livro purgatório

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Reporter: Erick Ramon 0 Comentarios I. Acerbidade das penas do Purgatório Ouvindo Santo Agostinho alguns de seu tempo dizer que, se escapassem do inferno, do Purgatório não tinham tanto medo, encheu-se de zelo e lhes fez ver o grande erro em que estavam, pois as penas do Purgatório superam tudo o que há de mais penoso neste mundo. E com razão, porque o fogo que atormenta as almas do Purgatório é o mesmo que o fogo que atormenta os condenados no inferno, somente com exceção da eternidade. E assim é que a Santa Igreja não duvida chamar às penas do Purgatório penas infernais [na Liturgia dos defuntos]. O fogo do Purgatório é aceso por um sopro infernal, e é tão ativo que não se chama simplesmente fogo, mas espírito de fogo (Is 4, 4), e derreteria num instante um monte de bronze, mais facilmente que uma de nossas fornalhas devoraria uma palha seca. Tem ainda este fogo, além da atividade natural, uma potência superior, que lhe dá Deus, para servir de instrumento ao Seu furor: .....................(Is 15, 41). Porém, diz o Senhor pelo profeta Zacarias, que Ele mesmo, mais que o fogo, purgará e limpará a alma eleita, ativando com Seu hálito as suas chamas: ............... (Zac 3, 9). E qual não será o tormento das almas benditas naquele cárcere por meses e anos! Podemos fazer dele uma [longínqua] idéia, considerando que:

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Page 1: Livro Purgatório

Reporter: Erick Ramon 0 Comentarios

I. Acerbidade das penas do Purgatório

Ouvindo Santo Agostinho alguns de seu tempo dizer que, se escapassem do inferno, do Purgatório não tinham tanto medo, encheu-se de zelo e lhes fez ver o grande erro em que estavam, pois as penas do Purgatório superam tudo o que há de mais penoso neste mundo.E com razão, porque o fogo que atormenta as almas do Purgatório é o mesmo que o fogo que atormenta os condenados no inferno, somente com exceção da eternidade. E assim é que a Santa Igreja não duvida chamar às penas do Purgatório penas infernais [na Liturgia dos defuntos]. O fogo do Purgatório é aceso por um sopro infernal, e é tão ativo que não se chama simplesmente fogo, mas espírito de fogo (Is 4, 4), e derreteria num instante um monte de bronze, mais facilmente que uma de nossas fornalhas devoraria uma palha seca.Tem ainda este fogo, além da atividade natural, uma potência superior, que lhe dá Deus, para servir de instrumento ao Seu furor: .....................(Is 15, 41).Porém, diz o Senhor pelo profeta Zacarias, que Ele mesmo, mais que o fogo, purgará e limpará a alma eleita, ativando com Seu hálito as suas chamas: ............... (Zac 3, 9).E qual não será o tormento das almas benditas naquele cárcere por meses e anos! Podemos fazer dele uma [longínqua] idéia, considerando que:a) A alma, assim como é mais nobre que o corpo, é também mais capaz de sentir vivamente, seja a alegria, seja o sofrimento;b) A alma unida ao corpo, se sente dor, sente-a temperada pelo mesmo corpo, e como que dividida entre ambos, servindo-lhe o corpo de escudo e anteparo da dor. Mas no Purgatório, estando longe do corpo, recebe diretamente sobre si toda a força da dor;c) A alma unida ao corpo, se sofre no pé ou na mão ferida, não sofre na cabeça ou noutros membros sãos; mas no Purgatório, sendo indivisível e estando separada do corpo, é toda atingida pelas chamas.Além do fogo, é a alma, no Purgatório, atormentada por si mesma, pensando:a) Por quão ligeiras faltas está penando: por uma palavra inútil, por um olhar curioso, por uma intenção menos reta, que tão facilmente pudera evitar;

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b) Que, podendo durante a vida tão facilmente descontar a pena merecida por suas faltas com praticar algumas ações meritórias, não o fez;c) Que, deixando na terra filhos, amigos e herdeiros, que a deviam aliviar naquelas chamas, não o fazem, e só pensam em desfrutar dos bens que lhes deixou (Sl 30, 13). Com quanta razão se lamentará de não ter descontado os seus pecados, dando esmolas, e empregando em obras de caridade os bens que Deus lhe deu e que aumentou com tantos suores?Sobre tudo isto, acresce o maior tormento do Purgatório, que é a privação da visão de Deus.São João Crisóstomo disse (Hom. 24 in c. 7 Mat.) que o inferno do inferno é estar o condenado privado para sempre da visão de Deus. Assim também se pode dizer que o Purgatório do Purgatório é estar uma alma por muito tempo longe da visão de Deus. As almas são, pois, atormentadas por dois verdadeiros e profundíssimos sentimentos: desejo e amor.O maior tormento de uma alma do Purgatório é desejar ir para Deus, e não poder. Esta pena é tanto maior, quanto maior é o conhecimento que lá a alma tem de Deus, pois, separada do corpo, conhece mais claramente a suma bondade de Deus, e se sente movida com maior força a ir para Ele, como a pedra para o seu centro.Por isso, as suas maiores ânsias, no Purgatório, são suspiros pela visão beatífica, de que já sente a aproximação, mas que ainda não pode desfrutar. Clama ela, como o cego do Evangelho (Lc 18,41): 'Senhor, que eu veja' essa luz da glória; que meus olhos desfrutem já da presença divina! Para chegar mais depressa à visão de Deus, esta alma preferiria que se lhe duplicasse o tormento do fogo, contanto que findasse o tormento do desejo de ver a Deus.Conta-se [por exemplo] de Rutília que, sabendo que seu filho fõra condenado ao desterro para terras longínquas, se desterrou também, para não padecer, longe dele, o tormento da saudade.Mas muito maior que o desejo, é o tormento do amor.Três são os amores que atormentam as almas do Purgatório:a) O amor natural, pelo qual a alma, por uma inclinação inata, é atraída para Deus como a Seu Criador, seu Princípio e último Fim, com maior ímpeto que a pedra propende para o centro da terra ou a chama para o ar;b) O amor sobrenatural, pelo qual, [sob a ação da Graça,] é a alma vivíssimamente atraída para Deus como seu sumo, único e eterno Bem;c) O amor de ardentíssima caridade, por saber que é esposa do divino Cordeiro, Jesus Cristo, destinada ao Reino Celestial, e, no entanto, vê que seu Esposo Divino lhe fecha a porta, e que seu amor é assim frustado.A todos estes tormentos se deve juntar a duração das penas, por meses, por anos e, talvez, até o fim do mundo.Quanto se amedronta e aterra um malfeitor, ao ouvir a sentença de ficar por algum tempo encerrado num cárcere escuro ou de por três anos trabalhar nos porões das galés! Quanto se lamenta um enfermo a quem se avisa de que terá de sofrer por um quarto de hora uma dolorosíssima operação! E a quem não de gelar o sangue ao pensar que, por seus pecados, há de estar sepultado nas chamas do Purgatório por anos inteiros, e talvez até o dia do Juízo Final?!Santo Agostinho diz que, no Purgatório, um dia é como mil anos (In Ps 37).Assim é que a esperança e o desejo de ver a Deus, e de passar de um excessivo tormento a uma indizível alegria, fará parecer uma hora mais longa que um século.

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Conta Santo Antonino que um enfermo havia muito tempo que sofria horríveis dores. Apareceu-lhe o seu Anjo da Guarda e lhe propôs, por ordem de Deus, que escolhesse: ou sofrer aquelas dores por mais um ano, ou passar meia hora no Purgatório. O enfermo respondeu que preferiria estar meia hora no Purgatório, pois assim acabava mais depressa de sofrer. Pouco depois expirou, e o Anjo foi visitá-lo no Purgatório. Ao ver o Anjo, a pobre alma começou a soltar gemidos inconsoláveis, dizendo-lhe que a tinha enganado, pois, tendo-lhe assegurado que estaria ali só meia hora, já eram passados vinte anos que estava lá penando. Vinte anos? - replicou o Anjo - não passaram mais que poucos minutos de tua morte, e teu cadáver ainda está quente sobre o leito!Tanto é verdade que as penas do Purgatório, em certo modo, - sapiunt naturam aeternitatis -, têm um sabor de eternidade, por parecer à imaginação do padecente que uma hora é como um século.

II. Dificuldade em evitar o Purgatório

Um mal qualquer, por maior que seja, se facilmente se pode evitar, não é grande mal; mas um mal grande, que dificilmente se pode evitar, torna-se extremo.Tal é o Purgatório; pois, como atesta o cardeal e Doutor da Igreja São Roberto Belarmino (De amis. grat., c. 13), até dos homens mais santos e perfeitos, pouquíssimos são os que vão direto ao Paraíso.O mesmo Santo, estando próximo à morte, recebeu a visita do Geral da Companhia de Jesus, que, sabendo como era santíssima a vida de Belarmino, lhe disse que todos tinham firme esperança de que, depois da morte, ele voaria logo para o Céu. - 'Mas não a tenho eu, disse o Santo; eu não tenho essa esperança'.Santa Teresa d'Ávila conta que, sendo-lhe revelado o estado de muitas almas na outra vida, só de três sabia que tivessem ido para o Céu sem passar pelo Purgatório [e uma destas almas era ninguém menos que um São Pedro de Alcântara].Nem isto nos deve maravilhar. São Bernardo diz (Decl. sup. Ecce nos) que, assim como não há obra boa, por mais pequena que seja, que Deus não remunere largamente, assim não há mal, por mais ligeiro que seja, que Deus não castigue severamente. Ora, sendo a alma mais justa e santa sujeita a muitas imperfeições, naturalmente está exposta a ir pagar por elas no Purgatório.Se por um lado não quer Deus que nada impuro entre no Céu, por outro não escapa a Seus olhos a mais ligeira mancha, que nós, muitas vezes, nem chegamos a descobrir. Por isso diz a Escritura que até nos Anjos encontra Deus que repreender (Job 4, 18), e que os mesmos céus não são puros na Sua presença (Job 15, 15), e que até nas obras dos justos encontra que emendar (Sl 74, 3).O santo Jó, conhecendo esta minuciosa Justiça de Deus, temia que as suas ações, ainda as mais santas, não Lhe fossem plenamente agradáveis (Job 9, 28).Oh! Como são terríveis os juízos de Deus, e como são diversos dos d'Ele os juízos dos homens! O homem não vê senão o que aparece por fora; Deus, porém, penetra o coração (1 Rs 16, 7).O padre Baltasar Álvarez, da Companhia de Jesus, confessor de Santa Teresa d'Ávila, era, por testemunho de sua Santa penitente, um dos homens mais santos e piedosos de seu tempo. Um dia, ele pediu ao Senhor que lhe revelasse quais eram as suas obras que mais O agradavam. Deus Nosso Senhor ouviu a sua oração, e fez-lhe ver as suas obras no símbolo de

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um cacho de uvas, em que umas eram verdes, outras amargas, e só duas ou três estavam maduras, e estas ainda não de todo doces ao paladar. 'Tais são, disse-lhe o Senhor, as tuas ações; delas só duas ou três são boas, e mesmo nestas, se examinarem com rigor, não lhes faltará que repreender'.Daqui se vê como é severa a Justiça Divina em julgar as ações dos homens, e como é difícil, ao morrer, estar um alma tão purificada, que não fique nada por que satisfazer no Purgatório.Não faltam exemplos na vida dos Santos que confirmam esta doutrina.Na vida de São Severino se conta que, enquanto um clérigo passava um rio, apareceu-lhe um sacerdote e, tomando-lhe a mão, a queimou toda, dizendo: Isto sofro no Purgatório por não rezar as Horas canônicas com atenção.De São Martinho escreve São Gregório Turinense que, orando no sepulcro de sua irmã e recomendando-se a ela como a santa, de repente ela lhe apareceu, vestida do hábito de penitente, com o rosto triste e pálido, e lhe disse que ainda estava no Purgatório, por ter penteado o cabelo na Sexta-Feira Santa, não se lembrando que era o dia da Paixão do Senhor.A irmã de São Pedro Damião, como ela mesma revelou a uma santa alma, foi condenada a penar dezoito dias no Purgatório, por ter, de sua cela, ouvido curiosamente os cantos e músicas que entoavam debaixo da janela.São Severino, Arcebispo de Colônia, foi condenado a um gravíssimo Purgatório, por ter recitado as Horas canônicas sem a devida distinção de tempos, apesar de serem muitos os negócios de seu palácio, que parece o desculpariam.Entremos agora dentro de nós mesmos, e tiremos a conseqüência, que tirou também Santo Antonino depois de contar a seus religiosos semelhantes exemplos: 'Tema, pois, cada um de vós, cometer pecados veniais e não se purificar deles nesta vida'.Se Deus é tão severo em punir no Purgatório as menores faltas, e se é tão difícil, mesmo para as almas mais perfeitas, evitá-lo, como é que me atrevo a acumular pecados veniais em minha vida, sem fazer penitência deles?... E se aqui me parece insuportável uma pequena agulha, que será sofrer aquele fogo atrocíssimo?... Por que não procuro depurar as minhas ações de toda impureza, e fazer penitência pelos pecados cometidos?... Andemos sempre alumiados pelas chamas do Purgatório, para evitarmos, com a perfeição de nossas obras, cair naqueles horríveis tormentos (Is 40, 11).

III. Como devemos evitar o Purgatório

É verdade de Fé que ninguém entra no Céu sem estar de todo purificado (Apoc 21, 17), e sem primeiro ter satisfeito todas as suas dívidas à divina Justiça (Mt 5, 26). Deste modo, ou havemos de punir em nós mesmos, nesta vida, os nossos pecados, ou então Deus se encarregará de os castigar depois da nossa morte. Não há como escapar, diz Santo Agostinho (Conc. 1 in Ps 58).Quem, na vida, não apaga os pecados com as lágrimas da penitência, depois da morte se purificará deles com as chamas do Purgatório. Ora, não é melhor lavar os pecados com água do que com fogo?Na vida, com um dia de penitência, e até com uma hora, podemos satisfazer por nossos pecados o que no Purgatório nem por um ano expiaríamos. Ora, não é melhor padecer por um pouco, neste mundo, que padecer no outro por longo tempo, que pode ser até o dia do Juízo?Ajuntemos que a penitência feita em vida é meritória, e depois da morte nada merece. Ainda

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que penemos por mil anos no Purgatório, não adquiriremos um novo grau de graça, nem um novo grau de glória no Céu.E não é mais sensato sofrer pouco e por pouco tempo, e com mérito, do que sofrer muito e por muito tempo, e sem mérito nenhum?Finalmente, a Divina Justiça fica mais satisfeita com a penitência, ainda que pequena, feita nesta vida, do que com a pena, ainda que maior, tolerada depois da morte; porque a primeira é um sacrifício voluntário e uma pena tomada espontaneamente, ou espontaneamente aceita, ao passo que a segunda é um sacrifício forçado, e uma pena tolerada por necessidade e contra vontade.Por todas estas razões se vê claramente quanto importa descontar, nesta vida, as penas que devemos a Deus por nossos pecados, pela enorme vantagem de nos livrarmos, desta maneira, dos males do Purgatório.

