mariana – cidade cidadã - jornalaldrava.com.br · naturalidade é um conceito distinto do de...

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www.jornalaldrava.com.br Página 1 POUSADA “ CONTOS DE MINAS ” RUA ZIZINHA CAMELLO, 15 - CENTRO = MARIANA / MG /// FONE: 0(xx)(31) 3558-5400 [email protected] www.pousadacontosdeminas.com.br ANO XII /// N O. 97 /// MAIO / JUNHO / 2012 MARIANA - MINAS GERAIS / BRASIL cultural ISSN 1519-9665 ALDRAVA LETRAS E ARTES CNPJ 04.937.265/0001-71 JORNAL ALDRAVA CULTURAL Utilidade Pública Municipal Lei n° 022/90 - 26/03/2009 EM CIRCULAÇÃO DESDE NOVEMBRO DE 2000 E-mail : [email protected] Site: www.jornalaldrava.com.br Qualis CAPES - C É necessário refletir sobre o estereótipo pejorativo, empregado por alguns, para alcunhar pessoas não nascidas na Matriz de Minas. Já li e já escutei alguns Marianenses chamarem os “não nascidos aqui” de forasteiros. Os “forasteiros” são aquelas pessoas que escolheram ou optaram viver na nobre e majestosa Mariana. Não sei o número exato de indivíduos oriundos de outras cidades, de outros estados ou de outros países que vivem atualmente neste Município Tricentenário. Por certo, o número de “forasteiros” residentes neste solo histórico e cultural, deve ser maior que o de Naturalidade Marianense. A aversão a pessoas ou às coisas estrangeiras, também, é conhecida como Xenofobia. O termo é de origem grega e se forma a partir das palavras “xénos” (estrangeiro) e “phóbos” (medo). Geralmente, a Xenofobia caracteriza-se como preconceito ou doença, com transtorno causado por medo compulsivo do “desconhecido”; discriminação, intolerância e aversão por aqueles que vêm de outros lugares com diferentes culturas. No entanto, nem todas as formas de discriminação étnicas e culturais, preconceituosas e discriminatórias são consideradas como Xenofobia, mas costumes dos quais nomeio e caracterizo como “provincianismo”, atraso cultural e desconhecimento da noção de mundo globalizado. Exemplifico o “atraso cultural”: o costume de desqualificar, desconsiderar ou desprezar atividades culturais bem sucedidas de grupos ou de pessoas, que divulgam o nome e enriquecem a cidade; o costume de destacar, anunciando publicamente, em alto e bom tom, de que fulano ou beltrano não nasceu no Município (não importando se o indivíduo reside há décadas na cidade; é eleitor; paga seus impostos, etc.). Vivemos num mundo globalizado, e isso é irreversível! Foi essa tendência pela globalização que proporcionou a descoberta do Brasil e, 200 anos depois trouxe paulistas, portugueses, africanos para iniciarem a construção desta cidade tricentenária. E esse mundo globalizado e sem fronteiras nos facilita a vida. É esse mundo globalizado que moderniza a economia, com a entrada de produtos importados mais baratos e de melhor qualidade, aumentando também a disponibilidade de produtos nacionais com preços menores e de mais qualidade. É nesse mundo globalizado que temos que aprender a conviver com pessoas de outras culturas, de outras etnias, de outras cidades, estados, países, etc. É esse mundo globalizado que nos proporciona acesso a outros meios de transporte e de telecomunicações, diminuindo a distância para a realização de viagens entre continentes. É graças a esse mundo globalizado, que a notícia nos chega aos olhos e ouvidos em tempo real. Imaginem o mundo sem os produtos importados, sem novas tecnologias e sem avanço das telecomunicações. Imaginem se, em nome do “provincianismo”, dos costumes mais prístinos do mundo, do preconceito e da discriminação, experimentassem “expulsar” todos os “forasteiros”, independente do tempo que vivem em Mariana. Imaginem a cidade se, expulsassem todas as empresas de fora. Imaginem a cidade se expulsassem todos os trabalhadores de fora. Imaginem a cidade se expulsassem todos os professores das universidades e alunos que vieram de fora. Imaginem a cidade se expulsassem todos os escritores e artistas que vieram de fora e, finalmente, todos os que não nasceram e foram registrados em Mariana. Como disse, anteriormente, o número de “não naturais” residentes neste Município é muito grande. Paris, capital da cultura e da literatura, por exemplo, é espaço mais autônomo e livre do mundo, pois segundo Casanova “a emancipação [ ] é provocada pela “desnacionalização”, ou seja, aquele espaço francês vai se impor como modelo, não como francês, mas como autônomo”. Para Larbaud (um dos grandes introdutores da literatura mundial em Paris), “qualquer escritor francês é internacional, é poeta, escritor para toda a Europa e, ainda, para parte da América [...] Tudo o que é ‘nacional’ é tolo, arcaico, baixamente patriótico”. Tomando como base o patrimônio cultural francês, o mais “avançado”, por constituir-se universal, pode-se “tentar”, ainda, que a passos miúdos, deixar de classificar e discriminar os Marianenses que não nasceram em Mariana, pois eles pertencem ao universo que pertence ao mundo que pertence ao país que pertence ao estado que pertence à cidade. Naturalidade é um conceito distinto do de Cidadania. Quem tem certidão de nascimento Marianense, não tem Cidadania Marianense maior do que qualquer outro Marianense, nascido em outra cidade. Alphonsus de Guimaraens é Ilustre Marianense nascido em Ouro Preto. Quantos bispos, padres, pastores, professores, artistas, comerciantes, estudantes, vindos de outras plagas, dedicaram suas vidas pela valorização de Mariana? É preciso que o sentido de Cidadania não seja confundido com o provinciano sentido de Naturalidade, para que todos os Marianenses, independentemente de onde tenham nascido, possam ser reconhecidos nos seus esforços de construir uma cidade verdadeiramente cidadã. Mariana – Cidade Cidadã Andreia Donadon Leal Mestranda em Literatura Cultura e Sociedade) UFV

