metodologias de ensino utilizadas nas aulas de geografia

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METODOLOGIAS DE ENSINO UTILIZADAS NAS AULAS DE GEOGRAFIA Rejane Vieira 1 ICH/UFPel [email protected] INTRODUÇÃO Refletir sobre a metodologia empregada na sala de aula, buscando verificar a relação de como o conteúdo é realmente compreendido pelos alunos se faz de fundamental importância em nossa vida profissional. Utilizar metodologias de ensino que consigam inserir os alunos no seu contexto social, através de diálogos abertos, irá tornar o ensino da Geografia algo produtivo e ligado com os pensamentos e inovações do mundo moderno, o qual nossos educandos estão inseridos. Nesse contexto foi feita uma análise sobre os períodos de estágio realizados em duas escolas diferentes, onde no ensino fundamental a turma era de aproximadamente 25 alunos com idades bem variadas, sendo a maioria adolescentes. A escola possuía uma biblioteca, mapas variados, retroprojetor, sendo que sempre foram disponibilizados quando solicitados. Nas observações realizadas quando o professor titular estava ministrando o conteúdo, notou- se que a maioria dos alunos não dava muita importância para o que estava copiando, sendo que eram textos enormes retirados diretamente do livro didático. Diante disto e da vontade de inovar, foram levados novas metodologias e criou-se uma expectativa interessante, onde será relatado mais adiante. No ensino médio já foi uma turma um pouco maior, sendo em torno de 35 alunos. Quanto à escola foi um pouco mais restrita a utilização dos meios, pois esta funcionava no mesmo espaço físico de outra, uma durante o dia e outra à noite, sendo que os materiais eram distintos. Diante disto, entende-se que a esta busca por novas formas de aprendizagem deve fazer parte do cotidiano dos professores. Quando se chega à sala de aula, principalmente à noite, encontram-se alunos cansados e sem ânimo para trocarem as experiências vividas com as que a escola tem a oferecer. Isto tem de ser levado em conta e não se podem levar para as 1 Acadêmica do curso de Licenciatura Plena em Geografia, da Universidade Federal de Pelotas.

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Page 1: Metodologias de Ensino Utilizadas Nas Aulas de Geografia

METODOLOGIAS DE ENSINO UTILIZADAS NAS AULAS DE

GEOGRAFIA

Rejane Vieira1

ICH/UFPel

[email protected]

INTRODUÇÃO

Refletir sobre a metodologia empregada na sala de aula, buscando verificar a relação

de como o conteúdo é realmente compreendido pelos alunos se faz de fundamental

importância em nossa vida profissional. Utilizar metodologias de ensino que consigam inserir

os alunos no seu contexto social, através de diálogos abertos, irá tornar o ensino da Geografia

algo produtivo e ligado com os pensamentos e inovações do mundo moderno, o qual nossos

educandos estão inseridos.

Nesse contexto foi feita uma análise sobre os períodos de estágio realizados em duas

escolas diferentes, onde no ensino fundamental a turma era de aproximadamente 25 alunos

com idades bem variadas, sendo a maioria adolescentes. A escola possuía uma biblioteca,

mapas variados, retroprojetor, sendo que sempre foram disponibilizados quando solicitados.

Nas observações realizadas quando o professor titular estava ministrando o conteúdo, notou-

se que a maioria dos alunos não dava muita importância para o que estava copiando, sendo

que eram textos enormes retirados diretamente do livro didático. Diante disto e da vontade de

inovar, foram levados novas metodologias e criou-se uma expectativa interessante, onde será

relatado mais adiante. No ensino médio já foi uma turma um pouco maior, sendo em torno de

35 alunos. Quanto à escola foi um pouco mais restrita a utilização dos meios, pois esta

funcionava no mesmo espaço físico de outra, uma durante o dia e outra à noite, sendo que os

materiais eram distintos.

