literatura 1 luiz claudio
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Palestra Profo. Luiz Claúdio, segunda SEMANA WEB do SABERCRIAR, preparatória para a segunda fase da FUVESTTRANSCRIPT
bras literárias
2ª fase
Luíz
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O
AUTO DA BARCA DO INFERNO
GIL VICENTE
Sociedade portuguesa do período humanista
AUTO DA BARCA DO INFERNO
Fidalgo(D. Anrique)
Parvo(Joane)
Alcoviteira(Brísida Vaz)
Esses personagens
são alegóricos
porque
representam
determinadas
classes ou
segmentos sociais
e vícios ou
virtudes da
sociedade.
Sapateiro(Joanantão)
AUTO DA BARCA DO INFERNO
Gil Vicente, um humanista de mentalidade medieval, tinha duas
preocupações essenciais: o homem e a religião. Mesmo sendo um
católico fervoroso, centrou a sua verve crítica no diabo
(personagem ativo) e não no anjo (personagem passivo).
Suas críticas principais são contra o excessivo materialismo da
sociedade, o mau uso da Palavra de Deus pelo baixo clero, a injustiça
praticada por quem deveria promovê-la.
AUTO DA BARCA DO INFERNO
Frei Babriel e sua dama Florença
Onzeneiro (agiota)
O Corregedore o Procurador
Essa obra pode ser chamada de “auto de moralidade” porque é a
obediência aos mandamentos divinos que define a entrada no céu.
Cabe ressaltar que Brísida Vaz, a alcoviteira, possui
relacionamento tanto com o Corregedor quanto com o
Procurador que devem tê-la chantageado, e com o
Enforcado, que deve ser o executor das más obras
dos dois. A alcoviteira transita entre todas as classes
sociais como a Parteira, de Memórias de um sargento de
milícias.
AUTO DA BARCA DO INFERNO
Enforcado
(Pero de Lisboa)
Gil Vicente pode ser considerado moralista, porque prega a moral
católica durante toda a peça, tanto quanto o narrador de Memórias de um
sargento de milícias que tece constantes críticas às pessoas que deveriam
pregar e contestar a moral, mas não a praticam.
Gil Vicente também tem o seu lado hipócrita.
Ao absolver os quatro cavaleiros cruzados,
redime-se tanto com a Igreja quanto com a nobreza,
dois segmentos da sociedade que o protegiam.
Outra semelhança entre o Auto da Barca do Inferno
e Memórias de um sargento de milícias é o
ênfase à linguagem popularesca.
AUTO DA BARCA DO INFERNO
Quatro cavaleiros cruzados
IRACEMA
JOSÉ DE ALENCAR
O narrador observador (narra em 3ª pessoa) / autor (interfere na
narrativa em 1ª pessoa) cria uma lenda sobre o nascimento da América a
partir do encontro de dois mundos:
• o velho mundo (Martim Moreno – 1º colonizador do Ceará) e o novo
mundo (Iracema – a América ainda virgem e inexplorada);
IRACEMA
IRACEMA
• desses dois mundos, nascerá um mundo híbrido,
Moacir, o filho da dor, primeiro americano fruto
da união entre o sangue do índio e os valores do
homem branco.
Como Alencar constrói uma lenda:
• há personagens históricos (Martim e Poti) mesclados a personagens
imaginários (Iracema, Moacir, dentre outros);
• há fatos históricos (lutas entre tabajaras, amigos dos franceses, contra
os potiguaras, amigos dos portugueses, mesclados a fatos imaginários
(paixão de Iracema por Martim).
Há três momentos marcantes nessa obra:
O primeiro: o encontro de Martim e Iracema. A virgem dos lábios de
mel flecha-o e ele fica triste não pela dor da seta, mas porque foi
uma mulher, símbolo de amor e ternura, que o machucou. Ela, já
apaixonada, quebra a seta ficando com a ponta que o feriu.
IRACEMA
IRACEMA
O segundo: quando Iracema salva a vida de Martim dando-lhe a
Jurema (elixir sagrado da tribo) e depois se entregando-se a ele.
