lucia monica alexandrina banceu tendinite
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DEPARTAMENTO DE MEDICINA VETERINÁRIA
TRABALHO DE CONCLUSÃO DO CURSO
DE MEDICINA VETERINÁRIA
Área de Clínica Médica e Cirúrgica de Eqüinos
Acadêmica: Lucia Monica Alexandrina Banceu
Orientadora: Profª. Drª. Rita de Cássia Campebell
Supervisor: Médico Veterinário Ms. Herbert de Moura Goulart
Brasília – DF Dezembro, 2004
10
AGRADECIMENTOS
Agradeço a DEUS pela sabedoria, por me abençoar e iluminar durante esta
jornada.
Aos meus pais, Banceu Ovidiu Valentin Ioan e Doina Paulescu Banceu,
pelo carinho, paciência, compreensão e por tornarem realidade o meu sonho de
ser Médica Veterinária.
A minha irmã Carmen Maria Valentina Banceu e meus tios Rosiu Ovidiu
Petre Octavian e Lucia Speranta Rosiu pelo contínuo incentivo e apoio nesta
caminhada.
Agradeço em especial a minha orientadora Profª. Drª. Rita de Cássia
Campebell pelos ensinamentos, orientações e conselhos durante a vida
acadêmica.
Aos professores, pelos incentivos contínuos e aprendizado.
Aos colegas, por compartilharem os momentos de alegria, as dificuldades,
angústias e por proporcionarem momentos inesquecíveis durante esses 5 anos.
Sou extremamente grata ao meu supervisor Herbert de Moura Goulart, pela
paciência em transmitir seus conhecimentos e pelo contínuo incentivo no meu
aprimoramento profissional.
11
SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO .............................................................................................
1
2. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS ................................................................
3
3. REVISÃO DE LITERATURA E DISCUSSÃO ............................................... 9
3.1. TENDINITE ............................................................................................. 9
3.2. EXOSTOSE EM EQÜINOS .................................................................... 22
3.3. EXOSTOSE INTERFALÂNGICA ............................................................ 28
3.4. RABDOMIÓLISE DE EXERCÍCIO .......................................................... 38
4. CONCLUSÃO ................................................................................................
50
5. FONTES DE AQUISIÇÕES ...........................................................................
51
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................. 52
12
LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Tendinite do tendão do flexor digital superficial (‘’tendão
curvado’’) .....................................................................................
12
Figura 2 – Palpação dos tendões dos flexores com o boleto flexionado
para que os tendões dos flexores digitais superficial e
profundo possam ser separados. Se não puderem ser
facilmente separados, é bem provável que tenham se formado
adesões entre os dois tendões e que haja um tendão
espessado presente. ...................................................................
13
Figura 3 – Aplicação de compressa de gelo sobre os tendões afetados .....
21
Figura 4 – Exostose dupla no membro torácico esquerdo (setas). Este
animal apresentava deformidade angular varo. ..........................
23
Figura 5 – Uso de crioterapia em exostose no 3º metacarpo do membro
torácico. .......................................................................................
26
Figura 6 – Radiografia lateral 7 semanas após a cirurgia de artrodese da
articulação interfalângica proximal realizada com três parafusos
postos através da articulação, para comprimi-la. A cartilagem
da articulação interfalângica proximal foi removida antes da
colocação dos parafusos. ............................................................
32
Figura 7 – Perda da parede do casco no lado medial do membro posterior
esquerdo (seta). ..........................................................................
34
Figura 8 – Aumento de volume observado no membro posterior do
referido animal. ............................................................................
35
13
Figura 9 – a) e b) aspecto radiográfico do membro posterior esquerdo
afetado mostrando a neoformação óssea, perda do espaço
articular entre as falanges média e distal e início de proliferação
óssea da região distal da falange proximal. ................................
36
Figura10 – a) aplicação tópica de iodo 40% na face lateral do membro
afetado; b) aplicação tópica de iodo 40% na face medial do
membro afetado. .........................................................................
37
Figura 11 – a) agulha de biópsia muscular percutânea, encontrada com
diâmetros internos de 4mm, 5mm e 6mm. b) aplicação de
anestesia local por via subcutânea ao longo da linha de incisão.
c) incisão da pele e da fáscia muscular. d) inserção da agulha
de biópsia à uma profundidade de 6 cm. ....................................
42
14
LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Número de animais acompanhados durante o estágio
supervisionado, na seção veterinária do Regimento de Polícia
Montada Coronel Rabelo, na área de clínica médica e cirúrgica
de eqüinos, Brasília, DF – 24.06.04-15.10.04 ...............................
3
Tabela 2 – Afecções clínicas e procedimentos cirúrgicos acompanhados,
classificados por sistemas acometidos, durante o estágio
curricular supervisionado, na seção veterinária do regimento de
Polícia Montada Coronel Rabelo, na área de clínica médica e
cirúrgica de eqüinos, Brasília, DF – 24.06.04-15.10.04 ................
4
Tabela 3 – Afecções clínicas e clínico-cirúrgicas acompanhadas durante o
estágio curricular supervisionado, na seção veterinária do
Regimento de Polícia Montada Coronel Rabelo, na área de
clínica médica e cirúrgica de eqüinos, Braília, DF – 24.06.04-
15.10.04 .........................................................................................
5/6
Tabela 4 – Procedimentos cirúrgicos acompanhados durante o estágio
curricular supervisionado, na seção veterinária do Regimento de
Polícia Montada Coronel Rabelo, na área de clínica médica e
cirúrgica de eqüinos, Brasília, DF – 24.06.04-15.10.04 ................
6
Tabela 5 – Exames complementares realizados e/ou interpretados durante
o estágio curricular supervisionado, na seção veterinária do
Regimento de Polícia Montada Coronel Rabelo, na área de
clínica médica e cirúrgica de eqüinos, Brasília, DF – 24.06.04-
15.10.04 .........................................................................................
7
15
Tabela 6 – Procedimentos realizados e/ou acompanhados durante o estágio
curricular supervisionado, na seção veterinária do Regimento de
Polícia Montada Coronel Rabelo, na área de clínica médica e
cirúrgica de eqüinos, Brasília, DF – 24.06.04-15.10.04 ................
7
Tabela 7 – Número de óbitos ocorridos durante o estágio curricular
supervisionado, na seção veterinária do Regimento de Polícia
Montada Coronel Rabelo, na área de clínica médica e cirúrgica
de eqüinos, Brasília, DF – 24.06.04-15.10.04 ...............................
8
16
1. INTRODUÇÃO
O estágio supervisionado curricular foi realizado no período de 24 de junho
a 15 de outubro de 2004, perfazendo um total de 612 horas, na área de clínica
médica e cirúrgica de eqüinos, sob a orientação da Profª Drª Rita de Cássia
Campebell e supervisão do 1° Tenente Médico Veterinário Herbert de Moura
Goulart.
O estágio ocorreu no Regimento de Polícia Montada Coronel Rabelo,
situado em Brasília – DF, área especial 01, BR – 060, Km 0, considerado o maior
Regimento de Polícia Militar, em área, da América Latina.
O Regimento (1º Esquadrão) foi fundado em 1982, possuindo uma área de
51ha, sendo que possui duas seções sob sua responsabilidade: o 3º Esquadrão,
localizado no Parque da Cidade e o 14º CPMind, localizado em Planaltina – DF.
O 1º Esquadrão, onde foi realizado a maior parte do estágio, possui 223
eqüinos (sendo que 45 pertencem a remonta, 35 ao policiamento ostensivo, 58 ao
policiamento de choque e 45 ao departamento hípico). O 3º Esquadrão possui 56
eqüinos e o de Planaltina 10 eqüinos.
Além do atendimento aos animais do regimento, a seção veterinária
também é responsável pelos animais particulares pertencentes aos oficiais.
A equipe do 1º Esquadrão é formada pelo Dr. Herbert de Moura Goulart
(único veterinário do Regimento de Polícia Montada do DF), mestre em
reprodução eqüina, e pelos enfermeiros Agnaldo Ferreira de Sousa, Genivaldo da
Silva Santos, Joaquim de Souza Sobrinho, Francisco Flávio de Lima, Luiz Carlos
de Souza, Sonisval Maciel de Alencar e Ernane Ramos de Souza. Os enfermeiros
trabalham em escala de 24/48 horas.
17
A seção veterinária possui 3 piquetes de areia, nos quais os animais
permanecem aguardando o atendimento, um tronco, duas farmácias, uma
balança e um centro cirúrgico em construção.
As especialidades oferecidas incluem: clínica médica, cirúrgica e
ferradoria.
A rotina baseia-se na realização de curativos, atendimento clínico e
cirúrgico, fiscalização do fornecimento de ração e forragens assim como de sal
mineral e linhaça, fiscalização da saída e chegada do policiamento e controle da
aquisição de medicamentos. Após a realização dos procedimentos necessários a
cada animal, estes são conduzidos para as baias onde recebem a ração sendo
posteriormente soltos no pasto.
Durante o estágio foram desenvolvidas atividades nas áreas de clínica
médica (enfermagem, atendimento de emergências) e cirúrgica
(acompanhamento e trabalho de volante durante as cirurgias).
18
2. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS
Tabela 1 – Número de animais acompanhados durante o estágio supervisionado,
na seção veterinária do Regimento de Polícia Montada Coronel
Rabelo, na área de clínica médica e cirúrgica de eqüinos, Brasília, DF-
24.06.04-15.10.04
Área Número Porcentagem
Clínica médica
Clínica cirúrgica
77
06
92,78
7,22
Total 83 100,0
19
Tabela 2 – Afecções clínicas e procedimentos cirúrgicos acompanhados,
classificados por sistemas acometidos, durante o estágio
curricular supervisionado, na seção veterinária do regimento de
Polícia Montada Coronel Rabelo, na área de clínica médica e
cirúrgica de eqüinos, Brasília, DF – 24.06.04-15.10.04
Sistemas acometidos Número Porcentagem
Digestório
Hemolinfático
Locomotor
Músculo-esquelético
Nervoso
Oftálmico
Reprodutivo
Respiratório
Tegumentar
10
01
22
02
01
05
01
01
42
11,77
1,18
25,88
2,35
1,18
5,88
1,18
1,18
49,40
Total 85 100,0
20
Tabela 3 – Afecções clínicas e clínico-cirúrgicas acompanhadas durante o estágio
curricular supervisionado, na seção veterinária do Regimento de
Polícia Montada Coronel Rabelo, na área de clínica médica e cirúrgica
de eqüinos, Braília, DF – 24.06.04-15.10.04
Afecções Número Porcentagem
Babesiose
Cólica
01 1,20
•Compactação gástrica 01 1,20
•Gasosa 01 1,20
•Dilatação gástrica 04 4,90
•Dilatação gástrica / deslocamento de ceco 02 2,40
•Torção intestino delgado/ ruptura da artéria
mesentérica
01 1,20
Sinovite
•Articulação do carpo 01 1,20
•Articulação fêmur-tibio-patelar 01 1,20
Desmite
•Ligamento suspensor do boleto 01 1,20
Exérese
•Hematoma no dorso 01 1,20
Exostose
•Interfalângica 01 1,20
•2º metacarpiano 02 2,40
•3º Metacarpo 01 1,20
Fratura
•2ª e 3ª vértebras lombares e costelas 01 1,20
•Ílio 02 2,40
•3º Metatarso (exposta) 01 1,20
Laceração da pele 33 39,7
Laceração perineal 01 1,20
21
Afecções Número Porcentagem
Laminite 01 1,20
Lombalgia 01 1,20
Miíase 04 4,90
Paralisia do nervo facial 01 1,20
Perfuração da sola 02 2,40
Pneumonia 01 1,20
Rabdomiólise de exercício 01 1,20
Sarna 03 3,60
Sub-luxação de patela 01 1,20
Tendinite
•Tendão flexor digital superficial 04 4,90
•Tendão flexor digital profundo 01 1,20
•Tendão flexor digital superficial e profundo 02 2,40
Úlcera de córnea 05 6,00
Total 83 100,0
Tabela 4 – Procedimentos cirúrgicos acompanhados durante o estágio curricular
supervisionado, na seção veterinária do Regimento de Polícia
Montada Coronel Rabelo, na área de clínica médica e cirúrgica de
eqüinos, Brasília, DF – 24.06.04-15.10.04
Procedimentos Número Porcentagem
Exérese
•Hematoma no dorso 01 20,0
Dermorrafia 03 60,0
Vulvoplastia 01 20,0
Total 05 100,0
22
Tabela 5 – Exames complementares realizados e/ou interpretados durante o
estágio curricular supervisionado, na seção veterinária do Regimento
de Polícia Montada Coronel Rabelo, na área de clínica médica e
cirúrgica de eqüinos, Brasília, DF – 24.06.04-15.10.04
Exames complementares Número Porcentagem
Hemograma 03 27,3
Necropsia 06 54,5
Radiografia
•Falanges (membro posterior esquerdo) 01 9,1
•Radio-ulna 01 9,1
Total 11 100,0
Tabela 6 – Procedimentos realizados e/ou acompanhados durante o estágio
curricular supervisionado, na seção veterinária do Regimento de
Polícia Montada Coronel Rabelo, na área de clínica médica e
cirúrgica de eqüinos, Brasília, DF – 24.06.04-15.10.04
Procedimentos Número Porcentagem
Lavagem de ducto nasolacrimal 03 16,7
Sondagem nasogástrica 10 55,5
Teste de fluoresceína 05 27,8
Total 18 100,0
23
Tabela 7 – Número de óbitos ocorridos durante o estágio curricular
supervisionado, na seção veterinária do Regimento de Polícia
Montada Coronel Rabelo, na área de clínica médica e cirúrgica de
eqüinos, Brasília, DF – 24.06.04-15.10.04
Animais que vieram a óbito Número Porcentagem
Eutanásia
•Fratura da 2ª e 3ª vértebras lombares e
costelas
01 12,5
•Fratura de metatarso 01 12,5
Óbito
•Dilatação gástrica 01 12,5
•Necrose de porção do jejuno 01 12,5
•Ofidismo 01 12,5
•Ruptura gástrica/cólon menor 01 12,5
•Torção de intestino delgado/ruptura de artéria
mesentérica
01 12,5
Trans-operatório
• Parada cárdio-respiratória (osteossíntese de
ulna)
01
12,5
Total 08 100,0
24
3. REVISÃO DE LITERATURA E DISCUSSÃO
3.1. TENDINITE
3.1.1. Introdução
A tendinite é uma inflamação que acomete principalmente os tendões
flexores e suas sucessivas inserções com os músculos. Essa afecção geralmente
ocorre como conseqüência de uma luxação intensa dos tendões flexores, a qual
está associada ao esforço excessivo ou à hiperextensão destes. Contudo, a
tendinite pode ocorrer em qualquer cavalo como resultado de um trauma no
tendão (REEF, 1990; SPEIRS, 1994; HARDY, 1995; McILWRAITH, 2002).
