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SUPLEMENTO INTEGRANTE DA REVISTA UNIVERSO VISUAL EDIÇÃO 104 - FEVEREIRO/MARÇO 2018 LENTES DE CONTATO E FUNÇÃO VISUAL

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SUPLEMENTO INTEGRANTE DA REVISTA UNIVERSO VISUAL EDIÇÃO 104 - FEVEREIRO/MARÇO 2018

LENTES DE CONTATO E FUNÇÃO VISUAL

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LENTES DE CONTATO E FUNÇÃO VISUAL

SUPLEMENTO É PARTE INTEGRANTE DA REVISTA UNIVERSO VISUAL, EDIÇÃO 104 - FEVEREIRO/MARÇO 2018

SUMÁRIO

N este suplemento especial da revista Universo Visual (edição 104) discor-remos, mais uma vez, sobre o tema “Lentes de Contato e Função Visual”,

abordando novos tópicos que fazem parte da roti-na dos profissionais que atuam nesta área da Of-talmologia, sempre com o objetivo de trazer infor-mações atualizadas e pertinentes, contando para isso com a participação de diversos e renomados especialistas. Nosso intuito também é prestar uma homenagem ao queridíssimo professor Cleber Godinho, um mestre da contatologia brasileira, que nos deixou no início de janeiro deste ano. O editor clínico deste suplemento é o oftalmologis-ta Marcelo Sobrinho, chefe do Departamento de Oftalmologia da PUC Campinas, chefe do Setor de Lentes de Contato da PUC Campinas e médico do setor de Lentes de Contato da Unifesp – Escola Paulista de Medicina.

Esperamos que apreciem o resultado desta publicação.

Boa leitura!

Flavio BitelmanPublisher – [email protected]

Apresentação

Expediente

Publisher e editor Flavio Mendes Bitelman Editora exe-cutiva Marina Almeida Repórter Flavia Lo Bello Diretora de arte Ana Luiza Vilela Gerente comercial Jéssica Borges Gerente administrativa Juliana Vasconcelos Impressão Ipsis Gráfica e Editora S.A Circulação Este suplemento é parte integrante da Revista Universo edição 104. Nenhuma parte desta edição (texto ou imagens) pode ser utilizada ou repro-duzida sem autorização prévia e por escrito da Jobson Brasil.Jobson Brasil Rua Cônego Eugênio Leite, 920 - São Paulo/SP – 05414-001 Tel. 11 3061-9025 [email protected] www.universovisual.com.br

06 Perspectivas e desafios da nova gestão da SOBLEC

08 Luta contra a optometria não médica: onde estamos?

10 Atualização em lentes de contato gelatinosas para astigmatismo

12 Controle da progressão da miopia com fármacos

13 Controle da progressão da miopia: óculos e lentes de contato (regulares e especiais)

18 Destaques do ECLSO 2017

20 Acuidade visual: além do 20/20 existe um lugar?

22 Olho seco e lentes de contato: casamento possível?

26 Estamos diante de um novo tipo de miopia?

30 Lentes de contato e fisiologia ocular: quebrando paradigmas

35 Homenagem: A morte ou a curva da estrada de Cleber Godinho

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colegas,

MARCELO SOBRINHO

F oi com imensa satisfação que aceitei o convite da Universo Visual para ser novamente o editor do suplemento especial de “Lentes de Contato e Função Visual”.

No início de 2017, já tínhamos conseguido reunir um “Dream Team”, e a publicação foi extremamente bem recebida pelos colegas. Essa enorme receptividade nos proporcionou a oportunidade de reunir um “Dream Team 2”, com onze colegas de enorme experiência no assunto.

Dessa vez, temos a honra de contar com as palavras dos recém-empossados presidentes do CBO, José Augusto Alves Ottaiano, e da SOBLEC, Ramon Coral Ghanem, que trazem importantes informações sobre a luta contra a Optometria não-médica, e sobre os outros desafios das gestões que se iniciam.

Segue o jogo, e brilha em campo o escrete da Oftal-mologia Canarinho, encantando os colegas em todas as posições e assuntos.

Infelizmente, nem tudo são flores.Nosso desfile de craques sofreu um desfalque irrepa-

rável no segundo dia de 2018, quando Cleber Godinho, Presidente da SOBLEC 2015-2017, nos deixou. Professor, amigo, pai, irmão, conselheiro, psicólogo de gerações de oftalmologistas brasileiros, Cleber deixa um vazio enorme (e precoce) nos nossos corações e nas salas de aula.

Mineiro como ele, Drummond cunhou uma frase per-feita para Cleber: “Ser feliz sem motivo é a mais autêntica forma de felicidade”.

Esse era Cleber:

Feliz sem motivo.Feliz sem hora.Feliz até com fome.Feliz sem limites.Feliz para fazer felizes quem com ele convivia. Impossível esquecer sua alegria contagiante, seu sorriso,

e suas (nem sempre “cristãs..) anedotas... Para homenageá-lo, temos um texto de um amigo e só-

cio de décadas, Elizabeto Ribeiro Gonçalves, um dos of-talmologistas mais cultos do Brasil, e dono de alguns dos escritos mais brilhantes que já li.

Gostaria mais uma vez de agradecer pela oportunidade, e usar uma das despedidas preferidas pelo nosso “Clebin”:

“Benção Irlandesa”Que o caminho seja brando a seus pés, o vento sopre leve em seus ombros.Que o sol brilhe cálido sobre tua face,As chuvas caiam serenas em teus campos.E até que eu de novo te veja,Deus te guarde na palma de sua mão.

Boa leitura!

Marcelo SobrinhoChefe do Departamento de Oftalmologia da

PUC Campinhas; Chefe do Setor de Lentes de Contato da PUC Campinas; Médico do Setor de Lentes de Contato

da Unifesp – Escola Paulista de Medicina

Caros

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D esde que assumiu a presidência da SOBLEC no início deste ano, Ramon Coral Ghanem, oftalmologista do Hospital de Olhos Sadalla Amin Ghanem (Joinville – SC), diz que não

medirá esforços para cumprir o papel da SOBLEC na Oftalmologia Brasileira, que é o de gerar conhecimentos para a prática da boa oftalmologia e para a recuperação da saúde ocular.

“Vivemos em um mundo onde o futuro se encontra com o presente todos os dias. Para isto, visão é primor-dial”, destaca. Para ele, a SOBLEC traz benefícios não

somente para os pacientes, mas para os oftalmologistas que, ao treinarem e compartilharem expertises, geram conhecimentos para conduzir desde problemas refracio-nais e dificuldades na adaptação de lentes de contato até patologias mais graves como córneas irregulares e doenças da superfície ocular.

“Praticamos o dueto de alicerce histórico com van-guarda. Gerar relevância do ouvir e agir permite aos nossos colegas agregarem valor em sua vida profissio-nal, bem como reconhecimento de pacientes”, continua o médico, ressaltando que um de seus maiores desafios à

nova gestãoda SOBLEC

Perspectivas e desafios da

RAMON CORAL GHANEMPresidente da SOBLEC (Sociedade Brasileira de Lentes de Contato, Córnea e Refratometria)

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frente da SOBLEC é coordenar o grande número de pes-soas envolvidas na Sociedade, e que há muitos anos vem se dedicando a ela de forma eficiente. “Sem dúvida, esse é um grande desafio e queremos continuar trabalhando para que a SOBLEC seja cada vez mais representativa, principalmente na área de córnea, que eu considero a principal missão desta gestão, isto é, queremos aumentar a representatividade da Sociedade no campo da córnea, uma vez que, oficialmente, somos a entidade ligada ao CBO que representa esta especialidade”, afirma.

Ghanem revela que um dos esforços para aumentar essa representatividade será através de eventos presen-ciais, tanto em congressos regionais como também com a realização do Congresso Brasileiro de Córnea, que está programado para os dias 5 e 6 do mês de outubro no Gol-den Tulip Paulista (São Paulo, SP). “Este será o primeiro Congresso Brasileiro de Córnea da SOBLEC”, comenta. Além disso, o oftalmologista diz que pretende também investir em atividades de educação a distância, dando continuidade ao que se vem fazendo na última década. “Queremos dar continuidade ao trabalho das adminis-trações anteriores; dessa forma, além de ampliarmos os programas de educação continuada, iremos realizar cursos sob demanda, no qual o indivíduo poderá assistir aulas sequenciais, contemplando alguns temas de cór-nea, lentes de contato e refração, desde o conhecimento básico até o avançado”, esclarece.

Perspectivas positivasPara o especialista, será uma honra dar continuidade

à gestão anterior, administrada pelo professor Cleber Godinho. “Conhecia o Cleber há cerca de 20 anos e ele sempre foi uma pessoa muito afetiva e carinhosa, e como profissional sempre deu uma contribuição muito gran-de para a Oftalmologia Brasileira, sobretudo na área de

lentes de contato”, enfatiza o médico. Ele conta que os dois sempre estiveram juntos em diversos eventos da SOBLEC no passado e fica feliz em poder seguir com o trabalho dele.

“Certamente ele deixará saudades, mas fico feliz de saber que ele cumpriu a sua missão em todos os aspectos da sua vida, seja no âmbito pessoal e também profissio-nal”, analisa.

Ele salienta, ainda, que tem intenção de trabalhar para levar a SOBLEC mais próxima do público leigo. “Para isso, estamos programando também algumas atividades, dentre as quais intensificar o programa ‘O oftalmologista responde’, na qual dois oftalmologistas interagem respon-dendo perguntas do público leigo”, explica, ressaltando que, por tudo isso, as perspectivas para sua gestão são excelentes. “A SOBLEC está muito bem, tem pouco mais de seis mil associados e queremos aumentar esse número. É uma Sociedade muito bem estruturada nos seus vá-rios departamentos, contando com o envolvimento de pessoas muito capacitadas, trabalhando bastante para que ela prospere, por isso eu acredito que a perspectiva é muito positiva para esta gestão”, avalia.