Ressalta-se que a aproximação entre índios e brancos é sempre
prejudicial aos primeiros.
O 3º é o encontro entre Martim e
Batuirité, avô de Poti, que lhe chama de
“gavião branco” (predador).
Desiludido, ele se despe de suas vestes e
Iracema pinta-lhe o corpo, passando a
chamá-lo de “coatiabo” (guerreiro
pintado).
MEMÓRIAS DE UM SARGENTO DE MILÍCIAS
MANOEL ANTÔNIO DE ALMEIDA
Um narrador
observador, bisbilhoteiro, moralista, conta a
história de Leonardo, primeiro anti-herói da nossa
literatura. Esse narrador vale-se das digressões e da
metalinguagem como recursos estilísticos para
construir a sua narrativa.
A obra tem a agilidade de uma crônica policial ao enfocar a vida
suburbana do Rio de Janeiro da época de D. João VI
(1808 – 1821), com suas brigas de casais, batizados
e perseguições policiais.
MEMÓRIAS DE UM SARGENTO DE MILÍCIAS
A parteira e o barbeiro, por serem reconhecidos por
suas profissões, aproximam-se dos personagens
alegóricos de Gil Vicente que representam
vícios e virtudes sociais.
A exemplo de Martim Moreno e Poti, em Iracema, o Major
Vidigal é também um personagem histórico.
MEMÓRIAS DE UM SARGENTO DE MILÍCIAS
O momento
histórico vivido
pelo Brasil em
Memórias de um
sargento de
milícias (chegada
da família real)
tem sua
continuidade em
A cidade e as
serras (período
miguelista) em
Portugal.
MEMÓRIAS DE UM SARGENTO DE MILÍCIAS
O anticlericalismo do narrador se manifesta nas atuações do Major
Vidigal, amante de uma ex-prostituta, Maria Arregalada, e do Mestre
de Cerimônias, amante de uma cigana.
15 mil portugueses aportaram em terras brasileiras junto com a
família real, portanto o linguajar característico de Portugal está
presente no cotidiano do Rio de Janeiro. Os conflitos entre a cultura
lusitana e a brasileira a partir daí estarão presentes de diversas formas
em O Cortiço, principalmente nas brigas entre Jerônimo x Firmo e Rita
Baiana x Piedade.
MEMÓRIAS DE UM SARGENTO DE MILÍCIAS
A paixão de Leonardinho por Luisinha e a
presença do destino aproximam essa obra do
Romantismo; o enfoque da escória social, a ironia
deslavada e o anticlericalismo a aproximam do
Realismo/Naturalismo.
Ela possui ainda uma série de
características próprias, como o
coloquialismo, os personagens próximos do real
e o ritmo de crônica policial privilegiando mais a
ação do que a descrição.
MEMÓRIAS DE UM SARGENTO DE MILÍCIAS
A CIDADE E AS SERRAS
EÇA DE QUEIROZ
A CIDADE E AS SERRAS
Pertencente à fase pós-realista de Eça de Queiroz, a obra traz, no
título, o ideal clássico do FUGERE URBEM, isto é, o Jacinto entediado
da cidade, em oposição ao Jacinto saudável das serras. O ideal do “Bom
Selvagem”, de Rousseau também aparece aqui espelhado, por isso
dizemos que é um romance de tese.
A CIDADE E AS SERRAS
Em Paris, o Príncipe da Grã
Ventura, homem mais civilizado
do mundo, era Positivista:
Civilização é enxergar à frente.
Era também um homem artificial:
usa roupas inglesas, tinha hábitos
franceses, raízes em Portugal e
usava uma flor de plástico na
lapela.
A CIDADE E AS SERRAS
Na fase da cidade, Grilo, o empregado, diagnostica o tédio de Jacinto:
“Sua excelência sofre de fartura”. O mesmo Grilo diagnostica a
recuperação da sua alegria quando ele passa a viver no campo: “Sua
excelência brotou”.
Zé Fernandes, o narrador testemunha das
transformações de Jacinto de Tormes, representa o
lado romântico da história, ao atestar que a única
forma de salvar o homem da civilização era o retorno
de Jesus Cristo.
