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Page 1: Levantamento de perdas em hortaliças frescas na rede varejista de Mineiros

116

economia e extensão rural

Hortic. bras., v. 27, n. 1, jan.-mar. 2009

As olerícolas constituem um impor-tante alimento para a população

devido a seus componentes nutricionaiscomo vitaminas, sais minerais,carboidratos, fibras e outras substânciasque contribuem para a saúde humana(Filgueira, 2003).

O Brasil é importante produtor dehortaliças, mas as perdas são igualmen-te altas. Estima-se que cerca de 35 a 45%destes produtos vegetais são perdidosou desperdiçados, desde a classificaçãoe seleção das olerícolas na propriedaderural até a sua utilização pelo consumi-dor final (Luengo et al., 2001; Vilela etal., 2003a; Vilela et al., 2003b).

Dentre os fatores que provocam per-das de produtos olerícolas in natura

TOFANELLI MBD; FERNANDES MS; CARRIJO NS; MARTINS FILHO OB. 2009. Levantamento de perdas em hortaliças frescas na redevarejista de Mineiros. Horticultura Brasileira 27: 116-120.

Levantamento de perdas em hortaliças frescas na rede varejista de Mineiros1

Mauro BD Tofanelli; Marilaine de S Fernandes; Núbia S Carrijo; Oscar B Martins FilhoFIMES-ICA, C. Postal 104, 75830-000 Mineiros-GO; [email protected]

destacam-se: a) as condições ambientais(altas precipitações, altas temperaturase elevadas taxas de umidade do ar) quesão favoráveis ao desenvolvimento defungos e bactérias que depreciam a qua-lidade das hortaliças no campo; b) em-balagens inadequadas, manejo, manu-seio e acondicionamento incorretos du-rante o fluxo de comercialização; c) es-trutura e instalações dos equipamentosde comercialização insuficientes; d)agrotecnologia insuficiente no campo,classificação e padronizaçãoinsatisfatórias; e) distância dos forne-cedores (Andreuccetti et al., 2005; Lanaet al., 2002; Lourenzani & Silva, 2004;Luengo et al., 2001; Luengo et al., 2003;Vilela et al. 2003a; Vilela et al., 2003b).

Silva et al. (2003) mencionaram queé de grande importância a transparêncianas relações entre os agentes da produ-ção, agroindústria, atacado, varejo econsumidor final de modo que as infor-mações sobre a participação de cada elosejam do conhecimento de todos paraevitar, por exemplo, as perdas pós-colhei-ta dos produtos agrícolas que podem re-fletir em desarticulação nestes sistemas.

Para Vilela et al. (2003b), esses estu-dos são importantes para a definição deestratégias e prioridades de um progra-ma de transferência de tecnologia pararedução de perdas, além de fornecer sub-sídios para os formuladores e os diri-gentes de políticas agrícolas e sociais,considerando que podem servir como

RESUMONo presente trabalho realizou-se um levantamento das perdas no

mercado varejista de olerícolas in natura no município de Mineiros(GO) a fim de fornecer informações que possam auxiliar em açõesespecíficas ao setor para se diminuir as perdas de hortaliças frescasno varejo local. Foram realizadas pesquisas em oito supermercados,duas quitandas e uma feira-livre, entre dezembro/05 e janeiro/06 me-diante aplicação de questionários. Foram levantados os volumescomercializados, as dez maiores perdas na semana, o principal moti-vo causador das perdas e as principais providências internas e exter-nas no equipamento de varejo considerado. Dentre as hortaliças rela-cionadas pela pesquisa, o tomate, a melancia, a cenoura, a batata e orepolho foram as olerícolas que mais contribuíram para o volume deperdas. Considerando-se o total de hortaliças comercializado, os su-permercados, quitandas e feira-livre apresentam índices de perdasdiscrepantes: 1,9; 4,2 e 21,5%, respectivamente. Conforme as infor-mações obtidas do varejo mineirense, o excesso na oferta de hortali-ças nos mercados e as condições ambientais foram os principaismotivos causadores das perdas dos produtos olerícolas, o controlede estoque é a principal estratégia a ser adotada pelo próprio estabe-lecimento para diminuir as perdas de hortaliças e a diminuição dospreços no atacado seria a principal providência externa a ser tomadapara atenuar as perdas de hortaliças.

