manual comunicação em saúde
DESCRIPTION
Manual Comunicação Em SaúdeTRANSCRIPT
MANUAL DE COMUNICAÇÃO EM SAÚDE
Manual de Formação concebido para Licenciados em Ciências Farmacêuticas Setembro de 2005
Autoria: Dulce Salzedas Edição: InfoCiência
Currículo do Autor
Dulce Salzedas é jornalista desde 1989. Em 2000 começou a dedicar-se a temas ligados à saúde.
É hoje a jornalista responsável por assuntos da área da saúde na SIC.
Trabalhou nas redacções da Agência de Notícias LUSA, jornal Semanário, Antena 1, SIC-TV e
jornal EXPRESSO. Colaborou em várias outras publicações.
Foi membro fundador do Núcleo de jornalistas de saúde do Sindicato de Jornalistas.
É desde 2002 membro do conselho consultivo da comissão nacional de Luta contra a sida, tendo
sido convidada pela presidência da república para participar em encontros sobre a problemática
da sida, sob o auspício do Presidente da República.
Foi coordenadora e co-autora do magazine semanal “Saúde Pública” emitido pelo canal de
televisão SIC-Notícias desde Janeiro de 2000 até Maio de 2005.
Frequentou vários seminários/cursos relacionados com a problemática da Saúde, com enfase na
Comunicação em saúde, particularmente na área da sida, toxicodependência.
Foi moderadora/participantes em vários debates organizados por entidades e instituições ligadas
à saúde: Instituto Nacional de Saúde, Escola de Enfermagem Artur Ravara, Congresso Nacional
de Enfermagem. Moderou o debate entre ex-ministros da Saúde na cerimónia que assinalou o
aniversário do hospital Joaquim Urbano em 2003.
Índice
Lista de abreviaturas 6
Referências bibliográficas 7
Introdução 8
Capítulo 1. Canais, sistemas, fontes e modelos de Comunicação 10
Capítulo II. O Plano nacional de Saúde e a Informação 31
Capítulo III. Farmacêutico: actor/interveniente na prevenção em Saúde 33
Comunicação em Saúde ______________________________________________________________________________
5
Lista de Abreviaturas
ARS, Administrações Regionais de Saúde
AVC, Acidente Vascular Cerebral
AVPP, Anos de Vida Potencial Perdidos
CPOD, Dentes Cariados, Perdidos, Obturados na Dentição Permanente
(DMFT - decayed, missing, filled, teeth)
CSP, Cuidados de Saúde Primários
DGS, Direcção Geral da Saúde
GOP, Grandes Opções do Plano
IGIF, Instituto para a Gestão Informática e Financeira da Saúde
INS, Inquérito Nacional de Saúde
INSA, Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge
MCS, Meios de Comunicação Social
MS, Ministério da Saúde
OCDE, Organização de Cooperação e Desenvolvimento Económico
OMS, Organização Mundial de Saúde
ONSA, Observatório Nacional de Saúde
PNV, Plano Nacional de Vacinação
PNS, Plano Nacional de Saúde
UE, União Europeia
Comunicação em Saúde ______________________________________________________________________________
6
Referências Bibliográficas
- Plano Nacional de Saúde
- AHRQ – Agency Healthcare Research and Quality (Agência internacional para
o desenvolvimento e qualidade dos cuidados de saúde).
Saúde XXI
“Comunicação” – António Duarte Rodrigues (Universidade Nova de Lisboa)
“A saúde nos media” – José Manuel Mendes Nunes.
- Observatório Europeu dos Sistemas de Saúde (OESS)
- Observatório Português de Sistemas de Saúde (OPSS)
- OMS – Organização Mundial de Saúde
- UNAIDS- Agência das Nações unidas para a Sida
Comunicação em Saúde ______________________________________________________________________________
7
INTRODUÇÃO
“ o exercício da cidadania está cada vez mais ligado à saúde e bem estar. Um
cidadão, de plenos direitos, tem de ter conhecimentos e informação sobre os
riscos que corre e o que deve fazer para viver com saúde”.
Esta frase foi retirada da comunicação de um participante no congresso
internacional sobre sida que decorreu, em 2000, em Durban, na África de Sul.
Mas terá sido este o objectivo da Organização Mundial de Saúde (OMS), na
Europa quando, em 1997, criou a Rede Europeial de Comunicações em saúde
(EHCN – European Health Communications Network. Dois anos mais tarde a
rede é alargada ao mundo inteiro com a criação da WHCN (World Health
Communications Network), assim se demonstrando o reconhecimento mundial
de que a promoção da saúde só é possivel se houver uma boa comunicação.
A EHCN e a WHCN têm como funções principais:
- incentivar a comunicação entre o cidadão e o profissional de saúde.
- consciencializar o cidadão – anónimo, e não anónimo – de que lhe cabe
um papel importante na promoção da saúde;
- melhorar a relação entre profissionais de saúde, governantes e meios de
comunicação social;
- permitir comparações de estatísticas de saúde de vários países.
O aparecimento destas redes de comunicação foi o ponto de partida também
para que os governos do mundo inteiro vissem a necessidade de ter um canal de
comunicação em saúde. Até porque, com a globalização, cresceu o apetite dos
jornalistas e dos Meios de Comunicação Social sobre questões relacionadas com
a saúde das populações. E os governantes viram-se na obrigação de não negar a
informação solicitada.