A CIDADE E AS SERRAS
É ele que se apaixona de forma avassaladora por
Madame Colombe, para vomitá-la
depois de um porre. Por causa dela,
perde suas últimas economias.
Jacinto passa pela fase realista, quando se torna positivista e usa a
equação: suma potência + suma eficiência = suma felicidade.
Acreditava que a ciência era o telescópio que poderia fazer ver longe.
Tornou-se um romântico, quando, entediado, adotou a leitura de
Schopenhauer (filósofo pessimista) e do Eclesiastes (parte da Bíblia
que discute a vaidade das vaidades). Sua filosofia de vida mudou para:
O sofrimento é uma lei universal.
A CIDADE E AS SERRAS
Jacinto é um personagem repleto de simbologias. Em
Paris, representa o artificialismo da civilização. Em Tormes, segundo o
eremita João Torrado, representa a reencarnação de D. Sebastião; para os
fazendeiros, ele traz o retorno do “Ausente”, Dom Miguel, ou seja, a
monarquia se opondo ao liberalismo.
A CIDADE E AS SERRAS
Ao abrir as caixas com as máquinas vindas da civilização e só
aproveitar algumas delas na sua vida de homem do campo, representa o
encontro do Portugal agrário do presente com o Portugal industrial do
futuro.
Jacinto representa também o reencontro do próprio Eça de
Queiroz com a sua pátria.
DOM CASMURO
MACHADO DE ASSIS
DOM CASMURO
O meu fim evidente era atar as duas pontas da vida, e restaurar na
velhice a adolescência. Pois, senhor, não consegui recompor o que foi
nem o que fui. Em tudo, se o rosto é igual, a fisionomia é diferente. Se
só me faltassem os outros, vá; um homem consola-se mais ou menos
das pessoas que perde; mas falto eu mesmo, e esta lacuna é tudo.
Assim, Bento Santiago, um advogado, começa a defender a
grande causa de sua vida e, por isso, redige o inventário de suas
impressões para tentar provar ao leitor e,
principalmente, a si mesmo que foi traído por
Capitu, afinal destruiu a vida de três pessoas: a
dela, a de Ezequiel, seu filho, e a sua própria
em função de uma suspeita e não de um fato
consumado.
DOM CASMURO
Bento Santiago traz a principal característica do seu caráter, a
ambiguidade, no seu próprio sobrenome: SANT – santo aos olhos do
leitor; IAGO – o intrigante, personagem de Otelo, de William
Shakespeare. Além disso, Bento faz a intertextualidade a sua vida e a
obra de Shakespeare.
Bentinho e não Capitu é o personagem central e
grande mistério dessa obra, pois se esconde nas entrelinhas,
nas frases ambíguas, nas atitudes de duplo sentido. Tudo o
que sabemos dela é filtrado pelos olhos dele, um jovem
inseguro, ciumento, manipulado pela própria mãe e pela
namorada. É sintomático que, depois de velho, tenha
voltado para uma casa igual à da sua infância, onde se
sentia protegido pela mãe.
DOM CASMURO
Capitolina (cabeça) é uma mulher sedutora e manipuladora aos
olhos de um Bentinho que se lembra de cada um dos detalhes de seus
trejeitos, olhares, roupas e penteados. Obcecado pelos olhos dela,
compara-os com a ressaca do mar, tal o poder
que eles têm de tragá-lo. É de José Dias a
definição de que eles eram os olhos de uma
cigana dissimulada.
É importante observar que o tema central da obra é o
CIÚME, que transforma a conduta e os valores do personagem central, e
não a traição, que tantas teorias suscita.
O CORTIÇO
ALUÍSIO DE AZEVEDO
O CORTIÇO
Romance de espaço – o cortiço é o personagem
central.
Romance de tese – tenta provar a teoria determinista do “Mal
dos trópicos”, pois João Romão, Jerônimo e Miranda, homens
trabalhadores e sérios na sua terra natal, vão se “abrasileirando” na
medida em que aprendem a roubar, enganar, beber, jogar e, no caso de
João Romão e Jerônimo, até a matar.
