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    UNIVERSIDADE DE SO PAULOFACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CINCIAS HUMANASPROGRAMA DE PS-GRADUAO EM GEOGRAFIA HUMANA

    FABIO SILVEIRA MOLINA

    MEGA-EVENTOS E PRODUO DO ESPAO URBANO NO RIO DEJANEIRO: DA PARIS DOS TRPICOS CIDADE OLMPICA

    Verso corrigida

    So Paulo2013

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    FABIO SILVEIRA MOLINA

    Mega-eventos e produo do espao urbano no Rio de Janeiro: daParis dos Trpicos Cidade Olmpica

    Tese apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Geografia Humana doDepartamento de Geografia da Faculdadede Filosofia, Letras e Cincias Humanasda Universidade de So Paulo, paraobteno do ttulo de Doutor em Cincias.

    rea de concentrao: GeografiaHumana.

    Orientadora: Profa. Dra. Rita de CssiaAriza da Cruz

    Verso corrigida.

    De acordo,

    _________________________________Profa. Dra. Rita de Cssia Ariza da Cruz

    So Paulo2013

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    Autorizo a reproduo e divulgao total ou parcial deste trabalho, por qualquer meioconvencional ou eletrnico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada afonte.

    Catalogao na PublicaoServio de Biblioteca e Documentao

    Faculdade de Filosofia, Letras e Cincias Humanas da Universidade de So Paulo

    Molina, Fabio SilveiraMega-eventos e produo do espao urbano no Rio de Janeiro: da Paris dos

    Trpicos Cidade Olmpica / Fabio Silveira Molina ; orientadora Rita de Cssia

    Ariza da Cruz. So Paulo, 2013.214 f. : il.

    Tese (Doutorado) Faculdade de Filosofia, Letras e Cincias Humanas daUniversidade de So Paulo. Departamento de Geografia. rea de concentrao:Geografia Humana.

    1. Mega-eventos. 2. Geografia urbana. 3. Produo do espao urbano. 4.Estrutura urbana. 5. Fragmentao do espao. 6. Centralidade urbana. I. Cruz, Ritade Cssia Ariza da, orient. II. Ttulo.

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    Nome: MOLINA, Fbio Silveira

    Ttulo: Mega-eventos e produo do espao urbano no Rio de Janeiro: da Paris dosTrpicos Cidade Olmpica

    Tese apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Geografia Humana doDepartamento de Geografia da Faculdadede Filosofia, Letras e Cincias Humanasda Universidade de So Paulo, paraobteno do ttulo de Doutor em Cincias.

    rea de concentrao: GeografiaHumana.

    Aprovado em:

    Banca Examinadora

    Prof. Dr. _______________________Instituio: ____________________________Julgamento: ___________________ Assinatura: ____________________________

    Prof. Dr. _______________________Instituio: ____________________________

    Julgamento: ___________________ Assinatura: ____________________________

    Prof. Dr. _______________________Instituio: ____________________________

    Julgamento: ___________________ Assinatura: ____________________________

    Prof. Dr. _______________________Instituio: ____________________________

    Julgamento: ___________________ Assinatura: ____________________________

    Prof. Dr. _______________________Instituio: ____________________________

    Julgamento: ___________________ Assinatura: ____________________________

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    Dedicatria

    Vagner Roberto Souza da Costa, com toda minhagratido e admirao por seu constante apoio ecompanheirismo, elementos fundamentais, de valor

    inestimvel, para que eu pudesse me manter fortalecido eestimulado neste momento to crucial da trajetriaacadmica.

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    AGRADECIMENTOS

    O ingresso na vida acadmica transcende projetos de pesquisa, opes

    tericas e metodolgicas: refere-se, sobretudo, a um Projeto de vida, completamente

    invivel de ser realizado sem o apoio constante de pessoas. Esta trajetria

    configura-se de forma paradoxal: por um lado rdua, especialmente nos momentos

    de solido embutidos no isolamento da redao final, e prazeirosa, pelas

    experincias de troca e de solidariedade proporcionadas por diversas pessoas, ao

    longo do percurso, em lugares diversos.Primeiramente, sempre, agradeo minha orientadora, Profa. Dra. Rita de

    Cssia Ariza da Cruz, por me proporcionar as condies fundamentais realizao

    desta tese. Meu Projeto tem se mostrado possvel especialmente pelo seu apoio,

    respeito, dedicao, amizade, tica profissional e, sobretudo, competncia

    intelectual, expressa, entre outros, nas aulas e conferncias ministradas, na

    produo acadmica, no brilhantismo de sua orientao individual, assim como na

    conduo de reunies e debates realizados em grupo. Expresso, nestas linhas,meus sinceros agradecimentos por tudo, pela grande afinidade intelectual e pessoal

    existente nestes anos todos, desde o ingresso no mestrado, em 2004.

    Ao corpo docente do Departamento de Geografia da USP e, especialmente,

    s professoras ministrantes das disciplinas por mim cursadas no Programa de Ps-

    Graduao em Geografia Humana: meus sinceros agradecimentos Ana Fani

    Alessandri Carlos, Amlia Luisa Damiani, Glria da Anunciao Alves e Maria Adlia

    Aparecida de Souza, pela cordialidade e pelos ensinamentos transmitidos, que tantocontriburam s minhas reflexes.

    Agradeo imensamente s professoras Sandra Lencioni e Ana Clara Torres

    Ribeiro (in memoriam), que fizeram uma leitura atenta do meu trabalho e realizaram

    observaes primorosas no momento do exame de qualificao. saudosa

    professora Ana Clara, expresso meus profundos sentimentos de admirao e

    gratido, e lamento que o destino no nos tenha permitido sua presena fsica no

    momento final desta tese.

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    A oportunidade de ter realizado dois estgios doutorais no exterior me

    permitiu o contato com outras realidades e experincias (pessoais e acadmicas),

    impactando diretamente, e de forma extremamente positiva, nas minhas reflexes

    geogrficas e sobre meu objeto de estudo. Na Universidade de Barcelona, agradeo

    imensamente minha tutora, Profa. Nria Benach, e tambm aos professores Carles

    Carreras e Horcio Capel; na Universidade de Lisboa, expresso minha profunda

    gratido ao meu tutor, Prof. Eduardo Brito Henriques, e tambm Profa. Maria

    Lucinda Fonseca.

    Durante a realizao do trabalho de campo na cidade do Rio de Janeiro, pude

    contar com o valioso auxlio em diversos rgos pblicos e instituies de ensino

    superior, aos quais registro meus agradecimentos: Secretaria Municipal de

    Urbanismo, Centro de Arquitetura e Urbanismo da Cidade do Rio de Janeiro, Museu

    da Imagem e do Som, Biblioteca Nacional, Instituto Pereira Passos, Diretoria de

    Marketing da Riotur (Empresa de Turismo do Municpio do Rio de Janeiro),

    bibliotecas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ, especialmente ao

    IPPUR Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional) e da

    Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), nesta ltima, contando com o

    valioso encontro e oportunas contribuies do Prof. Gilmar Mascarenhas de Jesus.

    Expresses de solidariedade e relaes de amizade construdas no ambiente

    acadmico se tornam, tambm, mpar no amadurecimento e no estmulo ao trabalho

    intelectual. Neste sentido, a lista extensa e agradeo todos, com destaque aos

    amigos Andr Luiz Sabino, Sara Pugliesi Larrabure, Heloisa dos Santos Reis,

    Mariana Guedes Raggi, Isabela Machado, Elisa Pinheiro de Freitas, Gabrielle Cifelli

    e Isaac Vitrio. Agradeo, especialmente, Carolina Todesco, por ter acompanhado

    mais de perto a elaborao desta tese e compartilhado momentos de felicidade e

    angstia: obrigado pelo carisma de sempre, pela generosidade e pelo forte lao de

    amizade cultivada ao longo dos anos.

    Aos familiares e amigos de longa data, registro o meu muito obrigado pela

    presena constante em minha vida, por todo amor, torcida e compreenso durante

    longo perodo em que estive ausente. Aos meus pais, Terezinha de Jesus Silveira

    Molina e Andr Molina Gonales, e irmos, Andr Molina Gonales Jnior e Juliana

    Cristina Silveira Molina: vocs so a razo de tudo! A todos os grandes amigos,

    pessoas que fazem meu mundo ficar cada vez melhor, especialmente ao Vagner

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    Roberto Souza da Costa, Margareth Pivetta, Elaine Aparecida Quirino, Luis Antonio

    Ferreira Vasconcelos, Nilza Vasconcelos (que gentilmente me hospedou na Cidade

    Maravilhosa), Antonia de Ftima Leite, Diogo Neto, Alexsandro Martins dos Santos,

    Flvia Erika Shibata, Andra Lopes da Silva, Sylvia Regina Caldeira, Amanda

    Gasparin, Rosa Maria Bellintani, Marli Moraes, Guaraciaba Juk, Elode Carneiro e,

    particularmente, Maria de Lourdes da Silva Bastos, pelo carinho, cumplicidade e

    apoio nos momentos crticos.

    Finalmente, agradeo a todos que, direta ou indiretamente, colaboraram para

    a realizao desta tese.

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    RESUMO

    MOLINA, Fabio Silveira. Mega-eventos e produo do espao urbano no Rio deJaneiro: da Paris dos Trpicos Cidade Olmpica. 2012. 229 f. Tese (Doutorado) Faculdade de Filosofia, Letras e Cincias Humanas / Departamento de Geografia,Universidade de So Paulo, So Paulo, 2012.

