manual carcinicultura camarao

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(Parte 1 de 7) Manual carcinicultura CAMARÃO DA MALÁSIA” (Macrobrachium rosenbergii) 4.0 Espécies de Camarão de Água Doce de Potencial para Cultivo 14 5.0 Produção de Larvas (Larvicultura) 15 5.1 Escolha do Local 15 5.2 Condições Físico- Químicas e Bacteriológicas da Água 16 5.3 Luminosidade 16 5.4 Higiene 16 5.5 Construção de Tanques 17 5.6 Produção de Larvas 20 5.7 Estocagem e Transporte de Pós-Larva 2 5.8 Abastecimento e Drenagem de Água 23 5.9 Equipamento 23 6.0 Características de Sistemas de Cultivo 25 7.0 Escolha do Local 27 8.0 Construção de Parque de Cultivo 28 8.1 Arranjo Físico 28 9.0 Tecnologia de Produção 32 2 9.1 Monitoramento de Qualidade de Água 32 9.1.1 Temperatura da Água de Cultivo 3 9.1.2 Transparência 34 9.1.3 Oxigênio Dissolvido – (O.D.) 35 9.1.4 Potencial de Hidrogeniônico (pH) 37 9.1.5 Alcalinidade Total 38 9.1.6 Dureza 38 9.1.7 Teor de Ferro 38 9.2 Manutenção e Preparação dos Viveiros 39 9.3 Transporte das pós-larvas e Povoamento dos Viveiros 40 9.4 Fertilização 41 9.5 Biometria 41 9.6 Despesca 41 9.7 Ração e Arraçoamento 42 9.7.1 Ração 42 9.7.2 Arraçoamento 43 9.8 Controle de Predadores e Competidores 45 10.0 Tecnologia Pós-Despesca 48 1.0 Análise de Riscos 51 12.0 Estudo de Mercado 52 13.0 Aspectos Financeiros 53 13.1 Sistema Semi-Intensivo 53 13.1.1 Custo de Produção 53 13.1.2 Custo Total da Produção 54 13.1.3 Custo Unitário da Produção 54 14.0 Fluxograma de Produção 5 15.0 Glossário 56 16.0 Referências Bibliográficas 58

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(Parte 1 de 7)

Manual carcinicultura

CAMARÃO DA MALÁSIA” (Macrobrachium rosenbergii)

4.0 Espécies de Camarão de Água Doce de Potencial para Cultivo 14

5.0 Produção de Larvas (Larvicultura) 15 5.1 Escolha do Local 15 5.2 Condições Físico-

Químicas e Bacteriológicas da Água 16 5.3 Luminosidade 16 5.4 Higiene 16 5.5 Construção de

Tanques 17 5.6 Produção de Larvas 20 5.7 Estocagem e Transporte de Pós-Larva 2 5.8

Abastecimento e Drenagem de Água 23 5.9 Equipamento 23

6.0 Características de Sistemas de Cultivo 25 7.0 Escolha do Local 27

8.0 Construção de Parque de Cultivo 28 8.1 Arranjo Físico 28

9.0 Tecnologia de Produção 32 2

9.1 Monitoramento de Qualidade de Água 32 9.1.1 Temperatura da Água de Cultivo 3 9.1.2

Transparência 34 9.1.3 Oxigênio Dissolvido – (O.D.) 35 9.1.4 Potencial de Hidrogeniônico (pH)

37 9.1.5 Alcalinidade Total 38 9.1.6 Dureza 38 9.1.7 Teor de Ferro 38 9.2 Manutenção e

Preparação dos Viveiros 39 9.3 Transporte das pós-larvas e Povoamento dos Viveiros 40 9.4

Fertilização 41 9.5 Biometria 41 9.6 Despesca 41 9.7 Ração e Arraçoamento 42 9.7.1 Ração

42 9.7.2 Arraçoamento 43 9.8 Controle de Predadores e Competidores 45

10.0 Tecnologia Pós-Despesca 48 1.0 Análise de Riscos 51 12.0 Estudo de Mercado 52

13.0 Aspectos Financeiros 53 13.1 Sistema Semi-Intensivo 53 13.1.1 Custo de Produção 53

13.1.2 Custo Total da Produção 54 13.1.3 Custo Unitário da Produção 54

14.0 Fluxograma de Produção 5 15.0 Glossário 56 16.0 Referências Bibliográficas 58

Apresentação

A carcinicultura de água doce, atualmente, pode ser considerada como uma atividade

economicamente viável, ecologicamente equilibrada, tecnologicamente desenvolvida, geradora

de emprego, importante meio de fixação do homem em áreas rurais e como um promissor

aqüinegócio. A carcinicultura comercial no Brasil vem apresentando um rápido crescimento nos

últimos anos, sustentada por tecnologias apropriadas à cadeia produtiva, pelos excelentes

resultados de produção das fazendas e pela ótima aceitação no mercado consumidor.

Este manual apresenta informações básicas e essenciais sobre a carcinicultura comercial em

sistema tradicional. A maioria das informações práticas é fruto das ações desenvolvidas nas

pequenas propriedades rurais do Espírito Santo, onde se implantou o cultivo de camarão de

água doce, sobretudo pela utilização do camarão da Malásia (Macrobrachium rosenbergii).

Com uma linguagem simples e direta este manual pode ser facilmente utilizado por técnicos,

estudantes, produtores rurais e investidores em geral. Este é apenas um veículo de

informação, atualização e estimulo à atividade de carcinicultura. É importante ressaltar que

para a implantação de cultivos comerciais se faz necessário uma assistência técnica, por

pessoal capacitado para que se obtenham resultados financeiros satisfatórios.

A criação de camarão da Malásia é uma atividade relativamente nova no Brasil. As primeiras

experiências com cultivo comercial foram feitas em 1978 pela Empresa Pernambucana de

Pesquisa Agropecuária, com pós-larvas importada do Hawai.

O cultivo dessa espécie de camarão desponta hoje como uma excelente alternativa econômica

para pequenos e médios produtores rural.

Aplicando-se as modernas tecnologias de manejo disponíveis no mercado, consegue-se

chegar a altos índices de produtividade, garantindo, desta forma, um rápido retorno dos

investimentos realizados.

Atualmente, o camarão de água doce vem sendo cultivado nos estados litorâneos,

principalmente no nordeste e sudeste e também alguns estados do interior do País. O Espírito

Santo conta com aproximadamente 200 propriedades rurais produzindo camarão da Malásia, a

maioria delas constituídas por pequenos produtores com área alagada de até 1.0 ha.

A boa aceitação do produto no mercado consumidor e a baixa produção nacional garantem

excelentes condições de comércio, sendo praticamente toda a produção alocada no mercado

interno.

Os governos Estaduais e sobretudo Federal vêm tentando implementar uma política arrojada

de aumento de produção e da produtividade, mediante a criação de órgãos destinados ao

acompanhamento das atividades especificas, como a Secretaria Especial de Aqüicultura e

Pesca, e a disponibilização de linhas de crédito mais favoráveis aos produtores.

2.0 - FICHA TÉCNICA

Carcinicultura de água doce (Criação de Camarões de água doce)

Setor da economia Primário

Ramo de atividade Aqüicultura

Funcionários necessários 01 ou 02

Área mínima 5000 m2

Grau de risco Baixo

Pré-requisitos Para esse empreendimento é desejável um terreno pouco acidentado e próximo

de uma fonte de água doce (rio, nascente, poço ou córrego) para o cultivo em viveiros de terra.

3.0 - BIOLOGIA

3.1 Filogenia (*) e Classificação

Crustáceos da Ordem Decápoda, apresentam cinco pares de apêndices locomotores, os

camarões são descendentes dos malacostracos, grupo de crustáceos existentes desde o

período cambriano, e portanto, com cerca de 90 milhões de anos. Os malacostracos abrangem

dois grupos: os Peracarida e os Eucarida. Os camarões de água doce, embora próximos

zoologicamente aos de água salgada, são da Sub-ordem Pleocyemata, diferindo daqueles da

Sub-ordem Dendrobranchiata. O camarão de água doce pertence ao gênero Macrobrachium e

à espécie Macrobrachium rosenbergii.

Filo: Arthropoda

Sub-filo:Crustacea

Sua Classificação Zoológica é a seguinte:

Sub-classe:Eumalacostraca

Ordem: Decapoda

Sub-ordem: Pleocyemata

Infra-ordem: Caridea

Super-família:Palaemonoidea

Família: Palaemonidae

Sub-família: Palemoninae

Gênero: Macrobrachium

Espécie: Macrobrachium rosenbergii

Classe: Malacostraca Super-ordem: Eucarida

3.2 Distribuição Geográfica

Os camarões de água doce do gênero Macrobrachium encontram-se amplamente distribuídos

pelo mundo. Atualmente são conhecidas mais de 120 espécies e destas, trinta são

encontradas no continente americano. Distribuem-se nas regiões tropicais e subtropicais.

Podem ser encontrados em lagos, rios, pântanos e estuários. Algumas espécies necessitam da

água salobra para fecharem seu ciclo de vida, outras não, vivendo basicamente na água doce.