Diante disto, entende-se que a esta busca por novas formas de aprendizagem deve

fazer parte do cotidiano dos professores. Quando se chega à sala de aula, principalmente à

noite, encontram-se alunos cansados e sem ânimo para trocarem as experiências vividas com

as que a escola tem a oferecer. Isto tem de ser levado em conta e não se podem levar para as

1 Acadêmica do curso de Licenciatura Plena em Geografia, da Universidade Federal de

Pelotas.

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aulas textos longos e sem conexão com a realidade dos alunos, não se importando com a

beleza que podemos mostrar através dos conteúdos que nos são sugeridos. Será que os

professores entendem isto? Será que se esforçam para trazerem metodologias interessantes e

dinâmicas que tirem os alunos e eles próprios desta apatia?

COMO ENTENDER ESTE PROCESSO

Para aprofundar o conhecimento e compreender o que nos parece confuso, é que a

reflexão e a busca constante por aprimoramento das aulas se tornam importantes, pois o

processo de ensino e aprendizagem é muitas vezes monótono e repetitivo com teorias prontas

e acabadas. No entanto, esse espaço pode dar lugar ao diálogo e à construção do

conhecimento em conjunto entre professor e aluno dinamizando e buscando meios novos de

compreender os assuntos serem desenvolvidos.

Neste artigo foi feita uma retrospectiva das aulas ministradas nos estágios, procurando

entender o processo de como tornar o conteúdo mais atrativo para o aluno. Primeiramente foi

feita uma análise bibliográfica sobre o tema, a partir da obtenção de dados em livros, em

jornais e revistas. Após e juntamente com esta foi realizada a pesquisa nos planos de aula de

ambas as etapas, onde se observou o tratamento dispensado pela professora a cada um dos

novos conteúdos e como os alunos expressavam seu entendimento e colaboração com a

construção do conhecimento.

DISCUSSÕES SOBRE AS FORMAS DE ENSINO-APRENDIZAGEM

O professor deve estar consciente da necessidade de estar com suas aulas sempre bem

planejadas. Este planejamento irá deixá-lo com segurança e em condições de debater com

seus alunos sobre o conteúdo desenvolvido buscando um engajamento de todos na busca do

conhecimento. Este entrosamento de idéias irá formar conceitos, os quais sendo construídos

em conjunto serão fixados e entendidos de forma mais simples, não necessitando de

decorebas e de infindáveis questionários tão solicitados pelos alunos. No ensino fundamental,

ao ser relatado a forma de avaliação, a qual seria através de diálogos participativos sobre o

conteúdo com pequenas produções textuais e uma prova, onde deveriam colocar o seu

entendimento sobre as questões, estes ficaram apavorados e solicitando questionários para

estudarem. Desta forma, nota-se a reprodução de uma escola que não ensina seu aluno a

pensar criticamente sobre o que lhe é apresentado. Como Freire (1975) deixa claro em sua

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obra esta relação da escola com o conteúdo somente serve para encher nossos alunos de idéias

prontas, as quais não os levarão a pensarem o que realmente está implícito nas entrelinhas:

O importante, do ponto de vista de uma educação libertadora, não “bancária”, é que

em qualquer dos casos, os homens se sintam sujeitos de seu pensar, discutindo o seu

pensar, sua própria visão do mundo, manifestada implícita ou explicitamente, nas

suas sugestões e nas de seus companheiros. (FREIRE, 1975, p.141).

Portanto, a prática consciente do professor que planeja que demonstra ser interessado e

que valoriza as informações de seus alunos irá criar um ambiente de respeito e aprendizagem

recíproco, pois estamos sempre em constante aprimoramento intelectual. Esta relação entre

alunos e professores deve ser o mais natural possível, estabelecendo-se diálogos abertos, onde

a aproximação de seus problemas é que irá deixar nele a vontade de aprender e compartilhar

com os demais suas experiências. Fazer com que nossos alunos reflitam sobre o que acontece

ao seu redor e no mundo os levará a um crescimento individual, tornando-os cidadãos críticos

e defensores de suas próprias idéias. Mas para que isso aconteça é necessário os educadores

estarem conscientes de seus atos e obrigações, sabendo que não devem deixar transparecer

sinais de desmotivação, o que acaba gerando uma apatia geral ocorrida na maioria das escolas

públicas.

