monografia de josé roberto

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS José Roberto Oliveira dos Santos COMUNIDADE VENI CREATOR SPIRITUS: COMUNITARISMO CRISTÃO NA PÓS-MODERNIDADE Natal, janeiro de 2005.

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Page 1: Monografia de José Roberto

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS

José Roberto Oliveira dos Santos

COMUNIDADE VENI CREATOR SPIRITUS: COMUNITARISMO CRISTÃO

NA PÓS-MODERNIDADE

Natal, janeiro de 2005.

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José Roberto Oliveira dos Santos

COMUNIDADE VENI CREATOR SPIRITUS: COMUNITARISMO CRISTÃO

NA PÓS-MODERNIDADE

Monografia apresentada ao Curso de Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, para obtenção do título de Bacharel em Sociologia.

Orientador: Prof. Dr. Orivaldo Pimentel Lopes Júnior.

Natal, janeiro de 2005.

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José Roberto Oliveira dos Santos

COMUNIDADE VENI CREATOR SPIRITUS: COMUNITARISMO CRISTÃO

NA PÓS-MODERNIDADE

Monografia apresentada ao Curso de Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como parte dos requisitos para obtenção do grau de Bacharel em Sociologia.

Aprovada em: __________________________________.

BANCA EXAMINADORA

_____________________________________ ____________________ Prof. Dr. Orivaldo Pimentel Lopes Júnior (UFRN) – Orientador

_________________________________________________________ Profª. Drª. Maria Lúcia Bastos (UFRN) - Titular

_________________________________________________________ Prof. Dr. José Willington Germano (UFRN) - Titular

________________________________________________________ Profª. Drª Ana Teresa Lemos Nelson (UFRN) - Suplente

Page 4: Monografia de José Roberto

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DEDICATÓRIA

A Comunidade Veni Creator Spiritus,

exemplo de convivência comunitária cristã.

Page 5: Monografia de José Roberto

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, arrimo seguro nos momentos

difíceis, a orientação e compreensão do Professor Orivaldo Pimentel Lopes Júnior,

ao incentivo da minha querida e amada Ana Kelly Aragão Azevedo, dos meus

familiares, da família Veni Creator Spiritus, dos amigos seminaristas e de todos

que fazem o Seminário São Pedro – Natal/RN.

“O homem é, por natureza, um animal destinado a viver em comunidade”.

(Aristóteles, Política 1278B 19).

Page 6: Monografia de José Roberto

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RESUMO

Este trabalho monográfico aborda o surgimento de movimentos comunitários na atualidade, tomando a Comunidade Católica Veni Creator Spiritus como um exemplo desta tendência. Para refletirmos sobre o assunto, fizemos uma sucinta genealogia da vida comunitária cristã, comentando sobre as comunidades cristãs do I século, da vida monástica, do início da Ordem Franciscana, e dos novos movimentos eclesiais. Quanto a Comunidade Veni Creator, descrevemos sua história, e como seus membros convivem. O comunitarismo já foi objeto de reflexão de vários pensadores, assim utilizamos as contribuições de alguns deles como Emile Durkheim, Ferdinand Tönnies, Martin Buber, Mircea Eliade, Peter Berger, Anthony Giddens, Zygmunt Bauman, e outros, para cogitarmos sobre o aparecimento de movimentos comunitários, como uma reação ou resistência ao individualismo moderno, e como um espaço que as pessoas atualmente buscam para se sentirem mais seguras. Palavras-chave: Comunidade; Sociedade; Cristianismo; Pós-Modernidade; Segurança.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

1 GENEALOGIA DA VIDA COMUNITÁRIA CRISTÃ 11 1.1 Comunidades do Cristianismo do Século I 12

1.2 Os mosteiros ocidentais 16

1.3 A ordem mendicante de Francisco de Assis 19

1.4 Os novos movimentos eclesiais 21

2 COMUNIDADE VENI CREATOR SPIRITUS 24 2.1 Como nasceu a comunidade 24

2.2 Como vivem seus membros 29

3 COMUNIDADE E SOCIEDADE 33 3.1 A Comunidade e o Cosmos 34

3.2 Comunidade e sociedade tradicional/pré-moderna 37

3.3 Comunidade e sociedade industrial/moderna 40

3.4 Comunidade e sociedade pós-industrial/pós-moderna 44

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS 47 5 BIBLIOGRAFIA 50

Page 8: Monografia de José Roberto

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INTRODUÇÃO

Ouvimos falar muito a palavra comunidade, ao ponto de dar a

aparência que ela está na moda: “comunidade das Rocas se organiza para

mutirão de limpeza”; ”comunidade européia forma um forte bloco econômico”;

“comunidade indígena luta por direito a terras”; “comunidade rural sofre com o

êxodo populacional”. Estes são apenas alguns exemplos de como é usada a

palavra comunidade. Se formos ver no dicionário Houaiss, o verbete comunidade

possui 15 acepções. Isso nos leva a perceber a diversidade dos significados do

termo comunidade, e o interessante é que esse termo transmite sempre uma idéia

positiva, de algo bem organizado, fiducial, agradável, aconchegante. Mas, será

que a comunidade é realmente esse paraíso que se pinta?

Atualmente observamos uma explosão de comunidades, de pessoas

que se organizam para terem uma interação mais próxima, seja para fins sociais,

religiosos, ou para ter momentos de lazer. A busca por espaços de sociabilidade

cresce a cada dia. O que está acontecendo para o surgimento de tantas

comunidades? Será que é a procura de um paraíso perdido, de um espaço ideal

que o termo transmite? Bem, estas são questões que requerem uma pesquisa

vasta e muita reflexão para serem respondidas. Não pretendemos respondê-las

com este trabalho, mas temos a intenção de indicarmos caminhos para refletirmos

sobre a comunidade, especificamente a religiosa, em nossos dias.

Page 9: Monografia de José Roberto

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Nas últimas décadas do século XX, tem surgido na Igreja Católica

uma nova forma de vida comunitária, constituída por leigos e padres, ou somente

leigos, que convivem fraternalmente. Esse novo movimento religioso tem sido

denominado de Comunidades Novas, Novas Comunidades, ou Novos Movimentos

Eclesiais. Esse fenômeno tem chamado a atenção da própria cúpula da Igreja

Católica no Brasil1. É exatamente esse movimento comunitário que vamos refletir

neste trabalho.

Em Natal, contamos aproximadamente com dez Comunidades

Novas, por exemplo, a Comunidade Católica Shalom, a Comunidade de Casais

Vida Nova, a Comunidade Canção Nova, a Comunidade Maria Mater, e a

Fraternidade Éfeso. Cada uma vivendo segundo características peculiares. Devido

a essa diversidade comunitária, escolhemos uma comunidade para nosso estudo,

a Comunidade Católica Veni Creator Spiritus.

Não pretendemos demonstrar a relação comunitária, a comunidade,

de forma romanceada, como um paraíso perdido a ser encontrado, mas, a

comunidade com seus aspectos positivos e negativos, como também sua

importância na formação social da humanidade, pois, sendo o ser humano

“essencialmente” um ser comunitário, na medida que isolado e sem o outro ele

não consegue viver.

Para isso, no primeiro capítulo fizemos uma sucinta genealogia da

vida comunitária no Cristianismo, já que a comunidade estudada é formada por 1 Conforme artigo na revista Carta Capital, de 23 de junho de 2004: “de 13 a 19 de junho, uma delegação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a entidade maior da Igreja Católica no País, esteve no Vaticano, em Roma... a comissão da CNBB levou questões apresentadas pelos 13 presidentes das comissões episcopais, espécie de ‘ministros’ do catolicismo. Entre elas, uma dúvida diretamente ligada ao crescimento das comunidades católicas. Como a Igreja deve tratar os sacerdotes formados por esses movimentos?”

Page 10: Monografia de José Roberto

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católicos. Com base em leituras de historiadores do Cristianismo, principalmente

da obra “História do Cristianismo” de Paul Johnson, descrevemos as primeiras

comunidades cristãs, a vida monástica, a comunidade franciscana medieval, e os

Novos Movimentos Eclesiais, relatando o contexto em que essas comunidades se

formaram.

No segundo capítulo, temos a apresentação da Comunidade Católica

Veni Creator Spiritus. Narramos como ela foi formada e como seus membros

convivem, a partir da observação participativa de aproximadamente três semanas

de convivência no mês de julho de 2004, acompanhado o cotidiano de todos os

membros, do despertar ao adormecer.

No terceiro capítulo, com base em vários autores das Ciências

Sociais, principalmente Peter Berger, Anthony Giddens e Zygmunt Bauman,

apresentamos a relação comunitária nas sociedades tradicional, moderna, e pós-

moderna. Mostrando primeiramente a comunidade como o locus da interação

humana, e sua importância na constituição da realidade social. Para em seguida

expor a transformação da relação comunitária com a Modernidade, e o surgimento

na atualidade de movimentos comunitários.

Concluindo este trabalho temos algumas considerações sobre a

comunidade e a Comunidade Veni Creator, indicando caminhos para reflexão

sobre o florescimento de tantas comunidades.

