[livro ufsc] estudos linguisticos i

106
Estudos Lingüísticos I Ronaldo Lima Ana Cláudia de Souza Florianópolis, 2008. Período

Upload: luiz-leandro-gomes-de-lima

Post on 22-Dec-2015

104 views

Category:

Documents


8 download

DESCRIPTION

Estudos Linguisticos I

TRANSCRIPT

Page 1: [Livro UFSC] Estudos Linguisticos I

Estudos Lingüísticos IRonaldo Lima

Ana Cláudia de Souza

Florianópolis, 2008.

2° Período

Page 2: [Livro UFSC] Estudos Linguisticos I
Page 3: [Livro UFSC] Estudos Linguisticos I

Governo Federal

Presidente da República: Luiz Inácio Lula da SilvaMinistro de Educação: Fernando HaddadSecretário de Ensino a Distância: Carlos Eduardo BielschowkyCoordenador Nacional da Universidade Aberta do Brasil: Celso Costa

Universidade Federal de Santa Catarina

Reitor: Alvaro Toubes PrataVice-reitor: Carlos Alberto Justo da Silva

Secretário de Educação a Distância: Cícero BarbosaPró-reitora de Ensino de Graduação: Yara Maria Rauh Muller

Departamento de Educação a Distância: Araci Hack CatapanPró-reitora de Pesquisa e Extensão: Débora Peres MenezesPró-reitor de Pós-Graduação: José Roberto O’SheaPró-reitor de Desenvolvimento Humano e Social: Luiz Henrique

Vieira da SilvaPró-reitor de Infra-Estrutura: João Batista FurtuosoPró-reitor de Assuntos Estudantis: Cláudio José AmanteCentro de Ciências da Educação: Carlos Alberto Marques

Curso de Licenciatura em Letras-Espanhol na Modalidade a Distância

Diretora Unidade de Ensino: Viviane HeberleChefe do Departamento: Rosana Denise KoerichCoordenador de Curso: Maria José Damiani CostaCoordenador de Tutoria: Vera Regina de A. VieiraCoordenação Pedagógica: LANTEC/CEDCoordenação de Ambiente Virtual: Hiperlab/CCE

Projeto Gráfico

Coordenação: Luiz Salomão Ribas GomezEquipe: Gabriela Medved Vieira Pricila Cristina da SilvaAdaptação: Laura Martins Rodrigues

Page 4: [Livro UFSC] Estudos Linguisticos I

Equipe de Desenvolvimento de Materiais

Laboratório de Novas Tecnologias - LANTEC/CED

Coordenação Geral: Andrea LapaCoordenação Pedagógica: Roseli Zen Cerny

Material Impresso e Hipermídia

Coordenação: Thiago Rocha OliveiraRevisão: Laura Martins RodriguesDiagramação: Marcela Goerll, Rafael de Queiroz OliveiraIlustrações: Felipe Oliveira Gall, Bruno NucciRevisão gramatical: Rosangela Santos de Souza

Design Instrucional

Coordenação: Isabella Benfica BarbosaDesigner Instrucional: Felipe Vieira Pacheco

Copyright@2008, Universidade Federal de Santa CatarinaNenhuma parte deste material poderá ser reproduzida, transmitida e gravada sem a prévia autorização, por escrito, da Universidade Federal de Santa Catarina.

Ficha catalográfica

Catalogação na fonte elaborada na DECTI da Biblioteca da UFSC

L7329eLima, Ronaldo

Estudos Linguísticos I / Ana Cláudia de Souza, Ronaldo Lima. - Florianópolis : LLE/CCE/UFSC, 2008.

106 p.ISBN 978-85-61483-09-8

1. Linguística. 2. Língua portuguesa. I. Souza, Ana Cláudia de.

II. Título.

CDU 801

Page 5: [Livro UFSC] Estudos Linguisticos I

Sumário

Apresentação ................................................... 7

Unidade A: A Ciência Lingüística .................. 9

Introdução ............................................................................11

1 Explorando Saberes Científicos .......................................131.1 A Ciência .................................................................................................13

2 As Subáreas da Lingüística ...............................................172.1 A Lingüística: introdução ..................................................................172.2 Fonética ..................................................................................................202.3 Fonologia ...............................................................................................232.4 Morfologia .............................................................................................252.5 Sintaxe .....................................................................................................282.6 Semântica ..............................................................................................31

Algumas Considerações Finais ...........................................35

Unidade B: A Fonética e a Fonologia ......... 37

Palavras Preliminares ..........................................................39

3 A Linguagem e sua Dupla Articulação ............................433.1 A Dupla Articulação da Linguagem .............................................433.2 Retomando Algumas Informações Importantes .....................45

4 A Fonética .........................................................................474.1 O Aparelho Fonador ...........................................................................484.2 Sons Vocálicos e Consonantais.......................................................49

5 A Fonologia .......................................................................615.1 A Análise Fonológica ..........................................................................63

Considerações Finais a Respeito de Fonética e Fonologia .......................................................72

Page 6: [Livro UFSC] Estudos Linguisticos I

Unidade C: O Texto e a Leitura .................... 75

Uma breve conversa... ..........................................................77

6 A Leitura ............................................................................796.1 Leitura: o que é e como se desenvolve .......................................796.2 Monitoramento em Leitura .............................................................84

Aprendendo a Ler e a Escrever: comentários finais ...........98

Reflexões Finais ............................................101

Referências ...................................................103

Page 7: [Livro UFSC] Estudos Linguisticos I

ApresentaçãoPrezado estudante:

A disciplina de Estudos Lingüísticos I é efetivamente uma continuidade da

disciplina Introdução aos Estudos da Linguagem, cujo objetivo foi propor o

desenvolvimento de noções a respeito de língua e linguagem, visando agu-

çar seu olhar à caracterização da linguagem humana, bem como à percep-

ção e ao reconhecimento de sua complexidade como objeto de estudo.

Na presente disciplina, você vai ter a oportunidade de se aproximar de ou-

tros aspectos teóricos relativos à língua e à linguagem. Você poderá ob-

servar e refletir a respeito da importância das descrições dos fenômenos

lingüísticos para o estudo das línguas estrangeiras e, também, para melhor

compreensão de nossa língua materna, o português brasileiro.

Ao longo deste curso, insistiremos sobre a importância das pesquisas cientí-

ficas, sobre o papel do pesquisador e, sobretudo, sobre a postura crítica que

você, como estudante, poderá assumir de modo a aperfeiçoar seus estudos.

A disciplina está organizada em três unidades:

Na primeira, apresentamos uma introdução ampla na qual discu-•timos questões relativas às concepções de linguagem e língua;

ciência; lingüística geral e suas subáreas específicas, ressaltando o

papel reflexivo, questionador e crítico que você deve exercer como

estudante e pesquisador.

Na segunda unidade, serão abordados aspectos peculiares à Foné-•tica e à Fonologia. Para tanto, serão evidenciadas questões que lhe

permitirão ampliar seu olhar crítico sobre os principais tópicos tra-

tados por estes dois ramos dos estudos lingüísticos.

Na terceira, por fim, serão tratadas questões referentes ao proces-•samento em leitura e aos processos cognitivos implicados nesta

atividade. Você será convidado a refletir sobre uma das principais

questões que se coloca em Educação, ou seja: a emergência e o de-

senvolvimento do letramento em leitura. Como você bem sabe, o

texto é o elemento de base para o processo de aprendizagem, prin-

Page 8: [Livro UFSC] Estudos Linguisticos I

cipalmente no contexto da educação formal. Assim, saber sobre

leitura, sobre texto, é de suma importância à sua formação como

leitor e, mais ainda, como estudante de Letras.

Em resumo, esperamos que você possa se apropriar dos temas tratados nesta

disciplina e, de modo mais amplo, aproveite efetivamente os suportes gerais do

curso, para que se torne, cada vez mais, um conhecedor da área de Letras.

Professores Ronaldo e Ana Cláudia

Page 9: [Livro UFSC] Estudos Linguisticos I

Unidade AA Ciência Lingüística

Page 10: [Livro UFSC] Estudos Linguisticos I
Page 11: [Livro UFSC] Estudos Linguisticos I

11

Introdução

Prezadoestudante,nestadisciplinavamostratardequestõesenvol-vendoobjetosdeestudocomplexos,asaber:linguagemelíngua.Observequegrandepartedostemasqueserãoevocadosjáfoimencionadaoudis-cutidanadisciplinaIntrodução aos Estudos da Linguagem.Éinteressante,sepossível,quevocêrelacioneostemasabordadosnasduasdisciplinas.

Poisbem,linguagemelínguasão,ambas,noçõesemconstantein-vestigação,istoé,nãoháestudosconclusivossobreestesfenômenoslin-güísticos;elescontinuamsempresendoexaminados.Todavia,comovocêjápôdeconstatar,hámuitasdescriçõesimportantíssimasrealizadascombaseemteoriascientíficasquenospermitemformarumaidéiasobreosprocessosimplicadosnalinguagemhumanae,particularmente,nofun-cionamentodaslínguasespecíficas,comoéocasodalínguaespanholaedalínguaportuguesaque,particularmente,aquinosinteressam.

Por vezes, vocêpoderá ter a sensaçãodeque é difícil apreendertodasasinformaçõespropostaspelaLingüísticae,maisainda,pelasCi-ênciasafins,queseinteressam,soboutrasóticas,pelosmesmosobjetosdeestudo.Tranqüilize-se,pois,naverdade,nemmesmoosrenomadospesquisadoresconhecemtodasasteoriaseosaspectosporelastratados.Todavia,éperfeitamentepossívelcompreenderaspremissasgeraisdaLingüísticaemergulharmaisprofundamentenesteounaqueletemaes-pecíficoqueatraiaseuinteresse.

TendocursadoadisciplinadeIntrodução aosEstudos da Lingua-gem,supomosquevocêtenhadesenvolvidoumavisãoamplasobreosestudoscientíficoseseuspropósitos.Noentanto,antesdeabordarnos-sostemascentrais,éimportantetrazernovamenteàtonaalgunsaspec-tosconcernentesàCiência.

Nossadiscussãotalveznãováexatamenteaoencontrodavisãoquevocêjáformou,masadiscussãoésempreinteressante.Saibaque,porvezes,sãojustamenteospontosdevistadiferentes,asadversidades,odebatedeidéias,queincitamaconstruçãodenovossaberesequepro-movemosprogressoscientíficos.

Page 12: [Livro UFSC] Estudos Linguisticos I
Page 13: [Livro UFSC] Estudos Linguisticos I

Explorandos Saberes Científicos

13

Capítulo 01

Explorando Saberes Científicos

Neste capítulo vamos discutir prioritariamente a concepção de Ciência.

1.1 A Ciência

SegundoPedroDemo(2000),nenhumfenômenotemcontornosnítidos,muitomenosos fenômenossociaisouhistóricos.Ocientista,emseutrabalho,encontra-se,pois,diantedegrandeparadoxo,vistoque,aomesmotempoemqueprecisadelimitarseuobjetodeestudoparatornaro fenômenoestudadomaisclaro,estesmesmos limitespodemempobrecê-looudeturpá-lo.Assim,énecessárioterconsciênciadequeasdelimitaçõeseeventuaisestratificaçõessãoadotadaspararesponderàspremissasdapesquisacientífica;porexemplo,aotratardeFonéticaseparadamentedaFonologiaestamostão-somenteprocurandootimi-zarnossacompreensãoarespeitodestesfenômenos.

Saibaentão,caroestudante,queasdivisõespropostasnointeriordosdiversosramosdaciência,queconseqüentementeconduzemàexis-tênciadedisciplinasespecíficas,sãonecessáriasparafinsdeorganiza-çãodosestudoseparatornarosfenômenospesquisadosmaisclarosepassíveisdeseremsistematizadoseabarcados.

Efetivamente,osobjetosnãoseconstituemnecessariamentedomodocomosãodissecadosoudescritospelaciência,masquasesemprepodemsermaisbemobservadosecompreendidosdestaforma.Asramificaçõesdaciênciagarantemainstauraçãodosfórunsnecessáriosparaquesecons-tituamosdiálogosentreespecialistasdesteoudaqueledomínio,istoé,en-treaquelesquemergulhamnanaturezadedeterminadosfenômenos.

Você,estudante,precisa saberqueopesquisadorempenha-senadefiniçãocientíficadosfenômenosepossuiconsciênciadequeadefi-niçãobemfeitaéaquelaquereconheceseus limites.Pararealizarseutrabalho,emmeioaumamiscelâneadesuportesexistentesepossíveis,o pesquisador geralmente opta por determinado percurso de estudo,

1

Page 14: [Livro UFSC] Estudos Linguisticos I

Unidade A - A Ciência Linguística

14

tomandocomobaseopontodevistaconsideradomaisadequadoaseusobjetivos.Muitas vezes, este “ponto de vista” está atrelado a uma oumaisteorias.Normalmente,trata-sedeteoriasdeconsensoamploentreospesquisadoresquepossueminteressescomuns.Issopermiteastrocasdeinformaçãonecessáriasparaoavançodaciência.

Assim,nasegundaunidadedesteCurso,tentenãosesurpreenderquandodescobrir,porexemplo,quehádiferentespossibilidadesdeclas-sificaçãoparaumamesmavogal.Issoocorre,poishámuitasmaneirasdecaracterizarasvogaiscientificamente.Umaclassificaçãonãoémelhorqueaoutra.Trata-se simplesmentedadescriçãodomesmoobjetore-alizadasobângulosdistintos.Paratentarcompreender,penseemumasituaçãoemquevocêtenhaquedescreverorostodeumapessoaquenãolheémuitoconhecida.Talvezvocêtenhaapreciadoesterostosomentedefaceousomentedeperfil.Naturalmente,vocêvaiproporumadescri-çãomuitoespecífica,deacordocomseupontodevista.Estaé,eviden-temente,umasituaçãocoloquialqueempregamosparaestabelecerumaanalogia.Adiferençaemciênciaéquehácritériosprecisosaseremobe-decidos;elespodem,porém,serdiferentesunsdosoutros,dependendodospontosdeobservação,dosposicionamentos,dasconcepções.

Comoexistemváriossuportesteóricospassíveisdeseremadotadosparaabordarummesmoobjeto,decorrequeummesmofenômenopo-derárecebertratamentosdiversos.Istoé,ummesmoaspectopoderáserdelimitado,observadoedescritodeváriasformas.Efetivamente,nãohánenhumproblemanestefato;oimportanteéquevocêpossaidentificarecompreenderosseguintesaspectos:

Oprismapormeiodoqualocientistaobserva;a.

Seupontodeobservação;b.

Oslimitesporelefixadoemseuprocessodeanálise;c.

Adelimitaçãodoobjetodeinvestigação.d.

Combasenessasreferências,torna-sepossívelacompreensãodosfatosobservadosedescritos,bemcomoagarantiadodiálogopertinenteelógicoentreosespecialistasqueestudamasmesmasquestõesouqueseinteressampeloestudodefenômenossimilares.

Page 15: [Livro UFSC] Estudos Linguisticos I

Explorandos Saberes Científicos

15

Capítulo 01

Você,comoestudanteemformação,apartirdomomentoemqueperceberaconsonânciaexistenteentretodosessesaspectos,disporádesubsídiosbásicosqueotornarãoaptoaformarseuolharcrítico,conduzin-do-oàassimilaçãodaspremissasdapesquisacientífica.Estacompreensãocontribuiráparaodesenvolvimentodesuaautonomiacomoestudanteepesquisador.Progressivamente,vocêsesentiráintroduzidonomundodapesquisaesealçarádacategoriadeleitorparaacondiçãodeautordeseusprópriostrabalhos.Estemomentoégratificante!Váemfrente!

Oimportanteéquevocêpercebaqueaciênciasofreconstantesevo-luções.Asmudançassãoinexoráveisegeramprogressos.Todavia,ére-levantevocêsaber,porexemplo,queosavançosemáreasexatas,comoaMecânica,aQuímica,obedecemaprincípiosdiferentesdaquelesqueseverificamnasCiênciasHumanas. Introduzirumnovocomponenteemumengenhomecânico, comoumveículomotorizado,podepromoveravanços de várias ordens em suas características ergonômicas, em seugraudeconvivialidade,emsuapotênciaedesempenhoouemseudesign.UmprogressoemLingüística,porsuavez,podenãoprovocarimpactoimediato sobre esteouaqueleobjeto concreto,poisoobjetode estu-dodaLingüísticaé,naverdade,uma“abstração”,masrepresentaráumacontribuiçãoparaaprópriaLingüísticaeparadiversasoutrasciênciasqueutilizamseusconhecimentos,aexemplodaEducação.

Otrabalhoemalfabetizaçãoe leitura,queconstituiosuportedenossoprocesso educativo, recebe, a cada ano,melhor tratamento emrazãodaspesquisasemciênciashumanase,maisespecificamente,emPsicolingüística.LeituraeEducaçãocaminhamjuntaseconstituemasbasesparaageraçãode indivíduos letradose,porextensão,denovospesquisadores.Logo,vocêpodeconstatarqueháumagrandesinergiaaserconsiderada,istoé,háumsistemadeinterdependências.Asdeli-mitaçõeseisolamentosemciênciasãoaparentes.Osprogressosdeumaáreadependemdosprogressosrealizadosemumaoutra.

Repetimos propositadamente: O aperfeiçoamento das pesquisasemLingüísticaobedeceaprincípiosdiferentesdaquelesqueseoperamnasciênciasconsideradasexatas,comoaMecânica,aFísica,aQuímica.Cadaramodaciênciapossuisuasparticularidades.Insistimosemafir-marque,viaderegra,emLingüística,nenhumobjetofísicoespecífico

Page 16: [Livro UFSC] Estudos Linguisticos I

Unidade A - A Ciência Linguística

16

estádiretamenteimplicado.ALingüísticatrabalhaprioritariamenteso-brenoções, conceitos, abstrações, teorizações, análises,possibilitandoatingirmelhorcompreensãodosprocessoshumanos.ALingüísticanosleva a refletir diretamente sobre as basesnecessárias aoprogressodeoutrasCiênciasquetambémtrabalhamparaonossobem-estar.

A seguir, abordaremos alguns aspectos da Ciência Lingüística.Lentamente,nosaproximaremosdasquestõesespecíficasaseremcon-sideradasnestadisciplinanasunidadesBeC.

Saiba mais...

Vocêpodesabermaissobreciência,conhecimentocientífico,me-todologiadoconhecimento,consultandoasobrasabaixomencio-nadas.Nestemomento,vocênãoprecisaleresteslivrosparaacom-panharostópicosdestadisciplina.Todavia,paraprogressivamenteaprofundarsuavisãosobreapesquisacientífica,vocêencontrarádiscussõesmuitointeressanteseinstigantesnestasobras:

DEMO,Pedro.Metodologia do conhecimento científico.SãoPau-lo:Atlas,2000.

DEMO,Pedro.Introdução à metodologia da ciência.2.ed.SãoPaulo:Atlas,1985.

LAKATOS,EvaMaria;MARCONI,MarinadeAndrade.Fun-damentos de metodologia científica.2.Ed.rev.ampl.SãoPaulo:Atlas,1990.

Page 17: [Livro UFSC] Estudos Linguisticos I

17

Capítulo 02As subáreas da Lingüística

As Subáreas da Lingüística

Neste capítulo, vamos mergulhar na Ciência Lingüística e conhecer um pouco de seus níveis de análise, isto é, suas subáreas.

2.1 A Lingüística: introdução

Comovocêjásabe,aLingüísticaéaCiênciaquesededicaaoestu-dodalinguagem.Aceitamosquealinguagem,damaneiracomoadefi-nimosparanossosestudos,éumacapacidadeexclusivaàespéciehuma-na,porém,sabemosqueváriosoutrosseressecomunicamepossuemespéciesde“linguagens”quelhessãoespecíficas.Jáfoiatestadoqueal-gunsanimaiseinsetos,comoporexemplo,osgolfinhoseasabelhas,sãocapazesdeestabelecercomunicaçãoe,conseqüentemente,trocasdein-formação.Assim,podemosfalarde“linguagemdasabelhas”ou“lingua-gemdosgolfinhos”.Todavia,comoveremosaolongodestadisciplina,acomplexidadedalinguagemhumanaéúnica,istoé,elapossuialgumascaracterísticasqueatornamsingular.Emresumo,aLingüística,comoCiência,preocupa-separticularmentecomoestudodalinguagemhu-manaecomofuncionamentodaslínguasespecíficas.

A linguagemhumana implicacognição,ouseja, envolvecomple-xosprocessosmentais.Comotal,nãopodeserexaminadadiretamente,tendoemvistaqueosprocessosmentaissãoimpalpáveis,ouseja,nãopodemserapreendidosdiretamente,poisconstituemabstrações.

Vejabem,abstraçõesnãopodemseraprisionadasoudelimitadas.Oqueconhecemosarespeitodalinguageméresultadodeestudoscien-tíficosrealizadossobresuasmanifestações:línguaoral,escrita,gestual,etc.Emgeral,sãoexaminadasasmanifestaçõeslingüísticasindividuais.Pormeiodasproduçõesindividuais,pode-sesabermaissobrealingua-gem.Grandepartedoquesabemossobreocoletivofazpartedoagru-pamentodeestudosrealizadossobreoindividual.

Alínguaoral(fala)éumamanifestaçãodalinguagem.Namesmamedida,alínguaescritaéumamanifestaçãodalinguagem,tratando-se

2

Page 18: [Livro UFSC] Estudos Linguisticos I

Unidade A - A Ciência Linguística

18

deumarepresentaçãodaoralidade.Alínguadesinaistambéméumamanifestação da linguagem. Poderíamos citar também o braile, masacreditamosquevocêjácompreendeuoquequeremosdizer.

Nossainsistênciasobredeterminadostópicoséparaquevocêpossaelaborarumaidéiaclarasobrealgumasnoções.Assim,quandotratamosdelíngua,estamosnosreferindo,namesmamedida,àlínguaoralmentemanifestada,àlínguaescrita,àlínguadesinais,aoespanhol,seestenden-dotambémaoitaliano,aotupi-guarani,enfim,atodasaslínguasconheci-das.Issonoslevaaconcluirquealíngua,oralmentemanifestada,constituitão-somentemaisumaentreasdiversaspossibilidadesdemanifestação.

Comojámencionamosacima,a linguagemhumanaseapresentacomoumobjetodeestudocientíficodegrandecomplexidade;assim,oestudodeseufuncionamentoérealizadocomtodorigorcientífico,talcomoofazemasdemaisCiências.

Nasúltimasdécadas,demodosimilaraoqueocorreuemrelaçãoaosoutrosdomíniosdaCiência,aLingüísticaprogressivamenteseramificou,ou seja, surgirammuitas subáreas para responder às necessidades dosavançosdesuaspesquisas.Demodoresumido,hojeépossívelidentificar,natradiçãodotrabalholingüístico,muitasáreasdeconsensogeral.Veja-mos,noquadro1,aolado,umasubdivisãopossívelparaaLingüística:

Éimportantesublinharqueaslínguasemsituaçãoefetivadeusonãoseorganizamdessemodo.Comojámencionamos,essassubdivisõessetor-narammuitointeressanteseimportantesparafinsdeorganizaçãodosestu-dos,bemcomoparaoenquadramentodostemasespecíficosnoseiodesteoudaquelepatamardeanáliseemrazãodasafinidadesentretemas.

