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FEWS NET MOZAMBIQUE fews.[email protected] www.fews.net FEWS NET é uma actividade financiada pela USAID. O conteúdo deste relatório não reflecte necessariamente o ponto de vista da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional ou do Governo dos Estados Unidos da América MOÇAMBIQUE Perspectiva da Segurança Alimentar Junho 2016 a Janeiro 2017 Seca relacionada com El Niño leva a necessidades atipicamente altas em 2016/17 DESTAQUES Nas zonas afectadas pela seca resultante do El Niño no sul e partes da região centro, as famílias pobres actualmente enfrentam uma situação de Crise (IPC Fase 3) de insegurança alimentar aguda uma vez que enfrentam grandes dificuldades para satisfação das necessidades alimentares básicas. No entanto, grande parte da população do norte e a restante do centro consegue satisfazer as suas necessidades alimentares básicas graças à colheita em curso. A maioria das famílias continua no IPC Fase 1, ou seja sem insegurança alimentar aguda. Os preços actuais do milho situam-se na ordem de 125 por cento acima da média de cinco anos. Baixaram sazonalmente na sequência do início da colheita, mas poderão subir a partir de Junho de 2016 até Janeiro de 2017. A demanda de produtos substitutos, tais como a farinha de milho e o arroz, também sofrerá aumentos de preços. Estes preços reduzirão ainda mais o poder de compra das famílias que já enfrentam oportunidades limitadas de geração de renda. Devido à colheita significativamente abaixo da média, o período de escassez começará em Agosto, cerca de dois meses antes do seu começo habitual. As reservas de alimentos continuarão a baixar uma vez que a produção da segunda época será baixa. Em Outubro, as oportunidades de trabalho agrícola vão aumentar com o início da estação chuvosa, que poderá ser média ou acima da média devido à previsão da ocorrência do fenómeno La Niña. No entanto, estas precipitações poderão causar cheias moderadas a severas em Janeiro de 2017. Nas zonas mais afectadas, de Outubro a Janeiro de 2017, as famílias pobres vão expandir as suas formas de vida e estratégias de sobrevivência para poderem satisfazer as suas necessidades alimentares. Estas famílias poderão intensificar as oportunidades de auto-emprego, consumir alimentos silvestres, e necessitarão de assistência alimentar de emergência para fazerem face aos défices de consumo. As famílias pobres e muito pobres continuarão a enfrentar uma situação de insegurança alimentar aguda de Crise (IPC Fase 3) em Janeiro de 2017, com as necessidades susceptíveis de aumentar até à colheita em Março de 2017. CALENDÁRIO SASONAL NUM ANO NORMAL Fonte: FEWS NET Figura 1. Estimativa dos resultados de segurança alimentar, Junho de 2016 Fonte: FEWS NET Este mapa representa uma situação de insegurança alimentar aguda relevante para tomada de decisão. Não reflecte necessariamente uma insegurança alimentar crónica. Clique aqui para mais informações sobre esta escala.

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www.fews.net

FEWS NET é uma actividade financiada pela USAID. O conteúdo deste relatório não

reflecte necessariamente o ponto de vista da Agência dos Estados Unidos para o

Desenvolvimento Internacional ou do Governo dos Estados Unidos da América

MOÇAMBIQUE Perspectiva da Segurança Alimentar Junho 2016 a Janeiro 2017

Seca relacionada com El Niño leva a necessidades atipicamente altas em 2016/17

DESTAQUES

Nas zonas afectadas pela seca resultante do El Niño no sul e partes da região centro, as famílias pobres actualmente enfrentam uma situação de Crise (IPC Fase 3) de insegurança alimentar aguda uma vez que enfrentam grandes dificuldades para satisfação das necessidades alimentares básicas. No entanto, grande parte da população do norte e a restante do centro consegue satisfazer as suas necessidades alimentares básicas graças à colheita em curso. A maioria das famílias continua no IPC Fase 1, ou seja sem insegurança alimentar aguda.

Os preços actuais do milho situam-se na ordem de 125 por cento acima da média de cinco anos. Baixaram sazonalmente na sequência do início da colheita, mas poderão subir a partir de Junho de 2016 até Janeiro de 2017. A demanda de produtos substitutos, tais como a farinha de milho e o arroz, também sofrerá aumentos de preços. Estes preços reduzirão ainda mais o poder de compra das famílias que já enfrentam oportunidades limitadas de geração de renda.

Devido à colheita significativamente abaixo da média, o período de escassez começará em Agosto, cerca de dois meses antes do seu começo habitual. As reservas de alimentos continuarão a baixar uma vez que a produção da segunda época será baixa. Em Outubro, as oportunidades de trabalho agrícola vão aumentar com o início da estação chuvosa, que poderá ser média ou acima da média devido à previsão da ocorrência do fenómeno La Niña. No entanto, estas precipitações poderão causar cheias moderadas a severas em Janeiro de 2017.

Nas zonas mais afectadas, de Outubro a Janeiro de 2017, as famílias pobres vão expandir as suas formas de vida e estratégias de sobrevivência para poderem satisfazer as suas necessidades alimentares. Estas famílias poderão intensificar as oportunidades de auto-emprego, consumir alimentos silvestres, e necessitarão de assistência alimentar de emergência para fazerem face aos défices de consumo. As famílias pobres e muito pobres continuarão a enfrentar uma situação de insegurança alimentar aguda de Crise (IPC Fase 3) em Janeiro de 2017, com as necessidades susceptíveis de aumentar até à colheita em Março de 2017.

CALENDÁRIO SASONAL NUM ANO NORMAL

Fonte: FEWS NET

Figura 1. Estimativa dos resultados

de segurança alimentar, Junho de

2016

Fonte: FEWS NET

Este mapa representa uma situação de insegurança alimentar aguda relevante para tomada de decisão. Não reflecte necessariamente uma insegurança alimentar crónica. Clique aqui para mais informações sobre esta escala.

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PERSPECTIVA NACIONAL Situação actual

A seca de 2015/16 em Moçambique resultante do fenómeno El Niño continuará a afectar as formas de vida das pessoas até à próxima colheita em Março de 2017. A seca na região sul causou uma perda significativa da colheita particularmente nas províncias de Maputo, Gaza, e no interior da província de Inhambane. Na região centro, a baixa produção agrícola e perdas de culturas também ocorreram nas províncias de Sofala, Manica, Tete, e partes do sul da província da Zambézia. As condições secas levaram a uma escassez de água, pasto, e baixa disponibilidade de alimentos. No norte do país, a precipitação acima do normal resultou em inundações localizadas, de Janeiro a Março, mas no geral a situação foi bem controlada pelas autoridades locais de gestão de desastres e, actualmente, não existem grandes preocupações na região. Além disso, a produção agrícola no norte foi favorável e estimativas indicam uma produção próxima da média ou acima da média.

