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www.conhecer.org.br CURSO: TÉCNICAS DE ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO MÓDULO 1 CLAUDIA FIORILLO MESTRE EM EDUCAÇÃO PELA PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO INTRODUÇÃO Este curso possui leituras adicionais que são lhes ajudarão a compreender melhor alguns conceitos abordados neste curso. Pertencem a grandes estudiosos que se basearam em vários clássicos da educação brasileira e mundial. Dai a importância da leitura desse material simultaneamente. No fim do curso, há uma avaliação a ser feita para assim verificarmos o processo de sua aprendizagem. Bons estudos. Se lhe perguntassem se você é analfabeto, você responderia que não. Por quê? Porque eu sei ler e escrever um bilhete simples. De certa maneira, é uma resposta

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CURSO: TÉCNICAS DE ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO

MÓDULO 1

CLAUDIA FIORILLOMESTRE EM EDUCAÇÃO

PELA PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

INTRODUÇÃO

Este curso possui leituras adicionais que são lhes ajudarão a

compreender melhor alguns conceitos abordados neste curso. Pertencem a

grandes estudiosos que se basearam em vários clássicos da educação

brasileira e mundial. Dai a importância da leitura desse material

simultaneamente.

No fim do curso, há uma avaliação a ser feita para assim verificarmos o

processo de sua aprendizagem. Bons estudos.

Se lhe perguntassem se você é analfabeto, você responderia que não.

Por quê? Porque eu sei ler e escrever um bilhete simples. De certa maneira, é

uma resposta apropriada para diferenciar um indivíduo analfabeto de um

alfabetizado. Antigamente, era considerada analfabeta a pessoa incapaz de

escrever o próprio nome. Através dos tempos, alguns termos como alfabético,

letrado, iletrado, alfabetismo, alfabetização e letramento foram incorporadas à

educação e com eles muitas dúvidas de como conduzir algumas de suas

práticas. Por ex.: alfabetizar correspondia à habilidade de decodificar os sinais

gráficos (grafemas) e codificar sons da fala (fonemas).

Quanto ao conceito de fonema, este é definido como a menor unidade

de som, então se depreende que dentro de uma palavra pode-se ter vários

fonemas, cuja função é a de dar vários significados de uma palavra à outra.

ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO

Foi na década de 80 que a expressão letramento começou a circular na

Língua Portuguesa. Encontramos na obra “No mundo da escrita”: uma

perspectiva psicolinguística, de Mary Kato, uma das primeiras ocorrências do

termo.

O registro existe de fato, mas não há nenhuma definição que atenda às

necessidades conceituais e ideológicas do termo. Então, qual é a definição de

letramento, o que é letramento?

Para Soares (2001), letrar é mais que alfabetizar, é inserir a criança, o

jovem, o adulto no mundo letrado, trabalhando com os diferentes usos de

escrita na sociedade, ensinando-lhes a ler e escrever dentro de um contexto

em que a escrita e a leitura façam parte suas vidas. É necessário ir mais além

do que isso ampliar a alfabetização funcional, ou seja, alfabetizar letrando

(KLEIMAN, 1995). Mas como isso ocorre? “Ensinar a ler e a escrever no

contexto das práticas sociais da leitura e da escrita, de modo que o indivíduo

se torne, ao mesmo tempo, alfabetizado e letrado.” (SOARES, 2001, p. 47).

Exemplo:

No século 19 as pessoas se comunicavam por meio de cartas, bilhetes,

romances etc. Alguns de vocês que estão lendo este texto já datilografaram

uma carta ou um trabalho escolar em algum tempo de suas vidas.

Atualmente quase todas as pessoas fazem uso de mensagens escritas

no telefone celular. Pode-se afirmar que é uma modalidade de escrita? Sim,

com suas peculiaridades e excentricidades. Conclui-se que as pessoas não

perderam o hábito de escrever, mas renovaram a maneira de fazê-lo. As

crianças quando chegam às escolas são falantes da língua, por essa razão, é

função da escola ampliar essa competência comunicativa, e uma maneira de

se fazer isso pode ser por meio das mídias digitais, surge aí a modalidade

letramento digital.

Embora muitas unidades escolares proíbam o uso de celular, é

possível desenvolver esta prática que é a de envio e recebimento de

mensagem entre alunos e professores com a devida contextualização

pedagógica e aplicabilidade cognitiva.

Atualmente muitos educadores criticam a linguagem usada pelas

crianças e jovens na Internet e nos celulares, dizendo que essa maneira de

escrever vai acabar com a língua, que vai por em risco tudo que foi ensinado a

longa penas durante anos, que os jovens vão criar vícios e na idade adulta mal

saberão escrever qualquer palavra porque abreviarão tudo. Não há dúvidas

que as crianças e adolescentes de hoje escrevem abreviadamente, mas isso é

uma característica da instantaneidade do oral presente na escrita, contudo é

preciso que nos debrucemos sobre a abreviação da escrita: pq, vc, td. Blz, rs.

Isso deve nos remeter à origem da escrita alfabética. No início, em sua

diacronia, no processo de formação de palavras, não havia vogais, devido a um

fenômeno denominado alternância vocálica, ou seja, as vogais são postas

conforme a classe de palavras, aos radicais, portanto, muito previsíveis, daí a

inutilidade de vogais. Quando uma criança ou adolescente escreve vc em vez

de você, ele tem a primeira intuição linguística que jazia na escrita alfabética:

abrevia-se com consoantes.

Proponha um tema e peça que os alunos enviem mensagens uns aos

outros. Depois peça que os alunos proponham o tema e assim alternadamente.