Palavras-chave: Hortaliças, perdas, comercialização, varejo.

1Apoio: Faculdades Integradas de Mineiros/Fimes

ABSTRACTSurvey on fresh vegetables’ losses in the retail market of

Mineiros, Goiás State, Brazil

In the present work a survey was carried out to determine thefresh vegetables losses at the retail market in Mineiros County, GoiásState, Brazil, to supply information that may contribute to specificactions to improve the quality and availability of vegetables at thelocal market. The survey was carried out at retail outlets (eightsupermarkets, two grocery stores and one street market) fromDecember 2005 to January 2006. A questionnaire with questionsabout the weekly amount of losses in vegetables, the main cause ofpostharvest losses and the main internal and external strategies toreduce postharvest losses of fresh vegetables was applied in theretail shops. Tomato, watermelon, carrot, potato, and cabbage hadthe highest losses. Supermarkets, grocery stores and the street marketshowed discrepancy among loss percentages: 1.9, 4.2, and 21.5%;respectively. The main causes for losses were excess in the vegetableoffer by retail market and environmental conditions. The stock controlis the main strategy to be provided in order to decrease losses, andprices reduction by wholesale market was related to be the mainexternal providence to be taken in order to decrease vegetable losses.

Keywords: Vegetables, losses, commercialization, retail.

(Recebido para publicação em 20 de dezembro de 2007; aceito em 27 de fevereiro de 2009)(Received in December 20, 2007; accepted in February 27, 2009)

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base para orientar a formulação de tra-balhos educativos de redução de per-das entre os agentes envolvidos na pro-dução e na comercialização.

A alta perecibilidade é um dos fato-res que mais contribui para os altos índi-ces de perdas em tomate no mercado(Vilela et al., 2003a; Lourenzani & Silva,2004). Porém, há de se considerar tam-bém o efeito proporcional do alto volumecomercializado desta hortaliça, pois quan-do este foi levado em conta, observou-se que 6,2% do tomate foram perdidos, oque atenua os 47,4% citados anteriormen-te. Em outras regiões brasileiras foramrelatadas perdas em volumes bem acimados levantados neste trabalho, como emMinas Gerais, onde observou-se perdasem torno de 27, 42 e 40% para cenoura,pimentão e tomate, respectivamente (Fun-dação João Pinheiro, 1992).

Na cidade de São Paulo, constatou-se 34,4% de perdas para tomate no vare-jo (SAASP 1995; citado por Vilela et al.,2003b) e no Distrito Federal observou-se 25% de perdas para olerícolas, sendodeste porcentual; 13% para cenoura,30% para tomate e 20% para pimentão(Lana et al., 2000).

A participação da feira-livre nacomercialização de frutas e hortaliças émuito relevante porque estes equipa-mentos proporcionam conseqüênciasdiretas ao produtor mediante a valoriza-ção do seu produto (Luengo et al., 2001).A feira-livre tem como característica bá-sica a comercialização de agroalimentosproduzidos nas propriedades rurais eáreas vizinhas, ou seja, o feirante realizacompras diretas do produtor, podendoser às vezes a mesma pessoa (Silva etal., 2003).

Lana et al. (2002) desenvolveramestudo para identificar as causas dasperdas de cenoura no varejo de Brasíliae demonstraram que o aspecto do pro-duto (qualidade) é o principal motivopara as perdas e que danos mecânicos,defeitos no formato e doenças foram osprincipais responsáveis pela deprecia-ção da qualidade da cenoura. JáAndreuccetti et al. (2005), estudando acomercialização de tomate na CEAGESP,mencionaram que as perdas pós-colhei-ta desta olerícola na cadeiamercadológica deste equipamento serãodiminuídas caso seja realizada maior apli-

cação de tecnologias pós-colheita e trei-namento de pessoal. Para Lourenzani &Silva (2004), as altas perdas de hortali-ças no varejo podem ser atribuídas, nasua maioria, ao manejo e acondiciona-mento inadequados, bem como tambémà classificação e padronização dos pro-dutos insuficientes.

