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ACADEMIC JOURNAL OF NATURAL MEDICINE Vol. 1 | Ediç o Semestral INSTITUTO PORTUGUÊS DE NATUROLOGIA

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ACADEMIC JOURNAL OF NATURAL MEDICINE

Vol. 1 | Edição Semestral

INSTITUTO PORTUGUÊS DE NATUROLOGIA

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Academic Journal of Natural Medicine2

ACADEMIC JOURNAL OF NATURAL MEDICINEREVISTA ACADÉMICA DE MEDICINA NATURAL

Diretor:Prof. Doutora Maria Manuela Nunes da Costa Maia da Silva

Conselho Científico:Prof. Doutora Ana Cláudia Barreira NunesProf. Doutora Ana Cristina Estrela de Oliveira Charrua CordeiroProf. Doutora Ana Cristina EstevesProf. Doutor António José Afonso MarcosProf. Doutor Arménio Jorge Moura Barbosa Prof.Doutor Carlos Manuel Moreira Mota CardosoProf. Doutora Maria Isabel do Amaral Antunes Vaz Ponce de LeãoProf. Doutor João Paulo Ferreira Leal Doutor José Maria Robles RoblesProf. Doutor Luis Alberto Coelho Rebelo MaiaProf. Doutora Manuela Nunes da Costa Maia da SilvaProf. Doutor Miguel Tato Diogo Doutor Rui Miguel Freitas Gonçalves

Editor:Doutor Rui Gonçalves

Depósito legal:Os artigos são da responsabilidade dos seus autores. São reservados todos os direitos. Toda a re-produção, desta revista, seja qual for o meio, sem prévia autorização, é ilícita e incorre em responsabilidade civil e criminal.

Publicação Semestral Instituto Português de NaturologiaAno 2013

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O Comité Internacional de Bioética da Unesco acor-dou, em Setembro, de 2012, durante a XIXª re-união, instar todos os governos do mundo a ga-rantirem o acesso dos ci-dadãos aos tratamentos al-

ternativos e a reconhecê-los como uma opção na saúde. O Comité, pelas palavras de Stefano Sem-plici, anima os Estados a integrar estes tratamen-tos no seio do sistema sanitário e a estabelecer normas de acreditação para os seus especialistas. De facto, para o Comité Internacional de Bioé-tica não deveriam ser consideradas uma segunda opção, mas tratamentos realmente alternativos e complementares à medicina convencional. Pede-se, em suma, o mesmo que já se havia pedido em sede de Conselho da Europa, na sua resolução de 1.206, de 1999. Na reunião de Genebra, a OMS apelava “à maior evidência possível na idoneidade destes tratamen-tos com critérios de segurança, eficácia e quali-dade”.A Lei 71/2013, de 2 de Setembro, veio regular, em Portugal, o acesso às profissões das terapeuticas não convencionais, bem como o seu exercício, no setor público e privado. Todavia, a medicina natu-ral vai muito mais longe que o exercício de uma profissão: é tanto uma forma de vida como um conceito de cura que emprega diferentes meios naturais para tratar a doença. Nas palavras dos médicos Murray e Joseph Pizzor-no, estamos perante uma revolução nos cuidados de saúde: «A ciência e a medicina dispõem, atual-mente, de tecnologia e conhecimentos necessári-os para apreciar o valor das terapias naturais». Ao longo destes anos temos vindo a verificar, gradualmente, não só por motivos educacionais, mas também económicos, uma mudança no para-digma da saúde. A atual referência da saúde as-senta, essencialmente, na doença e esta tornou-se incontrolável. Há que inverter esta corrida para o precipício. O direito à saúde é, também, um di-reito de solidariedade, em que todo o cidadão é um agente activo, tem o dever de cuidar da sua saúde, não prejudicar a saúde de terceiros e con-tribuir, no que estiver ao seu alcance, para gerar saúde aos demais (nomeadamente através de disponibilização de serviços, conhecimento, infor-mação, etc, sempre que possíveis), principalmente numa sociedade em que os recursos são, cada vez menores ou inexistentes.

Também a Educação e, naturalmente, a formação como parte integrante desta, constitui um verda-deiro “direito social”. A todos cabe um papel ativo no processo da educação, mesmo que o Estado se revele ausente, em algum desses momentos. O reconhecimento destes estudos é uma condição prévia para a criação de um “espaço europeu ab-erto” e transparente em matéria de educação e formação. Verifica-se uma evolução acentuada nos últimos anos em matéria de publicações científi-cas dedicadas à Medicina Complementar e Alter-nativa, em diversos centros académicos, quer na Europa, quer nos EUA.

A Academic Journal of Natural Medicine - Re-vista Académica de Medicina Natural vai rasgar e reforçar este caminho de estudo e de investi-gação, constituindo-se como uma atitude ativa em prol da saúde e uma referência, no panorama por-tuguês e internacional. Publicada em português e inglês, com protoco-los com revistas internacionais, nasce com a con-vicção de ser um projeto arrojado, um espaço de originalidade na abordagem da saúde, fundado na ética e no rigor científico.

Nas palavras de Thomas A. Edison

“ The doctor of the future will give no medicine, but will interest her or his pa-tients in the care of the human frame, in a proper diet, and in the cause and prevention of disease”.

Este abrir de página pretende ir mais além do que tem sido possível em termos académicos, ras-gando e ousando abordar esta matérias de forma rigorosa, abrindo horizontes para o futuro do con-hecimento e da saúde. Será um trabalho ambicioso e árduo. Mas com toda a certeza, bem sucedido. Citando, mais uma vez, Thomas A. Edison

“Genius is one per cent inspiration, ninety-nine per cent perspiration.”(Harper’s Monthly, 1932)

Maria Manuela Nunes da Costa da Costa Maia da Silva

nota abertura

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“The most savage controversies are about matters as to which there is no good evidence either way.”

Bertrand Russel

A realização de grandes feitos começa, sempre, por passos discretos e de pequena monta. A acumulação de con-hecimento científico, fe-lizmente, não é exceção a esta regra. Até ao pre-

sente momento a área da Medicina Natural tem vindo a merecer relevo da parte de inves-tigadores das mais diversas áreas científicas mas, infelizmente, o número e a excelência dos seus fóruns de debate é insatisfatória.

A Medicina Natural encontra-se, neste mo-mento, numa encruzilhada entre duas visões muito claras: o atavismo de uma rejeição per-entória de tudo o que defende por uma parte da comunidade científica e, por outro lado, a tentativa de alguns profissionais da área e membros da comunidade científica em avaliar e, eventualmente, validar, conhecimentos com base empírica, por vezes milenar. Neste último grupo inserem-se os editores desta revista, um espaço aberto de discussão científica séria acerca da Medicina Natural por profissionais reconhecidos da área, ou fora desta, que desejem fazer progredir uma base de conhecimento científico acerca da temáti-ca.

É com extrema satisfação que acolhemos tra-balhos originais que visem elucidar os profis-sionais de saúde, a comunidade científica e o público geral acerca da avaliação, validação, desenvolvimento e integração da Medicina Natural com recurso a estratégias científicas robustas em que o rigor metodológico e for-mal é de suma importância.

Aguardando a sua contribuição,

Rui Gonçalves, PhD(Editor)

editorial

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“A ter de ser qualquer coisa na vida além de artista, foi realmente bom lembrar-me da profissão de médico”

(Torga 1999, p. 443)

Quando afirma, no Diário, que a medicina foi para si uma obrig-ação, Miguel Torga levanta problemas de ordem vária para os quais, ao longo da obra, vai adiantando

respostas nem sempre conclusivas. Se postula a medicina como um dever imposto, essa im-posição advém de condicionalismos intrínse-cos e extrínsecos.