Um fator importante a se considerar nesta atividade é o tamanho das

mensagens. Será que estas vão se restringir a pequenos comentários? Neste

caso sim, porque se trata de um gênero, o Short Message Service, que em

português significa Serviço de Mensagens Curtas (SMS). Contudo a partir dai a

própria vida, o desenvolvimento da maturidade do indivíduo fará com que ele

seja posto diante de situações que lhe exijam competência de escrita e leitura

de um ofício, de uma lauda, de um requerimento, de um testamento etc. Mas

para que isso seja possível, ele precisará ter visto, vivenciado. apreendido e

compreendido os modelos na escola que é onde se promove essa diversidade

textual, preparando-os assim para a demanda social.

ALFABETIZAÇÃO OU LETRAMENTO? QUAL MÉTODO ESCOLHER?

Nenhum dos dois, haja vista que alfabetização é uma prática e

Letramento não é método, não é habilidade, tampouco alfabetização. É

importante saber que são processos cognitivos e metodológicos diferentes,

inseparáveis e não excludentes. Complementam-se em suas aplicabilidades e

especificidades. Segundo Kleiman (1995), essa é uma terminologia usada para

fins metodológicos e não para fins conceituais. É importante ressaltar que

nesses processos um é condição do outro, isto é, alfabetização é condição

para o letramento existir e vice-versa; e um não precede o outro.

Durante muito tempo, acreditou-se que só conseguiríamos letrar alguém

se antes o tivéssemos alfabetizado, ou seja, era preciso aprender o código

para depois praticá-lo. Segundo Cagliari “Para alguém ser alfabetizado, não

precisa aprender a escrever, mas sim aprender a ler. No processo de

alfabetização, o professor poderia prescindir do ensino da escrita, mas não da

leitura.” (2009, p. 114). O autor acrescenta que o segredo da alfabetização é a

leitura, ou seja, a decifração da escrita. Vejamos como é pertinente a afirmação

do autor.

Exemplo:

Uma professora alfabetizadora leva seus alunos para a sala de leitura e

lá conta uma fábula para eles. Lá os dispõem de forma livre e descontraída, ou

seja, sentados no chão, em círculos, etc. Os alunos ouvem a história contada

por ela. Essa escuta os leva para um mundo imaginário, para um ambiente

diferente. Muitas vezes os alunos se sentem pertencentes à história,

personagens dela. De volta à sala de aula, a professora pede que os alunos

recontem a fábula ouvida na sala de leitura. Ela escreve na lousa a versão

contada pelos alunos, fazendo assim uma reescrita da fábula contada na sala

de leitura. O objetivo dessas pratica de letramento é que os alunos sejam

capazes de retomar a linguagem oral e relatar fatos significativos com

sequência lógica de ideias de um texto ouvido.

Uma prática que auxilia muito é a professora ler

mostrando com o dedo o que está lendo para seus alunos, porque as crianças

vão ver que aquilo o que ela está falando, mas está lendo, está sendo

representado por aquelas letras, numa sequência, na direção da esquerda para

direita, de cima pra baixo, Portanto, essas crianças estão sendo letradas e

sendo alfabetizadas simultaneamente.

ALFABETIZAÇÃO:

Prática que corresponde à codificação por meio da escrita e

decodificação por meio da leitura;

Aprendizagem de um sistema alfabético;

Apreender outra linguagem que se sedimenta sobre a linguagem

oral;

Ação predominantemente individual, que ocorre entre o indivíduo

e o objeto do conhecimento.

Para a compreensão do sistema alfabético, as atividades fundamentais são as de leitura, pois favorecem, principalmente, os avanços das crianças não alfabéticas. O ideal é promover o acesso das crianças e sua interação com variados materiais de leitura.

OBJETIVOS:

Visa o domínio do sistema alfabético e ortográfico;

Domínio da linguagem escrita.

Compreensão do sistema alfabético

O que se pretende é que o aluno redija e interprete textos, aprendendo com os eles, tornando-se, desse modo, um usuário da leitura e da escrita.

ATIVIDADES BÁSICAS RELACIONADAS AOS OBJETIVOS:

Domínio da linguagem oral e escrita:

a) Leitura;

b) Produção escrita - coletiva e/ou individual - de texto;

c) Compreensão do sistema alfabético;

d) Leitura e escrita de listas diversas;

e) Classificações de objetos e/ou lugares com algum atributo de

semelhança;

f) Cruzadinhas;

g) Textos poéticos: parlendas, poemas, quadrinhas;

h) Músicas, adivinhações;

i) Ordenação de textos;

j) Bilhetes, recados, cartas.

LEITURA:

Ler é atribuir significados a algo escrito, sem passar pela decifração ou

oralização, a algum símbolo, a algum desenho ou a cenas em sequência. A

atribuição de significados pelo leitor se dá muito mais em função de outras

leituras, de experiências vividas, do que pelo texto em si.

O sujeito que lê tem um papel ativo, pois à medida que atribui significado

ao escrito reconhece no texto experiências que vivenciou ou conhecimentos

que adquiriu.

É importante o professor aproveitar em sala de aula todas as

oportunidades possíveis para favorecer a leitura de diferentes tipos de textos:

cartas, notícias de jornais, livros de história, textos produzidos coletivamente a

fim de enriquecer a experiência do leitor em relação à forma e aos conteúdos

dos textos, ressaltando as suas diferentes funções sociais.

Ao lidar com essa diversidade, o leitor pode reconhecer qual deles é um

jornal, uma revista, um livro de literatura, uma carta, mesmo quando ainda não

é capaz de decifrar o texto.

Nesta perspectiva, as crianças que lidam com hipóteses de escrita não

alfabéticas, podem participar ativamente de atos de leitura - atividades de

pseudo- leitura fazendo predições dos conteúdos dos textos.

