mecanismo de toxicidade induzido pelo metilmercurio e...

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1 Universidade Federal do Pará Centro de Ciências Biológicas Departamento de Fisiologia Laboratório de Neuroquímica Molecular e Celular Mecanismo de Toxicidade Induzido pelo Metilmercurio e Regulação do Sistema Nitrérgico em Culturas Celulares de Retina Anderson Manoel Herculano Oliveira da Silva Belém/2006

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Universidade Federal do Pará

Centro de Ciências Biológicas

Departamento de Fisiologia

Laboratório de Neuroquímica Molecular e Celular

Mecanismo de Toxicidade Induzido pelo Metilmercurio e

Regulação do Sistema Nitrérgico em Culturas Celulares de

Retina

Anderson Manoel Herculano Oliveira da Silva

Belém/2006

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Universidade Federal do Pará

Centro de Ciências Biológicas

Departamento de Fisiologia

Laboratório de Neuroquímica Molecular e Celular

Mecanismo de Toxicidade Induzido pelo Metilmercurio e

Regulação do Sistema Nitrérgico em Culturas Celulares de

Retina

Tese de Doutorado Apresentada ao Programa de Pós Grauduação em Neurociências

E Biologia Celular da Universidade Federal do Pará para Obtenção do Título de

Doutor em Neurociências e Biologia Celular

Belém/2006

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REUMO O sistema visual representa um importante alvo da intoxicação mercurial. Neste

contexto, o presente trabalho objetivou avaliar o efeito do mercúrio no sistema de

neutransmissão glutamatérgica utilizando como modelo experimental culturas de retina

de embrião de galinha. Nossos resultados demonstraram que a exposição a diferentes

concentrações de MeHg induz uma diminuição da viabilidade celular de uma forma

dependente da concentração e de tempo de exposição. Nossos dados também

demonstraram que o MeHg promove diminuição da captação de [3H]-Glutamato e [3S]-

Cisteína nas culturas expostas, assim como, diminuição dos níveis intracelulares de

GSH. O bloqueio da toxicidade mercurial observado na presença de antagonistas

glutamatérgicos do tipo NMDA, inibidores da atividade da NOS e precursores da

síntese de GSH, demonstrou que a ativação via glutamato somado ao estresse oxidativo

representam o principal mecanismo de toxicidade induzida pelo MeHg nas células da

retina. Neste trabalho também avaliamos a regulação ad atividade da NOS ao longo do

desenvolvimento in vitro, nossos dados demonstraram que a atividade da NOS aumenta

gradativamente com evolução das culturas. Nossos dados demonstraram que no período

C2 glutamato e NGF, mas não seu substrato, L- arginina, são capazes de elevar

sigficativamente a atividade da NOS. Avaliamos a captação de L-arginina e observamos

uma baixa atividade em C2, o tratamento com NGF induziu um aumento da captação de

L-arginina, da mesma forma que o anti-NGF bloqueia esta captação em C2. Desta

forma nosso trabalho sugere que a homeostasia do sistema nitrergico é regulada por

NGF nos primeiros períodos do desenvolvimento retiniano.

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ABSTRACT

Methylmercury (MeHg) is a potent environmental pollutant that affects the central

nervous system and provokes serious damage in the visual system. The mechanisms of

citotoxicity induced by MeHg in the retinal cells still remains unclear. Thus, the aim of

this work was to evaluate the role of ionotropic glutamatergic receptors and nitrergic

activation on the neurotoxicity induced by MeHg in retinal cell cultures. Decrease of

viable cells in a time and concentration-dependent manner by MeHg exposure was

detected. NOS activity monitoring revealed an increase with 4 and 6 hours of MeHg

intoxication. NMDA-type receptor antagonist, MK-801, and the nitric oxide synthase

(NOS) inhibitor, L-nitro-arginine was able to prevent partially the cellular death

provoked by 4h of MeHg exposure. These results support that MeHg toxicity in retina is

mediated by NMDA-type glutamate receptor and NOS activation.

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INTRODUÇÃO:

Ao longo do processo evolutivo, o sistema visual apresentou-se como

uma das mais importantes aquisições adaptativas para a manutenção de uma espécie em

diferentes nichos ecológicos. Este sistema é responsável pela captação, transformação e

processamento dos estímulos luminosos provenientes do meio, sendo a retina o seu

primeiro nível de processamento. A retina caracteriza-se como uma fina camada de

tecido nervoso localizado no interior do globo ocular, a partir da qual a informação

visual é transmitida do nervo óptico para os núcleos mesencefálicos e talâmicos, cujos

neurônios transmitem a informação ao córtex visual, onde ocorre o último nível de

processamento desta informação (Ramón y Cajal, 1892).

Nos vertebrados em geral, a retina apresenta uma citoarquitetura laminar

formada por cinco camadas, três de corpos celulares e duas de neurópila ou conexões.

Nas camadas de corpos celulares, podemos destacar: a camada nuclear externa (CNE), a

qual contém os corpos celulares dos fotorreceptores (cones e bastonetes); a camada

nuclear interna (CNI), com os corpos celulares das células bipolares, horizontais,

amácrinas e a camada de células ganglionares (CCG), contendo os corpos celulares das

células ganglionares. As camadas de neurópila ou de conexões, são constituídas pelas

camadas plexiforme externa (CPE) e interna (CPI). Na primeira observamos conexões

entre os terminais sinápticos dos fotorreceptores e células bipolares e horizontais e na

segunda são formadas conexões entre as células bipolares, amácrinas e as células

ganglionares (Ramón y Cajal, 1892) (Figura 1).

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Figura 1. Diagrama esquemático da retina de vertebrados, mostrando a estrutura

laminar da retina e seus elementos celulares. (CC) Camada Coroidal; (EP) Epitélio

Pigmentar; (SE) Camada de Segmentos Externos; (SI) Camada de Segmentos Internos;

(MLE) Membrana Limitante Externa; (CNE) Camada Nnuclear Externa; (CPE)

Camada Plexiforme Externa; (CNI) Camada Nuclear Interna; (CPI) Camada Plexiforme

Interna; (CCG) Camada de Células Ganglionares; (CF) Camada de Fibras do Nervo

Óptico; (MLI) Membrana Limitante Interna. (Modificado de Rodieck, 1998).

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A complexa organização celular da retina, assim como a suas conexões,

é resultante de refinados eventos moleculares e celulares que ocorrem no período

embrionário dos vertebrados, sendo por isso, de extrema relevância os estudos

direcionados aos eventos que ocorrem nos primeiros momentos de formação deste

tecido, assim como o mecanismo de ação de agentes capazes de alterar ou inibir os

mecanismos que regem a diferenciação retiniana (Kolb e cols, 2001).

Nos estudos relacionados à ontogenia ou toxicologia no tecido retiniano

diversos modelos animais são utilizados, dentre estes o modelo aviário destaca-se pela

facilidade de acompanhamento do desenvolvimento do animal, assim como pelo

tamanho da estrutura ocular, a capacidade de manutenção de células retinianas por

longo período em ambiente in vitro, além do baixo custo. Desta forma, neste trabalho

utilizamos este modelo para avaliar os fatores que regulam a diferenciação do sistema

nitrérgico durante o desenvolvimento embrionário e como a toxicidade de um

reconhecido poluente ambiental, metilmercurio, interfere na diferenciação deste tecido e

o papel do NO para o mecanismo de neurotoxicidade.

1.1. O DESENVOLVIMENTO DA RETINA DE AVES

Estudos sobre o desenvolvimento de aves demonstram que estes

organismos apresentam períodos embrionários bem caracterizados, que varia do

primeiro dia embrionário (E1) ao vigésimo primeiro dia (E21), sua organização celular

é bastante semelhante à observada nos outros vertebrados, o que valida a generalização

de inferências sobre os fenômenos embriogênicos que ocorrem nestes períodos

(Aristotle, 1942; Hamburguer & Hamilton, 1951).

Em aves, após a caracterização do eixo rostro - caudal, observa-se a

formação do tubo neural, o qual na porção anterior origina três vesículas cerebrais o

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prosencéfalo (forebrain), mesencéfalo (midbrain) e rombencéfalo (hindbrain) a partir

das quais desenvolver-se-ão diferentes componentes cerebrais, sendo o globo ocular

originado da parte posterior do prosencéfalo, o diencéfalo (Hamburguer & Hamilton,

1951).

Ao longo do desenvolvimento embrionário de aves (E3 a E7) ocorre a

invaginação da vesícula óptica primária, o que leva a formação de uma estrutura

bilaminar, a vesícula óptica secundária. A retina neural desenvolve-se a partir da

camada mais interna deste olho primordial, enquanto a camada mais externa que está

em contato com o mesênquima, formará a esclera e a coróide, originando também o

epitélio pigmentar retiniano (Hamburguer & Hamilton, 1951). Nas primeiras semanas

do desenvolvimento retiniano, observamos uma intensa atividade mitótica das células

tronco (stem cell) em toda a superfície retiniana, sendo esta atividade regulada por

fatores mitogênicos, como o fator de crescimento transformante alfa, beta 1 e beta 3

(TGF, TGF1 e TGF3) e o fator de crescimento de epiderme ( EGF) (Reh & Levine,

1998).

A atividade mitogênica na retina começa a sofrer um progressivo

processo de diminuição que se inicia na área central em E5, sendo esta diminuição

mitótica propagada para a periferia. Em E8, observamos eventos mitóticos restritos à

região marginal denominada ora serrata ( Kahn, 1973). Entre E7 e E8, a taxa de auto-

renovação as células tronco cai para menos que 50% (Dutting e cols, 1983) e

progressivamente as células deixam o período de proliferação passando à fase de

diferenciação e migração que se estende até a pós-eclosão (P) do animal.

As primeiras células a sofrerem diferenciação (E3), a partir dos

neuroblastos retinianos, são as células da camada ganglionar. As células neuroblásticas

migram para as porções mais internas da retina onde formarão a camada de células

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ganglionares já no período E7 (Meller, 1984). Os fotorreceptores começam a sofrer

diferenciação a partir de E9, tendo sua primeira resposta elétrica detectada em E13,

sendo seu desenvolvimento contínuo até o período pós-natal. A resposta elétrica a

estímulos luminosos ocorre entre E17 e P3 onde as células já se encontram na camada

nuclear externa e suas conexões na camada plexiforme externa. Depois dos

fotorreceptores iniciarem a sua diferenciação, observa-se a formação das células

amácrinas, horizontais e células bipolares respectivamente. Ao longo do período

compreendido entre E12 a P7, ocorre o completo estabelecimento do seu sistema de

neurotransmissão e posicionamento nas respectivas camadas que formam a retina (Mey

& Thanos, 2000).

Estes fenômenos celulares e histológicos são regidos por fatores de

crescimento, como o fator de crescimento de fibroblasto (FGF), fator neurotrófico

derivado de células ciliares (CNTF), fator de crescimento neuronal (NGF), fator

neurotrófico derivado do cérebro (BDNF); ácido retinóico (RA); por elementos da

matriz extracelular (ECM) e moléculas de adesão celular conhecidas como N-CAM

(Mey & Thanos, 2000). Neurotransmissores como glutamato (Liets & Chalupa, 2001),

dopamina (Guimarães e cols, 2001) e o ácido gama aminobutírico (GABA) também

participam ativamente deste processo (Huang e cols 2000).

Dentro do conjunto de neurotransmissores que modulam o

desenvolvimento do sistema nervoso, o óxido nítrico (NO) tem mostrado um importante

papel nos processos de diferenciação celular e histológica ao longo do desenvolvimento

do sistema nervoso de vertebrados. Como no período de desenvolvimento retiniano as

sinalizações retrógradas e anterógradas desempenham um importante papel na

diferenciação do tecido adulto (Burek & Oppenheim, 1996), o NO por ser um gás

amplamente difusível, participa ativamente nestas duas vias de sinalização, podendo

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atuar como um neuromodulador ao longo do desenvolvimento do tecido (Bruning e

cols, 1994; Garthwaite, 1995).

O NO é uma molécula formada a partir do aminoácido L-arginina pela

ação da enzima óxido nítico sintase (NOS), sendo a atividade desta enzima dependente

dos níveis de NADPH. A NOS pode apresentar-se como três isoformas nos sistemas

biológicos, duas delas constitutivas e dependentes do complexo cálcio-calmodulina

(NOS-1 e NOS-3) e uma expressa somente quando induzida e independente de cálcio

(NOS-2) (Bredt & Snyder, 1994).

1.2. NEURÔNIOS QUE PRODUZEM NO AO LONGO DO

DESENVOLVIMENTO DA RETINA

Uma propriedade que permite a identificação de células NO-Sintase

positivas é a capacidade desta enzima de reduzir sais de tetrazoliuim a um composto de

cor azulada, o formazam, sendo por isso denominada genericamente de NADPH-

diaforase (Thomas & Pearse, 1964). A atividade da NO-Sintase pode ser inibida

utilizando análogos da L-arginina, como L-nitro-arginina (L-NARG) e L-nitro-arginina-

metil-éster (L-NAME) sendo estes compostos amplamente utilizados nas análises

bioquímicas e histoquímicas como controles negativos da atividade NO-Sintase

(Knowles e cols, 1989).

Paes de Carvalho e cols (1996) utilizaram este método histoquímico para

a identificação de neurônios NADPH-diaforase positivos e demonstraram que nos

primeiros períodos embrionários (E3- E8) é visualizada uma forte marcação da camada

de células ganglionares até a camada de neuroblastos retinianos. Em E12 e E14 a

marcação mostrou-se mais restrita à camada de células ganglionares e na recém formada

camada nuclear interna, principalmente as células amácrinas.

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Rios e cols (2000) demonstraram em E16 um aumento na marcação na

camada de células ganglionares, sendo neste período observada uma degeneração de

aproximadamente 20% das células presentes nesta camada (Hughes & McLoon, 1979).

A partir de E17 constatou-se uma forte marcação no segmento interno dos

fotorreceptores, em algumas células amácrinas e nas células ganglionares, sendo este

padrão mantido até o período de eclosão (Paes de Carvalho e cols, 1996).

É importante salientar que embora o óxido nítrico desempenhe um papel

significativo no desenvolvimento retiniano, diversos trabalhos demonstram que

elevadas concentrações deste composto podem desencadear processos de toxicidade no

sistema nervoso. Desta forma a ativação nitrérgica pode ser responsável como mediador

de eventos citotóxicos induzidos por agentes exógenos no tecido retiniano, o que

justifica a avaliação do comportamento daquele sistema frente à exposição a

xenobióticos que reconhecidamente afetam a fisiologia do sistema visual.