Observamos o que dizem alguns alunos em uma entrevista realizada pela Revista

Nova Escola2: “Às vezes, vir à aula da raiva porque tem muita gente que não quer saber de

nada – inclusive os professores que faltam.” Outro: “Não tem nada pior que chegar numa

segunda-feira e ver o quadro cheio – só para fazer cópia.” Como os alunos deixaram claro

em suas críticas o desinteresse é geral; muitos vão à escola para aprenderem algo que possa

lhes ajudar em seu futuro e acabam encontrando professores cansados, pois alguns enfrentam

longas jornadas de trabalho, os quais deixam transparecer em suas aulas a desmotivação ou

algumas vezes a falta de planejamento, tão importante para uma boa aprendizagem.

A EDUCAÇÃO E AS CONSEQÜÊNCIAS DO MODO DE PRODUÇÃO

CAPITALISTA

Observando a história da educação, nota-se que a Instituição Escolar já foi bem mais

rígida em seu passado; neutralizar as diferenças tentando levar a adaptação e a submissão dos

alunos era comum. Métodos que permitissem o controle do corpo, levando-o a sujeição de

suas forças, impondo-lhes uma relação de docilidade, de não reação às normas levavam o

2 Revista Nova Escola de março de 2007((Pg 31 e 34).

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educando a realização da passagem de ano, a qual ficava trancada sem poder ser exposta.

Segundo Michel Foucault:

Isto leva a uma submissão do ser, onde o poder se mantém através da coercitividade,

levando o sujeito a obedecer sem o poder da crítica, de outras opiniões, sendo assim

um “boneco de presépio” nas mãos dos detentores do poder. (FOUCAULT, 1987, p.

118).

Desta forma se observa que a repressão utilizada no passado não trazia benefícios aos

alunos, onde o respeito era imposto através de ordens e do medo na escola. Uma relação de

angústias, em um lugar tido como impróprio para debater sobre seus anseios pessoais, suas

divagações sobre a sociedade/humanidade, mas com um caráter formal, onde dali sairia

grandes pensadores, talvez não tão críticos como o pudessem ser, mas com um grande

conhecimento técnico daquilo que aprendiam. Valores políticos, ética, humildade, dentre

outros seriam adquiridos no decorrer de suas vidas e não na escola.

Hoje em dia a percepção de que deve haver um diálogo mais aberto na sala de aula,

onde todos possuam voz ativa para exporem suas opiniões e anseios é preponderante. Uma

aula onde somente o professor dita as regras e as impõe sem ao menos escutar a opinião dos

alunos deve deixar de fazer parte do cotidiano escolar. Quando este tipo de metodologia é

utilizado, notam-se a indisciplina e a violência de alguns alunos que não aceitam tal

procedimento, causando transtornos ainda maiores, onde com uma simples conversa talvez,

pudesse se resolver o problema.

Todavia, deve se analisar a época em que vivemos, onde o capitalismo exacerbado leva

todos a uma luta constante em busca de sobrevivência, principalmente os pertencentes às

camadas menos favorecidas da sociedade. Essa batalha entre capital e trabalho gira em torno

dos meios de produção, sendo que a grande maioria de seus detentores não está preocupada

com a educação destes filhos da pobreza, pois para eles o que importa é o lucro e o poder.

Desta forma muitas pessoas acabam ficando à margem desta sociedade, sem condições de

estudar e adquirir uma melhor condição de resistir a esta opressão, o que leva seus filhos a

não darem a devida importância aos estudos. Valores como: o respeito ao próximo, a zelar

pelo patrimônio público, a sempre se utilizar da verdade, a repartir aquilo que possui, dentre

tantos outros acabam ficando a cargo da escola, a qual muitas vezes não consegue dar conta

de todos.

