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Lei X Graça Silvio Dutra DEZ/2015

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Lei

X Graça

Silvio Dutra

DEZ/2015

2

A474 Alves, Silvio Dutra Lei x Graça./ Silvio Dutra Alves. – Rio de Janeiro, 2015. 402p.; 14,8x21cm 1. Teologia. 2. Alianças. 3. Condenação 4. Testamentos. 5. Justificação. 6. Libertação I. Título.

CDD 230

3

Sumário

Introdução..................................................... 6 É Irrevogável e Indissolúvel Porque é Eterna...........................................................

10

Deixar que a Graça nos Conduza................ 12 Não é por Persuasão, mas por Graça.......... 14 A Graça Está Destinada a Vencer................ 16 Senhor Justiça Nossa................................... 22 A Firmeza da Nossa Aliança com Cristo....... 27 O Que é Estar Debaixo da Graça e Não da Lei.................................................................

34

A Graça não Condena.................................. 38 Graça Sobre Graça....................................... 42 A Troca da Antiga Aliança pela Nova........... 44 Jesus Não Veio Condenar Mas Salvar......... 56 A Justiça do Evangelho Não é Juízo............ 59 O Real Significado da Graça......................... 62 Uma Nova Aliança Diferente da Antiga......... 65 Uma Aliança Firmada em Graça................... 67 A Bênção da Graça Perdoadora................... 73 A Graça Está Sujeita a Decadências............ 81 Alianças e Dispensações Para um Único Propósito.......................................................

83

A Graça Nunca Desconsidera o Viver Pecaminoso..................................................

94

A Graça se Manifesta na Nossa Fraqueza... 101 A Justiça do Evangelho Testemunhada pela Lei e pelos Profetas......................................

106

A Justiça Manifestada sem Lei..................... 111 A Luz da Lei e a do Evangelho..................... 122 É Pela Graça mas Não é Fácil Conforme Possa Parecer ..............................................

124

4

Impossível para a Lei mas Não para a Graça que Opera pela Fé.............................

126

Uma Graça que Cresce................................ 131 Todo Mérito é da Graça................................ 132 O Recebimento é Gratuito Mas é Condicional...................................................

138

Graça............................................................ 140 Justa Cooperação da Graça com a Vontade Consciente....................................................

143

A Dispensação do Espírito Santo................. 145 A Graça Opera Pela Obediência.................. 149 A Graça Supera a Aflição............................. 151 Cobre como as Águas do Dilúvio................. 154 A Graça não Condena.................................. 156 O Modo de Concessão da Graça.................. 160 A Aliança da Graça – 2 Samuel 7................. 162 Características do Evangelho Verdadeiro..... 171 Como Saber Qual é o Evangelho Verdadeiro?...................................................

174

O Evangelho Não Condena.......................... 179 Por Que Jesus Não Veio Condenar?............ 182 O Que é Estar Debaixo da Graça e Não da Lei.................................................................

185

Aceitos por Causa da Justificação................ 189 Quem Condenará a Quem Deus Justifica?.. 191 Resgatados da Ira e da Maldição................. 194 Cristo, Nossa Redenção, Justiça e Santificação...................................................

196

O Que é a Antiga Aliança.............................. 243

5

O Que é a Nova Aliança............................... 246 A Graça Exige Perseverança........................ 261 Pregar o Evangelho a Toda Criatura............ 273 Uma Nova Esperança para Adúlteros e Ladrões.........................................................

283

O Que é a Caducidade da Letra................... 295 O Jugo da Lei de Moisés e o de Jesus......... 299 Fazer a Vontade de Deus é Mais do que Cumprir a Lei Moral.......................................

307

Como o Crente Está Morto Para a Lei?....... 312 O Espírito Santo é uma Promessa da Nova Aliança..........................................................

317

A Antiga Aliança Era Figura da Nova............ 328 A Finalidade da Lei....................................... 332 Jesus Livrou o Crente do Jugo da Lei........... 338 Breve Comentário de Gálatas 4.................... 342 Breve Comentário de Gálatas 5.................... 370

6

Introdução

Há cerca de vinte anos, em uma visão noturna,

vi escrito em letras douradas gigantes as

palavras do nosso título, como se estivessem em chamas, escritas exatamente na forma como as

estamos apresentando.

Junto com a visão fui instruído em espírito com as seguintes palavras: “você escreverá um livro

sobre este assunto”.

Ao que repliquei: “Senhor tu conheces a dificuldade que tenho para entender de modo adequado qual é a relação que existe entre a lei

e a graça.

Ao que simplesmente respondeu: “eu te darei entendimento”.

Era uma madrugada fria de inverno, e por cerca de três horas despertei do meu sono, e ainda

naquela mesma noite comecei a escrever, com a Bíblia aberta à minha frente, as coisas que me

vinham à mente na referida ocasião.

Animado pela visão comecei a estudar o assunto com maior afinco e recordo que cheguei a

preparar um esboço de livro com cerca de cento e cinquenta página, todavia, sentia que algo de

substancial faltava à minha exposição, de

maneira que não tendo desistido de prosseguir

7

interessado no tema, abandonei a ideia de

escrever o livro.

Posteriormente, em nova revelação, cerca de dez anos depois da primeira, foi-me ordenado

em sonho que “fosse aos puritanos e a Martyn LLoyd Jones”, sem que nada mais fosse

acrescentado.

Até a ocasião, por incrível que possa parecer, pois já havia sido ordenado ao pastorado, nunca

tinha ouvido falar sobre os mesmos.

Creio que esta instrução tinha a ver com a primeira visão, para que eu fosse conduzido a

um melhor entendimento do significado do

Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo, e como

é que a Lei de Deus se relaciona a ele.

Desde então, comecei a escrever abundantemente sobre o assunto em diversos

artigos, sem no entanto condensá-los em um

livro – tarefa à qual estou me entregando neste fim do ano de 2015.

Em vez de apresentar o assunto de forma didática e acadêmica, optei por uma forma mais

direta e simples, sem me ater a qualquer arranjo

prévio quanto à divisão do assunto em capítulos.

Na verdade, se o fizesse, ficaria muito limitado no desenvolvimento do tema, pois quantos

capítulos seriam suficientes para abranger de

modo profundo um assunto que é em sua

8

natureza infinito e eterno, a saber, o da lei e a

graça de Deus?

Com a apresentação livre dos diversos artigos, cremos que poderemos observar melhor o

assunto em seus diversos ângulos, de modo a obtermos uma maior compreensão de tudo o

que é de vital importância para o nosso

conhecimento.

Estamos fazendo uma consideração prática do

tema porque ele tem muito a ver com a nossa vida prática.

Não se trata de algo para apenas satisfazer a nossa curiosidade ou desejo de ampliar nossos

conhecimentos, mas temos diante de nós algo que se relaciona à vida ou à morte; à bênção ou à

maldição eternas.

Como poderíamos então tratá-lo de modo descuidado ou não objetivo?

Tenho testemunhado que muitos que andavam na graça, vieram a decair da mesma, e não acharam qualquer auxílio na Lei para serem

reerguidos.

Como pode ser então isto?

Não é a Lei proveniente do mesmo Deus de toda a graça?

9

Esta e muitas outras questões serão respondidas ao longo das páginas deste livro, que espero, seja

de grande ajuda para reerguer os caídos e

manter em firmeza os que continuam de pé na presença do Senhor.

10

É Irrevogável e Indissolúvel Porque é

Eterna

Deus fez uma aliança eterna com os cristãos, e

prometeu isto desde os dias dos profetas, e o

prometeu especialmente a Davi.

Sendo eterna não pode ser anulada.

Sendo aliança em seu caráter matrimonial onde Ele é o esposo, e a igreja a noiva, o que se requer então dos aliançados é que eles sejam fiéis.

Deus sempre será fiel porque não pode se negar a si mesmo.

Todavia, os cristãos, por causa do resquício de corrupções que remanescem na natureza

terrena, são exortados a serem fiéis em tudo durante a sua peregrinação terrena, porque, tal

casamento, do Criador com a criatura, requer

isto.

Deus continuará amando seus filhos adúlteros, mas os sujeitará à disciplina da aliança.

Ele não os repudiará porque tem prometido manter o compromisso por toda a eternidade.

Diante de tal caráter imutável da promessa que Ele fez, não resta aos aliançados senão a

alternativa de serem também fiéis, de modo que

11

se viva de modo agradável Àquele com os quais

se aliançaram numa união de amor indissolúvel

e eterno.

Ao falar do caráter eterno da Nova Aliança que faria com os crentes por meio da fé em Jesus

Cristo, Deus disse que esta consistiria na fiéis

misericórdias que havia prometido a Davi.

“Inclinai os ouvidos e vinde a mim; ouvi, e a vossa alma viverá; porque convosco farei uma

aliança perpétua, que consiste nas fiéis

misericórdias prometidas a Davi.” (Isaías 55:3)

Esta promessa de Isaías 55.3 foi confirmada em Atos 13.34.

Davi fizera menção ao caráter eterno desta aliança em suas últimas palavras antes de

morrer:

“Não está assim com Deus a minha casa? Pois estabeleceu comigo uma aliança eterna, em

tudo bem definida e segura. Não me fará ele

prosperar toda a minha salvação e toda a minha

esperança?” (II Samuel 23.5)

12

Deixar que a Graça nos Conduza

“Por isso, pondo de parte os princípios elementares da doutrina de Cristo, deixemo-

nos levar para o que é perfeito,” (Hebreus 6.1)

Este “deixemo-nos levar para o que é perfeito”

se refere à vocação de Deus para todos os

cristãos de crescerem na graça e no

conhecimento de Jesus Cristo, até a estatura de varão perfeito.

Não que eles chegarão ao estado de perfeição moral absoluta sem qualquer pecado enquanto estiverem neste mundo, mas que devem chegar

à perfeição espiritual, à plenitude do

desenvolvimento das suas faculdades, para

poderem discernir tanto o bem quanto o mal, o que é possível somente para aqueles que

chegarem à plenitude do seu amadurecimento

espiritual, de maneira a estarem aptos a darem

um correto e adequado testemunho da verdade, no poder do Espírito (Pv 4.18; I Cor 2.6; II Cor

13.11; Ef 4.13; Fp 3.15; Col 1.28; 2.6; 4.12; II Tim

3.16,17; Hb 5.12-14; Tg 1.4).

Esta perfeição é atingida se aperfeiçoando a santidade no crescimento da graça e do

conhecimento de Jesus Cristo (II Cor 7.1; Ef 4.12;

Hb 13.21; I Pe 5.10).

Do mesmo modo que há uma perfeição a ser esperada no porvir que é total e absoluta, sem

13

qualquer pecado, há também uma perfeição que

é para ser buscada e atingida enquanto ainda

estamos neste mundo e que se refere ao nosso

amadurecimento espiritual pelo crescimento progressivo em santificação até atingir tal

medida de perfeição que foi proposta por Deus

aos cristãos, e conforme foi exigida ao próprio Abraão: “Anda na minha presença e sê

perfeito.” (Gên 17.1).

O cristão deve ser confirmado por Deus, depois de ter sido aperfeiçoado na fé, no amor e na

esperança, pela renovação de sua mente e caráter, através do processo da santificação.

Somente assim, poderá se achar fortificado e

fundamentado (I Pe 5.10).

Assim, o “deixemo-nos levar” do texto significa permitir e cooperar voluntariamente com trabalho da graça na nossa vida, especialmente

pela paciência nas tribulações e aflições.

Sabendo que tudo coopera juntamente para o seu bem o cristão perseverante na fé e na

santificação há de experimentar graus cada vez maiores desta perfeição relativa ao seu

amadurecimento espiritual, conforme lhes

serão concedidos por Deus.

14

Não é por Persuasão, mas por Graça

Uma pessoa não é salva por Cristo por meio de

argumentos humanos persuasivos.

Ainda que alguém pudesse compreender nocionalmente todos os mistérios espirituais

concernentes à justificação pela fé, à regeneração e santificação do Espírito Santo, ele

não poderia ser salvo e santificado a menos que

estas realidades espirituais lhe fossem

comunicadas de modo experimental pela graça divina.

Sem uma experiência real de conversão, sem que o próprio Espírito Santo opere em nós esta

salvação, continuaremos os mesmos de sempre,

só que com a diferença de possuir agora conhecimentos religiosos.

Por isso a fé não é apenas o assentimento da nossa mente às verdades reveladas, ou seja, a

nossa aceitação de que a Palavra de Deus seja a verdade.

Além deste assentimento é necessário a confiança em Cristo que nos leva a nos entregar

inteiramente a Ele e ao Seu trabalho e cuidado. Isto consiste em se apropriar do conhecimento

da verdade ao qual demos o nosso assentimento

que se torna real e prático na nossa confiança no

15

Senhor e na disposição de cumprir os Seus

mandamentos e vontade.

Deus honrará este tipo de fé que é mais do que mero conhecimento e assentimento relativo à

verdade.

E responderá com a concessão da Sua graça e poder para operar a nossa transformação

(conversão, santificação etc).

16

A Graça Está Destinada a Vencer

Satanás arremete contra nós, procurando nos

destruir, quando estamos enfraquecidos e

doloridos.

Tal como Simeão e Levi deram sobre os siquemitas, quando estavam abatidos em dores,

pela circuncisão (Gên 34.25).

Todavia, Cristo nos fortalece na nossa fraqueza,

e habita com o quebrantado de coração (Is 61.1).

Não desprezemos o trabalho de humilhação de nossas almas, pelo qual o Senhor administra a

nós a Sua graça em maior medida.

Sempre é deixado algo para que os cristãos lutem, de modo que entendamos que

necessitamos de Cristo, para que possamos

exalar o Seu bom perfume.

Mas ainda que possa parecer um paradoxo, são estes corações quebrados como canas, e estes

pavios fumegantes que fazem as orações mais

preciosas diante de Deus, por causa da

dependência dos gemidos inexprimíveis do Espírito, através deles.

Quão preciosas são para o Senhor as orações que fazemos com um coração quebrantado!

17

Assim, ao falarmos de pavio fumegante devemos ter em conta que isto tem o propósito

de nos lembrar que a menor fagulha da graça é

preciosa.

Há uma bênção especial nesta pequena faísca.

Jesus não veio salvar justos e sãos, mas pecadores e enfermos.

Deus se agrada de que nos alegremos com os

humildes começos.

Ele se agrada em usar grãos de mostarda e formar grandes arbustos a partir destas

pequenas sementes.

Ele preferiu a pequena cidade de Belém Efrata, e não Jerusalém, para nos trazer o Salvador.

Ele não começou a Igreja com pessoas notáveis, poderosas, nobres, importantes e nem mesmo

com um grande número de seguidores.

O Seu método é primeiro provar fidelidade no pouco, para depois conduzir ao muito.

O Seu ministério é restaurador e nos deu um exemplo disto na reconstrução dos muros e

portas de Jerusalém com Neemias.

E muito mais do que muros e portas, Ele está interessado em restaurar vidas. E fará isto

principalmente com paciência e amor.

18

Os pastores devem então, ser pessoas simples e humildes, seguindo o exemplo do Senhor deles,

e exporem a verdade de maneira clara, e nunca

de forma obscura.

A verdade não teme algo tanto quanto o encobrimento, e não deseja algo tanto que seja

exposta clara e abertamente à visão de todos.

Daí Jesus ter dito que tudo o que ensinou reservadamente aos discípulos deveria ser

proclamado de cima dos telhados.

Paulo era profundo, no entanto se tornou como ama acariciando seus filhos (I Tes 2.7), e se fez

fraco com os fracos (I Cor 9.22).

Cristo desceu do céu e se esvaziou de Sua majestade, para se oferecer a nós, como oferta

suave de amor. E não desceremos de nossas

elevadas vaidades para fazermos o bem a qualquer alma necessitada de salvação?

Devemos nos guardar daquele espírito que em vez de exibir paciência, longanimidade, mansidão e misericórdia aos homens,

demonstra fúria, exaltação e ira obstinada,

ainda que em nome de fazer prevalecer a

verdade.

Devemos lembrar que não podemos fazer prevalecer a verdade agindo contra a verdade.

19

Devemos nos lembrar sempre que o fruto da justiça é semeado em meio à paz, sobretudo, a

paz interior dos nossos corações, enquanto

ministramos.

No exercício da disciplina na Igreja devemos nos

acautelar para não tentar matar uma mosca na testa de alguém com um martelo. O poder que é

dado à Igreja é para edificação e não para

destruição.

O amor cobre uma multidão de transgressões. Não foi exatamente isto que Deus fez conosco ao

perdoar todos os nossos pecados, quando nos salvou em Cristo?

O Espírito Santo está contente em habitar em almas fumegantes e ofensivas. Que nós

pudéssemos reter algo desta mesma disposição

misericordiosa!

A graça não reside em almas perfeitas neste mundo. Lembremos sempre disto.

Como nenhum cristão se encontra em estado de perfeição absoluta deste outro lado do céu,

então nós temos que nos exercitar sempre em espírito de misericórdia, de perdão e mansidão.

Por isso, nunca devemos nos julgar, de acordo com os nossos sentimentos presentes, porque

nas tentações nós veremos muita fumaça

desprendendo de pensamentos incorretos.

20

Nós devemos nos precaver do falso raciocínio, porque nosso fogo não é como o dos demais, ou

então por parecer que não há qualquer fogo em

nós.

As portas de Jerusalém estavam queimadas, mas Deus providenciou para que fossem

restauradas através de Neemias, de forma que

erraram todos aqueles que pensavam que

Jerusalém permaneceria sem portas para sempre.

Devemos lembrar que estamos na Aliança da Graça, em que nem toda medida é como fogo

pleno, pois há muita faísca, que deve ser

também vista como chama.

Todos os cristãos têm a mesma fé preciosa (II Pe 1.1) por meio da qual obtiveram a perfeita justiça

de Cristo.

Uma mão fraca pode pegar uma joia preciosa.

Algumas uvas mostrarão que a planta é uma videira e não um espinheiro.

Uma coisa é ser deficiente na graça e outra coisa

não ter qualquer graça.

Deus sabe que nós não temos nada de nós mesmos, então na aliança da graça Ele não

requer nada além do que Ele dá, e que sempre

nos dá o que Ele requer.

21

Se não pudermos trazer um cordeiro, então permitirá que tragamos duas pombas e uma rola

(Lev 12.8).

O evangelho é uma moderação misericordiosa, em que a obediência de Cristo é estimada como

sendo a nossa (Rom 5.19).

22

Senhor Justiça Nossa

No capítulo 23 de Jeremias o Senhor repreende

a infidelidade e a corrupção dos sacerdotes e

anciãos de Israel (pastores do povo naquela dispensação) e os profetas que falavam em Seu

nome sem terem sido levantados por Ele, os

quais haviam feito o Seu povo se desviar da Sua presença.

O protesto de Deus se fundamenta no fato deles nunca terem ensinado a Sua Palavra, conforme fora revelada e escrita para eles, senão, aquilo

que eles afirmavam ser a Sua Palavra, quando na

verdade, era a própria palavra deles, ensinada

para atender aos seus propósitos cobiçosos, interesseiros, carnais e egoístas.

Isto pode ser visto claramente nas palavras de repreensão dirigidas contra eles como as da seguinte passagem:

“28 O profeta que tem um sonho conte o sonho;

e aquele que tem a minha palavra, fale fielmente a minha palavra. Que tem a palha com o trigo?

diz o Senhor.

29 Não é a minha palavra como fogo, diz o Senhor, e como um martelo que esmiúça a

pedra?

23

30 Portanto, eis que eu sou contra os profetas, diz o Senhor, que furtam as minhas palavras,

cada um ao seu próximo.

31 Eis que eu sou contra os profetas, diz o

Senhor, que usam de sua própria linguagem, e dizem: Ele disse.” (Jer 23.28-31).

O efeito que era produzido no povo, de andarem contrariamente com o Senhor, era uma prova

evidente de que a vida e o ensino destes pastores

e profetas não eram segundo a verdadeira Palavra de Deus, porque o efeito dela é sempre o

de produzir temor e santidade no Seu povo,

como o próprio Senhor se expressou em relação a isto da seguinte maneira:

“21 Não mandei esses profetas, contudo eles foram correndo; não lhes falei a eles, todavia

eles profetizaram.

22 Mas se tivessem assistido ao meu conselho, então teriam feito o meu povo ouvir as minhas palavras, e o teriam desviado do seu mau

caminho, e da maldade das suas ações.” (v.

21,22).

O que eles ensinavam e profetizavam não provinha do céu senão dos seus próprios corações enganosos e corrompidos:

“25 Tenho ouvido o que dizem esses profetas que profetizam mentiras em meu nome,

dizendo: Sonhei, sonhei.

24

26 Até quando se achará isso no coração dos profetas que profetizam mentiras, e que

profetizam do engano do seu próprio coração?

27 Os quais cuidam fazer com que o meu povo se

esqueça do meu nome pelos seus sonhos que cada um conta ao seu próximo, assim como seus

pais se esqueceram do meu nome por causa de

Baal.”

Isto é um grande alerta para os ministros do

evangelho, para que não incorram no mesmo erro deles, deixando de pregar a genuína

Palavra do Senhor, no poder do Espírito.

Quando se desvia deste rumo os resultados sempre serão funestos.

Há muitos sonhadores que desejam conduzir a

Igreja de Cristo pelas visões do seu próprio coração, afirmando que são revelações

recebidas da parte de Deus.

Se estas visões não estiverem de acordo com a Palavra revelada na Bíblia, em gênero, número e grau, em vez de serem proclamadas, devem ser

esquecidas e abominadas, porque não será

apenas o povo que será prejudicado por elas,

mas o próprio Deus terá a Sua ira despertada contra tais pastores ou profetas, como se vê

neste capítulo de Jeremias.

Como o quadro que havia prevalecido em Israel por séculos, sempre foi este de o povo não

25

receber a devida instrução por parte da grande

maioria de seus pastores e profetas, então o

Senhor mesmo seria o Pastor do Seu povo, e o

faria através de pastores que estariam debaixo da justiça de um Rei justo que procederia da

descendência de Davi, nosso Senhor Jesus

Cristo, e estando assim justificados por Ele, tanto eles, seus pastores, quanto o rebanho de

Deus sobre o qual seriam constituídos, seriam

conhecidos pelo nome de O SENHOR JUSTIÇA

NOSSA.

Este Rei justo viria então a se manifestar em dias futuros para buscar as ovelhas perdidas da casa

de Israel que haviam sido dispersadas por todos

os maus pastores e profetas que haviam presidido sobre elas.

“3 E eu mesmo recolherei o resto das minhas ovelhas de todas as terras para onde as tiver afugentado, e as farei voltar aos seus apriscos; e

frutificarão, e se multiplicarão.

4 E levantarei sobre elas pastores que as apascentem, e nunca mais temerão, nem se assombrarão, e nem uma delas faltará, diz o

Senhor.

5 Eis que vêm dias, diz o Senhor, em que levantarei a Davi um Renovo justo; e, sendo rei,

reinará e procederá sabiamente, executando o

juízo e a justiça na terra.

26

6 Nos seus dias Judá será salvo, e Israel habitará seguro; e este é o nome de que será chamado: O

SENHOR JUSTIÇA NOSSA.” (v.3 a 6).

Esta promessa está vinculada à da Nova Aliança, constante do capítulo 31.

27

A Firmeza da Nossa Aliança com Cristo

No sétimo capítulo de Romanos nós vemos o

caráter firme e seguro da nossa aliança com

Jesus, e pela qual somos libertados da condenação de uma aliança segundo a lei.

Deus como o Grande Legislador e Juiz de todo o universo, criou o homem e fez com que ele fosse responsável perante Ele segundo a norma da lei

moral que ele inscreveu em sua consciência,

instalando ali um tribunal que age no próprio

homem condenando-o naquilo que é reprovável e aprovando-o naquilo que é louvável.

Mas, segundo a Lei Régia há a exigência da perfeita obediência, conforme foi revelado a Adão, e que a penalidade para qualquer ato de

desobediência é a morte, e todo homem

responde à referida Lei até hoje.

Posteriormente, nos dias de Abraão, Deus acrescentou novos mandamentos para serem

guardados pelas pessoas da descendência do

patriarca, com as quais formaria um povo para Si, para se revelar ao mundo através do mesmo,

e principalmente para que por este povo nos

fosse dado o Messias.

O caráter da obediência completa exigida de toda a humanidade da Lei Régia foi ainda mais

detalhado com os mandamentos que foram

28

dados através de Moisés. E desde então, até que

viesse o Messias, o modo de agradar a Deus,

passava obrigatoriamente pelo cumprimento

dos mandamentos da Lei.

A pena de morte espiritual e eterna para os desobedientes foi mantida porque se afirma na

Lei de Moisés que é maldito todo aquele que não

permanece em todas as coisas da Lei, para

cumpri-las.

Isto descreve a condição de miséria espiritual e de condenação que paira sobre toda a humanidade, porque todos são pecadores, e não

têm em si mesmos a condição e o poder para

obedecerem perfeitamente a todos os

mandamentos da Lei.

Como poderia então Deus se prover de filhos semelhantes a Cristo?

Se todos estão obrigados à Lei, como poderão ter

vida, estando mortos; como poderão ser livres, estando condenados?

Só havia um modo de Deus nos libertar da condenação da Lei e nos dar vida eterna,

permanecendo Justo, por não remover ou

contrariar a Lei. Isto Ele fez nos considerando como mortos para a Lei, por ter feito com que a

morte de Jesus na cruz fosse a nossa própria

morte.

29

Ele visitaria o Seu próprio Filho Unigênito com o castigo que era destinado a nós pecadores. Ele

executaria a sentença de morte exigida pela Lei

nEle, fazendo com que fosse feito pecado e maldição no nosso lugar.

Assim, a Lei não seria removida, mas nós seríamos resgatados por meio de Cristo de

debaixo da sua condenação e maldição.

É basicamente isto que Paulo expõe no sétimo capítulo de Romanos; de modo que toda a

argumentação que ele fizera quanto à condição de não se fazer o bem que queremos, e fazer o

mal que não queremos, pelo pecado que opera

na nossa carne, é sobretudo uma condição que

explica sobretudo a condição em que se encontram aqueles que permanecem debaixo

da Lei e não da graça do evangelho, a saber as

pessoas que não foram regeneradas pelo

Espírito Santo.

Elas podem dizer isto, por não terem

encontrado a solução que Paulo havia encontrado: "miserável homem que sou". Isto

porque não têm a Cristo que é o único que pode

nos livrar do corpo desta morte.

Este livramento que se obtém somente por Cristo e em Cristo, não é decorrente do fato de que agora os próprios crentes são perfeitos

segundo a Lei, porque sempre haverá resquícios

de pecado e de desobediência em sua natureza

30

terrena que ainda carregam neste mundo, mas

sim, e exclusivamente pelo fato de que foram

resgatados da condenação da Lei por terem

morrido para a Lei em Cristo.

Uma Lei não tem autoridade sobre quem já está morto. Assim, os crentes já não são julgados ou

condenados por Deus com base na Lei, porque

não estão mais debaixo da Lei, quanto ao que se

refere ao seu poder de condenação daqueles que pecam contra os seus mandamentos. Eles

são julgados agora pela lei da liberdade,

respondendo, livres que são, não mais a um Juiz,

mas a um Pai de amor, que os corrige e dirige como filhos amados, por causa de Jesus Cristo.

Haverá ainda um grande conflito entre o Espírito e a carne, entre a velha e a nova

natureza, em todos os crentes, mas juntamente

com Paulo eles podem dizer em uníssono: "Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor."

Não serão mais condenados por não serem tão

bem sucedidos nesta guerra contra as suas

almas, quanto gostariam de ser. Contudo, sabem que são amigos de Deus, que amam a

Deus, que odeiam o diabo e o pecado, e que por

fim serão transformados à perfeita imagem de

Jesus, ainda que isto ocorra somente na glória.

Todavia, esta grande verdade central do evangelho não deve servir de motivo para que

abusemos da liberdade que foi conquistada para

nós por um preço elevadíssimo de sangue, e não

31

de um sangue qualquer, senão o puro e

imaculado sangue do Cordeiro de Deus que tira

o pecado do mundo. Preço este que foi pago para

que livres do pecado, pudéssemos viver em novidade de vida santificada perante Deus.

Afinal, foi para isto que fomos chamados e

justificados.

Para vivermos esta vida santa sem a qual não podemos manter nossa comunhão com Deus,

necessitamos de poder do alto.

Veja que quando os apóstolos viram todos os sinais que Jesus havia realizado, Sua ressurreição e ascensão, a uma mente carnal

pareceria que isto seria o suficiente para que

eles saíssem pelo mundo afora dando

testemunho das coisas que haviam visto e ouvido.

Todavia, nosso Senhor lhes falou da necessidade de permanecerem em oração, e

aguardando em Jerusalém o batismo do Espírito

Santo, para que fossem revestidos de poder, pois quem dá e sustenta o testemunho de Cristo em

nós é o poder do Espírito Santo.

Por este motivo vemos o apóstolo Paulo dirigindo a Timóteo as seguintes palavras, para o cumprimento adequado do seu ministério:

“Tu, pois, filho meu, fortifica-te na graça que está em Cristo Jesus.” (2 Tim 2.1)

32

E a todos os cristãos:

“Quanto ao mais, sede fortalecidos no Senhor e na força do seu poder.” (Ef 6.10)

Vemos assim a nossa necessidade vital de estarmos permanentemente fortalecidos na

graça de Jesus, mediante o poder do Espírito Santo que em nós opera.

Muitos pensam erroneamente que quando se fala em batismo do Espírito Santo, revestimento

de poder do Espírito, ou enchimento do Espírito,

que isto signifique simplesmente receber um poder sobrenatural que operará em nossas

vidas independentemente das condições

morais e espirituais em que nos encontremos.

Todavia, se examinarmos com mais cuidado

não somente o texto bíblico, mas a nossa própria experiência prática em relação a este assunto,

verificaremos que é muito mais do que isto o

significado do poder da graça e do Espírito Santo atuando em nossas vidas.

Antes de tudo, devemos lembrar que este poder nos é dado para sermos cheios do fruto do

Espírito Santo, que tem a ver com as nossas

atitudes, com o nosso comportamento, com a transformação progressiva do nosso caráter e

coração.

É um poder para nos habilitar a sermos obedientes aos mandamentos de Deus, para

33

aprendermos a ser mansos e humildes de

coração, a sustentarmos um bom testemunho

de comportamento em nossa vida cristã, de

modo a nos tornarmos exemplo para ser seguido por outros.

Trata-se de ser cônjuges exemplares, filhos exemplares, servos exemplares, líderes

exemplares, cidadãos exemplares, enfim,

sermos achados em todas as áreas de relações humanas como homens e mulheres de Deus,

que trazem estampada em suas vidas a imagem

de Jesus Cristo, conforme veremos no estudo do

oitavo capítulo de Romanos, no qual se afirma que fomos predestinados por Deus para tal

propósito.

Nada disto poderá existir sem que haja uma transformação do nosso coração. E por isso

necessitamos crucialmente deste poder do alto,

porque como o próprio Senhor Jesus afirmou, sem Ele nada podemos fazer, notadamente no

que tange às coisas que são celestiais,

espirituais, e divinas.

Em cumprimento à promessa que nos fez em relação à Nova Aliança (Jeremias 31.31-35) Deus

já nos deu um coração de carne em substituição ao coração insensível de pedra às coisas

concernentes ao reino dos céus que tínhamos

antes da nossa conversão a Cristo.

34

O Que é Estar Debaixo da Graça e Não da

Lei

Não encontramos nas Escrituras a expressão

pacto de obras, ou aliança de obras.

Todavia, ambas as formas, especialmente a

primeira é muito empregada para definir a

condição de Deus como o Grande Juiz e Legislador que exige perfeição absoluta para

que possamos estar eternamente em Sua

presença.

A falta desta condição implica em morte

espiritual e eterna.

Em sua infinita sabedoria, bondade e

misericórdia, o Senhor tem conhecido pela sua onisciência, que nenhum descendente de Adão

está habilitado para atender a tal demanda desta

Lei Eterna que emana da própria natureza

perfeitamente santa e justa de Deus.

Assim, entendemos que Ele não tem proposto a pecadores uma opção de salvação por este modo

de se cumprir perfeitamente a Sua vontade e

mandamentos.

Isto sempre será feito por pura graça,

misericórdia, e simplesmente mediante a fé, como foi proposto ao próprio Adão quando o

Senhor foi procurá-lo com a promessa da

redenção quando ele se escondeu

35

envergonhado da sua nudez atrás das árvores do

jardim.

Não pode entretanto, ser removida esta lei que

exige perfeição absoluta, e por isso Jesus não

morreu apenas como nosso substituto para quitar a culpa do nosso pecado, como também

para nos revestir dessa perfeição requerida pela

justiça divina, que há de ser absoluta na glória, e

mediante o trabalho da santificação da graça pelo Espírito Santo e aplicação da Palavra de

Deus aos nossos corações, conforme o penhor

do trabalho da nossa transformação e

purificação já iniciado aqui na Terra a partir da nossa conversão.

O grande mandamento de Deus foi revelado por Jesus como sendo o amor de uns pelos outros

com o mesmo amor com o qual ele nos amou; ou seja, o dever imposto é o de amar com o amor de

Deus.

Então quando Tiago alude a isto, ele se reporta em sua epístola à questão da acepção de pessoas que estava ocorrendo na igreja em favor dos

mais abastados e contra os pobres e

necessitados do rebanho.

Isto era um pecado claro e contundente contrário ao que Ele chama de Lei Régia, ou seja

a Lei do Rei, esta Lei que está amarrada à própria

natureza e essência de Deus, que é amor.

36

“Se vós, contudo, observais a lei régia segundo a Escritura: Amarás o teu próximo como a ti

mesmo, fazeis bem;” (Tiago 2.8)

Não convinha que aqueles que foram resgatados da morte espiritual e eterna, inclusive e principalmente por se transgredir tal

mandamento do amor, que é o principal de

todos, continuassem transgredindo o mesmo.

“Falai de tal maneira e de tal maneira procedei como aqueles que hão de ser julgados pela lei da

liberdade.” (Tiago 2.12)

A esta lei da liberdade da condenação em Cristo, aludiu também o apóstolo Paulo em Rom 8.2:

“Porque a lei do Espírito da vida, em Cristo Jesus,

te livrou da lei do pecado e da morte.”

Então, se não fosse por Cristo, todo o nosso esforço em cumprir perfeitamente a Lei – ao qual devemos nos dedicar com sinceridade e

amor – seria totalmente perdido caso viéssemos

a transgredir um único ponto da lei que está

indissoluvelmente ligada à natureza de Deus, porque é Legislador e Juiz conforme demanda a

sua justiça que haja perfeita conformação à sua

santidade e amor.

“Pois qualquer que guarda toda a lei, mas tropeça em um só ponto, se torna culpado de todos.” (Tiago 2.10) – Este é o caráter da lei para

aqueles que não estão debaixo da cobertura do

sangue de Jesus. Daqui vemos quão ineficaz é a

37

tentativa de se justificar por meio das obras da

lei.

Assim, devemos clamar e dar graças a Deus por nos ter dado Jesus Cristo, juntamente com o

apóstolo quanto à nossa condição natural de

sermos achados mortos em delitos e pecados que pode ser somente revertida por estarmos no

Senhor:

Rom 7:24 Desventurado homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte?

Rom 7:25 Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor. De maneira que eu, de mim mesmo,

com a mente, sou escravo da lei de Deus, mas,

segundo a carne, da lei do pecado.

38

A Graça não Condena

Deus não está condenando a qualquer pessoa

na presente dispensação da graça, conforme

afirmação de Jesus de que não veio condenar,

mas salvar.

A natureza de Deus é longânima, perdoadora, misericordiosa, amorosa, e por isso uma

das características do amor destacada em I Cor

13.5 é que ele não é facilmente provocado, ou

seja, ele não se exaspera.

Deus se ira contra o pecado, mas não tem qualquer prazer na morte dos ímpios, ou seja, de

todos aqueles que não Lhe amam e aos Seus mandamentos.

A ira pode ser definida como uma oposição séria e violenta de espírito contra qualquer mal, real ou suposto, ou devido a qualquer falta ou

ofensa, porque isto está contra a natureza do

amor.

Nós somos chamados por Cristo a desejar o bem e a orar para o bem de todos, até mesmo de

nossos inimigos, e até daqueles que zombam de

nós e nos perseguem (Mat 5:44); e a regra dada pelo apóstolo é: “Abençoai aos que vos

perseguem, abençoai, e não amaldiçoeis.” (Rom

12.14), quer dizer, nós devemos desejar o bem e

39

orar para o bem de todos, e em nenhum caso

desejar o mal.

Porque como imitadores de Deus, na busca da sua imagem e semelhança, é justamente o que

devemos fazer, porque isto é parte da essência

divina.

Dizemos que é um dever porque o evangelho veio trazer a restauração em nós, da imagem e

semelhança, não com Adão, antes da queda no

pecado, mas a do próprio Cristo, conforme se afirma amplamente na Bíblia.

O que temos em Cristo, quanto ao trato com as imperfeições que há na humanidade? Graça,

amor, bondade, misericórdia, perdão, reconciliação, e justiça (a sua justiça que nos

justifica).

Os próprios juízos divinos na presente dispensação, têm em vista contribuir para a

continuidade da referida restauração, e são

corretivos e decorrentes da rejeição obstinada

da graça que nos está sendo oferecida.

As obras más ou boas de todas as pessoas serão somente passadas em revista no grande dia do

Juízo Final.

Por isso toda vingança é proibida por Deus, já que Ele afirma que toda a vingança lhe pertence.

40

A regra é: “Não te vingarás nem guardarás ira contra os filhos do teu povo; mas amarás o teu

próximo como a ti mesmo: Eu sou o Senhor.”

(Lev 19.18); e o apóstolo diz: “Não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas dai lugar à ira;

porque está escrito: A mim me pertence a

vingança; eu retribuirei, diz o Senhor.” (Rom 12.19), de forma que toda a ira que contém um

desejo de vingança, é contrária ao cristianismo

e proibida por Deus.

Disto Cristo falou em Mat 5.22: “Eu, porém vos digo que todo aquele que (sem motivo) se irar contra seu irmão estará sujeito a julgamento;”.

Se uma pessoa se permitir ficar muito tempo irada com uma outra, logo esta ira se

transformará em ódio.

Assim, nós achamos que na verdade acontece com aqueles que retêm um rancor nos seus corações contra outros, durante semana depois

de semana, e mês depois de mês, e ano depois de

ano.

Eles virão no fim, a odiar verdadeiramente as pessoas contra as quais se deixaram irar assim deste modo.

Este é um pecado mais terrível à vista de Deus.

Então, não é de se admirar que esta seja a principal estratégia do diabo para nos afastar de

Deus, e para nos manter sob julgamentos em

41

nossas almas, e ainda a ficarmos à mercê de

sermos oprimidos por ele.

Assim, toda vigilância e sabedoria é ainda pouco para ter um coração manso, sofredor, paciente,

perdoador.

Mais do que isto, necessitamos do derramar abundante do amor de Deus nos nossos

corações que é operado sobrenaturalmente

pelo Espírito Santo.

42

Graça Sobre Graça

“12 E o Senhor vos aumente, e faça crescer em amor uns para com os outros, e para com todos,

como também o fazemos para convosco;

13 Para confirmar os vossos corações, para que sejais irrepreensíveis em santidade diante de

nosso Deus e Pai, na vinda de nosso Senhor Jesus

Cristo com todos os seus santos.” (I Tes 3.12,13).

As graças operadas pelo Espírito Santo são a fonte da nossa santidade, no aumento delas em

nós pelo trabalho da santificação.

Nada se perde deste trabalho progressivo do Espírito nos cristãos, porque uma graça não é

substituída por outra, senão acrescentada,

conforme dizer do apóstolo Pedro:

“5 E vós também, pondo nisto mesmo toda a diligência, acrescentai à vossa fé a virtude, e à

virtude a ciência,

6 E à ciência a temperança, e à temperança a paciência, e à paciência a piedade,

7 E à piedade o amor fraternal, e ao amor fraternal a caridade.” (II Pe 1.5-7).

O que foi conquistado será mantido por vigilância e oração, e será aumentado pelo

recebimento de outras graças (virtudes e poder)

43

que também serão aperfeiçoadas em seu

crescimento.

O que não aprendeu ainda a ser misericordioso será com certeza aperfeiçoado em misericórdia.

O de mau temperamento será aperfeiçoado em mansidão.

O modo do Espírito Santo implantar estas virtudes é pela formação de hábitos.

Assim como aprendemos determinadas

habilidades e comportamentos pelo hábito de repeti-las.

A santificação é pois em seu progresso um hábito que é incorporado em nós, em relação a

todos os nossos deveres espirituais, à medida

que eles nos vão sendo ensinados e implantados em nós pelo Espírito Santo, consoante a

aplicação da doutrina da Palavra de Deus.

44

A Troca da Antiga Aliança pela Nova

“Quando ele diz Nova, torna antiquada a

primeira. Ora, aquilo que se torna antiquado e

envelhecido está prestes a desaparecer.”

(Hebreus 8:13)

Toda vez que abrirmos as páginas do Velho

Testamento, devemos sempre colocar como

pano de fundo o Evangelho de Cristo, para que não tomemos ao pé da letra, como mandamento

divino ordenado aos discípulos de Jesus, muitos

dos preceitos da antiga dispensação, que durou

de Moisés a João Batista (Mt 11.13; Lc 11.16), os quais não podem e não devem ser aplicados na

nova dispensação em que estamos vivendo há

cerca de dois milênios.

A Lei Antiga, determinada por Deus para vigorar em Israel, por cerca de 1440 anos prescrevia:

morte por apedrejamento em razão de

determinadas transgressões daquela Lei

dada por meio de Moisés.

como maldito de Deus deveria se

anunciar a si mesmo publicamente o

leproso.

proibidos estavam vários alimentos classificados como impuros.

sacrifícios de animais oferecidos para

cobrir o pecado.

45

e muitos outros preceitos civis e

cerimoniais, além dos morais.

Deus, pela Lei, revelava que era o Juiz do Seu povo e ensinava ao mesmo tempo o quanto é oposto ao pecado.

Todavia, em sendo Juiz, é também pai bondoso, amoroso, misericordioso, perdoador e salvador.

Como revelou isto, já que os preceitos da Lei antiga poderiam ofuscar tais atributos relativos

à Sua completa longanimidade, amor e

bondade?

Ele o fez trazendo uma nova lei por meio de Cristo, para substituir a antiga.

Jer 31:31 Eis aí vêm dias, diz o SENHOR, em que firmarei nova aliança com a casa de Israel e com

a casa de Judá.

Jer 31:32 Não conforme a aliança que fiz com seus pais, no dia em que os tomei pela mão, para os tirar da terra do Egito; porquanto eles

anularam a minha aliança, não obstante eu os

haver desposado, diz o SENHOR.

Jer 31:33 Porque esta é a aliança que firmarei com a casa de Israel, depois daqueles dias, diz o SENHOR: Na mente, lhes imprimirei as minhas

leis, também no coração lhas inscreverei; eu

serei o seu Deus, e eles serão o meu povo.

46

Jer 31:34 Não ensinará jamais cada um ao seu próximo, nem cada um ao seu irmão, dizendo:

Conhece ao SENHOR, porque todos me

conhecerão, desde o menor até ao maior deles, diz o SENHOR. Pois perdoarei as suas

iniquidades e dos seus pecados jamais me

lembrarei.

Heb 8:7 Porque, se aquela primeira aliança

tivesse sido sem defeito, de maneira alguma estaria sendo buscado lugar para uma segunda.

Heb 8:13 Quando ele diz Nova, torna antiquada a primeira. Ora, aquilo que se torna antiquado e

envelhecido está prestes a desaparecer.

Heb 9:15 Por isso mesmo, ele é o Mediador da

nova aliança, a fim de que, intervindo a morte para remissão das transgressões que havia sob a

primeira aliança, recebam a promessa da eterna

herança aqueles que têm sido chamados.

