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Milhares de profissionais de saúde em todo o mundo já conhecem e confiam plenamente no Manual Merck, com várias edições publicadas ao longo de mais de 100 anos. Agora, o Manual Merck de Saúde para a Família vem satisfazer a exigência do público comum em ter acesso a informações médicas detalhadas e completas. Este Manual detalha inúmeras doenças; explica os termos médicos, para que o leitor possa entender melhor os profissionais de saúde; e apresenta diversos temas gerais importantes, tais como: primeiros socorros, cirurgias, medicina complementar e alternativa, viagens, envelhecimento, prevenção, incapacidade, exercícios e reabilitação.

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Page 1: Manual Merck de Informação Médica

O Manual Merck de Informação Médica – SAÚDE PARA A FAMÍLIA – Segunda Edição tem por objetivo satisfazer a crescente exigência do público em acesso a informações médicas detalhadas e completas, abrangendo vários conceitos complexos sobre saúde, que envolvem o indivíduo da gestação à velhice, utilizando uma linguagem mais fácil.

O Manual Merck de Informação Médica – SAÚDE PARA A FAMÍLIA – Segunda Edição é um livro de medicina para o lar que explica o que é uma doença, quem tem probabilidades de a contrair, os seus sintomas, como se determina o seu diagnóstico, como pode ser prevenida e tratada. Sempre que possível, é apresentada informação sobre o prognóstico, incluindo o que pode e não ser feito. As informações disponibilizadas (anatomia, funções, exames de diagnóstico e procedimentos médicos, entre outros) ajudam os leitores a compreender as doenças, e os termos médicos são detalhadamente defi nidos para que o leitor possa compreender melhor os médicos.

Entretanto, nenhum livro pode substituir a capacidade e o aconselhamento do profi ssional de saúde, visto que este é quem está em contato direto com o paciente. O Manual Merck de Informação Médica – SAÚDE PARA A FAMÍLIA – Segunda Edição tem como objetivo complementar a relação médico-paciente e não substituí-la. Este livro não tem a intenção de incentivar o autodiagnóstico ou o autotratamento. Pelo contrário, trata-se de uma fonte de informação precisa e confi ável que deve estimular uma melhor comunicação entre os pacientes e os seus médicos, enfermeiros, farmacêuticos, terapeutas e outros profi ssionais de saúde.

Esperamos que os leitores possam utilizar esse livro com boa saúde!

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CAPÍTULO 1

Corpo humanoDentro da membrana celular, existem dois com-

par timentos principais: o citoplasma e o núcleo. O citoplasma contém estruturas que consomem e trans-formam a energia, executando as funções da célula. O núcleo contém o material genético da célula e as estruturas que controlam a sua divisão e reprodução. No interior de cada célula, encontram-se as mito-côndrias, estru turas minúsculas que fornecem ener-gia à célula.

São muitos e diversos os tipos de células que constituem o organismo e cada um deles é dotado de estrutura e função próprias. Alguns tipos de célu-las, como os glóbulos brancos, movem-se livre mente sem aderir a outras células. Em contrapartida, as células musculares encontram-se fi rmemente unidas entre si. Existem outras células, como as da pele, que se dividem e reproduzem com rapidez, ao passo que outras, como as células nervosas, nunca se divi-dem ou se reproduzem em circunstâncias normais. Determinadas células, sobretudo as glandulares, têm como função principal a produção de substâncias complexas como os hormônios ou as enzimas. Por exemplo, algumas células mamárias produzem leite, outras do pâncreas produzem insulina, outras do reves timento dos pulmões produzem muco e existem ainda algumas células da boca que produzem saliva. Da mesma forma, existem outras células cuja função primordial não é produzir substâncias, mas apenas, por exemplo, contrair-se, permitindo o movimento, como acontece com as células mus culares. Este é o caso, igualmente, das células ner vosas, cuja fun-ção é conduzir os impulsos elé tricos, permitindo a comu nicação entre o sistema nervoso central (cére-bro e medula espinhal) e o resto do organismo.

Tecidos e órgãosDesigna-se por tecido um conjunto de células rela-

cionadas entre si. Embora as células de um tecido não sejam idênticas, trabalham em conjunto para desen-volver funções específi cas. Quando se analisa ao microscópio uma amostra de tecido (biopsia), podem se observar diversos tipos de células, ainda que o objetivo da observação seja de um tipo específi co.

