linguagem oral e escrita
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Linguagem oral e escrita
Referencial curricular nacional para Educação Infantil Volume 3
Universidade Estadual de Minas GeraisLuiza Souza NF lV
Introdução
O trabalho com a linguagem se constitui um dos eixos básicos na educação infantil, dada sua importância para a formação do sujeito, para a interação com as outras pessoas, na orientação das ações das crianças, na construção de muitos conhecimentos e no desenvolvimento do pensamento.
Ideias e práticas correntes● aprendizado da linguagem oral como um processo natural, prescinde-se nesse
caso de ações educativas planejadas com a intenção de favorecer essa aprendizagem.
● acredita-se que a intervenção direta do adulto é necessária e determinante para a aprendizagem da criança.
● o adulto costuma imitar a maneira de falar das crianças,havendo um uso excessivo de diminutivos e/ou uma tentativa de infantilizar o mundo real para as crianças.
● o trabalho com a linguagem oral, nas instituições de educação infantil, tem se restringido a algumas atividades que se caracterizam por um monólogo com o professor.
● A existência de pré-requisitos relativos à memória auditiva, ao ritmo, à discriminação visual etc., que devem ser desenvolvidos para possibilitar a aprendizagem da leitura e da escrita pelas crianças.
● A aprendizagem da leitura e da escrita se inicia na educação infantil por meio de um trabalho com base na cópia de vogais e consoantes, ensinadas uma de cada vez, tendo como objetivo que as crianças relacionem sons e escritas por associação, repetição e memorização de sílabas. Essa concepção considera a aprendizagem da linguagem escrita, exclusivamente, como a aquisição de um sistema de codificação que transforma unidades sonoras em unidades gráficas.
É por meio do diálogo que a comunicação acontece. São os sujeitos em interações singulares que atribuem sentidos únicos às falas. A linguagem não é homogênea: há variedades de falas, diferenças nos graus de formalidade e nas convenções do que se pode e deve falar em determinadas situações comunicativas. Quanto mais as crianças puderem falar em situações diferentes, como contar o que lhes aconteceu em casa, contar histórias, dar um recado, explicar um jogo ou pedir uma informação, mais poderão desenvolver suas capacidades comunicativas de maneira significativa.
● O processo de letramento começa antes mesmo das crianças ingressarem na instituição educativa, não esperando a permissão dos adultos para começarem a pensar sobre a escrita e seus usos. Elas começam a aprender a partir de informações provenientes de diversos tipos de intercâmbios sociais e a partir das próprias ações.
● Para aprender a ler e a escrever, a criança precisa construir um conhecimento de natureza conceitual: precisa compreender não só o que a escrita representa, mas também de que forma ela representa graficamente a linguagem. Isso significa que a alfabetização não é o desenvolvimento de capacidades relacionadas à percepção, memorização e treino de um conjunto de habilidades sensório-motoras.
Desenvolvimento da linguagem oralAs brincadeiras e interações que se estabelecem entre os bebês e os adultos incorporam as vocalizações rítmicas, revelando o papel comunicativo, expressivo e social que a fala desempenha desde cedo.
Além da linguagem falada, a comunicação acontece por meio de gestos, de sinais e da linguagem corporal, que dão significado e apóiam a linguagem oral dos bebês. A criança aprende a verbalizar por meio da apropriação da fala do outro.
A ampliação das capacidades de comunicação oral ocorre gradativamente, por meio de um processo de idas e vindas que envolve tanto a participação das crianças nas conversas cotidianas, em situações de escuta e canto de músicas, em brincadeiras etc.,
Desenvolvimento da linguagem escritaA aprendizagem da linguagem escrita está intrinsicamente associada ao contato com textos diversos, para que as crianças possam construir sua capacidade de ler, e às práticas de escrita, para que possam desenvolver a capacidade de escrever autonomamente.
As crianças elaboram uma série de ideias e hipóteses provisórias antes de compreender o sistema escrito em toda sua complexidade.
Os erros, nessa perspectiva, não são vistos como faltas ou equívocos, eles são esperados, pois se referem a um momento evolutivo no processo de aprendizagem das crianças.
Objetivos Crianças de zero a três anos
● participar de variadas situações de comunicação oral.
● interessar-se pela leitura de histórias.● familiarizar-se com a escrita e a leitura
através de livros e historias.
Crianças de quatro a seis anos
● ampliar gradativamente suas possibilidades de comunicação e expressão.
● familiarizar-se com a escrita por meio do manuseio de livros.
● escutar textos lidos, apreciando a leitura feita pelo professor.
● interessar-se por escrever palavras e textos ainda que não de forma convencional.
● reconhecer seu nome escrito, sabendo identificá-lo nas diversas situações do cotidiano;
Crianças de zero a três anos● Uso da linguagem oral para conversar, comunicar-se, relatar suas vivências e
expressar desejos, vontades, necessidades e sentimentos, nas diversas situações de interação presentes no cotidiano.
● Participação em situações de leitura.● É importante que o professor converse com bebês e crianças, ajudando-os a se
expressarem, apresentando-lhes diversas formas de comunicar o que desejam, sentem, necessitam etc. Nessas interações, é importante que o adulto utilize a sua fala de forma clara, sem infantilizações e sem imitar o jeito de a criança falar.
● Cabe ao professor, auxiliar na construção conjunta das falas das crianças para torná-las mais completas e complexas. Ouvir atentamente o que a criança diz para ter certeza de que entendeu o que ela falou.
