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Discursos media(tiza)dos: Análise de Discurso Crítica aplicada a estudos da mídia Murilo Araújo Jornalista e ativista LGBT Mestrando em Letras | Estudos Linguísticos | UFV

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Slides utilizados durante o minicurso "Discursos media(tiza)dos: a Análise de Discurso Crítica aplicada a estudos da mídia", oferecido na Semana Acadêmica de Letras da Universidade Federal de Viçosa, de 25 a 29 de novembro de 2013

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Discursos media(tiza)dos: Análise de Discurso Crítica aplicada

a estudos da mídia Murilo Araújo

Jornalista e ativista LGBT Mestrando em Letras | Estudos Linguísticos | UFV

Para começo de conversa • Proposta do minicurso

– fazer uma discussão sobre a relação entre discurso e mídia, a

partir de uma apresentação introdutória da Análise de Discurso

Crítica (ADC), desenvolvida pelo linguista britânico Norman

Fairclough. Em suas teorizações, o autor oferece reflexões

interessantes que ajudam a compreender e analisar processos

de construção de significado em produtos midiáticos de meios

de comunicação diversos, a partir de análises sociais ricas, que

vão além da pura análise textual.

Para começo de conversa • Proposta do minicurso

– A fim de contemplar estas discussões, o minicurso terá uma

apresentação histórica e teórica da ADC, destacando principais

pressupostos e conceitos relacionados à questão da mídia, além

de tratar dos seus principais métodos e categorias de análise.

Em todas as etapas, serão discutidos e analisados diversos

exemplos de textos midiáticos, especialmente jornalísticos e

publicitários.

Percurso... • Dia 01:

– Apresentação histórica e Panorama teórico da Análise do Discurso;

– Surgimento e consolidação da ADC;

– Principais pressupostos teóricos (FAIRCLOUGH 1992, 1999, 2003)

• Dia 02:

– Metodologia de Pesquisa em ADC

– Principais categorias de Análise

• Dia 03:

– Exercícios e práticas de análise

(Breve) panorama histórico dos estudos linguísticos e da AD

Langue; Parole;

Estruturalismo

Preocupação com as variáveis sociais

Sociolinguística

Figura importante: Pêcheux

Associação entre uma teoria linguística (Estruturalismo

saussuriano), uma teoria social (Materialismo Histórico) e uma

teoria do sujeito (Psicanálise Freudiana/Lacaniana)

Análise do Discurso 1968, França

Desenvolvimento de outras teorias em AD

Análise do Discurso Crítica • Anos 1970: Linguística Crítica • Ramo da Linguística consolidado no início dos anos 1990

– Simpósio na Universidade de Amsterdã – Teun van Dijk, Gunther Kress, Teo van Leeuwen, Ruth Wodak e

Norman Fairclough – Teorias e métodos de análise do texto e do discurso, a partir de

uma agenda política e crítica que não era tradicionalmente contemplada pelos estudos linguísticos tradicionais (WODAK, 2004).

• “Análise do Discurso Crítica” – 1985: Journal of Pragmatics, por Fairclough (RESENDE &

RAMALHO, 2006).

Análise do Discurso Crítica • Proposta:

– Perspectiva crítica: crítica social como elemento intrínseco a qualquer estudo em ADC;

– Foco na análise de discursos a partir de categorias linguísticas: olhar sobre os textos concretos, focado nas questões de linguagem;

– Articulação entre estes dois princípios anteriores: a análise linguística isolada das questões sociais vale tão pouco quanto um olhar sociológico desvinculado das problemáticas linguístico-discursivas (RAMALHO & RESENDE, 2011).

Análise do Discurso Crítica • Relação Dialética:

– A linguagem, ao mesmo tempo em que é moldada e constrangida pela estrutura social, também tem poder de intervenção sobre essa estrutura, na medida em que constitui o mundo em significado.

• A análise e a crítica das questões sociais são importantes porque justificam a investigação dos textos e discursos;

• A análise linguística é importante porque alimenta a crítica e possibilita compreender os problemas sociais (RAMALHO & RESENDE, 2011).

Análise do Discurso Crítica • Relação Dialética:

– A linguagem, ao mesmo tempo em que é moldada e constrangida pela estrutura social, também tem poder de intervenção sobre essa estrutura, na medida em que constitui o mundo em significado.

• A análise e a crítica das questões sociais são importantes porque justificam a investigação dos textos e discursos;

• A análise linguística é importante porque alimenta a crítica e possibilita compreender os problemas sociais (RAMALHO & RESENDE, 2011).

ADC faircloughiana Teoria Social do Discurso (1992)

Diálogos com as Ciências Sociais (1999) Diálogos com a Linguística Sistêmico Funcional (2003)

Teoria Social do Discurso Discourse and Social Change (1992)

Teoria Social do Discurso • Discurso como prática social • Não é atividade puramente individual, nem reflexo direto das

variáveis situacionais. O discurso é, ao mesmo tempo, uma forma de ação (sobre o mundo e sobre os outros) e uma forma de representação.

