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ESTIMATIVA DO BALANÇO HÍDRICO NA BACIA EXPERIMENTAL/REPRESENTATIVA DE SANTA MARIA/CAMBIOCÓ - MUNICÍPIO DE SÃO JOSÉ DE UBÁ - RJ MARCONI FONSECA DE MORAES TESE SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DA COORDENAÇÃO DOS PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE DOUTOR EM CIÊNCIAS EM ENGENHARIA CIVIL. Aprovada por: ______________________________________ Prof. Rui Carlos Vieira da Silva, D.Sc. ______________________________________ Prof a . Luciene Pimentel da Silva, Ph.D. ______________________________________ Prof. José Paulo Soares de Azevedo, Ph.D. ______________________________________ Prof. Flávio César Borba Mascarenhas, D.Sc. ______________________________________ Prof a . Yvonilde Dantas Pinto Medeiros, Ph.D. RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL MARÇO DE 2007

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ESTIMATIVA DO BALANÇO HÍDRICO NA BACIA

EXPERIMENTAL/REPRESENTATIVA DE SANTA MARIA/CAMBIOCÓ -

MUNICÍPIO DE SÃO JOSÉ DE UBÁ - RJ

MARCONI FONSECA DE MORAES

TESE SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DA COORDENAÇÃO DOS

PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE

FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS

NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE DOUTOR EM CIÊNCIAS EM

ENGENHARIA CIVIL.

Aprovada por:

______________________________________

Prof. Rui Carlos Vieira da Silva, D.Sc.

______________________________________

Profa. Luciene Pimentel da Silva, Ph.D.

______________________________________

Prof. José Paulo Soares de Azevedo, Ph.D.

______________________________________

Prof. Flávio César Borba Mascarenhas, D.Sc.

______________________________________

Profa. Yvonilde Dantas Pinto Medeiros, Ph.D.

RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL

MARÇO DE 2007

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II

MORAES, MARCONI FONSECA DE Estimativa do Balanço Hídrico na bacia

Experimental/Representativa de Santa

Maria/Cambiocó - Município de São José de

Ubá [Rio de Janeiro] 2007.

XVIII, 233p. 29,7cm (COPPE/UFRJ,

D.Sc. Engenharia Civil, 2007).

Tese - Universidade Federal do Rio de

Janeiro, COPPE

1. Microbacias 2. Balanço hídrico 3. Bacia experimental 4. Pequenas bacias I. COPPE/UFRJ II. TÍTULO (Série)

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III

Ao amor, que nos faz sentir: leve, solto, feliz, ..... e vivo, personificado em minha esposa.

Dedico.

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IV

" Se teus esforços forem vistos com indiferença, nunca desanimes, pois o sol, ao nascer, dá o maior espetáculo e,

mesmo assim, a maioria da platéia continua dormindo." (Autor desconhecido)

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V

AGRADECIMENTOS

A Deus, força sempre presente em minha vida, pela luz mostrando o caminho a

seguir.

À Profa. Luciene Pimentel da Silva por ter me orientado com extrema dedicação e

sensatez, pelo apoio e confiança.

Ao Prof. Rui Carlos Vieira da Silva, sempre confiante, pela orientação e

acompanhamento neste trabalho.

Ao D.Sc. José Ronaldo de Macedo pelo constante incentivo e apoio nas visitas de

Campo.

Ao Prof. Theophilo Benedicto Ottoni Filho pelo acompanhamento no início do

projeto de pesquisa.

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq pela

concessão da bolsa de estudos para a realização deste trabalho.

Ao FINEP/CT-HIDRO, bolsa do Programa de Iniciação Científica PIBIC/UERJ

através do Projeto “Estudos hidrológicos de balanço hídrico da bacia hidrográfica do rio

São Domingos, RJ” e bolsa de doutorado.

À EMBRAPA-CNPS, coordenadora do Projeto de Gestão Participativa de Sub-

bacias do rio São Domingos (GEPARBH - Edital 02/2002).

Ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Computação - Área de

concentração Geomática, Universidade Estadual do Rio de Janeiro – UERJ.

À Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM) pelo apoio ao

monitoramento, através do funcionário Eugênio Batista.

À equipe da EMBRAPA-CNPS, em especial aos pesquisadores Sílvio Bhering,

Beth Brandão, Rachel Prado, Alexandre Ortega e Elaine Fidalgo e aos técnicos Fabiano

e Gustavo, pelo apoio e colaboração ao longo do trabalho.

À minha esposa, Cristiane Campos de Oliveira Moraes, pela compreensão e carinho

nos momentos difíceis, estando sempre ao meu lado.

À minha família, base que me sustenta emocionalmente, pelo incentivo.

Às alunas Priscila Ribeiro Moreira e Daniele Pereira Batista pelo apoio e dedicação

aos trabalhos realizados.

Ao amigo Ernani Bellon pela atenção e apoio no desenvolvimento da tese.

À Yêda de Alcântara Machado, pessoa de grande sabedoria, pela amizade e carinho.

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VI

Resumo da Tese apresentada à COPPE/UFRJ como parte dos requisitos necessários para obtenção do grau de Doutor em Ciências (D.Sc.).

ESTIMATIVA DO BALANÇO HÍDRICO NA BACIA EXPERIMENTAL/REPRESENTATIVA DE SANTA MARIA/CAMBIOCÓ -

MUNICÍPIO DE SÃO JOSÉ DE UBÁ

Marconi Fonseca de Moraes Março/2007

Orientadores: Rui Carlos Vieira da Silva Luciene Pimentel da Silva Programa: Engenharia Civil

Esta tese se baseou no estudo dos processos físico-ambientais, através do

monitoramento de região hidrográfica experimental e representativa tanto das

características fisiográficas quanto da organização social e características

socioeconômicas da Região Noroeste do Estado do Rio de Janeiro - Brasil, com vistas

ao estudo da disponibilidade hídrica e recuperação da degradação ambiental em que se

encontra a região como um todo. Os estudos experimentais estão inseridos na bacia

hidrográfica do rio São Domingos, afluente do rio Muriaé, e este, do rio Paraíba do Sul,

abrange, principalmente, o município de São José de Ubá, um dos que apresentam

situação mais crítica na Região. A bacia do rio São Domingos, que tem limites

praticamente coincidentes com os do Município, apresenta área de 280km2 e expressa a

realidade fundiária da Região, guardando similaridades com outras regiões inseridas nas

zonas montanhosas do Sudeste brasileiro. Foi implantado um posto fluviométrico,

localizado logo a jusante da junção dos córregos de Santa Maria e de Cambiocó,

denominado localmente de Valão Preto, com uma área de aproximadamente 13,5km2,

que drena suas águas para o rio São Domingos. No posto fluviométrico, foram

monitorados níveis d’água e concentração de sedimentos em suspensão. A partir dos

níveis d’água e de medições de descarga, foram obtidas séries de vazões observadas.

Além do monitoramento fluviométrico, foi estabelecida também a observação da

precipitação e da temperatura em três locais na bacia de Santa María/Cambiocó. Todos

os dados foram registrados a cada quinze minutos e considerou-se, para estes estudos, o

período entre abril de 2005 e agosto de 2006.

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VII

Abstract of Thesis presented to COPPE/UFRJ as a partial fulfillment of the requirements for the degree of Doctor of Science (D.Sc.).

ESTIMATIVE OF WATER BALANCE IN CATCHMENT EXPERIMENTAL/REPRESENTATIVE OF SANTA MARIA/CAMBIOCÓ -

MUNICIPALITY OF SÃO JOSÉ DE UBÁ

Marconi Fonseca de Moraes

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VIII

LISTA DE FIGURAS

Figura 2.1 Transformação demográfica no Brasil................................................. 10

Figura 2.2 Percentuais de uso da água.................................................................... 12

Figura 2.3 Consumo de água para produzir uma tonelada do produto............... 15

Figura 2.4 Produtividades médias de culturas irrigadas e não irrigadas no

Brasil........................................................................................................ 16

Figura 3.1 Representação esquemática das fases associadas ao ciclo

hidrológico............................................................................................... 43

Figura 3.2 Situação estimada atual das captações de água doce no Brasil por

setor.......................................................................................................... 56

Figura 4.1 Divisão política do estado do Rio de Janeiro....................................... 59

Figura 4.2 Distribuição da população na região Noroeste Fluminense................ 60

Figura 4.3 Comparativo da evolução do PIB (R$ correntes)................................ 63

Figura 4.4 Bacia hidrográfica do Paraíba do Sul................................................... 66

Figura 4.5 Vulnerabilidade atual à erosão na bacia do rio Muriaé...................... 69

Figura 4.6 Localização das comunidades no município São José de Ubá: bacia

do rio São Domingos.............................................................................. 74

Figura 4.7 Número de habitantes nas maiores comunidades rurais do

município de São José de Ubá............................................................... 76

Figura 4.8 Anos de estudo por população acima de 10 anos de idade.................. 77

Figura 4.9 Cenas registradas em São José de Ubá, na estação seca de 1999........ 79

Figura 4.10 Localização do município de São José de Ubá na bacia hidrográfica

do Paraíba do Sul................................................................................... 80

Figura 4.11 Construções de reservatórios nas comunidades rurais – município

de São José de Ubá.................................................................................. 81

Figura 4.12 Localização da bacia experimental/representativa de Santa Maria/

Cambiocó, município de São José do Ubá – RJ................................... 85

Figura 4.13 Acesso à bacia Santa Maria/Cambiocó (RJ-186)................................ 85

Figura 4.14 Localização da bacia representativa/experimental de Santa Maria/

Cambiocó em relação às bacias vizinhas – RJ......................................

86

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IX

Figura 4.15 Localização dos perfis de solos, na microbacia de Santa Maria

(azul) e Cambiocó (rosa)......................................................................... 87

Figura 4.16 Rede de drenagem da microbacia experimental/representativa de

Santa Maria/Cambiocó........................................................................... 89

Figura 4.17 Modelo digital do terreno, localização geográfica da rede de

drenagem.................................................................................................. 90

Figura 4.18 Ocorrência da elevação na microbacia de Santa Maria/Cambiocó... 90

Figura 4.19 Modelo digital do terreno, declividade da microbacia de Santa

Maria/Cambiocó...................................................................................... 93

Figura 4.20 Exemplos de tempos de concentração calculados em bacias rurais... 94

Figura 5.1 Barragem e reservatório construídos por agricultores para fins

lucrativos.................................................................................................. 100

Figura 5.2 Evolução do número de ocorrências de doenças infecciosas e

parasitárias com necessidade de internação no município de São

José de Ubá.............................................................................................. 101

Figura 5.3 Pontos de instalação dos pluviômetros na microbacia de Santa

Maria e Cambiocó................................................................................... 104

Figura 5.4 Diagrama do sistema de coleta de dados meteorológicos da estação

termopluviométrica de baixo custo...................................................... 105

Figura 5.5 Instrumentos de monitoramento termopluviométrico no posto

Santa Maria (C12), altitude 156m........................................................ 105

Figura 5.6 Sensor de temperatura e pluviômetro (C13), instalado junto à

estação fluviométrica.............................................................................. 106

Figura 5.7 Local da estação fluviométrica - leito rochoso...................................... 108

Figura 5.8 Vertedor em funcionamento (março 2005)........................................... 110

Figura 5.9 Ponte construída para monitoramento fluviométrico (dez.

2004)....................................................................................................... 111

Figura 5.10

Detalhamento do posto fluviométrico Santa

Maria/Cambiocó...................................................................................... 112

Figura 5.11 Calibração do vertedor: uso micro molinete....................................... 114

Figura 5.12 Curva-chave – seção vertedouro – posto fluviométrico Fazenda

João Linhares..........................................................................................

114

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X

Figura 5.13 Medições de velocidades com molinete, período de cheia: posto

fluviométrico João Linhares.................................................................. 115

Figura 5.14 Curva-chave – seção vertedor afogado – posto fluviométrico João

Linhares................................................................................................... 116

Figura 5.15 Posicionamento das Referências de Nível – posto fluviométrico

João Linhares.......................................................................................... 117

Figura 5.16 Tela de configuração da estação SOLAR, ajustada para intervalos

de quinze minutos entre as leituras....................................................... 118

Figura 5.17 Tela para a edição da expressão de escolha ou edição da curva

chave......................................................................................................... 119

Figura 5.18 Localização das estações SOLAR e NOVUS ....................................... 120

Figura 5.19 Comparação dos dados de chuva entre os postos da bacia Santa

Maria/Cambiocó e Itaperuna: anos 2005 e 2006 ................................. 122

Figura 5.20 Comparação entre os dados pluviométricos coletados na

microbacia representativa de Santa Maria/Cambiocó e o posto de

Itaperuna.................................................................................................. 125

Figura 5.21 Temperaturas médias diárias - 2005..................................................... 129

Figura 5.22 Temperaturas médias diárias - 2006..................................................... 131

Figura 5.23 Análise das temperaturas nas estações C11 e C13 – exutório da

microbacia Santa Maria/Cambiocó....................................................... 132

Figura 5.24 Horário de ocorrência das temperaturas máximas e mínimas........... 133

Figura 5.25 Variação diária das temperaturas......................................................... 134

Figura 5.26 Análise das temperaturas médias mensais na bacia de Santa

Maria/Cambiocó..................................................................................... 134

Figura 5.27 Temperaturas médias mensais na bacia experimental e em

Itaperuna - ano 2005............................................................................... 135

Figura 5.28 Temperaturas médias mensais na bacia experimental e em

Itaperuna - ano 2006............................................................................... 136

Figura 5.29 Temperaturas médias mensais na bacia experimental e em

Miracema - ano 2005............................................................................... 137

Figura 5.30 Temperaturas médias mensais............................................................. 137

Figura 5.31 Comparação mensal entre os dados de temperatura e de chuva -

Anos: 2005 e 2006.................................................................................... 139

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XI

Figura 5.32 Comparação diária entre os dados do posto C12 e Itaperuna -

janeiro e junho de 2006......................................................................... 140

Figura 5.33 Comparação diária entre os dados de temperatura e de chuva dos

postos (27/01/2006).................................................................................. 141

Figura 5.34 Variação dos níveis d’água no posto fluviométrico da bacia

experimental/representativa de Santa Maria/Cambiocó – Estação

SOLAR ....................................................................................................

Figura 5.35 Comparação da variação dos níveis d’água no posto fluviométrico

da bacia experimental/representativa de Santa Maria/Cambiocó –

Estação SOLAR e NOVUS................................................................... 149

Figura 5.36 Comparação dos dados níveis d’água SOLAR x NOVUS.................. 150

Figura 5.37 Registros de vazões no posto fluviométrico da bacia experimental/

representativa de Santa Maria /Cambiocó...........................................

Figura 5.38 Comparação dados do termopluviômetro: chuva e os dados da

estação fluviométrica - níveis d’água e vazões...................................... 156

Figura 5.39 Comparação das vazões médias mensais entre posto fluviométrico

João Linhares e posto de Itaperuna.................................................... 157

Figura 5.40 Variação da carga de sólidos suspensos no posto fluviométrico da

bacia experimental/representativa de Santa Maria/Cambiocó –

Estação SOLAR......................................................................................

Figura 5.41 Local de monitoramentos do consumo de água em propriedades

pilotos em diferentes etapas do cultivo do tomate (comunidade de

Barro Branco).......................................................................................... 164

Figura 5.42 Localização das principais comunidades da bacia do rio São

Domingos: em destaque Barro Branco, Santa Maria e Cambiocó.... 164

Figura 5.43 Culturas de inverno e verão na bacia hidrográfica do rio São

Domingos: em destaque, a microbacia de Santa

Maria/Cambiocó............................................................................ 167

Figura 6.1 Totais mensais de precipitação em Santa Maria/Cambiocó e em

Itaperuna.......................................................................................

174

159/160

153/154

145/146

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XII

Figura 6.2 Totais diários de evapotranspiração em Itaperuna e no posto de

Cambiocó na bacia experimental de Santa Maria/Cambiocó............. 177

Figura 6.3 Comparação entre as temperaturas mensais de Miracema e

Cambiocó (bacia experimental) - março a outubro - 2005................ 179

Figura 6.4 Totais mensais de evapotranspiração calculadas pelo método

combinado de Penman (Miracema) e Thornthwaite (Cambiocó

na bacia experimental de Santa Maria/Cambiocó) - abril a

outubro de 2005............................................................................. 180

Figura 6.5 Totais mensais de evapotranspiração em Itaperuna e no posto de

Cambiocó na bacia experimental de Santa Maria/Cambiocó –

Método Penman............................................................................. 180

Figura 6.6 Balanço hídrico para a bacia experimental/representativa de Santa

Maria/Cambiocó............................................................................ 185

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XIII

LISTA DE TABELAS

Tabela 2.1 Vazão per capita no meio rural, conforme o estado

considerado............................................................................................. 13

Tabela 3.1 Período de renovação da água em diferentes reservatórios na Terra 42

Tabela 3.2 População e área agrícola “sustentável” para as regiões do

mundo....................................................................................................... 54

Tabela 3.3 Consumo médio diário, em litros/hab.dia, para áreas rurais em

países em desenvolvimento..................................................................... 55

Tabela 3.4 Demanda anual de água para a irrigação nas regiões do Brasil......... 57

Tabela 3.5 Áreas irrigadas pelos diferentes métodos de irrigação em 2001......... 58

Tabela 3.6 Evolução das áreas irrigadas no mundo e na América do Sul (mil

hectares): período de 1975 a 2000.......................................................... 58

Tabela 4.1 Variação na produção de culturas de 2002 a 2003............................... 65

Tabela 4.2 Mapeamento do uso do solo e cobertura vegetal no Estado do Rio

de Janeiro................................................................................................. 70

Tabela 4.3 Comunidades existentes no município de São José de

Ubá.................

73

Tabela 4.4 População residente no município de São José de Ubá..................... 75

Tabela 4.5 Unidades Ambulatoriais do município de São José de Ubá................ 78

Tabela 4.6 Critério para escolha da microbacia hidrográfica (MBH)................. 86

Tabela 4.7 Descrição geral dos solos da microbacia Santa Maria/Cambiocó...... 88

Tabela 4.8 Declividade e comprimento do curso d’água principal....................... 93

Tabela 4.9 Valores obtidos para o Tempo de concentração.................................. 94

Tabela 4.10 Quadro-resumo das características físicas da microbacia

experimental/representativa de Santa Maria/Cambiocó.................... 95

Tabela 5.1 Resultado do censo populacional das comunidades de Santa Maria

e Cambiocó em 2004............................................................................... 97

Tabela 5.2 Percentagem da população adulta em atividades não rurais – 2004.. 97

Tabela 5.3 Ocupação dos adultos das duas comunidades – 2004.......................... 98

Tabela 5.4 Maiores dificuldades das comunidades de Santa Maria e Cambiocó

em saúde................................................................................................... 102

Tabela 5.5 Cabeçalho das cadernetas utilizadas para anotar diariamente as

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XIV

leituras registradas pelos pluviômetros ............................................... 107

Tabela 5.6 Estação hidrossedimentológica SL 2000 MIM, SOLAR

Instrumentação Ltda.............................................................................. 113

Tabela 5.7 Classificação das intensidades de chuva............................................... 126

Tabela 5.8 Percentual de falhas ocorridas no posto fluviométrico, de

abril/2005 a agosto/2006 (Estação SOLAR)......................................... 146

Tabela 5.9 Dados registrados de níveis d’água, cotas máximas e mínimas para

as estações NOVUS e SOLAR............................................................... 148

Tabela 5.10 Percentual de falhas ocorridas no posto fluviométrico,

monitoramento de sólidos suspensos de abril/2005 a julho/2006

(Estação SOLAR 2000)........................................................................... 161

Tabela 5.11 Consumo de água por propriedade por tipo de irrigação................... 166

Tabela 5.12 Plantações desenvolvidas em Santa Maria/Cambiocó......................... 167

Tabela 5.13 Consumo mensal de água para abastecimento na bacia de Santa

Maria/Cambiocó..................................................................................... 168

Tabela 5.14 Estimativa do consumo de água na irrigação para o cultivo de

inverno na bacia de Santa Maria/Cambiocó........................................ 169

Tabela 5.15 Estimativa do consumo de água na irrigação para o cultivo de

inverno e verão na bacia de Santa Maria/Cambiocó........................ 169

Tabela 6.1 Altura de chuva média mensal em Santa Maria/Cambiocó............... 173

Tabela 6.2 Evapotranspiração em Santa Maria/Cambiocó pelo método de

Thornthwaite................................................................................. 176

Tabela 6.3 Vazões médias mensais, bacia experimental/representativa de Santa

Maria/Cambiocó............................................................................ 181

Tabela 6.4 Estimativa do armazenamento de água na bacia (∆s) - bacia

experimental/representativa de Santa Maria/Cambiocó.................. 184

Tabela 6.5 Déficits (DEF), Excessos (EXC) anuais, para região Norte

Fluminense (1971-2000).................................................................. 185

Tabela 6.6 Análise das vazões e do armazenamento na bacia de Santa

Maria/Cambiocó com restituição do consumo na irrigação............. 187

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XV

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO........................................................................................................ 1

1.1 Justificativa e relevância do tema.................................................................... 1

1.2 Objetivos............................................................................................................. 3

1.2.1 Objetivos gerais..........................................................................................

1.2.2 Objetivos específicos..................................................................................

3

4

1.3 Metodologia e estrutura de apresentação da tese........................................... 5

2 BACIAS RURAIS E GESTÃO PARTICIPATIVA............................................. 9

2.1 Caracterização das bacias rurais.....................................................................

2.2 Uso dos recursos hídricos em bacias rurais.....................................................

2.2.1 Consumo de água em bacias rurais: atividade de irrigação.......................

2.2.2 Uso de água e o aumento da produtividade em bacias rurais....................

2.2.3 Redução do uso dos recursos hídricos em bacias rurais............................

2.3 Impactos das atividades antrópicas.................................................................

2.3.1 Perda de solo – Erosão..............................................................................

2.3.2 Contaminação dos recursos hídricos pela agricultura...............................

2.3.3 O uso de agrotóxicos.................................................................................

2.4 Estratégias para redução dos impactos e recuperação da

disponibilidade hídrica....................................................................................

2.4.1 Gestão participativa..................................................................................

2.4.2 Métodos alternativos ou complementares de controle de pragas e

doenças de plantas e de ervas daninhas..................................................

2.4.3 Controle biológico e manejo integrado de pragas....................................

2.4.4 Sistema de manejo do solo.......................................................................

2.5 Bacias experimentais e representativas ..........................................................

9

11

14

15

16

18

20

22

25

27

29

32

33

34

37

3 ESTUDOS DE BALANÇO HÍDRICO.................................................................. 41

3.1 Fundamentos das análises de balanço hídrico................................................

3.2 Equações de balanço hídrico ............................................................................

3.2.1 Evapotranspiração......................................................................................

3.2.2 Precipitação................................................................................................

3.2.3 Interceptação pela cobertura vegetal.........................................................

3.2.4 Infiltração...................................................................................................

41

44

44

46

47

48

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XVI

3.2.5 Armazenamento superficial.......................................................................

3.2.6 Escoamento superficial..............................................................................

3.3 Demanda em bacias rurais................................................................................

49

51

53

4 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO................................................. 59

4.1 A região Noroeste Fluminense..........................................................................

4.1.1 Histórico....................................................................................................

4.1.2 A agricultura fluminense nas últimas décadas..........................................

4.1.3 Análise de atores dos recursos hídricos ...................................................

4.1.4 Modificações dos padrões do solo............................................................

4.1.5 Impactos das ações antrópicas .................................................................

4.2 Município de São José do Ubá: a bacia hidrográfica do rio São

Domingos...........................................................................................................

4.2.1 População e indicadores socioeconômicos..............................................

4.2.2 Características físico-ambientais..............................................................

4.3 A bacia experimental e representativa de Santa Maria/Cambiocó...............

4.3.1 Estratégia e escolha da bacia de Santa Maria/Cambiocó.........................

4.3.2 Localização da bacia experimental/representativa de estudo...................

4.3.3 Características fisiográficas do sítio experimental...................................

59

59

63

66

68

71

72

74

78

82

82

84

86

5 MONITORAMENTO SOCIOAMBIENTAL....................................................... 96

5.1 Indicadores socioeconômicos............................................................................

5.2 Monitoramento hidroclimatológico.................................................................

5.3 Monitoramento hidrossedimentométrico........................................................

5.3.1 Escolha do local........................................................................................

5.3.2 Estabelecimento do posto fluviométrico...................................................

5.4 Análise de consistência de dados hidroclimáticos e fluviométricos...............

5.4.1 Dados pluviométricos................................................................................

5.4.1.1 Análise das intensidades de chuva...............................................

5.4.1.2 Análise dos períodos mais chuvosos e mais secos......................

5.4.2 Dados de temperaturas...............................................................................

5.4.2.1. Análise das temperaturas médias diárias....................................

5.4.2.2 Avaliação do horário de ocorrência dos registros máximos e

mínimos de temperatura.............................................................

96

102

108

108

110

120

120

126

127

127

128

132

5.4.2.3 Análise da variação diária das temperaturas................................ 133

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XVII

5.4.2.4 Análise das temperaturas médias mensais..................................

5.4.2.5 Análise integrada das observações de chuva e de

temperatura................................................................................

5.4.3 Dados fluviométricos..................................................................................

5.4.3.1 Níveis d' água................................................................................

5.4.3.2 Dados de vazões...........................................................................

5.4.3.3 Sólidos suspensos.........................................................................

5.5 Estudo das demandas e do consumo de água..................................................

5.5.1 Estimativa do consumo de água na tomaticultura irrigada.......

5.5.2. Levantamento das áreas das culturas na bacia de Santa Maria/

Cambiocó............................................................................................

134

138

141

142

150

158

162

164

166

6 ANÁLISE DOS RESULTADOS........................................................................... 170

6.1 Análise do balanço hídrico mensal...................................................................

6.1.1 Estabelecimento da equação de balanço hídrico.......................................

6.1.2 Precipitação mensal...................................................................................

6.1.3 Evapotranspiração mensal.........................................................................

6.1.4 Vazão média mensal..................................................................................

6.1.5 Armazenamento na bacia...........................................................................

6.2 Disponibilidade hídrica e o consumo de água na irrigação...........................

6.3 Análise das vazões regionais.............................................................................

170

172

173

174

181

182

186

188

7 CONCLUSÕES E SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS................. 190

8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................. 200

ANEXOS

Anexo A - Fichas descritivas das estações termopluviométricas......................... 222

Anexo A I - Ficha descritiva da estação termopluviométrica (C10)..................

Anexo A II- Ficha descritiva da estação termopluviométrica (C11)..................

Anexo A III - Ficha descritiva da estação termopluviométrica (C12)................

Anexo A IV - Ficha descritiva da estação termopluviométrica (C13)...............

222

223

224

225

Anexo B - Diagrama de instalação dos sensores - Estação SOLAR 2000........... 226

Anexo C - Medição da carga líquida - vertedor Cipoletti.................................... 227

Anexo C I - Tabela para cálculo das velocidades - micro molinete................... 227

Anexo C II - Vazões obtidas com micro molinete............................................. 228

Anexo D - Medição da descarga líquida - vertedor afogado............................... 229

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XVIII

Anexo E - Levantamento planialtimétrico no posto fluviométrico - bacia

Santa Maria/Cambiocó...................................................................... 230

Anexo F - Algoritmo de programação da estação SOLAR 2000......................... 231

Anexo G - Ficha descritiva de estação fluviométrica........................................... 232

Anexo H - Cronograma de falhas no monitoramento de níveis d' água

(estação SOLAR 2000)....................................................................... 233

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1

1 INTRODUÇÃO

1.1 Justificativa e relevância do tema

Os impactos das ações antrópicas no meio ambiente têm sido evidenciados em

diferentes partes do mundo, as questões relacionadas ao aquecimento global vêm

motivando pesquisas de ordem físico-ambiental e sócio-econômica. Os impactos

também são evidenciados nas alterações observadas tanto na disponibilidade hídrica

quanto na degradação da qualidade das águas.

Recentemente, foi publicado o relatório “Mudança de clima, mudanças de vidas

- Como o aquecimento global já afeta o Brasil”(Greenpeace Brasil, 2006), que trata das

questões do aquecimento global e apresenta cenários sócio-econômicos para o futuro,

revelando impactos graves, entre eles a migração populacional, seja devido àa elevação

do nível do mar, seja pelas mudanças de tempo e clima e, pela intensificação de eventos

extremos como furacões e grandes tempestades. A pressão do crescimento populacional

em alguns locais do planeta aumenta a pressão nos recursos hídricos e pode contribuir

para o agravamento da degradação da qualidade e, conseqüentemente, da saúde coletiva.

Os países em desenvolvimento, entre eles o Brasil, freqüentemente pela falta de

políticas públicas efetivas, já sofrem com a migração interna com raízes profundas nas

recorrentes crises sócio-econômicas. Este cenário torna as populações dos países em

desenvolvimento ainda mais frágeis aos impactos do aquecimento global. As atividades

agrícolas têm uma participação significativa no PIB brasileiro. A falta de política efetiva

para o desenvolvimento sustentável de regiões rurais promove em muitas regiões

brasileiras o esvaziamento das mesmas e o inchamento dos grandes centros. A

população urbana cresceu 6% no Brasil nos últimos 10 anos (LIMA et al. 2000). A falta

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2

de infra-estrutura para recebimento desse contingente leva à pressão pela ocupação

desordenada do solo, o uso da água, o aumento de efluentes, o agravamento das

condições de saúde e, conseqüentemente, a degradação da qualidade de vida. Políticas

para o controle da degradação ambiental e crescimento sustentável das regiões rurais

contribuem indiretamente para o controle do crescimento das regiões urbanas. Grandes

cidades brasileiras, como São Paulo, Recife, Salvador e Rio de Janeiro apresentam

grande contingente de pessoas favelizadas, onde as condições de vida são muito

precárias.

Observa-se também no Brasil uma mudança na gestão dos recursos hídricos. A

nova legislação introduzida a partir de 1997 incluiu a implementação de novos

instrumentos como o plano de recursos hídricos, o sistema de informações de recursos

hídricos, a outorga e a cobrança. Nesse contexto, apesar de vários esforços

implementados recentemente, observa-se ainda uma lacuna nas informações e dados

para a efetiva implementação dos novos instrumentos de gestão.

A região Noroeste do estado do Rio de Janeiro, embora sob características

climáticas que levam a uma menor pluviosidade em relação a outras regiões do estado,

após vários ciclos agrícolas, como o da cana, o do café e o do fumo, apresenta

atualmente, sinais graves de degradação ambiental, ocasionando, inclusive restrição

hídrica e degradação da qualidade das águas. Com o aparente

desaparecimento/migração de muitas nascentes, há um aumento da pressão no sistema

de águas subterrâneas e o favorecimento da proliferação de pequenos reservatórios no

início da estiagem como garantia de abastecimento de água para as atiévidades agrícolas

de inverno.

Em decorrência dessa situação, estabeleceu-se na região um ciclo de decadência

econômica baseado no binômio pobreza - degradação ambiental. Isso contribui para que

a região, atualmente, apresente os menores índices de desenvolvimento e maior taxa de

indigência do estado, somente comparáveis aos das regiões mais pobres do país. Ainda,

observa-se alto nível de desemprego, analfabetismo e evasão rural.

A bacia hidrográfica do rio São Domingos, afluente do rio Muriaé, localizada na

região Noroeste abrange principalmente o município de São José de Ubá, um dos que

apresenta situação mais crítica na região. A bacia do rio São Domingos, que tem limites

praticamente coincidentes com os do município, apresenta área de 280 km2 e expressa a

realidade fundiária da região, guardando similaridades com outras regiões inseridas nas

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3

zonas montanhosas do Sudeste brasileiro, apresentando grande concentração de

pequenas propriedades rurais. As principais atividades econômicas na

bacia são a pecuária leiteira, a olericultura e a monocultura da plantação de tomate. Em

1999, houve um evento de estiagem crítico que atingiu toda a região e fortemente o

município de São José de Ubá. Isso tem motivado desde então, um olhar especial sobre

o município e o investimento em vários projetos de pesquisa, que visam, em última

análise, propor políticas públicas e medidas que promovam o controle da degradação

ambiental, recuperação dos níveis de base dos cursos d’água, a revitalização das

nascentes, a melhoria da qualidade de vida da população e, conseqüentemente, a

minimização do êxodo rural.

1.2 Objetivos

Os estudos compreendidos no desenvolvimento dessa tese de doutorado estão

contextualizados no Projeto de Pesquisa “Gestão Participativa da Sub-bacia do Rio São

Domingos, RJ1” (GEPARMBH) que teve financiamento da FINEP através do Fundo

Setorial de Recursos Hídricos e foi realizado no período de 2003 a 2005. Os objetivos

gerais da tese guardam semelhanças com os objetivos do Projeto GEPARMBH.

1.2.1 Objetivos gerais

Entre os objetivos gerais da tese, destacam-se:

1 O projeto incorporou o conhecimento, já parcialmente gerado por projetos em desenvolvimento na

região, como o de "Sistemas pastoris sustentáveis utilizando práticas de plantio direto para recuperação de áreas degradadas em relevo movimentado do Bioma Mata Atlântica na Região Noroeste do Estado do Rio de Janeiro (Projeto RADEMA).

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4

• Contribuir para a gestão sustentável de bacias hidrográficas, desenvolvendo

ações que visem ampliar o conhecimento e buscar uma conscientização face

aos problemas sócio-ambientais ocorridos nas microbacias hidrográficas

(MBHs), que compõem a sub-bacia do rio São Domingos.

• Monitorar e avaliar os recursos naturais nas microbacias como subsídio à

auto-gestão participativa da sub-bacia.

• Realizar estudos sócio-ambientais complementares ao diagnóstico para

conservação e minimização dos impactos.

• Iincentivar o planejamento e gestão participativa conservacionista em

MBHs, buscando o desenvolvimento rural sustentável na região Noroeste.

1.2.2 Objetivos específicos

• Monitorar a microbacia experimental/representativa de Santa

Maria/Cambiocó, objetivando obter os dados pluviométricos (instalando na

região estações pluviométricas e termopluviométricas) e os dados

fluviométricos (instalando uma estação fluviométrica).

• Estimar a oferta x demanda dos recursos hídricos da região de estudo,

através dos dados obtidos no monitoramento e por meio das outras vertentes2

de estudo do projeto GEPARMBH.

2 O projeto de "Gestão Participativo da Bacia de São Domingos - RJ" objetiva as seguintes Metas Físicas: (i) realizar estudos sócio-ambientais; (ii) desenvolver uma metodologia de classificação físico-hídrica das terras; (iii) estimar balanço hídrico das MBHs; (iv) elaborar o plano de manejo sustentável das micro bacias; (v) implantar modelo de gestão comunitária dos recursos naturais em MBHs; (vi) implantar sistemas de produção conservacionistas nas MBHs; (vii) monitorar parâmetros de qualidade de solo e água; (viii) elaborar um protótipo de mecanismo de compensação financeira para auto-gestão da sub-bacia; (ix) disseminar os resultados e tecnologias gerados (FNDCT, 2002).

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5

• Caracterizar hidrológicamente a região a partir das variáveis monitoradas

na bacia experimental/representativa de Santa Maria/Cambiocó.

• Determinar

• o balanço hídrico da microbacia experimental/representativa.

• Analisar as disponibilidades hídricas locais e de consumo nas atividades de

agricultura irrigada no contexto do planejamento e gestão de recursos

hídricos na região.

• Avaliar as vazões de estiagem como suporte aos processos de outorga dos

recursos hídricos.

