miolo revista reflexoesbiblicas 4

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EXPEDIENTE“Reflexões Bíblicas IV” | 2018

Publicação da Convenção Batista Mineira

Diretor executivo da Convenção Batista MineiraPr. Márcio Alexandre de Moraes Santos

Coordenadora do Comitê do Programa para o Crescimento Cristão Tania Oliveira de Araujo

Diretoria da Convenção Batista MineiraDiretor executivo: Pr. Marcio Alexandre de Moraes SantosPresidente: Pr. Ramon Márcio de Oliveira 1º Vice-Presidente: Pr. Sandro Ferreira 2º Vice-Presidente: Pr. Danilo Hermógenes Secon 3º Vice-Presidente: Pr. Anderson José de Oliveira 1º Secretário: Pr. Daniel William da Silva Vieira 2º Secretário: Pr. Samuel Amaro 3ª Secretária: Irmã Elisabete Guimarães Macharet Presidente de Honra: Pr. Jonair Monteiro da Silva Presidente Emerito: Pr. Muryllo Cassete (in memorian)

Equipe de Planejamento:Ana Lúcia dos Santos Ribeiro Pr. André Luiz Ferreira SilvaElvira M. Gonçalves Rangel Pr. Francisco Mancebo ReisIsabel da Cunha FrancoPr. Joselito Ferreira de Sena Miriam de Oliveira Lemos Santos MendonçaPr. Reinaldo Arruda Pereira Senhorinha Gervásio Lourenço BragançaPr. Tarcísio Caixeta de AraújoPr. Wagno Alves Bragança

Autores:Pr. Tarcísio Caixeta de AraújoPr. Sebastião Arsenio da Silva

Revisão Teológica:Pr. Ramon Márcio de OliveiraIgreja Batista Parque Granada - Uberlândia Pr. Francisco Mancebo ReisIgreja Batista Palmares - BHPr. Sandro Ferreira PIB Coronel Fabriciano Pr. Ozirmar Machado LeiteIgreja Batista Jardim América

Revisão ortográfica: Bárbara Aline Turci de Oliveira Pr. Francisco Mancebo Reis

Educadores responsáveis pelo Andragógico: Celma Oliveira Araujo Ferreira Silva Rosilene Deltiza Turci Oliveira

Responsáveis pelo Suporte para Pequenos Grupos: Doricéia Alves Pedroso SouzaMaria das Dores Silva

Editoração:Tania Oliveira de Araujo Senhorinha Gervásio Lourenço Bragança

Coordenação de Comunicação: Ilimani Rodrigues

Diagramação: Adriana Angélica Costa Carvalho

Tiragem - 50.000 exemplares

CONVENÇÃO BATISTA MINEIRA:Rua Plombagina, 250 - Floresta - 31110-090 - Belo Horizonte/MG

Fone: (31) 3429-2000E-mail: [email protected]

Site: batistasmineiros.org.br

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PALAVRA DO PRESIDENTE DA CBM

A Convenção Batista Mineira mais uma ve z faz chegar até você uma ferramenta preciosa para o seu crescimento cristão. É fruto da nos-

sa parceria com centenas de igrejas batistas de Minas Gerais.

Uma signifi cativa soma de recursos tem sido enviada por igrejas fi éis ao nosso “acordo”. Além disso, temos captado recursos com par-ceiros diversos a fi m de sustentarmos diversos projetos maiores que o nosso aporte.

Não poderia ser diferente. Produzir um material de primeira qua-lidade gráfi ca, editorial e intelectual, sem custo adicional para as igrejas requer muito diálogo, trabalho e parcerias. Entretanto, estamos certos de que isso faz parte da missão de gerir bem o nos-so orçamento servindo o nosso povo. Somamos a isso a satisfa-ção dos Batistas mineiros que confi rma que a nossa rota é excelente e sem volta. Por isso, garantimos fornecer esse material (não sem custo) e assessorar outras Convenções do nosso país em projetos semelhantes.

Nesta edição, os autores, os pastores Tarcísio Caixeta de Araújo e Sebastião Arsênio da Silva nos conduzirão a refl exões profundas e edifi cantes sobre relacionamentos. “Relacionamento de Deus com a Sua criação” e “O homem e seus relacionamentos”, respectivamen-te. Estas 52 lições inevitável e essencialmente aprimoram em nós o puro sentido de Levítico 26.12: “Andarei no meio de vós e serei o vosso Deus, e vós sereis o meu povo”. Deus sempre quer de nós mais que uma condição de peregrinos ou crentes, Deus tem para nós que o ser “de Deus” e viver “para Deus” é a razão última de toda existência, logo, o nosso maior desejo inerente.

Prossigamos em reconhecer o nosso lugar e o lugar do outro, em aprender dia-a-dia sobre a postura bendita que tais relacionamen-tos requerem. Ninguém logrará sucesso tentando fazer isso sem Deus. Que cada um destes parágrafos te desperte para a mais importante verdade universal, isto é, Deus é Deus, não você! E Ele está perto (imanência)! Sendo assim, busque-o!

Boa leitura e boa viagem, mas nunca deixe de voltar (para si mesmo).

Pr. Ramon Márcio de Oliveira

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PALAVRA DO DIRETOR EXECUTIVO DA CBM Aprendendo com o Mestre dos Relacionamentos

Relacionamento é uma arte de inigualável complexibilidade. Poucas coisas na vida podem causar tanta satisfação ou frustra-ção. Ao analisarmos os relacionamentos

interpessoais veremos que eles são responsáveis por uma grande parcela do sucesso ou fracasso na vida profi ssional, familiar e sentimental. Milhares de pes-soas frustradas em suas carreiras são notáveis (alto QI e capacidade cognitiva) em suas especialidades, m as tropeçam na arte dos relacionamentos. Milha-

res de casais que se amam acabam dando um ponto fi nal em sua história por não coseguirem ajustar seus relacionamentos. O psicólogo Howard Gardner juntamente com sua equipe de especialistas da universidade de Harvard desen-volveram na década de 80 a teoria das inteligências múltiplas. Anos mais tar-de, estudiosos apresentaram uma pesquisa surpreendente, onde apontam que somente 4% das pessoas tem a preciosa e necessária inteligência Interpessoal conforme pesquisa abaixo.

Inteligência Linguística 29 %Inteligência Lógica 29 %Inteligência Motora 16 %Inteligência Espacial 14 %Inteligência Musical 6 %Inteligência Interpessoal 4 %Inteligência Intrapessoal 2 %

Ainda que essa pesquisa aponte para uma realidade desafi adora e possivelmen-te verdadeira, o que não se ensina nas academias é que podemos aperfeiçoar nossa inteligência Interpessoal e Intrapessoal na mesma medida que nos rela-cionamos com Deus. O homem que tem um saudável, profundo e constante relacionamento com seu Criador aprenderá a se relacionar de forma saudável, respeitosa e prazerosa com seu próximo. Jesus em seu ministério terreno nos ensinou como podemos nos relacionar com o Pai. O relacionamento de Jesus com o Pai era poético, singelo, simples, profundo e constante. Jesus mostrou que tinha sede do Pai, sentia falta de se relacionar com o Pai, assim como o corpo sente falta de alimento. Por isso Jesus sabia relacionar-se com as pesso-as. Jesus demonstrou inteligência Interpessoal, bem como Intrapessoal como ninguém, não resta dúvida, que do ponto de vista da sua humanidade, isso foi possível pelo grau de relacionamento que ele nutria com o Pai, ao ponto dele declarar: “Eu e o Pai somos um” (João 10:30).

Com muita alegria apresento a revista Refl exões Bíblicas IV. Os Pastores Tarcisio Caxeta e Sebastião Arsenio lhe ajudarão a descobrir nas Sagradas Letras os princípios fundamentais para você aperfeiçoar seu relacionamento com Deus e com as pessoas que você convive. Estou certo que serão meses de muito aprendizado, crescimento e conquistas.

Pr. Marcio Alexandre de Moraes Santos

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PALAVRA DA COORDENADORA DO COMITÊ DE CRESCIMENTO CRISTÃO

Arevista “Refl exões Bíblicas” está em sua quarta edição, cumprindo o propósito para o qual foi criada, capacitar o povo batista mineiro. A cada ano temos procurado desenvolver o Currículo

proposto.

Nesta edição trabalhamos a comunicação pelas varia-das formas de relacionamentos. Comunicar bem atra-vés de relacionamentos saudáveis é o grande alvo da sociedade.

Em quantos tipos de relacionamentos você está envolvido durante todo o dia? A todo momento você está cercado por relações interpessoais que o remetem a uma relação intrapessoal. Ter bons relacionamentos é algo de estrema impor-tância e imprescindível na sua atuação como fi lho do Deus altíssimo no mundo.

As relações interpessoais surgem quando iniciamos o processo de autoconhe-cimento. É nessa perspectiva que trazemos a refl exão de quão grande é o re-lacionamento de Deus para com sua criação. Deus busca desde o início da criação manter um relacionamento saudável e íntimo com o ser humano (coroa da criação).

O processo de autoconhecimento do cristão inicia quando estudamos nossa criação, propósitos, objetivos e a forma que fomos criados. Ele remete a um relacionamento saudável com o criador e com a criação. Relações interpessoais é fundamental no desenvolvimento, social, profi ssional, familiar, estudantil e eclesiástico. A capacidade de relacionar-se com Deus, consigo mesmo, com o próximo e com a natureza, determina sua personalidade cristã. É importante ressaltar que no processo de comunicação há necessidade de relacionamento.

O processo de comunicação foi iniciado por Deus, com o ser humano desde a sua criação e restabelecida em Cristo Jesus.

Comunicar é algo imprescindível a criação. Saber comunicar bem com Deus, consigo mesmo, com o próximo e com a natureza é fruto de autoconhecimento, realizado através da busca pelo saber e prática da Palavra de Deus.

Seja você um bom comunicador da Palavra de Deus em resposta ao seu auto-conhecimento através do relacionamento interpessoal aprendido no dia a dia.

Tania Oliveira de Araujo

Relacionamentos marco do nosso tempo

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AUTORES

SEBASTIÃO ARSENIO DA SILVA, pas-tor da Igreja Batista da Esplanada em Governador Valadares desde 1977, casado com Helen Marques da Sil-va, pai de cinco fi lhos: Aline Marques da Silva, Drielly Sampaio de Souza, Paula Cristina da Silva, Renata Marques da Silva e Neander Marques da Silva. Graduado em teologia pela Faculdade Teológica Batista Minei-ra; Licenciado em Letras pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais);

Graduado no curso de Liderança Avançada do Haggai Internacional (Maui - Havaí).

TARCISIO CAIXETA DE ARAUJO é ca-sado com a irmã Roberta Grisi e pai de Alice, 5 anos. É pastor da Igreja Batista Memorial de BH desde Outu-bro de 2016. Bacharel em Teologia pelo Seminário Teológico Batista Mineiro; Licenciado em Português/Inglês pelo UNI-BH; Escrita Braile pelo Instituto São Rafael; Hebraico Moderno pela As-sociação Israelita Brasileira e Kibbuts Shphayim, Israel; Hebraico Bíblico Avançado e Mestre em Teologia pela Universidade de Gales, South Wales Baptist College - Reino Unido. Leciona Hebraico, Antigo Testamento, Análise Bíblia, Exegese e Teologia do AT na Faculdade Batista de Minas Gerais e Hebraico no eteacher-group.com, fi liado a Universidade de Jerusalém. Autor dos livros: Em Espírito e em verdade; Um sonho em realidade; De mar a mar; Urim Tumim: introdução ao hebraico; De mar a mar; Resiliência; Flor de papiro.

Graduado no curso de Liderança Avançada do Haggai Internacional

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EDUCADORES E PEDAGOGOSCELMA OLIVEIRA DE ARAUJO FERREIRA SILVA Bacharel em Educação Cristã.Bacharel em Pedagogia pela Universidade Norte do Pará. Pós-graduanda em Educação Inclusiva.Membro da Igreja Batista Filadélfia Coronel Fabriciano.

DORICEIA ALVES PEDROSOCurso Livre de Educação Religiosa - Seminário Teológico Batista Mineiro.Educadora Religiosa na Igreja Batista Humaitá – BH.

MARIA DAS DORES SILVABacharel em Teologia pelo STBM.Pós em Teologia Sistemática (FAT), Aconselhamento Pastoral (FBMG) e Metodologia de Ensino Superior (UEMG).Atualmente Coordenadora de PG na Igreja Batista Itatiaia.

ROSILENE DELTIZA TURCI OLIVEIRAProfessora pelo Colégio Joaquim Nabuco.Bacharel em Teologia e Educação Religiosa pela Faculdade Batista de Minas Gerais.Membro da Primeira Igreja Batista Metropolitana em Contagem.

SENHORINHA GERVÁSIO LOURENÇO BRAGANÇAGraduada em Educação Artística pela Escola Guignard - UEMG. Curso Livre de Educação Religiosa pelo Seminário Teológico Batista Mineiro. Cursou na Casa dos Quadrinhos - Técnico em Artes Visuais. Atualmente é membro da Igreja Batista Vila Marília, BH.

TANIA OLIVEIRA DE ARAÚJOBacharel em Pedagogia - Faculdade Newton de Paiva. Pós-graduação em Psicopedagogia pela UEMG. Pós-graduanda em Neuroeducação pela Faculdade Batista de Minas Gerais. Curso Livre de Educação Religiosa pelo Seminário Teológico Batista Mineiro. Membro da Igreja Batista do Progresso.

AGRADECIMENTO

Um agradecimento especial à REDE CRIATIVA DE EDUCAÇÃO e a ESCOLA EDUCAÇÃO CRIATIVA, pelo apoio aos projetos

da Convenção Batista Mineira.

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SUMÁRIO

ESTUDO 1: NO PRINCÍPI0 - O PRIMEIRO DIA DA CRIAÇÃO .................11

ESTUDO 2: O MAR E OS CÉUS - O SEGUNDO DIA DA CRIAÇÃO ..........16

ESTUDO 3: A TERRA FÉRTIL - O TERCEIRO DIA DA CRIAÇÃO ........... 21

ESTUDO 4: LUZEIROS DO DIA E DA NOITE - O QUARTO DIA DA CRIAÇÃO ..............................................................................................26

ESTUDO 5: CRIATURAS DAS ÁGUAS E DOS ARES - O QUINTO DIA DA CRIAÇÃO ..............................................................................................31

ESTUDO 6: CRIATURAS DA TERRA - O SEXTO DIA DA CRIAÇÃO ........36

ESTUDO 7: DA TERRA AO CÉU - O SEXTO DIA DA CRIAÇÃO .............42

ESTUDO 8: O DESCANSO ....................................................................47

ESTUDO 9: O DIA E A ETERNIDADE ....................................................53

ESTUDO 10: FELICIDADE E BÊNÇÃO ..................................................58

ESTUDO 11: O SER MULHER ...............................................................63

ESTUDO 12: A CRIAÇÃO DA MULHER .................................................68

ESTUDO 13: AS GENEALOGIAS ...........................................................73

ESTUDO 14: A FORMAÇÃO DO SER HUMANO ....................................79

ESTUDO 15: O PRIMEIRO MANDAMENTO ...........................................84

ESTUDO 16: ASTÚCIA E SEDUÇÃO .....................................................90

ESTUDO 17: ASTÚCIA E SEDUÇÃO, continuação ................................95

ESTUDO 18: QUANDO O HOMEM SE SERPENTEIA ............................101

ESTUDO 19: MALDIÇÃO E DISCIPLINA ..............................................106

ESTUDO 20: A MORTE E A VIDA .........................................................111

ESTUDO 21: UMA OFERTA AO SENHOR ............................................116

ESTUDO 22: PRIMEIRO FRATRICÍDIO ................................................121

ESTUDO 23: O DIÁLOGO DE UM TRANSGRESSOR ............................126

ESTUDO 24: BREVE GENEALOGIA ....................................................131

ESTUDO 25: O NOME DO SENHOR É INVOCADO ..............................136

ESTUDO 26: NOÉ, ADÃO E CRISTO ...................................................141

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ESTUDO 27: CONHEÇA O DEUS ÚNICO E VERDADEIRO ..................147

ESTUDO 28: CONHEÇA O DEUS TRIUNO ...........................................151

ESTUDO 29: APROXIME-SE DE DEUS ...............................................156

ESTUDO 30: LOUVE A DEUS ATRAVÉS DA ADORAÇÃO ....................161

ESTUDO 31: LOUVE A DEUS COM GRATIDÃO ...................................165

ESTUDO 32: LEIA A PALAVRA DE DEUS ............................................171

ESTUDO 33: CONVERSE COM DEUS .................................................177

ESTUDO 34: SIRVA A DEUS ...............................................................183

ESTUDO 35: TENHA UM ENCONTRO DIÁRIO COM DEUS ..................188

ESTUDO 36: PRESTE CULTO A DEUS ................................................193

ESTUDO 37: SOMOS CRIATURAS DE DEUS ......................................199

ESTUDO 38: SOMOS PARECIDOS COM DEUS ...................................203

ESTUDO 39: SOMOS PECADORES .....................................................207

ESTUDO 40: SOMOS AMADOS POR DEUS ......................................... 213

ESTUDO 41: NOSSA AUTOIMAGEM ...................................................218

ESTUDO 42: NOSSA AUTOESTIMA .....................................................224

ESTUDO 43: MELHOR É SEREM DOIS ...............................................230

ESTUDO 44: CONVIVENDO COM O OUTRO .......................................234

ESTUDO 45: ACEITANDO O OUTRO ...................................................239

ESTUDO 46: CONVIVENDO EM FAMÍLIA ............................................243

ESTUDO 47: CONVIVENDO NA IGREJA .............................................249

ESTUDO 48: O MAIS IMPORTANTE É O AMOR ...................................253

ESTUDO 49: O HOMEM DIANTE DA CRIAÇÃO ...................................258

ESTUDO 50: O DESAFIO DA SUSTENTABILIDADE .............................263

ESTUDO 51: CUIDANDO DE NOSSA CASA ......................................... 268

ESTUDO 52: EVITANDO O DESPERDÍCIO ..........................................272

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10 | REFLEXÕES BÍBLICAS IV

| TARCÍS IO CAIXETA DE ARAÚJO

UM PERCURSO ABENÇOADOR

É um grande privilégio poder meditar e escrever sobre a Pa-lavra de Deus. Senti-me profundamente honrado com o convite da Convenção Batista Mineira para ser um dos es-critores das lições da EBD para o ano de 2018, exatamente

quando celebramos nosso centenário.

A revista “refl exões bíblicas” está em sua quarta edição e tem caído na graça do povo. Ter a oportunidade de contribuir com as igrejas batistas de Minas Gerais, e, por extensão, com outras igrejas es-palhadas pelo Brasil e no exterior, é um presente que recebo com muita alegria e extrema gratidão. Agradeço a Deus e a irmã Tania Oliveira de Araujo e sua equipe pela generosidade do convite.

Foi maravilhosamente desafi ador e uma grande responsabilidade escrever para um público tão seleto. Aprendi muito no processo de escrita das lições referentes ao livro do Gênesis, em seus cinco pri-meiros capítulos. Comecei do começo, como se diria em hebraico. Parti dos dois versos introdutórios ao livro do Gênesis e percorri os relatos do primeiro ao sétimo dia da criação. Concluída essa par-te, apresentei sete teorias que buscam explicar o relato da criação. Através das teorias, discuti a participação humana na continuidade da criação e sua conexão com a natureza, que precede a raça hu-mana.

Tratei também da bênção, como sinônimo de felicidade, e da mal-dição, como sinônimo de restrição. Discuti a posição da mulher e o privilégio de ser ajudadora do homem e da família. Introduzi a temática da genealogia, na tentativa de aproximar o leitor desse importante recurso literário. Apresentei o que seria o primeiro man-damento horizontal entregue pelo Criador à raça humana, muito antes dos dez mandamentos serem escritos. Tratei da astúcia e se-dução da serpente e de alguns dos desdobramentos da desobediên-cia humana ao Criador. Falei da oferta de Caim e Abel e da rivali-dade entre irmãos. Finalizei os estudos com uma breve comparação entre Adão, Noé e Cristo.

Desejo que você seja enriquecido com essa leitura e estudo bíblico.

Continuo minhas pesquisas a respeito desses cinco capítulos do Gênesis e prossigo na escrita a respeito dos capítulos seguintes.

Pr. Tarcisio Caixeta de Araujo

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REFLEXÕES BÍBLICAS IV | 11

DEUS E O RELACIONAMENTO COM A CRIAÇÃO |

Estudo – 1

NO PRINCÍPI0O PRIMEIRO DIA DA CRIAÇÃO Gênesis 1:1-5

INTRODUÇÃO

As duas primeiras palavras he-braicas da Bíblia, “no princípio”, dão nome ao primeiro livro da Bíblia em hebraico. Este estudo destacará os cinco primeiros ver-sos do capítulo um de Gênesis, o livro dos princípios.

Como que Deus se apresenta logo no início da Bíblia? Se nada soubéssemos sobre a Sua Pes-soa, se estivéssemos lendo pela primeira vez algo sobre o Criador e a criação, o que diríamos se Gênesis 1:1-5 fosse o único texto sagrado disponível no momen-to? Vejamos o texto na íntegra: “1No princípio criou Deus o céu e a terra. 2E a terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo; e o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas. 3E disse Deus: Haja luz; e houve luz. 4E viu Deus que era boa a luz; e fez Deus separação entre a luz e as trevas. 5E Deus chamou à luz Dia; e às trevas chamou Noite. E foi a tarde e a manhã, o dia primeiro.”

LEITURAS DIÁRIASSegunda Sl 19:1-3; Rm. 1:20Terça Cl. 1:15-17Quarta Sl. 19:1-3Quinta Ne 9:6Sexta Hb 1:10Sábado Sl 104:1-6; Jó 26:13Domingo Tg 1:17; Ap. 21:23

É importante nos lembrarmos que podemos ler o relato da criação em diversos idiomas hoje em dia, especialmente em Português, o que é uma grande bênção. Contudo, a língua origi-nal em que o texto foi escrito é o idioma falado por Abraão e pelos hebreus/israelitas a partir daí, ou seja, o hebraico. Moisés es-creve em hebraico. Dessa forma, faremos uma análise de Gêne-sis 1:1-5 via língua portuguesa (tradução/versão) e daremos al-guns destaques naquilo em que a língua hebraica nos ajuda na melhor compreensão do que o autor sagrado nos comunica por escrito acerca das grandezas de Deus, reveladas há mais de três mil anos atrás.

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12 | REFLEXÕES BÍBLICAS IV

| TARCÍS IO CAIXETA DE ARAÚJO

A língua carrega consigo os as-pectos culturais de um povo. Só para exemplifi car, se a Bíblia ti-vesse sido escrita em português, teríamos “E foi a manhã e a tarde, o dia primeiro” e não como está ao pé da letra em hebraico: “E foi a tarde e a manhã, o dia primeiro. ” Os hebreus/israelitas contam o início do dia ao entardecer do dia anterior. O domingo, por exemplo, começa no pôr do sol de sábado.

Após uma leitura cuidadosa de Gênesis 1:1-5, em português, seríamos capazes de afi rmar que Deus é agente da criação no princípio de tudo (v.1), que Ele é o Criador dos céus e da terra (v.1), que Seu Espírito age sobre as águas no processo criativo da terra informe e vazia (v.2), que há um grande abismo de trevas (v.2) e que Deus começa a colo-car ordem no caos/abismo atra-vés da criação da luz (v.3), uma boa luz, totalmente distinta das trevas (v.4). Está criado o dia, o qual é composto de luz e trevas.

Aplicação a sua vida: Diante do texto de Genesis 1:1-5 como você imagina o princípio de tudo? Você seria capaz de co-meçar algo dessa plenitude?

No princípio Deus revela ca-racterísticas comunicáveis

Diríamos também que Deus, o Criador, tem algumas caracte-rísticas compartilháveis a nós humanos e outros atributos aos

quais não temos acesso. Veja o que nos informam os cinco ver-sos iniciais deste primeiro capí-tulo da história da criação. É--nos dito pelo narrador (Moisés) que Deus fala: “E disse Deus” (v.3); que Ele vê: “E viu Deus” (v.4); que Ele age: “e fez Deus se-paração entre a luz e as trevas” (v.4); que Ele é capaz de nomear os seres: “E Deus chamou à luz Dia; ”. De acordo com o verso 5, a luz recebe o nome de Dia e as trevas de Noite.

Até agora verifi camos caracte-rísticas do Criador que também fazem parte da nossa realidade humana: a fala, a visão (capa-cidade de observação estética), movimento no ato de fazer algo e inteligência para nomear os seres. Contudo, a nossa capaci-dade de criação é infi nitamente inferior à capacidade divina. Na expressão “céus e terra” está dito que tudo o que há nos céus e tudo o que há na terra vieram à existência pela criação divina.

Por mais criativos que sejamos, nossa capacidade de criar, de in-ventar, se limita à matéria prima preexistente, a conceitos precon-cebidos e à nossa própria exis-tência física que tem começo (na nossa concepção) e fi m (na nossa morte).

Aplicação a sua vida: As carac-terísticas comunicáveis de Deus estão presentes no ser humano. Como você tem exercitado essas características?

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REFLEXÕES BÍBLICAS IV | 13

DEUS E O RELACIONAMENTO COM A CRIAÇÃO |

No princípio Deus revela ca-racterísticas incomunicáveis

Do Deus Criador é afi rmado também que sua fala é tão po-derosa que Ele diz algo e esse algo acontece instantaneamente: “Haja luz; e houve luz” (v.3). A Palavra do Deus Criador é cria-dora. A palavra humana, apesar de ter sua origem no Criador, é limitada. O atributo da onipotên-cia não nos foi comunicado pelo divino. O narrador quer deixar claro tam-bém que o Criador pode e deve ser chamado de “Deus”. Ele repe-te a palavra “Deus” seis vezes só nesse início de relato. Portanto, o narrador, que também se mostra poeta pela forma que descreve o processo criativo de Deus, quer nos deixar a impressão de que o Criador se chama “Deus”. Ele eleva um substantivo, que em Português poderia ser um termo genérico, a nome próprio. Assim, o termo hebraico “elohim” aqui traduzido como Deus, carrega em si o peso de um dos nomes do Criador.

Surpreende-nos o texto sagrado quando se silencia a respeito da origem do Criador. O relato co-meça de forma direta pelo ato criativo dos céus e da terra. Di-ferente dos relatos da criação de outros povos, como por exemplo, os babilônicos, não há, na Bíblia Sagrada, qualquer indício de que o Criador tenha uma origem, uma genealogia, uma história temporal. Das divindades em ge-

ral se fala de uma “teogonia”, de uma origem dos deuses. O Deus Criador dos céus e da terra não tem uma história genealógica, portanto, como dito em Latim, Ele é o Deus increatus. Ele não tem pai nem mãe, não tem prin-cípio nem fi m.

Não tendo pai nem mãe, ainda assim, o Deus Criador teria al-gum relacionamento como nós os humanos os temos? Ainda é muito cedo para se falar em Trin-dade, a qual aponta para o mais perfeito relacionamento. Encon-tramos o Espírito pairando sobre a face das águas, apesar de al-guns teólogos afi rmarem que o Espírito, neste contexto, expres-saria uma energia da parte do Deus Criador (COELHO FILHO, 2004). Apesar de ainda não ver-mos a Pessoa do Filho, o relato hebraico da criação dá algumas pistas aos ouvintes e aos leito-res sobre a Pessoa de Deus. Ele é pessoa, porque, como afi rmado anteriormente, ele fala, vê, age. Contudo, Ele extrapola a reali-dade material, porque é capaz de fazer existir céus e terra. Portan-to, é Pessoa de poder ilimitado. É pessoa divina.

Aplicação a sua vida: Temos presenciado em vários momen-tos da história o desejo do ser humano de possuir as carac-terísticas incomunicáveis de Deus apresentado com muita maestria nos fi lmes e roman-ces. Será que podemos perceber esse desejo do ser humano em outras circunstâncias ou situa-ções? Comente!

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14 | REFLEXÕES BÍBLICAS IV

| TARCÍS IO CAIXETA DE ARAÚJO

No princípio Deus se revela plural e singular

A palavra traduzida como Deus vem do hebraico elohim. Elohim encontra-se no plural. Uma vez que o verbo “criar” (heb. bará) está na terceira pessoa mascu-lino singular, somos informados que tanto a ação do Deus plu-ral quanto a sua constituição é singular. Estamos diante de um Criador majestoso, singular, que merece um nome plural.

No verso dois encontramos o Es-pírito de Deus (heb. rúach elo-him). Para elevar a palavra elohim a nome próprio, não há o uso do artigo nela. Diferente do Portu-guês, nomes próprios hebraicos não levam artigo. Em Português, quando queremos demonstrar intimidade, inserimos o artigo nos nomes próprios, como por exemplo na frase: “a Alice é mui-to inteligente”. Dizer “a Alice”, faz dessa pessoa alguém próxima daquele que fala.

Sabemos, no mínimo, pelo ver-so dois de Gênesis primeiro, que Deus é Espírito. Alguns teólogos afi rmam que em Gênesis 1:2 não se trata do Espírito de Deus como pessoa, mas sim como for-ça criadora de Deus, trazendo vida à existência pelo seu mover sobre as águas. De qualquer for-ma, é inegável que o Deus Cria-dor seja Espírito nesse contexto e que, numa leitura mais aber-ta, tomando como referências outros contextos, o Espírito de Deus possa ser aqui considerado uma Pessoa e não apenas uma energia divina. Se tivéssemos somente a informação de Gêne-

sis 1:1-5 seria realmente difícil provar que o Espírito de Deus se refi ra a uma segunda pessoa divina como elohim o é apre-sentado. Diferente do alfabeto português, o alfabeto hebraico é todo minúsculo. Não temos a informação dos nomes próprios hebraicos via inicial maiúscula como na nossa língua materna.

Aplicação a sua vida: você é capaz de identifi car essa afi rma-ção do autor a respeito de Deus plural e singular? Comente.

No princípio Deus revela seu projeto

A palavra “princípio” ocorre 47 vezes em todo o Antigo Testa-mento. Só para citar alguns exemplos, o vocábulo hebrai-co “reshit” aparece três vezes em Gênesis (1:1; 10:10 e 49:3), traduzido como “princípio”. De Êxodo a Deuteronômio aparece como “primícias”. Em Números 24:20 e 1 Samuel 2:29 e 15:21, como “primeira”, “principal” e “o melhor”, respectivamente. Prin-cípio, portanto, é o começo de tudo. É o principal, o melhor. O narrador nos informa que “no começo” Deus criou os céus e a terra. Nesse sentido, o “começo”, o “princípio” é anterior à existên-cia dos céus e da terra. O “princí-pio” pode ser comparado ao pro-jeto arquitetônico de Deus que existiu antes da construção do universo propriamente dita (ver Provérbios 8, onde a sabedoria é personifi cada e apresentada como a arquiteta da criação). A palavra “princípio” aponta para a capacidade divina de criar não

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REFLEXÕES BÍBLICAS IV | 15

DEUS E O RELACIONAMENTO COM A CRIAÇÃO |

só a realidade física como tam-bém o próprio “começo de tudo”.

No princípio Deus executa seu projeto

O verbo “criar” (bará) tem Deus, em todo o Antigo Testamento, como sujeito. O ser humano é incapaz de bará. O conceito de creatio ex nihilo (criação do nada) surgiu pela primeira vez na LXX (Septuaginta), via tradução para o Latim, no segundo livro dos Macabeus 7:28, que diz: “Eu te suplico, meu fi lho, contempla o céu e a terra; refl ete bem: tudo o que vês, Deus criou do nada [cre-atio ex nihilo], assim como todos os homens.” O conceito está cor-reto e reconhecido pelos judeus do período de domínio grego no mundo (333-165 a.C.) e do domí-nio selêucida em Canaã. O uso do verbo bará apresenta o Deus Criador com a capacidade de trazer à existência o que nunca existira antes de forma concre-ta, palpável. (Ver Is 42:5; 48:6-8; Am 4:13).

Aplicação a sua vida: a criação faz parte de todo um projeto ela-borado por um Deus supremo. Você já parou para pensar como é criar do nada?

CONCLUSÃO:

Perguntamos no início do estu-do, o que diríamos sobre o Cria-dor e a criação se Gênesis 1:1-5 fosse o único texto sagrado dis-ponível? Dissemos, em resposta, que Deus é agente da criação no princípio de tudo (v.1), que Ele é o Criador dos céus e da terra

(v.1), que Seu Espírito age sobre as águas no processo criativo da terra informe e vazia (v.2), que há um grande abismo de trevas (v.2) e que Deus começa a colo-car ordem no caos/abismo atra-vés da criação da luz (v.3), uma boa luz, totalmente distinta das trevas (v.4).

No princípio, Deus criou. Deus é o único criador de tudo o que existe, visível e invisível. Aquele que tudo cria, tem poder para tudo dirigir e sustentar. Assim como Ele sustenta a sua criação desde o princípio, Ele sustenta a sua vida, ainda que você não se dê conta disso.

REFERÊNCIAShttps://www.bibliaonline.com.br/acf/gn/1COELHO FILHO, Isaltino Gomes. Gênesis: bereshîth, o livro dos princípios. Rio de Janeiro: JUERP, 2004.

Suporte para Pequenos Grupos

1. O que Deus revela no “princípio”?

2. O que mais te tocou através desta lição?

3. Que descoberta fez através desta lição?

4. Depois de tudo que ouviu hoje através do compartilhamento, você sente que precisa mudar algo em sua vida? Pode compar-tilhar?

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Estudo – 2

O MAR E OS CÉUS O SEGUNDO DIA DA CRIAÇÃO

Gênesis 1:6-8INTRODUÇÃO

Nosso primeiro estudo trata do primeiro dia da criação (1:3-5), e dos dois versos introdutórios ao livro do Gênesis. O Criador tem o seu nome conhecido como “Deus”, nesse início de narra-tiva, um substantivo plural em hebraico. Mencionamos alguns de seus atributos comunicáveis e sua onipotência. Além disso, destacamos a presença do Espí-rito de Deus na criação. O verso 4 afi rma que Deus viu que a luz era boa. A palavra “boa” pode ser também traduzida como “bela”. Assim, Deus viu que a luz era bela. Era boa e bela.

Criados pela palavra

Este segundo estudo apresenta o segundo dia da criação, o qual está descrito nos versos 6 a 8. Enquanto no primeiro dia Deus cria a luz e as trevas, no segundo dia são criados o mar e os céus. Em nenhum momento o narra-dor diz que Deus cria o segundo dia. Fala-se da criação das coi-sas que compõem o segundo dia e não da criação do segundo dia em si.

As águas dão origem aos ma-res e ao céu. Para que os céus apareçam, Deus diz: “Haja uma

expansão no meio das águas, e haja separação entre águas e águas.” (v.6). Mais uma vez Deus faz uso da palavra para trazer existência às coisas. Em hebraico, o vocábulo “palavra” é o mesmo para “coisa”. Dessa for-ma, o ouvinte e leitor da Palavra de Deus compreende que as “coi-sas” vêm à existência pela “pa-lavra” de Deus. Palavra e coisa, em hebraico, vêm do verbo falar, conversar. A comunicação divina tem em si mesmo o poder criati-vo. Deus fala e as coisas surgem. Ouvir a voz de Deus dá sentido à existência.

Aplicação a sua vida: A comu-nicação divina tem em si mesmo o poder criativo. Deus fala e as coisas surgem. Ouvir a voz de Deus dá sentido à existência. Você tem parado para ouvir a voz de Deus através da sua cria-ção? Comente.

LEITURAS DIÁRIASSegunda Sl. 33:6-9Terça Jr. 51:15,16Quarta Sl. 136:1-5Quinta Pv. 8:22-31Sexta Mt. 8:23-27Sábado Sl. 104:25-30Domingo Dt. 10:14

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DEUS E O RELACIONAMENTO COM A CRIAÇÃO |

Curiosamente, a palavra céu é traduzida como “céus”. Trata-se de uma palavra dual. Os duais são aquelas palavras ou concei-tos que remetem sempre aos pa-res na natureza. É um conceito próprio do hebraico, uma forma plural das coisas que ocorrem aos pares. Quando você fala ou pensa em uma parte daqui-lo que é dual, é inevitável que a segunda parte seja considerada, ou seja, pensa-se em duplos. A maioria dos duais pode ser vista no corpo humano: Olho, narina, lábio, mão, pé, perna, braço, ore-lha, ouvido, pálpebra etc. Além desses duais, palavras tais como água, céu, Egito, Efraim também aparecem na forma dual em he-braico. Portanto, águas e céus falam de duas realidades: Águas superiores e águas inferiores; céu visível e céu invisível.

Aplicação a sua vida: Quando Deus faz separação das águas podemos desfrutar de duas formas desse líquido precioso. Você tem parado para contem-plar o momento que as águas de cima vêm ao encontro da terra para regá-la? Se, sim, qual sen-timento?

Criados como irmãos

Como se dá a criação dos céus? Os céus se originam a partir das águas. Talvez por isso, o termo “céus” tenha uma morfologia tão semelhante a das “águas” em hebraico. O que vai separar as águas é chamado de expan-são. A criatividade do Criador é

sem limites. Generosamente, Ele compartilha de sua criatividade com a sua criação em geral, e, de modo especial com o ser huma-no.

Para que você tenha uma ideia da semelhança entre as pala-vras hebraicas céus e águas as disponibilizamos aqui, em he-braico. Você não precisa saber ler os caracteres hebraicos para perceber a similaridade entre os dois termos: {iyamf$ (céus) {iyam (águas). O hebraico é lido da di-reita para a esquerda. A diferen-ça entre os dois vocábulos está nesta sílaba: f$ (sha). Se você re-tirar a sílaba f$ (sha) de {iyamf$ (céus), você tem {iyam (águas). Águas e céus estão interligados.

A palavra “expansão” ilustra bem o entendimento primitivo do que seria o céu, ou céus. O dicionário hebraico-português e aramaico português, das edito-ras Sinodal/Vozes (1988, p.234), defi ne “expansão” como: “chapa (de metal achatada pelo marte-lo), fi rmamento (abóboda celeste entendida como algo sólido).” J. Barton Payne in: Dicionário in-ternacional de teologia do Antigo Testamento (1998, p1454s.) diz que o entendimento da expansão como algo sólido vem da LXX, por infl uência grega. A mitolo-gia babilônica também pensava os céus como algo sólido. “Mar-duque usou metade do cadáver de Tiamate para formar os céus (shamamu), mantidos em seu lu-gar com o auxílio de uma viga”.

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O vocábulo hebraico para “ex-pansão” seria melhor traduzi-do, segundo Payne (1998), por “vastidão”, o “espaço aberto dos céus”, a atmosfera “e aquela imensidão mais distante”. O es-paço sideral, isto é, “as estrelas, o sol e a luz presumivelmente já haviam sido criados no v. 3”. Concordamos com Payne que os astros já haviam sido criados no verso 3. Para entender melhor essa possibilidade, sugerimos que você leia o relato da criação não somente de forma diacrôni-ca, ou seja, na sequência em que aparece no Gênesis, mas pro-cure fazer também uma leitura sincrônica do relato, uma leitura em que você coloca os textos pa-ralelamente. Você lê e compara o relato do primeiro dia com o quarto; o segundo com o quinto e o terceiro com o sexto.

Aplicação a sua vida: O autor fala de uma interligação entre céus e águas. Em nossa huma-nidade podemos ver a olho nu as duas confi gurações de água. Como você percebe os céus visí-vel e invisível? Comente.

Nos cinco primeiros versos são utilizados os verbos hebraicos bará (criar do nada) (v.1); hayah (ser, estar, haver, ocorrer, tor-nar-se), rarraf (voejar, adejar, pairar) (v.2); amar (dizer) (v.3); raah (ver, enxergar); badal (fazer separação, separar; distinguir) (v.4); qará’ (chamar, convocar) (v.5). Esses sete verbos que aju-dam a dar forma e tornar inteli-gível o relato da criação, também comunicam um Criador sempre

ativo: Ele se comunica, avalia, distingue, nomeia, adeja sobre as águas trazendo vida dali e dá forma às coisas, mesmo aquelas que ainda não existem material-mente. O Criador, capaz de criar do nada, o que denota um poder incomparável, é também aces-sível à sua criação. O Poderoso Criador está próximo da obra criada.

No verso sete, no segundo dia, surge um novo verbo hebraico: Assah (fazer, manufaturar, tra-balhar; fabricar, elaborar, exe-cutar, agir). Esse verbo pode ser traduzido também por “criar”. Trata-se da criação por mode-lamento. O narrador, numa lin-guagem poética, quer que leia-mos o texto na compreensão de que o Criador está modelando os céus. Ele é tão grandioso que modela não somente o ser hu-mano, no relato do sexto dia, mas os astros mais longínquos, no relato do quarto dia. Apresen-tar o Criador como alguém que faz trabalho manual é dizer que Ele está presente, que as coisas criadas, a matéria com todas as suas substâncias, não são vistas como impuras. Essa linguagem fi gurada do Criador modelando sua criação o aproxima da ideia de um exímio oleiro do antigo oriente. Substâncias informes, ao receberem o toque habilidoso do Criador, tornam-se requinta-das obras de arte. O verso 8 fecha a narrativa do segundo dia, e, de forma surpre-endente não encontramos a afi r-mativa de que a criação do mar e

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céus era boa ou bela. Nem tudo que é bom ou belo precisa ser dito. Há beleza na narrativa até pelo fato de não se fazer explici-tamente uma avaliação da obra divina. A inclusão do verbo criar, no sentido de modelar, imprime no relato uma beleza ímpar.

Aplicação a sua vida: A criação traz a beleza de uma modelagem perfeita de Deus. Encontramos aqui a proximidade do Criador com a sua obra de arte. A ma-ravilha na riqueza de detalhes feito pelo Criador nos leva a ob-servar os céus de forma criativa e bela. Assim como o Criador se apresenta presente em sua criação devemos estar sempre dispostos a contemplá-la. Você tem parado para observar o céu durante o dia e a noite, na cida-de e no campo? Comente.

Inspirados na luz

Como não tratamos, no estudo 1, da questão da criação da luz antes da criação do sol (v.3), o fazemos agora. Considerando que o relato da criação esteja em ordem cronológica, percebemos que a luz é criada no primeiro dia e o sol, a lua e as estrelas no quarto dia. Dentro do nosso conhecimento, é incompatível a ideia de que a luz, que não seja a solar, seja sufi ciente para manter a vida na terra como a conhecemos hoje.

Vejamos a seguir três possíveis respostas para a questão que envolve a luz criada antes do sol. Primeira: O sol é conhecido

como um astro ou uma estrela de quinta grandeza. Compara-do a estrelas de primeira gran-deza, o sol pode ser visto como um grão de areia. Comparado à luz divina, o sol não é nada. O sol é um tipo de luz dentre mui-tos. É a luz que os humanos, em geral, conhecem com maior propriedade. A Bíblia diz, em 1 João 1:5, o seguinte: “E esta é a mensagem que dele ouvimos, e vos anunciamos: que Deus é luz, e não há nele trevas nenhumas”. Precisamos nos lembrar de que Deus não carece da luz do sol para criar qualquer coisa. As plantas, criadas no relato do ter-ceiro dia, precisam da luz solar, porque Deus as cria com essa necessidade. Contudo, se Deus dependesse de qualquer matéria prima para criar alguma coisa, o universo não existiria. A criação do Gênesis é ex nihilo, ou seja, sem a dependência da matéria, é por modelamento, a partir da matéria e por formação. Deus cria, modela e forma todas as coisas existentes, visíveis e invi-síveis. Ele faz uso de sua pala-vra (comando) e também de sua perícia.

A segunda resposta para a questão da criação da luz antes da criação do sol vem da tradi-ção judaica, encontrada no Sal-mo 104:2, que diz: “Envolto em luz como numa veste, Deus es-tende os céus como uma tenda”. Segundo interpretações, Deus teria criado uma veste de luz, e a partir daí começado a criar to-das as coisas. Portanto, a cria-

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ção teria principiado a partir da luz. Sabemos que a luz do sol só é necessária após a criação da natureza e da raça humana.

Uma terceira resposta seria o seguinte, os dias da criação não estão organizados em or-dem cronológica. Teríamos que fazer uma leitura sincrônica do texto, conforme afi rmado an-teriormente, para encaixarmos devidamente as coisas. Des-sa forma, entenderíamos com maior clareza o que o autor sa-grado quer nos comunicar.

Aplicação a sua vida: Temos três possíveis formas de inter-pretar a criação da luz antes do grande luminar, mas todas en-fatizam o poder de Deus. Qual delas você entende ser a mais provável? Comente.

CONCLUSÃO

O mar e os céus têm origem na palavra de Deus e nas águas (criadas de antemão). O Podero-so Criador se importa e se ma-nifesta à sua criação. Ele se faz presente por iniciativa própria.

REFERÊNCIAS

DICIONÁRIO hebraico-português e aramaico português. São Leo-poldo/Petrópolis: Sinodal/Vozes: 1988.

DICIONÁRIO internacional de te-ologia do Antigo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1998.

Suporte para Pequenos Grupos

1. O que mais te chamou à aten-ção na lição?

2. De acordo com o autor, Deus fala e as coisas acontecem. Como Deus tem se revelado a você nos dias atuais através de sua “Palavra”?

3. Como o criador se faz presente em sua criação?

4. Como você pode servir a Deus e a igreja com as descobertas que fez através desta lição?

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Estudo – 3

A TERRA FÉRTIL O TERCEIRO DIA DA CRIAÇÃO Gênesis 1:9-13

INTRODUÇÃO

Este terceiro estudo apresenta o relato do terceiro dia da criação, o qual se acha descrito nos ver-sos 9 a 13 do capítulo primeiro de Gênesis. Enquanto no primei-ro dia Deus cria a luz e as tre-vas, no segundo dia são criados o mar e os céus e, no terceiro dia, é criada a terra fértil.

A terra fértil em processo cria-tivo

Vejamos agora o relato do ter-ceiro dia da criação (vv.9-13): “9E disse Deus: Ajuntem-se as águas debaixo dos céus num lugar; e apareça a porção seca; e assim foi. 10 E chamou Deus à porção seca Terra; e ao ajunta-mento das águas chamou Ma-res; e viu Deus que era bom. 11 E disse Deus: Produza a terra erva verde, erva que dê semente, ár-vore frutífera que dê fruto segun-do a sua espécie, cuja semente está nela sobre a terra; e assim foi. 12 E a terra produziu erva, erva dando semente conforme a sua espécie, e a árvore frutífera,

LEITURAS DIÁRIASSegunda Sl. 1:1-3Terça Jr. 17:7,8Quarta Êx. 14:21,22Quinta Jo 4:6-14Sexta Dt. 33:13Sábado Pv. 30:4; Is. 40:12Domingo Lc. 6:43-45

cuja semente está nela conforme a sua espécie; e viu Deus que era bom. 13 E foi a tarde e a manhã, o dia terceiro.”

Mais uma vez estão em foco as águas. Deus ordena que as águas se juntem (v.9). À medida que elas O obedecem, aparece a porção seca. A obediência das criaturas se verifi ca na afi rmati-va que diz: “e assim foi”, ou seja, “e aconteceu assim”. Tudo acon-tece de acordo com o comando do Criador. Esta conclusão: “e assim foi”, se acha nos relatos do segundo (v.7), terceiro (vv.9,11), quarto (15) e sexto dias (24,30). É duplicada nos relatos do ter-ceiro e sexto dias, os quais são paralelos: Criação da terra fértil (terceiro dia) e criação das cria-turas da terra (sexto dia).

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Aplicação a sua vida: Ao co-mando de Deus as águas se ajuntam e surge a porção seca. Observa-se a obediência da na-tureza em executar o comando da ordem divina. Como você tem obedecido os comandos que Deus propõe em Sua palavra para sua vida? Comente.

A declaração conclusiva está ausente dos relatos do primeiro e do quinto dias. No relato do primeiro dia, no entanto, encon-tramos o mesmo verbo hebraico acompanhado da palavra “luz” em lugar de “assim”. O verso três afi rma: “e houve luz”, ou seja, “e aconteceu a luz”.

Os verbos hebraicos novos no terceiro dia da criação são: qa-wah (ajuntar-se, reunir-se) (v.9); dasha’ (fazer enverdecer, germi-nar); zara‘ (produzir semente, conceber) (v.11) e yatsa’ (fazer sair, levar para fora, produzir) (v.12). São todos verbos da voz ativa de grau causativo, ou seja, cada sujeito é levado a fazer aquilo que lhe é determinado. As águas se ajuntarão, a terra ger-minará, a árvore frutífera produ-zirá semente, a terra produzirá vegetais, plantas e árvores. Es-ses verbos comunicam a ação di-vina direta quando obedecem ao comando do Criador, e Sua ação indireta, quando águas, terra e árvore frutífera reproduzem a or-dem divina.

Somente no verso 10 o Criador nomeia de Mares o ajuntamen-to das águas. Contudo, as águas

aparecem em cena antes mesmo do relato do primeiro dia da cria-ção. As encontramos no segundo verso introdutório do livro do Gê-nesis, que diz: “E a terra era sem forma e vazia; e havia trevas so-bre a face do abismo; e o Espíri-to de Deus se movia sobre a face das águas.” A face das águas, ou seja, sua superfície, é dupla. O narrador já deixa transparecer que se trata de água superior e água inferior. Esta informação pode ser extraída da termina-ção dual do vocábulo “água”, em hebraico. O dual indica aquelas coisas da natureza que ocorrem aos pares. Sendo as águas tanto superiores quanto inferiores, o Espírito de Deus não está limi-tado a terra ou ao céu. Ele é ca-paz de se mover tanto na terra como no céu. Esta informação pressupõe a onipresença e a oni-potência do Espírito de Deus. Esta inferência eleva o Espírito à condição de Pessoa divina e não simplesmente a uma força ativa de Deus como querem alguns te-ólogos, com referência ao Espíri-to, em Gênesis 1:2.

O verbo hebraico “mover-se” também pode ser traduzido por “voejar, adejar, pairar”. Tal verbo implica em agitar as asas para se manter no ar. Figuradamente, o Espírito estaria sendo compa-rado aqui a um ser adejante, a um ser alado. Esta informação é mais explícita em Mateus 3:16 que afi rma: “E, sendo Jesus bati-zado, saiu logo da água, e eis que se lhe abriram os céus, e viu o Espírito de Deus descendo como

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pomba e vindo sobre ele.” O verbo hebraico “mover-se” ocorre uma única vez mais em todo o Antigo Testamento ao falar da escolha de Deus por Jacó, no cântico de Moisés, e como os israelitas, des-cendentes de Jacó, mesmo as-sim o abandonaram por outros deuses. O verso específi co onde o verbo aparece deve ser lido no contexto do verso que o precede e o verso posterior, os quais afi r-mam: “10Achou-o numa terra de-serta, e num ermo solitário cheio de uivos; cercou-o, instruiu-o, e guardou-o como a menina do seu olho. 11 Como a águia desperta a sua ninhada, move-se sobre os seus fi lhos, estende as suas asas, toma-os, e os leva sobre as suas asas, 12 Assim só o Senhor o guiou; e não havia com ele deus estranho.” O verbo é usado em relação à águia, um ser adejan-te, o qual “move-se sobre os seus fi lhotes, estende as suas asas” em pleno voo. Assim é o Espíri-to, Ele é capaz de adejar sobre a terra e o céu.

No verso dez ainda, o Criador chama de Terra à porção seca. Aqui, no meio do relato do tercei-ro dia, aparece uma vez mais a chancela da criação: “e Deus viu que era bom/belo”.

A terra fértil em processo pro-dutivoNo verso 11 lemos: “E disse Deus: Produza a terra erva ver-de, erva que dê semente, árvore frutífera que dê fruto segundo a sua espécie, cuja semente está nela sobre a terra; e assim foi.”

Esta declaração pressupõe se-res terrestres que utilizarão er-vas verdes e frutos produzidos da terra. Ervas e árvores não são apenas adornos para a ter-ra. Há um cuidado com a pro-dução de sementes que culmi-nem em outras ervas e árvores e também com a produção de frutos, alimentos. A esta altura, a terra já está em plena multi-plicação de ervas e árvores fru-tíferas, como pode ser entendido da frase conclusiva ao fi nal do verso: “e assim foi”.

O verso 12 refl ete a práxis terre-na de obedecer ao comando do Criador dado no verso 11: Pro-dução de erva verde com semen-te e árvore frutífera também com semente. Tudo procede conforme a sua espécie. Espécies distintas com sementes distintas. Pela se-gunda vez no relato lemos a ru-brica da criação: “e Deus viu que era bom/belo”. Baseados nos relatos da criação em Gênesis capítulo primeiro, os judeus evitam fechar negócio na segunda feira pelo seguinte motivo: No relato do primeiro dia da criação (versos 3-5) afi rma-se “e viu Deus que era boa a luz”. No relato do segundo dia (versos 6-8) não se diz nada quanto à opinião divina sobre a criação. No entanto, no relato do terceiro dia (versos 9-13) aparecem duas vezes as frases: “e viu Deus que era bom” (v.10 e 12). Assim, o melhor dia, na concepção judai-ca, para se fechar um negócio é no terceiro dia da semana, por-

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que há uma bênção dupla de Deus nesse dia. Evidente que estão pressupondo que o pri-meiro dia da criação equivale ao nosso domingo.

Aplicação a sua vida: Conhe-cer a maneira como Deus mode-la a terra onde vivemos nos faz responsáveis por valorizar, cui-dar da natureza que Deus nos oferece. Compartilhe com ou-tros o que você sabe e faz para preservar a terra.

A terra fértil em processo de-generativo

O ser humano em geral tem causado grande destruição no mundo. Os brasileiros têm a sua parcela nessa conta que de-põe contra a raça humana. Por este estudo tratar da criação da terra fértil, e pelo cuidado que devemos ter para com a natu-reza criada por Deus, é oportu-no falarmos um pouco sobre os biomas brasileiros. De acordo com o site “sua pesquisa”, bio-ma é “um conjunto de ecossis-temas que funcionam de forma estável.” Ainda, conforme o site, os biomas Brasileiros são di-versifi cados. Em resumo, há os Biomas Litorâneos, Mata dos Pi-nhais, Mata Atlântica, Mata de Cocais e o Pantanal. Tudo isso é criação de Deus. Nesses biomas ainda encontramos: Restingas, falésias, mangues (minguados atualmente); costões rochosos; pinheiros; carnaúba, babaçu,

buriti. Dentre os biomas bra-sileiros, talvez os que mais so-frem com a devastação sejam o cerrado e a Mata Atlântica, um bioma com a presença de diver-sos ecossistemas. “No passado, ocupou quase toda região lito-rânea brasileira. Com o desma-tamento, foi perdendo terreno e hoje ocupa somente 7% da área original.”

Enquanto falamos de criação, vemos, na realidade brasilei-ra, uma força destrutiva muito grande: Destruição da natureza, e, portanto, da vida em todos os sentidos. Não bastasse a des-truição física, nos deparamos também com a destruição dos valores éticos e espirituais. As-sim como inúmeras espécies da natureza física foram extintas ou estão em extinção, muitos dos valores éticos e espirituais estão em fase de extinção no Brasil. Quem os cultivará? A es-perança é que tais valores pos-sam ser recuperados.

Aplicação a sua vida: Como brasileiros cristãos, conhecedo-res da maneira exuberante com que Deus criou o universo e sa-bedores de tudo o que o homem tem feito destruindo o planeta, o que você acha de participar de forma direta na não destrui-ção como: Economizando água, jogando lixo no lixo, separando lixo orgânico de lixo seco, enfi m adotando os três “R” reduzir, reutilizar e reciclar? Comente.

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CONCLUSÃO

O relato dos dias da criação traz lições importantes para o ser humano em todas as épocas e em todas as áreas possíveis. Eis algumas dessas lições:

1. Fertilidade é dom de Deus;

2. Organização é um princípio importante na ação do Cria-dor, o que implica que qual-quer ação deveria ser pensa-da antes de sua execução;

3. O dizer precisa estar aliado ao fazer. Enquanto a boca de Deus representa sua fala, seu dito, seu pronunciamen-to, seu oráculo, a mão de Deus representa sua ação;

4. Nomear as coisas ajuda a colocar ordem no processo criativo;

5. Avaliar nossas ações nos ajuda a projetar e executar novas ações;

6. Ocupar o tempo faz mui-to bem. Lemos que houve o máximo de aproveitamen-to do dia: “E foi a tarde e a manhã, o dia terceiro”. Con-tudo, mesmo em plena ação criadora, é importante achar tempo para o ócio. Ao avaliar sua obra em andamento, o Criador nos comunica a im-portância do ócio. A contem-plação que leva a uma ava-liação das ações é o tipo de

ócio produtivo. A ideia de que contemplar é igual a “não fa-zer nada” não se aplica no contexto da criação. Uso a palavra “ócio” aqui no senti-do de um não fazer que moti-va o fazer. Você cessa o fazer para avaliar o que fora feito. A ação dá lugar à contempla-ção, refl exão e um novo fazer;

7. Cada espécie cumpre o seu papel.

REFERÊNCIAS

http://www.suapesquisa.com/geografi a/biomas_brasileiros.htm

Suporte para Pequenos Grupos

1. O que mais te chama à atenção no texto?

2. O que Deus falou ao seu cora-ção através desta lição?

3. Como pode aplicar o que apren-deu hoje em seu cotidiano?

4. Você sente que precisa mudar algo em sua vida ao contem-plar a criação divina? Pode compartilhar?

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Estudo – 4

LUZEIROS DO DIA E DA NOITE O QUARTO DIA DA CRIAÇÃO

Gênesis 1:14-19

INTRODUÇÃO

O relato do quarto dia da cria-ção está descrito em Gênesis 1:14-19 e é bem sucinto. Nesse dia o Criador traz à existência os luzeiros do dia e da noite. Dia e noite traduzem “luz” e “trevas” criados no primeiro dia. Portan-to, os luzeiros (corpos lumino-sos) ou luminares destacam o dia e a noite. Assim lemos: “14E disse Deus: Haja luminares na expansão dos céus, para haver separação entre o dia e a noite; e sejam eles para sinais e para tempos determinados e para dias e anos. 15E sejam para lu-minares na expansão dos céus, para iluminar a terra; e assim foi. 16E fez Deus os dois grandes luminares: o luminar maior para governar o dia, e o luminar me-nor para governar a noite; e fez as estrelas. 17E Deus os pôs na expansão dos céus para ilumi-nar a terra, 18E para governar o dia e a noite, e para fazer sepa-ração entre a luz e as trevas; e viu Deus que era bom. 19E foi a tarde e a manhã, o dia quarto”

Luzeiros para separação

Mais uma vez o poder da palavra criadora entra em ação: “e disse

LEITURAS DIÁRIASSegunda Sl. 136:1-9Terça Jr. 31:35,36Quarta Ap. 21:23; 22:1-5Quinta Sl. 33:6-9Sexta Hb.1:10; Is.42:5Sábado Sl. 19:1-6Domingo Sl. 42:8

Deus” (v.14). O dizer do Deus Criador traz ordem à criação. Os corpos luminosos funcionam no processo de separação entre o dia e a noite; servem de sinais e tempos determinados; indicam dias e anos; iluminam a terra e a expansão dos céus; gover-nam o dia e a noite. A presença da luz desde o início da criação aponta para a luminosidade do Criador. Um ser de luz há de ser onisciente, conhecedor e escla-recedor de tudo.

Os “sinais” dizem algo das con-dições atmosféricas do planeta terra para plantação e plantio como também indicam certas funções astronômicas, como pensa Champlin (2001, p.13). A palavra “estações” signifi ca tan-to os períodos climáticos: Verão, outono, primavera e inverno, ligados ao plantio, quanto às festividades israelitas, também

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relacionadas às questões agrí-colas e pastoris. O Criador cuida de cada detalhe de sua criação. Não bastam o sol e a lua para o governo do dia e da noite. É pre-ciso a chuva, o frio, o calor, o se-reno. Veja que há aqui, de forma embrionária, no relato do quarto dia, a previsão e a ciência não só da futura presença humana na terra, mas da existência e modo de vida dos israelitas.

O narrador sabe que o Criador sabe. A sapiência do narrador--escritor está no conhecimento que tem da época em que está escrevendo e de seu relaciona-mento com o Deus Criador. Ele é um observador da história, das coisas e da vida. Por isso, o narrador-escritor deixa escapar aqui e ali certas informações, mesmo que nas entrelinhas, melhor detalhadas no futuro em relação ao relato em si. Diferen-te, porém, é o Deus Criador. Ele tudo sabe de antemão. Somen-te um ser onisciente é capaz de prever condições atmosféricas do planeta terra, períodos cli-máticos e indicação de dias e anos que interessam aos seres que têm consciência de sua in--fi nitude. O Criador faz isso no princípio de tudo sem a neces-sidade da experiência e da ob-servação.

Onipotência e onisciência divi-nas pressupõem onipresença. O Onipotente e Onisciente Criador é capaz de estar presente sobre a face das águas e, ao mesmo tempo, nas maiores alturas (céus) e profundidades (abismo).

Aplicação a sua vida: O sol e a Lua foram criados por Deus para separação do dia e da noi-te e consequentemente para in-dicação da época de plantio. O que você tem observado em re-lação ao plantio, considerando as circunstâncias climáticas do nosso planeta? Comente.

Luzeiros para indicação

O conhecimento e o uso correto das informações sobre as esta-ções, ou seja, os períodos cli-máticos, é imprescindível para aqueles que lidam com a terra. A lua, por exemplo, com suas fases: Minguante, cheia, nova e crescente, emite, com a ajuda do sol, ondas que infl uenciam diretamente no período propício para as plantações. Agricultores experientes levam em conside-ração as informações que Deus envia lá de cima através dos as-tros que criara. Eles cultivam o solo nas estações próprias.

A lua é muito importante na Bí-blia, pois em sua fase nova in-dica o primeiro dia de cada mês israelita. Tanto é assim, que as palavras “lua nova” e “mês” são uma só em hebraico. Reconhe-cer a lua nova ajuda também no reconhecimento dos dias festi-vos israelitas. Na criação, tudo está interligado. Cada coisa é essencial no processo criativo e na manutenção do que fora criado.

O verso 3 e o verso 12, capítulo primeiro de Gênesis, nos escla-recem que a luz já fora criada.

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O relato do quarto dia vem para explicar a procedência e a im-portância da lua, do sol e das estrelas. Se você observou com cuidado, percebeu que as pala-vras “sol” e “lua” não aparecem no relato bíblico da criação. Es-ses astros eram considerados divindades por diversos povos. Esse pode ter sido um dos mo-tivos plausíveis para que o nar-rador tivesse preferido chamar o sol de luminar maior e a lua, satélite natural, de luminar me-nor. Além disso, é dito no ver-so 16 que Deus os fez, ou seja, que Ele os modelou. O Criador é senhor dos astros. Eles existem porque o Criador existe e deci-diu criá-los.

À guisa de ilustração, o Salmo 121:6 diz que “o sol não te moles-tará de dia nem a lua de noite”. É possível que o salmista esteja se referindo a essas ditas divin-dades astrais. Sendo o SENHOR aquele “que fez o céu e a terra” (Sl 121:2), portanto, tudo que há neles, Ele guardaria o salmista de todo o mal, inclusive de qual-quer possível interferência dos astros, supostas divindades.

Aplicação a sua vida: A im-portância do sol e da lua para a sobrevivência do planeta ter-ra é tamanha que alguns che-gam a achar que são divinda-des astrais. Qual impacto esses luminares causam em você? Comente.

Tudo é criado por Deus. Nada existe por si mesmo, exceto o

Criador. Entretanto, se não ti-vermos cuidado ao ler o Gênesis, podemos afi rmar equivocada-mente que as águas existem por conta própria. Encontramos as águas pela primeira vez no ca-pítulo um, verso dois, parte b, de Gênesis 1, o qual afi rma: “e o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas”. Uma leitura descuidada pode levar o leitor a pensar que as águas sempre existiram. À medida em que le-mos o relato da criação de forma diacrônica (na sequência em que está registrado), precisamos ter sempre em mente o verso primei-ro, que diz: “No princípio criou Deus os céus e a terra”, ou seja, Ele cria tudo o que há nos céus e tudo que há na terra. As águas fazem parte desse tudo. Os dois primeiros versos apresentam “quem” está criando céus e terra e as condições iniciais desse pro-cesso, e do verso três em diante, “como” as coisas são criadas.

Luzeiros da Luz para a luz

Três novos verbos hebraicos aparecem no processo criati-vo de Deus: ’ur (luzir; alumiar, iluminar; fazer luzir, fazer res-plandecer) (v.15); mashal (go-vernar, dominar, reinar; exer-cer domínio) (v.16) e natan (dar, presentear, oferecer; colocar, estabelecer) (v.17). Os verbos ilustram um pouco da natureza do Criador: Ele é luzente, exer-ce domínio e presenteia a quem Ele quer. Tudo é novo. O Cria-dor não cria apenas coisas. Ele cria conceitos que lhe são pe-

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culiares. Ele oferece de Si mes-mo para criar com perfeição. A natureza simplesmente replica o que de bom grado lhe é dado pelo Criador.

Numa tradução mais literal do texto hebraico, lemos, no verso 19, que “houve tarde e manhã, o dia terceiro”. Esta leitura nos in-forma que o dia para os hebreus é diferente da nossa contagem. O dia para os hebreus começa no entardecer do dia anterior. O sábado judaico, por exemplo, co-meça sempre na sexta-feira após o pôr do sol, conhecido também como ocaso. Os hebreus, dife-rente de nós, se orientam pela lua. O calendário hebraico/ju-daico é lunar enquanto o nosso é solar. Estamos em 2018. Os judeus celebram o ano 5779 no fi m do ano. O ano novo judaico acontece ou no mês de setembro ou no mês de outubro, conforme o nosso calendário. Nós celebra-mos o ano novo sempre no dia primeiro de janeiro. O mês judai-co coincide com a lua nova.

No verso 19 encontramos o des-fecho do relato do quarto dia: “E foi a tarde e a manhã, o dia quarto.” Somente na narrativa do dia sétimo não se registra o desfecho. Destacamos aqui o vocábulo “dia”. A palavra dia (heb. iom) pode ser traduzida também por “existência, um ano, hoje; período; vento”. O termo pode tratar de um dia de 24 ho-ras como pode expressar “eras”, abrindo assim o leque de inter-pretações.

Há várias teorias sobre os dias da criação e sobre um possível intervalo de tempo entre o verso primeiro e o verso dois de Gê-nesis 1. Não entraremos nesses detalhes aqui, mas queremos lhe dar a seguinte informação: O verbo hebraico que compõe a primeira parte do verso dois (haiah) tem, dentre outras, as possíveis acepções: “ser, estar, haver, ocorrer, tornar-se”. É des-sa gama semântica que alguns intérpretes do texto sagrado afi r-mam que “a terra era sem forma e vazia”, enquanto outros dizem que “a terra se tornou sem forma e vazia”. De qualquer maneira, não há o mínimo de dúvidas pelo texto sagrado, que a terra exis-te pela palavra e ação do Deus Criador.

Se a terra estava “sem forma e vazia” no princípio da criação e Deus a formou e a preencheu ou, por uma catástrofe qualquer, após formação divina, esta foi atingida a ponto de fi car em esta-do de caos, o certo é que o Cria-dor é o único responsável por co-locar ordem no caos. O narrador não nega o caos quando utiliza o vocábulo hebraico tehom (tradu-zido aqui como abismo). Há um caos primevo. Nesse caos o Cria-dor tudo ordena.

Assim como o Criador faz surgir o entardecer e o amanhecer para o mundo, Ele pode fazer raiar a luz no seu coração, caro leitor. Águas, terra, plantas e árvores obedecem ao comando divino e se tornam frutíferos. E quanto a

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você? O que está esperando para frutifi car?

Aplicação a sua vida: Deus deu ordem ao caos, fazendo surgir os elementos da cria-ção. Da mesma forma a orga-nização é necessária para o bom andamento das nossas tarefas diárias. Você se consi-dera uma pessoa organizada?

CONCLUSÃO

Os luzeiros tanto servem para separar quanto para indicar di-reção. Eles procedem da Luz que é o Criador e apontam, de forma simbólica, para a luz que deve irradiar no coração daqueles e daquelas que leem, estudam e meditam na Palavra de Deus.

REFERÊNCIA

CHAMPLIN, Russell Norman. O Antigo Testamento interpretado versículo por versículo. São Paulo: Hagnos, 2001.

Suporte para Pequenos Grupos

1. O texto fala dos luminares: “Sol e lua”. O que vem a sua mente ao contemplar a grandeza des-tes dois luminares?

2. De acordo com o autor Deus foi dando forma a sua criação. No inicio a terra era “Sem forma e vazia”. Você já sentiu assim? Sem forma e vazio? Comparti-lhe a afi rmativa: Deus pode dar nova forma para sua vida e pre-encher todo vazio.

3. Como você pode servir a Deus e ao próximo com as descobertas que fez através desta lição?

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Estudo – 5

CRIATURAS DAS ÁGUAS E DOS ARES O QUINTO DIA DA CRIAÇÃOGênesis 1:20-23

INTRODUÇÃO

Este estudo apresenta o relato da criação das criaturas das águas e dos ares, o que acontece no quinto dia. O relato do quinto dia da criação está descrito em Gê-nesis 1:20-23. Nesse dia o Cria-dor traz à existência as criaturas das águas e dos ares. Assim nos declara a Palavra do Senhor: “20 E disse Deus: Produzam as águas abundantemente répteis de alma vivente; e voem as aves sobre a face da expansão dos céus. 21 E Deus criou as grandes baleias, e todo o réptil de alma vivente que as águas abundan-temente produziram conforme as suas espécies; e toda a ave de asas conforme a sua espécie; e viu Deus que era bom. 22 E Deus os abençoou, dizendo: Frutifi cai e multiplicai-vos, e enchei as águas nos mares; e as aves se multipliquem na terra. 23 E foi a tarde e a manhã, o dia quinto.”

Criaturas diversas

Mais uma vez o poder da palavra criadora entra em ação: “e disse Deus” (v.20). O dizer do Deus Criador traz ordem à criação. O relato fala de abundância, fruti-

LEITURAS DIÁRIASSegunda Gn.1. 20-23Terça Is. 35. 6-9Quarta Is. 55.1-3Quinta Is. 58. 9-14Sexta Gr.2.13-18Sábado Ct. 2.10-14Domingo Lm. 4.19- 22

fi cação, multiplicação tanto das criaturas das águas quanto dos ares. Água é fundamental para a existência da vida humana no planeta terra e para milhares de espécies que dela procedem e dela dependem. Cuidar da água é cuidar da vida.

Aplicação a sua vida: O autor fala que cuidar da água é cuidar da vida. Você poderia dar a al-guém uma receita de como você cuida da água?

Seis novos verbos hebraicos aparecem no processo criati-vo de Deus: sharats (pulular, fervilhar, abundar); ‘uph (voar, esvoaçar; passar, desaparecer) (v.20); barech (ajoelhar; aben-çoar; bendizer, louvor); parah (brotar, fl orescer, desenvolver--se); rabah (tornar-se numero-

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so; aumentar, multiplicar-se); mala’ (estar cheio; completar--se; encher) (v.22). Todos esses verbos indicam movimento. As águas produzem os répteis. Por extensão, pressupõem-se que as aves e demais criaturas criadas no quinto dia também se origi-nam das águas, pelo comando do Criador. As águas se movem para trazer vida ao mundo.

Encontramos, no verso 21, as taninim haguedolim, palavras estas traduzidas como “as gran-des baleias”. Contudo, tanin, o singular de taninim, segun-do Benjamin Davidson (1997, p.766), pode signifi car também: “serpente; um enorme peixe, um monstro marinho; crocodilo”. Tais possibilidades de tradu-ção apontam para a criação dos grandes monstros marinhos. Encontramos os taninim 12 ve-zes na Bíblia Hebraica, tradu-zidos por “baleia, serpente, ví-bora, dragão, chacal”. Eis as ocorrências de tanin no Antigo Testamento: Gênesis 1:21 (ba-leia); Êxodo 7:9,10,12 (serpen-te); Deuteronômio 32:33 (víbo-ras); Isaías 27:1 (dragão); 51:9 (chacal); Ezequiel 29:3 (dragão); 32:2 (baleia); Salmos 74:13 (ba-leias); 91:13 (serpente); 148:7 (baleias) e Jó 7:12 (baleia). To-das essas traduções provêm da edição Corrigida e Revisada da Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil. As possibilidades se-mânticas aumentam quando comparamos com outras ver-sões da Bíblia. Isto aponta para a difi culdade de se traduzir tais

termos hebraicos. Eles ajudam o leitor atento a considerar a grandiosidade do Criador e sua criatividade.

Além dos taninim a Bíblia fala também do liviatan (translite-ração para leviatã), de rahabh (pronúncia rarrav; translitera-ção raabe) e do behemoth (pro-núncia berremot; transliteração beemote). Todas essas criaturas podem remeter a monstros gi-gantescos. O leviatã é uma cria-tura marinha enquanto raabe e beemote são criaturas essencial-mente terrestres. O leviatã apa-rece 6 vezes na Bíblia (Is 27:1; Sl 74:14; 104:26; Jó 3:8; 40:25), Raabe, 6 vezes: Isaias 30:7 (for-ça); 51:9 (Raabe); Salmos 87:4 (Raabe); 89:10 [heb.11] (auxilia-dores soberbos); 26:12 (sober-ba) e beemote, apenas uma vez, em Jó 40:15.

Os monstros bíblicos falam da grandeza do Criador. Podem também ajudar o intérprete da Palavra de Deus a dialogar com aqueles que se dedicam na pes-quisa de criaturas monstruosas que, segundo teorias, teriam vivido na terra há milhões de anos, os chamados dinossau-ros.

Só para ilustrar a possibilida-de da existência dos grandes monstros, podemos utilizar o texto de Jó 40:15 e seu contex-to (16-24) na apresentação do beemote, um monstro que não temos como defi nir melhor que o narrador de Jó, o qual afi rma: “15Contemplas agora o beemote,

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que eu fi z contigo, que come a erva como o boi. 16 Eis que a sua força está nos seus lombos, e o seu poder nos músculos do seu ventre. 17 Quando quer, move a sua cauda como cedro; os nervos das suas coxas estão entreteci-dos. 18 Os seus ossos são como tubos de bronze; a sua ossada é como barras de ferro. 19 Ele é obra-prima dos caminhos de Deus; o que o fez o proveu da sua espada. 20 Em verdade os montes lhe produzem pastos, onde todos os animais do campo folgam. 21 Deita-se debaixo das árvores sombrias, no esconderijo das canas e da lama. 22 As árvo-res sombrias o cobrem, com sua sombra; os salgueiros do ribeiro o cercam. 23 Eis que um rio trans-borda, e ele não se apressa, con-fi ando ainda que o Jordão se levante até à sua boca. 24 Podê--lo-iam porventura caçar à vista de seus olhos, ou com laços lhe furar o nariz?”

O que é dito do beemote, em re-sumo, mostra que essa criatu-ra divina pode ser chamada de monstro: O beemote “move a sua cauda como cedro”. O cedro é das árvores mais rijas e impo-nentes do mundo bíblico antigo. Ainda em relação ao beemote, o narrador diz: “seus ossos são como tubos de bronze”, “sua os-sada é como barras de ferro”. Tais descrições fazem do beemo-te um ser de uma força assus-tadora. Quando é dito que ele é capaz de fazer “um rio transbor-dar”, o narrador quer expressar que o beemote é uma criatura

grandiosa. Seria o beemote uma espécie de dinossauro?

Aplicação a sua vida: Os di-nossauros são criaturas fasci-nantes, principalmente para as crianças. A dedicação de muitos estudiosos tem apresentado ao mundo fósseis de vários tipos de dinossauros. Você concorda com a teoria de que os monstros gigantes apresentados na Bíblia podem ser os dinossauros?

Criaturas abençoadas

Pela primeira vez lemos que Deus abençoa a sua criação. A bênção está no verso 22, nar-rada da seguinte forma: “Fruti-fi cai e multiplicai-vos, e enchei as águas nos mares; e as aves se multipliquem na terra.” Veja que a bênção sobre as criaturas das águas e dos ares, répteis e aves, inclusive sobre possíveis seres monstruosos, descritos no quinto dia da criação remete, no mínimo, ao dia terceiro, no qual estão criados ervas e árvores frutíferas. Há alimento para as criaturas de Deus. A bênção di-vina é certa sobre os seres vivos. O terceiro dia fala da terra fér-til. Há conexões também com o segundo dia, quando é criada a “expansão”. As aves (quinto dia) voam sobre a superfície da “ex-pansão dos céus” (v.20).

Há uma bênção divina, graciosa, estendida a todos os seres cria-dos: Frutifi cação, multiplicação, vida em todas as suas dimen-sões possíveis. Posteriormente o

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mundo conhecerá outro tipo de bênção que dependerá da ação do abençoado. Falaremos sobre isso em tempo oportuno.

Ouvidos menos atentos ao con-texto da criação concluem que o Criador está dando uma or-dem quando afi rma: “Frutifi cai e multiplicai-vos, e enchei as águas nos mares;”. Se lidos li-teralmente, conforme tradução, os verbos “frutifi car, multiplicar e encher” se acham no impera-tivo. Entretanto, o contexto nos aponta que o Criador, ao invés de dar ordens aqui, Ele abençoa a sua criação com a capacidade da frutifi cação e da multiplica-ção. O teólogo Claus Wester-mann (2013, p.26) também pen-sa assim. Como no ato de criar os animais segue-se o ato de abençoar, tais imperativos “não constituem uma ordem, mas a concessão da capacidade de multiplicar-se por gerações” O Criador abençoa generosamen-te a sua criação. Os imperativos “frutifi cai, multiplicai e enchei” comunicam vida mediante bên-ção.

Aplicação a sua vida: Desde o princípio Deus preparou ali-mento para todos, até para os grandes monstros. Como você entende tantas pessoas pas-sando fome em nossos dias? Comente.

No verso 20 o narrador utiliza a expressão “alma vivente” com referência aos répteis. Que os

répteis são seres viventes não nos restam dúvidas. Contudo, como podem eles ter “alma” (heb. néfesh)? O que signifi ca, de fato, essa palavra? O DI-TAT (1998, p.981) defi ne né-fesh como: “vida, alma, criatu-ra, pessoa, apetite, mente”. Os répteis, portanto, são criaturas pensadas e criadas por Deus. São seres vivos. Eles são almas viventes.

Outros possíveis signifi cados para o termo “alma” são: “gar-ganta; respiração, fôlego; ser” (KIRST, et ali., 1988, p.159). Assim, o termo “alma” pode re-ferir-se tanto a pessoas quanto a criaturas vivas em geral. Nes-se sentido, os répteis aquáticos não têm alma. Eles são alma. Ao dizer que os répteis aquáticos são “alma vivente”, o narrador está nos informando que eles são criaturas vivas que as águas produzem abundantemente (v.21) por ordem do Criador.

É dito também que tanto répteis aquáticos quanto aves são cria-dos conforme suas espécies. O mesmo verbo hebraico utilizado para a criação do ser humano, bará (creatio ex nihilo), criação do nada, aparece aqui na cria-ção dos répteis. Lemos, no ter-ceiro dia da criação, que ervas e árvores frutíferas também são criadas já produzindo sementes ou frutos segundo as suas espé-cies. De acordo com o dicionário Houaiss (2009, p.814), o vocá-bulo “espécie” (heb. min) se de-fi ne, entre outras, como “carac-

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terística comum que serve para dividir os seres em grupos; qua-lidade, natureza, gênero”. Mi-lhares de anos antes de Charles Darwin, a narrativa da criação já caracteriza os seres em dife-rentes espécies.

A qual espécie pertencemos? À espécie humana, conhecida pelo nome de raça. Trataremos dessa temática no estudo seguinte.

Aplicação a sua vida: O autor relata que os animais são cria-turas de Deus, portanto são alma vivente. O que diferencia –os dos seres humanos é o es-pirito. Embora tenhamos que amar e cuidar dos animais, isso não indica que eles são seres espirituais. Como você explica-ria para uma criança que o seu animalzinho de estimação não vai para o céu?

CONCLUSÃO

Todas as criaturas, tanto as das águas quanto as dos ares, são criadas por numa ampla diver-sidade de espécies. Todas elas, sem distinção, são abençoadas com a capacidade da frutifi ca-ção, da multiplicação e do po-voamento das águas e dos céus.

REFERÊNCIAS

DAVIDSON, Benjamin. The analy-tical Hebrew and Chaldee lexicon. Hendrickson, 1997.HARRIS, R. Laird.; ARCHER, Jr., Gleason L.; WALTKE, Bruce K. Dicionário internacional de teolo-gia do Antigo Testamento. Tradu-ção de Márcio Loureiro Redondo, Luiz A. T. Sayão e Carlos Osvaldo C. Pinto. São Paulo: Vida Nova, 1998.HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mau-ro de Salles. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Ja-neiro: Objetiva, 2009.WESTERMANN, Claus. O livro de Gênesis: um comentário exegé-tico-teológico. São Leopoldo, RS: Sinodal/Est, 2013.

Suporte para Pequenos Grupos

1. O que mais te chama à aten-ção no texto?

2. Você pode fazer um breve resumo da lição?

3. O que mais tocou o seu cora-ção através desta lição?

4. Compartilhe conhecimentos adquiridos e mudanças a se-rem feitas.

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Estudo – 6

CRIATURAS DA TERRAO SEXTO DIA DA CRIAÇÃO

Gênesis 1:24-31

INTRODUÇÃO

Este estudo destaca os versos 24 a 31 do capítulo primeiro de Gênesis, relato do sexto dia da criação. O sexto dia da criação trata das criaturas da terra. Pela sua extensão e profundidade, dedicamos dois estudos a esse dia especial da criação: Um ago-ra e o outro após tratarmos do sétimo dia da criação, o dia do descanso.

Espécies bem ordenadas

O verso 24 afi rma: “E disse Deus: Produza a terra alma vivente con-forme a sua espécie; gado, e rép-teis e feras da terra conforme a sua espécie; e assim foi.” A pro-dução agora procede da terra e não da água, conforme visto no estudo passado. Os seres (al-mas) do verso 24 são: “gado, rép-teis e feras da terra”. Cada uma dessas criaturas passa a existir pela palavra do Deus Criador e cada uma existe e existirá se-gundo a sua espécie. As espécies garantem a continuidade da vida na terra.

O processo criativo de Deus é narrado de forma coerente do início ao fi m. No primeiro dia da

criação (vv.3-5) lemos: “E dis-se Deus...” (v.3) e, no verso 4, “E fez Deus...”. No segundo dia (vv.6-8), “E disse Deus...” (v.6) e, no verso 7, “E fez Deus...”. No terceiro dia (vv.9-13), “E dis-se Deus...” (v.9) e, no verso 10, “E chamou Deus...”. No quarto dia (vv.14-19), “E disse Deus...” (v.14) e, no verso 16, “E fez Deus...”. No quinto dia (vv.20-23), “E disse Deus...” (v.20), no verso 21, “E criou Deus...” e, no verso 22, “E Deus os aben-çoou...”. No sexto dia (vv.24-31), “E disse Deus...” (v.24) e, no ver-so 25, “E fez Deus...”. Verso 27, “e criou Deus...”; verso 28, “E Deus os abençoou...”; verso 29, “E disse Deus...” e verso 31, “E viu Deus...”.

