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Campus Zona Leste da UNIFESP: um desafio à imaginação projetual Estabelecendo o diálogo entre a FAU USP e a Universidade Federal de São Paulo
Caros estudantes e colegas da FAU USP,
A convite dos professores da FAU USP na disciplina AUP-‐0154 (Arquitetura-‐Projeto VI), com o tema Projeto de Arquitetura de Equipamentos Públicos, que decidiram apresentar como objeto de estudo para os estudantes do 4o ano o novo Campus da UNIFESP na Zona Leste, gostaria de agradecer o interesse e a disposição em realizar este diálogo pedagógico, político e projetual conosco – que ainda não temos um curso de arquitetura e urbanismo. Tenho certeza que será estimulante não apenas para nós, mas para todas as universidades públicas em expansão no Brasil, que precisam (re)inventar-‐se como espaço qualificado de produção e divulgação de conhecimento, crítico e socialmente referenciado, e contribuir decisivamente para um projeto de desenvolvimento nacional, com soberania e justiça social. A relação universidade-‐sociedade-‐cidade deve continuar sendo investigada, problematizada e imaginada – e é o que pretendemos fazer. E temos muito a aprender, inclusive com a história da FAU USP, que é um importante capítulo dessa experimentação espacial, pedagógica e política.
Apresento a seguir algumas informações sobre nossa Universidade, sua recente expansão e questões que norteiam o projeto para o novo Campus na Zona Leste. Este documento é composto por um breve texto de apresentação da instituição, sua história recente e desafios para o novo Campus, o programa preliminar de necessidades apresentado por fases de implantação e base documental com levantamento planialtimétrico do terreno em vias de cessão pela Prefeitura de São Paulo para a UNIFESP.
O material aqui apresentado é para uso exclusivamente acadêmico nesta disciplina e versão preliminar que encontra-‐se em debate interno na UNIFESP e com os parceiros envolvidos na implantação do Campus (Prefeitura, MEC, Movimento pela Universidade Federal na Zona Leste e Sociedade civil). Já foram realizadas duas Audiências Públicas, uma na Zona Leste e outra na Câmara Municipal de São Paulo e os debates sobre a implantação, cursos, projetos e obras seguirão ocorrendo em ambiente público, plural e democrático.
Estamos a disposição para seguir neste diálogo com vocês, para debater propostas, trazer novas informações, questões e esclarecimentos. Além desta parceria, temos outras iniciativas junto a FAU USP, com um convênio e programa de estágios (já em andamento) e um convênio em preparação com o Laboratório de Projetos -‐ LABPROJ e seu Grupo de Pesquisa em Projeto de Arquitetura de Equipamentos Públicos com objetivo de realização de assessorias, pesquisa, formação e capacitação profissional.
Um abraço a todos e bom “exercício experimental da liberdade”, como diria Mário Pedrosa. Que o nosso Campus da Zona Leste estimule a todos vocês os melhores desejos de conceber os espaços de uma universidade generosa e socialmente transformadora.
Prof. Pedro Fiori Arantes
Pró-‐Reitor adjunto de Planejamento da UNIFESP
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A Escola Paulista de Medicina, a UNIFESP e sua expansão
Criada em 1933 por um grupo de médicos reunidos em uma sociedade sem fins lucrativos, a Escola Paulista de Medicina (EPM) foi federalizada em 1956 e, em 1994, transformada em Universidade Federal de São Paulo UNIFESP, primeira universidade especializada em saúde no país, abrigando em seu currículo de graduação os cursos de Medicina, Enfermagem, Biomedicina, Fonoaudiologia e Tecnologias Oftálmica e Radiológica.
Em 2005, foi iniciado o projeto de expansão com a criação do Campus Baixada Santista Inaugurado em 2005. Este Campus amplia o compromisso histórico da Universidade com a área da saúde. Seus cursos de graduação em Fisioterapia, Terapia Ocupacional, Psicologia, Nutrição, Assistência Social e Educação Física oferecem uma formação profissional e científica sólida e propõem o desenvolvimento da competência para o trabalho em equipe, com projeto pedagógico baseado na educação interprofissional.