Produção

De acordo com o relatório do Ministério da Agricultura e Segurança Alimentar (MASA), publicado em Maio, as estimativas preliminares da produção total de cereais, nomeadamente o milho, arroz, mapira, mexoeira e trigo é de 2.39 milhões de toneladas, dos quais 1.790.000 toneladas são do grão de milho, 333.000 toneladas do arroz, 240.000 toneladas da mapira, 34.000 toneladas da mexoeira e 17.000 toneladas do trigo. A produção total estimada de cereais representa 84 por cento da produção inicialmente planificada, enquanto para o grão de milho representa 85 por cento da produção inicialmente planificada. No entanto, com base em estimativas do índice das necessidades hídricas feitas via satélite, estensivas até o final da época, a produção do grão de milho da época em curso poderá situar-se próxima da média na região norte, 10 a 20 por cento abaixo da média na região centro, e aproximadamente 35 por cento abaixo da média na região sul do país. A seca relacionada com o fenómeno El Niño continua sendo a principal causa da baixa produção agrícola nas regiões sul e centro.

Enquanto ainda decorre a colheita, principalmente na região norte e partes da região centro, e tornam-se gradualmente disponíveis as culturas recém-colhidas ao nível dos mercados locais e ao nível familiar, decorrem actividades da segunda época em zonas baixas nas regiões centro e sul onde existe humidade residual. Embora tenham havido algumas chuvas significativas no início de Abril em partes das regiões centro e norte e chuvas moderadas a fracas em partes do sul, não houve registo de qualquer precipitação significativa a partir de meados de Abril até meados de Junho. Isto prejudicou a produção da segunda época de legumes e hortícolas, tais como alface, couve, tomate, cebola, pepino e cenoura. No entanto, qualquer produção de alimentos a partir desta época, irá atenuar temporariamente os défices alimentares das famílias que tiveram um fracasso de produção no sul e baixa produção agrícola na região centro.

Reservas de alimentos

As reservas alimentares actualmente existentes ao nível familiar são muito mais baixas quando comparadas com a média. Em grande parte do sul, as famílias mais pobres esgotaram completamente as suas reservas alimentares, enquanto a maioria nem sequer colheu algo nas suas machambas. A maioria das famílias nas zonas afectadas pela seca continua a

Figura 2. Projecção dos resultados de

segurança alimentar, Junho a Setembro

de 2016

Fonte: FEWS NET

Figura 3. Projecção dos resultados de

segurança alimentar, Outubro de 2016 a

Janeiro de 2017

Fonte: FEWS NET

Este mapa representa uma situação de insegurança alimentar aguda relevante para tomada de decisão. Não reflecte necessariamente uma insegurança

alimentar crónica. Clique aqui para mais informações sobre esta escala.

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depender de compras no mercado. O nível de oferta nos mercados locais situa-se relativamente abaixo da média para esta altura do ano, especialmente em termos de alimentos básicos de produção própria, tais como o grão de milho, feijão nhemba e outros feijões. Outros alimentos básicos que normalmente são importados ou processados, tais como a farinha de milho e arroz, estão adequadamente disponíveis. Na região centro, para além da disponibilidade de alimentos ser relativamente melhor em comparação com a região sul, a mesma encontra-se abaixo da média e algumas famílias pobres já dependem dos mercados para a obtenção dos seus alimentos. No Norte, a disponibilidade de alimentos, tanto ao nível familiar como dos mercado é adequada.

Preços

O preço médio dos alimentos básicos em todos os mercados monitorados mostra que os preços correntes do grão de milho situavam-se na ordem de 125 por cento acima da média de cinco anos, e 118 por cento acima dos preços do ano passado (vide Figura 4). De Abril a Maio, em todo o país, os preços do grão de milho baixaram, em média, na ordem de 17 por cento como consequência das colheitas. No entanto, uma análise regional revela que na região sul os preços do grão de milho tiveram diversos comportamentos, com variações marginais de menos de cinco por cento, o que geralmente reflecte uma situação de estabilidade de preços. Nas regiões centro e norte, os preços do grão de milho continuaram com uma tendência de queda, como resultado do aumento da disponibilidade de alimentos da colheita em curso. Com a baixa disponibilidade do grão de milho, a maioria das famílias recorre à farinha de milho como substituto, resultando em aumentos atípicos do preço deste alimento. Os preços do arroz permaneceram estáveis na maioria dos mercados, excepto em Chókwè, Gorongosa e Tete, onde os preços deste produto, de Abril a Maio, aumentaram 33, 33, e 12 por cento, respectivamente. Os preços da farinha de milho e do arroz continuam acima da média de cinco anos na ordem de 84 e 45 por cento, respectivamente.

Fontes de Renda

Com o Mercado a continuar a ser a principal fonte de alimentos para a maioria das famílias nas regiões sul e centro, as famílias pobres continuam a usar todos os meios ao seu alcance para ganharem dinheiro para a compra de alimentos. Estas famílias ocasionalmente vendem galinhas ou outros pequenos animais ao seu dispor, que é atípico para esta altura do ano. Para além da venda de aves de capoeira, as famílias conseguem obter dinheiro através de actividades informais tais como construção, colecta de água e auto-emprego, incluindo venda de produtos naturais, tais como capim, corte e venda de estacas para construção, caniço; produção e venda de carvão vegetal; colecta e venda de lenha; fabrico de bebidas; cobertura de casas; e artesanato. No entanto, uma vez que alguns destes produtos tais como capim e caniço, também são afectados pela seca, tem se registado uma redução da sua disponibilidade e qualidade. A produção de bebidas tradicionais também é afectada pela falta da matéria-prima envolvida no processo de fabrico. Por outro lado, com mais e mais pessoas envolvidas em actividades de auto-emprego, as oportunidades de venda baixam, limitando as receitas.

Alguns membros das famílias pobres, particularmente homens da região sul, emigram, geralmente de forma illegal, para a África do Sul em busca de oportunidades de trabalho. Dada a dificuldade em encontrar emprego estável na África do Sul, a maioria destes emigrantes não consegue enviar remessas para os seus dependentes. A maioria acaba trabalhando em condições precárias como vendedores de rua, enquanto outros acabam sendo deportados para Moçambique pelas autoridades sul-africanas. Internamente, famílias inteiras ou membros de famílias emigram de um lugar para outro em busca de melhores condições de segurança alimentar. Um número indeterminado de pessoas, especialmente os jovens, emigram para zonas com oportunidades de mineração, particularmente nas províncias de Tete, Manica e Zambézia, onde se envolvem em actividades de mineração de subsistência ou mineração artesanal. Muitas famílias incapazes de se envolver nestas estratégias de sobrevivência devido à disponibilidade limitada de mão-de-obra, dependem fortemente

Figura 4. Preços do milho em Maio 2016 em

comparação com a média de 5 anos

Fonte: FEWS NET

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do consumo de alimentos silvestres. No entanto, a seca em curso, que prolonga-se pelo segundo ano consecutivo em muitas destas zonas, também reduziu a disponibilidade de alimentos silvestres típicos.

Conflito

Devido ao conflito político-militar em curso, um número indeterminado de pessoas em partes da região centro do país abandonou as suas áreas de origem em busca de locais mais seguros. Segundo o ACNUR, cerca de 12.000 moçambicanos foram registados como refugiados no Malawi. O movimento de pessoas e bens é limitado, o que afecta particularmente o fluxo dos excedentes de alimentos do norte para as zonas deficitárias.

Assistência Humanitária

A assistência humanitária para as famílias mais afetadas pela seca ainda está muito abaixo das necessidades. Esforços combinados por parte dos parceiros humanitários do GdM, incluindo o Programa Mundial de Alimentação (PMA), o Consórcio COSACA constituído pelas ONGs, nomeadamente Concern, Oxfam, Save the Children e CARE; Visão Mundial Internacional (WVI), Acção Agrária Alemã (AAA) e Gestão Conjunta de Ajuda (JAM), em Maio cobriram menos de 20 por cento das necessidades.

