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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS DEPARTAMENTO DE ECONOMIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO Maria Nivania Feitosa Barbosa A Evolução do Emprego Formal Industrial nas Cidades Médias do Estado do Ceará (Juazeiro do Norte, Crato e Sobral) no período de 1990 a 2010. Natal-RN 2013

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS

DEPARTAMENTO DE ECONOMIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

Maria Nivania Feitosa Barbosa

A Evolução do Emprego Formal Industrial nas Cidades Médias

do Estado do Ceará (Juazeiro do Norte, Crato e Sobral) no

período de 1990 a 2010.

Natal-RN

2013

Maria Nivania Feitosa Barbosa

A Evolução do Emprego Formal Industrial nas Cidades Médias

do Estado do Ceará (Juazeiro do Norte, Crato e Sobral) no

período de 1990 a 2010.

Dissertação submetida à

Coordenação do Curso de Pós-

Graduação em Economia da

Universidade Federal do Rio Grande

do Norte, como requisito parcial

para obtenção do título de mestre.

Orientador: Prof. Dr. William Eufrásio

Nunes Pereira

Natal, RN

2013

Catalogação da Publicação na Fonte.

UFRN / Biblioteca Setorial do CCSA

Barbosa, Maria Nivania Feitosa.

A evolução do emprego formal industrial nas cidades médias do estado do Ceará (Juazeiro do Norte,

Crato e Sobral) no período de 1990 a 2010 / Maria Nivania Feitosa Barbosa. - Natal, RN, 2013.

113 f.

Orientador: Prof. Dr. William Eufrásio.

Dissertação (Mestrado em Economia) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de

Ciências Sociais Aplicadas. Programa de Pós-graduação em Economia.

1. Economia - Dissertação. 2. Emprego formal - Dissertação. 3. Indústria - Dissertação. 4. Salários -

Dissertação. 5. Ceará - Dissertação. I. Eufrásio, William. II. Universidade Federal do Rio Grande do

Norte. III. Título.

RN/BS/CCSA CDU 331.5(813.1)

A Deus fonte de minha inspiração, à meu esposo, pelo

apoio incondicional; aos meus pais Oliveira e Graça por

me prepararem para a vida; aos meus irmãos, pelo

carinho em todas as fases da minha vida.

AGRADECIMENTOS

A Deus, por todas as conquistas alcançadas.

Ao meu esposo Dyme Karter, pelo seu amor, companheirismo, amizade, paciência e

confiança. Nós sabemos o quanto foi difícil os anos de mestrado.

Aos meus pais, José Oliveira Barbosa e Maria das Graças Barbosa, meus maiores

tesouros – pelo amor, conselhos e confiança.

Ao meu cunhado Dhonison, por todo apoio. É maravilhoso saber que posso contar com

você. Muito obrigada por tudo.

Ao meu professor e orientador, Dr. William Eufrásio, pela dedicação, paciência,

incentivo, orientação, amizade, carinho, simplicidade. Enfim agradeço por tudo e mais alguma

coisa. Não imagino como teria aproveitado esses anos de mestrado sem a sua ajuda.

Ao Grupo de estudos em Espaço, Trabalho, Inovação e Sustentabilidade (GEPETIS).

Inicialmente, agradeço aos professores doutores William Eufrásio, Marconi Gomes e Denílson

Araújo pela oportunidade de trabalharmos juntos em eventos realizados pelo grupo, pelos

constantes debates e pela amizade que construímos. Agradeço também pelas palavras

incentivadoras de Isabel Caldas, Aline, Carol e Ana Cristina. Agradeço especialmente a Isabel e

Aline, juntas descobrimos o verdadeiro significado de uma amizade.

Aos professores doutores Marconi Gomes e Denílson Araujo, agradeço pelas valiosas

sugestões e debates que mantive no GEPETIS e na ocasião da qualificação da dissertação.

Não poderia deixar de agradecer ao Grupo de estudos em Desenvolvimento Territorial

da Universidade Regional do Cariri–URCA, pelos intensos debates e pelos incentivos dados à

reflexão mais profunda, à pesquisa. Agradeço em particular ao Prof. Ms. Lima Júnior, que

contribuiu muito para a minha maneira de pensar e por todos os incentivos à realização dos

meus objetivos e a eterna busca do conhecimento. Ao Prof. PhD. Micaelson, por dedicar seu

tempo à leitura e sugestões para esse trabalho.

Agradeço a todos os professores pelas preciosas contribuições durante o mestrado, em

especial aos professores doutores, André Lourenço, André Mattos, Jorge Luiz, João Matos,

Maria do Socorro, Maria Lussie, Janaina e Valdênia Apolinário.

Aos meus colegas de mestrado: Daniela, Fátima, Mônica, Jonilson, Káritas, Janaina e

em especial a Danilo, Ana e Jessé, pois juntos passamos momentos inesquecíveis de muita luta,

persistência e companheirismo.

A secretária do curso de mestrado Veruska, sua dedicação e competência.

Ao REUNI, agradeço pela oportunidade de me dedicar exclusivamente ao estudo e à

pesquisa.

“Aprender é a única coisa de que a mente nunca se cansa,

nunca tem medo e nunca se arrepende” (Leonardo da

Vinci).

RESUMO

O presente trabalho constitui-se em uma abordagem sobre a evolução do emprego formal

industrial nas cidades médias do estado do Ceará no período de 1990 a 2010, posto que esse

período foi marcado por importantes mudanças. Ressalta-se que com o propósito de alcançar tal

intuito, foi realizado um levantamento da literatura relevante sobre a temática, bem como a

utilização de estatísticas da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), publicada pelo

Ministério do Trabalho e do Emprego (MTE) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

(IBGE). A questão central a ser considerada neste estudo é saber como evoluiu o emprego

formal da indústria nas cidades médias (Juazeiro do Norte, Crato e Sobral) do estado do Ceará.

O pressuposto que norteia este trabalho é que as políticas econômicas dos anos de 1990 e 2000

estimularam a relocalização com implicações importantes no emprego industrial formal nessas

cidades. No que concerne aos resultados obtidos na pesquisa, constatou-se que o setor industrial

dessas cidades, apresentou considerável dinamismo no que refere-se à expansão dos

estabelecimentos. Quando se observa em termos percentuais as cidades médias (345,5%)

tiveram o maior crescimento do número de estabelecimentos na década de 1990 com taxas mais

elevadas que a região Nordeste (285,9%) e o Brasil (167,5%). O destaque foi para a cidade de

Juazeiro do Norte, com maior concentração de micro e pequenas empresas calçadistas do

estado. No que concerne a quantidade de empregos formais criados nas cidades médias, o

mesmo passou de 6.596, em 1990, para 41.660 mil empregos formais em 2010, apresentando

uma taxa de crescimento de 532%. O setor que mais contribuiu para geração de emprego foi o

calçadista. Ainda, quanto o nível de salarial, a década de 1990 registrou os menores níveis. Nos

anos 2000, houve ganhos em todas as cidades. Entretanto, não foi suficiente para evitar que ao

final do período estudado as CMs-Ceará apresentassem níveis salariais relativamente baixos.

Palavras-Chave: Emprego Formal e Salários; Indústria; Cidades Médias; Ceará.

ABSTRACT

The work consists in a discussion of the evolution of formal employment in the

industrial cities of Ceará state averages from 1990 to 2010, since this period was marked by

important changes. It is emphasized that in order to achieve this aim, the present study was

based on a survey of relevant literature on the subject, as well as the use of the Annual Report of

Social Information (RAIS), published by the Ministry of Labour and Employment (MTE) and

the Brazilian Institute of Geography and Statistics (IBGE). The central question to be

considered in this study is how we evolved formal employment industry in medium-sized cities

(Juazeiro do Norte, Crato and Sobral) of Ceará? The assumption that guides this work is that

given the economic policies of the 1990 and 2000 these policies encouraged the relocation, thus

implying significant growth in the formal manufacturing employment in these cities. Regarding

the results obtained in the survey, it was found that the industrial sector of these cities, showed

considerable dynamism in what refers to the expansion of establishments. When observed in

percentage terms medium-sized cities (345.5%) had the highest growth in number of

establishments in the 1990s with rates higher than the Northeast region (285.9%) and Brazil

(167.5%). The highlight was the city of Juazeiro, with the highest concentration of micro and

small footwear companies in the state. Regarding the number of formal jobs created in medium-

sized cities, it went from 6.596 in 1990 to 41.660 million formal jobs in 2010, with a growth

rate of 532%. The sector contributed most to employment generation was the footwear.

Although the levels of minimum wages, the 1990 recorded the lowest levels. In the 2000, there

were real gains in levels of minimum wages in all cities, however, it may be noted that over the

decades there has been significant momentum. However, this momentum was not enough to

prevent the end of the study period CMs-Ceará present low wages.

Keywords: Formal Jobs and Wages; Industry; Cities Averages; Ceará.

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1- Taxa de Crescimento do Emprego Formal e da População nas CMs-Ceará

1991 a 2010 ................................................................................................................................. 93

LISTA DE FIGURAS

Figura 1- Localização das Cidades Médias Cearenses. .................................................. 63

LISTA DE TABELAS

Tabela 1- Características determinantes para localização da indústria brasileira (1995 a

1997) ........................................................................................................................................... 46

Tabela 2-Quantidade de cidades que concederam incentivos à implantação de novas

empresas (2001 a 2009)............................................................................................................... 47

Tabela 3- População, participação relativa e taxa de urbanização das CMs-Ceará, Ceará

e Nordeste (1980 a 2010) ............................................................................................................ 60

Tabela 4- Participação Relativa e Taxa de Crescimento do PIB industrial no Ceará e nas

cidades médias (1999 a 2009) ..................................................................................................... 62

Tabela 5- Número de Estabelecimentos no setor industrial nas grandes regiões do Brasil

(1990 a 2010) .............................................................................................................................. 72

Tabela 6- Estabelecimentos no setor industrial – estados do Nordeste (1990 a 2010) ... 73

Tabela 7- Estabelecimentos no setor industrial – Nordeste (1990 a 2010) .................... 74

Tabela 8- Estabelecimentos no setor industrial - Ceará (1990 a 2010) .......................... 75

Tabela 9- Número de Estabelecimentos nas Atividades Industriais – CMs-Ceará (1990 a

2010) ........................................................................................................................................... 76

Tabela 10- Número de Estabelecimentos no setor industrial – CMs Ceará (1990 – 2010)

..................................................................................................................................................... 76

Tabela 11- Participação Relativa do Número de Estabelecimentos de cada segmento

Industrial, na indústria de cada CMs-Ceará (1990 a 2010) ......................................................... 78

Tabela 12- Número de Estabelecimentos no setor industrial nas CMs-Ceará, no estado

do Ceará, na região Nordeste e no Brasil (1990 a 2010) ............................................................. 79

Tabela 13- Emprego Formal no setor industrial nas grandes regiões do Brasil (1990 a

2010) ........................................................................................................................................... 81

Tabela 14- Emprego Formal no setor Industrial nos estados do Nordeste (1990 a 2010)

..................................................................................................................................................... 83

Tabela 15- Emprego Formal nas Atividades Econômicas Industriais dos Estados do

Nordeste (1990 a 2010) ............................................................................................................... 84

Tabela 16- Empregos no setor industrial - Ceará (1990 a 2010) .................................... 85

Tabela 17- Número de Empregos Formais nas Atividades Industriais Econômicas –

CMs-Ceará (1990 a 2010) ........................................................................................................... 86

Tabela 18- Participação Relativa do Emprego Formal de cada segmento Industrial, na

indústria de cada CMs-Ceará (1990 a 2010) ............................................................................... 88

Tabela 19- Empregos no setor industrial – CM Ceará (1990 – 2010). ........................... 89

Tabela 20- Emprego Formal no setor industrial nas CMs-Ceará, no estado do Ceará, na

região Nordeste e no Brasil (1990 a 2010) .................................................................................. 91

Tabela 21- Grau de Industrialização nas CMs-Ceará no período de 1990 a 2010. ........ 94

Tabela 22- Número de Salários Mínimos* dos trabalhadores formais no Setor Industrial

de cada região do Brasil (1990 a 2010) ....................................................................................... 95

Tabela 23- Análise do emprego formal X número de salários mínimos em cada

segmento industrial nas cidades médias do Ceará (1990 A 2010) .............................................. 97

Tabela 24- Quociente de Localização Industrial de cada segmento Industrial, em cada

CMs-Ceará (1990 a 2010) ......................................................................................................... 100

LISTA DE SIGLAS

BEC Banco do Estado do Ceará

BNB Banco do Nordeste do Brasil

BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

CED Centro de Estratégia de Desenvolvimento

CEPAL Comissão Econômica para América Latina e o Caribe

CHESF Companhia Hidro Elétrica do São Francisco

CIC Centro Industrial do Ceará

CIDÃO Companhia Industrial de Algodão e Óleo

CMs Cidades Médias

CNI Confederação Nacional da Indústria

CVRD Companhia do Vale do Rio Doce

FDI Fundo de Desenvolvimento Industrial do Ceará

FHC Fernando Henrique Cardoso

FIEC Federação das Indústrias do Estado do Ceará

FINOR Fundo de Investimentos do Nordeste

DNOCS Departamento Nacional de Obras Contra as Secas

GTDN Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do Nordeste

HRC Hospital Regional do Cariri

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

ICMS Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços

IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

IPECE Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará

IPTU Imposto Predial Territorial Urbano

ISS Imposto Sobre Serviços

MTE Ministério do Trabalho e do Emprego

PAC Plano de Aceleração do Crescimento

PGC Projeto Grande Carajás

PIB Produto Interno Bruto

PITEC Política Industrial, Tecnológica e de Comércio

PAIG Plano de Ação Integrado do Governo

PLAGEC Plano do Governo do Estado do Ceará

PLAME I Plano de Metas Governamental

PLAMEG II Plano de Metas Governamental

PLANDECE Plano de Desenvolvimento do Ceará

PLANED Plano Estadual de Desenvolvimento

RAIS Relação Anual de Informações Sociais

RMF Região Metropolitana de Fortaleza

QL Quociente Locacional

SUDAM Superintendência do desenvolvimento da Amazônia

SUDENE Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste

UVA Universidade Estadual Vale do Acaraú

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .................................................................................................. 14 1 A FORMAÇÃO ECONÔMICA DO NORDESTE E CEARÁ ................... 22 1.1O Complexo Econômico da Região Nordeste ............................................... 22

1.2- O processo de industrialização brasileira e as consequências para a região

Nordeste. ............................................................................................................. 25 1.3-As Primeiras Políticas Intervencionistas no Nordeste .................................. 30 1.4 Políticas de Intervenção Governamental no Ceará ....................................... 33

2. O PROCESSO DE REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA E A GUERRA

FISCAL ............................................................................................................ 36 2.1 Reestruturação Produtiva no Brasil .............................................................. 36 2.2-O Nordeste no Contexto da Reestruturação Produtiva ................................. 41 2.3- Os Incentivos Fiscais e a disputa por investimentos no Nordeste ............... 43 2.4 Os Incentivos Fiscais concedidos pelo estado do Ceará ............................... 48

3. DESENVOLVIMENTO URBANO INDUSTRIAL NAS CIDADES

MÉDIAS ........................................................................................................... 54 3.1. As cidades médias do Ceará. ....................................................................... 58

3.1.1 Crato .......................................................................................................... 64 3.1.2 Juazeiro do Norte ....................................................................................... 66 3.1.3-Sobral ......................................................................................................... 68

4. EVOLUÇÃO DO NÚMERO DE ESTABELECIMENTOS E DO

EMPREGO INDUSTRIAL NAS CIDADES MÉDIAS DO CEARÁ ......... 71 4.1 Análise do número de estabelecimentos no setor industrial no Brasil,

Nordeste, Ceará e CMs-Ceará. ........................................................................... 71 4.2 Análise do número de empregos formais no setor industrial no Brasil,

Nordeste, Ceará e CMs-Ceará. ........................................................................... 80

4.3 - Grau de Industrialização nas CMs-Ceará. .................................................. 93

4.4- Remuneração salarial dos trabalhadores com emprego formal no setor

industrial das grandes regiões do Brasil e nas CMs-Ceará ................................. 94 4.5- Concentração Industrial nas cidades médias cearenses: a especificidade de

um setor dentro de uma região ............................................................................ 98

CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................... 103

REFERÊNCIAS ............................................................................................... 106

14

INTRODUÇÃO

Desde épocas remotas o homem tem o hábito de dividir o espaço de acordo com

as características que apresentam suas várias porções, levando em conta as condições

naturais e aproveitamento dos seus recursos. São utilizadas formas pouco precisas para

designar porções do espaço como: área, região, zona, terra (ANDRADE, 1987). Assim,

diferente da noção abstrata dos matemáticos, surge a concepção muito concreta de

espaço formulada pelos geógrafos. Estes juntam o traçado dos acidentes físicos,

configuração de continentes e mares, cadeias de montanhas, cursos de rios, desenhando

uma primeira rede auxiliar.

A partir do século XIX e começo do século XX os geógrafos desenvolveram a

noção de região e estudaram a organização territorial das sociedades. Os estudos

voltados para esse programa específico, denominado economia espacial, foram

formulados para responder aos problemas levantados pela região ou divisão das

atividades (BENKO, 1999). Esses problemas são relacionados inicialmente com as

disparidades econômicas (estrutura econômica, rendimento, nível de vida, produção

entre outros). Essa análise é feita entre diferentes regiões de um mesmo espaço

nacional.

O economista Von Thunen é considerado o fundador da economia espacial, seu

modelo procura determinar o ponto de maximização da renda da terra em diferentes

localizações, em condições de mercado, levando em consideração o custo de transporte.

O seu modelo mostrou que a produção agrícola seria uniformemente distribuída, no

entorno da cidade, em função dos custos de transportes. Os custos de transportes

assumem, portanto, importância vital na análise de Von Thunen (AZZONI, 1985). Os

Anéis de Thunen consistem nas diversas composições das culturas agrícolas no entorno

da cidade.

O economista Lipietz (1988) aprofundou a questão do espaço e criticou os

geógrafos e economistas tradicionais com suas concepções empiristas do espaço. Para o

autor uma região econômica é um espaço em si que constitui uma área homogênea de

articulação dos modos e formas de produção. Estes espaços só podem ser definidos a

partir de uma análise concreta das estruturas sociais que lhes conferem uma

individualidade.

15

Santos (1988) foi um dos principais pensadores brasileiros sobre a teoria do

espaço. Procurou discutir o espaço em toda a sua totalidade, considerando os seus mais

variados elementos: os homens, as firmas, as instituições, as infraestruturas e o meio

ecológico. Como estes elementos são mutáveis e se inter-relacionam entre si, o espaço

influencia e é influenciado pelos processos sociais.

Para Benko (1999) muitas interpretações são possíveis para a palavra região tais

como distrito, território ou espaço. É a partir da década de 1950, após profundas

transformações que ocorreram no processo de desenvolvimento dos países que os

economistas e os politólogos sujeitam-se a conceituar e a tornar operacional a palavra

região.

Os problemas econômicos, políticos e sociais tornam-se cada vez mais

complexos e as teorias convencionais que explicam o processo de desenvolvimento das

dimensões espaciais não conseguem dar respostas adequadas. As próprias teorias

elaboradas até então foram sendo adaptadas e ou substituídas por teorias que

explicassem melhor a realidade. É na década de 1950 que entram em cena discussões

como desequilíbrios regionais, polos de crescimento, jogo das forças econômicas.

Na intenção de superar esses obstáculos muitos estudiosos passaram a estudar

esse tema voltando-se para os principais problemas. Talvez a maior influência tenha

partido das formulações de Hischmann (1958), que analisou o processo de

desenvolvimento econômico e como o mesmo pode ser transmitido de uma região ou

país para outro. Esse autor via o processo de desenvolvimento como uma cadeia de

desequilíbrios e estudou profundamente o problema das regiões e países industrialmente

atrasados desenvolvendo o conceito de ligações para frente e para trás. Através destes

efeitos a implantação de uma indústria-chave pode induzir o surgimento de várias

outras.

Conforme Myrdal (1960) o desenvolvimento de uma região ou nação pode ser

dificultado por uma série de círculos viciosos entrelaçados. A sua contribuição mais

conhecida para o desenvolvimento/subdesenvolvimento está no princípio do círculo

vicioso que ele denominava de causação circular acumulativa, pelo qual um fator

negativo é, simultaneamente, causa e efeito de outros fatores negativos, assim o jogo

das forças econômicas de mercado opera no sentido da desigualdade.

Outra contribuição é dada pelo francês Perroux (1964), com sua teoria de polos

de crescimento. Conforme Perroux, o conceito econômico de espaço é encarado sobre

três ângulos: a) espaço econômico como conteúdo de um plano; b) o espaço econômico

16

como um campo de forças; c) espaço econômico como um conjunto homogêneo. Assim

resultam os três tipos de regiões econômicas: a) a região plano, b) a região polarizada e

c) a região homogênea. Esta se baseia na ideia de que as unidades espaciais separadas

podem ser reunidas porque mostram determinadas características uniformes. Para

Richardson (1981) as regiões polarizadas se compõem de unidades heterogêneas, mas

estas unidades estão relacionadas umas às outras funcionalmente. A região plano é

definida em termos de coerência e unidade no que se refere ao processo de tomada de

decisões. A implementação de uma política regional exige uma capacidade de atuação

que, na maioria dos casos, está nas mãos de governos.

É consenso para estes autores supracitados a necessidade da regulamentação e

intervenção do Estado como forma de evitar abusos de poder econômico e conter as

forças de mercado que tenderiam a acentuar os níveis de desigualdades regionais.

O papel exercido pelo Estado como organizador e ator social alcançou

importante destaque no período compreendido entre o pós-segunda Guerra Mundial e a

década de 1970.

“A intervenção governamental na economia passou a ser vista como

indispensável em diversas áreas, pois Estados ativos constituíram elementos-

chave em qualquer esforço bem-sucedido para construir modernas economias

de mercado, contribuindo para um rápido crescimento industrial” (LIMA;

SIMÕES, 2009, p.26).

A separação dos espaços de produção, dos espaços de gestão e as inovações

tecnológicas no sistema de comunicação reduziram o tempo e a distância, alterando as

escolhas locacionais de empresas, que não colocam como prioridade a proximidade da

matéria-prima ou do mercado de consumo (AMORA, 2002). Priorizam-se os incentivos

fiscais, a não sindicalização e o custo da mão de obra. As cidades assumiram novos

papéis na rede urbana brasileira e o espaço intra-urbano foi reestruturado em função da

demanda dos novos empreendimentos.

As cidades surgem devido a um determinado avanço nas técnicas produtivas

agrícolas que propiciam a formação de excedentes de produtos alimentares. As atenções

foram voltadas para diversas outras atividades e a cidade passou a ser esse local de

atividades-não-agrícolas e de intenso crescimento de trocas de mercadorias. Com a

intensidade dessas relações comerciais esses espaços crescem cada vez mais e se

especializam em determinadas atividades. A cidade concentra um grande número das

chamadas profissões cultas e a transmissão desse conhecimento tem nela lugar

privilegiado tornando-se assim elemento impulsionador do desenvolvimento e

17

aperfeiçoamento das técnicas. Assim, elas não estão isoladas e mantêm relações entre si,

sobretudo econômicas (SANTOS, 1988). Concordando com Santos, Braga (2004)

enfatiza que a cidade surgiu quando a evolução da agricultura permitiu a produção e

estocagem de excedentes e as sociedades tornaram-se mais complexas com o

surgimento das classes sociais baseadas na divisão social do trabalho.

Muitas são as definições do que se constitui uma cidade, mas a maioria desses

conceitos igualam-se num ponto: trata-se de uma aglomeração humana, de um conjunto

de pessoas vivendo próximas umas das outras. Muitas discussões giram em torno do

mínimo dessas aglomerações, para alguns algo em torno de 2 mil habitantes, para outros

5 mil e assim por diante. Portanto, a cidade é constituída por uma população

relativamente grande habitando num pequeno território (SINGER, 1973).

O urbano complementa e consolida a noção mais ampla do que conhecemos

como cidade. Santos (1992, p. 241) diferencia a cidade do urbano afirmando que a

“cidade é o concreto, o conjunto de redes, enfim a materialidade visível do urbano,

enquanto que este é o abstrato, porém o que dá sentido e natureza à cidade”. Pode-se

pensar então que a cidade e o urbano se interpenetram.

Para Singer (1973) o fato de um país ou região apresentar variações nas

quantidades de grandes cidades, cidades médias e na maioria das regiões um grande

número de cidades pequenas é devido a razões históricas decorrentes do processo

histórico de povoamento desse território. Santos (1988) discorre que para entender a

evolução global da população mundial é essencial compreender três dados

fundamentais. Primeiro, a distribuição dessa população entre as diversas áreas do globo

e dentro de cada país que evolui de forma diferente; segundo deve-se levar em conta as

migrações internas e internacionais muito freqüentes; e por último, as porções de

território ocupado que aos poucos exigem uma nova definição.

É a partir da conceituação do urbano que é possível descobrir a real função

econômica da cidade. Estas surgem quando concentram o excedente produzido no

campo, quando outras atividades (artesanato, comércio, serviços) provêm o sustento de

parte da população. Paul Singer (1973) faz a seguinte indagação: haverá alguma razão

econômica que leve um grande número de pessoas a se agruparem em áreas bastante

reduzidas? Segundo o autor certas atividades exigem uma elevada quantidade de

pessoas trabalhando em cooperação e vivendo próximas uma das outras para melhor

desempenhar essas funções. Dessa forma, o autor justifica a indústria de transformação

como atividade urbana por excelência.

18

Aliado à urbanização, profundas transformações estruturais acontecem na

sociedade e na economia brasileira a partir dos anos de 1950. Não é só o território que

acelera o processo de urbanização, mas é a própria sociedade brasileira que se torna

cada vez mais urbana. Essa grande transformação acompanhará o processo de

industrialização da economia brasileira, seu marco inicial foi na segunda metade da

década de 1950 e intensifica-se com a expansão dos sistemas de transportes e dos meios

de comunicação de massas. Nesse momento a economia camponesa cedia lugar ao

grande capital.

A migração interna em geral foi um dos elos mais importantes entre as

profundas mudanças estruturais e a grande transformação urbana. Para (BRITO;

MARQUES, 2005, p. 3) “O intenso crescimento da economia urbano-industrial, depois

do Plano de Metas até o final dos anos de 1970 foi, do ponto de vista espacial e social,

extremamente desequilibrado”. Concentrado no estado do Rio de Janeiro e, mais ainda

em São Paulo, o desenvolvimento da economia ampliou os desequilíbrios regionais,

inclusive entre cidade e campo, que não conseguia gerar o número de empregos que

atendesse ao crescimento da sua força de trabalho.

Houve uma preocupação com a desigualdade regional em meio a um forte

processo de concentração industrial em São Paulo, mais precisamente na região

metropolitana. No intuito de atuar sobre esse problema, configurou-se no Brasil uma

política de desenvolvimento regional, concretiza-se na criação da Superintendência de

Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE), na Superintendência de Desenvolvimento da

Amazônia (SUDAM) e de um conjunto de outros órgãos, como o Banco do Nordeste do

Brasil (BNB), que deveriam conduzir políticas de desenvolvimento nas regiões do

Norte e Nordeste. Os principais instrumentos utilizados foram os incentivos fiscais e

creditícios para investimentos industriais nessas regiões. Além disso, principalmente

nos anos de 1970, foram utilizados os investimentos públicos como forma de

desconcentrar a atividade econômica, tanto em infraestrutura (rodovia, portos, energia

etc.) como no desenvolvimento de novos setores produtivos, impulsionados pelo II

Plano Nacional de Desenvolvimento (II PND). A estratégia de desenvolvimento

regional baseava-se na desconcentração industrial, uma vez que a concentração do

emprego e da renda era associada à concentração industrial (AZEVEDO; TONETO

JÚNIOR, 2001).

Mudanças institucionais observadas na virada da década de 1980, por ocasião da

Constituição de 1988 e do conjunto de medidas da abertura comercial de mercado,

19

tiveram impactos sensíveis sobre o emprego industrial no Brasil. Houve forte retração

do emprego industrial formal entre os anos 1990 e 1993. O processo de reestruturação

pautou-se pela intensificação do trabalho desacompanhada de novos investimentos e

pela terceirização motivada pela redução de custos trabalhistas. Após 1994/1998 a

estabilidade monetária houve uma recuperação, com importante impacto no emprego

industrial (AZEVEDO; TONETO JÚNIOR, 2001).

O processo de abertura comercial, a alteração do papel do Estado na economia e

outras mudanças acabaram por influenciar a evolução e a estrutura do emprego no

Brasil. Foi observada estagnação do emprego formal na indústria no período de 1985 a

2002, tendo em vista o crescimento médio anual de apenas 0,2% ao ano. Como

consequência, a indústria, que respondia por um terço do emprego formal em 1985,

passou a representar apenas um quarto dos postos de trabalho formais em 2002

(CONSTANZI, 2004).

Ao se analisar esses dados por região, constata-se que a estagnação do emprego

formal foi fenômeno localizado na região Sudeste. Enquanto todas as demais regiões

tiveram crescimento do emprego formal nesse período, com a criação de 800 mil postos

de trabalho formais, no mesmo período, houve eliminação de cerca de 570 mil postos de

trabalho na região Sudeste. O fraco desempenho do emprego formal na indústria no

Brasil deve-se à retração do emprego na indústria de transformação da região Sudeste,

que anulou o incremento do emprego industrial das outras regiões (CONSTANZI,

2004).

As regiões que apresentaram maiores taxas de crescimento do emprego formal

industrial nos anos 2000 foram: Norte (114,2%), Centro-Oeste (113,2%) e Nordeste

(99%). Nesse sentido, as políticas regionais ganhariam destaque no âmbito da geração

de emprego e renda. O emprego formal industrial em setores intensivos em trabalho

migrou para regiões com baixos salários.

A Guerra Fiscal entre as várias unidades da federação, os salários mais baixos

nas regiões menos desenvolvidas, a proximidade de fontes de matérias-primas e o

desenvolvimento do Mercosul têm provocado o deslocamento da indústria em direção a

diferentes regiões. Alguns estados têm se beneficiado com o processo de

desconcentração industrial. Enquanto o emprego se reduz na maior parte do país,

estados como o Paraná na região Sul, o Ceará no Nordeste e vários estados da região

Centro-Oeste mostram um grande dinamismo recebendo novas empresas industriais e

apresentando forte crescimento do emprego. No caso da região Nordeste, o estado do

20

Ceará tem se destacado. O aumento do emprego foi ainda mais significativo ao ser

comparado com a forte queda nos outros estados mais importantes dessa região

Pernambuco e Bahia. No final da década de 1990, o Ceará caminhava para o primeiro

lugar no emprego industrial do Nordeste (SABOIA, 2001).

