lona 633 - 20.05.2011

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[email protected] @jornallona lona.up.com.br O único jornal-laboratório DIÁRIO do Brasil Ano XII - Número 633 Jornal-Laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade Positivo A banda paulistana de hardcore Decem- ber, sua trajetória e relação com os fãs Pág. 4 e 5 Coluna Especial Ratinho Jr. defende renovação de ideias na política Miguel Basso Locatelli O escândalo envolven- do o diretor-gerente do FMI Dominique Strauss-Kahn: elei- ções, roteiro e Law & Order A dificuldade de reinserção social de um ex-dependente de álcool Pág. 7 Perfil Em entrevista à Rede Teia, o Deputado Federal Ratinho Jr. (PSC - PR) falou do seu início na vida política e criticou a falta de lideranças no país. O deputado também comentou a sua possível candidatura à prefeitura de Curitiba. Pág. 3 O reconhecimento da união estável entre homossexuais Pág. 6 Curitiba, sexta-feira, 20 de maio de 2011

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Jornal-laboratório diário do Curso de Jornalismo da Universidade Positivo.

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Page 1: LONA 633 - 20.05.2011

Curitiba, sexta-feira, 20 de maio de 2011

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O único jornal-laboratório

DIÁRIOdo Brasil

Ano XII - Número 633Jornal-Laboratório do Curso de

Jornalismo da Universidade Positivo

A banda paulistana de hardcore Decem-ber, sua trajetória e relação com os fãs

Pág. 4 e 5

Coluna

Especial

Ratinho Jr. defende renovaçãode ideias na política

Miguel Basso Locatelli

O escândalo envolven-do o diretor-gerente do FMI Dominique Strauss-Kahn: elei-ções, roteiro e Law & Order

A difi culdade de reinserção social de um ex-dependente de álcool

Pág. 7

Perfi l

Em entrevista à Rede Teia, o Deputado Federal Ratinho Jr. (PSC - PR) falou do seu início na vida política e criticou a falta de lideranças no país. O deputado também comentou a sua possível candidatura à prefeitura de Curitiba.

Pág. 3

O reconhecimento da união estável entre homossexuais

Pág. 6

Curitiba, sexta-feira, 20 de maio de 2011

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Curitiba, terça-feira, 20 de maio de 2011 2

Expediente

EditorialA circulação das edições

diárias do Lona é um dos as-suntos mais debatidos na re-dação. Embora seja um tema pouco discutido (e aprecia-do), a distribuição é funda-mental para a boa recepção de qualquer projeto editorial.

Naturalmente, o nosso público-alvo são os estu-dantes de Jornalismo da UP, principais colaboradores do periódico e interessados na repercussão que o material divulgado pode causar. Tam-bém distribuímos exemplares em todos os blocos da Univer-sidade, incluindo a biblioteca, os setores administrativos e de pós-graduação. Além da UP, enviamos exemplares às redações de diversos jornais e órgãos públicos.

É nosso interesse que todo o trabalho envolvido na con-fecção da edição que você tem em mãos atinja um público diversificado, crítico, orienta-dor dos rumos de nossa linha editorial.

Nesse processo, contamos inequivocamente com o em-penho dos estudantes na di-vulgação do próprio trabalho.

Partindo para uma análise

além de nossas “fronteiras”, e reconhecendo um certo dis-tanciamento pedagógico en-tre os cursos de Jornalismo e Publicidade - distanciamento esse que só é prejudicial para ambos os lados no que tange aos objetivos finais da ampla comunicação - o que nós, de Jornalismo, podemos seguir como exemplo de conduta dos publicitários são os pode-res que eles têm de suscitar a discussão, divulgar seus pro-jetos e chamar a atenção para as propostas que querem evi-denciar.

Precisamos entender que todos integramos a mesma busca por espaço no merca-do de trabalho e capacitação pessoal e profissional. A di-vulgação ampla de nossas atividades só vem a forta-lecer o curso e a ampliar as nossas oportunidades - e isso não é um assunto res-trito apenas ao trabalho de-senvolvido no impresso.

Trocando em miúdos: vamos auxiliar na circula-ção do Lona - e de outros meios - e “vender o nosso peixe”.

Boa leitura a todos.

Obras autorizadas aguardando iniciativa da torre de comando

André Rosas

Reitor José Pio Martins

Vice-Reitor e Pró-Reitor de Administração Arno Gnoatto

Pró-Reitora de Graduação Marcia Sebastiani

Pró-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa Bruno Fernandes

Coordenação dos Cursos de Comunicação SocialAndré Tezza Consentino

Coordenadora do Curso de Jornalismo Maria Zaclis Veiga Ferreira

Professores-orientadores Elza Aparecida de Oliveira Filha e Marcelo Lima

Editores-chefes Daniel Zanella, Laura Bordin, Priscila Schip

O LONA é o jornal-laboratório do Curso de Jornalismo da Universi-dade Positivo. Rua Pedro Viriato Parigot de Souza, 5.300 -

Conectora 5. Campo Comprido. Curitiba -PR CEP 81280-30

Fone: (41) 3317-3044.

Opinião

O poder aquisitivo dos brasileiros aumentou e, hoje, o avião já é um meio de trans-porte mais utilizado que o, convencional, ônibus. A afir-mação é um fato confirma-do pela Agência Nacional de Transportes Terrestres, po-rém, a qualidade dos aeropor-tos brasileiros parece não ter acompanhado esse crescimen-to. A infra-estrutura deverá so-frer mudanças devido a Copa do Mundo no país, porém, o início dessas obras está lento. Fora os lugares que ainda não tiveram o início dos projetos.

Na hora de embarcar para qualquer lugar é possível es-cutar diversas pessoas questio-nando que imagem o país terá durante o mundial. A desor-ganização não está apenas nas obras, mas também nos servi-ços prestados nos aeroportos. Cada dia que passa são filas e

mais filas que se informam na hora de embarcar, isso quando não há atrasos nos vôos. Só a cidade de Curitiba teve mais atrasos que Congonhas no mês de março. E o pior disso tudo é que apesar do aeropor-to receber o título de “inter-nacional”, quase não há voos do gênero deixando a cidade. Duas companhias apenas ofe-recem vôos que deixam o país.