A ordem da narrativa comunica a ordem da criação. O Criador é organizado, é ordeiro, é dinâmi-co, é gracioso. O narrador quer

LEITURAS DIÁRIASSegunda Gn.1. 24-31Terça Ex. 23.10-13Quarta Sl. 104.14-24Quinta Pv. 12. 10-15Sexta Sl. 33.4 - 8Sábado Jó. 26.7-14Domingo Is. 6. 1- 6

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DEUS E O RELACIONAMENTO COM A CRIAÇÃO |

deixar claro que o Criador não somente anuncia ordem à Sua criação, Ele põe ordem a tudo. Ele fala e Ele faz. A Palavra do Criador é digna de confi ança.

Aplicação a sua vida: O nar-rador relata a perfeição divina na organização da criação. Ele apresenta Deus como uma pes-soa organizada, ordeira, dinâmi-ca e graciosa. Sua palavra é dig-na de confi ança. Como criaturas à imagem e semelhança de Deus devemos assumir essas quali-dades por Ele apresentadas na criação. Você é uma pessoa que apresenta essas qualidades? Co-mente.

Lemos no verso 25: “E fez Deus as feras da terra conforme a sua espécie, e o gado conforme a sua espécie, e todo o réptil da terra conforme a sua espécie; e viu Deus que era bom.” Este verso é o resultado da ordem divina no verso 24. As criaturas são apre-sentadas em ordem diferente em relação ao verso anterior: Feras, gado e réptil em lugar de “gado, répteis e feras”. As feras passam para o primeiro plano. O narra-dor está nos comunicando que o hebreu/israelita/judeu, dife-rente de nós, não tem qualquer preocupação com ordem crono-lógica. O que interessa a ele é a ordem do ponto de vista divino. O divino vê tudo ao mesmo tem-po. Cronologia é matéria pró-pria dos seres humanos afeitos às questões físicas, materiais e temporais, apesar de os hebreus andarem por outro caminho nes-

ta temática. Mais uma vez a fra-se: “e viu Deus que era bom” dá o tom de aprovação. A criação é boa e bela. Tudo faz sentido.

Espécie imagética

O verso 26 insere o ser humano no contexto da criação: “E disse Deus: Façamos o homem à nos-sa imagem, conforme a nossa semelhança; e domine sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre o gado, e sobre toda a terra, e sobre todo o réptil que se move sobre a terra” O hu-mano é, de acordo com este re-lato da criação, o último vivente a ser criado. Ele advém da ima-gem do Criador. Ele se percebe semelhante ao Criador. Ao ser humano é dado domínio sobre os peixes, as aves, o gado, a terra, os répteis. O domínio humano se estende, portanto, às águas, aos ares e à terra.

Aplicação a sua vida: Na or-dem divina o ser humano é o último vivente a ser criado, é também aquele que é moldado a Sua imagem e semelhança. A ele é dado o domínio sobre toda criação. Como você tem exerci-do esse domínio? Comente.

Os plurais “façamos” e “nossa” chamam a atenção do leitor. Nós cristãos vemos aqui a atuação da Trindade no processo da cria-ção do ser humano. É a única vez em que se usa o plural para o processo criativo de Deus. Ju-deus interpretam esses plurais como uma expressão da majes-

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tade do Criador e de seu diálogo com todas as outras criaturas, chamando a atenção das mes-mas para o ápice de sua criação. Para não deixar dúvidas que o Criador não é uma pluralidade de deuses, mas o Deus único, o narrador tem o cuidado de decla-rar no singular as ações do Cria-dor, nos versos 27 e 28, sobre a criação do ser humano. Assim nos diz: “criou”, “à sua imagem”, “abençoou” e “lhes disse”. Santo Agostinho (2005, p.108) explica bem, do ponto de vista cristão, o que se passa aqui, após o Cria-dor declarar “façamos”, “à nossa imagem”:

Mas o que diz agora: à imagem de Deus, enquan-to que antes havia dito: à nossa imagem, signifi ca que a pluralidade de pes-soas não age de tal modo que nos leve a dizer ou crer ou entender que há muitos deuses; mas foi dito: à nossa imagem: Pai e Filho e Espírito Santo, devido a esta Trindade e se disse: à imagem de Deus, para entendermos um só Deus.

Há quem leia a palavra “homem”, no verso 26, como referindo-se ao macho apenas. Esta é uma leitura limitada, infl uenciada por algumas traduções das Escritu-ras e pela não leitura de todo o contexto. É evidente também, que nós, falantes da língua por-tuguesa, sabemos que o termo “homem” não se aplica apenas

ao macho (masculino). “Homem” é também um termo coletivo que pode indicar “o ser huma-no” (macho e fêmea/masculino e feminino). Claus Westermann (2013, p.27) esclarece que “o ser humano é um ser comunitário e a comunidade de homem e mu-lher está na base de toda a co-munidade humana.”

O gênero tem a função de iden-tifi car os seres humanos, e, ao mesmo tempo, fazer diferença entre eles. Quando dizemos que somos do gênero masculino, estamos afi rmando que somos portadores de certas caracte-rísticas próprias do masculino, que nossos órgãos reproduto-res são externos e não internos; que, em geral, temos maior for-ça física que o feminino; que te-mos liberação constante e diária de hormônios que nos mantêm regulados. Não há, na diferen-ça, diminuição ou elevação da pessoa humana. Somos iguais diante do Criador. Diferentes na constituição e no compor-tamento, porém semelhantes na essência. Somos imagem e semelhança do Deus Criador e imagem e semelhança uns dos outros.

Aplicação a sua vida: Pertence-mos a uma só raça, a humana, mas temos gênero diferente, ho-mem e mulher. Somos diferen-tes na constituição e no com-portamento apenas, na essência somos semelhantes. Como você entende o tratamento desigual em nossa sociedade? Comente.

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Em Gênesis 5:3 lemos: “E Adão viveu cento e trinta anos, e ge-rou um fi lho à sua semelhan-ça, conforme a sua imagem, e pôs-lhe o nome de Sete.” Assim como uma laranjeira transmite de si a próxima laranjeira e um dia transmite de si ao dia se-guinte, assim Deus concede aos seres humanos a capacidade de transmitir imagem e semelhan-ça aos descendentes, caracterís-ticas estas herdadas do próprio Criador.

Não é comum, na literatura do Oriente, afi rmar que o ser hu-mano é imagem da divindade. “Esta conexão entre a imagem de Deus e a imagem de toda a humanidade não é normal no Antigo Oriente. Tanto na Meso-potâmia (p. ex. Babilônia) quan-to no Egito, apenas o rei é des-crito como sendo à imagem de Deus. A tradição bíblica amplia este conceito para incluir todas as pessoas.” (COHEN, Ohad; BAKER, Sara, 2017). Nesse sen-tido, pode-se inferir que o ser humano, macho e fêmea, pode ser entendido como elevado à condição de rei da criação. Des-sa forma se aplica a ideia de “co-roa” da criação.

Aplicação a sua vida: No pro-cesso criativo de Deus a única vez que a palavra está no plural, “façamos”, é no momento da modelagem do ser humano. O Deus trino aparece para trazer a coroa da sua criação à exis-tência. Como você tem vivido para fazer jus a sua criação a imagem de Deus.

Espécie complementar No verso 26, em hebraico, en-contramos duas orientações de que o termo português “homem” refere-se à humanidade (ma-cho e fêmea) e não apenas ao masculino. A palavra hebraica adam, nesse contexto, refere--se ao ser humano masculino e feminino. Além disso, encontra-mos o verbo “dominar” no plu-ral. O vocábulo “ser humano” é uma palavra coletiva, tanto no hebraico quanto no português, mas o autor sagrado faz questão de usar o plural hebraico para não deixar dúvidas de que está se referindo ao masculino e ao feminino.

Os versos seguintes, 27 e 28, confi rmam que o termo “homem” do verso 26 refere-se ao gênero masculino e feminino. Assim le-mos: “27 E criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou. 28

E Deus os abençoou, e Deus lhes disse: Frutifi cai e multiplicai-vos, e enchei a terra, e sujeitai-a; e dominai sobre os peixes do mar e sobre as aves dos céus, e sobre todo o animal que se move sobre a terra.” O primeiro vocábulo “homem” no verso 26 é melhor lido por “humanidade”: “E criou Deus o homem [heb. humanida-de] à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher [heb. masculino e feminino] os criou.”

Gênesis nos informa que tanto o homem quanto a mulher são criados por Deus (1:27), são

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abençoados com a capacidade da frutifi cação, da multiplicação e do domínio sobre a criação (1:28). No dia em que são cria-dos, recebem de Deus o nome de humanidade (5:2). Não existiria a humanidade se o Criador não houvesse criado o masculino e o feminino, o macho e a fêmea, o homem e a mulher. O masculi-no é tanto imagem e semelhan-ça do Criador quanto o feminino (1:26-28). Nossas diferenças es-tão no campo físico e emocional: É a mulher que gesta as crian-ças, que amamenta, que vive o ciclo menstrual, que tem menor força, voz mais fi na, menos pe-los, mais curvas que músculos; o feminino é mais detalhista, maior sensibilidade, alteração de humor devido à liberação não diária e não constante de hor-mônios, mais estresse e maior incidência de dores abdominais devido ao ciclo menstrual.

Aplicação a sua vida: Ao ser humano foi dada a condição de dominar sobre a criação, não sobre seu semelhante. Como podemos mudar esse poder de destruição e de domínio do ho-mem sobre a mulher em nossa civilização?

O verso 26 comunica que o pro-pósito do Criador é que o ser hu-mano seja conforme Sua “ima-gem” e “semelhança”. O verso 27, o qual é a confi rmação de que a palavra de Deus se torna palpável, se cumpre, fala que o masculino e o feminino são ima-gem de Deus. Não encontramos

aqui a palavra “semelhança”. Há um duplo reforço do vocábulo “imagem”. O que isto nos leva a concluir? Que o termo “imagem” é sinônimo de “semelhança”. Ser criado à imagem de Deus é ser semelhante a Ele. Ser à se-melhança de Deus é ser confor-me à sua imagem. Claus Westermann (2013, p.26) explica que a ideia de imagem e semelhança de Deus comuni-ca que o Criador “quis criar um ser que lhe correspondesse, com o qual ele pudesse falar, que o ouve e que é capaz de falar com ele. Isso vale além de todas as diferenças entre os seres huma-nos; todo ser humano é criado segundo a imagem de Deus.”

Aplicação a sua vida: O ser criado à imagem e semelhança de Deus nos eleva à condição de poder nos comunicar com o Criador. Fomos criados para esse relacionamento. Como você tem exercido esse privilé-gio? Comente.

Os versos 28 a 30 falam da bên-ção divina, da sujeição e domí-nio humano sobre a criação e do alimento adequado tanto para os humanos quanto para os ani-mais. O verso 31 conclui com as seguintes palavras: “E viu Deus tudo quanto tinha feito, e eis que era muito bom; e foi a tarde e a manhã, o dia sexto.” Santo Agos-tinho (2005) nos alerta que, após criado o ser humano, não se diz “e viu Deus que era bom”. So-mente como conclusão a tudo

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criado que encontramos: “E viu Deus tudo quanto tinha feito, e eis que era muito bom;”. Uma possibilidade é que Deus, ao sa-ber que o ser humano pecaria, não quis relatar uma falsidade a seu respeito futuro. O ser huma-no deveria ser reconhecido como “bom” na sua boa relação com tudo quanto Deus havia feito.

Aplicação a sua vida: Vimos neste parágrafo que o ser hu-mano deve ser reconhecido como “bom” na sua boa relação com tudo quanto Deus fez. Você tem vivido de forma a confi rmar essa boa relação? Comente.

CONCLUSÃOAo trazer à existência as criatu-ras da terra, o Criador ordena as espécies animais e as aproxima do ser humano, criados sob cir-cunstâncias similares. A diferen-ça fi ca por conta da imagem e se-melhança divinas, exclusividade da espécie humana.

REFERÊNCIAS AGOSTINHO, Santo. Comentário ao Gênesis. Tradução de Agusti-nho Belmonte. São Paulo: Paulus, 2005. COHEN, Ohad; BAKER, Sara. In: www.eteachergroup.com (lição de hebraico), acessado em 19 de ju-lho de 2017.WESTERMANN, Claus. O livro de Gênesis: um comentário exegé-tico-teológico. Tradução de Nélio Schneider. São Leopoldo: Sinodal/EST, 2013.

Suporte para Pequenos Grupos

1. O que Deus nos revela quando diz no verso 26: “Façamos o homem conforme à nossa ima-gem, conforme a nossa seme-lhança”?

2. Destaque o que torna o homem parecido com o Criador e o dife-rencia dos demais animais.

3. Depois de tudo que ouviu hoje através do compartilhamento, como tem se relacionado com o seu criador? O que precisa mudar para estreitar este rela-cionamento?

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Estudo – 7

DA TERRA AO CÉU O SEXTO DIA DA CRIAÇÃO

Genesis 1

INTRODUÇÃO

Este estudo dará continuidade à refl exão sobre os versos 24 a 31 do capítulo primeiro de Gênesis, relato do sexto dia da criação. O sexto dia da criação trata das criaturas da terra. Nessas cria-turas está incluída a raça huma-na. Portanto, os humanos estão intrinsicamente ligados às cria-turas terrestres. Segundo este relato da criação, a terra (solo) é de onde viemos pela Palavra criadora e criativa de Deus. Por-tanto, apesar de terrestres, nos-so Criador nos direciona rumo ao céu, metáfora da nossa cons-tituição espiritual.

Criados da terra para a boa terra

A terra é nossa referência pri-meira. Dela fomos formados e dela devemos cuidar. Antes de qualquer investimento espacial ou marítimo, seria interessante se a raça humana cuidasse do planeta terra, de seus habitantes e de tudo que o compõe. A boa administração da vida na terra contribuirá para o bom desem-penho humano na conquista do espaço aéreo e das águas, con-forme prescreve o verso 26.

LEITURAS DIÁRIASSegunda Gen. 1.24-31Terça Mt. 13.1-9Quarta Mt. 13.18-23Quinta Sl. 1.1-6Sexta Pr. 12.10Sábado Dn. 1.8-16Domingo Rm. 1.20

Aplicação a sua vida: A ad-ministração da vida na terra foi dada ao ser humano. Como você tem cuidado do nosso pla-neta? Comente.

O verso 24 esclarece que Deus disse: “Produza a terra alma vi-vente conforme a sua espécie; gado, e répteis e feras da terra conforme a sua espécie; e assim foi.” A criação agora procede da terra e não da água. Os seres (almas) passam a existir pela pa-lavra do Deus Criador e cada um existe e existirá segundo a sua espécie. As espécies garantem a continuidade da vida na terra. Afi rmamos também que o pro-cesso criativo de Deus é narrado de forma coerente do início ao fi m. Há uma estrutura linguísti-ca, um padrão que aponta para um equilíbrio extraordinário em

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tudo que procede do Criador. Por outro lado, não há qualquer preocupação do narrador com ordem cronológica.

Assim lemos nos versos 25 a 28: “E fez Deus as feras da terra conforme a sua espécie, e o gado conforme a sua espécie, e todo o réptil da terra conforme a sua es-pécie; e viu Deus que era bom. E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; e domine sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre o gado, e sobre toda a terra, e sobre todo o réptil que se move sobre a terra. E criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou. E Deus os aben-çoou, e Deus lhes disse: Frutifi cai e multiplicai-vos, e enchei a ter-ra, e sujeitai-a; e dominai sobre os peixes do mar e sobre as aves dos céus, e sobre todo o animal que se move sobre a terra.”

O ser humano é inserido no con-texto da criação no verso 26. Ao ser humano é dado domínio so-bre às águas, ares e terra. O ver-bo “dominar” aparece no plural em hebraico. O feminino é tanto imagem e semelhança do Cria-dor quanto o masculino (1:26-28), e ambos têm de Deus a or-dem de domínio sobre a criação. Porém, não encontramos, no contexto da criação, que o ser humano esteja autorizado a do-minar outro ser humano. Que o Criador tenha estabelecido o

princípio da dominação sobre o semelhante. O verbo “dominar”, aqui utilizado, signifi ca tam-bém “governar”. Esse governo ou domínio “sobre os peixes do mar e sobre as aves dos céus, e sobre todo o animal que se move sobre a terra” pressupõe admi-nistração dos seres criados. O ser humano foi capacitado pelo Criador para administrar a sua obra.

Aplicação a sua vida: O ser humano foi capacitado pelo criador a dominar a sua obra e não os seus iguais. Como po-demos administrar a obra de Deus, sem dominar outro ser humano? Comente.

Criados à imagem e semelhan-ça do Criador

Antes de entrar no verso 29, faz--se necessário aprofundar um pouco mais o signifi cado de ima-gem e semelhança. Comecemos pela palavra “semelhança”. Em Gênesis esta palavra ocorre ape-nas três vezes (1:26; 5:1,3). No restante do Antigo Testamento, outras vinte e duas vezes, sendo a maior ocorrência em Ezequiel, dezesseis vezes. Esta mesma pa-lavra traduz “modelo”, em 2 Reis 16:10; “aparência” ou “aspecto”, em Ezequiel 1:5 e “fi guras”, em 2 Crônicas 4:3. Ser criados à se-melhança de Deus é ser confor-me o seu modelo. Nosso mode-lo é o Criador. Temos em nós a

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aparência ou o aspecto do Cria-dor. Curiosamente, Gênesis é o único lugar em que o termo “se-melhança” se refere ao ser hu-mano em relação ao Criador em duas das três ocorrências.

O vocábulo “imagem” aparece cinco vezes em Gênesis e doze vezes em outros textos. Somente em Gênesis também, como acon-tece com a palavra “semelhan-ça”, o termo se refere à criação do ser humano. Em quatro situ-ações, ou seja, o dobro da ocor-rência da palavra “semelhança”, o termo “imagem” é usado para falar da nossa relação com o Criador (1:26,27,28 e 9:6). Em 1:27 e em 9:6 o vocábulo “ima-gem” vem desacompanhado da palavra “semelhança”. Isto nos leva à conclusão que estas pa-lavras são sinônimas. A palavra hebraica “imagem” (tsélem) as-semelha-se à palavra “sombra” (tsel). Portanto, é possível que a Bíblia esteja nos comunicando que, ao afi rmar que somos “ima-gem” de Deus, ela esteja dizendo o seguinte: Somos o refl exo do Deus Criador. Ele projetou de Si em nós como um ser projeta algo de si em sua sombra. A sombra carrega em si a forma, a aparên-cia, mas não é igual ao ser. É semelhante, mas não igual. Se o ser se movimenta, a sombra se movimenta. Se o ser se estagna, a sombra se fi xa em algum pon-to. A sombra está sempre ligada ao ser que a projeta. Da mesma forma, como sombras do Cria-

dor, deveríamos nos mover sem-pre que Ele nos impulsionasse.

Aplicação a sua vida: Você e eu somos os únicos seres que car-regam a imagem e semelhança do Criador. É um grande privi-légio e uma grande responsabili-dade. É inevitável que quem olhe para nós veja o refl exo de Deus em nós. Em alguns, a imagem de Deus anda meio apagada. No seu caso, as pessoas percebem facilmente que você é imagem e semelhança do Criador?

Criados para uma vida saudá-vel

No verso 29 lemos: “E disse Deus: Eis que vos tenho dado toda a erva que dê semente, que está sobre a face de toda a terra; e toda a árvore, em que há fruto que dê semente, ser-vos-á para mantimento.” Dar é o mesmo que oferecer, presentear. A generosi-dade do Criador pode ser vista aqui e sua graça também se faz presente. Não se pede nada em troca nessa relação. O Criador simplesmente decide presente-ar o ser humano e suas demais criaturas que necessitam de ali-mento com tudo aquilo que é saudável e necessário para sub-sistência. É uma cadeia ininter-rupta de produção. Uma erva ou fruto que dá semente produz nova erva e novo fruto que são capazes de perpetuarem suas espécies. O propósito de Deus é que o ser humano e os animais sejam alimentados por tempo in-determinado.

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Aplicação a sua vida: Observa-mos nesse texto que o propósi-to de Deus é que o homem e os animais sejam alimentados por tempo indeterminado. O dese-jo do homem em dominar seus iguais tem sido tão grande que se tem mudado o curso da pro-dução de alimentos. Como você tem feito uso dos alimentos na-turais e dos industrializados?

Observe que o texto não fala diretamente de qualquer direi-to sobre as ervas e árvores que não produzem semente e fruto, e, nem mesmo sobre os animais de qualquer espécie. Precisamos averiguar isso um pouco melhor, para compreender mais acura-damente o tipo de relação entre o ser humano e as demais cria-turas, tanto animais quanto ve-getais.

As ervas e árvores frutíferas cria-das no terceiro dia têm como propósito alimentar as criaturas do sexto dia. Apresenta-se aqui uma alimentação saudável, ba-seada em verduras, legumes e frutas. Num primeiro momento, não se fala de carne como parte da dieta alimentícia do ser huma-no. O Criador dá ao ser humano toda a erva e toda árvore frutí-fera para servir de alimento. Ao utilizar o vocábulo “todo/toda”, o Criador não faz nenhuma res-trição quanto a esse tipo de ali-mento. Não há árvores frutíferas que não sirvam ao ser humano e aos animais. Por dedução, esse tipo de erva ou de árvore não serve para aquecer, para com-

posição de móveis, para cons-trução. Sua função é alimentar. Ervas e frutos alimentam aves, pequenos roedores, herbívoros em geral e o ser humano. Para qualquer outra necessidade, as árvores não frutíferas estariam também à disposição do ser para uso consciente. Apesar de não produzirem semente nem frutos, muitas árvores e plantas têm a capacidade da multiplicação pelo aparentemente simples e maravilhoso processo do brota-mento de raízes ou ramas.

O verso 30 não só confi rma que todo alimento criado por Deus é bom, como também serve para todo tipo de ser vivo: “E a todo o animal da terra, e a toda a ave dos céus, e a todo o réptil da ter-ra, em que há alma vivente, toda a erva verde será para manti-mento; e assim foi.” Pela narrati-va bíblica, todo alimento natural é recomendável aos seres vivos. Esta verdade se mantém sobre qualquer alimento que não seja contaminado pelas mãos ganan-ciosas de nossos semelhantes ou pelas nossas próprias. Nenhum alimento oferecido graciosamen-te pelo Criador há de fazer mal às suas criaturas.

Aplicação a sua vida: O autor fala de alimentos contaminados pelas mãos gananciosas dos ho-mens. Como você entende essa afi rmativa? Comente.

O verso 31 apresenta a chance-la da criação com algo a mais na

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frase em relação ao relato dos cinco primeiros dias. Enquanto nos dias anteriores se diz que “viu Deus que era bom”, no sex-to dia encontramos duas novas informações: “tudo” e “muito”. Assim lemos: “E viu Deus tudo quanto tinha feito, e eis que era muito bom; e foi a tarde e a ma-nhã, o dia sexto.” Além disso, ao dizer que Deus “fez” tudo, e que “tudo” era “muito bom/belo”, confi rma-se a ação direta do Criador em cada ser e em cada coisa criada.

CONCLUSÃO

Não há nenhuma afi rmação que coloque a fauna, a fl ora, os se-res aquáticos ou dos ares, ou outras criaturas na condição de imagem ou semelhança do Cria-dor como é afi rmado sobre o ser humano. Dentre todas as cria-turas de Deus, somos os únicos criados “à imagem e semelhança do Criador”. Ser imagem e se-melhança do Criador nos torna seres que se relacionam não so-mente com a terra, mas com o céu. Nosso relacionamento ter-restre se dá nas relações inter-pessoais e com a natureza. Nos-so relacionamento com o céu, refere-se ao modo como nos co-nectamos ao Criador.

Suporte para Pequenos Grupos

1. Deus deu ao homem a auto-nomia para nomear e cuidar de sua criação. Você acha que o homem tem feito isto corre-tamente?

2. “As espécies garantem a conti-nuidade da vida na terra”. Co-mente se isto é verdade em se tratando das ações do homem na atualidade.

3. Ao olhar para você é possível ver a “imagem e semelhança” do criador?

4. Cite as lições que podemos tirar depois de tudo que ouvi-mos hoje. Você tem uma ex-periência que possa nos com-partilhar?

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Estudo – 8

O DESCANSO Gênesis 2:1-3

INTRODUÇÃO

Este estudo trata do fi m do re-lato da criação e o descanso do Criador, conforme Gênesis 2:1-3 que diz: “Assim os céus, a terra e todo o seu exército foram aca-bados. E havendo Deus acabado no dia sétimo a obra que fi ze-ra, descansou no sétimo dia de toda a sua obra, que tinha feito. E abençoou Deus o dia sétimo, e o santifi cou; porque nele descan-sou de toda a sua obra que Deus criara e fi zera.”

Descanso pressupõe trabalho

O texto de Gênesis 2:1-3 levanta algumas temáticas importantes: O exército de Deus; conclusão de uma excelente obra; o descanso de Deus e dos homens; bênção e santifi cação. Dentre os temas listados, somente a bênção é co-nhecida nos versos anteriores ao capítulo dois.

Antes de entrarmos no “descan-so” propriamente dito, discuti-mos agora, de forma resumida alguns dos temas aqui levan-tados. Primeiro, está em pauta o exército de Deus. O vocábulo “exército” pode induzir a uma conclusão equivocada da Pessoa

LEITURAS DIÁRIASSegunda Dt. 32:1-4Terça Sl. 105:1-5Quarta Dt. 7:12-15Quinta Rm. 14:5-8Sexta Hb. 4:1-11Sábado Mt. 11:28-30Domingo Sl. 4:8; 116:7

de Deus. “Senhor dos Exérci-tos” é um dos nomes pelo qual o Criador é conhecido na Bíblia. Essa fama do Criador, não o tor-na um Deus bélico. No contexto de Gênesis 2:1, está claro que o “exército de Deus” é composto por uma delicada fl or; por uma joaninha; por uma borboleta; por uma abelha, cuja inteligência está muito além do que se pen-sa; pela sequoia-gigante, a maior árvore do mundo; pelo sol, lua e estrelas; pelos humanos; pelas altas montanhas; pelo mar; pe-los seres celestiais, enfi m, por toda a maravilhosa criação de Deus. Todo o exército dos céus e da terra está concluído. Não res-ta nada mais por criar. Os seres criados caminham por si, sob a supervisão do Criador.

A criação tem em si o potencial da reprodução, da multiplicação,

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da perpetuação, do trabalho. É evidente que o ser humano, “co-roa da criação”, precisa exercer seu papel de cuidador da obra de Deus, e isso se faz pelo trabalho, pelo serviço.

Aplicação a sua vida: O autor nos adverte sobre a possibili-dade do equívoco de acharmos que a expressão “Senhor dos exércitos” faz referência a um Deus bélico ou guerreiro. Ex-pressões tais aparecem em al-gumas músicas. Você conside-ra importante uma refl exão e análise teológica das letras das músicas cantadas em nossas igrejas? Comente.

Descanso pressupõe santifi cação

É a primeira vez que o verbo “santifi car” ocorre no relato da criação. Em nenhum momen-to, anteriormente, é dito que o Criador tenha santifi cado algo ou alguém. Santifi car é também “consagrar, dedicar; estabelecer um período sagrado”. O Cria-dor torna sagrado o sétimo dia. Deus não santifi ca o dia da obra, porque não necessitava da obra. Deus santifi ca o dia do descan-so, porque descansou em si mes-mo, “porque mostrou ser feliz, não porque as fez [obras], mas porque não necessitava das que fez” (AGOSTINHO, 2005, p.140). Santo Agostinho está dizendo que Deus não precisa das obras. Por isso, seu descanso está fora das obras.

Perceba que no sétimo dia nada é criado, nem mesmo o dia séti-

mo. Se o dia sétimo não é criado no sétimo dia, então, na concep-ção de Santo Agostinho (2005), o dia sétimo não é outro senão o dia primeiro. Se não fosse as-sim, Deus teria criado o dia séti-mo. Se o houvesse criado (como obra/trabalho), Ele não teria completado tudo no sexto dia e nem estaria descansando de sua obra no sétimo dia, porque es-taria trabalhando na criação do dia sétimo. Eis uma explicação: O dia sétimo é cópia do sexto, que copia o quinto, que copia o quarto, que copia o terceiro, que copia o segundo, que copia o primeiro. Desse modo, só o pri-meiro dia fora criado. Não havia necessidade de se criar nenhum outro dia que não o primeiro. Nessa perspectiva, os possíveis 2.190.000 dias nos quais o ser humano habita o planeta terra (cerca de 6 mil anos) não pas-sam, aos olhos divinos, da repro-dução de um único dia por Ele criado. Se o sétimo dia é a repe-tição do primeiro, e se o primeiro dia é o único dia criado, ao aben-çoar e santifi car o sétimo dia da criação (imitação do primeiro), o Criador abençoava e tornava sagrado qualquer dia de sete em sete ocorrências.

Se você se recorda, em nenhum momento, no relato da criação, é dito que Deus tenha criado mais do que um dia. Um único e singular dia tem em si a compe-tência de se ecoar infi ndamente, assim como uma única árvore se reproduz na segunda, na tercei-ra, na milésima árvore que dela

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procede. Nos versos 3 a 5 de Gê-nesis 1, lemos que Deus criara a luz. Em seguida, Ele nomeia a luz de Dia e as trevas de Noite. Estavam criados o dia e a noite, ou seja, o primeiro e único dia. O narrador encerra sua informa-ção dizendo que “houve tarde e manhã, o dia primeiro”. A tarde e a manhã não são criadas em separado, são apenas nomea-das. O dia primeiro foi capaz de produzir tarde [heb. entardecer/anoitecer] e manhã (o período de domínio da luz), o que é próprio de sua natureza. Portanto, Deus santifi ca a sexta reprodução do primeiro dia criado, ou seja, o sé-timo dia da criação.

Aplicação a sua vida: O séti-mo dia é narrado como o dia do descanso e também da santifi -cação. Sabemos que após seis dias de efetivo trabalho, Deus descansa e nos traz uma belís-sima lição. “Consagrar, dedicar; estabelecer um período sagrado” é indispensável para ser feliz. Você tem levado a sério o seu descanso? Comente.

Descanso pressupõe dignidade

Com Moisés, o descanso de Deus, no sétimo dia da criação, ganha status de lei e passa a ser entendido como ensino a que os seres humanos descansem, logo após a cada período de seis dias trabalhados. Mesquita (1971, p.161) afi rma o seguinte:

Falar do sábado, em geral mesmo, é abor-dar os problemas que

dizem respeito ao tra-balho e sua dignidade, às relações econômicas entre os indivíduos e os povos, ao respeito à vida e confôrto [sic] dos que trabalham, ao lucro digno e honesto oriundo do trabalho, ao recreio, à religião, à moralidade, à caridade, à justiça e, enfi m, tal-vez à maior parte das atividades humanas.

Segundo Mesquita (1971, p.162), o sábado “veio dignifi car o traba-lho e dar-lhe o característico de desporto, entremeando na esca-la do labor um dia de descanso, para que não viesse o tédio e o fastio.” O sábado pressupõe o trabalho. Trabalhar é bênção. Contudo, trabalhar sem des-canso aproxima-se da maldição. Uso aqui a palavra “maldição” no sentido de restrição ao ócio, ao lazer, ao descanso previsto e di-daticamente experimentado pelo Criador.

Aplicação a sua vida: O autor afi rma que trabalhar é benção, mas não descansar aproxima--se da maldição. Você sabe se-parar um tempo para seu des-canso e lazer além do período ofi cializado como horário de dormir? Saberia dizer a alguém um de seus hobbies?

Mesquita (1971) faz distinção entre o sábado institucional e o sábado legal. O institucional é patrimônio da raça humana. O

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legal é patrimônio israelita. No contexto da criação, a palavra “sábado” deve ser traduzida por “descanso” e não pelo sétimo dia da semana, pois não há conta-gem de dias da semana nesse período histórico. O sábado ins-titucional (período de descanso e de culto) deve ser observado por todos os povos, independente-mente de um dia específi co da semana. Observa-se o princípio e não o dia da semana. Mesquita (1971, p.170) afi rma que “Deus não pensou jamais que todos os povos guardassem exatamente e uniformemente o mesmo perí-odo de tempo”, até porque isso seria impossível, levando-se em conta as “diferenças horárias devido às latitudes e longitudes terrestres.” O sábado legal pas-sa a existir com a Lei mosaica. A guarda do sábado legal é exclusi-vidade do povo judeu. O sábado (descanso) legal coincide com o sétimo dia da semana. O sábado institucional coincide com o sé-timo dia da criação. Não há ne-nhum registro bíblico que afi rma que o Criador começa a criar no domingo, para que o sétimo dia da criação coincida com o sétimo dia da semana, o atual sábado. Ainda que soubéssemos a qual dia da semana o primeiro dia da criação se refere, não have-ria tal rigor por parte do Criador. O que se evidencia no texto é a necessidade do descanso de um dia após seis dias trabalhados. O princípio é o descanso de seis em seis dias trabalhados e não o dia específi co da atual semana.

Segundo Mesquita (1971), o descanso terreno aponta para o descanso eterno. O descanso do labor fastidioso. “Quando des-cansamos de nossos labôres [sic] materiais e voltamos a mente para Deus, estamos profetizan-do nosso futuro estado na glória, quando cessaremos do trabalho mundano, para trabalhar no es-pírito por tôda [sic] a eternida-de.” (MESQUITA, 1971, p.171).

Champlin (2001, p.21) discorre sobre as razões da separação de um dia de descanso, da santifi -cação do sábado (do descanso) da seguinte forma:

O autor sagrado apre-senta várias delas [ra-zões] no tocante à his-tória da criação: a luz foi separada das trevas (1.14); as águas das águas (1.6); as águas de cima do fi rmamen-to das águas de baixo (1.9); as espécies foram separadas umas das outras, e não median-te evolução (1.11,20). O sábado separou um tempo de outro, o tem-po devotado ao traba-lho, do tempo devotado ao descanso e ao servi-ço e adoração a Deus. Em tempos posteriores, o santuário divino ser-viu de meio de separar o sagrado do profano, o divino do humano. [...] Tal como o sábado é se-parado para ser obser-vado pelo homem, as-sim também o homem é separado para Deus.

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Santo Agostinho (2005) entende o descanso de Deus no sentido de que Deus cessara toda a sua obra. Contudo, Deus trabalha não só na criação, mas no gover-no da criação. Conforme Agos-tinho (2005, p.134), “o mundo não poderia continuar apenas num abrir e fechar de olhos, se Deus apenas retirasse o gover-no”. Agostinho (2005) continua dizendo: “entendemos que Deus descansou de todas as obras que fez, de tal modo que não criara dali em diante nenhuma nature-za nova, e não como se cessas-se de manter e governar aquelas que criara.”

Descanso pressupõe um dia da semana

Qualquer dia da semana na Bí-blia pode ser chamado de séti-mo dia, e não somente o sábado semanal. Êxodo 12:15, ao falar da festa dos pães ázimos, a qual duraria sete dias, declara “ao pri-meiro dia tirareis o fermento das vossas casas; [...] até ao sétimo dia”. Aqui é uma referência ao primeiro dia da festa, que a cada ano cai em um dia diferente da semana. Se cair no sábado, por exemplo, o sábado será o pri-meiro dia, o domingo o segundo e a sexta, o sétimo dia. Se cair na segunda, a segunda será o primeiro dia, a terça o segundo e o domingo, o sétimo dia. A re-ferência não é a semana. A refe-rência, nesse contexto, é a festa dos pães ázimos, assim como o descanso de Deus tem como re-ferência, não o dia da semana, mas o primeiro dia da criação.

Ao tratar do dia da expiação, o Senhor orienta que nenhum tra-balho deve ser feito (Lv 23:26-32), e chama aquele dia espe-cífi co, independente do dia da semana a cada ano, de “sábado de descanso”. Veja que não é o dia da semana quando cai a festa que importa. Importa sim a festa e o descanso nesse dia. O dia da expiação é chamado de “sábado” no verso 32, ou seja, de “descan-so”. Se o descanso é observado no dia de domingo, no sábado ou na sexta-feira, o adorador estará observando o “sábado/descan-so” que Deus espera de cada um e do povo em geral.

Aplicação a sua vida: O autor não especifi ca o sábado para ser o dia do descanso e sim após um período de seis dias trabalhados é necessário um dia para des-cansar. Não importa em qual dia ele caia, o que importa é que ele seja respeitado. Como você tem realizado esse dia e qual é esse dia para você?

Um sábado poderia ser um ano inteiro e não apenas um dia. Em Levítico 25:3,4, Moisés expõe sobre o ano sabático da seguin-te forma: “Seis anos semearás a tua terra, e seis anos podarás a tua vinha, e colherás os seus frutos; porém ao sétimo ano ha-verá sábado de descanso para a terra, um sábado ao Senhor; não semearás o teu campo nem po-darás a tua vinha.” A palavra sá-bado, como se pode ver, signifi ca “descanso”, “cessação de traba-lho” ou, no contexto de Levítico

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25, cessação de semeadura por um ano inteiro. Qualquer ano de interrupção agrícola, após seis trabalhados no campo, seria chamado de ano sabático.

Para nós cristãos, o melhor dia de “descanso” para o culto coleti-vo a Deus é o “domingo”, o dia da ressurreição do Senhor Jesus. Segundas-feiras têm sido con-sideradas o “shabat pastoral”, o “descanso pastoral” conforme bem lembra o pastor Francisco Mancebo Reis (in loco).

CONCLUSÃO

A palavra hebraica “shabat” sig-nifi ca “descanso”. Portanto, não importa o dia da semana que uma pessoa ou coletividade es-colhe para descansar, após seis dias trabalhados. No nosso caso, como cristãos que somos, o do-mingo é o nosso “shabat”, o nos-so dia de descanso. Para os ju-deus, o sábado semanal. Para os mulçumanos, a sexta-feira.

Suporte para Pequenos Grupos

1. Comente a frase: O autor afi r-ma que “trabalhar é benção, mas não descansar aproxi-ma-se da maldição”.

2. De acordo com o estudo des-canso pressupõe: santifi cação. Você concorda? Justifi que.

3. Vivemos dias de grandes ambi-ções. Isto tem levado as pesso-as a experimentar o “burnout”. Crises como: Fadiga, esgota-mento, exaustão. Principal-mente por parte de nossas li-deranças que não param para um descanso real. Como pode-mos mudar esta realidade?

4. O que precisar mudar para co-locar em prática o que apren-deu hoje?

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Estudo 9

O DIA E A ETERNIDADEGênesis 1:5b; 8b; 13; 16-19; 23; 31b

INTRODUÇÃO

Neste estudo, discutiremos sete teorias que buscam explicar o relato da criação e suas possí-veis interpretações, e, através das teorias, apresentaremos a participação humana na conti-nuidade da criação, a conexão entre a natureza e o humano responsável por sua manuten-ção e equilíbrio.

De acordo com alguns estudio-sos do Antigo Testamento, há várias teorias sobre os dias da criação. Antes de qualquer coi-sa, é necessário que compreen-damos que estamos não diante da criação em andamento, mas de um relato sobre ela. Relatos são passíveis de leituras e inter-pretações. Falaremos dessas te-orias de forma resumida.

Um dia sem luz

A palavra “dia” ocorre 11 vezes em Gênesis primeiro, seis delas com relação à fórmula de fecha-mento de cada relato específi co, a qual se encontra nos versos 5b; 8b; 13; 19; 23; 31b. Todos esses versos começam com a seguinte afi rmativa: “E foi a tar-de e a manhã o dia...” e termi-na com a informação do dia em

LEITURAS DIÁRIASSegunda Ap. 21:9,27Terça Sl. 2 1-12Quarta Sl.20.1-9Quinta Sl21. 1-13Sexta Sl. 23. 1-6Sábado Sl. 90.1-17Domingo Gn. 1.1-31

questão. Somente o sétimo dia não apresenta essa fórmula lin-guística. A pergunta que se faz é a seguinte: As seis fórmulas são literais ou são simbólicas?

1ª Interpretação

A interpretação primeira e mais popular entre os leitores da Bí-blia, sobre os dias da criação, é a interpretação literal. Na inter-pretação literal, o entendimento seria de que os dias da criação representariam um período de vinte e quatro horas cada. Esta interpretação parte do conheci-mento que se tem do uso da pa-lavra “dia” na atualidade. Uma semana, portanto, seria o pra-zo que Deus levara para criar todas as coisas. Sendo estrita-mente literal, há de se perceber que o relato do primeiro ao ter-ceiro dia da criação se dá sem que se mencione a existência da

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luz solar, a qual é apresentada somente no relato do quarto dia. A palavra “dia”, nesse contexto, é usada sem conexão aparente com a luz solar. Portanto, “um dia sem luz”.

O subtítulo “um dia sem luz” serve não apenas para falar da ausência do registro literal da luz solar nos três primeiros dias da criação, mas como metáfora para a realidade eterna onde a luz solar é dispensada. Assim lemos em Apocalipse 21:23,24: “E a cidade não necessita de sol nem de lua, para que nela res-plandeçam, porque a glória de Deus a tem iluminado, e o Cor-deiro é a sua lâmpada. E as na-ções dos salvos andarão à sua luz; e os reis da terra trarão para ela a sua glória e honra.”

Aplicação a sua vida: Nessa interpretação do relato da cria-ção, podemos perceber a sobe-rania de Deus em constituir o dia mesmo antes da criação dos luminares. Você consegue per-ceber o trabalho magnífi co de Deus? Comente.

Um dia para além da luz

2ª Interpretação

A interpretação de que os dias da criação se referem a eras ge-ológicas de duração desconheci-da tem como base outras pos-síveis acepções da palavra “dia” utilizada pelo narrador-escritor.

O vocábulo “dia” ocorre 2.187 vezes na Bíblia Hebraica, se-gundo o programa Bible Works Program. Somente no livro do

Gênesis a palavra “dia” aparece 152 vezes. Para ilustrar a gama semântica desse termo, averi-guaremos o uso desse vocábulo em alguns poucos salmos.

Lemos no Salmo 2:7, um sal-mo messiânico, o Pai falando em relação ao Filho: “Hoje te gerei”. Sabedores, pelo Novo Testamento, de que o Filho foi entregue à humanidade antes mesmo da fundação do mundo, a expressão “hoje”, no contexto do salmo 2, reportaria à eterni-dade e não a um dia de luz so-lar. Salmo 20:1 relata um “dia da angústia”. Naturalmente que o salmista está falando de uma época angustiante, de um dado momento histórico. Salmo 21:4 e 23:6 referem-se à “longura de dias” e “longos dias” respecti-vamente. Tanto um caso quan-to o outro pressupõe a ideia de eternidade. Para não delongar, o Salmo 90:4 é explícito ao afi r-mar: “Porque mil anos são aos teus olhos como o dia de ontem que passou, e como a vigília da noite.” Mil anos, a vigília da noi-te, um bilhão de anos ou uma fração de segundos são ínfi mos diante do Eterno.

Aplicação a sua vida: Como você entende a afi rmativa do autor que: “Mil anos, a vigília da noite, um bilhão de anos ou uma fração de segundos são ínfi mos diante do Eterno”? Comente.

A palavra dia, portanto, no con-texto do Antigo Testamento, co-munica não só a realidade hu-mana, mas também pode ser

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usada para falar da realidade divina. A expressão recorrente nos profetas: “o dia do Senhor”, por exemplo, expressa tanto um acontecimento histórico mar-cante quanto um dia ainda por vir. Tal dia aponta para a eterni-dade. Ser eterno, no sentido de não ter princípio nem fi m, é um atributo que o Deus Criador não comunicou a nós. Nosso prin-cípio se dá na criação e nosso fi m físico se dá na morte. Pela bondade e misericórdia divinas, foi nos dado o poder da ressur-reição e de viver na eternidade juntamente com o Criador, seus fi lhos e fi lhas adotivos e com to-dos os seres celestiais que são dignos dessa moradia eterna.

Aplicação a sua vida: É fato que o atributo da eternidade não nos foi compartilhado. Ad-quirirmos o direito de vivê-la através da salvação em Jesus Cristo. Você entende que já pos-sui essa dádiva? Comente.

3ª Interpretação

Há a interpretação de que os sete dias da criação descritos em Gênesis primeiro se refe-rem a sete dias de revelação. De acordo com este ponto de vista, a criação bíblica teria aconteci-do conforme as eras geológicas, mas a revelação do texto bíbli-co ao escritor teria ocorrido du-rante uma semana. Portanto, os dias da criação teriam a ver com o período em que a revelação di-vina ocorrera e não ao período que o Criador levara para criar.

4ª Interpretação

A interpretação “somente no Éden” preconiza que a criação bíblica teria acontecido somen-te no jardim, enquanto a cria-ção geológica teria ocorrido fora do jardim do Éden. Esta teoria tenta unir duas possibilidades semânticas da palavra “dia”, ou seja, dia de 24 horas e dia como tempo indeterminado ou eras. Essa interpretação consi-dera que a idade do planeta ter-ra ou seu processo criativo seria indeterminado, mas que seria possível determinar o processo criativo do jardim do Éden em seis dias de 24 horas cada. Fora do jardim, o mundo criado por Deus teria passado por seis eras geológicas de duração imprecisa.

5ª Interpretação

Um tanto mais fantástica, a in-terpretação da “grande lacuna” fala que Lúcifer teria fi cado res-ponsável pela criação, mas com seu orgulho teria se rebelado, sendo expulso dos céus e exila-do aqui na terra. Então, a terra se tornou sem forma e vazia, e nesse intervalo aconteceram as eras geológicas. Com a destrui-ção, Deus teria começado a re-criar o mundo.

6ª Interpretação

A teoria da “grande lacuna” assemelha-se à da “grande ca-tástrofe”. Nesta, o Senhor Deus teria criado o mundo em sua perfeição. Depois vieram as eras geológicas quando ocorreu uma grande catástrofe, e Deus teria recriado tudo. Nesta interpreta-

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ção, Gênesis 1:1 representaria a criação, em seguida viriam as eras geológicas, e Gênesis 1:2 seria o relato da recriação.

7ª Interpretação

Sem considerar a literalidade do relato, surge a interpretação li-terária. A questão da luz solar também não é levada em conta. Sem grandes pretensões teoló-gicas, esta teoria defende que o texto seria apenas um relato li-terário com o objetivo de comu-nicar a criação. Nesse sentido, não importaria para o leitor se os dias são literais ou simbó-licos. O que importa é que por trás da criação há o Criador. A narrativa bíblica precisava ilus-trar, da melhor maneira possí-vel, o trabalho arquitetônico e magistral do Deus Criador. Para tanto, fez uso de um recurso re-quintado ao alcance dos seres humanos, a literatura.

Aplicação a sua vida: É impor-tante compreendermos que seja qual for a interpretação da cria-ção feita por diversos autores, por mais diferentes da que acre-ditamos, possam apresentar, elas não desqualifi cam a sobe-rania do Deus Criador. Você já havia ouvido falar dessas inter-pretações? Qual a sua posição?

Um dia de muita luz

Gênesis 1:16-18 nos mostra claramente a presença e impor-tância da luz, na criação: “E fez Deus os dois grandes luminares: o luminar maior para governar o dia, e o luminar menor para governar a noite; e fez as estre-

las. E Deus os pôs na expansão dos céus para iluminar a terra, e para governar o dia e a noite, e para fazer separação entre a luz e as trevas; e viu Deus que era bom.” Veja que a função da luz solar e a presença da lua serviriam para fazer separação entre a luz e as trevas na reali-dade humana, e não na realida-de divina.

Um conto judaico procura ilus-trar para as crianças, e para aqueles que estão tendo conta-to primário com a narrativa da criação, com uma história bem simples, sem qualquer preocu-pação com possíveis implicações teológicas, mas com um fun-do de verdade fácil de ser per-cebido, o que teria acontecido no processo da criação divina. Em resumo, eis o conto: “Deus criara o mundo perfeito, porém incompleto. Criara primeira-mente o mundo pela sua jus-tiça. O mundo, tendo a justiça como alicerce, permanecera por muito tempo. Porém, num de-terminado dia, tudo desandou. A solução foi destruir e refazer o mundo. Nessa segunda vez o Criador colocou como base da criação o amor. O mundo fi cou maravilhoso e durou por longos anos. Contudo, em dado mo-mento, pereceu, sendo levado ao mesmo fi m do primeiro mundo. Para a criação do terceiro e defi -nitivo mundo, o Criador decidiu unir a justiça e o amor. Este é o mundo onde vivemos. Moral da história: A justiça e o amor têm que andar de mãos dadas para que haja equilíbrio no mundo.”

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A ideia da perfeição e incom-pletude convivendo juntos, no início da criação, pode ser ilus-trada de algumas formas, mas basta um exemplo para que você compreenda esse princípio bíblico empregado no conto. A nomeação dos animais pelo ser humano fala de uma criação perfeita, porém com lacunas propositais a serem preenchidas por nós os humanos, a chama-da “coroa da criação”. Criaturas sem nome falam de incomple-tude, mas não comunicam im-perfeição. Nomear as criaturas é completar a perfeita criação de Deus, o qual, generosamente, outorga ao ser humano coparti-cipação no processo criativo dos seres. Essa coparticipação nos torna ainda mais responsáveis por tudo o que foi criado. So-mos mordomos em relação aos animais, às plantas, à água, aos minerais, à atmosfera, aos pla-netas, à vida em geral.

Esse conto ingênuo e delicado apresenta dois importantes atri-butos de Deus, seu amor e sua justiça. Esses atributos são co-municáveis aos seres humanos. Podemos e devemos amar e agir com justiça. O conto nos ajuda a refl etir sobre a possibilidade de sermos justos com amor e de amarmos com justiça. Precisa-mos desse tipo de luz.

Aplicação a sua vida: Esse conto Judaico enfatiza dois atributos comunicáveis de Deus aos homens que são: Amor e justiça. Você é capaz de identifi -cá-los em sua vida? Cite.

CONCLUSÃO

É natural que cada um de nós tenha preferência por uma ou outra interpretação. Há aqueles e aquelas que preferem recolher o que de melhor pode ser absor-vido das interpretações que jul-gam não ferir a sua crença es-sencial de que Deus seja o único responsável pela criação e que, sem Ele, a existência do mundo e nossa não faz o menor senti-do. Se você e eu formos capazes de dialogar com o nosso seme-lhante que pensa diferente de nós, terá valido a pena conhecer outras possíveis interpretações sobre os dias da criação. O es-sencial para nós é que um dia estaremos para sempre com o Criador e com todos os que o honraram neste mundo, sejam os que pensam como nós, ou os que têm interpretações que che-gam a causar repulsa em alguns de nós. Para o Criador, e deveria ser também para nós, mais im-portante que as interpretações são os intérpretes.

Suporte para Pequenos Grupos

1. Compartilhe o que mais cha-mou sua atenção nesta lição.

2. Cite as lições práticas que podemos tirar de tudo que ouvimos hoje.

3. Que ajustes você precisa fa-zer em sua vida para “colocar em pratica” o que aprendeu?

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Estudo - 10

FELICIDADE E BÊNÇÃO Gênesis 1:20-28

INTRODUÇÃO

Boa parte desta lição vem do livro “fl or de papiro”, de minha autoria. Trato aqui da bênção, como sinônimo de felicidade. O que é a felicidade? Seria a felici-dade algo que se recebe mistica-mente como a salvação, de uma vez por todas, ou se assemelha mais à santifi cação, e, por isso mesmo, seria um processo, uma busca constante? Não seria a fe-licidade semelhante a um copo d’água e por isso, necessária sempre que estivermos seden-tos?

O verso 22 de Gênesis capítulo 1 apresenta a bênção divina so-bre as criaturas das águas e dos ares, enquanto o verso 28 fala da bênção do Criador sobre a raça humana.

A felicidade é alcançável

Para alguns, a felicidade nunca os alcança. Tem gente que tem medo de ser feliz, apesar de a fe-licidade estar ao alcance de to-dos. Muitos até já a experimen-taram uma porção de vezes. A felicidade não é intangível como o céu. Ela se destina aos seres frágeis; confusos, às vezes; per-plexos diante dos dilemas da

LEITURAS DIÁRIASSegunda Sl 1. 1-6Terça Dt. 33.1-10Quarta Dt. 33.11-23Quinta Dt. 33. 24-29Sexta Dt.11.1-7Sábado Dt 11. 8-17Domingo Pv. 10. 1-32

vida. A felicidade foi inventada por Deus para minimizar as nossas angústias. A felicidade se destina a nós, os mortais.

Há pessoas que vivem como se fosse pecado ser feliz. Possivel-mente passe pela cabeça de al-guns que a felicidade, por ser uma coisa tão boa, não deve ser permitida aos crentes. Mas, o que é de fato a felicidade? Feli-cidade é uma bênção, uma ale-gria, uma bem-aventurança.

O salmista afi rma: “Bem-aven-turado o homem que não anda segundo o conselho dos ímpios, nem se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores.” (Sl 1:1). “Bem-aventurado” é tra-dução da palavra ashrey: “as felicidades de”. O salmista está falando de coisas que um ser humano não deve fazer, se quer

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alcançar “as felicidades”. É um termo plural, pois a felicidade é plural. Se eu quero felicidades, não vou escutar os conselhos de pessoas que não temem a Deus. Não vou andar em más compa-nhias. “Bem-aventurado o ho-mem que não anda segundo o conselho dos ímpios”, diz o sal-mista. Não vou me deixar sedu-zir pela conduta dos pecadores. Não vou me assentar na roda dos escarnecedores, isto é, não vou ser amigo íntimo daqueles que zombam de Deus.

O verso dois deste mesmo Sal-mo tem um tom positivo. Posso alcançar as felicidades da vida por sentir e fazer alguma coisa nobre. Não é mais pelo caminho do “deixar de fazer”. Ao contrá-rio, é por realizar algo bom que alcanço a felicidade. Diz o sal-mista: “antes tem o seu prazer na lei do SENHOR, e na sua lei medita de dia e de noite.” O sal-mista está nos dando uma re-ceita de felicidades.

Aplicação a sua vida: O autor nos dá uma receita de felicida-des segundo o salmista. Você é capaz de sentir-se dessa forma? Comente.

Receitas nem sempre funcio-nam na primeira vez em que são executadas. Hoje eu consigo fa-zer uma broa de fubá elogiável. Levei certo tempo para conse-guir êxito. Seguia a receita, mas alguma coisa sempre dava erra-da. Às vezes, ainda erro a mão

e a broa não fi ca boa. E broa só presta se for boa. A felicidade também. Felicidade ruim não é felicidade. Aquele lar conjugal onde o seu marido vive batendo em você, aquele emprego onde você é humilhado o tempo todo, aquela parede rosa cheia de mofo, aquela lasanha com um fi o comprido de cabelo no meio; aquela nota alta às custas de cola não parece ser evidências de uma vida de felicidades. Não basta ser casado; não basta ter um emprego; não basta ter uma parede rosa ou uma lasanha, não basta tirar boas notas na escola ou faculdade. É preciso que lá no âmago de cada um de nós exista um negócio chamado paz.

Aplicação a sua vida: A com-paração feita pelo autor, a res-peito da busca pela felicidade, nos remete a uma refl exão aos dias atuais em que a felicidade é uma conquista a qualquer pre-ço. Como você entende a paz na felicidade? Comente.

A felicidade é uma bênção

Já afi rmei que a felicidade é multíplice. Utilizo aqui termos hebraicos para distinguir dois aspectos da felicidade. Há uma felicidade brarrá que vem de Deus, e nesse sentido é conferi-da sem que o homem a mereça e sem a necessidade de qualquer esforço da nossa parte. Mas, há outro tipo de felicidade ashrey, em que a participação humana é indispensável.

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Gênesis 1:22 e 28 fala da feli-cidade brarrá, do verbo “aben-çoar, bendizer”. Assim lemos: “E Deus os abençoou, dizendo: Frutifi cai e multiplicai-vos, e en-chei as águas nos mares; e as aves se multipliquem na terra. E Deus os abençoou, e Deus lhes disse: Frutifi cai e multiplicai-vos, e enchei a terra, e sujeitai-a; e dominai sobre os peixes do mar e sobre as aves dos céus, e sobre todo o animal que se move sobre a terra.” Interessante nesses dois versos, o que parece uma ordem trata-se de uma bênção: A bênção da frutifi cação e do domínio. Os verbos frutifi car, multiplicar, encher, sujeitar e dominar estão no contexto de uma brarrá, uma benção divina, e não de um mandamento.

A chuva, o sol, o ar que respira-mos, a vida, enfi m, também es-tão no contexto da brarrá divina e são bênçãos que só Deus pode conceder. No entanto, se respi-raremos ar puro ou poluído, se temos casas seguras ou em áre-as de risco; se plantamos vida: Arroz, feijão, uma fl or, em lugar de morte: Armas, drogas; isso cabe a cada um de nós, porque somos seres livres.

Aplicação a sua vida: Todos podem desfrutar das bênçãos divinas. No entanto o homem tem inadvertidamente buscado não se comprometer com essas bênçãos. Como você percebe sua participação com a felicida-de que Deus lhe proporciona?

A felicidade é uma bênção dupla

Há, na Bíblia, um conceito du-plo de felicidade. Primeiro há a felicidade que vem de Deus, a brarrá hebraica. O segundo tipo de felicidade, ashrey, é traduzi-da pela LXX (a versão grega do Antigo Testamento) como maka-riós. A felicidade brarrá vem de Deus, e nesse sentido pode ser conferida sem que o homem a mereça. No entanto, para que a felicidade ashrey ocorra, a participação humana é indis-pensável. De qualquer forma, cientes de que o ser humano só existe por criação divina, qual-quer esforço humano o remete ao Criador. Nesse sentido, toda e qualquer felicidade depende de Deus.

Aplicação a sua vida: Sabemos que apesar de o autor acentuar a necessidade de nossa partici-pação na felicidade, ele conclui que nossa felicidade nos remete ao criador, assim toda felicida-de provem de Deus. Como você entende essa argumentação? Comente.

O verbo ashar, de onde vem ashrey, jamais é pronunciado por Deus, na Bíblia (HAMIL-TON, 1988, p.135). Isso signi-fi ca que para alcançar a feli-cidade ashrey, o homem tem que fazer alguma coisa, ou, em alguns casos, deixar de fazer, como no Salmo primeiro que le-mos no início do nosso estudo. É desse tipo de felicidade que estou falando. Algo possível, so-

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mente pelo querer, pela partici-pação e decisão de cada um de nós. A felicidade ashrey/maka-riós, portanto, não cai do céu, apesar de ter no Deus Criador a sua origem, pois tudo se origina do Criador.

A primeira ocorrência de ashrey/makariós na Bíblia está num contexto de bênção (Dt 33:29). Felicidade e bênção são inter-cambiáveis, são indissociáveis. O capítulo 33 de Deuteronômio trata da bênção de Moisés aos fi lhos de Israel. O interessante é que do verso primeiro ao vi-gésimo oitavo, quando Moisés fala da felicidade/bênção, ele emprega brarrá, a felicidade que vem de Deus. No último verso, no entanto, o verso 29 de Deu-teronômio 33, Moisés emprega o termo ashrey/makariós, o tipo de felicidade que só ocorre com a participação dos humanos. Disse Moisés: “Feliz [ashrey], és tu, Israel! Quem é como tu? Povo salvo pelo Senhor, escudo que te socorre, espada que te dá alteza. Assim os teus inimigos te serão sujeitos, e tu pisarás sobre os seus altos.”

Para que os inimigos de Israel lhe fossem sujeitos, os israelitas teriam que pisar os seus altos, os seus lugares mais elevados. Em sentido metafórico, estariam pisando sobre as divindades dos inimigos. Era trabalho pesado, porque, diferente da felicida-de brarrá, a felicidade ashrey/makariós requer esforço.

São inúmeros os momentos de felicidade que Deus nos pro-porciona. Incontáveis são as bênçãos divinas que recebemos a todo instante: O ar que res-piramos, a visão, o tato, o pa-ladar, a audição, o olfato. São tantas as cores, os cheiros, os gostos, os sons, as sensações. Deus tem abençoado cada um de nós. É hora de aprendermos a nos abençoar com a felicida-de ashrey/makariós. Que fi que claro: Toda bênção/felicidade procede de Deus. Mas há aque-las felicidades que dependem da nossa participação.

Aplicação a sua vida: O povo Israelita perdeu a felicidade vá-rias vezes que sua participação se fazia necessária. Como você tem agido quando se faz neces-sário sua participação nas bên-çãos/felicidade? Comente.

Há aqueles que se enveredam pelo caminho do trabalho, dos afazeres que até se esquecem da felicidade. O contista mineiro Oswaldo França Júnior (1985, p.37) escreveu um conto que ilustra bem essa realidade:

Meu fi lho foi embo-ra e eu não o conheci. Acostumei-me com ele em casa e me esqueci de conhecê-lo. Agora que sua ausência me pesa, é que vejo como era necessário tê-lo co-nhecido.

Lembro-me dele. Lem-bro-me bem em poucas ocasiões.

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Um dia, na sala, ele me puxou a barra do pa-letó e me fez examinar seu pequeno dedo ma-chucado. Foi um exame rápido.Uma outra vez me pe-diu que lhe consertasse um brinquedo velho. Eu estava com pressa e não consertei. Mas lhe comprei um brinquedo novo. Na noite seguin-te, quando entrei em casa, ele estava deita-do no tapete, dormindo e abraçado ao brinque-do velho. O novo estava a um canto.Eu tinha um fi lho e agora não o tenho mais porque ele foi embora. E este meu fi lho, uma noite, me chamou e dis-se:– Fica comigo. Só um pouquinho, pai.Eu não podia; mas a babá fi cou com ele.Sou um homem muito ocupado. Mas meu fi lho foi embora. Foi embora e eu não o conheci.

Aplicação a sua vida: Esse conto nos leva a uma refl exão sobre a benção/felicidade no relacionamento. Como você tem participado da bênção do seu relacionamento interpessoal?

CONCLUSÃO

Felicidade é sinônimo de bên-ção. Há uma felicidade imereci-da, repartida com a humanida-de em geral, a felicidade brarrá.

Há também um tipo de felici-dade ashrey/makariós que ne-cessita da participação humana para que ela ocorra. Todo dia eu agradeço a Deus porque posso ver, falar, andar, mas descobri que a felicidade está muito além das habilidades que temos, e está ao alcance de todos. Tan-to a felicidade brarrá quanto a felicidade ashrey/makariós só a alcança quem de fato quer ser feliz.

REFERÊNCIASARAUJO, Tarcisio Caixeta de. Flor de papiro. São Paulo: Scortecci, 2013.FRANÇA JÚNIOR, Oswaldo. As la-ranjas iguais: Contos. 4 ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985. HAMILTON, Victor P. In: Dicioná-rio internacional de teologia do Antigo Testamento. Tradução de Márcio Loureiro Redondo et ali. São Paulo: Vida Nova, 1988.

Suporte para Pequenos Grupos

1. O que é felicidade?

2. Onde as pessoas se apoiam em busca de felicidade?

3. O que é necessário para alcan-çar a felicidade? Você já viveu um momento assim? Como foi?

4. Porque felicidade é considerada uma benção dupla?

5. Que ajustes você precisa fazer em sua vida para desfrutar da verdadeira felicidade/benção?

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DEUS E O RELACIONAMENTO COM A CRIAÇÃO |

Estudo – 11

O SER MULHER Gênesis 2:4-25

INTRODUÇÃO

Este estudo trata do verso 18 do capítulo dois de Gênesis, cujo contexto é o relato da criação da mulher, conforme Gênesis 2:18 a 25. Neste estudo, discutiremos a posição da mulher e o privilé-gio de ser ajudadora do homem e, consequentemente, da família.

O desafi o de ser mulher

Em Gênesis 2:18 lemos o que o Senhor Deus diz sobre a soli-dão humana: “Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma ajudadora idônea para ele.” O Senhor toma o masculino como referência para falar sobre a so-lidão e trazer à tona o conceito de “ajudadora idônea”. Uma aju-dadora capaz de não somente solucionar a questão da solidão, como também trazer grandes be-nefícios nas relações humanas e, consequentemente, na sua pre-servação.

Aplicação a sua vida: Segun-do Gênesis 2.18 Deus trabalha a solidão do homem. A mulher surge no contexto como a pes-soa capaz de trazer o relaciona-mento entre a espécie humana. Fica evidenciada a necessidade que o homem tem da mulher e vice-versa. Como você percebe essa afi rmativa? Comente.

LEITURAS DIÁRIASSegunda Gn. 2.4-25Terça Sl. 54.1-7Quarta Sl. 30.1-12Quinta Sl. 33.1-20Sexta Sl 109.1-31Sábado Sl. 121.1-8Domingo Gl. 5.16-26

Como o feminino tem a primazia da ajuda, cabe-nos compreen-der as demandas desse privilé-gio e dessa responsabilidade.

Gostaríamos de começar pela fi gura feminina como se apre-senta hoje em dia. Para isso, perguntamos: Quais seriam os desafi os de ser mulher nos dias de hoje? Será que em tais desafi os haveria como incluir a primeira de todas as mulheres? Fazendo uma pergunta inversa, será que Eva, a mãe da vida, se assemelha às mulheres do sécu-lo XXI quanto a seus desafi os?

Eis alguns possíveis desafi os que toda mulher deve experi-mentar uma vez na vida: A in-fância na condição de menina; a adolescência; os estudos; o ca-samento; a maternidade; a tri-pla jornada da mulher, ou seja, o trabalho dentro e fora de casa

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e o cuidado consigo mesma; de-dicação às amizades e aos re-lacionamentos com parentes, apesar do tempo escasso que as mulheres têm hoje em dia; a discriminação salarial para aquelas que exercem funções de liderança na sociedade; o zelo com o casamento, para que esse não corra riscos de se desfazer; o divórcio e suas consequências na vida da mulher e da família; a lida com a violência em nosso país, seja a violência nas ruas ou a violência doméstica.

A maioria dos desafi os apon-tados acima não atingiram a primeira de todas as mulheres. Na verdade, talvez apenas dois desses têm a ver com Eva: O ca-samento e a maternidade. Eva teve todo tempo do mundo para se dedicar a si, ao seu marido, a Deus e às criaturas de Deus.

Aplicação a sua vida: Como você vê a relação dos compro-missos de Eva e das mulheres nos dias de hoje? Você acredita que por ter menos tempo a mu-lher do século XXI está menos sujeita ao erro? Comente.

Para que Deus criou a mulher? Para tentar responder a esta pergunta, retomamos Gênesis 2:18, que diz: “E disse o Senhor Deus: Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma aju-dadora idônea para ele.” Veja que o Senhor nos orienta, nes-ta passagem, que a mulher é criada por suas mãos para ser ajudadora. Interessante que, ao

criar todas as coisas, o Senhor via que “era bom/belo”. Con-tudo, antes de criar a mulher, o Senhor declara: “não é bom” (Gn 2:18). É o único momen-to na história da criação que o “não é bom” aparece. A ausên-cia da mulher no contexto do jardim do Éden faz com que a expressão “não é bom” surja. A solidão, portanto, na concepção divina, não encontra lugar na afi rmativa do que é bom.

Deixe-me explicar melhor. Quando Deus diz que “não é bom”, Ele está falando em rela-ção a um ser único no mundo. Não nos referimos aos dias de hoje. Há pessoas que escolhem não se casar, por exemplo. Con-tudo, essas pessoas têm fami-liares, amigos, conhecidos, vizi-nhos, o que não acontecia com Adão, o primeiro homem. Ele não tinha ninguém com quem compartilhar a vida.

Aplicação a sua vida: “A au-sência da mulher no contexto do jardim do Éden faz com que a expressão “não é bom” surja. A solidão, portanto, na concep-ção divina, não encontra lugar na afi rmativa do que é bom.” A mulher é a completude da obra criadora de Deus. Como você entende essa afi rmativa?

De acordo com Gênesis, Deus cria a mulher para ser ajudado-ra. Ser ajudadora é uma função digna e que coloca a mulher em posição de destaque, ao contrá-rio do que a palavra pareça su-

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DEUS E O RELACIONAMENTO COM A CRIAÇÃO |

gerir. O dicionário Houais, por exemplo, defi ne “ajudadora” da seguinte forma: “Funcionário às ordens de outro; assistente, au-xiliar; ofi cial subalterno...”. Fica evidente, que se nos pautarmos no que o português traz como acepções para o vocábulo “aju-dadora”, a posição da mulher seria a de submissão, de coad-juvante ou até mesmo de sub-serviência. Nessa concepção, sem contexto, do dicionário, a mulher estaria em segundo pla-no. No entanto, em hebraico, o termo aponta para uma posição de honra.

Destaca-se que o próprio Deus é chamado de ajudador. Lemos no Salmo 54:4 “eis que Deus é o meu ajudador, o Senhor é quem me sustenta a vida”. Tal palavra vem da mesma raiz he-braica usada em Gênesis 2:18. Surpreendentemente, o Senhor Deus aparece inúmeras vezes na Bíblia como ajudador, aquele que ampara, socorre, auxilia, e todas estas palavras portugue-sas são traduções do mesmo termo hebraico usado em Gê-nesis 2:18 em relação à mulher. Portanto, a mulher exerce jun-to a seu marido, a função que o próprio Deus exerce em relação à humanidade. Outra constata-ção importante, é que a palavra hebraica “ajudador” ou “aju-dadora” refere-se tanto a Deus quanto a Eva, representante do gênero feminino de todas as épocas. Ser ajudadora é se pa-recer com o próprio Deus. É ser solidária. Ressalta-se que esta declaração bíblica nada tem a ver com a ideia feminista, na

verdade, é o oposto. A mulher bíblica é mulher (fêmea) assim como o homem bíblico é homem (macho). Esta interpretação po-de parecer nova. Contudo, vem sendo discutida por mais de cin-co mil anos, isto é, desde a tra-dição oral do texto bíblico.

Além do Salmo 54:4, podemos ver Deus como aquele que aju-da, ampara, socorre, auxilia nos Salmos 30:11; 33:20; 37:40; 86:17; 109:26; 115:9,10,11; 118:13; 121:1,2; 146:5. Todos os vocábulos aqui traduzidos vêm da mesma palavra hebrai-ca usada em relação à Eva como “ajudadora”, uma palavra he-braica conhecida pela maioria dos crentes: “ézer”. Quem nunca ouviu falar de Ebenézer, em he-braico evenézer? Even é pedra e ézer ajuda, evenézer signifi ca: A pedra da ajuda, “porque até aqui nos ajudou o Senhor”.

Ainda no verso 18 de Gênesis 2, lemos, em português, que a mulher seria uma ajudadora idônea, ou seja, apta, capaz, competente. Esta palavra com-põe a ideia de ajudadora, apesar de não aparecer literalmente no texto hebraico. O que aparece no hebraico é a expressão “que esteja diante dele” ou “que este-ja em oposição a ele”. Entenda--se “oposição” como “contraste”, ou mais literalmente, conforme o dicionário, “grau marcante de diferença entre coisas da mesma natureza, passíveis de compara-ção, contraste”. A mulher, nes-sa concepção bíblica, é o oposto do homem. A mulher é mulher, o homem é homem. São pesso-

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as semelhantes, contudo, com identidades diferentes. Tanto a mulher complementa o homem quanto o homem complementa a mulher. Os dois são uma só carne, tem a mesma essência, mas são pessoas distintas.

Enquanto a versão Revista e Atualizada da Sociedade Bíblica do Brasil traz: “uma auxiliadora que lhe seja idônea”, a NVI diz: “alguém que o auxilie e lhe cor-responda”; e a American Stan-dard Version e a King James traduzem: “a help meet for him”, ou seja, uma ajudante encon-trada para ele.

Aplicação a sua vida: Na co-locação do autor, com base na raiz da palavra hebraica “ajuda-dora”, ele lança luz sobre essa palavra tão pejorativa no dicio-nário português. Você já tinha ouvido falar de tal semelhança da mulher com Deus? Para você qual a justifi cativa de tamanha discriminação da mulher?

O desafi o de ser mulher cristã

Os desafi os apontados no iní-cio deste estudo dizem respeito à maioria das mulheres. Con-tudo, nesse segundo momento, gostaria de pensar sobre alguns desafi os que devem preocupar não as mulheres em geral, mas especialmente as mulheres cris-tãs: Amar e servir a Deus em toda e qualquer circunstância; amar o marido e os fi lhos e acei-tar as suas limitações; exercer o perdão continuamente. Perdoar fi lhos, marido, amigos, irmãos e irmãs em Cristo, se perdoar,

não guardar rancor. Perdoar, inclusive, os possíveis inimi-gos; exercer o fruto do Espírito, conforme Gálatas 5:22,23, qual seja: “amor, alegria, paz, paci-ência, amabilidade, bondade, fi delidade, mansidão e domínio próprio”; orientar fi lhos, netos, sobrinhos em relação a inúme-ras questões (Pv 1:8; 6:20), in-clusive sobre a questão de iden-tidade de gênero.

Aplicação a sua vida: O autor traz nesse parágrafo a essên-cia de Deus na vida da mulher, “O Amor”. Ele ressalta a mulher cristã como uma pessoa capaz de distribuir esse amor em suas várias representações. Como você entende e explica essa colocação?

Outro desafi o para esse tempo é o de falar sempre a verdade. Há uma tendência da sociedade de se pautar pela mentira ao in-vés da verdade. Muitos temem a verdade. Não devemos nos esquecer que a verdade é liber-tadora. Não temos que temê-la. A Bíblia diz: “guia-me com a tua verdade [a Palavra] e ensina-me, pois tu és Deus, meu Salvador, e a minha esperança está em ti o tempo todo.” (Sl 25:5). “E co-nhecereis a verdade [a Palavra = o Verbo], e a verdade vos liber-tará” (Jo. 8:32). “Pelo que deixai a mentira e falai a verdade [de acordo com a Palavra] cada um com o seu próximo; porque so-mos membros uns dos outros.” (Efésios 4:25); “Estas são as coisas que deveis fazer: Falai a verdade cada um com o seu pró-

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ximo; executai juízo de verdade e de paz nas vossas portas.” (Zacarias 8:16); “Porque nada podemos contra a verdade, se-não pela verdade.” (2 Coríntios 13:8). Quem se orienta pela Pa-lavra de Deus, que é a verdade, encaminha-se para uma vida pautada na verdade.

A mulher cristã precisa posi-cionar-se sobre o direito à vida. Não aceitar que o aborto, por exemplo, seja um direito irres-trito, uma solução para a pro-miscuidade; posicionar-se con-tra os ensinos reducionistas, como por exemplo, o ensino nas escolas do evolucionismo como única teoria válida. Não deve-mos ter receio de apresentar o criacionismo como opção não somente válida, mas como um princípio da fé cristã evangéli-ca, como ensino da Palavra de Deus.

Perceba que agora, na maioria dos desafi os da mulher cristã acima listados, Eva estaria en-volvida com a maioria deles. Os desafi os cristãos têm sua ori-gem nos primórdios da criação. Não são invenções modernas ou pós-modernas.

Aplicação a sua vida: A mu-lher em toda a história tem o de-safi o de se posicionar para ser vista e reconhecida como um ser semelhante a Deus. Como cristão você consegue reconhe-cer a mulher como aquela que, como Deus, ampara, socorre, auxilia tendo a mesma função Dele para com a humanidade. Comente.

CONCLUSÃO

A mulher é a ajuda de que o ho-mem precisa. Espera-se que a recíproca seja verdadeira. Ho-mem e mulher se complemen-tam mutuamente. Um depende do outro. São dois gêneros dis-tintos, porém, interdependen-tes.

Toda mulher tem seus desa-fi os. Contudo, a mulher cristã, comprometida com a Palavra de Deus, vai além dos desafi os im-postos pela família ou pela so-ciedade em geral.

REFERÊNCIAHOUAISS, Antônio; VILLAR, Mau-ro de Salles. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Ja-neiro: Objetiva, 2009.

Suporte para Pequenos Grupos

1. Deus criou a mulher para ser ajudadora. De acordo com a lição “a mulher em toda a história tem o desafi o de se posicionar para ser vista e reconhecida como um ser se-melhante a Deus”. Você con-corda? Comente sua opinião.

2. Vivemos nos dias atuais va-lores e princípios distorcidos em relação à mulher. Como as mulheres cristãs podem fazer diferença em sua gera-ção?

3. De tudo que ouviu hoje. Que lição pode tirar para sua vida?

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Estudo – 12

A CRIAÇÃO DA MULHERGênesis 2:18 a 25

INTRODUÇÃO

Este estudo trata do relato da criação da mulher, conforme Gênesis 2:18 a 25 e o compara com a criação da humanidade no capítulo primeiro de Gênesis. O relato da criação da mulher, no capítulo dois de Gênesis, é um complemento ao relato da criação da raça humana no ca-pítulo primeiro de Gênesis, e não relatos antagônicos. Como trata-mos do verso 18 no estudo ante-rior a esse, começaremos nossa refl exão pelo verso 19.

Dois relatos da criação

Conforme o capítulo primei-ro de Gênesis, o ser humano (masculino e feminino) é criado por Deus, à sua imagem e se-melhança, é abençoado com a capacidade da frutifi cação, da multiplicação e do domínio so-bre as coisas e criaturas das águas, dos ares e da terra.

Você deve ter notado que a pers-pectiva deste relato da criação é mais detalhada que o que é relatado no capítulo primeiro de Gênesis. Em Gênesis 2 fi ca-mos sabendo dos pormenores da criação do ser humano. Os

LEITURAS DIÁRIASSegunda Gn. 2.18-25Terça Gn. 5.1-5Quarta Gn.15. 1-12Quinta Gn. 15.13-21Sexta ISm. 26.1-11Sábado ISm.26.12-26Domingo ICo. 11.11,12

dois relatos, apesar de comple-mentares, não contradizem a essência do ensino bíblico sobre a origem do ser humano na ter-ra. O que aprendemos em Gêne-sis primeiro sobre a criação do ser humano é reforçado e am-pliado no segundo relato (cap. 2). Em ambos os relatos, o ser humano vem a existência pelas mãos habilidosas do Criador, é formado pelo masculino e pelo feminino; o masculino aparece em primeiro lugar e o feminino em segundo, na ordem em que são criados. Se você comparar Gênesis 2 com o primeiro rela-to (1:27) verá que o masculino também aparece antes do femi-nino. Contudo, por ser o primei-ro relato mais reduzido e mais direto, não percebemos o tempo entre a feitura de um e do outro pelo Criador. No segundo relato, capítulo 2, o tempo é mais lento e os detalhes saltam aos olhos.

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Vejamos o que nos diz o verso 19: “Havendo, pois, o Senhor Deus formado da terra todo o animal do campo, e toda a ave dos céus, os trouxe a Adão, para este ver como lhes chamaria; e tudo o que Adão chamou a toda a alma vivente, isso foi o seu nome.” Apesar do termo adam ser genérico, e ser utilizado para dar nome ao primeiro casal (Gn 5:2), adam serve também para dar nome ao masculino Adão. Fica evidente aqui que Adão, o masculino, é quem dá nome aos seres criados por Deus. Ficamos sabendo, pelo segundo relato, que o gênero feminino ainda não fora criado na sua integralida-de. Ele existe potencialmente no adam, mas não ainda como ser independente.

O verso 20 é a confi rmação do 18. Para relembrar, o verso 18 diz: “E disse o Senhor Deus: Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma ajudadora idônea para ele.” Sem o verso 18, o ver-so 20 poderia dar a impressão que a “ajudadora idônea” não estava nos planos iniciais do Criador ou que Ele não tivesse planejado de antemão sua cria-ção. Sem ser literal, o texto nos comunica que a solidão não é o ideal divino para a raça huma-na. Que o individualismo e o egocentrismo não caracterizam o ser humano original. Que o humano é criado para a comu-nhão, para o relacionamento. O texto está ensinando também que nenhum outro ser ou cria-tura que não a mulher se encai-

xaria perfeitamente ao homem e vice-versa. Os dois são criados sob medida um para o outro.

Aplicação a sua vida: O tex-to relata que o ser humano foi criado para a comunhão, rela-cionamento. Como você enten-de a afi rmativa do autor “a soli-dão não é o ideal divino para a raça humana”?

A esta altura de nossos estudos, você já deve estar familiariza-do com a informação de que o narrador ou escritor hebreu, is-raelita, judeu dos tempos bíbli-cos não era afeito à cronologia. Portanto, é preciso certa cautela para não se fazer interpretações literais rígidas sobre a ordem das narrativas bíblicas. Preci-samos entender também que o narrador tem como referên-cia uma sociedade patriarcal. O comum, em uma narrativa patriarcal, é que o masculino seja privilegiado em relação ao feminino. Porém, em nenhum momento Gênesis 1 e 2 colocam um gênero como superior ao ou-tro. Eles têm funções diferentes, mas são da mesma essência e dignidade diante do Criador e diante de si mesmos.

Aplicação a sua vida: O autor de Gênesis escreve o texto bíbli-co sob uma visão patriarcal na qual fora criado. Mas a narrati-va bíblica não coloca um gêne-ro superior ao outro, homem e mulher são da mesma essência e dignidade, com funções dife-rentes. Como você explica a dis-criminação da mulher em nossa sociedade? Comente.

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A mulher é criada para ser parceira

O verso 20 afi rma: “E Adão pôs os nomes a todo o gado, e às aves dos céus, e a todo o animal do campo; mas para o homem não se achava ajudadora idô-nea.” A ajudadora idônea estava na mente do Criador desde o iní-cio. Adão não visualizou nenhu-ma criatura a quem pudesse dar um nome que fosse compatível com sua natureza. Esse ser só poderia estar em si mesmo. O Criador, o Senhor Deus, sabia disso perfeitamente. É por isso que os versos 21 e 22 nos infor-mam: “21Então o Senhor Deus fez cair um sono pesado sobre Adão, e este adormeceu; e tomou uma das suas costelas, e cerrou a carne em seu lugar; 22E da cos-tela que o Senhor Deus tomou do homem, formou uma mulher, e trouxe-a a Adão.”

A iniciativa da criação da mu-lher é do próprio Criador. É ele quem faz cair um sono pesado sobre Adão. Ele é quem tem consciência plena de que “não é bom que o homem/adam esteja só” (2:18).