1) Os termos como filogenia, que aparecem sublinhados no texto, encontram-se definidos no

glossário.

Figura 1 – Morfologia externa de M. rosenbergii mostrando os tagmas, somitos e principais

apêndices cefalotoráxicos e abdominais (Pe = pereiópodo; Pl = pleópodo). (Extraído de Valenti,

1998)

3.3 Morfologia Externa

Os camarões apresentam o corpo dividido em duas partes: cefalotórax e abdômen. O

cefalotórax é constituído por vários segmentos (6 cefálicos e 8 toráxicos) formando uma peça

única, a carapaça. Dos segmentos cefálicos o primeiro só é visível nos estágios embrionários,

desaparecendo na fase adulta. O abdômen, é constituído por seis segmentos seguidos de uma

estrutura pontiaguda, o telso.

O corpo é alongado, achatado lateralmente e revestido por um exoesqueleto formado

basicamente por quitina (carboidrato) e sais de cálcio. A extremidade anterior da carapaça

apresenta um prolongamento em forma de espinho, o rostro, ao longo do qual se encontram

estruturas dentadas em sua superfície superior e inferior. Localizado inferiormente à base do

rostro estão inseridos os pedúnculos oculares.

3.4 Morfologia Interna e Fisiologia

3.4.1 Sistema Digestivo

O sistema digestivo é formado pelas seguintes estruturas básicas: 1 - boca 2 - esôfago 3 -

estômago (dividido em duas câmaras: cardíaca e pilórica) 4 - intestino médio 5 - intestino

posterior 6 - ânus 7 - glândulas digestivas (hepatopâncreas )

O animal captura o alimento, o reduz a pequenos pedaços e o ingere, conduzindo-o ao esôfago

e posteriormente à câmara cardíaca, situada no estômago, onde será novamente triturado

graças a ação de uma série de estruturas calcificadas que formam o moinho gástrico. Após

passar pelo moinho gástrico, no estômago cardíaco o alimento é filtrado por cerdas, sendo

conduzido até o 2º compartimento, a câmara pilórica. Posteriormente, no hepatopâncreas

ocorre a digestão de proteínas, gorduras e carboidratos. A absorção dos alimentos ocorre no

próprio hepatopâncreas e no intestino médio.

3.4.2 Sistema Circulatório

À circulação é do tipo aberta ou lacunar. O sangue flui por vasos sangüíneos e também em

lacunas entre os tecidos. O coração é curto e suspenso em um grande seio pericárdico por

onde chega o sangue que penetra no coração e, posteriormente, é bombeado para todas as

partes do corpo. O pigmento que facilita e possibilita a respiração é a hemocianina, que se

encontra dissolvida no plasma sanguíneo.

3.4.3 Sistema Respiratório

A respiração é do tipo branquial. As brânquias são estruturas sob a parede do corpo, contendo

vasos sangüíneos e estão sob a carapaça (o branquiostegito) numa região denominada

câmara branquial. O exopodito da 2º maxila em forma de remo, escafognatito, promove através

de seus movimentos, uma corrente de água pelas brânquias oxigenando-as.

As brânquias também são importantes no sentido de manter a osmorregulação destes animais,

ou seja, o equilíbrio de sais nos líquidos internos em relação ao ambiente em que se

encontram. A maior parte da excreção de amônia também se faz pelas brânquias.

3.4.4 Sistema Excretor

O sistema excretor é formado basicamente por um par de glândulas verdes ou antenais,

localizado na base das antenas. Suas principais funções consistem em eliminar os restos

metabólicos e atuar no controle da concentração de sais no seus fluidos orgânicos. A absorção

de sais se realiza através de uma de suas estruturas denominada de canal nefridial.

3.4.5 Sistema Nervoso e Órgãos Sensitivos

O sistema nervoso é do tipo ganglionar ventral, característico dos arthropodos. É constituído

por um gânglio amebóide ou supraesofágico localizado na cabeça, os gânglios subesofágico e

um cordão nervoso ventral duplo.

Os camarões são animais dotados de alta sensibilidade à luz e aos alimentos, reconhecendo

com extrema facilidade diferentes ambientes. Podemos citar algumas estruturas de grande

importância:

- os olhos do tipo composto, visão superior a 180º ; - pêlos tácteis, sensíveis ao toque, na maior

parte do corpo;

- pêlos antenulares, responsáveis pelo paladar e olfato;

- estatocisto, responsável pelo equilíbrio e localizado na base da antênula.

3.4.6 Sistema Reprodutivo

O sistema reprodutor masculino é formado por um par de testículos conectados a ductos

espermáticos e glândulas androgênicas, que se abrem externamente na base do 5º par de

pereiópodos.

O sistema reprodutor feminino é constituído por dois ovários e, dois ovidutos que se abrem

entre o 3º e o 4º par de pereiópodos.

3.5 Dimorfismo Sexual

Os camarões apresentam sexos separados, são espécies dióicas. As fêmeas têm o abdômen

proporcionalmente mais largo que o macho. Os espermatozóides são desprovidos de cauda e

apresentam forma de estrela; são armazenados num saco denominado ampola do

espermatóforo.

Abaixo, listamos algumas características dos machos que podem ser usadas para diferencia-

los das fêmeas:

- maiores; - mais fortes;

- quelas mais desenvolvidas;

- excrescência no centro do primeiro somito abdominal;

- apêndice masculino localizado no 2º par de pleópodos.

3.6 Muda e Crescimento

O fenômeno da muda é característico de quase todos os arthropodas, ocorrendo em

aproximadamente 90% de todos os crustáceos até hoje conhecidos. Consiste na substituição

de um exoesqueleto antigo por um novo, que se forma abaixo daquele e pode ser definido

como um evento fisiológico cíclico e continuo, subdividido em 4 estádios. Pré-ecdise, Ecdise,

Pós-ecdise e Intermuda.

Pré-ecdise - Caracteriza-se pelo acúmulo de reservas alimentares, reabsorção de cálcio (Ca++)

da cutícula e pelo seu aumento no sangue e na atividade do hepatopâncreas.

Ecdise - O corpo do animal torna-se intumescido devido à grande absorção de água. O animal

então sai do exoesqueleto velho; frequentemente esse processo se dá de forma rápida.

Pós-ecdise - Ocorre secreção da endocutícula, calcificação e endurecimento do esqueleto. O

animal geralmente fica refugiado e alimenta-se pouco nesta fase.

Intermuda - Estágio que pode ser longo ou curto dependendo do estádio ou desenvolvimento

do camarão. A intermuda é o período que se sucede entre duas mudas. Tende a diminuir na

fase adulta. Ocorre acúmulo de reservas alimentares para a próxima muda.

O fenômeno de muda e o processo de crescimento são controlados por fatores externos como

luz, temperatura, e principalmente por ação de hormônios. A regulação destes hormônios

depende de diferentes estímulos que atuam sobre o sistema nervoso central. O fotoperíodo

pode ser um fator de controle.

3.7 Regeneração e Autotomia

Os camarões possuem uma interessante propriedade biológica, a de se regenerar, ou seja,

recuperar partes perdidas. A regeneração não é um fenômeno rápido, podendo levar vários

meses para refazer um único apêndice perdido. Outro fenômeno interessante é a autotomia ou

auto-amputação de pereiópodos. É causada pela contração do músculo autotomizador,

geralmente utilizado em condições de fuga, quando agarrados por predadores.

3.8 Reprodução e Comportamento

Para o acasalamento destaca-se a importância dos ferormônios característicos de muitos

decápodes aquáticos. Tais substâncias acredita-se sejam eliminadas pela fêmea após a muda,

objetivando atrair o macho para o ato copulatório.

O acasalamento se dá de três a seis horas após a fêmea ter completado sua muda. O macho

inicia então o cortejo de acasalamento e utilizando de seus quelípodos abraça a fêmea. Este

período pode levar de dez a vinte minutos. Logo após se inicia o ato copulatório a partir da

união dos poros genitais masculino e feminino. Por sua vibração o macho introduz o

espermatóforo no poro genital da fêmea e esta o carrega até o momento da sua desova. A

desova ocorre em um período não superior a vinte e quatro horas. No momento da desova os

óvulos ao passarem pelo espermatóforo são fecundados, cabendo então à fêmea incubá-los

até a eclosão, período que leva aproximadamente vinte dias.

O ovo fecundado apresenta no início uma coloração alaranjada, tornando-se acinzentado ao

longo do desenvolvimento embrionário. A incubação ocorre no abdômen graças aos

pleópodos, que através de suas cerdas formam uma verdadeira câmara incubadora.

Eclosão - O ovo, contendo o embrião, eclode a partir do rompimento da membrana que o

envolve, liberando uma larva denominada de zoea. Esta subdivide-se em onze estádios larvais.

Durante este período são planctônicas e mantêm-se sempre com o ventre para cima. Os

estádios larvais levam aproximadamente vinte e oito a trinta e cindo dias, variando muito de

acordo com as condições de temperatura, salinidade e alimentação.