Mineiros possui uma população de43.961 pessoas, conforme estimativa rea-lizada para o primeiro semestre de julho/05 (IBGE, 2005) e é considerada um dosprincipais municípios de Goiás, onde aagropecuária baseada na produção degrãos e fibra (soja, milho, sorgo e algo-dão), bovinocultura (leite e carne) e avi-cultura constitui sua principal atividadeeconômica.

O objetivo do presente trabalho foirealizar levantamento de informaçõessobre perdas de hortaliças frescas, bemcomo as suas causas e soluções, con-forme os principais agentes varejistasdo município de Mineiros.

MATERIAL E MÉTODOS

O trabalho constou de pesquisa rea-lizada na cidade de Mineiros, localizadano sudoeste do Estado de Goiás às mar-gens da rodovia BR-364 a 108 km a lesteda cidade de Jataí (GO) e a 90 km a oesteda cidade de Santa Rita do Araguaia(GO) (divisa com o estado do Mato Gros-so). As capitais estaduais mais próximassão Goiânia a 420 km, e Cuiabá a 500 km.

O estudo foi realizado nos principaisequipamentos varejistas da cidade deMineiros: oito supermercados de médioa pequeno porte, duas quitandas (co-nhecidas localmente como “frutarias”)e uma feira-livre; seguindo classificaçãoproposta por Barros et al. (1978), cita-dos por Silva et al. (2003). Os supermer-cados foram classificados conformemetodologia utilizada por Fagundes &Yamanishi (2002) que adotaram a divi-são proposta pela Associação de Super-mercados de Brasília (ASBRA), que es-tabelece o porte do estabelecimento deacordo com sua área, sendo pequenos(0 a 500 m2) e médios (501 a 5.000 m2).

A metodologia utilizada foi visitaçãoin loco para aplicação oral de questio-nário constituído de perguntas elabora-das conforme as informações qualitati-vas e quantitativas a serem levantadas

e respostas objetivas e opcionais paracada questão, de forma que respondes-sem oralmente ao objetivo da pesquisanos equipamentos varejistas no perío-do compreendido entre dezembro/05 ejaneiro/06 (Fagundes & Yamanishi, 2002;Vilela et al., 2003a). A aplicação de ummodelo próprio de questionário baseou-se em entrevistas realizadas com o en-carregado do setor de FLV (Frutas, Le-gumes e Verduras), no caso dos super-mercados, com cada proprietário dasquitandas/sacolões e diretamente comos feirantes nas bancas ou barracas devenda da feira-livre, executadas pelaequipe de entrevistadores do Institutode Dados Estatísticos e de PesquisasSócio-Econômicas (INDEP) pertencen-te às Faculdades Integradas de Minei-ros mantidas pela Fundação IntegradaMunicipal de Ensino Superior (FIMES)de Mineiros (GO).

Objetivou-se com a aplicação doquestionário, obter as informações: 1)Volume das principais olerícolascomercializadas no equipamento; 2) Asdez maiores perdas semanais entre asprincipais olerícolas comercializadas noequipamento; 3) O principal motivo cau-sador das perdas de olerícolas, e 4) Asprincipais providências que poderiamser tomadas para diminuir as perdas dehortaliças conforme o equipamento va-rejista, sendo consideradas “micro”aquelas ações ou atitudes internas oude responsabilidade do próprio varejis-ta e que poderiam ser providenciadasno seu equipamento e “macro” aquelasexternas ou de responsabilidade indire-ta do varejista.