O tecido conjuntivo é resistente e frequente mente fi broso. A sua função é manter unida a estrutura corporal e servir-lhe de suporte. Está presente em quase todos os órgãos, formando grande parte da pele, tendões e músculos. As características do tecido

O corpo humano é uma estrutura complexa alta- mente organizada, composta por células in di viduais que realizam, em conjunto, funções específi cas para a manutenção da vida. A biologia do corpo humano inclui o estudo da sua estrutura (anatomia) e o estudo do seu funcionamento (fi sio logia). A fi siologia é abordada mais pormenoriza damente no primeiro capítulo de cada uma das seções deste manual.

A anatomia encontra-se organizada por níveis, desde os menores componentes das células até os maiores (os órgãos), bem como a sua relação com outros órgãos. A anatomia geral estuda os órgãos tal como estes são observados durante um mero exame visual ou durante uma dissecação do corpo. A anatomia celular (denominada biologia celular) estuda as células e os seus componentes, que apenas podem ser observados com a utilização de técni-cas e instrumentos específi cos, como o micros cópio. A anatomia molecular (frequentemente denomi-nada biologia molecular) estuda os menores com-ponentes das células no âmbito bioquímico.

CélulasAs células, que são consideradas as menores

unidades dos organismos vivos, são constituídas por elementos ainda menores, sendo cada um deles dotado de uma função própria. O tamanho das células humanas é sempre microscópico, embora varie de célula para célula. Mesmo a maior, o óvulo fecundado, é tão pequena que não é visível a olho nu.

As células humanas encontram-se envoltas por uma membrana que suporta o seu conteúdo. Porém, não se trata de um simples invólucro celu lar, visto que esta membrana possui receptores que permitem às diversas células iden tificarem-se entre si. Além disso, estes receptores reagem na presença de substâncias produzidas pelo organis-mo e na presença de fármacos introduzidos nele; por meio desta característica, podem selecionar as substâncias ou os fármacos que entram ou saem da célula. As reações produzidas nos receptores alteram ou controlam frequentemente as funções celulares. Exemplo disto é a insulina, que adere aos receptores da membrana celular para manter níveis adequados de açúcar no sangue, permitindo assim a entrada de glicose nas células.

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conjuntivo e dos tipos de células que contém variam consoante a sua localização no organismo.

Os órgãos desempenham as funções do corpo humano. Cada órgão é provido de uma estrutura diferente capaz de desenvolver funções específi cas – exemplo disso é o coração, os pulmões, o fígado, os olhos e o estômago. Na constituição de um órgão, intervêm tecidos distintos e, por con seguinte, di-versos tipos de células. Por exemplo, o coração é formado por tecido muscular que, ao contrair-se, desencadeia a circulação do sangue; da mesma forma, é constituído por tecido fi broso que forma as válvu-las e por células especiais que controlam a frequên cia e o ritmo cardíacos. O olho contém célu las muscu-lares que abrem e contraem a pupila, células trans-parentes que constituem o cristalino e a córnea,

células que produzem fl uidos dentro do olho, célu-las fotossensíveis e células nervosas que conduzem os impulsos ao cérebro. Mesmo um órgão aparen-temente tão simples como a vesícula biliar contém células distintas, como as que formam o revesti-mento interior e o tornam resistente aos efeitos irritantes da bile, as células musculares que se contraem para expulsar a bile e outras que formam a parede externa fi brosa que contém a vesícula.

Sistemas orgânicosAinda que um determinado órgão desempenhe

funções específi cas, os órgãos funcionam também como parte de um grupo denominado sistema or-gânico. O sistema orgânico é a unidade de organização

INTERIOR DO TRONCO

Aorta

Coração

Esôfago

Diafragma

Aorta

Baço

Estômago

Pâncreas

Intestino delgado

Intestino grosso

Reto

Tireoide

Traqueia

Veia cava superior

Pulmão

Fígado

Veia cava inferior

Vesícula biliar

Rim

Ureter

Apêndice

Bexiga

Uretra

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4 Seção 1 FUNDAMENTOS

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em que se baseia o estudo da medicina, a classifi cação geral das doenças e o planejamento dos tratamentos. Neste manual, a exposição dos temas está organi-zada, na sua maioria, pelo conceito destes sistemas.