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POUSADA “ CONTOS DE MINAS ”RUA ZIZINHA CAMELLO, 15 - CENTRO = MARIANA / MG /// FONE: 0(xx)(31) 3558-5400

reservas@pousadacontosdeminas.com.brwww.pousadacontosdeminas.com.br

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o

ANO XII /// NO. 97 /// MAIO / JUNHO / 2012MARIANA - MINAS GERAIS / BRASIL

culturalISSN 1519-9665

ALDRAVA LETRAS E ARTESCNPJ 04.937.265/0001-71

JORNAL ALDRAVA CULTURALUtilidade Pública MunicipalLei n° 022/90 - 26/03/2009

EM CIRCULAÇÃO DESDENOVEMBRO DE 2000

E-mail: [email protected]: www.jornalaldrava.com.br

Qualis CAPES - C

É necessário refletir sobre o estereótipo pejorativo,empregado por alguns, para alcunhar pessoas não nascidasna Matriz de Minas. Já li e já escutei alguns Marianenseschamarem os “não nascidos aqui” de forasteiros. Os“forasteiros” são aquelas pessoas que escolheram ou optaramviver na nobre e majestosa Mariana. Não sei o número exatode indivíduos oriundos de outras cidades, de outros estadosou de outros países que vivem atualmente neste MunicípioTricentenário. Por certo, o número de “forasteiros” residentesneste solo histórico e cultural, deve ser maior que o deNaturalidade Marianense.

A aversão a pessoas ou às coisas estrangeiras,também, é conhecida como Xenofobia. O termo é de origemgrega e se forma a partir das palavras “xénos” (estrangeiro)

e “phóbos” (medo). Geralmente, a Xenofobia caracteriza-se como preconceito ou doença, com transtorno causado por medocompulsivo do “desconhecido”; discriminação, intolerância e aversão por aqueles que vêm de outros lugares com diferentesculturas. No entanto, nem todas as formas de discriminação étnicas e culturais, preconceituosas e discriminatórias são consideradascomo Xenofobia, mas costumes dos quais nomeio e caracterizo como “provincianismo”, atraso cultural e desconhecimento danoção de mundo globalizado. Exemplifico o “atraso cultural”: o costume de desqualificar, desconsiderar ou desprezar atividadesculturais bem sucedidas de grupos ou de pessoas, que divulgam o nome e enriquecem a cidade; o costume de destacar, anunciandopublicamente, em alto e bom tom, de que fulano ou beltrano não nasceu no Município (não importando se o indivíduo reside hádécadas na cidade; é eleitor; paga seus impostos, etc.).

Vivemos num mundo globalizado, e isso é irreversível! Foi essa tendência pela globalização que proporcionou a descobertado Brasil e, 200 anos depois trouxe paulistas, portugueses, africanos para iniciarem a construção desta cidade tricentenária. Eesse mundo globalizado e sem fronteiras nos facilita a vida. É esse mundo globalizado que moderniza a economia, com a entradade produtos importados mais baratos e de melhor qualidade, aumentando também a disponibilidade de produtos nacionais compreços menores e de mais qualidade. É nesse mundo globalizado que temos que aprender a conviver com pessoas de outrasculturas, de outras etnias, de outras cidades, estados, países, etc. É esse mundo globalizado que nos proporciona acesso a outrosmeios de transporte e de telecomunicações, diminuindo a distância para a realização de viagens entre continentes. É graças a essemundo globalizado, que a notícia nos chega aos olhos e ouvidos em tempo real.

Imaginem o mundo sem os produtos importados, sem novas tecnologias e sem avanço das telecomunicações. Imaginemse, em nome do “provincianismo”, dos costumes mais prístinos do mundo, do preconceito e da discriminação, experimentassem“expulsar” todos os “forasteiros”, independente do tempo que vivem em Mariana. Imaginem a cidade se, expulsassem todas asempresas de fora. Imaginem a cidade se expulsassem todos os trabalhadores de fora. Imaginem a cidade se expulsassem todos osprofessores das universidades e alunos que vieram de fora. Imaginem a cidade se expulsassem todos os escritores e artistas quevieram de fora e, finalmente, todos os que não nasceram e foram registrados em Mariana.

Como disse, anteriormente, o número de “não naturais” residentes neste Município é muito grande. Paris, capital dacultura e da literatura, por exemplo, é espaço mais autônomo e livre do mundo, pois segundo Casanova “a emancipação [ ] éprovocada pela “desnacionalização”, ou seja, aquele espaço francês vai se impor como modelo, não como francês, mas comoautônomo”. Para Larbaud (um dos grandes introdutores da literatura mundial em Paris), “qualquer escritor francês é internacional,é poeta, escritor para toda a Europa e, ainda, para parte da América [...] Tudo o que é ‘nacional’ é tolo, arcaico, baixamentepatriótico”. Tomando como base o patrimônio cultural francês, o mais “avançado”, por constituir-se universal, pode-se “tentar”,ainda, que a passos miúdos, deixar de classificar e discriminar os Marianenses que não nasceram em Mariana, pois eles pertencemao universo que pertence ao mundo que pertence ao país que pertence ao estado que pertence à cidade.

Naturalidade é um conceito distinto do de Cidadania. Quem tem certidão de nascimento Marianense, não tem CidadaniaMarianense maior do que qualquer outro Marianense, nascido em outra cidade. Alphonsus de Guimaraens é Ilustre Marianensenascido em Ouro Preto. Quantos bispos, padres, pastores, professores, artistas, comerciantes, estudantes, vindos de outrasplagas, dedicaram suas vidas pela valorização de Mariana?

É preciso que o sentido de Cidadania não seja confundido com o provinciano sentido de Naturalidade, para que todos osMarianenses, independentemente de onde tenham nascido, possam ser reconhecidos nos seus esforços de construir uma cidadeverdadeiramente cidadã.

Mariana – Cidade CidadãAndreia Donadon Leal

Mestranda em LiteraturaCultura e Sociedade) UFV

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CENTRO MÉDICO DE DIAGNÓSTICORua André Corsino, 142- Centro - Mariana/MG.Fone/Fax: 0XX31 - 3557-3550

Maio/Junho / 2012 NO. 97 MARIANA - Minas Gerais ANO XII

Pizzaria e Lanchonete Dom Silvério - Forno à LenhaRUA SALOMÃO IBRAHIM DA SILVA, 78. CENTRO–MARIANA-MG / Fone: (031 ]- 3557-2475

POESIA VERSUS CIÊNCIALucas Barroso- - 12 anos -- Estudante – – Colég io Santo Antônio –[ Belo Horizonte-MG ]

Para a ciência,beija-flor é uma ave que canta.Para a poesia,beija-flor é um bicho que soltaum som melodioso para a vida.Para a ciência ,lápis é madeira processadaque se torna pequeno com a idade.Para a poesia,lápis é um objeto mágicoque transforma sonhosem realidade.Para a ciência,coração é um órgão sanguíneoe nojento.Para a poesia,coração é um baú vermelhoque guarda o mais puro sentimento.Para a ciência,estar vivo é ter sangue circulandoe cérebro funcionando.Para a poesia,estar vivo é sentir,dormir,pular, acordar, comer, saber, ser, ter, ver,correr, brincar, ler, escrever, ir,conversar... Amar...

