metheoro

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ENTREVISTA J osé Hilário Cavalcante de Oliveira Júnior, mais conhecido como Methe- oro, é um escorpiano de 26 anos, nas- cido em Paudalho, PE. Filho de um advogado e de uma professora universitária, formou-se em Publicidade e Propaganda na PUC-PE e hoje trabalha como blogueiro e assessor de imprensa na cidade de São Paulo. Rolling Stone - Sendo gay, afro-descend- ente e nordestino, você acha que o precon- ceito te ajudou a vencer? Metheoro - Claro que sim! Primeiro porque é foda se assumir gay nesse Brasil, ainda mais sendo nordestino. Nunca tive problemas de fato, porque na escola, na faculdade e no trabalho, sempre me destaquei pela dest- reza. O problema do preconceito você tira de letra, quando sabe contornar e transformá-lo em admiração. Não que eu seja admirado e aclamado (risos) por muita gente, mas pelo menos tenho bons amigos e um caderno de contatos interessante. Rolling Stone - E depois de tantas “pe- dras” no seu caminho, o que mais te orgul- ha? Não vale Farmville... Metheoro - Fui estagiário na Transamérica, onde fui efetivado depois, e me destacava na produção de programas. Fui convidado para fazer o roteiro e o projeto de um programa de rádio para a Coca-cola. O programa deu tão certo, que aumentou a venda de Burn’s (o energético ao qual o programa se referia) nas baladas em 15% e foi ampliado para toda a rede Transamética. Foram mais de 40 rádios seguindo meu roteiro base e o conceito do programa. Foi uma vitória muito grande e eu ainda estava no 3º período da faculdade. Rolling Stone - Mudando um pouco de as- sunto, partindo para o lado pessoal. Em re- lação aos “amores da sua vida”, você se con- sidera uma pessoa feliz por viver do jeito que gosta, ou se arrepende de alguma coisa? Metheoro - Então... A gente sempre se ar- repende, né? Acho que tive relacionamentos muito bons, outros nem tanto. Normal, como qualquer pessoa. Já tive namoros dura- douros e tentativas de relacionamento bem infelizes. Rolling Stone - Você já trabalhou com O Teatro Mágico, como foi essa experiência de trabalhar, viajar, fazer amigos e ainda ama- durecer profissionalmente? Metheoro - No final de 2006 eu trabalhava na MTV Brasil, na filial de Pernambuco. Cui- dava da programação local, marketing, etc. Um belo dia me chega nas mãos a revista da MTV e dela uma reportagem sobre a nova “febre universitária”, O Teatro Mágico. Li, me interessei, entrei no site e baixei algumas músicas. Fiquei alucinado. Três meses de- pois, quando eles fizeram um show em Re- cife, entrei em contato para que participassem de um programa que eu fazia produção, eles aceitaram e começamos a conversar sempre que eles precisavam de algo no Nordeste. Consegui pautas na imprensa, até que sur- giu o convite para vir trabalhar com a trupe em São Paulo. Não pensei duas vezes e vim no começo de 2008. Viajei por 8 estados com o TM, de avião, ônibus e carro. Fizemos praticamente todos