O local mais comum de lesão é a região central do metacarpo, onde tem-
se menor área de secção longitudinal tendínea, com predileção no tendão flexor
digital superficial (REEF, 1990; SPEIRS, 1994; McILWRAITH, 2002;
FERNANDES; ALVES; SOUZA, 2003; FERRARO et al., 2003). Pode-se indicar
várias causas que promovem um aumento de estresse no tendão, como o
treinamento inadequado e a fadiga muscular ao final de um exercício forçado, a
angulação anormal do boleto associada à fraqueza muscular, um terreno desigual
ou escorregadio e curvas súbitas que podem forçar desproporcionalmente um
lado do tendão, angulação excessiva da quartela, pinças muito longas, tipo de
25
ferradura, idade do animal, pistas enlameadas e ligas muito apertadas (HARDY,
1995; BARREIRA et al., 2002; McILWRAITH, 2002; FERRARO et al., 2003).
3.1.2. Patofisiologia A lesão e degeneração tendínea podem ocorrer em todos os graus de
intensidade, variando de subclínica leve à ruptura total do tendão. Esforços
excessivos podem resultar em pequenos deslocamentos e ruptura nas fibras, o
que resulta em hemorragia capilar dentro do tendão (McILWRAITH, 2002).
Lesões agudas são acompanhadas de hemorragia, acúmulo de fibrina e
edema local; essa transudação e hemorragia separam e enfraquecem o restante
de fibras não afetadas (HARDY, 1995; McILWRAITH, 2002; FERNANDES;
ALVES; SOUZA, 2003).
Todas as injúrias aos tendões e ligamentos cicatrizam por mecanismos
similares, independentemente da origem da lesão. A resposta do tendão à injúria
pode ser dividida em três fases: inflamatória, reparativa e remodelativa (SMITH;
WEBBON, 1999). A resposta inicial no tendão é semelhante àquela da pele em
resposta ao ferimento, apresentando pronunciada inflamação, com invasão de
neutrófilos no tecido danificado, seguido por macrófagos e monócitos. A
circulação sangüínea é aumentada e desenvolve-se edema. Enzimas
degradativas são liberadas, as quais ajudam a remover o tecido danificado, mas
isso é geralmente tão exagerado que afeta o tecido normal do tendão (SMITH;
WEBBON, 1999; McILWRAITH, 2002; FERNANDES; ALVES; SOUZA, 2003). A
fase inflamatória geralmente é curta, com duração de uma a duas semanas
dependendo da severidade da injúria inicial, especialmente se uma terapia
adequada for administrada (SMITH; WEBBON, 1999).
Dentro de alguns dias após a injúria, a fase reparativa começa e se
sobrepõe à fase inflamatória. Ocorre um acúmulo de fibroblastos no sítio da lesão,
derivados de células que entraram no tendão durante a fase inflamatória e
provavelmente também de células que já estavam dentro do tendão (tenócitos
residentes). Esse acúmulo começa dentro de 4 dias após a injúria e seu pico se
dá em 3 semanas. Novo colágeno é sintetizado, entretanto, está arranjado em
grande parte na forma de fibras colágenas do tipo III (tecido cicatricial).
26
Inicialmente esse tecido é mais fraco do que o tendão intacto, sendo também
menos funcional e exibindo menos elasticidade (SPEIRS, 1994; HARDY, 1995;
SMITH; WEBBON, 1999).
A extensão da fibroplasia está relacionada à severidade da injúria inicial e
algum insulto contínuo, tal como tensão provocada por exercício. Dentro da
bainha tendínea, o tendão não tem uma vasta contribuição das células externas, e
então, a cicatrização é lenta. Se a superfície do tendão está danificada,
geralmente este se adere a bainha, com conseqüências funcionais desastrosas
(SMITH; WEBBON, 1999).
A fase de remodelação começa alguns meses após a injúria e é
acompanhada pela transformação do colágeno tipo III em tipo I, o colágeno
normal do tendão. Porém, dependendo do grau de ruptura de fibras inicial, o
colágeno não se arranja no padrão funcional longitudinal. Além disso, no cavalo, o
colágeno tipo III (colágeno de tecido cicatricial) persiste por vários meses à anos,
resultando em um tendão forte, mas considerado menos funcional (SPEIRS,
1994; HARDY, 1995; SMITH; WEBBON, 1999; McILWRAITH, 2002).
3.1.3. Sinais clínicos e diagnóstico A fase aguda da tendinite é caracterizada por um edema difuso sobre a
região afetada, seguida de calor e sensibilidade à palpação (REEF, 1990;
SPEIRS, 1994). O eqüino pode apresentar claudicação leve à intensa, mantendo
o membro afetado em posição flexionada. A fase crônica manifesta-se por um
aumento de volume algumas vezes doloroso, com ou sem calor, associado a
fibrose e espessamento firme do tendão afetado na face palmar ou plantar, dando
a este um aspecto ‘’curvado’’ (Figura 1) (SPEIRS, 1994; HARDY, 1995;
McILWRAITH, 2002; ROSS, 2003).
27
Fonte: Stashak (2002)
Figura 1 – Tendinite do tendão do flexor digital superficial (‘’tendão curvado’’).
O exame clínico é o primeiro método para o diagnóstico de tendinite. Este
pode ser visual, com o animal em repouso e durante exercício, e através de
palpação e manipulação (STASHAK, 2002; ROSS, 2003).
Durante o exame visual com o animal em repouso, deve-se observar
criteriosamente os membros em busca de aumentos de volume, enquanto que a
observação do animal durante o exercício, tem como objetivo principal a
identificação do(s) membro(s) afetado(s), do grau de claudicação e incoordenação
do movimento. Deve-se portanto analisar o animal ao passo e ao trote, sendo que
o examinador posiciona-se de frente e de perfil ao mesmo. Balanço da cabeça,
alterações na suspensão do membro, fases do passo e colocação dos membros
no solo, são pontos importantes na avaliação do animal durante o exercício.
Como resultado de claudicação nos membros torácicos, o animal abaixa a cabeça
quando o membro sadio toca o solo e a levanta quando o peso é colocado sobre
o membro afetado (STASHAK, 2002; ROSS, 2003).
28
Na palpação dos tendões, cada região deve ser palpada cuidadosamente
em busca de dor, edema e calor. Primeiramente, é realizada com o animal
apoiando-se sobre o membro, permitindo a identificação das estruturas
inflamadas. Posteriormente, o membro é dorsalmente mantido em uma das mãos
do examinador, com o boleto flexionado (Figura 2). Através da utilização de
compressão digital procura-se deslizar ou separar os tendões flexor digital
superficial do tendão flexor digital profundo. Normalmente, estes podem ser
facilmente separados e diferenciados. Em situações patológicas, a presença de
variados graus de aderências entre os tendões tornará difícil a separação dos
mesmos (STASHAK, 2002; ROSS, 2003).
Fonte: Stashak (2002)
Figura 2 – Palpação dos tendões dos flexores com o boleto flexionado para que os tendões dos flexores digitais superficial e profundo possam ser separados.
O diagnóstico ultrassonográfico é um meio preciso de confirmar a
ocorrência de injúria em tendão ou ligamento, e descrever o tipo, extensão e
severidade da lesão; além disso ele pode ser usado com sucesso para monitorar
a cicatrização do tendão ou ligamento afetado e avaliar quando o equino está
pronto para retornar ao trabalho normal. Desta forma, a ultra-sonografia, deveria
ser considerado em todos os cavalos nos quais o edema é notado na região dos
tendões, ligamentos ou nos quais é notado calor ou sensibilidade nessas regiões
à palpação; sendo que qualquer mudança na ecogenicidade do tendão, na
29
uniformidade, ou linearidade da estrutura, corresponde numa alteração no tendão
ou ligamento afetado (REEF, 1990; SPEIRS, 1994; BARREIRA et al., 2002;
GOMIDE et al., 2004).
Achados ultrassonográficos em tendinite aguda incluem aumento da área
tendínea e áreas hipoecóicas (desenvolvimento de tecido de granulação na
região). As lesões são classificadas de acordo com a intensidade da
ecogenicidade de I a IV, com a área e a extensão longitudinal da lesão ou o
número de zonas envolvidas. As áreas hipoecóicas também podem representar
fibrose ou mineralização do tendão, indicando cronicidade (REEF, 1990; HARDY,
1995) .
Lesões do tipo I geralmente apresentam redução difusa na ecogenicidade,
comparada a dos tendões ou ligamentos normais. Lesões do tipo II são mais
anecóicas e meio ecogênicas. As do tipo III são em grande parte anecóicas,
enquanto que as do tipo IV são completamente anecóicas, o que representa uma
completa ruptura de fibras e hemorragia na porção afetada do tendão ou
ligamento (REEF, 1990).
A tendinografia pode ser considerada como um procedimento diagnóstico
alternativo quando se suspeita de lesões nos tendões ou quando a
ultrassonografia é inconclusiva ou não-disponível (WATSON; SELCER, 1996).
Tendinografia contrastada negativa distal do membro pode ser feita colocando-se
um torniquete distalmente ao carpo e injetando 250 a 400 ml de ar dentro da
bainha tendínea digital ao nível da articulação interfalângica distal e, então,
subcutaneamente entre os tendões flexores, para delineá-los (WATSON;
SELCER, 1996; McILWRAITH, 2002). Ao se realizar as radiografias, deve-se
diminuir o potencial de kilovoltagem (kVp) até 10% de modo a assegurar a
densidade adequada do filme (WATSON; SELCER, 1996). Através desse
procedimento diagnóstico, a espessura dos tendões flexores digitais superficial e
profundo pode ser comparada e podem ser reconhecidas aderências em locais
aonde os tendões não se separam (WATSON; SELCER, 1996; McILWRAITH,
2002).