Nesse contexto busca-se entender a realidade que consubstancia nas cidades

médias do Ceará. Nas últimas décadas expressivas mudanças de caráter econômico e

socioespacial foram responsáveis por transformar essas cidades em importantes centros

do estado, responsáveis por expansão produtiva, aumento de emprego e alterações

importantes na organização do espaço.

O objetivo geral deste trabalho é analisar a evolução do emprego formal

industrial nas cidades médias do estado do Ceará no período de 1990 a 2010. Em termos

específicos, tem-se como objetivos: 1)Descrever a evolução no emprego industrial

formal nas cidades médias; 2) Identificar os principais subsetores do emprego industrial

formal nas cidades médias do Estado do Ceará; 3) Identificar os níveis salariais pagos

em cada subsetor; 4) Correlacionar empregos e salários, visando identificar os

subsetores que mais contribuíram para a formação da renda nas cidades médias.

A questão central a ser considerada neste estudo é saber: como evoluiu o

emprego formal na indústria nas cidades médias do estado do Ceará? O pressuposto que

norteia este trabalho é que dadas as políticas econômicas dos anos de 1990 e 2000 as

mesmas estimularam a relocalização implicando, assim, no crescimento significativo do

emprego industrial formal nessas cidades.

A escolha das cidades médias é baseado no conceito de Serra (1998) que propõe

um critério de tamanho da população. É definido como cidade de porte médio aquelas

com população urbana entre 100 a 500 mil habitantes no Censo Demográfico de 2000 e

não pertencentes a regiões metropolitanas, evitando o efeito de transbordamento

exercido pela região.

Tradicionalmente as cidades médias têm sido definida de acordo com seu porte

demográfico e embora essa variável seja importante é insatisfatória. Essa demografia

deve ser aliada a outras variáveis e fatores. Para Castelo Branco (2006) em um estudo

sobre cidades médias no Brasil, concluiu que além do tamanho demográfico, também

deve se evidenciar a localização destas cidades quanto ao sistema de transportes em que

está inserida como também a importância do tamanho econômico e do grau de

urbanização. Ressalta-se que também leva-se em consideração a influencia que essa

cidade exerce em seu entorno. Baseado nesses conceitos as cidades selecionadas para o

21

estudo foram Crato, Juazeiro do Norte e Sobral. Essas cidades passaram por muitas

transformações e ao longo dos anos o grau de importância em solucionamento do

processo de acumulação capitalista tem se destacado.

Com o intuito de desenvolver a presente pesquisa no que refere-se à perspectiva

metodológica, esta ancora-se no levantamento da literatura mais relevante sobre a

temática, bem como a sistematização dos dados retirados da Relação Anual de

Informações Sociais (RAIS), publicada pelo Ministério do Trabalho e do Emprego

(MTE) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em dezembro de cada

ano.Utilizou-se dados macroeconômicos do Brasil, Nordeste, Ceará e das cidades

médias em estudo. Ressalta-se quanto aos dados que a RAIS pode ser considerada um

censo do mercado de trabalho formal. A partir de 1994 os dados passaram a ser online e

os testes econométricos mostraram que desde 2000os dados contemplam mais de 95%

do total de ocupados estimado pelo Censo. É preciso lembrar, entretanto, que com

exceção do setor da construção civil e alguns setores da indústria de transformação a

indústria brasileira possui um mercado de trabalho relativamente formalizado (SERVO

et alii, 2006).

As informações quantitativas expressas em valores foram organizadas

sistematicamente e tratadas com métodos estatísticos. Foram analisados dados de

estabelecimentos, empregos e salários. As séries de valores sobre os salários do setor

industrial foram devidamente organizadas e deflacionadas com base no Índice Nacional

de Preços ao Consumidor (INPC).

Para tanto, além desta introdução e das considerações finais, a dissertação é

composta por quatro capítulos. O primeiro realiza uma breve discussão sobre a

formação econômica da região Nordeste e do Ceará, o processo de industrialização e as

políticas intervencionistas no estado do Ceará. O segundo capítulo trata respectivamente

da reestruturação da economia brasileira e do Nordeste e as políticas de Incentivos

Fiscais. No terceiro é feito uma abordagem sobre o Desenvolvimento Urbano industrial

e as cidades médias bem como caracterizada a área de estudo. No quarto capítulo é

analisado o dinamismo do setor industrial, a evolução do emprego formal industrial, os

principais subsetores e os níveis salariais de cada segmento industrial nas cidades

médias.

22

1 A FORMAÇÃO ECONÔMICA DO NORDESTE E CEARÁ

1.1O Complexo Econômico da Região Nordeste

As estruturas econômicas e sociais da região Nordeste se formaram desde a

ocupação inicial. A ocupação do Brasil iniciou-se pelo espaço nordestino na época da

expansão colonial européia. A economia exportadora nordestina surgiu, então, na

primeira metade do século XVI. O primeiro produto de exportação nacional foi o açúcar

que era produzido próximo à úmida zona litorânea do Nordeste brasileiro.

Historicamente, durante os séculos XVI e XVII, o Nordeste brasileiro foi a

região da colônia que mais acumulou riquezas. Foi lucrativo para vários agentes

econômicos, como fazendeiros e aqueles envolvidos na comercialização, financiamento,

expedição, comércio de escravos e importação.

Conforme Mendonça e Pires (2002) foi nos atuais estados da Bahia e de

Pernambuco, a partir de meados do século XVI, que a produção alcançou grande escala,

contribuindo para o desenvolvimento da colônia. Outro centro que logrou êxito foi o de

São Vicente (São Paulo), mas em desvantagem, pela distância em relação à Europa. O

açúcar tornou-se o produto de maior valor no comércio mundial desde fins do século

XVI. Teve papel decisivo no financiamento do Império Português para sustentar a coroa

e garantir-lhe a posse da colônia e na definição do modelo de colonização do Brasil,

baseado na grande propriedade rural, na vinculação dependente ao exterior, na

monocultura de exportação e na escravidão.

A economia nordestina passou por um atrofiamento a partir do final do século

XVII, com um declínio de sua renda per capita, o resultado foi o afrouxamento do efeito

dinâmico externo sobre a pecuária que levou a se apoiar cada vez mais no setor de

subsistência, com repercussões sobre a divisão do trabalho no interior dessa economia,

acontecendo um efetivo atrofiamento da economia monetária (GUIMARÃES NETO,

1989).

Para Furtado (2007), nesse período de crise em que mergulhou a região

Nordeste, prosseguia a ocupação humana e econômica do Brasil em outras regiões: a

23

das minas de ouro em Minas Gerais, a da borracha na Amazônia, a do algodão no

Maranhão, a da pecuária na parte meridional do país e a do café em São Paulo. Furtado

destacou a formação de outro Nordeste: o da pecuária. Que se organizou na porção mais

interior da região (estendendo-se para o Agreste e o Sertão, partindo do Nordeste

oriental na direção do Ceará e do Piauí, descendo até a Bahia) onde a ocupação das

terras também se dá de forma extensiva.

O ciclo de exportação do ouro mudou o centro de atividade econômica do Brasil

para o Sudeste, gente do litoral mudou para o interior. Com essa nova atividade as

cidades destacaram-se por possuir uma estrutura ocupacional mais complexa e assim

possibilitou a ocupação de um extenso território no interior do país provocando a

articulação da economia e da sociedade de diferentes regiões da colônia. A alimentação

para milhares de pessoas na região das minas foi principalmente através do gado, além

da pesca e de roças de subsistência. Então muitos tornaram-se tropeiros, tangendo tropas

de gado do interior do Nordeste ou do Rio Grande do Sul. Essa demanda por alimentos

nas cidades e centros de mineração estimulou a produção agrícola.

Para Furtado (2007) foi após a Revolução Industrial no século XVIII que o

algodão se tornou a principal fibra têxtil do mundo e o produto mais procurado nas

Américas. No começo do século XIX o algodão surgiu como segundo produto das

exportações brasileiras. A produção do algodão havia se tornado um excelente negócio

para alguns estados nordestinos como o Maranhão, a Bahia, o Ceará e o Nordeste

Oriental, alavancando o cultivo da fibra nessa região nordestina. O produto era vendido

a preços extremamente elevados, pois transformou-se na principal matéria-prima do

comércio mundial. Porém, com a entrada dos Estados Unidos no mercado mundial e sua

produção cada vez maior a produção brasileira entrou rapidamente em decadência.

Oliveira (1981) chama a atenção para a imagem desse país durante quatro

séculos: um arquipélago de regiões. As economias regionais se articulavam muito mais

com o exterior do que com o espaço nacional. Vale ressaltar que a dinâmica regional era

definida a partir dos mercados externos e da produção predominante de cada região.

A partir da dinâmica do setor cafeeiro o processo de articulação comercial foi

posto em prática. Os principais determinantes foram: de um lado a busca desesperada,

empreendida pelos produtores nordestinos na tentativa de escoar seus excedentes como

o açúcar e o algodão, e de outro, a indústria nacional, concentrada no sudeste e em São

Paulo, que logo teve de se voltar para o mercado das demais regiões brasileiras.

24

Segundo Guimarães Neto (1989) foi a partir do desenvolvimento industrial que

se instaurou uma competição inter-regional que provocou acomodação das regiões às

novas condições econômicas e foram criadas nos diversos mercados as bases de

serviços comerciais e financeiros. A periodização do processo de articulação inter-

regional foi dividida em três fases: a fase inicial de busca de alternativas de colocação

dos produtos nordestinos; a fase intermediária da expansão industrial articulada ao setor

externo e a consolidação do mercado interno do país.

Na fase inicial segundo Guimarães Neto (1997) quando a iniciativa da

articulação pertenceu ao produtor e exportador nordestino, o que se buscou foi a

complementaridade com a economia regional cuja atividade estava centrada na

produção do café e dotada de grande dinamismo, mas altamente especializada no início

do processo.

Guimarães Neto (1997) ressaltou que a presença do capital mercantil, em grande

parte de origem extra-regional, implicou na subordinação dos produtores do açúcar

nordestino ao capital mercantil que, na intermediação entre os produtores nordestinos e

os consumidores do Sudeste e do Sul, apropriou-se de grande parte da mais-valia obtida

na produção e na realização do açúcar regional. Por conta disto, muitos dos produtores

regionais passaram a adaptar seus processos produtivos às exigências do mercado

interno, em razão do domínio das refinarias do Sudeste.

O segundo momento do processo de articulação comercial inter-regional com a

expansão da indústria, a competição inter-regional passou a ocorrer não só nos

mercados das demais regiões nas quais o Nordeste colocava parte de sua produção, mas

no seu próprio mercado regional. Nesse momento, já se fazia presente a indústria

paulista que, estimulada inicialmente pela demanda local e das demais regiões e,

posteriormente, pela necessidade de ocupar sua capacidade instalada, se direcionou cada

vez mais para os demais mercados do país (CANO, 1977, apud GUIMRAES NETO,

1997). Assim, o Nordeste passou a sofrer tanto a perda dos mercados que detinha fora

da região quanto a perder espaço econômico no interior de sua própria economia com a

entrada de produtos do Sudeste no seu mercado. Isso ocorreu, sobretudo com relação à

produção de bens não-duráveis de consumo.

Os aspectos a serem destacados desse processo de articulação podem

ser assim resumidos: articulação comercial com base nos produtos

anteriormente voltados para os mercados internacionais, que ocorreu

pela presença marcante do capital comercial que obteve ganhos

25

substanciais nesse processo de intermediação; perda de mercados

ocorrida quando as regiões que constituíam destino da produção

regional diversificaram sua atividade produtiva e deslocaram a

produção nordestina; formação e constituição do mercado interno

brasileiro, a partir do desenvolvimento industrial do Sudeste e de São

Paulo, o qual, em sucessivas fases, foi ajustando a estrutura das

demais regiões periféricas pela competição, definido espaços

econômicos possíveis para a produção regional. (GUIMARÃES

NETO, 1997, p.08)

A fase que teve início após a crise de 1929 definiu o contorno da função que a

indústria passaria a desempenhar na articulação das regiões brasileiras. Foi a partir da

década de 1930 que o Estado, em consonância com os interesses dos grupos industriais

– concentrados no Sudeste, particularmente em São Paulo, passou a intervir cada vez

mais na economia, criando condições para o avanço da atividade industrial.

1.2- O processo de industrialização brasileira e as consequências para a região

Nordeste.

Segundo Pereira (1983) o decênio de trinta marca a arrancada definitiva da

industrialização brasileira. A decolagem dessa economia tem antecedentes bem

definidos. O desenvolvimento do ciclo do café tem características diversas do ciclo do

açúcar ou do ouro, pois com o café, começou a ser usado em grande escala o trabalho

assalariado, ao invés de trabalho escravo. Os cafeicultores logo descobrem ser mais

vantajoso pagar pelo trabalho dos colonos, geralmente por um sistema de meação,

permitindo assim a formação de um incipiente mercado interno. A importância

fundamental da expansão desse mercado assalariado junto com a expansão da cultura e

das exportações do café faz surgir as condições básicas para instalação de uma indústria

nacional orientada para o mercado interno.

Outro fator favorável de inegável importância para arrancada da industrialização

brasileira foi o ambiente propício para realização de investimentos industriais, que a

depressão dos anos trinta ofereceu no cenário endógeno. Furtado (2007) na sua análise

sobre o período deixou claro a inoperância e a incapacidade da política cambial da

época, como solução de ponta, para combater a crise. O grande diferencial da economia

brasileira foi ter aproveitado bem a geração de renda criada com a destruição do café,

apesar de ser um investimento improdutivo ou mesmo um absurdo, colher um produto

26

para depois destruí-lo. Mas foi isso que garantiu a geração de renda, que por sua vez

aqueceu o mercado interno, garantindo o nível de empregos ligados ao setor exportador,

mantendo a economia com altas taxas de crescimento e consequentemente criando todo

um cenário favorável para a realização de novos investimentos.

As reformas cambiais operadas no país a partir dos anos 1950 tiveram o intuito

de acelerar o desenvolvimento econômico. Como o Nordeste estava em atraso

industrial, os prejuízos ocorreram na razão inversa ao Centro-Sul. Ressalte-se que o

entrelaçamento das economias regionais notadamente as que constituem a periferia

Norte e Nordeste não se dá, até a década de 1960 a não ser pelo comércio, e a

transferência do capital produtivo do espaço onde está concentrado para as demais

áreas, em busca de novas fontes de investimento. O que predominou foi o escoamento

da produção, a busca de mercado, a comercialização da produção industrial concentrada

no Sudeste.

Tavares (1998) chama o período 1933 a 1955 de industrialização restringida no

qual falta uma definição clara e coerente do papel do Estado. De acordo com ela:

Não parece ser por falta de capital nacional ou estrangeiro que a

industrialização fica restringida e não se implanta a indústria pesada

sem a intervenção decisiva do Estado. Apenas, como se recordará não

tinha um potencial interno de acumulação em escala nacional, pois

estava apoiada apenas em um eixo regional de expansão enquanto as

demais regiões exportadoras se encontravam em decadência.

(TAVARES, 1998, p. 138-139).

Vale salientar a grande disparidade em relação ao movimento de acumulação nas

relações entre Nordeste e Sudeste. Conforme Oliveira (1981) há um predomínio de

mercadorias desta última região a ritmo crescente e implica no final, num predomínio

em relação ao Nordeste, em todos os setores. O Nordeste açucareiro perde posição de

forma alarmante, o setor têxtil entra em decadência, o Nordeste algodoeiro-pecuário

perde terreno para o algodão produzido no Sudeste. As mercadorias dessa região se via

favorecida por medidas político-institucionais e pela melhoria dos transportes. Nesse

caso o efeito inicial foi destruidor para o Nordeste que tinha um espaço próprio de

reprodução.

Conforme Cano (2007) as manifestações mais evidentes desse momento podem

ser assim resumidas: há um crescimento acelerado da indústria na década de 1930, a

partir de 1933 até 1939. A capacidade de importar e as dificuldades de outras ordens,

27

vigentes, sobretudo durante a Segunda Guerra Mundial, reduziram o ritmo do

desenvolvimento industrial, pois este estava ainda na dependência de importações de

equipamento, pois a indústria de bens de capital era ainda incipiente. No entanto, a

década 1945-1955 foi uma época de grande prosperidade para a economia brasileira.

Esse crescimento se deve principalmente a conjuração de dois fatores. O primeiro deles

foi a disponibilidade de reservas cambiais que o país dispunha para importar

equipamentos que a indústria nacional necessitava. O segundo foi uma grande melhoria

nos termos de troca do país ocorridos na mesma década. O grande responsável por esta

melhoria dos termos de troca do país foi a elevação no mercado externo do preço do

café.

No momento da industrialização restringida o Estado ao superar as formas

oligárquicas e regionais de pressões e de intervenção buscou meios e caminhos para a

centralização, para a efetiva constituição de uma forma mais avançada de Estado

capitalista e burguês. O processo de centralização ocorreu através da construção de um

complexo e diversificado aparelho burocrático administrativo que tem como funções

básicas a intervenção, regulação e controle da economia e da sociedade em nome do

interesse geral (GUMARÃES NETO, 1997).

No que se refere ao aparelho social do Estado, a sua ampliação e diversificação

ocorreu, notadamente, na área da saúde, educação e previdência social através de

políticas sociais. Quanto ao aparelho econômico estatal, a partir dele o Estado passou a

atuar sobre os pontos-chaves da vida econômica e social, elaborando políticas de caráter

nacional. A regulação e intervenção passaram a existir, com maior grau de articulação,

na área do câmbio, moeda, crédito, juros, salários, conforme (GUIMARÃES NETO

1997).

No que se refere ao sistema de transporte, houve, nesta fase, um avanço

substancial na articulação entre os diversos espaços econômicos do país. Embora não se

tenha progredido mais no tocante ao sistema ferroviário, o sistema rodoviário ampliou

consideravelmente o seu raio de ação.

Essa revolução no sistema de transportes não eliminou, de todo, as barreiras que

provocaram o isolamento relativo que possibilitavam a existência de unidades

produtivas menos eficientes. Isto se deu por várias razões. Primeiro, a rede ferroviária,

guardava características de sistemas estaduais ou regionais de transporte, sem

interligação com os mercados extra regionais. Além disso, o sistema rodoviário e

28

grande parte da frota possibilitavam muito mais as ligações nos mercados do Sudeste,

com prolongamentos para o Sul, do que em relação às demais regiões.

Analisando as repercussões sobre as economias regionais, particularmente sobre o

Nordeste, o Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do Nordeste (GTDN1)

assinalou que as indústrias manufatureiras nordestinas deixaram de acompanhar a

expansão do mercado sudestino e, ademais, perderam parte do mercado que ali

detinham (GTDN ,1967).

No entanto, a compreensão maior desse momento de articulação e de suas

repercussões pode ser obtida a partir de uma maior qualificação dessas constatações do

GTDN. Em primeiro lugar, não se trata só de perdas de faixas de mercados, localizadas

no Sudeste e no Sul, tradicionalmente reservadas às empresas nordestinas, mas de perda

de mercado no interior do próprio Nordeste, com a intensificação da invasão de alguns

segmentos do seu mercado por produção extra regional, inclusive bens de consumo não

duráveis (GTDN, 1967).

O GTDN, sem desconhecer a presença marcante do Estado na economia

nordestina, não deixou de destacar o papel assistencialista da sua intervenção, sem uma

correspondente ação no desenvolvimento da atividade produtiva ou na retenção, no

Nordeste, do excedente gerado pela atividade privada.

Do exposto, fica evidente que, nesta fase, simultaneamente com o aumento da

concentração industrial em São Paulo ocorreu uma intensificação da competição inter-

regional. No que se refere ao Nordeste os efeitos da competição orientaram-se,

seguramente, para as atividades industriais voltadas para os bens de consumo não

duráveis, notadamente têxtil e a produção de alimentos, inclusive o açúcar que foi

gradativamente deslocado dos mercados sulistas. No tocante às relações

Nordeste/Sudeste, este momento da industrialização restringida, caracterizou-se por

uma articulação comercial que se tornou bem mais intensa no interior das referidas

regiões do que entre elas.

A partir de 1956, o quadro industrial brasileiro começou a passar por um amplo

processo de transformação. Supera-se a fase de industrialização restringida. O novo

Governo que passa a conduzir o país assumiu um compromisso integral com o

11

Em 1956, o Banco do Nordeste (BNB) criou o escritório do Nordeste (ETENE), dentro do qual

foi instituído o Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do Nordeste (GTDN). Esses estudos serviram

de base para o famoso relatório “Uma Política para o Desenvolvimento do Nordeste”, que serviu de guia

para a criação do Conselho para o Desenvolvimento do Nordeste (CODENE), posteriormente

transformado na SUDENE.

29

desenvolvimento nacional. O planejamento passou a fazer parte da política econômica

do país. O Plano de Metas deu um grande impulso ao setor de bens de consumo

duráveis e no setor de bens de capital. Contudo, a indústria concentrava-se no Sudeste.

Houve assim uma clara consciência de que o espaço regional havia ficado à margem do

processo de industrialização o que agravou as desigualdades regionais.

Reconhecendo o efeito centrípeto sobre o Nordeste da concentração financeira no

Sudeste, o governo, a partir de 1960, passou a incentivar a transferência de capital

produtivo para o Nordeste. Isso foi possível graças à política de desenvolvimento

regional conduzida pela Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste

(SUDENE).

Segundo Guimarães Neto (1989) criou-se um pacote de estímulos financeiros para

a migração dos investimentos produtivos para o Nordeste. Estes estímulos eram

constituídos de uma série de incentivos fiscais. Dentre eles, podem ser destacados o

34/18, a redução progressiva do imposto de renda e até a isenção completa, para

empresas dispostas a investirem nos projetos selecionados pela SUDENE para o

desenvolvimento do Nordeste, empréstimos facilitados no Banco do Nordeste do Brasil

(BNB) e Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDS) com aval

da SUDENE e posteriormente o próprio Fundo de Investimentos do Nordeste (FINOR).

Segundo o mesmo autor, o montante destes incentivos chegaria a 94% dos

investimentos totais, ficando a cargo dos empresários apenas a contrapartida de 6% do

montante global. Com esta política, a rentabilidade dos investimentos no Nordeste

cresceu e houve na região um grande aporte de capital produtivo oriundos do Rio de

Janeiro e de São Paulo.

Os resultados foram favoráveis ao Nordeste neste período, com o aumento da

migração do capital produtivo. Guimarães Neto (1989) destaca que entre 1961-1967, a

economia Nordestina cresce mais que a brasileira, resultado obtido a partir da criação da

SUDENE no final de 1959, notadamente no que se refere à estratégia de ampliação e

coordenação dos investimentos públicos na região.

Essa mudança favorável para a região no período de 1961 a 1967 deve ser

creditada à mudança de comportamento do Governo, que passou de imobilista para

impulsionador e coordenador de investimentos produtivos no Nordeste. Foi esta

mudança de atitude governamental, que proporcionou ao Nordeste, a criação de uma

infraestrutura e uma taxa de crescimento relativamente maior do que a média nacional,

num período de recessão econômica vivida pelo país. Porém, isso não deveria ser

30

encarado com euforia, pois este crescimento se refletiu no aumento das disparidades

sociais dentro da região.

1.3-As Primeiras Políticas Intervencionistas no Nordeste

Há quase que um consenso entre estudiosos como Celso Furtado, Albert

Hirschaman, entre outros, quando refletem sobre a intervenção do Estado no combate às

secas, como primeira evidência do planejamento da atividade governamental para

resolver os problemas da economia regional. Porém, Oliveira (1981) ressalta que seria

apressado demais afirmar que isso aconteceu sem levar em consideração a emergência

de um padrão planejado da reprodução econômica e social e a falta de uma teoria sobre

planejamento. Contudo, foi no Ceará que se verificou as primeiras ações

governamentais contra as secas:

É somente a partir da grande seca de 1877 que o governo brasileiro

passa a encarar as secas nordestinas como um problema que, embora

regional, exige uma interferência federal. Dentro desse prisma, a

grande solução que se apresenta ao Governo para o Nordeste passa a

ser a irrigação, feita através de construção de açudes e barragens, bem

como a destinação de verbas para socorros especiais, por ocasião das

grandes estiagens. Data de 1884 o início da construção do primeiro

grande açude na região, o de Quixadá; em 1900 é assinado decreto

estipulando fundos especiais de socorro a serem empregados

especialmente em obras públicas. (KON, 1976, p. 57-58).

Segundo Oliveira (1981) a Inspetoria de Obras contra as Secas (IOCS) foi criada

em 1909, recrutando especialistas estrangeiros junto com alguns nacionais, formaram

uma excelente equipe de engenheiros, agrônomos, botânicos, hidrólogos entre outros,

assim muito se avançou no conhecimento físico da região semi-árida onde o Ceará fica

localizado. Só não se avançou em termos de entendimento e desenvolvimento de sua

estrutura sócio-econômica. Para Kon (1976) a partir de 1945 esta Inspetoria se

transforma no Departamento Nacional de Obras contra as Secas (DNOCS), diretamente

subordinada ao Governo Federal. A finalidade desse órgão é atenuar os efeitos das

secas. Analisando os resultados do programa até 1959 foram construídos 190 açudes

públicos, 470 pequenos e médios açudes em cooperação com particulares e perfurados

5.124 poços.

31

A construção de barragens não proporcionou grandes êxitos para a região, houve

alguns erros iniciais que resultaram em barragens que não tinham bacias irrigáveis como

o açude Coremas na Paraíba e o açude do Cedro no Ceará. Muitas dessas barragens

ficaram apenas no papel e outras foram construídas para benfeitoria de grandes

propriedades e sua forma de financiamento chegou a se constituir em outro pilar da

força e do poder político. O açude Coremas foi considerado o maior açude do Brasil na

época em que foi construído. Posteriormente, perdeu posição para o açude de Orós

construído no Ceará em 1961. Outros programas foram realizados como é o caso da

construção de uma rede de estradas não-pavimentadas e o Nordeste semi-árido contava

com uma rede de estradas superior em quantidade e qualidade à do resto do país, em

proporção à sua área. Essas estradas serviam, sobretudo para a circulação do algodão,

predominante no período e circulação da produção agrícola, estas em pequenas

quantidades e representavam culturas de subsistência (OLIVEIRA, 1981).O Ceará se

caracterizou como:

Um espaço de atividades extrativistas (...) que reforçou-se inclusive no

começo do século pela descoberta da utilização da cera de carnaúba,

nativa em vastas porções do estado cearense e também no Piauí,

sobretudo em sua metade Nordeste. O algodão reunir-se-á com a

pecuária e carnaúba para transformar o Ceará num vasto algodoal

segmentado em milhares de pequenas plantações, e a imbricação

latifúndio-minifúndio, comerciante-fazendeiro, fazendeiro-exportador,

não ocorreu em nenhum outro lugar do Nordeste com maior

profundidade que ali. As primeiras grandes obras da IFOCS e do

DNOCS foram no Ceará (...). Falar do DNOCS no Ceará, era o

mesmo que falar da oligarquia (OLIVEIRA, 1981, p. 56).

No período 1956 a 1961 deu-se a adoção no país do nacional

desenvolvimentismo, qualquer país só se desenvolveria caso se industrializasse. Existia

uma preocupação por parte do governo com a industrialização brasileira, com os

investimentos em infraestrutura, estímulos a burguesia nacional e abertura às

multinacionais.

Vale salientar que foi no Ceará que se instalou o primeiro órgão federal para

desenvolvimento regional com sede em Fortaleza, o Banco do Nordeste do Brasil

(BNB), com suas diretrizes, representou uma ampliação do modo de conceber os

problemas do Nordeste de que estes não se resumiam às secas mais à estrutura de

produção da região. Segundo Kon, (1976) a meta desse órgão era de apoiar os

agricultores e industriais, incentivando, sobretudo, o setor industrial através de

financiamentos.

32

A partir de 1956 uma série de medidas passaram a tornar viável o planejamento

regional. Pelo decreto de 40.554, de 1956, Juscelino Kubitscheck de Oliveira, criou o

Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do Nordeste (GTDN), resultando em

estudo exaustivo da região. O relatório final de avaliação ficou sob o título “Uma

política de Desenvolvimento Econômico para o Nordeste2”. Em uma tentativa de

diminuir as disparidades e a miséria da região, o estudo propunha um Plano de Ação

para tentar solucionar os problemas existentes. Os pontos que tiveram destaque foram:

Intensificação dos investimentos industriais, visando criar no Nordeste

um centro autônomo de expansão manufatureira;

Transformação da economia agrícola da faixa úmida, com vistas a

proporcionar uma oferta adequada de alimentos nos centros urbanos, cuja

industrialização deverá ser intensificada;

Transformação progressiva da economia das zonas semi-áridas no

sentido de elevar a produtividade e torná-la mais resistente ao impacto das

secas;

Deslocamento da fronteira agrícola do Nordeste, visando incorporar à

economia da região às terras úmidas do hinterland, maranhense, que estavam

em condições de receber os excedentes populacionais criados pela organização

da economia da faixa semiárida. (GTDN, 1967, p. 58).

Em 1959 foi criado o órgão de planejamento regional – a Superintendência do

Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE). Este novo órgão passou a funcionar em

março de 1960. (KON, 1976). Para Celso Furtado:

Com a criação da SUDENE, o Governo Federal equipou-se para

formular a sua política de desenvolvimento do Nordeste dentro das

diretrizes unificadas. Os investimentos federais serão agora

submetidos a critérios de essencialidade, consubstanciados num Plano

Diretor a ser apresentado pelo Sr. Presidente da República ao

Parlamento Nacional, que poderá assim exercer o seu trabalho crítico

de forma mais fecunda (FURTADO, 1989, p. 81)

2 Entre a ampla literatura que trata do assunto, destacam-se: Furtado (1961), GTDN (1967),

Cano (1977, 1985), Andrade (1986), Araújo (2000) e Guimarães Neto (1989).

33

É importante ressaltar que os planos diretores colocados em prática seguiam uma

diretriz comum: promover o desenvolvimento regional, norteados pelo diagnóstico

elaborado pelo GTDN.