Dentre os compostos cuja principal ação biológica está relacionada a

alterações no sistema nervoso, principalmente nas funções visuais e motoras podemos

destacar o mercúrio (Hg), cujas propriedades ambientais e biológicas serão descritas a

seguir.

1.3. HISTÓRICO: MERCÚRIO E O HOMEM

Levantamentos históricos demonstram que o elemento químico mercúrio

(Hg) é utilizado pela espécie humana desde o ano 2.700 antes de Cristo. Neste período

já era conhecido sua capacidade de conjugação com o ouro, entretanto, somente após a

revolução industrial o mercúrio passou a ser utilizado como matéria prima para diversos

produtos industrializados, como na fabricação de celulose, lâmpadas e produtos

farmacêuticos. Esta utilização levou ao aumento gradativo do despejo deste metal nos

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diversos ecossistemas, sendo estimado que devido à atividade antropogênica é liberado

no ambiente cerca de 4.000 toneladas de Hg/ano (tn/ano), o que intensifica a sua

concentração nos diversos biomas (Lodenius & Malm, 1998).

O mercúrio do ambiente também pode ser de origem natural como

conseqüência de emissões do córtex terrestre (3.000tn/ano) e de eventuais erupções

vulcânicas (36.880tn/ano), sendo que este mercúrio, assim como o de origem

antropogênica, precipita-se nos ambientes de águas doces (200tn/ano) e de águas

oceânicas (1.000tn/ano), o que pode levar a contaminação da fauna e da flora (Lindströn

e cols, 1991).

Os problemas relacionados a ação antropogênica do mercúrio no meio

ambiente, assim como a sua interação com a espécie humana, se intensificaram a partir

das décadas de 50 e 60, quando foi relatada a morte de cerca de quarenta e oito pessoas

da cidade de Minamata no Japão, devido a ingestão de peixes intoxicados com

mercúrio. Estudos posteriores demonstraram que este metal apresenta uma intensa

capacidade de acúmulo biológico e nos ecossistemas marinhos peixes podem armazenar

grandes quantidades de mercúrio e promover fenômenos de intoxicação nos indivíduos

que os consomem (Cossa, 1996). A introdução do mercúrio no ambiente marinho,

promove o acúmulo deste metal nos diversos níveis tróficos da cadeia alimentar, onde

organismos que ocupam níveis mais elevados tendem a apresentar maior concentração

de mercúrio em sua constituição (Wren, 1986). No caso de Minamata, a quantidade de

mercúrio por unidade de peso dos peixes superava mil vezes a concentração de

mercúrio presente na água (Cossa, 1996).

Uma característica importante do mercúrio no ambiente é a capacidade

de apresentar-se em uma ampla variedade de formas químicas, podendo estas ser

inorgânicas ou organometálicas, sendo característico fenômenos de interconversão entre

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estas formas. Jansen & Jernelöv (1969) demonstraram que o mercúrio inorgânico pode

ser convertido a mercúrio orgânico pela ação de bactérias presentes no ambiente

aquático.

Estas observações foram importantes para a caracterização do ciclo do

mercúrio no ambiente (Figura 2). A origem antropogênica ou natural é emitido na forma

de vapor de mercúrio (Hg°) e posteriormente convertido para forma iônica de Hg+2

(solúvel em água). Essa forma é rapidamente arrastada pelo vento e pela chuva

chegando aos rios e oceanos. No ambiente aquático o mercúrio pode ser novamente

reduzido para a forma Hg° e ser devolvido a atmosfera, ou pode incorporar-se ao

sedimento aquático ficando na forma inativa de cinábrio (HgS).

Uma via alternativa no ciclo biogeoquímico do mercúrio no ambiente

ocorre quando a forma solúvel sofre um processo de metilação, tal processo é mediado

pela ação de bactérias anaeróbias sulforredutoras, culminando na formação de um

composto bastante estável denominado de metilmercúrio (Jansen & Jernelöv, 1969).

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Figura 2: Ciclo do mercúrio no meio ambiente (modificado de Wasserman, e cols

2002)

Sedimento

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O metilmercúrio (MeHg), assim como o dimetilmercúrio (Me2Hg),

correspondem as formas que predominantemente são incorporadas na cadeia alimentar,

principalmente devido a sua capacidade de penetração e acúmulo nos sistemas

biológicos (EPA, 1980). A meia vida biológica do MeHg é de aproximadamente dois a

três anos, esta propriedade é responsável pelos níveis elevados de MeHg observados em

peixes carnívoros que são consumidos continuamente pela população, o que amplia os

riscos de intoxicação por este metal pesado ( WHO, 1991).

A intoxicação pelo MeHg se dá predominantemente a partir da dieta e

dependendo dos níveis de contaminação do ambiente a exposição pode ocorrer pelas

vias aéreas ou pelo consumo de água. O consumo de peixes intoxicados representa a

principal fonte de entrada do MeHg nos seres humanos (WHO, 1990). A Organização

Mundial de Saúde (WHO, 1989) estabeleceu que o valor máximo de consumo humano

admissível é de 0,5g de mercúrio por grama de peixe por dia e para exposições a

vapores o limite é de 0,05mg de mercúrio/m3.

No que concerne à região amazônica, esta se tornou alvo de grandes

eventos de contaminação pelo mercúrio, principalmente a partir dos processos

desordenados de extrativismo mineral que se iniciaram nesta região nas décadas de 70 e

80.

O mercúrio foi amplamente utilizado nos processos de exploração e

aproveitamento do ouro (garimpagem), onde aquele foi comumente adicionado ao ouro

por processos gavimétricos para separá-lo dos outros minerais. O excesso de mercúrio

deste processamento é liberado por procedimentos de lavagens ou por evaporação,

fazendo que o mercúrio entre em contato direto com o ambiente, favorecendo o

fenômeno de biotransformação na água e a sua dispersão na atmosfera ( Fernandes,

1989).

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O mercúrio ao se estabelecer no ambiente aquático, principalmente na

forma de MeHg, passa a representar um grande risco para a população ribeirinha local,

visto que a principal fonte nutritiva protéica se dá pelo consumo de peixes presentes

neste ecossistema (Harada e cols, 2001; Pinheiro e cols, 2005)

Análises feitas em amostras de cabelo da população ribeirinha da região

amazônica têm demonstrado claras diferenças de concentrações entre os indivíduos

analisados, sendo maior os valores encontrados naqueles que se alimentam de peixes

carnívoros (Eve e cols, 1996). Outros resultados obtidos de pessoas expostas ao MeHg

que vivem a margem do Rio Negro-AM, não demonstraram diferença significativa na

quantidade de mercúrio presente no cabelo de crianças e adultos submetidos a mesma

dieta, no entanto, o fenômeno de exposição sazonal ao mercúrio nesta região mostrou

que homens apresentam sempre maiores concentrações que as mulheres (Barbosa e cols,

2001).

Em algumas áreas da região amazônica, estimou-se uma ingestão diária

na ordem de 100g de MeHg/dia, uma quantidade muito maior que o limite máximo

recomendado pela organização mundial de saúde (WHO, 1989). Apesar deste intenso

processo de ingestão, nenhum caso claro de sintomas semelhantes aos observados nos

indivíduos de Minamata foi descrito na região amazônica, contudo, Lebel e cols (1998),

demonstraram alterações neurológicas em indivíduos que foram intoxicados com MeHg

nesta região, sendo estas alterações proporcionais às concentrações de MeHg presentes

no cabelo dos indivíduos ( >50g/g ).

Todas estas observações justificam os estudos relacionados à intoxicação

mercurial em nossa região, visto que, devido o seu poder bioacumulativo e tóxico a

presença deste elemento nos ecossistemas amazônicos, em médio e longo prazo, pode

tornar-se um problema de saúde pública, fazendo-se importante as análises voltadas à

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elucidação dos mecanismos de toxicidade causada por este metal, assim como, aos

possíveis mecanismos de proteção contra sua ação tóxica.

1.4. METILMERCÚRIO E O SISTEMA NERVOSO CENTRAL

1.4.1 Absorção e Incorporação

A intoxicação começa pela ingestão de peixes ou outros alimentos

contaminados com MeHg que penetra no trato gastrointestinal, onde é facilmente

absorvido devido a sua solubilidade em lipídeos. Na corrente sangüínea o mercúrio é

amplamente distribuído para os diversos tecidos, sendo que em humanos esta

distribuição ocorre após poucos dias de ingestão (WHO, 1990).

É bem descrito o poder de associação do MeHg a moléculas que contém

grupamentos sulfidrila (-SH), esta propriedade faz do MeHg um composto com alta

afinidade por proteínas, peptídeos e aminoácidos. Um fenômeno relacionado a esta

característica é a sua forte associação com a glutationa (GSH) e o aminoácido L-cisteína

presentes no sangue e em diversos outros tecidos, este processo intensifica o transporte

do MeHg através da barreira hemato-encefálica para o sistema nervoso central (SNC).

Uma vez no SNC, o mercúrio pode se dissociar destes compostos e ali se acumular em

grandes quantidades (Aschner e cols, 1990a; Aschner e cols 1990b). Mottet e cols

(1994) descreveram que o MeHg no SNC sofre um gradual processo de demetilação

transformando-se em mercúrio inorgânico (I-Hg) que é pouco solúvel, o que favorece o

seu acúmulo dentro das células do SNC. O mecanismo que promove este processo de

demetilação parece ser não enzimático e dependente de cádmio (Cd), sendo pouco

conhecidos os mecanismos moleculares que regem o regem. Animais tratados

previamente com as formas orgânicas do mercúrio (MeHg e Me2Hg) apresentam lesões

irreversíveis no SNC, estes efeitos foram observados poucos dias após a intoxicação

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(Chang, 1977). O grau de neurotoxicidade do MeHg depende da dose a qual o indivíduo

é exposto, assim como do tempo de exposição (Hewett & Atchison, 1991).

Análise em animais intoxicados com MeHg mostram que este composto

exerce maior neurotoxicidade nos sistemas motor e visual, sendo o cerebelo e a retina

alvos potenciais de ação de MeHg (Mottet e cols, 1994; Goto e cols, 2001). Os

mecanismos celulares relacionados a estes fenômenos neurotóxicos ainda não estão bem

esclarecidos, no entanto, vários eventos celulares e moleculares são descritos a partir de

modelos experimentais de intoxicação com MeHg.

1.4.2. O Mercúrio e o Sistema Visual

Como citado anteriormente, alterações motoras representam importantes

características em eventos de intoxicação com mercúrio, da mesma forma que estruturas

cerebrais envolvidas na atividade motora, como o cerebelo e o estriado acumulam

grandes quantidades de mercúrio em indivíduos intoxicados (Feng e cols, 2004). É

importante salientar que embora a toxicidade nestas estruturas neurais sejam bem

descritos, os mecanismos responsáveis por este acúmulo ainda não estão totalmente

elucidados.

Dentro deste contexto, uma série de trabalhos descreve que outras

regiões do sistema nervoso central, como a retina, têm a propriedade de acumular

mercúrio quando intoxicados (Warfvinge & Boom, 1996; 2000 ). Associado a estas

observações, Urban e cols (2003) demonstraram que indivíduos expostos a níveis

mercúrio, que estão abaixo do estipulado pela organização mundial de saúde,

apresentam significativos déficits no processo de discriminação de cor, sendo este

fenômeno diretamente proporcional à dose de mercúrio o qual foram expostos. A

ratificação destes achados foi observada a partir dos resultados produzidos por Ventura

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e cols (2004) que utilizaram análises por eletroretinografia multifocal. Neste trabalho os

autores demonstraram alterações visuais após fenômenos de exposição ocupacional ao

mercúrio, estas alterações sugerem que a retina representa um importante alvo da

toxicidade induzida pelo mercúrio no sistema nervoso central.

Uma outra importante característica da relação entre o mercúrio e o

sistema nervoso é a maior sensibilidade deste no período que compreende o seu

desenvolvimento (Sanfeliu e cols, 2003). No que concerne à retina, trabalhos anteriores

mostraram que alterações visuais em crianças poderiam estar associadas à intoxicação

pré-natal com mercúrio, entretanto estas alterações ainda são fruto de especulação

(Altmann e cols, 1998). Warfvinge & Bruun (2000) utilizaram primatas não humanos

como modelo experimental, para verificar um grande acúmulo de mercúrio no tecido

retiniano em indivíduos expostos durante o período pré-natal. Neste mesmo trabalho os

autores demonstraram que o processo de eliminação do mercúrio na retina em

desenvolvimento é maior do que o observado em retinas mais diferenciadas, entretanto

esta observação não descarta um possível efeito patológico deste metal na ontogênia do

tecido retiniano, como já demonstrado em outros trabalhos. De fato, se alterações

visuais estão associadas à exposição pré-natal ao mercúrio. Desta forma, é de grande

relevância que se orientem estudos voltados à caracterização dos mecanismos de ação

no tecido retiniano frente à exposição ao mercúrio, uma vez que na literatura poucos

trabalhos fazem alusão aos mecanismos moleculares que regem a toxicidade do

mercúrio neste tecido.

1.4.3. Ação nos Principais Sistemas de Neurotransmissão

Os fenômenos de biodistribuição e acúmulo do mercúrio no sistema

nervoso fazem com que este metal influencie na homeostasia de diversos sistemas de

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neurotransmissão, tal processo acentua significativamente os efeitos danosos induzidos

pelo mercúrio, justificando desta forma os estudos sobre o efeito do mercúrio no

sistema de neurotransmissão específico que gerencia as diferentes regiões do sistema

nervoso.

1.4.3.1. Sistema Colinérgico

Os efeitos do mercúrio no sistema colinérgico estão intimamente

relacionados a um dos principais sintomas observados em indivíduos intoxicados com

aquele metal, a perda do controle motor. De fato os estudos de Kobayashi e cols (1981)

demonstraram que camundongos intoxicados com diferentes concentrações de

metilmercúrio apresentavam diminuição significativa da atividade motora, sendo os

efeitos comportamentais semelhantes aqueles observados em camundongos tratados

com drogas que inibem a atividade da acetilcolinesterase, enzima responsável pela

síntese de acetilcolina. É importante salientar que este trabalho complementa outros

trabalhos realizados pelo mesmo grupo. Em modelos in vitro, estes autores

demonstraram que tratamento com metilmercúrio em células cerebelares promovia uma

diminuição significativa da captação de colina, um dos substratos para síntese da

acetilcolina (Kobayashi e cols, 1979).

De fato, estudos posteriores demonstraram que além do reconhecido

efeito do mercúrio na síntese de acetilcolina, este metal tem a propriedade de inibir a

atividade de receptores muscarínicos no sistema nervoso central e em linfócitos. Neste

mesmo trabalho também foi demonstrado que ocorria uma regulação positiva para a

expressão dos receptores muscarínicos. Coccini e cols, 2000, sugeriram que esta

regulação positiva poderia estar relacionada à depleção de acetilcolina como

demonstrado anteriormente nos trabalhos de Kobayashi.