A termografia pode detectar precocemente injúria e inflamação até 2
semanas antes do aparecimento de outros sinais clínicos, porém não se pode
identificar as estruturas específicas envolvidas, a localização precisa da injúria, ou
30
predizer de maneira exata a severidade da lesão, as quais são possíveis com o
ultra-som (GREEN, 1999).
Em tendinites agudas dos tendões flexores, o local quente no termógrafo
se correlaciona com o local da lesão. ‘’Locais frios’’ sugerem edema, fibrose
crônica, trombose vascular, infarto ou injúrias nervosas (GREEN, 1999).
Pode-se citar também como métodos auxiliares de diagnóstico de tendinite,
a biópsia e a microscopia de luz polarizada. A biópsia permite a visualização da
presença de células inflamatórias no tecido endotendíneo e do aumento de
fibroblastos ativos, enquanto que a microscopia de luz polarizada permite o
exame quantitativo e qualitativo da organização e da agregação das fibras
colágenas, através da medida da birrefringência (FREITAS et al., 2004; SANTOS
et al., 2004).
3.1.4. Tratamento Na lesão aguda, o tratamento é dirigido para a diminuição do processo
inflamatório e dos seus efeitos deletérios, dando suporte ao tendão (SPEIRS,
1994; WATKINS, 1999; SANTOS et al., 2004).
Essa terapia inicial consiste em aplicação de hidroterapia com água gelada,
ou bolsas de gelo nas primeiras 48 horas após a injúria, para diminuir a
hemorragia e o edema, com intervalos diários de 4 a 6 horas entre as aplicações,
não excedendo 20 minutos cada aplicação. Posteriormente a cada aplicação de
hidroterapia é recomendado o uso de ligas de descanso para controlar o edema
subcutâneo provocado pelo frio (REEF, 1990; SPEIRS, 1994; HARDY, 1995;
WATKINS, 1999; McILWRAITH, 2002).
A utilização de corticosteróides ou fármacos antiinflamatórios não-
esteróides tem sido defendida (REEF, 1990; SPEIRS, 1994; HARDY, 1995;
WATKINS, 1999; McILWRAITH, 2002). A terapia sistêmica com corticosteróides
deve ter duração limitada para evitar uma potente supressão adrenal e inibição da
cicatrização tendínea; da mesma forma a terapia com antiinflamatórios não-
esteróides deve ser cuidada, para evitar úlceras gastrointestinais e lesões renais
(WATKINS, 1999).
31
Injeções peritendíneas de corticosteróides são indicadas, com o intuito de
diminuir a ocorrência de aderências nessa região, mas tais injeções também
podem retardar a fibroplasia e causar calcificação dos tecidos moles. A aplicação
tópica de dimetil sulfóxido (DMSO) auxilia na diminuição do edema, assim como
as pomadas antiflogísticas (SPEIRS, 1994; HARDY, 1995; WATKINS, 1999;
McILWRAITH, 2002).
Deve-se continuar com o tratamento até o calor e a sensibilidade local
desaparecerem ou nenhuma melhora adicional ser vista em 5 a 7 dias. Indica-se
o uso contínuo de bandagem seca após ter-se cessado o tratamento tópico
(HARDY, 1995).
O ferrageamento corretivo em casos de tendinite é recomendado. Nas
lesões dos tendões flexores digitais superficiais os talões das ferraduras são
alongados para dar apoio, sendo a ferradura com barra oval bastante eficaz,
enquanto que nas lesões dos tendões flexores digitais profundos, os talões são
elevados para retirar parte da tensão. A altura dos talões pode variar de 2,5 a 7,0
cm, dependendo da gravidade da lesão, sendo que à medida que a cicatrização
avança, a altura dos talões deve ser diminuída para evitar a contração e
encurtamento crônico do tendão (LECHONSKI, 2000; McILWRAITH, 2002;
STASHAK, 2002).
O repouso é muito importante para a recuperação de lesões tendíneas,
sendo que este deve ser completo nas primeiras duas semanas e, então, institui-
se uma forma de manipulação passiva (SPEIRS, 1994; McILWRAITH, 2002).
Recomenda-se caminhada controlada por 8 a 10 semanas até a recuperação da
lesão, que deve ser gradualmente aumentada de 5 para 40 a 45 minutos duas
vezes ao dia. O cavalo desde então pode começar um programa de exercícios
controlados (REEF, 1990; HARDY, 1995).
‘’Essa recomendação se baseia na descoberta que uma leve tensão no
tendão afetado na fase inicial da cura pode auxiliar no alinhamento dos feixes de
fibrina do coágulo inflamatório inicial e promover um alinhamento adequado do
novo colágeno, assim como inibir a formação de adesões’’ (McILWRAITH, 2002).
O ultra-som terapêutico tem sido muito empregado em casos agudos de
tendinite, pois limita a expansão do edema, favorece a atividade fibroblástica e o
32
aumento da vascularização no local da lesão e seu efeito térmico produz
analgesia (SPEIRS, 1994; FERNANDES; ALVES; SOUZA, 2003).
O efeito térmico do ultra-som depende da freqüência utilizada, da
intensidade e duração do tratamento, tamanho da área tratada e características
do tecido a ser tratado (STEISS, 2000).
A freqüência determina a profundidade de penetração da onda, sendo que
clinicamente a mais usada é de 1 megahertz (MHz). Em geral, a intensidade
requerida para aumentar a temperatura do tecido para aproximadamente 40 a
45ºC, varia de 1.0 a 2.0 watts por centímetro quadrado (W/cm²) no modo de
ondas contínuas, durante 10 a 15 minutos. Indica-se o modo de ondas pulsadas
quando o aumento de calor local desejado é mínimo (STEISS, 2000).
Incisões percutâneas longitudinais – ‘’splitting’’, têm sido usadas com
sucesso em tendinites agudas (REEF, 1990; SPEIRS, 1994; HARDY, 1995;
WATKINS, 1999; ALVES et al., 2000). Neste estágio, o ‘’splitting’’ alivia a pressão
intra-tendínea e promove um melhor debridamento e revascularização do núcleo
da lesão. Esse procedimento é indicado particularmente para as lesões
localizadas no centro do tendão, sendo que um resultado melhor se obtém
quando realizado nas duas primeiras semanas após a injúria (REEF, 1990;
HARDY, 1995; WATKINS, 1999).
Injeções peritendíneas de hialuronato de sódio (NaHa) têm sido atualmente
utilizadas no tratamento de tendinites agudas nos cavalos. Segundo estudos, o
hialuronato de sódio promove um aumento na deposição de colágeno dentro da
lesão, melhorando a estrutura tendínea, reduzindo a reação inflamatória,
hemorragia, e a formação de aderências entre o tendão e a bainha tendínea
(SPEIRS, 1994; HARDY, 1995; WATKINS, 1999).
Recomenda-se o uso de laser terapêutico de Gallium Arsenide (GaAs) e
campo magnético pulsátil (CPM), para o tratamento de tendinite. O laser
terapêutico acelera o processo de cicatrização através do aumento do
metabolismo local e da atração de fibroblastos para a lesão, enquanto que o
campo magnético pulsátil aumenta a circulação e a concentração de oxigênio na
região. O protocolo de fisioterapia pode ser de aplicação do laser durante 10
minutos, segundo recomendação do fabricante, e 1 hora de CPM. Segundo
estudo, a inclusão de um intervalo entre o uso do laser terapêutico e do campo
33
magnético pulsátil, ou seja, um pela manhã e outro à tarde, pode ter contribuído
para manter o metabolismo da região aumentado por um tempo maior o que é
favorável no tratamento de lesões do aparelho locomotor (MIKAIL; CAMPOS,
2004).
Nas tendinites crônicas, a forma mais comum de tratamento inclui alguma
forma de contra-irritação, como pontas-de-fogo, agentes irritantes de superfície ou
injetáveis, ultra-som e incisões no tendão. Podem também ser realizados
transplantes de tendão, implante de bainhas tendíneas artificiais e implantes de
fibra de carbono (SPEIRS, 1994; HARDY, 1995; McILWRAITH, 2002).
A ponta-de-fogo age mais como uma proteção ao tendão, através da
formação de uma pele espessa ao redor do local da lesão, promovendo desta
forma, um apoio ao tendão flexor digital superficial (McILWRAITH, 2002). As
incisões no tendão promovem uma vascularização, a qual auxilia na cura da lesão
tendínea. Essas incisões podem ser perfurantes ou em leque percutâneo, sendo
que a segunda técnica apresentou menos ocorrência de adesões peritendíneas.
Propôs-se o uso do ultra-som terapêutico após a realização das incisões nos
tendões com o intuito de auxiliar a cura histológica destes (McILWRAITH, 2002).
Recentemente, tem-se sugerido a desmotomia do ligamento frenador
superior como tratamento nas injúrias do tendão flexor digital superficial, devido à
melhora na qualidade da cicatrização tendínea, tendo como intuito prevenir lesões
recorrentes. A desmotomia resulta no aumento da unidade músculo-tendínea
impedindo que o músculo flexor digital superficial assuma grande porção de carga
por unidade de área, durante o exercício (REEF, 1990; SPEIRS, 1994; HARDY,
1995; WATKINS, 1999; BARREIRA et al., 2002).
3.1.5. Prognóstico Devido ao longo tempo necessário para a recuperação completa do tendão
e a alta incidência de reparação desorganizada com conseqüentes recidivas, esse
tipo de lesão compromete seriamente a performance do animal, resultando em
redução da vida útil, ou muitas vezes, no encerramento da carreira atlética,
levando a grandes perdas econômicas aos proprietários (SPEIRS, 1994; HARDY,
34
1995; FERNANDES; ALVES; SOUZA, 2003; FERRARO et al., 2003; FREITAS et
al., 2004; SANTOS et al., 2004).
Desta forma, o prognóstico para o retorno ao trabalho, seguinte a injúria no
tendão ou ligamento varia com o tipo de trabalho executado, com a severidade da
lesão e a utilização de tratamento adequado (REEF, 1990; SPEIRS, 1994;
HARDY, 1995). Deve-se portanto enfatizar a necessidade de um início gradual
nos treinamentos e trabalhos para diminuir o estresse excessivo sobre as
estruturas tendíneas não condicionadas (McILWRAITH, 2002; FERNANDES;
ALVES; SOUZA, 2003; FERRARO et el., 2003).
3.1.6. Relato de caso e discussão No dia 1º de julho de 2004, na seção veterinária do Regimento de Polícia
Montada Coronel Rabelo, foi atendido um eqüino macho, sem raça definida, de
aproximadamente 10 anos de idade e com peso estimado de 450 Kg, com queixa
de claudicação no membro torácico esquerdo. O animal era utilizado para saltos
e, de acordo com o histórico, já havia sido tratado anteriormente de tendinite,
tendo o episódio mais recente ocorrido em meados do ano de 2003.
Importa salientar que o eqüino era proveniente do regimento de Polícia
Montada do Espírito Santo, e estava participando da competição de saltos por
ocasião do aniversário do Regimento de Polícia Montada Coronel Rabelo. Por
haver sido transportado em caminhão, numa jornada variando entre 24 a 48
horas, permanecendo num espaço limitado e praticamente imóvel, a pressão
exercida sobre os tendões com histórico de tendinite prévia, contribuiu para a
recidiva do caso, conforme comprovou-se posteriormente.
Nos dias que antecederam a competição, o animal claudicou do membro
quando estava praticando os saltos, logo no início do exercício. Contudo, a
sessão não foi interrompida de imediato, o que pode ter agravado ainda mais a
lesão. Somente após o final da série de exercícios, o animal foi conduzido à
seção veterinária para que fossem tomadas as providências necessárias.