O oftalmologista afirma que desde a eleição para a presidência da SOBLEC, realizada no último congresso do CBO (em setembro de 2017), já vem trabalhando fortemente na transição de uma gestão para outra, for-mando comissões e convidando profissionais para fa-zerem parte dos diversos departamentos da SOBLEC. “Hoje temos três vice-presidentes, um de cada área, Sér-gio Kwitko, vice-presidente de córnea; Paulo Ricardo de Oliveira, vice-presidente de Lentes de Contato; e André Jorge Homsi, vice-presidente de Refratometria. Consi-dero, dessa forma, que estamos muito bem assessorados com um grupo altamente qualificado em todas as áreas da SOBLEC”, conclui Ghanem. l

A SOBLEC traz benefícios não somente para os pacientes, mas para os oftalmologistas que, ao treinarem e compartilharem expertises, geram conhecimentos para conduzir desde problemas refracionais e dificuldades na adaptação de lentes de contato

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O oftalmologista José Augusto Alves Ottaiano, explica que em uma visão técnica, o exame de refração (ou exame de vista) exige uma inter-mediação farmacológica, de observância estrita-

mente reservada aos médicos. “O exame de vista é resultado da interação de diferentes fatores constitutivos. Causas de redução de visão ou outras anomalias do olho não se li-mitam às que são corrigíveis apenas com o uso de lentes”, aponta. Para ele, uma eventual melhora da visão por simples correção óptica, nos casos realizados por não médico, é um desserviço à saúde da população, visto que retarda um diagnóstico correto e seu possível tratamento.

Por fim, o especialista afirma que é o médico oftalmo-logista o único profissional capacitado e habilitado, legal-mente, para realizar o exame de vista, como parte de um exame mais completo, no intuito de se detectar as inúmeras doenças e determinar seu devido tratamento. “O Conselho Brasileiro de Oftalmologia pauta-se, sempre, na legalidade de suas ações. Neste sentido, cobramos de todas as entida-des e órgãos do poder público tão somente o cumprimento da lei vigorante em nosso país”, reitera.

Legislação brasileira Ottaiano enfatiza que a lei brasileira é clara em determi-

nar que apenas o médico é o profissional habilitado para prescrever óculos de grau ou realizar a adaptação de lentes de contato. “Tanto é assim que o comércio de lentes de grau somente está permitido aviar receitas apresentadas por

médico, também por força de lei”, destaca, salientando que a exigência é o cumprimento da legislação, ficando o profis-sional não médico dentro do seu âmbito de atuação, que é a de “realizar o aviamento das prescrições médicas dentro de um estabelecimento óptico e não se arvorar naquilo que é de competência médica, como os exames e a prescrição”.

O oftalmologista esclarece que o Conselho Brasileiro de Oftalmologia vem, há anos, atuando de forma incisiva em diversas frentes e ações para buscar a proteção da saúde ocu-lar da população. “O primeiro passo foi e é conscientizar os órgãos públicos de fiscalização, principalmente de âmbito municipal, dos riscos e ilegalidades inerentes à atuação de um profissional não médico, como por exemplo a perda de uma visão ou a responsabilidade solidária do gestor em saúde”, in-forma. “E, por fim, mas não menos importante, é necessário o acionamento dos órgãos públicos de fiscalização mediante denúncias em casos de descumprimento da lei”, diz.

De acordo com o presidente do CBO, as atribuições des-ta ocupação (optometrista) estão limitadas pelos decretos federais nº 21.930/32 e 24.492/34, que lhes confere apenas as seguintes tarefas: a manipulação ou fabrico das lentes de grau; b) o aviamento perfeito das fórmulas ópticas forne-cidas por médico oculista; c) substituir por lentes de grau idêntico aquelas que lhes forem apresentadas danificadas; d) datar e assinar diariamente o livro de registro do receituário de óptica. “E lhes impõe a proibição de instalar consultórios para atender clientes, devendo o material ali encontrado ser apreendido”, conclui Ottaiano. l

onde estamos?

Luta contra a optometria não médica:

JOSÉ AUGUSTO ALVES OTTAIANO Presidente do Conselho Brasileiro

de Oftalmologia (CBO)

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N a opinião do médico oftalmologista César Lipener, a grande vantagem das lentes de contato gelatinosas para astigmatismo é a de se usar uma lente que corrige o problema

refracional de forma adequada, permitindo que o usuário utilize todo seu potencial de visão. “Se considerarmos que 45% dos candidatos a utilizar lentes de contato têm astigmatismo maior ou igual a 0.75 dioptrias e que 65% daqueles que deixam de usar lentes têm astigmatismo de 0.75 ou mais, podemos facilmente concluir, e até com certa facilidade, que a principal vantagem deste tipo de lente é oferecer correção visual plena, com as mesmas vantagens de todas as outras lentes gelatinosas, ou seja,

conforto, comodidade, conveniência e descartabilidade, sem perder a qualidade da visão e, desta forma, diminuir a chance de abandono das lentes em função da insatis-fação do paciente”, destaca o especialista.

O médico revela que existem vários estudos demons-trando que mesmo pacientes com até 6.00 D de miopia e com astigmatismo até 1.00 DC apresentam melhor acuidade visual com as lentes gelatinosas tóricas quando comparadas com o uso de lentes gelatinosas que corri-gem apenas o grau esférico. “Entretanto, a despeito da grande melhora na qualidade dos desenhos e materiais observada nos últimos anos, acredito que estas lentes ainda estão sendo subutilizadas”, opina, salientando que

Atualização em lentes de contato gelatinosas para

astigmatismo

CÉSAR LIPENERChefe do Setor de Lentes de Contato da

Unifesp/EPM de 1994 a 2014

e ex-presidente da SOBLEC (2011-2013)

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em relação aos médicos, talvez haja uma dificuldade em relação a valores, um pouco maior do que as esféricas. “Aqui considero que a proatividade do médico deva ser fundamental - devemos oferecer aquilo que considera-mos que seja a melhor opção ao paciente, deixando a decisão por conta dele e não deixar de indicar uma lente em função do seu custo”, completa.

Para Lipener, contudo, a situação fica muito mais complicada quando os profissionais se deparam com pa-cientes que compram suas lentes fora dos consultórios, em lojas ou sites. “Nestes casos, a frequência de pacien-tes portadores de astigmatismo usando lentes esféricas é muito maior”, comenta o médico, enfatizando que muitos indivíduos, inclusive, nem sabem que existem lentes apropriadas para corrigir esta ametropia de forma adequada. “Isso demonstra que a falta de orientação e informação destes pacientes que compram suas lentes sem o devido acompanhamento pode contribuir para o abandono de seu uso por insatisfação com a visão. Ou seja, é preciso aumentar a informação que chega aos usuários para que este mercado seja cada vez mais ampliado”, avalia.

Progresso das lentes e adaptaçãoConforme revela o oftalmologista, houve grande pro-

gresso nos materiais, desenhos e, principalmente, nos métodos de estabilização das lentes, possibilitando não apenas uma acuidade visual excelente, como também estável. “E isso tudo com conforto semelhante ao das lentes esféricas. Acho importante que seja feito um teste antes para checar se a curva e o diâmetro estão adequa-dos, além do conforto e, sobretudo, avaliar se houve ou não rotação da lente”, orienta o especialista. Ele diz que isso tem sido facilitado também pelo fato de a maioria dos fabricantes mandar um blíster extra junto com as lentes do paciente, permitindo, assim, eventuais ajustes.

De acordo com o médico, como em qualquer adap-tação, após exame oftalmológico completo, incluindo uma refração precisa e, se possível, uma topografia corneana, é de fundamental importância avaliar em quais situações o paciente pretende usar a lente, com que frequência e em que condições. Desta forma, como existem lentes que corrigem o astigmatismo em várias apresentações (descarte anual, mensal e diário), pode-se escolher aquela que seria a melhor para aquele pacien-te, considerando sua ametropia, curvatura corneana e forma de uso a ser adotada. “Devemos lembrar que esse processo é dinâmico e o tipo de lente e forma de uso podem mudar ao longo do tempo, no sentido de atender o paciente de forma mais adequada”, conclui Lipener. l

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O médico oftalmologista Celso Marcelo Cunha, diz que há décadas surgem estudos sobre for-mas de controle da progressão da miopia em crianças e adolescentes. Ele comenta que os

primeiros estudos eram com uso do colírio de atropina, um agente antagonista muscarínico não seletivo. “Qua-se a totalidade dos estudos demonstrou a diminuição da progressão da miopia relacionando-se com a diminuição do crescimento do globo ocular.

O médico afirma que se adicionando a essa forma de controle, há várias formas de diminuição da progressão da miopia, as quais podem, didaticamente, ser organizadas em controles ópticos, farmacológicos e ambientais.

Nos controles farmacológicos, segundo Cunha, encon-tra-se o uso de colírio de atropina, como citado, a piren-zepina, bem como o uso oral da 7-metilxantina. “As formas ambientais de controle, por sua vez, estão principalmente relacionadas à maior exposição à luz solar, e menor tempo de atividades que usam a visão de perto”, enfatiza, salientando que essas formas de controle são clinicamente importantes quando se consegue impedir pelo menos 40% da progressão.

Resultados com atropina e outros fármacosDe acordo com o oftalmologista, o principal fator a

ser considerado na indicação da atropina no controle da miopia é a taxa de progressão anual desta, que deve ser maior ou igual a 0.50 D/ano, e deve-se ainda comprovar

que a topografia corneana está regular e estável, e o diâme-tro anteroposterior do globo ocular estar em crescimento. “Fatores de risco devem ser considerados, como pais com miopia maior que 3.00 D, início antes dos seis anos da miopia, diâmetro anteroposterior maior que 23.8 antes dos seis anos, excesso de atividades de perto e falta de atividades ao ar livre durante o dia”, esclarece.

O médico informa que os resultados de alguns estu-dos com atropina com concentração entre 0,01 e 0,025% apontam decréscimo na progressão da miopia entre 50% e 70%. Além da atropina, ele revela que há estudos sobre o uso da pirenzepina, um antagonista muscarínico seletivo (M1), com efetividade por volta de 45%, e com o uso oral da 7-metilxantina, um antagonista dos receptores da adenosina que está relacionado ao metabolismo dos proteoglicanos esclerais.