• Relação dialética: o discurso é constrangido pela estrutura social, e também a constitui e transforma. – discurso é moldado e restringido pela estrutura social pela classe e por

outras relações sociais, pelas relações específicas em instituições particulares, por sistemas de classificação, normas e convenções.

– três aspectos fundamentais desse caráter construtivo do discurso: construção (i) das identidades sociais; (ii) das relações sociais entre as pessoas; e (iii) dos sistemas de conhecimento e crença.

Teoria Social do Discurso • Evento discursivo deve ser explicado (e analisado)

a partir de três dimensões: – Num extremo, a prática social, dimensão mais ampla

do evento discursivo que é perpassada por (e revela) relações de poder, hegemonia e ideologia;

– No outro extremo, o texto, dimensão “concreta” e materializada linguisticamente

– E, mediando às dimensões anteriores, a prática discursiva, que envolve os processos de produção, distribuição e consumo do texto, processos sociocognitivos que se organizam a partir das configurações da ordem do discurso.

Análise do texto • Aspectos ligados à “materialidade” do texto

enquanto tal.

• Exploração descritiva das relações internas, em termos gramaticais, semânticos, etc.

• Categorias: vocabulário, gramática, coesão e estrutura textual.

• Vinculação teórica com a Linguística Sistêmico Funcional (M.A.K. Halliday)

Análise da prática discursiva • Analisar questões relacionadas à produção,

circulação e consumo dos textos. • Investigação dos recursos sociocognitivos de quem

produz, circula e interpreta os textos. – “a natureza desses processos varia entre diferentes

tipos de discurso de acordo com fatores sociais” (FAIRCLOUGH, 2001, pp.106-107).

• Trabalho mais interpretativo. • Categorias: coerência, força ilocucionária,

intertextualidade e interdiscursividade.

Análise da prática social • Explicar a relação que o texto desenvolve com as

práticas sociais mais amplas das quais ele constitui apenas uma parte, pensando esta questão em termos de ideologia e de hegemonia. – O discurso é “o espaço e o suporte das lutas sociais

marcadas pelo conflito seja para a sustentação das relações de dominância, seja para a resistência a essa dominância” (GOMES, 2007a, pp. 17-18), sendo o discurso, portanto, o espaço privilegiado da concretização de ideologias e do desenvolvimento de lutas hegemônicas.

Diálogo com as Ciências Sociais Discourse in Late Modernity

(Chouliaraki & Fairclough, 1999)

Mudanças de foco... • Discurso como prática social?

– Interesse mais aprofundado nas questões da linguagem e do discurso é uma tendência quase natural num campo de estudos que se vincula à Linguística.

– Inclinação problemática para uma proposta teórico-metodológica que se pretende dialética.

• Olhar para a prática social em si: – é a partir de um olhar para a prática social que se

pode ter uma compreensão mais clara do funcionamento e dos processos de construção de significado operados no e pelo discurso.

Prática? “modos habitualizados, ligados a tempos e

espaços particulares, em que as pessoas aplicam recursos (materiais ou simbólicos) para agir

conjuntamente no mundo. Práticas são constituídas ao longo de toda a vida social – em

domínios especializados da economia e da política, por exemplo, mas também no domínio da cultura,

incluindo a vida cotidiana.”

(CHOULIARAKI & FAIRCLOUGH, 1999, p. 21).

Prática social • As práticas agregam elementos da vida social:

– tipos particulares de atividades

– condições materiais, temporais ou espaciais diferentes;

– indivíduos particulares, que trazem cargas de conhecimentos e experiências diferentes em relações sociais também distintas;

– formas linguísticas e semióticas diferentes, bem como diferentes modos de usar a linguagem, e assim por diante.

• Momentos da Prática (David Harvey)

Momentos da prática • Elementos que se configuram como “partes” de

práticas sociais particulares, funcionando de modo “agregado”.

• São eles: – discurso (momento linguístico/semiótico):

– relações sociais,

– atividade material

– fenômeno mental (crenças, valores, ideologias).

• Discurso como momento da prática.

Momentos da prática • Interesses de Chouliaraki & Fairclough:

– Quais as relações entre o momento discursivo e os outros momentos da prática?

– Como o discurso se configura dentro das práticas sociais? Ou, de outro modo: como os textos se configuram enquanto discursos no nível das práticas sociais?

• Ordens do discurso: “momentos encadeados de práticas sociais, isto é, uma rede de

convenções e valores sociais e institucionais, estruturadas por relações de poder dentro das instituições, que produzem diferentes

tipos de discurso, gêneros discursivos e vozes [estilos], gerados através da inculcação e do ordenamento das práticas sociais.”

(GOMES, 2007)

Momentos do momento discursivo • Como o discurso se configura dentro das práticas

sociais? Através das ordens do discurso!

• E quais são os elementos das ordens do discurso?

– Gêneros discursivos;

– Discursos;

– Estilos.