Para Pereira Júnior (2011) a SUDENE foi essencial por estabelecer relações com

estados do Brasil, a indústria sofreu importante avanço e aperfeiçoou o seu sistema

produtivo, ampliando a produção e a contratação de mais força de trabalho, atingindo

fortemente os fluxos e a circulação de riqueza na cidade e na região.

1.4 Políticas de Intervenção Governamental no Ceará

As políticas de intervenção governamental possibilitaram não só um surto

industrial como preparou toda uma gama de técnicos, estudiosos e administradores os

quais seriam igualmente aproveitados nas gestões de governos estaduais. As mudanças

estruturais ocorridas na economia e sociedade nordestina desde 1950 criaram condições

para a emergência de novas elites. No Ceará, um grupo com fortes vínculos com os

setores modernos da economia, chegou ao poder e conseguiu influenciar a política em

âmbito nacional.

O que atrasou o avanço da industrialização cearense foi o domínio secular das

oligarquias, a concentração fundiária, a Ditadura Militar e o ciclo dos coroneis que

durante várias décadas detinham o domínio político do Ceará.

Para Teixeira (1995) a partir dos anos 1960, o Ceará, se tornou o terceiro maior

absorvedor de recursos da SUDENE para o desenvolvimento industrial. Nas décadas

1960 e 1970 aconteceram profundas alterações estruturais na economia cearense. Foi no

governo de Vírgílio Távora, época dos coroneis, que o Ceará recebeu um aporte

infraestrutural significativo. Foram construídas rodovias que cortavam o território

estadual, houve a chegada da energia de Paulo Afonso, foi instalado o terceiro polo

metal-mecânico do estado, bem como o sistema de telecomunicações, a universalização

do ensino médio e a arrancada no processo da industrialização. Assim, aos poucos o

Ceará foi se industrializando, em geral com fábricas do setor tradicional (indústrias

têxtil, de vestuário, calçados e artefatos de tecidos), possibilitando o fortalecimento

político da burguesia local.

O estado do Ceará, a partir da instituição do Governo das Mudanças, passou a

seguir uma nova política de desenvolvimento. Na segunda metade da década de 1980 o

34

quadro político-econômico do Ceará iniciou-se com um grupo de jovens empresários

que assumiram o comando do estado nas eleições de 1986 (FARIAS, 2007). O Centro

Industrial do Ceará (CIC), criado objetivando reunir os proprietários de

estabelecimentos fabris do Ceará para juntos tratar de assuntos de seu interesse e assim

buscar possibilidades de novos empreendimentos na tentativa de promover o

desenvolvimento do estado.

Na busca de efetivar algumas mudanças, uma série de medidas foram adotadas

pelo governo. As primeiras priorizavam o saneamento da máquina estatal, como cortes

de despesas e enxugamento do quadro de pessoal com a finalidade de se fazer uma

reforma no estado recuperando finanças e a capacidade de investimento. Em seus

discursos responsabilizavam o domínio dos coronéis pelo atraso do estado frente ao

país.

As ações do governo do estado passaram a ocorrer, mediante parceria com o

capital privado, isso a partir da segunda metade da década de 1980, época em que se

iniciou no Brasil o processo de abertura econômica. O papel do estado nesse momento,

segundo Pereira Júnior (2005), era o de fomentar a abertura de espaços para assegurar a

consolidação do capital industrial do Ceará. Na década de 1990 foi eleito presidente

Fernando Collor de Melo, período em que se dá a efetiva abertura econômica e as

medidas adotadas foram: diminuição as barreiras não tarifárias e redução das alíquotas

de importações, além de iniciar os programas de privatizações (estes na tentativa de

saldar a dívida pública).

Foi realizado no Ceará a construção do Porto Pecém (pelo qual escoa parte

importante da produção de frutas não só do Ceará, mas também de outros estados

vizinhos), a internacionalização do aeroporto Pinto Martins, a melhoria das rodovias

estaduais, a construção do açude Castanhão que implicou na construção da primeira

cidade planejada do Estado a Nova Jaguaribara. Apoio à agricultura irrigada e

investimento no setor turístico. Um dado importante foi com relação ao setor industrial,

ao longo dos anos instalaram centenas de indústrias no estado, de modo que o setor

cresceu numa média anual de 3,6%, a participação da indústria na composição do

Produto Interno Bruto saltou de 19% em 1970 para 40% em 2000. Vale destacar a

contribuição da agressiva política fiscal, atraindo indústrias nacionais e até estrangeiras.

O estado isenta as fábricas de 75% do Imposto sobre Circulação de Mercadorias de

Serviços (ICMS), por até 15 anos (FARIAS, 2007).

35

Salienta-se que foi com a implantação da política de atração de investimentos,

que permitiu a instalação de novas empresas industriais de diversos segmentos

industriais no interior do estado.

O governo do Estado tem desenvolvido grande esforço para atrair

novos investimentos industriais e descentralizar sua instalação nas

cidades do interior, através da execução de programas de apoio ao

setor. O resultado desse trabalho está traduzido na atração de 310

novas indústrias, no período de 1995 a 1997, sendo

111empreendimentos para o interior e 177 para a região metropolitana

de Fortaleza (exclusive a capital) e apenas 22 para Fortaleza

(OLIVEIRA, 1999, p. 42)

Maia e Cavalcante (2010) ressaltam que, apenas durante a década de 1990, após

a abertura comercial brasileira, a política industrial supracitada passou a dar resultados

mais significativos, sobretudo após o Plano Real que possibilitou aumento nas

importações. Apesar disso, o grau de abertura do estado ainda é reduzido e apresentou

em 2009 como principais produtos na sua pauta de exportações, os calçados, a castanha

de caju, couros e peles, frutas e produtos têxteis, enquanto que na sua pauta de

importações, destacaram-se, máquinas e equipamentos, produtos químicos, trigo e

têxteis, respectivamente. Vale salientar que essas evidências revelam um setor industrial

ainda gerador de bens de baixo valor agregado e com forte dependência de produtos

com grande necessidade de tecnologia de produção.

O resultado da política industrial foi a consolidação e incremento do parque

industrial do estado. Conforme Araújo (2000) o polo têxtil é o mais moderno do país e

segundo em termos de capacidade de produção. O polo calçadista é o terceiro maior do

país e o polo metal mecânico é o primeiro do Norte e Nordeste.

36

2. O PROCESSO DE REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA E A

GUERRA FISCAL

2.1 Reestruturação Produtiva no Brasil

No pós-segunda Guerra Mundial o sistema capitalista organizou-se

produtivamente a partir do sistema fordista-taylorista de produção nos países

desenvolvidos. Para Cattani (1997), o fordismo não se confunde com o taylorismo. Este

último caracteriza-se pela intensificação do trabalho, tendo como objetivo eliminar os

movimentos inúteis através da utilização de instrumentos de trabalho mais ajustados à

tarefa. O fordismo é uma estratégia mais abrangente de organização de produção,

envolve extensa mecanização, com o uso de máquinas-ferramentas especializadas,

linhas de montagem e de esteira rolante e crescente divisão de trabalho. O taylorismo

pode ser aplicado em firmas médias e pequenas, já o fordismo em grandes empresas

produtoras de bens de consumo duráveis.

Com referência à literatura nacional especializada na temática do trabalho há um

destaque para o estágio atual de transição do modelo taylorista-fordista para novas

formas de organização da produção e de gestão de mão de obra, a partir de

transformações na estrutura produtiva e no padrão de concorrência intercapitalista nas

economias avançadas. No final do século XX essa transição seria produto da

constituição de uma nova empresa, esta operaria cada vez mais em rede, mais adaptada

às crescentes variações do mercado e voltada à diferenciação dos produtos num

ambiente de acirrada e desregulada concorrência (POCHMANN, 2006).

Para que a empresa moderna tenha condição mais adequada para conviver num

cenário de forte concorrência e crescente instabilidade econômica precisa focar na

produção, terceirizar atividades ligadas aos serviços de apoio à produção. Esse novo

desempenho empresarial se daria com ampla integração nas fábricas, maior

flexibilidade produtiva e inovadores processos produtivos, nos quais se destacam: Just-

in-time, sistema de informação, células de produção e minifábricas (POCHMANN,

2006).

Assim, o modelo fordismo-taylorismo, esgota-se como modelo organizacional

dominante nos países desenvolvidos. Para Cattani (1997) o motivo foi em razão de os

mercados não mais aceitarem a padronização da produção fordista exigindo padrões

37

diferenciados de acordo com as demandas de diferentes segmentos. A nova firma

precisa torna-se flexível, capaz de responder, rapidamente, às frequentes mudanças de

demanda de mercado. Dessa forma, a nova empresa necessitaria de novas tecnologias e

novas formas de utilizar a força de trabalho, bem como acesso intensificado a

informação acompanhada de redução nos custos.

O princípio - padrão de organização - do fordismo falece e aparece o regime de

acumulação flexível mais bem integrado ao aproveitamento do processamento rápido e

barato da informação e ao capital financeiro (MARQUES, 1998). Para Harvey (1998, p.

140), um novo padrão surge nos fins da década de 1960, o de acumulação flexível, este

se consolidou a partir das experiências desenvolvidas no Japão. Essa acumulação

flexível se apóia “na flexibilidade dos processos de trabalho, dos mercados de trabalho,

dos produtos e padrões de consumo”, esse novo sistema caracteriza-se pelo “surgimento

de setores de produção inteiramente novos, novas maneiras de fornecimento de serviços

financeiros, novos mercados e sobretudo, taxas altamente intensificadas de inovação

comercial e tecnologia”. Essa nova fase fica marcada por um confronto com a rigidez

do fordismo. A recessão de 1973 pôs em movimento nos países avançados processos

que esgotaram o paradigma fordista-taylorista e em consequência, naqueles países, as

décadas de 1970 e 1980 foram períodos de reestruturação econômica e reajustamento

social e político.

Segundo Marques (1998), o aceleramento da informatização não deixou de

fortalecer em primeira instância o capital financeiro. Os novos sistemas de comunicação

disponíveis em todo o planeta e integrados aos computadores criaram as condições de

viabilidade de uma flexibilização. Por isso, para Harvey (1998, p. 155), “a acumulação

flexível evidentemente procura o capital financeiro como poder coordenador mais do

que o fordismo o fazia.”

O formidável aumento da capacidade de processar e transmitir

informações, acompanhado de uma não menos formidável redução

dos custos, não se faria também acompanhar de grandes

transformações econômicas, sociais e culturais associadas à

informática e às telecomunicações nas ultimas décadas (MARQUES,

1998, p. 51).

A acumulação flexível se espalhou por todo o mundo ocidental e ao difundir-se

não extinguiu totalmente o fordismo. Misturou-se a esse, mas sempre se superando

como modelo de organização produtiva. Esse novo padrão de acumulação cria e recria

novas técnicas de produção, recicla e reconfigura o trabalhador, visando a torná-lo

adequado ao novo sistema produtivo e ao novo mundo de consumo. Estarão afastados

38

da modernidade e, consequentemente, excluídos e desqualificados, todos os que não se

adaptarem à nova reciclagem e reconfiguração (CASTEL, 2005; PAUGAM, 2003 apud

PEREIRA, 2008).

Para entender o processo de reestruturação produtiva de capital é fundamental

compreender o processo do sistema de acumulação flexível, este introduz nos diversos

espaços produtivos, novos métodos, tecnologias, técnicas e cultura do produzir. Essas

novas tecnologias permitem um salto na produtividade. Assim, a reestruturação

produtiva inicia-se na década de 1970 nos países desenvolvidos e consolida-se na

década de 1980. Porém, é a partir de 1980 que inicia-se nos países em desenvolvimento

(PEREIRA, 2008).

Na primeira metade da década de 1980, as tentativas de reestruturação produtiva

no Brasil praticamente não existiram. Todas as atenções estavam voltadas para a crise

da dívida externa e a recessão econômica (baixo crescimento econômico, déficits no

balanço de pagamentos e nas contas públicas, alta inflação) e o segundo choque do

petróleo. No entanto, na segunda metade dessa década ocorrem impulsos significativos

para reestruturação produtiva. Com a intensificação da busca de inovação tecnológica e

organizacional inicia-se o processo de reestruturação produtiva no Brasil na segunda

metade da década de 1980 (PEREIRA, 2008).

No Brasil, no final da década de 1980, dada a recessão econômica e o

esgotamento do Modelo de Substituição de Importações (MSI), o governo brasileiro dá

início ao processo de reestruturação da economia, caracterizada pela abertura comercial

e financeira, adoção de câmbio flutuante, reformas fiscais e administrativas e

privatizações estatais, buscando adequar a economia a nova ordem econômica

(GIAMBIAGI, 2005).

Segundo Antunes (2005) existem três causas principais para o processo de

reestruturação produtiva no Brasil. A primeira refere-se a necessidade das empresas

brasileiras competirem internacionalmente em nível agressivo e concorrencial. A

segunda consiste na implementação, por parte das multinacionais, de novas tecnologias

de gestão e produção. A terceira consiste da necessidade das empresas nacionais

corresponderem à maior competição nacional e internacional.

Nesse intuito, as grandes empresas brasileiras e multinacionais promoveram uma

racionalização, de caráter defensivo, no processo produtivo, incorporando inovações

tecnológicas e organizacionais que contribuiram para redução dos custos e constituiu

39

em um processo de demissão, que atingiu os trabalhadores e suas lideranças sindicais

(ALVES, 2000).

Foi somente na década de 1990 que consolidou-se a reestruturação produtiva no

Brasil, com a abertura comercial que fez crescer o nível de competição das empresas

brasileiras com as internacionais. Para isso, foi necessário as empresas nacionais se

reestruturassem, ampliando a produtividade, cortando custos e implantando novas

tecnologias poupadoras de mão de obra e produtoras de bens e serviços de elevada

qualidade. Esse processo se fez junto com uma elevação do desemprego estrutural, que

foi acentuado com a política deflacionária do Plano Real.

Nesse momento houve uma intensa procura por inovações para aumentar a

produtividade e competitividade internacional, mas também uma preocupação nesse

período por parte das empresas, pela qualidade dos produtos ofertados. Assim, entraram

em cena os Programas de Qualidade e os produtos ficam sujeitos as normas de ISO

9000. A abertura comercial expôs as empresas nacionais à concorrência internacional,

assim as empresas nacionais precisavam buscar a modernização para adquirir fatias de

mercado ou até mesmo continuar no mercado.

Frente a essa concorrência internacional, o parque industrial brasileiro se

modernizou. O setor industrial flexibilizou a organização do trabalho e da produção,

desverticalizou e desconcentrou a produção (impondo uma nova divisão regional do

trabalho), também introduziu novas formas de contratação de trabalho, aumentando a

instabilidade dessas relações. Contudo, transformações na estrutura e organização da

indústria brasileira bem como a política de estabilização do Plano Real reduziram a

capacidade do setor industrial gerar empregos e elevou a taxa de desemprego no país,

em 1989 esta atividade respondia por 27% do emprego formal existente, reduzindo para

20,1% do total em 1999 (ARAÚJO et alii, 2011). Levando-se em consideração o

período de 1990 a 1998, a maior queda aconteceu na região Sudeste, atingindo 20,6%

sendo o estado do Rio de Janeiro com maior perda em relação ao emprego, com redução

de quase 29%. As regiões que apresentaram maior crescimento industrial foram Centro-

Oeste (41,1%) e Sul (2,79%) (LIMA, 2011).

Ressalta-se que o abandono da âncora cambial e sua substituição pela monetária,

provocou um novo ritmo ao crescimento da produção e do emprego industrial. Essa

mudança acentua-se em 2004, as taxas de crescimento voltam a apresentar níveis mais

elevados devido aos investimentos em infraestrutura, concessão de incentivos

financeiros e fiscais, expansão do crédito, criação de programas de qualificação

40

profissional, controle inflacionário, entre outros (ARAÚJO et alii, 2011). Outro fator

que contribuiu para o bom desempenho da economia pós 2004 foi o aumento do grau de

confiança por parte dos investidores nacionais, medidas adotadas pelo novo presidente

da República que contribuíram para esse grau de confiança. O governo adotou medidas

restritivas (elevou juros, cortou gastos e manteve a meta da inflação).

Vale salientar outro fato importante para o bom desempenho da economia

brasileira, o efeito China, que tem se manifestado no aumento da demanda internacional

de matérias primas. De modo geral, o Brasil tem se beneficiado pela expansão da China,

mesmo com sobrevalorização cambial dos últimos anos, as exportações brasileiras tem

atingido recordes históricos no período, contribuindo para elevação da demanda interna

e taxa de crescimento relativamente alta. As exportações brasileiras para China

cresceram quase trinta vezes ao longo da última década, passando de US$ 1,1 bilhão em

2000 para US$ 30,8 bilhões em 2010. Os principais produtos exportados foram: soja,

minério de ferro, aço e açúcar (LIBÂNEO, 2012).

Assim, no período observa-se forte entrada de capitais externos, aumento das

reservas internacionais, apreciação da taxa de câmbio e inflação controlada. Estas

medidas associadas ao quadro externo favorável permitiram a retomada do crescimento

após 2004. Outra medida, foi um maior interesse por parte do Estado na adoção de

políticas setoriais de desenvolvimento. Em 2004, foi lançada a Política Industrial,

Tecnológica e de Comércio Exterior (PITEC), com foco no incentivo à inovação, no

intuito de alterar a estrutura produtiva da indústria, deixando-a mais competitiva e

elevando suas exportações (ALMEIDA, 2009).

A reestruturação produtiva no Brasil implicou em um processo de

descentralização produtiva principalmente no setor intensivo em mão de obra. Essa

descentralização caracteriza-se por ser muito mais uma relocalização industrial do que

apenas descentralização de capitais. Os fatores que contribuíram para esse processo

foram o aumento da concorrência capitalista que ocorreu devido a abertura comercial e

a queda das barreiras alfandegárias. As empresas se modernizam e procuram relocalizar

os novos investimentos no intuito de absorver vantagens econômicas (ANTUNES,

2005).

41

2.2-O Nordeste no Contexto da Reestruturação Produtiva

Nos anos de 1960, com atuação do Governo Federal através de órgãos como a

SUDENE houve esforços para alterar o perfil produtivo da região, tornando-a

competitiva no mercado nacional e internacional em incrementar o PIB e de promover a

geração de empregos. Nas décadas de 1960 a 1980 verificou-se forte atuação do

Governo Federal na criação de órgãos institucionais na tentativa de alterar a estrutura

produtiva e promover o desenvolvimento.

Vale salientar, os pontos de intenso dinamismo econômico no Nordeste,

transformando o Nordeste. São polos dinâmicos que surgiram e se desenvolveram no

Nordeste, estes dotados de estruturas econômicas modernas e ativas. Em grande parte

esses polos dinâmicos foram responsáveis pelo desempenho relativamente positivo

apresentado pelas atividades econômicas da região. Dentre eles merecem destaque o

complexo petroquímico de Camaçari na Bahia, o polo têxtil e de confecções de

Fortaleza e o complexo mínero-metalúrgico de Carajás no Maranhão. Estes no que se

refere a atividades industriais. O polo de Camaçari, constituiu-se em um dos principais

pilares da crescente importância da produção de bens intermediários no Nordeste. “Esse

complexo industrial foi viabilizado com a participação de capitais privados nacionais e

multinacionais e com o suporte estatal (Petrobrás), contando com fontes de

financiamento diversas” (ARAÚJO, 2000, p 173).

Conforme Lima (1993) no Ceará, o polo têxtil e de confecções em Fortaleza se

destacou como um dos principais centros do setor, em âmbito nacional. Em 1991, o

polo cearense reunia cerca de três mil empresas, gerava 60 mil empregos diretos e era

responsável por 12% do ICMS do Ceará.

No que se refere ao complexo mínero-metalurgico de Carajás no Maranhão, este

está associado ao Programa Grande Carajás (PGC) e ao interesse do capital

multinacional, interesse esse em diversificar sua fonte de abastecimento de matéria-

prima. A Companhia do Vale do Rio Doce (CVRD), desempenhou importante papel na

consolidação desse polo, implantando infraestrutura para exploração/exportação de

minério de ferro. Nesse complexo, a prioridade à exportação é tida por parte dos

empreendedores desse local instalado, para isso o PGC incluiu a implantação da

ferrovia de quase 900 km de extensão como também construiu um porto (Ponta da

Madeira, na região São Luis do Maranhão) (ARAÚJO, 2000).

42

Em função desses investimentos, impactos importantes já se notam

nos anos 80: o PIB total do Estado aumentou, de US$ 2 bilhões, em

1980, para US$ 3 bilhões em 1987, tendo o produto da indústria

ampliado sua participação no total estadual, de 14,3% para 21,8%

(ARAÚJO, 2000, p. 174).

Assim, o perfil industrial do Nordeste foi modificando. Contudo, essa atuação do

estado não se verificou na década de 1990. Como observado no Brasil, o Nordeste

passou por uma reestruturação produtiva nos anos 1990, introduzindo novas relações de

trabalho, desconcentrando e horizontalizando a produção, além de adotar novas formas

de contratação e remuneração. A política industrial foi desarticulada com a abertura

econômica. A partir dai os governos estaduais passaram a adotar medidas que puderam

criar condições para o incremento da atividade industrial, tais como: incentivos

financeiros e fiscais que junto com a abundância de recursos naturais e demão de obra

barata, tornaram-se mecanismos de atração de indústrias.

A década de 1990 caracterizou-se como a retirada direta do Estado, tendo como

ações a privatização de alguns setores, a redução do investimento infraestrutural e

diminuição de subsídios e incentivos ao capital, resultando numa guerra fiscal em nível

estadual, com o objetivo de atrair investimentos e capitais que buscavam novos espaços

locacionais. Vale salientar que as indústrias intensivas em capital buscavam baratear

seus custos a fim de se tornarem mais competitivas. A consequência disso foi a elevação

da participação do Nordeste no total de empregos formais existentes na indústria

brasileira ao longo da década (LIMA, 2007; MATOS e MELO, 2002). Segundo Araújo

“a ausência de políticas regionais explícitas do governo federal abriu espaço à

deflagração de uma Guerra Fiscal entre Estados e Municípios, que buscam contribuir

para consolidar alguns focos de dinamismo em suas áreas de atuação” (ARAÚJO, 2000,

p. 127).

Com a concessão de incentivos e subsídios e a criação de uma infraestrutura

básica, o Estado tem importante papel para impulsionar os investimentos produtivos.

Pereira (2008) ressalta que a desconcentração industrial ocorrida nos anos de 1970 e

1985 mais especificamente em regiões metropolitanas dos estados de São Paulo e Rio

de Janeiro favoreceu a região Nordeste. Porém, esses efeitos reduziram-se após 1985 se

comparados com período anterior, mas fica evidenciado a atração de um número

significativo de empresas. O avanço no que diz respeito à instalação de novas indústrias,

se dá na década de 1990, muitas destas foram implantadas na própria região ou

43

transferidas do Sul e Sudeste. Esta migração de indústrias está ligada ao processo de

reestruturação produtiva e a guerra fiscal dos estados brasileiros, entre outros.

2.3- Os Incentivos Fiscais e a disputa por investimentos no Nordeste

Conforme literatura brasileira sobre o assunto, a utilização de isenções e

subsídios de vários tipos, mas principalmente de caráter tributário foi prática comum de

quase todos os governos brasileiros desde a década de 1960. Para Prado e Cavalcanti

(2000) o modelo brasileiro manteve-se inalterado nas suas bases desde 1960 e antes da

constituição de 1988: existiam alguns limites ao exercício da competência estadual e

controle das alíquotas por parte do Senado Federal.

Com a reforma, amplia-se a autonomia dos estados para fixar por leis próprias,

as alíquotas do ICMS incidentes sobre as operações internas. Foi retirado o poder da

União de conceder isenções e abatimentos do imposto estadual. A base do imposto

amplia-se tornando os estados peças chaves na formulação da política tributária

nacional, uma vez que o ICMS passou a ser o mais amplo dos tributos incidentes sobre

a produção e o consumo doméstico brasileiro. Esse imposto é o que mais gera

arrecadação no Brasil e com algumas mudanças conforme mencionado são os estados

que possuem autonomia para legislar sobre este imposto.

A concessão generalizada de benefícios fiscais via ICMS junto com a concessão

de créditos subsidiados e vinculados ao recolhimento do ICMS tem-se constituído em

instrumento de atração de investimento, geração de emprego, bem como constituíram a

chamada Guerra Fiscal que se expandiu principalmente a partir de 1988. Porém, foi na

década de 1990 que veio a explodir, a partir de 1993/94 numa grande polêmica

nacional. A maior liberdade fiscal foi um dos elementos que propiciou o

desenvolvimento e o acirramento da chamada Guerra Fiscal (PRADO; CAVALCANTI,

2000).

A Guerra Fiscal é um fenômeno relativamente antigo e constante no cenário

nacional. É um processo concentrado em determinados períodos devido ao surgimento

de elementos que levam ao acirramento da competitividade entre os estados.

A disputa por investimentos foi denominada de Guerra Fiscal, termo que define

a competição tributária. Com a abertura comercial e a estabilidade econômica esse fato

44

começou a ser destaque ofertando um conjunto de vantagens e benefícios,

principalmente no setor automobilístico. Os impactos podem gerar consequências

positivas que seriam a geração de empregos e renda, o crescimento do Produto Interno

Bruto (PIB) local como também a receita tributária futura. Porém, como efeito negativo,

a desarmonia entre os entes federados e a perda da receita presente, que poderá não ser

compensada no futuro, pois as empresas poderão migrar para outros estados depois do

período de carência e o estado poderá não receber em sua totalidade os recursos

aplicados (NASCIMENTO, 2008).

Conceitualmente é difícil a definição rigorosa de Guerra Fiscal. No geral, esse

termo caracteriza os procedimentos de concessões fiscais e creditícios implementadas

pelos estados. Varsano (1996, p. 2) conceitua a Guerra Fiscal como “uma situação de

conflito na federação em que o ente federado que ganha – quando de fato, existe um

ganho – impõe, em geral, uma perda a alguém a alguns dos demais, posto que ela

raramente é um jogo de soma positiva”.

No que se refere à Guerra Fiscal, Ferreira (2000) ao se reportar ao curto prazo,

entende que o estado que deflagra a guerra fiscal se beneficia. No longo prazo, a

generalização do conflito faz com que os ganhos iniciais desapareçam, pois esses

incentivos fiscais tornam-se meras renúncias de arrecadação. Com o aumento das

renúncias fiscais os estados de menor poder financeiro perdem capacidade de prover

serviços e infraestrutura que as empresas necessitam. As batalhas são vencidas pelos

estados que são mais desenvolvidos, tem maior poder financeiro e com isso conseguem

suportar o peso da renúncia e ainda assegurar razoável qualidade dos serviços públicos.

Para esse autor a renúncia fiscal é extremamente prejudicial por reduzir a receita

tributária dos estados, e no longo prazo induzir a concentração regional de produção.

Prado e Cavalcanti (2000) compreendem que não necessariamente os estados

que praticam perdem individualmente, no médio e longo prazo, caso os projetos

subsidiados sejam bem sucedidos. Na verdade dependendo da evolução desses projetos,

o governo estadual pode se encontrar numa melhor posição do que se eles não tivessem

ali existido.

Não se pode assegurar que as políticas de atração de investimentos pautada em

incentivos fiscais sejam boas ou ruins para o estado. Essa prática deve ser avaliada de

acordo com a necessidade do território, da região ou estado em obter tais investimentos,

como também relacioná-la à necessidade do país, região ou estado em ampliar

determinados setores produtivos (AMARAL FILHO e SOUZA, 2003).

45

Com essa maior autonomia para as Unidades Federativas (UF) legislarem sobre

suas fontes de receita houve uma intensa busca por investimentos privados. As UFs, na

intenção de atrair esses investimentos estimulam as empresas a sediar sua nova planta

industrial, assim o estado que oferecer o maior pacote de benefícios à empresa, vencerá

e atrairá a indústria.

Para Nascimento (2008) dentre os benefícios ofertados pelo estado estão

inclusos a isenção, ou postergação nos recolhimentos do ICMS, ou do Imposto sobre

Serviços (ISS), até a doação de terrenos, infraestrutura e financiamentos de longo prazo.

De acordo com NASCIMENTO, 2008 apud ALVES 2001, PERIUS 2002 os incentivos

fiscais podem ser classificados em três tipos:

1 – Concessões prévias para o início da atividade produtiva: doação de terrenos, obras,

facilidades de infraestrutura e outras formas de dispêndio financeiro que geram

benefícios parciais ou totais para a empresa.

2 – Benefícios creditícios associados ao investimento inicial e à operação produtiva:

formas diversas de crédito para capital fixo ou de giro. O crédito pode ser oferecido pelo

governo estadual, antes do início das operações da empresa, de uma só vez, ou em

várias parcelas, ao longo do processo de implantação e/ou operação. Os financiamentos

são ofertados pelas instituições bancárias de investimento, com recursos de fundos

estaduais ou de programas de desenvolvimento regional.

3 – Benefícios tributários relacionados à operação produtiva: a renúncia fiscal pode se

dar por meio da redução ou postergação de recolhimento ou, ainda, pela isenção de

impostos.

Segundo Piancastelli e Perobelli (1996), o grande número de benefícios fiscais e

concessões de créditos utilizados, bem como a ampla variedade de atividades

beneficiadas, fazem com que o incentivo fiscal seja anulado e deixe de ser um

instrumento de peso na promoção da atividade econômica em nível estadual. Vale

salientar que, dessa forma, esse instrumento perde substancial parte de sua eficácia. Os

principais tipos de benefícios fiscais e creditícios concedidos por todos os estados

brasileiros foram:

1- Isenção para micro e pequenas empresas;

2- Restituição total/parcial ou isenção do ICMS;

3- Redução do ICMS para exportação;

4- Prazos diferenciados ou suspensão para pagamentos (diferencial de

alíquotas);

46

5- Alíquota diferenciada para aquisição de ativo fixo;

6- Isenção para aquisição de indústrias novas, entre outros.

Os estados da região Nordeste foram os que apresentaram a maior diversidade

nas isenções fiscais e nos instrumentos de crédito, podendo destacar o financiamento

com crédito subsidiado para pagamento de impostos, complementação de linhas de

crédito obtidas fora do estado, subscrição de ações em empreendimentos novos e

formação de ativo circulante. É também na região Nordeste que os limites para

financiamento são os mais elevados do país. No caso de Alagoas, é possível financiar

100% do ICMS a ser recolhido pela empresa beneficiária nos dois primeiros anos de

funcionamento. Em outros estados da região, o limite de crédito varia conforme o tipo

de empreendimento. Nos estados da Bahia, Rio Grande do Norte e Paraíba, há

incentivos especiais para investimentos localizados fora das regiões metropolitanas

(PIANCASTELLI; PEROBELLI, 1996).