Heb 10:9 então, acrescentou: Eis aqui estou para fazer, ó Deus, a tua vontade. Remove o primeiro

para estabelecer o segundo.

Heb 10:10 Nessa vontade é que temos sido santificados, mediante a oferta do corpo de

Jesus Cristo, uma vez por todas.

A Lei da nova aliança, do novo testamento, do evangelho, da graça, pela qual se revogou a

primeira, é chamada pelo apóstolo de lei régia

(Tg 2.8), porque prescreve o amor ao próximo,

47

sem qualquer tipo de condenação legal,

conforme ocorria na primeira, apesar de

também prescrever o amor ao próximo.

Assim, a lei do amor de Cristo não vigora pelo cumprimento de ordenanças cerimoniais e

civis, como a primeira, mas simplesmente por

fé, graça, misericórdia e arrependimento.

A punição dos malfeitores é designada para as autoridades civis de cada nação, conforme

determinação da parte de Deus.

Não é uma característica ou atribuição do evangelho, pelo qual se oferta a libertação do espírito do jugo e condenação do pecado.

A lei do evangelho é amar a Deus acima de tudo e ao próximo como a si mesmo.

O amor nunca busca o mal, ou que seja do próprio interesse, não se conduz inconvenientemente, não é preconceituoso,

enfim, o amor faz somente o bem ao seu

semelhante.

Mat 22:35 E um deles, intérprete da Lei, experimentando-o, lhe perguntou:

Mat 22:36 Mestre, qual é o grande mandamento na Lei?

48

Mat 22:37 Respondeu-lhe Jesus: Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda

a tua alma e de todo o teu entendimento.

Mat 22:38 Este é o grande e primeiro mandamento.

Mat 22:39 O segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo.

Mat 22:40 Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas.

Rom 13:10 O amor não pratica o mal contra o próximo; de sorte que o cumprimento da lei é o

amor.

Poderia haver uma lei melhor do que essa?

No episódio da mulher adúltera que Jesus livrou da condenação por apedrejamento, podemos constatar o quanto Ele realmente mudou a

antiga lei por uma nova, porque pela antiga, ela

deveria morrer apedrejada.

É por isso que é ordenado por Cristo aos cristãos, na Bíblia, que façam o convite da salvação pelo evangelho a todas as pessoas e em todos os

lugares da terra.

Mar 16:15 E disse-lhes: Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura.

49

Este convite consiste basicamente no oferecimento gratuito que Ele está fazendo da

Sua própria justiça divina, amor e misericórdia,

para perdoar todos os nossos pecados e justificar a todos os que nEle crerem, de modo

que sejam livrados da condenação, e para o

recebimento da vida eterna.

Todavia, em havendo recusa em se ouvir a mensagem do evangelho, o próprio Cristo

ordena que não haja insistência.

Luc 10:16 Quem vos der ouvidos ouve-me a mim; e quem vos rejeitar a mim me rejeita; quem,

porém, me rejeitar rejeita aquele que me

enviou.

Mar 6:11 Se nalgum lugar não vos receberem nem vos ouvirem, ao sairdes dali, sacudi o pó

dos pés, em testemunho contra eles.

O evangelho é o tempo da paciência, da misericórdia, da longanimidade de Deus para

com todos os pecadores.

A ninguém Deus está condenando, enquanto durar esta dispensação. Ao contrário, está

salvando.

João 12:47 Se alguém ouvir as minhas palavras e não as guardar, eu não o julgo; porque eu não

vim para julgar o mundo, e sim para salvá-lo.

50

João 12:48 Quem me rejeita e não recebe as minhas palavras tem quem o julgue; a própria

palavra que tenho proferido, essa o julgará no

último dia.

O evangelho é a lei divina, se assim podemos nos referir a ele, na presente dispensação da graça,

e esta lei de justiça oferecida para a nossa

justificação e perdão, a ninguém condena.

É a rejeição do evangelho, segundo nosso Senhor Jesus Cristo, que será o motivo da

condenação no último dia, como Ele o afirma em João 12.48.

João 3:16 Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que

todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida

eterna.

João 3:17 Porquanto Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que julgasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele.

João 3:18 Quem nele crê não é julgado; o que não crê já está julgado, porquanto não crê no nome

do unigênito Filho de Deus.

Mar 16:15 E disse-lhes: Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura.

Mar 16:16 Quem crer e for batizado será salvo; quem, porém, não crer será condenado.

51

Esta nova dispensação do evangelho substituiu a chamada antiga dispensação da lei de Moisés,

porque Jesus se ofereceu a si mesmo como

sacrifício, em nosso lugar, para satisfazer a exigência da justiça divina.

Não é do teor e essência do evangelho condenar as pessoas pelos seus maus atos e até mesmo

pensamentos, porque até os próprios cristãos que fazem a oferta do evangelho também são

pecadores, que foram remidos pela graça,

mediante a fé em Jesus.

Aos que têm abraçado a fé no evangelho, Cristo lhes impõe a disciplina da nova aliança, pela

admoestação mútua à prática do amor e das

boas obras.

Outra característica do convite do evangelho é

que não se deve fazer distinção de qualquer pessoa, que não deve haver preconceito de raça,

religião, condição social, ou de qualquer outra

natureza.

Desta forma, aqueles que têm sentimentos preconceituosos, não estão de modo algum

anunciando o verdadeiro evangelho de Cristo,

tal como ele se encontra registrado nas páginas

da Bíblia.

Rom 3:21 Mas agora, sem lei, se manifestou a justiça de Deus testemunhada pela lei e pelos

profetas;

52

Rom 3:22 justiça de Deus mediante a fé em Jesus Cristo, para todos e sobre todos os que creem;

porque não há distinção,

Rom 3:23 pois todos pecaram e carecem da glória de Deus,

Porque isto seria uma contradição, uma vez que não se pode conciliar preconceito com o fato de

Jesus não fazer acepção, distinção de qualquer

pessoa, e de igual modo, devem agir aqueles que

falam em Seu nome.

Por outro lado, deixar de anunciar o evangelho, em desobediência ao mandamento de Deus,

para o bem eterno dos ouvintes que o receberem, por livrar o espírito da condenação

eterna a ser proferida no dia do Juízo Final, seria

então uma grande prova de falta de amor e de

misericórdia para com nossos semelhantes, esconder deles esta mensagem, ou então

adulterá-la.

Por isso é também ordenado nas Escrituras que se deve ter cautela com o ensino de falsos

pastores, profetas e mestres que falam em nome

de Cristo, e que se dizem cristãos, e mensageiros genuínos do evangelho, quando na

verdade não são, e o fazem por motivo

interesseiro e por torpe ganância.

Mat 7:16 Acautelai-vos dos falsos profetas, que se vos apresentam disfarçados em ovelhas, mas

por dentro são lobos roubadores.

53

2Pe 2:1 Assim como, no meio do povo, surgiram falsos profetas, assim também haverá

entre vós falsos mestres, os quais introduzirão,

dissimuladamente, heresias destruidoras, até ao ponto de renegarem o Soberano Senhor.

2Pe 2:2 E muitos seguirão as suas práticas libertinas, e, por causa deles, será infamado o

caminho da verdade;

Mat 10:16 Eis que eu vos envio como ovelhas

para o meio de lobos; sede, portanto, prudentes como as serpentes e símplices como as pombas.

Mat 10:17 E acautelai-vos dos homens; porque vos entregarão aos tribunais e vos açoitarão nas

suas sinagogas;

Mat 10:25 Basta ao discípulo ser como o seu

mestre, e ao servo, como o seu senhor. Se chamaram Belzebu ao dono da casa, quanto

mais aos seus domésticos?

A prudência da serpente é recomendada pelo Senhor aos que se empenham na obra da pregação do evangelho, ao lado da simplicidade

das pombas.

As serpentes evitam confrontos desnecessários, mas atacam quando são atacadas. Por isso o

cristão deve reter apenas a prudência da serpente, e associá-la à inofensividade das

pombas, que nunca atacam quando são

atacadas.

54

Por fim, ao concluir esta breve explanação, deve ser dito que a ninguém deve ser imposto o

evangelho como uma forma de obrigação a ser

cumprida, e nem mesmo nas congregações de Cristo, porque Deus quer ser amado e adorado

em espírito e de modo voluntário.

Ninguém deve ser condenado ou acusado por conta da religião ou costumes que tenha

adotado, evidentemente, é claro, desde que não infrinjam as normas legais e os costumes de

cada sociedade à qual se pertença, mas isto não

é um encargo dos cristãos enquanto cristãos, mas das autoridades constituídas.

Os mensageiros do evangelho devem ser promotores da paz, e por isso é dito por Cristo

que bem-aventurados são os pacificadores.

Para este propósito, da promoção da paz e do bem estar dos seus semelhantes, devem orar em favor de todos os homens.

1Tm 2:2 Antes de tudo, pois, exorto que se use a prática de súplicas, orações, intercessões, ações

de graças, em favor de todos os homens,

1Tm 2:2 em favor dos reis e de todos os que se acham investidos de autoridade, para que vivamos vida tranquila e mansa, com toda

piedade e respeito.

1Tm 2:3 Isto é bom e aceitável diante de Deus, nosso Salvador,

55

1Tm 2:4 o qual deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento

da verdade.

Devem também os cristãos serem modelos de bom comportamento e de conduta, como pais,

filhos, empregados, empregadores, ou o que for.

Devem estar sujeitos às autoridades, porque conforme afirmado na Bíblia, não há autoridade genuína que não tenha sido instituída por Deus.

Rom 13:1 Todo homem esteja sujeito às autoridades superiores; porque não há autoridade que não proceda de Deus; e as

autoridades que existem foram por ele

instituídas.

O evangelho não é pregado por mero dever de consciência ou por obediência ao mandamento

divino, mas sobretudo porque os discípulos de Jesus são movidos em amor a fazê-lo, pelo

mesmo Espírito Santo que neles habita, e que

também atuava em nosso Senhor Jesus Cristo.

“como Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e com poder, o qual andou por

toda parte, fazendo o bem e curando a todos os oprimidos do diabo, porque Deus era com ele;”

(Atos 10:38)

56

Jesus Não Veio Condenar Mas Salvar

Marcos 2:17 Tendo Jesus ouvido isto,

respondeu-lhes: Os sãos não precisam de

médico, e sim os doentes; não vim chamar

justos, e sim pecadores.

João 12:47 Se alguém ouvir as minhas palavras e não as guardar, eu não o julgo; porque eu não

vim para julgar o mundo, e sim para salvá-lo.

Dê a devida atenção a estas palavras de nosso

Senhor Jesus Cristo.

Até que Ele volte, a porta da salvação estará aberta para todo aquele que se arrepender dos

seus pecados e buscar viver para Ele.

Amados leitores, nosso Senhor mesmo definiu a Sua principal missão em ter vindo a este mundo

há cerca de 2.000 anos atrás, como sendo a de

salvar e não a de condenar pecadores.

Então, enquanto perdurar esse tempo de

graça até que Ele volte, Deus está abrindo uma grande oportunidade para todas as pessoas que

queiram ser livradas da manifestação da ira

vindoura, em forma de juízo de uma condenação eterna, que há de vir sobre todos os

que viveram neste mundo, sem terem se

convertido a Cristo.

57

Por isso, queremos ser muito claros, sinceros e diretos em todas as mensagens transmitidas aos

amados leitores, mantendo o foco do evangelho

que aponta somente para Jesus Cristo para que sejamos salvos de tal condenação em razão do

pecado.

É bom lembrar que um único pecado praticado ao longo de toda a vida já sujeita o seu praticante

à condenação eterna.

Portanto, não há um único justo, de si mesmo, pela sua própria justiça, diante de Deus.

Por isso Jesus morreu em nosso lugar na cruz,

carregando sobre si toda a culpa dos nossos pecados.

Em suma, tudo o que se refere à necessidade de

um viver reto, do dever de se guardar os mandamentos de Deus, e tudo o mais que se

refira à santificação de nossas vidas, somente

pode ser praticado e vivido caso sejamos

convertidos a Cristo, e estando em comunhão com Ele, por meio do Espírito Santo.

Assim, se a Lei santa de Deus lhe condena

justamente por causa do pecado, lembre que pela fé em Jesus, nos está sendo oferecida

gratuitamente a libertação de tal condenação,

ao mesmo tempo que somos por Ele capacitados a viver de modo aprovado pela justiça divina,

pelo poder da graça de Jesus, mediante o

trabalho do Espírito Santo em nossos corações.

58

Não há qualquer condenação no evangelho, porque Jesus, pelo evangelho que nos trouxe, ou

seja, por esta maravilhosa notícia, que é o

significado desta palavra no original grego do Novo Testamento, tem se oferecido para ser a

nossa justiça, de modo que Deus possa se

agradar de nós e se reconciliar conosco.

A rejeição do evangelho. Desta oferta de justiça da pessoa de Jesus, tão graciosa, é que traz

condenação.

59

A Justiça do Evangelho Não é Juízo

O propósito de Deus,

jamais pode ser frustrado.

Então o que faria para tornar justo

o pecador culpado?

Que se opondo ao seu Criador

e não querendo se sujeitar à sua vontade,

segue o seu caminho de vaidade?

Que resistindo a se entregar a Jesus

resiste também ao recebimento da Sua graça?

E sem a graça, sabemos, somente há ruína,

perdição, ódio, desobediência e morte.

Ah! Que situação difícil para ser resolvida!

Difícil para nós, mas não para Deus,

a quem tudo é fácil e possível.

Difícil e penoso seria sim,

o único modo pelo qual

60

o pecador poderia ser justificado.

Deus visitaria o seu pecado,

com juízos, no Seu Filho Amado.

Colocaria sobre Ele nossas transgressões,

resistências e descaminhos,

e com o grande golpe do seu juízo

castigaria o próprio Cristo,

fazendo com que a justiça exigida

fosse por fim atendida.

Jesus tem desde então justiça,

e não juízo para oferecer,

pelo Evangelho.

Quem quiser ser justo,

para receber a graça

salvadora e transformadora,

basta vir a Cristo,

com a mão do coração estendida,

61

e Ele a concederá com agrado

para apagar nosso pecado.

Por isso Ele diz que não veio

a este mundo para condená-lo,

mas sim, para salvá-lo.

Oh! Senhor amado!

Muito obrigado por sua justiça!

Felizes são os que têm fome e sede

desta sua maravilhosa justiça,

pela qual, nós perdidos pecadores,

somos saciados,

justificados e abençoados!

62

O Real Significado da Graça

Há um grande paradoxo no entendimento

carnal relativo à graça divina, uma vez que se

costuma considerar como sendo graça

exatamente o oposto daquilo que a graça que nos foi dada em Cristo é na verdade; pois os dons

naturais e comuns de Deus para toda a

humanidade são buscados por pessoas

religiosas como se fossem o grande propósito da vida cristã.

Geralmente visa-se tão somente ao que é externo, e não propriamente o que seja

espiritual, celestial e divino, para ser aplicado à transformação do próprio caráter e vida,

segundo o propósito de Deus na concessão da

Sua graça que nos foi dada em Cristo.

Todavia, a Bíblia não nos deixa cegos quanto a este importantíssimo assunto, conquanto podemos observar na grande maioria das

passagens bíblicas referentes à graça, qual é o

propósito de Deus quanto à sua concessão.

Antes de tudo a graça não é dogma, mas o poder de Deus para o atingimento do objetivo da fé, a saber, a nossa salvação. E é no conhecimento da

mesma graça que devemos crescer com vistas

ao nosso aperfeiçoamento espiritual.

63

O maior dom que temos recebido da graça de Deus é a vida do próprio Cristo e a habitação do

Espírito Santo em nós. As demais graças são

consequência desta referida e gravitam em torno da mesma.

Quando estamos na graça, esta produz um bom estado na alma que pode ser discernido em

espírito tanto por nós, quanto por aqueles que

estiverem na mesma condição.

A graça divina é o maior poder operante neste mundo, pois somente ela é mais forte do que o poder do pecado.

O nosso acesso a esta graça, na qual estamos firmes, e sem correr o risco de sermos

rejeitados por Deus, custou um alto preço a

nosso Senhor Jesus Cristo – o preço do seu

sofrimento e derramamento do seu sangue numa terrível morte de cruz.

É impróprio, por conseguinte, o pensamento associado à palavra graça, de ser algo fácil ou

barato.

A salvação é de fato gratuita, mas custou o preço de morte para Cristo, carregando os nossos

pecados, e para nós, ela exige o pagamento do preço da nossa consagração a Deus, uma vez

tendo sido convertidos mediante a simples fé no

Senhor.

64

Fomos comprados por preço para vivermos para Deus.

Com o advento de Jesus Cristo foi inaugurada uma nova dispensação para substituir a antiga

que vigorou desde os dias de Moisés. Daí ser chamada de dispensação da graça, enquanto a

antiga era chamada de dispensação da Lei.

Deus está sendo longânimo nesta dispensação em relação a todos os pecadores, concedendo-

lhes assim a oportunidade de se arrependerem

e crerem em Cristo, de modo a serem livrados da condenação eterna. Esta é uma das

características essenciais da citada

dispensação.

65

Uma Nova Aliança Diferente da Antiga

Devemos ter o devido cuidado ao estudarmos a

Bíblia, especialmente o Antigo Testamento, nas partes relativas ao Antigo Pacto, porque ali

encontramos muitas figuras de realidades que

se cumpriram em Cristo, e muitos preceitos que

foram revogados e alterados por Cristo com a instituição da Nova Aliança, que revogou a

Antiga, de modo que não pratiquemos na

dispensação da graça aquelas coisas e atitudes que eram determinadas e aceitas por Deus no

Antigo Pacto, mas que de modo algum podem

ser aceitas nesta nova dispensação, em que

novas diretrizes foram dadas para substituírem muitas das diretrizes antigas, como por exemplo

a lei do olho por olho, dente por dente; o ofício

sacerdotal com a apresentação de animais em

sacrifício; as guerras santas ordenadas por Deus para extermínio de povos idólatras etc.

A Nova Aliança não é ministério de morte, mas

de vida. Isto é, os ministros de Deus estão

encarregados de levar a vida de Cristo aos homens, e não a condenação e a morte.

Isto fica agora exclusivamente nas mãos de

Deus, e a Igreja de Cristo não é mais a espada de

Deus, como Israel foi no mundo antigo para exercer juízos de Deus sobre o mundo de ímpios.

Deus é o Juiz exclusivo do que se refere a tirar ou não a vida de qualquer pessoa, de modo que não

deseja nenhuma cooperação da Igreja neste

66

sentido, ao contrário, foi vedado à Igreja na

presente dispensação toda e qualquer forma de

juízo, e daí Cristo ter determinado que o crente

a ninguém deve julgar neste sentido, porque o juízo sobre vida ou morte está agora

exclusivamente nas mãos de Deus.

À Igreja cabe pregar o evangelho, e aqueles nos quais Cristo será cheiro de morte para a morte e

não aroma de vida para a vida, é assunto que se

encontra fora da alçada da Igreja, e que está totalmente nas mãos do Grande e único Juiz

O dever do qual a Igreja está incumbida é o de levar a mensagem de salvação e se empenhar

muito para a salvação de alguns, porque Jesus,

na dispensação da graça, se empenha não em

condenar os pecadores, mas salvá-los.

67

Uma Aliança Firmada em Graça

Em Isaías 55 vemos que o evangelho é para os

que têm fome e sede de justiça.

A mesa do banquete está pronta e tudo o que de nós se exige é apetite. É tudo de graça.

Por isso o convite da salvação é dirigido a todos

os que têm sede para que venham às águas da salvação, e que poderão adquirir (comprar) o

vinho espiritual da alegria, e o leite racional que

nos alimenta que é a graça de Cristo, que acompanha o evangelho, para sermos

alimentados por ela, sem dinheiro e sem preço

(Is 55.1).

Diz-se que todo esforço e gasto de dinheiro para obter a salvação é vão, porque a salvação

verdadeira que Deus está operando pelo Filho, é

completamente gratuita.

A boa comida espiritual, e o tutano divino são achados somente na mesa de Cristo, e não nas

mãos dos que fazem da religião ocasião de comércio (Is 55.2).

A mensagem do evangelho deve ser ouvida atentamente, pela voz dos ungidos do Senhor,

através dos quais Cristo fala, para que pessoas se

convertam a Ele, para entrarem na aliança

68

eterna, que Ele havia prometido como sendo

firmes beneficências a Davi (v. 3).

Estas firmes beneficências a Davi são citadas também em passagens do Novo Testamento,

como em At 13.34.

“Inclinai os vossos ouvidos, e vinde a mim; ouvi, e a vossa alma viverá; porque convosco farei uma aliança perpétua, dando-vos as fiéis

misericórdias prometidas a Davi.” (Is 55.3).

É maravilhoso saber que as últimas palavras que Davi falou pelo Espírito, apontaram para esta

aliança segura e eterna.

Deus fez uma aliança conosco em Jesus Cristo, e nós aprendemos das Suas palavras pela boca de Davi que é uma aliança perpétua.

Perpétua em si mesma e na forma do seu caráter, manutenção, continuação e

confirmação. Deus diz também pela boca de

Davi que é bem ordenada e segura (v. 5).

Esta aliança está bem ordenada por Deus em todas as coisas que dizem respeito a ela.

Esta ordenação perfeita trabalhará em meio às imperfeições dos cristãos e os aperfeiçoará progressivamente, para a glória de Deus, de

modo que se a obra não for completada na terra,

ele o será no céu.

69

Para isso a aliança possui um Mediador e um Consolador para promover a santidade e o

conforto dos cristãos.

Está ordenado também QUE TODA

TRANSGRESSÃO NA ALIANÇA NÃO LANÇARÁ FORA A QUALQUER DOS ALIANÇADOS.

Por isso Jesus afirma que na lançará fora de modo nenhum, a qualquer que vier a Ele.

Assim, a segurança da salvação não é colocada nas mãos dos cristãos, mas nas mãos do

Mediador.

É dito que a aliança é segura porque está assim bem ordenada por Deus.

Ela foi planejada de tal modo a poder conduzir pecadores ao céu.

Ela está tão bem estruturada que qualquer um deles pode ter a certeza de que estará sendo

aperfeiçoado na terra e a conclusão desta obra de aperfeiçoamento será concluída no céu.

E uma das razões para que o aperfeiçoamento não seja concluído na terra, é para que se saiba

que a aliança é de fato para pecadores, e não para quem se considera perfeitamente justo,

embora todos os aliançados sejam chamados

agora a se empenharem na prática da justiça.

70

As misericórdias prometidas aos aliançados é segura, e operarão de acordo com as condições

estabelecidas em relação à necessidade de

arrependimento e fé.

A aplicação particular destas misericórdias para santificar os cristãos é segura.

É segura porque é suficiente.

Nada mais do que isto nos salvará, porque a base da salvação repousa na fidelidade de Deus em cumprir a promessa que Ele fez à casa de Davi, a

todo aquele que for encontrado nela, por causa

da sua fé no descendente, no Filho de Davi que é

Cristo.

É somente disto que a nossa salvação depende. Muitos podem pensar que quando se conclama,

na profecia de Isaías, ao ímpio a deixar o seu

caminho e o homem maligno os seus pensamentos para se voltar para o Senhor, para

achar misericórdia e perdão, porque se diz que

Deus é rico em perdoar, que isto não se aplique

às pessoas perversas.

No entanto, é um convite a todas as pessoas porque não há quem não peque, e Cristo veio

salvar e justificar ímpios (Rom 4.5), de forma

que aquele que se julgar justo e bom a seus próprios olhos jamais poderá ser salvo por

Cristo, porque Ele salva aqueles que se

reconhecem pecadores.

71

Para esclarecer este ponto, para que ninguém fizesse uma avaliação errada relativa à sua real

condição diante de Deus, Ele declarou que os

seus pensamentos não são os nossos pensamentos, nem os nossos caminhos os seus

caminhos (Is 55.8).

Se nos compararmos com outras pessoas é possível que nos achemos bons e justos.

Mas se contemplarmos os que estão no céu,

especialmente ao próprio Deus em sua perfeita santidade e glória, nós veremos quão

imperfeitos somos.

Clamaremos tal como Isaías fizera no capítulo sexto, quando viu a santidade e glória com que

os serafins louvavam ao Senhor no Seu trono de glória.

Por isso se ordena que olhemos para Cristo para que sejamos salvos, porque somente quando

contemplamos a majestade da sua santidade, é que podemos enxergar qual é o nosso real

quadro de miséria e de necessidade que temos

de sermos salvos por Ele.

Então esta salvação não será achada em nós mesmos. Porque ela nos vem inteiramente destes caminhos e pensamentos elevados de

Deus que procedem do céu e não da terra.

É do alto que a graça e o Espírito são derramados, e por isso somos conclamados a

72

olhar para o alto, para Cristo, para o tesouro do

céu e não para o que é terreno, quando o assunto

se refere à nossa salvação.

Esta salvação vem do alto, mas a Palavra que salva foi revelada por Cristo na terra, e está não

apenas na Bíblia, mas junto da nossa boca e coração, para que façamos a confissão da fé no

Seu nome e senhorio, para que sejamos salvos.

Deus pôs esta autoridade para nos salvar na Sua Palavra. A palavra do evangelho é a semente que

contém a vida eterna.

De maneira que todo o que crê na Palavra da verdade será salvo, porque esta Palavra gerará

em seu coração a fé pela qual Deus o salvará. Por isso Ele afirma o que se lê em Is 55.10,11.

Estes que crerem no evangelho e forem salvos sairiam dando testemunho por todas as partes

com a alegria e a paz com que seriam guiados

pelo Espírito Santo, e por onde passarem

anunciando as boas novas, a maldição será transformada em bênção porque se diz que em

vez de espinheiros e sarças, cresceriam a faia e

a murta que são plantas ornamentais. E isto

seria para o Senhor um nome e um sinal eterno que nunca se apagará (v. 12, 13).

73

A Bênção da Graça Perdoadora

Se nada mais fosse dito além das coisas

referidas nos capítulos anteriores ao 30º do livro

de Deuteronômio, e o livro fosse fechado com as

palavras do capítulo precedente (29º), não haveria nenhuma esperança para Israel

prosseguir como povo da aliança feita com

Abraão, Isaque e Jacó, e mesmo da aliança feita

com eles no Sinai, porque a maldição da Lei os baniria para sempre da presença de Deus

quando invalidassem a aliança com os seus

pecados.

Entretanto, o capítulo 30º de Deuteronômio é iniciado com a promessa de Deus de usar de

misericórdia para com eles, quando na terra do

seu cativeiro eles se voltassem arrependidos de

seus pecados para Ele.

A Lei colocou diante deles a escolha da bênção ou da maldição, conforme o seu

comportamento diante do Senhor e dos Seus

mandamentos.

Haveria bênçãos no caso de obediência, e maldições no caso de desobediência.

Servir ou não a Deus não seria uma opção que não afetaria as suas vidas.

74

Ao contrário, seria uma questão de vida ou de morte.

A Aliança que eles fizeram com o Senhor não gerou um compromisso de serem meramente

religiosos, mas um compromisso que afetaria profundamente o rumo das suas vidas; quer

para o bem, quer para o mal.

O bem por escolherem ouvir o Senhor e guardarem os Seus mandamentos, e o mal, em

caso contrário.

Mas eles são lembrados que não estavam diante de um Deus inflexível e implacável, pois Ele

sabia perfeitamente que o homem é carnal e dado a se desviar dos Seus caminhos, e não

andará neles caso não seja assistido pela Sua

graça e misericórdia, e também pelo temor que

Lhe é devido.

Assim como Ele disse que não destruiria mais a

terra com as águas do dilúvio, por saber que o homem é carnal; de igual modo Ele fez

promessas de misericórdia para que Israel

pudesse retornar para Ele depois que eles Lhe

tivessem voltado as costas para servirem a outros deuses.

Ele aceitaria a esposa infiel de volta, desde que esta deixasse os seus amantes e voltasse para o

Seu marido.

75

O Senhor sabia em todo o tempo que estava entrando em aliança com uma esposa que lhe

seria infiel em várias ocasiões, mas nem por isso

deixou de desposá-la (a nação de Israel) porque a amava.

De igual modo, os cristãos da Igreja de Cristo, apesar de suas infidelidades para com o Senhor, não podem romper o laço matrimonial que têm

com Ele porque são laços indissolúveis em razão

da perfeita fidelidade do Senhor, que

permanece fiel ao que nos tem prometido, apesar da nossa infidelidade.

Afinal, foram libertados da escravidão ao pecado, por Cristo, para viverem em obediência

completa a Deus, mas como carregam a

fraqueza da carne neste mundo, há esta ação da

misericórdia restauradora do Senhor operando em suas vidas para serem curados de suas

apostasias e pecados.

Por esta promessa de misericórdia e

restauração da Antiga Aliança, vemos que o caráter de Deus é realmente perdoador e

compassivo.

Nenhum pecador, por pior que seja, poderá se desculpar em juízo de não ter alcançado a

salvação, porque a misericórdia do Senhor é

infinita.

76

Ele tem prometido que usa de misericórdia com qualquer um, independentemente de seus

méritos.

Isto significa que ninguém poderá impugnar a decisão de Deus de usar de misericórdia para

com o pior dos pecadores, porque Ele

determinou em Sua Soberania usar de

misericórdia com quem Ele quisesse, isto é, conforme a Sua própria vontade, e nada mais.

Ninguém poderá se desculpar pelo fato de se ter

desviado e não ter buscado reconciliação com o

Senhor e com a Sua Igreja, porque ninguém está excluído de alcançar misericórdia quando se

arrepende e se volta para Deus.

O verso 10 fala de conversão e do modo desta conversão:

“quando obedeceres à voz do Senhor teu Deus,

guardando os seus mandamentos e os seus

estatutos, escritos neste livro da lei; quando te

converteres ao Senhor teu Deus de todo o teu coração e de toda a tua alma.”

Os versos 11 a 14 falam da possibilidade e alcance

próximo desta conversão, uma vez que a vontade revelada de Deus é conhecida na Sua

Palavra, e o que crê na Palavra do Senhor e se

dispõe a obedecê-la, será salvo. Estas palavras de Moisés citadas nos versos 11 a

14 são usadas pelo apóstolo Paulo em Rom 10.6-

8 para se referir ao evangelho de Cristo, que

77

salva mediante a mesma conversão em se dizer

não ao pecado e se voltar para Deus e para a Sua

Palavra:

“Porque este mandamento, que eu hoje te ordeno, não te é difícil demais, nem tampouco está longe de ti. Não está no céu para dizeres:

Quem subirá por nós ao céu, e no-lo trará, e no-

lo fará ouvir, para que o cumpramos? Nem está

além do mar, para dizeres: Quem passará por nós além do mar, e no-lo trará, e no-lo fará ouvir,

para que o cumpramos? Mas a palavra está mui

perto de ti, na tua boca, e no teu coração, para a

cumprires.” (Rom 10.11 a 14).

O que tanto Moisés quanto Paulo querem se referir é que a Palavra de Deus para a salvação já foi revelada por Ele de uma vez para sempre e

está registrada na Bíblia.

Não precisamos de nenhuma nova revelação, de nenhum novo profeta, de nenhuma nova visão

ou sonho para sabermos qual é a vontade de

Deus relativamente a nós para que possamos ser salvos.

A Sua vontade já está revelada na Bíblia. O Espírito Santo abrirá o entendimento

daqueles que Se aproximarem de Deus com

todo o coração e alma, para que possam não somente entender a Sua Palavra, como também

a serem transformados por meio dela em novas

criaturas.

78

Há uma ilustração interessante neste capítulo,

quanto ao fato de que os povos inimigos que o

próprio Deus trouxe para oprimir e desterrar os

israelitas, por causa da sua desobediência, seriam repreendidos pelo Senhor assim que Seu

povo buscasse se converter dos seus maus

caminhos.

O mesmo se dá com cristãos desobedientes que são entregues a Satanás para destruição da

carne.

Caso eles se arrependam dos seus pecados e voltem para Deus numa verdadeira conversão

que implique na obediência à Sua Palavra, eles

não são apenas restaurados à comunhão, como

os espíritos malignos que os oprimiam são repreendidos e afastados pelo Senhor. Muitas das aflições que sofremos têm o

propósito de nos conduzirem ao arrependimento e à conversão ao Senhor e à Sua

Palavra.

Ninguém deve contar com a aprovação e a bênção do Senhor quando vive na prática deliberada do pecado, mas pode e deve esperar

a Sua bênção quando se arrepende e se converte

dos seus maus caminhos.

Isto é prometido pelo Senhor abundantemente em várias passagens das Escrituras, como por

exemplo em Jer 31.18-20 e II Crôn 7.13,14.

79

Verdadeiros penitentes podem ter grande encorajamento quanto às compaixões e

misericórdias do Senhor, que nunca falham.

Moisés fecha este capítulo 30º com uma convocação aos israelitas para que se

apegassem verdadeiramente ao Senhor, porque

nisto estava a felicidade e a vida deles.

Não haveria nenhuma bênção vivendo longe do Senhor.

Não haveria nenhuma vida aparte da comunhão com Ele.

Seria marcante entre eles a diferença que

haveria entre os que servissem e amassem a Deus e aqueles que não o servissem e amassem,

porque o próprio Deus os distinguiria com o

derramar da sua bênção e vida para os

primeiros, e das suas maldições e castigos para os últimos.

A adoração verdadeira ao Senhor traria vida, e a adoração aos falsos deuses lhes traria morte.

É isto o que sempre ocorreu no mundo. Os que se voltam para Deus encontram a vida, e

os que resistem a Ele à Sua vontade

permanecem debaixo da Sua ira e mortos em

seus pecados.

A Palavra de Deus é um atalaia que adverte aos homens em toda a parte sobre a sua condição

diante de Deus.

80

Ela é uma Palavra de vida para os que nela creem e se arrependem de seus pecados, por darem

crédito à Palavra do Senhor que é a verdade.

E os que a ignoram ou que resistem a ela não lhe dando a devida atenção permanecerão

condenados em seus pecados.

Por isso Jesus diz quanto à Palavra do evangelho: “Quem me rejeita, e não recebe as minhas palavras, já tem quem o julgue; a palavra que

tenho pregado, essa o julgará no último dia.” (Jo

12.48).

O sentido do Novo Testamento é o mesmo,

porque o evangelho coloca todo homem diante da vida ou da morte, da maldição ou da bênção.

“Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado.” (Mc 16.16).

81

A Graça Está Sujeita a Decadências

“Apo 2:25 - tão-somente conservai o que tendes,

até que eu venha.”

“Apo 3:11 - Venho sem demora. Conserva o que tens, para que ninguém tome a tua coroa.”

“Gál 5:4 - De Cristo vos desligastes, vós que

procurais justificar-vos na lei; da graça

decaístes.”

Estas passagens bíblicas, entre outras de igual

teor, apontam para o fato de que a graça está sujeita a decadências.

Se não nos exercitarmos espiritualmente todos

os dias, e se nos tornamos negligentes no uso dos meios destinados a fortalecer a graça

(oração, vigilância, meditação e prática da

Palavra, comunhão dos santos etc), podemos ter

como certo de que seremos achados enfraquecidos na fé, sofremos perdas em nossa

santificação e comunhão com Deus.

Daí a advertência apostólica:

“Aquele, pois, que pensa estar em pé veja que não caia.” (I Cor 10.12)

Ele diz: o “que pensa”, porque é possível pensarmos que estamos fortificados na graça do

82

Senhor, quando na verdade podemos estar

enfraquecidos.

Todavia, caso estejamos fortificados nesta graça em que estamos firmes por causa da obra de

Jesus em nosso favor, é importante prestarmos

a devida consideração à referida advertência,

porque é possível a qualquer santo que venha a ficar enfraquecido na graça, por falta de

diligência espiritual, e cair da comunhão com o

Senhor, ainda que não para uma queda final,

que signifique a perda da sua salvação.

A coroa que podemos perder citada por nosso Senhor em Apo 3.11 refere-se ao galardão futuro,

e para que tal não suceda devemos guardá-la por

não permitir que o fascínio do mundo, as tentações de Satanás, um viver segundo a carne,

a furtem de nós.

Decadências na graça são comuns na vida da

maioria dos crentes, em uns são mais graves e constantes do que em outros, todavia, importa

que sempre nos levantemos no caminho

estreito em que nos encontramos pela fé, toda

vez que nele cairmos, de modo que retomemos a nossa caminhada e nos fortifiquemos na graça

que está em Jesus Cristo, de modo a

permanecermos e perseverarmos na nossa jornada neste caminho estreito que nos conduz

a uma mais íntima comunhão e conhecimento

do Senhor, e por fim ao céu.

83

Alianças e Dispensações Para um Único

Propósito

Deus interage com a humanidade através de

dispensações e alianças ou pactos, previamente

prefixados por Ele em Sua onisciência e soberania, para conduzir-nos até a conclusão da

história da nossa redenção, quando todas as

coisas serão restauradas em Jesus Cristo com a

criação de um novo céu e de uma nova terra.

Se nos detivermos examinando com paciência

estas dispensações e alianças a partir da perspectiva do próprio Deus ao planejá-las

tendo o grande fim em vista de glorificar em

Cristo uma humanidade que havia caído no pecado, podemos entender que não se trataram

de dispensações e alianças independentes e

para fins particulares, senão, partes integrantes

visando ao mesmo fim.

Então, quando a primeira aliança foi feita com Adão, baseada na obediência perfeita do homem e toda a sua descendência para a vida,

ou da desobediência para a morte, o grande alvo

era o de encerrar a todos sob o pecado (Gál 3.22),

de forma a possibilitar que a promessa da salvação pudesse ser fosse concedida a todos os

que nEle cressem.

Assim, estas dispensações e alianças existem cronologicamente para nós, mas para Deus,

84

especialmente a chamada Nova Aliança em

Jesus Cristo, têm um alcance atemporal, pois

elas abrangem ou estão relacionadas a todas as

gerações da humanidade.

Este foi o caso da aliança feita com Noé, de haver continuidade da multiplicação e manutenção da

raça humana e de todos os demais seres

viventes sobre a face da terra, e de não haver

mais destruição por águas de dilúvio (Gên 9.9-17).

Esta promessa de não haver destruição da raçã humana por Deus e de todas as condições

necessárias para a sua manutenção é a garantia

do cumprimento da promessa da aliança da

redenção (Nova Aliança), feita a Abraão, a qual se manifestaria a partir do seu descendente

(Cristo – Gál 3.16), e cujo benefício alcançaria até

mesmo Adão e os seus descendentes que

tivessem vivido antes de Abraão, e que tivessem sido justificados por meio da sua fé em Deus.

Somente cerca de 430 anos depois da promessa da Nova Aliança feita a Abraão, Deus

estabeleceu uma aliança exclusiva com os

israelitas nos dias de Moisés, a qual chamamos

de Antiga Aliança ou Velho Testamento.

Apesar desta Antiga Aliança, ou Aliança da Lei, ter sido feita com a nação de Israel, ela estava

inserida no contexto do plano da redenção da

humanidade, conforme citamos anteriormente.

85

Todavia, seria de breve duração, na chamada Dispensação da Lei, que durou cerca de 1440

anos. Este foi o período de vigência que Deus

estabeleceu para ela.

Assim, a Nova Aliança que tem vigorado na chamada Dispensação da Graça, desde que

Jesus morreu e ressuscitou, é denominada

Nova, não no sentido de ser a mais recente, ou

uma aliança que não teria qualquer tipo de vinculação com as anteriores, mas, sim, que ela

é a aliança através da qual se cumpre o propósito

redentor de Deus, desde que Ele havia coberto o

primeiro casal com as peles de animais sacrificados, e de lhes ter feito a promessa de

um descendente (Cristo) que esmagaria a

cabeça da Serpente, Satanás, o diabo.

Os que estão aliançados com Cristo estão também aliançados com a Sua vitória. É nEle,

segundo a promessa de aliança que Deus fizera desde Abraão, que eles são perdoados, lavados

de seus pecados e regenerados e santificados

pelo Espírito Santo, para estarem reconciliados

com Deus como seus filhos amados.

Por isso temos em muitas passagens bíblicas no

próprio Velho Testamento, ou seja, nos dias da Antiga Aliança, várias promessas relativas à

Nova Aliança, especialmente nos profetas,

como por exemplo em:

Jeremias 31.31-34:

86

“Jer 31:31 Eis aí vêm dias, diz o SENHOR, em que firmarei nova aliança com a casa de Israel e com

a casa de Judá.

Jer 31:32 Não conforme a aliança que fiz com seus pais, no dia em que os tomei pela mão, para

os tirar da terra do Egito; porquanto eles anularam a minha aliança, não obstante eu os

haver desposado, diz o SENHOR.

Jer 31:33 Porque esta é a aliança que firmarei com a casa de Israel, depois daqueles dias, diz o

SENHOR: Na mente, lhes imprimirei as minhas

leis, também no coração lhas inscreverei; eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo.

Jer 31:34 Não ensinará jamais cada um ao seu próximo, nem cada um ao seu irmão, dizendo:

Conhece ao SENHOR, porque todos me

conhecerão, desde o menor até ao maior deles,

diz o SENHOR. Pois perdoarei as suas iniquidades e dos seus pecados jamais me

lembrarei.”

Ezequiel 36.26,27:

“Eze 36:26 Dar-vos-ei coração novo e porei dentro de vós espírito novo; tirarei de vós o

coração de pedra e vos darei coração de carne.

Eze 36:27 Porei dentro de vós o meu Espírito e farei que andeis nos meus estatutos, guardeis os

meus juízos e os observeis.”

87

O capítulo 31 de Jeremias é introduzido pela citação “Naquele tempo”, ou seja, nos dias da

Nova Aliança, da dispensação da graça.

O Senhor diz que na referida época, Ele seria o Deus de todas as famílias de Israel e elas seriam

o Seu povo (Jer 31.1), isto, sabemos agora, por

causa da promessa de que todo cristão seria um verdadeiro israelita, conhecido e conhecedor de

Deus, integrante de Sua família, porque de outro

modo, seria impossível o cumprimento de tal

promessa em que todas as famílias de Israel pudessem ser consideradas integrantes do

verdadeiro povo de Deus.

Deus faria isto por causa do Seu grande amor que é eterno, e da Sua benignidade que atrairia aqueles que salvaria pela Sua misericórdia a Si

mesmo, e hoje sabemos que Ele o faz, nos

atraindo a Jesus Cristo para sermos salvos por

Ele (Jer 31.3).

Haveria nestes dias futuros de bênçãos quem gritasse como sentinelas no monte de Efraim,

que se subisse ao monte Sião, à presença do

Senhor, porque haveria cânticos de alegria, e haveria exultação por causa de Israel, que seria

posta como a principal das nações, e o que se

proclamaria seria o seguinte: “Salva, Senhor, o teu povo, o resto de Israel.”. Este resto de Israel,

é o remanescente fiel deste povo que será salvo

por Cristo.

88

O Senhor havia falado antes somente em destruir, mas agora Ele está falando de uma

edificação que ocorreria no futuro.

Já não falaria mais em destruição, mas em edificação, por isso Jesus disse que não veio

condenar o mundo, ou julgá-lo, mas salvá-lo, ou

seja, na presente dispensação da graça, Ele está sendo inteiramente longânimo para com todos

os pecadores, na expectativa de que se

arrependam e vivam.

Ele estará convocando, através da Igreja, as pessoas de todos os recantos da terra, para que

se arrependam e creiam nEle para que vivam, em vez de destruí-las por causa dos seus

pecados.

Então, em face de tal graça e misericórdia, os de

Israel, que haviam sido espalhados pelas nações, por causa dos juízos de Deus, tornariam

a ser reunidos por Ele em sua própria terra,

assim como o pastor ajunta o seu rebanho para guardá-lo.