TRIBUTO À MAIORIDADEDA PIZZARIA – [ Acróstico ]

Anicio Chaves( Mariana-MG )

Passar-se-ão os anos e eu resistirei.Isto é uma filosofia de vida, quase obsessão.

Zelaremos pela qualidade do produtoZelaremos também pela boa recepção.Alguém há de notar!

Resta-nos trabalharIncessante e dedicadamenteAté o final.

Dom para tal, recebemosOrar com fé, oramos e

Mais orgulhosos seremos.

Sempre haverá dificuldades,

Incômodos, obstáculos,Luta e vitória também.Valerá muito à pena!

E ao cabo de Vinte e Um AnosRios de dinheiro, não ganhamos.Inúmeros amigos conquistamos.

O melhor, ainda está por vir!

Lutaremos

Todos os dias.Desistir, nunca, poisAmamos o que fazemos.

ECO/ALDRAVIA 1gabriel bicalho

[ Mariana-MG ]

solsoluçameiomortameiaborboleta

– ALDRAVIAS –[ Ao amigo português, Dr. Vitor Escudero ]

Andreia Donadon Leal

Ibonsventosfluemda

magníficaPortugal!

IIpreciosidades

trazemas

palavrasde

Vitor-Escudero!III

traçospintadosretratam

faced'alma

portuguesaIV

plenitude:culturas

luso-brasileirasentrelaçadas

pelahistória

Vdescobertas:ensinamentos

aportadosdas

viagensmarítimas

VInação

portuguesa:índoleviajantealémmar

VIIPortucale:

caisprimaz

doespírito

navegadorVIIIvelas

portuguesastransatlânticas:

asasunindo

identidades

AO ENCONTRO DE MIM....Cida Guedes

[ Santa Bárbara-MG ]

Ouço o barulho da aldravaQue insistentemente bate

Som que me torturaParece dor, parece grito

grito de liberdade, de abrir portasDe ver o mundo com um novo olhar

E a aldrava continua...Escondo minha cabeçaTapo os meus ouvidosFico em posição fetal

Escondo-me, mas a alma ouve e solta seu gritoAlma que não se conforma

E me confrontaE me ordena com sua altivez

então, abro os olhosa princípio, temerosamente,

olho de soslaio para o horizontee vejo a vida que floresce em sua plenitude

respiro e absorvo com esse novo olhara vida que renasce e sinto

um sopro da liberdade que me sussurra...liberte-se de suas amarras

liberte-se de tudo que a sufocavocê nasceu para voar

solte suas asas!Vá buscar seu sonho no horizonte

lá, o som das aldravas não conseguem chegar...lá, está o seu sonho, o seu mundo

lá, está a sua alma a esperarlá, você vai se encontrar...

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Maio/Junho / 2012

TRANSAMÉRICA FM 92,5(031) 3832-2300 ou (31) 3832-1082

SANTA BÁRBARA / MINAS GERAIS

NO. 97 MARIANA - Minas GeraisANO XII

Computadores, acessórios, manutenção e rede. Av. Castelo Branco,180-A - Centro - Santa Bárbara/MG.

Fone: 0--31 - 3832-1462

CRISTAIS E COMPANHIA FÁBRICA DE JÓIAS E SEMI-JÓIAS EM PEDRAS PRECIOSAS

RUA DIREITA, 85 - CENTRO - MARIANA / [email protected] FONE: (31) 3557-1471

Às voltas com os desafios da linguagem literária,vejo-me absorto nas platibandas da emancipaçãolinguística. Um pequeno texto poético é um turbilhão dediscursos e inesgotáveis fontes de reflexões tais como asenunciações criativas da infância. Uma criança, porexemplo, torna-se falante quando é capaz de criar aspróprias enunciações e, a cada dia, surpreende os adultoscom novas e novas formulações de frases e conceitos. Éisso, a criança não cria apenas novas frases, cria tambémnovos conceitos. Claro, a fala da criança é poética! Asociedade, no entanto, vai podando a criatividade infantil,que passa a se adaptar aos conceitos consolidados, aospadrões sociais restritivos e repetitivos de procedimentosconvencionados. A criatividade e a capacidade de veralém do que se apresenta ao alcance dos olhos é cada vezmais limitada. Instituições de toda ordem passam acontrolar as ações e os dizeres de cada um, injetandodados consolidados pelos costumes e acomodando laivoscriativos a tecnologias existentes e disponíveis. Muitomais prático dizer que poesia se constrói na rima e nolirismo. Se pedirmos a um cidadão comum que faça umpoema, lá virá ele com versos rimados; lá virá ele falar deamor e paixão. Em algum dado momento da históriaconsolidou-se a cultura de que a poeticidade se dá naintercalação de versos rimados, e que verso temmetrificação específica, diferenciada da cadência naturalda fala, e que palavras poéticas existem – e são as queexpressam apaixonados sentimentos íntimos. Tanto é queno Brasil até haicai se faz metrificando e rimando, adespeito da poeticidade que no haicai se extrai datematização e do ritmo próprio da natureza daenunciação. Poema rimado e metrificado é traço arcaicoda poeticidade, próprio do comportamento alienado dequem não acompanha o fluxo contínuo da evolução cultural.O desafio é convencer a sociedade da necessidade de seerradicar a cultura das podas, das tosquias, uma vez queé tão cômodo seguir cegamente às regras... A cultura dapunição consolidada nas sociedades contemporâneas temraízes fortes nas religiões derivadas da crença em umdeus punitivo, que mantém os infernos como forma dechantagem, método de adestramento social, que mantémo mal como regra (o pecado original) e o bem comoexceção (só aos batizados), sob a alegação primária deque é necessário haver controle sobre o comportamentodas pessoas. A educação positiva, de autorização para alivre produção criativa, é sonho distante. A legislaçãocristã é de foco negativo, a legislação laica é proibitiva, eo costume social é o de resolver problemas pelas vias dasrestrições – requisitam-se quebra-molas em todas asveredas que permitem desenvolvimento de ações livres.Em maio de 2012, quando a lei do acesso à informaçãopública entrou em vigor no Brasil, setores dos poderesiniciaram a formulação de estratégias para restringir oconceito de informação pública, para que os porõescontinuem a gerenciar as costuras das novas leis queprometem restringir ainda mais os direitos já restritosàs caminhadas livres. Exemplo claro é o que se pedediariamente como forma de aplicação da tal Lei Seca. Emtodos os tempos houve sempre quem infringisse as leis. Aesses se aplicam as punições. Em todos os tempos houvequem conseguisse fugir das punições. Esses aguçam a