Dessa forma, para atrair investimentos, os estados aprimoraram e desenvolveram

outras formas de benefícios às empresas. Uma pesquisa focando características e

determinantes do investimento na indústria entre 1995 e 1997, realizada pela

Confederação Nacional da Indústria (CNI) e Comissão Econômica para América Latina

e o Caribe (CEPAL), feita com 730 empresas brasileiras de médio e grande porte,

mostram que os fatores determinantes para instalação de plantas produtivas tem cada

vez mais se diversificado.

Assim, a Tabela 1 apresenta as características determinantes para localização da

indústria brasileira, evidencia as principais variáveis que contribuíram para o resultado.

Tabela 1- Características determinantes para localização da indústria brasileira (1995 a

1997)

FONTE: PRADO e CAVALCANTI, 2000.

Variável Respostas (%)

Benefícios fiscais 57,3

Proximidade do mercado 57,3

Custo com mão de obra 41,5

Vantagens locacionais específicas 39,0

Sindicalismo atuante na região 24,4

Saturação Espacial 14,6

47

Deste modo, levando em consideração os fatores mencionados na Tabela 1, as

empresas transferem suas plantas visando alocação eficiente de recursos, havendo perda

apenas na receita tributária do estado de origem. O fator benefício fiscal tem se tornado

rotineiro, uma vez todos os estados adotando as mesmas práticas esses instrumentos

tendem a se anular, por isso outros incentivos tornam-se necessários.

A Tabela 2 apresenta a quantidade de municípios no Nordeste que ofereceram

incentivos para atrair novos investimentos. O período que concentrou o maior número

de incentivos foi de 2001 a 2002, os incentivos que mais se destacaram foram Imposto

Predial e Territorial Urbano - IPTU, Imposto sobre Serviços - ISS e doação de terras.

No entanto, a partir de 2005 percebe-se uma redução desses incentivos e entra como

novos incentivos a cessão de terrenos e isenção de taxas. Nos últimos anos os principais

incentivos oferecidos por esses municípios foram: doação de terras e cessão de terrenos.

Tabela 2-Quantidade de cidades que concederam incentivos à implantação de novas

empresas (2001 a 2009)

FONTE: MORAIS, 2012.

Piancastelli e Perobelli (1996), ainda mencionam outros tipos de benefícios que

os estados de certa forma são obrigados a concederem nas negociações para garantir a

instalação em sua área. Estes vão desde a doação de áreas industriais, execução de obras

de terraplanagem, fornecimento de infraestrutura básica à porta do estabelecimento

industrial, tal como energia elétrica, água, saneamento básico, construção de obras

viárias de acesso (pontes e viadutos), ramais ferroviários até a construção de creches e

escolas, tornando o custo inicial de um novo empreendimento industrial para os estados

muito alto e bem diferente daqueles ofertados pela simples concessão de benefícios

fiscais.

Após o processo nos anos 1990, de abertura da economia, parece ter ocorrido

nas regiões Norte/Nordeste, no período de 1994/1997, pelo menos em alguns setores,

INCENTIVOS 2001 2002 2005-2006 2008-2009

IPTU 402 444 135 136

ISS 409 447 195 200

DOAÇÃO DE TERRAS 451 476 139 328

INFRAESTRUTURA 370 459 179 -

DISTRITO INDUSTRIAL 130 148 289 -

CESSÃO DE TERRENOS - - - 247

ISENÇÃO DE TAXAS - - - 150

OUTROS 242 302 133 99

48

uma forte concentração temporal de investimentos, determinada seja pelo atendimento

aos novos níveis de consumo pós Plano Real, seja pela busca de posicionamento rápido

em mercados altamente competitivos e que passaram, num curto espaço de alguns anos,

a serem vistos como mais atrativos, devido a fatores como a estabilização e o

MERCOSUL (PRADO; CAVALCANTI, 2000).

Outro fator que também contribuiu foi o controle da inflação criando condições

favoráveis ao surgimento de oportunidades para os estados das regiões menos

desfavorecidas. O controle da inflação provocou um conjunto significativo na

capacidade de consumo das populações das regiões menos desenvolvidas, que, por

serem predominantemente de baixa renda, sofriam mais intensamente os efeitos

perversos da inflação. Esse aumento do poder de compra resultou na criação de

mercados consumidores locais mínimos capazes de incentivar a implantação de plantas

industriais nessas regiões.

A intensificação da competição provocada pela globalização pressionou as

empresas do Sul e Sudeste a tentarem reduzir significativamente seus custos. Vale

salientar que muitas empresas começaram a migrar para localidades que lhes

oferecessem menores custos de fatores, principalmente mão de obra barata e redução de

impostos.

2.4 Os Incentivos Fiscais concedidos pelo estado do Ceará

Até o início da década de 1960, a produção industrial do estado do Ceará estava

voltada para o setor primário e para as tradicionais indústrias têxteis, alimentícia e

química, que eram beneficiadas pela matéria-prima existente no interior do estado. A

partir de 1963 vários planos foram implantados voltados na criação de infraestrutura.

Entre eles destacaram-se:

- 1963 o Plano de Metas Governamentais – PLAMEG;

- 1967 e 1971 o Plano de Ação Integrado do Governo – PAIG;

- 1971 a 1974 o Plano do Governo do Estado do Ceará – PLAGEC;

- 1974 a 1979 o Plano de Desenvolvimento do Ceará – PLANDECE;

- 1979 a 1983 o II Plano de Metas Governamental - II PLAMEG;

- 1983 a 1987 o Plano Estadual de Desenvolvimento – PLANED;

- 1987 a 1991 o Plano de Mudanças do Governo Tasso Jereissati. (FARIAS, 2007).

49

No Ceará tem dois momentos bastante característicos: as décadas de 1960 -1970

época dos coronéis e o período pós 1987 governo de mudanças. Nos dois períodos

houve incentivos a industrialização porém, de forma diferente. Tende-se a imaginar que

só no governo de mudanças houve a questão do incentivo a industrialização, no entanto

quando há uma discussão maior sobre o desenvolvimento no Ceará dentro do Nordeste,

a SUDENE privilegiou os estados com mais oportunidades. Dentro do Nordeste os

estados mais privilegiados com a SUDENE foram a Bahia e o Pernambuco.

O estado do Ceará tenta criar instrumentos próprios como forma de suprir essa

falta de interesse do capital, tanto que as empresas do Ceará são mais de capital local do

que da Bahia e Pernambuco. Essa própria distancia do Ceará em relação a Bahia e

Pernambuco fizeram com que o Ceará tivesse uma perspectiva diferente em termos de

empresariado. Esses tomam o poder político a partir de 1987 como forma de tentar

implementar um programa para trazer benefícios para essa classe. A partir desse período

do governo de mudanças houve um outro tipo de incentivo, em outro contexto

econômico o da pré abertura da economia brasileira e do estabelecimento das políticas

neoliberais.

Dessa forma, além da abertura comercial como fator catalisador ou atrator do

capital houve as políticas de incentivos fiscais implementadas pelos estados

notadamente a partir da metade da década de 1980.

Na década de 1990, a economia nordestina expandiu seu parque industrial

através de políticas fiscais adotadas principalmente pelo Ceará e Bahia, atraindo

indústrias tradicionais dos setores têxteis, vestuário e calçados. Dessa forma, a oferta de

empregos elevou-se devido aos setores tradicionais da indústria ser intensiva em mão de

obra. Vale salientar que até 2002 a questão dos incentivos fiscais no Ceará foram muito

forte

O incentivo fiscal foi de grande relevância para a industrialização do estado do

Ceará em todos os planos econômicos anteriormente citados. Através das novas

propostas de investimentos em infraestrutura, enxugamento da máquina estatal, ajuste

fiscal e desenvolvimento da indústria, o Ceará vinha empreendendo esforços contínuos

para a transformação de sua estrutura econômica. Essas alterações refletiram-se nos

níveis de empregos e tamanho médio das empresas, pois houve surgimento de novas

grandes e médias empresas ao longo dos anos operando no Ceará. Essas alterações

econômicas têm se evidenciado nos anos mais recentes (SOARES, 1998). Assim:

50

A reestruturação produtiva do Ceará é consequência de uma política

industrial baseada em incentivos fiscais predominantemente

sustentados pelo governo estadual, que tem como marco determinante

a criação de vantagens fiscais e de infraestrutura em conjugação com

investimentos e recursos federais em projetos de acordo com a política

nacional de fomento aos eixos de desenvolvimento econômico e social

(MACAMBIRA e CARLEIAL, 2009, p. 182).

Promover a atração de novos e diversificados investimentos industriais para o

estado do Ceará esteve entre os objetivos dos planos de desenvolvimento econômico

dos governos cearenses, normalmente com o intuito de produzir uma reestruturação

produtiva na economia local para, desse modo, engendrar-se uma mudança na economia

do estado.

O setor industrial era entendido como elemento-chave para o desenvolvimento.

A criação do Fundo de Desenvolvimento Industrial do Ceará - FDI, em 1979 no

Governo de Virgílio Távora, foi uma estratégia gerida com o objetivo principal de dotar

o Ceará de um aporte legalizado que viabilizasse o incentivo a industrialização

(CEARÁ, 1979).

Conforme Irffi, Nogueira e Barreto (2009) as principais políticas adotadas pelo

Governo do Estado do Ceará foram as de incentivo à industrialização, via FDI, que

destacam-se pela isenção e prorrogação de impostos (incentivos fiscais), no intuito de

dar apoio à implantação, modernização, realocação e ampliação de empresas industriais

consideradas fundamentais para o desenvolvimento. Desde a criação do FDI, foram

necessárias alterações nos mecanismos de incentivo operado por esta política no Ceará,

devido às diferenças econômicas existentes entre os municípios da rede metropolitana

de Fortaleza e os localizados fora desta região.

As fases mais importantes do FDI desde sua criação foram:

1) 1979 a 1995 – A concessão maior de impostos era dada às indústrias que se

instalasse no interior do estado, não sendo relevante a que distância estas estivesse da

Região Metropolitana de Fortaleza (RMF) e nem a que setor estas empresas pertencia.

O benefício era da ordem de 75% para as empresas que se instalassem no interior do

Estado e de 60% para as que se instalassem na RMF. Todas as empresas tinham 36

meses de carência;

2) 1996 a 2001 – São estabelecidos novos critérios para concessão fiscal, em que as

empresas mais favorecidas seriam aquelas que se instalassem mais distante da RMF. Os

51

valores e benefícios continuavam os mesmos adotados até então, com o diferencial

apenas no tempo em que a empresa passava a dispor do benefício. A intenção era

intensificar a interiorização dos investimentos industriais e o desenvolvimento espacial

desconcentrado;

3) 2002 – O FDI passou por uma nova reformulação. A nova visão centra-se na

integração produtiva com foco na dinâmica industrial. Nesse período foi criado o Centro

de Estratégia de Desenvolvimento (CED), com a missão de identificar as cadeias

produtivas presentes no estado e remodelar a política industrial. Os municípios foram

identificados pela quantidade de polos formados por cadeias produtivas, os quais seriam

beneficiados por incentivos à produção. Dentre eles se destacam: os municípios da

RMF, Sobral, Itapajé, Canindé, Quixeramobim, Iguatu, Juazeiro do Norte, Tauá, Bela

Cruz, Morada Nova e Crato (PONTES et al, 2006).

As indústrias mais beneficiadas seriam:

a) Indústria estruturante (siderurgia, refinaria e energias alternativas), inclusive a

indústria de bens de capital;

b) Indústria de bens de consumo finais e seus componentes (cadeia couro-calçadista, de

móveis, têxtil, eletroeletrônica e metal-mecânica;

c) Indústria de alta tecnologia, ou indústria de base tecnológica (empresas pertencentes

a cadeias de biotecnologia, farmo-química, tecnologia da informação, etc;

d) Indústria de reciclagem e agroindústria.

A justificativa para escolha desses segmentos estava no fato de induzirem a

instalação de outras empresas industriais do estado, por provocarem impactos positivos

sobre a produtividade de outros setores, por gerarem produtos e serviços de alto valor

agregado, gerarem efeitos positivos sobre a ocupação e renda, entre outros fatores

(CEARÁ, 2002).

4) 2003 – Esta nova política industrial obedece a critérios de seletividade mais profunda

e traz um diferencial. Embora continue levando em consideração a localização

geográfica da empresa, nessa fase, observa-se como muito relevante o fator setorial,

com o intuito de melhorar o conjunto de vantagens locacionais de segmentos e setores

industriais afetados por algumas insuficiências estruturais, geradas por falhas de

mercado e de políticas federais destinadas a promover o desenvolvimento regional

(DIÁRIO OFICIAL, 2003)

Merecem destaque alguns incentivos que colaboraram para a promoção da

atração de investimentos para o Ceará, são eles:

52

- Incentivo à infraestrutura: doação de terrenos, rede de comunicação, sistema de

tratamento de esgoto, etc;

- Finor: concede benefícios a pequenos, médios e grandes empresas mediante incentivos

fiscais e financeiros;

- Linhas de crédito: instituições como Banco do Estado do Ceará (BEC), Banco do

Brasil (BB), Banco do Nordeste do Brasil (BNB) e Banco Nacional de

Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), auxiliam as empresas concedendo-

lhes empréstimos e assistência geral (CEARÁ, 2003). Conforme Beserra (2006, p.

12),“o BNB apresenta-se na região como um financiador de projetos com diversas

linhas de crédito. Em parceria com o Governo Estadual e com agências de fomento do

Governo Federal atuam diretamente na promoção e no incentivo dos projetos

industriais”.

Dias, Holanda e Amaral Filho (2003) evidenciam que ainda nessa fase de

industrialização foi criado um sistema de pontos, em que o valor da pontuação máxima

do critério era: volume de investimentos que representava 13 pontos; setores e cadeias

produtivas valendo 8 pontos; geração de empregos 12 pontos; aquisição de matérias-

primas e insumos no Ceará 7 pontos; localização geográfica 6 pontos e finalmente a

responsabilidade social 4 pontos. Foi estabelecido que o incentivo mínimo fosse 25%

para zero ponto e o máximo de 75% para 50 pontos. Cada ponto obtido pela empresa

equivalia a 1%.

Com o FDI, no período de 1995 a 2003, os investimentos para interior do estado

foram da ordem de R$ 1.453.027.753,80 com atração de 190 empresas e 40.093

empregos diretos. Os principais setores contemplados com esses investimentos foram o

coureiro-calçadista, metal-mecânico, alimentício, têxtil e de confecções (DIAS,

HOLANDA e AMARAL FILHO, 2003).

Essa nova política vem garantindo a instalação de alguns investimentos nos

municípios do interior do estado, como pode ser confirmado pela ampliação de

investimentos industriais em Sobral e no Crato e na abertura de importantes fábricas de

calçados em municípios como Russas, Iguatu, Morada Nova, Itapagé, entre outros.

Com a implementação dessas políticas o Ceará saiu na frente nas disputas pelos

investimentos. Foi um dos estados nordestinos mais bem sucedidos na atração de

indústrias para o seu território na década de 1990. Vale salientar que essas políticas de

incentivos fiscais implementadas pelo Governo do Ceará, notadamente a partir da

segunda metade da década de 1980, bem como o processo de desconcentração industrial

53

do Sul e Sudeste favoreceram o aumento do número de indústrias em todo o estado do

Ceará.

A atração dessas indústrias para o estado do Ceará tem gerado muitos debates.

Um deles foi que embora tenha aumentado a demanda por trabalhadores, muitas vezes

essa procura recai sobre atividades de baixa renda. O fato é que os ganhos poderiam ser

mais significativos.

Para Santos (1994) as realidades regionais são diferentes e o peso relativo das

aglomerações na população total e na população urbana de cada região é um reflexo da

história passada e recente de cada uma delas. O processo de desenvolvimento

econômico está associado com a distribuição da população entre os vários espaços.

Assim, como as cidades de portes diferentes crescem durante esse processo? Muitos são

os fatores envolvidos nessa dinâmica, tais como melhor suporte de infraestrutura

urbana, oferecer os melhores serviços à população, decisões de políticas públicas

tornando aquele município mais ou menos atrativo, implantação ou transferências de

firmas que promovem a criação de empregos e elevam a compra de bens e serviços

locais influenciando na atração de mais firmas e pessoas.

Para Pereira (2008) a estrutura das diversas atividades econômicas, em especial

a indústria, ocorre simultaneamente ao crescimento demográfico e econômico do

município, exercendo uma notável urbanização para a cidade. A indústria interfere no

espaço urbano. A indústria transforma o espaço urbano através da criação de

infraestrutura e instituições de apoio e suporte à industrialização. As infraestruturas de

água, energia, comunicações e estradas, investimentos do Estado, dão suporte à

atividade industrial, estimulando o desenvolvimento urbano e modificando o espaço

urbano.

Com a reestruturação produtiva, as cidades médias estavam mais articuladas em

uma ampla rede. Atraindo fábricas de empresas nacionais e multinacionais, ampliando e

diversificando o fluxo de pessoas, produtos e informações. Essas firmas decidiram

aportar seus investimentos em determinadas localidades buscando minimizar custos de

transportes, custos com mão de obra e tantos outros possíveis, consequentemente

atraindo principalmente populações interioranas.

54

3. DESENVOLVIMENTO URBANO INDUSTRIAL NAS CIDADES

MÉDIAS

Profundas transformações econômicas, culturais, sociais e políticas forão

promovidas com a implantação do Plano de Metas (1956-1960). “a rapidez das

transformações capitalistas operadas naquele momento desencadeou um processo

avassalador de migração, urbanização-metropolização e burocratização, constituindo

celeremente uma sociedade urbano industrial de massas” (BRANDÃO, 2007, p. 129).

Para Amora (2002) na fase da industrialização nacional, ocorreram mudanças

significativas nas chamadas cidades médias, pois nestas eram sentidos os efeitos desse

processo. As tradicionais feiras refletem essa realidade, sendo invadidas por produtos

industrializados do Sudeste, que passam a competir com o artesanato e os produtos

agrícolas locais. A melhoria e asfaltamento de rodovias e os transportes rápidos

facilitaram esse processo.

O Brasil apresentou intenso processo de urbanização, especialmente, na segunda

metade do século XX. Em 1940 a população que residia nas cidades era de 18,8 milhões

de habitantes e em 2000 aumentou para aproximadamente 138 milhões.

A partir de 1980, com o processo de fragmentação metropolitana, associado a

uma descentralização da indústria, que buscou nas cidades menores um distanciamento

do acirramento da luta sindical, redução dos custos de produção e, logicamente, a

lucratividade, provocou o reflorescimento de antigas cidades e o crescimento de outras.

“As cidades de porte médio, com uma população entre 100 a 500 mil habitantes,

crescem a taxas maiores do que as metrópoles nos anos 1980 e1990” (MARICATO,

2000, p. 24).

As cidades exercem funções econômicas de acordo com seu porte. As de

pequeno porte são caracterizadas por fornecerem apenas bens e serviços simples para as

cidades sem centralidade. A população das áreas de influência desses municípios é

forçada a se valer de centros maiores para satisfazer parte de suas necessidades. As

cidades de porte médio exercem funções industriais, comerciais, de serviços de toda

espécie, inclusive religiosos, administrativos, militares entre outros, mas de uma forma

mais especializada a uma área bem maior. Nestas cidades se encontram o comércio por

atacado, mercadorias com melhor qualidade, uma maior diversidade de locais para

lazer, médicos e clínicas especializadas, escolas de melhor nível, algumas sedes de

55

bancos etc. As cidades de grande porte desempenham todas as funções já mencionadas,

mas com destaque para o setor industrial, que tende a se concentrar cada vez mais em

cidades grandes (SINGER, 1973).

As cidades médias têm classificação diferente nos seguintes períodos: 1940/1950

e 1970/1980. No primeiro momento, uma cidade com mais de 20 mil habitantes poderia

ser classificada como cidade média, porém no segundo momento e até os dias atuais,

para ser uma cidade média, uma aglomeração deve ter população em torno de 100 mil

habitantes, exigindo muita cautela em sua interpretação. O processo de urbanização no

Brasil pode ser dividido em três períodos distintos. O primeiro período é conceituado

como de urbanização aglomerada e caracteriza-se pela crescente quantidade de cidades

com mais de 20 mil habitantes. O segundo período é conhecido como urbanização

concentrada. Nesse momento há um aumento significativo das cidades de porte médio.

O terceiro período é o da metropolização, que caracteriza-se pelo crescimento das

cidades com mais de 500 mil habitantes (SANTOS, 2005)

Nos anos 1950 a 1970, com a emergência das preocupações com o

desenvolvimento regional e desequilíbrios regionais, as cidades médias surgem como

solução. Essas cidades exercem atração sobre a população, devido principalmente, a

possibilidade da oferta de emprego, da instalação do setor industrial e de serviços.

Não existe uma definição única para determinar o significado geral de como

poderia ser conceituado o termo cidade média. Estas se apresentam a partir da década de

1970 como centros estratégicos para o desenvolvimento de políticas urbanas e de

desenvolvimento regional. Existem alguns fatores, difundidos pela literatura de

economia regional e geografia econômica, que definem funções específicas para os

centros de porte médio no interior do sistema urbano.

Com base na experiência que se acumulou até década de 1970 em vários países

sobre as cidades médias parece ser possível nomear alguns fatores, a época, necessários

para um centro ansiar cidade média. Conforme Amorim Filho (1984) são eles:

interações constantes e duradouras tanto com seu espaço regional subordinado

quanto com aglomerações urbanas de hierarquia superior;

tamanho demográfico e funcional suficiente para que possam oferecer um leque

bastante largo de bens e serviços ao espaço microrregional a elas ligado;

suficientes, sob outro ponto, para desempenharem o papel de centros de

crescimento econômico regional e engendrarem economias urbanas necessárias

ao desempenho eficiente de atividades produtivas;

56

capacidade de receber e fixar os migrantes de cidades menores ou da zona rural,

por meio do oferecimento de oportunidades de trabalho, funcionando, assim,

como pontos de interrupção do movimento migratório na direção das grandes

cidades, já saturadas;

condições necessárias ao estabelecimento de relações de dinamização com o

espaço rural microrregional que o envolve; e

diferenciação do espaço intra-urbano, com um centro funcional já bem

individualizado e uma periferia dinâmica, evoluindo segundo um modelo bem

parecido com o das grandes cidades, isto é, por intermédio da multiplicação de

novos núcleos habitacionais periféricos.

A partir da década de 1990 há um crescimento expressivo das cidades médias

no Brasil. É a partir desse período que surge um crescente interesse sobre essa temática

e os estudos refletem a realidade das diferentes regiões brasileiras. Muitos autores

avançam no que se refere ao conceito de cidades médias no Brasil, como por exemplo

Amorim Filho (2007), Castelo Branco (2006), Sposito (2006), Pereira e Lemos (2003),

Andrade (2001), Serra (1998), entre outros.

Diante da muitas conceituações, verifica-se ênfase nos seguintes itens:

localização geográfica, população, importância sócio-econômica como também mais

funções hierárquicas e no papel que estas desempenham no sistema urbano e regional.

Rigotti e Campos (2009) consideram como muito importante os movimentos

pendulares, isto é, aqueles que as pessoas, residindo em um município se desloca

cotidianamente para outros municípios para estudar e ou trabalhar.

Para Sposito (2006) acerca dos principais processos contemporâneos, neste

contexto de natureza espaço-temporal, que redefinem os papéis das cidades médias, as

novas áreas centrais são criadas para estas cidades se adaptarem “atenderem” às

mudanças decorrentes da dinâmica econômica a partir da mundialização do capital.

Com a globalização intensificando as trocas materiais e imateriais, e alta

competitividade comercial entre os setores e os lugares, houve mudanças na política

econômica e sociedade, imprimindo novas configurações espaciais. Então, após a

chamada globalização, quais os aspectos ou características que atestam a continuidade e

importância atribuídas às cidades médias? Nos anos 2000 Amorim e Serra (2001) e

Sposito (2001) acrescentam trȇs novas funções às cidades médias:

57

1- Podem ser articuladoras privilegiadas nos eixos ou corredores de desenvolvimento;

2- A atuação que podem exercer nos sistemas regionais ou nacionais e como fator de

sucesso na localização de tecnopólos;

3- a importância do sítio e situação ou posição geográfica, das relações espaciais da

cidade, especialmente no que diz respeito ao consumo, do papel que exercem nas

divisão do trabalho, das funções que desempenham e da questão da distância dos

centros de maior nível hierárquico. Sposito (2001) destaca ainda o avanço tecnológico,

sobretudo das comunicações, ao permitira dissociação entre os centros de tomada de

decisão e os centros produtivos, que abre novas perspectivas para estas cidades.

Para Amorim Filho (2001) o estudo sobre essa temática está associado a

mudanças ocorridas na reestruturação produtiva, abertura comercial e mudanças no

papel do Estado. Serra (1998) propõe um critério de tamanho da população para as

cidades médias entre 100 a 500 mil habitantes. Para esse autor essa parametrização é

capaz de englobar centros que já possuem escala urbana de atividades econômicas que

podem gerar economias de aglomeração, mas não são significativamente afetadas por

deseconomias de aglomeração.

Assim, as cidades definidas como objeto de estudo deste trabalho são as que

possuem população urbana entre 100 a 500 mil habitantes no Censo Demográfico de

2000 e não pertencente a regiões metropolitanas. Vale salientar que também levou-se

em consideração a influência que essas cidades exercem em seu entorno, a localização

destas cidades quanto ao sistema de transportes em que está inserida como também a

importância do tamanho econômico e do grau de urbanização, variávéis que conforme

Castelo Branco (2006) e Sposito (2006) são essenciais para conceituação de uma

cidade média.

Um fato importante deve ser mencionado sobre a reconfiguração industrial

brasileira dos anos de 1980 e de 1990. Apresentou perda de importância das metrópoles

nacionais como Rio de Janeiro e São Paulo, processo que fez com que muitas cidades

médias, inclusive as não pertencentes a regiões metropolitanas fossem beneficiadas.

Para Carvalho (2008) o crescimento das cidades médias no Nordeste é

evidenciado a partir da década de 1990. Período brasileiro marcado pelo processo de

liberalização da economia nacional e ausência de uma política de desenvolvimento

voltada para o setor industrial. A nova política de atração de indústrias se deu por meio

de concessão de incentivos. Essa iniciativa se deu no mesmo período em que as

indústrias do Sul e Sudeste buscavam resolver problemas de deseconomias de

58

aglomeração nos grandes centros, saindo de espaços saturados para baixar custos de

produção em outras regiões. Foi assim que muitas indústrias intensivas em mão de obra

como as têxteis e de calçados deslocam para o Nordeste e consequentemente para as

cidades médias dessa região. Os baixos níveis de salários aliados à proximidade de

matéria prima, infraestrutura local e desenvolvimento de novos mercados foram fatores

essenciais e decisivos para deslocamentos dessas indústrias.

3.1. As cidades médias do Ceará.

Os núcleos urbanos desempenharam importante papel na produção do espaço do

estado. A cidade enquanto ponto localizado no espaço, com sua territorialidade própria,

é um excelente elo entre as diversas formas de organização e exploração cearense.

Um olhar sobre as cidades médias cearenses, de um modo geral, pode indicar

semelhanças e diferenças no que se refere à origem, relações com o campo, predomínio

de uma ou outra atividade. Porém, o que pode aproximá-las é a condição que exercem

como centros regionais e o desenvolvimento de atividades produtivas nesses espaços

estudados. Ressalta-se que os papéis tradicionais das CMs não desapareceram.

Conforme Sposito (2007, p 37) admite:

a importância de uma cidade média tinha, e ainda tem relação direta

com a área sobre a qual ela é capaz de exercer influencia ou, em outras

palavras a área a partir da qual alguém está disposto a se deslocar até

uma cidade média para nela ter acesso ao consumo de bens e serviços.

Para o IBGE (2008) os estudos que definem os níveis de hierarquia urbana e

estabelecem a delimitação das regiões de influência das cidades brasileiras permite

reconhecer o avanço da divisão técnica e territorial do trabalho e as transformações

decorrentes das novas formas de comunicação que ampliaram a organização em redes –

de produção e distribuição de prestação de serviços, de gestão política e econômica. O

questionamento preenchido pela Rede de Agências do IBGE em fins de 2007

investigou:

a) as principais ligações de transportes regulares, em particular as que se dirigem aos

centros de gestão; e

b) os principais destinos dos moradores dos municípios pesquisados para obter produtos

e serviços (tais como compra em geral, educação superior, aeroportos, serviços de

59

saúde, bem como os fluxos para aquisição de insumos e o destino dos produtos

agropecuários).

Sabe-se que não é só a questão da cidade média sozinha ou isolada, mas o papel

que assume em determinada região. Dessa forma esse centro exerce influência em seu

entorno sobre um conjunto de cidades, podendo caracterizar o papel dessas cidades no

estado.

De acordo com o IBGE (2008) as cidades de Juazeiro do Norte, Crato e Sobral

exercem forte polarização em suas áreas, estes centros fazem parte das Capitais

Regionais C (constituído por 39 cidades com medianas de 250 mil habitantes e 162

relacionamentos. A região de influência de: Crato e Juazeiro do Norte concentra 36

cidades3 (30 do estado do Ceará, 5 do estado de Pernambuco e 1 do estado da Paraíba).

A influência de Sobral alcança ao todo 29 cidades4 do estado do Ceará. Deste modo,

quanto ao nível de hierarquia, esses centros tȇm atividades de gestão relevante; os

padrões gerais de centralidade e de relacionamentos derivados das diversas informações

pesquisadas pelo questionamento são recorrentes.

A dinâmica econômica também define aspectos que muito dizem sobre a

ocupação e o uso do espaço urbano em Crato, Juazeiro do Norte e Sobral. As principais

atividades são alguns ramos tradicionais da indústria de transformação, as atividades

ligadas ao movimento de romarias, no caso de Crato e Juazeiro do Norte, e o setor de

serviços públicos e privados decorrentes de demandas derivadas de outras atividades e

do próprio incremento trazido com a urbanização crescente. Porém, o foco desse

trabalho é no setor industrial.

A partir dos dados dos Censos Demográficos é possível a análise do crescimento

populacional e das mudanças ocorridas na estrutura demográfica. Assim, a Tabela 3

mostra a evolução da população das cidades médias do Ceará como também do próprio

estado e da região Nordeste nos anos censitários de 1980 a 2010.