O pecado e o diabo que eram mais fortes do que Israel e que continuamente o levavam a pecar e a se desviar de Deus, seriam vencidos por Jesus,

que é mais forte do que ambos, de modo que

uma vez sendo amarrados por Ele esses

valentes, Israel poderia ser libertado (Jer 31.11).

Então o Senhor passou a proclamar as bênçãos que viriam não somente sobre os judeus, que

89

haviam sido deportados para Babilônia, como

também para os israelitas que haviam sido

levados em cativeiro pelos assírios, ou seja, para

os descendentes deles, especialmente sob o governo de Jesus, quando fossem reunidos a Ele.

Haveria um clamor em Ramá, por causa da matança de meninos de dois anos para baixo em

Belém e seus arredores, por ordem do Rei

Herodes, que tentaria impedir o cumprimento da promessa de Deus, de dar a Seu povo o Rei

que o salvaria dos seus pecados (Jer 31.15, Mt

2.16-18).

Todavia, o propósito eterno de Deus não poderia ser frustrado, e Herodes nada poderia fazer para

impedir a chegada a este mundo do Rei dos reis, e Senhor dos senhores, por causa de quem o

povo de Deus canta com júbilo e fica radiante

com os benefícios do Senhor, em todas as Suas

provisões, e também por quem suas vidas se tornam como jardins regados, de modo que

nunca mais desfalecerão.

Além disso, por causa da Nova Aliança em Cristo, haverá cântico de júbilo nos altos de Sião,

que simbolizam a condição elevada da alma na

presença de Deus nas regiões celestiais (Jer 31.12 a).

Jovens e velhos dançariam alegremente quando o Senhor edificasse o Seu povo, e o pranto deles

seria transformado em alegria, porque seriam

90

consolados pelo Espírito Santo, e o Senhor lhes

daria alegria no lugar da tristeza (v. 13).

Todo o choro pelas tribulações e aflições, especialmente as produzidas pelo Inimigo,

deveria ser reprimido, bem como todas as

lágrimas dos olhos, porque o Senhor

recompensaria o trabalho dos Seu povo, e o livraria da opressão do Inimigo (v. 16).

Os que haviam sido castigados deveriam abandonar as suas queixas, e pedirem ao Senhor

para serem restaurados, porque estava preparando uma nova dispensação (a da graça)

onde prevaleceria mais a Sua misericórdia do

que os Seus juízos, e os que se achavam

desviados poderiam regressar a Ele com confiança, porque saciaria toda alma cansada e

fartaria toda alma desfalecida (v. 25).

Tudo isto fora dado em sonho a Jeremias (v. 26), para que o Senhor o confirmasse logo depois ao

profeta com a promessa relativa à Nova Aliança,

na qual se cumpririam todas estas bênçãos que

ele vira em sonho.

Deus disse que no passado havia falado em arrancar e derrubar, transtornar, destruir, e

afligir, relativamente às casas de Israel e de Judá, como vemos nas Suas ameaças em quase

todo o Velho Testamento, mas disse que nos

dias que ainda viriam (dispensação da graça),

91

Ele agora vigiaria para edificar e para plantar (v.

28).

Por isso o apóstolo Paulo diz que a Igreja é a lavoura de Deus, referindo-se a ela como uma

plantação, e também como o edifício de Deus,

porque o Senhor prometeu plantar e edificar, e

não arrancar e destruir o Seu povo nos dias da Nova Aliança.

Nós vemos também o apóstolo se dirigindo à

Igreja carnal de Corinto, dizendo que os repreenderia pelos seus pecados, mas que não

os destruiria porque o ministério que havia

recebido do Senhor era para edificação e não para destruição (II Cor 13.10).

Deus revogaria também o princípio da iniquidade dos pais ser visitada nos filhos até a

terceira e quarta geração, conforme previsto na Antiga Aliança, porque na Nova, cada um

responderia pelos seus próprios pecados

perante Ele (Jer 31.29, 30).

Depois de ter feito esta introdução de promessas de bênçãos, revelou ao profeta como elas se

cumpririam, a saber: com a entrada em vigor da Nova Aliança no lugar da Antiga, conforme já

comentamos anteriormente (v. 31 a 34).

Para ratificar a imutabilidade deste Seu propósito que se cumpriria em Cristo, o Senhor

afirmou que se tal promessa pudesse ser

revogada, então Israel deixaria também de ser

92

uma nação diante dEle para sempre, porque não

há outro modo de existir um povo para Deus,

senão na união dos Seus filhos com Jesus Cristo,

sendo salvos por Ele, pela justificação da Nova Aliança, com a qual o próprio Abraão havia sido

justificado, antes mesmo da Lei, para que se

soubesse, que é por tal justificação em Cristo que se tem vida eterna, e não pela Lei de Moisés

(v. 35, 36).

Deus não rejeitaria Israel apesar de tudo quanto haviam feito, porque usaria de misericórdia e

salvaria o remanescente da referida nação, e

não deixaria de fazer isto de modo algum, e por isso afirmou que o faria somente caso alguém

pudesse medir os céus e os fundamentos da

terra (v. 37).

Assim, os judeus deveriam ter confiança, enquanto estivessem no cativeiro, que o Senhor visava ao bem do Seu povo, e não à Sua

destruição, e que deveriam voltar com alegria e

com confiança para a sua própria terra, depois

que fossem libertados por Ele do cativeiro em Babilônia, porque o Seu propósito para Israel é o

de que seja colocado como cabeça das nações na

terra para sempre, sem que possa ser jamais

derrubado, e isto terá cumprimento por ocasião da volta de Jesus (v. 38 a 40).

Todos os que creem em Cristo fazem parte do verdadeiro Israel de Deus. É a todos eles que são

feitas estas promessas. Eles governarão as

93

nações da Terra juntamente com Cristo no

período do milênio.

94

A Graça Nunca Desconsidera o Viver

Pecaminoso

A profecia de Isaías é considerada evangélica

porque fala do Messias se manifestaria ao mundo para salvar os pecadores.

O evangelho é uma boa nova relativa à salvação, mas não encobre o pecado do homem, e não deixa de apontar para o juízo eterno de Deus

sobre o pecado, e a necessidade de fé e

arrependimento para o perdão dos pecados e a

consequente reconciliação com Deus.

Não é sem razão que o livro de Isaías seja muito citado no Novo Testamento, porque, como

dissemos, o seu caráter é totalmente evangélico, porque foi para esta missão de falar

do evangelho que Isaías foi chamado por Deus.

Então o enfoque na profecia de Isaías está na obra operada pela graça e pelo poder de Deus, e

não pelo mero esforço pessoal do homem.

A graça evangélica que seria manifestada está sempre associada à fé e ao arrependimento, e a

um caminhar condigno com a santidade de

Deus.

Os fariseus não podiam entender esta mensagem, porque estavam endurecidos, mas

95

os apóstolos a entenderam perfeitamente

porque a viram encarnada na pessoa de Cristo.

Então é por isso que não vemos nenhuma das epistolas escritas pelos apóstolos desobrigando

os crentes de um viver santo e piedoso, sob a alegação de não estarem mais debaixo da Lei e

sim da graça do evangelho; porque sabiam que a

graça é do remanescente fiel, é dos eleitos, é

daqueles que amam a vontade de Deus, é daqueles que detestam o pecado e que amam a

santidade.

Foi pra salvar estes que viriam a se arrepender o pecado que Cristo se manifestou. Ele morreu

por todos os pecadores, mas apenas aqueles que

creem e se arrependem podem ser beneficiados pela Sua morte e desfrutar das bênçãos

prometidas por Deus para o Seu povo.

No capítulo 29 de Isaías, Jerusalém é chamada pelo codinome de Ariel. E o capítulo é

introduzido pela expressão interjetiva “Ah!”

como um suspiro, porque é relativa à cidade onde Davi acampou, isto é, onde ele estabeleceu

a sua casa, porque Jerusalém era chamada de a

cidade de Davi.

Mas eles não andaram nos caminhos de Davi. Não imitaram a sua devoção e piedade.

Então é proferido o que o Senhor lhe faria:

96

“Então porei Ariel em aperto, e haverá pranto e lamentação; e ela será para mim como Ariel.” (v.

2).

São proferidas as assolações que lhes

sobreviriam da parte de Babilônia, que a sitiaria e a abateria (v.3,4), e eles se sentiriam como

mortos que descem ao pó.

Muitos inimigos prevaleceriam contra Judá, porque os babilônios viriam coligados a outros

povos contra Judá, como por exemplo os moabitas e amonitas (v. 5).

Como todos os juízos do Senhor, isto viria repentinamente, como o ladrão, tal como nos

dias de Noé, em Sodoma e Gomorra, e como

também será no tempo do fim, conforme Jesus afirmou.

Deus está esperando bons frutos de árvores más.

Antes, é dito na profecia que estas árvores más serão cortadas.

Deus deixa entregues a si mesmos aqueles que

amam as trevas e não a luz. Aqueles que amam a mentira e não dão ouvidos à verdade. Ele deixa

os que resistem continuamente à Sua vontade,

entregues ao próprio endurecimento deles. Ele não lhes concede graça para que achem

arrependimento. E nem toca a trombeta de

alerta para eles para que despertem do sono de

97

morte em que se encontram, como vemos

afirmado nos versos 10 a 12 de Isaías 29:

“10 Porque o Senhor derramou sobre vós um espírito de profundo sono, e fechou os vossos

olhos, os profetas; e vendou as vossas cabeças, os videntes.

11 Pelo que toda visão vos é como as palavras dum livro selado que se dá ao que sabe ler,

dizendo: Ora lê isto; e ele responde: Não posso,

porque está selado.

12 Ou dá-se o livro ao que não sabe ler, dizendo: Ora lê isto; e ele responde: Não sei ler.”

Eles eram religiosos só de aparência. Eram falsos piedosos em suas obras externas, mas não

tinham o poder da piedade operando pela graça

em seus corações. Então a devoção deles não era em espírito e em verdade, mas uma adoração

falsa. Como se costuma dizer: da boca para fora,

mas não de fato e de verdade. Então se afirma o que lemos no verso 13:

“Por isso o Senhor disse: Pois que este povo se aproxima de mim, e com a sua boca e com os

seus lábios me honra, mas tem afastado para

longe de mim o seu coração, e o seu temor para comigo consiste em mandamentos de homens,

aprendidos de cor;”.

Com isso o Senhor prometeu que faria uma obra maravilhosa com aquele povo hipócrita, com

98

aqueles judeus que eram apenas no nome, mas

não no coração, que consistiria em maravilhas e

sinais externos, mas em fazer com que a

sabedoria dos seus sábios perecesse diante da glória sobre-excelente do evangelho.

O entendimento dos entendidos a seus próprios olhos nos assuntos da religião ficaria

obscurecido pela grande luz do evangelho,

porque pelo Espírito Santo derramado no coração dos crentes, eles discerniriam que a

doutrina dos líderes de Israel não passava de

fumaça e de mandamentos de homens (v. 14).

Deus é onisciente e tudo sabe e conhece, inclusive as intenções dos corações. Mas os que

não têm o Seu temor não conseguem ver esta verdade, e vivem enganando e sendo

enganados, pensando que o Senhor não leva tal

procedimento em consideração (v. 15). Não

sabem que há um “Ai!” proferido contra eles, porque serão afligidos no dia do juízo.

Eles não conseguem enxergar que Deus é o oleiro e não o barro. Ao contrário, agem como se

fossem oleiros, pensando que podem manipular

o Senhor em suas obras e ações, e por isso

rejeitam o Seu governo e disciplina em suas vidas (v. 16).

Assim, enquanto os sábios e entendidos, que pensavam enxergar e conhecer completamente

a Deus e a Sua vontade, permaneceriam cegos e

99

endurecidos pelo Senhor, Ele daria vista

espiritual aos que se reconheciam cegos, isto é,

ignorantes da Sua pessoa e vontade, e daria que

aqueles que nunca ouviram ou não podiam entender a Sua Palavra, pudessem ouvi-la e

compreendê-la (v. 17, 18).

Deus não se revelaria aos sábios e entendidos a seus próprios olhos, mas aos pequeninos, a

saber, aos mansos (submissos), aos pobres de espírito, e por isso se afirma que são estes os que

são bem-aventurados porque são aqueles a

quem Deus se dará a conhecer, como também a

Sua vontade.

Deste modo, estes pequeninos que se converteriam ao evangelho não se alegrariam e

não gloriariam em si mesmos e no seu

conhecimento, mas unicamente no Senhor (v.

19).

Enquanto isto, os opressores, os arrogantes, seriam reduzidos a nada, e todos os

escarnecedores da verdade e todos os que se dão

à iniquidade, seriam desarraigados, porque não

serão eles que herdarão a terra, senão somente aqueles que se deixam instruir por Deus, porque

são mansos e pobres de espírito (v. 20).

Estes que são desarraigados têm alguns dos seus pecados descritos no verso 21:

100

“os que fazem por culpado o homem numa causa, os que armam laços ao que repreende na

porta, e os que por um nada desviam o justo.”

Os versos 22 a 24 descrevem de modo muito claro a grande verdade evangélica que somente quem é espiritual pode discernir as coisas

espirituais, e tudo discernir sem ser por

ninguém discernido.

Então Deus fala pelo profeta nestes versículos que esta mensagem ficará selada para o

entendimento dos israelitas, e assim eles não poderiam ficar envergonhados da glória vazia da

devoção deles, pensando que fosse algo muito

elevado, quando na verdade era uma adoração

de lábios de corações afastados do Senhor. Mas isto, como se diz no verso 23 só poderia ser

discernido quando o Senhor fizesse a obra das

Suas mãos no meio de Israel através de Jesus

Cristo, então santificariam o Santo de Jacó e temeriam ao Deus de Israel, porque veriam que

o Seu reino não consiste em palavras, mas em

demonstração do Espírito Santo e de poder, o

que seria manifestado pelo evangelho.

Tão abundante seria o derramar da graça, que

os errados de espírito viriam a ter entendimento, e os murmuradores deixariam a

murmuração para aprenderem a instrução do

Senhor (v. 24).

101

A Graça se Manifesta na Nossa Fraqueza

“12 Irmãos, rogo-vos que sejais como eu, porque

também eu sou como vós; nenhum mal me fizestes.

13 E vós sabeis que primeiro vos anunciei o evangelho estando em fraqueza da carne;

14 E não rejeitastes, nem desprezastes isso que era uma tentação na minha carne, antes me

recebestes como um anjo de Deus, como Jesus

Cristo mesmo.

15 Qual é, logo, a vossa bem-aventurança? Porque vos dou testemunho de que, se possível

fora, arrancaríeis os vossos olhos, e mos daríeis.

16 Fiz-me acaso vosso inimigo, dizendo a verdade?” (Gál 4.12-16).

Paulo roga humildemente aos crentes da

Galácia como um pai que insta com seu filho perdido a voltar ao mesmo bom caminho em

que andava antes da sua perdição.

Ele havia desabafado no verso 11 dizendo que estava perplexo com o que eles haviam feito, e

receava então que estivesse trabalhando em vão

em relação a eles.

102

Mas como que lembrando imediatamente da condição deles de terem sido feitos filhos de

Deus, tal como ele havia sido feito também, ele

desce ao nível deles, não no que se refere ao pecado, mas da miséria deles, e por um

momento também se sente miserável com eles,

ante a impotência de poder fazer por si mesmo algo em relação a eles, de modo que todo o seu

trabalho e cuidado não se tornasse infrutífero.

Assim lhes fez recordar quão grande era o afeto que eles tinham por ele quando lhes pregou o

evangelho pela primeira vez, e como lhe haviam

tratado tão bem, mesmo diante da sua fraqueza na ocasião, provavelmente em razão de alguma

possível enfermidade, pois lhes disse que

estavam dispostos até mesmo, se possível fora, a

arrancarem os seus próprios olhos para lhos darem.

Ou isto foi o resultado de ferimentos produzidos pelo apedrejamento que ele havia sofrido dos

judaizantes naquela região. O livro de Atos conta

detalhes do que ocorreu ao apóstolo quando pregava o evangelho nas cidades da Galácia

(Perge, Derbe, Listra, Antioquia da Psídia e

Icônio).

Aquela fraqueza quanto à sua incapacidade e impotência pessoais, serviram aos propósitos de Deus, porque o poder de Cristo, e a Sua graça, se

aperfeiçoam na nossa fraqueza. De modo que

quando somos fracos então é que somos fortes,

103

porque trocamos a nossa incapacidade pelo

poder do Espírito Santo, que nos assiste nas

nossas fraquezas.

Deste modo, Paulo introduz esta seção da

epístola chamando a todos os crentes gálatas de irmãos.

Ele quer demonstrar que apesar de apóstolo de Cristo ele não se envergonha de chamá-los de

irmãos, desde o maior até o menor deles, assim

como o nosso Salvador também não se envergonha de nos chamar de irmãos, apesar de

ser o nosso Senhor.

No amor cristão as diferenças se dissolvem.

Assim como Cristo se rebaixou deixando a glória dos céus, por amor, também devemos nos

humilhar para que possamos ser úteis àqueles que se encontram em necessidade espiritual,

que é comum a todos nós.

Não devemos lhes falar do alto da nossa autoridade e importância (que na verdade nem é nossa, caso a tenhamos, mas de Cristo),

porque esmagaríamos a cana quebrada e

apagaríamos o pavio fumegante, e certamente

não é este o ministério do Senhor Jesus neste mundo, porque tem se compadecido das nossas

misérias espirituais.

Quando o próprio Paulo havia pregado o evangelho em fraqueza, os gálatas superaram

104

por causa do seu amor a ele, a tentação que foi

para eles vê-lo naquela fraqueza.

Eles não o desconsideraram e nem o desprezaram como possivelmente estavam fazendo agora, por causa dos argumentos dos

judaizantes, porque procuravam por todos os

meios desqualificar e rebaixar o apóstolo diante

dos seus olhos, afirmando que se fosse verdadeiro ministro de Cristo não estaria sujeito

a tantas tribulações, fraquezas e perseguições.

Os falsos apóstolos se gloriavam das suas honrarias, das suas posses e conquistas terrenas, alegando que eram bênçãos de Deus

por observarem a Lei de Moisés.

Agora os gálatas não haviam conseguido vencer a tentação de considerar Paulo alguém que não

era bem sucedido segundo os padrões do mundo.

Ele rogou que eles voltassem a ser como foram no princípio. Que não julgassem segundo a

aparência, e que não interpretassem as tribulações como prova de um possível desfavor

de Deus.

A grande preocupação do apóstolo não era com a questão de receber a honra que lhe era devida, mas com a própria condição espiritual dos

crentes gálatas que estavam se desviando da

simplicidade que é devida a Cristo, e sem a qual

105

não é possível termos comunhão uns com os

outros.

Paulo fecha esta seção da epístola afirmando que o que estava dizendo quanto à reprovação

do que eles estavam fazendo agora, que ela não

era movida por nenhum ressentimento pessoal, ou por inimizade, ao contrário, eram palavras de

um autêntico amigo, porque eram a pura

expressão da verdade. O amor folga com a

verdade.

O amor não recorre à mentira. Que então os gálatas aprendessem a julgar segundo a reta justiça conforme convém a todo filho de Deus.

Um verdadeiro amigo prevenirá o seu irmão que

estiver errando, e se o irmão errado tiver algum senso ele agradecerá ao seu amigo.

O apóstolo queria que os gálatas soubessem por que ele lhes tinha falado a verdade, para o

próprio bem deles, e que não pensassem que ele

os repugnava. Ele lhes falou a verdade porque os

amava.

106

A Justiça do Evangelho Testemunhada

pela Lei e pelos Profetas

Nos livros proféticos do Velho Testamento nós

podemos constatar em inúmeros detalhes

várias predições relativas ao ministério terreno

de Jesus Cristo como também a glória do seu reino que se manifestará no final dos tempos.

É com tão grande exatidão que estas predições se cumpriram nEle e em tudo o que tem

ocorrido no mundo desde então, especialmente

pela obra do Espírito Santo através dos Seus santos na Terra, as quais não poderiam ser

cumpridas em nenhum outro, que podemos ter

a firme convicção da completa inteireza da fé que professamos na Palavra revelada de Deus na

Bíblia.

Quão profundo e maravilhoso é que o Deus que é totalmente santo, justo e perfeito, criador de

todas as coisas que existem no céu e na Terra, se manifestasse a pecadores como nós, e nos

revelasse o Caminho para a salvação de nossas

almas que se encontravam perdidas.

Quando examinamos por exemplo, o capítulo 32 de Isaías, nós vemos nos versos 1 a 5; e 15 a 18

condições que prevaleceriam nos dias do

evangelho.

107

O reinado do Messias seria de justiça, e os príncipes que estariam juntamente com ele,

governariam com justiça (v. 1).

Somente um varão (Cristo) serviria de abrigo contra o vento e refúgio contra a tempestade, e

seria como ribeiros de águas em lugares secos,

e a sombra numa terra sedenta; ou seja, Ele seria o amparo e o socorro do Seus povo nas

tempestades de aflições que têm que enfrentar

neste mundo; bem como o Provedor de todas as

suas necessidades, especialmente a de saciar a sua sede espiritual de justiça (v.2).

Aqueles que andassem por fé e não por vista, ou seja, com os olhos espirituais abertos, jamais

teriam sua visão ofuscada; assim como aqueles que têm seus ouvidos espirituais abertos, para

ouvirem o que o Espírito Santo diz à Igreja,

sempre ouviriam a voz de Deus, dando-lhes

conhecimento da Sua vontade (v. 3).

É dito que o coração dos imprudentes, ou seja dos precipitados, dos temerosos, entenderia o

conhecimento na dispensação do evangelho,

indicando isto que a graça capacitaria e guiaria na instrução de uma vida piedosa segundo o

conhecimento de Deus e da verdade, que seria

alcançado pela conversão e pelo trabalho progressivo da santificação, pessoas que têm

dificuldade para aprenderem a prudência e a

sabedoria de Deus (v. 4).

108

É dito também no verso 4 que a língua dos gagos estaria pronta para falar distintamente. Isto

significa que pessoas não eloquentes, ou com

dificuldades para se expressarem verbalmente seriam capacitadas pelo Espírito Santo na

dispensação do evangelho a pregarem e a darem

testemunho de Cristo com ousadia e desprendimento.

O discernimento do Espírito Santo permitiria ao crente conhecer que não há qualquer nobreza

espiritual na tolice, e também conhecer as

aparentes generosidades que procedem de

corações avarentos (v. 5).

As reformas que o rei Ezequias estava realizando em Judá não tinham o poder de estabelecer um governo no coração dos seus súditos. Mas o Rei

justo prometido neste capítulo 30 de Isaías,

Jesus, o Messias, somente Ele, tem o poder de

gerar uma obediência que seja de dentro para fora, e não apenas exterior, porque tem o poder

de estabelecer o Seu governo no coração dos

Seus servos, e além disso, realizar a

transformação de suas vidas e caráter.

Nos versos 15 a 18 nós temos o registro do modo

como seria estabelecido este governo no coração, e as suas consequências abençoadas.

É dito no verso 15 que tal sucederia a partir do momento que o Espírito fosse derramado lá do

alto sobre o povo de Deus. Sabemos que isto

109

começou a acontecer desde o dia de Pentecostes

em Jerusalém, com os primeiros discípulos,

logo após a morte e ressurreição de Jesus.

A consequência disto é que o deserto se tornaria em campo fértil (v. 15b). Os campos desolados e infrutíferos dos corações desertos seriam

tornados férteis e frutíferos para Deus pela água

viva do Espírito Santo, na regeneração e na

santificação dos salvos.

Estes desertos infrutíferos (pessoas) que nada entendiam e vivam do juízo e da justiça de Deus, teriam esta justiça habitando neles, porque o

Espírito passaria a habitar em seus corações (v.

16).

Estes que foram justificados por Deus, por causa da obra de Reforma do coração, realizada pelo

Rei prometido teriam paz com Deus, porque seriam reconciliados com Ele por meio da

justiça de Cristo que receberam pela graça,

mediante a fé. E somente isto seria o suficiente

para lhes garantir o sossego e a segurança eterna, pelo livramento da condenação e da ira

de Deus, que repousaria sobre eles (v. 17).

A estes que foram assim justificados foi feita a promessa de Deus de que habitariam em

moradas de paz, em moradas bem seguras e em lugares quietos de descanso, porque os que são

da fé têm entrado no descanso de Deus, que não

é propriamente um lugar, mas a condição de

110

alma e espírito que estão em plena comunhão

com Ele, e assim não podem ter qualquer temor

(v.18).

Estas boas promessas dos dias do evangelho estão entremeadas com as repreensões e juízos dos versos 6, 10 a 14 e 19, nos quais são

repreendidos os tolos e especialmente as

mulheres de Israel que viviam em

deslumbramento em vez de uma vida de humildade, piedade e santidade.

Elas, assim como todo o povo de Judá não deveriam se gloriar na prosperidade material

que haviam alcançado sob o reinado de Ezequias

e nem na glória do palácio real, porque toda

aquela prosperidade viria a ser removida da terra, que seria deixada deserta, bem como o

palácio real.

Esta profecia demonstra que toda glória terrena é passageira e aparente, e não é nela em que

deve estar o nosso coração, senão somente no Senhor, que é o Rei de reis, cujo reino é eterno e

inabalável.

111

A Justiça Manifestada sem Lei

“Mas agora, sem lei, se manifestou a justiça de

Deus testemunhada pela lei e pelos profetas;

justiça de Deus mediante a fé em Jesus Cristo,

para todos e sobre todos os que creem; porque não há distinção, pois todos pecaram e carecem

da glória de Deus, sendo justificados

gratuitamente, por sua graça, mediante a

redenção que há em Cristo Jesus, a quem Deus propôs, no seu sangue, como propiciação,

mediante a fé, para manifestar a sua justiça, por

ter Deus, na sua tolerância, deixado impunes os

pecados anteriormente cometidos; tendo em vista a manifestação da sua justiça no tempo

presente, para ele mesmo ser justo e o

justificador daquele que tem fé em Jesus.” (Rom 3.21 a 26)

A justiça prometida por Deus para a

justificação de pecadores, e que passou a se manifestar na dispensação da graça, à qual

Paulo chama de tempo presente, com a vinda de

nosso Senhor Jesus Cristo a este mundo para

morrer na cruz, foi profetizada nas Escrituras do Velho Testamento, porque Paulo diz que ela foi

testemunhada pela Lei e pelos profetas, modo

comum de se designar as Escrituras no passado.

Abraão e muitos outros no passado, haviam sido justificados por esta justiça, mas o seu

significado, modo de aplicação e tudo o mais

112

que a ela se refere, seria revelado e manifestado

somente no evangelho e na pessoa de Jesus

Cristo.

Esta justiça de Deus prometida seria manifestada sem lei, conforme dizer do

apóstolo, isto é, ela não seria decorrente das

obras da lei, mas no ato de justiça que seria cumprido por Cristo morrendo no lugar do

pecador, carregando sobre Si todos os pecados

deles, para que pudessem ser perdoados e

justificados por Deus.

Isto seria feito também por um ato de pura graça para qualquer um que creia, sem qualquer

distinção de pessoas.

Então erram com o alvo da vontade de Deus quanto à salvação, todos aqueles que procuram

ser justificados por meio da observância da

obras da Lei, uma vez que a justiça prometida está sendo oferecida gratuitamente para a nossa

salvação, não por praticarmos as obras da Lei,

mas por causa da fé em Cristo. As boas obras

seguirão a salvação, mas jamais serão a sua causa.

Deus deliberou que seria misericordioso na dispensação da graça, para com as nossas transgressões e não lembraria dos nossos

pecados (Hb 8.12, 10.17), porque poderia nos

perdoar completamente uma vez que castigaria

113

o Seu próprio Filho unigênito no lugar daqueles

que viriam a crer nEle.

Estes que creem, e somente eles, podem receber o dom precioso da justiça divina,

porque não serão apenas perdoados, mas completamente santificados.

Não seria justo perdoar um malfeitor para que ele continuasse na prática da injustiça.

Por isso, os que são justificados por Deus, recebem esta maravilhosa bênção, porque

passarão a ser justos, se inteirando da causa da justiça e servindo à justiça, pela implantação

neles de uma nova natureza espiritual, celestial,

santa e divina, que crescerá até a maturidade de varão perfeito.

Por isso os crentes necessitam de Cristo, porque não podem viver e praticar isto sem o poder e a

vida de Cristo operando neles.

Cristo é a justiça do crente, para que se torne justiça de Deus, porque Jesus se fez, ao morrer na cruz, maldição e pecado por nós.

Ele se fez a Si mesmo, maldito, para que pudéssemos ser feitos santos (Gal 3.13).

Ele se fez pecado, para que fôssemos feitos santos e justos. (2 Cor 5.21)

114

Ele se tornou assim a nossa propiciação, porque a justiça perfeita de Deus deveria ser satisfeita

quanto ao nosso pecado, porque a justiça

demanda a morte espiritual e eterna do pecador, ou seja, ficar separado para sempre de

Deus e sujeito à uma condenação de tormentos

eternos.

Então, somente o sacrifício de Jesus poderia satisfazer à justiça divina, porque nenhum outro

possuía tão profundo e infinito valor e dignidade

para morrer no lugar de muitos.

Como o crente é reconciliado com Deus, tendo paz com Ele, por causa da redenção que há no

sangue do sacrifício do Senhor por nós, então se

afirma nas Escrituras que a justiça e a paz se

reconciliaram, porque é somente por meio da justiça de Deus que nos é oferecida

gratuitamente em Cristo, que podemos ter paz

com Ele para sempre.

Vejamos então, alguns textos do Velho

Testamento que profetizaram acerca de tal justiça divina destinada a transformar

pecadores em santos e justos diante de Deus.

Slm 85:10 Encontraram-se a graça e a verdade, a justiça e a paz se beijaram.

Rom 5.1 Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus

Cristo;

115

(Veja como a justiça que recebemos pela fé em Jesus, traz como resultado a nossa paz

(reconciliação) com Deus. É somente por este

meio que acaba a guerra espiritual que havia entre nós e Deus, e o Juízo de condenação de

Deus que paira sobre nós, enquanto não temos

esta Justiça que promove a paz. O ato da justificação é a atribuição, a imputação da

justiça de Jesus ao que crê.)

Isa 32:17 O efeito da justiça será paz, e o fruto da justiça, repouso e segurança, para sempre.

(A justiça aqui referida, em tais efeitos, não poderia ser outra, senão a justiça do próprio

Cristo, por meio da qual temos paz, descanso

espiritual e segurança, eternos)

Isa 46:13 Faço chegar a minha justiça, e não está

longe; a minha salvação não tardará; mas estabelecerei em Sião o livramento e em Israel,

a minha glória.

(Este texto e o seguinte, revelam que a justiça que está sendo oferecida por Deus aos pecadores pelo evangelho, é a manifestação que

haveria de uma Pessoa, e quem é tal pessoa,

senão somente nosso Senhor Jesus Cristo.)

Isa 51:5 Perto está a minha justiça, aparece a minha salvação, e os meus braços dominarão os

povos; as terras do mar me aguardam e no meu

braço esperam.

116

Isa 51:6 Levantai os olhos para os céus e olhai para a terra embaixo, porque os céus

desaparecerão como a fumaça, e a terra

envelhecerá como um vestido, e os seus moradores morrerão como mosquitos, mas a

minha salvação durará para sempre, e a minha

justiça não será anulada.

Isa 51:8 Porque a traça os roerá como a um

vestido, e o bicho os comerá como à lã; mas a minha justiça durará para sempre, e a minha

salvação, para todas as gerações.

Isa 56:1 Assim diz o SENHOR: Mantende o juízo e fazei justiça, porque a minha salvação está prestes a vir, e a minha justiça, prestes a

manifestar-se.

Jer 23:6 Nos seus dias, Judá será salvo, e Israel habitará seguro; será este o seu nome, com que

será chamado: SENHOR, Justiça Nossa.

Jer 33:16 Naqueles dias, Judá será salvo e Jerusalém habitará seguramente; ela será

chamada SENHOR, Justiça Nossa.

Deut 32:36 Porque o SENHOR fará justiça ao seu povo e se compadecerá dos seus servos, quando

vir que o seu poder se foi, e já não há nem escravo nem livre.

Slm 17:15 Eu, porém, na justiça contemplarei a tua face; quando acordar, eu me satisfarei com a

tua semelhança.

117

Slm 22:31 Hão de vir anunciar a justiça dele; ao povo que há de nascer, contarão que foi ele

quem o fez.

Slm 24:5 Este obterá do SENHOR a bênção e a justiça do Deus da sua salvação.

(Por isso Jesus diz no Sermão do Monte que são bem-aventurados os que têm fome e sede desta justiça, porque ela é benção e não juízo, vida

eterna, e não morte espiritual e eterna)

Slm 40:9 Proclamei as boas-novas de justiça na grande congregação; jamais cerrei os lábios, tu

o sabes, SENHOR.

Slm 40:10 Não ocultei no coração a tua justiça; proclamei a tua fidelidade e a tua salvação; não escondi da grande congregação a tua graça e a

tua verdade.

(Salmo profético, onde se declara a proclamação do evangelho por nosso Senhor

Jesus Cristo, oferecendo a Sua justiça para a

salvação daqueles que nEle cressem)

Slm 94:15 Mas o juízo se converterá em justiça,

e segui-la-ão todos os de coração reto.

(Maravilhosa e profunda verdade. O juízo, a condenação de Deus, que pairava sobre nós, foi

transformado em justiça, que é graça e perdão

misericordioso, para com os nossos pecados,

118

porque Jesus pagou o preço devido em Sua

agonia e morte).

Slm 97:8 Sião ouve e se alegra, as filhas de Judá se regozijam, por causa da tua justiça, ó

SENHOR.

(Veja que se a justiça do evangelho fosse juízo

condenatório, não se falaria desta grande alegria por causa da justiça do Senhor que nos

está sendo oferecida por Ele por amor e

gratuitamente. O que se exige de nós, é somente arrependimento (mudança de mente) e fé.

Slm 98:2 O SENHOR fez notória a sua salvação; manifestou a sua justiça perante os olhos das

nações.

(A justiça de Deus que é vista pelas nações é o próprio Cristo, em sua obra de redenção em

favor dos pecadores, para que sejam justificados e tornados justos)

Slm 118:19 Abri-me as portas da justiça; entrarei por elas e renderei graças ao SENHOR.

Slm 119:40 Eis que tenho suspirado pelos teus preceitos; vivifica-me por tua justiça.

Slm 119:123 Desfalecem-me os olhos à espera da tua salvação e da promessa da tua justiça.

Slm 132:9 Vistam-se de justiça os teus sacerdotes, e exultem os teus fiéis.

119

Isa 1:27 Sião será redimida pelo direito, e os que se arrependem, pela justiça.

(Profecia que confirma tudo o que foi dito anteriormente sobre a justiça de Cristo, como

sendo o manto que cobre os nossos pecados.

Esta justiça é maravilhosa e eterna. Não pode ser

perdida, conforme o primeiro homem criado perdeu a sua justiça, e juntamente com ele,

todos nós, seus descendentes).

Isa 4:4 quando o Senhor lavar a imundícia das filhas de Sião e limpar Jerusalém da culpa do

sangue do meio dela, com o Espírito de justiça e

com o Espírito purificador.

Isa 61:11 Porque, como a terra produz os seus renovos, e como o jardim faz brotar o que nele se

semeia, assim o SENHOR Deus fará brotar a

justiça e o louvor perante todas as nações.

(Está ou não está, o evangelho de Cristo prevalecendo em todo o mundo, há séculos?

É o cumprimento desta profecia e de todas as que se referem à justiça de Cristo, para a nossa

salvação. Aleluia!)

Isa 62:1 Por amor de Sião, me não calarei e, por amor de Jerusalém, não me aquietarei, até que

saia a sua justiça como um resplendor, e a sua

salvação, como uma tocha acesa.

120

(Veja que a salvação é diretamente relacionada à justiça de Cristo, nesta profecia. Guarde bem

isto: é salvação, e não juízo! O juízo é decorrente

da rejeição da Justiça que nos é oferecida pelo evangelho para a nossa justificação.)

Mal 4:2 Mas para vós outros que temeis o meu nome nascerá o sol da justiça, trazendo salvação

nas suas asas; saireis e saltareis como bezerros

soltos da estrebaria.

(Jesus é o Sol da justiça, que pelo qual vivem os que são iluminados pela sua luz, e tornados

fervorosos em amar e servir a Deus, por causa

do calor do Seu amor por nós).

Hab 2:4 Eis o soberbo! Sua alma não é reta nele;

mas o justo viverá pela sua fé.

(O justo é antes de tudo aquele que foi justificado pela fé, e o efeito desta justiça de

Cristo que o justifica, é a vida eterna com Deus)

Isa 53:11 Ele verá o fruto do penoso trabalho de sua alma e ficará satisfeito; o meu Servo, o Justo, com o seu conhecimento, justificará a muitos,

porque as iniquidades deles levará sobre si.

(Profecia de Isaías proferida no contexto de todo o capítulo 53, referente ao ministério e obra de

redenção do Messias em favor dos ímpios. O Justo com “J” maiúsculo é Jesus, que tem justiça

abundante e suficiente para cobrir os pecados

de todos aqueles que dEle se aproximam com

121

um coração arrependido e com fé, de que é

poderoso para lhes dar a vida espiritual,

celestial e divina, pelo novo nascimento

operado pelo Espírito Santo).

122

A Luz da Lei e a do Evangelho

A Lei de Deus é uma luz que ilumina e nos

revela a condição tenebrosa do nosso coração pecaminoso, para que reconheçamos e

confessemos nossos pecados a Deus.

Todavia, a Lei não é a graça de Deus, a qual não somente nos revela a misericórdia e o perdão

que estão disponíveis para nós, pecadores, como

também é o poder que pode remover os nossos

pecados.

Assim, a luz do evangelho é de um tipo diferente da luz da Lei; porque a luz da Lei traz temor,

tristeza e quebrantamento; e a do evangelho revivifica, conforta e refrigera o coração.

Daí a promessa feita desde os dias do Velho Testamento, quanto ao efeito do evangelho de

Cristo:

“Isa 61.1 O Espírito do SENHOR Deus está sobre mim, porque o SENHOR me ungiu para pregar

boas-novas aos quebrantados, enviou-me a curar os quebrantados de coração, a proclamar

libertação aos cativos e a pôr em liberdade os

algemados;

Isa 61:2 a apregoar o ano aceitável do SENHOR e o dia da vingança do nosso Deus; a consolar

todos os que choram

123

Isa 61:3 e a pôr sobre os que em Sião estão de luto uma coroa em vez de cinzas, óleo de alegria, em

vez de pranto, veste de louvor, em vez de espírito

angustiado; a fim de que se chamem carvalhos de justiça, plantados pelo SENHOR para a sua

glória.”

124

É Pela Graça mas Não é Fácil Conforme

Possa Parecer

Do diálogo de nosso Senhor Jesus Cristo com

Nicodemos pode ser extraído um grande alerta

e ensinamento para os líderes do movimento de crescimento de igrejas.

Nicodemos havia procurado o Senhor, ainda que à noite por temor do julgamento que os

judeus inimigos de Jesus poderiam fazer daquela sua visita.

Entretanto ele reconheceu e declarou que sabia que Deus era com o Senhor Jesus por causa dos

sinais que Ele fazia, e também o chamou de

Mestre, por ter entendido que a sua mensagem era de fato espiritual e celestial.

Para Rick Warren e para a maioria de seus pupilos, isto teria sido o suficiente para dizerem

com grande entusiasmo a Nicodemos: “seja bem-vindo à família de Deus”.

Todavia, não foi este o parecer de Jesus.

Ele disse diretamente a Nicodemos que ele não poderia entrar no Reino de Deus caso não nascesse de novo da água e do Espírito.

Disse-lhe ainda que não estava no poder do próprio Nicodemos a entrada no Reino, porque

125

isto dependeria primeiro que Ele, Jesus, fosse

levantado na cruz, para salvar os pecadores, e

que isto havia sido feito em figura no Velho

Testamento, quando Moisés levantou a serpente de bronze no deserto para que os

israelitas não morressem das mordidas das

serpentes abrasadoras que lhes haviam atacado.

Disse também que quem opera este novo nascimento é o Espírito Santo, que o faz

conforme lhe apraz, assim como o vento sopra

aonde quer, ou seja, a salvação não depende de quem corre ou de quem quer, mas de Deus usar

de misericórdia para com aquele que ele irá

salvar.

Assim, não basta que alguém levante a mão e diga que aceita a Jesus como Salvador, ou que

faça uma rápida oração de entrega, porque se

não houver o arrependimento que é produzido

pela graça de Deus, quando o Espírito Santo nos convence de que somos pecadores, abrindo os

nossos olhos espirituais para entender o

significado da nossa condição de real miséria

diante da justiça e santidade de Deus, é que corremos desesperadamente para os braços de

Jesus para achar o perdão dos nossos pecados, a

justificação, e a decorrente regeneração e

santificação do Espírito Santo, para que sejamos de fato salvos.

126

Impossível para a Lei mas Não para a

Graça que Opera pela Fé

"Todos aqueles, pois, que são das obras da lei

estão debaixo da maldição; porque está escrito: Maldito todo aquele que não permanecer em

todas as coisas que estão escritas no livro da lei,

para fazê-las.

É evidente que pela lei ninguém será

justificado diante de Deus, porque o justo viverá da fé." (Gál 3.10,11)

A fé verdadeiramente honra a Deus, porque é a firme confiança em tudo o que a boca de Deus

tem proferido. E porque a fé honra a Deus, Deus

imputa a fé para justiça de todo aquele que Nele

crê, tal como testificam as Escrituras acerca de Abraão.

A Lei revela que a transgressão de qualquer mandamento de Deus torna o homem culpado

de uma condenação eterna.

Quem, na condição de pecador por natureza poderia cumprir tal exigência moral de Deus?

A Sua justiça o exige, porque se demanda conformação perfeita à Sua santidade para que

alguém possa ir para o céu, sem culpa alguma.

127

Mas o pecado ofendeu a justiça de Deus. Foi por causa desta ofensa que o pecador perdeu o céu.

E não temos aqui uma mera questão jurídica

forense, mas a impossibilidade de se harmonizar o que é perfeito com o que é

imperfeito.

Então o caminho de volta ao céu deve passar obrigatoriamente pela plena satisfação da

justiça de Deus, para que possamos ser

santificados até o ponto em que esta santificação será completada até a perfeição no

céu.

O homem necessita então de justiça para ser salvo.

Mas o alto nível desta justiça não pode ser encontrado nele ou ser produzido por ele.

Daí ter o próprio Cristo se tornado a nossa justiça.

É pela Sua justiça imputada a nós que podemos nos aproximar do Deus que é inteiramente justo

e santo, pela esperança daquela perfeição que

haveremos de ter na glória celestial.

Consequentemente a Lei afirma que todo aquele que não cumpre os Seus mandamentos permanece debaixo de maldição, porque os

mandamentos da Lei refletem o caráter da

perfeita justiça de Deus.

128

Há somente uma maneira de ser resgatado desta maldição, uma vez que a própria maldição

não pode ser removida, em razão da exigência

da justiça de Deus que amaldiçoa todos os transgressores da Sua vontade, a menos que

eles tenham sido justificados em Cristo Jesus,

pela justiça que lhes é imputada por Deus somente pela graça e mediante a fé.

Deste modo, Paulo explica que nós somente podemos ser justificados pela fé que se firma no

Evangelho, na boa nova de grande alegria de que

Deus se faz favorável para com os pecadores que

se arrependam de seus pecados e que se unem pela fé a Cristo, para serem justificados e

santificados.

Por isso aqueles que pensam que poderão ser justificados pelo mero esforço deles em

praticarem as obras da lei, à parte da fé em

Cristo, estarão permanentemente debaixo da maldição da Lei, porque a Lei não foi dada por

Deus para o propósito de justificar, e não

poderia ser dada para tal objetivo, porque o

homem é pecador e já se encontra condenado, independentemente do que possa fazer de bom.

