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VI Congresso da Geografia Portuguesa Lisboa, 17-20 de Outubro de 2007 1 MONITORIZAÇÃO DAS DINÂMICAS DO USO DO SOLO NA CIDADE AFRICANA Cristina HENRIQUES Faculdade de Arquitectura – Universidade Técnica de Lisboa e-Geo Centro de Estudos de Geografia e Planeamento Regional Universidade Nova de Lisboa [email protected]; Tel. 213615841 RESUMO A acelerada transformação do território nas cidades africanas verificada nas últimas décadas representa um desafio ao ordenamento do território, quer no que respeita à componente de gestão, quer no âmbito do planeamento físico sustentável destas cidades. A monitorização e a avaliação qualitativa e quantitativa das transformações espácio- temporais do uso do solo constitui uma etapa fundamental na compreensão das dinâmicas dos processos que levam à alteração das paisagens urbanas e consequentemente no enquadramento geográfico das acções de planeamento que se pretendam desencadear. A Detecção Remota, os sistemas de informação geográfica (SIG) e a modelação por autómatos celulares apresentam-se, actualmente, como ferramentas indispensáveis na sistematização e análise dos processos de transformação de uso do solo. É, portanto, através destas tecnologias que aqui se apresenta uma análise das transformações do uso do solo ocorridas num caso de estudo, entre 1964 e 2001 e uma modelação das tendências de transformação entre 2001 e 2010. Palavras-chave: Uso do solo, SIG, Detecção Remota, modelação geográfica, cidade africana

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VI Congresso da Geografia Portuguesa Lisboa, 17-20 de Outubro de 2007

1

MONITORIZAÇÃO DAS DINÂMICAS DO USO DO SOLO

NA CIDADE AFRICANA

Cristina HENRIQUES Faculdade de Arquitectura – Universidade Técnica de Lisboa

e-Geo Centro de Estudos de Geografia e Planeamento Regional Universidade Nova de Lisboa

[email protected]; Tel. 213615841

RESUMO

A acelerada transformação do território nas cidades africanas verificada nas últimas

décadas representa um desafio ao ordenamento do território, quer no que respeita à

componente de gestão, quer no âmbito do planeamento físico sustentável destas cidades.

A monitorização e a avaliação qualitativa e quantitativa das transformações espácio-

temporais do uso do solo constitui uma etapa fundamental na compreensão das dinâmicas

dos processos que levam à alteração das paisagens urbanas e consequentemente no

enquadramento geográfico das acções de planeamento que se pretendam desencadear.

A Detecção Remota, os sistemas de informação geográfica (SIG) e a modelação por

autómatos celulares apresentam-se, actualmente, como ferramentas indispensáveis na

sistematização e análise dos processos de transformação de uso do solo.

É, portanto, através destas tecnologias que aqui se apresenta uma análise das

transformações do uso do solo ocorridas num caso de estudo, entre 1964 e 2001 e uma

modelação das tendências de transformação entre 2001 e 2010.

Palavras-chave: Uso do solo, SIG, Detecção Remota, modelação geográfica, cidade africana

VI Congresso da Geografia Portuguesa Lisboa, 17-20 de Outubro de 2007

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1. INTRODUÇÃO

O estudo da dinâmica espacial das cidades resulta da compreensão da evolução do seu

funcionamento no tempo e dos factores que perturbam esse funcionamento.

As cidades africanas têm sofrido, nas últimas décadas, uma acelerada transformação da

sua paisagem. O desenvolvimento sustentável das áreas urbanas africanas passa pela

compreensão da complexidade e variedade das diferentes funções e interacção entre as

componentes que produzem o espaço.

Neste trabalho, Maputo em Moçambique foi o caso de estudo e o uso do solo foi a

componente da cidade sobre a qual incidiu a investigação: criou-se, quantificou-se,

diferenciou-se a mudança de uso do solo e simulou-se o seu crescimento urbano através

de autómatos celulares (Figura 1).