    O tema central desta tese se assenta no papel dos mega-eventos no processo deproduo do espao urbano do Rio de Janeiro desde o incio do sculo XX, marcadopela produo da Paris dos Trpicos, at o momento atual inerente produo daCidade Olmpica. Os mega-eventos, configurando-se como verdadeirosespetculos de ampla abrangncia e visibilidade, so acompanhados de mega-projetos urbanos e induzem a diversas intervenes espaciais nas cidades,manifestadas materialmente atravs da construo de edificado, obras de infra-estrutura, conquista de novos terrenos e ressignificaes de usos e funes dereas inteiras. Neste sentido, a partir de seus desdobramentos espaciais,compreende-se a importncia que os mesmos possuem nos processos defragmentao espacial, ao produzir parcelas do espao valorizadas e vendidas

    enquanto solo urbano e, ainda, no reforo ou consolidao de reas de centralidade,por induzir concentrao de investimentos e pessoas, e dinamizar o comrcio, osservios e os fluxos diversos no espao intra-urbano da cidade, nossa escala deanlise. Esta reflexo partiu da identificao do primeiro mega-evento realizado noRio de Janeiro, a Exposio Nacional de 1908, seguida de outros cujas expressesconcretas materializaram-se na cidade, impactando a estrutura urbana carioca emdiferentes momentos, a saber: a Exposio Internacional de 1922, a Copa do Mundode 1950, a Conferncia das Naes Unidas sobre o Meio Ambiente eDesenvolvimento (Rio-92), os Jogos Pan-Americanos de 2007 e, uma vez que o Riode Janeiro sediar os Jogos Olmpicos de 2016, nossa anlise se estende estruturao da cidade nos dias atuais, norteada pela realizao desse mega-evento.

    Palavras-chave: Mega-eventos. Geografia urbana. Produo do espao urbano.Estrutura urbana. Fragmentao do espao. Centralidade urbana.

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    ABSTRACT

    MOLINA, Fabio Silveira. Mega-events and the production of urban space in Riode Janeiro: from "Paris of the Tropics" to "Olympic City". 2012. 227 f. Tese(Doutorado) Faculdade de Filosofia, Letras e Cincias Humanas / Departamentode Geografia, Universidade de So Paulo, So Paulo, 2012.

    The central theme of this thesis is based on the role of mega-events in the productionof Rio de Janeiros urban space from the early twentieth century, marked by theproduction of the "Paris of the Tropics", to the current moment inherent in theproduction of the "Olympic City". Mega-events, configured as spectacles of broadscope and visibility, are accompanied by urban mega-projects and induce to variousspatial interventions in the cities, expressed materially by building constructions,infrastructure, conquest of new lands and new uses and functions of entire areas. Inthis sense, from these spatial expressions, we understand the importance they havein the processes of spatial fragmentation, as long as they produce fractions of space

    valued and sold as urban land and, also, in strengthening or consolidating areas ofcentrality, inducing the concentration of people and investments, and boostcommerce, services and the various flows in intra-urban space of the city, which isour scale of analysis. This reflection came from the identification of the first mega-event held in Rio de Janeiro, the 1908 National Exhibition, followed by others whichconcrete expressions materialized in the city and impacted at different times of theurban structure: the 1922 International Exhibition, the World Cup of 1950, the UnitedNations Conference on Environment and Development (Rio-92), the Pan-AmericanGames in 2007 and, since Rio de Janeiro will host the forthcoming Olympic Games in2016, our analysis extends to the impacts on the structure of the city in current days,

    guided by the realization of this mega-event.

    Keywords: Mega-events. Urban geography. Production of urban space. Urbanstructure. Space fragmentation. Urban centrality.

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    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1: O Rio de Janeiro no sculo XIX ........................................................................................... 27

    Figura 2: Obras na Rua da Carioca (1905) ......................................................................................... 43

    Figura 3: Construo da Avenida Central (190-?) ............................................................................... 43

    Figura 4: Vista de Copacabana na dcada de 1910 ........................................................................... 43

    Figura 5: Avenida Central (1906) ......................................................................................................... 43

    Figura 6: Palcio de Cristal (Hyde Park, Londres) .............................................................................. 49

    Figura 7: Palcio Elptico (Campo de Marte, Paris) ............................................................................. 51

    Figura 8: Exposio Universal de Chicago (1893), vista parcial ......................................................... 53

    Figura 9: Exposio Nacional de 1908 - Pavilho Portugus .............................................................. 58

    Figura 10: Vista do Morro da Urca e da Praia da Saudade ................................................................ 59Figura 11: Vista Panormica da Exposio Nacional de 1908 ............................................................ 59

    Figura 12: Vista geral do Pavilho de Minas Gerais e So Paulo ....................................................... 59

    Figura 13: Ponte de embarque das barcas ........................................................................................ 61

    Figura 14: Porta Monumental ............................................................................................................ 61

    Figura 15: Pavilho das Indstrias ..................................................................................................... 64

    Figura 16: Pavilho dos Estados e Porta Monumental ....................................................................... 64

    Figura 17: Aterro da Praia de Santa Luzia ......................................................................................... 69

    Figura 18: Aterro da Praia de Santa Luzia e o Po de Acar, ao fundo ........................................... 69

    Figura 19: Desmonte do Morro do Castelo (Rio de Janeiro) .............................................................. 71

    Figura 20: Parque de diverses da Exposio Internacional de 1922 ............................................... 76

    Figura 21: Pavilho da Argentina e Palcio Monroe ( esq.) ............................................................. 77

    Figura 22: Pavilho da Frana ............................................................................................................ 77

    Figura 23: Palcio das Festas ............................................................................................................ 77

    Figura 24: Pavilho da Caa e da Pesca ........................................................................................... 77

    Figura 25: Avenida Presidente Vargas, 1944 ..................................................................................... 86

    Figura 26: Trecho da Avenida Brasil, 1950 ........................................................................................ 86

    Figura 27: Ipanema, Leblon e Lagoa Rodrigo de Freitas (1937) ........................................................ 87Figura 28: Praia de So Conrado e, ao fundo, a Barra da Tijuca, ainda deserta (1950) ................... 87

    Figura 29: Avenida Niemeyer, ligando Leblon So Conrado ........................................................... 87

    Figura 30: Elevado das Bandeiras (Jo), ligando So Conrado Barra da Tijuca ............................. 87

    Figura 31: Cristo Redentor .................................................................................................................. 90

    Figura 32: Praia de Botafogo e Po de Acar ................................................................................... 90

    Figura 33: Teatro Municipal (191-?) .................................................................................................... 91

    Figura 34: Avenida Beira-Mar (191-?) ................................................................................................. 92

    Figura 35: Avenida Beira-Mar (1912) .................................................................................................. 92

    Figura 36: Avenida Central (191-?) ..................................................................................................... 92

    Figura 37: Avenida Central (191-?) ..................................................................................................... 92

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    Figura 38: Copacabana na dcada de 1910 ....................................................................................... 93

    Figura 39: Copacabana em 2009......................................................................................................... 93

    Figura 40: Estdio do Maracan (2009) .............................................................................................. 94

    Figura 41: Derby Club (1932) ............................................................................................................ 100Figura 42: Vista parcial da construo do Estdio do Maracan (1949) ........................................... 102

    Figura 43: Construo do Estdio do Maracan (1949) .................................................................... 102

    Figura 44: reas de Planejamento e Regies Administrativas do Rio de Janeiro ............................ 111

    Figura 45: Tanques de Guerra apontam para favelas durante a Rio-92 ........................................... 118

    Figura 46: As 12 regies definidas no Plano Estratgico As cidades da Cidade ........................... 139

    Figura 47: Localizao das Instalaes Esportivas dos Jogos Pan-americanos de 2007 ................ 144

    Figura 48: Arena Posto 6, em Copacabana ...................................................................................... 145

    Figura 49: Construo da Arena de Copacabana ............................................................................. 145

    Figura 50: Estdio Olmpico Joo Havelange ................................................................................... 146

    Figura 51: Complexo Esportivo Deodoro ........................................................................................... 146

    Figura 52: Parque Aqutico e Arena Multiuso ( direita) ................................................................... 148

    Figura 53: Complexo Esportivo Riocentro ......................................................................................... 148

    Figura 54: Vila Pan-americana .......................................................................................................... 151

    Figura 55: Macrozoneamento e uso do solo Plano Diretor (2009) ................................................. 156

    Figura 56: Localizao das Instalaes Esportivas dos Jogos Olmpicos de 2016 .......................... 159

    Figura 57: Localizao estratgica do Porto Maravilha .................................................................. 162

    Figura 58: rea de interveno da fase 1 .......................................................................................... 162Figura 59: rea de interveno da fase 2 .......................................................................................... 162

    Figura 60: Perspectiva futura do Museu do Amanh, no Per Mau ................................................. 163

    Figura 61: Vista area de parte da Zona Porturia, em 2010 ........................................................... 164

    Figura 62: Perspectiva futura da nova Praa Mau .......................................................................... 165

    Figura 63: Perspectiva do Museu da Imagem e do Som, na orla de Copacabana ........................... 166

    Figura 64: Mega-projetos virios: Transcarioca, Transolmpica e Transoeste .................................. 167

    Figura 65: Plano da Regio da Barra ................................................................................................ 169

    Figura 66: Zona da Barra da Tijuca corao dos jogos ............................................................... 170

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    LISTA DE MAPAS

    Mapa 1: Localizao da Exposio Nacional de 1908 ......................................................... 60

    Mapa 2: Localizao da Exposio Internacional de 1922 ................................................... 73

    Mapa 3: Localizao do Estdio do Maracan e do Bairro de Jacarepagu ..................... 101

