liturgia santa ceia ulrich zwinglio

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Ato e uso 1 da Santa Ceia Escrito por Ulrich Zwingli em 1525 2 O profeta 3 ou pastor 4 orará de frente para o povo 5 com voz imposta e clara, 6 dizendo: Oh! Deus onipotente e eterno, a quem honram como é devido a todas as criaturas, a quem adoram e louvam como Fazedor, Criador e Pai; concede-nos, nós que somos pobres pecadores, o que fielmente e com fé celebramos, louvando-te, com ações de graças que o teu Filho Unigênito, o nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, ordenou aos crentes em memória de sua morte. Em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, o teu Filho, que contigo vive e reina em união com o Espírito Santo, Deus de toda eternidade. Amém. O diácono ou leitor dirá com voz imposta, assim: o que vamos ler está escrito na 1ª Epístola de Paulo aos Coríntios, capítulo 11 . (é realizada a leitura da Escritura). Os diáconos e toda a congregação, declaram em seguida: Louvado seja Deus! 1 M. Gutiérrez Marín comenta que “o tratado prescreve que a Santa Ceia fosse celebrada quatro vezes por ano (Páscoa da Ressurreição, Pentecostes, o 11 de Setembro, ou seja, quando antes da Reforma se venerava aos santos Félix e Régula, e no Natal)” in: Zunglio – Antología (Barcelona, Producciones Editoriales del Nordeste, 1973), pág. 112. 2 Impresso em Março ou início de Abril, sendo esta liturgia usada pela primeira vez em 13 de Abril de 1525. Nota do tradutor. 3 Por profeta, Zwingli entendia o “pregador”, e não alguém que pudesse falar novas revelações extra-bíblicas. M. Gutiérrez Marín observa que para ele profecia significava “a profunda investigação da Sagrada Escritura, e isto de modo que os pregadores formados, ou ainda em preparo, estivessem bem preparados.” Zunglio – Antología, pág. 34. 4 Entre 26 a 28 de Outubro de 1523, Zwingli pregou numa conferência que reuniu cerca de 350 pastores suíços. A pedido de Joachim Vadian, dirigente da Reforma em San Gall, publicou o sermão em 26 de Março de 1524, com o título de “O Pastor.” Este tornou-se um tratado de teologia pastoral. 5 A liturgia tradicional católico romana ainda hoje preserva a prática do celebrante no momento de consagrar a hóstia dar as costas para o povo. 6 Não mais em latim, mas em vernáculo comum.

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Page 1: Liturgia Santa Ceia Ulrich Zwinglio

Ato e uso1 da Santa CeiaEscrito por Ulrich Zwingli em 15252

O profeta3 ou pastor4 orará de frente para o povo5 com voz imposta e clara,6 dizendo:Oh! Deus onipotente e eterno, a quem honram como é devido a todas as criaturas, a quem adoram e louvam como Fazedor, Criador e Pai; concede-nos, nós que somos pobres pecadores, o que fielmente e com fé celebramos, louvando-te, com ações de graças que o teu Filho Unigênito, o nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, ordenou aos crentes em memória de sua morte. Em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, o teu Filho, que contigo vive e reina em união com o Espírito Santo, Deus de toda eternidade. Amém.

O diácono ou leitor dirá com voz imposta, assim: o que vamos ler está escrito na 1ª Epístola de Paulo aos Coríntios, capítulo 11. (é realizada a leitura da Escritura).

Os diáconos e toda a congregação, declaram em seguida: Louvado seja Deus!