• Esses elementos são como “momentos internos” ao próprio Momento Discursivo.

Diálogo com a Linguística Sistêmico Funcional

Analysing discourse: textual analysis for social research (Fairclough, 2003)

Antes de qualquer coisa... LSF? “Teoria geral do funcionamento da linguagem humana,

concebida a partir de uma abordagem descritiva baseada no uso linguístico. (...) fornece descrições plausíveis sobre o

como e o porquê de a língua variar em função de e em relação com grupos de falantes e contextos de uso. Mas,

para além de ser uma teoria de descrição gramatical, razão pela qual adquire muitas vezes a designação mais restrita

de Gramática Sistémico-Funcional (GSF), ela fornece também instrumentos de descrição, uma técnica e uma metalinguagem que são úteis para a análise de textos.”

(GOUVEIA, 2009, p. 14) [grifos nossos]

Linguística Sistêmico Funcional • Conceito importante: multifuncionalidade.

– SISTÊMICO: língua como sistema;

• Possibilidades mais ou menos restritas de significação.

• Diante das possibilidades, os sujeitos fazem escolhas.

• Possibilidades + escolhas = texto.

– FUNCIONAL: preocupação com o funcionamento do sistema linguístico

• O sistema tem relação com as funções sociais da linguagem.

• Em última instância, as redes de escolhas correspondem a (meta)funções que a linguagem desempenha.

E nós com isso? • Fairclough se apropria da noção de multifuncionalidade.

– compreensões semelhantes sobre a linguagem;

• Faz um processo de reconfiguração. – objetivos diferenciados.

• Em Discurso e Mudança Social (2001 [1992]), o autor já propõe algumas recontextualizações da perspectiva original de Halliday. Mas é em Analysing Discourse (2003), que o autor cumpre a tarefa de aprofundar a rearticulação dos conceitos da LSF.

Os três tipos de significado • Lembram da pergunta?

– Como o discurso se configura dentro das práticas sociais?

• Lembram da resposta? – Através das ordens do discurso!

– Aqui, Fairclough dá “outra” resposta: os usos cotidianos da linguagem são formas através das quais representamos, agimos/interagimos e (nos) identificamos (n)o mundo.

• E o que a gente faz com os elementos das ordens do discurso? – Mantêm. A mesma coisa.

Os três tipos de significado • Como? Segundo o autor:

– Gêneros: formas de AÇÃO;

– Discursos: formas de representação;

– Estilos: formas de identificação;

• Três tipos de significado: – Significado acional – referente aos gêneros;

– Significado representacional – referente aos discursos

– Significado identificacional – referente aos estilos

• Por que significados em vez de funções?

Significado acional • Analisar, no gênero:

– o que as pessoas fazem, ou, de modo mais particular, o que as pessoas fazem discursivamente?

– quais tipos de interação são estabelecidos através dos gêneros?

– existem processos de mudança e/ou hibridismo de gêneros?

– estas mudanças genéricas indicam mudanças nas práticas sociais mais amplas?

– os gêneros são mediados por tecnologias comunicacionais? em que estas tecnologias interferem?

Significado representacional • Analisar, nos discursos:

– quais processos, participantes e/ou circunstâncias são representados/excluídos?

– quando representados, quais são colocados em destaque?

– como os atores sociais são representados?

– existem processos de recontextualização de determinados campos da vida social?

– há metáforas?

– são feitas lexicalizações?

Significado identificacional • Analisar, nos estilos:

– qual a relação aparente entre o falante/escritor e as informações que expressa em seu texto?

– como isso se expressa em termos de modalização?

– quais traços identitários são perceptíveis a partir desta relação?

– há uma mistura significativa de estilos?

– com quais valores o indivíduo se compromete?

– como estes valores são apresentados linguisticamente?

Sistema de Transitividade – Gramática Sistêmico Funcional (FUZER & CABRAL, 2010 – baseado em HALLYDAY & MATTHIESEN, 2004)

Tipo de processo Significado da

categoria Participantes Exemplos de verbos

Material Criativo Transformativo

fazer acontecer

Ator Meta Escopo Beneficiário Atributo

comprar, vender, mexer, pintar, cortar, quebrar, riscar, limpar, sujar, bater, matar

Mental Perceptivo Cognitivo Emotivo Desiderativo

perceber pensar sentir desejar

Experienciador Fenômeno

perceber, ouvir, ver, lembrar, esquecer, pensar, saber, gostar, odiar, amar, querer

Relacional Intensivo Possessivo Circunstancial

caracterizar identificar

Portador Atributo Identificado Identificador

ser (otimista) ser (o presidente) estar (em paz) ter (livros)

Comportamental comportar-se Comportante Comportamento

rir, chorar, dormir, cantar, bocejar

Verbal dizer

Dizente Verbiagem Receptor Alvo

dizer, perguntar, responder, contar, relatar, explicar

Existencial existir Existente haver, existir

Obrigado!

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