1.3 Metodologia e estrutura de apresentação da tese

A metodologia do projeto de pesquisa se baseou no estudo dos processos físico-

ambientais através do monitoramento de região hidrográfica experimental e

representativa, tanto das características fisiográficas quanto da organização social e

características sócio-econômicas da região Noroeste Fluminense, com vistas ao estudo

da disponibilidade hídrica a recuperação da degradação ambiental em que se encontra a

região como um todo.

Foi implantado na bacia hidrográfica de Santa Maria/Cambiocó, selecionada

para os estudos, um posto fluviométrico localizado logo a jusante da junção dos

córregos de Santa Maria e de Cambiocó, denominado localmente de Valão Preto. No

posto fluviométrico foram monitorados níveis d’água e concentração de sedimentos em

suspensão. A partir dos níveis d’água e de medições de descarga, obteve-se séries de

vazões observadas. Além do monitoramento fluviométrico, foi estabelecida também a

observação da precipitação e da temperatura em três locais na bacia hidrográfica. Todos

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6

os dados foram registrados a cada quinze minutos e considerou-se para esses estudos, o

período de abril de 2005 a agosto de 2006.

Os dados foram analisados e consistidos e, confrontados com séries temporais

regionais existentes, em benefício dos estudos de balanço hídrico a partir da equação de

conservação de massa, realizado para intervalos mensais. Os valores das taxas

evaporimétricas foram determinados a partir das temperaturas pelo método de

Thornthwaite. Estes valores foram confrontados com estimativas pelo método

combinado de Penman para o posto climatológico de Miracema (distante 50 km do local

em estudo). Foram também, analisados os consumos humano e nas atividades de

irrigação face à disponibilidade hídrica atual. Adicionalmente, foi desenvolvido,

baseado em outros estudos da literatura, cenário no sentido de especular sobre as vazões

e armazenamento na bacia, caso não fossem realizados consumos para a agricultura

irrigada, tanto de inverno, como de verão.

Para a bacia de Santa Maria /Cambiocó foram feitas, ainda estimativas do valor de

Q7 (média mínima de duração de 7 dias) para o ano de 2005 e 2006. Esses valores

foram, então analisados face ao valor estimado adotando o estudo de regionalização de

vazões da bacia do rio Paraíba do Sul, desenvolvida pela CPRM.

A tese foi dividida em sete capítulos:

Capítulo 2 - faz-se uma caracterização das bacias rurais, onde é relatada a

realidade presente nas áreas consideradas rurais e analisa-se os impactos das atividades

antrópicas que acontecem, principalmente, pelo fato dos agricultores utilizarem, de

forma incorreta, os agrotóxicos, acarretando a perda do solo e a contaminação dos

recursos hídricos. Apresenta-se algumas soluções para reduzir e/ou minimizar os

impactos nas cabeceiras das bacias, que são responsáveis pela formação das nascentes e

conseqüente drenagem dos córregos e riachos. Enfatiza-se que a agricultura irrigada

desvia uma quantidade excessiva de água para satisfazer as necessidades humanas.

Mostra como está acontecendo a gestão participativa.

Capítulo 3 - trata do balanço hídrico apontando os seus fundamentos e

detalhando o ciclo hidrológico, demonstra as equações de balanço hídrico, citando suas

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7

metodologias e aborda a demanda em bacias rurais que é de grande relevância para o

estudo apresentado.

Capítulo 4 - busca-se caracterizar a área de estudo, detalhando sobre: a região

Noroeste Fluminense, a bacia hidrográfica do Rio São Domingos, localizada no

município de São José de Ubá e a microbacia experimental/ e representativa de Santa

Maria/Cambiocó. Destaca-se ainda, as estratégias seguidas para a escolha da área de

estudo, os critérios para a sua seleção, bem como a sua localização em relação ao

município e suas características fisiográficas.

Capítulo 5 - trata do monitoramento sócio-ambiental, analisando os indicadores

sócio-econômicos e a consistência dos dados hidroclimáticos e fluviométricos. Procura

também verificar os monitoramentos:

- Hidroclimático: Obtenção dos dados de precipitação e de temperatura., comparação

dos mesmos, com dados de outros postos existentes na região Noroeste Fluminense,

análises dos períodos chuvosos e dos períodos secos, obtenção dos dados de

temperaturas, análises das temperaturas médias e horários de ocorrência de máxima e

mínimas.

- Hidro-sedimentológico: dados de níveis d’água, com os quais foram estimadas as

vazões médias mensais e os dados de sólidos em suspensão.

- Demandas de irrigação: dados de culturas desenvolvidas na microbacia nos períodos

do inverno e do verão.

Apresenta todo detalhamento utilizado no monitoramento, na operação dos

postos pluviométricos e termopluviométricos e na estação fluviométrica, bem como os

equipamentos utilizados.

Capítulo 6 - apresenta-se a análise dos resultados, face aos dados monitorados da

precipitação mensal, das taxas de evapotranspiração mensal, das vazões médias mensais

e do armazenamento na bacia, sendo esse último reconstituído, para a área em estudo,

considerando o consumo de água utilizado pelas culturas de inverno e verão. Destaca-

se, ainda na análise para vazões obtidas, o valor de Q7,10 comparado com o valor

estimado adotando o estudo de regionalização de vazões da bacia do Rio Paraíba do Sul.

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8

Conclusão - mostra-se que, o monitoramento hidroclimatológico aqui

estabelecido, com obras hidráulicas do tipo vertedor, para análise fluviométrica e postos

termopluviométricos, para análise de precipitação e temperaturas, representam um

procedimento adequado para avaliação das pontencialidades hídricas em regiões onde, a

carência de dados, não permite um estudo de viabilidade econômica para o

aproveitamento dos recursos hídricos disponíveis.

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9

2 BACIAS RURAIS E GESTÃO PARTICIPATIVA

2.1 Caracterização das bacias rurais

Um dos pontos que emergem quando se enfoca a questão do gerenciamento de

bacias hidrográficas é a separação entre os espaços urbano e rural. Analisando

historicamente, as áreas consideradas rurais eram aquelas que se dedicavam

essencialmente às atividades agrícolas e pecuárias, sendo caracterizadas por uma baixa

densidade populacional e uma categoria “residual” frente ao progresso da urbanização.

Tratava-se de áreas opostas ao meio urbano.

Em face do crescimento das áreas urbanas no Brasil, durante a segunda metade

do século passado, houve o crescente fenômeno de abandono do campo. Os habitantes

se transferiam de regiões de menos condições de sustentabilidade econômica para

outras, em busca de melhores condições de vidas. O êxodo rural assim configurado era

acompanhado pela miséria de milhões de retirantes e, às vezes, até a morte de milhares

por fome, sede e doenças ligadas à desnutrição.

Para Veiga (2004), a falta de uma política de desenvolvimento das zonas rurais,

tais como as construções de infra-estrutura básica – estradas, escolas e hospitais –,

contribuiu para o esvaziamento dessas regiões agrícolas que representaram, ao longo do

tempo, estado de empobrecimento e de decadência. A Figura 2.1 mostra os dados do

censo demográfico de 1940, os quais indicam que, naquela época, cerca de 69% da

população brasileira vivia no campo, contra menos de 19% no censo de 2000.

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10

Figura 2.1 – Transformação demográfica no Brasil Fonte: Adaptada do Censo Demográfico (2000)

Entretanto, Marsden (1998) observou nos últimos anos muitas mudanças

importantes no meio rural dos países desenvolvidos, que deixou de ser exclusivamente

agrícola para caracterizar-se por um conjunto de atividades produtivas e de serviços das

mais diferentes naturezas.

Moyano e Paniagua (apud CAMPANHOLA; GRAZIANO, 2000) relatam que

essa divisão clara entre rural e urbano deixou de ser importante, pois as relações de

troca se diversificam e o enfoque passa a ser os espaços, o local (territórios), que dão o

suporte físico aos fatores socioeconômicos.

No Brasil, grandes mudanças também têm ocorrido no meio rural devido à

incorporação de atividades tipicamente urbanas. Ao analisar a crise de desemprego das

áreas urbanas, que vem se acentuando desde a década de 1980, percebe-se que houve

maior procura pelo meio rural, não somente para moradia, mas também para ocupar

postos de trabalho: prestação de serviços domésticos, trabalhos por conta própria,

empregos em serviços públicos, professores de 1° grau, pedreiros, balconistas,

atendentes, entre outros (GRAZIANO DA SILVA, 1999).

Essas novas atividades não agrícolas e outras agrícolas não tradicionais têm

representado fonte de renda complementar para muitas famílias rurais que dependiam

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11

exclusivamente da agricultura, contribuindo para a fixação da população em áreas ou

regiões que passam a oferecer melhores oportunidades e condições de vida (GROSSI,

1999).

Uma das alternativas para superar essas dicotomias tradicionais seja rural ou

urbana, agrícola ou não agrícola é a classificação de microbacias. Teixeira (2005)

relaciona microbacia a uma área associada à realização de programas de

desenvolvimento sustentável, tendo como beneficiárias diretas as comunidades rurais.

A microbacia, como unidade geográfica, consubstanciou tais programas

inicialmente idealizados por técnicos da extensão rural pública do Estado do Paraná,

Programa “Paraná rural”, no fim dos anos de 1970, sendo um dos fatores motivadores a

dificuldade de se planejar a intervenção em bacias hidrográficas, com toda a sua

complexibilidade e infinitas variáveis socioeconômicas e ambientais. Assim os

programas de microbacias surgiram contrapondo-se ao gigantismo das bacias

hidrográficas.

Entre as diversas conceituações para microbacias, Tito Ryff (apud TEIXEIRA,

2005, p.4) assim as define:

Unidade natural de planejamento agrícola e ambiental adequada à implantação de novos padrões de desenvolvimento rural, que representa uma etapa no processo de aproximações sucessivas rumo ao ideal de um desenvolvimento rural sustentável.

Em face dessa definição, pode-se concluir que as microbacias são reconhecidas

como unidades de planejamento, intervenção e monitoramento em que se consegue

deduzir as variáveis ambientais (chuvas, temperaturas, vazões, relevo, etc.) e

socioeconômicas, permitindo planejamento e gestão integrada.

2.2 Uso dos recursos hídricos em bacias rurais

O aumento da demanda pelo uso da água evidenciado ao longo do tempo,

sobretudo nas últimas décadas, vem causando sérios conflitos entre os seus usuários

em muitas regiões da Terra, fazendo, em muitos casos, com que a água se torne o fator

limitante do desenvolvimento sustentável.

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12

Segundo Oliveira e Ferreira (2005), atividade econômica alguma no mundo se

desenvolve sem água. As atividades desenvolvidas em áreas rurais, sobretudo a

agricultura, estão entre aquelas que mais demandam, em volume, os recursos hídricos.

A produção de alimentos mundial responde por 70,2% do consumo de água que vem

dos mananciais. A seguir, os maiores usos são a produção industrial e o abastecimento

humano domiciliar.

No Brasil, os índices não são muitos diferentes. De acordo com Christofidis

(2005), os dados de 2002 publicados nos Cadernos Setoriais dos Recursos Hídricos pelo

Ministério do Meio Ambiente, em bacias rurais, a agropecuária representa 61% do

volume de água retirado dos mananciais. O abastecimento doméstico e a atividade

industrial estão na seqüência como maiores usuários, com 21% e 18% respectivamente.

Na Figura 2.2, apresentam-se os dados da Agência Nacional de Água (ANA), de

acordo com estudos que regulam o uso da água no Brasil. Os percentuais que

correspondem às vazões efetivamente consumidas por diversas categorias.

Conforme Gondenfum e Tucci (1998), para esses diferentes tipos de demanda

considerados definiu-se, com base em pesquisa junto às companhias estaduais de

abastecimento de água, indústrias usuárias, estatísticas oficiais e relatórios de projetos,

os seguintes coeficientes para cálculo da demanda hídrica:

Uso Industrial 7%

Abastecimento Rural 2%

Irrigação 69%

Uso Urbano 11%

Abastecimento Animal

11%

Figura 2.2 – Percentuais de uso da água Fonte: ANA, 2005

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13

a) Abastecimento humano e animal

Para o abastecimento humano, são sugeridos coeficientes de demanda de água

diferentes, caso se trate de população que ocupe os núcleos urbanos ou as áreas rurais.

– População urbana: no caso da demanda para atendimento da população urbana,

são propostos coeficientes diferenciados em função do porte de cada município.

– População rural: a literatura técnica registra que populações de baixa renda e

não habituadas à utilização de água encanada podem satisfazer-se com dotações

diárias de 50 a 70 l/hab. Desta forma propõe-se para o atendimento à população

rural um per capita de 70 l/hab x dia.

– Abastecimento animal: em trabalhos realizados por instituições de pesquisa,

serviços de extensão rural e entidades de crédito, tem havido um consenso sobre

os valores adotados para dotação diária de água para dessedentação dos

rebanhos. Baseados nesses trabalhos, propõe-se como coeficiente de demanda o

valor de 50 l/cabeça x dia.

b) Irrigação

Com base nos critérios específicos para esse setor, a demanda de água para

irrigação é em função dos dados evaporimétricos e pluviométricos característicos de

cada região e do tipo de cultura.

c) Agroindústrias

A demanda de água nas agroindústrias como nos demais casos industriais é

extremamente variável segundo a tipologia industrial, sendo difícil estabelecer valores

de consumo homogêneos.

Nesse contexto, caracterizando as bacias rurais, na Tabela 2.1, apresenta-se

ainda a determinação da vazão per capita no meio rural, segundo critérios propostos

pela ANA (2003), no documento “Base de Referência para o Plano Nacional de

Recursos Hídricos”.

Tabela 2.1 – Vazão per capita no meio rural, conforme o estado considerado

ESTADOS VAZÃO PER CAPITA L/ (HAB.D)

AL, GO, PI 70

AC, BA, CE, DF, ES, MA, MS, MT, PA, PB, PE, PR, RN, RO, SE, SC, TO 100

AM, AP, MG, RJ, RS, RR, SP 125

Fonte: ANA, 2003

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14

2.2.1 Consumo de água em bacias rurais: atividade de irrigação

O dado apresentado na figura 2.2, em que a agricultura irrigada brasileira

consome cerca de 69% da demanda total de água, é quase sempre associado à idéia de

que esse volume é na sua maior parte “desperdiçado” e “perdido por evaporação” e que,

portanto, a irrigação é a maior responsável pelas perdas de água existentes. Associa-se

então a idéia de que a população pode ser castigada pela escassez da água. Essas idéias

são geradas, muitas vezes, pela falta de conhecimento sobre a verdadeira participação da

água na produção das atividades rurais.

Segundo Ferreira (1997), a produção de alimentos é uma atividade essencial para

a existência humana que demanda efetivamente muita água. A chuva é a sua principal

fonte e, na falta desta, a irrigação supre essa necessidade, de forma parcial ou integral,

dependendo da região do país.

Conforme Lima e Leopoldo (1999), para atingir o potencial produtivo, uma

planta requer um volume de água para seu metabolismo que pode ser considerado

extremamente alto quando comparado com outros tipos de usuários. Por exemplo, o

milho cultivado na época em que ocorrem normalmente as chuvas (outubro a março),

nas condições climáticas médias do município de Campinas (no Estado de São Paulo),

pode chegar a consumir, durante todo o ciclo produtivo, um total aproximado de 500mm

ou 5.000m3 de água por hectare. De acordo com os autores, a irrigação não gasta muita

água, no entanto é a produção de alimentos que precisa de um volume significativo de

água para se viabilizar.

A Figura 2.3 apresenta a quantidade média de água requerida em metros cúbicos

(m3) para se produzir uma tonelada (t) de diferentes produtos agrícolas, nas condições

climáticas normais do município de Campinas, SP.

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15

Figura 2.3: Consumo de água para produzir uma tonelada do produto Fonte: LIMA, 2000

2.2.2 Uso de água e o aumento da produtividade em bacias rurais

Estudos científicos demonstram que o estresse causado pela falta de água reduz

sensivelmente a produção vegetal, inviabilizando-a, por exemplo, em regiões de clima

árido ou semi-árido, onde a falta de água é constante e limita a atividade agrícola. Por

outro lado, como conseqüência de uma irrigação realizada no momento certo, utilizando

os métodos corretos, aplicando-se a quantidade certa de água, tem-se índices de

produtividade acima das médias das culturas quando cultivadas sob condição de chuva

somente (também chamados de cultivos de sequeiro).

Exemplos de produtividade de algumas culturas brasileiras sob condições de

cultivos de irrigação e apenas de chuva são mostrados na Figura 2.4 com o respectivo

percentual de aumento de produtividade. Com exceção de poucas culturas, o percentual

de aumento da produtividade é quase sempre superior a 100% em relação à cultura não

irrigada (LIMA; LEOPOLDO,1999).

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Figura 2.4 – Produtividades médias de culturas irrigadas e não irrigadas no Brasil Fonte: LIMA; LEOPOLDO, 1999

2.2.3 Redução do uso dos recursos hídricos em bacias rurais

Na tentativa de buscar sempre um menor custo e reduzir os desperdícios

possibilitando assim, maiores retornos, a escolha do método ou sistema mais adequado

para uso dos recursos hídricos nas bacias rurais, principalmente na atividade de

irrigação, depende de vários fatores, entre eles o tipo de solo, as culturas a serem

manipuladas, a quantidade de água disponível etc.

Testezlaf (1997) cita a existência de três métodos utilizados no processo de

cultura irrigada na bacias rurais:

a) Irrigação por superfície ou por gravidade

Método bastante utilizado em quase todo o mundo. A água é aplicada sobre o

solo e, devido à gravidade, escorre penetrando até as raízes pela infiltração. O melhor

exemplo desse método é a irrigação por sulcos. Esse método é fácil de manejar, mas

exige a preparação do terreno, como nivelamento, e necessita de bastante água para

irrigar.

92% 71% 208% 35% 100% 129% 100% 114%

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18

2.3 Impactos das atividades antrópicas

Logo após o início de sua colonização, a economia brasileira era baseada no

extrativismo e na monocultura. O primeiro ciclo foi o da cultura da cana-de-açúcar,

iniciado em 1532. O plantio foi seguido de um imenso desmatamento da área de Mata

Atlântica. Todo esse processo só veio a aumentar as variações climáticas (GALLETI,

1998).

Através dos séculos, a complexidade dos usos da água pelo homem aumentou,

desencadeando degradação e poluição acarretadas pela pressão imposta pelo

crescimento demográfico, aumento das áreas incorporadas à agricultura etc.

Um dos primeiros pontos a se destacar quanto aos impactos é que a irrigação

representa o maior consumo do uso da água, por isso demanda cuidados e técnicas

especiais para o aproveitamento racional com o mínimo de desperdício. Quando

utilizada de maneira incorreta, além de causar problemas quantitativos, a irrigação pode

afetar a qualidade do solo e dos recursos hídricos superficiais e subterrâneos

(fertilizantes, agrotóxicos, entre outros).

Segundo Brown et al. (2000), a crescente demanda de água para irrigação, aliada

ao desperdício, está ocasionando problemas aos recursos hídricos em muitas partes do

mundo. Em alguns casos, o uso indiscriminado da água tem levado ao secamento de

rios, açudes, lagos e aqüíferos subterrâneos.

Sob o aspecto técnico e ambiental, é preciso alinhar as técnicas agrícolas em uso

no Brasil às necessidades do solo e do clima tropical. Os imigrantes europeus que

vieram para o país no fim do século XIX trouxeram técnicas agrícolas em uso, na época,

nos países temperados. Estas técnicas não se adaptaram às condições do Brasil e

acabaram causando a degradação crescente dos solos que, dessa forma manejados, para

manterem a produtividade, necessitam cada vez mais de insumos caros e danosos ao

ambiente. E, mesmo assim, a sua degradação continua avançando.

Graziano (1998) relata que milhões de toneladas de defensivos e fertilizantes

químicos são aplicados no campo, a prática das queimadas é adotada, além do fato de

que em muitas áreas se realiza o processo de cultivo da monocultura. Essas ações

implicam impactos ambientais negativos, tudo isso para fazer o que o solo e o ambiente

poderiam fazer por si mesmos, se recebessem o tratamento adequado.

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reflexo do uso e manejo do solo da bacia hidrográfica. Neste sentido, a seguir, pretende-

se abordar os principais aspectos nos sistemas agrícolas, citando algumas atividades e os

processos de poluição do solo e da água.

2.3.1 Perda de solo: erosão

Nas ciências ambientais, define-se erosão como o desgaste e/ou arrastamento da

superfície da terra pela água corrente, vento, gelo ou outros agentes geológicos,

incluindo processos como o arraste gravitacional (SILVA MAGALHÃES, 2001). A

erosão é um processo complexo no qual vários fatores influenciam, de forma e grau

diferenciados, conforme o local de ocorrência. Entre esses fatores, destacam-se o solo, o

embasamento geológico, o clima, a topografia e a cobertura do solo.

A erosão natural ou geológica é o desgaste da superfície da terra sob condições

naturais de meio ambiente em termos de clima e vegetação, sem perturbações

provocadas por ações antrópicas. Já a erosão acelerada ou induzida é primariamente

resultado da influência das atividades antrópicas, sendo as atividades agrícolas e a

pecuária um de seus principais agentes.

Em se tratando de bacias caracteristicamente rurais, sem dúvida o solo é um dos

recursos naturais mais importantes e sua capacidade de produção pode ser limitada pela

adoção de um manejo inadequado. Assim, para que seja estabelecido um eficiente

sistema de manejo, é necessário, entre muitas condições, que haja um conhecimento

adequado do fenômeno erosão nos seus aspectos qualitativos e nas suas relações com

vários fatores, como os que agravam o processo da erosão hídrica: chuva, solo,

cobertura vegetal e topografia. Segundo Bertol et al. (2002), desses quatro fatores, as

chuvas como fonte de energia têm um papel ativo nos processos de erosão.

Wischmeier e Smith (apud MONTENEGRO et al., 2006) verificam que, quando

todos esses fatores mencionados, com exceção da chuva, são mantidos constantes, a

perda de solo por unidade de área de um terreno desprotegido de vegetação é

diretamente proporcional ao produto de duas características da chuva: a energia cinética

(E) multiplicada por sua intensidade máxima em 30 minutos (I30). Esse produto foi

denominado de EI30, índice de erosividade, um fator que, segundo Montenegro et al.

(2006), tem sido amplamente utilizado pelos pesquisadores brasileiros, objetivando

identificá-lo em relação às diferentes regiões fisiográficas. Este índice é o que melhor

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expressa o potencial da chuva em causar erosão, considerando as fases de impacto das

gotas da chuva, a desagregação do solo, a turbulência do escoamento e o transporte das

partículas. Montenegro et al. (2006), por exemplo, utilizaram o índice de erosividade

(EI30) da chuva na bacia experimental de Jatobá e identificaram os períodos críticos

quanto à erosividade.

Outro ponto relevante a ser considerado referente à erosão do solo é devido ao

escoamento superficial que transporta partículas de solo, nutrientes, matéria orgânica,

sementes e agrotóxicos, causando prejuízos à produção agropecuária e a poluição dos

recursos hídricos. As perdas de solo decorrentes desses processos tendem a elevar os

custos de produção agrícola, aumentando a necessidade do uso de corretivos e

fertilizantes. A erosão causa também problemas à qualidade e disponibilidade de água,

devido à poluição e ao assoreamento dos mananciais, favorecendo a ocorrência de

enchentes no período chuvoso e aumentando a escassez de água no período de estiagem

(STEFANO, 2005).

Para Bertoni e Neto (1999), a quantidade de material em suspensão arrastado pela

água depende da velocidade com que ela escoa. Essa velocidade é uma resultante do

comprimento do lançante e do grau de declividade do terreno.

Com base nesse contexto, vários autores, como Borst e Woodburn (1970), Duley

e Hays (1990), Neal (1994), reconhecem que a topografia do terreno, representada pela

declividade e pelo comprimento dos lançantes, exerce acentuada influência sobre a

erosão, destaca-se a importância para o controle desse fenômeno do uso de técnicas para

aumentar a resistência do solo ou diminuir as forças do processo erosivo.

Benatti et al. (1998) afirmam que o esgotamento dos solos pela erosão pode ser

controlado. Segundo os autores, as técnicas utilizadas para evitar ou minimizar o

processo erosivo podem ser divididas em: vegetativas, edáficas e mecânicas (estruturas

artificiais construídas mediante a remoção ou disposição adequada de porções de terra).

Ressaltam ainda que as práticas de conservação do solo resolvem apenas parcialmente o

problema e que, para melhor solução, essas práticas deverão ser aplicadas

simultaneamente, a fim de abranger, com uma maior amplitude possível, os diversos

aspectos do problema.

A conservação do solo não se reduz à simples aplicação de um número de

práticas conservacionistas. No item 2.4.3, destaca-se o sistema de manejo do solo, que

assegura a obtenção dos maiores lucros possíveis no sistema agrícola sem diminuir a

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produtividade do terreno (MARQUES; BERTONI, 1990).

A erosão também causa a redução na qualidade da cultura (BERTONI; NETO,

1999). Realmente, quando os nutrientes são erodidos do solo, não somente a produção

das culturas é diminuída como também as culturas crescem com baixa qualidade e

podem ainda apresentar carência de alguns elementos nutritivos.

2.3.2 Contaminação dos recursos hídricos pela agricultura

Segundo Legg (apud PINHEIRO et al., 2005), os recursos hídricos são afetados

pelas atividades humanas e em especial por suas atividades agrícolas. Uma das maiores

conseqüências ambientais da agricultura intensiva pode ser a degradação da qualidade

das águas.

Para melhor caracterizar os riscos da poluição agrícola aos recursos hídricos em

bacias rurais, Toledo e Ferreira (2000) propõem agrupar as atividades agrícolas em três

situações: (i) sistemas agrícolas praticados em ambientes ecologicamente frágeis;

(ii) sistemas de agricultura intensiva; (iii) sistemas de produção com criação de animais

em confinamento.

(i) Sistemas agrícolas praticados em ambientes ecologicamente frágeis: a

respeito das áreas ecologicamente frágeis em bacias rurais, deve-se considerar que

nascentes e margens dos rios são áreas de recarga dos aqüíferos, áreas declivosas etc.

Isso porque muitas dessas regiões são bacias vertentes do complexo sistema formador

da drenagem de grandes rios que, por sua vez, fornecerão água para o abastecimento dos

centros urbanos. Dessa forma, elas devem ser preservadas, ou então exploradas por

sistemas agroflorestais de baixo impacto ambiental, que preservam a matéria orgânica

do solo e a manutenção da água no sistema, através da infiltração da chuva.

Sabe-se que a contaminação da água é potencializada quando práticas agrícolas

conflitantes são empregadas segundo o potencial de uso das terras, como, por exemplo,

os agricultores que cultivam solos em áreas declivosas e frágeis. Nestes casos, o

processo de erosão hídrica é severo e a contaminação dos recursos hídricos ocorre pela

grande quantidade de sedimentos que chegam até os corpos de água. Com a erosão

hídrica, também a qualidade do solo é alterada por meio da perda de carbono e

nutrientes e, conseqüentemente, a capacidade produtiva dos solos é comprometida. Para

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compensar o desequilíbrio produtivo, os agricultores aumentam o aporte de

agroquímicos (adubos solúveis e agrotóxicos), tornando crescentes os níveis de

degradação do solo e da água.

O deflúvio superficial em bacias hidrográficas com topografia acentuada

exploradas por agricultura intensiva (culturas anuais, por exemplo) apresenta grande

energia para desagregar o solo exposto e transportar sedimentos para os corpos de água.

Estes sedimentos são capazes de carregar, absorvidos na sua superfície, tanto nutrientes,

como o fósforo e os compostos tóxicos, conforme os agroquímicos. Isso é freqüente em

sistemas de produção de fumo no Sul do Brasil.

(ii) Sistemas de agricultura intensiva: esses sistemas são caracterizados pela

utilização intensiva de tecnologia, que envolve a mecanização e o alto uso de insumos

como fertilizantes, herbicidas e inseticidas. De uma maneira geral, as áreas que são

utilizadas com agricultura intensiva são de boa aptidão agrícola. Assim, o uso

inadequado das terras é menos freqüente e com isso os problemas de poluição das águas

causados pela erosão hídrica ocorrem com menos intensidade, quando comparados ao

cultivo de áreas de baixa aptidão agrícola.

Nesses sistemas, o problema de erosão pode ocorrer quando o manejo de solos é

inadequado, devido principalmente ao preparo excessivo do solo e à reposição

insuficiente de carbono orgânico. Essas duas condições favorecem a degradação física

do solo, que tem como conseqüência o aumento do deflúvio e a conseqüente

contaminação das águas superficiais devido aos sedimentos, nutrientes solúveis e

particulados e dos agroquímicos, que se encontram absorvidos aos sedimentos.

No entanto, Thompson (1995) diz que se verifica nesses últimos anos uma

mudança na maneira de cultivar o solo, uma vez que o intenso revolvimento vem sendo

substituído pela semeadura direta. Exemplo dessa realidade ocorre nos estados da região

Sul e em algumas regiões do Cerrado, onde a semeadura direta tem sido amplamente

utilizada, atualmente praticada em 14 milhões de hectares.

A semeadura direta, ainda que seja eficiente no controle da erosão hídrica, pode

causar problemas de contaminação da água subterrânea e superficial. No primeiro caso,

os mecanismos atuantes são: o fluxo de macroporos e a lixiviação (TOLEDO;

FERREIRA, 2000). Já a contaminação da água superficial pode ocorrer devido ao

transporte de poluentes solúveis pelo escoamento superficial. O deflúvio gerado em

áreas de semeadura direta é potencialmente perigoso em situações nas quais a

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semeadura é realizada no sentido do declive e na ausência de estruturas de controle para

o escoamento.

A contaminação da água via fluxo de macroporos ocorre, principalmente,

quando as aplicações de agroquímicos são seguidas de chuvas de grande intensidade.

Nessas condições, a água que infiltra via macroporos apresenta a capacidade de

transportar poluentes para a zona saturada. Já os problemas de poluição, causados pelo

deflúvio superficial, estão associados, principalmente, ao transporte de fósforo solúvel

para os corpos de água, uma vez que a fração solúvel predomina sobre a particulada nos

solos submetidos à semeadura direta. Com isso, o risco de poluição é maior, já que a

forma solúvel é prontamente utilizada pelas algas.

(iii) Sistemas de produção com criação de animais em confinamento: outra fonte

importante de contaminação das águas refere-se à poluição causada pelas atividades de

pecuária em sistemas de confinamento, como a suinocultura, a pecuária de leite e a

avicultura. Os problemas gerados por essas atividades tendem a crescer no Brasil,

devido, principalmente, ao crescimento do consumo interno e da exportação de carne de

aves e suínos.

Entre as atividades de pecuária, a que representa maior risco à contaminação das

águas é a suinocultura, devido à grande produção de efluentes altamente poluentes

produzidos e lançados ao solo e nos cursos de água sem tratamento prévio (VIEIRA,

1995). O problema de poluição causado pela suinocultura concentra-se nos Estados da

região Sul – Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná –, uma vez que nesses estados

estão quase 70% do rebanho suíno do Brasil. O material produzido por sistemas de

criação de suínos é rico em nitrogênio, fósforo e potássio e seu material orgânico

apresenta uma alta DBO5. O fósforo e a alta DBO5 são os responsáveis pelos grandes

impactos ao ecossistema aquático de superfície, sendo o primeiro responsável pelo

processo de eutrofização das águas e a segunda pela redução do oxigênio disponível. Já

o nitrogênio oferece mais risco de contaminação da água subterrânea quando lixiviado.

A utilização de dejetos de suínos como fertilizantes orgânicos também pode

contribuir para a contaminação dos recursos hídricos, caso as quantidades aplicadas

sejam superiores à capacidade do solo e das plantas de absorverem os nutrientes

presentes nesses resíduos. Dessa forma, poderá haver contaminação das águas

superficiais pelo deflúvio quando a capacidade de infiltração da água no solo for baixa,

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e das águas subterrâneas, se a infiltração da água no solo for elevada (POTE; HILL,

2001).

2.3.3 O uso de agrotóxicos

Os agrotóxicos são compostos utilizados para destruir, prevenir ou controlar

insetos, roedores, plantas, sementes e outras formas de vida. Os agrotóxicos podem ser

agrupados quimicamente em: inorgânicos, orgânicos naturais e orgânicos sintéticos

(BULL, 1982). De acordo com o seu objetivo de controle biológico, os agrotóxicos

classificam-se ainda em inseticidas (insetos), herbicidas (plantas), algicidas (algas),

fungicidas (fungos), nematocidas (vermes) e rodenticidas (roedores). Os herbicidas são

a classe de agrotóxico com mais larga aplicação, chegando a 84% do consumo total nos

Estados Unidos e 78% do volume de agrotóxicos consumidos no Brasil. Na década de

90, a produção mundial excedeu a dois milhões de toneladas (MILLER, apud

BENETTI, 2005).

Os agrotóxicos sintéticos tiveram grande desenvolvimento após a Segunda

Guerra Mundial. Os principais tipos de agrotóxicos sintéticos são os hidrocarbonetos

clorados, os organofosforados, os carbonatos e os s-triazina.

Os organofosforados caracterizam-se por possuírem fósforo, enxofre e algumas

vezes nitrogênio em sua estrutura química. São usualmente solúveis em água, possuindo

um grande potencial de contaminação dos recursos hídricos (SAWYER; MACCART;

PARKIN, 2003).

A degradação atinge águas superficiais e subterrâneas, através dos aportes

agrícolas (agrotóxicos). Assim, dentro do contexto atual da necessidade de

desenvolvimento sustentável, é essencial a adoção de uma melhor gestão dos aportes

agrícolas visando preservar os recursos hídricos, sejam eles superficiais (rios, lagos,

reservatórios) ou subterrâneos (aqüíferos livres ou artesianos).

No solo, as substâncias são submetidas a diversos processos: a degradação, a

retenção no solo até a formação de resíduos ligados, o transporte em direção a outros

compartimentos ambientais por outros processos físico-químicos (volatilização) ou

através do vetor água, pela lixiviação ou escoamento, ou ainda, pelas partículas erodidas

do solo (ORTIZ, 2003).

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Visando analisar o transporte de nitrogênio e de fósforo sob a forma de nitrato e

ortofosfato em microbacias, cujas atividades são essencialmente agrícolas, Pinheiro et

al. (2005) desenvolveram um monitoramento em duas mirobacias, a do Ribeirão do

Pedro e a do Ribeirão Areado, em Santa Catarina. Através de coletas realizadas em

diferentes seções fluviométricas, foi possível calcular a carga transportada e estabelecer

uma correlação entre vazão escoada e a carga de ortofosfato e nitrato. Assim, analisou-

se o uso do solo em termos de cada bacia a contribuição de carga transportada. É

importante ressaltar que a Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa

Catarina – EPAGRI realiza, desde 1997, o monitoramento da águas em microbacias

rurais.

Neto et al. (2006) destacam que a poluição dos rios está relacionada a diversas

fontes, desde os efluentes municipais como a carga difusa agrícola. A carga difusa

agrícola depende das práticas agrícolas utilizadas na região de abrangência do rio e da

época do ano, em função do período de preparo da terra para plantio e aplicação dos

agrotóxicos.

No estado do Ceará, por exemplo, o monitoramento da água de açudes nas

bacias do Curu e Acaraú, que são mananciais de abastecimento humano, indica

concentrações elevadas de nutrientes, algo que causa preocupação ao poder público e

às populações usuárias dessas águas. De acordo com estudos realizados por Araújo

(2006), o monitoramento trimestral e em vários pontos dos reservatórios Araras, Edson

Queiroz e Jaibaras apresentou estado de eutrofização nesses corpos d’água em todos os

pontos, na maioria do tempo, quando aplicado o Índice de Eutrofização. Araújo et al.