Frutos

Consideremos os frutos que devemos tirar desta doutrina, para nos resolvermos a evitar o Purgatório, usando de todos os meios que a isto nos possam ajudar.O primeiro é fazermos agora, por nós mesmos, penitência dos nossos pecados, e praticar boas obras o mais que pudermos, e não pôr a nossa esperança em sufrágios futuros. E isto devemos fazer sem demora, antes que sejamos assaltados por algum acidente (Gál 6, 10).O segundo é pôr todo o cuidado em ganhar as santas indulgências, com as quais satisfaremos por nossos pecados com a satisfação e méritos de Nosso Senhor Jesus Cristo.O terceiro, finalmente, é usar de piedade com as almas do Purgatório, ajudando-as com os nossos sufrágios, obras e orações, porque Deus disporá que aquela caridade que usamos com os outros seja também usada conosco (Mt 7, 2). Depois essas almas, quando estiverem no Céu, serão gratíssimas para conosco, obtendo-nos muitas graças de Deus. Feliz de quem salvou uma alma do Purgatório com seus sufrágios, porque terá diante de Deus quem interceda por ele, quando também estiver penando naquele lugar.Conta Bernardino de Bustis que morreu um pai, e com seus bens deixou um filho riquíssimo. Este ingrato filho não pensou mais em quem tanto o tinha beneficiado, pois nunca mandou sufragar a alma de seu pai, que ardia no Purgatório. Ora, que aconteceu? Ainda que os seus capitais fossem avultadíssimos, contudo estava sempre em penúria. Contínuas tempestades lhe destruíam as plantações, males imprevistos dizimavam-lhe os rebanhos, incêndios e desastres arruinavam-lhe a casa. Já os pleitos, já o fisco, já os inimigos o obrigavam a gastos desmedidos. Um dia, encontrando-se com um servo de Deus, pediu-lhe que o recomendasse em suas orações. Fê-lo o santo varão, a quem foi revelado que aquele filho ingrato não podia desfrutar dos bens herdados, porque tinha o pai no Purgatório, que o amaldiçoava, e as suas maldições eram aceitas da Divina Justiça pela sua perversa ingratidão.Façamos bem aos nossos defuntos, que o mesmo farão conosco (Ecli 12, 2).Imaginemos que Jesus Cristo diz a cada um de nós a respeito dos nossos defuntos, o que disse a respeito de Lázaro: 'Desatai-o e deixai-o ir' (Jo 11, 44).(Padre Alexandrino Monteiro S. J., Exercícios de Santo Inácio de Loyola, II Edição, Editora Vozes, Petrópolis: 1959, páginas 80-90).

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PURGATÓRIO NA HISTÓRIA DA IGREJA

O Purgatório é uma das doutrinas que mais tem sido rejeitada pelos protestantes. Frequentemente ouvimos fundamentalistas afirmarem, sem o mínimo rigor histórico, que trata-se de uma invenção de São Gregório Magno em plena Idade Média. Entre alguns exemplos que extraímos de diversos artigos da Internet encontra-se o do conhecido protestante anticatólico Dave Hunt:

"No Catolicismo, a 'purificação' ocorre em um lugar chamado 'purgatório', inventado pelo Papa Gregório o Grande no ano 593 d.C."[1].

Um comentário bastante semelhante é feito por Daniel Sapia, que cita o anterior em detalhes:"A idéia do Purgatório - um lugar fictício de purificação final - foi inventada pelo Papa Gregório o Grande no ano 593. Havia tal rejeição para se aceitar a idéia - visto que era contrária à Escritura - que o Purgatório não se tornou um dogma oficial durante quase 850 anos, quando o Concílio de Florença, em 1439, o definiu"[2].

Seria verdade que o Purgatório é uma invenção de São Gregório Magno, na Idade Média, como afirma Hunt e repete Sapia? Seria verdade que houve tal rejeição para se aceitar a doutrina do Purgatório que não se tornou um dogma de fé até o Concílio de Florença?Antes de respondermos a estas perguntas é necessário estudar a doutrina do Purgatório, caso contrário não a reconheceremos nos escritos da Igreja primitiva:

A DEFINIÇÃO DE PURGATÓRIO NO CATECISMO DA IGREJA E NOS CONCÍLIOSECUMÊNICOS

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O Catecismo da Igreja Católica explica o Purgatório da seguinte maneira: "1030. Os que morrem na graça e na amizade de Deus, mas não estão completamente purificados, embora tenham garantida sua salvação eterna, passam, após sua morte, por uma purificação, a fim de obter a santidade necessária para entrar na alegria do Céu. 1031. A Igreja denomina Purgatório esta purificação final dos eleitos, que é completamente distinta do castigo dos condenados. A Igreja formulou a doutrina da fé relativa ao Purgatório sobretudo no Concílio de Florença e de Trento. Fazendo referência a certos textos da Escritura, a tradição da Igreja fala de um fogo purificador:

'No que concerne a certas faltas leves, deve-se crer que existe antes do juízo um fogo purificador, segundo o que afirma aquele que é a Verdade, dizendo, que, se alguém tiver pronunciado uma blasfêmia contra o Espírito Santo, não lhe será perdoada nem no presente século nem no século futuro (Mt 12,32). Desta afirmação podemos deduzir que certas faltas podem ser perdoadas no século presente, ao passo que outras, no século futuro' (São Gregório Magno, Dial. 4,39)".

É oportuno começar esclarecendo a inexatidão de Sapia - a quem algumas lições de história não fariam mal! - pois já antes do Concílio Ecumênico de Florença dois outros Concílios Ecumênicos haviam definido o Purgatório de forma clara: os Concílios Ecumênicos de Lião I e II, em 1245 e 1274 respectivamente:"...Finalmente, afirmando a Verdade no Evangelho, que se alguém blasfemar contra o Espírito Santo não ser-lhe-á perdoada nem neste mundo nem no futuro [Mat. 12,32], o que dá a entender que algumas culpas são perdoadas no século presente e outras no futuro, bem como também disse o Apóstolo, que o fogo provará a obra de cada um; e aquele cuja obra arder sofrerá dano; ele, porém, se salvará, mas como quem passa pelo fogo [1Cor. 3,13.15]; e como os próprios gregos dizem que crêem e afirmam verdadeira e indubitavelmente que as almas daqueles que morrem, recebida a penitência, porém sem cumprí-la; ou sem pecado mortal, mas apenas veniais e pequenos; são purificadas após a morte e podem ser auxiliadas pelos sufrágios da Igreja; visto que [os gregos] dizem que o lugar desta purificação não lhes foi indicado com nome certo e próprio por seus doutores, como nós que, de acordo com as tradições e autoridades dos Santos Padres, o chamamos 'Purgatório', queremos que daqui por diante também eles o chamem por este nome. Porque com aquele fogo transitório certamente são purificados os pecados, não os criminais ou capitais que antes não tenham sido perdoados pela penitência, mas os pequenos ou veniais, que pesam mesmo depois da morte, ainda que tenham sido perdoados em vida..." (Concílio Ecumênico de Lião I, 13º Ecumênico)."...Mas por causa dos diversos erros que alguns por ignorância e outros por malícia introduziram, devemos dizer e pregar que aqueles que depois do batismo caem no pecado não devem ser rebatizados, mas que obtêm pela verdadeira penitência o perdão dos pecados. E se verdadeiramente arrependidos morrerem em caridade antes de ter satisfeito com frutos dignos de penitência por seus atos e omissões, suas almas são purificadas após a morte com penas purgatórias ou catartérias, como nos explicou frei João; e para alívio dessas penas lhes aproveitam os sufrágios dos fiéis vivos a saber: os sacrifícios das missas, as orações e esmolas, e outros ofícios de piedade que, segundo as instituições da Igreja, alguns fiéis costumam a fazer em favor de outros. Mas aquelas almas que após terem recebido o santo batismo não

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incorreram em mancha alguma de pecado e também aquelas que após o contraírem se purificaram - quer enquanto permaneciam em seus corpos quer após deixá-los - como acima foi dito, são recebidas imediatamente no céu" (Concílio de Lião III, 14º Ecumênico).

Com efeito, o Concílio de Florença simplesmente reafirmava o que estes outros Concílios Ecumênicos já tinham definido alguns séculos antes:

"...Desta forma, se os verdadeiros penitentes deixarem este mundo antes de terem satisfeito com frutos dignos de penitência pela ação ou omissão, suas almas são purgadas com penas purificatórias após a morte; e para serem aliviadas destas penas, lhes aproveitam os sufrágios dos fiéis vivos, tais como o sacrifício da missa, orações e esmolas, e outros ofícios de piedade que os fiéis costumam praticar por outros fiéis, segundo as instituições da Igreja. E que as almas daqueles que após receberem o batismo não incorreram absolutamente em mancha alguma de pecado e também aquelas que, após contrair mancha de pecado, a purgaram, quer enquanto viviam em seus corpos quer após o deixarem, segundo o que foi dito acima, são imediatamente recebidas no céu..." (Concílio de Florença, 17º Ecumênico).

O mesmo reafirma o Concílio de Trento (de 1545 a 1563):"Tendo a Igreja Católica, instruída pelo Espírito Santo, segundo a doutrina da Sagrada Escritura e da antiga tradição dos Padres, ensinado nos sagrados concílios e atualmente neste Geral de Trento, que existe Purgatório, e que as almas detidas nele recebem alivio com os sufrágios dos fiéis e em especial com o aceitável sacrifício da missa, ordena o Santo Concílio aos Bispos, que cuidem com máximo esmero que a santa doutrina do Purgatório, recebida dos santos Padres e sagrados concílios, seja ensinada e pregada em todas as partes, e que seja acreditada e conservada pelos fiéis cristãos. Excluam-se, todavia, dos sermões pregados em língua vulgar à plebe rude, as questões muito difíceis e sutis que a nada conduzem à edificação e com as quais raras vezes se aumenta a piedade. Também não se permita que sejam divulgadas e tratadas as coisas incertas, ou que tenham vislumbres ou indícios de falsidade. Ficam proibidas, por serem consideradas escandalosas e que servem de tropeço aos fiéis, as que tocam em certa curiosidade ou superstição, ou tem resíduos de interesse ou de sórdida ganância. Os bispos deverão cuidar para que os sufrágios dos fiéis, a saber, os sacrifícios das missas, as orações, as esmolas e outras obras de piedade que costumam fazer pelos defuntos, sejam executados piedosa e devotadamente segundo o estabelecido pela Igreja, e que seja satisfeita com esmero e exatidão, tudo quanto deve ser feito pelos defuntos, segundo exijam as fundações dos entendidos ou outras razões, não superficialmente, mas sim por sacerdotes e ministros da Igreja e outros que têm esta obrigação" (Concílio de Trento, 19º Ecumênico - Sessão 25: Decreto sobre o Purgatório).

Porém, muito antes destas definições conciliares, era amplamente conhecida a doutrina do

Purgatório, como bem demonstram as seguintes evidências patrísticas:PERPÉTUA Santa Perpétua foi uma mártir cristã martirizada em 203 juntamente com outros cinco cristãos (Felicidade, Revocato, Saturnino, Segundo e Saturo).Esquanto estava na prisão, teve uma dupla visão em que viu seu irmão, falecido 7 anos antes, sair de um lugar tenebroso onde estava sofrendo. Santa Perpétua passou então a rezar pelo

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descanso eterno de sua alma e, logo após ser ouvida pelo Senhor, teve uma segunda visão em que viu seu irmão seguro e em paz porque sua pena havia sido satisfeita:

"Imediatamente, nessa mesma noite, isto me foi mostrado em uma visão: eu vi Dinocrate saindo de um lugar sombrio, onde se encontravam também outras pessoas; e ele estava magro e com muita sede, com uma aparência suja e pálida, com o ferimento de seu rosto quando havia morrido. Dinocrate foi meu irmão de carne, tendo falecido há 7 anos de uma terrível enfermidade... Porém, eu confiei que a minha oração haveria de ajudá-lo em seu sofrimento e orei por ele todo dia, até irmos para o campo de prisioneiros... Fiz minha oração por meu irmão dia e noite, gemendo e lamentando para que [tal graça] me fosse concedida. Então, certo dia, estando ainda prisioneira, isto me foi mostrado: vi que o lugar sombrio que eu tinha observado antes estava agora iluminado e Dinocrate, com um corpo limpo e bem vestido, procurava algo para se refrescar; e onde havia a ferida, vi agora uma cicatriz; e essa piscina que havia visto antes, vi que seus níveis haviam descido até o umbigo do rapaz. E alguém incessantemente extraía água da tina e próximo da orla havia uma taça cheia de água; e Dinocrate se aproximou e começou a beber dela e a taça não reduziu [o seu nível]; e quando ele ficou saciado, saiu pulando da água, feliz, como fazem as crianças; e então acordei. Assim, entendi que ele havia sido levado do lugar do castigo" (Paixão de Perpétua e Felicidade 2,3-4).[3]

ABÉRCIO

Bispo de Hierápolis, na Frígia, na segunda metade do século II e início do III, foi desde cedo bastante venerado pela Igreja grega e, posteriormente, pela Igreja latina. Sabe-se que visitou Roma regressando logo depois pela Síria e Mesopotâmia. Antes de morrer, compôs seu próprio epitáfio, datado de finais do século II ou início do III, em que pede que se ore por ele:

Cidadão de pátria ilustre, / Construí este túmulo durante a vida, / Para que meu corpo - num dia - pudesse repousar. / Chamo-me Abércio: / Sou discípulo de um Santo Pastor, / Que apascenta seu rebanho de ovelhas, / Por entre montes e planícies. / Ele tem enormes olhos que tudo enxergam, / Ensinou-me as Escrituras da Verdade e da Vida / [...] / Eu, Abércio, ditei este texto / E o fiz gravar na minha presença / Aos setenta e dois anos. / O irmão que o ler por acaso / Ore por Abércio." (Epitáfio de Abércio).[4]

ATOS DE PAULO E TECLA

Os Atos de Paulo e Tecla, escritos no século II (ano 160), narram a história de uma convertida que se converteu ao ouvir as pregações de São Paulo e, após desfazer o compromisso com seu noivo, se dedica a assistir Paulo na evangelização. Lemos aí uma oração de intercessão para que uma cristã falecida seja levada para o lugar dos justos:

"E após a exibição, Trifena novamente a recebeu. Sua filha Falconila havia morrido e disse para ela em sonhos: 'Mãe: deverias ter esta estrangeira, Tecla, como a mim, para que ela ore por mim e eu possa ser levada para o lugar dos justos" (Atos de Paulo e Tecla).[5]

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CLEMENTE DE ALEXANDRIA

Nasceu por volta do ano 150, provavelmente em Atenas, de pais pagãos. Após tornar-se cristão, viajou pelo o sul da Itália, Síria e Palestina, em busca de mestres cristãos, até que chegou em Alexandria. Os ensinamentos de Panteno, líder da escola catequética de Alexandria (Egito), fizeram com que se estabelecesse ali. No ano 202, a perseguição de Sétimo Severo o obrigou a abandonar o Egito e a se refugiar na Capadócia, onde morreu pouco antes de 215.Seu conhecimento dos escritos pagãos e da literatura cristã é notável! Segundo Quasten, em suas obras podemos encontrar cerca de 360 citações dos clássicos, 1500 do Antigo Testamento e 2000 do Novo; portanto, é considerado cronologicamente como o primeiro sábio cristão, conhecedor profundo não apenas da Sagrada Escritura mas ainda das obras cristãs anteriores a ele e, inclusive, obras da literatura profana.