O aparelho cardiovascular é um exemplo de um sistema orgânico. É composto pelo coração (cárdio) e pelos vasos sanguíneos (vascular) e encarrega-se da circulação do sangue. Outro exemplo é o apa-relho digestivo que se estende da boca ao ânus: recebe os alimentos, digere-os e elimina os resíduos pelas fezes. É formado pelo estômago, pelo intes-tino delgado e pelo intestino grosso, que mobi lizam os alimentos, incluindo também órgãos como o pân-

creas, o fígado e a vesícula biliar, os quais produzem enzimas diges tivas, eliminam toxinas e armazenam as substân cias necessárias para a diges tão. O siste ma mus culoesquelético é formado por ossos, músculos, ligamentos, tendões e articulações, os quais susten-tam e dão mobilidade ao corpo.

Os sistemas orgânicos não funcionam de forma isolada. Por exemplo, o aparelho digestivo ne cessita de mais sangue para cumprir as suas funções, quando se ingere uma refeição abundan te. Para isso, recorre aos sistemas cardiovascular e nervoso. Neste caso, os vasos sanguíneos do aparelho digestivo dilatam-se para transportar mais sangue, ao mesmo tempo que

INTERIOR DE UMA CÉLULA

Embora existam diversos tipos de células, a maio-ria possui os mesmos componentes. Uma célula é constituída por núcleo e citoplasma, encontrando -se dentro de uma membrana celular que regula as ações no interior ou no exterior.

O núcleo contém os cromossomos que compõem o material genético da célula, bem como um nucléo lo que produz os ribossomas. O citoplasma é um ma-terial fl uido com organelas, que podem ser con si-

de radas os órgãos da célula. O retículo endoplas -mático transporta materiais no interior da célula.

Os ribossomas produzem proteínas, agrupadas pelo aparelho de Golgi com o objetivo de abando-narem a célula. As mitocôn drias geram a energia ne cessária para as atividades celulares. Os lisos-somos contêm enzimas que podem decompor as partículas que entram na célula. Os centríolos par-ticipam na divisão celular.

Citoplasma

Aparelho de Golgi

Centríolos

Retículo endoplasmá-

tico

Ribossomas

Célula epitelial

Célula muscular

Célula nervosa

Célula do tecido conjuntivo

Membrana celular

Mitocôndria

Nucléolo

Lisossomo

Cromossomos

Núcleo

Exemplos de diferentes células

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o cérebro recebe impulsos nervosos indicadores do aumento de trabalho. O aparelho digestivo estimu la de forma direta o coração através de impulsos nervo sos e de substâncias químicas liberadas na cor rente san-guínea. O coração responde com maior irriga ção sanguínea; o cérebro, por sua vez, reduz a sensação de apetite, aumenta a sensação de saciedade e dimi-nui o interesse por atividades mais intensas.

A comunicação entre órgãos e sistemas é funda-mental, uma vez que permite ao corpo regular o funcio-namento de cada órgão de acordo com as necessida-des gerais do organismo. O coração deve saber se o corpo está em repouso pa ra redu zir o ritmo cardíaco e aumentá-lo quando os órgãos necessitarem de mais sangue. Os rins precisam saber se existe um exces-so ou uma defi ciência de líquido no organismo, para assim produzirem uma urina mais diluída ou con-servarem a água quando o corpo está desi dratado.

Graças à comunicação, o próprio organismo mantém o seu equilíbrio. Este mecanismo de no-mina-se homeostase. Através da homeostase, os órgãos trabalham sem excesso nem falta e cada um facilita as funções dos outros.

A comunicação necessária para a homeostase produz-se através do sistema nervoso ou através de estímulos de substâncias químicas. O sistema nervoso autônomo exerce, em grande parte, o con-trole sobre a complexa rede de comunicação que regula as funções corporais. Esta parte do sistema nervoso funciona sem que a pessoa tenha consciên cia disso e sem que exista um sinal eviden te de que está funcionando. As substâncias químicas utilizadas na comunicação denominam-se transmissores. Os transmissores produzidos por um órgão, que viajam para outros órgãos através do sangue, deno minam-se hormônios; os transmissores que conduzem as men-sagens para diferentes partes do sistema nervoso denominam-se neurotransmissores.

