macarrão instantâneo: refeição de conveniência
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Artigo publicado na Revista Contextos da Alimentação - edição Vol. 2, nº 2, Ano 2013 Publicação Científica do Centro Universitário Senac - ISSN 2238-4200 Acesse a edição na íntegra! www1.sp.senac.br/hotsites/blogs/revistacontextos/ Resumo O hábito alimentar do homem sofreu profundas mudanças no decorrer de sua evolução. Hoje é comum que as pessoas trabalhem distante de seus lares, o que os obriga a preparar ou consumir as refeições de forma simples, rápida e de custo baixo. Em decorrência desse estilo de vida moderno, as refeições de conveniência surgiram como uma opção para contornar essas dificuldades e nesse contexto, em 1958, o Sr. Momofuku Ando, criou o macarrão instantâneo; uma preparação bastante consumida pela praticidade, grande aceitação sensorial e custo acessível. Esse trabalho teve como objetivo conhecer o consumo mensal familiar e preferência de sabor do macarrão instantâneo em diferentes cidades do nordeste brasileiro. Foi utilizado um caminho metodológico que constou de uma pesquisa descritiva e exploratória. Do total de sujeitos entrevistados (n=200), de idade entre 25 a 62 anos, responderam que não sabiam que o macarrão instantâneo é um resultado tecnológico da culinária japonesa. Quanto ao consumo, os sabores em pacote mais consumidos são: frango caipira (47%), frango (38%), seguido de carne (8%) e nosso sabor (6%). Quanto ao macarrão instantâneo em pote o sabor mais consumido é o de frango caipira (73%) seguido de carne (27%). Apesar das vantagens econômicas e de praticidade, devemos avaliar com preocupação a forma muitas vezes exagerada quanto à aquisição desse produto, uma vez que o consumo frequente pode levar ao surgimento de doenças não transmissíveis de origem alimentar.TRANSCRIPT
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Artigo, Vol. 2, Nº 2, Ano 2013
Macarrão Instantâneo: Refeição de Conveniência
Instant Noodles: Convenience Meal
Neide Kazue Sakugawa Shinohara1
Masayoshi Matsumoto2
Maria do Rosário de Fátima Padilha3
Karlla Karinne Gomes de Oliveira4
Selma Travassos Cirino Medeiros5
Resumo
O hábito alimentar do homem sofreu profundas mudanças no decorrer de sua evolução.
Hoje é comum que as pessoas trabalhem distante de seus lares, o que os obriga a preparar ou
consumir as refeições de forma simples, rápida e de custo baixo. Em decorrência desse estilo
de vida moderno, as refeições de conveniência surgiram como uma opção para contornar
essas dificuldades e nesse contexto, em 1958, o Sr. Momofuku Ando, criou o macarrão
instantâneo; uma preparação bastante consumida pela praticidade, grande aceitação sensorial
e custo acessível. Esse trabalho teve como objetivo conhecer o consumo mensal familiar e
preferência de sabor do macarrão instantâneo em diferentes cidades do nordeste brasileiro. Foi
utilizado um caminho metodológico que constou de uma pesquisa descritiva e exploratória. Do
total de sujeitos entrevistados (n=200), de idade entre 25 a 62 anos, responderam que não
sabiam que o macarrão instantâneo é um resultado tecnológico da culinária japonesa. Quanto
ao consumo, os sabores em pacote mais consumidos são: frango caipira (47%), frango (38%),
seguido de carne (8%) e nosso sabor (6%). Quanto ao macarrão instantâneo em pote o sabor
1Doutora em Ciências Biológicas, Docente do Curso de Gastronomia da UFRPE. E-mail: [email protected]
2Discente do Curso de Especialização em Práticas Gastronômicas, UNINASSAU. E-mail: [email protected]
3Doutora em Nutrição, Docente do Curso de Gastronomia da UFRPE. E-mail: [email protected]
4Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos da UFRPE. E-mail: [email protected]
5Discente do Curso de Especialização em Práticas Gastronômicas, UNINASSAU E-mail: [email protected]
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mais consumido é o de frango caipira (73%) seguido de carne (27%). Apesar das vantagens
econômicas e de praticidade, devemos avaliar com preocupação a forma muitas vezes
exagerada quanto à aquisição desse produto, uma vez que o consumo frequente pode levar ao
surgimento de doenças não transmissíveis de origem alimentar.