3.9 Ciclo de vida

As larvas necessitam de água salobra com salinidade de 12 a 16‰ para se desenvolverem,

morrendo em alguns dias se forem mantidas em água doce. Desta forma, após a eclosão, são

levadas pela força da correnteza até o estuário. Uma vez no estuário elas atingem a última

fase, zoea XI, sofrendo metamorfose e originando a pós-larva que, além de adotar novo

comportamento, passando a se locomover como camarões jovens e adultos, iniciam

movimento de migração visando alcançar a água doce, tornando-se, então, adultas e maturas

sexualmente, e portanto, aptas à reprodução.

4.0 Espécies de Camarões de Água Doce de Potencial para Cultivo

Das cento e vinte espécies de camarões de água doce do gênero Macrobrachium, um quarto

encontra-se distribuída no Continente Americano. Há uma grande variação quanto à

morfologia, hábito de vida e distribuição geográfica. Podemos considerar “a priori”, de interesse

comercial, todas as espécies de camarões de maior porte. Entretanto, outras características

devem ser levadas em consideração; dentre elas podemos citar:

1) taxa de crescimento relativamente rápida; 2) comportamento não agressivo; 3) resistência às

variações do meio; 4) agradável ao paladar; 5) resistência a doenças.

A espécie exótica, M. rosenbergii, tem respondido bem a todas estas características.

Entretanto, não podemos deixar de considerar as espécies nativas, que merecem mais atenção

por parte dos pesquisadores e das instituições de pesquisa nacionais, para que, a partir do

desenvolvimento de novas tecnologias, passem a participar mais ativamente do mercado,

aumentando assim a oferta deste produto e reduzindo, com isso, a pressão de captura sobre o

ambiente natural.

Dentre estas espécies podemos citar: Macrobrachium carcinus (pitú), Macrobrachium

acanthurs, conhecido como camarão canela ou também como pitú, dependendo da região, e

Macrobrachium amazonicum, camarão canela. Nos rios do oeste da América do Norte e

Central encontra-se o Macrobrachium americanum, de igual interesse econômico.

5.0 Produção de Larvas (Larvicultura)

No Brasil, por se tratar de uma espécie exótica, o camarão da Malásia não é encontrado

naturalmente em nossos rios, lagos ou estuários, e portanto, a reprodução “artificial” desta

espécie será efetuada em laboratório. A atividade de produção de larvas denomina-se

larvicultura.

Há três formas diferentes de se produzirem larvas:

1 - Método de águas claras em sistema aberto - Consiste basicamente na substituição diária da

metade a dois terços da água dos tanques de cultivo;

2 - Método de águas verdes - Consiste no cultivo das larvas associadas às algas verdes, que

funcionam como filtro biológico, diminuindo desse modo as trocas de águas;

3 - Sistema fechado - Consiste na recirculação da água de cultivo, permitindo sua reutilização.

Este método é baseado na passagem da água por um filtro biológico, que através de bactérias

aeróbicas e outros microorganismos metaboliza as substâncias tóxicas presentes. Pode ser

dividido em dois tipos: Sistema Fechado Estático e o Sistema Fechado Dinâmico, sendo este

último o mais recomendado e utilizado atualmente.

Para a instalação de um laboratório de larvicultura devem-se ter com clareza uma estimativa de

produção e seus objetivos.

5.1 Escolha do local para Instalação da Larvicultura

Como vários camarões do gênero Macrobrachium, o camarão da Malásia depende de água

salobra para completar o seu ciclo de vida. A distância dos grandes centros urbanos e

industriais e de uma fonte fornecedora de água podem se constituir uma garantia para o

sucesso da larvicultura. Para tanto, é importante que, no momento da escolha da área para

instalação sejam levados em consideração a proximidade e a facilidade de abastecimento,

tanto de água salgada como de água doce, sua quantidade e o não comprometimento por

agentes poluidores. No momento de projetá-la torna-se imprescindível o acompanhamento de

um técnico ou de um profissional qualificado. O projeto não deverá, em hipótese alguma, estar

previsto para área de preservação permanente ou para qualquer outra área legalmente

impedida de sediar tal atividade.

A não disponibilidade de área próxima ao litoral não é fator que inviabilize um projeto de uma

larvicultura. Ela poderá ser instalada mesmo em região distante do litoral, embora, com custos

operacionais mais elevados, pois trabalhar-se-á em sistema fechado, ou seja, a partir de uma

recirculação de água, o que implica na construção de tanques para filtração biológica e tanques

para depósito de água salgada e água doce, incluindo-se ai os gastos com o transporte da

água salgada do litoral até o laboratório.

5.2 Condições Físico-Químicas e Bacteriológicas da Água

A água a ser utilizada na larvicultura deve ser livre de agentes poluidores e deve ser coletada

com alguns cuidados. A água do mar pode ser coletada superficialmente ou a alguns metros de

profundidade. Em qualquer hipótese a água coletada deverá ser filtrada e clorada. O sistema

de condução de água não deverá ser feito por encanamento de ferro, em função do seu grande

poder de oxidação. A água doce pode ser captada diretamente do manancial de superfície ou

subterrânea, e até mesmo da rede de abastecimento público. Em relação às águas

subterrâneas deve-se registrar especial preocupação com os níveis de oxigênio nelas

existentes, uma vez que, ordinariamente, o oxigênio é escasso nessas águas. Para sua

utilização, tornam-se também necessários a filtração e cloração como forma de tratamento.

A seguir, listamos alguns valores dos parâmetros físico-químicos e bacteriológicos da água

recomendados para uma larvicultura:

- pH, entre 7, 4 e 8, 4 - OD (oxigênio dissolvido) > 5,0 mg/l

- NO2 < 0,1 mg/l

- NH3 < 0,6 mg/l - T ºC: 26,0 a 30,0

- Coliformes fecais: ausência

- Salinidade entre 12 e 16‰

- Dureza total entre 60 e 120 mg/l (CaCO3) - Ferro (Fe) 0,02 mg/l

- Cloro (Cl) 40 mg/l

- Sódio (Na) 30 mg/l

- Cálcio (Ca) 12 mg/l

- Magnésio (Mg) 10 mg/l

5.3 Luminosidade

É muito importante que haja a incidência de luz em uma larvicultura. O sistema deverá estar

equipado com lâmpadas, de modo a proporcionar o fotoperíodo que se deseja, controlado com

“timers”. No entanto, não deverá acontecer incidência de luz solar diretamente nos tanques

com as larvas para que se evitem a cegueira e o desconforto delas. Por isso aconselha-se

fazer cobertura do local colocandose algumas telhas transparentes intercaladas com outras de

amianto comum.

5.4 Higiene

A Higiene é fator de extrema importância para o sucesso de um laboratório de larvicultura.

Todos os tanques e seus acessórios devem estar totalmente desinfetados, assim como os

equipamentos utilizados rotineiramente. Os funcionários devem ser treinados sobre como

manter todo ambiente limpo e livre de contaminação. O sistema de captação e drenagem de

água deve ser bem monitorado, procurando-se eliminar qualquer resíduo alimentar ou restos

de animais da estrutura que, direta ou indiretamente, possam entrar em contato com as larvas.

Para desinfecção deve-se usar cloro granulado (hipoclorito de cálcio) ou cloro líquido

(hipoclorito de sódio) em concentração apropriada.

5.5 Construção de tanques

Em um laboratório de larvicultura encontram-se tanques para as mais diversas funções e de

acordo com elas podem apresentar diferenças em seu desenho, objetivando adequar-se o

melhor possível ao papel que vai desempenhar. Neste contexto podemos citar:

1 - tanque para armazenamento de água doce; 2 - tanque para armazenamento de água

salgada; 3 - tanque de mistura e preparação de água salobra; 4 - tanque de acasalamento; 5 -

tanque de eclosão; 6 - tanque de desenvolvimento de larvas; 7 - tanque de estocagem das pós-

larvas.

A construção de qualquer um dos tanques mencionados depende da função da capacidade de

produção da larvicultura. Entretanto, devem-se levar em consideração alguns cuidados no

desenho dos tanques, no sentido de se facilitar o manejo do cultivo bem como sua

manutenção.

Os tanques para armazenamento de água doce e salgada devem ser construídos de maneira a

estocar uma quantidade suficiente para suprir toda necessidade do laboratório, prevendo-se

inclusive alguns contratempos como problemas na bomba de água, encanamento e outros que

possam levar tempo para reparo.

Figura 2: Tanques de fibra (10.0 l) para estocagem de água doce e salgada.

Geralmente os tanques são de fibra de vidro ou construídos em alvenaria, impermeabilizados e

pintados com tinta atóxica epoxi.

A construção do tanque de preparação de água salobra não é diferente da mesma usada nos

tanques citados anteriormente. Entretanto, alguns cuidados são necessários, como a existência

de aeração e sua boa distribuição ao longo de todo o tanque. A salinidade, temperatura e o pH

devem ser checados a cada troca de água mantendo-se os valores desejados, pois esta

tanque abastecerá diretamente o tanque de desenvolvimento larval. Para se preparar água

salobra a 14‰, deve-se misturar água doce com água do mar. Os volumes de água doce e

marinha são calculados de acordo com a seguinte fórmula.

onde, V.M= Volume de água do mar

Vm = V.T.M. x 14 / S.A.M.