Ao exame visual com o animal em repouso, constatou-se que o mesmo
apresentava um aumento moderado de volume na região dos tendões do membro
torácico esquerdo. Procedendo ao exame visual em situação de movimento, não
35
foi observada claudicação ao passo, mas apenas ao trote. À palpação, o animal
apresentou calor local, sensibilidade à compressão digital dos tendões flexores
superficial e profundo e presença de um ligeiro espessamento do tendão flexor
digital superficial. Isto posto, cumpre-nos observar que tais sinais clínicos
condizem com os descritos na literatura por Spiers (1994), Hardy (1995),
McIlwraith (2002), Stashak (2002) e Ross (2003).
Existem, ainda, outras formas de proceder o exame de suspeita de
tendinite, dentre as quais importa citar ultrasonografia, tendinografia, termografia,
biópsia e microscopia de luz polarizada, conforme anteriormente mencionados.
Contudo, tais métodos apresentam várias dificuldades, dentre as quais pode-se
enumerar: a dificuldade de deslocamento do animal até o aparelho de ultra-som
e/ou de raio-x ou vice-versa, a escassez de termógrafos disponíveis para a
realização do exame, e a existência de poucos profissionais que possuam os
equipamentos necessários para realizar tais exames.
O tratamento clínico realizado consistiu na aplicação de compressa de gelo
por 30 minutos durante dois dias (Figura 3), embora Watkins (1999) observe que
a aplicação de gelo por mais de 20 minutos anula os efeitos benéficos da
vasoconstrição induzidos pelo frio, provocando uma vasodilatação indesejada,
levando a um aumento do edema local. Adicionalmente realizou-se massagem
local com dimetil-sulfóxido (DMSO)¹ e posterior bandagem com liga de descanso
durante dez dias, como citado por (REEF, 1990; SPEIRS, 1994; HARDY, 1995;
WATKINS, 1999; McILWRAITH, 2002). Neste caso, teve-se atenção especial de
assegurar que a pele estivesse seca antes da aplicação de DMSO, tal qual
observado por WATKINS (1999), que complementa informando que pode haver
formação de bolhas cutâneas em cavalos com pele sensível.
Além do uso tópico de antiinflamatório, administrou-se 10 ml diários de
ketoprofeno² na dose de 2mg/kg, durante cinco dias. Segundo estudo realizado
por Longo et al. (1996), o ketoprofeno possui ação antiinflamatória 80 vezes maior
que a fenilbutazona, excelente tolerância sistêmica e gastrintestinal, ligando-se
rapidamente aos tecidos sinoviais.
36
Figura 3 – Aplicação de compressa de gelo sobre os tendões afetados.
Durante o tratamento, realizado ao longo de 10 dias, que foi o período de
sua estada em Brasília-DF, o animal permaneceu estabulado, usando ligas de
descanso, como citado na literatura por Speirs (1994) e McIlwraith (2002).
Após os referidos 10 dias, o animal foi para a competição de saltos do
Regimento de Polícia Montada de Goiânia. Recomendou-se que durante a
viagem o eqüino usasse ligas de descanso e que fosse retirado do caminhão a
cada 2 horas, para movimentação. Foi recomendado, ainda, descanso em baia
com caminhadas leves pelo prazo mínimo de 6 meses, além da não participação
na referida competição de Goiânia.
No caso em análise, caberia ainda, ultra-som terapêutico, laser terapêutico,
campo magnético pulsátil, caminhadas, injeções peritendíneas de hialuronato de
sódio e ferrageamento corretivo como explicado anteriormente.
37
3.2. EXOSTOSE EM EQÜINOS
3.2.1. Introdução O osso possui um revestimento mais externo, denominado periósteo, o
qual é formado por duas camadas – a camada fibrosa de tecido conjuntivo denso,
e a camada celular constituída por células mesenquimais, células
osteoprogenitoras, osteoblastos e osteoclastos (ALVES et al., 2002).
Em animais jovens, a camada celular possui grande quantidade de
osteoblastos ativos, enquanto que em cavalos adultos, essa camada encontra-se
em repouso, tornando-se ativa após algum estímulo, como traumas, ocorrendo
uma subsequente reação periosteal (ALVES et al., 2002).
A exostose é comumente encontrada em cavalos jovens, que na maioria
das vezes, afeta os membros torácicos (AUER, 1999; ALVES et al., 2002;
STASHAK, 2002; MITCHELL et al., 2003; PILSWORTH, 2003). Essa condição
geralmente envolve o aspecto medial da região do metacarpo estando localizada
na junção entre o segundo e terceiro ou quarto e terceiro metacarpianos no terço
proximal (AUER, 1999; ALVES et al., 2002; STASHAK, 2002; BASSAGE; ROSS,
2003; DYSON; 2003; LEWIS, 2003).
3.2.2. Etiologia A ocorrência do trauma resulta em hemorragia sub-periostal e
levantamento do periósteo, ou instabilidade entre o segundo ou quarto
metacarpianos e o terceiro metacarpo. Este hematoma com o tempo ossifica-se
(AUER, 1999; DYSON, 2003).
O aumento de volume observado nesta afecção pode ser causado pelo
rompimento do ligamento interósseo que liga o 2º ou 4º osso metacárpico ao 3º
metacarpo, por trauma externo ou pela cura de uma fratura ocorrida nesta região
(STASHAK, 2002; BENNETT, 2003; MITCHELL et al., 2003).
Defeitos conformacionais aumentam o estresse nos pequenos ossos
metacárpicos (STASHAK, 2002; MITCHELL et al., 2003; ROSS, 2003). O desvio
38
lateral dos ossos metacárpicos é um exemplo de anormalidade conformacional
que predispõe a exostose nesses (STASHAK, 2002).
Os animais que possuem uma deformidade angular valgo, suportam maior
peso na parte medial do casco do que na parte lateral. Conseqüentemente, a
parte interna do membro tocará o solo primeiro, sendo esta sujeita a um esforço
maior, o que poderá ocasionar o desenvolvimento de exostose medial. Animais
com deformidade angular varo, são forçados a suportar mais peso no lado lateral
do membro do que no medial. Desta forma, o animal geralmente pisará
primeiramente com o lado externo do membro, o qual suportará um maior esforço,
levando à formação de exostose lateral (Figura 4) (STASHAK, 2002).
Um ferrageamento ou aparação inadequadas podem causar alterações no
movimento do membro suficientes para o animal se alcançar, provocando
traumas os quais resultam no aparecimento de exostose (AUER, 1999; ALVES et
al., 2002; STASHAK, 2002).
Figura 4 – Exostose dupla no membro torácico esquerdo (setas).
Este animal apresentava deformidade angular valgo.
Cavalos jovens que realizam treinamentos forçados, são propensos a
desenvolver esse problema, especialmente se forem pesados, como é o caso dos
Quarto de Milha (AUER, 1999; STASHAK, 2002). Outras áreas do metacarpo
39
podem desenvolver exostose como resultado de trauma ósseo provocado por
objetos não cortantes ou coice (AUER, 1999; ALVES et al., 2002; STASHAK,
2002).
Desequilíbrio nutricional ou supernutrição também são incriminados como
fatores predisponentes ao aparecimento dessa afecção. Sugere-se também que,
eqüinos que recebem uma dieta desequilibrada em cálcio e fósforo, têm um
crescimento e aumento de peso rápidos, os quais provocam forças compressivas
excessivas sobre o ligamento interósseo, rompendo-o, provocando o surgimento
de exostose (AUER, 1999; STASHAK, 2002).
3.2.3. Sinais clínicos e diagnóstico Eqüinos afetados apresentam vários graus de claudicação. Calor, dor à
palpação e edema podem ser observados em qualquer ponto ao longo do
metacarpo. Na maioria das vezes, observam-se no terço proximal do metacarpo,
abaixo da articulação do carpo. Em casos crônicos, o animal pode vir a não sentir
dor à palpação (AUER, 1999; STASHAK, 2002; LEWIS, 2003). Nos casos leves,
desenvolve-se apenas uma discreta inflamação. A claudicação ao passo pode
estar ausente, sendo exibida apenas ao trote tornando-se mais evidente em
superfícies duras (AUER, 1999; STASHAK, 2002; DYSON, 2003).
Se o neocrescimento ósseo ocorrer próximo à articulação do carpo, poderá
causar artrite cárpica. A exostose continua a causar claudicação, especialmente
se esta interferir no funcionamento dos tendões flexores, ligamentos ou estruturas
periarticulares (AUER, 1999; ALVES et al., 2002; STASHAK, 2002; DYSON,
2003).
Após a inflamação ter cessado, o aumento de volume observado
geralmente torna-se menor e mais firme. A redução do edema se deve à
formação do tecido fibroso e não à diminuição no tamanho real da formação
óssea. No estágio inicial, o maior volume do edema é devido à inflamação que
ocorre no local (STASHAK, 2002).
Além do exame visual e palpação, no qual pode-se observar inflamação no
membro, presença de calor, claudicação e dor à palpação da área afetada, o
exame radiográfico é necessário para delinear a nova formação óssea, determinar
40
o envolvimento ou não da articulação do carpo e se a proliferação óssea
prolonga-se suficientemente de modo a afetar o ligamento suspensório (AUER,
1999; STASHAK, 2002; BENNETT, 2003; DYSON; 2003; PILSWORTH, 2003).
Segundo Bassage e Ross (2003), um outro método diagnóstico inclui a
utilização de uma agulha 25 x 7 (22 G) para aplicação de 5 ml de anestésico local,
subcutaneamente, sobre a exostose dolorosa, o que leva ao alívio da dor e
claudicação. Se o animal continuar claudicando e sentir dor à palpação, o
diagnóstico para exostose não é positivo.
A utilização do ultra-som também é um método importante para o
diagnóstico de exostose, sendo essencial quando suspeita-se de
comprometimento no ligamento suspensório (DYSON, 2003).
3.2.4. Tratamento Na fase aguda o tratamento inclui antiinflamatórios associados ao gelo e
ligas de descanso sob pressão para diminuir o edema, o calor e a dor. A
hipotermia pode ser obtida utilizando-se bolsas de gelo ou aplicando-se ducha fria
durante 30 a 45 minutos, duas vezes ao dia, por pelo menos 5 a 7 dias. Os
cavalos acometidos devem ser confinados em baia por um período de 30 a 45
dias, iniciando-se posteriormente caminhadas durante 15 a 20 minutos duas
vezes ao dia (AUER, 1999; ALVES et al., 2002; STASHAK, 2002; MISHEFF,
2003; MITCHELL et al., 2003). O retorno prematuro aos exercícios provavelmente
exacerbará o problema, portanto, pode-se durante o período de repouso, realizar
exercícios de natação com o animal (DYSON, 2003).
Outro método terapêutico é injetar corticosteróides na região acometida,
seguido por bandagem compressiva, devendo o animal também ficar estabulado
por no mínimo 30 dias. Esse tratamento auxilia na redução da inflamação e
previne a proliferação óssea excessiva (AUER, 1999; ALVES et al., 2002;
STASHAK, 2002; BENNETT, 2003; MITCHELL et al., 2003). Um efeito similar
pode ser obtido com a utilização de dimetil-sulfóxido (STASHAK, 2002; DYSON,
2003).
A crioterapia é indicada como tratamento para exostose (Figura 5)
(JACOBS; OLIVER, 2003; MISHEFF, 2003; MITCHELL et al., 2003). Entretanto,
41
esta técnica não deve ser realizada antes que a inflamação aguda tenha cessado,
pois a crioterapia pode exacerbar a reação periostal. Um descanso deve ser dado
aos animais por duas semanas, antes da realização da técnica. Em animais com
exostose crônica, a crioterapia pode ser feita sem a necessidade do período de
descanso, já que nestes casos não há presença de edema. Após a realização da
crioterapia, recomenda-se repouso em baia durante 3 a 5 dias, para todos os
animais. Posteriormente, os animais devem ser exercitados a meio trote ou
galope leve, sendo que o treinamento normal pode ser retomado dentro de 7 a 10
dias após o início dos exercícios leves (JACOBS; OLIVER, 2003).
Fonte : Ross; Dyson (2003).
Figura 5 - Uso de crioterapia em exostose no 3º metacarpo do membro torácico.