Figura 1 – Modelação e análise do uso do solo urbano através de tecnologias de informação geográfica

VI Congresso da Geografia Portuguesa Lisboa, 17-20 de Outubro de 2007

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As tecnologias, nomeadamente a detecção remota, os sistemas de informação geográfica

e a modelação por autómatos celulares estiveram ao serviço do entendimento da cidade,

constituindo-se como ferramentas indispensáveis na sistematização e análise dos

processos de transformação do uso do solo. Implementou-se, ainda, a difusão da

informação do uso do solo da Cidade de Maputo através da Internet.

2. O USO DO SOLO ENTRE 1964 E 2001

A elaboração de cinco cartas digitais de uso do solo de Maputo (respeitantes às cinco

últimas décadas) constituiu uma etapa base no processo de entendimento do padrão

espácio-temporal do uso do solo deste município (Figura 2).

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Figura 2 – Cartas de uso do solo da Cidade de Maputo. 1964-2001

Usos do solo - Nível I

Área Residencial Central

Área Residencial da Periferia

Área de Actividade Económica

Área de Equipamento, Infra-estruturas e Serviços Públicos

Área de Vazio Urbano e Ruína

Área Húmida e Inundável

Outras Áreas Naturais, Semi-naturais e de Lazer

2001

1982

1964 1973

1991

0 1 Km

VI Congresso da Geografia Portuguesa Lisboa, 17-20 de Outubro de 2007

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Estas cartas foram produzidas utilizando tecnologias de informação geográfica e

consequentemente abrindo perspectivas diferentes da simples análise estatística de dados

tabulares ou da cartografia estática.

Através da ferramenta da ESRI, ArcGIS Server, fez-se a transposição da base de dados

SIG para uma plataforma web, disponibilizando, assim, para qualquer parte do mundo

esta informação interactiva e, utilizando a linguagem KML é tornou-se possível permitir

a análise das cartas de uso do solo produzidas sobre o Google Earth

(http://cdh.fa.utl.pt/sig_maputo.html).

Os resultados obtidos destas cartas de uso do solo foram explorados segundo a

perspectiva de: i) analisar as alterações do uso do solo; ii) criar tipologias de bairros; iii)

demonstrar a importância desta informação para a simulação de expansões urbanas

tendenciais e para alimentar um SIG Municipal.

3. MODELAÇÃO E TENDÊNCIAS DE ALTERAÇÃO (2001-2011)

Num contexto de grande incerteza quer no comportamento dos agentes da transformação

do uso do solo, quer da evolução da economia, propôs-se um modelo cartográfico para a

detecção do estado e das alterações do uso do solo. A previsão das alterações para a

próxima década baseada em autómatos celulares pode ser uma ferramenta útil aos

gestores, planeadores e políticos da cidade.

Os autómatos celulares introduziram aqui, na análise da mudança urbana, uma nova

forma de simular a evolução futura da cidade africana. Estes modelos mostram como as

interacções locais determinam a emergência de comportamentos complexos ao nível

global dos sistemas urbanos.

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A aplicação destes modelos baseou-se num conjunto de regras e condições estabelecidas

pela rede de células, pelos seus estados, pelas vizinhanças, pela sua configuração inicial,

pelas regras de transição definidas e pelos vectores de frequência e de probabilidades.

Para a aplicação do modelo e consequentemente das suas regras é necessário conhecer a

evolução do uso do solo que aqui foi descrita por uma série temporal suficientemente lata

para garantir a consideração de dinâmicas de mudança que não são devidas ao acaso e

de tendências de permanência.

4. CONCLUSÕES

São muitas as dificuldades em trabalhar sem restrições à mudança num contexto africano

com muito pouca prática de planeamento enquadrado por procedimentos legais. Contudo,

num cenário de fracas restrições legais à expansão urbana os resultados apontam para a

continuação do crescimento da “Área Residencial da Periferia” que em 2011 substituirá a

quase totalidade das “Áreas de Mato”, ou seja 100 dos 130ha que restavam em 2001 de

“Área de Mato” mudarão para a classe de “Área Residencial da Periferia” em 2011. O

crescimento urbano simulado mostra ainda que este será feito, preferencialmente, por

coalescência em relação ao já existente.