Tais atividades favorecem a percepção de que é preciso fazer

corresponder o falado ao escrito. Nem sempre a ideia de que se escreve tudo o

que se fala está explicitada previamente às crianças quando se alfabetizam.

O professor deve informar previamente o tema do texto, porém as

palavras que o compõem não devem ser trabalhadas antecipadamente.

O conteúdo destas atividades é o texto - pequeno ou trechos

significativos - que a criança tenha de memória. Deve-se trabalhar com

diferentes tipos de texto; no entanto, as parlendas, as cantigas, os poemas são

textos privilegiados por causa dos versos. Os livros de literatura infantil, ricos

em ilustração, também favorecem atividades de pseudo leitura.

Cabe ressaltar que todo material impresso, usado em sala de aula, deve

propiciar situações de leitura. Para as crianças não alfabéticas, a preocupação

é favorecer o “brincar de ler”, incentivando-se as discussões para a

comparação de hipóteses diferentes, quanto ao significado do material. O erro,

nestas situações é previsível como possibilidade, pois as crianças estarão

lidando com hipóteses e com predição de conteúdos.

LER É QUESTIONAR ALGO ESCRITO OU SIMBOLIZADO A PARTIR DE UMA EXPECTATIVA REAL, NECESSIDADE OU PRAZER, NUMA VERDADEIRA SITUAÇÃO DE VIDA.

QUESTIONAR É FAZER HIPÓTESES DE SENTIDO A PARTIR DE INDÍCIOS E, DEPOIS, VERIFICAR ESSAS HIPÓTESES.

As situações de leitura na vida são tão ricas quanto às situações de

leitura na escola. Antes da integração letramento e alfabetização, tínhamos

uma prática nos processos de alfabetização que privilegiavam:

Por exemplo:

LEITURA NA VIDA LEITURA NA ESCOLAJornais Textos dos livros didáticos

Revistas Cartazes

Gibis Lousa

Folhetos informativos

Bulas de remédios

Livros de história

Cartas

Telegramas

Propagandas

Com isso, percebe-se o quanto a escola estava distante da vida, da

realidade, do mundo do aluno. Era preciso, então, trazer para dentro da escola

a leitura e a escrita tal como elas aconteciam em nossas vidas, no nosso dia a

dia.

Para isso foi necessário observar-se com cuidado as etapas em que a

maioria dos professores ainda dividia o processo de alfabetização: iniciava o

seu trabalho pelas vogais, passava pelas sílabas simples, depois para as mais

complexas e, finalmente, introduzia questões mais difíceis como juntar as

letras, formar palavras e construir frases. É só a partir deste momento que

ensina a ler e escrever um texto.

Desta forma, a escola foi criando “textos” que só serviam para a escola,

pois não havia nada semelhante a eles quando se tratava de textos que se

deparava no dia a dia das crianças, fora da escola.

Utilizava textos fáceis, pensando em ajudar o aprendizado dos alunos.

Os professores não se preocupam com o significado do texto, pois, afinal de

contas, pensam que trabalhar com o significado do texto é coisa para mais

tarde, quando os alunos já tiverem um bom domínio da língua.

Daí deve-se refletir sobre qual é o elemento mais importante de um texto:

a mensagem que ele procura transmitir; não importa quantidade de palavras

usadas, se são palavras simples ou difíceis. O importante é o significado do

texto.

Trabalhar com textos de leitura ou de escrita pobres e sem significado

não seduz as crianças e não as divertem, não as despertam para o gosto

pela leitura.

COMO FAZEM AS CRIANÇAS PARA LER? OU SEJA, QUAL É A ESTRATÉGIA DE LEITURA?

Hipóteses e indíciosAntes mesmo de ter o texto sob os olhos, as crianças coletam muitos

indícios.

Indícios ligados à situação de vida:

Por que caminho o texto chegou à aula?

Ela professora;

Pelo correio;

Por um professor da escola;

Por uma criança da aula;

Por uma criança da escola;

Em que momento?

Às 8h 30 às 13h 30 durante o dia durante o recreio?

É a hora do carteiro;

Há muitos indícios que não são palavras:

Antes mesmo de se interessarem pelas palavras, as crianças

reconhecem:

A natureza do suporte (cartão, papel, folha de alumínio, etc.);

O formato do suporte;

A (s) cor (es) utilizada (s);

A tipografia;

O texto pode ser:

Uma folha mimeografada;

Um impresso;

Um texto manuscrito (por uma criança ou por um adulto);

O texto é ilustrado, ou não, por um desenho;

O texto é acompanhado, ou não, por uma ilustração;

O texto contém, ou não, um grande número de linhas;

É uma folha isolada, ou um folheto, uma embalagem, uma página

de livro;

Texto.

Após essa importantíssima coleta de indícios, chega-se, enfim, ao texto propriamente dito. E, ainda, antes de chegar às palavras, a criança dispõe de outros indícios:

A disposição do texto na página.

É um texto compacto (conto) ou o texto apresenta muitos retornos

de linha

(manual de operação, receita, folheto de fabricação)?

Presença ou ausência de algarismos (datas, horários e preços);

Tamanho relativo dos caracteres (cartaz, programa e cardápio);

Pontuação: pontos de interrogação, de exclamação, reticências (a

história não acabou, presença de aspas ou travessões, trata-se de um

diálogo;

As marcas do plural;

III - Por fim, chegam-se às palavras:

Identificação das palavras conhecidas que permitirão adivinhar as

não conhecidas;

Palavras procuradas:

É igual a..."

Começa como..."

Não é como..."

Por exemplo: cavalos - começa como: cachorro / Calouro Carlitos

Termina como belos.