3 Abaiara (Ce), Aiuaba (Ce), Altaneira (Ce), Antonina do Norte (Ce), Araripe (Ce), Assaré (Ce),

Aurora (Ce), Barro (Ce), Brejo Santo (Ce), Campos Sales (Ce), Caririaçu (Ce), Cedro (Ce), Farias Brito

(Ce), Grangeiro (Ce), Jardim (Ce), Jati (Ce), Jucás (Ce), Lavras da Mangabeira(Ce), Mauriti (Ce),

Milagres (Ce), Missão Velha (Ce), Nova Olinda (Ce), Penaforte (Ce), Porteiras (Ce), Potengi (Ce),

Saboeiro (Ce), Salitre (Ce), Santana do Cariri (Ce), Tarrafas (Ce), Várzea Alegre (Ce), Conceição (PB),

Bodocó (PE), Exú (PE), Granito (PE), Ipubi (PE), Moreilândia (PE). 4 Alcântaras (Ce), Bela Cruz (Ce), Cariré (Ce), Coreaú (Ce), Forquilha (Ce), Frecheirinha (Ce),

Graça (Ce), Granja (Ce), Groiaíras (Ce), Hidrolândia (Ce), Ipiabina (Ce), Ipueiras (Ce), Marco (Ce),

Martinópole (Ce), Massapȇ (Ce), Meruoca (Ce), Moraújo (Ce), Morrinhos (Ce), Mucambo (Ce), Pacujá

(Ce), Reriutaba (Ce), Santana do Acaraú (Ce), Santa Quitéria (Ce), Senador Sá (Ce), Tianguá (Ce),

Ubajara (Ce), Uruoca (Ce), Varjota (Ce), Viçosa do Ceará (Ce).

60

Tabela 3- População, participação relativa e taxa de urbanização das CMs-Ceará, Ceará

e Nordeste (1980 a 2010)

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE (2010).

Observando especificamente a última década, percebe-se na Tabela 3 que o

Ceará e o Nordeste registraram um aumento absoluto em sua população de 1.017.394 e

10.580.597 habitantes. Em termos percentuais, a população estadual corresponde a

15,9% da população da região Nordeste.

A taxa de urbanização corresponde ao percentual da população urbana dividida

pela população total. Este indicador dimensiona a parcela da população que reside em

áreas urbanas e, portanto, em tese, com maior acesso a serviços básicos de

infraestrutura. No que se refere à distribuição da população segundo a situação de

domicílio, tem-se uma taxa de urbanização para o Ceará em 2010 de 75,0%, percentual

superior ao da região Nordeste 73,3%, conforme pode ser verificado na Tabela 3.

Os dados individuais da taxa de urbanização de cada cidade média em estudo

podem ser visualizados na Tabela 3, possibilitando analisar as particularidades de

crescimento da população bem como seus quantitativos absolutos. Assim, analisando-se

as taxas de urbanização para essas cidades evidencia-se uma taxa maior para a cidade de

Juazeiro do Norte 96,1%, no ano de 2010. Os demais municípios apresentaram também

taxas de urbanização expressivas para o mesmo intervalo considerado, Sobral 88,3%,

Crato 83,1% no final do período em estudo. Ressalta-se que todas as cidades médias

apresentaram taxas de urbanização maiores que as do estado do Ceará e da região

Nordeste.

Este resultado provavelmente decorre de relações mais intensas, onde o processo

de urbanização tende a ser mais vigoroso. A mobilidade de pessoas aumenta juntamente

com muitas outras formas de exacerbação do movimento e como resultado de uma

divisão social do trabalho mais intensa, pois “quanto maiores e mais populosas as

cidades são, mais capazes de abrigar uma gama mais extensa de atividades e de conter

CMs-Ceará

Pop % Tx. Urb. Pop % Tx. Urb. Pop % Tx. Urb. Pop % Tx. Urb.

Crato 80.677 0,2 72,2 90.519 0,2 77,6 104.646 0,2 80,2 121.428 0,2 83,1

J. Norte 135.616 0,4 92,9 173.566 0,4 95,0 212.133 0,4 95,3 249.939 0,5 96,1

Sobral 118.026 0,3 69,8 127.315 0,3 81,5 155.276 0,3 86,6 188.233 0,4 88,3

Ceará 5.288.253 15,2 53,1 6.366.647 15,0 65,4 7.430.661 15,6 71,5 8.448.055 15,9 75,0

Nordeste 34.815.439 100,0 51,6 42.497.540 100,0 60,7 47.741.711 100,0 69,0 53.078.137 100,0 73,1

1980 1991 2000 2010

POPULAÇÃO, PARTICIPAÇÃO RELATIVA E TAXA URBANIZAÇÃO

61

uma lista maior de profissões, estabelecendo, desse modo, um tecido de inter-relações

mais eficaz do ponto de vista econômico” (SANTOS, 2005, p. 134).

As maiores cidades dentro do território brasileiro continuarão a crescer,

enquanto novas grandes cidades surgirão. No Brasil esse movimento simultâneo de

metropolização e desmetropolização pode ser quantificado e datado, pois a partir de

1960, a participação das aglomerações milionárias no total da população urbana

brasileira foi decrescente. “Das aglomerações entre 1 milhão e 2 milhões de habitantes

reúnem 19,28% desse total em 1950, e apenas de 16,56% em 1980” (SANTOS, 2005, p.

135). Ainda segundo o autor:

Há, pois, evidente processo de desmetropolização, sem que o tamanho

urbano das metrópoles diminua: são as cidades médias que aumentam

em volume, crescendo sua participação na população urbana. As

cidades intermediárias, apresentam, assim, dimensões bem maiores.

Essas cidades médias são, crescentemente, locus de trabalho

intelectual, o lugar onde se obtém informações necessárias a atividade

econômica. Serão, por conseguinte, cidades que reclamam cada vez

mais de trabalho qualificado (SANTOS, 2005, p. 135 a 136).

Dessa forma, o acentuado crescimento populacional deu-se nos mesmos moldes

do padrão brasileiro, sem oferta suficiente de empregos, equipamentos sociais e

infraestrutura. O processo natural de diferenciação na ocupação e uso dos espaços

urbanos se amplia como resultado das mudanças econômicas e reproduz nas cidades de

porte médio o mesmo padrão observado nas grandes metrópoles, relativizadas as suas

características particulares.

De acordo com a Federação das Indústrias do Estado do Ceará - FIEC (2005) a

indústria tem apresentado uma relevante contribuição para a economia cearense. Nos

últimos 20 anos, foi o setor que mais cresceu, dobrando de tamanho. Muitos indicadores

refletem a importância da indústria no cenário econômico estadual: contribuiu com

67,5% para o total das exportações, respondeu por 55,8% da arrecadação do ICMS,

participou com 41% do PIB, respondeu por 28,1% do consumo total de energia elétrica

e contribuiu com 21,4% da geração de empregos formais.

A Tabela 4 apresenta a participação relativa e a taxa de crescimento do PIB na

indústria a preços correntes. O corte temporal na análise do PIB é consequência da

disponibilidade dos dados, impossibilitando uma análise mais detalhada.

62

Tabela 4- Participação Relativa e Taxa de Crescimento do PIB industrial no Ceará e nas

cidades médias (1999 a 2009)

FONTE: Elaboração própria utilizando dados do IBGE (2010). * PIB a preços correntes (Mil Reais).

As dinâmicas econômicas refletiram-se no crescimento do PIB desses

municípios. Sobral registrou, entre as cidades médias cearenses, o maior PIB industrial.

A contribuição do valor da transformação industrial foi significativa para consolidação

do aumento do PIB, tornando essas cidades importantes centros para o estado do Ceará.

A Tabela 4 mostra o tamanho das economias dessas cidades médias do Ceará. Percebe-

se que no intervalo correspondente ao período de 1999 a 2009 houve um crescimento

substancial do PIB industrial nas cidades estudadas, com destaque para a cidade de

Juazeiro do Norte que registrou a maior taxa de crescimento 225%.

A figura 1 apresenta a localização das cidades médias em estudo. As cidades têm

um processo dialético de contínua transformação. Crato e Juazeiro do Norte, ambas

localizadas ao Sul do estado do Ceará têm processos diferenciados de urbanização. Um

fato histórico que veio a contribuir para surgimento dessas cidades ao sul do estado,

foram as trilhas de gado, que transitavam boiadas nos sertões nordestinos, exercendo

relevante influência na ampliação do espaço físico do território. Foi através das jornadas

de penetração de boiadas no interior do estado que surgiram cidades como Juazeiro do

Norte e Crato entre outras.

A cidade de Sobral está localizada ao Norte do estado. A importância de Sobral

vem desde as charquiadas, atividade que colocou o Ceará na economia de mercado.

Conforme Coelho (2007) desde cedo Sobral se fixa como importante ponto de tráfego,

as inter-relações econômicas se travavam nessa porção do Ceará e sua influência se

estendia ao Piauí e Maranhão. Com a implantação de ferrovias e rodovias iniciadas na

segunda metade do século XIX e primeiras décadas do século XX, houve integração dos

subsistemas e ampliação da polarização de alguns centros como Sobral e Fortaleza.

CMs-Ceará Tx. de Crescimento

Total Industrial % Total Industrial % Total Industrial % Total Industrial % 2009/1999

Crato 246.790 45.583 1,01 277.649 50.174 1,04 471.974 77.478 0,93 726.944 113.969 0,80 150

J. Norte 421.153 86.557 1,92 474.629 90.413 1,88 856.517 133.114 1,59 1.595.504 281.663 1,98 225

Sobral 696.185 249.562 5,54 764.507 282.455 5,86 1.489.686 541.427 6,48 1.964.743 674.060 4,74 170

CM-Ceará 1.364.128 381.702 8,47 1.516.785 423.042 8,78 2.818.177 752.019 9,00 4.287.191 1.069.692 7,52 180

Ceará 20.733.662 4.505.791 100 22.607.131 4.820.515 100 40.935.248 8.357.916 100 65.703.761 14.220.237 100 216

PARTICIPAÇÃO RELATIVA E TAXA DE CRESCIMENTO DO PIB* INDUSTRIAL NAS CMs-CEARÁ

PIB 1999 PIB 2000 PIB 2005 PIB 2009

63

Figura 1- Localização das Cidades Médias Cearenses.

FONTE: Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará – IPECE. Adaptação realizada pela

autora.

A macrolocalização de Sobral representa um fator favorável devido a

proximidade da capital do estado, dos mercados consumidores em expansão e de países

importantes, via Porto Pecém distante à 180 km por estrada de rodagem do município.

Dessa forma, Sobral foi favorecida por sua posição geográfica e apresenta vantagens

competitivas.

Essas cidades médias passaram por transformações significativas no contexto

atual. A destacada posição na rede urbana cearense vem desde o período colonial, à

exceção de Juazeiro do Norte, que desponta no cenário urbano cearense somente no

início do século XX. Vale Salientar que as cidades: Juazeiro do Norte e Crato fazem

parte da Região Metropolitana do Cariri (RMC) criada em 29 de junho de 2009, pela

64

Lei complementar estadual do Ceará nº78 de 2009 (CEARÁ, 2009). As seguintes

cidades também pertencem a essa RMC: Barbalha, Jardim, Missão Velha, Caririaçu,

Farias Brito, Nova Olinda e Santana do Cariri para integrar a organização, o

planejamento e a execução de funções públicas de interesse comun. No entanto, devido

a RMC ter sido formada recentemente, levando em consideração o período em estudo,

as cidades de Juazeiro do Norte e Crato foram consideradas fora da região

metropolitana.

3.1.1 Crato

A cidade do Crato está localizada em uma área privilegiada no meio do polígono

das secas. Com a presença da chapada do Araripe atraindo a chuva, jorrando água em

várias fontes perenes no sopé da serra na fronteira com Pernambuco. A ocupação dessa

cidade se dá a partir do século XVIII, com a expansão dos currais de gado realizada

pelos baianos e pernambucanos.

Para Macedo (1990) a Vila Real do Crato como era conhecida em 1838, contava

com dois mil habitantes, na sua quase totalidade constituída de índios e mestiços,

enquanto os brancos, em número reduzido, ocupavam os postos de mando, exerciam o

comércio e eram os senhores da zona rural e do poder político. Com a chegada de

comerciantes do Icó no século XIX o Crato foi beneficiado com a abertura das primeiras

grandes lojas e farmácias do vale. Também foram construídos os primeiros sobrados,

desenvolvendo a rede de transportes, os serviços públicos municipais o atendimento

médico e a implantação de escolas.

Por conta da fertilidade do solo e das condições climáticas favoráveis, constitui-

se um grande produtor de gêneros alimentícios. Esta cidade despontou como produtora

de cana-de-açúcar e derivados, transformando-se num polo comercial e grande celeiro

para o abastecimento do mercado interno distante do litoral. Com a chegada dos

engenhos essa economia prosperou muito. Os primeiros engenhos eram de madeira,

depois de ferro, ambos movidos a tração animal ou a força hídrica. À medida que os

novos engenhos iam sendo substituídos, assim aumentava a produção e reduzia o tempo

de moagem, consequentemente os ganhos de produtividade e lucros dos proprietários,

permitindo uma longa fase de prosperidade, pois esse produto era exportado para os

mercados dos sertões do Ceará, Pernambuco, Paraíba e Piauí. No século XIX existiam

65

200 engenhos de açúcar nas cidades do Crato e Barbalha, esta vizinha, produzindo a

rapadura preta. No ano de 1958 existiam no Crato 73 engenhos em funcionamento dos

quais 67 acionado a motor diesel, três a água e três à animais (ANDRADE, 1986).

No século XX com o aparecimento do açúcar pernambucano e paulista a

rapadura foi perdendo a preferência do consumidor sertanejo que começava a empregar

o açúcar como adoçante. Devido à queda do preço a economia rapadureira entra em

declínio e dos 73 engenhos em 1958 decresce para 11 em 1984 e 7 em 1990. Não se

sabe a data certa do início do declínio, pois não há registros específicos (MACEDO,

1990).

Alguns fatores contribuíram para o progresso econômico da cidade do Crato.

Um deles foi o fato de o Pe. Cícero, centro das atenções de milhares de romeiros, ter

nascido na cidade do Crato. Assim esta cidade também atrai milhares de pessoas. Outro

fato é devido a proximidade do Crato em relação a Juazeiro do Norte de apenas 10Km

permitindo que ambas se beneficiem do progresso econômico local.

Muitos desses romeiros que ali se instalavam, lavravam a terra, cortavam a cana

de açúcar, fabricavam rapadura, extraiam a borracha de maniçoba, colhiam o algodão,

pastoreavam o gado entre outras atividades. Com a concentração de romeiros na região,

o Crato, como outras cidades vizinhas, se beneficiava com mão de obra barata ou quase

gratuita para os fazendeiros da região. As principais culturas que deram prosperidade a

esse município foram a cana-de-açúcar, o algodão e o gado. Esta cidade, em termos

econômicos constitui-se em um município com expressiva importância regional,

destacando-se pela tradicional função de comercialização de produtos rurais,

provenientes da região. Neste centro destaca-se a famosa EXPOCRATO5, feira

agropecuária e atrai milhares de visitantes inclusive de outros países.

Nos anos de 1960 a cidade do Crato ascendeu como o maior centro urbano do

interior cearense. No início dessa década, o projeto ASIMOW, de autoria do professor

Morris Asimow, foi um dos projetos elaborados na busca de desenvolvimento da região

do Cariri. Começou então a formação do parque industrial do Cariri, que preconizava o

aproveitamento das potencialidades da região. Dessa forma, Crato e Juazeiro do Norte

são beneficiados com o processo de industrialização. Este se desenvolve de forma

tradicional, com incidência nos gêneros de alimentos, bebidas, têxtil, madeira,

mobiliário, couro e peles. A SUDENE reforçou a criação desse projeto, daí surgiram

5 Exposição Agropecuária do Crato.

66

indústrias de transformação de matérias primas regionais para exportação, indústrias de

alimentos e outras de consumo corrente. Com a chegada da energia elétrica em 1961

através dos fios da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (CHESF), essas cidades

foram marcadas pelo progresso histórico com o desenvolvimento em todos os setores,

principalmente o industrial. Em 1967 o Crato foi considerado o município mais

desenvolvido do interior cearense (BESERRA, 2006).

O município do Crato possui uma área total de 1.117,5 km2. Segundo IBGE

(2010) sua população era de 121.428 mil habitantes. Sua distância em relação à

Fortaleza, é de 402,4 km. A principal atividade econômica é o setor de comércio,

cerâmica vermelha e serviços. Verifica-se a presença de lojas de rede regional e

nacional e uma boa rede de agências bancárias.

3.1.2 Juazeiro do Norte

Um importante aspecto com relação ao crescimento de Juazeiro do Norte foi a

figura do Padre Cícero Romão Batista, que influenciou na sua paisagem urbana. Na

época de missionário, que vai de 1872 a 1889, período em que o povoado de Juazeiro

do Norte, não tinha mais que trinta casas, seu trabalho era percorrer sem descanso, todos

os arredores, sítios, celebrar missas, casamentos e batizados. Com escassos recursos,

restaurava e ampliava capelas, coordenava novenas terços e multiplicava as festas

religiosas, desenvolvendo grande trabalho pastoral. A partir de um “milagre”, no qual a

hóstia dada a uma beata se transformou em sangue, fato este que atraiu multidões para a

região, começaram as romarias. Padre Cícero se tornava o grande santo do Nordeste e

Juazeiro e Crato passaram a receber anualmente milhares de romeiros em busca de

milagres (CHAVES, 2002).

Migraram pessoas de várias regiões do Nordeste – Pernambuco, Rio Grande do

Norte, Paraíba, Maranhão, Piauí, Bahia, Alagoas e do próprio Ceará. Eram na maioria

pessoas sem condições financeiras, vaqueiros trabalhadores rurais, sem-terra, todas

vítimas do sistema latifundiário excludente. Existiam também migrantes constituídos

por pessoas de melhor condição social (comerciantes, fazendeiros, professores,

advogados, etc.) e muitos desses se instalavam ali por motivos profissionais (FARIAS,

2007).

67

A propriedade privada foi destaque em Juazeiro do Norte desde o início de sua

ocupação, aparecendo a figura do grande proprietário com seus arrendatários e meeiros.

Com isso houve uma impressionante produção de excedente de alimentos no Vale do

Cariri. As feiras locais eram lotadas de produtos agropastoris, que passam a ser

exportados para outros estados como Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte. Ao

lado das lavras de mandioca cresceram consideravelmente as plantações de milho, feijão

e cana-de-açúcar. Por iniciativa do Pe. Cícero foi introduzida na área a produção de

borracha de maniçoba e o algodão. Foi comprado uma máquina de descaroçar algodão

movido a vapor e uma das primeiras a ser usado na região do Cariri. Também houve um

elevado número de casas-de-farinha e de engenhocas, fabricando açúcar, rapadura e

cachaça (FARIAS, 2007).

Aliado às atividades acima mencionadas, outras surgiram e juntas promoveram o

desenvolvimento como é o caso de atividades artesanais vinculadas à construção de

casas e artigos domésticos, como telhas, tijolos, louças de barro, redes, panelas,

cutelaria, sapatos, relógios, objetos de couro, instrumentos agrícolas, chapéus, esteiras,

cordas, barbantes, sacos e com o fluxo cada vez maior de romeiros cresceu cada vez

mais a fabricação de artigos religiosos como as imagens de santos e, principalmente, do

próprio Pe. Cícero, feita de madeira, barro ou cerâmica, crucifixos, medalhas,

escapulários, produtos que se tornaram em pouco tempo muito procurados pela maioria

dos romeiros (FARIAS, 2007). Para Farias:

Independentemente da polêmica sobre a questão religiosa, talvez o

grande milagre do Pe. Cícero foi ter transformado a pequena vila de

Juazeiro, em poucos anos, no mais importante centro do Cariri,

ultrapassando cidades tradicionais como Missão Velha, Crato,

Barbalha, etc. Até mesmo Icó, por séculos um dos mais importantes

centros urbanos cearenses, perdeu espaços comerciais para a terra do

“Padim”, entrando em estagnação, para o que contribuiu também a

decadência de Aracati no final do Século XIX, cidade com a qual

mantinha fortes laços econômicos (FARIAS, 2007, p 182).

A cidade de Juazeiro do Norte em 1970 já tinha seu centro densamente povoado.

Em 1980 tornou-se a maior e mais populosa cidade do Ceará depois de Fortaleza. Hoje

Juazeiro do Norte se destaca como a maior cidade do interior e um dos maiores centros

de religiosidade da América Latina. O município foi criado em 1911 e é a principal

68

cidade da Região do Cariri6. Apresenta uma área total de 235,4km

2. Conforme IBGE

(2010) a população era de 249.939 habitantes.

Este município possui um diversificado parque industrial. Sua economia se

baseia nos setores industriais e de serviços. Na indústria se destaca o ramo calçadista,

sendo este o maior polo Norte/Nordeste e o terceiro do país. Além de um comércio que

atende a uma demanda regional, as ruas centrais se sobrecarregam em períodos de

romaria. O setor terciário é o principal setor da economia de Juazeiro do Norte. Os

principais pontos comerciais são o centro da cidade, o Cariri Shopping e o comércio do

bairro Pirajá.

Grandes grupos varejistas nacionais e internacionais já se instalaram ou fizeram

estudos prospectivos para instalação de unidades na cidade. O Atacadão pertencente ao

grupo Carrefour foi um dos pioneiros, hoje esta unidade encontra-se situada na Avenida

Padre Cícero que faz divisa com a cidade do Crato. Outras unidades do grupo Walmart

foram instaladas foi o caso do Hipermercado Bompreço e o Maxi Atacadista. O Grupo

Pão de Açúcar brevemente estará inaugurando a Assai Atacadista. Estas duas últimas

unidades se situando bem próximo ao Atacadão. O desenvolvimento deste município

conta ainda com uma boa rede bancária, um Aeroporto Regional e no campo da Saúde

recentemente em 2011 foi inaugurado o Hospital Regional do Cariri - HRC, construído

pelo Governo do Estado do Ceará. Este hospital contempla especialidades na área de

urgência e clínica cirúrgica, além de atuar como unidade reguladora e atendendo

estudantes da saúde, contribuindo como centro de formação.

3.1.3-Sobral

As condições climáticas existentes em Sobral favoreceram o segmento

econômico do extrativismo, através da oiticica e da carnaúba, e a agricultura, pelo

algodão e a mamona, possibilitando a implantação da Companhia Industrial de Algodão

e Óleo – CIDÃO, de Ernesto Sabóia e Cia de Fiação e Tecelagem pioneira no Ceará, na

área têxtil. Esta fábrica de tecidos nasceu em 1849, pioneira na economia industrial

sobralense. Toda a maquinaria foi importada da Alemanha, empregando na época 500

pessoas com uma produção de 200 toneladas de fios ao mês. Por décadas este produto

6 É uma das microrregiões do estado do Ceará pertencente à mesorregião sul cearense, formada

pelos municípios de Barbalha, Crato, Jardim, Juazeiro do Norte, Missão Velha, Nova Olinda, Porteiras e

Santana do Cariri.

69

ativou a economia regional. Por força das inter-relações econômicas que se travam

nessa porção do Ceará, cuja influência se estendia ao Piauí e Maranhão, desde cedo

Sobral se tornou centro importante o que vai dinamizar o seu crescimento urbano

(ANDRADE, 1996).

Aos poucos esse quadro foi se modificando, e de uma maneira geral, sua

economia sofreu estagnação, um porto e uma linha férrea desapareceram,

redirecionando o mercado e as atividades, por via da participação do Estado na

organização do espaço. Algodão, couro e peles perderam preponderância. Vieram os

serviços e a indústria, cujo crescimento em quantidade, volume, natureza e atração de

mão de obra. O Plano de Metas do Governo – PLAMEG, continuado pelos planos dos

governos que se sucederam de 1966 a 2002, trouxe rodovias asfaltadas, distrito

industrial, pequenos médios e grandes açudes, perímetros irrigados, linhas elétricas,

sistemas de telefonia, hotéis, entre outros (COELHO, 2007). Esses fatores foram

importantes para alterar a base dos principais indicadores sócio-econômicos.

Segundo Almeida (1999) no final do século XIX, às primeiras décadas do século

XX Sobral foi centro coletor regional; das décadas de 1960 a 1980 foi centro de

atividades regionais e depois de 1990, espaço de inserção de mercado mundial. A

importância dos centros urbanos grandes para o estado reside no seu peso populacional,

nas funções e atividades que contemplam a sua região, mas também no seu papel como

centro de redistribuição dos produtos. Nas décadas de 1970 e 1980, o ritmo de

crescimento demográfico foi baixo caracterizando-se com o período de desaceleração

econômica. Esse quadro começou a se modificar na década de 1990, isso por via da

industrialização retomada com a implantação da Grendene e como decorrência da

expansão modernizadora da Universidade Estadual Vale do Acaraú - UVA. Outro fator

que veio a contribuir foi a movimentação dos transportes, que se tornou intenso

(COELHO, 2007).

O rápido crescimento da GRENDENE trouxe a Sobral literalmente mudanças

significativas. Ela foi reorganizando a divisão territorial do trabalho, instituindo

referência de relações de mercado internacional, dispostos a satisfazer as necessidades

de expansão do sistema capitalista. Essa indústria foi responsável pela atração de

pequenas e médias empresas que se instalavam exclusivamente para atender à própria

GRENDENE, terceirizando seus serviços. Dentre elas Nutrinor (alimentação), BPLAST

(corantes), Embacel (embalagens), Mércúrio, E.D. Transportes, Transcanela, Comercial

Justo, Flávio Ribeiro Transportes, Audi Transportes, Corsol Transportes, que trabalham

70

nos setores de transportes. Cria-se assim um espaço para o exercício da atividade

industrial (ALVES e SILVA, 2005apud GRENDENE, 2004).

O município de Sobral foi criado em 1772, com uma área de 2.122,98 Km2.

Apresenta conforme IBGE (2010), uma população de 188.233 habitantes. Sobral hoje é

um centro de comércio, indústria de transformação e prestação de serviços. É também

aglutinador de população proveniente principalmente dos municípios que integram a

sua microrregião. A indústria de calçados tem destaque na região com geração de

emprego e renda.

Ressalta-se que todas as transformações ocorridas no setor industrial tiveram

reflexos significativos para os estabelecimentos e emprego no setor. A autonomia

exercida pelos governos, através de processo de descentralização e/ou políticas de

incentivos fiscais, resultou em expressivo crescimento dos estabelecimentos, bem como

dos empregos, em especial nas cidades estudadas.

Com essas observações sobre as mudanças ocorridas no setor industrial, torna-se

possível avançar para o próximo capítulo, onde será realizada uma análise acerca dos

estabelecimentos, empregos e salários no setor industrial das cidades médias e serão

exibidos dados sobre o Brasil como um todo, das grandes regiões e dos estados

brasileiros.

71

4. EVOLUÇÃO DO NÚMERO DE ESTABELECIMENTOS E DO

EMPREGO INDUSTRIAL NAS CIDADES MÉDIAS DO CEARÁ

Os investimentos advindos da SUDENE impulsionaram o setor industrial no

Ceará. Assim o parque industrial do estado foi modernizado principalmente no que se

refere às atividades tradicionais.

Outro fato importante que contribuiu para ampliação do setor industrial foi à

política de estímulo e atração de investimentos na década de 1990, aliada à concessão

de subsídios para as empresas que se instalassem fora da região metropolitana. Desse

modo, o estado elegeria algumas microrregiões para onde seriam canalizados

investimentos tornando-as aptas a receberem novas unidades industriais bem como

modernizando também as já existentes.

Observa-se que a política de atração de investimentos, executada pelo governo

cearense, aliada a abertura econômica, forte concorrência das empresas, obtiveram

resultados positivos e que houve um grande número de indústrias instaladas no estado

devido à forte política de benefícios fiscais aliada à mão de obra abundante no local e ao

baixo custo da mesma. Assim, verificam-se mudanças significativas na dinâmica

econômica cearense e das cidades médias em estudo.

O tratamento analítico utilizado nesta seção compreende o período de 1990 a

2010. Tem-se como foco o setor industrial, considerado aqui a partir dos dados da

Relação Anual de Informações Sociais - RAIS. A utilização dessa fonte de dados é

devido ao fato de se tratar de uma importante base que apresenta informações sobre o

número de estabelecimentos, de empregos formais7 e remuneração salarial, que

possibilitam o estudo do mercado formal no segmento do setor industrial nos moldes

propostos na presente pesquisa.

4.1 Análise do número de estabelecimentos no setor industrial no Brasil, Nordeste,

Ceará e CMs-Ceará.

Para compreensão da evolução do setor industrial, faz-se necessário a

investigação do número de estabelecimentos existentes nas CMs-Ceará, no estado do

7 Consiste em número de empregos com vínculos empregatícios regidas pela Consolidação das

Leis Trabalhistas (CLT).

72

Ceará, na região Nordeste e no Brasil (1990 a 2010). De acordo com a RAIS, houve

uma concentração do crescimento efetivo e bem expressivo do número de

estabelecimentos industriais na década de 1990 e as CMs-Ceará e o estado do Ceará

apresentaram as maiores taxas de crescimento comparadas com o Nordeste e o Brasil.

Segundo os dados da Tabela 5, constata-se que no Brasil, durante o período de

1990 a 2010, os estabelecimentos do segmento industrial passaram de um quantitativo

de 250.883 para 957.069. No que se refere a taxa de crescimento apresentou incremento

de 167,5% na década de 1990 e de 42,6% nos anos 2000.

Tabela 5- Número de Estabelecimentos no setor industrial nas grandes regiões do Brasil

(1990 a 2010)

FONTE: Elaboração com base nos dados da RAIS/MTE 1990/2010.

A região Sudeste historicamente tem concentrado a maioria de estabelecimentos

industriais conforme Tabela 5, com participação maior para a região Sul e menor para

as regiões Norte e Centro-Oeste. No entanto, o Norte apresentou a maior taxa de

crescimento na década de 1990, fato esse justificado pela pequena base de número de

estabelecimentos no início da década de 1990.

Observa-se com relação à participação relativa, que o Sudeste vem reduzindo

sua taxa de participação no contexto nacional. Ao contrário, a região Nordeste

apresentou participação crescente. Um fato observado na década de 1990, no Nordeste,

foi com relação ao número de pessoas empregadas que não acompanhou o número de

estabelecimentos do setor industrial.