    Mapa 4: Localizao da Rio-92, Projeto Rio-Orla e trecho da Linha Vermelha ................. 116

    Mapa 5: Macrozoneamento e localizao dos clusters olmpicos ...................................... 157

    Mapa 6: Sntese das principais construes e intervenes urbanas relacionadas

    aos mega-eventos no Rio de Janeiro entre 1908 e 2016 ..................................... 177

    Mapa 7: Principais reas de Centralidade na cidade do Rio de Janeiro......................... 187

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    LISTA DE QUADROS

    Quadro 1: Praias contempladas no Projeto Rio-Orla (1992) .............................................. 115

    Quadro 2: Estratgias, objetivos e aes do Plano Estratgico Rio sempre Rio ............... 136

    Quadro 3: Macrozoneamento do Rio de Janeiro 2006 .................................................... 155

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    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1: Comparao dos gastos realizados nos Jogos Pan-Americanos de 2007em relao previso oramentria das Olimpadas de 2016 .......................... 161

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    SUMRIO

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    13

    INTRODUO

    O Rio de Janeiro em breve se tornar a Cidade Olmpica, configurando-se

    como a primeira na Amrica do Sul a conquistar esse ttulo, almejado por tantas

    outras no mbito da competitividade internacional entre cidades que, alm de

    tornadas produtos, so governadas atualmente aos moldes de uma empresa. Esse

    acontecimento adquire grandes propores na cidade (e no pas, que tambm

    sediar, pela segunda vez, uma Copa do Mundo), pois se trata do mega-evento

    internacional de maior relevncia (e repercusses espaciais) na atualidade para uma

    cidade: sedi-lo significa estar em evidncia, em escala planetria.

    Ao mesmo tempo, significa a oportunidade de captao de investimentos,

    negcios, turistas, alm da obteno de prestgio e reconhecimento internacional.

    Durante os Jogos Olmpicos de 2016, os olhos do mundo estaro atentos

    Cidade Maravilhosa que busca inserir-se, de forma mais competitiva, no mapa (ou

    mercado) mundial de cidades. Algo parecido ocorreu no Rio, em um passado

    recente e de forma mais tmida, ao sediar os Jogos Pan-Americanos de 2007, em

    parte exitoso em seus objetivos (entre eles, o de preparar terreno para a

    candidatura aos Jogos Olmpicos).

    Apesar de parecer um fenmeno recente, dada a contemporaneidade do fato,

    o olhar do mundo para o Rio de Janeiro em funo de um mega-evento tem sua

    origem num passado remoto, abrigado em um outro contexto social, poltico,

    econmico e cultural. Naquele tempo (primeira dcada do sculo XX), no se tratava

    ainda da Cidade Maravilhosa, mas da promoo (ao prprio pas e ao mundo) da

    recm-construda Paris dos Trpicos, produzida aos moldes da reforma urbana de

    Paris na segunda metade do sculo XIX.

    Nesse contexto gesta-se o primeiro mega-evento na cidade no Rio de

    Janeiro, com a promoo da Exposio Nacional de 1908, realizada na ento

    Capital Federal, em comemorao ao centenrio da abertura dos portos brasileiros

    s naes amigas e assentada no iderio de modernidade, civilidade e progresso.

    Alguns anos mais tarde, outro mega-evento se realiza na rea central da cidade: a

    Exposio Internacional de 1922, realizada em comemorao ao Centenrio da

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    Independncia do Brasil e, basicamente, assentada sob os mesmos iderios da

    Exposio anterior.

    At o incio do sculo XXI, outros trs mega-eventos foram realizados na

    cidade, com especificidades diferentes e em momentos distintos. Em 1950, a cidade

    a principal sede da Copa do Mundo no Brasil, momento em que foi construdo um

    dos seus principais cones urbanos1: o Estdio do Maracan. Depois da Copa, num

    perodo de mais de quatro dcadas e num contexto nacional marcado por profundas

    transformaes econmicas, polticas e espaciais, nenhum mega-evento ocorre no

    Rio. Ressalte-se, tambm, o fato de, nesse mesmo perodo, a cidade ter deixado de

    ser Capital Federal (1960), com a construo de Braslia.

    J a dcada de 1980 marca um momento de transio poltica

    (redemocratizao do pas) e de economia altamente inflacionada. No Rio de

    Janeiro, o desemprego, a pobreza e a violncia urbana atingiam nveis alarmantes,

    ao mesmo tempo em que a expanso urbana e a ocupao da Zona Oeste da

    cidade era levada a cabo de forma efetiva2. exatamente nessa poro da cidade

    onde se localizou outro mega-evento analisado: a Rio-92 (Conferncia das Naes

    Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento).

    Considerada a maior conferncia de todos os tempos at aquele momento,

    este mega-evento proporcionou ampla visibilidade internacional ao Rio de Janeiro e

    marcou o incio de sua insero no mercado mundial de cidades em tempos de

    globalizao, momento em que a prpria cidade torna-se uma mercadoria. Este

    momento se refere, conforme Snchez (2010), passagem do espao-mercadoria,

    quando o valor de troca sobrepe-se ao valor de uso, cidade-mercadoria,

    atrelada produo de imagens e do marketing da cidade, concebidos pelosgovernos locais para vend-las internacionalmente e, assim, sustentando

    operaes de reestruturao urbana (a reinveno das cidades para um mercado

    mundial).

    1Um cone urbano materializado refere-se, segundo Shibaki (2010, p. 5), s construes de cartersimblico que tem como uma de suas funes a representao do espao, que pode ser simblica,cultural, econmica, poltica ou social.2Os primrdios dessa ocupao datam no final da dcada de 1960, especialmente com a elaboraodo Plano Piloto da Barra da Tijuca, projeto de Lcio Costa, em 1969.

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    A cidade do Rio de Janeiro conta atualmente com uma populao de

    6.320.446 habitantes3 distribudos numa rea territorial de 1.200 km4,

    representando a segunda maior economia do Brasil (depois da cidade de So

    Paulo), apoiada majoritariamente no setor tercirio e, tambm, na indstria naval,

    nos setores petroqumicos e energticos. Desde finais do sculo XIX, sucessivas

    modernizaes vm se impondo ao seu territrio, ao mesmo tempo em que novas

    contradies scio-espaciais afloram e se intensificam no movimento da histria. No

    espao interno da metrpole, os investimentos (vetores de modernizao territorial)

    dirigiram-se, em grande parte, inicialmente para o Centro (onde se encontra tambm

    a rea porturia), estendendo-se rumo Zona Sul5 (em bairros como Botafogo,

    Copacabana, Ipanema, Leblon, Lagoa) e posteriormente Zona Oeste, em reasprximas orla ocenica (especialmente na Barra da Tijuca). na Zona Sul e na

    Barra da Tijuca onde se concentram as classes de alta e mdia rendas, em

    contraste com reas suburbanas mais distantes da Baa de Guanabara e da orla

    ocenica, principalmente na Zona Norte, Zona Oeste e no eixo de instalaes

    ferrovirias.

    A qualidade paisagstica do Rio de Janeiro, associada tanto ao espao

    construdo, quanto aos elementos naturais presentes (como o mar, a montanha e a

    floresta), coexiste com a materializao das desigualdades sociais representada

    principalmente pelas favelas e bairros suburbanos distantes geograficamente do

    centro, alm de uma situao de desigualdade social que pode ser verificada, entre

    outros, na sade pblica e na educao, no desemprego e na pobreza, na violncia

    e no narcotrfico.

    nesse cenrio que os mega-eventos esportivos internacionais so acolhidos

    pelo Rio de Janeiro no incio do sculo XXI, tomados pelo poder pblico municipal

    (em parceria com o setor privado) como ferramentas ou pretextos para as diversas

    intervenes urbanas levadas a cabo na cidade nesse momento de produo da

    Cidade Olmpica, e somando-se s transformaes antes realizadas para os Jogos

    Pan-Americanos de 2007. No passado, os mega-eventos citados tambm estiveram

    3IBGE Censo demogrfico 2010.4Com uma densidade demogrfica de 5.265,81 habitantes por km, portanto.5A zona sul carioca conhecida como o carto-postal da cidade do Rio de Janeiro, especialmentepor agregar os famosos bairros-cones de Copacabana e Ipanema, assim como alguns dos principaissmbolos da cidade, entre eles, o Po de Acar e o Cristo Redentor. A Zona Norte configurou-se naocupao marcada por populao de baixa renda ao longo da ferrovia e das indstrias,historicamente negligenciada pelo poder pblico no que diz respeito s infra-estruturas urbanas.

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    carregados de estratgias polticas, econmicas, simblicas e de considerveis

    repercusses espaciais.

    Os mega-eventos so verdadeiros espetculos cujas expresses concretas

    so materializadas no espao interno das cidades. A realizao dos mega-eventos

    no Rio de Janeiro relaciona-se, portanto, produo de seu espao urbano,

    podendo envolver tanto a incorporao de novas reas cidade, como a

    refuncionalizao seletiva de reas existentes no espao intra-urbano6, atravs de

    intervenes urbanas de grande impacto na reestruturao da cidade, acentuando

    processos de fragmentao e criando ou reforando centralidades.

    nesse sentido que o tema central dessa pesquisa se assenta no papel dosmega-eventos no processo de produo do espao urbano do Rio de Janeiro desde

    o incio do sculo XX, marco histrico e analtico em decorrncia do primeiro mega-

    evento na cidade ter se dado no ano de 1908. A anlise estende-se at o momento

    atual de estruturao da cidade e produo da Cidade Olmpica (para os Jogos de

    2016), observando, entre esses marcos temporais, outros mega-eventos que, a

    nosso ver, apresentaram-se como mais significativos e relevantes nesse processo.