A tradução “sono profundo” vem de uma palavra hebraica usada apenas sete vezes em todo o An-tigo Testamento. Seis, das sete ocorrências, tem Deus como agente. Somente para ilustrar isso, em Gênesis 2:21 Deus faz cair sono profundo sobre Adão para seu próprio benefício. Em Gênesis 15:12, o Senhor Deus protege Abraão da morte ao tra-

zer sobre ele um profundo sono. Em 1 Samuel 26:12, o Senhor faz cair sono profundo sobre Saul e seus soldados, com o ob-jetivo de proteger Davi da morte. Sono profundo é uma anestesia natural. O sono, de modo geral, vem do Criador. É uma inven-ção para propiciar descanso às suas frágeis criaturas. O sono profundo é raro na Bíblia, mas ilustra também o cuidado do Criador com suas criaturas.

A palavra “costela”, do verso 22, pode ser também traduzida por “lado”. Formar a mulher da cos-tela é formá-la do lado do ho-mem. A mulher, portanto, não é um ser fora do homem e nem o homem é fora da mulher. Os dois têm exatamente a mesma essência. São imagem e seme-lhança um do outro. São ima-gem e semelhança de Deus. De Deus são imagem como sombra. De si mesmos, são imagem du-plicada, porém distinta. São da mesma essência e matéria.

O Senhor Deus forma uma mu-lher, e a traz a Adão. A mulher procede do adam pelas mãos hábeis do Criador. O verbo aqui traduzido por “formou” signifi ca “construir, edifi car; constituir família”. O Senhor Deus está edifi cando a mulher para cons-tituir uma família. A apresenta-ção da mulher para o adam se dá pela condução do Criador. Depois de edifi cada a mulher, Ele a traz, fazendo-a entrar na presença e na vida do adam. No verso 21 temos não somente a

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criação da mulher, mas tam-bém a criação do casamento e da família. Esta é a linguagem empregada aqui no hebraico.

Aplicação a sua vida: O au-tor relata que com a criação da mulher forma-se a família. A família se constitui de um ho-mem e uma mulher desde a sua concepção. Revendo que o ser humano foi criado para o rela-cionamento a família obedece a essa mesma regra. Como tem sido seu relacionamento em Família?

A partir da mulher forma-se a família

É somente no verso 23 que o vocábulo “homem”, no sentido de “varão”, ocorre pela primeira vez. Até então o narrador vem utilizando o termo “adam”. Sen-do assim, a palavra “mulher, varoa” precede ao termo “va-rão”, conforme vemos na ordem em que o verso 23 está escri-to: “E disse Adão: Esta é agora osso dos meus ossos, e carne da minha carne; esta será cha-mada mulher [varoa], porquanto do homem [varão] foi tomada.” A varoa é osso dos ossos e carne da carne do varão. Do Criador são imagem e semelhança. O apóstolo Paulo, no Novo Testa-mento, interpreta bem a rela-ção de interdependência entre o homem e a mulher e, princi-palmente, a dependência deles do Deus Criador. Assim afi rma o apóstolo em 1 Coríntios 11:11

“No Senhor, todavia, nem a mu-lher é independente do homem nem o homem é independente da mulher.” E, no verso 12, Paulo explica: “Porque, assim como a mulher veio do homem, assim também o homem nasce da mu-lher, mas tudo provém de Deus!”

A conclusão a que se chega, na instituição do matrimônio, é esta: “Portanto deixará o homem o seu pai e a sua mãe, e ape-gar-se-á à sua mulher, e serão ambos uma carne.” (2:24). O termo “homem” aqui é “ish” en-quanto “mulher” é “ishá”. Veja que as palavras hebraicas são muito parecidas, para dar a ideia do masculino e do feminino se encontrando. Em Português, teríamos que usar os termos “esposo” e “esposa” em lugar de “homem” e “mulher” ou “varão” e “varoa” para se perceber a in-tencionalidade do autor sagra-do. No Latim também é possível fazer uma tradução que mostre o destaque dos gêneros, que o hebraico quer dar: “vir” (homem) e “virago” (mulher). O comenta-rista Derek Kidner (1991, p.62) destaca corretamente, em nota de rodapé, que o verbo “deixar” vem antes de “unir-se”.

Aplicação a sua vida: A com-pletude do ser humano está na união entre homem e mulher com o matrimônio. Essa união traz a essência do ser. Por isso, o texto bíblico afi rma: “e am-bos se tornarão uma só carne”. Como você vê essa união nos dias atuais?

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A sábia recomendação divina é que o ish deixe seu lar original e forme um novo lar ao lado de sua ishá. Como afi rma Cham-plin (2001, p.29), “uma mãe é como a terra natal de um ho-mem. Uma esposa é como um país para onde ele migrou. Nin-guém pode viver em dois países ao mesmo tempo. Tal homem ama a ambos, mas sua presen-ça física manifesta-se na sua nova pátria.”

Aplicação a sua vida: Quando o autor traz essa alegoria mãe terra natal esposa nova pátria, para exemplifi car o relaciona-mento entre casais, podemos perceber a grandeza de Deus ao trabalhar a relação familiar. Você pode observar nos dias atuais essa forma de agir dos casais? Comente.

A parte c do verso 24 afi rma que o ish vai apegar-se à sua ishá e serão uma só carne. Esta afi r-mativa dialoga com a ideia da língua original que apresenta o ser humano (masculino e femi-nino) como adam, ou seja, tan-to o ish quanto a ishá vem do adam, e, no matrimônio, sim-bolicamente, os dois voltam à condição primitiva de uma só carne, à condição de adam. A palavra “carne” remete também a “pessoa”. Portanto, dois cor-pos e uma só pessoa. Reforça-se a constatação: Um não é maior que o outro.

Aplicação a sua vida: Essa afi rmativa bíblica “uma só car-ne” traz a ideia de igualdade, uma só pessoa, um não é maior que o outro. Como nós cristãos em nossas pequenas ações po-demos transformar a infl uência dessa sociedade patriarcal na vida do homem e da mulher?

CONCLUSÃONos dois relatos da criação, masculino e feminino provém do Deus Criador. Eles têm funções diferentes, mas são da mesma essência e matéria. Com a cria-ção dos dois gêneros, está cria-da também a família. A solidão está descartada das relações humanas.

REFERÊNCIASCHAMPLIN, Russel Norman. O Anti-go Testamento interpretado versícu-lo por versículo. São Paulo: Hagnos, 2001.KIDNER, Derek. Gênesis: Introdu-ção e comentário. São Paulo: Vida Nova/Mundo Cristão, 1991.

Suporte para Pequenos Grupos

1. Conforme a lição porque a mulher é criada?

2. Muitos conceitos contrários à Palavra têm surgido todos os dias. Compartilhe um conceito novo que aprendeu hoje.

3. Que ajustes você precisa fa-zer em sua vida para viver os princípios aprendidos hoje?

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DEUS E O RELACIONAMENTO COM A CRIAÇÃO |

Estudo – 13

AS GENEALOGIAS Gênesis 2:4-6

INTRODUÇÃO

Este estudo trata do relato das origens dos céus e da terra, con-forme Gênesis 2:4-6. Discutire-mos a questão das genealogias/origens como uma forma de se estudar o livro de Gênesis. As ge-nealogias dos seres humanos en-fatizam a continuidade da vida. A vida do pai continua na vida do fi lho; a vida do fi lho continua na vida do neto; a vida do neto no bisneto. Daí a importância da lei do levirato, ou seja, a lei do cunhado que levava o irmão ou um parente próximo de um fale-cido, sem fi lhos, a gerar um fi lho na esposa do falecido irmão ou parente próximo, o qual perpetu-aria o nome do falecido. É nesse contexto que se compreende o porquê as mulheres estéreis se sentiam tão desconsoladas. As genealogias apontam para a vida sempre. As genealogias das de-mais criaturas divinas falam da origem e continuidade espontâ-nea desses seres.

A genealogia do não gerado

O verso quatro, do capítulo dois de Gênesis, afi rma que os céus e a terra têm “sua genealogia”

LEITURAS DIÁRIASSegunda Gênesis 2:4-6 Terça Deuteronômio 25:5-10Quarta Isaías 40:25-28Quinta Apocalipse 22:13Sexta Êxodo 3:13-15Sábado Salmos 139Domingo Salmos 90:1-4

no Senhor Deus. Surpreenden-temente, o narrador apresenta a “genealogia” dos céus e da terra antes da genealogia do ser hu-mano. A palavra hebraica tra-duzida por “genealogia” traduz também “origem”, “história”. Portanto, falar da genealogia dos céus e da terra é falar das origens, dos começos, da his-tória dos seres criados. No vo-cábulo “céus” estão contidos as criaturas e seres tanto aéreos quanto celestiais, seres físicos e metafísicos. Da mesma forma, a “terra” comunica a existência tanto das criaturas terrestres quanto das aquáticas. As águas compõem a terra, assim como anjos e outros seres invisíveis compõem os céus.

O verso 4 de Gênesis 2 afi rma: “Estas são as origens dos céus e da terra, quando foram criados; no dia em que o Senhor Deus

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fez a terra e os céus,”. Há al-guns pontos interessantes aqui neste relato. Os céus e a terra têm sua origem na criação. Eles têm princípio. Passam a exis-tir “quando foram criados”. O verbo “fazer”, em hebraico, nos mostra, de forma poética, que os céus e a terra são modelados pelo Senhor Deus.

Apesar do uso da palavra “gene-alogia”, o narrador deixa muito claro que céus e terra não são concebidos por gestação ou que tenham tido origem autônoma, como em alguns relatos da cria-ção fora da Bíblia. Lemos, na língua original em que o texto foi escrito, que Deus criou (bará) céus e terra do nada (ex nihilo) e os fez (assá), ou seja, os mo-delou. A origem da terra e dos céus, portanto, é divina, e veio à existência por criação e modela-mento e não por gestação. É por isso que podemos afi rmar que, diferente dos seres humanos, céus e terra compõem o que de-nominamos de “não gerados” ou “não concebidos”, como normal-mente indica o vocábulo “genea-logia”. Céus e terras foram “cria-dos por Deus”.

Mais uma vez o narrador man-tém o estilo de não se impor-tar com cronologia. O binômio “céus e terra”, no início do verso 4, é apresentado como “terra e céus”, no fi nal do verso. O vo-cábulo “origens” é uma pala-vra hebraica chave que é usa-da para a apresentação de dez importantes genealogias em Gê-

nesis. Essas genealogias nos permitem ler e interpretar todo o livro de Gênesis. Genealogia/origem é uma das possíveis cha-ves de ]leituras desse extraordi-nário livro.

Aplicação a sua vida: a vida e a existência têm sua origem no Criador. Tanto as criaturas animadas e as inanimadas que compõem céu e terra devem a Ele a sua história. Como você tem valorizado a sua história?

A genealogia dos que são gerados

A genealogia dos céus e da terra ou da terra e dos céus, do que não é gerado ou gestado, mere-ceu conexão com as genealogias de Adão (5:1ss.), de Noé (6:9ss.), de Sem, Cam e Jafé (10:1ss.), de Sem (11:10), de Terá (11:27), de Ismael (25:12ss.), de Isaque (25:19ss.), de Esaú (36:1ss.) e de Jacó (37:2ss.), os quais vie-ram à existência por gestação. A única exceção dos nomes aci-ma mencionados é a de Adão. Ele, à semelhança dos céus e da terra, foi criado pela palavra de Deus e por modelamento. Os seres humanos de todos os tem-pos e suas histórias familiares de vitórias-fracassos-vitórias, representados no livro de Gêne-sis de Adão a Jacó, se conectam não apenas com o planeta ter-ra, mas também com os céus. A genealogia dos seres humanos, originários e habitantes do pla-neta terra, está implícita na ge-nealogia/origem da terra e dos céus.

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DEUS E O RELACIONAMENTO COM A CRIAÇÃO |

Se você prestou atenção às in-dicações das genealogias acima, percebeu que a genealogia do fi lho mais velho de Noé, Sem, está duplicada. Por ser ele o fi -lho primogênito de Noé que da-ria origem ao povo hebreu, sua genealogia é apresentada dupla-mente. É uma antecipação da história do povo hebreu (israeli-ta e/ou judeu).

Ler as genealogias nos ajuda a entender melhor não somente as origens dos personagens bí-blicos, mas também a origem dos povos antigos e o signifi ca-do de cada nome em particular, uma vez que a palavra nome, em hebraico, signifi ca “fama” ou “reputação” (ARAUJO, 2010). Dizer o nome de alguém, no contexto bíblico, seria o mesmo que mencionar a sua fama ou reputação. O nome servia para identifi car uma pessoa não ape-nas formalmente, mas apontava algo da sua índole, de seu cará-ter, da sua história.

Aplicação a sua vida: o autor afi rma que o vocábulo “nome” revela, no Antigo Testamento, a índole, caráter e história de quem o carrega. Nosso nome, diretamente ligado à genealogia, precisa ser resguardado através de uma vida condizente com o Criador de onde procedemos. Como você tem resguardado a seu nome?

A não genealogia

Outro detalhe importante que você deve ter percebido, é que Deus, o Criador, aparece agora

com o nome de Senhor Deus. No capítulo primeiro de Gênesis co-nhecemos o Criador pelo nome de Deus, um plural majestático. A palavra “Senhor” é o nome es-pecial de Deus revelado a Moi-sés em Êxodo 3:14ss. como “EU SOU”. Moisés e os hebreus, até aquele ponto na história, conhe-ciam o Criador como Deus, o Deus de Abraão, o Deus de Isa-que e o Deus de Jacó, ou seja, o Deus dos pais dos hebreus. No verso quinze de Êxodo 3, o pró-prio Deus explica a Moisés que Ele sempre foi e sempre será o Senhor Deus, conhecido no pas-sado como o Deus dos pais, mas que agora se revela como o “EU SOU” que enviava Moisés de volta ao Egito para libertar seu povo da escravidão. Ele afi rma que o Senhor Deus é seu nome eternamente.

Aplicação a sua vida: ainda que alguém não conheça Deus como Senhor, como acontecia com os patriarcas e matriarcas, mas busca obedecê-lo ainda as-sim, há de construir uma histó-ria de vitória em vitória, e não de derrota em derrota. Como você tem obedecido ao senhor Deus?

Diferente de outras culturas antigas, as quais apresentam uma teogonia (genealogia/ori-gem) para as suas divindades, em nenhum momento as Escri-turas sugerem uma origem ou genealogia para o Criador. Pode-mos dizer que o Criador, confor-me o Gênesis, é sem genealogia.

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Nesse ponto, o Criador se as-semelha aos céus, à terra e a Adão. Contudo, diferente desses três, o Criador existe por si mes-mo. Não há, na sua história, um momento em que Ele não exista. Não há, em sua história eterna, um momento em que Ele se ori-gina. O Criador é, era e sempre será.

Que lições importantes o escri-tor sagrado está nos dando ao apresentar o nome próprio do Criador no segundo capítulo do Gênesis? Estou certo de que você poderia listar algumas pre-ciosas lições, e certamente fará isso, e que tais lições poderiam até coincidir com aquelas que estou refl etindo enquanto escre-vo este estudo.

Aplicação a sua vida: O Deus que você adora existe por si mesmo. Ele é capaz de trazer vida à existência como é capaz também de restaurar a sua vida, quando esta estiver ame-açada de alguma forma. Como você pode descrever essa afi r-mativa em sua vida?

À guisa de refl exão pessoal, gosta-ria de afi rmar: quando Moisés nos apresenta o nome do Criador, já no capítulo dois de Gênesis, centenas de anos antes de sua revelação a ele no Sinai, Moisés nos comunica o valor de se compartilhar o co-nhecimento, especialmente o co-nhecimento de Deus, o quanto an-tes possível. A exposição do nome próprio de Deus, neste contexto, é uma antecipação proposital de conhecimento. Diríamos, em bom português, que o narrador faz uso

da anacronia. O narrador insere na narrativa um conhecimento que não estava ao alcance dos primeiros habitantes do planeta terra e, nem mesmo dos patriarcas e matriarcas de Israel, mas que ele dominava en-quanto escritor sagrado.

Uma segunda lição sobre a an-tecipação do nome próprio de Deus aos leitores da Bíblia é o seguinte: o ser humano é mais importante que qualquer crono-logia ou narrativa sequencial da história, mesmo da história bí-blica. A história existe porque o ser humano existe. A Bíblia foi criada e escrita por causa do ser humano e não o ser humano por causa da Bíblia. Por ser imagem e semelhança do Criador, você é mais importante que a própria Bíblia. Somente Deus é mais im-portante que tudo e que todos. Pela Palavra dele é que viemos à existência e é pela Palavra dele que a criação se mantém. Faço distinção aqui da Palavra eterna de Deus; da Bíblia, sua Palavra temporal oral e depois escrita; e do Verbo de Deus, sua Palavra encarnada.

Aplicação a sua vida: o autor afi rma que “por ser imagem e semelhança do Criador, você é mais importante que a própria Bíblia”. Esta declaração faz da Bíblia sua aliada para um vi-ver feliz, a eleva a uma posição de destaque na história huma-na. Ela é quase tão importante quanto você e se torna ainda mais relevante quando dirige os seus passos rumo ao Criador. Como você tem aplicado e bíblia em seu viver?

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DEUS E O RELACIONAMENTO COM A CRIAÇÃO |

Você encontrará em alguns au-tores, como por exemplo, G. von Rad, a discussão de certa teoria moderna que busca explicar o uso das palavras Deus e Senhor ou da junção dos dois vocábulos “Senhor Deus” no Antigo Testa-mento, especialmente no Pen-tateuco, a teoria documentária (JEDP), da qual não sou simpa-tizante. Dessa teoria, no entan-to, é possível reter o que há de bom em seus estudos. Indepen-dente da teoria, o Criador nos é apresentado no capítulo dois com seu nome próprio, o tetra-grama sagrado YWHW, e a pala-vra Deus (heb. elohim), presente 31 vezes no capítulo primeiro do Gênesis.

A genealogia e a cronologia

Ainda no verso 4 de Gênesis primeiro, é dito que céus e ter-ra foram criados do nada (heb. bará e lat. creatio ex nihilo) e “no dia” em que o Senhor Deus os fez ou os modelou (heb. assá). Veja que a palavra “dia” é usada aqui para se referir à criação de tudo que há nos céus e tudo que há na terra como se o Criador houvesse utilizado um único dia para criar tudo. Como visto no estudo 4, o vocábulo dia, em hebraico, abre possibilidades de interpretações. A importante lição aqui é que o Criador não depende do tempo cronológico para completar sua obra cria-dora.

O verso cinco poderia ser com-preendido erroneamente por

alguém que ignore o estilo bí-blico de narrar suas histórias: nenhuma preocupação com cro-nologia e a capacidade de man-ter juntas narrativas contadas e escritas de diferentes pontos de vista. Dando um salto na histó-ria bíblica, menciono, à guisa de ilustração, o que acontece nos Evangelhos. O leitor dos Evan-gelhos está acostumado a ler as histórias de Jesus de diferen-tes pontos de vista, mesmo que não tenha parado para pensar na metodologia utilizada pelos evangelistas Mateus, Marcos e Lucas nos chamados Evan-gelhos Sinóticos. Uma mesma história é narrada por diferen-tes escritores, de diferentes ân-gulos. Aqui em Gênesis capítulo dois acontece algo parecido com isso. Veja a declaração do verso seis: “E toda a planta do campo que ainda não estava na terra, e toda a erva do campo que ainda não brotava; porque ainda o Se-nhor Deus não tinha feito chover sobre a terra, e não havia ho-mem para lavrar a terra.”

Quem leu o capítulo primeiro de Gênesis já foi informado que a terra produziu erva e árvore frutífera (1:12) no terceiro dia da criação. Sabe também que Deus criou o ser humano, tanto o masculino quanto o feminino (1:27) no sexto dia. Contudo, o verso cinco de Gênesis dois é escrito como possível resposta para o capítulo 1:2 que afi rma que “a terra era sem forma e vazia”.

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O verso seis conclui que “um va-por, porém, subia da terra, e re-gava toda a face da terra.” A pri-meira palavra traduzida como “terra” pode se referir ao planeta como um todo (heb. áretz) e a se-gunda ao solo (heb. adamá). É desta segunda palavra que pos-sivelmente vem o termo adam (ser humano). O adam veio da adamá.

CONCLUSÃOAs genealogias nos ajudam a ler o livro de Gênesis, porque elas falam das origens, falam da vida e de sua preservação, temas im-prescindíveis no Gênesis.

REFERÊNCIA

ARAUJO, Tarcisio Caixeta de. Urim tumim: introdução ao he-braico. Belo Horizonte: Edição do autor, 2010.

RAD, Gerhard von. Teologia do An-tigo Testamento. São Paulo: ASTE, 1973.

Suporte para Pequenos Grupos

1. O que é genealogia? Qual sua importância?

2. Depois de todo compar-tilhamento, o que a lição trouxe de novidade para você?

3. Que ajustes você precisa fazer para aplicar a lição no seu cotidiano?

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Estudo – 14

A FORMAÇÃO DO SER HUMANO Gênesis 2:7-17

INTRODUÇÃO

Este estudo trata do segundo re-lato da criação e formação do ser humano, o Adão, e de sua rela-ção com o Deus Criador e com o planeta terra, conforme Gênesis 2:7-17.

Um ser vivo

Comecemos pelo verso 7: “E for-mou o Senhor Deus o homem do pó da terra, e soprou em suas na-rinas o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente.” Para não ser repetitivo, daqui para frente, toda vez que você ler o vocábulo “homem” nas traduções bíbli-cas, no contexto de todo o capí-tulo dois, com exceção do verso 24, você estará lendo a palavra adam. O adam é formado do pó da terra (adamá) e se torna “alma vivente” como os animais. Por-tanto, um ser vivo. Neste ponto, o ser humano é constituído da mesma matéria dos animais. A diferença fi ca por conta do “fô-lego da vida” soprado em suas narinas pelo Criador, coisa que não ocorre em relação aos ani-mais, ainda que sejam apre-sentados no Antigo Testamento como tendo “fôlego de vida”.

LEITURAS DIÁRIASSegunda Gen. 2.7-17Terça Ecl. 12.6,7Quarta Sl. 139.1-13Quinta Sl. 139.14-16Sexta Jó 33.4Sábado Jo. 7.37-39Domingo Ecl. 9.10

Aplicação a sua vida: Tanto o ser humano como os animais diante da criação são tratados como alma vivente, o que os diferenciam é o sopro da vida. Como você percebe esse fôlego na vida do ser humano?

Nós, os humanos, temos im-pregnado em nosso ser o sopro do divino. O hálito do próprio Criador está insufl ado em nós. Isto comunica a vida do pon-to de vista espiritual. Aí se en-contra a diferença fundamental entre nós e as demais criaturas vivas. Ao ser formado do pó da terra, o ser humano tem em si os elementos constituintes da terra. Sua condição de pó advin-do do solo faz dele um ser mate-rial. O sopro do Criador eleva o ser humano ao nível espiritual.

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Derek Kidner (1991, p.57) co-menta o uso do verbo “formar”, em relação à criação do ser hu-mano, assim: “Formou expres-sa a relação que existe entre o Artífi ce e o material empregado, com implicações tanto de habili-dade [...] quanto de uma sobera-nia que o homem esquece a seu risco”. O Criador é habilidoso e soberano para criar por conta própria.

Aplicação a sua vida: O sopro que o ser humano recebeu de seu criador é o que o leva a ter um relacionamento com Deus. Como você tem exercitado a sua parte espiritual? Comente.

Um ser submisso

O verso 8 apresenta o Criador como jardineiro e paisagista que decide plantar um jardim: “E plantou o Senhor Deus um jardim no Éden, do lado orien-tal; e pôs ali o homem que tinha formado.” O ser humano é apre-sentado aqui como dependente e submisso ao Criador. O Se-nhor Deus planta o jardim no Éden e decide colocar o homem lá. Não há nenhuma resistência por parte do homem. Há uma intencionalidade do Criador em relação ao ser humano. Este tem um importante papel a de-sempenhar.

Viver em um jardim implica na capacidade de usufruir sem destruir. Implica em serviço. O ser humano precisa imitar o Criador no plantio das espécies

para preservação do jardim. Ser cultivador do solo, de onde é formado, é a primeira missão do ser humano no planeta terra.

Aplicação a sua vida: Deus deu ao ser humano a primeira mis-são no planeta terra; cuidar do jardim para preservação da es-pécie. Como você tem contribu-ído para cumprir essa missão? Explique.

O ato divino de colocar o homem em um jardim de delícias (Éden) demonstra o conhecimento e a confi ança que Ele tem no ser humano. Viver em um jardim não é para qualquer pessoa. Esse gesto do Criador aponta que o primeiro homem e, em seguida, a sua esposa e fi lhos eram dignos da vida campestre. Ter a confi ança do Criador é um privilégio e uma grande respon-sabilidade. Veja que o Senhor Deus não constrói uma vila. O ideal de vida do homem primi-tivo da Bíblia é o campo e não a cidade. Vida nômade ao invés de vida fi xa. Árvores em lugar de paredes. Cavernas em lugar de portas. Pedras por travesseiro. O céu estrelado por teto.

Aplicação a sua vida: O autor nesse parágrafo destaca a ma-ravilha de uma vida em contato com a natureza, de contempla-ção do belo. No mundo atual o ser humano tem se distanciado dessa primeira forma de vida. Como você pode resgatar esse contato? Comente.

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Um ser para a luz

A informação de que o jardim do Éden fi ca do “lado oriental” não é aleatória. Diferente de nós oci-dentais, que tomamos o Norte como direção, o homem da Bí-blia se orienta pelo Leste, o que está à frente. O Leste é onde o sol nasce, é o oriente. A palavra oriente, em hebraico, está ligada à luz, ao brilho. O orientar-se, nesse contexto, é o mesmo que seguir a luz. O jardim do Éden não poderia estar localizado em melhor lugar, ou seja, do lado da luz. O ser humano, portanto, é colocado pelo Criador em um espaço onde a luz é a referência.

Aplicação a sua vida: Percebe--se que o ser humano foi co-locado em um jardim voltado para onde nasce o sol, assim o ser humano está voltado para a luz. Vivemos em um país, privi-legiado onde a luz do sol brilha durante vários meses do ano. Como você tem aproveitado a luz do sol, sabendo que ela pro-duz em nosso organismo a cha-mada “vitamina D”? Comente.

Ao mesmo tempo em que o Se-nhor Deus planta o jardim, Ele o faz brotar. É o Criador quem dirige a sua própria criação rumo à fertilidade, rumo a um propósito bem defi nido, confor-me o verso 9: “E o Senhor Deus fez brotar da terra toda a árvore agradável à vista, e boa para co-mida; e a árvore da vida no meio do jardim, e a árvore do conheci-mento do bem e do mal.” A fl ora

é apresentada como agradável aos olhos e boa para alimentar as criaturas de Deus. A estética, nesse contexto, é funcional. O belo é útil para os olhos e para o estômago, alimenta o espírito e o corpo. Duas árvores se desta-cam no meio do jardim: A árvore da vida e a árvore do conheci-mento. Conhecimento aqui se traduz também por: Habilida-de, reconhecimento, sabedoria. Veja que essa informação sobre a existência da árvore do conhe-cimento antecipa a proibição divina e o que vai acontecer no capítulo três de Gênesis.

Um ser em conexão com a na-tureza

Os versos 10 a 14 são um in-terlúdio entre a formação do ho-mem e sua colocação no jardim do Éden. Lemos no verso 10: “E saía um rio do Éden para re-gar o jardim; e dali se dividia e se tornava em quatro braços.” O rio que rega o jardim do Éden é mantido no anonimato, con-tudo dá origem a quatro outros rios. Esta pode ser uma impor-tante lição: Nem sempre o que dá origem a algo valoroso terá o reconhecimento ou o devido destaque.

Aplicação a sua vida: Como você entende a afi rmação do au-tor de que: Nem sempre o que dá origem a algo valoroso terá o reconhecimento ou o devido destaque? Comente.

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O verso 11 informa que “O nome do primeiro é Pisom; este é o que rodeia toda a terra de Havilá, onde há ouro. E o ouro dessa ter-ra é bom; ali há o bdélio, e a pe-dra sardônica.” O que é chama-do aqui de primeiro, refere-se ao primeiro braço do rio principal, anônimo. Mais importante que os minerais preciosos são os rios apresentados neste relato. O bdélio e a sardônica são con-siderados aqui como de menor valor que o ouro, assim, somos levados a compreender que a narrativa é escrita em uma épo-ca em que o ouro tem grande valor, para merecer ser descrito aqui.

Houve uma época e certamen-te haverá outra em que o ouro pouco ou nada signifi cará. Mais importante que o ouro, por exemplo, é a água que bebemos. As águas dos tempos bíblicos não estavam contaminadas pela poluição como as nossas. Eram águas potáveis, independente-mente do tamanho ou da loca-lização dos córregos, rios ou la-gos. Água sempre teve e sempre terá valor inestimável, mesmo que o ser humano tenha demo-rado em constatar essa verdade.

Somente o primeiro braço do rio do Éden faz menção a minerais. Os demais três braços têm a sua importância pelo simples e ma-ravilhoso fato de serem rios e de serem úteis para a sobrevivên-cia de povos. Os versos 12 a 14 dizem: “E o nome do segundo rio é Giom; este é o que rodeia toda

a terra de Cuxe. E o nome do ter-ceiro rio é Tigre; este é o que vai para o lado oriental da Assíria; 14e o quarto rio é o Eufrates.” A Etiópia (Cuxe) e a Assíria são tomadas como referência para a localização do Giom e do Tigre.

Os rios sempre serviram de re-ferência para o começo de qual-quer vila e das futuras cidades. O valor do rio está especialmen-te na água potável que conserva e distribui. Além disso, fornece peixes, umidade para o plantio do solo, fertilização das mar-gens, nas épocas de cheias, be-nefi ciando assim a agricultura. Água é também indispensável para a preservação das matas e vice-versa. O rio possibilita o deslocamento através de embar-cações.

Aplicação a sua vida: À medida que o tempo passa o ser huma-no polui a água potável, valor principal da vida. Como você tem feito uso desse líquido pre-cioso?

Um ser para o trabalho

Eis o que nos diz o verso 15: “E tomou o Senhor Deus o homem, e o pôs no jardim do Éden para o lavrar e o guardar.” O verso 15 reforça a soberania do Criador (tomou e pôs), a dependência do ser humano (foi tomado e colo-cado no jardim) e sua primei-ra missão no mundo (lavrar e guardar). O trabalho nunca foi e nunca será uma maldição. Tra-balho é bênção.

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DEUS E O RELACIONAMENTO COM A CRIAÇÃO |

O jardim do Éden (lit. no Éden) é obra do Senhor Deus, o jardim é plantado pelo próprio Deus. Contudo, seu solo precisa de ser trabalhado (lavrado) e guarda-do, no sentido de ser mantido, preservado. O trabalho digno dignifi ca o ser humano. Se o próprio Criador trabalha desde o princípio da criação e ainda acha tempo para plantar um jardim, isto implica que traba-lhar é algo bom. O trabalho é uma das primeiras coisas inse-ridas na realidade humana pelo Criador. Ele nada tem a ver com castigo ou maldição.

Aplicação a sua vida: O autor traz o trabalho como algo indis-pensável à vida humana. Ele o compara com o que Deus faz. Muitos tentam deturpar essa bênção alegando ser conse-quência do pecado. Como você encara o trabalho?

CONCLUSÃO

O ser humano difere da fl ora, da fauna e dos astros, mas está conectado com toda a criação. Está também diretamente liga-do ao Criador, pois tem em si o sopro divino. O ser humano, habitante do Éden, é um ser vivo, submisso ao Criador, um ser para a luz, ou seja, que se orienta pelo nascer do sol e para o trabalho. Um ser capaz de cui-dar de um sofi sticado jardim de delícias.

REFERÊNCIA

KIDNER, Derek. Gênesis: Intro-dução e comentário. São Paulo: Vida Nova/Mundo Cristão, 1991.

Suporte para Pequenos Grupos

1. Compartilhe sobre a forma-ção do homem. O que tem de extraordinário nesta criação?

2. Qual deve ser a relação do homem com a criação (uni-verso) e seu criador (partindo do pressuposto que vai cui-dar e ser mordomo de algo que não lhe pertence)?

3. Compartilhe: Do conjunto de toda criação, o que mais ad-mira? Por que?

4. Como você pode servir a Deus e a igreja com as desco-bertas que fez hoje?

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Estudo – 15

O PRIMEIRO MANDAMENTO Gênesis 2:16,17

INTRODUÇÃO

Este estudo retoma a discussão sobre a formação do ser huma-no, especialmente os versos 16 e 17 de Gênesis capítulo 2, e discute o primeiro mandamento horizontal entregue pelo Criador à raça humana, muito antes dos dez mandamentos serem escri-tos. O Criador tem o direito e o dever de apontar direções para a sua criação.

Um mandamento para a liberdade

Mais uma vez o homem se mos-tra submisso ao Criador, rece-bendo dEle ordem sem questio-nar, conforme lemos no verso 16: “E ordenou o Senhor Deus ao homem, dizendo: De toda a árvore do jardim comerás livre-mente,”. Como recompensa pelo trabalho do solo e a preservação do jardim, o homem é convida-do a comer dos frutos do jardim. Não se acha de forma explíci-ta, neste verso em hebraico, o termo “livremente”. Contudo, a ideia de liberdade no comer está presente no hebraísmo1 utiliza-do: “Ao comer, comerás”, e se reforça pela restrição do Criador

1 O termo “hebraísmo” refere-se a uma construção frasal própria da língua hebraica.

LEITURAS DIÁRIASSegunda Gn.2 16-17Terça Dn.10. 1-12Quarta Gn. 15. 12-21Quinta Dn. 30. 9-20Sexta Rm.6. 15-23Sábado Tg. 1.13-16Domingo Ex. 20. 11-17

no verso 17 “Mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dela não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamen-te morrerás.” A liberdade no co-mer é extremamente ampla: “De toda a árvore”.

A repetição é comum no he-braico para reforçar uma ideia. Ao se traduzir o hebraísmo “ao comer, comerás” por “comerás livremente”, o tradutor capta a sutileza da expressão em si e do contexto. O ser humano é cria-do para a liberdade. Em um pri-meiro momento, ele é livre para de tudo comer. Ao ser dado a ele também a possibilidade de não comer, o Criador estabelece o princípio da escolha, da respon-sabilidade pelas escolhas feitas e de responder positivamente a uma ordem divina. Esta reali-dade aproxima e mantém o ser humano como imagem e seme-lhança de seu Criador.

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DEUS E O RELACIONAMENTO COM A CRIAÇÃO |

Aplicação a sua vida: O Se-nhor, ao dar a possibilidade de não comer, estabelece o princí-pio de escolha e da responsa-bilidade por ela. Este direito de escolha usamos todos os dias. Como está sua responsabilida-de para com suas escolhas? Co-mente.

Até o momento da restrição, o ser humano não tem nenhuma oportunidade de dizer “não”. Ele conhece apenas o “sim”. O ser humano até aqui pode ser confundido com um autô-mato, ou seja, um cumpridor inquestionável e inviolável de qualquer ordem divina, porém, sem decisões próprias. Sem a capacidade de tomar decisões, o ser humano perderia uma das características próprias do Criador, a livre escolha, e, as-sim, não poderia ser qualifi cado como um ser criado à imagem e semelhança de seu Criador. En-tendemos que o Criador é livre, porque todo ato criativo implica em liberdade. O único impedi-mento da criação vir à existên-cia seria a livre decisão divina de não criar. Nada havia para se lhe opor, a não ser seu próprio querer.

Aplicação a sua vida: O ato da livre escolha legitima nossa se-melhança com o Criador. Sem a capacidade de decidir sería-mos como marionetes à vontade Dele. Como você se sente com relação as suas escolhas?

O verso 17 é essencial nesta narrativa, porque dá ao ser cria-do a oportunidade de respos-ta ao Criador. O Senhor Deus, o Criador, é quem estabelece essa via tão bem pavimentada por Ele mesmo. O livre arbítrio ou a capacidade de escolher li-vremente entre uma coisa e ou-tra torna o ser humano único entre tudo o que fora criado e o aproxima consideravelmente do Criador. Nenhuma restrição é feita à fl ora ou à fauna. Nada se diz em relação aos astros. O ser humano é o único, conforme relatado no Gênesis, que tem o privilégio da escolha.

Aplicação a sua vida: O ser humano é o único em toda a criação que tem o privilégio da escolha. Você tem facilidade em fazer as suas escolhas e se com-prometer com elas? Comente.

Um mandamento com conse-quências

É a primeira vez que uma ordem divina signifi ca um mandamento. Mandamento este, que, desobede-cido, traria consequências desas-trosas. Toda ordem dada anterior-mente traria resultados positivos: “Frutifi cai, multiplicai-vos, enchei, dominai” (1:28). Na verdade, os imperativos do verso 28 do capítu-lo primeiro são interpretados como “bênção” e não como mandamento. São imperativos, mas não manda-mentos.

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O primeiro de todos os manda-mentos divinos, dado de forma explícita, pode ser entendido como um mandamento hori-zontal com duas possibilidades: Vida ou morte. Vida pelo ato de comer livremente de qualquer árvore do jardim e morte pelo comer de uma única árvore. A horizontalidade do mandamen-to fala da relação do ser huma-no consigo mesmo e com a na-tureza. Ele é livre para comer. É livre para usufruir das benesses generosas da natureza, sem, contudo, provocar desequilíbrio. Entendendo que este manda-mento afeta também a relação do ser humano com o Criador, ele carrega em si uma verticali-dade com dupla possibilidade: Obediência ou desobediência.

Aplicação a sua vida: O primei-ro mandamento dado a huma-nidade tem uma verticalidade com dupla possibilidade: Obedi-ência e desobediência, que afeta diretamente sua relação com o Criador. Você concorda que até hoje nossas escolhas têm essa consequência? Comente.

Uma única árvore é sufi ciente para testar o ser humano: A ár-vore do conhecimento. A árvore da vida aparece na narrativa an-tes da árvore do conhecimento (2:9), e sobre ela nada é ordena-do. Ambas as árvores são agra-dáveis e boas para se comer. Não havendo ordem quanto à árvore da vida, fi ca subenten-dido que a mesma poderia ser

comida a qualquer hora. A res-trição é somente sobre a árvore do conhecimento. O problema não está na árvore ou em seu fruto. Não é uma árvore enve-nenada ou maldita. Certamen-te seus frutos seriam parte da dieta dos pássaros e de outros animais, como eram as demais árvores. Não comer era um teste de obediência e de confi ança na Palavra do Criador.

Aplicação a sua vida: A palavra “não” é o limite que educa. No caso do jardim era um teste de obediência e confi ança na Pala-vra do Criador. Como você tem trabalhado essa palavra “Não” quando recebida e ministrada?

Um mandamento em diálogo

O primeiro mandamento hori-zontal dado ao ser humano em Gênesis, pode ser comparado com o primeiro mandamento horizontal, em Êxodo, nos cha-mados “dez mandamentos” ou “as dez palavras”. O primeiro dos mandamentos horizontais, em Êxodo, encontra-se em Êxo-do 20:12, e é seguido por quatro mandamentos verticais: Reco-nhecer e ter Deus como único Senhor (20:2,3); não fazer ima-gem esculpida e não se encur-var a ela (20:4-6); não tomar o nome de Deus em vão (20:7) e lembrar-se do sábado, para o santifi car (20:8-11). Se você observar com atenção, verifi ca-rá que o primeiro mandamento

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horizontal em Êxodo 20 se as-semelha ao primeiro de todos os mandamentos horizontais dado ao ser humano no início da sua vida na terra.

Vejamos os dois mandamen-tos colocados juntos para uma breve análise comparativa. Em Êxodo 20:12 o Senhor Deus or-dena: “Honra a teu pai e a tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na terra que o Senhor teu Deus te dá.” Em Gênesis 2:16 e 17 lemos: “E ordenou o Senhor Deus ao homem, dizen-do: De toda a árvore do jardim comerás livremente, Mas da ár-vore do conhecimento do bem e do mal, dela não comerás; por-que no dia em que dela comeres, certamente morrerás.” Ambos os mandamentos apresentam duas realidades. Honrar pai e mãe prolongaria os dias dos israeli-tas na terra de Canaã. Desonrar pai e mãe, por outro lado, redu-ziria os anos de permanência na terra prometida. Comer de qualquer árvore do jardim traria vida. Comer da árvore do conhe-cimento do bem e do mal traria morte. Honrar signifi ca dar o devido valor aos pais, tanto aos pais biológicos diretos quanto aos patriarcas, ou seja, aos en-sinos corretos dos ancestrais em relação ao amor a Deus e ao próximo. Não comer da árvore é dar o devido valor ao Criador e à sua boa palavra.

Aplicação a sua vida: Podemos observar nestes dois parágra-fos quão perfeita é a Palavra de Deus e como Ele traz a re-velação ao ser humano de for-ma gradual e compreensível. O primeiro mandamento dado ao ser humano faz conexão com o “honrar pai e mãe” nos dez mandamentos. Como você tem dado o devido valor ao Criador? Enumerar.

Um mandamento como Norte

Mandamentos divinos norteiam a vida do ser humano no pla-neta terra, fazem dele um ser inteligente e livre para escolher entre uma coisa e outra, insere a ética nas relações e possibilita o retorno a Deus após a quebra acidental ou premeditada de qualquer um dos mandamen-tos. O retorno a Deus está su-bentendido nas pistas deixadas ao longo do texto: O ser humano é criado por Deus, é abençoado, é lhe dado acesso quase irres-trito à criação, recebe em suas narinas o hálito divino, são lhe dadas responsabilidades e um único mandamento com impli-cações horizontais e verticais. De um ser criado com todas es-sas características e prerrogati-vas é esperada a capacidade de se relacionar. Um ser que se re-laciona está sujeito a errar. Um ser que erra carece de reparar os erros e retomar suas relações.

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Aplicação a sua vida: O ser humano foi criado com várias responsabilidades e um único mandamento com implicações horizontais e verticais. Temos a capacidade de relacionamento, o que gera muitos erros e carece de reparos. Como você tem agi-do quando percebe que errou? Comente.

A previsão da morte por parte do Criador (2:17) fala da fi ni-tude do ser humano. Diferen-te do Criador, o ser humano é mortal. Sua constituição física, do pó da terra, se assemelha à condição da fl ora e da fauna que precisam de cuidado (2:15). Uma árvore não morre se você comer de seus frutos em todas as estações dos frutos. Se cui-dada, ela morrerá no tempo cer-to. A morte por velhice é o tipo de morte que a Bíblia aponta como a morte ideal (ver Gn 25:8; Jó 42:17). Os recursos naturais não são inesgotáveis como não é inesgotável a energia e a vida humana. A morte física não é o fi m, mas deve ser evitada. A morte espiritual, desobediência e afastamento do Criador, no contexto do Éden, também não colocará fi m às relações do Cria-dor com suas criaturas. O aviso do perigo e realidade da morte, por parte do Criador, prepara o ser humano para ser resgatado no futuro, ou seja, quando vier a cair na astúcia e sedução da serpente e daí em diante.

Aplicação a sua vida: A morte faz parte da vida terrena, mas o tempo pertence a Deus. Se tra-tamos nossa vida de forma cui-dadosa ela cumprirá o tempo certo previsto por Deus. O que se tem feito é o uso indevido de nossos recursos naturais, o que desqualifi ca nossa presença na terra. Como você tem cuidado do físico e do espirito? Comente.

O verso 17 de Gênesis 2 nos alerta para a morte abreviada, a morte fora do tempo (ver Ec. 7:17): “No dia em que dela co-meres, certamente morrerás”. A data limítrofe da morte estava no dia do comer da árvore do co-nhecimento. Quanto mais tem-po o ser humano demorasse em comer do fruto proibido tanto mais tempo teria de comunhão com o Criador, ou seja, de vida plena. Pelo contexto que se se-gue no capítulo 3, o morrer hu-mano está para além da morte física. De qualquer forma, não está explícito no verso 17 a que tipo de morte o Senhor Deus se refere ali.

Não havendo envelhecimento, doenças, acidentes fatais, e sob o poder do Onipotente Cria-dor, a vida humana poderia se estender por longo tempo ou pela eternidade afora, conforme será discutido no capítulo 3 de Gênesis.

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CONCLUSÃO

O ser humano tem diante de si uma via de mão dupla. O Cria-dor apresenta no Éden duas opções: A árvore da vida em primeiro lugar, e a árvore do conhecimento do bem e do mal como segunda alternativa. Uma alternativa proibitiva, porém, uma alternativa. O duplo man-damento divino, comer de tudo e não comer de um único fruto, dá ao ser humano a oportunida-de de escolha consciente. Trata--se de uma escolha simples, fá-cil de ser entendida, porém, não muito fácil de ser acatada. Uma escolha que deveria ser feita aos pés do Criador.

Suporte para Pequenos Grupos

1. Qual é o primeiro manda-mento de Deus para o ho-mem?

2. Que princípios utiliza para fazer suas escolhas?

3. Trace um paralelo entre o primeiro mandamento e honrar pai e mãe destaca-dos na lição. Que importân-cia tem?

4. Compartilhe o que Deus falou ao seu coração hoje. Como isto se aplica em sua vida?

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Estudo – 16

ASTÚCIA E SEDUÇÃO Gênesis 3:1- 7

INTRODUÇÃO

Este estudo se baseia em Gêne-sis 3:1-7, mas se detém no ver-so primeiro. Trataremos aqui da astúcia da serpente, da sedução sofrida pelo ser humano livre e da sua fraqueza em ceder aos argumentos da serpente e à sua própria avaliação tanto estética quanto ética.

Astúcia dialogal

No verso primeiro o narrador nos apresenta a serpente e o princípio de seu diálogo com o ser humano, representado aqui pela mulher: “Ora, a serpente era mais astuta [mais perspicaz] que todas as alimárias do cam-po que o SENHOR Deus tinha feito. E esta disse à mulher: É assim que Deus disse: Não co-mereis de toda a árvore do jar-dim?” A sedução começa pela palavra bem elaborada, objeti-va, perspicaz, sutil. A serpente começa não pela mulher ou pelo homem. Ela começa por Deus. Em segundo lugar, suscita uma das necessidades básicas do ser humano: Alimento. Em terceiro lugar, envolve a natureza: Ár-vores do jardim. A ordem usa-da pela serpente, portanto, é: Deus-homem-natureza. A ser-

pente se mostra uma boa teó-loga sistemática na capacidade de organização da matéria teo-lógica. Na natureza, ou seja, na árvore do conhecimento do bem e do mal, estaria a “salvação” do ser humano, na concepção da primeira teóloga da história. Evidente que se trata de uma te-ologia comprometida pelos pres-supostos falaciosos serpentinos. A boa teologia ainda estava por nascer.

O conhecimento e a concepção do homem e da mulher do An-tigo Testamento é que a serpen-te que seduz o casal no Éden é um dos animais criados pelo Senhor Deus: “que o SENHOR Deus tinha feito”. O verso pri-meiro e seguintes mostra que o ser humano, no início da sua história no mundo, sem a práti-ca do mal, tem uma ingenuida-de peculiar. É capaz de dialogar

LEITURAS DIÁRIASSegunda Gn. 3.1-7Terça Ap.12. 1- 6

Quarta Mt. 13:1-23; Mc. 4:1-20 e Lc. 8:1-15

Quinta Ap.12.7-9Sexta Ap.12. 10-12Sábado Ap. 12. 13 – 15Domingo Ap.12.16-17

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com um animal sem se assus-tar. A relação do ser humano com a natureza, nesse tempo, é de respeito e diálogo. Como o narrador só narra o que lhe in-teressa comunicar, não somos informados dos possíveis outros diálogos entre Eva e a serpen-te, entre Adão e outros animais aos quais nomeara. No capítulo 2:20 lemos que Adão não conse-guira perceber em nenhuma das criaturas divinas terrestres uma que lhe fosse compatível.

A mulher é escolhida pela ser-pente para ser a protagonista da sedução. Ela vê na mulher o potencial de alguém capaz de avaliar uma proposta sedutora e de escolher a opção contrária à ordem do Criador. Há um prin-cípio importante aqui: Propos-tas sedutoras não são feitas de uma vez. Elas são elaboradas passo a passo. Isto indica que a serpente conhecia um pouco da natureza da mulher. Sabia que ela não cairia num conto mal elaborado. Por isso, a astuta serpente se apresenta prepara-da para seduzir.

Aplicação a sua vida: O autor fala que propostas sedutoras não são feitas de uma vez. Elas são elaboradas passo a passo. A queda não acontece ao acaso, ela segue uma ordem crescente. É necessário estar atento as si-tuações que nos envolvem para perceber o grau de sedução. Como você tem se preparado para enfrentar a sutileza da se-dução que a vida lhe apresenta? Comente.

Astúcia argumentativa

Vejamos os passos cuidado-samente dados pela serpente rumo à mulher. A serpente co-meça pelo Criador e pela capa-cidade da mulher de contrapor ao seu argumento: “É assim que Deus disse?” Para esse tipo de pergunta haveria apenas duas possíveis respostas: “sim” ou “não”. Essa pergunta só pode-ria ser respondida também por alguém que conhecia com cla-reza o Criador, por alguém que se relacionava com Ele, alguém que sabia o que Ele havia dito. Qualquer outro que não tivesse um conhecimento mínimo do Criador estaria desabilitado a responder a tal pergunta. Outro princípio importante: O sedutor conhece bem a quem seduz. A mulher, por outro lado, conhe-cia o Criador, conhecia a si mes-ma e a seu marido, conhecia a natureza, mas não fazia a míni-ma ideia de quem fosse o tenta-dor. Nesse ponto, ela estava em desvantagem.

Aplicação a sua vida: O au-tor traz algo interessante nes-se ponto, devemos conhecer a Deus, a nós mesmos, ao próxi-mo e o contexto, mas este co-nhecimento apenas não basta. Precisamos conhecer o inimigo. Que estratégias você usa contra a possibilidade de ser seduzido pelo erro? Comente.

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Mesmo não conhecendo o se-dutor e sua natureza, a convic-ção de que a restrição única do Criador era para o bem do ser humano, e de sua criação em geral, deveria ser sufi ciente para que a mulher e seu marido não se deixassem seduzir e contradi-zer o Criador. A generosidade do Criador em criar todas as coisas, plantar um amplo e frutífero jardim-pomar e presentear o ser humano com ele precisava estar bem na mente e coração do pri-meiro casal. Assim, estaria apto a dizer “não” a qualquer propos-ta contrária à orientação divina. O que estou dizendo é que o ser humano tinha toda condição de refutar qualquer proposta da astuta e sedutora serpente. O Senhor Deus o criara com essa habilidade. Conhecer a Deus e relacionar-se intimamente com Ele dispensa o conhecimento do sedutor. Nesse sentido, a refe-rência será o bem e não o mal.

Aplicação a sua vida: Enfren-tamos situações na vida em que podemos não ter total conheci-mento do que nos envolve, mas devemos ter sempre a certeza do que acreditamos. Como você tem desenvolvido e aprofunda-do o relacionamento com Deus para que argumentos falsos não o envolvam? Comente.

O que Deus realmente havia dito para a mulher e para seu marido? “Não comereis de toda a árvore do jardim? ” O sedutor prefere usar a segunda parte da ordem divina, aquela que co-

meça com uma negativa: “Não comereis”. A serpente demons-tra conhecer as falas de Deus, é capaz de extrair destas o que lhe interessa, e acrescenta sua interpretação maliciosa ao co-meçar pelo “não”. A ordem divi-na, dada no capítulo dois, verso 16, começa pelo “sim”: “De toda a árvore do jardim comerás livre-mente.” A serpente acrescenta um “não”, tornando a ordem positiva de Deus em ordem ne-gativa. Na perspectiva falsa e proposital da serpente, Deus es-taria privando o ser humano de qualquer alimento. Na sua con-cepção, o Deus Criador é capaz de uma maldade dessas.

Astúcia envolvente

Se você observou bem a fala da serpente, percebeu que ela se dirige não somente à mulher, mas ao casal. Sua fala pode ser direta ou indireta, mas o casal está em foco. Veja que ela usa o verbo no plural “comereis”. Literalmente, e numa leitura diacrônica2 do texto, a ordem é dada pelo Criador ao homem (2:16), antes da criação da mu-lher (3:18ss.). Porém, como é de praxe, o narrador vai direto ao ponto daquilo que lhe interessa e não nos informa do momento em que a mulher toma conheci-mento da ordem divina. Para ser mais específi co e coerente com o todo, o capítulo primeiro de Gênesis, versos 26 e 27, nos in-

2 O que chamamos aqui de “leitura diacrônica” refe-re-se à leitura dos textos bíblicos na ordem em que aparecem na Bíblia.

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forma que Deus criara homem e mulher. O capítulo dois trata da narrativa de como foram cria-dos o homem e a mulher. Para a criação da mulher, no entanto, são dados detalhes mais expres-sivos que para a criação do ho-mem, preparando o leitor para o que viria em seguida: A astúcia e a sedução.

Ao listarmos o que sabemos da criação do homem em relação ao que sabemos da mulher, no ca-pítulo dois, vemos que o narra-dor é mais generoso em relação à descrição da mulher: Ela é aju-dadora idônea (2:20); é formada da costela do homem (2:22); é conduzida ao homem pelo pró-prio Deus, como o pai conduz a noiva até o noivo (2:22); é osso dos ossos e carne da carne do homem (2:23); recebe o nome de mulher (heb. ishá) antes do ho-mem/adam receber o nome de homem (heb. ish), conforme ob-serva Severino Croatto (2000); a ela se apegará o homem que, a essa altura, já terá deixado o ni-nho (2:24); estava nua e não se envergonhava (2:25).

Aplicação a sua vida: O texto bíblico comprova que o homem estava presente durante o diálo-go da serpente com a mulher. O que você acha da não participa-ção do homem nessa conversa?

No capítulo primeiro, verso 29, é o lugar propício para o tempo real do primeiro mandamento dado pelo Criador. Só falta ali a informação da parte negativa do mandamento. Os três primei-ros capítulos do Gênesis estão

interligados. Precisamos lê-los também de forma sincrônica e não somente de forma diacrôni-ca, como fazemos costumeira-mente. O que chamo de leitura sincrônica pode ser ilustrado no seu conhecimento da estrutura dos Evangelhos Sinópticos (Ma-teus, Marcos e Lucas), ou seja, você pode ler, por exemplo, “a parábola do semeador” em Ma-teus 13:1-23; Marcos 4:1-20 e Lucas 8:1-15 comparando cada elemento da parábola, confor-me a visão de cada evangelis-ta. Esse tipo de leitura ajuda a compreender melhor o todo, os diferentes pontos de vistas so-bre uma mesma história.

Astúcia e sedução do lado de fora

O jardim é a referência do ser humano, o jardim pomar no Éden. Nele há tudo que o ser humano precisa para viver bem: Água, alimento, sombra, espaço, ar puro, trabalho, ócio, amizade com Deus e com o próximo, fa-mília, diversão, saúde, a possi-bilidade da não morte (a árvore da vida). Ironicamente, é no jar-dim também que está a astúcia e a sedução. A astúcia, no seu grau mais elevado, represen-tada pela serpente. A sedução como possibilidade, representa-da pela árvore do conhecimen-to. Quando a sedução tem como aliada a astúcia, forma-se uma dupla que pode ser imbatível. Desde o início o narrador nos informa que as árvores do jar-dim são agradáveis e boas para alimento (2:9). Porém, a árvore do conhecimento desperta algo a mais. Conforme afi rma o teó-logo Claus Westermann (2013, p.39),

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Até certo ponto, é pos-sível explicar por que o ser humano trans-gride o mandamento de Deus, que só quer o seu bem. Existe uma força que impele o ser humano para isso [o livre arbítrio]; ela atua de dentro para fora e chega ao ser humano vinda de fora.

A sedução é externa ao ser hu-mano. Ela vem de fora, poten-cializada pela astuta serpente. Contudo, como disse Claus Wes-termann, “ela atua de dentro para fora”. Está no ser humano a possibilidade da transgressão. A livre escolha dá ao ser huma-no a capacidade de obedecer ou transgredir. Parafraseando William Shakespeare: “Comer ou não comer, eis a questão”. O ser humano não tinha nenhuma carência, nenhuma necessidade física que justifi casse o comer do fruto proibido. Contudo, há dentro de si a capacidade de to-mar decisão, ainda que esta seja contrária ao comando do Cria-dor. Está dentro de si o poten-cial. Está fora de si a astúcia e a sedução.

Aplicação a sua vida: Segundo o autor, está dentro do ser hu-mano o potencial para a trans-gressão, embora a astúcia e a sedução sejam externas. Como a pessoa pode vencer toda essa força, interna e externa? E por que às vezes temos cedido à ação contrária aos mandamen-tos divinos? Comente.

CONCLUSÃO

A astúcia pertence à serpente enquanto a sedução diz respeito ao alvo da serpente: A árvore do conhecimento do bem e do mal. A serpente se vale do diálogo, da sua capacidade argumenta-tiva, e busca envolver o casal na sua estratégia. Tanto a astúcia quanto a sedução encontram-se fora do ser humano. São infl u-ências externas muito podero-sas. Toda a atenção ainda será pouco para não se deixar su-cumbir frente a elas.

REFERÊNCIASCROATTO, José Severino. Quem Pe-cou Primeiro? – Estudo de Gênesis 3 em perspectiva utópica. RIBLA, Petrópolis, São Leopoldo, n. 37, p. 15-27, 2000.WESTERMANN, Claus. O livro de Gênesis: Um comentário exegético--teológico. São Leopoldo, RS: Sino-dal/Est, 2013.

Suporte para Pequenos Grupos

1. O que você entende por astú-cia e sedução?

2. Em que momento Eva permi-tiu ser seduzida pela serpen-te?

3. Que lição você tira para sua vida pessoal?

4. O que você precisar mudar para colocar em prática tudo que aprendeu hoje?

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Estudo – 17

ASTÚCIA E SEDUÇÃO, continuação Gênesis 3:1-7

INTRODUÇÃO

Este estudo se baseia em Gêne-sis 3:1-7. É uma continuação da análise feita do verso primeiro. Conforme estudo anterior, con-tinuaremos tratando da astúcia da serpente, da sedução sofrida pelo ser humano livre e da sua fraqueza em ceder aos argu-mentos da serpente e à sua pró-pria avaliação inadequada tanto estética quanto ética.

No processo de sedução, a ser-pente começa pelo Criador e pela capacidade da mulher de contrapor ao seu argumento; usa a parte negativa da ordem divina; demonstra conhecer as falas de Deus; extrai destas o que lhe interessa, e acrescenta sua interpretação particular e maliciosa.

Aplicação a sua vida: A se-dução da serpente é algo mui-to sutil, se não observados os detalhes parece ser uma ar-gumentação correta. Quantas vezes somos enganados por ar-gumentos que mudam a ordem das palavras e enfatiza o opos-to. Você já passou por situações semelhantes? Comente.

LEITURAS DIÁRIASSegunda Gn. 3.1- 3Terça Gn. 3. 4- 7Quarta Mt. 7.10; 10.16;23.33Quinta IICo. 11. 1-3Sexta ICo.10 1-9Sábado Ap. 20 1-3Domingo Ap.20 4-6

Sedução para a vida?

Partimos agora do segundo e terceiro versos do capítulo três de Gênesis, uma vez que o pri-meiro verso já foi devidamente explorado no estudo anterior. Assim lemos: “E disse a mulher à serpente: Do fruto das árvo-res do jardim comeremos, Mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: Não comereis dele, nem nele tocareis para que não morrais.”

A mulher responde à primeira inquirição, corrigindo o suposto equívoco da serpente apresenta-do no verso primeiro parte b: “É assim que Deus disse: Não come-reis de toda a árvore do jardim?”. Contudo, a mulher dá à serpen-te informações além do requeri-do. “O seduzido que muito fala dá bom dia a serpente”. Quando a serpente pergunta, no verso

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primeiro, se Deus havia proibi-do o casal de comer das árvores do jardim, ela desperta a mu-lher para a questão da morte. Não comer de nenhuma árvore seria a morte física do humano. O comer, ao contrário, aponta para a vida. O real interesse da serpente está na árvore do co-nhecimento do bem e do mal, no fruto que provoca a morte. Contudo, já que a lógica do co-mer produz vida, e a serpente acaba de convencer à mulher disso, seu veneno está prestes a fazer efeito. O veneno, nesse caso, tem que ser aceito de bom grado. Para aceitá-lo, vem ca-mufl ado em coisa boa, positiva. E assim acontece.

A expressão: “nem nele tocareis” não aparece textualmente em outro lugar no relato da criação. Se o Senhor Deus diz isso em algum momento, só a mulher e seu marido detêm tal conheci-mento. Se ela cria tal realidade, não temos como saber com cer-teza. De qualquer forma, essa informação não tem qualquer valor ou signifi cado para a ser-pente. Os únicos que dão valor a essa expressão de “acréscimo da mulher” somos nós leitores. Nem o Criador menciona tal acréscimo.

Aplicação a sua vida: Observa-mos no diálogo entre a serpen-te e a mulher, que no desejo de mostrar conhecimento da or-dem divina a mulher foi ingê-nua. Você é capaz de se lembrar de situações em que foi envolvi-do ingenuamente e depois teve que se explicar?

Sem demora, e sem contradizer a mulher, a serpente vai direto ao ponto: “Certamente não mor-rereis.” (3:4b). A serpente não se interessa nos detalhes ofereci-dos graciosamente pela mulher: “Podemos comer de tudo, exceto da árvore que está no meio do jardim, na qual estamos proibi-dos pelo Criador de até tocar”. Toda essa informação é periféri-ca. A serpente sabe bem de tudo isso. A morte é o que está em jogo. Não se deve dar munição para o tentador. Ele já tem in-formações mais que sufi cientes para ludibriar o ser humano. O silêncio da mulher poderia ter sido sufi ciente para interromper a sedução. Nesse ponto, Adão, o representante masculino da humanidade, cumpre bem o seu papel daqueles que nada falam, daqueles que não interferem, daqueles que se omitem. Não basta o silêncio, pois o silêncio também fala. Há outros modos de dizer não à sedução do ten-tador. A fala correta, na direção correta, é uma arma podero-sa ao alcance das criaturas de Deus contra a sedução.

Aplicação a sua vida: Uma das formas de dizer não a sedução é o silêncio, mas pode não ser o sufi ciente, como no caso de Adão. Você consegue citar outra forma de dizer não à sedução?

A mulher, assim como a ser-pente, fala de Deus, mas em ne-nhum momento fala com Deus. A sedução só será vencida se

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Deus estiver de fato envolvido no processo. Se Ele for consul-tado. Não basta falar de Deus. É preciso que o ser humano fale com Deus. Voltar a Deus é o me-lhor caminho. Ele tem a respos-ta certa para os momentos in-certos. No processo de sedução, o seduzido tem a oportunidade de contrapor o sedutor com a palavra de Deus.

Aplicação a sua vida: O autor fecha com maestria esse tópico. O relacionamento com Deus é o ponto ideal para identifi car, re-conhecer e afastar o sedutor e a sedução. Como você tem traba-lhado esse relacionamento com Deus?

Sedução para a onisciência?

Por que a serpente tem tanta certeza que o casal não morre-ria? Porque, segundo ela, “Deus sabe que no dia em que dele comerdes se abrirão os vossos olhos, e sereis como Deus, sa-bendo o bem e o mal.” (3:5). O plural é usado neste verso cinco para deixar claro que o ser hu-mano, homem e mulher, macho e fêmea, masculino e feminino, está envolvido na sedução e não apenas a mulher: “vossos olhos /sereis”.

A última palavra é da serpen-te. A mulher e seu marido não questionam a mentira serpen-tina. Acreditam nela. O veneno começa, então, a fazer efeito. Duvidam da bondade do Cria-dor, mas desejam ser como Ele.

Os interesses pessoais huma-nos sobrepujam a ordem e a previsão do Criador. Confi am em um ser que se parece com os demais seres criados em lugar de confi ar no Criador.

Aplicação a sua vida: A ser-pente consegue atingir o inte-resse pessoal do Homem e da mulher. Ela desperta o desejo de ser igual ao Criador. Vivemos em tempos em que o interesse pessoal sobrepõe qualquer ou-tro. Você tem sido motivado por interesses pessoais? Comente.

A serpente acusa o Criador de dissimulado. “Ele sabe”, afi rma a serpente. Se fosse verdade a insinuação da serpente, por que o Criador colocaria a árvore do conhecimento no meio do jar-dim, uma árvore que suposta-mente comida elevaria a condi-ção do humano a divino, e ainda informaria sua localização ao ser humano? Se a mulher pen-sasse um pouco mais, não cai-ria nessa esparrela da astuta e sedutora serpente. A sedução, pelo visto, cega o entendimen-to. A única coisa que a mulher vê é “que aquela árvore era boa para se comer, e agradável aos olhos, e árvore desejável para dar entendimento;”. Se esquece, inclusive, que todas as árvores do jardim são agradáveis, de-sejáveis e disponíveis gratuita-mente. A serpente cega o enten-dimento da mulher para que ela deseje o que ela já tem recebido do Criador: “Entendimento”. A

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mulher está “cega” e o homem está “surdo, cego e mudo”. Ele parece totalmente fora da cena, como se não tivesse nenhuma responsabilidade pelo que acon-tece com a esposa e a serpente. Esse acontecimento mudaria para sempre a realidade huma-na no planeta terra e interferi-ria na relação espiritual com o Criador, comprometendo o livre acesso à eternidade, representa-da, na narrativa, pela árvore da vida.

Aplicação a sua vida: O diálo-go entre a serpente e a mulher cegou-lhe o entendimento, mas o homem fi cou cego, surdo e mudo. Precisamos entender que todas as ações nos envolvem de certa forma. Como você tem tra-balhado com as questões que aparentemente não lhe dizem respeito, como: Política, leis, preservação da natureza, direi-tos humanos e outros?

O verso 6 diz: “E viu a mulher que aquela árvore era boa para se comer, e agradável aos olhos, e árvore desejável para dar en-tendimento; tomou do seu fruto, e comeu, e deu também a seu marido, e ele comeu com ela.” Totalmente cega pela serpente, a mulher “tomou do seu fruto, e comeu, e deu também a seu marido, e ele comeu com ela. ” (3:6). Temos aqui a surpreen-dente declaração de que o ma-rido “comeu com ela”. O homem não come do fruto proibido após a mulher. Ele come com

ela. Não é à toa que a serpen-te usa o plural o tempo todo ao falar com a mulher. O homem está presente, porém, não como protagonista. Ele é coadjuvante passivo. Não opina. Não orienta. Não repreende. Toma o fruto das mãos da mulher e o come jun-tamente com ela. Eles comem juntos. É imprescindível que aquele ou aquela que está junto do seduzido faça alguma coisa para ajudar o outro. A omissão pode trazer terríveis consequên-cias, tanto para o primeiro que se deixa seduzir quanto ao que é alcançado indiretamente. A ser-pente vence o casal. Vence o ser humano.

É verdade que a mulher é a pri-meira a provar do fruto, como é verdade também que o homem nada faz para impedi-la e nem esboça qualquer esforço em re-cusar o fruto para si. A desobe-diência ao Senhor Deus, o Cria-dor, inclui dois personagens: Uma protagonista e um coad-juvante. Ambos são culpados e ambos serão responsabilizados.

Aplicação a sua vida: O suces-so da serpente só foi alcançado porque o casal teve atitudes in-dividualistas, deixando de fazer uso do argumento. A atitude omissa de Adão enfraqueceu o casal. Você é capaz de emitir sua opinião sem comprometer o relacionamento e pontuar fatos importantes e até contraditó-rios? Comente.

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Sedução que traz culpa

“Então foram abertos os olhos de ambos, e conheceram que estavam nus; e coseram folhas de fi gueira, e fi zeram para si aventais.” (3:7). A nudez, infor-mada no capítulo dois, verso 25, causa espanto pela primeira vez. Incomoda o casal. Por isso, cozem folhas de fi gueira. Os olhos do ser humano se abrem para a malícia. Eles que até en-tão conheciam o bem e o mal sem experimentá-lo, agora o co-nhecem por experiência. Deus é conhecedor do bem, pois Ele é o bem em Pessoa, e conhecedor do mal, sem jamais tê-lo experi-mentado.

Adão, antes de comer do fruto, sabe lavrar e cuidar do jardim (2:15), sabe nomear os seres (2:19), sabe distinguir entre os diversos animais e aquela que seria sua “ajudadora idônea” (2:20); e o casal conhecia a proi-bição do Senhor Deus (3:2,3); sabia da principal consequência de se comer da árvore do conhe-cimento do bem e do mal (3:3). Antes de ceder à astúcia e sedu-ção da serpente, eles sabem que estão nus (2:25), mas isso não lhes causa nenhuma vergonha ou embaraço.

O sentimento de culpa persegue a humanidade desde o dia em que o casal come do fruto proi-bido. A palavra “culpa” não apa-rece no relato da astúcia e se-dução, assim como o vocábulo “pecado” também não aparece.

Contudo, essas duas verdades estão escancaradas aos olhos e ouvidos do leitor. Dois termos hebraicos para “culpa”, na Bí-blia Hebraica, indicam ora cul-pa e “castigo pela culpa” (avon) ora perversidade e culpa (resha), assim como uma das palavras para pecado traduz “pecado” e “oferta pelo pecado” (rrataa/rratat). A culpa carrega em si a força do pecado, mas também aponta para além de si. Indica a possível remissão do pecado e, consequentemente, da própria culpa.

Aplicação a sua vida: Logo após comer o fruto, homem e mulher se viram nus. Seus olhos se abriram para a malí-cia, experimentaram o pecado e o sentimento de culpa. A culpa aponta para a possível remissão do pecado. Como você explica essa afi rmativa do autor?

Uma pergunta que não fi zemos, mas que fi ca na mente do leitor é esta: Quem ou o que é de fato a serpente? Mesmo que o Antigo Testamento não discuta o papel da serpente na sedução e con-sequente desobediência do ser humano, mesmo que a apresen-te como um dos animais criados por Deus, o Novo Testamento não ignora o seu lado espiritu-al e nem deixa de falar sobre isso. A serpente é o agente ex-terno da sedução, não é apenas o mais astuto dentre os animais criados por Deus como parece registrar o narrador de Gêne-

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sis 3. A serpente é uma metá-fora para a o agente espiritual do mal responsável por seduzir e enganar o ser humano, levan-do-o a desobedecer ao Criador. O Novo Testamento a eleva à condição de dragão, Satanás e o Diabo. A palavra serpente ocor-re apenas 14 vezes no NT, mas somente em quatro ocasiões se refere a Satanás: Mateus 7:10; 10:16; 23:33; Marcos 16:18; Lu-cas 10:19; 11:11; João 3:14; 1 Coríntios 10:9; 2 Coríntios 11:3 e Apocalipse 9:19; 12:9, 14,15; 20:2. No Antigo Testamento aparece 39 vezes, mas nenhu-ma delas o associa a um ser espiritual. Portanto, somente 4 vezes em toda a Bíblia a serpen-te é associada diretamente com Satanás. Todas as ocorrências associativas estão em apocalip-se 12:9, 14,15; 20:2.

Aplicação a sua vida: O autor de Gênesis refere-se a serpente como um animal, sem mesmo associá-lo a satanás. Mas em Apocalipse vemos as ocorrên-cias associativas desse fato. Sabemos que ela é o agente ex-terno da sedução, agente espi-ritual do mal, responsável por seduzir e enganar o ser huma-no. Comente como você tem se fortalecido internamente para resistir ao agente externo.

CONCLUSÃO

A astúcia e sedução da serpen-te e sua aceitação por parte do casal, pela mulher diretamente como protagonista e pelo ho-mem indiretamente, como coad-juvante, trazem consequências desastrosas não somente para o casal e sua família, mas para toda a humanidade. A morte, com todas as suas acepções, passa a imperar a partir de en-tão. A culpa vem junto com a desobediência. Ao invés de se tornar como Deus, o ser huma-no se distancia de Deus, tornan-do-se um ser culpável.

Suporte para Pequenos Grupos

1. Aceitar a sedução da serpen-te trouxe grandes consequ-ência para a humanidade. Compartilhe o que signifi ca isto na prática.

2. O que mudou após a queda?

3. Que lição você tira para sua vida pessoal?

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DEUS E O RELACIONAMENTO COM A CRIAÇÃO |

Estudo – 18

QUANDO O HOMEM SE SERPENTEIAGênesis 3:8-13

INTRODUÇÃO

Este estudo tem como base Gê-nesis 3:8-13. Trata da relação do ser humano com o Senhor Deus após a desobediência.

Serpentear traz culpa e medo

O verso 8 nos informa o seguin-te: “E ouviram a voz do Senhor Deus, que passeava no jardim pela viração do dia; e esconde-ram-se Adão e sua mulher da presença do Senhor Deus, entre as árvores do jardim.” O Senhor Deus passeia costumeiramente pelo jardim. O verbo hebraico está no particípio presente, in-dicando um hábito divino con-tínuo.

Adão e Eva se escondem. Eles sabem que “pela viração do dia”, em plena luz do sol, o Senhor Deus passa por ali. Esta infor-mação é importante porque fala do cuidado de Deus para com suas criaturas. Diferente de ou-tros supostos deuses, o Criador se mantem por perto, se envol-ve com a obra criada. Ele não é um deus distante, alheio ao que acontece com sua criação. Mes-mo na desobediência, o Criador não deixa o casal sem a costu-meira visita. Quem visita um necessitado imita o Criador.

LEITURAS DIÁRIASSegunda Gn.3.8-24Terça Gn.4 9-16Quarta Dt.5.20,21Quinta Jo. 31. 32-40Sexta Pv. 28.1-14Sábado II Co. 11. 1-15Domingo Mc. 7.14-21

Aplicação a sua vida: Deus é presente, cuida e mantem con-tato com sua criatura. Mesmo quando desobedecemos a ele podemos ter certeza que Ele está cuidando de nós. Você al-guma vez já se sentiu como Adão e Eva, com vergonha de Deus por algo que tenha feito ou mesmo deixado de fazer? Se puder, comente.

O fato de terem comido do fruto proibido não impede que o ca-sal ouça a voz do Senhor Deus. Isto é um ato da graça divina. Ele vem ao encontro do homem perdido e se faz ouvir por ele, mesmo após a desobediência. A declaração de que estão escon-didos entre as árvores do jar-dim indica que o Senhor Deus não demora muito a se dirigir rumo ao casal. Eles ainda estão no meio do jardim, exatamente próximos de onde fi ca a árvore

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do conhecimento e a árvore da vida. A presteza divina deve nos incentivar a sermos também ágeis no atender àqueles que carecem.

Aplicação a sua vida: Deus está sempre por perto. Por mais que possamos pecar e nossos cora-ções se distanciar dele. O autor faz uma ligação a essa presteza divina ao nosso relacionamento para com o próximo. Com qual efi ciência você tem realizado o trabalho de atender ao necessi-tado? Comente.

Esconder-se da presença do Se-nhor Deus signifi ca esconder-se da sua face. Esconder da face é afastar-se da comunhão com o Criador. A vergonha, a culpa, o medo leva o transgressor a se es-conder, a se ocultar. Interessan-te que o narrador não fala que o casal se esconde um do outro. Mais uma vez eles estão juntos. Comem do fruto juntos e estão escondidos juntos. No início da vida humana aqui na terra, pen-sava-se ser possível se esconder de Deus, especialmente se a pessoa fosse para um território distante, de algum lugar onde o nome de Deus não fosse adora-do. Pode ser que o casal tenha pensado que sendo a árvore do conhecimento uma árvore proi-bida, esconder-se por perto dali impediria que o Senhor Deus os encontrasse. A árvore, território da serpente, deveria ser o pos-sível território da não presença divina. Isto também é belo no relato. Ficamos sabendo que o Senhor Deus não está limitado a certos arraiais. Ele pode ser encontrado em qualquer lugar e

em qualquer circunstância, ain-da que não seja invocado, ainda que não seja esperado.

Aplicação a sua vida: O autor narra que há uma cultura de que Deus pode não estar em determinados locais, de que se pode esconder Dele, assim como Adão e Eva pensavam. Que Ele não está em certos lugares ou mesmo que em determinados locais é mais fácil de encon-trá-lo. Como você entende a onipresença de Deus?

A iniciativa pela procura do transgressor é daquela pessoa cuja ordem fora transgredida. É mais fácil para o que sofre a afronta ir ao encontro do cul-pado. O Criador nos dá o exem-plo. É por isso que o senhor Jesus orienta os seus seguido-res da seguinte forma: “Ora, se teu irmão pecar contra ti, vai, e repreende-o entre ti e ele só; se te ouvir, ganhaste a teu irmão;” (Mt 18:15). O irmão pecador não está em condições de ir até aquele ou aquela a quem ele ofendeu. O ofendido, seguindo a lógica do Criador e a orientação do senhor Jesus, é quem deve se dirigir ao transgressor com o objetivo de ganhá-lo.

Aplicação a sua vida: Neste parágrafo podemos observar uma grande lição. O ofendido foi Deus e é Ele quem vai ao en-contro do homem e da mulher. Quantas vezes somos ofendidos e/ou maltratados e nos esquiva-mos da presença do agressor!? Aqui Deus nos ensina que a busca pode e deve ser do ofen-dido. Como você tem enfrentado essa situação?

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DEUS E O RELACIONAMENTO COM A CRIAÇÃO |

Serpentear traz confl ito exis-tencialO primeiro a ser chamado à res-ponsabilidade não é a mulher nem a serpente. “E chamou o Senhor Deus a Adão, e disse-lhe: Onde estás? ” (3:9). A pergunta “onde estás? ” deve ter provoca-do uma sensação de desespero em Adão. Essa pergunta está para além da ideia de localiza-ção física. Ela aponta para uma questão ética, existencial. Por ser pergunta, ela possibilita re-fl exão e resposta verbal. Adão tem a oportunidade de verbali-zar sua condição. Àquele que é capaz de nomear os animais é dado o ensejo de nomear-se a si mesmo. Adão é convidado a assumir a sua posição diante do Criador, diante da esposa e diante da astuta e sedutora ser-pente. O Criador espera de cada transgressor a verdade que li-berta.

Aplicação a sua vida: Quan-do Deus chama por Adão, Ele suscita a refl exão e responsa-bilidade sobre o seu ato. Nos dias atuais Deus também nos chama a responsabilidade por nossos atos. Como você pode exemplifi car?

A resposta de Adão indica não a sua localização física, o que pouco importa para o oniscien-te Criador, mas a sua condição espiritual. “E ele disse: Ouvi a tua voz soar no jardim, e temi, porque estava nu, e escondi-me.” (3:10). Em lugar de “onde”, ele responde “porque”. Ele compre-ende o que o Senhor Deus está querendo dele, qual a razão por que ele se encontra escondido:

“Ouvi a tua voz soar no jardim, e temi,”. Ele está escondido por temor, “porque estava nu”. A nudez é a resposta. Aqui está uma intrigante realidade. O vocábulo hebraico “nu” [eirom {wry(] é da mesma raiz de “as-tuto” [arum {wr(], termo que ca-racteriza a serpente no capítulo 3:1. Confessar-se “nu” asseme-lha-se a dizer: “Sou astuto como a serpente” ou “me serpenteei”. Tornei-me semelhante à serpen-te. Na astúcia serpentina está o veneno do engano, do ludíbrio, da capacidade de transferência de responsabilidade. Adão se torna um ser serpentino, no seu sentido mais degradante. Ele é agora capaz de qualquer coisa para se safar.

O Senhor Deus, apesar de tudo saber, quer ouvir de sua criação a confi ssão. Confessar ajuda no processo de cura. Confi ssão é fala. Falar é um excelente remé-dio em momentos angustiantes. Por isso, mais uma vez o Senhor Deus se dirige a Adão com ou-tra pergunta: “Quem te mostrou que estavas nu? Comeste tu da árvore de que te ordenei que não comesses?” (3:11). Veja que o Senhor não lança sobre Adão exclamações de juízo e culpa. Ele lhe dá oportunidade de se defender.

Aplicação a sua vida: Baseado no que diz o autor no parágrafo acima, como você tem se posi-cionado diante dos seus erros e dos erros dos outros?

Serpentear traz o veneno da covardia e da malícia

A resposta de Adão pode cau-sar em nós certa repulsa. No

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Senhor Deus, no entanto, cau-sa compaixão. Disse Adão: “A mulher que me deste por compa-nheira, ela me deu da árvore, e comi.” (3:12). É a mulher quem mostra a Adão que ele está nu ou é o fato de ter comido da ár-vore? Adão engloba as duas coi-sas. O argumento dele é que, se não fosse a mulher, ele não teria comido da árvore, porque não haveria quem pudesse dar a ele daquele fruto. Ele se coloca na condição de servido pela mu-lher. Ele está dizendo que não se serviria da árvore por conta própria. Além disso, em última análise, o primeiro culpado por ele haver comido da árvore nem é a mulher, mas aquele que lhe dera a mulher por companheira. O presente divino teria sido uma espécie de “presente de grego”. Adão se esquece que a mulher “era osso de seus ossos e carne de sua carne”. Se esquece que estivera ao lado dela na tenta-ção. Se esquece que não fora forçado a comer. Ele come com ela, porque quis comer.

Aplicação a sua vida: Outro fato interessante no diálogo de Adão com Deus é que Deus ofe-rece toda condição para Adão se arrepender e mudar de atitude, mas, no entanto, ele continua o seu relato de vítima e transfe-re para Deus a responsabilida-de. Quantas vezes temos essa atitude em nossa caminhada? Você consegue se ver tendo ati-tude como a de Adão? O que tem feito para mudar esse com-portamento?

Se você observou o verbo usa-do em relação a Deus e o ver-

bo usado em relação à mulher por parte de Adão, no verso 12, percebeu que se trata do mesmo verbo, o qual pode ser traduzi-do por “dar, oferecer, presente-ar”. O Senhor Deus presente-ara Adão com uma mulher e a mulher presenteara Adão com o fruto proibido. De certa for-ma, Adão compara a sua com-panheira com o fruto. Lança a culpa no próprio Deus. Hoje em dia, muitos continuam a lan-çar a culpa na mulher, porque, diferentes de Adão, não têm a ousadia ou talvez a honestida-de de culpar o próprio Deus. Nesse ponto específi co, apesar de covarde e malicioso, Adão se mostra autêntico. Ele culpa a Deus. Este é o princípio da cura: Autenticidade. Adão fala aquilo que está em seu coração. É im-possível confessar quando bus-camos dissimular nossos reais pensamentos. Diante do Deus onisciente, não há como ser dis-simulado.

Aplicação a sua vida: Adão se mostra nesse ponto totalmen-te autêntico, fala para Deus o que ele estava sentindo. Você tem sido autêntico com Deus ou muitas vezes tem medo de falar com Deus o que verdadei-ramente está sentindo?

É deveras impressionante a pa-ciência do Senhor Deus. Como Adão não tem mais o que dizer, apesar de ter dito uma besteira, e ter acusado o próprio Senhor, o Senhor Deus dá um tempo a Adão, tempo de refl exão, e se di-

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rige à mulher, no verso 13: “Por que fi zeste isto? E disse a mu-lher: A serpente me enganou, e eu comi.” Apesar da mulher não assumir diretamente o seu erro, ela assume ter comido do fruto, assim como o homem também assume.