Certas palavras são decifradas pelas crianças, mas ficam sem

sentido, como: população, censo, guache, etc. É momento de a

professora intervir

PRODUÇÕES DE ESCRITA NÍVEIS DE CONCEITUALIZAÇÃO

No processo da construção da escrita da criança, após o desenho com

intenção de texto, surgem os sinais que têm o significado de escrita, que vão desde

os simples traçados lineares até as letras convencionais do alfabeto. Este processo

é sociogênico: isto é: é um caminho percorrido por toda a humanidade. O processo

individual da construção da escrita chama-se Psicogênese. Este processo é

formado por níveis com características próprias, que culminam na escrita

ortográfica, a qual aplica todas as regras da ortografia.

A duração de cada nível depende da estrutura mental de cada criança, do

ambiente em que ela vive da estimulação que ela recebe para avançar na sua

construção da escrita e das suas condições mentais, psicológicas, físicas e

neurológicas.

Os níveis da construção da escrita são:

a. Pré- silábico;

b. Silábico;

c. Silábico-Alfabético;

d. Alfabético;

e. Ortográfico.

1. ESCRITAS DE NÍVEL PRÉ-SILÁBICO

1. Existe a intenção de escrever, manifestada pelo traçado linear que assume

formas diferentes, de acordo com a informação predominante recebida pela

criança (traçados ondulados ou descontínuos);

2. A interpretação (leitura) da criança em relação às suas próprias produções é

global, absolutamente individual e instável (só o autor de cada escrita pode

saber “o que ela diz”);

3. A escrita representa os nomes dos objetos e a criança imagina que ela é um

dos atributos do objeto: coisas grandes têm escritas grandes; coisas pequenas

devem ter escritas menores;

4. Para que algo “se possa ler”, faz falta um número mínimo de grafias, variável

de uma criança à outra, mas que costuma girar em torno de três (hipótese da

quantidade mínima de caracteres);

5. Grafias variadas, isto é com diferentes caracteres, é outra condição exigida

para que algo seja legível. Letras iguais, embora em número suficiente, levam a

criança a acreditar que “não dá para ler” (hipótese de variedade dos caracteres).

Observe:

Figura 1

Disponível em < https://www.google.com.br/search?q=n%C3%ADvel+pr%C3%A9-sil

%C3%A1bico&es_sm=93&biw=800&bih=495&source=lnms&tbm=isch&sa=X&sqi=2&ved=0CAY

Q_AUoAWoVChMI9JPxxrP8xgIVC4yQCh2RfQYk#imgrc=x_2Fqi3336qxCM%3A>

Acesso em 27/07/15

2. ESCRITAS DE NÍVEL SILÁBICO

1) Caracteriza-se pela tentativa de fonetização da escrita, quando a

criança faz corresponder cada sílaba oral a uma letra ou grafia escrita

(hipótese silábica);

2) A hipótese silábica pode aparecer com grafias distantes das

formas das letras, assim como com letras que podem ou não ter valor sonoro

estável;

3) A mudança qualitativa em relação ao nível anterior justifica-se

pela:

Superação da correspondência global entre escrita e expressão oral que passa

a ser recortada (sílabas orais) para expressar-se em partes do texto (cada letra);

a. Pela primeira vez a criança trabalha com a hipótese de que a escrita

representa os sons da fala.

4) A coexistência das hipóteses de quantidade mínima com a

hipótese silábica é fonte de conflitos, por ocasião de escrita de monossílabos

e dissílabos;

5) As soluções para este “conflito cognitivo” em relação às letras que

sobram levam a criança a atribuir significados complementares à

interpretação da palavra ou à omissão na leitura (almofada);

6) As formas fixas aprendidas do meio geram novos conflitos,

quando a criança propõe a leitura destas em forma de hipótese silábica

Observe:

Figura 2

Disponível emhttps://www.google.com.br/search?hl=pt-BR&site=imghp&tbm=isch&source=hp&biw=800&bih=495&q=silabico&oq=silabico&gs_l=img.12..0i19j0i30i19l4.4135.11535.0.15555.10.10.0.0.0.0.1295.2422.0j1j4j7-1.6.0....0...1ac.1.64.img..5.5.1112.r6tq7UDhSU4#imgrc=ZgiWxPtLnbWXMM%3A

Acesso em: 27/7/2015

Há duas formas de se relacionar os sons e as grafias nesta fase: a

silábica e a alfabética. As crianças costumam escrever partes da palavra

usando somente as vogais partindo de uma hipótese silábica, ou seja, para se

escrever basta apenas uma letra e também porque aquelas combinam com

várias palavras, contudo para as crianças não é permitido repetir as letras, daí o

resultado da formação de algumas palavras serem praticamente ilegíveis.

Observe:

Figura 3Disponível em: https://www.google.com.br/search?q=N%C3%8DVEL+SIL%C3%81BICO&es_sm=93&biw=800&bih=452&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ved=0CAYQ_AUoAWoVChMIj_Tk57X8xgIVxhqQCh3i7AIo#imgrc=Tfe9NrDrrVLseM%3A

Há neste tipo de escrita uma redução de letras, no olhar de alguém letrado e

alfabetizado, contudo para a criança, em seu desenvolvimento, em sua

estrutura cognitiva há mais letras do ponto de vista silábico.

3. ESCRITAS DE NÍVEL ALFABÉTICO

1) A criança descobre a necessidade de ir “mais além da sílaba”,

pelos conflitos da fase anterior;

2) Cada um dos caracteres da escrita corresponde a valores

menores que a sílaba;

3) Bilhetes, recados, cartas.

4) As escritas desta fase aparecem com a característica de

“omissões” de letras pela coexistência das hipóteses alfabética e silábica;

5) Constitui o final da evolução, pois a criança já compreendeu o

modo de construção do “código”.