Para o oftalmologista, os excessos na utilização dos ele-trônicos portáteis (celulares, tabletes) e a pouca atividade externa ao ar livre têm sido apontados como fatores cau-sais para a maior prevalência da miopia e sua maior pro-gressão. “Logo, as crianças, filhas de um dos pais míopes ou que tenha pouca hipermetropia sobre cicloplegia, não deveriam conhecer estes eletrônicos antes dos sete anos. Os que já os conheceram, não devem utilizá-los por mais de uma hora ao dia. Além disso, deveriam ser estimuladas a terem pelo menos duas horas de atividades ao ar livre durante o dia, diariamente”, finaliza Cunha. l

fármacos

Controle da progressão da miopia com

CELSO MARCELO CUNHAMembro do Departamento de Refração

da SOBLEC (Sociedade Brasileira de Lentes

de Contato, Córnea e Refratometria)

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A importância do controle da progressão da mio-pia para evitar as complicações inerentes à alta miopia foi bem descrita e avaliada por Bren-nan.1 Se conseguirmos controlar o aumento da

miopia em 33%, a incidência de alta miopia será reduzida em 73%. E se conseguirmos reduzir o aumento da miopia em 50%, a incidência de alta miopia se reduzirá em 90%.

A preocupação com a alta miopia e como evitá-la é antiga. Duke Elder2 já fazia referências à acomodação e aumento da miopia, bem como à hipocorreção com ócu-los. Mas após as publicações do início dos anos 2000, que demonstraram uma verdadeira “epidemia” de miopia no mundo,3 os estudos sobre o controle do aumento da mio-pia se intensificaram. Os estudos clínicos focaram em sete hipóteses para controlar o aumento da miopia:

1. Hipocorreção da Miopia (óculos)2. Óculos Bifocais ou Multifocais3. Lentes de Contato (não Ortoceratologia)4. Lentes Hidrofílicas Bifocais ou Multifocais5. Ortoceratologia6. Agentes Antimuscarínicos7. Atividades Externas Quando se fala em controle do aumento da miopia, re-

fere-se exclusivamente à miopia axial, isto é, aquela que é devida ao aumento do comprimento anteroposterior do olho, especialmente da câmara vítrea. Não se aplicam,

óculos e LC

Controle da progressão da miopia:

ORESTES MIRAGLIA JR.Médico oftalmologista, ex-presidente

da SOBLEC (Sociedade Brasileira de Lentes

de Contato, Córnea e Refratometria)

Figura 1 – Lente de ortoceratologia com curva reversa

Curva de estabilização

Curva base

Curva reversa

Curva periférica

portanto, às miopias por aumento da curvatura da córnea (ceratocone) ou miopias devido ao aumento do índice de refração dos meios ópticos (miopia de índice).

Neste artigo nos coube comentar os cinco primeiros métodos: óculos (hipocorreção da miopia e bifocais ou multifocais), lentes de contato (rígidas gás-permeáveis ou gelatinosas de desenhos convencionais) e lentes de contato de desenhos especiais.

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Figura 4 – Formação da imagem na retina de um olho emétrope. Ausência de defocus (hipermetrópico ou miópico)

Figura 6 – Correção do olho míope com ortoceratologia. Observe o defocus miópico na média periferia da retina

Figura 3 – Topografia após o uso das lentes de ortoceratologia

Figura 5 - Formação da imagem na retina de um olho míope corrigido com óculos ou lentes de contato. Observe o defocus hipermetrópi-co na média periferia da retina

Figura 7 – Comparação do perfil anterior da córnea pós-orto com a LHM

Figura 2 –Topografia antes do uso das lentes de ortoceratologia

Lente hidrofílica multifocal

Perfil da córnea pós-orto.

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1. Hipocorreção da miopiaA hipótese desta teoria é que diminuindo o esforço aco-

modativo, o crescimento anteroposterior do olho seria me-nor, com a consequente diminuição do progresso da miopia.

Dois estudos clínicos randomizados foram feitos para de-terminar se a hipocorreção da miopia com óculos retardaria o aumento do erro refrativo. Adler e Millodot4 e Chung e colaboradores5 conduziram esses estudos, comparando grupos de míopes entre seis e 15 anos durante 18 meses usando óculos hipocorrigidos em 0.50 e 0.75 D com grupos controle que usavam correção total.

Apesar dos diferentes resultados nos dois estudos, a con-clusão é a mesma: o uso de óculos hipocorrigidos em 0.50 D ou 0.75 D não retarda a progressão da miopia.

2. Óculos bifocais ou multifocaisO uso de óculos bi ou multifocais tem o mesmo raciocí-

nio da hipocorreção, ou seja, diminuindo o esforço acomo-dativo, a progressão da miopia seria menor. Clinicamente seria mais fácil o paciente aceitar esta correção, porque a criança teria acuidade visual total para longe e perto, sem prejuízo para as atividades escolares. Os óculos hipocor-rigidos, ao contrário, dariam à criança uma visão parcial para longe, com suas consequências: maior dificuldade nos trabalhos escolares e na socialização.

Este método foi um dos mais estudados e os resultados são controversos. Apesar de muitos trabalhos mostrarem, estatisticamente, redução no progresso da miopia com ócu-los multifocais, esta redução não é clinicamente significati-va.6-13 Estes estudos foram realizados em distintos grupos de crianças com equilíbrio muscular normal, outras com relação CA/A alta e outras com esoforia para perto usando prisma de 3 DP base interna.

Um estudo randomizado recente utilizando bifocais exe-cutive mostrou uma significativa redução no progresso da miopia quando comparados aos usuários de óculos mo-nofocais. Houve uma redução na progressão da miopia no grupo de usuários de bifocais executive de 39% em relação aos usuários de monofocais, em três anos de observação.14

Desconhece-se se este efeito significante é devido ao tipo de bifocal prescrito (executive) ou à limitação de inclusão a pacientes que estavam, comprovadamente, com miopia em evolução.

Resumindo, os estudos com o uso de óculos bifocais ou multifocais para controle da progressão da miopia mostram que há algum controle, mas não o suficiente para indicar seu uso de rotina na clínica oftalmológica diária dos consultórios.

3. Lentes Rígidas Gás-Permeáveis (LRGP) e Len-tes Hidrofílicas (LH) (não incluídas lentes espe-ciais ou multifocais)

Entre os anos 1950 e 1990 encontramos várias publica-ções15-18 cujos resultados mostravam uma diminuição no progresso da miopia com o uso de lentes rígidas. Em 1999 alguns autores repetiram os estudos com LRGP,19 demons-trando que haveria uma redução no progresso da miopia simplesmente trocando seus óculos por LRGP.

Nestes estudos, encontram-se vieses de inclusão de pa-cientes, não foram feitas medidas do diâmetro anteropos-terior dos olhos, grupos de controle inadequados e outros.

Dois estudos randomizados, realizados por Walline e col.20 e Katz e col.21 eliminaram esses vieses e concluíram que o uso de LRGP de desenho convencional não controla o aumento da miopia.

Nos estudos comparativos entre LRGP e LH foram en-contradas diferenças no progresso da miopia, sendo mais

Figura 8 – Gráfico comparativo do aumento do comprimento axial dos olhos que utilizaram lentes de ortoceratologia com os do grupo controle que utilizou lentes de contato (LRGP ou LH)

Figura 9 – TComparação entre o aumento do comprimento axial do olho entre os usuários de LRGP, LH, grupo controle e ortoceratologia. Observe que os olhos

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lento nas LRGP. As diferenças constatadas não foram com-provadas pelas medidas do comprimento axial do globo ocular. Foram atribuídas a alterações da curvatura da cór-nea (aplanação) dos usuários de LRGP, que desaparece-ram após a suspensão do uso das lentes de contato, com o consequente aumento da miopia.

Conclui-se, então, que o uso de LRGP ou LH de desenho convencional não diminui o aumento da miopia em crianças.

4. Lentes Hidrofílicas Bifocais ou MultifocaisAs lentes de contato hidrofílicas multifocais (LHM) são

de visão simultânea e podem ter dois desenhos: 1. Centro para perto e periferia para longe e2. Centro para longe e periferia para perto. As LHM, que têm centro para perto e periferia para longe

(adição central), atuariam diminuindo a acomodação que, como vimos anteriormente, não interfere no progresso da miopia. Este é o desenho da maioria das LHM existentes no mercado.

Assim, apenas as lentes com centro para longe e periferia para perto (adição na periferia) estão sendo investigadas para controle da miopia. O seu mecanismo de ação é semelhante ao da ortoceratologia e não interfere na acomodação. Cria um anel de defocus miópico periférico que induz a uma di-minuição de crescimento do polo posterior do olho (mesmo mecanismo da ortoceratologia e que descreveremos com de-talhes a seguir).

Um ensaio clínico randomizado com duração de dois anos e coordenado por Lam e col.23 mostrou uma redu-ção no progresso da miopia de 46% em relação ao grupo controle. Este resultado é semelhante ao controle da pro-gressão em usuários de lentes de ortoceratologia.

Nesta avaliação, adaptou-se uma lente multifocal adição periférica (centro longe) e no olho contralateral uma len-te esférica (equivalente esférico) como controle. A miopia aumentou menos no olho da lente multifocal, bem como o comprimento axial deste olho foi menor que o do olho con-trole que usava LH esférica para longe com correção total.

Como a acomodação é igual nos dois olhos, conclui-se que, se o mecanismo de ação estivesse na acomodação, ela afetaria ambos os olhos.

Como o crescimento axial foi sempre menor no olho da lente multifocal, há forte evidência de que o controle da progressão da miopia se deve ao anel de borramento na retina periférica (defocus miópico periférico) produ-zido por este tipo de lente multifocal. Este é o mesmo mecanismo do controle da miopia pela ortoceratologia e os resultados foram muito semelhantes. No próximo item, ao analisarmos a formação das imagens na orto-ceratologia, este conceito de defocus miópico periférico ficará mais claro.

5. OrtoceratologiaVou remeter o leitor ao artigo sobre Ortoceratologia que

escrevi para a Revista Universo Visual (Lentes de Contato - Suplemento Integrante da Revista Universo Visual edição 97 – fevereiro/março 2017, pág. 16), explicando o que ocorre com a córnea durante o processo de ortoceratologia, bem como as indicações, limitações e complicações.

Ortoceratologia é um procedimento oftalmológico que modifica a curvatura da córnea, de maneira controlada, através do uso de lentes de contato rígidas gás-permeáveis (LRGP) usadas durante a noite para melhorar a acuidade visual não corrigida durante o dia.