A mulher não acha razão em culpar o homem. Não leva em consideração o fato de ele ter comido com ela sem abrir a sua boca. Abre a boca para comer, mas não abre a boca para ar-gumentar contra a proposta da sedutora e astuta serpente. O verbo “dar” não cabe no argu-mento da mulher, assim como o verbo “enganar” não caberia no argumento do homem. Por isso, a mulher responde à per-gunta divina assim: “A serpente me enganou, e eu comi.” A per-gunta do Senhor é: “Por quê? ” e a mulher responde “como”. Culpar a serpente parece menos grave que culpar o Criador ou o marido. Eva poderia ter dito, por exemplo: “o marido do qual me fi zeste, ele não abriu a sua boca para me auxiliar a não comer do fruto”.

“Por que fi zeste isto?”, pergunta o Senhor. Isto, o quê? Ter comi-do do fruto ou ter dado dele ao marido? Veja que a mulher não inclui o marido na sua respos-ta. Sua defesa está no fato de ter sido enganada pela serpen-te. Sabemos que a questão não é o engano proposto pela ser-pente que está em pauta aqui. A mulher não faz nenhuma men-ção da proibição divina. Se não fosse a serpente, argumenta a

mulher, ela não teria comido do fruto. Será que não?

Aplicação a sua vida: De qual-quer forma, a sedução vem ao ser humano do mundo externo. Infl uenciando-o, tentando-o e direcionando-o à desobediên-cia. Todavia coube a ele a deci-são. Como você tem obedecido a ordem de Deus? Comente.

CONCLUSÃO

Ouvir a serpente, o tentador, é o grande erro do ser humano. Obedecer à serpente é se tornar semelhante a ela. É participar de seu veneno. É se serpentear. Se serpentear traz culpa e medo, traz confl ito existencial, traz o veneno da covardia e da malícia. Contudo, o Criador continua amando a sua criatura e vai ao seu encontro para resgatá-la da culpa, do medo, da malícia. Es-conder-se pode parecer uma so-lução plausível, mas não o é, até porque não há como se escon-der de si mesmo e do onisciente e onipresente Criador.

Suporte para Pequenos Grupos

1- O que é serpentear e o que pode nos causa?

2- O que devemos fazer em ra-lação aos nossos erros?

3- Por que é mais fácil jogar a culpa no outro?

4- Como vencer o medo de fa-lar a verdade?

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Estudo – 19

MALDIÇÃO E DISCIPLINA Gênesis 3:14-19

INTRODUÇÃO

Este estudo tem como base Gê-nesis 3:14-19. Trata do castigo imposto pelo Senhor Deus aos três envolvidos na sedução. Dois seduzidos e um sedutor. Três seres desobedientes ao Criador.

Deus trata com a serpente

Após dialogar com Adão e com sua esposa através de pergun-tas e respostas, o Senhor Deus interrompe a inquirição e se di-rige à serpente. Até aquele mo-mento, o Senhor não emitira nenhuma opinião sobre a culpa do casal. O fato de estarem es-condidos, envergonhados, nus, foi constrangimento sufi ciente reconhecido pelo Senhor Deus. Deus não chuta cachorro mor-to, conforme se lê no livro Flor de Papiro (2013). O Criador dá tempo para que suas criaturas refl itam e sejam capazes de re-conhecer seus erros e de confes-sá-los.

Aplicação a sua vida: Deus constata o fato e dá oportuni-dade para que o casal reconhe-ça seu erro e possa confessá-lo para que venha a cura, o que não indica falta de consequên-cia do ato. Você tem confessado seus erros a Deus?

LEITURAS DIÁRIASSegunda Gn.3.14-19Terça Gn.12 -1-3Quarta Gn.12 -4-6Quinta Gn.12 -7-9Sexta Nm.22.1-6Sábado Nm.22.7-12Domingo Nm.22.13 - 21

Didaticamente, o Senhor Deus se dirige primeiro a Adão, para perguntar sobre o ocorrido no Éden e em seguida à mulher. Agora, com o intuito de trazer o castigo merecido à tríade deso-bediente, ele se dirige primeiro à serpente: “Porquanto fi zeste isto, maldita serás mais que toda a fera, e mais que todos os ani-mais do campo; sobre o teu ven-tre andarás, e pó comerás todos os dias da tua vida.” (3:14). Nes-se momento não cabem mais perguntas. É hora de exclama-ções decisivas daquele que tudo sabe. O tempo das explicações passou. Os três precisam assu-mir o que fi zeram.

Aplicação a sua vida: Assumir as consequências dos atos é de-ver de todos. Deus foi enfático quando determinou a punição para todos, começando com a serpente. Temos que encarar as consequências de nossos atos. Como você tem feito isso? Co-mente.

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Veja que o Senhor Deus não faz nenhuma pergunta à serpente. Simplesmente se dirige a ela com toda convicção de quem sabe o que ela fi zera: “Porquanto fi zeste isto”. É uma constatação. A maldição entra no mundo por intermédio da serpente e pelos aliados dela, a mulher e o ho-mem. O primeiro ser amaldiço-ado é a própria serpente. Veja que o narrador, ao transmitir o dito do Senhor, não consegue desvincular a serpente da vida animal terrestre. Ele não a eleva aqui à condição de um ser espi-ritual maligno. Ela é mais mal-dita do que toda a fera, e mais maldita que todos os animais do campo. Isto signifi ca que a maldição alcança a vida animal como um todo. Maldição, em he-braico, conforme o professor Eli Lizorkin-Eyzeberg, da escola is-raelense eteacher.com, implica em restrição ou frustração. Por-tanto, a serpente e os animais em geral sofrem restrições de-vido à desobediência do ser hu-mano. O verbo hebraico “amal-diçoar” (arar) ocorre 58 vezes no Antigo Testamento, enquanto o verbo “abençoar” (berech) apa-rece 332 vezes. A ênfase bíblica está na bênção e não na mal-dição. Os dois termos ocorrem juntos em alguns textos, tais como, Gênesis 12:3; 27:29; Nú-meros 22:6,12; 24:9 ( 2X nestes versículos).

A maldição ou restrição dada à serpente é esta: “sobre o teu ven-tre andarás, e pó comerás todos os dias da tua vida.” Associar a

serpente ao “pó” é aproximá-la do ser humano, criado do solo e do pó. Essa restrição aponta para um ser vivo, necessitado de alimento e cuja vida tem limite, ou seja, “todos os dias”.

Aplicação a sua vida: Da trí-ade, a serpente é a primeira a sofrer a maldição ou restrição feita que se estende também a todos os animais. O animal também sofre consequência da desobediência do Ser humano. Como você entende essa coloca-ção do autor? Comente.

Deus trata com a humanidade

O verso 15 do capítulo três de Gênesis é considerado pelos cristãos como “proto evange-lho”, ou seja, o evangelho em-brionário. A declaração do Se-nhor Deus à serpente prevê que alguém, da semente da mulher, seria capaz de ferir a cabeça da serpente. O máximo que a ser-pente conseguiria seria ferir o calcanhar da semente da mu-lher. Assim diz o verso: “E porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua semente e a sua se-mente; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar.” A palavra “esta”, neste versículo, é literalmente “ele”. Pelo contex-to, esse “ele” refere-se à semente da mulher. A palavra semente é masculina em hebraico.

A ferida causada pela semente da mulher é mais decisiva que a ferida causada pela semente da serpente. Trata-se de cabeça

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versus calcanhar. O mesmo ver-bo usado em relação à semente da mulher é usado em relação à semente da serpente. Contudo, esse verbo tem pelo menos três possíveis acepções: “abocanhar, tentar morder” e “esmagar”. A cabeça está para “esmagar”, as-sim como o calcanhar está para “abocanhar”.

Está prevista inimizade ou hos-tilidade entre as duas raças até que o digníssimo “ele”, explicita-do no verso 15, esmague de vez a cabeça da serpente. Os cris-tãos estão convictos de que esse “ele” de Gênesis 3:15 é uma re-ferência ao messias de Deus, o Senhor Jesus Cristo. Ele seria o único da descendência da mu-lher capaz de “esmagar” a cabe-ça da serpente.

Apesar do conhecimento limita-do do povo da Bíblia à época da escrita desse maravilhoso tex-to de Gênesis 3:15, do livro de Ezequiel capítulo 28 mencionar um arcanjo em lugar de serpen-te, com possível referência sim-bólica a Satanás, os cristãos, através de Apocalipse 20:2, não têm dúvidas de que a serpente de Gênesis deve ser entendida como aplicação a Satanás: “Ele prendeu o dragão, a antiga ser-pente, que é o Diabo e Satanás, e amarrou-o por mil anos.”

Aplicação a sua vida: Nesse texto observamos que a pro-messa feita por Deus à huma-nidade é defi nitiva. A semente da mulher esmagará a cabeça da serpente. Você já teve con-tato com essa semente? Relate como foi.

A serpente, em Apocalipse, apa-rece primeiramente na fi gura de um dragão. Portanto, nem em Gênesis 3, nem em Ezequiel 28, nem em Apocalipse 20, a serpente/arcanjo/dragão deve ser tomada de forma literal. À luz desses textos, não se deve pensar em uma serpente/cobra com pés, com a capacidade da fala. Estamos diante de uma fi gura espiritual, disfarçada de serpente/dragão, um dos ani-mais criados pelo Senhor Deus. Se essa interpretação está cor-reta, a maldição ou restrição, que sem dúvida alguma atinge a criação de Deus, por causa do ser humano em dar ouvidos à “serpente”, também não pode ser tomada ao pé da letra quan-do dirigida à serpente no Éden.

Quando somos informados que a serpente, como castigo divino, passaria a andar sobre o pró-prio ventre, e comer pó todos os dias de sua vida, estamos diante de uma maldição ou de uma restrição. Quem conhece a Bíblia e olha para a serpente do Éden, logo se lembra de uma serpente física, de um animal rastejante. Contudo, as serpen-tes que vemos hoje não podem ser confundidas com a serpen-te do Éden. Didaticamente, um ser faz lembrar o outro. Biblica-mente, no entanto, esses seres têm naturezas diferentes: Um é espiritual, disfarçado de maté-ria, disfarçado de serpente. Os outros são seres materiais, fí-sicos, que devido ao seu modo de vida, seu veneno (encontrado

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em grande parte dos ofídicos), e por ter sido usado por Satanás, ilustram bem a astúcia e capa-cidade de sedução do tentador.

Aplicação a sua vida: Pode-mos observar que esse texto fala de dois seres de naturezas diferentes, um físico (serpen-te) e outro espiritual (satanás). Ambos quando atuam deixam consequência no ser humano. Em sua opinião, qual dos dois é mais fácil de ser evitado? Como?

Ao tentar explicar que tipo de pó Deus estava se referindo ao amaldiçoar a serpente/satanás, pastor Oseas Pontes, no site portalfi el, escreve em seu artigo:

nenhuma espécie de ser-pente come pó. É claro que Deus não se referia ao pó natural da terra. É claro que Deus dizia a satanás que ele se alimentaria de outro tipo de pó. Ele rece-beu a sentença de andar rastejando, como símbolo de sua derrota. Satanás ao se arrastar sobre seu ventre se alimenta da po-eira espiritual levantada pelo homem (pó da terra). Há um princípio espiritu-al aí que não é percebido e é até mesmo ignorado. A serpente se alimenta de pó! Que pó é este? Deus disse a Adão: “tu és pó”. Esse é o pó que alimen-ta a serpente. A natureza pecaminosa do homem. A nossa natureza adâmica, o nosso ego e orgulho pe-caminoso.

Aplicação a sua vida: O pó que alimenta a serpente, sata-nás, é a natureza pecaminosa do homem, a nossa natureza adâmica, o nosso ego e orgulho pecaminoso. O que você tem fei-to para não alimentar essa ser-pente?

Diferente da serpente, Eva não é amaldiçoada. Ela é disciplinada. Disse o Senhor Deus à mulher: “Multiplicarei grandemente a tua dor, e a tua conceição; com dor darás à luz fi lhos; e o teu dese-jo será para o teu marido, e ele te dominará.” Pastor, é possível esclarecer qual o tipo de domínio o marido tem sobre a mulher? (3:16). Por contribuir com a ge-ração da morte no mundo de for-ma displicente e pecaminosa, a mulher sentirá fortes dores para trazer vida ao mundo. A morte entrou sem dor. A vida entrará com dor. Tanto a morte quanto a vida entram no mundo por um desejo. A entrada da morte, pela sedução da “serpente”. A entra-da da vida pela sedução do ma-rido. Dominada pela serpente no Éden. Dominada pelo marido fora do Éden.

Aplicação a sua vida: Tanto a morte quanto a vida entram no mundo por um desejo. O au-tor faz a afi rmativa que a vida entrou no mundo com dor e a morte sem dor. Como você vê a entrada da morte no mundo sem dor e a consequência a vida (nascimento) com dor?

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Falta-nos comentar a disciplina trazida sobre Adão. Eli Lizorkin--Eyzeberg, da escola israelen-se eteacher.com, ao comentar Gênesis 3:17, afi rma que:

Adão não recebeu medi-das disciplinares indivi-duais, como recebeu Eva. No entanto, ele não esca-pou das consequências dolorosas de sua desobe-diência. Deus anunciou que estaria amaldiçoando a terra por causa de Adão. É claro que Deus conside-rou Adão responsável por tudo o que aconteceu. A queda da humanidade do favor pleno de Deus é causada, em última aná-lise, não pela serpente, nem por Eva, mas pelo próprio Adão.

A amplitude das consequências do ato de Adão é maior que da mulher e da serpente. Assim diz o Senhor Deus a Adão: “Por-quanto deste ouvido à voz de tua mulher, e comeste da árvore de que te ordenei, dizendo: Não comerás dela, maldita é a terra por causa de ti; com dor comerás dela todos os dias da tua vida.

Espinhos, e cardos também, te produzirá; e comerás a erva do campo. No suor do teu rosto co-merás o teu pão, até que te tor-nes à terra; porque dela foste to-mado; porquanto és pó e em pó te tornarás.” (3:17-19).

A dor alcançou a tríade deso-bediente. Dor na concepção de fi lhos. Dor ao retirar da terra o alimento. Dor não física ao ter a

cabeça “esmagada” por um des-cendente da mulher.

Aplicação a sua vida: A graça de Deus alcançou a tríade da mesma forma que a consequên-cia dos atos seguidos de dor. Como você tem administrado a dor física, do trabalho, emocio-nal? Comente.

CONCLUSÃO

O Criador não deixa impune os transgressores. A serpente é amaldiçoada, tem a sua vida restringida. A mulher e o ho-mem são disciplinados. A na-tureza em geral, representada pelo solo, a adamá hebraica, o solo de onde procede o adam, é amaldiçoada por causa do ho-mem.

REFERÊNCIASARAUJO, Tarcisio Caixeta de. Flor de papiro. São Paulo: Scortecci, 2013. http://www.eteachergroup.comhttp://www.portalfi el.com.br/arti-go/112-a-serpente-que-virou-um--grande-dragao.html

Suporte para Pequenos Grupos

1- O que é maldição?2- Por que é bom para o ho-

mem reconhecer seus erros?3- Quais os benefícios para

quem confessa os pecados?4- A disciplina traz bem a hu-

manidade? Por quê?

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DEUS E O RELACIONAMENTO COM A CRIAÇÃO |

Estudo – 20

A MORTE E A VIDAGênesis 3:20-24

INTRODUÇÃO

Este estudo tem como base Gê-nesis 3:20-24. Trata da relação do casal após a desobediência e da comunicação e do cuidado do Criador para com o ser humano. Discute a questão da vida e da morte.

O Senhor está presente na morte

Após o diálogo do Senhor Deus com o casal pecador, após mal-dição anunciada à serpente e disciplina ao casal, esperáva-mos que Deus saísse de cena. Seria um ato natural. Contudo, pelo que conhecemos do Cria-dor, no livro de Gênesis, Ele ja-mais sai de cena. Onde houver um necessitado, Ele estará por perto. Ele não abandona à sua criação, ainda que esta o aban-done.

O afastamento imediato do Criador por parte de Adão e sua esposa, assim que comem do fruto proibido, justifi ca o man-damento do Senhor e sua con-sequência: A morte. A morte não pode ser tomada ao pé da letra como se signifi casse unicamen-

LEITURAS DIÁRIASSegunda Gn.3.20-24Terça Rm. 5.12-15Quarta Rm. 6 .1-6Quinta Rm.6. 7-14Sexta Rm.8. 1- 4Sábado Rm.8. 5-9Domingo Ef. 2.1-10

te a morte física, assim como a serpente não signifi ca apenas um dos animais astutos cria-dos por Deus. A primeira morte, aquela que entra no mundo pela desobediência do primeiro ca-sal, refere-se à morte espiritual, a separação da comunhão com o Criador. Adão e Eva morrem instantaneamente ao comerem do fruto. Eles sentem-se priva-dos da comunhão com o Cria-dor. A morte física aconteceria naturalmente no tempo em que deveria acontecer, ou seja, na velhice dos dois.

Aplicação a sua vida: A mor-te espiritual experimentada por Adão e Eva foi instantânea. En-quanto que a física aconteceu normalmente tempos depois em sua velhice. Como identifi -car esses dois tipos de morte na vida do ser humano?

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A disciplina aplicada ao casal ja-mais teve a intenção de distan-ciá-los do Criador. Pelo contrá-rio, conforme a própria Palavra de Deus, “o Senhor repreende aquele a quem ama, assim como o pai ao fi lho a quem quer bem.” (Pr 3:12). Disciplina é sinal de amor. É tentativa de trazer o er-rante de volta ao lar. De trazer o morto à vida.

Uma vez disciplinado, Adão volta a enxergar a sua mulher como companheira idônea, como ajudadora indispensável, como parte da sua essência. Ele não mais a acusa de qualquer pecado. Contudo, cumprindo a disciplina do Criador, Adão co-meça a exercer domínio sobre a sua mulher: “E chamou Adão o nome de sua mulher Eva; por-quanto era a mãe de todos os vi-ventes.” (3:20). Só nomeia quem tem autoridade.

Aplicação a sua vida: Na pa-lavra “domínio” está a ideia de “governo”. Se esse governo sobre a mulher será em amor ou com tirania, vai depender do tipo de marido que Adão será para Eva e os futuros maridos com quem as mulheres se casarão. Será que Adão seria um modelo de marido a ser imitado?

Não há nada no Gênesis ou em outra parte da Bíblia, após a disciplina divina, que desquali-fi que Adão como marido, com-panheiro, amigo, pai. O mesmo pode ser dito com relação a Eva. A vida desse casal estava volta-da para as questões do lar, da

família, do cuidado para com a natureza e da comunhão com Deus, restaurada por Ele mes-mo.

O Senhor está presente na vida

Eva signifi ca “vida”. A morte não seria capaz de eliminar a vida na terra. Assim como a morte entrou no mundo por uma mu-lher, a vida humana também entrou. O texto diz que Eva “era a mãe de todos os viventes.” Não houve preocupação do narra-dor em falar do primeiro fi lho nascido no mundo, antes, sua preocupação foi a de informar que todo ser humano provém de Eva. Ela é a matriz da vida.

Se lêssemos a Bíblia somente de forma diacrônica, isto é, na sequência em que foi escrita e organizada, ou unicamente de forma literal, teríamos que con-cordar que o casal tivera fi lhos enquanto ainda no Éden. O tex-to diz que Eva “era a mãe de to-dos os viventes”. Na ordem em que é dito isto, o casal ainda não havia sido expulso do jardim, o que só acontece nos versos se-guintes. Eva nos é apresentada como mãe antes da expulsão.

Aplicação a sua vida: Eva sig-nifi ca vida, a morte não tem ca-pacidade de eliminar a vida da terra. A morte entrou no mundo por uma mulher e a vida tam-bém. Como você entende essa fala do autor?

Mais uma vez é preciso lembrar que os autores sagrados, em ge-ral, não tinham nenhuma pre-ocupação com cronologia. Era

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DEUS E O RELACIONAMENTO COM A CRIAÇÃO |

comum inserir informações do futuro no contexto das histó-rias das personagens das quais eles narravam. Ao dizer estas coisas, não estamos negando a possibilidade de fi lhos nascidos no Éden, como se a expulsão de lá tivesse ocorrido instantane-amente ao pecado da desobe-diência. Antes de se pensar em expulsão, o Criador pensa em reconciliação. Ele vai em busca do casal perdido. Não sabemos quanto tempo se passa entre a desobediência, a reconciliação e a expulsão do jardim. Uma coisa sabemos: A morte não triunfaria sobre a vida. O Criador anun-ciara a morte por desobediência, mas não o triunfo da morte.

Quando o Criador anuncia a morte de antemão, a morte espi-ritual por desobediência ao Seu mandamento, Ele providencia a possibilidade da vida antes da morte. Não é isso que lemos em Gênesis 2:9? “E o Senhor Deus fez brotar da terra toda a árvore agradável à vista, e boa para comida; e a árvore da vida no meio do jardim, e a árvore do conhecimento do bem e do mal.” O narrador faz questão de apre-sentar a árvore da vida antes da árvore do conhecimento. A cria-ção como um todo fala de vida e não de morte. A morte é uma possibilidade. A regra de Deus sempre é a vida. A morte é a ex-ceção da regra.

Aplicação a sua vida: A mor-te é consequência do pecado, mas, jamais ela triunfará sobre a vida. Desde o início da criação Deus celebra e anuncia a vida. Como você tem celebrado a sua vida? Comente.

Santo Agostinho, citado por De-rek Kidner (1991, p.64s.), en-tende que a morte anunciada pelo Criador abrande todos os seus aspectos, ou seja, o ser humano é ameaçado tanto com a primeira morte, a morte físi-ca ou espiritual (separação da alma do corpo ou da comunhão com Deus) e com a segunda e defi nitiva morte, a morte eterna (separação eterna da alma da presença de Deus). Assim escre-ve:

Se ... se perguntar com qual tipo de morte Deus ameaçou o homem..., se ... foi a morte física, ou a espiritual, ou aquela se-gunda morte, respondere-mos: Foi com todos (sic)... Abrange não somente a primeira parte da primei-ra morte, onde quer que a alma perca a Deus, nem somente a última, em que a alma deixa o corpo, ... mas também ... a segun-da morte, que é a última de todas, a morte eterna.

Apesar de o casal estar vestido de cintas de folhas, cingidas por eles mesmos, o Senhor Deus de-cide prover para eles algo mais duradouro e adequado às mu-danças de temperaturas que eles enfrentarão. Lemos no ver-so 21: “E fez o Senhor Deus a Adão e à sua mulher túnicas de peles, e os vestiu.” A informação de que o Senhor Deus os veste é crucial. Ela nos mostra que o relacionamento entre o humano e o divino se reestabelece. Tal ação divina indica intimidade. Ele não apenas modela as túni-

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cas. Ele faz questão de vestir a cada um deles. É possível que esta ação divina seja a única em toda a Bíblia, quando Deus faz algo para o ser humano que o próprio ser humano pode fazer por conta própria. Neste ponto da história bíblica o Senhor pre-cisa demostrar todo o seu afeto, inclusive fazendo aquilo que sua criatura está equipada por Ele com capacidade de fazer. Matar um animal para usar suas peles parece que não estava ainda ao alcance do ser humano.

Aplicação a sua vida: Após o pecado, Adão e Eva fi caram ainda mais fragilizados e Deus demonstra todo o afeto ao mo-delar túnicas para eles. Nesse momento percebemos o carinho de Deus em reestabelecer o re-lacionamento com o ser huma-no. Como você tem valorizado esse relacionamento?

Claus Westermann (2013, p.45), ao analisar a questão das vesti-mentas, escreve:

Os aventais que haviam confeccionado em de-corrência de seu novo conhecimento de nada adiantaram na hora de se esconder de Deus. Ago-ra é Deus que faz roupas para eles. Eles não preci-sam mais se envergonhar, nem diante dele, nem um do outro; é uma metáfora do perdão. A esse se soma outro sinal de que a mise-ricórdia de Deus os acom-panha. A mulher torna-se mãe...

Independente de quando e onde Eva tem o primeiro fi lho, con-cordamos com Westermann que a maternidade é um dos sinais da misericórdia divina.

Depois de curar a ferida d’alma humana e de cuidar do seu fí-sico, o Senhor Deus cuida da sua eternidade. “Então disse o Senhor Deus: Eis que o ho-mem é como um de nós, saben-do o bem e o mal; ora, para que não estenda a sua mão, e tome também da árvore da vida, e coma e viva eternamente, O Se-nhor Deus, pois, o lançou fora do jardim do Éden, para lavrar a terra de que fora tomado.E havendo lançado fora o ho-mem, pôs querubins ao oriente do jardim do Éden, e uma espa-da infl amada que andava ao re-dor, para guardar o caminho da árvore da vida.” (3:22-24).

O verso 22 levanta a questão da pluralidade divina, que, na concepção cristã, aponta para o Deus trino: “o homem [adam] é como [semelhante] um de nós”. O “nós” da fala divina indica plu-ralidade. Na concepção judaica, trata-se de um plural de majes-tade ou a comunicação divina com os anjos. Veja que conhe-cer o bem e o mal é uma prer-rogativa divina. O conhecimen-to humano do bem e do mal é semelhante, mas não é igual ao de Deus. Assim comenta Derek Kidner (1991, p.65):

Sua nova consciência do bem e do mal era ao mes-mo tempo semelhante e diferente do conhecimen-to divino (3:22), diferindo dele e da inocência co-mo a dolorosa percepção

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DEUS E O RELACIONAMENTO COM A CRIAÇÃO |

que um enfermo tem do seu corpo difere tanto da compreensão do médico, como da indiferença de um homem sadio.

Kidner está dizendo que uma pessoa saudável sabe o que é o bem (ausência de doença) e sabe o que é o mal de uma en-fermidade, mesmo não a expe-rimentando, e por isso, isento do mal em si. O conhecimento dessa pessoa assemelha-se ao conhecimento de Deus. O doen-te, por outro lado, conhece a en-fermidade [o mal] e o traz para dentro de si.

Ainda no verso 22 encontramos o principal motivo da expulsão do ser humano do jardim do Éden: Não viver eternamente de forma precária e desastrosa, caso viesse a comer da árvore da vida na condição de transgres-sor.

No verso 23 o ser humano é lançado fora do jardim. Um dos objetivos é que ele lavre a terra. O ser humano é criado fora do jardim, vive por um tempo no jardim por decisão divina, agora retorna ao solo de onde fora for-mado, também por decisão do Criador. O ser humano volta às origens. O Criador o coloca em seu devido lugar.

O verso 24 reforça que o moti-vo principal da expulsão do ser humano do jardim do Éden não é apenas para seu retorno às origens e para lavrar o solo ex-terior. O motivo principal é o de preservar o ser humano contra si mesmo, contra suas atitudes desastrosas, contra uma vida eterna sem propósitos.

Aplicação a sua vida: Deus cria um jardim para que o ho-mem possa desfrutar de todo o prazer oferecido por Ele. Quan-do do pecado, o homem volta para a terra com obrigações e difi culdades, com o propósito principal de preservar-se de si mesmo. Você já passou por si-tuações em que percebeu que Deus o livrou para preservá-lo de si mesmo? Comente.

CONCLUSÃO

O Criador está presente na vida humana antes da desobediên-cia, fora do jardim e no jardim, assim como está presente no ato da desobediência que redunda em morte (separação da comu-nhão com o divino), o que leva o ser humano de volta para fora do jardim.

REFERÊNCIASKIDNER, Derek. Gênesis: introdu-ção e comentário. São Paulo: Mun-do Cristão, 1991.WESTERMANN, Claus. O livro do Gênesis: um comentário exegético--teológico. Tradução de Nélio Sch-neider. São Leopoldo: Sinodal/Est, 2013.

Suporte para Pequenos Grupos

1- O que nos leva a morte espi-ritual?

2- Por que a morte espiritual não é temida tanto quanto a morte física?

3- Qual a punição para a morte espiritual?

4- Qual a recompensa da morte física para o cristão?

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Estudo – 21

UMA OFERTA AO SENHORGênesis 4:1-7

INTRODUÇÃO

Este estudo tem como base Gê-nesis 4:1-7. Trata do nascimen-to de Caim e Abel, do registro do primeiro culto após a expulsão do jardim e da orientação divi-na quanto ao possível domínio sobre o mal. Para compreender o nascimento de Caim e a conti-nuação de sua história, é neces-sário relembrar que os hebreus/israelitas/judeus não tinham preocupações em registrar as histórias em ordem cronológica. Além disso, só contavam a parte das histórias e aqueles detalhes que traziam algum ensino mar-cante para o ouvinte e/ou lei-tor. Os escritores eram bastante concisos nos registros. Por isso mesmo, deixavam muitas lacu-nas.

Uma oferta pressupõe um ofertante

Comecemos pelo verso 1 do ca-pítulo 4: “E conheceu Adão a Eva, sua mulher, e ela concebeu e deu à luz a Caim, e disse: Al-cancei do SENHOR um homem. ” Um único verso é sufi ciente para registrar a relação de Adão e Eva, a concepção, nascimento de Caim e a avaliação da parte

LEITURAS DIÁRIASSegunda Gn. 4. 1-7Terça Lv.2. 1-16Quarta Lv. 22.17-30Quinta ICr. 29 3-8Sexta Mt. 5. 17-26Sábado Mt.8.1-4Domingo Ef. 5. 1-7

da mãe sobre o nascimento de um de seus fi lhos. O autor não tem nenhum interesse em dizer quantos fi lhos o casal já tem e nem os nomes deles.

Como é sabido, o verbo “conhe-cer”, na Bíblia, aponta para um conhecimento íntimo geral e serve para indicar, de forma eu-femística e particular, a relação sexual, a relação íntima de um casal. O narrador faz questão de lembrar aos ouvintes/leito-res que a relação sexual ideal é aquela entre o esposo e sua esposa. A informação de que Eva é esposa de Adão parece desnecessária, mas tem função enfática. Ela comunica, segun-do o que interpreto do texto, o seguinte: Filhos devem ser gera-dos por marido e mulher. Inde-pendentemente de como forem gerados, fi lhos serão sempre fi -

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lhos. Contudo, agradam a Deus aqueles que geram seus fi lhos no casamento.

Aplicação a sua vida: A bele-za da vida está na união dos elementos do homem e da mu-lher para a geração de novo ser. Como você entende esse amor transcendental dos pais? Co-mente.

A frase: “Alcancei do SENHOR um homem” pode ser também traduzida por: “Com o auxílio do Senhor tive um fi lho homem”. A ideia do “auxílio do Senhor” ou adquirido “do Senhor” nos leva a refl etir sobre algumas possi-bilidades de interpretação: Eva pode ter tido um parto difícil; pode ter tido um intervalo de tempo sem nascer fi lho homem, tendo, até aquele momento his-tórico algumas fi lhas até a che-gada de Caim.

Aplicação a sua vida: De qual-quer forma, há aqui um ensino fundamental: Carecemos do auxílio do Senhor para qual-quer aquisição. Eva nos dá esse exemplo de dependência do Se-nhor. Você tem experimentado essa dependência?

O nome “Caim” é dado a esse fi lho, porque ele é considerado uma importante “aquisição”. Um sentimento especial pas-sa pelo coração de Adão e Eva em relação a seu fi lho Caim. Há quem acredite que o casal inter-preta a chegada daquele fi lho

como um possível cumprimento da promessa feita pelo Senhor em Gênesis 3:15, ou seja, ele se-ria aquele que esmagaria a ca-beça da serpente. De qualquer forma, sabemos que Caim não se encaixa no perfi l do salvador. Ele está mais para o protótipo daqueles que, após a expulsão do jardim do Éden, cedem às seduções da serpente conforme acontecera com seus pais no jardim.

A igreja, nosso jardim atual, não é lugar dos invencíveis. As-sim como, o não jardim, a nossa vida nas esferas sociais, em ge-ral, não nos torna seres fracas-sados. Caim, assim como nós, tem escolha.

Aplicação a sua vida: Sabemos que, assim como o jardim não nos torna invencíveis, o não jardim não nos torna suscep-tíveis ao fracasso total. O que importa não é o jardim em si, mas a obediência ao Senhor do jardim. Como você tem demons-trado essa obediência ao nosso Senhor? Comente.

Há um conto judaico que apre-senta Abel como irmão gêmeo de Caim. Na verdade, o conto fala de quadrigêmeos: Caim, Abel e duas meninas. O verso 2 nada fala de fi lhas, mas, na forma em que está construído, pode levar à interpretação que Abel tenha nascido logo em seguida. Tudo depende da tradução do verbo hebraico usado aqui: “E deu à luz mais a seu irmão Abel; e Abel

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foi pastor de ovelhas, e Caim foi lavrador da terra.” Outra possí-vel tradução seria: “e continuou a dar à luz”.

O que está em foco no verso 2 é que Abel é o irmão cuja vida, não apenas é secundária, em rela-ção a Caim, como é passageira, um sopro. Este é o signifi cado de seu nome. Seguindo a conci-são costumeira, o narrador nos apresenta o nascimento de Abel e a profi ssão dos dois irmãos em um único verso: “Abel foi pastor de ovelhas, e Caim foi lavrador da terra.” Se você notou, Abel é apresentado aqui primeiro que Caim. Os dois lidam com a terra: Abel na pecuária e Caim na agricultura. Curiosamente, Caim está cumprindo uma das ordens do Senhor dada a Adão após expulsão do jardim: La-vrar a terra de que fora tomado (3:23).

Na ordem em que aparece no texto, Caim é o primeiro huma-no a apresentar uma oferta ao Senhor: “E aconteceu ao cabo de dias que Caim trouxe do fruto da terra uma oferta ao Senhor.” (4:3). Caim é um lavrador bem--sucedido. A terra produz o fru-to como recompensa por seu trabalho. Em reconhecimento de que toda a força produtiva e que a produção em si vem do Senhor, Caim prepara uma ofer-ta. A oferta de Caim, fruto da terra, está prevista na Torah. Os adoradores do Antigo Testamen-to podiam apresentar ofertas de manjares (cereais) ao Senhor, além das ofertas de animais (Lv 2:1; 6:14).

Aplicação a sua vida: Toda oferta apresentada ao Senhor é em gratidão e reconhecimen-to de que toda força produtiva e a própria produção vem do Senhor Deus. Como tem sido sua oferta diante de tudo o que Deus tem lhe dado? Comente.

Uma oferta pressupõe um ofertado

A diferença básica do relato so-bre a oferta de Caim em relação à oferta de Abel, é que o autor enfatiza o tipo de oferta de Abel: “E Abel também trouxe dos pri-mogênitos das suas ovelhas, e da sua gordura; e atentou o Senhor para Abel e para a sua oferta.” (4:4). Há um destaque importante no texto: Caim “trou-xe do fruto da terra” (4:3) e Abel “trouxe dos primogênitos das suas ovelhas, e da sua gordura.” Abel apresenta a Deus o que ele tem de melhor. Não é dito pelo autor que Caim traz o “melhor” do fruto da terra. Certamente ele quer chamar a nossa atenção para o tipo de oferta que Caim e Abel oferecem ao Senhor.

Apesar de ter sido o primeiro a ofertar, há alguma improprie-dade tanto na oferta quanto em Caim. Isto fi ca implícito quan-do o narrador diz: “e atentou o Senhor para Abel e para a sua oferta.” Para o narrador e, certa-mente para Deus, mais impor-tante que a oferta é o ofertante. Abel é destacado antes da ofer-ta. Abel pressupõe não somente a oferta, mas a quem ele oferta.

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Ele pretende agradar o ofertado, uma vez que apresenta o que ele tem de melhor: Primogênitos e gordura. Há quem oferte pen-sando em si, ou seja, no próprio ofertante. Sua intenção é a de achar graça para si, encontrar o favor do ofertado. Outros, ao contrário, têm o ofertado em pri-meiro lugar. Abel se aproxima desse segundo tipo de ofertante.

Aplicação a sua vida: Deus atentou para Abel antes da ofer-ta. O ofertante é sempre mais importante que a oferta. A ofer-ta deve seguir uma entrega total a Deus. Como você tem realiza-do suas ofertas, considerando a gratidão a Deus ou a expectati-va de um retorno? Comente.

Caim também é mais importan-te para Deus que sua oferta. O verso 5 diz: “Mas para Caim e para a sua oferta não atentou. E irou-se Caim fortemente, e descaiu-lhe o semblante.” O ver-bo hebraico “atentar” pode ser traduzido também como “olhar com agrado”, “interessar-se por”. Deus se sente agradado por Abel e por sua oferta, mas não por Caim. A consequência do não interesse do Senhor por Caim e por sua oferta desperta em Caim forte ira e semblante descaído.

A Caim o Senhor pergunta e, ao mesmo tempo, aconselha: “Por que te iraste? E por que descaiu o teu semblante? Se bem fi zeres, não é certo que serás aceito?

E se não fi zeres bem, o peca-do jaz à porta, e sobre ti será o seu desejo, mas sobre ele deves dominar.” (4:6,7). No verso 7 o Senhor nos apresenta o motivo de Caim não ter sido aceito ou não ter sido erguido: Ele não se comporta bem. Não tendo agido bem consoante a oferta, o peca-do está deitado à porta de Caim. Ele está à espreita. O desejo do pecado está voltado para Caim. “Mas tu, diz o Senhor, exercerás domínio contra ele”. Há outras possíveis interpretações para este difícil verso 7. Contudo, fi ca claro que Caim pode fazer algo melhor que pecar contra o irmão. Quando o ofertado está em destaque na vida do ofertan-te, aqueles que também ofertam com ele não lhe causarão inveja ou qualquer sentimento negati-vo. Afi nal de contas, estão todos com o mesmo propósito: Agra-dar o ofertado. Quem se preo-cupa em agradar o ofertado não tem tempo para se indispor com os ofertantes.

Aplicação a sua vida: No diá-logo entre Deus e Caim fi ca cla-ro que o pecado estava à porta, mas é ele quem deveria dominá--lo. Entendemos que muitas ve-zes o desejo tenta nos dominar. Qual estratégia podemos utili-zar para dominar o desejo?

É a primeira vez na Bíblia que aparece o vocábulo “pecado”. Esta mesma palavra hebraica traduz também “oferta pelo pe-cado”. Assim, é possível pressu-

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por que Deus está, nesse con-texto, orientando Caim a fazer propiciação pelo seu pecado. Caim está em pecado, porém, ainda não consumado.

Aplicação a sua vida: Nesse momento do diálogo, Deus dá a oportunidade a Caim de reco-nhecer que está errado, mudar o curso de sua vida e não pecar. Você já se percebeu em situação de um pecado iminente, ouviu a voz de Deus e afastou-se dele?

CONCLUSÃOCaim e Abel ilustram os ofer-tantes da atualidade. Uns con-sideram o ofertado, outros con-sideram a oferta. Há também aqueles que, à semelhança de Caim, consideram a si mesmos acima de seus irmãos e, o que é ainda pior, acima do Senhor Deus. Toda oferta deve pressu-por, em primeiro lugar, o ofer-tado. Em segundo lugar, o ofer-tante, ou seja, sua condição ao se apresentar diante do Senhor de toda oferta.

Suporte para Pequenos Grupos

1- Qual o tipo de oferta Deus se agrada?

2- Como e onde devemos ofertar ao Senhor?

3- O que tem ofertado, tem reve-lado sua gratidão?

4- Quem é mais importante: o ofertante, a oferta ou o ofer-tado?

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DEUS E O RELACIONAMENTO COM A CRIAÇÃO |

Estudo – 22

PRIMEIRO FRATRICÍDIOGênesis 4:8-12

INTRODUÇÃO

Este estudo tem como base Gê-nesis 4:8-12. Trata do primeiro fratricídio na face da terra, um pecado premeditado. Tudo indi-ca também que é a primeira vez que alguém morre fi sicamente.

Ser irmão de sangue não é su-fi ciente

Caim tem todos os motivos do mundo para compartilhar a vida e um único motivo para se associar à morte. Caim vive em um mundo de ar puro; águas cristalinas; matas exuberantes; vasta fl ora e fauna; ausência de toxinas e agrotóxicos; ausência de substâncias cancerígenas in-dustrializadas; pais que conhe-cem o que é uma vida antes e depois do pecado; um mundo onde a presença e a visita de Deus é constante; um irmão amigo, pastor de ovelhas. Não bastasse ter um irmão como Abel, Caim tem outros irmãos e irmãs.

Ter um irmão é uma dádiva. Ser irmão é uma bênção. Em rela-ção a Abel, Caim tem um irmão, mas não consegue ser um bom irmão. Após a não aceitação

LEITURAS DIÁRIASSegunda Gn 4:8-12Terça Ex. 12.29,30Quarta Rm. 10.8-10Quinta Ef.4.26-27Sexta ICo.15.21-26Sábado ICo. 15. 51-58Domingo Ap. 2. 8 - 11

da oferta por parte do Senhor, Caim fi ca enfurecido, com o ros-to transtornado e incapaz de do-minar o pecado (4:4-6).

Aplicação a sua vida: Obser-vamos que todas as bênçãos que Caim tinha não lhe foram sufi cientes para celebrar a vida. Caim parece um menino mima-do que não pode ser contraria-do. Ele se sentiu preterido ao seu irmão, não atentou para a forma em que ele apresentou a oferta, simplesmente só viu a si mesmo. Você já passou por situação semelhante, e que de-pois percebeu que o erro era seu? Comente.

Caim é o primeiro agente huma-no da morte física. Precisamos nos alistar como agentes da vida. Não que a vida seja inferior

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à morte e precise de nós. Não. É porque, servir a vida é servir o Deus vivo. A morte não necessi-ta de parcerias. Ela já é voraz o sufi ciente para ceifar a vida dos seres humanos.

O verso 8 afi rma: “E falou Caim com o seu irmão Abel; e suce-deu que, estando eles no cam-po, se levantou Caim contra o seu irmão Abel, e o matou.” (4:8). Caim deveria ter matado um cordeiro e não o seu irmão. Tal atitude ajudaria a aplacar a sua forte ira contra o irmão. No Êxodo encontramos cordeiros sendo mortos em lugar dos pri-mogênitos. Contudo, a morte do cordeiro não é o único requisi-to para livrar alguém da morte. A instrução é clara: Passar do sangue nos umbrais e na verga da porta.

Imagine a cena: É meia noite (Êx 12:29). O anjo da morte começa a passar de casa em casa. Passa pela casa de um egípcio, e pas-sa igualmente pela casa de um israelita. Não há discriminação neste quesito. Imagina um isra-elita descuidado ou desobedien-te dizendo: – Matei o cordeiro, mas não tive tempo de passar o sangue na porta. O anjo da mor-te verá o cordeiro morto – diz o morador – e não entrará na mi-nha casa. Não basta ter em casa o cordeiro morto, o Cristo mor-to. Quando o anjo da morte eter-na chegar, o sinal que ele tem é este: Nesta casa, ou seja, neste coração, há confi ssão e fé. Esta vida confessa e crê obediente que o cordeiro morto por sua causa ressuscitou e é sufi ciente (ver Romanos 10:8-10).

Caim não se preparara para a adoração. Ele está pronto para assassinar o irmão. O texto diz: “E falou Caim com o seu irmão Abel”. Dependendo da versão, você encontra: “E falou Caim com o seu irmão Abel: Vamos ao campo.” (4:8). Este complemen-to (“vamos ao campo”) não se encontra no texto hebraico de 1008 d.C., o texto usado para as traduções do Antigo Testamen-to, mas encontra-se em alguns targuns [tradução-interpretação do hebraico para o aramaico, no Pentateuco Samaritano etc.] e faz sentido no contexto.

De qualquer modo, Caim tem todo o tempo do mundo para de-sistir da ideia de matar o irmão, além da orientação privilegia-da do Senhor. Tem tempo para conversar, mas não tem tempo para a comunhão. Sua conversa com o irmão Abel é falsa e ma-liciosa. A ira o cega. É por isso que o apóstolo Paulo nos adver-te: “Irai-vos, e não pequeis; não se ponha o sol sobre a vossa ira. Não deis lugar ao diabo.” (Ef 4:26,27). Caim deixa o sol se pôr sobre a sua ira mortal. Dá lugar ao diabo e peca contra o irmão, contra Deus, contra a família, contra a natureza e contra si mesmo.

Aplicação a sua vida: Caim fi -cou cego de raiva contra o seu irmão, nem percebeu o privilé-gio de conversar e ser orientado pelo Senhor. Você alguma vez já experimentou dormir irado com alguém? Como você se sentiu?

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Após a conversa com Abel, eles se dirigem ao campo. Então, Caim se levanta contra o seu inocente irmão Abel e o assassi-na. A ira não dominada produz a morte. A única disposição de Caim é para a morte naquele “passeio” campestre.

Assim como o Senhor vai ao encontro do casal desobediente no Éden, Ele vai ao encontro do fratricida Caim. No Éden acon-tece a morte espiritual do ser humano e a morte física de um animal cuja pele serve de vesti-menta. Fora do Éden acontece a morte física de um animal ofere-cido por Abel, e, em seguida, a morte física do ser humano Abel e a morte espiritual de Caim: “E disse o Senhor a Caim: Onde está Abel, teu irmão? E ele dis-se: Não sei; sou eu guardador do meu irmão?” (4:9). Caim não se abre para o diálogo com o Se-nhor. Encerra sua fala com uma pergunta cínica.

Mesmo morto, na concepção di-vina, Abel continua sendo o ir-mão de Caim. Para não deixar dúvidas de qual irmão o Senhor está falando, Ele afi rma: “Abel, teu irmão”. Caim, porém, se re-cusa a mencionar o nome do ir-mão. Parece que sua ira não é aplacada com a morte do irmão e à ela acrescenta-se a mentira: “Não sei; sou eu guardador do meu irmão?” Sabemos que Adão e Eva são férteis e que têm ou-tros fi lhos além de Caim, Abel e Sete (Gn 5:7). A questão de Caim não é contra nenhum outro ir-

mão senão contra Abel. Não que Abel tenha feito algo contra ele. Abel é assassinado por fazer o bem, por agradar a Deus. Caim está possuído de ira, inveja, e, possivelmente de sentimentos de inferioridade em relação ao irmão por não ter sido aceito por Deus naquele momento de oferta ao Senhor, quando o seu irmão ainda estava vivo. A vida de Abel vale mais que qualquer oferta que se pudesse oferecer a Deus. Em nosso planeta não há nada mais precioso que a vida.

Aplicação a sua vida: Em Efé-sios 4.26,27 o apóstolo Pau-lo aconselha-nos a não deixar o sol se por sobre a nossa ira. Que estratégia podemos usar para aplacar a ira?

O termo “guardador de” usado na resposta-pergunta de Caim, no verso 9, vem do mesmo ver-bo do verso 7, quando o Senhor orienta Caim a “dominar” o de-sejo. Caim não leva em conside-ração a visita do Senhor e seu carinho para com ele, orien-tando-o a agir bem na segun-da e mais importante missão que ele poderia ter: Salvar uma vida. Salvá-la das suas próprias mãos. A primeira missão, en-tregar uma oferta ao Senhor, se torna irrelevante diante da se-gunda. Caim, no entanto, falha nas duas.

Assim como o Senhor pergunta a Adão “onde estás? ”, Ele conti-nua usando essa técnica de per-

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gunta e resposta para alcançar o ser humano caído. Agora é a vez de Caim: “E disse Deus: Que fi zeste? A voz do sangue do teu irmão clama a mim desde a ter-ra.” (4:10). Veja que a pergunta do Senhor é retórica. Ele sabe muito bem o que Caim fi zera, não só porque o sangue de Abel clamava. O Deus de Caim é o Deus onisciente.

Aplicação a sua vida: Caim não leva em consideração a visita do Senhor e seu carinho para com ele, orientando-o a agir bem. A ira e a inveja cegam a pessoa, não deixam ver as maravilhas que pode desfrutar. Assim como Caim, às vezes ignoramos a re-alidade de Deus em nossa vida e nos detemos em detalhes que nos prejudicam. Você já se viu em situações semelhantes? Co-mente.

Ser amigo é superior a ser ir-mão

Há aqui, no verso 10, uma rea-lidade muita séria que pode ser vista no hebraico. Aproveito a oportunidade para expor ago-ra algumas das possíveis lições que podemos extrair de Gêneses 4:10. O texto nos apresenta al-gumas verdades:

1. Deus dialoga com o fratricida Caim. Deus busca o pecador e procura trazê-lo de volta ao convívio consigo mesmo, independente do pecado que tenha cometido. Deus se mostra amigo;

2. A vida está além da morte, mas a morte física não ani-quila a vida;

3. Deus proíbe que falemos com os mortos, mas não proíbe que os mortos falem conosco. Mortos como Abel, Abraão, Isaque, Jacó, José, Moisés, Maria, Estevão têm muito a nos dizer. Os bons exemplos que deixaram continuam vi-vos na nossa memória e nos registros sagrados, para o nosso ensino. Na verdade, de acordo com Lucas 20:38, “Deus não é Deus de mortos, mas de vivos, pois para ele todos vivem”. Ele é o Deus de Abraão, Isaque, Jacó;

4. Outra lição de Gêneses 4:10 é que quem tira uma vida é como se destruísse o mundo inteiro. Esse texto se encon-tra no plural, em hebraico: “a voz dos sangues de teu irmão clama a mim desde a terra”. Isto signifi ca, de acordo com uma interpretação judaica que, no momento em que Caim mata Abel, ele mata o possível fi lho, neto, bisneto, trineto, tataraneto que Abel poderia ter tido. Eis aqui um importante ensino: A vida é extremamente preciosa. Ela pertence a Deus. O que pu-dermos fazer para preser-vá-la, estaremos com isso agradando a Deus.

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Aplicação a sua vida: Deus proíbe que falemos com os mortos, mas não proíbe que os mortos falem conosco. Mor-tos como Abel, Abraão, Isaque, Jacó, José, Moisés, Maria, Este-vão têm muito a nos dizer. Você vive de forma que quando mor-rer falará positivamente, pelo exemplo deixado, com os de seu convívio?

Ao tratar com o transgressor Adão, o Criador deixa claro que a terra se torna maldita (restri-ta) por causa do pecado dele. Agora é Caim que se torna mal-dito por causa da terra conta-minada com sangue humano: “E agora maldito és tu desde a terra, que abriu a sua boca para receber da tua mão o sangue do teu irmão.” (4:11). A palavra “sangue”, conforme o hebraico, permanece no plural. O Senhor não está amaldiçoando Caim. É apenas uma constatação divina que Caim precisa saber. A ter-ra (solo), de onde Caim tira seu sustento, é contra Caim a partir de agora.

O verso 12 confi rma que o lavra-dor Caim terá difi culdades em lavrar a terra, manchada com o sangue de Abel. Ele se tornará errante em busca de terra fe-cunda: “Quando lavrares a ter-ra, não te dará mais a sua força; fugitivo e vagabundo serás na terra.” (4:12). Caim se torna um “nod”, um errante, um ser sem amigos. Essa informação é im-portante para se compreender melhor o verso 16 que virá em

seguida na narrativa do Gêne-sis.

Aplicação a sua vida: Deus fala que Caim se torna um “nod”, um errante, um ser sem ami-gos. Como você entende o tipo de vida que Caim passa a ter daí em diante?

CONCLUSÃO

Não há nada superior à vida neste mundo criado por Deus. Caim poderia ter vencido a sua ira e inveja e ter poupado a vida do irmão. Não basta ser irmão de sangue. É preciso ser amigo.

Suporte para Pequenos Grupos

1- Como e quando passamos a saber que o erro é nosso e não dos outros?

2- O que signifi ca servir a vida?

3- Como podemos controlar a ira para não cair em pecado?

4- O que podemos fazer para preservar a vida?

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Estudo – 23

O DIÁLOGO DE UM TRANSGRESSOR Gênesis 4:13-17

INTRODUÇÃO

Este estudo tem como base Gê-nesis 4:13-17. Trata do primeiro e defi nitivo diálogo do transgres-sor Caim com o Criador. Dialo-gar com Deus é um privilégio. Especialmente, quando o diá-logo parte dele. Apesar do verso 17 pertencer a outra perícope (o trecho de um texto com sen-tido completo), à genealogia de Caim, o mesmo ajuda a elucidar os versos anteriores. Por isso, tal verso é considerado ao fi nal deste estudo.

O diálogo de um transgressor não garante arrependimento

Caim tem oportunidade de dia-logar com o Senhor antes de matar o irmão, mas a sua indife-rença fala mais alto. As três per-guntas divinas, feitas no capí-tulo 4:6,7, fi cam sem resposta. O conselho do Senhor também não é acatado. As duas pergun-tas dos versos 9 e 10 também não são respondidas a contento. Para a primeira: “Onde está teu irmão?”, temos um seco “não sei” com o acréscimo de uma pergunta-resposta própria de quem é culpado: “sou eu guar-dador do meu irmão?” Para a

LEITURAS DIÁRIASSegunda Gn.1. 1 a 11Terça Gn. 4.1 - 7Quarta Gn. 4. 8-17Quinta Gn. 4. 18-24Sexta Gn. 5. 1 - 5Sábado Gn. 20. 1- 12Domingo Gn. 20. 13 –18

segunda pergunta divina: “Que fi zeste?”, resta um eloquente si-lêncio.

Somente após entender que seu pecado traz consequências para si, é que Caim volta a co-municar-se com o Senhor. Diz ele: “É maior a minha maldade que a que possa ser perdoa-da.” (4:13). O termo “maldade” refere-se a “falta, transgressão, delito, crime, injustiça, pecado”, mas também “culpa, castigo, punição”. Caim pode tanto es-tar reconhecendo o seu pecado quanto pode estar enfatizando a punição que recebe pelo pe-cado. Nesse caso, o peso esta-ria na punição e não no delito. É como se ele estivesse dizendo que matar o irmão não deveria causar uma punição tão seve-ra. Vejamos os argumentos de Caim: “Eis que hoje me lanças

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DEUS E O RELACIONAMENTO COM A CRIAÇÃO |

da face da terra, e da tua face me esconderei; e serei fugitivo e vagabundo na terra, e será que todo aquele que me achar, me matará.” (4:14).

Aplicação a sua vida: Caim tem um comportamento típi-co de uma pessoa culpada que não se arrepende do que fez. Ele está tão centrado em si mesmo que só mantém um diálogo com Deus falando que sua puni-ção estava demasiada para ele. Você acha esse comportamento comum ou foi único? Comente.

Caim teme a morte. A sua pró-pria morte. Ele sabe o que é matar. Aprende isso da pior ma-neira. Mata um inocente sem causa. Esse inocente é seu ir-mão de sangue. Ele nem se lem-bra que Abel sequer existiu. Não bastasse a ira mortal que abri-gara no coração, ele agrega a esta o egoísmo. Ser um errante, um nod, é novidade para quem tem os pés fi xos no solo. Caim não se vê fora do contexto do campo. O campo, lugar de pro-dução de vida, é usado por Caim para produzir morte. A morte do irmão.

No verso 14, o autor usa duas palavras hebraicas para terra: Adamá (solo) e áretz (terra). A preocupação de Caim está em deixar a estabilidade do solo para se tornar um nômade. A palavra “todo” serve para indi-car tanto humanos quanto ou-tros seres. Portanto, o medo de Caim não se restringe ao encon-

tro com seres humanos apenas. Ele teme tudo e todos. Se ele é capaz de matar um inocente, então, qualquer pessoa ou ani-mal feroz que o encontrar terá o “direito” de matá-lo. A preo-cupação de Caim não é com o arrependimento e a mudança de vida. Sua preocupação é consigo mesmo, com sua sobrevivência numa terra agora tomada pela violência mortal, iniciada por ele. O egoísmo continua a impe-rar na vida do fratricida Caim. É possível que ele até esteja com remorso pela morte do irmão, mas sua tristeza diz muito mais respeito à sua condição de er-rante do que a condição do ir-mão assassinado por ele.

Aplicação a sua vida: A preo-cupação de Caim não é com o arrependimento e a mudança de vida. Sua preocupação é consi-go mesmo, com sua sobrevivên-cia numa terra agora tomada pela violência mortal, iniciada por ele. Podemos observar que essa situação de Caim é algo reincidente em nossa socieda-de. Como identifi car situações semelhantes e tomar decisão diferente da de Caim?

A afi rmativa: “da tua face me esconderei” levanta a crença antiga de que Deus estivesse circunscrito a uma determina-da região do planeta. Próximo ao jardim do Éden, nessa con-cepção, seria o lugar propício para o encontro com Deus. Na condição de errante, Caim teme estar escondido ou fora do al-

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cance divino. Pelo menos neste ponto, parece que a presença do Deus Criador importa. Importa porque signifi ca proteção. Caim é totalmente interesseiro. Con-tudo, ainda assim, ele demons-tra honestidade diante de Deus, apesar de ter mentido antes. As pessoas podem mudar e Deus sabe disso.

Aplicação a sua vida: Caim teme estar escondido ou fora do alcance divino. Ele assume que precisa da proteção divina. É verdade que é algo interessei-ro, mas, teve uma pequena mu-dança, agora, ele fala a verdade. Deus acredita na mudança do ser humano. Como você traba-lha essa verdade em sua vida?

O diálogo de um transgressor atrai a misericórdia do Cria-dor

O Senhor traz resposta a qual-quer que com Ele dialogue: “Por-tanto qualquer que matar a Caim, sete vezes será castigado. E pôs o Senhor um sinal em Caim, para que o não ferisse qualquer que o achasse. E saiu Caim de diante da face do Senhor, e habitou na terra de Node, do lado oriental do Éden.” (4:15,16). A fala do Senhor Deus a Caim não lhe parece satisfatória. Ela prevê a possível morte de Caim, a qual, se acontecesse, seria sete ve-zes castigada. Caim espera não morrer. Sabedor de seu desejo, o perdoador e bondoso Deus lhe apresenta um sinal de pro-teção. A partir dessa ação divi-na em favor de Caim, ninguém

ou coisa alguma que se encon-trasse com ele, nas jornadas pelo mundo afora, seria capaz de feri-lo. Não sendo ferido, não seria morto. Caim recebe do Se-nhor Deus, o Criador, um salvo--conduto. Ele pode perambular por onde quiser, sem ser morto. Há aqui um sinal da graça divi-na. É amor imutável e imerecido que se aplica na vida de Caim e de seus descendentes.

Conforme narro no livro Urim tumim: Introdução ao hebraico (2010, p.26),

Nesse verso [15], há uma preposição hebraica antes do nome Caim que signi-fi ca para, a, pertencente a, de. Portanto, a frase traduzida por ‘sinal em Caim’ seria melhor tradu-zida por ‘sinal para Caim’, isto é, o sinal dado por Deus pertenceria a Caim, sem apontar, necessaria-mente, para o fato de que seu corpo estaria marca-do de alguma forma.

O sinal de Caim é, sem dúvida, a proteção, de que ele precisa, assim como, o sinal de Noé era o de que ele precisava para com-preender que o Senhor não en-viaria mais dilúvio sobre a terra naquelas proporções. O sinal de Noé é conhecido de todos porque o autor sagrado não o oculta dos seus leitores. O sinal de Caim, contudo, só é conhecido pelo próprio Caim. Ninguém sabe do que se trata. De qualquer forma, os dois sinais apontam para a preservação da vida.

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Aplicação a sua vida: Ape-sar de Caim não ter ouvido a Deus, não se ter arrependido, Deus ainda é benevolente com ele colocando-lhe um sinal que o protegeria da morte. O sinal colocado em Caim não é visí-vel, como muitos pensam e sim uma marca que só ele e Deus identifi cam. Você tem algo que só você e Deus são capazes de compartilhar? Refl ita.

O diálogo de um transgressor tem repercussões

A vida continua na vida de Caim. Em 4:17 lemos: “E conheceu Caim a sua mulher, e ela conce-beu, e deu à luz a Enoque; e ele edifi cou uma cidade, e chamou o nome da cidade conforme o nome de seu fi lho Enoque;”. Este é o primeiro casamento mencio-nado em Gênesis após expulsão do jardim do Éden.

A questão do tempo continua irrelevante para o narrador. Um único verso é sufi ciente para narrar que a esposa de Caim concebe, dá à luz a Enoque e que já existe uma cidade com o nome do fi lho. Uma cidade pressupõe um grande núme-ro de pessoas da descendência de Caim e um lapso enorme de tempo entre o nascimento de Enoque e a formação da cidade, ainda que pequena.

Uma leitura simples do tex-to permite a percepção que em nenhum lugar é dito que Caim seja o primeiro fi lho de Adão e Eva, nem que Abel seja o segun-do fi lho. Se fosse assim, teria

que haver outros casais, além de Adão e Eva, para que Caim encontrasse uma esposa. Pelo poder do Criador, não há ne-nhuma necessidade que mais de um casal seja criado para dar origem a toda a raça humana. Para a raça humana, um casal. Para cada espécie animal, um par. Há espécies que não ca-recem de um par, como certas plantas, por exemplo. O ser hu-mano necessita de um casal que possa se reproduzir, para que a espécie continue a se multipli-car e garanta sua sobrevivência no planeta terra. Como a raça humana é única, não são várias raças em uma, um único casal é sufi ciente para povoar toda a terra. As mínimas diferenças entre as poucas etnias huma-nas não justifi cam a existência original de mais de um casal de humanos.

Aplicação a sua vida: O rela-cionamento entre um homem e uma mulher é evidenciado nes-se texto. Sabemos que a pro-criação da espécie humana só é possível com o encontro de um homem e uma mulher. Embora nos tempos atuais possamos perceber uma criatividade nas concepções, todas partem dos elementos de fecundação femi-ninos e masculinos. Partimos de um único casal e continu-amos assim crescendo. Como você tem contribuído para que essa verdade bíblica seja pre-servada, através de sua relação com o sexo oposto? Comente.

Essa história do primeiro fra-tricídio ocorrido no planeta ter-ra precisava ser registrada. Os

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estudiosos chamam esse tipo de relato de “etiologia”. As etio-logias são todos os primeiros relatos das origens das coisas. Gênesis de 1 a 11 é rico em etiologias. Tudo acontece pela primeira vez na história. Tudo é novidade. Não seria diferente com o primeiro fratricídio.

Em Gênesis 5:4 nós lemos que “Adão gerou fi lhos e fi lhas”. Pelo livro de Gênesis só conhecemos por nomes os fi lhos Caim, Abel e Sete. Caim e Abel aparecem por causa do fratricídio e Sete, porque signifi ca “presente” ou “compensação” pela morte de Abel. As realizações dos irmãos de Caim, Abel e Sete não mere-cem registro porque não acres-centam novidades originais. O narrador de Gênesis se concen-tra naquelas histórias que ilus-tram os começos, as origens, os acontecimentos primários que originam as histórias gerais.

Em Gênesis 4:12 Deus diz que Caim será “fugitivo”, em hebrai-co nod. No verso 16 diz que ele habitou na terra de nod. Onde Caim estivesse, ali seria a terra de nod, ou seja, a terra do fugi-tivo, do errante. Ele é o fugitivo, o errante. Veja que o verso 16 dá como referência geográfi ca para nod, o Éden. O verso 17 informa que Caim sai das proximidades do Éden casado e que, nas suas andanças, errante pelo mundo da época, ele “conhece a sua esposa”, ou seja, tem relações com ela e ela concebe o seu fi lho Enoque.

Caim se casa com uma paren-te. É comum, no início da his-tória humana, casamento entre

irmãos, tios, primos etc. O pró-prio Abraão, o qual é mais ou menos do ano 1900 a.C. casa-se com sua meio irmã Sarah, fi lha de seu pai com outra esposa (Gn 20:12).

Aplicação a sua vida: O nar-rador de Gênesis relata vários fatos “etiológicos”. Sabemos que hoje difi cilmente faríamos parte dessa narrativa, mas, somos os milhões de pessoas que com-põem a história. Qual exemplo você tem seguido para escrever a sua?

CONCLUSÃO

O Criador se compadece de to-dos, inclusive dos piores trans-gressores. A iniciativa do diálo-go é dele, e o objetivo divino é alcançar e resgatar o transgres-sor. Mesmo não havendo efeti-va mudança dos transgressores com quem dialoga, o Criador não recolhe o seu amor gracioso.

REFERÊNCIAARAUJO, Tarcisio Caixeta de. Urim tumim: introdução ao hebraico. Belo Horizonte: Edição do Autor, 2010.

Suporte para Pequenos Grupos

1- O que sentimos quando fala-mos com Deus?

2- Quando tememos a morte o arrependimento é mais fácil? Por quê?

4- Deus sempre nos procura para um conserto, temos dado ouvido a Sua voz?

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Estudo – 24

BREVE GENEALOGIAGênesis 4:17-24

INTRODUÇÃO

Este estudo tem como base Gênesis 4:17-24. Trata da des-cendência de Caim (uma breve genealogia) e da proliferação do pecado no mundo. Apesar de o verso 17 ter sido considerado no estudo anterior, ele compõe aqui a genealogia de Caim.

As genealogias comunicam vida

Antes de entrar na genealogia de Caim propriamente dita, ve-jamos a importância das genea-logias em geral, e o que elas de fato signifi cam. Para isso, tomo emprestadas as informações contidas no livro Flor de Papiro (2013, p.52;34,35).

Segundo o Aurélio, citado por Araujo (2013), genealogia sig-nifi ca série de antepassados; estirpe, linhagem, origem. As genealogias, portanto, comuni-cam vida. É o resultado de que a bênção do Criador atinge a tudo e a todos. Genealogia é expressa por nomeações, por nomes atri-buídos aos descendentes. É vida que se transfere dos pais aos fi -lhos e a seus descendentes.

LEITURAS DIÁRIASSegunda Gn.4. 17-24Terça IISm. 12.1-23Quarta IISm. 12. 24-31Quinta Gn. 27.26-36Sexta Gn. 32. 22-32Sábado Gn.17.1-7Domingo Rt. 1. 1-21

Os nomes, no contexto hebrai-co, são dados às crianças pelos pais em diferentes circunstân-cias: Antes do nascimento da criança; depois do nascimento; após uma mudança na vida da criança ou dos pais; antes ou depois de uma circunstância qualquer. Os nomes são mu-dados sempre que um evento importante acontece na vida de uma pessoa, não importando a sua idade nem a sua condição social.

Aplicação a sua vida: O nome no contexto hebraico poderia ser mudado a qualquer momen-to segundo a situação. Em nos-so contexto o nome é escolhido por pais ou parentes. Você co-nhece a história que envolve o seu nome?

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Não há sobrenomes nos tem-pos bíblicos. Uma pessoa é co-nhecida pelo nome do pai. Por exemplo, Jacó é conhecido como Jacó fi lho de Isaque; Isaque fi -lho de Abraão; Abraão fi lho de Terá e assim por diante. A refe-rência se faz em relação ao pai e não a um segundo ou terceiro nome. Se alguém pergunta em hebraico, a língua principal do Antigo Testamento, pela idade de outrem, o faz da seguinte forma: “você é fi lho a quanto tempo?” ou “você é fi lha a quan-to tempo?” O tempo de vida de alguém é pensado em relação ao seu progenitor. Os anos de existência de nascido remetem à existência daqueles responsá-veis por gerar a vida. Caim seria conhecido sempre como Caim, fi lho de Adão.

Aplicação a sua vida: Em pro-porções diferentes, porém com importância parecida, a família nos tempos bíblicos e em nos-sos tempos faz muita diferença em nossa vida. Comente o sig-nifi cado que tem seus pais para você?

As genealogias, na Bíblia, ilus-tram o valor da vida. A palavra hebraica para genealogia [tole-doth] vem do verbo yalad: dar à luz, gerar, produzir, procriar, es-tar em trabalho de parto, e pode signifi car: genealogias, descen-dentes, gerações; história, gê-nese, origem, ordem de nasci-mento. A primeira genealogia apresentada na Bíblia está em Gênesis 2:4. Curiosamente, não

se trata da genealogia de Adão e Eva e sim das genealogias [ori-gens] dos céus e da terra.

As listas genealógicas preser-vam os nomes das pessoas ou dos seres. Cada coisa ou ser, animado ou inanimado, espiri-tual ou físico, tem um nome que lhe é próprio. No contexto he-braico, cada nome tem um sig-nifi cado. O vocábulo nome, em hebraico, signifi ca fama, reputa-ção. Dizer o nome de alguém, no tempo bíblico, é informar a fama ou reputação que essa pessoa tem na família ou na sociedade. A fama está ligada a algum fato ocorrido na vida da pessoa, da família ou do povo de Israel.

Aplicação a sua vida: No con-texto hebraico, cada nome tem um signifi cado de fama ou re-putação de alguém na família ou na sociedade. Como pode-mos identifi car a fama ou repu-tação de uma pessoa em nossos tempos?

Na Bíblia, uma pessoa muda seu próprio nome caso sua si-tuação, ou seja, sua fama ou re-putação, também mude. Noemi, no livro de Rute, por exemplo, tem a reputação de ser doce, agradável. Sua fama passa a ser amarga, porque na sua ex-periência de peregrinação aos campos de Moabe em busca de sobrevivência, ela perde marido e fi lhos. Sua reputação só volta a mudar após o nascimento de seu fi lho adotivo Obede, quan-do ela se sente “doce” novamen-

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te. Ela própria é quem sugere a mudança de reputação para a sua pessoa.

Jacó tem a fama de aquele que vem agarrado ao calcanhar ou suplantador. Depois de um en-contro inesquecível com Deus, sua fama ou reputação passa a ser príncipe de Deus. Salomão, fi lho de Davi com Bate-Seba, re-cebe a fama de pacífi co. Ele her-da essa fama porque não morre no nascimento, como acontece-ra antes com seu irmãozinho. Posteriormente, na condição de rei de todo o Israel, Salomão ja-mais guerreia, fazendo jus à sua fama ou reputação de pacífi co. Davi está comunicando ao mun-do, ao nomear seu fi lho como Salomão, que Deus está em paz com ele novamente, poupando--lhe o fi lho. Após alguns dias do nascimento de Salomão Deus envia o profeta Natã para dar uma nova fama ou reputação ao recém-nascido, a saber, Je-didias, amado do Senhor (II Sm 12:25). A reputação “amado” é também a fama de Davi. O Deus que traz a paz é aquele que tam-bém ama continuamente. Salo-mão, o pacífi co, seria conhecido também, por seus amigos e por ele mesmo, como amado do Se-nhor.

Aplicação a sua vida: Em nosso tempo, embora não possamos mudar o nome, salvo situações específi cas, a reputação pode e em alguns casos deve ser mu-dada. O encontro com Jesus é uma situação que muda nossa reputação. Você já experimen-tou essa mudança? Como?

As genealogias trazem sentido à existência

Voltemos agora a Gênesis 4. No verso 18 começa a genealogia de Caim: “E a Enoque nasceu Irade, e Irade gerou a Meujael, e Meujael gerou a Metusael e Metusael gerou a Lameque.” Sa-ber o signifi cado dos nomes nos ajuda a ter uma ideia da fama ou reputação de cada persona-gem. Principalmente quando nada é dito dessa pessoa, além do nome.

De acordo com Benjamin Davi-dson (1997), Enoque signifi ca “iniciado” ou “instruído’; Irade, “jumento selvagem”; Meujael, “afl igido de Deus”; Metusael, “homem de Deus”. Para o nome Lameque não se apresenta sig-nifi cado. Contudo, alguns sites levantam algumas possibilida-des quanto ao nome Lameque: “pobre”, “que fi ca abaixo”, “sem esperança” ou “jovem forte”. Es-ses possíveis signifi cados têm a ver com a fama ou reputação de Lameque, o tataraneto de Caim por parte de Enoque, como vere-mos adiante.

Pelo signifi cado dos nomes, sa-bemos que Caim gera pessoas boas e más como acontece em qualquer família. Enoque, que dá origem à primeira cidade des-crita na Bíblia, tem a fama ou reputação de “iniciado” ou “ins-truído”. Seu fi lho Irade é um “ju-mento selvagem”, uma pessoa indomável? O neto de Enoque é Meujael, “afl igido de Deus”. Cer-

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tamente Meujael é um homem doente. Por outro lado, Metusael signifi ca “homem de Deus”. Pelo signifi cado dos nomes, fi camos sabendo que, na linhagem de Caim, há também pessoas que servem a Deus.

Aplicação a sua vida: Pelo sig-nifi cado dos nomes, fi camos sabendo que, na linhagem de Caim, há pessoas que servem a Deus. Sabemos que a genea-logia não nos engessa a sermos continuadores de situações de-sagradáveis. A livre escolha está sempre presente. Qual escolha você tem feito, referente à sua genealogia? Comente.

A vida de Lameque é peculiar: É o primeiro registro de bigamia na Bíblia. Énos apresentado no-minalmente o patrono dos pe-cuaristas, dos artistas e dos fer-reiros (apontando também para a ideia de violência por meio da guerra), e o registro de três no-mes femininos, depois de Eva: Ada, Zilá e Noema. Assim lemos: “E tomou Lameque para si duas mulheres; o nome de uma era Ada, e o nome da outra, Zilá. E Ada deu à luz a Jabal; este foi o pai dos que habitam em ten-das e têm gado. E o nome do seu irmão era Jubal; este foi o pai de todos os que tocam harpa e órgão. E Zilá também deu à luz a Tubalcaim, mestre de toda a obra de cobre e ferro; e a irmã de Tubalcaim foi Noema.” (4:19-22).

Baseado ainda em Benjamin Davidson (1997), Ada é “orna-

mento”; Zilá, “sombra” e Noe-ma, “agradável”. Jabal é “ria-cho”; Jubal, “rio” e Tubalcaim, “propagação de Caim”. O nome Caim que, inicialmente, sig-nifi ca “adquirido”, está ligado também a “espada” ou “lança”, apontando para a belicosidade. Nesse sentido último, Tubal-caim representa a propagação da capacidade de matar.

Aplicação a sua vida: Vemos que também há pessoas que es-colhem permanecer ou mesmo aprimorar o erro de seus ante-passados. Tubalcaim represen-ta a propagação da capacidade de matar. Como você tem trans-formado o lado negativo de sua genealogia?

Apesar de violento, Lameque abre o coração para suas duas esposas: “E disse Lameque a suas mulheres Ada e Zilá: Ouvi a minha voz; vós, mulheres de La-meque, escutai as minhas pala-vras; porque eu matei um homem por me ferir, e um jovem por me pisar. Porque sete vezes Caim será castigado; mas Lameque setenta vezes sete.” (4:23,24). Um homem e uma criança são assassinados por Lameque por causa de uma contusão ou fe-rimento. De acordo com o verso em hebraico, não fi ca claro que a contusão tenha sido causada pelas vítimas. Ao pé da letra, le-mos: “Minha contusão” e “meu ferimento”. Que Lameque está ferido, não temos dúvidas. Que ele é assassino confesso, tam-bém não. A causa possível que

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o leva a assassinar é o ferimen-to. De forma implícita, se traduz que o homem e o menino mortos são os causadores de tal ferida.

O verso 24 levanta a hipótese de que, apesar de assassino con-fesso por motivos banais, La-meque espera um favor ainda maior que aquele dado a Caim, seu tataravô. Caso ele viesse a ser morto por seus crimes, ele seria digno de ser vingado se-tenta vezes sete. Por outro lado, Lameque pode ter interpretado mal o favor divino sobre Caim. Ele teria entendido que Caim merecia ser castigado sete vezes por seu fratricídio. Ele, portan-to, setenta vezes sete. Se assim for, ele entendera seu grave pe-cado. De qualquer forma, essa história mostra a propagação do pecado.

É curioso que, na genealogia de Caim, não se fala em morte dos descendentes dele. A morte está presente via assassinato de três pessoas: Abel, e dois anônimos apresentados por Lameque. É como se o narrador quisesse chamar a atenção do leitor para o fato de que relatar três assas-sinatos vale mais que falar da morte de doze pessoas citadas nominalmente. Tirar uma vida é destruir gerações.

Aplicação a sua vida: O nar-rador relata apenas a morte de Abel e desses dois anônimos por Lameque. Como já pudemos ver, o tirar a vida é destruir ge-rações. Como você entende essa afi rmativa? Comente.

CONCLUSÃO

Quando lemos as genealogias, levando em conta o signifi ca-do dos nomes, apreendemos um pouco da fama ou reputa-ção das personagens, mesmo daquelas que nada é dito pelo narrador. As genealogias co-municam que Deus, o Criador, continua preservando a vida dos seres humanos, apesar das más escolhas de cada um de nós.

REFERÊNCIAARAUJO, Tarcisio Caixeta de. Flor de papiro. São Paulo: Scortecci, 2013.DAVIDSON, Benjamin. The analyti-cal Hebrew and Chaldee léxicon. Peabody, Ma: Hendrikson, 1997.

Suporte para Pequenos Grupos

1- Conte um pouco sobre sua genealogia?

2- Qual importância você tem dado a sua família?

4- O que de mais importante você herdou dos seus pais?

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Estudo – 25

O NOME DO SENHOR É INVOCADOGênesis 4:25,26; 5:1-24

INTRODUÇÃO

Este estudo tem como base Gê-nesis 4:25,26 que trata de um remanescente fi el e da invoca-ção do nome do Senhor; e o ca-pítulo 5:1-24, parte da genealo-gia de Adão e Eva.

Invocação dos piedosos

Em Gênesis 4:25,26 nasce Sete, parte de sua descendência é apresentada e somos informa-dos de que: “então se começou a invocar o nome do Senhor”. No capítulo 5, porém, a genea-logia de Adão e Eva é apresenta-da sem mencionar Caim e Abel. Sete, que aparece em 4:25, vol-ta a ser citado em 5:3. Por que acontece isso? Por que os fatos não são registrados em ordem cronológica? A não preocupação com cronologia acontece por-que o narrador registra aquilo que traz algum ensino e enfatiza algum ponto da sua narrativa. A ênfase no capítulo 5 está na linhagem piedosa de Sete. Por isso, Caim e Abel não são men-cionados.

Como leitor (a) da Bíblia, cien-te de como o narrador escre-ve o texto, você compreenderá melhor aquilo que parece fora de ordem. Compreenderá tam-

LEITURAS DIÁRIASSegunda Gn. 4.25,26Terça Gn.5.1- 5Quarta Gn.5. 6 -11Quinta Gn.5.12-17Sexta Gn.5.18-24Sábado Gn.5.25-27Domingo Gn.5.28-32

bém o que está nas entrelinhas, mas que pode ser percebido na narrativa como um todo, ou por meio de interpretação.

Os versos 25 e 26 de Gênesis 4 afi rmam: “E tornou Adão a co-nhecer a sua mulher; e ela deu à luz um fi lho, e chamou o seu nome Sete; porque, disse ela, Deus me deu outro fi lho em lu-gar de Abel; porquanto Caim o matou. E a Sete também nasceu um fi lho; e chamou o seu nome Enos; então se começou a invo-car o nome do Senhor.”

O nome Sete [heb. Shet] quer dizer: “compensação” ou “pre-sente”. Se você leu o verso 25 com atenção, percebeu que Eva é quem dá nome ao novo fi lho. A mesma capacidade que Adão tem de nomear os seres (2:20) está presente em sua esposa. Apesar da limitação sofrida de-vido ao pecado não é tirado da

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mulher essa prerrogativa pró-pria dos seres humanos: A de nomear os seres. Sete gera um fi lho e lhe nomeia Enos, “ser humano”. Enos resgata, ainda que de forma parcial e limitada, a dignidade humana perdida no Éden. A partir dele a invocação ao nome do Senhor é feita.

Aplicação a sua vida: Apesar da limitação sofrida devido ao pecado, não é tirado da mulher a prerrogativa própria dos se-res humanos: “A de nomear os seres”. Eva da nome a seu fi lho Sete, gera a Enos e resgata, ain-da que de forma parcial e limi-tada, a dignidade humana per-dida no Éden. Qual dignidade o autor está falando?

Todo relato anterior ao capítu-lo 4:26 de Gênesis apresenta o Criador criando, cuidando, dan-do ordem, orientando, indo em busca do ser humano desobe-diente. É a primeira vez que os seres humanos invocam o nome do Senhor. Caim e Abel, antes de Enos, oferecem sacrifícios, mas não os vemos clamando ao Senhor. É possível que tenham feito isso, mas o narrador só vê necessidade de registrar essa realidade a partir da geração de Sete e seus descendentes, uma geração de piedosos.

Aplicação a sua vida: Embora Abel e Caim tenham oferecido sacrifícios a Deus, é na geração de Sete que se busca um rela-cionamento com Ele. O quanto você está empenhado em dar continuidade a essa ralação? Refl ita.

Assim, entramos no capítulo 5. Temos aqui o registro da gene-alogia de Adão, tomando Sete como referência: “Este é o livro das gerações de Adão. No dia em que Deus criou o homem, à semelhança de Deus o fez. Ho-mem e mulher os criou; e os abençoou e chamou o seu nome Adão, no dia em que foram cria-dos.” (5:1,2).

Em 4:25, Eva dá nome ao fi lho. Em 5:2, Adão e Eva são conhe-cidos como “Adão”, hebraico adam, humanidade. O texto diz que o casal, homem e mulher (heb. masculino e feminino), é chamado de “Adão”, “no dia em que foram criados”. No ato da criação, o casal é reconhecido como “humanidade”. Eles têm sua origem no Criador. Ambos, homem e mulher, são criados por Deus; são sua semelhança (veja que a palavra “imagem” não é usada aqui, por ser um possível sinônimo de “semelhan-ça”); são abençoados e recebem o nome de “Adão” [heb. adam = ser humano]. O nome Adão, portanto, antes de caracterizar e nomear o masculino, nomeia os dois gêneros. Posteriormente, os nomes são defi nidos. Adão passa a designar o masculino e Eva, o feminino. No capítulo 5, no entanto, não há tal distinção.

Nesta perspectiva, quando o verso 3 afi rma: “E Adão viveu cento e trinta anos, e gerou um fi lho à sua semelhança, confor-me a sua imagem, e pôs-lhe o nome de Sete.”, entendemos

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que o termo “Adão” trata da raça humana, a qual gera Sete e não uma referência exclusiva ao masculino. Há aqui uma pista de que a contagem de anos, no início da história da humanida-de, se faz com a soma dos anos vividos pelo marido, pela esposa e pelos fi lhos que ainda vivem sob a tutela dos pais. Em algum momento, os fi lhos se casam e começa assim um novo clã, uma nova contagem de anos. Pode signifi car também que, essa contagem é desmembrada quando da morte do patriarca principal do cIã. No caso que estamos tratando aqui, signifi -ca o seguinte: Assim que Adão morre, conclui-se a contagem dos anos de sua família ou clã e novas contagens recomeçam em relação a seus fi lhos e famílias. Não se trata de uma doutrina sobre a longevidade dos seres humanos no início da história desses no planeta terra, porque não temos outros textos que re-forçam tal ideia.

Os versos 4 e 5, se lidos na perspectiva de um clã, apontam que a soma dos anos de vida de Adão, Eva, Sete e demais fi lhos, a essa altura, somam oitocentos anos. Assim lemos: “E foram os dias de Adão, depois que gerou a Sete, oitocentos anos, e gerou fi lhos e fi lhas. E foram todos os dias que Adão viveu, novecentos e trinta anos, e morreu.”