A verdade é que o governo não sabe o que fazer, a preo-cupação com a imagem que se tem do Brasil lá fora é tão gran-de que os verdadeiros interes-ses acabam caindo no esque-cimento. Mas até quando vão esperar? Até chegar em cima da hora? Daqui dois anos teremos a Copa da Confederações e, pelo menos, até lá temos que ter boa parte das obras concluídas.

E para os que acham que os aeroportos não estão tão caóti-

cos assim, basta dar um pulo lá fora. A qualidade no esta-belecimento de alguns países, como Uruguai e Chile, é tão intensa que ao perceber a dife-rença a surpresa é gritante. O fato é que a FIFA já está de olho no que está acontecendo no Brasil. As diretorias dos clubes responsáveis pelos estádios já estão sendo pressionados sobre o andamento das obras. Mas e os aeroportos? Só Curitiba pro-grama a construção de mais uma pista e por enquanto está presa no estacionamento, que não tem prazo para entrega.

É triste pensar que os bra-sileiros poderão passar vergo-nha em um evento como este. A falta de qualificação, de es-trutura e de organização são os principais fatores que trans-formam o sistema aéreo brasi-leiro em uma atividade ama-dora, sem profissionalismo.

Xenofobia às clarasEhnaeull E. G. Gonçalves

Em 2009, houve uma crise de grandes proporções que tomou o hemisfério norte de nosso pla-neta. Diversos bancos estadu-nidenses quebraram (levando os contribuintes a bancarem a bancarrota), países entraram em depressão econômica (a Islândia e a Grécia quebraram). Em mo-mentos como esses, é recorrente a busca por um bode expiatório. E quem melhor do que os imigran-tes para assumirem essa função?

Historicamente, o continen-te europeu sempre apela para o expediente de “culpe o de fora” quando está com debilidade eco-nômica. Um exemplo célebre é o nazismo. Surgido numa época de carestia, ele apelou, entre outras coisas, à expulsão do estrangeiro – que seria o agente responsável pela má situação do país. Vale lembrar que esse discurso teve e tem respaldo popular, como comprova a subida de Hitler ao poder e, atualmente, à proposta de Silvio Berlusconi de reviver o fascismo na Itália.

Recentemente, em agosto de 2010, o governo italiano pediu à União Europeia autorização para expulsar os ciganos cujo modo de vida seja considerado inadequa-do. Isso é um conceito muito sub-jetivo: inadequado poderia ser algo que incomoda meu vizinho,

mas não me afeta. Permitir a esta-dia de seres humanos por esse cri-tério é questionável. Além disso, destina-se a uma parcela ínfima da população – uma parcela sem representatividade política forte, sem muitas chances de defesa. Perfeita para bode expiatório.

Como se não bastasse, houve também coleta de digitais de cida-dãos de origem cigana, sob a ale-gação de que os acampamentos ciganos são uma ameaça à segu-rança nas grandes cidades. O pre-miê Berlusconi não só compactua com essas medidas, mas chegou a sugerir a abolição da proibição ao fascismo, por meio de um projeto de lei apresentado por seu parti-do, o Povo da Liberdade (PDL), ao senado italiano.

Não podemos esquecer da Liga Norte, partido separatista que deseja se livrar do sul do país, tido como inferior devido aos seus índices menores de desen-volvimento.

Claro, não é só a Itália que apresenta sinais claros de xenofo-bia. A França, há pouco, proibiu a utilização do véu islâmico (niqab), que só deixa os olhos à mostra. É um direito da mulher usá-lo ou não, não cabendo ao Estado dizer se isso deve ser feito ou deixado de lado. Legislar sobre isso é to-lher os direitos alheios. É curioso

um projeto de lei dirigido especi-ficamente aos muçulmanos, mi-noria que vem aumentando na França e, de forma geral, é vista com olhares de desconfiança.

O partido de extrema direita Frente Nacional, de Jean-Marie Le Pen, ocupou um minuto da aten-ção dos notíciarios devido ao ape-lo da nova líder, Marine Le Pen, para que os skinheads não partici-passem da parada anual da sigla. Não por acaso, ela defende me-didas contra a “invasão” de imi-grante do norte da África – coisa que já sabemos no que pode dar.

A ONU já emitiu declarações contrárias às medidas xenófobas desses países europeus – que, vale constar, não são e não serão os únicos a discriminar os estran-geiros. Até mesmo a Finlândia está começando a aderir a essa onda, com a ascensão do partido Verdadeiros Finlandeses (True Finns), alinhado à extrema direita e propositor de medidas anti-imi-gração – apesar de eles represen-tarem só 3,5% da população.

Declarações como a da Organi-zação das Nações Unidas deveriam ser mais recorrentes e, de fato, faze-rem diferença – tanto na atitude de governos quanto na de populações. Veremos se parte da Europa conse-gue descobrir o Iluminismo e colo-car a xenofobia na escuridão.

O poder aquisitivo dos brasileiros aumentou e, hoje, o avião já é um meio de trans-porte mais utilizado que o, convencional, ônibus. A afir-mação é um fato confirma-do pela Agência Nacional de Transportes Terrestres, po-rém, a qualidade dos aeropor-tos brasileiros parece não ter acompanhado esse crescimen-to. A infra-estrutura deverá so-frer mudanças devido a Copa do Mundo no país, porém, o início dessas obras está lento. Fora os lugares que ainda não tiveram o início dos projetos.

Na hora de embarcar para qualquer lugar é possível es-cutar diversas pessoas questio-nando que imagem o país terá durante o mundial. A desor-ganização não está apenas nas obras, mas também nos servi-ços prestados nos aeroportos. Cada dia que passa são filas e

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Curitiba, sexta-feira, 20 de maio de 2011

ENTREVISTA

O Brasil é um país escasso de líderes, diz Ratinho Jr.