Por razões várias, a Saúde é hoje, a par da Educação e do Ambiente, um tema
que suscita cada vez mais o interesse de todos e, que, de algum modo, é um
Comunicação em Saúde ______________________________________________________________________________
8
parâmetro de medição do grau de desenvolvimento do país. Por isso os
governantes, autoridades de saúde internacionais e nacionais vêem hoje a
educação em saúde, a comunicação e a mobilização social, como importantes
ferramentas na construção de programas e projectos que visem capacitar
gestores, técnicos e lideranças comunitárias para a vigilância e a monitorização
da qualidade de vida das populações.
A Educação em saúde pode ser definida como uma prática social que preconiza
não só a mudança de hábitos, práticas e atitudes, a transmissão e apreensão de
conhecimentos, mas principalmente, a mudança gradual na forma de pensar,
sentir e agir. Sendo assim, educar e aprender em saúde é um processo contínuo
de indagação, reflexão, questionamento e principalmente, de construção
colectiva, articulada e compartilhada. O actor do processo educativo é aquele que
estimula continuamente a organização de acções colectivas i e solidárias,
incentivando e valorizando o diálogo, a criatividade e a busca de soluções para
as questões de saúde que afectam as comunidades. O objectivo é que os
cidadãos estejam sensibilizados, capacitados e fortalecidos. Só assim se obtêm
condições para identificar, conhecer, analisar e avaliar os motivos de ocorrência
dos problemas que afectam a saúde. É preciso ter também em conta que um
cidadão informado questiona as práticas autoritárias.
A Comunicação em Saúde surge, então, não só como uma estratégia para
prover indivíduos e colectividade de informações, pois reconhece-se que a
informação não é suficiente para favorecer mudanças, mas é também chave para
compartilhar conhecimentos e práticas que podem contribuir para a conquista de
melhores condições de vida. Reconhece-se que a informação de qualidade,
difundida no momento oportuno, com utilização de uma linguagem clara e
objectiva, é um poderoso instrumento de promoção da e prevenção em saúde.
O processo de comunicação deve ser ético, transparente, atento aos valores,
opiniões, tradições, culturas e crenças das comunidades, respeitando e
considerando e reconhecendo as diferenças, baseando-se na apresentação e
avaliação de informações educativas, interessantes, atractivas e compreensíveis.
Comunicação em Saúde ______________________________________________________________________________
9
CAPÍTULO 1:
Canais, sistemas, fontes e modelos de Comunicação
Há diversas formas de fazer chegar uma informação. A mais utilizada é a
chamada fonte de informação:
Uma das mais habituais é a do gabinete de Imprensa. Ele é particularmente
importante em instituições como a direcção geral de saúde cujos profissionais
são os interlocutores mais procurados pelos jornalistas. Hoje são poucos os
organismos da área da saúde que não têm um gabinete ou um assessor de
Imprensa: alguém com capacidades de comunicar sempre que haja necessidade
e cuja principal característica é saber comunicar em situações de risco. Não é
um mero assessor político, mas antes um especialista em comunicação com
preparação na área da saúde que tem ainda como função gerir a agenda dos
técnicos que trabalham na instituição e encaminhar para o jornalista que pediu
ajuda o profissional mais indicado em função do tema em questão. Na maioria
das vezes o gabinete de Imprensa funciona também como um porta-voz da
instituição.
Mas embora o assessor seja importante, os profissionais de saúde devem
desenvolver a arte de comunicar de forma a que possam escrever informações,
responder adequadamente em entrevistas para jornais, televisões ou radios já
que os jornalistas preferem falar com especialistas em determinados assuntos do
que com assessores.
Esta necessidade de ter canais de ligação directa com os jornalistas surge do
facto de se ter assumido que muitas vezes as notícias não são correctas, não
por culpa de quem as fez, mas por culpa de quem não ajudou o jornalista a
perceber o que estava em causa. E isso pode ter acontecido por várias razões.
Comunicação em Saúde ______________________________________________________________________________
10
As habituais são:
• quando o problema vem a público já existia uma história de ocultação de
factos;
• nos serviços de saúde está enraizada una cultura de segredo que é
confundida com sigilo profissional;
• os dados disponíveis são reduzidos e insuficientes ;
Além do assessor de imprensa, os organismos portugueses com
responsabilidades no sector de saúde criaram outras fontes de informação: os
sistemas informáticos. Uns são os chamados “sites” que funcionam enquanto
fonte de informação para profissionais de saúde, governantes e jornalistas.
Outros são sistemas de monitorização e vigilância. Estes últimos são
especialmente dirigidos a profissionais de saúde e autoridades sanitárias mas
também podem ser “consultados” por jornalistas. O Instituto Nacional de Saúde
de Saúde Pública Dr. Ricardo Jorge (INSA) é um dos que mais sistemas de
informação detém.
Eis alguns exemplos:
-acidentes domésticos - informação adequada - (ADELIA) é a designação
portuguesa para o sistema de monitorização, vigilância e registo dos acidentes
domésticos e de lazer nos serviços de urgência dos hospitais e dos centros de
saúde. Até à data tem vindo a ser designado por “ European Home and Leisure Accidents Surveillance System" (EHLASS), que é o seu congénere europeu.
O CERAC - Centro de Estudos e Registo de Anomalias Congénitas -
mantém o Registo Nacional de Anomalias Congénitas, cujos dados estão
disponíveis desde 1996.