É a primeira vez que se diz que alguém morre, sem ser assassi-nado. É a primeira vez também

que se fala da geração de “fi lhos e fi lhas”, sem que se mencione qualquer nome nesse sentido. A morte é tratada de forma dis-creta e natural. Não se fala em choro ou sofrimento por esse tipo de morte. A terra está apta a receber seu semelhante, o ser humano, criado do solo e do pó da terra. Diferente do sangue de Abel, derramado fora do tem-po. Abel não tem tempo de ter descendentes. Isto confunde a terra.

Aplicação a sua vida: A morte natural é tratada de forma dis-creta. Não há choro ou lamento, a terra está preparada para re-ceber seu semelhante. Diferente dos dias atuais, em que não nos preparamos para perder nossos entes queridos. Como devemos nos preparar para que essa se-paração seja menos sofrida?

A genealogia de Adão continua a ser relatada, mas a contagem de anos migra de “Adão” para “Sete”: “E viveu Sete cento e cin-co anos, e gerou a Enos. E viveu Sete, depois que gerou a Enos, oitocentos e sete anos, e gerou fi lhos e fi lhas. E foram todos os dias de Sete novecentos e doze anos, e morreu.” (5:6-8).

Seguindo o princípio de não mencionar o nome das esposas e de “fi lhos e fi lhas”, lemos so-bre a genealogia de Enos: “E vi-veu Enos noventa anos, e gerou a Cainã. E viveu Enos, depois que gerou a Cainã, oitocentos e quinze anos, e gerou fi lhos e

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fi lhas. E foram todos os dias de Enos novecentos e cinco anos, e morreu.”(5:9-11). Cainã sig-nifi ca: “ferreiro” ou “forjador de metais”.

Na genealogia do ferreiro Cai-nã, temos Maalaleel, louvor de Deus: “E viveu Cainã setenta anos, e gerou a Maalaleel. E vi-veu Cainã, depois que gerou a Maalaleel, oitocentos e quarenta anos, e gerou fi lhos e fi lhas. E foram todos os dias de Cainã no-vecentos e dez anos, e morreu.” (5:12-14).

Aplicação a sua vida: A gene-alogia é muito importante para o relato bíblico. Assim podemos perceber o cuidado de Deus para com o ser humano e o re-lacionamento deste com Ele. O seu relacionamento com Deus sugere à sua geração um exem-plo a ser seguido?

Invocação daqueles que des-cem

A invocação do nome do Senhor Deus, o Criador, é feita primor-dialmente por aqueles e aquelas que buscam uma vida piedosa. Por outro lado, a primeira vez em que qualquer ser humano invoca o nome do Senhor, o faz a partir da não invocação. Seu passado de não adoração tem início em um dado momento his-tórico. Assim, aqueles e aquelas que vivem uma vida dissoluta, uma ética que aponta para uma descida espiritual, tem, da par-

te do Criador, oportunidade de invocar o seu nome a qualquer tempo. A invocação do nome do Senhor, portanto, não é proprie-dade exclusiva dos piedosos.

Aplicação a sua vida: Há um fato interessante na colocação do autor. Há sempre um iní-cio para que ocorra a invoca-ção do nome do Senhor. Qual foi esse momento em sua vida? Comente.

A genealogia de Maalaleel nos apresenta Jarede, cujo signifi -cado de “descida” pode apontar para alguém que tenha saído da conduta esperada: “E viveu Ma-alaleel sessenta e cinco anos, e gerou a Jerede. E viveu Maala-leel, depois que gerou a Jerede, oitocentos e trinta anos, e gerou fi lhos e fi lhas. E foram todos os dias de Maalaleel oitocentos e noventa e cinco anos, e morreu.” (5:15-17). Por outro lado, Ja-rede, descida, gerou Enoque, o iniciado. Nem sempre uma des-cida tem conotações espirituais, éticas ou morais. Alguém pode descer geografi camente, por exemplo. Temos que ter cuidado com o nosso julgamento.

Assim lemos da genealogia de Jarede: “E viveu Jerede cento e sessenta e dois anos, e gerou a Enoque. E viveu Jerede, depois que gerou a Enoque, oitocentos anos, e gerou fi lhos e fi lhas. E fo-ram todos os dias de Jerede no-vecentos e sessenta e dois anos, e morreu.” (5:18-20).

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Aplicação a sua vida: Nossa genealogia fala muito alto com referência ao exemplo. Como tem sido seu exemplo em famí-lia, seus descendentes poderão seguir seus exemplos?

Por ter sido um homem que “an-dou com Deus”, a fama de “ini-ciado”, dada a Enoque, remete a alguém iniciado nos assuntos e interesses divinos. Quem o teria iniciado? Não teriam sido a sua mãe e seu pai, cujo signifi cado aponta para uma “descida”? Assim lemos: “E viveu Enoque sessenta e cinco anos, e gerou a Matusalém. E andou Enoque com Deus, depois que gerou a Matusalém, trezentos anos, e ge-rou fi lhos e fi lhas. E foram todos os dias de Enoque trezentos e sessenta e cinco anos. E andou Enoque com Deus; e não apare-ceu mais, porquanto Deus para si o tomou.” (5:21-24).

De todos os personagens da li-nhagem de Sete, Enoque é de quem o narrador mais fala. Ele interrompe o ciclo da morte. Enoque comunica que há espe-rança de vitória sobre a morte. O verbo “morreu” volta a fazer parte da genealogia de Enoque, a partir de seu fi lho Matusalém, “homem de dardo/fl echa”. Seria esta a indicação de que Matu-salém se envolvera com guerra, portanto, com a morte?

Aplicação a sua vida: Em Eno-que podemos vislumbrar a pos-sibilidade da interrupção da morte. Sua vida sugere uma vida de total intimidade com Deus, Inspiração para todos que vieram e vierem após ele. Você tem buscado essa intimi-dade com Deus? Comente.

CONCLUSÃO

O gracioso Criador permite que seu nome seja invocado por qualquer um que dele preci-se. Tanto os descendentes de Sete quanto os descendentes de Caim têm a oportunidade de invocarem e servirem o Deus Criador. A invocação do nome (fama, reputação) do Senhor é uma questão de necessidade e livre escolha.

Suporte para Pequenos Grupos

1- O que fazer para invocar o nome do Senhor?

2- Você têm invocado o nome do Senhor com que fi nali-dade?

3- O que será dos seus her-deiros se dependerem do seu modo de viver hoje?

4- Fale sobre alguém que foi um belo exemplo de fé para você.

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Estudo – 26

NOÉ, ADÃO E CRISTOGênesis 5:25-32

INTRODUÇÃOEste estudo trata da última par-te da genealogia de Adão-Sete, conforme Gênesis 5:25-32. Tra-tamos da parte mais extensa da genealogia de Adão, Gênesis 5, no estudo 25.

De Adão a NoéA genealogia de Adão vai até Noé. Noé, diferente de Adão, obedece em tudo ao que Deus determina. Sua integridade contribui para que ele construa a arca e salve a humanidade da perdição. Em Adão, a humanidade se per-de. Em Noé, a raça humana se salva. Evidente que tanto Adão quanto Noé e seus descendentes estão sujeitos a cometer peca-do contra o Criador, no jardim e fora dele; na arca e fora dela. O livre-arbítrio, criação divina, dá ao ser humano liberdade de escolha. Aqueles e aquelas que escolhem a obediência ao Cria-dor terão dele apoio irrestrito. A meta do Criador é a vida. A vida é ilustrada nas genealogias.

Aplicação a sua vida: A meta do Criador é a vida. A vida é ilustrada nas genealogias, mas estas não podem defi nir nossas escolhas. O escolher viver em integridade e obediência a Deus é sabedoria. Como você tem fei-to suas escolhas? Comente.

LEITURAS DIÁRIASSegunda Gn. 5.25-32Terça Gn. 8. 15-22Quarta Gn.9. 20- 29Quinta Sl. 100.1-5Sexta Lc.3.23-30Sábado Lc. 3. 31-38Domingo ICor. 15.42-49

Ler com atenção as genealogias, não como nomes aleatórios, nos ajuda a entender melhor a histó-ria do povo da Bíblia e de como a vida é extremamente relevante. Esperamos que sua concepção, como estudioso (a) da Bíblia, a respeito da leitura e compreen-são das genealogias seja revista após este estudo. Que das pró-ximas vezes em que ler a Bíblia toda, realmente a leia toda, isto é, que inclua também as gene-alogias, se você é daqueles que saltam as genealogias e recen-seamentos bíblicos. Genealogia fala de vida. Fala da fama de ca-da personagem. Fala de sua re-putação. Os nomes conectam-se a história. Na realidade, sem a presença do ser humano e suas intervenções, nenhuma história seria possível. O conhecimento é produzido e mediado pelo ser humano.

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Aplicação a sua vida: A gene-alogia fala de vida, da presença do ser humano e suas interven-ções na história, sem as quais não há sentido. Como você tem escrito a sua história para as novas gerações?

O primeiro nome deste estudo é Matusalém, famoso por ter vivi-do mais do que todos os listados na Bíblia, 969 anos. Ainda que a contagem dos anos, no princípio da história humana na terra, te-nha sido a soma das idades do pai, da mãe e dos fi lhos, Matu-salém e/ou sua família supera aos demais em longevidade. Nem mesmo Adão viveu tanto sobre o maravilhoso planeta terra. A vida, contudo, há de ser mais que quantidade. Qualidade de vida, na presença de Deus, há de ser a meta daqueles e daquelas que têm certeza da vida eterna, ou mesmo de quem não tem cer-teza, mas que é alcançado pelo amor e pela misericórdia salva-dora do Senhor Jesus. A não cer-teza da salvação, por parte dos salvos, não conduz à perdição, assim como, a certeza em si, não garante a salvação. A incerteza, no entanto, faz desses salvos inseguros, menos confi antes na efi cácia do sacrifício único e de-fi nitivo do Senhor por eles, e, o que é pior, pode levá-los a agir como se fossem capazes de se auto salvarem por meio de seu esforço inútil. Por outro lado, certezas também não garantem salvação. Certas certezas não passam de arrogância. A certeza piedosa e humilde, aquela que

deposita no Senhor toda a obra redentora, que confessa e se en-trega aos cuidados dele, que re-conhece a soberania e amor gra-cioso do Redentor, esta é própria dos salvos. O Criador não carece de nossas certezas. Salvação tem a ver com ação do Deus Cria-dor em resgatar suas criaturas, como resgata Adão, Eva e Caim. Ele vai ao encontro dos três de-sobedientes, Ele oferece perdão, proteção e cuidado.

Aplicação a sua vida: A certeza da salvação piedosa e humilde, aquela que deposita no Senhor toda a obra redentora, que con-fessa e se entrega aos cuidados dele, que reconhece a soberania e amor gracioso do Redentor, é própria dos salvos. Você tem essa certeza? Comente.

Com os nomes listados em Gê-nesis 5, assim como com todos os nomes de todos os tempos, o Criador está por perto a oferecer salvação. Salvação em todos os sentidos possíveis. Matusalém e sua descendência pode contar com os préstimos do Criador.

O nome Matusalém fala de sua fama ou reputação de ser “um homem de dardo”. Por ser o dar-do uma arma (haste de madeira com uma ponta de ferro), enten-demos que Matusalém está en-volvido, de alguma forma, com armas. Independentemente de sua profi ssão, Matusalém gera vida e, semelhante aos seus an-tepassados, experimenta a mor-te. A morte, mais uma vez, é tra-tada de forma natural. A morte

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física faz parte do ciclo da vida. Assim lemos sobre a genealogia de Matusalém: “E viveu Matusa-lém cento e oitenta e sete anos, e gerou a Lameque. E viveu Matu-salém, depois que gerou a Lame-que, setecentos e oitenta e dois anos, e gerou fi lhos e fi lhas. E foram todos os dias de Matu-salém novecentos e sessenta e nove anos, e morreu.” (5:25-27). Se você observou bem os versos 25 a 27, viu dois detalhes im-portantes, que aparecem nos relatos dos outros nomes nesta genealogia: Primeiro, o texto diz que Matusalém “viveu”; segun-do, e “foram todos os dias” dele 969 anos. Falaremos sobre isso mais adiante.

Dos muitos fi lhos e fi lhas que

Matusalém gera, encontramos Lameque, de signifi cação incer-ta. Conforme dissemos no es-tudo 24, é possível que o nome Lameque expresse a fama ou reputação de alguém “que fi ca abaixo”, “pobre”; “sem esperan-ça” ou de um “jovem forte”.

O primeiro Lameque bíblico é tataraneto de Caim. O Lameque da genealogia de Matusalém é o pai de Noé. Sua genealogia é apresentada da seguinte forma, “E viveu Lameque cento e oitenta e dois anos, e gerou um fi lho, a quem chamou Noé, dizendo: Este nos consolará acerca de nossas obras e do trabalho de nossas mãos, por causa da terra que o Senhor amaldiçoou. E viveu La-meque, depois que gerou a Noé, quinhentos e noventa e cinco anos, e gerou fi lhos e fi lhas. E foram todos os dias de Lameque

setecentos e setenta e sete anos, e morreu.” (5:28-31).

É a segunda vez em que um ex-plicativo fundamental é dado em relação ao fi lho que apare-ce nominalmente na genealogia de Gênesis 5. Curiosamente, os dois explicativos têm a ver com Matusalém. O primeiro se refere a Enoque, pai de Matusalém, e o segundo, a Noé, o neto mais famoso de Matusalém. A relação familiar é o vínculo mais respei-tado na cultura hebraica. Ser fi lho ou fi lha é tão importante que, em hebraico, quando você pergunta a idade de alguém, você pergunta: Você é fi lho há quanto tempo? Você é fi lha há quanto tempo? O tempo de vida de uma pessoa se mede por sua relação com o pai e a mãe. À guisa de curiosidade, na Coreia do Sul, a contagem dos anos de vida se conta a partir da concep-ção. Quando o bebê nasce, ele é reconhecido como uma pessoa que tem um ano de vida. Ao se celebrar o primeiro ano de nas-cida, a criança coreana comple-ta dois anos e não um. A refe-rência, na cultura coreana, é a vida e não o nascimento.

Aplicação a sua vida: Obser-vamos que a cultura diz muito a respeito da visão de vida que cada um tem. Para os hebreus, os pais são a referência, para os coreanos, a concepção é mais importante que o nascimento. Para nós cristãos temos um novo nascimento a comemorar. Você é capaz de identifi car e comemorar esse novo nasci-mento?

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| TARCÍS IO CAIXETA DE ARAÚJO

O nome Noé é dado como uma profecia por parte de Lameque, uma profecia que fala de duas realidades antagônicas: Mal-dição da terra e futuro conso-lo aos trabalhadores do solo. Nesse sentido, a fama Lameque poderia signifi car tanto “sem es-perança” antes do nascimento de Noé e “jovem forte” esperan-çoso após o nascimento de Noé. Aparentemente, o nome Noé vem da raiz hebraica nwh, de onde temos a palavra “descan-so”. Contudo, o narrador é claro a nos informar que seu nome é Noé, porque ele “nos consolará acerca de nossas obras e do tra-balho de nossas mãos”. O ver-bo consolar, da raiz nhm, gera o vocábulo “consolo”. Noé traz consolo ao mundo, mas não traz “descanso”.

Noé, assim como seus ante-passados, tem vários irmãos e irmãs. Contudo, pelo que sabe-mos de sua história, nenhum deles dá ouvidos ao irmão con-solador. Nenhum deles imita a integridade de Noé. Caso contrá-rio, os encontraríamos na arca, no futuro da história de Noé, de sua esposa, fi lhos e noras.

Aplicação a sua vida: O signifi -cado da palavra Noé é consolo. Embora seja consolo vimos que seus irmãos e irmãs não deram ouvido a sua pregação falava. Em sua família você tem en-frentado experiência parecida? Comente.

De Noé a nós

Com Noé, a referência do ser humano no planeta terra migra

de Adão-Adão para Adão-Noé. Noé origina-se de Adão, e nós, atuais habitantes da terra, nos originamos de Adão-Noé. Noé é uma espécie de segundo Adão no Antigo Testamento, assim como Jesus Cristo é reconhe-cido e apontado no Novo Testa-mento como o Adão de todos os testamentos, de todos os pactos do Deus Criador com os seres humanos e com a natureza. Noé aponta para a recriação e pre-servação da raça humana. Em Adão, a maldição e a morte se fazem presentes, representadas pela árvore do conhecimento do bem e do mal. Em Noé, a bên-ção e a vida se fazem presente, representadas pelo arco-íris. O arco-íris é o sinal de que Deus não mais destruirá a terra pelo dilúvio. Em Cristo, a bênção e a vitória sobre a morte se tornam realidade, simbolizadas por sua ressurreição.

Aplicação a sua vida: Em Adão temos a maldição e a morte, re-presentada pela árvore do co-nhecimento do bem e do mal. Em Noé a bênção e a vida re-presentadas pelo arco-íris. Em Cristo a benção e a vitória so-bre a morte, representadas pela ressurreição. Você tem vivido de forma a vislumbrar a vida con-cedida por esse último Adão, Jesus Cristo?

Em Gênesis 8:21b somos in-formados pelo próprio Senhor Deus, após sacrifício oferecido por Noé: “Não tornarei mais a amaldiçoar a terra por causa do homem; porque a imaginação do coração do homem é má desde a

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DEUS E O RELACIONAMENTO COM A CRIAÇÃO |

sua meninice, nem tornarei mais a ferir todo o vivente, como fi z.”

Em 1 Coríntios 15:45 encontra-mos a analogia de Cristo com Adão: “Assim está também escri-to: O primeiro homem, Adão, foi feito em alma vivente; o último Adão em espírito vivifi cante.” A fi gura que mais se aproxima de Adão, no Antigo Testamento, é Noé. O único que se aproxima do Adão primitivo, perfeito, sem pecado, é o Senhor Jesus, o úl-timo e defi nitivo Adão.

O último verso de Gênesis 5 traz a genealogia de Noé. Como a história de Noé é longa, mais extensa até que a história de Adão, só encontramos a con-clusão genealógica “e morreu”, no fi nal do capítulo 9, verso 29. Outra novidade na genealo-gia de Noé, é que nos são apre-sentados três fi lhos em lugar de um: “E era Noé da idade de quinhentos anos, e gerou Noé a Sem, Cão e Jafé.” Nas genealo-gias anteriores, os pais têm, no mínimo, cinco fi lhos, entre ho-mens e mulheres. Um fi lho é mencionado nominalmente e a expressão “fi lhos e fi lhas” indica dois homens e duas mulheres como um mínimo de fi lhos. Noé não gera fi lhas.

Sem [heb. shem], é o pai dos se-mitas, de onde se originam os hebreus, arameus, assírios. A palavra Sem, do hebraico, sig-nifi ca “nome, fama, reputação”. Cão, o fi lho do meio, é Cham, em hebraico [pronunciado como rram]. Em algumas versões da Bíblia aparece como Cam. Sua fama ou reputação é: “quente”.

Dentre outros povos, os camitas geram: etíopes, egípcios, cana-neus. Jafé tem a fama ou re-putação de “amplo, espaçoso”. Ele gera, dentre outros, os citas (celtas), medos, gregos.

Aplicação a sua vida: Não te-mos controle sobre a nossa des-cendência, cada um tem seu direito de escolha. Mas temos a responsabilidade de deixar um legado que inspire e valorize a vida. Como você tem infl uen-ciado sua geração com base na certeza piedosa e humilde de-positada na graça salvadora de Cristo?

CONCLUSÃO

Se Noé é o segundo Adão, no Antigo Testamento, Cristo é o último e defi nitivo Adão de todos os testamentos, aquele que traz bênção e vida eterna. Somos ori-ginários de Adão-Noé, do ponto de vista material, e de Cristo, do ponto de vista espiritual.

Suporte para Pequenos Grupos

1- Qual a diferença entre Noé e Adão?

2- Saber que tem o livre-arbí-trio é bom? Por que?

3- Quem nos garante a salva-ção?

4- Que tipo de vida você tem passado para as pessoas que estão a sua volta?

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| SEBASTIÃO ARSENIO DA SILVA

O SER HUMANO E SEUS RELACIONAMENTOS

Em sua passagem por este mundo o homem tem a oportu-nidade de vivenciar diferentes tipos de relacionamentos, a partir dos quais pode entender melhor o sentido da vida

e ter uma melhor percepção de seus limites e responsabilidades. Os relacionamentos estabelecem parâmetros que nos ajudam a defi nir nosso posicionamento como indivíduos, identifi cando nossas motivações, elaborando nossas razões e escolhendo os valores que se tornarão referência em nossa jornada existencial.

O objetivo desta série de estudos é provocar uma refl exão que nos ajude a compreender a natureza desses relacionamentos e, ao mes-mo tempo, perceber seus desdobramentos e implicações à luz dos ensinos da Bíblia. São vinte e seis estudos com o foco voltado para os relacionamentos do homem com Deus, consigo mesmo, com o outro e com a natureza, com a proposta de um modelo bíblico para nortear cada um deles.

Que Deus nos acompanhe e nos ilumine nesta desafi adora e glorio-sa empreitada e que cada estudo seja uma inspiração e um desafi o para que possamos aplicar em nossos relacionamentos os princí-pios inquestionáveis da Palavra de Deus.

Pr. Sebastião Arsenio da Silva

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O SER HUMANO E SEUS RELACIONAMENTOS |

Estudo – 27

CONHEÇA O DEUS ÚNICO E VERDADEIROJoão 17

LEITURAS DIÁRIASSegunda Sl. 107Terça Gn 4.1Quarta Jo 1.1-14Quinta Jo 3.16 Rm 3.23;6.23Sexta Dt. 4.35,39Sábado Is. 44.6Domingo Mc 12.28 -34

INTRODUÇÃO

A existência de Deus é o pressu-posto básico e fundamental das Escrituras. Não há, na Palavra de Deus, uma argumentação sistematizada com o objetivo de provar que Deus existe. O pri-meiro versículo da Bíblia trata a existência de Deus como uma verdade clara e patente: “No princípio Deus criou os céus e a terra”(Gn 1.1).

Entretanto, não basta crer que Deus existe. É preciso compre-ender quem é ele. A boa notícia é que o próprio Deus tomou a iniciativa de se revelar a nós. No sentido teológico a palavra “revelação” é usada para se re-ferir às informações que Deus dá de si mesmo para se tornar conhecido. De acordo com Lan-gston, “a revelação não tem por fi m simplesmente informar o homem acerca de Deus, mas também descobrir Deus ao ho-mem. Deus quer que o homem o conheça; daí a razão de ele se revelar”1.

1 Esboço de Teologia Sistemática, pág. 15, A. B. Langston, Editora Juerp

Somos, então, privilegiados por-que, como está expresso no Salmo 103.7, Deus fez conhe-cidos seus caminhos. Isso é fundamental porque, ao se re-velar Deus nos ajuda a enten-der quem ele é e como podemos estabelecer um relacionamento com ele.

Aplicação a sua vida: Deus, ao revelar-se ao homem bus-ca relacionamento. A sua re-velação está na Palavra e em Jesus Cristo. Qual experiên-cia você pode compartilhar do seu relacionamento com Deus? Comente.

I. O desafi o de conhecer a Deus

“E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti, o único Deus ver-

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| SEBASTIÃO ARSENIO DA SILVA

dadeiro, e a Jesus Cristo, que enviaste” Jo 17.3O verbo “conhecer” como apa-rece no texto, é a tradução do vocábulo grego “gnosko”, que signifi ca “saber”, “entender”. A ideia expressa por esse vocábulo é mais do que um assentimento intelectual. Trata-se do conheci-mento que vem através dos sen-tidos, que resulta da percepção no âmbito da experiência. Aqui-lo que é experimentado se torna conhecido por quem o experi-mentou. Desta forma, “gnosko” traz a ideia de familiaridade, relacionamento pessoal, intimi-dade.

Aplicação a sua vida: Em um mundo onde os relacionamen-tos familiares estão cada dia mais distantes e impessoais, como você pode desenvolver um relacionamento sadio e intenso com Deus juntamente com sua família?

II. Conhecer a Deus é pré-re-quisito para a salvação“Mas a todos que o receberam, aos que creem no seu nome, deu-lhes a prerrogativa de se tornarem fi lhos de Deus”. João 1.12

Jesus está deixando bem claro que o conhecimento de Deus é o meio de obter a vida eterna. Ga-nhamos a vida eterna quando recebemos Jesus em nossas vi-das. A decisão de receber Jesus como Salvador é o resultado do conhecimento de Deus. Antes de receber Jesus conhecemos a Deus e seu propósito de que to-dos tenham a vida eterna (João

3.16). Entretanto, fi camos sa-bendo que o pecado nos impede de experimentar o propósito de Deus (Romanos 3.23). Por isso ele, elaborou um plano especial para nos libertar da condenação do pecado (Romanos 6.23). Antes de aceitar a Jesus eu aprendi que Deus é Santo e, ao mesmo tempo, Justo e que, em sua santidade, ele não pode to-lerar o pecado ao mesmo tem-po que, sua Justiça exige que o homem receba o que merece. Entendi, então, que em minha condição pecaminosa eu mere-cia, como punição, a morte. Mas aprendi, também, que Deus é Amor e seu amor o levou a bus-car uma solução para o meu pecado. A Bíblia diz: “Mas Deus prova o seu amor para conosco ao ter Cristo morrido por nós quan-do éramos ainda pecadores”(Rm 5.8). Foi aí que entendi que a única coisa que me restava fazer era aceitar a Cristo entregando a ele o meu coração. Sem esse conhecimento básico de Deus e sua natureza ninguém vai entender a necessidade de sal-vação. Entretanto, precisamos compreender que esse conhe-cimento é progressivo e pode se tornar cada vez mais efetivo e profundo como está proposto em Oseias 6.3: “Conheçamos e prossigamos em conhecer o Se-nhor”.

Aplicação a sua vida: Em uma cultura cristã, desde que nasce-mos temos o contato com Deus de forma diversas, segundo a crença a que fomos criados. Re-late sua experiência de relacio-namento com Deus antes e após aceitar a Jesus como salvador.

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III. O Deus único e verdadeiro

“E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, que enviaste” Jo 17.3

O vocábulo grego traduzido por “verdadeiro”, aqui, é “alethinos” que signifi ca “genuíno”, “real”, “não fi ctício” em oposição àqui-lo que é falso ou fi ngido2. Deus não é um mito ou uma invenção humana. Ele é real e não pode ser comparado aos deuses ima-ginários do paganismo.

Ele é verdadeiro e único. A Bíblia é muito clara quanto ao ensino de que só existe um único Deus. Ao fazer referência à unicidade de Deus Jesus está confi rman-do a posição monoteísta, uma marca da fé judaica. No Antigo Testamento essa profi ssão de fé é expressa através do “she-má”, o recital que afi rmava o monoteísmo judaico registrado em Deuteronômio 6.,4,5. Cada culto judaico era aberto com a recitação destes versos: “Ouve ó Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, com toda a tua alma e com todas as tuas forças”.

Esse conceito está presente em todo o Antigo Testamento (Êxo-do 8.10; Deuteronômio 4.35,39; Isaias 44.6).

No Novo Testamento Jesus repete o “shemá” em Marcos 12.29,32. Em João 5.44 lemos

2 Bíblia de estudo Palavra Chave, Dicionário do NT, verbete 228.

sobre a “gloria que vem do único Deus”. Escrevendo aos Corín-tios o apóstolo Paulo afi rma que “não há outro Deus senão um só” (I Co 8.4) e, em I Coríntios 8.5,6 ele enfatiza: “Pois ainda que existam os supostos deuses, seja no céu, seja na terra (assim como há muitos deuses e muitos senhores), no entanto, para nós há um só Deus, o Pai, de quem todas as coisas procedem e para quem vivemos; e um só Senhor, Jesus Cristo, pelo qual todas as coisas existem e por meio de quem também existimos”.

Aplicação a sua vida: Sabemos que no mundo temos outras re-ligiões que afi rmam e vivem o politeísmo (crença em mais de um deus). Como podemos afi r-mar que o nosso Deus é único e verdadeiro? Comente.

CONCLUSÃO

Deus, na sua soberania, seu po-der e glória se preocupa conos-co a ponto de se revelar a nós. Ele quis se tornar conhecido por nós e dar a oportunidade de nos relacionarmos com ele, reconhecendo-o como Senhor de nossas vidas. O desejo dele é estar entre nós como está es-crito em Levítico 26.12: “Anda-rei no meio de vós e serei o vosso Deus, e vós sereis o meu povo”. À medida que conhecemos a Deus passamos a compreender que a nossa existência só tem sentido se vivermos para a gló-ria dele e que nele está o segredo

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para uma vida vitoriosa e aben-çoada. Isso implica em que es-tejamos dispostos a cumprir os propósitos para os quais fomos criados e que, como propõe Rick Warren em seu livro Uma Vida com Propósitos, podem ser, assim, enumerados: adorar a Deus, fazer parte da família dele, servir a ele, ser semelhante a Jesus e proclamar ao mundo a mensagem de salvação.

Sendo assim, não há outra op-ção senão cumprir os propósi-tos de Deus levando em conta a advertência do apóstolo Paulo: “Portanto, não sejam insensatos, mas procurem ver qual é a vonta-de de Deus” (Ef 5.17). Lembre--se de que a vida não termina aqui. Um dia Jesus vai voltar e nos levará para passar a eter-nidade, com ele, no céu (João 14.2,3).

Quando uma pessoa vive à luz da eternidade seus valores mu-dam. Bens materiais, riqueza, realizações pessoais e prazeres fi cam em segundo plano. Os va-lores de Deus passam a ocupar o primeiro lugar em sua vida e o seu foco é a glória de Deus.

Suporte para Pequenos Grupos

1- Como você pode explicar que conhece a Deus?

2- Qual pré-requisito para a salvação?

3- Como você pode ter um co-nhecimento mais profundo de Deus?

4- O que você entende com a frase “Lembre-se que a vida não termina aqui?

5- Quando Deus passa a ser prioridade em sua vida?

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O SER HUMANO E SEUS RELACIONAMENTOS |

Estudo – 28

CONHEÇA O DEUS TRIÚNOJoão 14.26

INTRODUÇÃO

Em João 17.3 Jesus afi rma que a vida eterna é alcançada pelo conhecimento do único Deus verdadeiro e do próprio Jesus que foi por Deus enviado. Nesta declaração, ao mesmo tempo em que afi rma a unicidade de Deus, Jesus se inclui na referência ao conhecimento, deixando claro que ele, também, é Deus. Nes-se caso, Deus é apresentado como sendo um, em essência, mas que se manifesta em mais de uma pessoa. É aí que entra a doutrina da Trindade.

A compreensão desta doutrina é fundamental para a fé cristã, pois ela esclarece como Deus se manifesta e age no mundo e como podemos nos relacionar com ele.

I. A doutrina da Trindade

“Mas o Consolador, o Espírito Santo a quem o Pai enviará em meu nome, ele vos ensinará to-das as coisas e vos fará lembrar de tudo o que eu vos tenho dito”.

Esse texto apresenta, de forma explícita, três pessoas distintas. Ao mesmo tempo em que faz referência ao Pai e a si mesmo,

Jesus menciona o Espírito San-to. Aí está presente a Trindade.

O vocábulo “Trindade” não apa-rece na Bíblia. Foi usado pela primeira vez por Tertuliano na última década do século II d.C. No começo esta doutrina encon-trou resistência na teologia for-mal da Igreja. Somente a partir do século IV d.C. a posição tri-nitariana se tornou o padrão da Igreja cristã3.

De acordo com Pendleton a melhor defi nição de Trinda-de se encontra no Dicionário Webster, a saber: “a união de três pessoas (o Pai, o Filho e o Es-pírito Santo) em uma Divindade, de maneira que as três são um só Deus, enquanto substância,

3 R. N. Champlin, Enciclopédia de Bíblia Te-ologia e Filosofi a, verbete Trindade, Hagnos

LEITURAS DIÁRIASSegunda Jo 14.16 - 26Terça Rm 1.1 - 7Quarta Jo 1-14Quinta At. 5 1-11Sexta Mt. 3.13 – 17Sábado Mt. 28. 18 - 20Domingo II Cor. 13.13

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mas três pessoas enquanto indi-vidualidade”4.

Langston chama a atenção para o fato de que Trindade implica em triunidade A palavra triuni-dade se refere ao tríplice modo da existência de Deus em três pessoas iguais, isto é, a existên-cia de três em um5. Deus é úni-co em seu ser e substância mas existe em três pessoas distintas: Pai, Filho e Espírito Santo, sen-do que o Pai é Deus, o Filho é Deus e o Espírito Santo, tam-bém, é Deus.

O nome Pai é empregado, na Bí-blia, para se referir à primeira pessoa da Trindade e o apósto-lo Paulo, em sua Epístola aos Romanos, enfatiza que o Pai é Deus: “Graça e paz a vós, da parte de Deus, nosso Pai e do Senhor Jesus Cristo” (Rm 1.7). Como segunda pessoa da Trin-dade Jesus, também, é apresen-tado como Deus. Ao se referir a ele como o “verbo que se fez car-ne”, João declara que “o verbo era Deus”(Jo 1.1). No capítulo 5 de Atos está o registro da trági-ca experiência de Ananias e Sa-fi ra. Ao conscientizar Ananias de que ele mentira ao Espírito Santo (Atos 5.3), Pedro conclui: “Não mentiste aos homens, mas a Deus”(At 5.4). Para Pedro não havia dúvida: o Espírito Santo é Deus.

4 J. M. Pendleton, Compendio de Teologia Cristiana, pág. 62, Casa Bautista de Publi-caciones5 A. B. Langston, Esboço de Teologia Siste-mática, pág. 112, Juerp

Aplicação a sua vida: segun-do o texto de Joao 14.26, Jesus fala a seus discípulos que o Es-pirito Santo os ensinaria e os faria lembrar o que Ele os havia ensinado. Como você tem vivi-do essa promessa em sua vida? Comente.

II. A Trindade no Antigo Testamento

A doutrina da Trindade no Anti-go Testamento é, de certa forma, esparsa identifi cada mais por dedução do que por afi rmação direta. Então, vejamos:

1. O vocábulo hebraico “Elohim” traduzido como “Deus”(Gn 1.1) é um substantivo masculino plu-ral. Alguns estudiosos veem a forma plural desta palavra como uma alusão à Trindade6. Strong chama a atenção para o fato de que tanto o substantivo como o verbo estão no plural, “notável emprego quando consideramos que o singular também existia”7.

2. O próprio Deus faz referência a si mesmo usando o plural

a. “Façamos o homem à nos-sa imagem conforme a nossa semelhança”(Gn 1.26)

b. “Então disse o Senhor Deus: Agora o homem tornou-se como um de nós”(Gn 3.22)

c. “A quem enviarei e quem há de ir por nós?” (Is. 6.8)

6 Bíblia de Estudo Palavras Chave7 A. H. Strong, Teologia Sistemática, Ed. Hagnos, pág.556

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O SER HUMANO E SEUS RELACIONAMENTOS |

3. Entre os textos que fazem alusão ao Filho, no Antigo Tes-tamento, estão os salmos mes-siânicos, assim chamados por-que fazem referência a Jesus. De acordo com o Pr. Isaltino os principais salmos messiâni-cos são: 2, 22, 69, 72 e 1108. O Salmo 2, por exemplo, faz refe-rência ao “ungido do Senhor”: “Os reis da terra se levantam e os príncipes conspiram unidos contra o Senhor e o seu Ungido”(Sl 2.2). O vocábulo “ungido” do hebraico “messiah” deu origem às palavras Messias e Cristo, ambas signifi cando o Ungido de Deus – Jesus9.

4. Há várias referências à atua-ção do Espírito Santo no Antigo Testamento, especialmente no que se refere à sua manifesta-ção na vida de alguns servos de Deus, capacitando-os para ta-refas especiais. Foi assim com Bezalel a quem o Espírito deu “sabedoria, entendimento e ha-bilidade em toda atividade artís-tica, para criar obras artísticas e trabalhar em ouro prata e bron-ze...” (Êxodo 31.4,5) e Sansão que, pela presença do Espírito em sua vida fez com que ele re-alizasse grandes prodígios (Jz 14.6). As últimas palavras de Davi registradas em II Samuel 23 revelam que ele tinha plena consciência de que o Espírito Santo estava vivendo em seu co-

8 Isaltino Gomes Coelho Filho, Palestra na Ordem dos Pastores Batistas do RN em Abril de 20129 Bíblia King James Atualizada, notas de ro-dapé referentes ao Salmo 2

ração e falava por meio dele: “O Espírito do Senhor fala por meu intermédio e sua palavra está na minha boca” (II Sm 23.2)

Aplicação a sua vida: No An-tigo testamento podemos ver a atuação da trindade em vários textos. O Espírito Santo atuou na vida de alguns servos de Deus capacitando-os a traba-lhos específi cos como no caso de Bezalel e Sansão. Como esse mesmo Espirito tem atuado em sua vida hoje? Comente.

II. A doutrina da Trindade no Novo Testamento

No Novo Testamento as refe-rências à Trindade aparecem de forma clara, com afi rmações diretas e declarações explícitas.

1. No batismo de Jesus

Por ocasião do batismo de Jesus encontramos uma das mais importantes manifesta-ções da Trindade. O Filho se apresenta para ser batizado: “Então Jesus foi da Galileia para o Jordão, para ser batizado por João” (Mt 3.13). O Espírito San-to se manifestou: “Depois de ba-tizado Jesus saiu logo da água. E viu o céu se abrir e o Espírito de Deus, descer como uma pom-ba, vindo sobre ele” (Mt 3.16). O Pai estava presente, acompa-nhando tudo: “E uma voz do céu disse: Este é o meu Filho amado de quem me agrado” (Mt 3.17).

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2. Na grande Comissão

No texto conhecido como a Grande Comissão Jesus diz: “Portanto, ide, fazei discípulos de todas as nações, batizan-do-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo” (Mt 28.19). Nesse texto as três pessoas da Trindade são citadas.

3. Na Bênção apostólica

A bênção pronunciada por Pau-lo em II Coríntios 13.13, que é conhecida como Bênção Apos-tólica, tem a forma trinitária: “A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo sejam com todos vós”. Aqui está mais uma evi-dência da existência da Trinda-de.

Aplicação a sua vida: A trin-dade tem sua atuação no Novo Testamento em diversos mo-mentos. Na Grande comissão a trindade dá uma missão a todos os que aceitarem a Cris-to. Como você tem participado dessa obra?

III. A atuação de cada uma das pessoas da Trindade

Diante da evidência de que os três são um, podemos dizer que todos estão presentes em todas as tarefas de iniciativa divina. O Pai é o criador, mas João se re-fere ao Filho dizendo que “sem ele nada do que foi feito existiria” (Jo 1.3). Na criação do homem os

três estavam presentes: “Faça-mos o homem, a nossa imagem, conforme a nossa semelhança” (Gn 1.26). Entretanto, a Bíblia faz referência ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo atribuindo a cada um deles tarefas espe-cífi cas. Em 2 Coríntios 13.14 Paulo faz menção ao papel dis-tinto de cada um: “A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Es-pírito Santo seja com todos vós. Amém.” Nesse texto Deus é fonte de amor, Jesus libera graça e o Espírito Santo pro-move a comunhão. Há outros textos que se referem a tare-fas distintas para cada pes-soa da Trindade: Lucas 1.35, I Pedro 1.2, Judas 20,21.

A atuação da Trindade é bastan-te defi nida no plano de salvação. O Pai, por sua graça (Tt 2.11), elaborou, antes da fundação do mundo, o plano de salvação (I Pd 1.18-20) e, no devido tem-po, enviou seu Filho para que o mundo fosse salvo por ele (Jo 3.17). A execução do plano se realizou através do Filho que veio, como Redentor (Gl 4.4,5) para realizar de forma completa e absoluta o plano de salvação (Hb 9.12), pagando o preço com o derramamento do seu sangue na cruz (I Pd 1.19). O Espírito Santo, por sua vez, convence o pecador do pecado da justiça e do juízo (João 16.8), opera a regeneração do pecador perdido (Jo 3.5), sela o crente para o dia da redenção (Ef 4.30), ensina

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O SER HUMANO E SEUS RELACIONAMENTOS |

aos salvos todas as coisas e os lembra de tudo que Jesus ensi-nou (Jo 14.26).

Aplicação a sua vida: No plano de salvação podemos confi rmar a atuação da trindade. Você já experimentou essa atuação em sua vida? Como você pode refl eti-la? Comente.

CONCLUSÃO

A Bíblia ensina que o Pai é Deus, que o Filho é Deus e que o Es-pírito Santo é Deus e, ao mes-mo tempo, ensina que há um só Deus. Um Deus em três pes-soas. Três pessoas coexistentes em um só Deus. Como entender isso? Apesar das evidências da Trindade, esta doutrina é um mistério e está muito acima da nossa compreensão. Entretanto precisamos nos conformar com esta realidade, já que a mente humana jamais será capaz de compreender totalmente a pes-soa de Deus.

Resta-nos, então, reconhecer a grandeza do Deus Triúno e as-

sumir a nossa incapacidade de conhecê-lo em toda a sua mag-nifi cência com a mesma atitude do apóstolo Paulo: “Ó profundi-dade da riqueza, da sabedoria e do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis os seus ca-minhos! Pois quem conheceu a mente do Senhor? Quem se tor-nou seu conselheiro? Quem pri-meiro lhe deu alguma coisa para que seja recompensado? Porque todas as coisas são dele, por ele, e para ele. A ele seja glória eter-namente! Amém” (Rm 11.33-36).

Suporte para Pequenos Grupos

1- O que você entende com a palavra trindade?

2- O que o Espirito Santo opera no perdido?

3- O que você entendeu do estudo?

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| SEBASTIÃO ARSENIO DA SILVA

Estudo – 29

APROXIME-SE DE DEUSTiago 4.8

INTRODUÇÃO

O Deus único e verdadeiro que é, também Deus triuno, fez questão de se tornar conhecido e abrir o caminho para que nos aproximemos dele.

Aproximar-se de Deus é o pas-so mais importante na vida de qualquer pessoa. No ato da cria-ção fomos moldados para ter um relacionamento com ele e ninguém é feliz enquanto não experimentar a comunhão com o Criador.

O mais importante de tudo é saber que o próprio Deus se in-teressa por essa aproximação e se coloca disponível para ser encontrado como ele mesmo diz em Jeremias 29.13: “Vós me buscareis e me encontrareis quando me buscardes de todo o coração”.

Aplicação a sua vida: Deus se dispõe a ser encontrado por nós. Como você tem buscado essa aproximação? Em quais momentos? Você já sabe qual plano Ele tem para sua vida? Comente.

LEITURAS DIÁRIASSegunda Tg. 4. 1-10Terça Jr. 29. 10 - 13:Quarta I Ts. 4. 1- 8 Quinta I Pe. 1. 13 - 21 Sexta Hb. 12.14 - 17Sábado I Ts. 4.1-12Domingo I Pe. 1.1-16

I. Tome a iniciativa

“Achegai-vos a Deus e ele se achegará a vós”

O verbo “achegar”, nesse texto tem o sentido de “tornar pró-ximo”, “chegar perto”. A ideia, aqui, é de buscar intimidade com Deus. No Antigo Testamen-to o mesmo vocábulo era usado para se referir ao ato de se apro-ximar de Deus para oferecer sacrifícios (Ex 19.22). A ideia, então, é aproximar-se de Deus com o coração quebrantado com a disposição de prestar culto a ele10.

Por esse texto entendemos que a intimidade com Deus resulta da iniciativa do ser humano.

10 Bíblia de Estudo Palavra Chave, Dicioná-rio do Novo Testamento

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O SER HUMANO E SEUS RELACIONAMENTOS |

Deus nos criou com livre arbí-trio. Quem quiser se aproximar dele tem que tomar a iniciati-va. O texto não diz que Deus se aproxima de você para que você se aproxime dele. Pelo contrário, você precisa tomar a inciativa. Se você não quiser, nunca terá a companhia de Deus porque ele não obriga ninguém a fazer isso. Essa ideia de que a inicia-tiva humana de se aproximar de Deus provoca uma resposta favorável da parte dele, está pre-sente em outros textos da Bíblia. Observe a palavra que o profeta Azarias dirigiu ao rei Asa: “O Senhor está convosco enquanto estais com ele; se o buscardes, o achareis; mas se o deixardes ele vos deixará”(II Cr 15.2). Em Zacarias 1.3 lemos: “Voltai--vos para mim, diz o Senhor dos exércitos, e eu me voltarei para vós, diz o Senhor dos exércitos”. Jesus validou esse ensino em João 15.4: “Permanecei em mim e eu permanecerei em vós”. Com suas palavras Jesus está escla-recendo que o nosso relaciona-mento com ele depende de uma conexão estabelecida e mantida a partir da nossa iniciativa de aceitá-lo como Salvador e Se-nhor. Esta conexão estabeleci-da a partir da conversão é o re-sultado da atuação do Espírito Santo através do qual o crente é selado como escreve o apóstolo Paulo: “Nele (Jesus) também vós, tendo ouvido a palavra da verda-de, o evangelho da vossa salva-ção, e nele também crido, fostes selados com o Espírito Santo da

promessa”(Ef 1.13). Esse é o começo de um relacionamento que deve culminar com o enchi-mento do Espírito Santo como está escrito em Efésios 5.18: “Enchei-vos do Espírito Santo”. Mais uma vez encontramos aqui a evidência da necessidade da iniciativa humana. A forma ver-bal “enchei-vos” está no presen-te imperativo passivo. Na língua grega o tempo presente indica uma ação contínua e, por estar na voz passiva o texto permite a seguinte tradução: “Deixai-vos encher, continuamente, pelo Es-pírito Santo”. Ou seja, para ser cheio do Espírito Santo o cren-te precisa estar continuamente disponível e desejoso de experi-mentar esse enchimento.

Aplicação a sua vida: A intimi-dade com Deus nos fortalece e reaviva nosso relacionamento com Ele. Quando e como devo buscar esse relacionamento?

II. Deixe o Pecado

“Pecadores, limpai as mãos” -Tg 4.8b

Os sacerdotes do Antigo Testa-mento, antes da ministração, no tabernáculo, tinham que lavar as mãos e os pés (Êxodo 30.17-21). No Salmo 24.4 está bem claro que quem quiser aproxi-mar-se de Deus precisa ter as mãos limpas. Limpar as mãos tem a ver com o abandono de atos pecaminosos. Em I Timóteo 2.8 Paulo faz referência ao le-

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vantar as mãos santas sem ódio nem discórdia, isto é, livres de tudo que é contrário à natureza de Deus.

A busca de intimidade com Deus há de produzir em nós a percepção da santidade de Deus e a compreensão de que preci-samos nos qualifi car para estar em sua presença, deixando o pe-cado através do arrependimento e do perdão que vem do próprio Deus. Isso signifi ca o abandono dos males morais, dos prazeres da carne e da amizade do mun-do. Do contrário estaremos des-qualifi cados para experimentar comunhão com Deus como nos diz Isaías 59.2: “As vossas ini-quidades fazem divisão entre vós e o vosso Deus e os vossos pecados encobrem o seu rosto de vós para que vos não ouça.”

Aplicação a sua vida: À medida que buscamos intimidade com Deus, devemos abandonar os males morais, os prazeres da carne e da amizade do mundo. Como você pode exemplifi car essa afi rmação? Essa atitude pode levá-lo a viver em clau-sura, longe das pessoas e da sociedade? Comente.

O princípio de que não podemos nos aproximar de Deus de forma aleatória e leviana está presente na experiência de Moisés quan-do Deus lhe falou do meio de uma sarça ardente. Ali fi ca claro

que Deus quer que nos aproxi-memos dele com reverência e quebrantamento de coração. A Bíblia diz que quando estava cuidando do rebanho de Jetro, seu sogro, no deserto, Moisés viu um arbusto que, apesar de estar em chamas, não se con-sumia. Então, ele disse, vou me aproximar para ver o que é aquilo. Quando Deus viu que Moisés se aproximava, chamou do meio da sarça, dizendo: “Não te aproximes daqui. Tira as san-dálias dos pés, pois o lugar em que estás é terra santa” (Ex 3.5). Moisés estava sendo lembrado de que de que não se pode apro-ximar de Deus de qualquer ma-neira. Deus é santo e é necessá-rio que quem dele se aproxima tenha consciência de que se tra-ta de uma experiência especial que exige uma atitude adequa-da como descrita em Hebreus 10.22 onde estão arroladas pelo menos quatro condições para nos aproximarmos de Deus; 1. Um coração sincero; 2. Plena convicção de fé; 3. Uma consci-ência livre da culpa; 4. Um cor-po livre da contaminação do pe-cado. Somente com o abandono do pecado e na busca da pureza podemos experimentar a santifi -cação sem a qual ninguém verá o Senhor (Hb 12.14). O impera-tivo da santifi cação está presen-te, de forma enfática, tanto no Antigo quanto no Novo Testa-mento: Lv 11.44; 19.2; 20.7,26; I Ts 4.7; I Pd 1.16.

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O SER HUMANO E SEUS RELACIONAMENTOS |

Aplicação a sua vida: Sabemos que a santifi cação é um proces-so contínuo. Porém, por mais tempo que vivêssemos na terra não alcançaríamos essa perfei-ção. Como você entende o im-perativo que sem santifi cação ninguém verá a Deus?

III. Seja fi rme “E vós, que sois vacilantes, puri-fi cai vosso coração” Tg.4.8c

A palavra “vacilantes” é a tradu-ção do vocábulo grego “dipsikos” que signifi ca, “portador de dois espíritos”, de “mente dupla”. Era usado para se referir a pes-soas que têm comportamento dúbio, que são inconstantes11. É uma expressão que pode ser usada para se referir àqueles que tentam conciliar uma vida mundana com os propósitos de Deus. Há situações em que a pessoa está com o coração no mundo e, ao mesmo tempo, diz que está com Deus. Isso é im-possível porque a Bíblia diz que “tudo que há no mundo, a con-cupiscência da carne, a concu-piscência dos olhos e a soberba da vida não vêm do Pai, mas do mundo” (I Jo 2.16). No sentido espiritual a palavra “mundo” é usada para se referir às áre-as da experiência humana que estão fora do interesse de Deus e a tudo que está contra Deus, porque o “mundo jaz no maligno” (I Jo 5.19). Nesse caso, não tem

11 Bíblia de Estudo Palavra Chave, Dicioná-rio do Novo Testamento

como, ao mesmo tempo, estar com o mundo e com Deus: “Não sabeis que a amizade do mundo é inimizade com Deus? Portanto, qualquer que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus” – Tiago 4.4. Na cami-nhada cristã você precisa deixar bem claro de que lado está. Se você escolhe Deus seu coração precisa ser purifi cado de tudo que não tem a ver com ele. Não tem como conciliar vida cristã com mundanismo. De acordo com a Palavra de Deus tem que ser uma coisa ou outra.

Aplicação a sua vida: A palavra de Deus nos convida a tomar decisão a todo momento. Não podemos andar em dois cami-nhos. Como viver essa purifi ca-ção em uma cultura tão diversi-fi cada como a nossa? Para você o que é ser amigo do mundo?

CONCLUSÃO

Somos a gratos a Deus porque ele se fez conhecido e nos pos-sibilita estabelecer com ele uma experiência de comunhão e in-timidade. O melhor de tudo é saber que à medida que inten-sifi camos nosso relacionamen-to com ele podemos conhecê-lo mais e mais. Não estou me refe-rindo ao conhecimento intelec-tual que não deixa de ser impor-tante. Mas o importante mesmo é o conhecimento que resulta da experiência. No Salmo 27 Davi chama Deus de Jeová tdesknu

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(meu pastor). Isso não foi fruto de nenhuma pesquisa ou con-sulta a um dicionário de teolo-gia. Essa compreensão resultou de sua experiência com Deus quando ele sentiu o cuidado de Deus nas horas difíceis. Por outro lado, o nome Jeová Jireh (Deus provedor) foi dado a Deus por Abraão num momento de júbilo quando Deus providen-ciou o carneiro para ser sacri-fi cado no lugar de Isaque (Gn 22.14). Deus nos convida para estar em comunhão com ele e espera a nossa resposta pronta e imediata como a de Davi no Salmo 27.8: “Quando disseste: buscai o meu rosto; o meu cora-ção te disse: o teu rosto, Senhor, buscarei”.

Que esta, também, seja a sua resposta. Que você tenha pra-zer em buscar ao Senhor e per-manecer, sempre, na presença dele.

Suporte para Pequenos Grupos

1- O que você entende por li-vre arbítrio?

2- Como você pode se aproxi-mar mais de Deus?

3- Como você pode buscar a santidade de Deus?

4- Após o arrependimento como posso manter fi rme a minha decisão?

5- O Que tem difi cultado aproximar-se de Deus?

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O SER HUMANO E SEUS RELACIONAMENTOS |

Estudo – 30

LOUVE A DEUS ATRAVÉS DA ADORAÇÃOMateus 4.10

INTRODUÇÃO

O conceito de louvor em nossos dias está muito desgastado por sua associação com a música. Fala-se em Ministro de Louvor, Grupo de Louvor, Momento de louvor, tudo, relacionado à mú-sica no culto. Entretanto é pre-ciso enfatizar que, mesmo que a música seja uma expressão de louvor, louvar é muito mais do que cantar. Louvar signifi ca exaltar, glorifi -car, enaltecer, elogiar, magnifi -car. Alguns estudiosos afi rmam que o vocábulo vem da mesma raiz de “valor”, “preço”. Assim, louvor nada mais é do que valo-rizar, destacar12.

De acordo com a Bíblia pode-mos louvar a Deus através da adoração e da gratidão. Quando adoramos louvamos a Deus pelo que ele é. Na gratidão louvamos a Deus pelo que ele faz por nós, para nos abençoar.

12 Ramon Tessmann, Louvor e Adoração, um desafi o para a Igreja de Cristo, Juerp, pág. 15

LEITURAS DIÁRIASSegunda Jo 4.19 - 30Terça Mt 15.1 - 20Quarta Mt. 4.1-10Quinta ICo.10.23-31Sexta Is. 29.13Sábado Ap.15. 3-4Domingo II Tm.1.3-14

Aplicação a sua vida: Em mui-tos cultos temos presenciado o momento de “louvor”, com cânticos antropocêntricos e não cristocêntricos. Como você identifi ca e compreende essa atitude? Comente.

I. O que é adoração

“Então Jesus lhe ordenou: Vai--te, Satanás; pois está escrito: Ao Senhor teu Deus adorarás e só a ele prestarás culto”- Mateus 4.10

Estas palavras foram proferidas por Jesus no contexto da tenta-ção que se seguiu ao seu batis-mo quando estava se preparan-do para iniciar o seu ministério público. Depois de jejuar qua-renta dias e quarenta noites

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Jesus foi confrontado por Sata-nás com uma sequência de três tentações, às quais ele venceu uma por uma. Em primeiro lu-gar Jesus foi tentado a usar seu poder sobrenatural para satisfa-zer suas necessidades pessoais (Mt 4.3). Em seguida, Satanás o desafi ou a provar que era Filho de Deus através de um milagre. Finalmente Satanás mostrou a Jesus os reinos deste mundo e a glória deles e fez a mais absur-da de todas as propostas: “Eu te darei tudo isso, se prostrado, me adorares” (Mt 4.9). A resposta de Jesus foi direta e incisiva or-denando que o Maligno saísse do seu caminho.

Com sua resposta Jesus deixou bem claro que toda adoração deve ser dirigida a Deus e so-mente a ele: “Ao Senhor teu Deus adorarás e só a ele prestarás culto” (Mt 4.10). A palavra usa-da aqui é “proskuneo” que sig-nifi ca “beijar”, “prostrar-se em homenagem”, “reverenciar”13. Adoração é o reconhecimento de nossa pequenez diante da gran-deza de Deus com a disposição de honrá-lo e servi-lo, admitin-do seu poder e sua soberania. Adorar é colocar o foco em Deus buscando a sua presença (Sl 27.8) atribuindo a ele a glória que lhe é devida. Adoração é a expressão de reconhecimento da grandeza daquele que “é dig-no de receber o poder, a riqueza, a sabedoria, a força a glória e o louvor (Ap 5.12).

13 Bíblia de Estudo Palavra Chave, Dicio-nário do Novo Testamento

Na conversa de Jesus com a mulher samaritana o vocábu-lo “proskuneo” é usado várias vezes em diferentes formas (Jo 4.20-24). Nesse texto fi ca claro que a adoração não tem a ver com formalidades nem lugares, nem rituais, mas está ligada à manifestação verdadeira de ren-dição, prostração e submissão ao Deus dos deuses e Senhor dos senhores. Mais importante do que o lugar ou a forma é a atitude como está prescrito em Hebreus 12.28: “Sejamos gratos e, dessa forma, adoremos a Deus de forma que lhe seja agradável, com reverência e temor”. O tex-to de I Samuel 16.7 não deixa dúvida: Deus “não olha para a aparência, mas para o coração”.

Deus só aceita a adoração que vem de um coração sincero. Em Isaias 29.13 ele diz: “Este povo me honra com os lábios, mas o seu coração está longe de mim”. Jesus cita esse texto (Mt 15.8,9; Mc 7.6,7) acrescentando a ob-servação de que esta adoração é vã o que fi ca bastante explí-cito na tradução A Mensagem de Eugene Peterson: “Este povo faz um grande show dizendo as coisas certas, mas o coração de-les não está nem aí para o que dizem. Fazem de conta que me adoram, mas é tudo encenação”.

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O SER HUMANO E SEUS RELACIONAMENTOS |

Aplicação a sua vida: estamos em uma época, em que a dra-maturgia faz parte do modo de vida da sociedade. As pessoas estão vivendo fora da realidade como se fossem personagens de uma peça de teatro, novela ou artista em um grande show. Essa tendência tem infl uencia-do os grupos de louvor de mui-tas igrejas. Você identifi ca essa atitude? Comente.

II. Como adorar a Deus

Em seu livro Uma Vida com Propósitos, Rick Warren diz que qualquer atitude que ve-nha agradar a Deus é um ato de adoração14. Ou seja, adorar é dar prazer a Deus. Isso pode acontecer no contexto de um culto congregacional, através de cânticos, orações, dedica-ção de bens e vidas, mas pode acontecer, também, na vivência do cotidiano. Você pode adorar a Deus em casa, no trabalho, enquanto dirige, na hora da re-feição, ao deitar e ao levantar. Cada atividade do seu dia a dia pode ser realizada com atitude de adoração. Tudo que você fi -zer, faça-o como se fosse para Deus. Dê prazer a Deus aman-do-o acima de tudo e de todos, confi ando nele, obedecendo sua Palavra, valorizando a família, servindo ao próximo, buscan-do a santifi cação. Basta seguir a instrução do apostolo Paulo: “Seja comendo, seja bebendo, seja fazendo qualquer outra coi-14 Rick Warren, Uma Vida com Propósitos, Ed. Vida, pág. 58

sa, fazei tudo para a glória de Deus” (I Co. 10.31).

Outra forma de adorar a Deus é verbalizar expressões que valo-rizam sua pessoa e proclamam sua grandeza como fez Davi em sua oração registrada em I Crônicas 29.11: “Ó Senhor, tua é a grandeza, o poder, a glória, a vitória e a majestade porque tudo quanto há no céu e na ter-ra é teu. Ó Senhor, o reino é teu, e tu te exaltaste como chefe so-bre todos”. Isso pode ser feito, também, através de um cântico como fazem os adoradores san-tos do Cordeiro em Apocalipse 15.3,4: “Grandes e admiráveis são tuas obras, ó Senhor Deus todo-poderoso; justos e verda-deiros são os teus caminhos, ó Rei das nações. Senhor, quem não te temerá e não glorifi cará o teu nome? Pois só tu és santo...”. Você também pode expressar sua adoração colocando em foco os atributos de Deus. De acordo com a Bíblia Deus é Poderoso (Gn 17.1), Deus é Santo (I Sm 2.2), Deus é fi el (Sl 119.89,90), Deus é amor (I Jo 4.8). Além desses, há muitos outros atri-butos de Deus registrados nas Escrituras. Eles servem como referência para que possamos expressar nossa admiração e honra ao grande e excelso Deus.

Os atributos de Deus podem ser revelados através dos dife-rentes nomes a ele atribuídos. Rick Warren diz que esses no-mes não são casuais. Eles nos falam sobre diferentes aspectos

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do caráter de Deus15. Alguns deles resultaram de experiên-cias na vida de algumas pessoas que, pela própria experiência, passaram a conhecer algo mais sobre Deus. Num momento em que Abraão precisava ter sua esperança renovada e sua fé re-vigorada o Senhor se apresen-tou a ele como “El Shaddai”, o Deus Todo-Poderoso. O mesmo Abraão, num momento de gran-de alegria, quando Deus proveu o cordeiro para ser sacrifi cado no lugar de Isaque, referiu- se a ele como “Jeová-Jiré”, o Deus Provedor (Gn 22.13,14). Duran-te a caminhada através do de-serto, ao requerer do seu povo compromisso e fi delidade o Se-nhor prometeu poupá-lo das doenças enviadas contra os egípcios e se apresentou como “Jeová-Rafá”, o Deus que cura (Ex 15.26). Esses e outros no-mes nos dão razões de sobra para adorar a Deus.

Aplicação a sua vida: Faça, você mesmo, sua lista dos atributos de Deus. Cultive o hábito de anota-los, à medida que for lendo a Bíblia. Use esses atributos como referência em seus momentos de adoração.

ConclusãoA verdadeira adoração é uma questão de estilo de vida. Pre-cisamos exaltar e glorifi car a Deus em tudo que fazemos. Nossa obediência aos preceitos de sua palavra, nosso serviço a ele, nosso testemunho no dia a dia são formas de demonstrar a admiração e o apreço que temos

15 Rick Warren, Op. Cit. Pág 92

para com Deus e nossa disposi-ção de reverenciá-lo e honrá-lo.

Ouvi contar a história de uma senhora que sabia de cor muitos versículos da Bíblia. Mas, com o passar dos anos ela foi perden-do a memória e foi esquecendo os versículos, chegando a ponto em que o único verso que con-seguia lembrar era II Timóteo 1.12: “Porque eu sei em quem te-nho crido e estou certo de que ele é poderoso para guardar o meu tesouro até aquele dia”. Mas, à medida em que o tempo passava as palavras deste versículo tam-bém foram desaparecendo de sua mente chegando ao ponto em que ela só conseguia falar: “Ele é poderoso”. Por fi m, já en-ferma e no leito de um hospital, sua memória se apagou quase que totalmente e ela só conse-guia repetir uma única palavra: “Ele!”, “Ele!”, “Ele!”. Aquela irmã tinha se esquecido de tudo, mas o mais importante permanecia irremovível de sua mente: Ele. Este é o segredo da adoração. Deve ser voltada para Deus e somente ele.

Suporte para Pequenos Grupos

1- Para você quem pode ser um adorador?

2- Como posso honrar a Deus só com os lábios?

3- Cite alguns atributos de Deus estudados hoje.

4- Neste estudo aprendemos quatro nomes de Deus.

Você pode mencioná-los?

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O SER HUMANO E SEUS RELACIONAMENTOS |

Estudo – 31

LOUVE A DEUS COM GRATIDÃOSalmo 103.1-5

LEITURAS DIÁRIASSegunda Sl. 103.1-5Terça Lc.17.11-19Quarta At. 27.1-8Quinta At. 27.9 -26Sexta At. 27.27– 44Sábado Jo. 6. 1-15Domingo Sl. 119. 65-69

7. Fui festejar e acabei me es-quecendo. 8. Alguém poderia agradecer a ele por mim?9. Já que a maioria não vai, eu também não vou.

O fato é que, se pensarmos bem teremos muitas razões para agradecer a Deus. É o que va-mos ver neste estudo.

Aplicação a sua vida: Confor-me Charles Brown, há no míni-mo uma desculpa para não ser grato. Você já se viu em alguma dessas situações? Como você tem agradecido a Deus?

I – Seja grato a Deus quando acontecem coisas boas

“Ó minha alma bendize o Senhor, e não te esqueças de nenhum de seus benefícios”- Salmo 103.1

INTRODUÇÃO Quando louvamos a Deus pelo que ele é, estamos adorando. Quando o louvamos pelo que ele faz em nosso favor estamos ex-pressando gratidão.

Muita gente não se preocupa em agradecer a Deus e isto é gra-ve porque ele espera o nosso reconhecimento e a nossa gra-tidão pelas bênçãos recebidas. Na narrativa da cura dos dez leprosos, está registrado o es-tranhamento de Jesus pelo fato de, apenas, um deles ter voltado para agradecer. Lucas.17.11-19

Li, certa vez, um texto em que um homem chamado Charles Brown imaginou uma desculpa para cada um dos 9 leprosos que não voltaram para agrade-cer a Jesus: 1. Vou esperar para ver se eu fui, realmente, cura-do. 2. Quem falou que aquilo era lepra? 3. Eu já agradeci ao sacerdote. 4. Não tenho tempo. Estou muito ocupado. 5. Jesus não teve trabalho nenhum. Eu já estava quase bom. 6. Jesus era um profeta e, como tal, ele tinha a obrigação de me curar.

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O salmista Davi começa o Sal-mo 103 conversando consigo mesmo, estimulando sua alma a louvar a Deus em gratidão pelos benefícios a ele concedidos. Em seguida ele enumera, pelos me-nos, cinco bênçãos decorrentes de sua experiência com Deus.

1. A bênção do perdão

“É ele quem perdoa todas as tuas iniquidades ...” (v.3).

Deus é misericordioso e perdoa todos os nossos pecados. O pe-cado traz a culpa e não há como se libertar dela sem o perdão de Deus. O desejo de Deus é que o pecado seja evitado, mas se alguém pecar precisa admitir sua culpa e buscar o perdão. Nesse sentido a Bíblia diz que “se confessarmos os nossos pe-cados, ele é fi el e justo para nos perdoar os pecados e nos purifi -car de toda injustiça”(I Jo 1.9). Agradeça a Deus pela bênção do perdão.

2. A bênção da cura

“Quem sara todas as tuas enfermidades...”(v. 3).

Deus pode curar tanto a alma como o corpo. A cura da alma começa com o perdão de Deus e pode se completar através da santifi cação. A cura do corpo pode acontecer de uma forma natural, através da medicina ou de forma sobrenatural através da cura divina. Um dos nomes de Deus na Bíblia é Jeová Rafá (o Deus que cura) como está re-

gistrado em Êxodo 15.26. Mas isso não signifi ca que Deus cura todas as enfermidades. Muitas vezes ele abençoa os médicos e os remédios para que a cura seja efetivada. Russel Champlin conta a história de uma missio-nária de determinada igreja que tinha uma pústula muito in-fecciosa bem no meio da testa. Alguns pastores se reuniram para curar a pústula. Suas orações encheram a circunvizi-nhança com exclamações e ape-los em vozes altas, mas a infec-ção não diminuiu. Chamaram, então uma enfermeira, missio-nária batista, que lhe aplicou algumas injeções de penicilina as quais fi zeram secar a pús-tula16. Podemos continuar oran-do pelos enfermos e crer na cura pela fé. Algumas vezes Deus vai nos atender, outras, não. Esta é uma questão ligada à soberania do Senhor. Mas não há nada de errado em usar medicamentos. Deus pode usar os recursos da medicina em favor dos enfermos e por isso devemos ser gratos a ele por todo tipo de cura.

3. A bênção do livramento

“Quem resgata da cova a tua vida...”(v. 4).

Ao dizer que Deus resgata da cova o salmista pode estar se re-ferindo ao livramento de algum tipo de armadilha preparada por aqueles que lhe buscam a

16 R. N. Champlin, o Antigo Testamento Interpretado Versículo por Versículo, Ed. Hagnos, Salmo 103

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O SER HUMANO E SEUS RELACIONAMENTOS |

vida17. Esse é um bom motivo de gratidão. Mas pode ser, tam-bém, uma referência à liberta-ção da condenação do inferno. Nesse caso, como diz Matthew Henry, “a redenção da alma é caríssima; não podemos empre-endê-la. Daí mais um motivo para agradecer à graça divina que a realiza”18.

4. A bênção do amor e da mi-sericórdia

“Quem te coroa de amor e de misericórdia”(v.4).

Além do perdão, da cura e do resgate da cova, o salmista faz menção do amor e da misericór-dia de Deus. O amor de Deus é a fonte de sua bondade e miseri-córdia que, segundo o Salmo 23, nos acompanham em todos os dias de nossas vidas. Por isso, sejamos gratos a Deus.

5. A bênção da provisão

“Quem te supre de todo bem, de modo que tua juventude se renova como a da águia” (v. 5).

A expressão “todo bem” aparece na Nova Tradução na Linguagem de Hoje e na Bíblia Viva como “coisas boas”. Deus, em sua bondade tem nos concedido coi-sas muito boas que satisfazem nossos desejos e suprem nossas necessidades. Estejamos, então, atentos para agradecer quando somos agraciados com sufi ci-ência fi nanceira (II Co 9.8), au-17 Bíblia de Estudo Palavras Chave, Ed. CPAD, Dicionário do Antigo Testamento18 Matthew Henry, Comentário Bíblico Anti-go Testamento, Ed. CPAD, Salmo 103

mento de salário, promoção no emprego, conclusão de um cur-so, aprovação em um concur-so, aquisição de uma moradia. Outra coisa boa mencionada no texto é o vigor físico. A fi gura da águia traz essa ideia em função da sua aparência rejuvenescida decorrente da renovação anual de sua plumagem que, parece, dar a ela uma vida nova. É bom saber que em nossa jornada terrena, mesmo com o avanço da idade, podemos contar com Deus para renovar nosso vigor físico. O prazer de experimentar tais benefícios nos dá motivos de sobra para agradecer a Deus.

Em meio a todas estas bênçãos a gratidão é a coisa mais natu-ral que existe. Estejamos, pois, sempre prontos para agradecer a Deus por todas as bênçãos re-cebidas. Quando conseguir uma conquista, quando realizar um sonho, quando alcançar uma meta, cada nova vitória deve ser um motivo de gratidão.

Aplicação a sua vida: Em nos-so devocional estamos acostu-mados a fazer breves agradeci-mentos, precisamos aprender a nomear as bênçãos recebidas. Você consegue lembrar e enu-merá-las ao fi nal do dia?

II. Seja grato a Deus quando acontecem coisas ruins

“Em tudo dai graças porque esta é a vontade de Deus em Cristo (I Ts 518).

Preste atenção na palavra “tu-do”. Deus deseja que você ex-

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presse sua gratidão em todas as situações mesmo quando as circunstâncias forem adversas. Quando você estiver passan-do por momentos difíceis, lem-bre-se de que mesmo quando acontecem coisas ruins é possí-vel encontrar motivos para agra-decer. Isso pode acontecer por várias razões.

Em primeiro lugar porque as coisas ruins poderiam ter sido piores. Veja a narrativa da via-gem de Paulo para a Itália (Atos 27). No percurso, o navio foi vio-lentamente atingido por uma tempestade e esteve a ponto de naufragar. Tiveram que lançar a carga ao mar, assim como as provisões e os equipamentos. A previsão era de que aquela via-gem traria avaria e muita perda tanto para a carga como para o navio e para a vida de todos (Atos 27.10). A certa altura da viagem, em meio ao tumulto causado pela tempestade e um grande sentimento de perda, Paulo “deu graças a Deus na presença de todos” (At 27.35). Ele estava, de fato, dando gra-ças pelo alimento, mas tudo o que eles estavam vivendo era motivo de gratidão. Apesar do prejuízo material nenhuma vida tinha sido perdida até ali e a promessa era de que todos seriam preservados, o que, re-almente, se cumpriu. O navio foi destruído, a carga se perdeu, mas as vidas das 276 pessoas que estavam a bordo (At 27.37) foram preservadas (At 27.44).

Tudo foi muito ruim, mas po-deria ter sido pior. Muitas ve-zes, em situações como esta, fi camos avaliando e lamentando os prejuízos e não nos damos conta de que o mais importante que é a vida, foi preservada. Um devocional do periódico Presen-te Diário, produzido pela Rádio Trans Mundial, traz o seguinte relato. O erudito inglês Matthew Henry, conhecido especialista em estudos bíblicos, certa vez foi assediado por ladrões que levaram sua carteira. Naquela noite ele escreveu em seu diário as seguintes palavras: “Quero agradecer, em primeiro lugar, porque eu nunca fui assaltado antes. Em segundo lugar, por-que levaram a minha carteira e deixaram a minha vida. Em ter-ceiro lugar, porque mesmo que tenham levado tudo, não era muito. Finalmente, quero agra-decer porque fui roubado. Não fui eu que roubei”. Como você pode ver, mesmo em momentos ruins temos muito a agradecer.

Em segundo lugar, as coisas ruins podem resultar em coi-sas boas. Em certa altura de sua vida o salmista faz questão de declarar: “Antes de ser afl i-gido andava errado, mas agora guardo a tua Palavra” (Salmo 119.67). Não sabemos exata-mente a que tipo de afl ição ele se refere. Pode ser uma enfermi-dade ou, quem sabe, uma per-seguição movida por inimigos. Alguns estudiosos sugerem que seja uma referência ao cativei-

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ro babilônico que levou o povo de Deus ao arrependimento e à restauração19. Na verdade, pode ter sido qualquer tipo de afl i-ção. O que merece ser destaca-do nesse versículo é a afi rmação que a afl ição funcionou como uma disciplina que ajudou o salmista a reconsiderar o seu caminho e consertar sua vida, ideia que é reforçada no Salmo 119.71. Muitas vezes é isso que acontece em nossas vidas. As difi culdades e os problemas nos ajudam a refl etir sobre nossos erros e provocam mudanças de rumo em nossa caminhada. É nesse sentido que as afl ições se tornam motivo de gratidão.

Depois de tudo o que foi dito, vale a pena lembrar que quan-do acontecem coisas ruins você não está sozinho. No Salmo 23 Davi expressa sua convicção de que nos diferentes momen-tos de sua vida ele podia contar com o cuidado de Deus. Como uma ovelha frágil e dependente ele podia confi ar no seu Pastor, daí a sua declaração no verso 4: “Quando eu tiver de andar pelo vale da sobra da morte, não temerei mal algum, porque tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me tranquilizam” (Sl 23.4). O vale da sombra da mor-te é qualquer experiência de pe-rigo ou ameaça. Não é a morte, ainda, mas a sua sombra. Pode ser uma ameaça à integridade física, a velhice ou uma doençaterminal. Em situações como estas o mais importante é saber que Deus se propõe a nos fazer 19 R, N. Champlin, O Antigo Testamento Interpretado Versículo por Versículo – Sal-mos, Ed. Hagnos

companhia na travessia desse vale. Ele estará sempre conosco orientando a nossa direção. Sua presença nos consola.

Deus pode permitir situações adversas, em sua vida, mas nunca vai abandonar você. Ele pode, até, tornar as coisas ruins em coisas boas. Ele tem contro-le sobre a tempestade e, antes que você possa imaginar, virá a bonança. Então, agradeça a ele por tudo.

Aplicação a sua vida: Enume-rar bênçãos é muito bom, saber que Deus nos protege é melhor ainda, principalmente quando a vontade Dele coincide com a nossa. O que nos frustra e im-pede o relacionamento muitas vezes são acontecimentos ruins. Como você tem agradecido es-ses momentos em sua vida? Co-mente.

III Seja grato a Deus quando não acontece nada

“Este é o dia que o Senhor fez; vamos regozijar-nos e alegrar--nos nele” (Sl 118.24)

O mais importante no dia de hoje é o fato de você estar vivo. Agradeça a Deus pelas coisas comuns do dia. Não fi que espe-rando por algum acontecimento especial para dar graças a Deus. Agradeça pela luz do sol, pelo ar que você respira, pela água que você bebe, pelo pão de cada dia e, até mesmo, pelas pessoas que estão ao seu redor.

David Yonggi Choo conta a his-tória de um homem que tinha uma doença incurável e resol-

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veu escrever sua autobiografi a. Ele escreveu que, antes de sua doença, nunca havia percebido quão bela é a vida, mas, agora, olhava cada raio de sol e podia ver como era lindo. Em sua di-fi culdade para respirar ele se esforçava para encher o pulmão de ar. Dessa forma podia en-tender como o ar é importante para a vida. Antes, ele nunca ti-nha prestado atenção no gosto da água, mas, agora, procurava saborear cada gole. Ele escre-veu, também, que antes de ter a sua última refeição estava se esforçando para valorizar cada porção de comida que recebia. Falou que estava grato pelo en-corajamento e conforto que re-cebia de seus parentes e amigos. Antes de saber que tinha uma doença incurável aquele homem nunca havia percebido a beleza e a importância das coisas que estavam ao seu redor, mas, ago-ra, ele se sentia privilegiado e fe-liz por todas estas bênçãos que nunca tinha valorizado.

Não fi que esperando uma bên-ção especial, ou um milagre para dar graças a Deus. Olhe em volta e veja quantas coisas Deus tem dado a você. Agradeça por todas elas. Alguém disse, certa vez, que, se as estrelas só aparecessem uma vez por ano, iríamos fi car fora toda a noite só para vê-las.

Aplicação a sua vida: Agrade-cer mesmo quando aparente-mente não há nada para agra-decer, essa é a máxima. Como você tem observado as situa-ções corriqueiras? Como tem agradecido? Comente.

Conclusão

Cultive o hábito de louvar a Deus com gratidão. Faça uma lista de tudo que você tem rece-bido de Deus e ore agradecendo. Anote as bênçãos espirituais, materiais, acontecimentos mar-cantes, vitórias, orações respon-didas. Isso ajuda você a prestar atenção nos detalhes e perceber como Deus tem acompanha-do sua caminhada. É como diz o antigo hino do Cantor Cris-tão: “Conta as bênçãos, conta quantas são, recebidas da divi-na mão. Uma a uma, dize-as de uma vez. Hás de ver, surpreso, o quanto Deus já fez.

Isso signifi ca que, apesar das circunstâncias, apesar das pes-soas e apesar de nós mesmos, a bondade de Deus se manifesta em nossas vidas. Nesse caso, a atitude mais natural é dar gra-ças ao Senhor por tudo que tem feito por nós.

Suporte para Pequenos Grupos

1- Quem ajudou ou tem aju-dado você a se tornar a pessoa que você é hoje, e como você pode agradecer por isso?

2- Como você tem usado seus talentos, suas habilidades, e o que você gostaria de es-tar fazendo com eles?

3- Para que serve o louvor para nos agradar ou agra-dar a Deus?

4- O que signifi ca adoração?

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Estudo – 32

LEIA A PALAVRA DE DEUSSalmo 1.2

LEITURAS DIÁRIASSegunda Dt. 17. 14-20Terça At. 17. 1-15Quarta Ed. 7.1-10Quinta Sl. 1. 1- 6Sexta Js. 1.1-9Sábado Sl. 119.1-18Domingo Sl. 119. 96-105

INTRODUÇÃO

De acordo com a Declaração Doutrinária da Convenção Ba-tista Brasileira a Bíblia é a nos-sa única regra de fé e conduta. Ela é a Palavra de Deus em lin-guagem humana, o registro da revelação de Deus aos homens. Foi escrita por homens inspira-dos pelo Espírito Santo, sendo Deus o seu verdadeiro autor. Seu objetivo é revelar os pro-pósitos de Deus, levar os pe-cadores à salvação, edifi car os crentes e promover a glória de Deus. É a única autoridade em matéria de religião pela qual de-vem ser aferidas as doutrinas e a conduta dos homens20.

É natural, então, que nos sinta-mos fascinados por este livro e nos incluamos na lista daqueles cujo prazer está na Lei do Se-nhor como afi rma o Salmista. Este prazer se manifesta, natu-ralmente, no exercício da leitu-ra, estudo e meditação nos en-sinos deste livro fascinante que é a Bíblia.

20 Declaração Doutrinária da Convenção Batista Brasileira

Aplicação a sua vida: Em tem-pos de grandes motivações e estímulos externos o tempo é sempre o vilão de nossa leitu-ra. Como vc tem administrado o seu tempo para ler a bíblia? Comente.

I. Leia a Palavra“Ele o terá consigo e o lerá todos os dias de sua vida, para que aprenda a temer o Senhor seu Deus e guardar todas as pala-vras desta lei e estes estatutos, para os cumprir” (Dt 17.19).

O texto acima faz parte de um conjunto de instruções que Moi-sés transmite ao povo de Israel no capítulo 17 de Deuteronômio para serem colocadas em prá-tica no estabelecimento da na-ção de Israel na Terra Prometi-da. Entre elas estava a punição para os que adorassem deuses

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falsos (v. 1-7), a instituição de uma corte para julgar questões difíceis (v. 8-13) e os requisi-tos para a escolha de um rei (v. 14-20). Entre estes requisitos constava o dever de fazer para si uma cópia da lei tirada do origi-nal que estava sob o poder dos sacerdotes que ministravam no tabernáculo (v.18). Aquela cópia escrita de próprio punho não era, apenas, para que o rei a ti-vesse à sua disposição em sua sala ou sobre sua mesa. Era para ser lida e, observe o deta-lhe, “todos os dias da sua vida”. Essa prescrição vale para todos nós. Não basta ter a Bíblia. É preciso desenvolver o hábito de uma leitura diária e sistemática da Palavra de Deus Um servo de Deus jamais su-bestimará a prática da leitura da Bíblia, para conhecê-la me-lhor e buscar nela a revelação da vontade de Deus, com todo o empenho, a exemplo dos Bereia-nos descritos em Atos 17.11 que se “mostraram muito interessa-dos a receber a palavra exami-nando diariamente as escrituras para ver se as coisas eram, de fato, assim”. Vale, também, ob-servar que a primeira das sete bem-aventuranças do Apocalip-se refere-se à prática de ler, ou-vir e guardar a Palavra de Deus (Ap 1.3).

Israel Belo Azevedo em seu blog Prazer da Palavra escreve: “Leio a Bíblia como uma bula de re-

médio, com letras gigantes. A Bíblia é um conjunto de cápsu-las para a vida. Devemos tomá--las porque vieram de Deus para nós. Devemos tomá-las com re-gularidade, para que o efeito possa se prolongar. Devemos tomá-las sabendo que vão pro-vocar reações adversas no nosso corpo e no corpo de nossa socie-dade. Devemos tomá-las certos que algumas são amargas. Pos-so ser negligente e não tomar o remédio e aí preciso saber que continuarei enfermo. Uma Bí-blia na caixa, sem ser aberta, é como uma caixa de remédios na gaveta. O remédio perde a vali-dade e vai para o lixo. A validade das verdades bíblicas perde seu efeito e nos deixa sem proteção diante dos ataques das baterias internas e externas do mal”.

Para por em prática a leitura da Palavra de Deus, o ideal é seguir um plano. Você pode ler o Novo Testamento, o Antigo Testamen-to, as Cartas de Paulo, o livro de Salmos e, assim por diante. O importante é saber, cada dia, por onde vai começar. Uma re-comendação que não pode ser negligenciada é a leitura da Bíblia toda uma vez por ano.