Assim, observamos que os conflitos vividos na sociedade são refletidos diretamente no

ambiente escolar. Os professores devem se dar conta de suas atribuições e procurar

utilizarem-se desta influência de forma a fazerem seus alunos entenderem as conseqüências

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que este modo de vida capitalista trás a cada um deles. Somos responsáveis pela transmissão

do saber, pela conservação dos valores sociais, pela manutenção e atualização dos princípios e

leis que regem a sociedade. Algumas vezes, consciente ou inconscientemente acaba-se

exercendo uma função conservadora e reacionária, não apenas pelo repasse do passado, mas

por torná-lo estático e algo determinante do presente e do futuro, transformando o ato de

educar em algo sem sentido para uma sociedade que deve aprender a lutar por seus direitos.

Nesta perspectiva, devemos refletir sobre o que Frigotto3 ( 2001) diz:

... a prática educativa que se efetiva na escola é alvo de uma disputa de interesses

antagônicos. Sua especificidade política consiste, exatamente, na articulação do

saber produzido, elaborado, sistematizado e historicamente acumulado, com os

interesses de classe. ( FRIGOTTO, 2001 p. 33).

Desta forma esta reprodução de conteúdos prontos que não aceitam as interferências e

análises dos alunos continuam a produzir pessoas incapazes de refletirem sobre as

conseqüências que o sistema neoliberal causa, levando-os a submissão dos detentores do

poder. O educador deve ter em mente que é preciso repensar a educação enquanto inserida no

processo de transformação do saber. Entender que o significado da palavra educar deve ser a

capacidade de saber interpretar e transformar o mundo em que se vive, onde neste processo de

transformação inclui transformar a si próprio. Portanto, lutar por uma educação libertadora,

formando pessoas com senso crítico, capazes de mudar as relações dentro e fora da escola,

através de novas práticas democráticas, coerentes com a realidade é a base para um progresso

legítimo e eficaz. Segundo Freire:

A educação que se impõe aos que verdadeiramente se comprometem com a libertação

não pode fundar-se numa compreensão dos homens como “seres vazios” a quem o

mundo “encha” de conteúdos; não pode basear-se numa consciência espacializada,

mecanicistamente compartimentada, mas nos homens como “corpos conscientes” e na

consciência como consciência intencionada ao mundo. Não pode ser a do depósito de

conteúdos, mas a da problematização dos homens em suas relações com o mundo.

(FREIRE, 1975, p. 77).

O ENSINO DA GEOGRAFIA

A Geografia é uma ciência rica em seu conteúdo, sendo o espaço geográfico seu

campo de abrangência. Assim, cabe aos educadores aprimorarem suas formas de ensinar, a

3 Gaudêncio Frigotto em sua obra “A produtividade da escola improdutiva” faz um re-exame das

relações entre educação e estrutura econômico-social capitalista, utilizando-se da teoria do capital humano, tendo

como eixo de análise e apreensão das relações entre os processos econômicos-sociais e os processos educativos

num contexto em que a crise atual do capitalismo mundial já apresentava fortes indícios nos anos 70.

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fim de satisfazer os anseios dos alunos, pois em muitos casos somente levam textos enormes,

os quais têm pouco haver com a realidade cotidiana destes, não exercendo suas capacidades

de reflexão. A busca por metodologias que consigam levar o conteúdo ao aluno de maneira

mais compreensível, seja através do livro didático, o qual é um importante apoio, não

devendo ser o único meio, ou através de outras tecnologias e criatividades é que irá

diferenciar um educador de qualidade.

Observando-se a prática pedagógica de alguns professores, nota-se o fiel

cumprimento aos conteúdos dos livros didáticos, os quais discorrem sobre determinado

assunto e dali se determinam questões que são respondidas diretamente dos textos, onde não

dá a chance do aluno expressar sua opinião. Embora estes livros tragam conteúdos bem

dispostos e abrangentes, cabe ao professor associá-los ao dia a dia dos alunos e levá-los a

pensar sobre o que realmente faz a diferença na hora de aplicar o conhecimento adquirido.