Os seus objectivos são:
• determinar a prevalência nacional das anomalias congénitas em Portugal
bem como a sua distribuição geográfica.
Comunicação em Saúde ______________________________________________________________________________
11
• estabelecer um sistema de vigilância epidemiológica que permita a
detecção de variações numa eventual ocorrência das anomalias.
• manter uma base de dados nacional que deve estar
à disposição de todos os profissionais de saúde, da Comunidade Científica
e do Ministério da Saúde.
Cabe ao CERAC a manutenção das estruturas adequadas de forma a permitir:
• recepção e validação dos dados
• a sua codificação e informatização
• a comunicação à comunidade cientifica e às entidades responsáveis pelo
planeamento das várias áreas da saúde.
Projecto Ícaro:
Designação de um projecto português, que tem sede no ONSA – Instituto Ricardo
Jorge – que analisa e investiga a Importância do calor e a sua repercurssão
sobre os Óbitos.
Inquérito Nacional de Saúde :
É um instrumento de medida e de observação em saúde, que recolhe dados de
base populacional, gera estimativas sobre alguns estados de saúde e de doença
da população portuguesa, bem como as respectivas determinantes e estuda a
sua evolução ao longo dos tempos. O INS foi testado pela primeira vez entre
1980 e 1982. Mas só em 1997 é que se realizou o primeiro inquérito nacional
cobrindo apenas o Continente. Neste primeiro INS participaram técnicos do
National Center for Health Statistics (NCHS) dos Estados Unidos da América.
Junto dos serviços do Alto Comissariado para a Saúde existem outros sistemas
de informação que estão baseados em três aplicações : os Projectos SONHO, o
SINUS e o Cartão de Utente.
Comunicação em Saúde ______________________________________________________________________________
12
A Notícia e as Fontes de Informação Na esmagadora maioria das situações, os jornalistas não testemunham os factos
que relatam. Quando o jornalista recebe a informação através de declarações de
uma testemunha directa, a notícia denomina-se: em segunda mão. Através de
fontes pessoais ou institucionais. As fontes são, pois pessoas, instituições
organismos de todos o tipo que facilitam a informação de que os meios de
comunicação necessitam para elaborar notícias.
As fontes são indispensáveis mesmo quando o jornalista é testemunha dos factos
a relatar: são os chamados casos de notícias relatadas em “primeira mão”.
• Permitem uma outra visão do facto
• Informam sobre aspectos relacionados: os Efeitos, a Severidade, a
Extensão, a distribuição.
As fontes cedem à notícia a sua percepção de:
• Gravidade
• Oportunidade
• Proximidade/Proeminência
• Interesse Humana
• Drama
• Controlo
• Justiça (no sentido de merecimento)
• familiaridade
• Confiança
• Medo
• Responsabilização
Comunicação em Saúde ______________________________________________________________________________
13
“Quanto maior for a quantidade, qualidade e diversidade das informações que comunica e das fontes que cita, maior será a sua credibilidade e, por isso, a sua influência (...). Héctor Borrat “O poder informativo do jornal evidencia-se pelo número, qualidade e pluralismo das suas fontes de informação. Perante um determinado facto noticiável, o jornal precisa de ter várias fontes contrastáveis para que a sua versão não seja uma simples transcrição ou reprodução da de uma única fonte, nem reflicta apenas a versão de uma das partes do conflito” (ibidem) . Tipologia das fontes
- Quanto à acessibilidade
– – Fontes
exclusivas
– – Fontes
partilhadas
Fontes Exclusivas Aquelas a que apenas um jornalista, individualmente, tem acesso, com exclusão
de qualquer outro. São as mais apetecíveis, ainda que as mais difíceis de cativar.
Frequentemente, fornecem a informação sob condição de anonimato.
Vantagens das fontes exclusivas - A exclusividade da informação
- A proximidade à fonte do acontecimento que poderá ser:
– – Membro do Gabinete de um Ministro
– – Alto dirigente de uma instituição
– – Figura pública
– – Indivíduo «bem relacionado»
Comunicação em Saúde ______________________________________________________________________________
14
Desvantagens das fontes exclusivas - Elevada subjectividade e parcialidade da informação
- Interesse pessoal no facto a noticiar
- Anonimato
- Dificuldade acrescida no contraditório
Fontes Partilhadas
• São as mais comuns. A elas podem aceder todos os meios de comunicação
social. Garantem a todos os jornalistas um conjunto de informação
homogénea, em quantidade e qualidade. São exemplos:
– – Agências noticiosas
– – Gabinetes de imprensa
– – Conferências de imprensa
– – Comunicados
Tipos de fontes quanto à iniciativa
• Por busca no universo dos contactos que o jornalista possui
• Por iniciativa dos interessados na divulgação da notícia
As fontes podem também ser consideradas: -Fonte resistente:
– – Relutante em dar informações
- Fonte aberta – – Não opõe resistência mas também não toma a iniciativa
- Fonte espontânea – – Toma a iniciativa de informar
- Fonte ansiosa – – Dá à necessidade de informar um carácter de urgência, insistindo na
divulgação do facto
Comunicação em Saúde ______________________________________________________________________________
15
- Fonte compulsiva – – Toma a iniciativa com todos os recursos ao seu alcance, tentanto obrigar
o meio a divulgar a sua informação.