Efetivamente, a língua é um fenômeno integrado e em harmo-nia. Em todo discurso, coexistem sons, significações, sentidos, todoscompartilhandoummesmo lugar,demodo sinergético.Aconstruçãodosentido,porexemplo,podeimplicarfenômenosdeordemfonética,fonológica,morfológica,sintática;porém,comoelementoespecífico,éestudadapelaSemântica.Porsuavez,aSemânticanãodesconsiderane-cessariamentenenhumfenômenonãoligadodiretamenteaoestudodosentido,masconcentrasuaatençãosobreele.

Conforme a terminologia empregada na disciplina de Introdução aos Estudos da Linguagem, a análise das

subáreas pode também ser nomeada como microlingü-

ística. Por microlingüística entende-se o estudo dos

diferentes níveis de análise lingüística, ou seja, das subá-reas nucleares da lingüística, quais sejam: Fonética, Fono-logia, Morfologia, Sintaxe e

Semântica. Conforme We-edwood (2002), a microlin-güística abrange também a

lexicologia. Esta última, não explorada nesta disciplina de

Estudos Lingüísticos I, objetiva a investigação científica do

léxico.

(Ver DUBOIS; GIACOMO; GUESPIN et. Al. Dicionário de

Lingüística, p. 367-378.)

1. Fonética2. Fonologia3. Morfologia4. Sintaxe5. Semântica

Quadro 1: Subdivisões ou subáreas da Lingüística

Page 19: [Livro UFSC] Estudos Linguisticos I

As subáreas da Lingüística

19

Capítulo 02

Adivisãopropostaanterioré interessanteparanós,quenos lan-çamosnosestudoslingüísticos,poispermiteabordarváriostemasporafinidades;logo,demaneiramaisclara.

Aolongodadisciplina,relembraremos,emvá-riosmomentos,queasfronteirasentreosramosdaLingüísticanãosãoestanqueseque,concomitante-menteaosmergulhosemaspectosparticulares,seránecessáriomanter avisãodequenossoobjetodeinvestigaçãofoidestacadodeseumeio,unicamenteparafinsdeestudo.Éemseuambientenaturalqueeleexperimentaemanifestaplenamentesuaessên-cia;algocomoexaminarosprincípiosdaaerodinâ-micadeumaave,suaestruturaósseaesuasfunçõesorgânicas,sempretendoconsciênciadequesuato-talidade,comoserdentrodocosmos,realiza-seemseuvôolivre...emseuambientenatural!

Saiba mais...

VocêpodeseinstruirmaissobreaLingüísticaesuassubáreasouáreasafinspormeiodaleituradasobrasabaixo.Saiba,porém,quesetratatão-somentedeindicações.Outrasobrastambémlhepos-sibilitarãoinformaçõessimilares.Assim,useoslivrosquevocêjápossuiouaquelesqueestejamaoseualcance.Casosintanecessi-dadedemaissuportes,vocêpoderáler:

FIORIN,JoséLuiz(Org.). Introdução à Lingüística II:princípiosdeanálise.2.ed.SãoPaulo:Contexto,2003.

MARTIN,Robert.Para entender Lingüística.SãoPaulo:Pará-bola,2003.

WEEDWOOD, Bárbara. História concisa da Lingüística. SãoPaulo:Parábola,2002.

Figura 1: Totalidade do ser dentro do cosmos

Page 20: [Livro UFSC] Estudos Linguisticos I

Unidade A - A Ciência Linguística

20

Aseguir,vamosdescreverbrevementecadaumadascincoáreasindicadasacima,naFigura1.Logoapós,naUnidadeB,deter-nos-emosnadiscussãoarespeitodeFonéticaeFonologia.

2.2 Fonética

AsubáreadaLingüísticaquesededicaaoestudodapartefônicadalinguageméchamadadeFonética.AsbasesqueconstituemesteramodaLingüística,bemcomotodosseusoutrosramos,possuemumhistórico,ouseja,aquiloquesabemoshojearespeitodaFonéticaéresultadodeumasériedereflexõeseestudosanteriormenterealizados.Aspectosdes-sehistóricosãosempreimportantesparaquesejapossívelformarumaidéiasobreaFonética,talcomoelaseapresentanoestadoatual.Trata-sedebasesgerais,aplicáveisaoestudodasdiversaslínguasconhecidas.ApesardenãoserpossívelabordarafundotodososaspectosestudadospelaFonética,algunsdelessãofundamentais.Assim,naUnidadeB,vocêseráconvidadoainvestigaralgunstópicosdemododetalhado.

Emresumo,a fonéticapreocupa-secomoaspecto físicoda fala,istoé,dedica-seàinvestigaçãodomaterialsonoro[fones]edesuafon-tedeprodução,deixandodeladoafunçãodosomcomoelementodesignificação.AFonética,mesmojáconstituindoumramoespecíficodaLingüística,internamentepossuialgumasoutrassubdivisões.Vejamos:

2.2.1 Fonética Acústica

Interessa-sepelapartefísicadossonsdalinguagemhumanaedaslínguas específicas. A fonética acústica examina as características dosomcomovibraçãocomplexa.Buscaexplicações lógicase científicas,porexemplo,paraascaracterísticasfísicasdeumavogaloudeumacon-soantepresenteemumadadaemissãosonora(fala).

NaFonéticaAcústica,ossonssãoprioritariamenteanalisadoscomoauxíliodeinstrumentosespecialmenteconcebidospararealizarumasériedetarefas.Essesaparelhospermitemaocientistaalcançargrandeprecisãonosdetalhesdesuasanálises.Atualmente,boapartedosins-trumentosdeanáliseacústicaestáinformatizada,istoé,éaplicadapormeiodocomputador(hardwaresesoftwares).

Page 21: [Livro UFSC] Estudos Linguisticos I

As subáreas da Lingüística

21

Capítulo 02

Neste ramo, o foneticista geralmente emprega métodos experi-mentais,ouseja,captaafalanaturalpormeiodeuminstrumentoparagravação,converte-a,emseguida,daformaanáloga(natural)paradi-gital (numérica) e a examinapormeiodeprogramas informatizadosdeanáliseacústica.Torna-se,assim,possível,porexemplo,isolarumavogalouumaconsoanteeestudarsuascaracterísticasfísicas(duração,amplitude,timbre,etc).

Nafiguraaolado,vocêpodeobservarumapáginaextraídadeum dos vários programas exis-tentes de análise acústica. NosquadrosAeB(janelassuperio-res, esquerda edireita), visuali-zam-se as formas de onda daspalavras tonta e tona; nos qua-dros C e D (janelas inferiores,esquerdaedireita),observam-seseusrespectivosespectrogramas.Programasdestetipopermitem,porexemplo,examinardetalha-damente, edemodo isolado,ascaracterísticasfísicasdeumavogal,deumaconsoante,dasinterferênciasmútuasentreelas,determinartraçosdaproduçãooraldedeterminadoindivíduo,alémdeváriosoutrostiposdeanálise(traçosdeentonação,detransiçãoeinterferênciasentrevogaiseentreconsoantes,etc).

AFonéticaAcústicapermitiugrandeprogressoemsínteseereco-nhecimentovocais,ouseja,tornou-sepossívelreproduzirartificialmenteporçõesdefala(síntese)ou,inversamente,instruirumsistemainformá-ticoparareconhecerporçõesemitidasnaturalmente(reconhecimento).

AFonéticaAcústicatambémpossuialgumasramificações.Umexem-plointeressanteasercitadoéaFonéticaForense.Ofoneticistaforenseexaminadocumentossonorosgravadosemfitascassetes,Cds,mp3,etc.,demodoaidentificarparâmetrosquepermitamatestarqueavozgravadapertenceadeterminadapessoa.Parafazê-lo,adotamétodosdeperícia.Por isso, está ligada à área forense (de fórum).Por vezes, o foneticista

Figura 2: Imagem da análise de dois vocábulos: tonta e tona (SOUZA, 1998, p.54).

Page 22: [Livro UFSC] Estudos Linguisticos I

Unidade A - A Ciência Linguística

22

forenseultrapassaaanálisedafala,dedicando-se,também,àinvestiga-çãodeoutroselementossonorosdeordemnãolingüística,eventualmen-te,presentesemumagravação.Assim,dialogaigualmentecomaFísicaAcústica,aInformática,aEngenhariaElétricaemesmocomoutrasáreas,comoaAviação,aBalística,dependendodomaterialaserexaminado.Porisso,nestecasoespecífico,interessa-setambémporoutrosaspectosanexosàfala(tosse,soluço,questõesdepatologiasdalinguagem,disfarcesvocais,etc.).Dessemodo,afasta-se,algumasvezes,dafonéticadalíngua,constituindoumasubáreabastanteespecíficaeinterdisciplinar.

2.2.2 Fonética Articulatória

Examinaossonsdopontodevistadesuaprodução.Paratal,con-sideratodaapartefisiológica(aparelhofonador)envolvidanaproduçãodossonsdafalahumana.Consideratodososmecanismosdeproduçãodafala:acomeçarpelacorrentedearegressivapulmonar(respiração),quepassapelalaringe(fonação),faringee,finalmente,pelascavidadesoral(articulação),nasal(ressonância)elabial,atéosmínimoselementosqueconstituemestesórgãosequeparticipamnaconstituiçãodossons.

AFonéticaArticulatória tambémpossuialgumasramificações, talcomoaOrtofonia,voltadaàretificaçãodeproblemasdeordemarticu-latória.Muitos fonoaudiólogos concatenamconhecimentosda fonéticaarticulatória,daanatomofisiologia,dapsicologia,daneurologia,noau-xílioaosexercíciosditosdeortofonia.Sabemos,porexemplo,que,paraproduzirumsom[f],éprecisotocarlevementeolábioinferiornosdentessuperiores, forçaroardospulmõesparaacavidadeorale,finalmente,provocarumafricçãonopontodecontatoentrelábioedentes.Parapro-duzirum[v],realizamosomesmoprocesso,comumapequenadiferen-ça:fazemosvibrarnossascordasvocais.Estesconhecimentossão,todos,degrande importânciaparaosespecialistasemfonéticaeaquisiçãodalinguagem,fonoaudiólogos,professoresdelínguaestrangeira,alfabetiza-dores,etc.

Atividade

Coloque a mão espalmada em seu pescoço, logo abaixo do queixo (onde

nos homens há o chamado “Pomo de Adão”). Experimente pronunciar re-

Page 23: [Livro UFSC] Estudos Linguisticos I

As subáreas da Lingüística

23

Capítulo 02

petida e lentamente: [p] - [b] - [p] - [b] - [p] - [b] - [p] - [b]... Dizemos que o

primeiro é surdo e o segundo sonoro.

Provavelmente, você não conseguiu perceber nitidamente a diferença en-

tre um e outro som no que diz respeito à vibração das cordas vocais, pois

em português pronunciamos essas consoantes acrescentando uma vogal a

elas [pe-be]. Ora, as vogais exigem sempre a vibração das cordas vocais, e

você pode se ter confundido.

Agora, tente novamente, empregando a mesma técnica ao pronunciar lenta-

mente os pares de sons [s] - [z], ou [x] - [j]. Alongue por alguns segundos a

produção deles. Nestes casos, como se trata de consoantes fricativas, não é pre-

ciso acrescentar vogal de apoio. Assim, percebe-se claramente a ausência ou a

presença de vibração das cordas vocais. Quando vibram mais intensamente,

temos a impressão de que há uma abelhinha barulhenta em nossa garganta.

Como nestes sons não ocorre a explosão final das oclusivas, os pares podem ser

alongados e diferenciados pela vibração das cordas vocais mais nitidamente.

NaspossíveisdivisõesdaFonéticatemosainda:

Fonética Comparada• : que estuda as semelhanças e oposiçõesentreduasoumaislínguas.

FonéticaAuditiva/Perceptiva• :queexaminaosprocessosdeper-cepçãodossonsdalinguagempelossereshumanos,taiscomoosmecanismos envolvidos no reconhecimento de uma sílabaacentuada,arecepçãodaamplitude,dafreqüênciaouacombi-naçãodessesparâmetros.

2.3 Fonologia

ComoaFonética,aFonologiatambémsepreocupacomossonsdalinguagem,voltando-separticularmenteaoestudodasfunçõesdossonsdeumadeterminadalíngua.Distingue-sedafonéticaapartirdomomento emque sepreocupa coma funçãodos sons edas relaçõesqueseestabelecementreelesnoâmbitodeumalínguaespecífica,istoé,ocupa-sedafunçãodossonsnatransmissãodemensagens,deixandoparaaFonéticaaanálisedosaspectosdeconcretização,usodossons.

Page 24: [Livro UFSC] Estudos Linguisticos I

Unidade A - A Ciência Linguística

24

Comovimosanteriormente,aFonéticaocupa-sedoaspectofísico,material,deixandodeladoafunçãodosomcomoelementodesignifi-cação.TomeessadiferençacomobasequandopensaremumadistinçãoclaraentreFonéticaeFonologia.

Considerandoumconhecidoexemplodoportuguêsbrasileiro,obser-vamosque,paraaFonética,naspronúnciasdapalavra“tia”:[txia]e[tia]hádoisfonesbemdiferentesentresi,asaber:[tx]e[t].Noentanto,paraaFonologiadoportuguês,estesdoissonspossuemvaloridêntico.Nomododefalardocarioca,porexemplo,[tx]ocorresomentediantedavogal[i].Porsuavez,o[t]ocorreemtodososdemaiscontextos.Demodogeral,compreendemosperfeitamenteaqueserefereàpalavra“tia”,mesmoquepronunciadadeumououtromodo,istoé:[txia]e[tia].Ambasaspronún-ciasremetemaomesmoreferente:ouirmãdemeupai,ouirmãdeminhamãe,ouaindaesposadotio,entreoutrostantospossíveissignificados.

AFonologiaobservaoaspectointerpretativodossons,suaestrutu-rafuncionalnaslínguas(Cagliari,1995),ouseja,osomcomopartedeumsistema.Elaobservaamaneiracomoossonsseorganizamdemodoaformarenunciados.Quandoumsoméutilizadoparadistinguirpala-vras,eleéchamadodefonemadalíngua.Porexemplo,emumapalavracomo[pá],sehouvertrocado[a]por[é],teremosumanovapalavra[pé].Nestecaso,[pá]e[pé]possuemsignificadosdiferentes.Apartirdesteen-saio,ossons[á]e[é]serãoconsideradoscomodoisfonemasdistintos,quefazempartedorepertóriodosfonemasdoportuguêsbrasileiro.

Cada línguapossui seuprópriorepertóriode fonemas.Oportu-guês,porexemplo,utiliza33fonemas,sendo12vogais,19consoantese2semivogais.Háaindaoacento,quenocasodoportuguêsconstituiumtraçodistintivo.Issoficaclaroempalavrascomo“sábia”,“sabia”,“sabiá”,ou “fábrica” (localdeprodução) e “fabrica” (doverbo fabricar).Vocêpode treinar buscando outros exemplos como: vira/virá, para/Pará,cera/será,entretantosoutros.

Noqueserefereaoespanhol,nãoexisteunanimidadesobreonú-mero exatode elementosque formamo repertóriode fonemasdestalíngua.Entretanto,parafinsdeestudoeparanãopolemizaraquestão,podemosdizerqueorepertóriocomumenteaceitoeestabelecido,por

Page 25: [Livro UFSC] Estudos Linguisticos I

As subáreas da Lingüística

25

Capítulo 02

autoresmuitorespeitados,indicaumtotalde24fonemas,sendo5vo-gaise19consoantes.

Salientamosqueonúmerodefonemasdeumalínguanãocaracte-rizasuperioridadeouinferioridadelinguística.Oimportanteéqueosfalantesdestalínguapossamexprimirsuasidéiasesentimentoscomosrecursosquepossuem.

Veremosquenastranscriçõesdistinguimososfonemasdosfones/sonspormeiodautilizaçãodebarrasoblíquasedecolchetes.Assim,respectivamente,[tx]seráconsideradocomoumsomoufonedoportu-guêse/t/comoumfonema.Maisabaixo,vocêveráqueháumaconven-çãoparaarepresentaçãodossons.O[x],porexemplo,serárepresenta-dosempreporumsímboloespecífico:[].

Seporventuravocênãoconseguiucompreenderosexemploseaterminologiaempregadaatéaqui,nãosepreocupe;oassuntoseráreto-madoaolongodestadisciplina,poisFonéticaeFonologiaconstituemostópicoscentraisdenossaUnidadeB.

2.4 Morfologia

Emsuaorigemgrega,Morfologiasignificaestudodaforma:morfo(forma)e logia(teoria,estudo).Dadoseusignificadobásicoegeral,apalavraMorfologiaé tambémutilizadaemoutrasCiências.Evidente-mente,interessa-nosaquiseuusonoâmbitodaLingüística.

SegundoCagliari(1995),aMorfologiaéumramodaLingüísticaqueestudaosignoreduzidoàsuaexpressãomaissimples(morfemas).Investiga assim a combinação entre morfemas, formando unidadesmaiores,comoapalavraeosintagma.

EstasubáreadaLingüísticaseocupadasmenoresunidadesdefor-macomsignificadoespecífico,ouseja,cadamorfemaéindivisívelemunidadessignificativas.Seufocodeanáliseéaestruturainternadaspa-lavras,oselementosqueaconstituem:osmorfemas.

Quantoànoçãodepalavra,considereoquevocêconheceimplicitamen-tecomopalavra,poisébastantecomplexoestabelecercritériosparadefini-la

Page 26: [Livro UFSC] Estudos Linguisticos I

Unidade A - A Ciência Linguística

26

teoricamente.Podemosdizerqueapalavraéamenorunidadelingüísticacommobilidade,ouseja,épossívelmovimentá-lanafrase,alterarsuaposi-ção.Issonãoacontececomomorfema,anãoserqueelesejapromovido,aexemplodepalavrasdeapenasummorfema,comoéocasode“sim”.

Paraquevocêpossacompreendermelhoroqueémorfema,vejamosumexemplo.Napalavramesasexistemdoismorfemas:“mesa”,queconsti-tuioquechamamosdebaseouraiz,e“s”,morfemagramatical,quecarregaamarcadenúmero(plural),logo,possuiumasignificação.Contrariamente,aseqüência“sas”nãoéummorfema,porquenãochegaaterumsignificadolingüísticoemportuguês.Reiteramosparaquevocêpossafixar:

Eisumoutroexemplo.Apalavra“mesinhas”temtrêsmorfemas:mesa+inha+s.Omorfema“inha”,nessecontexto,remeteànoçãode“diminuti-vo”(quenãonecessariamentequerdizer“menor”).Todasessastrêsunida-des,seforemreduzidasmaisdoquejáofizemos,perderãosignificação.

Observequeessesmorfemasseligamhabitualmentedemodore-gular,tornandoteoricamentepossíveldefiniraexistênciadeumnúme-rofinitodemorfemasemumadeterminadalíngua,queconstituiriamoselementosutilizadosparacomporpalavras.

Osmorfemassãounidadesdeformaesentido.Assim,paraestudá-loséprecisoconsiderarosaspectos ligados tantoàsua formaquantoaoseufuncionamentoesentido,ouseja,dequemodosecombinameorganizamnossamaneiradeexprimirarealidade.

Naanálisemorfológica,geralmente,consideram-seaforma,osen-tidoeadistribuição.Aprimeiratarefadaanálisemorfológicacompre-endeaobservaçãodegruposdepalavras(duasoumais)queseapresen-tamemoposiçãoparcialdeformaeconteúdo.

Exemplo: belos e belas

Omorfemaédefinidocomoamenorunidadecomsignificadoes-pecífico.Cadamorfemaéindivisívelemunidadessignificativasepossuisignificaçãoparticular.

Page 27: [Livro UFSC] Estudos Linguisticos I

As subáreas da Lingüística

27

Capítulo 02

Opera-se,então,acomutaçãocomaintençãodeexaminarseesteselementosdiferentesprovocamalgumaalteraçãodesentido,apesardamanutençãodoselementosrecorrentes.Noexemploacima,atrocade“o”por“a”,alémdealterarparcialmenteaforma,alteraosentido.Noprimeirocaso,tem-seaindicaçãodegêneromasculinoe,nosegundo,degênerofeminino.Háqueseconsiderarainda,emtermosdedistribui-ção,queomorfemaindicadordegêneroemportuguêsésempresufixal,istoé,situa-seposteriormenteàraiz,ocupandoapenúltimaposiçãonapalavra,antesapenasdomorfemadenúmero.

Aformadosmorfemaspodeservariável,dependendodocontextodeocorrência.Umdosmorfemasindicadoresdenegaçãoemportuguêséo“in”.Eleésempreprefixal,esuaformavaria,podendoapresentar-secomo“in”ou“i”,conformesepodeobservarnosexemplosaseguir:

feliz – infeliz

grato – ingrato

hábil – inábil

real – irreal

mortal – imortal

legível – ilegível

natural - inatural

Examinadoumgrandenúmerodeocorrências,chega-seàconclusãodeque“i”surgeantesde“l,r,m,n”,e“in”ocorrenosdemaiscontextos.

Trata-se de formas variantes de ummesmomorfema, cada umadelaséummorfe.Osmorfesquerepresentamummesmomorfemasãochamadosdealomorfes.Elessempreseapresentamemdistribuiçãocom-plementar,oquesignificaqueondeocorreummorfe,nãoocorreooutro.Ocondicionamentodedistribuiçãodosmorfespodeserfonéticooupro-priamentemorfológico.Seaescolhaentreosalomorfesdependerdocon-textosonoro,diz-sequehouvecondicionamentofonético.Esteéocasodopluraldepalavrascomo“bar–bares”.Emprega-se“es”emrespeitoà

Page 28: [Livro UFSC] Estudos Linguisticos I

Unidade A - A Ciência Linguística

28

constituiçãosilábicadoportuguês,umavezquenãoexistenestalínguaaseqüênciaintra-silábica“rs”.Ocondicionamentomorfológicoacontecequandonãosepodeexplicaraalomorfiapelocontextofonético.

2.5 Sintaxe

Sintaxeéumapalavraquetemsuaorigemnogrego,formadaapar-tirdapreposiçãosun(com),quemarcaaidéiadereuniãonoespaçoounotempo,etaxis,quesignificaemsuaorigem:ordem,organização.

Paranós,emsuadefiniçãoprimeira,aSintaxeéoramodaLingü-ísticaqueexaminaosprocessosdegeraçãoecombinaçãodasfrasesdaslínguascomoobjetivodedeterminarseufuncionamentoesuaestrutu-rainterna.Todavia,entende-sequeaSintaxetambémpodeconsiderarestruturasmenores. Assim, esta subárea procura igualmente abordarquestõesreferentesàrelaçãolinearentremorfemas(releiaadefiniçãodemorfema,notópicoquetratadamorfologia)ouentrevocábulos,istoé,aSintaxeanalisaigualmenteamaneiracomoosmorfemaseaspala-vrassecombinamparaformarpalavrasesintagmas,respectivamente.Sobaóticagramaticalmaisampla,osestudossintagmáticosrecaemas-simsobretrêspatamaresprincipais,asaber:

Apalavra-queconstituioelementodebase,comonoexem-1.plo“mesinhas”analisadoanteriormente,compostode:mes(a)+inha+s.