O hormônio adrenalina é um dos transmissores mais conhecidos. Quando alguém se encontra, repen-tinamente, perante uma situação de stresse ou de medo, o cérebro envia de imediato uma men sagem às glândulas adrenais para que libertem rapidamente a adrenalina. Esta subs tância química coloca logo o organismo em estado de alerta, uma resposta conhe-cida como defesa-ataque. O coração bate com maior rapidez e intensidade, as pupilas dilatam-se para rece berem mais luz, a respiração acelera-se e a ativi-dade do aparelho digestivo dimi nui para que chegue mais sangue aos músculos. O efeito é rápido e intenso.

Outras comunicações químicas são menos espe-taculares, mas igualmente eficazes. Por exemplo, quando o corpo necessita de mais água, diminui o

volume de sangue que circula pelo sistema cardio-vascular. Esta diminuição é sentida pelos receptores das artérias do pescoço, que respondem enviando impulsos através dos nervos para a hipófise, uma glândula situa da na base do cérebro que, então, produz o hormônio antidiurético. Este, por sua vez, estimula os rins para que diminuam a produção de urina e rete nham mais água. Simultaneamente, o cérebro percebe a sensação de sede e estimula a pessoa a beber.

Além disso, o corpo é dotado de um grupo de órgãos, o sistema endócrino, cuja principal função é a de produzir hormônios que regulem o funcio na mento dos outros órgãos. A glândula tireoide, por exemplo, o hormônio que con trola o ritmo metabó lico (velo-cidade do processo das funções químicas do corpo); o pâncreas produz a insulina, que contro la o con-sumo dos açúcares; as glândulas adrenais pro duzem a adrenalina, que estimula vários órgãos e prepara o organismo para enfrentar o estresse.

Barreiras externas e internasPor estranho que pareça, não é fácil defi nir o que

está dentro ou fora do corpo, já que este apre senta várias superfícies. A pele, que é um sistema orgâni co, está evidentemente no exterior do corpo, formando uma barreira que impede a entrada de substâncias nocivas no organismo. Mesmo coberto por uma fi na camada de pele, o canal auditivo é consi derado como uma parte interna do corpo, tendo em conta que penetra em profundidade na cabeça. O aparelho digestivo é um tubo comprido que começa na boca, atravessa o corpo e termina no ânus. À medida que os alimentos passam por este tubo, estão dentro ou fora do corpo? De fato, os nutrientes e os líquidos apenas estão no interior do organismo quando são absorvidos pela corrente sanguínea.

O ar entra pelo nariz e pela boca até à garganta, passando pela traqueia, até chegar às extensas rami- fi cações das vias respiratórias pulmonares (brôn-quios). Poderíamos perguntar-nos em que ponto este sistema de condução de ar deixa de ser exterior para se converter em interior. O oxigênio dos pulmões não é útil ao corpo até passar para a corrente sanguí nea. Por conseguinte, o oxigênio deve atravessar uma ca-mada fi na de células que reveste os pulmões. Esta camada atua como uma barreira contra os vírus e as bactérias, como os bacilos da tuberculose, que podem entrar nos pulmões através do ar inspirado. No entan to, esses microrganismos não costumam causar doenças, exceto se penetrarem nas células ou passa rem para a corrente sanguínea. A maioria dos orga nis mos infecciosos transportados pelo ar nunca pro voca

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Principais Sistemas Orgânicos

Sistema Órgãos do Sistema

Cardiovascular Coração, vasos sanguíneos (artérias, capilares, veias)

Respiratório Nariz, boca, faringe, laringe, traqueia, brônquios, pulmões

Nervoso Cérebro, medula espinhal, nervos (simultaneamente, os que transportam impulsos até o cérebro e os que transportam impulsos do cérebro até os músculos e órgãos)

Pele Pele (a superfície que geralmente se considera como pele e as estruturas subjacentes do tecido conjuntivo: gordura, glândulas e vasos sanguíneos)

Musculoesquelético Músculos, tendões e ligamentos, ossos, articulações

Circulatório Células sanguíneas e plaquetas, plasma (parte líquida do sangue), medula óssea (onde se produzem as células sanguíneas), baço, timo