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Rede Teia: Semana passada, a vereadora Renata Bueno comen-tou alguns aspectos da juventude na política, inclusive disse que está desiludida com a política. Como foi o seu ingresso nessa vida pública?

Ratinho Jr.: Sempre gostei mui-de política e de comunicação. Por influência paterna, cresci dentro de rádio, vendo ele apresentan-do. Isso me puxou, não direta-mente à comunicação ligada ao Jornalismo. Cresci nesse meio e, conforme fui me aprofundan-do, comecei a despertar para a política. Meu avô já gostava de política, apesar de nunca ter sido candidato e nem filiado a parti-do nenhum. Meu pai teve uma passagem pela política, apesar de hoje não querer mais, porque ele escolheu o caminho de comuni-cação e focou nisso, e deu muito certo na área dele. Então acabou despertando essa vontade em mim. E eu acho que a política faz parte do dia-a-dia de todos nós, ela é importante, nosso país é um país que vem fortalecendo sua democracia. E a democracia para ser fortalecida ela tem que haver uma renovação, e essa renovação não precisa ser basicamente de idade. Ela tem que ser uma reno-vação de ideias, de projeto, acima de tudo de caráter.. O Brasil é um país muito escasso de liderança, não tem grandes alternativas. Muitas vezes você é ceifado por um partido, como o Ciro Gomes, que era para ter sido candidato a presidente, um grande candida-to, com grande visibilidade na-cional, conhecimento de nação, e acabou não podendo porque o partido dele acabou fazendo uma composição. Acredito que essa necessidade de renovação acabou de alguma maneira me inspiran-do em entrar na vida pública.

Rede Teia: E sobre a sua popu-laridade: você é líder do PSC (Par-tido Social Cristão) na Câmara e o deputado federal mais votado. O próximo passo é a Prefeitura?

Ratinho Jr.: Não sei dizer se é a Prefeitura. Quando entrei na polí-tica, tinha 21 anos e a honra de ser o deputado estadual mais votado da história no Paraná. Sempre disse que queria fazer uma carrei-

ra política, não entrar na política para fazer um ou dois mandatos, ou apenas pra ficar ali, sendo deputado. Não que isto seja ruim, mas com a meta de crescer, de desenvolver um projeto e poder am-pliar. E isso tem acon-tecido. Apesar de ser jovem e ter uma vota-ção expressiva, existia ainda um preconceito do que ainda poderia fazer. Se eu desempe-nharia um bom tra-balho ou não. Porque essa comparação com o meu pai, uma pessoa nacional, uma figura que vem de uma linha mais popular, no senti-do de que “será que ele está ali só brincando de política ou ele tem re-almente um projeto?”. Essa dúvida de uma parte da sociedade, eu teria que naturalmente enfrentar. Já fui relator da CPI da Copel na Assembleia Legislativa. Investigamos dois bi-lhões e meio de reais de contratos fraudulentos que aconteceram na Copel e, através do nosso relató-rio que foi encaminhado pelo Mi-nistério Público à Justiça, quatro secretários de estado foram parar na cadeia, coisa que nunca uma CPI na história do Paraná tinha conseguido. Também fui relator do pregão eletrônico, que é aqui do Paraná, um projeto que vem pra combater a corrupção nas li-citações públicas. Por fim, fui au-tor da lei que premia policial por arma ilegal apreendida, um proje-to que acabou levando à campa-nha de desarmamento nacional.

Rede Teia: O senhor acre-dita que já superou o nome, di-gamos, de “filho do Ratinho”?

Ratinho Jr.: Temos consegui-do, digamos assim, separar. Eu não vou deixar de ser filho do Ra-tinho nunca. E isso é obviamente o maior orgulho. Mas creio que essa comparação vai existir sem-pre. As pessoas têm conseguido diferenciar isso, e se não tives-sem, eu não teria conseguido crescer em desempenho eleitoral.

Rede Teia: E a sua candidatura à Prefeitura?

Ratinho Jr.: Nós estamos ainda há um ano, um ano e pouco das eleições. Essa questão do meu nome ser ventilado para candi-dato a prefeito é uma grande ale-gria, uma honra, Curitiba é uma cidade muito criteriosa e, quando você aparece numa pesquisa com um desempenho bom isso, é uma maneira de te motivar. Só que não depende só da gente, depende de uma série de fatores, depende de uma composição, que ninguém pode sair candidato a prefeito de uma capital numa aventura. Você precisa de uma coligação boa, um bom tempo na televisão, de uma estrutura que te dê viabi-lidade para fazer uma campanha política, ao menos, igual aos de-mais candidatos. Você precisa de uma chapa de vereadores muito boa, porque são eles que vão le-var teu nome para os bairros, vão fazer todo esse projeto de defesa e de até fazer com que teu nome cresça em regiões que você não entra. Então nós estamos fazen-do um preparativo para isso, tem que ter um bom projeto de cidade.

Rede Teia: No seu mandato de De-putado Estadual foram feitos vários pro-jetos sobre desarmamento. O senhor, inclusive, recebeu um convite pra in-tegrar o Conselho Nacional de Justiça.

Ratinho Jr.: Tem que diferenciar muito o que é o nosso projeto para aquela campanha e que o governo federal fez e agora começou nova-mente a fazer. A entrega voluntá-ria de arma do governo federal, que é pra você que tem uma arma em casa, e por uma questão de consciência achou interessante en-tregar essa arma e se livrar disso. O nosso projeto era o seguinte: cada arma ilegal que o policial apreen-der, a arma que não tem registro, que a pessoa não tem porte, a arma que está com a identificação risca-da, isso é uma arma ilegal, do mer-cado negro, roubada ou de alguma maneira repassada para ele. O po-licial, então, é gratificado por isso.