Atribuição da fonte - É o modo como os jornalistas revelam a identidade da fonte da informação
difundida
Como os jornalistas revelam a identidade da fonte - Atribuição directa
- Atribuição com reservas
- Atribuição com reserva obrigatória
-Off the record
Atribuição directa -Quando o jornalista identifica a fonte e cita a informação fornecida
-Exemplo:
“O Prof. Pereira Miguel declarou rejeitar nomeação para a pasta da Saúde ”
Atribuição com reservas
• Quando o jornalista não identifica a fonte mas coloca-a na proximidade do
facto noticiado.
• Exemplo: “Fonte do Ministério da Saúde garante recusa de Pereira Miguel para
Ministro da Saúde”
Atribuição com reserva obrigatória
• Quando o jornalista não refere a fonte e toma as informações como se fossem
suas
• Exemplo: “A TVI sabe que Pereira Miguel recusou convite para a pasta da
Saúde”
Comunicação em Saúde ______________________________________________________________________________
16
Off the record ou Atribuição com reserva total
• A fonte fornece ao jornalista informações sob compromisso de que não serão
divulgadas. É frequentemente utilizada para fazer circular rumores que mais
tarde poderão, através de outras fontes, converter-se em notícias.
-Quando o jornalista contacta uma fonte potencial espera:
– – Novidade
– – Originalidade
– – Importância para um dado grupo
– – Verdade
– – Objectividade
– – Rigor
– – Codificação ajustada
Os princípios que devem reger a relação entre jornalistas e
fontes são:
-Verdade
-Coerência.
-Confiança.
- Continuidade.
-Compreensão.
Os Rumores
- O rumor é uma mensagem sem origem determinada e que não oferece
qualquer tipo de credibilidade. Mas o rumor deve ser sempre tido em conta. As
instituições com centros de crise têm sempre alguém dedicado aos rumores que
vão aparecendo. Até porque o rumor chega sempre facilmente às populações e é
preciso ter conhecimento dele para o poder desmentir. Por causa da gripe das
aves, a OMS aconselhou os governos a terem em conta os rumores.
Comunicação em Saúde ______________________________________________________________________________
17
Como é fácil de verificar, há sempre interesse subjacente nas fontes de
informação que procuram o jornalista. Esse interesse pode ter no entanto várias
vertentes.
Quando a Direcção Geral de Saúde convoca os jornalistas para uma conferência
de Imprensa sobre, por exemplo, a gripe das aves é porque está interessada em
que os MCS passem ao público a informação de que existe a possibilidade de
Portugal vir a sofrer uma epidemia.
Mas pode acontecer que a mesma Direcção Geral convoque jornalistas para
lhes divulgar determinada informação que tem interesse em que não seja
difundida. Parece estranho?
Vamos supor que à Direcção Geral de Saúde chega a informação de que nas
costas da Mauritânia estão a morrer focas. A informação que chegou aos
especialistas é que na origem dessa mortandade podem estar determinados
produtos tóxicos. Perante estas situação decide-se convocar um grupo restrito
de jornalistas. Explica-se toda a situação e pede-se que a informação fique em
“stand-by” até que haja confirmação do que de facto aconteceu.
Se se verificar que as focas morreram por toxicidade, aí os jornalistas estão
prontos para alertar a população para o perigo da ingestão de pescado
proveniente da costa da Mauritânia.
Nos exemplos referidos houve de facto um interesse legítimo ao passar a
informação aos jornalistas: ambos os casos relatados são eventuais perigos de
saúde pública que a população dever ter conhecimento sem alarmismos.
Mas há situações em que as fontes podem manipular os jornalistas:
Por exemplo um determinado organismo pode dramatizar as suas actividades ou
exagerar os seus achados para obter mais financiamento.
Há empresas que fazem anúncios prematuros de produtos que estão a
desenvolver com o propósito de aumentar as suas acções. Por exemplo, um
determinado laboratório pede ao seu director de comunicação que faça chegar a
um jornalista um relatório recente que demonstra que um medicamento de um
outro laboratório tem uma determinada substância que provoca hemorragias. Ao
contrário do seu, que tendo o mesmo principio activo, não tem contra-indicações.
Com relatório na mão, o jornalista, que se comprometeu a não divulgar quem lhe
Comunicação em Saúde ______________________________________________________________________________
18
deu o documento, tenta confirmar a veracidade da informação e publica a
notícia.
O interesse da empresa que fez chegar o relatório às mãos do jornalista podia
ser aumentar as vendas do seu medicamento e baixar as do laboratório
concorrente. O interesse do jornalista foi informar a população sobre os riscos de
um determinado fármaco.
Os governos também tendem a manipular os profissionais de comunicação social
evitando ou escondendo informações que coloquem em risco os seus interesses
políticos.
Este interesse em passar determinada informação aos jornalistas é um pouco
como o assumir que:
• Os meios de comunicação social estão ao alcance de todos nós;
• É difícil concorrer com a rapidez da informação dos “mass media” (meios
de comunicação social);
• As necessidades jornalísticas são diferentes das necessidades das
instituições e dos profissionais de saúde, mesmo se o objectivo ao noticiar
é o mesmo (informar sobre situações de risco em saúde).