Desta forma, a Geografia ensinada será mais interessante, ficando o educador com a

responsabilidade de levar à sala de aula maneiras diversificadas de apresentação destes

conteúdos o que levará a um processo de motivação da turma. Relacionado e isso Kimura

fala:

... a Geografia constitui-se em um campo fértil de oportunidades para experimentar

de maneira muito rica e estimulante várias habilidades e, desta forma, possibilitar ao

aluno desenvolver competências criativas de percepção e cognição a serem

incorporadas ao seu crescimento. (KIMURA, 2001, p. 26).

Alguns professores mencionam falta de motivação dos alunos, mesmo quando levadas

técnicas diferenciadas de aprendizagem. Daí percebe-se a importância do educador. Ele é o

elo entre o conteúdo e a aprendizagem; sua maneira de explicar, de incentivar os alunos é que

irá determinar o sucesso da aula. Os conceitos que se formam através da participação dos

integrantes da turma serão absorvidos de forma subjetiva por cada um, onde uma seleção

íntima do que é mais importante será captado e se formará a própria opinião sobre o assunto.

Desta forma, as aulas terão um sentido mais real diminuindo a falta de interesse pelo conteúdo

abrangido, tornando-a algo aprazível e motivador de novas descobertas.

EXPERIÊNCIAS PRÁTICAS

Baseada na experiência como professora na adolescência, onde foram ministradas

aulas nas séries iniciais, 2ª e 4ª séries, pode se fazer uma comparação entre este período e os

estágios realizados na etapa acadêmica. A primeira fase caracterizou-se por uma prática

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docente na qual foram encontradas muitas dificuldades, entre elas: insegurança, caracterizada

pela falta de embasamento teórico e prático, alunos indisciplinados, conversas constantes,

onde não havia um apoio pedagógico da escola.

Na fase acadêmica, ao poder novamente estabelecer contato com a sala de aula nos

estágios, constatou-se que o aprimoramento teórico, bem como o apoio dos professores e

colegas é fundamental para estabelecer um nível de confiabilidade no potencial que

possuímos. A consciência de nossa responsabilidade como educadores deve estar muito

presente em nosso cotidiano, onde não devemos nos deixar levar pela desmotivação que

assombra determinadas escolas. Compreender a diversidade de idéias e entender que cada um

de teus alunos possui uma vida própria e conseqüentemente um objetivo diferente é nossa

obrigação. Não é nada fácil, ou quase impossível conseguir atingir a todos em uma sala de

aula, geralmente com 30/40 alunos, mas levar o conteúdo de forma mais aprazível e instigante

deve ser nossa meta.

Foram realizados dois estágios no período noturno, onde as características geralmente

são de alunos trabalhadores ou aqueles que cuidam da casa e dos irmãos para os pais

trabalharem. Notou-se que estavam acostumados a receber o conteúdo sempre pronto,

geralmente com grandes questionários para estudarem e decorarem para as provas. Porém, a

proposta levada à sala de aula era a de introduzir um processo dialógico, com conversas sobre

o conteúdo associado ao cotidiano deles, induzindo-os assim a pensarem criticamente sobre

aquilo que lhes era informado. Este objetivo estava presente em todas as aulas: a participação

ativa nas atividades propostas. Expor suas opiniões era muito importante e eram instigados

constantemente para isso, onde saiam reflexões que condiziam com a realidade e com o sonho

de mudança de alguns. Com referência ao diálogo na sala de aula, Freire diz:

Desta maneira, o educador já não é o que apenas educa, mas o que, enquanto educa,

é educado, em diálogo com o educando, que ao ser educado, também educa. Ambos,

assim, se tornam sujeitos do processo em que crescem juntos e em que os

“argumentos de autoridade” já não valem. (FREIRE, 1983, p. 68).