A análise do setor industrial revelou crescimento do número de estabelecimentos

ao longo dos anos 2000 em todas as regiões brasileiras (ver Tabela 5). Para o IPEA

(2010), as melhores condições da economia fizeram com que o mercado de trabalho

reagisse, ampliando o número de ocupados e promovendo o crescimento dos salários

reais.

Grandes

Regiões

Absoluto Relativo Absoluto Relativo Absoluto Relativo 2000/1990 2010/2000

NORTE 4.975 2,0 22.423 3,3 34.124 3,6 350,7 52,2

NORDESTE 22.104 8,8 85.290 12,7 131.362 13,7 285,9 54,0

SUDESTE 154.374 61,5 335.375 50,0 458.414 47,9 117,2 36,7

SUL 58.728 23,4 186.140 27,7 264.219 27,6 217,0 41,9

C. OESTE 69.428 27,7 41.778 6,2 68.950 7,2 -39,8 65,0

BRASIL 250.883 100,0 671.006 100,0 957.069 100,0 167,5 42,6

Tx. de Crescimento %

ESTABELECIMENTOS NO SETOR INDUSTRIAL NAS GRANDES REGIÕES

1990 2000 2010

73

Um fato importante para meados da década de 2000 foi o papel exercido pelos

bancos públicos. O BNDES, o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal têm

exercido função relevante no atendimento à demanda por crédito e financiamento de

longo prazo, proporcionando crescimento da economia. Entre setembro de 2008 e

dezembro de 2009, os bancos públicos foram responsáveis por 73% da expansão do

crédito. Isoladamente, o BNDES contribuiu com 37% da oferta adicional de

financiamento à economia. O crescimento dessas operações de crédito em parte

decorreu do crescimento do emprego formal (IPEA, 2010).

Analisando a participação relativa do número de estabelecimentos nos estados

do Nordeste verifica-se, conforme Tabela 6, destaque para o estado da Bahia que

apresentou a maior concentração de estabelecimentos, em termos absolutos, em todo o

Nordeste em 1990 (24,0%), em 2000 (26,4%) e 2010 (26,3). Os estados do Rio Grande

do Norte e Ceará também são destaques em todo o período analisado. O primeiro

destaca-se como o estado que mais incrementou, contribuindo com as maiores taxas de

crescimento (356,6%) e (66,0%) para os anos de 1990 e 2000, respectivamente.

Tabela 6- Estabelecimentos no setor industrial – estados do Nordeste (1990 a 2010)

FONTE: Elaboração com base nos dados da RAIS/MTE 1990/2010.

Na implementação de políticas de incentivos fiscais, o Ceará saiu na frente nas

disputas pelos investimentos, foi um dos estados nordestinos mais bem sucedidos na

atração de indústrias para o seu território na década de 1990. Vale salientar que essas

políticas de incentivos fiscais promovidas pelo Governo do Ceará, notadamente na

Estados do

Nordeste

Absoluto % Absoluto % Absoluto % 2000/1990 2010/2000

Maranhão 1.269 5,7 5.603 6,6 8.558 6,5 341,5 52,7

Piaui 1.060 4,8 4.155 4,9 6.384 4,9 292,0 53,6

Ceará 4.029 18,2 18.266 21,4 28.503 21,7 353,4 56,0

Rio G. Norte 1.432 6,5 6.538 7,7 10.856 8,3 356,6 66,0

Paraiba 1.864 8,4 6.678 7,8 10.024 7,6 258,3 50,1

Pernambuco 5.205 23,5 14.679 17,2 22.687 17,3 182,0 54,6

Alagoas 958 4,3 3.491 4,1 4.766 3,6 264,4 36,5

Sergipe 989 4,5 3.341 3,9 5.094 3,9 237,8 52,5

Bahia 5.298 24,0 22.539 26,4 34.490 26,3 325,4 53,0Total 22.104 100 85.290 100,0 131.362 100,0 285,9 54,0

ESTABELECIMENTOS NO SETOR INDUSTRIAL

1990 2000 2010 Tx. Crescimento %

74

segunda metade da década de 1990 favoreceram o aumento do número de indústrias em

todo o estado do Ceará.

O número de estabelecimentos por gêneros da indústria no Nordeste, conforme

Tabela 7, evidencia uma forte concentração no setor de construção civil a partir da

década de 1990 em termos absolutos. Este gênero evoluiu de um quantitativo de 5.314

estabelecimentos para 43.052 em 2010, contribuindo neste ano com a maior

participação relativa de todos os setores (32,8%).

De acordo com Tabela 7, a atividade industrial da região Nordeste que

apresentou a maior taxa de crescimento do número de estabelecimentos na década de

1990 foi a indústria da construção civil (382,2%) e em 2000 a mecânica (230,8%).

Tabela 7- Estabelecimentos no setor industrial – Nordeste (1990 a 2010)

FONTE: Elaboração com base nos dados da RAIS/MTE 1990/2010.

Conforme Santos et alii (2002) algumas áreas no estado do Ceará se destacaram

por terem recebido grandes investimentos, como, por exemplo, a região metropolitana

de Fortaleza, onde, além da capital, também se beneficiaram as cidade de Caucaia,

Horizonte, Maranguape e Cascavel. Nesta última, ressalta-se a presença, desde 1998, do

Curtume Bermas, do Grupo Berlim, que exporta 100% da produção, desde couro

acabado até grupos estofados prontos.

A análise do número de estabelecimentos no setor industrial por gênero da

indústria no Ceará (Tabela 8) permite observar que, como na região Nordeste a forte

concentração em termos relativos no ano de 1990 foi na indústria têxtil (24,4%) com

984 estabelecimentos responsáveis por 35.008 empregos formais. No final do período

NORDESTE Absoluto % Absoluto % Absoluto % 2000/1990 2010/2000

Extrativa mineral 428 1,9 1.779 2,1 2.887 2,2 315,7 62,3

Ind. de prod. minerais nao metálicos 1.448 6,6 4.394 5,2 6.720 5,1 203,5 52,9

Indústria metalúrgica 957 4,3 3.751 4,4 6.866 5,2 292,0 83,0

Indústria mecânica 377 1,7 840 1,0 2.779 2,1 122,8 230,8

Ind. do mat.elétrico e de comunicaçoes 253 1,1 423 0,5 859 0,7 67,2 103,1

Indústria do material de transporte 144 0,7 676 0,8 1.012 0,8 369,4 49,7

Indústria da madeira e do mobiliário 2.052 9,3 5.835 6,8 7.008 5,3 184,4 20,1

Ind. do papel, editorial e gráfica 1.168 5,3 3.862 4,5 7.025 5,3 230,7 81,9

Ind. da borracha, fumo, couros, peles 897 4,1 2.270 2,7 4.517 3,4 153,1 99,0

Ind. química de prod. farmacêuticos 998 4,5 4.006 4,7 5.645 4,3 301,4 40,9

Ind. têxtil do vestuário e artefatos de tecidos 2.637 11,9 11.320 13,3 18.148 13,8 329,3 60,3

Indústria de calçados 340 1,5 1.004 1,2 1.425 1,1 195,3 41,9

Ind. de prod. alimentícios, bebidas 4.217 19,1 17.684 20,7 20.740 15,8 319,4 17,3

Serviços industriais de utilidade pública 874 4,0 1.822 2,1 2.679 2,0 108,5 47,0

Construçao civil 5.314 24,0 25.624 30,0 43.052 32,8 382,2 68,0

INDÚSTRIA 22.104 100,0 85.290 100,0 131.362 100,0 285,9 54,0

1990 2000 2010 Tx. Crescimento %

ESTABELECIMENTOS NO SETOR INDUSTRIAL

75

estudado a indústria que se destacou foi a da construção civil (26,9%) com 7.671

estabelecimentos responsáveis por 75.973 empregos formais.

Tabela 8- Estabelecimentos no setor industrial - Ceará (1990 a 2010)

FONTE: Elaboração com base nos dados da RAIS/MTE 1990/2010.

A Tabela 9 evidencia a evolução do número de estabelecimentos, conforme

observado à indústria da construção civil, setor tradicional, tem contribuído em termos

absolutos com maior número de estabelecimentos, em todo período analisado, nas

cidades em estudo. Quando se observa a taxa de crescimento na década de 1990, a

indústria de calçados (1050,0%) se destacou por contribuir com maior taxa de

crescimento e na década de 2000 o segmento de material elétrico e de comunicações

(400,0%).

É perceptível a expansão no número de estabelecimentos que essas cidades

apresentaram em consequência, de certa forma, das ações das gestões municipais ao

aderirem ao modelo de gestão estadual auto nomeada de moderna, com uma política

fiscal mais austera e constante preparação do território para atração de novos

empreendimentos que se instalaram no espaço intraurbano.

CEARÁ Absoluto % Absoluto % Absoluto % 2000/1990 2010/2000

Extrativa mineral 67 1,7 261 1,4 351 1,2 289,6 34,5

Ind. de prod. minerais nao metálicos 222 5,5 908 5,0 1.287 4,5 309,0 41,7

Indústria metalúrgica 165 4,1 822 4,5 1.488 5,2 398,2 81,0

Indústria mecânica 57 1,4 209 1,1 550 1,9 266,7 163,2

Ind. do mat.elétrico e de comunicaçoes 40 1,0 72 0,4 152 0,5 80,0 111,1

Indústria do material de transporte 25 0,6 136 0,7 208 0,7 444,0 52,9

Indústria da madeira e do mobiliário 297 7,4 1.303 7,1 1.493 5,2 338,7 14,6

Ind. do papel, editorial e gráfica 194 4,8 760 4,2 1.331 4,7 291,8 75,1

Ind. da borracha, fumo, couros, peles 168 4,2 530 2,9 989 3,5 215,5 86,6

Ind. química de prod. Farmacêuticos 172 4,3 802 4,4 1.121 3,9 366,3 39,8

Ind. têxtil vestuário e artefatos de tecidos 984 24,4 4.261 23,3 6.654 23,3 333,0 56,2

Indústria de calçados 109 2,7 434 2,4 696 2,4 298,2 60,4

Ind. de prod. alimentícios, bebidas 646 16,0 3.247 17,8 4.013 14,1 402,6 23,6

Serviços industriais de utilidade pública 145 3,6 154 0,8 499 1,8 6,2 224,0

Construçao civil 738 18,3 4.367 23,9 7.671 26,9 491,7 75,7

INDÚSTRIA 4.029 100,0 18.266 100,0 28.503 100,0 353,4 56,0

ESTABELECIMENTOS NO SETOR INDUSTRIAL

Tx. Crescimento %1990 2000 2010

76

Tabela 9- Número de Estabelecimentos nas Atividades Industriais – CMs-Ceará (1990 a

2010)

FONTE: Elaboração com base nos dados da RAIS/MTE 1990/2010.

Ao observar a Tabela 10, verifica-se que na análise setorial, houve uma

expansão quase generalizada do número de estabelecimentos entre as atividades

industriais na década de 1990 nas cidades médias do Ceará. Ressalta-se que os

estabelecimentos dos setores em pauta passaram de um quantitativo de 382 para 2.363

indústrias em 2010, ou seja, apresentaram um incremento de 518,6%% no período em

estudo. Foi à cidade de Juazeiro do Norte que mais contribuiu para esse resultado e se

destaca devido ao fato do crescimento de alguns setores, a exemplo da indústria: de

construção civil, de calçados, a têxtil e a de alimentos.

Ao observar a Tabela 10, constata-se que em quantidades de estabelecimentos a

indústria da construção civil foi mais expressiva, isso mostra o quanto foi importante a

dinâmica capitalista urbana. Demonstra o quanto essas cidades vem se transformando

em um mundo urbano.

Tabela 10- Número de Estabelecimentos no setor industrial – CMs Ceará (1990 – 2010)

FONTE: Elaboração com base nos dados da RAIS/MTE 1990/2010.

CMs CEARÁ

Absoluto % Absoluto % Absoluto % 2000/1990 2010/2000

Extrativa mineral 4 0,0 13 0,0 21 0,0 225,0 61,5

Ind. de prod. minerais nao metálicos 29 0,1 82 0,0 113 0,0 182,8 37,8

Indústria metalúrgica 21 0,1 100 0,1 156 0,1 376,2 56,0

Indústria mecânica 1 0,0 8 0,0 30 0,0 700,0 275,0

Ind. do mat.elétrico e de comunicaçoes 2 0,0 2 0,0 10 0,0 0,0 400,0

Indústria do material de transporte 1 0,0 8 0,0 7 0,0 700,0 -12,5

Indústria da madeira e do mobiliário 39 0,1 114 0,1 108 0,0 192,3 -5,3

Ind. do papel, editorial e gráfica 14 0,0 56 0,0 107 0,0 300,0 91,1

Ind. da borracha, fumo, couros, peles 32 0,1 124 0,1 164 0,1 287,5 32,3

Ind. química de prod. farmacêuticos, veterinários 22 0,1 91 0,1 152 0,1 313,6 67,0

Ind. têxtil do vestuário e artefatos de tecidos 47 0,1 211 0,1 283 0,1 348,9 34,1

Indústria de calçados 16 0,0 184 0,1 341 0,1 1050,0 85,3

Ind. de prod. alimentícios, bebidas 62 0,2 240 0,1 255 0,1 287,1 6,3

Serviços industriais de utilidade pública 8 0,0 10 0,0 24 0,0 25,0 140,0

Construçao civil 84 0,2 459 0,3 592 0,3 446,4 29,0

TOTAL 382 100,0 1702 100,0 2363 100,0 345,5 38,8

Tx. Crescimento %1990 2000 2010

ESTABELECIMENTOS NO SETOR INDUSTRIAL

CMs-CEARÁ

Absoluto % Absoluto % Absoluto % 2000/1990 2010/2000

Crato 78 20,4 283 16,6 350 14,8 262,8 23,7

J. Norte 166 43,5 875 51,4 1.450 61,4 427,1 65,7

Sobral 138 36,1 544 32,0 563 23,8 294,2 3,5

Total 382 100,0 1.702 100,0 2.363 100,0 345,5 38,8

1990 2000 2010 TX. CRESCIMENTO %

ESTABELECIMENTOS NO SETOR INDUSTRIAL

77

A indústria da Singer8, em Juazeiro do Norte merece destaque. Suas atividades

iniciaram em 1997, montando inicialmente máquinas de costura para o mercado

brasileiro, gerando emprego e renda a centenas de pessoas na localidade. Vale ressaltar

que essa indústria em Juazeiro do Norte, representa a Singer no Nordeste. A partir de

2005, a produção total da fábrica de Campinas (SP), foi transferida para a unidade de

Juazeiro do Norte, permitindo a produção de componentes, além da montagem das

máquinas de costura para mercados brasileiros e internacionais. Ficando em Campinas

apenas a produção de agulhas (DIÁRIO DO NORDESTE, 2009).

As indústrias de Galvanoplastia9 são responsáveis pela fabricação de joias

folheadas e atualmente dentre os principais polos produtores de folheados destacam-se

Limeira (SP), Guaporé (RS) e Juazeiro do Norte (CE), este com cerca de 40 fábricas de

joias integrando como principal polo em todo o Nordeste e terceiro polo de fabricação

do país. Esta atividade foi impulsionada pelo consumo de romeiros que visitam a cidade

em devoção ao Pe. Cícero (DIÁRIO DO NORDESTE, 2011).

No caso das cidades Juazeiro do Norte e Crato, os fatores que contribuíram para

o crescimento dos estabelecimentos, foram em virtude da função de centro regional

desenvolvida pelo município e do centro comercial resultado das suas romarias

características. Vale salientar também a proximidade de outros estados como

Pernambuco, Piauí e Paraíba que também contribuíram para esse desempenho.

No que se refere a indústria calçadista, algumas áreas do interior do estado do

Ceará se destacam por terem recebido grandes investimentos como, por exemplo, as

cidades de Sobral e Crato. Em Sobral, o desenvolvimento da atividade calçadista

ganhou maior expressão a partir de 1993, com a instalação da Grendene10

, que provocou

um efeito em cadeia com sua presença nestas cidades. Este setor calçadista contribuiu

para geração no final de 2010 de 341estabelecimentos nas CMs do Ceará.

Analisando a participação relativa do número de estabelecimentos de cada

segmento industrial em cada cidade escolhida para estudo, conforme Tabela 11,

constata-se que o número de estabelecimentos da indústria de alimentos, segmento

8 Isaac Merrit Singer – inventor da máquina de costura. A companhia Norte-Americana é a maior

fabricante de máquinas de costura, hoje presente em mais de 150 países. 9 Galvanoplastia - é todo processo em que metais são revestidos por outros mais nobres,

geralmente para proteger da corrosão. 10

Os irmão Pedro e Alexandre Grendene Bartelle fundaram a Plásticos Grendene Ltda em

Farroupilha RS. Hoje conta com mais cinco unidades Fortaleza, Sobral e Crato no Ceará e Teixeira de

Freitas na Bahia. Essa empresa comercializa produtos para mercado externo e interno.

78

tradicional, tem perdido posição para a de construção civil que apresentou crescimento

nos anos 2000. No final do período estudado esse segmento continuou contribuindo

com o maior número de unidades industriais, seguido pelo segmento de produtos

alimentícios e têxteis depois o de calçados.

Tabela 11- Participação Relativa do Número de Estabelecimentos de cada segmento

Industrial, na indústria de cada CMs-Ceará (1990 a 2010)

FONTE: Elaboração com base nos dados da RAIS/MTE 1990/2010. * Participação Relativa.

A indústria de calçados de Sobral cria adensamentos, ou seja, ela arrasta outros

tipos de empresas como é o caso da indústria de plásticos, de cordoaria e embalagens

devido a grandeza da GRENDENE. Ressalta-se que, há um adensamento, mas este

aprofunda os setores tradicionais, com exceção da indústria de embalagens que requer

um certo equipamento moderno, mas essa indústria é tradicional.

Portanto, encontra-se nessas cidades uma economia que elevou a quantidade de

estabelecimentos significativa dentro do Nordeste e dentro do estado, mas ao mesmo

tempo parece que vem tornando esses centros cativo dentro de um setor tradicional

como sempre foi por uma questão simples, que os incentivos fiscais do Ceará, Bahia,

assim como Rio Grande do Norte com exceção de Pernambuco não tem dado devida

atenção a atratividade de indústrias de alta tecnologia.

As principais empresas instaladas no ramo calçadista em Sobral além da

Grendene foram: Beplast (pigmentos masterbath de PVC e EVA/nylon), Berman

(fabricação de couros, peles e artefatos de couro), no caso de Juazeiro do Norte: PVC

CMs-CEARÁ Cra. J. Norte Sob. Cra. J. Norte Sob. Cra. J. Norte Sob.

Ind. prod. minerais nao metálicos 10,3 6,0 8,0 11,0 2,3 5,7 10,3 3,5 4,6

Indústria metalúrgica 5,1 6,0 5,1 3,2 7,0 5,5 4,9 7,3 5,9

Indústria mecânica 1,3 0,0 0,0 0,7 0,7 0,0 1,7 1,4 0,7

Ind. mat. Elétrico/ comunicações 1,3 0,6 0,0 0,0 0,0 0,4 0,9 0,3 0,4

Indústria do material de transporte 0,0 0,6 0,0 1,8 0,0 0,6 0,0 0,3 0,4

Ind. da madeira e do mobiliário 12,8 9,0 10,1 6,4 6,3 7,5 6,3 4,2 4,4

Ind. papel, editorial e gráfica 3,8 3,6 3,6 1,4 3,3 4,2 5,7 3,3 6,9

Ind.borracha, fumo, couros, peles 2,6 13,3 5,8 3,2 10,6 4,0 4,0 8,8 3,9

Ind. química prod. farmacêuticos 5,1 7,8 3,6 4,9 6,2 4,2 5,7 7,9 3,2

Ind. têxtil do vest. artef. de tecidos 7,7 10,8 16,7 9,5 14,3 10,8 6,9 11,4 16,5

Indústria de calçados 1,3 9,0 0,0 3,5 18,4 2,4 6,3 20,3 4,4

Ind. prod. alimentícios, bebidas 19,2 16,3 14,5 23,7 11,3 13,6 13,7 9,9 11,2

Serv. industriais utilidade pública 0,0 1,2 4,3 1,1 0,3 0,7 1,7 0,7 1,4

Construçao civil 28,2 15,7 26,1 28,3 19,1 39,0 31,1 20,3 33,6

INDÚSTRIA 100 100 100 100 100 100 100 100 100

1990 2000 2010

NÚMEROS* DE ESTABELECIMENTOS DE CADA SEGMENTO INDUSTRIAL

79

(solados de calçados), INBOP (calçados e componentes de boorracha microporosa e

colorida), Injevale (calçados de borracha), Casco Mole (calçados em geral, sapatos

femininos de finíssimo acabamento), Dublatec (sandálias, solados, tamancos), Bopil

(sandálias e solados para calçados), Inconfel (produção de sandálias, solados e

tamancos), IBC (produção de sandálias, de EVA, PVC e solados), Sagian (bolsas,

cintos, carteiras e pastas), Injetal (fabricação de calçados de plásticos) (SANTOS,

CORREA e ALEXIM, 2001). Segundo Pereira Júnior (2011) Juazeiro do Norte não se

destaca apenas na produção de bens acabados, mas também na de insumos, pertencendo

a um dos maiores espaços na região do Cariri como produtor nacional de placas de

etileno vinil acetato (insumo para o uso em solados sintéticos).

No que se refere ao setor calçadista, na região do Cariri o destaque foi para a

cidade de Juazeiro do Norte que, além de ser um polo de produção relativamente

consolidado no contexto estadual, é a área de maior concentração de micro e pequenas

empresas calçadistas do estado. Em 2010 este município era responsável por 4.949

empregos diretos, e concentrava o maior número de estabelecimentos 294. Sobral com

apenas 25 estabelecimentos foi responsável por gerar um maior número de empregos

diretos 19.247.

A Tabela 12 apresenta o número de estabelecimentos das cidades em estudo, do

Ceará, do Nordeste e do Brasil. Quando se observa em termos percentuais as cidades em

estudo tiveram o maior crescimento do número de estabelecimentos na década de 1990

com taxas mais elevadas que a região Nordeste e o Brasil.

Tabela 12- Número de Estabelecimentos no setor industrial nas CMs-Ceará, no estado

do Ceará, na região Nordeste e no Brasil (1990 a 2010)

FONTE: Elaboração com base nos dados da RAIS/MTE 1990/2010.

A quantidade de estabelecimentos industriais instalados nas cidades em estudo

demonstra que as políticas de atração de investimentos, adotadas pelos governos

cearenses, municipal e estadual, promoveram deslocamentos de indústrias para essas

Absoluto Relativo Absoluto Relativo Absoluto Relativo 2000/1990 2010/2000CMs-CEARÁ 382 0,2 1.702 0,3 2.363 0,2 345,5 38,8

CEARÁ 4.029 1,6 18.266 2,7 28.503 3,0 353,4 56,0

NORDESTE 22.104 8,8 85.290 12,7 131.362 13,7 285,9 54,0

BRASIL 250.883 100,0 671.006 100,0 957.069 100,0 167,5 42,6

1990 2000 2010 Tx. Crescimento %

ESTABELECIMENTOS NO SETOR INDUSTRIAL

80

cidades. Esse crescimento se evidencia em meados da década de 1990 com um total de

995 estabelecimentos nas cidades em estudo conforme a RAIS.

4.2 Análise do número de empregos formais no setor industrial no Brasil,

Nordeste, Ceará e CMs-Ceará.

A década de 1990 representou um período de importantes mudanças para a

economia brasileira. Devido, sobretudo, às mudanças no âmbito de políticas adotadas e

aos seus rebatimentos para os distintos segmentos do setor industrial. O processo de

reestruturação econômica, as políticas fiscais adotadas induziram fortes repercussões

por todos os segmentos da economia do país.

Ressalta-se que o setor industrial, em particular, foi fortemente atingido. No

período pós-Real, a política econômica estava voltada para o combate à inflação e na

busca pela estabilidade econômica e política. Dessa forma, o crescimento econômico

ficou em segundo plano e consequentemente a geração de empregos. É importante

ressaltar, com relação à geração de empregos nesse período que a reestruturação das

empresas e as novas tecnologias dispensaram mão de obra, fecharam linhas de

produção, reduziram custos e diminuíram pessoal contribuindo para a perda de uma

quantidade significativa de empregos formais.

Para Coutinho (1996) entre 1990 e 1992 no governo Collor, com a abertura

econômica e recessão, o Brasil perdeu dois milhões e 150 mil empregos formais. Entre

1993 e 1994 foram gerados aproximadamente 500 mil empregos. Com a redução do

ritmo de crescimento e a intensificação da modernização das empresas, em 1995,

ocorreu o fechamento de 380 mil postos de trabalho e o pequeno crescimento de 1996

criou poucas novas vagas.

Muitos fatores têm afetado diretamente e indiretamente mudanças nas relações

de emprego no período estudado, um deles foi a questão da economia ter passado por

altas taxas de inflação, período em que foi adotada uma política de câmbio flutuante

permitindo manter a estabilidade de preços. Outro fator do ponto de vista produtivo foi

a mudança de uma economia fechada para um economia aberta expondo as empresas

nacionais à competição internacional implicando em grandes desafios pois o avanço

tecnológico e as práticas administrativas vindas do exterior são fortemente poupadores

de mão de obra.

81

Um terceiro fator importante refere-se ao papel do Estado na forma de atuar na

economia, voltado mais para fiscalização e regulação da economia. Assim, essas

transformações tiveram implicação direta para o mercado de trabalho, com impactos no

emprego. Essas observações são de muita importância para entendermos a evolução do

emprego formal nos tópicos seguintes. Salienta-se que este trabalho não tem por intuito

estudar os elementos responsáveis pelo desemprego, fruto de vários fatores estruturais e

conjunturais.

Na Tabela 13 observa-se, conforme esperado, que a região Sudeste foi a que

mais contribuiu com a criação de emprego formal industrial no período em análise, na

sua maioria com participação relativa acima de 50% do total. Os demais empregos

distribuem-se pelas outras regiões, com participação maior para a região Sul e menor

para a região Norte e Centro-Oeste. No entanto, as taxas de crescimento do Sudeste e do

Brasil foram negativa na ordem de 18,8% e 7,2% na década de 1990.

Como já mencionado no item de reestruturação produtiva no Brasil, a região

Sudeste apresentou menor número de estabelecimentos devido a vários fatores como

desconcentração da produção, flexibilização da organização do trabalho e produção e

transformações na estrutura e organização da indústria brasileira, bem como na política

da estabilização do Plano Real. Nos anos 2000 essa região apresentou uma taxa positiva

porém a mais baixa se comparado com as outras regiões e com o Brasil (ver Tabela 13).

Tabela 13- Emprego Formal no setor industrial nas grandes regiões do Brasil (1990 a

2010)

FONTE: Elaboração com base nos dados da RAIS/MTE 1990/2010.

Observa-se na Tabela 13 com relação à participação relativa que o Sudeste vem

reduzindo relativamente sua participação no contexto nacional, se analisado desde a

década de 1990 e que a região Nordeste, ao contrário, apresentou participação crescente.

Vale salientar que um dos motivos para esses resultados foi a desconcentração de

empresas no período analisado. Muitas instalações de novas montadoras de veículos

Grandes

Regiões

Absoluto Reletivo Absoluto Reletivo Absoluto Reletivo 2000/1990 2010/2000

NORTE 193.938 2,8 222.038 3,5 475.615 4,3 14,5 114,2

NORDESTE 867.611 12,6 872.564 13,7 1.736.302 15,8 0,6 99,0

SUDESTE 4.319.627 62,8 3.508.722 55,0 5.694.285 51,7 -18,8 62,3

SUL 1.294.167 18,8 1.471.008 23,1 2.450.484 22,3 13,7 66,6

C. OESTE 199.461 2,9 305.517 4,8 651.438 5,9 53,2 113,2

BRASIL 6.878.044 100,0 6.379.849 100,0 11.008.124 100,0 -7,2 72,5

EMPREGO NO SETOR INDUSTRIAL NAS GRANDES REGIÕES

Tx. de crescimento %1990 2000 2010

82

automotores foram realizadas em vários estados (Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do

Sul, Bahia) e de fábricas de calçados de origem gaúcha em diferentes estados do

Nordeste, aproveitando incentivos fiscais (DINIZ e BASQUES, 2004).

Algumas empresas de gêneros industriais mais intensivas em mão de obra

(calçados, confecções, por exemplo) buscaram se relocalizar no interior do Nordeste,

para competir com concorrentes externos, atraídos pela mão de obra barata, baixos

salários e incentivos fiscais. Com essa desconcentração industrial, fecham-se postos de

trabalho na grande São Paulo e abrem-se outros no Nordeste.

No que se refere aos anos 2000, evidencia-se na Tabela 13 um crescimento

absoluto do número de empregos em todas as regiões. Esse fato deve-se principalmente

a um contexto externo favorável, especialmente o efeito China. Internamente com à

reorganização do Estado houve uma retomada da intervenção do Estado e seu papel de

agente definidor e impulsionador do novo padrão de acumulação. Pode-se citar como

novo padrão de intervenção estatal a recuperação do planejamento através do Programa

de Aceleração do Crescimento (PAC). Salienta-se também aumento do salário mínimo,

o bolsa família e a abundância de crédito. Igualmente relevante foi o crescimento do

investimento das empresas públicas (Petrobras e Eletrobras) e o financiamento da

produção e do consumo através dos bancos estatais e federais (BNDES, Caixa

Econômica Federal e Banco do Brasil) (IPEA, 2010).

Dessa forma, a economia tomou maior fôlego na década recente e propiciou

melhores resultados no que se refere ao crescimento econômico, pois o mercado interno

se tornou mais dinâmico e a conjuntura econômica externa favorável ao padrão de

inserção dos países latinos americanos na economia mundial. Essa década caracterizou-

se pela forte demanda do resto do mundo por produtos que o Brasil possuía vantagens

comparativas como é o caso de produtos da cadeia agropecuária, indústria extrativa,

siderurgia, cadeia de petróleo e gás (IPEA, 2010).

Observando as taxas de crescimento do emprego industrial nos estados

nordestinos na década de 1990, estas foram bem menores do que nos anos 2000,

conforme a Tabela 14. As intensas reformas, como políticas de flexibilização nas

relações de trabalho, o processo de reestruturação produtiva e política de estabilização

do Plano Real reduziram a capacidade do setor industrial gerar emprego formal e elevou

a taxa de desemprego no país. Esses fatores repercutiram no setor industrial

contribuindo para baixo dinamismo do emprego formal na década de 1990.