Daí o reconhecimento de que é fundamental que os meios de comunicação social
tenham profissionais (jornalistas) com formação específica na área da saúde. E
quando se fala em formação na área da saúde não se inclui só questões
relacionadas com política de saúde mas também de gestão em saúde e saúde
pública.
Nos últimos tempos e particularmente desde a segunda parte da década de 80,
os meios de comunicação têm investido na formação de jornalistas em saúde.
Um investimento que teve mais notoriedade com o aparecimento das chamadas
pandemias , como o VIH/SIDA.
Mas este investimento na formação de jornalistas em saúde é notório também
nas universidades. São hoje vários os estabelecimentos do ensino superior com
mestrados em saúde direccionados para os profissionais de meios de
comunicação social generalistas. E vários organismos e entidades organizam
regularmente seminários e debates com temas sobre ética e deontologia dos
profissionais de saúde e sobre direitos e deveres dos cidadãos na saúde.
Comunicação em Saúde ______________________________________________________________________________
19
A Internet e a saúde
. A Internet é um meio de comunicação absolutamente singular e extremamente
poderoso em comparação com os meios convencionais. Ela é um veículo com
recursos que geram interesse visual, pelo uso da cor, da variedade de fontes,
fotos, grafismos, movimento (filmes e animações), num ambiente sonoro e
interactivo que agrada.
Por outro lado a Internet fornece, de forma fácil, quantidades maciças de
informação. Folhetos e livros inteiros podem ser copiados ou impressos em
segundos . Trata-se de uma capacidade única que torna a “web” a novíssima
estrela na pesquisa em saúde. Na verdade, essa qualidade faz da Internet uma
inexcedível biblioteca virtual global, que se actualiza diariamente e que é hoje
uma das grandes fontes de informação de jornalistas. A Organização Mundial de
Saúde reconhece a importância da Internet na saúde, mas aconselha a que se
tomem precauções:
• Toda a orientação médica ou de saúde contida no site será dada somente
por profissionais treinados e qualificados, a menos que seja declarado
expressamente que uma determinada orientação é fornecida por um
indivíduo ou organização não qualificado na área médica.
• A informação disponível no site foi concebida para apoiar, e não para
substituir, o relacionamento existente entre utentes/não utente e os seus
médicos.
• O respeito pelo carácter confidencial dos dados de pacientes e visitantes
de um site médico ou de saúde, incluindo a identidade pessoal. Os
responsáveis pelo site devem comprometer-se a honrar os requisitos
legais mínimos de privacidade de informação médica e de saúde vigentes
no país e no estado onde se localizam o site e as cópias do site.
Comunicação em Saúde ______________________________________________________________________________
20
Relações entre profissionais de saúde e utentes e jornalistas
As relações entre profissionais de saúde e os jornalistas nem sempre são fáceis,
em particular nos casos em que os jornalistas pedem informações científicas.
Normalmente os cientistas recusam comentar informações sobre descobertas
científicas que ainda não tenham terminado ou que não lhes digam respeito. Para
os cientistas os achados e descobertas da ciência têm canais próprios,
nomeadamente as revistas especializadas que são feitas por pares. E não
entendem que o jornalista deseja ter informação para poder informar o seu
público que está ávido de noticias relacionadas com a saúde. Para os
cientistas, os jornalistas são tidos como pessoas com poucos conhecimentos
científicos e incapazes de perceberem os benefícios da ciência. Para os
jornalistas os cientistas são pessoas que vivem fora da realidade; que não
entendem as necessidade do cidadão comum e com uma linguagem que nem
com dicionários decifram.
É muitas vezes por causa desta má relação que nos Meios de Comunicação
Social proliferam notícias sobre novidades terapeuticas e medicamentos
milagrosos que não são mais do que publicidade e marketing de algumas
empresas que se valem do facto de os cientistas não gostarem de falar aos
jornalistas para fazer subir as acções no mercado ou venderem mais os seus
produtos.
Todos os profissionais de saúde devem ter consciência de que os jornalistas
podem ser importantes aliados na melhoria do estado da saúde das populações e
devem ser vistos como parceiros e não como opositores. Ou seja, os jornalistas
podem ter uma importância determinante na saúde dos cidadãos, mas muitas
vezes os seus trabalhos dependem de um diálogo permanente com os
profissionais e os técnicos de saúde. Não tendo formação universitária em saúde
o jornalista precisa, por exemplo, de ser informado sobre o que é e que
consequências tem determinado agente.
Comunicação em Saúde ______________________________________________________________________________
21
A Linguagem enquanto Obstáculo à Comunicação
Um dos principais obstáculos à comunicação em saúde é a linguagem que os
técnicos utilizam e que, na maioria das vezes, não está ajustada ao grau de
conhecimento do público alvo dessa informação. Não passará pela cabeça de
um jornalista noticiar que um famoso jogador de futebol fez uma fractura do
escafóide. Dirá antes que ele partiu um osso da mão. Mas se a pergunta for feita
a um ortopedista não lhe passará cabeça utilizar o termo de “osso da mão” e dirá
que o futebolista fracturou o escafóide. Não é preciso perguntar qual das duas
explicações – a do jornalista ou a do ortopedista é melhor entendida pelo cidadão
comum.
Um outro exemplo do quanto às vezes é indecifrável para o cidadão comum a
linguagem dos profissionais de saúde: Depois de sair do consultório médico, um
homem conta à família que o médico lhe disse que tem colesterol. A mulher
entende que ele tem muita gordura no sangue e que precisa fazer uma dieta. A
filha que está no 10º ano decide ir ao dicionário ver o que quer dizer colesterol.