Nos "Stromata" ou "Tapeçarias" (Στρωματεις), fala da purificação pelo "fogo" que a alma sofre posteriormente à morte, quando não atingiu a plena santidade: "Através de grande disciplina o crente se despoja das suas paixões e passa a mansão melhor que a anterior; passa pelo maior dos tormentos, tomando sobre si o arrependimento das faltas que possa ter cometido após o seu batismo. Então, é torturado mais ao ver que não conseguiu o que os outros já conseguiram. Os maiores tormentos são atribuídos ao crente porque a justiça de Deus é boa e sua bondade é justa; e estes castigos completam o curso da expiação e purificação de cada um" (Stromata 4,14).[6] "Porém, nós dizemos que o fogo santifica não a carne, mas as almas pecadoras; referindo-se não ao fogo comum, mas o da sabedoria, que penetra na alma que passa pelo fogo" (Stromata 8,6).[7]

TERTULIANO

Tertuliano nasceu em Cartago antes do ano 160. Por volta do ano 195, se converteu ao Cristianismo e chegou a se tornar em um notável escritor eclesiástico. Infelizmente, por volta do ano 207, aderiu abertamente à seita herética de Montano e acabou fundando sua própria seita (a dos Tertulianistas).

Encontram-se nos escritos de Tertuliano numerosas e claras referências ao Purgatório. Entre elas, podemos mencionar:"De Anima" (Da Alma), que fala da purificação da alma após a morte; em "De Carnis Resurrectione" (Da Ressurreição da Carne), chega ao extremo de afirmar que apenas os mártires viverão diretamente na presença de Deus; em "De Monogamia" (Da Monogamia), fala como as orações pelos falecidos podem ajudá-los; e em "De Corona" (Da Coroa), menciona o costume da Igreja celebrar a Eucaristia pelo descanso eterno dos falecidos: "Por isso, é muito conveniente que a alma, sem esperar a carne, sofra um castigo pelo que tenha cometido sem a cumplicidade da carne. E, igualmente, é justo que, em recompensa pelos bons e piedosos pensamentos que tenha tido sem a cooperação da carne, receba consolos sem a carne. Mais ainda: as próprias obras realizadas com a carne, ela é a primeira a conceber, dispor, ordenar e pô-las em alerta. E ainda naqueles casos em que ela não consente em pô-las em alerta, no entanto, é a primeira a examinar o que logo fará no corpo. Enfim, a consciência não será nunca posterior ao fato. Consequentemente, também a partir deste ponto de vista, é conveniente

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que a substância que foi a primeira a merecer a recompensa seja também a primeira a recebê-la. Em suma: já que por esta lição que nos ensina o Evangelho entendemos o inferno, já que 'por esta dívida, devemos pagar até o último centavo', compreendemos que é necessário purificar-se das faltas mais ligeiras nesses mesmos lugares, no intervalo anterior à ressurreição; ninguém poderá duvidar que a alma recebe logo algum castigo no inferno sem prejuízo da plenitude da ressurreição, quando receberá a recompensa juntamente com a carne" (Da Alma 58: PL 2,751).[8] "Ao deixar o seu corpo, ninguém vai imediatamente viver na presença do Senhor - exceto pela prerrogativa do martírio, pois então adquire uma morada no paraíso e não nas regiões inferiores" (Da Ressurreição da Carne 43).[9] "Certamente, ela roga pela alma de seu marido; pede que durante este intervalo ele possa encontrar descanso e participar da primeira ressurreição [...] Oferece, a cada ano, o sacrifício no aniversário de sua dormição" (Da Monogamia 10).[10] "O sacramento da Eucaristia, encomendado pelo Senhor no tempo da ceia e para todos, o recebemos nas assembléias, antes do amanhecer, e não das mãos de outros que não sejam os que as presidem. Fazemos oblações pelos falecidos, a cada ano, nos dias de aniversário" (Da Coroa 3: PL 2,79).[11]Não se pode deixar de observar que Tertuliano escreveu isto muitos anos antes de São Gregório Magno "sonhar" em nascer...

CIPRIANO DE CARTAGO

São Cipriano nasceu em torno do ano 200, provavelmente em Cartago, de família rica e culta. Dedicou-se, em sua juventude, à retórica. O desgosto que sentia diante da imoralidade dos ambientes pagãos contrastados com a pureza de costumes dos cristãos o induziu a abraçar o Cristianismo por volta do ano 246. Pouco depois, em 248, foi eleito bispo de Cartago. Durante a perseguição de Décio, em 250, julgou melhor afastar-se para outro lugar, para continuar a se ocupar com seu rebanho de fiéis. Dele conservamos uma dezena de opúsculos sobre diversos temas de então e, particularmente, uma coleção de 81 cartas.

Em São Cipriano encontramos, da mesma forma que nos anteriores, referências ao Purgatório feitas séculos antes de São Gregório Magno:

"Uma coisa é pedir perdão; outra coisa, alcançar a glória. Uma coisa é estar prisioneiro sem poder sair até ter pago o último centavo; outra coisa, receber simultaneamente o valor e o salário da fé. Uma coisa é ser torturado com longo sofrimento pelos pecados, para ser limpo e completamente purificado pelo fogo; outra coisa é ter sido purificado de todos os pecados pelo sofrimento. Uma coisa é estar suspenso até que ocorra a sentença de Deus no Dia do Juízo; outra coisa é ser coroado pelo Senhor" (Epístola 51,20).[12]

São Cipriano também atesta o comum costume de se fazer orações e oferecer a Eucaristia pelo descanso eterno dos falecidos, o que seria inútil caso as orações não pudessem ajudá-los:"Oferecemos por eles sacrifícios, como percebeis, sempre que na comemoração anual celebramos os dias da paixão dos mártires" (Epístola 33,3).[13] No seguinte texto também podemos ver São Cipriano atestando de maneira implícita o costume de se oferecer a Eucaristia pelos falecidos. É negado para o caso particular de Victor em razão da violação das decisões conciliares, por ter ordenado ilegitimamente Gemínio Faustino como presbítero: "...E

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quanto a Victor, visto que contrariamente à forma prescrita pelo recente Concílio dos sacerdotes se atreveu a constituir tutor ao presbítero Gemínio Faustino, não há razão para que se celebre, entre vós, a oblação pela sua morte ou se reze por ele qualquer oração na Igreja; desta forma, observaremos nós o decreto dos sacerdotes, elaborado religiosamente e por necessidade, dando-se, ao mesmo tempo, exemplo aos demais irmãos, para que ninguém deseje as moléstias mundanas aos sacerdotes e ministros de Deus dedicados ao seu altar e Igreja" (Epístola 65,2).[14]

Outro texto similar:

"Finalmente, anotai também os dias em que eles morrem, para que possamos celebrar suas comemorações entre as memórias dos mártires; por mais que Tertuliano, nosso fidelíssimo e devotíssimo irmão, com aquela solicitude e cuidado que reparte com os irmãos sem se orgulhar da sua atividade, e como no cuidado dos cadáveres remanescentes ali, tenha escrito e me faça saber, entre outras coisas, os dias em que nossos ditosos irmãos partiram do cárcere para a imortalidade através de uma morte gloriosa, celebramos aqui nossas oblações e sacrifícios em comemoração deles, as quais prontamente celebraremos convosco, com a ajuda de Deus" (Epístola 36,2).[15].

ORÍGENES

Ilustre teólogo e escritor eclesiástico. Nascido em Alexandria por volta do ano 231, foi reconhecido como o maior mestre da doutrina cristã em sua época, exercendo uma extraordinária influência como intérprete da Bíblia:

Orígenes enxerga em 1Coríntios 3 uma alusão ao Purgatório:"Pois se sobre o fundamento de Cristo contruístes não apenas ouro e prata mas pedras preciosas e ainda madeira, cana e palha, o que esperas que ocorra quando a alma seja separada do corpo? Entrarias no céu com tua madeira, cana e palha e, deste modo, mancharias o reino de Deus? Ou em razão destes obstáculos poderias ficar sem receber o prêmio por teu ouro, prata e pedras preciosas? Nenhum destes casos seria justo. Com efeito, serás submetido ao fogo que queimará os materiais levianos. Para nosso Deus, àqueles que podem compreender as coisas do céu, encontra-se o chamado 'fogo purificador'. Porém, este fogo não consome a criatura, mas aquilo que ela construiu: madeira, cana ou palha. É manifesto que o fogo destrói a madeira de nossas transgressões e logo nos devolve o prêmio de nossas grandes obras" (P.G. 13, col. 445,448).[16]

LACTÂNCIO

Loarte comenta que foi chamado "o Cícero cristão" por seu elegante manejo da língua latina. Nasceu no norte da África por volta do ano 250, de pais pagãos. Provavelmente converteu-se ao Cristianismo na Nicomédia. Durante a última grande perseguição, por volta do ano 303, viu-se obrigado a abandonar sua cátedra e exilar-se na Bitínia. Após o Edito de Milão, Constantino o chamou a Tréveris, para confiar-lhe a educação de Crispo, seu filho mais velho. Pouco mais conhecemos da vida de Lactâncio, que deve ter falecido por volta do ano 317.

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Em suas "Instituições Divinas", livro 7, enxerga 1Coríntios 3 da mesma forma que Orígenes: como uma referência ao Purgatório..."Porém, quando julgar os justos, Ele também os provará com fogo. Então aqueles cujos pecados excederem em peso ou número, serão chamuscados pelo fogo e queimados; mas aqueles a quem imbuiu a justiça e plena maturidade da virtude não perceberão esse fogo porque eles têm algo de Deus neles mesmos, que repele e rejeita a violência da chama" (Instituições Divinas 7,21).[17]

EFRÉM DA SÍRIA

Nasceu por volta do ano 306, no povoado de Nísibis (hoje chamada Nusaybim, na Turquia). Diácono, Doutor da Igreja e escritor eclesiástico. Estima-se que faleceu por volta do ano 373, embora alguns autores afirmem que viveu até 378 ou 379.

Em seu testamento, solicita que orem por ele e cita o livro dos Macabeus como evidência de que as orações dos vivos podem ajudar a expiar os pecados dos falecidos:"Quando se cumprir o trigésimo dia [da minha morte], lembrai-vos de mim, irmãos. Os falecidos, com efeito, recebem ajuda graças a oferenda que fazem os vivos (...) Se como está escrito, os homens de Matatias encarregados do culto em favor do exército expiaram, pelas oferendas, as culpas daqueles que tinham perecido e eram ímpios por seus costumes, quanto mais os sacerdotes de Cristo, com suas santas oferendas e orações, expiarão os pecados dos falecidos" (Testamento, 72,28:EP 741).[18]

BASÍLIO MAGNO

Nasceu por volta do ano 330, do seio de uma família profundamente cristã. No ano 364 foi ordenado sacerdote e, 6 anos depois, sucedeu a Eusébio, bispo de Cesaréia, metropolita da Capadócia e exarca da diocese do Ponto. Faleceu no ano 379.

Fala como aqueles atletas de Deus, logo após terem sido salvos, podem ser "detidos" se por acaso conservarem algumas manchas de pecado:"Penso que os valorosos atletas de Deus, os quais durante toda a sua vida estiveram frequentemente em luta contra os seus inimigos invisíveis, após terem superado todos os seus ataques, ao chegarem ao fim de suas vidas serão examinados pelo príncipe do século, a fim de que, se em consequência das lutas tiverem algumas feridas ou certas manchas ou vestígios de pecado, sejam detidos; porém, se são encontrados imunes e incontaminados, como invictos e livres encontram o descanso junto a Cristo" (Homilias sobre os Salmos 7,2: PG 29,232).[19]

CIRILO DE JERUSALÉM

Nasceu em Jerusalém ou em sua circunvizinhança, em torno do ano 313 ou 315. Foi Padre da Igreja e arcebispo de Jerusalém. Estima-se que morreu em 386.