Palavras-chave: macarrão, refeição rápida, hábito de consumo, culinária asiática.
Abstract
Man’s food habits suffered profound changes in the course of its evolution. Today it is
common for people to work away from their homes, forcing them to prepare or consume meals
in a simple, fast and low cost way. Due to this modern lifestyle, convenience meals have
emerged as an option to overcome these difficulties and, in this context, in 1958, Mr. Momofuku
Ando created instant noodles, a preparation quite consumed for its practicality, great sensory
acceptability and affordability. This study aimed to meet the monthly household consumption
and preferably taste of instant noodles in different cities in Brazilian Northeast. All respondents
(n=200) responded that they were unaware that the noodles is the result of technological
Japanese cuisine. As for the taste, the most consumed, in package, are: jerk chicken (47%),
chicken (38%), followed by meat (8%) and our taste (6%). As for the noodles in pot, the most
consumed flavor is jerk chicken (73%), followed by meat (27%). Despite the economic
advantages and practicality, we evaluate with concern how often exaggerated is the purchase
of this product, since regular consumption can lead to the emergence of non-communicable
diseases foodborne.
Keywords: noodles,quick meal, consumption habit, Asian cuisine.
Introdução
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O ritmo de vida e a alimentação mudaram nas grandes metrópoles. Tanto nos
restaurantes como nas residências, este fato levou à população a necessidade de refeições
mais simples e rápidas. O estilo de vida americano passou a dominar o mundo, popularizando-
se o jargão time is money. Isto porque as pessoas, trabalhando longe de casa, tinham maior
dificuldade de voltarem para casa para almoçar, e, paralelamente, no mercado de trabalho
tinham que mostrar rendimento. Outro aspecto desse novo padrão da sociedade está
relacionado com a estrutura familiar. A gradativa ascensão da mulher ao mercado de trabalho
também foi um elemento que favoreceu mudanças nos hábitos alimentares. As pessoas não
almoçavam mais em casa, o que fez crescer o número de pequenos restaurantes populares e
lanchonetes com refeições rápidas e baratas (FREIXA & CHAVES, 2009).
Dentre as comidas elaboradas com praticidade destaca-se o macarrão. Seu significado
vem do grego "Makària", que data há cerca de 25 séculos e significa caldo de carne
enriquecido por pelotinhas de farinha de trigo e por outros cereais. Sabe-se que o macarrão
começou a ser preparado logo que o homem descobriu que podia moer alguns cereais,
misturar com água e obter uma pasta cozida ou assada. É difícil dizer onde e quando isso
aconteceu. Existem inúmeras maneiras de consumi-lo, uma delas é o macarrão instantâneo ou
lamen (ABIA, 2013).
Derivado das palavras chinesas Hao Ra (obrigado pela espera), Ra Men (esticado à
mão) e La-mien (macarrão estendido); o lamen japonês, como é mundialmente conhecido, tem
textura bem diferente do seu similar chinês. Ao ser cozido, torna-se ligeiramente amarelado e a
constituição apresenta maior crocância que o macarrão com ovos chinês. No Japão, a
popularidade do lamen já ultrapassou os tradicionais udon e soba, e vem se tornando cada vez
mais popular no Ocidente. Pode ser encontrado fresco, desidratado ou congelado em lojas de
produtos orientais e em grandes redes de supermercados. O lamen instantâneo, muito popular
como refeição rápida é uma sopa com o macarrão, acompanhado por um caldo de carne em pó
em pacote pronto para usar (KASUKO, 2010; SUGINO & OHISA, 2009).
