letramentos, multiletramentos, novos letramentos e

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Letramentos, Multiletramentos, Novos Letramentos e Alfabetização. Dimensões, aplicações e métodos. Docente: Prof. Dr. Paulo Roberto Gonçalves-Segundo paulosegundo@usp .br Estagiário: Cláudia Castanheira Cardoso (Mestrado) claudia [email protected] Monitor: Rodrigo Possert C. Pacheco (Graduação) rodrigo [email protected] FLC0115 – Introdução ao Estudo da Língua Portuguesa II

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Page 1: Letramentos, Multiletramentos, Novos Letramentos e

Letramentos, Multiletramentos, NovosLetramentos e Alfabetização.Dimensões, aplicações e métodos.

Docente: Prof. Dr. Paulo Roberto Gonç[email protected]

Estagiário: Cláudia Castanheira Cardoso (Mestrado)[email protected]

Monitor: Rodrigo Possert C. Pacheco (Graduação)[email protected]

FLC0115 – Introdução ao Estudo da Língua Portuguesa II

Page 2: Letramentos, Multiletramentos, Novos Letramentos e

“Parece que todos estão de acordo com a proposição de que oobjetivo maior e prioritário do ensino de Língua Portuguesa, comolíngua materna, no Ensino Médio e Fundamental, é a formação deusuários competentes da língua, capazes de, em situaçõesespecíficas de interação comunicativa, produzir textos (orais e/ouescritos) que sejam adequados à produção de determinados efeitosde sentido para a consecução de dada intenção/objetivo específicode comunicação; e, ao mesmo tempo, capazes de compreender ostextos (orais e/ou escritos) que recebem, estabelecendo/percebendosentido(s) adequado(s) à forma como cada texto se apresentaconstruído, ao contexto sócio-histórico-ideológico e à situaçãoimediata de comunicação em que ele está sendo utilizado como meioou instrumento para a comunicação. Isso significa trabalhar com acompetência comunicativa do falante” (TRAVAGLIA, 2002, p. 156).

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Luiz Carlos Travaglia

Page 3: Letramentos, Multiletramentos, Novos Letramentos e

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IBGE

Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua 2016

Gráficos produzidos por O GLOBO

Page 4: Letramentos, Multiletramentos, Novos Letramentos e

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Censo de 1940: alfabetizado era aquele que declarasse saber lere escrever, o que significava, à época, saber escrever o próprionome.

Censo de 1950: alfabetizado era aquele capaz de ler e escreverum bilhete simples.

Momento atual: critério de anos de alfabetização – alfabetizaçãofuncional. O alfabetizado funcional sabe fazer uso da leitura e daescrita em um conjunto de práticas discursivas diversas. Oanalfabeto funcional torna-se aquele com menos de quatro anosde escolarização.

Extensão da noção de alfabetização para a de letramento com“pitadas” de escolarização.

Alfabetização e Letramento

Page 5: Letramentos, Multiletramentos, Novos Letramentos e

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Um problema brasileiro:

» A Licenciatura* em Letras prepara professores para os Anos

Finais do Ensino Fundamental e para o Ensino Médio:

⋄ foco no letramento e nos Estudos Linguísticos e

Literários;

⋄ quase não se estudam os processos de alfabetização e

as teorias de aprendizagem e de desenvolvimento.

» A Pedagogia prepara professores para a Educação Infantil e

para Anos Iniciais do Ensino Fundamental:

⋄ foco na alfabetização, nas teorias de aprendizagem e de

desenvolvimento, e relativa ênfase no letramento;

⋄ quase não se estudam Linguística ou Literatura.

Alfabetização e Letramento:um problema brasileiro

Page 6: Letramentos, Multiletramentos, Novos Letramentos e

A alternativa parece ser apostar emuma formação interdisciplinar.