1 M. Gutiérrez Marín comenta que “o tratado prescreve que a Santa Ceia fosse celebrada quatro vezes por ano (Páscoa da Ressurreição, Pentecostes, o 11 de Setembro, ou seja, quando antes da Reforma se venerava aos santos Félix e Régula, e no Natal)” in: Zunglio – Antología (Barcelona, Producciones Editoriales del Nordeste, 1973), pág. 112.2 Impresso em Março ou início de Abril, sendo esta liturgia usada pela primeira vez em 13 de Abril de 1525. Nota do tradutor.3 Por profeta, Zwingli entendia o “pregador”, e não alguém que pudesse falar novas revelações extra-bíblicas. M. Gutiérrez Marín observa que para ele profecia significava “a profunda investigação da Sagrada Escritura, e isto de modo que os pregadores formados, ou ainda em preparo, estivessem bem preparados.” Zunglio – Antología, pág. 34.4 Entre 26 a 28 de Outubro de 1523, Zwingli pregou numa conferência que reuniu cerca de 350 pastores suíços. A pedido de Joachim Vadian, dirigente da Reforma em San Gall, publicou o sermão em 26 de Março de 1524, com o título de “O Pastor.” Este tornou-se um tratado de teologia pastoral.5 A liturgia tradicional católico romana ainda hoje preserva a prática do celebrante no momento de consagrar a hóstia dar as costas para o povo.6 Não mais em latim, mas em vernáculo comum.

Page 2: Liturgia Santa Ceia Ulrich Zwinglio

O cântico7 de louvor será iniciado pelo pastor com a primeira estrofe e então todo o povo, homens e mulheres,8 recitarão uma estrofe após a outra:

Pastor: Glória a Deus nas alturas!Homens: E paz na terra!Mulheres: E aos homens de boa vontade!Homens: Louvamos e exaltamos a Ti.Mulheres: Adoramos e honramos a Ti.Homens: Damos graças por tua grande glória e tua bondade, oh! Senhor e Deus, rei dos céus, Pai e onipotente!Mulheres: Oh! Senhor, Filho Unigênito, Jesus Cristo e Espírito Santo.Homens: Oh! Senhor, Deus, tu Cordeiro de Deus, Filho do Pai, que tira o pecado do mundo, tem compaixão de nós.Mulheres: Tu que tiras os pecados do mundo, aceita a nossa oração.Homens: Tu que estás assentado à direita do Pai, tem compaixão de nós.Mulheres: Pois somente Tu és santo.Homens: Somente Tu és Senhor.Mulheres: Somente Tu és o Altíssimo, Jesus Cristo com o Espírito Santo na glória de Deus Pai.Homens e mulheres: Amém.

Agora o diácono diz ao leitor: O Senhor seja convosco!O povo responde: E com o teu espírito.Leitor: A leitura do Evangelho se encontra escrita no evangelho de João, capítulo 6.O povo responde: Louvado seja Deus!

7 O uso de instrumentos era ausente no culto da Igreja de Zurique nos dias de Zwingli, apesar ser o reformador um exímio músico sabendo manusear instrumentos como alaúde, harpa, violino, flauta, címbalo, cítara de cordas, também compositor, tendo-se preservado pelo menos 3 hinos de sua autoria. Hannes Reimamm esclarece que Zwingli “não teve tempo de formular uma doutrina sobre o cântico no culto, senão que também com respeito a esta questão encontrava a meio caminho. E isto é próprio de um homem cujas características não eram a imobilidade, mas o dinamismo. O fato dele não conseguir conjugar a música com o culto e ter abolido radicalmente o cântico de Salmos por corais na missa, não significa que quisera abolir para sempre a música e os cânticos nos lugares destinados ao culto.” Hannes Reimamm, “Die Einführung des Kirchengesanges in der Zürcher Kirche nach der Reformation” (Zürich, 1959) citado por M. Gutiérrez Marín, Zunglio – Antología, pág. 111. Interessante notar que a partir de 1533 são impressos 17 hinários diferentes em Zurique. A maioria deles com o título “Salmos e cânticos espirituais”, contendo melodias alemãs e uma parte com o subtítulo “Salmos de Davi” contendo melodias francesas; parte deles eram salmos metrificados, e ainda alguns cânticos compostos por Lutero, e canções adaptadas com letras bíblicas ou doutrinárias. Nota do tradutor.8 M. Gutiérrez Marín comenta que “os homens se sentavam no lado direito e as mulheres no lado esquerdo do templo. O pão e o vinho eram servidos em bandejas de madeira, sendo repartido pelos diáconos para a congregação que permanece sentada. Não havia nem música nem cânticos.” Zunglio – Antología, pág. 112.