os veículos de imprensa, todas as grandes casas de show. Conheci muita gente e foi um aprendizado muito in- teressante. Hoje não estou mais no dia-a-dia da trupe, mas continuo ligado à todos eles. Rolling Stone - Você se sente melhor tra- balhando com música ou a sua área atual (Social Media) lhe satisfaz mais? Metheoro - Sou produtor por natureza. Gosto de produzir conteúdo. Talvez por isso eu tenha blog, podcast, videocast e perfis e inúmeras redes sociais. Meu primeiro blog é de 2002 e conheci meus melhores amigos através dele. Tenho contatos com pessoas “legais e influentes” hoje em dia, justamente por conta disso. Rolling Stone - Como blogueiro, qual a sua opinião sobre os blogs e as notícias di- vulgadas neles? Metheoro - Eu não sei. Essa coisa de in- ternet é muito louca, né? Meu primeiro blog foi inspirado no blog da Rosana Hermann, o Querido Leitor, que existe até hoje. Essa coisa de ser generalista e falar de tudo um pouco me encanta. Eu já tive um blog sobre Big Brother Brasil, que era lido diariamente pela Astrid Fontenelle, em seu programa na Bandeirantes, enquanto outros blogs não deram em nada. Acho que a questão é o foco no seu público alvo. Não adianta nada você criar um blogs sobre carros e não saber ao que ele se destina, onde você pretende chegar, porque já existem milhares de pági- nas iguais. Copiar referências nunca é bom, porque sempre vai parecer cópia. É bom que você tenha um estilo próprio. Rolling Stone - Você acha que os blogs conseguem “moldar” mais a opinião das pes- soas, ou os jornais ainda não melhores para atingir as massas? Metheoro - Um blogueiro nunca terá o mesmo alcance e importância de um jornal. A audiência do maior blog do Brasil é 40 vezes menor que a audiência diária do Jornal Na- cional. Mas os dois são plataformas difer- entes. São 60 milhões de usuários de internet no Brasil, nem 10% deles acessa o Kibeloco, mas digamos que sua influência atinge um nicho de mercado que interessa aos veículos de comunicação e as empresas anunciantes em geral. Os blogs são isso. Eles não são para ser de “massa”, são para ser de nicho. Chegar para 6 pessoas e fazer como que es- sas 6 pessoas comprem os produtos, con- sumam e chamem mais 6 pessoas. Rolling Stone - Então você acha que os blogs e seus derivados são uma mídia para elites? Metheoro - Não, é uma mídia de acesso para todos. Existe blog de tudo! O blogs do Ricardo Cobra, Homem na Cozinha, ensina a fazer Trufa com carne de pato e vinho do por- to, logo, é pra gente com renda maior. Assim como o blog de um amigo meu, que é apre- sentador de um programa sobre Pagode em Pernambuco, que é comentado por pessoas de baixa renda, que entram em Lan Houses e pedem pra ele mandar beijo no programa. Existe aí uma complementação. A internet dá voz à todo mundo, de todas as formas. DE PAUDALHO PARA O MUNDO “A gente sempre se arrepende, né?” Texto: Arnaldo Lechner e Daniella Barreto Revisão: Caroline Vitti Diagramação: Daniella Barreto