Crianças de quatro a seis anosFalar e escutar:
● Uso da linguagem oral para conversar, brincar, comunicar e expressar desejos, necessidades, opiniões, idéias, preferências e sentimentos e relatar suas vivências nas diversas situações de interação presentes no cotidiano.
● Elaboração de perguntas e respostas de acordo com os diversos contextos de que participa.● Participação em situações que envolvem a necessidade de explicar e argumentar suas ideias
e pontos de vista.● Reconto de histórias conhecidas● Relato de experiências vividas e narração de fatos em seqüência temporal e causal.● A ampliação do universo discursivo das crianças também se dá por meio do conhecimento da
variedade de textos e de manifestações culturais que expressam modos e formas próprias de ver o mundo, de viver e pensar. Músicas, poemas, histórias, bem como diferentes situações comunicativas, constituem-se num rico material para isso. Além de propiciar a ampliação do universo cultural, o contato com a diversidade permite conhecer e aprender a respeitar o diferente.
Praticas de leitura:
● Participação em situações que as crianças leiam , ainda que não o façam de maneira convencional.
● Reconhecimento do próprio nome dentro do conjunto de nomes do grupo● Valorização da leitura como fonte de prazer e entretenimento.● A leitura de histórias é um momento em que a criança pode conhecer a forma de viver,
pensar, agir e o universo de valores, costumes e comportamentos de outras culturas situadas em outros tempos e lugares que não o seu. A partir daí ela pode estabelecer relações com a sua forma de pensar e o modo de ser do grupo social ao qual pertence.
● Ler não é decifrar palavras. A leitura é um processo em que o leitor realiza um trabalhoativo de construção do significado do texto, apoiando-se em diferentes estratégias, como seu conhecimento sobre o assunto, sobre o autor e de tudo o que sabe sobre a linguagem escrita e o gênero em questão. A leitura de histórias é uma rica fonte de aprendizagem de novos vocabulários. Um bom texto deve admitir várias interpretações, superando-se, assim, o mito de que ler é somente extrair informação da escrita.
Práticas de escrita:
● Participação em situações cotidianas nas quais se faz necessário o uso da escrita.
● Prática de escrita de próprio punho, utilizando o conhecimento de que dispõe.● O tratamento que se dá à escrita na instituição de educação infantil pode ter
como base a oralidade para ensinar a linguagem que se usa para escrever.● O conhecimento sobre a natureza e o funcionamento do sistema de escrita
precisa ser construído pelas crianças com a ajuda do professor. Para que isso aconteça é preciso que ele considere as idéias das crianças ao planejar e orientar as atividades didáticas com o objetivo de desencadear e apoiar as suas ações, estabelecendo um diálogo com elas e fazendo-as avançar nos seus conhecimentos.
Ambiente alfabetizadorAlgumas vezes, o termo “ambiente alfabetizador” tem sido confundido com a imagem de uma sala com paredes cobertas de textos expostos e, às vezes, até com etiquetas nomeando móveis e objetos, como se esta fosse uma forma eficiente de expor as crianças à escrita. É necessário considerar que expor as crianças às práticas de leitura e escrita está relacionado com a oferta de oportunidades de participação em situações nas quais a escrita e a leitura se façam necessárias, isto é, nas quais tenham uma função real de expressão e comunicação.
Os recursos didáticos e sua utilizaçãoDentre os principais recursos que precisam estar disponíveis na instituição de educação infantil estão os textos, trazidos para a sala do grupo nos seus portadores deorigem, isto é, nos livros, jornais, revistas, cartazes, cartas etc. É necessário que esses materiais sejam colocados à disposição das crianças para serem manuseados.
Esse acervo deve conter textos dos mais variados gêneros, oferecidos em seus portadores de origem: livros de contos, poesia, enciclopédias, dicionários, jornais, revistas (infantis, em quadrinhos, de palavras cruzadas), almanaques etc. Também aqueles que são produzidos pelas crianças podem compor o acervo: coletâneas de contos, de trava-línguas, de adivinhas, brincadeiras e jogos infantis, livros de narrativas, revistas, jornais etc. Se possível, é interessante ter também vários exemplares de um mesmo ivro ou gibi.
Observação, registro e avaliação formativaA avaliação deve se dar de forma sistemática e contínua ao longo de todo o processo de aprendizagem. É aconselhável que se faça um levantamento inicial para obter as informações necessárias sobre o conhecimento prévio que as crianças possuem sobre a escrita, a leitura e a linguagem oral, sobre suas diferenças individuais, sobre suas possibilidades de aprendizagem e para que, com isso, se possa planejar a prática, selecionar conteúdos e materiais, propor atividades e definir objetivos com uma melhor adequação didática.
A observação é o principal instrumento para que o professor possa avaliar o processo de construção da linguagem pelas crianças.
Os critérios de avaliação devem ser compreendidos como referências que permitem a análise do seu avanço ao longo do processo, considerando que as manifestações desse avanço não são lineares, nem idênticas entre as crianças.
“Acho que as escolas só terão realızado a sua mıssão se forem capazes de desenvolver nos alunos o prazer da leıtura. O prazer da leıtura é o pressuposto de tudo o maıs. Quem gosta de ler tem nas mãos as chaves do mundo. Mas o que vejo a acontecer é o contrárıo. São raríssımos os casos de amor à leıtura desenvolvıdo nas aulas de estudo formal da língua.”
Rubem Alves Gaıolas ou Asas – A arte do voo ou a busca da alegrıa de aprender Porto, Edições Asa, 2004