Em sua catequese reafirma a imemorial Tradição da Igreja de orar pelos falecidos por seu eterno descanso:

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"Recordamos também de todos os que já dormiram; em primeiro lugar, os patriarcas, os profetas, os apóstolos, os mártires, para que, por suas preces e intercessão, Deus acolha a nossa oração. Depois, também pelos santos padres, bispos falecidos e, em geral, por todos cuja vida transcorreu entre nós, crendo que isso será da maior ajuda para aqueles por quem se reza. Quero vos esclarecer isso com um exemplo: visto que muitos ouviram dizer: para que serve a uma alma sair deste mundo com ou sem pecados se depois faz-se menção dela na oração? Suponhamos, por exemplo, que um rei envia ao desterro alguém que o ofendeu; porém, depois, os seus parentes, afligidos pela pena, lhe oferecem uma coroa. Por acaso não ficarão agradecidos pelo relaxamento dos castigos? Do mesmo modo, também nós apresentamos súplicas a Deus pelos falecidos, ainda que sejam pecadores. E não oferecemos uma coroa, mas sim Cristo morto por nossos pecados, pretendendo que o Deus misericordioso se compadeça e seja propício tanto com eles quanto conosco" (Catequese 13,9-10).[20]

EPIFÂNIO DE SALAMINA

Nasceu por volta do ano 315 na Judéia. Fundou um mosteiro que dirigiu por quase 30 anos. Foi bispo de Salamina e metropolita do Chipre. Morreu no ano 367.

Testemunha, da mesma maneira que os anteriores, a utilidade das orações pelos falecidos para obter de Deus o perdão das suas culpas:"Quanto a recitação dos nomes dos falecidos, o que pode haver de mais útil e que seja mais oportuno e digno de louvor, a fim de que os presentes percebam que os falecidos continuam vivendo e não foram reduzidos ao nada, mas continuam existindo e vivem junto do Senhor, restando assim afiançada a esperança daqueles que rezam por seus irmãos falecidos, considerando-os como se tivessem emigrado para outro país? São úteis, com efeito, as preces que são feitas em seu favor, mesmo que não possam eliminar todas as suas culpas" (Panarion 75,8: PG 42,513).[21]

GREGÓRIO DE NISSA

Nasceu entre os anos 331 e 335. Era irmão de São Basílio Magno, que o consagrou bispo de Nissa em 371. Faleceu no ano 394.

O seguinte texto é uma referência tão clara ao Purgatório que não necessita de nenhum comentário:"Quando ele renuncia a seu corpo e a diferença entre a virtude e o vício é conhecida, não pode pode se aproximar de Deus até que seja purificado com o fogo que limpa as manchas com as quais a sua alma está infectada. Esse mesmo fogo em outros cancelará a corrupção da matéria e a propensão ao mal" (Sermão sobre a Morte 2,58).[22]

JOÃO CRISÓSTOMO

São João Crisóstomo é o representante mais importante da Escola de Antioquia e um dos quatro grandes Padres da Igreja no Oriente. Nascido por volta do ano 350, talvez antes, foi ordenado sacerdote no ano 386 e em 397 foi consagrado bispo de Constantinopla. Morreu em

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407.Atesta que foram os próprios Apóstolos que instituíram a celebração da eucaristia pelo descanso eterno dos falecidos e exorta a não cessarmos de ajudar os defuntos com nossas orações, já que, graças a elas, recebem consolo:

Não sem razão foi determinado, mediante leis estabelecidas pelos Apóstolos, que na celebração dos sagrados e impressionantes mistérios se faça a memória dos que já passaram desta vida. Sabiam, com efeito, que com isso os falecidos obtêm muito fruto e tiram grande proveito. Quando todo o povo e os sacerdotes estão com as mãos estendidas e se está celebrando o santo sacrifício, por acaso Deus não se mostrará propício com aqueles em favor dos quais lhe imploramos? Tratam-se daqueles que morreram conservando a fé" (Homilias sobre a Carta aos Filipenses 3,4: PG 62,203).[23] "Se os filhos de Jó foram purificados pelo sacrifício de seu pai, 'porque deveríamos duvidar que quando nós também oferecemos [o sacrifício] pelos que já partiram, recebem eles algum consolo'? Já que Deus costuma atender aos pedidos 'daqueles que pedem pelos demais', não cansemos de ajudar os falecidos, oferecendo em seu nome e orando por eles" (Homilias sobre 1Corintios 41,8).[24]

SANTO AGOSTINHO

Doutor da Igreja nascido em Tagaste (África) no ano 354, filho de Santa Mônica. Após uma vida ímpia, converteu-se no ano 387 e, posteriormente, foi eleito bispo de Hipona, ministério que exerceu durante 34 anos. É considerado um dos Padres mais influentes do Ocidente e seus escritos são de grande atualidade. Morreu no ano 430.

As descrições do Purgatório por parde de Santo Agostinho também são bastante anteriores a São Gregório Magno e são tão claras que tampouco necessitam de explicações:

"Senhor, não me interpeles na tua indignação. Não me encontres entre aqueles a quem haverás de dizer: 'ide para o fogo eterno que está preparado para o diabo e seus anjos'. Nem me corrijas em teu furor, mas purifica-me nesta vida e torna-me tal que já não necessite do fogo corretor, atendendo aos que hão de salvar-se, ainda que, não obstante, como que através do fogo. Por que acontece isto se não é porque edificam aqui sobre o cimento, lenha, palha e feno? Se tivesse edificado sobre o ouro, a prata e as pedras preciosas, estariam livres de ambas as classes de fogo, não apenas daquele eterno, que atormentará os ímpios para sempre, mas também daquele que corrigirá aos que hão de salvar-se através do fogo" (Comentário ao Salmo 37,3: BAC 235,654).[25]

"Quando alguém padece algum mal, pela perversidade ou erro de um terceiro, peca, certamente, o homem que por ignorância ou injustiça causa um mal a alguém; porém não peca Deus, que por um justo mas oculto desígnio, permite que isto ocorra. Contudo, há penas temporais que alguns padecem apenas nesta vida, outros após a morte, e outros agora e depois. De toda forma, estas penas são sofridas antes daquele severíssimo e definitivo juízo. Mas nem todos os que hão de sofrer penas temporais através da morte cairão nas eternas, que terão lugar após o juízo. Haverá alguns, de fato, a quem se perdoarão no século futuro o que não se lhes foi perdoado no presente; ou seja, que não serão castigados com o suplício

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eterno do século futuro, como falamos mais acima" (A Cidade de Deus 21,13: BAC 172,791-792).[26]"A maior parte [das pessoas], uma vez conhecida a obrigação da lei, se veem vencidas primeiramente pelos vícios que chegam a dominá-las; tornam-se, assim, transgressoras da lei. Logo buscam refúgio e auxílio na graça, com a qual recuperarão a vitória, mediante uma amarga penitência e uma luta mais vigorosa, submetendo primeiro o espírito a Deus e obtendo depois o domínio sobre a carne. Quem quiser, pois, evitar as penas eternas não deve apenas se batizar; deve ainda se santificar seguindo a Cristo. Assim é como quem passa do diabo para Cristo. Quanto às penas expiatórias, não pense ninguém em sua existência se não será antes do último e terrível juízo" (A Cidade de Deus 21, 16: BAC 172,798.[27] "Não se pode negar que as almas dos falecidos são aliviadas pela piedade dos parentes vivos, quando oferecem por elas o sacrifício do Mediador ou quando praticam esmolas na Igreja. Porém, estas coisas aproveitam aquelas [almas] que, quando viviam, mereceram que se lhes pudessem aproveitar depois. Pois há um certo modo de viver, nem tão bom que aproveite destas coisas depois da morte, nem tão mal que não lhes aproveitem; há tal grau no bem que o que possui não aproveita de menos; ao contrário, há tal [grau] no mal que não pode ser ajudado por elas quando passar desta vida. Portanto, aqui o homem adquire todo o mérito com que pode ser aliviado ou oprimido após a morte. Ninguém espere merecer diante de Deus, quando tiver falecido, o que durante a vida desprezou" (Das Oito Questões de Dulcício 2, 4: BAC 551,389).[28] "Lemos nos livros dos Macabeus que foi oferecido um sacrifício pelos falecidos. E apesar de não podermos ler isto em nenhum outro lugar do Antigo Testamento, não é pequena a autoridade da Igreja universal que reflete este costume, quando nas orações que o sacerdote oferece ao Senhor, nosso Deus, sobre o altar encontra seu momento especial na comemoração dos falecidos" (Do Cuidado devido aos Mortos 1,3: BAC 551,439).[29] "Na pátria (=céu) não haverá lugar para a oração, mas apenas para o louvor. Por que não para a oração? Porque nada faltará. O que aqui é objeto de fé, ali será objeto de visão. O que aqui se espera, ali se possuirá. O que aqui se pede, ali se recebe. Contudo, nesta vida existe uma certa perfeição alcançada pelos santos mártires. A isto se deve o uso eclesiástico, conhecido pelos fiéis, de se mencionar os nomes dos mártires diante do altar de Deus; não para orar por eles, mas pelos demais falecidos de que se faz menção. Seria uma injúria rogar por um mártir, a cujas orações devemos nos encomendar. Ele lutou contra o pecado até derramar seu sangue. Aos outros, imperfeitos todavia, mas sem dúvida parcialmente justificados, diz o Apóstolo na Epístola aos Hebreus: 'Todavia não resististes até tombar em vossa luta contra o pecado'" (Sermão 159,1: BAC 443,498).[30]

GREGÓRIO MAGNO

Papa e doutor da Igreja, é o quarto e último dos originais Doutores da Igreja latina. Defendeu a supremacia do Papa e trabalhou pela reforma do clero e da vida monástica. Nasceu em Roma por volta do ano 540 e faleceu em 604.

Enxergava em Mateus 12,32 uma referência implícita ao Purgatório:"Tal como alguém sai deste mundo, assim se apresenta no Juízo. Porém, deve-se crer que exista um fogo purificador para expiar as culpas leves antes do Juízo. A razão para isso é que a Verdade afirma que se alguém disser uma blasfêmia contra o Espírito Santo, isto não lhe será

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perdoado nem neste século nem no vindouro. Com esta sentença se dá a entender que algumas culpas podem ser perdoadas neste mundo e algumas no outro, pois o que se nega em relação a alguns deve-se compreender que se afirma em relação a outros (...) No entanto, tal como já disse, deve-se crer que isto se refere a pecados leves e de menor importância" (Diálogos 4,39: PL 77,396).[31]

CONCLUSÃO

Isto é apenas uma seleção parcial de textos patrísticos referentes ao Purgatório. Na verdade, torna-se difícil entender, à luz das sentenças anteriores, como ainda existem pessoas que afirmam que o Purgatório foi invenção da Idade Média. Peço a Deus que isto se dê por ignorância e não por malícia. Felizmente, estes textos estão ao alcance de todos e oferecem uma evidência indiscutível quanto a fé da Igreja primeira... a nossa Igreja [católica].

2 - O ensinamento sobre o Purgatório tem raízes já na crença dos próprios judeus do Antigo Testamento; cerca de 200 anos antes de Cristo, quando ocorreu o episódio de Judas Macabeus. Narra-se aí que alguns soldados judeus foram encontrados mortos num campo de batalha, tendo debaixo de suas roupas alguns objetos consagrados aos ídolos, o que era proibido pela Lei de Moisés. Então Judas Macabeus mandou fazer uma coleta para que fosse oferecido em Jerusalém um sacrifício pelos pecados desses soldados. “Então encontraram debaixo da túnica de cada um dos mortos objetos consagrados aos ídolos de Jâmnia, coisas proibidas pela Lei dos judeus. Ficou assim evidente a todos que haviam tombado por aquele motivos… puseram-me em oração, implorando que o pecado cometido encontrasse completo perdão… Depois [Judas] ajuntou, numa coleta individual, cerca de duas mil dracmas de prata, que enviou a Jerusalém para que se oferecesse um sacrifício propiciatório. Com ação tão bela e nobre ele tinha em consideração a ressurreição, porque, se não cresse na ressurreição dos mortos, teria sido coisa supérflua e vã orar pelos defuntos. Além disso, considerava a magnífica recompensa que está reservada àqueles que adormecem com sentimentos de piedade. Santo e pio pensamento! Por isso, mandou oferecer o sacrifício expiatório, para que os mortos fossem absolvidos do pecado” (2Mc 12,39-45). O autor sagrado, inspirado pelo Espírito Santo, louva a ação de Judas: “Se ele não esperasse que os mortos que haviam sucumbido iriam ressuscitar, seria supérfluo e tolo rezar pelos mortos. Mas, se considerasse que uma belíssima recompensa está reservada para os que adormeceram piedosamente, então era santo e piedoso o seu modo de pensar. Eis porque ele mandou oferecer esse sacrifício expiatório pelos que haviam morrido, afim de que fossem absolvidos do seu pecado”. (2 Mac 12,44s) .Neste caso, vemos pessoas que morreram na amizade de Deus, mas com uma incoerência, que não foi a negação da fé, já que estavam combatendo no exército do povo de Deus contra os inimigos da fé. Cometeram uma falta que não foi mortal.Fica claro no texto de Macabeus que os judeus oravam pelos seus mortos e por eles ofereciam sacrifícios, e que os sacerdotes hebreus já naquele tempo aceitavam e ofereciam sacrifícios em expiação dos pecados dos falecidos e que esta prática estava apoiada sobre a crença na ressurreição dos mortos. E como o livro dos Macabeus pertence ao cânon dos livros inspirados, aqui também está uma base bíblica para a crença no Purgatório e para a oração em favor dos mortos.

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- Com base nos ensinamentos de São Paulo, a Igreja entendeu também a realidade do Purgatório. Em 1Cor 3,10, ele fala de pessoas que construíram sobre o fundamento que é Jesus Cristo, utilizando uns, material precioso, resistente ao fogo (ouro, prata, pedras preciosas) e, outros, materiais que não resistem ao fogo (palha, madeira). São todos fiéis a Cristo, mas uns com muito zelo e fervor, e outros com tibieza e relutância. E S. Paulo apresenta o juízo de Deus sob a imagem do fogo a provar as obras de cada um. Se a obra resistir, o seu autor “receberá uma recompensa”; mas, se não resistir, o seu autor “sofrerá detrimento”, isto é, uma pena; que não será a condenação; pois o texto diz explicitamente que o trabalhador “se salvará, mas como que através do fogo”, isto é, com sofrimentos.

4 - Na passagem de Mc 3,29, também há uma imagem nítida do Purgatório:”Mas, se o tal administrador imaginar consigo: ‘Meu senhor tardará a vir’. E começar a espancar os servos e as servas, a comer, a beber e a embriagar-se, o senhor daquele servo virá no dia em que não o esperar (…) e o mandará ao destino dos infiéis. O servo que, apesar de conhecer a vontade de seu senhor, nada preparou e lhe desobedeceu será açoitado com numerosos golpes. Mas aquele que, ignorando a vontade de seu senhor, fizer coisas repreensíveis será açoitado com poucos golpes.” (Lc 12,45-48). É uma referência clara ao que a Igreja chama de Purgatório. Após a morte, portanto, há um “estado” onde os “pouco fiéis” haverão de ser purificados.