    Um evento tem com principais atributos, a grosso modo, a atrao econgregao de pessoas, o carter intrnseco da efemeridade, a relao com o lazer

    e o tempo livre, e a seletividade espao-temporal na sua realizao. Pode ser

    representado por exposies, feiras, festivais, espetculos, congressos, encontros

    de carter cientfico, cultural, comercial, social e/ou poltico, competies esportivas,

    etc., compreendendo, portanto, diversas naturezas, dimenses, escalas de alcance,

    durao e podendo tambm, por vezes, ocorrer de forma regular e com certa

    periodicidade.Na viso de Seixas (2010, p. 6), mega-eventos se traduzem em eventos

    culturais ou desportivos de mbito internacional ou mesmo planetrio, aes

    coletivas e efmeras que comportam status simblicos e escalas espaciais e

    temporais muito significativas. O autor exemplifica sua anlise referindo-se s

    Exposies Universais (ou as EXPOs, sua forma conhecida no presente), Copas do

    6Villaa (2009) reconhece a redundncia da expresso intra-urbano, pois espao urbano umaexpresso satisfatria, e s pode se referir ao intra-urbano. Porm, a utilizao da expresso sejustifica basicamente por uma questo de escala e, desta forma, para situar a anlise no arranjointerno do espao urbano, e no processo de urbanizao abordado genericamente.

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    Mundo, Jogos Olmpicos e, em menor grau, Capitais da Cultura, Torneios de Tnis

    ou Grandes Regatas.

    A estreita relao entre mega-eventos e construo de edificado

    amplamente discutida por Indovina (1999). O autor assevera que um mega-evento

    s pode ser considerado como tal se produzir transformaes urbanas (construes)

    no local onde se realiza, ou seja, o mega-evento considerado, tambm, como uma

    ocasio para a realizao de obras relevantes na cidade, de forma a enriquec-la

    ou mesmo tornar esses novos equipamentos urbanos teis coletividade, algo que

    nem sempre corresponde realidade:

    A realizao do grande evento produz edifcios que no podem serutilizados seno dificilmente por funes diversas daquelas queforam projectadas e realizadas. Realizam-se, no mbito do evento esegundo o seu contedo, obras efmeras e obras duradouras;nem seria lgico, muitas vezes, realizar como duradouro aquilo quedeveria ser efmero. Uma determinada constante individual pelofacto das obras pblicas realizadas determinarem processos devalorizao do rendimento, que alimentam processos especulativos eque perturbam o j complexo mercado de construo (INDOVINA,op. cit., p. 141).

    Em suma, o que torna um evento mega refere-se, basicamente, largaescala de abrangncia (expressividade internacional), durao e visibilidade

    (proporcionada, entre outros, pela cobertura miditica), ao forte poder de atrao de

    pessoas, capitais (investimentos) e, sobretudo, sua dimenso espacial, ou seja, ao

    seu poder de induzir, direta ou indiretamente, considerveis transformaes

    espaciais nas cidades nas quais os mesmos ocorrem, manifestadas materialmente

    atravs da construo de edificado (em geral), obras de infra-estrutura,

    disponibilizao (ou conquista) de novos terrenos (dotando-os de infra-estrutura eedificaes diversas) e, por vezes, ressignificando reas inteiras para a realizao

    do mega-evento e, ao mesmo tempo, prevendo sua utilizao futura, dado o seu

    carter efmero.

    Diante do exposto, no h como desconsiderar o papel dos mega-eventos no

    processo de produo do espao urbano em seus diversos momentos e contextos.

    Um mega-evento, todavia, somente pode ser melhor compreendido a partir do

    contexto (social, poltico, econmico, cultural) de sua realizao, assim como dolugar onde se instala e de suas especificidades.

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    No curso da abordagem geogrfica sobre a relao entre mega-eventos e o

    processo de urbanizao da cidade do Rio de Janeiro, buscamos analisar os

    processos de fragmentao e centralidade urbana no mbito da estruturao da

    cidade. Nesse sentido, partimos da noo de urbano como um fenmeno em

    constante movimento de realizao e em vias de constituio, direcionando-se ao

    horizonte, ao possvel, como virtualidade iluminadora (LEFEBVRE, 2004). Situado

    pelo autor no mbito da industrializao7, o urbano se associa diretamente

    sociedade capitalista industrial que, no caso do Brasil (tendo em mente as

    particularidades da sociedade brasileira), encontra sua gnese no final do sculo

    XIX, relacionada dinmica do complexo cafeeiro que faz com que a

    industrializao se desenvolva nos interstcios da cafeicultura (LENCIONI, 2008, p.119, com base em MARTINS, 2004), fenmeno mais visvel a partir de 18708.

    O processo de urbanizao se realiza no movimento da produo do espao

    urbano. O espao, compreendido como um resultado da inseparabilidade entre

    objetos e aes, entre materialidade e imaterialidade (SANTOS, M., 2002, p. 100),

    possui natureza multifacetada e dinmica: ao mesmo tempo em que suporte das

    atividades humanas, um produto social e histrico, em ininterrupto processo de

    produo atravs das aes do Estado, do Capital e da Sociedade.

    Expresso material desse processo, a cidade, em toda a sua complexidade,

    estruturada de acordo com os diferentes momentos de sua realizao. Acerca dos

    conceitos de urbanizao e cidade, coloca Davidovich (1983, p. 145):

    ...a primeira compreendida como um processo especfico e asegunda como forma/contedo pertinente cada fase do urbano. Aurbanizao pode ser concebida como expresso de um fenmenomultidimensional, intimamente associado ao desenvolvimento das

    foras produtivas, desencadeadas pela revoluo industrial.Relaciona-se, assim, s profundas e rpidas mudanas que semanifestam em diversas estruturas econmica, social, poltico-institucional, cultural e espacial , a partir aproximadamente dosltimos duzentos anos.

    7Sem, ao mesmo tempo, consider-lo um subproduto ou derivao do processo de industrializao,como observa LENCIONI (op. cit.).8 Conforme a autora, assim posto, embora tenhamos cidades no Brasil desde a colnia, aconstituio do urbano, a partir das referncias examinadas, lhe posterior. Est se considerandoque imanente ao conceito de urbano, o de industrializao moderna e o de sociedade industrial (p.120).

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    O processo de urbanizao refere-se a um complexo e dinmico processo de

    transformao (de forma e contedo): a cada momento da histria surgem

    mudanas estruturais e organizacionais e, nesse sentido, a urbanizao (e suas

    caractersticas particulares num determinado momento) redefinida. No Brasil, a

    acelerao do processo de urbanizao ocorre na segunda metade do sculo XX,

    relacionada a diversos fatores como o desenvolvimento econmico no perodo

    conhecido como os trinta gloriosos (1945-1975), o desenvolvimento das indstrias

    de substituio das exportaes, o crescimento do nmero de assalariados e da

    classe mdia, o aumento da demanda por espaos urbanos, entre outros, marcando

    efetivamente o movimento de um pas rural para um pas urbano.

    A industrializao, o setor de servios (terciarizao da economia)9 e as

    formas recentes de produo flexveis no contexto da globalizao intensificaram a

    urbanizao e so elementos-chave na compreenso desse processo que se

    ressignifica ao longo do tempo. As ressignificaes e os novos rumos no processo

    de urbanizao repercutem diretamente na estrutura urbana, compreendida como o

    arranjo interno dos diferentes usos do solo num determinado momento (SPOSITO,

    1991). A estrutura urbana constantemente redefinida em funo de diversos

    fatores, entre eles, a expanso territorial e os novos usos do solo que, no curso do

    processo de produo do espao, e sob a ao de determinados agentes

    (responsveis tambm por desestruturaes), implica na reestruturao da cidade,

    basicamente, sob processos de fragmentao e centralizao.

    A fragmentao espacial resulta de aes homogeneizantes e que, de forma

    contraditria, induzem a um processo que divide o espao em parcelas menores.

    Essas parcelas so produzidas e vendidas enquanto solo urbano e, portanto,

    tornadas mercadoria, acabando por restringir o uso (CARLOS, 2002). Produto da

    produo capitalista do espao e da imposio do homogneo, o processo de

    fragmentao concomitante ao de valorizao espacial e se revela, na paisagem

    urbana, atravs de uma morfologia diversificada marcada pela heterogeneidade

    espacial inerente aos diferentes usos do solo urbano, denotando uma contradio.

    Nesse sentido, a cidade se apresenta de forma fragmentada, apesar de constituir

    9 Momento o qual as trocas se multiplicam, bem como o nmero de intermedirios financeiros ecomerciais. A necessidade de transportes e de comunicao se amplia. Os servios novos aparecemcom as novas demandas da populao. O emprego tercirio aumenta, e a urbanizao muda designificado (SANTOS, 1985, p. 82).

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    uma unidade (a totalidade da cidade, manifestada num determinado momento da

    estrutura urbana).

    A cidade fragmentada constituda por diversas parcelas do espao

    (fragmentos) que de certa forma indicam uma separao, uma ruptura, verificada

    principalmente atravs da introduo do novo (para uns, do moderno). Esses

    fragmentos podem ainda apresentar pouca (ou nenhuma) articulao consistente

    com seu entorno imediato, justamente por serem portadores, cada qual, de uma

    coerncia interna distinta de seu entorno; nesse caso, sua manifestao (extrema)

    pode se dar na forma de enclaves territoriais, portadores de barreiras fsicas e/ou

    imateriais.