Em 2007, com o objetivo de tornar-‐se uma universidade plena em todas as áreas do conhecimento, a UNIFESP implantou mais três campi, em Diadema, Guarulhos e São José dos Campos – dentro do REUNI (Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais) –, e mais três na segunda fase de Expansão (Osasco, Embu e Zona Leste, os dois últimos em fase inicial de implantação). Formamos assim a seguinte geografia multicampi:
O Campus de Diadema foi criado com o propósito de integrar, cursos relacionados às Ciências Químicas e Farmacêuticas. Com vocação ambiental, a mesma ocupa um papel importante formador nas carreiras de Ciências Biológicas, Química, Engenharia Química, Farmácia e Bioquímica, habilitando o entendimento global das características, especificidades e estratégias desta área de conhecimento, além de oferecer formação tradicional em cada uma das carreiras.
O Campus Guarulhos marca a entrada da UNIFESP na área das Humanidades. Os cursos de Filosofia, Ciências Sociais, História, História da Arte, Letras e Pedagogia articulam atividades de ensino, pesquisa e extensão com o objetivo de preparar profissionais aptos a atuar e refletir criticamente sobre a sociedade brasileira e o mundo contemporâneo, por meio de sólida formação intelectual em cada uma das áreas, que se abrem, ao mesmo tempo, para o diálogo interdisciplinar.
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O Campus São José dos Campos faz parte do Parque Tecnológico, recentemente instalado na cidade. Nesse núcleo se concentram diversas instituições de ensino e pesquisa em tecnologia. Em parceria com a prefeitura, a UNIFESP iniciou um curso de Bacharelado em Ciências da Computação. Este curso tem por objetivo formar profissionais com sólida base científica e tecnológica para atuar na área de informática, assim como ingressar em programas de Pós-‐Graduação e Pesquisa. O currículo é composto por disciplinas obrigatórias, que tem como finalidade a formação geral na área de informática; e disciplinas eletivas, nas áreas de Sistemas de Informação e Computação, Computação Teórica e Informática em Saúde.
No Campus Osasco são ofertados cursos de Ciências Econômicas, Ciências Contábeis, Administração e Relações Internacionais, baseados em uma concepção pedagógica alinhada com as mais modernas tendências mundiais, em face da qual equilibra-‐se a preocupação de fornecer ao aluno de graduação substrato para que saia apto para o mercado de trabalho e para novas imersões acadêmicas, sempre com consciência de seu papel social e de sua responsabilidade pública, ampliando sua oferta de cursos para 2013 com o curso de Ciências Atuariais, que já faz parte do processo seletivo para o 1º semestre.
Os Campi do Embu e da Zona Leste fazem parte da mais nova fase de expansão, já aprovada pelo MEC. No caso da Zona Leste, o Campus foi resultado de ampla mobilização da sociedade civil da região e está sendo debatido em Audiências Públicas. Nesse momento estão sendo debatidos por meio de Grupos de Trabalho o perfil dos primeiros cinco cursos de graduação que ali serão implantado, as atividades de extensão universitária já em curso e o cronograma de implantação do Campus.
Com toda essa expansão, a Universidade Federal de São Paulo é uma das universidades públicas brasileiras que mais cresceu na última década, aumentando de 6 para 73 o número de cursos de graduação (aumento de 1.117%), o número de estudantes em 669% e o de professores em 185%. Com a adesão ao Reuni (Programa de Apoio a Planos de Reestruturação das Universidades Federais).
A seguir, apresentamos alguns gráficos do nosso crescimento:
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Crises da expansão e a nova gestão
Após duas décadas de desinvestimento e precarização das universidades federais, sobretudo durante a Era FHC (1994-‐2002) – enquanto o sistema privado superior quintuplicou no Brasil – no sistema público federal, vivíamos arrocho salarial, falta de reposição de professores e técnicos, desprestígio acadêmico e falta de condições de ensino e pesquisa. Nesse contexto, o desafio de fazer a expansão do sistema federal de ensino superior nessas proporções era enorme. Não tínhamos corpo técnico, sobretudo na área de planejamento, arquitetura e engenharia para dar conta das novas demandas de planos, projetos e obras. E as gestões da UNIFESP que avançaram com a expansão pouco se preocuparam em estrutura esse setor estratégico para o crescimento sustentado da universidade.