Nos casos subagudos ou crônicos, o tratamento consiste em uma contra-
irritação sob a forma de pontas-de-fogo, injeção local de agentes esclerosantes,
radiação ou aplicações tópicas de causticantes, como o iodo, junto com
massagem local com um objeto duro e plano, por 10-15 minutos diários. Esse
tratamento tem por objetivo converter um processo inflamatório limitado em um
42
processo inflamatório agudo, acelerando desta forma a cura, e cessando também
a proliferação dos osteoblastos (AUER, 1999; STASHAK, 2002).
Se a razão pela qual o cavalo se alcança é a ferração ou aparação
inadequadas, estas devem ser corrigidas, sendo que as caneleiras podem ser
utilizadas para evitar maiores traumas (STASHAK, 2002).
Persistindo a claudicação, a cirurgia é o tratamento de escolha (AUER,
1999; ALVES et al., 2002; BENNETT, 2003; DYSON, 2003; LEWIS, 2003;
MISHEFF, 2003; MITCHELL et al., 2003). O acesso cirúrgico à exostose se dá
por uma estreita incisão na pele, a qual pode ser elíptica. É importante que se
remova além da exostose, o periósteo envolvido e o osso possivelmente afetado;
isso se dá pela curetagem do osso no local envolvido. Deve-se retirar
aproximadamente 2 a 3mm do periósteo ao redor da exostose, lembrando-se que
a região óssea envolvida deverá ficar plana. A periostectomia regional foi adotada
a fim de se diminuir a quantidade e a taxa de recidivas após a remoção cirúrgica
de exostoses. Um dreno deve ser colocado, sendo retirado 24 horas após a
cirurgia. A incisão é fechada com pontos simples contínuos no subcutâneo e
derme, justapondo as bordas da pele; desta forma assegura-se um ótimo
resultado cosmético. Uma bandagem compressiva é colocada ao final da cirurgia,
a qual deverá ser trocada a cada 3-4 dias por um período de 3 semanas. Indica-
se descanso em baia por 2 semanas, seguido por caminhadas leves. Deve-se
evitar exercícios físicos forçados por no mínimo 3 meses (AUER, 1999; ALVES et
al., 2002; DYSON, 2003).
Estudo recente confirmou a eficácia da administração local de
corticosteróide e ácido hialurônico após a ressecção cirúrgica da exostose e
periostectomia. Dessa forma atinge-se altas concentrações dos fármacos no local
da lesão, o que leva a um efeito antiinflamatório imediato, conferindo maior
inibição da recidiva das exostoses removidas cirurgicamente (ALVES et al., 2002).
3.2.5. Prognóstico O prognóstico associado com exostose é bom. Na maioria dos casos, se o
tratamento conservador for utilizado, essas lesões tornam-se inativas e indolores.
Se forem removidas cirurgicamente juntamente com a excisão do periósteo, não
43
ocorre recidiva em 90% dos casos. O animal geralmente pode ser usado em
qualquer atividade atlética 3 a 4 meses após a cirurgia (AUER, 1999).
Nos casos em que a exostose é grande e interfere no ligamento
suspensório, ou quando a causa são sucessivos traumatismos provocados pelo
membro contra-lateral, o prognóstico é reservado (STASHAK, 2002).
O prognóstico é bom para o retorno dos animais às atividades atléticas
normais após a realização da crioterapia. Em alguns casos, ocorre recidivas no
mesmo local ou em locais diferentes, sendo que o procedimento poderá ser
repetido (JACOBS; OLIVER, 2003).
3.3. EXOSTOSE INTERFALÂNGICA
A exostose interfalângica, também conhecida como osteoartrite da
articulação interfalângica, é um neocrescimento ósseo que atinge a falange
proximal, média ou distal, sendo o resultado de uma periostite, podendo levar a
uma osteoartrite ou anquilose da articulação interfalângica proximal ou distal
(STASHAK, 2002; RUGGLES, 2003).
Essa afecção pode ser classificada de duas formas: exostose interfalângica
alta ou baixa e exostose interfalângica articular ou periarticular. A alta acomete a
extremidade distal da falange proximal ou a extremidade proximal da falange
média, enquanto que a baixa acomete a extremidade distal da falange média ou a
extremidade proximal da falange distal. Na articular, o crescimento ósseo
compromete a superfície da articulação interfalângica proximal ou distal, enquanto
que na periarticular o crescimento ósseo se limita a contornar a articulação, não
havendo comprometimento desta (STASHAK, 2002).
Eqüinos utilizados em salto, doma e ‘’cross-country’’ parecem ser
propensos ao surgimento de exostose alta (RUGGLES, 2003).
44
3.3.1. Etiologia
A exostose não-articular é causada por uma periostite resultante da tração
dos ligamentos colaterais das articulações afetadas, da tração das inserções da
cápsula articular ao osso, da tração do tendão extensor às falanges proximal,
média e distal ou de traumas diretos às falanges, sendo essas trações muito
comuns em animais com má conformação. Cortes com arame que se aprofundam
até o periósteo, também podem causar uma periostite que resultará em exostose.
Infecções ou osteocondrose também são incriminadas no desencadeamento
desta afecção (STASHAK, 2002; RUGGLES, 2003).
Cavalos fechados de frente têm maior predisposição para desenvolverem
exostose interfalângica no lado lateral das articulações, enquanto cavalos abertos
de frente desenvolvem exostose interfalângica no lado medial das articulações,
pois a má conformação aumenta o estresse, levando a uma pressão desigual
nessas superfícies articulares (STASHAK, 2002; GOBLE, 2003).
Exostose articular pode ser causada por fratura que acomete uma das
falanges, progredindo para uma osteoartrite da articulação interfalângica proximal
e conseqüente exostose interfalângica intensa (STASHAK, 2002; GOBLE, 2003).
A afecção também pode ser resultante de um espaçamento incorreto das
superfícies articulares da articulação interfalângica proximal (STASHAK, 2002).
3.3.2. Sinais clínicos e diagnóstico Os animais acometidos pela exostose interfalângica apresentam
claudicação de moderada a severa, em todas as andaduras, a qual torna-se mais
evidente quando da realização de curvas e/ou quando da flexão distal do
membro, sendo que alguns casos são assintomáticos (STASHAK, 2002; GOBLE,
2003; RUGGLES, 2003). A região afetada apresenta-se quente, observando-se
aumento de volume e dor quando aplicada uma ligeira pressão no local da
exostose ativa (STASHAK, 2002; GOBLE, 2003). Exostose interfalângica articular
é acompanhada por artrite da articulação afetada, podendo ocorrer a anquilose
desta (STASHAK, 2002).
45
No caso de exostose interfalângica baixa, também chamada de doença
piramidal, além da claudicação, calor, dor à palpação e aumento de volume,
observa-se os pêlos da faixa coronária eriçados e um pisar excessivo sobre os
talões (STASHAK, 2002).
Na fase crônica da doença, o edema passa a ser frio e firme ao toque; a
realização do exame de flexão da articulação afetada poderá resultar em uma
resposta dolorosa, sendo que a flexão da articulação estará diminuída, ou nula
nos casos em que a anquilose já estiver presente (STASHAK, 2002). Pode-se
evidenciar nesses casos, uma formação óssea exuberante ou deformidade
angular (RUGGLES, 2003).
O diagnóstico baseia-se inicialmente pelos sinais clínicos observados,
resposta à analgesia perineural ou intra-articular e exame radiográfico (SCHAER
et al., 2001; STASHAK, 2002; GOBLE, 2003; RUGGLES, 2003). Os achados
radiográficos são necessários para identificar com precisão as estruturas
acometidas, podendo-se observar a neoformação óssea, esclerose periarticular e
a perda do espaço articular principalmente no aspecto medial da articulação
interfalângica proximal (SCHAER et al., 2001; STASHAK, 2002; RUGGLES,
2003). Radiografias do membro oposto devem ser feitas pois a afecção pode
acometer bilateralmente os membros (RUGGLES, 2003). Nos casos iniciais,
apesar da presença dos sinais clínicos, o exame radiográfico nada acusará,
sendo indicado a repetição deste após 30 dias (SCHAER et al., 2001; STASHAK,
2002).
3.3.3. Tratamento Nos casos agudos da doença, ou seja, quando não houve o início da
proliferação óssea, o tratamento consiste em limitação do movimento das
articulações através do uso de gesso, o qual deve envolver o membro desde a
parede do casco até abaixo do carpo ou tarso; o gesso deve ser mantido por no
mínimo 30 dias e o animal confinado por um período mínimo de 4 meses
(STASHAK, 2002).
Em eqüinos com osteoartrite e ligeira claudicação, recomenda-se repouso
em baia com acesso a um piquete pequeno durante 4 meses (GOBLE, 2003).
46
Segundo Goble (2003), a administração oral de glicosaminoglicanos ou
suplementação com sulfato de condroitina tem tido resultados satisfatórios.
Recomenda-se a utilização de antiinflamatórios não-esteroidais ou injeções
intra-articulares de corticosteróides em combinação com hialuronato de sódio, que
são muito eficazes em eqüinos que apresentam exostose leve à moderada
(GOBLE, 2003; RUGGLES, 2003). Os corticosteróides aplicados dentro da
articulação reduzem o nível de enzimas nocivas na articulação além de
exercerem efeito antiinflamatório, retardando a migração de leucócitos e inibindo
a dilatação capilar, edema e deposição de fibrina (McILWRAITH, 2002). Apesar
de exercerem efeito terapêutico antiinflamatório desejável no sinóvio, os
corticosteróides reduzem a taxa de síntese de proteoglicanos e ácido hialurônico
no interior da articulação. Também diminuem os glicosaminoglicanos sulfatados,
resultando em uma redução na capacidade desses de ligar água da matriz
cartilaginosa, tornando a superfície articular menos elástica e mais vulnerável a
trauma mecânico. Devido a isso, recomenda-se a suplementação oral de
glicosaminoglicanos antes e durante o uso de corticosteróides, e da utilização
intra-articular em conjunto de corticosteróides e hialuronato de sódio, pois este
último contribuirá como lubrificante articular, diminuindo a probabilidade de dano à
cartilagem, além de controlar a permeabilidade da membrana sinovial (STASHAK,
2002; McILWRAITH, 2002).
Em animais com exostose subaguda ou crônica, especialmente aqueles
com extensiva proliferação periarticular e perda do espaço articular, o tratamento
varia da utilização de pontas-de-fogo, aplicações tópicas de causticantes até
fusão da articulação por artrodese, a qual promove um alívio da dor (SCHAER et
al., 2001; STASHAK, 2002; RUGGLES, 2003). O procedimento cirúrgico de
artrodese é invasivo e caro, mas geralmente é considerado a melhor solução
(RUGGLES, 2003).
A anquilose natural da articulação interfalângica proximal pode ocorrer,
porém, é um longo e doloroso processo, o qual pode ser incompleto (GOBLE,
2003; RUGGLES, 2003).
Neurectomia pode ser considerada em eqüinos com exostose
interfalângica proximal crônica, principalmente, quando no membro posterior
(STASHAK, 2002; RUGGLES, 2003).
47
Cirurgicamente, três técnicas são citadas para a realização de artrodese:
perfuração da articulação do lado lateral para o medial, com o intuito de remover
a cartilagem e posterior enxerto do local com osso trabecular; estimulação elétrica
após remoção da cartilagem, sendo que essa técnica reduz o tempo necessário
para formação da anquilose; e fixação interna utilizando placas ou parafusos, com
ou sem enxerto de osso trabecular. Obtiveram-se melhores resultados na fixação
interna, com o uso de três parafusos colocados paralelamente, pois essa técnica
proporcionou uma maior fusão da região, um melhor alinhamento das falanges
proximal e média e um menor índice de erros na colocação destes (Figura 6)
(GENETZKY et al., 1981; STASHAK, 2002; GOBLE, 2003).
Figura 6 – Radiografia lateral 7 semanas após a cirurgia de artrodese da articulação interfalângica proximal realizada com três parafusos postos através da articulação, para comprimi-la. A cartilagem da articulação interfalângica proximal foi removida antes da colocação dos parafusos.
48
Estudo recente confirmou que a utilização em conjunto dos três parafusos
com uma placa colocada dorsalmente promove uma fixação mais estável e
segura, minimizando a mobilidade, acelerando a remodelação óssea, favorecendo
então, uma rápida fusão da articulação (SCHAER et. al., 2001; RUGGLES, 2003).