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1.4.3.2. Sistema GABAérgico

O ácido gamaaminobutírico (GABA) representa no SNC um dos

principais neurotrasmissores inibitório, já que a estimulação dos receptores

GABAérgicos está associada ao influxo de íons cloreto (Cl-). Este processo promove

hiperpolarização da célula estimulada, dificultando assim o disparo do potencial de ação

(Mody e cols, 1994). Uma série de estudos descreve que alterações no sistema

GABAérgico pode está associada a quadros clínicos de epilepsia e esquizofrenia,

sugerindo que este neurotransmissor tem importante papel no controle das funções

cognitivas (Bausch, 2005).

Um dos estudos pioneiros sobre o efeito do mercúrio no funcionamento

da sinapse GABAérgica demonstrou que no córtex de ratos intoxicados ocorre uma

diminuição no sistema de captação de GABA (Araki e cols, 1981; O'Kusky and

McGeer, 1989). Yuan and Atchison (1997) relatam que a intoxicação com

metilmercúrio induz o bloqueio da estimulação por GABA no hipocampo de ratos,

favorecendo assim um hiper estímulo nestas regiões. Estes resultados forma

confirmados pelo trabalho de Fonfria e cols (2001), que utilizaram o modelo de cultura

de células para demonstrarem que o metilmercúrio pode interagir com grupamentos

sulfidrilas dos resíduos de cisteína presentes nos receptores GABAérgicos;

promovendo a alquilação destes últimos com conseqüente disfunção. Estes efeitos

induzidos pela intoxicação mercurial podem estar associados aos danos cognitivos

observados em indivíduos expostos ao mercúrio, embora estudos mais elaborados sejam

necessários para confirmar esta hipótese.

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1.4.3.3. Sistema Dopaminérgico

O sistema dopaminérgico de modo geral parece estar fundamentalmente

relacionado aos sistemas motor e cognitivo, esta observação é sustentada por trabalhos

que demonstram a relação entre a perda do controle motor e alterações de

comportamento, observadas em doenças neurodegerativas como a doença de Parkinson,

com a morte ou disfunção de neurônios dopaminérgicos no sistema nigro-estriatal

(Moore e cols, 2005). Em eventos de intoxicação com mercúrio a perda motora e

cognitiva são sintomas característicos. Trabalhos como de Cuomo e cols (1984) foram

os primeiros a associar estes déficits induzidos pela intoxicação mercurial com

alterações no sistema dopaminérgico. Posteriormente Rajanna e cols (1985)

demonstraram que a intoxicação mercurial promove diminuição da captação de

dopamina em ratos, este efeito parece relacionado à diminuição da atividade da Na+/K+

ATPase.

Assim como alterações no padrão normal de captação de dopamina,

outros trabalhos demonstraram in vitro que o mercúrio promove aumento da liberação

de dopamina no SNC (Kalisch e cols, 1996). Em modelo de intoxicação in vivo, Faro e

cols (1997) ratificaram estes resultados e demonstraram que além do aumento da

liberação de dopamina, em um fenômeno independente de Ca+, a exposição mercurial

também induz um aumento na fenda sináptica dos principais produtos do metabolismo

da dopamina o ácido dihidroxifenilacético (DOPAC) e ácido homovalínico (HVA).

Este mesmo grupo propôs que alterações na atividade do transportador dopaminérgico,

induzidas pelo mercúrio e ativação de receptores glutamatérgicos, representam um

importante mecanismo de indução da liberação de dopamina nos animais intoxicados

(Faro e cols, 2000; 2002a, 2002b).

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Na retina pouco é conhecido sobre a ação especifica da dopamina,

entretanto é sabido que ela exerce, assim como muitos neurotransmissores, um papel

importante na via de processamento da informação visual (Masson e cols, 1993).

Baseado nisso o trabalho eletrofisiológico de Herba e cols (2004) demonstraram que a

intoxicação mercurial alterava o papel da dopamina no controle das respostas celulares,

podendo este efeito estar relacionado a uma possível alteração dos receptores

dopaminérgicos presentes na retina.

1.4.3.4.Sistemas Glutamatérgico e Nitrérgico

O glutamato é o principal neurotransmissor no SNC e sua concentração

neste tecido é muito maior que a observada em outros tecidos. O glutamato é

encontrado em baixa concentração no meio extracelular em relação ao meio intracelular,

sendo este fenômeno mais evidente nos terminais nervosos (Danbolt, 2001).

Nas células do sistema nervoso, o glutamato provém principalmente da

glicose, do ciclo de Krebs ou da glutamina (ciclo glutamato-glutamina) uma vez que o

mesmo não apresenta a capacidade de atravessar a barreira hematoencefálica

(Westergaard et al., 1995). De modo semelhante a outros neurotransmissores, o

glutamato é armazenado em vesículas sinápticas e liberado por exocitose em um

processo dependente de Ca+2 (Augustine et al., 1996). Uma vez no meio extracelular,

este aminoácido pode ser captado pelos neurônios pré-sinápticos, pós-sinápticos e,

principalmente pelas células gliais.

Na célula da glia, o glutamato captado é convertido em glutamina pela

ação da enzima glutamina sintetase, e uma vez liberada no meio extracelular, a

glutamina é captada pelos neurônios, para ser então reconvertida a de glutamato,

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sendo este fenômeno mediado pela ação enzimática da glutaminase (Ottersen, 1996)

(Figura 3).

O glutamato desempenha importante papel em diversos processos

fisiológicos, tais como, na transmissão sináptica e na plasticidade neuronal envolvida

em processos cognitivos relacionados à memória e aprendizado. O glutamato também

desempenha importante papel nos processos relacionados ao desenvolvimento do

sistema nervoso central, como na indução sináptica (Quinlan, 1999), migração (Rossi &

Slater, 1993), diferenciação e morte celular (Rabachi, 1992).

As principais vias eferentes e aferentes corticais utilizam o glutamato

como neurotransmissor, assim como os numerosos circuitos excitatórios locais no

córtex, hipocampo, cerebelo e retina (Miller & Slaughter, 1986; Salt & Herrling, 1991).

A ação glutamatérgica é atribuída a sua capacidade de ativar uma

variedade de proteínas receptoras localizadas na membrana plasmática dos neurônios

pós-sinápticos. Estas proteínas foram classificadas como receptores ionotrópicos e

metabotrópicos, sendo aqueles ionotrópicos passivos de ativação pelo N-metil-D-

aspartato denominados tipo NMDA. Os receptores ionotrópicos passivos de ativação

pelo ácido propiônico--amino-4-hidroxi-5-metil-4-isoxazol] (AMPA) ou ao ácido

caínico são denominados receptores tipo AMPA e Cainato respectivamente.

É importante salientar a existência de oito tipos de receptores

glutamatérgicos chamados metabotrópicos pois estão associados a proteína G, sendo

estes do tipo mGluR1 à mGluR8 (Conn & Pin, 1997; Ozawa et al., 1998; Yang,

2004).

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Figura 3: Representação do ciclo glutamato-glutamina responsável pelo metabolismo

do neurotransmissor glutamato no sistema nervoso central. Fonte: Danbolt, 2001.

Glutamato

Glutamato

Glutamina

Glutamina sintetase

Glutamina

Glutamato Glutaminase

Glutamina

Célula Glial

Neurônio

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No tecido retiniano o glutamato é armazenado e liberado pelas células

fotorreceptoras, bipolares, amácrinas e ganglionares, apresentando-se como o principal

neurotransmissor excitatório responsável pelo processo de fototransdução (Kalloniatis

& Napper, 1996). Na camada externa da retina, os fotorreceptores liberam

continuamente glutamato, sendo essa liberação modulada pela emissão de luz. No meio

extracelular, o glutamato ativa diferentes receptores glutamatérgicos expressos na

membrana das células bipolares e horizontais. Na camada plexiforme interna, o

glutamato é liberado por dois tipos de células bipolares: células bipolares-ON, que

liberam o neurotransmissor na presença de luminosidade e células bipolares-OFF, que

liberam o glutamato no escuro. As células amácrinas e ganglionares são alvos da

liberação de glutamato pela camada plexiforme interna (Copenhagen & Jahr, 1989;

Rauen et al., 1996) (Figura 1).

Na retina e nas demais regiões do SNC, os receptores glutamatérgicos

são responsáveis pela transmissão sináptica excitatória rápida, estando envolvidos em

eventos adaptativos e fisiopatológicos como plasticidade neuronal e excitotoxicidade

(Ozawa et al., 1998). De fato esta ultima propriedade da ação glutamatérgica está

fortemente associada à hiper-estimulação de receptores ionotrópicos de glutamato.

A excessiva ativação dos receptores de membrana levaria a

despolarização prolongada da célula neuronal, sendo este fenômeno relacionado ao

constante in fluxo de íons positivos como o Ca+2 e Na+. A despolarização se iniciaria

com a ativação de receptores AMPA com subseqüente ativação dos canais de sódio

dependentes de voltagem. No entanto, quando a célula torna-se permanentemente

despolarizada, os receptores NMDA são desbloqueados com a liberação do magnésio

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(Mg+2), ficando, assim, disponíveis para ativação (Yang, 2004). Os receptores NMDA

apresentam-se como os principais responsáveis pela entrada de cálcio na célula.

O aumento da concentração interna de íons como o Ca+2 do neurônio

ativa permanentemente, uma cadeia de eventos bioquímicos potencialmente destrutivos

que poderiam resultar em morte neuronal. Os principais eventos envolvidos na

neurotoxicidade incluem: o aumento da liberação de glutamato; a ativação de proteases,

lipases e cinases que causam lesões na membrana; estimulação de cascatas

inflamatórias; ativação gênica e ativação da enzima óxido nítrico sintase (NOS)

responsável pela produção do radical livre óxido nítrico (NO) (Trotti, 1998) (Figura 4).

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Figura 4: Efeitos excitotóxicos do glutamato no sistema nervoso central desencadeado

pelo aumento da concentração intracelular de cálcio (Ca++). Fonte: Doble, 1999.

cinas

Dano mitocondrial

Dano na membrana

Dano nuclear

Peroxidação lipídica

Radicais Livres

Perda de Energia

despolarização

Receptor NMDA

Receptor AMPA

Canal de Sódio dependente de

Voltagem

Canal de Cálcio dependente de

Voltagem

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1.4.3.5.Sistema Nitrérgico

O mecanismo pelo qual o MeHg altera a atividade da NO-Sintase

provavelmente ocorre pela estimulação dos receptores glutamatérgicos do tipo NMDA,

o que elevaria os níveis intracelulares de cálcio, com a conseqüente estimulação da NO-

Sintase via o complexo Ca+2-calmodulina. Shinyashiki e cols (1998) demonstraram que

no cerebelo de ratos intoxicados com MeHg há um aumento na atividade da NO-

Sintase, assim como dos principais produtos do metabolismo do NO, nitrito e nitrato

(NO2-/NO3

-). Estes resultados sugerem que a neurotoxicidade causada pelo MeHg no

cerebelo pode estar relacionada com a produção de NO em virtude do aumento da

atividade da NO-Sintase no córtex e no cerebelo. A intoxicação com MeHg aumenta a

atividade da NO-Sintase sem alterar os mecanismos pré-transcripcionais de nenhuma

das suas isoformas (Himi, e cols 1996; Yamashita e cols 1997)..

Estes mecanismos de ação do MeHg sob a atividade da NO-Sintase são

bem esclarecidos nas regiões corticais e cerebelares, no entanto, não é bem claro se

estes eventos celulares, assim como os outros descritos anteriormente ocorrem em

outras regiões do sistema nervoso como na retina.

Como descrito acima a excitoxicidade induzida pelo excessivo estímulo

de receptores glutamatérgicos pode estar associada à ativação de diferentes vias, desta

forma o mercúrio pode induzir indiretamente diferentes mecanismos de

excitotoxicidade nas diferentes regiões do SNC. Em cada caso, é importante a

caracterização do mecanismo de toxicidade do mercúrio. Estudos na retina são de

grande importância e podem servir de subsídios para prevenção e tratamento, tendo em

vista que alterações visuais são comuns em indivíduos expostos ao mercúrio em

períodos pré ou pós-natais. Como o sistema nitrérgico apresenta-se como um

protagonista, tantos em eventos relacionados ao desenvolvimento retinianao, quanto em

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mecanismos de toxicidade, torna-se interessante avaliar a relação entre a toxicidade

induzida pelo mercúrio com a ativação nitrérgica nas células retinianas.

1.5. RESISTÊNCIA CELULAR AO MeHg

Os processos patológicos e bioquímicos causados pelo MeHg são

amplamente estudados a partir do momento que este composto apresentou-se como um

importante agente neurotóxico. Outro importante ponto a ser abordado são os

mecanismos de defesa que a maquinaria celular apresenta contra o estresse causado pelo

mercúrio. Estas estratégias podem ser agrupadas dentro de três categorias gerais: (1)

modificações químicas do mercúrio para neutralizar sua toxicidade, (2) excreção por um

transporte ativo minimizando sua concentração ou (3) modificação ou expressão de

proteínas que minimizem o estresse oxidativo causado por este metal.

Uma forma elegante de proteção é adotada por bactérias que vivem em

ambientes com grandes concentrações de mercúrio. Estes organismos são dotados de

famílias gênicas organizadas em operons, ou seja, genes codificam proteínas que atuam

em uma mesma via metabólica (Figura 5).

Quando o mercúrio penetra nestas células ele é rapidamente conjugado a

uma proteína denominada de merR, sendo que esta proteína, associada com o mercúrio,

ativa a região promotora de outros cincos genes que se encontram lado a lado no

cromossomo bacteriano ( merP, merT, merA, merD e merB). A partir de sua expressão,

a proteína merP é transportada para o espaço periplasmático e conjuga-se ao mercúrio

presente neste local; uma vez conjugada, esta proteína transfere este mercúrio para uma

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proteína transportadora (merT) que transporta o mercúrio para o citoplasma da célula.

No citoplasma, este mercúrio sofre a ação da proteína merB, que retira grupamentos

alkil (metil, etil), promovendo a formação da forma inorgânica de mercúrio (Hg+2),

sendo este utilizado pela proteína mercúrio redutase (merA) que reduz a forma

inorgânica para forma de Hg°. Esta forma caracteriza-se por ser extremamente volátil, o

que promove sua saída da célula (Sarafian e cols, 1996). A introdução deste conjunto de

genes em algas é bastante utilizado em processos de descontaminação de ambientes cuja

concentração de mercúrio é elevada. (Bizily e cols, 1999).