Se procurar no dicionário que a maioria dos portugueses utilizam – o da Porto
Editora – verificará que a remetem para a palavra Hormona. Experimente-se
tentar decifrar o que aparece como sinónimo de Hormona... Ora um qualquer
promotor de saúde, grupo onde se incluem os farmacêuticos, tem o dever de
simplificar a informação que presta. Tem de ser capaz de formatar a mensagem
que quer fazer passar às necessidades informativas do publico alvo a que se
destina. É o que fazem os jornais e jornalistas. Todos os meios de Comunicação
Social têm públicos-alvo que determinam os alinhamentos dos telejornais e a
paginação dos jornais.
Exemplo: O jornal “24 Horas” não trará nunca na primeira página um ensaio
sobre Agostinho da Silva. Tal como o “New England Journal of Medicine” não
trará em nenhuma manchete um artigo sobre o caso Monica Lewinski ou uma
reportagem sobre o congresso de Vilar de Perdizes.
Como refere a OMS no relatório de 2004, a informação que os profissionais e
instituições prestam ao utente tem reflexos na utilização que o utente faz dos
Comunicação em Saúde ______________________________________________________________________________
22
serviços de saúde. Será por isso importante que os actores/intervenientes
procedam de forma a tornar o acesso à informação sobre a saúde e os serviços
de saúde fácil, atraente e útil. São elementos para uma boa comunicação:
• reconhecer e entender a perspectiva do utente
• aconselhar sempre com base em princípios cientificos
• ser aberto e estar preparado para a diversidade do utente
Estes princípios básicos da comunicação devem ser seguidos mesmo em caso
de situações de risco (comunicação de risco em saúde pública), em que, mais do
que nunca, é preciso tranquilizar e alertar as populações. É nas situações de
risco que muitas vezes os Meios de Comunicação Social intervêm. E cabe aos
profissionais de saúde saber lidar, lado a lado, com os jornalistas e até tirar
partido deles como veículo de mensagens a transmitir às populações. Sempre
com a certeza de que profissionais de saúde e jornalistas têm perspectivas
diferentes. Numa comunicação efectuada numa conferência realizada pela OMS/
Europa, o director do “National Governance team” do Reino Unido, Aidan
Halligan, identificou as principais diferenças entre jornalistas e profissionais de
saúde:
• Para os profissionais de saúde, os factos são descritos tal como são, para
os jornalistas são descritos como parecem.
• Para os MCS os factos são uma história, para os especialistas eles estão
inseridos num determinado contexto.
• Os jornalistas têm sempre certezas.
• Para os profissionais de saúde, a ciência é incerta.
Comunicação em Saúde ______________________________________________________________________________
23
Modelos de Comunicação
Existem hoje verdadeiras discussões académicas sobre os modelos teóricos de
comunicação.
Eles dividem-se em duas escolas distintas:
A escola processual vê a comunicação como um processo de fazer passar uma
mensagem e onde existe um emissor, o veículo de passagem e o receptor.
A outra é a semiótica e preocupa-se mais com o sentido e o significado das
mensagens do que com o emissor e o receptor.
São variadíssimos os modelos de comunicação – mais de 15 -, mas os que
ganharam mais força no ensino da comunicação por esse mundo fora são dois:
O paradigma de Lasswell e o de Jakobson. Estes são os modelos mais utilizados
pelos profissionais de Comunicação.
Comunicação em Saúde ______________________________________________________________________________
24
Paradigma de Lasswell:
É a teoria que se verifica nos meios de comunicação de massa e os princípios
fundamentais da notícia. É um paradigma que assenta em três elementos: O
receptor, o emissor e a mensagem. Os estudantes e os profissionais de
comunicação social conhecem-na como a teoria “ 3Q + C+Q+O+P”
Segundo Lasswell, a mensagem que se quer fazer passar para ser compreendida
tem de responder a 5 questões fundamentais: - QUEM diz o QUÊ, a QUEM,
COMO ou COM que efeito, QUANDO e PORQUÊ
Esta teoria é tanto mais interessante quanto o seu aparecimento. Lasswell
debruça-se sobre a comunicação no final dos anos 30, altura em que a
propaganda política ganha forma e altera os hábitos da opinião pública.
É uma teoria que vê a comunicação como um processo de transmissão de
mensagens, em que o efeito da mensagem se sobrepõe ao seu significado.
Comunicação em Saúde ______________________________________________________________________________
25
Paradigma de Jakobson:
É uma teoria que dá ênfase ao papel do comunicador que é “coadjuvado na
missão de comunicar” por vários factores.
Os factores que constituem o acto de comunicar são quatro para Jakobson.
Existe também um emissor, que Jakobson chama de DESTINADOR, e um
receptor o DESTINATÁRIO. Mas para este linguista do segunda metada da
década de 60, a mensagem não é o mais importante.
Para Jakobson, o determinante no acto de comunicar são as outras duas
componentes que fazem parte do processo de comunicação. A uma chama
CÓDIGO – o tipo de linguagem utilizada – a outra designa-a como o
CONTACTO, a relação que existe entre o destinador e o destinatário.
É este modelo o que mais se aproxima na comunicação que é feita entre os
profissionais de saúde e o utente/cidadão.