Assim, nosso cinco novos campi foram inaugurados e colocados em funcionamento sem um planejamento adequado de sua infraestrutura, o que levou a situações críticas de falta de condições de ensino, acesso e permanência – e à tomada de decisões por ampliações, obras, aluguéis e compra de imóveis não coordenadas e muito aquém do necessário. Esse descompasso resultou em situações de crise nacionalmente divulgadas, com greves, ocupações, prisão de estudantes, conflitos internos à comunidade acadêmica e ameaça de suspensão de vestibulares. Dentro do Reuni apenas um novo edifício foi
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inaugurado até o momento (na Baixada Santista) e outro encontra-‐se em obra. Os demais edifícios cedidos, alugados ou doados não são, em geral, adequados às atividade de ensino, pesquisa, extensão, administração e assistência, apresentando precariedades e falta de espaços.
Com a eleição da nova reitora, Profa. Soraya Smaili, primeira mulher e não médico a dirigir a UNIFESP (ver entrevista na Revista da Adusp n. 54, de maio de 2013, adusp.org.br/files/revistas/54/mat01.pdf ), resultado de ampla mobilização no ano passado (quando ocorreu a maior greve da história das universidades federais), que deu origem a uma chapa denominada “Plural e democrática”, composta por um grupo representativos de todos os segmentos (professores, estudantes e técnicos), campi e áreas de conhecimento, com gente nova e antiga, aliados para dirigir a universidade em uma nova etapa de sua história. A eleição foi feita por consulta direta à comunidade acadêmica, referendada pelo Conselho Universitário e Governo Federal, e a nova gestão tomou posse em fevereiro deste ano.
A área de projetos de infraestrutura da UNIFESP está sendo atualmente reestruturada e foi transferida da área administrativa para a Pró-‐Reitoria de Planejamento, com a formação de novos departamentos (Planos Diretores, Edificações, Laboratórios e Imóveis). O pró-‐reitor adjunto é professor arquiteto da instituição, formado na FAU USP (a primeira vez que alguém da área dirige o setor, antes comandado apenas por médicos). A Pró-‐Reitoria está reestruturando todas as ações na área, com a contratação de planos diretores e projetos executivos, abertura de novos concursos para servidores arquitetos e engenheiros, mapeamento de processos, aumento da transparência nas solicitações e pareceres, melhora na preparação de licitações e na fiscalização e gerenciamento de obras, programa de estágios etc. Também estamos realizando parcerias com instituições, como a FAU USP e o IAB, para organização de concursos de projetos diversos, a começar pela moradia estudantil e os novos campi. Nesta Pró-‐Reitoria foi também instaurado o Conselho de Planejamento, o primeiro conselho central paritário da instituição, que define diretrizes e prioridades para a área. Mais informações no site: www.planejamento.unifesp.br
O novo Campus da Zona Leste
A implantação de novos Campi da UNIFESP na região Metropolitana de São Paulo foi direcionada para áreas periféricas, de baixo IDH, socialmente frágeis e que podem ganhar impulso em desenvolvimento local, seja econômico, urbano e intelectual com a implantação dos campi. O conjunto dos novos Campi pretende realizar um anel metropolitano como indica o mapa abaixo:
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A luta pela implantação de Universidades Públicas na Zona Leste é antiga, data dos anos 1980 na redemocratização brasileira e momento em que movimentos sociais e comunidades de base foram muito ativas na Zona Leste. Paulo Freire, quando secretário municipal da Educação na gestão Erundina foi um dos grandes apoiadores da causa. Apenas em 2005 a USP inaugurou seu Campus na Zona Leste e agora é a vez da Universidade Federal de São Paulo.
O terreno de cerca de 170 mil m2 de uma antiga metalúrgica que falira, na região de Itaquera, foi conquistado graças a mobilização da sociedade civil na região e de partidos que apoiaram a causa, sendo capitaneada pelo Movimento pela Universidade Federal na Zona Leste. Em fevereiro deste ano é consumada a desapropriação pela Prefeitura de São Paulo e em março a Câmara Municipal aprova a autorização de cessão do terreno para a UNIFESP, que aguarda laudos ambientais e de contaminação para concluir o processo definitivo de cessão. Enquanto isso a UNIFESP manteve intenso diálogo com prefeitura e movimentos sociais da região, instituiu grupos de trabalho e está realizando atividades de extensão universitária e debatendo quais cursos ali serão implantados.