É uma maneira de motivar essa retirada de arma e automaticamen-te melhorar a renda desse policial, que hoje ganha muito pouco pelo serviço, pela importância, pelo ris-co que tem pra defender a socieda-de. Esse projeto foi premiado pela Unesco e, na época, conseguimos tirar 38 mil armas ilegais em 90

Maria Luiza de PaulaRodolfo May

O Deputado Estadual Ratinho Jr. (PSC-PR) esteve na Universidade Positivo e falou sobre sua história política, a relação com o pai e sobre a possibilidade de concorrer a prefeitura de Curitiba nas eleições de 2012.

dias no Paraná. O que nós fi-zemos, quando o governo quis começar novamente essa cam-panha do desarmamento, foi um projeto-indicação para que o governo criasse um fundo para o programa de combate às armas ilegais. Como os Es-tados têm uma dificuldade fi-nanceira muito grande de ban-car um projeto desse, por que ele tem que tirar dinheiro da caixa para premiar os policiais, a ideia é o Ministério da Justiça arcar com esse dinheiro. Então fazer uma parceria com os se-cretários de Segurança e uma tabela de arma apreendida por calibre. Porque um AR-15 custa 50 mil dólares no mercado, en-tão não justifica você paga 300 reais. Então a ideia é você pa-gar por calibre essa premiação, e você não paga o policial, você

paga o coletivo. Porque uma batida policial ela acontece com 3 ou 4 homens ou quando mais homens estão numa blitz, enfim, ou então numa opera-ção. Então a ideia é você pagar o coletivo, porque o coletivo ajudou todo esse montante.

Miguel Basso Locatelli

O Deputado Ratinho Jr. (PSC -PR) afirma depender de uma boa coligação para concorrer à prefeitura da capital

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Curitiba, terça-feira, 20 de maio de 2011 4

Nesta quinta-feira (19) foi publicado através do Diário Ofi-cial da União o edital do ENEM, contendo as regras para a edição de 2011 do processo seletivo. As provas estão mar-cadas para os dias 22 e 23 de outubro. As inscrições, que só poderão ser feitas pela internet, começaram na segunda-feira dia 23 de maio e vão até 10 de junho.

As datas foram anunciadas na quarta-feira (18) pela presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

Teixeira (Inep), Malvina Tuttman. De acordo com ela, o ENEM a partir de 2012 terá duas edições. O objetivo disto, segundo

Malvina, é dar aos estudantes mais oportunidades, inclusive em programas como ProUni e Fies.

Edital do ENEM divulgado Aumento nos alimentosColaboração:

Maria Luiza de Paula e Giuliana Andreatta.

ESPECIAL

Aparentavam ser todas ami-gas. Talvez amigas de infância. Pertenciam à mesma faixa etária (12 a 16 anos), vestiam-se de ma-neira semelhante - quiçá corres-pondente a alguma tribo urbana -, e estavam ali com um objetivo comum: assistir ao show da ban-da paulistana December.

A banda, que tem pouco mais de um ano de existência, talvez fosse jovem demais para pensar em estrelismos: encontrava-se reunida ao lado da casa onde logo se apresentaria, facilitan-do a comunicação com os fãs – para a histeria das meninas. As horas precedentes ao show foram recheadas de fotografias, autógrafos, declarações tímidas, conversas emocionadas e outras “tietagens”.

“Não acredito que os conheci pessoalmente”, exclamava Ana, de 16 anos, indicando os músicos com olhos incrédulos e apertan-do com força a mão desta repór-ter.

Era este o cenário do entorno do Hangar Bar, no Largo da Or-dem, naquela tarde de domingo. Acontecia, no centro histórico, uma festividade carnavalesca precedente ao carnaval. Um trio elétrico enérgico e animado trafe-gava pelos calçadões de paralele-pípedos e estacionava periodica-mente para recuperar o fôlego.

A festa é tradicional na cidade, e as redondezas abrigavam uma multidão generosa de pessoas. Era dia de folia gratuita e a céu aberto em Curitiba. Porém, para os fãs, somente o show assumia cargo de ocorrência respeitável e até mesmo relevante. Nada mais tinha importância.

A December aglomerava, aos poucos, uma quantidade nada humilde de fãs. Na medida em que eles chegavam, agrupavam-

se em rodas de conversa. Juntos, contemplavam a banda, tiravam fotografias uns dos outros e uns com os outros, abraçavam-se e até presenteavam-se como po-diam – com uma pulseira colori-da, um recadinho carinhoso redi-gido rapidamente numa folha de papel ou uma “tatuagem” escrita na pele à caneta. Pareciam, sim, serem todos amigos. Amigos de muito tempo. Entretanto, acaba-vam de se conhecer.

Outros conjuntos se apresenta-vam, em sequencia, no Hangar Bar. Mas este público, especifica-mente, permanecia em confrater-nização do lado de fora da casa.

A psicóloga Carine Eleutério es-clarece que a adolescência é a fase na qual mais ocorre a formação de grupos de amigos. O critério de seleção é pueril: identificação. “O objeto de desejo desses gru-pos costuma ser, entre outros, o ídolo. E assim eles se tornam fãs”, comenta Carine.

Já dentro do bar, as amizades pareciam consolidadas. Quem analisasse com um olhar leigo, não saberia dizer o quão efêmera eram no momento. Os fãs, que haviam acabado de compartilhar a atenção da banda, agora troca-vam histórias e conheciam-se me-lhor. Ana tinha feito novos ami-gos, que possivelmente durariam até o término do esperado espetá-culo, que não tardaria a começar.

AssédioO roqueiro Eliton Przybysz

(pronuncia-se “Pchêbs”) é gui-tarrista da banda Rock’n Roses, que faz cover da histórica Guns’n Roses. Ele sonha em ser um astro do rock. Embora ainda não tenha ascendido às escadarias da alme-jada fama, já sente o gostinho do assédio das fãs – e adora.

Há três anos, quando Przybysz, que atende pelo nome artístico “Trix”, deixava o palco após um show com sua banda em Parana-

guá, foi surpreendido por uma garota que corria em sua direção e pulou nele para beijá-lo, der-rubando-o no chão. Sem dizer nada, a moça o levou a um dos banheiros do local onde, após al-guns minutos de “amasso”, disse que o irmão a esperava do lado de fora do salão e “mataria” o guitarrista se flagrasse a situação. “Ela me contou que estava indo morar em outro país e que, como tinha me achado ‘gatinho’, se deu ao direito de ser impulsiva. E foi embora”.