Este processo dialógico é muito interessante. Durante a aprendizagem acadêmica

observei que a maioria dos professores instiga esta capacidade dos alunos. Claro que é

diferente porque na academia somos adultos enquanto que na escola geralmente são

adolescentes em fase de exploração, onde o debate fica mais restrito a opiniões próprias, sem

muito embasamento teórico. Neste ponto, nota-se que a educação é uma atividade onde

professores e alunos, mediatizados pela realidade da qual fazem parte e de onde retiram o

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conteúdo de sua aprendizagem atinjam um nível de consciência desta mesma realidade,

transformando-a socialmente.

Observou-se entre os alunos que há muitas diferenças, principalmente na capacidade

de dialogar. Havia adolescentes, mais comunicativos e pessoas de mais idade, as quais tinham

de ser muito instigadas a interagir sobre o assunto debatido, caso contrário não participavam

do diálogo. Percebeu-se que ao serem estimulados, idéias próprias apareciam, onde a

construção do conhecimento realmente se fez presente, tirando aquela mesmice de repetir o

que os autores escrevem sem uma posição definida. Alguns estavam presentes somente de

corpo, mas sem intenção de aprender algo de novo, deixando claro que não queriam

participar, apresentando em determinados momentos atitudes indisciplinadas. Nestas

circunstâncias era dada uma pausa no conteúdo, demonstrando a autoridade do professor

como meio de mostrar os valores e as reais necessidades do processo de ensino aprendizagem

que todos estavam passando no momento. Não de forma autoritária, mas de modo a fazê-los

ver além da suas próprias perspectivas individuais, onde respeito ao próximo era colocado em

pauta e o desejo de estar na escola para aprender algo deveria ser considerado por todos,

inclusive por quem não estivesse com vontade de fazê-lo. Nesta linha de pensamento

D’Antola diz:

A autoridade deve ser usada para dirigir a classe, pois, quanto mais confiança os

alunos tiverem no professor, enquanto autoridade que dirige o curso produtivo, que

pode manter a disciplina, que tem bom domínio de conhecimento, mais confiança os

alunos terão nas intervenções do professor, o qual deve utilizar a autoridade dentro

dos limites da democracia. (D’ANTOLA, 1989, p. 53).

Em relação ao ensino médio a prática foi mais curta. A turma contava com trinta e

cinco alunos presentes. De início estes tiveram alguma rejeição devido ao afeto à professora

regente, mas quando o estágio terminou, a maioria queria que as estagiárias continuassem a

frente da disciplina. Tentou-se construir uma prática educativa que superasse as mazelas do

ensino tradicional, este que até os dias atuais ainda é tão utilizado. Assim, nosso objetivo

principal era de possibilitar um trabalho mais significativo e transformador na sala de aula,

fazendo com que nossos alunos se tornassem sujeitos que percebem as modificações que

ocorrem na sociedade onde vivem, buscando a sua transformação.

Iniciou-se as aulas com a proposta de se fazer uma atividade diária valendo nota,

sendo geralmente uma reflexão sobre o conteúdo estudado. Observou-se que poucos sabiam

se expressar através da escrita; tinham muitos erros de português, o conteúdo não se

desenvolvia, onde quase sempre saiam poucas linhas com algo que a professora havia

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informado. No final, valeu a pena porque textos mais críticos e com opiniões próprias

começaram a se desenvolver, sendo que como foram poucas aulas o progresso foi

interrompido, já que a professora regente não adotava tal prática metodológica.

Uma maquete sobre os diferentes tipos de rochas foi levada à sala de aula. A

expectativa era de conseguir desenvolver no aluno, a capacidade de observar, analisar,

interpretar e pensar criticamente a realidade, tendo em vista a sua transformação, a qual se

vincula nas relações da sociedade com o meio ambiente. Foi um pouco decepcionante, pois a

motivação que pensamos existir quando olhassem para a maquete não ocorreu. Alguns

observam com desinteresse, tocaram no gel do qual parte era composta e fizeram cara feia.