Após a cirurgia deve-se imobilizar o membro, desde o casco até abaixo do
carpo ou tarso, através da utilização de gesso. O membro deve ser imobilizado o
mais próximo possível de sua posição normal, sendo que o animal deve
permanecer engessado por um período de 6 a 7 semanas. Ligas de apoio são
indicadas após a retirada do gesso. O animal deverá permanecer confinado em
baia por mais 8 semanas e após esse período, exercícios com caminhadas
podem ser iniciados (STASHAK, 2002).
Nos cavalos acometidos com exostose interfalângica, pode-se fazer uma
ferração corretiva, que consiste no encurtamento da pinça e colocação de
ferraduras de rolamento completo, com o intuito de transferir a ação das
articulações interfalângica proximal e distal para a ferradura. Se o animal possui
boa conformação, uma ferradura de rolamento na pinça é suficiente (STASHAK,
2002).
3.3.4. Prognóstico
A forma não-articular aguda de exostose, desde que tratada precocemente,
apresenta bom prognóstico para o retorno ao trabalho. Entretanto, no caso da
exostose interfalângica não-articular baixa, o prognóstico é geralmente reservado,
com freqüente alteração mecânica na andadura, cessada a dor (STASHAK,
2002).
Os casos de exostose interfalângica articular alta progridem
constantemente para osteoartrite, apresentando prognóstico desfavorável
(STASHAK, 2002; GOBLE, 2003). A exostose interfalângica articular baixa
apresenta um prognóstico muito ruim em termos de retorno normal ao trabalho
(STASHAK, 2002; GOBLE, 2003).
O diagnóstico precoce é um critério muito importante para um melhor
prognóstico, pois desta forma cessa-se o treinamento do animal, e instituindo-se
49
tratamento adequado, ocorrerá retardo na progressão da osteoartrite, resultando
numa melhora substancial da afecção (GOBLE, 2003).
Como citado anteriormente, a técnica de artrodese, especialmente quando
da utilização de três parafusos e placas, possibilita retorno às atividades atléticas,
ainda que restritas em alguns casos. Entretanto, essa técnica não conduz a um
prognóstico bom em animais pesados, em razão da forte pressão exercida sobre
os implantes (SCHAER et al., 2001; GOBLE, 2003).
3.3.5. Relato de caso e discussão No dia 8 de setembro de 2004, na seção veterinária do Regimento de
Polícia Montada foi atendido um garanhão da raça Appaloosa de nome Gringo
Lee, com dois anos e meio de idade, aproximadamente 350 Kg e histórico de
grande aumento de volume no membro posterior esquerdo, perda por avulsão da
parede do casco no lado medial do mesmo membro e miíase local. Segundo
relato do proprietário, o animal havia perdido a parede do casco à
aproximadamente um ano, sendo realizados apenas curativos locais (Figura 7).
Figura 7 – Perda da parede do casco no lado medial do membro posterior esquerdo (seta).
50
Devido ao estado em que se encontrava a ferida e a grande quantidade de
miíase, optou-se primeiramente pela limpeza da mesma, para posterior exame
clínico. Utilizou-se larvicida spray³ sobre a ferida e com uma pinça, foram
retiradas todas as larvas. Lavou-se a ferida com polivinilpirrolidona-iodo4 e foi
usado iodo tópico5 à 5% no local, durante 3 dias.
Após este período foi realizado o exame clínico. Visualmente,
observou-se a presença de um grande aumento de volume acima da região
coronária, o qual circundava todo o membro e que, à palpação apresentava-se
fria e firme ao toque (Figura 8). Fez-se pressão digital sobre a área afetada, mas
o animal não respondeu à dor, sendo essas características citadas na literatura
por Stashak (2002).
Figura 8 – Aumento de volume observado no membro posterior do referido
animal.
Como indicado por Stashak (2002), realizou-se o exame de flexão da
articulação afetada, tendo-se como resultado uma flexão nula, provavelmente
pela presença de anquilose da articulação, devido à cronicidade da lesão.
Conduziu-se o animal até um piso rígido, onde este foi observado ao passo
e ao trote. Em nenhuma das andaduras o animal apresentou claudicação, apenas
observou-se um pisar excessivo sobre os talões do membro afetado.
51
Foi feito exame radiográfico, por meio do qual pôde-se observar uma
grande neoformação óssea sobre as falanges média e distal e início de
proliferação óssea na região distal da falange proximal. Constatou-se também a
perda de espaço articular entre as falanges média e distal (Figura 9). Esses
achados são descritos na literatura por Schaer et. al. (2001), Stashak (2002) e
Ruggles (2003).
Não foi realizado radiografia do membro oposto como sugerido por Ruggles
(2003).
Figura 9 – a) e b) aspecto radiográfico do membro posterior esquerdo afetado mostrando a
neoformação óssea, perda do espaço articular entre as falanges média e distal e início de proliferação óssea da região distal da falange proximal.
Avaliando-se os sinais clínicos e os achados radiográficos, constatou-se a
ocorrência de exostose interfalângica articular baixa, procedendo-se
posteriormente o início do tratamento.
O tratamento consistiu em aplicação tópica de iodo 40% sobre toda a
lesão. Como este fármaco havia sido manipulado erroneamente pela primeira vez,
ba
52
e pela demora do proprietário em trazer o fármaco certo, o tratamento foi
inicializado somente após 3 semanas do diagnóstico.
Durante esse período, diariamente realizava-se curativo no casco afetado
anteriormente pela miíase. Este consistia em pedilúvio com permanganato de
potássio, 0,1g/litro, durante 30 minutos para limpeza do local, uso tópico de
cicatrizante6 e bandagem ao redor do casco para evitar o contato da lesão com a
urina e fezes do animal.
Durante todo o tratamento, o animal permaneceu estabulado sendo
retirado para caminhadas diárias durante aproximadamente 30 minutos.
Após o proprietário ter trazido o iodo 40%, iniciou-se o tratamento, o qual
consistiu em aplicação tópica sobre a região afetada, durante 7 dias (Figura 10).
Após esse período, aplicou-se localmente vaselina líquida para facilitar a retirada
das crostas formadas pela ação cáustica do iodo.
Figura 10 – a) aplicação tópica de iodo 40% na face lateral do membro afetado; b) aplicação tópica
de iodo 40% na face medial do membro afetado.
Devido à grande perda da parede medial do casco no membro afetado,
sucessivas rachaduras ocorriam neste, dificultando o crescimento do novo casco.
Para evitar a contínua formação de rachaduras, optou-se pela colocação de uma
ferradura oval com guarda casco lateral para aumentar a estabilidade do casco.
Pelo fato do animal apresentar deformidades angulares nos quatro
membros, uma aparação adequada dos cascos era realizada mensalmente.
Em virtude da cronicidade da afecção, não foi observada melhora
significativa com o tratamento utilizado. Não houve necessidade da realização de
a b
53
artrodese, como citado na literatura por Genetzky et al. (1981), Schaer et al.
(2001), Stashak (2002), Goble (2003) e Ruggles (2003), pois o animal já
apresentava anquilose natural da articulação interfalângica proximal.
3.4. RABDOMIÓLISE DE EXERCÍCIO
3.4.1. Introdução Rabdomiólise de exercício, também conhecida como azotúria, mal de
segunda-feira, ‘’tying up’’, mioglobinúria paralítica e miosite, é uma degeneração
das fibras musculares estriadas que ocorre após o exercício, sendo a desordem
muscular mais comum que acomete principalmente eqüinos atletas (HODGSON,
1987; HODGSON; PARISH, 1990; TURNER, 1992; SNOW; VALBERG, 1994;
HARDY, 1995; HARRIS; MAYHEW, 2000).
Os fatores que predispõem ao aparecimento da rabdomiólise de exercício
são variados. Dieta, desbalanço eletrolítico, hipotireoidismo, genética, viremia,
bacteremia e exercícios, em conjunto ou separadamente, estão implicados no
desencadeamento da doença (HODGSON, 1987; TURNER, 1992; HARDY,
1995).
Classicamente, observa-se a doença em animais que estão em um
programa de treinamento, os quais passam por um repouso de um ou mais dias,
sendo-lhes fornecida a mesma quantidade de ração. O mecanismo exato da ação
dos carboidratos para o aparecimento de rabdomiólise ainda está incerto, mas
postula-se que ocorre uma formação excessiva de glicogênio, resultando em uma
superprodução de ácido láctico pós-exercício e vasoconstrição muscular
resultando em cãibras (HODGSON, 1987; HODGSON; PARISH, 1990; HARRIS;
MAYHEW, 2000).
Diversos pesquisadores apontam que distúrbios eletrolíticos causam
rabdomiólise. A ação mais provável dos eletrólitos no aparecimento da
rabdomiólise pode envolver alterações passageiras nas concentrações ou fluxos
54
iônicos através da membrana celular do músculo. As concentrações intracelulares
de sódio e potássio são mantidas pela bomba de sódio e potássio. Alterações no
número ou na eficiência dessas bombas resulta em alteração na capacidade
celular em realizar o transporte ativo desses íons. A supressão das bombas
também resulta numa diminuição na capacidade de remover o potássio do
plasma, o que é de extrema importância durante o exercício. Desta forma sugere-
se que a distribuição alterada de potássio afeta propriedades funcionais como o
potencial de membrana, o potencial de ação e acoplamento de excitação-
contração em fibras musculares (HODGSON; PARISH, 1990; HARRIS;
MAYHEW, 2000).
Propôs-se que o hipotireoidismo secundário é um fator ‘’gatilho’’, que
desencadeia a rabdomiólise de exercício, ‘’pois resulta em uma deficiência
protéica, numa depressão no metabolismo oxidativo do músculo e diminuição na
atividade da miosina ATPase’’ (TURNER, 1992; SNOW; VALBERG, 1994).
O metabolismo defeituoso de cálcio dentro das células musculares, leva a
um excesso de cálcio dentro das unidades contráteis, desencadeando excessivas
contrações das fibras musculares, as quais se manifestam como cãibras,
podendo resultar em necrose celular (HODGSON; PARISH, 1990; TURNER,
1992).
Infecções bacterianas e viróticas, podem causar dano muscular levando a
miopatias. O vírus da influenza, o qual freqüentemente invade o trato respiratório,
e a bactéria Acinetobacter calcoaceticus podem se instalar nos músculos durante
o curso das doenças, caso uma injúria ocorra a estes (HODGSON, 1987;
TURNER, 1992; BYRNE et al., 2000; HARRIS; MAYHEW, 2000).
Súbitas elevações na duração ou na intensidade dos exercícios, são
consideradas as causas iniciais do aparecimento de rabdomiólise, em especial
quando associadas a outros fatores predisponentes, acima citados (HODGSON,
1987; TURNER, 1992).
3.4.2. Sinais clínicos e diagnóstico Os sinais clínicos da doença podem variar em severidade, desde uma
ligeira rigidez ou encurtamento do passo até uma incapacidade total de
55
movimentação, podendo até levar o animal ao decúbito (HODGSON, 1987;
HODGSON; PARISH, 1990; SNOW; VALBERG, 1994; HARDY, 1995; VALBERG;
MACLEAY; MICKELSON, 1997; HARRIS; MAYHEW, 2000; FIRSHMAN et al.,
2003).
Durante o exercício, os cavalos podem desenvolver, além de um andar
curto e rígido, suor profuso, freqüência cardíaca e respiratória elevadas,
desidratação e hipertermia. Terminado o exercício, estes apresentam relutância
em se movimentar devido à ocorrência de disfunção e cãibras musculares,
freqüentemente adquirem posição de urinar, sendo que em casos mais severos
pode-se observar presença de mioglobinúria (HODGSON, 1987; HODGSON;
PARISH, 1990; TURNER, 1992; SNOW; VALBERG, 1994; VALBERG;
MACLEAY; MICKELSON, 1997; BYRNE et al., 2000; FIRSHMAN et al., 2003).
À palpação, os músculos apresentam-se tumefeitos e firmes e o animal
bastante dolorido, sendo o dano muscular encontrado bilateralmente afetando os
músculos glúteo, semitendíneo e semimembranáceo. Os músculos proximais dos
membros anteriores podem estar acometidos isoladamente ou em combinação
(HODGSON, 1987; HODGSON; PARISH, 1990; SNOW; VALBERG, 1994;
VALBERG; MACLEAY; MICKELSON, 1997; HARRIS; MAYHEW, 2000).