O mesmo aconteceu com o DJ Fabio Nascimento - nas festas conhecido como Fabio Ene. Há cerca de seis anos, quando co-mandava as picapes na antiga casa noturna Moohai, foi derru-bado por uma garota que se dizia apaixonada por ele. “A Monica pulou em mim dizendo que me desejava. Nós nos conhecemos melhor e até namoramos por um tempo”.

Nascimento atua como DJ há 16 anos, e expõe que não se acostuma com o assédio das fãs. “É sempre inesperado, elas me pegam de surpresa e tenho que saber fugir da situação”. Ele con-ta que esse tipo de coisa acontece bem frequentemente, e não gos-

ta. “É desagradável. Sobretudo para mim, que sou casado”.

A surpresa diante do assédio é também recorrente para o bate-rista da December, Gustavo Paes. “As meninas vêm conversar co-migo e querem me abraçar, tirar fotos, pedir autógrafos. Eu sou tímido, e às vezes fico um pouco assustado”.

Denominações

O Dicionário Michaelis descre-ve o fã como uma pessoa que tem muita admiração por alguém. Mas há pessoas que são mais que apenas fãs: as tietes e as groupies. Ainda que o Michaelis defenda as tietes também como simples ad-miradoras, elas são vistas como fãs que demonstram um compor-tamento exagerado.

As groupies, segundo a mesma fonte, são “fãs ou tietes de conjun-to de rock que seguem o grupo em suas excursões”. Porém, há músicos que pensam diferente-mente. Na concepção de Eliton Przybysz, elas têm a clara inten-ção de se relacionar com os inte-grantes da banda. “Muitas vezes elas só buscam envolvimento se-xual. Mas existem também grou-pies que querem fazer amizade,

para serem vistas como amigas dos caras da banda”, esclarece o guitarrista.

O longa-metragem “Quase Fa-mosos”, dirigido por Cameron Crowe (o mesmo diretor de Va-nilla Sky), retrata o rock setentista contando a história de uma ban-da que é seguida por um grupo de groupies em uma turnê. São garotas que já fizeram amizade com os integrantes e relacionam-se com eles. A principal delas, Penny Lane – que deixa a enten-der que mantém relações sexuais com todos os integrantes – tem preferência pelo guitarrista, pelo qual é apaixonada. Todas elas são grandes fãs do grupo e di-zem-se as maiores.

O show

December adentrou o palco da casa do Largo da Ordem e cada integrante se pôs em seu lugar. Com algumas batidas de baque-tas, Paes anunciou o início da primeira canção. Ligeiramente a pista, que não estava cheia nos shows anteriores, compôs uma paisagem de empurra-empurra; de jogo cujo objetivo era manter a maior proximidade possível com o palco.

Daniella Féder

O fã Guilherme Henrique Carvalho titula o gênero mu-sical da banda December de “post hardcore”. Paes corrige: “Nos baseamos em bandas de post hardcore, mas nosso estilo é um pouco diferente.

Ainda não conheci uma banda que siga uma linha parecida com a nossa”.

Na definição da fotógrafa e produtora de bandas Camila Gama, post hardcore é uma mistura de hardcore melódico

com heavy metal. “São músi-cas bem trabalhadas e cheias de efeitos sonoros, com letras pessoais que costumam ser românticas ou de protesto. O vocal pesado, berrado, mistu-ra-se com a voz melódica”.

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De olho no palco

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Curitiba, sexta-feira, 20 de maio de 2011

O edital não prevê a possibilidade de revisão das redações pelos estudantes, porém Tuttman afirma que a questão ainda está sendo

discutida com o Ministério Público. Ela considera uma causa justa de reivindicar, mas caso isto fosse feito as notas demorariam muito para

serem publicadas, podendo atrapalhar o calendário das instituições de Ensino Superior que utilizam o exame no processo seletivo.

Gastos com habitaçãoDesde a reformulação do Exame Nacional do Ensino Médio, problemas graves ocorreram com as provas. Em 2009, as provas foram roubadas e o conteúdo di-vulgado antes de sua realização. Na segunda edição, em 2010, ocorreram erros de impressão o que prejudicou os processos de seleção que dependiam da nota da prova. Por enquanto a Universidade Federal do Paraná (UFPR) não divulgou nada a respeito da utilização do ENEM em seu processo seletivo de 2011.

Educação

Ana, que no início da apresenta-ção ocupava um lugar vantajoso no mezanino, com espaço de sobra e bancos para sentar, logo preferiu se aventurar na pista, onde o metro quadrado estava bastante concor-rido. Arrastou algumas novas ami-gas consigo e sumiu na multidão.

No palco, o vocalista Leonardo Leal, nomeado Coloral e assim co-nhecido pelas fãs, tietes e groupies, tinha as pernas assiduamente ali-sadas pelas mãos de meia-dúzia de meninas. As garotas que não ocu-pavam posições tão privilegiadas gritavam pelos seus integrantes fa-voritos, levantando as mãos como que para serem vistas do palco. Muitas cantarolavam as músicas acompanhando, as letras.

Após o término da apresenta-ção, os integrantes dirigiram-se ao camarim. Era hora de guardar os instrumentos, receber o cachê e es-perar a van que os levaria de volta a São Paulo. Mas, para os fãs, era o última oportunidade de tieta-gem. Amontoaram-se na porta, na esperança de conseguir entrar. Es-tavam encarregados de bloquear a passagem um segurança do bar e o produtor da banda, Augusto Guimarães.

“O baterista prometeu que daria duas de suas baquetas para mim e para a minha amiga. Ela é do fã-

clube da December!” - justificava Marcela Karoline, de 15 anos.

“Eu só quero um autógrafo” - implorava uma tiete ao segurança.

“Daqui a pouquinho eles saem”, respondia, simpaticamente, Gui-marães.

“Quero entrar só para tirar uma foto, juro que não vou incomodar” - uma garota dizia.

“Eles estão trocando de roupa ago-ra, você terá que esperar” – simpati-zou novamente.