Os resultados obtidos com as pes-quisas in loco foram tabulados calcu-lando-se as médias aritméticas eporcentuais e organizados em planilhasprocessadas pelo INDEP/FIMES.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A comercialização de hortaliças nascidades brasileiras interioranas écomumente pouco organizada edeficiente de informações, além de serreflexo do fluxo das grandes centrais deabastecimento pela dependência no for-necimento. Não é comum encontrar naliteratura científica dados sobre o comér-cio e perdas de hortaliças no varejo das

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cidades interioranas. Os estudos exis-tentes estão quase sempre restritos àscentrais de abastecimentos, o que nãofornece dados específicos do contextomercadológico dos distintos municípiosbrasileiros. A falta de informação sobreo complexo de comercialização de hor-taliças frescas no varejo da cidade deMineiros é realidade, pois não se temdesenvolvido estudo mercadológicoque aborde esse assunto.

O município de Mineiros, por ser ain-da pouco populoso, não comercializa umgrande volume de hortaliças. Este fatofacilita toda a logística de mercado, con-tribuindo para que se tenha bom con-trole das perdas de olerícolas frescas novarejo local, e também ajuda no estabe-lecimento de ações para a redução deperdas de hortaliças. Ações como abas-tecimento oriundo praticamente de ummesmo fornecedor e apenas duas vezespor semana, menor diversificação deprodutos olerícolas e outras caracterís-ticas típicas de pequenos mercados con-tribuem para assegurar o baixo índice deperdas na rede varejista mineirense.

Observando-se as olerícolas queobtiveram as maiores perdas, o tomatefoi a que apresentou o maior volume no

varejo (47,4%), seguido da melancia(14,5%), cenoura (10,6%), batata (9,9%)e repolho (8,4%) (Tabela 1). O fato dotomate apresentar alto índice deperecibilidade e alto volumecomercializado foi determinante para queesta hortaliça ocupasse a posição demaior perda entre as olerícolas envolvi-das na pesquisa. Isso pode explicar tam-bém as perdas das outras olerícolas men-cionadas anteriormente, com exceção damelancia que, normalmente, apresentamaior conservação pós-colheita, estan-do sua perda neste caso relacionada como baixo poder de comercialização da fei-ra-livre de Mineiros, já que a perda demelancia ocorreu apenas neste tipo devarejo.

Para os equipamentos isoladamen-te, observou-se que as quitandas sãoas principais responsáveis pelo volumede perdas de hortaliças frescas (45,5%)(Tabela 1), fato este que pode ser expli-cado pelo alto índice de perdas obtidopara o tomate nestes equipamentos, jáque nenhuma das duas quitandas visi-tadas dispunha de câmaras refrigeradas.Os supermercados, apesar do alto volu-me comercializado, obtiveram reduçãono volume de perdas (39,3%) (Tabela 1),

provavelmente, em conseqüência daestruturação encontrada nestes equipa-mentos varejistas como, por exemplo, apresença de câmara refrigerada paraarmazenamento e prateleira refrigerada.Já a feira-livre apresentou menor partici-pação no volume de perdas (15,2%),devido o menor volume de hortaliçasfrescas comercializado por este equipa-mento varejista.

As hortaliças que obtiveram as maio-res perdas nos supermercados (PR) fo-ram o tomate (36,5%), a batata (16,0%), acenoura (15,3%) e o repolho (10,3%) (Ta-bela 1). Os produtos que obtiveram asmaiores perdas também foram os queobtiveram os maiores volumescomercializados nos supermercados,com exceção da melancia (Tabela 1). Noentanto, a venda em maior volume nãopode ser considerada fator isolado dasperdas, já que analisando-se as porcen-tagens de perdas em relação ao volumecomercializado de cada hortaliça (PPV),não observou-se relação forte entre asduas características pesquisadas (PPVe PR), pois as hortaliças que obtiveramas maiores porcentagens de perdas emrelação ao seu volume comercializadoforam a abobrinha (18,0%), a cenoura

Tabela 1. Perdas semanais de hortaliças frescas comercializadas em Mineiros-GO (weekly fresh vegetables’ losses commercialized inMineiros-GO, Brazil). ICA/Fimes, Mineiros-GO, 2006.