A lente de ortoceratologia é uma LRGP de desenho espe-cial. Na média periferia apresenta uma curva reversa que é o que a caracteriza (figura 1). Esta curva é chamada de reversa porque tem curvatura maior que a da zona central da lente. Ou seja, habitualmente as lentes esféricas vão aplanando (di-minuindo a curvatura) do centro para a periferia. Na lente de ortoceratologia ela aumenta a curvatura na média periferia da lente para depois tornar a aplanar-se.

Na figura 2 vemos a topografia de uma córnea antes do uso de lentes de ortoceratologia e na figura 3 após o uso das lentes por uma noite.

O que acontece com a córnea durante o uso da lente à noite? Sob a curva reversa forma-se uma zona de baixa pres-são hidrostática que, auxiliada pela pressão positiva central, faz com que as células do epitélio se desloquem no sentido centro para a periferia. O anel vermelho da figura 3 corres-ponde exatamente à curva reversa sob a qual se acumularam as células epiteliais, fazendo uma área mais curva (vermelha) e aplanando a área central de onde essas células migraram. Observe o perfil da córnea. O anel vermelho (mais curvo = positivo) é que formará o defocus miópico na média periferia da retina que, provavelmente, através de mecanismos bioquí-micos, reduzirá o estímulo para o crescimento do polo pos-terior do olho, controlando, assim, a progressão da miopia.

Analisemos a formação das imagens no olho emétrope e no olho míope corrigido com óculos, lentes de contato e com lentes de orto.

Observe na figura 5 um olho míope corrigido com óculos ou lentes de contato de desenho habitual (LRGP ou LH). Para que a imagem de um objeto no infinito se forme na mácula, na média periferia retiniana a imagem forma-se atrás da re-tina (defocus hipermetrópico). Mesmo com lentes asféricas que tentam amenizar esta aberração, ela está presente.

Na figura 6 vemos a correção da ametropia miópica com ortoceratologia. Região central: a imagem forma-se na má-cula (a área central da córnea foi aplanada pela migração das células epiteliais para a periferia).

Média periferia da córnea: a região tornou-se mais curva (mais convergente – mais positiva) em função do acúmulo

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das células epiteliais que se deslocaram do centro. Portanto, a periferia que está mais positiva “hipercorrige” esta área e a imagem forma-se antes da retina (defocus miópico).

Agora podemos entender (figura 7) por que as lentes hi-drofílicas multifocais controlam o aumento da miopia. A face anterior destas lentes mimetiza a córnea pós-ortoceratologia, isto é, elas têm um anel positivo (adição) na média periferia que forma o defocus miópico na retina. E entendemos agora por que somente as lentes multifocais longe no centro com adição na periferia desempenham este papel.

Em resumo, podemos dizer que as atuais observações clínicas nos permitem afirmar:

1. A hipocorreção da miopia e o uso de óculos multifocais não são efetivos no controle da progressão da miopia. Ou seja, mecanismos de atuação exclusiva na acomodação não controlam o aumento da miopia. Isto não descarta o papel da acomodação atuando associada a outros fatores.

2. O uso de LRGP ou LH de desenhos convencionais não controla o aumento da miopia.

3. O uso de lentes noturnas de ortoceratologia é capaz de dar boa visão sem correção durante o dia e é eficaz no controle da progressão da miopia.

4. As lentes de contato gelatinosas multifocais com centro para longe e adição na periferia são capazes de dar boa visão usando as lentes durante o dia e controlam o aumento da miopia através do mesmo mecanismo da ortoceratologia.

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C onforme comenta a médica oftalmologista Tania Schaefer, foi uma oportunidade para especialis-tas em superfície ocular atualizarem seus conhe-cimentos a respeito dos desenvolvimentos das

lentes de contato especiais. Na oportunidade, especialistas em lentes de contato também puderam fazer um update nos avanços científicos sobre o tema olho seco, capita-neado pelo DEWS (International Dry Eye Workshop), apresentado por Lyndon Jones, do Canadá.

“Entre os inúmeros temas, podemos destacar os dados preocupantes sobre o avanço da miopia, bem como seu controle a partir do tratamento com atropina e as novas lentes de ortoceratologia. Essa tecnologia vem ganhando a atenção dos médicos oftalmologistas europeus e, por isso, teve um espaço importante neste evento”, relata a médica, salientando que também foram apresentadas as lentes multifocais gelatinosas para o controle da miopia, que já têm o início de sua comercialização feita na Euro-pa. “O tratamento da presbiopia foi também debatido no ECLSO 2017, com a participação de sociedades interna-cionais, tais como SOBLEC, CLAO e IMCLC”, completa.

De acordo com a especialista, as lentes de contato es-

clerais e semiesclerais mais uma vez estiveram em evi-dência e a associação das mesmas com o tratamento do olho seco teve relevância, apresentada por Debora Jacob, com trabalhos científicos importantes desenvolvidos pela Boston Sigth, nos Estados Unidos. Tania diz que eventos como esse engrandecem e somam para o desenvolvimen-to da oftalmologia mundial. “Há uma série de avanços que irão auxiliar no tratamento e reabilitação de pacien-tes com problemas oftalmológicos”, revela a médica.

“Como bem lembraram Carina Koppen e René Mély, do Comitê Organizador do ECLSO 2017, as lentes de contato no passado foram consideradas muito mais como uma fonte de complicação do que ferramenta para o tratamento de doenças”, afirma a oftalmologista, enfatizando que hoje, entretanto, graças à evolução das lentes esclerais, condições severas podem ser tratadas com sucesso e as córneas mais irregulares se beneficiam da reabilitação óptica. “A remodelação da córnea, por exemplo, vem ganhando espaço como uma alternativa à cirurgia refrativa, já que tem demonstrado grande capacidade em retardar a progressão da miopia”, con-clui Tania.l

ECLSO 2017Destaques do

TANIA SCHAEFEREx-presidente da SOBLEC (Sociedade Brasileira

de Lentes de Contato, Córnea e Refratometria)

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C onforme explica o professor de Oftalmologia Paulo Schor, o parâmetro 20/20 é o mais cor-riqueiro na hora de medir a visão central do paciente, que é quando o médico o coloca a

uma distância de uma tabela, verificando se ele consegue identificar as letras que possuem um tamanho menor. De acordo com o especialista, esse é um teste psicofísico que envolve a parte cognitiva do paciente (de entendimento e raciocínio). “E tem a parte física, que é a relação entre o tamanho da letra frente a distância que o paciente está”, informa, salientando que esse teste identifica a função dos cones (células fotorreceptoras da mácula), que estão mais condensados na região central da retina.

“Esse é um dos testes mais popularizados, e ainda o mais simples de se fazer”, declara o oftalmologista, ressaltando que o parâmetro 20/20 é bastante útil no seguimento de doenças da retina, como por exemplo as

que se situam na mácula, entre as quais a Degeneração Macular Relacionada à Idade (DMRI). “Esse é um bom parâmetro em doenças que cursam com borramento visual também, como a catarata, por exemplo, porque o paciente começa a definir um pouco pior as letras, e ainda em doenças que cursam com vícios de refração, como miopia, hipermetropia e astigmatismo. Nesses ca-sos, o 20/20 é bem adequado”, avalia o médico.

Por outro lado, segundo o especialista, o 20/20 é um parâmetro muito ruim de visão em pacientes que têm perda visual não situada nessa região específica dos olhos. “Por exemplo, aqueles pacientes que têm glau-coma. Quem tem glaucoma é um bom exemplo de ter 20/20 e ter o sentido da visão bastante prejudicado”, revela, enfatizando que indivíduos com glaucoma não conseguem se locomover bem porque não têm uma sen-sação de lateralidade adequada. “O glaucomatoso tem

um lugar?

Acuidade visual: além do 20/20 existe

PAULO SCHORChefe do Departamento de Oftalmologia

da Escola Paulista de Medicina com atuação

em Óptica Cirúrgica

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a sua qualidade de vida prejudicada; ele não tem uma satisfação visual porque é a sua visão periférica, e não a visão central, que foi comprometida”, completa.

Visão 20/20: melhor acuidade visual?Para Schor, paciente com glaucoma é só um exemplo

de que 20/20 não significa uma “melhor visão”. Ele diz que esse parâmetro só representa a capacidade de dis-tinguir/identificar optotipos com uma porção da retina. “Esse é um dos aspectos que tira o 20/20 do centro e do lugar comum na discussão sobre visão e oftalmo-logia”, observa o médico. Além disso, ele destaca que existe também o aspecto psicológico envolvido, mesmo quando há alterações ou manifestações que cursam com borramento visual.

“Por exemplo, existem pacientes que possuem algum grau de catarata e isso faz com que a luz entre de um modo muito desorganizado dentro do olho e com um contraste muito baixo. E com o contraste muito baixo, o paciente não consegue identificar letras muito peque-nas, que têm contornos borrados”, explica o especialis-ta, salientando: “Esse paciente não tem 20/20 de visão, mas ele não é infeliz do jeito que está. Dessa maneira, o 20/20 para ele não é uma métrica única e definidora de boa visão. Ele tem uma vida boa, independente da visão. Ele não sente que a sua limitação visual interfere na sua qualidade de vida”, afirma.

De acordo com o professor, existe também outro gru-po de pacientes que possuem 20/20 de visão, mas que estão infelizes, como os já citados pacientes de glauco-ma, e também alguns pacientes pós-cirurgia de catarata ou cirurgia refrativa. “Esses indivíduos têm uma visão

que é medida no consultório compatível com a nor-malidade, entretanto eles não estão felizes, ou porque podem ter os fenômenos de halo ou glare, nos quais a luz incomoda muito; ou porque sua visão foi limitada a uma distância focal, ou existe algum novo borramento (como pequenos astigmatismos ou aberração esférica), que agora o incomodam, principalmente quando a pu-pila fica maior”, esclarece.

Dessa forma, ele afirma que há vários aspectos a se-rem considerados em relação ao parâmetro 20/20. “Por isso, uma discussão sobre visão não começa e nem acaba no 20/20 e, mais ainda, deveria estar centrada na sa-tisfação que o paciente tem com a sua visão”, analisa. Outro aspecto que o médico aborda é o significado em si do 20/20. “Essa é outra questão que se discute bas-tante também, sobretudo no meio acadêmico, porque o 20/20 é uma anotação britânica; os ingleses inventaram essa forma de exprimir o menor ângulo visual, ou seja, a menor letra que enxergamos, colocando o 20, que é uma distância na qual deveríamos estar, sobre o outro 20, que é uma distância na qual a letra menor deve ser enxergada.”