Intrinsecamente, assume-a como um incumbência, que em nada se relaciona com imposições legais ou vínculos jurídicos, outrossim se torna numa obri-gação natural adstrita àqueles que, naturalmente, se reivindicam “os serviçais da vida e os fiadores da esperança” (Torga 1999, p. 1594). Sujeito acti-vo, reconhece na medicina essa obrigação natural, cumulativa, facultativa e indivisível que, não sendo passível de ser exigida, deve, necessariamente, ser saldada. Trata-se pois de algo intrínseco ao seu ca-rácter, ao seu humanismo, à sua forma solidária de estar no mundo, aos parâmetros que impõe a si próprio e pelos quais se rege. A atenção ao seme-lhante é uma referência constante da sua obra; ora nada melhor que a profissão de Hipócrates para a concretizar, porque ser médico é “ter a capacida-de de mentir persuasivamente quando a verdade é o oposto da esperança” (Torga 1999, p. 1616). Assim assume com rigor e convicção, a mesma por que pautou todos os seus actos e opções, “a alegria de ser médico” (Torga, 1999, p. 1198), insurgindo-se mesmo contra quem põe em causa aquilo que ele próprio considera uma apetência natural:

– A medicina, uma actividade secundária na minha vida! Engana-se redondamente. Sempre que visto esta bata sinto-me paramentado, investido numa ordem iniciática de que o primeiro troglodita que exorcizou com rezas os males do vizinho foi fun-dador. [...] a forma suprema de dar solidariedade a alguém é valer-lhe na doença quando, indefeso, luta com a dor e a morte. (Torga 1999, pp. 1378-1379)

A MEDICINA NO DIÁRIO DE MIGUEL TORGAIsabel Ponce de Leão

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Destarte encontra na sua profissão uma “justifica-ção humana” (Torga 1999, p. 443) e moral e con-sidera que “o grande momento humano do acto clínico” (Torga 1999, p. 970) está na anamnese ou seja no “relato dos padecimentos feito pelo do-ente à cordialidade inquisidora do médico” (Torga 1999, p. 970), essa espécie de confissão propicia-dora da solidariedade. Já os condicionalismos de natureza extrínseca estão plasmados na sua histó-ria de vida de que dá conta quer o Diário quer a autoficção A Criação do Mundo.

Nascido no seio de uma família com parcos recur-sos económicos, o que o impeliu a viver a expe-riência, pouco grata, do seminário e, mais grata, mas mesmo assim dolorosa, da emigração, Miguel Torga aplicará o exíguo capital aforrado enquanto emigrante, na sua formação académica. É quando regressa da sua estada no Brasil que conclui o cur-so dos liceus em três anos, e se matricula na Facul-dade de Medicina da Universidade de Coimbra, que frequenta entre 1928 e 1933, habitando uma república de estudantes, a “Estrela do Norte”.

Assim se forma em medicina, na consciência ple-na de que “Um médico nem sequer pode chorar” (Torga 1999, p. 34), mas não deixando de assinalar o acontecimento numa entrada do Diário datada de 8 de Dezembro de 1933, em que alude a uma tradição académica coimbrã: “Médico.Conforme a tradição, mal o bedel disse que sim, que os lentes consentiam que eu receitasse clis-teres à humanidade, conhecidos e desconhecidos rasgaram-me da cabeça aos pés.” (Torga 1999, p. 32). De facto, “em Portugal nunca ninguém viveu da pena” (Torga 1999, p. 396), logo um curso po-der-se-ia tornar no garante do necessário conforto material. Curiosamente, a independência económica, que leva Adolfo Rocha a fazer esta escolha profissio-nal, é mais que isso, é a demanda dum desafo-go, sobretudo mental, para o acto criador, mas também material, para pagar a edição das suas obras, colaborando, assim, o médico com o poeta. De facto, não foi pela medicina que enriqueceu. João Semana em Trás-os-Montes, em Leiria, ou em Coimbra, conserva o sentido de uma responsabi-lidade social que o leva a abrir as portas do seu consultório mesmo àqueles que sabe destituídos de posses para pagarem a consulta.

Se é inegável que à opção pela medicina convém também uma certa segurança económica que a produção literária poderia não propiciar, também é verdade que se sobrelevam princípios e propó-sitos de honestidade e independência mantidos pela vida fora e sistematicamente reiterados.

A própria optação pela otorrinolaringologia re-mete para essa independência e individualização, uma vez que se trata de uma especialidade médi-ca capaz de prescindir do trabalho em equipa, e que não força longas conversas com os pacientes. Por outro lado, dificilmente o otorrino assistirá a grandes sofrimentos ou a fases terminais de do-enças, assaz incompatíveis com a sensibilidade de alguém que sempre lutou ao lado da vida, e nunca suportou a derrota imposta pela morte. Exerce, como referi, a sua profissão em Trás-os--Montes sempre atento às carências e necessi-dades do povo, o que o leva, bastas vezes, a ter posturas críticas: “Ou se lavram estes montes a instrução e a higiene, ou então não vale a pena um médico perder a vida aqui” (Torga 1999, p. 47).

É já como otorrinolaringologista que vai para Lei-ria “a braços com as afonias histéricas, as otites, o ranho” (Torga 1999, p. 523), até que decide insta-lar-se em Coimbra por estar mais perto de fontes e movimentos literários e culturais. Aberto o consultório no Largo da Portagem, n.º 45, hoje sede de um banco, aí exerce a sua profis-são – não só de otorrinolaringologista mas, confor-me as necessidades, de pediatra, ortopedista, psi-quiatra... –, escreve e recebe amigos e intelectuais durante mais de cinquenta anos. Frio e austero, o seu local de trabalho possui uma janela com vista sobre a cidade e o Mondego, numa fraternidade com o mundo. A ele se dirige, quotidianamente, utilizando os transportes colectivos, não sem an-tes aproveitar para entrar nas principais livrarias da Baixa. São várias as referências a este microcosmos ao longo do Diário. Por um lado, é o local onde de-sempenha a profissão e ganha o seu sustento e o da família, porque “se alguém bater à porta paga a consulta” (Torga 1999, p. 166); por outro, é o sí-tio onde não se respira “senão desgraças” (Torga 1999, p. 465) porque “Quem vem, ou é doente, ou traz doentes, ou vem tratar de doentes” (Torga 1999, p. 191). Mas é mais, é o espaço onde “vi-vem sepultados” (Torga 1999, p. 744) infindáveis segredos, o confessionário de dores, intimidades e dúvidas aos quais prescreveu “remédios milagro-sos, optimismo, fé, ilusões” (Torga 1999, p. 744), naquele espírito de missão com que sempre enca-rou o seu ofício / missão.