Page 11: Monografia de José Roberto

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1 GENEALOGIA DA VIDA COMUNITÁRIA CRISTÃ

O comunitarismo, a vida comunitária, a convivência de seres

humanos em um grupo com aspectos em comum, que partilham do mesmo ideal,

de forma que suas atividades e pensamentos não estão voltados para si, e sim

direcionados para o coletivo, não é algo recente na história da humanidade, mas

data dos primórdios da espécie humana.

Apenas para citar um exemplo dentre muitos sobre uma

preocupação com a comunidade, temos na Grécia pré-helenística, por volta do

século IV a.C, o filósofo Aristóteles, desenvolvendo um sistema filosófico que se

preocupou com a questão da coletividade, com a polis. Para ele a comunidade

não está em função do indivíduo, mas o indivíduo está em função da comunidade.

Pensamento contrário aos sofistas que o antecederam, que se preocupa com o

indivíduo e o utilitarismo. Aristóteles chegou a conclusão de que “o homem por

natureza é um animal destinado a viver em comunidade”. Refletindo sobre essa

sentença aristotélica, podemos deduzir que para ele o ser humano só é humano

devido a vivência em comunidade, pois se não houvesse essa relação com o

outro, com o semelhante, ele não seria humano, mas como pensava Aristóteles o

“indivíduo pode apenas ser ou uma fera ou um Deus” (REALI; ANTISERI, 2003: p.

222) fora do convívio comunitário. Portanto, a vida comunitária é algo que está

presente na humanidade desde sua formação, e perpassa toda sua história.

Sendo a comunidade um fator importante na vida do ser humano,

faremos aqui uma genealogia da vida comunitária no Cristianismo, para

Page 12: Monografia de José Roberto

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chegarmos a nosso assunto especifico de estudo e análise. Não se trata de uma

genealogia detalhada, minuciosa; mas de maneira sucinta e sintética, abordamos

as principais comunidades da história do cristianismo, descrevendo o contexto que

elas surgiram, e como seus membros conviviam. Começaremos pelas primeiras

comunidades cristãs, depois os primeiros mosteiros ocidentais, e daremos

continuidade com a ordem mendicante medieval, a Ordem Franciscana, e por fim

concluiremos com os Novos Movimentos Eclesiais na Igreja Católica Romana

surgidos no século XX.

1.1 Comunidades do Cristianismo do Século I

O Cristianismo nasceu a partir da formação comunitária. O próprio

termo religião etimologicamente tem um sentido comunitário, do latim religare,

algo que une fortemente. Foi da união dos discípulos de Jesus Cristo, tendo como

centro a mensagem de seu mestre, que germinou as primeiras comunidades

cristãs e conseqüentemente o Cristianismo.

As primeiras comunidades datam da década de 30 do século I d.C,

na região da Palestina. O relato dessa experiência nós encontramos no livro Atos

dos Apóstolos, escrito pelo evangelista Lucas aproximadamente entre os anos 80

a 100 d.C., como também em obras de historiadores do cristianismo.

Lucas para escrever o Atos dos Apóstolos se baseou em tradições

orais, escritas, como de suas memórias. Segundo Lucas, os primeiros cristãos

viviam em comunidade, partilhavam seus bens entre si.

Page 13: Monografia de José Roberto

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Eles mostravam-se assíduos ao ensinamento dos apóstolos, à comunhão fraterna, à fração do pão e as orações... Todos os que tinham abraçado a fé reuniam-se e punham tudo em comum: vendiam suas propriedades e bens, e dividiam-nos entre todos, segundo a necessidade de cada um... A multidão dos que haviam crido era um só coração e uma só alma. Ninguém considerava exclusivamente seu o que possuía, mas tudo entre eles era comum... não havia entre eles necessitado algum. De fato, os que possuíam terrenos e casas, vendendo-os, traziam os valores das vendas e os depunham aos pés dos apóstolos. Distribuía-se então, a cada um, segundo a sua necessidade (Bíblia de Jerusalém, Atos 2, 42.44-45; 4,32.34-35).

Inicialmente essas primeiras comunidades eram formadas por judeus

convertidos, e posteriormente foram também constituídas por estrangeiros. Elas

nasceram num território judaico colonizado pelos romanos. Em um período de

conflitos entre os romanos e judeus.

O judaísmo palestino era formado por diversos grupos, como os

essênios, os saduceus, os fariseus, etc. Apesar da diversidade de cada grupo,

eles tinham o monoteísmo em comum. As comunidades cristãs emergem como

mais uma seita em meio a esse cenário judaico.

As primeiras comunidades cristãs constituídas por judeus não tinham

intenção de se separar da tradição judaica. Seus membros viviam como qualquer

outro judeu, freqüentavam as sinagogas, e continuavam a observar a lei mosaica.

A diferença deles para os demais judeus era a crença em Jesus como o Messias e

Salvador, que por sua vez realizou todo seu ministério, cercado por seus

discípulos e discípulas, num proto-modelo cristão de comunidade.

As comunidades cristãs depois começaram a abrir espaço para a

aceitação de pessoas que não eram judeus, os cristãos helênicos. Essa aceitação

foi um dos aspectos que distinguiu essas novas comunidades das demais, e lhe

Page 14: Monografia de José Roberto

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deu caráter universal. Sua constituição não se limitava a mais uma etnia, a uma

descendência sacerdotal, ou a uma hierarquia social, mas era uma comunidade

aberta para receber todos aqueles que quisessem se converter e comungar de

seu ideal.

Essa situação das comunidades cristãs desagradou muitíssimo os

dirigentes judaicos que se uniram aos romanos para persegui-los. Apesar disso,

os primeiros cristãos se mantiveram perseverantes em sua fé, nos ensinamentos

transmitidos oralmente por aqueles que foram discípulos de Cristo. Essa

perseverança foi devida em parte à formação de laços entre eles pelo apoio

mútuo, a forma como eles conviviam, partilhando seus bens, ajudando os mais

necessitados, ou seja, na vivência de uma solidariedade comunitária, um amor

mútuo. Todos eles inseridos num universo fragmentado, com base nas doutrinas

de Jesus, conseguiram constituir um espaço do qual concedia sentido para sua

existência, orientava as suas vidas, de maneira que eles se sentiam seguros,

firmes, no que acreditavam, chegando até a serem mortos para não negarem seus

ideais.

Os cristãos conviviam normalmente em meio a sociedade de sua

época, exerciam suas profissões, bem diferentes de outras seitas que se

isolavam, como foi o caso dos essênios que não aceitando a corrupção que

ocorria no Templo judaico, a aproximadamente 150 anos a.C., retiraram-se para

as proximidades do Mar Morto.

Durante o primeiro século, as primeiras comunidades se difundiram

pelo Império Romano, principalmente através da obra missionária de Paulo de

Tarso e seus companhei ros. Em Roma, o contexto religioso era formado por um

Page 15: Monografia de José Roberto

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politeísmo de diversas seitas e cultos. Isso devido tanto à economia escravagista,

proporcionando a concentração de vários estrangeiros naquela região, como a

grande circulação do comércio marítimo, possibilitando o contato com as diversas

expressões culturais daquela época. Logo, o universo religioso romano era

fragmentado, e essa diversidade favoreceu um sincretismo que redundou em

novas formas de comunidades religiosas. Estas não mais se prendiam as

diferenças sociais, raciais e nacionais, mas a grupos de voluntários formados de

diversos tipos de pessoas, direcionando seu culto a um Deus soberano, como

descreveu Johnson em sua história do cristianismo.

O clima religioso, ainda que de variações infinitas, não era mais inteiramente desnorteante: estava começando a clarear... Os novos deuses eram cada vez mais vistos como “Senhores”, e seus adoradores, como serviçais; verificava-se um crescimento do culto ao soberano, com o deus-rei como salvador e sua entronização como a aurora da civilização. Acima de tudo, havia uma tendência acentuada ao monoteísmo (JOHNSON, 2001: p. 17).

Esse contexto de universo religioso fracionado e sincrético

proporcionou um terreno favorável e fecundo para os primeiros cristãos, de modo

que eles, apresentando uma concepção de religião universal, congregaram em

seu seio pessoas de diversas etnias, classes sociais, principalmente os mais

desfavorecidos, como os escravos, as mulheres, as crianças.

Os pagãos que se convertiam ao cristianismo passavam a conceber

o mundo de outra maneira, a vida deles tinha outro sentido, buscavam o ideal

evangélico, na prática da caridade. Eles se reuniam em suas casas para a partilha

do pão, não só como ritual sagrado, um preceito religioso, que se restringia aquele

Page 16: Monografia de José Roberto

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momento do culto, mas também partilhavam e comungavam tanto de bens

materiais como de ideais na convivência cotidiana.