O CORTIÇO
A obra centra-se na escória social carioca e na decadência dessa mesma
sociedade, dividida entre os imigrantes e os nativos.
Os personagens são excessivamente sexualizados.
Ressaltam também as características animalescas
de cada um (zoomorfismo).
Bertoleza
O CORTIÇO
Há oposição entre o casarão do Miranda, onde
as pessoas sentam-se à mesa, comem com talheres, o
cortiço onde as pessoas bebem, brigam, falam alto e
comem com as mãos. Há também a oposição entre a
cultura brasileira e a lusitana, que se manifesta nos
hábitos de Jerônimo que abominava o parati
(cachaça), o café (preferia o chá) e as modinhas alegres
(tocava o fado). O desejo por Rita Baiana faz com que
se renda, Piedade mantém-se firme.
VIDAS SECAS
GRACILIANO RAMOS
VIDAS SECAS
Romance desmontável, Vidas Secas tem capítulos independentes e nisso
se assemelha a Memórias de um sargento de milícias e Capitães da
Areia.
A militância no PCB aproxima Graciliano Ramos de Jorge
Amado e Vinícius de Moraes, por isso as obras assumem caráter de
intensa crítica social, ao discutirem como o
capital oprime as massas trabalhadoras e/ou
excluídas que não têm chances de conquistarem
uma vida melhor. Fabiano é o exemplo claro
disso. Seu pai e seu avô passaram a vida
construindo a casa dos outros. Ele também.
VIDAS SECAS
Ao contrário de O Cortiço, Vidas Secas não prega o Determinismo.
Podemos afirmar que é um romance de “tensão crítica”, pois um
personagem como Fabiano está em conflito consigo mesmo, com o
meio em que vive e com as autoridades que o manipulam e oprimem.
Sequer sabe se é um homem ou um bicho.
Alto, ruivo, olhos
claros, Fabiano não tem a
tipologia do caboclo
nordestino. Sua miséria vem
da falta de oportunidades.
A OBRA
Os meninos (filho mais novo, filho mais velho)
sofrem um processo de despersonalização, pois
se parecem com tantos meninos nordestinos sem
chances de uma vida melhor. O filho mais velho
sonha com novos amigos e uma vida
melhor, sonha em fugir. Nisso e na carência
afetiva se parecem muito com os capitães da
areia.
A OBRA
Os preás são personagens
simbólicos: tanto podem significar
sobrevivência (capítulo FUGA) quanto
fartura (capítulo BALEIA). As aves de
arribação também ganham duplo
significado: são a vida, porque sua carne
pode ser consumida pela família de
Fabiano, porém são a morte, pois sua
chegada denuncia a seca na região.
A OBRA
Há momentos de zoomorfismo na obra, pois Sinhá Vitória é sempre
comparada aos animais. Nessas comparações, sempre leva
desvantagem. Há momentos de
antropomorfismo, quando Baleia
pensa e sonha. A sublimação da
sua alma, no capítulo que leva o
seu nome, é o ponto alto dessa
característica.
A obra também tem um sentido cíclico, isto é, a família de
Fabiano só vive entre uma seca e outra.
CAPITÃES DE AREIA
JORGE AMADO
CAPITÃES DE AREIA
A exemplo de Vidas Secas, Capitães de Areia se passa na época
da Ditadura Vargas. Em Vidas Secas, a presença do Soldado Amarelo
confirma isso. Em Capitães da Areia, as sucessivas greves dos
estivadores dos quais Pedro Bala será um líder denotam isso.
vida das pessoas, como as transforma.
Se o Cortiço é um microcosmo da
sociedade carioca do final do século XIX, o
trapiche é um microcosmo da sociedade
baiana do século XX, portanto, se o cortiço é
personagem da obra, o trapiche também o é.