(2006) avaliaram o alto nível de vulnerabilidade do reservatório Edson Queiroz ao

processo de eutrofização, considerando fatores de pressão relativos ao transporte de

sedimentos na sua microbacia, à carga de fósforo proveniente das áreas ativamente

agrícolas.

Outro aspecto relevante a ser considerado é o uso seguro e eficiente dos

agrotóxicos por meio dos métodos de aplicação: polvilhamento, pulverização, iscas e

grânulos. Matuo (1982) aponta diversas causas como responsáveis pelo fracasso no uso

destes produtos, como falha na seleção ou uso do equipamento, calibração inadequada,

inabilidade para controlar o tamanho e colocação das partículas de pulverização, faixa

de aplicação inadequada, escolha incorreta dos bicos, entre outros. A aplicação

incorreta, de acordo com o autor, acarreta diversos problemas, tais como: custo de

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aplicação extremamente alto; desperdício de produtos caros; intoxicações; destruição de

organismos benéficos; danos à cultura devido à deriva e manuseio errado de produto.

O Centro Nacional de Pesquisa de Monitoramento e Avaliação de Impacto

Ambiental (CNPMA) da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA)

realizou um levantamento de opinião de especialistas sobre os cenários da agricultura

brasileira e os rumos que a pesquisa agropecuária deverá desenvolver nos próximos dez

anos. De acordo com Lopes (2001), os impactos ambientais da agropecuária podem ser

mais ou menos negativos, dependendo do uso de fatores de produção e do modo como

esses fatores são usados. Os mais importantes desses impactos negativos da agricultura

no Brasil nos próximos dez anos terão sido causados: a) pelo uso inadequado do solo

(82% de concordância); b) pelo uso de agentes químicos, como agrotóxicos, fertilizantes

e corretivos (74%); c) pelo desmatamento para fins agrícolas (59%); e d) pelo uso de

recursos hídricos (46%). Esses impactos negativos são conseqüências da falta de

educação ambiental direcionada para a aplicação equilibrada de insumos, os quais

podem ser usados apropriadamente do ponto de vista agronômico e, ainda assim,

exceder a capacidade ambiental de assimilá-los, desequilibrar o balanço ambiental,

tornando-se, desse modo, poluentes. O uso da água pode redundar em problemas

semelhantes pela mesma causa.

2.4 Estratégias para redução dos impactos e recuperação da

disponibilidade hídrica

As estratégias para redução da poluição devido às atividades agrícolas devem ter

como meta a diminuição do deflúvio superficial e do uso de agroquímicos, bem como o

manejo adequado dos efluentes produzidos pelos sistemas de criação de animais em

confinamento. As práticas relacionadas com o controle do escoamento superficial são

baseadas na melhoria da qualidade da estrutura do solo e, conseqüentemente, do sistema

poroso. Isso possibilita que as taxas de infiltração se mantenham elevadas, minimizando

o volume escoado superficialmente. Uma vez formado o deflúvio superficial, é possível

atenuar a sua potência hidráulica por meio da construção de barreiras físicas que cortem

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a direção de seu fluxo por meio da implantação de terraços ou cordões vegetados

(AMORE, 2004).

Segundo Albuquerque (2005), é importante também estar atento ao manejo da

zona ripária – a faixa de vegetação próxima aos rios –, uma vez que a utilização dessa

zona é extremamente importante para reduzir a carga poluente, que é introduzida para

os corpos de água através do escoamento. Para cumprir essa função, é necessária a

manutenção ou recomposição da mata ciliar e o estabelecimento de uma faixa de

vegetação densa junto a ela, para servir de filtro dos poluentes transportados pelo

deflúvio. O manejo dos dejetos provenientes de confinamentos e de efluentes da

irrigação torna-se fundamental.

De acordo com Silva Magalhães (2001), os novos sistemas devem observar as

seguintes premissas:

(a) utilização de recursos, atendendo às taxas permitidas pelo meio;

(b) estabelecimento de atividades em áreas e em ecossistemas com uma alta

capacidade de suporte e

(c) que a emissão de efluentes de determinada atividade não ultrapasse a capacidade

de assimilação do meio ambiente (sistemas semi-intensivos e extensivos, por

exemplo).

Algumas técnicas e equipamentos destacam-se para o tratamento e/ou disposição

dos resíduos de animais, tais como: biodigestores, esterqueiras e bioesterqueiras,

compostagem e vermicompostagem (adubação), reutilização como ração, lagoas de

estabilização etc. (SILVA; MAGALHÃES, 2001).

Deve-se considerar que a redução do uso de agrotóxicos e o manejo adequado de

dejetos de animais constituem práticas também essenciais para reduzir os problemas de

poluição da água. No que se refere ao primeiro, é preciso direcionar os esforços para

resgatar o conhecimento de tecnologias menos intensivas em sua utilização e mais

aplicadas no uso de técnicas agrônomas e da compreensão das interações dos

ecossistemas agrícolas. Esse conhecimento é fundamentado em princípios como a

rotação de culturas, o manejo integrado de pragas, o uso de adubos verdes etc.

Uma das práticas que também pode ser utilizada consiste em aumentar a

fertilidade do solo e diminuir a lixiviação pelas águas de percolação. Consiste em

corrigir a acidez do solo com a aplicação de cálcio. Essa operação é conhecida como

calagem (BULL, 1982). O papel do cálcio é proporcionar melhor cobertura vegetal que

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29

se refletirá em uma maior proteção contra impactos de gotas de chuva, diminuindo,

portanto, a perda de solo e água, além de possibilitar maior infiltração, resultando no

aumento da disponibilidade hídrica no solo.

Outro ponto a se destacar, conforme Vianna e Albuquerque (2006), se refere aos

conflitos que surgem pelo uso da água, os quais devem ser analisados individualmente,

pois, na maioria das vezes, apresentam particularidades que podem estar relacionadas

com a história de ocupação e dominação política e econômica do território, com os

fatores ambientais e com o tipo de uso dos recursos hídricos de cada região, dificultando

uma análise generalizada dos conflitos.

Cabe ressaltar ainda que o manejo integrado dos recursos hídricos baseia-se na

percepção da água como parte integrante do ecossistema, um recurso natural, bem

econômico e social, cujas quantidades e qualidades determinam a natureza de sua

utilização. O manejo integrado dos recursos hídricos, inclusive a integração de aspectos

relacionados à terra e à água, deve ser feito em nível de bacia ou sub-bacia de captação.

Segundo Lima e Leopoldo (1999), devem-se traçar, implementar e avaliar

projetos e programas que sejam economicamente eficientes e socialmente adequados no

âmbito de estratégias definidas com clareza, baseadas numa abordagem que inclua

ampla participação pública, e das comunidades locais, no estabelecimento de políticas e

nas tomadas de decisão do manejo hídrico.

2.4.1 Gestão participativa

Um componente importante no fortalecimento do espaço local tem sido as

exigências e as preocupações crescentes com a gestão e conservação dos recursos

naturais. Cabe enfatizar, nesse caso, os espaços rurais, devido à sua representatividade

nos recursos naturais do país.

O Brasil, há mais de uma década, vive um sentido de mudança do seu sistema

federativo no que se refere ao discurso político, apontando para a descentralização, com

o fortalecimento da capacidade decisória das instâncias subnacionais (ALMEIDA,

1996).

Para Almeida (1996), a descentralização como transferência de competência e

atribuições de outras esferas estatais para municípios deve ser feita com concomitante

descentralização na gestão dos recursos. O processo de municipalização adquiriu

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30

expressão no país a partir da constituição de 1988. Esse processo se deu principalmente

em decorrência de uma reforma política fiscal, com a instituição do Fundo de

Participação dos Municípios (FPM). Os municípios recebem parcelas de recursos do

Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS), do Imposto

Territorial Rural (ITR), do Fundo de Saúde, Assistência Social, Educação e mais

recentemente do Programa nacional de fortalecimento da agricultura familiar

(PRONAF) – um fundo destinado a municípios que submetem propostas de ações

aprovadas pelo Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural.

Silva (2005) vê a descentralização como uma ferramenta importante para o

desenvolvimento rural e para a redução da pobreza.

Os benefícios alcançados pela descentralização são muitos, destacando-se entre

eles, segundo Bava (1996):

- o aumento do retorno do governo à sociedade;

- a formação de maiores atividades de participação e associativismo;

- a ampliação do escopo do projeto para além da agricultura;

- o reforço do compromisso do governo central com o desenvolvimento rural;

- a atenção maior aos fatores socioculturais e

- a adaptação do desenvolvimento às condições locais.

Acredita-se que com esse processo de gestão, mediante um diagnóstico bem

elaborado, possam-se identificar os principais problemas e reivindicações e propor as

principais linhas para uma política de desenvolvimento.

Campanhola e Graziano (2000) fazem referência a essas linhas de políticas de

desenvolvimento destacando a qualidade de vida, a renda dos agricultores familiares, o

acesso a novas tecnologias e alternativas que garantam a qualidade e conservação do

meio ambiente, a assistência técnica e formação profissional dos agricultores, a

qualidade da educação rural, a organização dos agricultores e sua participação nas

decisões que envolvam as políticas para o município.

Cabe ressaltar, no entanto, que os planos e políticas a serem implementados

serão monitorados e avaliados para que se possa atingir um objetivo final − a melhoria

da qualidade de vida. Observa-se que, nos planos e políticas de desenvolvimento rural,

os quais assumem que a alternativa para a melhoria da renda dos agricultores familiares

deve se dar por meio da melhoria das atividades agropecuárias, se destacam (como

descrito anteriormente no item 2.1) as atividades agrícolas não tradicionais e não as

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agrícolas que já são praticadas no meio rural, mostrando sua importância crescente

como geradora de renda familiar complementar.

Armalte (apud CAMPANHOLA e GRAZIANO, 2000), em avaliação das

experiências de desenvolvimento local nos países da Europa do Sul (Portugal, Espanha

e Grécia), mostrou que o subdesenvolvimento é na maioria das vezes resultado da falta

de atividades rurais não agrícolas, mesmo nas zonas de agricultura moderna.

Como exemplo no processo de gestão, Souza e Fernandes (2000) destacam os

estados do Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo que implantaram,

há alguns anos, programas de microbacias hidrográficas, com o objetivo de promover

o desenvolvimento sustentável rural através do manejo da água e a conservação do

solo.

Em São Paulo, já existem ações em 194 microbacias, que ocupam uma área de

610 mil hectares. A segunda fase do programa pretende incluir ainda 535 microbacias.

O total representa 37% das microbacias hidrográficas a serem trabalhadas nesse estado

(DAEE, 2005).

Não há regras para um envolvimento participativo na elaboração e implantação

do planejamento regional integrado. As estratégias têm que ser sintonizadas e

adequadas às condições específicas de cada região (GROSSI, 1999).

Para que haja uma gestão participativa, é necessária uma colaboração que

implique um processo de decisão comum para a solução de problemas, em que o poder

é compartilhado – os indivíduos, grupos e organizações formais assumem

responsabilidades coletivas por suas ações e subseqüentes resultados dessas ações.

Segundo Souza e Fernandes (2000), há duas visões distintas sobre gestão

participativa. Uma é a de que ela aumenta a eficiência, pois as pessoas concordam e

assumem posição ativa na implantação das decisões. A outra considera que a

participação é um direito básico, no qual o objetivo é a mobilização para ações

coletivas, fortalecimento e construção institucional.

É importante ressaltar que, através da caracterização sobre o processo de

participação3, qualquer que seja ele, não há garantia de que as ações efetivamente

ocorram, ou seja, a participação não significa necessariamente ação. Para que haja uma

gestão participativa e interativa, devem existir mecanismos para ativá-la e estimulá-la, a

3 Segundo Pretty (apud CAMPANOLA; GRAZIANO, 2000), há sete tipos de participação: manipulada, passiva, por consulta, por incentivo, funcional, interativa e mobilização.

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32

fim de que ela ocorra de modo organizado para que todos venham a contribuir para o

novo processo de gestão, no qual as oportunidades se apresentam igualmente a todos os

setores (SOUZA; FERNANDES, 2000).

Cavalcanti (2003) destaca que deve haver uma predisposição prévia do poder

local com o propósito de promover o diálogo e a negociação, ou seja, que os conflitos

de interesses sejam resolvidos de forma clara, participativa e democrática.

Cabe aqui, novamente, fazer referência aos programas de microbacias

hidrográficas que têm sido desenvolvidos no Brasil. Esses programas baseiam-se no

envolvimento e na participação dos diferentes atores do setor público e da iniciativa

privada. Como citado no item 2.1, no Estado do Paraná, os atores envolvidos no

Programa “Paraná rural: subprograma de manejo e conservação do solo” foram:

Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento e as empresas a ela vinculadas,

Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-PR), Instituto Agronômico do Paraná

(IAPAR) e Instituto Ambiental do Paraná (IAP); prefeituras; sindicatos; associações e

outras entidades representativas de produtores; empresas de planejamento agrícola e

assistência técnica; e cooperativas. Parte-se do princípio de que deve haver participação

ativa de todas essas entidades através de estruturas organizacionais e operacionais que a

facilitem (FLEISCHFRESSER, apud SOUZA; FERNANDES, 2000).

Nesse contexto, ressalta-se o texto da Lei no 9.433, de 08/01/1997, que

estabelece a bacia hidrográfica como unidade de gestão para a implementação da

Política Nacional de Recursos Hídricos, bem como a constituição de conselhos e

comitês para a formulação e gestão de políticas públicas no assunto, com a participação

do poder público e de representações da sociedade.

2.4.2. Métodos alternativos ou complementares de controle de pragas e

doenças de plantas e de ervas daninhas

A sociedade encontra-se cada vez mais consciente em relação à importância da

preservação do meio ambiente, dos agroecossistemas, da saúde humana e da qualidade

dos produtos agrícolas. Este fato vem influenciando a indústria de química fina,

fabricante de agrotóxicos, a gerar produtos menos tóxicos ou de baixa toxicidade. Tem

levado também as instituições públicas e privadas a desenvolver métodos alternativos

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33

ou complementares no controle de pragas e doenças das principais culturas. Entre estes

métodos, destacam-se: controle biológico; manejo integrado de pragas, doenças e

plantas daninhas; melhoramento genético de plantas; emprego de fenômenos;

biotecnologia.

Outras técnicas agronômicas, como o plantio direto na palha, também

contribuem para a redução do uso de agrotóxicos. Todos esses métodos de controle de

pragas e doenças têm o objetivo de conciliar a redução ou eliminação dos danos às

culturas com a preservação da qualidade do meio ambiente, do produto, da saúde

humana e animal.

Os órgãos de pesquisa vêm despendendo esforços visando contribuir para a

redução do emprego de agrotóxicos. Alguns dos procedimentos mencionados acima

serão analisados a seguir.

2.4.3 Controle biológico e manejo integrado de pragas

O controle biológico tem por objetivo administrar espécies de pragas pelo uso de

manipulação de organismos vivos, incluindo parasitas, predadores, patógenos e

concorrentes da praga-alvo. Atualmente, a sociedade preocupa-se com o controle

biológico para a proteção de plantas, já que tem se interessado pela preservação

ambiental e pelo desenvolvimento sustentável. Mackauer (1992) aponta algumas das

diversas razões para o apoio político à causa do controle biológico:

a)a) Os pesticidas sintéticos não representam uma grande proteção para as

plantas. Eles perderam a eficiência por causa de sua resistência ou foram retirados do

mercado devido a preocupações com sua toxicidade para os organismos não alvo e a

contaminação ambiental.

b)b) Os inimigos naturais das pragas são percebidos pelo público como

diferentes dos controles "sintéticos" feitos pelo homem, sendo crença geral que não têm

efeitos colaterais prejudiciais, que podem ser usados para obter um controle permanente

das pragas.

c)c) Argumenta-se que, em geral, é mais barato desenvolver, implantar e manter

o controle biológico para a proteção de plantas a efetivar outras abordagens,

particularmente a aplicação de pesticidas. Mesmo que esta conclusão seja altamente

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dependente das suposições econômicas básicas, há evidências de que o controle

biológico seja eficiente do ponto de vista do seu custo.

O controle biológico de insetos-pragas iniciado pelos chineses, que utilizaram

formigas para o combate às pragas de citros, há centenas de anos, ganhou notoriedade a

partir de 1988, com o uso da joaninha Rodolia cardinalis, da Austrália, pelos

citricultores da Califórnia, EUA, para o controle do pulgão branco dos citros (Icerya

purchasi).

A análise da evolução tecnológica da indústria de agrotóxicos revela que o

desenvolvimento da biotecnologia e das técnicas de manejo integrado de pragas (MIP) e

o controle biológico permitiram a redução de 30% a 40% no uso de inseticidas químicos

(FAUSTINO, 1996).

2.4.4 Sistema de manejo do solo

As práticas de manejo do solo foram utilizadas pelo homem com o objetivo de

aumentar as colheitas e de cultivar as mais diversas culturas. Os sistemas de manejo têm

sido utilizados também visando à manutenção e à fertilidade do solo, proporcionando o

crescimento de plantas de raízes profundas e aumentando as condições físicas do solo

quanto à circulação e reserva de água.

Landers (1996) descreve algumas técnicas segundo suas aplicabilidades:

a) Rotação de culturas

É o sistema de alternar em um mesmo terreno diferentes culturas em uma

seqüência de acordo com um plano definido. Esse sistema tem como objetivo melhor

organização da distribuição da cultura na propriedade agrícola, economia do trabalho,

auxílio no controle das ervas daninhas e insetos, na manutenção da matéria orgânica do

solo e do nitrogênio, e ajuda ainda o aumento da produção e a redução das perdas por

erosão.

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b) Preparo do solo

Devido ao aumento crescente da demanda de produtos agrícolas, o agricultor

busca não somente ampliar as áreas cultivadas, mas também uma progressiva

intensificação dos trabalhos de preparo do solo.

O preparo do solo determina uma maior ou menor desagregação de suas

partículas, o que contribui para diminuir as perdas tanto dele mesmo quanto da água. De

acordo com o modo em que são deixados no solo, os resíduos da cultura anterior, eles

podem proteger a superfície contra erosão e as perdas de água por evaporação. Ressalta-

se, no entanto, que tal preparo do solo nem sempre coincide com melhores e maiores

colheitas.

c) Subsolagem

É o processo mecânico para soltar e quebrar o material do subsolo, visando

aumentar a infiltração da água da chuva, maior penetrabilidade das raízes e melhor

aeração.

No que se refere ao sistema de manejo, o principal objetivo desse método é

conservar a água através do melhoramento das condições físicas do solo e reduzir as

perdas erosivas com a diminuição da enxurrada. Assim a subsolagem aumenta a zona de

aeração do solo e quebra a crosta formada pelo tráfego do maquinário agrícola comum a

determinada profundidade ou alguma camada pouco permeável.

d) Plantio direto (PD)

De acordo com Landers (1996), o plantio direto na palha, ou simplesmente

plantio direto (PD), é uma técnica introduzida em 1969, em Não-Me-Toque, RS, em um

plantio experimental de sorgo. Em relação às técnicas convencionais de preparo e

cultivo do solo, o PD apresenta práticas agronômicas totalmente inovadoras, que o

movimentam menos, permitem um eficiente controle da erosão e favorecem a

infiltração da água por meio da manutenção de uma cobertura morta (mulch) sobre ele.

O sucesso do PD entre os agricultores pode ser avaliado pela evolução da área

que utiliza essa técnica no Brasil. Nos primeiros anos, a evolução das áreas com PD foi

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muito lenta devido às dificuldades técnicas com semeadoras e herbicidas, o que elevava

os seus custos acima do plantio convencional (PC). Os problemas técnicos foram

superados até o fim da década de 80 e, desde então, tais áreas vêm se expandindo

rapidamente.

De acordo com Landers (1996), à primeira vista, o plantio direto poderia parecer

uma técnica não favorável ao meio ambiente, uma vez que implicaria aumento de

aplicação de herbicidas. No entanto, ela pode ser vista como uma solução eficaz na

compatibilização entre a agricultura e o meio ambiente, já que é praticamente eliminado

o problema da erosão provocada pela intensa mecanização com o plantio convencional.

Essa forma de plantio mostra a alta segurança ecológica dos herbicidas dessecantes

empregados, a tendência de reduzir o emprego, o risco da contaminação por agrotóxicos

pela profissionalização do agricultor e uma agricultura sustentável em todas as

dimensões. Na opinião de Toledo e Ferreira (2000), essa é uma prática agrícola

altamente produtiva e sustentada, protegendo áreas do meio ambiente, já que evita a

expansão em novas áreas, cujos agricultores exploram para obter uma maior

produtividade.

Como descrito no início deste item, as estratégias para a redução de impactos e a

recuperação da disponibilidade hídrica, para serem realizadas com sucesso, devem ser

feitas de maneira que se possam traçar, implementar e avaliar programas e projetos que

sejam economicamente viáveis e socialmente adequados. Neste contexto, Macedo et al.

(2005), no sentido de compreender o processo de recarga hídrica do aqüífero fissural e

monitorar a influência do manejo da água e do solo na dinâmica hídrica do solo,

implantaram três unidades experimentais4: cultivo convencional, cultivo mínimo e

plantio direto na região do município de São José de Ubá, no noroeste do RJ. O sistema

de manejo utilizado teve como objetivo principal estudar a influência do manejo do solo

e da água de uma lavoura de tomate de mesa. Como resultado, os autores verificaram

que a adoção do plantio direto com gotejamento na condução do tomate de mesa

proporcionou um aumento da produção.

4 Unidades experimentais implantadas no município de São José de Ubá – comunidade de Barro Branco, comunidade vizinha à área de estudo deste trabalho, onde, no item 5.5, será avaliada a demanda hídrica para irrigação no cultivo do tomate.

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37

2.5 Bacias experimentais e representativas

As bacias experimentais têm entre outras funções a de desempenhar o papel de

um laboratório em campo, onde busca-se caracterizar as relações entre solo, planta, água

e atmosfera, assim como suas inter-relações. Dado que a região hidrográfica

experimental seja representativa dessas características, as informações podem ainda,

através de metodologias adequadas, serem extrapoladas. Ressalta-se a importante

contribuição que os estudos em bacias experimentais e representativas podem dar na

compreensão dos efeitos das mudanças climáticas globais. Pode-se ainda, buscar na

escolha da bacia experimental, procurar a representatividade das condições sócio-

econômicas associadas (Pimentel da Silva et al., 2005).

Freqüentemente os estudos de regionalização hidrológica têm servido para

extrapolação de vazões para regiões hidrográficas menores. Muitas vezes, por falta de

alternativa, além dos limites teórico-metodológicos. Isso se justifica na prática, à

medida que, especialmente no Brasil, ainda são poucas as séries históricas de vazões

associadas a pequenas áreas de drenagem. Adicionalmente, essas informações são

muitas vezes empregadas nas decisões de outorga.

A classificação das bacias hidrográficas segundo a magnitude da área de

drenagem apresenta um certo grau de subjetividade (Ponce, 1989) e mesmo

ambigüidade conforme a área de conhecimento. Pimentel da Silva e Ewen (2000)

apresentaram diagrama apresentado na Figura 2.5 adaptado de Becker e Nemec (1987).

Na Figura observa-se que há uma correspondência entre a meso-escala nas ciências

atmosféricas e a escala de grandes bacias nas ciências hidrológicas. Enquanto as

menores bacias, corrrespondentes à escala micro nas ciências hidrológicas, áreas da

ordem de 10-2 km2. Nas áreas sócio-econômicas não é incomum a definição de micro

bacia associada ao número de famílias, nesse caso 100.

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38

Figura 2.5 – Classificação das escalas nas ciências atmosféficas, hidrológicas e

Geográficas. Fonte: Pimentel da Silva e Ewen, (2000), apud Becker e Nemec,(1987)5a

Observa-se que os estudos mais contemporâneos em bacias experimentais (entre

outros e.g. Rehisa, 20065b

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39

experimentos iniciados mais recentemente foram apresentados. A seguir são discutidos

alguns dos resultados associados aos estudos em bacias experimentais no Brasil.

Cruz (1995) analisou a influência de padrões e processos da paisagem sobre duas

micro bacias na região amazônica, sendo uma apresentando cobertura vegetal intacta,

que serviu de referência (Bacia do rio Sucunduri-AM) e outra em processo constante e

progressivo de desmatamento e que foi monitorado ao longo de 18 anos (Bacia do rio Ji-

Paraná- RO. O autor encontrou uma forte relação entre a complexidade da vazão de

estiagem e a complexidade da estrutura da paisagem, indicando a possibilidade de

desenvolvimento de um modelo que defina uma vazão mínima de preservação

ambiental.

Na Reserva Biológica do Rio Cuieiras, pertencente ao Instituto nacional de

Pesquisa da Amazônia (INPA), foi instalada uma rede de instrumentos

hidrometeorológicos objetivando realizar o monitoramento de uma micro bacia

hidrográfica experimental, cuja área correspondente é de aproximadamente 6,31 km2.

Esta micro bacia hidrográfica possui um estudo detalhado de dinâmica de

transferência e armazenamento de água em variados compartimentos. Os dados de

precipitação são registrados com freqüência de 5 minutos, desde junho de 2002, a partir

de três pluviômetros instalados em pontos estratégicos. Dois situados na cabeceira da

micro bacia hidrográfica e um próximo ao seu ao exutório.

A convecção na região Amazônica é um importante mecanismo de aquecimento

da atmosfera tropical e suas variações, em termos de intensidade e posição, possui um

papel importante na determinação do tempo e clima da região.

Com base, ainda nos estudos dos efeitos da cobertura no solo, sobre as perdas de

água, Albuquerque et al. (2002) entre os anos de 1983 a 1990 estudaram os efeitos do

manejo e da cobertura do solo sobre as perdas de solo e água provocados por chuva

erosiva na bacia experimental de Sumé – PB, inserida dentro da Bacia Representativa

de Sumé que é operada pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB).

Lourdes et al. (2000), analisou por meio de uma sofisticada metodologia de

análise, as condições das águas da bacia experimental do Rio Prado - SP, que

desempenha importante papel no abastecimento das cidades de Botucatu e Pardinho. Os

autores buscaram, com isso, fornecer as bases necessárias para o gerenciamento e

manejo dos recursos hídricos de uma bacia hidrográfica objetivando sobre tudo a

garantia do desenvolvimento sócio-econômico sem a degradação do ambiente.

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40

Já em ambientes semi-árido brasileiro, verifica-se que a chuva tende a ser

extremamente variável no espaço e no tempo. Visando as aplicações hidrológicas, faz-se

necessário à extrapolação de medidas pontuais de chuva. Para se determinar o raio de

influência de uma estação pluviométrica é preciso avaliar o comportamento da série

medida e posteriormente verificar as correlaç

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41

3 ESTUDOS DE BALANÇO HÍDRICO

3.1 Fundamentos das análises de balanço hídrico

O conceito de balanço hídrico Thornthwaite (apud TUCCI, 1995) avalia o solo

como um reservatório fixo, no qual a água armazenada, até o máximo da capacidade de

campo, somente será removida pela ação das plantas.

Obviamente é um conceito simples, porém que muito tem ajudado nos processos

de zoneamento agroclimático, na verificação da demanda de água para irrigação e até

mesmo na classificação climática.

O balanço hídrico, além da evapotranspiração potencial, possibilita estimar a

evapotranspiração real, a disponibilidade hídrica, a deficiência hídrica e as fases de

reposição e retirada de água no solo.

É importante salientar nesse contexto que, dentre os objetivos da Política

Nacional de Recursos Hídricos, destaca-se o desenvolvimento sustentável, o qual visa

assegurar à atual e às futuras gerações a disponibilidade da água em padrões de

qualidade adequados aos respectivos usos, bem como a utilização racional e integrada

desses recursos.

Setti, Lima e Chaves (2001) afirmam que, para que se pratique o

desenvolvimento sustentável, é necessário dispor de bancos de informações e

metodologias apropriadas à quantificação dos recursos hídricos.

Para favorecer a gestão dos recursos hídricos, deve-se integrar a política de

gestão da água com as políticas de ordenamento territorial, ambiental, econômico e

social de cada estado pertencente à bacia, de modo a favorecer o desenvolvimento da

região.

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42

A disponibilidade hídrica de uma bacia pode ser avaliada pelo balanço hídrico

através da análise das vazões mínimas observadas no período de estiagem, refletindo o

potencial natural disponível para o abastecimento de água de populações, indústrias,

irrigação, navegação, geração de energia elétrica e lançamento de efluentes, sendo as

vazões mínimas caracterizadas pela sua duração e freqüência de ocorrência. A

estimativa da vazão máxima é importante para o controle de inundações e

dimensionamento de obras hidráulicas, enquanto a vazão média permite caracterizar,

além da disponibilidade hídrica, o potencial energético da bacia, sendo a vazão média

de longa duração a vazão máxima possível de ser regularizada. A vazão específica serve

como índice comparativo entre bacias e caracteriza o seu potencial hídrico.

Os estudos de balanço hídrico hidrológico são fundamentados no próprio

conceito do ciclo de água. A água existente na Terra distribui-se por três reservatórios

principais: os oceanos, os continentes e a atmosfera, entre os quais existe uma

circulação contínua, denominada ciclo hidrológico. O movimento da água no ciclo

hidrológico é determinado pela energia radiante de origem solar e pela ação da

gravidade (Tabela 3.1).

Tabela 3.1 – Período de renovação da água em diferentes reservatórios na Terra

Reservatórios Período médio de renovação Oceanos 2.500 anos

Água subterrânea 1.400 anos Umidade no Solo 1 ano

Águas permanentemente congeladas 9.700 anos Geleiras em montanhas 1.600 anos

Solos congelados 10.000 anos Lagos 17 anos

Pântanos 5 anos Rios 16 dias

Biomassa Algumas horas Vapor na atmosfera 8 dias

Fonte: OMM/UNESCO, 1997

O ciclo hidrológico pode ser definido como a seqüência fechada de fenômenos

pelos quais a água passa do globo terrestre para a atmosfera, na fase de vapor, e regressa

àquele nas fases líquida e sólida. A transferência de água da superfície do globo para a

atmosfera, sob a forma de vapor, dá-se por evaporação direta, por transpiração das

plantas e dos animais e por sublimação (passagem direta da água da fase sólida para a

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43

de vapor). Na Figura 3.1, são apresentados os processos físicos associados ao ciclo

hidrológico.

A água que precipita nos continentes pode tomar vários destinos. Uma parte é

devolvida diretamente à atmosfera por evaporação; outra origina escoamento sobre a

superfície do terreno (escoamento superficial) e este, concentrando-se em canais, dá

lugar aos cursos de água. A parte restante infiltra, isto é, penetra no interior do solo,

subdividindo-se em uma parcela que se acumula na sua parte superior e pode voltar à

atmosfera por evapotranspiração, e em outra que se movimenta para maiores

profundidades até atingir os aqüíferos, indo constituir o escoamento subterrâneo. Tanto

o escoamento superficial quanto o subterrâneo irão alimentar os cursos d’água que

deságuam nos lagos e nos oceanos ou vão alimentar diretamente estes últimos.

Figura 3.1 – Representação esquemática das fases associadas ao ciclo hidrológico Fonte: Próprio autor

TR

AN

SPIT

RA

ÇÃ

O

EV

AP

OR

ÃO

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Rio Oceano

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ÃO

INFILTRAÇÃO

L e n ç o l A r t e s i a n o

L e n ç o l F r e á t i c o

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44

Entre as fases do ciclo hidrológico, o escoamento superficial, processo relativo

ao deslocamento da água sobre a superfície do solo, ocorre quando a água originada de

uma precipitação escoa livremente sobre a superfície do solo, drenada por forças

gravitacionais (PRAKASH et al., 1996). Para fins de diferenciação, considerar-se-á o

estudo do escoamento superficial sobre a superfície do terreno anterior à sua

concentração em cursos d’água.

O escoamento superficial constitui uma resposta rápida à precipitação e cessa

pouco tempo depois que ela acaba. O escoamento subterrâneo, entretanto, ocorre com

lentidão e continua a alimentar os cursos de água por longo tempo após o término da

precipitação que o originou. A divisão da água que precipita nos continentes é

condicionada por vários fatores de ordem climática e referentes às características físicas

do local onde ocorre a precipitação, como tipo de vegetação e condições da topografia e

do solo.

3.2 Equações de balanço hídrico

3.2.1 Evapotranspiração

A evapotranspiração, perda de água por evaporação da superfície e do solo e

transpiração da planta, ocorre quando a água é convertida em vapor e transferida para a

atmosfera. Informações quantitativas desse processo são utilizadas na resolução de

numerosos problemas que envolvem o manejo da água. Tanto o planejamento de áreas

agrícolas de sequeiro ou irrigadas como a previsão de cheias ou a construção e operação

de reservatórios requerem dados confiáveis de evaporação e/ou evapotranspiração. A

evapotranspiração é importante para a realização do balanço hídrico em uma bacia

como um todo ou, principalmente, para a estimativa do balanço hídrico em estudos

relacionados à agricultura, os quais poderão envolver o cálculo da necessidade de

irrigação, o monitoramento do crescimento de culturas, o manejo de irrigação e, até

mesmo, a gestão de recursos hídricos (TUCCI; BELTRAME, 2000 e MO; LIU, 2001).

A evapotranspiração potencial representa a quantidade máxima d’água que

pode ser evapotranspirada por uma superfície coberta (CHATTOPADHYAY; HULME,

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1997). Em um solo descoberto, considerando este com alta umidade, a evaporação é

inicialmente condicionada pelos fatores atmosféricos (radiação, velocidade do vento,

etc). Durante esta fase, o solo está úmido e com condutividade hidráulica suficiente para

transportar água a uma taxa proporcional à demanda evaporativa. Após esta fase, a taxa

de evaporação cai progressivamente abaixo da taxa potencial, sendo limitada, então,

pelo fornecimento de água pelo perfil do solo por meio de suas características

hidráulicas (MENZIANI et al., 2001) e pela profundidade do lençol freático.

A evapotranspiração envolve um conjunto complexo de processos que são

influenciados por muitos fatores locais, tais como umidade do solo, exigências de água

pelas plantas e natureza física da cobertura do solo. As condições climáticas podem

atenuar ou acentuar a evapotranspiração. Na ausência de valores observados de

evapotranspiração, uma alternativa é usar modelos matemáticos para realizar

estimativas a partir de dados meteorológicos (ALI et al., 2000).

Existem muitos métodos disponíveis para a estimativa da evapotranspiração

potencial de referência da cultura, compreendendo métodos diretos, tais como o

lisímetro. Os métodos indiretos, em ordem crescente de complexidade e exigência de

dados, incluem equações baseadas na temperatura (Thornthwaite, Blaney-Criddle entre

outros), na temperatura, pressão de vapor e velocidade do vento (Penman) e na

temperatura e radiação (Priestley-Taylor), na temperatura, radiação, umidade do ar e

velocidade do vento (Combinado Penman e Penman-Monteith), ou até mesmo em

avaliações do balanço de energia da superfície evaporativa. Estes métodos e similares

são discutidos detalhadamente em Jensen, Burman e Allen (1990), que mostraram que

os resultados dos métodos podem variar em até 20% quando comparados com a

evapotranspiração potencial da grama. Há também o modelo de Ritchie (Jones; Ritchie,

1990), que estima a evapotranspiração da cultura calculando a evaporação da água do

solo e a transpiração da planta.