Digestivo Boca, esôfago, estômago, intestino delgado, intestino grosso, reto, ânus, fígado, vesícula biliar, pâncreas (a parte que produz as enzimas), apêndice

Endócrino Glândula tireoide, glândula paratireoide, glândulas adrenais, glândula hipófi se, pâncreas (a parte que produz a insulina), estômago (as células que produzem a gastrina), glândula pineal, ovários, testículos

Urinário Rins, ureteres, bexiga, uretra

Reprodutor masculino Pênis, próstata, vesículas seminais, canais deferentes, testículos

Reprodutor feminino Vagina, colo uterino, utero, trompas de Falópio, ovários

doenças, pois os pulmões estão dotados de muitos mecanismos de proteção, como os anti corpos que com batem as infecções ou as células ciliadas que ex-pulsam os resíduos das vias respiratórias.

As superfícies do corpo, além de separarem o ex te rior do interior, mantêm as substâncias e as estru-tu ras do corpo em seu lugar, fazendo com que estas funcio nem corretamente. Por exemplo, os órgãos in-ternos não fl utuam num mar de sangue; o sangue está normalmente no interior dos vasos san guíneos. Se há uma fuga de sangue dos vasos sanguíneos para outras partes do corpo (hemorragia), o sangue não só deixa de levar oxigênio e nutrientes aos tecidos como também pode causar lesões graves. Por exemplo, uma hemorragia muito pequena no cérebro destrói o tecido cerebral, porque não pode se expandir para além dos limites do crânio. Por outro lado, uma fuga semelhante de sangue no abdome não destrói o tecido, porque o abdome tem espaço para que a hemorragia possa se expandir.

A saliva, tão importante para a boca, pode causar graves danos se for aspirada pelos pulmões, pois contém bactérias que podem causar a formação de uma infecção no pulmão. O ácido clorídrico pro-duzido pelo estômago rara mente causa danos a este órgão. Contudo, pode queimar e lesionar o esôfago se fl uir na direção contrária, da mesma forma que pode danifi car outros órgãos se atravessar a parede

do estômago. Por último, as fezes, a parte não dige-rida dos alimentos que é expulsa, podem causar infecções com risco letal se se infi ltrarem na parede do intestino em direção à cavidade abdominal.

Interação mente-corpoA mente e o corpo interagem de uma for ma tão

poderosa que ambos podem afetar a saúde de uma pessoa. O aparelho digestivo é controlado pela mente (cérebro); a ansiedade, a depressão e o medo afetam de forma signi fi cativa o funcionamento do aparelho digestivo�.

O estresse social e psicológico pode desencadear ou agravar uma grande variedade de doen ças, como diabetes mellitus, hipertensão e, provavelmente, esclerose múltipla. No entanto, a importância rela-tiva dos fatores psicológicos varia bastante entre diferentes indivíduos com o mesmo problema.

A maioria das pessoas, baseando-se na sua intuição ou na sua experiência pessoal, acredita que o estresse emocional pode precipitar ou alterar o desen vol vi-mento de doenças graves. Contudo, não está escla re- cida a forma como estes fatores estres santes po dem atuar desse modo. É óbvio que as emoções podem afe-tar algumas funções corporais, como o ritmo car-díaco, a pressão arterial, a trans piração, os padrões de sono, a secreção de ácidos gástricos e a frequên-cia das evacuações intestinais. Mas o esta beleci-men to de outras relações parece menos evidente. Por exemplo, apenas agora se come çaram a identifi car � ver pág. 744

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as vias de comunicação e os mecanismos respon-sáveis pela interação entre o cérebro e o sistema imunológico. É surpreendente que a mente (cére-bro) possa alterar a atividade dos glóbulos brancos e, por con seguinte, a resposta imunológica, porque os glóbulos brancos viajam pelo corpo através do sangue ou dos vasos linfáticos e não estão ligados aos nervos. No entanto, foi demonstrado que, efeti vamente, o cérebro se comunica com os glóbulos brancos. Por exemplo, a depressão pode inibir o sistema imuno lógico, o que faz com que a pessoa deprimida seja mais propensa a deter-minadas infec ções, como as causadas pelo vírus da gripe.