HortaliçaSupermercados Quitandas/Sacolões Feira-livre Total

PE(kg)

PR(%)

VC(kg)

PPV(%)

PE(kg)

PR(%)

VC(kg)

PPV(%)

PE(kg)

PR(%)

VC(kg)

PPV(%)

VPG(kg)

PR(%)

VC(kg)

PPV(%)

Tomate 148,1 36,5 4.774 3,1 340 72,3 3.000 11,3 2 1,3 80 2,5 490,1 47,4 7.854 6,2

Melancia 2.400 3.600 150 95,5 600 25 150 14,5 6.600 2,3

Cenoura 62 15,3 1.538 4 48 10,1 940 5,1 110 10,6 2.478 4,4

Batata 65 16 3.524 1,8 37,5 8 750 5 102,5 9,9 4.274 2,4

Repolho 41,6 10,3 1.740 2,4 45 9,6 1.250 3,6 86,6 8,4 2.990 2,9

Beterraba 22,8 5,6 700 3,3 240 22,8 2,2 940 2,4

Abobrinha 18 4,4 100 18 400 4 2,6 40 10 22 2,1 540 4,1

Cebola 18 4,4 4.472 0,4 400 1 0,6 10 10 19 1,8 4.882 0,4

Pepino 18 4,4 760 2,4 620 18 1,7 1.380 1,3

Abóbora 12 3 1.640 0,7 12 1,2 1.640 0,7

TOTAL 405,5 100 21.648 470,5 100 11.200 157 100 730 1.033 100 33.578

PPVT % 1,9 4,2 21,5 3,1

PPVTG % 39,3 45,5 15,2 100

PE= Volume de perdas semanais da hortaliça no equipamento em kg; PR= Perda relativa; VC= Volume comercializado da hortaliça semanal-mente; PPV= Porcentagem de perdas em relação ao VC da hortaliça (PPV=PEx100/VC); VPG= Volume de perdas total geral; PPVT=Porcentagem de perdas em relação ao volume total do equipamento (PPVT=Vptotalx100/Vctotal); PPEVTP= Participação das perdas doequipamento em relação ao volume total de perdas (PPVTG=PEx100/VPG).PE= Volume de perdas semanais da hortaliça no equipamento em kg; PR= Perda relativa; VC= Volume comercializado da hortaliça semanal-mente; PPV= Porcentagem de perdas em relação ao VC da hortaliça (PPV=PEx100/VC); VPG= Volume de perdas total geral; PPVT=Porcentagem de perdas em relação ao volume total do equipamento (PPVT=Vptotalx100/Vctotal); PPEVTP= Participação das perdas doequipamento em relação ao volume total de perdas (PPVTG=PEx100/VPG).

MBD Tofanelli et al.

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(4,0%), a beterraba (3,3%) e o tomate(3,1%), não se repetindo nem a ordemnem as hortaliças entre PPV e PR. Outroaspecto relevante aos supermercados eque pode ser considerado como caráterexplicativo para o fato destes terem ob-tido o mais baixo índice de perdas, é queeste tipo de equipamento varejista temsido cada vez mais procurado pelos con-sumidores para compra de produtoshortifrutigranjeiros (Lourenzani & Silva,2004), tornando o fluxo de prateleira maiseficiente.

As quitandas e a feira-livre apresen-taram perdas em apenas algumas horta-liças: tomate (11,3%), cenoura (5,1%),repolho (3,6%) e batata (5,0%) nas qui-tandas; tomate (2,5%), melancia (25,0%),abobrinha (10,0%) e cebola (10,0%) nafeira-livre (Tabela 1). Se comparado coma média brasileira para perdas pós-co-lheita dos produtos olerícolas em todacadeia, que gira em torno 27 a 40% (Gon-çalves 2005; Vilela et al., 2003b), pode-se considerar que a participação da redevarejista de Mineiros nas perdas de hor-

taliças frescas não é tão expressiva, poisapenas 3,1% destes vegetais são perdi-dos pelo varejo (Tabela 1).