Com o curso dos séculos, as comunidades cristãs se expandiram,

levando o Cristianismo a se tornar religião oficial do Império no século IV, por meio

do imperador Constantino, que cessou as perseguições reconhecendo a liberdade

de culto para todos os cidadãos do Império, por meio do Édito de Milão em 313

d.C., e a oficialização como religião do Império, com o imperador Teodósio no ano

de 380 d.C. Essa mudança de seita perseguida pelo Império para religião oficial,

resultou em mudanças na comunidade cristã. Agora ela deixa de ser perseguida e

passa a perseguir, produzindo um novo tipo de comunitarismo cristão.

1.2 Os mosteiros ocidentais

Antes de começarmos a comentar sobre os mosteiros, é bom saber

em que contexto eles se formaram. Aqui não iremos expor uma explicação

causa/efeito, ou seja, o motivo que causou a criação dos mosteiros no Ocidente,

mas relataremos alguns fatores que influenciaram na sua constituição.

Com o crescimento das comunidades cristãs no Império Romano, a

heterogeneidade de doutrinas que se constituíam entre as comunidades, e as

acusações e perseguições dos romanos, que interpretavam as práticas cristãs de

maneira errônea, por exemplo, “a doutrina da eucaristia, segundo a qual ‘carne’ e

‘sangue ’ eram comidos, era compreendida como indicando a prática do

Page 17: Monografia de José Roberto

23

canibalismo” (JOHNSON, 2001: p. 88), conduziram os cristãos na organização de

uma fundamentação doutrinária.

Nessa formação doutrinal houve uma relação intensa entre a filosofia

greco-romana com a fé cristã. A influência judaica já não pesava tanto, isso devido

à ruptura entre cristãos e judeus que “aconteceu após a destruição do segundo

templo dos romanos, em 70 d.C., por um ‘conselho’ judaico em Jamnia (próximo a

Jaffa) composto de fariseus: foi a excomunhão formal dos cristãos” (KÜNG, 2002:

p. 39). Assim, muitas categorias do pensamento grego-romano foram

incorporadas para a formação da doutrina cristã.

Não foi só doutrinariamente que as comunidades cristãs se

conciliaram com o mundo greco-romano, mas também a sua estruturação

institucional de forma hierárquica. Com a atribuição de caráter de religião oficial do

Império Romano, com Teodósio no ano 380 d.C., os clérigos cristãos e os

funcionários do Estado eram as mesmas pessoas. Destarte, elas não passavam

por um processo de conversão para pertencer a comunidade cristã, como ocorria

nos primórdios.

Depois da institucionalização, as pessoas se tornavam cristãs por

uma questão social, um status social, pois era a religião do imperador. A fé já não

era assumida com a mesma firmeza de antes, não havia perseguidores nem

mártires. Disso procedeu que determinadas práticas pagãs “impuras” para os

cristãos, eram exercidas pelos novos cristãos, “muitos cristãos não faziam

distinção clara entre esse culto do sol e o seu próprio” (JOHNSON, 2001: p. 84).

Assim os novos cristãos assumiam sua fé por uma questão de status político-

social. O modelo de perfeição cristã estava se extenuando. Aliado a esse contexto

Page 18: Monografia de José Roberto

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ocorre também a invasão bárbara ocasionando a queda do Império Romano no

ano 410 d.C.

Toda essa situação resultou na quebra daquela convivência comunal

do início. A fé foi se racionalizando com a filosofia. Os testemunhos de uma vida

virtuosa e fraternal foram se exaurindo. A espiritualidade cristã entra em declínio.

Opondo-se a essa situação, algumas pessoas se retiraram desse meio corrompido

“espiritualmente”, para formarem pequenas comunidades, em busca de um ideal

de santidade.

Essa modalidade de vida cristã, fora da sociedade, tem início no

Oriente, nas imediações do Egito. De início eram eremitas, anacoretas, que viviam

sozinhos numa jornada de austeridade e abnegação, chegando a muitos exageros

penitenciais. Depois foram formando comunidades. Considerado um dos primeiros

a introduzir a vida cenobita em oposição aos anacoretas2, foi Pacômio no século

IV, criando assim os mosteiros.

No Ocidente os mosteiros foram se expandindo de forma mais lenta

que no Oriente, principalmente em Roma. No ano de 529 d.C., com Bento de

Núrsia, mais conhecido como São Bento, fundando o mosteiro de Monte Cassino

deu início a um modelo de vida monástica para o Ocidente. Diferentemente do

modelo Oriental, o mosteiro beneditino é regido por uma regra austera, mas sem

exageros, eles não se isolavam completamente do mundo como faziam os

orientais, mantinham uma relação com as pessoas que residiam próximas aos

mosteiros. Os monges beneditinos constituíam uma comunidade em que todos se

2 A vivência cenobita se refere ao convívio em comunidade, na qual se opõe a vivência anacoreta que se refere aos eremitas, as pessoas que se retiram em vivem isoladas de outras para uma experiência mística com Deus.

Page 19: Monografia de José Roberto

25

ajudavam mutuamente para alcançar o ideal evangélico, que há muito foi

deteriorado com a união do cristianismo com o Estado Romano.

Com o Império Romano destruído, começou a se engendrar o

Império dos Bárbaros e o advento da Idade Média. De modo que o centro não era

mais a vida urbana, e sim a vida rural. As cidades foram diminuindo, e as

propriedades rurais foram crescendo. Os mosteiros nesse período ganharam

muito espaço, pois foram construídos em áreas rurais. Assim o papel dos monges

foi muito importante para a cristianização dos bárbaros, tanto em Roma como na

Europa, e como ocorreu com Constantino, também aconteceu com o rei franco

Clóvis, que se converteu ao cristianismo, unindo novamente o poder espiritual ao

poder temporal.

1.3 A ordem mendicante de Francisco de Assis

Na Idade Média principalmente entre os séculos XI e XII, a Igreja se

atrelou ao Estado. Não mais ao Império Romano como aconteceu no século IV,

mas a nobreza européia medieval. Os mosteiros perderam suas características

primitivas, sendo agora um lugar de nobres que desfrutavam a vida como queriam,

não mais seguindo aquelas regras proposta por São Bento. Isso fez com que

determinado grupo de monges, buscando resgatar as origens do movimento

construíram um mosteiro, denominado de Cluny. Este procurou vivenciar aquele

primeiro modelo de vida monástica do Ocidente.

Page 20: Monografia de José Roberto

26

Apesar desse movimento reformador, o clero regular e muitos

mosteiros continuaram atrelados ao poder temporal. No século XII, os mosteiros

“constituíam uma combinação de hotel de luxo e centro cultural” (JOHNSON,

2001: p. 282). Então, no final do século XII e início do século XIII, surgiram muitos

movimentos dentro da Igreja em oposição a luxúria que nela reinava e a certas

práticas e doutrinas, por exemplo, os Cátaros que depois foram considerados

hereges assim como os Pobres de Lião ou os valdense, movimento fundado por

Pedro Valdo.

Dentre esses movimentos que se contrapunham a luxuria da Igreja

estavam o de Francisco de Assis. Esse movimento diferente dos outros

considerados heréticos, não criticou ferrenhamente a lautosidade da Igreja, mas

buscou viver a radicalidade do Evangelho na pobreza, obediência e castidade,

com o reconhecimento dela. O movimento se espalhou rapidamente ganhando

muitos adeptos. Francisco de Assis, não querendo se separar da Igreja e ter a sua

aprovação e reconhecimento, escreveu uma regra a qual todos os membros

deveriam seguir.

A primeira regra não foi aceita pelo papa Inocêncio III, pois foi

considerada muito rígida e difícil de ser praticada. Depois de alguns anos após

uma revisão e modificações, que de certa forma contrárias a posição de

Francisco, a regra foi reconhecida pelo Papa, e assim em vez dos franciscanos

serem considerados heréticos e irem para fogueira, foram absorvidos pela Igreja.

Inicialmente os franciscanos eram formados por leigos, que em

grupos caminhavam pelo mundo pregando o Evangelho. Eles tinham uma vida

fraterna, trabalhavam e pediam esmola para se sustentarem e os marginalizados.

Page 21: Monografia de José Roberto

27

Eles não tinham um lugar especifico para residirem, eram nômades, iam de cidade

e cidade proclamando o Evangelho. Posteriormente surgiu um ramo feminino,

iniciado por Clara de Assis, amiga de Francisco.

Essa vida simples e humilde conforme os Evangelhos não durou

muito. Com a aprovação da segunda regra, e a entrada de muitos clérigos na

comunidade franciscana, ela foi se modificando, e perdendo algumas

características idealizadas por seu fundador Francisco de Assis, e novamente

aquele ideal comunitário não conseguiu ser vivido por muito tempo.

1.4 Os novos movimentos eclesiais

Algo semelhante ao que aconteceu para o surgimento da vida

monástica e do movimento franciscano, com o intuito de voltar as raízes, de viver

com radicalidade o evangelho, aconteceu recentemente no século passado com o

surgimento das Comunidades Novas, dos Novos Movimentos Eclesiais. Uma nova

forma de vida comunitária que tenta retomar as primeiras comunidades cristãs.

São leigos e clérigos que se reúnem para formar comunidades.