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Figura 5: Ativação e regulação do operon Mer em bactérias ( Modificado de Serafian e

cols, 1996).

MeHg

Mer R Mer T Mer P Mer A Mer D Mer B RP

MER R

MeH MER B

MeH

Hg+2

MER A

Hg0

MER T

MeHg MeHg

MeHg MER P

DNA

Citoplasma

MP

Periplasma

Extracelular

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Organismos eucariotos não dispõem deste coordenado mecanismo de

proteção contra o mercúrio, com isso, uma estratégia alternativa é a utilização das

chamadas metalotioneínas (Figura 6A) que correspondem a proteínas de baixo peso

molecular e ricas em grupamentos de cisteína (Hemer, 1986). Estas proteínas ligam-se

fortemente a metais pesados e a radicais livres, equilibrando com isso o ambiente

celular e diminuindo os efeitos neurotóxicos destes compostos. Rising e cols (1995)

demonstraram que astrócitos em cultura expressam metalotioneínas após intoxicação

com mercúrio e cádmio, sendo que esta expressão diminui a ação tóxica causada por

estes metais. Existem três isoformas conhecidas de metalotioneínas, sendo todas elas

expressas no SNC (Bauman & Klassen, 1993, Stankovic e cols, 2003). Apesar das

metalotioneínas representarem um importante mecanismo de defesa celular contra a

ação de metais pesados, o principal mecanismo que a célula eucariótica utiliza para este

fim é a glutationa (Meister, 1994).

1.6. O SISTEMA GSH

A Glutationa é um tripeptídeo (-glutamicilcisteinilglicina) que é

sintetizado em dois passos bioquímicos, o primeiro pela ação da -glutamicilcisteína

sintetase, que promove a ligação entre cisteína e glutamato, formando -

glutamicilcisteína (-GluCys), e um segundo que é catalisado pela ação da glutationa

sintetase, que une a este dipeptídeo o aminoácido glicina formando a glutationa (-

glutamicilcisteínaglicina) (Figura 6B).

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No SNC, a síntese de glutationa é dependente dos níveis de cisteína

presentes no meio (Figura 7). Outros estudos também demonstraram que a síntese de

glutationa em neurônios é em sua grande maioria dependente da síntese do precursor -

glutamicilcisteína por astócitos, sendo este captado pelo neurônio onde ocorre o passo

final para formação do tripeptídeo (-glutamicilcisteínaglicina) (Bannai e cols, 1984,

Patrick, 2002). A partir de sua síntese podemos encontrar a glutationa no meio

intracelular na sua forma oxidada (GSSG) ou na sua forma reduzida (GSH) como

mostrado na figura 3B e 3C, sendo a conversão de GSSG a GSH catalisada pela enzima

glutationa redutase (GR). Uma outra enzima relacionada com a formação de glutationa,

a glutationa peroxidase (GPx), atua no SNC como o principal agente de transformação

do superóxido de hidrogênio (H2O2) em água, sendo esta atividade depende da

quantidade de GSH no meio. Neste processo a forma GSH é transformada em GSSG.

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Figura 6: Representação da metalotioneína em A, sendo mostrado no centro colorido a

região rica em grupamentos cisteína. Em B e C temos representado a forma de

Glutationa reduzida e glutationa oxidada respectivamente.

C

A B

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Figura 7: Participação das células neuronais e gliais no metabolismo da glutationa

(GSH). Fonte: Dringen, 2000.

Célula da Glia Neurônio

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Todas estas considerações sobre sistema GSH demonstram que seu

funcionamento é fundamental para a manutenção da homeostasia celular, desta forma é

importante o conhecimento do papel dos principais transportadores em células

neuronais e gliais que promovem a síntese de GSH assim como sua relação com o

sistema glutamatérgico.

No SNC, o transporte de glutamato é realizado, principalmente, pelos

transportadores de aminoácidos excitatórios (EAATs), no entanto, outros mecanismos

pelos quais pode ocorrer a entrada de glutamato na célula já estão sendo descritos. Uma

grande variedade de transportadores transmembrana foram identificados e

caracterizados pelos diferentes sistemas que os mesmos utilizam para realizar o

transporte de diversos aminoácidos. Esses sistemas, por sua vez diferenciam-se pela

dependência ou não a determinados íons.

Todos os cincos transportadores de glutamato citados anteriormente são

conhecidos como transportadores sódio-dependente de alta-afinidade (Bridges et al.,

2005). Essas proteínas transmembrana realizam a captação de aminoácidos

dicarboxilados, como glutamato e aspartato por um sistema denominado de XAG-,

caracterizado como o principal responsável pelo transporte de glutamato no sistema

nervoso central (Danbolt, 2001). Por esse sistema também são transportados

aminoácidos como a cisteína e cistina (Bukowski et al., 1995; Knickelbein et al., 1997).

Um outro mecanismo para transporte de aminoácidos neutros foi descrito

e apresenta-se, também, como um transportador dependente de Na+. Por esse sistema,

conhecido como ASC (ASCT1 e ASCT2), são transportados, preferencialmente,

aminoácidos como a serina, alanina, treonina e cisteína. Esse transportador pode realizar

a captação de glutamato na sua forma neutra, apesar de apresentar baixa afinidade por

esse substrato (Utsunomiya-Tate et al., 1996). Bannai (1986) descreveu um mecanismo

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de transporte do aminoácido cistina, em fibroblastos humanos que é feito independente

de íons, apenas com a atividade de um canal de cloreto. Por esse sistema, o transporte

de cistina é acoplado a saída de uma molécula de glutamato, e devido a esta

característica, alguns autores o denominam de “trocador glutamato-cistina”. Esse

transportador apresenta afinidade por substratos como L-homocisteato, L--

aminoadípico e quisqualato (McBean, 2002).

Esse modelo de transporte, denominado de sistema XCG-, também, foi

descrito em hepatócitos, células alveolares do tipo II, macrófagos peritoniais e células

endoteliais humanas (Ishii et al., 1992). No SNC, o sistema XCG- foi identificado em

culturas primárias de neurônios (Sagara et al., 1993) e astrócitos (Allen et al., 2001;

Gochenauer & Robinson, 2001), células de glioma C6 (Cho & Bannai, 1990), gliomas

humanos (Ye et al., 1999) e microglia (Piani & Fontana, 1994).

O transporte de cistina para dentro da célula, tanto pelo mecanismo

dependente de sódio como pelo independente de sódio é, particularmente importante,

uma vez que a cistina captada é convertida em duas moléculas de cisteína, o principal

aminoácido precursor da molécula de glutationa (Bender et al., 2000).

Estudos in vivo e in vitro demonstraram que os níveis de glutationa são

maiores nos astrócitos que nos neurônios, variando, ainda, em função da região do

sistema nervoso a ser estudada (Langeveld et al., 1996; Cooper et al., 1997).

Normalmente, a taxa de liberação da glutationa pelas células gliais depende da sua

concentração intracelular e segue, aparentemente, a cinética de Michaelis-Menten

(Dringen et al., 2000). Simultaneamente a sua liberação, a glutationa é resintetizada na

tentativa de compensar a quantidade liberada e de manter constante a sua concentração

intracelular. Cho & Bannai (1990) mostraram que em células de glioma C6, a cistina

utilizada para a formação de glutationa é obtida, principalmente, a partir de seu

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transporte pelo sistema XCG-. No entanto, ainda não está claro qual dos sistemas, XAG

-

ou XCG-, é o principal responsável pelos níveis de glutationa no SNC (McBean, 2002).

Os severos danos resultantes do intenso processo de estresse oxidativo

acometem diversas regiões do SNC, entre elas, o tecido retiniano, um dos constituintes

do sistema visual. A retina apresenta uma série de características que a torna,

especialmente, vulnerável a essa condição, como: a elevada taxa de consumo de

oxigênio, alta concentração de ácidos graxos poliinsaturados na camada de células

fotorreceptoras e constante exposição à luminosidade responsável pela peroxidação

lipídica. Processos isquêmicos, muito comuns nesse tecido, podem ainda contribuir para

condições de estresse oxidativo (Huster et al., 2000).

O sistema GSH constitui o principal mecanismo de defesa celular da

retina frente a processos oxidativos, portanto, defeitos no metabolismo desse

antioxidante podem ser prejudiciais para o tecido retiniano (Schütte & Werner, 1998;

Drigen et al., 1999). No entanto, pouco se sabe a respeito dos mecanismos responsáveis

pela síntese e liberação de GSH pelas células gliais de Müller na retina; e do possível

envolvimento dos sistemas XCG- e XAG

- nesses processos, assim como se eventos de

intoxicação mercurial afetam o funcionamento destes sistemas.

Todos estes fenômenos bioquímicos que envolvem a GSH são

importantes na prevenção contra processos de estresse oxidativo que geralmente são

produzidos frente à intoxicação com metais pesados (Sarafian e cols, 1996).

Fisiologicamente quando há intoxicação por metais pesados, como MeHg, a glutationa

na sua forma reduzida atua inicialmente conjugando-se com este metal, por meio do seu

resíduo de cisteína, facilitando o transporte do mercúrio para fora da célula. A GSH

também tem a propriedade de ligar-se a radicais livres e promover a manutenção dos

grupamentos - SH das proteínas. Este tripeptídeo representa um importante marcador de

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eventos de estresse oxidativo, assim como de intoxicação por metais pesados, sendo que

a debilitação deste sistema implica em uma maior predisposição a fenômenos de

neurotoxicidade, com isso, torna-se importante nos estudos relacionados à intoxicação

com MeHg a avaliação dos níveis de glutationa presentes antes e depois do evento

tóxico (Dringen, 2000).

A toxicidade causada pelo MeHg no SNC, principalmente durante o

período de desenvolvimento, justifica os estudos relacionados aos mecanismos celulares

que regem sua ação em sítios nervosos como a retina (Clarkson, e cols, 1997). Um dos

principais alvos da neurotoxicidade causada pelo mercúrio, como citado anteriormente,

é o sistema visual e apesar da variedade de estudos relacionados à toxicidade deste

elemento em outras regiões do sistema nervoso, pouco é conhecido sobre a ação do

mercúrio nas células que compõem a retina.

Dentro deste contexto, utilizaremos um modelo de estudo in vitro para

avaliar alguns fenômenos celulares e moleculares, como alterações nos sistemas

nitrérgico, glutamatérgico e de GSH, que podem estar envolvidos na neurotoxicidade

causada pelo MeHg nas células de retina, já que culturas celulares de retina nos

possibilitam visualizar com bastante clareza as respostas celulares frente a intoxicação

sem que haja a interferência de outros fatores externos presentes nos modelos in vivo.

É importante salientar que para relacionar a ativação nitrérgica com a

toxicologia do mercúrio nas células de retina em cultura, é necessário caracterizar

inicialmente em que momento do desenvolvimento in vitro este sistema apresenta-se

estabelecido, pois como citado anterirmente o sistema nitrérgico tem diferente padrão de

expresão em diferentes períodos do desenvolvimento.

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1.7. OBJETIVOS

O objetivo geral deste trabalho foi estudar o mecanismo de toxicidade

induzido pelo MeHg na retina, assim como a diferenciação do sistema nitrérgico

durante o desenvolvimento embrionário utilizando como modelo experimental cultura

de células retinianas de embrião de galinha. Verificou-se também o papel do sistema

anti-oxidante como possível proteção à intoxicação mercurial.

Os objetivos específicos:

1- Avaliar o padrão de atividade e expressão da NOS em diferentes períodos do

desenvolvimento em culturas de células de retina.

2- Avaliar o papel do NGF na ativação da NOS em períodos precoces do

desenvolvimento de células retinianas mantidas in vitro.

3- Avaliar o curso temporal de captação de L-Arginina ao longo do desenvolvimento

de células retinianas mantidas in vitro

4- Avaliar a ação do NGF e anti-NGF no transporte de L-arginina ao longo do

desenvolvimento retiniano in vitro

5- Avaliar a viabilidade das culturas celulares de retina de embrião de galinha após a

intoxicação com diferentes concentrações de MeHg por diferentes intervalos de tempo

6- Avaliar o efeito da exposição ao MeHg na captação de 3H-glutamato em culturas

celulares de retina de embrião de galinha.

7- Determinar o padrão de atividade da NO-Sintase em culturas celulares de retina de

embrião de galinha intoxicadas com diferentes concentrações de MeHg por diferentes

intervalos de tempo.

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8- Avaliar o efeito da exposição ao MeHg na captação de 3H-cisteína em culturas

celulares de retina de embrião de galinha.

9- Determinar os níveis totais de GSH em culturas celulares de retina de embrião de

galinha intoxicadas com diferentes concentrações de MeHg por diferentes intervalos de

tempo.

10- Estudar o possível efeito protetor de substâncias antioxidantes (GSH e Cisteína),

meio condicionado por células gliais nas culturas celulares de retina intoxicadas com

diferentes concentrações de MeHg

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2. MATERIAL E MÉTODOS

2.1. CULTURAS PRIMÁRIAS DE RETINA DE EMBRIÕES DE GALINHA

Os ovos Leghorn fertilizados foram gentilmente cedidos pela empresa

MAKARÚ LTDA, localizada na estrada da providência s/n- Ananindeua-PA. Os ovos

foram retirados da incubadora, banhados em etanol absoluto e posteriormente levados

para câmara de fluxo laminar onde foram abertos sob condições assépticas. Os embriões

com oito ou nove dias de desenvolvimento, datados segundo os critérios descritos por

Hamburguer e Hamilton (1951), foram colocados em placa de petri contendo meio livre

de cálcio e magnésio (CMF- calcium media free) sendo decaptados e enucleados. Os

globos oculares foram abertos em sua região anterior, de forma que possibilitou a

retirada do cristalino, juntamente com o humor vítreo. A retina foi cirurgicamente

retirada e passada para uma placa de petri contendo CMF gelado. O tecido retiniano foi

transferido para tubos de ensaio de 15ml contendo uma solução de meio DMEM

(Dulbeco’s modified Eagles’s medium) e tripsina 0,05%, sendo posteriormente

incubado por cerca de 5 minutos a 37°C. Os experimentos relacionados ao estudo do

sistema nitrérgico, o tecido retiniano não foi submetido a dissociação química com

tripsina. O período de incubação foi sucedido pela dissociação mecânica do tecido, que

consistiu de sucessivas aspirações com auxílio de uma pipeta de vidro. A suspensão

celular foi centrifugada a 500g por 1 minuto e ressuspendida em meio DMEM com 10%

de soro fetal bovino (SFB). As células foram colocadas em placas de petri de 33mm e

diluídas em DMEM com 10%SBF. A diluição foi feita para que se obtivesse cerca de 2-

3 106 células/placa. Após o plaqueamento as culturas foram mantidas em estufa a

37°C, com atmosfera constituída de 95% de ar e 5% de CO2.