Aplicação a sua vida: O autor fala de um plano para leitura bíblica. Você tem alguma expe-riência que possa compartilhar? Se não, aproveite esse momento para traçar um plano de leitura bíblica.

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II. Estude a Palavra

“Porque Esdras tinha se dispos-to no coração a estudar a Lei do Senhor e a praticá-la, e a ensi-nar em Israel os seus estatutos e normas” (Ed 7.10)

A diferença entre ler e estudar é que quando você estuda há um empenho efetivo na bus-ca de entender a revelação de Deus. Para isso são necessários recursos especiais, tais como: variedade de traduções, con-cordância bíblica, chave bíblica, dicionário, comentários, atlas, mapas e outros recursos ade-quados para ajudar na compre-ensão do texto.

Para fazer um estudo adequado da Bíblia leve em conta as se-guintes recomendações:

1. Procure entender o contexto

a. Contexto textual – O que está escrito antes e depois do tex-to?

b. Contexto histórico – O que o texto queria ensinar às pes-soas na época em que foi es-crito?

c. Contexto linguístico – Em que língua o texto foi escrito? Quais as características des-sa língua?

d. Contexto cultural – Quais eram os costumes da época em que o texto foi escrito?

2. Interprete a Bíblia com a própria Bíblia

O melhor comentário da Bíblia é a própria Bíblia. Um texto pode completar outro, acrescentar informações ou esclarecer o sig-nifi cado. Por exemplo, fi ca mais fácil entender o livro de Levíticos à luz da epístola aos Hebreus. Em Êxodo 2.11,12 lemos que Moisés matou um egípcio que estava agredindo um hebreu. Em Atos 7.25 encontramos uma informação que não está no tex-to de Êxodo: “Ele pensava que seus irmãos entenderiam que por meio dele Deus lhes daria a li-berdade”. Em Isaias 7.14 lemos: “A virgem fi cará grávida e dará à luz um fi lho e ele se chamará Emanuel”. Em Mateus 1.21-23 fi ca claro que a virgem era Ma-ria e que o fi lho era Jesus. Nesse sentido, as Bíblias com referên-cias são de grande valia.

3. Distinga entre texto descri-tivo e texto prescritivo

Descritivo é o texto que descre-ve algo, narra um acontecimen-to. Prescritivo é o texto que traz regras, ensinamentos e man-damentos. O fato de algo ser narrado na Bíblia não signifi ca que deve se tornar uma norma ou doutrina. É possível tirar, de um texto narrativo, lições espi-rituais, mas, devemos ter cuida-do para usá-lo como base para doutrinas. Só podemos tirar doutrina de narrativas se hou-ver respaldo de outros textos es-sencialmente doutrinários.

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O segredo do estudo bíblico efetivo é saber como fazer as perguntas certas. O Pr. Rick Warren sugere as seguintes per-guntas: Há alguma atitude a ser ajustada? Uma promessa a ser reivindicada? Uma priorida-de a ser mudada? Uma lição a ser aprendida? Um problema a ser resolvido? Um mandamen-to a ser obedecido? Um hábito a ser abandonado? Uma ver-dade para ser crida? Um ídolo a ser destruído? Uma ofensa a ser perdoada? Um pecado a ser confessado? Uma direção a ser tomada?

Aplicação a sua vida: Aprovei-te a sugestão de Rick Warren e aplique as perguntas acima ao texto base de Salmos 1. Com-partilhe sua experiência ao fi nal do estudo.

III. Medite na Palavra

A melhor maneira de assimi-lar o que se lê na Bíblia é não apenas ler, mas meditar sobre o que se leu, lembrando que o conceito de meditação usado aqui não tem nada a ver com o sentido desta prática nas religi-ões orientais. Em muitos textos a leitura da Bíblia é associada à meditação. Josué recebeu a re-comendação de meditar na Lei (Js 1.8). No livro de Salmos en-contramos várias referências à meditação na Lei do Senhor (Sl 1.2; 119.15, 48, 99, 148).

O verbo “meditar” vem de uma palavra hebraica que signifi ca,

entre outras coisas, “imaginar”, “considerar”21. Nesse caso, po-demos dizer que meditar, no sentido bíblico, é levar em con-sideração o texto em foco com a concentração intencional da mente sobre o mesmo, deixan-do de lado os pensamentos e as imagens que estejam fora do assunto em destaque. Para me-ditar é preciso que se leia com atenção o que a Escritura diz e se concentrar no que está sendo dito sem devaneios ou disper-são.

Alguns autores associam me-ditação com ruminação. Veja como a versão A Mensagem tra-duz o Salmo 1.2: “Pelo contrá-rio, você vibra com a palavra do Eterno, você rumina as Escritu-ras dia e noite”. Para entender o que isto signifi ca basta pensar no que acontece com os animais que ruminam ( a vaca, o boi, búfalo etc). Eles fazem a diges-tão em dois tempos. No primeiro momento comem o capim qua-se sem mastigar. Depois, em repouso, regurgitam o alimento em pequenas porções de volta à boca para o processo de remas-tigação. Só, então, o engolem defi nitivamente. Veja bem. Es-ses animais levam poucos se-gundos para arrancar e engolir o capim, mas passam horas e mais horas ruminando. A Bíblia é o nosso alimento. Se não gas-tarmos tempo ruminando o seu conteúdo perderemos a opor-tunidade de tirar melhor pro-

21 Bíblia de Estudo Palavras Chave, Dicio-nário do Antigo Testamento

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veito dela. Vou propor, então, cinco passos para a meditação, lembrando que esta lista não é completa, mas poderá ajudar na meditação na Palavra de Deus.

1. Leia o texto com atenção. Observe os detalhes como quantidades, nomes de pes-soas, nomes de lugares etc.

2. Leve em conta o contexto para entender o verdadeiro sentido da passagem.

3. Sublinhe ou marque as pala-vras chave.

4. Repita o versículo em voz alta, várias vezes, enfatizan-do uma palavra diferente em cada repetição.

5. Personalize o versículo. Leia-o acrescentando o pro-nome pessoal. Reivindique, pela fé, o cumprimento do texto em sua vida.

Aplicação a sua vida: Na atua-lidade tudo está muito superfi -cial, muita informação. O autor sugere que o texto bíblico deve ser lido de forma a promover mudança em seu viver. Você já personalizou algum versículo e pela fé viu o seu cumprimento em sua vida?

III. Memorize a Palavra

Adquira o hábito de memorizar a Palavra de Deus. A memori-zação de textos bíblicos tem, pelo menos, duas vantagens.

Em primeiro lugar, ajuda a re-sistir as tentações: “Escondi a tua palavra no meu coração para não pecar contra ti”- Sal-mo 119.11. Além disso, reforça o testemunho: “...e estai sempre preparados para responder... a todo aquele que vos pedir a razão da esperança que há em vós”- I Pedro 3.15. Para facilitar, leve em consideração as seguin-tes sugestões:

1- Procure identifi car como o versículo escolhido pode sa-tisfazer suas necessidades.

2- Procure compreender o versí-culo em relação ao seu con-texto.

3- Localize o versículo em sua bíblia, marque-o e visualize--o quanto à posição na pági-na.

4- Recite em voz alta muitas ve-zes.

5- Escreva o versículo em um cartão, incluindo a referência e coloque o versículo escrito em algum lugar de fácil aces-so para recapitulá-lo quando estiver fazendo outra coisa.

7- Memorize por partes.

8- Use o versículo nas experiên-cias do dia a dia, tantas ve-zes quanto possível

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Aplicação a sua vida: A Palavra deve fazer parte da nossa vida. A memorização é mais uma etapa desse processo. Se auto desafi e a decorar um versículo para que ele possa fazer parte da sua vida.

CONCLUSÃO Nem é preciso dizer que a leitura da Bíblia deve ser prioridade na vida de um servo de Deus. Por isso deve ser um hábito insubs-tituível. Uma prática sistemati-camente programada e executa-da.

Há diferentes versões da Bíblia. Por isso, leve, sempre, em con-ta, a versão que você está lendo. Existem as versões clássicas (Al-meida Corrigida, Almeida Revis-ta e Corrigida, Almeida Revista e Atualizada, Almeida Século 21), também conhecidas como ver-sões de equivalência formal. Es-tas são mais próximas da língua original e preservam o sentido literal do texto. Há, também, as chamadas versões de equivalên-cia dinâmica (Nova Versão In-ternacional, Nova Tradução na Linguagem de Hoje) que não se prendem à forma e à estrutura da língua original e que, ao in-vés de uma tradução literal, pre-ferem se concentrar na tradução do pensamento permitindo ao tradutor ser interpretativo, com o foco na ideia e não nas pala-vras. Entre as versões de equi-valência dinâmica algumas são

paráfrases (Bíblia Viva, A Men-sagem) que lidam com o tex-to bíblico com mais liberdade, contextualizando as metáforas e usando linguagem informal com frases do cotidiano. A van-tagem de ler versões diferentes é a oportunidade de perceber nu-ances que, muitas vezes, estão presentes em uma versão e não são percebidas em outras. Mui-tas vezes, uma simples leitura em versões diferentes permite o entendimento de um texto até então, obscuro.

Independente de qualquer coi-sa, a Palavra de Deus tem que ser valorizada. Leia-a, estude-a, medite nela e memorize-a. Isso fará diferença em sua vida.

Suporte para Pequenos Grupos

1- Por que é importante a lei-tura da Bíblia?

2- O que você tem feito para memorizar a Biblia?

3- Que lugar a leitura da Bí-blia ocupa em sua vida?

4- O que é necessário modifi -car em sua rotina para que a Palavra de Deus se torne sua meditação todo o dia?

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Estudo – 33

CONVERSE COM DEUSI Ts 5.17

INTRODUÇÃO

Oração é uma conversa com Deus. Uma conversa direta e espontânea. Orar não é recitar, mas derramar, diante de Deus os desejos do coração. O Pai Nosso, a oração ensinada por Jesus não é uma fórmula a ser decorada e recitada, mas um modelo de como devem ser nos-sas orações. Há, no Novo Testa-mento, o registro de orações de vários servos de Deus e nenhum deles recita o Pai Nosso. O pró-prio Jesus mencionou o Pai nosso apenas uma vez e nunca repetiu esta oração. A oração é a nossa oportunidade de expe-rimentar uma comunhão íntima com Deus.

Bill Hybles afi rmou que a bên-ção da oração não são as res-postas de Deus, mas a própria oração. Não há nada melhor do que estar em comunhão com Deus, conversando com ele. “A comunhão mais íntima com Deus é alcançada apenas por meio da oração”22.

22 Bill Hybels, Ocupado Demais para Deixar de Orar, United Press, pág.1

LEITURAS DIÁRIASSegunda Lc. 9.28-36Terça Lc. 22. 29-36Quarta Mc. 6. 45-52Quinta Lc. 11. 5-8Sexta Lc. 11. 9-13Sábado Lc.18. 1-8Domingo Jo. 11. 1-16

Aplicação a sua vida: Temos percebido nos dias atuais o de-sejo de muitos em aproximar de pessoas de crenças diferentes através da repetição da oração do pai nosso. Como você enten-de essa ação? Comente.

I. Orar sem cessar“Orai sem cessar” (I Ts 5.17)

A expressão “sem cessar”, usa-da por Paulo é a tradução de um vocábulo grego que signifi ca “constantemente”, “sem inter-valos”23. Nenhuma interrupção pode ser encontrada na expe-riência de oração de um servo de Deus. É claro que isso não tem a ver com o aspecto formal da oração. Não dá para ima-ginar alguém, de joelhos ou

23 Bíblia de Estudo Palavras Chave, Dicio-nário do NT

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com os olhos fechados orando sem parar. Orar sem cessar é estar, sempre, em espírito de oração. Não fazer da oração uma experiência circunstancial, algo que se pratica apenas em deter-minados momentos, isto é, nas crises, nas difi culdades ou em situações de tomada de decisão. É fazer da oração uma prática habitual, assim como foi na vida dos servos de Deus do passado. Moisés falava com Deus face a face como quem fala a seu ami-go (Ex. 33.11). Samuel ensinou que deixar de orar é pecado (I Sm12.23). Em Efésios 1.16 o apóstolo Paulo revela que tinha uma vida de oração sistemá-tica: “Não cesso de dar graças por vós, lembrando-me de vós nas minhas orações”. Aqui vale a pena, também, lembrar que a oração sempre ocupou um lu-gar de destaque na vida de Je-sus. Ele não, apenas, ensinou a orar como, também, se dedicava à pratica da oração. Há várias ocasiões em sua vida que ele aparece orando. Isso aconteceu por ocasião de seu batismo (Lc. 3.21). Depois de uma jornada intensa de pregação e milagres ele foi para um retiro de oração (Mc 135). Antes da escolha dos doze ele gastou tempo em ora-ção (Lc. 6.12). A transfi gura-ção aconteceu enquanto Jesus orava (Lc. 9.29). Ele orou antes de se entregar para ser preso e morto por nossos pecados (Lc. 22.41). Ele orava sozinho (Mc 6.46) e orava, também com seus discípulos (Lc. 9.18). Orava em lugares secretos (Lc. 5.16) mas orava, também, diante da mul-tidão (Jo. 11.41,42). Estas são,

apenas, algumas referências. Há vários outros textos, nos Evangelhos sobre a experiência de oração de Jesus.

Aplicação a sua vida: O autor trabalha neste parágrafo o rela-cionamento com Deus através da oração continuada. Você tem alguma experiência que pode compartilhar?

II. As partes da oração

De acordo com os ensinos de Jesus a oração se compõe de 4 partes que podem ser, assim, defi nidas: invocação, assunto, credencial e confi rmação.

1. Invocação

A invocação é a chamada a Deus. Quando iniciamos a nos-sa oração devemos invocar, so-lenemente, aquele a quem va-mos nos dirigir atribuindo a ele um título. Na oração modelo ensinada por Jesus o título atri-buído a Deus é “Pai”: “Pai nosso que está no céu” (Mt 6.9) e esse é o título preferido de Jesus, como se pode ver na oração de grati-dão pelo cuidado de Deus com os humildes (Mt. 11.25), na ora-ção intercessória por seus dis-cípulos (Jo 17.1), no Monte das Oliveiras (Lc 22.42) e na cruz (Lc 23.34). Mas há outras op-ções. Na oração do rei Asa o tí-tulo é Senhor (II Cr 14.11). O rei Ezequias começou a sua ora-ção dizendo: “Ó Senhor, Deus de Israel...” (II Reis 19.15). Você pode, então, começar sua ora-ção, invocando a Deus, cha-mando-o de Pai, Senhor, ou

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O SER HUMANO E SEUS RELACIONAMENTOS |

qualquer outro qualifi cativo. As-sim você abre a porta para sua comunicação com ele.

2. Assunto

O assunto é o tema de nossa conversa com Deus. Em sua oração modelo Jesus tratou de vários assuntos, inclusive as necessidades do cotidiano como o pão de cada dia. De acordo com a Bíblia, podemos conver-sar com Deus sobre qualquer assunto e ele nos atenderá des-de que esteja de acordo com a sua vontade (I Jo 5.14).

3. Credencial

A credencial é a autorização de Jesus para que possamos falar com Deus em seu nome como está escrito em João 16.23: “Em verdade, em verdade vos digo que o Pai vos concederá tudo quanto lhe pedirdes em meu nome”. A oração nunca é feita com base em nossos méritos. Cristo é o nosso mediador e é em nome dele que oramos.

4. Confi rmação

A confi rmação é a inclusão do “amém” no fi nal da oração. Esta é uma palavra hebraica que sig-nifi ca “assim seja” ou “sim” e que é pronunciada para confi r-mar tudo o que foi dito. Matthew Henri diz o seguinte a esse res-pito: “Sempre foi um hábito dos bons cristãos dizerem um amém de forma audível no fi nal de cada oração e esta é uma práti-ca ainda recomendável”24. Paulo

24 Matthew Henri, Comentário Bíblico do Novo Testamento, Ed, CPAD

ensina que a oração em públi-co deve ser entendida por todos para que possam dizer “amém” (I Co. 14.16).

Aplicação a sua vida: O autor sugere uma ordem gradual na oração, Você acredita que essa ordem contribui para o seu re-lacionamento com Deus? Co-mente.

III. Os assuntos da oração

Quando falamos com Deus po-demos enfatizar, pelo menos, quatro tipos de assunto:

1. Oração de Louvor

Quando exaltamos a Deus, em adoração à sua pessoa e em ação de graças por seus favores e bênçãos. Nesse caso, há dois tipos de oração:

a. Oração de Adoração - Quan-do louvamos a Deus pelo que ele é. Veja esta oração de Ana: “En-tão Ana orou: Meu coração exul-ta no Senhor; a minha força está exaltada por causa do Senhor...Não há ninguém santo como o Senhor; não há outro além de ti; não há rocha como o nosso Deus”(I Sm 2.1,2).

b. Oração de Gratidão - Quando louvamos a Deus pelas bênçãos que ele nos dá. Aqui podemos citar, como exemplo, a conhe-

cida oração de Jesus: “Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra porque ocultaste estas coisas aos sábios e eruditos e as revelaste aos pequeninos”(Mt 11.25)

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Aplicação a sua vida: Esses assuntos abordados pelo au-tor aparecem naturalmente em nossas orações. Você tem iden-tifi cado em sua oração o louvor, a adoração e a gratidão?

2. Oração de Pedido - Quando pedimos alguma coisa. O após-tolo Paulo incentivou os fi lipen-ses, dizendo: “Sejam os vossos pedidos plenamente conheci-dos diante de Deus por meio de oração e súplica com ações de graças” (Fl 4.6). Observe que no versículo aparecem os vocábulos “pedidos” e “súplica”. A súplica é um tipo de pedido com caráter de urgência ou que envolva uma situação de angústia decorrente de perigo iminente. Um clamor desesperado de alguém que se encontra totalmente impoten-te. A oração de Davi no Salmo 18.6 é mais que um pedido. É uma súplica. Se o pedido é feito em favor de outra pessoa, rece-be o nome de intercessão. Em sua primeira epístola a Timóteo Paulo nos exorta à prática da in-tercessão (I Tm 21,2)

Aplicação a sua vida: É natu-ral observarmos a intercessão em favor de parentes e amigos. Como você tem desenvolvido a intercessão por pessoas que não fazem parte do seu círculo de amizade?

3. Oração de Confi ssão - Quan-do reconhecemos, diante de Deus, os nossos pecados e pedi-mos perdão. A Bíblia nos ensina a buscar o perdão de nossos pe-cados através da confi ssão. Em I João 1.9 lemos: “Se confessar-

mos os nossos pecados, ele é fi el e justo para nos perdoar os peca-dos e nos purifi car de toda injus-tiça”. O verbo confessar, nesse texto é a tradução do vocábulo grego “homologeo”, de onde vem a palavra “homologar”25. Confes-sar, então é admitir, concordar. Quando Davi derramou seu co-ração diante de Deus dizendo “pequei contra ti e contra ti so-mente e fi z o que é mau diante dos teus olhos”(Sl 51.4), ele não estava dando nenhuma infor-mação. Deus já sabia do seu pe-cado. Ele estava, apenas, admi-tindo, concordando com Deus. A confi ssão é a condição para o recebimento do perdão. Por isso não se esqueça de fazer isso continuamente. Confesse seus pecados e busque o perdão de Deus.

IV. O lugar da oração

É muito importante que tenha-mos um local adequado para a oração onde possamos, re-almente, estar em comunhão com Deus. Um lugar tranqui-lo onde não haja barulho nem pessoas circulando. A reco-mendação de Jesus é que seja o quarto (Mt.6.6). Entretanto é preciso dizer que podemos orar em qualquer lugar. Numa emer-gência, por exemplo, a gente ora onde está. É interessante obser-var um certo misticismo quando se fala, por exemplo, em oração no monte. Mas não há nenhum lugar na Bíblia onde o monte é apontado como um lugar espe-

25 Bíblia de Estudo Palavras Chave, Dicio-nário do Novo Testamento

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O SER HUMANO E SEUS RELACIONAMENTOS |

cial de oração. Jesus orava no monte por duas razões. Em pri-meiro lugar porque a Bíblia diz que ele não tinha um quarto (Mt. 8.20). Ele não tinha uma casa, nem um quarto, nem seu próprio travesseiro26 e dependia da hospitalidade daqueles que se prontifi cavam a isso. Em se-gundo lugar, o monte era o lu-gar em que ele poderia evitar o assédio das pessoas. No corre--corre do seu ministério Jesus precisava de um lugar tranquilo onde pudesse se dedicar à ora-ção sem ser incomodado (Mt 14. 23). Nesse caso, a oração no monte era uma questão de pri-vacidade e ele mesmo nunca re-comendou que alguém fi zesse o mesmo. Além do quarto, o tem-plo é o único lugar mencionado na Bíblia como lugar de oração (Is 56.7; Mt 21.13).

V. A persistência na oraçãoJesus contou duas parábolas para ensinar sobre a persistên-cia na oração. Em Lucas 11.5-13 ele conta a história de um homem que procurou um ami-go, no meio da noite, para lhe pedir três pães. Já na cama, o

amigo pede para não ser inco-modado pois já havia trancado a porta e seus fi lhos estavam dormindo. Jesus concluiu di-zendo que, se aquele amigo não se levantar por causa da ami-zade vai se levantar por causa da insistência e dar tudo que outro está pedindo. Tem, tam-bém a história de um juiz que não queria atender o pedido de uma mulher em busca de jus-

26 Mathew Henry, Comentário Bíblico do Novo Testamento, Ed. CPAD

tiça (Lc 18.1-8). Mas a mulher não desanimou e, de tanto in-sistir, conseguiu a resposta que precisava. O ensino de Jesus é claro. Se um simples amigo ou um juiz iníquo se rendem à in-sistência de um pedido, quanto mais o nosso Deus, amoroso e generoso que se importa conos-co e quer nos abençoar, sem-pre. Isso não signifi ca que Deus possa ser convencido por nossa insistência ou que, se importu-nado ele possa mudar de ideia e nos atender. Em Lucas 18.1 está claro o que Jesus preten-de nos ensinar: “Jesus também lhes contou uma parábola sobre o dever de orar sempre e nunca desanimar”. Mesmo que Deus não atenda todas as nossas ora-ções devemos continuar orando, sem desfalecer, nunca parar de orar.

Aplicação a sua vida: A Insis-tência em nossos pedidos pro-postos pelo autor nos leva ao encontro da submissão a Deus. Relembre de algo que você tem pedido a Deus, insistentemente e identifi que qual sentimento tem promovido em você.

VI. A resposta de Deus

Deus sempre responde as nos-sas orações. Em Jeremias 33.3 ele diz: “Clama a mim e te res-ponderei”. Em Mateus 7.7,8 Jesus reafi rma esta promessa: “Pedi e vos será dado; buscai e achareis; batei, e a porta será aberta. Pois todo o que pede, recebe, quem busca, acha; e, ao que bate, a porta será aber-ta”. Mas é importante saber que Deus, pode responder de 3 ma-

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neiras: “sim”, “não” e “espere”. Muitas vezes ele tem dito “sim” e dado a resposta que espera-mos. Mas a resposta, também pode ser “não”. Deus diz “não”, por exemplo, quando pedimos de modo errado (Tg 4.3). Pau-lo orou três vezes pedindo que fosse tirado o espinho da sua carne e a resposta que recebeu foi: “A minha graça te basta” (II Co 12.9). Se ainda não chegou a hora, Deus pode responder “es-pere”. Quando Lázaro fi cou do-ente suas irmãs pediram a Je-sus que fosse curá-lo. Embora o texto afi rme que Jesus amava Marta e sua irmã, ele demorou dois dias para ir ao encontro de-las. (Jo 11.1-6). Ele tinha uma razão muito especial para fazer aquilo. O seu propósito era re-alizar um milagre muito maior. Pode ser que Deus demore por-que esteja aguardando alguma coisa de nossa parte ou por causa de nossa imaturidade. O importante é entender a respos-ta e não pensar que Deus está dizendo “não”, quando ele diz: “agora, não”. Bill Hybels resu-me tudo isso dizendo o seguin-te: “Se um pedido é errado Deus diz “não”. Se não é o momento certo Deus diz “calma”. Mas se o pedido, o momento e você estão certos, Deus diz “siga”27

Aplicação a sua vida: Em tem-pos de busca de respostas ime-diatas, a forma de Deus, com a “espera” e a “negação” causam angustia ou mesmo descren-ça em muitos. Como você tem percebido estas três formas de resposta de Deus em sua vida?

27 Bill Hybles, Ocupado Demais para Deixar de Orar, Ed. United Press, pág. 74

CONCLUSÃOO primeiro verso da terceira es-trofe do hino Bendita a Hora de Oração, 148 do Cantor Cristão, hino do repertório tradicional das igrejas batistas no Brasil coloca em foco uma verdade que precisa ser enfatizada: “Bendita a hora de oração, pois liga-nos em comunhão”. Esse verso cha-ma a nossa atenção para o fato de que o valor da oração não está na oportunidade de fazer esse ou aquele pedido, mas no privilégio de experimentar a co-munhão com Deus. A expecta-tiva de receber uma resposta é natural pois ele mesmo prome-teu nos responder quando ora-mos. Mas, o que realmente vale numa experiência de oração, o mais importante de tudo, é o privilégio de estar na presença de Deus, de poder falar direta-mente com ele, experimentando intimidade com ele. Que Deus nos ajude a compreender isso e que jamais venhamos a abrir mão do privilégio de falar com Deus através da oração.

Suporte para Pequenos Grupos

1- Por que devemos orar?

2- Onde devemos orar?

3- Qual o valor você tem dado a oração?

4- A ansiedade pode atrapa-lhar a vida de oração de um cristão? Porquê?

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O SER HUMANO E SEUS RELACIONAMENTOS |

Estudo – 34

SIRVA A DEUSEfésios 2.10

INTRODUÇÃO

Dentre tantos privilégios resul-tantes de nosso relacionamento com Deus, um dos mais signifi -cativos é, sem dúvida, o de po-der servi-lo.

Deus não precisa de nós e, em muitos casos, mais atrapalha-mos do que ajudamos, mas o Se-nhor, em sua soberania, achou por bem nos incluir em seus planos, como servos, dando-nos tarefas que, muitas vezes, pode-riam ser dadas aos anjos.

Que cada um de nós possa en-tender o tamanho deste privilé-gio e que estejamos prontos para servir ao Senhor, nos colocando, totalmente, à sua disposição. E que tudo seja para honra e gló-ria de seu nome.

I. Fomos salvos para servir

“Pois fomos feitos por ele, criados em Cristo Jesus, para as boas obras, previamente preparadas por Deus para que andássemos nelas”(Ef 2.10)

Ao afi rmar que fomos criados em Cristo Jesus para as boas obras, Paulo está fazendo um

LEITURAS DIÁRIASSegunda Ef. 2.1 – 10Terça Cl. 3. 18-25Quarta IITm. 1.3-14Quinta Tito 2.1-10Sexta At. 9.32-43Sábado II Cr. 3.10-14Domingo II Co. 12.1-11

contraponto ao que foi ensina-do em Efésios 2.8,9 onde apren-demos que a salvação não está vinculada a qualquer mérito humano. Ela é fruto da mani-festação da graça de Deus e não depende das obras: “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé, e isso não vem de vós, é dom de Deus. Não vem das obras para que ninguém se glorie”. Entre-tanto é preciso entender que ao mesmo tempo em que a salva-ção não é fruto de boas obras, somos salvos para praticá-las. Como ensina Paulo, o propósi-to de Jesus ao morrer na cruz foi “nos remir de toda a maldade e purifi car para si um povo todo seu, consagrado às boas obras” (Tt 2.14). Em outras palavras, fomos salvos para servir.

Sirvamos, pois, a Deus cons-cientes de que seremos recom-

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pensados pelo nosso serviço: “E tudo quanto fi zerdes, fa-zei-o de coração, como se fi zés-seis ao Senhor e não aos ho-mens, sabendo que recebereis do Senhor a herança como recom-pensa; servi a Cristo o Senhor” – Cl 3.23,24

Aplicação a sua vida: Ao ser-mos salvos por Cristo Jesus, ganhamos a condição de Filhos de Deus e o servir faz parte de nosso DNA cristão. Como você tem praticado as boas obras? Comente.

II. Como servir

O servo de Deus, em geral, sabe que deve servir a ele, mas, mui-tas vezes não sabe como servir. Daí vem a pergunta: O que fazer e como fazer o serviço do meu Rei? Aqui estão algumas respos-tas que nos ajudam a esclarecer esta questão.

1. Descubra sua paixão

Em seu livro “A Revolução no Voluntariado” Bill Hybles faz uma avaliação sobre o que aconteceria se todos os crentes tomassem a decisão de servir a Deus. Para ele, uma questão de-cisiva no que se refere ao serviço a Deus é a paixão. Ele diz que “existe uma paixão, uma área de grande interesse, dada por Deus lá no íntimo de cada um de nós”28. Podemos defi nir Pai-xão como um desejo ardente do coração, um interesse especial por uma causa ou uma missão.

28 Bill Hybels, A Revolução no Voluntariado, Ed. Mundo Cristão, pág. 58

Ninguém consegue dar atenção a todas as coisas igualmen-te. Há algumas coisas com as quais me importo mais do que outras. Não há nenhum pro-blema quanto a isso. Signifi ca, simplesmente, que o nosso co-ração é atraído para certos en-volvimentos de maneira diferen-te do que acontece com outras pessoas. Uns têm a sua paixão voltada para pessoas, grupos de afi nidades ou de faixas etá-rias tais como crianças, jovens, casais, dependentes químicos, enfermos, idosos, etc. Em ou-tros casos a paixão é por uma causa e abrange interesse por questões como missões, direi-tos humanos, ecologia etc. Isso é maravilhoso porque se todos se importassem com as mesmas coisas muitas das necessidades de nosso mundo não seriam atendidas. Mas Deus colocou em nós paixão diferente. Paulo tinha paixão pela evangelização dos gentios, como está expres-so em Romanos 11.13: “Mas é a vós, gentios, que falo. E, uma vez que sou apóstolo dos gentios, glorifi co o meu ministério”. A de-dicação do apóstolo à tarefa de evangelização dos gentios e a manifestação do orgulho por ela revelam sua paixão.

Aplicação a sua vida: Todas as grandes mudanças acontecidas na sociedade é consequência de uma grande paixão. A paixão é o que move o comportamento humano. Segundo a sugestão do autor você é capaz de iden-tifi car qual a sua paixão? Você tem servido segundo a sua pai-xão?

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O SER HUMANO E SEUS RELACIONAMENTOS |

2. Use sua experiência de vida A palavra experiência vem de um vocábulo latino que signifi -ca “prova” ou “submeter a tes-te”. Em seu uso corrente a ex-pressão “experiência de vida” se refere à bagagem de vivên-cias acumuladas no processo da existência humana, aqui, no mundo. As pessoas têm vi-vências diferentes e cada uma avalia a sua experiência de uma perspectiva pessoal. Escrevendo a Tito o apóstolo Paulo o exorta a desafi ar as mulheres idosas a investir na vida das mulheres jo-vens, ensinando-as a amar seus maridos e seus fi lhos, a serem prudentes e puras, boas donas de casa e a serem submissas a seus maridos (Tt 2.1-5). Ou seja, as mulheres idosas esta-riam aproveitando sua experi-ência de vida para ensinar as mulheres jovens a se enquadrar nos propósitos de Deus. Esse é, sem dúvida, um importante mi-nistério. Sua experiência de vida pode determinar o tipo de servi-ço que você vai prestar a Deus. Uma pessoa que já foi viciada em drogas está qualifi cada para tra-balhar na recuperação de dro-gados. Um ex-presidiário pode servir no ministério de apoio aos presos. Quem já foi menino de rua compreende melhor as im-plicações de um trabalho com crianças abandonadas.

Aplicação a sua vida: No de-correr de nossa existência, ob-temos experiências decorrentes de nossa caminhada. Experiên-cias essas que nos levam a ser-vir ao próximo. Como você tem abençoado vidas através da sua experiência adquirida?

3. Aproveite suas habilidades

Habilidade é a capacidade de fazer alguma coisa com desen-voltura e precisão. A habilidade pode ser desenvolvida através do treinamento mas é, acima de tudo, resultado de sua herança genética que determina seus ta-lentos ou vocação. Em 2 Crôni-cas 3.13,14, o rei Hirão, de Tiro, atende o pedido de Salomão e envia um homem especial para ajudar na construção do tem-plo: “E agora, vou lhe mandar Hurã, um mestre artesão inteli-gente e capaz... Ele trabalha em ouro, prata, bronze, ferro, pedra e madeira; sabe fazer tecidos de linho fi no e de fi os de lã púr-pura, azul e vermelha. É perito, também, nas obras de entalhe e sabe executar qualquer desenho que lhe seja apresentado”. Neste caso, a habilidade artística foi usada na construção do templo. Algumas pessoas vivem dizendo que não sabem fazer nada. Isso não é verdade. As pesquisas re-velam que uma pessoa possui, em média, de quinhentas a se-tecentas habilidades diferentes. O problema é, primeiro, identi-fi car suas habilidades e, segun-do, identifi car qual (is) dela (s) pode (m) ser colocadas a serviço de Deus.

Aplicação a sua vida: Todos nós trazemos em nosso DNA talentos que nos impulsionam e nos diferenciam. Quais são os seus talentos? Como você tem usado na obra de Deus?

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4. Aproveite sua formação profi ssional

Se você tem uma profi ssão e gosta do que faz, é natural que haja interesse, de sua parte, em colocar sua profi ssão a serviço de Deus. Já pensou quanta coi-sa poderia acontecer no reino de Deus se todos os profi ssionais, administradores, advogados, arquitetos, contadores, dentis-tas, engenheiros, médicos, pe-dreiros, psicólogos, enfermeiros, eletricistas, técnicos em eletrô-nica, técnicos em informática, costureiros, etc., resolvessem investir uma parte do seu tem-po para servir a Deus com sua profi ssão? Um exemplo marcan-te é o de Dorcas, narrado em Atos 9.36-39. Ela era costureira e servia a Deus, fazendo roupas paras as viúvas.

Aplicação a sua vida: Como profi ssional nossa situação fi -nanceira está diretamente liga-da a nossa formação. Você tem utilizado de sua profi ssão para servir o Reino? Como?

5. Use o seu dom

Nosso soberano Deus, gracio-samente, escolheu outorgar, de uma forma sobrenatural, a cada crente, dons espirituais que o capacitam a servir com efi ci-ência. Um dom espiritual é um atributo especial dado pelo Es-pírito Santo a todo membro do Corpo de Cristo de acordo com a graça de Deus, para uso den-tro do contexto do corpo que é a

Igreja. A lista dos dons espiritu-ais aparece em três textos prin-cipais: 1 Coríntios 12.6-8,28; Romanos 12.6-8 e Efésios 4.11. Examinando cada um deles e somando todos vamos chegar a uma lista de 18 dons que al-guns estudiosos classifi cam em três categorias: Dons de sinais (Milagres, curas, línguas, In-terpretação de línguas); Dons de Apoio (Apóstolos, Profetas, Evangelistas, Pastores, Mestres, Fé, Discernimento, Sabedoria, Conhecimento); Dons de Servi-ço (Ministério, Exortação, Lide-rança, Misericórdia, Contribui-ção). Os dons de sinais são os mais controvertidos. Eles envol-vem a intervenção direta e so-brenatural de Deus. Esses dons são válidos hoje, embora não se-jam tão proeminentes como nos dias do Novo Testamento. Na-quele tempo, o propósito prin-cipal destes dons era confi rmar a validade do evangelho. Hoje, como já temos as Escrituras, a necessidade de milagres para confi rmar o evangelho não é tão grande como naqueles dias. En-tretanto, Deus não tem limites para suas intervenções mira-culosas. Ele faz o que quer da maneira como quer. Os dons de apoio podem ser divididos em dois subgrupos: dons de equipamento (apóstolo, profeta, evangelista, pastoreio, ensino) e dons de capacitação (fé, dis-cernimento, sabedoria, conhe-cimento/ciência). Os dons de serviço são voltados para tarefas específi cas relacionadas aos mi-nistérios da Igreja: ministério,

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exortação, liderança, misericór-dia, contribuição)29. Resta-nos, então, levar em conta a reco-mendação de Paulo a Timóteo: “Não deixes de desenvolver o dom que há em ti...”(I Tm 4.14).

Aplicação a sua vida: Os dons distribuídos pelo Espirito San-to, são alvos de nossa busca para descobri-lo. Você conse-gue identifi car o dom que você possui e como utilizá-lo para o serviço do Senhor?

CONCLUSÃO

O hino “Felicidade no Serviço”, 410 do Cantor Cristão, hinário tradicional dos batistas, cha-ma a atenção para o privilégio de servir a Deus: “No serviço do meu Rei eu sou feliz, satisfei-to, abençoado; Proclamando do meu Rei a Salvação, no serviço do meu Rei. No serviço do meu Rei, minha vida empregarei; Gozo, paz, felicidade, tem quem serve ao meu bom Rei!.

O sentimento de prazer e o sen-so de realização que nos envol-ve quando servimos a Deus tem sua razão de ser porque quan-do servimos nos tornamos par-ceiros de Deus na realização de seus propósitos aqui na ter-ra. Outro ponto a ser destaca-do é que quando servimos fi ca-mos mais parecidos com Jesus que defi niu sua missão aqui no

29 Darrel W. Robinson, Igreja, Celeiro de Dons, Juerp

mundo dando como razão para sua vinda o desejo de servir: “Pois o próprio Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos. ”(Mc 10.45).

Que Deus nos ajude a ter cons-ciência do privilégio de servir e que possamos cumprir os pro-pósitos de Deus para nossa vida aqui no mundo como servos.

Suporte para Pequenos Grupos

1- O que é servir a Deus?

2- Precisamos de um chama-do especial para servir a Deus?

3- O que nos impede de ser-vir a Deus?

4- Você tem exercido seus dons no serviço ao Se-nhor?

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Estudo – 35

TENHA UM ENCONTRO DIÁRIO COM DEUS

I Timóteo 4.7,8

INTRODUÇÃO

A vida cristã precisa ser conti-nuamente fortalecida através de práticas espirituais sistemáticas que viabilizem a comunhão com Deus. Nesse sentido é necessá-rio o cultivo de uma vida devo-cional centrada na leitura diá-ria da Bíblia e na oração. Nada melhor do que ter, no nosso dia a dia momentos especialmente separados para uma experiên-cia de intimidade com Deus.

A prática devocional é a maneira de vivenciar o ensino bíblico do sacerdócio universal dos cren-tes. No Antigo Testamento só o sumo sacerdote podia entrar no Santo dos Santos onde tinha acesso à presença de Deus. Mas agora é diferente. Com a morte de Jesus, na cruz, o véu do tem-plo se rasgou de alto a baixo e, como está escrito em Hebreus 10.19-21, “podemos, agora, sem hesitação, caminhar direto para Deus até o “Lugar Santo”. Jesus preparou o caminho pelo sangue de seu sacrifício e atua como nosso sacerdote diante de Deus”30.

30 Versão A Mensagem de Eugene Peterson

LEITURAS DIÁRIASSegunda Hb. 10.19-25Terça I Tm. 4.1-16Quarta At.10.1-8Quinta Sl. 55.1-23Sexta Mt. 6.1-15Sábado Dn. 6.1-18Domingo Sl. 76.1-12

I. Cultivando a piedade

“Exercita-te na piedade. Pois o exercício físico é proveitoso para pouca coisa, mas a piedade é proveitosa para tudo, visto que tem a promessa da vida presen-te e da futura” (1 Tm 4.7b,8)

A palavra “piedade” vem de um vocábulo grego que signifi ca ”re-verência”. É o termo usado para se referir a atitudes e ações que demonstram apreço e respeito pelas coisas de Deus ou dispo-sição de agradar a Deus. Corné-lio é apresentado, na narrativa bíblia, como um homem “piedo-so”: “Esse homem era piedoso e temente a Deus com toda a sua casa, dava muitas esmolas ao povo e continuamente orava a Deus” (Atos 10.2).

A piedade de Cornélio era evi-denciada pela maneira como

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O SER HUMANO E SEUS RELACIONAMENTOS |

ele professava sua fé. Sua ge-nerosidade, sua vida de oração e a preocupação em criar um ambiente espiritual na família fi zeram-no conhecido como um homem piedoso. A referência ao fato de que ele orava conti-nuamente é, certamente, uma alusão ao costume judaico de se dedicar à oração três vezes por dia. Um judeu típico cultivava o hábito de orar à hora terceira (9h), à hora sexta (12h) e à hora nona (15h). A referência de que à hora nona Cornélio teve uma visão de Deus evidencia o fato de que ele tinha o costume de orar nas horas estipuladas pelo costume judaico.

A piedade inclui o cultivo de uma vida devocional sistemática. Ao afi rmar “exercita-te na piedade” Paulo tinha em mente a discipli-na dos atletas olímpicos que, em busca da vitória exercitavam até à exaustão. A piedade não é algo que se deseja, mas que se pra-tica. Uma pessoa piedosa gasta tempo aos pés do Senhor.

Aplicação a sua vida: A pie-dade é um comportamento que deve ser exercitado. Como você pode exemplifi car essa ação em sua vida?

II- A importância da prática devocional

Todo servo de Deus tem prazer em estar na presença do Pai desfrutando de momentos de intimidade com ele. Esse tem-

po pode ser chamado “momento devocional”, “à sós com Deus”, “tempo de oração”, “hora ben-dita”, o nome não importa. O que importa mesmo é a opor-tunidade de estar com o Pai em oração e meditação na sua Pa-lavra num tempo especialmente separado para esse fi m. O que estou dizendo é que o momen-to devocional não deve ser algo aleatório ou circunstancial. No Salmo 55.17 Davi declara que três vezes por dia ele se coloca-va diante de Deus em oração. Daniel também cultivava essa prática de orar três vezes por dia (Dn 6.10). Como fi lhos de Deus precisamos cultivar o hábito de ter um momento especial a cada dia em sua presença.

Aplicação a sua vida: O mo-mento de intimidade com Deus é muito importante para nosso relacionamento e crescimento. Qual nome você tem dado a esse seu momento? Compartilhe.

III- Como gastar tempo, dia-riamente, com Deus

Na experiência de muitas pes-soas o hábito de um momento a sós com Deus tem sido um verdadeiro fracasso. Não porque não gostem ou não queiram, mas porque não se preocupam em planejar, isto é, incluir em suas agendas o horário para o momento devocional. Nesse caso, aqui vão algumas reco-mendações básicas:

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1. Tenha um lugar adequado“

“Mas tu quando orares, entra no teu quarto e, fechando a porta, ora a teu Pai que está em secre-to; e teu Pai que vê em secreto, te recompensará”- Mateus 6.6

Entrar no quarto e fechar a porta signifi ca procurar um lu-gar apropriado onde possa ter privacidade. Se não for o seu próprio quarto, pode ser aquele cantinho da casa mais aconche-gante, o quartinho dos fundos, o porão, o terraço, o escritório, desde que seja um lugar silen-cioso e privativo. O lugar não importa. Isaque orava no campo (Gn 24.63), Paulo orava no tem-plo (At 22.17), Jesus orava no monte (Mt 14.23). Escrevendo a Timóteo Paulo declarou: “Que-ro que os homens orem em todo lugar, levantando mãos santas sem ódio nem discórdia” (1 Tm 2.8).

Aplicação a sua vida: Somos orientados a reservar um lo-cal para o momento a sós com Deus. Você já deu um nome a esse momento? Qual local você reservou para esse momento só seu? Compartilhe.

2. Escolha a hora apropriada

“Ó Senhor, de manhã ouves mi-nha voz; de manhã te apresento minha oração e fi co aguardando”

Nada melhor do que começar o dia com Deus. Davi orava pela manhã, bem de manhã mes-mo, de madrugada (Sl 119.147). Jesus, também tinha esse há-

bito (Mc 1.35). Com isso, não quero dizer que você, obrigato-riamente, tem que levantar de madrugada para ter o seu mo-mento devocional. Vale lembrar que na antiguidade não havia luz elétrica, nem televisão nem os compromissos típicos da vida moderna pelos quais entramos noite a dentro. As pessoas iam para cama ao por do sol. Acor-dar cedo era algo corriqueiro e natural. Outra coisa é que existem pessoas matutinas e vespertinas. As matutinas têm maior facilidade para acordar cedo porque dormem cedo. As vespertinas, por dormirem tar-de, se sentem melhor acordando tarde. Se você vai para a cama depois da meia noite, não tem como levantar de madrugada para seu momento devocional. Sendo assim, independente da hora que você levanta, comece seu dia com Deus. Entretanto, você pode escolher qualquer hora, desde que seja um mo-mento especialmente reservado para esse fi m. O importante é ser persistente.

Aplicação a sua vida: O horá-rio para o momento a sós com Deus, será sempre o tempo que temos disponível. Que horário você tem reservado para esse momento? Compartilhe com o grupo por que esse horário?

3. Tenha um plano

Determine o tempo que você vai gastar em seu momento devo-cional, lembrando que o impor-tante é a qualidade do seu tem-

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REFLEXÕES BÍBLICAS IV | 191

O SER HUMANO E SEUS RELACIONAMENTOS |

po e não, a quantidade. Divida esse tempo em períodos. Exem-plo:

1. Momento de adoração

Comece com um momento de adoração, cantando um hino ou recitando sua letra. Exalte a Deus com declarações de lou-vor, destacando seus atributos. Você pode dizer: Eu te louvo, ó Deus pela tua grandeza e pelo teu amor!

2. Momento de gratidão

Desenvolva o hábito de anotar todas as bênçãos que Deus lhe tem concedido. Anote as bên-çãos espirituais, materiais e as orações respondidas. Isso fa-cilita o seu momento de grati-dão. Conheço uma senhora que confeccionou o que ela chama “Pote de Bênçãos”. É um pote de plástico enfeitado com a inscri-ção na tampa: Pote de Bênçãos. Cada vez que ela ou alguém da família recebe alguma benção isso é anotado e colocado lá den-tro. No momento de gratidão é só abrir o pote e agradecer, uma por uma, as bênçãos recebidas.

3. Leitura Bíblica e meditação

Invista um tempo lendo a Pala-vra de Deus. Concentre-se na leitura para evitar a dispersão. Há pessoas que só conseguem se fi xar no texto lendo em voz alta. Tenha à sua disposição diferentes versões da Bíblia. A comparação entre elas pode aju-dar no entendimento do texto. Refl ita sobre o que foi lido.

4. Memorização

Gaste um tempo procurando memorizar a Palavra de Deus. Faça uma lista de versículos a serem memorizados e se esfor-ce para alcançar esse objetivo lembrando que cada pessoa tem uma capacidade de memoriza-ção diferente. O importante é não desistir.

5. Momento de confi ssão

Reconheça, diante de Deus, os seus pecados e peça perdão. Leve em conta as diferentes possibilidades de pecado: pen-samentos (desejos egoístas ou impuros), atitudes (orgulho, arrogância, inveja, avareza), palavras (mentira, fofoca, mur-muração), ação (roubo, vícios, agressões), sem falar nos peca-dos de omissão que inclui todo tipo de negligência, descaso ou omissão.

6. Momento de intercessão

Tenha uma lista de pessoas pe-las quais você vai interceder. Para facilitar faça uma agenda colocando em cada dia da sema-na pessoas de grupos diferentes: familiares, parentes, irmãos da Igreja, autoridades, missioná-rios e, assim por diante. Anote, também, os nomes das pessoas que fazem pedidos de oração.

7. Momento de pedidos

Peça a Deus tudo que você pre-cisa. Tire proveito do privilé-gio dado por Deus de colocar diante dele suas necessidades

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e pedir ajuda lembrando do que Paulo diz em Filipenses 4.19: “O Meu Deus suprirá todas as vossas necessidades, segundo sua riqueza, na glória, em Cristo Jesus”.

Aplicação a sua vida: O autor sugere 7 tópicos para esse mo-mento. Você tem se permitido trabalhar essa sugestão ou você tem mais tópicos a acrescentar?

CONCLUSÃO

Se você deseja ter um tempo especial com Deus comece hoje mesmo. Não deixe para ama-nhã. Essa história de “vou co-meçar qualquer dia desses” não funciona. Para aumentar seu senso de compromisso, que tal fazer um voto? O salmista reco-menda: “Fazei votos ao Senhor, vosso Deus e cumpri-os” (Salmo 76.11). Se for o caso, faça votos condicionais do tipo: Sem “mo-mento de fé” não há café! Sem “tempo para oração” não há te-levisão! O importante é trans-formar seu momento devocio-nal em um hábito, ou seja, uma prática frequente e sistemática com uma assiduidade tal que venha se incorporar à sua vida.

Para isso você precisa ter vonta-de fi rme e persistência. Do con-trário você vai começar mas não vai levar adiante. Uma coisa é certa: O Diabo não quer ver você desenvolvendo o hábito de um momento diário com Deus. Ele não quer que ninguém cresça espiritualmente e vai fazer tudo para desanimar você. Portanto, se esforce, insista, não desista!

Suporte para Pequenos Grupos

1- O que signifi ca relaciona-mento?

2- O que mudaria em sua vida se uma pessoa que você gosta e que mora na mesma casa que você, mas vivesse se escondendo, sem que-rer encontrar ou falar com você?

3- O que é preciso para iniciar um relacionamento com Deus?

4- Por que a maioria das pes-soas não estão experimen-tando a “vida em abundan-cia” de João 10:10?

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Estudo – 36

PRESTE CULTO A DEUSSalmo 100.1,2

INTRODUÇÃO

Neste estudo vamos analisar a adoração cristã no contexto do culto congregacional. Sendo o ato de culto um dos aconteci-mentos mais expressivos da ex-periência humana é importante observar as diretrizes bíblicas para esta prática tão especial.

O culto é tão antigo quanto o homem. No princípio só havia a prática a individual. A partir de Moisés foi instituído o culto congregacional, sendo, por isso, construído o Tabernáculo que, depois, foi substituído pelo tem-plo.

Com o advento do cativeiro fo-ram instituídas as sinagogas que vieram suprir a ausência do templo, possibilitando, assim, a continuidade do culto.

I. O signifi cado do culto

“Cultuai o Senhor com alegria e apresentai-vos a ele com cânti-co”- Salmo 100.2

LEITURAS DIÁRIASSegunda Rm. 12.1-2Terça Hb. 9. 1-10Quarta At. 13. 1-3Quinta Ex. 24.1-11Sexta Ex. 24.12-18Sábado I cor. 16.1- 4Domingo At. 2.1-13

O vocábulo “cultuai” é a tradu-ção da palavra hebraica “abo-dah” que signifi ca “serviço”31.

Vem da mesma raiz da palavra “escravo”. Nesse sentido, o foco é submissão e obediência a Deus. A palavra grega corresponden-te é “latreia” que aparece em Romanos 9.4; 12.1 e Hebreus 9.1,6. Em seu livro “Adoração na Igreja Primitiva Ralph Martin chama a atenção para outro ter-mo usado no Antigo Testamen-to para se referir ao culto. É a palavra “hisahwa” que signifi ca, literalmente, “curvar-se”. Esse termo chama a atenção para o modo como o adorador deve se aproximar de Deus, isto é, com humildade e reverência. Outro

31 Bíblia de Estudo Palavras Cha-ve, Dicionário do Antigo Testamento

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vocábulo usado no Novo Testa-mento é “leitourgia” que signi-fi ca “ação do povo”(Atos 13.2). Assim fi ca clara a natureza con-gregacional do culto.

Aplicação a sua vida: Obser-vamos que o culto é o momento em que há adoração comunitá-ria, ação do povo. Como você tem participado do culto em sua igreja? Comente.

II. A importância do culto

Ao falar sobre a importância do culto o teólogo Karl Barth sin-tetizou, de maneira formidável, este assunto: “O culto cristão é o ato mais importante, mais re-levante e mais glorioso na vida do homem”32.Isso é verdade. Do ponto de vista da Igreja o culto é fundamental. Está diretamen-te relacionado à sua natureza e sua existência.

1. O culto identifi ca a Igreja

A Igreja tem natureza corpora-tiva. O próprio vocábulo “igreja” (do grego eklesia) traz a conota-ção de “reunião”, “ajuntamen-to”, “assembleia”. Essa ideia está presente no Antigo Tes-tamento (Is 1.13b) O culto é, então, a melhor oportunidade para a expressão da igreja em seu aspecto congregacional. Por meio do culto a Igreja pode ser conhecida, identifi cada, seu ta-manho, o trabalho que realiza,

32 J. J. Von Almen, O Culto Cristão, Aste, pág. 16

sua vitalidade. Esse aspecto é tão signifi cativo que, quando al-guém quer conhecer uma igreja procura o seu culto.

2. O culto é um instrumento didático

Através do culto a igreja tem a oportunidade para ensinar as verdades de Deus. Como diz All-men, no ato do culto aprende-mos a ser cristãos, encontramos com Deus, com o mundo e com o próximo. Nele somos instru-ídos na fé, na esperança e no amor. Ele é a escola por exce-lência do cristianismo33. Não há como negar a importância do culto como oportunidade de ensino das verdades da Palavra de Deus.

3. O culto atende as necessi-dades sociais e psicológicas do ser humano

Por ser uma experiência comu-nitária o culto possibilita a seus participantes o suprimento de certas carências de ordem so-cial e psicológica, fator decisivo para a realização do ser huma-no como tal. As pessoas, em ge-ral, têm carências que podem ser supridas na expressão de culto. A pregação, a oração, os cânticos e a comunhão têm uma inegável função terapêutica.

33 J. J. Von Allmen, O Culto Cristão, Aste, pág. 57

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Aplicação a sua vida: Com base nos tópicos sugeridos pelo autor você consegue identifi cá-los em sua parti-cipação no culto? Você tem observado um crescimento pessoal ou apenas um envol-vimento emocional? Refl ita.

III. O culto no Antigo Testa-mento

Apesar das referências sobre a construção de altares e aos ho-locaustos, há poucas informa-ções na Bíblia sobre o culto no tempo dos patriarcas. Podemos dizer que a história do culto congregacional no Antigo Testa-mento começou com Moisés. O tabernáculo foi o primeiro lugar de culto congregacional dos he-breus. Em Êxodo 24 e 25 lemos sobre a experiência de Moisés no monte Sinai. Ali ele recebeu de Deus não somente as instru-ções sobre a Lei como também recebeu o modelo do tabernácu-lo que seria o centro do culto de Israel.

Depois da conquista de Canaã o tabernáculo passou a ser o centro da vida dos israelitas em torno do qual as tribos se orga-nizaram.

Mais tarde veio a construção do templo de Salomão. Ali, o povo de Israel continuou realizando o mesmo tipo de culto que re-alizava no tabernáculo. Com o advento do cativeiro a celebra-ção do culto nos moldes tradi-cionais foi interrompida. Nesse

período surgiram as sinagogas. Não se sabe nada sobre a for-ma de culto na sinagoga nesse tempo. Com a volta do cativeiro e a reconstrução de Jerusalém o culto foi restaurado.

Aplicação a sua vida: Observa-mos que conforme a situação do povo de Deus o local de culto foi adaptado, mas não temos relato de mudança na ordem da cele-bração. Como você entende a adaptação na ordem de celebra-ção que temos experimentado na atualidade?

IV. O culto no Novo Testamento

Quando Jesus veio estava em evidência o culto judaico. O Mestre participou do mesmo no templo e na sinagoga. Certa vez ele chamou o templo de “Casa de meu Pai” (João 2.16). Na con-versa com a mulher Samaritana ele contesta a ideia de lugar ex-clusivo para o culto dizendo que a verdadeira adoração é feita em espírito e em verdade. Entretan-to isto não quer dizer que Jesus estava desvalorizando o culto no templo do qual ele sempre par-ticipava.

De acordo com Atos 2.46 e 3.1 a igreja primitiva participava do culto no templo. Paulo fez, vá-rias vezes, uso da sinagoga para ministrar seus ensinos. Isso deixa bem claro que no início não havia muita distinção entre o lugar de culto judaico e o da Igreja cristã, sendo que este re-cebeu muita infl uência daquele.

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Aplicação a sua vida: Jesus chama a atenção para a forma de participação no culto. Como você vê sua participação?

V. Os elementos do culto

Uma rápida observação da his-tória do culto mostra que atra-vés dos tempos alguns elemen-tos estão sempre presentes no mesmo.

1. A Palavra de Deus

Tanto no judaísmo como na Igreja do Novo Testamento a leitura das Escrituras aparece como parte integrante do culto. Na Apologia de Justino há uma descrição de um ato de culto nas igrejas do segundo século: “Ali se dá a leitura das memó-rias dos apóstolos ou das es-crituras dos profetas até onde o tempo permite. Terminada a leitura o presidente faz uso da palavra para nos admoestar e nos exortar à imitação e práti-ca dessas coisas admiráveis34. Allmen observa que “as memó-rias dos apóstolos” é uma re-ferência aos evangelhos35. O apóstolo Paulo recomenda em Colossenses 4.16 que suas car-tas fossem lidas nos cultos. Re-lacionada à leitura da Bíblia te-mos a pregação que não é outra coisa senão o esclarecimento e a interpretação da verdade bí-blica.

34 H. Bentenson, Documentos da Igreja Cristã, Juerp, pág.10335 J. J. Von Allmen, O Culto Cristão, Aste, pág. 157

Aplicação a sua vida: O mo-mento da leitura e interpretação das verdades bíblicas é ponto importante no culto. Como você tem participado desse momen-to? A explanação tem promovi-do transformação em sua vida?

2. A oração

Em Atos 2.42 há a declaração de que “perseveravam na oração”. A oração no culto público não é uma oração individual. A pessoa que ora não o faz em seu próprio nome, mas em nome de toda a congregação. Daí a necessidade da participação de todos com o “amém”, pois aquela é uma ora-ção de todos.

Aplicação a sua vida: Como você entende a frase “A oração no culto público não é uma ora-ção individual” Comente.?

3. A coleta

Em I Coríntios 16.1,2 lemos: “Ora, quanto à coleta para os santos fazei vós também o mes-mo que ordenei às igrejas da Galácia. No primeiro dia da se-mana, cada um de vós ponha de parte o que puder, conforme tiver prosperado guardando-o para que não se faça coleta quando eu chegar”. Paulo estava recomen-dando que a oferta fosse levan-tada no contexto do culto.

4. Os cânticos

O culto judaico era permeado de cânticos. Muitos dos salmos fo-

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O SER HUMANO E SEUS RELACIONAMENTOS |

ram escritos para serem canta-dos no culto congregacional do templo, como por exemplo o Sal-mo 24, 118, 143, 150. No Novo Testamento há várias evidências da presença da música no culto. Paulo fala em “Salmos, hinos e cânticos espirituais” (Cl 3.16). “Salmos”, refere-se aos salmos do Antigo Testamento. “Hinos” eram cânticos que expressavam verdades doutrinárias, muitos dos quais estão registrados nas cartas de Paulo: Rm 11.33-36; Fl 2.6-11; Cl 1.15-20. “Cânticos espirituais” eram, provavelmen-te, composições espontâneas e o qualifi cativo “espirituais” foi usado para diferenciá-las de outras canções já que o vocábu-lo grego “ode” usado por Paulo pode signifi car qualquer tipo de cântico, inclusive os populares ou folclóricos. Quanto ao uso de instrumentos musicais não há evidência de que fossem usados nos cultos da Igreja primitiva. Com relação ao culto, em nossos dias, é fácil observar na prática litúrgica de muitas igrejas uma tendência judaizante, com a va-lorização de símbolos judaicos, a promoção de festas judaicas. Esta tendência tem se manifes-tado, também, na música, a co-meçar pela designação dos mú-sicos pelo nome de “levitas”. É comum ouvir nas igrejas cânti-cos identifi cados com a teologia do Antigo Testamento. Alguns deles usam palavras hebraicas como “Yeshua” e “hamashia” em lugar de “Jesus” e “Messias”. Al-gumas igrejas estão resgatando o shofar (instrumento de sopro feito de chifre de carneiro), usa-do nas festividades judaicas. Além disso, muitos cânticos se

referem ao povo de Deus como “exército” e a Deus como “va-rão de guerra” colocando em destaque temas como a “arca da aliança”, o “monte santo”, a “sala do trono”, o “santo dos santos”. Isso é perigoso do pon-to de vista doutrinário. Como diz Luiz Sayão, não podemos cantar todo e qualquer texto do Antigo Testamento, pois, muito da sua teologia é ultrapassa-da36. O nosso padrão de dou-trina está no Novo Testamento. Como diz Paulo, os preceitos da antiga aliança são “sombras das coisas que haveriam de vir; mas a realidade é Cristo” (Cl 2.17).

5. A comunhão

O Novo Testamento usa a pa-lavra “koinonia” para se referir à comunhão fraternal reinante entre os cristãos. Em Atos 2.4 lemos: “Perseveravam na doutri-na dos apóstolos, na comunhão, no partir do pão e nas orações. A celebração da ceia expressava a verdadeira comunhão fraternal e a comunhão com o Pai. Havia, também o beijo santo: “Cum-primentai-vos uns aos outros com beijo santo” (Rm 16.16). De acordo com Champlin37 o bei-jo era uma maneira comum de saudar no oriente, incorporado à cultura judaica que o usava em suas saudações como forma de demonstração de afeto (Gn 33.4) e homenagem (I Sm 10.1).

36 Luiz Sayão, Agora, Sim! Teologia na Prática do Começo ao Fim, Ed. VoxLite-ris, pág. 6537 Russell Norman Champlin, O Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo, Soc. Rel. A Voz Bíblica Brasi-leira, Comentário de Romanos

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É natural, então, que esse cos-tume fosse preservado na Igre-ja cristã. Era um beijo dado na testa ou na mão praticado entre homens e mulheres, sem distin-ção. Paulo fez questão de ressal-tar que se tratava de um beijo santo, ou seja, um beijo puro e sincero sem sensualidade ou falsidade. Justino Mártir, em sua Apologia38, diz que o bei-jo santo fazia parte regular do culto na igreja cristã. Em nos-so contexto, hoje, aqui no Bra-sil o simbolismo do beijo santo como expressão de saudação e respeito corresponde ao aperto de mão e ao abraço, tão comuns em nossa cultura.

CONCLUSÃO

A experiência de culto é uma das mais signifi cativas e mais gratifi cantes do ser humano em sua jornada aqui na terra. Lou-vado seja Deus que nos concede esse privilégio. É preciso ressal-tar que o culto não é um favor que se presta a Deus. Ele não é um ser megalomaníaco que fi ca no seu trono esperando que todos reconheçam seu poder e majestade e venham adorá-lo. A verdade é que Deus não preci-sa do nosso culto. Se deixarmos de cultuá-lo ele continua sendo Deus. Quem precisa do culto so-mos nós. É através dele que nós nos edifi camos e experimenta-mos as bênçãos próprias desta maravilhosa experiência.

38 Op. Cit.

Suporte para Pequenos Grupos

1- Qual a importância de cul-tuar a Deus?

2- O que devo fazer para que a maneira como o outro cultua a Deus não atrapa-lhe o culto que estou pres-tando?

3- O jeito que você cultua a Deus tem edifi cado a igreja também?

4- A comunhão em sua igreja tem crescido?

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O SER HUMANO E SEUS RELACIONAMENTOS |

Estudo – 37

SOMOS CRIATURAS DE DEUSGênesis 1.27

INTRODUÇÃO

No livro Histórias do Mundo para Crianças, de Monteiro Lobato, D. Benta reúne seus netos para contar a história de como tudo começou. Com a tur-ma toda reunida a avó de Pedri-nho e Narizinho começa a nar-rar os acontecimentos de forma cronológica falando sobre o sur-gimento do mundo. As crianças aprendem que “tudo veio vindo lentamente, passo a passo, uma coisa saindo da outra, atra-vés de milhões de milhões de anos”39. O espirro do sol gerou a terra, o vapor da terra gerou a chuva que, por sua vez, gerou os oceanos. Depois foram surgindo as plantas, os insetos, os pei-xes e os répteis. E, sem perder o foco, continuou a vovó Benta: “Vieram depois os animais... E depois vieram os macacos. E dos macacos viemos nós, gente – ou os Homens”. Como se pode ver, a base da referida história infantil é a teoria evolucionista.

Segundo o evolucionismo de Charles Darwin o homem é o

39 Monteiro Lobato, Histórias Do Mundo Para Crianças, Ed. Brasiliense, pág. 9

LEITURAS DIÁRIASSegunda Gn.1.1-27Terça Is.40. 26-31Quarta Gn.35. 16-21Quinta Sl. 42.1-6Sexta Ec. 12.1-8Sábado Mt. 27.45-55Domingo Tg.2.14-26

resultado de uma evolução a partir de organismos unicelu-lares através de uma série de transformações biológicas ocor-ridas durante milhões de anos passando por diversos tipos de vida até chegar ao homem. En-tretanto, é preciso dizer que a teoria evolucionista nunca foi comprovada e não há nenhuma descoberta científi ca ou arqueo-lógica que possa dar sustenta-ção a ela.

Em confrontação com a teoria evolucionista está a narrativa bíblica, a partir do livro de Gê-nesis, segundo a qual o homem foi criado por Deus, não sendo, assim, obra do acaso, mas o fru-to da vontade soberana do Cria-dor que fez o céu e a terra e nela colocou o homem, obra prima de sua criação.

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Aplicação a sua vida: A Bíblia deixa claro que o homem não é obra do acaso, nem fruto de uma evolução como muitos querem afi rmar. Somos a obra prima de Deus. Como você tem reafi rmado essa máxima em sua vida?

I. A realidade da criação

“E criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou” Gn 1.27

A afi rmação é clara e categórica. Não existe margem para qual-quer adendo ou ressalva. O ser humano foi criado por Deus. O verbo “criar”, do hebraico “ba-rah” que signifi ca “formar”, “tra-zer à existência”, “iniciar uma coisa nova”, aparece nos versos 1 e 21 e é usado, agora na cria-ção do homem, com 3 ocorrên-cias no verso 27. Ele aparece também em outros textos da Bí-blia (Sl 51.10; Is 40.26,28; 45.8; 65.17) e, em todos os casos, somente Deus é o sujeito deste verbo40.

Quando o texto diz “Homem e mulher os criou” deixa claro que Deus criou o ser humano em duas versões, masculina e fe-minina, com a mesma essência, a mesma natureza e a mesma dignidade. Langston faz ques-tão de enfatizar que a mulher é tão humana quanto o homem e, da mesma maneira, o homem é

40 Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento

tão humano quanto a mulher41. Em nenhum lugar da Bíblia há, sequer, indício de superioridade do homem em relação à mulher. Por isso, qualquer menosprezo ou desrespeito ao sexo feminino está totalmente fora de propósi-to. A discriminação da mulher é um fenômeno cultural fruto da ignorância e da maldade huma-na que não tem lugar na experi-ência daqueles que conhecem a Palavra de Deus.

Aplicação a sua vida: O autor afi rma que a discriminação da mulher é um fenômeno cultural fruto da ignorância e da malda-de humana. Como você enten-de essa experiência no meio de pessoas que são novas criatu-ras em Cristo Jesus?

II. O corpo humano

“E o Senhor Deus formou o ho-mem do pó da terra”. Gn2.7a

A palavra traduzida por homem em Gênesis 1.26 vem do vocá-bulo hebraico “adham”, de onde veio, também, o nome Adão, que signifi ca avermelhado ou aquele que foi feito de “adamah” (terra). Adão foi feito do pó da terra. A ciência tem comprovado a existência de, pelo menos 21 minerais no corpo humano, tais como cálcio, ferro, fósforo, mag-nésio, zinco e potássio. Além disso, o corpo humano tem uma estrutura admirável e incompa-

41 A. B. Langston, Esboço de Teologia Siste-mática, Juerp, pág 125

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rável, diferente de todos os ou-tros animais. Suas mãos são únicas. Nenhum outro animal tem a mesma possibilidade de fl exionar os dedos nem a capa-cidade excepcional de segurar e manipular ferramentas. A pos-tura ereta e o caminhar sobre duas pernas é peculiar dos hu-manos. O corpo humano possui um osso em forma de ferradu-ra, abaixo da língua, chamado hióide, que não está ligado a ne-nhum outro osso do corpo. Sua função é permitir a articulação das palavras ao falar42. O cére-bro humano tem capacidade de racionar e pensar muitas vezes além do que qualquer animal. Cada um dos 100 bilhões de neurônios do cérebro está ligado a 10 mil outros e assim é capaz de receber 10 mil mensagens ao mesmo tempo; a partir desse colossal volume de informações, o neurônio tira uma única con-clusão, a qual, por sua vez, pode ser comunicada a milhares de outras células. Calcula-se que existam entre os neurônios nada menos de 100 trilhões de conta-tos, as sinapses. O chimpanzé, por exemplo, é um dos animais mais inteligentes, pois pode até aprender uma dúzia de palavras em linguagem de surdo-mudo e manter certa comunicação com seres humanos. Mas, entre o cé-rebro do chimpanzé e o do ho-mem existe um abismo43.

42 Internet, HipeScience43 Revista Super Interessante de 30/10/2016

Aplicação a sua vida: O ser hu-mano como obra prima de Deus é dotado de capacidades infi ni-tamente maiores que o mais ca-paz dos seres primários. Como podemos viver de forma a hon-rar o criador?

III. O espírito humano

“E soprou-lhe nas narinas o fôlego da vida; e o homem tor-nou-se alma vivente” Gn 2.7b

Ao soprar o fôlego de vida nas narinas do homem Deus estava pondo dentro dele aquilo que nenhum outro ser vivo tem: o espírito. A palavra soprar indi-ca a ação de pôr o ar em mo-vimento, isto é, produzir vento. A palavra vento no hebraico é “ruach”, que, também, é traduzi-da por “espírito”. Ou seja, como resultado do sopro de Deus o homem recebeu o espírito.

Quanto à constituição do ser humano os teólogos se dividem em dois grupos. Há os que en-tendem que o homem tem corpo e alma. Esses são chamados de dicotomistas. Outros, fi rmados em passagens como 1Tessalo-nicenses 5.23 e Hebreus 4.12 apresentam uma tríplice divisão na constituição do homem: cor-po, alma e espírito. Esses são chamados de tricotomistas. Os dicotomistas creem que alma e espírito são a mesma coisa e que as passagens bíblicas que se referem tanto a um como ao outro estão usando palavras diferentes com o mesmo signifi -cado.

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Sem entrar no mérito desta dis-cussão, vale ressaltar que dois renomados teólogos batistas, Augustus Hopkins Strong e Alva Bee Langston, são dicotomistas. Para Strong a “consciência tes-tifi ca que há dois e só dois ele-mentos no homem. A Escritura confi rma esse testemunho no qual a representação prevale-cente da constituição humana é a dicotomia”44. Para reforçar a ideia de que alma e espírito são a mesma coisa ele arrola, entre outros, os seguintes tex-tos: Gn 35.18; Sl 42.6; Ec 12.7; Mt 27.50; Tg 2.26 e Ap 6.9.

Para Langston os termos alma e espírito são usados na Bíblia em diferentes relações. O termo espírito é empregado quando se refere à relação da vida do ho-mem para com Deus e alma é usado quando a referência é fei-ta à vida do homem para com as coisas terrenas45.

Aplicação a sua vida: O Espí-rito (sopro divino) é o que dife-rencia o ser humano das outras criaturas. Como você entende a atuação do Espirito santo em sua vida?

CONCLUSÃO

Toda a criação existe para a glória de Deus. No Salmo 19.1 lemos que “os céus proclamam a glória de Deus e o fi rmamen-to anuncia as obras das suas

44 A. H. Strong, Teologia Sistemática, Ed. Hagnos, vol. 2, pág. 86945 A, B. Langston, Esboço de Teologia Siste-mática, Juerp, pág. 129

mãos”. Isso vale, também, para o ser humano. Em Isaias 43.7 lemos que Deus nos criou para sua própria glória. Sendo assim, precisamos estar conscientes de que tanto o corpo como a alma devem existir com o propósito de glorifi car a Deus em todas as áreas de nossa experiência exis-tencial. Devemos viver uma vida ajustada aos propósitos de Deus de acordo com padrão estabele-cido em Filipenses 1.11: “Cheios do fruto da justiça, que vem por meio de Jesus Cristo, para glória e louvor de Deus”. Além de viver para a glória de Deus precisamos proclamar a glória dele como bem expressou Davi em I Crônicas 16.24: “Anunciai entre as nações a sua glória, entre todos os povos as suas maravilhas”.

Suporte para Pequenos Grupos

1. Diante do relato Bíblico e tantas teorias a respeito da criação do homem como tem se posicionado como cris-tão?

2. O que dizer a respeito da criação da mulher?

3. Explique com suas palavra: “E soprou o fôlego da vida”. Gn. 2.7b. O que representa isto para o ser humano?

4. Como você pode servir a Deus e ao próximo com as descobertas que fez através desta lição?

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REFLEXÕES BÍBLICAS IV | 203

O SER HUMANO E SEUS RELACIONAMENTOS |

Estudo – 38

SOMOS PARECIDOS COM DEUSGênesis 1.26

INTRODUÇÃO

A expressão popular “fi lho de peixe, peixinho é”, tão comum em nosso cotidiano é usada no contexto de afi nidades ou seme-lhança entre um fi lho e seu pai ou mãe. Em outros momentos a semelhança entre pai e fi lho é defi nida por expressões como “tem a cara do pai”, ou, “tal pai, tal fi lho”.

A narrativa bíblica sobre a cria-ção do homem traz, também, a informação de que fomos cria-dos à imagem e semelhança do nosso Criador. Em outras palavras, somos parecidos com Deus. Compreender o signifi ca-do e as implicações desta verda-de é fundamental para o nosso posicionamento como cidadãos neste mundo e para o nosso re-lacionamento com Deus.

I. Fomos feitos por Deus

“E disse Deus, façamos o ho-mem...” Gn 1.26a

Conforme está registrado na Bí-blia, no sexto dia da criação o Senhor Deus olhou para todas as coisas que havia feito e viu que tudo era muito bom. A sua obra estava concluída e apro-

LEITURAS DIÁRIASSegunda Gn.1.26-31Terça Jo.4.1-24Quarta I Pe. 1.13-21Quinta I Jo. 4.1-21Sexta Sl.8.1-9Sábado He. 2.6-18Domingo Tg.3.1-12

vada, e nela estava incluído o homem. Mas não é por acaso que na narrativa da criação do homem, além do verbo “criar” é usado o verbo “fazer”. Nos atos anteriores da criação Deus sim-plesmente deu o comando. Ele disse “haja” ou “produza” e tudo passou a existir. Mas quando se tratou da criação do homem foi diferente. Em vez do comando ele disse: “Façamos o homem”.

O verbo “fazer”(asah) tem o sen-tido de “executar”, “levar a cabo uma atividade com um propósito distinto”46. A ideia, aqui, é que o ser humano foi manufaturado por Deus como um artesão faz uma escultura de barro. Esta é uma singularidade que coloca em destaque a criação do ho-mem.

46 Bíblia de Estudo Palavras Chave, Dicio-nário do Antigo Testamento

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| SEBASTIÃO ARSENIO DA SILVA

Aplicação a sua vida: Na cria-ção o Ser humano é aquele que o criador moldou, como o artis-ta molda a argila. Imagine Deus moldando o homem conforme a sua imagem e semelhança. Tempo dedicado, sonhos pro-jetados, sentimentos experi-mentados, desejos empregados. Diante de tanto fascínio como você percebe a falta de valor que o ser humano tem dado a sua vida? Comente.

II. Imagem e semelhança

“à nossa imagem, conforme nos-sa semelhança” Gn 1.26b

O homem não foi, apenas, feito por Deus. A declaração de Gê-nesis 1.26, confi rmada no verso 27 traz à luz esta verdade subli-me de que ele foi criado à ima-gem e semelhança do Criador. Isso estabelece um contraste signifi cativo em relação a tudo que havia sido criado. As árvo-res e os animais foram criados “segundo sua espécie”. Por cin-co vezes esta expressão aparece no capítulo primeiro de Gênesis. No caso do homem foi comple-tamente diferente. Ele não foi feito segundo nenhuma espécie, mas à imagem e semelhança de Deus. Em nenhuma outra pas-sagem do Antigo Testamento esses dois substantivos são pa-ralelos ou relacionados um com o outro. Entretanto não há ne-nhuma distinção entre eles. São sinônimos. Em Gênesis 1.26 aparecem as duas, mas em 1.27 aparece apenas uma mas o sentido continua o mesmo47.

47 Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento

O padrão para a criação do ho-mem foi Deus. Somos sua ima-gem e semelhança.

É claro que o ensino sobre a imagem divina no homem não tem nada a ver com a forma físi-ca. Deus é espírito (João 4.24). Nossa semelhança com Deus é, apenas, no aspecto espiritu-al. Mas que fi que bem claro que “imagem” e “semelhança” não signifi ca uma divinização do ho-mem. Homem é homem e, ape-sar de sua importância e digni-dade, foi criado menor do que os anjos (Sl 8.5) e não é igual a Deus.

Sendo o homem imagem e se-melhança de Deus, em que con-siste essa semelhança? Sem dúvida alguma, é o espírito que Deus colocou no homem que permite nossa semelhança com ele. A imagem de Deus em nós consiste na semelhança natural (pessoalidade) e na semelhança moral (santidade, justiça mise-ricórdia, bondade e amor).

A semelhança natural está li-gada a elementos da persona-lidade e, de acordo com Langs-ton inclui o intelecto, a afeição e a vontade48. O intelecto dá ao homem a capacidade de julgar, recordar, imaginar e raciocinar. A afeição está ligada à capaci-dade de sentir dor, prazer, ódio, enfi m, as emoções. A vontade é faculdade de aceitar ou rejeitar o que lhe é proposto. O homem é consciente de si mesmo, é dotado de raciocínio e intuição. É capaz de fazer associação de ideias e lidar com conceitos abs-

48 A. B. Langston, Esboço de Teologia Siste-mática, Juerp, pàg. 130

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O SER HUMANO E SEUS RELACIONAMENTOS |

tratos. Em suma, o homem é um ser pessoal e, como afi rma Strong, é essa pessoalidade que o distingue dos outros animais. “Pessoalidade é o duplo poder de conhecer a si mesmo relacio-nado com o mundo e com Deus e determinar o eu com vistas a fi ns morais”49.

Aplicação a sua vida: O autor destaca a semelhança natural que temos com Deus que está ligada a elementos da persona-lidade incluindo o intelecto, a afeição e a vontade. Como você entende esses elementos na vida do cristão?

A semelhança moral está ligada aos chamados atributos comu-nicáveis de Deus. Alguns atribu-tos que os teólogos chamam de incomunicáveis são exclusivos de Deus, tais como a soberania, a eternidade, a imutabilidade, a infi nitude, a onipotência, oni-presença e onisciência. Os atri-butos comunicáveis (santidade, justiça, misericórdia, bondade e amor) podem ser comparti-lhados pelos seres humanos. A Bíblia diz que devemos ser santos porque Deus é santo (I Pd 1.15,16), que devemos ser misericordiosos porque Deus é misericordioso (Lucas 6.36), que devemos amar porque Deus é amor (I Jo 4.7,8). Quando bus-camos a santidade, praticamos a justiça, a misericórdia, a bon-dade e exercitamos o amor nos tornamos, cada vez mais pareci-dos com Deus.49 A. H. Strong, Teologia Sistemática, Ed. Hagnos, pág. 919

Aplicação a sua vida: como po-demos evidenciar nossa seme-lhança com Deus em seus atri-butos comunicáveis (santidade, justiça, misericórdia, bondade e amor)? Comente.

III Coroa da Criação

“Domine ele sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre o gado, sobre os animais selva-gens e sobre todo animal raste-jante que se arrasta sobre a ter-ra” – Gênesis 26c

A imagem de Deus no homem faz dele a obra prima da cria-ção e, como coroa da criação o ser humano recebeu de Deus a prerrogativa de exercer lideran-ça, poder e autoridade sobre a natureza e dominar “sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e todos os animais” como está registrado em Gênesis 1.26,28. Esta mesma ideia está presente no Salmo 8.4-8 citado em Hebreus 2:6-8.

Apesar de sua debilidade físi-ca quando comparado a outros animais de maior porte e maior força e de sua fragilidade dian-te dos fenômenos da natureza o homem recebeu de Deus ha-bilidade e inteligência que o ca-pacitam a dominar os animais e controlar o meio ambiente para atender seus desejos e necessi-dades. De acordo com o Salmo 115.16, ao criar o universo Deus achou por bem deixar a terra su-jeita ao controle do ser humano. Sendo assim podemos fazer uso dela para os nossos propósitos.

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É claro que o homem não tem direito de abusar dessa prerro-gativa para promover a destrui-ção da natureza nem a extinção dos animais. Mas é inegável o fato de que ele tem o direito tirar proveito dos recursos naturais e dos animais para seu bem-estar e sobrevivência.

Aplicação a sua vida: O ser humano recebeu de Deus a ha-bilidade e inteligência que o ca-pacitam a dominar os animais e controlar o meio ambiente para atender seus desejos e necessi-dades. Em sua opinião por que ele não só domina mas destrói? Comente.

CONCLUSÃO

No Salmo 8, ao mesmo tem-po em que coloca em evidência a grandeza e a glória de Deus, Davi destaca a dignidade do ho-mem: “Tu o fi zeste um pouco me-nor que os anjos e o coroaste de glória e honra”(Sl 8.5). Essa ver-dade precisa estar sempre em evidência para que jamais ve-nhamos a subestimar ou aviltar a dignidade que Deus concedeu a cada ser humano. Precisamos ver em cada pessoa a imagem de Deus sem levar em conta o tra-je, a cultura ou a condição so-cioeconômica. O desrespeito, o descaso e o preconceito são ati-tudes inconsequentes em rela-ção a qualquer ser humano. Em Tiago 3.9,10 aprendemos que não podemos amaldiçoar os ho-mens, “feitos à semelhança de Deus” e em Gênesis 9.6 lemos que não podemos atentar contra a vida de um ser humano por-que “Deus o fez à sua imagem”.

Além disso, cada um precisa ter consciência de sua própria dig-nidade tendo cuidado para não desfi gurá-la por meio de ações pecaminosas e escolhas erra-das.

Se não fosse a imagem e seme-lhança de Deus o homem não poderia se relacionar com ele nem seria possível a revelação. Como afi rma Langston, o fato de Deus manifestar-se ao homem é porque o homem pode receber e compreender essa manifesta-ção. O homem é uma pessoa, assim como Deus, e pode ter com ele um relacionamento de natureza pessoal. A imagem de Deus no homem estabelece a possibilidade de se estabelecer comunhão entre ambos e isso faz toda a diferença.

Suporte para Pequenos Grupos

1. Que sentimento vem ao seu coração ao pensar que você foi moldado pelo Criador?

2. O que dizer às pessoas que tem o pensamento de tirar a própria vida como se fosse o Criador?

3. Sendo o homem imagem e semelhança de Deus, em que consiste essa semelhança? Explique com suas palavras como isto é evidente na sua vida.