De acordo com Tourula e Heikinheimo (1998), quando a vegetação pode ser

tratada como uniforme, a equação de Penman-Monteith é indicada. Apresentam, ainda,

um modelo, baseado no trabalho de Shuttleworth e Wallace, em que a premissa básica é

que o fluxo de vapor de água do solo para a atmosfera é dividido em evaporação da

superfície do solo, transpiração das plantas e evaporação da água interceptada pela

cobertura vegetal. O modelo consiste de formulações matemáticas da resistência que

controla o fluxo de vapor de água.

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46

3.2.2 Precipitação

A precipitação é um parâmetro fundamental na determinação do balanço hídrico

e nos modelos hidrológicos porque é ela que ativa os processos de escoamento e de

transporte de massa em bacias hidrográficas. Em muitos estudos, é assumida como

espacialmente uniforme, embora as tempestades que causam o maior movimento de

sedimentos e nutrientes raramente sejam uniformes (CHAUBEY et al., 1999). Goodrich

et al. (1995) notaram que, embora a variabilidade espacial da precipitação tenha um

papel importante no processo de geração de escoamento superficial, assume-se que a

chuva é uniforme na aplicação de modelos para predizer o comportamento hidrológico

de pequenas bacias.

As condições do escoamento superficial também são influenciadas pelas

características e pela variabilidade espacial da precipitação. Algumas tempestades se

concentram em pequenas áreas, enquanto outras se espalham sobre grandes áreas. A

intensidade da precipitação tem uma grande correlação com a estabilidade vertical do ar

e com condições orográficas. A influência do movimento das tempestades no

escoamento superficial (forma do hidrograma e vazão máxima), mencionada por Singh

(1998), depende de sua direção, velocidade e duração (LIMA; SINGH, 2002).

Chaubey et al. (1999) afirmam que o padrão de variação espacial da

precipitação pode ser obtido usando informações provindas de uma rede de medição de

chuvas ou dados de precipitação obtidos de radares. Informações de radares, quando

calibradas com dados provenientes de pluviômetros, podem fornecer uma boa

estimativa da precipitação. Outro beneficio da utilização de radares advém do potencial

de previsão de enchentes em áreas com topografia não muito acidentada. (TSANIS;

GAD; DONALDSON, 2002).

As informações sobre as características das precipitações máximas de curta

duração são de extrema importância, com aplicações em planejamentos agrícolas e em

projetos hidráulicos em geral. Garcez (1976) destaca o fato de que, para a obtenção de

valores extremos de precipitação, é necessário estabelecer a relação entre intensidade,

duração e freqüência.

Em estudos hidrológicos, necessita-se, além do conhecimento das precipitações

máximas observadas nas séries históricas, da previsão das precipitações máximas que

possam vir a ocorrer na localidade com determinada freqüência (VILLELA e

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MATTOS, 1975).

Segundo Pruski, Rodrigues e Silva (2001), a intensidade das chuvas pode ser

obtida de duas formas: a partir da equação de intensidade, duração e freqüência da

precipitação ou a partir de pluviogramas, observados pelo usuário.

Os autores indicam que alturas de precipitação podem ser calculadas

multiplicando-se a intensidade máxima média de precipitação (im, em mm h-1) pela

duração da chuva (td, em min), como se segue:

60tdiPT m= (Eq. 3.1)

Para a obtenção de im, é utilizada a equação de intensidade, duração e freqüência

da precipitação, expressa por

c

a

m btKTi

)( += (Eq. 3.2)

em que:

T = período de retorno, anos; e

K, a, b, c = parâmetros da equação de chuvas intensas da localidade de

interesse.

3.2.3 Interceptação pela cobertura vegetal

A interceptação pela cobertura vegetal depende de vários fatores, como

características da precipitação, condições climáticas, tipo e densidade da vegetação.

Cabe ressaltar que este processo não fez efetivamente parte do contexto na elaboração

do trabalho desenvolvido, devido à grande ausência da mesma na área de estudo.

Destaca-se, no entanto, o modelo apresentado na literatura por Rutter (1968), bastante

aplicado e discutido no mundo inteiro.

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48

3.2.4 Infiltração

A compreensão do processo de infiltração tem muitas aplicações na hidrologia,

principalmente no estudo do escoamento superficial, da erosão hídrica, da irrigação por

superfície, no transporte de contaminantes e na determinação do escoamento superficial

por excesso da infiltração (GANDOLFI; SAVI, 2000).

O conceito de capacidade de infiltração é aplicado no estudo da infiltração para

diferenciar o potencial que o solo tem de absorver água pela superfície, em termos de

lâmina por tempo, da taxa real de infiltração que acontece quando há disponibilidade de

água para penetrar no solo. Uma curva de taxas reais de infiltração no tempo somente

coincide com a curva da capacidade de infiltração de um solo quando o aporte

superficial de água tem intensidade igual ou superior à capacidade de infiltração

(SILVEIRA; LOUZADA; BELTRAME, 2000).

Se uma precipitação atinge o solo com uma intensidade menor que a capacidade

de infiltração, toda a água penetra no solo, provocando uma progressiva diminuição da

própria capacidade de infiltração, já que o solo está se umedecendo. Se a precipitação

continuar, dependendo da sua intensidade, pode ocorrer um momento em que a

capacidade de infiltração diminui tanto que sua taxa se iguala à intensidade da

precipitação.

Quando o teor de umidade do solo aumenta, a taxa de infiltração diminui,

resultando em um aumento de água na superfície do solo (BURK; CHANASYK;

MAPFUNO, 2000). A partir deste momento, mantendo-se a precipitação, a infiltração

real se processa nas mesmas taxas da curva da capacidade de infiltração, que passa a

decrescer exponencialmente no tempo, tendendo a um valor mínimo de infiltração

(SILVEIRA; LOUZADA; BELTRAME, 2000).

No instante em que toda a lâmina potencialmente interceptável pela cobertura

vegetal é preenchida, a precipitação passa a ser transformada em infiltração, sendo que a

taxa de infiltração (Ti) é igual à intensidade de precipitação (ip). Esta condição é

mantida até que Tii p ≥ , que é expressa pela equação de Green-Ampt modificada por

Mein-Larson:

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49

⎟⎠⎞

⎜⎝⎛ −+=

IS

KTi wiss

)(1

θθ (Eq. 3.4)

em que,

Ks = condutividade hidráulica do solo saturado, mm h-1;

sθ = umidade de saturação do solo, cm3 cm-3;

iθ = umidade inicial do solo, cm3 cm-3;

Sw = potencial matricial médio na frente de umedecimento do solo,

mm.c.a.; e

I = infiltração acumulada, mm.

3.2.5 Armazenamento superficial

Outra característica importante que influencia o balanço hídrico é a capacidade

de armazenamento da água sobre a superfície do solo (SCHUMANN; FUNKE;

SCHULTZ, 2000), que corresponde ao armazenamento pelo microrrelevo da superfície

do terreno. A rugosidade da superfície do terreno controla muitos processos de

transferência na interface solo-atmosfera, como por exemplo a infiltração, o escoamento

superficial, o desprendimento de partículas pela água e pelo vento, a evaporação, entre

outros (MAGUNDA et al., 1997).

A topografia natural apresenta um microrrelevo, que consiste em pequenas

depressões que devem ser preenchidas, após o início do empoçamento, antes de o

escoamento superficial começar. A água armazenada no microrrelevo, denominada

armazenamento superficial, não se tornará escoamento superficial, podendo infiltrar-se

ou evaporar. Em certas regiões, o armazenamento superficial pode ser bastante

expressivo (OGDEN, 1998).

De acordo com Planchon et al. (2001), o armazenamento superficial

freqüentemente é calculado quando dados do microrrelevo são disponíveis. Estes

autores apresentam um aparelho eletrônico para a caracterização do microrrelevo e uma

metodologia para o cálculo da rugosidade randômica (rugosidade devido às

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irregularidades aleatórias da superfície do solo) e do armazenamento superficial. Poucos

estudos mediram o armazenamento superficial fisicamente a partir do preenchimento

com água de uma parcela da superfície do solo após a impermeabilização desta ou

através de aparato experimental, que consiste em molde da superfície do terreno em

resina e em seu preenchimento com água para posterior quantificação. Quando o

microrrelevo é desconhecido, o armazenamento superficial pode ser obtido a partir da

rugosidade randômica.

A rugosidade randômica é normalmente representada por uma distribuição

normal de suas elevações e é caracterizada pelo seu desvio padrão (KIRKBY, 2001). A

rugosidade da superfície do terreno afeta a capacidade de armazenamento superficial e,

conseqüentemente, o escoamento superficial e a erosão. Superfícies mais rugosas

armazenam mais água que superfícies lisas. O armazenamento superficial também é

afetado pela declividade. Nesse caso, terrenos mais declivosos armazenam menos água

que declives suaves (MOORE; LARSON, 1979, ULLAH; DICKINSON, 1979 e

ONSTAD, 1984).

Em áreas agrícolas, a rugosidade da superfície do terreno é influenciada

principalmente pelo tipo de preparo do solo, vegetação, tipo de solo e quantidade e

intensidade de precipitação (HANSEN; SCHJONNING; SIBBESEN, 1999). O índice

mais comum usado para caracterizar a rugosidade da superfície é a rugosidade

randômica (MAGUNDA et al., 1997). Baseado na declividade e no índice de

rugosidade randômica definido por Allmaras et al. (1966), Onstad (1984) desenvolveu

uma equação para calcular o armazenamento superficial.

Onstad (1984) descreve que a infiltração acumulada que ocorre do início da

precipitação até o início do empoçamento de água sobre a superfície do solo é

representada pela equação:

dtiI pt

tARMi

I∫= )(

(Eq. 3.5)

em que ti(ARM) é o tempo de início de ocorrência da fase de armazenamento superficial,

ou seja, tempo de começo do empoçamento de água sobre a superfície do solo.

No tempo ti(ARM), tem-se o início do empoçamento da água sobre a superfície do

solo, que começa somente a partir do momento em que ip for maior do que a Ti. A

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capacidade de armazenamento superficial da água sobre a superfície do solo (ARM)

pode ser assim obtida, seguindo a metodologia proposta por Onstad (1984):

ARM = 112 RR + 3.100 RR2 - 1,2 RR S (Eq. 3.6)

em que

RR = rugosidade randômica, mm (obtido em Laboratório); e

S = declividade do terreno, %.

O tempo para o qual toda a capacidade de armazenamento de água sobre a

superfície do solo é preenchida t(PRE) é calculado pela equação:

TidtdtiARM PRE

ARMi

PRE

ARMi

ttp

tt ∫−∫=

)()( (Eq.3.7)

em que tPRE é o tempo para o qual a capacidade de armazenamento de água sobre a

superfície do solo encontra-se preenchida, quando, então, inicia-se o escoamento

superficial.

Muitos modelos hidrológicos, como na equação do Soil Conservation Service, o

armazenamento superficial é representado de forma genérica como uma perda inicial e

representado no modelo através de parâmetro, passível de ajuste ou calibração.

3.2.6 Escoamento superficial

O escoamento superficial, entre outros, pode ocorrer devido ao excesso de

saturação na superfície do solo, ou por saturação devido à disposição das camadas do

solo, ou pelo excesso de infiltração, denominado escoamento hortoniano. Nos terrenos

declivosos, pode ocorrer também o escoamento superficial denominado return flow, em

que, devido à topografia e características da região não saturada dos solos, o

escoamento subsuperficial retorna ou passa pela superfície (KIRKBY, 2001). O

escoamento superficial também é referenciado como escoamento rápido e é o principal

responsável pelas cheias e enchentes urbanas. Nas obras de engenharia de drenagem e

de irrigação em geral, procura-se controlar o escoamento superficial.

No contexto das bacias rurais, entre os impactos causados pelo escoamento

superficial, destaca-se a erosão hídrica, sendo um problema sério na maioria das áreas

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agrícolas do mundo. A erosão hídrica tem sido tradicionalmente considerada como

sendo a causa da perda de nutrientes, bem como da produtividade (MAMO;

BUBENZER, 2001). Milhões de toneladas de solo erodido são depositadas em rios,

lagos e reservatórios transportadas pelo escoamento superficial. Além da alta carga de

sedimentos que atingem os corpos d’água, o escoamento pode conduzir nutrientes, que

são capazes de estimular o crescimento de algas e acelerar a eutrofização.

Adicionalmente, uma carga excessiva de sedimentos pode deteriorar ou destruir habitats

aquáticos, reduzir o valor estético e reduzir a capacidade de armazenamento de

reservatórios (RAUHOFER; JARRET; SHANNON, 2001). Estimativas de escoamento

superficial são importantes para se verificar o risco da ocorrência de erosão (YOUNG et

al., 2002). Nos projetos de irrigação, o controle ou diminuição do escoamento

superficial contribui também para a diminuição das necessidades de rega.

O comportamento do escoamento superficial depende essencialmente das

características de uso e cobertura dos solos, de sua declividade, do sistema de drenagem,

da precipitação, das características físico-hídricas dos solos e de seu estado de umidade.

A representação do escoamento superficial em todos os seus detalhes é complexa

(TUCCI, 1998a), já que envolve diferentes mecanismos de formação e depende do

estado de umidade do sistema e da intensidade de chuva.

Estudos realizados para as bacias rurais (PRUSKI, RODRIGUES e SILVA,

2001) descrevem que, após o final da fase de armazenamento superficial, começa a

ocorrer o escoamento superficial, sendo que, para cada tempo t., a sua taxa de

ocorrência é:

qES = ip - Ti (Eq.3.8)

em que que:

qES = taxa de ocorrência do escoamento superficial produzida analisada, m s-1.

ip = intensidade de precipitação, mm

Ti = taxa de infiltração, mm

A taxa de infiltração (Ti), durante o período de ocorrência do escoamento

superficial, continua sendo expressa pela equação (Eq.3.4).

Estimativas do escoamento superficial são importantes também nas análises e

controle da poluição. Segundo Oliveira (1999), o escoamento superficial constitui o

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principal meio de contaminação dos mananciais de água de superfície; devido ao arraste

de sedimentos e produtos químicos. O transporte de produtos químicos pode ter efeito

direto e imediato na deterioração da qualidade da água, ao passo que o transporte de

material sólido pode ter impacto de mais longo prazo nos recursos hídricos As equações de balanço hídrico e o próprio princípio de conservação de massa

são freqüentemente adotados na modelagem hidrológica de bacias hidrográficas

(modelos de bacias) nos estudos de simulação, de previsão de vazões, de cenários e

previsão de impactos de ações antrópicas e de mudanças climáticas na disponibilidade

hídrica.

3.3 Demanda em bacias rurais

As metodologias apresentadas na seção anterior para o estudo do balanço hídrico

envolvem apenas os processos naturais e não consideram as ações antrópicas que

envolvem o aproveitamento dos recursos hídricos, ou seja, fornecem estimativas para a

disponibilidade hídrica. No entanto, no planejamento e na gestão dos recursos hídricos,

sobretudo nas decisões de outorga, é preciso levar em consideração os aproveitamentos

ou usos da água. Os principais usos ou demandas da água estão associados ao consumo

humano e animal, inclusive no processo produtivo, à geração de energia, irrigação,

atividades industriais, diluição de efluentes e lazer.

Ramos e Pruski (2003) analisaram o comportamento das precipitações, vazões

médias, máximas, mínimas e associadas a diferentes níveis de permanência e do

coeficiente de deságüe em 77 estações fluviométricas situadas na bacia do rio São

Francisco. Eles evidenciaram a necessidade de realização de uma análise mais

aprofundada dos diversos fatores que interferem na disponibilidade hídrica na bacia, por

exemplo, a quantificação das vazões consumidas pelos diversos usuários, de modo a

facilitar a compreensão do comportamento hidrológico ao longo do período de análise e

a otimização do uso da água na bacia.

A Lei 9.433 de janeiro de 1997, que estabelece as diretrizes para a gestão e o

sistema nacional de recursos hídricos, prevê a outorga dos recursos hídricos entre seus

instrumentos. Tanto os usos que envolvem o consumo da água quanto aqueles que

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alteram o regime hídrico estão sujeitos à outorga. Só estão isentos da outorga, mas não

ao cadastro, as vazões insignificantes. A Lei também estabelece, em caso de conflito, a

prioridade para uso para dessedentação. Prevê também situações em que pode haver a

revogação do termo de outorga. No Plano de Recursos Hídricos, outro instrumento

estabelecido na lei, também está previsto o cálculo do balanço entre disponibilidade

hídrica e demanda pelo uso da água. Com base no balanço hídrico entre disponibilidade

e demanda hídrica e cenários de desenvolvimento, também são estabelecidos no Plano

de Recursos Hídricos os vetores de crescimento, previsão de desenvolvimento

socioeconômico, assim como a hierarquização para concessão de outorga, nas situações

de conflito, garantindo o desenvolvimento sustentável.

O balanço entre disponibilidade e demanda hídrica de uma bacia pode ser

avaliado pela análise das vazões mínimas observadas no período de estiagem, refletindo

o cenário mais crítico, sendo as vazões mínimas caracterizadas pela sua duração e

freqüência de ocorrência.

A Tabela 3.2 apresenta as respectivas populações e a área agrícola “sustentável”

para as regiões do mundo.

Tabela 3.2 – População e área agrícola “sustentável” para as regiões do mundo

Região População

(milhões) Área total (Km2) Área agrícola

'sustentável’ (Km2)

África 2.183 30.716.675 4.607.501 Ásia 6.566 34.159.601 5.123.940 América do Sul/Central 939 17.827.511 2.674.127 América do Norte 453 27.947.371 4.192.106 Europa 686 23.246.413 3.486.962 Oceania 50 8.503.670 1.275.551 Fonte: LOPES, 2001

É importante salientar que, para um desenvolvimento sustentável, é preciso

garantir à população alto nível de saúde com menores custos. Isso implica o

atendimento de maior número de pessoas com o mesmo montante de capital investido.

Para tanto, é necessário um planejamento estratégico de conscientização das populações

que dependem diretamente do uso da água, de setores rurais para que o façam com

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racionalidade, visando também à redução do desperdício no consumo. A água é

utilizada para muitos fins e há grandes variações na quantidade de água que as pessoas

requerem ou podem usar. O levantamento realizado pela Organização Mundial de Saúde

(OMS) indica os seguintes valores médios de consumo diário, em litros per capta por

dia, para as áreas rurais dos paises em desenvolvimento, em diversas regiões (Tabela

3.3):

Tabela 3.3 – Consumo médio diário, em litros/hab.dia, para áreas rurais em países em

desenvolvimento

Regiões Mínimo Máximo África 15 35 Sudeste da Ásia 30 70 Pacífico Ocidental 30 95 Mediterrâneo Oriental 40 85 Argélia, Marrocos, Turquia 20 65 América Latina 70 190 Média Mundial nos países em desenvolvimento 35 90

Fonte: FAO, 2001

Destaca-se o consumo diário, em litros per capta por dia, na região da América

Latina, incluso Brasil, o maior valor mínimo de 70l/hab.dia, bem superior ao encontrado

nas outras regiões. A pesquisa realizada pela Organização Mundial de Saúde ressalta

ainda que, em alguns países, como, por exemplo, no continente Africano, o consumo

nas áreas rurais chega a ser de aproximadamente de 5L/hab.dia, demonstrando a

situação crítica de algumas regiões.

Segundo ICR (1997), entre 1900 e 1995, o consumo total de água em atividades

humanas cresceu seis vezes, enquanto a população mundial não chegou a triplicar.

Atualmente, mais de um bilhão de habitantes não têm acesso ao abastecimento de água

de boa qualidade, ressaltando-se que 40% da população mundial vivem em regiões onde

a disponibilidade de água já impõe restrições para o seu uso, percentual que deve atingir

65% em 2025 (CUNHA, 2003).

Selborne (2001) afirma que, se a população mundial aumentar 65% nos próximos

50 anos, cerca de 70% dos habitantes do planeta enfrentarão deficiências no suprimento

de água, e 16% deles não terão água bastante para produzir sua alimentação básica.

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Responsável por cerca de 70% do consumo da água doce no mundo, a irrigação

na agricultura é o setor que retém a maior fatia do total de água utilizada pelo homem.

Entretanto, conforme Brito, Couto e Santana (2002), cerca de 97% do volume destinado

às plantas são perdidos para a atmosfera por meio da evapotranspiração das culturas, de

forma que, de 3% a 5% apenas de toda a água usada para a irrigação são efetivamente

retidos pelas plantas. Com uma superfície de aproximadamente 1,51 bilhão de hectares

de área total cultivada no mundo, 17,7% corresponde à agricultura irrigada (267,7

milhões de hectares), sendo esta fração responsável por 40% do total das colheitas

agrícolas (CHRISTOFIDIS, 2001).

Christofidis (2001) apresentou o resultado de um levantamento realizado em

1998, onde, dos 47.900.000 de hectares cultivados no Brasil, apenas 2.950.230 hectares

são irrigados, correspondendo a um percentual de 6,16% da área total cultivada, apesar

de o país disponibilizar de uma área com infra-estrutura para irrigação e drenagem da

ordem de 3.169.000 hectares. Porém, na mesma obra, estimou-se que a área irrigada

brasileira em efetiva produção, no final de 1999, estaria em torno de 2 765 000 hectares.

Tais números põem o país com um dos piores indicadores de relação área

irrigada/cultivada entre os países com mais de um milhão de hectares irrigados.

Brito, Couto e Santana (2002) afirmam que, apesar do pequeno percentual da

área irrigada no Brasil, esta contribui com 16% da produção agrícola e representa 35%

do valor total da produção.

Estima-se também que a agricultura irrigada no país usa, aproximadamente, 72%

do total da água utilizada pelo homem, em comparação com os 18% utilizados no

abastecimento doméstico e 10% no setor industrial (LIMA, 2000), conforme

Figura 3.2.

Uso Agrícola72%

Abastecimento18%

Industrial10%

Figura 3.2 – Situação estimada atual das captações de água doce no Brasil por setor Fonte: LIMA, 2000

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57

Na Tabela 3.4, apresenta-se a demanda anual de água destinada para irrigação

nas regiões do Brasil. Observa-se que, no contexto geral, o Brasil apresenta uma

eficiência de irrigação da ordem de 60%.

Tabela 3.4 – Demanda anual de água para a irrigação nas regiões do Brasil

Região / Estado

Área irrigada

(hectares)

Água derivada

dos mananciais

(mil m3/ ano)

Água consumida

pelos cultivos (mil m3/

ano)

Água derivada

dos mananciais

(m3/ha. ano)

Água consumida

pelos cultivos (m3/ha.

ano)

Eficiência

de

irrigação

%

Norte 86.660 836.900 461.320 9.657 5.323 55,1 Nordeste 495.370 8.114.586 5.340.146 16.380 10.780 65,8 Sudeste 890.974 9.497.223 6.223.402 10.659 6.985 65,5 Sul 1.195.440 13.696.405 8.521.624 11.457 7.128 62,2 Centro-Oeste 201.760 1.602.183 492.667 7.941 2.442 30,8 Brasil 2.870.204 33.777.297 21.039.159 11.768 7.330 62,3 Fonte: CHRISTOFIDIS, 2001

No caso de países em desenvolvimento, a aplicação da água em sistemas de

irrigação (Tabela 3.5) é, com grande freqüência, ineficiente. Tomando o Brasil como

exemplo, cerca de 60% da área total irrigada no território nacional utilizam irrigação por

superfície. Tal método apresenta uma eficiência de aplicação de água que varia 55% e

65,8%, estando a média em 62,3% Conforme dados apresentados por Christofidis

(2001), a região brasileira que retém o maior percentual deste método é o Sul, onde

1.195.440ha de terra são irrigados.

Christofidis (2001) descreve ainda que a simples adoção de técnicas de irrigação

para o aumento da produtividade não é suficiente. Em regiões onde há escassez de água,

como na bacia em estudo, município de São José de Ubá - Noroeste Fluminense, torna-

se necessária a adoção de métodos mais eficientes no uso, de forma que haja água

suficiente para os múltiplos empregos, espacial e temporalmente.

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58

Tabela 3.5 – Áreas irrigadas pelos diferentes métodos em 2001

Área irrigada por método (ha) Região Superfície Aspersão

convencional Pivô central Localizada Total

Sudeste 238.009 246.135 354.580 80.278 919.002 Sul 1.103.755 57.295 23.443 33.052 1.217.545

Centro-Oeste 59.630 41.756 98.853 12.271 212.510 Nordeste 166.719 177.070 84.577 84.457 512.823 Norte 82.330 3.250 390 2.510 88.350

Fonte: Adaptado de SHIKLOMANOV, 2002.

Na opinião de Bernardo (1989), para que o Brasil alcance condições ideais na

agricultura irrigada, a fração da superfície produtiva sob irrigação em relação ao total da

área cultivada deve ficar entre 15% a 20%.

A Tabela 3.6 mostra a evolução da área irrigada no mundo e na América do Sul.

Tabela 3.6 – Evolução das áreas irrigadas no mundo e na América do Sul (mil

hectares): período de 1975 a 2000

Área irrigada (milhões de hectares) Região 1900 1940 1950 1960 1970 1980 1990 1995 2000

Mundo 47 76 101 142 173 200 243 254 264 América do Sul

- - - 4,7 6,3 7,2 8 9,8 11,3

Fonte: Adaptado de CHRISTOFIDIS, 2001 e SHIKLOMANOV, 2002

No contexto das regiões rurais, além da irrigação das culturas, os usos da água

são definidos também pelo consumo humano, dessedentação e criação de animais. Em

geral, o consumo per capita em regiões rurais é bem menor do que nas regiões urbanas.

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59

4 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

4.1 A região Noroeste Fluminense

4.1.1 Histórico

A região Noroeste do Estado do Rio de Janeiro é formada pelos seguintes

municípios: Porciúncula, Varre-Sai, Natividade, Itaperuna, Bom Jesus do Itabopoana,

Italva, Cambuci, Itaocara, Aperibé, Santo Antônio de Pádua, Miracema, Laje do Muriaé

e São José de Ubá. Sendo que este último vem sofrendo, nos anos mais recentes, grande

degradação ambiental (município de estudo, Figura 4.1).

Figura 4.1 – Divisão política do Estado do Rio de Janeiro Fonte: CIDE, 1987

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60

O processo de metropolização em torno da cidade do Rio de Janeiro, nas últimas

três décadas, foi um dos mais vertiginosos do país. Muito embora o crescimento urbano

tenha sido um fenômeno nacional no período, com o Estado do Rio de Janeiro

recebendo enormes contingentes oriundos de outras unidades da federação, o fluxo

migratório interno rural-urbano foi também considerável. Segundo o Censo de 1950, do

IBGE, o número de habitantes da zona rural era de 1.280.223, representando 27,4% da

população total. Em 1980, esse contingente caiu para 924.027 habitantes, passando a

representar apenas 8,2% da população total de 11.490.170 habitantes, correspondendo a

uma redução de 27,8% em relação ao número de habitantes existentes no meio rural em

1950. Atualmente, os dados do último Censo Demográfico registram uma população

rural de 608.065 habitantes para um total de 12,2 milhões de habitantes, significando

que o processo de esvaziamento do setor rural manteve-se forte no estado (CENSO

DEMOGRÁFICO, 2000).

A Figura 4.2 apresenta a distribuição da população na região Noroeste

Fluminense, na qual se constata que o município de Itaperuna possui o maior percentual

populacional da região, com 29%, e o município de São José de Ubá possui apenas 2%.

Figura 4.2 – Distribuição da população na região Noroeste Fluminense Fonte: TCE, 2004

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61

Do ponto de vista histórico, conforme Santos e Masiero (2003), a análise da

agricultura fluminense revela que o setor só teve uma participação expressiva na

economia do estado no período em que a produção agrícola era voltada para a

exportação. Esse extenso período, que remonta aos tempos coloniais e se estende até a

fase contemporânea (década de 50), caracterizou-se pela origem de pólos de

desenvolvimento econômico no estado. Ao longo desta fase, a cidade do Rio de Janeiro,

favorecida por tornar-se a capital administrativa do país, tornou-se simultaneamente um

grande centro comercial e um importante mercado consumidor.

Em virtude da pouca sensibilidade das autoridades responsáveis pela

administração do estado ante o fenômeno de transição que ocorria na agricultura

fluminense, o declínio das lavouras de exportação, que se tornou acelerado na década de

50, causou grandes transtornos à economia estadual. Isso porque as novas atividades

agrícolas, embora corretamente direcionadas ao abastecimento urbano, não foram

suficientes para preencher a lacuna deixada no plano econômico pelas lavouras de

exportação.

Considerando-se que a migração rural apresenta uma certa seletividade, tanto de

natureza etária como de possibilidade de habilitação profissional, as conseqüências que

se observam são envelhecimento e menor qualificação dos habitantes rurais

remanescentes. Essas duas características tornam-se um obstáculo a mais à

modernização das técnicas agrícolas, geralmente via mecanização das atividades, uso de

sementes selecionadas e aplicação de insumos orgânicos ou químicos, visando à

melhoria da rentabilidade setorial. O uso correto de defensivos, insumos químicos de

alta periculosidade para os seresseres vivos em geral é um dos exemplos que elevam as

conseqüências da seleção negativa proveniente da migração rural. Neste sentido, o fluxo

migratório acentuado é, em geral, resultado da marginalização da agricultura como setor

importante para o desenvolvimento do estado, notadamente na região do pólo sucro-

alcooleiro do norte fluminense, cujo empobrecimento tornou-se notório nas últimas

décadas (ASSIS, 2002).

É importante destacar, todavia, que as terras que passaram a ser ocupadas pela

pecuária e lavouras do abastecimento interno encontravam-se empobrecidas,

notadamente nas zonas cafeeiras. Esse processo de esgotamento (e acidificação) dos

solos agrícolas do estado prevaleceu durante todos os ciclos das lavouras de exportação,

tendo em vista as técnicas depredatórias que consubstanciavam a agricultura praticada

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62

na época. Assim, o cultivo morro abaixo, sem nenhuma preocupação com a erosão e a

não-reposição dos nutrientes do solo extraídos pelas plantas, reduziu fortemente a

fertilidade das terras fluminenses, de modo a diminuir a capacidade de suporte dos

pastos instalados nas antigas áreas cafeeiras. Como os solos agrícolas exauridos exigem

uma parcela adicional de recursos – tanto na área de custeio quanto de investimento –

para tornar rentável a atividade lavoureira, a opção empresarial recai sempre na

pecuária.

No plano social, a conseqüência óbvia é a diminuição do nível de emprego no

meio rural, nível este que, por ser menor na pecuária do que na lavoura, reduz-se mais

ainda em razão da característica extensiva da atividade criatória, principalmente a

bovinocultura de corte, praticada no estado.

Além das áreas de lavouras de exportação que foram substituídas por pecuária

ou lavouras para o abastecimento do meio urbano (os produtos olerícolas em especial),

deve ser evidenciada a tomada de extensas áreas de lavouras permanentes ou

temporárias para fins urbanos e industriais.

Em relação à economia nacional, o ano de 2003 foi marcado por estagnação,

caracterizada por crescimento localizado no setor exportador, na agroindústria e nas

instituições financeiras, contra redução das demais atividades. O PIB nacional recuou

0,2%, enquanto a economia do Estado do Rio de Janeiro teve queda maior, de 1,4%.

Para efeito de melhor compreensão do desempenho da economia no Noroeste

Fluminense, no ano de 2003, verificou-se que somente a indústria extrativa mineral e a

administração pública tiveram crescimento. Todos os demais setores decaíram. A

agropecuária, pouco representativa no PIB fluminense, recuou 1,4%. Os quatro

subsetores que formam a indústria e que correspondem a aproximadamente 48% do PIB

estadual tiveram desempenho ruim. A indústria extrativa mineral cresceu apenas 0,7%,

a menor desde 1995. A indústria de transformação caiu cerca de 3%; a construção civil

teve desempenho negativo de 8,6%; e os serviços industriais de utilidade pública

decaíram 2,3%. O comércio varejista teve volume de vendas reduzido em quase 7% em

2003; as comunicações caíram 3,5% e os transportes, 6,2%. O setor de serviços, que

representa 25% do PIB estadual, também sofreu retração estimada em 0,5%. A

administração pública, por sua vez, corresponde a 20% do produto estadual e teve

crescimento estimado em 1,3% (TCE, 2004).

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63

Para uma melhor visualização da participação dos municípios da região

Noroeste Fluminense na economia estadual, a Figura 4.3 apresenta uma comparação da

evolução do PIB entre 2000 e 2002.

4.1.2 A agricultura fluminense nas últimas décadas

De acordo com estudo realizado pela Secretaria de Estado de Planejamento,

Desenvolvimento Econômico e Turismo5, a região Noroeste Fluminense caracteriza-se

economicamente pela importância dada à pecuária leiteira e de corte e à produção

agrícola, principalmente cana-de-açúcar, olericultura. Somam-se, mais recentemente,

café, tomate, fruticultura, floricultura e piscicultura de água doce, registrando-se que a

maior parte da população vive em função da atividade primária.

5 Maiores informações, vide a publicação “Diretrizes para o Desenvolvimento da Região Noroeste Fluminense” – SEPDET – Maio, 2002.

Figura 4.3 – Comparativo da evolução do PIB (R$ correntes) Fonte: TCE, 2004

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64

Segundo Santos e Masiero (2003), a agricultura teve um papel singular na

trajetória da civilização da região Noroeste. As práticas agrícolas adotadas no Noroeste

fluminense desde a época da ocupação da área, num contexto ecológico mais amplo,

constituem um modelo de desenvolvimento econômico de um tipo muito intenso de

exploração do meio natural, a começar pela derrubada das árvores para o plantio do

café. No passado, o café da região era plantado em linha reta, a favor da encosta, ou

seja, morro abaixo. Esta situação, combinada ao escoamento superficial, resulta em

grande poder erosivo, responsável pela freqüência dos fenômenos das torrentes e das

enxurradas, que causaram o empobrecimento dos solos pelo caráter monocultor da

plantação. O sistema desse cultivo possuía apenas uma pequena atenuante, pelo fato de

não haver capina no período da entressafra, segurando um pouco o processo erosivo das

encostas.

Outra atividade agrícola que esgotou os solos da região foi a plantação da cana-

de-açúcar, devido principalmente à prática das queimadas, que, se antes da década de

50, era utilizada de maneira menos acentuada, tornaram-se regra geral a partir de então.

E, neste setor produtivo, também se empreendia a derrubada das matas para obtenção da

lenha nativa que alimentava as caldeiras dos engenhos.

A olericultura, com destaque para o tomate, exerceu forte influência na região na

década de 50, pois sua introdução determinou o uso de agrotóxico, fertilizantes

químicos, irrigação, dando continuidade aos impactos característicos das monoculturas.

Ross (1998) destaca que a prática do cultivo de uma espécie única, seja ela qual for, em

grandes extensões de terra favorece o desenvolvimento de grande quantidade de

espécies animais invasoras, as pragas, que se alimentam desses produtos. Já a policultura

implica uma competitividade entre elas, eliminando a possibilidade de disseminações de

pragas.

Diferentemente dos outros setores, a atividade agropecuária no seu contexto não

se localiza na região metropolitana, desenvolvendo-se de forma dispersa por todo o

território fluminense (GUERRA; CUNHA, 1995).

O processo de urbanização em torno da cidade do Rio de Janeiro, nas últimas

quatro décadas, foi um dos mais intensos do país. Em função disso, houve mudanças

significativas na estrutura populacional e produtiva das regiões, tendo a atividade

agropecuária se deslocado de áreas tradicionais para outras, em geral mais próximas da

região metropolitana. A região norte fluminense é o exemplo mais ilustrativo dessas

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65

transformações, pois foi a que registrou o mais forte declínio populacional. De fato,

nessa região, sete dos 13 municípios apresentaram uma queda no número de habitantes

em termos absolutos, acompanhando o declínio da atividade sucro-alcooleira que

marcou o Norte do estado nas últimas décadas (CIDE, 2003).