V.T.M. = Volume do tanque de mistura S.A.M. = Salinidade da água do mar

Figura 3: Tanque de desenvolvimento larval acoplado a um filtro biológico.

Figura 4: Detalhe de um filtro biológico.

Algumas larviculturas têm utilizado tanques para acasalamento. Estes são bem menores,

podendo ser construídos em alvenaria ou fibra de vidro. O revestimento interno deverá ser de

tinta epóxi procurando-se utilizar cores mais escuras como o verde e o preto. Tanques de

acasalamento podem ser montados com sistema de filtração biológica.

Tanques para a eclosão de larvas podem apresentar diversas formas, como circular,

retangular, quadrada ou cônica. Neles, são colocadas fêmeas ovadas, cujos ovos encontram-

se próximo à eclosão. Estes tanques são construídos geralmente em alvenaria ou fibra de

vidro. Devem ser revestidos por tinta epóxi, preferencialmente de cor escura. Estes tanques

quando retangulares ou quadrados, devem ser abaulados em seus vértices facilitando o

movimento de circulação de água, proporcionado por uma aeração direcionada, evitando a

concentração das larvas nos cantos. Como mencionado anteriormente, deve-se evitar a

incidência de raios solares diretamente sobre os tanques. Os parâmetros físicos e químicos

devem ser monitorados diariamente. As recém-eclodidas larvas, fase que denominamos zoea,

devem ser então sifonadas e distribuídas conforme concentração para os tanques de

desenvolvimento larval.

Os tanques de desenvolvimento larval não devem ser construídos com altura inferior a 1.2 m,

mantendo-se o nível da água em torno de 80 a 90 cm. Podem ser em fibra de vidro ou

alvenaria e apresentar formato circular, retangular, quadrado ou cônico. Principalmente nestes

tanques, deve-se ter o cuidado de revesti-los internamente com tinta epóxi preta, evitando-se

com isto reflexão da luz incidente sobre a superfície interna do tanque. Devido ao fototactismo

positivo, as larvas são atraídas pela luz, e em seu contato constante com a superfície refletora,

podem ocorrer pequenas lesões na carapaça, principalmente no rostro em formação. Estas

lesões propiciam o aparecimento de patógenos como fungos, bactérias ou protozoários que

podem debilitar as larvas ou até mesmo matá-las.

Os tamanhos da tela e da malha ajustados ao sistema de drenagem são fundamentais para

não permitir que as larvas sejam levadas junto com a água no momento de sua renovação.

Os tanques de estocagem de pós-larvas podem ser construídos de fibra de vidro ou em

alvenaria. Estes tanques devem ser bem aerados com boa taxa de renovação de água.

5.6 Produção das larvas

estádios de desenvolvimento (Zoea I, Zoea I, , Zoea XI). As larvas, na fase I

As larvas recém nascidas são denominadas de zoea. Esta fase apresenta onze correspondem

aos estágios iniciais, entre dez e doze dias, devem ser mantidas com uma densidade entre 300

e 500 indivíduos por litro; posteriormente, na fase I, sua densidade diminui para no máximo 120

indivíduos por litro. As larvas são planctônicas e no ambiente natural alimentam-se

basicamente de zooplâncton (larvas de insetos, nemátodos, rotíferos, dentre outros). Em

laboratório, até a fase de Zoea I as larvas não devem ser alimentadas, pois consomem o

próprio vitelo. A partir de 2 ou 3 dias (Zoea I) devem ser alimentadas com Artemia

(microcrustáceo), durante sua fase de náuplios. A Artemia é rica em proteínas e ácidos graxos

que garantem um bom desenvolvimento das larvas. A Artemia é vendida sobre a forma de

cistos que devem ser eclodidos no próprio laboratório de larvicultura.

Figura 5: Tanques de eclosão de Artemia.

Além da Artemia as larvas são alimentadas com uma ração à base de ovos, leite em pó, carne

de moluscos, peixe e outros constituintes.

No caso de se preparar rações muito particuladas, deve-se ter cuidado com o diâmetro da

partícula em função do estágio de desenvolvimento em que se encontram as larvas.

O alimento deve ser bem dosado para evitar desperdício, assim como para não poluir a água.

Como mencionado anteriormente o desenvolvimento das larvas de Macrobrachium rosenbergii

compreende 1 estágios de ZOEA. Todos estes estágios levam aproximadamente 25 a 35 dias.

Assim que se complete o final do desenvolvimento da última larva ZOEA XI esta sofre uma

metamorfose originando o que denominamos de fase de pós-larvas, e assume características

morfológicas muito próximas às de um camarão adulto. O período exato do tempo de

desenvolvimento embrionário, ou mesmo o momento em que se procederá a metamorfose

pode variar em função do manejo da larvicultura, da alimentação, da densidade nos tanques e

outros fatores. Uma vez atingindo o estágio de pós-larva, estes animais deixam de ser

planctônicos, transformando-se em bentônicos, passando a nadar com sua região ventral para

baixo e se locomovendo no substrato do fundo.

5.7 Estocagem e transporte de Pós-larvas

Quando observado que mais de 90% das larvas já sofreram metamorfose e estão na fase de

pós-larva, deve-se então iniciar a aclimatação dos animais para a água doce e transferi-las

para os tanques de estocagem onde permanecerão por mais ou menos cinco dias para

posterior comercialização.

A aclimatação dos animais para a água doce deve ser realizada adicionando-se água doce nos

tanques de desenvolvimento larval, de forma gradativa, evitando qualquer choque de

salinidade. A salinidade deverá chegar a zero, ou seja, o tanque de estocagem deve ser

totalmente de água doce.

A manutenção da qualidade da água nos tanques de estocagem é fator primordial de

sobrevivência das pós-larvas. Deverão os tanques ter uma taxa de renovação não inferior a

50% diariamente e aeração continua.

O transporte das pós-larvas deve ser efetuado com material adequado e preparado com

antecedência. O saco plástico deve ser especial evitando-se aqueles que possam liberar

resíduos tóxicos, e sem furos. As pontas devem ser amarradas para evitar concentração de

pós-larvas nos cantos.

Para transporte a grandes distâncias preparam-se os sacos plásticos com capacidade de 30

litros, na proporção de 1/3 de água para 2/3 de oxigênio puro. O material deverá ser

acondicionado em caixas de isopor, contendo gelo entre as paredes internas e os sacos

plásticos. Isto permitirá que a temperatura da água diminua o metabolismo das pós-larvas

levando-as a um menor consumo de oxigênio. Deve-se evitar o transporte durante as horas

mais quentes do dia.

Figura 6: Embalagem de pós-larvas para transporte. 21

5.8 Abastecimento e Drenagem da Água

O abastecimento de água doce numa larvicultura é executado por bombas. A água, após

armazenada nos tanques, deverá ser filtrada. Dependendo do local onde está instalada a

larvicultura o abastecimento poderá ser por gravidade. Todo o encanamento, tanto para água

doce como para salgada, deve ser à base de cano de PVC para evitar ferrugem e eliminação

de metais na água. A partir dos tanques reservatórios, a água doce ou salgada deve fluir,

preferencialmente por gravidade, para o tanque de mistura e deste para o filtro e

conseqüentemente para toda a larvicultura.

- Refratômetro ou Condutivímetro;- “timer”;

- termômetro; - bombas de água;

- oxímetro; - termostatos;

- pHmetro; - aquecedores;

- kits de NO2 e NH3; - gerador;

- microscópio; - liquidificador;

- balanças; - freezer;

- lupa; - geladeira.

- compressores;

5.9 Equipamento Alguns equipamentos indispensáveis à uma larvicultura são listados a seguir:

Materiais diversos: Baldes, telas, béckers, placa de petri, pipetas, sifonadores, e outros.

Figura 7 – Leiaute simplificado de um laboratório de larvicultura que opera em sistema fechado

dinâmico. E - Tanque de eclosão. T – Tanque de Larvicultura. F – Filtro Biológico. P –

Pedilúvio. (Extraído de Valenti, 1998).

6.0 Características de Sistema de Cultivo

Podemos destacar três tipos de sistemas de cultivo adotados para engorda do camarão da

Malásia: o sistema extensivo, o semi-intensivo e o intensivo, diferenciados, basicamente, em

função do manejo utilizado.

a) Sistema Extensivo

O cultivo é realizado em represas com baixa densidade de estocagem, com até dois indivíduos

por metro quadrado (2 ind./m2). Neste caso, não são praticados o monitoramento da qualidade

de água, arraçoamento e a adubação da água, e não se faz o controle de produção. A

produtividade gira em torno de 300 kg/ha/ano.

b) Sistema Semi-intensivo

Neste tipo de sistema o cultivo é realizado em viveiros escavados no solo, que variam de 1.0 a

5.0 m2, utilizando uma densidade de até 10 ind./m2, com controle de qualidade de água, oferta

de rações específicas para o camarão, realização de biometrias, despescas seletivas e totais e

controle de produção, podendo a produtividade atingir de 1.200 a 1.800 kg/ha/ano.

c) Sistema Intensivo

Caracteriza-se por apresentar um rigoroso controle de produção e qualidade de água,

utilização de rações balanceadas, densidade acima de 10 ind./m2, emprego de tecnologia de

ponta, com utilização principalmente de aeradores e a produtividade esperada é superior a 3.0

kg/ha/ano.A figura 08, a seguir, caracteriza e diferencia os três tipos de sistema de cultivo

descritos.