fúria implacável dos entes das vítimas. E é o clamor dasvítimas que retumba como voz determinante peloendurecimento das penas. E punir é ainda algo parelho aoextremo legado de Talião – olho por olho, dente por dente.Esse clamor apaixonado de entes de vítimas, amplificadopor mídias sensacionalistas, leva os legisladores,despreparados e interessados nos resultados de eleiçõesfuturas, fazem-se vozes que se transformam em letras deleis exageradas e descabidas. Comportamento mesmo sedá nas ações sociais de vigilância sobre os escritos alheios.A começar pelos ditos doutores em assuntos literários –eles arrotam arrogância em descaracterizar tudo aquiloque não ecoa as presas vozes dos embalsamados pelaselites acadêmicas. Esses continuam a eleger como objetosde estudos apenas os velhos deuses entronados nas idaseras clássicas e se esquecem de que a escrita atual nãoprecisa e não deve ser cópia nem de modelos, nem deesquemas discursivos fósseis. É por isso que no Brasil, nãosó a literatura, mas as artes, de forma geral, sempre foramcópias de modelos estrangeiros. A pintura de Ataíde é cópiade gravuras de missais; a pintura atual é cópia de paisagensque a fotografia retrata melhor, e os textos literários sãocópias de velhas formas europeias. A primeira formanacional que o Brasil conhece de poesia é a Aldravia. AAldravia é da linhagem dos Profetas de Aleijadinho, únicose irreparáveis, não dos seus santos da barroca madeiramal copiados dos tardios barrocos portugueses. A Aldraviaé da linhagem dos inventores, sedentos por novidades, enão da dos navegadores, afeitos só pelas conquistas dasinvenções alheias. Todos os que ousam inventar esbarramem obstáculos interpostos pelos gestores das regras sociais,que insuflam as massas para, em coro, fazer cessar osinvestimentos nas novas descobertas. Alegam questõesmorais e éticas; alegam que a exposição de certoscomportamentos humanos universais é imoral – tais comoos dos impulsos sexuais e a descrença ao deus cristão. Nãose trata de apenas tabus, mas de controle sobre a expressãoe desrespeito às salutares diferenças. Salutar é poderperguntar, à maneira infantil, sem amarras, qualquer coisasobre a qual repouse dúvida. Pesaroso é responder comoadulto, cheio de nove-horas, cheio de dedos, para cumprirconvenções, para adestrar segundo as regras formuladaspelos legisladores reféns das vozes fragorosas dos entesde vítimas, sedentas de punição extrema. Salutar é poderdizer, sem restrições de qualquer ordem, qualquer coisa, aqualquer pessoa, sabendo que se pode ouvir algo emoposição integral. Pesaroso é não ouvir o argumento decontraposição, mas a execração porque a proposição inicialnão é congênere. Os desafios da linguagem literária vãopara muito além da metapoética. Os desafios são os de ser,sem restrições, a expressão da liberdade, sem fôrmas esem a pudicícia própria das ordens hipócritas que vigiam epunem aqueles que não desejam rezar nos velhoscatecismos que continuam a aprisionar almas a falsaspromessas de paraísos celestiais, esses que foramretirados de livres textos literários da antiguidade e, deficção, foram elevados à categoria de verdade metafísica.O custo pela aquisição desses paraísos é a perda daperspectiva de vida livre, que transforma possíveispromissores literatos em pregadores de dogmas e obrasliterárias em catecismos.

J. B. Donadon-Leal

[email protected]

Pós-Doutor em Análisedo Discurso / UFOPDesafios da Linguagem Literária

ECO/ALDRAVIA 2gabriel bicalho

[ Mariana-MG ]

secasobosolcrespavespa

Do livro: “ancoras flutuantes”Autor: gabriel bicalho / Edição: 2011

âncora 29 gabriel bicalho

duas garrafas do maisfino vinho deveriam ter curadoos males do malogrado amorpois ele parou bem defronteolhos nos olhos e viu que aface do espelho refletia a faceexplícita da pura melancoliaquando alguém certamenteobservou que aquele homemde pudicos e magos requintesdiscretamente sorrira sorrisoenigmático de gioconda loucae depois saíra do bar para afria madrugada indo emboraconvicto de que se tornariamais um insólito poeta quebrilha só inútil estrela naconstelação das letras: queamarga verdade se degustaagora no rubor de um vinho?

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www.jornalaldrava.com.br

UAI, ZÉ - Restaurante e Pizzaria [ Anexo ao Hotel Müller ] AVENIDA GETÚLIO VARGAS, 34 - Centro - MARIANA/MG FONE: (31)-3558-5109

Telelefone:(31) 3557-1415

Dra. ANA MÁRCIA M. S. ARAÚJOCROMG 33939

Rua Frei Durão, n° 176 - Centro/Mariana-MG CROMG-3523

Maio/Junho / 2012 NO. 97 MARIANA - Minas GeraisANO XII

CAOS URBANO

J. B. Donadon-Leal[ Mariana-MG ]

ruas integraisderivadas de sóisformam paralelase se encontram bem alidiante dos nossos olhosúmidos de fuligem

é a cidadeno seu caossaturadade nós

A DANÇA DO VENTO

Vi lma Cunha Duarte[ Araxá-MG ]

Quieta no meu cismarVejo as artes do ventoQue assobia que dançaNa coreografia tão suaDe provocar natureza

Acorda dia preguiçosoRefrescado com orvalhoDe beijos da noite amanteVenta setembro calorentoDesflorando a primavera

Tomba frutos condenadosLevanta braços de árvoresSopra voraz folhas mortasDançando ballet diferentePara quem sente a poesia

O vento ousado toca-meAcariciando lembrançasAcordando as saudadesDormideiras no coraçãoAbraçadas no meu amor

CARÊNCIA

Thereza Costa Val[ Belo Horizonte-MG ]

Vagando pelas ruas, o menino,sem esperança, sem palavra amiga,não sabe o que esperar de seu destinonem sabe se algum dia a paz consiga.