Não admira, pois, que este espaço ficasse, de igual modo, ligado à sua obra, já que as pausas davam, naturalmente, lugar à meditação e à cria-ção. São recorrentes as passagens do Diário em que ele se refere, findas as consultas ou no tempo que as antecede, a esse microcosmos, propício à reflexividade, onde o médico ia, paulatinamente,

A MEDICINA NO DIÁRIO DE MIGUEL TORGA

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cedendo o seu lugar ao pensador da vida. Em mui-tas entradas, anuncia mesmo esse ambiente envol-vente, noutras, ele é depreendido. Aí reflecte sobre a repugnância que sente pelo mecenato da medicina (Torga 1999, p. 166), sobre a sua condição de poeta e médico (Torga 1999, pp. 395 e 676), sobre as misérias da humanidade (Torga 1999, p. 464), sobre o futuro sem esperança da juventude (Torga 1999, p. 501), ou sobre a falta de saúde e a morte (Torga 1999, p. 864). Ligada a esta última reflexão surge o lamento pela escassez progressiva de doentes sem que isso o faça ausen-tar-se deste espaço íntimo, como salienta:

O dia inteiro refugiado no consultório [...]. A vida começa a despedir-se de mim [...]. E agradeço-lhe intimamente que me conceda o lenitivo de ir mor-rendo neste fojo, que começou por ser inequívoco lugar profissional, e, agora, visitado apenas de vez em quando por alguns fiéis, lembra aqueles cen-tros de espionagem que ostentam uma tabuleta comercial na fachada, para disfarçar. (Torga 1999, p. 1289)

É tudo isto e ainda mais que o consultório confi-gura – “caixa de surpresas” (Torga 1999, p. 1722) e de segredos de situações insólitas, antro de de-sabafos descomedidos, de angústias controladas ou mesmo de muitas páginas escritas, cárcere do avatar médico / poeta / médico. Pedaço de si próprio, é com uma sensação de mutilação que se irá desfazer dele quando a sua actividade como médico, já quase no fim da vida, se torna praticamente inexistente. Dá conta da ocorrência do desaparecimento deste “velho re-fúgio” (Torga 1999, p. 1740), onde estão muradas a sua e “outras vidas” (Torga 1999, p. 1740), em duas entradas do décimo sexto volume do Diário. A “visita fúnebre [...] do senhorio do consultório” (Torga 1999, p. 1740), configurado em administra-dores de um banco, anuncia o fim daquele espa-ço íntimo, do seu “velho reduto” (Torga 1999, p. 1742), e propicia reflexões magoadas e não menos revoltadas por se deparar com a sua “própria vida abolida no tempo” (Torga 1999, p. 1743) por um capitalismo que “não hesita, mesmo diante dum leito de sofrimento” (Torga 1999, p. 1740):

Desfiz-me do consultório. [...] Ofereci o material cirúrgico ao hospital da Misericórdia [...], o mobili-ário à Junta de Freguesia de S. Martinho. E fiquei naquelas salas vazias vazio como elas. [...] Do lado de lá do fio pediam-me que juntasse aos despo-jos a tabuleta. Respondi que iria ser arrancada e seguiria. E perguntei, de voz estrangulada, se queriam que mandasse também o cadáver. (Torga 1999, pp. 1742-1743)

A sua existência profissional passou muito por este espaço. Se o suportou para poder ser poeta, fê--lo sem nunca descurar o juramento de Hipócrates usando da intransigência que sempre teve consigo próprio. Nele, o médico colhia matéria para o po-eta e dava-lhe uma feição pedagógica que pug-nava pelos valores cívicos, éticos e morais. Ten-tou entender o sofrimento alheio mesmo quando injustificado, e arriscou a mentira piedosa, numa humanização da profissão, como panaceia para o sofrimento, uma vez que “Não há maior crédulo que um desesperado. Mentir-lhe, iludi-lo, é quase uma obrigação moral” (Torga 1999, p. 1627).

A opção pela medicina mostra ainda uma cons-ciência aguda das circunstâncias e uma vontade de nelas intervir, também enquanto forma de ul-trapassar uma sensação de imperfeição rumo a uma realização. Em termos ideológicos, realiza-se como poeta e como homem; usando o dinheiro da burguesia que lhe paga os serviços, não se impor-ta de a desprezar, afirmando: “foi na clínica rural que me senti médico a sério, e cuido que as coisas mais válidas que escrevi sabem à terra nativa que trago agarrada aos pés” (Torga 1999, p. 810). Em termos psicossociológicos basta evocar a justifica-ção que dá para o facto de haver tantos médicos escritores para se entender a afirmação de que o artista, tal como o médico, é “o mais receptivo e preceptivo dos mortais” (Torga 1999, p. 972). Em termos morais, reflicta-se no sentido geral da sua existência e nas suas palavras elucidativas:

É bom isto de ser médico e poeta. São dois a dar. Os jovens vêm-me pedir ajuda, porque faço versos; os velhos, porque os posso medicar. E lucramos to-dos. Eles por sentirem que não estão sós no mun-do; e eu, afinal, também. Vou-me cumprindo assim, numa acção quotidiana sem clarões de heroísmo, mas útil e modesta, como convém à minha nature-za de tímido, camuflada de violências intelectuais e físicas de compensação. (Torga 1999, p. 676-677)

Ser médico era, de facto, um acto de amor mas também uma exposição social, consequência do controlo ideológico. Ao desenvolver a sua profis-são, Torga trabalhava na construção de uma socie-dade livre e humanitária, dando como exemplo a sua abnegação e o seu desprendimento. Se, como poeta, era conhecido o seu temperamento socio-fóbico, já o médico, apesar de um peculiar tom agreste, sentia a obrigação de intervir, e mostrava--se cordial com os doentes, saindo do seu conhe-cido intimismo. Dessa cordialidade dão conta inúmeras páginas do Diário onde anota conversas tidas com os pa-cientes.

A MEDICINA NO DIÁRIO DE MIGUEL TORGA

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É o Fonseca que lhe faz confidências sobre a sua vida passada (Torga 1999, p. 80); o David Simões que traz “tontices de gente fraca do miolo” (Tor-ga 1999, p. 191); o rapaz que o capitão não deixa “ir a verde” (Torga 1999, p. 210); a transmonta-na que carrega um tumor (Torga 1999, p. 221); o homem que duvida da sua capacidade prescritiva (Torga 1999, p. 402); a “rapariga de má nota” que o entreteve mais que qualquer senhora honrada (Torga 1999, p. 403); a jovem que entrou “des-vairada pelo consultório dentro a odiar o pai e a mãe” (Torga 1999, p. 1100); uma outra que não se conformava “com um destino fora do seu meio” (Torga 1999, p. 1127) que era o mar – a esta, o poeta prescreveu, para além dos medicamentos, “um volume do Mar” (Torga 1999, p. 1128); a mu-lher que adivinha o fim da vida e a quem dá alento (Torga 1999, p. 1156); uma outra que tinha o mari-do “na reanimação” (Torga 1999, p. 1417); a anciã que “andava a preparar-se para morrer e vinha li-quidar uma consulta que tinha em débito há mais de quarenta anos” (Torga 1999, p. 1430); “um rús-tico serrano” que resume “filosofias inteiras” (Tor-ga 1999, p. 1628); ou mesmo aquela cigana que “entrou pela porta dentro a queixar-se do nariz, a regatear o preço da consulta”, (Torga 1999, p. 1722) e que acabou por lhe contar uma espantosa e pitoresca história de vida. Tudo isto e muitas outras histórias que o enrique-ceram como médico, como homem e como poeta, e a que soma alguns êxitos profissionais em que a vida se sobrepõe à morte, fez com que “o exercí-cio da medicina” (Torga 1999, p. 1628) se conver-tesse para ele numa escola. De facto, Adolfo Rocha / Miguel Torga fez da sua profissão um ritual, cumprindo-a de forma persis-tente e coerente quase até ao fim dos seus dias. Alguma tristeza o assolou quando viu que os do-entes escasseavam mas a amargura foi ainda maior quando o seu consultório – camarim de Hipócrates e Orpheu –, lá num 1.º andar do Largo da Porta-gem, em Coimbra se converteu, como já referi, numa instituição bancária.Foram muitos os momentos de desânimo que atravessaram a sua vida profissional, chegando a confessar que cada consulta se tornava numa “iniciação de caloiro, um martírio de expressão serena” (Torga 1999, p. 662). Tudo porque nem sempre conseguindo êxito com os seus doentes, o incomodava esse “pacto sacrílego” (Torga 1999, p. 662) de confiança cega inerente à condição de médico. Cai, então, em desabafos que, apenas aparentemente, mostravam o profissional contra-riado, para realmente deixarem antever o ser es-crupuloso e perfeccionista envolvido numa recu-peração da condição humana: “Vinte anos de pão