5 - Outra passagem bíblica que dá margem a pensar no Purgatório é a de (Lc 12,58-59): “Ora, quando fores com o teu adversário ao magistrado, faze o possível para entrar em acordo com ele pelo caminho, a fim de que ele não te arraste ao juiz, e o juiz te entregue ao executor, e o executor te ponha na prisão. Digo-te: não sairás dali, até pagares o último centavo.” O Senhor Jesus ensina que devemos sempre entrar “em acordo” com o próximo, pois caso contrário, ao fim da vida seremos entregues ao juiz (Deus), nos colocará na “prisão” (Purgatório); dali não sairemos até termos pago à justiça divina toda nossa dívida, “até o último centavo”. Mas um dia haveremos de sair. A condenação neste caso não é eterna. A mesma parábola está´ em

Mt 5, 22-26: “Assume logo uma atitude reconciliadora com o teu adversário, enquanto estás a caminho, para não acontecer que o adversário te entregue ao juiz e o juiz ao oficial de justiça e, assim, sejas lançado na prisão. Em verdade te digo: dali não sairás, enquanto não pagares o último centavo” . A chave deste ensinamento se encontra na conclusão deste discurso de Jesus: “serás lançado na prisão”, e dali não se sai “enquanto não pagar o último centavo”.

6 - A Passagem de São Pedro 1Pe 3,18-19; 4,6, indica-nos também a realidade do Purgatório:”Pois também Cristo morreu uma vez pelos nossos pecados (…) padeceu a morte em sua carne, mas foi vivificado quanto ao espírito. É neste mesmo espírito que ele foi pregar aos espíritos que eram detidos na prisão, aqueles que outrora, nos dias de Noé, tinham sido rebeldes (…).” Nesta “prisão” ou “limbo” dos antepassados, onde os espíritos dos antigos estavam presos, e onde Jesus Cristo foi pregar durante o Sábado Santo, a Igreja viu uma figura do Purgatório. O texto indica que Cristo foi pregar “àqueles que outrora, nos dias de Noé, tinham sido rebeldes”. Temos, portanto, um “estado” onde as almas dos antepassados aguardavam a salvação. Não é um lugar de tormento eterno, mas também não é um lugar de alegria eterna na presença de Deus, não é o céu. È um “lugar” onde os espíritos aguardavam a salvação e purificação comunicada pelo próprio Cristo

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Aqueles que morrem na graça e na amizade de Deus, mas imperfeitamente purificados, estão certos da sua salvação eterna, todavia sofrem uma purificação após a morte, afim de obter a santidade necessária para entrar na alegria do céu” (CATECISMO DA IGREJA CATOLICA, §1030).O grande doutor da Igreja, São Francisco de Sales (1567´1655), tem um ensinamento maravilhoso sobre o purgatório. Ele ensinava, já na idade média, que “é preciso tirar mais consolação do que temor do pensamento do Purgatório”. Eis o que ele nos diz:

1 ´ As almas alí vivem uma contínua união com Deus.

2 ´ Estão perfeitamente conformadas com a vontade de Deus. Só querem o que Deus quer. Se lhes fosse aberto o Paraíso, prefeririam precipitar´se no inferno a apresentar´se manchadas diante de Deus.

3 ´Purificam´se voluntariamente, amorosamente, porque assim o quer Deus.

4 ´ Querem permanecer na forma que agradar a Deus e por todo o tempo que for da vontade Dele.

5 ´ São invencíveis na prova e não podem ter um movimento sequer de impaciência, nem cometer qualquer imperfeição.

6´ Amam mais a Deus do que a si próprias, com amor simples, puro e desinteressado.

7 ´ São consoladas pelos anjos.

8 ´ Estão certas da sua salvação, com uma esperança inigualável

9 ´ As suas amarguras são aliviadas por uma paz profunda.

10 ´ Se é infernal a dor que sofrem, a caridade derrama´lhes no coração inefável ternura, a caridade que é mais forte do que a morte e mais poderosa que o inferno.

11 ´ O Purgatório é um feliz estado, mais desejável que temível, porque as chamas que lá existem são chamas de amor. ( Extraído do livro O Breviário da Confiança, de Mons. Ascânio Brandão, 4a. ed. Editora Rosário, Curitiba, 1981)

2) Magistério da Igreja

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Até o século IV, a crença na existência do purgatório é atestada principalmente pelos sufrágios que os cristãos faziam por seus defuntos, mormente ao celebrarem a S. Eucaristia. A praxe dos sufrágios, usual já nos tempos de Judas Macabeu (século II a.C.), continuou sem interrupção na Igreja. Já que os cristãos não oram pelos réprobos, estas preces supõem fieis que, terminado o seu currículo terrestre, ainda não entraram na posse da bem-aventurança, podendo ser ajudadas nisto pelos irmãos sobreviventes na terra.

S. Agostinho (+ 430) e os escritores subsequentes afirmam mais explicitamente a existência da expiação póstuma anterior ao juízo universal.

O magistério da Igreja colheu e exprimiu a fé do povo de Deus em alguns documentos, que equivalem a definições doutrinárias.

Eis, por exemplo, um trecho da Constituição “Benedictus Deus do Papa Bento XII promulgada em 1336:

“A almas... dos fieis falecidos... dado que nada tenha havido a purificar quando morreram ou nada haja a purificar quando futuramente morrerem, ou – caso tenha havido ou haja algo a purificar – uma vez purificadas após a morte... essas almas, logo depois da morte e da purificação de que precisam,... foram, estão e estarão no céu” (Enquirídio, DS ns. 1000 [530]).

Como se vê, este documento ensina a necessidade eventual de purificação póstuma, purificação que, sendo transitória, preparara a entrada na visão celeste.

O II Concilio de Lião (1264) declarou:

“Se (os cristãos que tenham pecado) falecerem realmente possuídos de contrição e caridade, antes, porém, de ter feito dignos frutos de penitência por suas obras más e por suas omissões, suas almas, depois da morte, são purificadas pelas penas purgatórias ou catartéricas... Para aliviar essas penas, são de proveito os sufrágios dos fieis vivos, a saber, o Sacrifício da Missa, as orações, esmolas e outras obras de piedade que, conforme as instituições da Igreja, são praticadas habitualmente pelos cristãos em favor de outros fieis” (DS 1304 [693]).

O Concílio de Trento (1545-1563) reafirmou a existência do purgatório nos termos do anterior. Prescreveu aos bispos “fizessem que os fieis mantenham a creiam a sã doutrina sobre o purgatório” e “sejam excluídas das pregações populares à gente simples as questões difíceis e sutis e as que não edificam nem aumentam a piedade. Igualmente não seja permitido divulgar nem discorrer sobre assuntos duvidosos ou que trazem a aparência de falso. Sejam ainda proibidas como escandalosas e prejudiciais aquelas coisas que têm em vista provocar a curiosidade ou quem têm o sabor de superstição ou torpe lucro” (DS 1820 [983]).

Destas palavras depreende-se que o Concílio de Trento foi sóbrio e reservado nos seus pronunciamentos acerca do purgatório; procurou, sim, evitar que se confunda a doutrina da fé com expressões da fantasia popular.

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Fazendo eco à constante doutrina da Tradição e do magistério da Igreja, o Concílio do Vaticano II na Constituição “Lumen Gentium” afirmou explicitamente três estado em que se possam encontrar os discípulos de Cristo: 1) o de peregrinação na terra; 2) o de purificação póstuma; 3) o de glorificação no céu, conseqüente da visão de deus face-a-face:

“O Sacrossanto Sínodo recebe com grande respeito a venerável fé de nossos antepassados sobre o consórcio vital com os irmãos que estão na glória celeste ou ainda se purificam após a morte, e propõe de novo os decretos dos Sagrados Concílios Niceno II, Florentino e Tridentino” (nº 51).

“Reconhecendo cabalmente a comunhão de todo o Corpo Místico de Jesus Cristo, a Igreja terrestre, desde os primórdios da religião cristã, venerou com grande piedade a memória dos defuntos e, porque é um pensamento santo e salutar rezar pelos defuntos para que sejam perdoados os seus pecados, também ofereceu sufrágios em favor deles” (nº 50).

“Até que o Senhor venha na Sua Majestade..., alguns dos seus discípulos peregrinam sobre a terra; outros, já glorificados, contemplando claramente o próprio Deus, uno e trino, tal qual é” (Const. “Lumen Gentium” nº 49).

Embora se achem em situações diversas (em via de consumação ou consumados), os fieis constituem uma só grande família, ou seja, “a comunhão de todo o Corpo Místico de Jesus Cristo” (ib. nº 50), pois “todos os que são de Cristo, tendo o seu Espírito, formam uma só Igreja e nele estão unidos entre si” (nº 49). A morte não acarreta interrupção da comunhão eclesial; ela não extingue a comunhão vital existente entre os fieis peregrinos na terra, os irmãos que já se encontram na glória celeste, e aqueles que estão ainda a purificar-se após a morte (cf. IB. nº 51). Ao afirmar esta proposição, o Concílio do Vaticano II apela explicitamente para os Concílios de Nicéia II (787), Florença (1439-1444) e Trento (1545-1563).

Não resta dúvida, pois, de que a doutrina do purgatório constitui um dogma de fé que a Igreja definiu outrora conscientemente e reafirma em nossos dias por seu magistério ordinário e extraordinário.

Importa agora verificar com exatidão qual o conteúdo desse ensinamento da fé.

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(artigo extraído do Blog Cotidiano Espiritual)

O Purgatório

O que diz a bíblia, a tradição e as revelações de Deus?

Alguns pensam da seguinte maneira: se alguma coisa não se encontra literalmente na Bíblia, não há nenhuma possibilidade de ser real. Eis a principal dificuldade para entender o Purgatório: a palavra não está na Bíblia. O Purgatório, porém, é ensinado nas Escrituras, e claramente. Mas antes de entrar neste particular, seria interessante analisar a questão de uma maneira menos simplória...

O Purgatório é uma exigência da razão e da inteligência humana, - dadas por Deus, - e é também uma prova do Amor de Deus por nós. Pare um pouco e pense: se nós, seres humanos falhos e imperfeitos, tentamos aplicar penas justas aos criminosos, proporcionais à gravidade dos crimes cometidos, quanto mais o Deus de misericórdia infinita (Lm 3,22), Deus que é Amor (I João 4, 8), não saberia lidar com os pecadores de acordo com as suas culpas?

Imagine um indivíduo que, por sentir fome, furtou um pacote de biscoitos no mercado. Logo depois, ele vem a falecer. Segundo a Lei de Deus, tal pessoa cometeu um pecado (roubar), e portanto está afastado da perfeita Comunhão com o Pai Celestial. Mas... Será que essa pessoa mereceria receber como pena, por ter furtado um pacote de biscoitos para saciar sua fome,

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uma pena eterna? Sofrer para todo o sempre num inferno de chamas? Esse castigo seria compatível com a perfeita Justiça Divina, proclamada no verso 137 do Salmo 119? E a Misericórdia infinita (Lm 3, 22) de Deus?

Sim, a palavra “Purgatório” não existe na Bíblia, literalmente. Esse termo foi definido pela Igreja (a mesma Igreja que a própria Bíblia Sagrada declara ser ‘a Coluna e o Fundamento da Verdade’, em I Tm 2,15) purga = purificação e tório = lugar, ou seja, nada mais é que “lugar de purificação” como citado na bíblia. É importante que nós, cristãos católicos, saibamos um fato bem interessante: a Igreja reconhece e ensina a realidade do Purgatório desde o primeiro século da Era Cristã, isto é, desde antes de o Novo Testamento da Bíblia existir. Mas o conceito do Purgatório, lugar ou estado de purificação das almas, é facilmente encontrado nas Escrituras. Gregório Magno, Papa e Doutor da Igreja, nos anos 600 já explicava o Purgatório nas palavras de Cristo:

“Aquele que é a Verdade, Jesus, afirma que existe antes do juízo um fogo purificador, pois Ele disse: ‘Se alguém blasfemar contra o Espírito Santo, não lhe será perdoado nem neste século nem no século futuro’ (Mt 12,32). Vemos então que certas faltas podem ser perdoadas neste mundo, e outras, no mundo futuro. O pecado contra o Espírito não será perdoado neste mundo e nem no mundo futuro. Mostra o Senhor Jesus, então, que há pecados que serão perdoados após a morte.”

Não é tão difícil entender... Em 1Coríntios, Paulo também ensina a realidade do Purgatório. Ele fala dos que constroem suas casas sobre o Fundamento que é Cristo: alguns utilizam material resistente ao fogo, outros usam materiais que não resistem ao fogo. Paulo apresenta o Juízo de Deus como fogo a provar as obras de cada um. Se a obra resistir, seu autor “receberá uma recompensa”; se não resistir, seu autor sofrerá uma pena, mas uma pena que não é a condenação eterna, pois o texto diz que aquele cuja obra for perdida ainda se salvará: “Ele perderá a recompensa. Ele mesmo, entretanto, será salvo, mas como que através do fogo” (1Cor 3,15).

Também em Mc 3,29, Jesus dá uma imagem nítida do Purgatório:

“O servo que, apesar de conhecer a Vontade de seu Senhor, lhe desobedeceu, será açoitado com numerosos golpes. Mas aquele que, ignorando a Vontade de seu Senhor, fizer coisas repreensíveis, será açoitado com poucos golpes.” (Lc 12,45-48). Aí está o que a Igreja chama

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de Purgatório: após a morte, Jesus ensina que há um estado onde os que foram pouco fiéis serão purificados por algum tempo, de acordo com seus atos, e não eternamente.

Outra passagem bíblica que confirma o Purgatório é Lucas 12,58-59:“Faze o possível para entrar em acordo com o teu adversário no caminho até o magistrado, para que ele não te arraste ao juiz, e o juiz te entregue ao executor, e o executor te ponha na prisão. Digo-te: não sairás dali até pagares o último centavo”.

Ele não diz “nunca mais saírás dali”. O Senhor ensina: ao fim desta vida, seremos entregues ao Juiz (Deus), que poderá nos colocar numa prisão de onde não sairemos até saldarmos nossas dívidas, mas da qual um dia haveremos de sair: a condenação não é eterna neste caso, diferente do inferno. A mesma afirmação está em Mt 5, 22-26.