As santas exigências da Lei comprovam o quanto o homem está distanciado da perfeita

justiça e santidade de Deus.

Então a Lei não poderá justificá-lo, porque para isto seria necessário que o homem fosse

129

perfeito no cumprimento de tudo o que a Lei

exige desde o seu nascimento, quer em

palavras, em pensamentos e ações, e tanto nos

deveres relativos a Deus quanto ao seu próximo.

Ninguém além de Jesus Cristo conseguiu cumprir perfeitamente toda a Lei, e somente ele

poderia reivindicar a justificação da Lei caso

necessitasse dela, mas isto nunca seria preciso

no seu caso, porque Ele não tinha do que ser justificado, porque era sem pecado.

Quando alguém confia em seu coração, que seus pecados são perdoados por causa do

sacrifício de Cristo, e por causa da Sua justiça,

Deus cobrirá os seus muitos pecados com o

sangue do Seu Filho, e lhe aceitará por causa desta sua confiança nos méritos de Cristo como

suficiente para expiar a sua culpa e dar-lhe a

salvação.

É como se Deus dissesse: “Eu perdoarei os seus pecados porque você crê que o meu Filho é

poderoso para livrá-lo da condenação futura, porque Ele próprio se fez maldição no seu lugar

na cruz para que você não estivesse mais

debaixo da maldição da Lei.

Por causa desta sua confiança nEle, Eu lhe darei o Espírito Santo que prometi derramar como aceitação plena do sacrifício que o meu Filho fez

por você na cruz, de maneira que o Espírito

Santo possa transformar o Seu coração e operar

130

em você um caráter verdadeiramente santo,

assim como Eu sou santo.

131

Uma Graça que Cresce

Foi bem na terra do solo do nosso coração

que Jesus plantou na nossa conversão

a semente da graça, a semente da vida eterna.

A nós cabe arar, regar e adubar

com orações e com a Palavra

para que seja fértil a nossa terra.

Porque a semente deve germinar,

crescer, florir e frutificar

conforme Deus espera.

132

Todo Mérito é da Graça

Temos de fato um viver abençoado quando

obedecemos a Deus, dedicando-nos à prática

das boas obras.

Mas, é preciso não confundir que a graça, que se manifesta num viver obediente, nunca é

decorrente dos nossos méritos pessoais, mas

sempre dos méritos de Jesus.

De fato, se não há disposição para obedecer à verdade, já não há qualquer graça para operar.

Quem busca acha. Ao que bate se lhe abre a porta. Ao que pede se lhe é dado.

A nós cabe agradecer e dar não apenas o nosso esforço, mas a nossa própria vida para o serviço

de Deus, para que Ele a use como for do Seu

inteiro agrado.

A consagração pessoal é necessária para que o Espírito Santo possa realizar a sua obra em

nossas vidas, afinal Ele mesmo é uma das

preciosas e grandes promessas da Nova Aliança,

para todo o que crê (Gál 3.24).

Não podemos esquecer que a própria lei prescrevia a fé, o amor, a justiça e a

misericórdia.

133

A lei não é contrária à graça e à fé. Mas, a lei de si mesma, nada pode fazer além de afirmar o

amor, pois não pode gerá-lo; de afirmar a vida

eterna com Deus, mas não pode também gerá-la; de apontar a necessidade da salvação para o

pecador, mas, não pode produzi-la. Somente a

graça pode operar tudo isto, pela fé, e tudo o mais que se relacione à vontade de Deus.

Apesar de ser santa, justa, boa e espiritual, a lei não pode, no entanto, nos salvar (Rom 7.12,14).

A graça não é contrária à lei e nem a descumpre, antes é o potencial necessário para o

cumprimento da lei.

“Anulamos, pois, a lei pela fé? De modo nenhum; antes estabelecemos a lei.” (Rom 3.31)

“16 Porquanto procede da fé o ser herdeiro, para que seja segundo a graça, a fim de que a promessa seja firme a toda a descendência, não

somente à que é da lei, mas também à que é da

fé que teve Abraão, o qual é pai de todos nós.”

(Rom 4.16)

Ora, se o cumprimento da lei só é possível pela graça, quão improcedente é a quase aversão que

muitos sentem só de ouvir falar a palavra graça.

O problema é que esta não é uma forma correta de se abordar a questão.

134

A vida cristã não consiste nem em se defender a graça, nem em se defender os mandamentos,

mas sim em viver a vida de Jesus pela graça, para

que se possa cumprir seus mandamentos, os quais confirmam muito doa que existem na

própria Lei.

“23 Tu, que te glorias na lei, desonras a Deus pela transgressão da lei?

24 Assim pois, por vossa causa, o nome de Deus é blasfemado entre os gentios, como está

escrito.

25 Porque a circuncisão é, na verdade,

proveitosa, se guardares a lei; mas se tu és transgressor da lei, a tua circuncisão tem-se

tornado em incircuncisão.

26 Se, pois, a incircuncisão guardar os preceitos da lei, porventura a incircuncisão não será

reputada como circuncisão?

27 E a incircuncisão que por natureza o é, se cumpre a lei, julgará a ti, que com a letra e a circuncisão és transgressor da lei.

28 Porque não é judeu o que o é exteriormente, nem é circuncisão a que o é exteriormente na

carne.

29 Mas é judeu aquele que o é interiormente, e circuncisão é a do coração, no espírito, e não na

135

letra; cujo louvor não provém dos homens, mas

de Deus. (Rom 2.23-29)

Este gloriar dos judeus na Lei, referido por Paulo, não significa de modo algum a rejeição do

apóstolo da Lei, mas a confiança deles de serem

salvos pela Lei à custa da rejeição da graça de

nosso Senhor Jesus Cristo.

Os dez mandamentos revelados por Deus ao povo de Israel nos dias de Moisés, confirmam a

sua proveniência divina, e nos falam da

perfeição em santidade do Senhor, uma vez que não se resumem a ordenanças morais, tal como

se vê na lei dos homens.

Antes de citar os deveres morais na segunda parte dos mandamentos, com o dever de se

honrar os pais, e a proibição de mentir, furtar,

matar, adulterar e cobiçar, Deus fixou antes, na

primeira parte, a necessidade de se lhe prestar honra, reverência e culto, pois sem isto, não é

possível que o homem cumpra perfeitamente as

suas obrigações morais para com Deus e para

com o seu próximo.

Daí ser ordenado antes de tudo que se adore tão somente a Deus; que o Seu nome seja

santificado e honrado e que se separe obrigatoriamente um dia semanal para a

dedicação exclusiva à adoração e ao serviço do

Senhor.

136

Temos assim, uma pista, já na perfeição da Lei dada a Moisés, quanto ao modo correto da

santificação:

Primeiro amar a Deus, separar-se para Ele, cultuar-lhe em devoção sincera, e assim sendo feito bom o coração pela Sua graça divina, a vida

moral reta será uma mera consequência de tal

adoração em espírito e em verdade.

E é exatamente tal ordem que encontramos no Novo Testamento, quanto ao modo da

santificação, e do serviço a Deus e ao próximo.

“Porque em Cristo Jesus nem a circuncisão nem

a incircuncisão vale coisa alguma; mas sim a fé que opera pelo amor.” (Gál 5.6)

“Pois nem a circuncisão nem a incircuncisão é coisa alguma, mas sim o ser uma nova criatura.”

(Gál 6.15)

Em outras palavras: nem o judeu, nem o gentio, nem o legalista, nem o adepto da graça, têm no

que se gloriar, caso não sejam novas criaturas em Cristo, e não vivam no amor que é pela fé.

Quem amará com o mesmo amor de Deus, conforme a lei exige, caso não seja capacitado

pela graça para tal?

Tudo o mais que a lei exige, a qual é espiritual e santa, dada e revelada pelo próprio Deus, por

137

acaso, não só poderá ser cumprido se formos

capacitados antes pela graça de Jesus?

Quem é suficiente para isto?

Por isso Paulo dizia que a sua suficiência vinha de Deus, e que tudo o que fazia segundo a Sua vontade era conforme capacitação da Sua graça,

e que tudo podia, somente porque a graça de

Jesus o fortalecia.

138

O Recebimento é Gratuito Mas é

Condicional

Deus está oferecendo gratuitamente a

salvação em Jesus Cristo com tudo o mais que

está nela incluído com suas grandes promessas

de bênçãos eternas.

Todavia, existe a condição exigida do nosso arrependimento e fé.

Não um mero arrependimento de se lamentar a nossa condição de transgressores da vontade

divina, conforme expressada em seus

mandamentos, mas o arrependimento que significa a busca de uma vida transformada pelo

poder do Espírito Santo, em um novo

nascimento espiritual instantâneo

(regeneração-conversão) e renovação progressiva do nosso caráter (santificação).

Quanto à fé, que é outra condição exigida para a recepção do dom gratuito de Deus em Jesus

Cristo, não é mera crença ou assentimento intelectual em relação à Palavra de Deus, mas a

total e exclusiva confiança em Cristo, como

nosso Salvador e Senhor, e busca de uma efetiva

comunhão diária com ele, através da oração e da prática dos seus mandamentos.

Portanto, a noção que é tão comum de que a graça de Deus significa a sua disposição em

139

conduzir à vida celestial pessoas em qualquer

estado, e sem nada lhes exigir como condição

para tal propósito, não é bíblica, porque não é

ensinada em nenhum dos 66 livros que compõem a Bíblia.

Onde não houver o desejo, a intenção, a determinação de se viver segundo a vontade de

Deus, e de ser transformado pelo seu poder, não

se achará também qualquer graça da sua parte

operando para a salvação.

140

Graça

Há um grande paradoxo no entendimento

carnal relativo à graça divina, uma vez que se

costuma considerar como sendo graça

exatamente o oposto daquilo que a graça que nos foi dada em Cristo é na verdade; pois os dons

naturais e comuns de Deus para toda a

humanidade são buscados por pessoas religiosas como se fossem o grande propósito da

vida cristã.

Geralmente visa-se tão somente ao que é

externo, e não propriamente o que seja espiritual, celestial e divino, para ser aplicado à

transformação do próprio caráter e vida,

segundo o propósito de Deus na concessão da

Sua graça que nos foi dada em Cristo.

Todavia, a Bíblia não nos deixa cegos quanto a este importantíssimo assunto, conquanto

podemos observar na grande maioria das passagens bíblicas referentes à graça, qual é o

propósito de Deus quanto à sua concessão.

Antes de tudo a graça não é dogma, mas o poder de Deus para o atingimento do objetivo da fé, a

saber, a nossa salvação. E é no conhecimento da

mesma graça que devemos crescer com vistas

ao nosso aperfeiçoamento espiritual.

O maior dom que temos recebido da graça de Deus é a vida do próprio Cristo e a habitação do

141

Espírito Santo em nós. As demais graças são

consequência desta referida e gravitam em

torno da mesma.

Quando estamos na graça, esta produz um bom estado na alma que pode ser discernido em

espírito tanto por nós, quanto por aqueles que estiverem na mesma condição.

A graça divina é o maior poder operante neste mundo, pois somente ela é mais forte do que o

poder do pecado.

O nosso acesso a esta graça, na qual estamos firmes, e sem correr o risco de sermos

rejeitados por Deus, custou um alto preço a

nosso Senhor Jesus Cristo – o preço do seu sofrimento e derramamento do seu sangue

numa terrível morte de cruz.

É impróprio, por conseguinte, o pensamento associado à palavra graça, de ser algo fácil ou

barato.

A salvação é de fato gratuita, mas custou o preço de morte para Cristo, carregando os nossos

pecados, e para nós, ela exige o pagamento do preço da nossa consagração a Deus, uma vez

tendo sido convertidos mediante a simples fé no

Senhor.

Fomos comprados por preço para vivermos para Deus.

142

Com o advento de Jesus Cristo foi inaugurada uma nova dispensação para substituir a antiga

que vigorou desde os dias de Moisés. Daí ser

chamada de dispensação da graça, enquanto a antiga era chamada de dispensação da Lei.

Deus está sendo longânimo nesta dispensação em relação a todos os pecadores, concedendo-

lhes assim a oportunidade de se arrependerem

e crerem em Cristo, de modo a serem livrados da condenação eterna. Esta é uma das

características essenciais da citada dispensação.

143

Justa Cooperação da Graça com a

Vontade Consciente

Uma das grandes provas indiretas de que há

uma justa cooperação da graça divina com a vontade consciente humana está em que

crentes consagrados e santificados podem ter

imaginações, sonhos e comportamentos

pecaminosos quando sob o efeito de algum bloqueador (drogas alucinógenas etc) dos

mecanismos psicológicos de restrição e

contenção dos pensamentos e comportamentos

impróprios que atuam pelo temor de punição, de reprovação social, de perdas consequentes

(especialmente das bênçãos de Deus), e de tudo

o mais que possa se opor à consciência do que é

considerado correto e aceitável.

Esta é a razão de se ordenar aos crentes que sempre sejam cheios do Espírito Santo, ou seja,

que estejam sempre debaixo da Sua influência e poder de modo a que tenham graça suficiente

para cumprirem o que se lhes ordena na Palavra

de Deus em vidas santificadas.

A falta de tal provisão de graça em justa cooperação com o exercício de nossa vontade

consciente em obtê-la pelos meios ordenados

na Palavra (oração, meditação, comunhão, perdão etc) é o motivo de que até mesmo

crentes confirmados possam ter sonhos e

pesadelos em que se encontram em

144

imaginações pecaminosas, uma vez que

durante o sono não há um controle consciente

sobre a mente, e esta divaga e age livremente

sem o controle do sistema nervoso simpático, ficando totalmente à mercê do parassimpático –

ou inconsciente.

De tudo isto se depreende a nossa total dependência da graça de Deus para vivermos de

modo que lhe seja agradável, e também, que

vigiemos e nos esforcemos em plena diligência

para moldarmos a nossa consciência em conformidade com os padrões morais e

espirituais de Sua bendita Palavra.

Em suma, teremos tanto mais graças da parte de Deus quanto mais nos empenhemos em cultivá-

las pelo exercício consciente constante da

oração, da meditação na Palavra, do serviço

cristão, da comunhão com nossos irmãos na fé e de tudo o mais que nos é ordenado por Deus

para um viver abençoado.

145

A Dispensação do Espírito Santo

Esta nova dispensação do Espírito (da graça) é

imutável.

Ele tem sido designado como um Consolador eterno que estará para sempre com os cristãos.

O próprio Senhor Jesus declarou isto expressamente na primeira promessa que Ele

fez de enviar o Consolador:

"E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para

sempre;" (João 14.16).

É nesta promessa que consiste a permanência do Espírito para sempre com a Igreja.

Jesus fez esta promessa para afiançar a fé e a consolação da Igreja em todas as épocas, nas

oposições que os cristãos terão que enfrentar

na sua luta contra a carne, Satanás e o mundo.

Como Jesus havia sido o Consolador visível dos

discípulos durante o tempo do Seu ministério terreno, e estaria partindo agora para o céu para

a restauração de todas as coisas, eles poderiam

temer que este outro Consolador que foi prometido poderia também permanecer

somente um período com eles, de maneira que

ficariam sujeitos a uma nova perda e tristeza.

146

Então nosso Senhor Jesus Cristo lhes garantiu que este outro Consolador continuaria para

sempre com eles até o fim das suas vidas,

trabalho e ministério, como também estaria atuando com a igreja até a consumação dos

séculos.

Isto porque Ele estava sendo prometido agora numa aliança eterna e inalterável. E Ele não

deixará jamais a Igreja de modo que a aliança eterna de Deus não possa ser abolida.

"Quanto a mim, esta é a minha aliança com eles, diz o Senhor: o meu Espírito, que está sobre ti, e

as minhas palavras, que pus na tua boca, não se

desviarão da tua boca nem da boca da tua

descendência, nem da boca da descendência da tua descendência, diz o Senhor, desde agora e

para todo o sempre." (Isa 59.21).

Entretanto, a par desta grande verdade, sempre há um número considerável de cristãos que

vivem a maior parte das suas vidas em

dificuldades e desconsolação, não tendo qualquer experiência da presença do Espírito

Santo como um Consolador.

Mas esta objeção não tem força para enfraquecer a nossa fé quanto à realização

desta promessa por maiores que sejam as desconsolações que possam suceder à Igreja de

todas as épocas, porque nada pode anular a

promessa do derramamento do Consolador.

147

O cumprimento da promessa de Cristo não depende da nossa experiência,

porque a consolação do Espírito não é para

incrédulos.

A menos que nós entendamos a natureza das consolações espirituais corretamente, e as

avaliemos de modo satisfatório, nós não

poderemos desfrutá-las, ou então não

estaremos delas conscientes, ainda que estejam operando em nosso favor.

Muitos quando se encontram debaixo das suas dificuldades supõem que não haja qualquer

conforto a não ser o que seja decorrente da remoção destas dificuldades.

Eles não conhecem o conforto e alivio das tristezas sem que seja removida a sua causa.

Tais pessoas nunca podem receber a consolação do Espírito Santo ou qualquer experiência

espiritual de refrigério.

É sendo fervorosos na oração pela presença do Espírito conosco, e buscando todos os nossos

confortos dEle, considerando estas consolações

acima de quaisquer prazeres terrenos,

aguardando pela manifestação da Sua graça, que se recebe a consolação do Espírito.

Todo cristão pode se exercitar nisto, em busca da consolação do Espírito porque Ele foi

prometido por Cristo para também operar este

148

ofício em favor dos cristãos, e somente

deles, porque Jesus também afirmou quando

fez a promessa do Consolador que o mundo não

poderia tê-lo como um Consolador, senão somente aqueles que O amam e guardam a Sua

Palavra (João 14.16,17, 26; 15.26; 17.7,8).

O mundo pode ser o alvo de outras operações do Espírito para a convicção de pecados e

conversão, e é disto que decorrerá

posteriormente as consolações do Espírito.

149

A Graça Opera Pela Obediência

Por natureza não temos nenhum poder em nós

mesmos para viver a vida do céu, fazendo o que

é espiritualmente bom, ou qualquer outro dever relativo à santidade evangélica.

É em Cristo que somos tornados fortes, mas esta força não é propriamente nossa, mas dEle.

Nós recebemos esta força divina na nossa

conversão, a qual é a essência da santidade que há na nova natureza, recebida do céu e do

Espírito Santo.

Mas esta força não pode se manifestar se o velho homem (nossa natureza terrena pecaminosa) estiver fortalecido, por deixarmos que opere

livremente em nós a força do pecado.

Jesus obteve uma perfeita liberdade do pecado para os que n’Ele creem.

Contudo, se não forem constantes em todos os deveres de obediência, nenhum deles será fácil

de ser cumprido porque a graça requer

diligência para que possamos ser fortalecidos por Deus.

É pela repetição sistemática em obediências sucessivas que seremos conduzidos à formação

150

deste hábito que é essencial à santificação da

vida.

Porque onde não houver a busca de obediência voluntária e por amor, à vontade de Deus,

expressada na Sua Palavra revelada na Bíblia,

não haverá também qualquer graça operando, tanto para nos conduzir e capacitar à obediência

requerida, quanto para transformar as nossas

vidas, e nos dar um viver abençoado e vitorioso.

151

A Graça Supera a Aflição

“Agora, por um pouco de tempo, sendo

necessário, sois afligidos através de várias

tentações”. (1Pedro 1.6)

Especialmente para os cristãos sinceros, este

um tempo de aflições como nenhum outro,

porque nunca se viu, em toda a história da humanidade, iniquidades tão multiplicadas

como as presentes, tanto em intensidade

quanto em variedade de formas.

Todavia, os cristão de agora não são menos assistidos pela graça de Jesus, do que os dos dias do apóstolo Pedro, aos quais, mesmo sendo

afligidos por várias provações, receberam do

apóstolo o seguinte testemunho:

“Vós que sois guardados pelo poder de Deus através da fé para a salvação”. (I Pe 1.5)

“a prova de sua fé, muito mais preciosa do que o ouro que perece”. (I Pe 1.7)

Assim, ao mesmo tempo, que estavam “em aflição”, estavam de posse de uma fé viva.

A aflição não lhes destruiu a fé, e nem a paz.

152

Eles se “regozijavam na esperança da glória de Deus”, porque estavam cheios de alegria no

Espírito Santo.

No meio de sua aflição, ainda igualmente desfrutavam do ardor do amor de Deus, que fora

derramado em seus corações.

Embora fossem afligidos, ainda eram santos; conservavam o mesmo poder sobre o pecado.

Eram ainda “guardados” do pecado “pelo poder de Deus”; eram “filhos obedientes, não conformados com seus primitivos desejos”,

mas, “como Aquele que os chamou é santo”,

assim eles eram “santos em todo o seu

procedimento”.

Assim é que, em conjunto, sua aflição é bem consistente com a fé, com a esperança, com o amor de Deus e do homem, com a paz de Deus,

com a alegria no Espírito Santo, com a santidade

interior e exterior.

A aflição de modo nenhum enfraquece e muito menos destrói qualquer parte da obra de Deus

no coração.

Ela de modo nenhum entra em conflito com a “santificação do Espírito”, que é a raiz de toda a verdadeira obediência, nem com a felicidade,

que deve necessariamente resultar da graça e

da paz que reinam no coração.

153

Então, ainda que sejam multiplicadas as iniquidades e aflições, a graça é muito mais

multiplicada por Deus no coração do cristão,

para superá-las no amor de Jesus.

154

Cobre como as Águas do Dilúvio

Lemos em Judas 24: “Ora, aquele que é

poderoso para vos guardar de tropeços e para vos apresentar com exultação, imaculados

diante da sua glória,”.

Deus é poderoso para guardar o cristão de tropeços e conduzi-lo em segurança à Sua glória

eterna.

É isto que o texto de Judas afirma.

O fato de a graça ter superabundado onde

abundou o pecado é a verdade por meio da qual somos salvos.

Porque mesmo depois de convertidos, ainda estamos sujeitos ao pecado, e se não houvesse

uma graça superabundante para cobrir os

nossos pecados, nenhum de nós poderia ser salvo.

Isto é como as águas do dilúvio nos dias de Noé que cobriram todos os montes.

A graça cobre nossas montanhas de pecados, que pode não ser aos nossos olhos, mas aos

olhos de Deus são verdadeiras montanhas, porque Ele considera pecado o que fazemos e o

que deixamos de fazer, seja grande ou pequeno,

e mais do que isso leva em conta a intenção do

155

nosso coração, nossos pensamentos,

imaginação etc.

O cristão, por mais consagrado que seja, aos olhos de Deus está cheio de pecados.

Mas, de onde lhe vem a santidade em que vive, a paz que sente no seu coração, a alegria em sua

alma, senão da graça de Jesus, que o purifica de

tudo o que desagrada a Deus.

156

A Graça não Condena

Deus não está condenando a qualquer pessoa

na presente dispensação da graça, conforme

afirmação de Jesus de que não veio condenar,

mas salvar.

A natureza de Deus é longânima, perdoadora, misericordiosa, amorosa, e por isso uma

das características do amor destacada em I Cor

13.5 é que ele não é facilmente provocado, ou

seja, ele não se exaspera.

Deus se ira contra o pecado, mas não tem qualquer prazer na morte dos ímpios, ou seja, de

todos aqueles que não Lhe amam e aos Seus mandamentos.

A ira pode ser definida como uma oposição séria e violenta de espírito contra qualquer mal, real ou suposto, ou devido a qualquer falta ou

ofensa, porque isto está contra a natureza do

amor.

Nós somos chamados por Cristo a desejar o bem e a orar para o bem de todos, até mesmo de

nossos inimigos, e até daqueles que zombam de

nós e nos perseguem (Mat 5:44); e a regra dada pelo apóstolo é: “Abençoai aos que vos

perseguem, abençoai, e não amaldiçoeis.” (Rom

12.14), quer dizer, nós devemos desejar o bem e

157

orar para o bem de todos, e em nenhum caso

desejar o mal.

Porque como imitadores de Deus, na busca da sua imagem e semelhança, é justamente o que

devemos fazer, porque isto é parte da essência

divina.

Dizemos que é um dever porque o evangelho veio trazer a restauração em nós, da imagem e

semelhança, não com Adão, antes da queda no

pecado, mas a do próprio Cristo, conforme se afirma amplamente na Bíblia.

O que temos em Cristo, quanto ao trato com as imperfeições que há na humanidade? Graça,

amor, bondade, misericórdia, perdão, reconciliação, e justiça (a sua justiça que nos

justifica).

Os próprios juízos divinos na presente dispensação, têm em vista contribuir para a

continuidade da referida restauração, e são

corretivos e decorrentes da rejeição obstinada

da graça que nos está sendo oferecida.

As obras más ou boas de todas as pessoas serão somente passadas em revista no grande dia do

Juízo Final.

Por isso toda vingança é proibida por Deus, já que Ele afirma que toda a vingança lhe pertence.

158

A regra é: “Não te vingarás nem guardarás ira contra os filhos do teu povo; mas amarás o teu

próximo como a ti mesmo: Eu sou o Senhor.”

(Lev 19.18); e o apóstolo diz: “Não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas dai lugar à ira;

porque está escrito: A mim me pertence a

vingança; eu retribuirei, diz o Senhor.” (Rom 12.19), de forma que toda a ira que contém um

desejo de vingança, é contrária ao cristianismo

e proibida por Deus.

Disto Cristo falou em Mat 5.22: “Eu, porém vos digo que todo aquele que (sem motivo) se irar contra seu irmão estará sujeito a julgamento;”.

Se uma pessoa se permitir ficar muito tempo irada com uma outra, logo esta ira se

transformará em ódio.

Assim, nós achamos que na verdade acontece com aqueles que retêm um rancor nos seus corações contra outros, durante semana depois

de semana, e mês depois de mês, e ano depois de

ano.

Eles virão no fim, a odiar verdadeiramente as pessoas contra as quais se deixaram irar assim deste modo.

Este é um pecado mais terrível à vista de Deus.

Então, não é de se admirar que esta seja a principal estratégia do diabo para nos afastar de

Deus, e para nos manter sob julgamentos em

159

nossas almas, e ainda a ficarmos à mercê de

sermos oprimidos por ele.

Assim, toda vigilância e sabedoria é ainda pouco para ter um coração manso, sofredor, paciente,

perdoador.

Mais do que isto, necessitamos do derramar abundante do amor de Deus nos nossos

corações que é operado sobrenaturalmente

pelo Espírito Santo.

160

O Modo de Concessão da Graça

Nenhum crente pode de si mesmo exercer o

princípio, ou poder, de uma vida espiritual, em

qualquer instância, interna ou externa, em relação a Deus ou aos homens, de modo que isto

deve ser um ato de santidade procedente do

Espírito Santo.

O crente não pode fazê-lo de si mesmo, em virtude de qualquer poder habitualmente

inerente a ele. Não é comunicada a nós neste mundo qualquer capacidade espiritual que seja

independente da ação direta do Espírito Santo;

porque é ele o gerador de todos os atos santos de

nossas mentes, vontades e afetos, na execução dos deveres espirituais.

Acrescente-se que necessitamos de graças renovadas pelo Espírito, todos os dias, ou seja,

não recebemos uma provisão de poder para ser

estocada. A graça é concedida pelo Espírito à

medida que se faz necessária e no tempo apropriado da sua necessidade.

É aplicado em nossa vida espiritual, quanto à concessão da graça, o mesmo princípio que

regula a providência divina em nossas

necessidades naturais.

Como ramos da Videira Verdadeira necessitamos receber a seiva (graça)

161

vivificadora diretamente da raiz, que é Cristo.

Assim, recebemos a graça, e não somos nós, de

maneira alguma, quem a produz e distribui.

Daí dizer o apóstolo:

“E é por intermédio de Cristo que temos tal confiança em Deus; não que, por nós mesmos, sejamos capazes de pensar alguma coisa, como

se partisse de nós; pelo contrário, a nossa

suficiência vem de Deus,” (2 Cor 3.4,5).

De si mesmo, o crente nada pode realizar porque toda santidade ou qualquer coisa

espiritualmente boa é sempre efeito da graça e é operado em nós pelo Espírito Santo que é o

autor de todas as operações divinas.

162

A Aliança da Graça – 2 Samuel 7

Nós vemos no capítulo sétimo de 2 Samuel,

que depois de longas e sucessivas guerras com

as nações inimigas de Israel, e estando subjugados os povos inimigos dos israelitas,

principalmente os filisteus, Davi estava enfim

desfrutando em sua vida de um período da paz

que ele tanto amava (Sl 120.7).

Em sua meditação sobre a pessoa de Deus ele se

sentiu constrangido por estar residindo no palácio suntuoso que Hirão, rei de Tiro,

construiu para ele, enquanto a arca ainda

permanecia na tenda que ele havia preparado

para ela em Jerusalém.

Davi estava descansado de seus inimigos em sua

casa, mas não achou descanso em sua alma porque lhe pesava esta preocupação em edificar

um templo para o Senhor, e ele compartilha o

peso de sua preocupação com o profeta Natã, e

este lhe encorajou a fazer tudo quanto estava no seu coração, porque o Senhor era com ele (v.

2,3).

Porém na noite daquele mesmo dia, Deus se manifestou a Natã dizendo-lhe que Davi não lhe

edificaria nenhum templo (I Crôn 17.4), apesar de reconhecer que havia feito bem em ter-se

preocupado em honrar o seu Deus, ao pensar

em construir um templo para Ele (I Rs 8.18).

163

Natã havia portanto, incentivado Davi a construir o templo, lhe falando como um amigo,

mas não da parte de Deus.

Estava enganado neste particular quanto à vontade do Senhor para Davi, que teve que ser-lhe revelada por Deus, pois Davi havia sido

separado para estender e consolidar as

fronteiras de Israel, mas não para gastar a maior

parte do tempo do seu reinado na construção de um templo, que já estava assentado nos

desígnios de Deus como sendo algo para ser

levado a efeito por seu filho Salomão, e é por isso

que ele foi citado na mesma palavra que o Senhor havia dado a Nata, para ser dita a Davi.

Além disso, Deus não havia dado nenhuma autorização ou fizera qualquer pedido, desde a

saída de Israel do Egito, até então, para que fosse

construído um templo, e não cabia a Davi ou a

qualquer outro, tomar uma iniciativa em relação a algo que o Senhor não havia ordenado.

Se Davi não estava confortado em saber que a arca permanecia habitando em tendas, Deus

não estava nem um pouco desconfortável,

porque qual é a habitação, por mais suntuosa

que seja, que os homens possam edificar para o Senhor, que possa ser digna e estar à altura da

Sua Majestade?

Se o próprio céu é obra das mãos dEle, tudo o que o homem possa edificar neste mundo com

164

ouro, prata, pedras e madeiras preciosas e

nobres, será mais do que nada para Aquele que

não habita em moradas fabricadas por homens,

pois nem o céu dos céus pode contê-lo (II Crôn 2.6).

Mas Deus mandou dizer a Davi que o templo que

ele intentava erigir seria edificado pelo seu filho (v. 13), e esta profecia se aplica tanto a Salomão,

quanto a Cristo, que é o descendente de Davi que

está edificando a Igreja, para ser templo para a habitação de Deus no Espírito.

Deus não pode habitar naquilo que o homem edifica, mas criou o próprio homem para ser lugar da Sua habitação.

É dito que aquele que edificaria o templo seria filho de Deus (isto se aplica a Salomão e a Jesus),

e a parte da profecia que afirma que se ele viesse a transgredir, seria castigado por Ele, mas não

retiraria dele a Sua misericórdia como fizera

com Saul (v. 14,15) se aplica óbvia e exclusivamente a Salomão.

Isto fala da segurança da promessa feita de que o trono de Davi seria firmado, ainda que Salomão, seu filho, viesse a falhar, bem como os

seus descendentes, porque o cetro

permaneceria na casa de Davi, e seria firmado

para sempre em Cristo, que é da sua casa.

A casa de Saul foi rejeitada por Deus e não foi confirmada.

165

Mas a Davi, o Senhor estava prometendo que a sua casa permaneceria no trono para sempre (v.

16).

Aqui está pois referido o caráter da aliança da graça, que é feita para aqueles que participarão

do reino de Cristo pela fé nEle.

Esta promessa de que serão firmados no reino, ainda que venham a transgredir, é garantida pelo próprio Deus conforme revelou a Davi

através do profeta Natã.

Esta é uma aliança para sempre que o Senhor jamais revogará, porque prometeu não remover

a Sua misericórdia daqueles que fazem parte da

casa de Davi.

Não da casa terrena, pois esta promessa não alcançou Absalão e a outros que eram da sua

casa, mas a casa espiritual, daqueles que tivessem a mesma fé dele e que fossem eleitos

por Deus para a salvação.

Isto não é maravilhoso?

Temos isto confirmado nas palavras dos profetas, dos apóstolos, e do próprio Cristo, como por exemplo em Is 55.3; Jer 33.21,22; Ez

34.23,24; Zac 12.7,8; At 13.34; 15.16; Apo 3.7.

Com a ida de Israel para o cativeiro, o tabernáculo (a casa) de Davi ficou caída (Amós

9.11), porque foi interrompida a sucessão de reis

166

em Judá, da sua descendência, mas quando

Cristo estiver reinando, o tabernáculo de Davi

estará plenamente restaurado, e a promessa

que Deus lhe fez estará vigorando para sempre em toda a sua plenitude.

Diante da grandiosidade da promessa que Deus lhe fizera quanto à casa que edificaria para ele, Davi se retirou da presença de Natã e foi adorar

e agradecer ao Senhor diante da tenda onde se

encontrava a arca (v. 18 a 29).

É importante destacar que Deus disse que edificaria tal casa a Davi para o bem de seu povo

Israel (v. 8 a 11), e é com o mesmo propósito que

Cristo foi exaltado com um nome que é sobre todo o nome, a saber, para dar descanso para o

Seu povo.

“1 Ora, estando o rei Davi em sua casa e tendo-lhe dado o Senhor descanso de todos os seus

inimigos em redor,

2 disse ele ao profeta Natã: Eis que eu moro

numa casa de cedro, enquanto que a arca de Deus dentro de uma tenda.

3 Respondeu Natã ao rei: Vai e faze tudo quanto está no teu coração, porque o Senhor é contigo.

4 Mas naquela mesma noite a palavra do Senhor veio a Natã, dizendo:

167

5 Vai, e dize a meu servo Davi: Assim diz o Senhor: Edificar-me-ás tu uma casa para eu nela

habitar?

6 Porque em casa nenhuma habitei, desde o dia

em que fiz subir do Egito os filhos de Israel até o dia de hoje, mas tenho andado em tenda e em

tabernáculo.

7 E em todo lugar em que tenho andado com todos os filhos de Israel, falei porventura,

alguma palavra a qualquer das suas tribos a que mandei apascentar o meu povo de Israel,

dizendo: por que não me edificais uma casa de

cedro?

8 Agora, pois, assim dirás ao meu servo Davi:

Assim diz o Senhor dos exércitos: Eu te tomei da malhada, de detrás das ovelhas, para que fosses

príncipe sobre o meu povo, sobre Israel;

9 e fui contigo, por onde quer que foste, e destruí a todos os teus inimigos diante de ti; e te farei um grande nome, como o nome dos grandes

que há na terra.

10 Também designarei lugar para o meu povo, para Israel, e o plantarei ali, para que ele habite

no seu lugar, e não mais seja perturbado, e nunca mais os filhos da iniquidade o aflijam,

como dantes,

11 e como desde o dia em que ordenei que houvesse juízes sobre o meu povo Israel. A ti,

168

porém, darei descanso de todos os teus

inimigos. Também o Senhor te declara que ele

te fará casa.

12 Quando teus dias forem completos, e vieres a

dormir com teus pais, então farei levantar depois de ti um dentre a tua descendência, que

sair das tuas entranhas, e estabelecerei o seu

reino.

13 Este edificará uma casa ao meu nome, e eu

estabelecerei para sempre o trono do seu reino.

14 Eu lhe serei pai, e ele me será filho. E, se vier a transgredir, castigá-lo-ei com vara de homens,

e com açoites de filhos de homens;

15 mas não retirarei dele a minha benignidade como a retirei de Saul, a quem tirei de diante de ti.

16 A tua casa, porém, e o teu reino serão firmados para sempre diante de ti; teu trono

será estabelecido para sempre.

17 Conforme todas estas palavras, e conforme toda esta visão, assim falou Natã a Davi.

18 Então entrou o rei Davi, e sentou-se perante o Senhor, e disse: Quem sou eu, Senhor Jeová, e

que é a minha casa, para me teres trazido até

aqui?

169

19 E isso ainda foi pouco aos teus olhos, Senhor Jeová, senão que também falaste da casa do teu

servo para tempos distantes; e me tens

mostrado gerações futuras, ó Senhor Jeová?

20 Que mais te poderá dizer Davi. pois tu conheces bem o teu servo, ó Senhor Jeová.

21 Por causa da tua palavra, e segundo o teu coração, fizeste toda esta grandeza, revelando-a

ao teu servo.

22 Portanto és grandioso, ó Senhor Jeová, porque ninguém há semelhante a ti, e não há

Deus senão tu só, segundo tudo o que temos

ouvido com os nossos ouvidos.

23 Que outra nação na terra é semelhante a teu povo Israel, a quem tu, ó Deus, foste resgatar

para te ser povo, para te fazeres um nome, e para

fazeres a seu favor estas grandes e terríveis coisas para a tua terra, diante do teu povo, que tu

resgataste para ti do Egito, desterrando nações e

seus deuses?

24 Assim estabeleceste o teu povo Israel por teu povo para sempre, e tu, Senhor, te fizeste o seu

Deus.

25 Agora, pois, ó Senhor Jeová, confirma para sempre a palavra que falaste acerca do teu servo

e acerca da sua casa, e faze como tens falado,

170

26 para que seja engrandecido o teu nome para sempre, e se diga: O Senhor dos exércitos é Deus

sobre Israel; e a casa do teu servo será

estabelecida diante de ti.

27 Pois tu, Senhor dos exércitos, Deus de Israel, fizeste uma revelação ao teu servo, dizendo:

Edificar-te-ei uma casa. Por isso o teu servo se

animou a fazer-te esta oração.

28 Agora, pois, Senhor Jeová, tu és Deus, e as tuas palavras são verdade, e tens prometido a

teu servo este bem.

29 Sê, pois, agora servido de abençoar a casa do teu servo, para que subsista para sempre diante de ti; pois tu, ó Senhor Jeová, o disseste; e com a

tua bênção a casa do teu servo será, abençoada

para sempre.” (II Sm 7.1-29).

171

Características do Evangelho Verdadeiro

Evangelho, semanticamente, reportando ao

significado da palavra no original grego do Novo

Testamento significa literalmente "anúncio de

boas notícias". São boas em sua natureza e efeito

para a humanidade.

Somente na Bíblia podemos achar os critérios de determinação do evangelho verdadeiro.

São tantas características a serem consideradas, que é muito comum, focar apenas numa ou em

poucas, ou até mesmo distorcidas, e assim, não

se chega a uma compreensão correta do

verdadeiro significado do evangelho, em sua essência real e nos seus efeitos positivos para

aqueles que o abraçam.

A principal característica que deve ser destacada é a do caráter de completa libertação

e salvação que está sendo oferecida

gratuitamente por Deus a todo aqueles que

creem em Cristo, porque o próprio Jesus é a única Justiça que nos justifica e nos torna

perdoados e aceitáveis a Deus, de forma que

possamos ser reconciliados com Ele.

Uma segunda característica importante é que esta justificação que conduz à vida eterna, é

operada instantaneamente, num dado

172

momento da vida, e tem validade para sempre,

por toda a eternidade.

Daqui em diante citaremos outras características sem enumerá-las.

Destaca-se também no evangelho, que é de fato

boa notícia, a melhor das notícias, porque não traz em si qualquer juízo condenatório, porque

esta justiça que é oferecida pela graça, e obtida

mediante a fé, não é para condenar, mas para

libertar da escravidão ao pecado.

Isto, por sua vez, nos conduz a um outro ponto importante, que é o de que todo aquele que é

justificado pelo evangelho, é também instantaneamente transformado, ao que o Novo

Testamento chama de novo nascimento do

Espírito Santo, ou regeneração.

Há de fato uma mudança radical nos objetivos de vida de todo aquele que se converte, porque

passa a habitar nele um novo princípio vivo

operante de santificação, motivado pela presença do Espírito Santo, em comunhão com

o espírito do convertido que se achava morto

(separado de Deus, não participante da Sua vida divina, sem o conhecimento pessoal de Cristo,

sem comunhão com o divino).

Este novo princípio de santidade implantado na natureza terrena do que crê, passa a exercer

domínio e repulsa ao princípio vivo do pecado

que ainda opera na carne.

173

Daí sucede uma luta entre a natureza terrena carnal, e a nova natureza espiritual recebida do

Espírito Santo.

O alvo deste combate é o de crucificar o ego carnal e fazer prevalecer a mente de Cristo no

cristão.

Então, há uma ação real, espiritual, celestial e divina operando em nosso caminhar neste mundo quando abraçamos o verdadeiro

evangelho de Cristo, porque somente Ele é o

poder de Deus para a salvação de todos os que

nele creem.

Sem esta realidade espiritual operando no viver não podemos dizer que somos autênticos

cristãos (discípulos de Jesus, filhos e servos do

Deus vivo), porque tudo o que se ensina na Bíblia a tal respeito cumpre-se somente nos que

tiveram um verdadeiro encontro pessoal com

Cristo.

174

Como Saber Qual é o Evangelho

Verdadeiro?

Se alguém digitar no buscador do Google ou de

qualquer outro site de busca da Internet,

simplesmente a palavra “evangelho”, irá deparar com várias propostas de evangelhos

que diferem entre si.

Quando se digita a expressão “evangelho verdadeiro”, o filtro apresenta uma seleção mais apropriada de material relativa ao

evangelho genuinamente verdadeiro. E isto

aumenta e muito, quanto se digita a expressão

“Retorno ao Evangelho Verdadeiro”.

Alguém indagaria:

“Mas há este risco de se comprar gato por lebre?”

“De se entrar por uma porta onde esteja escrito evangelho, e abraçar uma ilusão?”

É evidente que sim. Como em qualquer outro aspecto da vida, onde sempre haverá o falso e o

verdadeiro.

Todavia, no caso do evangelho, é muito fácil se identificar qual seja o verdadeiro, e nisto somos

ajudados pela própria semântica da palavra

“evangelho”, que no original grego do Novo

175

Testamento, significa “anúncio de boas novas,

de boas notícias, de coisas boas”.

Ora, se aquilo que chamam de evangelho não é de fato a melhor das notícias para a

humanidade, em relação à condição caída no

pecado em que se encontra, tendo um espírito morto, sujeito à condenação eterna, então não

temos diante de nós nenhum verdadeiro

evangelho, porque segundo a promessa que nos

foi feita por Deus, da justificação, da salvação e da vida eterna, e que se cumpre em Cristo, tem

que possuir tal característica de ser uma boa

nova de grande alegria, de um grande

livramento, de uma grande salvação.

O evangelho não traz em si qualquer juízo ou

condenação.

É a sua rejeição que produz tal efeito, porque na verdade toda pessoa já se encontra sob juízo de condenação, se não tem a Cristo, conforme Ele

próprio ensinou em João 3.18:

“Quem nele crê não é julgado; o que não crê já está julgado, porquanto não crê no nome do

unigênito Filho de Deus.”

Façamos então umas poucas reflexões:

seria evangelho me dizerem que eu necessito retornar a este mundo depois

de morto, para me purificar dos meus

176

erros? E isto em sucessivas vezes sem

conta?

seria uma boa notícia, dizer que devo ir

para um lugar intermediário entre a terra

e o terceiro céu, para purgar os meus pecados, antes que possa ser admitido na

presença de Deus?

seria uma boa nova, anunciar que devo

me esforçar ao máximo fazendo boas

obras, para que de algum modo, possa ser considerado digno de ser salvo por Deus e

ir para o céu depois da minha morte?