Em Vidas Secas, a seca é personagem
fundamental, pois não só decide a
CAPITÃES DE AREIA
Se Fabiano (em Vidas Secas) e
Leonardinho (em Memórias de um
sargento de milícias) centralizam a
narrativa em obras de capítulos
independentes, em Capitães da Areia
Pedro Bala exerce o mesmo papel. No
entanto, Capitães da Areia e Memórias
de um sargento de milícias estão mais
para a crônica, enquanto Vidas Secas
está mais para o conto.
Se, em Vidas Secas, Baleia atrai para si o afeto das pessoas à sua
volta, Dora exerce papel semelhante em Capitães da Areia, levando-
se em conta que, além disso, ela, para muitos, é a irmã; para outros, a
mãe e, para o Professor e Pedro Bala, a noiva.
CAPITÃES DE AREIA
Em Memórias de um sargento de milícias, Manoel Antônio de Almeida
dá verossimilhança à história de Leonardinho, dizendo que ela lhe foi
contada por um tal Antônio César Ramos, companheiro de repartição.
Jorge Amado usa o mesmo expediente ao publicar um PRÓLOGO
(Cartas à Redação), em que pessoas escrevessem
para o jornal ou protestando contra os maus tratos
cometidos contra as crianças ou se defendendo
de acusações. Em Iracema, José de Alencar
interfere na obra dizendo que foi uma lenda que
ouviu nos verdejantes campos de sua infãncia.
CAPITÃES DE AREIA
Ao contrário do baixo clero, preocupado tão somente com os
prazeres mundanos em O Auto da Barca do Inferno ou Memórias de um
sargento de milícias, em Capitães da Areia o padre José Pedro luta pelos
meninos a ponto de ser repreendido pelos seus superiores.
Pedro Bala é uma espécie de Robin
Hood, tirando dos ricos e dando aos pobres.
O futuro frade Pirulito (Frei Tuck), o João
Grande (Litle John), Dora (Maid Marian)
compõem a intertextualidade com a vida do
Príncipe dos Ladrões.
ANTOLOGIA POÉTICA
VINÍCIUS DE MORAES
SONETO DA FIDELIDADE
De tudo, ao meu amor serei atentoAntes, e com tal zelo, e sempre, e tantoQue mesmo em face do maior encantoDele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momentoE em seu louvor hei de espalhar meu cantoE rir meu riso e derramar meu prantoAo seu pesar ou seu contentamento.
E assim, quando mais tarde me procureQuem sabe a morte, angústia de quem viveQuem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):Que não seja imortal, posto que é chamaMas que seja infinito enquanto dure.
Comentário
Vinicius é o poeta dos relacionamentos humanos.
PÁTRIA MINHA
A minha pátria é como se não fosse, é íntima
Doçura e vontade de chorar; uma criança dormindo
É minha pátria. Por isso, no exílio
Assistindo dormir meu filho
Choro de saudades de minha pátria.
Se me perguntarem o que é a minha pátria direi:
Não sei. De fato, não sei
Como, por que e quando a minha pátria
Mas sei que a minha pátria é a luz, o sal e a água
Que elaboram e liquefazem a minha mágoa
Em longas lágrimas amargas.
Vontade de beijar os olhos de minha pátria
De niná-la, de passar-lhe a mão pelos cabelos...
Vontade de mudar as cores do vestido (auriverde!) tão feias
De minha pátria, de minha pátria sem sapatos
E sem meias pátria minha
Tão pobrinha!
PÁTRIA MINHA
Porque te amo tanto, pátria minha, eu que não tenho
Pátria, eu semente que nasci do vento
Eu que não vou e não venho, eu que permaneço
Em contato com a dor do tempo, eu elemento
De ligação entre a ação o pensamento
Eu fio invisível no espaço de todo adeus
Eu, o sem Deus!
Tenho-te no entanto em mim como um gemido
De flor; tenho-te como um amor morrido
A quem se jurou; tenho-te como uma fé
Sem dogma; tenho-te em tudo em que não me sinto a jeito
Nesta sala estrangeira com lareira
E sem pé-direito.
Comentário
Vinicius de Moraesexperimentou o exíliodurante a Era Vargas ea ditadura militar. Comele, as saudades dapátria que considerava“pobrinha” pela faltade liberdade.