Inicialmente, constata-se que a cana-de-açúcar, produto tradicionalmente

expressivo do setor, acusa significativa queda no contexto da agropecuária estadual. A

lavoura canavieira que participava com 16,6 % do valor da produção em 1980, cai para

9,1 % em 1993 e como relatado em TCE (2004), para os anos de 2002 e 2003 apresenta-

se praticamente estável, pequena variação de 0,26% da produção.

De acordo com o TCE (2004), a produção primária do estado concentra-se na

atividade canavieira. Considerando o desempenho de cinco das principais lavouras

cultivadas no Noroeste Fluminense responsáveis por mais de 70% do valor da produção

vegetal, uma apresentou crescimento, duas tiveram reduções e duas mostraram

estabilidade (Tabela 4.1). Para efeito de cálculo da contribuição ao PIB fluminense,

pode-se admitir uma variação da produção agrícola igual à média geral, isto é, -1,40%.

Tabela 4.1 – Variação na produção de culturas de 2002 a 2003

Cultura 2002 2003 Variação % Cana-de-açúcar (mil t) 7.215,3 7.233,8 0,26 Tomate (mil t) 163,1 176,6 8,28 Mandioca (mil t) 173,4 150,7 -13,09 Banana (milhões de cachos) 176,6 163,2 -7,59 Laranja (milhões de frutos) 106,7 106 -0,66

Fonte: TCE, 2004

A lavoura do café, que, até o início dos anos 50, viveu longo período de

prestígio na economia do setor e declinou fortemente nas décadas subseqüentes, passa a

registrar uma certa recuperação a partir dos anos 80, com a renovação do seu plantio no

estado.

Finalmente, a participação da produção do tomate no valor total da produção

agropecuária do estado saltou de 2,61 %, em 1980, para 5,44 % em 1993 e, como visto

na Tabela 4.1, de 2002 para 2003, apresentou uma variação 8,28% na produção. Vale

destacar que o cultivo dessa solanácea se concentra em dois pólos de produção no

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estado: os municípios de Cambuci e de São José de Ubá, na região Noroeste, e os

municípios de Paty do Alferes e de Vassouras, no Centro-Sul do estado. Esses dois

pólos são responsáveis, em conjunto, por 47,7% da produção estadual. A tomaticultura

aparece ainda com destaque nos municípios de São Sebastião do Alto, Nova Friburgo,

Bom Jardim, Sumidouro e Teresópolis, na Região Serrana; e em Itaperuna, Santo

Antônio de Pádua e Varre-Sai, na região Noroeste.

4.1.3 Análise dos atores dos recursos hídricos

A região Noroeste Fluminense é drenada por dois principais rios: o Rio Pomba e

o Rio Muriaé, que pertencem à bacia hidrográfica do Paraíba do Sul (Figura 4.4).

Figura 4.4 – Bacia hidrográfica do Paraíba do Sul Fonte: Projeto BRA 96/017, 1996

A região Noroeste do Estado do Rio de Janeiro vem sofrendo sérias restrições de

abastecimento de água para consumo humano e animal, em função da escassez hídrica

dos últimos anos. O desmatamento excessivo das florestas, o uso e o manejo

inadequado dos solos conduziram a processos erosivos, tornando o solo menos

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67

permeável. Portanto, há um prejuízo em relação à plena recarga dos sistemas hídricos,

levando ao desaparecimento de rios temporários, ao assoreamento dos rios e à migração

de nascentes, o que compromete a manutenção dos ecossistemas e a produção

agropecuária da região.

A Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM, 2002), por meio de

várias pesquisas, obteve os resultados das regressões e as curvas adimensionais de

probabilidades, o que a levou a definir 13 regiões consideradas hidrológica e

estatisticamente homogêneas: entre elas, destacam-se a Vb e VII, que compreendem a

sub-bacia 58 do Paraíba do Sul:

– (Vb) Sub-bacias dos rios Paraibuna Mineiro até a confluência do Preto

(inclusive), Pomba, Pirapetinga e Angu.

– (VII) Sub-bacias do rio Muriaé.

As sub-bacias VII (Rio Muriaé) – bacia Paraíba do Sul – abrangem a Região do

Vale do Paraíba do Sul, com grande parte da unidade Depressão Escalonada dos rios

Pomba e Muriaé e pequena parte da unidade Alinhamentos de Cristas do Paraíba do

Sul; a Região da Mantiqueira Setentrional (norte Fluminense), com as unidades

Serranias da Zona da Mata Mineira e Patamares Escalonados do Sul Capixaba.

Posto fluviométrico na bacia do Muriaé

a) Diagnóstico da rede fluviométrica existente

No rio Muriaé, afluente do rio Paraíba do Sul (58), bacia Atlântico, Trecho Leste

(5), destaca-se o posto fluviométrico 58940000 – Itaperuna, no município de Itaperuna

localizado na latitude –21:12:28 e longitude – 41:53:36 a uma altitude de 113m,

compreendendo uma área de drenagem de 5.812km2 (HIDROWEB).

b) Vazões máximas anuais e média de cheia

A vazão máxima anual ocorrida em cada estação fluviométrica pode

corresponder ao máximo valor diário, resultado da média das leituras diárias de níveis

d'água (7 e 17 horas), ou ao valor máximo entre essas duas leituras diárias. Para a bacia

58, o banco de dados diários apresenta valores máximos estabelecidos de uma ou outra

maneira, dependendo do período da série, sem que se possa distingui-los com exatidão.

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68

Foram tomadas como modelo para o estudo da regionalização as vazões médias do

posto fluviométrico da cidade de Itaperuna (58940000), (CPRM, 2002).

Quanto à forma de administração dos sistemas públicos de abastecimento de

água, tem-se que, no município de Muriaé, os serviços são operados pelo Departamento

Municipal de Saneamento Urbano – DEMSUR. Nos outros municípios – Miradouro,

Miraí e Patrocínio do Muriaé –, os sistemas são operados por uma empresa pública, a

Companhia de Saneamento de Minas Gerais – COPASA, e, no município de São José

de Ubá, o abastecimento é feito por intermédio da CEDAE (Companhia Estadual de

Águas e Esgotos do Rio de Janeiro) .

No que diz respeito aos mananciais utilizados, a maioria dos municípios capta

água de mananciais superficiais, com exceção da cidade de Patrocínio de Muriaé, que

capta água de um lençol artesiano e do município de São José de Ubá, onde o

abastecimento também é feito por poços municipais. Embora a utilização dos recursos

hídricos subterrâneos da bacia ainda não seja tão extensiva, os mesmos começam a

sofrer gradativa pressão, à medida que os recursos hídricos superficiais estão sendo

degradados pela necessidade de ampliação das captações para os centros urbanos

(SERESSERE, 2002).

Quanto à quantidade de água fornecida às cidades nas regiões hidrográficas dos

rios Pomba e Muriaé, pode-se afirmar que o abastecimento é bastante satisfatório, sendo

que atende entre 90% e 98% da população urbana.

4.1.4 Modificações dos padrões do solo

A região Noroeste tem poucas áreas planas. A drástica redução da cobertura

florestal natural e as formas de uso do solo inadequadas às condições de relevo e solos

desde a expansão da monocultura cafeeira, no século XIX, configuraram um cenário

generalizado de processos intensos de erosão, com estágios avançados de degradação

em diversas áreas da região.

As áreas de média vulnerabilidade tendem a uma condição de alto processo

erosivo. Este fato se dá devido, principalmente, à ausência de cobertura florestal em

áreas de maior risco de erosão (topos de morro, encostas íngremes, nascentes e margens

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69

Muito Baixa Baixa Média Alta Muito Alta

de rios); à falta de práticas de conservação de solo no manejo das pastagens e à

ocorrência de freqüentes queimadas. A Figura 4.5 apresenta o mapa de vulnerabilidade

atual à erosão na Bacia do Rio Muriaé.

Figura 4.5 – Vulnerabilidade atual à erosão na bacia do rio Muriaé Fonte: Projeto BRA 96/017, 1996

Verifica-se que, na região compreendida na bacia hidrográfica do Muriaé, região

Norte e Noroeste Fluminense, o solo apresenta, na maioria dos municípios, a

vulnerabilidade a erosão de média a alta.

No trecho fluminense da região hidrográfica do rio Paraíba do Sul, existem 19

municípios com menos de 5% de cobertura florestal. A maior parte desse conjunto mais

desmatado encontra-se nas regiões Norte/Noroeste do estado, destacando-se os

municípios de Aperibé, Italva e São José do Ubá, que não têm sequer um hectare de

mata nativa e contam com apenas alguns hectares de vegetação secundária. Em melhor

situação estão 12 municípios (que representam 25% do trecho fluminense da bacia),

onde o percentual de florestas é superior a 20%, chegando a atingir o dobro ou mais em

alguns – 45% em Nova Friburgo, 44% em Itatiaia, 40% em Rio Claro e 39% em

Teresópolis. Os municípios que apresentam as maiores áreas de florestas, com mais de

10.000ha em cada um deles, são Teresópolis, Nova Friburgo, Petrópolis, Cantagalo,

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70

Duas Barras e Trajano de Moraes (na Região Serrana) e Resende, Rio Claro e Valença

(no Médio Paraíba) conforme CPRM (2000).

Em maio de 2003, a Fundação Centro de Informações e Dados do Rio de Janeiro

(CIDE) publicou o IQM – Verde II, seqüência do primeiro estudo, lançado em julho de

2001.

Ambos comparam as áreas cobertas pelos remanescentes da cobertura vegetal

com as ocupadas pelos diversos tipos de uso do solo, criando, desta forma, o Índice de

Qualidade de Uso do Solo e da Cobertura Vegetal (IQUS). O monitoramento dos

diferentes ambientes fitoecológicos pode servir de guia para o estabelecimento de

políticas públicas confiáveis. As informações do mapeamento digital têm base em dados

coletados em 1994 (primeiro IQM) e em 2001 (segundo estudo).

No Estado do Rio de Janeiro, o mapeamento de uso do solo e da cobertura

vegetal teve a seguinte evolução (Tabela 4.2):

Tabela 4.2 – Mapeamento do uso do solo e cobertura vegetal no Estado do Rio de Janeiro

Uso do solo Área em km2

(1994)

% Área em km2

(2001)

%

Pastagens 19.556 44,5 21.669 49,4 Florestas ombrófilas densas (formações florestais) 7.291 16,6 4.211 9,6 Capoeiras (vegetação secundária) 6.814 15,5 8.071 18,5 Área agrícola 4.135 9,4 4.167 9,5 Restingas, manguezais, praias e várzeas (formações pioneiras) 1.900 4,3 1.579 3,6 Área urbana 1.846 4,2 2.763 6,3 Corpos d’água 995 2,3 921 2,1 Não sensoriado 586 1,3 0 0,0 Área degradada 506 1,2 132 0,3 Afloramento rochoso e campos de altitude 241 0,5 175 0,4 Outros 39 0,1 132 0,3 Total 43.910 100 43.864 100 Fonte: TCE, 2004

São relevantes as mudanças ocorridas em um período de apenas sete anos,

durante os quais campos e pastagens cresceram 11%, sem que isso signifique aumento

da produção pecuária. As formações florestais foram reduzidas em 42% de sua área

original, enquanto a vegetação secundária crescia 19%. Não houve expressividade no

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71

aumento de um ponto percentual em área agrícola. As formações pioneiras foram

reduzidas em 16% e áreas urbanas aumentaram seu tamanho em 50%.

Em uma primeira análise do conjunto do estado no ano de 2001, podemos

destacar que: 48 municípios fluminenses tinham mais de 50% de sua área ocupada por

campo/pastagem, destacando-se os municípios de Italva, São José de Ubá, Santo

Antônio de Pádua, São Fidélis, Itaocara, Itaperuna e Aperibé, com média de 90%.

Cinqüenta e três municípios tinham menos de 1% de sua área coberto por florestas. Em

todo o estado, só restam 19% de áreas com florestas primárias ou secundárias antigas

em estágio avançado, restingas arbóreas e savana estépica. Se for considerada a área de

floresta secundária de inicial a médio estágio de regeneração natural, a cobertura

arbórea atinge 28% do território, ou seja, 12.400 quilômetros.

4.1.5 Impactos das ações antrópicas

A região Noroeste do Estado do Rio de Janeiro, como descrito nos itens

anteriores, veio, ao longo do tempo, sofrendo modificações devido a fatores

socioeconômicos, tais como: vias de acesso, condições de escoamento da produção,

economia local, entre outros; boa parte do seu território perdeu sua cobertura original,

sendo essa pertencente ao ecossistema da Mata Atlântica.

A agricultura desempenhou um papel singular na trajetória da população da

região Noroeste Fluminense. As práticas adotadas na região, desde a sua ocupação,

constituem um modelo de desenvolvimento econômico, com intensa exploração do

meio natural, a começar pela derrubada de árvores para o plantio do café. Conforme

descrito anteriormente, no passado, a monocultura do mesmo muito contribuiu para o

processo erosivo das encostas (SANTOS; MASIERO, 2003).

Enfim, os diversos ciclos agrícolas do Brasil e suas respectivas crises – entre eles

principalmente os do café, da cana-de-açúcar e o do fumo, além das atividades de

pecuária – acabaram levando a região ao estágio de degradação ambiental, onde se

verificam: erosão, assoreamento e eutrofização dos cursos d'água, desaparecimento e

migração de nascentes. Este quadro fez com que os municípios da região se tornassem

detentores de um dos piores índices de desenvolvimento do estado, sendo os índices de

pobreza similares aos das regiões mais carentes do Brasil.

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72

4.2 Município de São José de Ubá: a bacia hidrográfica do rio São

Domingos

São José de Ubá é um município de criação recente, mas sua história é remota,

datando ainda do século XIX. Acredita-se que, nesse período, tenha sido esta região

uma sesmaria desbravada pelos bandeirantes. Conhecida como Rancho dos Ubás, em

função da abundância desta planta nativa6, abrigava tropeiros, vindos em sua maioria

das Minas Gerais.

De acordo com Soffiatti (1998), durante o período entre o surgimento da

localidade até meados da década de 60, prevalece, como base da economia local, o

cultivo diversificado de produtos agrícolas: café, cana-de-açúcar, feijão, algodão e

milho e, em média escala, a pecuária leiteira.

A partir da década de 60, inicia-se o desenvolvimento do plantio do tomate.

Essa cultura torna-se predominante entre os produtores rurais e é base da economia do

município.

Segundo o Instituto SERE (2002), desde então, a economia, a vida social e

política da localidade giram em torno da produção e comercialização do tomate. Entre

os anos 60 e 90, a localidade experimentou relativa prosperidade e progresso: instalação

de agências bancárias, agência dos Correios, construção do Mercado do Produtor do

Noroeste Fluminense (CEASA). Esse relativo progresso criou a vontade e a necessidade

de emancipação de São José de Ubá, até então distrito de Cambuci. Assim, em 1990, foi

criada a Comissão de Emancipação de São José de Ubá que resulta na aprovação

unânime pela Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, em 1993, do projeto

de criação do município.

Em 2 de novembro, através do voto, 99,43% da população decidiram pelo

desmembramento da localidade em relação a Cambuci7. Em 28 de dezembro de 1995,

foi aprovada a Lei nº 2.495, que criou o município de São José de Ubá, que tem um

6 Planta herbácea da família das anonáceas, adequada para a fabricação de balaios e cestos. 7 Conforme o documento “Diretrizes para o Desenvolvimento da Região Noroeste Fluminense”, da

SEPDET (2001), “Cambuci se originou de uma sesmaria doada à família Almeida Pereira em 1810, a qual abrangia a localidade de São Lourenço, Bom Jesus do Monte Verde e São José de Ubá”.

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único distrito-sede, ocupando uma área total de 251,6 quilômetros quadrados,

correspondentes a 4,7% da área da região Noroeste Fluminense.

Como o município é constituído de um único distrito como sede, os outros núcleos, que

são todos rurais, são denominados comunidades ou vilas, conforme os agrupamentos

residenciais, Tabela 4.3 e Figura 4.6. Como a criação do município é relativamente

recente, o mesmo não conta com o mecanismo de participação popular consolidado

na vida política local.

Tabela 4.3 – Comunidades existentes no município de São José de Ubá

COMUNIDADES E VILAS RURAIS Água Limpa Mangueira Barro Branco Maravilha Boa Mente Mavorte Brejo Monteiro Cachoeira Alta Panelão Cambiocó* Paredão Campo Grande Ponte Preta Cascatas Prosperidade Colosso Quero Ver Cruz da Moça Recreio Jenipapo Santa Maria* Gouveia Valão da Serra Inveja Valão dos Porcos Vargem Alegre

* Comunidades escolhidas para desenvolvimento do projeto.

Fonte: Adaptado de SANTOS; MASIERO, 2003

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Figura 4.6 – Localização das comunidades no município São José de Ubá: bacia do rio São Domingos

Fonte: Adaptado de BRANDÃO, 2005

4.2.1 População e indicadores socioeconômicos

De acordo com o censo de 2000, São José de Ubá tinha uma população de 6.424

habitantes, correspondentes a 2% do contingente da região Noroeste Fluminense, com

uma proporção de 106,7 homens para cada 100 mulheres. A densidade demográfica era

de 26 habitantes por km2, contra 56 habitantes por km2 de sua região. Sua população

estimada em 2003 é de 6.549 pessoas (TCE, 2004).

•Panelão

Quero Ver •

•Cruz da Moça

Prosperidade

Mangueira

•Jenipapo

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75

O município de São José de Ubá tem um contingente de 5.276 eleitores,

aproximadamente 81% da população. O município tem um número total de 2.190

domicílios, com uma taxa de ocupação de 82%. São José de Ubá possui uma agência de

correios e nenhum estabelecimento hoteleiro, mas tem duas agências bancárias. Quanto

aos equipamentos culturais, o município não dispõe de cinema e museu, mas tem um

teatro alternativo e uma biblioteca (TCE, 2004).

A população residente total de 6.549 habitantes é considerada relativamente

pequena em comparação às demais cidades da região. São José de Ubá apresenta o

menor número de habitantes, e o município mais populoso da região é Itaperuna, com

86.687 habitantes.

Em 1991, 28 pessoas residentes não eram naturais de Ubá, sendo 15 de outros

municípios do Estado do Rio de Janeiro e 13 de outros estados da federação,

demonstrando que a população não sofre processo de ondas migratórias, comuns em

outras cidades. Pelo contrário, comparando os dados populacionais desde a década de

60 aos dias atuais, percebe-se uma diminuição constante da população residente, com

uma leve retomada do número de população residente, a partir da década de 90,

conforme demonstração da Tabela 4.4.

Tabela 4.4 – População residente no município de São José de Ubá DÉCADA

1960 1970 1980 1990 2000 2003População 8.723 6.853 6.127 6.057 6.424 6.549Fonte: CIDE, 2004

A Figura 4.7 apresenta o número de habitantes em estudo feito por Brandão

(2005) na avaliação do censo populacional e ocupacional das cinco principais

comunidades rurais no município de São José de Ubá. As comunidades com maior

número de habitantes são as que estão localizadas mais próximas do centro urbano do

município.

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Figura 4.7 – Número de habitantes nas maiores comunidades rurais do município de São José de Ubá Fonte: Adaptado de BRANDÃO, 2005

Conforme o CIDE (2003), o município apresentou uma taxa média geométrica

de crescimento, no período de 1991 a 2000, de 0,64% ao ano, contra 0,96% na região e

1,30% no estado. Sua taxa de urbanização corresponde a 36,3% da população, enquanto

que, na região Noroeste Fluminense, tal taxa corresponde a 79,2%, sendo um dos cinco

municípios que apresentaram menores índices de urbanização do estado.

Segundo dados da Fundação CIDE (2004), em 2001, o PIB municipal

concentrava-se nas áreas do comércio e dos serviços (67%), seguindo-se a agropecuária

(20%) e a indústria (13%). A participação do município de São José de Ubá no mesmo

ano representou 0,01% do PIB estadual. Em 2002, o PIB a preços básicos alcançou R$

27,9 milhões, 0,02% do produto estadual e 2,4% do PIB da região Noroeste

Fluminense. No setor primário, predomina a produção de tomate.

Atualmente São José de Ubá ocupa o 3o lugar no ranking estadual de produção

de tomate e o 5o de produção nacional. A pecuária extensiva de corte e de leite

encontra-se bastante desenvolvida. O setor secundário resume-se, basicamente, a uma

pequena indústria gráfica. No setor terciário, destacam-se os prestadores de serviços, o

comércio varejista e o transporte.

279

108

224136

448 Barro BrancoBrejoCambiocóColossoSanta Maria

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77

Quanto à questão educacional do município, vale ressaltar que o processo de

ensino assume o papel, desde as últimas décadas do século XX, de referencial para

perspectivas concretas de crescimento econômico e competitividade nos mercados

globalizados. Nos atuais cenários, em que a qualidade do conhecimento da população

constitui um fator diferenciador, ter indivíduos qualificados e preparados

academicamente certamente significará caminhos abertos para o avanço tecnológico,

econômico e social. A educação pode ser uma estratégia para diminuir as desigualdades

na medida em que, ao gerar melhores qualificações, aumenta as oportunidades no

mercado de trabalho.

Na Figura 4.8, apresentam-se os indicadores disponíveis do município em

estudo relativo à escolaridade da população, em comparação com o estado.

Figura 4.8 – Anos de estudo por população acima de 10 anos de idade Fonte: TCE, 2004.

Destacam-se os percentuais de 40% da população acima de dez anos que

possuem de 4 a 7 anos de estudo e 8% que possuem menos de 15 anos de estudo no

município de São José de Ubá.

O município dispõe de duas escolas estaduais localizadas no centro urbano, com

ensino fundamental e médio. O sistema de transporte é garantido pela prefeitura para os

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alunos das comunidades rurais. O município oferece ainda parte do ensino fundamental

(séries iniciais) em escolas situadas em algumas comunidades.

Em se tratando da saúde, conforme TCE (2004), no Estado do Rio de Janeiro,

76% dos municípios estão na condição de Gestão Plena da Atenção Básica e o restante

está capacitado para a Gestão Plena do Sistema Municipal. A Gestão Plena Estadual

ocorre naqueles municípios que ainda não estão aptos para assumir a gestão de seu

sistema hospitalar. O município de São José de Ubá tem Gestão Plena da Atenção

Básica, não dispondo de hospitais conveniados ao SUS. O município, segundo a Tabela

4.5, tem suas unidades ambulatoriais distribuídas da seguinte forma:

Tabela 4.5 – Unidades ambulatoriais do município de São José de Ubá

Unidades Ambulatoriais Quantidade

Centro de saúde 1 Policlínica 1

Pronto socorro geral 1 Unidade de saúde da família 2

Unidade de vigilância sanitária 1 Observação: Todos os dados são referentes a 2003.

Fonte: TCE, 2004

4.2.2 Características físico-ambientais

São José de Ubá fica localizado a uma altitude de 125m, apresenta relevo

acidentado e os solos são predominantemente do tipo latossolo. O clima é do tipo

tropical semi-úmido, com estação chuvosa entre outubro e abril e estação seca entre

maio e setembro, possuindo uma precipitação pluviométrica de 1.100mm/ano, o relevo

é bastante acidentado: 20% plano, 30% ondulado e 50% montanhoso (EMATER-RIO

2003, apud SANTOS; MASIERO, 2003).

Um dos condicionantes climáticos configura-se pela baixa altitude dos morros

que não favorecem o barramento das nuvens de frentes frias. As temperaturas, similares

às da região Noroeste, variam entre 15°C (mínima) e 40°C (máxima), sendo a

temperatura média 25°C (PMDR, apud SANTOS; MASIERO, 2003).

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Cabe ressaltar que o município de São José de Ubá encontrou-se numa das

situações mais críticas no ano de 1999, por ter sofrido maior impacto pela estação seca,

apresentando quadro de escassez hídrica comparado ao Nordeste brasileiro (Figura

4.9).

(a) Jornal O Globo de 21/10/1999 (b) Jornal do Brasil de 24/10/1999 Figura 4.9 – Cenas registradas em São José de Ubá, na estação seca de 1999 Fonte: DRM/FAPERJ, 2002

Segundo Sofiatti (1998), a hidrografia do município não possui grande

quantidade de água, contando apenas com alguns valões, açudes, lagoas e pequenas

cachoeiras. A utilização da água se dá principalmente no abastecimento público, na

pesca (“pesque e pague”) e irrigação de algumas áreas rurais. O abastecimento público

na região rural é garantido pela prefeitura através de poços. Quanto ao setor urbano, o

município de São José de Ubá possui uma estação de tratamento de água cujo principal

problema é que, devido à distância entre o ponto de captação (Rio Muriaé, no município

de Aré – distrito de Itaperuna) na estação, às vezes há queda no abastecimento.

O município de São José de Ubá é quase coincidente com a bacia hidrográfica

do Rio São Domingos (área de 280km²), a não ser por uma pequena parte ao norte que

fica no município de Itaperuna.

Com relação à drenagem, o município está inserido, com sua rede de drenagem

na região hidrográfica do rio São Domingos, afluente do rio Muriaé, pela margem

direita (Figura 4.10). O rio Muriaé, por sua vez, é afluente do rio Paraíba do Sul em seu

trecho baixo, cujo curso percorre os Estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de

Janeiro.

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Figura 4.10 – Localização do município de São José de Ubá na bacia hidrográfica do Paraíba do Sul Fonte: Projeto BRA 96/017, 1996

Os canais componentes da rede dos cursos d’água do município, na maioria, são

classificados como canais de primeira ordem, pois se originam de nascentes. O

município não é banhado por nenhum rio de vazão substancial, ao contrário dos outros

municípios da região Noroeste.

Os recursos hídricos, conforme Santos e Masiero (2003), disponíveis no

território, são constituídos por alguns valões (córregos): Barro Branco, Cambiocó,

Cedro, Colosso, Dantas, Inveja, Mavorte, Santa Maria, São Domingos (1) e São

Domingos (2), açudes, lagoas, barragens, poços, poços semi-artesianos e cachoeiras,

cujas águas são utilizadas no consumo humano e nas atividades agropastoris.

Toda a água brotada no território ubaense até a década de 50 se destinava à

manutenção da biodiversidade nativa aliada às necessidades de seus habitantes,

dessedentação dos animais de suas criações e somente irrigação das plantações de

arroz. As outras culturas até então não eram irrigadas (SANTOS; MASIERO, 2003).

A partir desse período, com o surgimento do cultivo do tomate, cuja plantação

consome grande quantidade de água, estabeleceu-se um maior consumo deste recurso

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natural. Os equipamentos de irrigação, imprescindíveis para manutenção destas

lavouras, foram sendo incorporados tanto quanto a expansão das áreas cultivadas

(SOFFIATTI, 1998) sem maiores preocupações com a disponibilidade hídrica local.

É observado na região rural um grande número de reservatórios (Figura 4.11a),

retratando a interferência humana nas condições naturais. Os reservatórios são usados

para a irrigação das plantações e para o lazer. Os reservatórios, no entanto, acabam

favorecendo as perdas por evaporação, além de levar à proliferação de plantas e

animais lacustres (Figura 4.11b); a concentração e acumulação de elementos químicos,

devido ao uso de agrotóxicos8; o tempo de retenção hídrica, muitas vezes pequeno,

devido ao alto índice de evaporação nos corpos d' água.

(a) Reservatório: interferência humana nas (b) Reservatório: processo de eutrofização condições naturais – Comunidade Quero Ver Comunidade Brejo

Figura 4.11 – Construções de reservatórios nas comunidades rurais – município de São José de Ubá Fonte: Acervo próprio

8 Essa questão torna-se ainda mais crítica à medida que as plantações de tomate são localizadas nas vertentes dos reservatórios, sendo que alguns são também utilizados, ocasionalmente, para consumo doméstico, recreação, ou ainda, pesque-pague. Ainda, muitas vezes acabam recebendo também efluentes domésticos.

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82

4.3 A bacia experimental e representativa de Santa Maria/Cambiocó

4.3.1 Estratégia e escolha da bacia de Santa Maria/Cambiocó

A estratégia para escolha da bacia experimental/representativa envolveu

primeiramente visitas de reconhecimento ao município de São José de Ubá, sobretudo

em sua área rural. O objetivo era, ao mesmo tempo, selecionar local representativo da

realidade socioeconômica e físico-ambiental da região9. Inicialmente, foram pré-

selecionadas oito microbacias hidrográficas (MBHs), representadas pelas comunidades

de Barro Branco, Brejo, Colosso, Panelão, Prosperidade, Quero Ver, Santa Maria e

Cambiocó.

Identifica-se ainda a estratégia, associada a outros esforços de pesquisa na região

Noroeste, em buscar sítios experimentais que pudessem representar os diferentes níveis

de degradação ambiental – desde bacias preservadas até regiões hidrográficas

totalmente degradadas – do sistema de drenagem do rio São Domingos, quase que

coincidente com os limites municipais. Após quatro visitas de campo, foram

selecionadas quatro MBHs (entre as oito), tomando-se por base, principalmente a oferta

e a demanda de recurso hídrico e o seu respectivo uso, segundo os seguintes critérios

para a seleção:

�– Localização da MBH.

�– Degradação Ambiental na região da MBH.

�– Sistema organizacional da comunidade.

�– Conflito de uso dos recursos hídricos na MBH.

�– População (representatividade da comunidade).

�– Biodiversidade e diversidade do meio físico.

9 Os conceitos de micro, pequena, média ou grande bacia muitas vezes apresentam ambigüidade ou diferenças, dependendo da área de conhecimento. Nesse caso, a conceito de microbacia respeitou o conceito preestabelecido da Secretaria de Microbacias do Estado do Rio de Janeiro, que associa este conceito a uma área onde vive um número de famílias da ordem das centenas. Ao mesmo tempo, procurou-se respeitar a tendência da comunidade científica internacional em esforços experimentais e de modelagem matemática que buscam respostas sobre o funcionamento dos sistemas hidrológicos em várias escalas de forma concomitante com a pesquisa sobre os efeitos das mudanças de uso do solo e climáticas na distribuição espaço-temporal dos recursos hídricos, como MOPEX, HAPEX, LBA, Villela e Mattos (1975), entre outros, de associar às áreas das bacias experimentais às dos elementos de modelos climatológicos de meso-escala, ou seja, da ordem de grandeza das dezenas de km2.

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Como resultado final, foram escolhidas duas MBHs, com base nos critérios já

descritos, sendo as comunidades de Santa Maria e Cambiocó (Tabela 4.6).

Tabela 4.6 – Critério para escolha da microbacia hidrográfica (MBH)

MICROBACIAS HIDROGRÁFICAS (MBHS) Colosso Barro Branco Brejo Santa Maria e

Cambiocó Localização da

MBH. A montante do Rio São Domingos (formadora

do mesmo).

A oeste do município de São José de Ubá.

A sudoeste do município de São José

de Ubá (A montante do Rio

São Domingos).

Ao sul do município de São José de Ubá.

Degradação Ambiental na região

da MBH.

Alto índice de degradação ambiental,

região praticamente seca, grande déficit hídrico. Região em

processo de desertificação.

Alto índice de degradação

ambiental, região praticamente seca,

grande déficit hídrico. Região em

processo de desertificação.

Alto índice de degradação ambiental,

região praticamente seca, grande déficit hídrico. Região em

processo de desertificação.

Alto índice de degradação

ambiental, região praticamente seca,

grande déficit hídrico. Região em

processo de desertificação.

Sistema organizacional da

comunidade

Sistemas de residências próximos -

comunidade centralizada

Sistemas de residências mais

isolados - comunidade não centralizada,

conflitos políticos na região.

Moradores fazem plantio em terras

vizinhas (descaracterizando-se,

como produtor).

São comunidades mais organizadas,

social e politicamente.

Conflito de uso dos recursos hídricos na

MBH.

Os moradores fazem reservatórios nas

respectivas propriedades, impedindo o

abastecimento de outras famílias a

jusante.

Os moradores fazem reservatórios

(prejudicando a jusante),

problemas de contaminação.

Os moradores fazem reservatórios

(prejudicando a jusante).

Os moradores, fazem reservatórios

(prejudicando a jusante),

problemas de falta d' água para

abastecimento.

População (representatividade

da comunidade).

Baixa representatividade,

quanto à produtividade da

região.

Boa representação em relação ao plantio

de tomate.

Boa representação em relação ao plantio de

tomate.

Boa representação em relação ao plantio de

tomate.

Biodiversidade e diversidade do meio

físico.

Solo seco, alto índice de evaporação.

Vegetação pobre a inexistente

Solo seco, alto índice de evaporação.

Vegetação pobre a inexistente.

Solo seco, alto índice de evaporação.

Vegetação pobre a inexistente.

Solo seco, alto índice de evaporação.

Vegetação pobre a inexistente.

Fonte: Próprio autor

LEGENDA Situações semelhantes na caracterização das MBHs. Situações relevantes para a seleção da MBH. Pontos negativos para a escolha da MBH.

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84

A microbacia escolhida foi a de Santa Maria/Cambiocó, que envolve duas

comunidades:

�a) Comunidade de Santa Maria: com aproximadamente 139 famílias; banhada

pelo córrego de Santa Maria. Constata-se a existência de reservatórios ao longo do

córrego em várias propriedades, impedindo o abastecimento de outras famílias a

jusante; as residências possuem redes de esgoto, cujo ponto de lançamento é o córrego

de Santa Maria.

�b) Comunidade de Cambiocó: possui aproximadamente 72 famílias; banhada

pelo córrego do Cambiocó; verifica-se a existência de pequenas barragens ao longo do

percurso do córrego (para armazenamento de água), interrompendo o fluxo do mesmo;

as residências têm o ponto de lançamento de esgoto no córrego de Cambiocó.

Conforme apresentado na tabela 4.6, verifica-se, nas comunidades de Santa

Maria e Cambiocó, uma boa organização sociopolitíca entre os moradores, como

também uma boa representação quanto ao cultivo de tomate, o que significa um grande

potencial em consumo da reserva hídrica local para uso na irrigação. E as comunidades

escolhidas não representaram nenhum ponto negativo quanto aos critérios adotados.

4.3.2 Localização da bacia experimental/representativa de estudo

A bacia experimental/representativa de Santa Maria/Cambiocó (Figura 4.12),

com área de 13,5km2, fica localizada no município de São José do Ubá e se encontra

entre os meridianos 41° 30’ e 42° 00’, de longitude oeste, e os paralelos 21° 00’ e 21°

30’, de latitude sul.

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O acesso para se chegar à bacia de Santa Maria/Cambiocó é feito através da

rodovia RJ–186, que acessa o município de Santo Antônio de Pádua, a sudoeste, e

Itaperuna, a noroeste. Em leito natural, a RJ-198 segue rumo norte para Itaperuna e

rumo sul para Cambuci (Figura 4.13).

Figura 4.13 – Acesso à bacia Santa Maria/Cambiocó (RJ-186) Fonte: TCE, 2004

Figura 4.12 – Localização da bacia experimental/representativa de Santa Maria/Cambiocó, município de São José do Ubá – RJ Fonte: PRADO et al., 2004

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Destaca-se, na Figura 4.14, a posição geográfica da microbacia de Santa

Maria/Cambiocó, em face das microbacias vizinhas existentes no município e o centro

urbano de São José de Ubá.

Figura 4.14 – Localização da bacia experimental/representativa de Santa Maria/Cambiocó em relação às bacias vizinhas – RJ Fonte: PRADO et al., 2004

4.3.3 Características fisiográficas do sítio experimental

Os parâmetros físicos de uma região hidrográfica são elementos de grande

importância para a análise do comportamento hidrológico. O solo apresenta grande

susceptibilidade à erosão, o que pode ser observado em várias áreas ao longo da

microbacia, devido à ausência de cobertura florestal. O processo erosivo gerado pelo

escoamento superficial vem aumentando consideravelmente, gerando assim veios e

sulcos nas partes declivosas.