Pressupostos Pressupostos Nacionais A Perspectiva de Segurança alimentar de Junho 2016 a Janeiro de 2017 é baseada nos seguintes pressupostos ao nível nacional: Hidrologia

Níveis Hidrométricas abaixo da média nas principais bacias no sul e centro. Os níveis dos rios estão actualmente abaixo dos níveis indicados no relatório da Perspectiva de Fevereiro e estão muito abaixo da média. Enquanto uma informação mais actualizada não estiver ainda disponível, espera-se que todos os rios do sul venham a ter níveis significativamente reduzidos, em relação à média como resultado da seca. Da mesma forma, o fluxo de água será reduzido e muito abaixo da média. No entanto, a partir de Novembro até Janeiro de 2017, a precipitação acima da média que se espera poderá começar a repor os volumes das águas nestas bacias.

Escassez da água superficial. A Administração Regional de Água da Região Sul de Moçambique concluiurecentemente o seu primeiro estudo-piloto dos recursos hídricos disponíveis na Província de Maputo onde apresenta que os distritos de Moamba e Magude enfrentam um défice crítico de água. Levantamentos hidrogeológicos de outras províncias afectadas pela seca são incompletos, ou inexistentes e necessários. De acordo com a Direcção Nacional de Abastecimento de Água e Saneamento, o nível dos rios e fluxo de água no sul de Moçambique permanecem baixos e não beneficiaram das recentes chuvas. Enquanto as chuvas melhoraram as condições de pasto para o gado, duas das três barragens no sul de Moçambique, nomeadamente Massingir e Corrumana, permanecem fechadas devido à falta de água, enquanto a terceira, a dos Pequenos Libombos, tem água suficiente para pelo menos mais três meses. Devido à falta crítica de água na barragem de Massingir, o uso da água para irrigação também foi suspensa. No entanto, a partir de Novembro até Janeiro de 2017, a prevista precipitação acima da média poderá começar a melhorar as condições da água superficial.

Impacto da La Niña

Previsões globais indicam uma precipitação acima do normal durante a La Niña. As previsões do CPC/IRI de início de Junho indicam que há uma probabilidade de 75 por cento de um evento La Niña desenvolver-se no final de 2016. Na região Austral de África um evento La Niña tende a ser associado com precipitações acima da média, especialmente a partir de Dezembro (vide Figuras 5a e 5b na página seguinte). No entanto, a ENSO e temperaturas na superfície do mar não são o único factor que afecta a precipitação na África Austral. O SIOD (Dipolo de Oscilação Subtropical do Índico) influencia o impacto da ENSO na precipitação na África Austral. Um SIOD positivo potenciaria a influência da La Niña sobre a precipitação em Moçambique, enquanto um SIOD negativo mitigaria a sua influência. Portanto, o estado e o impacto do SIOD sobre a precipitação de 2016/17 só será estimável com mais fidelidade no final do ano, mas espera-se um início normal da época chuvosa. No entanto, a La Niña está historicamente ligada a uma precipitação normal para acima do normal no sul e centro de Moçambique e temperaturas moderadas, contrariamente às temperaturas anormalmente elevadas ligadas ao El Niño.

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Evidência histórica de potenciais inundações nas zonas sul e centro. De acordo com dados do Observatório de Cheias de Dartmouth sobre a relação entre La Niña e inundações em Moçambique, com base em eventos ENSO de 1990 até à data, existe uma correlação entre os eventos de La Niña e a ocorrência de cheias. Em 10 eventos de La Niña ou Índice Oceânico de Niño (ONI) negativo superior a 0,5 (valor absoluto), sete foram caracterizados por cheias moderadas a severas. Todas as cheias foram observadas entre Janeiro e Março. Como resultado desta evidência e previsão de La Niña, há maiores probabilidades de ocorrência de cheias em algumas bacias hidrográficas das regiões sul e centro (incluindo Incomati, Limpopo, Inhanombe, Save, Púnguè, Búzi, Zambeze e Licungo) de Janeiro a Março de 2017. No entanto, outros factores tais como o SIOD poderão afectar os efeitos esperados da La Niña, quer aumentando ou reduzindo os impactos normalmente esperados.

Possíveis cheias. De Janeiro a Março de 2017, cheias moderadas a severas poderão afectar as formas de vida típicas das famílias que vivem em áreas propensas a este fenómeno natural. Em caso de cheias, infra-estruturais tais como estradas e pontes podem ficar parcialmente ou totalmente intransitáveis e/ou destruídas. As águas das cheias perigam a vida humana e animal, e algumas famílias deslocadas podem precisar de evacuação de emergência para locais seguros. As famílias deslocadas, em particular as pobres e muito pobres, enfrentarão situações de insegurança alimentar aguda de “Estresse” (IPC Fase 2) a Crise (IPC Fase 3) e poderão precisar de assistência humanitária urgente, incluindo abrigo, ajuda alimentar, cuidados de saúde e saneamento, por causa de impacto previsto das cheias em infra-estruturas, acesso ao mercado, e preços dos alimentos. No entanto, os efeitos poderão ser localizados, e o número de famílias afectadas deverá ser relativamente baixo devido ao reassentamento anterior das populações em risco.

Mercados e Comércio

Défice regional de milho na campanha de comercialização de 2016/17. Espera-se um défice superior ao normal de milho durante a campanha de comercialização 2016/17, devido às más colheitas. Moçambique normalmente importa o grão de milho da África do Sul, totalizando em média cerca de 110.000 toneladas para moagem e suprimentos na região sul. Estas importações representam apenas cerca de cinco por cento das necessidades.

Baixo comércio transfronteiriço similar com o Zimbábwè, mas queda esperada com o Malawi. Não se espera que o comércio transfronteiriço com o Zimbabwe registe qualquer mudança significativa dada a fraca troca de alimentos básicos entre os dois países. As principais mercadorias comercializadas entre os dois países são essencialmente artigos manufaturados tais como pilhas, bicicletas, rádios, roupas, sapatos, sabão; e alimentos processados, tais como óleo de cozinha, farinha de milho, mas o comércio está essencialmente concentrado perto das aldeias fronteiriças. Por outro lado, o comércio, normalmente significativo com o Malawi, particularmente no caso do milho, terá volumes reduzidos devido à demanda concorrente do milho da região norte do país. A direcção do fluxo será determinada pelas diferenças de preços entre as diferentes zonas e/ou qualquer política governamental que incentive o fluxo do grão de milho do norte para sul.

Fluxo interno de mercadorias/fluxo dos excedentes do Norte. Dentro da região norte, o fluxo de alimentos básicos decorre normalmente dada a produção agrícola próxima da média. Nas regiões sul e centro, o fluxo de produtos alimentares é relativamente mais lento este ano, em comparação com a média. Isto resulta da disponibilidade abaixo da média e a mudança das principais fontes tradicionais de alimentos. Este ano, a região norte tornou-se a principal fonte, mas o número de comerciantes dispostos a arriscar no transporte do grão de milho para a região sul é limitado devido aos custos de transacção mais elevados e insegurança ao longo das principais rotas. Embora haja algum fluxo do norte

Figura 5a. La Niña de Setembro a

Outubro (média de 9 anos) como

percentagem da média da precipitação

Figura 5b.