O sintagma (ougrupo) - que é aunidade intermediária (sin-2.tagmanominalouverbal,etc.).Exemplo:“avendademesinhasamarelas”.

A frase - elementosuperiorda sintaxe: “Joãovendemesinhas3.amarelas”.

ASintaxeestudatantoasrelaçõesentreasformaselementaresdodiscurso(palavrasesintagmas),quantoasregrasquepresidemaordemdaspalavrasnoprocessodeconstruçãodasfrasesdeumalíngua.

Page 29: [Livro UFSC] Estudos Linguisticos I

As subáreas da Lingüística

29

Capítulo 02

2.5.1 O Estudo das Frases

Paraestudarasfrases,énecessáriopartirdeenunciados.Paraobtê-los,podemosempregarmétodosdistintos:

Aobservação(estudodecorpus);1.

Aintuição;2.

Aelicitação.3.

Opesquisadorempregaaintuiçãoeaelicitaçãoafimdeverificaragramaticalidadedosenunciados.

(*) Osgatoscomeasração.

Os gatos comem a ração.

Nadeterminaçãodagramaticalidadeouagramaticalidadedeumafrase,podemosrecorreràsprescrições,istoé,recorreràsnormasdita-daspelasgramáticasnormativas.Jáaaceitabilidadeouainaceitabilida-deé,normalmente,intuitiva;logo,édefinidaemrazãodaconsideraçãodostrêsmétodosmencionados.Asrazõesparaseaceitarourejeitarumenunciadopodemserdeordemsintáticaousemântica.Opesquisador,porvezes,precisareconhecerapluralidadedejulgamentos,poisenun-ciadosrejeitadosporalgunsusuáriosdalínguapodemseraceitosporoutros.Vejamosalgunsexemplos:

Lígia dirige seu carro.

O elefante dirige seu carro.

Aprimeira fraseseráprovavelmenteaceita.Asegundaapresentaumproblema,pois“umelefante”nãopodedirigirumcarro.Todavia,trata-sesimplesmentedeumproblemasemântico/pragmático,quenemexistiriaseestivéssemos,porexemplo,emumcontextodeumapeçadeteatroparacrianças,naqualosanimaisadquiremtraçoshumanos.

Insistimosentãoqueaagramaticalidadeéumfenômenodiferente.Aagramaticalidadeconcerneàsdimensõesformaisdagramática,comoporexemplo:aordemdoselementos,oacordodegêneroenúmero,etc.

Em Sintaxe, geralmente se coloca um asterisco (*) antes da frase para marcar um enunciado agramatical, isto é, que não esteja de acordo com as regras da gramática da língua padrão.

Page 30: [Livro UFSC] Estudos Linguisticos I

Unidade A - A Ciência Linguística

30

Vejamosoexemploabaixo:

* Os elefante diriges seu carros.

Quandohouverdúvidasemrelaçãoàgramaticalidadeouàaceita-bilidadedeumdeterminadoenunciado,érecomendávelqueseutilizeumpontodeinterrogaçãonolugardoasterisco.

(?) Carros seus sem direção dirigem os elefantes.

2.5.2 Língua Escrita e Língua Oral: Problemas de Ensino

Demodobastantegeral,natradiçãoescolar,grandepartedosalunosmanifestaalgumtipodeaversãoàtarefadeestudarportuguêsoulínguasestrangeiras.Ora,nocasodoportuguês,trata-sedalínguaquefalamosnocotidiano,emtodasassituaçõesdecomunicaçãooraleescrita.Pode-sesu-porquenãoháexatamenterecusaàlíngua,maseventualmenteàspráticasempregadasparaoestudoeoensinodalíngua,estendendo-setambémaoestudodaslínguasestrangeiras.

Problemascomoadislexiasãoidentificados,estudados,tratados,po-rém,nãohátratamentosespecíficosparalidarcomalunosqueapresentamproblemasdeaversãoaoestudolínguapropostanaescola.Provavelmente,nãoháumaúnicarazãoetampoucoelapodesercaracterizadacomosim-ples.Sejacomofor,éimportantequeoprofessordelíngua,sejaelamater-naouestrangeira,possacompreenderasnecessidadesdeseestabeleceremlaçosentreaescritaeaoralidade,estaúltimacompreendidanoespaçodeinterlocuçãoamplo,noqualcoexistemusosdiversosdelíngua.

Comoprolongamentodenossaspráticasescolares,porvezes,imagi-namosqueosestudossintáticosrecaemsempresobrealínguaescrita.Evi-dentemente,a línguaescritadostextosacadêmicoséquasesempremaisextensivamentetrabalhada,emtermosdeprecisãoeestilo.Alémdisso,naescritatemosmarcadoresqueauxiliamaidentificarfronteirasentrefrases.Asfrasesempregadasparaestudogeralmentesãoselecionadas,promoven-doalgumacertezadequecorrespondemàlínguapadrão.

Todavia, vocêdeve terpercebidoqueempregamosmuitomais alínguaoralnamaiorpartedassituaçõesdoquealínguaescrita.Oslin-

Page 31: [Livro UFSC] Estudos Linguisticos I

As subáreas da Lingüística

31

Capítulo 02

güistas,demodogeral,aceitamatesedaprimaziadooralsobreoescri-to.Estaconstatação,porsisó,justificariaosimensosesforçosrealizadosno sentidodeprocurardescrever e entendermelhor a estrutura e osfenômenosgeradosnamodalidadeoral.

Émuitoimportantesaberqueháfenômenosdaoralidadequenãorespondemàsexigênciasdalínguapadrão,masquepoderiamserexpli-cadospormeiodeinstruçõessintáticasesemânticas.Porexemplo,vocêjádeveterescutadofrasescomo:

A gente jogamos bola.

Nestafrasesimples,overbodeveriatersidoflexionadonaterceirapessoadosingular.Todavia,osujeito“agente”foiinterpretadocomosen-doplural,istoé,considerou-seque“agente”comportamaisdeumapes-soaeque,portanto,englobaanoçãodeplural.Assim,exigiriaumverboflexionadotambémnoplural.Emsuma,hánestafraseumagrandepreo-cupaçãocomoacordodenúmero;entretanto,alínguapadrãoofereceumoutromodelodereferência:opronome“nós”.Deacordocomagramáticadestavariedadelingüística,nãoseaceitaaformaexemplificada.

2.6 Semântica

ASemânticaéoramodalingüísticaqueestudaosignificado,bemcomo as questões anexas queparticipam em sua composição.Os se-manticistassãoosprofissionaisqueatuamnestedomínioequeseinte-ressampelanatureza,funçãoeusosdossignificadosmanifestadosnosjogos formadospelosdiversos componentesque compõemas esferasdalínguaedalinguagem.ASemânticapossuiassimobjetosdeestudodiversificados,asaber:

Estudodosignificadodaspalavras:simples,compostasedeex-•pressões;

Relaçõesentreaspalavras(homonímia,sinonímia,antonímia,po-•lissemia,hiperonímia,hiponímia,ambigüidade,vagueza,etc.);

Adistribuiçãodosactantesnosenunciados;•

Page 32: [Livro UFSC] Estudos Linguisticos I

Unidade A - A Ciência Linguística

32

Ascondiçõesdeverdadeemumenunciado;•

Aanálisecríticadodiscurso;etc.•

ASemânticaéumcampodeestudosamplo,intimamenteimbrica-docomtodososoutrosdomíniosdalingüística,tendoemvistaqueosignificadoéumcomponenteindissociáveldaprópriaidéiadelíngua.Parafinsdepesquisa,dependendodas concepções adotadas relativa-menteàsnoçõesdelínguaelinguagem,poderásermuitodifícil,ouatémesmo inviável, estabelecer fronteiras estanques, por exemplo, entreSemânticaeSintaxe,entreSemânticaePragmáticaouentreSemânti-caeLexicografia.Osignificadoconstituiumcomponenteessencialnaconstituiçãodalíngua,permeando,assim,todasuaessênciaeaflorandoemtodasassuasmanifestações.

A Semântica suscita grande interesse de pesquisadores de váriasáreas,sobretudopelainterfacequemantémcomoutrasciências.ALe-xicografia, por exemplo, emprega uma série de noções da Semânticaparatratardosignificadodaspalavras.

Nestasessão,porquestõesdedelimitaçãoecomintençãointrodu-tória,vamosnoslimitaratratardequestõesligadasàSemânticaLexical,istoé,abordaremosalgunsaspectosdiretamenteligadosaoestudodoléxicoepertinentesnasatividadesdeensino/aprendizagemdelínguasestrangeiras.

2.6.1 A Homonímia, a Polissemia e Sinonímia

Dopontodevistadaformaescrita,quandoaspalavraspossuemamesmagrafiasãochamadasdehomógrafas(Ex.:mangadecamisaepédemanga).Dopontodevistadaformasonora,quandosãopronuncia-dasdemodoidênticopelomesmofalante,sãochamadasdehomófonas(Ex.:seção/sessão;concerto/conserto).

Dizemosqueestamosdiantedehomônimos,quandoháamesmaformaorale/ouescritacomsentidosdiferentes:

Juan foi à feira.(verboir)

Juan foi casado.(verboser)

Page 33: [Livro UFSC] Estudos Linguisticos I

As subáreas da Lingüística

33

Capítulo 02

Todasaslínguasconhecidasapresentamgrandenúmerodehomô-nimos.Trata-sedeumacaracterísticacomumàslínguase,geralmente,somentequandorealizamosestudosmaisaprofundadoséquepercebe-mosalgunsdestesfenômenos.Eismaisumexemplo:

Acessar a página de EaD.

Abrir uma página do dicionário de espanhol.

Virar mais uma página da vida.

DopontodevistadaSemântica,quandoumamesmaformaapre-sentaváriossentidos,estamosdiantedofenômenodapolissemia,istoé,váriossentidospossíveis.

A roda do carro foi retirada.(arocompneu)

O garoto roda seu brinquedo.(doverborodar, girar)

Formaram uma roda de samba. (umgrupodepessoas)

Algumas palavras podem ter dezenas de sentidos.Há lingüistasqueaceitamatesedequeapolissemiaestárelacionadacomoprincípiodaeconomia lingüística, istoé,os falantes fariamoreaproveitamentodeformasjáexistentesnoprocessodecomunicação,demodoaevitaracriaçãodemaisumapalavraacadavezquesurgeanecessidadedenomearumnovoobjeto,umanovaentidadeouconceito.

Comovimos,alinguagemhumanasecaracterizaporumasériedeparticularidades.Nãohá,porexemplo,relaçãounívocaentreformaesentido.Destemodo,assimcomoformasidênticaspodemtersentidosdiferentes,tambémformasdiferentespodempossuirsentidosidênticosou similares.Quando istoacontece, estamosdiantedo fenômenoco-nhecidoporsinonímia.Eisumexemplo:

Ela fala espanhol

correspondea

Ela fala a língua de Cervantes.

Quandonosreferimosà“línguadeCervantes”,estamosnosrefe-rindoao“espanhol”.Temos,pois,umaunidadelexicaleumaexpressão,ambascomsentidospraticamenteidênticos,istoé,remetemoleitora

Page 34: [Livro UFSC] Estudos Linguisticos I

Unidade A - A Ciência Linguística

34

umamesmanoção.Umarelaçãosimilarpoderiaserpropostaemrela-çãoà“línguaalemã”aochamá-lade“línguadeGoethe”,ouaindafazerreferênciaàtorcidadoflamengopormeiodoempregodaforma:“ator-cidarubro-negra”.Evidentemente,dopontodevistaestilístico,empre-garumaououtraformapodegerarimensadiferença.Émuitointeres-santequesetenhaaopçãodeescolha,sobretudoemfunçãodogêneroempregado:literário,poético,político,etc.

2.6.2 Hiponímia e Hiperonímia

Partindodasunidadesgato, lebre eanimal,observamosquegatoelebrepodem,ambos,serrelacionadosaanimal.Podemosdizerentãoque gatoe lebresãohipônimosdeanimal.Porsuavez,gatoelebresãoco-hipônimos, isto é, estão situadosnomesmopatamardentrodestadistribuiçãoespecífica.

Ashierarquiaspodem, evidentemente, variar segundoos critériosadotados emdeterminada categorização.Oprofessorpodedeterminarseuspróprioscritériose,porextensão,suasprópriashierarquiasparare-alizarseutrabalhoemsaladeaula.Porexemplo,falarde tamareira pode,emalgunscontextos,gerarincompreensãoportratar-sedeumtipodeár-vorequenãoexistenoBrasil.Podemos,nestecaso,buscarmaiorgenera-lizaçãotrocandodepatamarefalandodepalmeira.Senãoforsuficiente,podemosbuscaroutronívelefalarem árvore ouemárvores que geram as tâmaras,queporsuavezsãofrutosmaisconhecidos.Fatosimilarpodeaconteceremrelaçãoàscerejeiraseoliveiras,quesãoasárvoresquege-ramrespectivamenteascerejaseasazeitonas.Àmedidaqueascendemosnadireçãodepatamaresmaisgerais,encontraremososhiperônimos.

Comotodadisciplina,aSemânticadesenvolve-seemconsonânciacomosmétodoscientíficos,todavia,diferentementedaFonologia,daMorfologiaedaSintaxe,disciplinasnasquaisháacordosrelativamentegeraisedecon-sensoquantoàunidadedeanálise,aSemânticapossuiváriasabordagens,sobretudoemrazãodovastolequedeestudosqueabarca.Comojáassina-lado,aSemânticaconsideradesdeosignificadodaspalavras,passandopelafraseepelasrelaçõessemânticasqueseestabelecementreelasnodiscurso.ASemânticainteressa-seaindapelasrelaçõespragmáticasqueexaminamosjogosimplicadosnousodalinguagem,emsituaçõesvariadas.

Page 35: [Livro UFSC] Estudos Linguisticos I

As subáreas da Lingüística

35

Capítulo 02

Algumas Considerações Finais

Nestaunidade,retomamosalgunstemasquejáhaviamsidotrata-dosnadisciplinaIntrodução aos Estudos Linguagem,procurandoofere-cerdadoseconhecimentos teóricosquepossibilitemoentendimentoamplodaáreadeatuaçãoedosobjetosdeinvestigaçãodaLingüística.

Nossa intençãomaior foiadepromoverreflexões teóricasa res-peitodalínguademodoapodercriarcondiçõesparaacompreensãodasáreasdeconhecimentoaseremabordadasmaisdetalhadamentenaUnidadeB,quaissejam:FonéticaeFonologia.Alémdisso,oentendi-mentodocampodeatuaçãodoprofissionaldaáreadeLetraspermitequevocêpossa se situardevidamente e tomar suasprópriasdecisõesrelativasàsuainserçãonaárea.

Napróximaunidade,comovocêsabe,nossaconversaestarácen-tradaemaspectosrelativosàsmenoresunidadesanalisáveisdalíngua:osomconcreto(fone)eaunidadeabstrata(fonema).

Vamoslá,então!

Saiba mais...

Hámuitasteoriasemodeloseabordagensaseremconhecidos.Su-gerimosavocê,nestemomento,queestudenoções introdutóriasque lhe permitam progressivamente se lançar em questõesmaisaprofundadas.Para fazê-lo, é interessanteque, inicialmente,vocêbusquereferênciasemobrasdeintroduçãoàLingüística,queabar-camasprincipaisnoçõesdasemântica.Pesquise,porexemploem:

MUSSALIM,Fernanda;BENTES,AnnaChristina (Org.). In-trodução à lingüística: domínios e fronteiras.6.ed.,v.1.SãoPau-lo:Cortez,2006.

MARTIN,Robert.Para entender Lingüística.SãoPaulo:Pará-bola,2003.

Page 36: [Livro UFSC] Estudos Linguisticos I

Unidade A - A Ciência Linguística

36

Glossário Relativo à Unidade A

Cognição:relativoaoprocessomentaldepensamento,percepção,memória,aprendizagemerecordação(STERNBERG,2000).

Estratificação:operaçãoque,numasondagem,consisteemdistri-buirpreviamenteporestratos(camadas,parcelas,níveis)determi-nadosconjuntosquesequerestudar(HOUAISS;VILLAR;FRAN-CO,2001,p.1261).

Inexorável:aquenãosepodesubtrair;fatal;inelutável.Antônimo:permanente.(HOUAISS;VILLAR;FRANCO,2001,p.1611).

Miscelânea: conjunto de coisas diferentes; mistura (HOUAISS;VILLAR;FRANCO,2001,p.1933).

Paradoxo:aparentefaltadenexooulógica;contradição;proposi-çãoouopiniãocontráriaàcomum(HOUAISS;VILLAR;FRAN-CO,2001,p.2127).

Psicolingüística: área interdisciplinar da Lingüística que se voltaao estudo dos processos cognitivos, sobretudo àqueles ligados àaquisição,aoprocessamento,àcompreensãoeàproduçãodalin-guagem.Investigatantoasrelaçõesentrepensamentoelinguagemquantoosprocessos envolvidosnousoda linguagem, tais comosistemasdememória.

Sinergia: cooperação; coesão; ação coordenada (HOUAISS;VILLAR;FRANCO,2001,p.2579).

Sintagma:segmentolingüísticoqueexpressarelaçãodedependên-cia.Háumelemento independente (que impera)eumelementodependente(ousubordinado).Cadaumdelesconstituiumsintag-ma.Geram-se,nesteprocesso,relaçõesdesubordinação.

Transcrição:correspondênciasegmentoasegmentoentreasuni-dadesdalínguafaladaeasunidadesgráficas.Emtermosfonéticosefonológicos,atranscriçãofazcorresponderaosfonesoufonemasdaslínguassímbolosdoAlfabetoFonéticoInternacional(DUBOIS;GIACOMO;GUESPINet.al.,1998,p.594).

Page 37: [Livro UFSC] Estudos Linguisticos I

Unidade BA Fonética e a Fonologia

Page 38: [Livro UFSC] Estudos Linguisticos I
Page 39: [Livro UFSC] Estudos Linguisticos I

39

Palavras Preliminares

Nossasegundaunidadeédedicadaaoestudodoscomponentesfonéti-coefonológico.Emseudesenvolvimento,serãoabordadosalgunsaspectosamplosconcernentesàlinguagem,ouseja,àquiloqueécomumatodosossereshumanos,etambémfatosligadosàslínguasespecíficas.

Vocêsabequeháindivíduosquepossuemvariaçõesdeordemana-tomofisiológicasou,àsvezes,denaturezaneurológicaqueosdiferenciamdasconfiguraçõesmais freqüentes, julgadas “comunsounormais”, talcomoafalaarticulada.Essasparticularidades,porvezes,provocamma-nifestaçõeslingüísticassingularizadas,ouseja,“diferentes”.Asnecessi-dadesprovenientesdetaisvariaçõesfazememergirformasdeexpressãoalternativas àquelas que comumentemente conhecemos e utilizamos.Umexemplobemconhecidoéa linguagemdesinais.Hámilharesdepessoasqueapraticamporteremnascidocomespecificidadesqueasimpedemdesemanifestardamaneiramaiscorrenteeconhecidapelamaioria.Todavia,aspessoasqueusamestecódigonãoestãoprivadasnemdalinguagemenemdousodaslínguas,simplesmenteofazemdemododiferente.Sevocêaindanãoconhecenadaarespeito,procureseinformarmaissobreaLínguaBrasileiradeSinais(LIBRAS).

Saiba mais...

Acesseositeabaixoeprocureseuslinks.VocêvaiencontrarmuitasinformaçõessobreLIBRAS.

http://www.ead.ufsc.br/hiperlab/avalibras/moodle/prelogin/

Osindivíduosquenãopossuemnenhumapatologia ligadaà lin-guagemusamosditos“sonsdalíngua”.Naverdade,poderíamosfalartambémem“sonsda linguagem”,pois,emprimeira instância,muitossonspodemserconsideradoscomunsatodosossereshumanos.Pense,porexemplo,nosbebês.Desdeosseusprimeirosdiasdevida,osbebêsemitemsons.Estessons,parafinsdeestudo,podemserconsideradoscomopertencentesàlinguagemhumana.Somenteapartirdomomento

Page 40: [Livro UFSC] Estudos Linguisticos I

Unidade B - A Fonética e a Fonologia

40

emqueosbebêspassamafazerreferênciaasituaçõesdoseucotidiano,aos objetos que os circundam, na intenção de se comunicar, estarão,progressivamente, adquirindo e empregando uma língua específica.Obviamente,alínguaquedesenvolverãoéaquelafaladaporseusentesmaispróximos,sejaelaqualfor:espanhol,português,tupi-guarani,etc.

Como jáestudamos,aLingüísticaquasesempreexcluidoroldeseus interessesossonsnãopertencentesà línguaouà linguagemhu-mana,taiscomo:tosse,ronco,soluços.Tudodependedoslimitesqueseestabelecememrelaçãoàquiloquesequerinvestigar.

FonéticaeFonologiasãoduasáreascomplementares.Assim,émui-todifíciltratardeFonéticasemfazermençãoaquestõesdeordemfono-lógicaevice-versa.Oestudodaproduçãoarticuladadetodaequalquerlínguapassaobrigatoriamentepeladescriçãofonéticaefonológica.

ApesardeaFonéticasededicaràidentificaçãoeclassificaçãodoselementosdacadeiadafala,éimportantelembrarqueossonsexamina-dospelaFonéticafazempartedeumfluxosonoro.

Afalasedesenvolvesobaformadeumfluxosonoro.Assim,porexemplo, ao ouvir uma língua desconhecida como omandarim(faladoporgrandepartedoschineses), vocêprovavelmentenãoconseguirádeterminarfronteirasentrepalavras,poisnalínguafa-lada (textosorais)nãoexistemespaçosentrepalavrasouunida-desdesentido.Vocêpronunciaefetivamente[ascazazamarelas]aodizer “as casas amarelas”.Comparativamente,nos textos escritosháespaçamentoexplícitoentrepalavras,expressões,frasesoupe-ríodos,realizadoscomossuportesgráficosquevocêconhece,ouseja:espaçamento,pontofinal,vírgulas,travessão.Sevocêgravarumalínguaemsituaçãonormaldeusoeinseri-laemumsistemadeanáliseacústica,ofatoficarámaisevidente.Nãoserápossíveldefinirfronteirasentrepalavrasouentreunidadesdesentido.Parafazê-lo,vocêprecisaráconhecerafundoalínguaexaminada.Mes-moemsetratandodoportuguêsbrasileiro,nossosistemaauditivorecebeumfluxosonorocontínuo.

Page 41: [Livro UFSC] Estudos Linguisticos I

41

AoposiçãoentreFonéticaeFonologiafazpartedeumaconvençãoquepermitetornaroobjetodeestudomaisclaro.Assim,afonéticaes-tudaasubstânciadalinguagemoraldemodoacontribuirparaumame-lhorcompreensãodaforma(definidaporsuafunçãocomunicacional).

AntesdenosaprofundarmosemFonéticaeFonologia,édeextre-maimportânciatratardaduplaarticulaçãodalinguagem.Éjustamentenacompreensãodestanoçãoquesesituaumadasgrandescuriosidadesarespeitodofuncionamentodalinguagemhumana.Suponhaaexistên-ciadeumextraterrestrequeviessevisitarnossoplaneta,aTerra.Talvezaduplaarticulaçãodalinguagemfosseopontoquemaisointeressariaarespeitodasbasesdenossosistemadecomunicação.