Na década de sessenta do século XX, ocorreu o Concílio Vaticano II,

acontecimento vultuoso para a Igreja. Antes deste, os leigos não tinham um

espaço significativo na Igreja. Eles próprios não se reconheciam como membros

dela. Para a maioria dos leigos a Igreja era somente o padre, o bispo, a freira. Ela

estava isolada, fechada para a Modernidade, estava presa à óptica do “mundo

velho”, de uma Igreja clericalizada e super hierarquizada.

Page 22: Monografia de José Roberto

28

Esse fechamento não durou muito. Com o fim do monopólio religioso

do catolicismo no Ocidente, devido ao crescimento do protestantismo e do

secularismo, e por alguns leigos e clérigos repensando a importância do papel

laical no mundo moderno, começaram a realizar iniciativas, a formar movimentos

para exercer atividades na Igreja e na sociedade. Assim, surgiram, por exemplo, a

Ação Católica ou os Focolares.

Apesar dessas iniciativas, o que abriu as portas da Igreja para a

oficialização da atividade laical foi o Concílio Vaticano II. Neste, procurou-se

renovar a Igreja para adaptá-la às exigências das mudanças sociais. Porém, não

foi fácil a realização desse propósito. O cardeal Ângelo Roncalli que sucedeu o

Papa Pio XII, como João XXIII, teve que enfrentar uma corte de cardeais que não

estavam abertos para mudança. Apesar das dificuldades, João XXIII

era um historiador, não um teólogo, e, portanto, não temia a mudança – ao contrário, saudava-a como um sinal de crescimento e maior esclarecimento. Suas palavras prediletas eram aggiornamento (atualização) e convivienza (convívio). Ele não só abriu imediatamente as janelas, a fim de renovar a atmosfera da antiquada e rançosa corte de Pio, como modificou a política papal... (JOHNSON, 2001: p. 616).

A abertura promovida pelo Vaticano II favoreceu ao crescimento e

aparecimento dos Novos Movimentos Eclesiais, de movimentos laicais

comunitários, como os Focolares na Europa, na América Latina as Comunidades

Eclesiais de Base, e outros movimentos leigos, como a Renovação Carismática

Católica (RCC) nos Estados Unidos, e outros.

Augusto Guerra (apud TERRA, 2004, p. 18-19), classifica esses

movimentos seguindo o critério de horizontalidade e verticalidade. Sendo os

Page 23: Monografia de José Roberto

29

movimentos horizontais denominados de “neomilitantes”, os que dão ênfase à

práxis em vez da doutrina, optam pelo social, pela mudança social na mediação

política. Já os movimentos verticais, conhecidos também por “neomísticos”, são

aqueles que se voltam mais para oração, a vida espiritual, a formação doutrinal.

Um exemplo próximo ao horizontal que podemos citar é a

Comunidade Eclesial de Base, que na década de 70 e início dos anos 80 teve um

papel importante para o fim da ditadura militar e no processo de democratização

do Brasil. E dos movimentos verticais temos as Comunidades Carismáticas

surgidas principalmente no Brasil no inicio dos anos 90, seguindo um estilo de

oração semelhante aos dos pentecostais.

Essa classificação com certeza não abarcar a realidade de todos os

novos movimentos eclesiais, entretanto, ela pode nos ajudar, se a utilizarmos

como tipos ideais, como pólos em que as comunidades podem variar entre esses

extremos.

Enfim, o que percebemos hoje na Igreja é o florescimento de Novos

Movimentos Eclesiais, que começaram a surgir na fase em que o ideário moderno

de progresso, de liberdade entrou em declínio, juntamente ao aparecimento de

diversos movimentos comunitários, sendo espaços de resistência a um

individualismo mais acentuado na modernidade.

Page 24: Monografia de José Roberto

30

2 COMUNIDADE VENI CREATOR SPIRITUS

Neste capítulo descreveremos um Novo Movimento Eclesial, ou

como é também conhecida por Comunidade Nova, a Comunidade Católica Veni

Creator Spiritus. Começaremos narrando a história da fundação da comunidade,

depois exporemos como ela está estruturada e a maneira que seus membros

convivem.

2.1 Como nasceu a comunidade

Podemos dividir em dois períodos o desenvolvimento da

Comunidade Veni Creator: o pré-comunitário e o comunitário. Entendendo o

primeiro como a fase em que não se havia fundado a comunidade, mas que já se

tinha uma preparação para sua fundação. E o comunitário, relacionando-se aos

fatos ocorridos a partir da fundação da comunidade.

O período pré-comunitário se inicia em junho de 1989, com a

formação de um coral, por diversos grupos de oração da Renovação Carismática

Católica (RCC). Os jovens que se reuniram para a formação do Coral,

constituíram depois a Equipe Diocesana de Música. Essa Equipe ficou

responsável pelos serviços relacionados a música da RCC em Natal.

Em novembro de 1990, a Equipe passa por uma fase de

reorganização, em que alguns jovens saíram, de forma que ela adquire a estrutura

Page 25: Monografia de José Roberto

31

de um ministério de música. No mês seguinte, os membros do ministério de

música, buscavam em oração um nome. Foi então que por meio de um sonho que

a coordenadora visualizou uma fachada grafada com a seguinte expressão: Veni

Creator Spiritus. Todos concordaram em pôr tal nome no ministério de música. No

entanto, as pessoas do grupo não sabiam a origem e o significado de tal

expressão. Só depois, eles descobriram que essa expressão é latina, e significa

“Vem Espírito Criador”, um antigo hino que a Igreja entoa para a invocação do

Espírito Santo.

Como Ministério de Música, aqueles jovens serviram a RCC

promovendo animação de eventos, e formação para outros ministérios, de

dezembro de 1990 a fevereiro de 1997. Mas nesse interstício, os membros do

Ministério de Música sentiram uma vontade de estar mais unidos e de vivenciarem

o Evangelho com maior radicalidade, foi então que em 1993 aqueles jovens

desejaram formar uma comunidade.

A partir desse desejo o Ministério Veni Creator Spiritus realiza um

retiro com a coordenadora da RCC de Natal. Desse retiro o Ministério discerniu

que era vontade de Deus a formação de uma comunidade, mas que ainda não era

o momento propício.

Até que em 1997, depois de quatro anos de intensa oração e de

sinais que confirmavam a fundação da comunidade, o grupo se dispõe a formar a

comunidade tão desejada. No mês de fevereiro, o Ministério deixa de servir a

Equipe Diocesana de Serviços da RCC, e dar os primeiros passos para a

fundação.

Page 26: Monografia de José Roberto

32

Após a desvinculação da RCC, o grupo ficou sem instrumentos e

local para as reuniões. Aberto para uma nova etapa, o Ministério faz retiros

comunitários assistidos pela Comunidade Obra Nova de Campina Grande – PB, e

o coordenador do grupo começa a se encontrar com a responsável pela

Comunidade Madona House aqui em Natal, Elizabeth Bassarear, para poder se

orientar nesse novo caminho.

Em março daquele mesmo ano, o Reitor da Catedral Metropolitana

de Natal, Cônego Lucilo, oferece uma casa no centro da cidade para o grupo se

estabelecer. A casa é mobiliada por meio de doações e recebeu o nome de Casa

Santa Cecília. Aquela casa se tornou a base da comunidade, o centro das

atividades desenvolvidas por aqueles jovens. Mas até então, eles não foram

residir na casa.

Na festa da padroeira da Cidade do Natal, em novembro, o grupo

assumiu a animação das novenas. Para realizarem os ensaios e terem mais

momentos de oração, os jovens do grupo decidiram permanecer na Casa Santa

Cecília durante toda festa, cerca de dez dias de convivência. Essa foi a primeira

experiência comunitária.

Após essa experiência outras foram realizadas, como também foram

feitos outros retiros comunitários acompanhados pela Comunidade Obra Nova.

Era um total de doze pessoas. Depois de aproximadamente um ano de retiros e

orações, cada um fez um retiro pessoal para discernir qual seria o vínculo com a

comunidade, se formariam uma comunidade de vida ou aliança3.

3 A comunidade de vida é constituída por pessoas que deixam seu lar, família, emprego, e vão morar numa casa para se consagrar a Deus e viver a vida fraterna em comum. Já a comunidade

Page 27: Monografia de José Roberto

33

Das doze pessoas, seis se decidiram pela comunidade de vida. As

outras tentaram formar a comunidade de aliança, mas acabaram saindo com o

passar dos anos.

Em abril de 1998, dentre os seis que se decidiram pela formação da

comunidade de vida foi escolhido o fundador e o co-fundador, que foram José

Ferreira Santos e sua esposa Ilza Néri Santos. Os outros quatro membros eram

todas mulheres.

Todos deixaram suas casas e seguranças materiais e começaram

uma nova vida fraterna em comum. Assim foi o início da Comunidade Católica

Veni Creator Spiritus com a comunidade de vida.