Por aí afora, multiplicam-se as indagações, que sempre me conduzirão à conclusão de que de

fato não se trata de nenhum evangelho, ou seja,

de nenhuma grande e boa notícia para mim.

Mas, se alguém me diz, como fez nosso Senhor Jesus Cristo, seus apóstolos, os chamados pais

da Igreja que se seguiram aos apóstolos, ou alguém que segue ainda hoje nas mesmas

pegadas, que eu simplesmente devo crer em

Cristo, e aceitar pela graça o dom imerecido da

salvação olhando para Ele e confiando simplesmente nEle, arrependido de meus

pecados, e que isto, por si só, é o suficiente para

me garantir o acesso ao céu, aí então tenho diante de mim realmente uma grande e boa

notícia, na qual vale a pena, e muito mesmo, dar-

lhe o devido crédito.

177

Em face dos muitos falsos evangelhos que havia em seus próprios dias, logo no início da Igreja,

disse o apóstolo Paulo aos gálatas:

“Gál 1:6 Admira-me que estejais passando tão depressa daquele que vos chamou na graça de

Cristo para outro evangelho,

Gál 1:7 o qual não é outro, senão que há alguns que vos perturbam e querem perverter o

evangelho de Cristo.

Gál 1:8 Mas, ainda que nós ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá além

do que vos temos pregado, seja anátema

(amaldiçoado).

Gál 1:9 Assim, como já dissemos, e agora repito, se alguém vos prega evangelho que vá além

daquele que recebestes, seja anátema.”

E também em Tito 3.4-7:

Tito 3:4 Quando, porém, se manifestou a benignidade de Deus, nosso Salvador, e o seu

amor para com todos,

Tito 3:5 não por obras de justiça praticadas por nós, mas segundo sua misericórdia, ele nos

salvou mediante o lavar regenerador e

renovador do Espírito Santo,

Tito 3:6 que ele derramou sobre nós ricamente, por meio de Jesus Cristo, nosso Salvador,

178

Tito 3:7 a fim de que, justificados por graça, nos tornemos seus herdeiros, segundo a esperança

da vida eterna.

E ainda em Efésios 2.8,9:

Efs 2:8 Porque pela graça sois salvos, mediante a

fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus;

Efs 2:9 não de obras, para que ninguém se glorie.

Se havia falso evangelho naquele tempo, imagina então a possibilidade de haver muito

mais em nossos dias.

Não é para pouco propósito que nosso Senhor e os apóstolos nos alertam na Bíblia a termos

muito cuidado com os falsos profetas, pastores e mestres que se multiplicariam próximo do

tempo do fim. Porque isto tem a ver com o

destino eterno de nossas almas. Pela fé no evangelho verdadeiro – céu. Por dar crédito a

qualquer outro evangelho – inferno.

Realmente, não dá para brincar ou vacilar com tais coisas.

179

O Evangelho Não Condena

O que condena é a sua rejeição.

“Mas agora, sem lei, se manifestou a justiça de Deus...” (Rom 3.21a)

“E é evidente que, pela lei, ninguém é justificado diante de Deus, porque o justo viverá pela fé.

Ora, a lei não procede de fé,...” (Gal 3.11,12a)

Quando João Batista disse que a Lei veio por Moisés, mas que a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo”, o que ele estava dizendo, em

outras palavras, era que no período da

dispensação da Lei, que vigorou de Moisés ao

próprio João Batista, não houve nenhum evangelho em ação, apesar de ter sido

anunciado pelos profetas do Antigo

Testamento.

No período do Velho Testamento, correspondente à aliança da lei, imperava a

condenação e a morte pelos juízos de Deus,

inclusive contra o próprio povo da aliança, a

saber, Israel.

Daí Paulo ter chamado aquela antiga aliança de ministério da morte e da condenação.

Porque não havia evangelho naquele período.

180

Mas quando Jesus se manifestou e quando morreu no lugar dos pecadores na cruz, entrou

em vigor uma nova aliança, agora não apenas

com Israel, mas com pessoas de todas as nações da terra.

A graça e a verdade começaram a ser abundantemente reveladas e manifestadas nas

vidas dos que creem no evangelho, a saber, que

já não há morte e condenação para os que creem

em Jesus Cristo.

Assim, no evangelho propriamente dito, não há qualquer condenação, morte ou juízo, senão libertação, vida, salvação, que são o fruto da

verdade e da graça que operam e habitam

naqueles que nele creem. Graça, justiça e

verdade que nos foram trazidas com a manifestação de nosso Senhor Jesus Cristo.

O ministério da Lei condenava, porque fora instituído por Deus para este propósito.

Todavia, o do evangelho liberta e salva, porque manifesta a honra, a glória, a majestade, o

poder, a graça e todos os méritos que pertencem

à pessoa de nosso Senhor Jesus Cristo.

Daí dizer o apóstolo que já não há nenhuma condenação para quem está em Cristo Jesus.

Não confundamos portanto, toda a Bíblia, como se fosse o evangelho.

181

Porque em suas páginas há também registros de revelações e situações exclusivamente relativos

à antiga dispensação da Lei.

O evangelho é encontrado, principalmente, nas páginas do Novo Testamento, porque foram

produzidas e inspiradas por Deus, no período que marcou o encerramento da aliança do

Velho Testamento, inaugurado com o advento

de Jesus Cristo.

Daí, Lei x Graça, ser uma boa indicação destes dois períodos distintos, das duas grandes

alianças instituídas por Deus, sendo que a antiga foi removida, por ter sido substituída pela nova

que é feita no sangue de Cristo.

Não devemos no entanto confundir juízo com condenação.

Deus julga os seus próprios filhos, mas não como um juiz togado, senão como um pai

amoroso que não os poupará da repreensão e

disciplina sempre que for necessário.

Ele açoita a todo filho a quem quer bem. Todavia, a nenhum deles condenará a uma

sentença de morte e danação eternas.

Nosso Senhor Jesus Cristo dirige as seguintes palavras à Igreja de Laodiceia:

“Eu repreendo e disciplino a quantos amo. Sê, pois, zeloso e arrepende-te.” (Apo 3.19)

182

Por Que Jesus Não Veio Condenar?

O principal motivo de não existir tantos juízos

de Deus sendo despejados sobre a impiedade

das pessoas e das nações, como estes existiam no período do Antigo Testamento, é que foi

inaugurada uma nova dispensação, a da graça,

desde que Jesus se ofereceu em sacrifício na

cruz.

Não há qualquer condenação no evangelho,

antes salvação, livramento, vida eterna, porque é esta missão de Cristo, continuada na Sua

Igreja, nestes vinte séculos de vigor da Nova

Aliança feita no Seu sangue com todas as pessoas que têm fé no Seu nome.

O próprio Cristo afirmou que não veio condenar o mundo, mas salvar.

Foi com base nesta verdade que o apóstolo Paulo afirmou o seguinte, dentre outras muitas

passagens equivalentes:

“Mas agora, sem lei, se manifestou a justiça de Deus...” (Rom 3.21a)

“E é evidente que, pela lei, ninguém é justificado diante de Deus, porque o justo viverá pela fé.

Ora, a lei não procede de fé,...” (Gal 3.11,12a)

183

Quando João Batista disse que a Lei veio por Moisés, mas que a graça e a verdade vieram por

Jesus Cristo”, o que ele estava dizendo, em

outras palavras, era que no período da dispensação da Lei, que vigorou de Moisés ao

próprio João Batista, não houve nenhum

evangelho em ação, apesar de ter sido anunciado pelos profetas do Antigo

Testamento.

No período do Velho Testamento, correspondente à aliança da lei, imperava a

condenação e a morte pelos juízos de Deus,

inclusive contra o próprio povo da aliança, a

saber, Israel.

Daí Paulo ter chamado aquela antiga aliança de

ministério da morte e da condenação.

Porque não havia evangelho naquele período.

Mas quando Jesus se manifestou e quando morreu no lugar dos pecadores na cruz, entrou

em vigor uma nova aliança, agora não apenas com Israel, mas com pessoas de todas as nações

da terra.

Não devemos portanto, entender que toda a Bíblia seja o evangelho.

Porque ela contém também registros de revelações e situações exclusivamente relativos

à antiga dispensação da Lei.

184

O evangelho é encontrado, principalmente, nas páginas do Novo Testamento, porque foram

produzidas e inspiradas por Deus, no período

que marcou o encerramento da aliança do Velho Testamento, inaugurado com o advento

de Jesus Cristo.

Daí, Lei x Graça, ser uma boa indicação destes dois períodos distintos, das duas grandes

alianças instituídas por Deus, sendo que a antiga

foi removida, por ter sido substituída pela nova

que é feita no sangue de Cristo.

Não devemos no entanto confundir juízo com condenação.

Deus julga os seus próprios filhos, mas não como um juiz togado, senão como um pai

amoroso que não os poupará da repreensão e

disciplina sempre que for necessário.

Ele açoita a todo filho a quem quer bem. Todavia, a nenhum deles condenará a uma

sentença de morte e danação eternas.

Nosso Senhor Jesus Cristo dirige as seguintes palavras à Igreja de Laodiceia:

“Eu repreendo e disciplino a quantos amo. Sê, pois, zeloso e arrepende-te.” (Apo 3.19)

185

O Que é Estar Debaixo da Graça e Não da

Lei

Não encontramos nas Escrituras a expressão

pacto de obras, ou aliança de obras.

Todavia ambas as formas, especialmente a primeira é muito empregada para definir a

condição de Deus como o Grande Juiz e

Legislador que exige perfeição absoluta para

que possamos estar eternamente em Sua presença.

A falta desta condição implica em morte espiritual e eterna.

Em sua infinita sabedoria, bondade e misericórdia, o Senhor tem conhecido pela sua

onisciência, que nenhum descendente de Adão

está habilitado para atender a tal demanda desta Lei Eterna que emana da própria natureza

perfeitamente santa e justa de Deus.

Assim, entendemos que Ele não tem proposto a pecadores uma opção de salvação por este modo de se cumprir perfeitamente a Sua vontade e

mandamentos.

Isto sempre será feito por pura graça, misericórdia, e simplesmente mediante a fé,

como foi proposto ao próprio Adão quando o

Senhor foi procurá-lo com a promessa da

186

redenção quando ele se escondeu

envergonhado da sua nudez atrás das árvores do

jardim.

Não pode entretanto, ser removida esta lei que exige perfeição absoluta, e por isso Jesus não

morreu apenas como nosso substituto para

quitar a culpa do nosso pecado, como também para nos revestir dessa perfeição requerida pela

justiça divina, que há de ser absoluta na glória, e

mediante o trabalho da santificação da graça pelo Espírito Santo e aplicação da Palavra de

Deus aos nossos corações, conforme o penhor

do trabalho da nossa transformação e

purificação já iniciado aqui na Terra a partir da nossa conversão.

O grande mandamento de Deus foi revelado por Jesus como sendo o amor de uns pelos outros com o mesmo amor com o qual ele nos amou.

Ou seja, o dever imposto é o de amar com o amor de Deus.

Então quando Tiago alude a isto, ele se reporta em sua epístola à questão da acepção de pessoas

que estava ocorrendo na igreja em favor dos mais abastados e contra os pobres e

necessitados do rebanho.

Isto era um pecado claro e contundente contrário ao que Ele chama de Lei Régia, ou seja

a Lei do Rei, esta Lei que está amarrada à própria

natureza e essência de Deus, que é amor.

187

“Se vós, contudo, observais a lei régia segundo a Escritura: Amarás o teu próximo como a ti

mesmo, fazeis bem;” (Tiago 2.8)

Não convinha que aqueles que foram resgatados

da morte espiritual e eterna, inclusive e principalmente por se transgredir tal

mandamento do amor, que é o principal de

todos, continuassem transgredindo o mesmo.

“Falai de tal maneira e de tal maneira procedei

como aqueles que hão de ser julgados pela lei da liberdade.” (Tiago 2.12)

A esta lei da liberdade da condenação em Cristo, aludiu também o apóstolo Paulo em Rom 8.2:

“Porque a lei do Espírito da vida, em Cristo Jesus, te livrou da lei do pecado e da morte.”

Então, se não fosse por Cristo, todo o nosso

esforço em cumprir perfeitamente a Lei – ao qual devemos nos dedicar com sinceridade e

amor – seria totalmente perdido caso viéssemos

a transgredir um único ponto da lei que está indissoluvelmente ligada à natureza de Deus,

porque é Legislador e Juiz conforme demanda a

sua justiça que haja perfeita conformação à sua

santidade e amor.

“Pois qualquer que guarda toda a lei, mas tropeça em um só ponto, se torna culpado de

todos.” (Tiago 2.10) – Este é o caráter da lei para

aqueles que não estão debaixo da cobertura do

188

sangue de Jesus. Daqui vemos quão ineficaz é a

tentativa de se justificar por meio das obras da

lei.

Assim, devemos clamar e dar graças a Deus por nos ter dado Jesus Cristo, juntamente com o apóstolo quanto à nossa condição natural de

sermos achados mortos em delitos e pecados

que pode ser somente revertida por estarmos no

Senhor:

Rom 7:24 Desventurado homem que sou! Quem

me livrará do corpo desta morte?

Rom 7:25 Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor. De maneira que eu, de mim mesmo,

com a mente, sou escravo da lei de Deus, mas,

segundo a carne, da lei do pecado.

189

Aceitos por Causa da Justificação

A Bíblia ensina claramente que a carne é

inimizade contra Deus.

Que aquele que ama o mundo é inimigo de Deus.

Éramos seus inimigos porque não éramos justos aos seus olhos de perfeita justiça e santidade.

Mesmo nos cristãos, que vivem na carne, há guerras, lutas, divisões, contendas, porque a

falta de santificação impede um

relacionamento pacífico, harmonioso, em unidade em amor.

Mas, mesmo nestes, por causa de Jesus Cristo, a guerra relativa à sua inteira aceitação por Deus

acabou, porque são completamente justos aos

seus olhos pela salvação que obtiveram em

Cristo e que lhes deu acesso à glória da perfeição que terão no céu.

Podem portanto viver e agir como inimigos de Deus, amando o mundo e dispondo suas

energias para a carne, e certamente serão por

Ele disciplinados, mas são agora filhos amados, por causa da justificação gratuita que

receberam pela misericórdia de Deus em Cristo

Jesus.

190

Foi por conhecer isto e por viver isto, que Paulo se dirigia aos cristãos carnais coríntios,

chamando-os de filhos amados, mesmo quando

muitos deles estavam sendo disciplinados com enfermidades e até a morte física, que procedia

de Deus, em razão da sua carnalidade ostensiva,

e que renitentemente, muitos deles se recusavam a abandonar.

O nosso coração está corrompido e é ele a fonte do pecado. Pecadinhos ou pecadões cheiram

mal nas narinas perfeitamente santas de Deus.

Todos somos condenáveis sob a Sua perfeita e inflexível justiça. Somos livrados desta condição

somente por causa de Jesus Cristo.

191

Quem Condenará a Quem Deus Justifica?

Deus afirma na Bíblia que tem prazer em salvar

e que Seu braço nunca se recolherá para que

não possa remir. E nunca lhe faltará poder para livrar do mal.

Então a consequência de falta de atendimento à convocação à reconciliação, o resultado é

principalmente morte espiritual, que é a

condição de espírito resultante da falta de

comunhão com Deus.

Os que buscam o Senhor Jesus sempre receberão dEle palavras boas para instrução e para edificação e consolação porque não fala por

Si mesmo, mas pelo Pai. E demonstrou isto

fartamente em Seu ministério terreno.

O Pai Lhe sustentou na angústia, especialmente nos momentos que acompanharam a Sua

morte, de modo que não recuou, ao contrário, ofereceu-se voluntariamente para ser ferido em

suas costas com as chibatadas que recebeu dos

soldados romanos, e para que sua barba fosse

arrancada e não se envergonhou e não deixou de contemplar corajosamente os rostos

daqueles que lhe cuspiam na face.

O Pai lhe amparou naquela hora difícil e por isso não se sentiu confundido, e pôde assim fazer o

seu rosto como uma rocha inabalável, porque

192

sabia que não seria envergonhado, antes

glorificado e engrandecido pela Sua aflição e

morte.

Não foram os homens os seu juízes naquela

hora, porque a Sua morte foi injusta da parte dos homens, mas justa aos olhos de Deus, não

propriamente por ter cometido alguma

transgressão, ou por ter algum pecado, mas

porque carregou os nossos pecados sobre Si, e era a ofensa dos nossos pecados que estava

sendo visitada pelo juízo de Deus naquela hora

de terrível angústia e dor, que o Senhor suportou por nós e em nosso lugar.

Foi o Pai que fez com que Ele fosse feito pecado por nós, para que pudéssemos ser feitos justiça

para Deus.

Quem quiser contestar esta justiça divina deve apresentar-se ao próprio Cristo para que juntos sejam julgados por Deus.

Afinal foi justo o que o Pai fez por nós pelo Filho?

O Filho afirma que Ele foi justificado pelo Pai em tudo o que fez. Quem é então o homem para

contender com Deus e para contestar tal obra,

se apresentado como adversário de Cristo?

Se é o Pai que justifica o Filho, então aqueles que foram alvo da obra do Filho em Suas vidas,

convertendo-se a Ele, são também justificados

por Deus.

193

Assim quem intentará acusação contra eles?

Quem os condenará?

Os que ousarem fazer isto perecerão e envelhecerão como um vestido e serão

consumidos pela traça do pecado, que destrói

oculta, silenciosa e progressivamente.

Então, aqueles que temem a Deus devem ouvir a voz do Messias.

Os que andam em trevas e que não têm luz

devem simplesmente confiar no nome de Jesus e se firmarem, não em suas próprias

convicções, mas no seu Deus.

Agora, aqueles que não atenderem tal convocação e continuarem se cingindo com o

fogo do inferno, permanecerão andando em tais

labaredas de tormento e serão atormentados

para sempre pelo Senhor na morte espiritual eterna.

Porque o evangelho, é aroma de vida para a vida nos que se salvam, e cheiro de morte para a morte nos que se perdem.

194

Resgatados da Ira e da Maldição

Lemos em Ef 2.14: “Porque ele é a nossa paz”.

Jesus mesmo é a nossa paz.

Enquanto Ele viver, Ele manterá este relacionamento de paz.

Deus ficou satisfeito com o sacrifício de Cristo pelos nossos pecados.

Sua ira em relação aos justificados se foi, eles têm paz e nada pode mudar este

relacionamento.

Lemos em Hb 8.12: “Pois, para com as suas iniquidades usarei de misericórdia, e dos seus pecados jamais me lembrarei.”.

Por quanto tempo isto durará? Para sempre. Por que? Porque Cristo satisfez a ira de Deus.

Dizer a qualquer cristão verdadeiro que ele pode perder sua salvação é dizer uma de duas

coisas ou ambas: o trabalho de Cristo na cruz

não foi suficiente ou o presente sumo

sacerdócio de Cristo também não é suficiente.

Todavia não há nada de maior suficiência em todo o universo, porque é por meio de Cristo que

tudo o que existe permanece sustentado pela

palavra do Seu poder, que jamais passará.

195

A salvação não vem de nós, ela é um dom gratuito e imerecido que recebemos por causa

de Cristo. É por meio dEle, e dEle somente que

tivemos acesso a essa graça maravilhosa e profunda que nos salva (Rom 5.17).

196

Cristo, Nossa Redenção, Justiça e

Santificação

(I Cor 1.30)

Nenhum homem está perfeito fora de Cristo.

Veja que é dito em I Cor 1.30 que Ele se tornou da parte de Deus para nós a nossa sabedoria, justiça, santificação e redenção.

O apóstolo Paulo, bem instruído pelo Senhor acerca da verdade do Evangelho não colocou a

nossa santificação aparte de Cristo.

Isto indica que é algo sobrenatural que teremos na nossa efetiva associação com Ele, crescendo

em graça, de glória em glória, segundo a força

operante do Seu poder até a estatura de varão perfeito.

Ainda que o pecado não tivesse entrado no mundo, necessitaríamos estar ligados

espiritualmente ao Senhor, participando de Sua natureza divina, para que pudéssemos atingir o

alvo do propósito de Deus na nossa criação.

Afinal, há eficácia no poder do Senhor em restaurar e tornar novas todas as coisas nas vidas daqueles que confessam os seus pecados e

que fixam o propósito de Lhe serem agradáveis

em tudo.

197

Mais do que isso, nosso Senhor conquistou para os que estão ligados a Ele, pela fé, uma salvação

segura e eterna.

Há uma figura maravilhosa no Velho Testamento, dada pelo próprio Deus com o

propósito didático de nos ensinar esta verdade,

antes que ela se cumprisse em Cristo, a saber, a

firmeza, segurança e eternidade que há em nosso Senhor Jesus Cristo e no Seu sangue, que

Ele derramou por nós na cruz.

Então vejamos:

Somente ao sumo-sacerdote de Israel, dentre

tantos sacerdotes, era permitida a entrada no Santo dos Santos do tabernáculo terreno, uma

única vez por ano, e não sem o sangue do

sacrifício que deveria ser aspergido sobre a

tampa da arca da aliança, para que os pecados do povo de Deus pudessem ser perdoados por mais

um ano.

Isto indicava que a expiação do pecado seria realizada por uma única pessoa, e somente por ela (nosso Senhor Jesus Cristo), que é sumo-

sacerdote para sempre segundo a ordem de

Melquisedeque, não de um tabernáculo

terreno, mas do celestial.

Somente Ele poderia entrar no Santo dos Santos do céu, para fazer expiação pelo pecado de todo

o povo de Deus, de uma vez para sempre, pela

198

oferta não de sangue de animais, mas do Seu

próprio sangue que havia derramado na cruz.

Ele entrou além do véu que separa o Lugar Santo, do Santo dos Santos celestial, no qual

Deus Pai se encontra juntamente com os querubins, e por isso, estes também estavam

representados em figura no tabernáculo

terreno.

Ali, fixou a esperança da nossa salvação como

uma âncora segura e firme, que penetrou além do véu, ou seja, a nossa salvação está ancorada

pelo próprio Senhor, no Santo dos Santos

celestial, como se afirma em Hb 6.17-20.

Então, o plano de Deus na nossa salvação está

firmado na imutabilidade do seu propósito, segundo a Sua promessa feita a Abraão, para que

tenhamos forte alento e certeza da segurança

eterna que temos em Cristo, conforme se lê também em Hb 6.17-20.

Assim, quando a Bíblia fala em reconciliação por meio de Cristo, está se referindo não a algo

passageiro ou que possa ser destruído, mas a

algo firme, eterno e seguro.

Estaremos assim, ainda inseguros ou desinteressados em tal reconciliação, que é um

assunto de morte ou de vida?

O que escolheremos: a morte espiritual eterna ou a vida eterna que está em Cristo Jesus?

199

Se queremos a vida, sejamos então humildes de espírito e façamos uma confissão sincera dos

nossos pecados ao Senhor, com a firme

esperança de que seremos ouvidos, lavados e curados.

Afinal, fomos criados para sermos à imagem e semelhança do Senhor, e isto não pode existir

sem que participemos da vida do próprio Deus,

e cresçamos no homem interior (espírito) quanto ao Seu caráter e atributos comunicáveis

(amor, santidade, misericórdia, etc).

“29 Porque os que dantes conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito

entre muitos irmãos;” (Rom 8.29)

Esta imagem e semelhança não pode existir sem estarmos ligados à Videira Verdadeira.

Ainda que não tivéssemos nenhum pecado, só estaríamos atendendo à demanda da justiça divina, se estivéssemos ligados a Jesus, posto

que fomos criados para pertencermos a Ele.

Pertencer não como quem possui um objeto. Mas pertencer por ser participante da Sua

própria vida. A cabeça (Cristo) e o corpo (a igreja).

Se Deus perdoasse apenas o nosso pecado e caso não recebêssemos o Espírito Santo para

habitar em nós, ficando assim, desligados da

200

vida de Deus, não se poderia afirmar que apesar

de ter sido perdoados, que também estaríamos

justificados.

O perdão do pecado, a vitória sobre o pecado são necessários, mas não são a causa de recebermos a vida eterna prometida, porque esta é o próprio

Cristo vivendo em nós.

Assim, de nada aproveita ao homem confessar os seus pecados sem se render ao senhorio de

Jesus Cristo.

“o qual foi entregue por causa das nossas transgressões, e ressuscitou por causa da nossa

justificação.” (Rom 4.25)

A nossa justificação dependeu da ressurreição de Jesus. Ora, ainda que ele morresse resolvendo o problema do pecado, não

poderíamos ser justificados caso Ele não tivesse

ressuscitado, pois dependemos dEle mesmo

para tal, estando ligados à Sua vida.

O perdão foi e é necessário por causa do pecado.

A obra de expiação do pecado realizada por Cristo na cruz do calvário tem a ver com a morte

do pecador, de modo a poder ser reconciliado

com Deus, mas a ressurreição de nosso Senhor foi fundamental para que pudéssemos

participar da Sua própria vida ressurrecta,

obtendo assim, a vida eterna.

201

“10 Porque se nós, quando éramos inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte de

seu Filho, muito mais, estando já reconciliados,

seremos salvos pela sua vida.

11 E não somente isso, mas também nos gloriamos em Deus por nosso Senhor Jesus

Cristo, pelo qual agora temos recebido a

reconciliação.” (Rom 5.10,11)

O apóstolo Paulo mediante revelação e

inspiração do Espírito, entendeu que somos salvos pela própria vida de Jesus, e é por meio

dEle mesmo, por estarmos nEle, que somos

reconciliados com Deus.

Podemos portanto afirmar que é em Cristo que

estamos justificados.

Não é incorreto afirmar também que fomos justificados pelo sangue derramado na cruz,

porque a expiação do nosso pecado é a porta de

entrada para a justificação.

Há ainda outros que afirmam, em razão da imputação da justiça de Jesus ao crente, que a

justificação é um ato declarativo da parte de

Deus pelo qual nos considera justos, o que

também é correto.

Seja qual for a conceituação que se dê à justificação, esta deve estar respaldada na

Bíblia, portanto fica excluído qualquer conceito

que a concilie às nossas obras, ao cumprimento

202

da lei, enfim tudo que se relacione ao nosso

próprio trabalho e mérito, pois como temos

visto e continuaremos a aprender, a justificação

é um ato exclusivo de Deus, que nos é concedido pela graça, e que recepcionamos simplesmente

pela fé.

A justificação pela fé abre a porta para um viver na justiça do evangelho, de maneira que

recebemos a justiça imputada, atribuída da

justificação, para vivermos na justiça que é

implantada pelo Espírito Santo.

Em razão da desobediência de Adão todos ficaram sujeitos ao pecado.

Não somos pecadores porque pecamos, mas pecamos porque somos pecadores.

O pecado é uma lei que opera nos nossos membros e que nos leva para longe de Deus.

Nossa natureza decaída foge da presença do Senhor e não deseja submeter-se ao seu

senhorio.

Nenhum pecador teria amado a Deus se não fosse primeiro amado por ele.

Ninguém buscaria entregar-lhe o coração se não fosse atraído por Ele.

A justificação não pode significar que nos tornamos perfeitamente justos desde que

203

tivemos um encontro pessoal com Cristo, pois

que ainda permanecemos sujeitos à ação do

pecado e nem se pode dizer de nós, enquanto

neste mundo, que chegaremos à plenitude da perfeição das virtudes de Deus.

Isto ocorrerá somente no porvir.

Mas não se declara na Palavra que seremos justificados no porvir.

A Bíblia afirma que já fomos justificados.

Então, a palavra justificação só pode se referir à nossa condição de termos sido reconciliados

com Deus, por estarmos ligados a Cristo.

Qual seria a forma de se perder a justificação, se possível, a não ser pelo nosso afastamento do

Senhor?

Se a nossa aproximação e aceitação dEle

significou para nós sermos justificados, o nosso afastamento dEle implicaria

consequentemente a perda da justificação.

Por isso necessitamos de santificação: para podermos permanecer ligados ao Senhor,

porque Ele mesmo é a garantia da nossa

justificação.

Mas, não permanecemos nEle, e somos santificados, simplesmente para não

perdermos a nossa justificação e por

204

conseguinte a nossa salvação, mas, para

prosseguirmos em nosso crescimento

espiritual, na nossa transformação pessoal à Sua

imagem e semelhança, conforme é o supremo e eterno propósito de Deus.

É por isso que o Senhor afirma que não lança fora a nenhum que vem a Ele, e que a vontade do

Pai é que não perca a nenhum dos que lhes

foram dados por Ele.

Isto significa sobretudo que enquanto permanecermos nEle, nada poderá nos separar do Seu amor, porque a obra de expiação que

fizera em nosso favor, para o perdão do nosso

pecado, foi completa, perfeita e segura; assim,

como a nossa justificação por estarmos nEle possui também tais características, porque é

impossível que Ele possa ser vencido, e Sua vida

é eterna e inabalável.

Porém, é importante sabermos que se a expiação da cruz é eterna, e nos concedido a

bênção de termos todas as nossas transgressões cometidas antes da nossa conversão a Cristo,

perdoadas e esquecidas por Deus, o viver

vitorioso, pelo perdão de nossas transgressões

posteriores à conversão, depende de sucessivos arrependimentos e confissões destes pecados

presentes.

A obra de convencimento do Espírito Santo em relação ao pecado, procura também atrair-nos

205

para Deus, convencendo-nos de que há

disponibilidade e provisão de perdão e amor

para nós, ainda que pecadores.

Mas a obra do Espírito vai muito além. Ele não só opera a morte da nossa velha natureza, como

também regenera-nos com uma nova vida, e reveste-nos de poder especial através de dons e

capacitações espirituais para a realização do

nosso ministério.

A palavra regeneração, na Bíblia, vem do grego, Genetós (nascido, gerado) Ánoten (de novo,

outra vez, de cima, do alto).

Este é o significado original e verdadeiro da palavra, quanto à interpretação do texto bíblico.

A conotação atual que lhe é atribuída, de reparar, consertar, não traduz a obra do Espírito

em nós.

Nada há da herança recebida de Adão que possa ser melhorado.

O que herdamos dele foi sentenciado à morte na cruz do calvário.

A nova vida que temos em nós é a do próprio Cristo.

Por isso somos convocados a nos despojarmos do velho homem e a nos revestirmos da vida de

206

Cristo, que é designada biblicamente como a

vida do novo homem.

“Mas revesti-vos do Senhor Jesus Cristo; e não tenhais cuidado da carne em suas

concupiscências.” (Rm 13.14)

“9 De modo que os que são da fé são abençoados com o crente Abraão.

10 Pois todos quantos são das obras da lei estão debaixo da maldição; porque escrito está:

Maldito todo aquele que não permanece em

todas as coisas que estão escritas no livro da lei, para fazê-las.

11 É evidente que pela lei ninguém é justificado diante de Deus, porque: O justo viverá da fé;”

(Gál 3.9-11)

“27 Porque todos quantos fostes batizados em Cristo vos revestistes de Cristo.” (Gál 3.27)

“20 Mas vós não aprendestes assim a Cristo.

21 se é que o ouvistes, e nele fostes instruídos, conforme é a verdade em Jesus,

22 a despojar-vos, quanto ao procedimento

anterior, do velho homem, que se corrompe pelas concupiscências do engano;

23 a vos renovar no espírito da vossa mente;

207

24 e a vos revestir do novo homem, que segundo Deus foi criado em verdadeira justiça e

santidade.” “Ef 4.20-24”

“9 não mintais uns aos outros, pois que já vos despistes do homem velho com os seus feitos,

10 e vos vestistes do novo, que se renova para o pleno conhecimento, segundo a imagem

daquele que o criou;” (Col 3.9,10)

Paulo coloca a questão da obra da regeneração e santificação, nos seguintes termos: Fomos

despojados do velho homem e revestidos de Jesus na conversão, mas este despojamento e

revestimento devem prosseguir no processo de

santificação.

A vida de Jesus é o vinho novo que deve ser colocado em odres novos. Não odres velhos ou

que serão reparados e melhorados.

Se houvesse necessidade de remendo (conserto) nessa vida nova, este seria feito com

tecido novo, pois em Jesus, recebemos uma vestimenta de vida inteiramente nova.

A velha natureza é inteiramente incompatível com a nova natureza que recebemos de Deus na

conversão.

Por isso, o Senhor não trabalha com aquilo que é relativo à nossa antiga natureza decaída no

pecado, procurando consertá-la.

208

Não.

Ele trabalha somente com o que é novo, e a obra de aperfeiçoamento que realiza em nós refere-se exclusivamente a esta nova vida.

O enchimento do Espírito Santo, das Suas virtudes, é qual o vinho novo que é colocado no

odre.

Deus quer nos encher mais e mais do seu Espírito (Ef 5.18).

Acheguemo-nos a ele como odres novos que somos para que ele nos encha da Sua vida divina.

“16 Ninguém põe remendo de pano novo em vestido velho; porque semelhante remendo tira parte do vestido, e faz-se maior a rotura.

17 Nem se deita vinho novo em odres velhos; do contrário se rebentam, derrama-se o vinho, e os

odres se perdem; mas deita-se vinho novo em odres novos, e assim ambos se conservam.” (Mt

9.16,17)

“Expurgai o fermento velho, para que sejais massa nova, assim como sois sem fermento.

Porque Cristo, nossa páscoa, já foi sacrificado.”

(I Cor 5.7)

“Pelo que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que

tudo se fez novo.”(II Cor 5.17)

209

Em Cristo temos sido aperfeiçoados.

Podemos ser ainda imperfeitos, mas seremos perfeitos como Ele é perfeito, se

permanecermos firmes na fé e nEle mesmo.

Somos chamados de justos, ainda que imperfeitos, porque estamos nAquele que é

perfeito.

No porvir seremos também perfeitamente justos, não por nosso próprio poder e

autoridade, mas por participarmos

completamente dAquele que é a própria perfeição: o Senhor.

O problema do pecado precisa ser tratado antes, para que o propósito eterno de Deus, em amor,

de ter muitos filhos semelhantes a Cristo, possa

ser cumprido.

Para este propósito, Deus foi se revelando gradualmente.

A revelação pessoal vem antes da escrita.

Primeiro Ele se revelou, depois inspirou homens a registrar o que considerou essencial

para a nossa instrução espiritual, de modo que

possamos entender quem Ele é, e qual é a Sua

vontade em relação a nós.

A Bíblia foi sendo produzida desse modo.

210

Adão, Noé, Abraão, Jacó, José. Somente muitos séculos depois, Moisés foi encarregado de

registrar no que viria a ser o livro de Gênesis, a

história da revelação referente ao período da vida desses homens.

A Antiga Aliança, a conquista de Canaã, os

juizes, o reinado em Israel, os profetas, os cativeiros, tudo isso foi registrado nos livros do

Antigo Testamento.

Mas, Deus revelou também nos dias do Velho Testamento as coisas que haveriam de

acontecer no futuro, tanto as relativas à obra de

Jesus, do Espírito Santo, como também ao arrebatamento, à glorificação dos salvos e ao

Juízo Final.

Se os escribas e fariseus conhecessem as

Escrituras como convém, e se conhecessem o poder de Deus, provavelmente teriam topado

com a vontade do Senhor, e não teriam se

confrontado com Jesus, conforme encontramos registrado nos quatro evangelhos.

Se erravam porque não conheciam as Escrituras e o poder de Deus, certamente não teriam errado o alvo do propósito da vida, caso

conhecessem a sã doutrina por revelação do

Espírito Santo, mas para isto seria necessário

que se convertessem a Cristo.

Vemos assim a importância dessas duas coisas essenciais: a) conhecimento correto da

211

revelação bíblica; b) comunhão com Deus no

Espírito.

Como não tinham uma coisa nem outra, não puderam reconhecer a manifestação da justiça

de Deus, na pessoa de Jesus, conforme

prometido aos profetas.

“Mas no Senhor será justificada e se gloriará toda a descendência de Israel.” (Is 45.25)

“5 Eis que vêm dias, diz o Senhor, em que levantarei a Davi um Renovo justo; e, sendo rei,

reinará e procederá sabiamente, executando o juízo e a justiça na terra.

6 Nos seus dias Judá será salvo, e Israel habitará seguro; e este é o nome de que será chamado: O

SENHOR JUSTIÇA NOSSA.” (Jer 23.5,6)

“21 Mas agora, sem lei, tem-se manifestado a justiça de Deus, que é atestada pela lei e pelos

profetas;

22 isto é, a justiça de Deus pela fé em Jesus Cristo para todos os que creem; pois não há distinção.

23 Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus;

24 sendo justificados gratuitamente pela sua graça, mediante a redenção que há em Cristo

Jesus,” (Rom 3.21-24)

212

“3 Porquanto, não conhecendo a justiça de Deus, e procurando estabelecer a sua própria,

não se sujeitaram à justiça de Deus.

4 Pois Cristo é o fim da lei para justificar a todo aquele que crê.” (Rom 10.3,4)

O fim da lei, isto é, a finalidade da Antiga Aliança, das Escrituras do Antigo Testamento, foi a de apontar para a redenção, justificação e

santificação em Jesus Cristo.

Mas os judeus, em sua grande maioria não compreenderam isto, e assim, rejeitaram ao

Senhor.

“30 Mas vós sois dele, em Cristo Jesus, o qual para nós foi feito por Deus sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção;” (I Cor 1.30)

O apóstolo Paulo afirmou que a justiça que dá vida não pode ser procedente das obras da lei,

mas da nossa fé em Cristo.

“16 sabendo, contudo, que o homem não é justificado por obras da lei, mas sim, pela fé em

Cristo Jesus, temos também crido em Cristo

Jesus para sermos justificados pela fé em Cristo, e não por obras da lei; pois por obras da lei

nenhuma carne será justificada.” (Gál 2.16)

“11 É evidente que pela lei ninguém é justificado diante de Deus, porque: O justo viverá da fé;

213

21 É a lei, então, contra as promessas de Deus? De modo nenhum; porque, se fosse dada uma lei

que pudesse vivificar, a justiça, na verdade, teria

sido pela lei.

22 Mas a Escritura encerrou tudo debaixo do pecado, para que a promessa pela fé em Jesus

Cristo fosse dada aos que creem.” (Gál 3.11,21,22)

“9 e seja achado nele, não tendo como minha justiça a que vem da lei, mas a que vem pela fé

em Cristo, a saber, a justiça que vem de Deus pela fé;” (Fp 3.9)

Cremos que quando o apóstolo Tiago afirmou

que uma pessoa não é justificada somente por fé mas também por obras, queria referir-se à

necessidade de se viver obedientemente a Deus,

assim como vivera Abraão, pois, sem qualquer

sombra de dúvida esta é a única forma de se evidenciar e se comprovar o fato de ter sido

justificado por meio da fé.

A este respeito também nos falou o apóstolo Pedro no primeiro capítulo de sua segunda

epístola, onde exorta os crentes a crescerem na

prática da justiça, de maneira a confirmarem a sua eleição e a terem amplamente garantida a

sua entrada no reino de Deus (II Pe 1.5-11).

Em textos que se referem à justificação, encontramos os verbos gregos “elogáu” e

“logízomai”, que têm o significado de “atribuir”

e “imputar”.

214

Referem-se no sentido original a uma operação de registro contábil.

Isto significa que na contabilidade de Deus a nossa dívida foi cancelada, e em seu lugar

lançado um crédito de vida eterna, graças à obra e pessoa de Jesus Cristo.

“3 Pois, que diz a Escritura? Creu Abraão a Deus, e isso lhe foi imputado como justiça.

4 Ora, ao que trabalha não se lhe conta a recompensa como dádiva, mas sim como dívida;

5 porém ao que não trabalha, mas crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é atribuída

como justiça;

6 assim também Davi declara bem-aventurado o homem a quem Deus atribui a justiça sem as

obras, dizendo:

7 Bem-aventurados aqueles cujas iniquidades são perdoadas, e cujos pecados são cobertos.

8 Bem-aventurado o homem a quem o Senhor não imputará o pecado.

9 Vem, pois, esta bem-aventurança sobre a circuncisão somente, ou também sobre a

incircuncisão? Porque dizemos: A Abraão foi

imputada a fé como justiça.

215

10 Como, pois, lhe foi imputada? Estando na circuncisão, ou na incircuncisão? Não na

circuncisão, mas sim na incircuncisão.

11 E recebeu o sinal da circuncisão, selo da justiça da fé que teve quando ainda não era

circuncidado, para que fosse pai de todos os que

creem, estando eles na incircuncisão, a fim de

que a justiça lhes seja imputada, (Rom 4.3-11)

A justiça de Deus não somente perdoa até mesmo os piores malfeitores, como também

remove a sua culpa, e os transforma em pessoas

justas e santas, pela simples expressão de arrependimento e fé.

O melhor de tudo: é por tal justiça divina que alcançamos a vida eterna. De modo que aqueles

que têm a justiça de Deus, têm também a vida

eterna, porque por ela (justiça) são justificados e tornados justos.

Aqueles que não têm tal justiça divina jamais terão a vida.

Romanos 9.30-32; 10.3-9

Por isso se nos ordena que busquemos não apenas o reino de Deus, mas também a sua

justiça, porque sem esta justiça, não teremos a

vida eterna.

216

Deste modo, o dom da justiça divina em Jesus Cristo é relacionado na Bíblia, à própria

salvação:

Is 46.13; 51.5,6,8; 56.1; Dn 9.24; Mal 4.2

Podemos ver então o quão crucial é que sejamos

justificados por Deus para que sejamos salvos, de modo a alcançar a vida eterna.

Quando se afirma em Habacuque 2.4 que o justo viverá pela sua fé, é importante observar que

está sendo afirmado que somente os justos

terão vida eterna. Então o homem necessita da justiça perfeita de Deus para ter vida, e tal justiça

lhe é concedida por meio da fé, como se afirma

no texto de Hc 2.4.

Quando a palavra “justiça” é usada na Bíblia com

o sentido de “juízo”, ela é vertida do original grego “krisis”.

Mas quando é usada para se referir à salvação, a palavra da qual é vertida no grego é

“dikaiossine”, que é encontrada nos seguintes textos, dentre outros:

Lucas 7.29; João 16.8, 10; Atos 13.10; 24.25; Romanos 1.17; 3.5, 21, 22, 25, 26; 4.3, 5, 6, 9, 11, 13,

22; 6.13, 16, 18, 19, 20; 8.10; 9.31; 10.3-6, 10; 14.17; I

Coríntios 1.30; II Coríntios 3.9; 5.21; 6.7, 14; Gálatas 2.21; 3.6, 21; 5.5; Efésios 4.24. 5.9; 6.14;

Filipenses 1.11; 3.9; I Timóteo 6.11; II Timóteo 2.22;

3.16; 4.8; Hebreus 5.13; 7.2; 11.7, 33; 12.11; Tiago

217

1.20; 2.23; 3.18; I Pedro 2.24; 3.14; II Pedro 1.1; 2.5,

21; 3.13; I João 2.29; 3.7, 10; Apocalipse 15.4; 19.8;

22.11.

Destes textos, veja por exemplo, o que se afirma em Rom 8.10:

”Ora, se Cristo está em vós, o corpo, na verdade, está morto por causa do pecado, mas o espírito

vive por causa da justiça.” (Rom 8.10)

Veja que se fala de uma vida do espírito por causa da justiça.

Em Fp 3.9:

“e seja achado nele, não tendo como minha justiça a que vem da lei, mas a que vem pela fé

em Cristo, a saber, a justiça que vem de Deus

pela fé;” (Fp 3.9)

Em Rom 3.21-26:

“21 Mas agora, sem lei, tem-se manifestado a justiça de Deus, que é atestada pela lei e pelos profetas;

22 isto é, a justiça de Deus pela fé em Jesus Cristo para todos os que creem; pois não há distinção.