Figura 3: Ilustração da dupla articulação da linguagem humana

Page 42: [Livro UFSC] Estudos Linguisticos I
Page 43: [Livro UFSC] Estudos Linguisticos I

A Linguagem e sua Dupla Articulação

43

Capítulo 03

A Linguagem e sua Dupla Articulação

Neste capítulo, trataremos de compreender a dupla articulação da linguagem humana.

3.1 A Dupla Articulação da Linguagem

Comojádestacamos,alinguagemhumanapossuialgumascarac-terísticasmuitoparticularesqueasingularizam,istoé,queadistinguemdasoutras formasde comunicação.A linguagemhumanacompõe-sedeumsistemadesignos(sonoros,gestuais,gráficos)empregadoscomomeiodecomunicaçãoparaaexpressãodeidéiasesentimentos.Eviden-temente,elatemmuitasoutrasfunções;entretanto,nosdeteremosnafunçãocomunicativaporora.

Comovocêjásabe,nalinguagemhásemprerelaçõesdecomposi-çãoentreunidadesdeníveisdiferentes.Porexemplo,afraseécompostade sintagmasque, por sua vez, são compostosde vocábulos, que sãocompostosdemorfemas,quesãocompostosporfonemas.Estetipodeanáliseéchamadodeanálisedosconstituintesimediatos.Sobestapers-pectiva,aceitamosquecadaunidadepodeserdecompostademodoacolocaremevidênciaseusconstituintessituadosnopatamarimediata-menteinferior.Dessaforma,dizemos,porexemplo,queosfonemassãoosconstituintesimediatosdosmorfemas.

Cadaumdessesníveiséestudadodemaneiradiferente.Observemqueumadiscussãofundamentalseparaonívelfonológicodonívelmor-fológico.Trata-sejustamentedanoçãodeduplaarticulação.

Aduplaarticulaçãoéconsideradacomootraçomaisimportantedalinguagemhumana.

3

Page 44: [Livro UFSC] Estudos Linguisticos I

Unidade B - A Fonética e a Fonologia

44

Umenunciadopodesersegmentadoemmorfemas(signoslingüís-ticos),talcomoem“casinhas=casa+inha+s”.Porsuavez,essesmor-femaspodemsersubdivididosemfonemas,ouseja,sonscujafunçãoépuramentedistintiva:/k+a+z+i++a+s/.

Alinguagemhumanaéarticulada,istoé,elaéconstruídasobreumsistemadeoposiçõesedecombinaçõesentreunidadesdiscretas,defor-madupla.Porisso,fala-seemduplaarticulação.Explicandodemodomaisdetalhado,podemosdizerque:

aprimeira articulação se refere àsunidadesquepossuemum1.significante (uma forma fônica)eumsignificado.Significanteesignificadosãoindissolúveis,inseparáveis.Elesconstituemosigno lingüístico.Há,emcadalíngua,umnúmeromuitograndedeunidadessignificativas.Elessãorenovadospermanentemen-teemrazãodasnecessidadesdecadacomunidade lingüística,formandooquechamamosdeléxicodeumalíngua.Todososdias,surgemnovasunidadesdotadasdesentido,poisprecisa-mosdelasparaacomunicaçãocomosmembrosdenossacomu-nidadelingüística,paraarealizaçãodenossasreflexões,etc.

Para que você possa compreender melhor, vejamos novamenteomesmoexemploapresentadonaUnidadeA(seção2.4).Napalavra“mesas”existemdoismorfemas:“mesa”(queconstituioquechamamosdebaseouraiz)eopluralmarcadopelomorfemagramatical“s”.Ase-qüência“sas”nãoéummorfema,porquenãochegaaterumsignificadolingüísticoemportuguês.Reiterando:

Omorfema é definido como amenor unidade com significadoespecífico.

Cadamorfemaéindivisívelemunidadessignificativasmenoresepossuisignificaçãoparticular.

asunidadesacima,daprimeiraarticulação,istoé,asunidades2.significativas(oumorfemas)podemserdecompostasemuni-dadesdesegundaarticulação,ouseja,emfonemas.Osfonemas

Se você tem dificuldades para compreender a noção de sig-

no lingüístico, releia o texto da disciplina de Introdução aos Estudos da Linguagem. Lá, você vai encontrar expli-

cações claras e detalhadas a este respeito.

Page 45: [Livro UFSC] Estudos Linguisticos I

A Linguagem e sua Dupla Articulação

45

Capítulo 03

nãopossuemsignificado.Apesardisso,possuemafunçãodis-tintiva.Éjustamentenestepontoquesepodeobservaraextra-ordinária eficácia da linguagemhumana, isto é, seuprincípiodeeconomia,poiscomumnúmeromuitoreduzidodefonemas(aproximadamente33emportuguêse24emespanhol),épossí-velgerartodososmorfemasdeumalíngua.

Coloquialmente falando, com uma média de somente 30 sons(vocálicoseconsonantais),ouatémenos,nocasodemuitaslínguas,épossívelconstruirmilhõesdepalavras,milhõesderelaçõesentreelas,enfim,elaborarumaimensidãodediscursos.

Atenção:Onúmerode fonemasdeuma línguanão temrelaçãocomsuapluralidadelexical,comsuariquezacultural.Nãohálínguasprimitivas.Todaspossuemigualstatusdiantedaanáliselingüística.

3.2 Retomando Algumas Informações Importantes

Cadalínguapossuiumnúmerofixodefonemas.Elessãoaspar-tículasmínimasda construçãodos enunciados.Os fonemasnão car-regamconsigosignificado;noentanto,possuemvalordistintivoe,porextensão, importância fundamental, constituindoachamada segundaarticulação.Acombinaçãolinearentrefonemasgerasegmentosmaio-resquecompõemasunidadesdotadasdesignificação,istoé,osmorfe-mas,quesãoasunidadesdeprimeiraarticulação.

Osfonemassóexistemnaestruturadalíngua.Sobesteprisma,po-demosdizerqueonúmerodefonemaséfinitoedeterminável.Muitosfonemasserepetememoutraslínguas;issoénatural.Porexemplo,nopardelínguasportuguêseespanhol,háváriosfonemasemcomum.

Na verdade, o aparelho fonadorhumanopodeproduzir umnú-meromuitograndedesonsdiferentes.Aslínguasdomundoexploramessaspossibilidadeseasempregamcomounidadesdistintivas,ouseja,comofonemas.Noportuguêsbrasileiro,porexemplo,temosumagran-devariedadedesons“R”.Sãochamamoscoloquialmentede“R-caipira”,“R-gaúcho”,“R-carioca”,etc.Quandopronunciamos,porexemplo,apa-

Page 46: [Livro UFSC] Estudos Linguisticos I

Unidade B - A Fonética e a Fonologia

46

lavra“porta”,ofatodeempregarmosesteouaqueletipode“R”nãofaránenhumadiferença,ouseja,essasvariaçõesnãoprovocarãomudançadesentido.Porém,sedissermos:“carro”e“caro”,teremosdoisfonemasdistintosemportuguês,respectivamente:// e //.Elespossuemvalordiferente,ouseja,nessecontextoproduzemsignificaçõesdiferentes,aopassoqueemumalínguacomoofrancêsessaoposiçãonãoépertinen-te,poisnalínguafrancesahásomenteumtipode“R”.

Comojávimos,ossons,consideradosemsuaessênciafísica,ouseja,exclusivamente investigadoscomosons, semconsiderar funçãodistintivadentrodosistemadeumalíngua,sãoestudadospelaFonética.Assim,cabeàFonéticaestudarosváriostipospossíveisde“R”emportuguês.Elespodemsomardezenas.MascaberáàFonologiaverificarseelessãoounãosãofone-mas,istoé,seelespossuemvalordistintivo.Visualizeoquadro2abaixo:

Fonética Fonologia

Estudo dos sons da fala, isto é dos fones.

Estudo dos sons com valor distintivo.

Quadro 2: Síntese das funções da Fonética e da Fonologia

Vamos,agora,proporummergulhomaisfundonaFonética.

Para compreender e conhe-cer os fones aos quais estes

fonemas se referem, ou seja, a maneira como eles são ar-ticulados, recorra ao quadro 8, na seção 4.2.3 relativa às

consoantes do português brasileiro. Lá você poderá

ouvir a pronúncia de todos os sons consonantais, além de

ter acesso a exemplos.

Page 47: [Livro UFSC] Estudos Linguisticos I

A Fonética

47

Capítulo 04

A Fonética

Neste capítulo vamos explorar o universo dos sons lingüísticos.

Éprecisoadmitirqueaposiçãoformalista(Vejaconteúdosdadisci-plinaIntrodução aos Estudos da Linguagem)contribuiusobremaneiraparaacomposiçãodosconhecimentosquesepossuihojeemLingüística.Es-tabelecendoumaanalogia,é imprescindível lembrarque,assimcomoéimportanteanalisaraestruturadeumpássarotantopeloseuvôoquantoporsuamaneiradevoar,estudando-oemseuambientenatural,tambéméimportanteconsideraroestudodossonsdafalanolocalondeelesexistemesemanifestamemsuaplenitude,istoé,nacadeiadafalaenodiscurso.

Apresentamosnoquadroabaixo,astrêsetapasbásicasdacomuni-cação,asaber:produção,transmissãoepercepção.Nossaatençãorecai-ráparticularmentesobreaprimeira,ouseja,sobreaprodução.VamosenfatizaraquestãodaFonéticaArticulatóriasobreaqualjálançamosalgumasbasesnaUnidadeA.AsdescriçõesdaFonéticaconstituemumadasprincipaisbasesparaaanálisefonológica.

Etapa da comunicação Subárea da Fonética correspondente

ProduçãoFonética Articulatória

(estudo do aparelho fonador e da produção dos sons da fala)

Transmissão Fonética Acústica(estudo das propriedades físicas dos sons)

PercepçãoFonética perceptiva

(estudo do aparelho auditivo e dos mecanismos de decodificação dos sons)

Quadro 3: Etapas da comunicação no que diz respeito aos aspectos fonéticos

Noesquemageraldacomunicação,temosumsujeitoqueproduzsonsdalinguagemarticulada(oral),quesepropagamatravésdoare,finalmente,sãoapreendidosporumsistemareceptor,istoé,poroutrosindivíduos.

4

Page 48: [Livro UFSC] Estudos Linguisticos I

Unidade B - A Fonética e a Fonologia

48

Produção de sons Propagação de sons através do ar Recepção dos sons

Figura 4: Esquema da comunicação

4.1 O Aparelho Fonador

Aspartesdocorpohumanoutilizadasparaaproduçãodafalapos-suemcadaumadelasoquesechamadefunçãoprimária,asaber:respi-ração,mastigação,glutição,olfato,etc.Quandoproduzimosossonsdalíngua,realizamos,naverdade,umasobreposiçãodefunções,istoé,asmesmaspartesdocorpoempregadasparaasfunçõesprimáriassãoem-pregadas,agora,paraumasegundafunção,ouseja,paraaproduçãodossonsdalinguagem.Damosaesteconjuntoonomedeaparelhofonador.Vejamosoaparelhofonadornafigura5abaixo.

Fossas nasais

Alvéolosolos

Palato

Ápice

Véu do palato

Úvula

íngua Faringe

Epiglote/glote

Lábios

Laringe

Cordas vocais

Esôfago

Traqué ia artéria

Figura 5: Aparelho Fonador

Page 49: [Livro UFSC] Estudos Linguisticos I

A Fonética

49

Capítulo 04

Neste esquema, você pode visualizar um desenho representandoumapartedaanatomiahumana,comosetivéssemosrealizadoumara-diografiatransversaldestapartedocorpohumano.Trata-se,naverdade,deumtraçadofeitoàmão,quecolocaemevidênciaalgumasdasprinci-paispartesdoaparelhofonador.Éimportantequevocêconheçaonomedealgunsdestesórgãos,poiselesparticipamdanomenclaturautilizadaparaaclassificaçãodasvogaisedasconsoantes,comoveremosadiante.

4.2 Sons Vocálicos e Consonantais

SegundoCagliari(1995,p.57),classificarasletrasdoalfabetoemvogaiseconsoantessófazsentidoseestasletrasremetemasonsque,nafala,podemserclassificadoscomovogaiseconsoantes,segundoadescriçãofonética.Demodosimilar,classificarasletrasemvogaiseconsoantestemcomoúnicafunçãoamarcaçãopréviadetiposdiferentesdeletras.Todavia,nafala,vo-gaiseconsoantessãomuitodiferentesquandoestudamosamaneiracomosãoarticuladas.Assim,colocaremosênfasesobreaquestãodaarticulação.

4.2.1 As VogaisTodasas línguasdomundopossuemvogaiseconsoantes.Paraa

produçãodeumavogaloudeumsegmentovocálico,apassagemdoarnãosofreaçãodiretadenenhumórgão,istoé,nãoháobstruçãooufricçãodoarnacavidadebucal.Oqueocorreefetivamentesãoaltera-çõesdevolumenessacaixaderessonância(oral)quepermitemprovo-carsonsdiferentesentresi.Comumente,chamamosessasmodificaçõesde estreitamentosda cavidadeoral.Esses estreitamentosocorrememrazãodosmovimentoshorizontaiseverticaisdamassadalíngua,queoraseaproxima,oraseafastadopalato(céudaboca).Paraaproduçãodasvogais,acontecemtambémmovimentoslabiais,ouseja,estiramentoouarredondamentodoslábios.

Prática

Pronuncie um [s] ou [x] alongando sua produção. Trata-se de uma consoante.

Você perceberá que parte de sua língua obstrui parcialmente a passagem de

Page 50: [Livro UFSC] Estudos Linguisticos I

Unidade B - A Fonética e a Fonologia

50

ar no céu da boca (palato). Ocorre uma fricção do ar no orifício criado pela

língua, palato e dentes. Já o som [a], vocálico, é produzido sem nenhuma

obstrução na cavidade oral. Experimente produzi-los de modo comparativo.

Estesmovimentosdalínguaemdireçãoadiferentessetoresdopa-lato,bemcomoaprotusãolabial,sãodeterminantesparaaclassificaçãodasvogaisque,emrelaçãoaosmovimentoshorizontaisda língua,po-demser classificadas comoanteriores, centrais eposteriores.Comre-laçãoaosmovimentosverticais, asvogais sãoclassificadascomoaltas,médiasebaixas(outambémcomofechadaseabertas).Finalmente,emrelaçãoàformadoslábios,podemsercaracterizadascomoarredondadasenão-arredondadas.Naturalmente,vocêpoderáencontrarclassificaçõeseterminologiasdiferentes,segundoosautorespesquisados.Emciênciatrata-sedefatonatural.Oimportanteéquevocêtenhaconsciênciadissoecompreendaosprincípiosbásicosqueregemosdiversosfenômenos.

Prática

Pronuncie a seguinte seqüência [ i - e - é - a - ó - o - u ]. Observe como a

língua se move progressivamente no sentido horizontal, isto é, da região

próxima aos dentes frontais em direção à garganta.

Agora, experimente, diante de um espelho, pronunciar várias vezes as vo-

gais [ é u ]. Sinta como seus lábios se estiram ao produzir um [é] e se arre-

dondam ao pronunciar [u].

Passe para um outro exercício: observe os movimentos verticais, ou seja, de

baixo para cima e vice-versa, pronunciando várias vezes [ a - i ].>

É importante você ter consciência de que para estudar e compreender de-

vidamente as bases da Fonética Articulatória é necessário praticar exercí-

cios dessa natureza. Seu aparelho articulatório é como um laboratório que

lhe permite fazer vários testes práticos. Assim procedendo, você vai perce-

ber mais claramente os processos de produção de muitos sons. Por vezes,

se você tiver dúvidas sobre como classificar uma determinada vogal, seu

próprio sistema articulatório poderá auxiliá-lo na busca das respostas que

você procura. É muito interessante!

Page 51: [Livro UFSC] Estudos Linguisticos I

A Fonética

51

Capítulo 04

i

e

é a

o

ó

u

Figura 6: Aparelho fonador com trapézio vocálico sobreposto

Observeafiguraacima.Convencionou-se,demodoesquemático,visualizaraarticulaçãodasvogaisdesenhandoumtrapéziosobreotra-tooral.Eleacompanha,figurativamente,osdeslocamentosdamassadalínguaemrelaçãoaopalato.O ladoesquerdodeste trapéziovocálicorepresentaaparteanteriordacavidadebucal,istoé,aquelazonaquesesituapertodosdentesfrontais.Oladodireitoéchamadodeposterior,istoé,aregiãopróximaàgarganta.Apartedecimadotrapézioécha-madadealtaeabasedotrapéziodebaixa.Imaginandodestamaneira,acompreensãodaclassificaçãodasvogaissetornabastantesimples.Porexemplo,o[a],segundoesseesquema,serácaracterizadocomovogalbaixa,central.Seconsiderarmosaprotusãolabialeleseráclassificadoaindacomonão-arredondado.VejamosaFigura7:

Page 52: [Livro UFSC] Estudos Linguisticos I

Unidade B - A Fonética e a Fonologia

52

i

Anteriores | Central | Posteriores

Médias

Altas

Baixa

u

e o

a

Figura 7: Trapézio vocálico e classificação das vogais orais

Sevocêexercitarnovamente,perceberáquetodasasvogaisante-riores e centraisda línguaportuguesanão são arredondadas, e todasasposterioressãoarredondadas.Emnossa língua,oarredondamentolabialnãoéumtraçosignificativodasvogais!

Vocêpodesebasearnafiguraacimapara,apartirdeagora,passarmosautilizarumasimbologiadiferentepararepresentarossonsdalinguagem.Existemsímbolosespeciaisparafazerreferênciaaossons.Logoabaixo,háumaentradaespecíficaquetratadatranscriçãofonética.Sevocêtiverdúvi-das,avancealgumaspáginaseobservequeossímbolos[]e[],mostradosnafiguraacima,representam,respectivamente,ossons[é]e[ó].

Nafiguraabaixo,aparecemrepresentadasasvogaisdoportuguês.Vocêpoderáobservarque,emnossa língua, temosdozevogaisemposiçãodemaiorintensidade:seteorais:[,,ε,,,,]ecinconasais:[,,,,].

i ĩ u ũ

e ẽ o õ

a ãFigura 8: Trapézio vocálico do português

Otrapéziovocálicodoespanholpossuimenosvogaisdoqueodoportuguês.Nalínguaespanhola,háapenascincovogais,comopodeserconstatadono trapézio abaixo (Figura9).Não existem,por exemplo,

Provavelmente, os símbolos []e [] lhe causaram estra-nhamento. Eles pertencem a uma convenção de trans-crição fonética e fonológi-ca chamada IPA. Para saber mais sobre estes símbolos, antecipe-se um pouquinho e leia rapidamente a seção que trata do Alfabeto foné-tico (4.2.2).

Page 53: [Livro UFSC] Estudos Linguisticos I

A Fonética

53

Capítulo 04

asoposiçõesaberta/fechada,comoháemportuguêsentre:[]e[]ouentre[]e[],comonosseguintesexemplos:“meu/mel”e“avô/avó”.Noqueconcerneàsnasais,foneticamente,anasalizaçãonalínguaespa-nholapodeatéserconstatadaemalgumasdesuasrealizações,masnãoocorreránuncacomvalorfonológico,ouseja,distintivo.

i u

e o

aFigura 9: Trapézio vocálico do espanhol

Insistimos,maisumavez,queofatodeoportuguêspossuirumnú-meromaiordevogaisrefletetão-somenteumadasdiferençasentreasduaslínguas.Ambaspossuemtodososelementosnecessáriosesuficientesparaamanifestaçãodosentido,istoé,paraacomposiçãodequalquertipodedis-curso.Omaioroumenornúmerodeconsoantese/ouvogaisnãofazcomqueumalínguasejasuperioràoutraenemquesejamaisbela.Osjuízosdevalorrefletempreconceitos,ealingüísticanãoosreconhece.

Informação históricaOsfonemasvocálicosabertos,provenientesdolatimpopular,foramconservadosemportuguês,porémemespanholseditongaram,comosepodeobservarnosexemplosseguintes:

Latim popular Português Espanhol

petram pedra piedra

fortem forte fuerte

Quadro 4: Demonstrativo histórico - comparação português/espanhol.

4.2.2 O Alfabeto Fonético

Doravante,vamosadotarumasériedesímbolosespeciaisquevocêpassaráaconhecer.Trata-sedochamadoalfabetofonético.Estanotaçãobaseia-seemumaconvençãoempregadacientificamenteparadescrever

Page 54: [Livro UFSC] Estudos Linguisticos I

Unidade B - A Fonética e a Fonologia

54

ossonsdaslínguasemgeral.Notrapézioapresentadoacima,vocêjádeveterpercebidoquealgunssímbolossãobemdiferentesdasletrasdenossoalfabeto,comoavogal[ε]dapalavra“pé”eavogal[]dapalavra“pó”.Estaconvençãoédiferentedaquelaqueusamosnossistemasortográfi-cosdoportuguês,doespanhol,dofrancês,enfim,daslínguasemgeral.Assim,diversossonsdoportuguês,bemcomodemuitasoutraslínguas,serãorepresentadossegundoestaconvençãocadavezqueseestivertra-tandodapartefísicadossonsdafala,istoé,deFonética,oudafunçãoqueestessonsexercemnosistemalingüístico,ouseja,deFonologia.

Umdosgrandes interessesdeseestudarasregrasdatranscriçãofonéticaéviabilizar,aomesmotempo,acodificaçãoeadecodificaçãodequalquersom,dequalquerlínguademodoaproximativo.Evidente-mente,issoépossíveldesdequeseconheçabemasrelaçõesentreessasconvençõeseosrespectivossons.

Háumalfabetofonéticodeconsenso,istoé,aceitoeutilizadoporgran-departedospesquisadores.Chama-seAlfabetoFonéticoInternacional.Nor-malmente,parasefalardestesistemadesímbolos,emprega-seaabreviação“IPA”,doinglês:International Phonetic Alphabet.Há,assim,certonúmerodefontes(símbolos)adotadosinternacionalmenteparaacomposiçãodoIPA.

Pense,porexemplo,napalavra“casa”.Vocêpronunciaeouveclara-mente[z]entreasduasvogais,nãoémesmo?Noentanto,nossasregrasortográficasexigemoempregodo“s”gráficonestecontexto.Arazãodissoésimples:aspalavraspossuemumahistória.Elasforamprogressivamentesecompondoaolongodosanos.Aslínguas,emgeral,possuemumlongopassado.Hámotivosetimológicosparaquenossosistemaortográficotenhaestaconfiguração.Quandocriança,temoscertadificuldadeparaaceitaraidéiadeescreverumapalavracom“s”,aexemplode“casa”,pronunciandoosom[z].Evidentemente,maistarde,compreendemosqueemnossalín-gua,emalgunscontextos,aletra“s”épronunciadacomsom[z]equehárazõeshistóricasparatal.Poisbem,utilizandooIPA,vocêpoderágarantirarelaçãobiunívocaentresomesímbolocorrespondente.Poderáescreverfoneticamenteapalavra“casa”daseguinteforma:[‘z].