“Preciso falar com eles uma última vez, antes que meu pai chegue para me buscar” – suplicava outra meni-na.

-É sempre assim após os shows?-Você não viu nada... Aqui tem

pouca gente – suspirou o produtor, grudado à porta.

Não demorou muito para a banda sair do camarim e dar atenção ao pú-blico novamente. O sufoco da entrada do recinto era menor, pois alguns fãs tinham ido embora. Parecia que Gui-marães respirava com mais calma.

Grande parte do público que con-seguiu o que queria, retirou-se do local. Porém, outra pequena parte fez companhia à banda até que a van chegasse para levá-la em-bora. Quando eles partiam, não houve choradeira ou despedi-das emocionadas. O espetáculo tinha chegado ao fim.

Sem limites

Ilustração: Rafaela Okada

Trix com sua guitarra batizada de Natasha, em homenagem à vodca. “No dia em que comprei a guitarra, bebi um litro da vodca Natasha pra comemorar”.

a acompanhar alguns ritu-ais que, conforme o músico, eram característicos da li-nha que seguia do anticris-tianismo. Ah, mas ela não levava a sério. Para provar que a religião era séria e exibir-se para a moça, ele cometia atos violentos. Ca-rol narra um deles: “Certa vez, em um show que as-sistíamos juntos, um ho-mem me paquerou e teve a orelha arrancada por ele. Morri de medo e não voltei mais a vê-lo”.

Hoje, aos vinte anos, ela não tem vergonha de dizer que os dois anos que pas-sou sendo groupie foram a melhor época de sua vida. Mas confessa que, embora nunca tenha acordado ar-rependida, só se sujeitou a toda essa aventura porque era muito nova. “Ainda não tinha muita consciên-

cia das coisas, e acho que era por isso que gostava tan-to”.

*Carol é um nome fictício.

A personagem preferiu não se

identificar.

pios. “Normalmente nós di-vidíamos a banda e cada uma ficava com dois dos integran-tes. Muitas vezes ficávamos com o mesmo cara, mas nun-ca ao mesmo tempo. Era mui-to divertido”.

Mas nem tudo eram flores. Carol participou de um con-curso para ser capa de CD de uma banda que não conhecia muito bem. A regra era en-viar um ensaio de fotos sen-suais para o e-mail do grupo. Ela tirou algumas fotos ama-doras em casa e oficializou sua participação. Um dos integrantes gostou tanto das fotografias da garota que re-produziu duas delas em for-ma de tatuagem em seu cor-po. Carol ficou encantada e foi até a cidade do rapaz para conhecê-lo. Mas ele seguia uma religião agressiva: era, segundo dizia, adorador do diabo. A menina chegou até

Crol* Carol nunca teve a intenção de ser groupie, mas foi o que aconteceu. “Nunca foi uma coisa pensada. Eu só tinha aquela vontade de estar per-to das bandas”. Aos quinze anos, foi seduzida pelo mun-do dos conjuntos de rock e pela maneira como se diver-tiam. “Comecei a me envol-ver com um roqueiro, depois outro e mais outro... Quan-do percebi, só estava saindo com integrantes de bandas”. Para ela, os músicos eram mais interessantes que os outros rapazes: eram mais li-berais e, por onde passavam, tinham o dom de se tornar o centro das atenções.

Ela se tornou conhecida entre eles. Afinal, era figu-rinha carimbada nos shows. Já não pagava para entrar, embriagava-se sem gas-tar nada, acompanhava os ensaios, as bebedeiras e as festas particulares. Estas, regadas a muita droga e sempre enfeitadas por mulheres bonitas, pro-vavelmente escolhidas a dedo pelos anfitriões. No universo do rock, o clima da diversão era temperamental: não havia pudor e reinava a regra do “ninguém é de ninguém”.

A melhor amiga nunca a deixava sozinha. Era uma parceira fiel e que compartilhava dos mesmos interes-ses. As duas se entretiam jun-tas e não fa-ziam ques-tão de pr incí -

Foto: Tay Pilati 5

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Curitiba, terça-feira, 20 de maio de 2011

Agora os direitos estão iguais para mais uma

parte da população

DSK e SVU

No último dia cinco de maio, o Supremo Tri-bunal Federal (STF) re-conheceu a união estável entre homossexuais. Ga-rantindo com que pessoas do mesmo sexo, que re-solvam constituir família, sejam amparadas judicial-mente pelas mesmas leis dos casais heterossexu-ais. Dando direitos iguais àqueles que antes, tam-bém aos olhos da lei, eram considerados diferentes.

A decisão do gover-no foi sem duvida impor-tante. Mas o que realmen-te importa é saber se tal medida irá acabar com o preconceito ainda vigente na sociedade. Podem di-zer que não há mais esse tipo de comportamen-to por aqui. Que o Brasil é um país de gente com mente aberta e pensamen-to moderno. Mas não se pode negar que isso se trata apenas quando al-guém é questionado sobre sua posição em relação ao assunto. Como em uma entrevista por exemplo.

Claro que nem to-dos são intolerantes. Mas infelizmente a intolerân-cia, e também a ignorân-cia, muitas vezes falam mais alto que a razão. Se não vejamos, por qual outro motivo ocorrem os espancamentos e as-sassinatos frequentes de homossexuais? É bonito

“No sistema judiciário criminal, crimes de caráter sexual são consi-derados especialmente hediondos. Na cidade de Nova Iorque, os de-dicados detetives que investigam esses terríveis delitos são membros de um esquadrão de elite, conheci-do como a Unidade de Vítimas Es-peciais. Estas são suas histórias.”

É assim que começam os episó-dios do seriado Law & Order: Spe-cial Victims Unit. Iniciado em 1999, o seriado é tão adorado nos Estados Unidos que já está na sua décima terceira temporada e ainda mantém altos índices de audiência. O enredo gira em torno das histórias dos dete-tives Stabler e Benson, que batalham contra crimes de natureza sexual na cidade de Nova York. Estupros e abusos sexuais seguidos de assassi-nato são temas recorrentes no seria-do. No último sábado, dia quatorze, aconteceu algo digno de estrelar um season finale de Law & Order.