O estresse pode provocar sintomas físicos, mesmo não existindo uma doença orgânica, porque o corpo responde fi siologicamente ao estresse emocional. Por outro lado, o estresse pode causar ansiedade, que, por sua vez, ativa o sistema nervoso autônomo e os hormônios (como a adrenalina) para que aumen-tem o ritmo cardíaco, a pressão arterial e a quanti-dade de suor. Desta forma, o estresse pode provocar espasmos musculares, que provocarão dores no pescoço, nas costas, na cabeça ou noutros locais.

A interação mente-corpo é uma via de duplo sentido. Não só os fatores psicológicos podem con tri- buir para o início ou o agravamento de várias pertur-bações físicas, como as doenças or gânicas também podem afetar a forma de pensar ou o estado de ânimo. A depres são é habitual nos indivíduos com doen ças de risco mortal, recorrentes ou crônicas. O estado depressivo pode piorar os efeitos da doença orgâ-nica, aumentando os problemas do indivíduo.

Uma possível relação entre a mente, o corpo e o ris co de morte sugere que os indivíduos pessi-mis tas, ou seja, aqueles que interpretam os acon-tecimentos infelizes como permanentes, têm mais probabilidade de se sen tirem mais desam parados e deprimidos em comparação com os in divíduos oti-mistas. A doença associa-se a senti mentos de desam-paro e de desespero. Os indivíduos pessimistas apresentam com maior fre quência um estado doentio e uma tendência para a depressão. Num estudo efetuado, a perspectiva pessimista foi relacionada com um aumento de 19% no risco de morte.

Anatomia e doençaO corpo humano é, de fato, admirável. A maioria

dos órgãos dispõe de uma grande capacidade adicio nal ou de reserva, podendo funcionar de forma adequada mesmo quando estão danifi cados. Como exemplo, é necessário que dois terços do fígado fi quem destruídos para que as consequências sejam graves. Um indivíduo

pode sobreviver à extração cirúrgica de um pulmão, desde que o funcionamento do outro seja normal. Porém, há outros órgãos que, quando sujeitos a uma deterioração leve, começam a funcionar de forma inadequada e provocam sintomas. Se um acidente vascular cerebral destrói uma peque na quantidade vital de tecido cerebral, o paciente pode fi car incapaci-tado de falar, mexer um membro ou manter o equilí-brio. Um ataque cardía co que destrua tecido cardíaco, pode dete riorar ligeiramente a capacidade do coração para bombear sangue ou pode levar à morte.

A doença costuma afetar a anatomia e as alterações na anatomia podem levar à doença. Se o fl uxo de sangue para um tecido for obs truído ou interrompido, o tecido é destruído (infarto), como num ataque car-díaco (infarto do miocárdio) ou num acidente vascu-lar cere bral (infarto cerebral). Uma válvula anômala do coração pode provocar uma disfunção cardíaca. As lesões na pele podem prejudicar a sua capacida-de para funcionar como uma barreira, o que pode levar a infecções. Os desenvolvimentos anô malos, como o câncer, podem destruir diretamente o tecido saudável ou comprimi-lo e acabar por destruí-lo.

Dada a estreita relação entre a doença e a anatomia, os métodos para observar o interior do corpo conver-teram-se na chave fundamental do diagnóstico e do tratamento das doenças. A primeira descoberta re-volucionária foram os raios X, que permitiram aos profi ssionais da medicina observar o interior do corpo e examinar as estruturas internas sem ser ne-cessário proceder a uma intervenção cirúrgica. A tomografi a compu tadorizada (TC) é outro importan-te avanço que associa os raios X a computadores. A TC produz imagens detalhadas e bidimensionais das estru turas internas do organismo.

Podemos mencionar outros métodos para obser var as estruturas internas através de imagens: a eco grafi a, baseada na utilização de ultrassons; a res so nância nuclear magnética (RNM), que se baseia no movimen-to dos átomos dentro de um campo magnético; e a cintilografi a, que utiliza elementos químicos radioativos que são injetados no corpo�. Todas essas técnicas permitem observar o interior do corpo e, ao contrário da cirurgia, não são procedimentos invasivos.

A anatomia neste manualTendo em conta a importância da anatomia em

medicina, quase todas as seções deste livro começam por uma descrição da anatomia do sistema orgânico em questão e as ilustrações centram-se na parte específi ca da anatomia que está sendo discutida.

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