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2.2. CULTURAS PRIMÁRIAS DE CÉLULAS GLIAIS DE MÜLLER DE RETINA

DE EMBRIÃO DE GALINHA.

As culturas de glia de embrião de galinha foram obtidas de ovos

fertilizados com 10-11 dias de desenvolvimento. Os ovos foram banhados em etanol

absoluto e posteriormente transferidos para uma câmara de fluxo laminar. Os olhos dos

embriões foram retirados e colocados em uma placa de petri contendo meio DMEM

sem soro. As retinas foram cirurgicamente retiradas e colocadas em tubos de 15ml

contendo 2ml de uma solução de tripsina 0,05%, sendo posteriormente incubadas em

banho-maria a 37oC por 5 minutos. Após este processo, foi feita a dissociação mecânica

do tecido, sendo as células mantidas em placas de petri de 35mm previamente tratadas

com poli-L-ornitina. As culturas foram mantidas em estufa de CO2 a 37oC por um

período de 10 dias. Neste intervalo de tempo, observou-se uma confluência celular

formada por 90% de células gliais e 10% de neurônios.

Para os experimentos de proteção, as células gliais com 15 dias de

desenvolvimento in vitro, foram tratadas com 1mM de L-cisteína diluída em DMEM

sem soro por 2h, após este período o meio foi retirado e adicionado 2ml de DMEM sem

soro sendo este meio coletado 4h depois e utilizado como meio condicionado nos

experimentos de proteção celular.

2.3. CAPTAÇÃO DE L-[H3]-ARGININA

Para avaliar o tranporte de L-arginina utilizaremos culturas com 2, 4,6 e

8 dias de desenvolvimento. Estas serão incubadas independentemente em solução

contendo L-[H3]-arginina (2,65Ci/ml),, NaCl 140 mM, KCl , 5 mM, HEPES 20 mM,

glucose 4 mM, MgCl2 1 mM, CaCl2 2 mM. Após este processo, as culturas foram

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lavadas e as células rompidas com TCA 5%, sendo o conteúdo interno de radiação

determinado por cintilação líquida. Para se verificar o efeito do NGF as culturas foram

previamente tratadas por 24h com 100ng/ml, sendo este processo seguido pela

exposição das células à L-[H3]-arginina como descrito anteriomente.

2.4. INTOXICAÇÃO DAS CULTURAS DE CÉLULAS DE RETINA COM MeHg

O metil-mercúrio foi diluído em meio DMEM sem SBF para que se

evitasse eventuais conjugações deste elemento com as proteínas presentes no soro. As

culturas retinianas com oito dias de desenvolvimento in vitro foram expostas a

diferentes concentrações de MeHg (1M, 10M, 100M e 1mM) por intervalos de 2h,

4h e 6h. O controle dos experimentos foi feito com culturas no mesmo estágio de

desenvolvimento, sendo estas expostas a meio DMEM sem SBF por intervalos de 2h,

4h e 6h. Utilizamos também culturas controles com DMEM e 10% de SBF, no entanto,

não foi observada diferença bioquímica no comportamento destas células em relação

àquelas tratadas com meio sem SBF (dados não mostrados).

2.5. MEDIDA DA VIABILIDADE CELULAR PELO MÉTODO MTT

Para avaliar a viabilidade e a neurotoxicidade celular nas culturas de

células de retina após a intoxicação com diferentes concentrações de MeHg, foi

utilizada a análise colorimétrica com o corante MTT (thiazolil blue). O princípio da

técnica baseia-se na capacidade que células viáveis apresentam de reduzir a forma

oxidada do MTT a um composto de cor azulada, sendo o monitoramento desta redução

feito por espectrofotometria como descrito por Mosman (1983).

Em placas controles e tratadas com MeHg, após a remoção do meio, foi

feita uma lavagem com PBS estéril e posteriormente adicionado 550µl de PBS e 55μl

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de MTT . As amostras foram incubadas por 4 horas, a partir das quais, foram

homogeneizadas no mesmo meio para posterior leituras da absorvância em

espectrofotômetro no comprimento de onda de 570 nm. O branco da reação foi feito

com a solução de PBS e MTT.

2.6. AVALIAÇÃO DO TRANSPORTE DE 3H-GLUTAMATO e 3H-CISTEÍNA EM

CULTURAS RETINIANAS

Para avaliar a captação de 3H-glutamato e 3H-cisteína, as culturas mistas

de células da retina controles e expostas ao MeHg serão lavadas com solução de Hank

contendo 128mM de NaCl, 4mM de KCl, 1mM de MgCl2, 2mM de CaCl2, 12mM de

glicose e 20mM de HEPES, e posteriormente, incubadas durante 5 minutos com 3H-

glutamato ou 3H-cisteína (1Ci/mL 0.2µCi/mL) e solução de Hank, de acordo com o

método descrito por do Nascimento et al. (1998). Após os cinco minutos de incubação,

as culturas serão lavadas com solução de Hank para retirada do excesso de 3H-

glutamato presente no meio. Em seguida as células serão rompidas com TCA (ácido

tricloroacético) 5%. A quantidade de 3H-glutamato presente no interior da célula será

determinada por cintilação líquida, sendo os valores expressos em percentagem da

captação do controle.

2.7. HISTOQUÍMICA PARA NADPH-DIAFORASE

Culturas de retina controles e tratadas foram feitas em lamínulas

previamente tratadas com poli-L-ornitina e fixadas com paraformadeído 5% por 30

minutos. Nos experimentos no qual utilizamos 10µM, 100µM e 1mM de MeHg por 4

horas o processo de fixação foi realizado após a intoxicação com MeHg. Após a fixação

as culturas foram mantidas em geladeira a –20oC. Durante este período foram

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preparadas duas soluções, sendo a primeira constituída de 300mg de ácido málico em

tampão TRIS pH 8.0 NaOH 5M e a segunda com 15mg de nitro blue tetrazolium

(NBT) diluído em 0,5ml de dimetil-sulfóxido (DMSO). Ambas as soluções foram

misturadas, sendo nestas adicionadas posteriormente 50mg de -NADP, 20mg de

cloreto de manganês (Mn2Cl) e 15ml de triton X-100 e o recipiente protegido da luz.

As culturas previamente fixadas, foram retiradas da geladeira e após 10

minutos incubadas por 3-4 horas a 37oC com a solução acima descrita. Após o

aparecimento da coloração nas células, a reação foi interrompida com 3 lavagens com

TRIS-HCl pH 8.0. As lamínulas foram montadas em lâminas e fotografadas

posteriormente em microscópio de luz comum.

2.8. MEDIDA DA ATIVIDADE DA NOS EM CULTURAS DE RETINA

A atividade da NOS foi medida de acordo com o método descrito por

Bredt e Snyder (1990) com pequenas modificações. O princípio do ensaio baseia-se na

capacidade da NOS de catalisar a formação equimolar de óxido nítrico e L-[H3]-

citrulina a partir da L-[H3]-arginina, em um processo dependente de NADPH e cálcio-

calmodulina.

Culturas com dois, quatro, seis e oito dias de desenvolvimento, assim

como culturas controles e intoxicadas com 10M, 100M e 1mM de MeHg por

intervalos de 2h, 4h e 6h, foram independentemente homogenadas em 1ml de tampão da

NOS ( HEPES 50mM, Valina 1mM, DTT 0,1mM e CaCl2 2mM). Foram adicionados

50l deste homogenado em tubos de ensaio bioquímico contendo: 15l de calmodulina,

10l de NADPH 1mM e 25l de L-[H3]- arginina 5.8Ci/ml. O controle negativo da

reação foi feito utilizando 15l de L-nitroarginina, que corresponde a um inibidor

irreversível da NOS. A reação foi paralisada após 30 minutos com 2ml de ácido

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triclórico (TCA 5%), sendo este processo sucedido por três lavagens consecutivas com

2ml de éter etílico absoluto. Para separação da L-[H3]-citrulina formada e a eventual L-

[H3]-arginina não convertida pela NOS, as amostras foram eluídas através de colunas

cromatográficas de trocas iônicas. Estas colunas consistem de um cilindro de vidro

contendo a resina AG50-WX8 (SIGMA) que foram previamente ativadas com NaOH

1N. Esta ativação favorece a retenção da L-[H3]-arginina e a passagem da L-[H3]-

citrulina formada pela NOS. Após a eluição, cerca de 200l das amostras individuais

foram adicionadas em filtros de cintilação os quais foram secos a 100°C por 30 minutos.

O nível de radioatividade presente em cada experimento foi determinado utilizando

espectrofotometria por cintilação líquida e os resultados expressos em fmoles de L-[H3]-

citrulina/mg de proteína/minuto.

2.9. MEDIDA DOS NÍVEIS DE GLUTATIONA EM CULTURAS DE CÉLULAS DE

RETINA INTOXICADAS COM MeHg

A determinação dos níveis intracelulares da forma reduzida de glutationa

(GSH) foi feita baseada no método descrito por Anderson (1969) com pequenas

modificações. O princípio desta técnica baseia-se na capacidade da GSH em reduzir o

ácido-5,5-ditiobis-2-nitrobenzóico (DTNB) para ácido nitrobenzóico (TNB), o qual

pode ser medido por espectrofotometria.

Inicialmente foi produzida uma curva de sensibilidade do DTNB para

concentrações conhecidas de GSH (0 a 15g/ml), sendo que a linearidade observada

neste intervalo de concentração nos permitiu determinar a função para o cálculo dos

níveis de GSH presente nas amostras.

As culturas controles e intoxicadas com MeHg (1M, 10M, 50M,

100M e 1mM) foram homogeneizadas em 2ml de PBS 0,1M, e colocadas em tubos de

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ensaio, sendo 1ml deste volume separado para dosagem dos níveis totais de proteínas.

No volume restante foi adicionado 1ml de TCA 10%. As amostras foram centrifugadas

a 5000rpm (rotações por minuto) por 10 minutos a 4°C, sendo o sobrenadante retirado

para outro tubo e neste adicionado 2ml de éter etílico absoluto. O éter foi

posteriormente retirado e cerca de 300l do volume restante foi adicionado em um tubo

de ensaio contendo: 600l de PBS/EDTA 1mM, 100l de GSH redutase 100u/ml e 50l

de NADPH 4mM. Após 15 minutos de reação, foi adicionado 50l de DTNB e a

formação do TNB monitorada por espectrofotometria (comprimento de onda 412nm).

Os resultados foram expressos em mol de GSH/mg de proteína por minuto.

2.10. DOSAGEM DE PROTEÍNA

Para dosagem da proteína foram utilizados 200µl da amostra diluída 10X

em NaOH 0,1N, foi adicionada em 2ml do reativo cupro-alcalino (RCA) (NaOH 0,1N;

carbonato de sódio 2%; sulfato de cobre 0,1%; e tartarato duplo de sódio e potássio

0,2%). Após 10 minutos foi adicionado o reativo fenólico Folin 2N, realizando-se a

leitura em espectrofotômetro com comprimento de onda de 750nm após 30 minutos,

como descrito por Lowry (1951).

2.11. ANÁLISE ESTATÍSTICA

Os experimentos foram realizados pelo menos duas vezes e cada grupo

experimental foi formado por n=4-6. Para comparação entre os grupos adotamos

Análise de Variância (ANOVA) utilizando o teste TUKEY post hoc do programa

INSTAT3.0

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3. RESULTADOS

3.1. ATIVIDADE DA NOS AO LONGO DO DESENVOLVIMENTO DAS

CULTURAS RETINIANAS.

Nossos resultados mostram que a atividade catalítica da NO-Sintase e a

citoquímica para NAPH-diaforase nos diferentes períodos de desenvolvimento das

culturas de retina (C2, C4, C6 e C8) apresenta um padrão de elevação gradativa e

temporal. Em C2 a atividade na NO-sintase apresentou-se baixa (11,2 fmol/mg

ptn/min), com uma pequena quantidade de L-[3H]-citrulina formada. Já em C4

observamos um aumento da formação de L-[3H]-citrulina (20,5 fmol/mg ptn/min) o que

sugere um aumento da atividade da NO-sintase neste período em relação a C2. O

aumento da atividade da NO-Sintase é gradativo e atinge o seu pico em C6 (27,6

fmol/mg ptn/min), a partir do qual não observamos mais um aumento significativo.

(Figura 8).

Estes resultados são interessantes e diferentes daqueles observados no

tecido retiniano, pois no período de C2 a atividade da enzima está baixa quando

comparada com a alta atividade da NO sintase no tecido correspondente ao mesmo

período embrionário (E8). Testamos duas possiibilidades para averiguar essas

diferenças. Uma poderia ser a disponibilidade do substrato L-arginina e a outra a

liberação de fatores tróficos para o meio extracelular induzida por despolarização. Os

resultados também demonstram que o pré-tratamento das culturas com 1mM de L-

arginina no período C2, não promove mudança significativa na atividade da NO-

Sintase, entretanto, o pré- tratamento das culturas com 500M de L-glutamato, neste

mesmo período de desenvolvimento, promove a elevação da atividade da enzima até os

níveis observados em C8. O mesmo padrão de elevação da atividade da NO-Sintase em

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C2 foi observado quando estas culturas foram pré-tratadas com potássio e 100ng de

NGF (Figura 9).

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Figura 8: Curso temporal da atividade da NO-Sintase em culturas de retina de embrião

de galinha. A atividade enzimática em função dos dias 2, 4, 6 e 8 in vitro, representados

por C2, C4, C6 e C8 respectivamente. * p 0,05 em relação a C2 (ANOVA, teste

Turkey).

0

5

10

15

20

25

30

35

C2 C4 C6 C8

Ativ

idad

e da

NO

S (fm

ol L

-[H3]

citr

ulin

e/m

g pt

n/m

in.) *

* *

Dias in Vitro

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53

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Figura 9: Fotomicrografias do Padrão histoquímico da atividade de NADPH-diaforase

em culturas celulares de retina de embrião de galinha. Em A, culturas com 2 dias de

desenvolvimento, em B com 4 dias, C com 6 dias e em D com 8 dias de

desenvolvimento. Escala 50µm.

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Figura 10: Atividade da NO-Sintase em culturas celulares de retina de embrião de

galinha no período de 2 e 8 dias de desenvolvimento in vitro. Tratamento das culturas

com diferentes agentes no segundo dia de desenvolvimento (C2) como descrito nos

métodos. * p 0,05 em relação ao controle de 2 dias não tratado (ANOVA, Turkey).