Extensivo A - Aeração

Tamanho de Alimento U - Monitoramento

viveiro natural Semi M do viveiro

Densidade Alimentação intensivo E - Produtividade

de povoamentoartificial N - Custos

intensivo T - Lucros

O - Riscos

Figura 08 - Diagrama ilustrativo de sistemas de cultivo

Para os cultivos semi-intensivo e intensivo existem dois métodos de criação em função do

crescimento não uniforme, característico desses camarões: o tradicional e o contínuo.

Método Tradicional: o povoamento é realizado com pós-larvas, e, a partir do 4º ou 5º mês de

engorda iniciam-se as despescas seletivas encerrando-se ao término do 6º ou 7º mês com a

despesca total (final). O viveiro é totalmente drenado e reabastecido, iniciando-se um novo

cultivo, a segunda safra. Em geral, recomenda-se uma manutenção dos viveiros a cada duas

safras, conforme será descrito posteriormente. É o método de cultivo mais recomendado.

Método Contínuo: O viveiro não é drenado a cada despesca final, permanecendo alagado por

dois ou três anos. Com cerca de 5 meses de cultivo faz-se a primeira despesca parcial,

utilizando-se uma rede seletiva para capturar apenas os camarões de peso comercial. Este

procedimento é repetido diversas vezes, a cada 20/30 dias, sempre seguido de novos

povoamentos.

7.0 Escolha do Local

A escolha do local para a instalação dos viveiros de criação deverá levar em consideração os

seguintes aspectos:

a) Temperatura: o local não deve apresentar grandes variações de temperatura. A temperatura

média da água do mês mais frio deve ser igual ou superior a 20°C. O ideal é que a temperatura

se mantenha em torno dos 28ºC.

b) Água: os viveiros podem ser abastecidos com água de superfície, de rios, riachos, açudes,

barragens, ou água subterrânea. No primeiro caso, deve-se evitar, o máximo possível, com uso

de filtros a entrada de predadores e/ou competidores, no entanto, a qualidade e a quantidade

(aproximadamente 16m³/ha/hora) são fatores primordiais ao cultivo de camarões. É

extremamente importante que as características físico-químicas da água sejam analisadas

antes do uso.

- pH entre 7,0 e 8,4

- OD > 5 ppm

- TºC entre 20 e 30ºC

- Dureza entre60 e 120 mg/l (CaCO3)

- Fe < 2.0 ppm

- NO2 < 1,0 ppm

- Odor nenhum

Os parâmetros físico-químicos recomendados são: - Coliformes fecais: ausência c) Topografia:

o terreno deve ser plano ou levemente ondulado.

d) Solo: o solo ideal para construção de viveiros devem apresentar um teor de argila entre 20 e

70%. Com menos de 40% de argila, o solo apresentará baixo poder de retenção da água. Com

mais de 70%, o solo poderá apresentar rachaduras por ocasião de sua exposição ao sol para

fins de assepsia.

e) Localização: o local do cultivo deve dispor de boas vias que facilitem o acesso rápido e fácil

escoamento da produção.

8.0 Construção do Parque de Cultivo

Os viveiros de engorda, geralmente retangulares, podem ser naturais ou escavados no solo.

Suas principais características são: Profundidade: mínimo de 0,8 e o máximo de 1,50 m; Área:

variando entre 1000 e 5000 m², e a relação comprimento/largura poderá ser de 3:1 ou de 4:1.

O fundo deve ser plano com uma pequena inclinação no sentido da drenagem.

Recomendam-se paredes (taludes) inclinadas, num ângulo interno de 45° e cobertas por

vegetação rasteira para protegê-las da erosão.

Figura 9: Detalhe da construção de um viveiro de engorda.

Os viveiros destinados para berçário, são construídos de maneira semelhante aos de engorda,

possuindo, no entanto, áreas menores variando de 500 a 1000 m².

8.1 Arranjo Físico

O viveiro deverá estar ligado a um canal de abastecimento de água e a uma canaleta de

drenagem. O fundo do canal de abastecimento deve ser construído acima do nível máximo de

água do viveiro. A entrada de água no viveiro pode ser feita por tubos em PVC ou por uma

comporta em alvenaria, o mesmo ocorrendo com o sistema de drenagem. Recomenda-se a

colocação de uma tela plástica no inicio do canal de abastecimento para evitar a entrada de

peixes ou outros animais que possam predar os camarões ou prejudicar a produção e a

qualidade da água do viveiro.

Figura 10: Vista geral de viveiros de engorda de camarão de água doce. 28

Figura 1: Planta Baixa e cortes de um viveiro padrão para o cultivo de camarão de água doce.

(Valenti; 1998)

Figura 12: Modelo de comporta tipo monge. (Extraído de Valenti, 1998)

9.0 Tecnologia de Produção

A fase da carcinicultura que mais desperta a atenção do investidor é, sem dúvida alguma, a

fase de criação dos jovens (pós-larvas) até o seu tamanho comercial. A produção de pós-larvas

é uma atividade normalmente desempenhada apenas por grandes produtores, pelo próprio

governo, ou ainda por empresas especializadas, por exigir o uso de laboratórios de alta

tecnologia.

9.1 Monitoramento da Qualidade de Água

O monitoramento das características físicas, químicas e biológicas da água é imprescindível

para que se proceda o controle da qualidade do cultivo, o que refletirá diretamente na produção

e produtividade do sistema de engorda.

CASTAGNOLLI (1992), comenta que em termos gerais, a qualidade de água inclui todas as

características químicas, físico-químicas e biológicas que possam influir na sua utilização,

independente da finalidade que se pretende. Deste modo, é fundamental o conhecimento das

características das águas, tanto para a compreensão do ambiente, como para o cultivo de

organismos aquáticos. Em relação à carcinicultura, qualquer característica da água que, de

alguma forma, possa afetar a sobrevivência, crescimento, reprodução e comportamento dos

camarões, é considerado uma variável de qualidade de água. Existem inúmeras variáveis que

concorrem para a melhoria da qualidade da água, entretanto, o Carcinicultor deve concentrar

sua atenção somente naquelas que podem ser controladas através de manejo adequado,

(SEBRAE/ES, 1992).

As principais variáveis de qualidade de água monitoradas junto aos viveiros de cultivo de

camarão são: temperatura, oxigênio dissolvido (O.D.), pH, transparência, alcalinidade,

compostos nitrogenados, dureza de Ca++ e Mg++ e teor de ferro.

Figura 13: Análise de qualidade da água de cultivo (Oxigênio Dissolvido).

9.1.1 Temperatura da Água de Cultivo

Segundo CAVALCANTI et al. (1986); NEW & SINGHOLKA (1994), a faixa compreendida entre

25 e 30ºC é considerada ideal para o cultivo de camarões, reduzindo o desenvolvimento em

temperaturas menores que 24ºC e maiores que 31ºC.

Diversos autores citam que temperaturas da água abaixo de 25 ou 26ºC estão aquém das

condições térmicas consideradas ótimas para o crescimento satisfatório (NEW & SINGHOLKA,

1984, VALENTI, 1989). Experimentos de cultivo, conduzidos pelo CTA (1994) no município de

Guarapari/ES, onde as temperaturas dos meses de junho, julho e agosto estiveram próximas a

22ºC, mostraram uma redução no crescimento esperado, corroborando portanto com a

literatura. A redução no crescimento justifica-se na indisposição dos animais à alimentação.

As medições de temperatura devem ser realizadas no início da manhã e da tarde. Preconiza-se

a mensuração de temperatura nestes horários, pois estes refletem os pontos extremos da sua

variação.

O monitoramento da temperatura da água de cultivo é de fundamental importância no cálculo

de ração a ser oferecida aos animais. Em temperaturas menos quentes, o animal reduz seu

metabolismo, necessitando de uma quantidade menor de alimento. Quando isso não é levado

em consideração, pode haver um acúmulo de ração no viveiro, comprometendo a qualidade da

água de cultivo, gerando prejuízos aos produtores.

9.1.2 – Transparência

A profundidade do desaparecimento do disco de Secchi é inversamente proporcional à

quantidade de compostos orgânicos e inorgânicos no caminho ótico. (PREISENDORFER,

1986).

A análise da transparência da água pode fornecer uma indicação da quantidade de plâncton e

de material em suspensão presentes na coluna de água. Estes dados são importantes para se

determinar a profundidade natural do viveiro. A transparência é medida através do uso do disco

de Secchi e os valores ótimos situam-se entre 25 e 50 cm abaixo da superfície da água.

(SEBRAE/ES, 1992; RODRIGUES et al, 1991).

O monitoramento da transparência é uma das formas de controlar a qualidade de água do

viveiro, pois ela está diretamente relacionada a parâmetros como produtividade natural, as

taxas de O.D., pH, incidência luminosa, e presença de macrófitas, entre outros. Vale ressaltar

que os custos com a aquisição de um disco de Secchi são mínimos. Os carcinicultores podem

ainda adaptar um prato com 30 cm de diâmetro, pintado alternadamente em preto e branco e

preso a um cabo de madeira adequadamente graduado.