ganho assim, a fazer de médico à força. A bata, como uma sobrepeliz, a cobrir-me duma brancura de levita. E eu, no íntimo, céptico, céptico, céptico como um ateu que estivesse a rezar missa.” (Torga 1999, p. 662) Trata-se de uma luta consigo próprio, com os seus limites, com tudo o que dificilmente pode explicar e que lhe cria momentos de perplexidade. “Cada vez compreendo menos a doença” (Torga 1999, p. 1431), adianta o médico sempre e quando vê partir o doente que a todo o custo tentou salvar. Se, por um lado, pretende racionalizar a situação, intimamente, nem o homem nem o poeta convi-vem cordatamente com a morte.Talvez por isso, esta temática, mais que recorrente, seja obsessiva no Diário e, porventura, agravada pela sua condição de médico, que lhe impõe a lu-cidez da sua inevitabilidade. Consciente das limi-tações a que está sujeito, desabafa:

O homem ainda está muito longe da sabedoria. [...] Na medicina, por exemplo. [...] Andei durante anos a aprender a observar e a tratar doentes. E apren-di a observá-los e a tratá-los por fora. Havia ferida – desinfecção e penso; havia nervoso – calmantes; havia sezão – quinina. [...] E, embora a sentir-me eficiente, sinto-me frustrado. Tenho a plena cons-ciência de que nado em seco à beira dum grande oceano. Vejo perfeitamente que aplico regras lógi-cas a um jogo ilógico (Torga 1999, p. 1046).

Assim se acentua o drama de questionar o absur-do da morte, já que o seu agnosticismo não lhe oferece a panaceia de uma outra vida, contributo a um eventual apaziguamento. Este questionar surge quer em relação a si próprio quer em relação aos outros, sobrelevando-se sem-pre a frustração do médico, a quem era devido encontrar soluções. É, todavia, contrariando este pavor do acabamento que vivencia desde jovem, que a sua profissão ganha sentido. A vida torna-se assim numa luta sistemática balizada no nascimen-to e na morte – algo intransponível e redutor.

Por isso reage mal à morte da mãe em 1946. É um misto de pasmo e revolta pela ausência e pela degradação, que se manifesta através de “Canção para a minha Mãe” (Torga 1999, p. 354); aí faz um apelo à vida, quase patético, nem que esta venha através da memória. Esta mágoa e a referida perplexidade prolongar-se-ão noutros po-emas escritos posteriormente.

A MEDICINA NO DIÁRIO DE MIGUEL TORGA

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Mãe: Que desgraça na vida aconteceu,Que ficaste insensível e gelada?Que todo o teu perfil se endureceuNuma linha severa desenhada?

Como as estátuas, que são gente nossaCansada de palavras de ternura,Assim tu me pareces no teu leito.Presença cinzelada em pedra dura,Que não tem coração dentro do peito.

Chamo aos gritos por ti – não me respondes.Beijo-te as mãos e o rosto – sinto frio.Ou és outra, ou me enganas, ou te escondesPor detrás do terror deste vazio.

Mãe:Abre os olhos ao menos, diz que sim!Diz que me vês ainda, que me queres.Que és a eterna mulher entre as mulheres.Que nem a morte te afastou de mim!

(Torga 1999, p. 418)

É uma voz inconformada e desesperada, expressa nos vocativos e no tom apelativo, que reage, numa postura que raia a incredulidade, ao pavor da mor-te, pavor esse que continuará a manifestar, passa-dos três anos sobre a morte da Mãe, em “Negati-vo duma canção de embalar” (Torga 1999, p. 476). Com ela se foi a sua felicidade, só recuperada num processo de retorno às origens, agora inviabiliza-do. A sensação de orfandade, a incapacidade de intervenção do filho e do médico acentuam a re-volta, aqui exorcizada pela palavra poética. A op-ção feita por esta forma, para dar voz à sua dor, gera uma concentração de forças que enformam uma angústia desesperada.

Já a morte do pai configura a perda definitiva da infância, o crescimento brusco, o assumir de res-ponsabilidades para as quais não queria estar pre-parado. Depois de, como médico, tentar salvar a “última raiz que resta” (Torga 1999, p. 736) – “Que há-de fazer um filho, senão ser fiel à cepa, e um médico, senão medicar?” (Torga 1999, p. 737) –, assiste àquele “dia terrível de apocalipse” (Torga 1999, p. 821) em que partia a única pessoa que podia responder pelos seus actos com a “respon-sabilidade de progenitor” (Torga 1999, p. 821). É a mágoa da ausência e o peso da responsabilidade, que gera o desabafo quase aterrador:

“Acabou definitivamente a minha infância, e olho com terror este insólito fantasma adulto em que

subitamente me transformei” (Torga 1999, p. 821).

O último vínculo às origens desfaz-se com a morte da irmã – “Morte da minha irmã. E não há palavras para o desespero em que estou” (Torga 1999, p. 1480) – e nele vê a abertura de caminho para a sua própria morte, obsessão que sempre o perseguirá.Ao longo do Diário a morte configura-se como algo inevitável; a sua data está marcada, de forma irreversível, e, como médico, vislumbra-a “no rosto de cada doente” (Torga 1999, p. 733) e mesmo no seu. A vida deixa de fazer sentido porque nela há “um cais de morte sempre adivinhado” (Torga 1999, p. 1237). Todavia prossegue a sua luta sem tréguas ainda que, olhando para si e para os de-mais, reconheça: “Vivi duas vidas. Uma, desalenta-do, a ver-me morrer; a outra, a lutar inconformado contra todas as mortes”. (Torga 1999, p. 1654)

Apesar de tudo, e como constante da sua voz poética, surge a valorização da vida, essa “coisa imensa” (Torga 1999,p. 153) por que pugna: como médico, a tratar os seus doentes, incutindo-lhes alento e esperança, como poeta, a salvar-se pela poesia através de hinos apologéticos, e como ho-mem, a pôr-se nas mãos da medicina quando a do-ença o começa a corroer – “Quimioterapia. [...] O homem tem o triste vezo de, quanto mais a sente fugir, mais se agarrar à vida” (Torga 1999, p. 1701). Por tudo, quando lhe dizem que a vida não tem sentido, responde prontamente: “Ela, em si, não... [...] Mas tem o sentido que lhe damos” (Torga 1999, p. 1265). Esse sentido está, de facto, na co-ragem para desistir ou continuar. A palavra poética torna-se em arma contra a mor-te a que, aliás, alude no oitavo volume do Diário quando se refere aos “vocábulos exangues, iner-tes, cadavéricos” que revitaliza e torna “seiva [...] da própria Criação” (Torga 1999, p. 814). O poeta sente que, através da palavra, a vida ganha sen-tido e, consciente do seu dom de criador, tenta por ela a eternização, tentando sempre minimizar o sofrimento do médico que também é.

É logo no primeiro volume da obra (Torga 1999, p. 129) que manifesta aquele misto de preocupação e curiosidade sobre o seu legado aos vindouros re-conhecendo embora que “A arte não morre. Nós é que morremos”. (Torga 1999, p. 465). Assim, morre o poeta mas a obra perpetuar-se-á.Olhando a natureza, admira a sua capacidade de renovação, o “regresso da vida na primavera” (Torga 1999, p. 203) e a partilha que ela faz com o homem, integrando-o naquele todo harmónico “onde cresce ternura” (Torga 1999, p. 468).