La Niña de Dezembro a Março (média

de 9 anos) como percentagem da média

da precipitação

Fonte: USGS/FEWS NET

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para o centro, não há praticamente nenhum fluxo do norte para sul. Este vai ser basicamente o padrão ao longo de todo o período de consumo, a menos que sejam tomadas algumas medidas pelo Governo de Moçambique com vista a incentivar este fluxo. Para as culturas que tradicionalmente são oriúndas da região norte tais como feijões e amendoim, o fluxo continuará a ser mais próximo da média, excepto devido as restrições impostas pelo conflito em áreas localizadas ao longo das rotas.

Reservas de 2015 poderão ser insignificantes, abaixo da média e inferiores às do ano anterior, de 252.000 toneladas. A colheita do ano passado esteve abaixo da média na maioria das zonas do país, e a produção total nacional foi inferior à média em 25 por cento, o que afectou o nível das reservas daquele ano para o ano em curso. A oferta de milho para a campanha de comercialização de 2016/17 deverá situar-se na ordem de 30 por cento abaixo da média, com as áreas mais afectadas na região centro e sul.

Os preços do grão de milho permanecerão acima da média. Com um défice de cerca de 300.000 toneladas na campanha de comercialização 2015/16, os preços do milho duplicaram. Uma vez que o défice será maior do que o do ano passado e a capacidade para o aumento das importações é limitada devido a alguns desafios macroeconómicos, os preços de milho poderão manter-se muito acima dos níveis médios e do ano passado, subindo mais rapidamente do que o habitual durante o período de escassez, especialmente na região sul. Devido à fraca colheita das regiões centro e sul, a demanda pelas famílias será relativamente superior à média durante o período do cenário uma vez que a maioria das famílias foi afectada por condições de seca prolongada. Se o GdM desviar as exportações informais de milho da região norte para a região sul, em vez do norte para o Malawi, a pressão sobre os preços do milho poderá abrandar entre Junho e Setembro, o que marca o pico do comércio informal do milho. No entanto, de Junho de 2016 a Janeiro de 2017, espera-se que os preços do grão de milho continuem a subir até 140 por cento acima da média de cinco anos e acima dos preços do ano passado em 110 por cento em média. Os preços poderão atingir o seu pico em Fevereiro e Março de 2017.

Os preços da farinha de milho poderão permanecer altos. Os preços da farinha de milho permanecerão no geral estáveis a partir de agora (Junho) até Agosto, mas começarão a subir em Setembro, mantendo-se acima da média até Janeiro. Mesmo com a disponibilidade de culturas recém-colhidas da principal colheita de 2015/16, os preços não diminuirão sazonalmente. Em média, de Junho de 2016 a Janeiro de 2017, os preços da farinha de milho situar-se-ão na ordem de 103 por cento acima da média de cinco anos e 92 por cento acima dos preços do ano passado.

Os preços do arroz vão subir uma vez que este produto é alternativo ao milho. Os preços do arroz permanecerão estáveis a partir de agora (Junho) até Agosto, devido à disponibilidade de culturas recém-colhidas da principal colheita de 2015/16. No entanto, dados os volumes reduzidos do grão de milho a serem colhidos, muitas famílias vão recorrer ao arroz como alternativa. Como resultado, isso irá causar um aumento atípico da procura do arroz, forçando um aumento dos preços em Agosto, e permanecerão altos porém estáveis, com aumentos marginais de menos de 10 por cento em todo o restante período de Setembro de 2016 a Janeiro de 2017. No geral, de Junho a Janeiro, os preços do arroz situar-se-ão a 14 por cento acima da média de cinco anos e 13 por cento acima dos preços do ano passado.

Pastagem abaixo da média. As condições de pasto encontram-se em níveis abaixo da média devido à seca e deverão manter-se nesta situação até o final de Setembro e, as distâncias a serem percorridas em busca de pasto aumentarão. No entanto, com o início da estação chuvosa, em Novembro, as condições de pasto poderão regenerar-se e permanecer favoráveis até ao final do período do cenário.

Condição Física dos Animais, Preços e Movimento

Embora as condições físicas actuais dos animais tenham melhorado ligeiramente devido às melhores condições de pasto e disponibilidade de água, durante o período do cenário estas condições vão piorar. De Agosto a Setembro, as condições físicas dos animais poderão deteriorar-se novamente devido às condições de pasto reduzidas ou inexistentes e à escassez de água. Esta adversidade forçará algumas famílias a vender mais os seus animais para evitar a sua morte devido à fome, o que reduzirá o tamanho dos rebanhos/manada.

Durante todo o período do cenário, os preços dos animais poderão estar abaixo da média em 20 a 30 por cento devido às suas más condições físicas e ao aumento da oferta.

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Para evitar a morte dos animais, algumas famílias, a partir de Julho, começarão a percorrer muito mais longas distâncias em busca de pasto e água para os seus animais e permanecerão mais longe das suas zonas de origem até Janeiro de 2017.

Estimativas da Produção Agrícola de 2015/16

Perspectivas da colheita de 2015/16 abaixo da média. Com base nas estimativas do Índice de Satisfação das Necessidades Hídricas (WRSI) extensiva a Julho, a produção do grão de milho a partir da presente época poderá estar próxima da média na região norte, 10 a 20 por cento abaixo da média na região centro, e quase 35 por cento abaixo da média no sul de Moçambique. A seca relacionada ao El Niño é a principal causa da produção agrícola reduzida nas regiões sul e centro.

Fraca produção da segunda época de Abril a Setembro. A segunda época contribui em aproximadamente 10 a 30 por cento da produção total anual de Moçambique, o seu nível varia por região. Geralmente, no sul, pode atingir até 30 por cento da produção total anual, enquanto na região centro varia de 10 a 20 por cento. Uma vez que a principal estação chuvosa de 2015/16 foi caracterizada por chuvas abaixo da média, perspectiva-se uma baixa contribuição da segunda época. O nível de produção poderá variar de 25 a 45 por cento da média de cinco anos.

Demanda do Trabalho Agrícola e Remunerações

Oportunidades de trabalho agrícola abaixo da média nas regiões sul e centro. De Junho a Agosto, as actividades de trabalho agrícolas encontram-se normalmente nos seus níveis mais baixos uma vez que a maioria das actividades relacionadas com a agricultura são limitadas à produção da segunda época, praticada somente em determinadas áreas onde existem condições favoráveis. Este ano, estas actividades serão aindaa níveis mais baixos do normal devido à baixa disponibilidade da humidade residual da principal estação chuvosa. No entanto, de Setembro de 2016 a Janeiro de 2017, com a possibilidade de ocorrência de La Niña, que geralmente está relacionada à ocorrência de chuvas normais para acima do normal, as oportunidades de trabalho agrícola poderão estar próximas do normal, desde que as famílias recebam sementes suficientes para a respectiva época. No entanto, dado o baixo rendimento obtido pelas famílias mais ricas durante a época de 2015/16, as remunerações poderão situar-se na ordem de 25 por cento abaixo da média, embora as famílias mais ricas prometerão pagar o valor total dos salários após a colheita. No norte, o nível do trabalho agrícola permanecerá próximo da média de cinco anos.