Mais: em 1Pedro 3,18-19; 4,6 vemos o Purgatório: “Cristo padeceu a morte em carne, mas foi vivificado quanto ao Espírito. Neste mesmo Espírito Ele foi pregar aos espíritos detidos na prisão: aqueles que outrora, nos dias de Noé, tinham sido rebeldes”.

Cristo não pregaria àquelas almas, se não tivessem possibilidade de salvação: os antigos estavam numa “prisão” temporária. Aí está o Purgatório: um estado onde as almas aguardam a Salvação. Não é o Céu, um lugar de alegria eterna na Presença de Deus, mas também não é um lugar de tormento eterno. É um lugar ou estado da alma onde os espíritos são purificados, um lugar ensinado claramente na Bíblia Sagrada, inclusive por Jesus Cristo.

Curiosidades:

-Os primeiros cristãos já falavam sobre esse estágio de purificação. Santo Agostinho (filósofo, bispo e doutor da igreja 304 – 430) já “desenhava” algo baseado na doutrina e bíblia sobre o purgatório.

-Não só católicos romanos que acreditamos no purgatório, os ortodoxos também crêem nesta “progressão do espírito” não como palavra purgatório, mas sim nessa purificação constante mesmo após a morte da alma até chegar a Deus completamente preparado.

- Nas revelações de Jesus e Maria também é explicito o purgatório:

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Para Santa Faustina Kowalska, Jesus mostra o purgatório, e Maria como o alívio das almas (Diário de St.F.Kowalska item 20).Jesus pede incessantemente para que a santa reze por essas almas.

Na aparição mais famosa de nossa senhora, em Fátima, Ela também mostra aos 3 pastorinhos o purgatório, e pede o mesmo...Oração a elas!

Santa Catarina de Gênova (1447-1510) nasceu em Gênova em 1447, filha de Francisca di Negro e Tiago Fieschi, então vice-rei de Nápoles sob Renato de Anjou. Escreveu a obra “o Tratado do Purgatório”, cujo prólogo a declarava “colocada no purgatório do incendiado amor divino, que a queimava toda e purificava-a de tudo o que tinha a purificar." Catarina concretizou o seu desejo de renovação espiritual na mortificação e na caridade.

“ Não há felicidade comparável a das almas do Purgatório, a não ser a dos santos no céu, e tal felicidade cresce incessantemente por influência de Deus, à medida que os impedimentos vão desaparecendo.Tais impedimentos são como a ferrugem e a felicidade das almas aumenta à medida que esta ferrugem diminui”. (Cap. II)

“Deus aumenta nelas a ânsia de O verem e acende-lhes no coração um fogo de amor tão poderoso que se lhes torna insuportável depararem com um obstáculo entre elas e Deus”. (Cap.III)

“Sentem-se tão fortemente atraídas para Deus que nenhuma comparação pode exprimir tal atração. Imaginemos, todavia, um único pão para matar a fome de todas as criaturas humanas e que bastava vê-lo para a fome ser satisfeita. Qual seria a reação de alguém que possui o instinto natural de comer e vem dotado de boa saúde? Qual seria, repito, a reação se não pudesse comer, nem tampouco adoecer ou morrer? Sua fome iria aumentando constantemente. Assim é a ânsia das almas no Purgatório para o encontro com Deus ” (Cap.

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VII).

“Pelo que diz respeito a Deus, vejo que o céu tem portas e pode entrar nele quem quiser, porque Deus é todo bondade. Mas a essência divina é tão pura que a alma, se nota em si qualquer impecilho, precipita-se no Purgatório e encontra esta grande misericórdia: a destruição deste impecilho” (Cap. IX)

“A alma vê que Deus, pelo seu grande amor e providência constante, jamais deixará de a atrair à sua última perfeição.” Vê também que, ligada pelos restos do pecado, não pode por si mesma corresponder a esta atração. Se encontrasse um Purgatório mais penoso, no qual pudesse ser mais rapidamente purificada, mergulharia nele imediatamente.”(Cap. XI) “O amor divino, ao penetrar nas almas do Purgatório, confere-lhes uma paz indescritível. Tem assim grande alegria e, ao mesmo tempo, grande pena. Mas uma não diminui a outra.” (Cap. XIV)

“Enquanto o acrisolamento não estiver concluído, compreendem que, se se aproximassem de Deus pela visão beatífica, não estariam no seu lugar e por isso sentiriam um maior sofrimento do que se permanecessem no Purgatório. ” (Cap. XVI)

“As almas sofrem voluntariamente as suas penas que não desejariam o menor alívio, por conceberem quão justas são.” (Cap. XVIII)

“O acrisolamento a que estão sujeitas as almas no Purgatório, experimentei-o em minha vida, durante dois anos. Tudo o que constituía para mim um alívio corporal ou espiritual, foi-me tirado gradualmente. Finalmente, para concluir: vede bem que tudo o que é profundamente humano, o nosso Deus todo poderoso e misericordioso transforma-o radicalmente. Não é outra a obra que se leva a cabo no Purgatório”. (Cap. XIX)

Relatos feitos pela confidente austríaca Maria Simma-

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"O purgatório se encontra em vários lugares", respondeu um dia Maria Simma. "As almas nunca estão "fora" do purgatório, mas "com" o purgatório". Maria Simma viu o purgatório de várias maneiras: Certa vez, viu-o de um modo, noutra vez de outro. No purgatório há uma grande multidão de almas; é um contínuo vai-e-vem. Viu, um dia, um número de almas absolutamente desconhecidas para ela. As que pecaram contra a fé tinham sobre o coração uma chama escura; as que pecaram contra a pureza, uma chama vermelha. Depois viu as almas em grupo: padres, religiosos, religiosas, viu católicos, protestantes, pagãos. Os católicos sofriam mais que os protestantes. Os pagãos, ao contrário, têm um purgatório mais suave, mas recebem menos socorros, e sua pena dura mais tempo. Os católicos recebem mais e são libertados mais rapidamente. Viu também muitos religiosos e religiosas que ali estavam por causa de sua tibieza na fé e pela falta de caridade.

Foi revelado a Maria Simma a maravilhosa harmonia que existe entre o amor e a justiça divina. Cada alma é punida segundo a natureza de suas culpas e o grau de apego ao pecado cometido.

A intensidade dos sofrimentos não é a mesma para todas as almas. Algumas devem sofrer como se sofre na terra quando se vive uma vida dura , e devem esperar para contemplar Deus. Um dia de purgatório rigoroso é mais terrível que dez anos de purgatório leve. A duração das penas é muito variada. O padre de Colônia ficou no purgatório desde 555 até a festa da Ascensão de 1954; e se não fosse libertado pelos sofrimentos aceitos por Maria Simma, continuaria sofrendo intensamente e por longo tempo.

Há também almas que devem sofrer terrivelmente até o Juízo final. Outras têm apenas apenas meia hora de sofrimento, ou até menos: apenas "atravessam o purgatório", por assim dizer.

O demônio pode torturar as almas do purgatório, sobretudo as que foram causa de perdição eterna de outras.

As almas do purgatório sofrem com paciência admirável e louvam a misericórdia divina, graças à qual escaparam do inferno. Sabem que merecem sofrer e deplorar suas culpas. Suplicam a Maria, Mãe da misericórdia.

Maria Simma viu ainda muitas almas que esperavam o socorro da Mãe de Deus.

Quem pensa, em vida, que o purgatório seja pouca coisa e aproveita para pecar sofrerá duramente.

COMO PODEMOS AJUDAR AS ALMAS DO PURGATÓRIO?

- Sobretudo com o sacrifício da Missa, que nada pode suprir.

- Com sofrimentos expiatórios: sofrimentos físicos ou morais oferecidos pelas almas.

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- O terço é, depois da santa Missa, o meio mais eficaz para ajudar as almas do purgatório. Dá-lhes um grande alívio. Cada dia numerosas almas são libertadas por meio do terço, caso contrário teriam de sofrer longamente.

- Também a via-sacra pode dar-lhes grande alívio.

- As indulgências são de um imenso valor, dizem as almas. Elas são uma apropriação das satisfações oferecidas por Cristo a Deus, seu Pai. Quem, durante a vida terrena, ganhar muitas indulgências em favor dos defuntos, receberá, também, mais do que os outros na última hora, a graça de ganhar completamente a indulgência plenária concedida a todo cristão no momento da morte ("in articulo mortis"). É uma crueldade não usufruir destes tesouros da Igreja em favor das almas dos falecidos.

Vejamos: Se nos encontrássemos diante de uma montanha de moedas de ouro e se tivéssemos a possibilidade de pegar à vontade para socorrer pobres incapacitados de fazerem o mesmo, não seria cruel recusar-lhes esta ajuda? Em muitos lugares o uso das orações indulgenciadas diminui cada vez mais. Precisaria exortar mais os fiéis para esta prática devocional.

- As esmolas e as boas obras, principalmente as ofertas em favor das Missões, ajudam as almas do purgatório.

- Acender velas ajuda as almas: esta atenção de amor dá-lhes um auxílio moral e também porque as velas bentas iluminam as trevas em que se encontram as almas.

UM menino de onze anos da cidade de Kaiser pediu a Maria Simma que rezasse por ele. Estava no purgatório por Ter, no dia dos mortos apagado as velas que ardiam sobre os túmulos no cemitério e por Ter roubado a cera por divertimento. As velas bentas têm muito valor para as almas. No dia da Apresentação (2 de fevereiro) Maria Simma teve de acender duas velas por uma alma enquanto suportava grandes sofrimentos expiatórios por ela.

- Jogar água benta mitiga as penas dos defuntos. Um dia, Maria Simma jogou água benta pelas almas. Uma voz lhe disse: "Mais ainda!"

Todos os meios não ajudam as almas da mesma maneira. Se, na vida, alguém teve pouca estima pela Missa, não aproveitará muito dela quando estiver no purgatório. Se alguém errou de coração durante a vida, recebe pouca ajuda. Os que pecaram difamando os outros devem expiar duramente seu pecado. Mas, quem teve bom coração em vida, recebe bastante ajuda.

Uma alma que negligenciara a assistência à santa Missa pôde pedir oito Missas para si, porque durante a sua vida mortal mandara celebrar oito Missas por uma alma do purgatório.

A VIRGEM MARIA E AS ALMAS DO PURGATÓRIO

Para as almas do purgatório, Maria é a Mãe da misericórdia. Quando seu nome ecoa no

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purgatório, as almas sentem uma grande alegria. Uma alma disse que Maria pedira a Jesus para libertar todas as almas que se encontravam no purgatório por ocasião da sua morte e assunção, e que Jesus atendera ao pedido de sua Mãe. Naquele dia as almas acompanharam Maria ao céu, porque ela fora coroada Mãe de misericórdia e Mãe da divina graça. No purgatório Maria distribui as graças segundo a vontade divina: ela passa com freqüência pelo purgatório. Isso é o que Maria Simma viu.

Extraido do livro: Maria Simma e as Almas do Purgatório

AS ALMAS DO PURGATÓRIO E OS AGONIZANTES

Durante a noite da festa de Todos os Santos uma alma lhe disse: "Hoje, dia de todos os Santos, morrerão duas pessoas em Voralberg; elas estão em grandes perigo de condenação. Não se salvarão se não se rezar insistentemente por elas".

Maria Simma rezou e foi auxiliada por outras pessoas. Na noite seguinte uma alma veio dizer-lhe que as duas tinham escapado do inferno e estavam no purgatório. Um dos dois doentes recebera os santos sacramentos, o outro os rejeitara.

Segundo o que dizem as almas do purgatório, muitos vão para o inferno porque pouco se reza por eles. Inúmeras almas poderiam ser salvas se, pela manhã e à noite, fosse rezada esta oração indulgenciada e três ave-marias por aqueles que vão morrer naquele dia:

"ó misericordioso Jesus, que ardeis de tão grande amor pelas almas, eu vos suplico, pela agonia do vosso Sacratíssimo Coração e pelas dores de vossa Mãe Imaculada, que purifiqueis no vosso preciosíssimo sangue todos os pecadores da terra que estão em agonia e que hoje mesmo hão de morrer. Coração agonizante de Jesus, tende piedade dos moribundos"

Maria Simma viu numerosas almas na balança entre o purgatório e o inferno.

- INSTRUÇÕES-

As almas do purgatório preocupam-se muito conosco e com o Reino de Deus. Temos prova disso por meio das advertências que fizeram a Maria Simma. As que se seguem foram retiradas de suas anotações:

"Não precisa lamentar-se dos tempos que atravessamos. É necessário dizer aos pais que eles são os principais responsáveis. Eles não podem prestar pior serviço aos seus filhos que atender a todos os seus desejos, dando-lhes tudo o que querem, simplesmente para que fiquem contentes e não gritem. Assim, o orgulho forma raiz no coração da criança.

Mais tarde, quando a criança começa a freqüentar a escola, não saberá sequer rezar um Pai-nosso, nem fazer o sinal da cruz. De Deus, às vezes, não sabe coisa alguma. Os pais se

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desculpam dizendo que isso é o dever do catequista e dos professores de religião.

Onde o ensino religioso não é dado, a partir da infância, mais tarde a religião será fraca. Ensinem a renúncia às crianças! Por que há hoje esta indiferença religiosa e esta decadência moral? Porque as crianças não aprenderam a renunciar. Mais tarde tornam-se descontentes e pessoas sem discrição que fazem tudo e querem Ter tudo em profusão. Isso provoca desvios sexuais, práticas anticoncepcionais e aborto. Todos estes atos pedem vingança ao céu!

Quem não aprendeu de criança a renunciar, torna-se egoísta, sem amor, tirânico. Por este motivo há tanto ódio e falta de caridade. Queremos ver tempos melhores? Comece-se a partir da educação das crianças.

Peça-se de modo assustador contra o amor ao próximo, sobretudo com a maledicência, a enganação e a calúnia. Onde começa? No pensamento. É preciso aprender estas coisas desde a infância e procurar afastar imediatamente os pensamentos contrários à caridade. Tais pensamentos sejam combatidos e assim, não se julgará os outros sem caridade.