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Segundo estudo realizado dentro da microbacia experimental/representativa de

Santa Maria/Cambiocó, Oliveira (2005) selecionou 13 perfis de solos considerados

representativos da área. Na Figura 4.15, apresentam-se as localizações dos pontos dos

perfis de solos selecionados e, na Tabela 4.7, uma descrição geral dos solos

encontrados na região de estudo.

Figura 4.15 – Localização dos perfis de solos, na microbacia de Santa Maria (azul) e Cambiocó (rosa) Fonte: OLIVEIRA, 2005

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Tabela 4.7 – Descrição geral dos solos da microbacia Santa Maria/Cambiocó Localização Perfil

de Solo

Classe de Solo Textura Relevo

Santa Maria P04 Argissolo Vermelho-Amarelo

Média / argilosa Ondulado

Santa Maria P05 Cambissolo Háplico léptico

Média / argilosa Ondulado

Santa Maria P06 Gleissolo Háplico Média /argilosa Plano Santa Maria P15 Planossolo Háplico Arenosa / média Suavemente ondulado Cambiocó P20 Neossolo Litólico Média Fortemente ondulado Cambiocó P21 Gleissolo Háplico Média /argilosa Plano Cambiocó P22 Cambissolo Háplico

léptico Média /argilosa Suavemente ondulado

Cambiocó P24 Argissolo Vermelho-Amarelo

Argilosa Fortemente ondulado/ondulado

Cambiocó P27 Luvissolo Háplico Média /argilosa Fortemente ondulado/ondulado Santa Maria P32 Argissolo

Vermelho-AmareloArgilosa Fortemente ondulado

Santa Maria P34 Cambissolo Háplico gleico

Média Plano

Santa Maria P36 Planossolo Háplico Arenosa / média Suavemente ondulado Cambiocó PE Sem descrição Média /argilosa Ondulado

Fonte: OLIVEIRA, 2005

Os solos predominantes na área da microbacia são, na ordem, os cambissolos

(Cambissolos Háplicos nas encostas e Gleissolos Háplicos nas baixadas), e os

Argissolos Vermelho-Amarelos (nos vales ondulados e nas encostas)10.

Em termos de hidrologia, a rede de drenagem da microbacia

experimental/representativa de Santa Maria/Cambiocó é constituída de pequenos

córregos de primeira ordem, dentre os quais, se destacam basicamente dois: o córrego

de cambiocó, com nascente a 230m de altitude, localizada na comunidade de Cambiocó,

na fazenda de propriedade do Sr. Manuel Calixto, e o córrego de Santa Maria, nascente

com 220m de altitude aproximadamente, situada na comunidade de Santa Maria, dentro

da propriedade do Sr. Agostinho Alves. Na fazenda do Sr. João Linhares, ocorre a

confluência dos dois córregos, a uma altitude de aproximadamente 122m, onde o

mesmo passa a receber o nome de Valão Preto11. O córrego do Valão Preto é afluente

10 Para uma descrição pedológica mais detalhada, pode-se consultar o trabalho de Bhering et al., 2005. 11 Valão Preto, nome dado ao córrego formado pela junção dos córregos de Cambiocó e Santa Maria. Segundo moradores das comunidades de Cambiocó e Santa Maria.

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do Rio São Domingos que, por sua vez, é afluente do rio Muriaé, que drena para o rio

Paraíba do Sul (Figura 4.16).

Figura 4.16 – Rede de drenagem da microbacia experimental/representativa de Santa Maria/Cambiocó Fonte: Adaptado de OLIVEIRA, 2005

Por meio de uma carta topográfica obtida na escala de 1:10.000, foi possível a

geração de um modelo digital do terreno, utilizando as ferramentas do ARC GIS®,

versão 9.1.

Na Figura 4.17, representa-se o modelo digital de terreno, a área da microbacia e

a rede de drenagem, na qual a topografia está representada através de uma escala de

cores. Destaca-se, ainda, na Figura 4.18, a incidência de pontos cotados com as

respectivas elevações. Constata-se que a microbacia possui um relevo pouco

montanhoso, caracterizando as áreas de baixas elevações concentradas entre 121m e

250m de altitude.

#

#

#

#

#·#·

#· #·

#·#·#Y

SÃO J OS É

DE UBÁItajaraCr uz ei r o

Mo nt e Ver de

Mo n te Al eg r e

Par aís o do T obi asSãoJoãodoParaíso N. Sra. da P en haAr etSa nta M aria

ITA PE R U N ACA M BU CI

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o

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os Ár e a apr oxItaper unaCa mbuc iS. Antôni o de Pád ua Miracema

São José do UbáL aje do Mu r iaéÁrea apr oximada da bacia: 2 7.911 ,179 hec tares

São FidelisItalva

#

#

#

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#·#·#Y

SÃO JOSÉ

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Figura 4.17 – Modelo digital do terreno, localização geográfica da rede de drenagem Fonte: Próprio autor

Figura 4.18 – Ocorrência das elevações na microbacia de Santa Maria/Cambiocó Fonte: Próprio autor

Altimetria (m)

121,5798645 - 150

150,0000001 - 200

200,0000001 - 250

350,0000001 - 400

250,0000001 - 300

300,0000001 - 350

600,0000001 - 650

650,0000001 - 651

500,0000001 - 550

550,0000001 - 600

400,0000001 - 450

450,0000001 - 500

Elevação

Elevação Média = 246,030 m Elevação Mínima = 121,271m Elevação Máxima = 651,263 m

Pontos

Elevação Média = 246,030 m Elevação Mínima = 121,271 m Elevação Máxima = 651,263 m

Pontos

Elevação

121.271 254.269 387.267 520.265 653.263

400

300

200

100

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Fórmula de Ven te Chow:

32,0

64,0160,0S

Ltc = (Eq. 4.3) DAEE (1978)

onde:

tc = tempo de concentração (horas)

L = comprimento do curso d’água principal (km)

S = declividade do curso d’água principal (m/m)

Fórmula de Corps Engineers:

19,0

76,0191,0S

Ltc = (Eq. 4.4) Linsley e Franzini (1978)

onde:

tc = tempo de concentração (horas)

L = comprimento do curso d’água principal (Km)

S = declividade do curso d’ água principal (m/m)

Para se estimar o tempo de concentração da microbacia de Santa

Maria/Cambiocó, foi necessário obter os valores das declividades, que são responsáveis

por controlar a velocidade com que se dá o escoamento superficial. A Figura 4.19

apresenta o mapa de declividades da bacia em estudo, obtido a partir do MDT gerado

para a bacia, em que o curso d’água principal foi divido em trechos para possibilitar o

cálculo da declividade média e o comprimento total do mesmo (Tabela 4.8).

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Figura 4.19 – Modelo digital do terreno, declividade da microbacia de Santa Maria/Cambiocó Fonte: Próprio autor

Tabela 4.8 – Declividade e comprimento do curso d’água principal Trecho Declividade (m/m) Comprimento (km) Comprimento (ft)

1 0,1260 1,92 6.299,70 2 0,0201 0,36 1.191,64 3 0,3830 0,58 1.919,05 4 0,0493 0,65 2.137,57 5 0,0156 0,89 2.918,26 decl. méd.= 0,05 comp. total = 4,4 comp. total =14.466,22

Fonte: Próprio autor

Utilizando o valor da declividade média e comprimento do curso d’água

principal nas equações de tempo de concentração descritas, encontram-se os respectivos

valores, conforme Tabela 4.9.

0,82000

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Tabela 4.9 – Valores obtidos para o Tempo de concentração

Fórmulas Tc em horas ( h ) Tc em minutos ( min ) Ranser-Kirpich 0,67 40,2 Johnstone: 2,05 123 Ven te Chow 1,08 64,8 Corps Engineers 1,04 62,4

Fonte: Próprio autor

Em estudo do desempenho das fórmulas de tempo de concentração em bacias

hidrográficas, Silveira (2005) avaliou o desempenho de 23 fórmulas de tempo de

concentração em bacias rurais e urbanas, calculando os seus erros com dados de

arquivos testes retirados de MOPU (1987) para as rurais e dados publicados de Schaake,

Geyer e Knapp (1967) para as bacias urbanas.

No que diz respeito à aplicação de ofício, ou seja, aplicação em bacias rurais, as

fórmulas estudadas pelo autor tiveram desempenhos variados, mas, segundo Silveira

(2005) , das 23 fórmulas testadas, o grupo formado por Kirpich, Ven te Chow e Corps

Engineers obtive melhores resultados. A Figura 4.20 apresenta três exemplos de tempo

de concentração calculado em bacias rurais.

Bacias Rurais

0

1

10

100

1000

0.01 1 100 10000

área (km2)

tc (h

oras

)

Tc obsCorps Eng

Bacias Rurais

0

1

10

100

1000

0.01 1 100 10000

área (km2)

tc (h

oras

)

Tc obsChow

Bacias Rurais

0

1

10

100

1000

0.01 1 100 10000

área (km2)

tc (h

oras

)

Tc obsKirpich

Figura 4.20 – Exemplos de tempos de concentração calculados em bacias rurais Fonte: SILVEIRA, 2005

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Face ao estudo apresentado e a sua grande aplicabilidade em bacias rurais, as

fórmulas de Kirpich, Ven te Chow apresentaram, segundo o autor, menores erros-

padrão, permitindo realizar observações sobre os desempenhos e comparações entres as

fórmulas testadas. Para cálculo do tempo de concentração, método gráfico, foi

encontrado o valor aproximado de 40 minutos e será adotado o valor de tempo de

concentração para a bacia experimental/representativa de Santa Maria/Cambiocó o

calculado pela formula Kirpich: 40,2min.

Na Tabela 4.10, são apresentadas como quadro-resumo as características físicas

da microbacia em estudo.

Tabela 10 – Quadro-resumo das características físicas da microbacia experimental/representativa de Santa Maria/Cambiocó

Área da bacia 13,5km2 Comprimento total dos cursos d’água 8,52km Comprimento do curso d’água principal 4,41km Altitude máxima na bacia 651,262m Altitude média na bacia 246,036m Altitude mínima na bacia 121,271m Altitude do exutório 122,5m Declividade média na bacia 0,34m/m Declividade do curso d’água principal 0,05m/m Tempo de concentração 40,2min

Fonte: Próprio autor

O capítulo 5 refere-se ao monitoramento socioambiental, analisando os

indicadores socioeconômicos e a consistência dos dados hidroclimáticos e

fluviométricos. Também serão verificados os monitoramentos hidroclimático,

hidrossedimentológico e das demandas de irrigação.

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5 MONITORAMENTO SOCIO-AMBIENTAL

5.1 Indicadores socioeconômicos

O Projeto Gestão Participativa da Sub-Bacia do Rio São Domingos –

GEPARMBH – iniciou suas atividades no município de São José de Ubá, na região

Noroeste Fluminense, em junho de 2003. Teve como um dos objetivos desenvolver

ações para gestão sustentável da bacia hidrográfica do Rio São Domingos, pois a região,

como foi visto em capítulos anteriores, apresenta uma situação de avançada degradação

ambiental, sendo a cultura do tomate de mesa e a pecuária leiteira as principais

atividades rurais. O cultivo do tomate exige grande trato cultural, principalmente o

controle de pragas e doenças, aplicação de fertilizantes e irrigação intensiva.

Uma das atividades do projeto visou implantar modelos de gestão comunitária

dos recursos naturais em pequenas bacias hidrográficas rurais, atividade esta que foi

estruturada pelas equipes do Programa de Engenharia de Produção da COPPE/UFRJ e

desenvolvida em parceria com a equipe de socioeconomia da Embrapa Solos-RJ. Para o

levantamento socioeconômico da região, foi realizada uma pesquisa junto aos

moradores em diversas comunidades do município de São José de Ubá, entre elas, as

comunidades de Santa Maria e Cambiocó.

Para execução de tal pesquisa, um questionário foi previamente elaborado e

validado, através de um censo participativo, isto é, foi realizado por alguns moradores

locais escolhidos pelas próprias comunidades envolvidas em conjunto com técnicos do

projeto. Todo esse trabalho identificou um conjunto de informações e algumas delas, as

mais relevantes para as questões relacionadas à gestão integrada dos recursos hídricos,

são destacadas a seguir. Na Tabela 5.1, são apresentados os resultados do censo

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populacional. Observa-se que o número de casas e a população residente na comunidade

de Santa Maria superam em muito o da comunidade de Cambiocó.

Tabela 5.1 – Resultado do censo populacional das comunidades de Santa Maria e Cambiocó em 2004

Comunidade Cambiocó Santa Maria Total

Nº Casas 72 139 211 População Total 224 448 672

Fonte: BRANDÃO, 2005

Face às realidades hoje apresentadas nas regiões rurais, devido ao crescimento

das atividades não agrícolas, como descrito no Capítulo 2 (item 2.1), na Tabela 5.2,

apresenta-se o percentual da população adulta em atividades não agrícolas de residentes

adultos das comunidades de Santa Maria e Cambiocó.

Tabela 5.2 - Percentagem da população adulta em atividades não rurais – 2004

Comunidades Cambiocó Santa Maria População de adultos 156 338

Adultos em atividades não agrícolas 67 155 % pop adulta em atividades não agrícolas 42,95 45,86

Fonte: BRANDÃO, 2005

A análise das ocupações dos adultos das duas comunidades mostra o número dos

que trabalharam em outras atividades que não a atividade rural e a percentagem deste

contingente na população adulta em cada comunidade. Observa-se que, em Santa Maria,

esse percentual é 45,86%, não apresentando, embora tenha uma população bem maior,

grande diferença do percentual em atividades não agrícolas da comunidade de

Cambiocó, que foi de 42,95%.

Ter outra fonte de renda, além da proveniente da atividade agrícola é garantir

algum recurso, já que a produção agrícola é incerta a cada ano devido a fatores que o

homem rural não controla, tais como os preços pagos pelos atravessadores e as

condições climáticas. Na Tabela 5.3, estão reunidas todas as atividades declaradas

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pelos habitantes das duas comunidades, que lhe proporcionam ganhos de renda, sejam

elas atividades agrícolas ou não.

Fonte: BRANDÃO, 2005

Ocupação dos Adultos Cambiocó Santa MariaAgente de saúde 0 2 Administrador de fazenda 0 0 Aposentado 7 41 Aposentado/lavrador 0 3 Aposentado/proprietário rural 1 0 Barbeiro 0 0 Campeiro 0 5 Comerciante 0 4 Desempregado 0 0 Do lar 53 83 Do lar/aposentada 0 2 Do lar/lavradora 6 7 Do lar/lavradora/pensionista 1 0 Do lar/artesã 0 0 Do lar/costureira 1 0 Do lar/pensionista 0 1 Doméstica 0 0 Eletricista 0 0 Encostado 2 4 Estudante 4 14 Estudante/lavrador 1 1 Funcionário DER 0 2 Funcionário público 3 9 Funcionário público/artesã 0 0 Guarda 2 1 Mecânico 1 2 Militar 0 3 Motorista/tratorista 0 4 Lavrador 59 98 Lavrador /aposentado 0 2 Lavrador /filho proprietário 2 0 Lavrador /vereador 0 0 Lavrador /pedreiro 1 0 Lavrador /proprietário 0 3 Lavrador /seg. Obras 0 0 Pedreiro 0 3 Pensionista 0 3 Professor 0 3 Proprietário rural 8 14 Sem renda 1 0 Servente 1 0 Vereador 0 1 Não declarado 2 3 Outros 0 6

Tabela 5.3 – Ocupação dos adultos das duas comunidades - 2004

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Pode-se constatar que a maioria da população está inserida na atividade de

lavoura, sobretudo considerando que muitos têm mais de uma atividade, com registro de

59 e 98 lavradores em Cambiocó e Santa Maria respectivamente. Destaca-se o grande

número de pessoas do lar e aposentados, considerando as atividades não agrícolas,

seguidas por funcionários públicos e guarda/militares. Outras atividades ainda foram

citadas pelos moradores: barbeiro, doméstica, eletricista, servente e vereador com

poucas observações.

Segundo Santos (2006), foram identificados na região em estudo, envolvendo as

comunidades de Santa Maria e Cambiocó, vários impactos socioeconômicos que podem

ser agrupados em três tipos: conflitos existentes no uso dos recursos hídricos pelos

agricultores; um crescente aumento dos custos de manutenção da infra-estrutura de

produção, inclusive com os solos; diminuição da qualidade vida nas comunidades

locais.

A existência de conflitos pelo uso dos recursos hídricos ocorre entre os

agricultores, especialmente no período de estiagem, período este em que é desenvolvido

o cultivo de inverno – plantações de tomate. Isso porque aqueles situados a montante

dos cursos d’águas querem viabilizar o seu cultivo e, para tal, constroem pequenas

barragens e reservatórios, diminuindo o volume de escoamento para os agricultores

situados mais a jusante.

Muitos conflitos surgem, também, devido aos diferentes interesses pelas águas.

Alguns proprietários exploram esses recursos, formando grandes reservatórios, com fins

lucrativos, como, por exemplo, o “pesque-pague” (Figura 5.1).

E importante ressaltar que, objetivando minimizar esses problemas, a prefeitura

construiu poços para o abastecimento doméstico em algumas comunidades rurais. E, em

algumas situações, é enviado o caminhão-pipa para resolver os problemas de

abastecimento d’água.

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Figura 5.1 – Barragem e reservatório construídos por agricultores para fins lucrativos Fonte: Acervo próprio

O aumento do custo de manutenção da infra-estrutura decorre de uma síntese de

todos os custos associados aos problemas ambientais que ocorrem na região. Nesse

sentido, somam-se os custos com insumos agrícolas para reposição de nutrientes (perda

de fertilidade), de combustível para bombeamento de água, por vezes utilizada para rega

e de áreas mais longínquas ou de acesso mais difícil (escassez de água), manutenção de

estradas e cercas (em decorrência de processos erosivos), bem como os custos sociais

decorrentes da deterioração dos recursos hídricos, enquanto bem público não exclusivo

(SANTOS; CASTRO, 2005).

A diminuição da qualidade de vida é representada por elementos como

problemas de saúde, falta de saneamento, perda de renda, falta de acesso a terra, ao

crédito rural, à educação, uso indevido de agrotóxicos, entre outros. Pode-se dizer, de

um modo geral, que a população dependente da agricultura de pequeno porte (familiar

ou não) vem passando por um processo de degradação de sua qualidade de vida.

De acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a

Fome, em 2005, o município de São José de Ubá apresentou índices de

desenvolvimento modestos e um número considerável de famílias vivendo abaixo da

linha de pobreza. A Figura 5.2, por exemplo, apresenta a evolução da ocorrência de

morbidades no município de São José de Ubá, cuja gravidade exigiu internação

hospitalar. Ressalta-se a tendência crescente no número de casos ao longo do tempo,

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101

uma vez que não se registrou nenhuma grande epidemia nacional ou mesmo regional

que pudesse ser explicada por outros fatores. A deterioração dos corpos hídricos e do

ambiente de um modo geral pode estar contribuindo significativamente para o aumento

desse tipo de doenças, que refletem a insuficiência dos serviços de saneamento,

traduzindo-se em perda da qualidade de vida nestas áreas (SANTOS, 2006).

Figura 5.2 – Evolução do número de ocorrências de doenças infecciosas e parasitárias com necessidade de internação no município de São José de Ubá Fonte: DATASUS (apud SANTOS, 2006)

Em relação às condições socioeconômicas da região em estudo, cabe ressaltar os

dados de pesquisa feita junto às comunidades de Santa Maria e Cambiocó no município

de São José de Ubá (Tabela 5.4), cujas maiores dificuldades em saúde não foram

verbalizadas como sendo determinadas doenças, mas sim a infra-estrutura precária que

prejudica a prevenção, o diagnóstico e o tratamento de qualquer doença. Os problemas

dessa infra-estrutura derivam dos arranjos sociais, econômicos e políticos locais.

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102

Tabela 5.4 – Maiores dificuldades das comunidades de Santa Maria e Cambiocó relacionadas à saúde

Maiores Dificuldades das Comunidades relacionadas à Saúde 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

Total

Santa Maria

2,4%

7,3%

29,3%

7,3%

9,8%

4,9%

9,8%

2,4%

22,0%

2,4%

2,4%

100%

Cambiocó

4,8%

14,3%

4,8%

14,3%

4,85

28,6%

4,8%

14,3%

9,5%

100%

Fonte: Adaptado de COSTA; TOSTO, 2005

Legenda: 1 – Transporte 2 – Falta de médico 3 – Comprar remédio 4 – Hospital/Pronto-socorro 5 – Nenhuma/a gente quase não adoece 6 – Outros 7 – Transporte e comprar remédio/Hospital/Médico 8 – Transporte e médico/Remédio/Outros 9 – Transporte e remédio/Ambulância/Posto de Saúde 10 – Falta médico e comprar remédio 11 – Falta hospital e médico/Comprar remédio 12 – Falta médico/Comprar remédio e transporte Observa-se que, na comunidade de Santa Maria, a maior dificuldade é “comprar

remédio”, com 29,3% das respostas, seguido da categoria composta “falta médico e

comprar remédio”, com 22%. Em Cambiocó, a categoria composta “transporte, comprar

remédio, falta de hospital e de médico” responde por 28,6% das respostas, o que, em

parte, pode ser explicado pelo fato de ser uma pergunta muito abrangente e, ao mesmo

tempo, que expressa as maiores necessidades relacionadas à saúde dos habitantes da

comunidade.

5.2 Monitoramento hidroclimatológico

Para o monitoramento hidroclimatológico, foram instalados, estrategicamente

posicionados, três termopluviômetros. Os instrumentos foram posicionados de forma a

representar as características topográficas da bacia experimental/representativa. Assim,

um posto foi localizado próximo à comunidade de Cambiocó: C10 (posto Cambiocó),

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103

onde se verificam as cotas altimétricas mais elevadas; outro, localizado mais próximo

ao exutório da bacia (onde está localizada a seção de monitoramento fluviométrico):

C11 (posto João Linhares)13, que apresenta as cotas mais baixas e o outro, localizado

mais próximo à comunidade de Santa Maria: C12 (posto Santa Maria), que se

caracteriza por apresentar cotas altimétricas intermediárias. A Figura 5.3 apresenta a

localização dos termopluviômetros e da seção de monitoramento fluvial na bacia de

estudo. Detalhe da localização da bacia de estudo em relação à bacia hidrográfica do rio

São Domingos e, por sua vez, em relação ao rio Muriaé em Itaperuna é mostrado na

figura 4.16. E ainda, na figura 4.1, a localização das cidades de Itaperuna, Miracema e a

sede do município de São José do Ubá, ambas do capítulo anterior.

Após a implantação do posto fluviométrico, o local de monitoramento

termopluviométrico passou a ser coincidente com a seção fluviométrica. E o posto

denominado João Linhares passou a receber o código C13.

O equipamento para monitoramento termopluviométrico é um instrumento

experimental desenvolvido na UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) no

âmbito da pesquisa dos professores Miranda, Pereira e Monat (2002). O aparelho é

constituído de termoplástico do tipo PVC ou ABS14, conforme esquema de coleta e

armazenamento dos dados apresentado na Figura 5.4. As peças maiores, tais como o

copo cilíndrico do pluviômetro, são usinadas em PVC, já as menores e mais complexas

(como sistema basculante para coleta de chuva e suportes) são injetadas em ABS. A

cada esgotamento da báscula, que tem capacidade para 0,17 mm, é registrado um pulso

que, posteriormente, de acordo com a programação do equipamento, será convertido no

total de mm de chuva. Na configuração básica da estação termopluviométrica proposta

por Miranda, Pereira e Monat (2002), os valores do tempo, da temperatura do ar e do

total de chuva precipitado são armazenados em um microcontrolador desenvolvido pela

Microchip Technology Inc. (MICROCHIP TECHNOLOGY INC, 2000). Entre outubro

de 2003 e outubro de 2004, foi instalada a versão do instrumento que só registra totais

pluviométricos, totalizando-os a cada 24 horas. A partir de novembro de 2004, esses

equipamentos foram substituídos pelo modelo mais atual do instrumento que possibilita

a inferência dos totais pluviométricos e da temperatura média em intervalos menores de 13 Esse posto, conforme será descrito mais tarde no texto, teve o monitoramento paralisado logo depois do início da operação do posto fluviométrico, já que o equipamento para monitoramento fluviométrico tem acoplado aparato para monitoramento das chuvas e das temperaturas. 14 Tipo de plástico utilizado em alguns equipamentos, apresenta rigidez maior do que os plásticos do tipo PVC.

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104

tempo. Nesse caso, o instrumento foi programado para intervalos de 15 minutos. Esses

termopluviômetros (Figura 5.5 a e 5.5b) foram primeiramente, em sua versão mais

simples, cedidos pelo Professor Ricardo A.C. de Miranda e, na versão mais atual,

comercializados pela ONG OLHAR 21.

Posto Termopluviométrico Posto Fluviométrico

Cambioc

Santa Maria

Figura 5.3 – Pontos de instalação dos pluviômetros na microbacia de Santa Maria e Cambiocó Fonte: Adaptado MENEZES et al., 2006

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105

Figura 5.4 – Diagrama do sistema de coleta de dados16 meteorológicos da estação termopluviométrica de baixo custo. Fonte: MIRANDA; PEREIRA; MONAT (2002).

Figura 5.5 – Instrumentos de monitoramento termopluviométrico no posto Santa Maria (C12), altitude 156 m17 Fonte: Acervo próprio 16 Os pluviômetros utilizados para coleta de dados, são os de báscula. Esse tipo de sensor automático de medida da chuva é de baixo custo e de simples operação. Ressalta-se, no entanto, o estudo realizado por Sentelhas e Caramori (2002) sobre as inconsistências na medida da chuva com pluviômetros de báscula.em estações meteorológicas automáticas. 17 Na foto (a), observa-se, à esquerda, o Dr. Pedro Freitas, coordenador, na época, do Projeto Aqüíferos e, à direita, o professor Ricardo A. C. de Miranda, da UERJ. Na foto (b), o pesquisador Marconi Fonseca de Moraes.

(a) Implantação do modelo de totais diários pluviométricos (out /2003)

(b) Modelo termopluviométrico e de ajuste temporal (nov/2004)

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106

O posto C13, como dito anteriormente, difere no seu funcionamento em relação

aos demais postos termopluviométricos, pois o mesmo é acoplado a um data logger,

ajustado para armazenamento de dados de 15 em 15 minutos, cujo fornecimento de

energia para a bateria de 12 volts é feito através de um painel solar de 5W. Toda a

precipitação é conduzida por um funil a um dispositivo interno, o qual, a cada volume

predefinido que entra por gravidade, procede a um descarte dessa massa de água, ao

mesmo tempo que é posicionada uma segunda caçamba. A cada evento, um pulso

elétrico é enviado ao logger que o integra e armazena em memória. Como se sabe que a

cada pulso ocorreu a passagem de um volume conhecido, pode-se, a partir daí, pelo

sensor, determinar quantos mm precipitaram. A Figura 5.6 mostra a instalação do

sensor de precipitação e do sensor de temperatura acoplados aos sensores da estação

fluviométrica.

Figura 5.6 – Sensor de temperatura e pluviômetro (C13), instalado junto à estação fluviométrica Fonte: Acervo próprio

Após a instalação das estações pluviométricas (outubro de 2003), iniciaram-se o

monitoramento e a coleta dos dados. Para tanto, todos os três postos instalados na bacia

eram visitados diariamente, entre 9h e 10h da manhã. As leituras observadas foram

sensor de precipitação

sensor de temperatura

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anotadas18 em uma caderneta (Tabela 5.5), tomando-se o cuidado de observar sempre

as condições climáticas. A manutenção das estações foi realizada de forma periódica e

consistia em limpeza, substituição de baterias e aferições.

Tabela 5.5 – Cabeçalho das cadernetas utilizadas para anotar, diariamente,

as leituras registradas pelos pluviômetros

POSTO PLUVIOMÉTRICO: _____ MÊS___________ANO______

DIA HORA

LEITURA

PRECIPITAÇÃO

(mm)

CLIMA OBS

Fonte: Próprio autor

Posteriormente, em novembro de 2004, quando foram substituídos os

pluviômetros pelos termopluviômetros instalados precisamente nos mesmos pontos da

microbacia onde se processava o monitoramento anterior19, iniciou-se um novo

procedimento para a aquisição dos dados. As estações termopluviométricas foram

ajustadas para obtenção de dados num intervalo de tempo de 15 em 15 minutos,

armazenando-os, facilitando e aumentando a discretização do intervalo de tempo de

aquisição dos dados registrados. As visitas às estações passaram a ser quinzenais,

quando se elaborou uma ficha descritiva para cada estação (Anexo A).

Para a coleta dos dados, conectava-se à estação um palm desktop, cujos dados

baixados eram posteriormente transferidos para um microcomputador, que, através de

um programa executável (Db2asc), converte os valores para mm de chuva. As limpezas

e a substituição de baterias se processaram de forma rotineira a cada ida ao campo para

coleta de dados.

18 Para aquisição das leituras, foi contratado um técnico, residente na bacia de Santa Maria/Cambiocó. 19 Exceto para o pluviômetro 11, posto João Linhares, para o qual o local passou a ser a própria seção fluviométrica.

A B C D

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108

O procedimento de monitoramento para aquisição de dados do

termopluviômetro C13 será explicado seção 5.3, quando for descrito o monitoramento

da estação fluviométrica.

5.3 Monitoramento hidrossedimentométrico

5.3.1 Escolha do local

Para o estabelecimento da seção fluviométrica, foi realizado um estudo,

procurando relacionar o local mais favorável à obtenção de dados, visando a um menor

custo resultante das instalações e infra-estrutura necessárias à instalação do posto.

Ainda, como será detalhada mais adiante, a escolha da seção foi limitada e

contextualizada, respeitando a população local, conforme a organização estabelecida

dentro dos preceitos da gestão participativa.

Efetuou-se um levantamento do trecho do rio no ponto de encontro dos córregos

de Santa Maria e Cambiocó, local escolhido para o monitoramento. Este teve como

objetivo ressaltar as características físicas de que depende a estabilidade da relação cota-

descarga, sendo determinado para o ponto de instalação da seção de monitoramento um

leito com base rochosa (Figura 5.7).

Figura 5.7 – Local da estação fluviométrica: leito rochoso Fonte: Acervo próprio

Local da estação

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109

A seguir são discutidos os diversos aspectos que foram levados em conta na

análise do local para instalação da estação fluviométrica.

(i)A natureza do leito

Após a junção dos dois córregos, o curso d’água percorre um leito rochoso, de

maior estabilidade, não possuindo formação de meandros e apresentando uma

declividade favorável ao estabelecimento da curva chave. Nota-se ainda a existência de

uma pequena barragem a montante do leito rochoso, propiciando o controle da descarga

e a facilidade na implantação da régua linimétrica. Vale ressaltar que, a jusante do leito

rochoso, o rio não recebe nenhum afluente, o que assegura a não-existência de cheias

eventuais, e/ou formação de remanso.

(ii) Vegetação

O recobrimento vegetal ao longo da margem propicia uma estabilidade das

margens e não gera resistência significativa ao escoamento.

(iii) Variação do nível

De grande importância, mas de difícil apreciação para as condições do

escoamento no local. Observa-se variabilidade interanual e, segundo moradores locais,

os níveis de cheia chegam em algumas ocasiões a atingir o nível da estrada, levando a

um desnível de 4m em relação ao seu leito natural. Essas informações, adquiridas já nas

primeiras visitas de reconhecimento do local, contribuíram para a estratégia estabelecida

para o monitoramento, levando inclusive à opção de estabelecimento de seção de

monitoramento mista e construção de uma pequena ponte de madeira para infra-

estrutura no monitoramento nas épocas de cheia.

A regularidade do trecho de escoamento a montante da seção de medição foi um

fator importante a considerar para a seleção do local. Foi analisada também a facilidade

existente para a operação do processo de medição, como, por exemplo, as condições

favoráveis para a construção da ponte suspensa para a medição de velocidades do fluxo

da água com uso de molinetes na época de cheia.

Observa-se que a pequena travessia pavimentada existente no local seria

extremamente conveniente para o estabelecimento do posto. No entanto, verificou-se

uma grande rejeição por parte da população residente, que usa o local para pesca, área

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111

Figura 5.9 – Ponte construída para monitoramento fluviométrico (dez. 2004) Fonte: Acervo próprio

No posto fluviométrico, além dos níveis d'água a montante do vertedor, estão

sendo monitoradas as alturas pluviométricas, as temperaturas e a concentração de

sedimentos. O monitoramento é automático, para o qual foi selecionada uma estação

SOLAR 2000 (SOLAR INSTRUMENTAÇÃO LTDA). Nas Figuras 5.10 a, b e c, são

apresentados a localização da estação e os pontos importantes para o monitoramento.

Foi construído um pilar de concreto a montante do vertedor, onde foram posicionados

os sensores de nível e de sedimentos, sendo fixada também uma régua linimétrica em

alumínio anodizado, com escala graduada de 1cm em 1cm .

Travessia Pavimentada Existente

Ponte Suspensa Construída

Vertedor

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(a) Localização da estação Solar, junto ao posto fluviométrico

(b)21 Estação solar – monitoramento das alturas pluviométricas, as temperaturas, a concentração de sedimentos, níveis e vazões

Figura 5.10 (a, b e c) – Detalhamento do posto fluviométrico Santa Maria/Cambiocó Fonte: Acervo próprio

Na Tabela 5.6, são apresentadas as características e componentes da

estação SOLAR 2000. Os sensores de temperatura, de nível, de concentração de

21 Observa-se, à direta da estação, a bolsista de iniciação científica da UERJ Priscila Ribeiro Moreira e o Professor Rui Carlos Vieira da Silva, quando na visita ao campo, juntamente com a Professora Luciene Pimentel da Silva e o próprio autor em 9 de agosto de 2005, para acompanhar o monitoramento das estações pluviométricas e fluviométrica.

Estação Solar

Pilar

Vertedor

(c) Régua linimétrica

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113

sedimentos e pluviômetro de báscula operam integrados a um logger para

armazenamento de dados, painel solar e bateria de 12v (Anexo B).

Tabela 5.6 – Estação Hidrossedimentológica SL 2000 MIM, SOLAR Instrumentação Ltda.

COMPONENTES DEFINIÇÃO ESPECIFICAÇÃO

Coletor de dados Transporta dados da estação para o Laboratório

Comporta-se como um computador para a estação e como uma estação para o computador

Data-Logger Armazenamento de dados Memórias EEPROM (15 min, 31750 registros)

Painel solar Energia 5 W ou 10 W

Bateria Energia 7.0 Ah, 12 v

Data-tempo Relógio próprio de bordo Programar o intervalo de tempo para totalização dos dados (20s até dias)

Sensor de nível Coluna-d'água Funciona imerso na água, no ponto em que se deseja medir. Valendo-se de um sinal elétrico, quantifica a pressão da coluna d'água desde o sensor até a superfície livre, a atmosfera.

0.0 – 3.5 m

Sensor de Sedimentos Sedimentos em suspensão Massa em suspensão (opaca). Funciona com base em sensores de luz; refletindo ou impedindo a passagem da luz.

0 – 2500ppm

Pluviômetro Tipo “tipping-bucket” Resolução 0.254 mm - passível de calibração

Obs.: A estação não é acompanhada de notebook. Fonte: PIMENTEL et al. (2005)

A operação do posto iniciou-se em abril de 2005. Em janeiro, foi feita a

calibração do vertedor no local, onde, através de medições21 com uso de micro-molinete

fluviométrico em diferentes estágios do nível d'água, desenvolveu-se a curva de

calibração para vertedor (Figura 5.11).