Como os seis membros não tinham mais um emprego, eles se

mantinham de doações, e uma associação que eles formaram denominada de

ABBA (Associação dos Bem-feitores e Bons Amigos). Os membros da

comunidade que sabiam tocar instrumentos como violão, teclado, e técnica vocal,

passaram a dar aulas, formando a Escola de Música Santa Cecília que funcionou

na mesma casa em que residiam. Depois de dois anos, em abril de 2000, a

comunidade abriu a sua primeira casa de formação que recebeu o nome de Santa

Cecília, onde passou a funcionar a Escola de Música, e onde são realizadas as

atividades da comunidade até hoje.

Após a fundação, a comunidade começa suas atividades, forma

grupos de oração, grupo de vocacionados para entrar na comunidade, desenvolve

seus trabalhos de evangelização, por meio da catequese de crianças e jovens,

de aliança é formada por pessoas que continuam no seu trabalho, em sua casa, mas que se consagram a Deus no compromisso de viver onde estiver a radicalidade do Evangelho.

Page 28: Monografia de José Roberto

34

promovendo retiros de carnaval, formação para ministérios de música. Na Casa de

Formação inauguram uma lanchonete, que nos finais de semana à noite funciona

conjuntamente com música ao vivo, formando assim um espaço em que as

pessoas possam se encontrar para escutar músicas católicas, verem peças

teatrais e danças voltadas para evangelização. Esse espaço foi denominado de

Via Rhua4.

Em novembro de 2002, depois de quatro anos e sete meses de vida

comunitária e formação, os primeiros membros se consagram a Deus, fazendo os

primeiros votos de pobreza, castidade e obediência, numa cerimônia celebrada

pelo padre que assiste à comunidade. Um ano depois, os estatutos da

comunidade são aprovados pelo Acerbispo Metropolitano da Cidade do Natal, D.

Heitor de Araújo Sales, e são consagrados mais quatro membros e renovado os

votos dos primeiros.

Atualmente, a comunidade é constituída por doze membros efetivos,

sendo onze na comunidade de vida, e um na comunidade de aliança. Cinco

membros em formação, todos da comunidade de vida, e nove pessoas fazendo

experiência, seis para comunidade de vida, e três para comunidade de aliança.

É um total de vinte e seis pessoas, dois casais com dois filhos cada,

dois homens, e os restantes são mulheres, que formam hoje a Comunidade Veni

Creator Spiritus. Ela se mantém de doações, da ABBA, da Escola de Música, e na

fabricação de artesanatos, como bonecos de biscuit, sabonetes, cartões, etc.

4 Palavra hebraica que significa sopro vital, espírito. Por conseguinte, o Via Rhua é traduzido como o Caminho do Espírito, lugar onde o Espírito de Deus passa.

Page 29: Monografia de José Roberto

35

Por fim, descrevemos o nascimento da Comunidade que levou

aproximadamente anos. Na próxima seção descreveremos como pessoas que

constituem a Comunidade Veni Creator se relacionam e vivem.

2.2 Como vivem seus membros

A Comunidade Veni Creator Spiritus constitui um ambiente em que

as pessoas mantêm uma intensa interação, as pessoas que lá vivem criam fortes

laços, como o de parentesco. O casal fundador é chamado pelos demais membros

de pai e mãe, e entre si os membros se tratam como irmãos. E como toda família

tem conflitos, a Comunidade não é diferente. Existem conflitos entre seus

membros, no entanto, a prática cristã do amor, do perdão, e da piedade, é vivida

no cotidiano, amenizando esses conflitos.

Todos os membros da comunidade recebem formação religiosa para

poderem se consagrar a Deus. A admissão na comunidade se caracteriza por

quatro fases: Vocacionado, Postulantado, Noviciado e Consagração. Algo similar à

formação nas comunidades religiosas tradicionais.

A primeira fase, o Vocacionado, é um período de discernimento da

pessoa com relação a comunidade, dura aproximadamente um ano, com

encontros mensais e retiros. No fim de um ano, os vocacionados que mostraram

sinais de vocação são chamados para entrarem no Postulantado. Neste período, a

segunda fase, é de experiência interna na comunidade. Os postulantes passam

um ano convivendo na comunidade, recebendo formação espiritual e humana,

Page 30: Monografia de José Roberto

36

para amadurecimento, ratificação ou não da vocação. A outra fase é o Noviciado,

depois de um certo amadurecimento o postulante assume o noviciado. O noviço é

considerado um membro em formação da comunidade, diferente do postulante

que faz uma experiência para confirmação da vocação. O Noviciado é um período

de dois anos de formação intensa nas áreas humana, espiritual, doutrinária e

apostólica. Depois de toda essa formação o noviço faz sua consagração a Deus

pelos votos de pobreza, castidade e obediência, e passa a ser um membro efetivo

da Comunidade, e a ter uma formação permanente, tanto doutrinária como

espiritual e humana.

Todos que convivem na comunidade de vida e de aliança vivem

conforme as regras e o estatuto da comunidade. O cotidiano dos membros da

comunidade de vida durante a semana é regrado por horários e atividades. Eles

despertam as 5:45h para rezarem as laudes5, depois vão a missa no convento

próximo da casa comunitária. Alguns ficam em casa para preparar o café da

manhã, estes vão à missa pela tarde. Os que chegam da missa pela manhã, têm

uma hora de oração pessoal. Cada um procura um lugar da casa para ficar

sozinho na oração.

Depois todos se reúnem à mesa, rezam a novena de São José,

agradecendo a providência e pedem por alguma intenção da Comunidade. Após a

oração todos se alimentam e conversam. Durante o resto da manhã, as pessoas

são distribuídas em diversas funções: para limpeza da casa, lavar roupas, lavar

louça, fazer artesanato, ficar na recepção da Escola de Música, dar aula, etc.

5 Oração da liturgia Católica, constituída de Salmos, cânticos de louvor a Deus, e a leitura de uma passagem bíblica.

Page 31: Monografia de José Roberto

37

No almoço, todos se reúnem e rezam, não mais uma novena, mas

uma simples oração. Terminado o almoço, novamente são distribuídas as tarefas.

Às 14:00h alguns vão à capela para realizar uma hora de adoração ao Santíssimo

Sacramento. A adoração é um momento aberto, isto é, as pessoas de fora podem

ir participar, geralmente aparecem pessoas para rezarem.

À noite, além das aulas na Escola de Música, funciona grupo de

oração, reuniões para ensaios do grupo de teatro e dança, e outras atividades.

Com o fim de todas as atividades, todos se reúnem para um momento de oração

comunitária na capela. Este momento de oração segue o estilo de oração da RCC,

com músicas de louvor e agradecimento a Deus, as pessoas dançam, expressam-

se corporalmente ao ritmo das músicas, acontece também manifestações como a

glossolalia, ou oração em línguas como é mais conhecida. Terminada a oração,

ocorre a partilha entre todos de como foi o dia e a oração. Após a partilha, todos

desejam uma boa noite, pedem perdão e dizem que se amam.

No final de semana a rotina modifica. São os dias do apostolado, das

atividades de evangelização. Durante o dia eles atuam na catequese da Primeira

Eucaristia, na catequese de Crisma, na coordenação de grupos de oração de

crianças, jovens e adultos. A noite, todos se concentram para o Via Rhua, o

ministério de música tocar diversas músicas cristãs, alguns vão ajudar na

lanchonete, no balcão, no caixa, ou servindo as mesas, além de outros ficarem

conversando com as pessoas que chegam.

Além dessas atividades, muitas pessoas com problemas procuram a

Comunidade para conversar, partilhar, pedir oração pelos problemas que estão

Page 32: Monografia de José Roberto

38

vivendo. Normalmente, sempre tem alguém em casa para ouvir, aconselhar, e orar

por essas pessoas.

A comunidade não só se limita em formar leigos consagrados para

atuar na cidade do Natal. As pessoas que nela moram são preparadas também

para serem missionárias. Por isso, a comunidade já enviou missionários para

Monte Alegre-RN e Martins-RN, formando novas casas comunitárias.

Concluindo, essa foi uma sucinta descrição do nascimento e vida da

Comunidade Veni Creator Spiritus. Como podemos perceber, as pessoas que

formam essa Comunidade, deixaram seu lar, emprego, família para formarem uma

nova família regida conforme os ideais cristãos, na busca de uma vivência

autêntica dos valores cristãos, da santidade, na busca da vontade de Deus, algo

que não conseguiriam viver onde se encontravam antes.

Page 33: Monografia de José Roberto

39

3 COMUNIDADE E SOCIEDADE

Os conceitos de comunidade e sociedade são utilizados com

diversos significados, sendo tanto sinônimos como antônimos. Normalmente a

distinção desses dois termos foi usada para distinguir entre o rural do urbano, ou o

tradicional do moderno. Dessa maneira, a comunidade foi vista como um

agrupamento homogêneo, e a sociedade um agrupamento heterogêneo, algo do

tipo do que Durkheim denomina de solidariedade social mecânica e solidariedade

social orgânica.

Utilizando-se dessa distinção, mas sem abraçá-la de maneira a

pensar comunidade e sociedade como duas coisas separadas, neste capítulo

comentaremos sobre a comunidade, considerando-a o espaço da constituição do

cosmos e da ordem social, numa perspectiva interacionista e fenomenológica

seguida por Berger (1986), retomando também noções fenomenológicas de

Mircea Eliade.