Considerando apenas o volume deperdas de hortaliças em relação ao volu-me comercializado pelo equipamento, ossupermercados demonstram que estãose especializando como canal de distri-buição destes produtos diretos ao con-sumidor final, pois apresentaram apenas1,9% de perdas. Neste tocante, as qui-tandas obtiveram 4,2% e a feira-livreapresentou perdas de 21,5%. Estes re-sultados, possivelmente, são reflexos dopreparo deficiente da feira-livre de Mi-neiros para a comercialização de hortali-ças frescas e revela que este tipo de va-rejo precisa receber maior atenção, poisalém de possuir tímida participação nacomercialização de olerícolas, apresen-ta excessivo índice de perdas destesprodutos.

A feira-livre tem um importante pa-pel na distribuição de frutas e hortali-ças, pois, normalmente, são oferecidosprodutos que vêm diretamente do cam-

po, muitas vezes comercializados pelopróprio produtor, o que possibilita opor-tunidade ao meio rural, bem como maioragregação de valor no produto.

Conforme os varejistas de Mineiros,as principais causas para as perdas deolerícolas frescas nos equipamentos sãoas condições ambientais (21,3%); o ex-cesso na quantidade da oferta (21,3%);o armazenamento inadequado (14,3%);e a padronização e classificaçãoineficientes (14,3%) (Tabela 2).

Os supermercados indicaram estesmesmos itens como os principais cau-sadores das perdas (12,5; 25; 25 e 25%,respectivamente), porém citaram tambéma baixa qualidade das hortaliças (12,5%).

Nas quitandas, apenas o excesso deoferta (50%) e a manipulação excessivado consumidor (50%) foram citadoscomo promotores de perdas. Já na feira-livre, o excesso de oferta (25%), as con-dições ambientais (25%), a falta de as-sistência técnica (25%) e as más condi-ções de transporte proporcionadas peloestado das rodovias e estradas rurais

Tabela 2. Motivos causadores e providências para diminuir as perdas de hortaliças em Mineiros, conforme indicado pela rede varejista local(causes and strategies to reduce vegetables losses in Mineiros). ICA/Fimes, Mineiros-GO, 2006.

Parâmetros% Relativa % Média

geral¹Supermercados Quitandas Feira-livre

Motivo

Excesso de quantidade de oferta 12,5 50 25 21,3

Condições ambientais 25 0 25 21,3

Armazenamento inadequado 25 0 0 14,3

Padronização e classificação ineficientes 25 0 0 14,3

Baixa qualidade das hortaliças 12,5 0 0 7,2

Falta de assistência técnica 0 0 25 7,2

Más condições de transporte 0 0 25 7,2

Manipulação excessiva do consumidor 0 50 0 7,2

Providência (interna)

Controle de estoque 25 50 0 27,2

Compra de hortaliças mais frescas 25 0 0 18,2

Compra de hortaliças regionais 25 0 0 18,2

Diminuição dos preços no varejo 12,5 0 0 9,1

Cuidados na manipulação durante transporte 12,5 0 0 9,1

Manipulação excessiva do consumidor 0 50 0 9,1

Melhorar estrutura do estabelecimento 0 0 100 9,1

Providência (externa)

Diminuição dos preços no atacado 37,5 0 0 33,3

Fornecedores atacadistas mais próximos 25 0 0 22,3

Educação do consumidor final 12,5 0 0 11,1

Melhora da qualidade das hortaliças 12,5 0 0 11,1

Melhora das embalagens 0 100 0 11,1

Incentivar a olericultura local 12,5 0 0 11,11Porcentagem média geral considerando a freqüência relativa de cada equipamento entrevistado.