O diretor-gerente do FMI (Fun-do Monetário Internacional), ex-ministro da Economia da França e pré-candidato à presidência do país, Dominique Strauss-Kahn estava hospedado em um hotel em Nova Iorque. Líder nas pesquisas de inten-ção de voto, ele era tido como candi-dato certo do Partido Socialista fran-cês para as eleições do ano que vem.

Na tarde seguinte, ele foi até o aeroporto John F. Kennedy para em-barcar num avião da Air France e voar em direção a Paris, já que ele ti-nha uma reunião com a chanceler da Alemanha, Angela Merkel. Strauss-

Nacional Internacional

Humberto Frasson Thomas Mayer Rieger

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@beto_frasson

Cursa o 5ºperíodo da noite.

@tthms

Cursa o 5º período da manhã.

para alguém falar que não é contra a união homos-sexual, mas com certe-za esse mesmo alguém é que vira a cara e fala mal quando vê um casal do mesmo sexo andando de mãos dadas no shopping.

Por outro lado, e respaldado por um livro antigo, há a igreja. Esta afirma não ser correto duas pessoas do mesmo sexo formarem uma famí-lia. Dizem que isso não é família. Mas se analisar-mos as ruas das nossas capitais veremos algu-mas famílias abandona-rem seus filhos à sorte do mundo. Isso é família? O pai que abusa da filha e a mãe que fecha os olhos para isto é uma família? O que falta para o Brasil não é alguém definir o que é família, mas sim cobrar destas uma postura corre-ta ao criarem seus filhos. Independente do sexo dos patriarcas ou matriarcas.

Nessas breves li-nhas não tento defender o que é certo ou o que é errado. Não cabe a mim tal tarefa. E creio que a mais ninguém que pensa ter o poder do julgamen-to. Cabe a nós escolher o que vamos fazer de nos-sas vidas. E também nos cabe aceitar o que cada um quer da sua. O respei-to é a melhor forma para se formar uma família.

Kahn estava acomodado na primei-ra classe da aeronave e faltavam apenas dois minutos para decolar.

Nesse momento, as polícias de Nova York e New Jersey entra-ram no avião e o retiraram dali, sob uma grave acusação: abuso sexual. A vítima teria sido uma camareira do hotel em que ele es-tava hospedado. Imigrante africa-na, 32 anos, viúva e muçulmana.

Depois disso, ele renunciou a seu cargo no FMI, sua popularidade caiu imediatamente e criou-se um escân-dalo de proporções mundiais. Proibi-do de deixar os Estados Unidos, DSK vem tentando provar sua inocência desde então. Caso considerado cul-pado, ele pode pegar até setenta anos de prisão nos Estados Unidos.

Daria um belo de um episódio. Um vilão rico, famoso, poderoso e importante atacando uma vítima imigrante, negra e pobre, o retra-to da “margem da sociedade”. Não há relação antagônica televisiva mais atrativa. A reação do público seria uma natural aversão ao vilão. Todos esperariam por um “desfe-cho justo”. E por justo quero dizer “que o vilão se dê mal no final”.

Se há alguém que deve ter se tornado um assíduo espectador des-se episódio, esse alguém se chama Nicolas Sarkozy. Antes dono dos maiores índices de rejeição que um presidente já tivera na França, ele vê, um ano antes das eleições, seu grande opositor entrar em franca de-cadência. Fica uma pergunta: quem está sentado na cadeira de diretor?

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Curitiba, sexta-feira, 20 de maio de 2011 7

PERFIL

Tristeza e vida após o AAA recuperação financeira e parcial da vida afetiva de quem reconheceu a própria doença após anos de vício

“Mas esse pururuca não fica bom mesmo, hein! Não é assim que tem que fazer!”, é a única lembrança que o pequeno Luiz tem do avô, reminiscência do natal de 2003. A ocasião foi a última data religiosa em que o Vô Ângelo teve a família reu-nida por perto. Luiz era uma criança de quatro anos naquele dia, véspera do início do perío-do em que o patriarca perdeu contato com os parentes.

Ângelo é figura que não se esquece. Alto, encorpado, ca-reca e de voz grossa italiana, marca presença com o andar firme de quem, mesmo aos 70 anos, não perdeu o ar de forte e vencedor. Carrega no olhar, porém, fragilidades e espírito dócil: características que dei-xou transparecer apenas de-pois de a terceira idade chegar.

“Sabe, garoto, você é jo-vem, tem o futuro nas mãos. Pense muito bem no que faz às pessoas de quem você gosta. Estou falando de quem real-mente importa para você. Ja-mais se esqueça disso”, diz ao repórter, sentado na poltrona de couro enquanto admira a vista do apartamento no Ahú, em Curitiba.

Da infância pobre na Moca, em São Paulo, o meni-no Ângelo teve de abandonar a escola aos 11 anos de idade, para trabalhar como engraxate na região dos Jardins. Inteli-gência e competência, porém, foram aspectos que jamais fal-taram na vida dele, que aos 14 foi admitido como contínuo na Shell, gigante petrolífera que àquela época abria postos e explorava o setor de com-bustíveis em todas as regiões do Brasil.

Pouco depois da maio-ridade, chegou a gerente ad-ministrativo de um centro de distribuição, cargo que lhe concedeu aval para trabalhar em várias capitais do Brasil. De cargo em cargo, o salário ia aumentando, assim como a sensação de domínio e pos-

se sobre coisas bichos, terras, objetos e pessoas, como sua esposa, Miriam.

Os dois se conheceram quando o ele, ainda moço, aos 22, fixou residência novamente em São Paulo, cidade em que também comprou uma casa para seu pai. A menina era mais velha, pertencia a uma fa-mília da aristocracia decaden-te, mas que mantinha o costu-me milenar de “casar bem” as suas filhas. “Eu era um bom partido, ganhei rapidamente a simpatia do meu sogro e a minha sogra me achava inte-ligente. Pedi a mão e casamos depois de um mês”, lembra.