    A fragmentao acentua, assim, a segregao scio-espacial, ou seja, aquela

    relacionada ao uso e acesso desiguais observveis, entre outros, nas diferentes

    formas de habitao (separao residencial) e nas dificuldades (ou restries) de

    acesso dos indivduos na cidade10. Conforme Carlos (2002, p. 194), essa dinmica

    conduz, de um lado, redistribuio do uso das reas j ocupadas levando a um

    deslocamento de atividades e de habitantes e, de outro, incorporao de novas

    reas que criam novas formas de valorizao do espao urbano.

    O processo de urbanizao no contexto recente, marcado pela globalizao

    (ou perodo tcnico-cientfico-informacional), acentua os processos que induzem

    fragmentao espacial. Nesse contexto, a fragmentao se revela tambm na

    exacerbao da reproduo do idntico e do repetitivo, e na tendncia

    multiplicao de reas de centralidade em oposio cidade marcada, no passado,

    por um centro nico e periferia esparsa.

    A centralidade um atributo (ou qualificativo) de parcelas do espao cujaexpresso maior se traduz, basicamente, na capacidade de atrair fluxos de diversas

    naturezas e concentrar objetos, pessoas, e aes. Uma rea dotada de centralidade

    representa o lugar dotado das melhores condies de infra-estrutura e

    equipamentos urbanos, foco de atrao de investimentos, pessoas (consumidores),

    comrcio, servios, entre outros.

    10 As questes de acesso normalmente se expressam nas dificuldades que possuem os menosfavorecidos ao uso de espaos elitizados, assim como nas dificuldades apresentadas em termos demobilidade urbana dos habitantes que vivem em reas perifricas distantes das reas centrais.

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    Historicamente, nas cidades, a centralidade manifestava-se, de modo geral,

    como centro principal (ou histrico, tradicional) e seu entorno imediato, lugar onde

    tudo se concentrava (sedes do poder poltico, indstria, comrcio, servios)11. A

    partir do crescimento populacional das cidades, da sua expanso territorial, da

    saturao das reas centrais, do uso maior do tempo livre destinado ao lazer e ao

    consumo, e das novas dinmicas econmicas impulsionadas pelas formas de

    produo flexveis (marcadas basicamente pela terciarizao da economia e pela

    maior relevncia do capital financeiro em relao ao capital industrial), novas reas

    de centralidade se consolidam na cidade (que assumem a forma de metrpole),

    marcando assim uma tendncia recente multicentralidade (SPOSITO, 2010;

    CORRA. 1987).

    Esse movimento relativamente recente revela ao mesmo tempo o

    aprofundamento do processo de fragmentao espacial, na medida em que a

    constituio (ou redefinio/reforo) de reas de centralidade pode implicar tanto na

    incorporao de novas reas como na ressignificao de lugares da cidade,

    redefinindo usos do solo urbano nessas reas valorizadas. A centralidade constitui-

    se, assim, como expresso do processo de fragmentao espacial.

    Por outro lado, o mesmo movimento (homogeneizante e indutor de

    fragmentao) que concentra e valoriza, de um lado, dispersa e desvaloriza, de

    outro; essa tenso dialtica revela uma contradio inerente constituio de

    centralidades urbanas. Essa contradio conduz crise urbana que, segundo Carlos

    (2006), consequncia da produo da cidade enquanto espao produtivo que, ao

    mesmo tempo, desvaloriza espaos improdutivos da vida social.

    Tendo o espao urbano como ponto de partida e ponto de chegada econsiderando o processo de urbanizao da cidade do Rio de Janeiro desde o incio

    do sculo XX sob a ao do Estado em sua relao de cumplicidade com a

    reproduo do capital, buscamos analisar como os mega-eventos se inscreveram (e

    se inscrevem) no espao urbano carioca. A partir da identificao dos agentes

    responsveis pela realizao dos mega-eventos na cidade, buscamos compreender

    a lgica das localizaes intra-urbanas desses mega-eventos ou, em outras

    palavras, a forma pela qual os mesmos se materializam no espao interno da cidade

    11A rea correspondente ao centro principal (ou tradicional) e seu entorno imediato trata-se do quecompreendemos por rea central.

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    do Rio de Janeiro, considerando processos indutores de fragmentao e reforo de

    centralidade urbana em parcelas do espao, o que nos permite analisar, assim, seu

    papel nos diferentes momentos de estruturao da cidade.

    Considerando que os mega-eventos so tomados, principalmente pela

    administrao pblica municipal, como ferramenta e pretexto expanso fsica da

    cidade e s intervenes urbanas em reas valorizadas (ou em processo de

    valorizao), duas questes principais nortearam nossa anlise:

    1. Como os mega-eventos tm se inscrito na cidade do Rio de Janeiro desde

    1908, e qual o seu papel no processo de produo do espao urbano

    carioca?2. De que forma a materializao dos mega-eventos no territrio da cidade

    pode se associar a diferentes momentos da estrutura urbana do Rio de

    Janeiro?

    Tendo em mente o lugar dos mega-eventos no processo de urbanizao da

    cidade do Rio de Janeiro desde o incio do sculo XX12, buscamos aprender de que

    forma os mesmos atuaram e atuam na produo de seu espao urbano a partir dalgica de suas localizaes e das inovaes territoriais materializadas em funo

    dos mesmos, em diferentes pores da cidade. Ao mesmo tempo, buscamos

    compreender a relao entre os mega-eventos e a estruturao urbana e da cidade

    do Rio de Janeiro a partir da anlise da produo de novas formas, da

    refuncionalizao de formas pretritas, dos novos usos de parcelas do espao e, por

    fim, da produo de novas reas na cidade, identificando processos indutores de

    fragmentao e centralidade urbanas.Toda pesquisa acadmica envolve escolhas no que diz respeito ciso da

    totalidade, o que implica uma rigorosa seleo de dados, fatos, em suma, de partes

    de uma totalidade em movimento; ao mesmo tempo, envolve opes tericas

    norteadoras do percurso do conhecimento da realidade13, do concreto pensado.

    12Apesar de nos pautarmos na evoluo urbana da cidade do Rio de Janeiro ao longo da histria,essa no compreendida como um processo linear. Em funo de intencionalidades diversas deagentes no curso da imposio do homogneo, pela anlise atravs da histria ser possvelcompreender as descontinuidades e rupturas no processo de produo do espao urbano.13Tendo em mente que a realidade corresponde unidade do mundo se refazendo, a cada dia, noslugares (SILVEIRA, 2002, p. 11).

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    Nesse sentido, conforme Lencioni (2008, p. 109), a prtica de pesquisa envolve a

    superao de equvocos, a prudncia, e se confunde com o exerccio de opes:

    Pesquisar significa rigor nas escolhas e subsistir imerso comdiligncia minuciosa no exerccio de opes. Esse viver trazangstias, pois o risco de opes equivocadas uma realidade queno deixa traos indelveis e exige correo de caminhos e rotas.Descrer das certezas para ir ao encontro de novas certezas faz partedo percurso do conhecimento.

    O momento atual da produo espacial da cidade do Rio de Janeiro tem sido

    movido, em grande parte, pela futura realizao, na cidade, dos Jogos Olmpicos de

    2016. Nesse contexto, as atenes tm-se dirigido a fragmentos da cidade atrativos

    ao capital, promovendo-se a criao de novos objetos e aes inseridos na lgica

    intrnseca a esse mega-evento, valorizao do espao e ao seu consumo,

    buscando ainda atuar na imagem da cidade no intuito de inseri-la no mapa (ou

    mercado) mundial de cidades. Por no se tratar de um fenmeno novo na histria da

    cidade, verificado pela existncia de mega-eventos em momentos pretritos

    (praticamente com a mesma essncia, em contextos diferentes), esse trabalho se

    justifica em funo da lacuna observada na anlise geogrfica sobre o fenmeno de

    forma ampla e na dimenso histrica do processo, observando-se o lugar dos mega-eventos e as sequncias de modernidade14ao longo do processo de urbanizao.

    Diante do exposto, esta tese se estruturar em trs partes e 5 captulos. A

    anlise dispendida na parte 1 relaciona-se espacializao dos mega-eventos

    realizados no Rio de Janeiro na primeira metade do sculo XX, sendo o primeiro

    captulo referente Exposio Nacional de 1908 e Exposio Internacional de

    1922 na ento Paris dos Trpicos e, o segundo captulo, referente construo da

    imagem de Cidade Maravilhosa e a realizao da Copa do Mundo de 1950.

    A segunda parte desta tese diz respeito insero do Rio de Janeiro no

    mercado mundial de cidades na dcada de 1990 e o contexto dos mega-eventos

    esportivos internacionais no incio do sculo XXI. No captulo 3 buscamos

    apreender, de forma breve, o sentido de uma lacuna de mais de quatro dcadas

    14 Expresso utilizada por Soja (1993, p. 34-35) fazendo referncia ao processo onde ocorre adesconstruo e a reconstruo da modernidade no tempo e no espao, essa compreendida porSilveira (1999, p. 22) como o resultado de um processo pelo qual um territrio incorpora dadoscentrais do perodo histrico vigente que importam em transformaes nos objetos, nas aes, enfim,no modo de produo, sendo este processo denominado pela autora como modernizao.

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    sem a realizao de um mega-evento na cidade, o qual reaparece no contexto da

    redemocratizao brasileira, de uma cidade em crise e aprofundamento dos

    princpios neoliberais no pas, com a realizao da Conferncia das Naes Unidas

    para o Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio-92)15 que, a nosso ver, marca o

    ingresso do Rio de Janeiro no mercado mundial de cidades. Seguimos nossa

    anlise, no captulo 4, com a reestruturao da cidade no mbito do

    empreendedorismo urbano, pautado, entre outros, nos planos estratgicos e

    relacionados captao de mega-eventos esportivos internacionais; nesse contexto

    a cidade sedia os Jogos Pan-Americanos de 2007 e vence a disputa para sediar os

    Jogos Olmpicos de 2016.