Demodoarepresentarossomfoneticamente,éimportantesaberqueoprincípiosebaseiaemumatentativadeestabelecerrelaçõesbiuní-vocasentresímbolosesons.Destemodo,usaremosaseguintenotação:

Page 55: [Livro UFSC] Estudos Linguisticos I

A Fonética

55

Capítulo 04

Colchetes para indicar que estamos tratandode fonética, isto1.é,osímbolofonético–ouatranscriçãodefrasesepalavras–ésempreapresentadoentrecolchetes:[fone/som];

Símbolosquerepresentamossons:geralmenteoIPA.2.

Assimprocedendo,comovimosacima,apalavra“casa”serátranscrita,foneticamente,destemodo:[‘z].Oapóstrofocolocadoantesdaprimeirasílaba,[‘],indicaoacentosilábico.Observe,noquadroabaixo,atranscri-çãodasdozevogaisdoportuguês,comrespectivosexemplosilustrativos:

Vogal Exemplo Transcrição

apito [’]

ímpeto [‘]

apelo [’]

pente [‘] ou []

pé [‘ε]

pato [‘]

pantera [ ’]

pó [‘]

poço [‘]

ponche [‘]

pura [‘]

junto [‘]

Quadro 5: Quadro demonstrativo: transcrição fonética

Observequeaordemparaaapresentaçãoestádeacordocomotrapéziovocálicoque,comojámencionamos,acompanhaosmovimentosdamassadalínguaemrelaçãoaopalato.VisualizenovamenteodesenhodotratooralapresentadonaFigura6,representandootrapéziovocálicodoportuguês.

Algumas vezes, tendo em vista a complexidade dos princípios queregemnosso sistema alfabético/ortográfico, quandonãonos lembramosexatamentedagrafiacorretadeumapalavra,precisamosdoauxíliodeumdicionário.Aspalavras“exceção”e“excesso”,porexemplo,podemeventual-mentegerardúvidas,porpossuírem,ambas,composiçõesbastantesingula-res.Estesdoisexemplosservirão,aqui,paraumareflexãointeressante.

Page 56: [Livro UFSC] Estudos Linguisticos I

Unidade B - A Fonética e a Fonologia

56

Vejamos...

Vocêsabia,porexemplo,que,emportuguês,háoitomaneirasparaserepresentargraficamenteosom[s]?Porquestõesdenaturezadiacrôni-ca,aspalavrasprecisamserregistradasassim,paraestardeacordocomaformaquetomaramaolongodasuahistória,istoé,duranteosprocessosdecomposiçãodalíngua,dapassagemdolatimaoportuguêsbrasileiro.

Observenoquadro6abaixoepresteatençãoàsletrasemnegrito:

Som Grafema Exemplo/palavraTranscrição fonética

(Inserir gravação de todas as palavras)

[s] s sapo [‘s]

[s] ss massagem [’s]

[s] c central [s’]

[s] ç maçã [’s ]

[s] x máximo [‘s]

[s] xc exceção [s’s]

[s] sç cresço (crscer) [‘s]

[s] sc nascer [’s]

Quadro 6: Grafias do som [s] em português

Imagine,porexemplo,asdificuldadesqueteriaumestrangeiroquenãoconhecebemoportuguês,paralerepronunciaressaspalavras?Po-rém,seporventuraestesupostoindivíduotiverconhecimentodoIPA,elepoderáencontrarsubsídiosnatranscriçãofonéticaquelhepermiti-rãoestabelecerasrelaçõesmaispróximasentreografemaeosom,cor-respondente.Essaaproximaçãoépossívelemportuguêseemqualqueroutralíngua.

Observandooquadroacima,vocêpoderáconstatarqueatranscri-çãoéumprocessorelativamentesimples.Porém,vocêestudousomenteasvogais.Aindafaltamasconsoantes.Aofazê-lo,oprocessosetornaráaindamaisevidente.

Page 57: [Livro UFSC] Estudos Linguisticos I

A Fonética

57

Capítulo 04

4.2.3 As ConsoantesVimos que as vogais se caracterizampor seremproduzidas sem

interrupçõesda corrente de ar. Já noquediz respeito aos segmentosconsonantais,hásemprealgumtipodeobstrução,oratotal,oraparcialnalinhacentraldascavidadessupraglotais(vejanovamenteaFigura5relativaaoAparelhoFonador).

Asconsoantespodemserclassificadasdeacordocomparâmetrosarticulatóriosouacústicos.Tudodependedaperspectivaadotada.

Naclassificaçãopropostaaqui,consideraremososseguintesparâ-metros:

Direçãodacorrentedear (emportuguêseespanhol todosos1.sonssãoproduzidosnaexpiração);

Vibraçãodascordasvocais(surdas/desvozeadasousonoras/vo-2.zeadas);

Oralidadesomenteounasalidade;3.

Órgãosarticuladoresimplicadosnaproduçãodossons;4.

Mecanismoempregadonaobstruçãodacorrentedear.5.

MODO DE ARTICULAÇÃO LUGAR DE ARTICULAÇÃOTipo de

consoante segundo o

movimento

Passa-gemdo ar

Vibraçãodas

cordasvocais

Bila-bial

Labio-dental

Dental,alveolar

ou alveo-dental

Alveo-palatal

Médio-palatal

Dorso-palatal

(ou velar)Glotal

OclusivaOral

Surda

Sonora

Nasal Sonora

Africada OralSurda

Sonora

Fricativa OralSurda s

Sonora z

Page 58: [Livro UFSC] Estudos Linguisticos I

Unidade B - A Fonética e a Fonologia

58

Tipo deconsoante segundo o

movimento

Passa-gemdo ar

Vibraçãodas

cordasvocais

Bila-bial

Labio-dental

Dental,alveolar

ou alveo-dental

Alveo-palatal

Médio-palatal

Dorso-palatal

(ou velar)Glotal

Tepe (vibrante simples)

Oral Sonora

Vibrante (múltipla)

Oral Sonora r

Retroflexa Oral Sonora

Lateral Oral Sonora

Quadro 7: Símbolos fonéticos consonantais relevantes para a transcrição do por-tuguês brasileiro (não foram consideradas todas as possíveis variações fonéticas do português do Brasil).

Noquadroquesegue,sãoapresentadosexemplosdepalavrasqueilustramossegmentosapresentadosacimaequeocorremnoportuguêsbrasileiro.

SímboloDo IPA Classificação Exemplo

ortográficoTranscri-

ção

Oclusiva, bilabial, surda pata [‘]

Oclusiva, bilabial, sonora bata [‘]

Oclusiva, dental (alveolar ou alveo-dental), surda taba [‘]

Oclusiva, dental (alveolar ou alveo-dental), sonora dado [‘]

Oclusiva, dorsopalatal (ou velar), surda capa [‘]

Oclusiva, dorsopalatal (ou velar), sonora gata [‘]

Nasal, bilabial, sonora mata [‘]

Nasal, dental (alveolar ou alveoden-

tal), sonora nada [‘]

Nasal, médiopalatal, sonora minha [‘]

Africada, alveopalatal, surda tivesse [‘]

Page 59: [Livro UFSC] Estudos Linguisticos I

A Fonética

59

Capítulo 04

Africada, alveopalatal, sonora ditado [‘]

Fricativa, labiodental, surda faca [‘]

Fricativa, labiodental, sonora vaca [‘]

sFricativa, dental (alveolar ou alveo-

dental), surda sapo [‘]

zFricativa, dental (alveolar ou alveo-

dental), sonora zebra [‘z]

Fricativa, alveopalatal, surda chapa [‘]

Fricativa, alveopalatal, sonora jato [‘]

Fricativa, dorsopalatal (ou velar),

sonora rato [‘]

Fricativa, velar, sonora rato [‘]

Vibrante simples/tepe, dental (alve-

olar ou alveodental), sonora caro [‘]

Vibrante múltipla, dental (alveolar ou alveodental), sonora carro [‘r]

Retroflexa, alveopalatal, sonora cirurgia [s‘]

Lateral, dental (alveolar ou alveo-

dental), sonora lata [‘]

Lateral, palatal, sonora palha [‘]

Quadro 8: Sons consonantais do português brasileiro, classificação e exemplificação

ComoaFonéticaanalisaosfonesconsiderandotodasaspossíveisvariações–incluindotambémas idioletais-,éimportanteressaltarqueosfonesaquiapresentadosrepresentamtão-somenteaquelesmaisfre-qüentementeobservadosnoportuguêsdoBrasil.Casosuapronúncianãocoincidacomnenhumadaspossibilidadesapresentadas,conversecomseustutoresouconoscoparasabermaisaesterespeito.

Page 60: [Livro UFSC] Estudos Linguisticos I
Page 61: [Livro UFSC] Estudos Linguisticos I

A Fonologia

61

Capítulo 05

A Fonologia

Neste capítulo, examinaremos o campo de estudos lingüísticos cha-mado Fonologia.

Emseusestudos,vocêencontrarádoistermosdiferentesquereme-temàmesmaquestão,asaber:FonologiaeFonêmica.Namaiorpartedosmodelospós-estruturalistas,encontraremosotermoFonologia.Oimportanteévocêsaberqueambostratamdoestudodacadeiasonoradafalaepossuempreocupaçõessimilares:estudarosaspectosinterpre-tativosdossonsesuaestruturafuncionalnaslínguas.

Anteriormente, constatamos que a Fonética está preocupada eminvestigarosdiversossonsdeumalínguaedesuasvariantesregionais.AFonologia,por suavez,procuradefinirquaisdentre todosos sonspossíveispossuemvalordistintivo,istoé,quaisdestessonspodemserusadosparadistinguirpalavras.

Noquadroabaixo,reitera-seoslimitesentreaFonéticaeaFonologia:

Fonética Fonologia

Estudo dos sons da fala, chamados fones.

Estudo dos sons com valor lingüístico, isto é, dos fonemas em relação

com um significado.

Os traços fônicos são analisados quanto à sua produção, percepção

ou valores acústicos.

Os traços fônicos são examinados em relação ao seu valor distintivo.

Fones: representados entre colchetes: [fones].

Fonemas: representados entre barras oblíquas: /fonema/.

Quadro 9: Limites entre Fonética e Fonologia

Vocêdevelembrardoexemploqueutilizamosanteriormenterelati-voàpalavra“tia”.Se,porumlado,aanálisefonéticaprovaráquehámaisdeumapossibilidadedepronúnciaparaestamesmapalavra,emrazãodasdiferençasdefalares,istoé:[‘i]e[‘i].Poroutrolado,aanálisefonológicaatribuiráumvalorúnicoaestesdoissons,tendoemvistaque,emalgumasvariedadesdoportuguêsdoBrasil,[]ocorresomentediante

5

Page 62: [Livro UFSC] Estudos Linguisticos I

Unidade B - A Fonética e a Fonologia

62

davogal[i],eo[t]diantedetodososdemaissons.Ambasaspronúncias,[‘i]e[‘i],nosremetemàmesmapalavra,comomesmosignificado.

Quandoafonologiadetectasonsqueestejamemoposição,istoé,quepossuemvalordistintivo (ou seja, quedistinguempalavras), elessãodenominadosfonemas.

Observequearepresentaçãofonética(fones)earepresentaçãofo-nológica(fonema)poderãoserdiferentes.Porexemplo:[d’tad]éumarepresentaçãofonéticadeumaproduçãodefalantesdeumadetermina-daregião.Todavia,noquedizrespeitoàfonologiadoportuguêsbrasilei-ro,teremosapenasumarepresentaçãopossívelparaofonema/d/;nestecaso,apalavra“ditado”serátranscritadaseguintemaneira:/di’tado/.

Umdosprocedimentosparaoreconhecimentodefonemaséiden-tificarduaspalavrascomsignificadosdiferentes,quepossuamcadeiaso-noramuitosemelhante,emquehajaapenasumfonediferente.Chama-mosestadupladepalavrasde“parmínimo”.Porexemplo:“bata”e“pata”constituemumparmínimo.Esteparcaracterizaos fonemas/b/e/p/,poiselescontrastamemambienteidêntico.Trata-seaquidotestedaco-mutação.Poderíamoscontinuarcomutandoeobtendonovaspalavras:

/p/ p + ata /’pata/;

/b/ b + ata /’bata/;

/t/ t + ata /’tata/;

/d/ d + ata /’data/;

/k/ c + ata /’kata/;

/g/ g + ata /’gata/;

// ch + ata /’ata/;

/m/ m + ata /’mata/;

/n/ n + ata /’nata/;

/x/ r+ata /’xata/;

/l/ l+ata /’lata/;

Você deve ter percebido que não somente as con-soantes, mas também as vogais são transcritas di-ferentemente em Fonética e em Fonologia. Obser-ve, no parágrafo anterior, as transcrições fonética e fonológica de “ditado”. Você sabe qual a razão? Exatamente a mesma das consoantes. A Fonologia considera apenas os fones com valor distintivos, ou seja, os fonemas. Todas as variações que não são dis-tintivas não aparecem na notação fonológica.

Page 63: [Livro UFSC] Estudos Linguisticos I

A Fonologia

63

Capítulo 05

Oscasosemqueseobservaquedoisfonessemelhantesnãoseen-contramemoposição,ouseja,suadistribuiçãoécomplementar,devemseranalisadoscomoalofonia.Issoquerdizerqueosdoisfonesemques-tãonãosãodistintivos,tratando-sesomentedemanifestaçõesdiferentesdeummesmofonema,emcontextosdistintos,comoéocasode[]/[]e[]/[],porexemplo.Aalofoniaseráanalisadamaisatentamen-tenaseçãoseguinte(3.1.Aanálisefonológica).

Oestágioinicialdedescriçãodeumalínguatemporobjetivoiden-tificarcomoseorganizaacadeiasonoradafala.Vamosretomarabaixoestasquestõesdemodomaisdetalhadoaotratardaanálisefonológica,umavezqueotestedacomutaçãoétão-somenteumaentreasváriasfasesdaAnáliseFonológica.

5.1 A Análise Fonológica

Otrabalhodofonólogoépermeadoporconhecimentosaprofun-dadosemFonética.Oestudodosistemafonológicodequalquerlíngua–sejaelaconhecidaounão–poderáserotimizadopormeiodaobserva-çãoapuradadaspossibilidadesarticulatóriasexercidaspelosfalantesdalínguaexaminada,bemcomodascapacidadesdosistemaauditivodoserhumano.Atualmente,partedessasobservaçõespodeserrealizadacomoauxíliodeprogramasinformatizadosdeanálisedosinalacústico.

Aanálisefonológicaédeextremaimportânciaparaquevocêpos-saatingirumamaiorcompreensãosobreofuncionamentodaslínguas.Este tipodeanálise implicaumprocedimentometodológicobastantecriterioso,envolvendoetapasnecessáriasaseremcumpridas.Naspró-ximaspáginas,vamosexplicitaretapas:

Etapa 1

Todaequalqueranálisefonológicapartededadosfonéticosdafala.Ainvestigaçãoérealizadasobreumcorpusdefalanaturalquedeverásertranscritofoneticamente.Eismaisumadasgrandesimportânciasdatranscriçãofonética,istoé,elaéumaetapaincontornávelparaaanálisefonológica.

Page 64: [Livro UFSC] Estudos Linguisticos I

Unidade B - A Fonética e a Fonologia

64

Então, o primeiro passo é fazer o levantamento de todos os fo-nesobservadosnousodalíngua,ouseja,nafaladosfalantesnativos.Evidentemente,nãoépossívelqueseinvestiguemtodososfalantesdeumalíngua.Pensearespeitodalínguaportuguesa.Somosemtornode210.000.000defalantesnativos!

Pelaimpossibilidadedesetrabalharcomatotalidadedapopula-ção, coletam-seosdadosapartirdeumaamostra significativade fa-lantes.Eladevesersignificativaparapoderrepresentarapopulaçãodaqualsepretendefalar,ouseja,apopulaçãoqueestásendoinvestigadaemtermosfonéticosefonológicos.

Saiba mais...

Aconstituiçãodeumcorpusdefalanaturalérealizadacomoem-pregodetécnicassociolingüísticasqueorientamo levantamentocontrolado e criterioso dos dados. Para aprofundar seus conhe-cimentossobreotrabalhodecampo,vocêpoderáconsultar,porexemplo,olivrodoProfessorFernandoTarallochamado:“APes-quisaSociolingüística”,conformeespecificadoabaixo:

TARALLO, Fernando. A pesquisa sociolingüística. 7. ed. SãoPaulo:Ática,2005.

Etapa 2

Depoisdefeitasastranscriçõesdocorpusdefalanatural,opróxi-mopassoseráelaborarumatabelanaqualserãoregistradostodososfonesidentificadosnocorpus.

Éinteressanteclassificarossonssegundoomodoeolugaroupon-todearticulação.Oobjetivoprincipalédetectarasdiferençasfonéticassalienteseagrupá-lasemcategorias.

Estatabelafonéticaconstituiráaprincipalbaseparaasetapaspos-teriores,quesereferemespecificamenteàanálisefonológica.Atéaqui,olevantamentoédeordemfonéticaeservedebaseparaquesepossaconduzirainvestigaçãofonológica.

Page 65: [Livro UFSC] Estudos Linguisticos I

A Fonologia

65

Capítulo 05

Pela importânciadesta tabela, sua elaboração exigiráumgrandeesforçodapartedopesquisadornosentidoderealizaçãodeumadescri-çãodetalhadaecuidadosadocorpus.

Saiba mais...

ParaestudarumpoucomaisarespeitodeFonética,Fonologiaeensinodelínguas,vocêpoderecorreraosseguintestextos:

HOYOS-ANDRADE,RafaelEugenio.Sistemas fonológicos, in-terferências e ensino de línguas.Uniletras,n.16,p.5-18,1994.

MASIP,Vicente.Fonética espanhola para brasileiros.Recife:So-ciedadeCulturalBrasil–Espanha,1998.

Etapa 3

Umavezorganizadasastabelasfonéticasvocálicaseconsonantais,devem-se identificar os sons foneticamente semelhantes (SFS). Estessonssãotambémchamadosdeparessuspeitos.

Umpardesonséfoneticamentesemelhantequandoháapenasumadiferençanaarticulação,sejanamaneiraounolugaremqueossonsemquestãosãoarticulados.Vejamosexemplos:

[p]e[b]sãoSFSporqueambossãoconsoantesoclusivas,orais,bi-labiais.Aúnicadiferençaentreeleséavibraçãodascordasvocais.[p]éumaconsoantesurda,e[b]ésonora.Tamanhaproximidadedearticula-çãopodelevaràalofonia.IssoquerdizerqueSFSpodemnãoserdistintosfuncionalmenteumdooutro.Porisso,elesprecisamserinvestigados.

[p] e [v],por suavez,nãoprecisamser investigados fonologica-mente,poissetratadesonsfoneticamentedessemelhantes,nãoconsti-tuindoparsuspeito.Comojávimos,[p]éumaconsoanteoclusiva,oral,bilabial,surda,e[v]éumaconsoantefricativa,oral,labiodental,sonora.Dadaagrandediferençadearticulaçãoentreestepar,nãohánecessida-dedeinvestigá-lo.Sabe-se,deantemão,quesetratadefonemasdistin-tosenãodevariantesdeummesmofonema.

No que se refere ao levan-tamento fonético da língua portuguesa, você não pre-cisará coletar dados. Basta retomar as explicações das vogais e consoantes do português brasileiro, nas seções 4.2.1 e 4.2.3, res-pectivamente. Se surgirem dúvidas, lembre-se de re-correr ao tutor ou ao pro-fessores da disciplina!

Page 66: [Livro UFSC] Estudos Linguisticos I

Unidade B - A Fonética e a Fonologia

66

Omesmovaleparaoparvocálico [a]e [u].Nãose tratadeparsuspeito,porqueasarticulações sãomuitodessemelhantes. [a]éumavogal,oral,baixa,central,nãoarredondada,e[u]éumavogal,oral,alta,posterior,arredondada.

Etapa 4

TendoidentificadoosSFS,opróximopassoépesquisaraexistênciaouaacessibilidadeaparesmínimosparasabersesetratamdefonemasdistintosoudevariaçãodeummesmofonema,ouseja,alofone.

Paresmínimossãoduplasdepalavrasemqueaúnicadiferençano significante sãoexatamenteos fones sobanálise. “Faca” [ ] e“vaca”[ ]constituemumparmínimo,evidenciandoqueosfones[]e[]sãofonemasdistintos,ouseja,servemparadistinguirpalavras,neste caso. Portanto, podemos transcrevê-los fonologicamente como//e//.

É fundamentalpesquisarosparesmínimos.Eles sãoaevidênciamaissalientededistinçãofonológica.Muitasvezes,porfaltadeprofici-êncianalínguaanalisadaoumesmopelaimpossibilidadedeseconhecertodooléxicodeumadeterminadalíngua,nãoseconseguemlocalizarosparesmínimos,oquenãosignificaqueelesnãoexistam!

Bom,paraestescasos,éprecisorecorreràetapaseguintedaanálisefonológica:osambientesanálogos.Mas,antesdechegarmoslá,vamosrealizarmaisumaatividade.

OfatodevocênãoterencontradoparesmínimosparaalgunsdosSFSpropostosna atividade acima,não significaque estes sons sejamvariantesdeummesmofonema.Antesdetomarestadecisão,opesqui-sadorprecisainvestigarosambientesanálogos.Vamoslá,então!

Etapa 5

Aanálisedosparesmínimosnemsemprepermiteatestaraexistên-ciadeumfonemadistinto,pelosimplesfatodeque,muitasvezes,nãoselocalizamtaisparesperfeitos.

Page 67: [Livro UFSC] Estudos Linguisticos I

A Fonologia

67

Capítulo 05

Assim,porvezes,énecessáriotrabalharcomoquecomumentesechamadeambientesanálogos.Estetipodeanáliseocorrequandohádú-vidasemrelaçãoàclassificaçãodeumsom,istoé,quandoháincertezadequesetratarealmentedeumfonema.

Comosomosfalantesnativosdalínguaportuguesa,temosgrandefacilidadeparalocalizarparesperfeitosdepalavras.Maspodemospen-saremumasituaçãodiferente,simulandomenorgraudeproficiêncianesta língua.SuponhamosnãoterencontradoparesmínimosparaosSFS[] e [z].Nestasituação,precisaríamosnosenvolvernabuscaporambientesanálogos,quesãoparesdepalavrasemqueocontextopróxi-moaosomanalisadoéidêntico,maspalavraemsinãooé.Vejamosumexemploarespeitode[]e[z]:

“Caso” [z] e “favo” [] constituem ambientes análogospara [] e [z],porqueambosestãoemsílaba fraca: [-z] e [-].Assílabasintensassão[-]e[-].Alémdisso,ambosaparecementreasvogais[]e[].Adiferençaestáapenasnossons[]e[],que,peladistância, não interfeririam no valor fonológico dos sons analisados.Concluímos,assim,que[]e[z]sãofonemasdistintos,mesmoquenãoselocalizemparesmínimos.Osambientesanálogossãosuficientesparaevidenciarovalorfonológico.

Etapa 6

Oexamedoscontextosemqueumdeterminadosomocorre(parmínimo ou ambiente análogo) permite observar se há distribuiçãocomplementar.