“Pelo sistema britânico, portanto, esse 20/20 significa 20 pés e pé é uma anotação que para nós não faz senti-do algum”, acrescenta o oftalmologista. Para ele, uma forma mais fácil seria dividir um número pelo outro. “Assim, em vez do parâmetro ser 20/20, seria denomi-nado de 1; em vez de 20/40, seria 0,5; em vez de 20/15, 1,25. Esse parâmetro decimal é uma anotação muito mais pura e muito menos envolvida em particularidades que podem ou não estar acontecendo no cenário do 20/20”, finaliza Schor. l

Há vários aspectos a serem considerados em relação ao parâmetro 20/20. “Por isso, uma discussão sobre visão não começa e nem acaba no 20/20 e, mais ainda, deveria estar centrada na satisfação que o paciente tem com a sua visão

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S egundo a oftalmologista Monica Alves, o olho seco é uma das condições oculares mais co-muns na prática clínica oftalmológica, afetando milhares de pessoas em todo o mundo, e tem

atraído a atenção de pesquisadores, que buscam o me-lhor entendimento sobre seus mecanismos e métodos diagnósticos, além de opções de tratamento.

A médica comenta que em 2017 foi publicada a revi-são do consenso sobre olho seco - Dry Eye Workshop (DEWS II), em comemoração aos dez anos do primeiro consenso promovido pela Tear Film and Ocular Surface Society (TFOS) -, com a participação de 153 membros de 23 países. “O subcomitê de epidemiologia revisou todos os estudos realizados nos últimos dez anos que avaliaram a prevalência, incidência e os fatores de risco para olho seco”, afirma a professora, apontando algumas considerações relevantes:

• Prevalência: critérios de inclusão consideraram es-tudos populacionais com mais de 500 participantes rea-

lizados nos últimos dez anos. Os números de prevalência variam muito, de 6% a 77%, de acordo com os critérios utilizados para definir a doença através de questionários e/ou avaliação clínica, sendo mais frequente em mulheres e aumentando com a idade.

• Incidência: apenas dois estudos avaliaram sua po-pulação ao longo do tempo para investigar a incidência de olho seco e demonstraram aumento de 13% em cinco anos e 21% em dez anos em um estudo americano e 4% a 10% em uma coorte de mulheres acompanhadas em um estudo realizado na Inglaterra.

• Através de uma meta-análise de estudos popula-cionais estratificada por sexo e idade, foi observado aumento importante nos números de prevalência por década de vida.

• Fatores de risco (ver tabela na página 24): os fatores de risco foram avaliados, detalhados e categorizados de acordo com o nível de evidência científica encontrado nos estudos. Foram divididos em: consistentes não mo-

casamento possível?

Olho seco e lentes de contato:

MONICA ALVESProfessora e pesquisadora do

Departamento de Oftalmologia e

Otorrinolaringologia da Universidade

Estadual de Campinas – UNICAMP

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dificáveis (envelhecimento, sexo feminino, disfunção das glândulas de Meibômio, doenças autoimunes); consis-tentes modificáveis (uso de lente de contato, de com-putador, deficiências hormonais, exposição ambiental); prováveis não modificáveis (rosácea, diabetes, infecções virais); prováveis modificáveis (cirurgia refrativa, aler-gia); inconclusivos não modificáveis (menopausa, acne, sarcoidose); inconclusivos modificáveis (demodex, ta-bagismo, toxina botulínica).

De acordo com a especialista, há uma nova defini-ção apresentada no DEWS II: “Olho seco é uma doença multifatorial da superfície ocular, caracterizada pela perda de homeostase do filme lacrimal e acompanhada por sintomas oculares, na qual a instabilidade do filme lacrimal e a hiperosmolaridade, a inflamação e dano da superfície ocular, e anormalidades neurossensoriais têm papel etiológico.”

Lentes de contato x olho secoPara a oftalmologista, as situações envolvendo o tema

lentes de contato e olho seco podem ser muito diversas. “Há usuários de lentes de contato que com o tempo de uso passam a ter olho seco, mas há pacientes com olho seco que buscam o uso de lentes de contato como opção de reabilitação visual. Há, ainda, pacientes com comprometi-mento importante de superfície pelo olho seco que têm indicação de uso de lentes para melhora de sintomas”, destaca Monica.

Entretanto, ela ressalta que o casa-mento olho seco & lentes de contato pode ser possível, desde que atenta-das e corrigidas as peculiaridades de cada caso. “Algumas vezes é neces-sário e em outras pode representar um enorme desafio para médico e paciente. Todos nós lidamos cotidia-namente na nossa prática com ques-tões relacionadas ao uso de lentes de contato e sintomas de desconforto. Cerca de metade dos usuários de lentes de contato reporta sintomas de olho seco e muitos aban-donam o uso devido ao desconforto”, informa a médica.

Ela salienta que a relevância deste tema foi amplamen-te investigada e discutida no consenso de desconforto e lentes de contato, promovido pela TFOS e publicado em 2013. Já o último consenso sobre olho seco, segundo a oftalmologista, o TFOS DEWS II, classifica o uso de lentes de contato como um fator de risco “consistente e modifi-cável” para olho seco, ao lado de fatores bem conhecidos, como o envelhecimento, menopausa, disfunção de glân-dulas de Meibômio e exposição ambiental.

“Desta forma, ao indicar ou acompanhar o uso de lentes de contato em nossos pacientes, devemos estar atentos e identificar todos os possíveis fatores que possam contri-buir para a quebra de homeostase da superfície lacrimal e desencadear quadros de olho seco”, avalia, ressaltando que, invariavelmente, em um mesmo paciente, mais de um fator de risco pode estar presente e muitos deles podem ser modificáveis, amenizando o potencial de dano.

De acordo com Monica, a diminuição da sensibilida-de corneana, aumento da osmolaridade e diminuição do filme lacrimal, redução da frequência de piscar, além da composição específica de determinadas lentes figuram como possíveis mediadores de mecanismos complexos desencadeantes e/ou agravantes do olho seco em usuários de lentes de contato. “Além disso, outro aspecto importan-te de se considerar são as interações entre os polímeros das lentes e a camada lipídica do filme lacrimal, especialmente nos usuários que apresentem qualquer sinal de disfunção das glândulas de Meibômio”, observa.

São itens importantes na avaliação do candidato ao uso de lente e no acompanhamento:

• Investigação de fatores de risco associados: menopau-sa e terapia de reposição hormonal, medicações tópicas e sistêmicas (antidepressivos, diuréticos, anti-histamínicos), doenças sistêmicas (diabetes, doenças autoimunes), ex-

posição ambiental (ar condicionado, baixa umidade, uso de computadores);

• Quantificação de sintomas: ressecamento, irritação, olho vermelho, fotofobia, flutuação da visão, prurido e dor;

• Investigação de sinais: diminuição do filme lacrimal pré-lente e do menisco, presença de debris na superfície ocular e na lente, alterações de bordo palpebral e na mei-bomiografia, marcações com corantes vitais;

• Das lentes: tipo, tempo de uso, esquema de tro-ca, manutenção e conservação, uso concomitante de lubrificantes.

A professora esclarece que considerados todos esses as-

Ao indicar ou acompanhar o uso de lentes de contato em nossos pacientes, devemos estar atentos e identificar todos os possíveis fatores que possam contribuir para a quebra de homeostase da superfície lacrimal e desencadear quadros de olho seco

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pectos, mesmo pacientes portadores de olho seco podem se beneficiar com o uso de lentes de contato. “Como em tantos outros, podemos evitar ou amenizar os sintomas relacionados ao olho seco que muitas vezes levam os pa-cientes a abandonar o uso das lentes”, pondera a especialista, enfatizando que as lentes de contato mudam a dinâmica do filme lacrimal na superfície ocular, uma vez que se inter-põem entre a córnea e as pálpebras, dividindo a camada lacrimal, e que as interações superfície ocular/lente/filme lacrimal devem ser bem investigadas durante o exame biomicroscópico.

Para ela, o entendimento sobre o melhor material e a melhor especificação de lentes para pacientes com olho seco é um grande desafio devido à diversidade metodológica em-pregada nas investigações. Entretanto, a especialista revela que a maioria dos estudos demonstra melhora dos sintomas e melhor taxa de sucesso com lentes de silicone hidrogel. “Além disso, o esquema de uso, frequência de troca e os produtos utilizados para manutenção e conservação das lentes devem ser devidamente monitorizados”, alerta.

Cuidados com o uso das lentes Conforme salienta a oftalmologista, olho seco é uma

doença crônica e muito frequente. Formas graves da sín-drome têm promovido aumento na incidência de compli-cações potencialmente sérias, como úlceras e infecções, e os sintomas apresentam grande impacto na qualidade de vida e de visão dos seus portadores. “Para garantir conforto e evitar possíveis complicações que os pacientes com olho seco podem experimentar com o uso de lentes de contato, devemos manter o melhor controle possível dos sinais e sintomas da doença através de medidas de reposição e retenção da lágrima e controle da inflamação da superfície”, orienta.

Ela diz que existem várias modalidades terapêuticas para cada uma dessas estratégias, que devem ser escolhidas de acordo com a apresentação clínica e comprometimento da superfície ocular. A utilização de colírios lubrificantes me-lhora os sintomas de desconforto, dilui hiperosmolaridade e mediadores inflamatórios presentes no filme lacrimal e ameniza o atrito palpebral nos portadores de olho seco. “Devemos atentar ainda para investigação e tratamento ade-quados das alterações palpebrais e disfunção das glândulas de Meibômio, que representam condições de alta prevalên-cia e contribuem para olho seco e desconforto com uso de lentes de contato”, conclui Monica. l

FATORES DE RISCO PARA OLHO SECO

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O bservando uma das fotos mais compartilhadas nas mídias sociais, passei a me perguntar: “Qual a relação entre um avião visto através de uma gota d’água em uma vidraça, um celular e o au-

mento da “miopia”? Na foto (ao lado), cuja autoria não consegui identificar, podemos observar através de uma janela de vidro repleta de gotículas de água o voo de um avião em um dia de chuva e onde cada gota cria uma imagem invertida, real e menor do avião. Logo, o efeito de lente criado pelas gotas nos apresenta uma realidade alterada do que se encontra ao longe.