Oportunidades de auto-emprego e rendimento

Com um número crescente de pessoas envolvidas em actividades de auto-emprego para complementar a sua renda, as oportunidades de venda de serviços e/ou produtos para obtenção de rendimentos serão limitadas. As actividades típicas de auto-emprego que incluem o artesanato (esteiras, peneiras, cestos e colheres de pau, entre outros artigos); e o fabrico de bebidas tradicionais, tais como a bebida localmente conhecida por Kabanga, também serão limitadas devido à baixa disponibilidade das matérias-prima para a sua produção. Outras bebidas tradicionais, tais como utchema e aguardente vão contribuir para a renda das pessoas, mas este negócio é geralmente praticado por um pequeno número de famílias.

A produção de blocos será negativamente afectada pela falta de água e pela baixa demanda por parte das famílias, que anteriormente estariam em condições financeiras para a compra deste material de construção.

As famílias pobres e muito pobres cortam e vendem estacas e capim para a construção de casas, mas estas actividades serão limitadas por causa da seca e pela menor demanda.

Todos os grupos de riqueza produzem e vendem carvão vegetal, uma prática que tem sido alargada nos últimos anos. Em algumas comunidades nas zonas semi-áridas da província de Gaza, a produção e venda de carvão está se tornando a principal actividade de auto-emprego. No entanto, a falta de controle desta actividade representa um sério risco de desertificação.

A pesca em lagos, rios ou riachos também poderá ser limitada devido à seca.

Nutrição

A prevalência nacional da Desnutrição Aguda Global em Moçambique é inferior a dez por cento; no entanto, existem disparidades geográficas, com avaliações recentes a indicarem níveis mais elevados de desnutrição aguda nas províncias afectadas pela seca nas regiões sul e centro. Apesar de não ser estatisticamente representativa e com um baixo nível de

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confiança, uma rápida avaliação da Medida do Perímetro Braquial (MUAC) em Março de 2016 identificou mais de 15 por cento das crianças avaliadas com desnutrição aguda (MUAC <12,5 centímetros) em ambas as províncias de Sofala e Tete, enquanto menos de 10 por cento das crianças registavam desnutrição aguda em outras províncias (Gaza, Manica e Maputo). O alto nível de desnutrição aguda está ligado à dieta inadequada e à má diversificação alimentar. Prevê-se que os níveis nacionais de desnutrição aguda permaneçam abaixo de 10 por cento durante o período do cenário (Junho de 2016 a Janeiro de 2017) devido ao aumento do acesso aos alimentos depois da colheita até Julho, antes do início da época de escassez em Agosto. No entanto, nas zonas afectadas pela seca, os níveis de desnutrição aguda poderão estar acima de 10 por cento por causa do acesso reduzido à quantidade e diversificação dos alimentos, o que coincide com as fracas colheitas e o previsto contínuo aumento dos preços dos alimentos.

Assistência Humanitária de Emergência

De acordo com o PMA, os recursos actualmente disponíveis permitirão ao PMA dar assistência a 261.000 pessoas apenas de Junho até Setembro, com distribuição directa de alimentos e outros programas de assistência alimentar. O consórcio COSACA prestará assistência a 125.000 pessoas através de senhas de alimentos nas províncias de Gaza e Inhambane. Ambas as organizações estão empenhadas na mobilização de fundos adicionais para aumentar o número de beneficiários e as áreas de cobertura. O Governo de Moçambique tem vindo a prestar assistência alimentar de acordo com a disponibilidade de fundos e dando prioridade a zonas com maior severidade das necessidades.

O Grupo de Segurança Alimentar (FSC) da Equipa Humanitária Nacional (HCT) está a preparar um apelo internacional coordenado dentro da iniciativa regional (SADC). No entanto, até à data, a assistência humanitária planificada e financiada até Janeiro de 2017 cobre menos de 20 por cento das necessidades.

Disponibilidade/Acesso aos Alimentos

Durante todo o período do cenário, a disponibilidade dos alimentos ao nível das famílias estará muito abaixo da média devido à má colheita e/ou fracasso total da produção da época agrícola principal 2015/16.

O acesso aos alimentos por parte das famílias vai ser limitado pelos preços atipicamente elevados dos alimentos e reduzirá a oferta nos mercados das regiões sul e centro durante todo o período de cenário.

Migração da população devido a tensões políticas

Em zonas localizadas na região centro, especificamente em partes das províncias de Sofala, Manica, Tete e Zambézia, espera-se que um número indeterminado de pessoas continue a emigrar para zonas mais seguras devido à tensão política em curso. Esta tendência deverá continuar até Janeiro 2017, a menos que medidas de mitigação sejam tomadas por ambos os lados em conflito. O número de pessoas deslocadas internamente e refugiados poderá subir uma vez que o conflito continua a alastrar para mais zonas.

Impacto da tensão político-militar sobre a segurança alimentar

O conflito em zonas localizadas na região centro vai agravar o nível de insegurança alimentar aguda. Nas zonas afectadas, as pessoas estão mais concentradas na sua própria segurança pessoal do que em actividades relacionadas com as suas formas de vida. Um número indeterminado de pessoas abandonou as suas aldeias em busca de zonas mais seguras, o que lhes obrigou a ajustar ou abandonar as suas actividades tradicionais de formas de vida. Por outro lado, o conflito ao longo das principais estradas está a limitar o fluxo normal de mercadorias e pessoas, incluindo o fluxo de alimentos das zonas excedentárias no norte para as zonas deficitárias nas regiões centro e sul.

Situação de Segurança Alimentar Mais Provável De Junho a Setembro, em todo o país, a maioria das famílias conseguirá satisfazer as suas necessidades alimentares básicas através do consumo de alimentos de culturas recém-colhidas da principal época de 2015/16 complementadas por compras de alimentos no mercado. Estas famílias não enfrentarão qualquer situação de insegurança alimentar aguda (IPC Fase 1). No entanto, nas zonas afectadas pela seca no sul e partes da região centro, as famílias pobres e muito pobres encontram-se numa situação de Crise (IPC Fase 3) ou mergulharão para essa fase mais tarde em Agosto e Setembro e registam défices de consumo de alimentos e necessitam assistência humanitária imediata. Outras famílias enfrentam uma situação de “Estresse” (IPC Fase 2) e precisam de assistência humanitária para a protecção das suas formas de vida. Num ano típico, os preços dos alimentos básicos são sazonalmente baixos durante os meses de Junho e Julho, período em que a maioria das famílias