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Por vezes, e em oposição a esta renovação, au-menta nele a convicção de que o contrário se pas-sa com o homem em quem não há renovação mas degradação conducente à morte; por isso, em ple-na consciência afirma: “Perde-se a vida, sem ha-ver remédio / Rói-nos o tempo como um cancro oculto” (Torga 1999, p. 685), convertendo, assim, o tempo em elemento corrosivo e inexorável.Contudo, com o decorrer dos anos, pensa na sere-nidade com que o pai encarava a morte

– “O corpo farta-se de tudo, filho. Até de viver.” (Torga 1999, p. 188) –, colhendo da sua atitude o ensinamento. Atenua-se o desespero, e encara “o apodrecimento progressivo com a calma de quem vê um belo e irremediável pôr-do-sol.” (Torga 1999, p. 188), ou, até, como única panaceia para os seus males, chegando, por vezes a desejá-lo com o fre-nesim de quem procura a paz: “Quando virás, dia do meu sossego, / [...] / Quando virás / Hora feliz do meu esquecimento?” (Torga 1999, p. 559).

A evocação da infância se, por um lado, é, não ra-ramente, forma de se evadir dessa dor que o ator-menta – “Brinca instintivamente / [...] / Desafronta / O adulto que hás-de ser” (Torga 1999, p. 951) – por outro, imerge-o na plena consciência da irre-versibilidade do tempo. Perdidas as ilusões, sente--se nos antípodas da meninice

– “Sou agora o inverso de menino” (Torga 1999, p. 1110) –, e é em “Pânico” que olha o destino: “E o tempo passa, / E a morte ameaça, / E eu neste crescente desespero” (Torga 1999, p. 1105).

Há, todavia, alguma serenidade na forma como prepara o último combate; trata-se de uma pre-paração lenta – “morrer sim, mas devagar” (Torga 1999, p. 1683) – calma, que passa por uma menta-lização paulatina para aguardar o inevitável. Se já no décimo volume do Diário, em 1968, inicia essa despedida – “Longo vai o meu canto, / [...] / Nele me despeço / Lentamente da vida.” (Torga 1999, p. 1125) – é, todavia, a partir do décimo terceiro, nas décadas de oitenta e noventa, que a preocu-pação com a fase final da caminhada, se torna ob-sessiva.

Curiosamente, quanto mais pensa na morte, mais se agarra à vida, por ela lutando, já não de for-ma desesperada, outrossim com a serenidade de quem se sente cumprido. Será, porventura, o envelhecimento e a doença que o levam a criar algum distanciamento de si próprio e a aceitar, quando se vê ao “Espelho”, com os “olhos da velhice” (Torga 1999, p. 1387), o seu corpo “Ora a estuar de vida, ora doente.”

(Torga 1999, p. 1605). No avanço da velhice, que se acentua, resta-lhe a lembrança do passado que, ora o apazigua – “foi bonita a festa / Da Mocidade” (Torga 1999, p. 1442) –, ora acentua o sofrimento, porque “não há presente, nem futuro” para a “maldição dos ve-lhos” (Torga 1999, p. 1515). Todavia, o retrato mais lucidamente cruel da velhi-ce é dado em “Solidão”:

Pouco a pouco, vamos ficando sós,Esquecidos ou lembradosComo nomes de ruas secundáriasQue a custo recordamosPara subscritarA urgência dum beijo epistolarAinda inutilmente apetecido.Mortos sem ter morrido,Lúcidos defundos,Vemos a vida pertencer aos outrosE descobrimos, na maneira deles,Que nada somosPara além do seu dissimuladoEnfadoPaciente.E que lá fora, diariamente,Conforme arde no céu,O sol aqueceOu arrefeceOs versáteis e alheios sentimentos.E que fomos riscadosNo rol da humanidadeA que já não pertencemosDe maneira nenhuma.E que tudo o que em nós é claridadeSe transforma em bruma.

(Torga 1999, p. 1746)

Perante tudo isto, só a palavra poética e a cum-plicidade de quem a lê o podem resgatar do es-quecimento. Por isso faz um último esforço, uma tentativa estóica, no sentido dos seus versos não o acompanharem nesta fase de envelhecimento – “Falta-me ainda um verso. / [...] / que na sua bre-vidade / Iluminada / Seja a eterna alvorada / Da minha humanidade” (Torga 1999, p. 1459)A partir do décimo terceiro volume do Diário, Tor-ga começa a despedir-se dos leitores. Acontece com “Viático” (Torga 1999, p. 1456), onde o poe-ma que leva na bagagem será a sua eternização, em “Estuário” (Torga 1999, p. 1568), onde o rio a desaguar no mar é metáfora do seu próprio fim, e mesmo em “Pórtico” (Torga 1999,p. 1675), poema com que inicia o último volume e onde deixa pa-tente o seu receio de o deixar inacabado.

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De facto, a sua obra é, antes de mais, o documen-to de uma agonia, perseguidora da dialéctica vida / morte, que enforma a sua textura. Sobretudo o último volume do Diário é o relato, íntimo e sofri-do, de quem deixou de viajar pelo mundo, porque ficou fisicamente circunscrito a quartos de hospi-tais. Por tal, a melancolia é seu rito, mas uma me-lancolia estóica e intrépida, em que o médico vem, assazmente, auxiliar o poeta.

Não se alienando de tudo quanto o circunda, con-cebe a vida como “irremediavelmente um dom provisório” (Torga 1999, p. 1777), e ainda que afir-me “Nasci para cantar a glória da vida e não para cronista da humilhação da morte” (Torga 1999, p. 1733), adianta também “Penso e repenso dia e noite na morte” (Torga 1999, p. 1777), assumin-do, assim, a sua condição humana, humanizadora, esta, ainda mais, se possível, das suas derradeiras páginas, em que confessa que “Toda a vida huma-na é uma breve ou demorada despedida, que co-meça, de facto, logo à nascença, e acaba aparen-temente no dia da morte” (Torga 1999, p. 1765). O poeta distancia-se e observa a sua decrepitude física, mantendo um belíssimo diálogo com a an-gústia da morte que, paradoxalmente, enquanto ateu, sacraliza.

Grande parte da sua obra dá conta desse belís-simo diálogo sem olvidar o mundo circundante. Através dela, Torga diz da aprendizagem da mor-te numa toada dionisíaca da vida, em que a luta e a paixão pela arte e pela ética se sobrepõem à tragicidade dos últimos momentos, já que sabe que tem uma missão a cumprir porque “os poe-tas mostram-se sempre como são. Não por serem mais sinceros, mas por imposição da própria poe-sia” (Torga 1999, p. 1766).

