ( ) Mora com companheiro(a) ( )Separado(a)( )outro________________________ •Escolaridade: ( ) Fundamental Incompleto ( )Fundamental ( )Médio ( )Superior •Profissão:______________________ •Com quem mora: ( )Marido/Esposa/Companheiro(a) ( )Pais ( )Filhos ( )Colegas ( )Outros Parentes______________________________ 1- Quantas pessoas moram na casa?(0 a 7 anos)______, (8 a 14 anos)______, (15 a 21 anos)______, (21 a 65 anos)_____, (acima de 65 anos)______. 2- Desde o início do ano, alguém teve/tem problema de: ( ) diarréia / Número de pessoas na casa com o problema ______________ ( ) dor na barriga/ Número de pessoas na casa com o problema ______________ ( ) doença de pele (frieira, cobreiro etc) / Número de pessoas com o problema ___________

( ) febre / Número de pessoas na casa com o problema ______________ 3- Qual tipo de água utilizada na sua casa? (marque mais de uma alternativa, se necessário) ( ) rede / tratada ( ) poço ( ) rio ( ) chuva ( ) outros_________________________________ 4- Você faz algum tratamento na água antes de beber? Qual?__________________________ ______________________________________________________________________________

Page 37: Monografia Lucimara Lyrio Água Oziel Alves

5- Você trata a água que utiliza em outras atividades (banho, cozinhar, lavar roupa)? De que forma?________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 6- Para onde vai o esgoto de sua casa? _____________________________________________ 7- O que você faz com o lixo da sua casa?___________________________________________ 8- Você tem animais domésticos ou de criação em casa? Quais?________________________ _______________________________________________________________________________ 9- Se você tivesse que escolher um método de purificar a água de beber, qual você preferiria para usar no seu dia a dia e por quê?_______________________________________________ _______________________________________________________________________________ 10- Você tem horta/plantação em casa? Utiliza algum adubo ou produto químico nela? Quais?________ _______________________________________________________________________________

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Perguntas Sim Não 1) Você trata a água que usa para beber?

2) Você trata a água que usa para tomar banho?

3)Você trata a água que usa para cozinhar?

4) Você acha que a água pode transmitir alguma doença?

5) Jogar lixo no terreno baldio pode contaminar a água do poço?

6) Jogar esgoto na rua, na vala ou no rio pode contaminar a água do poço?

9) Você acha que o cemitério pode contaminar a água do poço de alguma forma?

7) Sua casa possui banheiro? 8) Sua casa possui vaso sanitário? 10) Você acha que se você filtrar a água de poço ela estaria pronta para beber?

11) Você acha que se você ferver a água de poço ela estaria pronta para beber?

12) Você acha que se você colocar cloro ou água sanitária na água de poço ela estaria pronta para beber?

13) Você tem alguma plantação de alimentos na sua casa (horta, canteiro)?

14) Você acha que utilizar adubo na horta pode contaminar a água do poço?

15) Na sua casa você utiliza água mineral para beber (comprada em garrafas ou garrafões)?

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11. Anexo 2

Imagens Assentamento Oziel Alves

Figura 20 - Vista panorâmica e aspectos das residências Assentamento Oziel

Alves

Figura 21 - Caixas para armazenamento de água de chuva

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Figura 22 - Poço com bomba manual