A transparência abaixo de 25cm de superfície indica alta concentração de plâncton e portanto,

como medida de segurança, deve-se suspender a fertilização e renovar a água para evitar

queda do nível de oxigênio. Por outro lado, acima de 50 cm indica que a produção planctônica

ainda pode ser incrementada, podendo o viveiro receber mais adubo. (RODRIGUES et al,

1991).

Figura 14: Disco de Secchi utilizado para determinar a transparência da água.

9.1.3 – Oxigênio Dissolvido – (O.D.)

O oxigênio é fundamental para que todos os seres vivos aeróbios possam respirar,

possibilitando assim, a assimilação da energia armazenada nos alimentos. O oxigênio existente

no meio líquido depende fundamentalmente da fotossíntese e, em menor escala, do percentual

proveniente da atmosfera, e decorrente da pressão e da ação mecânica dos ventos. O

consumo está relacionado à respiração dos seres aeróbios, à decomposição da matéria

orgânica, às perdas para a atmosfera, além da oxidação de íons metálicos como ferro e o

manganês. Convém registrar ainda, que a solubilidade do oxigênio é inversamente

proporcional à temperatura.

Pode-se afirmar que o oxigênio é a variável mais crítica para a manutenção da água, em

pontos ótimos de desenvolvimento para os camarões. Baixos índices de oxigênio têm sido

responsáveis por grandes perdas no processo de criação. Convém salientar, que a variação

diária do oxigênio está ligada fundamentalmente ao processo de fotossíntese e respitração/

decomposição (TAVARES, 1995). O fitoplâncton tem papel dominante na dinâmica do oxigênio

nos viveiros. O oxigênio dissolvido varia nos viveiros cíclicamente, no período de 24 horas.

Esta variável resulta de um balanço contínuo entre os processos respiratórios e de fotossíntese

das comunidades aquáticas.

O teor de oxigênio dissolvido na água aumenta a partir do início da manhã, tendo seu ponto

máximo ao final da tarde (17h) e diminuindo no início da noite, atingindo seu ponto mínimo e

mais crítico no fim da madrugada (5h).

Figura 15: Gráfico ilustrativo das variações de pH e oxigênio ao longo do dia em viveiros de

camarão.(linha vermelha =pH; linha azul = concentração de oxigênio dissolvido).

Segundo, SEBRAE/ES (1992), concentrações inferiores a 1.0 mg/l por períodos prolongados

são letais para camarões, entre 1.0 e 5.0 mg/l não chegam a comprometer a vida dos animais,

entretanto afetam seu crescimento. Concentrações superiores a 5.0 mg/l são consideradas

satisfatórias.

coluna de água (figura 16)

Freqüentemente, sobretudo em grandes cultivos, são utilizados aeradores para agitar a

superfície liquida dos tanques e melhorar os índices de oxigênio na

O consumo de oxigênio pelos camarões varia em função do tamanho do animal e da

temperatura do ambiente.

: Figura 16 - Aerador de pás em atividade em área de cultivo.

9.1.4 Potencial de Hidrogênio (pH)

O potencial de hidrogênio, pH, é uma medida da concentração do íon hidrogênio e indica se a

água está ácida, valores inferiores a 7 ou básica, valores superiores a 7. A escala varia de zero

a quatorze, sendo sete o ponto neutro. O pH está relacionado à decomposição dos detritos

orgânicos e respiração dos organismos aquáticos, variando em função do teor de dióxido de

carbono (CO2) dissolvido na água, diminuindo com a fotossíntese e aumentando com a

respiração

(CASTAGNOLLI, 1992; ODUM, 1985). A utilização do CO2, pelo fitoplâncton, principalmente

durante a fotossíntese, faz com que o pH do dia se eleve. À noite, com a produção de CO2

pelos animais e vegetais, o pH diminui. Portanto o pH também apresenta um componente

cíclico ao longo do dia, conforme o O.D..

Segundo TAVARES (1995), as águas dos viveiros localizados próximos às áreas agrícolas

tendem ao aumento do pH, devido à erosão, que transporta nutrientes e calcários. Ela comenta

ainda, que o efeito do pH sobre os organismos geralmente é indireto, uma vez que depende da

oscilação dos níveis de certos componentes como amônia, metais pesados, gás sulfídrico, e

outros que são tóxicos aos organismos aquáticos.

A faixa de pH ideal para cultivo de camarão da Malásia é de 7,0 a 8,5. Entretanto, devido as

oscilações desta variável ocorridas ao longo do dia, é considerada satisfatória uma variação de

6,5 a 9,5 (TAVARES, 1994). NEW & SINGHOLKA, 1984, citam que o pH nunca deve

ultrapassar a 9,0. Quando o pH está fora da faixa ideal, ele irá dificultar a obtenção de uma boa

transparência, pois de uma forma indireta, indisponibilizará o fósforo, importante nutriente ao

fitoplâncton. A correção de pH pode ser feita através da calagem, técnica que consiste na

adição de calcário calcítico ou dolomítico no viveiro de engorda.

As análises deverão ser realizadas, preferencialmente, no início da manhã ou no fim da tarde,

através de amostras de fundo, coletadas com o auxílio da garrafa de Van Dorn ou com um

becker no interior da comporta de escoamento do viveiro.

9.1.5 – Alcalinidade Total

Esta variável refere-se à concentração total de bases na água, sendo geralmente expressas

em mg/l de equivalente, basicamente, de carbonato de cálcio (CaCO3), bicarbonato (HCO3-)

ou carbonato (CO3--). Em viveiros de criação de organismos aquáticos, HCO3- e CO3-- são

responsáveis por todas as medidas de alcalinidade (TAVARES, 1995).

A alcalinidade da água é importante para o tamponamento do pH, evitando alteração bruscas

desta variável. Valores acima de 20 mg/l de CaCO3 indicam boas reservas alcalinas, enquanto

que, em níveis superiores a 180 mg/l de

CaCO3, pode ocorrer precipitação do íon cálcio, obstruindo as brânquias, causando a

mortalidade dos camarões.

9.1.6 - Dureza

O teor de Cálcio na água pode ser utilizado para a caracterização do grau de dureza. Reflete

principalmente o teor de íons de Ca++ e Mg++, que são combinados ao carbonato e/ou

bicarbonato (TAVARES, 1995). Portanto, a dureza total reflete a dureza de cálcio, junto com a

dureza de magnésio. Segundo VALENTI (1989), a dureza é uma variável, geralmente,

associada à alcalinidade. O Camarão de água doce, M. rosenbergii, prefere água com dureza

moderada, em torno de 60 - 120 mg/l de CaCO3.

Tanto a dureza quanto a alcalinidade podem ser corrigidas através da técnica de calagem.

9.1.7 – Teor de Ferro

O Ferro atua reduzindo o pH. Nestas condições, ele se combina com o fósforo, impedindo a

assimilação deste por parte do fitoplâncton, dificultando o incremento da transparência e da

produtividade natural do viveiro. Vale ressaltar que o mesmo efeito provocado pelo Ferro

ocorre com o Cálcio em condições de águas alcalinas (> 9,0). Portanto, o produtor deve

manter-se atento à necessidade da aplicação de calcário em viveiros, no entanto, a aplicação

só deverá acontecer mediante a recomendação de especialistas, a partir de análises

previamente realizadas.

9.2 Manutenção e Preparação dos Viveiros

Após o término de cada cultivo, torná-se necessário a realização da manutenção dos viveiros

de engorda, que consiste basicamente na raspagem do fundo do viveiro, retirando-se os

concentrados poluidores, bem como a execução de reparos em taludes, monges, sistema de

abastecimento, e outros.

Concluída esta etapa, inicia-se a preparação do viveiro para um novo povoamento,

processando-se a assepsia, calagem, quando necessário, adubação orgânica, abastecimento

dos viveiros e adubação química. O povoamento deve ser feito no máximo dez dias após o

início do abastecimento dos viveiros, evitando-se com isto o desenvolvimento oportunista de

predadores e competidores de pós-larvas de camarão.

Procedimento:

Com o viveiro ainda seco, espalham-se aproximadamente 500 kg/ha de calcário dolomítico,

iniciando-se logo a seguir a fertilização orgânica distribuindo-se ao longo do viveiro esterco de

boi bem curtido, numa quantidade de 2.0 kg/ha. Feito isso, inicia-se o abastecimento. Quando

o volume de água atingir aproximadamente 50% do volume total, adiciona-se o fertilizante

químico (superfosfato triplo ou simples) numa quantidade de 60 kg/ha. O fertilizante, deverá ser

dissolvido num balde com água e lançado de forma homogênea por todo o viveiro.

utilização do disco de Secchi aferir os valores de transparência

Ao se completar o nível de água do viveiro, interrompe-se o fluxo de entrada e de saída por

mais ou menos, dez dias. Neste período deve-se fazer um acompanhamento para verificar se o

nível de água se mantêm, e através da

É conveniente que seja providenciado a construção de trapiches próximos ao monge e a

identificação dos viveiros, contendo o numero e metragem. Quanto aos monges, deve-se

providenciar uma proteção com tela sombrite para evitar a fuga dos animais.