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ENTREVISTA

José Hilário Cavalcante de Oliveira Júnior, mais conhecido como Methe-oro, é um escorpiano de 26 anos, nas-cido em Paudalho, PE. Filho de um

advogado e de uma professora universitária, formou-se em Publicidade e Propaganda na PUC-PE e hoje trabalha como blogueiro e assessor de imprensa na cidade de São Paulo. Rolling Stone - Sendo gay, afro-descend-ente e nordestino, você acha que o precon-ceito te ajudou a vencer? Metheoro - Claro que sim! Primeiro porque é foda se assumir gay nesse Brasil, ainda mais sendo nordestino. Nunca tive problemas de fato, porque na escola, na faculdade e no trabalho, sempre me destaquei pela dest-reza. O problema do preconceito você tira de letra, quando sabe contornar e transformá-lo em admiração. Não que eu seja admirado e aclamado (risos) por muita gente, mas pelo menos tenho bons amigos e um caderno de contatos interessante. Rolling Stone - E depois de tantas “pe-dras” no seu caminho, o que mais te orgul-ha? Não vale Farmville...

Metheoro - Fui estagiário na Transamérica, onde fui efetivado depois, e me destacava na produção de programas. Fui convidado para fazer o roteiro e o projeto de um programa de rádio para a Coca-cola. O programa deu tão certo, que aumentou a venda de Burn’s (o energético ao qual o programa se referia) nas baladas em 15% e foi ampliado para toda a rede Transamética. Foram mais de 40 rádios seguindo meu roteiro base e o conceito do programa. Foi uma vitória muito grande e eu ainda estava no 3º período da faculdade. Rolling Stone - Mudando um pouco de as-sunto, partindo para o lado pessoal. Em re-lação aos “amores da sua vida”, você se con-sidera uma pessoa feliz por viver do jeito que gosta, ou se arrepende de alguma coisa? Metheoro - Então... A gente sempre se ar-repende, né? Acho que tive relacionamentos muito bons, outros nem tanto. Normal, como qualquer pessoa. Já tive namoros dura-douros e tentativas de relacionamento bem infelizes. Rolling Stone - Você já trabalhou com O Teatro Mágico, como foi essa experiência de trabalhar, viajar, fazer amigos e ainda ama-durecer profissionalmente? Metheoro - No final de 2006 eu trabalhava na MTV Brasil, na filial de Pernambuco. Cui-dava da programação local, marketing, etc. Um belo dia me chega nas mãos a revista da MTV e dela uma reportagem sobre a nova “febre universitária”, O Teatro Mágico. Li, me interessei, entrei no site e baixei algumas músicas. Fiquei alucinado. Três meses de-pois, quando eles fizeram um show em Re-cife, entrei em contato para que participassem de um programa que eu fazia produção, eles aceitaram e começamos a conversar sempre que eles precisavam de algo no Nordeste. Consegui pautas na imprensa, até que sur-giu o convite para vir trabalhar com a trupe em São Paulo. Não pensei duas vezes e vim no começo de 2008. Viajei por 8 estados com o TM, de avião, ônibus e carro. Fizemos praticamente todos os veículos de imprensa, todas as grandes casas de show. Conheci muita gente e foi um aprendizado muito in-teressante. Hoje não estou mais no dia-a-dia da trupe, mas continuo ligado à todos eles. Rolling Stone - Você se sente melhor tra-balhando com música ou a sua área atual (Social Media) lhe satisfaz mais? Metheoro - Sou produtor por natureza. Gosto de produzir conteúdo. Talvez por isso

eu tenha blog, podcast, videocast e perfis e inúmeras redes sociais. Meu primeiro blog é de 2002 e conheci meus melhores amigos através dele. Tenho contatos com pessoas “legais e influentes” hoje em dia, justamente por conta disso. Rolling Stone - Como blogueiro, qual a sua opinião sobre os blogs e as notícias di-vulgadas neles? Metheoro - Eu não sei. Essa coisa de in-ternet é muito louca, né? Meu primeiro blog foi inspirado no blog da Rosana Hermann, o Querido Leitor, que existe até hoje. Essa coisa de ser generalista e falar de tudo um pouco me encanta. Eu já tive um blog sobre Big Brother Brasil, que era lido diariamente pela Astrid Fontenelle, em seu programa na Bandeirantes, enquanto outros blogs não deram em nada. Acho que a questão é o foco no seu público alvo. Não adianta nada você criar um blogs sobre carros e não saber ao que ele se destina, onde você pretende chegar, porque já existem milhares de pági-nas iguais. Copiar referências nunca é bom, porque sempre vai parecer cópia. É bom que você tenha um estilo próprio. Rolling Stone - Você acha que os blogs conseguem “moldar” mais a opinião das pes-soas, ou os jornais ainda não melhores para atingir as massas? Metheoro - Um blogueiro nunca terá o mesmo alcance e importância de um jornal. A audiência do maior blog do Brasil é 40 vezes menor que a audiência diária do Jornal Na-cional. Mas os dois são plataformas difer-entes. São 60 milhões de usuários de internet no Brasil, nem 10% deles acessa o Kibeloco, mas digamos que sua influência atinge um nicho de mercado que interessa aos veículos de comunicação e as empresas anunciantes em geral. Os blogs são isso. Eles não são para ser de “massa”, são para ser de nicho. Chegar para 6 pessoas e fazer como que es-sas 6 pessoas comprem os produtos, con-sumam e chamem mais 6 pessoas. Rolling Stone - Então você acha que os blogs e seus derivados são uma mídia para elites? Metheoro - Não, é uma mídia de acesso para todos. Existe blog de tudo! O blogs do Ricardo Cobra, Homem na Cozinha, ensina a fazer Trufa com carne de pato e vinho do por-to, logo, é pra gente com renda maior. Assim como o blog de um amigo meu, que é apre-sentador de um programa sobre Pagode em Pernambuco, que é comentado por pessoas de baixa renda, que entram em Lan Houses e pedem pra ele mandar beijo no programa. Existe aí uma complementação. A internet dá voz à todo mundo, de todas as formas.

DE PAUDALHO PARA O MUNDO

“A gente sempre se arrepende, né?”

Texto: Arnaldo Lechner e Daniella BarretoRevisão: Caroline Vitti Diagramação: Daniella Barreto