Obstáculos:» Acadêmicos

» Trabalhistas (Normativos)

» Políticos

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Alfabetização e Letramento:um problema brasileiro

Page 7: Letramentos, Multiletramentos, Novos Letramentos e

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Gee (2015, p. 13)

“[...] o estudo do letramento é sobrecomo a fala e a escrita [as práticasorais e escritas] são socialmentedistribuídas como elementosfundantes da nossa vida social edas instituições”.

Sobre Letramento

James Paul GeeSoares (2004, p. 15)“imersão [...] na cultura escrita,participação em experiênciasvariadas com a leitura e a escrita,conhecimento e interação comdiferentes tipos e gêneros dematerial escrito”

Magda Soares

Page 8: Letramentos, Multiletramentos, Novos Letramentos e

8“Nos países desenvolvidos, ou do Primeiro Mundo, as práticassociais de leitura e de escrita assumem a natureza de problemarelevante no contexto da constatação de que a população, emboraalfabetizada, não dominava as habilidades de leitura e de escritanecessárias para uma participação efetiva e competente naspráticas sociais e profissionais que envolvem a língua escrita.Assim, na França e nos Estados Unidos, [...] os problemas deilletrisme e literacy/illiteracy surgem [na década de 1980] de formaindependente da questão da aprendizagem básica da escrita”(SOARES, 2004, p. 06, colchetes meus).

“No Brasil, porém, o movimento se deu, de certa forma, em direçãocontrária: o despertar da importância e necessidade dehabilidades para o uso competente da leitura e da escrita tem suaorigem vinculada à aprendizagem inicial da escrita,desenvolvendo-se basicamente a partir de um questionamento doconceito de alfabetização” (SOARES, 2004, p. 07).

Magda Soares

Page 9: Letramentos, Multiletramentos, Novos Letramentos e

9Para discussão

“Lenços dos namorados” – bordadeiras de Vila Verde.

Região do Minho (Portugal).

Via Xoán Longares (UFF)

Page 10: Letramentos, Multiletramentos, Novos Letramentos e

10Para discussão

Page 11: Letramentos, Multiletramentos, Novos Letramentos e

11Para discussãoSou fio das mata, cantô da mão grossa,Trabáio na roça, de inverno e de estio.A minha chupana é tapada de barro,Só fumo cigarro de páia de mío.

Sou poeta das brenha, não faço o papéDe argum menestré, ou errante cantôQue veve vagando, com sua viola,Cantando, pachola, à percura de amô.

Não tenho sabença, pois nunca estudei,Apenas eu sei o meu nome assiná.Meu pai, coitadinho! vivia sem cobre,E o fio do pobre não pode estudá.

Meu verso rastêro, singelo e sem graça,Não entra na praça, no rico salão,Meu verso só entra no campo e na roçaNas pobre paioça, da serra ao sertão.

Só canto o buliço da vida apertada,Da lida pesada, das roça e dos eito.E às vez, recordando a feliz mocidade,Canto uma sodade que mora em meu peito.

Eu canto o cabôco com suas caçada,Nas noite assombrada que tudo apavora,Por dentro da mata, com tanta corageTopando as visage chamada caipora.

Eu canto o vaquêro vestido de côro,Brigando com o tôro no mato fechado,Que pega na ponta do brabo novio,Ganhando lugio do dono do gado.

Eu canto o mendigo de sujo farrapo,Coberto de trapo e mochila na mão,Que chora pedindo o socorro dos home,E tomba de fome, sem casa e sem pão.

E assim, sem cobiça dos cofre luzente,Eu vivo contente e feliz com a sorte,Morando no campo, sem vê a cidade,Cantando as verdade das coisa do Norte.

https://youtu.be/AAR4tPN17cE

Page 12: Letramentos, Multiletramentos, Novos Letramentos e

Sobre letramento: diferentes perspectivas12

Brian Street

Modelo Autônomo de Letramento

Preconiza que o letramento ou aescolarização tem efeitoscognitivos positivosindependentemente do contextoem que tais práticas sãoimplementadas.

Street (1984) considera issofalso, denunciando tratar-se deum enviesamento ideológico queprivilegia uma formação social emdetrimento de outras, como se elafosse universal ou natural.