O apostolado é um dever para todo católico. Alguns o exercem com a profissão e outros com o bom exemplo. Lamenta-se que muitos são corrompidos pelas conversas contra a moral ou contra a religião. Por que os outros se calam? Os bons devem defender suas convicções e declarar-se cristãos. No curso da história da Igreja a salvação das almas e da civilidade cristã não foram, para os leigos, um dever mais urgente e mais imperioso que em nossos dias? Todo cristão deveria buscar o Reino de Deus e fazê-lo progredir; caso contrário, os homens não serão mais capazes de reconhecer o governo da Providência.

A preocupação da alma não deve ser sufocada pela preocupação exagerada com o corpo.

Dia 22 de Junho de 1955, durante a noite, ouvi distintamente: "Deus exige uma expiação". É com sacrifícios voluntários e com a oração que se pode expiar mais. Mas, se tais sacrifícios não são aceitos de boa vontade, Deus os exigirá com a força. Porque a expiação é necessária.

O QUE AJUDA ÀS ALMAS DO PURGATÓRIO

O auxílio mais precioso que podemos dar às almas é, sem dúvida, a Missa, mas à medida que os mortos a estimaram quando vivos. Também nisto se colhe o que se semeou. Isto vale não só para as Missas de preceito (domingos e feriados), mas também para as dos dias da semana. É verdade que nem todos podem assistir à Missa nos dias de trabalho; cada um tem suas ocupações profissionais, as próprias obrigações; há o dever antes de tudo.

Porém, há pessoas que poderiam ir à Missa sem faltar ao seu dever: os aposentados, por exemplo, que têm boa saúde e moram perto da Igreja que, no entanto, dizem: "Sou obrigado a ir somente aos domingos, portanto, não vou".

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Os que pensam e agem assim devem esperar longamente depois da morte até que uma Missa lhe seja destinada, porque durante a vida não lhe deram importância.

Se não podemos ir, mandemos as crianças na idade escolar. Em muitos lugares não há mais crianças nas Missas celebradas na semana. Se soubéssemos qual é o valor de uma só Missa para a eternidade, as Igrejas estariam lotadas mesmo durante a semana. Na hora da morte as Missas às quais tenhamos assistido com devoção durante nossa vida, serão nosso maior tesouro. Elas terão para nós maior valor do que as Missas celebradas por nós, após nossa morte.

Parentes e educadores se queixam de que as crianças, em nossos dias, são indolentes e desobedientes. Isto não acontece por acaso: antes, as crianças iam à Missa todos os dias. A oração e a comunhão davam-lhes a força de serem obedientes e fiéis aos seus deveres.

Nenhum pai, nenhuma mãe ou catequista pode plantar no coração da criança aquilo que Nosso Senhor lhe dá em graças durante a Missa e Comunhão.

Foi-me perguntado se é necessário acender velas e se este ato devocional tem sentido e valor. Claro, especialmente quando são bentas. Quando não o são é preciso pensar que as compramos por amor aos nossos falecidos: todo ato de amor tem um grande valor.

A água benta é preciosa quando usada com fé e confiança. Mas é a mesma coisa aspergir o solo com a mão cheia ou com apenas uma gota, acompanhada de uma jaculatória: muitas vezes vale mais uma gota.

É lamentável que em muitas casas não haja mais água benta; assim, não há oportunidade de, com a mesma, aliviar as almas do purgatório.

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QUAIS OS PECADOS MAIS SEVERAMENTE PUNIDOS NO PURGATÓRIO?

Os pecados contra a caridade: maledicência, calúnia, rancor, querelas provocadas pela cupidez e pela inveja, são severamente punidos no outro mundo. Uma pessoa inútil por exemplo, não seria assim se fosse tratada com bondade e caridade.

Cuidemos de não criticar ou rir de alguém: isso prejudica gravemente nossa alma.

Quantas vezes pessoas se lamentam que não são ajudadas nem um pouco quando há jovens perto, a alguns metros talvez. Mas, aos jovens não ocorre que poderiam ajudar o vizinho necessitado. E, contudo, as obras de caridade têm a maior recompensa no céu.

Quantas vezes se peca com palavras e julgamentos sem caridade! Poder-se-ia escrever um

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livro sobre este assunto. Se seguíssemos o conselho que nos dá a Mãe de Deus: "Sejam caridosos e bons com todos", poderíamos converter a maior parte dos homens e não teríamos de temer o comunismo.

Uma palavra pode matar, pode curar. O amor cobre uma multidão de pecados. Tenhamos caridade, sobretudo com nossos inimigos. Sermos bons com quem nos faz o bem é coisa que também os pagãos fazem, diz Cristo. Mas, fazer o bem àqueles que têm por nós sentimentos hostis, eis a verdadeira atitude cristã; isso é o que o Salvador nos pede. Assim, conseguiremos um amigo e poderemos abreviar uma grande parte de purgatório.

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O QUE SOFREM AS ALMAS DO PURGATÓRIO?

Elas sofrem de mil maneiras diferentes. Há tantos tipos de purgatório quantas são as almas. Cada alma sente nostalgia de Deus e esta é a mais lancinante dor. Além disso, cada alma é punida naquilo e por aquilo que a fez pecar. Acontece também na terra, quando a punição segue uma má ação: quem come demais sofre mal do estômago; quem fuma bastante fica intoxicado pela nicotina e corre o perigo de Ter câncer nos pulmões.

Nenhuma alma gostaria de retornar à terra para viver como antes, nas trevas deste mundo, porque conhece coisas das quais não temos sequer idéia.

As almas querem purificar-se no purgatório como o ouro no cadinho. Podemos imaginar uma jovem indo ao primeiro baile com roupas sujas e despenteada? A alma que está no lugar de purificação tem uma imagem tão fulgurante de Deus, que lhe apareceu numa beleza, numa pureza tão esplêndida, tão deslumbrante, que todas as forças do céu não conseguiriam movê-la para apresentar-se diante de Deus até que subsista nela a mínima mancha. Somente uma alma luminosa, perfeita, ousa ir ao encontro da luz eterna e da perfeição Divina para completar Deus face a face.

Extraido do livro: Maria Simma e as Almas do Purgatório

As Almas do Purgatório

- Este texto foi extraído do livro JESUS RESPONDE A UM PADRE.

- Traduzido do francês pelo padre Aldemar Ferrari. Prefácio de Dom Antônio de Almeida Moraes Júnior, Arcebispo de Niterói – RJ.

De 9 de Outubro de 1949 a 25 de Julho de 1951, aconteceram aparições de Nossa Senhora – Mãe de Deus – a 8 meninas de uma aldeia de Baviera, vizinhança de Nuremberg, Alemanha.

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Quando eram justificadas as esperanças de que todos recebessem com gratidão os importantes Avisos da Mãe de Nosso Senhor, dados a conhecer durante aquelas Aparições, avisos comprovados por conversões, e milagres ante milhares de pessoas, como foi o caso do Sol repetindo o prodígio de Fátima, eis que uma COMISSÃO veio estudar os fenômenos, nomeada pela Cúria de Bamberg, sob a gerência do Bispo Dom Landgraf.

A COMISSÃO era composta de pessoas incompetentes em Teologia. Montou-se logo um mecanismo de inquéritos, presidia de quando em vez, até pelo Juiz da cidade.

Finalmente, Dom Landgraf elaborou um resumo das conclusões, que apresentou a colegas Prelados na Alemanha, para pedir-lhes adesão, e assim, num clima de oposições, encaminhou ao Santo Padre Pio XII solicitações para INTERDITAR o sítio das Aparições em Heroldsbach, e EXCOMUNGAR leigos ou sacerdotes que porventura se atrevessem a rezar naquele local!

Sua Santidade PIO XII, confiado na autoridade dos Bispos, ratifica e assina o INTERDITO e a EXCOMUNHÃO ...! E resto é fácil imaginar.

QUE ACONTECEU?

Com exceção do Cardeal Faulhaber que chamou a atenção de PIO XII sobre o erro consumado, os demais Prelados direta ou indiretamente comprometidos no caso, e chamados em pouco tempo ao Tribunal de Deus, se acusam, depois da morte, de terem cometido ofensa grave contra a Santíssima Mãe de Jesus, no caso de Heroldsbach. Declaram – é terrível ouvir isso! – que não veriam a glória de Deus até que o Decreto contra as Aparições em Heroldsbach fosse anulado, reparando-se a injustiça cometida!

CAMINHOS DA MISERICÓRDIA

Deus escolheu a pessoa de uma alma-vítima para oferecer desagravo pelos culpados. Chama-se TEREZA OBERMAYER, irmã terciária Franciscana. Esta como tantas outras almas reparadoras, quando convidadas a perceberem o amor, e instâncias da bondade divina, dificilmente se recusam a aceitar o sofrimento reparador exigido por Deus.

Disse Nosso Senhor a Tereza:

Doravante está cravada em minha cruz com pregos... Fica atenta às Nossas Vozes que falam no mais íntimo da alma! Anota o que ouves! A Divina Providência te chama para pores à prova Bispos e Sacerdotes!

Palavras de Nossa Senhora a Tereza Obermayer:

Em Fátima não foi proibida a oração como foi em Heroldsbach, para grande mal das almas.

Em Fátima, a Minha Mensagem só se tornou evidente quando eclodiu a Segunda Guerra!

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Pois vem a Terceira Guerra pior que a anterior...

Em meu cuidado maternal vim (à Alemanha) , implorar, alertar. Mas, em vez de se emendarem, me perseguem!

Até a alta Hierarquia Eclesiástica assim procede. Sacerdotes e leigos, por causa de Heroldsbach, foram punidos com penas canônicas, contra todas as leis da justiça!

Tais medidas arbitrárias são rigorosamente submetidas ante o Tribunal de Deus. Disso dão claro testemunho os SACERDOTES QUE JÁ COMPARECERAM DIANTE DO ETERNO JUIZ, pois eles também descreram de MIM!

QUEM SERIAM ESSES SACERDOTES

que já compareceram diante do Eterno Juiz?

São:

BISPO AUXILIAR DE BAMBERG, Dom Landgraf falecido inesperadamente a 8 de setembro de 1958 e sepultado a 11 de setembro de 1958.

Em 11/09/58, diz o Sr. Bispo falecido a Tereza Obermayer:

"Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!

Pede uma audiência particular ao Arcebispo Schneider, de Bamberg. Eu, e não vocês, merecia as penas eclesiásticas, pois a minha ambição incontida abusei de função episcopal. A culpa principal cai sobre mim. Informei e influenciei, enganando o próprio Santo Padre em Roma. Todos ficarão sabendo que o demônio agiu por meu intermédio.

Teus sofrimentos e orações livraram-me das penas do inferno.

Reza por mim! Dá-me muita água benta com as orações da noite.

Escreve, por favor, ao Santo Padre João XXIII, através do Santo Ofício! Pede ao Sr. Arcebispo Schneider retire logo as penas canônicas injustas e inválidas, antes que seja tarde também para ele...

De Deus e de sua Mãe Santíssima não se zomba!...

Em 16/09/58 – às 15 horas.

O Bispo Dom Landgraf vem pedir outra vez que Tereza Obermayer escreva o seguinte:

"Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!

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Faço um pedido a todos os Bispos que suspendam as EXCOMUNHÕES inválidas, injustamente lançadas sobre os peregrinos que acreditam nas Aparições da Mãe de Deus, em Heroldsbach.

Que eles reparem o prejuízo causado à Igreja. Que organizem Novenas de reparação. Eu pratiquei culpa mortal tencionando arrasar Heroldsbach... Mas destruir a obra de Deus é grave pecado contra o Espírito Santo. Se os peregrinos não houvessem rezado por mim, eu teria caído no abismo eterno, e da mesma forma o Arcebispo Kolb.

Através de relatórios inverídicos, até Roma eu enganei, pois me deram crédito, devido à minha autoridade episcopal.

Tomara eu pudesse voltar à terra! Iria de joelhos pedir perdão a todos!..."

Em 06/01/1961

O Cardeal Wendel, de Munique, faleceu repentinamente, após a sua alocução de fim de ano. Seis dias depois ele comunica:

"Tenho que expiar no Purgatório porque combati a honra de Maria Santíssima – Mãe de Deus – não acreditando e dissuadindo outros a não acreditar em Heroldsbach. Lancei castigos injustos contra quem acreditava nas Aparições de Nossa Senhora em Heroldsbach. Enganado pelas medidas erradas da Diocese de Bamberg, nada fiz para saber a verdade. Também PIO XII sofre conosco, porque, além de não acreditar, aprovou um infeliz Decreto sem conhecer exatamente as coisas... Prestou mais crédito ao Santo Ofício que aos apelos que lhe foram feitos.

Eu fiz severamente julgado. Meu purgatório será duro e longo. Agora você diga a verdade. Escreva e fale. Defenda com decisão a honra de Maria Santíssima, Mãe de Deus! Tuas mensagens a Bispos e Padres trarão bons resultados para a eternidade.

Em 08/10/1961, entre 14 – 15 hs, o Papa PIO XII, no 3º aniversário de seu falecimento, veio dizer:

O que tu, querida irmã Terciária Franciscana, sofres e expias por mim, te será abundantemente creditado no céu. Oferece a Santa Missa, sem esmorecer. Oferece o Sangue de Jesus em favor de nossos indizíveis sofrimentos!

Muitas pobres almas se dirigem a mim pedindo que também te lembres delas... Como não as conheces pelo nome, oferecerás cumulativamente por todas o Precioso Sangue hoje na Missa Vespertina, São numerosas!! Lembra-te das almas sacerdotais, pois sou o responsável pelo sofrimento delas, por causa do infeliz Decreto que eu aprovei sem o devido exame...

O Bispo auxiliar de Bamberg, Dom Landgraf, nos informou erradamente sobre este assunto. Ele terá que expiar duramente pela gravíssima culpa dentro da Santa Igreja, pois ainda os fiéis

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continuam sendo perseguidos com penas canônicas injustas.

Minha purificação prolongar-se-á!

Em 09/10/1961, às 23 hs, o Papa PIO XII:

"Caríssima Irmã, nunca esquecerei o teu ato de caridade por teres oferecido em minha intenção, durante três dias a Santa Comunhão e o Precioso Sangue!

Julgam-me, como Papa, não precisar de orações... Por isso não as recebo. Entretanto, eu preciso de orações e sempre renovarei as súplicas, para que te não esqueças de mim.

Tua responsabilidade diante do Senhor é imolar-te por nós Sacerdotes. Vamos ajudar-nos mutuamente!

..........Chamei os Peregrinos de Nossa Senhora de "Gente fanática" (schwarmgeister), secundando a turma "do contra"...