Conhece o sofrimento, o pequenino:a dor, o desabrigo, o mal, a intriga,e a fome sempre o traz em desatino...E por viver com fome, ele mendiga.

Pobre criança entregue à própria sorteque a vida leva em luta contra a morte,seguindo o que, da rua, a lei ordena!

Como ser bom se a sorte não ajuda!...Ele só quer, na sina que não muda,ganhar de alguém carinho... em vez de pena!

MENTE QUE MENTE

Jaquel ine Antunes[ Mariana-MG]

É mentiraque o amor acabouque a guerra venceuque o homem calou

a injustiça.

É mentiraque o dia não chegou

que o canto cessouque a esperança se desfez

na criança que brinca.

É mentiraque o pão é para todos

que a palavra é livrepara a gente deste país.

É mentiraque o político deseja

fazer da justiçasua obra primeira

para mudar o mundo.

Brasil:leite derramado

pela cobiçae sacanagemdos patetas

no poderde mente falha

que mente.

Queimaram as mataslevaram o ouro

o céu ficou cinzao sonho do homem

ainda é a últimaesperança

de vidada genteBRASIL.

AS ÁGUAS DA NOITE

Márcio Almeida[ Belo Horizonte-MG ]

20% do beijo, meu amor, são água,úmido desejo a ensalivar os cristaisda boca – esse mar que enxáguano prazer os rios férteis dos mortais.

A vida é água na nascente que sua bolsavai estourar na história. Líquida ou preta,Bic azul ou Diplomática, a escrita dessas lousas,minha louça, são aquáticos delírios de caneta.

Tudo é água quando o amor faz suar a cama,o termômetro do verão, a fornalha em cor debrum,é o molho o que lhe faz mulher ou dama,ou a água de cheiro do seu corpo quando nu.

Cercado de águas por todos os lados, amor é ilha,e deixamos que o quarto naufrague nas ondas dos cabeloscheias de oásis, de dunas e de trilhasencharcando o cio com a sede dos camelos.

E quando morrer de amor o amor que entornou vidapelos poros dos lençóis e a barra das anáguas,nós iremos semear o pão do corpo com a lidapara as noites de lua colher com as suas águas.

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Maio/Junho / 2012 NO. 97 MARIANA - Minas GeraisANO XII

3557-18838841-1883MC festas & eventos FONES:

Ofereça o que há de melhor para seus convidados /MARIANA/MG. 8757-1883

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Email:[email protected]

MARIANA TURISMORua Frei Durão, n° 114 - Centro/Mariana-MG. // //VIAJE COM A MARIANA TURISMO

FONES: ( 31 )-3557-2233 // [ 31 ]-3557-3899

PONTO DE INTERROGAÇÃO

Amél ia Luz[ Pi rapetinga-MG ]

Estou no ponto eestou sempre prontopara procurar, pesquisar,descobrir, o meu ponto,o tal, chamado ponto de apoio...Abro o olho, arrepio,escancaro o coraçãoacendo as luzes da alma.Onde estará aquele ponto?Aquele verdadeiro,que eu procuroo ano inteiro!Quanto desencontro!Afronto, confronto,monto um esquemapara achar o ponto, o do meu equilíbrio,aquele vertical que me faz crescere alcançar as estrelas...Tonto, escrevo um conto,alinhavo, passo o pesponto!Encontro afinalo ponto abissalque me situa entre o bem e o mal...Agarro o ponto de partida,a coragem, a iniciativa,a ignição da minha vida!Saio por aí correndo,transpirando velocidade,a milhas e milhas por hora!Volto, não durmo no ponto,assino o ponto do dia,(que correria!)mas ainda há tempopara as minhas fantasias,o meu ponto fraco!!!

SOL DE INVERNO

Auxi l iadora de Carvalho e Lago[ Belo Horizonte-MG ]

Interrompendoa hibernação,o astro-rei

surgiu no céubem animadoe brincalhão...

Todo assanhado,tocou

o verde do mar,que ficou

“damasquinado”...Beijou

a areia molhada,que ficou

toda queimada...Corou

a pele de Rosa,que ficou

toda rosada...Tostou

a pele de Rita,que ficou

toda irritada...Dourou

a pele de Dôra,que ficou

toda dourada...Antes, mesmo,

de se pôr,fez a luaprateada,

para cobrirtoda a praia

com uma noiteenluarada.

FALAR DE AMORCarvalho Branco[ Rio de Janei ro-RJ ]

Falar de amor...Com que voz?Com os lábios de Iracema?

Com o silêncio dos sós?Com o escuro do cinema?

Com os versos de um poeta?Ou com paixão bem concreta?

Falar de amor sob a luaque acoberta enamorados...

Dizer “meu homem, sou tua!”e viverem abraçados...Será sonho de verão?Será quimera, ilusão?

Falar de amor, madrugada,voando os dois pelo éter,vivendo nessa escalada,

sonhos de amor de Deméter...Quando vem chegando aurora,

a solidão os devora!

Falar de amor?... Compaixão!...Amor é pra ser vivido,

se sentido em coração...De palavras é despido,

não é meio de expressão,ele é todo doação!

Falar de amor, eu me atenho,amor é fonte da vida;

é chama, é aceso lenho,que aquece e nos dá guarida.Vão-me as palavras ao vento,

mas amor é por Deus bento!...