É com essa observação que inicio este texto para tentarmos fazer uma pequena reflexão sobre o aumento da prevalência das “miopias”. Será que a condição e o hábito incessante de ver apenas objetos próximos aos olhos, como os tablets e smartphones, estão acarretando ou provocarão algum malefício às gerações Y e Z ou millennials? Retornarei a esta questão mais à frente!

Quanto à etimologia, o termo miopia se refere ao sufixo “myein” (apertar) e “opsis” (ver), fazendo refe-rência ao ato de as pessoas míopes apertarem os olhos para enxergarem melhor para longe sem correção. Conceitualmente, dizemos que um olho é míope quan-do, olhando para um objeto situado no infinito e sem utilizar a acomodação, sua imagem situa-se aquém do plano da retina. No entanto, trazendo esse objeto para próximo dos olhos, a imagem antes situada diante da retina pode ser deslocada até o plano onde entrará “em foco”. Tal fenômeno explica o porquê dos míopes terem uma boa visão para perto mesmo sem lentes auxiliares.

Diante do considerável aumento da prevalência mundial da miopia, principalmente à custa das altas dioptrias, vários fatores e algumas teorias tentam expli-car tal fenômeno. Fatores genéticos e ambientais, como maior utilização de dispositivos computacionais, menor prática de atividades outdoors e redução da exposição à

de miopia?

Estamos diante de um novo tipo

FRANCISCO IROCHIMAMédico oftalmologista pela UFRN. Professor

Adjunto do Serviço de Oftalmologia do

HUOL-UFRN. Professor do Mestrado em

Biotecnologia da UnP. TED Talker e escritor.

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luz solar têm sido implicados no aumento global dessa ametropia. Em alguns países orientais, a prevalência da miopia patológica já atinge 80% a 90% dos adolescentes e adultos jovens e responde por cerca de 12% dos casos de deficiência visual. Logo, resta admitir que a miopia já re-presenta um problema de saúde pública naqueles países.

Dá para perceber que o problema não está apenas em ter óculos pesados e antiestéticos como extensão da face durante seu dia, mas também nas complicações que as elevadas miopias podem acarretar para a visão. Desco-lamento de retina, maculopatia miópica e maior risco de glaucoma são possíveis consequências, com repercussões graves e diretas na acuidade visual. Tais ocorrências não só podem provocar graus variados de déficit visual e dependência, como podem resultar em danos psicoló-gicos, sociais e econômicos, como a incapacidade para o trabalho, lucros cessantes e encargos previdenciários.

Teorias possíveisAlgumas teorias vêm sendo aventadas para explicar

esse cenário. A primeira, e talvez a mais antiga, sugere que em indivíduos que apresentam atividades laborais com maior necessidade da acomodação, a contração do músculo ciliar tencionaria a esclera anterior em detrimento de uma menor tensão no polo posterior, provocando um aumento do diâmetro axial e evolução da miopia. A teoria do defocus periférico se baseia na hipótese de que, no olho míope, a retina periférica, ao contrário da central, é menos míope. Sendo assim, a utilização de lentes convencionais corrigiria a miopia central, porém provocando um efeito hipermetrópico periférico com consequente estímulo para aumento do diâmetro axial do olho. Por sua vez, a teoria do retardo na acomodação atribui o crescimento axial do olho e a progressão da miopia a uma resposta lenta da acomo-dação em indivíduos míopes. Nesses casos, durante a realização de atividades para perto, a imagem que se deslocaria posteriormente ao plano da retina demo-raria a ser reposicionada na retina, representando um estimulo à progressão.

O marcante aumento na prevalência de miopias ele-vadas observadas nas últimas três décadas, sobretudo nos países orientais, motivou a busca por novos mé-todos farmacológicos ou ópticos para conter essa evo-lução. A teoria acomodativa como uma das causas da progressão da miopia postulada por Kleper estimulou a realização de novos estudos e o resgate da atropina com modificações posológicas para tal fim. A atropi-na é um alcaloide extraído da planta Atropa belladon-na comercializado como colírio na forma de sulfato nas concentrações de 0,5% e 1% e indicado quando se

deseja obter midríase e cicloplegia. Consiste em um antagonista competitivo da acetilcolina nos recepto-res muscarínicos presentes no esfíncter da pupila e no músculo ciliar.

Em 2006, o The Atropine in the Treatment of My-opia (ATOM), um clinical trial que acompanhou 400 crianças de origem asiática, comprovou a efetividade da atropina na contenção da progressão da miopia. Porém, em 2016, Chia e colaboradores provaram que uma dose diária de 0,01% de atropina na forma de colírio era capaz de retardar a progressão da miopia com menos rebote e efeitos colaterais quando comparada com doses maiores. Mas será que há a progressão de outro tipo de miopia não refracional em curso? Será que o mundo está perdendo a capacidade de ver ao longe e deixan-do-se influenciar por fontes sempre à mão e acessíveis como os smartphones?

Falo agora de outra miopia! A miopia causada pela conectividade desenfreada nas redes sociais! Fazendo um retrospecto breve, estamos passando por uma das mais profundas transições do comportamento huma-no. Vejamos...! Nos anos 1970, nosso “Google” eram as velhas enciclopédias Barsa e Delta Junior e nosso computador era apenas uma máquina de datilografar Olivetti, que digitava mensagens a serem enviadas pelos correios à espera de respostas que poderiam demorar dias ou meses. Nossos telefones não “batiam” fotos e, diferentemente da leitura digital, eram bloqueados por um cadeado... kkkkkkk! Para fazer uma foto, tínhamos que utilizar máquinas analógicas sem ter a certeza do

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sucesso fotográfico, exercitando nossa paciência até a revelação. Bem diferente do imediatismo das “selfies” de hoje em dia!

Não tínhamos ipod, spotify ou deezer! Para abalar nas rodas de amigos, escolhíamos as músicas em LPs e gra-vávamos fitas K7 para fazer nossa playlist inteiramente personalizada. Éramos pouco tecnológicos, não tão rápi-dos, tínhamos mais regras, éramos menos influenciáveis! Naquela época, a família tinha basicamente três priorida-des: conseguir a casa própria, garantir a aposentadoria e colocar os filhos na faculdade. Não necessariamente nessa ordem. De lá para cá, conseguimos identificar quatro gera-ções: os baby boomers e as gerações X, Y e Z. Explico! Os baby boomers são aquelas pessoas nascidas nas décadas de 50 e 60. Viveram o apogeu do crescimento e superaram as expectativas dos seus pais. Hoje se encontram na terceira idade, não são usuários assíduos dos dispositivos móveis nem das redes sociais.

Os indivíduos da geração X, filhos dos baby boomers, são mais exigentes consigo mesmos devido ao sucesso dos pais. Viveram a chegada do computador e se comunicam mais por e-mails. Os nascidos entre 1980 e 1995 são os considerados pertencentes à geração Y. São os usuários contumazes dos dispositivos móveis, como tablets e smar-tphones, e têm preferência por se comunicarem por meio de texto em redes sociais. Por sua vez, a geração Z é com-posta pelos indivíduos nascidos após 1995. Representam o ápice da conectividade, são imediatistas e se comunicam por vídeos. Não se contentam em só escutar, seu cérebro é mais exigente. No entanto, de todas essas gerações, as Y e Z foram as mais atingidas pela quarta revolução in-dustrial, passando a ser altamente tecnológicos, rápidos, sem limites, mais influenciáveis e mais influenciadores.

Rapidez, superficialidade e instantaneidade A vida passou a ser mais rápida (Whatsapp), superfi-

cial (Facebook) e instantânea (Instagram), como alerta o psiquiatra Dr. Gustavo Xavier. Passaram a enjoar das coisas antes de consumi-las!!! E qual a explicação para isso? Em 1954, James Olds e Peter Milner, da Universidade de McGill, demonstraram em um experimento com ratos que pequenas descargas através de eletrodos implantados na área septal do cérebro daqueles animais faziam com que eles acionassem o estímulo repetidas vezes por meio de uma alavanca. Os ratos deixavam de dormir, de se ali-mentar e até de acasalar. Parecia que o ato de pressionar a alavanca proporcionava um prazer viciante! E era isso que acontecia! A descarga elétrica provocava a liberação da dopamina, neurotransmissor do reforço positivo, do sistema de recompensa! Será que hoje as redes sociais têm o mesmo efeito nas novas gerações?

O fato de postar uma simples foto e não receber “li-kes” ou “curtidas” imediatas e em um bom número é motivo de frustração e de nova busca implacável por segundos de prazer? A fórmula SUCESSO (S) = REA-LIDADE (R) – EXPECTATIVA (E) nunca esteve tão em voga! Uma “E” aumentada gera ansiedade e a ansiedade é o prenúncio da depressão. Estudos americanos que analisaram pacientes deprimidos de forma retrospectiva observaram que a grande maioria deles foram ansiosos sem tratamento na década anterior. Logo, a depressão não era o início da doença, era o final, a exaustão!!! Agora fica fácil entender o que vem ocorrendo nessas novas gerações...

Por que o suicídio já é a segunda causa de morte entre jovens? Por que jovens estudantes de medicina vêm tirando suas próprias vidas? Por que tantos jovens médicos estão doentes e tristes? Quando a expectativa é grande, gera ansiedade e quando o sucesso não vem, se estabelece a depressão! Mas não me entendam mal! Não há tudo de mal nas redes sociais! O problema é ter apenas nelas a base de formação ética, moral e de valores dessas novas gerações. É isso que dizem os es-pecialistas no assunto! Como resultado de tudo isso, já vem sendo descrita uma nova síndrome em jovens usuários das redes sociais, denominada FoMO (Fear of Missing Out). Ou seja, o medo de estar perdendo algo, de estar de fora!

Somado a tudo isso, aquele sonho acalentado nas décadas anteriores, no qual o simples fato de ingressar os filhos na universidade seria a garantia do sucesso, vem caindo por terra! Com a crise atual e o desempre-go batendo à porta de muitas famílias, as estatísticas mostram que o maior grau de desemprego, pouco mais de um milhão, vem sendo observado justamente em jovens egressos que detêm o nível superior. E isso não é só privilégio do Brasil. No Japão, o governo sugeriu o fechamento de todas as faculdades da área de humanas, por não justificarem os custos e a demanda de egressos no mercado japonês. Mais uma vez podemos validar aqui a fórmula: S = R – E!