83

Tabela 14- Emprego Formal no setor Industrial nos estados do Nordeste (1990 a 2010)

FONTE: Elaboração com base nos dados da RAIS/MTE 1990/2010.

A descentralização do crescimento depende muito da iniciativa e da capacidade

dos governos estaduais e municipais em adotarem políticas e criarem mecanismos para

atrair e apoiar investimentos produtivos. Observando os resultados constantes na

Tabela14, atestam-se que os estado da Bahia, Pernambuco e Ceará foram os de melhor

desempenho.Tomando como referência o crescimento absoluto do número de empregos

nos anos de 1990,o destaque foipara o estado de Pernambuco e nos anos 2000 o estado

da Bahia.

No caso da Bahia, tal desempenho foi resultado das políticas industriais adotadas

no estado que fortaleceram o setor pelo complexo petroquímico, pela siderurgia do

cobre, as atividades de madeira de celulose e de alimentos. O Complexo Petroquímico

de Camaçari, o Centro industrial de Aratu e o Centro Industrial do Subaé, são os

principais segmentos responsáveis pela dinâmica industrial do Estado.

No caso do estado de Pernambuco, a modernização setorial ampliou a

diversificação de várias atividades, impulsionadas pelos polos presentes no estado, entre

eles: Suape, Igarassu e Itapissuma (bebidas), Ipojuca (cerâmica, química, têxtil; Cabo

(química, cerâmica); Camaragibe e paulista (têxtil).Este estado apresentou as maiores

participações relativas no período estudado com relação ao emprego formal, porém

essas participações foram decrescentesentre 1990 e 2010. As indústrias responsáveis por

melhores taxas de crescimento entre 2010/2000 foram a indústria têxtil, indústria

mecânica e borracha/couros/fumo (Tabela 13).

Assim, estes estados tiveram o melhor desempenho desde o início do período

estudado. Os dados da Tabela14 mostram que o estado do Ceará (44,4%) apresentou a

NORDESTE

Absoluto % Absoluto % Absoluto % 2000/1990 2010/2000

MARANHÃO 37.390 4,3 42.575 4,9 103.684 6,0 13,9 143,5

PIAUI 28.400 3,3 33.278 3,8 63.615 3,7 17,2 91,2

CEARÁ 125.053 14,4 180.535 20,7 337.171 19,4 44,4 86,8

RIO G. DO NORTE 52.047 6,0 62.237 7,1 128.171 7,4 19,6 105,9

PARAIBA 58.496 6,7 66.161 7,6 115.696 6,7 13,1 74,9

PERNAMBUCO 261.421 30,1 187.456 21,5 359.359 20,7 -28,3 91,7

ALAGOAS 74.954 8,6 74.552 8,5 138.473 8,0 -0,5 85,7

SERGIPE 42.097 4,9 37.665 4,3 80.885 4,7 -10,5 114,7

BAHIA 187.753 21,6 188.105 21,6 409.248 23,6 0,2 117,6TOTAL 867.611 100,0 872.564 100,0 1.736.302 100,0 0,6 99,0

2010

EMPREGOS NO SETOR INDUSTRIALTx. Crescimento %1990 2000

84

maior taxa de crescimento na década de 1990, seguido pelo Rio Grande do Norte

(19,6%). Com relação à década de 2000, vale salientar em termos relativos, foi o estado

do Maranhão (143,5%) que demonstrou maior crescimento do número de empregos

formais, seguido pela Bahia (117,6%).

Na distribuição de emprego por gêneros da indústria no Nordeste, conforme

Tabela 15, evidencia-se uma forte concentração no setor tradicional nos anos de 1990 a

2000, como foi o caso da indústria de produtos alimentícios. Porém, em 2010 foi a

indústria de construção civil que apresentou maior concentração. As atividades

industriais da região Nordeste, em termos percentuais a que apresentou o maior

crescimento no que se refere à taxa de crescimento do número de empregos na década

de 1990 foi a indústria de calçados (561,8%) seguida pela de material de transporte

(30,8%).

Tabela 15- Emprego Formal nas Atividades Econômicas Industriais dos Estados do

Nordeste (1990 a 2010)

FONTE: Elaboração com base nos dados da RAIS/MTE 1990/2010.

É importante ressaltar que no início do período estudado, a produção de calçados

no Nordeste era predominantemente artesanal ou realizada em pequenas unidades

industriais aproveitando-se do couro na região. A justificativa para o destaque na

indústria de calçados na década de 1990 é devido a grande migração de empresas que

teve início nos anos 1990 e ficou restrita àquela de grande porte e as vantagens de

custos se revelaram mais expressivas. Essas empresas tinham sede em São Paulo e Rio

Grande do Sul e considerado grandes grupos calçadistas que estabeleceram linhas de

NORDESTE

Absoluto % Absoluto % Absoluto % 2000/1990 2010/2000Extrativa mineral 17.214 2,0 20.070 2,3 35.576 2,0 16,6 77,3

Ind. de prod. minerais nao metálicos 36.684 4,2 43.160 4,9 78.185 4,5 17,7 81,2

Indústria metalúrgica 28.520 3,3 25.859 3,0 58.422 3,4 -9,3 125,9

Indústria mecânica 11.279 1,3 7.761 0,9 24.900 1,4 -31,2 220,8

Ind. do mat.elétrico e de comunicações 11.211 1,3 8.066 0,9 12.004 0,7 -28,1 48,8

Indústria do material de transporte 3.936 0,5 5.148 0,6 22.557 1,3 30,8 338,2

Indústria da madeira e do mobiliário 22.301 2,6 22.982 2,6 34.270 2,0 3,1 49,1

Ind. do papel, editorial e gráfica 27.213 3,1 24.511 2,8 41.429 2,4 -9,9 69,0

Ind. da borracha, fumo, couros, peles 26.037 3,0 15.643 1,8 28.654 1,7 -39,9 83,2

Ind. química de prod. farmacêuticos 54.539 6,3 46.646 5,3 106.913 6,2 -14,5 129,2

Ind. têxtil do vest. e artefatos de tecidos 110.066 12,7 120.159 13,8 180.597 10,4 9,2 50,3

Indústria de calçados 7.297 0,8 48.292 5,5 125.601 7,2 561,8 160,1

Ind. de prod. alimentícios, bebidas 264.512 30,5 216.920 24,9 338.912 19,5 -18,0 56,2

Serviços industriais de utilidade pública 64.982 7,5 58.725 6,7 78.259 4,5 -9,6 33,3

Construçao civil 181.820 21,0 208.622 23,9 570.023 32,8 14,7 173,2

INDÚSTRIA 867.611 100,0 872.564 100,0 1.736.302 100,0 0,6 99,0

EMPREGO NO SETOR INDUSTRIAL2000 2010 Tx. Crescimento %1990

85

produção complementares11

, algumas dessas empresas eram especializadas em calçados

de couro (DINIZ e BASQUES, 2004 apud HAGUENAUER; PROCHNIK, 2000).

De acordo com a Tabela 16,no que se refere ao setor industrial do Ceará, quanto

à participação relativa, houve forte concentração em termos de empregos formais na

indústria têxtil, vestuário e artefatos de tecidos que detinha em 1990 (28,0%) do

emprego industrial, percentual levemente reduzido para (21,1%) em 2010, quando perde

posição para a indústria de construção civil (22,5%). Esta também foi destaque no

mesmo período para a região Nordeste.

Tabela 16- Empregos no setor industrial - Ceará (1990 a 2010)

FONTE: Elaboração com base nos dados da RAIS/MTE 1990/2010.

Quanto à indústria têxtil, Diniz e Marques (2004) relatam que é principalmente

no Ceará que se localizam e merece destaque grandes empresas produtoras e é no estado

que se localiza o polo têxtil e de confecções na cidade de Fortaleza. Essas empresas se

relocalizaram devido à abundância de mão de obra barata e aos incentivos oferecidos.

No entanto, na década de 1990 o setor industrial calçadista se destacou com

(1.689,3%) de taxa de crescimento. A indústria de calçados no Ceará, no início da

década era responsável por apenas (1,2%) do emprego formal nesse setor e em 2010

passou a ser responsável por (18,9%), conforme Tabela16.

A política estadual de incentivos fiscais e atração de investimentos contribuíram

para o bom desempenho da indústria de calçados. O crescimento regional na produção

de calçados se alterou. Em 1986 a 2000, a participação no Nordeste subiu de 3% para

11

Algumas empresas são responsáveis apenas pela montagem.

Tx. Crescimento %

CEARÁ Absoluto % Absoluto % Absoluto % 2000/1990 2010/2000

Extrativa mineral 1.875 1,5 2.714 1,5 2.654 0,8 44,7 -2,2

Ind. de prod. minerais nao metálicos 6.296 5,0 7.186 4,0 12.041 3,6 14,1 67,6

Indústria metalúrgica 5.427 4,3 5.502 3,0 14.425 4,3 1,4 162,2

Indústria mecânica 1.568 1,3 2.364 1,3 4.683 1,4 50,8 98,1

Ind. do mat.elétrico e de comunicaçoes 1.378 1,1 1.321 0,7 1.895 0,6 -4,1 43,5

Indústria do material de transporte 745 0,6 1.211 0,7 4.193 1,2 62,6 246,2

Indústria da madeira e do mobiliário 3.361 2,7 4.955 2,7 8.066 2,4 47,4 62,8

Ind. do papel, editorial e gráfica 3.715 3,0 4.336 2,4 8.359 2,5 16,7 92,8

Ind. da borracha, fumo, couros, peles 4.939 3,9 3.894 2,2 7.706 2,3 -21,2 97,9

Ind. química de prod. Farmacêuticos Vet. 5.228 4,2 6.162 3,4 13.090 3,9 17,9 112,4

Ind. têxtil do vest. e artefatos de tecidos 35.008 28,0 48.485 26,9 71.006 21,1 38,5 46,4

Indústria de calçados 1.525 1,2 27.287 15,1 63.562 18,9 1689,3 132,9

Ind. de prod. alimentícios, bebidas 25.672 20,5 30.900 17,1 42.331 12,6 20,4 37,0

Serviços industriais de utilidade pública 7.718 6,2 6.472 3,6 7.187 2,1 -16,1 11,0

Construçao civil 20.598 16,5 27.746 15,4 75.973 22,5 34,7 173,8Total 125.053 100,0 180.535 100,0 337.171 100,0 44,4 86,8

2000 20101990

EMPREGOS NO SETOR INDUSTRIAL

86

20%, a paulista caiu de 41% para 27% e a gaúcha de 55% para 52%. O crescimento da

produção é justificado pela produção de calçados de plásticos e o estado do Ceará

detinha 65% do total brasileiro (DINIZ; MARQUSES, 2004).

Nos anos 2000 a indústria de material de transporte toma a liderança,

apresentando a maior taxa de crescimento (246,2%) ficando à frente da construção civil

(173,8%), segundo Tabela 16. Vale salientar que a indústria de material de transporte

também foi destaque na análise da região Nordeste, no mesmo período.

Ressalta-se conforme Tabela 16, para o ano de 2010 que quatro setores foram

responsáveis por 75,1% do emprego formal em todo o estado do Ceará, este estado se

especializou nos setores industriais: têxtil, calçados, alimentos e construção civil. Nos

anos 1990 apenas três setores eram responsáveis pela concentração: têxtil alimentos e

construção civil juntos contribuíam com 64,2% de todo emprego formal.

Conforme a RAIS e analisando a Tabela 17, o setor que mais contribuiu para

geração de emprego formal nas CMs-Ceará foi à indústria calçadista. Na década de

1990 esse setor contribuía com apenas 346 empregos formais e no final de 2010 se

tornou o setor de maior destaque com concentração de 26.884 mil empregos formais.

Outro setor que mereceu destaque foi o da construção civil que passou de 839 empregos

formais na década de 1990 para 3.795 em 2010. Vale salientar que o setor de calçados

com apenas 341 estabelecimentos contribuiu com mais empregos que o setor da

construção civil, que possuía 592 estabelecimentos em 2010.

Tabela 17- Número de Empregos Formais nas Atividades Industriais Econômicas –

CMs-Ceará (1990 a 2010)

FONTE: Elaboração com base nos dados da RAIS/MTE 1990/2010.

CMs CEARÁ

Absoluto % Absoluto % Absoluto % 2000/1990 2010/2000

Extrativa mineral 131 2,0 222 1,0 268 0,6 69,5 20,7

Ind. de prod. minerais nao metálicos 1.250 19,0 1.047 4,9 1.500 3,6 -16,2 43,3

Indústria metalúrgica 118 1,8 368 1,7 1.180 2,8 211,9 220,7

Indústria mecânica 1 0,0 401 1,9 405 1,0 40000,0 1,0

Ind. do mat. elétrico e de comunicações 13 0,2 2 0,0 3 0,0 -84,6 50,0

Indústria do material de transporte 4 0,1 45 0,2 12 0,0 1025,0 -73,3

Indústria da madeira e do mobiliário 215 3,3 342 1,6 355 0,9 59,1 3,8

Indústria do papel, papelao, editorial e gráfica 104 1,6 222 1,0 828 2,0 113,5 273,0

Ind. da borracha, fumo, couros, ind. diversas 1.318 20,0 1.046 4,9 1.470 3,5 -20,6 40,5

Ind. química de prod. farmacêuticos, veterinários... 249 3,8 377 1,8 1.058 2,5 51,4 180,6

Indústria têxtil do vestuário e artefatos de tecidos 1.059 16,1 975 4,5 1.005 2,4 -7,9 3,1

Indústria de calçados 346 5,2 13.145 61,3 26.884 64,5 3699,1 104,5

Ind. de prod. alimentícios, bebidas e álcool etílico 817 12,4 1.395 6,5 2.107 5,1 70,7 51,0

Serviços industriais de utilidade pública 132 2,0 559 2,6 790 1,9 323,5 41,3

Construçao civil 839 12,7 1.313 6,1 3.795 9,1 56,5 189,0

TOTAL 6.596 100,0 21.459 100,0 41.660 100,0 225,3 94,1

TX. CRECIMENTO %1990 2000 2010

EMPREGOS NO SETOR INDUSTRIAL

87

A Tabela 17 evidencia que as cidades médias, em estudo, perderam diversidade

do ponto de vista do emprego formal. Os dados mostram que a indústria de borracha,

couros, a de produtos minerais não metálicos e a têxtil, eram os segmentos que mais

ofertavam empregos em 1990, pois essas atividades geravam 20,0%, 19,0% e 16,1%

respectivamente, de todos os postos de trabalho. Estes segmentos perderam destaque até

anos 2000. A participação desses segmentos foi declinando ao longo dos últimos anos,

cedendo para os segmentos: calçadista e de construção civil.

No entanto, analisando os dados de acordo com a Tabela 17 a partir da década

de 2000, observa-se que o segmento calçadista tem-se mostrado como o mais

importante na geração do emprego formal nesses municípios. Vale ressaltar que a taxa

de crescimento do segmento que mais tem crescido nas cidades em estudo, como um

todo na década de 1990 foi o segmento da indústria mecânica. Porém, esse fato

justifica-se pela base bem pequena quando comparada com a década anterior. O mesmo

caso se aplica a indústria de material de transporte que se apresentou como o segundo

setor em destaque.

Verificando a Tabela17, um fato chama atenção no início do período estudado.

A cidade de Juazeiro do Norte contribuiu com a maior participação relativa na indústria

de borracha. Tal resultado foi devido ter ocorrido nas décadas anteriores, um dinamismo

na indústria de plásticos e borracha, como também na produção de sandálias de material

sintético a partir de investimentos em tecnologia. Então, tal resultado foi reflexo das

modificações estabelecidas, a partir das décadas anteriores, nas atividades produtivas

(BESERRA, 2006).

É importante mencionar que 64,5% do emprego formal nas cidades médias em

estudo, conforme Tabela 17, estava concentrado em um único setor o da indústria

calçadista e isso aconteceu após os anos 1990. Então setores como: borracha, minerais

não-metálicos, produtos alimentícios, têxtil e construção civil perdem

significativamente espaço para a atividade calçadista. A indústria calçadista sai do Sul

do País para essas cidades devido a política fiscal implementada. Existia nessas cidades

um depósito de mão de obra para esses setores tradicionais. Conforme Carvalho (2008)

essa mão de obra quantificada e qualificada foi determinante para atração dessas

empresas.

Pode uma região se especializar em um único setor? Vale salientar que se a

indústria de Calçados de Sobral - a GRENDENE por algum motivo for desativada se

88

desmonta a estrutura de emprego de Sobral, diferente de Juazeiro do Norte e Crato que

possuem setores mais diversificados. O fenômeno Padre Cícero em Juazeiro do Norte e

Crato faz uma diferença tremenda na aglomeração urbana e no rebaixamento do valor

da força de trabalho. Essas empresas estão presentes devido ao excedente de trabalho.

Vale salientar um fato importante já mencionado por Rigotti e Campos (2009) no

capítulo anterior, o movimento pendular, isso acontece em Juazeiro do Norte e Crato

que tem um efeito sobre o valor da força de trabalho muito grande.

De acordo com a Tabela 18, em 2010 a indústria calçadista do Crato, Juazeiro do

Norte e Sobral apresentaram participação relativa de 51,1%, 39,9% e 80,2%,

respectivamente e participação significativa no emprego total da indústria em seus

municípios, implicando em uma elevada concentração de empregos formais nesse

segmento. No caso dos municípios de Juazeiro do Norte e Crato, o segmento calçadista

tem participação desde início do período estudado, isso se deve ao fato desse segmento

ser tradicional.

Tabela 18- Participação Relativa do Emprego Formal de cada segmento Industrial, na

indústria de cada CMs-Ceará (1990 a 2010)

FONTE: Elaboração com base nos dados da RAIS/MTE 1990/2010.

A dinâmica econômica desses três municípios foi formada por atividades de

ramos tradicionais da indústria de transformação. No caso de Juazeiro do Norte e Crato

muitas atividades estão ligadas ao movimento de romarias. Juntas têm o setor de

CMs-CEARÁ Cra. J. Norte Sob. Cra. J. Norte Sob. Cra. J. Norte Sob.

Extrativa mineral 5,6 0,0 2,1 0,7 0,4 1,5 1,2 0,4 0,7

Ind. prod. minerais nao metálicos 25,2 6,0 27,4 6,5 1,8 5,8 11,6 2,3 2,5

Indústria metalúrgica 3,6 1,4 1,3 3,0 3,9 0,3 5,2 6,8 0,2

Indústria mecânica 0,1 0,0 0,0 0,6 6,8 0,0 0,2 3,1 0,0

Ind. mat. Elétrico/ comunicações 0,5 0,3 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0

Indústria do material de transporte 0,0 0,2 0,0 0,2 0,0 0,3 0,0 0,1 0,0

Ind. da madeira e do mobiliário 3,9 4,6 1,8 2,1 2,7 0,9 1,3 1,4 0,5

Ind. papel, editorial e gráfica 0,6 2,8 0,9 0,4 2,8 0,4 4,4 1,3 1,8

Ind.borracha, fumo, couros, peles 1,2 35,4 15,0 1,3 15,9 1,0 0,3 11,4 0,2

Ind. química prod. farmacêuticos 6,5 4,4 2,0 3,4 2,3 1,0 5,4 4,1 1,1

Ind. têxtil do vest. artef. de tecidos 1,3 5,1 32,2 0,7 8,2 4,1 2,4 4,5 1,3

Indústria de calçados 0,1 13,9 0,0 66,7 33,4 72,4 51,1 39,9 80,2

Ind. prod. alimentícios, bebidas 13,1 12,6 11,9 5,8 7,9 6,1 5,0 7,6 3,7

Serv. industriais utilidade pública 0,0 3,1 1,9 3,1 3,3 2,1 1,5 3,1 1,4

Construçao civil 38,5 10,2 3,4 5,4 10,6 4,3 10,4 14,0 6,3

Indústria 100 100 100 100 100 100 100 100 100

1990 2000 2010

PARTICIPAÇÃO RELATIVA DO EMPREGO FORMAL DE CADA SEGMENTO INDUSTRIAL

89

calçados como principal atividade na geração de emprego formal. É importante

mencionar que a indústria calçadista em Juazeiro do Norte tem origem a partir da

segunda metade do século XIX em moldes artesanais, utilizando couro como matéria

prima principal. Atualmente a principal matéria prima é o PVC.

Com a migração da Grendene para a cidade do Crato distante a 10km de

Juazeiro do Norte, esta sofreu grandes mudanças no setor calçadista. Assim, a partir da

década de 1990, os empresários perceberam a necessidade de adquirirem mecanismos

para fortalecer o setor. Houve grande esforço na intenção de atrair grandes

fornecedores, prestadores de serviços e agentes financeiros que estimularam o aumento

da produção local. Hoje a cidade ocupa o terceiro lugar na classificação dos polos

calçadistas do país, perdendo apenas para Franca (SP) e Novo Hamburgo (RS)

(DIÁRIO DO NORDESTE, 01/05/2011).

Estas cidades têm absorvido grandes investimentos. O segmento calçadista se

destacou a partir dos anos 2000 como o que mais gera emprego formal nesses

municípios. Porém, nas décadas anteriores o foco eram os tradicionais segmentos de

produtos alimentícios, produtos minerais não-metálicos e construção civil, que se

avultavam nesses municípios desde o início do período estudado.

A presença de incentivos fiscais aliados à mão de obra abundante nessas cidades

atraíram várias empresas, a GRENDENE (Sobral, Crato) se destaca. Esta impulsionou o

bom desempenho do setor calçadista. Vale salientar que Sobral abriga a maior indústria

do setor calçadista do estado do Ceará. Esta cidade se destaca por apresentar a maior

taxa de crescimento do emprego formal na década de 1990 (316,5%). Na década de

2000, Juazeiro do Norte é destaque dentre todos os municípios estudados contribuindo

com taxa de crescimento de (124,0%) de emprego formal conforme Tabela 19.

Tabela 19- Empregos no setor industrial – CM Ceará (1990 – 2010).

FONTE: Elaboração com base nos dados da RAIS/MTE 1990/2010.

CMs-CEARÁ

Absoluto % Absoluto % Absoluto % 2000/1990 2010/2000

Crato 1.270 19,3 4.043 18,8 5.261 12,6 218,3 30,1

J. do Norte 2.474 37,5 5.538 25,8 12.404 29,8 123,8 124,0

Sobral 2.852 43,2 11.878 55,4 23.995 57,6 316,5 102,0

Total 6.596 100,0 21.459 100,0 41.660 100,0 225,3 94,1

EMPREGOS NO SETOR INDUSTRIAL

TX. CRESCIMENTO %1990 2000 2010

90

A instalação da empresa Grendene, no caso de Sobral e Crato, tem possibilitado

o desenvolvimento da atividade calçadista. A implantação da Grendene nestas cidades

se deu com base também em vantagens comparativas adicionais de localização,

concedida com a política de desconcentração da região metropolitana. Para Diniz e

Marques, (2004), essa empresa é líder nacional em calçados de plásticos, voltados para

o público de baixo poder aquisitivo. A Grendene em Sobral se caracteriza pela grande

dimensão e intensa verticalização da produção. Esta empresa é responsável pela

concentração de emprego formal nesta cidade e contribui para destaque deste setor

quando se analisa as CMs-Ceará.

As cidades médias são de grande importância para o estado e isso reflete na

crescente participação destas nos empregos formais. No que se refere à cidade do Crato,

esta é a segunda cidade mais importante do Cariri, em termos econômicos ficando atrás

de Juazeiro do Norte, constituíndo também em entroncamento rodoviário que a interliga

ao Piauí, Paraíba e Pernambuco favorecendo o fluxo de mercadorias.

É no Crato que se encontra a maior concentração de indústrias de cerâmicas e

materiais de construção. A mineração gera fonte de renda, através da extração das

rochas ornamentais, brita, areia entre outros. A exploração do calcário na região, como

pedra de revestimento na contrução civil, vem sendo realizada a mais de 30 anos,

justificando participação deste munícipio na indústria de produtos minerais não-

metálicos e na construção civil desde o início do período estudado.

Atualmente existem no Crato 8 indústrias de cerâmicas em funcionamento, todas

localizam-se ao sopé da Floresta Nacional de Araripe, reserva nacional que cede matéria

prima (Argila), para fabricação. Como a região é marcada pelo turismo religioso

pautado na figura do Pe. Cicero, essas indústrias foram beneficias com o pleno

desenvolvimento da região que nesse contexto tem-se intensificado as obras de infra-

estrutura na região para recepção de mais de 1 milhão de romeiros que visitam a região

anualmente. Essas obras vão desde a infraestrutura viária até a construção de pousadas,

hotéis e edifícios de pequeno e grande porte, o que implica numa crescente demanda por

material de construção (DIÁRIO DO NORDESTE, 2011).

Em Juazeiro do Norte há também várias empresas implantadas por grupos locais

foi o caso da Imboplasa, Bopil, Embom, Iduarte no ramo calçadista, outras vindas do

ramo de jóias folheadas, houve forte produção de confecções e fabricação de utensílios

domésticos em alumínio. Hoje nesse município existem três grandes indústrias: a

Singer, (fabricação de máquinas de costuras), AP Calçados e Via Beach (ramo de

91

calçados). Com relação ao perfil das indústrias 90% foram classificadas como média e

pequena (DIÁRIO DO NOSRDESTE, 2011).

No que concerne aos empregos formais das CMs-Ceará, o número de pessoas

empregadas superou o número de estabelecimentos 2.363 nos setores em estudo, pois o

quantitativo de empregos criados nas cidades médias do Ceará no período em pauta

passou de 6.596 para 41.660 mil empregos formais, apresentando uma taxa de

crescimento de 532% (Ver Tabela 19).

Dos municípios escolhidos para análise, em termos absolutos o Crato foi o que

apresentou o menor número de empregos formais no setor industrial em todo período

analisado. A análise do setor industrial revela taxa de crescimento com maior

intensidade do emprego formal nas CMs-Ceará ao longo dos anos 1990, diferentemente

do que se observou nas economias cearense, nordestina e nacional. Contudo, nos anos

2000 perde apenas para a região Nordeste.

A Tabela 20 informa a evolução do número de empregos, a participação relativa

e a taxa de crescimento do emprego formal industrial nas cidades médias do Ceará, no

estado do Ceará, na região Nordeste e no Brasil. No período de 1990 a 2010, foram

gerados em todo o país 4,1 milhões de postos de trabalho. Tomando como referência as

taxas de crescimento, verifica-se que na década de 1990 o Brasil apresentou uma taxa

negativa isso é reflexo do impacto direto da rápida e profunda liberalização comercial,

dada sua natureza e o curto tempo em que foi introduzida, o que se traduz, em parte, na

redução das taxas de crescimento do emprego formal. No que se refere ao Nordeste,

para o mesmo período a taxa foi positiva, no entanto, baixa.

Tabela 20- Emprego Formal no setor industrial nas CMs-Ceará, no estado do Ceará, na

região Nordeste e no Brasil (1990 a 2010)

FONTE: Elaboração com base nos dados da RAIS/MTE 1990/2010.

De acordo com os dados apresentados na Tabela 20, as cidades médias em

estudo vêm apresentando crescimento significativo de emprego formal a partir da

década de 1990, pois em termos percentuais essas cidades apresentaram taxas mais

elevadas do que o estado do Ceará, a região Nordeste e o Brasil. No entanto, as taxas do

Absoluto % Absoluto % Absoluto % 2000/1990 2010/2000CMs-CEARÁ 6.596 0,1 21.459 0,3 41.660 0,4 225,3 94,1

CEARÁ 125.053 1,8 180.535 2,8 337.171 3,1 44,4 86,8

NORDESTE 867.611 12,6 872.564 13,7 1.736.302 15,8 0,6 99,0

BRASIL 6.878.044 100,0 6.379.849 100,0 11.008.124 100,0 -7,2 72,5

1990 2000 2010 Tx. Crescimento %

EMPREGOS NO SETOR INDUSTRIAL

92

Ceará e das cidades médias se destacam devido às políticas e medidas implementadas

pelo governo de Tasso Jereissati, políticas agressivas de estímulos fiscais, que

possibilitaram um surto industrial.

A partir de 2002 com a nova reformulação do FDI na missão de identificar as

cadeias produtivas presentes no estado e remodelar a política industrial beneficiou

alguns municípios que foram identificados pela quantidade de polos formados por

cadeias produtivas, nas quais seria beneficiada por incentivos à produção. Dentre eles

estavam inseridos os municípios de Juazeiro do Norte e Crato. Essa nova política vem

garantindo a instalação de alguns investimentos nos municípios do interior do estado,

como pode ser confirmado pela ampliação de investimentos industriais em Sobral,

Crato e Juazeiro do Norte.

Quando se observa os anos 2000, o mercado de trabalho brasileiro vem

demonstrando importantes resultados de expansão do emprego, especialmente entre os

assalariados com carteira. Esse quadro favorável advém de um ambiente político

econômico mais estável, dado que antes são bastante diferenciados dos constatados em

décadas anteriores, marcada pela instabilidade política e pela hiperinflação, justificando

taxas de crescimento maiores que a década de 1990 para o estado do Ceará, a região

Nordeste e o Brasil. Entretanto, as CMs-Ceará nos anos 2000 tiveram taxa de

crescimento positiva porém, bem menores que a década anterior.

O Gráfico 1 a seguir apresenta uma análise da correlação entre a População e o

Emprego Formal nas Cidades Médias em estudo. Foi calculada a taxa de crescimento

nessas variáveis, entre os anos 2000/1991 e 2010/2000, anos dos últimos censos. Dado

o resultado, as mesmas foram comparadas na intenção de se verificar os ritmos

diferenciados entre essas taxas e seu significado para as cidades médias em estudo.

93

Gráfico 1- Taxa de Crescimento do Emprego Formal e da População nas CMs-Ceará

1991 a 2010

Fonte: RAIS/2010 e Censo 1991, 2000 e 2010.

A correlação entre o crescimento populacional e o emprego é de fundamental

importância para a cidade, devido ao fato que ritmos diferenciados entre esses

crescimentos podem reduzir ou aumentar as possibilidades de desenvolvimento

econômico e social da população. Vale ressaltar que nos anos de 2000, a cidade de

Juazeiro do Norte apresentou taxas de crescimento do emprego superior aos anos de

1990. Os resultados mostraram que as taxas de crescimento do emprego formal foram

superiores às taxas de crescimento da população, possibilitando melhoria no acesso aos

postos de trabalho e renda, devido ao fato da razão emprego/renda aumentar.