A partir deste momento, a criança se defrontará com as dificuldades

próprias de ortografia, mas não terá problemas de escrita, no sentido estrito

(conceitual).

Exemplo:

MODELO DE DITADO PARA SE DIAGNOSTICAR A FASE DA ALFABETIZAÇÃO EM QUE SE ENCONTRA A CRIANÇA PARA SE

ACOMPANHAR MELHOR A SUA CONSTRUÇÃO DA LEITURA E DA ESCRITA

1) Ditar uma palavra trissílaba; uma dissílaba, uma monossílaba e

uma polissílaba:

2) Pedir à criança que leia cada palavra escrita imediatamente após

a sua escrita. O professor deverá anotar como a criança leu a sua escrita,

segmento por segmento. Pois este será o indicador da fase da alfabetização

em que a criança se encontra.

3) Ler uma ou duas orações simples, e anotar o modo da leitura que

a criança fez.

4) Exemplo: caneta/ gato/ belo/borboleta/giz/ pipoca

Para Piaget e Vygotsky, os processos de ensino-aprendizagem ocorrem

entre o sujeito, entre o objeto do conhecimento e entre a cultura em que vive,

interativamente, cognitivamente e individualmente, ou seja, ninguém aprende

pelo outro.

A psicogênese contribuiu muito para esclarecer como os indivíduos

constroem o conceito de língua escrita através de etapas que ocorrem em

línguas que possuem ortografias menos complexas. Contudo, a tarefa mais

trabalhosa para os professores é integrar a psicogênese da língua escrita à

psicologia sócio-cultural de Vygotsky, sobretudo no que se refere ao trabalho

na Zona de Desenvolvimento Proximal.

Não se deve deixar que as crianças enfrentem esse processo sem ajuda

do professor, respeitando o ritmo de aprendizagem de cada uma e de

apreensão de conhecimentos. “Aprender é um ato individual: cada um aprende

segundo seu próprio metabolismo intelectual.” (CAGLIARI, 2009, p. 38).

Exemplo:

Do ponto de vista cognitivo é importante que os professores saibam que

as crianças em fase pré-silábicas escrevem uma palavra, por ex., sapato,

grafam o som e não o objeto do qual se está falando. Por que algumas

crianças em vez de escreverem a palavra sapato desenham o objeto?

Indagam-se muitos professores. Isso ocorre porque elas não estão ouvindo a

palavra do ponto de vista sonoro, mas do ponto de vista semântico, do que lhes

impõem significado.

Daí a importância de o professor saber quais as dificuldades cada

criança tem, em que estágio se encontra. A partir daí, privilegiar atividades que

contemplem a percepção de que a palavra é som e que esse som que é a

palavra é segmentável. Tais práticas devem contribuir para que as crianças

saiam da fase cônica, isto é, do realismo nominal.

Exemplo: Atividades que atentem para o som das palavras, que despertem a

consciência fonológica, isto é, foco no som, que podem ser desenvolvidas por

meio de palavras com letras que começam a mesma letra, rimas e também:

Parlendas:

A galinha do vizinho

Bota ovo amarelinho

Bota um, bota dois,

Bota três, bota quatro,

Bota cinco, bota seis,

Bota sete, bota oito

Bota nove, bota dez.

Trava línguas:

Tinha tanta tia tantã.

Tinha tanta anta antiga.

Tinha tanta anta que era tia.

Tinha tanta tia que era anta.

Divisão de sílabasPara entender a língua escrita, a criança tem de entender que a palavra

ou cadeia, é segmentável, pois quando se escreve segmenta-se os sons. Uma

forma fácil para a compreensão de segmentação nesta fase é a separação de

sílaba porque a sílaba possui uma realidade linguística. Ocorre, portanto, a

consciência fonológica, haja vista a percepção de que a palavra pode ser

dividida em sílaba. Portanto, tem-se aqui a passagem pré-sílábica para silábica

por meio de comparação e confronto.

PRÉ-SÍLÁBICA SILÁBICA

Consciência fonológica Consciência silábica

ZONA DE DESENVOLVIMENTO PROXIMAL

Afirmar que o Letramento surgiu para substituir o lugar ocupado por

Alfabetização seria dizer que com isso os problemas de analfabetismo no Brasil

estariam resolvidos, e, também, novos que os conjuntos de saberes sobre o

códigos da escrita e códigos alfabéticos seriam implementados e então os

exaustivos trabalhos de aquisição das primeiras letras e operações cognitivas

estariam com os dias contados. Na verdade, isso não ocorreu, tanto que a

definição de Letramento ainda é algo amplo, complexo e plural, pois abrange

aspectos sócio-históricos e culturais da aquisição da escrita.

Por que a palavra letramento apareceu em nossa língua? Soares (2001)

esclarece que o termo letramento é a versão para o Português da palavra de

língua inglesa literacy, que significa o estado ou condição que assume aquele

que aprende a ler e a escrever. Esse mesmo termo é definido no Dicionário

Houaiss (2001) “como um conjunto de práticas que denotam a capacidade de

uso de diferentes tipos de material escrito”.

A aparição de novas palavras num idioma não é privilégio da Língua

Portuguesa. Isso acontece em todas as línguas porque a linguagem é um

organismo vivo, ou seja, ela está diretamente em contato com um mundo em

constantes mudanças e transformações. Há pouco tempo não precisávamos

das palavras Flex, tablet, spam, empreendedorismo, antivírus, selfie,

computação em nuvem, smartphone, e-book, mochileiro, test-drive etc. Essas

palavras foram se relacionando a fenômenos que o mundo nos foi impondo.