Ou seja, existe um destinador – o profissional de saúde – e o destinatário – o
utente.
Mas para que a comunicação tenha resultados devemos sempre respeitar e
entender as diferenças e entender as diferentes culturas e grupo que constituem
o universo dos utentes que pedem informação (ajuda). Essas diferenças inserem-
se nas outras duas componentes de comunicação da teoria de Lasswell: o
contexto e o contacto.
Comunicação em Saúde ______________________________________________________________________________
26
Comunicar em situação de risco para a saúde.
Comunicar com o cidadão é hoje uma necessidade absoluta para a saúde das
populações. Quer seja em situações de risco, em campanhas de promoção de
saúde ou até na informação sobre a utilização dos serviços de saúde. Seja qual
a situação deve equilibrar-se a perspectiva do utente (doente e não doente) com
a dos profissionais de saúde.
A organização Mundial de Saúde definiu um modelo próprio para a comunicação
em saúde. É um sistema em que participam associações de doentes,
governantes, jornalistas, cientistas e profisssionais de saúde. A todos chama de
actores. O objectivo que lhe está subjacente é a melhoria do conhecimento do
público sobre o que são riscos para a saúde, a resolução de eventuais
controvérsias que possam surgir e a preparação do público para as
emergências. É, aliás, nas situações de emergência, geradoras de grande
ansiedade e onde é fácil errar, que mais necessidade há em ter planos de
intervenção. São uma espécie de planos de segurança que qualquer empresa
Comunicação em Saúde ______________________________________________________________________________
27
deve ter para o caso de um incêndio ou outro tipo de acidentes. As regras deste
sistema estão definidas:
- realização de conferências de imprensa regulares.
- informação exaustiva sobre todos os riscos, sempre de forma positiva e nunca
omitindo erros ou escondendo informações.
- desenvolver a confiança
-ter em atenção as preocupações do público valorizando-as
-colaborar de forma activa com todos os intervenientes, especialmente com os
jornalistas e os representantes das populações que se pretendem alertar ou
informar.
- evitar favoritismos
- evitar o uso de termos técnico-científicos
Uma das maiores dificuldades na comunicação é conseguir transmitir o
significado do risco absoluto. Outro problema é sensibilizar a população de modo
a que ela entenda o risco mas sem a deixar ansiosa. Para que isso aconteça é
também preciso que todos os intervenientes neste processo de prevenir e educar
em saúde se vejam como parceiros e não como opositores. Todos deverão ter
uma preocupação ética de contribuir para a melhoria de vida das populações. A
propósito a Organização Mundial de Saúde/Europa fez, em 1998, um “guideline”
para os jornalistas de saúde e que foi o produto de uma reunião de peritos:
• Não cause dano;
• Seja directo. Confirme os seus factos mesmos que os prazos sejam
colocados em causa;
• não levante falsas esperanças. Seja especialmente cuidadoso ao noticiar
curas milagrosas;
Comunicação em Saúde ______________________________________________________________________________
28
• esteja atento. Interrogue-se sobre quem beneficia com a notícia que vai
divulgar;
• quando lidar com doentes, crianças, ou incapacitados deve lembrar-se das
consequências que a sua notícia pode vir a ter;
• Nunca se intrometa no desgosto privado;
• Na dúvida, desista da notícia.
A Saúde e a União europeia
Embora as preocupações com a saúde tenham estado presentes desde o início
da construção europeia, foi apenas com a ratificação do Tratado de Maastricht
que a Comunidade pôde desenvolver uma verdadeira estratégia em matéria de
saúde pública: foram adoptados cinco programas de acções específicas (cancro,
SIDA, toxicodependência, promoção da saúde e vigilância da saúde) e três
outros programas foram objecto de propostas (doenças raras, prevenção das
lesões, doenças relacionadas com a poluição), paralelamente a outras iniciativas
(relatórios sobre o estado da saúde na Comunidade Europeia, recomendações
sobre a segurança dos produtos sanguíneos, etc.). Existem ainda outras políticas
comunitárias com incidência sobre a saúde.
No decurso dos dois últimos anos, vários acontecimentos, como a crise das
"vacas loucas", contribuíram para uma nova consciencialização da importância
de uma política de saúde a nível comunitário. A extensão da base jurídica das
actividades da Comunidade em matéria de saúde pública, proporcionada pelo
Tratado de Amsterdão, é um reflexo desse interesse crescente.
Para responder a este pedido, a Comissão considera que a futura política
comunitária deveria orientar-se em torno de três eixos de acção:
Comunicação em Saúde ______________________________________________________________________________
29
• melhoria da informação, com vista ao desenvolvimento da saúde pública: com base nas actividades e nos resultados do programa em
matéria de vigilância da saúde, deveria ser desenvolvido um sistema
comunitário estruturado e abrangente para a recolha, análise e divulgação
de informações relativas, por um lado, à evolução geral do estado da
saúde da população e das determinantes da saúde e, por outro lado, à
evolução dos sistemas de saúde;
• reacção rápida às ameaças para a saúde: tratar-se-ia de criar
mecanismos comunitários de vigilância, diagnóstico precoce e reacção
rápida às ameaças para a saúde susceptíveis de surgir em qualquer
momento (a proposta de criação de uma rede europeia de vigilância e
controlo das doenças transmissíveis faz já parte deste objectivo);
• abordagem das determinantes da saúde através da promoção da saúde e da prevenção da doença: este terceiro eixo de acção
englobaria, por um lado, as medidas orientadas para o reforço da
capacidade de cada pessoa melhorar a sua saúde, incluindo as condições
sociais, económicas e ecológicas, e, por outro lado, as numerosas
actividades ligadas à prevenção (vacinação, rastreio, etc).