Pordistribuiçãocomplementarentende-sequeossonsanalisadosnãoocorrememambientesidênticos(empalavrasdiferentes)nememambientespróximos,oquepodesignificarqueelesestejamemumare-laçãodealofonia,seelesforemSFS.

Quando dois segmentos estão em distribuição complementar,elesaparecememambientesexclusivos:ondeocorreumavariantenãoocorreaoutra.

Existem pares mínimos para os SFS [] e [z], a exemplo de “vela” [] e “zela” [z] ou “cava” [] e “casa” [z].

Lembre-se: Alofone é a va-riação de um fonema. Não há distinção, neste caso.

Page 68: [Livro UFSC] Estudos Linguisticos I

Unidade B - A Fonética e a Fonologia

68

Elespodemaindareferir-seavariaçõesidioletaisoudialetais,oquesignificaquepessoasougruposdiferentespodemselecionarpossibili-dadesdistintasdesom.Parececomplicado?Analisemosexemplosparaesclarecer:

[]e []estãoemdistribuiçãocomplementar,umavezque,nosdialetosemque[]existe,eleocorreexclusivamentediantede[]ou//,e[]ocorreemtodososdemaisambientes.

Exemplo Transcrição fonética

Transcrição fonológica

“tipo” [] /’tipo/

“tinta” [] /’tta/

“teve” [] /’teve/

“tenda” [] /’tda/

“tédio” [] /’tdjo/

“tábua” [] /’tabwa/

“tampa” [] /’tãpa/

“toca” [] /’tka/

“todo” [] /’todo/

“tonto” [] /’tõto/

“tudo” [] /’tudo/

“tumba” [] /’tba/

Quadro 10: Análise da distribuição complementar de [] e []

Aindaexemplificando,sabemosque[]e[]sãofonemasdistintosemposiçãoacentuada,intensa,comopodemosverpormeiodosseguintesparesmínimos:“modo”[]e“mudo”[].Contudo,emposi-çãonãoacentuada,fraca,nenhumdestesfonesaparece.Oqueseobservaéapresençadeumaoutravarianteexclusivadestaposição,ofone[],quenãoocorreemnenhumoutrocontexto.Vejamosnovamenteosexemplosacima:“modo”[]e“mudo”[].Pelaausênciadedistinção,emtranscriçãofonológica,vamosoptarpor://e//.

Page 69: [Livro UFSC] Estudos Linguisticos I

A Fonologia

69

Capítulo 05

Asvariaçõesaquiexemplificadascaracterizamumtipodealofoniachamadodeposicional.Trata-sedevariantesposicionais,porquesuasocorrênciasdependemdoambiente/posiçãoemquesurgem.

Existetambémaalofonialivre,naqualsurgemasvarianteslivres,nomesmoambiente,semprejuízodosignificado.Estasvariantesestãorelacionadasaidioletosoudialetos,comoépossívelobservarnasocor-rênciasdo“R”forteemportuguês:

Exemplo Transcrição fonética

Transcrição fonológica

“carro” [] /’kaRo/

“carro” [] /’kaRo/

“carro” [r] /’kaRo/

Quadro 11: Exemplo de variação livre (dialetal ou idioletal)

Evidentemente,estamosdiantedeumcasodevariação!Épossívelexemplificá-loempregandoumúnicoexemplo, jáquesetratadeva-riantelivre.

Optamospela transcriçãodo “R” coma letramaiúscula, porquenãoháumfonepredominante,jáqueaseleçãoporqualquerumdelesdependedodialetoouidioletofalado.Nestesentido,semprequeem-pregarmoso“Rmaiúsculo”emtranscriçãofonológica,estamosnosre-ferindoao“R”forte.

Háaindaumoutrotipodeocorrênciaaexplicitar.Trata-sedoarqui-fonema.Certossegmentosapresentamcontrastefonológicoemdetermi-nadoscontextos,masperdemestecontrasteemoutroscontextos,ouseja,ocontrasteseneutralizadependendodaposiçãoouambiente.Oarqui-fonemarepresentaestaperdadecontraste/distinção.Paraexemplificaraexistênciadearquifonemaemportuguês,vamosrecorreraousodo[s].

Emposiçãopré-vocálica—considerandoasílaba—,o[s]seca-racterizacomoumfonema,vistoestaremcontrastecomtodososSFS a ele.Interessam-nosagoraparticularmenteossons[z],[]e[],paraquepossamosexemplificardevidamenteoarquifonema:

Considerando que som foneti-camente semelhante é aquele em que há apenas uma diferença de articulação, os SFS a [s] são: [z], [] e []. Você pode atestar isso retomando o quadro 7, da seção 4.2.3.

Page 70: [Livro UFSC] Estudos Linguisticos I

Unidade B - A Fonética e a Fonologia

70

Fones Pares mínimos Transcrição fonológica

[s] – [z] “assa” – “asa” /’asa/ – /’aza/

[s] – [] “assa” – “acha” /’asa/ – /’aa/

[s] – [] “assa” – “aja” (v. “agir”) /’asa/ – /’aa/

Quadro 12: Contraste entre [s], [z],[] e []

Entretanto,seanalisarmosaocorrênciasdestesfonesemposiçãopós-vocálica, observaremos que há neutralização, ou seja, perda decontraste.

Fones Pares mínimos Transcrição fonética

[s] – [z] “pasta” – “pasma” [’pasta] – [’pazma]

[]– [] “pasta” – “pasma” [’pata] – [’pama]

Quadro 13: Neutralização entre [s], [z],[] e []

Com base nestes exemplos, constata-se que ocorrem dois tiposdealofonia:posicionalelivre.Avariaçãoposicionalaconteceentreosfones[s]e[z]eentre[]e[],respeitandoaseguinteregra:osfonessurdosocorremdiantedeconsoantesurda(exemplo[]),eosfonesso-norosocorremdiantedeconsoantesonora(exemplo[]).Avariaçãolivre,porsuavez,ocorreporquestões idioletaisoudialetais.Existemvariantes lingüísticas que optampelas alveolares ([s] e [z]) emposi-çãopós-vocálica,ehávariantesqueoptampelasalveopalatais([]e[])nestamesmaposição.

Levandoemconsideraçãoestaexplicação,nastranscriçõesfonoló-gicas,tem-seoarquifonema[S]emposiçãopós-vocálicaparamarcaraneutralizaçãodocontraste.

Etapa 7

Depois de realizadas todas estas análises, o pesquisador deverádispor do inventário completo de fonemas da língua examinada. Es-tesfonemasdeverãoestardispostosemformadetabelaedevidamenteclassificados.

Page 71: [Livro UFSC] Estudos Linguisticos I

A Fonologia

71

Capítulo 05

Opesquisadordeverádisportambémdeumadescriçãodetalhadadosprocessosfonológicosdedistribuiçãodosfonemasedasregrasdealofonia.

Retomando e aprimorando a concepção de alofone:

Chama-sedealofoneàsdiversasrealizações/variaçõesdeumfone-ma.Ofonema/t/,citadováriasvezesaolongodesteCurso,podeserrealizadocomo[]em“tua”[]oucomo[]em“tia”[].Estasdiferentesimpressõesqueocérebrorecebepormeiodoner-vo auditivo não afetamo valor do fonema.Neste caso, estamosdiantedealofones,variaçõesdeummesmofonema.

Osalofonespodemserclassificadosem:

•livres:aquelesdependentesdoshábitosarticulatóriosdecadain-divíduooucomunidade.

•posicionais: aquelesmais facilmentemodificáveis em razãodaposição que ocupam no encadeamento fonológico e da influ-ênciados sonsvizinhos.Por exemplo: as influências açorianasnofalardeFlorianópolisgeramrealizaçõesmuitoparticulares,emfrancoprocessodedesaparecimento,talcomo[‘],para“oito”.Nestecasoo[]éconsideradoalofone.

• estilísticos: aqueles produzidos com intenção expressiva. Porexemplo,oalongamentode[e],emumdiálogodotipo:—Resolvisairdoemprego.—Vocêêêêêêêêê?!

Saiba mais...

Paraumestudominuciosoarespeitodaanálisefonológica,seguin-dodetalhadamentetodosospassosacimaespecificados,consulteolivrodoProfessorLuizCarlosCagliari,conformeabaixoindicado:

CAGLIARI,LuizCarlos.Análise fonológica: introdução à teoria e à prática com especial destaque para o modelo fonêmico.Cam-pinas,SãoPaulo:MercadodeLetras,2002.

Page 72: [Livro UFSC] Estudos Linguisticos I

Unidade B - A Fonética e a Fonologia

72

Considerações Finais a Respeito de Fonética e Fonologia

Nestaunidade, estudamosasmenoresunidades lingüísticas,nãosignificativas,decomponíveisemtraços,istoé,dedicamo-nosàinvesti-gaçãodosfonesedosfonemas,objetosdeestudodasáreasdaLingüís-ticaintituladasFonéticaeFonologia,respectivamente.

AFonética se dedica ao estudodos sons concretos, ou seja, dossonsemuso:suaarticulaçãoesuapercepção.AFonologia,porsuavez,volta-seàinvestigaçãodafunçãolingüísticadetaissons,considerandoosfonescontrastantes,suasvariaçõeseregrasdedistribuição.

Evidentemente,hámuitomaisparaseestudarnestasáreas.Contu-do,nesteCurso,tentamostrabalharcomasnoçõeseanálisesintrodutó-rias.Comopesquisador,serianecessárioconsideraroutrosfenômenosfonéticosefonológicosdaslínguas,taiscomoostraçossupra-segmen-tais(tom,acentoeduração)easílaba,porexemplo.Ostextossugeridospara leituras aprofundadas podem auxiliá-lo neste empreendimento,casotenhacuriosidade!

Napróximaunidade,dedicar-nos-emosao texto,voltando-nosàleituraeàproduçãotextual.

Bons estudos!

Glossário Relativo à Unidade B

Anatomofisiologia: estudoda forma eda funçãodosorganismosvivos,nocasoespecíficoaquitratado,refere-seaoserhumano.

Dialeto:Variedadesocialdefala,tambémconhecidacomovaria-çãodiatópica.

Etimologia:campodalingüísticadedicadoàinvestigaçãodopassadodapalavra,istoé,deseuprocessodeformaçãoaolongodosséculos.Nocasodoportuguêsedoespanhol,quepossuemhistóriamuitoparecida,estuda-seapalavradesdeolatimatéseuestadoatual.

Page 73: [Livro UFSC] Estudos Linguisticos I

A Fonologia

73

Capítulo 05

Idioleto: registroouvariedadeindividualdefala.

Neurologia:especialidademédicaquesededicaaoestudoetrata-mentodasdoençasqueatingemosistemanervosocentraleperifé-rico(HOUAISS;VILLAR;FRANCO,2001,p.20130).

Page 74: [Livro UFSC] Estudos Linguisticos I
Page 75: [Livro UFSC] Estudos Linguisticos I

Unidade CO Texto e a Leitura

Page 76: [Livro UFSC] Estudos Linguisticos I
Page 77: [Livro UFSC] Estudos Linguisticos I

77

Uma breve conversa...

Nasunidadesanteriores,vocêrevisitoueestudoutemasrelativosàlinguagem,àlínguaeaosestudoslingüísticos;emparticular,estudouquestõesquedizemrespeitoàsáreasdeinvestigaçãodasunidadessono-ras,ouseja:FonéticaeFonologia.

Nestaunidade,vamosnosdedicar,fundamentalmente,àleiturae,porextensão,àproduçãotextual,temadecrucialimportânciaàsdiscus-sõesnoâmbitoeducacional,umavezque,independentementedaáreadeatuação,aleiturafuncionacomopré-requisitoaoestudo,àpesquisa,em síntese, aos processos de aprendizagemque envolvem sociedadesletradas.Sejánãobastasseesteirrefutávelargumento,háqueseconsi-derar,ainda,quevocêestápassandoporumperíododeformaçãoparaadocência.Então,alémdanecessidadeprementededesenvolvimentodesuasprópriascompetênciasemleitura,éfundamentaldesenvolvercom-petênciasquelhepermitamensinaralere,evidentemente,aescrever.

Otextodestaunidadeestáorganizadodaseguintemaneira:

Primeiramente,vamosconversararespeitodaconcepçãodeleitu-ra,desuaemergênciaedesenvolvimento,considerandotrêselementos-chave para o processo: o texto, o leitor e a situação de leitura.Nesteiníciodeconversa,focalizaremosalgunsolharesteóricos.

Emseguida,vamostratardequestõesmaispráticasacercadode-senvolvimentodaleitura,propondoatividadesquepermitamoseumo-nitoramento.Taisatividadesimplicamproduçãotextual,umavezque,emcontextosnaturais,nãosetemacessoaosprocessoscognitivosdelei-tura,senãopormeiodasproduçõesdosleitores.Serãopropostasativi-dadesdeleituracomaintençãodepromoverconsciênciadosprocessosenvolvidosemtãocomplexatarefa,bemcomoaprimoraraabordagemtextualpormeiodoempregodeprocedimentoseestratégiasadequadasàsituação,aotexto,aoobjetivoeàssuasprópriascaracterísticascomoleitorefuturoprofissionaldaáreadeLetras.

Vamos,então,aotrabalho!Esperoquetenhamosbonseproduti-vosmomentos!!

Page 78: [Livro UFSC] Estudos Linguisticos I

78

Aspesquisasemleituratêmevoluídomuitorapidamente.Atual-mente,umconsiderávelnúmerodeestudosérealizadoemlabora-tóriospormeiodetécnicasdeimageamentocerebral,quepermi-temoacessodiretoaosprocessoscognitivos.Entreestastécnicas,podem-secitar,porexemplo,ressonânciamagnéticafuncional,to-mografiaporemissãodepósitronsenear-infraredspectroscopy.Sevocêtiverinteresseemconhecerestudosdesenvolvidosapartirdoempregodestastécnicas,podeencontrarinteressantesartigospublicadosnaseguinteobra:

RODRIGUES,Cássio;TOMITCH,LêdaMariaBraga. (Org.).Linguagem e cérebro humano:contribuiçõesmultidisciplinares.PortoAlegre:Artmed,2004.

Page 79: [Livro UFSC] Estudos Linguisticos I

A Leitura

79

Capítulo 06

A Leitura

Neste capítulo, discutiremos concepções e procedimentos de leitura de tex-tos escritos, bem como suas produções.

6.1 Leitura: o que é e como se desenvolve

Éimportanteesclarecer,desdeoinício,queleitura,assimcomoamaioriadaspalavras,possuiumcaráterpolissêmico,oquepodelevaradiferentesconcepções,dependendodousodotermoemdeterminadoscontextos.Épossível,porexemplo,quesefalesobreleiturademundo,leituradeumaobradearte(pintura,escultura,etc.),leituradeumapai-sagem,leituradeumdesenho,leituradeumpensamento,leituradeumcomportamento,enfim,leituraseleituras...

Basicamente,aleituraéumprocessoderepresentaçãoqueenvolveavisão.Nestesentido, leréolharparaumacoisaeconstruirmental-menteumaimagemdaquiloquesevê.Comoemqualquerprocessoderepresentação,nãoexisteigualdadeentrearepresentaçãoeaquiloqueérepresentado.Todarepresentaçãoapresentacaracterísticasaparente-menteparadoxais:selecionaedestacaalgunstraçosdoqueérepresenta-do;excluioutrostraçosdaquiloquerepresenta,dependendodosobjeti-vosedascondiçõesdeproduçãodarepresentação.Observeasimagensaolado(Figura10).Ambassãorepresentaçõesdistintasdeummesmoobjeto:oSol.Emborasejamvisivelmentediferentes,aseumodo,cadaumadelasguardatraçosdeaproximaçãocomaquiloquerepresentam.

Nestetexto,apesardasinúmeraspossíveisaberturasdotermo,leituraéentendidadentrodaquiloqueessencialmenteconstituiseuobjeto,ouseja,otextoescrito.Assim,asdemaisleituraspossíveisnãoserãoaquiabordadas.

Emboraosolharesatentosaosprocessosdeleiturapossamserob-servadosdesdeoséculoXIX,foisomentenasúltimasquatrodécadasqueapesquisaemleituraevoluiudemodoaquesepudessemformularmodelosteóricosdeconcepçãoedeprocessamentoemleitura.

6

(Representação/ Desenho do Sol)

Figura 10: Representação do Sol . Foto disponível

em: http://www.nasa.gov/centers/marshall/images/

content/161862main_hino-de_sun_2502x2649.jpg

(Representação/ Fotografia do Sol)

Page 80: [Livro UFSC] Estudos Linguisticos I

Unidade C - O Texto e a Leitura

80

Emumexercíciodialético,a leituradotextoescritofoieaindaécompreendidaapartirdetrêsposicionamentosteóricosclaramentedis-tintos.Elesconstituemasseguintesperspectivasqueserãoaseguirex-plicitadas:ascendente,descendenteeinterativa.Éimportantedestacarquesetratadeteorias,desenvolvidasepublicadasapartirdofinaldadécadade60,quetentamdescreverosprocessosdeleitura.

Deacordocomomodeloascendente,aleituraérealizadaseguindoumcaminhoquepartedotextoemdireçãoaoleitor.Sobestaótica,aleituraécompreendidacomoumprocesso,essencialmente,dedecodi-ficação.Afunçãodoleitor,segundoestaabordagem,éadegarimpar li-nearmente otextoparaextrairasinformaçõescontidasemcadaumdoselementostextuais.Osentidoestánotexto,cabendoaoleitorencontrá-loecompreendê-lo.Estaconcepçãodeleituracomoextraçãodesentidovincula-seàidéiadequeotexto,dadaasuacentralidadenaexpressãodeidéias,possuiumsentidoexato,precisoecompleto,queseráalcança-dopeloleitorpormeiodoseuesforço,persistênciaecompetência.

Nas atividades iniciais de emergência da leitura, seja em línguamaternaounãomaterna,operamfundamentalmenteprocessosascen-dentes.Noperíododealfabetizaçãoemlínguamaterna,afaltadeco-nhecimentodosistemanotacionalalfabético/ortográficonaturalmenteprovocaodeslocamentodaatençãoedosrecursoscognitivosàsuper-fíciedo texto,ouseja,àdecodificação.Posteriormente,mesmoqueoindivíduojáestejaalfabetizadoemsualínguamaterna,aoestudarumalínguaestrangeira,eleénovamentelevadoaoperardemodoascendentenaleituradetextos.Destavez,nãosetratapropriamentededesconhe-cimentodo sistemadenotaçãooudanaturezada linguagemescrita,massimdebaixograude interlíngua.Afaltadeproficiêncianalínguaestrangeira estudada faz comque sepreciseprestarmais atençãoaosaspectoslingüísticosdoqueaosaspectosdeconstruçãodesentido.Umoutromomentoquetambémpodesercitadocomofavorávelaoproces-samentoascendenteéaqueleemqueoleitor—mesmoquesejaprofi-cientenalínguaemquestãoequetenhadesenvolvidosuficientementeas competências em leitura— se depara comum texto difícil de sercompreendido, seja por causada linguagemempregada, do tema,dogênero textualoudasituaçãoemqueatarefadeleituraéempreendida.

Figura 11: Leitura ascendente

Page 81: [Livro UFSC] Estudos Linguisticos I

A Leitura

81

Capítulo 06

Aconcepçãodescendentede leitura,porsuavez, trazo leitoraocentrodoprocesso,defendendoquelerimplicaumjogodeadivinha-ções, de levantamentodehipóteses, ou seja, trata-se de umprocessoquepartedos conhecimentosqueo leitor traz consigo emconfrontocomaspistastextuais,resultandoematribuiçãodesentidoaotexto.Se-gundoestaabordagem,aleiturapartedaquiloqueestápordetrásdosolhos:oconhecimentoprévio,enãodoqueestádiantedeles:otexto.Oprocessodeleitura,segundoestavisão,pode-seresumirdaseguintemaneira.Trata-sedeprocessonão-linearemqueoleitor,primeiramen-te,fazprediçõessobreosentidodotexto;depois,eleasconfirma;eporfim,fazascorreçõesnecessárias.Dissopode-seconcluirqueummesmotextopodeprovocaremcadaleitor—ouaindanomesmoleitor—umarepresentaçãocompletamentediferentedarealidade,umavezqueestarepresentaçãodependemuitomaisdos conhecimentospréviosqueoleitorpossuidoquedotexto.Nestecaso,aleiturapodesertantolentaecuidadosaquantorápidaesuperficial.

Noperíododedesenvolvimentoda leitura,depoisde teremsidoadquiridasashabilidadesecompetênciasbásicaseessenciaisparalidarcomotextoescrito,oleitorpassaaagirmaisautonomamentediantedotexto.Nestafasededesenvolvimentoematuraçãodoleitor,alcançadospormeiodaprática,menosatençãoédedicadaaosprocessosiniciais,quepassamaserautomatizados,possibilitandoaalocaçãoderecursosdeprocessamentoearmazenamentoaosentidodotexto.Dessemodo,osconhecimentospréviosdoleitorentramemcenae,porvezes,seso-brepõemàsinformaçõestextuais,dependendodasuaprópriaconcep-çãodeleiturae/oudaconcepçãoveiculadaematividadesescolares.

Porfim,asteoriasquedefendemumaconcepçãointerativadeleitu-raconsideramtantootextoquantooleitorcomoelementosfundamen-tais aoprocessode leitura.Ler, segundo estaperspectiva, é construirsentidoapartirdasinformaçõestextuaisquedesencadeiamprocessosderecordação,demodoapossibilitarainteraçãoentreosdadosdotextoescritoeosconhecimentospréviosdoleitor.Taisconhecimentos,arma-zenadosnoscomplexossistemasdememóriahumanos,sãodenaturezalingüística,textual,temática,cultural,entremuitosoutros.Trata-sedeumaatividadecognitivaessencialmenteconstrutiva.

Figura 12: Leitura descendente

Page 82: [Livro UFSC] Estudos Linguisticos I

Unidade C - O Texto e a Leitura

82

Esteéolugarteóricoemquenossituamos.Aconcepçãodeleituraqueassumimosnestetrabalhodepesquisapodeserdesenhadadase-guintemaneira:

Leréumprocessoflexível,ativoemultidimensional,caracterizadopelacapacidadedeprocessamento,níveldeletramento,objetivos,co-nhecimentopréviodoassuntoedogênerodiscursivo,bemcomopeloenvolvimentocomatarefaepeloestadofísico-emocionaldoleitor.

Vocêjádeveterestudadomateriaisquetratamdoletramento,nãoémesmo?Aqui,comoofocoestávoltadoàleitura,oletramentoécom-preendidocomoumprocessoqueenvolvehabilidadesdedecodificação,compreensão,interpretação,retenção,reflexãoeusodetextosescritosparaalcançarobjetivos,desenvolvereaprimoraroconhecimentoepar-ticipar,efetivamente,davidaemsociedade.

Éimportantedestacarqueumleitorcompetenteécapazdelançarmãodediferentes tiposdeprocessamentotextual,sejamascendentes,descendentesouinterativos,dependendodotipodematerialenfrenta-doemrelaçãoaoseuconhecimento,dosseusobjetivos,dassuascon-diçõesfísicaseemocionais,dasituaçãoemquesedáoatodeleituraedas suascompetências lingüísticasamplase específicasà leitura.Estaflexibilidadefazcomquea leiturasedesenvolvaautomaticamenteatéqueoleitordetectefalhasemsuacompreensão.Adetecçãodestasfa-lhasimplicaummonitoramentoativoeconstanteporpartedoleitor,demodoqueelepossautilizar-sedeseuelencodeestratégiaseavaliarqualdelasmelhorseaplicaráàssuasnecessidades.