Depois trabalharemos o conceito de comunidade, referindo-se ao

filósofo e sociólogo alemão Ferdinand Tönnies, que propõe uma concepção

antagônica entre comunidade e sociedade. No entanto, como já dito, não

concebemos a comunidade e a sociedade como duas coisas separadas e

distintas, mas o que queremos destacar é a relação comunitária na sociedade.

Em seguida, faremos uma relação do pensamento de Anthony

Guiddens e Zygmunt Bauman apresentando a relação comunidade/sociedade nas

sociedades tradicionais/pré-modernas, industriais/modernas, e pós-industrias/pós-

Page 34: Monografia de José Roberto

40

modernas, abordando as conseqüências da racionalidade e secularização para

esse relacionamento.

3.1 A Comunidade e o cosmos

Depois de Aristóteles outros pensadores também perceberam que o

homem não é somente um ser racional, mas também um animal político, que vive

na polis, em comunidade, com seus direitos e deveres. Ele é um animal social, um

animal comunitário. E que sem a sociedade ou a comunidade este ser vivo não

seria um ser humano, e sim apenas um animal, ou um deus que não necessi ta do

outro para existir.

Alguns autores chegam a declarar que o homem possui um “instinto

comunitário”, e nasce com essa pulsão que conduz o homem a se agregar, a

formar comunidade, algo análogo ao que Mafessoli (1998) chama de “o ser/estar

junto”6, uma força vital que faz com que os seres humanos busquem se agrupar.

Mas, sem entrar nessa discussão, percebemos que o mundo social, a realidade da

vida cotidiana é uma construção humana, na qual o ser humano na sua relação

com o seu semelhante e o mundo à sua volta é produto e produtor, e essa relação

ocorre principalmente na comunidade, no agrupamento humano.

A construção social da realidade segundo Berger (1985) acontece

por um processo dialético constituído em três momentos: a exteriorização, a

objetivação e a interiorização. 6 Da expressão francesa “l’être-ensemble”.

Page 35: Monografia de José Roberto

41

O primeiro momento é a relação do ser humano com sua consciência

subjetiva sobre o mundo, quer por meio da ação física ou mental. É quando o ser

humano interage com o seu semelhante ou com o mundo físico a sua volta,

transformando a árvore em canoa, numa casa, etc, ou na produção de hábitos,

costumes, etc.

O segundo, a objetivação, refere-se aos resultados da ação humana

(física ou mental) ou aos produtos dessa ação, os hábitos, costumes, instituições,

são percebidos como exterior e distinto do seu produtor, o ser humano. Assim,

inicia-se a estruturação do mundo objetivo, que se apresenta exterior ao homem.

E o último momento, a interiorização, é a retomada desses produtos

pelo ser humano. A transformação da estrutura do mundo objetivo em estrutura da

consciência subjetiva. E como diria Berger e Luckmann (2000), nesse momento a

pessoa apreende ou interpreta uma realidade exterior a ele, para assim se tornar

membro da sociedade, e em nosso caso, membro da comunidade.

Como vimos o processo de construção social da realidade se efetua

principalmente pela interação do ser humano com o outro e com o mundo físico. E

essa interação ocorre primeiramente na família, primeira comunidade. Assim, a

comunidade é o locus da interação humana. A comunidade é o lugar onde

acontece a relação face a face, em que todas as pessoas se conhecem, e

partilham de um entendimento comum. O resultado dessa relação comunitária, do

face a face, é a formação de um cosmos, de uma ordem social que torna a

realidade significativa, ou melhor, resulta na constituição da realidade, pois “na

situação face a face o outro é plenamente real” (BERGER; LUCKMANN, 2000: p.

47).

Page 36: Monografia de José Roberto

42

Mircea Elliade (2001) em sua investigação elabora a distinção de

duas formas de ser do homem no mundo: o homo religiosus e o homem a-

religioso. Este é observado plenamente na modernidade, quando nega qualquer

transcendência. O outro verificado plenamente nas comunidades “primitivas” ou

“arcaicas”, crê que a vida, o espaço, e o tempo têm uma origem sagrada, é obra

de uma intervenção divina, isto é, ele acredita numa cosmogonia. E ainda, que o

sagrado criador do cosmos, santifica e torna o mundo real pela hierofania, ou seja,

pelo ato de manifestação do sagrado acontecido in illo tempore, num tempo

imemorável, primordial. Sendo assim, a sua existência no mundo é plena na

medida que ele habita o espaço sagrado, na medida que ele participa do tempo

sagrado, na medida que sua vida é religiosa, através da repetição hierofânica.

Destarte, a realidade absoluta para o homem religioso se centra no sagrado.

O homo religiosus tem uma estreita relação com a comunidade. Se

pensarmos que o espaço, o tempo, e a existência do homem religioso primitivo

são o espaço comunitário, o tempo comunitário, o lugar em que ele convive.

Assim, para ele a sua comunidade foi fundada por um ato de manifestação do

sagrado, logo, a sua comunidade é sagrada, ela é um espaço sagrado.

Portanto, podemos perceber que a comunidade como espaço da

interação face a face, é o cosmos, a realidade, que envolve o homem. É dentro da

comunidade que a pessoa se afirma enquanto membro pertencente a ela, que se

sente segura, pois sabe e conhece quem são as outras pessoas que estão a sua

volta, são pessoas de confiança. E principalmente para o homo religiosus, que

considera sagrado o espaço da comunidade. Desse modo, a religião, a crença no

Page 37: Monografia de José Roberto

43

sagrado, no espaço sagrado é o cosmos, que segundo Berger (1985) é o escudo

que protege o homem do caos, da anomia.

Nas próximas seções desenvolveremos as relações entre a

comunidade, esse escudo ou como diria Berger dossel protetor, com as

sociedades dita tradicional/pré-moderna, como exemplo as sociedades agrárias,

ou referindo-me a Emile Durkheim a solidariedade social mecânica; com a

industrial/moderna, tendo seu marco principal a Revolução Industrial, e finalmente

com a sociedade pós-industrial/pós-moderna.

3.2 Comunidade e sociedade tradicional/pré-moderna.

Nas sociedades tradicionais ou pré-modernas, principalmente as

agrárias, ou consideradas rurais, a comunidade se apresenta como o macro-

cosmos, isto é, a sociedade é a comunidade, a comunidade é a sociedade. Não

há uma distinção entre sociedade e comunidade. Na sociedade tradicional há

entre seus membros uma interação intensa, as pessoas se conhecem, possuem

um conhecimento em comum, uma solidariedade social mecânica conforme

Durkheim, que permite uma homogeneidade.

A sociedade tradicional segundo Giddens (1991) proporciona uma

segurança ontológica devido, sobretudo a quatro contextos que ela possui: a

relação de parentesco, a comunidade local, a cosmologia religiosa, e a tradição.

A relação de parentesco na sociedade pré-moderna proporciona uma

organização de relações relativamente estáveis. As pessoas sabem com quem

Page 38: Monografia de José Roberto

44

estão se relacionando, apesar dos conflitos entre os parentes, eles possuem

relações amigáveis e duráveis no tempo e no espaço. O pai, a mãe, o irmão, e

outros parentes são pessoas confiáveis, fazem parte do cotidiano. Os parentes

são aqueles que primeiramente afirmam a realidade da pessoa na socialização

primária. Dessa forma, temos a formação de um laço que une o grupo, expresso

na frase: “é sangue do meu sangue, é o meu irmão”. Portanto, o parentesco

proporciona relações de confiança para as pessoas que constituem a família.

A comunidade local se refere ao lugar em que a vida comunitária

acontece, ao espaço. Na sociedade pré-moderna, a extensão da comunidade é

pequena e seu isolamento é maior. Apesar das migrações e do nomadismo, a

maioria da população era praticamente imóvel se compararmos com fluxos de

viagens proporcionados pelos meios de transportes atuais. Dessa maneira, o lugar

onde as pessoas nascem e vivem tem grande significado para elas, é a sua terra.

Esse sentimento de pertença proporciona uma segurança a pessoa.

A cosmologia religiosa em sociedades pré-modernas proporciona

aos seus crentes um ambiente tanto de segurança como de risco,

crenças religiosas podem ser fonte de extrema ansiedade ou desespero – tanto que elas devem ser incluídas como um dos principais parâmetros de risco e perigo (vivenciados) em muitos cenários pré-modernos. Mas em outros aspectos as cosmologias religiosas proporcionam interpretações morais e práticas da vida pessoal e social, bem como do mundo natural, o que representa um ambiente de segurança para o crente (GIDDENS, 1991: p. 105).