No processo de industrialização, a massa do lamen, é ejetada por uma série de bicos
para formar uma fita de longos fios sinuosos, lado a lado. A fita é então cortada em pedaços e
dobrada sobre si mesma, depois é posta num molde e a seguir os pedaços são cozidos no
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vapor, sendo posteriormente fritos por imersão à 140ºC. Esse procedimento seca o macarrão
de modo que o bloco mantenha seu formato quadrado. A última etapa é a secagem que ocorre
por jatos de ar a 80ºC. Embora possa haver uma pequena quantidade de óleo em algumas
misturas do tempero, praticamente toda gordura estará presente no macarrão (McGEE, 2011;
WOLKE, 2003).
O Sr Momofuku Ando teve a idéia de criar o macarrão instantâneo após a 2ª Guerra
Mundial ao perceber que as pessoas passavam muitas horas na fila para comprar alimentos no
mercado negro devido ao racionamento. Ando nasceu em Taiwan em 1910, quando o país
vivia sob ocupação japonesa, depois se mudou para o Japão e dirigiu várias empresas antes
de se tornar o inventor de uma das mais populares comidas do mundo. Ele fundou uma
empresa de macarrão instantâneo e criou o chicken ramen em 1958, um macarrão instantâneo
que se tornou bastante popular no Japão. Ando também inventou em 1971 o cup noodle, outro
tipo de macarrão instantâneo em que a água quente é despejada dentro do copo de plástico da
embalagem e amolece antes de ser consumido. Devido ao preço baixo e ao fácil preparo, o cup
noodle fez tanto sucesso que passou a ser vendido em vários países (Folha de São Paulo,
2007).
A Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) Nº 93/2000 da Anvisa (BRASIL, 2000), que
dispõe sobre o Regulamento Técnico para Fixação de Identidade e Qualidade de Massa
Alimentícia, define que a massa alimentícia instantânea, é o produto não fermentado,
apresentado sob várias formas, recheado ou não, obtido pelo empasto, amassamento
mecânico, cozimento ou não, desidratação ou não da mistura de farinha de trigo comum e ou
sêmola/semolina de trigo e/ou farinha de trigo integral e/ou farinha de trigo durum e/ou
sêmola/semolina de trigo durum e/ou farinha integral de trigo durum e/ou derivados de cereais,
leguminosas, raízes ou tubérculos, adicionado ou não de outros ingredientes, e acompanhado
ou não de temperos e ou complementos, isoladamente ou adicionados diretamente à massa.
Para o preparo, o produto é hidratado a frio ou a quente e o tempo de cozimento é reduzido ou
desnecessário.
Empresa japonesa e grande fabricante do macarrão instantâneo inaugurou no dia 12 de
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novembro de 2012, sua primeira planta industrial do Nordeste, no distrito Industrial do
município de Glória do Goitá, na Zona da Mata Norte, Pernambuco. Essa empresa é formada
por duas empresas japonesas de macarrão instantâneo, que investiram R$ 46 milhões na
unidade pernambucana. Atualmente o Brasil ocupa a 10ª posição no ranking de consumo de
macarrão instantâneo, com aproximadamente 2 bilhões de porções por ano, segundo estudos
desenvolvidos pela empresa. O Nordeste tem potencial para ser um dos maiores mercados
para o segmento. A fábrica pernambucana produzirá um lamen desenvolvido especialmente
para o mercado regional nordestino, “Nosso Sabor” (DIÁRIO DE PERNAMBUCO, 2012; WINA,
2011).
Diante do exposto e das potencialidades do produto no mercado nacional e
internacional, o objetivo dessa pesquisa foi o de observar o consumo mensal familiar de
macarrão instantâneo dos consumidores do nordeste brasileiro, uma vez que o empresariado
sinaliza que estes se mostram um potencial mercado consumidor. Desta forma, parece-nos
surgir uma grande mudança nos hábitos alimentares em substituição às tradições culinárias
nordestinas.
Metodologia
A pesquisa de campo empregada nesse trabalho foi do tipo descritivo e exploratório com
entrevistas, usando um questionário de freqüência de consumo alimentar, baseado em
metodologia de Carnevalli e Miguel (2001). Pretendeu-se levantar questões de conhecimento
dos consumidores frente ao macarrão instantâneo: se tinham a informação que este produto é
resultado da tecnologia industrial japonesa; qual o consumo mensal familiar; preferência de
sabor e justificativa de compra mensal em pacote e na versão de copo individual. Os
entrevistados (n= 200), maiores de idade, de ambos os sexos, foram escolhidos ao acaso em
supermercados, restaurantes, padarias, lanchonetes e rodoviárias.