Levantamento de perdas em hortaliças frescas na rede varejista de Mineiros

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(25%) foram mencionados como princi-pais motivos causadores das perdas deolerícolas (Tabela 2). Estes resultadosrevelam a necessidade de se estruturaros mercados varejistas para promover adiminuição das indesejáveis perdas.Ações como evitar as compras excessi-vas, prevenção contra os efeitos dascondições ambientais impróprias,estruturação das condições dearmazenamento (instalação de sistemasde refrigeração), melhorar a classifica-ção e padronização dos produtos e in-vestir em agrotecnologia para melhorara qualidade dos produtos e reformas namalha rodoviária são passíveis de reali-zação para combater as perdas de horta-liças que ocorrem nos mercados varejis-tas de Mineiros. Tais ações proporcio-nariam melhor articulação nos mercadose, além de combater a perda de alimen-tos, poderiam provocar queda na rela-ção volume perdido/comercializado oque poderia refletir na diminuição dospreços ao consumidor final, sem, porém,diminuir a lucratividade do varejo.

Para 27,2% da rede varejistamineirense, o controle de estoque é a prin-cipal providência a ser tomada pelo vare-jo local para atenuar as perdas de produ-tos olerícolas (Tabela 2). O varejo aindadestacou a compra de hortaliças mais fres-cas (18,2%) e regionais (18,2%) (Tabela2) como ações que poderiam combater asperdas. Fato interessante foi reveladoquando, apesar do item “processamentode hortaliças” ter constituído o questio-nário, este não foi mencionado como op-ção para o combate das perdas observa-das nos mercados varejistas de Mineiros(Tabela 2). Isso pode ser encarado comoindício de insuficiência tecnológica deaproveitamento pós-colheita dos alimen-tos, pois, ou os mercados não são infor-mados das possibilidades deprocessamento (aproveitamento) dosprodutos olerícolas para evitar as perdasou estes têm receio em realizar investi-mentos nesse sentido. Junqueira &Luengo (2000) consideraram que oprocessamento de hortaliças promoveredução praticamente total das perdas.

Os resultados obtidos pelo presentetrabalho ainda revelaram que os varejis-tas mineirenses consideraram importan-te investir na educação do consumidorfinal, na melhoria da qualidade das hor-

MBD Tofanelli et al.

taliças, na melhoria das embalagens ena olericultura local (11,1% para cadaitem) (Tabela 2).

Dentre as macro-providências cita-das como prioridades pelos mercados adiminuição dos preços nos atacados e adisponibilização de fornecedores (ata-cados) mais próximos foram as mais re-quisitadas (33,3 e 22,3%; respectivamen-te) (Tabela 2).

Entretanto, isso não justifica a ocor-rência das excessivas perdas, muito me-nos inviabiliza as ações e atitudes ne-cessárias para o combate das perdas nosmercados. Neste tocante, as informaçõesproduzidas neste trabalho poderão ser-vir de subsídio à elaboração e implanta-ção de programas de combate às perdasde hortaliças frescas no mercado deMineiros, com aplicação também emoutras regiões brasileiras.

Constatou-se no presente trabalhoque, no municícipio de Mineiros, o merca-do de hortaliças frescas apresenta índicesde perdas abaixo da média nacional, sen-do as quitandas os principais mercadosresponsáveis pelas perdas. Os supermer-cados, proporcionalmente, são poucoparticipativos no volume de hortaliças fres-cas perdido semanalmente, o que pode serutilizado como característica para denotá-los como mercados especializados no co-mércio de olerícolas. Já a a feira-livre, ape-sar de pouco expressiva no comércio dehortaliças, apresenta excessivo volume deperdas, o que revela a necessidade deestruturação deste agente decomercialização. Conforme o varejo deMineiros, para combater as perdas nasbancas dos equipamentos varejistas é pre-ciso evitar o excesso na oferta mediante ocontrole de estoque, priorizar a qualidadedas hortaliças, melhorar a verticalização earticulação mercadológica, disponibilizarfornecedores menos distantes, educar econcientizar o consumidor final, melhorara classificação, padronização eembalamento, bem como o manejo, acon-dicionamento e armazenamento dos pro-dutos olerícolas.

REFERÊNCIAS

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