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consome alimentos da sua própria produção. No entanto, este ano, a maioria das famílias no sul e partes da região centro terá reservas de alimentos abaixo da média devido a colheitas fracas ou total fracasso da produção. Os preços dos alimentos básicos tais como o grão de milho, permanecerão acima da média durante o período pós-colheita e começarão a subir em Julho e Agosto, dois a três meses mais cedo do habitual. Normalmente, a colheita da produção da segunda época torna-se disponível em Agosto e Setembro. No entanto, prevê-se que, devido à seca relacionada ao El Niño, as condições para a produção de segunda época não serão favoráveis, o que vai resultar em colheitas muito reduzidas. A concorrência pelas oportunidades de trabalho, tanto as relacionadas com a agricultura como com o auto-emprego, deverá intensificar durante este período, e as famílias pobres e muito pobres terão acesso limitado à renda para a compra de alimentos. A época de escassez poderá começar mais cedo do que o habitual, em Agosto, quando normalmente começa em Outubro ou Novembro. De Outubro a Janeiro de 2017, o país continuará a sofrer os efeitos típicos da época de escassez, altura em a maioria das famílias terá esgotado as reservas de alimentos da sua própria produção, a oferta local de alimentos será baixa e os preços das mercadorias serão altos. Durante este período, as famílias começarão a intensificar as suas estratégias de sobrevivênia para a satisfação das suas necessidades alimentares. Algumas das estratégias que as famílias pobres começarão a empregar durante este período incluem a redução de despesas em artigos não alimentares, para a compra de alimentos básicos. Também elas irão intensificar as actividades de fabrico e venda de bebidas tradicionais, corte e venda de estacas de construção; venda de produtos naturais, tais como lenha e carvão vegetal; e procura de trabalho agrícola ocasional na preparação da terra e sementeira. As oportunidades de trabalho agrícola poderão aumentar com a aproximação da próxima época agrícola e poderão estar próximas da média, dada a previsão de chuvas normais para acima do normal influenciadas pelo fenómeno La Niña. Por outro lado, o início das chuvas de Novembro criará condições para o surgimento de uma variedade de alimentos silvestres e sazonais que irão melhorar gradualmente a dieta das famílias pobres até que os alimentos verdes se tornem disponíveis em Fevereiro e Março de 2017. Diversas frutas sazonais, incluindo a manga e o cajú, ficarão disponíveis em Janeiro. Nas zonas afectadas pela seca e por condições de seca durante a época anterior, a situação de Crise (IPC Fase 3) prevalecerá uma vez que as famílias pobres e muito pobres continuarão a registar défices de consumo alimentar até mesmo diante das estratégias de sobrevivência. Recentemente, a FEWS NET realizou uma Análise das Economias Familiares (HEA), a qual confirma essas expectativas. Para muitas famílias pobres os alimentos silvestres sazonais serão a sua fonte mais importante de alimento. É possível também que hajam pequenos grupos de população mais afectados, que enfrentarão défices maiores em termos das suas necessidades alimentares básicas e que estarão numa situação de Emergência (IPC Fase 4). Ademais, a possível ocorrência de cheias moderadas a severas em finais de Janeiro poderá alterar negativamente as formas de vida das famílias afectadas. Com base nas estimativas das cheias severas anteriores, mais de 200.000 pessoas, particularmente em famílias pobres e muito pobres, poderão enfrentar temporariamente uma situação de insegurança alimentar aguda Crítica (IPC Fase 3) caso as cheias destruam casas e mercados. Fora das áreas afectadas, os alimentos verdes e culturas colhidas precocemente, combinados com alimentos silvestres sazonais, vão contribuir para a disponibilidade de alimentos. Em zonas do país não afectadas pela seca, uma situação de insegurança alimentar aguda Mínima (IPC Fase 1) poderá continuar durante este período.

ZONAS PREOCUPANTES

Zona de formas de vida 22 – semi-árida de cereais e gado do sul (Província de Gaza: distritos de Massangena, Chigubo, partes do norte dos distritos de Chicualacuala, Mabalane, Guijá e Chibuto; Província de Inhambane: distritos de Mabote, Funhalouro, Panda, e partes do norte do distrito de Homoíne).

Situação Actual Os impactos da seca induzida pelo El Niño durante a principal estação chuvosa e época agrícola de 2015/16 foram muito severos na zona semi-árida de cereais e gado. A seca levou a uma redução do rendimento das culturas e/ou a um fracasso da produção, bem como à escassez significativa de água para o consumo humano e animal. Em apenas algumas zonas, menos de 25 por cento da área da zona de formas de vida (com base no Índice de Satisfação das Necessidades Hídricas), algumas famílias conseguiram colher algumas culturas tardiamente semeadas que beneficiaram das chuvas em finais de Fevereiro e meados de Março. As culturas de sobrevivência incluem a mexoeira, mapira e feijão-nhemba, que são resistentes à seca. A melancia também foi uma cultura que proporcionou algum alívio em Abril e Maio, mas não está mais indisponível. A Seca reduziu as oportunidades de trabalho agrícola, incluindo na sacha e colheita, que representam a maior fonte de renda para as famílias mais pobres. A seca também está a afectar negativamente as famílias médias e ricas porque têm havido mortes de gado devido à falta de pasto e água. Ainda este ano, devido à magnitude da seca, a quantidade da humidade residual

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disponível para a segunda época é muito baixa e, consequentemente, a área semeada para a segunda época e actividades relacionadas foram reduzidas. As reservas de alimentos das famílias são muito baixas ou estão completamente esgotadas, especialmente das famílias que não tiveram absolutamente nenhuma colheita, e a maioria das famílias dependem de compras no mercado. O nível de oferta nos mercados locais está relativamente abaixo da média para esta altura do ano, especialmente para alimentos básicos provenientes da produção própria tais como o grão de milho, feijão nhemba e outros feijões. Outros alimentos básicos que normalmente são importados ou processados tais como a farinha de milho e arroz, estão suficientemente disponíveis e atipicamente em demanda como alternativas ao grão de milho. Com base em dados de preços de Chókwè, o principal mercado de referência na zona, os preços actuais do grão de milho são superiores à média de cinco anos na ordem de 231 por cento e superiores ao mesmo período do ano passado na ordem de 181 por cento. Os preços actuais da farinha de milho em Chókwè estão na ordem de 17 por cento acima da média de cinco anos e 14 por cento acima do ano passado. O outro produto alimentar alternativo, o arroz, tem sido menos afectado em comparação com farinha de milho. Para a obtenção de dinheiro para a compra de alimentos, as famílias estão a vender aves. As famílias também conseguem obter dinheiro através do trabalho casual, incluindo actividades de construção, colecta de água, e actividades de auto-emprego. No entanto, com cada vez mais pessoas envolvidas em actividades de auto-emprego, as oportunidades de venda são limitadas e, portanto, os montantes de dinheiro ganhos são menores quando comparados com as receitas ganhas em anos normais. A colecta de alimentos silvestres decorre, sempre que possível, mas a disponibilidade é relativamente menor comparativamente com a média para esta época do ano. Pressupostos Além dos pressupostos de nível nacional, os seguintes pressupostos são aplicáveis para a área preocupante:

Não se espera qualquer melhoria significativa da produção da segunda época. As condições de humidade residual

abaixo da média nesta área de preocupação reduzirão significativamente a produção da segunda época em Julho e

Agosto. Haverá cerca de 20 por cento menos culturas colhidas do que o normal.

Preços altos dos alimentos básicos. No geral, os preços dos alimentos básicos para o grão de milho poderão estar

próximos de 200 por cento acima da média em Chókwè, mercado de referência para esta zona, enquanto os preços de

farinha de milho e do arroz vão subir para 30 e 15 por cento acima da média, respectivamente.

Fluxos do grão de milho para a zona reduzidos. Com o quase fracasso da produção já confirmado no sul, surgirão

pequenas quantidades do grão de milho de partes da região centro e região norte através de comerciantes informal e

formais locais para ajudar a abastecer o mercado de referência local de Chókwè. No entanto, estes fluxos serão

relativamente baixos e acontecerão apenas por um curto período de tempo (Junho a Agosto), o que significa que, no

geral, a disponibilidade do grão de milho permanecerá abaixo da média até Janeiro de 2017 e depois.