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Leitura bíblica: (Jo 6:47-63)9

Em verdade, em verdade vos digo: quem crê em mim tem a vida eterna. Eu sou o pão da vida. Vossos pais comeram o maná no deserto e morreram. Este é o pão que desce do céu, para que todo o que dele comer não pereça. Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se alguém dele comer, viverá eternamente; e o pão que eu darei pela vida do mundo é a minha carne. Disputavam, pois, os judeus entre si, dizendo: Como pode este dar-nos a comer a sua própria carne? Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tendes vida em vós mesmos. Quem comer a minha carne e beber o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia. Pois a minha carne é verdadeira comida, e o meu sangue é verdadeira bebida. Quem comer a minha carne e beber o meu sangue permanece em mim, e eu, nele. Assim como o Pai, que vive, me enviou, e igualmente eu vivo pelo Pai, também quem de mim se alimenta por mim viverá. Este é o pão que desceu do céu, em nada semelhante àquele que os vossos pais comeram e, contudo, morreram; quem comer este pão viverá eternamente. Estas coisas disse Jesus, quando ensinava na sinagoga de Cafarnaum. Muitos dos seus discípulos, tendo ouvido tais palavras, disseram: Duro é este discurso; quem o pode ouvir? Mas Jesus, sabendo por si mesmo que eles murmuravam a respeito de suas palavras, interpelou-os: Isto vos escandaliza? Que será, pois, se virdes o Filho do Homem subir para o lugar onde primeiro estava? O espírito é o que vivifica; a carne para nada aproveita; as palavras que eu vos tenho dito são espírito e são vida.Leitor (após a leitura, ele beija o livro) diz: Demos louvor e graças! Que Ele conforme a sua santa palavra perdoe todos os nossos pecados.O povo responde: Amém.

O diácono:10Creio em Deus Pai, Todo-Poderoso, Criador do céu e da terra.Homens: Creio em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor, Mulheres: o qual foi concebido do Espírito Santo, Homens: nasceu da Virgem Maria, Mulheres: padeceu sob o poder de Pôncio Pilatos,

9 Optei por citar a versão ARA.10 O diácono dá início e em seguida, os homens e as mulheres alternam recitando o Credo Apostólico, e todos juntos findam dizendo: Amém. Nota do tradutor.

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Homens: foi crucificado, morto e sepultado, desceu aos infernos, Mulheres: no terceiro dia ressuscitou dos mortos, Homens: subiu aos céus, está sentado à destra de Deus, o Pai onipotente, Mulheres: donde há de vir para julgar os vivos e os mortos.Homens: Creio no Espírito Santo, Mulheres: na santa igreja católica, Homens: na comunhão dos santos, Mulheres: na remissão dos pecados, Homens: na ressurreição da carneMulheres: e na vida eterna.O povo: Amém.

Diácono: Agora, amados irmãos, vamos comer o pão e beber conforme a instituição de nosso Senhor Jesus Cristo e como ele ordenou: Em sua memória, com louvor e ações de graças por ter morrido por nós e derramado o seu sangue lavando com ele os nossos pecados. Portanto, que cada um pense, segundo admoesta Paulo, que consolo, que fé e confiança tem em nosso senhor Jesus Cristo, a fim de que ninguém considere-se crente, não sendo, e por não ser se faça culpado da morte do Senhor e peque contra toda a Igreja cristã, que é o corpo de Cristo. Ajoelhai-vos e orai:

Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome;Venha o teu reino,Faça-se a tua vontade, assim na terra como no céu;O pão nosso de cada dia dá-nos hoje;E perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós temos perdoado aos nossos devedores;E não nos deixes cair em tentação;Mas livra-nos do mal.11

O povo responde: Amém.Diácono: Oh! Senhor, Deus onipotente, que por teu Espírito nos concedeu estar unidos na mesma fé, e com isto fez que sejamos o teu corpo: a este corpo tem ordenado que te louve, e lhe dê graças pelo bem e generoso bem que tem recebido, entregando o teu Filho Unigênito, o nosso Senhor Jesus Cristo. Outorgando-nos que fielmente te louvemos e demos graças e 11 A oração do Pai Nosso é feita sem a doxologia da segunda metade do verso 13. Optei por citar a versão ARA. Nota do tradutor.