Mas voltando à foto do avião, indagávamos: “Qual era a relação entre um avião visto através de uma gota d’água em uma vidraça, um celular e o aumento da “miopia”? Podemos perceber que o efeito de lente das gotas de água cria uma imagem diminuída, real e in-vertida da realidade. Já os celulares através das redes sociais nos transmitem uma imagem virtual, aumentada e invertida da realidade, contribuindo para o aumento da prevalência de uma “miopia” com correção ainda desconhecida e danos devastadores para a saúde mental dos nossos jovens! l

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quebrando paradigmas

Lentes de contato e fisiologia ocular:

MILTON RUIZ ALVESProfessor Associado da Faculdade de Medicina

da Universidade de São Paulo, SP.

P ara muitos profissionais de saúde, os doentes perderam a credibilidade. Acredita-se mais em duendes do que em doentes.1 E, como tendên-cia não é destino, a veracidade desta afirmação,

hoje, pode ser fruto da forma como está sendo conduzida a relação médico-paciente.

É importante dizer que a ideia deste artigo nasceu do propósito de levantar a discussão sobre como usar LC sem desrespeitar a fisiologia ocular. Não foi tarefa fácil. Cumpre destacar que a maioria dos eventos adver-sos relacionados à LC deve-se à falta de compliance do usuário com as recomendações médicas sobre o regime de uso e forma de manutenção da LC. Com o registro feito, deixo a advertência de que sem implementar ações de educação em saúde não se conseguirá a quebra de

paradigmas sobre como reduzir as complicações rela-cionadas ao uso da LC.

A questão formulada pelo editor é plausível. Quais os desafios para a oftalmologia, no sentido de quebrar paradigmas, tanto em relação a aumentar o número de usuários das lentes de contato como em fazê-los manter o respeito à fisiologia ocular?

O primeiro desafio é aumentar o número de usuários de LC.

Vargas e Rodrigues2 verificaram que os motivos das consultas oftalmológicas de 1.010 pacientes atendidos em serviço de atenção primária (consultório básico de oftalmologia) durante o período de seis meses foram: baixa de acuidade visual (37,4%); revisão dos óculos (19,0%); cefaleia (15,8%); prurido (10,4%); ardência/

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irritação dos olhos (7,8%); olho vermelho (7,2%). As autoras encontraram entre os exames anormais, erros refracionais (70,0%) e presbiopia (31,9%). A correção dos erros de refração encontrados poderia ser feita com óculos, LC ou cirurgia refrativa. Os óculos são usados pela sua praticidade, custo e cultura. Entretanto, quase todos os erros de refração poderiam ser corrigidos com LC e, em muitos casos, com vantagens visuais. A grande contribuição das autoras foi que a maioria das consul-tas em oftalmologia deveu-se aos vícios de refração e presbiopia.

Qual a lição que se pode tirar ao examinar os dados acima? Que o médico oftalmologista, em relação ao seu paciente, pode limitar-se à prescrição de óculos ou ofere-cer outras opções: LC ou cirurgia refrativa. Que a limita-ção das alternativas terapêuticas pode sugerir aos clientes que o médico não está preparado para opções que podem diminuir a sua dependência de óculos e, dessa maneira, não colaborar para a sua satisfação na consulta.

Comunicação médico-paciente Outro desafio é a forma de se comunicar com o pacien-

te. Será que os pacientes entendem as informações sobre saúde comunicadas pelos profissionais de saúde? Dados do Datafolha3 mostram que 81% dos pacientes não entendem o que os profissionais de saúde falam (Figura 1).

Não resta dúvida de que para o médico oftalmologista atuar no sentido de aumentar o número de usuários e ob-ter êxito em relação à adaptação de LC é necessário haver empatia com o paciente candidato a usuário; é um erro se preocupar de-mais com a parte técnica e deixar de lado o emocional; não há medicina bem-feita sem envolvimento, o bom médico dialoga (e muito). É preciso dar uma ideia clara da adaptação da LC, tem que explicar de forma didá-tica: “ensinando”... Às vezes, o médico se defende com linguagem inacessí-vel e se o candidato a usuário não entender direito, a comunicação fica falha. O bom médico é aquele que explica as opções.

Observe na Figura 2 como foram as respostas para a pergunta “Como o usuário de LC aprendeu sobre astig-matismo?” Pois é, para a grande maioria dos usuários de LC de todas faixas etárias, quem “ensinou” foi sempre o doutor.

Não resta dúvida de que para o médico oftalmologista atuar no sentido de aumentar o número de usuários e obter êxito em relação à adaptação de LC é necessário

Figura 1. Datafolha. Na sua opinião, os pacientes hoje, de um modo geral, conseguem ou não entender com facilidade as informações sobre saúde transmitidas pelos profissionais de saúde?3

haver empatia com o paciente candidato a usuário; é um erro se preocupar demais com a parte técnica e deixar de lado o emocional; não há medicina bem-feita sem envol-vimento, o bom médico dialoga (e muito). É preciso dar uma ideia clara da adaptação da LC, tem que explicar de forma didática: “ensinando”... Às vezes, o médico se defen-de com linguagem inacessível e se o candidato a usuário não entender direito, a comunicação fica falha. O bom médico é aquele que explica as opções.

Observe na Figura 2 como foram as respostas para a

pergunta “Como o usuário de LC aprendeu sobre astig-matismo?” Pois é, para a grande maioria dos usuários de LC de todas faixas etárias, quem “ensinou” foi sempre o doutor.

Observe, também, na Figura 3, as respostas para a per-gunta “Quais foram os fatores de influência na escolha da LC por usuários com e sem astigmatismo?”

Estas respostas demonstram que o médico oftalmolo-gista deve utilizar diversas formas para se comunicar com

Às vezes, o médico se defende com linguagem inacessível e se o candidato a usuário não entender direito, a comunicação fica falha. O bom médico é aquele que explica as opções

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Figura 2. Como o usuário de LC aprendeu so-bre astigmatismo? Modificado de Astigmatism Consumer Awareness and Usage Study. Bruno and Ridgeway Research Associates, 2007.4

Figura 3. Fatores de influência na escolha do tipo de LC por pacientes com e sem astigma-tismo. Modificado de Astigmatism Consumer Awareness and Usage Study. Bruno and Ridge-way Research Associates, 2007.4

os seus pacientes. Uma pesquisa de mercado feita pela So-ciedade Brasileira de Lentes de Contato (Soblec) apontou que a maioria dos pacientes que visita o médico oftalmo-logista gostaria de usar ou testar LC. Que eles esperam que o médico oftalmologista proponha ou indique o teste das lentes. E conclui que os pacientes não introduzidos à LC pelo médico oftalmologista dificilmente consideram essa possibilidade.

Um outro desafio é a escolha pelo médico oftalmologis-ta das LC que mais respeitam a fisiologia ocular daquele usuário em particular. Riley e colaboradores5 mostraram que um terço dos usuários de LC acaba descontinuando o seu uso, e deram a este fato o nome de sucesso marginal na adaptação de LC (Figura 4).

Os autores apontaram que os sintomas de ressecamento foram responsáveis por 37% a 67% destes insucessos, va-riando conforme o material da LC (Figura 5).

E mostraram, também, que os 112 pacientes “proble-mas”, readaptados com LC de SiHi de uso único, demons-traram redução significativa na prevalência dos sintomas antes e depois da readaptação da LC (Figura 6).

Falta de complianceResta-nos, por fim, responder ao desafio: “Como fazer

para que o usuário de LC mantenha o respeito à sua fisio-logia ocular?”

Bui e colaboradores6 demonstraram que uma grande proporção dos usuários não adota compliance a despei-to do conhecimento dos fatores de risco de complica-ções relacionadas à LC e, pior ainda, verificaram que só a educação do usuário não é suficiente para mudar o seu comportamento.

Hickson-Curran e colaboradores7 avaliaram o com-

Figura 4. Sucesso marginal na adaptação de LC. Modificado de Riley e colaboradores.5

portamento e as atitudes de usuários de LC com relação ao tempo de descarte, higiene e troca dos estojos. Os au-tores verificaram que entre 645 usuários de LC de troca programada de duas semanas, 45% trocavam suas LC em até duas semanas; 68% em até três semanas, 89% em até quatro semanas e 4% em oito semanas ou mais. Verifi-caram, também, que entre 787 usuários de LC de troca programada mensal, apenas 45% trocavam suas LC em até quatro semanas; 37% em até cinco semanas; e 23% em oito semanas ou mais.

Ou seja, os autores apontaram uma compliance menor com a utilização de LC de troca programada com tempo de descarte maior. Mostraram, ainda, com relação à higiene

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do estojo, que a média dos usuários higienizava os estojos em média duas a três vezes por semana - embora 33% deles higienizassem o estojo uma vez por mês ou menos. Com relação à troca do estojo, verificaram que ocorria, em média, uma troca a cada quatro-seis meses e que 48% trocavam o estojo uma vez por ano ou mais. Pior ainda, verificaram que a maioria dos usuários (72%) utilizava água fria para higienizar o estojo.

Educação em saúdeNão há como contestar que há

falta de compliance dos usuários de LC com relação ao tempo de descar-te, manutenção, higienização e troca do estojo. Apesar de o conhecimento nem sempre mudar a atitude e o com-portamento, há que se apostar muito na educação em saúde.

Para incrementar a educação em saúde do usuário da LC, portanto, cada médico oftalmologista deve começar avaliando os materiais e recursos disponíveis no consultório (ou clínica), ouvir mais o usuário, perguntar sobre o que gostaria de saber sobre as suas LC, etc. Deve verificar o que as sociedades de subespecialidade têm a oferecer com o intuito de educar os usuários (fôlderes, vídeos, etc.).

É necessário investir no marketing interno. A informa-ção da disponibilidade do teste de LC no consultório (ou clínica) deve ser clara e direta, pois facilita a decisão do cliente de realizar o teste e a percepção de que existe outra solução para o seu caso. Deve disponibilizar folhetos com

informações sobre tipos de lentes e problemas de refração que podem ser corrigidos com as lentes e as vantagens sobre o uso dos óculos. Na entrega das lentes ao cliente deve fornecer folheto com explicações claras sobre o tempo de uso, limpeza e demais cuidados; são ações que contri-buem para o uso correto e a diminuição de complicações relacionadas às LC.