Modelo ideológico de Letramento

O letramento deve ser entendido emtermos de práticas sociaisconcretas. Seu estudo – assimcomo as propostas pedagógicas aele associadas – deve considerarsua ancoragem ideológica e, porconseguinte, fatores culturais,políticos, econômicos e sociais.

Uma sociedade mais letrada nãosignifica uma sociedade maisigualitária ou democrática.

Isso depende das formas decontrole sobre os diferentes tiposde letramento para os grupossociais e dos valores a elesassociados.

Page 13: Letramentos, Multiletramentos, Novos Letramentos e

Sobre letramento: diferentes perspectivas13

Paulo Freire

FREIRE, Ana Maria Araújo (2015, p. 297)

“O diálogo freireano é, portanto, o que se propõe a abrir aspossibilidades de entender que só lemos um texto se formoslendo o contexto de quem o escreveu, relacionando-o com onosso, o contexto de quem está lendo o texto. Fora dessa relaçãodialética vivencial, texto-contexto-diálogo, não pode haver acompreensão precisa, clara, verdadeira, nem das palavraspronunciadas ou escritas, nem do contexto do mundo que aspalavras estão a se referir. Falta a dobradiça, a ligadura, a “alma”que produz tal compreensão; o diálogo prenhe de curiosidade, dedúvidas, de hipóteses, sem determinismos, sem arrogância, sema prioris. Por isso, só o diálogo, como Paulo o concebeu, nos levaa ler o texto com relação ao contexto, e, em última instância, aocaminho da possibilidade da libertação”.

Ana Maria Freire

Page 14: Letramentos, Multiletramentos, Novos Letramentos e

Sobre letramento: diferentes perspectivas14

Ron Scollon

Scollon & Scollon (1981)

A aprendizagem de novas formas de letramento sãoprocessos de aquisição de novas identidades, que interagemcom nossas velhas identidades. É necessário estarmosconscientes e sensíveis sobre isso, desenvolvendo nossametacognição.

Suzy Wong Scollon

Page 15: Letramentos, Multiletramentos, Novos Letramentos e

Sobre letramento: diferentes perspectivas15

James Paul Gee

Letramento e Discurso

Para Gee (2016), o letramentoestá associado à aprendizagem,ancorada em experiênciasconcretas, de Discursos (com Dmaiúsculo).

“Experiências dão significado àlinguagem, mas a linguagem nosdiz como se deve recortar(regimentar) a experiência” (Gee,2015, p. 80).

A noção de Discurso (‘D’)

“Discursos são modos de usarlinguagem, agir, interagir, valorar,vestir-se, pensar, crer e sentir [...],bem como modos de interagir comvários objetos, ferramentas,artefatos e tecnologias, emdeterminados tipos de espaço e emdeterminados tipos de tempo, deforma a busca ser reconhecidocomo tendo uma identidade socialespecífica pertinente” (Gee, 2015, p.93).

Page 16: Letramentos, Multiletramentos, Novos Letramentos e

Sobre letramento: diferentes perspectivas16

Multiletramentos

Rojo (2017), com base em Cope & Kalantzis (2006[2000]), afirma que apedagogia por multiletramentos consiste em um pedagogia por design,sustentada na premissa de que o/a estudante precisa se apropriar dosdesigns digitais disponíveis para (re)construir sentido nas diversaspráticas sociodiscursivas.

A apropriação envolve fazer do/a estudante:

Um/a usuário/a funcional das plataformas digitais, isto é, que ele/a tenhacompetência técnica e conhecimento prático para operar nesses meios;

Um/a criador/a de sentidos, ou seja, que ele/a entenda como as diferentestecnologias funcionam, especialmente em termos dos seus recursossemióticos;

Um/a agente transformador/a das práticas, capaz de usar o que foiaprendido de novos modos, inclusive para promover resistência;

Um/a analista crítico/a, capaz de refletir sobre o que foi produzido,levantando hipóteses sobre possíveis motivações e efeitos, e de proporalternativas.

Roxane Rojo