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não provoquemos com hipocrisia ou falsidade a verdade que não consente com enganos. Concede-nos também o poder viver em pureza, como corresponde a teu corpo, aos que fez membros de tua família e teus filhos, a fim de que igualmente os incrédulos aprendam reconhecer o teu nome e a tua honra. Senhor guarda-nos de que por nossa causa, o teu nome e honra sejam escarnecidos; Senhor aumenta continuamente a nossa fé, ou seja, a nossa confiança em Ti, que vives e governas, Deus de toda a eternidade. Amém.

Diácono: (leitura de 1 Co 11:23-34)12

Porque eu recebi do Senhor o que também vos entreguei: que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão; e, tendo dado graças, o partiu e disse: Isto é o meu corpo, que é dado por vós; fazei isto em memória de mim. Por semelhante modo, depois de haver ceado, tomou também o cálice, dizendo: Este cálice é a nova aliança no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que o beberdes, em memória de mim. Porque, todas as vezes que comerdes este pão e beberdes o cálice, anunciais a morte do Senhor, até que ele venha. Por isso, aquele que comer o pão ou beber o cálice do Senhor, indignamente, será réu do corpo e do sangue do Senhor. Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e, assim, coma do pão, e beba do cálice; pois quem come e bebe sem discernir o corpo, come e bebe juízo para si. Eis a razão por que há entre vós muitos fracos e doentes e não poucos que dormem. Porque, se nos julgássemos a nós mesmos, não seríamos julgados. Mas, quando julgados, somos disciplinados pelo Senhor, para não sermos condenados com o mundo. Assim, pois, irmãos meus, quando vos reunis para comer, esperai uns pelos outros. Se alguém tem fome, coma em casa, a fim de não vos reunirdes para juízo. Quanto às demais coisas, eu as ordenarei quando for ter convosco.

Terminada a leitura, os diáconos reconhecidos como tais, oferecem o pão ázimo a todos, e que cada crente pegue com a sua própria mão um pedaço de pão, ou aceite o pão da mão do diácono que o oferece. Uma vez que cada um tenha comido o seu pedaço de pão, os outros diáconos se aproximam com o cálice e de igual modo dão de beber a cada um. E que tudo isto se faça com o respeito e a decência própria da Igreja de Deus, e da Ceia de Cristo.

12 Optei por citar a versão ARA. Nota do tradutor.

Page 6: Liturgia Santa Ceia Ulrich Zwinglio

Logo após comer e beber, seguindo o exemplo de Cristo, declarem o Salmo 113, com ações de graças. Começará com o pastor.Pastor: Louvai, oh! Servos do Senhor, louvai o nome do Senhor!Homens: Louvado seja o nome do Senhor agora e até a eternidade!Mulheres: Desde que se levante o sol, até o seu repouso seja louvado o nome do Senhor.Homens: O Senhor é engrandecido sobre todos os povos e sua honra exaltada acima dos céus.Mulheres: Quem é o Senhor, nosso Deus, que estando tão alto se inclina para olhar os céus e a terra?Homens: O Senhor que dentre o pó levanta ao humilde, e ao pobre tira da imundícia.Mulheres: E os assenta com os príncipes, com os príncipes de seu povo.Homens: O Senhor que a mulher estéril concede a maternidade e faz que tenha alegria nos seus filhos.Pastor: Senhor, te damos graças por todos os bens e dádivas; graças, Senhor, que vives e governas, Deus de toda a eternidade.O povo: Amém.Pastor: Ide em paz.

Extraído de M. Gutiérrez Marín, Zunglio – Antología (Barcelona, Producciones Editorial del Nordeste, 1973).

Traduzido em 8 de Setembro de 2010.Rev. Ewerton B. TokashikiPastor da Primeira Igreja Presbiteriana de Porto VelhoProfessor de Teologia Sistemática no SPBC-RO e Teologia da Reforma na Faculdade Metodista de Teologia.