O mesmo aconteceu com o termo Letramento. Vários pesquisadores

foram aperfeiçoando os estudos acerca da alfabetização, ou seja, afastando

dessa prática a redução de uma tecnologia de leitura e escrita. “O ‘entulho’ que

se acumulou como tempo enchendo a alfabetização de ridículos exercícios de

prontidão e coisas semelhantes foram sendo eliminado da prática escolar”

(CAGLIARI, 2009. p. 33). Para o autor:

A alfabetização tem outros objetivos, além de ensinar a decifrar a escrita, sobretudo na escola. Saber escrever corretamente é um deles. A escrita não deve ser vista apenas como uma tarefa escolar ou um ato individual, mas precisará estar engajada nos usos sociais que envolvem principalmente como forma especial de expressão de uma cultura. (CAGLIARI, 2009, p. 115)

Conforme isso acontecia, a quantidade de indivíduos analfabetos foi

diminuindo. Soares (2001) explica que à medida que o analfabetismo vai sendo

superado, mais pessoas leem e escrevem. Concomitantemente, a sociedade

vai se tornando mais grafocêntrica, um novo fenômeno ocorre: “não basta

apenas a ler e escrever.” (2001, p.45). Mas esse não foi o fator preponderante

e determinante para o surgimento da expressão letramento.

São gritantes as transformações pelas quais a sociedade sofreu ao

longo dos últimos 20 anos. O advento da Internet e as novas Tecnologias da

Informação (TI) revolucionaram a vida e modo de ser e estar num mundo onde

tudo muda o tempo todo. “Ouvimos com muita frequência que o mundo mudou.

Isso é óbvio, a novidade não é a mudança do mundo, mas a velocidade da

mudança.” (CORTELLA, 2014, p. 18). Temos a cada dia mais velocidade de

informação, de relações, de comunicação, de aprendizagens, de práticas. De

certa forma, esses fenômenos nos obrigaram a repensar nossas práticas e

processos de trabalho.

A escola faz parte do mundo e é claro que ela não deixaria de ser

atingida por essas mudanças. Kleiman (1995) afirma que era na escola o lugar

onde se esperava que os alunos usassem lápis e caderno para escrever de

forma legível, hoje se espera que eles escrevam coisas com sentido no

caderno e no computador, e também que dominem a Internet.

As crianças de classe média têm em suas casas essa oportunidade, e

também, de ler livros de histórias, revistas, gibis, jornais etc., são crianças que

vivem a inserção, a valorização e a compreensão no mundo da escrita. Mas

isso não ocorre com todas as crianças do Brasil principalmente com as que

estão na escola pública.

Para pensar em letramento, é preciso, sobretudo, pensar na

multiplicidade de culturas brasileiras e na multimodalidade, ou seja, nos

diversos modos que um texto assume na vida social. Na escola, os textos são

trabalhados com uma única linguagem, que é a escrita, mas o texto pode

assumir outras modalidades conforme a sua aplicabilidade social. (ROJO,

2009).

O LETRAMENTO, UM CAMINHO PARA A INCLUSÃO SOCIAL

A escola tem valorizado as práticas de leitura e escrita mais prestigiadas

socialmente em detrimento às práticas de letramento, ou seja, as que

privilegiam a importância que a leitura e a escrita podem assumir na vida da

criança, do jovem e do adulto. Frequentemente, a escola escolhe práticas

dominantes, “O comando da leitura e da escrita se dá a partir de palavras e de

temas significativos à experiência comum dos alfabetizandos e não de palavras

e de temas ligados à experiência do educador.” (FREIRE, 1986, p.26). As

questões relacionadas à alfabetização no Brasil são de caráter político, que

muitas vezes desencadeiam injustiças e desigualdades sociais as quais são

amplamente fortalecidas quando as práticas de leitura e escrita tecnicistas e

metodologias arcaicas afastam ou expulsam ainda mais os alunos da escola e

do mundo letrado, sobretudo os indivíduos de classes desfavorecidas,

oprimidas e carentes.

Os letramentos e suas práticas puseram em xeque o tipo de

conhecimento que a escola vinha construindo sobre a própria cultura e do que

era mais importante ser apreendido ou descartado dentro de uma determinada

sociedade. Isso obrigou a escola a pensar nos alunos de periferias, população

esquecida quando havia somente ênfase nas práticas que beneficiavam as

elites.

O ensino da língua padrão, da norma culta cujas regras e exceções, que

muitas vezes não têm nenhum significado com as vivências e com a história de

vida dos alunos, devem ser decoradas e aplicadas ao texto, é uma prática

muito frequente na escola e quase obrigatória. Cagliari (2009) afirma que

ensinar a norma culta deve ser uma atividade secundária em relação à

aprendizagem da leitura e da escrita. Um exemplo clássico é a produção de um

texto cujo tema é Minhas férias na praia e a constatação do aluno: “Professora,

eu nunca fui à praia...”

Cortella adverte que práticas como essas tornam a sala de aula um

ambiente arcaico, independentemente do tempo em foram feitas e usadas.

Para tanto, o autor adverte que é preciso saber a diferença entre tradicional e

arcaico:

Tradição é aquilo que vem do passado e precisa ser protegido, guardado, levado adiante. Mas há coisas que vêm do passado e que têm que ficar lá no passado, porque elas são ultrapassadas, elas já não têm mais lugar, elas já não fazem mais sentido. A isso nós chamamos de arcaico. Há uma diferença entre o tradicional e o arcaico. O tradicional é o que veio do passado e nós temos que proteger, o arcaico é o que veio do passado e nós temos de descartar, deixar lá. (2001, p.152)

ALFABETIZAR LETRANDO

A escola, um espaço privilegiado de interação social, torna-se

excludente e distante de ser um ambiente propício ao “alfabetizar letrando”.