Comunicação em Saúde ______________________________________________________________________________
30
CAPÍTULO II: O Plano nacional de Saúde e a Informação.
A comunicação é uma das medidas protagonizadas pela OMS e pela
Comunidade Europeia como uma das formas de promover hábitos de vida
saudável e identificar situações de risco em saúde.
O Plano Nacional de Saúde, no capítulo referente ao plano de comunicação,
reconhece que existe em Portugal uma falta de informação validada e pertinente.
Para o PNS o actual sistema de informação ( sistemas informatizados) em saúde
é inadequado às necessidades actuais, Não tem um modelo de dados coerente
nem de politicas tendentes à normalização de processos.
O caso da vigilância epidemiológica é um dos apontadas como “inadequado”. E
porquê? Porque:
• rege-se por uma regulamentação antiquada de 1949 que tem uma base
essencialmente clínica e que não recorre a dados laboratoriais .
• não utiliza as novas tecnologias de informação (sistemas informáticos) e
negligencia os problemas ambientais.
Outro dos exemplos que o PNS enumera como negativo no sistemas de
informação na saúde é o plano nacional de registos oncológicos regionais (ROR).
O ROR é um instrumento de vigilância epidemiológica importante mas é lento a
monitorizar problemas e dados,
Assim, o PNS, seguindo directivas da OMS e comunitárias, tem como objectivos
a aplicação de medidas de intervenção urgentes para dinamizar e melhorar a
Comunicação e informação em Saúde:
• a monitorização da eficácia, eficiência e da qualidade dos
programas e serviços de saúde;
• a identificação de situações de risco para a saúde pública.
Comunicação em Saúde ______________________________________________________________________________
31
• a vigilância epidemiológica de doenças infecciosas, doenças
crónicas assim como de outras de carácter social;
O Plano Nacional de Saúde reconhece também que o 11 de Setembro trouxe
uma nova importância às chamadas emergências em saúde pública- Até então
era inimaginável que a saúde das populações pudesse ser influenciável pela
libertação deliberada de agentes microbiológicos patogénicos. “Por isso, para
além da vasta experiência acumulada que os serviços de saúde possuem, desde
há muito, no processo de identificação e gestão de riscos que ameaçam a vida
humana, têm de estar agora preparados para identificar e responder rapidamente
a alertas de ameaças terroristas ou de situações decorrentes de catástrofes
naturais, que envolvem necessariamente os serviços de protecção civil.”
Assim, Portugal deverá ter em breve um sistema de alerta que funcionará em
rede com outros países europeus. Este programa vai estar em sintonia com o
plano de contingência para o bioterrorismo aprovado pelo Governo em Julho de
2002. Será também utilizado em situações que careçam de intervenções
urgentes, nomeadamente surtos epidémicos como a gripe das aves, o Sindrome
Respiratório Agudo ou as ondas de calor e de frio. De acordo com o Plano
nacional de saúde há áreas prioritárias de intervençao. São elas:
• O Programa Nacional de Intervenção Integrada sobre
Determinantes da Saúde Relacionados com os Estilos de Vida;
• O Programa Nacional de Prevenção e Controlo das Doenças
Cardiovasculares;
• O Programa Nacional para a Saúde das Pessoas Idosas;
• O Programa Nacional de luta contra a Sida
• O Programa nacional de Cuidados Continuados.
Comunicação em Saúde ______________________________________________________________________________
32
CAPÍTULO III
Farmacêutico: actor/interveniente na prevenção em Saúde
A era da globalização retirou a algumas instituições o domínio sobre sectores
importantes da sociedade. Até à segunda metade do século passado, a OMS era
a única entidade, a nível internacional, com competências na área da Saúde. O
mesmo acontecia a nível nacional. O ministro da saúde e a Direcção-geral das
saúde era as autoridades máximas. Hoje já não é assim. O farmacêutico já não é
só o profissional capaz de dispensar medicamentos, assegurando a sua
qualidade – a função tradicional dos licenciados em Ciências Farmacêuticas. Isso
mesmo foi reconhecido por várias entidades internacionais, nomeadamente a
União europeia que, em 1975, decidiu criar o Comité Farmacêutico. Também a
OMS reconhece que o farmacêutico, e particularmente o de oficina, tem um
papel preponderante na promoção dos cuidados de saúde. A sua relação
próxima com o utente é considerada como um instrumento fundamental de
aconselhamento para a prevenção e de informação a determinados grupos de
doentes crónicos. Neste contexto complexo, uma eficaz comunicação é
fundamental para o processo que leve à tomada de consciência e assimilação
dos cidadãos no sentido de reivindicarem condições de saúde como um direito de
todos, que deve ser fiscalizado pela sociedade em prol de melhores condições de
vida das populações.
Em jeito de conclusão existe hoje um reconhecimento mundial da importância da
Comunicação na área da saúde, quer preconizando a criação de sistemas de
informação, quer pedindo o envolvimento de todos os profissionais do sector na
prevenção e na obtenção de ganhos em saúde.