O diagnóstico baseia-se na história clínica, acompanhada por exame físico
completo. Exames laboratoriais são freqüentemente necessários para confirmar o
diagnóstico provisório e controlar a recuperação, dentre estes podemos citar a
quantidade sérica de mioglobina, creatina-cinase (CK), lactato-desidrogenase
(LDH) e aspartato-aminotransferase (AST). Biópsia muscular, eletromiografia e
urinálise podem ser úteis (HODGSON, 1987; SNOW; VALBERG, 1994; HARDY,
1995; HARRIS; VALBERG; MACLEAY; MICKELSON, 1997; BYRNE et al., 2000;
CARMICHAEL, 2000; DE LA CORTE; VALBERG, 2000; MAYHEW, 2000).
A elevação na atividade da CK pode ser detectada dentro de horas após o
começo dos sinais clínicos, sendo que seu pico se dá após 6 horas, alcançando
de 1000 para 400.000 UI/L, declinando dentro de 2 a 3 dias. O pico na LDH
ocorre 12 horas após o início da sintomatologia clínica, continuando elevada por 7
a 10 dias. A elevação na AST começa aproximadamente 24 horas após o começo
dos sinais clínicos, tendo uma meia vida de 7 a 14 dias. Uma persistente elevação
56
nas enzimas musculares indica um progressivo dano muscular (HODGSON,
1987; TURNER, 1992; HARDY, 1995).
Um aumento nos valores de CK sem alta nos de AST ou LDH indica uma
miodegeneração que ocorreu 6 a 12 horas antes. Valores aumentados de CK e
LDH sem crescimento nos níveis de AST revela dano sofrido 24 horas antes.
Incremento nos níveis de AST e LDH sem alta nos valores de CK demonstra dano
muscular ocorrido 3 a 4 dias antes (TURNER, 1992).
A biópsia é um método diagnóstico definitivo, especialmente para animais
que apresentem rabdomiólise de exercício recorrente. As amostras de biópsia
muscular podem ser obtidas através de duas técnicas: excisão cirúrgica sob
anestesia geral ou local, ou agulha de biópsia percutânea (VALBERG; MACLEAY;
MICKELSON, 1997; HARRIS; MAYHEW, 2000). O músculo semimembranoso é o
mais utilizado quando da realização da biópsia pela técnica aberta, devido a
facilidade ao acesso, a falta de uma cicatriz aparente, e a anormal prevalência de
polissacarídeos neste músculo (VALBERG; MACLEAY; MICKELSON, 1997;
CARNICHAEL, 2000).
Os animais podem ser sedados com detomidina (0,01 mg/kg) combinada
com tartarato de butorfanol (0,01 mg/kg). A cauda deve ser enfaixada, e uma área
13 cm distal e medial à tuberosidade isquiática (sobre o músculo
semimembranoso) é preparada cirurgicamente. Injeta-se lidocaína para produzir
um ‘’botão’’ anestésico de 5 cm, sem infiltrar o tecido muscular. Faz-se uma
incisão vertical de 4 a 5 cm na pele e fáscia do músculo, a qual é rebatida 1,5 cm
de cada lado. Uma incisão vertical de 1,5 cm de profundidade e 3 cm de
comprimento é realizada abaixo da fáscia; outra incisão similar paralela à primeira
deve ser feita. A amostra é agarrada com fórceps e seccionada dorsalmente e
ventralmente. Após retirado, o tecido precisa ser manipulado cuidadosamente,
sendo este colocado em uma gaze umedecida em solução salina à 0,9%, até ser
enviada ao laboratório. A fáscia é suturada com fio absorvível e a pele utilizando-
se sutura intradérmica (VALBERG; MACLEAY; MICKELSON , 1997).
A biópsia com agulha percutânea não deixa nenhum resquício de cicatriz.
Uma pequena área de pele sobre o músculo glúteo (dois terços de distância de
uma linha da cabeça da cauda à tuberosidade coxal) deve ser preparada
cirurgicamente. Aplica-se 1,5 ml de lidocaína no subcutâneo ao longo da linha de
57
incisão e na fáscia que recobre o músculo. Faz-se uma incisão na pele e na
fáscia, inserindo-se em seguida a agulha de biópsia a uma profundidade de
aproximadamente 6 cm (em eqüinos adultos) (Figura 11). Com essa técnica,
coleta-se 200 a 400 mg de amostra de tecido muscular, sendo que a quantidade
da amostra não é suficiente para um exame mais apurado (VALBERG;
MACLEAY; MICKELSON, 1997; HARRIS; MAYHEW, 2000).
Fonte: Reed; Bayly (2000)
Figura 11 - a) agulha de biópsia muscular percutânea, encontrada com diâmetros internos de
4mm, 5mm e 6mm. b) aplicação de anestesia local por via subcutânea ao longo da linha de incisão. c) incisão da pele e da fáscia muscular. d) inserção da agulha de biópsia à uma profundidade de 6 cm.
As características histológicas detectadas na amostra muscular coletada
através da biópsia podem variar, desde a ausência de lesões detectáveis, até
alterações graves caracterizadas por fibras intumescidas e alterações hialinas em
segmentos de fibras (HODGSON; PARISH, 1990).
a
b c d
58
A urinálise é importante para detectar a presença de mioglobina oculta na
urina e diferenciá-la de hemoglobina. Foi sugerido que o escurecimento visível da
urina ocorre quando a concentração de mioglobina excede 40mg/100ml
(TURNER, 1992; HARRIS; MAYHEW, 2000).
O diagnóstico diferencial de rabdomiólise inclui todas as moléstias que
podem resultar em andar rígido ou desconforto geral, como laminite, pleurite,
cólica, tétano, entre outros (HARDY, 1995; VALBERG; MACLEAY; MICKELSON,
1997; HARRIS; MAYHEW, 2000).
3.4.3. Tratamento O tratamento baseia-se em limitar lesão muscular adicional, aliviar a
ansiedade e a dor, corrigir a deficiência eletrolítica e de fluidos e prevenir lesão
renal (HODGSON, 1987; HODGSON; PARISH, 1990; TURNER, 1992; SNOW;
VALBERG, 1994; HARDY, 1995; HARRIS; MAYHEW, 2000; DE LA CORTE;
VALBERG, 2000; FIRSHMAN et al., 2003).
Fluidoterapia oral ou intravenosa deve ser prioridade em animais
desidratados que apresentam mioglobinúria, já que esta pode causar
nefrotoxicidade devido à sua deposição nos túbulos renais. Os fluidos mais
indicados são NaCl a 0,9% e ringer com lactato (TURNER, 1992; SNOW;
VALBERG, 1994; VALBERG; MACLEAY; MICKELSON, 1997; HARRIS;
MAYHEW, 2000). Se o animal estiver acentuadamente hipertérmico, os fluidos
administrados podem ser resfriados, e uma ventilação externa é indicada (SNOW;
VALBERG, 1994).
A utilização de acepromazina, um antagonista alfa1-adrenérgico, abranda a
ansiedade podendo aumentar o fluxo sangüíneo para os músculos, contudo, seu
uso é contra-indicado em eqüinos desidratados, pois pode resultar em hipotensão
(HODGSON; PARISH, 1990; TURNER, 1992; SNOW; VALBERG, 1994;
VALBERG; MACLEAY; MICKELSON, 1997; DE LA CORTE; VALBERG, 2000).
O alívio da dor, da inflamação muscular e desconforto podem ser
alcançados com a utilização de antiinflamatórios não-esteroidais como a
fenilbutazona ou flunixin meglumine, devendo-se ter cuidado na administração
desses fármacos em animais desidratados, pois podem provocar lesão renal
59
(HODGSON, 1987; HODGSON; PARISH, 1990; TURNER, 1992; HARDY, 1995;
VALBERG; MACLEAY; MICKELSON, 1997; DE LA CORTE; VALBERG, 2000).
Em eqüinos excessivamente doloridos, a utilização de detomidina fornece
uma melhor sedação e analgesia. No entanto, a utilização dessa medicação
torna-se inviável no Brasil, pois ela não é encontrada aqui, devendo-se importá-la
(SNOW; VALBERG, 1994; HARDY, 1995). Recomenda-se também o uso de
derivados narcóticos, como o tartarato de butorfanol ou hidrocloridrato de
meperidina para o alívio da dor. A combinação desses medicamentos com a
xilazina é indicada, porque evita a excitação ocasionada pela administração
desses narcóticos, o que levaria a um agravamento da lesão muscular nesses
animais (HODGSON, 1987; TURNER, 1992; DE LA CORTE; VALBERG, 2000).
Relata-se que os corticóides produzem relaxamento dos esfíncteres
capilares, melhorando desta forma a perfusão tecidual. Estes também auxiliam na
redução de contínuas lesões musculares, através da estabilização das
membranas celulares (HODGSON, 1987; HODGSON; PARISH, 1990; TURNER,
1992).
A administração intravenosa de dimetil-sulfóxido, na dose de 1,0 g/Kg
diluído em solução salina a 10 ou 20% ou numa solução de dextrose a 5%, tem
ação antiinflamatória eficiente (HODGSON; PARISH, 1990; TURNER, 1992;
SNOW; VALBERG, 1994; VALBERG; MACLEAY; MICKELSON, 1997; DE LA
CORTE; VALBERG, 2000; HARRIS; MAYHEW, 2000).
Autores aconselham o uso de dantrolene sódico na dose de 2mg/Kg via
oral. Este alivia os espasmos musculares e previne outros possíveis danos
musculares, pela diminuição da quantidade de cálcio liberada dos retículos
sarcoplasmáticos (HODGSON, 1987; HODGSON; PARISH, 1990; TURNER,
1992; SNOW; VALBERG, 1994; DE LA CORTE; VALBERG, 2000).
Como a maioria dos pacientes apresenta um quadro de alcalose
metabólica, não se recomenda o uso de bicarbonato de sódio, a menos que se
conheça o estado ácido-básico deste (HODGSON, 1987; HODGSON; PARISH,
1990; TURNER, 1992; HARDY, 1995; HARRIS; MAYHEW, 2000).
Indica-se repouso em baia, com duração variando de acordo com a
extensão da lesão muscular, e sempre que possível, o animal deve ser levado a
um piquete, antes que se retorne ao exercício normal, o que pode ser útil no
60
restabelecimento da resistência muscular (TURNER, 1992; DE LA CORTE;
VALBERG, 2000; HARRIS; MAYHEW, 2000). Durante este tempo recomenda-se
uma dieta com feno de boa qualidade e baixa suplementação com cereais,
principalmente aveia (SNOW; VALBERG, 1994; HARRIS; MAYHEW, 2000).
Em casos graves de rabdomiólise de exercício, a dieta deve consistir em
apenas capim ou feno e água. Nos casos em que os animais permanecem em
decúbito, recomenda-se uma baia bem acolchoada, sendo que esses não devem
ser forçados a se levantar, mas ajudados a isto tão logo seja possível. Deve-se
fazer controle da hidratação do animal para observar se a ingestão de água e
micção estão normais (HODGSON; 1987; HODGSON; PARISH, 1990; HARRIS;
MAYHEW, 2000). Na maioria dos casos a cateterização urinária é necessária,
pois pelo fato da incapacidade de se levantar, pode ocorrer retenção de urina
(HARRIS; MAYHEW, 2000).
3.4.4. Profilaxia Os fatores mais importantes na profilaxia da rabdomiólise de exercício são
a dieta e o exercício, ou seja, deve-se fornecer uma dieta equilibrada de acordo
com a carga de trabalho realizada pelo animal, sendo que os períodos de
inatividade devem ser acompanhados por redução na alimentação (HODGSON;
1987; HODGSON; PARISH, 1990; TURNER, 1992; SNOW; VALBERG, 1994;
VALBERG; MACLEAY; MICKELSON, 1997; DE LA CORTE; VALBERG, 2000;
HARRIES; MAYHEW, 2002; FIRSHMAN et al., 2003).