Os sujeitos da pesquisa que foram convidados a participar do estudo tinham de 25 a 62
anos e estes deveriam fazer uma leitura prévia do questionário, para checar se seriam capazes
de responder principalmente as questões de consumo e preferência familiar de sabor. As
entrevistas foram realizadas em 20 (vinte) cidades que apresentavam IDH médio e que fazem
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parte dos estados de Pernambuco, Paraíba, Bahia e Ceará, ou seja, foram escolhidos 5 (cinco)
cidades de cada estado e em cada cidade, 10 (dez) pessoas responderam o questionário. Para
obtenção dos resultados, as entrevistas se deram em cidades das regiões que correspondem
às zonas do litoral, mata, agreste e sertão nordestino.
As alternativas de sabor envolveram as versões pacote de 74 e 85 gramas, nos sabores
galinha, galinha caipira, carne e nosso sabor (costela na brasa, galinha ensopada e carne de
sol). Os copos de macarrão instantâneo apresentavam gramatura de 64 gramas nos sabores
galinha caipira e carne. As alternativas dos sabores que constaram no questionário se
basearam em pesquisa das diferentes opções de sabores encontrados nos supermercados das
cidades pesquisadas.
Resultados e Discussão
Depois de séculos de má nutrição decorrente da falta de alimentos no mundo, hoje, nas
sociedades industrializadas dos comensais contemporâneos, a preocupação dominante é
saber o que comer e em que proporções. Tradicionalmente, até a década 1960, para as
classes trabalhadoras, uma boa alimentação era, acima de tudo, uma alimentação “nutritiva”,
isto é, “sã”, porém principalmente abundante e saciável. Hoje, ao contrário, a maior parte da
população pensa que “comemos exageradamente”. O “temor de que a comida não seja
suficiente” retrocedeu. Na atualidade, a preocupação dominante é cada vez mais de caráter
qualitativo. Desde os anos 1980, o termo mais utilizado tanto pelas mães de família como pelos
dietistas para caracterizar uma boa alimentação é o de equilíbrio (CONTRERAS, 2011).
De acordo com as informações obtidas no questionário, nenhum dos entrevistados tinha
conhecimento que o macarrão instantâneo era resultado do hibridismo da culinária chinesa e
japonesa. Estes relataram que sabiam que não se tratava de uma criação brasileira,
principalmente pela nomenclatura, lamen, terminologia muito diferente do usual português.
Observamos um sentimento de surpresa por parte dos entrevistados ao descobrirem que um
alimento tão aceito nos lares brasileiros era fruto da tecnologia do outro lado do planeta.
A sopa lamen japonesa popularizou-se no mundo todo, seguindo a trilha de sucesso dos
sushis e, assim como eles, pode ser servida com diferentes carnes ou hortaliças. O lamen
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agrada a todos e serve para qualquer ocasião, embora seja mais consumido no almoço ou
como lanche nutritivo. No Japão, o consumo de um tchawan de lamen já apresenta as
necessidades nutricionais de uma refeição e é ideal para ser degustado no inverno para
aquecer o corpo e a alma (KAZUKO, 2010).
Segundo Horiuchi (1975), o caldo do verdadeiro lamen japonês é de fonte suína,
podendo ser acrescido de caldo de frango e também de caldo dashi, para assim ser adicionado
o sabor umami (porção mais gostosa), sabor esse, que caracteriza a base da culinária
japonesa. Podemos observar na Figura 1, que além do caldo base do lamen, há adição de
carne de porco, macarrão de lamen, hortaliças e alga marinha, podendo levar ainda outros
temperos como o shoyu e o missô. Essa refeição se popularizou nas diversas províncias e
regiões do Japão e atualmente adotou outros ingredientes que mudam de acordo com a
sazonalidade.