Esta forma de encarar a morte, a bipolarização sentimental com que a enfrenta, configura o po-eta mas, sobretudo e muito mais a racionalidade do médico conhecedor dos limites que a doença impõe, contra os quais luta uma precária ciência humana. Por tal, o tema da morte, sendo obses-sivamente recorrente, deve ser ponderado, aten-dendo, muito particularmente, às perspectivas im-postas pelos ditames de Hipócrates. Há, de facto, uma paulatina transparência, conco-mitantemente atroz e pungente, na forma como se vai despedindo da vida. A lucidez e a coragem são seu rito, adivinhando-se, por detrás delas, o profissional da medicina, a encarar o seu destino com racionalidade. Demiurgo e Homem, sabe que “A hora é de finados” (Torga 1999, p. 1780) e, co-rajosamente, a ela se entrega, procurando uma re-conciliação com o destino e com a morte, através

de uma ética só possível a quem, como ele, enten-deu a dimensão da vida e da arte.Essa coragem não está, todavia, isenta de uma revolta contida perante as limitações humanas. Por isso, como homem, é recorrente a sensação de imperfeição, o mesmo ocorrendo como poe-ta. Quando, por vezes, em momentos mais arre-batados, fruto da consciência das suas fraquezas, a musa não vem à poesia, parece que a profissão de médico se sobrepõe caindo em comparações valorativas:

Se na vida profissional procurei sempre ser ho-nesto e capaz, porque não hei-de fazer o mesmo como escritor? Ora um escritor honesto é capaz de escrever bem. Por isso, pego na pena com o escrúpulo com que pego no bisturi. O canhestro manuseamento deste pode matar o doente; a má utilização daquela pode perverter o gosto e torcer a consciência do leitor. Ambos, portanto, exigem igual precisão e honradez. (Torga 1999, p. 860)

O médico sobrepõe-se, então, sempre que, para enfrentar os revezes da vida, Torga tenta o raciona-lismo. Por isso, o diálogo que se estabelece entre certos poemas do último volume do Diário revela uma consciência lúcida da aproximação da morte que aguarda com resignação e, ao mesmo tem-po, com esperança no alívio do seu sofrimento. Trata-se de uma “nova caminhada” (Torga 1999, p. 1675) que, cuidadosamente, prepara. Assim, espera que a “boa morte” (Torga 1999, p. 1717) se compadeça dele, pedindo à imaginação que cesse o seu labor porque “Não há mais aventura, nem poesia” (Torga 1999, p. 1780) e, apesar da degradação física, que lamenta, é nela que pensa encontrar a serenidade desejada através da união e da harmonia cósmica, a que se reporta o poema com que encerra a obra (Torga 1999, p. 1786). Porque médico, vive a angústia da morte desde a juventude, acentuando-se, esta, à medida que o tempo passa; sendo obrigado a lutar contra ela, sabe da sua inevitabilidade e afirma:

“Não ter futuro. Nem sequer o do dia de amanhã. Viver indiferente à vida, de mão no pulso à espera do dobre da última pancada do coração.” (Torga 1999, p. 1723).

Contudo a sua atitude flutua entre a revolta e a aceitação; por isso, pugna pela vida até ao fim, pela sua e pela dos seus doentes, em oscilações permanentes entre o pessimismo e o optimismo, sendo este visível sempre que alcança um êxito profissional, ou aquando dos momentos de conva-lescença da doença que o minava.

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Porém, a degradação física e a velhice, levam-no a reflectir nesta problemática com mais acuidade, começando a preparação para o confronto com ela num misto de aceitação e resistência. Reconhece então que “A morte é a renúncia definitiva do cor-po e a expectação eterna da alma.” (Torga 1999, p. 1712) e aguarda-a, pacientemente, apesar do sofrimento que, a dado passo, o leva a exclamar: “Estou morto por morrer!” (Moreiro 2001, p. 280).Malgrado esta tentativa de racionalização é re-corrente uma sensação de incapacidade e de im-potência que estará, também, na génese do seu desespero humanista. Contactando, em termos profissionais, com o sofrimento humano, agudiza--se a consciência do sentido trágico da sua condi-ção, tragicidade. O sentido trágico da existência aproxima-o de Unamuno, Miguel também, cuja obra e personali-dade constituem um verdadeiro problema filosófi-co. Unamuno centra toda a sua actividade intelec-tual naquilo a que chama “a única questão” e que visa a imortalidade do homem enquanto ser con-creto, logo vulnerável à vida e à morte, sem querer aceitar esta última. A religião, tal como em Torga, é agónica e não o satisfaz, surgindo, a par do pro-blema da imortalidade, a revolta perante os limites da condição humana. Porque o racionalismo nem sempre lhe dá respostas, tenta a fuga pela imagi-nação, com o fito de apreender a realidade vital ao viver e pre-viver a morte, numa tentativa de apre-ensão da metafísica humana.É o “sentimento trágico da vida” de igual modo recorrente em Miguel Torga, que faz do seu homó-nimo um padrão de referência. Como ele, conver-te a vida numa luta, consciente de que a não vai vencer; ainda como ele, para além de muitas ou-tras afinidades, vive o terror da morte, tornada em inevitável obsessão, e tenta a eternização pela pa-lavra poética. Há contudo, uma diferença de atitu-des no grau de obstinação. Como atrás ficou dito, Torga, no final da vida, adopta uma postura mais resignada e, já que não pode combater a morte, depois de inúmeras tentativas para o conseguir, segue os conselhos do médico que também é, e prepara-se para a receber.De facto, em Miguel Torga, o médico e o poeta são indissociáveis. Uma leitura de toda a sua obra literária deixa, persistentemente, vislumbrar o clí-nico atento, íntegro, austero, que, tal como o po-eta, assume responsabilidades e se constitui como elemento interventor. Por vezes, medem forças, e o poeta sobrepõe-se ao médico – “Porque eu sou artista, não sou mé-dico” (Torga 1999, p. 395) – ou o médico ao poeta – “O poeta que imagina e sonha dentro de mim teve sempre de esperar pelo médico concreto e

prático que mora a seu lado” (Torga 1999, p. 1066) –, mas o fim é a reconciliação, porque é manifesta a consciência da sua plena complementaridade, ostentada em vários passos do Diário:Dizia-me hoje alguém: – Homem, se você pudesse ser na vida literária o que é na vida clínica – con-ciliante, passa-culpas carregado de perdão –, que maravilha! Sem se lembrar, o pobre, da diferença que há entre essas duas vidas, ambas sagradas para mim. Como médico, trato irmãos doentes que me batem à porta, e a quem só devo amor e amparo; como escritor, reajo contra tartufos sãos e gordos que fazem da arte um meio para atingirem fins inconfessados. (Torga 1999, pp. 163-164).Um poeta operador! Numa pessoa só, um homem que mutila e um homem que cria. Mas, afinal, a mesma graça que colabora com a vida e, se preci-so for, a emenda. (Torga 1999, p. 559)Chego às vezes a perguntar se eu poderia ser ape-nas um escritor de banca, um homem sem actua-ção em carne e osso, sem esta comunhão de lágri-mas e pus, que os versos tentam sublimar. Quando pela manhã abro a porta da tenda, há sempre dois sujeitos dentro de mim a dialogar. Um a dizer mal do destino e outro a dizer bem. Mas se consigo, como hoje, dar realmente um empurrão à vida, fecham-se ambos, à noite, reconciliados. (Torga 1999, p. 677)Pego na pena com o escrúpulo com que pego no bisturi” (Torga 1999, p. 860)

Destarte, são recorrentes na obra literária de Mi-guel Torga vocábulos, metáforas, olhares e atitu-des que pertencem ao mundo da medicina. Daí o paralelo entre os dois ofícios, bem esclarecido pelo poeta em entrevista dada ao jornal francês Libération em 11 de Fevereiro de 1988, decorridos mais de cinquenta anos sobre o início do sua acti-vidade como médico:J’aime la médecine. J’aime ce qu’il a d’absolu dans chaque vie. La maladie, c’est un état abso-lu. Tout près de la mort. C’est à chaque fois un défi d’arracher le malade à la souffrance, à la mort. C’est la même chose avec la littérature. Je lutte avec les mots comme je lutte avec la mort.