“Eu era um bom partido, ganhei rapidamente a simpatia do meu sogro e a minha sogra me achava inteligente. Pedi a mão e casamos depois de um mês”, lembra. A união foi está-vel nos dois primeiros anos, até que o pai da incipiente família - que agora já duas crianças – começou a não mais esconder o seu gosto pela bebida. “Certa vez, cheguei bêbado do traba-lho, e não gostei de uma estan-te que a Miriam havia compra-do com o dinheiro que dei para ela. Estava tudo decorado, com porta-retratos, castiçais e ele-fantes com as costas para por-ta. Derrubei no chão a patifaria toda. Fiquei satisfeito”, relata.

Já Miriam sentiu desgosto não apenas pela perda do novo móvel, mas porque seu fêmur foi quebrado quando uma pesada tábua maciça de im-buia se des-prendeu na hora da que-da e a atingiu. Maria, a filha mais velha do casal, assistiu a tudo e per-maneceu por uma semana sem chegar perto do pai.

A primogênita ainda hoje guarda na memória o fato e acredita que foi apenas um presságio do que a vida da fa-

mília se tornaria. “Eu percebi naquele mo-

mento o que o peso que o meu pai significaria em nossas cos-tas durante vinte anos”, ressal-ta Maria. O pai costumava ba-ter na esposa, bater nos filhos e bater também o carro, mas isso por muito tempo não foi empe-cilho em relação ao seu gran-dioso emprego na petrolífera. Bem remunerado, Ângelo sem-pre foi a base financeira da fa-mília e acreditava que, devido a isso, era o pai que qualquer um pediu a Deus.

A rotina foi repetida até que Maria e o irmão dois anos mais novo – Ângelo Filho, atingis-sem a maioridade. Emprega-dos, motorizados e enamora-dos, ambos saíram de casa sem se despedir do pai. Ela sete meses antes dele. Nessa data, quando Ângelo chegou do bar, percebeu a perda sozinho, já que Miriam não lhe dirigia a palavra a meses.

O óbvio divórcio foi buro-crático ao extremo, até que Mi-riam ganhou a causa, a condi-ção de solteira e a pensão de 35 % sobre a renda de Ângelo to-dos os meses. “Aí eu comecei a perceber a minha derrota. De certa forma, não mudei muito o meu panorama frente à famí-lia: continuei pagando. Conti-nuei sem ser pai”, sintetiza.

Não mais tão jovem e sau-dável, o agora senhor Ângelo já sentia os sintomas da idade,

q u a n d o perdeu o e m p r e -go, eterna fonte de o r g u l h o . “Justa cau-sa, depois de 25 anos servindo, dói no ser humano”, r e s u m e . Como dis-se “perdeu

definitivamente para o copo que segurou por tantos anos, e que tantas vezes se voltou con-tra quem apenas queria dar carinho”.

Sem emprego, morando em pensões, aposentado pelo INSS sem grandes privilé-gios, e ainda doente – física e mentalmente- aos 68, Ângelo começa a freqüentar as reuni-ões do Alcoólicos Anônimos. Depois da primeira reunião, nunca mais quis voltar. Passei mais um ano bebebdo, perden-do mais dinheiro e saúde.

Os filhos casavam, os ne-tos nasciam e Ângelo não os conhecia. Certa vez, ligou na casa de Maria para avisar que iria à casa dela conhecer a neta. “Meu genro não me deixou en-trar na casa. Minha filha não estava. Eu devia estar com há-lito etílico”, conta.

Voltou ao AA decidido se curar. Difícil, a recuperação por este método é dividida em etapas, pelas quais Ânge-lo demorou sempre um ano a mais do que o esperado. A primeira delas é o alcoólatra admitir que é doente. “E como eu ia me convencer disso antes ? Eu sempre fui tão sadio, tão esbelto, tão forte. Fiquei velho, sem dinheiro e comecei a olhar para dentro”, diz.

No decorrer das ativida-des, Ângelo conheceu Wanda,

que já estava em estágio mais avençado que o seu de cura. “Ah, ela já era uma bêbada mais consciente. Quase não bebia mais!”, destaca, aos ri-sos. A identificação entre os dois foi instantânea e eles na-moraram três anos. Casaram-se apenas no civil, Ângelo convidou a antiga família toda, mas apenas o Angeli-nho compareceu. “Os outros nem lembraram, ou, quan-do receberam o convite, não abriram”, disse.

Wanda é pessoa carente, perdeu dois filhos e caiu na bebida. Reergueu-se e au-xiliou Ângelo a deixar de beber, fumar e comer mal. “Ela cozinha muito! Quase igual ao que minha mãe fa-zia quando eu era criança”, exclama.

Tesoureiro do AA, Ânge-lo não conseguiu, porém, a reaproximação com os filhos. O menino Luiz em 2010 con-vidou o avô para a sua festa de aniversário. Foi repreen-dido por todos da família. “Parece que não sentem falta. Também pudera, pois como alguém tem saudades de um pai que jamais teve?”, finaliza.

“De certa forma, não mudei muito o meu panorama frente à

família: continuei pa-gando. Continuei sem ser pai”, diz Ângelo.

Daniel D’Alessandro

Ângelo hoje contribui na recuperação de alcoólatras

Arquivo Pessoal

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Curitiba, terça-feira, 20 de maio de 2011

FOTOGRAFIA

Domingo é, para muitas famí-lias, o dia de levar as crianças ao zoológico. O ensaio fotográfico de William Bressan, estudante de 5° período da manhã é uma visão intimista desse momento. ”Tenho um irmão de cinco aninhos. Ano passado, em uma das visitas dele a Curitiba, decidimos levá-lo ao zoológico, já que ele adora bichos. A minha intenção fotográfica era distinta, afinal, registrar animais é clichê em um lugar como esse. Pensei, então, em focar no registro das outras famílias diante desse momento“, diz Bressan.

O uso ostensivo das cores é também uma marca do fotógrafo. “Adoro cores, para mim elas são um grande chamariz nas fotogra-fias. Por isso, escolhi esse conjun-to”, completa.

DOMINGO:CORES E FAMÍLIASWILLIAM BRESSAN

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