Taisestratégias sãocompreendidascomoatividadesdemetacog-nição,que implicamadesautomatizaçãoda leiturademodoquehajaconcentraçãonosprocessosparasechegaraoconteúdo.Fundamental-mente,ametacogniçãoimplicahabilidadedemonitoramentodapró-priacompreensãoetomadademedidasadequadaseeficazesquandoacompreensãofalha.Entreasatividadesmetacognitivas,épossíveldesta-car,brevemente,asseguintes:

Definiçãodosobjetivosdaleitura;1.

Figura 13: Leitura interativa

Page 83: [Livro UFSC] Estudos Linguisticos I

A Leitura

83

Capítulo 06

Alteraçõesdasestratégiasdeleituradevidoavariaçõesdeobjetivo;2.

Identificaçãodas idéiasedossegmentosmais importantes,con-3.formeosobjetivos;

Distribuiçãodaatençãodemodoa se concentrarmaisnos seg-4.mentosessenciais;

Reconhecimentodaestruturalógicadotexto;5.

Ativaçãoerecuperaçãodeconhecimentoprévionainterpretação6.deinformaçõesnovas;

Demonstraçãodesensibilidadearestriçõescontextuais;7.

Avaliaçãodaqualidadedaprópriacompreensão;8.

Avaliaçãodotextoemtermosdeclareza,completudeeconsistência;9.

Tomadadeatitudesquandoocorremfalhasdecompreensão;10.

Recobramentodaatençãoquandoocorremdistraçõesoudigressões.11.

Aoconsideraraleituraemlínguaestrangeira,érelevantedestacarque,quandoumestudanteéumleitorproficienteemsualínguamaterna,elepoderáagirestrategicamenteparacompensar,comvantagem,obaixograudeinterlíngua.

Considerandoacentralidadedeabordagensestratégicasdeleitura,naseqüênciadestaunidade,vamosproporalgunspossíveisprocedimentosdeleituraquepodemsermuitoúteisaosprocessosdeaprendizagemapartirdetextosescritos.

Saiba mais...

Aprofunde-senas teorias,concepçõeseprocessoscognitivosemleitura,estudandoasseguintesobras:

ALLIENDE,Felipe;CONDEMARÍN,Mabel.A leitura: teoria,avaliaçãoedesenvolvimento.8.ed.PortoAlegre:Artmed,2005.

KATO,MaryA.No mundo da escrita:umaperspectivapsicolin-güística.5.ed.SãoPaulo:Ática,1995.

LEFFA,VilsonJ.Aspectos da leitura:umaperspectivapsicolin-güística.PortoAlegre:Sagra–DCLuzzatto,1996.

Page 84: [Livro UFSC] Estudos Linguisticos I

Unidade C - O Texto e a Leitura

84

6.2 Monitoramento em Leitura

Dependendodocontextoemquesetomaumtexto,doqueseestálendo,doobjetivoquesetemedoníveldeproficiênciaemleitura,au-tomaticamenteseselecionaaestratégiamaisapropriadaàsituação.Aleituradeumarevistaemumconsultóriomédico,porexemplo,envolveprocedimentosdistintosda leituradeumarevistaematividadespro-postasemaula.Ouaindaquandoseestálendoumlivro,osolhoseocérebrosecomportamdeformadiferentedequandoseestálendoumatabeladehoráriosdeônibus, a sinopsedeumfilmeouumabuladeremédio...Nãoénecessáriorecorreràspesquisascientíficasparaperce-berquetextosescritosdenaturezadiversaexigemprocedimentosdife-renciadosdeleituraequemesmotextossemelhantespodemenvolverabordagensdistintasseforemdiversososinteresses,osconhecimentosprévioseascaracterísticasdosleitores.Nossaprópriaexperiêncianosmostraisso.

Antesdeseembrenharemumtexto,dependendoevidentementedoobjetivodeleitura,éinteressantequeseprocedaaumapré-leitura.Esteéomomentoemquesepassamosolhospelotextoparaidentificarsuascaracterísticasmaissalientesdemodoapoderavaliarseeleéounãoadequadoaosinteresses,aospropósitosdeleitura,aoleitoreàsi-tuação.Naetapadepré-leitura,observam-seotema,ogênerotextual,omeiodeveiculaçãodotexto,aautoria,asreferências,otextoemsi,entreoutrosaspectosquepossamsetornarrelevantesemumadeterminadaexperiênciadeleitura.

Tendofeitoapré-leitura,oleitordecideseenvolvercomaleituradotextoouentãoabandoná-loepartirparaabuscadeumoutromate-rialquemelhorrespondaaosseusanseios.Seeleoptarpelaleituradotexto,considerandoseusobjetivosesuasprópriascaracterísticascomoleitor,deveselecionaraabordagemmaisadequadaparaqueatarefasejaexecutadademodosatisfatório.Evidentemente,aseleçãodeestratégiasnãoacontecedemodoconsciente,amenosquehajadificuldadedecom-preensão.Estaéaetapacrucialdaleitura,momentoemqueseconstróiosentidocombasenotextoenosconhecimentospréviosativados.Ésobreelaquevamostrabalharaseguir.

Page 85: [Livro UFSC] Estudos Linguisticos I

A Leitura

85

Capítulo 06

Napós-leitura,oleitorpoderefletirmaiscriticamentesobreosen-tidoconstruído,ampliando,confirmando,transformandoourefutandoseusconhecimentos,suavisãodemundo.Éumaetapaavaliativaque,inclusive,podeculminarcomumareleituradomaterialescrito.

Noquedizrespeitoàabordagemestratégicadotexto,vamosabor-dar, nesta disciplina, apenas cinco possíveis procedimentos a seremadotadosdurantealeitura-estudo.Sãoeles:marcação,auto-questiona-mento,esquema,mapeamentoeresumo.Evidentemente,existemmui-tasoutraspossibilidadesquetalvezseadaptemàssuascaracterísticas.Porisso,sugerimosaolongodestaUnidadealgumasleiturasextrasdemodoquesepossamcontemplaraheterogeneidadedosleitores.

6.2.1. Marcação

Afunçãodamarcaçãoousublinhadodeumtextoédestacardeter-minadosaspectosparaquesejapossívelretomá-losquandonecessário,semterquerelerotextointeiroousemquesejaprecisolocalizá-losemmeioatantaspossibilidadesqueumtextooferece.

Antesdetudo,parasaberoquemarcaremumtexto,vocêprecisaterclarezadoobjetivodaleitura.Porqueeparaquevocêvailerotexto?

Vejamosalgumascaracterísticasfundamentaisdamarcação:

Lembre-sedequevocêdevemarcarsomenteseusprópriostextos.Quaisqueranotaçõesfeitassobreumafolhadepapelnãopodemmaisserapagadassemquesedeixemvestígios.Quandosetomaumlivroouumtextoemprestadodeumabibliotecaoudeumco-lega,éimportantelembrarqueoutrosleitoresvãomanusear,lere/ouestudarestemesmomaterial.Possivelmente,elesterãoobjetivosdiferentesdosseus.E,mesmoqueosobjetivossejamsemelhan-tes,leitoresdistintostêmolharesdistintossobreummesmotexto.Todamarcaçãoquevocêfizerinterferiránasleiturassubseqüentes,inclusive,nassuasprópriasleituras.

Page 86: [Livro UFSC] Estudos Linguisticos I

Unidade C - O Texto e a Leitura

86

Primeiramente,lembre-sequeasmenoresalteraçõesnosfato-1.resqueconstituemoprocessodeleituraprovocarãomarcaçõesrelativamentedistintas.

Podemos,rapidamente,relembraralgunsdestesfatores:

Oleitor,comseuconjuntodeconhecimentos,crenças,ca-a.racterísticaseintenções;

Otexto,quesematerializaemdeterminadogênerodiscur-b.sivo,tempoeespaço,queserevestededeterminadaformadelinguagempeculiaraquemoescreveu,aosobjetivosdequemescreveu,aopúblicovisadoeaomeiodeveiculação;

A condição emqueo atode leitura acontece, permeadac.pelaspossíveiscalmariaseintempériesqueultrapassamodomíniodaprópriaatividadedeleitura.

Marque ou sublinhe o texto somente depois de ter lidouma2.porção significativa.Adefiniçãodoque sejaumaporção sig-nificativadependedotextoqueseestálendo.Podeserumpa-rágrafo,umaseção,umcapítuloou,atémesmo,otextointeiro.Amarcaçãoprecipitadapode levá-lo àmácompreensãoouàincompreensãodotexto.

Destaque,nomáximo,20%domateriallido.Geralmente,quan-3.doseressaltamaisdoqueisso,acaba-sepormarcardemaisotexto,poluindo-o.Talpoluiçãopodedificultar a retomadadomaterialouumapossívelreleitura.Marcardemaiséprejudicialàcompreensãoenormalmentecaracterizaleiturapoucoprofi-cienteeeficaz.

Tentetrabalharcomumacordecanetaoulápisapenas.Ouso4.decoresdiferentesparadestacartiposdiferentesdeinformaçãoconduzaumgastomaiordetempo,aodeslocamentodaatençãoàescolhadascoreseproduzoriscodeseseparareminforma-çõesquedeveriamseragrupadasouseagrupareminformaçõesquepertencemacategoriasdiferentes.Lembre-sedequeamar-caçãonãoéoobjetivodaleitura.Elaétão-somenteumaestraté-

Page 87: [Livro UFSC] Estudos Linguisticos I

A Leitura

87

Capítulo 06

giaparasalientarsegmentostextuaisimportantesconformeospropósitosdaleitura.

Emboraosublinhadosejaaformademarcaçãomaisfreqüen-5.te,nãoéaúnica.Vocêpodeoptarportraçosverticaisàmargem,aoladodainformaçãoaserdestacada,porcolchetes,porsetas,etc.Dependendodotipodetexto,daqualidadedaimpressãoedopapel,dotamanhodafonteedosespaçamentos,osublinha-dopodeobscurecerainformaçãoaoinvésdesalientá-la.Alémdisso,sublinharexigeahabilidadedetraçaremlinharetaparanãotacharotexto.Normalmente,ostrechosdetextotachadossãoaquelesquedevemserexcluídos,nãosalientados.

Amarcação,sedevidamenteempregada,éumaexcelentetéc-6.nicadeleituraeestudo.Todavia,sugere-seaopçãoporumaou-traestratégia,semprequevocêestiveriniciandooestudodede-terminadoassuntoouáreadeconhecimento.Nestassituações,recomenda-sequevocêsubstituaamarcaçãoporanotaçõesouperguntasàmargem,aoladodoparágrafo.Talprocedimentoéválidotambémnoscasosdeestudoaprofundado.

Empregue umamesma estratégia de destaque sempre que o7.objetivoformantido.Émuitoimportanteguardarcoerênciadeprocedimento.Issofacilitaaretomadadotextoeacompreensãodasanotaçõesrealizadasanteriormente.

Vejamosumexemplodoempregodaestratégiademarcação.Comoemqualqueratividadedeleitura,éfundamentalqueseestabeleçamospropósitosdatarefa.Nestecaso,nossoobjetivoécompreenderotextoe,porisso,vamosdestacarasinformaçõescentrais,aquelasquesãochaveàconstruçãodosentido.

Em 1910, no editorial do primeiro número do Journal of Educational

Psychology, uma das primeiras revistas especializadas neste âmbito do

conhecimento, mediante uma simples afirmação surgiria um desafio

fundamental: a necessidade de criar um novo profissional, cuja tarefa

deveria ser a de “mediar entre a ciência da psicologia e a arte do ensino”.

Em certo sentido, a história quase centenária da Psicologia da Educação

pode ser interpretada como uma série de esforços ininterruptos, com

seus lógicos avanços e retrocessos, em busca deste objetivo.

Page 88: [Livro UFSC] Estudos Linguisticos I

Unidade C - O Texto e a Leitura

88

Os objetivos gerais sempre deram origem a programas de trabalho fru-

tíferos, porém, como se sabe, os objetivos gerais também costumam ser

mais fáceis de enunciar que de alcançar. É provável que a pessoa que

escreveu o editorial não fosse consciente das dificuldades da sua pro-

posta. Muitas tentativas tiveram de ser realizadas – nem todas cobertas

de êxito – para perceber que, na verdade, a mediação proposta não era,

na realidade, esta.

Assim, ao contrário do que parece sugerir a frase citada, os caminhos se-

guidos pelo pensamento psicológico e educativo no decorrer do nosso

século revelam que não basta dispor dos conhecimentos que a “ciên-

cia da psicologia” nos proporciona, nem dominar a “arte do ensino” para

exercer a função de mediação. Sabemos hoje que, para poder mediar

o conhecimento psicológico e a prática de ensino, precisamos de algo

mais: temos de dotar de conteúdo o próprio processo de mediação,

temos de assentá-lo em bases conceituais sólidas; em suma, devemos

repensar em boa medida, a partir de uma perspectiva que abranja mais

do que as prescrições unidirecionais ou do que a simples mistura, tanto

a “ciência da psicologia” como a “arte do ensino”.

[...]

(Excerto do Prefácio da obra Estratégias de leitura (Solé, 1998, p.9), escrito por César Coll.)

6.2.2 Auto-questionamento

Aestratégiadeauto-questionamentoimplicaaelaboraçãodeques-tões sobre omaterial que se está lendo e a tentativa de respondê-laslivrementeapartirdaleitura,semanecessidadederecorreràsuperfíciedotextooriginalpararesgatarerepetirenunciados.

Trata-sedeestratégiaqueenvolvereflexãosobreotemaeproduçãotextual.Evidentemente,talproduçãoaindaserestringeaotextooriginal,umavezquesetratadeatividadefundamentalmentevoltadaàleituraechecagemdacompreensãoedoalcancedosobjetivos.

Vocêpodeformularasperguntaserespondê-lasoralmenteouela-borá-laserespondê-lasporescrito.Asegundaopçãoébastanteinteres-sante,poisexigemaioratençãoaoqueseestáproduzindo.Alémdisso,permiteretomadaeavaliaçãoposterior.

Page 89: [Livro UFSC] Estudos Linguisticos I

A Leitura

89

Capítulo 06

Outravariáveldizrespeitoaomomentoemqueseaplicaoauto-questionamento. Você pode empregá-lo durante a leitura, realizandoconcomitantementeasatividades,oudepoisqueconcluiraleitura,emumaatividadeconsecutiva.

Observemosumexemplodoempregodatécnicadeauto-questio-namento.Evidentemente,vocêpoderiaformularquestõesbastantedife-rentesdestasqueestamospropondo.

Conhecimento e Compreensão

O entendimento, ou compreensão, é a base da leitura e do aprendizado

desta. A que serve qualquer atividade, se a esta faltar a compreensão? A

compreensão pode ser considerada como o fator que relaciona os as-

pectos relevantes do mundo à nossa volta - linguagem escrita, no caso

da leitura - às intenções, conhecimento e expectativa que já possuímos

em nossas mentes. E o aprendizado pode ser considerado como a mo-

dificação do que já sabemos, como uma conseqüência de nossas inte-

rações com o mundo que nos rodeia. Aprendemos a ler, e aprendemos

através da leitura, acrescentando coisas àquilo que já sabemos. Assim, a

compreensão e o aprendizado são fundamentalmente a mesma coisa,

relacionando o novo ao material já conhecido. Para entendermos tudo

isto, devemos começar considerando o que “já temos em nossas men-

tes” que nos permite extrair um sentido do mundo. Devemos começar

compreendendo a compreensão.

(Trecho extraído do livro Compreendendo a leitura (2003, p.21), de autoria de Frank Smith.)

Questões Formuladas a partir do Texto(Auto-questionamento)

Oqueécompreensão?•

Acompreensãoestárelacionadaaoaprendizado?Porquê?•

6.2.3. Esquema

Oesquemasecaracterizaporserumaespéciedeesqueletodotex-to,quenospermite,domodomaissucintopossível,perceberassuasdimensõesmaisrelevantes.

Page 90: [Livro UFSC] Estudos Linguisticos I

Unidade C - O Texto e a Leitura

90

Trata-sedeumesboçotextual,altamenteinformativo,emformadetópicos,emqueimportammaisarelaçãoentreasidéiasdoqueaseqü-ênciaemqueelassãoapresentadasnooriginal.

Respeita-seàidéia,nãoasuperfíciedotexto,umavezquenãosetratadecópiaemontagem.

Vejamosaseguirumbreveexemplodautilizaçãodatécnicadees-quematização.Novamente,trata-seapenasdeumaproposta.Provavel-mente,vocêproporiaalgodiferente.Sedesejar,podetentarenósdiscu-tiremossuaproposição.

Comooesquemaésempreelaboradoemfolhadistinta,separadodotextooriginal,éfundamentalquesejaindicadaareferênciacomple-ta,demodoquesejapossível retornarao textooriginalcasosejane-cessárioe,sobretudo,desortequesepossaindicarafontesemprequeasinformaçõesveiculadasnooriginalecompreendidasnoprocessodeleituraforemutilizadas.

O corpo está intacto. Mas não dá para clonar

Os mamutes foram extintos há relativamente pouco tempo, conside-

rando-se a história da vida no planeta. Os últimos espécimes desapare-

ceram há 4.000 anos.

Hoje, fósseis desses gigantes pré-históricos são encontrados com fre-

qüência na Sibéria quando se vasculha o chamado permafrost, a ca-

mada de terra permanentemente congelada da região. Uma das mais

espetaculares dessas descobertas foi anunciada na semana passada.

Um bebê mamute, que viveu há 10.000 anos e morreu aos 6 meses de

idade, foi encontrado na Península de Yamal. O que espanta os cien-

tistas é o extraordinário estado de conservação do fóssil. O corpo, a

tromba e os olhos do mamute, uma fêmea, estão intactos, assim como

boa parte do pêlo. “Já encontramos muitas carcaças, mas nada se com-

para com essa em termos de preservação. Ela não tem defeito. Falta-lhe

apenas o rabo”, diz o paleontólogo Alexei Tikhonov, diretor do Instituto

Zoológico da Academia Russa de Ciências. Para muitos geneticistas, a

descoberta do bebê mamute siberiano reacende a esperança de que,

no futuro, se consiga criar clones de mamute e de outros animais extin-

tos. Dessa forma, seria possível fazer com que espécies desaparecidas

voltassem a habitar a Terra.

Page 91: [Livro UFSC] Estudos Linguisticos I

A Leitura

91

Capítulo 06

O processo para criar clones de animais extintos não seria muito diferen-

te daquele mostrado no filme Jurassic Park, de Steven Spielberg. No caso

dos mamutes, o que tornaria possível recriá-los, em teoria, é seu parentes-

co com os elefantes. Geneticamente, os mamutes são 95% idênticos aos

elefantes que vivem na Ásia e na África. Primeiro, é preciso encontrar no

fóssil uma célula que possua o DNA intacto. O próximo passo é substituir

o código genético original do núcleo de um óvulo de elefanta pelo ma-

terial genético retirado do fóssil do mamute. A seguir, o óvulo fertilizado

é implantado no útero de uma elefanta. “Quanto mais bem preservado

o animal, maiores as chances de conseguirmos amostras de DNA intac-

tas e, assim, recriarmos espécies extintas”, disse a VEJA Larry Agenbroad,

diretor do Centro de Estudos de Mamutes, laboratório independente de

Dakota do Sul. A maior dificuldade para clonar um animal extinto está

justamente em conseguir uma amostra de DNA intacta. Quando o con-

gelamento se dá em condições especiais, como se faz nos laboratórios,

o material genético da célula pode ser preservado indefinidamente. Mas

as condições de congelamento nos permafrosts estão muito aquém das

ideais – tudo o que se encontrou até hoje foram fragmentos de DNA.

Nem por isso os cientistas desistem. O biólogo Don Colgan, do Museu

Australiano, tenta há quase uma década clonar o tigre-da-tasmânia, ex-

tinto em 1936. Colgan já conseguiu reproduzir milhões de cópias de

fragmentos do DNA de um tigre-da tasmânia morto há 140 anos, mas

admite que as chances de ter um clone da espécie são “muito pequenas”.

A carcaça do filhote de mamute recém-descoberta será encaminhada

à Universidade Jikei, no Japão, destino de grande parte dos fósseis con-

gelados encontrados na região do Ártico. Animais bem preservados são

a maior fonte de informações sobre como era o planeta no tempo em

que eles viveram. Ao analisá-los, consegue-se descobrir o seu tipo de

dieta, a fauna e flora locais e as condições climáticas do período. “Nos

últimos 3 milhões de anos, houve 27 ciclos glaciais e interglaciais. Uma

das poucas formas de desvendá-los é por meio desses fósseis”, diz Je-

fferson Cardia Simões, coordenador do Núcleo de Pesquisas Antárticas

e Climáticas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Ainda não há uma certeza sobre o que provocou a extinção dos mamutes.

Uma das hipóteses, levantada em pesquisas, é que tenham sido caçados

extensivamente pelo homem. Armados com lanças com pontas de pedra

lascada e fogo, os caçadores, ao que tudo indica, acuavam os mamutes

até que eles caíssem de penhascos. Até hoje, os fósseis de animais extin-

tos permitiram aos geneticistas apenas iniciar o seqüenciamento do DNA

Page 92: [Livro UFSC] Estudos Linguisticos I

Unidade C - O Texto e a Leitura

92

das espécies. O maior especialista do mundo em genética arqueológica, o

sueco Svante Paabo, está prestes a seqüenciar o DNA de um exemplar do

homem de Neandertal, um parente próximo do homem moderno que

desapareceu há 30.000 anos. “O trabalho de Paabo é importante porque

permitirá a comparação entre o Neandertal, o homem e os primatas, e

assim será possível entender o nosso passado evolucionário”, diz o gene-

ticista mineiro Sérgio Danilo Pena. “Mas, por enquanto, a possibilidade de

clonar mamutes ainda pertence ao terreno da ficção científica”, ele avalia.

(Texto completo publicado na revista Veja, 18 jul. 2007, p.110-111.)

1.2.4 Mapa

Omapaéumdesenhográficodotexto.Eleébastantevisuale,porisso,permitequeselocalizemasinformaçõesrelevantescomfacilidadenoespaçodapágina.

Proposta/exemplo de esquema:

CARELLI,G.Ocorpoestáintacto.Masnãodáparaclonar.Veja,p.110-111,18jul.2007.

Tema:a. a localização e a identificação, embomestadodeconservação,deanimaisextintos,possibilitandoaevolu-çãodosestudosgenéticos.

Objetivo:b. informar sobreaspossibilidadeseexigênciasdaclonagemde animais extintos, alémde evidenciaro valorhistóricodasinformaçõesgenéticasdestesanimaislocaliza-dosepromoveroconhecimentodoplanetaemépocasre-motas.

Condiçõesparaaclonagemdeanimaisextintos(possibili-c.dadefutura):

grandesemelhançagenéticaaanimaisexistentes;•

localizaçãodeamostraintactadeDNA.•

Dificuldade atual:d. localizaram-se apenas fragmentos deDNA.