De facto, sendo a medicina uma luta contra a mor-te, o poeta, cônscio, embora, de uma desaire fi-nal, não se lhe escusa, o mesmo ocorrendo com a literatura, particularmente com a poesia, posto que uma vida inteira a ela devotada, não viabilize o absoluto poético. Nas duas artes ou, se se prefe-rir, nas duas profissões, Sísifo comparece teimosa-mente, enformando a vanidade de um labor, pelo poeta transformado em apostolado.

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Não se intente, contudo, que Torga se serviu da medicina para ser escritor. Como atrás referi, ele encarou a sua profissão com espírito de missão. Por um lado, respeitou o juramento de Hipócrates e, se combateu um surto de febre tifóide, consi-derou isso mero fruto do acaso, ou se fez de obs-tetra no difícil parto de Deolinda, de A Criação do Mundo, mais não significou do que tentar a vitória da vida sobre a morte. Como otorrino, afirmam testemunhos vivos, foi empenhado e disponível, atendendo com devoção todos os pacientes, mes-mo aqueles que, por razões várias, lhe poderiam merecer menos consideração. Por outro lado, a profissão de médico propiciava-lhe, pela observa-ção da dor humana, temáticas várias e mesmo um muito alargado leque de opções metafóricas. O exercício da sua profissão aponta, antes de mais, para um sentido pedagógico, respeitador dos valores morais e éticos que fazem admirar Adolfo Rocha, mesmo se este não alcançou a fama de Miguel Torga porque, assim o dizia: “A caneta que escreve e a que prescreve revezam-se harmo-niosamente na mesma mão” (Torga 1999, p. 972).

Mas se, como médico, revela enorme altruísmo, talvez porque a sua competência não precisasse de ser reconhecida através de honorários, já a sua insatisfação como poeta pedia o esforço da com-pra das obras em jeito de autenticação do seu va-lor. A coexistência destas duas profissões era em Tor-ga, como atrás referi, uma necessidade. Uma da-va-lhe o equilíbrio material e a autoconfiança por-que “em Portugal nunca ninguém viveu da pena” (Torga 1999, p. 396), outra alimentava-lhe o espíri-to. Esta coexistência está plasmada na sua obra e, muito singularmente, no romance autobiográfico A Criação do Mundo. Aqui se dá conta de todos os passos que conduziram à formação do médico e do escritor, e também dos seus êxitos e fracas-sos, e é, de igual modo, insistentemente eviden-ciada ao longo do Diário, ainda que conservando aquele traço de desespero, caracterizador da sua poética, que o leva a afirmar: “Médico e poeta, em nenhuma das peles me sinto justificado” (Tor-ga 1999, p. 733)

Contrariamente ao que afirma, parece-me que como homem, como médico, como escritor con-servou uma fidelidade intransigente à norma pre-ceptiva da sua conduta de vida: “Ser idêntico em todos os momentos e situações. Recusar-me a ver o mundo pelos olhos dos outros e nunca pactuar com o lugar comum.” (Torga 1999, p. 1686). As-sumiu o sentido do dever como condição e como compromisso na tríade – “medicina, literatura e

política”; fez, dessa incumbência avocada, uma manifestação construtiva do homem, eu individual e eu social.Deveu-se a Hipócrates e a Orpheu. Mais a este, arrisco, que àquele. Mas sem as vivências de Hipó-crates, Orpheu não teria alcançado a sensibilidade que o eternizou.Uma vida simples, com dois ofícios implicados um no outro, é o que o seu Diário descobre. Salvo mo-mentos pontuais de conflitualidade entre o médico e o escritor – normalmente gerados pela escassez de tempo para se consagrar à literatura –, a escrita torguiana vive largamente da prática médica, da mesma forma que nesta se vestigia o criador e o poeta. Sobre esta interacção, e à pergunta que lhe é feita acerca do facto de a medicina dar muitos escritores, responde da seguinte forma:

Não é ela que os dá. Limita-se, simplesmente, a preservar esse dom aos que nasceram com ele, o que já não é pouco. Ao invés doutras profissões que estrangulam no indivíduo o espírito de acei-tação e compreensão do semelhante, esta faz o contrário. O médico, como tal, nem pode fechar as portas da alma, nem apagar a luz do entendi-mento. É todo o humano que o solicita a todas as horas: o que sofre, o que simula, o que teme e o que desvaria. E só a graça de uma certa dimensão afectiva e mental permite corresponder eficiente-mente a tantos e tão diversos apelos. Ora, essa dimensão está implícita na condição do artista, o mais receptivo e preceptivo dos mortais. (Torga 1999, p. 971).

O certo é que como homem, como médico e como escritor nunca abdicou de ser “defensor incansável do amor, da verdade e da liberdade, a tríade ben-dita que justifica a passagem de qualquer homem pelo mundo” (Torga 1999, p. 1786). Se mais não fora, que seguramente é, Miguel Torga cumpriu-se enquanto zelador de corpos e almas de um povo.Tudo o que observei sobre o médico que coabita com o poeta me leva a questionar o epíteto que Torga reclama para a sua faceta profissional – “a obrigação” (Torga 1999, p. 1054).

Numa primeira acepção, ao conceito de obriga-ção anda associado o de dever em sentido abso-luto e formal; trata-se de uma necessidade moral que se impõe à liberdade e que assume distintivos categóricos e absolutos. Atinge o livre arbítrio e prescreve uma definição do bem e do mal. Tendo carácter vinculativo, presume a existência dum ser, fazendo, através dele, a lei que se lhe impõe em absoluto.

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Ora a obrigação, neste caso, parece-me, antes de mais, uma opção, uma condição e uma mani-festação positiva do homem enquanto ser social, garantindo, simultaneamente, a sua afirmação in-dividual. Parece-me ainda uma manifestação de solidariedade, bem como a justificação da sua existência, alijando-se, assim, a carga negativa que a palavra muitas vezes carreia.

Médico por opção, e consciente das dificuldades que a referida opção postula, mais do que uma obrigação, faz dela uma missão. A leitura do Diário dá conta da sua vocação profissional – não podia ter sido outra –, e do muito em que ela colaborou com o poeta; esclarece a importância que lhe con-feriu – “Medicina, literatura e política, por ordem descendente” (Torga 1999, p. 1054) –; refere a sua, ainda que parcial, realização pessoal, enquan-to pilar de angústias e dores; finalmente mostra que a obrigação e a devoção alternam e assistem ao médico e ao poeta, empenhando-se em as ser-vir até ao fim.

Ao pôr a Medicina em primeiro lugar comprova, fundamentalmente, a sua dimensão humana, sis-tematicamente alertada pelo sofrimento alheio e, apostando no valor transcendental do ímpeto hu-mano, tenta soluções porque ser médico é “gra-var a imagem da esperança na massa encefálica da desilusão” (Torga 1999, p. 1024).

Claro que o próprio afirma que o exercício da me-dicina foi a luta pela sobrevivência em termos ma-teriais, e que fez de “médico à força” (Torga 1999, p. 662) mas, à medida que a obra avança, nota-se que se alguma vez foi só isso, depressa se recon-verteu num apostolado, que muito mais que uma obrigação foi uma devoção, estabelecendo-se as-sim o binómio, igualmente aplicável à sua faceta de escritor.

Síntese curricular Isabel Ponce de Leão, professora Catedrática da Universidade Fernando Pessoa. Membro integrado do CLEPUL a cuja direcção pertence, colaboradora do CIEC, sócia fundadora e elemento da direcção do Cir-culo Literário Agustina Bessa-Luís, coordenadora responsável do projecto e-médico+. Áreas de investigação: Literatura Portuguesa Contemporânea, Interacção das Artes, Arte e Ciência em diálogo: medicina e literatura.