4. Depois de tudo que ouviu hoje você sente que precisa mudar algo em sua vida? Pode compartilhar?

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O SER HUMANO E SEUS RELACIONAMENTOS |

Estudo – 39

SOMOS PECADORESRomanos 5.12

INTRODUÇÃO

O conceito de pecado no Novo Testamento está ligado a uma palavra grega que signifi ca “er-rar o alvo”. O alvo, nesse caso é o propósito de Deus, a fi nali-dade para a qual fomos criados. Deus tem um plano para cada um de nós aqui no mundo, mas o pecado impede a concretiza-ção desse plano na experiência humana. Entretanto, essa falha em atingir o alvo estabelecido por Deus não se trata de um desvio resultante das limitações humanas. É uma expressão de rebeldia como está escrito em I João 3.4: “Todo o que vive ha-bitualmente em pecado também vive em rebeldia contra a lei, pois o pecado é rebeldia contra a lei”. Quando se confronta consigo mesmo o ser humano não tem como negar essa realidade pois, conforme está escrito em I João 1.8 “Se dissermos que não te-mos pecado algum, enganamos a nós mesmos e não há verdade em nós”. Admitir a realidade do pecado é o primeiro passo para que o ser humano tenha uma percepção correta de si mesmo e das implicações do pecado no seu relacionamento com o Criador.

LEITURAS DIÁRIASSegunda Rm.5.12-21Terça I Jo 3.1-10Quarta I Jo 1.8-10Quinta Mt.5.23-30Sexta Rm. 6. 12-14Sábado Tg. 4. 7-10Domingo Ef. 2.1-10

I. A universalidade do pecado

“Portanto, assim como o peca-do entrou no mundo por um só homem, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, pois todos pe-caram” – Rm 5.12

Por esse texto Paulo nos ensina que nossa natureza pecamino-sa tem origem em Adão e, por ser descendência dele nenhum ser humano está isento da con-taminação do pecado. A queda de Adão alcançou toda a raça humana havendo, então, uma conexão do pecado de Adão com o pecado de toda a humanida-de. O fato é que Adão era o re-presentante da raça humana e, como declarou Paulo em seu discurso no Areópago de Atenas, toda a raça humana foi feita de “um só” (Atos 17.26). Isso signi-fi ca que a humanidade inteira

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estava potencialmente em Adão. Quando ele desobedeceu a Deus o pecado passou a fazer parte de sua natureza moral e como seus descendentes somos her-deiros de sua natureza pecami-nosa. Por isso Paulo declara de forma categórica e incontestável em Romanos 3.23: “Porque to-dos pecaram e estão destituídos da glória de Deus”. Nesse senti-do a Bíblia não deixa a menor dúvida. Em I Reis 8.46 Salomão declara: “Não há homem que não peque”. Em Eclesiastes 7.20 le-mos: “Pois não há um só homem justo sobre a terra, que só faça o bem e nunca peque”. Essa de-claração é confi rmada por Paulo em Romanos 3.10 “Não há um justo, nem um sequer”. Davi re-conheceu sua natureza pecami-nosa quando disse: “Eu nasci em iniquidade e em pecado mi-nha mãe me concebeu” (Sl 51.5). Esta declaração revela que o salmista estava consciente de que o pecado estava presente em sua natureza desde a con-cepção. Então, não há dúvida. Como descendentes de Adão todos somos pecadores e incli-nados a transgredir deixando de fazer a vontade de Deus.

Aplicação a sua vida: O trans-gredir faz parte da natureza pecaminosa do ser humano. A nova criatura transformada pelo poder de Deus luta diaria-mente com essa natureza e só consegue vencê-la em Cristo. Como você tem fortalecido a sua nova criatura?

II. As categorias de pecado

Em seu livro Retorno à Santi-dade, Gregory Frizzell traz uma proposta de aprofundamento e purifi cação diária em busca do crescimento espiritual e rela-cionamento com Deus fazendo uma abordagem das diferentes categorias de pecado, assim descritas50: pensamento, atitu-des, palavra, relacionamentos, ação, omissão e autocontrole.

1. Pecados de Pensamento

Em Mateus 5.28 Jesus ensina que o pecado não se confi gu-ra, apenas, através do ato mas, também, através da intenção: “Eu, porém, vos digo que todo aquele que olhar com desejo para uma mulher já cometeu adultério com ela no coração”. O pensa-mento impuro, o desejo devasso já é pecado. Se houver intenção de cometer adultério já é adul-tério. Por isso precisamos ter cuidado com os pensamentos que ocupam nossa mente. Não podemos dar lugar a pensamen-tos impuros. Muitos pecados de homicídio, imoralidade sexual, roubos, etc, têm sido cometidos primeiro em pensamento.

2. Pecados de Atitudes

Atitude é a disposição interior que determina nossas escolhas e nossas ações.

Em nosso dia a dia, cada ação está vinculada a atitudes pre-

50 Gregory R. Frizzell, Retorno à Santiade, Ed. Imprensa da Fé

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O SER HUMANO E SEUS RELACIONAMENTOS |

viamente assumidas. Em Fi-lipenses 2.3 Paulo menciona a rivalidade e o orgulho como atitudes inconvenientes: “Não façais nada por rivalidade nem por orgulho, mas com humilda-de, e assim cada um considere os outros superiores a si mes-mos”. Assim como estas há ou-tras atitudes pecaminosas como o preconceito, a arrogância, o egoísmo, a avareza. Vamos nos colocar diante de Deus e bus-car nele entendimento para não pensar que somos superiores aos outros. A não olhar o outro com desprezo ou preconceito. A ter um espírito manso e com-preensivo.

Aplicação a sua vida: Na atu-alidade está muito em moda a luta contra pecados de atitu-des tais como: preconceitos, e discriminações, em que fi ca expressa o desprezo pelo outro e o sentimento de superiorida-de surge sutilmente. Você já se percebeu cometendo esse peca-do e se envergonhou? Comente.

3. Pecados de Palavra

O problema é que, nem sempre estamos conscientes do poder das palavras e, por isso, as usa-mos de forma errada. Portanto, cada palavra que sai da nossa boca deve ser avaliada. Em Ma-teus 12.36 Jesus declara: “Digo--vos que, no dia do juízo, os ho-mens terão de dar conta de toda palavra inútil que disserem”. Diante de Deus você se torna responsável por tudo aquilo que

diz. A palavra pode construir como, também, pode destruir. Como está escrito em Provér-bios 18.21 “A morte e a vida estão em poder da língua”. Um vocabulário adequado resulta de uma vida santifi cada diante de Deus. Palavras impróprias e inúteis comprometem o caráter cristão. Em efésios 4.29 lemos: “Nenhuma palavra torpe saia da vossa boca”. Palavras torpes são palavras feias, agressivas, de-preciativas. Há também as obs-cenidades, os gracejos imorais e as conversas tolas mencionadas em Efésios 5.4. Permita que o Espírito Santo de Deus domine o seu coração e submeta suas palavras ao crivo da Palavra de Deus. Falar palavrões, partici-par de rodinhas de piadas inde-centes, gírias impróprias, crítica maldosa, mentira, fofoca e coi-sas semelhantes a estas devem fi car totalmente fora de nossos hábitos.

Aplicação a sua vida: A língua é um órgão que pode ser usa-do para abençoar, mas também para amaldiçoar. O servo deve a cada dia melhorar seu linguajar para refl etir seu caráter cristão. Como você tem buscado contro-lar a sua língua?

4. Pecados nos Relacionamentos

Muitas vezes o pecado se mani-festa na nossa maneira de lidar com os nossos semelhantes. Em Mateus 5.23,24 Jesus ensinou que se, num contexto de culto, alguém estivesse pronto para

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dar uma oferta e lembrasse de um desentendimento entre si e outra pessoa, deveria, primeiro acertar suas pendências com aquela pessoa. O que Jesus está ensinando é que um relaciona-mento inadequado com alguém incapacita a pessoa para uma experiência de comunhão com Deus. Precisamos ter cuidado para não ofender o outro. E, se ofendermos, precisamos pedir perdão. Do outro lado, se for-mos ofendidos, em vez de amar-gura e ressentimento precisa-mos liberar perdão para quem nos ofendeu.

5. Pecados de Ação

Os pecados de ação consistem na quebra direta dos preceitos de Deus. São atos de trans-gressão, de confrontação direta com os propósitos de Deus. Em Romanos 6.12 Paulo chama a atenção para o fato de que os pecados de ação se manifestam por meio do corpo: “Portanto, que o pecado não reine em vosso corpo mortal a fi m de obedecer-des seus desejos”. Precisamos ter cuidado para que as nossas energias físicas e mentais sejam canalizadas para a santifi ca-ção e não para o pecado, já que segundo as Escrituras o nosso corpo é templo do Espírito San-to (I Co 6.19). Tenhamos cui-dado, pois, para não abusar do nosso corpo usando-o em favor do pecado. Nossas mãos, nos-sos pés e os órgãos dos sentidos precisam ser usados para a gló-ria de Deus. Tenhamos cuidado

com a gula, bebida alcoólica, drogas, fumo, pecado sexual ou qualquer outro tipo de ação pe-caminosa.

Aplicação a sua vida: O peca-do de relacionamento e de ação estão diretamente ligados, pois ambos afetam o outro. Como você tem tratado seus impulsos para que não se tornem peca-dos expressos? Comente.

6. Pecados de Omissão

Em Tiago 4.7 lemos: “Pensem nisto, pois: Quem sabe que deve fazer o bem e não o faz, comete pecado”. Muitas vezes pecamos porque fazemos coisas erradas. Outras vezes pecamos porque deixamos de fazer coisas certas. É o pecado por omissão. O pe-cado mencionado em I Samuel 12.23 é a omissão, no caso, dei-xar de orar por alguém que está passando por necessidades. To-das as vezes que deixamos de fazer aquilo que Deus quer esta-mos pecando.

7. Pecados de Autocontrole

Autocontrole é o mesmo que domínio próprio, um dos com-ponentes do fruto do Espírito conforme Gálatas 5.23. A vitória sobre o pecado depende do nos-so domínio próprio, isto é, nossa capacidade de negar a própria vontade e os desejos carnais. Em Romanos 6.6 Paulo fala que a nossa natureza humana, mar-cada pelo pecado, foi crucifi cada com Cristo: “Pois sabemos isto:

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a nossa velha natureza humana foi crucifi cada com ele, para que o corpo sujeito ao pecado fosse destruído, a fi m de não servir-mos mais ao pecado”. Em Ma-teus 16.24 Jesus ensinou que a vida centrada no “eu” tem que ser crucifi cada: “Se alguém qui-ser vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga--me”. Negar a si mesmo é dizer não aos impulsos da natureza humana e optar por fazer a von-tade de Deus. A falta de auto-controle permite que cedamos aos impulsos de nossa natureza carnal, dando lugar ao pecado. É necessário, então, que nos fortaleçamos no Espírito para que sejamos capazes de domi-nar os impulsos da nossa natu-reza pecaminosa e, assim, obter a vitória sobre o pecado.

Aplicação a sua vida: Sabemos que somos diferentes e temos reações diferenciadas. Como nova criatura em Cristo Jesus devemos ser regidos pelo Es-pirito Santo. Você têm conse-guido dominar seus impulsos? Comente.

III. A consequência do pecado

“Porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor” – Rm 6.23

O salário do pecado é a morte e, de acordo com Bíblia, morte é separação de Deus. Essa se-paração se realiza de duas ma-

neiras. Em primeiro lugar, há a separação de Deus, aqui neste mundo. A Bíblia diz que aquele que vive nos prazeres do pecado está morto espiritualmente: “Ele vos deu vida estando vós mor-tos nas vossas transgressões e pecados” (Ef. 2.1). Esse tipo de vida é uma vida vazia e sem paz, marcada pela insegurança, medo e culpa. Tudo isso resulta da separação de Deus. Em se-gundo lugar, a Bíblia ensina que morte é separação de Deus por toda a eternidade como explica Paulo em II Tessalonicenses 1.9: “Estes sofrerão como castigo a perdição eterna, longe da presen-ça do Senhor e da glória do seu poder”. Um dia Jesus voltará e acontecerá o julgamento fi nal. A humanidade inteira compa-recerá perante o Senhor Jesus e será dividida em dois grandes grupos. Quanto a esse dia a Bí-blia diz o que Jesus vai fazer: “Então, ele dirá também aos que estiverem à sua esquerda: Mal-ditos, afastai-vos de mim para o fogo eterno, preparado para do Diabo e seus anjos” (Mt 25.41). Por nos afastar de Deus o pe-cado traz como consequência a perda de sentido para a vida aqui no mundo e, na eternidade, a condenação do inferno.

Aplicação a sua vida: Como você tem percebido o esfriamen-to de muitos no relacionamento com Deus e até mesmo perden-do o sentido da vida? Quais ati-tudes suas têm levado esperan-ça para as pessoas? Comente.

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CONCLUSÃO

Graças a Deus que enviou Je-sus para nos salvar por sua morte na cruz, nos libertando, assim, da condenação do peca-do. Por Jesus podemos receber o dom gratuito de Deus, que é a vida eterna. Como diz Pau-lo em Romanos 5.15 e 18 “se pela transgressão de um muitos morreram, muito mais a graça de Deus, e a graça pela dádiva de um só homem, Jesus Cristo, transbordou para muitos. Por-tanto, assim como por uma só transgressão veio o julgamento sobre todos os homens para a condenação assim também por um só ato de justiça veio a gra-ça sobre todos os homens para a justifi cação que produz vida”. Não temos outra opção senão buscar em Jesus a vitória sobre o pecado e, por meio dele alcan-çar o perdão tendo acesso à sua graça. Somente assim podemos ter certeza de que estamos sal-vos e passaremos a eternidade no céu.

Suporte para Pequenos Grupos

1- Conforme Rm.5.12 “ todos somos pecadores”. Como se pode livrar desse pecado?

2- Como podemos alcançar a justiça de Deus?

3- O que você entende por pecado de pensamento?

4- Compartilhe o que en-tendeu sobre os pecados: atitudes, palavra, relacio-namento, ação, omissão e autocontrole?

5- Você sente que precisa con-fessar algum pecado para sua caminhada com Deus?

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O SER HUMANO E SEUS RELACIONAMENTOS |

Estudo – 40

SOMOS AMADOS POR DEUSJoão 3.16

INTRODUÇÃO

A tragédia instalada após a queda do homem no jardim do Éden, por sua desobediência, tem o seu contraponto em Gê-nesis 3.15 onde Deus anunciou que a cabeça da serpente seria ferida pelo descendente da mu-lher. A interpretação corrente desse texto é que se trata da promessa de um redentor e que o descendente da mulher nele mencionado é Cristo. Por esta razão alguns estudiosos deno-minam esse texto de “proto-e-vangelho” (primeiro evangelho) porque, pela primeira vez Deus dá indício da existência de um plano de redenção para o ho-mem caído demonstrando, as-sim, o seu amor. A condenação confi gurada em Gênesis 3.23 e 24 com a expulsão do casal do jardim é natural e está de acor-do com a santidade e a justiça de Deus. Mas a Bíblia nos ensi-na que Deus é amor e por este amor ele planejou salvar a hu-manidade perdida.

I. A natureza do amor de Deus

“Porque Deus amou o mundo de tal maneira”

Não há nenhum amor que possa se comparar ao amor de Deus.

LEITURAS DIÁRIASSegunda Jo. 3.1-21Terça Lc.13.31-35Quarta I jo 4. 7-21Quinta Is 7. 10-25Sexta Jo.10.1-18Sábado II Co. 5.11-21Domingo Rm.4.1-25

Ele é insuperável, inigualável, singular. A descrição que a Bí-blia faz deste amor está além de toda a capacidade de compre-ensão da mente humana. Aqui em João 3.16 encontramos, pelo menos dois aspectos desta des-crição.

1. O amor de Deus e universal

A palavra “mundo” é a tradução do vocábulo grego “kosmos”51 e se refere à terra incluindo todos os seus habitantes., isto é, toda a humanidade. Signifi ca que o amor de Deus alcança todas as pessoas, dignas ou indignas, santas ou criminosas indepen-dente da raça, língua, sexo ou religião. Ele ama o terrorista islâmico tanto quanto a você e a mim. Todos são amados por

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Deus seja qual for seu estilo de vida e sua crença. Como diz Philip Yansey em seu livro Ma-ravilhosa Graça, não há nada que possamos fazer para Deus deixar de nos amar. Deus pode lamentar nossa desobediência como fez Jesus ao chorar sobre Jerusalém (Lc 13.34), mas seu amor permanece.

Aplicação a sua vida: todos nós somos alvo do amor univer-sal de Deus. Você já assumiu o amor de Deus em sua vida? O que você tem feito para levar o outro a entender esse amor?

2. O amor de Deus é imensu-rável

A expressão “de tal maneira” chama a atenção para a mag-nitude, a intensidade do amor de Deus. Isso acontece por-que Deus não, apenas, ama ou demonstra amor, mas como afi rma o apóstolo João, “Deus é amor” (I Jo 4.8). O amor é a natureza e a essência de Deus e essa é a explicação para sua singularidade, a ponto de o pró-prio João demonstrar sua per-plexidade como está expresso em I João 3.1: “Vede quão gran-de amor nos tem concedido o Pai”, e que Eugene Peterson em sua versão A Mensagem traduz assim: “Que amor maravilhoso o Pai nos concedeu”. O amor de Deus é, sem dúvida nenhuma, a mais alta expressão de amor que pode existir.

Aplicação a sua vida: Sabe-dores somos de que Deus não só nos criou como ele continua cuidando de nós. Como você entende esse amor imensurá-vel, visto passarmos por tantas provações, dores e perdas? Co-mente.

II. A evidência do amor de Deus

“Que deu seu Filho unigênito...”

Ao afi rmar que Deus “deu seu Filho unigênito” o texto está fa-zendo referência ao fato de que Jesus foi enviado à terra com uma missão muito especial que, conforme está escrito em João 10.17 e 18, consistiu em dar sua vida para salvar a humani-dade da condenação do pecado. Nesse caso João 3.16 é o cum-primento de Gênesis 3.15, como se um versículo fosse a continu-ação do outro. Jesus veio para cumprir a promessa de um re-dentor anunciada por Deus e o fez morrendo na cruz para nos salvar, como está escrito em I Pedro 3.18: “Porque também Cristo morreu uma única vez, pe-los pecados, o justo pelos injus-tos para levar-nos a Deus, mor-to na carne, mas vivifi cado pelo Espírito”.

Ao se confrontar com a desobe-diência do homem, Deus não o destruiu nem o deixou sem es-perança. O seu amor o impeliu a prometer o Salvador. A promes-sa feita em Gênesis não apre-senta evidências de que Deus enviaria seu próprio Filho para

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desfazer as obras de Satanás e dar a sua vida para salvar a humanidade da condenação do pecado. A compreensão dessa verdade foi gradativa, mas cerca de 700 anos antes do nascimen-to de Jesus o profeta Isaías faz referência ao seu nascimento anunciando que o “descenden-te” da mulher viria como o Mes-sias de Deus para salvar o mun-do: “A virgem fi cará grávida e dará à luz um fi lho, e ele se cha-mará Emanuel” (Is 7,14). Como expressão do seu amor Deus en-viou seu Filho para que sofresse e morresse por nós dando-nos, assim, a oportunidade de expe-rimentar a reconciliação e des-fazer a ruptura causada pela desobediência. Na linguagem do apóstolo Paulo “Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo” (2 Co 5.19).

Aplicação a sua vida: Ao se confrontar com a desobediên-cia do ser humano Deus em seu amor prometeu o Salvador. Você conhece alguém que ainda não teve a experiência com esse Amor de Deus? O que você tem feito para apresentá-lo?

Para entender a necessidade da encarnação e da morte de Jesus precisamos voltar ao jar-dim. Como diz Paul Billheimer, “para entender o que aconteceu no Calvário é preciso compreen-der, primeiro o que ocorreu le-galmente na queda no Éden”52.

52 Paul E. Billheimer, Seu Destino é o Trono, CLC Editora, pág.64

Em Gênesis 2.17 o Senhor Deus estabeleceu a pena para o ho-mem em caso de desobediên-cia: “porque no dia em que dela comeres certamente morrerás”. Nesse caso, a morte, tanto física como espiritual passou a fazer parte da experiência humana como castigo por ter cedido à tentação do Diabo. A promessa de enviar um “descendente” da mulher como salvador demons-tra o caráter de Deus. Como criador de tudo e senhor absolu-to do universo Deus poderia, em sua soberania, anular o castigo e declarar a derrota de Satanás, mas isso estaria em desacordo com o seu caráter pois estaria em confronto com sua santida-de e com sua justiça. Em sua santidade Deus não pode tole-rar o pecado e em sua justiça ele tem que punir a desobediência. Mas além de ser santo e justo Deus é amor e por seu amor ele colocou em ação o único plano capaz de livrar o homem do do-mínio de Satanás sem quebrar seus princípios morais. Ele de-cidiu enviar um representante da raça humana para desfazer a obra do Diabo e livrar a hu-manidade da condenação do inferno. A promessa foi cumpri-da como está escrito em João 1.14: “E o verbo se fez carne e habitou entre nós pleno de gra-ça e de verdade, e vimos a sua glória como a glória do unigêni-to de Pai”. Essa foi a forma en-contrada por Deus para “apagar a escrita de dívida que nos era contrária e constava contra nós” (Cl 2.14). Por isso sua promessa foi literalmente cumprida como

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declara Paulo em Gálatas 4.4,5: “Vindo porém a plenitude dos tempos Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido de-baixo da lei para resgatar os que estavam debaixo da lei, a fi m de que recebêssemos a adoção de fi lhos”. Por ser “nascido de mulher” Jesus era um legítimo representante da raça humana. Assim estava confi gurado o que os teólogos chamam de união hipostática através da qual Je-sus, sem perder a sua natureza divina, assumiu a natureza hu-mana sendo, assim, totalmente homem e, ao mesmo tempo, to-talmente Deus.

Como representante da raça humana Jesus se prontifi cou a dar a sua vida pois, como foi estabelecido, a pena da desobe-diência é a morte. Por isso ele veio para morrer na cruz por nós cumprindo, assim, a justiça de Deus. Entretanto é preciso ressaltar que Jesus não, ape-nas, morreu. A Bíblia diz que ele ressuscitou dentre os mortos. Como diz Paulo, ele “foi entregue à morte por causa de nossas transgressões e ressuscitado para a nossa justifi cação” (Rm 4.25). A ressurreição de Jesus foi a garantia de que a providên-cia de Deus foi efi caz. Pelo mé-rito de sua morte na cruz Jesus quitou a nossa dívida e por sua ressureição ele deu a garantia de que a justiça divina estava satisfeita e que a dívida estava, de fato, paga. Se não houvesse a ressurreição a obra teria sido incompleta.

Aplicação a sua vida: A vin-da de Jesus como ser humano para nos resgatar do pecado, sela a perfeição de Deus. Não deixou a humanidade sem a punição pelo pecado e nem lhe tirou o direito de escolha. Você tem vivido de forma a confi rmar a sua escolha? Comente.

III. O resultado do amor de Deus

“para que todo aquele que nele crê não pereça mas tenha a vida eterna”

Jesus se entregou para morrer na cruz em nosso lugar, como nosso substituto, pagando a pena por nós. Quem depositar nele a sua confi ança aceitando--o como Salvador e Senhor re-cebe a vida eterna. Antes todos estavam sob a condenação do inferno com seu destino marca-do pela morte eterna como puni-ção, pois, como explica o apósto-lo Paulo, “o salário do pecado é a morte” (Rm 6.23a). Agora, pela fé em Jesus, o pecador pode rece-ber como dom de Deus, “a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm 6.23b).

Ao falar sobre sua missão aqui no mundo Jesus afi rmou: “Eu vim para que tenham vida e a tenham com abundância” (Jo 10.10). Essa vida abundante pode ser entendida em dois sen-tidos. Em primeiro lugar é uma experiência de paz com Deus enquanto vivemos aqui no mun-do como Jesus prometeu em João 14.27: “Deixo-vos a paz,

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a minha paz vos dou. Eu não vo-la dou como o mundo a dá. Não se perturbe o vosso coração nem tenha medo” . Em segundo lugar é a garantia de que vamos passar a eternidade na presen-ça de Jesus como está garantido em João 14.3: “E, se eu for e vos preparar lugar, virei outra vez e vos levarei para mim, para que onde eu estiver estejais vós tam-bém”. Fica, então demonstrado que o amor de Deus o levou a enviar seu Filho Jesus para nos dar a garantia de uma vida fe-liz aqui no mundo e por toda a eternidade. A salvação está à disposição de toda a humanida-de. Desta maneira Deus cumpre o seu propósito de nos libertar do domínio de Satanás e da con-denação do pecado.

Aplicação a sua vida: A morte de Jesus Cristo nos proporciona vida em abundância. Qual tipo de vida você tem experimentado em todas as áreas de sua natu-reza humana?

CONCLUSÃO

Quando Paulo diz em Romanos 5.8 que “Deus prova o seu amor para conosco ao ter Cristo morri-do por nós quando ainda éramos pecadores”, ele está colocando em foco não só a evidência in-questionável do amor de Deus como também a dimensão desse amor. Ou seja, a morte de Cris-to não só é prova como também uma demonstração da singu-laridade do amor de Deus. Em

Romanos 5.10 Paulo chama a atenção para o fato de que, como pecadores nos tornamos inimigos de Deus. Mas mesmo nos tendo como inimigos Deus nos amou e enviou Jesus para nos resgatar com o seu precioso sangue. A verdade é que Deus nos ama mais do que podemos imaginar, mais do que o nosso coração possa compreender e é por causa desse amor que ele cumpre o propósito de nos fazer felizes para sempre.

Suporte para Pequenos Grupos

1. Você se sente amado pelo Criador? Porque?

2. Comente sobre os dois as-pectos do amor de Deus descritos no estudo.

3. O resultado do amor de Deus é “vida” em Cristo Jesus. Conte sua experiên-cia de nova vida em Cristo.

4. Que ajustes precisa fazer para colocar em prática este estudo?

5. Você quer entregar sua vida a Jesus hoje e experimentar o seu amor?

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Estudo – 41

NOSSA AUTOIMAGEMRomanos 12.3

INTRODUÇÃO

Autoimagem é a imagem inter-na que um indivíduo tem de si mesmo53. O aforismo grego atri-buído a Sócrates “conhece-te a ti mesmo” deixa claro que a preo-cupação com a busca da própria identidade não é um fenômeno de nossos dias. Em todos os tempos a pergunta “Quem sou eu?” tem sido formulada pelo ser humano de forma conscien-te ou não, a partir da qual é es-tabelecido o conceito que cada um tem de si mesmo. No nosso dia a dia é fácil observar como as pessoas se veem em termos de atributos físicos, valores mo-rais, aptidões e desempenho a partir de convicções que vão sendo elaboradas no decorrer da vida. O conceito que cada um tem si mesmo é a autoima-gem, um ponto de referência fundamental para cada ser hu-mano pois é ela que determina a maneira como a pessoa vai se posicionar no mundo, sua per-formance, seu jeito de ser, seu estilo de vida.

I. A identifi cação da autoimagem

“Porque pela graça que me foi dada, digo a cada um dentre vós 53 Peter Stratton&Nicky Hayes, Dicionário de Psicologia, Ed.Pioneira

LEITURAS DIÁRIASSegunda Rm.12.3-8Terça Gl 6.1-5Quarta Pv. 3.7-20Quinta Pv. 26. 12Sexta IICr. 12.1-10Sábado I Cr. 9.1-14Domingo I Cr. 4.6-13

que não pense de si mesmo mais do que convém, mas que pense de si com equilíbrio, conforme a medida da fé que Deus repartiu a cada um” Rm 12.3

Nesse texto há um jogo de pala-vras em que Paulo usa três ver-bos gregos: “phronein”(pensar), “hiperphonein”(pensar além) e “sophronein”(pensar com equilí-brio)54 para ensinar que, no que se refere ao processo de identi-fi cação da autoimagem, é preci-so estar atento para evitar uma avaliação tendenciosa que leva a pessoa a ver em si mais ou menos do que, realmente, é. O ideal é que cada um tenha uma percepção correta de si mesmo.

1. O perigo do orgulho

“digo a cada um dentre vós que não pense de si mesmo mais do que convém”

54 Russel Norman Champlim, O Novo Testa-mento Interpretado Versículo por Versículo

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Ao ensinar que ninguém deve pensar de si mesmo mais do que convém Paulo está chamando a atenção para o perigo do orgu-lho que nos leva a supervalo-rizar nossas qualifi cações ou o nosso desempenho. Precisamos ter cuidado para não ser pre-sunçosos fazendo uma autoa-valiação sem critérios e além da medida procurando evitar o au-toengano pois, como está escri-to em Gálatas 6.3 : “se alguém pensa ser importante, não sendo nada, engana-se a si mesmo”. Esse texto vai na mesma dire-ção de Provérbios 3.7 que diz: “não sejas sábio a teus próprios olhos” e, Provérbios 26.12 onde está escrito que quem é sábio aos seus próprios olhos é pior do que o tolo. Não há nada de errado em ser sábio. O problema é ostentar a sabedoria. O mes-mo raciocínio vale, também, no sentido oposto. Assim como não se deve “pensar além”, também, não se deve “pensar aquém”, isto é, fazer uma avaliação ten-denciosa para menos pois isso pode comprometer a nossa au-toestima.

Aplicação a sua vida: Muitas vezes deparamos com pesso-as orgulhosas de seus feitos e nem percebemos que às vezes agimos da mesma forma. Todas as vezes que cobramos reações favoráveis aos nossos próprios feitos, podemos estar superva-lorizando nossas qualifi cações ou o nosso desempenho. Você já se percebeu necessitado de reconhecimento?

2. Uma questão de sobriedade

“mas que pense de si com equi-líbrio”

O que se espera é que cada um seja capaz de fazer uma auto-avaliação equilibrada para que tenha uma autoimagem ade-quada, realista, sem ideias dis-torcidas sobre si mesmo. É a fal-ta de sobriedade que permite a instalação do orgulho em nossos corações. O apóstolo Paulo é um bom exemplo de como o equilí-brio é fundamental na formação da autoimagem. Em I Timóteo 1.15 ele expressa sua convicção de pecado e se declara o princi-pal de todos os pecadores, mas no verso 16 ele afi rma a sua convicção de que foi alcançado pela misericórdia de Jesus. Ele sabe que é pecador mas sabe, também, que foi perdoado. Em II Coríntios 12.4 ele demonstra a sua percepção da honra que lhe foi conferida ao ser arrebatado ao paraíso e de ter ouvido pala-vras indizíveis, mas o versículo 1 informa que ele demorou qua-torze anos para compartilhar essa experiência. Além disso ele fala de si mesmo na tercei-ra pessoa, demonstrando, as-sim, sua modéstia e, no verso 6, declara a sua preocupação em não se exceder e o cuidado em não se gloriar, admitindo que o próprio Deus se encarregou de impedir qualquer arrogância de sua parte ao deixar de atender sua oração para que fosse tira-

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do o espinho da sua carne (II Co 12.7). Em I Coríntios 9.1,2 Paulo se recusa a admitir que sua autoridade apostólica fosse questionada e afi rmou sua cer-teza de que era, de fato, após-tolo e como tal não abria mão de seus direitos e prerrogativas. Mas em I Coríntios 15.8,9 ele reconhece que era um apóstolo “fora do tempo certo” e que era o “menor dos apóstolos” e “indig-no de ser chamado apostolo por-que perseguiu a igreja de Deus”. Esses exemplos são sufi cientes para mostrar que Paulo tinha uma opinião sóbria a respeito de si mesmo, tinha consciência de suas limitações o que o levava a ser humilde em sua postura e criterioso em sua autoavaliação.

Aplicação a sua vida: A busca do equilíbrio em nossa condu-ta deve ser constante. Sabemos que no caso do apostolo Paulo ele tinha algo físico que o fazia lembrar constantemente da sua pequenez diante de Deus. Como podemos buscar esse equilíbrio sem que seja necessário um so-frimento físico para nos fazer lembrar?

3. A medida da fé

“conforme a medida da fé que Deus repartiu a cada um”

Tudo que somos deve ser ava-liado “conforme a medida da fé que Deus repartiu a cada um”, ou seja, nossa autoimagem deve levar em conta o poder concedi-

do por Deus a cada um para o seu desempenho nos diferentes ministérios no corpo de Cristo que é a igreja. Esse conceito é fundamental pois nos ajuda a entender que tudo o que somos “é pelo que Deus é e faz por nós e não pelo que somos e faze-mos por ele”55. Nesse sentido a primeira coisa a ser levada em

conta é que “Toda boa dádiva e todo dom perfeito vêm do alto e desce do Pai das luzes em quem não há mudanças nem sombra de variação”(Tg 1.17). Se temos algum mérito ou qualifi cação, Deus é causa e fonte de tudo, por isso não podemos nos glo-riar (ICo 4.7), pelo contrário, precisamos reconhecer que tudo o que somos ou alcançamos é o resultado da manifestação do poder de Deus em nossas vidas como declara Paulo em I Corín-tios 15.10: “Mas, pela graça de Deus sou o que sou”.

Aplicação a sua vida: O reco-nhecimento que de nós mesmos não somos capazes de fazer nada, precisa deixar de ser um chavão e passar a ser uma ver-dade em nossa vida. Porém pela graça de Deus devemos fazer o melhor para a obra de Deus. Como você tem atuado para o aperfeiçoamento do corpo de Cristo?

II. A autoimagem numa pers-pectiva bíblica

Para ter uma visão realista de 55 Tradução segundo a Bíblia A Mensagem

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quem somos precisamos enten-der o que a Bíblia fala a nosso respeito e como somos retrata-dos nela. Não há como ter uma autoimagem adequada sem usar como referência os ensinos da Palavra de Deus que têm muito a nos ajudar entender quem, re-almente, somos. Somente atra-vés da Bíblia podemos nos co-nhecer de verdade.

1. Nossa identidade como se-res humanos

Em primeiro lugar, fomos cria-dos à imagem e semelhança de Deus (Gn 1.26) e como obra pri-ma da criação, estamos acima dos animais e da natureza (Gn 1.28). Entretanto não podemos nos esquecer de que somos pe-cadores porque herdamos a na-tureza pecaminosa de Adão (Rm 5.12). Entretanto, mesmo sendo pecadores, somos amados por Deus (Rm 5.8) e sabemos que em Jesus Cristo encontramos perdão e libertação para a con-denação do Pecado (I Jo 1.9).

2. Nossa identidade em Cristo

Em II Coríntios 5.17 está escri-to que “se alguém está em Cristo é nova criação; as coisas velhas já passaram e surgiram coisas novas”. A experiência de conver-são leva a pessoa a ter uma vida transformada, com uma nova natureza e um novo coração. A nova vida em Cristo é marcada por mudanças efetivas em ter-mos de pensamentos, princípios

e práticas fazendo surgir uma nova pessoa, com uma nova identidade.

A primeira mudança radical na vida dos que estão em Cristo é que eles se tornam fi lhos de Deus (Jo 1.12) e passam a ser morada do Espírito Santo (I Co 6.19). Desta forma, eles são jus-tifi cados (Rm 5.1), reconciliados com Deus (Rm 5.11) e fi cam li-vres da condenação (Rm 8.1) porque em Jesus foram perdo-ados (Cl 1.14). Suas necessida-des são satisfeitas por Deus (Fp 4.19) e têm certeza da vida eter-na e que vão passar a eternida-de com Jesus, no céu (Jo 14.3). São estes os pressupostos bí-blicos que precisam ser levados em conta na percepção de nos-sa autoimagem, pois somente a partir do nosso retrato confi gu-rado na Palavra de Deus pode-mos perceber com mais clareza quem, realmente, somos.

Aplicação a sua vida: Para nós que experimentamos a graça salvadora de Cristo, nossa au-toimagem deve ser trabalha-da na perspectiva de fi lhos do Deus altíssimo. Com base na Bíblia como você tem tratado sua autoimagem?

3. O amor e o cuidado de Deus

Observe a convicção expressa por Davi no Salmo 71.6: “Tu és aquele que me tirou do ventre materno” e, no Salmo 139.13-16 ele vai mais longe descreven-

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do como a mão de Deus esteve presente em sua vida desde a concepção e em todo o processo da gestação. Veja esse texto na versão A Mensagem de Eugene Peterson: “Tu me moldaste por dentro e por fora; tu me formaste no útero da minha mãe”. Obri-gado, grande Deus – é de fi car sem fôlego! Corpo e alma, sou - maravilhosamente formado! Eu te louvo e te adoro – que cria-ção! Tu me conheces por dentro e por fora. Conheces cada osso do meu corpo. Sabes exatamen-te como fui feito: aos poucos; como fui esculpido do nada até ser alguma coisa. Como um livro aberto tu me viste crescer desde a concepção até o nascimento. Todos os estágios da minha vida foram exibidos diante de ti; os dias da minha vida, todos prepa-rados antes mesmo de eu ter vi-vido o primeiro deles” (v. 15,16). O amor próprio resulta da per-cepção da nossa dignidade e va-lor a partir da convicção de que somos imagem e semelhança de Deus, amados por ele e alvos de sua graça.

Como nosso criador, Deus nos dá o valor que ele sabe que te-mos. No sermão proferido por ocasião do comissionamento de seus discípulos como apósto-los Jesus falou sobre cuidado de Deus com os passarinhos mesmo diante da insignifi cân-cia deles em relação ao ser hu-mano e acrescenta: “Portanto não temais; valeis mais do que

muitos passarinhos” (Mt 10.31). Diante desta avaliação que vem do Senhor Jesus não podemos, em hipótese alguma, nos depre-ciar e questionar o nosso valor. Como diz Josh McDowell, “uma autoimagem saudável é ver a nós mesmos como Deus nos vê, nem mais nem menos”56.

Aplicação a sua vida: Para nós que experimentamos a graça salvadora de Cristo, nossa au-toimagem deve ser trabalha-da na perspectiva de fi lhos do Deus altíssimo. Com base na Bíblia como você tem tratado sua autoimagem?

CONCLUSÃO

Depois de tudo o que foi dito é preciso acrescentar que não basta ter a percepção correta de si mesmo. É necessário que cada um se empenhe em moldar sua imagem de acordo com o pa-drão estabelecido pela Palavra de Deus. Nesse sentido a pri-meira providência a ser tomada é identifi car o propósito de Deus para sua vida. Decida que você vai viver para a glória de Deus e que seu alvo é ser, acima de tudo, semelhante a Jesus. Com um coração sincero e submisso identifi que suas qualidades, ta-lentos, habilidades e dons, re-conhecendo suas limitações e defeitos e tendo a noção exata

56 Josh McDowell, Construindo Uma Nova Imagem Pessoal, Ed. Candeia, pág 12

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do seu desempenho como pes-soa. Nunca se esqueça de dar prioridade ao seu compromisso com Deus tendo como inspira-ção o testemunho de Paulo em Gálatas 2.20: “Portanto, não sou mais eu quem vive mas é Cristo quem vive em mim. E essa vida que vivo agora no corpo vivo pela fé no Filho de Deus que me amou e se entregou por mim”. Precisa-mos estar conscientes de que nossa autoimagem jamais pode ser vinculada a atitudes peca-minosas como superioridade, ostentação, orgulho ou egoísmo. Saiba quem é você e deixe Deus usar sua vida para os propósi-tos dele.

Suporte para Pequenos Grupos

1. Comente a frase: Ao en-sinar que ninguém deve pensar de si mesmo mais do que convém Paulo está chamando a atenção para o perigo do orgulho que nos leva a supervalorizar nossas qualifi cações ou o nosso desempenho.

2. Você se considera uma pessoa orgulhosa? Seja sincero.

3. Vivemos dias de grandes ambições. Isto tem levado as pessoas a experimentar orgulho, altivez e outros. Como destronar isto e viver de acordo com o propósito de Deus?

4. Você tem consciência de que Deus não precisa de você para nada? Explique.

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Estudo – 42

NOSSA AUTOESTIMAMateus 22.39

INTRODUÇÃO

Autoestima é a avaliação pes-soal que um indivíduo faz de si mesmo, o senso do seu próprio valor ou competência57. A au-toimagem tem a ver com a per-cepção que cada um tem de si mesmo. É uma autodescrição. A autoestima é como a pessoa se sente em relação à sua autoima-gem. A autoimagem diz o que você é. A autoestima diz como você se avalia. Se uma pessoa faz uma avaliação positiva de si mesma, sua autoestima fi ca elevada, ela se sente adequa-da e confi ante. Uma avaliação negativa resulta numa autoes-tima baixa e, como consequên-cia, um sentimento de desvalor e incompetência. Qualquer que seja a avaliação que fazemos de nós mesmos nossa autoestima vai determinar a maneira como lidamos com as circunstâncias, com as pessoas e, até mesmo, com Deus.

I. Autoestima e amor próprio

“E o segundo, semelhante a este é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo” Mt 22.39

57 Peter Stratton & Nicky Hayes, Dicionário de Psicologia, Ed. Pioneira

LEITURAS DIÁRIASSegunda Mt. 22.34-40Terça Lv.19.9-18Quarta Ex. 3.7-12Quinta Ex.4 1-9Sexta Sl. 139.1-24Sábado Lc. 6.6-11Domingo Mt.10.27-42

O contexto de Mateus 22.39 é intervenção de um doutor da Lei que perguntou a Jesus qual o maior de todos os mandamen-tos. Em sua resposta Jesus res-pondeu que os mandamentos da Lei podem ser resumidos em dois sendo que o maior e mais importante é: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o coração, de toda a alma e todo entendimen-to” (Mt 22.37) vindo em segundo lugar o mandamento de amor ao próximo. A expressão “amarás o teu próximo como a ti mesmo” aparece, na Bíblia, pela primeira vez em Levítico 19.18. É citada, também por Paulo em Romanos 13.9. Nesse caso, o amor pró-prio é o padrão para o amor ao próximo, fi cando claro, portan-to, que amar a si mesmo é algo natural na experiência humana. Em sua declaração Jesus aceita como ponto pacífi co o fato de o ser humano amar a si mesmo.

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Fomos criados assim, por Deus, com uma estrutura interna pre-parada para que cada ser hu-mano ame a si mesmo. A versão da Bíblia Viva não deixa dúvida nesse sentido: “Ame ao seu se-melhante tanto como ama a você mesmo”. Signifi ca, então, que o amor ao próximo deve ter a mes-ma medida, a mesma intensida-de do amor próprio. Amar a si mesmo implica em aceitar-se le-vando em conta os pontos fortes sem negar as fraquezas, consi-derando as virtudes sem omi-tir os defeitos, tirando proveito da força apesar das fraquezas. É esse amor que serve de base para a autoestima.

Aplicação a sua vida: Todo o cuidado de Deus para com a humanidade desde a criação, nos dá a certeza de sermos amados por Ele. Assim é sin-gular que nos amemos. O que você tem feito que demonstra seu amor próprio?

II. O sentimento de inferioridade

O sentimento de inferioridade é a sensação psíquica que resul-ta da percepção de insufi ciência que faz com que a pessoa se sin-ta indigna, incapaz de se amar. Isso não tem nada a ver com o sentimento de insignifi cância que resulta de uma percepção realista da fragilidade humana. O ser humano tem suas limi-tações e seria uma insanidade deixar de reconhecer a nossa impotência e a nossa necessi-

dade de viver na dependência de Deus. Quando Moisés dis-se a Deus: “Quem sou eu para ir a faraó e tirar os israelitas do Egito? ” (Ex 3.11) não havia nele nenhuma insanidade, mas o reconhecimento de sua insu-fi ciência e incapacidade para uma tarefa daquela envergadu-ra. Ele, simplesmente, admi-tiu que não tinha em si mesmo as habilidades nem os recur-sos necessários para libertar o povo da escravidão do Egito. É importante observar que Deus não questionou a postura de Moisés nem disse que ele estava errado. Deus sabia que Moisés estava certo e sua resposta foi: “Certamente eu serei contigo” (Ex 3.12). Mais adiante Moisés fala com Deus sobre uma limi-tação que, segundo ele, seria um obstáculo para o seu de-sempenho na tarefa que lhe foi proposta: “Ah, Senhor, eu nunca fui bom orador, nem antes nem agora, que falaste ao teu servo, pois sou pesado de boca pesado de língua” (Ex 4.10). Mais uma vez o Senhor prometeu estar ao seu lado: “Eu estarei com a tua boca e te ensinarei o que deves falar” (Ex. 4.12). Esse é o segre-do. O reconhecimento de nossa pequenez e fragilidade nos leva a viver na dependência de Deus e a depositar nele a nossa con-fi ança.

O problema é que, muitas ve-zes, a baixa autoestima tem um caráter neurótico e a pessoa se sente diminuída e anulada, o que pode comprometer seu sen-timento de bem estar e felicida-de. Se isso acontece, algumas

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providências são necessárias para que a vida da pessoa não seja inviabilizada. Para se livrar da baixa autoestima e comple-xo de inferioridade é preciso buscar em Deus e na Palavra de Deus a força e as instruções para vencer.

Aplicação a sua vida: O reco-nhecer nossa pequenez diante de Deus, nos leva à dependên-cia Dele. O que é diferente de uma baixa autoestima que leva a pessoa a sentir-se diminuída e anulada. Que podemos fazer para não sentirmos assim e ain-da ajudar o outro a buscar uma autoestima equilibrada?

III. Construindo uma autoesti-ma saudável

O que acontece, muitas vezes, é que a autoimagem é formada a partir de falsas crenças ou da interpretação errada de fatos ou circunstâncias, surgindo, assim, pensamentos distorci-dos, o que gera sentimento de inadequação ou inferioridade. Quando o nível baixo de nossa autoestima interfere na nossa capacidade de aceitar quem so-mos ou prejudica nossa estru-tura emocional, é preciso agir no sentido de buscar a superação do sentimento de inferioridade. Nesse caso, aqui vão algumas recomendações:

1. Mude o que pode ser mudado

Ninguém precisa carregar pelo resto da vida algo que incomo-da ou compromete sua autoes-tima. Pode ser um defeito físico,

algum traço negativo de tempe-ramento ou um mau hábito. O tanto quanto possível você pode empreender mudanças ou ajus-tes com o objetivo de restaurar o que precisa ser restaurado. O evangelho de Lucas traz a nar-rativa da cura de um homem que tinha uma das mãos atro-fi ada (Lc 6.10). Aquele defeito na mão direita certamente trazia difi culdades e embaraços para aquele homem e, mesmo sem ele pedir, Jesus manifestou sua compaixão e o curou. Naquele tempo não havia os recursos da medicina moderna e, sem a in-terferência de Jesus, nada teria acontecido. Mas é importante observar o interesse de Jesus de libertar aquele homem de um defeito físico. Certa senhora ti-nha a boca torta por causa de problemas na dentição. O trata-mento com um ortodontista deu a ela o sorriso que sempre quis ter. Há casos em que a baixa au-toestima tem a ver com proble-mas emocionais que podem ser minimizados ou resolvidos atra-vés de uma psicoterapia. Seja através da busca de um milagre ou por intermédio de recursos humanos nada impede que al-guém se mobilize para imple-mentar mudanças que tragam conforto e bem-estar.

Aplicação a sua vida: Em nos-sos dias a medicina tem con-tribuído muito para ajudar a quem precisa mudar algo. Po-demos e devemos buscar aju-da para mudar o que pode ser mudado, vencendo os limites. Tem algo em você que gostaria de mudar, físico, social ou emo-cionalmente? Comente.

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2. Aceite o que não pode ser mudado

Nas situações em que a mu-dança é inviável ou impossível, não há outra saída a não ser aceitar e contar com a ajuda de Deus para ser bênção em suas mãos. Nick Vujicic (https://www.youtube.com/watch?v=-27F8qyAeW5k – colocar o code) é um defi ciente físico austra-liano que apesar de ter nascido sem os braços e sem as pernas, superou todos os obstáculos e hoje viaja pelo mundo falando do amor de Deus. Em um dos seus testemunhos ele diz: “Eu sou um homem sem braços e sem pernas e sou um fi lho de Deus. Eu fui perdoado de meus pecados. Deus vive em mim e eu vivo na força dele. Eu agradeço a Deus por ele não ter respondi-do a minha oração quando im-plorei a ele por braços e pernas aos 8 anos de idade. Porque não tenho nem braços nem pernas Deus está me usando ao redor do mundo e nós vimos, até ago-ra, aproximadamente 200 mil almas virem até Jesus. Eu pre-fi ro não ter braços nem pernas temporariamente aqui na terra para ser capaz de alcançar mais alguém para Jesus Cristo. Rei-nhold Niebuhr, em sua Oração da Serenidade, escreve: “Conce-de-me, Senhor, a serenidade ne-cessária para aceitar as coisas que eu não posso mudar, cora-gem para mudar as coisas que posso e sabedoria para discernir a diferença”.

Aplicação a sua vida: Não de-vemos passar a vida toda ten-tando mudar o que não pode ser mudado. É importante sa-ber o porquê temos algo que nos incomoda. Você tem algo que gostaria de compartilhar que, apesar de ser incômodo, é usa-do para abençoar outros?

3. Aprenda a lidar com o pas-sado

Uma boa parte do desconforto e do mal estar por nós vivenciados tem a ver com experiências pas-sadas. Declarações do tipo “fui rejeitado por meus pais”, “fui violentada quando tinha11 anos de idade” fazem parte da expe-riência de muitas pessoas. São lembranças amargas que preci-sam ser curadas. Nesse sentido, vale mencionar a experiência de José do Egito cuja história foi marcada por injustiças, rejei-ção e traição. Do ponto de vis-ta meramente humano José ti-nha tudo para passar o resto da vida amargurado e ressentido. Mas logo que teve oportunida-de ele perdoou seus irmãos por tudo que tinham feito com ele. Não guardou ressentimentos, não fi cou apegado ao passado nem o usou como justifi cativa para qualquer tipo de amar-gura, medo ou desconfi ança. Um dos seus fi lhos recebeu o nome de Manassés que signifi -ca: “fazendo esquecer”58. Em Gê-nesis 41.51 está escrito: “José deu ao primogênito o nome de

58 Bíblia de Estudo Palavras Chave, Dicio-nário do Antigo Testamento

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Manassés, pois disse: Deus me fez esquecer de todo o meu so-frer...”. Como você pode ver, José deixou o passado no pas-sado e começou uma vida nova, com outras bases e outras pers-pectivas. Se você está sofren-do em função de alguma coisa que aconteceu no seu passado. Se sua alma está machucada e você não consegue se desven-cilhar das memorias amargas peça a Deus para curar suas lembranças. Assim como fez com José ele ajudará você a se livrar de qualquer trauma ou fe-rida. Nesse caso, a primeira coi-sa a fazer é perdoar as pessoas envolvidas. Não podemos mu-dar o nosso passado mas pode-mos mudar a maneira de lidar com ele.

Aplicação a sua vida: O pas-sado muitas vezes nos assom-bra e fi camos presos a ele sem perspectiva. Como o passado não pode ser mudado ele não pode determinar nosso presen-te. O que você tem feito para que o seu passado seja apenas um aprendizado para suas deci-sões? Comente.

4. Liberte-se da culpa

A primeira manifestação do sen-timento de inferioridade na ex-periência humana aconteceu no jardim do Éden. Quando Adão e Eva tomaram consciência de que tinham pecado sentiram--se culpados, o que gerou ne-les um sentimento de vergonha e medo quando perceberam a

aproximação de Deus. A primei-ra reação que tiveram foi tentar se esconder entre as árvores. Collins diz que quando violamos as normas estabelecidas por Deus sentimos remorso, culpa e decepção dentro de nós. Isto contribui para a nossa inferio-ridade e destrói nossa autoesti-ma59. Por isso existe o perdão de Deus. A Bíblia garante que “se confessarmos os nossos pecados ele é fi el e justo para nos perdo-ar os pecados e nos purifi car de toda injustiça (I Jo 1.9). O per-dão de Deus é a única solução, o único alívio para uma consci-ência culpada.

Aplicação a sua vida: A culpa por nossos pecados nos torna em muitas situações escravos dela. Deus é o único capaz de nos absolver dessa culpa. Como podemos experimentar essa li-bertação?

CONCLUSÃO

Jaques Poujol em seu livro “Eu Sou Amado” conta a história de um homem que herdou de uma tia dois vasos sem grande pre-sença que foram guardados na biblioteca de seu escritório e fi -caram, ali, esquecidos. Um dia, uma pessoa os viu e disse que eles eram muito valiosos. De re-pente, ambos foram colocados na sala. Por que, de um mo-mento para outro, aqueles vasos

59 Gary R. Collins, Aconselhamento Cristão, Ed. Vida Nova, pág. 301.

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que, até então estavam escondi-dos, passaram a ocupar um lu-gar de destaque? Simplesmente porque o dono fi cou sabendo o valor que eles tinham.

É importante que saibamos que aos olhos de Deus cada um de nós tem valor. Foi ele que nos trouxe a este mundo e tem cui-dado de nós. Há uma história segundo a qual, no contexto ra-cista americano, uma criança negra pendurou, na parede do seu quarto, um cartaz que dizia: “Eu sou eu e sou bom, porque Deus não faz porcaria.”

Além disso, não podemos nos esquecer de que muitas ano-malias e distorções que experi-mentamos em nossas vidas têm como causa a quebra de prin-cípios estabelecidos por Deus em sua Palavra. Ao criar o ser humano Deus vinculou o fun-cionamento de suas estruturas físicas e psicológicas a certas leis espirituais que ele mesmo estabeleceu para nortear suas criaturas. É por esta razão que uma vida em desacordo com os ensinos da Palavra de Deus tem, como consequência, cer-tos transtornos e defi ciências que só poderão ser revertidos mediante o quebrantamento e a obediência, elementos indis-pensáveis para a restauração e a cura.

Suporte para Pequenos Grupos

1. O que é autoestima?

2. O demonstra que a pessoa tem ou não uma autoesti-ma?

3. Você já viveu um momento inferioridade? Como foi?

4. O que dizer para pessoas que se sentem inferiores às outras? Como reverter este sentimento?

5. Que ajustes você precisa fazer em sua vida para des-frutar uma autoestima sal-dável e sem culpa?

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Estudo – 43

MELHOR É SEREM DOISEclesiastes 4.7-12

INTRODUÇÃO

“Nenhum homem é uma ilha, completo em si próprio; cada ser humano é uma parte do continente, uma parte de um todo”60. Esta frase é de autoria de Jonh Donne, poeta inglês do século XVI. Com estas palavras ele queria dizer que ninguém pode existir sozinho, que preci-samos da companhia do outro, que dependemos do outro para viver. Ao contrário de uma ilha que permanece isolada, no oce-ano, somos dependentes uns dos outros e, jamais, poderemos dar o melhor de nós mesmos se estivermos sozinhos. Ninguém pode se realizar em sua vida espiritual, afetiva, familiar ou profi ssional, se permanecer en-simesmado, isolado dos outros. Ninguém pode contribuir para o aperfeiçoamento do mundo em que vivemos se permanecer in-sulado nas águas egocêntricas de seus próprios interesses.

I. A insensatez do isolamento

Outra vez me volvi, e vi vaida-de debaixo do sol. Há um que é só, não tendo parente não tem fi lho nem irmão e, contudo, de

60 Site O Pensador/John Donne

LEITURAS DIÁRIASSegunda Ec.4.7-12Terça Gen2.18-25Quarta Prov. 18.1-4Quinta Rt. 1. 15-18Sexta Rt. 2.1-18Sábado Rt.3.10-15Domingo Rt.4.13-17

todo o seu trabalho não há fi m, nem os seus olhos se fartam de riquezas. E ele não pergunta: Para quem estou trabalhando e privando do bem a minha alma? Também isso é vaidade a e enfa-donha ocupação. Melhor é serem dois do que um, porque têm me-lhor paga do seu trabalho. Pois se caírem, um levantará o seu companheiro, mas ai do que es-tiver só, pois, caindo, não haverá outro que o levante. (Ec 4.7 - 10)

Veja, no versículo 7, que des-crição triste e sombria! Um ho-mem sozinho, sem esposa, sem fi lhos, sem ninguém. Não havia ninguém para trabalhar por ele, ninguém para trabalhar com ele, ninguém com quem ele pu-desse compartilhar o fruto do seu trabalho. A forma verbal “trabalhar” empregada aqui é a tradução de um vocábulo he-braico que traz a ideia de “tra-balho fatigante” tanto no senti-

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do corporal como mental61. Sem laços familiares e sem amigos aquele homem se desgastava em uma labuta estressante vol-tado só para si mesmo, para os seus próprios interesses. Temos que concordar que esta era uma situação totalmente desconfor-tável. Somente quando com-partilha as experiências da vida com o outro o ser humano con-segue apreciá-las melhor e tirar melhor proveito delas. Como diz o escritor e humorista norte-a-mericano Mark Twain, “para ob-ter o valor total da alegria, você deve ter alguém com quem di-vidir.62”

Aplicação a sua vida: Na frase: “para obter o valor total da ale-gria, você deve ter alguém com quem dividir.” Traz o valor da alegria em compartilhar o que lhe é mais precioso. Como você tem interpretado esse comparti-lhar em nossos tempos?

Deus não nos criou para viver sozinhos. Ele mesmo disse em Gênesis 2.18: “Não é bom que o homem esteja só”. Ao fazer esta declaração o Senhor está deixando claro que o homem, mesmo estando no paraíso, não podia ser feliz sem a compa-nhia de alguém e, por esta ra-zão, providenciou para ele uma companheira. Ninguém conse-gue experimentar uma vida fe-liz e signifi cativa na solidão. O isolamento é intolerável para o ser humano, mesmo que suas necessidades físicas sejam aten-61 Bíblia de Estudo Palavras Chave, Dicio-nário do Antigo Testamento62 Site Pacote de Citações

didas. Em situações adversas, quando não é possível a con-cretização dos laços de estima e afeição tão comuns entre os se-res humanos, uma pessoa pode, até mesmo, transferir sua afeti-vidade para uma coisa, passan-do a tratá-la como se fosse um ser humano, como é demons-trado no fi lme ‘O Náufrago”, em que Tom Hanks conversa com uma bola denominada por ele de Wilson. Tem muita gen-te por aí, que por falta de rela-cionamentos signifi cativos, têm transferido sua afeição para um ursinho de pelúcia ou um ani-mal de estimação. Por tudo isso concluímos que Salomão tinha razão quando disse: “Quem vive isolado busca seu próprio desejo e insurge-se contra a verdadeira sabedoria” (Pv 18.1)

Aplicação a sua vida: Vivemos em uma geração que apesar dos muitos meios de comunicação o ser humano nunca esteve tão só. Em sua opinião o que pode-mos fazer para neutralizar esse isolamento?

II. A importância do outro na nossa vida

Quando estamos sozinhos pode-mos facilmente perder o foco, fi -car desmotivados, adiar nossas tarefas e, até mesmo, desistir. Precisamos uns dos outros nas mais diferentes situações. Rick Warren conta a história de um homem, residente em Winnipeg, Manitoba que morreu em sua cama e fi cou lá, durante dois

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anos, até que um vizinho des-cobriu o seu corpo. O homem viveu ali durante 20 anos, mas ninguém sentiu sua falta63. No texto em pauta podemos enu-merar, pelo menos, quatro van-tagens do companheirismo.

1. Melhora o nosso desempenho

“porque tem melhor recom-pensa do seu trabalho” – Ec 4.9b

Quando duas pessoas traba-lham juntas, realizam mais do que se trabalhassem sozinhas. A união de força, criatividade e talento multiplica o rendimento e traz um maior retorno.

2. Possibilita o apoio mútuo

“Pois se um cair o outro le-vantará seu companheiro. Mas pobre do que estiver só e cair, pois não haverá outro que o levante” – Ec 4.10

Se alguém estiver sozinho, se cair tem que se virar ou fi cará caído porque não tem quem o ajude a se levantar. Todos so-mos propensos à queda. Fisi-camente, emocionalmente ou espiritualmente ninguém está imune. Em momentos assim nada melhor do que ter alguém do nosso lado para nos apoiar e nos ajudar a levantar.

3. Nos dá a chance de com-partilhar nossas potencia-lidades

“Também, se dois dormirem juntos fi carão aquecidos;

63 Rick Warren, Juntos Seremos Melhores, 6º Edição, Ed. Propósitos, pág. 74

mas como um só poderá aquecer-se?” – Ec 4.11

O pano de fundo aqui é a expe-riência de um casal. É mais fácil se aquecer, no inverno, dormin-do com outra pessoa. Dois dor-mindo juntos, um aquece o ou-tro. O conceito de calor humano muitas vezes, é usado para se referir ao sentimento de afeição e simpatia manifestado pelas pessoas que oferecem ao outro acolhimento, conforto e segu-rança.

4. Aumenta a nossa força

“Um homem sozinho pode ser vencido, mas dois conse-guem defender-se; e o cordão de três dobras não se rompe tão facilmente” – Ec 4.12

A expressão “cordão de três do-bras” no entender de alguns es-tudiosos é usada, apenas, para reforçar a ideia de que a experi-ência gregária deve prevalecer sobre o individualismo. Para Clamplin a referência a três do-bras em vez de duas, é uma referência a laços sociais mais amplos sendo que a comunida-de inteira é melhor do que dois companheiros64. No entender de Matheus Henry a terceira dobra é Cristo65. Quando dois estão próximos no amor e no compa-nheirismo Cristo, por meio do seu Espírito, vem a eles e se tor-

64 R. N. Champlin, O Antigo Testamento Interpretado Versículo por Versículo, Ed. Hagnos65 Matthew Henry, Comentário Bíblico do Antigo Testamento, Ed. CPAD

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na a terceira dobra. De qualquer forma a ilustração é clara. O in-dividualismo é demonstração de insensatez, total falta de discer-nimento e juízo.

Aplicação a sua vida: O autor destaca 4 vantagens do compa-nheirismo. Você concorda com todas ou há alguma que você acredita não se encaixar nos tempos modernos? Comente.

CONCLUSÃO

As pessoas precisam umas das outras. Por toda parte há sinais de que pessoas estão com fome de algum tipo de interação. Tem aquela história de uma velhinha simpática e tagarela que, toda semana, esperava na fi la de uma agência dos correios para com-prar dois selos. Um dia, quando chegou ao balcão, a atendente lhe falou: A senhora sabe que não precisa esperar na fi la para comprar selos. Pode retirá-los na máquina que fi ca logo na en-trada. Ao que a simpática e ido-sa senhora respondeu: Sim, eu sei, mas a máquina não pergun-ta sobre minha artrite.

A tendência para o isolamen-to pode ter várias causas. Há os que são vítimas do complexo de inferioridade. Possuem um auto estima negativa, julgam--se insignifi cantes, sentem-se inconvenientes e indesejados. Por isso, preferem fi car isola-dos. Outros, ao contrário, têm complexo de superioridade,

acham-se bons demais, donos da situação, independentes, autossufi cientes. Nesse caso, não querem se misturar. Alguns querem chamar a atenção. Em virtude de suas carências e pro-blemas mal resolvidos se isolam para ser o alvo da atenção dos outros. Há, também, os agressi-vos, criadores de caso. Para es-ses, o isolamento é uma conse-quência natural da rejeição dos outros. Quem deseja vivenciar a interação e o companheirismo precisa transpor acerca dos pre-conceitos e da insociabilidade, superando os complexos e toda espécie de bloqueios que difi -cultam a aproximação do outro. Vença o egoísmo, supere o indi-vidualismo e tenha sempre em mente a proposição da Palavra de Deus de que “melhor é serem dois do que um”.

Suporte para Pequenos Grupos

1- Como você entende a ex-pressão: “Melhor serem dois” ?

2- Você tem alguém para compartilhar as alegrias e tristezas?

3- Em seu relacionamento com o outro o que te faz crescer?

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Estudo – 44

CONVIVENDO COM O OUTRORomanos 12.9-21

INTRODUÇÃO

Já fi cou constatado que é im-possível ter uma vida equilibra-da e saudável sem a presença do outro. Entretanto, a simples presença não basta. No mun-do atual está fi cando, cada vez mais fácil, o ajuntamento de pessoas. As cidades crescem rapidamente. As casas vão sen-do construídas, cada vez, mais próximas umas das outras. Os meios de transporte de massa estão, sempre, transportando multidões, obrigando as pesso-as a fi carem longo tempo lado a lado umas das outras. Mas o fato é que as pessoas estão per-to, mas não se relacionam. Cada um fi ca na sua, evitando fazer do outro uma presença signifi -cativa.

No estudo de hoje vamos desta-car alguns princípios apresen-tados por Paulo para nortear o nosso posicionamento em rela-ção às pessoas que nos cercam. O que está em foco é o relacio-namento entre os cristãos mas os ensinos nele contidos podem ser aplicados ao nosso relacio-namento com o próximo em ge-ral.

LEITURAS DIÁRIASSegunda Rm. 12.9-21Terça Mt.22. 34-40Quarta Jo. 15. 9-17Quinta II co. 6. 1-10Sexta Gl. 5.1-15Sábado Ef. 1.3-14Domingo Ef. 5. 1-7

I. Amor fraternal

“Amai-vos de coração uns aos outros com amor fraternal” – Rm 12.10

Ao responder a pergunta do doutor da Lei sobre qual o mais importante de todos os manda-mentos Jesus resumiu tudo no amor. Amor a Deus e amor ao próximo (Mt 22.37-39). O ponto de partida para um relaciona-mento saudável é o amor e Pau-lo coloca em destaque o tipo de amor que deve permear nossos relacionamentos, que é o amor fraternal. A expressão “amor fra-ternal” é a tradução do vocábu-lo grego que signifi ca “afeto de irmão”66 referindo-se a irmão de sangue. A ideia aqui é que tenhamos uns pelos outros o mesmo afeto que temos por um 66 Bíblia de Estudo Palavras Chave, Dicio-nário do Novo Testamento

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irmão de sangue. A afi nidade sanguínea fortalece o sentimen-to de afeição e interesse pelo outro, podendo, até mesmo, ter um caráter sacrifi cial, de dedi-cação absoluta sem qualquer outro interesse senão fazer pelo outro o que for necessário. Esse é um bom modelo e inspiração para nossos relacionamentos interpessoais.

Aplicação a sua vida: O autor afi rma que o amor necessário ao relacionamento é o fraternal. Como podemos identifi car esse amor quando os irmãos de san-gue, parecem estar mais distan-tes e briguentos? Comente.

II. Solidariedade

“Socorrei os santos em suas ne-cessidades. Procurai ser hospita-leiros” – Rm 12.13

De acordo com Champlin o vo-cábulo original grego tradu-zido por “socorrei” tem o sen-tido de “partilha das próprias possessões”67. Se o outro estiver passando por alguma necessi-dade não é sufi ciente um amor apenas de palavras. ́ E dever da-queles que têm recursos ajudar a quem estiver passando neces-sidade. Paulo faz referência aos santos para deixar claro que os irmãos em Cristo devem ter prioridade. Essa ideia é reforça-da em Gálatas 6.10 onde ele diz:

67 Russell Norman Champlin, O Novo Testa-mento Interpretado Versículo por Versículo, Ed. Sociedade Religiosa a Voz Bíblica

“Assim, enquanto temos oportu-nidade, façamos o bem a todos, principalmente aos da família da fé”. É claro que nossa generosi-dade não deve se limitar, ape-nas, aos crentes. Paulo é claro quando diz: “façamos o bem a to-dos”. Mas embora os outros não devem ser excluídos, os da famí-lia da fé devem ter a preferência. Além disso, nosso sentimento de solidariedade deve incluir a hospitalidade. Nos tempos bí-blicos não havia tantas opções de hospedarias e hotéis como temos hoje e os cristãos viajan-tes nem sempre tinham recur-sos para pagar hospedagem. Por esta razão, dependiam da gene-rosidade de quem podia acolhê--los sem cobrar pela hospeda-gem. Hoje, devido a uma série de fatores a hospitalidade vai se tornando cada vez mais rara, até mesmo, pela facilidade de encontrar hospedagem a preços módicos. Mas, nada impede que recebamos as pessoas em nossa casa e as tratemos bem. Convi-dar alguém para jantar, oferecer um lanche e, até mesmo uma carona, são manifestações de hospitalidade.

Aplicação a sua vida: Outro marco do relacionamento é a hospitalidade. Receber deve ser uma ação agradável tanto para o anfi trião como para o convi-dado. Como você tem praticado a hospitalidade? Quem foi seu último convidado ou hóspede? Comente.

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IV. Empatia

“Alegrai-vos com os que se ale-gram e chorai com os que cho-ram” – Rm 12.15

Empatia é a capacidade de colocar-se no lugar de outra pessoa buscando compreendê-la, suas re-ações, seus sentimentos, suas mensagens verbais e não verbais. É valori-zar o outro e ser capaz de participar de seus so-frimentos e suas alegrias como se fossem nossos. Os que prosperam, expe-rimentam superações e alcançam vitórias, vamos nos regozijar com eles. Os que estão em tribulação e sofrimento vamos chorar com eles e fazer o que for possível para ajudá-los.

O Pr. Ary Veloso dizia que Paulo colocou em primeiro lugar o “alegrai-vos” porque esta parte é mais difícil. Temos mais difi -culdade de alegrar com os que se alegram do que chorar com os que choram. Não é muito fácil expressar admiração e fazer elo-gios a quem está comemorando uma vitória. Para isso, é preci-so superar a inveja e a cobiça. O invejoso diz: “ele não deveria ter o que tem”. O cobiçoso la-menta: “O que ele tem deveria ser meu”. Precisamos aprender a reconhecer o mérito do outro, mesmo que seja um concorrente ou adversário. Não tente ofus-car o brilho do outro para real-çar o seu. Não há problema em

você querer manter sua chama acesa. O que não pode é dese-jar que a do outro permaneça apagada. Nesse caso, um ingre-diente indispensável é a auten-ticidade, isto é a capacidade de se apresentar perante o outro exatamente como você é, sem hipocrisia ou dissimulação. Evi-te a mentira. Evite tentar ser quem você, de fato, não é. Seja coerente ao expressar seus sen-timentos, pensamentos e ações.

Aplicação a sua vida: Ale-grar-se com o outro é algo indis-pensável para o bom relaciona-mento, apesar de que, conforme o pr. Ary Veloso interpreta, é mais fácil chorar do que alegrar--se com o outro. Você concorda com essa afi rmação? Comente.

V. Harmonia

“Sede unânimes entre vós. Não sejais orgulhosos, mas prontos a acompanhar os humildes. Não sejais sábios aos vossos pró-prios olhos” – Rm 12.16

Na versão Almeida Revista e Atualizada a expressão “sede unânimes entre vós” é traduzida por “tende o mesmo sentimen-to uns para com os outros”, o que está plenamente de acordo com a proposição de Filipenses 2.2: “para que tenhais, o mes-mo modo de pensar, o mesmo amor, o mesmo ânimo, pensan-do a mesma coisa”. Para Mat-tew Henry, com esta expressão Paulo estava querendo dizer: “esforçai-vos, tanto quanto pos-sível, concordai na compreen-são; e, mesmo não conseguindo

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isso, esforçai-vos em ser um, não dados a discordar, contradizer e opor-se uns aos outros”68. Nesse caso, unanimidade não tem a ver com concordância plena em todos os detalhes. O que impor-ta é o propósito que deve estar baseado na cooperação e não a competição ou confl ito. Na cooperação as pessoas são mo-vidas pelos mesmos objetivos e valores. Nesse caso, a interação é direta e positiva em termos de ajuda e participação, pois sua ênfase está não no interes-se pessoal mas no interesse do outro. Na competição as pesso-as buscam, simultaneamente, uma vantagem, uma vitória ou um prêmio movidas pela dispu-ta e rivalidade, uma visando à eliminação da outra. No confl ito as pessoas estão em desavença e lutam entre si com agressões, injúrias e ameaças na busca de solução de impasses surgidos a partir do jogo de interesses. O problema, muitas vezes, é o or-gulho que impede o sentimento de interdependência e respeito ao outro.

Aplicação a sua vida: No rela-cionamento com o outro há de se expressar o altruísmo, senti-mento experimentado por pes-soas que alcançam a maturida-de. Altruísmo é ver o outro se colocar no lugar do outro, dei-xar de ser eu para sermos nós. Você se lembra de situações em que teve que ser altruísta, em suas decisões, inclusive na igre-ja onde o conjunto falou mais que seus interesses? Comente.

68 Mathew Henry, Comentário Bíblico, Novo Testamento, Ed. CPAD

VI. Tudo pela paz

“Se possível, no que depender de vós, vivei em paz com todos os homens” – Rm 12.18

O que Paulo está propondo é que no nosso relacionamento interpessoal tenhamos, sempre, uma atitude pacifi cadora. En-tre as oito bem-aventuranças mencionadas por Jesus no Ser-mão do Monte está aquela que diz: “Bem-aventurados os paci-fi cadores, pois serão chamados fi lhos de Deus” (Mt. 5.9). Viver em paz uns com os outros não signifi ca fugir dos problemas ou fi ngir que eles não existem. Não signifi ca, também, assumir uma atitude passiva e aceitar tudo. Se alguém permitir que o outro abuse de sua paciên-cia não está promovendo a paz e sim, se anulando. Em nome da paz ninguém deve abrir mão de sua dignidade nem de seus direitos. Para viver em paz com o outro precisamos respeitá-lo, levar em conta seus interesses, seus sonhos, suas frustações e suas necessidades. Seja ca-paz de escutar lembrando que escutar é mais do que ouvir. É prestar atenção no que se ouve, estar atento para compreender, exatamente, o que está sendo dito. Muitas vezes uma boa con-versa é o ponto de partida para a solução de um confl ito. Mas, cuidado! Seja franco sem ser mal educado. Seja sincero sem ser irônico. Ataque o problema e não a pessoa. Em Provérbios 151 lemos: “A resposta branda desvia o furou mas a palavra dura provoca a ira”.

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Além disso é preciso levar em conta a ressalva “se for possí-vel, no que depender de vós”. O que Paulo está ensinando é que devemos fazer tudo o que for possível para promover a paz, inclusive com o inimigo. Se isso não for possível é preciso riscar de nossas opções a vingança e tratar o inimigo com boa vonta-de e amor como está prescrito nos versículos 19 e 20. Amar o inimigo não signifi ca que deve-mos gostar de tudo que ele gos-ta, nem precisamos andar de braços dados com ele. Amar é tratar essa pessoa bem, nunca revidando insulto com insulto ou agressão com agressão. Isso implica na disposição de abrir mão do orgulho, ser capaz de re-nunciar e, até mesmo, admitir o erro. Seja um pacifi cador e não um criador de problemas.

Aplicação a sua vida: A frase fi nal do autor é: “Seja um paci-fi cador e não um criador de pro-blemas”. Como você entende essa afi rmação sem ser omisso, sem abrir mão de seus direitos, sonhos, interesses? Comente.

CONCLUSÃO

Um dos problemas em nossa so-ciedade é falta de respeito entre as pessoas. Isso é grave porque sem respeito nenhum relaciona-mento pode subsistir. Em pri-meiro lugar é preciso olhar para cada pessoa levando em conta a dignidade humana. Há um valor intrínseco no ser humano con-

ferido pelo Criador. Que jamais pode ser aviltado. Se você dese-ja se dar bem com as pessoas e ter relacionamentos saudáveis, nunca se esqueça de que o ser humano precisa ser valorizado e não deixe de levar em conta o roteiro apresentado pelo apósto-lo Paulo segundo o qual o amor fraternal, a solidariedade, a em-patia, o cultivo da harmonia e da paz são ingredientes funda-mentais para a convivência hu-mana.

Suporte para Pequenos Grupos

1. O foco do estudo é “Relacio-namento”. Explique.

2. Por que relacionar com ou-tros tem sido algo tão negli-genciado principalmente no meio cristão?

3. Por que você acha que Deus nos criou seres relacionais?

4. “Seja um pacifi cador e não um criador de problemas”. Como você entende essa afi rmação sem ser omisso, sem abrir mão de seus di-reitos, sonhos, interesses? Comente.

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Estudo – 45

ACEITANDO O OUTRORomanos 15.1-7

INTRODUÇÃO

Quando se trata de relaciona-mento interpessoal nenhuma regra ou princípio funciona se não houver da parte de cada ser humano a predisposição para aceitar o outro. Para que isso aconteça é preciso que cada um esteja disposto a fazer conces-sões, a levar em conta as fraque-zas e as limitações humanas. O problema é que, muitas vezes, olhamos para o outro com ati-tude de cobrança, querendo fazer valer os nossos direitos, esperando que nossas expecta-tivas sejam sempre atendidas. Torna-se necessária, então, de nossa parte uma atitude de con-descendência e compreensão e a disposição de colocar em prática os ensinos da Bíblia sobre como conviver com o outro colocando em prática o princípio da acei-tação.

I. Suportar as fraquezas

“Nós que somos fortes temos o dever de suportar as fraquezas dos fracos, em vez de agradar a nós mesmo” – Rm 15.1

Antes de mais nada é preci-so entender que em Romanos 15 Paulo continua a abordar a

LEITURAS DIÁRIASSegunda Rm.14. 1-12Terça Rm. 15.1-7Quarta Eb.13.1-6Quinta I Ts. 1. 1-10Sexta I Ts. 4.9-12Sábado I Ts. 5.12-22Domingo I Jo. 3.11-24

questão da tolerância em rela-ção às diferenças sobre as con-vicções doutrinárias de menor importância mencionadas em Romanos 14. Ao usar a expres-são “nós que somos fortes” ele está fazendo referência à liber-dade cristã em relação a certos preceitos da lei mosaica que incluíam restrições à comida e determinavam a guarda de dias especiais. Os fortes, nesse caso, são os que entendem que a fé cristã está acima destas ques-tões e que comer ou não comer certas coisas, guardar ou não guardar certos dias não altera em nada a essência da fé cris-tã. Fracos são os que se sentem obrigados a observar os precei-tos e ritos da antiga aliança. Em sua abordagem de Romanos 14 Paulo chama de fracos na fé aqueles que ainda não tinham chegado ao ponto de entender que o cristianismo não se baseia

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em rituais nem em restrições alimentares e que a vida cristã está acima de tudo isso. A fra-queza, nesse caso, era a mistura da fé cristã com judaísmo, que apresentava como essencial à salvação, a observância de prá-ticas cerimoniais e a restrição a certo tipo de comida. Isso é vis-to como fraqueza porque esse tipo de compreensão demonstra falta de confi ança na graça de Cristo.

O verbo suportar signifi ca carre-gar. É o mesmo verbo usado em João 19.17 para dizer que Jesus carregou a cruz. O sentido aqui é que devemos tolerar as fra-quezas daqueles que ainda não cresceram na fé sem desprezá--los por isso. A ideia é que de-vemos ser compreensivos e to-lerantes. Isso vale não somente em relação a questões doutriná-rias, mas em qualquer situação em que possamos considerar o outro em desvantagem. Preci-samos, sempre, nos lembrar de que ninguém é perfeito, que as pessoas que nos cercam nem sempre se enquadram no mode-lo que, ao nosso ver, seria o ide-al e que, muitas vezes, falham conosco mesmo quando querem acertar.

Aplicação a sua vida: Tolerar as fraquezas dos fracos é sinal de maturidade espiritual no entendimento do autor (Pr. Se-bastiao Arsenio). Você tem con-seguido tolerar as fraquezas dos irmãos, sem se sentir superior? Comente.

II. Promover o bem-estar

“Portanto, cada um de nós deve agradar o próximo, visando ao que é bom para a edifi cação dele. Porque também Cristo não agradou a si mesmo, mas como está escrito: as ofensas dos que te ofendiam caíram sobre mim... Para que unânimes e a uma voz glorifi queis o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo” – Rm 15.2,3

Agradar o próximo nada tem a ver com bajulação nem signifi -ca que você tenha que satisfa-zer suas vontades e concordar com ele em tudo. A forma ver-bal “agradar” tem o sentido de “ser aprazível”, “ser aceitável”69. A recomendação aqui é para que cada um se torne aceitável diante do outro em função de sua preocupação com o bem--estar dele. Isso fi ca evidente na versão A Mensagem, de Eugene Peterson: “Cada um de nós pre-cisa se preocupar com o bem-es-tar alheio, sempre perguntando: Como posso ajudar?”. Isso vale também quando há divergên-cias. Precisamos fi car ao lado do outro mesmo quando não con-cordamos com ele. Não é porque você discorda de alguém que você vai querer o mal dele ou torcer contra ele. Nós podemos rejeitar a ideia de uma pessoa, mas não podemos rejeitar a pes-soa. Tudo deve ser feito visando ao que é bom para a edifi cação

69 Bíblia de Estudo Palavras Chave, Dicio-nário do Novo Testamento

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do outro. Além disso, precisa-mos promover o bem-estar de nosso próximo mesmo que isto implique em algum sacrifício ou renúncia. Nesse sentido nosso exemplo é Jesus, que não se preocupou em agradar a si mes-mo, mas em sua disposição de ajudar, esvaziou-se e abriu mão de muitos privilégios, tudo por nossa causa, compadecendo-se de nossas fraquezas como está escrito em Hebreus 4.15.

Aplicação a sua vida: A maior difi culdade encontrada em nos-sos relacionamentos é separar a pessoa de suas ideias e ações. Como você tem feito essa sepa-ração, principalmente em amar o pecador e não o pecado?

III. Acolher

“Portanto, acolhei-vos uns aos outros como também Cristo nos acolheu para a glória de Deus” – Rm 15.7

Acolher é oferecer proteção, amparar. Aceitar sem levar em conta as falhas, as diferenças. Observe que em sua exortação ao acolhimento mútuo Paulo dá como exemplo a maneira como Cristo nos acolheu. Apesar de nossa insensatez, apesar de ser-mos seus inimigos, transgresso-res e indignos ele nos acolheu como fi lhos, nos incluiu no seu rebanho e estabeleceu uma aliança de amor conosco. Na lin-guagem da versão A Mensagem “Jesus já fez a sua parte, agora é a nossa vez”. Independente da

posição de cada um ou do nível de maturidade espiritual, todos devem se acolher uns aos ou-tros superando as resistências e o preconceito para que, desta maneira, possamos glorifi car a Deus. Deixemos de lado o or-gulho e a desconfi ança e esteja-mos sempre dispostos a acolher o outro sem reservas. Evite todo tipo de preconceito e rejeição e elimine do seu vocabulário ex-pressões do tipo: “Não gosto dele” ou “Não vou com a cara dela”. Isso facilita a aproxima-ção e o acolhimento, elementos indispensáveis para um relacio-namento saudável.

Aplicação a sua vida: O acolhi-mento envolve uma disposição para entender e receber o outro sem qualquer tipo de predispo-sição em qual área for. Sabemos que essa é a nossa maior difi -culdade, em relacionar com o outro. É fácil conviver com pes-soas que pensam e agem igual a nós. Como fazer para aumen-tar o acolhimento e diminuir os preconceitos?