23 Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus;

218

24 sendo justificados gratuitamente pela sua graça, mediante a redenção que há em Cristo

Jesus,

25 ao qual Deus propôs como propiciação, pela

fé, no seu sangue, para demonstração da sua justiça por ter ele na sua paciência, deixado de

lado os delitos outrora cometidos;

26 para demonstração da sua justiça neste tempo presente, para que ele seja justo e

também justificador daquele que tem fé em Jesus.” (Rom 3.21-26)

Veja de que forma direta o apóstolo relaciona a justiça com a salvação, com a justificação

instantânea da conversão inicial pela qual foram

esquecidos todos os pecados cometidos antes de se receber tal dom da justiça que é por meio da

fé, prometido por Deus desde os profetas e até

mesmo pela Lei de Moisés.

E em Rom 5.17,18,21:

“17 Porque, se pela ofensa de um só, a morte veio a reinar por esse, muito mais os que recebem a

abundância da graça, e do dom da justiça,

reinarão em vida por um só, Jesus Cristo.

18 Portanto, assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim também por um só ato de justiça veio a

graça sobre todos os homens para justificação e

vida...

219

21 para que, assim como o pecado veio a reinar na morte, assim também viesse a reinar a graça

pela justiça para a vida eterna, por Jesus Cristo

nosso Senhor.” (Rom 5.17,18,21)

No verso 17 está escrito: “reinarão em vida os

que recebem do dom da justiça”.

No verso 18 se diz em outras palavras que: “é a justiça que dá vida, e o único ato de justiça pelo qual veio a graça para justificação e vida, foi a

expiação do pecado realizada por Jesus Cristo na

cruz.

No verso 21 se afirma expressamente que a graça reina por causa da justiça, para que

tenhamos vida eterna por meio de nosso Senhor Jesus Cristo.

A justiça verdadeira demanda que sejamos e hajamos em conformidade com o que Deus é, e

segundo a Sua vontade.

Então, ser justo significa atender a tal exigência da justiça divina que sejamos sobretudo

conformados à Sua santidade.

Assim, não basta ser justo apenas em relação aos homens por cumprir os mandamentos de

não adulterar, matar, mentir, furtar, cobiçar, porque importa ser também justo para com

Deus, por sermos santificados por Ele, para

aquela vida perfeita que teremos no céu.

220

Todavia, não se pode ser e fazer tudo isso, sem Cristo, e daí se dizer que Ele se tornou da parte

de Deus para nós a nossa justiça (I Cor 1.30) e que

a finalidade da lei de Deus é o próprio Cristo para a justiça dos crentes.

Como Cristo se torna a justiça do crente?

Primeiro, através da justiça atribuída quando se arrependem e se convertem a Deus tornando-se a partir de então seus filhos, pelo que a bíblia

chama de justificação.

Em segundo lugar através da justiça implantada pela operação do Espírito Santo através da

regeneração e da santificação.

Por que necessitamos da justiça atribuída, além da implantada?

Porque é somente por ela que poderíamos ser perdoados de nossos pecados e culpa, e sermos

reconciliados com Deus.

Por que necessitamos da justiça implantada?

Porque é por meio dela que somos

transformados à imagem de Deus aprendendo a ser misericordiosos, longânimos, perdoadores,

amorosos, justos, bondosos, etc, tal como é o

próprio Deus. E é nesse aumento cada vez maior da nossa semelhança com Jesus que nos

tornamos cada vez mais justos, porque vimos

que a justiça significa ser igual a Deus, e isto é

221

operado em nós pela regeneração e

santificação.

Somente Deus é a origem e a fonte da justiça eterna e verdadeira, sem a qual ninguém pode

viver em comunhão com Ele.

A justiça demanda atos justos.

Por exemplo: o peso e a medida devem corresponder exatamente ao padrão

convencionado, ou seja, um quilo deve ser um

quilo, e não mais ou menos do que isto.

O que é justo não deve enganar ou prejudicar a quem quer que seja.

O que é bom não deve ser considerado ruim, e o que é ruim considerado bom.

O culpado não deve ser inocentado, e nem o inocente ser condenado.

O que age corretamente não deve ser castigado, assim como não se deve poupar o malfeitor do devido castigo.

Por isso Jesus teve que ser castigado no nosso lugar para sermos redimidos, para que a justiça

divina não fosse ofendida.

Deus pode perdoar os nossos pecados porque eles foram totalmente castigados em Jesus.

222

Assim, por sermos pecadores, toda a justiça de Deus para nós é de caráter evangélico, na qual

deve ser sempre lembrada a substituição que foi

feita por Jesus, colocando-se em nosso lugar para receber em sua morte na cruz, a

condenação relativa à nossa culpa, e em razão

do exercício do perdão, amor e misericórdia, para que tais atributos sejam achados em nós tal

como eles se encontram em Deus.

Se o caráter da nossa justiça é evangélico, isto é, baseado na expiação e perdão de Jesus, pela nossa fé no evangelho, então, enquanto neste

mundo, não somos justos para Deus pelo fato de

nunca falharmos ou errarmos, mas pelo fato de

nos arrependermos de nossos pecados.

O arrependimento sincero fará com que achemos o favor e o perdão de Deus para nos

purificar de toda injustiça, como se afirma no

primeiro capítulo de I João, porque o arrependimento verdadeiro consiste numa real

mudança de atitude e de comportamento,

deixando-se o que é mau, e praticando o que é

bom e reto segundo a vontade de Deus, conforme nos é concedido pelo poder da Sua

graça.

Assim, a justiça evangélica que os crentes têm em Jesus excede em muito a justiça que há no

mero cumprimento da Lei escrita, porque

atinge também e leva em consideração as

223

nossas atitudes, reações e intenções, ainda que

não venham a se transformar em atos.

A justiça que Deus exige de nós, Ele mesmo nô-la concede, através de Jesus Cristo e do trabalho

do Espírito Santo em nossos corações. E Deus tem grande prazer neste trabalho de nos tornar

cada vez mais justos, pelo aumento da nossa fé

em graus cada vez maiores.

É muito importante sabermos isto para não

incorrermos no mesmo erro dos escribas e fariseus, que condenavam os inocentes, ou seja,

aqueles cujos pecados viriam a ser perdoados

por Deus, tornando-os assim isentos de culpa diante dEle, porque os fariseus não sabiam o

modo pelo qual Deus justifica pecadores, a

saber, pela graça, mediante a fé.

Os fariseus desconheciam a verdade que todos os pecadores estão destituídos de qualquer justiça própria diante de Deus que possa

justificá-los.

Assim, a justiça é um dom gratuito de Deus que se recebe e que se vive somente pela fé nEle, e

na Sua Palavra.

Deste modo, de si mesmos, os homens não têm nenhuma recompensa para receberem da parte

de Deus.

Bem-aventurados são apenas aqueles que são perseguidos não por causa da justiça própria

224

deles, mas por pregarem e viverem a justiça do

reino de Deus, a saber, a justiça evangélica que

se recebe gratuitamente, mediante a fé. Estes e

somente estes serão recompensados por Deus.

A justiça de Deus revela que os propósitos divinos não podem ser frustrados, por causa do

pecado, por isso não é justo que não se perdoe um pecador que tenha se arrependido.

Não somos nós que possuímos a justiça. É ela

quem nos possui e somos seus servos (Rm 6.18; II Cor 3.9).

Assim, somos convocados a julgar segundo a

reta justiça que se baseia não nos nossos padrões de certo e de errado, mas nos padrões

de Deus revelados na Sua Palavra.

A justiça é necessária para que tenhamos vida eterna e a manifestação de tal vida no nosso dia

a dia, como se vê em textos como: Dt 16.20; Jer

23.6; 33.15; Dn 9.24; Mt 5.6; Rom 1.17; 5.17,18; 6.16;

8.10 e Gál 3.21.

Concluímos então, que se ser justo é ser santo, assim como Deus é santo, ou seja, sermos como

Deus é, então é pela justificação que se tem acesso à santidade de Deus, e pela santificação,

que se obtém maiores graus da justiça de Deus,

e por conseguinte, da manifestação da Sua vida em nós, porque é pela Sua justiça eterna

implantada em nós pela santificação, que

podemos ter maiores graus da vida eterna. Por

225

isso a Bíblia trata a santificação como sendo um

assunto de vida, e a falta de tal santificação como

um assunto de morte.

Portanto, quanto mais justos formos, mais

teremos da vida de Cristo em nós.

Não justos pela nossa justiça própria, mas justos pelo crescimento na justiça que é pela graça,

mediante a fé, e que não é deste mundo, mas

que nos vem do céu, especialmente pelo

exercício da vigilância, da oração, da santificação.

Bem-aventurados são aqueles que têm fome e sede de tal justiça divina, porque serão fartos da

vida eterna de Deus.

Erram aqueles que dizem que Deus não é

somente amor, mas também justo e justiça, para afirmarem que Ele castigará o pecado, porque

quando é justo e justiça Deus não age com juízos,

como Juiz, sobre os pecadores, ao contrário, Ele lhes redime e lhes dá a vida eterna por meio da

justiça de nosso Senhor Jesus Cristo.

Quando Adão pecou a justiça do homem foi perdida para sempre, de modo que necessita da

justiça de um outro, para que possa ter vida, a saber, a de Cristo, que jamais se perde ou acaba,

porque é justiça eterna e perfeita.

Vimos que é a justiça que dá vida, de modo que não se pode viver sem ser justo. O ímpio

226

perecerá eternamente, mas o justo, por causa da

fé, viverá eternamente. (Rom 3.21-31)

Se a justificação foi imputada, atribuída, quando cremos, então de fato ela foi recebida

simplesmente pela graça mediante a fé.

Não dependeu de qualquer ato ou esforço da nossa parte, além do arrependimento e da fé.

Daí Paulo afirmar que não a recebemos como salário em razão do nosso trabalho ou alguma

boa obra que tenhamos realizado para Deus

(Rom 4.5,6).

Muito da doutrina da chamada “graça” barata ou irresponsável decorre da incorreta interpretação de textos como os que acabamos

de ler, que discorrem sobre justificação e não

sobre santificação.

“Está vendo irmão! Não precisamos de boas obras, não precisamos nos esforçar para

agradar a Deus! É tudo pela fé! É tudo pela graça!

Nada de mandamento! Chega de lei! Sou livre para viver e fazer o que bem entender!”. Diria

alguém.

De fato foi para a liberdade que Cristo nos libertou. Somos de fato livres. Mas que

liberdade é esta? Para pecar?

Não é antes de tudo, liberdade para vivermos segundo o propósito de Deus?

227

De fato é tudo pela graça e pela fé. Mas isto exclui a nossa diligência, perseverança, esforço,

boas obras?

Não estamos de fato debaixo da lei, no sentido de não estarmos debaixo da Antiga Aliança, e não

mais sob a maldição da Lei que considera

malditos e sujeitos à ira de Deus todo aquele que não permanece perfeitamente na prática de

todos os seus mandamentos, mas disto estão

excluídos os crentes por causa de Jesus Cristo, sem que no entanto não estejam sem lei para

Deus, pois estão debaixo da lei de Cristo (I Cor

9.21).

É preciso discernir quais textos bíblicos falam de justificação e quais se referem ao processo da

santificação, pois a justificação não é um

processo mas uma condição a que acessamos quando nos convertemos a Cristo e o recebemos

como nosso Salvador. E esta condição, como

vimos antes, é a de termos sido enxertados em

Sua própria vida.

Por exemplo, o texto abaixo, na mesma epístola aos Romanos, fala de santificação e não de

justificação:

“18 e libertos do pecado, fostes feitos servos da justiça.

19 Falo como homem, por causa da fraqueza da vossa carne. Pois assim como apresentastes os

vossos membros como servos da impureza e da

228

iniquidade para iniquidade, assim apresentai

agora os vossos membros como servos da

justiça para santificação.” (Rom 6.18,19)

A liberdade do crente é sobretudo da escravidão do pecado. Note que Paulo diz que ele foi libertado de um cativeiro para ser escravo de

um outro, a saber, da justiça.

O crente foi libertado do pecado para ser servo de Jesus.

Esta é a verdadeira liberdade do homem: poder viver para o propósito para o qual fora criado, a

saber, ser do Senhor.

No Senhor Jesus estamos justificados.

Por isso somos exortados a permanecer nEle para que Ele permaneça em nós. Não importa

qual seja a nossa estatura espiritual. Quanto ainda deveremos crescer na graça e no

conhecimento dEle.

Já estamos, enquanto nEle, perfeitamente justificados, desde o dia da nossa conversão.

Ainda que imperfeitos, mas prosseguindo para o alvo da soberana vocação, cooperando com a

obra do Espírito Santo, na nossa transformação pessoal, já não estamos mais debaixo da

condenação da lei ou da acusação do diabo

porquanto fomos justificados.

229

Assim, o efeito da justificação será além desta justiça de Cristo que nos é atribuída pela fé, a

capacitação recebida a partir da mesma de

crescer na prática da justiça evangélica, no que poderíamos chamar de justiça divina não

imputada, mas implantada progressivamente

em nossa vida, pela auto-negação do ego, da mortificação do pecado, do carregar diário da

cruz, e o seguir a Jesus pela prática das boas

obras.

“1 Portanto, agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus.” (Rom 8.1)

“33 Quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica;

34 Quem os condenará? Cristo Jesus é quem morreu, ou antes quem ressurgiu dentre os

mortos, o qual está à direita de Deus, e também intercede por nós;” (Rom 8.33,34)

Em Jesus estamos perfeitamente perdoados. O

Seu sangue foi derramado na cruz para fazer propiciação pelos nossos pecados do passado, e

dos que eventualmente praticarmos no

presente e no futuro.

Todavia, se temos o perdão pleno total dos pecados praticados antes da conversão, ou seja,

antes de sermos justificados, no entanto, depois de convertidos necessitamos de confissão e

também arrependimento para o perdão dos

nossos pecados presentes, sem que isto

230

implique o risco de perda de salvação de

genuínos crentes, por causa de uma possível

falha ou negligência deste dever, e tal garantia é

obtida por causa do caráter eterno da justificação, conforme veremos afirmado em

vários textos bíblicos, inclusive no Velho

Testamento, especialmente no profeta Isaías.

Isto foi prometido por Deus desde os dias do Antigo Testamento, através do ministério dos

profetas.

“31 Eis que os dias vêm, diz o Senhor, em que farei um pacto novo com a casa de Israel e com

a casa de Judá,

32 não conforme o pacto que fiz com seus pais, no dia em que os tomei pela mão, para os tirar da

terra do Egito, esse meu pacto que eles

invalidaram, apesar de eu os haver desposado, diz o Senhor.

33 Mas este é o pacto que farei com a casa de

Israel depois daqueles dias, diz o Senhor: Porei a minha lei no seu interior, e a escreverei no seu

coração; e eu serei o seu Deus e eles serão o meu

povo.

34 E não ensinarão mais cada um a seu próximo, nem cada um a seu irmão, dizendo: Conhecei ao

Senhor; porque todos me conhecerão, desde o menor deles até o maior, diz o Senhor; pois lhes

perdoarei a sua iniquidade, e não me lembrarei

mais dos seus pecados.”(Jer 31.31-34)

231

Somente o crente está morto em Cristo para o pecado e, portanto, para a condenação da lei. Daí

dizer-se também que não está sob a lei e sim sob

a graça.

“4 Ora, ao que trabalha não se lhe conta a recompensa como dádiva, mas sim como dívida;

5 porém ao que não trabalha, mas crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é contada como justiça;” (Rom 4.4,5)

“14 Pois o pecado não terá domínio sobre vós, porquanto não estais debaixo da lei, mas debaixo da graça.

15 Pois quê? Havemos de pecar porque não estamos debaixo da lei, mas debaixo da graça?

De modo nenhum.” (Rom 6.14,15)

“4 Assim também vós, meus irmãos, fostes mortos quanto à lei mediante o corpo de Cristo,

para pertencerdes a outro, àquele que ressurgiu

dentre os mortos a fim de que demos fruto para

Deus.

5 Pois, quando estávamos na carne, as paixões dos pecados, suscitadas pela lei, operavam em nossos membros para darem fruto para a morte.

6 Mas agora fomos libertos da lei, havendo morrido para aquilo em que estávamos retidos,

para servirmos em novidade de espírito, e não

na velhice da letra.” (Rom 7.4,6)

232

“19 Pois eu pela lei morri para a lei, a fim de viver para Deus.” (Gál 2.19)

“13 Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós; porque está

escrito: Maldito todo aquele que for pendurado

no madeiro;” (Gál 3.13)

No capítulo sexto de Romanos, Paulo discorre sobre a expiação, justificação e santificação.

Como afirmou em I Cor 1.30 que Cristo mesmo é a nossa justificação e santificação, esforçou-se

por explicar qual é a obra da graça e concluiu que é completamente errada a ideia de que viver

na graça significa que a graça é tão abundante

que podemos pecar sem qualquer preocupação,

já que Cristo morreu por nós, e por ser segura a nossa salvação, pois Deus fez a promessa de

perdoar e esquecer os nossos pecados e

iniquidades.

“1 Que diremos, pois? Permaneceremos no pecado, para que abunde a graça?

2 De modo nenhum. Nós, que já morremos para o pecado, como viveremos ainda nele?

3 Ou, porventura, ignorais que todos quantos fomos batizados em Cristo Jesus fomos

batizados na sua morte?

4 Fomos, pois, sepultados com ele pelo batismo na morte, para que, como Cristo foi ressuscitado

233

dentre os mortos pela glória do Pai, assim

andemos nós também em novidade de vida.

5 Porque, se temos sido unidos a ele na semelhança da sua morte, certamente também o seremos na semelhança da sua ressurreição;

6 sabendo isto, que o nosso homem velho foi crucificado com ele, para que o corpo do pecado

fosse desfeito, a fim de não servirmos mais ao pecado.

7 Pois quem está morto está justificado do pecado.

8 Ora, se já morremos com Cristo, cremos que

também com ele viveremos,” (Rom 6.1-8)

“Assim também vós considerai-vos como mortos para o pecado, mas vivos para Deus, em

Cristo Jesus.

12 Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo mortal, para obedecerdes às suas

concupiscências;

13 nem tampouco apresenteis os vossos membros ao pecado como instrumentos de iniquidade; mas apresentai-vos a Deus, como

redivivos dentre os mortos, e os vossos

membros a Deus, como instrumentos de justiça.

234

14 Pois o pecado não terá domínio sobre vós, porquanto não estais debaixo da lei, mas

debaixo da graça.

15 Pois quê? Havemos de pecar porque não estamos debaixo da lei, mas debaixo da graça? De modo nenhum.

16 Não sabeis que daquele a quem vos apresentais como servos para lhe obedecer, sois

servos desse mesmo a quem obedeceis, seja do

pecado para a morte, ou da obediência para a justiça? (Rom 6.11-16)

O pecado não tem domínio sobre nós quando vivemos essa verdade. Quando nos oferecemos

ao Senhor para viver na prática da justiça.

Nenhum crente deveria permanecer sob o domínio do pecado, pois já morreu para o pecado, na sua identificação com a morte de

Cristo.

Como deixaremos o governo da nossa vida à mercê de um senhor que já foi destronado?

Em Jesus mudamos de senhorio.

Temos agora um novo Senhor, e é a Ele que devemos servir.

Não ao pecado.

235

A lei já não pode mais nos condenar enquanto permanecermos ligados pela fé ao Senhor, pois,

nEle, também estamos mortos para a lei.

A vida de Jesus em nós, pela nossa comunhão real com Ele, é a nossa vitória sobre o pecado.

Podemos e devemos andar nessa nova vida, isto é, em novidade de vida.

Não devemos ficar caindo e levantando.

Há poder suficiente na graça, para manter-nos de pé na presença do Senhor.

Por isso o pecado já não tem domínio sobre nós.

Nunca devemos esquecer que fomos uma vez justificados para sermos santificados, isto é,

para podermos viver de modo digno e agradável

a Deus.

Mas, uma vez reconciliados com Deus, por meio da justificação, necessitamos dar ouvidos à

Palavra do Senhor, porque é por meio dela que Ele nos santifica (Jo 17.17).

A Sua Palavra é a verdade.

É por meio da prática da Palavra que somos santificados, a ponto e a santificação se tornar

para nós um hábito rotineiro de vida.

236

No entanto, é bom não esquecer nunca que é Deus mesmo quem aplica a sua Palavra ao nosso

coração, pela ação do Espírito, conforme

prometeu relativamente à Nova Aliança que faria através de Jesus Cristo, como vimos em Jer

31.33.

É importante destacar que o texto de Jer 31.33 se refere à impressão e inscrição de leis na mente

e no coração, na Nova Aliança.

Incorrem em erro os antinomistas, ao afirmarem que o crente está dispensado do cumprimento de qualquer lei.

Alguns, afirmam que a referência à lei está dirigida ao próprio Espírito Santo. Esta é uma

interpretação adotada por muitos, mas devemos

considerar que Jesus falou claramente que

deveríamos guardar os seus mandamentos, e não é razoável entendermos que estaria

ordenando que guardássemos o Espírito Santo.

É Ele quem nos guarda. Não possuímos a

verdade, é ela que nos possui.

Paulo afirma em Efésios que a Palavra de Deus é

a espada do Espírito.

Isto nos ajuda muito a interpretar a citada promessa, pois é de fato o Espírito Santo que

imprime a Palavra de Deus em nossas mentes e

corações.

237

Assim, não é o Espírito que é a lei, mas quem nos habilita a viver segundo o que é exigido pela lei

de Deus.

Ainda que a santificação exija a nossa contínua apresentação ao Senhor, pela oração, para que Ele nos santifique, pela ação do Espírito Santo,

mediante nossa meditação na Palavra, nunca

devemos esquecer a verdade contida em I Cor

1.30, onde se declara que Jesus mesmo é a nossa sabedoria, redenção, justificação e santificação.

É nEle que estamos santificados.

É o próprio Cristo quem nos purifica, isto é, que nos dá um coração puro, e que nos separa do

pecado que há no mundo, para que sejamos

úteis nas mãos de Deus na obra de salvação dos pecadores (estamos no mundo mas não somos

do mundo).

Quando a Sua vida se manifesta em nós, sabemos em nosso espírito que fomos tomados

da plenitude da Sua santidade.

É Aquele que é Santo que nos torna santos.

“16 Eles não são do mundo, assim como eu não sou do mundo.

17 Santifica-os na verdade, a tua palavra é a verdade.” (Jo 17.16,17)

Veja que é Deus quem nos santifica pela Palavra.

238

“7 Portanto santificai-vos, e sede santos, pois eu sou o Senhor vosso Deus.

8 Guardai os meus estatutos, e cumpri-os. Eu sou o Senhor, que vos santifico.” (Lev 20.7,8)

Não podemos portanto, atribuir ao nosso próprio esforço, o resultado e o mérito da santificação.

Não teremos qualquer santidade de vida caso não preservemos a nossa comunhão com o

Senhor.

É Ele quem nos santifica.

Todavia somos chamados a tomar posse do Reino Deus, mediante esforço.

Não lutando com armas carnais para vencer o pecado, o mundo e o diabo, mas permanecendo na santificação do Espírito pela prática da

Palavra e da comunhão com Cristo, e com os

santos.

Se é pela santificação que experimentamos e participamos da vida de Deus, então ela é absolutamente essencial à salvação.

“22 Mas agora, libertos do pecado, e feitos servos de Deus, tendes o vosso fruto para

santificação, e por fim a vida eterna” (Rom 6.22)

239

“3 Porque esta é a vontade de Deus, a saber, a vossa santificação: que vos abstenhais da

prostituição,

4 que cada um de vós saiba possuir o seu corpo em santidade e honra,”(I Tes 4.3,4)

“14 Segui a paz com todos, e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor,

15 tendo cuidado de que ninguém se prive da

graça de Deus, e de que nenhuma raiz de amargura, brotando, vos perturbe, e por ela

muitos se contaminem;

16 e ninguém seja devasso, ou profano como Esaú, que por uma simples refeição vendeu o

seu direito de primogenitura.”(Hb 12.14-16)

“11 Quem é injusto, faça injustiça ainda: e quem está sujo, suje-se ainda; e quem é justo, faça justiça ainda; e quem é santo, santifique-se

ainda.” (Apo 22.11)

Temos aprendido que Jesus mesmo se tornou da parte de Deus para nós a nossa sabedoria,

redenção, justiça e santificação.

Ele disse que aquele que se alimentar dEle mesmo, por Ele viverá. Que o Seu sangue é verdadeira bebida e que a Sua carne é

verdadeira comida. Isto é uma referência à Sua

própria vida.

240

O Antigo Testamento afirma que a vida da carne é o sangue (Lev 17.11,14). Isto era uma referência

que apontava que a nossa vida depende da vida

do Senhor..

Ora, a Nova Aliança foi feita no sangue de Jesus. Isto quer significar: na Sua própria vida.

É por meio da vida dEle que temos vida.

“56 Quem come a minha carne e bebe o meu

sangue permanece em mim e eu nele.

57 Assim como o Pai, que vive, me enviou, e eu vivo pelo Pai, assim, quem de mim se alimenta,

também viverá por mim.” (Jo 6.56,57).

“5 Eu sou a videira; vós sois as varas. Quem permanece em mim e eu nele, esse dá muito

fruto; porque sem mim nada podeis fazer.” (Jo

15.5)

Na ilustração da videira verdadeira o Senhor está se referindo à vida e à frutificação. E afirma

que sem Ele nada podemos fazer a esse respeito.

Então, o que o crente necessita para viver na verdadeira vitória (Rom 8.37), é viver em Cristo.

Alimentar-se de Jesus, da Sua própria vida.

Ele é o pão vivo que desceu do céu e que nos faz viver a qualidade da vida abundante, da vida

espiritual, celestial e eterna.

241

“47 Em verdade, em verdade vos digo: Aquele que crê tem a vida eterna.

48 Eu sou o pão da vida.

49 Vossos pais comeram o maná no deserto e morreram.

50 Este é o pão que desce do céu, para que o que dele comer não morra.

51 Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se alguém comer deste pão, viverá para sempre; e o pão que eu darei pela vida do mundo é a minha

carne.

52 Disputavam, pois, os judeus entre si, dizendo: Como pode este dar-nos a sua carne a comer?

53 Disse-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: Se não comerdes a carne do Filho do

homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis

vida em vós mesmos.

54 Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna; e eu o ressuscitarei no

último dia.

55 Porque a minha carne verdadeiramente é comida, e o meu sangue verdadeiramente é bebida.

56 Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele.

242

57 Assim como o Pai, que vive, me enviou, e eu vivo pelo Pai, assim, quem de mim se alimenta,

também viverá por mim.

58 Este é o pão que desceu do céu; não é como o caso de vossos pais, que comeram o maná e

morreram; quem comer este pão viverá para sempre.” (Jo 6.47-58)

243

O Que é a Antiga Aliança

A Antiga Aliança ou Antigo Testamento

recebe também as seguintes designações na

Bíblia: Primeira Aliança (Hb 8.7); Lei de Moisés (I Cor 9.9); Lei do Senhor (II Cr 31.3,4): Lei de

Deus (Ed 7.21); Lei (Rom 3.19); Aliança da Letra (II

Cor 3.6); Ministério da Morte (II Cor 3.7), e

Ministério da Condenação (II Cor 3.9).

Foi celebrada por Deus com a nação de Israel quando esta foi libertada do cativeiro egípcio (cerca de 1440 aC).

A Antiga Aliança abrangia todos os israelitas em todas as gerações de Israel, de Moisés até a

morte de Jesus, e por isso, possuía também um

caráter essencialmente coletivo quanto às

aplicações das suas promessas de bênçãos (Lev 26.3-13; Dt 7.12-26; 11.8-32; 28.1-14), e de

maldições (Lev 26.14-42; Dt 11.26-28; 27.26; 28.15-

68).

Apesar do caráter essencialmente coletivo daquela aliança, a mesma não excluía a

responsabilidade individual de cada israelita perante Deus (Dt 24.16; Ez 18.20).

Mas, à responsabilidade pessoal, sobrepunha-se a coletiva, com vistas principalmente, à

manutenção da unidade de Israel como nação

separada para o serviço de Deus, e para

244

preservá-la da idolatria e costumes pagãos das

demais nações.

Daí o mandamento que proibia o casamento de israelitas com gentios.

Não porque os demais povos fossem

desprezados por Deus, conforme os israelitas passaram a interpretar o mandamento, mas

simplesmente para preservar Israel dos

costumes das nações até que Jesus viesse e

inaugurasse a Nova Aliança.

Ao dar a lei a Israel através da mediação de Moisés, firmando com a nação a chamada

Antiga Aliança ou Testamento, Deus não tinha

em vista forjar o legalismo no seu povo, mas

forjar a justiça, o amor e a santidade, através da obediência à Sua santa vontade, expressada nos

diversos mandamentos da lei.

A palavra LEI, recebe no texto da Bíblia, diferentes conotações. Por vezes, é usada com o significado do Pacto ajustado por Deus com os

israelitas a partir de Moisés, ou seja, a Aliança

Antiga propriamente dita.

Em outras passagens, refere-se aos cinco primeiros livros da Bíblia, ou Pentateuco, também conhecidos como livros da lei de

Moisés.

Quando aparece a expressão a Lei e os Profetas, normalmente é uma referência ao conjunto das

245

Escrituras do Velho Testamento (At 13.15), ou ao

Pacto Antigo propriamente dito (Lc 16.16).

E, finalmente, em outras porções bíblicas, a palavra Lei, designa o conjunto de

regulamentos e mandamentos civis, cerimoniais e morais, constantes sobretudo do

Pentateuco.

Por exemplo, quando Jesus disse que não veio revogar a lei e os profetas (Mt 5.17), estava se

referindo às Escrituras do Velho Testamento; e

quando afirmou que a lei e os profetas haviam vigorado até João Batista (Mt 11.13; Lc 16.16), ao

Pacto, à Aliança Antiga, que estava sendo

substituída pela Nova.

246

O Que é a Nova Aliança

Ao instituir a Nova Aliança no seu sangue,

Jesus revogou a Antiga Aliança e marcou o

encerramento do período da dispensação da lei,

mas não revogou, isto é, não cancelou, as

Escrituras do Velho Testamento (Mt 5.17).

Essa questão não pode ser compreendida à luz de um enfoque legalista, pois nos remeteria

consequentemente a considerar que a Antiga Aliança ainda estaria em vigor por não terem

sido revogadas as Escrituras que lhe são

correspondentes.

Entretanto, o Velho Testamento, incluindo os preceitos relativos à Aliança, é um testemunho

da vontade de Deus e da própria revelação referente a Jesus Cristo.

Se as Escrituras dão testemunho do Senhor, como Ele as revogaria?

Se o fizesse estaria negando a Si mesmo e à obra que recebeu do Pai para realizar.

Abraão, Moisés e os profetas, falaram de Jesus. Os utensílios e ofícios do tabernáculo e do

templo ensinam-nos acerca dEle, em figura.

247

A forma como o pecado entrou no mundo e a provisão que Deus fez para salvar o pecador ali

também estão revelados.

A própria remoção do pacto antigo está revelada

nas Escrituras do Velho Testamento, atestando que de fato o problema do pecado só poderia ser

resolvido pela inauguração da Nova Aliança (Jer

31.31-34).

Vemos assim, a confirmação da validade das

Escrituras porque por elas se testifica que o Pacto Antigo foi substituído pelo Novo, e que

Jesus é o Seu Mediador, conforme nelas

também se testifica (Is 42.6,7; 49.8,9).

A Nova Aliança não foi um plano emergencial

concebido por Deus, por terem os israelitas violado a Antiga Aliança.

Em absoluto. Ela já estava no Seu coração desde antes da criação do mundo. E fora prometida a

Abraão antes mesmo da celebração da Antiga (Gên 17.1-5), tendo sido a promessa

posteriormente confirmada pelo ministério dos

profetas.

“6 Eu o Senhor te chamei em justiça; tomei-te pela mão, e te guardei; e te dei por mediador da aliança com o povo, e luz para os gentios;

7 para abrir os olhos dos cegos, para tirar da prisão os presos, e do cárcere os que jazem em

trevas.” (Is 42.6,7)

248

“6 Sim, diz ele: Pouco é que sejas o meu servo, para restaurares as tribos de Jacó, e tornares a

trazer os preservados de Israel; também te porei

para luz das nações, para seres a minha salvação até a extremidade da terra.

7 Assim diz o Senhor, o Redentor de Israel, e o seu Santo, ao que é desprezado dos homens, ao que é aborrecido das nações, ao servo dos

tiranos: Os reis o verão e se levantarão, como

também os príncipes, e eles te adorarão, por

amor do Senhor, que é fiel, e do Santo de Israel, que te escolheu.

8 Assim diz o Senhor: No tempo aceitável te ouvi, e no dia da salvação te ajudei; e te

guardarei, e te darei por pacto do povo, para restaurares a terra, e lhe dares em herança as

herdades assoladas;

9 para dizeres aos presos: Saí; e aos que estão em trevas: Aparecei; eles pastarão nos caminhos, e

em todos os altos desnudados haverá o seu

pasto.”(Is 49.6-9)

Paulo compreendeu melhor e mais rapidamente do que qualquer outro o caráter da

Nova Aliança, que estava sendo oferecida a

todos os gentios, e que os desobrigava do cumprimento minucioso das condições de

culto, ritos e todos os mandamentos civis e

cerimoniais da Lei de Moisés.

249

Um gentio não precisaria viver como um judeu, como no caso da Antiga Aliança, para que

pudesse ser aceito como integrante do povo de

Deus.

Jesus e nenhum dos apóstolos ensinaram contra a lei, pois fora outorgada pelo próprio Deus a

Moisés para vigorar como termos da Antiga Aliança, que firmara com a nação de Israel, e

para servir também de testemunho a todo o

mundo gentílico, acerca do Seu caráter e da Sua vontade.

Desta forma, nem Paulo ou qualquer outro dos apóstolos ensinou contra a lei.

Eles sabiam que a justiça que é pela fé, e operante segundo a graça, passou a se

manifestar com o advento de Jesus. Mas

também sabiam que Deus havia salvado e justificado pela graça, mediante a fé, a muitos

nos dias do Antigo Testamento.

Não foi este o caso de Abraão? A ponto de ser designado como pai dos que creem.

Mas, a Antiga Aliança foi revogada, e suas

ordenanças civis e cerimoniais já não são obrigatórias aos israelitas, com quem foi

celebrada, e muito menos aos gentios, quanto

ao seu cumprimento, bem como não é aplicável, à igreja, de forma específica, o seu

sistema de bênçãos e maldições, ritos etc, desde

a inauguração da Nova Aliança, que a revogou.

250

“Pois todos os profetas e a lei profetizaram até João.” (Mt 11.13)

“A lei e os profetas vigoraram até João; desde então é anunciado o evangelho do reino de

Deus, e todo homem se esforça por entrar nele.”

(Lc 16.16)

“e rasgou-se ao meio o véu do santuário.” (Lc 23.45)

“9 Porque, se o ministério da condenação tinha glória, muito mais excede em glória o ministério

da justiça.

10 Pois na verdade, o que foi feito glorioso, não o é em comparação com a glória inexcedível.

11 Porque, se aquilo que se desvanecia era glorioso, muito mais glorioso é o que permanece.” (II Cor 3.9-11)

“13 Mas agora, em Cristo Jesus, vós, que antes

estáveis longe, já pelo sangue de Cristo chegastes perto.

14 Porque ele é a nossa paz, o qual de ambos os povos fez um; e, derrubando a parede de

separação que estava no meio, na sua carne

desfez a inimizade,

15 isto é, a lei dos mandamentos contidos em ordenanças, para criar, em si mesmo, dos dois

251

um novo homem, assim fazendo a paz”, Ef 2.13-

15)

“18 Pois, com efeito, o mandamento anterior é ab-rogado por causa da sua fraqueza e

inutilidade

19 (pois a lei nenhuma coisa aperfeiçoou), e desta sorte é introduzida uma melhor esperança, pela qual nos aproximamos de

Deus.” (Hb 7.18,19)

“6 Mas agora alcançou ele ministério tanto mais excelente, quanto é mediador de um melhor

pacto, o qual está firmado sobre melhores

promessas.

7 Pois, se aquele primeiro fora sem defeito, nunca se teria buscado lugar para o segundo.

8 Porque repreendendo-os, diz: Eis que virão dias, diz o Senhor, em que estabelecerei com a

casa de Israel e com a casa de Judá um novo

pacto.” (Hb 8.6-8)

“Dizendo: Novo pacto, ele tornou antiquado o primeiro. E o que se torna antiquado e

envelhece, perto está de desaparecer.” (Hb 8.13)

“8 Tendo dito acima: Sacrifício e ofertas e holocaustos e oblações pelo pecado não

quiseste, nem neles te deleitaste (os quais se

oferecem segundo a lei);

252

9 agora disse: Eis-me aqui para fazer a tua vontade. Ele tira o primeiro, para estabelecer o

segundo.” (Hb 10.8,9)

Nova Aliança é designada na Bíblia como sendo As Fiéis Misericórdias Prometidas a Davi, como

se lê em Is 55.3 e Atos 13.34.

“E, que Deus o ressuscitou dentre os mortos para que jamais voltasse à corrupção, desta maneira o disse: E cumprirei a vosso favor as

santas e fiéis promessas feitas a Davi.” (Atos

13.34)

“Inclinai os ouvidos e vinde a mim; ouvi, e a vossa alma viverá; porque convosco farei uma

aliança perpétua, que consiste nas fiéis misericórdias prometidas a Davi.” (Is 55.3)

É dito no texto de Isaías (VT) que seria feita uma aliança eterna, que estaria baseada nas

misericórdias fiéis que Deus havia prometido a

Davi.

Trata-se de uma aliança de misericórdias, e misericórdias que não falharão, porque não

foram prometidas pelo homem, mas prometidas por Deus a Davi.

Esta aliança eterna, que é a Nova Aliança, que vigoraria na dispensação da graça em que temos

vivido, foi prometida em várias passagens do

Velho Testamento.

253

Davi veio a se referir a ela tanto na hora da sua morte, conforme relato de II Samuel 7.12-17,

quanto no Salmo 89, nos quais afirma a

segurança e estabilidade desta aliança prometida, bem como o seu caráter de

livramento da condenação eterna para os

aliançados, ainda que estes viessem a transgredir eventualmente os mandamentos de

Deus, porque o Senhor afirmou que corrigiria os

aliançados, mas que não deixaria jamais de estar

aliançado com eles.

O fiador, o mediador, seria o Renovo justo que brotaria do tronco de Jessé, a saber, o Senhor

Jesus, quem é Aquele que garante a eternidade da aliança.

Vejamos então, alguns textos da Bíblia que se referem à citada aliança de misericórdias, e de misericórdias fiéis que durarão para sempre, e

pelas quais nossos pecados e transgressões são

perdoados e esquecidos por Deus para sempre:

“12 Quando teus dias se cumprirem e descansares com teus pais, então, farei levantar

depois de ti o teu descendente, que procederá

de ti, e estabelecerei o seu reino.

13 Este edificará uma casa ao meu nome, e eu estabelecerei para sempre o trono do seu reino.

14 Eu lhe serei por pai, e ele me será por filho; se vier a transgredir, castigá-lo-ei com varas de

homens e com açoites de filhos de homens.

254

15 Mas a minha misericórdia se não apartará dele, como a retirei de Saul, a quem tirei de

diante de ti.

16 Porém a tua casa e o teu reino serão firmados para sempre diante de ti; teu trono será

estabelecido para sempre.

17 Segundo todas estas palavras e conforme toda esta visão, assim falou Natã a Davi.” (II Samuel 7.12-17)

Esta passagem das Escrituras registra quando a promessa foi feita por Deus a Davi através do

profeta Natã.

“20 Encontrei Davi, meu servo; com o meu santo óleo o ungi.

21 A minha mão será firme com ele, o meu braço o fortalecerá.

22 O inimigo jamais o surpreenderá, nem o há de afligir o filho da perversidade.

23 Esmagarei diante dele os seus adversários e ferirei os que o odeiam.

24 A minha fidelidade e a minha bondade o hão de acompanhar, e em meu nome crescerá o seu poder.

25 Porei a sua mão sobre o mar e a sua direita, sobre os rios.

255

26 Ele me invocará, dizendo: Tu és meu pai, meu Deus e a rocha da minha salvação.

27 Fá-lo-ei, por isso, meu primogênito, o mais elevado entre os reis da terra.

28 Conservar-lhe-ei para sempre a minha graça e, firme com ele, a minha aliança.

29 Farei durar para sempre a sua descendência; e, o seu trono, como os dias do céu.

30 Se os seus filhos desprezarem a minha lei e não andarem nos meus juízos,

31 se violarem os meus preceitos e não

guardarem os meus mandamentos,

32 então, punirei com vara as suas transgressões e com açoites, a sua iniquidade.

33 Mas jamais retirarei dele a minha bondade, nem desmentirei a minha fidelidade.

34 Não violarei a minha aliança, nem modificarei o que os meus lábios proferiram.

35 Uma vez jurei por minha santidade (e serei eu falso a Davi?):

36 A sua posteridade durará para sempre, e o seu trono, como o sol perante mim.

256

37 Ele será estabelecido para sempre como a lua e fiel como a testemunha no espaço.” (Salmo

89.20- 37)

Nesta passagem do Salmo 89, Deus fala profeticamente acerca da aliança que faria com os crentes através de Jesus Cristo.

Note a promessa que é feita especialmente nos versos 28 a 35.

“1 São estas as últimas palavras de Davi: Palavra de Davi, filho de Jessé, palavra do homem que foi

exaltado, do ungido do Deus de Jacó, do mavioso

salmista de Israel.

2 O Espírito do SENHOR fala por meu intermédio, e a sua palavra está na minha língua.

3 Disse o Deus de Israel, a Rocha de Israel a mim me falou: Aquele que domina com justiça sobre

os homens, que domina no temor de Deus,

4 é como a luz da manhã, quando sai o sol, como manhã sem nuvens, cujo esplendor, depois da

chuva, faz brotar da terra a erva.

5 Não está assim com Deus a minha casa? Pois estabeleceu comigo uma aliança eterna, em tudo bem definida e segura. Não me fará ele

prosperar toda a minha salvação e toda a minha

esperança?” (II Samuel 23.1-5)

257

Estas foram as últimas palavras proferidas por Davi, antes de morrer, e ele foi levado pelo

Espírito a falar do caráter da Nova Aliança, que

seria feita com Jesus Cristo, que descenderia segundo a carne, da sua casa, da qual se diz no

verso 5 que é eterna, e em tudo bem definida e

segura, ou seja, ela foi planejada meticulosamente por Deus para dar a

segurança da eternidade aos aliançados, a

saber, aos crentes que perseveram em Jesus

Cristo.

“32 E nós vos anunciamos o evangelho da promessa, feita aos pais,

33 a qual Deus nos tem cumprido, a nós, filhos

deles, levantando a Jesus, como também está escrito no salmo segundo: Tu és meu Filho, hoje

te gerei.

34 E, que Deus o ressuscitou dentre os mortos para que jamais voltasse à corrupção, desta

maneira o disse: E cumprirei a vosso favor as

santas e fiéis promessas feitas a Davi.” (Atos

13.34)

Este é um dos testemunhos confirmatórios do Novo Testamento de que as promessas feitas a

Davi, se referiam à aliança que é feita entre Jesus Cristo e os eleitos, e Paulo afirma

expressamente no verso 32, que tal promessa foi

a promessa do evangelho que Deus fizera aos

258

patriarcas de Israel, e neste caso,

especificamente a Davi.

Há muitas outras referências na Bíblia a esta aliança, e também especialmente ao modo

como Deus a prometeu através de Davi, dAquele

que viria a descender dele no futuro, e com o

qual o trono de Davi é estabelecido eternamente com todos aqueles que também viverão

eternamente, por estarem aliançados ao Rei

Justo que reinará com justiça pelos séculos dos

séculos.

Veja por exemplo, para finalizar, a repetição da promessa através do profeta Jeremias, cerca de

quatrocentos anos depois de Davi.

“14 Eis que vêm dias, diz o SENHOR, em que cumprirei a boa palavra que proferi à casa de

Israel e à casa de Judá.