A divindade tanto cura, salva, restaura, quanto castiga, pune, e

condena. A perda da graça religiosa, como bênçãos, dádivas divinas, ou a crença

em maldições, e na influência mágica maligna, proporciona um ambiente de risco

Page 39: Monografia de José Roberto

45

nas sociedades pré-moderna. Mas o que nos interessa é o aspecto positivo do

sagrado, que proporciona para a pessoa um sentimento de segurança, de

proteção, a concepção da providência divina, a partir de forças sobrenaturais que

interfere no seu cotidiano. Assim, “as crenças religiosas tipicamente injetam

fidedignidade na vivência de eventos e situações e formam uma estrutura em

termos da qual eles podem ser explicados e respondidos” (GIDDENS, 1991: p.

105).

A tradição, o quarto elemento contextual das sociedades pré-

modernas, é citado por Giddens se referindo a concepção de Levi-Strauss de

“tempo reversível”. Sendo o passado constantemente atualizado pelas práticas do

presente. O passado, o presente e o futuro formam um contínuo fluxo. No

cotidiano as pessoas repetem práticas que aprenderam de seus antepassados.

Essas práticas rotineiras que o filho aprendeu do pai, e o pai do avô, e assim por

diante, tornam-se atividades significativas, em que as pessoas respeitam. Assim, a

tradição permite a continuidade do passado no presente, de modo a proporcionar

um sentimento de continuidade das coisas, de certezas, de segurança pelas

práticas rotineiras significativas.

Como acabamos de observar, a sociedade tradicional é estruturada

solidamente pelo extremo laço de interação humana, que ocorre na comunidade

local e na relação de parentesco. E o mundo é sacralizado pela cosmologia

religiosa, que juntamente com a tradição dá sentido às práticas cotidianas.

Destarte, na sociedade pré-moderna as pessoas se organizam sob uma estrutura

social rígida, sacralizada e significativa, que proporciona um sentimento de

segurança, apesar de haverem riscos, principalmente os ocasionados pelos

Page 40: Monografia de José Roberto

46

desastres naturais (terremotos, enchentes, erupções vulcânicas, etc) ou invasões

de outros povos; mas certamente são de dimensões menores que os riscos que

as sociedades atuais sofrem, como a “industrialização da guerra”7, produzindo

armas de destruição em massa.

A comunidade nessa estrutura social sólida e homogênea propícia

outra característica importante aos seus membros: um entendimento comum.

Esse entendimento, segundo Bauman (2003) é que faz com que as pessoas se

unam apesar de suas diferenças.

O tipo de entendimento em que a comunidade se baseia precede todo os acordos e desacordos. Tal entendimento não é uma linha de chegada, mas o ponto de partida de toda união. È um “sentimento recíproco e vinculante”; e é graças a esse entendimento, e somente a esse entendimento, que na comunidade as pessoas “permanecem essencialmente unidas a despeito de todos os fatores que as separam” (BAUMAN, 2003: p. 17-16).8

É um entendimento “natural” e “tácito”, nas palavras de Bauman, que

na sociedade moderna é destruído. Porém, não é só o entendimento comum que

é destruído, a segurança ontológica da sociedade tradicional também é desfeita.

3.3 Comunidade e sociedade industrial/moderna.

Com o desenvolvimento da sociedade moderna, principalmente com

Revolução Industrial e a Racionalidade Moderna, a comunidade, ou melhor, a

7 Termo utilizado por Giddens no livro “As conseqüências da modernidade”. 8 Grifos do autor.

Page 41: Monografia de José Roberto

47

relação comunitária começa a ser desfeita. Comunidade e Sociedade são vistos

como coisas diferentes. A distinção entre o rural e o urbano, o tradicional e o

moderno se manifesta de forma mais intensa. A homogeneidade da sociedade

tradicional é suprimida pela heterogeneidade da sociedade moderna, como

Durkheim diria, ocorre a mudança da solidariedade social mecânica para uma

solidariedade social orgânica. É nesse momento que a comunidade começa a ser

reprimida e combatida, principalmente a comunidade religiosa, com a

secularização, que conseqüentemente dessacralizou o mundo.

A distinção de comunidade e sociedade é bem expressa na obra do

Ferdinand Tönnies Gemeinschaft und Gesellschaf t (Comunidade e Sociedade)9,

uma distinção clássica entre o rural e o urbano, que na leitura de Bauman (2003)

se sucede pela diluição do entendimento compartilhado na convivência urbana.

Para Bauman, “Ferdinand Tönnies sugere que o que distinguia a comunidade

antiga da (moderna) sociedade em ascensão (Gesellschaf t) em cujo nome a

cruzada fora feita, era um entendimento compartilhado por todos os seus

membros“ (BAUMAN, 2003: p. 15). Assim, a comunidade caracterizada pelo

entendimento compartilhado, favorecia um ambiente acolhedor, pois o

conhecimento do outro promovia laços de confiança e segurança, algo que não

acontece na sociedade, no meio urbano, em que a individualidade se apresenta

de maneira intensa, as pessoas ficam mais distantes, e não conhecem os seus

concidadãos.

Martin Buber, influenciado por Tönnies, também faz essa diferença

entre comunidade e sociedade se referindo à cultura chinesa. 9 Obra publicada por Tönnies em 1887.

Page 42: Monografia de José Roberto

48

A comunidade é a expressão e o desenvolvimento da vontade original, naturalmente homogênea, portadora de vínculo, representando a totalidade do homem. A sociedade é a expressão do desejo diferenciado em tirar vantagens, gerado por pensamento isolado da totalidade. Sobre a primeira, consta em uma descrição da era correspondente da cultura chinesa o seguinte: “naquele tempo nada foi feito assim, tudo era assim”; sobre a segunda: “dominado o impulso da natureza, entrega-se à razão. Razão trocou-se com razão, porém não se pode mais levar o império à forma”. Comunidade é a ligação que se desenvolveu mantida internamente por propriedade comum (sobretudo de terra), por trabalho comum, costumes comuns, fé comum; sociedade é a separação ordenada, mantida externamente por coação, por contrato, convenção, opinião pública (BUBER, 1987: p. 50).

Na sociedade moderna a comunidade não é mais a sociedade, como

acontecia na sociedade tradicional A solidariedade social mecânica, o

entendimento comum, “natural” e “tácito” da comunidade foi rigorosamente

combatido e desfeito pelo novo sistema de produção emergente na modernidade,

e pela racionalidade moderna.

A Revolução Industrial modificou totalmente a vida comunitária. As

relações de trabalho, que antes era realizado num ambiente de forte interação

entre os trabalhadores, passaram a ser num recinto em que as pessoas se

separam. Segundo Foucault (1997), as fábricas seguiam o principio do

“quadriculamento”, em que

cada indivíduo no seu lugar; e em cada lugar, um indivíduo. Evitar as distribuições por grupos. Decompor as implantações coletivas; analisar as pluraliddes confusas, maciças ou fugidias. O espaço disciplinar tende a se dividir em tantas parcelas quando corpos ou elementos há a repartir (FOULCAULT, 1997: p. 131).

Esse distanciamento provocado pela nova relação de trabalho em

que “as ‘massas‘ tiradas da velha e rígida rotina (a rede de interação comunitária

Page 43: Monografia de José Roberto

49

governada pelo hábito) para serem espremidas na nova e rígida rotina (o chão da

fábrica governado pelo desempenho de tarefas)” (BAUMAN, 2003: p. 30),

influenciou bastante para fim da vida comunitária.

Outro aspecto a ser lembrado que juntamente afetou a comunidade e

principalmente a religiosa foi a Racionalidade Moderna, principalmente com o

positivismo, que surge para livrar o mundo das “supertições” religiosas, e conduzir

a humanidade a um estágio adulto do conhecimento, como pensava Auguste

Comte. Sob a égide do conhecimento verdadeiro, a Ciência se apresenta com o

discurso de conduzir a humanidade ao progresso. Assim, a religião foi perdendo a

plausilbilidade e o espaço público que possuía na sociedade tradicional. Essa

saída do espaço público (a laicização do Estado, da educação, da economia, etc)

da religião é denominada por Berger de secularização, que acaba gerando uma

dessacralização do mundo tradicional sacralizado.

Enfim, na modernidade o homem ocidental é cada vez mais

separado do grupo e secularizado. Ele é desenraizado de uma estrutura sólida

dada como “natural” pela cosmologia religiosa e a tradição, para ser reinserido em

uma estrutura sólida baseada na cosmologia cientifica, em que os dogmas

religiosos são substituídos pelos dogmas científicos. Como diria Marx Weber, o

homem é encarcerado numa jaula de ferro pela Racionalidade Moderna. Assim a

comunidade, a vida comunitária, vai se exaurindo.

Page 44: Monografia de José Roberto

50

3.4 Comunidade e sociedade pós-industrial/pós-moderna10

A relação comunitária da sociedade tradicional é desfeita na

sociedade industrial. A razão científica e técnica, atualizando o mito de Prometeu,

que se comprometeu de levar o homem ao Olimpo, a morada dos deuses,

anunciou a liberdade e o progresso para a humanidade. E como no mito,

Prometeu não conseguiu levar o homem ao Olimpo, assim também a

Modernidade não cumpriu todas as suas promessas, e não conduziu a

humanidade a uma completa liberdade e progresso.