ALDRAVIA

Tânia Meneses[ Aracaju-SE ]

queroserteuúnicoversopoesia

ALDRAVIA

Marcol iva[ Florianópol is-SC ]

aldraviahaikainaoseiqueromais

ALDRAVIA [21]

JSFerreira[ Mariana-mg ]

deuchiliquenaimagemdatv

ALDRAVIA [XXV]

Goretti de Freitas[ Ipatinga-MG ]

oventoengoliumeussuspirossilenciosos

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Maio/Junho / 2012 NO. 97 MARIANA - Minas Gerais ANO XII

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Embora o enunciado do quinto postulado nãofale diretamente em linhas paralelas, ele étambém conhecido por “postulado das paralelas”.Nos Elementos, de Euclides (salvo engano meu!)as linhas retas paralelas são definidas comolinhas retas que estão no mesmo plano e, seprolongadas indefinidamente em ambas asdireções, não se encontram em nenhuma delas.Transpondo para linguagem corrente, pode-seconsiderar que a definição diz que retas paralelassão retas definidas no mesmo plano que não seintersectam. No âmbito da geometria euclidiana,é impossível demonstrar a 29ª proposição sem oquinto postulado:

Proposição 29 - uma linha reta que corta duaslinhas retas paralelas faz os ângulos alternosiguais entre si, o ângulo externo igual ao ângulointerno oposto e a soma dos ângulos internos domesmo lado igual a dois ângulos retos.

A demonstração desta proposição é talvez aprimeira relação do postulado com o paralelismo(até porque a 29ª proposição é a primeira emcuja demonstração este postulado é utilizado).Foi por aqui que enveredaram alguns dosmatemáticos que tentaram demonstrar o quintopostulado (como Ptolomeu). Contudo, aoprovarem corretamente esta proposição tinhamde necessariamente utilizar um postuladoequivalente ao quinto. Esta dificuldade emdemonstrar a 29ª proposição sem o quintopostulado foi incorretamente ultrapassada, coma utilização de uma definição especial deparalelismo. Para Possidônio (século I AC), linhasparalelas são linhas num único plano que nãoconvergem nem divergem, mas têm todas asperpendiculares, desenhadas dos pontos de umapara os da outra, iguais (Proclus, séc. V, 176.5-176.11). Isto é, duas retas são paralelas se foremequidistantes, ou seja, se a distância medida numaqualquer perpendicular de uma delas for sempreigual, independentemente da perpendicularescolhida.

À primeira vista, muitos dirão que esta novadefinição nada tem de errado e que, de fato, duasretas não se intersectam se e somente seestiverem sempre à mesma distância. Contudo,se não for suposto o quinto postulado, isso não severificará, ou seja, será possível haver retas quenão se intersectam, mas que não sãoequidistantes. Para infortúnio dos que recorrerama esta definição, ou a uma similar, parademonstrar o quinto postulado, afirmar que retasparalelas são equidistantes é equivalente aafirmar o próprio quinto postulado de Euclides.

Apesar de acreditar na demonstrabilidade doquinto postulado, Proclus percebe que a definiçãode paralelismo de Possidônio não é correta erefere à existência de linhas que se aproximamcada vez mais, mas não se chegam a intersectar.Ao longo da História, vários matemáticos voltarama insistir em definições de paralelismo deste tipoe, com base nesse erro, foram propostas váriasdemonstrações do quinto postulado.

Todo este raciocínio parece absoluta eradicalmente distanciado do fazer poético. Podehaver controvérsias. Se, enquanto se lê odesenvolvimento da argumentação, se pensarnuma outra definição – a de espaço – é possívelaceitar a hipótese de similaridade entre o axiomamatemático e o fazer poético. Em segundo lugar,adicionando à consideração do espaço a dealdravismo, o mesmo raciocínio ganha emconsistência. Em outras palavras, tome-se porpressuposto a ideia de que Formalismo russo eEstética da recepção são as duas retasconsideradas por Euclides (num mesmo plano).Assim, no primeiro texto que escrevi a respeito,a ideia de um ponto de fuga ganha consistência.Em matéria poética, as “certezas” – ditascientificamente provadas –, não cabem. Oaldravismo pode, então, ter como um de seusaxiomas a ideia de que constitui um ponto de fugaentre o Formalismo russo – e seu ideário teóricoacerca do “desvio” da linguagem – e a Estéticada recepção – que aponta o leitor como sujeito“final” no processo de construção de sentido.

O desvio da linguagem constitui-se aqui apartir da quebra da obediência cega – ou nemtanto – às “regras” que o fazer poético imortalizoue que continuam sendo revisitadas em todas asexperiências que tomam lugar no cenário dacultura linguística. Por outro lado, pensar que umaideia se corporifica em texto, sem que a dinâmicae orgânica intervenção do leitor catalise asreações necessárias à construção do sentido, éprova cabal de incompetência intelectual. Peca,por falta de inteligência, quem negar esses doisprincípios. Confesso que a radicalidade daafirmação é, em si mesma, já, um exercícioaldrávico de crítica. A interpretação fica por contado estímulo causado nas retinas que acompanhamestas linhas... Se não, vejamos:

Diário-poesiaDeia,a lua da sombraque se recusa a brilharé lua de sonhos

(J.B. Donadon-Leal, Mariana, 30/07/2011)

À primeira vista, o poema não oferecedificuldade. À parte o fato de haver apenas umsinal de pontuação – e penso que esta vírgula étudo –, o que faz com que o poema ganhe emcerta originalidade, nada mais contribui para quea idiossincrasia do poema seja matéria desofismas. No entanto, num primeiro passo, oleitor poderia resvalar na falácia do convite, feitopelo próprio poema, para ser lido como um“aviso” ou pedido feito ao sujeito nomeado para“enxergar” alguma coisa quando da observaçãodo luar. No entanto, sublimando o salto dovocativo, o poema pode ser lido como descriçãodo mesmo sujeito. Ou seja, “Deia” deixa defuncionar como “sujeito” da evocação para ocuparo lugar de objeto e nisso não vai nenhumaredução. Pelo contrário, o poeta alteia o sujeitoao patamar de objeto de sua consideração. Emoutras palavras do aviso, o poeta leva o leitor apensar em ode amorosa, não por substituição,mas por contiguidade.