Nutrição. Num ano normal, o nível normal da desnutrição aguda nas províncias de Gaza e Inhambane é de menos de 10

por cento. A recente avaliação rápida da Circunferência do Ante-braço (MUAC) realizada em Março de 2016 em distritos

das duas províncias identificou menos de 10 por cento das crianças como estando a sofrer da desnutrição aguda (MUAC

<12,5 centímetros), com a excepção do distrito de Funhalouro, que registou 10,3 por cento das crianças com MUAC <12,5

cm. Estes resultados, embora não representativos, apontam para um nível de desnutrição aguda de menos de 10 por

cento, mas com bolsas de áreas que excedem os níveis típicos. Espera-se que o nível da desnutrição aguda permaneça

abaixo de 10 por cento durante o período do cenário (Junho de 2016 a Janeiro de 2017), mas nos distritos mais afectados

pela seca, os níveis de emagrecimento poderão exceder 10 por cento. A deterioração em desnutrição aguda é atribuída

ao acesso reduzido de alimentos em qualidade e quantidade, o que está ligado ao impacto da seca em curso.

Situação de Segurança Alimentar mais Provável De Junho a Setembro de 2016, continuará a não haver reservas alimentares ao nível das famílias e os mercados continuarão a ser a principal fonte de alimentos. Os preços dos alimentos continuarão significativamente mais altos, próximos de 200 por cento acima da média de cinco anos. Uma ligeira diminuição é esperada em Julho, devido à disponibilidade de algumas culturas de locais com alguma colheita nas zonas costeiras da Província de Inhambane e partes da região centro mas, no geral, os preços permanecerão muito acima da média de cinco anos. Para a obtenção de dinheiro extra as famílias intensificarão as suas actividades típicas de geração de renda. O dinheiro ganho, e as oportunidades para tais actividades,

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serão reduzidos em cerca de 25 por cento devido ao aumento do número de pessoas envolvidas nas mesmas actividades e pela demanda reduzida. A migração para os grandes centros urbanos e para a vizinha África do Sul em busca de trabalho informal temporário vai continuar. Os mais vulneráveis, os incapazes de realizar estas actividades, aumentarão o consumo de alimentos silvestres que são normalmente consumidos no final do ano, geralmente a partir de Outubro, tais como xicutsi, incluíndo variedades menos preferidas. Os défices de consumo de alimentos começarão a aumentar em Agosto, quando o período de escassez começa mais cedo que a média. A maioria das famílias pobres e muito pobres continuará a empregar algumas destas estratégias de sobrevivência três a quatro meses mais cedo do que o habitual, a partir de Julho, as quais incluirão o consumo de alimentos silvestres e emigração excessiva. A Análise do HEA da FEWS NET confirmou que as famílias pobres e muito pobres nesta zona poderão permanecer em situação de Crise (IPC Fase 3) na ausência de assistência alimentar devido aos seus défices de consumo de alimentos, enquanto outras enfrentarão uma situação de “Estresse” (IPC Fase 2). De Outubro de 2016 a Janeiro de 2017, as famílias pobres ainda não terão as suas próprias reservas de alimentos, e a oferta de alimentos nos mercados locais continuará a ser inadequada até a disponibilidade de culturas recém-colhidas em Março de 2017, depois do período do cenário. No entanto, as actividades de trabalho agrícola tornar-se-ão disponíveis gradualmente com o início da estação chuvosa e época agrícola de 2016/17 e a demanda de trabalho poderá ser superior a da época de 2015/16 dada a previsão de chuvas normais para acima do normal. No entanto, o rendimento esperado será inadequado como resultado dos preços elevados dos alimentos básicos. Em Outubro, a maioria das famílias será envolvida na limpeza das machambas e a partir de Novembro começarão a semear sempre que as precipitações o permitirem. O início das chuvas em Outubro e Novembro também fornecerá a água sazonal para o consumo humano e animal e aumentará as condições de pasto, o que irá melhorar as condições físicas dos animais. Com o início das chuvas, a maioria das famílias vai trazer de volta os seus animais dos locais distantes para onde tinham levado em busca de água e pasto. As famílias pobres continuarão a enfrentar défices de consumo de alimentos e necessitarão de assistência alimentar até que tenham acesso aos alimentos da sua própria produção da colheita principal em Março de 2017. Embora a precipitação venha aumentar a disponibilidade de alimentos silvestres sazonais que normalmente se tornam disponíveis durante esta altura do ano, estes não serão suficientes para satisfazer as suas necessidades alimentares básicas. O acesso aos alimentos nos mercados vai deteriorar-se porque os preços dos alimentos básicos vão subir mais rapidamente no pico da época de escassez em Fevereiro e Março de 2017, depois do período do cenário. As actividades de auto-emprego serão gradualmente substituídas pelas actividades agrícolas, mas a disponibilidade de sementes será um factor determinante. A maioria das pessoas pobres e muito pobres nesta zona continuará a enfrentar uma situação de insegurança alimentar de Crise (IPC Fase 3) até Janeiro de 2017 e depois, o que foi confirmado pela análise do HEA da FEWS NET.

Zona de Formas de Vida 15 - Semi-árida Central de Algodão e Minerais (Província de Tete: distritos de Changara, Doa, partes dos distritos de Moatize, Cahora Bassa, Mágoe e Chiuta; Província de Manica: distritos de Guro e Tambara; Província de Sofala: parte do distrito de Chemba).

Situação Actual A seca induzida pelo El Niño durante a principal estação chuvosa e época agrícola de 2015/16 reduziu o rendimento das culturas para quase 75 por cento da média, o que levou a uma fraca colheita nesta zona, bem como a escassez de água para o consumo humano e animal. A situação foi agravada pelo facto de a colheita do ano passado também ter sido fraca. As condições de segurança alimentar continuaram a deteriorar-se em 2016, e estratégias de formas de vida para as famílias pobres foram afectadas, especialmente em relação ao trabalho agrícola, incluindo sacha e colheita, porque havia poucas oportunidades. Como resultado, a maioria se voltou para actividades de auto-emprego. As famílias pobres estão envolvidas nas mesmas actividades como as mencionadas, sendo levadas a cabo pelas famílias na zona de formas de vida 22, bem como a colecta de pedras para a construção. Estas famílias estão actualmente a enfrentar uma situação de Crise (IPC Fase 3). Embora em menor escala em comparação com a região sul, os impactos da seca também afectaram negativamente as famílias médias e ricas nesta zona devido às mortes do gado por falta de pasto e água. A maioria das reservas de alimentos das famílias muito pobres já está esgotadas, e a maioria depende de compras no mercado. O nível de oferta nos mercados locais situa-se relativamente abaixo da média para esta altura do ano, especialmente no que diz respeito aos alimentos básicos da produção própria das famílias, tais como o grão de milho, feijão nhemba e outros feijões. Outros alimentos básicos que normalmente são importados ou processados tais como a farinha de milho e o arroz, estão adequadamente disponíveis. Com base em dados de preços de Tete, o principal mercado de referência na zona, os actuais preços do grão de milho são superiores à média de cinco anos na ordem de 121 por cento e superiores aos do mesmo período do ano passado na ordem de 103 por cento. Os preços actuais da farinha de milho situam-se a 87 por

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cento acima da média e 85 por cento acima dos do ano passado. Outro produto alimentar alternativo, arroz, já nos 46 por cento acima da média de cinco anos e 20 por cento acima do preço do ano passado. Pressupostos Para além dos pressupostos de nível nacional, os seguintes pressupostos são aplicáveis a esta zona preocupante:

Não se espera qualquer melhoria significativa da produção da segunda época. Haverá cerca de 30 por cento menos

culturas colhidas do que o normal.