No Anexo C, é apresentada a tabela para o cálculo das velocidades, o

levantamento de pontos na seção de monitoramento e as vazões obtidas com o micro

21 As medições de descarga para calibração do vertedouro contaram com o apoio da CPRM.

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114

molinete. A partir deste estudo, concluiu-se que seria aceitável considerar o valor do

coeficiente da equação teórica para vertedor tipo cipoletti (Trindade Neves, 1979), igual

a 1,86. Assim foi então estabelecida a curva-chave para as vazões do vertedor (Figura

5.12), que foi aplicada na determinação das mesmas.

Figura 5.11 – Calibração do vertedor: uso micro molinete

Fonte: Acervo próprio

Figura 5.12 – Curva-chave – seção vertedouro – posto fluviométrico Fazenda João Linhares Fonte: PIMENTEL et al., 2005

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115

Para medições de vazões médias e máximas, realizaram-se algumas medições

pelo método do molinete. Nesse caso, um molinete Teledine Gurley, para o

levantamento das velocidades, foi devidamente ajustado e calibrado no Laboratório

(Hidromec Cia. Ltda. – RJ). Essas medições de vazões para vertedor afogado foram

feitas usando a ponte suspensa, sendo acoplada uma “vara” de ferro ao molinete,

possibilitando assim o seu posicionamento no sentido do fluxo d’água (Figura 5.13).

No Anexo D, são apresentados os pontos de medição da descarga líquida para o

vertedor afogado.

Figura 5.13 – Medições de velocidades com molinete, período de cheia: posto fluviométrico João Linhares Fonte: Acervo próprio

Ao todo, foram feitas cinco medições com o vertedor afogado, cobrindo a

variação de níveis d’água entre 22cm e 45cm. A partir de algumas tentativas de ajuste

de tendência no Programa Computacional EXCEL®, foi estabelecida a curva-chave

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116

para esse trecho. A representação gráfica do ajuste, a equação e o coeficiente de

determinação (R2) para a função escolhida são apresentados na Figura 5.14. Essas

medições não cobrem, no entanto, toda a amplitude de variação dos níveis d’água.

Verificou-se que, em junho e dezembro de 2005, janeiro, fevereiro e abril de 2006, o

nível máximo observado nas medições foi ultrapassado. No futuro, serão feitos outros

estudos e medições no sentido de estender o trecho superior da curva-chave. No

momento, no entanto, para efeito de cálculo das vazões médias mensais e estimativas de

disponibilidade hídrica, não foram adotadas na estimativa das vazões essas cotas

extremas.

Figura 5.14 – Curva-chave – seção vertedor afogado – posto fluviométrico João Linhares Fonte: Próprio autor

Conforme recomendado na literatura Jaccon e Cudo (1989), foram instaladas

duas referências de nível (RNs) locais no posto fluviométrico. Isso permite, numa

eventualidade, por motivos de enchentes ou atos de vandalismo, o restabelecimento da

localização das réguas e todo o aparato do posto. Para isso, foram realizados junto à

seção de monitoramento, o levantamento planialtimétrico e o perfil longitudinal do

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117

posto com as marcações de 2RNs (Anexo E). Na Figura 5.15, podem ser identificados

o RN1 (parafuso chumbado diretamente sobre a rocha), situado à margem esquerda da

seção de monitoramento e o RN2 (placa de bronze, com base de concreto, fixada ao solo

próximo à base da ponte suspensa), situado à margem direita.

Figura 5.15 – Posicionamento das Referências de Nível – posto fluviométrico João Linhares Fonte: Acervo próprio

As visitas ao posto fluviométrico foram, até recentemente, em média, semanais23

e, atualmente, têm sido quinzenais. Nessas visitas, são verificadas as condições de

operação de todos os sensores e do pluviômetro; são feitas, quando necessárias, capina e

limpeza do terreno; é observada a existência de carga na bateria; a troca de elementos

quando necessária e download dos dados com auxílio do notebook ou do coletor de

dados da estação (Anexo F). Posteriormente, nesse caso, os dados são transferidos em

escritório para PC e armazenados em arquivos digitais/banco de dados. Foi

23 Embora a autonomia da estação para monitoramento em intervalos de 15 minutos seja maior que sete dias, a visita tem sido semanal de forma a minimizar falhas de observação. Após o término das obras do posto fluviométrico e instalação do posto, foram observadas falhas devido a defeitos na estação com necessidade de substituição de componentes, sendo que, em uma das vezes, verificaram-se perda de dados. Verificou-se ainda um evento de vandalismo no sensor de nível.

RN1

RN2

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118

desenvolvida, conforme prática dos serviços de operação da CPRM, a ficha descritiva

da estação (Anexo G). A cada visita, é desenvolvido um pequeno relatório, informando

as condições encontradas e os serviços realizados.

O monitoramento foi programado na estação para intervalos de 15 minutos. A

equação de calibração do sensor de níveis24 foi desenvolvida em laboratório pelo

fabricante da estação SOLAR, mas, devido à magnitude dos níveis observados, foram

necessários alguns ajustes no local. Nas Figuras 5.16 e 5.17, são apresentadas algumas

das telas do software da Estação da SOLAR para configuração do aparato de

monitoramento. A equação de calibração do sensor de sedimentos foi feita através de

estudos que envolvem a coleta de amostras de solo na bacia hidrográfica e análises

laboratoriais.

Figura 5.16 – Tela de configuração da estação SOLAR, ajustada para intervalos de 15 minutos entre as leituras

24 O sensor de níveis é posicionado no fundo da calha fluvial e é, na verdade, um sensor de pressão. Considerando pressão atmosférica de referência igual a zero, é determinada e registrada a profundidade do curso d'água naquela seção.

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119

Fonte: Próprio autor

Figura 5.17 – Tela para a edição da expressão de escolha ou edição da curva-chave Fonte: Próprio autor

Em 2 de novembro de 2005, para se ter uma melhor representação e segurança

na obtenção dos dados de nível d’água do posto fluviométrico, foi instalado um novo

aparato para monitoramento dos níveis d’água. A nova estação é de fabricação da

Novus Produtos Eletrônicos Ltda. O software para configuração e aquisição dos dados é

o LogChart versão 1.20, que realiza a comunicação com o LogBox ligado ao sensor de

nível. Na Figura 5.18, são apresentadas as localizações dos aparatos de monitoramento

da NOVUS e o da SOLAR.

O LogBox é um equipamento microprocessado, dotado de memória não volátil,

que realiza aquisição de dados. Com o LogChart, é possível realizar a configuração de

parâmetros do LogBox, coletar dados do período de aquisição, visualizar estes dados e

salvá-los. Os requisitos mínimos de sistema para executar o LogChart são:

– microcomputador 486 IBM-PC compatível com 8MB de RAM, 5MB de disco

rígido e um monitor SVGA;

– sistema operacional Windows 95 ou windows NT.

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120

Figura 5.18 – Localização das estações SOLAR e NOVUS Fonte: Acervo próprio

Na próxima seção, são apresentados os dados obtidos no período de

monitoramento, dos postos pluviométricos e fluviométricos, bem como a análise de

consistência dos mesmos.

5.4 Análise de consistência de dados hidroclimáticos e fluviométricos

5.4.1 Dados pluviométricos

Apresenta-se a análise dos dados pluviométricos coletados nos três postos da

microbacia experimental/representativa de Santa Maria/Cambiocó. Inicialmente, foram

instalados, no ano de 2003, pluviômetros totalizadores de altura de chuva com memória.

Nessa época, havia um operador que, todos os dias pela manhã, fazia visita aos três

locais, anotando o total de chuva em 24 horas. Posteriormente, em novembro de 2004,

Estação Solar

Estação Novus

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121

esses pluviômetros foram substituídos por termopluviômetros automáticos. Os meses

em que ocorreram falhas não foram representados. Ressalta-se que o monitoramento,

embora sempre no mesmo local, foi feito por instrumentos diferentes em 2003 e 2004.

Em termos de totais anuais, a análise dos valores obtidos foi dificultada devido

às falhas no monitoramento. Observou-se coerência nos valores monitorados nos três

postos da bacia experimental e dos mesmos com os valores de Itaperuna. Devido à

proximidade do local em estudo com o município de Itaperuna, aproximadamente 35km

de distância, adotou-se, para efeito de comparação e confiabilidade dos dados obtidos na

microbacia experimental/representativa, o posto pluviométrico situado em Itaperuna.

Não foi observado comportamento tendencioso dos postos entre si ou do

comportamento dos três postos da bacia em estudo com o posto do INMET em

Itaperuna.

Na Figura 5.19, são apresentas as dispersões de pontos, relacionando os totais

mensais observados nos postos na bacia experimental e de cada um desses com os

valores observados em Itaperuna. Pode-se notar que, para o ano de 2005, através da

inclinação da linha de tendência, os maiores índices pluviométricos concentraram-se em

Itaperuna. Para o gráfico d, essa afirmativa não é valida. O posto C13 totalizou índices

maiores que em Itaperuna. Os dados entre os postos C10, C12, C13 e Itaperuna

apresentaram uma boa correlação, com exceção do posto C11 (gráfico b), que, além de

possuir poucos dados, pois o equipamento foi retirado, aqueles obtidos encontram-se

afastados da linha de tendência. Nota-se ainda que os totais mensais precipitados em

2006 foram menores em comparação com o ano de 2005. Menores também foram os

índices pluviométricos de Itaperuna com relação aos postos. O gráfico f foi o que

melhor se correlacionou com os dados de Itaperuna. Os gráficos e e g apresentam

pontos mais dispersos, mas nota-se uma compatibilidade da variação da chuva entre os

postos na microbacia e o posto de Itaperuna.

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122

(a) C10 X Itaperuna (b) C11 X Itaperuna

(c) C12 X Itaperuna (d) C13 X Itaperuna

(e) C10 X Itaperuna (f ) C12 X Itaperuna

(g) C13 X Itaperuna

Figura 5.19 – Comparação dos dados de chuva entre postos da bacia Santa Maria/Cambiocó e Itaperuna: anos 2005 e 2006

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123

Na Figura 5.20, são apresentados os totais mensais observados ao longo do

tempo. No ano de 2003, as diferenças nos dados coletados entre os postos

pluviométricos C10, C11 e C12 não foram tão significativas, mas percebe-se que, nos

postos instalados na cabeceira da microbacia – C10 e C12 –, os índices pluviométricos

são maiores. Para esses meses de 2003, no posto de Itaperuna, o total precipitado foi

menor do que os totais registrados na microbacia. Esse comportamento, mais ou menos,

se repete ao longo dos anos, com exceção para março e, sobretudo, abril de 2005, em

que o total observado em Itaperuna superou bastante àqueles observados na bacia

experimental. No ano de 2004, nos meses de março, junho e julho, nota-se uma maior

incidência de chuva no exutório da microbacia representativa do que na cabeceira,

acontecendo o inverso do que foi observado em 2003.

A maior concentração de precipitação para o ano de 2004 ocorreu em janeiro,

chegando a ultrapassar 400mm em cada posto. No decorrer dos outros meses, esse valor

foi diminuindo até o mês de julho, que registrou aproximadamente 51mm em cada

posto. Em Itaperuna, no período de junho a novembro, o total mensal precipitado não

ultrapassou 20mm. Destaca-se que não houve precipitação durante o mês de novembro.

A ausência de dados no período de agosto de 2004 a janeiro de 2005 deveu-se a

problemas na coleta de dados dos pluviômetros e termo pluviômetros.

Em 2005, a partir do mês de abril, o termopluviômetro C11 foi substituído pelo

C13, acoplado à estação fluviométrica. Nota-se que o mesmo apresenta sempre valores

de precipitação no exutório da bacia maiores do que na nascente dos córregos,

estendendo esse comportamento também para o ano 2006. Ressalta-se a possibilidade

de comportamento tendencioso entre os equipamentos. Já que essa tendência coincide

com a substituição do instrumento de monitoramento no exutório da bacia experimental.

Observa-se ainda, para o ano de 2005, um período de estiagem entre os meses de junho

a agosto. Já em dezembro de 2005, nota-se que praticamente a incidência de chuva foi

reduzida à metade, se comparada à do mês de dezembro de 2003.

Para o ano de 2006, observa-se também que as maiores precipitações ocorreram

no exutório da bacia, registros do posto C13, em comparação com os postos instalados

na cabeceira, C10 e C12. O comportamento de redução de chuvas no decorrer dos

meses é também constatado pelos registros do posto de Itaperuna.

De fato, observou-se, ao longo do período de monitoramento, variabilidade

interanual no comportamento das chuvas. Após a substituição do pluviômetro,

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124

constatou-se a tendência de observação de maiores totais no exutório do que nas partes

mais altas da bacia. Infelizmente, não foi possível superposição no monitoramento com

os dois instrumentos, de modo a afirmar, com maior certeza, que esta é uma tendência

de fato na distribuição espacial das chuvas. Na bacia experimental, os maiores totais

foram observados nos meses de dezembro de 2003, da ordem de 400mm, e janeiro de

2004, da ordem de 500mm. Ressalta-se, no entanto, que, nesse período, o instrumento

de monitoramento foi diferente do que o utilizado nos outros anos. O período de

estiagem se concentra entre os meses de abril a setembro. O período de estiagem mais

crítico foi observado no ano de 2006, nos meses de junho, julho e agosto. Confirma-se

essa situação com os dados de Itaperuna, no mesmo período em 2006, quando foram

observados valores mínimos.

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125

Figura 5.20 – Comparação entre os dados pluviométricos coletados na microbacia representativa de Santa Maria/Cambiocó e o posto de Itaperuna.

Comparação das Precipitações entre as Estações

0

100

200

300

400

500

600

Out

ubro

Nov

embr

oD

ezem

bro

Jane

iroFe

vere

iroM

arço

Abril

Mai

oJu

nho

Julh

oAg

osto

Sete

mbr

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utub

roN

ovem

bro

Dez

embr

oJa

neiro

Feve

reiro

Mar

çoAb

rilM

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Junh

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Agos

toSe

tem

bro

Out

ubro

Nov

embr

oD

ezem

bro

Jane

iroFe

vere

iroM

arço

Abril

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oJu

nho

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oAg

osto

Sete

mbr

oO

utub

roN

ovem

bro

Dez

embr

o

Meses

Prec

ipita

ção

(mm

)

C 10 C 11 C 12 C 13 Itaperuna

2004 20052003 2006

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126

5.4.1.1 Análise das intensidades de chuva

Ressalta-se que os dados para análise são referentes aos anos de 2005 e 2006,

visto que, a partir de janeiro de 2005, iniciou-se o monitoramento dos dados de chuvas

discretizados. Os intervalos de tempo analisados foram: 15, 30, 45, 60, 75, 90 minutos.

a) Período de maior precipitação

A maior concentração de chuva ocorreu no mês de dezembro no ano de 2005. As

intensidades de chuva em cada posto, para os mesmos intervalos, foram variadas. Para o

posto C12 e C13, as máximas intensidades foram de 15,81mm/h num intervalo de

45min e de 36,04mm/h com intervalo de 15min, ambas registradas no mês de dezembro

de 2005. Já para o posto C10, a máxima foi de 14,41mm/h num intervalo de 90min em

janeiro de 2006.

As intensidades de chuvas foram classificadas de acordo com a Tabela 5.7,

segundo a qual, para o posto C10 e C12, obtiveram-se intensidades suaves e moderadas

e, no C13, além de suaves e moderadas, intensidades fortes.

Tabela 5.7 – Classificação das intensidades de chuva

Intensidades(mm h –1) Classificação

< 2,0 Suave

2-20 Moderada

20-50 Forte

50-90 Muito Forte

>90 Torrencial

Fonte: MACEDO, J. R. (2005)

b) Período mais seco

O mês de agosto de 2005 foi o que menos totalizou índices pluviométricos nos

três postos. As intensidades foram da ordem de 0,68mm/h, 1,32mm/h e 1mm/h para os

postos C10, C12 e C13, respectivamente, sendo elas classificadas entre suaves e

moderadas.

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127

5.4.1.2 Análise dos períodos mais chuvosos e mais secos

a) Mês com menor precipitação

Com base nos dados de chuva do período de outubro de 2003 a agosto de 2006,

o mês de maio de 2004 foi o mais seco. Foram registrados 29, 28, 29 dias secos para os

postos C10, C11 e C12, respectivamente. Em Itaperuna, foram registrados 25 dias

secos.

b) Período mais longo sem chuva.

Maio foi o mês mais seco, em média 29 dias sem chuva, mas o período mais

longo sem chuva deu-se entre os meses de junho e julho de 2004, quando os três postos

totalizaram 33 dias secos. Em Itaperuna o período mais longo ocorreu entre os meses

de agosto e setembro de 2004, com 20 dias secos.

c) Análise da época mais chuvosa e da mais seca

A região apresenta um período chuvoso que vai de outubro até abril. O mês de

janeiro de 2004 foi o que apresentou os maiores índices pluviométricos para os postos

de Santa Maria/Cambiocó, sendo esses valores da ordem de 500mm. Analisando dados

do mesmo período, em Itaperuna, o mês mais chuvoso foi março de 2006, com

299,4mm. O período mais seco corresponde aos meses de junho, julho e agosto. No ano

de 2006, nesse período, os totais mensais precipitados variaram entre 3,50 e 10mm.

Tanto na área de estudo quanto em Itaperuna, junho foi o mês mais seco.

5.4.2 Dados de temperaturas Os dados adquiridos no monitoramento das temperaturas através dos três

termopluviômetros instalados na microbacia experimental de Santa Maria/Cambiocó

são apresentados através das médias diárias no período de fevereiro de 2005 a agosto de

2006. Os dados são representados de forma comparativa entre os registros dos postos

C10, C11, C12 (instalados em novembro de 2004) e C13 (substitutiva do C11), além da

comparação destes postos com os dados dos postos de Itaperuna e de Miracema24.

24 Dados obtidos do site http://www.inmet.gov.br. Posto climatológico principal de Itaperuna situado no no município de Itaperuna, de responsabilidade do INMETE. A localização dos municípios de Itaperuna e Miracema em relação ao município de São José de Ubá pode ser vista no item 4, figura 4.1.

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128

5.4.2.1. Análise das temperaturas médias diárias

Os valores das médias diárias de temperatura foram determinados a partir da

média aritmética entre a temperatura máxima e mínima diária e são apresentadas na

Figuras 5.21a a k. Os valores variaram entre 10ºC e 39ºC, sendo as temperaturas mais

altas registradas em outubro e as mais baixas em julho. A maior média diária foi

observada no mês de março e a menor no mês de julho.

Até o mês de abril de 2005, observa-se certa dispersão nos valores médios de

temperatura (Figuras 5.21 a, b e c). Nos meses subseqüentes, observa-se maior

homogeneidade no comportamento das temperaturas médias registradas, principalmente

nos meses de novembro e dezembro de 2005. Destaca-se uma ligeira tendência de

registro de temperaturas médias menores na bacia experimental do que em Itaperuna.

Talvez isso se justifique pela maior urbanização identificada nesse município.

No início do monitoramento, fevereiro de 2005, até aproximadamente o dia 20,

observa-se que os dados apresentam-se de maneira homogênea. No entanto, logo

depois, nota-se uma queda brusca de temperatura no posto de Itaperuna e, ao contrário,

uma elevação registrada pelo posto C11. Verifica-se que este aumento na temperatura

média prolonga-se até o dia 15 do mês subseqüente – março de 2005. Atribui-se este

comportamento diferenciado a uma possível falha no sensor, o qual foi reajustado em

campo.

No mês de abril de 2005 (Figura 5.21 c), constata-se uma oscilação nos valores

de temperaturas médias dos dias 14 a 25 no posto de Itaperuna. O mesmo não ocorreu

na bacia experimental em estudo, visto que os registros dos postos C10, C11 e C13 são

compatíveis entre si. Chama atenção a queda de temperatura ocorrida no dia 28, registro

comprovado em todos os postos da bacia, como também em Itaperuna.

No mês de maio de 2005, observa-se a homogeneidade no comportamento dos

dados de temperaturas. Em junho de 2005 (Figura 5.21 e), observa-se uma temperatura

média mensal em torno de 22°C em grande parte do mês. As temperaturas médias

registradas no posto de Itaperuna são um pouco mais altas, mas, mesmo assim, a

variação dos dados, ao longo do mês, observa a mesma tendência.

Tanto no mês de julho como no mês de agosto, percebe-se que a variação das

temperaturas dos postos C10 e C12, ambos nas cabeceiras da bacia, apresenta boa

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129

concordância com os valores observados de Itaperuna. O mesmo não foi observado para

o posto C13. Embora, no mês de outubro de 2005 (Figura 5.21i), o termopluviômetro

C12 estivesse fora de operação (em reparos), observa-se que, nesse mês, os dados

registrados nos outros postos estão compatíveis entre si. O mesmo comportamento se

estende até dezembro de 2005. Atenuando assim, os prejuízos e perda de dados devido à

paralisação do posto C12.

1517192123252729

1 4 7 10 13 16 19 22 25 28 31Dias

°C

1718192021222324252627

1 4 7 10 13 16 19 22 25 28Dias

°C

15

20

25

30

35

40

1 4 7 10 13 16 19 22 25 28Dias

°C

0

5

10

15

20

25

30

35

40

1 4 7 10 13 16 19 22 25 28Dias

°C

0

5

10

15

20

25

30

1 4 7 10 13 16 19 22 25 28 31Dias

°C

15

20

25

30

35

40

1 4 7 10 13 16 19 22 25 28 31Dias

°C

05

101520253035

1 4 7 10 13 16 19 22 25 28Dias

°C

1517192123252729313335

1 4 7 10 13 16 19 22 25 28 31Dias

°C

(k) Dezembro 2005

(g) Agosto 2005 (h) Setembro 2005

15

17

19

21

23

25

27

29

1 4 7 10 13 16 19 22 25 28 31Dias

°C

(e) Junho 2005 (f) Julho 2005

(a) Fevereiro 2005 (b) Março 2005

15

1719

21

23

2527

29

31

1 4 7 10 13 16 19 22 25 28Dias

°C

(c) Abril 2005 (d) Maio 2005

___C10 ___C11 ___C12 ___C13 ___Itaperuna

0

5

10

15

20

25

30

35

1 4 7 10 13 16 19 22 25 28 31

Dias

°C

(i) Outubro 2005 (j) Novembro 2005

Figura 5.21 – Temperaturas médias diárias – 2005 Fonte: Próprio autor

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130

Verificando ainda as temperaturas médias diárias, em 2006, no mês de janeiro

(Figura 5.22a), que geralmente apresenta temperaturas altas constantemente, observa-

se que a temperatura de aproximadamente 33°C no dia 26, diminui para 24°C no dia 28.

Atribui-se esse elevado gradiente térmico à ocorrência de chuvas.

Para os meses de fevereiro e março, assim como para o mês de janeiro, as curvas

estão bem próximas, mostrando grande confiabilidade dos dados adquiridos. Somente

no mês de fevereiro o posto de Itaperuna registrou temperaturas mais elevadas do que

na microbacia.

No mês de abril (Figura 5.22d), embora o sensor de temperatura C13, posto de

monitoramento no exutório da bacia, tenha apresentado falhas e seus dados tenham sido

desconsiderados, isso não veio a comprometer a análise das temperaturas na microbacia.

Percebe-se grande coerência entre o posto C10 e C12, cabeceira da microbacia e o posto

de Itaperuna

Ao analisar o mês de maio de 2006, ressalta-se a importância para esse tipo de

trabalho da existência de vários pontos de monitoramento. Nota-se que os valores de

temperatura no posto C11 estão mais elevadas, enquanto o C12 assume um

comportamento mensal bem mais próximo ao registrado no posto de Itaperuna.

Considerando as variações apresentadas na Figura 5.22 f, correspondente ao

mês de junho, ressalta-se o registro do dia 15, quando a temperatura no posto de

Itaperuna de 22,5°C baixou para 12°C, isso foi devido à não-confirmação da

temperatura máxima do decorrente dia, sendo utilizado pelo INMET o valor mínimo

registrado.

No mês de julho de 2006, nota-se a falha de dados entre o 1° e 17° dias, pois o

sensor de temperatura do posto C10 não registrou os dados, falha possivelmente

causada por descarga elétrica, mas nota-se a semelhança dos dados do posto C12 com o

posto de Itaperuna, inclusive a queda de temperatura do dia 29 ao dia 31.

Ao concluir a análise para os dados registrados até agosto de 2006, quando foi

reinstalado o sensor de temperatura do posto C13 e prosseguindo com o monitoramento

no exutório da microbacia, embora o posto de Itaperuna apresente, ao longo do mês de

agosto, alguns valores altos de temperatura, constata-se, pela aproximação das curvas, o

mesmo registro entre os três postos de monitoramento, principalmente entre os dias 18 e

27.

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131

Figura 5.22 – Temperaturas médias diárias – 2006 Fonte: Próprio autor

Para o período em que operaram de forma concomitante os equipamentos da

SOLAR (C13) e da UERJ (C11), foram analisadas as temperaturas mínimas, médias e

máximas representadas pela Figura 5.23. Observa-se grande coerência na variação das

temperaturas e nos valores das temperaturas médias diárias. No caso das temperaturas

máximas, o equipamento desenvolvido pela UERJ tendeu a registrar valores mais

elevados, enquanto para as mínimas observa-se o inverso.

15

20

25

30

35

40

1 4 7 10 13 16 19 22 25 28 31Dias

°C

15

20

25

30

35

40

1 4 7 10 13 16 19 22 25 28Dias

°C

15

20

25

30

35

40

1 4 7 10 13 16 19 22 25 28 31Dias

°C

0

5

10

15

20

25

30

35

1 4 7 10 13 16 19 22 25 28 31Dias

°C

0

5

10

15

20

25

30

1 4 7 10 13 16 19 22 25 28 31Dias

°C

0

5

10

15

20

25

30

35

1 4 7 10 13 16 19 22 25 28Dias

°C

0

5

10

15

20

25

30

35

40

1 4 7 10 13 16 19 22 25 28 31Dias

°C

0

5

10

15

20

25

30

1 4 7 10 13 16 19 22 25 28Dias

°C

(a) Janeiro 2006 (b) Fevereiro 2006

(d) Abril 2006 (c) Março 2006

(f) Junho 2006 (e) Maio 2006

(g) Julho 2006 (h) Agosto 2006

___C10 ___C11 ___C12 ___C13 ___Itaperuna

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132

Figura 5.23 – Análise das temperaturas nas estações C11 e C13: exutório da microbacia Santa Maria/Cambiocó

5.4.2.2 Avaliação do horário de ocorrência dos registros máximos e mínimos

de temperatura

A Figura 5.24 apresenta a análise de freqüência do horário de ocorrência das

temperaturas máximas entre fevereiro de 2005 e agosto de 2006. Observa-se que as

máximas foram registradas geralmente entre 10h e 14h, sendo o horário das 12h às 13h

o período de maior freqüência. Observa-se, no entanto, registro de máximas com

pequena freqüência nos horários das 8h às 9h, horário incompatível para essas

ocorrências. Possivelmente devido a alguma sobrecarga de energia no sistema ou falha

do mesmo.

Ressalta-se ainda a maior freqüência de registros em horários inconsistentes no

posto C13. Para os horários das mínimas, os postos C10, C11, C12 e C13 apresentaram

as maiores freqüências entre 2h e 5h, sendo o período de maiores ocorrências entre 4h e

5h. Foram registrados eventos de mínimas com menores freqüências nos períodos entre

22h e 1h. Da mesma forma, como no caso de temperaturas máximas, foram também

observados registros mínimos em horários inconsistentes, com predominância desses

registros no posto C10. Verifica-se ainda que o horário de ocorrência das mínimas

variou mais do que o das máximas.

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133

Figura 5.24 – Horário de ocorrência das temperaturas máximas e mínimas

5.4.2.3 Análise da variação diária das temperaturas

Na análise da variação diária das temperaturas, foram escolhidos dois dias, um

no período de verão e outro no inverno; ambos para o posto C10, por apresentar

menores falhas no equipamento e melhor correlação com os registros de Itaperuna.

Na variação diária da temperatura do dia 19/02/05 (Figura 5.25a), observa-se

que a temperatura mínima de 22,6°C teve seu registro às 3h51. A partir deste horário, a

temperatura foi variando de forma crescente até as 14h36, quando foi registrado um

valor de 31,2°C. Após ter atingindo o valor máximo, a temperatura volta a decrescer,

chegando a 23,4°C às 22h06.

No dia 01/07/05, a temperatura mínima registrada foi de 18,4°C, às 4h44

(Figura 5.25b). Posteriormente, a temperatura vai aumentando até o horário das 12h44,

quando se registrou uma máxima diária de 28,5°C. Observa-se que, após atingir a

máxima temperatura, foi diminuindo, voltando a 18,8°C às 23h44.

Ressalta-se que, em grande parte do dia, as temperaturas, tanto no verão quanto

no inverno, se encontram em uma faixa superior a 23°C, no intervalo das 8h às 19h, o

que resulta em altas taxas de evaporação, mesmo nos dias de inverno.

Horários de Ocorrência das Temperaturas Máximas e Mínimas

0

50

100

150

200

250

300

0h - 1h

2h - 3h

4h - 5h

6h- 7h

8h- 9h

10h - 1

1h

12h - 1

3h

14h - 1

5h

16h - 1

7h

18h - 1

9h

20h - 2

1h

22h -2

3h

Horas

Oco

rrên

cias

Mínima C10 Mínima C11 Mímina C12 Mínima C13 Máxima C10 Máxima C11 Máxima C12 Máxima C13

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134

(a) Verão (b) Inverno

Figura 5.25 – Variação diária das temperaturas

5.4.2.4 Análise das temperaturas médias mensais

Na Figura 5.26, são apresentadas as análises cruzadas entre as temperaturas

médias mensais dos postos da bacia experimental. Em todos os casos, observa-se pouca

dispersão dos pontos, sendo que, conforme esperado, as temperaturas para o posto C11,

exutório da bacia, parecem mais elevadas do que em C10. Observa-se que a dispersão

dos pontos de temperaturas médias mensais tende a formar uma reta de 45°,

demonstrando que há pouca variação espacial das temperaturas.

(a) C10 x C11 (b) C10 x C12

Figura 5.26 – Análise das temperaturas médias mensais na bacia experimental de Santa Maria/Cambiocó

(c) C10 x C13

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135

As temperaturas médias mensais na microbacia experimental em estudo foram

ainda analisadas em relação às temperaturas médias de Itaperuna, para os anos de 2005

e 2006, conforme Figuras 5.27 e 5.28, respectivamente, e as temperaturas médias de

Miracema, Figura 5.29. Observa-se uma boa relação na dispersão dos pontos. Constata-

se, para os dois anos, no entanto, que as temperaturas médias mensais no posto de

Itaperuna são mais elevadas do que as registradas na microbacia experimental de Santa

Maria/ Cambiocó.

Para o ano de 2005, nota-se que os pontos referentes aos postos situados no

exutório da microbacia (Figuras 5.27b e d) apresentam melhores resultados na

dispersão dos pontos do que os outros postos, situados na cabeceira.

(a) (b)

(a) (b)

(c) (d)

Figura 5.27 – Temperaturas médias mensais na bacia experimental e em Itaperuna - ano 2005

26 Dados obtidos do site:< http://www.inmet.gov.br>.

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136

No ano de 2006, verifica-se uma melhor correlação para o posto C12, (Figura

5.28b) em relação aos outros postos. A ausência da comparação como posto C11 foi

devido à retirada do mesmo, como relatado no item 5.2.

Ressalta-se ainda, para o ano de 2006, que, na comparação das médias mensais,

o pequeno percentual de pontos da Figura 5.28c se deve a falhas no sensor de

temperatura, acarretando perdas de dados.

(a) (b)

(c)

Figura 5.28 – Temperaturas médias mensais na bacia experimental e em Itaperuna - ano 2006

Com relação à análise dos dados de Miracema (Figura 5.29) do ano de 2005,

observa-se maior compatibilidade entre eles, sobretudo para o posto C10. Observa-se

ainda que as temperaturas no posto de Miracema são mais baixas do que as registradas

na bacia em estudo. Não foi apresentada a comparação de temperatura média mensal no

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137

posto C12 x Miracema, pois os dados do posto de Miracema obtidos foram somente até

outubro de 2005, e o posto C12 até junho não estava instalado e, nos meses de julho e

novembro, o monitoramento mensal não foi completo devido às falhas na estação.

Figura 5.29 – Temperaturas médias mensais na bacia experimental e em Miracema - ano 2005

Na Figura 5.30a, é apresentada ainda a análise das temperaturas médias mensais

em Itaperuna e Miracema para o ano de 2005. E, na Figura 5.30b, a comparação do

posto de Itaperuna com a média histórica desse município para o ano de 2006. Verifica-

se uma melhor correlação na representação da dispersão dos pontos para o ano de 2005.

(a) Itaperuna e Miracema – ano 2005 (b) Itaperuna e Med. Hist. Itaperuna – ano 2006

Figura 5.30 – Temperaturas médias mensais

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138

5.4.2.5 Análise integrada das observações de chuva e de temperatura

Na Figura 5.31, são apresentados os gráficos que correlacionam as temperaturas

médias mensais e os totais mensais precipitados. No gráfico a, mostra-se a análise dos

dados históricos de uma série de 21 anos de dados do posto de Itaperuna. Nota-se que, à

medida que os totais mensais precipitados aumentam, as temperaturas médias mensais

também aumentam, exceto para o mês de março.

No ano de 2005, em Itaperuna, gráfico b, verifica-se uma mudança no

comportamento da curva de temperatura em relação aos totais mensais precipitados,

comparando com a análise dos dados históricos. Constata-se que, em alguns meses, as

temperaturas diminuíram com o aumento dos totais precipitados. Em análise do mesmo

gráfico, para o ano de 2006, nota-se um comportamento oposto em relação ao ano de

2005, com o aumento dos totais precipitados, as temperaturas se elevam e, com a

redução dos totais precitados, elas diminuem.

Para o gráfico c, no ano de 2005, a comparação entre os dados de temperatura e

chuva registrados mostra mais coerência do que os dados de 2006. Ressalta-se ainda o

comportamento da variação das temperaturas médias mensais para o ano de 2005, no

posto C10 e, no gráfico b, as curvas apresentam-se praticamente idênticas.

No posto C11, relativo ao gráfico d, embora com poucos pontos representados,

motivos relatados na seção 5.2, nota-se que, entre os meses de fevereiro e março, houve

um aumento na temperatura, mas de março para abril, em lugar de haver aumento de

temperatura, pois o total precipitado foi menor, há queda.

A curva que representa as temperaturas médias mensais para o ano de 2005 no

gráfico e apresenta descontinuidade devido à falta de dados. Constata-se, no entanto,

um aumento da temperatura de julho para agosto, período no qual o total precipitado se

reduz. Para o final do ano de 2005, a temperatura não apresentou variação, mesmo com

o considerável aumento da precipitação nos meses de novembro e dezembro.

A comparação do posto C13 (gráfico f) no ano de 2005 foi o que melhor

representou a tendência esperada. No ano de 2006, devido à falta de dados, não se pode

avaliar totalmente a variação da temperatura.