A comunicação entre médico e paciente influencia di-retamente no resultado do tratamento, por isso é preciso estar atento às suas queixas e reclamações. A explicação

é a melhor forma de conseguir atenção e compliance às recomendações de como usar e conservar as LC. O médico oftalmologista precisa dizer claramente, em uma lingua-gem que o usuário entenda, o que ele tem e quais são as opções de tratamento disponíveis.

Avanços tecnológicosNão há como deixar de reconhecer que as LC evoluíram

e inovaram nos materiais, desenhos, regimes de uso, etc.

Figura 5. Distribuição dos sintomas na amostra de usuários de LC. Modificado de Riley e colaboradores.5

Figura 6. Distribuição dos sintomas na amostra de usuários de LC, antes e depois da readaptação com LC de SiHi de uso único. Riley e colaboradores.5

É necessário investir no marketing interno. A informação da disponibilidade do teste de LC no consultório (ou clínica) deve ser clara e direta, pois facilita a decisão do cliente de realizar o teste e a percepção de que existe outra solução para o seu caso

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No entanto, mesmo assim, ainda ocorrem complicações, algumas vezes graves - felizmente, não tão frequentes. Os carros também evoluíram. A incorporação de novos desenhos, materiais e tecnologias, com certeza, os tor-naram, também, muito mais seguros. No entanto, vez ou outra, acontecem complicações muito graves. Observe na Figura 7 como ficaram dois carros de luxo, um Porsche e o outro Hyundai Tucson, que se envolveram em acidente numa madrugada, em um cruzamento de ruas no Itaim Bibi, na Zona Sul de São Paulo. Um dos carros estava a 150 km/h, segundo a perícia.

Convenhamos, a saúde, maior bem do ser humano, é di-nâmica. Os avanços tecnológicos são fascinantes e estão mu-dando a medicina para melhor. Com o desenvolvimento das LC, não está sendo diferente. É preciso conhecer e “ensinar” os usuários de LC sobre benefícios e riscos. A maioria dos usuários, mesmo a parcela dos “bem informados”, é reprova-da na avaliação de compliance com os cuidados de descarte e conservação das LC. Não há como deixar de considerar que os avanços tecnológicos são carregados de tentações. O próprio fascínio pela tecnologia pode muitas vezes relaxar o zelo necessário para manter o respeito à fisiologia ocular.

A fundamentação de qual ação priorizar, no sentido de reduzir-se as complicações relacionadas ao uso das LC, foi “apropriada” de Nelson Mandela: “Educação é a arma mais poderosa que se pode usar para mudar o mundo”; John Dewey: “Educação é um processo social, é desenvolvimen-to. Não é a preparação para a vida, é a própria vida”; e de Paulo Freire: “Educação não transforma o mundo. Muda as pessoas. Pessoas mudam o mundo”.8

Referências1. Malik AM. Tendências e desejos. In: SPDM (org.).

A saúde no Brasil em 2021. Reflexões sobre os desa-fios da próxima década. São Paulo: Cultura Acadêmica. 2012:271-274.

2. Vargas MA, Rodrigues MLV. Perfil da deman-da em um serviço de atendimento oftalmológico em unidade de atenção primária. Rev Bras Oftalmol. 2010;69(2):77-83.

3. Datafolha. Informação, comunicação e saúde. A saúde no Brasil em 2021. Reflexões sobre os desafios da próxima década. SPDM (org). São Paulo: Cultura Acadêmica. 2012:313.

4. Astigmatism Consumer Awareness and Usage Study. Bruno and Ridgeway Research Associates, 2007

5. Riley C, Young G, Chalmers R. Prevalence of ocu-lar surface symptoms, signs and uncomfortable hours of wear in contact lens wearers. The effect of refitting with daily-wear silicone hydrogel lens (Senofilcon A). Eye & Contact Lens 2006;32(6):281-86.

6. Bui H, Cavanah HD, Robertson. Patient complian-ce during contact lens wear: perceptions, awareness, and behavior. Eye & Contact Lens 2010;36(6):334-39.

7. Hickson-Curran S et al. Patient attitudes and beha-vior regarding hygiene and replacement of soft contact lenses and storage cases. Contact Lens Anterior Eye (2011). doi:10.1016/j.clae.2010.12.005.

8. Frases sobre Educação. Disponível em: http://educamais.com/frases-sobre-educacao/. Acessado em 13/01/2018. l

Figura 7. Carros de luxo envolvidos em acidente em SP, um deles estava a 150 km/h, diz perícia.

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C leber nos deixou na manhã de 2 de janeiro de 2018. A manhã belo-horizontina nasceu de céu claro, morna, inteira de sol, pulsando de vida e alegria. A mesma vida, a mesma alegria que

sempre transbordaram do coração de Cleber. Mas, mesmo assim, Cleber Godinho resolve nos acenar com um adeus. Definitivo, para sempre? Não sabemos, temos nossas dú-vidas sobre se essa despedida é pra valer.

Primeiro, porque por tudo o que Cleber foi e repre-sentou para a família, os amigos, a Oftalmologia e, espe-cialmente, a Contatologia brasileira, ele continuará entre nós, atuante, produtivo, criando e ensinando, dando um permanente exemplo de competência, generosidade, lisura e fraternidade. Depois, porque os amigos queridos (e ele é um desses) nunca partem sozinhos, sempre levam um pouco de nós com eles.

Formado em Medicina em 1973 (UFMG), terminou sua Residência Oftalmológica em 1976 (Hospital São Ge-raldo, Serviço do Professor Hilton Rocha), e em março de 1979 passou a integrar a equipe de oftalmologistas do Ins-tituto Hilton Rocha, a convite do Mestre Hilton. Ficou lá

por 13 anos e em 1992 assumiu a chefia do Departamento de Lentes de Contato do Instituto de Olhos de Belo Ho-rizonte (IOBH), onde permaneceu até setembro de 2017.

Tantos anos de estudos, dedicação e divulgação dos co-nhecimentos e da prática contatológica concorreram para o crescente prestígio da especialidade entre nós, valorizan-do as lições deixadas pelos mestres que o antecederam. O “Curso Cleber Godinho”, de lentes de contato, o primeiro em julho/97 chegou, em 2015, à sua 21ª edição, forman-do 3.419 alunos. Atestando sua alta qualidade científica e didática, o Curso despertou tanto interesse que vários colegas o repetiram três-cinco vezes, em anos alternados. Competente, seguro, carismático e desprendido, esses da-dos respaldam o reconhecimento de que Cleber deixou a maior escola brasileira de Contatologia.

Não vai nenhum exagero com o reconhecimento de que foi Cleber Godinho quem maior contribuição deu ao desenvolvimento racional da Contatologia entre nós. Cleber costumava nos dizer que sua satisfação de ensinar advinha da oportunidade de formar bons alunos e con-correntes melhores que ele.

Cleber Godinho

A morte ou a curva da estrada de

ELISABETO RIBEIRO GONÇALVESPresidente do Conselho Brasileiro de Oftalmologia

(gestão 2003/2005). Chefe do Departamento

de Retina e Vítreo do Instituto de Olhos

de Belo Horizonte. Presidente da Sociedade

Mineira de Oftalmologia.

A morte é a curva da estrada, morrer é só não ser visto (Fernando Pessoa, o andaime, 135).

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Page 36: LENTES DE CONTATO E FUNÇÃO VISUAL · 2018-04-10 · LENTES DE CONTATO E FUNÇÃO VISUAL SUPLEMENTO É PARTE INTEGRANTE DA REVISTA UNIVERSO VISUAL, EDIÇÃO 104 - FEVEREIRO/MARÇO

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Parte de uma mensagem no Whatsapp de sua filha, Izabela Godinho, também oftalmologista, nos diz muito bem do que foi seu pai, de sua importância para a Con-tatologia, para os amigos e clientes: para todos, Cleber Godinho foi um ser humano alegre, honesto, de muita luz, um médico de homens e de almas. Para os oftal-mologistas ele será eternamente o Mago das Lentes de Contato, o Papa das Lentes, o Professor Cleber Godinho, aquele que viajou o país inteiro ensinando lentes, espa-lhando luz e amor!

O Instituto de Olhos de Belo Horizonte (IOBH) sen-te-se particularmente triste com o desaparecimento do querido colega, amigo, sócio e colaborador incansável desde sua inauguração em 1992. Durante 26 anos Cleber esteve conosco, solícito e solidário. Perdê-lo agora nos deixa um vazio imenso, um sentimento de desamparo, muito próximo ao da orfandade.

A propósito da morte, Rosa, ao mesmo tempo em que afirma, interroga: “a morte é para os que morrem. Será?” Essa dúvida roseana é também nossa: Cleber nos leva na imensa saudade que deixa e fica na lembrança indelével do amigo que sempre estará conosco. Mesmo porque a poesia de Vinicius nos ensina que “da morte, apenas nascemos, imensamente.” Por isso, não acreditamos que

Cleber (nosso Clebim) te-nha partido.

Amanhã estaremos jun-tos no consultório, ouvindo suas histórias engraçadas, deixando-nos contagiar com seu bom humor, sua vivacidade, seu arraigado amor à vida. Cleber apenas em-preendeu mais uma de suas tantas viagens, divulgando co-nhecimentos da teoria e da prática contatológica, fazendo amigos e alunos. Cleber não partiu de vez, ele apenas dei-xou, momentaneamente, de ser visto ao dobrar a curva de uma das muitas estradas percorridas por ele. Logo, logo, estaremos reunidos para, ao fim de um costumeiro, sau-dável e divertido papo, repetir o pedido de sempre: não some não, Clebim!

Os oftalmologistas brasileiros e mineiros, estes reuni-dos na Sociedade Mineira de Oftalmologia, da qual era membro titular e à qual sempre emprestou a força de seu prestígio e entusiasmo, e o Instituto de Olhos de Belo Ho-rizonte, lamentam profundamente o desaparecimento do nosso Cleber Godinho e se solidarizam com a família (Ana Maria, sua esposa, seus filhos, nora e neto, Juliana, Izabela, Rodrigo, Ana Paula e João Vítor), clientes e amigos. l

CLEBER GODINHO

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