Mas como isso é feito? É possível alfabetizar e ao mesmo tempo letrar? São

perguntas que exigem muitas respostas, mas a primeira delas é que alfabetizar

letrando, (SOARES, 2001), só é possível se houver condições letradas na

escola, na sala de aula, ou seja, um espaço onde existam, circulem e sejam

trabalhados textos de todos os tipos que possam ser não só lidos e escritos,

mas também discutidos. É necessário enriquecer e diversificar o ambiente

escolar não só com livros, mas vídeos, filmes, desenhos, música, dança, ou

seja, com todas as formas e vivências culturais mais amplas, haja vista a

transmissão da cultura não estar mais restrita à leitura e à escrita.

Distinguir alfabetização de letramento se faz necessário para podermos

trabalhar os dois processos paralelamente. É possível afirmar que

alfabetização corresponde ao domínio do código escrito, ao sistema de escrita

alfabética; enquanto que as atividades de letramento referem-se às práticas

sociais de leitura e de escrita que ocorrem na sociedade.

Em se tratando de alfabetização e letramento para crianças, estas

aprendem a ler e a escrever convivendo com a leitura e a escrita reais,

cotidianas. É inegável, do ponto de vista cognitivo e lingüístico, que para

aprender a ler e a escrever é preciso fazer a relação dos sons com as letras,

com os grafemas, porque a nossa escrita alfabética é um registro dos sons de

acordo com um sistema de representação complexo. Cabe, então, à criança

aprender a relacionar os sons da língua com “desenhos” que são as letras. Mas

as crianças devem aprender isso primeiro ou ter acesso imediato aos livros,

revistas, gibis, jornais? Na verdade, os dois ao mesmo tempo para que as elas

sintam que estão aprendendo algo que tem uso, aplicabilidade. Por outro lado,

cabe ao professor trabalhar com as duas práticas, por ex. a escrita é usada

para muitas finalidades e varia conforme o interlocutor; ele pode ler uma fábula

ou um texto informativo, a criança, neste momento, está aprendendo e

entendendo para que serve a escrita, quais são os usos que são feitos da

escrita, no contexto em que ela vive, contudo ela deseja fazer isso sozinha,

escrever e ler, por isso é importante a intervenção do professor neste processo

que deve ser sistemático e constante.

Quanto à alfabetização e letramento de adultos, é tarefa do professor

criar diversidade de situações que trabalhem de modo qualitativo com a leitura

e a escrita, com diferentes materiais, com situações reais para promover

interações que tragam os saberes que os alunos já têm e que forem

apropriados fora da escola.

A alfabetização e letramento de jovens e adultos é um processo

diferente desenvolvido com crianças, principalmente ao que se refere a

questões cognitivas. A apreensão de conhecimento se dá de forma mais lenta

e sistemática. O professor necessita de práticas e metodologias específicas

para trabalhar com essa população que traz consigo uma história de vida

muitas vezes de fracasso e falta de oportunidade.

Ler e escrever para muitos são o sonho de muitos jovens e adultos, mais

do que isso, é uma chance para ocupar um lugar na sociedade.

Como inseri-los em práticas sociais de leitura e de escrita? Trazendo

essas situações para sala de aula onde os alunos vão ter contato agradável,

prazeroso e curioso no sentido de buscar informações em livros, na busca do

significado de uma palavra no dicionário, a origem de uma planta etc., Quando

o professor consegue trazer para a sala de aula os mais variados objetos que

circulam na sociedade da qual fazemos parte, todos os suportes, os materiais

impressos, as ações que praticamos fora e mais ainda, é a reflexão do que se

faz, é saber justificar o que se faz, por que se faz, ou seja, dominar o sistema,

quantas letras é preciso para escrever uma palavra, quantas letra têm cada

palavra. Trazer as pratica sócias para o interior da escola é, sobretudo, olhar

para primeiro fora da escola para ver como ocorre esse processo.

Exemplo:

Leitura de palavras para depois a leitura de texto oral para desenvolver

fluência para assim abandonar a leitura de ler palavras por palavras. Leitura

silenciosa é uma prática muito rica e importante para desenvolver a

concentração, a sistematização das palavras e a ordem que elas ocupam no

texto, bem como os aspectos semânticos que elas impõem no texto.

ALFABETIZADO, LETRADO, ANALFABETO E ILETRADO

Não são palavras desconhecidas, algumas delas já foram usadas de

maneira pejorativa. Quando alguém tinha intenção de ofender uma pessoa ou

tachá-la de ignorante, era comum ouvirmos “esse é um analfabeto de pai e

mãe” Muitas vezes, do ponto de vista social, a afirmação era verdadeira. A falta

de oportunidade e acesso e à escolarização não era e ainda não são casos

isolados. Apesar de a taxa de analfabetos ter caído de 2011 para 2013, ainda

há no Brasil, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad),

cerca de 13 milhões de pessoas acima de 15 anos analfabetas. Entretanto,

essas pesquisas investigam o nível de analfabetismo da população brasileira,

ou seja, a quantidade de pessoas que não sabe ler ou escrever e não o nível

de letramento o qual revela a capacidade de usar adequadamente a leitura e a

escrita, saber ler e escrever um requerimento um bilhete, uma procuração, um

ofício etc.

Os conceitos ‘estado’ e ‘condição’ são fundamentais para entendermos a

diferença que há entre analfabeto, alfabetizado e letrado. (SOARES, 2009). Por

ex. Uma criança, um jovem, um adulto quando aprende ler e a escrever. Até

então, essa pessoa está analfabeta, até aquele determinado momento, antes

de alguém começar o processo de alfabetização, ela é analfabeta. Quando o

processo se inicia, ela começa a se alfabetizar, a letrar-se, portanto, vai aos

poucos se tornando letrada.