No decorrer do século XX, apesar de inúmeras descobertas que

possibilitaram uma melhor condição de vida (para uma pequena parte da

população mundial), foi um período de guerras, que além das ameaças nucleares,

houve um alto número de perda de vidas humanas decorrentes desses conflitos,

sem esquecer da destruição da natureza engendrando nas crises ecológicas; nas

crises econômicas, e em outros malefícios. De forma que o mundo moderno se

apresenta mais perigoso e inseguro. Pois os riscos da sociedade moderna são

maiores se comparados aos riscos das sociedades pré-modernas, e as promessas

e a segurança esperadas com Modernidade não aconteceram.

A conseqüênci a da Modernidade foi a crise do seu próprio ideário

prometeico. A estrutura sólida oferecida pela sociedade moderna acabou se

desfazendo, como dizia Karl Marx, tudo que é sólido se desmancha no ar. Assim a 10 A palavra “pós-modernidade” é bastante utilizada e discutida ultimamente. Não pretendo entrar nessa discussão neste trabalho. O que cogito ao utilizar o termo pós-moderno, refere-se à distinção da sociedade moderna que segue um ideário iluminista, de progresso, de verdades absolutas e objetivas, da sociedade hodierna, com a crise do ideário moderno iluminista, do fim de certezas absolutas, tempo de desengajamento e flexibilização, algo próximo ao que Bauman denomina de “modernidade líquida”.

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humanidade foi imersa numa estrutura líquida, o que Bauman denomina de

“modernidade líquida”, época de desengajamento,

depois da era do “grande engajamento” eram chegados os tempos do “grande desengajamento”. Os tempos de grande velocidade e aceleração, do encolhimento dos termos do compromisso, da “flexibilização”, da “redução”, da procura de “fontes alternativas”. Os termos da união “até segunda ordem”, enquanto (e só enquanto) “durar a satisfação” (BAUMAN, 2003: p. 41-42).

As pessoas não têm mais certezas. Elas sabem que estão

empregadas hoje, mas amanhã, daqui a um mês ou um ano, não sabem se

estarão. Os quatro contextos indicados por Giddens (1991) como promotores de

uma segurança ontológica estão modificados profundamente. A relação de

parentesco já não promove tanta segurança “as coisas tampouco parecem mais

sólidas dentro da casa da família do que na rua... as chances de que a família

sobreviva a qualquer de seus membros diminui a cada ano que passa” (BAUMAN,

2003: p. 47). A comunidade local está se diluindo com a globalização, o

sentimento de pertencer a uma terra já não é tão forte, pois as pessoas nascem

num local, vivem em outro, e morrem em outro lugar. A cosmologia religiosa e a

tradição com a secularização perderam a plausibilidade que tinham. Enfim, tudo

isso influenciou na constituição de um mundo inseguro, fragilizado e fragmentado.

Como toda ação tem uma reação, o que percebemos ultimamente é

a retomada do agrupamento, a volta da comunidade, em resposta ao

individualismo, a fragmentação e atomização do homem moderno. Têm surgido

muitos movimentos comunitários, que de certa forma tentam “ressacralizar” o

mundo, ou mudar essa situação de insegurança. E no caso das comunidades

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religiosas, temos o exemplo das Comunidades Novas ou Novos Movimentos

Eclesiais da Igreja Católica.

Essas Comunidades Novas conjuntamente com outros movimentos

comunitários constituem na sociedade pós-moderna, ou como diria Bauman, na

“modernidade líquida”, um barco seguro que permite navegar nesse mar social, na

busca de retomar uma interação social mais intensa desfeita na modernidade.

Porém, esse barco pode tanto proporcionar segurança com uma interação mais

intensa entre os membros da sociedade, como ela pode levar a um isolamento

entre os diversos grupos através da formação de grupos totalmente fechados, que

favorecem a construção de enormes paredes sólidas que os isolam.

Portanto, percebemos que a comunidade na sociedade pós-moderna

além de uma reação ao individualismo moderno, ela é uma espada de dois

gumes: tanto favorece a formação de uma sociedade mais segura

ontologicamente, em que as pessoas possam se relacionar para o crescimento de

todos, e não só do indivíduo, como ela pode isolar as pessoas em grupos, de

modo que o outro e o diferente são anulados.

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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após a observação das diversas manifestações da vida comunitária

do cristianismo - desde da fundação até a atualidade -, depois a descrição de uma

comunidade cristã – a Comunidade Católica Veni Creator Spiritus -, e a relação

comunitária nas sociedades tradicionais, modernas, e pós-modernas, chegamos

as seguintes considerações: que a comunidade se propõe como solução e reação

em períodos de conflitos e dificuldades; ela pode se torna prejudicial quando leva

ao isolamento, ao fechamento, ao fundamentalismo; e que a Comunidade Veni

Creator se insere como um ambiente provedor de segurança, às incertezas

hodiernas, e se configura como expressão do comunitarismo cristão pós-moderno.

O Cristianismo nasce da relação comunitária em meio a muitas

dificuldades, como a perseguição judaica e romana; mas mesmo assim, a

comunidade cristã consegue crescer e se estabelecer como religião oficial do

Império Romano.

A vida monástica, assim como os franciscanos na Idade Média,

surgem em meio a decadência espiritual do Cristianismo, como uma alternativa

para uma autêntica vivência cristã.

Os Novos Movimentos Eclesiais recentemente vem florindo em meio

a uma “modernidade líquida”, a um mundo secularizado e desacralizado, em que

as pessoas se sentem “inseguras”. Assim esses movimentos se tornam uma via

para os cristãos poderem se aproximar dos ideais das primeiras comunidades

cristãs, retomando seguranças e certezas a partir das relações comunitárias.

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Nessa óptica a comunidade se apresenta como um paraíso, que não

existem conflitos, onde tudo é harmonioso. No entanto, as coisas não são bem

assim, ao mesmo tempo em que a comunidade pode proporcionar segurança aos

seus membros, ela também pode abstrair a liberdade, separar e isolar as pessoas

diferentes. Por exemplo: na construção de bairros ou condomínios só para

católicos ou evangélicos, em que pessoas se isolam em guetos feitos por elas

mesmas. Assim, nas palavras de Bauman

A promoção da segurança sempre requer o sacrifício da liberdade, enquanto esta só pode ser ampliada à custa da segurança. Mas segurança sem liberdade equivale a escravidão (e, além disso, sem uma injeção de liberdade, acaba por ser afinal um tipo muito inseguro de segurança); e liberdade sem segurança equivale a estar perdido e abandonado (e, no limite, sem uma injeção de segurança, acaba por ser uma liberdade muito pouco livre) (BAUMAN, 2003: p. 24).

O isolamento e a forte coerção da comunidade é algo muito

prejudicial tanto para quem se isola como para quem é visto como diferente. Esse

é um dos aspectos negativos da comunidade, do fundamentalismo e do

fechamento total para o outro. Mas também o contrário, a falta total da

comunidade, de coerção, pode levar as pessoas a um estado total de anomia, de

perda de sentido da realidade. Portanto, é preciso evitar os dois extremos para

que a comunidade não seja um ambiente de repressão, e esteja aberta para o

diálogo, visando o crescimento da humanidade como um todo.

Concluiremos nossas considerações com a Comunidade Veni

Creator Spiritus. Depois de semanas de convivência com a mesma, pudemos

aproximá-la a um movimento comunitário moderado (nem totalmente vertical ou

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horizontal)11, que mantém uma abertura para o diálogo com o diferente, e se

apresenta como uma nova forma de vida comunitária cristã, agregando num

mesmo espaço, numa mesma casa, homens e mulheres, pessoas casadas e

celibatárias, para uma vivência evangélica. Algo diferente das tradicionais

comunidades religiosas, que agregam somente homens ou mulheres num mesmo

espaço.

Dessa forma, a Comunidade analisada se apresenta como um novo

movimento comunitário religioso distinto das comunidades religiosas tradicionais.

No entanto, o “novo” e o “distinto” aqui utilizados não se referem a dois tipos de

comunidades totalmente diferentes, pois as Comunidades Novas possuem em sua

estrutura tanto elementos peculiares relacionados à espiritualidade atual, por

exemplo, as manifestações que acontecem nas igrejas pentecostais, de

visualizações, “oração em línguas”, etc., como elementos das comunidades

tradicionais, por exemplo, a formação dos membros da Comunidade Veni Creator

segue parâmetros semelhantes à formação de religiosos das comunidades

tradicionais (o Vocacionado, o Postulantado, o Noviciado, e a Consagração).

Portanto, a Comunidade Veni Creator como os Novos Movimentos

Eclesiais têm aspectos de movimentos comunitários tradicionais, mas que tendem

a uma nova configuração de espiritualidade e vivência comunitária conforme as

mudanças sócio-religiosas. Conseqüentemente, a Comunidade Católica Veni

Creator Spiritus além de proporcionar segurança e solidez num mundo inseguro e

plástico, ela também expressa uma neoconfigur ação de espiritualidade e

comunitarismo cristão na pós-modernidade. 11 Cf. a classificação de Augusto Guerra na página 22.

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