3.2. CURSO TEMPORAL DA CAPTAÇÃO DE L-ARGININA

0

5

10

15

20

25

30

35

40

C2dias C8dias Arginina Glutamato KCL NGF

Ativ

idad

e (F

mol

es [H

3]ci

trul

ina/

mg

ptn/

min

.)

* *

*

C2dias

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Uma vez que o tratamento com L-arginina não promoveu aumento

significativo da atividade da NOS, fomos observar o comportamento da captação de

L[3H]-arginina. nos diferentes períodos de desenvolvimento in vitro (2 dias, 4 dias, 6

dias e 8 dias) Nossos resultados mostram que culturas celulares de retina com dois dias

de desenvolvimento (C2) apresenta um baixo padrão de captação de L[3H]-arginina. Em

C4 observamos um aumento desta captação em relação a C2, sendo o mesmo padrão de

elevação observado em culturas com seis e oito dias de desenvolvimento (C6 e C8)

(Figura 10).

3.3. EFEITO DO NGF NA CAPTAÇÃO DE L-ARGININA

Como não houve aumento na atividade da enzima em função da

disponibilidade de L-arginina e ao mesmo tempo ocorreu um aumento gradativo no

sistema de transporte de arginina coincidente com aumento da atividade da NO-sintase

em cultura, poderia ser que algum fator trófico estivesse sendo liberado no meio. Em

células PC12, NGF promove sua diferenciação celular através da indução de NO-

sintase. É provável que NGF estivesse modulando a expressão do sistema de transporte

de arginina e o aumento desta captação estivesse aumentando a atividade da NO-sintase.

O tratamento das culturas em C2 com 100ng/ml de NGF por 24h

promoveu um aumento de aproximadamente três vezes na captação de L[3H]-arginina

em relação ao controle não tratado (Figura11).

Para ratificar o possível papel desta neurotrofina na regulação da

captação de L[3H]-arginina em culturas de retina, promovemos o tratamento das células

com 100ng/ml de anti-NGF por 24 nos diferentes períodos de desenvolvimento in vitro

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(C2, C4, C6 e C8). A figura 12, mostra que culturas tratadas com anti-NGF, ocorre

apenas um pequeno aumento na captação de L[3H]-arginina quando comparado ao

grupo controle não tratado em todos os periodos de diferenciação da cultura.

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Figura 11: Captação de L-[3H]-Aginina ao longo do desenvolvimento células de retina.

Os valores de captação estão expressos em contagens por minuto por miligrama de

proteína no período de 2 e 8 dias de desenvolvimento in vitro (* p< 0,05 em relação a 2

dias - ANOVA Turkey).

0

5000

10000

15000

20000

25000

2 dias 4 dias 6 dias 8dias

Cap

taçã

o de

L-[

H3]

-Arg

inin

a (C

PM/m

g pt

n)

*

*

*

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59

Figura 12: Efeito do NGF na captação de L-[3H]-Aginina em culturas de retina com

dois dias de desenvolvimento in vitro. Os valores da captação estão expressos em

contagens por minuto por miligrama de proteína (* p< 0,05 ANOVA Turkey).

0

2000

4000

6000

8000

10000

12000

14000

16000

18000

Controle NGF

Cap

taçã

o de

L-[

H3]

-Arg

inin

a (C

PM/m

g de

ptn

) *

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60

Figura 13: Efeito do Anti-NGF no curso temporal de captação de L-[3H]-Aginina em

culturas celulares de retina em diferentes períodos de desenvolvimento. As culturas

foram pré-tratadas por 12h com 100ng/ml de anti-NGF, sendo os valores de captação

expressos em contagem por minuto por miligrama de proteína (**p<0,05; # p<0,05-

ANOVA-Turkey)

0

5000

10000

15000

20000

25000

2 dias 4 dias 6 dias 8dias

Cap

taçã

o de

L-[

H3]

-Arg

inin

a (C

PM/m

g de

ptn

)

ControleAnti-NGF

**

**

** #

#

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61

3.4. TOXICIDADE DO MeHg EM CULTURAS CELULARES DE RETINA DE

EMBRIÕES DE GALINHA

A viabilidade das células de retina em cultura foi medida após a

exposição destas células a diferentes concentrações de MeHg (1M, 10µM e 100µM)

por diferentes intervalos de tempo (2h, 4h e 6h) e comparadas com a viabilidade de

culturas controles não intoxicadas. Nossos resultados mostram que a toxicidade causada

pelo MeHg nas culturas ocorre dependente de concentração e tempo de exposição

(figura 13). Quando as células foram expostas por 2h a 1µM de MeHg, observamos que

a viabilidade celular diminuía sensivelmente em relação ao controle. Aumentando o

tempo de exposição para 4 e 6 horas, observamos uma diminuição gradativa da

viabilidade nas culturas quando expostas a esta mesma concentração de MeHg (85% e

80% respectivamente). A toxicidade do MeHg nas culturas intensificou-se quando

utilizamos 10µM, sendo que em 2h de intoxicação, a viabilidade celular atinge 90%, em

4h temos 70% de células viáveis e em 6h apenas 51%. Em concentrações mais altas

como 100µM, o efeito tóxico do MeHg apresenta-se mais evidente, nesta concentração

com 2h de intoxicação a viabilidade das células atinge entre 80 e 90%, diminuindo para

40% em 4h e 34 % em 6h. A concentração de 1mM mostrou-se extremamente letal

para as células de retina em cultura, visto que, nas primeiras 2h de intoxicação a

viabilidade caia para 28% e em 4h e 6h para 12% e 10% respectivamente.

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62

Figura 14: Viabilidade Celular das culturas retinianas intoxicadas com diferentes

concentrações de MeHg por 2h, 4h e 6h como descrito em métodos. No eixo das

ordenadas está representada a viabilidade celular em porcentagem do controle e nas

abscissas o tempo de exposição ao MeHg.

0102030405060708090

100110120

2h 4h 6hTempo

Viab

ilida

de C

elul

ar (%

Con

trol

e)

01µM10µM100µM1mM

*

*

*

*

*

*

*

*

*

*

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63

3.5. EFEITO DO MeHg NA CAPTAÇÃO DE GLUTAMATO EM CULTURAS

CELULARES DE RETINA

Culturas retinianas expostas a 10µM de MeHg por uma hora apresentam

um sensível aumento da captação glutamato, sendo esta captação cerca de 20% maior

que a observada nas culturas controles (Figura 5), entretanto, aumentando o tempo de

exposição com esta mesma concentração, podemos observar que o MeHg induz a uma

diminuição de cerca de 50% na captação de glutamato (Figura 14 e 15).

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64

Figura 15: Captação de 3H-glutamato em culturas de retinas controles e expostas a

10µM de MeHg durante o intervalo 1H. Os resultados estão expressos em percentagem

da captação em relação ao controle (ANOVA-Turkey *p<0,05).

*

010

203040

50607080

90100110

120130

Controle MeHg (10µM)

Cap

taçã

o 3H

-Glu

tam

ato

(% d

o co

ntro

le)

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65

Figura 16: Captação de 3H-glutamato em culturas de retinas controles e expostas a

10µM de MeHg durante o intervalo 2H. Os resultados estão expressos em percentagem

da captação em relação ao controle. (ANOVA-Turkey *p<0,01).

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

110

120

130

Controle MeHg (10µM)

Cap

taçã

o 3H

-Glu

tam

ato

(% d

o C

ontr

ole)

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66

3.6. ATIVIDADE DA NO-SINTASE NAS CULTURAS DE RETINA

INTOXICADAS COM MeHg.

Para avaliar a produção de NO nas células de retina intoxicadas com

MeHg, medimos a atividade da NO-Sintase nos diferentes períodos de intoxicação

como descrito nos métodos. Nossos resultados mostram que com 2h de intoxicação não

houve mudança significativa na atividade da NO-sintase nas culturas intoxicadas com

10µM e 100µM de MeHg, entretanto, com 4h de intoxicação utilizando estas mesmas

concentrações de MeHg, a atividade enzimática da NO-Sintase apresentou-se

significativamente elevada em relação ao controle (Figura 10).

Para saber se o padrão histoquímico aprsentava-se de acordo com o

padrão bioquímico avaliamos a atividade histoquímica da NADPH-diaforase nas

culturas de retina intoxicadas com 10µM, 100µM e 1mM por 4h

Podemos observar um padrão histoquímico aumentado com 10µM

100µM em relação ao controle não intoxicado. Não foi observada atividade de NADPH-

diaforase nas culturas intoxicadas com 1mM neste mesmo intervalo de tempo (Figura

16).

No período de 6h, as culturas intoxicadas com 10µM e 100µM apresentam

atividade da NO-sintase elevada, sendo observado, uma sensível diminuição em relação

às culturas intoxicadas por 4h com estas mesmas concentrações. Não observamos

diferença significativa na atividade da enzima quando comparamos as culturas

intoxicadas com 10µM ou 100µM em nenhum intervalo de intoxicação. Para

concentração de 1mM de MeHg não foi detectada atividade da NO-Sintase em nenhum

intervalo de intoxicação analisado (Figura 17).

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67

Figura 17: Histoquímica para NADPH-diaforase em culturas de retina intoxicadas com

MeHg por 4h. Em A temos o controle não intoxicado, B culturas intoxicadas com

10µM, em C intoxicadas com 100µM e em D com 1mM. Escala 50µm.

A B

C D

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68

Figura 18: Atividade da NO-Sintase nas culturas não intoxicadas e intoxicadas com

10µM e 100µM de MeHg por 2h, 4h e 6h. No eixo das ordenadas observamos a

atividade da NO-Sintase expressa em fmol de L-[3H]-citrulina formada por mg de

proteína por minuto e no eixo das abscissas o tempo de intoxicação das culturas de

retina (ANOVA-Turkey *p<0,01).

0

20

40

60

80

2h 4h 6h

Tempo

* * * *

Controle

10µM

100µM

Ativ

idad

e de

NO

S

(fmol

L-[

3 H]-c

itrul

ina/

mg

ptn/

min

uto)

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69

3.7. NÍVEIS DE GSH EM CULTURAS DE RETINA INTOXICADAS COM MeHg

A concentração intracelular de GSH expressa em µmol por miligrama de

proteína por minuto, foi medida nas culturas de retina intoxicadas com diferentes

concentrações de MeHg, por diferentes intervalos de tempo. Os níveis de GSH

permanecem constantes nos experimentos controles, no entanto, com 1µM de MeHg em

2h de intoxicação, ocorre uma diminuição significativa da concentração intracelular de

GSH em relação ao controle. Com 4h e 6h de intoxicação, com 1µM, estes níveis

sofrem uma diminuição, apresentando uma queda de aproximadamente 50% em relação

ao controle (Figura 18).

A intoxicação das culturas celulares de retina com 10µM e 100µM de

MeHg promove uma queda acentuada dos níveis intracelulares de GSH, sendo este

fenômeno observado desde as primeiras 2h de intoxicação. Em 4h e 6h utilizando estas

maiores concentrações de MeHg, quase não se detecta os níveis de GSH nas culturas de

retina intoxicadas, estes resultados são apresentados na figura 18.

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70

Figura 19: Concentração de GSH em culturas de retina intoxicadas com MeHg por

diferentes intervalos de tempo. A concentração de GSH está representada em função do

tempo de exposição das células a diferentes concentrações de MeHg (Controle, 1µM,

10µM e 100µM- ANOVA-Turkey *p<0,05).

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

1,2

1,4

2h 4h 6h

Nív

eis d

e G

SH

(µm

ol/m

g de

ptn

/min

.)

Tempo

0

1µM

10µM

100µM

*

**

*

* *

*

**

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71

3.8. EFEITO DO MeHg NA CAPTAÇÃO DE CISTEÍNA EM CULTURAS

CELULARES DE RETINA.

Para avaliar se a diminuição dos níveis de GSH induzida pelo tratamento

com MeHg está associada com alterações no processo de captação de L-[35S]- cisteína,

culturas celulares de retina foram expostas por 1h e 2h com 10µM e 100µM de MeHg.

Nossos resultados mostram que na primeira hora de exposição às concentrações de

10µM e 100µM ocorre aumento e diminuição, significativa na captação de L-[35S]-

cisteína respectivamente. Entretanto nossos dados demonstram que aumentando o

tempo de exposição para 2h, ambas as concentrações de MeHg promoveram uma

intensa diminuição na captação deste aminoácido em relação ao controle (Figura 19 A e

19 B).

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72

Figura 20: Efeito do tratamento com diferentes concentrações de MeHg na captação de

L-[35S]- cisteína em culturas celulares de retina. No gráfico A as culturas foram

expostas por 1h ao MeHg e no gráfico B por um período de 2h. Os valores estão

expressos em percentagem do controle (*p<0,05 em relação ao controle)

0

20

40

60

80

100

120

140

160

Controle 10µM MeHg 100µM MeHg

Cap

taçã

o de

L-[3

5S]-C

iste

ína

(% C

ontr

ole)

*

*

0

20

40

60

80

100

120

140

160

Controle 10µM 100µM

Cap

taçã

o de

L-[3

5S]-

Cis

teín

a (%

Con

trol

e)

*

*

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73

3.9. AVALIAÇÃO DOS MECANISMOS DE TOXICIDADE DO MeHg NAS

CULTURAS DE RETINA

Antagonistas de receptores glutamatérgicos, um inibidor da atividade da

NOS e agentes antioxidantes foram utilizados para caracterizar o possível mecanismo

neurotóxico do MeHg em culturas celulares de retina. Nas primeiras 4h de intoxicação

com 10µM de mercúrio, observamos que aproximadamente 60% das células

permaneciam vivas. O pré-tratamento das culturas com L-NARG elevou a viabilidade

celular para cerca de 90%, resultados semelhantes foram observados com o pré-

tratamento das culturas com MK-801. O tratamento com CNQX e NBQX não

promoveu proteção contra a ação neurotóxica do MeHg em 4h de intoxicação (Figura

20). Avaliamos também a ação de antioxidantes nas culturas celulares de retina frente a

aintoxicação com 10µM de MeHg e observamos que o tratamento prévio com GSH

elevou a viabilidade nas culturas para aproximadamente 90%, este fenômeno de

proteção também foi observado após o tratamento das células com L-cisteína. O

tratamento das culturas com meio condicionado retirado de culturas de glia, que como

citado em métodos foram tratadas previamente com L-cisteína o que levaria a liberação

no meio do precursor de GSH o CysGly, promoveu uma proteção semelhante a

observada com GSH e L-cisteína, já a L-metionina não mostrou ação protetora contra o

mercúrio como mostrado na figura 21.