15 Naqueles dias e naquele tempo, farei brotar a Davi um Renovo de justiça; ele executará juízo e

justiça na terra.

16 Naqueles dias, Judá será salvo e Jerusalém habitará seguramente; ela será chamada

SENHOR, Justiça Nossa.

17 Porque assim diz o SENHOR: Nunca faltará a Davi homem que se assente no trono da casa de

Israel;

259

18 nem aos sacerdotes levitas faltará homem diante de mim, para que ofereça holocausto,

queime oferta de manjares e faça sacrifício

todos os dias.

19 Veio a palavra do SENHOR a Jeremias,

dizendo:

20 Assim diz o SENHOR: Se puderdes invalidar a minha aliança com o dia e a minha aliança com a noite, de tal modo que não haja nem dia nem

noite a seu tempo,

21 poder-se-á também invalidar a minha aliança com Davi, meu servo, para que não tenha filho

que reine no seu trono; como também com os

levitas sacerdotes, meus ministros.

22 Como não se pode contar o exército dos céus, nem medir-se a areia do mar, assim tornarei incontável a descendência de Davi, meu servo, e

os levitas que ministram diante de mim.” (Jer

33.14-22)

Estas palavras foram proferidas por Jeremias no Espírito, depois de lhe ter sido revelado qual o

efeito prático de tal aliança que seria firmada conforme a promessa que Deus havia feito a

Davi:

“31 Eis aí vêm dias, diz o SENHOR, em que firmarei nova aliança com a casa de Israel e com

a casa de Judá.

260

32 Não conforme a aliança que fiz com seus pais, no dia em que os tomei pela mão, para os tirar da

terra do Egito; porquanto eles anularam a minha

aliança, não obstante eu os haver desposado, diz o SENHOR.

33 Porque esta é a aliança que firmarei com a casa de Israel, depois daqueles dias, diz o

SENHOR: Na mente, lhes imprimirei as minhas

leis, também no coração lhas inscreverei; eu

serei o seu Deus, e eles serão o meu povo.

34 Não ensinará jamais cada um ao seu próximo, nem cada um ao seu irmão, dizendo: Conhece ao SENHOR, porque todos me conhecerão,

desde o menor até ao maior deles, diz o

SENHOR. Pois perdoarei as suas iniquidades e

dos seus pecados jamais me lembrarei.” (Jer 31.31-34)

Esta promessa é repetida em várias passagens do Novo Testamento, como por exemplo em

Hebreus 8.6-13; 10.15-18.

261

A Graça Exige Perseverança

Não devemos desconsiderar o alerta de nosso

Senhor Jesus Cristo quanto à necessidade de

perseverarmos até o fim com vistas à salvação

das nossas almas.

Esta perseverança consiste sobretudo em

permanecermos na fé em santidade de vida, em todo o tempo e em qualquer circunstância.

Enquanto estiver ligado a Jesus pela fé, em comunhão com Ele, um crente não pode ser

considerado um filho maldito, como no dizer de Pedro referindo-se aos falsos mestres, que

haviam abandonado a fé (II Pe 2.14).

Há provisão suficiente no sangue derramado na cruz, para perdoar pecados.

Bem faz todo crente que os confessa e abandona em prol de manter a sua comunhão com Deus e seus irmãos em Cristo.

Não importa o tamanho da ofensa.

A misericórdia de Deus é maior do que o nosso pecado.

Pedro negou Jesus, mas foi restaurado pelo arrependimento.

262

Perigosa coisa é no entanto, o amor ao mundo, o fascínio pelas riquezas, a rejeição de uma

consciência boa pelo endurecimento produzido

pelo pecado, o abandono da comunhão dos santos, a negligência do serviço de Deus, a

negação da fé diante das tribulações, pois por

tais coisas, pode vir o crente a apostatar da fé.

“19 A todo o que ouve a palavra do reino e não a entende, vem o Maligno e arrebata o que lhe foi

semeado no coração; este é o que foi semeado à beira do caminho.

20 E o que foi semeado nos lugares pedregosos, este é o que ouve a palavra, e logo a recebe com

alegria;

21 mas não tem raiz em si mesmo, antes é de pouca duração; e sobrevindo a angústia e a

perseguição por causa da palavra, logo se

escandaliza.

22 E o que foi semeado entre os espinhos, este é o que ouve a palavra; mas os cuidados deste mundo e a sedução das riquezas sufocam a

palavra, e ela fica infrutífera.” (Mt 13.19-22)

“conservando a fé, e uma boa consciência, a qual alguns havendo rejeitado, naufragando no

tocante à fé;” (I Tim 1.19)

“1 Mas o Espírito expressamente diz que em tempos posteriores alguns apostatarão da fé,

263

dando ouvidos a espíritos enganadores, e a

doutrinas de demônios,

2 pela hipocrisia de homens que falam mentiras e têm a sua própria consciência cauterizada,” (I

Tim 4.1,2)

“4 Porque é impossível que os que uma vez foram iluminados, e provaram o dom celestial, e

se fizeram participantes do Espírito Santo,

5 e provaram a boa palavra de Deus, e os poderes do mundo vindouro,

6 e depois caíram, sejam outra vez renovados

para arrependimento; visto que, quanto a eles, estão crucificando de novo o Filho de Deus, e o

expondo ao vitupério.

7 Pois a terra que embebe a chuva, que cai muitas vezes sobre ela, e produz erva proveitosa para aqueles por quem é lavrada, recebe a

bênção da parte de Deus;

8 mas se produz espinhos e abrolhos, é rejeitada, e perto está da maldição; o seu fim é ser

queimada.” (Hb 6.4-8)

“26 Porque se voluntariamente continuarmos no pecado, depois de termos recebido o pleno

conhecimento da verdade, já não resta mais

sacrifício pelos pecados,

264

27 mas uma expectação terrível de juízo, e um ardor de fogo que há de devorar os adversários.

28 Havendo alguém rejeitado a lei de Moisés, morre sem misericórdia, pela palavra de duas

ou três testemunhas;

29 de quanto maior castigo cuidais vós será julgado merecedor aquele que pisar o Filho de

Deus, e tiver por profano o sangue do pacto, com que foi santificado, e ultrajar ao Espírito da

graça?

30 Pois conhecemos aquele que disse: Minha é a vingança, eu retribuirei. E outra vez: O Senhor

julgará o seu povo.

31 Horrenda coisa é cair nas mãos do Deus vivo.” (Hb 10.26-31)

Somos advertidos pelo autor de Hebreus quanto ao perigo da apostasia nesta dispensação da

graça, sob o argumento de que se a violação da Antiga Aliança, que foi temporária, trazia

severos juízos de Deus sobre os transgressores;

de quanto maior juízo não estarão sujeitos os

que profanarem o precioso sangue de Jesus, que foi derramado na cruz para instituir esta Nova

Aliança, em que se cumpre o propósito eterno

de Deus.

O mesmo autor refere-se à terra (homem) que recebe chuvas abundantes (graça), mas em vez

265

de produzir bons frutos, produz espinhos e

abrolhos.

Como não tem nenhuma serventia para o agricultor, por fim será queimada.

Certamente não está falando de pessoas que

esfriaram temporariamente na fé, que se desviaram por certo período, mas que não

negaram ao Senhor nos seus corações, posto

que estes poderão ser restaurados.

Mas, é muito conveniente que não se brinque

com a graça e a liberdade que temos no Senhor, desviando-nos da verdade, por se correr o risco

de se apostatar da fé definitivamente, sem que

haja cura, como apontado nas situações

comentadas nos textos que acabamos de ler.

Qual é o proveito que temos em tentar achar argumentos para afirmar que o ensino da

parábola das dez virgens e a dos talentos, não se

aplica a crentes?

Tendo em vista que a conclusão aponta para a perdição de alguns dentre os servos de Deus,

que haviam recebido azeite para suas lâmpadas,

para aguardarem o Noivo, mas permitiram, que

este acabasse, antes que Ele voltasse; e outros, que haviam recebido talentos para investir no

reino de Deus e no entanto não os aplicaram.

Qual é o proveito de se afirmar a impossibilidade da apostasia de crentes autênticos, em face de se

266

julgar que não se perde a salvação, se isto nos

conduzir a um viver negligente em relação à

vontade de Deus? Vale a pena o risco?

Qual é o prejuízo que se tem em considerar seriamente as muitas advertências bíblicas não apenas relativas à apostasia, mas que apontam

para a necessidade de se viver de modo santo e

perseverante para se agradar a Deus?

Nenhum. Não é verdade?

Ao contrário, com isto nunca se chegará a se indagar se permanecemos justificados ou não,

pois a comunhão do Espírito com o nosso

espírito, continuará testificando que somos filhos de Deus (Rom 8.16).

Guardemo-nos, entretanto, da tentação de julgarmos quem tem apostatado ou não da fé,

salvo se isto nos for revelado pelo Espírito, em

plena convicção, como se dera com Paulo no caso de Himeneu e Alexandre.

Ora, perigosa coisa é julgar a consciência alheia, tendo em vista que não podemos avaliar qual é o

trabalho que a graça está realizando em cada um

dos seus filhos.

O oleiro trabalha em cada um dos seus vasos.

A nós não foi dada a capacidade de medir a extensão deste trabalho.

267

Por isso somos convocados a olhar por nós mesmos e para nós mesmos, quanto a sabermos

se estamos ou não firmes na fé.

Uma vez tratado o problema do argueiro do nosso olho, poderemos nos voltar para tratar do

cisco dos olhos dos nossos irmãos.

A graça não nos foi outorgada para podermos pecar à vontade e depois irmos para o céu, mas exatamente para destruir o pecado na vida do

crente, de modo que possa se apresentar santo e

inculpável diante de Deus.

É lastimável vermos o barateamento de tão grande e valiosa bênção.

De constatarmos o tráfico de promessas de paz, prosperidade e segurança, onde ainda

prevalece o pecado, por parte de profetas que Deus não enviou.

A pregação que desfigura o caráter santo e justo de Deus, apresentado-o como alguém

“bonzinho”, que não se importa muito com os

nossos pecados e má conduta, está na verdade,

ensinando as pessoas a brincarem com fogo, e não com um fogo qualquer, mas um fogo

consumidor. (Hb 10.26-31; Rom 12.28,29)

“7 Não vos enganeis; Deus não se deixa escarnecer; pois tudo o que o homem semear,

isso também ceifará.

268

8 Porque quem semeia na sua carne, da carne ceifará a corrupção; mas quem semeia no

Espírito, do Espírito ceifará a vida eterna.” (Gál

6.7,8)

“25 Vede que não rejeiteis ao que fala; porque, se

não escaparam aqueles quando rejeitaram o que sobre a terra os advertia, muito menos

escaparemos nós, se nos desviarmos daquele

que nos adverte lá dos céus;

26 a voz do qual abalou então a terra; mas agora tem ele prometido, dizendo: Ainda uma vez hei

de abalar não só a terra, mas também o céu.

27 Ora, esta palavra-Ainda uma vez-significa a remoção das coisas abaláveis, como coisas criadas, para que permaneçam as coisas

inabaláveis.

28 Pelo que, recebendo nós um reino que não pode ser abalado, retenhamos a graça, pela qual

sirvamos a Deus agradavelmente, com

reverência e temor;

29 pois o nosso Deus é um fogo consumidor.” (Hb 12.25-29)

Neste particular, mais se exige de nós na presente dispensação da graça, do que dos israelitas nos dias do Antigo Testamento, pois a

vida e conduta do crente deve em muito exceder

à dos escribas e fariseus.

269

Para permanecer em Jesus é necessário praticar a justiça do evangelho. E para tanto é necessário

um viver sincero, um coração puro, uma fé não

fingida, enfim, uma vida que tem sido de fato dirigida e transformada pelo Espírito.

Os escribas e fariseus, sempre estiveram muito longe deste alvo.

Por isso a justiça do crente que é aprovado por Deus, excede em muito a dos escribas e fariseus.

Jesus foi ungido para anunciar boas novas de salvação e a curar os quebrantados de coração

(Is 61.1).

Tem portanto graça para conceder aos humildes de espírito, aos que choram, aos que têm fome e sede de justiça, aos que querem um

coração puro e serem promotores da paz.

Estes são purificados e fortalecidos pela graça.

Estes são verdadeiramente bem-aventurados; pois têm construído a casa de suas vidas sobre a

rocha.

O crente que tem sido instruído pelo Espírito sabe que foi salvo pela graça e mediante a fé,

mas sabe também que precisa meditar na Palavra do Senhor dia e noite, para amar e

praticar a sua lei, de forma que seja bem

sucedido em tudo o que fizer.

270

Como a nossa conduta deve ser regida pela Bíblia, é de suma importância não apenas lê-la,

mas interpretá-la de modo correto, para ser

aplicada à vida.

Este é um dos principais objetivos deste livro, a saber, auxiliar-nos a entender melhor as

Escrituras.

Assim poderemos apresentar-nos a Deus, aprovados, como obreiros que manejam bem a

palavra da verdade (II Tim 2.15), como espada, no combate ao inimigo de nossas almas (Ef 6.17).

Deus requer de nós a manutenção inalterada da revelação escrita, especialmente a referente ao

evangelho (Gál 1.6-9; Apo 22.18,19), exatamente

na forma pela qual nô-la entregou pela mão de homens inspirados pelo Espírito Santo (II Pe

1.21), e que foram por Ele escolhidos para tal

propósito, antes mesmo de terem chegado à existência (Jer 1.5; Gál 1.15,16).

Isto não se refere apenas à preservação do texto bíblico, como também à integridade do nosso

ensino, que deve ser em conformidade com a

exata e total revelação escrita, e não de acordo com os modismos da hora.

Jesus disse aos judeus que eles erravam por não conhecerem as Escrituras e o poder de Deus.

É importante frisar que a maioria deles sabia o Velho Testamento de cór.

271

No entanto, não tinham intimidade com o Senhor, e assim, não podiam contar com a

assistência do Espírito Santo para discernirem o

propósito e o significado da revelação escrita (I Cor 2.10-16), pois fora produzida por revelação e

inspiração do Espírito Santo.

Daí a necessidade da instrução e direção do próprio Espírito Santo para se entender e viver a

Palavra de Deus.

O apóstolo Paulo referiu-se às Escrituras como sendo o bom depósito da fé (II Tim 1.4) e recomendou aos seus cooperadores na

pregação do evangelho, que mantivessem o

padrão das sãs palavras (II Tim 1.13).

A própria Bíblia testifica de si mesma, acerca da sua autoridade divina (II Tim 3.16,17), sendo

designada por Palavra da verdade (Jo 17.17; Ef 1.13; Col 1.5; II Tim 2.15; Tg 1.18).

Jesus disse que “a Escritura não pode falhar” (Jo 10.35).

Os apóstolos dedicaram-se ao ministério da palavra (At 6.4).

Mas qual palavra?

Não a sua propriamente, mas a do evangelho, revelado por Deus desde os profetas do Velho

Testamento (Rom 1.1,2), e consumado na

272

manifestação do próprio Jesus, a encarnação da

verdade.

Jesus ordenou que vivêssemos e pregássemos o Evangelho.

Fez conosco uma Nova Aliança (Novo Testamento) no Seu sangue (Lc 22.20).

Cabe-nos por conseguinte, distinguir na Bíblia o que pertence à Boa Nova da Salvação, para atendermos ao “Ide” do Senhor, fazendo

discípulos de todas as nações, batizando-os em

nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo;

ensinando-lhes a guardar todas as cousas que Jesus nos tem ordenado, sabendo que Ele está

conosco, todos os dias até à consumação do

século (Mt 28.19,20).

273

Pregar o Evangelho a Toda Criatura

“E disse-lhes: Ide por todo o mundo e pregai o

evangelho a toda criatura.” (Mc 16.15)

Esta foi a principal ordem dada por Jesus à

Igreja.

Pregar o evangelho, ou seja, anunciar as boas novas da salvação a todas as pessoas do mundo,

em todas as épocas, até que Ele venha.

A ordem dada foi bem clara e explícita, pois a palavra evangelho, oriunda do grego, significa

literalmente mensagem, anúncio de coisas

boas.

Assim, a simples pregação da Lei e das penas da Lei divina, e as ameaças e terrores da Lei para aqueles que não obedecem a Deus, não é ainda a

pregação do Evangelho, porque isto, ou seja a

condenação do pecador não é nenhuma boa

notícia.

Ainda que a Lei do Velho Testamento tenha sido

dada à nação de Israel no período da Antiga Aliança, dela se aprende por princípio, que Deus

de fato julga e penaliza o pecado, aonde quer que

ele se encontre, e assim podemos concluir que haverá de fato um grande juízo final, no qual

todos os homens terão que prestar contas ao

Senhor.

274

Todavia, mesmo sabendo que não pregamos o evangelho, quando pregamos o juízo, e a Lei

divina, isto se faz necessário para o trabalho de

convencimento do pecado pelo Espírito, para que seja produzido o devido arrependimento

para a recepção do evangelho com a sua oferta

de salvação por meio da fé em Jesus Cristo.

O evangelho é o único bisturi espiritual que pode extirpar o câncer do pecado.

Não se deve portanto, por uma alegada compaixão, esconder das pessoas que todos são

cancerosos espirituais aos olhos de Deus, que por fim lhes conduzirá à morte espiritual

eterna, caso não sejam operados pelo bisturi do

evangelho e tratados com a quimioterapia do

céu.

Ainda que numa comparação grosseira, imaginemos alguém querendo encobrir uma

enfermidade física, por temor de que seja um

câncer. E nisto poderá ser ajudado por outras

pessoas que pensem estarem lhe fazendo um bem escondendo o diagnóstico da citada

doença.

Esta pessoa brevemente virá a falecer.

Agora, caso encarasse de frente a sua realidade e se submetesse ao devido tratamento, é bem

certo que teria grandes chances de vencer a

morte.

275

O mesmo se dá com o tratamento do evangelho.

Se o homem, tentar ser compassivo para consigo mesmo, tentando ignorar o câncer do

pecado, não poderá ser tratado pela cura que

está disponível para ele somente no evangelho

de nosso Senhor Jesus Cristo.

É preciso reconhecer a nossa doença espiritual do pecado para que possamos procurar o grande médico das almas para sermos curados por Ele.

É por isso que, quando em Lc 2.10, o anjo anunciou aos pastores: "eis aqui vos trago boa nova de grande alegria, que o será para todo o

povo; é que hoje vos nasceu na cidade de Davi, o

Salvador, que é Cristo o Senhor.", ficam em

destaque pelo menos duas grandes verdades:

1ª - A vinda de Jesus, o Senhor, ao mundo como Salvador é uma boa nova de grande alegria.

Boa nova, boa notícia, é, voltamos a repetir, o significado literal da palavra evangelho no

grego.

Uma boa notícia é algo que traz alegria, como destacado pelo anjo em sua anunciação; e no caso, não se trata de uma alegria qualquer que

está associada ao evangelho (boa nova),

mas uma "grande alegria".

O fato de aqueles que não creem no evangelho, serem condenados eternamente no inferno,

276

não é a boa nova do evangelho, que é de grande

alegria, mas a triste verdade de que qualquer

pessoa, sem Cristo, está morta em seus pecados

por causa do pecado original de Adão.

A grande alegria do evangelho é exatamente esta boa notícia de que em Cristo há salvação

desta condição de morte espiritual por causa do

pecado de Adão.

Assim, a condenação eterna faz parte da

verdade da Palavra de Deus quanto ao homem no seu estado pecaminoso, mas não do

evangelho, no seu caráter de boa nova relativa

ao livramento da referida condição.

2ª - A segunda grande verdade na anunciação do

anjo, é que esta boa nova é para todo o povo, isto é, não que todos serão salvos, mas que a

salvação em Cristo está sendo oferecida por

Deus a todas as pessoas.

O evangelho é para ser anunciado a todos e não para alguns.

Todo aquele que se arrepender dos seus pecados e crer em Cristo será salvo por dar

crédito a esta boa nova e recepcioná-la em seu

coração como verdade, pedindo a Cristo simplesmente pela fé nEle, que o perdoe dos

seus pecados e o salve da condenação eterna.

A condenação eterna é portanto consequente da rejeição desta boa nova, que é a única forma

277

do pecador se livrar da perdição eterna e se

tornar filho de Deus.

O evangelho deve ser pregado com o foco na missão de Cristo, consoante com este

evangelho, que é a de salvar e não de condenar o mundo.

O pecado, as consequências do pecado devem também ser pregados não como parte do

evangelho, mas como alerta quanto ao que

sucederá àqueles que rejeitarem a salvação que está disponível a todos em Cristo Jesus.

Cristo veio ao mundo para salvar os perdidos, e ele salva de fato a todo e qualquer pecador que

se arrepende e crê nEle.

Graças a Deus pelo seu plano de salvação, pois

sem que eu nada fizesse herdei de Adão o dom do pecado e da morte, mas também sem nada

fazer, recebi pela graça, mediante a fé, como co-

herdeiro com Cristo, o dom da santidade, da vida, da justiça.

Realmente é maravilhosa a graça de Jesus que o levou a experimentar o sofrimento, a injúria, a

morte, por amor de mim pecador.

Não foi por nenhum pecado nEle mesmo que Ele sofreu e morreu, mas por ter escolhido livremente se identificar com os pecadores,

experimentando a morte no lugar deles, a

morte que eles mereciam, a morte que era

278

deles, para que pudessem ter a dívida dos seus

pecados perdoada, e pudessem participar da

Sua própria vida divina.

Assim, há pecado no desobediente Adão, mas há justiça no obediente Cristo.

Em Adão há condenação e morte, mas em Cristo há salvação e vida.

Há morte no mundo, por causa de Adão, mas também há opção de vida em Cristo Jesus.

Há juízo para condenação no mundo, por causa de Adão, mas também há graça e livramento da

condenação, em Cristo.

Há muito mais suficiência de graça, por ser eterna e rica porque procede de Deus, do que há

pecado, porque procede do homem e está limitado ao tempo, e está destinado a ser

inteiramente destruído por Deus.

Por isso se diz que onde abundou o pecado, superabundou a graça.

Se recebemos o pecado como um dom de Adão, temos recebido também como um dom de

Cristo a Sua justiça, para que não sejamos mais

servos do pecado, mas servos da justiça.

Cristo libertou de fato o crente da escravidão do pecado pela sua fé nEle.

279

Crer nEle para a salvação é crer que a temos por causa da Sua morte e ressurreição no nosso

lugar.

Ele morreu por nós para que pudéssemos morrer para o pecado e para a condenação da lei.

Ele ressuscitou dos mortos para que possamos também ressuscitar dentre os mortos.

Pela fé somos unidos a Ele tanto no que se refere à Sua morte, quanto à Sua ressurreição e vida.

Fomos livrados do pecado para que pudéssemos ser feitos servos de Deus, da justiça de Deus.

Romanos 6.17,20 ensina claramente que o crente já não é mais escravo do pecado,

consoante o ensino de Jesus sobre esta verdade

em João 8.34-36.

Em razão da libertação da escravidão do pecado para sempre; o crente foi feito também

simultaneamente, servo da justiça para sempre, conforme se afirma em Romanos 6.18.

É por isso que agora, tendo sido feito um servo da justiça, que o crente se preocupa

permanentemente sobre o modo de vida que

agrada a Deus.

Eles sentem as dores e as consequências da quebra da comunhão com Deus quando pecam,

280

porque já não são mais escravos do pecado, e

sim da justiça.

É por isso que são convocados a servirem agora o seu novo senhor chamado justiça

(Romanos 6.19).

O pecado não tem realmente mais domínio absoluto sobre a vida do crente porque ele foi

libertado da escravidão ao pecado por Cristo.

O crente não precisa necessariamente ficar sujeito aos comandos do pecado que opera na

sua carne ordenando-lhe que desobedeça aos mandamentos de Deus, que se rebele, que

minta, furte, cobice, adultere, odeie, não ore,

não ame, que se deprima, que fique ressentido,

ansioso etc, porque o pecado já não é mais o seu senhor, como era antes de ter sido libertado

dele por Cristo.

Pois que morreu também para o pecado quando morreu juntamente com Cristo.

Pela Sua graça é impelido agora a praticar a justiça do Reino de Deus.

A justiça de Cristo que lhe ordena que ore, confie, espere, obedeça, suporte, seja sincero,

verdadeiro, honesto, fiel, que ame, seja manso,

tenha domínio próprio, descanse em Deus, não fique turbado, ansioso, magoado, ressentido,

antes que perdoe, assim como Deus o perdoou

em Cristo.

281

O crente foi livrado de um cativeiro, para outro cativeiro. Do cativeiro do pecado, para o

cativeiro da justiça.

Ser servo da justiça é ser verdadeiramente livre. Porque é nesta condição que pode agora, e poderá perfeitamente no porvir, fazer toda a

vontade de Deus.

Fazer esta vontade é ter o poder para fazer aquilo que é bom e aprovado.

É nisto que consiste a verdadeira liberdade.

A de ser e fazer aquilo que foi planejado por Deus para que sejamos e façamos.

Isto é: ser homem, ser filho de Deus, na

verdadeira acepção da palavra.

Cristo conquistou esta liberdade para os filhos de Adão caídos e cativos no pecado,

pela identificação deles, pela fé, com a Sua

morte, ressurreição e vida.

Libertados agora do pecado, são verdadeiramente livres para poderem fazer a vontade de Deus.

Daí se dizer em Romanos 6.14 que: "o pecado não terá domínio sobre vós; pois não estais debaixo

da lei, e, sim, da graça.".

282

Vemos assim quão imperioso e necessário é que cumpramos a ordem de nosso Senhor de

pregarmos o evangelho a todos em todo o

mundo, porque não há nada mais importante do que isso, que seja digno do interesse e aceitação

por todos os homens de boa vontade.

283

Uma Nova Esperança para Adúlteros e

Ladrões

Qual profeta, no período do Antigo

Testamento, poderia ter proferido as seguintes palavras que nosso Senhor Jesus Cristo disse

aos religiosos fariseus nos dias do seu

ministério terreno:

“Declarou-lhes Jesus: Em verdade vos digo que

publicanos e meretrizes vos precedem no reino de Deus.” (Mt 21.31)

Nenhum, e nem mesmo Ele nos dias em que ainda vigorava pela Sua própria determinação e

vontade a Antiga Aliança, nos dias do Velho

Testamento, porque a própria Lei divina prescrevia a morte dos adúlteros por

apedrejamento, e vigorava, também, segundo

determinação da Lei de Deus para o seu povo de

Israel, o princípio do olho por olho e dente por dente.

Então era assim que funcionava naquele período antigo, antes que nosso Senhor Jesus

Cristo viesse e inaugurasse uma Nova Aliança,

com a Sua morte na cruz.

O povo que estivesse aliançado com Deus, como era o caso exclusivo da nação de Israel, estaria

debaixo dos horrores da Lei, e das suas terríveis

sentenças contra os pecados cometidos pelos

284

israelitas; embora fossem justas, santas e boas

todas as ordenanças da Lei, e as penas que ela

prescrevia.

Hoje são os crentes que compõem o povo de Deus, por estarem aliançados com Ele, na Nova

Aliança instituída no sangue de Jesus.

É afirmado nas Escrituras que nesta Nova Aliança já não há mais nenhuma condenação para os aliançados, tal como havia na Antiga.

Os transgressores do pacto não são mortos como se dava no antigo, antes, têm os seus

pecados perdoados porque Jesus pagou

completamente toda a dívida de pecados dos aliançados.

Se na Antiga Aliança, quando o pecado de adultério era descoberto, isto implicava na

morte do adúltero, na Nova, é uma grande oportunidade para o arrependimento e se

purificar de tal pecado, quando este vem ao

conhecimento da sociedade, quer da Igreja,

quer fora dela, porque é algo muito profundo e significativo para Deus, perdoar pecados neste

novo pacto com Ele por meio de Jesus.

Ele se mostra favorável quando sai desde o profundo do coração do adúltero, através dos seus lábios, uma confissão sincera como a que

fizera o publicano: “Sê misericordioso para

comigo Deus, porque sou um mísero pecador!”.

285

Daí o apóstolo Paulo ter afirmado o que disse em II Cor 3.6-9:

“6 o qual nos habilitou para sermos ministros de uma nova aliança, não da letra, mas do espírito;

porque a letra mata, mas o espírito vivifica.

7 E, se o ministério da morte, gravado com letras em pedras, se revestiu de glória, a ponto de os

filhos de Israel não poderem fitar a face de

Moisés, por causa da glória do seu rosto, ainda

que evanescente,

8 como não será de maior glória o ministério do Espírito!

9 Porque, se o ministério da condenação foi glória, em muito maior proporção será glorioso

o ministério da justiça.”

Veja quão maravilhoso é constatar que Deus planejou e decidiu dar uma oportunidade a

todos os que se arrependerem de seus pecados,

na Nova Aliança que fez através do sangue

derramado por Jesus na cruz.

Ele não somente tem adiado o juízo final sobre os pecados para um certo Dia ainda futuro,

como também tem efetivamente esquecido as faltas e transgressões cometidas no período da

dispensação da graça, de todos aqueles que as

confessam e abandonam.

286

Isto sucede somente por causa de Jesus Cristo e das novas condições para se tratar com os que

estão aliançados com Deus, nas bases de uma

Nova Aliança.

Por isso também se afirma nas Escrituras que nada poderá separar o aliançado do amor de

Deus, que está em Cristo Jesus.

Se não havia na Antiga Aliança uma só promessa de perdão total de pecados, para os aliançados

daquele pacto antigo, a principal e melhor

promessa da Nova, é justamente este perdão

total de pecados.

Deus sempre salvou e salvará somente por graça e mediante a fé, tanto antes da Antiga Aliança,

como em sua vigência, e principalmente na

presente dispensação da graça, do Espírito, da

vida e da justiça, como se afirma no texto de II Cor 3.6-9.

É preciso aprender a interpretar fatos, especialmente aqueles que podem produzir

escândalos, segundo a perspectiva de Deus, pois aquilo que para nosso entendimento natural

pode ser considerado como trágico ou final,

pode ser para o Senhor a oportunidade de

conversão, de melhora ou de um novo começo.

Assim, feliz é todo aquele que se envergonha quando é surpreendido na prática de alguma

falta grave, como por exemplo, de furto, ou

287

adultério, e que se arrependendo, volta-se para

Deus à busca de perdão.

Nós encontramos esta perspectiva divina em encarar o pecado, no modo como nosso Senhor

Jesus Cristo atuou em relação ao perdão da

mulher adúltera citada no oitavo capítulo do evangelho de João.

Aquela mulher certamente se arrependeu, e por isso nosso Senhor agiu de tal forma para

com ela.

É daí que podemos entender porque disse aos fariseus porque publicanos e meretrizes

precederiam os mesmos quanto a entrarem no

reino dos céus.

São suas palavras em Mt 21.31,32:

“31 ... Declarou-lhes Jesus: Em verdade vos digo que publicanos e meretrizes vos precedem no

reino de Deus.

32 Porque João veio a vós outros no caminho da justiça, e não acreditastes nele; ao passo que

publicanos e meretrizes creram. Vós, porém,

mesmo vendo isto, não vos arrependestes, afinal, para acreditardes nele.”

Lembro que certa vez, numa cerimônia de casamento, eu citei que os adúlteros que

porventura se encontrassem no recinto da

cerimônia, poderiam dar graças e glórias a Deus

288

por nosso Senhor Jesus Cristo, porque, por meio

da fé nEle poderiam viver em fidelidade às suas

esposas, conforme é da vontade do Senhor, caso

se arrependessem e confiassem em Jesus Cristo.

Feliz foi todo aquele que atendeu a tal convite.

Mesmo aqueles que não se arrependeram na ocasião, e que foram surpreendidos em

flagrante adultério posteriormente, fariam

bem, em vez de permanecerem na prática do

pecado, ou então ficarem gemendo debaixo das acusações da sua própria carne, e do diabo,

deveriam voltar-se para Deus, confiando

inteiramente na Sua misericórdia, que foi

profundamente demonstrada por Jesus morrendo na cruz em nosso lugar, para que

pudéssemos ser perdoados e lavados de

qualquer tipo de pecado.

Para que possamos nos reconciliar com aqueles com os quais devemos nos reconciliar para um

relacionamento feliz e harmonioso, é necessário, antes, estarmos reconciliados com

Deus.

Quando o apóstolo Paulo afirmou em II Cor 5.17 que em Cristo, convertidos a Ele, e estando nEle,

somos novas criaturas, ele se referiu logo adiante nos versos 18 a 21, que a causa desta nova

natureza e condição foi a reconciliação com

Deus, como lemos em II Cor 5.18-21:

289

“18 Ora, tudo provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por meio de Cristo

e nos deu o ministério da reconciliação,

19 a saber, que Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não imputando

aos homens as suas transgressões, e nos confiou a palavra da reconciliação.

20 De sorte que somos embaixadores em nome de Cristo, como se Deus exortasse por nosso

intermédio. Em nome de Cristo, pois, rogamos

que vos reconcilieis com Deus.

21 Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós; para que, nele, fôssemos feitos

justiça de Deus.”

Assim, se o marido necessita se reconciliar à sua esposa, ou vice-versa, estes, devem, antes, serem restaurados na sua reconciliação com o

próprio Deus, produzindo frutos dignos de

arrependimento, que os conduza a caminharem

na luz de Jesus, que é a única forma de terem comunhão, e os seus corações efetivamente

reconciliados em amor e respeito mútuos.

Tentar fazer isto, fora de Cristo, será o mesmo que colocar remendos num tecido velho e

desgastado.

É preciso fazer tudo novo em Cristo, numa restauração que não consista em colocar-se

290

remendos, mas fazer com que todas as coisas

sejam renovadas pelo Senhor.

Lembremos que Deus não imputa o pecado onde houver sincero arrependimento por meio

da confiança no trabalho da graça de Cristo para

transformar todas as disposições do nosso

coração em disposições santas e justas.

Para o propósito da reconciliação do pecador ofensor com o ofendido, santo e justo Deus,

Jesus se tornou o Mediador, e o nosso Advogado,

por ter se oferecido como sacrifício por nós, colocando sobre Ele o pecado de todos nós, para

que pela fé nEle e no seu sacrifício em nosso

lugar, fôssemos feitos justiça de Deus.

Foi o próprio Senhor Jesus Cristo que apareceu ao apóstolo Paulo no caminho de Damasco, e

que lhe revelou a eficácia do Seu poder

transformador e habilitador para que Paulo pudesse se tornar a partir de então, amigo de

Deus, e o Senhor, seu amigo. E além disso lhe

chamou para ser ministro da mesma

reconciliação que ele havia experimentado.

Por isso afirma que tinha muita ousadia em anunciar a mensagem de reconciliação do

evangelho porque fora comissionado para ser embaixador de Cristo na terra, de modo que era

o próprio Deus que exortava através dele a todos

em todos os lugares para que atendessem ao

291

convite da reconciliação feito pelo Espírito

Santo, através de Paulo, aos seus corações.

É importante observar que o apóstolo rogou aos próprios crentes de Corinto que se

reconciliassem com Deus.

Já não haviam sido reconciliados por meio da fé em Jesus?

Sim.

Mas se faz necessário que esta posição de reconciliação seja mantida por um viver em

retidão, arrependimento e fé.

Daí a exortação do apóstolo feita aos próprios crentes.

Assim, se alguém tem pecado contra Deus e contra o seu próximo, é necessário que lhe

estendamos o mesmo convite de reconciliação

feito por Paulo.

Afinal, há eficácia no poder do Senhor em restaurar e tornar novas todas as coisas nas

vidas daqueles que confessam os seus pecados e que fixam o propósito de Lhe serem agradáveis

em tudo.

Mais do que isso, nosso Senhor conquistou para os que estão ligados a Ele, pela fé, uma salvação

segura e eterna, que não pode ser perdida.

292

Há uma figura maravilhosa no Velho Testamento, dada pelo próprio Deus com o

propósito didático de nos ensinar esta verdade,

antes que ela se cumprisse em Cristo, a saber, a firmeza, segurança e eternidade que há em

nosso Senhor Jesus Cristo e no Seu sangue, que

Ele derramou por nós na cruz.

Então vejamos:

Somente ao sumo-sacerdote de Israel, dentre tantos sacerdotes, era permitida a entrada no

Santo dos Santos do tabernáculo terreno, uma única vez por ano, e não sem o sangue do

sacrifício que deveria ser aspergido sobre a

tampa da arca da aliança, para que os pecados do

povo de Deus pudessem ser perdoados por mais um ano.

Isto indicava que somente nosso Senhor Jesus Cristo, que é sumo-sacerdote para sempre

segundo a ordem de Melquisedeque, não de um

tabernáculo terreno, mas do celestial, poderia

entrar no Santo dos Santos do céu, para fazer expiação pelo pecado de todo o povo de Deus, de

uma vez para sempre, pela oferta não de sangue

de animais, mas do Seu próprio sangue que

havia derramado na cruz.

Ele entrou além do véu que separa o Lugar Santo, do Santo dos Santos celestial, no qual

Deus Pai se encontra juntamente com os

querubins, e por isso, estes também estavam

293

representados em figura no tabernáculo

terreno.

Ali, fixou a esperança da nossa salvação como uma âncora segura e firme, que penetrou além

do véu, ou seja, a nossa salvação está ancorada

pelo próprio Senhor, no Santo dos Santos celestial, como se afirma em Hb 6.17-20.

Então, o plano de Deus na nossa salvação está firmado na imutabilidade do seu propósito,

segundo a Sua promessa feita a Abraão, para que

tenhamos forte alento e certeza da segurança

eterna que temos em Cristo, conforme se lê também em Hb 6.17-20.

Assim, quando a Bíblia fala em reconciliação por meio de Cristo, está se referindo não a algo

passageiro ou que possa ser destruído, mas a

algo firme, eterno e seguro.

Estaremos assim, ainda inseguros ou desinteressados em tal reconciliação, que é um

assunto de morte ou de vida?

O que escolheremos: a morte espiritual eterna ou a vida eterna que está em Cristo Jesus?

Se quisermos a vida, devemos então ser humildes de espírito e fazer uma confissão sincera dos nossos pecados ao Senhor, com a

firme esperança de que seremos ouvidos,

lavados e curados.

294

Ele provou até que ponto está disposto a nos perdoar ao ter morrido em nosso lugar na cruz

do Calvário.

295

O Que é a Caducidade da Letra

É por ignorância que muitos crentes incorrem

em erro ao afirmarem que toda a Palavra de Deus, conforme registrada na Bíblia, é uma letra

caduca, e se valendo da afirmação do apóstolo

Paulo na qual diz o seguinte:

“Agora, porém, libertados da lei, estamos mortos para aquilo a que estávamos sujeitos, de

modo que servimos em novidade de espírito e

não na caducidade da letra.” (Rom 7.6)

O que caducou é o que ficou antigo e ultrapassado, e a palavra “letra” deste texto é

vertida do original grego grama, do qual vem a nossa palavra gramática, sendo que grama é

sempre usado no Novo Testamento com o

significado de carta, registro, escrito, letras, e

Paulo usava esta palavra com frequência para se referir à Lei cerimonial e civil do Velho

Testamento, que constava de várias ordenanças

que se cumpriram em Cristo, como por exemplo

as leis referentes a coisas limpas e imundas, ao sacrifício de animais, dos dízimos e das ofertas

levíticas etc.

Deste modo, não se trata a uma referência aos mandamentos de Cristo do Novo Testamento,

nem sequer aos mandamentos morais da Lei de

Moisés, ou a tudo o que se pode aprender das

296

Escrituras, inclusive da própria Lei cerimonial e

civil.

Ao chamar um viver pelos mandamentos externos civis e cerimoniais da Lei de Moisés, de

letra que havia caducado, Paulo não pretendia

de modo algum, falar contra a Palavra de Deus, mas afirmar a liberdade que os crentes têm na

Nova Aliança do cumprimento das prescrições

civis e cerimoniais da Lei, como por exemplo a

circuncisão do prepúcio e de tantas outras prescrições que foram dadas por Deus a Moisés

para serem cumpridas pelos israelitas no

período do Velho Testamento.

Por isso, no próprio texto de Rom 7.6 no qual afirma a caducidade da letra, o apóstolo Paulo

afirma também a libertação dos crentes das prescrições civis e cerimoniais da Lei de

Moisés, por terem morrido com Cristo para tais

exigências da Lei, de modo a poderem viver em novidade de espírito, ou seja, na Nova Aliança do

Espírito Santo, na qual a Lei de Deus é escrita

pelo Espírito em suas mentes e corações.

Nós podemos verificar nos textos citados a seguir que realmente o apóstolo Paulo fazia uso

da palavra grega grama, que traduzimos por letra, para se referir à Antiga Aliança da Lei de

Moisés, e não ao conjunto das Escrituras

reveladas por Deus na Bíblia.

297

Assim, ao lermos tais textos, podemos verificar que ao falar em caducidade da letra Paulo não

estava dizendo que as Escrituras caducaram,

mas que já não vivem os crentes na Nova Aliança, debaixo do jugo da Lei de Moisés,

quanto aos muitos mandamentos específicos

aos quais os judeus estavam obrigados no período do Antigo Testamento.

Romanos 2:27 “E, se aquele que é incircunciso por natureza cumpre a lei, certamente, ele te

julgará a ti, que, não obstante a letra e a

circuncisão, és transgressor da lei.”

Romanos 2:29 “Porém judeu é aquele que o é interiormente, e circuncisão, a que é do

coração, no espírito, não segundo a letra, e cujo

louvor não procede dos homens, mas de Deus.”

2 Coríntios 3:6 “o qual nos habilitou para sermos ministros de uma nova aliança, não da

letra, mas do espírito; porque a letra mata, mas

o espírito vivifica.”

Aqui se diz que a letra mata porque a Antiga Aliança ou mesmo toda a Lei de Moisés não

podia gerar vida eterna conforme a Nova

Aliança em Cristo Jesus, na qual os crentes são

vivificados em espírito pelo Espírito Santo.

2 Coríntios 3:7 “E, se o ministério da morte, gravado com letras em pedras, se revestiu de

glória, a ponto de os filhos de Israel não

298

poderem fitar a face de Moisés, por causa da

glória do seu rosto, ainda que evanescente,”

Mais uma vez o apóstolo se refere à Antiga Aliança como sendo ministério da morte,

porque por ela não se podia alcançar a vida eterna, senão pelo único caminho estabelecido

por Deus para tal, a saber, pela graça, mediante

a fé.

2 Timóteo 3:15 “e que, desde a infância, sabes as sagradas letras, que podem tornar-te sábio para a salvação pela fé em Cristo Jesus.”

Aqui, Paulo chama o conjunto das Escrituras do Velho Testamento, de sagradas letras, ou seja,

ele sabia que toda a escritura do Velho

Testamento havia sido inspirada por Deus, e não se trata de um texto comum, mas sagrado, e por

isso Paulo reconhecia que a Lei é santa, e o

mandamento, santo, e justo, e bom, de modo

que, tal como ele, não devemos considerar a Palavra de Deus revelada na Bíblia, como algo

ultrapassado e que nos mata, em vez de gerar

vida.

Lembremos que as palavras de nosso Senhor Jesus Cristo reveladas na Bíblia são espírito e vida, e não mera letra.

299

O Jugo da Lei de Moisés e o de Jesus

O jugo da Lei cerimonial e civil de Moisés (não

a moral) era pesado, mas o jugo de Jesus é leve e

suave.

O motivo do jugo da lei de Moisés ser pesado residia no fato de que era imposto, como por

exemplo a obrigação de ofertas específicas e do dízimo, e o de Jesus é leve e suave, porque o seu

caráter é voluntário, porque como se diz em II

Cor 9.7: “Cada um contribua segundo tiver

proposto no coração, não com tristeza ou por necessidade; porque Deus ama a quem dá com

alegria.”.

Isto porque na Lei da Nova aliança inaugurada com a morte de Jesus, nenhum crente é

obrigado a dizimar e a ofertar, tal como na Lei de Moisés.