CONCLUSÃO

Uma das coisas que mais difi cul-tam o nosso relacionamento in-terpessoal é o julgamento. Sem levar em conta o que está por trás do que é visível julgamos os outros na base de nossas inter-pretações pessoais. Conta-se a história de uma viagem de trem em que os passageiros estavam sendo incomodados pelo contí-nuo choro de uma criança que

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não deixava ninguém dormir. Tarde da noite, uma senhora, no limite de sua raiva, levantou-se e começou a esbravejar, dirigin-do ao pai da criança: - Por que você não faz esta criança se ca-lar? Não vê que ela está pertur-bando? Onde está a mãe desta criança para cuidar dela? Com voz entrecortada aquele pai res-pondeu: - Minha esposa, a mãe desta criança está em um esqui-fe, sendo transportada para sua cidade Natal onde será sepul-tada. Meu fi lho sente a falta da mãe. Ao ouvir isso, aquela se-nhora respondeu constrangida: - Perdoe-me, amigo! Eu sinto muito. Tenha a bondade de me dar essa criança. Eu cuidarei dela toda a noite. Passearei com ela pelo trem. Você está muito cansado. Tenha a bondade de descansar e dormir.

As coisas mudam de sentido quando a gente fi ca sabendo o outro lado da história. Então, tenhamos cuidado! Antes de re-clamar ou fazer nossas cobran-ças ou acusações procuremos saber as verdadeiras razões da pessoa em foco. Pode ser que você acabe fi cando do lado dela.

Suporte para Pequenos Grupos

1. Compartilhe sobre respeitar o outro como ele realmente é. O que pode ser extraordi-nário neste relacionamento?

2. Em que circunstâncias você acha que rejeitamos as pes-soas próximas de nós?

3. As coisas mudam de sen-tido quando a gente fi ca sabendo o outro lado da história. Antes de recla-mar ou fazer cobranças ou acusações procure saber as verdadeiras razões da pes-soa em foco. Comente esta afi rmativa.

4. Como você pode servir a Deus e a igreja com as des-cobertas que fez hoje?

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Estudo – 46

CONVIVENDO EM FAMÍLIASalmo 128

INTRODUÇÃO

A família foi instituída por Deus para ser o suporte da sociedade e possibilitar ao ser humano um desenvolvimento harmonioso e saudável. Ela é a solução para a nossa necessidade de compa-nhia. Adão tinha tudo que que-ria, vivia num ambiente perfei-to, mas Deus viu que lhe faltava uma companheira. A família foi a primeira providência de Deus para suprir essa necessidade humana. Seja casado ou solteiro você precisa de relacionamentos signifi cativos, de pessoas que se preocupam com você. Aprenda a conviver bem com elas. Vamos, então, reforçar os valores da fa-mília e ter com ela uma boa con-vivência.

I. Cultivando valores espirituais

“Bem-aventurado todo aquele que teme ao Senhor e anda em seus caminhos” – Sl 128.1

O bem-estar da família está con-dicionado ao temor do Senhor e obediência a ele. Temer a Deus é ter uma atitude de respeito e re-verência para com ele como está escrito em Hebreus 12.28,29:

LEITURAS DIÁRIASSegunda Sl. 128.1-6Terça Sl.107.33-41Quarta Sl. 6.6-10Quinta Pv.1.8-19Sexta Pv. 10.1Sábado Ef.6.1-4Domingo Cl.3.18-25

“sejamos gratos e, dessa forma, adoremos a Deus de forma que lhe seja agradável, com reverên-cia e temor”. Quem teme ao Se-nhor vive na dependência dele e “anda nos seus caminhos”. Desta forma a família se torna qualifi cada para receber muitas bênçãos conforme as promessas contidas neste salmo.

II. Conciliando o trabalho com a família

“Pois comerás do trabalho das tuas mãos; serás feliz e tudo te irá bem” – Sl 128.2

Uma família saudável faz do tra-balho a sua fonte de sustento. O pai de família aqui mencionado é um trabalhador que sustenta a sua casa com o trabalho de suas mãos. O trabalho faz parte da experiência humana desde o jar-

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dim do Éden. Em Gênesis 2.15 lemos que “o Senhor Deus tomou o homem e o colocou no jardim do Éden para que o homem o cul-tivasse e o guardasse”. A Bíblia condena a preguiça como pode-mos ver em Provérbios 6.6-11 e 19.15,24. Paulo chegou a dizer: “Se alguém não quer trabalhar, também não coma”. O trabalho é fundamental para o sustento e o conforto da família. Sem re-cursos para a subsistência ne-nhuma família sobrevive. Hoje, não somente o homem traba-lha. Com a inserção da mulher no mercado de trabalho houve uma mudança signifi cativa no conceito de provisão da família. Em muitos casos ela, também, é provedora. Com os desafi os da vida moderna que tem um custo cada vez maior, torna-se neces-sário, muitas vezes, até o tra-balho dos fi lhos menores para complementar a renda da famí-lia. Entretanto, se não tivermos cuidado o trabalho, ao invés de ser uma bênção, pode ser um fator de desintegração. Por isso precisa ser bem dosado para que os familiares tenham tempo para a família. Irmãos precisam de tempo um para o outro. Pais precisam de tempo para seus fi -lhos. Os cônjuges precisam de tempo para os dois. Nesse caso, conciliar vida profi ssional e con-vivência familiar é o grande de-safi o.

O trabalho deve ser valorizado e nunca visto como um estor-vo. À medida que as crianças forem crescendo elas devem ser incentivadas a se envolver nas tarefas da casa como ajudar na

arrumação, cuidar do jardim, lavar o carro. A partir da ado-lescência os fi lhos devem ser in-centivados a entrar no mercado de trabalho. Em agosto de 2016 a imprensa deu destaque à ex-periência da adolescente Sasha Obama, fi lha do presidente Ba-rak Obama, trabalhando como caixa de um restaurante, nos Estados Unidos, durante suas férias. Dentro dos limites da ra-zoabilidade o trabalho é neces-sário e, como diz o velho chavão, dignifi ca o ser humano.

Aplicação a sua vida: O traba-lho é algo bíblico e indispensá-vel para a saúde do indivíduo. Desde cedo as crianças devem ser ensinadas a serem respon-sáveis com seus objetos e cor-po. À medida que se cresce, o serviço de casa deve ser dividido com todos os membros da famí-lia. Como você tem visto a parti-cipação familiar na distribuição de tarefas e mesmo envolvimen-to fi nanceiro na sua?

III. Construindo as relações familiares

“Em tua casa tua mulher será como uma videira frutífera, e teus fi lhos, como brotos de oli-veira ao redor da tua mesa” – Sl 128.3

Numa família saudável a esposa é como uma videira frutífera. A videira é uma planta frágil que exige cuidados especiais no seu cultivo. Uma videira frutífera era sinal de que estava sendo muito bem cuidada. O marido deve le-

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var em conta a sensibilidade da mulher. Tratá-la com carinho e afeto como está escrito em I Pe-dro 3.7: “Maridos, vivei com elas a vida do lar com entendimen-to, dando honra à mulher como parte mais frágil”. Fragilidade, aqui, não é fraqueza. Nesse tex-to o apóstolo Pedro está colo-cando em foco a delicadeza da mulher. Se comparada ao ho-mem, a mulher é um ser muito mais delicado. Do ponto de vista físico, ela tem ossos menores, musculatura menos densa, pele mais suave. Emocionalmente, a mulher é muito mais sensível. Em artigo publicado no jornal Estadão, no dia 07/01/2014, o Dr. Joel Rennó70 escreve que “as mulheres são mais emotivas e expressam com mais facilida-de seus sentimentos do que os homens, porque o sistema lím-bico delas é mais desenvolvido do que o deles”, lembrando que sistema límbico é a parte do cé-rebro que controla os impulsos emocionais. Por sua delicadeza e sensibilidade a mulher deve ser tratada e cuidada com digni-dade e carinho.

Aplicação a sua vida: O autor destaca o cuidado para com a mulher, devido a sua sensibi-lidade. Como você percebe o equilíbrio entre a mulher e o homem no ambiente familiar? Qual deve ser a participação de cada um, no contexto doméstico?

70 Joel Rennó Jr, Ph.D em Ciências, profes-sor colaborador médico do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP e diretor do Programa de Saúde Men-tal da Mulher do Instituto de Psiquiatria da USP

Numa família saudável os fi lhos são como broto de oliveira. São brotos ainda e estão em cresci-mento. Por isso devem merecer cuidados especiais. Os pais não podem ignorar o fato de que os fi lhos precisam muito mais do que a provisão para suas ne-cessidades. Eles precisam de carinho, respeito e atenção. A presença dos pais, o abraço, a carícia e o diálogo são funda-mentais. Além disso, eles preci-sam de disciplina que se mani-festa através de regras e limites. Somente assim os brotos pode-rão ter um crescimento saudá-vel e serem frutíferos.

Aplicação a sua vida: Filho precisa de amor, carinho, res-peito, provisão para suas neces-sidades e também regras e limi-tes. Como você vê a dosagem de todos esses cuidados em sua família? Comente.

A família em volta da mesa co-loca em foco a unidade familiar. A mesa de refeição tem um sig-nifi cado muito especial. Comer juntos à mesa expressa o sen-tido de unidade e coesão que legitima os interesses comuns, garantindo a sobrevivência e re-forçando os vínculos do grupo familiar. A conversa em volta da mesa reforça a comunhão da família. Infelizmente, vivemos num tempo em que o costume de reunir a família nas refeições vai se tornando cada vez mais raro. Os horários diferenciados, os compromissos de trabalho

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e a falta de tempo faz com que cada um se vire do seu jeito e as refeições em horários diferentes e até mesmo fora de casa se tor-nam inevitáveis.

Aplicação a sua vida: Sua famí-lia tem desfrutado essa unidade em volta da mesa? Quantas ve-zes por semana? Comente.

O que aprendemos com este versículo é que a unidade da família precisa ser reforçada. A comunhão precisa ser cultiva-da. Se não for possível reunir todos em volta de uma mesa que outros expedientes sejam criados para que a família pos-sa experimentar momentos de compartilhamento, bate papo, brincadeiras e outras experiên-cias que promovam a interação dos familiares. Há famílias em que, mesmo morando debaixo do mesmo teto, as pessoas não são amigas, nem confi dentes, nem têm prazer em viver juntas. Vivem às turras umas com as outras. Os cônjuges não se en-tendem e vivem como se estives-sem em um ringue, os irmãos fi cam de mal, passam dias sem se falarem. Há esposas turronas e birrentas que só sabem recla-mar. Há maridos frios e agressi-vos para os quais a esposa não passa de uma empregada que deve satisfazer seus desejos. E os fi lhos? Quantos deles inse-guros, complexados, com ima-gens distorcidas de si próprios, vítimas da violência, do desres-peito e da falta de amor vivendo

em um ambiente familiar total-mente desqualifi cado. Em lares assim a convivência se torna in-viável. Não permita que a televi-são, o computador, o celular ou a obsessão pelo trabalho tirem da família a oportunidade de ex-perimentar momentos de proxi-midade e comunhão.

Aplicação a sua vida: você se lembra de algo que fazia em fa-mília quando era criança e/ou adolescente? Comente.

IV. A infl uência da Família na Igreja e da Igreja na Família

“O Senhor te abençoe de Sião, para que vejas a prosperidade de Jerusalém todos os dias da tua vida” – Sl 128.5

Este verso faz referência à bên-ção proveniente de Sião. Sião é um monte situado em Jerusa-lém onde havia uma fortaleza que foi conquistada por Davi (2 Sm 5.7). Era um nome usado para se referir à cidade de Je-rusalém. Depois da construção do templo de Salomão passou a ser usado, também, para se re-ferir ao templo (Sl.132.13,14). Um hebreu piedoso não se sen-tia plenamente abençoado se a cidade de Jerusalém não es-tivesse em paz e o culto sendo celebrado no templo. Jerusalém era o centro da vida das pes-soas, não somente porque era a capital da nação como, tam-

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O SER HUMANO E SEUS RELACIONAMENTOS |

bém, porque lá estava localizado o templo. O que o templo signifi -cava para os judeus em relação à experiência religiosa nos faz pensar no que a igreja signifi ca para nós, hoje. Ao mesmo tempo em que nos preocupamos com a família precisamos, também, desejar o bem-estar da igreja. É da igreja que vem o apoio espi-ritual, emocional e moral indis-pensáveis para o bem-estar da família. Uma família saudável leva em conta os valores espi-rituais e vivencia esses valores em suas práticas devocionais. A família precisa reconhecer que a igreja é importante e deve ser valorizada. É muito importante que, no contexto familiar todos trabalhem para o crescimento da igreja. Os familiares devem se incentivar mutuamente a terem compromisso com os mi-nistérios, e a contribuir para o sustento da igreja. Os pais de-vem ensinar aos fi lhos os prin-cípios da mordomia fi nanceira. Quando isso acontece a família se torna uma extensão da igre-ja com a qual interagem com amor, trabalhando em favor de sua unidade e crescimento.

Aplicação a sua vida: O en-volvimento da família cristã predispõe seu envolvimento na igreja. Você e sua família estão envolvidos no trabalho eclesiás-tico? Como?

CONCLUSÃO

Não há dúvida de que uma con-vivência saudável é o alvo a ser alcançado nas relações familia-res e é necessário todo o empe-nho na consecução desse ideal. Nesse sentido, a título de refl e-xão, vai, aqui, um texto adapta-do de um jogral de Gláucia Cur-vacho Peticov, do livro Antologia do Lar Cristão publicado pela UFMBB (União Feminina Mis-sionária Batista do Brasil)

Há lares que se parecem com uma jaula com feras, leões, on-ças e tigres onde os familiares se mordem, se devoram, se maltra-tam, se desentendem. Há lares que se parecem com um xadrez, com uma prisão, onde os fami-liares vivem brigando, discu-tindo, lamentando a sua sorte, parecendo criaturas algemadas pela lei. É um xadrez. É uma prisão. Pessoas algemadas pela lei lamentam a sua sorte. Triste sorte! Às vezes é melhor a mor-te! Há lares que se parecem com um castelo. Pessoas que se acas-telam, que fi cam sempre den-tro de casa, que não “dão bola” para o que se passa lá fora, que não querem nada com a igreja, nem com o trabalho do Senhor. Há lares que se parecem com um armazém. No lar-armazém os familiares ajuntam, arma-zenam, depositam, acumulam. Só ambição de dinheiro, mais dinheiro, mais, muito mais! De-pois vêm os ratos. Depois vêm as traças. Depois vem a fer-rugem. Depois vêm os ladrões.

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E tudo se acaba! Há lares que parecem um posto de gasolina. Você já ouviu falar de familiares que procuram o lar apenas para abastecimento? Para lubrifi ca-ção? Para limpeza? Para banho? Trocam de roupa, perfumam-se. Se jantam, não almoçam. Se al-moçam, não jantam. Correria, correria, correria. É o carro que foi lavado, lubrifi cado, abasteci-do...e saiu correndo, a 120 por hora!

Feliz é o lar onde existe fé. Fé em Deus para a solução dos proble-mas. Fé em Deus como alicer-ce. Porque a fé é o fi rme funda-mento do lar feliz. Feliz é o lar onde existe esperança. E Cristo é a única esperança. Cristo no lar. Reinando. Governando. Di-rigindo. Dominando. Feliz é o lar onde existe luz. A luz que é a Palavra de Deus. Que ilumi-na e guia. Que alegra e anima. Que ensina o caminho do bem, da felicidade e do amor. Feliz é o lar onde existe inspiração. Ins-piração que vem da igreja e do cultivo espiritual, da vida devo-cional. Os familiares se amam e se entendem. E quando se desentendem, se entendem de novo. E se defendem. Os laços se fortalecem. Feliz é o lar onde existe zelo. Zelo pelas coisas es-pirituais. Zelo pelo bem-estar de cada um. Zelo pela igreja. Zelo pelo próximo. Zelo pela saúde. Em tudo zelo. Lar repleto de es-perança, de luz, de inspiração. Que todos possamos dizer ale-gremente: “Eu e a minha casa serviremos ao Senhor”.

Suporte para Pequenos Grupos

1. Como você tem visto o ataque impetuoso do inimigo contra as famílias?

2. O que Deus nos revela quando diz no verso 1: “Bem-aventurado todo aque-le que teme ao Senhor e anda em seus caminhos” .

3. Depois de tudo que ouviu hoje através do compartilha-mento, o que levar para me-lhorar o seu relacionamento em família? O que precisa mudar?

4. Como trabalhar o relaciona-mento igreja x família de for-ma equilibrada?

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Estudo – 47

CONVIVENDO NA IGREJAHebreus 10.24,25

INTRODUÇÃO

Como diz Rick Warren em seu livro Uma Vida com Propósitos, você foi formado para fazer par-te da família de Deus71. Quando entregamos nossa vida a Cristo nos tornamos fi lhos de Deus e passamos a fazer parte de uma família espiritual, juntamente com outros irmãos e irmãs. Esta família é a Igreja instituída por Jesus e se constitui no seu corpo espiritual do qual ele é a cabeça. Esta igreja universal que reúne os remidos de todos os tempos se torna visível do ponto de vista organizacional através da igreja local onde os convertidos podem se agregar como membros. Uma vez que nos tornamos membros da Igreja precisamos desfrutar da comunhão fraternal com o propósito não, apenas, de ser abençoados, como, também, de ser uma bênção na vida dos ir-mãos. Nesse caso é preciso levar em conta certos princípios que vão nos ajudar a ter, na igreja, uma convivência harmoniosa e construtiva.

71 Rick Warren, Uma Vida com Propósitos, Ed. Vida, pág. 103

LEITURAS DIÁRIASSegunda Hb. 10.24,25Terça Mt. 16.13-20Quarta At.12. 1-19Quinta At.16.1-5Sexta At. 20.28-35Sábado Ef. 4. 11-16Domingo I Pe. 5. 1-4

Aplicação a sua vida: A igreja como família a que o autor se refere, inclui os momentos em que estamos reunidos para a adoração a Deus. Como você tem visto os exageros de ativi-dades, onde as pessoas trocam a convivência em casa para se relacionar na igreja enfatizan-do assim a fuga dos problemas familiares ao conviver mais na família espiritual?

I. O princípio da Interação

“Pensemos em como nos esti-mular uns aos outros ao amor e às boas obras” – Hb 10.24

A Igreja é um lugar de relaciona-mentos. De convivência mútua. De interação. O verbo pensar, aqui, tem o sentido de “conside-rar”, “reparar”72, o que signifi ca prestar atenção no outro, estar 72 William Carey Taylor, Dicionário do Novo Testamento Grego, Casa Publicadora Batista

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preocupado com o outro e tra-çar estratégias para promover o seu bem-estar espiritual. A convivência na igreja implica em encontrar formas de incen-tivar uns aos outros através de palavras e pelo exemplo. É im-portante participar da vida do outro. Essas coisas não acon-tecem automaticamente. Elas acontecem quando tomamos a decisão de fazê-las acontecer. Nesse caso, faça a sua parte no sentido de construir excelentes relacionamentos com o povo de Deus, de cultivar amizades na igreja. Procure derrubar os muros e construir pontes para estabelecer companheirismo e intimidade com os irmãos. Mas não fi que esperando pelos ou-tros. Tome a iniciativa. Se você está sentado à espera de que os outros cheguem a você a inte-ração nunca vai acontecer se o outro estiver fazendo a mesma coisa. Tenha plena convicção de que Jesus deseja que você se aproxime dos outros crentes para desfrutar da sua compa-nhia e manter a interação para incentivo e crescimento.

Aplicação a sua vida: No prin-cípio da interação o primeiro passo é sempre você quem dá. O que você tem feito para trans-por a barreira do temperamen-to, timidez e falta de tempo etc?

II. O princípio da integração

“Não abandonemos a prática de nos reunir, como é costume de alguns, mas, pelo contrário,

animemo-nos uns aos outros, quanto mais vedes que o dia se aproxima” – Hb 10.25

Não abandonar a prática de reu-nir é uma referência ao nosso compromisso de envolvimento com a Igreja. É ter uma vida jun-tos. Nós nos conhecemos pelo nome, sentamos nos bancos com as pessoas, participamos de atividades juntos, estudamos a Bíblia juntos. Entretanto, vi-ver juntos é muito mais do que saber os nomes das pessoas e onde eles se sentam em uma manhã de domingo. É se colocar à disposição de Deus para se in-tegrar no corpo da igreja e ser bênção na vida do outro. Pre-cisamos compartilhar nossas dores, conversar sobre nossos problemas, ter a oportunidade de nos ajudar, nos apoiar, nos abraçar. Deus espera de cada um de nós um envolvimento efetivo com a Igreja não, ape-nas, frequentando os cultos ou participando das atividades, in-cluindo a agenda da igreja na sua agenda. Isso é importante, mas não é tudo. O princípio da integração inclui a ideia de ser-viço, e doação.

Aplicação a sua vida: O au-tor fala do convívio, do rela-cionamento, na igreja. Como podemos trabalhar os confl itos decorrentes desse relaciona-mento?

1. Serviço

Deus deu a cada um de seus seguidores dons, talentos e ha-bilidades. E a prescrição da Pa-

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lavra de Deus é: “Servi uns aos outros conforme o dom que cada um recebeu, como bons admi-nistradores da multiforme graça de Deus” - I Pd 4.10. Como se-guidores de Jesus precisamos identifi car os dons que ele nos concedeu e usá-los na igreja para abençoar as pessoas. Em I Coríntios 12.4-6 Paulo diz: “Ora, há diversidade de dons, mas o mesmo Espírito. E há diversi-dade de ministérios, e o mesmo Senhor. Existem variedades de efeitos, mas é o mesmo Deus que opera tudo em todos. Mas a cada um é dada a manifestação do Espírito para o bem comum”. Observe que a parte fi nal do ver-so 6 diz que Deus dá a todos e a cada um de seus seguidores, pelo menos um, dom espiritual, ou seja, uma habilidade vinda do Espírito Santo, para servir aos outros. Procure identifi car os seus dons e sirva a Deus através da igreja. Seja qual for o seu dom ele foi dado por Deus a você. O Espírito Santo vai capa-citá-lo a fazer uso dele não para seu próprio benefício mas para benefícios de outros. Conviva com a Igreja servindo. Esta é uma boa maneira de participar.

Aplicação a sua vida: O dom que você recebeu do Espirito Santo é para socializar e utilizá--lo na igreja, na interação com o outro. Como você tem desenvol-vido seus dons nos ministérios da igreja?

2. Generosidade

O livro de Atos registra a gene-rosidade dos crentes da igreja

primitiva nos seguintes termos: “A multidão dos que criam esta-va unida de coração e de propó-sito; ninguém afi rmava ser sua alguma coisa que possuísse, mas tudo era compartilhado por todos” - At 4.32. É interessante observar que “ninguém afi rmava ser sua alguma coisa que possu-ísse”. Aqueles crentes estavam desapegados de tudo que fosse material e esta deve ser a ati-tude de um servo de Deus. En-tão, sejamos generosos. E não se trata, apenas de contribuir com dízimos e ofertas, o que é, de fato, importante, mas não é isso que o texto está nos ensi-nando. A Igreja Primitiva está demonstrando seu amor através do compartilhamento dos bens materiais entre seus membros. Cada um se prontifi cava a divi-dir o que tinha com o outro. Eles estavam preocupados em aju-dar aos necessitados e por isso assumiram o compromisso de vender suas propriedades. Não signifi ca que tenhamos que ven-der tudo que temos e passar a morar juntos, nas dependências do templo. Mas, possivelmen-te haja na igreja uma mãe que está com difi culdade para com-prar o leite de seu fi lho. Alguém que perdeu o emprego e está passando necessidade. Alguém com difi culdade para comprar um remédio. Um estudante uni-versitário que vai deixar a facul-dade por não estar conseguindo pagar a mensalidade. Alguém cuja água ou a luz vai ser cor-tada por falta de pagamento. O que podemos fazer para ajudar?

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Alguém pode dizer que o mendi-go ou o menino de rua ali da es-quina também precisa de ajuda. Mas o que está sendo enfatizado, agora, são os irmãos em Cristo. Precisamos ajudar a todos, mas, como prescreve o apostolo Pau-lo em Gálatas 6.10, “Façamos o bem a todos, principalmente aos domésticos da fé”. Não signifi ca que vamos deixar de pensar nos de fora. O que não podemos per-mitir é que o nosso desejo de ir além de nossas paredes nos leve a esquecer dos que estão dentro delas.

Aplicação a sua vida: O au-tor chama a atenção para que aprendamos a ajudar o outro em suas necessidades. Você já compartilhou o que sabe (talen-tos) com alguém para que essa pessoa possa melhorar sua qualidade de vida? Comente.

CONCLUSÃO

Alguém disse, com muita pro-priedade, que, neste mundo, há dois tipos de pessoas: as que constroem muros e as que cons-troem pontes. Muros criam iso-lamento, divisão. Pontes servem para ligar, aproximar, facilitar o acesso. Jesus veio ao mundo disposto a derrubar todos os muros e a construir os mais di-ferentes modelos de pontes. Ele não admitia barreiras religiosas, nem sociais, nem raciais. Nada seria capaz de impedir a sua aproximação das pessoas, quem quer que fosse, para demons-trar a elas o carinho e a atenção de que precisavam e oferecer o socorro que só ele pode dar.

Rivalidades, provocações e in-transigências não faziam parte do seu estilo. Seu propósito era se aproximar, estabelecer o diá-logo e a comunhão.

Em nosso convívio na igreja precisamos aprender a destruir muros e construir pontes com o propósito de viabilizar a prática da solidariedade, do diálogo e da generosidade. Se queremos uma Igreja como Deus planejou não podemos viver atrás de um muro, isolados uns dos outros. Viver em comunidade é par-ticipar da vida do outro. É po-der entrar no quintal do outro e deixar que ele entre em nosso quintal.

Suporte para Pequenos Grupos

1. O que é a “Igreja” a qual o autor se refere? Ela é im-portante? Porque?

2. Cite as lições práticas que podemos tirar de tudo que ouvimos hoje.

3. Como você pode servir ao grupo e a igreja com as descobertas que fez atra-vés deste estudo?

4. Que ajustes você preci-sa fazer em sua vida para “colocar em prática” o que aprendeu?

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O SER HUMANO E SEUS RELACIONAMENTOS |

Estudo – 48

O MAIS IMPORTANTE É O AMORI Coríntios 13.1-8

INTRODUÇÃO

O Cristianismo é a religião do amor. Jesus veio para viver, ensinar e implantar o amor no coração dos homens. Mas não foi fácil para ele cumprir sua missão, pois chegou num mun-do estruturado na base do lega-lismo. Esta foi, basicamente, a causa do choque entre a religião judaica e a religião implantada por Jesus. Para os judeus o mais importante era a Lei. Para Jesus o mais importante é o amor. Foi nesse sentido que ele contestou a postura dos escribas e fari-seus. Eles se julgavam superio-res. Faziam parte da casta dos perfeitos, simplesmente, porque observavam a Lei ao pé da letra. Por esta razão se distanciavam das pessoas comuns e margi-nalizadas. Jesus não. Ele se aproximava das pessoas de má reputação, publicanos e prosti-tutas para demonstrar a elas o seu amor.

O amor ao próximo, tão enfa-tizado por Jesus, mereceu do apóstolo Paulo uma abordagem profunda e inspiradora no capí-tulo 13 de I Coríntios, a partir da qual podemos entender por que o amor é a mais sublime de todas as virtudes.

LEITURAS DIÁRIASSegunda I Co. 13. 1-8Terça Gr. 31.1-4Quarta Ez. 33.30-33Quinta Ap. 2. 2-7Sexta Cl. 1.1-11Sábado II Co. 8. 1-8Domingo II Co. 8. 16-24

I. A precedência do amor – I Coríntios 13.1-3

Ter precedência é estar em pri-meiro lugar; ter primazia, pre-ferência. É assim que Paulo aborda o amor nos três primei-ros versículos do capítulo 13 de I Coríntios. A palavra “amor” usada nesse texto é a tradução do vocábulo grego “ágape”, que aparece, também, em Mateus 22.37-39 quando Jesus resu-miu os mandamentos da Lei em apenas dois: amar a Deus e amar o próximo. Havia outras palavras na língua grega que poderiam ser traduzidas por “amor”, mas o vocábulo “ága-pe” era usado para se referir ao amor no sentido mais completo que ele pode ter. Essa é uma pa-lavra raramente encontrada nos escritos seculares mas aparece mais de 100 vezes no Novo Tes-tamento, confi gurando-se com

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uma expressão especialmente cristã73.

Os crentes de Corinto estavam supervalorizando os dons, prin-cipalmente o dom de línguas, e Paulo escreveu I Coríntios 12 porque ele não queria que eles fossem ignorantes, nem quanto à origem dos dons nem quan-to ao seu uso, enfatizando que eles vinham de Deus e deviam ser usados para a glória dele. Em I Coríntios 13 Paulo argu-menta que o amor sobrepuja os dons e, por isso, deve ser colocado em primeiro lugar na experiência cristã. Ele começa sua abordagem demonstran-do que qualquer sinal externo de maturidade espiritual nada signifi ca se não estiver acompa-nhado pelo amor. É interessante observar a repetição da expres-são “mesmo que” na sequência dos três primeiros versículos: “mesmo que eu falasse as lín-guas dos homens e dos anjos” (v. 1), “e mesmo que eu tivesse o dom de profecia” (v. 2), “e mes-mo que tivesse fé sufi ciente para mover montanhas” (v. 2), “e mes-mo que eu distribuísse todos os meus bens para o sustento dos pobres e oferecesse o meu corpo para ser queimado” (v. 3). Paulo deixa bem claro que nenhuma dessas manifestações tem valor algum sem a marca do amor. As línguas seriam um mero ba-rulho, as profecias seriam sem valor algum, o socorro aos po-bres e, até mesmo, o martírio,

73 Bíblia King James Atualizada, notas de rodapé

nada disso traria qualquer mé-rito. Não há a menor dúvida. O amor tem que vir em primeiro lugar. É ele que confi rma e dá validade a tudo.

Aplicação a sua vida: Nos re-lacionamentos o mais impor-tante é o amor. Para que nos-so relacionamento com o outro seja crescente e adquira o ver-dadeiro signifi cado é necessário que seja precedido pelo amor. Como você tem visto o amor nos relacionamentos cotidianos e mundiais em relação à tolerân-cia: religiosa, étnica e social? Comente.

II. As evidências do amor – I Coríntios 13.4-7

Nesse texto Paulo fala sobre as manifestações do amor no nos-so dia a dia, destacando suas marcas e enumerando as evi-dências.

1. “O amor é paciente” (v.4). Quem ama nunca desiste. É ca-paz de tolerar o desinteresse e o desprezo sem ressentimentos ou desejo de vingança, esperan-do o tempo certo para colher os frutos.

2. “O amor é benigno” (v.4). Quem ama é generoso. Tem pra-zer em fazer o bem.

3. “Não é invejoso” (v.4). Quem ama não requer o que não tem e não sofre por não ter o que o outro tem.

4. “Não se vangloria, não se or-gulha” (v.4). Quem ama não se

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O SER HUMANO E SEUS RELACIONAMENTOS |

deixa envaidecer. Não se acha melhor do que o outro, não o trata com desdém, nem se apro-pria de uma honra que não é sua. Quem ama vence o orgu-lho.

5. “Não se porta com indecência” (v.5). Quem ama se preocupa, sempre, com o decoro, coloca em evidência o respeito, não faz nada que seja inconveniente.

6. “Não busca os próprios inte-resses” (v.5). Quem ama não dá lugar ao egoísmo, se preocupa mais com o que é do outro do que com o que é seu. Coloca em foco os interesses do outro.

7. “Não se enfurece” (v.5). Quem ama controla suas emoções. Não se deixa levar pela ira.

8. “Não guarda ressentimento do mal” (v.5). Quem ama não dá lugar à vingança nem se dei-xa levar pela malícia nem pelo ciúme. Nunca tem a pretensão de surpreender o outro fazendo uma coisa errada. Não dá lugar a suspeitas sem fundamento.

9.”Não se alegra com a injustiça, mas congratula-se com a verda-de” (v.6). Quem ama não nega ao outro o direito que tem, não tem a pretensão de provocar dano. É transparente e tem pra-zer em fi car do lado da verdade.

10. “Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta” (v.7). Quem ama supera injúrias, calúnias e agressões. Age com confi ança, cultiva a esperança, não entrega os pontos e não se dá por vencido.

Depois desta explanação deta-lhada fi ca diante de nós o desa-fi o de praticar o amor segundo o padrão estabelecido por Deus. Antes de tudo é preciso dizer que esse “amor ágape” do qual estamos falando só pode exis-tir no coração de um seguidor de Jesus como está escrito em I João 4.7: “Amemos uns aos ou-tros, porque o amor é de Deus, e todo aquele que ama é nascido de Deus e conhece a Deus”. Em outras palavras, ele é o resulta-do do novo nascimento e faz par-te da nova natureza da pessoa convertida. Paulo confi rma esta verdade quando, em Gálatas 5.22, apresenta o amor como a primeira virtude do fruto do Es-pírito Santo. Quem não nasceu de novo é capaz de experimentar os outros tipos de amor, mas o “amor ágape” só pode existir no coração de uma pessoa trans-formada por Jesus. Entretan-to, mesmo para um seguidor de Jesus o mandamento do amor não é fácil de ser obedecido. É um desafi o a ser enfrentado e perseguido durante a vida intei-ra. Nossa velha natureza é im-pulsionada pelos interesses do “eu” e isso só pode ser superado pelo fortalecimento da nova na-tureza, que está sob o domínio do Espírito Santo. É ele quem, segundo Paulo, derrama o amor em nossos corações: “Visto que o amor de Deus foi derramado em nosso coração pelo Espírito Santo que nos foi dado”(Rm 5.5). É o Espírito que nos qualifi ca para amar. O segredo, então, é a busca do crescimento espi-ritual pelo enchimento do Es-

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pírito Santo. Uma verdade que não pode ser esquecida é que o amor, no contexto desta aborda-gem, é uma decisão e não um sentimento. Uma ação e não uma emoção. Amar não é uma questão de sentir, mas de fazer ou deixar de fazer algo em favor do outro.

Aplicação a sua vida: Estabe-leça alvos levando em conta as proposições do apóstolo Pau-lo em seu dia a dia. Faça, dia-riamente, avaliações pessoais nesse sentido. Pergunte-se a si mesmo no fi nal de cada dia: Eu pratiquei o amor hoje? Fui ca-paz de tolerar? Fui egoísta? Fui vingativo? Fui invejoso? Prati-quei a generosidade? Tratei o outro com respeito? Fui capaz de controlar minhas emoções? Avalie onde falhou e onde pode melhorar e repita o processo no dia seguinte.

Assuma o compromisso de amar. Coloque de lado os inte-resses pessoais e pense nos in-teresses do outro. Entretanto, esteja consciente de que, como ser humano você nunca alcan-çará a perfeição. Mas lembre-se de que em Deus você encontra força e inspiração para amar. Que todos possamos prosseguir na busca de crescimento espiri-tual, dando os passos necessá-rios nesse sentido, sabendo que a cada passo nossa maturida-de é fortalecida. Nesse sentido o nosso modelo é Jesus. Que busquemos, em todos os dias de nossa jornada aqui neste mun-do ser semelhantes a ele.

Deus precisa de homens e mu-lheres que tenham a chama do amor ardendo em seus cora-ções. Estes farão diferença em qualquer lugar onde estiverem. Serão bênção na vida das pes-soas e darão testemunho vivo de seu compromisso com Jesus, que em João 13.35 disse: “Nis-to todos saberão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros”.

III. A preeminência do amor – I Coríntios 13.8-13

. “O amor jamais é vencido. Mas, havendo profecias, serão ex-tintas; havendo línguas, silen-ciarão; havendo conhecimento, desaparecerá”.

O que Paulo está dizendo aqui é que o amor nunca deixará de existir em contraste com os dons que são transitórios. Pro-fecias, línguas e conhecimento têm prazo de validade. Chegará o dia em que serão extintos. Só o amor continuará para sempre. O amor é a maior de todas as virtudes concedidas por Deus aos seres humano. Como diz Matthew Henry, o amor é uma graça permanente, perpétua, que durará por toda a eternida-de, enquanto os dons extraordi-nários que os crentes de Corinto valorizavam eram transitórios. Eles podem contribuir para a edifi cação da igreja na terra, mas não terão lugar no céu. Porque não serão mais neces-sários74. O amor não somente

74 Matthew Henry, Comentário Bíblico Novo Testamento, Ed. CPAD

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O SER HUMANO E SEUS RELACIONAMENTOS |

supera os dons como, também, a fé e a esperança. Ele vem an-tes de tudo e está acima de tudo porque é um dos atributos de Deus. Como afi rma João em sua primeira epístola: “Deus é amor” (I Jo 4.8).

CONCLUSÃO

É uma pena que o amor nem sempre tenha sido colocado em primeiro plano. O materialismo e o egoísmo têm ocupado o lugar do amor no coração de muitos. Se houvesse mais amor, haveria menos violência, menos miséria, menos medo. Se houvesse mais amor haveria menos crianças abandonadas, menos pessoas morrendo de fome.

Que todos nós possamos va-lorizar o amor, colocando de lado a usura, a ganância e a busca do poder. Abandonemos o preconceito e valorizemos a pessoa humana, sem levar em conta sua cultura, cor, religião ou classe social. Aprendamos a viver como Jesus ensinou, lem-brando, sempre, que, para ele, o amor está acima de tudo.

Suporte para Pequenos Grupos

1. Nos relacionamentos, o mais importante é o amor. Para que nosso relacionamento com o outro seja crescente e adquira o verdadeiro signi-fi cado é necessário que seja precedido pelo amor. Como você tem visto o amor nos relacionamentos cotidianos em geral?

2. Porque o “amor” desde os primórdios é algo tão desa-fi ador para a humanidade?

3. O que Deus falou com você através do estudo? De que forma?

4. Que ajustes você precisa fa-zer para colocar em prática tudo que ouviu hoje?

5. Você quer deixar o amor de Jesus dar uma nova direção para sua vida? Oração

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Estudo – 49

O HOMEM DIANTE DA CRIAÇÃOSalmo 8

INTRODUÇÃO

O salmo 8 é um poema de Davi que começa e termina com uma expressão de louvor a Deus pelo seu nome glorioso. No verso 2 ele faz referência às crianças e aos bebês que ainda mamam cujo louvor confunde e silen-cia os inimigos de Deus e, nos versos 3 a 8, o salmista chama a atenção para um grande pa-radoxo em que o ser humano é apresentado como tão insigni-fi cante e, ao mesmo tempo, tão importante. Tão pequeno em comparação com a grandeza de Deus e a imensidão do universo e tão grande ao ponto de ser con-siderado, apenas, menor do que os anjos. Essa avaliação permite que seja percebida a importân-cia do ser humano no contexto da criação e provoca nele uma reação natural de espanto que desperta em cada um de nós um sentimento de gratidão e, ao mesmo tempo nos alerta para o tamanho da responsabilidade que temos diante da prerrogati-va de dominar e governar todos os animais domésticos e selva-gens, enfi m, todas as criaturas vivas da terra, do céu e do mar.

I. Admiração

“Ó Senhor, nosso Senhor, como o teu nome é magnífi co em toda

LEITURAS DIÁRIASSegunda Sl.8. 1-9Terça Sl. 144.1-10Quarta ITm. 4.4-7Quinta Rm. 8. 19-27Sexta Sl.148.1-14Sábado Is. 45.18 -19Domingo Am.4.12-13

a terra! Tu que puseste tua glória nos céus! Quando contemplo os teus céus, obras dos teus dedos, a lua e as estrelas que estabele-ceste” – Sl 8.1,3

O salmista manifesta sua per-plexidade diante da vastidão do universo e se mostra maravi-lhado diante da beleza da cria-ção. Como observa Champlin, ele não tinha a menor ideia da existência de bilhões de galá-xias cada uma com bilhões de estrelas75, entretanto, só a con-templação a olho nu do espaço sideral o deixou extasiado. A re-ferência à lua e às estrelas e ne-nhuma menção ao sol ou à luz solar dá a entender que a ins-piração deste salmo aconteceu durante uma noite de lua prate-ada e céu estrelado com toda a

75 R. N. Champlin, O Antigo Testamento Inter-pretado Versículo por Versículo, Ed. Hagnos

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O SER HUMANO E SEUS RELACIONAMENTOS |

beleza e a emoção que esta cena provoca em qualquer ser huma-no.

Quando o salmista diz “contem-plo os teus céus” ele está falando de algo imensurável. Do ponto de vista humano é praticamente impossível entender as dimen-sões do universo. Em reporta-gem publicada pela revista Ga-lileu em sua versão digital de 19 de agosto de 2016 o repórter Bruno Vaiano escreve que, de acordo com as estimativas do fí-sico J. Richard a área do univer-so observável tem um diâmetro de 93 bilhões de anos-luz. Cada ano-luz é equivalente a 9,5 tri-lhões de km. Portanto, trata-se de algo que está muito além da nossa compreensão. O site do INPE(Instituto Nacional de Pes-quisas Espaciais) informa que a Via Láctea, a galáxia na qual está incluído o nosso sistema solar e, portanto, a terra onde habitamos, possui de 200 a 400 bilhões de estrelas. E isso é ape-nas uma partícula do universo já que existem mais de 100 bi-lhões de galáxias. A Galáxia de Andrômeda, a mais próxima da Via Láctea, está a dois milhões de anos-luz da terra. Apenas es-ses dados são sufi cientes para mostrar a imensidão do univer-so e nos leva a entender a ex-pressão de admiração e espan-to do salmista diante de tanta grandeza. Não há como deixar de expressar nossa admiração pela grandeza da criação que em seus detalhes revela a grandeza de Deus.

Aplicação a sua vida: Os dias têm sido tão corridos, nossas necessidades cada vez maiores, que temos distanciado de ges-tos simples de contemplação. Quanto tempo você não para simplesmente contemplar o universo? Seria capaz de fazê--lo e depois descrever seu sen-timento?

II. Gratidão

“Que é o homem para que te lembres dele? E o fi lho do ho-mem para que o visites? Tu o fi zeste um pouco menor que os anjos e o coroaste de glória e honra” – Sl 8.4,5

Diante da magnifi cência e da grandeza do Criador uma per-gunta se torna inevitável: “Que é o homem para que te lembres dele e o fi lho do homem para que o visites? ” (Sl 8.4). Esta pergun-ta fi ca, ainda, mais instigante na versão da Bíblia Viva: “Afi -nal, por que Deus foi dar tanta importância a essa coisa tão pe-quena que é o homem?” Mas, a resposta não se faz esperar: “Tu o fi zeste um pouco menor do que os anjos e o coroaste de glória e honra” (Sl 8.5). Essa mesma pergunta é feita no Salmo 144.3 seguida pela declaração do ver-sículo 4 que enfatiza a insigni-fi cância e a transitoriedade do ser humano. Entretanto, como podemos ver, Deus se interessa pelo ser humano valorizando-o e ressaltando a sua dignidade.

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Glória e honra são expressões usadas em relação a Deus mas aparecem aqui em referência aos seres humanos para desta-car a superioridade do homem em relação às outras criaturas. Este destaque dado ao ser hu-mano no contexto da criação nos faz pensar no princípio antrópico mencionado por Bill Hybells e Mark Mittelberg76 no livro Cristão Contagiante. Este princípio foi elaborado por cien-tistas a partir da constatação de que a estrutura do universo e as leis físicas que o regem aten-dem aos requisitos necessários para tornar possível a existência humana. Segundo esse princí-pio o universo foi planejado em função do ser humano o que pode ser comprovado por uma série de dados cientifi camente comprovados. Se a proporção de carbono e oxigênio presente no gás carbônico fosse diferente do que é nenhum ser humano sobreviveria. Se a inclinação do eixo da terra fosse ligeiramente alterada para um lado, conge-laríamos, para o outro, o calor seria insuportável. Se a terra estivesse um pouco mais próxi-ma ou mais distante do sol, se fosse, apenas, maior ou menor, ou se o movimento de rotação da terra tivesse outra velocidade a temperatura resultante des-sas mudanças seria fatal. Ou seja, tudo que Deus criou foi

76 Bill Hybells e Mark Mittelberg, Cristão Contagiante, Ed, Vida, pág 16

pensando no homem que viria depois. Diante de uma consta-tação como esta é natural que o ser humano expresse sua pro-funda gratidão por tudo que Deus criou levando em conta o que disse Paulo em I Timóteo 4.4: “Visto que todas as coisas criadas por Deus são boas, nada deve ser rejeitado se for recebido com ações de graças”, Diante de todas as evidências do cuidado de Deus e dos privilégios por ele a nós concedidos, não resta outra alternativa senão louvar a Deus com gratidão, reconhecen-do que somos, de fato a menina dos seus olhos como declarou Moisés em Deuteronômio 32.10.

Aplicação a sua vida: É certo que temos um relacionamen-to com Deus, temos buscado a sua orientação e consolo todo o tempo. Porém momentos de total esvaziamento e entrega na gratidão sem súplica torna-se mais difícil. Quantas vezes você tem transformado esse relacio-namento apenas em gratidão reconhecendo que tem muito mais do que merece, conside-rando sua realidade atual?

III. Responsabilidade

“Deste-lhe domínio sobre as obras das tuas mãos; tudo pu-seste debaixo dos seus pés: to-das as ovelhas e os bois, assim como os animais selvagens, as aves do céu, os peixes do mar e tudo que percorre as veredas dos mares” – Sl 8.6-8

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O SER HUMANO E SEUS RELACIONAMENTOS |

Esses versos nos remetem para Gênesis 1.26 onde Deus deci-diu que o ser que ele criaria à sua imagem, conforme sua se-melhança, teria domínio “sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre o gado, sobre os animais selvagens e sobre todo animal rastejante que se arras-ta sobre a terra”. Esse mesmo princípio se repete em Gênesis 1.28 e foi reafi rmado, após o di-lúvio em Gênesis 9.2, deixando bem claro o ensino de que o ho-mem, como obra prima da cria-ção tem a responsabilidade de administrar a natureza e pode exercer domínio sobre ela. Essa responsabilidade precisa ser as-sumida pelo homem sem que ele perca de vista sua subordinação a Deus reconhecendo que, de fato, este domínio pertence ao Criador. Em outras palavras, precisamos admitir que não nos foi dado o domínio absoluto e que não podemos agir do jei-to que queremos, à revelia dos propósitos de Deus. Como bons mordomos precisamos tirar pro-veito de todas as concessões feitas por Deus com responsa-bilidade, tendo o cuidado de usar a natureza sem destruí--la. Nossa reverência e obedi-ência ao Criador impede toda e qualquer intenção de destruir o que ele criou. Deus criou um mundo habitável que mereceu uma avaliação positiva como está escrito em Gênesis 1.31:

“E Deus viu tudo quanto fi zera e era muito bom”. Temos a res-ponsabilidade de manter tudo como foi criado por Deus para que a avaliação continue positi-va e assim Deus possa dizer: “O que o homem está fazendo está muito bem feito”.

Aplicação a sua vida: O autor nesse parágrafo nos chama a atenção para um detalhe mui-to importante que muitas vezes passa despercebido em nos-sa labuta diária. Como você se avalia, com relação ao cuidado do planeta, diante dessa frase “ O que o homem está fazendo está muito bem feito”. Comente.

CONCLUSÃO

É triste ver que a gestão da na-tureza pelo ser humano tem sido feita de forma mesquinha e em total desrespeito ao proje-to original do Criador. Precisa-mos entender que Deus colocou toda a criação sob o domínio do homem não para ser explorada ou abusada e que o desejo dele é que o equilíbrio ambiental e a sustentabilidade sejam preser-vados. Por que razão seríamos motivados a cuidar do meio ambiente? O que nos levaria a colocar nossos interesses egoís-tas em segundo lugar em favor da ecologia? Por que teríamos que nos preocupar com espé-cies de animais ameaçadas de

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extinção? A resposta para estas perguntas não tem a ver, ape-nas, com solidariedade, genero-sidade, altruísmo ou qualquer outro tipo de sentimento para os quais devamos apelar. A Res-posta está na nossa submissão a Deus. Na necessidade que te-mos de obedecê-lo e honrá-lo. É na perspectiva de Deus como criador que não temos outra opção senão manifestar nossa admiração e nossa gratidão as-sumindo nossa responsabilida-de de lidar com o meio ambiente levando em conta os propósitos de Deus para sua criação.

Suporte para Pequenos Grupos

1. O que achou mais relevante no estudo? Por que a rele-vância?

2. Como o homem pode expres-sar a Deus sua gratidão pela magnífi ca obra criada? Dê oportunidade para outros compartilharem.

3. Em Salmos 8.6-8 lemos que somos responsáveis pelo cuidado da criação de Deus. Como podemos explicar a diferença entre a obra criada e o que existe na atualidade. Isto traz consequências?

4. Depois de todo compartilha-mento, o que a lição trouxe de novidade para você? Tem ajustes a fazer?

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O SER HUMANO E SEUS RELACIONAMENTOS |

Estudo – 50

O DESAFIO DA SUSTENTABILIDADEÊxodo 23.10,11

INTRODUÇÃO

O conceito de desenvolvimento sustentável foi elaborado pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento criada pela Organização das Na-ções Unidas com o objetivo de propor meios para harmonizar o desenvolvimento econômi-co e a preservação ambiental. Um texto publicado pela WWF-Brasil77 em sua página na internet informa que, para esta Comissão, desenvolvimento sustentável é o desenvolvimento capaz de suprir as necessidades da geração atual sem compro-meter a capacidade de atender as necessidades das gerações futuras. Em outras palavras, é o desenvolvimento que não es-gota os recursos para o futuro. A importância desse conceito é que, a partir dele, as diretrizes para o desenvolvimento econô-mico devem levar em conta o

77 WWF(World Wide Fund for Nature) cuja sigla signifi ca Fundo Mundial Para a Natu-reza é uma organização não governamental internacional que atua nas áreas da con-servação, investigação e recuperação am-biental

LEITURAS DIÁRIASSegunda Ex. 23.10-11Terça Lv. 25. 3 -7 Quarta Lv. 26. 34-35Quinta Dt. 15.1-4Sexta Dt.25.4Sábado Sl.147.8-11Domingo Lc.12. 22-28

meio ambiente. As empresas, as organizações e as pessoas preci-sam ser conscientizadas de que a exploração irracional do meio ambiente tende a ser insusten-tável pois provoca o esgota-mento dos recursos naturais e acaba por inviabilizar o cresci-mento econômico. Essa preocu-pação com a sustentabilidade na verdade não é nova e nem é de origem humana. Deus é o principal interessado nela e, por isso, estabeleceu em sua Pala-vra normas e preceitos para que o homem não seja inconsequen-te em seu relacionamento com a natureza. Um exemplo disso é que na legislação mosaica foi es-tabelecido o ano sabático para a terra conforme podemos ver em Êxodo 23.10,11, que é o texto básico para este estudo.

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I. A proteção da terra

“Semearás tua terra e recolhe-rás os seus frutos durante seis anos; mas no sétimo ano a dei-xarás descansando e sem culti-vo” – Ex 23.10,11a

Depois de tomar posse da Terra Prometida o povo de Israel fi cou sujeito a certas leis, inclusive, de natureza agrícola. Uma delas era a lei do ano sabático para a terra. De acordo com as instru-ções dadas por Deus ao povo de Israel, para que a terra pudesse produzir de forma abundante e perene deveria haver perío-dos intermitentes de descanso. Sendo assim, o cultivo pode-ria ser feito durante seis anos corridos, mas no sétimo ano o cultivo seria suspenso para que a terra pudesse descansar e, assim, ter a sua fertilidade restaurada. Essa lei é repetida em Levítico 25.3 e 4: “Durante seis anos semearás a tua terra, podarás a tua vinha e colherás os seus frutos, mas no sétimo ano haverá sábado de descanso solene para a terra, um sábado para o Senhor, não semearás o teu campo nem podarás a tua vi-nha”. Por um ano inteiro a terra deveria ser abandonada, isto é, o homem não deveria interferir nem cultivá-la, nem esperar fru-to dela. Esse ano sabático servia para a terra se recompor e ter a reposição de seus nutrientes. Assim, no período seguinte de cultivo seria mantido o seu po-tencial de produtividade. Para mostrar a seriedade desta pres-crição, em Levítico 26. 34 e 35 o povo é advertido para o fato de que a não observância do ano

sabático poderia levá-los a ser expulsos da terra. Deus permi-tiria que eles fossem dominados por inimigos e espalhados por outras nações para que a terra pudesse “usufruir dos seus sá-bados” e assim, ter a oportuni-dade de ser restaurada: “Duran-te todos os dias da devastação ela descansará, pelos dias que não descansou nos vossos sába-dos quando habitáveis nela” (Lv 26.35). Essa palavra foi cumpri-da no tempo do profeta Jeremias quando o povo de Israel foi leva-do cativo para a Babilônia. Esse cativeiro durou setenta anos como Jeremias havia profetiza-do (Jr 25.11). Esse foi o tempo necessário para que a terra ti-vesse os seus repousos sabáti-cos conforme lemos em II Crô-nicas 36.21: “Para se cumprir a palavra do Senhor dita pela boca do profeta Jeremias, até a terra ter desfrutado dos seus sába-dos; pois repousou por todos os dias da desolação, até que os se-tenta anos se cumpriram”. Está claro aí que o primeiro objetivo do ano sabático era proporcio-nar um período de descanso à terra para que sua fertilidade pudesse ser recuperada. Se fos-se totalmente exaurida corria--se o risco de comprometer não somente o sustento da geração atual como, também, da gera-ção futura o que se enquadra perfeitamente no atual conceito de sustentabilidade. Ou seja, os modernos conceitos de preser-vação do planeta não são uma invenção humana mas foram prescritos na Palavra de Deus antes mesmo que a ecologia se tornasse uma das maiores preo-cupações da humanidade.

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REFLEXÕES BÍBLICAS IV | 265

O SER HUMANO E SEUS RELACIONAMENTOS |

Aplicação a sua vida: Essa passagem bíblica parece não nos dizer respeito, pois muitos de nós não somos lavradores. Porém ela não foi uma ordem dada apenas a esse grupo de pessoas em nossa sociedade. Como você se inclui no conceito de sustentabilidade atualmen-te? Comente.

II. A preocupação com os po-bres

“Para que os pobres do teu povo possam comer” – Ex 23.11b

Outro objetivo do ano sabáti-co era permitir que os pobres se valessem da produção es-pontânea da terra. Mesmo não sendo donos eles podiam des-frutar dela para sobreviver. Pelo menos de sete em sete anos os pobres podiam ter uma pro-visão mais farta ao se valerem daquela colheita. Outra infor-mação importante é que no ano sabático as dívidas eram perdo-adas, como está registrado em Deuteronômio 15.1: “No fi m de cada sete anos praticarás o per-dão das dívidas”. Aqueles que estivessem inadimplentes por não conseguir pagar algum em-préstimo contraído teriam suas dívidas perdoadas. Isso evitava que um israelita caísse em ex-trema pobreza. Pelo visto eram dívidas contraídas para a pró-pria subsistência. Aprendemos, aqui, que Deus se interessa pe-los pobres e age no sentido de diminuir e, até mesmo, erradi-car a pobreza, como está escrito em Deuteronômio 15.4: “Entre-

tanto, não haverá pobre no teu meio” (Dt 15.4).

É importante ressaltar que esta proposta de inclusão dos pobres em ações de natureza ecológica é um dos pilares do moderno conceito de sustentabilidade. A erradicação da pobreza foi um dos temas abordados na Con-ferência das Nações Unidas so-bre Desenvolvimento Sustentá-vel, conhecida, também, como RIO+20, realizada nos dias 13 a 22 de junho de 2012 na cidade do Rio de Janeiro. Ali fi cou es-tabelecido que todos os esforços em sustentabilidade que visem à preservação dos recursos na-turais devem ser feitos em equi-líbrio com ações que permitam o desenvolvimento humano. O Entendimento é que a explora-ção dos recursos naturais de forma correta pode trazer be-nefícios para as pessoas menos favorecidas. Se a ecologia tem como objetivo promover ações que visem a criação de um meio ambiente saudável, não se pode deixar de incluir a parcela da população que passa por difi -culdades de acesso a itens bá-sicos, como comida, água, mo-radia e saneamento como parte deste processo.

Alguns projetos de natureza ecológica ajudam a melhorar as condições de vida dos menos favorecidos como, por exemplo a reciclagem do lixo e o sanea-mento básico. A reciclagem do lixo, além de signifi car ganho ambiental promove geração de emprego e renda. O saneamento melhora a qualidade de vida de todos.

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| SEBASTIÃO ARSENIO DA SILVA

Aplicação a sua vida: A preo-cupação de Deus com os pobres no meio do povo dEle é algo surpreendente. Longe do assis-tencialismo atual Ele prioriza o valor do trabalho digno. Como você vê forma atual de tratar o pobre? Comente.

III. A proteção dos animais

“E os animais do campo comam do que sobrar” – Ex 23.11c

Os animais também são men-cionados como benefi ciários do ano sabático. Essa é uma de-monstração de que Deus se pre-ocupa com eles e quer que sejam protegidos e preservados. Quan-do lemos as Escrituras perce-bemos a preocupação de Deus em estabelecer direitos para os animais, os mesmos defendidos pelos ambientalistas modernos. Até parece que os redatores da “Declaração universal dos direi-tos dos animais”78 promulgada pela UNESCO em 15 de outubro de 1978 a escreveram com a Bí-blia na mão. Senão, vejamos:

1. Art. 1º da Declaração diz: “To-dos os animais nascem iguais perante a vida e têm os mesmos direitos à existência”. É o que está escrito no Salmo 36.6: “Tu, Senhor, preservas os homens e os animais”. Está claro nes-se texto que para Deus, assim como os homens os animais têm direito à existência.

2. Artigo 2º: “Todo o animal tem o direito de ser respeitado. O

78 portal.cfmv.gov.br/portal/uploads/direi-tos.pdf

homem, como espécie animal, não pode exterminar os outros animais ou explorá-los violando esse direito; tem o dever de pôr os seus conhecimentos ao servi-ço dos animais. Todo o animal tem o direito à atenção, aos cui-dados e à proteção do homem”. No Salmo 147.9 lemos que o próprio Deus se preocupa com os animais providenciando para eles alimento. Com isso apren-demos que os animais merecem respeito, não somente os domés-ticos e de estimação como tam-bém os silvestres e, até, os mais estranhos e repulsivos como mi-nhocas e morcegos, sapos e ca-ramujos. Eles são importantes para o equilíbrio ambiental.

3. Artigo 3º: “Nenhum animal será submetido nem a maus tratos nem a atos cruéis”. Em Provérbios 12.10 lemos: “O justo cuida da vida dos seus animais”.

3. Art. 7º: “Todo o animal de trabalho tem direito a uma li-mitação razoável de duração e de intensidade de trabalho, a uma alimentação reparadora e ao repouso”. Em Êxodo 23.12 é dito que eles têm direito ao descanso. Em Deuteronômio 25.4 a referência é ao direito de comer enquanto trabalham: “Não amordaçarás a boca do boi quando estiver debulhando”. Não é só o homem que precisa descansar. Os animais também. Em Lucas 12.24 Jesus decla-ra que Deus cuida dos corvos, uma ave para muitos desprezí-vel, mas que merece uma aten-ção especial do Criador: “Olhai os corvos, que não semeiam

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REFLEXÕES BÍBLICAS IV | 267

O SER HUMANO E SEUS RELACIONAMENTOS |

nem colhem; não têm despensa nem celeiros; contudo, Deus os alimenta”. Evitar maus tratos como abandono, espancamento, mutilação, a caça e a pesca pre-datórias, são formas de agradar a Deus em nosso relacionamen-to com os animais.

Aplicação a sua vida: O autor fala da intima relação entre a Bíblia e a declaração universal dos direitos dos animais. Porém na atualidade temos observa-do uma supervalorização dos animais de estimação em detri-mento ao ser humano, princi-palmente em famílias bem-su-cedidas fi nanceiramente. Como você entende esse desequilíbrio social?

CONCLUSÃO

Um meio ambiente equilibrado e saudável é interesse de todos nós. Entretanto, a busca desen-freada pelo lucro sem uma cons-ciência ambiental adequada leva o homem a explorar a terra sem critérios. Daí o desmatamento das fl orestas, o uso excessivo de agrotóxicos e outras ações igualmente inconsequentes que, se não forem suspensas, tor-narão o nosso planeta inviável. Apesar das propostas de desen-volvimento que levam em conta a diminuição da pobreza, os po-bres continuam sendo tratados com desrespeito, tendo sua dig-nidade aviltada pela exploração dos mais ricos e, para vergonha nossa, em pleno século 21 ain-da há registro de escravidão e

trabalhos forçados em várias partes do mundo, inclusive no Brasil.

Por isso, não se acomode. Faça o que for possível para promo-ver e manter a sustentabilidade de nosso planeta. Proteja o solo, evite queimadas, plante árvores em vez de derrubá-las. Elas são fundamentais para a vida na terra. Além de absorver o gás carbônico da atmosfera e liberar oxigênio, elas protegem as nas-centes, evitam o assoreamento dos rios e protegem o solo con-tra a erosão. Além disso, forne-cem madeira, produzem frutos e muitas delas têm propriedades medicinais. Se houver omissão de nossa parte o futuro do nos-so planeta está comprometido. Então, não se omita. Faça a sua parte.

Suporte para Pequenos Grupos

1. Compartilhe o que achou relevante do estudo. Ouça os outros.

2. O que o estudo de hoje trou-xe de novidade para você?

3. O que pode acontecer se houver omissão de sua par-te? Como pode aplicar o que aprendeu?

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| SEBASTIÃO ARSENIO DA SILVA

Estudo – 51

CUIDANDO DE NOSSA CASAGênesis 2.15

INTRODUÇÃO

Certo homem construiu uma casa linda e confortável. Ele a projetou com todo interesse e cuidado e a decorou com mui-to gosto. Caprichou nos móveis, tapetes, pisos e na combinação de cores. No fi nal ele viu o que tinha feito e achou a casa ma-ravilhosa. Mas, por alguma ra-zão aquele proprietário teve que mudar e deixou a sua linda casa sob os cuidados de um inquilino a quem disse: “Enquanto você morar em minha casa desfru-te com sua família de tudo que nela há. Não vou cobrar aluguel. Quero, apenas, que cuide dela”.

Um dia aquele proprietário teve que voltar e recebeu de volta a sua casa. Ele não podia acredi-tar no que via. Sua bela e luxu-osa residência estava destruí-da. Havia lixo por todo lado, o gramado estava seco, as portas estavam quebradas, o piso de madeira estava esfolado e arra-nhado, os banheiros entupidos, as paredes esburacadas, as ja-nelas sujas. Tudo estava im-pregnado com o cheiro de lixo, uma total imundície. Nem de longe parecia a casa que havia sido construída com todo cuida-do.

LEITURAS DIÁRIASSegunda Gn. 2.15Terça Rm. 11.25-31Quarta Dt. 8. 7-9Quinta Dt. 11. 10 -17Sexta Dt. 29. 24-32 Sábado Sl. 24. 1-10Domingo Sl. 65. 9-13

Essa história nem parece verí-dica porque qualquer pessoa de bom senso entende que aquele inquilino deveria devolver a casa nas mesmas condições em que a recebeu. Entretanto ela ser-ve para provocar uma refl exão sobre a maneira como estamos lidando com o meio ambiente, que é a casa onde somos inquili-nos e precisamos levar em conta os direitos do proprietário que é Deus.

I. Deus é o dono de tudo

“E o Senhor Deus tomou o ho-mem e o colocou no Jardim do Éden”- Gn 2.15a

Ao criar o homem, Deus o colo-cou em um lugar especialmen-te preparado para ele, o jardim do Éden: “Então o Senhor Deus plantou um jardim, para o lado do oriente, no Éden e colocou ali o homem que havia formado”

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O SER HUMANO E SEUS RELACIONAMENTOS |

(Gn 2.8). Ali, “Deus fez brotar do solo todo tipo de árvore agradá-vel à vista e boa para alimento” (Gn 2.9). A palavra Éden vem de um vocábulo hebraico que signifi ca “deleite”79, vindo daí a concepção de “paraiso”. Isso dá ideia da qualidade do ambiente que Deus colocou à disposição do ser humano e este precisa ter consciência de que é um mero inquilino na bela casa que Deus criou e, por isso, não tem o di-reito de degradar ou destruir as maravilhas da criação. É nesse contexto que entra o conceito de ecologia. De acordo com o site Brasil Escola “ecologia é a par-te da Biologia que se preocupa com o estudo das relações esta-belecidas entre os seres vivos e destes com o meio ambiente em que vivem”.

Dentre todos os seres vivos o homem é o que mais interfe-re no meio ambiente surgindo, como consequência mudanças, na maior parte das vezes com impactos negativos. O que nin-guém pode esquecer é que o relacionamento do ser humano com o meio ambiente deve ser efetivado na perspectiva dos in-teresses de Deus e não dos in-teresses dos homens. Esta obra marcada pela variedade, feita com sabedoria e cheia das ri-quezas de Deus como expressa o Salmo 104.24, não pode ser objeto de nossa exploração ego-ísta mas ser tratada de forma que o nome de Deus seja glori-fi cado.

79 Dicionário de Teologia do Antigo Testa-mento, Ed. Hagnos

Aplicação a sua vida: O autor fala que dos seres vivos o hu-mano é o que mais interfere no meio ambiente. Como você tem interferido positivamente no ambiente em que mora?

II. Cuidar é nossa responsabi-lidade

“Para que o homem o cultivasse e o guardasse” - Gn 2.15b

Por esse texto podemos ver que o primeiro ecologista foi o pró-prio Deus. O cuidado com a preservação do meio ambiente já estava no coração dele des-de o início da criação do mun-do. Aqui está a primeira norma estabelecida quanto à maneira como o ser humano deve se re-lacionar com a terra. Ao mesmo tempo em que precisa lavrá-la para dela tirar o provimento para seu sustento e sobrevivên-cia, o homem não pode deixar de cuidar da terra, guardando-a em todos os sentidos para que a mesma se mantenha, sem-pre, em condições de cumprir o papel para o qual foi criada. Se os homens resolvessem levar a sério esta recomendação feita por Deus não haveria qualquer problema, pois, o meio ambien-te estaria sendo continuamente preservado. Uma cosmovisão bíblica implica na compreensão de que os seres humanos são mordomos de Deus, responsá-veis diante dele em preservar a criação, mantendo sua estrutu-ra e equilíbrio.

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Aplicação a sua vida: Como mordomos de Deus temos o dever de preservar o planeta, mantendo o equilíbrio da cria-ção. Como você tem tratado a preservação da natureza em seu ambiente diário?

A nossa responsabilidade de cuidar do meio ambiente tem como razão número um o res-peito pelo proprietário que é Deus. Mas, não é apenas isso. Precisamos ser bons mordomos no cuidado para com as coisas que Deus criou para o nosso próprio bem. A concepção de que o planeta terra é a casa de todos nós foi ofi cializada pelo naturalista alemão Ernst Hei-rich quando, em 1866, compôs a palavra “ecologia” a partir do vocábulo grego “oikos”, que sig-nifi ca “casa”80.

Levando em conta essa analo-gia, se você não cuida da casa em que vive, isso vai afetar a qualidade de sua vida. Se não cuidar do telhado as goteiras vão surgir e tirar seu sossego. Se deixar os vidros quebrados o vento vai entrar e trazer descon-forto. O lixo acumulado, a sujei-ra e o mau cheiro comprometem a sua saúde. Defi nitivamente, o seu descuido e desleixo vão se voltar contra você mesmo. Por isso, a conclusão é óbvia. Pre-cisamos cuidar deste planeta

80 Alessandro de Sá, Ecologia no Dia a Dia, Ed. Nova impressão, pág. 14

porque temos que viver nele, co-mer os produtos da terra, beber a água, respirar o ar e usufruir dos benefícios da luz solar. Se não basta a motivação da pre-servação da própria vida, vamos pensar na geração futura que inclui nossos fi lhos, nossos ne-tos, bisnetos e seus descenden-tes. Infelizmente, no ritmo em que as coisas estão acontecen-do, os indícios são de um futuro sombrio. O desmatamento cres-ce sem controle deixando o solo exposto aos ventos e à chuva, susceptível à erosão. A camada de ozônio, o fi ltro que nos pro-tege dos raios solares nocivos está cada vez mais enfraqueci-da deixando-nos vulneráveis a doenças como o câncer de pele. O aumento indiscriminado de fontes poluidoras, esgotos sem tratamento, os dejetos lançados nos rios, tudo isso se volta con-tra nós mesmos. De acordo com dados do site da EBC (Empresa Brasil de Comunicação) a cada 15 segundos, uma criança mor-re no mundo de doenças relacio-nadas à água como disenteria e cólera. Boletins informativos do UNICEF (Fundo das Nações Uni-das para a Infância) informam que 80% das enfermidades no mundo são contraídas por cau-sa da água poluída. Pelo visto, temos razões mais que sufi cien-tes para ser agentes de proteção do meio ambiente, cada um fa-zendo a sua parte e incentivan-do o outro a fazer o mesmo.

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O SER HUMANO E SEUS RELACIONAMENTOS |

Aplicação a sua vida: Não so-mos líderes de grandes potên-cias mundiais para realizar grandes feitos que envolvam a preservação da natureza, mas podemos contribuir com peque-nas ações. Quais atitudes você tem praticado que contribuem para a preservação do meio am-biente.

CONCLUSÃO

De tudo o que foi dito, podemos concluir dizendo que a ecologia começou com Deus. Como cria-dor do universo ele é o maior interessado nas ações em favor da sustentabilidade e do uso racional dos recursos naturais e qualquer ação em favor da natureza é um serviço que se presta a ele. Sejamos, pois, de-fensores da obra do Criador. Do contrário, além de prejudicar-mos a nós mesmos estaremos prestando serviço a Satanás. Ele é o principal interessado em destruir todas essas maravilhas criadas por Deus.

Sendo assim, procure fazer a sua parte para a manutenção da maravilhosa casa que Deus nos concedeu para passar os anos de nossa jornada terre-na. Procure reciclar, reduzir ou reutilizar o lixo gerado, sempre que possível. Não descarte me-dicamentos e outros produtos farmacêuticos, como seringas e ampolas, no lixo comum ou vaso sanitário. Separe-os e entre-gue na farmácia mais próxima.

Reduza a geração de lixo do-méstico e evite jogar lixo na rua. Tenha cuidado no descarte de substâncias tóxicas. Evite jogá--las no ralo, pois poderão conta-minar a água e o solo. Não jogue lixo nos rios. Considerando o slogan do Movimento de Cidada-nia pelas Águas, “só jogue no rio aquilo que peixe pode comer”. Faça a manutenção periódica de seu carro para que se torne me-nos poluente. Promova ações de refl orestamento e preservação de fl orestas. Ao invés de der-rubar, plante árvores. Isso é o mínimo que podemos fazer para manter o meio ambiente, que é a casa de todos nós, bem conser-vado e cuidado.

Suporte para Pequenos Grupos

1. Que casa é esta que autor se refere?

2. Comente sobre os dois prin-cipais pontos.

3. O que este estudo fala ao seu coração?

4. Como você pode aplicar a lição no seu cotidiano e in-fl uenciar outros a fazer o mesmo?

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Estudo – 52

EVITANDO O DESPERDÍCIOJoão 6.1-13

LEITURAS DIÁRIASSegunda Jo. 6. 1-14Terça Ex. 12.1-4Quarta Ex.16.1-8Quinta Ex.16.9-17Sexta Ex.16.18-36Sábado Ex.17.1-7Domingo Lc. 16.1-13

INTRODUÇÃO

O texto de João 6.1-15 trata de um milagre em que Jesus ali-mentou cinco mil homens com cinco pães e dois peixes doados por um menino que o seguia em meio à multidão. Jesus era sem-pre acompanhado por multidões interessadas nos milagres que ele fazia e, nesse caso, o texto diz que as pessoas eram atraí-das pelos sinais que ele operava nos doentes.

Dentre tantas coisas que cha-mam a atenção nesta narrativa uma das mais interessantes é a recomendação de Jesus para que fossem recolhidas as so-bras mostrando, assim, que ele é contra o desperdício. De acor-do com o Dicionário Online de Português, desperdício é a ação ou efeito de gastar em excesso, de não aproveitar, alguma coisa, da maneira como se deveria; fal-ta de proveito; perda, gasto ex-cessivo; esbanjamento. Evitar o desperdício tem a ver com ecolo-gia e com sustentabilidade por-que se não houver uma postura consciente de aproveitamento racional da natureza e seus re-cursos o futuro da terra está comprometido. Os prognósticos dos entendidos apontam para o esgotamento dos meios de sobrevivência no planeta terra num futuro não muito próximo.

Aplicação a sua vida: Vive-mos de forma a ignorar que os meios naturais são limitados e estão prognosticados ao térmi-no. Como você tem infl uenciado para uma mudança de compor-tamento, com referência ao não desperdício?

I. Uma atitude sustentável

“E quando todos fi caram satis-feitos, disse aos discípulos: Re-colhei os pedaços que sobraram para que nada se perca” - Jo 6.12

É interessante observar que este é o único milagre de Jesus nar-rado pelos quatro evangelhos e, em todos eles há a referência ao fato de que as sobras foram recolhidas. Os textos paralelos são: Mateus 14.13-21, Marcos 6.35-44 e Lucas 9.10-17. Entre-tanto, dos quatro evangelistas João é o único que declara que o recolhimento dos pedaços que sobraram foi em obediência a

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O SER HUMANO E SEUS RELACIONAMENTOS |

uma ordem expressa de Jesus: “Recolhei os pedaços que sobra-ram para que nada se perca” (Jo 6.12). O desperdício, muitas vezes, é o resultado da falta de uma atitude deliberada nesse sentido. O descuido e a negligên-cia tem permitido o surgimento de uma cultura do desperdício tão prejudicial aos ideais da sustentabilidade. Nesse senti-do precisamos levar em conta a ordem de Jesus e assumir uma postura efetiva de ações contra o desperdício que, segundo os ecologistas, é um dos entraves à aplicação dos princípios do de-senvolvimento sustentável.

Aplicação a sua vida: O texto bíblico nos orienta a não ser-mos negligentes e descuidados promovendo o desperdício. Que atitude de desperdício você tem praticado e que precisa criar novo hábito para acabar com essa atitude? Comente.

Deus é contra o desperdício em qualquer circunstância. Em Êxodo 12.1-4 lemos que ao orde-nar que o povo de Israel separas-se um cordeiro por família para a celebração da Páscoa antes da saída do Egito ele ordenou que as famílias pequenas, que não tinham um número sufi ciente para comer todo o cordeiro de-veriam se associar a outras fa-mílias de acordo com o número de pessoas. Em Lucas 16.1 e 2 o administrador infi el da parábola é acusado de esbanjar os bens do homem rico e, por isso, foi demitido. Com isso aprendemos que desperdício não é, apenas, deixar de aproveitar o que sobra mas, também, evitar o esbanja-

mento, a extravagância, e usar de forma irracional os recursos disponíveis. Para Marcos Reigo-ta o problema não está na quan-tidade de pessoas que existe no planeta e que necessita consu-mir cada vez mais os recursos naturais para se alimentar ves-tir e morar. O problema está no excessivo consumo desses recursos por uma pequena par-cela da humanidade e no des-perdício e produção de artigos inúteis e nefastos à qualidade de vida81. As pesquisas indicam que as sociedades mais ricas do mundo consomem em exces-so, de maneira indiscriminada. Para se ter uma ideia, o consu-mo de um habitante de estilo de vida europeu é equivalente ao que consomem 40 habitantes do estilo de vida somali82. Esta situação de desigualdade e a má utilização dos recursos naturais leva os ecologistas do mundo inteiro a se preocuparem com a capacidade de suporte do plane-ta nos próximos anos.

Aplicação a sua vida: A dita-dura da moda e do consumis-mo tem levado as pessoas a adquirirem coisas e alimentos que não precisam. O que você sugere para que possamos con-ter esse desperdício, se estamos tão envolvido que fi ca difícil até identifi ca-los?

O Portal Biossistemas que di-vulga na internet dados da En-genharia de Biossistemas no Brasil e no mundo informa que

81 Marcos Reigota, O QUE É EDUCAÇÃO AMBIENTAL, Ed. Brasiliense, pág. 11,1282 Laura G. Roizman e Elci Ferreira, Jorna-da de amor à Terra, Ed. Disal, pág. 61

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| SEBASTIÃO ARSENIO DA SILVA

das 4 bilhões de toneladas de ali-mentos produzidas, anualmente, em todo o planeta, 30% a 50% são desperdiçadas. No Brasil, se forem consideradas todas as etapas da ca-deia produtiva que vai desde a sele-ção de variedades, preparo do solo, o plantio, a colheita, o escoamento, o armazenamento, a industrializa-ção, a embalagem, a distribuição, o estoque, a produção, o consumo, a conservação e o reaproveitamen-to, são desperdiçados, por ano, 36 milhões de toneladas de alimentos. Segundo Celso Luiz Moretti, pes-quisador da Embrapa somente os supermercados jogam fora 13 mi-lhões de toneladas de alimentos a cada ano e mais de mil toneladas de produtos das feiras livres vão para o lixo a cada dia.

Além do desperdício de alimen-tos está em alta o desperdício dos recursos naturais como água e energia. De acordo com um artigo publicado no jornal Folha de São Paulo em 02/07/99 estima-se que em São Paulo as perdas cheguem a 40% da água tratada. Só Grande São Paulo desperdiça 10m3 de água por segundo, volume que daria para abastecer 3 milhões de pessoas/dia. Um banho de ducha de alta pressão consome 135 litros de água em 15 minutos. Uma mangueira aberta por 30 minutos libera cerca de 560 litros. Um esguicho libera cerca de 280 litros em 15 minutos. Uma torneira aberta por 5 minutos desperdiça 80 litros de água. De acordo com a Abesco (Associação Brasileira das Empresas de Servi-ço de Conservação de Energia) de toda a energia elétrica consumida no Brasil cerca de 10% se perdem à toa. Isso equivale a um desperdício de 12 bilhões de reais83. Diante des-ta realidade precisamos reconhecer que os recursos naturais são fi nitos

83 http://www1.folha.uol.com.br/mercado

e que o uso racional dos mesmos é um bem que se faz não somente às gerações de hoje como também às futuras.

Aplicação a sua vida: Vivemos uma crise de abastecimento de água em nosso país. Como você tem usado esse liquido tão pre-cioso em sua casa? Comente.

II. Um resultado promissor “E eles recolheram os pedaços e encheram doze cestos com pedaços dos cinco pães de cevada que sobra-ram aos que haviam comido” – Jo 6.13

O recolhimento dos pedaços que sobraram foi feito depois que to-dos estavam saciados. Mateus diz que “todos comeram e se fartaram” (Mt 14.20), na narrativa de Marcos e Lucas “todos comeram e fi caram satisfeitos” (Mc 6.20, Lc 9.17). João faz questão de dizer: “E quando to-dos fi caram satisfeitos...” (Jo 6.12). Fica claro, então que os pedaços que foram recolhidos eram sobra, não interessavam mais àquelas pessoas e poderiam ser direciona-dos para outros fi ns. Por isso foram cuidadosamente recolhidos nos mesmos cestos que foram usados para servi-los e estariam disponí-veis para alimentar outras pessoas.

Tomando como referência o desper-dício de alimentos no Brasil, per-cebemos que, ao mesmo tempo em que toneladas de comida vão para o lixo temos uma população faminta pela falta de acesso a alimentos da cesta básica em função da pobre-za. De acordo com especialistas a comida que é jogada fora no Brasil daria para alimentar 35 milhões de pessoas, ou seja, se essa quantida-de de alimentos ao invés de ir para o lixo fosse aproveitada não haveria ninguém passando fome em nosso país.

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O SER HUMANO E SEUS RELACIONAMENTOS |

Aplicação a sua vida: Como você entende esse antagonismo que o brasileiro vive com rela-ção ao alimento? Como pode-mos contribuir para que esse desperdício de alimentos possa ajudar a diminuir o número de famintos em nosso país?

Quanto aos recursos naturais como a água e a energia, somente o uso responsável poderá evitar ou mini-mizar os riscos de escassez desses recursos e os impactos que isto tra-rá para o planeta. Nesse caso, além de fazer a nossa parte precisamos cobrar do poder público, dos em-presários e de todos os cidadãos um engajamento mais efetivo na luta contra o desperdício de comida e dos recursos naturais já que sabe-mos que sem eles a vida na terra se tornará inviável.

Aplicação a sua vida: Tivemos há alguns anos uma campanha, visando ao consumo conscien-te da água. Como você tem se comportado com referência a ela agora que a campanha aca-bou? Comente.

CONCLUSÃOCabe-nos não apenas refl etir sobre os pe-rigos da cultura do desperdício. Precisa-mos agir, efetivamente para reverter essa situação através de certas práticas insubs-tituíveis que precisam se transformar em hábitos. Evite o desperdício de alimentos. Verifi que a despensa antes de ir ao supermercado para saber quais alimentos você precisa, realmente, comprar. Verifi que o prazo de validade dos alimentos. Prepare primeiro aqueles que estão mais próximos do ven-cimento. Cuidado com as promoções nas feiras e supermercados. Elas induzem você a comprar mais do que precisa. Não ponha no prato mais do que você consegue comer. Aproveite as sobras. Faça sopas, bolinhos ou outras receitas com o que sobrar.

Quanto à economia de água, verifi que sem-pre se as torneiras estão bem fechadas. Não deixe chuveiro ligado à toa, desligue a água enquanto se ensaboa e passa o sham-poo. O mesmo vale para a escovação dos dentes, ou fazer a barba. Regule descargas ou troque-as. Conserte rapidamente os vazamentos. Nada de torneira pingando. Aproveite a água do enxágue das roupas para lavar o chão. No caso da energia, vale a pena observar as dicas da Cemig. Evite abrir a porta da geladeira com frequência. Mantenha a bor-racha de vedação em bom estado. Nunca utilize a grade traseira para secar roupas ou calçados. Não guarde alimentos ainda quentes. Evite acender lâmpadas durante o dia. Prefi ra as lâmpadas LED, pois elas duram mais e consomem menos. Cuidado com o uso de benjamins. Conexões mal fei-tas causam perda de energia. Nunca deixe seu aparelho celular passar a noite carre-gando, ou seja, dê a carga e retire-o da to-mada. Quando não estiver usando o com-putador, mantenha-o desligado. Não deixe os acessórios do computador (impressora, scanners etc.) ligados sem necessidade. Use o ar condicionado com moderação. Economizar alimentos e conservar os re-cursos naturais como água e energia são ações imprescindíveis para salvar nosso planeta.

Suporte para Pequenos Grupos

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3. Como você pode infl uen-ciar outros com este apren-dizado?

4. Como pode servir sua igre-ja depois de tudo que ou-viu?

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