Ao utilizarmos 100µM de MeHg nas culturas por 4h a viabilidade celular

atingiu 41% e o pré-tratamento destas culturas com L-NARG elevou sua viabilidade,

após a intoxicação, para 71 %. MK-801 também promoveu proteção contra a ação do

mercúrio (65%), assim como observamos uma ação sinérgica de proteção quando se

utilizou MK-801+ NARG (90%) nas culturas de retina. Assim como para intoxicação

por 4h com 10µM de mercúrio NBQX e CNQX não promoveram proteção nas culturas

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74

de retina (Figura 22). Nossos resultados demonstraram também que L-cisteína (70%) e

o meio condicionado glial (60%) exerceram proteção nas culturas intoxicadas com

100µM por 4h, no entanto, o tratamento com GSH, para esta concentração de MeHg,

não exerceu atividade protetora nas células intoxicadas (Figura 23).

Procuramos avaliar também a ação das substâncias citadas anteriormente

em culturas intoxicadas por 6h com 10µM e 100µM de mercúrio. Nas culturas

intoxicadas com 10µM o pré-tratamento com L-NARG e MK-801 não se mostrou

eficiente para proteger as células contra a ação tóxica do MeHg nas culturas analisadas,

todavia, quando utilizamos o pré-tratamento com L-NARG+MK-801 a viabilidade das

culturas atinge 79,29% após a intoxicação com mercúrio (Figura 24). Também

observamos que o pré-tratamento com GSH, não protegeu as células da intoxicação

mercurial, sendo que apenas L-cisteína e meio condicionado de glia, exerceram alguma

atividade contra a intoxicação do MeHg (71% e 65% respectivamente) como mostrado

na figura 25.

Nas culturas de retina intoxicadas com 100µM de MeHg por 6h também

não se observou proteção significativa frente ao tratamento com L-NARG e MK-801,

no entanto como na intoxicação com 10µM por 6h, a combinação destes dois agentes

mostrou alguma ação de proteção nas culturas intoxicadas (Figura 26). Para esta

concentração de mercúrio, GSH também não se mostrou eficiente para proteger as

células, sendo que a viabilidade celular só foi elevada frente a utilização de L-cisteína

(60%) e meio condicionado de glia (50%) como ilustrado na figura 27.

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75

Figura 21: Ação do L-NARG e de antagonistas de receptores glutamatérgicos na

viabilidade de culturas de retina de embrião de galinha após 4h de intoxicação com

10µM e 100µ de MeHg. Os resultados estão expressos em porcentagem de células

viáveis, em relação ao controle não intoxicado, em função do tratamentos com os

diferentes antagonistas.. (* p0,05 em relação à 10µM; + p, 0,05 em relação a 100µM

de MeHg; p0,05 em relação ao controle ANOVA-Turkey).

0

20

40

60

80

100

120Con

trole

10µM

MeHg

100µ

M MeH

g

NARG+10µ

MMeHg

MK+10µ

MMeHg

CNQX+10µMMeH

g

NBQX+1

0µMMeH

g

NARG+100

µM M

eHg

MK+100

µM M

eHg

CNQX+100µ

M MeH

g

NBQX+1

00µM

MeH

g

Viab

ilida

de C

elul

ar (%

Con

trole

)

* *

+ +

#

# # #

# #

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76

Figura 22: Ação de agentes antioxidantes e de meio condicionado de glia (MCG) na

viabilidade celular de culturas de retina de embrião de galinha após 4h de intoxicação

com 10µM e 100µM de MeHg. Os resultados estão expressos em porcentagem de

células viáveis, em relação ao controle não intoxicado, em função do tratamentos com

os diferentes agentes e com o meio condicionado glial (* p0,05 em relação a 10µM de

MeHg; + p<0,05 em relação a 100µM; p0,05 em relação ao controle ANOVA-

Turkey).

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

110

Contro

le

MeHg 10

µM

MeHg 10

0µM

GSH 500µ

M+ 10µM

MeH

g

Cist 50

0µM+1

0µM M

eHg

MCG+10µM M

eHg

GSH 500µ

M+ 100µ

M MeH

g

Cist 50

0µM+1

00µM

MeH

g

MCG+100µ

M MeH

g Via

bilid

ade

Cel

ular

(% d

o C

ontro

le)

* * *

+ + #

# #

# #

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77

Figura 23: Ação do L-NARG e de antagonistas de receptores glutamatérgicos na

viabilidade de culturas de retina de embrião de galinha após 6h de intoxicação com

10µM e 100µM de MeHg. Os resultados estão expressos em porcentagem de células

viáveis, em relação ao controle não intoxicado, em função do tratamentos com os

diferentes antagonistas. (* p0,05 em relação a 10µM de MeHg; + p<0,05 em relação a

100µM p0,05 em relação ao controle ANOVA, Turkey test).

#

0

20

40

60

80

100

120

Contro

le

10µM

MeHg

100µ

M MeH

g

NARG+10µ

MMeHg

MK+10µ

MMeHg

MK+NARG++1

0µMMeH

g

NARG+100

µM M

eHg

MK+100

µM M

eHg

MK+NARG+10

0µM M

eHg

Via

bilid

ade

Cel

ular

(% C

ontr

ole) *

# #

#

# #

# #

+

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78

Figura 24: Ação de agentes antioxidantes e de meio condicionado de glia na viabilidade

de culturas de retina de embrião de galinha após 6h de intoxicação com 10µM e 100µM

de MeHg. Os resultados estão expressos em porcentagem de células viáveis, em relação

ao controle não intoxicado, em função do tratamentos com os diferentes agentes e com

o meio condicionado glial (* p0,05 em relação a 10µM de MeHg; + p<0,05 em relação

a 100µM p0,05 em relação ao controle (ANOVA, Turkey test).

0102030405060708090

100110120

Contro

leMeH

g 10µM

MeHg 10

0µM

GSH 500µ

M+ 10µM

MeH

g

Cist 50

0µM+1

0µM M

eHg

MCG+10µM M

eHg

GSH 500µ

M+ 100µ

M MeH

g

Cist 50

0µM+1

00µM

MeH

g MCG+10

0µM M

eHg

Viab

ilida

de C

elul

ar (%

do

cont

role

)

* *

#

# #

# #

* #

# #

+ +

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79

4. DISCUSSÃO

Hoje se sabe que NO parece participar de inúmeros eventos no SNC.

Pode ser considerado um mensageiro químico que em concentrações aumentadas parece

estar envolvido na neurotoxicidade. Participa também dos fenômenos relacionados a

diferenciação e maturação do SNC. Para esclarecer a presença de NO durante o

desenvolvimento da retina e relacionar aos eventos de toxicidade induzidos pelo MeHg

utilizamos neste trabalho um modelo de cultura de células de retina de embrião de

galinha. Podemos dizer que existe uma estreita correlação entre NO, estresse oxidativo,

neurotoxicidade induzida por MeHg.

Nos estudos da ontogênese do sistema nitrégico nestas culturas,

demonstramos que nos primeiros dias de desenvolvimento in vitro (C2) a atividade

bioquímica da NO-Sintase, bem como a histoquímica para NADPH-diaforase,

apresentam-se significativamente reduzidas, estes resultados são bastante interessantes,

visto que, no oitavo dia de desenvolvimento embrionário (E8), período que nossas

culturas são produzidas, Ientile e cols (1996) e Paes de Carvalho e cols (1996 e 1997)

independentemente demonstraram um pico de atividade da NO-Sintase na retina de

galinha. Estes trabalhos se propunham a estudar a diferenciação do sistema nitrergico

durante o desenvolvimento retiniano. Foi observado que a atividade da NO-Sintase e o

padrão histoqímico de NADPH-diaforase apresentavam-se diminuídos em E3, atingiam

um pico em E8 a partir do qual diminuíam progressivamente até o período pós-eclosão

(P1), resultados semelhantes em cultura de neurônios mesencefálicos de ratos foram

descritos por Hilbig e cols (2001). Nossos resultados demonstraram que tanto a

atividade bioquímica da NO-Sintase quanto a histoquímica para NADPH-diaforase, a

partir de C2, aumentavam progressivamente até o período C6 e aparentemente se

mantinham constantes até C8.

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80

A partir destes resultados demonstramos que culturas celulares de retina,

reproduzem os primeiros momentos do comportamento do tecido retiniano in vivo

quando focalizamos a atividade da enzima NO-Sintase. Essas observações ratificam a

importância deste modelo experimental para o estudo de diferenciação do sistema

nitrérgico durante a ontogênese da retina, bem como das demais regiões sistema

nervoso central.

O curso temporal do desenvolvimento do sistema nitrérgico na retina é

bem descrito em modelos in vivo (Ientile e cols ,1996 ; Pas de Carvalho e cols, 1997),

entretanto, os mecanismos celulares que controlam este padrão de desenvolvimento

ainda não são bem esclarecidos, com base nestas observações procuraremos avaliar o

curso temporal do desenvolvimento do sistema nitrérgico in vitro bem como alguns

possíveis mecanismos que o regulam.

Apesar da quantidade de trabalhos produzidos sobre o desenvolvimento

do sistema NO-Sintase, muito pouco se sabe sobre os mecanismos que regulam este

sistema ao longo do desenvolvimento da retina. Como em nossas culturas reproduzimos

o comportamento do tecido in vivo, procuramos testar em primeira instância se algum

fator interno, no momento da dissociação do tecido foi perdido, ocasionando assim a

diminuição da atividade NO-Sintase e de NADPH-diaforase. Para isso procuramos

testar a via clássica de ativação da NO-Sintase tratando as células de retina com L-

glutamato no período C2.

Interessantemente este aminoácido elevou a atividade da NO-Sintase

para um padrão semelhante ao observado no oitavo dia in vitro (C8) demonstrando que

toda via celular de ativação desta enzima apresenta-se íntegra nas culturas no período de

desenvolvimento in vitro correspondente a C2. Estes resultados sugerem que algum

fator presente no ambiente in vivo foi perdido no momento do preparo das culturas e

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que este fator ao ser progressivamente produzido nas culturas, promove elevação do

padrão de atividade até os períodos de C6 e C8.

Dentro deste contexto, procuramos evidências sobre a possibilidade de

este fator ser produzido no ambiente intracelular nas culturas de retina. Testamos esta

hipótese induzindo uma despolarização das células com potássio. Este íon em altas

concentrações produz uma despolarização nas células em culturas e um concomitante

aumento na atividade da NO-Sintase de forma semelhante aquela observada para o

glutamato. A hipótese sugerida é que a despolarização induzida por potássio ou

glutamato pudesse estar liberando algum fator trófico no meio extracelular. Taylor e

cols (2003) mostraram que a ativação glutamatérgica promovia a expressão e liberação

de fatores neurotóficos por células gliais de Muller em cultura. Em outro trabalho

Sheehy e cols (1997) demonstraram que o fator de crescimento do nervo (NGF) induzia

a expressão e ativação da NO-Sintase em linhagens de feocromocitoma de ratos (PC12).

Com base nestes estudos, procuramos testar o possível efeito do pré-tratamento das

culturas de retina com NGF e observamos que a atividade da NO-Sintase eleva-se

significativamente, de forma semelhante ao aumento induzido por glutamato e o

potássio. Este resultado favorece a hipótese que NGF tem um importante papel na

regulação do sistema NO-Sintase ao longo do desenvolvimento da retina. É importante

ressaltar que existe uma estreita associação entre o pico da atividade nitrérgica com a

expressão de neurotrofinas e de seus receptores (TrK A, TrK B, TrK C e p75). Este

período coincide com o intenso período apoptose que ocorre no tecido retiniano ao

longo do seu desenvolvimento (Vecino e cols, 2004).

Outro dado importante é que NGF pode atuar como um fator na

regulação de morte celular em períodos específicos do desenvolvimento retiniano e este

fenômeno parece ser regulado por ativação nitrérgica. Estudos prévios demonstram que

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a indução de morte celular no sistema nervoso central, induzida pelo NGF, está

relacionada à ativação de receptores p75 de baixa afinidade (Frade e cols, 1996), na

retina estes resultados são reforçados por um estudo recente que demonstra a expressão

de receptores p75 somente em células ganglionares alojadas em sua camada, não sendo

observada esta expressão em células que se apresentam em processos migratórios

(Harada e cols, 2006).

Uma outra possibilidade para o aumento da atividade da NO-sintase em

nossas culturas é a disponibilidade do substrato L-arginina. Quando fazíamos

tratamento prévio das culturas com L-arginina, este substrato não promoveu mudança

significativa na atividade da NOS em culturas em C2. Cossenza e Paes-de-Carvalho

(2000) demonstraram que neurônios utilizam L-arginina liberada por células gliais

como substrato para atividade da NOS, entretanto não está esclarecido se esta relação

glia-neurônio ou se o sistema de captação de L-arginina estão estabelecidos em todos

os períodos do desenvolvimento da retina. Ao avaliarmos o curso temporal de captação

deste aminoácido ao longo do desenvolvimento das culturas, nossos resultados

demonstraram pela primeira vez que a captação de L-arginina segue um padrão

semelhante ao observado pela atividade da NOS, ou seja, uma baixa atividade nos

primeiros períodos do desenvolvimeto (C2), atingindo altos níveis de captação em

culturas mais desenvolvidas (C6 e C8).

Demonstramos também que o tratamento com NGF aumenta

significativamente a captação de arginina em C2, da mesma forma que o tratamento

com anti-NGF diminui captação ao longo do desenvolvimento das culturas. Portanto,

parece que o NGF tem um papel importante tanto na ativação da NOS quanto na

disponibilidade do seu substrato em cultura de células de retina. De fato o trabalho de

Carmo e cols (1999) demonstra que em retinas de ratos com quadro clínicos de diabetes

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a atividade nitrérgica esta associada ao aumento da captação de L-arginina na retina,

podendo ser estes fenômenos importantes no mecanismo de morte celular por estresse

oxidativo. Com base nestes dados torna-se possível inferir que NGF pode regular e

controlar os fenômenos de morte celular em períodos específicos do desenvolvimento

retiniano, através da regulação da entrada de L-arginina na célula e aumento na síntese

de NO. Entretanto estudos mais detalhados devem ser realizados para confirmar essses

achados.

Este trabalho não caracteriza qual isoforma da NO-Sintase apresenta

regulação da atividade ao longo do desenvolvimento das culturas, contudo De Faria e

cols (1995) demonstraram a existência tanto das formas dependes quanto das

independentes de cálcio na retina de aves, Paes de Carvalho e cols (1996) reproduziram

os mesmos resultados demonstrando que as formas independentes de cálcio não sofriam

alteração na sua atividade ao longo do desenvolvimento da retina de embriões de

galinha, tendo apenas um pequeno aumento no período pós-eclosão. Entretanto em

nosso trabalho não descartamos a possibilidade do efeito regulador do NGF sobre as

isoformas constitutivas e induzidas da NO-Sintase, uma vez que a atividade da NO-

Sintase induzida, está intimamente relacionada a eventos citotóxicos.