Não fiz reparação em vida e por isso devo reparar no Purgatório!

Aquela minha afirmação rebaixou os peregrinos!

Cada coisa, por insignificante que seja será examinada por Deus!

..........Porém estas faltas nunca poderão ser comparadas com as faltas de pouco caso que se tem para com as Aparições de Nossa Senhora no mundo! Reza pelos Bispos e Padres errantes e descrentes, tanto no Vaticano, como no mundo inteiro!

Arrependo-me para sempre!

A batalha de Lepanto foi brinquedo de crianças em comparação à batalha atual. Virá um derramamento de Sangue e Mártires no próximo combate da Fé! Quem passará pelo teste final? Somente um punhadinho na tormenta que varrerá a terra!

..........Não atendi ao Cardeal Faulhaber, nem pensei no pecado de omissão! Ó se eu pudesse voltar à terra para reparar este prejuízo que dei a Igreja! Vem em meu auxílio, com orações, sacrifícios, reparações, bons conselhos, atuação corajosa!

..........A convocação de um Concílio Ecumênico dará pouco resultado, se não forem revogadas as injustiças e as penas canônicas de pura crueldade lançadas contra os leigos e sacerdotes em Heroldsbach. Mas já passam anos e ainda são mantidas. Estes excomungados, entretanto, são os que defendem a honra da Mãe Celeste pela palavra falada e escrita.

..........Ai de mim, que fui omisso! Não posso jamais compreender! Eu estava na cegueira de espírito! Agora Deus me mostra tudo o que eu deixei de cumprir. Só na eternidade é que se vê

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tudo tão claramente! Mas é tarde! Eu devia Ter restabelecido a glória da Mãe de Deus na Alemanha, que desde a Reforma protestante está caída, desmantelada!

Não hei de chegar à visão de Deus, enquanto a honra de Maria Santíssima em Heroldsbach não for restituída!

Em 09/06/1961, entre 8 – 9 hs.

O Bispo Buchberger, no Hospital, antes de morrer, diz à Vidente Tereza Obermayer:

"Porque não acreditei no que me dizias? É que fui impedido por meus subordinados. Eles tinham a você na conta de anormal! O Cônego Kracker tinha a mesma opinião e não prestava atenção no que vinhas a dizer.

Agora nada mais posso fazer do que entregar-me nas mãos de Deus. Reza por minha pobre alma quando eu for chamado ao Tribunal. Além de não acreditar, ainda te combati, atendendo a meus colegas. Fiz cumprir a recomendação do Cardeal Wendel – de Munique – Proibindo as romarias para Heroldsbach, pensando que à autoridade eclesiástica de cima se deve obediência incondicional. Seria como um golpe de força. Onde a liberdade da fé e da consciência?

Incrível! Só agora, à beira da sepultura, estou compreendendo. Reza imola-te por mim. Que Deus se compadeça de mim. Dói-me profundamente Ter assim tratado a Santa Mãe de Jesus, combatendo-A. O pior não foi Ter sido descrente, mas Ter impedido os fiéis de orar!

Oração da Vidente Obermayer:

"Ó Jesus, o vosso Sangue precioso acuda

esta pobre alma sacerdotal, nós Vos rogamos

atendei-nos, Senhor!

Anjos e Santos do céu, sede seus

Intercessores diante de Deus!!"

Não choreis por mim! Chorai antes por eu Ter rebaixado com minha descrença a Santa Mãe de Deus. Dei até ordens para que se fechassem as estradas de acesso aos peregrinos..."

E NOSSA SENHORA vem em seguida dizer:

"Eles só acreditam quando já é tarde. Na eternidade lhes é tirada a venda dos olhos. Esta cegueira de corações endurecidos que nem por lágrimas se deixem comover...

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Após o falecimento, diz o Bispo Buchberger:

"Peço que escrevam ao Santo Padre João XXIII, a todos os Cardeais, ao Núncio Bofite, ao Arcebispos e Bispos!

Que faça um novo RELATÓRIO e restabeleçam os direitos de Nossa Senhora! Nós Bispos, temos culpa grave porque não acreditamos na missão de Nossa senhora no mundo...! Não seremos libertados, nem chegarmos à visão de Deus enquanto não se reparar o prejuízo feito à Igreja..."

À 08/12/1961, às 22 hs, fala o falecido Bispo Keller, de Munique:

"Escreve ao Santo Padre que eu fui enredado no maldito Decreto contra as Aparições em Heroldsbach. Pede ao Santo Padre que indague com urgência sobre o caso. Por favor, reza por minha pobre alma, tu que fizeste voto de orar pelos sacerdotes, Oferece por nós o Sangue Precioso durante a Santa Missa.

À 08/12/1961, às 22 hs, NOSSA SENHORA veio, finalmente, dizer:

O culto Mariano tem de ser aprovado em muitos lugares e não apenas em alguns ...!

Sem saber em que arraial se encontram, trabalham Bispos e Padres ao lado do Inimigo!

À 19/09/1962, A palavra de Nosso Senhor:

Tratando-se de autoridade eclesiástica, ninguém deve praticar abuso contra meus filhos Videntes.

Também o Sr. Bispo de Leiria (Fátima) encontra-se ainda no lugar de purificação. Ele não acreditou na Mensagem de minha querida Mãe e Rainha. Se ele tivesse agido, a Segunda Guerra teria sido evitada! Todos teriam aceito prontamente o grito para fazerem penitência!

Porque só se acredita quando vem o castigo? E porque murchou a Fé no círculo dos Pastores?

Uma vez que o povo em sã razão esta acreditando, por que o castigam? Quem justifica perante Deus tal procedimento?

É bom fazer reparação ainda em vida, e pedir desculpas pelos grandes crimes cometidos contra as ordens e desígnios de Deus...

Dilson Kutscher, site A Caminho da Redenção: www.conesul.com.br/anjo

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PORQUE REZAR PELOS MORTOS

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A palavra PURGATÓRIO não se encontra na Escritura Sagrada, assim como também não encontramos nela as palavras relativo aos sacramento da: " Confissão, Eucaristia e Crisma ". No entanto, na Bíblia descreve-se situações, estados ou lugares que faz alusão ao conceito (idéia de purgatório) no Antigo e Novo Testamento, bem como na tradição da Igreja.

Pode-se definir PURGATÓRIO como um estado transitório de purificação. É o estágio em que as almas dos justos completam a purificação de suas PENAS, devidas pelos pecados já cometidos, antes de entrar no céu.

Esse estágio purificatório, ou seja, o purgatório pressupões sua localização no tempo ESCATOLÓGICO, que significa OS ÚLTIMOS ACONTECIMENTO pertencente ao Tratado Teológico chamado ESCATOLOGIA, termo grego que trata do fim do homem (humanidade), após cumprimento de nosso destino temporal (vida), no sentido de missão ou vocação. Que se expressa no contexto dos termos: morte, juízo, inferno ou paraíso.

A Igreja (Teologia) Católica ensina que o purgatório é um ESTADO DE PURIFICAÇÃO MORAL, em que as almas, ainda não completamente puras, serão purificadas mediante uma PENA, tornando-se dignas do céu. Isto é uma verdade de FÉ.

PORQUE REZAR PELOS MORTOS

1. Na Bíblia consta que os soldados judeus rezavam pelos seus mortos na guerra, para que seus pecados fossem perdoados. Consta assim: " JUDAS, TENDO FEITO UMA COLETA, MANDOU ... MIL DRACMAS DE PRATA A JERUSALÉM, PARA SE OFERECER UM SACRIFÍCIO PELO PECADO." (II Mac. 12,43-46). Ora Judas Macabeu e seus soldados estavam profundamente convencidos de que podiam libertar dos pecados os seus amigos mortos através das orações e dos sacrifícios. E puseram-se em oração, para implorar-lhe o perdão completo do pecado cometido.

Obra santa e bela, inspirada pela crença na ressurreição dos mortos. Orar pelos mortos é um pensamento santo e salutar. Eis porque ele ofereceu um SACRIFÍCIO EXPIATÓRIO pelos defuntos, para que fossem livres de seus pecados." Ser livre de seus pecados, depois da morte, pelo sacrifício expiatório, indica claramente a existência do que chamamos purgatório.

Cabe salientar que os alguns PROTESTANTES para negar a existência do purgatório, dizem que os livros dos Macabeus não são inspirados. Este é um sistema por demais simplório, pois nenhum evangélico tem condições para dizer quais são os livros inspirados e quais não são: sabemos disso só através da Tradição da Igreja e por meio da infalibilidade do magistério dessa instituída por Jesus Cristo (Mt 16,16 ss) .

Alguns estudiosos biblistas percebem a confirmação do purgatório nas palavras de Jesus que disse: " PÕE-TE DEPRESSA DE ACORDO COM O TEU ADVERSÁRIO, ENQUANTO ESTÁS AINDA EM

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CAMINHO (da vida) COM ELE; A FIM DE QUE TEU ADVERSÁRIO NÃO TE ENTREGUE AO JUIZ, E O JUIZ AO GUARDA, E SEJAS METIDO NA PRISÃO. EM VERDADE TE DIGO: NÃO SAIRÁS DE LÁ, ENQUANTO NÃO PAGARES ATÉ O ÚLTIMO CENTAVO " (Mt 5,25-26).

É claro que Jesus se referiu do Justo Juízo Divino, após a morte. Assim, sair desta prisão depois da morte, depois de Ter pago o último centavo, (seja pelo sofrimento próprio, seja pelas orações e expiações dos vivos) pode acontecer só no purgatório.

2. Na Bíblia também encontramos outra alusão ao purgatório: " ... AQUELE, CUJA OBRA (de ouro, prata, pedras preciosas) sobre o alicerce resistir, esse receberá a sua paga, aquele, pelo contrário, cuja obra, (de madeira, feno, ou palha), for queimada, esse há de sofrer o prejuízo; ELE PRÓPRIO, PORÉM, PODERÁ SALVAR-SE, MA COMO QUE ATRAVÉS DO FOGO." (1 Cor 3,12-15). Aqui, São Paulo (tradição Apostólica) admite claramente que aquele cujas obras forem imperfeitas no momento da morte se salvará, mas primeiro deverá passar pelo fogo do purgatório para se purificar.

3. " TODO AQUELE QUE FALAR CONTRA O FILHO DO HOMEM, SERÁ PERDOADO. SE, PORÉM, FALAR CONTRA O ESPÍRITO SANTO, NÃO ALCANÇARÁ PERDÃO NEM NESTE SÉCULO, NEM NO QUE HÁ DE VIR " (Mt 12,31-32).

Acredita-se que assim Jesus, admitiu a possibilidade de que as PENAS dos pecados mesmo que perdoados podem ser saudadas depois da morte.

O PURGATÓRIO NA TRADIÇÃO

Toda a tradição, os túmulos, as catacumbas, a doutrina dos primeiros apóstolos (... padres da Igreja) atestam a existência do purgatório.

" Uma vez por ano oferecemos os sacrifícios pelos mortos, como se fosse o seu dia de aniversário " (Tertuliano, 160-240).

" Deus do meu coração, peço-te pelos oecados de minha mãe " (Santo Agostinho, livro 9, cap. 13).

Nos túmulos dos primeiros cristãos, lê-se até hoje: " Lembrai-vos de nós nas vossas orações, nós que morremos antes de vós. "

VÁRIAS IDÉIAS REFEREM-SE AO PURGATÓRIO

" NADA DE IMPURO OU MANCHADO PODE ENTRAR NO CÉU " (Isa 35; Sab. 7,25; Apoc 21,27).

Se uma pessoa morre em pecado venial, não pode ir para o inferno, mas também não pode ir diretamente para o céu, pois " NADA DE IMPURO PODE ENTRAR NA JERUSALÉM CELESTE " (Apoc. 21,27).

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É claro que deve existir um ESTADO INTERMEDIÁRIO (mesmo que seja um breve momento), em que as almas dos mortos possam se purificar e depois subir para a glória de Deus, para gozá-lo eternamente, FACE A FACE: é o PURGATÓRIO.

CONCLUSÃO

Se, de um lado, o homem vai definhando biologicamente, de outro, ele precisa aperfeiçoar-se para conviver com Deus na eternidade (após a morte).

Vejamos que nem todos conseguem se purificar em vida, de tal modo que possamos apresentar-se diante de Deus (Santidade Divina) e com Ele conviver. Por isso que as pessoas salvas por sua vida virtuosa, por sua luta de viver bem o Plano de Deus a seu respeito, sentiram a necessidade de se purificarem dos resquícios de seus pecados.

Os restos ou resquícios impõem, embora perdoados, as chamadas PENAS TEMPORAIS a serem pagas aqui NA TERRA ou lá no PURGATÓRIO.

Deus na sua infinita MISERICÓRDIA nos oferece assim a essas almas a possibilidade de se purificarem e se tornarem aptas para a VISÃO BEATIFICA, para verem, gozarem e amarem a Deus FACE A FACE como Ele é (1 Jo 3,12).

Então podemos dizer que o purgatório consiste em uma " temporária " privação da plena VISÃO BEATÍFICA. Esse estado dar-se-ia o PURGATÓRIO na passagem para a eternidade.

Não esqueçamos que tentar traduzir realidades Divinas (de Deus), na eternidade, esbarramos sempre nas limitações humanas. Assim, raciocinamos até onde o razoável que fazemos é o ATO DE FÉ.

Por isso, acreditamos ser prudente, pois, continuarmos a rezar pelos mortos, pedindo a Deus que lhes dê o descanso e paz eterna. É o melhor que podemos fazer por aqueles que nos ensinaram muitas coisas na vida. Como na terra, vivemos unidos a eles em comunhão.

Ora, essa COMUNHÃO COM OS SANTOS DE DEUS não se acaba após a morte, mas se amplia ainda mais.

Podemos dizer que na morte o purgatório se torna necessário, não temido, para os que tentam entender e viver esse ato de fé.

A purificação da alma será certamente uma coisa parecida com uma pungente SAUDADE DE ALGUÉM MUITO DESEJADO, que está chegando, para o grande abraço (banquete).

Onde localiza-se o Purgatório? Evidente que não é um lugar. É uma situação (estado), uma ausência, mas com a certeza da Presença. Um anseio da Posse Plena.

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" As coisas da eternidade não se medem, mas temos uma certeza que é a fé. Pois, Deus não se engana nem nos engana, quando nos revela as coisas de lá ..."