O Campus está localizado numa região originalmente de chácaras, depois industrial
e atualmente em transformação, defronte a uma importante avenida da região, a Av. Jacu Pêssego, que interliga o Rodoanel e o ABC com Guarulhos e a Rodovia Dutra e atualmente está sobrecarregada enquanto o trecho leste do Rodoanel não tem suas obras concluídas. Fica próximo a uma das áreas de preservação ambiental maiores da cidade, a APA do Carmo, bem como ao Parque do Carmo e ao SESC Itaquera. Está próximo de quatro centros de bairros importantes da Zona Leste: Itaquera, São Mateus, Guaianases e Cidade Tiradentes. Toda a região da Av. Jacu Pêssego faz parte de uma Operação Urbana prevista no Plano Diretor Estratégico da Cidade, chamada O.U. Rio Verde-‐Jacu, em fase de projeto. Trata-‐se de uma operação urbana fora do eixo de interesse do mercado imobiliário e que deve ser pensada sob outros critérios de investimento, desenho urbano e justiça social.
A acessibilidade ao Campus por meio de transporte de massas também é favorável, pois está próximo do terminal Itaquera, da estação Dom Bosco da CPTM e da futura estação Jacu-‐Pêssego do monotrilho que chegará a Cidade Tiradentes. Além disso, na Av. Jacu Pêssego está em projeto um corredor de ônibus intermunicipal, com parada defronte ao Campus e sistema de passarelas de acesso direto à universidade.
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O terreno em vias de cessão pela prefeitura possui dois grandes patamares, um no qual se encontram as instalações da antiga fábrica e outro, mais alto, que está desimpedido. Dos galpões industriais não há nenhuma diretriz de manutenção, dada sua baixa qualidade e pouco valor arquitetônico, mas podem ser parcialmente mantidos e renovados caso os estudos considerem viável e interessante. O terreno conta ainda com duas nascentes e respectivos córregos, que devem ser protegidos conforme a legislação constituindo uma área de bosque, lazer e estudos ambientais no Campus. A cobertura vegetal do terreno está sendo analisada em laudo ainda não concluído, mas percebe-‐se visualmente que fora da APP a maior parte da vegetação é exótica e composta por eucaliptos.
Além de contar com uma fachada metropolitana e de acesso de transportes de massa, voltada para a Av. Jacu Pêssego, o Campus possui outra via de acesso, pelo alto (lado oeste), que pode estar associada a vida de bairro a ser consolidado no entorno, modificando o zoneamento industrial com a revisão do Plano Diretor e o projeto da Operação Urbana. A Rua Sho Yoshioka dá acesso ao Parque do Carmo, ao SESC Itaquera e a loteamentos populares ao redor. De modo que o Partido projetual deve levar em consideração as escalas diferentes de cada fachada urbana do Campus.
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Outras diretrizes relevantes para a definição do Partido projetual:
- Pretende-‐se a articulação do Campus com a cidade e o entorno, fortalecendo o sentido de espaço público para todos e não como uma universidade murada fechada sobre si mesma. Deste modo as zonas de transição com a cidade devem ser muito bem estudadas, formando parques, praças e ali posicionando equipamentos da Universidade que serão abertos ao público. São eles, possivelmente: Teatro, Biblioteca, Museu, Restaurante, Parque/Clube.
- A implantação do Campus se dará por fases, a primeira delas contará com cinco cursos. As demais deverão ocorrer até a consolidação do Campus, em 20 anos, com a possibilidade de chegar a 15 cursos de graduação e pós-‐graduação. O programa de necessidades apresentado nas tabelas a seguir foi dividido em três fases de implantação, com volume de construção e investimento similares entre si. Até o momento, está aprovado junto ao MEC apenas a primeira fase. Contudo, no exercício projetual é preciso garantir espaço para a ampliação de edificações conforme descrito em cada fase de modo a termos o Campus pleno em até 20 anos.
- Não há limite de gabarito, de modo que a combinação de edifícios horizontais e verticais pode ser positiva como forma de enfrentamento do terreno e do programa, além de valorizar as vistas para toda essa região e da APA do Carmo que dali é possível.
- A moradia estudantil, atlética e determinadas áreas de convivência estudantis deverão ficar em área separada/reservada em relação ao restante do Campus, de modo a garantir um espaço de vida distinto das áreas acadêmicas e o caráter de lugar (república) autogerida pelos estudantes.
- Há planejamento de novo viário no entorno ao Campus e integração com bairros que estão em projeto na Secretaria de Desenvolvimento Urbano, o que resultará em novas possibilidades de acessos e fachadas urbanas. Sugerimos o contato com esta Secretaria para que ela apresente a versão mais atual destes planos.
O Programa de Necessidades é apresentado em ANEXO na forma de planilha.
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Imagens do terreno