Esta desmotivação dos próprios alunos também nos faz refletir sobre os motivos que

os levam a tais atitudes de desinteresse. Talvez pela idade, os adolescentes, onde a paquera, as

roupas da moda e assuntos que rolam na internet são bem mais atrativos que os conteúdos de

Geografia. O professor deve estar ciente que estes temas fazem parte do cotidiano dos alunos

devendo tentar se entrosar e debater sobre eles o que irá causar um sentimento de

cumplicidade. Desta forma conseguirá unir os interesses dos alunos com o conteúdo a ser

desenvolvido de modo a tornar o processo de aprendizagem mais interessante. Conforme

Bandiera argumenta em sua obra:

Quando a criança encontra alguma dificuldade para alcançar ou para aprender um

conhecimento novo, cabe ao professor no caso especifico da escola, providenciar

estímulos que auxiliem a criança a superar a dificuldade encontrada. Melhor

dizendo, professor e aluno, juntos, tentarão buscar as soluções almejadas para a

aprendizagem. Ao professor cabe tornar o processo de construção do conhecimento

contextualizado. A criança deve estar interessada em aprender o novo, isto porque

lhe trará satisfação, novo modo de ver e de conceber o mundo e os seres que o

cercam. A aprendizagem construída com a interação professor-aluno deve ser

significativa para o aluno, a partir dos seus interesses. (BANDIERA, 2005, p. 28).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Inovar a Geografia é torná-la interessante e crítica, pois instiga a curiosidade dos

alunos e une assuntos que nos livros didáticos parecem não ter conexão. De forma mais

especifica, pode-se dizer que além de uma renovação no modo de ensinar, a construção do

conhecimento através de metodologias variadas é uma atividade que aproxima o aluno da

realidade que o cerca. Constatou-se que a prática docente precisa sofrer estas modificações,

pois a escola e os conteúdos trabalhados parecem não ter relação com a vida dos alunos, não

havendo uma associação entre ambas.

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Para que isso aconteça é necessário o planejamento do professor, pois com tudo

estrategicamente planejado, embora algumas vezes tendo que modificar o plano facilita muito

o processo de ensino aprendizagem. A flexibilidade deve fazer parte de trabalho, onde se

observa que os alunos possuem ritmos diferentes e isso precisa ser respeitado, assim, é

fundamental uma constante avaliação deste planejamento, bem como sua readequação se for

necessário. Também a utilização dos recursos didáticos disponíveis e adequados ao tema

estudado, como transparências, slides, vídeos, jornais, fotografias, dentre outros deve ser

muito explorado.

Observa-se que o professor é o elo entre o ensino e a aprendizagem, portanto este deve

estar sempre procurando maneiras de ampliar as formas de ministrar o conteúdo. Dependendo

da metodologia de ensino que ele utilizará poderá proporcionar aulas criativas e dinâmicas

que exerçam um poder de atração e não de repulsão como geralmente os alunos enxergam a

maioria dos conteúdos de Geografia. O educador deve estar constantemente repensando a sua

prática, pois estará contribuindo na formação de cidadãos mais conscientes que deverão

encontrar no ensino a base para saber pensar o espaço geográfico.

Portanto, a experiência como educadora foi fundamental. A prática proporcionou uma

aproximação da realidade do cotidiano do professor e o entendimento que ensinar não é

somente transmitir conteúdos e sim uma troca de conhecimentos que exige ética,

cumplicidade, bom senso e muita pesquisa. Esta busca por uma educação que seja capaz de

transformar o momento do aprendizado em algo significativo para o crescimento intelectual e

pessoal dos alunos e do próprio educador é que leva à Escola a ser um local infinitamente

valoroso. Ela proporciona momentos de transformação do pensamento o que acaba levando-

nos a ser pessoas que sejam capazes de atuar como agentes transformadores da desigualdade

social e da opressão que sofremos pelas classes dominantes em nossa sociedade.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Paulo); nr 200, p. 28-47, 2007.

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FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 13ª ed. - Coleção O Mundo Hoje. Rio de Janeiro:

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FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 1997.

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Paulo: Contexto, 2005.

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