Os resultados do questionário reforçaram a informação que os estados analisados
representam grande mercado consumidor, pois 74% dos entrevistados, ou seja, 148 pessoas,
responderam que colocam o macarrão instantâneo em pacote ou pote em sua lista de compra
mensal. Esse contingente de consumidores justificou que há um apelo de compra por parte dos
filhos no momento de elaboração da lista de compras. Outra explicação é o relato de
estudantes em cidades em que há instituições de ensino superior, onde o grande consumo de
produtos de conveniência é devido à falta de tempo na preparação de alimentos e que estes se
Fonte: Chef Yoshi Matsumoto, 2013.
Figura 01 - Lamen japonês.
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mostram uma alternativa saborosa, de baixo custo e de fácil preparação.
A grande maioria, ou seja, 148 pessoas que adquiriram mensalmente esse tipo de
alimento preferiram a versão pacote ao invés do copo, porque enquanto o pacote custa na
faixa de R$ 0,60 a R$ 1,00, o custo do pote custa um pouco mais que o dobro desse valor. O
pote é muito consumido em lanchonetes e bares próximos aos terminais de ônibus, onde um
pote já adicionado de água quente e acompanhado de um talher descartável custa em média
R$ 3,00. Para os estudantes, este alimento também é uma opção atraente de consumo em
substituição das principais refeições, mesmo quando realizado nas dependências da instituição
de ensino.
Segundo ABIMA (2011), é difícil fazer o brasileiro comprar mais macarrão, pois esse é
um produto presente em 100% dos lares. Já as massas instantâneas estão presentes em 90%
das residências, o que significa que ainda há espaço para crescer. Nos últimos cinco anos, a
venda de massas instantâneas aumentou 31% em volume de venda. O apelo do produto é a
praticidade, a rapidez no preparo e o preço: menos de R$ 2,00 por porção e às vezes, menos
de R$ 1.00 dependendo da região de comercialização. Os custos acima apresentados pela
ABIMA foram semelhantes aos achados nas cidades pesquisadas.
Em alguns estabelecimentos comerciais quando havia a possibilidade de encontrar o
proprietário ou gerente, estes relataram que iniciaram a comercialização devido à grande
procura desses produtos, por parte da população local e de viajantes, uma vez que em
algumas regiões da pesquisa eram pontos turísticos e passagem de um contingente diferente
de clientes e, portanto consumidores de hábitos alimentares diversos.
Ainda de acordo com as informações dos responsáveis pelos estabelecimentos
pesquisados, as áreas de comercialização desses produtos estão exigindo aumento do
espaço, porque novas marcas e consumidores estão surgindo no mercado. A média de
consumo familiar é de 15 a 30 pacotes/mês de macarrão instantâneo. Algumas famílias
chegam a comprar uma “embalagem fechada” com 48 ou 50 unidades, provavelmente devido a
quantidade dos membros familiares que fazem uso desse tipo de refeição. Esses resultados
corroboram com os achados de Contreras (2011), que o consumo de alimentos processados
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vem aumentado consideravelmente nos últimos trinta anos e continua, apesar dos seus
detratores morais, gastronômicos, econômicos e dietéticos, tanto nos países mais
industrializados como nos de Terceiro Mundo. Há aumento de consumo desses produtos em
quantidade de unidades, em diversidade de produtos e em porcentagem do orçamento familiar.
O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é um indicador elaborado pela Organização
das Nações Unidas e usado para medir a qualidade de vida das pessoas em várias regiões do
mundo. Leva em conta o PIB per capita – em dólares ajustados ao poder de compra no país, a
saúde e a educação, todos com o mesmo peso, de 1/3. A saúde é medida pela esperança de
vida ao nascer. Na educação, se mede a taxa de matrícula combinada (peso de 1/3) com a
taxa de alfabetização de pessoas com mais de 15 anos (peso de 2/3). O resultado é ordenado
segundo valores obtidos no cálculo, assumindo valores relativos que vão de 0 - pior situação
de desenvolvimento humano - até 1. Segundo os padrões da Organização Nações Unidas, a
região ou país é de alto desenvolvimento quando o IDH é maior ou igual a 0,8; médio, de 0,79
a 0,5, e baixo, de 0,49 ou menos (SILVA, PANHOCA, 2007).