Animais muito excitados podem melhorar com a administração de doses
baixas de tranqüilizantes 30 minutos antes do início dos exercícios (HODGSON;
PARISH, 1990; SNOW; VALBERG, 1994).
Caso as mudanças no manejo citadas acima não sejam suficientes,
recomenda-se o uso de dantrolene, o qual diminui a taxa de liberação de cálcio do
retículo sarcoplasmático, evitando recidivas. Os autores sugerem o uso de 500mg
de dantrolene sódico diluídos em solução salina normal administrados via sonda
nasogástrica durante 3 a 5 dias e em seguida 300mg a cada 3 dias por cerca de
um mês, sendo que, um controle da função hepática é sugerido já que o fármaco
61
é hepatotóxico (HODGSON, 1987; TURNER, 1992; SNOW; VALBERG, 1994;
HARRIES; MAYHEW, 2002).
Indica-se a suplementação de sódio, potássio, cálcio, vitamina E e selênio,
isoladamente ou em conjunto, para prevenir rabdomiólise causada por
desequilíbrios eletrolíticos (TURNER, 1992; HARRIES; MAYHEW, 2002).
Aconselha-se o uso de dimetilglicina, um composto comum encontrado em
vários compostos alimentícios. Supõe-se que este promova um aumento no
consumo de oxigênio pelo músculo e diminua a produção de ácido láctico. A dose
diária recomendada é de 1 a 1,6 mg/Kg (HODGSON, 1987; HODGSON; PARISH,
1990; TURNER, 1992).
3.4.5. Prognóstico O prognóstico para a doença pode variar de excelente para animais que
são acometidos com a forma discreta, a grave para os que permanecem em
decúbito ou desenvolvem lesões renais (HARRIS; MAYHEW, 2000).
Nos casos em que os fatores predisponentes forem identificados e medidas
de segurança instituídas, como uma dieta balanceada e exercícios regulares,
episódios recidivantes de rabdomiólise de exercício podem não ocorrer (SNOW;
VALBERG, 1994; HARRIS; MAYHEW, 2000;).
Preconiza-se a não utilização para reprodução, os animais que pertencem
a famílias com múltiplos casos de miopatia, já que esta afecção é considerada
herdável (HARRIS; MAYHEW, 2000).
3.4.6. Relato de caso e discussão No dia 11 de setembro de 2004, na seção veterinária do Regimento de
Polícia Montada Coronel Rabelo, foi atendido um cavalo castrado, sem raça
definida, de nome Rango, com 12 anos de idade e aproximadamente 450 kg.
O animal pertencente ao pelotão de choque, apresentou um andar rígido
ao ser retirado da baia, e não comeu a ração da noite anterior.
62
Em virtude do dia 7 de setembro, dia da Independência, quando os animais
foram exigidos muito fisicamente, devido aos treinamentos dos dias que
antecederam o desfile e do próprio desfile, e pela razão de permanecerem os três
dias seguintes sem trabalhar, comendo a mesma quantidade de ração, sugere-se
de acordo com Hodgson (1987), Hodgson e Parish (1990); Harris e Mayhew
(2000), a situação como um fator predisponente para o aparecimento da
rabdomiólise de exercício.
Ao exame visual, o animal estava ofegante, observando-se presença de
sudorese e ao ser estimulado, apresentou andar rígido. Os parâmetros
observados foram mucosas hiperêmicas com 2 segundos de tempo de
preenchimento capilar, freqüência cardíaca de 62 batimentos por minuto (bpm),
freqüência respiratória de 58 movimentos por minuto (mpm), desidratação
moderada, 38,7° C de temperatura retal e presença de urina escura. Esses sinais
clínicos são descritos na literatura por Hodgson (1987), Hodgson; Parish (1990),
Turner (1992), Snow; Valberg (1994), Valberg; Macleay; Mickelson (1997), Byrne
et al. (2000) e Firshman et al. (2003).
Como descrito por Hodgson (1987), Hodgson; Parish (1990), Snow;
Valberg (1994), Valberg; Macleay; Mickelson (1997) e Harris; Mayhew (2000), à
palpação, os músculos dos membros posteriores (principalmente os glúteos)
apresentaram-se firmes e doloridos.
Exames laboratoriais complementares para aferição da quantidade sérica
de mioglobina, CK, AST, LDH, biópsia muscular, eletromiografia e urinálise
podem ser úteis (HODGSON, 1987; SNOW; VALBERG, 1994; HARDY, 1995;
HARRIS; MAYHEW, 2000; VALBERG; MACLEAY; MICKELSON, 1997; BYRNE et
al., 2000; CARMICHAEL, 2000; DE LA CORTE; VALBERG, 2000; MAYHEW,
2000). Em virtude da falta de verba liberada para a seção veterinária, nenhum
destes exames foram realizados.
Instituiu-se, portanto, tratamento com fluidoterapia com 10 litros de ringer
com lactato e 2 litros de glicose à 5%. Como o animal apresentava pouco apetite,
acrescentou-se à fluidoterapia 20 ml de complexo vitamínico7, 20 ml de ácido
ascórbico8 (vitamina C) e 500 ml de estimulante energético9, durante cinco dias.
A quantidade de fluido (em litros) a ser administrada a um eqüino, pode ser
calculada multiplicando-se o peso corporal (kg) do animal pela desidratação
63
estimada (%). A perda de fluidos de 5% a 7% do peso corporal é considerada
leve, 8% a 10% moderada e maior que 10% severa (DE LA CORTE; VALBERG,
2000). Desta forma, o animal deveria ter recebido aproximadamente 30 litros de
fluidos diários, já que apresentava desidratação leve. Contudo, conforme
anteriormente mencionado, o estoque de medicamentos na seção veterinária é
limitado, pelo que não pôde ser administrada a citada quantidade de fluidos.
Durante este período, o animal continuava a apresentar parâmetros
elevados de freqüência cardíaca variando de 50 a 62 bpm, freqüência respiratória
entre 45 a 58 mpm. Esta variação era decorrente da caminhada que o animal
fazia da baia até a seção veterinária. A temperatura oscilava de 38,7° C a 40,5°C.
Após transcorridos os dias do citado tratamento, o animal não mais
apresentava urina escura, mas os parâmetros continuavam alterados, houve uma
grande perda de peso (aproximadamente 100 kg) e apresentou comprometimento
do pulmão direito, constatado pela ausência de sons respiratórios normais
produzidos pelo movimento de ar através da árvore traqueobrônquica, na
auscultação. Não havia presença de secreção nasal.
Iniciou-se antibioticoterapia, administrando-se inicialmente Ceftiofur
sódico10, na dose de 2 mg/kg, via intravenosa por 10 dias. Durante este
tratamento, o animal continuava a apresentar os parâmetros alterados, freqüência
cardíaca 50 bpm, freqüência respiratória 48 mpm e temperatura retal oscilando
entre 38,0 e 40,0° C. À auscultação pulmonar, o eqüino não apresentou grande
melhora. Modificou-se o tratamento administrando-se Cefalotina Sódica11 1g, na
dose de 12 mg/kg, o equivalente a 4g de 6 em 6 horas, via intravenosa durante 10
dias; esse tratamento resultou na melhora significativa do funcionamento
pulmonar do animal e na estabilidade dos parâmetros. A mudança do antibiótico
utilizado deveu-se à aquisição de tipo diferente de medicamento, obtido por meio
de doação, mantido contudo o poder bactericida.
Concluída a antibioticoterapia, após aproximadamente cinco dias, o animal
apresentou mucosas ictéricas e aumento da temperatura retal, variando de 39,5 a
40,5° C durante o dia, apatia e falta de apetite. Os sinais apresentados pelo
eqüino são observados na babesiose como descrito na literatura por Morris
(2000). Suspeitou-se de hemoparasitas, procedendo-se à realização de
64
hemograma completo e pesquisa hemoparasitária, confirmando a suspeita de
babesiose.
Antes do resultado do hemograma e da pesquisa hemoparasitária, iniciou-
se o tratamento com dipropionato de imidocarb12 na dose de 2,2 mg/kg de 24 em
24 horas durante 03 dias, como descrito por Morris (2000) e 15 ml de
oxitetraciclina13, na dose de 10 mg/kg, durante 05 dias, os dois aplicados pela via
intramuscular. Administrou-se a dose diária de dipropionato de imidocarb em uma
única aplicação. Importa mencionar que o animal apresentava 300 kg nesta fase
do tratamento.
Indica-se a utilização de oxitetraciclina no tratamento de babesiose, pois
esta geralmente está associada com doenças causadas por riquétsias, como a
erliquiose. A dose recomendada de oxietraciclina é de 7 mg/kg de 24 em 24 horas
durante 3 a 7 dias, via intravenosa (RIKIHISA, 2000; BROWN; BERTONE, 2002).
Desde o início do tratamento, o animal permaneceu estabulado, recebendo
feno e capim à vontade. Permitiu-se que o mesmo fizesse pequenas caminhadas
de 15 a 20 minutos de duração, diariamente.
Segundo descrito anteriormente, a utilização de acepromazina,
antiinflamatórios não-esteroidais ou corticosteróides poderiam ter sido úteis no
alívio da dor muscular.
Como citado na literatura por Hodgson (1987), Turner (1992), Byrne et al.
(2000); Harris e Mayhew (2000), um dos fatores predisponentes da rabdomiólise
de exercício é infecção bacteriana ou virótica, a qual causa danos à musculatura,
quando essa passa por uma injúria, sendo esta a possível causa predisponente
de rabdomiólise neste eqüino.
65
4. CONCLUSÃO
A Medicina Veterinária nos oferece um vasto campo de atuação: clínica
médica e cirúrgica de pequenos e grandes animais, inspeção animal, animais
silvestres, produção animal, melhoramento genético.
Entre tantas áreas interessantíssimas, a que mais me agradou foi a
possibilidade de atuação com grandes animais, principalmente eqüinos. Uma vez
que esta área me fascinou desde o início do curso de graduação, não foi surpresa
a realização do estágio supervisionado curricular num meio aonde encontraria
preciosas oportunidades de conviver e aplicar os conhecimentos obtidos durante
toda a vida acadêmica.
No estágio tive a oportunidade de conviver com excelentes profissionais,
em breve colegas de profissão, e aprender mais sobre o dia-a-dia de um Médico
Veterinário.
Aprendi muito mais do que simplesmente aplicar a teoria à prática, mas
sim, a enfrentar os contratempos, os erros e acertos, e fazer o melhor possível
para obter bons resultados. Aprendi que acima de tudo, é preciso estudar sempre,
aperfeiçoando as técnicas, estando sempre em contato com a evolução dos
instrumentos e com o surgimento de novos tratamentos e fármacos, bem como
trabalhar com ética e seriedade para que possamos cumprir nossa missão da
melhor maneira e fazer cumprir as palavras do nosso juramento, visando o bem
estar humano e dos animais.
66
5. FONTES DE AQUISIÇÕES
¹Dimesol® - Marcolab Laboratórios Ltda. Duque de Caxias – RJ, Brasil.
²Ketofen® - Merial Saúde Animal Ltda. Paulínia – SP, Brasil.
³Matabicheiras® - Cyanamid Química do Brasil Ltda. Paulínia – SP, Brasil.
4Nordiodine Degermante® - Cinord Sul Indústria e Comércio Ltda. Ribeirão Preto–
SP, Brasil.
5Iodo Tópico® - Pinus Indústria e Comércio Ltda – Jundiaí – SP, Brasil.
6Bactrovet® - Laboratórios König S.A. – Avellaneda, Argentina.
7Marcomplex® - Marcolab Laboratórios Ltda. Duque de Caxias – RJ, Brasil.
8Marcovit C® injetável - Marcolab Laboratórios Ltda. Duque de Caxias – RJ,
Brasil.
9Stimovit® - Coopers Brasil Ltda. São Paulo – SP, Brasil.
10TopCef ® - Eurofarma Laboratórios Ltda – Campo Belo – SP, Brasil.
11Kefalotin® - Instituto Biochimico Ltda. Itatiaia – RJ, Brasil.
12Imizol® - Coopers Brasil Ltda. São Paulo – SP, Brasil.
13Terramicina® / LA – Laboratórios Pfizer Ltda. Guarulhos – SP, Brasil.
67
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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