Figura 17: Viveiro sendo drenado para iniciar as etapas de manutenção.

9.3 Transporte das pós-larvas e Povoamento dos viveiros

O transporte das pós-larvas deve ser realizado nos horários mais frescos do dia, utilizando-se o

caminho mais curto do laboratório à propriedade. Recomenda-se também colocar alguns cubos

de gelo entre os sacos, contendo as pós-larvas, e a parede da caixa de isopor. Chegando a

propriedade, as pós-larvas passam por um período de aclimatação, que consiste em colocar os

sacos plásticos na água do viveiro por um período de 20 a 30 minutos, objetivando o equilíbrio

térmico entre as águas de dentro e de fora do saco. Posteriormente, deve-se misturar

lentamente a água destes com as do viveiro, liberando cuidadosamente os animais, evitando-

se assim possíveis choques.

As pós-larvas com 3 a 8 dias, após a metamorfose, podem ser colocadas no viveiro berçário

numa densidade de 50 – 100 indivíduos/m2, permanecendo por aproximadamente 60 dias

quando atingem 1,2 g de peso médio, sendo então transferidas ou colocadas diretamente nos

viveiros de engorda, numa densidade de 5 - 7 indivíduos/m2, para sistema semi-intensivo ou

14 - 18 indivíduos/m2 para cultivo intensivo. Neste último caso há necessidade de se utilizar

tecnologia especifica para operação.

9.4 Fertilização

O quadro a seguir apresenta alguns tipos de adubos orgânicos e químicos mais comumente

utilizados na fertilização de viveiros e suas respectivas quantidades, tomando-se como base

um hetare.

Adubo orgânico (esterco curtido) Quantidade P/1 ha (kg)

Boi 1.500 a 2.0 Porco 200 a 300 Aves 100 a 200

Adubo químico Quantidade P/1 ha (kg)

Superfosfato triplo ou simples 50 a 60 NPK 13: 20: 6

Os fertilizantes mais recomendados são: o superfosfato simples (50 a 60 kg/ha) para correção

de transparência e o esterco de boi curtido (1.500 a 2.0 kg/ha), com objetivo de incrementar o

desenvolvimento de pequenas larvas de insetos e vermes aquáticos, que se constituirão como

alimento natural para os camarões.

9.5 Biometria

A biometria, técnica de acompanhamento de desenvolvimento de crescimento e engorda do

camarão, deve ser realizada pelo menos uma vez por mês, pois, a partir dos dados obtidos,

são efetuados os cálculos de biomassa instantânea e a oferta de ração, de acordo com os

percentuais sobre a biomassa. Estes percentuais (2 a 5%), variam basicamente em função da

etapa de desenvolvimento do animal, estratégia de engorda e temperatura da água.

Representando a ração aproximadamente 50% dos custos de produção do camarão, é

possível atribuir à biometria o seu papel direto na economicidade do investimento.

9.6 Despesca

Dependendo da época em que se encontra o ciclo de engorda, são realizadas despescas

seletivas e/ou totais. Estas despescas são fundamentais para que haja resultados satisfatórios

de produção e consequentemente maior otimização da utilização dos viveiros de cultivo,

possibilitando a realização de dois ciclos de engorda por ano. As despescas são realizadas

sempre que, durante a biometria, for observada a presença de camarões de tamanho

comercial. Para a prática de despesca, devem-se adotar as seguintes medidas:

- Realização das despescas nos horários frescos do dia;

- utilização de rede específica (malha de 15 a 20 m);

- ausência de arraçoamento no dia anterior à despesca;

- existência de utensílios de apoio, como, baldes, isopores, caixas de pescado, entre outros,

além de pessoal suficiente para uma rápida despesca;

- gelo suficiente para a realização de um eficiente choque térmico e solução de hipoclorito de

sódio para a assepsia do produto;

- material para o tratamento pós-colheita (mesa, tesoura, bandejas, filme de PVC) e bem como

local para estocagem do camarão.

Figura 18:Despesca seletiva.

9.7 Ração e Arraçoamento

9.7.1 Ração

Um dos aspectos que garantem o sucesso da atividade é o emprego de alimento adequado à

espécie que se pretende cultivar. Uma ração adequada é aquela que apresenta as seguintes

exigências:

a - atende às exigências nutricionais conhecidas da espécie; b - apresentar boa estabilidade e

granulometria; c - imerge, isto é, afunda com facilidade; d - tem boa atratibilidade, e - é

economicamente viável.

O valor nutritivo da ração deve considerar os insumos utilizados, teores de proteínas,

carboidratos e lipídeos, além dos suplementos vitamínicos e minerais, indispensáveis à

absorção de nutrientes, e com importante participação numa série de reações metabólicas do

organismo.

As proteínas representam a fração mais onerosa da ração e por isso são utilizadas com muito

critério pelas indústrias de ração, que consideram o perfil aminoacídico destas, e não tão

somente o percentual utilizado.

A produção de peixes ou camarões depende do sistema de cultivo e da disponibilidade e tipo

de alimento.

Diversos estudos têm demonstrado os cuidados que devem ser tomados na produção de

dietas artesanais. Entre estes estudos, a presença de fatores antinutricionais tem recebido

atenção especial. Muitos destes fatores estão associados à contaminação dos alimentos por

microorganismos patogênicos, como por exemplo, um tipo de fungo que produz uma

substância, a aflatoxina, altamente tóxica e encontrada principalmente nos cereais.

Outros fatores referem-se aos níveis de utilização dos insumos e, por conseguinte dos

nutrientes. Por exemplo, a soja que contém a sojina (fator antinutricional), deve ser utilizada

com cuidado e não simplesmente como um substitutivo em potencial para os insumos protéicos

de origem animal. Outras restrições podem ser citadas para o farelo de trigo, devido a elevada

concentração de fibras, para as farinhas de peixe, carne, ossos e aves, através de seus níveis

de gordura e cinzas.

Uma boa ração deve apresentar as seguintes características bromatológicas:

Proteína bruta entre 25 - 30% Carboidratos (açúcares) entre 30 - 40% Gorduras entre 06 - 08%

Fibras entre 06 - 08% Outros (Cinzas) entre 08 - 10% Umidade até 10 % Relação Ca/P entre

2.5 / 1 %

9.7.2 Arraçoamento

A prática do arraçoamento é uma etapa que vem finalizar e garantir que o alimento,

balanceado e produzido com todos os cuidados, seja devidamente utilizado, evitando com isso

desperdícios, prejuízos e deterioração da água de cultivo.

Recomenda-se que o arraçoamento seja realizado considerando os seguintes fatores:

1 - densidade de estocagem; 2 - idade dos animais; 3 - qualidade da água de cultivo.

Desta forma, considerando a adoção do sistema de cultivo semi-intensivo, a freqüência

alimentar recomendável é de duas refeições ao dia, às 7h e às 18h. Em cultivos intensivos a

frequência alimentar pode chegar a quatro vezes ao dia. A ração deve ser espalhada ao longo

de todo o viveiro.

A ração deve ser estocada sobre um estrado, em ambiente fresco e ventilado. O saco aberto

não utilizado totalmente deve ser mantido bem fechado.

Em condições de águas turvas, apresentando valores baixos de oxigênio não se recomenda o

arraçoamento até o restabelecimento por completo das condições adequadas de qualidade de

água. As vésperas de uma despesca também não se recomenda o arraçoamento.

É conhecido o papel da temperatura no metabolismo de espécies aquáticas. O camarão da

Malásia, por ser uma espécie tropical, não se alimenta adequadamente em temperaturas

abaixo de 22ºC, deixando de se alimentar abaixo dos 18ºC. Assim, de posse dessas

informações, a oferta de ração deverá sofrer ajustes dependendo da temperatura da água,

procedendo-se uma observação criteriosa, principalmente no inverno.

A tabela a seguir apresenta a quantidade diária de ração recomendada nos dois primeiros

meses de cultivo.

1ª quinzena - 05 kg/ha 2ª quinzena - 07 kg/ha 3ª quinzena - 08 kg/ha 4ª quinzena - 10 kg/ha

Após os dois primeiros meses de cultivo a oferta diária de ração passa a ser de 5% da

biomassa total de camarões do viveiro, diminuindo para 4% no 5º mês e 3% no 6º mês.

9.8 Controle de Predadores e Competidores

A atividade de carcinicultura está sujeita a uma série de fatores, muitas vezes de caráter

imprevisível e oportunista que podem influir negativamente na produtividade do viveiro

(SEBRAE/ES, 1992). Um destes fatores é a presença, muitas vezes indesejável, de outros

animais dentro ou ao redor dos viveiros de produção. SANDIFER (1983), cita que os

predadores, juntamente com a depleção de oxigênio dissolvido, tem sido responsáveis pelos

maiores prejuízos na criação de camarão.

Segundo DAJOZ (1983), a coabitação de duas espécies pode ter sobre cada uma delas uma

influência nula, favorável ou desfavorável. Evidentemente que a presença de predadores e de

outros seres que possam atuar como competidores com os camarões, provocará prejuízos

tanto maiores quanto mais intensa e direta forem a predação e competição. Neste caso, sem

dúvida, os maiores prejuízos são causados pelos predadores, entretanto, deve-se evitar

também a presença de competidores, principalmente por ração e espaço.