    A terceira parte compreende o ltimo captulo desta tese, que busca sintetizar

    e analisar, a partir do exposto nos captulos anteriores, a relao entre mega-

    eventos e produo do espao urbano na cidade do Rio de Janeiro, compreendendo

    estes como indutores de sucessivas modernizaes do territrio, atravs da lgica

    das localizaes intra-urbanas, da implantao de novos objetos e aes, da

    refuncionalizao de formas pretritas e, ainda, de suas relaes com os diferentes

    momentos da estrutura urbana carioca e com as expresses de centralidade na

    cidade.

    15 Antes da realizao da Rio-92, um evento de grandes propores foi realizado na cidade: oprimeiro Rock in Rio, em 1985. Contudo, o mesmo no foi objeto de anlise nesta tese uma vez queentendemos como inexpressivas as repercusses espaciais na cidade decorrentes desse festival demsica, internacional, promovido por Roberto Medina, empresrio local na rea de publicidade. Paraa realizao do Rock in Rio, foi utilizado um terreno entre os bairros da Barra da Tijuca eJacarepagu, denominado Cidade do Rock, situado ao lado do maior espao de eventos daAmrica Latina, o Riocentro (inaugurado em 1977). nesse terreno onde atualmente est sendoconstruda a Vila Olmpica, em funo dos Jogos Olmpicos de 2016.

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    PRIMEIRA PARTE: DA PARIS DOS TRPICOS CIDADEMARAVILHOSA - MEGA-EVENTOS NO RIO DE JANEIRO ENTRE

    1908 E 1950.

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    1. A PARIS DOS TRPICOS E AS GRANDES EXPOSIES DO INCIO DOSCULO XX.

    Fundada em 01 de maro de 1565, sendo capital do pas durante 197 anos

    (1763 1960), a cidade do Rio de Janeiro, at o incio do sculo XX, foi marcada

    pela presena de moradias precrias, ruas sujas, estreitas e mal iluminadas, repleta

    de habitaes coletivas (representadas pelos cortios), e com graves problemas

    relacionados salubridade16. Conforme Machado (2002), as nicas intervenes

    urbanas para embelezamento da cidade at ento foram a construo do Passeio

    Pblico (sculo XVIII, considerado o marco inicial de aes voltadas para a

    modernizao da cidade) e as reformas e construes de jardins moda europeia,

    na segunda metade do sculo XIX. A cidade colonial se restringia ao que hoje

    parte do centro nas imediaes da Praa XV, que se configurava, na poca, como a

    antiga rea porturia, e situada basicamente entre os morros do Castelo, Santo

    Antonio, So Bento e Conceio (figura 1).

    A vinda da Famlia Real17, em 1808, e a Independncia do Brasil (1822)

    implicaram em um dinamismo para a cidade, assim como o reinado do caf

    representou outro momento de dinamismo econmico do Rio de Janeiro, que

    possua, at 1870, uma populao representada, basicamente, por escravos,

    trabalhadores livres de baixa renda, imigrantes (sobretudo comerciantes

    portugueses), uma aristocracia dirigente e fazendeiros do caf. A separao entre as

    classes sociais s foi possvel, entretanto, devido introduo do bonde de burro e

    do trem a vapor que, a partir de 1870, constituram-se de grandes impulsionadores

    do crescimento fsico da cidade (Abreu, 2010, p. 36-37).

    Os primrdios da expanso urbana do Rio de Janeiro se do, portanto, na

    segunda metade do sculo XIX, com a inaugurao, em 1858, do primeiro trecho da

    Estrada de Ferro Dom Pedro II (atual Central do Brasil) e com a implantao, em

    1868, das primeiras linhas de bondes de trao animal, fazendo com que reas

    16Nessa poca eram comuns as pestilncias como febre amarela, malria, peste bubnica, beribri evarola.17A famlia real portuguesa fixou residncia no bairro de So Cristvo, onde deu-se a construo doPalcio de So Cristvo, em 1816 (atualmente o palcio abriga o Museu Nacional e seu imponentejardim, a Quinta da Boa Vista).

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    suburbanas na zona norte (em direo Baixada Fluminense) e a zona sul fossem

    gradativamente ocupadas18.

    Figura 1 O Rio de Janeiro no sculo XIX

    Fonte: NEEDELL, 1993, p. 45.

    Ainda no final do sculo XIX presencia-se, no Rio de Janeiro, uma

    industrializao incipiente nas proximidades da rea central, sendo transferida para

    os subrbios no sculo seguinte19. Segundo Abreu (2010, p. 54), as indstrias, nesta

    poca, eram pouco mecanizadas e marcadas, principalmente, pela fabricao de

    calados, chapus, confeces, bebidas, mobilirios e txteis (estas ltimas se

    18 Ressalte-se que, diferentemente da zona norte (que teve ocupao marcada por populao debaixa renda ao longo da ferrovia), a zona sul foi ocupada por classes de renda mais alta queabandonava o centro e se deslocava em direo orla martima (dirigindo-se, assim, ao Catete,Glria, Botafogo e Copacabana).19 este o momento em que o bairro de So Cristvo sofre significativas transformaes: deixa deser o bairro que abrigava a famlia real para agora atrair indstrias (que tinham interesse pelalocalizao prxima aos eixos ferrovirios, ao porto e ao centro) e tambm a difuso da ideologiaque associava o estilo de vida moderno localizao residencial beira mar (Abreu, op. cit., p. 47),implicando no deslocamento das classes mais abastadas rumo zona sul.

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    instalaram desde o incio nos subrbios, como Bang, Piedade, Baixada Fluminense

    e tambm em Laranjeiras e proximidades do Jardim Botnico)20.

    efetivamente a partir do incio do sculo XX que houve, no Rio de Janeiro,

    uma sucesso de planos urbansticos visando primordialmente o embelezamento

    da cidade, segundo um modelo europeu inspirado no Baro Haussmann,

    responsvel pela reforma urbana de Paris na segunda metade do sculo XIX e

    tendo como marco inicial a Reforma Passos, em 1902. No intuito de tornar o Rio de

    Janeiro a Paris dos Trpicos, eliminando os traos da cidade colonial, Pereira

    Passos buscou transformar o Rio de Janeiro em uma cidade moderna e, atravs de

    um discurso sanitarista, deu inicio a uma srie de obras de grande impacto no

    espao urbano da ento capital do Brasil.

    No que consistiu a ideia de modernidade para o Rio de Janeiro naquele

    momento? Segundo Silveira (1999, p. 22), a modernidade o resultado de um

    processo pelo qual um territrio incorpora dados centrais do perodo histrico

    vigente que importam em transformaes nos objetos, nas aes, enfim, no modo

    de produo. A histria do territrio, em seus diferentes perodos, abarca

    transformaes sucessivas e, assim, a configurao territorial definida e

    constantemente refeita21. No caso da cidade do Rio de Janeiro e da produo de

    seu espao urbano no incio do sculo, difunde-se uma idia de modernidade

    associada a um padro europeu de civilizao, mais especificamente, por imitao

    de um modelo francs de urbanismo, inspirado tantos nos hbitos como na reforma

    urbana de modernizao e embelezamento de Paris, realizada pelo Baro

    Haussman, na dcada de 1860.

    A idia, ou melhor, o conceito de modernidade, varia no tempo. Essa umadas observaes que Lencioni (2008) tece em sua anlise sobre os conceitos: um

    conceito existe em movimento e, por isso, um conceito construdo numa

    determinada poca pode se alterar. Na medida em que o conceito um reflexo do

    20 A multiplicao de indstrias, assim como o declnio da atividade cafeeira, tambm so fatosimportantes que ocorreram no final do sculo XIX, assim como o adensamento populacional nacidade em funo das indstrias. Essas, com o incentivo do Estado, constroem vilas operrias ecasas populares nas reas abertas pelas ferrovias, levando Abreu (2010, p. 57) a afirmar que trem,subrbio e populao de baixa renda passavam a ser sinnimos aos quais se contrapunha aassociao bonde/zona sul/estilo de vida moderno.21A configurao territorial o territrio (toda extenso apropriada e usada), e mais o conjunto deobjetos existentes sobre ele, objetos naturais ou objetos artificiais que o definem (SANTOS, 1996, p..75).

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    real e esse real est em permanente mudana, lgico que ele tambm se

    modifique (p. 111). O conceito do incio do sculo XX difere do conceito atual de

    modernidade no contexto da sociedade globalizada: da a validade na utilizao do

    termo no plural, ou seja, as modernidades no decorrer da histria do territrio, em

    seus diferentes perodos (Silveira, 1999) ou, de acordo com Soja (1993, p. 34-35),

    nas sequncias de modernidade, um processo onde ocorre a desconstruo e a

    reconstruo da modernidade no tempo e no espao. A mesma concepo

    compartilhada por Santos:

    Na verdade no h uma s modernidade; existem modernidades emsucesso, [ou seja], modernizaes sucessivas, que de um lado nosdo, vistas de fora, geraes de cidades, padres de urbanizao e,vistas de dentro, padres urbanos [e] formas de organizaoespacial... (1994, p. 71).

    A modernidade se refere, segundo Giddens (1991, p. 11), a estilo, costume

    de vida ou organizao social que emergiram na Europa a partir do sculo XVII e

    que ulteriormente se tornaram mais ou menos mundiais em sua influncia. Isto

    associa a modernidade a um perodo de tempo e a uma localizao geogrfica

    inicial.... De forma geral, a idia de modernidade indica, segundo Harvey (1993),

    ruptura, mudana, o fragmentrio e o efmero; porm, a modernidade no se

    constitui como uma ruptura radical com o passado, uma vez que a introduo do

    novo no aniquila por completo formas e contedos pretritos inscritos no territrio.

