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MÔNICA INFANTIL X MÔNICA JOVEM: UM ESTUDO SOBRE A EVOLUÇÃO DA LINGUAGEM NOS GIBIS DA TURMA DA MÔNICA - Izaura Lais Siqueira, Maria Cristina Ruas de Abrel Maia ([email protected])

INTRODUÇÃO

Este trabalho faz parte de uma monografia ainda em desenvolvimento, surgiu do nosso interesse pelo gênero história em quadrinhos, especialmente pelos gibis da Turma da Mônica, escrita por Mauricio de Sousa. Os motivos que justificam a escolha do tema de nossa pesquisa relacionam-se a dois fatos, Primeiro: Maurício de Sousa é o único brasileiro, criador de um gibi considerado sucesso nacional, que recebeu o prêmio “Yellow Kid” , eleito o Oscar dos quadrinhos, no Congresso Internacional de histórias em quadrinhos, em Lucca, Itália, 19711. Segundo, o recente lançamento, Turma da Mônica Jovem, em 2008, é considerado o maior sucesso na área dos quadrinhos, conquistando leitores adolescentes a cada dia. Todo esse interesse pelos gibis da Turma desperta a atenção de muitos estudiosos de várias áreas, entre esses, os profissionais das artes e linguistas, nos incluímos, em razão do tipo de pesquisa que desenvolvemos, no último grupo. Neste trabalho, nos dedicaremos a analisar as características próprias do uso e da variação linguísticas nos gibis da Turma da Mônica Jovem confrontando-as com os gibis da Turma infantil.

A mais nova produção de Mauricio de Sousa apresenta a turma já adolescente e trata de temas mais sérios como drogas, sexualidade e bebidas a fim de cumprir esse objetivo o universo dos cenários, personagens, brincadeiras e principalmente o emprego da linguagem foram modificados. Antes em relação ao modo de falar, as personagens diziam coisas como: “meu Deus! ” ou “ não acredito”, agora, na Turma da Mônica Jovem, crescidos, as personagens preferem termos como: “oras!” “desencana!” “dar uma esticada” “tô na área”,2 o que denota que as mudanças no campo da linguagem são influenciadas pelo contexto social retratado nas histórias, refletindo o tempo contemporâneo, determinando a quem esse tipo de gibi se destina. A fim de dar mobilidade à trama, o autor fez opção pelo estilo mangá para estruturar o texto. Os mangás têm suas raízes no período Nara. Refere-se ao período da historia do Japão, que se estende de 710 a 794 d.c, ocorreu quando a capital do Japão foi transferida para a cidade de Nara, onde começou-se a associação de pinturas e textos que juntos contavam uma historia à medida que ia sendo desenroladas. Referente ao estilo mangá algumas características nos gibis, de modo geral, foram alteradas, por exemplo, a leitura é feita na forma ocidental, ou seja, da direita para a esquerda, diferentemente da leitura feita no estilo mangá que ocorre da esquerda para a direita.

Além do novo estilo de diagramação dos gibis da Turma da Mônica Jovem, as personagens aparecem já adolescentes fazendo uso de uma nova modalidade de linguagem, muito mais atualizada, dinâmica e mais flexível. Essa nova roupagem dá origem a um novo contexto de comunicação, a partir dele, analisaremos as possíveis variações linguísticas no uso da linguagem que parece ter se atualizado e modernizado. Interessa-nos, por exemplo, a inserção de gírias no texto, o grau de formalidade ou informalidade na fala da Turma, agora, adolescente. Para atingir o nosso objetivo, verificamos a partir das marcas textuais, se existe variação linguística e se esta representa grupos socioeconômicos constituídos, além de determinada faixa-etária e se ainda é especifica de um gênero e por fim se representa uma cultura, qualquer que seja ela.

MATERIAIS E MÉTODOS

A nossa pesquisa foi estritamente bibliográfica, coletamos 20 exemplares de gibis da Tuma da Mônica infantil, desde a sua criação em 1970 até os dias atuais, e os recém lançados gibis da Turma da Mônica Jovem, que já se encontram na sua 20ª edição. Após a seleção dos gibis, selecionamos fragmentos de falas dos principais personagens, em cada uma das fases da Turma: Mônica, Magali, Cebolinha ( tornou-se Cebola, na fase adolescente), Cascão, Franjinha. Tendo sido concluída essa etapa, realizamos uma análise de confronto considerando os usos linguísticos de cada uma das personagens nas fases infantil e adolescente. Para fundamentar nossa análise, aplicamos a teoria variacionista de William Labov(1968), que diz que muitos elementos da estrutura linguística estão relacionados na variação sistemática que reflete tanto a mudança no tempo quanto os fatores sociais extralinguísticos. Segundo Tarallo (1986, p:08 ) “variantes linguísticas são maneiras distintas de dizer a mesma coisa em um mesmo contexto e com o

1 Fonte: www.meujornal.com.br acessado em 2 Turma da Mônica, São Paulo: Ed: Panini Comics, 1989, vol: 15. ano:2009, vol: 1 e 10