4.3 - Grau de Industrialização nas CMs-Ceará.

Para análise da Tabela21 criou-se um índice para captar o peso das atividades

industriais dentro de uma cidade, que vai possibilitar maiores ou menores efeitos de

encadeamentos locais a montante ou a jusante. Tal índice informa que quanto mais

próximo de 1, mais industrializada é a cidade ou mais precisamente haverá um processo

de industrialização daquela cidade. Assim de acordo com Pereira e Lemos (2003) o

índice é obtido da seguinte forma: Grau de Industrialização igual a razão entre o Pessoal

empregado na indústria nos 15 setores e o Pessoal empregado total.

0.050.0

100.0150.0200.0250.0300.0350.0

emprepop

emprepop2000/1991

2010/2000

Crato

Juaz. Norte

Sobral

94

Tabela 21- Grau de Industrialização nas CMs-Ceará no período de 1990 a 2010.

FONTE: Elaboração com base nos dados da RAIS/MTE 1990/2010

Dessa forma a Tabela 21 apresenta como mais industrializada a cidade de

Sobral, que oferece um percentual maior de participação do emprego industrial em

relação ao emprego total em todo o período analisado. A cidade de Juazeiro do Norte se

apresentou praticamente estável entre 2000 e 2010 e presenciou o menor grau de

industrialização a partir de 2000. Ressalta-se que o grau de industrialização de Sobral é

mediano, porém todo crescimento do setor industrial é em um único setor – o calçadista,

diferente de Juazeiro do Norte baseado em vários setores.

4.4- Remuneração salarial dos trabalhadores com emprego formal no setor

industrial das grandes regiões do Brasil e nas CMs-Ceará

Quanto aos salários no setor industrial das grandes regiões do Brasil no período

de 1990 a 2010, constatou-se que de todas as regiões, o Nordeste registra os menores

níveis de salários mínimos quando se analisa a indústria como um todo. A região

Sudeste registrou os maiores níveis de salários mínimos, conforme Tabela 22. No início

da década de 1990, o setor de serviços de utilidade pública apresentou os maiores níveis

de salários mínimos em todas as regiões brasileiras e os menores estavam no setor de

calçados e no setor de madeira e do mobiliário.

CMs-Ceará

Indústria Total Índice Indústria Total Índice Indústria Total Índice

Crato 1.270 6.069 0,209 4.043 10.089 0,401 5.261 16.440 0,320

J. Norte 2.474 10.339 0,239 5.538 17.607 0,315 12.404 39.503 0,314

Sobral 2.852 10.189 0,280 11.878 21.120 0,562 23.995 41.963 0,572

1990 2000

Grau de Industrialização

2010

95

Tabela 22- Número de Salários Mínimos* dos trabalhadores formais no Setor Industrial

de cada região do Brasil (1990 a 2010)

FONTE: Elaboração com base nos dados da RAIS/MTE 1990/2010.

Nota(*) Os salários mínimos foram calculados com base no INPC tendo ano base 2010.

No que se refere ao início aos anos de 1990, conforme a Tabela 22,

houve ganhos de níveis de salários mínimos em muitos setores para as regiões Norte,

Nordeste e Sudeste. O destaque nos anos 2000 para a região Nordeste foram: papel

editorial e gráfica (2,85), química produtos farmacêuticos (4,78) e extrativa mineral

(2,96). Em 2010 na mesma região Nordeste o destaque foi: extrativa mineral (7,02),

material de transporte (4,43), papel editorial e gráfica (2,94).

Ainda conforme a Tabela 22, quando se analisa o ano de 2010, observa-se que o

setor de serviços de utilidade pública e extrativa mineral registraram os maiores níveis

de salários mínimos. Os maiores níveis verificou-se na indústria extrativa mineral para

as regiões Norte, Nordeste e Sudeste. Na região Sul e Centro-Oeste permaneceram com

níveis mais elevados no setor de serviços de utilidade pública. A indústria de calçados e

a têxtil apresentaram os menores níveis de salários mínimos em todas as regiões.

No que se refere ao emprego e números de salários mínimos na Tabela 23, no

início da década de 1990 o setor que ofertou mais empregos nas CMs-Ceará foi o da

construção civil no Crato, a indústria da borracha em Juazeiro do Norte e a Indústria

têxtil em Sobral, vale salientar que essa indústria em Sobral é pioneira. Esses setores

registraram baixos níveis de salários mínimos. A indústria extrativa mineral no caso do

Crato contribuiu com o maior número de salários mínimos, em Juazeiro do Norte e

Sobral o destaque foi para a indústria de serviços de utilidade pública.

A partir do início dos anos 2000, conforme Tabela 23, a indústria de calçados

em todas as cidades médias em estudo, registrou a maior quantidade de empregos

Grandes Regiões

do Brasil 1990 2000 2010

Norte Nordeste Sudeste Sul C. Oeste Norte Nordeste Sudeste Sul C. Oeste Norte Nordeste Sudeste Sul C. Oeste

Extrativa mineral 3,21 2,09 3,30 1,47 2,54 5,30 2,96 3,89 2,30 3,01 8,75 7,02 9,11 3,87 4,75

Ind. prod. minerais nao metálicos 2,82 1,00 2,10 1,37 1,60 1,68 1,37 2,69 2,11 1,42 1,96 1,82 3,26 2,70 2,24

Indústria metalúrgica 1,94 2,38 2,94 1,98 1,49 3,61 2,50 3,66 2,60 1,76 3,93 3,05 4,49 3,45 2,64

Indústria mecânica 2,53 2,24 3,51 2,54 1,34 3,40 2,54 4,69 3,63 2,96 3,32 3,16 5,47 4,37 3,17

Ind. mat. Elétrico/ comunicações 2,53 2,27 3,61 2,79 2,12 3,65 3,00 4,57 3,48 2,34 3,62 3,24 4,95 3,71 2,38

Indústria do material de transporte 3,69 1,52 3,99 3,15 1,54 3,86 2,07 6,00 4,37 1,83 4,56 4,43 6,97 5,26 3,21

Ind. da madeira e do mobiliário 0,82 0,70 1,48 1,01 0,79 1,17 1,02 1,89 1,58 1,25 1,93 1,78 2,53 2,39 2,09

Ind. papel, editorial e gráfica 1,66 1,51 2,88 2,00 2,40 3,05 2,85 4,62 2,90 3,05 3,19 2,94 4,93 3,55 3,65

Ind.borracha, fumo, couros, peles 2,45 2,11 2,42 1,75 1,18 2,35 1,47 3,40 2,32 1,52 2,81 2,29 4,02 3,22 2,34

Ind. química prod. farmacêuticos 2,78 3,69 3,57 2,64 2,17 2,85 4,78 4,76 3,14 1,95 3,79 4,87 6,37 3,77 3,68

Ind. têxtil do vest. artef. de tecidos 1,04 0,98 1,55 1,52 0,83 1,25 1,27 1,93 1,71 1,06 1,46 1,63 2,25 2,31 1,64

Indústria de calçados 0,55 0,90 1,33 1,17 0,67 0,68 1,14 1,45 1,66 0,97 1,64 1,60 1,89 2,13 1,53

Ind. prod. alimentícios, bebidas 1,23 0,90 1,91 1,51 1,28 1,77 1,47 2,73 2,05 1,80 2,20 2,07 3,13 2,48 2,47

Serv. industriais utilidade pública 4,78 4,64 5,18 5,86 5,46 4,66 4,84 5,91 6,96 7,12 6,04 5,89 6,34 7,30 7,96

Construçao civil 1,52 1,19 1,74 1,37 1,64 2,35 1,60 2,43 2,08 2,10 3,23 2,51 3,11 2,46 3,16

Indústria 2,16 1,59 2,66 1,86 1,99 2,51 1,97 3,51 2,44 2,09 3,27 2,65 4,25 3,11 3,00

NÚMERO DE SALÁRIOS MÍNIMOS DE CADA SEGMENTO INDUSTRIAL

96

formais. No entanto, os maiores níveis de salários mínimos foi verificado na indústria

de serviços de utilidade pública, este se constituindo no setor que mais contribuiu para

aumento da renda nestas cidades médias.

Quando se observa os setores em conjunto, em 2010 houve ganhos de níveis de

salários mínimos em todas as cidades. No caso do Crato os maiores níveis de salários

mínimos foram registrados nos setores serviços de utilidade pública (2,46) e produtos

alimentícios (2,41), em Juazeiro do Norte os serviços de utilidade pública (4,42) e

extrativa mineral (2,02) e em Sobral os serviços de utilidade pública (7,11) e a

construção civil (2,08). A indústria de calçados e de construção civil ofertaram o maior

número de empregos formais em todas as cidades. Ressalta-se que se a indústria de

calçados de Sobral for excluída, desmonta a estrutura de emprego formal dessa cidade,

diferente de Juazeiro do Norte e Crato que possuem uma estrutura mais diversificada.

Identificam-se evidências de precarização nas relações de trabalho das CMs-

Ceará, pois estão presentes nestas indústrias níveis de salários extremamente baixos,

(ver Tabela 23). Em todo o período estudado a indústria registra níveis de salários

mínimos que variou de 0,66 a 1,67 na média, evidenciando baixos salários. Contudo,

verifica-se que foi na década de 1990 que os menores níveis de salários mínimos foram

registrados. (Ver Tabela 23). Por fim, pode ser destacado que ao longo das décadas

houve significativo dinamismo. Entretanto, tal dinamismo não foi suficiente para evitar

que ao final do período estudado as CMs-Ceará apresentassem baixos salários.

97

Tabela 23- Análise do emprego formal X número de salários mínimos em cada segmento industrial nas cidades médias do Ceará (1990 A 2010)

FONTE: Elaboração com base nos dados da RAIS/MTE 1990/2010.

Nota: Os salários mínimos foram calculados com base no INPC tendo ano base 2010.

CMs-CEARÁ

Emp. Sal. Emp. Sal. Emp. Sal. Emp. Sal. Emp. Sal. Emp. Sal. Emp. Sal. Emp. Sal. Emp. Sal.

Extrativa mineral 71 0,88 0 0,00 60 0,94 28 1,69 21 1,16 173 0,93 64 1,31 44 2,02 160 2,58

Ind. prod. minerais nao metálicos 320 0,51 149 0,51 781 1,28 262 0,65 99 0,70 686 2,33 612 1,22 283 1,38 605 2,69

Indústria metalúrgica 46 0,45 34 0,48 38 0,74 121 1,08 215 0,69 32 1,03 274 1,34 849 1,29 57 1,27

Indústria mecânica 1 0,19 0 0,00 0 0,00 26 0,78 375 1,20 0 0,00 11 1,19 390 2,01 4 1,29

Ind. mat. Elétrico/ comunicações 6 0,38 7 0,38 0 0,00 0 0,00 0 0,00 2 0,61 0 0,00 2 1,13 1 1,11

Indústria do material de transporte 0 0,00 4 0,38 0 0,00 8 0,71 0 0,00 37 0,79 0 0,00 12 1,13 0 0,00

Ind. da madeira e do mobiliário 49 0,48 114 0,41 52 0,50 85 0,70 151 0,71 106 0,69 67 1,33 172 1,17 116 1,27

Ind. papel, editorial e gráfica 7 0,38 70 0,49 27 0,40 18 0,74 154 0,79 50 1,04 230 1,21 167 1,20 431 1,41

Ind.borracha, fumo, couros, peles 15 0,59 875 0,62 428 0,70 53 0,82 880 0,92 113 1,01 14 1,11 1.411 1,37 45 1,24

Ind. química prod. farmacêuticos 82 0,44 110 0,87 57 0,59 138 0,66 125 0,85 114 0,97 284 1,77 505 1,50 269 1,97

Ind. têxtil do vest. artef. de tecidos 16 0,44 125 0,55 918 0,45 29 0,64 455 0,66 491 0,57 126 1,23 556 1,19 323 1,17

Indústria de calçados 1 0,23 345 0,58 0 0,00 2.698 1,09 1.851 0,82 8.596 1,09 2.688 1,43 4.949 1,31 19.247 1,54

Ind. prod. alimentícios, bebidas 167 1,23 311 0,63 339 0,71 234 1,41 440 1,13 721 0,94 265 2,41 948 1,69 894 1,43

Serv. industriais utilidade pública 0 0,00 77 2,70 55 4,40 126 3,54 184 3,22 249 5,74 78 2,46 384 4,42 328 7,11

Construçao civil 489 0,72 253 0,60 97 0,59 217 0,81 588 0,79 508 0,84 548 1,66 1.732 1,47 1.515 2,08

Indústria 1.270 0,69 2.474 0,66 2.852 0,84 4.043 1,11 5.538 0,94 11.878 1,21 5.261 1,49 12.404 1,49 23.995 1,67

2010

Sobral Crato J. Norte Sobral Crato

EMPREGO FORMAL X NÚMERO DE SALÁRIOS MÍNIMOS DE CADA SEGMENTO INDUSTRIAL

J. NorteCrato J. Norte Sobral

1990 2000

98

É possível afirmar que fatores como a abertura econômica, a forte concorrência

entre as empresas, o menor nível de organização sindical e a política de atração de

investimentos, executada pelo Governo cearense, implicou em resultados positivos que

foi sentido principalmente a partir dos anos 1990. O número de indústrias que procurou

se instalar no estado aumentou consideravelmente, atraídas por uma política de

incentivos fiscais e menores custos com mão de obra, devido aos menores níveis de

salários pagos ao trabalhador formal.

4.5- Concentração Industrial nas cidades médias cearenses: a especificidade de um

setor dentro de uma região

A utilização de indicadores locacionais tradicionalmente empregados na

literatura de economia regional, para estudos dessa natureza complementam os

resultados abordados nesse trabalho. Vale salientar que a literatura de economia

regional reconhece que este indicador é bastante apropriado para captar a especialização

de um setor industrial.

O Quociente Locacional (QL), capta diretamente a especialização industrial das

cidades. Então, para medir a especialização industrial das cidades médias decidiu-se

utilizar aqui este índice da indústria que procura comparar duas estruturas setoriais-

espaciais. Ele é a razão entre duas estruturas econômicas: no numerador temos a

economia em estudo e no denominador uma economia de referência.

Assim, para se obter evidências a respeito das tendências locacionais de

diferentes segmentos industriais nos períodos de 1990 a 2010, o trabalho utiliza o

Quociente de Localização de Hoover, que é definido a partir do QL. Sua fórmula de

cálculo pode ser expressa da seguinte forma:

Eij

QLij = Eit

Etj

Ett

Onde:

99

Eij _ Emprego no setor i na cidade média ji;

Eit _ Emprego no setor i no Ceará;

Etj _ Emprego total de todos os setores na cidade média ji;

Ett _ Emprego total de todos os setores no Ceará;

i setores (i= 1,...,15);

j regiões (j= 1,...,3).

Embora simples, o Quocientede Hoover evidencia algumas propriedades

desejáveis. Uma delas é o fato de ser uma medida relativa, considerando sempre a

participação do emprego da região no emprego total, o que permite isolar a ocorrência

da localização. Outra vantagem desta medida é que permite comparar os níveis de

concentração de diferentes segmentos industriais (SILVEIRA, 2005).

Este Quociente Locacional indica a atividade em que uma determinada região se

destaca quando comparada com a estrutura industrial do estado, revelando dessa forma

em qual setor a região tem mais importância para o estado. O seu resultado aponta para

atividades básicas ou não-básicas para a região, com possibilidades ou não para

exportação. Valores do indicador superiores a unidade (QL>1) revelam os setores de

destaque, básicos para a região analisada e com possibilidades para exportações, valores

inferiores a um (QL<1) indicam o oposto (PAIVA, 2007 apud WANDERLEY &

SANCHES ,1997; SIMÔES, 2004).

Para tais unidades, foram obtidas informações no período de 1990 a 2010 para

os 15 setores industriais. A Tabela 24 apresenta os resultados obtidos para o Quociente

de Hoover, considerando as três cidades médias em estudo e o estado do Ceará,

apontando a evolução da especialização de atividade industrial no espaço geográfico.

O processo de concentração foi estudado por estatísticos, por economistas e por

estudiosos da história econômica. Um estudo estatístico permite conhecer melhor o

fenômeno. Em geral a concentração pode ser analisada quanto: a) ao número de

empregados, b) ao valor da produção, estes são relevantes para concentração técnica

(concentração das unidades de produção) e concentração econômica (concentração das

empresas). Os índices nos dão uma primeira e aproximada indicação para o estudo de

mercado. É possível distinguir a situação entre dois tipos de concentração, a

“concentração absoluta” e a “concentração relativa”, no primeiro caso um pequeno

número de empresas e no segundo caso, um número relativamente grande de empresas

com algumas poucas dominantes (LABINI, 1988).

100

É importante lembrar, para melhor entender as análises seguintes, que qualquer

valor acima de 1 mostra um setor muito importante para aquele município que apresenta

tal índice e que nesse caso, o setor é muito mais importante para esta cidade do que o

próprio setor industrial do município como um todo.

Conforme Tabela 24, em 1990 o segmento com maior índice de QL pertencia a

indústria de calçados (11,44) e borracha (8,95) na cidade de Juazeiro do Norte, o setor

de produtos minerais não-metálicos foi destaque tanto para a cidade do Crato (5,00)

como para Sobral (5,44). No caso de Juazeiro do Norte, esta cidade historicamente já

produzia a borracha de maniçoba, indústria que teve apoio do Pe. Cícero para

instalação. Vale ressaltar quanto a indústria de calçados que apenas a cidade de Juazeiro

do Norte em meados da década de 1980 registrou estabelecimentos nesse setor. Este

município foi historicamente conhecido pela fabricação de calçados, devido à vocação

histórica herdada da fase em que a civilização do couro tornou a região um espaço de

produção e comercialização de artefatos artesanais.

Tabela 24- Quociente de Localização Industrial de cada segmento Industrial, em cada

CMs-Ceará (1990 a 2010)

FONTE: Elaboração com base nos dados da RAIS/MTE 1990/2010.

No início dos anos 2000, algumas indústrias nas cidades em estudo reduziram o

QL, foi o caso da própria indústria de produtos minerais não-metálicos, a extrativa

mineral e a construção civil, para o caso da cidade do Crato. Em Juazeiro do Norte o

setor de borracha (7,37) registrou um índice menor que a década anterior, no entanto,

CMs-Médias

Crato J. Norte Sobral Crato J. Norte Sobral Crato J. Norte Sobral

Extrativa mineral 3,73 0,00 1,40 0,46 0,25 0,97 1,55 0,45 0,85

Ind. de prod. minerais nao metálicos 5,00 1,20 5,44 1,63 0,45 1,45 3,26 0,64 0,71

Indústria metalúrgica 0,83 0,32 0,31 0,98 1,27 0,09 1,22 1,60 0,06

Indústria mecânica 0,06 0,00 0,00 0,49 5,17 0,00 0,15 2,26 0,01

Ind. do mat. elétrico e de comunicações 0,43 0,26 0,00 0,00 0,00 0,02 0,00 0,03 0,01

Indústria do material de transporte 0,00 0,27 0,00 0,29 0,00 0,46 0,00 0,08 0,00

Indústria da madeira e do mobiliário 1,44 1,71 0,68 0,77 0,99 0,33 0,53 0,58 0,20

Indústria do papel, papelao, editorial e gráfica 0,19 0,95 0,32 0,19 1,16 0,18 1,76 0,54 0,72

Ind. da borracha, fumo, couros, ind. diversas 0,30 8,95 3,80 0,61 7,37 0,44 0,12 4,98 0,08

Ind. química de prod. farmacêuticos, veterinários... 1,54 1,06 0,48 1,00 0,66 0,28 1,39 1,05 0,29

Indústria têxtil do vestuário e artefatos de tecidos 0,05 0,18 1,15 0,03 0,31 0,15 0,11 0,21 0,06

Indústria de calçados 0,06 11,44 0,00 4,42 2,21 4,79 2,71 2,12 4,25

Ind. de prod. alimentícios, bebidas e álcool etílico 0,64 0,61 0,58 0,34 0,46 0,35 0,40 0,61 0,30

Serviços industriais de utilidade pública 0,00 0,50 0,31 0,87 0,93 0,58 0,70 1,45 0,64

Construçao civil 2,34 0,62 0,21 0,35 0,69 0,28 0,46 0,62 0,28

Indústria 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00

1990 2000 2010

QL

101

este setor contribuiu com maior índice de especialização. A indústria de calçados nesta

cidade diminuiu consideravelmente seu índice de 11,44 para 2,21 (Ver Tabela 24).

Ressalta-se que a indústria de calçados nesse período se constituiu como importante

setor tanto para a cidade do Crato (4,42) como para Sobral (4,79). Vale mencionar o

fato da instalação da Grendene na década anterior ter contribuído para essas cidades

registrarem os maiores índices de especialização.

De acordo com os dados apresentados na Tabela 24, no final do período

estudado, os setores industriais de produtos minerais não-metálicos; de madeira e do

mobiliário; de borracha; de material de transporte; indústria mecânica e o próprio setor

de calçados diminuíram o índice de QL. Salienta-se que o setor de produtos minerais

não-metálicos (3,26) e de borracha (4,98), exibiram no final do período estudado os

maiores índices de QL nas cidades de Crato e Juazeiro do Norte respectivamente.

No que se refere ao setor de menor importância para estas cidades, o destaque

foi para o setor de material elétrico e de comunicações, em todo período estudado,

conforme dados da RAIS praticamente não existia registro de estabelecimento nesse

setor. Verificando especificamente o final do período em estudo, na cidade do Crato não

se encontra registro de estabelecimentos na indústria de material de transporte, contudo

houve registro de 5 estabelecimentos na década de 1990. Esse mesmo setor foi o menos

importante também para a cidade de Sobral, apresentando apenas 2 estabelecimentos no

final de 2010.

Quanto à cidade de Juazeiro do Norte, o menor índice de concentração foi para o

setor de material elétrico e de comunicação, com registro de apenas 5 estabelecimentos.

Dessa forma, as indústrias mencionadas apresentaram os menores índices de coeficiente

de concentração industrial nessas cidades.

No final do período em estudo observa-se no caso de Sobral, que houve uma

elevada concentração quando se compara com a cidade de Crato e Juazeiro do Norte,

pois nenhum outro setor além do setor calçadista apresentou QL>1 e como já

mencionado esse setor foi destaque para a região estudada. O setor lidera a concentração

na indústria de calçados (4,25) e se tornou o setor de expressiva importância, devido á

indústria matriz gerar efeito em cadeia por ser uma indústria de grande porte.

Conforme dados da Tabela 24, a cidade de Juazeiro do Norte apresentou setores

com Q>1 mediamente diversificados, registrados em seis setores: Metalúrgica (1,60),

Mecânica (2,26), Borracha (4,98), Produtos Farmacêuticos (1,05), Serviços de Utilidade

Pública (1,45) e Calçados (2,12). Embora o Crato também tenha registrado seis setores

102

com índices de QL>1 esta cidade apresentou menor concentração e estes se destacaram

na indústria Extrativa Mineral (1,55), Metalúrgica (1,22), Papel e Papelão (1,76), de

Produtos Farmacêuticos (1,39), Produtos Minerais não-Metálicos (3,26) e a de calçados

(2,71). Estes dois últimos setores registraram os maiores índices nessa cidade. Quanto à

cidade de Sobral, esta apresentou QL>1 apenas na indústria de calçados (4,25). Dessa

forma, de acordo com os índices encontrados, pode-se concluir que Sobral apresentou

setor super concentrado, Juazeiro do Norte mediamente concentrado e o Crato

baixamente concentrado.

103

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho teve por escopo principal o estudo da evolução do emprego

formal industrial nas cidades médias do estado do Ceará no período de 1990 a 2010. A

exposição procurou demonstrar que o setor industrial dessas cidades caracterizou-se por

intensas transformações em termos de estabelecimentos e emprego formal.

Nas últimas duas décadas houve muitas mudanças na sociedade e no espaço

cearense, transformações devidas em diferentes escalas marcadas pela reestruturação

produtiva, resultando em uma série de ações públicas e privadas com repercussões na

produção do espaço urbano deste estado nordestino.

Com a reestruturação produtiva, as cidades médias estão mais articuladas.

Atraíram fábricas de empresas nacionais e multinacionais, ampliando e diversificando o

fluxo de pessoas, produtos e informações. De um modo geral, observando essas cidades

as mesmas indicam semelhanças e diferenças no que se refere a origem, relações com o

campo, predomínio de uma ou outra atividade, porém o que pode aproximá-las é a

condição que exercem como centros regionais e o desenvolvimento de atividades

produtivas nesses espaços estudados. Esses centros se reorganizaram ao mesmo tempo

em que novos espaços são valorizados ao abrigarem atividades econômicas.

Quanto aos resultados observa-se que houve uma expansão do número de

estabelecimentos entre as atividades industriais na década de 1990 nas cidades médias

do Ceará. Ressalta-se que os estabelecimentos dos setores em pauta passaram de um

quantitativo de 382 para 2.363 indústrias. Foi à cidade de Juazeiro do Norte que mais

contribuiu para esse resultado e se destaca devido ao fato do crescimento de alguns

setores, a exemplo da indústria: de construção civil, de calçados, a têxtil e a de

alimentos.

No que se refere à quantidade de estabelecimentos o destaque foi para a cidade de

Juazeiro do Norte, que, além de ser um polo de produção relativamente consolidado no

contexto estadual, é a área de maior concentração de micro e pequenas empresas

calçadistas do estado. Em 2010 este município era responsável por 4.949 empregos

diretos, concentrando o maior número de estabelecimentos, 294, e Sobral com apenas

25 estabelecimentos, foi responsável por gerar um maior número 19.247 empregos

diretos. Ressalta-se que se a indústria de calçados de Sobral for excluída, desmonta a

104

estrutura de emprego formal dessa cidade, diferente de Juazeiro do Norte e Crato que

possuem uma estrutura mais diversificada.

As cidades médias em estudo vêm apresentando crescimento significativo de

emprego formal. No que concerne a quantidade de empregos criados nas cidades médias

do Ceará, este passou de 6.596 em 1990 para 41.660 mil empregos formais em 2010,

apresentando uma taxa de crescimento de 532%.O setor que mais contribuiu para

geração de emprego formal foi à indústria calçadista. Na década de 1990 esse setor

contribuía com apenas 346 empregos formais e no final de 2010 se tornou o setor de

maior destaque com concentração de 26.884 mil empregos formais. Outro setor que

mereceu destaque foi o da construção civil que passou de 839 empregos formais na

década de 1990 para 3.795, em 2010.

A presença de incentivos fiscais aliados à mão de obra abundante nessas cidades

atraiu várias empresas, a GRENDENE (Sobral, Crato) se destaca, esta impulsionou o

bom desempenho do setor calçadista. Vale salientar que Sobral abriga a maior indústria

do setor calçadista do estado do Ceará. Esta cidade se destaca por apresentar a maior

taxa de crescimento do emprego formal na década de 1990 (316,5%). Na década de

2000, Juazeiro do Norte foi destaque dentre todos os municípios estudados,

contribuindo com uma taxa de crescimento (124,0%) de emprego formal. Observa-se

nos anos 2000, que essas cidades apresentaram taxas de crescimento de emprego formal

bem menores que na década de 1990.

Ainda quanto aos níveis de salários mínimos, a década de 1990 registrou os

menores níveis. Nos anos 2000, houve ganhos reais de níveis de salários mínimos em

todas as cidades, contudo, pode ser destacado que ao longo das décadas houve

significativo dinamismo. Entretanto, tal dinamismo não foi suficiente para evitar que ao

final do período estudado as CMs-Ceará apresentassem baixos salários.

No que se refere ao Quociente Locacional, à cidade de Sobral, apresentou QL>1

apenas na indústria de calçados (4,25). Dessa forma, de acordo com os índices

encontrados, pode-se concluir que Sobral apresentou setor super concentrado, Juazeiro

do Norte mediamente concentrado e o Crato baixamente concentrado.

Embora se mantenham os tradicionais setores que as caracterizam

historicamente, convém destacar os setores que, no presente, reconfiguram essas

cidades, a exemplo das atividades produtivas, fruto da reestruturação do capital com

alterações significativas na produção do espaço urbano.É importante mencionar que

64,5% do emprego formal, em 2010, nas cidades médias, estão concentrados em um

105

único setor, o calçadista, isso aconteceu após os anos 1990. A dinâmica econômica

também define aspectos sobre a ocupação e uso do espaço urbano em Crato, Juazeiro do

Norte e Sobral.

As cidades médias, em estudo, perderam diversidade do ponto de vista do

emprego formal. Os dados mostram que a indústria de borracha, couros, a de produtos

minerais não metálicos e a têxtil, eram os segmentos que mais ofertavam empregos em

1990, pois essas atividades geravam, 20,0%, 19,0% e 16,1% respectivamente, de todos

os postos de trabalho. A participação desses segmentos foi declinando ao longo dos

últimos anos, cedendo para os segmentos: calçadista e de construção civil.

Vale salientar que o que se reforçou nessas CMs foram algumas indústrias

estritamente tradicionais que se instalaram no Ceará desde 1960, como a de alimentos,

de construção civil, têxtil, entre outras. A Grendene trouxe tanto para Sobral como para

o Crato mudanças significativas, ela foi reorganizando a divisão territorial do trabalho,

instituindo os referenciais de relações de mercado internacional dispostos a satisfazer as

necessidades de expansão do sistema capitalista. Essa indústria foi responsável pela

atração de pequenas e médias empresas que se instalaram exclusivamente para atender a

própria indústria.

Portanto, encontra-se nessas cidades uma economia que elevou a quantidade de

estabelecimentos significativa dentro do Nordeste e dentro do estado, mas ao mesmo

tempo parece que vem tornando esses centros cativo dentro de um setor tradicional

como sempre foi por uma questão simples, que os incentivos fiscais do Ceará, Bahia,

assim como Rio Grande do Norte com exceção de Pernambuco não tem dado devida

atenção a atratividade de indústrias de alta tecnologia.

Por fim, conclui-se que todas as transformações ocorridas no setor industrial

tiveram reflexos significativos para os estabelecimentos e emprego no setor. A

autonomia exercida pelos governos através de processo de descentralização e/ou

políticas de incentivos fiscais resultou em expressivo crescimento dos estabelecimentos

bem como dos empregos em especial nessas cidades estudadas. Essas novas dinâmicas

estão vinculadas ao processo de reestruturação produtiva, abertura econômica, forte

concorrência competitiva, menor nível de organização sindical e políticas de incentivos

fiscais que juntos favoreceram a reestruturação capitalista do espaço.

106

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