Uma vez caracterizado que o sistema nitrérgico apresenta-se bem

estabelecido no período C8 de desenvolvimento, utilizamos culturas neste estágio para

verificar a relação daquele sistema com o mecanismo de toxicidade induzida pelo

mercúrio na retina.

Os resultados observados neste trabalho demonstram que o MeHg exerce

toxicidade nas células de retina mantidas em cultura, esta toxicidade mostrou-se

dependente tanto da concentração e do tempo de exposição ao mercúrio. Estes

resultados estão de acordo com os observados in vivo, em que foi demonstrado que a

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neurotoxicidade promovida pelo MeHg é dependente da dose que o indivíduo é

exposto, bem como do tempo de exposição (Hewwett & Atchison, 1991).

Sorg e cols (1998) demonstraram que o MeHg promove uma elevação

de radicais de oxigênio reativos (ROS) no SNC, dentre os quais está incluído o óxido

nítrico (NO). Os sub-produtos do metabolismo deste gás, nitrito e nitrato, em grandes

quantidades podem promover citotoxicidade por apresentarem-se como radicais livres.

Nossos dados demonstram que nas duas primeiras horas de intoxicação com MeHg não

há mudanças significativas na atividade da NO-Sintase, da mesma forma que a

viabilidade celular também manteve-se semelhante a do controle não intoxicado,

contudo, em quatro e seis horas de intoxicação houve um aumento da atividade da NO-

Sintase, bem como no padrão histoquímico para NADPH-diaforase, sendo estes

acompanhados pela diminuição da viabilidade celular. Resultados semelhantes foram

observados no cerebelo de ratos após a intoxicação com MeHg, onde a toxicidade neste

tecido foi creditada a elevada concentração do NO (Himi e cols 1996; Yamashita e cols

1997).

Analisando córtex e cerebelo de ratos Shiniashiki e cols (1998)

mostraram que a elevação da atividade da NO-Sintase nestes tecidos não era

acompanhada da elevação da expressão protéica de suas isoformas, posteriormente

Aschner e cols (2000) demonstraram que o MeHg altera o transporte de glutamato em

astrócitos o que promoveria o aumento deste neurotransmissor na fenda sináptica,

desencadeando citotoxicidade no tecido nervoso. Com isso o MeHg indiretamente

aumentaria a atividade da NO-Sintase via ativação do complexo cálcio-calmodulina,

sendo a entrada de cálcio induzida pelo estímulo dos receptores glutamatérgicos do tipo

NMDA. Um mecanismo semelhante foi observado em nossas culturas, uma vez que

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após duas horas de intoxicação houve uma diminuição significativa na captação de

glutamato.

Nossos resultados sugerem que as células NO-Sintase positivas na retina

estão participando diretamente da toxicidade causada pelo MeHg, visto que tanto a

atividade bioquímica da NO-Sintase, quanto histoquímica para NADPH-diaforase, estão

elevadas durante a intoxicação. Como as células NADPH diaforase são mais resistentes

a injúrias no sistema nervoso (Thomas and Pearse, 1964), estas células possivelmente

atuam como protagonistas do fenômeno neurotóxico induzido pelo MeHg na retina. O

excesso de glutamato, devido a diminuição do sistema de captação nas culturas, pode

estimular os neurônios NOS positivos uma vez que reconhecidamente o aumento de

glutamato na fenda sináptica leva a estimulação dos receptores NMDAs a ativação da

via cálcio-calmoduluna-NO-Sintase (Bredt & Snyder, 1990).

Confirmamos esta hipótese após a intoxicação com MeHg observando a

elevação da viabilidade nas culturas frente ao pré-tratamento com L-NARG, ratificando

que a ativação do sistema nitrérgico pelo MeHg, tem um importante papel na

citotoxicidade produzida por este metal.

Em nosso modelo experimental pudemos observar também que o

bloqueio dos receptores glutamatérgicos do tipo NMDA com MK-801, exerceu

proteção contra a ação tóxica do MeHg. Resultados semelhantes foram observados em

culturas de células corticais por Park e cols (1996), onde tanto o bloqueio dos receptores

NMDAs e não NMDAs (AMPA/Cainato) diminuíam a citotoxicidade mediada pelo

MeHg, interessantemente quando utilizamos inibidores de receptores não NMDAs não

conseguimos proteger as células de retina, mostrando que diferentemente do córtex na

retina o mercúrio age preferencialmente em uma via de ativação de citotoxidade pela

estimulação dos receptores glutamatérgicos do tipo NMDA.

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Recentemente Sanfeliu e cols (2001) demonstraram que astrócitos

humanos em cultura são mais resistentes que neurônios a toxicidade mediada pelo

MeHg. No mesmo trabalho foi demonstrado que 10µM de MeHg é letal para 50%

destas células após 24h de exposição. Em nossos experimentos, utilizando esta mesma

concentração, observamos que a mortalidade de 50% das células de retina foi atingida

logo nas seis primeiras horas de intoxicação sugerindo uma maior sensibilidade destas

células ao efeito tóxico do MeHg (Figura 6). Este fenômeno pode subsidiar estudos

comparativos que enfatizem o comportamento das respostas corticais e retinianas frente

a intoxicação com mercúrio, como por exemplo estudos relacionados a expressão de

metalotioneínas, visto que estas apresentam-se intensamente expressas em células

corticais de vertebrados, principalmente em astrócitos (Nishimura, 1991), enquanto na

retina a expressão destas proteínas é restrita a camada de células pigmentares e a

camada plexiforme interna (Hidalgo, 2001). Como as metalotioneínas atuam

diretamente no estoque e transporte de metais pesados, sua maior concentração na

região cortical pode ser um dos fatores responsáveis pela maior resistência destas

células a intoxicação por MeHg.

Além das metalotioneínas, a glutationa (GSH) representa o principal

agente de defesa celular contra a intoxicação por metais pesados no SNC (Meister,

1994), ao avaliarmos as concentrações intracelulares deste tripeptídeo em nossas

culturas após a intoxicação, observamos que as células de retina demonstraram uma

redução dos níveis de GSH dependente do tempo e da concentração de MeHg utilizada.

Nossos resultados também demonstram que a intoxicação mercurial

promove diminuição significativa na captação de cisteína em tempos e concentrações

elevadas de MeHg, estes resultados estão de acordo com os observados por Allen e cols

(2001) que demonstraram que MeHg diminui os níveis de GSH pelo bloqueio da

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captação de seus precursores em astrócitos, principalmente pelo bloqueio do sistema

XAG- . Nas culturas de retina pudemos observar também que o comportamento da

captação de cisteína foi semelhante ao observado para captação de glutamato frente a

exposição ao mercúrio, demonstrando que o mercúrio simultaneamente induz e favorece

fenômenos de estresse oxidativo, uma vez que observamos a ativação nitrérgica pelo

excesso de glutamato na fenda e inibição da captação do precursor da síntese de GSH.

Embora a diminuição da captação de cisteína no ambiente celular

diminua os níveis de GSH, não descartamos a possibilidade desta redução estar

associada à conjugação do MeHg com GSH, visto que o MeHg tem alta afinidade pelo

grupamento sulfidrila (-SH) presente no resíduo de cisteína que compõe a GSH (Hughes

e cols 1957; Simpson e cols 1961). Quando nossas culturas foram tratadas com L-

metionina, que apresenta o grupamento sulfídrico(–S) no lugar do sulfidril (-SH), não

observamos ação protetora frente a intoxicação com MeHg, ratificando a importância

dos radicais –SH contra a ação tóxica promovida por este metal.

Estudos prévios têm demonstrado que a diminuição dos níveis

intracelulares de GSH diminui a viabilidade celular em culturas primárias (Shang e cols

2000). Em nossos experimentos, nas primeiras duas horas de intoxicação, observamos

que os níveis de GSH diminuem em função do aumento da concentração de MeHg, sem

que ocorra modificação significativa da viabilidade celular, o que parece demonstrar

que a diminuição dos níveis de GSH somada a ação direta do MeHg só influenciará na

viabilidade celular após o período de duas horas de intoxicação, o que justifica o

interesse de nossos estudos somente nos intervalos de intoxicação posteriores a este

período. Tal observação é confirmada posteriormente, visto que a exposição das células

ao MeHg, por quatro e seis horas, promoveu diminuição da GSH acompanhada da

diminuição significativa da viabilidade celular.

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Nossa tentativa de proteger as células com GSH demonstrou que este

composto só preveniu contra ação tóxica do MeHg em quatro horas de exposição com

10µM. Em concentrações e tempos mais elevados, somente o tratamento com os

precursores de GSH, L-cisteína e meio condicionado, promoveu proteção celular em

nossos experimentos.

Nossos resultados estão de acordo com estudos recentes que

demonstram, em culturas corticais de neurônios e células da glia, um maior efeito

protetor da acetil-cisteína em relação ao tratamento com GSH contra a toxicidade

induzida pelo metilmercúrio (James e cols, 2005).

O fenômeno pelo qual a GSH não exerceu proteção nas células de retina

em longos intervalos de intoxicação e em altas concentrações de MeHg não é totalmente

esclarecido, entretanto este fenômeno pode estar relacionado ao fato da incorporação de

GSH, tanto por glias quanto por neurônios, necessitar inicialmente de uma quebra no

meio extracelular para o posterior transporte para o interior destas células, onde

finalmente será transformada em GSH pela glutationa sintetase (Dringen, 2000). Em

duas horas de pré-incubação com GSH possivelmente apenas parte deste processo

ocorre e a exposição às altas concentrações de MeHg e por longos intervalos de tempo,

este pode afetar as proteínas envolvidas na síntese de GSH, o que promove a diminuição

da nova síntese deste último fazendo com os níveis de GSH produzidos não sejam

suficientes para proteger contra o evento tóxico. A pré-incubação com os precursores de

GSH, faz com que as células rapidamente captem estas substâncias sem a necessidade

de um passo a mais de quebra como ocorre com a GSH, com isso ao intoxicarmos estas

células com MeHg, possivelmente as enzimas de síntese de GSH já tiveram tempo para

atuar e assim produzir GSH o que promoveria um efeito de proteção mais eficiente que

a doação da própria GSH. Entretanto o aumento da concentração de MeHg no meio,

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bem como o tempo de exposição das células, diminui a capacidade de proteção dos

precursores de GSH, sugerindo que outras vias de morte celular, induzida pelo MeHg,

possivelmente estão atuando nas culturas.

A partir dos resultados observados neste trabalho, podemos descrever

que o NGF representa um importante fator na regulação da atividade nitrérgica e na

captação de L-arginina e que o sistema nitrégico participa diretamente no mecanismo de

ação do MeHg nas células de retina nos diferentes intervalos de intoxicação.

Nas primeiras horas, observamos que o MeHg induz o aumento do

glutamato na fenda sináptica com consequente ativação dos receptores NMDAs que

promoverão a entrada de cálcio nas células, uma vez aumentada a concentração do

cálcio intracelular, este pode desencadear diversas vias de citotoxicidade. O efeito

protetor do NARG, nas primeiras quatro horas, sugere que após o aumento do cálcio

intracelular a principal via de citotoxicidade nas culturas é mediada pela ativação do

sistema nitrérgico.

Quando aumentamos a concentração e/ou o tempo de exposição ao

MeHg observamos que outras vias de morte celular estão sendo ativadas, já que o

bloqueio dos receptores NMDAs e o tratamento com NARG independentemente

promovem pouca ou nenhuma proteção contra a ação neurotóxica do MeHg. Neste caso,

devido a alta concentração e o tempo de exposição, o MeHg pode estar se conjugando e

inativando proteínas importantes para manutenção da viabilidade celular, bem como

estar promovendo o aumento do cálcio intracelular por outras vias que não a de ativação

de NMDA, como pela liberação do cálcio presente em vesículas citoplasmáticas

(Atchison & Hare, 1994). Contudo o efeito sinérgico na proteção das células de retina

pela combinação MK-801 e NARG, demonstra que o aumento do cálcio intracelular e a

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ativação do sistema nitrérgico apresentam um importante papel na neurotoxicidade

induzida por MeHg nas células de retina em cultura.

Paralelamente a este fenômeno a entrada do MeHg nas células de retina

diminui os níveis de GSH, fazendo com que as células tornem-se ainda mais sensíveis

ao estresse oxidativo produzido por este metal via produção de NO, pois a GSH além da

sua capacidade de conjugação com metais pesados, tem um importante papel na

inativação de ROS (Sarafian e cols, 1996). Altas concentrações de MeHg possivelmente

inativam as proteínas envolvidas na síntese de GSH nas primeiras quatro horas de

intoxicação, visto que nestas condições experimentais o tratamento com os precursores

de GSH exercem pouca proteção contra a ação tóxica do MeHg, sendo que esta

proteção possivelmente pode estar envolvida à conjugação direta do MeHg com estes

precursores que apresentam em sua constituição grupamentos sulfidrila (-SH).

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5. CONCLUSÕES

Em culturas celulares de retina a atividade bioquímica da NO-Sintase,

bem como o padrão histoquímico para NADPH-diaforase, apresentam-se baixos nos

primeiros momentos do desenvolvimento in vitro, este padrão de atividade aumenta

conforme o aumento do tempo das células em cultura, sendo um padrão similar

observado no fenômeno de captação de L-arginina ao longo do tempo.

A ativação do sistema nitrérgico in vitro parece estar relacionada à

liberação de fatores no meio de cultura. O NGF representa um destes fatores uma vez

que o mesmo regula tanto o aumento da atividade da NOS quanto a captação do

principal substrato da NOS a L-arginina.

No oitavo dia de desenvolvimento in vitro o sistema nitrérgico parece

estar bem estabelecido em culturas celulares de retina de embrião de galinha, sendo este

um importante momento para analisar fatores ou drogas que podem influenciar no

funcionamento deste sistema.

O MeHg promove neurotoxicidade em culturas de células de retina com

oito dias de desenvolvimento, esta toxicidade mostrou-se dependente do tempo e da

concentração a qual as células são expostas. A ativação nitrérgica representa uma via de

ativação da neurotoxicidade induzida pelo mercúrio nas células de retina. O sistema

nitrérgico possivelmente foi ativado via NMDA por uma possível estimulação

glutamatérgica em virtude da diminuição da captação deste neurotransmissor induzida

pelo.

Um outro efeito do mercúrio nas células de retina é a diminuição dos

níveis intracelulares de GSH total ou pela diminuição da captação de cisteína ou pela

conjugação direta com os grupamentos –SH, sendo que ambos os fenômenos

contribuem para a diminuição da viabilidade celular.

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