Conforme levantamento promovido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE, 2010), o IDH dos municípios nordestino pesquisados variou de 0,581 a 0,748, que
segundo Silva e Panhoca (2007); essas cidades apresentam situação mediana quanto ao IDH.
Esses achados informam que apesar dos avanços sociais no Brasil, nos locais estudados,
estes ainda não estão em ótima condição de desenvolvimento humano, o que pode levar essas
populações a consumir com freqüência alimentos industrializados que muitas das vezes
apresentam baixo preço e facilidade de preparação.
De acordo com os resultados encontrados, os sabores mais consumidos na versão
pacote são o de frango caipira (47%), frango (38%), seguido de carne (8%) e nosso sabor
(6%). Quanto ao macarrão instantâneo em pote também continua sendo o sabor mais
consumido o frango caipira (73%) seguido de carne (27%). Segundo estudos de Bruxel (2011)
e Revista Pense (2012), a novidade chegou ao Brasil em 1965, época que foram lançados
macarrão instantâneo nos sabores galinha e carne, sabores mais populares em outros países e
também os mais consumidos no Brasil. Desde então, muitas pessoas matam a fome com um
pacotinho de macarrão, cozido em poucos minutos.
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Atualmente, a nova versão se mostra mais prática, podendo ser consumida em qualquer
lugar e assim virou sucesso no mundo inteiro. Aliás, praticidade passou a ser essencial em
nosso dia a dia: as refeições deixaram de ter horários rigorosos, o modo de preparação dos
pratos mudou sensivelmente, e este produto já vem quase pronto para servir. E para
acompanhar estas mudanças, a tecnologia de alimentos investe constantemente em inovações
que inovam e facilitam a vida das pessoas com produtos práticos e saborosos. O macarrão
instantâneo já faz parte da rotina dos brasileiros (PRONEWS, 2012) e comemora em 2013 55
anos de idade – sendo, pois, considerado um jovem que, de tempos em tempos, continua
inovando e surpreendendo a todos com suas novidades e sabores.
Nessa pesquisa observamos que o consumo do macarrão instantâneo em pote é devido
à variedade na composição de ingredientes em relação ao pacote, o que aumenta a aceitação
sensorial – fator decisivo na escolha do produto, quando o orçamento familiar permite a
aquisição. De acordo com o rótulo do pote no sabor de galinha caipira, temos adição de
tomate, milho, pimentão vermelho e cebolinha verde em flocos; condimentos à base de alho,
cebola, coentro, cúrcuma e pimenta branca em pó e realçadores de sabor em sua composição.
Ainda leva frango em flocos, condimentos à base de galinha, ovos, soja, leite e aipo; podendo,
ainda, conter traços de crustáceos, pescados, mostarda e gergelim. Na versão carne, a base é
muito semelhante ao de frango caipira, variando na substituição de flocos de frango por carne
bovina desidratada e adicionado de sabor tipo costela ao invés de sabor de galinha.
Segundo Yamada (2007) no Japão e nos Estados Unidos, além da composição de
ingredientes e sabores dos copos de macarrão instantâneo já comercializado no Brasil, nesses
países os ingredientes liofilizados em sua formulação já levam camarão, carne de porco, ovos
e diferentes legumes. O tradicional lamen nasceu no Japão e invadiu rapidamente a vida dos
americanos nos ultimos 10 anos. O copo de macarrão instantâneo tornou-se tão popular que
ganhou uma quota de cerca de 50% de produtos de massas alimentícias no mercado
americano, tornando-se um produto de conveniência de grande expressão econômica – e há
indícios de que este cenário poderá se repetir em outros mercados consumidores como o
Canadá, México e América Latina.