Page 93: [Livro UFSC] Estudos Linguisticos I

A Leitura

93

Capítulo 06

Paraelaborá-lo,oleitordeve,primeiramente,analisarascaracte-rísticasdotextolido.Então,eledecidearespeitodopontodepartidadomapa,identificandoateseouaidéiacentral.Emseguida,estabeleceasidéiassecundárias,vinculando-asàprincipal.Porfim,seconsiderarimportante,acrescentadetalhesquereforçamateseouaquelesquesãofundamentaisaoalcancedosobjetivosdaleitura.

Oesquemaeomapaseaproximamnoquedizrespeitoàorganiza-çãodasidéiaseàredação.Adistinçãoresidenotipodeorganização.Oesquemaseassemelhaaumalista;omapa,porsuavez,aumdesenho,aumaespéciedeorganograma.

Assimcomonoesquema,semprequesemapeiaumtexto,deve-seindicarsuareferênciacompleta.

Vejamosum exemplodo empregoda estratégia demapeamentotextual.

O ciclo da desigualdade

Professores com menor formação e remuneração estão despreparados

para promover quem mais precisa da Educação, que é o aluno do ensi-

no público

Em muitos aspectos de nossa vida social e econômica, a desigualdade,

mais do que um problema crônico, parece ser um programa histórico. O

orçamento nacional, por exemplo, é um permanente concentrador de

riquezas, pois usa recursos subtraídos de investimentos sociais para pa-

gar a dívida pública e remunerar aplicações financeiras. A Educação vive

semelhante círculo vicioso, regido pela lógica de mercado, que amplia

continuamente as disparidades. A profissão de professoras e professo-

res, sua formação e sua condição de trabalho deveriam ser estratégicas,

se quisermos romper esse ciclo de desigualdade crescente: quem tem

Atenção:Aindicaçãodareferênciaéfundamental!Nãoconfiede-masiadamenteemsuamemória.Comgrandefreqüência,lembra-mosdasinformaçõesporqueelasnossãosignificativas,masnosesquecemosdasfontes.Porisso,aanotaçãodaorigemdasinfor-maçõeséessencial!

Page 94: [Livro UFSC] Estudos Linguisticos I

Unidade C - O Texto e a Leitura

94

melhor condição social obtém Educação com mais qualidade e quem

recebe essa Educação boa avança socialmente.

A seleção socioeconômica no acesso às carreiras mais competitivas nas

universidades públicas reflete um dos sentidos dessa desigualdade, pois

escolas privadas de elite provêem melhor formação que a média das

públicas. Reequilibrar essa disparidade implica aperfeiçoar as escolas e

as oportunidades de acesso à cultura e para tanto é essencial dar boa

formação aos educadores. Isso, no entanto, colide com o outro sentido

da desigualdade, como é fácil demonstrar.

O desprestígio e a expectativa de baixa remuneração do trabalho de

professor fazem com que os cursos de Pedagogia e as licenciaturas es-

tejam, de acordo com dados oficiais, entre os menos disputados, o que

contribui para uma inversão na seleção de entrada. Os dados também

mostram que isso resulta em cursos mais fracos nas instituições privadas

e em altas taxas de abandono nas públicas, reduzindo assim o número

dos que recebem boa qualificação teórica e prática.

Acompanho o trabalho magnífico feito na rede pública por professo-

ras e professores e defendo que, por sua qualificação e dedicação, eles

deveriam ser contratados como tutores na formação prática de novos

colegas. No entanto, nessa lógica perversa, eles não são reconhecidos

nem pagos por seu empenho ou excelência, já que são “funcionários

públicos como os demais”. Assim, muitos dos que têm melhor quali-

ficação cultural e técnico-pedagógica acabam atraídos pelas escolas

particulares (que já atendem a alunos de melhor condição econômica

e oferecem um ensino um pouco mais qualificado). O círculo mais uma

vez se fecha. Que fazer, então?

No curto prazo, é preciso reforçar propostas de aperfeiçoamento da for-

mação docente, baseadas no apoio direto ao trabalho feito nas salas de

aula e complementadas com oportunidades de mais vida cultural para

alunos e professores. As redes públicas de ensino, até por serem gran-

des, podem pôr em prática essas propostas com baixo custo unitário.

Mas essas são ações compensatórias, que não substituem um programa

que foque a formação e as condições de trabalho.

É preciso tornar a formação de professores mais atraente e eficaz, dispo-

nibilizando bolsas de estudos vinculadas ao desempenho e subsidiando

centros que, associados a escolas fundamentais e médias, se disponham

a formar uma vanguarda de profissionais. Ao mesmo tempo, é essencial

Page 95: [Livro UFSC] Estudos Linguisticos I

A Leitura

95

Capítulo 06

difundir uma nova lógica de reconhecimento do trabalho docente, espe-

cialmente dos que ensinam nas condições sociais mais carentes, por meio

de avaliação dos alunos no início e no fim do ano, premiando e promo-

vendo os responsáveis pela evolução dos que mais precisam da escola.

(Texto completo publicado na revista Nova Escola, set. 2007, p. 26.)

Exemplo de Elaboração de Mapa:

MENEZES,L.C.Ociclodadesigualdade.Nova Escola,p.26,set.2007.

6.2.5 Resumo

Pormeiodaspalavrasouidéias-chavedotexto,pode-seelaboraroresumo.

Estanãoéapenasumaestratégiadeleitura,mastambémdeprodu-çãotextual.Oresumo,alémderespeitarasidéiasoriginais,elepróprioprecisateroriginalidadenacomposiçãodotexto.

Trata-se de um texto sucinto, elaborado a partir de outro,maiscomplexoedenso.

Page 96: [Livro UFSC] Estudos Linguisticos I

Unidade C - O Texto e a Leitura

96

Vocêpodeelaborarseusresumospartindodeumesquemaoudeummapaprévio.Emtermostemáticos,oesquemaeomapasintetizamotextooriginal.Aelesfaltamoscontortoseaunidadetextual.Oesque-maouomapacompreendemmaisdametadedotrabalhodeelaboraçãodeumresumo!

Mas, se você preferir, é possível produzir diretamente o resumocombasenaspalavrasouidéias-chavedotextooriginal.

Aspalavras-chave formamumcentrode expansãoque constituiabasedotexto.Tudodeveajustar-seaelasdemodopreciso.Umadastarefasdoleitorédetectá-lasaolongodotextoe,apartirdelas,recons-truí-losucintamente.

Aspalavras-chaveaparecememtodootextodediferentesmanei-ras:repetidas,modificadas,retomadasporsinônimos,hipônimos,hipe-rônimos.Elascompõemoesqueletotextual.

Àsvezes,édifícilencontraraspalavras-chave;então,pode-sere-correràsidéias-chaveparaobteraessênciadecadaporçãotextual.

Emsíntese,emumaboaleituraseguidadeproduçãoderesumo,éimportantequeseconsideremosseguintescritérios:

Elaboraresquemaoumapaouentãoprocuraraspalavrasou1.idéias-chavedotexto;

Nocasodesetrabalharapartirdaspalavrasouidéias-chave,2.procurarasinformaçõesveiculadasesintetizá-lascomsuaspró-priaspalavras;

Sintetizar o texto demodo coeso e coerente, encadeando as3.idéiasapresentadas.Vocêéoautordoresumo!

Tomarnotadasreferênciascompletas.4.

Atítulodeexemplificação,vamosresumirotextoqueesquema-tizamosnaseção3.3.3:“Ocorpoestáintacto.Masnãodáparaclo-nar”.Sevocêpreferir,poderelerooriginaleoesquema,retornandoàquelaseção.

Page 97: [Livro UFSC] Estudos Linguisticos I

A Leitura

97

Capítulo 06

CARELLI,G.Ocorpoestáintacto.Masnãodáparaclonar.Veja,p.110-111,18jul.2007.

Resumo

Adescobertadeanimaisemexcelenteestadodeconservação–aexemplodomamutequemorreuhácercade10000anos-fazau-mentarasexpectativasemrelaçãoàclonagemdeanimaisjáextin-tos,assimcomopropiciaaevoluçãodosestudosemgenéticaeoconhecimentodascaracterísticasdoplanetaemépocasremotas.AclonagemdeanimaisextintosaindanãoépossívelporexigiralocalizaçãodeumacélulaquetenhaoDNAintacto,oqueéimpro-váveldevidoàscondiçõesinsatisfatóriasdecongelamentodosani-maisencontrados.Énecessáriotambémhavergrandesemelhançagenética entreo animal extinto eumanimalqueviva emnossaépoca,condiçãomaisfacilmentecontemplada.

Saiba mais...

Paradesenvolversuacompetêncialeitora,vocêpodeestudarasse-guintesobras:

CHEVALIER,Brigitte.Leitura e anotações:gestãomentaleaqui-siçãodemétodosdetrabalho.SãoPaulo:MartinsFontes,2005.

LIBERATO,Yara.É possível facilitar a leitura:umguiaparaes-creverclaro.SãoPaulo:Contexto,2007.

SOLÉ, Isabel.Estratégias de leitura. 6.ed. PortoAlegre:ART-MED,1998.

Page 98: [Livro UFSC] Estudos Linguisticos I

Unidade C - O Texto e a Leitura

98

Aprendendo a Ler e a Escrever: comentários finais

Existem instigantespesquisas a respeitodoque sejamas línguasedosfatoresquepodempromoveroudificultarseuaprendizado.Taisestudosultrapassam,emgrandemedida,aquiloquedizemosensoco-mumeasgramáticasetambémaquiloqueasaulasdelínguapropõemmuitofreqüentemente.Setaisestudosfossemlevadosaoambienteesco-lar,poderiamprovocarsensíveisrevoluçõesnoensino,produzindoprá-ticasmaiseficazesnoquedizrespeitoaodesenvolvimentoconsistentedaleituraedaescrita.Evidentemente,aaplicaçãodetaispropostasnãoresolveria os problemas escolares,mas poderia, sim, instigar práticasvoltadasaoletramentodosestudantes.

Por ser o letramento umprocesso constante,mesmo indivíduosproficientesemleituraeproduçãotextualcontinuamaprimorandosuacompetência,umavezquecadaatoéindividualerequerhabilidadeseconhecimentosespecíficosparaumdesempenhosatisfatório.

Aleituraéumacompetênciafundamentalaserdesenvolvidaemmeioseducacionais,poistodaaprendizagemnaescolaestáfundamen-tadanela.Umleitoreficienteécapazdeusardiferentestiposdeproces-samentotextual,quersejamascendentes,descendentesouinterativos,dependendodascondiçõesemqueoatodelerseconcretiza.

Nasúltimasdécadas,asrelaçõesentreoestudanteeotexto,sejaematividadedeleituraoudeproduçãotextual,têmsidoumadaspreocupa-çõesdepesquisadoresquesededicamaoprocessodeensino/aprendiza-gemdelínguas.Osestudantesvêmdemonstrandodesempenhoinsatis-fatórioemtarefasregularesdeleituraeescritaetambémemavaliaçõesintra-eextra-classe.Emboraotrabalhosobreasestruturaslingüísticasesobreodesempenhooralsejadeindiscutívelimportância,oensinodees-tratégiasmetalingüísticasdeleituraeescritacontribui,significativamente,aodesenvolvimentodoníveldeinterlínguadoestudante.

Apesardestasignificativaofertademateriaisdepesquisa,comgran-defreqüência,aspráticaspedagógicasnoensinoregulardelínguasaindaconstituemumquadropoucoeficiente,cujofocosecentra,emgrande

Page 99: [Livro UFSC] Estudos Linguisticos I

A Leitura

99

Capítulo 06

medida,emumensinomaiscomunicativo,voltadoàinteraçãooral,ouemaspectosgramaticais—normalmentenormativoseprescritivos.Asatividadesde leituraeescritaaindarecebematençãosecundária—ex-cetuando-se,evidentemente—oscursosdelínguacomobjetivosespecí-ficos,ouseja,asformaçõescujoobjetivoéinstrumentalizaroindivíduoparauma tarefa específica, freqüentemente ler e/ouescrever textos emdeterminadaáreaousituação.

Glossário relativo à Unidade C

Dialética:genericamente,adialéticapodesercompreendidacomo

umconflitogeradopelaoposição/contradiçãode idéiaseprincí-

piosteóricos(HOUAISS;VILLAR;FRANCO,2001.p.1030).

Gênero textual:demaneirabastantegeralesimplificada—oque

porvezes leva adefinições inconsistentes—,osgêneros textuais

sãounidadesconcretasdacomunicaçãoverbaleinteraçãohuma-

Saiba mais...

Saibamaissobreosprocessosdeensino/aprendizagemdeleituraeescritaestudandoasseguintesobras:

BRAGA, Regina Maria; SILVESTRE, Maria de Fátima Barros.Construindo o leitor competente: atividades de leitura interativaparaasaladeaula.SãoPaulo:Peirópolis,2002.

FORTKAMP,MailceBorgesMota;TOMITCH,LêdaMariaBra-ga(Org.).Aspectos da lingüística aplicada.Florianópolis: Insular,2000.

McGUINNESS,Diane.O ensino da leitura:oqueaciêncianosdizsobrecomoensinaraler.PortoAlegre:Artmed,2006.

PAIVA,VeraLúciaMenezesdeOliveiraePaiva.Olugardaleitu-ranaauladelínguaestrangeiraVertentes.n.16–julho/dezembro2000.p.24-29.

Se você quiser saber mais sobre dialética, leia: DEMO, Pedro. Metodologia do conhecimento científico. São Paulo: Atlas, 2000.

Para se aprofundar na discussão sobre gêneros do discurso, leia: DIONISIO, Ângela Paiva; MACHADO, Anna Rachel; BEZERRA, Maria Auxiliadora (Org.). Gêneros textuais e ensino. 5. ed. Rio de Janeiro: Lucerna, 2007

Page 100: [Livro UFSC] Estudos Linguisticos I

Unidade C - O Texto e a Leitura

100

nas,queserealizamdemodorelativamenteestável.Todaprodução

textualpertenceaumgênero.

Hiperonímia:relaçãoqueseestabeleceentreumapalavradesenti-

domaisgenéricoeoutradesentidomaisespecífico.Animaléhipe-

rônimodehomemetambémdecavalo,porexemplo.

Hiponímia:nahiponímia tem-seo contráriodahiperonímia,ou

seja,trata-sedarelaçãodepalavradesentidomaisespecíficoeou-

tradesentidomaisgenéricoqueguardatraçossemânticosamplos

quecompreendemapalavraespecífica.Porexemplo,cavaloeho-

memsãohipônimosdeanimal.

Interlíngua:estágiosdedesenvolvimentosituadosentreodomínio

delínguamaternaeodomíniodelínguaestrangeira.

Linear: nestecontexto,linearsignificadaesquerdaparaadireita,

decimaparabaixo,respeitandoaorganizaçãoespacialdaescrita

dalínguaportuguesa.

Polissemia:propriedadedos signos lingüísticosdepossuíremvá-

rios possíveis sentidos (DUBOIS; GIACOMO;GUESPIN et. al.,

1998,p.471).

Page 101: [Livro UFSC] Estudos Linguisticos I

101

Reflexões FinaisInsistiremos, ao finalizar, que é muito importante que os professores de

Letras, de modo geral, possuam uma concepção a respeito de língua e

linguagem que responda às vertentes atuais em termos das pesquisas

científicas. Naturalmente, a posição do professor diante de seus alunos

não deve assumir valor imperativo ou revestir-se de verdade absoluta,

embora saibamos que a posição do mestre interfere sobremaneira na

formação dos discípulos, determinando, por vezes, os rumos de suas

concepções em termos daquilo que significa ler, aprender, ensinar.

Assim, fica explicitamente estampado o compromisso social implicado

e subjacente às atividades docentes. Fazemos parte de um processo

educativo e somos os responsáveis por ele enquanto coletividade.

Quando mergulhamos nas diversas áreas de uma ciência, como a própria

Lingüística, constatamos que todos os aspectos estão intimamente integra-

dos. Os movimentos da linguagem são convergentes e sinergéticos. A acei-

tação das diversidades permite melhor compreensão dos elementos que

compõem as diferenças. Efetivamente não há de se negar normas, padrões,

enfim, as regras criadas para melhor explicar e compreender nossa própria

expressão, pois são eles que participam e, em muitos momentos, permitem

as coesões necessárias aos entendimentos sociais. As singularidades locali-

zadas nas bases devem ser tomadas como força para os aperfeiçoamentos.

É importante que o profissional do ensino valorize o potencial que cada

aluno possui. Eventuais diferenças provindas de nossos meios de origem

constituem riquezas sobre as quais se podem erigir novos conhecimentos.

A formação de formadores constitui um importante processo a ser desen-

volvido de modo responsável e com imenso compromisso científico.

Page 102: [Livro UFSC] Estudos Linguisticos I
Page 103: [Livro UFSC] Estudos Linguisticos I

103

Referências

ALLIENDE, Felipe; CONDEMARÍN, Mabel. A leitura: teoria, avaliação e de-senvolvimento. Tradução de Ernani Rosa. 8. ed. Porto Alegre: Artmed, 2005. Título original: La lectura: teoria, evaluación e desarrollo.

BRAGA, Regina Maria; SILVESTRE, Maria de Fátima Barros. Construindo o leitor competente: atividades de leitura interativa para a sala de aula. São Paulo: Peirópolis, 2002.

CAGLIARI, Luiz Carlos. Alfabetização & Lingüística. São Paulo: Scipione, 1995.

______. Análise fonológica: introdução à teoria e à prática com especial destaque para o modelo fonêmico. Campinas, São Paulo: Mercado de Letras, 2002.

CALLOU, Dinah; LEITE, Yonne. Iniciação à Fonética e à Fonologia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1995.

CHEVALIER, Brigitte. Leitura e anotações: gestão mental e aquisição de métodos de trabalho. Tradução de Maria Stela Gonçalves. São Paulo: Martins Fontes, 2005. Título original: Lecture et prise de notes.

DEMO, Pedro. Introdução à metodologia da ciência. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1985.

DEMO, Pedro. Metodologia do conhecimento científico. São Paulo: Atlas, 2000.

DIONISIO, Ângela Paiva; MACHADO, Anna Rachel; BEZERRA, Maria Auxilia-dora (Org.). Gêneros textuais e ensino. 5. ed. Rio de Janeiro: Lucerna, 2007.

DUBOIS, Jean; GIACOMO, Mathée; GUESPIN, Louis; et. al. Dicionário de Lingüística. Coordenação geral da tradução: Izidoro Blikstein. São Paulo: Cultrix, 1998. Título original: Dictionnaire de Linguistique.

FIORIN, José Luiz (Org.). Introdução à Lingüística II: princípios de análise. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2003.

FORTKAMP, Mailce Borges Mota; TOMITCH, Lêda Maria Braga. (Org.). As-pectos da lingüística aplicada: estudos em homenagem ao Professor Hilário Bohn. Florianópolis: Insular, 2000.

Page 104: [Livro UFSC] Estudos Linguisticos I

104

HOYOS-ANDRADE, Rafael Eugenio. Sistemas fonológicos, interferências e ensino de línguas. Uniletras, n. 16, p. 5-18, 1994.

HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro de Salles; FRANCO, Francisco Manuel de Mello. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Ob-jetiva, 2001.

KATO, Mary A. No mundo da escrita: uma perspectiva psicolingüística. 5. ed. São Paulo: Ática, 1995.

LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos de metodologia científica. 2. ed. rev. ampl. São Paulo: Atlas, 1990.

LEFFA, Vilson J. Aspectos da leitura: uma perspectiva psicolingüística. Porto Alegre: Sagra – DC Luzzatto, 1996.

LIBERATO, Yara. É possível facilitar a leitura: um guia para escrever claro. São Paulo: Contexto, 2007.

MARTIN, Robert. Para entender Lingüística. São Paulo: Parábola, 2003.

MASIP, Vicente. Fonética espanhola para brasileiros. Recife: Sociedade Cultural Brasil – Espanha, 1998.

McGUINNESS, Diane. O ensino da leitura: o que a ciência nos diz sobre como ensinar a ler. Tradução de Luzia Araújo. Porto Alegre: Artmed, 2006. Título original: Early reading instruction: What science really tells us about how to teach reading.

MUSSALIM, Fernanda; BENTES, Anna Christina (Org.). Introdução à lingü-ística: domínios e fronteiras. 6. ed. v.1. São Paulo: Cortez, 2006.

PAIVA, Vera Lúcia Menezes de Oliveira e Paiva. O lugar da leitura na aula de língua estrangeira. Vertentes, n. 16, p.24-29, jul/dez 2000. Disponível em: http://www.veramenezes.com/leitura.htm. Acesso em: 17/09/2007.

ROBERT, P. Dictionnaire alphabétique & analogique de la langue françai-se. Paris: Le Robert, 2001.

RODRIGUES, Cássio; TOMITCH, Lêda Maria Braga. (Org.). Linguagem e cérebro humano: contribuições multidisciplinares. Porto Alegre: Artmed, 2004.

SILVA, Thaïs Cristófaro Silva. Fonética e Fonologia do português: roteiro de estudos e guia de exercícios. São Paulo: Contexto, 1999.

Page 105: [Livro UFSC] Estudos Linguisticos I

105

SMITH, Frank. Compreendendo a leitura: uma análise psicolingüística da leitura e do aprender a ler. Tradução de Daise Batista. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2003. Título original: Understanding reading.

SOLÉ, Isabel. Estratégias de leitura. 6. ed. Tradução de Cláudia Schilling. Porto Alegre: ARTMED, 1998. Título original: Estrategias de lectura.

SOUZA, Ana Cláudia. Estrutura silábica do português brasileiro e do in-glês americano: estudo comparativo. 1998. 90 f. Dissertação (Mestrado em Lingüística) – Pós-Graduação em Lingüística, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis.

______. A review of the models of reading. Revista de Ciências Huma-nas, v.6, n.1, p.21-25, 2000.

______. Leitura, metáfora e memória de trabalho: três eixos imbricados. 2004. 232f. Tese (Doutorado em Lingüística) - Pós-Graduação em Lingü-ística, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis.

STERNBERG, Robert J. Psicologia Cognitiva. Trad. de Maria Regina Borges Osório. Porto Alegre: Artmed, 2000. Título original: Cognitive Psychology.

TARALLO, Fernando. A pesquisa sociolingüística. 7. ed. São Paulo: Ática, 2005.

WEEDWOOD, Bárbara. História concisa da Lingüística. Tradução de Mar-cos Bagno. São Paulo: Parábola, 2002. Título original: A Concise Story of Linguistics.

Sites

Phonetique Française. http://membres.lycos.fr/milenchip/phonetic.htm.Acesso em: 25/06/2008.

La phonétique et la phonologie. http://www.linguistes.com/phoneti-que/phon.html. Acesso em: 25/06/2008.

Fontes utilizadas exclusivamente para os exercícios de leitura

CARELLI, Gabriela. O corpo está intacto. Mas não dá para clonar. Veja, p. 110-111, 18 jul. 2007.

MENEZES, Luis Carlos. O ciclo da desigualdade. Nova Escola, p. 26, set. 2007.

Page 106: [Livro UFSC] Estudos Linguisticos I