O princípio aldrávico elege a metonímiacomo movimento essencial de sua poesia. Estatese é demonstrada pelo poema em questão,dado que a descrição do objeto de desejo,nomeado, se faz através de aproximações entreimagens e percepções aparentemente alheias aeste mesmo objeto, mas que, ao fim e ao cabo,o colocam no centro da elocução. Ora, a“descrição” da mulher amada não é feita pelasubstituição de seus traços pela comparaçãodestes com os similares encontrados, pelo poeta,no satélite. Assim, no lugar de demonstrar,substitutivamente, que o amor do poeta se dizpor metáforas que se espraiam pelos quatroversos do poema. Este, por sua vez, tende aoinfinito, dado que o poema não tem fim: aausência de ponto final é disso sintoma maisque evidente.

O que estou dizendo é que, neste caso, oleitor é quem “determina” o sentido do poema,como acabei de demonstrar. Esta demonstraçãonão tem como objetivo “comprovar” uma teseinerente ao poema, intrínseca, pré-estabelecidapela voz poética. A intervenção da leitura quefaço é que constitui o pilar de sustentação dosentido que esta mesma leitura. Nesta entorse éque se encontra a proposição de um dos dois

P O S T U L A D ODAS PARALELAS:

Formalismo, Recepção,Aldravismo /// (Conclusão) ///

Prof. Dr. José Luiz Foureaux de Souza JúniorPós-doutor em Literatura Comparada

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Maio/Junho / 2012

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pressupostos da hipótese que defendo: o delocalizar o exercício poético do aldravismo nadinâmica da leitura, como obrigação. Sem esteesforço do leitor, o poema cai na mesmice dosmetafóricos voos que a poesia já em alçadoatravés dos tempos.

Poema XIX varrer cinzas arrancar tocos ajuntar gravetos fazer fogueira clarear! acender... manter aceso em nós o amor...

(Liberato Santos, Mariana)

Neste poema, o movimento se dá em outradireção. Ao contrário do primeiro, os sinais depontuação não instauram ambiguidade, masestabelecem o ritmo do movimento das açõesdescritas. Também diferentemente, a descriçãonão se restringe a um objeto – ainda que suaimagem seja evocada no vocábulo “fogueira”. Oque de fato interessa é o movimento para aconstrução da fogueira e não ela mesma. Assim,com esta índole, nota-se também que aorientação metonímica prevalece, muito emfunção dos verbos em sua forma infinitiva. É estaforma que instaura o ideia de infinitude do amor,já indiciada por outro verbo: “manter”.

Outro aspecto interessante a destacar é adisposição dos versos. A “novidade” que podeser considerada não tão nova, remete, em certamedida a certas experiências van-guardista dofinal do século 19 e início do 20. A disposiçãocria ambiência visual do objeto “descrito”, semnecessariamente limitar a visão do leitor. Emoutras palavras, se estiver atento, o leitor vaioperar comesta imagem implícita, na construçãodo discurso poético que o induz a pensar no amorcomo objeto descrito pelo texto do poema. Assim,neste caso, a redutora subjetividade do conviteexpresso pela sequência de formas verbaisinfinitivas, arrasta o leitor ao ritmo dasuperposição das ações a que é convidado apensar, não como indivíduo, mas como“espécie”. O “efeito” do infinitivo tem esse poder!Mais uma vez o alerta do parágrafoimediatamente anterior a este segundo poemacontinua valendo...

Infinitude. Penso ser esta uma palavra-chave para a proposta aldravista, consideradana perspectiva das paralelas como aqui exposto.Penso que se pode pensar que a ordem dessapalavra está na inabalável crença na

ACADEMIA DE LETRAS,CIÊNCIAS E ARTES DE

PONTE NOVA – ALEPONCONCURSO LITERÁRIO

Prêmio “Professor Mário Clímaco”

1º) – A Academia de Letras, Ciências eArtes de Ponte

Nova – ALEPON, fará realizar o VII CON-CURSO LITERARIO - Prêmio “Prof. MárioClímaco”, que constará de duas categorias –Poesia e Crônica, de âmbito nacional.

2°) – Podem concorrer pessoas de am-bos os sexos, com a idade mínima de 15 anoscompletos até a data do encerramento dasinscrições.

3º) – As inscrições, gratuitas, estarãoabertas a partir de 1º / 03 / 2012 e se encer-rarão em 10 / 08 / 2012, valendo o carimbodo correio. Os membros da ALEPON não po-dem concorrer.

4º) – Nas duas categorias os trabalhos,com TEMA LIVRE, deverão ser de até 2 (duaspáginas), em papel A4, fonte 12, Times NewRoman ou Arial.

5º) – Para inscrever-se, basta que o con-corrente envie até três trabalhos inéditos, desua autoria, em cinco vias, datilografados ouimpressos em computador (não serão acei-tos manuscritos), além de CD contendo os tra-balhos, para a Academia de Letras, Ciências eArtes de Ponte Nova – ALEPON, Rua CantidioDrumond, 92 - sala 1 - CEP 35430-001 –Ponte Nova (MG).

6º) – Será usado o sistema de envelopes:o maior, com o endereço da ALEPON e do re-metente, conterá os trabalhos, com o pseu-dônimo do autor (o mesmo para cada traba-lho) e o envelope menor, devidamente lacra-do; o menor guardará a identidade do con-corrente: nome, RG, CPF, endereço completo,telefone e data do nascimento (ou adeclaração:“Tenho mais de quinze anos deidade”), além de data e assinatura.

7º) – Os vencedores receberão medalhase diplomas. A critério da comissão julgadorapoderão ser concedidas até 3 (três) mençõeshonrosas. São irrecorríveis as decisões dosjulgadores.

8º) – Os 10 (dez) primeiros classifica-dos poderão ter seus trabalhos publicados noInformativo ALEPON, publicação autorizada,automaticamente, com o ato da inscrição, semdireitos autorais, assim como os demais par-ticipantes.

9º) – Os membros da Comissão Julgadoraserão designados pelo Presidente da ALEPON,anunciados somente na data da divulgação dosresultados do concurso, uma vez que seusnomes ficarão em sigilo.

10º) – O resultado do Concurso será di-vulgado na Sessão Solene comemorativa doaniversário de Ponte Nova, no dia 26 de ou-tubro de 2012.