ResumoMiguel Torga afirma no seu Diário ser a medicina e a prática médica uma obrigação, uma resposta ao instin-to de sobrevivência. Contudo, uma leitura mais atenta mostra que a sua escrita vive muito da prática médi-ca e que esta rapidamente se converte num apostolado. Médico por opção, e consciente das dificuldades que a referida opção postula, mais do que uma obrigação, faz dela uma missão – manifestação positiva do homem enquanto ser social, garantindo, simultaneamente, a afirmação individual.

BibliografiaMoreiro, J. (2001). Eu, Miguel Torga. Lisboa, Difel.Ponce de Leão, I. (2005). A obrigação, a devoção e a maceração (O Diário de Miguel Torga). Lisboa, Im-prensa Nacional-Casa da Moeda.Torga, M. (1999). Diário. Lisboa, Publicações Dom Quixote.

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membros do conselho científico

Ana Cláudia Barreira Nunes

Farmacêutica, licenciada em Ciências Farmacêuticas pela FFUP e doutorada em Química pela FCUP. Curso de Plantas em Fitoterapia creditado pela Or-dem dos Farmacêuticos e SPFi-To Coordenadora do Curso de Farmácia na Escola Superior de Saúde Jean Piaget de V.N.Gaia, onde é regente das Unidades Curriculares de Dermofarmácia e Cosmética e Tecnologia de Produção em Farmácia. Orga-niza regularmente Workshops na área da Dermocosmética e participa como palestrante em diversos eventos da área. Re-aliza investigação científica na área da Dermocosmética, es-tudos de eficácia, em parceria com Laboratórios Farmacêuti-cos.

Ana Cristina Esteves

Licenciada e Biologia na Uni-versidade de Aveiro (UA) em 1996 e doutoramento em Bio-logia pela UA em colaboração com com o Cenrro de Neuro-ciência e Biologia da Célula, da Universidade de nCoimbra, em 2002. Professora Convida-da do Departamento de Biolo-gia da Universidade de Aveiro, bem como investigadora do CESAM-UA (Centre of Environ-mental and Marine Studies). A investigação é centrada na re-lação da interação dos micro organismos com outros orga-nismos e a sua resposta às alte-rações do ambiente.

Ana Cristina Estrela de Oliveira Charrua Cordeiro

Bolseira de pós-doutoramento da FCT . Ligação à FMUP e ao IBMC. A área de investigação é a dor visceral crónica, à qual se encontram associadas pa-tologias como o síndrome de cólon irritável, a cistite inters-ticial, entre outras doenças. Estudo sobre os mecanismos pato-fisiológicos destas doen-ças, bem como arranjar novos tratamentos e ferramentas de diagnóstico. Percurso escolar na Escola Superior de Biotec-nologia da Universidade Cató-lica Portuguesa para obtenção da licenciatura em Microbiolo-gia. Passagem pelo IPATIMUP. Grau de mestre em Toxicologia pela Universidade de Aveiro. Grau de doutor em Biologia Humana, pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto.

António José Afonso Marcos

Professor Universitário. Mestre em Medicina Natural e Espe-cialista em Dietética e Nutrição pela Faculdade de Medicina da USC. Pós-graduado em Acu-punctura e Moxibustão pela Associação Médica Chinesa. Diplomado em Acupunctura e em Naturopatia pela ESTP. Pre-sidente do Instituto Português de Naturologia.

Carlos Manuel Moreira Mota Cardoso

Licenciatura em Medicina e Cirurgia, pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto. Título de Especialista em Psiquiatria pela Ordem dos Médicos. Bolseiro da Direcção Geral de Cuidados de Saúde Primários para efectuar um estágio em Trieste (Itália) no Hospital de S. Giovani (1985).

Grau de mestre em psicopa-tologia pela Universidade do Porto (Dissertação: A Clínica Psiquiátrica de Urgência – 13 anos de experiência). Grau de doutor em Psicologia pela Uni-versidade do Porto (Disserta-ção: Os Caminhos da Esquizo-frenia).Director do Hospital do Conde de Ferreira e Presidente do Conselho de Gerência, por vários mandatos. Director do Centro de Saúde Mental do Norte. Membro eleito do Co-légio Português de Psiquiatria da Ordem dos Médicos. Coor-denador da Ordem dos Médi-cos para o Serviço Nacional de Saúde. Mandato no Colégio de psiquiatria da Ordem dos Mé-dicos. Nomeado pelo Conselho Científico da Faculdade de Di-reito da Universidade do Porto como docente convidado da Escola Superior de Criminolo-gia. Foi-lhe atribuído o título académico de “Professor Afi-liado”. Participação em diver-sos trabalhos de investigação e autor de várias publicações e artigos da especialidade.

Jose Maria Robles Robles

Licenciado o Grado en fisiote-rapia por la Universidad Euro-pea de Madrid. Diplomado en ciencias de la salud, fisiotera-pia, por la Universidad Alfon-so X el Sabio, Madrid. Doctor en acupuntura por el comité internacional de exámenes de la Republica popular de China, perteneciente al ministerio de Salud publica.Estudios de Formación en Terapias Alternativas: Acupuntura, Naturo-patia, Osteopatía, masaje. Estu-dios de formación en Medicinas Tradicionales en Universidades ex-tranjeras: China, Tailandia. Director de la Academia de Ciencias de La Salud de Barcelona.

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João Paulo Ferreira Leal

Consultor científico indepen-dente, tendo desempenhado funções docentes ao longo de duas décadas em instituições portuguesas de ensino supe-rior nas áreas letivas de Antro-pologia, Bioética, Ética, Deon-tologia Profissional, e Política. É licenciado em Antropologia, pós-graduado e mestre em Re-lações Internacionais (Ética em RI), DEA em Antropologia So-cial e doutorado em Psicologia (Psicologia de Desenvolvimen-to Moral). Realizou pós-dou-toramento em Antropologia Médica, com relatório de pes-quisa orientado para os temas da Antropologia do Corpo, da Doença e da Saúde.

Luis Alberto Coelho Rebelo Maia

Editor-in-Chief da “Iberian Journal of Clinical & Forensic Neuroscience” (ISSN - 2182 - 0290) . Cédula Profissional da Ordem dos Psicólogos, n.º 102. Professor Auxiliar - Beira Inte-rior University. Clinical Neurop-sychologist, PhD (USAL - Spain). Neuroscientist, MsC (Medicine School of Lisbon - Portugal). Medico Legal Perit (Medicine Institute Abel Salazar - Oporto,

Portugal). Graduation in Clinical Neurop-sychology (USAL - Spain). Gra-duation in Investigative Profi-ciency on Psychobiology (USAL - Spain).Clinical Psychologist (Minho University - Portugal). Associated Editor of “Revis-ta Psicologia e Educação” UBI . Integrated Researcher in CI-DESD - Center for Investigation in Sports, Education and Health - UBI _ Portugal.

Rui Miguel Freitas Gonçalves

Licenciado em Bioquímica com especialização em Indústrias Alimentares pela Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP). Mestre em Tecnologia Ciência e Segurança Alimentar pela Escola de En-genharia da Universidade do Minho em colaboração com a FCUP. Doutor em Química pela FCUP. Investigador na área da Química de Compostos Fenóli-cos com várias publicações em revistas internacionais e apre-sentações em congressos na-cionais e internacionais. Licen-ciado em Ciências Básicas da Medicina pela Escola de Ciên-cias da Saúde da Universidade do Minho. Diplomatura em Me-dicina Chinesa diplomado. For-mação em Shiatsu Namikoshi. Formador na área da Medicina

Chinesa.