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139

(a) Dados históricos de Itaperuna – 1969/1990 (b) Itaperuna

(c) C10 (d) C11: ano 2005

(e) C12 (f) C13 Figura 5.31 – Comparação mensal entre os dados de temperatura e de chuva: anos 2005 e 2006

0

50

100

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350

Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

Meses

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pera

tura

Chuva Temperatura

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Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

Meses

Chuv

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05101520253035

Tem

pera

tura

Chuva - ANO 2005 Chuva - ANO 2006Temperatura - ANO 2005 Temperatura - ANO 2006

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Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

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Chuva - ANO 2005 Chuva - ANO 2006Temperatura - ANO 2005 Temperatura - ANO 2006

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Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

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Chuva Temperatura

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Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

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pera

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Chuva - ANO 2005 Chuva - ANO 2006Temperatura - ANO 2005 Temperatura - ANO 2006

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Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

Meses

Chu

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35

Tem

pera

tura

Chuva - ANO 2005 Chuva - ANO 2006Temperatura - ANO 2005 Temperatura - ANO 2006

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140

A Figura 5.32 é uma análise mais detalhada da figura 5.31 para os meses de

janeiro e junho, quando os índices precipitados tiveram maior e menor magnitude

respectivamente. Nota-se que o gráfico a apresenta uma ótima coerência entre os dados

do posto C12 e Itaperuna. Nota-se também que as chuvas ocorreram primeiro no posto

C12, instalado na cabeceira da microbacia e que, depois, atingiram o posto de Itaperuna.

Durante o mês de junho, tanto em Itaperuna quanto no posto C12, os índices

pluviométricos não chegaram a totalizar 3mm. E as curvas de temperatura apresentaram

uma variação maior entre o posto C12 e Itaperuna se comparadas a janeiro de 2006.

(a) C12 X Itaperuna – janeiro de 2006 (b) C12 X Itaperuna – junho de 2006

Figura 5.32 – Comparação diária entre os dados do posto C12 e Itaperuna: janeiro e junho de 2006

A Figura 5.33 apresenta o comportamento diário entre os dados de temperatura

e chuva para cada posto da bacia. Não há um gráfico para Itaperuna, pois não estavam

disponíveis os dados discretizados.

Nos três gráficos, a curva de temperatura apresentou uma boa coerência. A

temperatura do gráfico a, posto C10, diminuiu à medida que a quantidade de chuva

aumentou, sendo que, depois, a temperatura aumentou com a diminuição da quantidade

precipitada. No gráfico b, a temperatura começou a diminuir com o início da chuva e

permanecendo constante depois disso, pois a quantidade precipitada também não

apresentou variações. O mesmo comportamento verifica-se no posto C13, gráfico c.

Observa-se, no entanto, que o posto C13, situado no exutório da bacia, apresenta

maiores taxas pluviométricas do que os registros dos postos na cabeceira da mesma.

0

10

20

30

40

50

60

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1/jan/0

6

3/jan/0

6

5 /jan/0

6

7 /jan/0

6

9/jan/0

6

11 /jan/06

13/jan /06

15 /jan /06

17 /jan /06

19/jan/06

21 /jan/06

23 /jan /06

25/jan /06

27 /jan/06

29 /jan /06

31 /jan /06

Mese s

Chu

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0

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35Te

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ra

Chuva-C12 Chuva-ITA PE RUNA Tem p-C12 Tem p-ITAP E RUNA

0

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1/6/2

006

4/6/2

00 6

7/6/2

006

10 /6/20 06

13/6/2006

16 /6/20 06

19/6/2006

22 /6/2006

25/6/20 06

28 /6 /2006

Mese s

Chu

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0

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35

Tem

per

atu

ra

Chuva-C12 Chuva-ITA P ERUNA Temp-C12 Temp-ITAP E RUNA

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141

Figura 5.33 – Comparação diária entre os dados de temperatura e de chuva dos postos (27/01/2006)

5.4.3 Dados fluviométricos

No posto fluviométrico, conforme relatado anteriormente, foram monitorados os

níveis d’água e a concentração de sólidos em suspensão. Primeiramente, serão

discutidas as observações de variação dos níveis d’água, assim como a obtenção das

vazões pela curva-chave e, em seguida, as observações sobre sólidos suspensos, ainda

que este último não faça parte do escopo principal dessa pesquisa.

0

5

10

15

20

00:11

01:26

02:41

03:56

05:11

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23:56

Chu

va

05101520253035

Tem

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tura

(a) C10: 27 janeiro 2006

0

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01:19

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17:34

18:49

20:04

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22:34

23:49

Chu

va

0510152025303540

Tem

pera

tura

(b) C12: 27 janeiro 2006

0

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01:22

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03:52

05:07

06:22

07:37

08:52

10:07

11:22

12:37

13:52

15:07

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17:37

18:52

20:07

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22:37

23:52

Chuv

a

0510152025303540

Tem

pera

tura

(c) C13: 27 janeiro 2006

Chuva Temperatura

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142

5.4.3.1. Níveis d’água

Na Figura 5.34, são apresentados os níveis d’água registrados pela estação

SOLAR 2000 e o totais pluviométricos registrados a cada 15 minutos no período de

abril de 2005 a agosto de 2006. De forma geral, observa-se boa concordância, como

esperado, entre as variações dos níveis d’água e os registros pluviométricos. É ainda

assinalado o nível de afogamento do vertedouro, ou seja, o nível d’água em que a seção

do mesmo é ultrapassada.

Destaca-se que a maior cota de nível d‘água observada ocorreu no dia 28 de

janeiro de 2006, às 2h56, correspondente a 120,53cm, e a menor ocorreu no dia 23 de

junho de 2006, com registro de 53,48cm, às 10h9. Verificou-se ainda, com os dados

obtidos, que o menor período de cotas nulas na soleira do vertedor foi de quatro dias,

nos quatros primeiros dias do mês de janeiro de 2006, e o período mais longo com cotas

nulas na soleira foi de 33 dias, no período compreendido entre 30 de maio e 2 de julho

de 2006.

Em análise dos níveis observados, no mês de abril de 2005 (Figura 5.34a) , o

nível permaneceu mais ou menos constante, em torno de 60cm; e, no dia 23, houve um

aumento na cota, chegando-se a registrar 115,48cm. A falha no dia 13 foi devido a

reparos na estação e, nos dias 24 a 27, a interrupção foi devido a ato de vandalismo.

Durante o mês de maio, o equipamento não apresentou falhas e nota-se que não

houve variação considerável nas cotas de nível d’água.

Conforme se pode observar na Figura 5.34c, entre os dias 2 e 4 de junho de

2005, a cota do nível d’água alcançou um valor de 101cm, chegando a afogar o

vertedor, e a falha demonstrada no dia 8 representa reparos na estação.

Os registros referentes ao mês de julho de 2005 (Figura 5.34d) revelam uma

grande lacuna na aquisição dos dados, pois o equipamento instalado apresentou defeito.

A justificativa apontada pelo fabricante foi a de possível falha no sistema, devido à falta

de energia, bateria sem carga suficiente. Esta situação veio a reforçar a necessidade de

um constante monitoramento (idas ao campo) para verificar continuamente o

funcionamento de todo o sistema da estação, detectando, num menor período de tempo,

as falhas ocorridas. Por apresentar ainda algumas falhas, o sensor de nível foi retirado

para reparos e substituído por outro.

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143

Na Figura 5.34e, o sensor de nível registra uma constante oscilação nas cotas de

nível d’água na ordem de 2cm, representando a variação inconstante de 50cm e 48cm de

nível, falha caracterizada entre os dias 3 e 8 de agosto e, posteriormente, no dia 20,

ocasionada por falta de energia no sistema.

Nota-se, na Figura 5.34f, que, no dia 6 de setembro de 2005, o sensor registrou

uma variação de 9cm num intervalo de aproximadamente 15 minutos. O sensor foi

retirado por apresentar problemas (valores inconsistentes), e, após sua substituição,

verificou-se um comportamento mais homogêneo dos níveis d’água. Observa-se a

variação de 57cm para 103cm entre os dias 23 e 26 de setembro, em resposta ao evento

de chuva. O tempo de resposta às chuvas foi analisado e identificou-se que o tempo

decorrido entre o fim do evento pluviométrico e o ponto de recessão do hidrograma27 é

em média de 40 minutos, confirmando tempo de concentração calculado pelo método de

Kirpich, conforme apresentado no Capítulo 4, item 4.3.3.

O sensor de nível apresenta muitas oscilações no mês de outubro (Figura 5.34g)

e, embora não se verifiquem grandes precipitações, constatam-se alguns erros

registrados pelo sensor de nível. No período de 6 a 29 de outubro, devido a essa falha do

sensor, os dados foram perdidos.

Em face destas oscilações apresentadas no sensor de nível em outubro, no mês

de novembro, foram realizados alguns reparos. Na Figura 5.34h, observa-se que, após

ajustes no sensor, o comportamento do nível d’água é totalmente coerente com o dos

outros meses, destacando-se o aumento dos níveis com a incidência da precipitação.

Verifica-se, na Figura 5.34i, que a variação das cotas do nível d’água é mais

alta e ocorre num intervalo de tempo maior em relação aos meses anteriores. Em

análise realizada entre os dias 12 e 20, registram-se cotas da ordem 105cm, tendo sido a

máxima registrada no dia 2 de dezembro de 2005, com nível atingindo 107cm.

Na Figura 5.34j, constata-se que, embora janeiro seja um mês tipicamente

chuvoso, não houve grandes variações nos níveis d’água, como ocorrido no mês de

dezembro. Foram obtidos os registros de 120cm entre os dias 28 e 30 e de mínima de

49cm no dia 21 de janeiro de 2006.

Na Figura 5.34k, registrou-se um aumento de nível no dia 11, de

aproximadamente 92cm. Os picos referentes aos dias 12, 14 e 17 resultaram de falhas

27 Definido graficamente como o tempo de concentração da bacia hidrográfica.(McCuen et al., 1984)

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144

no sistema, não havendo aumento nas cotas do nível d’água nesse período. A máxima

registrada é de 101cm no dia 23 e a mínima de 57cm no dia 9 de fevereiro de 2006.

A variação do nível no decorrer do mês de março de 2006 (Figura 5.34l)

apresenta máxima de 101cm no dia 6 e mínima de 58cm no dia 27. Constatamos que,

após o dia 20, o nível permaneceu invariável na ordem de 60cm. No dia 26, houve uma

interrupção para reparos.

Na Figura 5.34m, comparando-se as informações constantes aos últimos dias do

mês de março de 2006, verifica-se que o nível continua inalterável (60cm) até o dia 13

de abril 2006, mas, no dia 15, há uma elevação na cota do nível d’água de

aproximadamente 105cm, decrescendo posteriormente até permanecer na cota de 56cm

no final do mês. O pico demonstrado no gráfico referente ao dia 17 é uma falha no

sistema da estação.

No mês de maio de 2006 (Figura 5.34n), pode-se observar o aumento do nível

d’água, que atingiu 97cm em resposta à precipitação ocorrida no dia 10 com registro

médio diário entres os três postos pluviométricos (C10, C12, C13) de 26,2 mm.

Observa-se ainda que o vertedor chegou a ficar afogado.

Na Figura 5.34o, observa-se que a máxima precipitação foi de 2,54mm e que o

nível permanece inalterado durante todo o mês. Ressalta-se o registro da menor cota de

nível d’água de 53,48cm no dia 23 de junho, a menor em todo o período de

monitoramento.

No mês de julho (Figura 5.34p), verifica-se, logo nos primeiros dias, um

aumento na variação do nível d’água, que se acredita ser devido à precipitação, mesmo

baixa, ocorrida no mês de junho. Constata-se que o nível permanece constante

posteriormente, seguindo um faixa de 55cm a 54cm durante o mês de agosto, Figura

5.34q.

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145

Junho 2005

50

60

70

80

90

100

110

120

130

140

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5 10 15 20 25 30

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0

5

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mm

"Precipitação"Nível d'água

Vertedouro afogado

Agosto 2005

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50

55

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Data

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0

2

4

6

8

10

12

14

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18

20

mm

"Precipitação"Nível d'água

Outubro 2005

30

40

50

60

70

80

90

100

Data

cm

0

10

20

30

40

50

60

70

80

mm

"Precipitação"Nível d'água (cm)

Dezembro 2005

50

60

70

80

90

100

110

120

130

140

150

Data

cm

0

10

20

30

40

50

60

70

80

mm

"Precipitação"

Nível d'água (cm)

Fevereiro 2006

50

60

70

80

90

100

110

120

130

140

150

5 10 15 20 25

Data

cm

0

10

20

30

40

50

60

70

80

mm

"Precipitação"Nível d'água (cm)

Abril 2006

50

60

70

80

90

100

110

120

130

140

150

5 12 19 26

Data

cm

0

10

20

30

40

50

60

70

80

mm

Prec(mm)Nível d'água

A b r i l 2 0 0 5 50 60708090100 110120 130140150Da tac

m010 20 30 40 50 60 70 80m

mP r e c ( mm ) Nível d'água Vertedouro

afogado

M

a

i

o

2

0

0

5

50 60 70 80 90100 110 120 130 140 1501 8 1 5 2 2 2 9 D a t a

cm

010 20 30 40 50 60 70 80

mm

Precipitação Nível d'água Vertedouro afogado 5 1 0 1 5 2 0 2 5 3 0 Julho 200550

60

70

80

90

100

110

120

130

140

150Data

cm

0

10

20

30

40

50

60

70

80

mm

"Precipitação"Nível d'água Vertedouro afogado

Setembro 2005

50

60

70

80

90

100

110

120

130

140

150

Data

cm

0

10

20

30 40

50

60

70

80

mm

"Precipitação"Nível d'água (cm)(a) Abril - 2005 (b) Maio - 2005 ( c) J u n h o - 2 0 0 5 (d) Julho -2005

(e ) A go s t o - 2 0 0 5 (f)S e t e m b r o - 2 0 0 5

( g ) O u t u b r o - 2 0 0 5 ( h) Novembro - 2005

(i) Dezembro - 2005 (j) Janeiro - 2006

(j) Fevereiro - 2006 (k)

Janeiro 2006

40

60

80

100

120

140

160

180

200

1 8 1 2 2

D a t a

c

m

0

10

20

30

40

50

60

70

80

m

m

"Precipitação"

Nível d'água (cm)

M a r ç o 2 0 0 6

50

60

70

80

90

100

110

120

130

140

150

5 1 1 2

Data

cm

0

10

20

30

40

50

60

70

80

mm

" P r e c i p i t a ç ã o "Nível d'água (cm)

Maio 2006

50

60

70

80

90

100

110

120

130

140

150

5 1

2

1

9

Data cm0

10

20

30

40

50

60

70

80 mmPrec(mm)Nível d'água

(m) Abril - 2006 (n) Maio - 2006

(k) Fevereiro - 2006 (l) Março - 2006

5 10 15 20 25 30

5 10 15 20 25 30 5 10 15 20 25 30

5 10 15 20 25 30 5 10 15 20 25 30

5 10 15 20 25 30 5 10 15 20 25 30

5 10 15 20 25 30 5 10 15 20 25 30

5 10 15 20 25 30

5 10 15 20 25 30

Novembro 2005

50

60

70

80

90

100

110

120

130

140

150

Data

cm

0

10

20

30

40

50

60

70

80

mm

Seqüência1Nível d'água (cm)Precipitação

5 10 15 20 25 30

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146

Figura 5.34 – Variação dos níveis d’água no posto fluviométrico da bacia experimental/ representativa de Santa Maria /Cambiocó - Estação SOLAR Fonte: Próprio Autor.

As falhas descritas quando na análise dos níveis d’água registrados pela estação

SOLAR na figura 5.34 estão resumidas na Tabela 5.8. Nesta, apresenta-se o percentual

de falhas ocorridas durante a obtenção de dados, segundo sua classificação,

considerando todo o período de monitoramento, abril/2005 a agosto/2006.

Tabela 5.8 – Percentual de falhas ocorridas no posto fluviométrico, de abril/2005 a agosto/2006 (Estação SOLAR)

Classificação das falhas Percentual Falha no sistema 0,97% Reparos na estação 0,58% Atos de vandalismo 0,77% Falta de energia no sistema 5,21% Defeito no sensor de nível 5,02% Total 12,55%

Fonte : Próprio autor

Observa-se que, para os 518 dias monitorados, obtiveram-se 87,45% de dados

registrados.

(o) Junho - 2006 (p) Julho - 2006

Julho 2006

50

55

60

65

70

Data

cm

0

0,5

1

1,5

2

2,5

3

3,5

4

4,5

5

mm

Prec(mm)Nível d'águaJunho 2006

50

55

60

65

70

Data

cm

0

0,5

1

1,5

2

2,5

3

3,5

4

4,5

5

mm

Prec(mm)Nível d'água

5 10 15 20 25 30 5 10 15 20 25 30

A g o s to 2 0 0 6

5 0

5 5

6 0

6 5

7 0

5 1 2 1 9 2 6

D a ta

cm0

0 , 5

1

1 , 5

2

2 , 5

3

3 , 5

4

4 , 5

5

mm

P rec (m m )N íve l d 'á gua

(q) Agosto - 2006

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147

Ressalta-se, no entanto, a grande falha que ocasionou a perda de muitos dados

devido à falta de energia no sistema (segundo o fabricante) de 5,21%. Essa falha foi

centralizada praticamente no mês de julho de 2005, Figura 5.34d, representando a

perda de dados em 20 dias contínuos.

O menor percentual de falhas ocorridas (de 0,58%) consiste em reparos na

estação, sendo estes referentes a ajustes, limpezas nos sensores etc. Destaca-se que as

falhas de 0,77%, referentes a atos de vandalismo, representam um valor muito pequeno

em face desse tipo de trabalho de pesquisa, em que os equipamentos geralmente são

alvos de ataques de jovens e adolescentes.

Analisando os períodos chuvosos de outubro a abril, a estação apresentou falhas

no sensor, o que está representado na Figura 5.34 g, por inconsistência de dados e falha

no sistema da estação, figuras 5.34k e 5.34m, referentes aos picos demonstrados nos

gráficos.

No Anexo H, é apresentado um cronograma de falhas no monitoramento de

níveis d’água no posto fluviométrico da bacia experimental/representativa de Santa

Maria/Cambiocó dos dados registrados pela estação SOLAR 2000, no período de abril

2005 a agosto de 2006.

Ressalta-se, no entanto, que todo o equipamento da estação SOLAR 2000 foi

instalado em novembro de 2004 para monitoramento dos níveis d’água, mas, por falha

na estação (Logger

onitora69(tação a48(nto dotabiliz)0a 1 Tcnáoso)tradeorame

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148

Destaca-se que, embora de início se percebam essas diferenças, o sensor de nível

da estação NOVUS, imerso na água, quantifica a pressão da coluna d’água desde a

posição do sensor até a superfície livre, atmosfera, valendo de todo funcionamento

equivalente ao sensor da outra estação.

Fazendo uma comparação com os registros de maiores e menores cotas de níveis

d’água observados nas duas estações, a Tabela 5.9 apresenta esses valores para o

período de dezembro de 2005 a agosto de 2006.

Tabela 5.9 – Dados registrados de níveis d’água, cotas máximas e mínimas para as estações NOVUS e SOLAR.

Níveis d’água Estação NOVUS Estação SOLAR Data cota máxima 115cm 120,53cm 28 jan 06 cota mínima 48cm 53,48cm 23 jun 06

Fonte : Próprio autor

Na Figura 5.35, apresentam-se as comparações entre os dados dessas duas

estações no período de dezembro 2005 a maio 2006.

Na Figura 5.35a, dezembro de 2005, nota-se uma defasagem entre os dados

registrados, o que se deve ao ajuste do off-set28 do equipamento da estação NOVUS.

Observa-se um comportamento equivalente quanto à variação do nível ao longo do mês.

Na Figura 5.35b, observa-se que, no dia 26 de janeiro de 2006, tanto a estação

NOVUS quanto a SOLAR registraram um aumento no nível de aproximadamente

0,65m. Verifica-se, ao longo do mês, variação similar nos registros dos níveis d’água.

Para o mês de fevereiro de 2006, Figura 5.35c, observa-se uma diferença nos

dados registrados. Atribui-se o ocorrido ao fato de o sensor de nível da estação NOVUS

estar posicionado em um plano de referência mais baixo do que o sensor da estação

SOLAR (erro de instalação dos sensores após retirá-los para limpeza). Verifica-se, no

entanto, o mesmo comportamento nas variações dos níveis. Ressaltam-se as falhas no

sistema da estação SOLAR com os aumentos nas cotas de níveis (picos) referentes aos

dias 12, 14 e 17, que não aparecem nos registros de estação NOVUS.

28 O sensor deve ser ajustado com off-set igual a 0 (zero), quando na atmosfera.

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149

Nas Figuras 5.35d, 5.35e e 5.35f, constata-se um excelente ajuste dos sensores.

Para o mês de maio de 2006, verifica-se que o sensor da NOVUS, no dia 10, apresenta

uma maior sensibilidade quando na elevação do nível d’água.

Confirma-se, no entanto, a elevação das cotas dos níveis d’água nas duas

estações se comparada com o aumento da precipitação. Destacam-se as Figuras 5.35a e

5.35d, nas quais a taxa de precipitação apresentou variação no decorrer dos meses de

dezembro e março, seguidos correspondentemente das variações de níveis.

Figura 5.35 – Comparação da variação dos níveis d’água no posto fluviométrico da bacia experimental/representativa de Santa Maria /Cambiocó – Estação SOLAR e NOVUS Fonte: Próprio autor

D e z e m b r o 2 0 0 5 50

60

70

80

90

100

110

120

130

140

1500102030Diascm

SOLAR Novus Precipitação0 10

20

30 40

50

60 70

V e r t e d o r a f o g a d o

S e g u n d a c o t a d e a f o g a d o

(a) (b)

Janeiro 200640

60

80

100

120

140

160

180

200

0 5 10 15 20 25 30

Diascm

SOLARNovusPrecipitação0 10 20 30 40 50 60 70

Segunda cota de afogado Vertedor afogado Fevereiro 200650

70

90110

130

150 0 5 10 15 20 25 30Diascm

SOLARNovusPrecipitaçãoVertedor afogado 0 10 20 30 40 50 60

Março 2006

5060708090100110120130140150

0 5 10 15 20 25 30Diascm

SOLARNovusPrecipitação0 10 20 30 40 50 60 70

Vertedor afogado (c) (d) Abril 20065060708090

100110120130140150

0 5 10 15 20 25 30DiascmSOLARNovusPrecipitação

0

0

0

0

0

Segunda cota de afogado Vertedor afogado 0

10 20 30 40 50 60

Maio62006

5060708090

100110120130140150 0 5 10 15 20 25

Dias

cm SOLARNovusPrecipitação

Vertedor afogado

0 10 20 30 40 50 60

(e) (f)

(a) Dezembro 2005 (b) Janeiro 2006

(e) Abril 2006 (f) Maio 2006

(c) Fevereiro 2006 (d) Março 2006

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150

Concluindo a análise das comparações entres as cotas de níveis d’água na figura

5.35, nota-se, de uma maneira geral, maior sensibilidade no sensor de nível da estação

NOVUS (linhas mais sinuosas) em relação à estação SOLAR.

Como descrito anteriormente, a estação SOLAR veio apresentando falhas nos

equipamentos, o que ocasionou a perda de dados. Certifica-se, no entanto, para esse

período da análise de comparação entres os níveis registrados de dezembro de 2005 a

maio de 2006, que não houve falhas que causassem a interrupção na aquisição dos

dados em nenhuma das estações. Mas verificam-se, na estação SOLAR, falhas no

sistema, que geraram cotas dos níveis d’água absurdas em face do comportamento da

variação dos mesmos. Esse comportamento é devidamente comprovado nos meses de

fevereiro e abril (Figuras 5.35c e 5.35e), quando da elevação da linha (azul).

A Figura 5.36 apresenta a dispersão dos dados obtidos. Verifica-se um bom

comportamento na comparação entre os mesmos, estando os dados concentrados em

disposição de uma reta de 45°.

Figura 5.36 – Comparação dos dados níveis d’água SOLAR x NOVUS Fonte: Próprio autor

5.4.3.2. Dados de vazões

Como descrito no item 5.3, com a obtenção das cotas de níveis d’água em

intervalos de 15 em 15 minutos, pôde-se calcular as vazões nesse mesmo intervalo de

tempo no período de abril de 2005 a agosto de 2006 para cada cota obtida.

Nível na soleira (todos os meses)

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7

Novus

Sol

ar

Dezembro Janeiro Fevereiro Março Abril Maio

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151

Ressalta-se, no entanto, que, no período em análise, as vazões calculadas para os

meses junho e dezembro de 2005 e janeiro, fevereiro e abril de 2006, os níveis d’água

em alguns dias chegaram a afogar a seção de monitoramento no vertedor. Todavia, as

vazões para as quais o vertedor esteve afogado não foram registradas, limitando o

estudo apresentado, pela curva chave, no cálculo das vazões médias até o

transbordamento da seção (detalhes serão vistos no item 6.1.4).

Equações para o cálculo das vazões :

Q = 1,86 * H ^ 1,5 ( Eq. 5.1)

Onde: Q = Vazão no vertedor, seção trapezoidal (m3/s) H = nível d’água na soleira do vertedor (m)

Q = 4,5186 * H ^ 1,9017 ( Eq. 5.2)

Onde: Q = Vazão no vertedor, seção mista, vertedor afogado (m3/s) H = nível d’água na soleira do vertedor (m)

Destaca-se, ainda, que, para o período compreendido entre dezembro de 2005 e

agosto de 2006, os valores das vazões correspondem às cotas de níveis d’água

devidamente ajustados gerados pela estação NOVUS, devido à inconsistência dos dados

apresentados pela estação SOLAR nesse período.

Os dados apresentados na Figura 5.37 foram obtidos pelos métodos de medição

de vazão29. Como foi visto no item 5.3.2, para as vazões mínimas, construiu-se uma

estrutura de medição pré-calibrada, bastando-se determinar o nível d’água para obter-se

a medida da vazão. Nas vazões mínimas, ficou estabelecido o intervalo de 0 a 119l/s,

acima do qual se considera o vertedor afogado. Para determinar as vazões máximas da

29 Entre os métodos de medição de vazão, para este estudo, foram utilizados: o método estrutural – vertedor e o método não estrutural – baseado no uso do molinete.

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152

descarga líquida na seção mista de monitoramento, empregou-se a integração da

distribuição de velocidades medidas com o molinete fluviométrico em que se pode

determinar a equação da curva chave para esses pontos levantados.

Na Figura 5.37a, para a variação da vazão no mês de abril de 2005, ressalta-se

que as falhas apresentadas na figura foram explicadas devidamente nos comentários

relatados quando analisada a Figura 5.34a. Cabe destacar o valor das vazões registradas

entre os dias 23 e 26, que ultrapassam o valor de 119l/s (valor limite para o escoamento

no vertedor trapezoidal). Todas as vazões que ultrapassam esse valor são representadas

com destaque nas figuras – “vertedor afogado”.

No mês de maio de 2005 (Figura 5.37b), a vazão veio decrescendo do 2o ao 13o

dia, atingindo 9l/s. Após esse registro, ela retornou a um valor de 36l/s e,

posteriormente, começou a diminuir novamente, chegando a registrar 5l/s. Observa-se

ainda uma constante oscilação do sensor, o que representa um intervalo curto nas

variações dos níveis d’água.

Na Figura 5.37c, verifica-se que o vertedor esteve afogado entre os dias 2 e 4 de

junho de 2005, permanecendo depois com valores baixos no restante do mês.

Nas Figuras 5.37d e 5.37e, os intervalos sem registros de vazão em alguns dias

representam falhas no equipamento, sendo que, no mês de julho de 2005, só foram

monitorados 11 dias. A máxima vazão registrada nesse período foi de 25l/s no dia 16 de

agosto de 2005.

Na Figura 5.37f, setembro de 2005, verifica-se que, do 1o ao 25o dia, os

registros de vazões variaram de baixos a nulos, sendo que, posteriormente, quase no

final do mês, no dia 26, houve um registro de 601l/s.

Nota-se que no mês de outubro de 2005, Figura 5.37g, devido à falha no sensor

de nível, não foram considerados os dados no período de 6 a 29.

Para o mês de novembro de 2005, Figura 5.37h, após permanecer grande parte

do mês com vazões baixas, verifica-se que, no dia 19 o vertedor quase esteve afogado,

ocorrendo esta situação praticamente no final do mês, entre os dias 25 e 28 de

novembro, chegando a registrar 650l/s.

Na Figura 5.37i, constata-se que o vertedor esteve grande parte do tempo

afogado, com valores de vazões bem altos, na ordem de 700l/s, máxima ocorrida de

774l/s no dia 3 de dezembro de 2005 e mínima entre os dias 21 e 25, de

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153

aproximadamente 6l/s. É importante considerar nesse evento o tempo de recessão do

escoamento na bacia, do dia 10 ao dia 21.

Na Figura 5.37j, janeiro de 2006, obtiveram-se valores altos para a vazão no

início e no final do mês, de 153l/s a 1115l/s nos dias 5 e 28, respectivamente, mas

constata-se que, durante o 12o e o 23o dia, a vazão registrada foi nula. Verificou-se que,

nessa época do ano, por ser mais quente que os outros meses, a vazão de escoamento

diminui mais rapidamente.

No início do mês de fevereiro de 2006, Figura 5.37k, nota-se que o vertedor

encontra-se afogado; depois, entre os dias 10 e 15, assim como no final do mês. A

máxima vazão registrada é da ordem de 700l/s.

Na Figura 5.37l, março de 2006, observa-se que, por três vezes durante o mês, o

vertedor esteve afogado, registrando uma vazão máxima de aproximadamente 823l/s no

dia 6 e mínima, praticamente nula, no dia 25.

No mês de abril de 2006, Figura 5.37m, constata-se pouca variação da vazão,

verifica-se uma situação de transbordamento do vertedor entre os dias 10 e 13.

Os registros de vazões nulas durante todo o mês junho e os valores de cotas

constantemente baixos em julho ressaltam a deficiência hídrica para o período seco,

comprovada pelos registros de baixa a nula precipitação, Figuras 5.37o e 5.37p.

Na Figura 5.37 q, constata-se, no início do mês de agosto, um valor de 4,0 l/s,

possivelmente devido a uma precipitação correspondente a 2,25mm no dia 27 de julho,

no entanto, posteriormente, no restante do mês, o valor permanece constante em

aproximadamente 0,15l/s.

(a) Abril 2005 (b) Maio 2005

(c) Junho 2005 (d) Julho 2005

Abril 2005

0

20

40

60

80

100

120

140

Data

L/s

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

50

mm

Prec(mm)Vazão

5 10 15 20 25

Maio 2005

0

20

40

60

80

100

Data

L/s

0

5

10

15

20

25

30

mm

Prec(mm)Vazão (L/s)

5 10 15 20 25

Junho 2005

0

100

200

300

400

500

600

700

Data

L/s

0

5

10

15

20

25

30

35

40

mm

Prec(mm)

Vazão (L/s)Julho 2005

0

10

20

30

40

50

60

5 12 19 26

Data

L/s

012345678910

mm

Prec(mm)

Vazão (L/s)

5 10 15 20 25

5 10 15 20 25

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Pretende-se fazer uma comparação entre os dados obtidos com os

termopluviômetros – chuva – e os dados da estação fluviométrica – níveis d’água e

vazões.

Para essa análise, verifica-se, na Figura 5.38, a variação dos níveis d’água e

vazões para o ano de 2005 nos meses de junho (inverno) e dezembro (verão) e, no ano

de 2006, para meses de janeiro e fevereiro, que apresentaram maiores índices de chuvas.

Na Figura 5.38a, em junho de 2005, verifica-se que, já no início do mês, há

uma elevação no nível d’água correspondente a 99cm no dia 2, devido à incidência de

4,05mm de chuva. Nota-se que, após esse período, o nível tende a se estabilizar,

voltando a elevar-se somente no dia 21, chegando a atingir aproximadamente 64,5cm

pela a ocorrência de 6mm de chuva.

Analisando ainda o ano de 2005, na Figura 5.38b, a variação das vazões em

relação às chuvas precipitadas no mês de dezembro apresenta uma resposta coerente

para os índices pluviométricos. Verificam-se, nesse período, chuvas intensas e

distribuídas ao longo do mês. Os registros das vazões acompanham as taxas de chuvas

durante todo o mês, na qual a vazão máxima é de 774 l/s no dia 5, correspondente ao

máximo registro de chuva, 20,7mm.

Para o ano de 2006, a comparação de “chuva x vazão” no mês de janeiro, Figura

5.38c, caracteriza-se pela rápida resposta no aumento da vazão para a chuva

precipitada. No dia 5, para uma chuva de 8,0mm, a vazão chega a 400 l/s e, no dia

30, um registro pluviométrico de 24,27mm representa uma elevação da vazão para

1.009,4 l/s.

Na Figura 5.38d, fevereiro de 2006, nota-se que o vertedor esteve afogado por

vários dias no decorrer desse período. Constata-se a incidência de chuvas bem

distribuídas e os níveis d’água, após cada evento, elevam-se rapidamente. Nível máximo

registrado 102cm para 22,77mm de chuva precipitada.

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Figura 5.38 – Comparação de dados do termopluviômetro: chuva e os dados da estação fluviométrica, níveis d’água e vazões. Fonte: Próprio autor

Para consolidar a análise comparativa, na Figura 5.39, apresenta-se a comparação

entre os dados de vazões médias mensais obtidos no posto fluviométrico João Linhares,

na microbacia experimental/representativa de Santa María/Cambiocó, município de São

José de Ubá - RJ, sub-bacia do Rio São Domingo, afluente do Rio Muriaé; e os dados

de vazões médias mensais obtidos no posto fluviométrico – 5894000030 – de Itaperuna,

no município de Itaperuna - RJ, sub-bacia do Rio Muriaé, para o ano de 2005 (destaca-

se que, para o ano de 2006, os dados do posto de Itaperuna não foram ainda

disponibilizados).

30 Disponível em:< http://www.hidroweb.gov.br>.

JUNHO 2005

50

60

70

80

90

100

110

120

130

140

150

5 10 15 20 25 30

Data

cm

0

5

10

15

20

25

30

mm

"Precipitação"

Nível d'água

Vertedouro afogado

Dezembro 2005

0150300450600750900

1050120013501500

5 12 19 26

Data

L/s

0

20

40

60

80

100

120

mm

Prec(mm)Vazão (L/s)

Janeiro 2006

0150300450600750900

1050120013501500

1 8 15 22 29

Data

L/s

0102030405060708090100

mm

Prec(mm)Vazão (L/s)

Fevereiro 2006

50

60

70

80

90

100

110

120

130

140

150

5 10 15 20 25

Data

cm0

10

20

30

40

50

60

70

80

mm

"Precipitação"

Nível d'água

Vertedouro afogado

(a) Junho 2005 (b) Dezembro 2005

(c) Janeiro 2006 (d) Fevereiro 2006

Junho 2005 Dezembro 2005

Janeiro 2006 Fevereiro 2006

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Ressalta-se que o monitoramento na microbacia experimental iniciou-se em abril

de 2005. Nota-se que o comportamento para os registros das médias mensais é bem

coerente e que, somente no mês de junho, houve um aumento na vazão na microbacia

monitorada, não ocorrendo o mesmo no posto de Itaperuna. Desconsiderando ainda os

dados do posto de Itaperuna para os meses em que não houve monitoramento na

microbacia experimental, verifica-se que as vazões mínima e máxima ocorreram nos

meses de outubro e dezembro respectivamente, tanto para o posto João Linhares quanto

para o de Itaperuna.

Essa comparação vem reforçar a confiabilidade do monitoramento no posto

fluviométrico instalado na microbacia experimental/representativa de Santa

Maria/Cambiocó.

Figura 5.39 – Comparação das vazões médias mensais entre posto fluviométrico João Linhares e posto de Itaperuna

Comparação Vazões Mé