    Trata-se, na viso do autor, de uma destruio criativa, moderada e democrtica,

    ou traumtica e autoritria (2008, p. 5).

    A modernizao seria, segundo Santos (2008), uma prtica legitimada pela

    ideologia do crescimento, apoiada na produo de uma tecnoesfera (a materialidade

    inscrita no territrio) e de uma psicoesfera (atrelada ao plano das ideias, valores,

    discursos, imagens), essa ltima atuando diretamente na criao de consensos com

    vistas aceitao das mudanas, consideradas como os sinais de modernidade.

    Tais mudanas so atreladas s novas condies materiais e s novas relaes

    sociais; nesse sentido, a modernizao possui um papel, direto ou por intermdio

    do poder pblico, no processo de urbanizao e na reformulao das estruturas

    urbanas (p. 119). No que concerne ao papel do Estado, este assume, cada vez

    mais, seu papel de mistificador, como propagador ou mesmo criador de uma

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    ideologia de modernizao, de paz social e de falsas esperanas22que ele est bem

    longe de transferir para os fatos (SANTOS, 2002b, p. 223). Enquanto ideologia, a

    modernizao serve assim para dissimular as aparncias, esconder as contradies

    e mascarar o essencial do processo histrico da produo social do espao.

    Nesta tese, compreendemos a modernidade como aquilo que diz respeito aos

    processos e situaes sociais que incorporem ou mostrem tendncia a introduzir

    algo de novo (SNCHEZ, 2002, p. 293), indicando certa ruptura com o que a

    precede, e nosso interesse maior se assenta na forma pela qual a modernizao, ou

    seja, o processo de introduo de novos contedos materiais e imateriais, se realiza

    territorialmente a partir de um sentido ligado ideologia e poltica23, e de um

    sentido ligado produo material e infra-estrutura dos lugares. Nas palavras de

    Castilho (2010, p. 128), a modernizao se refere expanso da prpria

    modernidade do ponto de vista territorial, [cuja expresso] pode ser identificada nas

    ruas, nas formas urbanas, nos sistemas de transporte, nos contrastes das cidades,

    nos diferentes lugares, na velocidade, na circulao de mercadorias, etc..

    A introduo de inovaes, na primeira metade do sculo XX, representa um

    perodo marcado por um processo de modernizao atrelado a um movimento de

    europeizao do espao urbano carioca, atravs de considerveis intervenes

    urbanas de embelezamento da cidade, aprimoramento do sistema virio, expanso

    urbana, alm da produo dos principais cones da cidade do Rio de Janeiro, com

    destaque para o Po de Acar, Cristo Redentor e Estdio do Maracan,

    considerado um perodo da construo de um cenrio para o turismo (MACHADO,

    2002) ou, em outros termos, a construo da imagem de Cidade Maravilhosa,

    mundialmente reconhecida. Nesse perodo, trs mega-eventos se destacam e se

    inserem no processo de urbanizao da cidade do Rio de Janeiro: a Exposio

    Nacional de 1908, a Exposio Internacional de 1922 e a Copa do Mundo de 1950.

    22O mesmo faz os meios de comunicao, importantes veculso propagadores de valores, crenas,ideias, enfim, ideologias.23Como denota Castilho (2010).

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    1.1. Estrutura urbana e estruturao da cidade: aportes tericos

    Conforme dito inicialmente nesta tese, entendemos por estrutura urbana o

    arranjo interno (a localizao) dos diferentes usos do solo num determinado

    momento do processo de urbanizao (SPOSITO, 1991)24. O uso do solo,

    compreendido como o modo de ocupao de determinado lugar da cidade, a partir

    da necessidade de realizao de determinada ao, seja a de produzir, consumir,

    habitar ou viver (CARLOS, 1994, p. 85), se d de diferentes formas e de acordo

    com diferentes contextos espao-temporais. Revela a maneira pela qual

    determinadas parcelas do espao interno das cidades so produzidas, e seus

    diferentes arranjos configuram a estrutura urbana num determinado momento do

    processo de produo do espao urbano.

    Sendo social e historicamente produzida, a estrutura urbana passvel de

    redefinies e, nesse sentido, falamos em estruturao (no movimento do processo

    de urbanizao) e reestruturao urbana (em funo de lgicas recentes inerentes

    ao contexto atual da produo do espao urbano), que podem se expressar na

    expanso do tecido urbano25, na refuncionalizao de formas pretritas ou na

    produo de novas formas (em funo de novos usos do solo dotados de novas

    funes), assim como pela multiplicao de novas reas de centralidade. Nesse

    contexto, coloca Santos, J. (2008, p. 74):

    ... a estrutura urbana, como expresso momentnea do processomais amplo de estruturao, redefinida no apenas pela expansoterritorial ou pelo acrscimo de novos usos de solo, mas tambm pordesestruturaes, ou seja, pela destruio de formas urbanas, pelanegao de usos de solo urbano antes existentes ou pela totalausncia deles em parcelas dos espaos urbanos que,anteriormente, tiveram funes econmicas e/ou importantes papissimblicos.

    24Nossa anlise sobre a estrutura urbana pautada no contexto na escala intra-urbana e, portanto,no adotamos o conceito de estrutura urbana relacionado ao conjunto de diferentes cidades. Esse,segundo Jnio Santos (2008, p. 65) deve ser compreendido atravs da idia de estrutura da redeurbana, no explorada nesse trabalho.25Conforme Lefebvre (2004, p. 17), o tecido urbano prolifera, entende-se, corri os resduos de vidaagrria. Estas palavras, o tecido urbano, no designam, de maneira restrita, o domnio edificado nascidades, mas o conjunto das manifestaes do predomnio da cidade sobre o campo. Nessa acepo,uma segunda residncia, uma rodovia, um supermercado em pleno campo, fazem parte do tecidourbano.

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    Diferentes momentos no processo de estruturao urbana revelam, portanto,

    diferentes formas de organizao do mosaico de usos do solo da cidade (SANTOS,

    J., 2008; SPOSITO, 1991, 1998 e 2004), a partir do desenvolvimento de certas

    atividades urbanas, especialmente, as comerciais, de servios, industriais ou

    residenciais (SANTOS, J., op cit., p. 65). Em outras palavras, as dinmicas

    inerentes ao processo de produo social do espao urbano (ou seja, ao movimento

    do processo de urbanizao) definem a estruturao urbana e a estruturao da

    cidade, dois processos diferentes evidenciados por Lefebvre (2004) e Sposito

    (2010): o primeiro relacionado rede urbana, na escala interurbana, e o segundo,

    relacionado ao espao interno da cidade (intra-urbano).

    A estrutura urbana , portanto, um momento de um processo em curso e se

    apresenta como um recorte espao-temporal, correspondendo ao mosaico-

    resultado do processo de alocao e realocao das atividades econmicas e das

    funes residencial e de lazer (REIS e GOMES, 2011, p. 3). Redefinies na lgica

    das localizaes intra-urbanas, especialmente as perifricas, segundo Sposito

    (1998, p. 31) acentuam a composio em mosaico que caracteriza a estruturao

    recente das cidades, especialmente no Brasil. Essas novas reas parecem setores

    que mais se justapem, do que se articulam. Produz-se uma paisagem urbana

    recortada, com forte desequilbrio e sem estreitas ligaes entre habitao, trabalho,

    comrcio e servios.

    O uso do conceito de estrutura urbana marcado, historicamente, por

    imprecises e polmicas. Conforme anlise realizada por Santos, J. (2008), parte

    das questes pode ser explicada pela leitura estruturalista do termo26, uma vez que

    essa corrente pautava-se em modelos rgidos de anlise na qual a ideia de estrutura

    ligava-se ideia de ordem, de estabilidade, negligenciando, assim, a noo de

    processo27 e de contradies. Essa viso foi amplamente criticada por Henri

    Lefebvre que, em suas anlises, se apoiava no materialismo histrico e dialtico e

    compreendia a estrutura, portanto, como dinmica, conflituosa, produzida social e

    historicamente, alm de um momento do vir-a-ser (do devir).

    26Tendo em mente que o Estruturalismo (consolidado nas cincias humanas por Lvi-Strauss, queestabeleceu seu alicerce fundamental como o conhecemos atualmente) adquiriu importanteexpresso cientfica entre as dcadas de 1950 e 1980 (SANTOS, J., op. cit., p. 60 e 62).27Segundo o autor, Milton Santos tambm no concebia o conceito de estrutura (assim como os deforma e funo que, juntos com o conceito de estrutura, j foram analisados anteriormente por HenriLefebvre) desvinculado da noo de processo (SANTOS, J., op. cit., p. 64).

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    A corrente neopositivista, influenciada pelo Estruturalismo e pelos princpios

    da Ecologia Humana (Escola de Chicago), tambm apresentou limites na anlise da

    estrutura urbana, conforme Santos, J. (2008, p. 68). Como exemplo, o autor discorre

    sobre as abordagens geogrficas no Brasil (nas dcadas de 1960 e 1970) inspiradas

    na Teoria das Localidades Centrais, proposta por Christaller, na qual os usos do solo

    e a relao entre centro e centralidade urbana eram vistos somente de forma

    hierrquica, ou seja, numa relao de hierarquia entre as centralidades existentes no

    espao interno das cidades, cuja limitao na anlise se expressava na ausncia de

    uma abordagem que englobasse a formao das centralidades (relacionadas s

    diferenas de classe, interesses polticos e econmicos), e no apenas em sua

    caracterstica de adensamento populacional.