OBS. – Outras informações poderão serobtidas pelos telefones 3881.1697 -3881.3455e 38812663.

imutabilidade. A infinitude é manifestação quepertence à ordem divina e não humana. Nesteaspecto, o fazer poético aldravista inscreve-se noespaço mítico que costuma estar associado àprópria concepção de poesia, através dos tempos,sem limitar-se a ele. Por esse motivo, permitiu-se, a partir do imaginário social, que as pessoaspudessem crer nos planos traçados – ainda quedesconhecidos. Este desconhecimento é que fazda poesia aldravista um campo de especulaçãoestética quenão se pode desvincular absoluta etotalmente do universo já instaurado, mas pode,simultaneamente, vencer estes limites quandoelege a metonímia como forca motriz.

Entretanto, essa ordem suprassensível,imutável e inabalável ganhou, dentro daperspectiva humana, um oponente admirável: afalibilidade intrínseca ao sujeito. Na medida emque se vive num universo multifacetado, em que acomunicação se faz cada vez mais ligeira,automática mesmo, a profundidade dos olhos eemoções alheias, a infinitude se perde no “mundolíquido”, para usar a metáfora de Zigmut Balman.As relações de sentido são frágeis por natureza,pois seguem o impulso do desejo do sujeito queas articula. Assim, numa espécie de jogo contínuo,sem fim, a poesia aldravista redinamiza o fazerpoético na perspectiva de uma “modernidade” quenão se quer vetor de orientação único. Ao contrário,ao abrir mão da “autoria” – por que, afinal decontas, essa questão está presente na discussãosubliminar a este mesmo fazer – o aldravismo emsua poesia (favor verificar o caminho etimológicodeste termo para acompanhar com maisconsistência a veracidade de minha afirmação)redimensiona a noção de sentido, ele mesmo. Poroutro lado, não se pode deixar de reafirmar aherança cultural, quase genética, com que a poesiaé marcada, qualquer que seja sua orientação e/ouproposta. Assim não fosse, Harold Bloom teria ditocoisas instigantes em vão, mas este é assunto paraoutra oportunidade...

ECO/ALDRAVIA 3gabriel bicalho

[ Mariana-MG ]

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NOVOS POSTOS SHELL MARIANA

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Elias LAYONMariana-MG

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Revisões e conceitos emitidos em artigos,poemas e colaborações diversas são de inteira

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TORNEAMENTOS MARIANA LTDA NO. 97 MARIANA - Minas Gerais ANO XII

Rodovia dos Inconfidentes, KM 108 - Bairro São José - MARIANA-MG

“Veio o bairro de Santana de 1711, quando aliconstruiu a primeira casa o ex-secretário de Arturde Sá, José Rabelo Perdigão, que ficou nas Minas efoi mestre-de-campo, depois juiz ordinário daprimeira câmara eleita em 1711”. É nesses termosque o historiador Salomão de Vasconcelos passou àsua geração, em 1947[1] , a informação sobre aorigem de um dos primeiros bairros e a notícia daprimeira casa tricentenária de Mariana. O bairronasce com uma construção civil, que precedeu denove anos a bela igrejinha de Sant Ana, o casarãoque ficou com o nome de Casa dos PrimeirosSecretários. E para não deixar dúvidas, o historiadorcontinua: “Nessa data obteve ele o terreno ali, najunção do córrego Lavapés com o Ribeirão doCarmo, e ergueu a sua chácara, então chamada deBananal (...) Que essa vivenda em 1713 já existia,vê-se do Liv. n. 1 de Foros e das notas do tabeliãoGarcia Gomes Pilo, página 71, pois em 1713pertencia ela já ao secretário de D. Brás Baltazarda Silveira que era nessa data governador dacapitania. Passou depois à propriedade do secretáriodo Conde de Assumar, Domingos da Silva, em 1720,indo ter finalmente às mãos do capitão dos Dragões,José Rodrigues de Oliveira, como tudo se vê doslivros citados” (p.61).

A casa construída por José Rabelo Perdigão estáde pé, testemunhando, desde o primeiro momento,a histórica criação da Leal Vila do Ribeiro do Carmo,em 8 de abril de 1711, pelo Governador Antôniode Albuquerque. Tem uma frente larga, com cincojanelas e uma porta, todas em arco, como éfrequente nas casas coloniais. O acesso à porta éfeito por uma escada de pedra arredondada, comtrês degraus. No interior da casa, além de três salas,há vários quartos, uns dando para os outros, como

Uma casa tricentenária em Mariana Maurílio Camello*

é de praxe também nessas moradas antigas. Àexceção dos quartos de hóspedes, que deviam ficarseparados.

Comprada por Torquato Camêllo, o Catinho,a 7 de maio de 1951. Dessa data em diante, afamília tem feito o possível para conservar o imóvel,com todas as dificuldades sabidas, pois o tempose encarrega das pingueiras, das quedas de reboco,das ripas e caibros que apodrecem, e dos cupins,esses silenciosos e ativíssimos inimigos da História.A Casa dos Primeiros Secretários, uma dasprimeiras de Mariana e de Minas, encontra agoraum poderoso agente adverso mais forte que todosos outros: o trânsito pesado de caminhões e carrosque sobem e descem a ladeira de Santana, fazendotremer as vetustas paredes e já provocandorachaduras internas. Se não se toma algumaprovidência nesse sentido, o belo monumento doséculo XVIII está condenado. Como pode acontecercom a linda Capela de Sant Ana, que assiste doalto, impotente, à incúria dos homens,

E é uma pena. A Casa Tricentenária dosPrimeiros Secretários documenta o tempo, a longapassagem das gerações, com suas lutas, alegrias edores, e muitos acontecimentos que deram origemà mineiridade. Se o tempo é a medida da alma,como atestaram antigos filósofos, de modo quesem a alma não haveria tempo, na Casa habitapoeticamente a alma de Mariana e de Minas. Delá ela nos fala.

*Doutor em História Social, Professor aposentado daUFMG, Professor de Filosofia Antiga e Medieval na FaculdadeDehoniana de Taubaté________________________________________

[1] VASCONCELOS, Salomão de. Breviário Histórico eturístico da Cidade de Mariana. Belo Horizonte: BibliotecaMineira de Cultura, 1947.

A ALDRAVA LETRAS E ARTES ENSEJA VOTOSDE MUITO PROGRESSO E DE MUITA PAZÀ HISTÓRICA CIDADE ANIVERSARIANTE:

BERÇO DA CULTURA MINEIRA,PARABÉNS, MARIANA / 316 ANOS!

Foto: “Mariana ao Entardecer” - J. B. Donadon-Leal / 2012