Esse consumo crescente precisa ser visto com um olhar mais crítico, porque segundo
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Damásio e colaboradores (2010), determinando a composição lipídica de 03 diferentes marcas
de macarrão instantâneo, encontraram conteúdo lipídico que variava de 8,74% a 11,36% a
cada 10 gramas de amostras de macarrão. A utilização de gorduras alternativas, inclusive nos
macarrões instantâneos, para minimizar os níveis de ácidos graxos trans nos processos
tecnológicos, deve ser, portanto, avaliada com cuidado, uma vez que tais mudanças podem
gerar produtos alimentícios com altos teores de ácidos graxos saturados e baixos de ácidos
graxos essenciais, os quais também poderiam implicar em efeitos adversos à saúde do
consumidor (TARRAGO-TRANI et al., 2006; RIBEIRO et al., 2007).
Os hábitos ou estilos de vida saudáveis contribuem decisivamente para a manutenção
da saúde, tanto de adultos como de crianças e adolescentes. Muitas vezes, o controle de
fatores de risco relacionados ao estilo de vida, para determinadas doenças, faz parte de
tratamentos propostos, ou ajudam a retardar o aparecimento de enfermidades. Entre as
alterações de saúde causadas pela junção de diversos fatores está a hipertensão arterial. Uma
pesquisa feita com 284 crianças e jovens da Casa do Adolescente de Pinheiros, unidade ligada
à Secretaria de Estado da Saúde, apontou que 25% deles apresentavam quadro de
hipertensão arterial combinada com alto consumo de sódio na dieta, apesar da pouca idade
(SÃO PAULO, 2012). Inúmeros estudos justificam a presença de alterações da pressão arterial
como, por exemplo: obesidade, hereditariedade, tabagismo, etilismo, ingestão elevada de sal e
sedentarismo (CHAVES et al., 2009). Segundo a CDC (2013), a maior parte do sal consumido
pelos indivíduos vem da ingestão de alimentos processados (75%), o consumo diário de sódio
recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) é de 2000 mg, o que equivale a 5 g
de sal por dia (1 colher de chá). O grande consumo de sal é um importante determinante de
hipertensão e risco cardiovascular (WHO, 2010). Dados representativos para adultos do
conjunto das capitais brasileiras obtidos no Vigitel em 2010 estimam que 25,5% das mulheres e
20,7% dos homens com idade ≥18 anos e cerca de metade dos homens e mais da metade das
mulheres com idade ≥55 anos relataram diagnóstico prévio de hipertensão (BRASIL, 2011).
Analisando os dados acima, verifica-se na Tabela de Composição de Alimentos (TACO, 2006),
que o macarrão instantâneo contém em sua composição 1,516 mg de sódio por unidade, o que
corresponde a 75,8% das necessidades diárias de sódio, sendo assim, este alimento deve ser
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consumido com moderação.
Segundo Goldenberg (2011), as pessoas hoje estão muito mais preocupadas com o que
podem ou não comer, sem ter uma direção clara para seguir. Na atualidade, os comensais
precisariam ter um conhecimento muito grande para comer, precisam se preocupar em adquirir
esta competência para se manterem informados quanto às consequências do consumo
excessivo dos alimentos. Os comedores contemporâneos são indivíduos autônomos em uma
economia de mercado, na qual eles são chamados de “consumidores”. Então, eles têm de
exercer sua liberdade de escolha com responsabilidade e sabedoria, ou seja, eles têm de fazer
uma escolha correta, racional e competente. Portanto, a comida não é considerada diferente de
outros bens de consumo que nós temos que escolher racionalmente.
Conclusão
A alimentação de conveniência se mostra cada vez mais presente no cardápio do
consumidor nordestino. Esse cenário é em decorrência do apelo mercadológico de um produto
de baixo custo, praticidade em sua preparação e facilidade de acesso, por ser facilmente
encontrado em diferentes segmentos de comercialização de alimentos.
Observamos que a compra mensal familiar de alimentos de conveniência tem crescido
em diferentes regiões brasileiras, e o consumo de macarrão instantâneo se tornou uma
alternativa sedutora e preocupante, visto que este alimento muitas vezes é oferecido até
mesmo a crianças menores de 1 (um) ano, período em que os hábitos alimentares estão se
formando e uma alimentação inadequada pode também representar um dos principais fatores
do surgimento de algumas doenças crônicas degenerativas na fase adulta.
Referências
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Recebido em 19/03/2013
Aceito em 24/06/2013