Fluxos reduzidos do grão de milho dentro e para a zona. O fluxo do grão de milho para a zona pelos comerciantes

informais e formais local vai ajudar a abastecer o mercado de referência local, Tete. No geral, a disponibilidade do grão

de milho permanecerá abaixo da média de cinco anos durante todo o período do cenário.

Preços dos alimentos atipicamente elevados. Devido à alta demanda por parte das famílias locais e a disponibilidade de

alimentos abaixo da média, os preços dos alimentos básicos poderão permanecer acima da média durante todo o período

da análise. No geral, os preços do grão de milho poderão situar-se próximos de 130 por cento acima da média de cinco

anos, enquanto os preços da farinha de milho e do arroz vao subir para 90 e 50 por cento acima da média de cinco anos,

respectivamente. Enquanto a farinha de milho refeição é o substituto imediato do grão de milho para as famílias pobres,

o arroz é menos preferido.

Nutrição: Num ano normal, o nível da desnutrição aguda na província de Tete está abaixo de 10 por cento. No entanto,

a recente avaliação rápida levada a cabo em Março de 2016 identificou que 16 por cento das crianças sofriam de

desnutrição aguda (MUAC <12,5 centímetros) e que embora não representativo, a avaliação aponta para um nível de

desnutrição aguda superior a 10 por cento. Isto é atribuído ao acesso reduzido a qualidade e quantidade adequada de

alimento, o que está ligado ao impacto da seca em curso. Prevê-se que o nível da desnutrição aguda permaneça acima

de 10 por cento durante o período do cenário (Junho de 2016 a Janeiro de 2017) como resultado do acesso limitado aos

alimentos, o que afectará o consumo de alimentos. A seca prolongada também poderá reduzir o acesso a quantidades

adequadas de água potável, o que irá comprometer a higiene, provavelmente aumentando os casos de doenças

transmitidas através da água. A morbidade é uma causa imediata da desnutrição aguda.

Situação de Segurança Alimentar Mais Provável De Junho a Setembro, as famílias pobres e muito pobres continuarão a expandir as suas estratégias de formas de vida e de sobrevivência para a cobertura das suas necessidades alimentares básicas. Algumas famílias pobres terão esgotado as escassas reservas da colheita de Abril e Maio e começarão a intensificar algumas das estratégias de sobrevivência típicas, incluindo o consumo de alimentos silvestres, tais como farinha feita a partir de maçanica e sementes do lírio aquático, polpa de baobá, e outros alimentos silvestres. A partir de Agosto, as famílias comprarão alimentos nos mercados, mas os preços acima da média limitarão o seu poder de compra. Para ganharem dinheiro extra, estas famílias terão que intensificar o trabalho informal e actividades de auto-emprego. Por outro lado, estas famílias serão forçadas a empregar algumas estratégias de sobrevivência tais como a transferência de despesas em artigos não essenciais para a compra de alimentos. Embora a caça seja ilegal em algumas áreas protegidas, esta actividade desempenha um papel importante na dieta das famílias pobres em zonas remotas. A venda de pequenos animais domésticos, especialmente aves e gado de pequeno porte, como cabritos e porcos, que têm visto um crescimento significativo nos últimos anos, contribuirá para a geração de dinheiro extra para a compra de alimentos. A pesca desempenhará um papel importante na minimização do nível de insegurança alimentar através do consumo directo do peixe e geração de renda para a compra doutros alimentos, e as famílias pobres percorrerão longas distâncias para levarem a cabo esta actividade nas margens do rio Zambeze. Uma combinação de programas das redes de segurança social em curso e assistência alimentar de emergência será parte da resposta, especialmente para as famílias mais pobres e vulneráveis que não possuem animais e que são incapazes de aplicar estratégias de sobrevivência não extremas. Estas incluem famílias chefiadas por idosos, viúvas e crianças. A maioria dos agregados familiares mais pobres poderá enfrentar uma situação de insegurança alimentar aguda Crítica (IPC Fase 3) entre Junho e Setembro, facto confirmado pela análise do HEA da FEWS NET, que mostrou que este grupo não coseguirá satisfazer as suas

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necessidades alimentares básicas. Uma situação de “Estresse” (IPC Fase 2) também prevalecerá para algumas das famílias mais pobres, as quais necessitarão de assistência humanitária para a protecção das suas formas de vida. De Outubro de 2016 a Janeiro de 2017, as actividades de trabalho agrícola tornar-se-ão gradualmente disponíveis com o começo da estação chuvosa e época agrícola de 2016/17. Todas as outras condições de segurança alimentar e mecanismos de sobrevivência pelas famílias pobres poderão continuar a ser os mesmos dos já descritos para a zona de formas de vida 22 para o mesmo período de tempo. Por outro lado, os efeitos positivos de La Niña que incluem a precipitação normal para acima do normal, também serão semelhantes nas duas zonas. Como no caso da zona de formas de vida 22, as famílias pobres e muito pobres na zona de formas de 15 continuarão numa situação de insegurança alimentar de Crise (IPC Fase 3) devido aos seus défices de alimentos até pelo menos Janeiro de 2017.

EVENTOS QUE PODERÃO ALTERAR A PERSPECTIVA

Tabela 1. Possíveis eventos nos próximos oito meses que poderão alterar o cenário mais provável

SOBRE O DESENVOLVIMENTO DO CENÁRIO Para projectar condições de segurança alimentar num período de seis meses, a FEWS NET desenvolve um conjunto de pressupostos sobre eventos prováveis, seus efeitos, e prováveis respostas de diversos sectores. A FEWS NET analisa esses pressupostos no contexto das actuais condições e formas de vida locais para desenvolver cenários que estimam as condições de segurança alimentar. Normalmente, a FEWS NET reporta o cenário mais provável. Clique aqui para mais informações.

Zona Evento Impacto na segurança alimentar

Nacional e Zona de Preocupação

As chuvas de Outubro a Novembro não começam normalmente segundo as previsões.

Melhoria significativa nas condições de segurança alimentar graças a assistência humanitária adequada.

A cessação do conflicto politico-militar.

Isto agravará as condições de segurança alimentar e cotinuará a impedir a recuperação das famílias afectadas.

As condições de segurança alimentar melhorarão em relação às estimativas projectadas.

Isto promoverá o fluxo de alimentos das zonas com produção excedentária para as zonas deficitárias, o que poderá resultar numa maior disponibilidade de alimentos nos mercados locais, e abrandar a subida dos preços dos alimentos, e colocará um ponto final ao desalojamento de pessoas das suas zonas de origem.

Ausência de cheias severas. Isto vai limitar/reduzir o número de pessoas em situação de Crise (IPC Fase 3) de insegurança alimentar para aquelas somente afectadas pela seca.