    A partir da emergncia da Teoria Crtica na geografia, segundo o autor, as

    anlises sobre a estrutura urbana avanaram, uma vez que incorporou-se a ideia da

    ao direta do Estado (e sua relao com a reproduo do sistema capitalista) na

    produo do espao urbano e na estrutura urbana, tendo em vista as contradies

    inerentes ao processo (como a segregao urbana), expressas na valorizao

    fundiria (atravs da implantao de infra-estruturas) e nas diferentes formas de

    apropriao do espao. Nesse sentido, Janio Santos chama a ateno para a

    distino entre estruturao urbana e estruturao da cidade, a primeira relacionada

    aos processos e s aes, e a segunda, s formas (objetos) na cidade, ou seja, a

    materializao dos processos de urbanizao, e conclui que:

    A discusso sobre a estruturao deve buscar entender suasimplicaes na redefinio da estrutura urbana pautada,especificamente, pelos novos papis e nos contedos que os centrostradicionais, os sub-centros e as novas expresses de centralidade

    urbana desempenham no espao intra-urbano; pelos novos arranjosterritoriais produzidos em funo da criao de novos desejos enecessidades na lgica residencial; pelos nexos que envolvem aatual diviso social, tcnica e territorial do trabalho na cidade;sobremaneira, pelo modo como cada sujeito se envolve no processode produo e reproduo do espao urbano (SANTOS, J., 2008, p.81).

    De uma estrutura urbana representada basicamente por um centro nico e

    periferia esparsa, passa-se profuso de diferentes reas com expresso de

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    centralidade (SPOSITO, 2010, p. 199)28. As reas dotadas de centralidade na cidade

    so definidas no processo de produo do espao urbano atravs da ao de

    diversos agentes e, ao mesmo tempo, redefinidas, ou seja, podem ganhar ou perder

    expresses de centralidade na realizao da urbanizao. Portanto, atravs da

    noo de processo, deve-se compreender o contedo da centralidade nos

    diferentes momentos histricos e recortes espaciais, pois assim como a estrutura

    urbana, a centralidade dinmica, alterando seu contedo no bojo de diferentes

    formaes socioespaciais (ZANDONADI, 2008, p. 96).

    A implantao de infra-estrutura urbana, principalmente as de circulao29,

    num determinado lugar, pode impactar a centralidade urbana na medida em que

    direcionar fluxos diversos (mercadorias, decises, informaes, ideias, pessoas,

    investimentos, etc.); consequentemente, impactar a estrutura urbana, atravs da

    realocao das atividades e de um novo arranjo dos usos do solo, proporcionados

    pela dinamizao dos fluxos. O Estado acaba por se tornar um agente de destaque

    nesse processo na medida em que suas aes se materializam no planejamento

    espacial, embutido na lgica das estratgias poltico-econmicas.

    Da o surgimento do chamado empreendedorismo urbano (Harvey, 1996),

    no qual as cidades, de modo fenomnico, se transformam em sujeitos sociais

    (Damiani, 2009) na medida em que seus governantes promovem uma postura

    empreendedora no processo de reestruturao urbana e da cidade, materializada

    no Planejamento Estratgico, nas Operaes Urbanas e projetos diversos de

    requalificao urbana. O processo de urbanizao adquire novos contedos,

    segundo a autora, uma vez que as cidades passam a constituir espaos

    privilegiados da produo mercantil do espao, internalizando a metamorfose do

    capital produtivo em capital financeiro (p. 47).

    A centralidade , assim, um atributo ou qualificativo de uma determinada rea

    devido sua capacidade de direcionar os fluxos (de diversas naturezas), de atrair e

    concentrar investimentos, consumidores, infra-estruturas, equipamentos urbanos

    diversos, servios, comrcio (enfim, um espao qualificado, atrativo, possuindo um

    28Conforme a autora, isso redefine a ultrapassada relao centro-periferia, essa ltima relacionadas reas de expanso da cidade, incorporadas ou modificadas pelas formas mais recentes deredefinies das cidades e no, necessariamente, articuladas de forma contnua ao tecido urbanoconstitudo (SPOSITO, 1998, p. 29).29Uma vez que a produo da acessibilidade gera fatores de atrao.

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    valor30). Uma rea de centralidade pode apresentar maior ou menor grau de

    centralidade em relao a outras reas numa determinada estrutura urbana,

    contendo centralidade mltipla e diversa ou, nas palavras de Sposito (2010), uma

    multi(poli)centralidade urbana, fato observado nas metrpoles brasileiras a partir dos

    anos 197031.

    A centralidade urbana pode ser redefinida, segundo a autora, em funo de

    algumas dinmicas em curso, a saber: as novas localizaes dos equipamentos

    comerciais e de servios, as transformaes econmicas relacionadas s formas de

    produo flexveis, intensificao de processos indutores de centralidade devido

    s transformaes atuais (tendo em mente que a redefinio da centralidade urbana

    no uma dinmica nova) e, por ltimo, a difuso do tempo do uso do automvel e

    o aumento da importncia do lazer e do tempo destinado ao consumo (SPOSITO,

    2010, p. 199). Outros fatores pontuais, conforme Corra (1989), tambm podem ser

    levantados, como: a) o crescimento populacional e a expanso territorial das

    cidades, induzindo realocao de firmas comerciais junto ao mercado consumidor

    distante do centro tradicional; b) as deseconomias de aglomerao, ou seja, a

    desconcentrao espacial dos equipamentos comerciais e de servios em funo

    dos limites e saturaes presentes no centro tradicional32 e c) a atratividade

    locacional, determinada, entre outros, pela acessibilidade e infra-estrutura

    disponvel.

    O surgimento de novas expresses de centralidade na metrpole no exclui a

    importncia do centro tradicional/histrico, pois esse continua apresentando ao

    30Um valor que, segundo Tourinho (2006, p. 290), capaz de identificar, de maneira precisa, umapotencialidade especfica do tecido especializado da cidade, produto da transformao do espaourbano em mercadoria. Na verdade, trata-se de parcelas do espao urbano transformadas emmercadoria (no movimento de seu processo de produo), o que determina a fragmentao espacial.31Momento em que houve, de fato, uma generalizao de uma tendncia localizao de atividadestercirias tipicamente centrais, ao longo de vias de maior circulao de veculos, traduzindo-se naconfigurao de eixos comerciais e de servios importantes (Sposito, 1991, p. 10). A autora prefereutilizar o termo desdobramento da centralidade aos de subcentros (considerados reas de menorescala onde se reproduzem as mesmas atividades do centro principal) ou centro expandido (umavez que no h uma expanso da centralidade numa rea contnua, sem rupturas). Ao analisar afragmentao existente na cidade ps-moderna (que se expressa, entre outros, pelas novas reas decentralidade), Salgueiro (1998, p. 226) contextualiza o fenmeno tambm na dcada de 1970,quando o fato se torna mais ntido com os progressos verificados na tecnologia dos transportes,comunicaes, e no reforo dos processos de internacionalizao, todos conduzindo a umareestruturao urbana.32 Ou seja, os altos impostos e aluguis, o congestionamento do trnsito, a escassez deestacionamentos, a violncia urbana, os problemas socioambientais, a falta de espao para expansodos negcios, a perda de amenidades, dentre outros (REIS e GOMES, 2011, p. 6).

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    mesmo tempo a qualidade de integrador e dispersor, um verdadeiro n do sistema

    de circulao (Sposito, 1991, p. 6). Os centros tradicionais de nossas metrpoles,

    segundo Villaa (2009, p. 246),

    ... apesar de suas notrias decadncias, continuam sendo os focosirradiadores da organizao espacial urbana. Continuam sendo amaior concentrao de lojas, escritrios e servios e tambm deempregos de nossas reas metropolitanas, alm de atenderem amais populao do que qualquer outro centro das metrpoles, umavez que atraem maior nmero de viagens.

    Alm deste ponto de vista funcional, o centro tradicional apresenta um valor

    simblico, no somente por conter elementos urbanos como praas, monumentos,

    teatros, edifcios (de valor histrico e arquitetnico), mas tambm por reunir e

    apresentar uma diversidade cultural, e proporcionar a interao de diversos agentes

    sociais.

    A constituio de novas reas de centralidade ocorre concomitantemente

    promoo do vazio e da escassez em outros lugares da metrpole, definidos por

    Damiani (2009, p. 47) como urbanizao crtica:

    Nas imensas periferias, a dos centros histrico e expandido dascidades, ou do seu entorno, cada vez mais amplo e distanciado,metropolitano, prevalece a baixa composio orgnica do espao,que aparece como falta de infra-estrutura urbana. Designamos porurbanizao crtica. O movimento ir distanciando os espaosperifricos33 e ir constituindo novas centralidades econmicasmetropolitanas.

    Nesse processo contraditrio de valorizao e desvalorizao de parcelas do

    espao, vende-se parte da cidade, e se abandona o resto. H uma seletividade

    espacial presente nesse processo: em determinados lugares no espao internodas cidades que a ateno produo dirigida de modo a atrair investimentos e

    consumidores, reforando tambm centralidades atreladas ao lazer, cultura (no

    se limitando apenas ao comrcio e servios), inclusive reforando a centralidade do

    prprio centro tradicional, que por seu valor funcional e simblico atrai cada vez mais

    a ateno de governantes e investidores (so inmeros os exemplos no pas e no

    mundo de requalificao de reas centrais e de reas porturias).

    33 Tambm presentes, conforme a autora, nas reas de centralidade e/ou nos