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mesmo valor de verdade”. As variedades linguísticas podem ser subdivididas em dois grupos: a variação diastrática ou diatópica, essa refere-se às diferenças linguísticas distribuídas no espaço físico, presentes entre falantes de origens geográficas distintas. Já a variação diastrática refere-se à identidade do falante e à organização sociocultural da comunidade de fala. Nesta pesquisa, referiremos - nos à variação diastrática, que servirá como base para as análises das falas transcritas das personagens da Turma da Mônica Infantil confrontando-as com a Turma da Mônica Jovem. Dessa forma, podemos apontar os seguintes fatores relacionados às variações de natureza social, ou seja: classe social, idade, sexo, situação ou contexto social das personagens que constituem o núcleo urbano da turma da Mônica Jovem.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Após as análises dos fragmentos das falas extraídas dos gibis da Turma da Mônica infantil e adolescente, constatamos que as personagens na fase infantil, têm por volta 8 anos de idade, fazem uso de uma variante coloquial padrão, compõem o núcleo urbano da obra de Maurício de Sousa e representam, por meio das falas, a cultura da classe média urbana, como exemplo a tirinha online da Turma da Mônica, p. 168, apresenta uma história em que a Magali, protagonista da tira, ao ver o coelhinho da páscoa diz: “Eba! Balas! Ovos de chocolate! Bombons! Caramelos!3. A fala da personagem denuncia qual grupo sociocultural ela pertence, ou seja, trata-se da fala de uma criança de classe média urbana acostumada a ganhar, na páscoa, doces e chocolates. Mais evidências temos da representação, por meio das falas, do lugar de que falam essas personagens. Na fase adolescente, por volta dos 15 anos, gírias, expressões coloquiais urbanas, estrangeirismos são acrescentados nas falas de Mônica e sua Turma, ou seja, a Turma agora pode tratar de temas polêmicos, tornando as histórias mais verossímeis. Na revista nº 3, da Turma da Mônica Jovem, (2008,p.2) , Cebolinha diz: “ Um robô xavequeiro!”. Na mesma revista p. 5, Magali diz: “Eu pedi algo Light pra comer!”, mais adiante na p. 11, Cascão completa: “Tá me zoando?...” 4 Verificamos que a transposição das personagens do universo infantil para o adolescente acarretou não só uma mudança no estilo de composição do texto e das imagens, mas sobretudo na linguagem que foi modernizada, renovada, de forma que toda a variação no uso da linguagem, permite-nos reconhecer qual a classe social e cultural está representada nesta nova criação de Mauricio de Sousa.

CONCLUSÃO

A partir dessas teorias, realizamos nossa pesquisa, considerando que a linguagem dos gibis da Turma da Mônica Jovem tenta representar a língua falada dos jovens de classe média de grandes centros urbanos, como a cidade de São Paulo, local onde reside o criador da personagem Mônica. Dizemos isso, porque as falas nos gibis analisados representam um grupo etário, social, econômico e cultural específico de adolescentes. Desta forma, mostra como as personagens são influenciadas pela cultura linguística urbana vigente, variação específica de um grupo social. Com efeito, acreditamos que os usos que se faz da linguagem na produção dos gibis da Turma da Mônica delimita e especifica o público leitor.

3 Fonte: www.monica.com.br/ Turma da Mônica – página semanal 168. acessado em 11/04/2009 às 14h 4 Turma da Mônica Jovem. São Paulo: Ed: Panini Comics, 2008

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REFERÊNCIAS:

[1] ALKIMIM, Tânia Maria. Sociolinguística. In: MUSSALIN, Fernanda, BENTES, Anna Christina (org). Introdução à linguística: domínios e fronteiras. 3ª Ed. São Paulo. Cortez, 2003.

[2] BAGNO, Marcos. Nada na língua é por acaso: por uma pedagogia da variação linguística. São Paulo: Parábola Editorial, 2007.

[3] BELINE, Ronald. A variação linguística. In: FIORIN, José Luiz (org) Introdução à Linguistica I. Objetivos teóricos. São Paulo. Contexto, 2005.

[4] BORTONI- RICARDO, Stella Maris. Educação em língua materna: a sociolinguistica na sala de aula.. São Paulo: Parábola editorial, 2004.

[5] ELIA, Silva. Sociolingüística. Rio de Janeiro: Padrão, 1987.

[6] GUY, Gregory Riordan, ZILLES, Ana. Sociolinguística Quantitativa. São Paulo: Parábola editorial, 2007.

[7] LABOV, William. The reflection of social process in linguistic structures. In: FISHMAN, J. (ed.) Readings in the Sociology of Language. The Hague: Mouton, 1968.

[8] MOLLICA, Maria Cecília. Sociolinguística.São Paulo: Contexto, 2003.

[9] PRETI, Dino. Sociolinguística: Os níveis de fala. São Paulo. Cia Editora Nacional. 1987.

[10] TARALLO, Fernando. A pesquisa sociolinguística. 2.ed. São Paulo : Ática, 1986