A tabela a seguir, apresenta os principais animais predadores e competidores possíveis de

serem encontrados nos viveiros de carcinicultura e o tipo de interação deles com o camarão.

Tabela 01 Predadores ou competidores presentes nos viveiros de engorda do camarão da

Malásia e suas interações.

Animais Nome popular Nome científico Tipo de interação

Invertebrados lavadeira Odonata (ordem) 1 barata d’água Hemiptera (ordem) 1 caranguejo de

água doce Trichodactilydae (família) 1

Anfíbios sapo Bufo spp. 2 rã Leptodactilus spp. 1 e 2 perereca Hila spp. 2

Peixes traíra Hoplias malabaricus 1 tilápia Tilápia rendalli

Oreochromis nilotica 2 2 lambari/piaba Astyanax spp. 2 carpa comum Ciprinus carpio 2 carpa

capim Ctenopharigodon idella 2 cará Geophagus brasiliensis 2 cará ferreira Ciclossoma

facetum 2 barrigudinho Poecilia vivipara 2 bagre Rhandia sp. 1 e 2

Aves martim pescador Cerile sp. 1 garça Casmerodus sp. Egretta thula 1 1 socó Butorides

striatus 1

Mamíferos lontra Lutra longicaldis 1 1- Predação; 2- Competição por alimento.

Dos animais anteriormente citados, os mais indesejáveis em viveiros de cultivo de camarão da

Malásia são:

- Ninfas de Odonata - Forma jovem e aquática da popularmente conhecida lavadeira ou

libélula. São predadores implacáveis, principalmente de pós-larvas. O desenvolvimento das

ninfas de odonatas (odonaiade) chega a durar de um a cinco anos, tempo sobejamente

suficiente para causar grandes prejuízos nos viveiros de camarão, principalmente em

berçários, se considerarmos que a fase mais vulnerável à predação é a que se segue de pós-

larva a juvenil. Para se evitar a presença desses indesejáveis animais, deve-se realizar o

povoamento no máximo dez dias após o início do abastecimento de viveiros, pois, neste caso,

as pós-larvas crescerão mais rápido que as ninfas da libélula, diminuindo consideravelmente a

predação.

- Traíra (Hoplias malabaricus) - É carnívora e muito voraz, possue dentes pontiagudos capazes

de abater peixes com ¼ do seu tamanho. Em viveiros de camarão traz grandes prejuízos nas

formas adulta e de ovo. É encontrada na maioria dos rios brasileiros, penetrando nos viveiros,

nas formas adulta ou de ovo, pelo canal de abastecimento. Sua erradicação é muito difícil, pois

tem o hábito de se enterrar na lama dificultando sua captura por redes, como também sua

eliminação quando os viveiros são drenados.

Além dela, existem mais duas espécies de peixes, o bagre (Rhandia sp) e o lambari (Astyanax

ssp) que são comumente encontrados nos viveiros de engorda de camarão da Malásia, sendo

considerados respectivamente predadores e competidores por alimento (ração).

Existem vários métodos para controle de entrada de peixes nos viveiros de cultivo. O método

mais recomendado é o da instalação de telas e filtros de areia e brita, nos canais de

abastecimento e assepsia dos viveiros com cal virgem ou hidratada. O uso de produtos

químicos nestas canaletas não é aconselhável, dada a alta sensibilidade dos camarões e o

grande poder residual que alguns elementos tóxicos apresentam, com exceção do Rotenona,

princípio ativo do timbó, que tem poder ictiotóxico, proporcionando a morte somente dos peixes

nos viveiros. SEBRAE/ES, (1992), cita que a Rotenona é um veneno seletivo e age como

inibidor do processo de respiração celular em peixes. Recomenda-se utilizar no máximo de 20

a 40 Kg/ha, quantidade esta não prejudicial aos camarões. A Rotenona deve ser usada com

cuidado para que não haja contaminação do ambiente externo ao cultivo. A Rotenona vem

sendo usada de maneira clandestina, pois o produto não teria registro junto aos órgãos

competentes. Caso o produtor se decida a usá-la, deve antes, solicitar ao IBAMA, autorização,

em caráter provisório.

Outro método, bastante utilizado é a assepsia do viveiro antes do povoamento, através da

aplicação de cal virgem (CaO), espalhado em toda a sua área. Para maior eficiência

recomenda-se a adição de sulfato de amônia (100 - 200 Kg/ha), que em altas concentrações,

juntamente com o CaO (50 - 60 g/m2), é tóxico pelos altos níveis de amônia livre liberada com

o aumento de pH. Este procedimento deve ser adotado com a capacidade de armazenamento

de água do viveiro em 10 cm.

Decorridas vinte e quatro horas da assepsia, deve-se eliminar a água do viveiro, tornando-se o

mesmo apto para a continuidade da preparação através da fertilização, abastecimento e

povoamento.

10.0 Tecnologia Pós-Despesca

Com o objetivo de manter a textura adequada do camarão por um maior período de tempo,

deve-se adotar alguns cuidados especiais, a começar pela despesca. A morte imediata, após a

retirada do produto do viveiro, através do choque térmico, é procedimento indispensável. A

água a ser utilizada no choque térmico deverá estar bem gelada, utilizando-se

preferencialmente gelo em escama. Recomendase adicionar à água, para o choque térmico,

solução de hipoclorito, a 5 ppm, para assepsia.

A sanidade dos produtos de origem aquática em função de sua elevada perecibilidade é fator

fundamental para se alcançar êxito no mercado.

A perda de textura (mushiness) em camarões Macrobrachium rosenbergii, tem sido relatada

em uma série de trabalhos. É importante destacar que a influência de fatores biológicos do

animal vivo tem um impacto muito grande no comportamento da estrutura do colágeno,

proteína muscular, uma vez que esta proteína tem participação importante na resistência

mecânica do músculo cozido.

A velocidade de decomposição está diretamente relacionada à concentração da flora

bacteriana decompositora, que se encontra na superfície corporal, estando a temperatura

diretamente relacionada ao desenvolvimento e à taxa de decomposição que ocorre nos

organismos mortos.

Entre as principais ações técnicas adotadas, citamos:

1 - Realizar a despesca com mais objetividade possível, ou seja, se for total deve-se drenar o

viveiro e recolher todos os camarões, inclusive aqueles de menor tamanho, tendo

providenciado para isto caixas térmicas e gelo suficiente para a quantidade esperada.

Recomenda-se que a quantidade de gelo mínima para o choque térmico deverá ser três vezes

maior que o volume de camarão previsto a ser despescado. Em colheita seletiva ou parcial,

deve-se proceder à despesca com uma rede de malha seletiva passando-a no máximo duas

vezes, tendo-se o cuidado de cobrir com eficiência o fundo e as margens do viveiro. Estas

medidas amenizam o estresse com a colheita, evitando a morte antecipada dos animais;

2 - recomenda-se também a não oferta de alimentos, ração, no dia anterior à despesca, visto

que, o trato digestivo cheio induz à deterioração mais rápida;

3 - após a despesca, o camarão sob resfriamento, passa por uma toalete, retirando-se as

quelas, antenas e o ápice do espinho rostral, localizado no cefalotórax (cabeça);

4 - após a toalete, os camarões são classificados segundo os tamanhos pequeno, médio,

grande e especial, com pesos médios de 20, 25, 35 e 45g, respectivamente. Realizando

despescas seletivas já a partir do 4º mês de engorda, e não estendendo o tempo de cultivo,

além dos 7 meses, reduz-se substancialmente o volume de animais “gigantes”. Esta prática é

decorrente de um esforço que as empresas camaroneiras de todo país fazem no sentido de

não se comercializar animais deste porte, devido aos mais diversos fatores, dentre os quais

citamos:

a - exigência de maior tempo de cultivo aumentando da conversão alimentar; b - para produzi-

lo em tempo menor, haverá a necessidade de diminuir consideravelmente a densidade de

estocagem acarretando baixas produtividades; c - estudos mostram que há alterações em

textura e paladar; d - maiores dificuldades em se alcançar tempo de cozimento satisfatório; e -

maior dificuldade na absorção dos temperos culinários.

5 - após a classificação, o camarão deverá ser acondicionado em bandejas plásticas ou de

poliestireno, envolvidas por um filme de P.V.C. e lacrada por uma etiqueta adesiva contendo

informações sobre a origem do produto, tamanho, conservação, recomendações de uso,

receitas culinárias, supervisão técnica, e outras.

6 - o congelamento deve ser rápido e o armazenamento em câmaras frigoríficas a - 18 ºC.

Pequenos produtores têm feito opção pela aquisição de refrigeradores com dispositivo “fast

freezing”. Médias e grandes empresas dispõem de infraestrutura específica para

beneficiamento do camarão, incluindo congelamento por nitrogênio ou amônia a temperaturas

que variam de - 18 a - 40 ºC.

Figura 19: Lavagem, toalete e classificação do camarão da Malásia. 49