“E isso tudo vem explicitado ou sugerido ou escondido no que chamo de

‘leitura do mundo’ que precede sempre a ‘leitura da palavra’” (FREIRE, 1997 p.

90). Uma pessoa letrada passa a viver e conviver num mundo onde as

respostas oferecidas pelo senso crítico são as que mais lhes convencem e as

esclarecem para o entendimento de fatos que explicam os fenômenos da

realidade. A mudança de classe social não é garantia, contudo há grandes

probabilidades de melhorias de uma ocupação social de maior destaque e

poder aquisitivo. O anseio à cultura e práticas afins é praticamente inevitável no

mundo letrado. Portanto, um iletrado e condição são palavras que, de fato,

esclarecem e diminuem a distância entre analfabeto e iletrado.

É possível que daqui alguns anos novos conceitos sejam incorporados à

educação pelos mesmos motivos que o conceito de letramento surgiu para

andar ao lado do de alfabetização. Contudo, é preciso que saibamos que não

adianta buscarmos novas práticas e técnicas se não conquistarmos o que

ainda não temos, que é uma educação de boa qualidade para todos. Não

estamos falando de escola pública ou privada, de rico ou de pobres, mas de

escola boa ou ruim. Muitos educadores repetem o mesmo discurso “vamos

alfabetizar nossos alunos num resgate à cidadania”. A frase é válida, mas uma

reflexão quanto à palavra resgate se faz necessária. Só resgatamos algo que

um dia tivemos que foi nosso e perdemos.

Sabemos que muitos indivíduos não tiveram sequer uma chance de se

serem cidadãos nem exercer a cidadania, num país tão caracterizado por

desigualdades e injustiças sociais como o Brasil. “A alfabetização é o momento

mais importante da formação escolar de uma pessoa.” (CAGLIARI, 2002, p.10).

Dominar a leitura e a escrita é um privilégio de poucos, sobretudo das elites. A

História demonstrou correspondência com relações de poder. A escrita era e é

forte instrumento de reivindicação e de transformação social, portanto a

alfabetização e o letramento é um problema que ultrapassa as esferas da

Educação e ação do Professor Alfabetizador/Letrador. Por essas razões é que

a busca do conhecimento em novas técnicas, teorias, estudos não pode se

esgotar jamais, pois como já dizia Paulo Freire, o professor antes de tudo deve

exercer sempre a curiosidade epistemológica dentro e fora da sala de aula.

Finalizando:

O desafio da alfabetização e do letramento não é simples numa

sociedade tão desigual como a nossa em que os recursos são tão mal

distribuídos, mas que também podem ser estimulantes se criarmos na escola

um ambiente diversificado, desafiador, criativo desvinculado a práticas de

conteúdos mecânicos é possível alcançarmos uma rotina escolar mais

gratificante, tanto para o aluno como para o professor.

Os fatores mais importantes para o aumento da capacidade de leitura e

escrita é a escola. É um fator que muitas vezes torna menos desigual as

diferenças sociais, daí a extrema importância que o papel da escola tem a

desempenhar, Realçam-se muito os problemas pertinentes á educação, suas

crises e suas peculiaridades, contudo e na escola e não em outro lugar que a

há a esperança não de solucionar, mas de, no mínimo, reivindicar.

GLOSSÁRIO:

Fonema é a menor unidade sonora do sistema fonológico de uma língua.

Fonologia é a disciplina que estuda cada um dos sons da voz.

Grafema é a unidade fundamental de todo e qualquer sistema de escrita

sendo indivisível (base), e abstrato não material. Por ser a base dos sistemas

de escrita, os grafemas permitem diferenciar palavras com sonorização e, ou,

escrita muito próximas (homônimas perfeitas).

Grafocêntrica diz respeito as imagens visuais. Quando vemos uma placa

de trânsito, é possível entendermos sem que haja necessariamente uma

escrita indicativa, Portanto, do ponto de vista grafocêntrico, lemos as imagens,

Psicogênese: é a parte da Psicologia que se dedica em estudar a origem

e o desenvolvimento dos processos mentais, das funções psíquicas, das

causas psíquicas que podem causar uma alteração no comportamento dos

indivíduos.

REFERÊNCIAS

CAGLIARI, Luiz Carlos. Alfabetização & Linguística. São Paulo: Scipione, 2002.

____.Alfabetização sem o BÁ-BÉ-BI-BÓ-BU. São Paulo: Scipione, 2009.

CORTELLA, Mário Sérgio. A Escola e o Conhecimento, fundamentos

epistemológicos e políticos. 5.ed. São Paulo: Cortez, 2001.

_____.Educação, Escola e Docência. Novos tempos novos tempos, novas

atitudes. São Paulo: Cortez. 2014.

FERREIRO, Emilia. Com todas as letras. São Paulo: Parábola, 2008.

FIORIN, José Luiz, Introdução à Linguística. São Paulo. Contexto, 2003.

FREIRE, Paulo. Alfabetização de adultos e bibliotecas populares - uma

introdução. 3. ed. São Paulo: Autores Associados: Cortez, 1986.

____.Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São

Paulo: Paz e Terra, 1997.

HOUAISS, Antonio. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. São Paulo:

Objetiva, 2014.

KATO, Mary Aizawa. No mundo da escrita: uma perspectiva psicolinguística.

São Paulo: Ática, 1986.

KLEIMAN, Angela B. Os significados do letramento. Uma nova perspectiva

sobre a prática social da escrita. Campinas: Mercado de Letras, 1995.

SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. 2.ed. Belo

Horizonte: Autêntica, 2001.

TFOUNI, Leda Verdiani. Letramento e Alfabetização. 5.ed. São Paulo: Cortez,

2002