Mas se diz que Deus o amará se ofertar com alegria (veja, ofertar, e não dizimar), segundo o

que tiver proposto voluntariamente em seu

coração, e com alegria.

A Lei dos dízimos e das ofertas fazia parte da Lei cerimonial e civil de Moisés, que era aplicada

aos israelitas no período do Antigo Testamento,

como se vê em Malaquias 4.4:

300

“Lembrai-vos da Lei de Moisés, meu servo, a qual lhe prescrevi em Horebe para todo o Israel,

a saber, estatutos e juízos.”

Veja que se afirma que os estatutos e juízos da

Lei de Moisés, dos quais faziam parte os dízimos e ofertas obrigatórias, especialmente a de

animais para serem sacrificados como

cobertura do pecado, eram prescritos para toda

a nação de Israel, ou seja, aos descendentes de Jacó, cujo nome o Senhor havia mudado para

Israel.

É por isso que os israelitas foram repreendidos por Malaquias nos dias do Velho Testamento, com as seguintes palavras:

“8 Roubará o homem a Deus? Todavia, vós me roubais e dizeis: Em que te roubamos? Nos

dízimos e nas ofertas.

9 Com maldição sois amaldiçoados, porque a mim me roubais, vós, a nação toda.

10 Trazei todos os dízimos à casa do Tesouro, para que haja mantimento na minha casa; e

provai-me nisto, diz o SENHOR dos Exércitos, se

eu não vos abrir as janelas do céu e não

derramar sobre vós bênção sem medida.” (Mal 3.8-10)

Veja que se diz que era a toda a nação de Israel que estava roubando ao Senhor (v. 9), e que os

dízimos deveriam ser levados à casa do Tesouro,

301

ou seja, ao Templo de Jerusalém, para ser

administrado pelos levitas.

Os dízimos eram o único imposto ou taxa nos dias do Velho Testamento, para servir (como

serve a coleta de Imposto de Renda e do INSS em nosso país), para atender às necessidades

sociais da nação de Israel, especialmente dos

levitas e dos pobres, das viúvas e dos órfãos.

O propósito do dízimo não era o de empobrecer

ainda mais os pobres, mas o de assisti-los.

Por isso se diz nas páginas do Novo Testamento que o dízimo era um encargo dado aos levitas,

para ser recolhido nos dias do Velho

Testamento, ou seja, quando vigoravam os

mandamentos civis e cerimoniais da Lei de Moisés para a nação de Israel.

“Ora, os que dentre os filhos de Levi recebem o sacerdócio têm mandamento de recolher, de

acordo com a lei, os dízimos do povo, ou seja, dos seus irmãos, embora tenham estes descendido

de Abraão;” (Hb 7.5)

Veja que se diz que os levitas, tribo à qual pertenciam os sacerdotes do Velho Testamento,

tinham o mandamento de recolher os dízimos de seus irmãos israelitas.

Agora, o que se diz de nosso Senhor Jesus Cristo, como sendo o Sumo Sacerdote da Nova Aliança,

ou seja, do Novo Testamento:

302

“11 Se, portanto, a perfeição houvera sido mediante o sacerdócio levítico (pois nele

baseado o povo recebeu a lei), que necessidade

haveria ainda de que se levantasse outro sacerdote, segundo a ordem de Melquisedeque,

e que não fosse contado segundo a ordem de

Arão?”

12 Pois, quando se muda o sacerdócio,

necessariamente há também mudança de lei.” (Hb 7.11,12)

Veja que no contexto do ensino do recolhimento dos dízimos pelos levitas, o autor de Hebreus

afirma que nosso Senhor mudou a Lei civil e cerimonial de Moisés para o Seu povo da Nova

Aliança, ou seja, não apenas os crentes de Israel,

mas os de todas as nações.

Esta lei de Cristo, no assunto dos dízimos e ofertas, está baseada em II Cor 9.7, conforme já citamos anteriormente.

Nenhum líder da Igreja do Senhor está portanto, autorizado pela Bíblia, a impor o recolhimento

obrigatório de dízimos e ofertas aos crentes.

Muito menos o de fixar um valor fixo de contribuição igual para todos os membros.

Se por consentimento mútuo, para atender a alguma necessidade específica ou determinada

pelo Senhor, houver uma disposição de repartir

os custos por todos os membros da

303

congregação, de forma voluntária e com alegria,

isto será abençoado por Deus.

Todavia, a norma bíblica segue sendo a de se contribuir voluntariamente segundo o que tiver

proposto em seu coração, ou seja, cada um,

contribua com o que quiser, sem olhar para

aquilo que os demais estejam ou não contribuindo.

Veja o que o apóstolo disse a Ananias e Safira:

“3 Então, disse Pedro: Ananias, por que encheu Satanás teu coração, para que mentisses ao

Espírito Santo, reservando parte do valor do

campo?

4 Conservando-o, porventura, não seria teu? E, vendido, não estaria em teu poder? Como, pois,

assentaste no coração este desígnio? Não

mentiste aos homens, mas a Deus.” (At 5.3,4)

O problema com Ananias e sua mulher Safira não foi o de não terem atendido a qualquer

ordem no sentido de ofertarem obrigatoriamente, mas de terem tentado

enganar a Igreja dizendo que estavam ofertando

todo o valor obtido com a venda de um campo

que lhes pertencia, quando isto não era verdade.

Pedro disse que caso não tivessem ofertado, e não mentido, nada lhes teria sucedido.

304

Fechando este assunto, vejamos os seguintes textos bíblicos, para uma melhor compreensão

do que está sendo afirmado.

“Levai as cargas uns dos outros e, assim, cumprireis a lei de Cristo.” (Gál 6.2). A lei de Cristo é enfocada aqui como o novo

mandamento dado por Ele de nos amarmos uns

aos outros como Ele nos amou. Portanto,

sempre ofertaremos para assistir às necessidades daqueles aos quais amamos.

“Agora, pois, por que tentais a Deus, pondo sobre a cerviz dos discípulos um jugo que nem

nossos pais nem nós pudemos suportar?’” (At

15.10)

O apóstolo Pedro se referiu à prescrição do cumprimento dos mandamentos civis e

cerimoniais da lei de Moisés aos crentes gentios, como sendo um jugo insuportável,

como era de fato, e o qual não era cumprido

perfeitamente nem por eles próprios em seus

dias, nem por seus antepassados, tão numerosas e pesadas que eram tais prescrições

obrigatórias da Lei de Moisés.

“Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo e leve.” (Mt 11.30)

É por isso que há um grande contraste entre o jugo e o fardo de Jesus, e o da Lei de Moisés.

305

Nosso Senhor nos libertou do jugo da Lei cerimonial e civil de Moisés, e faremos bem em

permanecer nesta liberdade, para que sejamos

pessoas verdadeiramente alegres.

“1 Para a liberdade foi que Cristo nos libertou. Permanecei, pois, firmes e não vos submetais,

de novo, a jugo de escravidão.

2 Eu, Paulo, vos digo que, se vos deixardes circuncidar, Cristo de nada vos aproveitará.

3 De novo, testifico a todo homem que se deixa

circuncidar que está obrigado a guardar toda a lei.

4 De Cristo vos desligastes, vós que procurais justificar-vos na lei; da graça decaístes.” (Gál 5.1-

4)

Veja que o apóstolo Paulo chama no verso

primeiro, a Lei de Moisés de jugo de escravidão do qual os crentes foram libertados por Cristo, e

ao qual não deveriam mais se submeter,

permanecendo firmes na convicção da liberdade que têm por estarem debaixo do jugo

da graça, e não do jugo da Lei, como vemos nos

textos a seguir:

“Assim, meus irmãos, também vós morrestes relativamente à lei, por meio do corpo de Cristo, para pertencerdes a outro, a saber, aquele que

ressuscitou dentre os mortos, a fim de que

frutifiquemos para Deus.” (Rom 7.4)

306

“Agora, porém, libertados da lei, estamos mortos para aquilo a que estávamos sujeitos, de

modo que servimos em novidade de espírito e

não na caducidade da letra.” (Rom 7.6)

“Porque o pecado não terá domínio sobre vós; pois não estais debaixo da lei, e sim da graça.”

(Rom 6.14)

Os que pregam os preceitos da Lei de Moisés na Igreja de Cristo, trazem os crentes debaixo de um jugo pesado de servidão, que não é da

vontade de nosso Senhor que seus servos

carreguem, porque diz que o Seu jugo é suave e

o Seu fardo é leve, como são de fato, porque nos libertou da obrigatoriedade de cumprir todos os

mandamentos da Lei de Moisés, exceto os

mandamentos morais.

307

Fazer a Vontade de Deus é Mais do que

Cumprir a Lei Moral

De fato, agradar a Deus pelo cumprimento da

Sua vontade, consiste muito mais do que se

guardar os mandamentos morais da Lei dada a

Moisés.

É óbvio que o cumprimento da Lei cerimonial e civil do Velho Testamento, inclusive a moral,

pode ser cumprido pelo homem natural, mas somente o homem espiritual pode andar no

Espírito Santo, sendo dirigido por Ele em todo o

seu viver.

Por isso se testifica que a Antiga Aliança consistia em mandamentos carnais, porque

podiam ser guardados pelo homem natural, e

que a Nova Aliança está assentada na vida indissolúvel de Cristo nos crentes, capacitando

os crentes a viverem e a andarem no Espírito.

“14 visto ser manifesto que nosso Senhor procedeu de Judá, tribo da qual Moisés nada

falou acerca de sacerdotes.

15 E ainda muito mais manifesto é isto, se à semelhança de Melquisedeque se levanta outro

sacerdote,

308

16 que não foi feito conforme a lei de um mandamento carnal, mas segundo o poder

duma vida indissolúvel.

17 Porque dele assim se testifica: Tu és sacerdote

para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque.

18 Pois, com efeito, o mandamento anterior é ab-rogado por causa da sua fraqueza e

inutilidade

19 (pois a lei nenhuma coisa aperfeiçoou), e

desta sorte é introduzida uma melhor esperança, pela qual nos aproximamos de

Deus.” (Hb 7.14-19)

Assim, o que foi dado por Deus a Israel, para confirmar a Antiga Aliança através de Moisés,

foi a Lei escrita em tábuas de pedra.

Foi ordenado aos levitas que ensinassem a Lei a seus irmãos israelitas, para que a guardando,

fizessem a vontade de Deus naquele antigo

pacto.

Todavia, na Nova Aliança, o que foi dado por

Deus aos crentes foi a vida do próprio Cristo, pelo derramar do Espírito Santo em seus

corações, e é o próprio Espírito que gera a nova

vida nos que se tornam crentes, e é quem imprime a Lei de Deus em suas mentes e

corações, ou seja, que faz com que não apenas

conheçam, mas que cumpram a vontade de

309

Deus, como se afirma no texto de Jeremias 31.31-

34.

Jesus tem assim manifestado o Seu poder de Mestre na Nova Aliança, não apenas ensinando a Sua Lei (vontade) aos crentes, como também é

um Mestre capacitado a levá-los a cumprir o que

lhes ensina.

Vemos que também neste sentido, os crentes

não se encontram debaixo da Lei, e sim da Graça.

Eles são gerados filhos de Deus pelo poder que Jesus lhes dá, e isto não pode ser realizado por

meio da observância de mandamentos, mesmo os morais da Lei de Moisés.

Por isso se afirma que o fim, ou seja, a finalidade da Lei é Cristo, para a justiça de todo aquele que

nEle crê.

A mera sã moralidade, ainda que necessária e boa, não pode de si mesma produzir esta nova

vida do céu.

Por isso há uma convocação na Bíblia a que se busque imitar a fé dos bons líderes que demonstraram possuir a vida abundante do céu

por causa da fé, pois que se testifica que o justo

viverá da fé.

310

“7 Lembrai-vos dos vossos guias, os quais vos falaram a palavra de Deus, e, atentando para o

êxito da sua carreira, imitai-lhes a fé.

8 Jesus Cristo é o mesmo, ontem, e hoje, e eternamente.

9 Não vos deixeis levar por doutrinas várias e estranhas; porque bom é que o coração se

fortifique com a graça, e não com alimentos, que

não trouxeram proveito algum aos que com eles

se preocuparam.”(Hb 13.7-9)

A doutrina da Antiga Aliança, baseada na Lei, sendo pregada como meio de salvação, é uma

doutrina estranha à do evangelho, porque não põe em realce a graça operante de Jesus para

gerar vida nos que prestam culto a Deus, senão

apresentar várias prescrições cerimoniais que

eram figuras das realidades que se cumprem em Cristo, como a distinção entre alimentos

limpos e imundos.

Assim, a Antiga Aliança estava fadada a desaparecer no conselho eterno de Deus,

porque não fora instituída para gerar vida nos

aliançados, tal como o faz a Nova Aliança em Cristo, e que por isso, é eterna.

A implicação prática desta verdade, deste ensino é que, os que desejam ser salvos por Cristo, devem colocar a Sua confiança

completamente nEle próprio, que é o autor e o

consumador da fé que produz a salvação.

311

É Ele quem batiza com o Espírito Santo e que distribui dons espirituais aos homens.

Por isso, o principal mandamento de Cristo é que creiamos nEle.

Porque, sem ter fé nEle, nada da vida de Deus

pode ser obtido por nós.

Intensifiquemos então as nossas orações confiando não no poder da própria oração, mas

no próprio Cristo, e no Espírito Santo que

intercede por nós com gemidos inexprimíveis.

Que toda a nossa confiança esteja depositada no Capitão da nossa salvação, e nem sequer nos

meios de graça que usamos para adorá-lO e

servi-lO, quanto mais em nossas próprias

habilidades e capacitações pessoais.

Importa que toda honra e glória seja do Senhor, como se afirma no Salmo 115.

“Não a nós, Senhor, não a nós, mas ao teu nome dá glória, por amor da tua benignidade e da tua

verdade.” (Sl 115.1)

312

Como o Crente Está Morto Para a Lei?

Para redimir o homem do pecado, isto é, para

livrá-lo do seu poder que conduz à morte, Jesus

não removeu a lei, nem a maldição da lei, mas o próprio pecador de debaixo da lei e da sua

consequente maldição condenatória, de sorte

que os que não têm Jesus, ou que procuram: a)

justificar-se pelas obras da lei, permanecendo sob a maldição da lei - serão por ela condenados

(Gál 3.10); ou b) vivem sem a lei de Deus - sem lei

também serão condenados (Rom 2.12). Esta

última condição pode no entanto ser revertida, desde que creiam e sejam salvos.

Dessa forma, o judeu não tem qualquer vantagem sobre o gentio, na presente

dispensação, quando se trata de justificação

(Rom 3.9).

A lei condena o pecador à morte eterna (separação de Deus), por estar o mesmo debaixo

da sua maldição.

A graça faz com que o crente seja considerado já

morto para a sentença de morte da Lei para os seus transgressores, por causa da identificação

do crente com a morte de Jesus, que é

considerada por Deus como sendo a sua própria morte, e desta forma ele é resgatado

consequentemente da condenação e da

maldição da Lei de Moisés.

313

Isto é possível porque não está aliançado nos termos da Antiga Aliança, mas da Nova Aliança,

na qual Deus prometeu o perdão completo e

total de pecados.

“Assim também vós, meus irmãos, fostes mortos quanto à lei mediante o corpo de Cristo,

para pertencerdes a outro, àquele que ressurgiu dentre os mortos a fim de que demos fruto para

Deus.” (Rom 7.4)

“19 Pois eu pela lei morri para a lei, a fim de viver para Deus.

20 Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que

agora vivo na carne, vivo-a na fé no filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo

por mim.” (Gál 2.19,20)

“13 Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós; porque está

escrito: Maldito todo aquele que for pendurado

no madeiro;

14 para que aos gentios viesse a bênção de Abraão em Jesus Cristo, a fim de que nós

recebêssemos pela fé a promessa do Espírito.”

(Gál 3.13,14).

Em Rom 7.4 lemos que morremos para a lei, por meio do corpo de Cristo.

314

Já comentamos anteriormente, que a nossa fé em Jesus nos tornou participantes da Sua

própria morte e vida.

Como Ele não tinha pecado algum, não seria justo que morresse na cruz, porque a

consequência do pecado é a morte, mas Ele,

como já dissemos, não tinha pecado.

Assim, o Pai lançou sobre Ele o pecado de todos os homens, quando se encontrava na cruz, de

modo que todos os que haviam crido em Deus

no passado (como o caso de Abraão, Moisés etc), bem como os que viveram com Jesus nos dias do

Seu ministério terreno, e também nós, os que

temos crido, depois da Sua morte e

ressurreição, pudessem ser contados na Sua própria morte e vida, estando assim,

consequentemente, mortos para a lei e para o

pecado.

Na cruz foram desfeitos os laços que tínhamos com Adão, e ao termos levantado juntamente

com o Senhor, em nova vida, através da Sua

ressurreição, que nos permitiu participarmos da Sua vida, passamos a pertencer-lhe, por

estarmos nEle.

Como Jesus subiu aos céus, não está mais sob qualquer lei terrena, pois Ele viveu sob a lei e

morreu sob a lei, mas não ressuscitou sob a lei,

pois o que morreu, está morto para a lei.

315

Esta condição final é a mesma em que se encontra o crente, por ser participante da morte

e ressurreição de Cristo.

Um crente fiel deve obedecer às leis de seu país,

desde que estas não sejam contrárias às próprias leis de Deus, pois a justiça demanda

que se dê a César o que é de César.

Deve também obedecer e respeitar as convenções sociais para que não se torne

motivo de escândalo para o mundo.

Mais que tudo, deve viver debaixo da lei de Cristo, que é a lei do amor.

No entanto, caso venha a transgredir qualquer lei da sociedade em que vive, o que espera-se

que não ocorra, e caso isto demande qualquer

tipo de punição, nem por isso perderá a sua salvação, caso se arrependa, confesse o pecado

e restaure a sua comunhão com Deus, pois,

estando em Cristo, não pode mais ser condenado pelo Juiz dos mortos e dos vivos,

porque nEle, está morto para o pecado e para a

lei.

É por isso que podemos levar a mensagem do evangelho aos que se encontram na prisão, propondo-lhes a salvação pela fé no Salvador.

Ainda que aprisionados em seus corpos físicos, e condenados pela sociedade em que vivem,

podem ser perfeitamente justificados e

316

santificados em seus espíritos, alcançando a

verdadeira liberdade, que os livrará da

condenação vindoura.

O ladrão que se converteu na cruz é um bom exemplo disto.

317

O Espírito Santo é uma Promessa da Nova

Aliança

O derramar do Espírito Santo sobre as nações

teve início no dia de Pentecostes, quando os

apóstolos e alguns discípulos estavam reunidos

em Jerusalém (At 2.1-4;16-18).

Leia Is 32.15; 44.3; Joel 2.28,29.

Se o próprio Jesus viveu sob o poder do Espírito, o que Deus não esperará daqueles que têm se

aliançado com Ele através da fé no Seu Filho ?

Jesus esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens, e

sendo achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte de

cruz (Fp 2.7,8). Isto significa que viveu de fato

como homem, para poder morrer no lugar da

humanidade. Em razão do plano de salvação, não poderia ter vivido neste mundo na

plenitude da Sua glória divina, e no uso pleno do

seu próprio poder, pois importava que vivesse e

morresse como homem, em favor do homem. A Bíblia é bastante clara, desde as profecias do

Antigo Testamento de que Jesus não faria nada

de si mesmo em seu ministério terreno, mas viveria em total obediência ao Pai, na

dependência do Espírito Santo. Por isso, Jesus

assumiu o título “Filho do homem”.

318

Leia Is 42.1; 61.1-3; Mt 12.28; Lc 4.1, 14; At 10.38.

A Nova Aliança consiste então, sobretudo, num

viver no poder e instrução do Espírito. É Ele que cumpre o objetivo de Deus em nossas vidas.

A vida que temos em Cristo Jesus é quem nos

livra da lei do pecado e da morte. Esta vida é produzida em nós pelo Espírito. Por isso, o

apóstolo Paulo se refere à “ lei do Espírito da

vida em Cristo Jesus” como a dizer, se o pecado

e a morte são uma lei, só há uma lei superior que pode vencê-la, no caso o Espírito Santo, pois

somente Ele pode gerar a vida de Jesus em nós,

através do novo nascimento, que se segue à morte do velho homem, também por Ele

operada, e cuja obra prossegue na

santificação através da mortificação das obras

da carne para a manifestação do Seu fruto, que é amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade,

bondade, fidelidade, mansidão e domínio

próprio.

Contra o fruto do Espírito Santo na nossa vida, não há lei (Gál 5.23), pois é por meio de um andar

no Espírito que vivemos de modo agradável a

Deus.

Por isso, o maior e melhor dom prometido é o próprio Espírito Santo.

Devemos estar sempre lembrados e bem conscientes que é a própria pessoa do Espírito

Santo o maior e melhor dom que Deus

319

prometeu aos crentes. O outro Consolador que

o próprio Jesus prometeu que enviaria à Sua

Igreja para que sempre estivesse com ela.

Por isso todo ministério bem esclarecido deve pregar a Cristo, e Cristo crucificado, sem

esquecer que Jesus foi exaltado nos céus para

que recebêssemos o Espírito Santo prometido. Afinal é Ele quem nos batiza com o Espírito

Santo.

Portanto, buscar e submeter-se ao Espírito Santo é a maior maneira de se honrar a Cristo,

porque foi para este propósito que Ele morreu

por nós, de modo que justificados do pecado

pudéssemos receber a habitação e operação do Espírito em nossas vidas.

Aquele que não tem o Espírito Santo não pertence a Cristo, e portanto não é filho de Deus (Rom 8.9).

Deus nos tornou seus filhos e herdeiros pelo cumprimento da promessa de nos dar o Espírito Santo. Promessa esta que foi feita pela primeira

vez a Abraão: “

“Ora, a Escritura, prevendo que Deus havia de justificar pela fé os gentios, anunciou

previamente a boa nova a Abraão, dizendo: Em ti

serão abençoadas todas as nações.” (Gál 3.8).

320

“para que aos gentios viesse a bênção de Abraão em Jesus Cristo, a fim de que nós recebêssemos

pela fé a promessa do Espírito.” (Gál 3.14).

A bênção prometida a Abraão em Jesus Cristo é a promessa do derramamento do Espírito Santo

em todas as nações, porque é por este meio que

Deus se provê de filhos em todas as gerações.

Como a promessa do Espírito foi feita a Abraão, de que Ele seria derramado em todas as nações

da terra, naqueles que estão no descendente de

Abraão que é Cristo, daí ser dito que Abraão é o

pai dos crentes:

“Porquanto procede da fé o ser herdeiro, para que seja segundo a graça, a fim de que a

promessa seja firme a toda a descendência, não

somente à que é da lei, mas também à que é da

fé que teve Abraão, o qual é pai de todos nós.” (Rom 4.16).

É dito que Abraão é o pai da Igreja não somente por causa da fé justificadora que habitou nele e

que tem habitado em todos os crentes, mas também para que imitemos o seu exemplo de

vida obediente a Deus.

Ele foi um peregrino neste mundo, e assim deve ser a Igreja. Mas sendo peregrinos para o cumprimento da missão que recebemos da

parte de Deus, de pregarmos o evangelho em

todo o mundo.

321

Esta missão teve os seus alicerces fundados na mais remota antiguidade, antes mesmo que

a Lei fosse dada a Moisés, porque foi a Abraão,

aquele que é chamado de pai dos crentes, que Deus revelou e fez a promessa da Nova Aliança

em Jesus Cristo, pelo derramar do Espírito Santo

em todas as nações.

Sabendo que este pacto foi firmado há tanto tempo atrás, demonstrando o firme interesse

de Deus em abençoar pessoas pelo derramar do Espírito, isto não nos incentiva a consagrar

nossas vidas inteiramente ao serviço do

evangelho?

Pois é assim fazendo que muitos receberão o Espírito Santo e serão batizados no Espírito com

poder, para que possam trazer também muitos outros a experimentarem a Sua santa Presença,

de maneira que habite para sempre em seus

corações, manifestando os Seus dons espirituais e fruto, para a exclusiva glória de Deus.

O autor de Hebreus exorta os crentes à plena

diligência para que sejam imitadores daqueles que pela fé e pela paciência herdam as

promessas (Hb 6.11,12), porque nos importa

entrar no reino dos céus por meio de muitas tribulações, tal como nosso Pai Abraão foi

afligido em suas peregrinações para nos servir

de exemplo.

322

Contudo, em nossas aflições devemos lembrar que é mais do que certa a recompensa porque

quando Deus fez a promessa a Abraão de fazê-lo

o pai de numerosas nações e de abençoar todas as nações da terra no seu descendente, que é

Cristo, para que tivéssemos plena certeza da Sua

fidelidade em cumprir o que estava prometendo, Ele também jurou por Si mesmo,

de maneira que tivéssemos a garantia por meio

de duas coisas imutáveis, a primeira a própria

promessa de um Deus fiel, e a segunda, o juramento que confirmou a promessa.

“13 Porque, quando Deus fez a promessa a Abraão, visto que não tinha outro maior por quem jurar, jurou por si mesmo,

14 dizendo: Certamente te abençoarei, e grandemente te multiplicarei.”(Hb 6.13,14).

“17 assim que, querendo Deus mostrar mais abundantemente aos herdeiros da promessa a

imutabilidade do seu conselho, se interpôs com juramento;

18 para que por duas coisas imutáveis, nas quais é impossível que Deus minta, tenhamos poderosa consolação, nós, os que nos

refugiamos em lançar mão da esperança

proposta;” (Hb 6.17,18).

Deus caminhou com Abraão consolando-o em suas peregrinações, e o Espírito Santo foi dado

à Igreja para consolá-la na sua jornada neste

323

mundo, enquanto cumpre a Sua missão, que lhe

foi designada pelo Senhor, tal como Abraão

cumpriu a sua no passado, de maneira que a

partir dele pudesse formar um povo que guardasse os mandamentos de Deus, povo este,

através do qual o Messias viria a se revelar ao

mundo, para que se cumprisse a promessa de que Abraão viesse a ser o pai de numerosas

nações por meio do seu descendente, que é

Cristo (Gál 3.16).

A dispensação do Espírito é a melhor dispensação e o período mais luminoso da

história do mundo.

Devemos ter o cuidado de não cometer o mesmo pecado dos escribas e fariseus que não

reconheceram o ministério do Messias e O

rejeitaram, porque é possível estar totalmente

alheio ao fato de que há um ministério do Espírito Santo acontecendo desde o Pentecostes

ocorrido em Jerusalém, neste período que

chamamos de dispensação da graça, que

podemos também chamar de dispensação do Espírito Santo.

É de suma importância portanto, que nos inteiremos de tudo o que se refira à Pessoa e

obra do Espírito, tanto na história da Igreja como

também e principalmente em nossos próprios dias, de maneira que nos empenhemos e

sejamos achados como Seus cooperadores no

trabalho que Ele está realizando no mundo.

324

Foi o espírito de indiferença manifestado entre cristãos professos ao trabalho e ministério do

Espírito Santo nesta Sua dispensação, que

entristeceu e moveu a alma reta de John Owen; este grande e instruído homem de Deus que foi

usado por Ele para escrever um grandioso

discurso sobre a Pessoa e as operações do Espírito Santo, trabalho este que deu à Igreja

um grande e novo senso da sua

responsabilidade como também o privilégio

dela com respeito a este assunto importante, de maneira que isto veio a contribuir para o

advento de vários avivamentos do Espírito em

dias posteriores aos de Owen.

Os pastores John Fletcher, Horatius Bonar, e outros, afirmaram que limitar e desconsiderar o ministério do Espírito Santo é o maior pecado da

Igreja neste últimos dias, como foi o dos judeus

menosprezando o ministério terreno de Jesus

Cristo.

Descrevendo os efeitos do derramar da chuva abundante do Espírito na experiência pessoal de

verdadeiros crentes, Spurgeon disse o seguinte:

“é muito comum para a vida da graça que a alma

receba depois de alguns anos uma segunda visitação muito notável do Espírito Santo que

pode ser comparada à chuva posterior (serôdia).

A chuva posterior era enviada para engordar a espiga e torná-la cheia e madura, pronta para

ser colhida. Meu desejo é que todos vocês, meus

amados, que foram molhados pela chuva

325

anterior, possam também ser molhados com a

chuva posterior que fará com que sejam mais do

que cristãos comuns.”.

John Fletcher, enquanto falava da profecia de Joel, disse: “Uma promessa importante à qual

nosso Deus deu cumprimento no dia de Pentecostes, quando Ele enviou uma chuva

gloriosa no seu pequeno vinhedo, como um

penhor dos rios poderosos de justiça que

cobrirão a terra como as águas cobrem o mar.”

Assim, que nenhum crente que esteja

empenhado em orar pelo derramar de um grande avivamento, desconsidere a

importância de se empenhar na busca do poder

do Espírito, pedindo a Deus que remova o véu e

ilumine a visão de tal forma que possam descobrir não somente a sua própria

necessidade, mas para que possam ter visões

infinitamente mais amplas da abundância indizível contida na promessa que satisfaz

aquela necessidade.

Para este propósito devem lembrar que Deus tem unido inseparavelmente os ministérios da

pregação, da oração e do louvor. Especialmente

os dois primeiros. Por isso os apóstolos tomaram a firme resolução de se dedicarem com

exclusividade aos ministérios da pregação e da

oração.

326

A Igreja Primitiva pregava a Palavra em todos os lugares, mas a Palavra sempre foi precedida e

acompanhada pelo ministério de oração e

intercessão.

É importante que nos lembremos que a ministração do Espírito Santo está muito ligada

ao ministério da Palavra.

Por isso há frequentemente uma grande falta da presença do Espírito e de poder, nos cultos onde

há uma falta da Palavra pregada.

Este poder espiritual não depende da quantidade de citações bíblicas.

A grande coisa é obter a nossa mensagem de Deus e procurar saber tudo o que é dito pelo

Espírito sobre a palavra selecionada, de maneira

a obter um conhecimento completo sobre aquilo que pregaremos, de modo que tenhamos

a mente do Espírito, e não propriamente a nossa,

sendo expressada na pregação.

Devemos pedir ao Espírito que nos revele o que devemos dizer em relação à palavra que nos foi

dada, e que nos conceda uma língua de fogo para

proclamá-la.

Estejamos convictos que o ministério do Espírito é de grande glória, muito maior do que a que havia na antiga dispensação, porque o

nome de Jesus será sempre glorificado pelo

Espírito Santo.

327

Assim, onde houver um verdadeiro trabalho do Espírito nesta Sua dispensação, sempre haverá

também a manifestação da glória de Deus.

328

A Antiga Aliança Era Figura da Nova

As figuras do Antigo Testamento (sacrifícios

de animais, móveis e utensílios sagrados do

tabernáculo e do templo etc) tiveram cabal

cumprimento em Jesus.

O ofício profético de Moisés e a sua obra de libertador e legislador de Israel é tipo da obra de Jesus.

O sacerdócio de Arão é tipo do de Jesus.

O reinado de Davi é tipo do Seu reinado eterno.

Muito do Velho Testamento é figura da Sua pessoa e obra.

Podemos dizer que temos, a rigor, no velho, a promessa, e no novo, o cumprimento, a

realização. Daí ter o Senhor afirmado que não veio revogar a lei e os profetas, mas cumprir.

O fato de ser figura, não significa que a ministração sacerdotal do Antigo Testamento

não tenha importância para a igreja.

Ao contrário. Já que por tais figuras podemos aprender acerca de muitos detalhes do que se

cumpriu em Jesus e sua obra em nosso favor.

329

Por exemplo, quando estudamos os tipos de sacrifícios em Levítico (expiação – oferta pelo

pecado; consagração – holocausto; comunhão –

oferta pacífica), podemos entender melhor a abrangência do sacrifício de Jesus.

O autor de Hebreus afirmou que a lei tem a sombra dos bens vindouros.

No caso, o uso da palavra lei se refere ao Antigo Pacto propriamente dito, que foi estabelecido

com a nação de Israel, para ser a figura da Nova

Aliança, isto é, do pacto que Deus faria com as

pessoas de todas as nações, por meio de Jesus. Como figura, o primeiro seria removido, para

dar lugar ao segundo e último, cuja validade é

eterna.

“4 Ora, se ele estivesse na terra, nem seria

sacerdote, havendo já os que oferecem dons segundo a lei,

5 os quais servem àquilo que é figura e sombra das coisas celestiais, como Moisés foi

divinamente avisado, quando estava para construir o tabernáculo; porque lhe foi dito:

Olha, faze conforme o modelo que no monte se

te mostrou.” (Hb 8.4,5)

“23 Era necessário, portanto, que as figuras das coisas que estão no céu fossem purificadas com

tais sacrifícios, mas as próprias coisas celestiais

com sacrifícios melhores do que estes.

330

24 Pois Cristo não entrou num santuário feito por mãos, figura do verdadeiro, mas no próprio

céu, para agora comparecer por nós perante a

face de Deus;” (Hb 9.23,24)

“Porque a lei, tendo a sombra dos bens futuros,

e não a imagem exata das coisas, não pode nunca, pelos mesmos sacrifícios que

continuamente se oferecem de ano em ano,

aperfeiçoar os que se chegam a Deus.” (Hb10.1)

Mas, nem tudo no Velho Testamento é figura.

Muitos dos mandamentos morais da Antiga Aliança permanecem em vigor (honrar os pais,

amar ao próximo como a si mesmo, não proferir

o nome de Deus em vão, não cultuar outros deuses, não invocar mortos etc).

Outros sofreram ajustes por Jesus (quanto ao adultério (Mt 5.27-32), aos juramentos (Mt 5.33-

37), ao homicídio (Mt 5.21-26), à vingança (Mt

5.38-42) etc.

Nosso amor ao Senhor se expressa, conforme Ele próprio definiu, como obediência aos Seus

mandamentos (Jo 14.21-24).

Dentre estes, contam-se também os registrados no Velho Testamento (note-se bem: os que possam ser aplicáveis à igreja), uma vez que o

Deus do Velho é o mesmo Deus do Novo

Testamento.

331

A Finalidade da Lei

Israel, como nação, não chegou a entender que

Jesus é a nossa justiça, pois buscava a justiça que era segundo as obras da lei, e não segundo a fé.

Não chegou a entender a finalidade da lei, de lhe

conduzir a Cristo. E tropeçou portanto, na pedra

de tropeço.

A lei fora dada para convencer o homem da

impossibilidade de se obter a justificação a não ser pela graça de Deus.

Isto estava tipificado principalmente nos sacrifícios de animais que faziam parte do culto

da Antiga Aliança.

Apontavam para uma vítima vicária, sem defeito, que pudesse levar sobre si os nossos

pecados.

E o que fez Israel?

Tomou a figura como sendo a realidade para a qual ela apontava: o sacrifício de Jesus na cruz em favor dos pecadores.

A lei não é graça.

Ela não realiza a salvação de Deus.

Antes, condena o pecador.

332

Por isso Paulo chamou a Antiga Aliança de ministério da condenação (II Cor 3.9).

Pela lei vem o pleno conhecimento do pecado, ela acaba por se tornar a força do pecado (I Cor

15.56), pois o coloca em realce (Rom 3.19,20; 5.20;

7.5; Gál 3.19), ajudando a Deus no Seu propósito

de convencer-nos da necessidade de confiarmos inteiramente na Sua graça para que

Jesus possa realizar a sua obra de salvação em

nosso favor.

Como a lei, de si mesma, não pode gerar a vida eterna, e também exigia que certas tipos de

transgressões fossem punidos com a morte física, Paulo a chamou de ministério da morte (I

Cor 3.7).

Por isso, ninguém pode ser justificado por meio

da lei (II Cor 3.6-9; Rom 3.19,20; 4.1-11; Hb 8.6,7; 10.4,11; At 13.38,39; Gál 2.16; 3.1-5,10-12,21), pois a

lei é espiritual e santa, e o homem é carnal.

Apesar de não estarem em vigor as disposições relativas e exclusivas ao Antigo Pacto, nem por

isso é do propósito de Deus que seja alterado um

só jota ou til das Escrituras do Antigo Testamento, até que tudo se cumpra, pois serve

para a instrução da igreja, de modo que aprenda

acerca dos Seus atributos e caráter.

“6 Ora, estas coisas nos foram feitas para exemplo, a fim de que não cobicemos as coisas

más, como eles cobiçaram.

333

7 Não vos torneis, pois, idólatras, como alguns deles, conforme está escrito: O povo assentou-

se a comer e a beber, e levantou-se para folgar.

8 Nem nos prostituamos, como alguns deles fizeram; e caíram num só dia vinte e três mil.

9 E não tentemos o Senhor, como alguns deles o tentaram, e pereceram pelas serpentes.

10 E não murmureis, como alguns deles murmuraram, e pereceram pelo destruidor.

11 Ora, tudo isto lhes acontecia como exemplo, e foi escrito para aviso nosso, para quem já são

chegados os fins dos séculos.” (I Cor 10.6-11)

Havia, nos dias de Moisés e Josué, muitas

dificuldades no deserto, e a murmuração era uma grande tentação para a carne.

A escassez de água e comida levou muitos israelitas a murmurarem.

A fé deles na providência de Deus estava sendo sempre colocada à prova.

O Senhor nunca lhes faltou com a sua fidelidade: deu-lhes o maná, água da rocha, tornou as águas amargas de Mara em água

potável, mas mesmo assim eles murmuraram,

e muitos deles foram destruídos.

334

Em dias de grandes dificuldades como os nossos a murmuração tem se apresentado como o

pecado da hora.

Murmuramos contra as autoridades, contra o pastor da igreja, os diáconos, os irmãos em Cristo, contra o vizinho, contra o cônjuge,

contra os filhos.

Murmuramos também pela falta de coisas que julgamos essenciais. E esta é uma grande

tentação, pois vivemos numa época de muitos

serviços e produtos. Temos todo um aparato tecnológico a nosso dispor, mas não temos os

recursos suficientes para obter tudo o que nos é

oferecido pela propaganda.

Então, qual é o resultado esperado para quem vive na carne? Murmuração.

A murmuração gera amargura, e esta gera a ansiedade, e a ansiedade anula a fé, e sem fé é

impossível agradar a Deus, pois é por meio dela que temos ativada a nossa comunhão com

Cristo. E fora de Cristo estamos mortos

espiritualmente.

Paulo afirma que os que foram destruídos nos dias do Velho Testamento, quando vigorava a Antiga Aliança, o foram para nossa advertência,

quanto ao fato de que a murmuração mata, pois

põe fim à nossa comunhão com Deus.

335

A melhor coisa a fazer, se alguém se encontra neste laço, e não estava consciente disto, é

confessar ao Senhor uma a uma as suas queixas,

e pedir-lhe perdão, recorrendo à Sua misericórdia.

É certo que com isso, a paz retornará, e a pressão da adversidade cessará sobre a sua

alma.

É curioso que não há na lei de Moisés um só mandamento que proíba a murmuração, e isto é

muito importante para que consideremos até que ponto é um modo sábio de vida o legalismo,

uma vez que o Senhor julga toda a vida, ele

contempla a condição do nosso coração.

Viver insatisfeito, sem dar graças por tudo, ou seja: com gratidão em nossos corações, ofende a

pessoa de Deus, pois Ele tem sido um Pai zeloso, que cuida das nossas necessidades.

Por isso não teve Israel como inocente, e não deixou de visitar o seu pecado, e mandou Moisés

registrar os incidentes que O levou a puni-los

para nossa advertência, como que a nos dizer

que também não nos deixará impunes nesta questão.

“18 Em tudo dai graças; porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco.” (I Tes

5.18)

336

Um outro pecado citado por Paulo no texto de I Cor 10.6-11, e que dispensa maiores

comentários, é o pecado da imoralidade, que

trouxe a morte sobre vinte e três mil israelitas num só dia.

Por aí dá para ver o quanto a imoralidade desagrada ao Senhor.

Especialmente os que vivem no mundo Ocidental devem ter muito cuidado em relação

a isto porque nossa cultura tem incentivado

crescentemente, a prática da imoralidade.

“15 Não sabeis vós que os vossos corpos são membros de Cristo? Tomarei pois os membros

de Cristo, e os farei membros de uma meretriz?

De modo nenhum.

16 Ou não sabeis que o que se une à meretriz, faz-se um corpo com ela? Porque, como foi dito, os dois serão uma só carne.

17 Mas, o que se une ao Senhor é um só espírito

com ele.

18 Fugi da prostituição. Qualquer outro pecado que o homem comete, é fora do corpo; mas o que se prostitui peca contra o seu próprio corpo.

19 Ou não sabeis que o vosso corpo é santuário do Espírito Santo, que habita em vós, o qual

possuís da parte de Deus, e que não sois de vós

mesmos?

337

20 Porque fostes comprados por preço; glorificai pois a Deus no vosso corpo.” (I Cor

6.18-20)

338

Jesus Livrou o Crente do Jugo da Lei

As prescrições civis e cerimoniais da Antiga

Aliança foram chamadas de jugo pesado e de

escravidão, tanto pelo apóstolo Pedro (At 15.8-

10), quanto pelo apóstolo Paulo (Gál 5.1-4).

Não no sentido de que fossem uma coisa ruim, pecaminosa, pois no dizer de ambos, a lei é santa

boa e perfeita, mas algo demasiadamente

trabalhoso para ser cumprido (distinção entre

coisas limpas e imundas – animais, alimentos; lavagens cerimoniais; diversos tipos de

sacrifícios de animais e outros tipos de ofertas;

circuncisão; festas religiosas; etc), que havia

vigorado até que Cristo viesse.

Desde a morte e ressurreição de Jesus, nem os gentios, nem os próprios judeus, estão mais

obrigados a carregar tal jugo.

Ao se referir à separação do cristianismo do judaísmo, por se tratarem de alianças

amplamente distintas, Paulo disse aos gálatas que foi “para a liberdade que Cristo nos

libertou” (Gál 5.1).

Antes de tudo, libertou tanto os crentes quanto as igrejas, na Nova Aliança, de um sistema

religioso repleto de rituais e cerimônias, como

era o caso da Antiga Aliança.

339

Havia necessidade de uma determinação legal de cobrança de dízimos e ofertas, especialmente

para a administração dos serviços do templo, e

pagamento e sustento de levitas e sacerdotes.

No entanto, isto, sabidamente, em nada contribuiria para a santificação dos levitas e

sacerdotes, em razão da fraqueza da natureza humana (carne), e foi principalmente por este

motivo que havia tanta corrupção no ofício dos

levitas e dos sacerdotes.

Nenhum sistema religioso, por mais exigente que seja, não pode, de modo nenhum, promover

a santidade de coração dos que se congregam de tal forma institucional.

É preciso uma aliança não meramente administrativa, mas sobretudo do trabalho do

Espírito Santo nos corações, conduzindo os fiéis a uma verdadeira santidade e comunhão com

Deus.

Foi por isso que a opção dos gálatas pelo judaísmo, com sua pregação da necessidade da

circuncisão para a salvação, bem como a

negação da necessidade da fé em Cristo, para obtenção da justificação pelas obras da lei (Gál

2.16; 3.1-5), levou Paulo a chamá-los de

insensatos, pois estavam aceitando que o

evangelho fosse pervertido (Gál 1.6,7).

Ainda hoje, quando alguém oculta o caráter da obra que Jesus realizou em favor do pecador, e a

340

necessidade da novidade de vida em que devem

andar todos quantos foram regenerados (que

nasceram de novo), faz por merecer a mesma

imprecação proferida aos que induziam os gálatas ao erro: “seja anátema”. (Gál 1.9)

O argumento dos judaizantes, provavelmente, se firmava no fato de ter o próprio Jesus vivido

sob a lei de Moisés, cumprindo-a integralmente, e que com isso, estaria dando

um exemplo para ser seguido pela igreja.

Mas, quanto a isto, devem ser considerados pelo menos os dois aspectos a seguir:

1º - Jesus deveria cumprir a lei com vistas à nossa justificação (Mt 5.17), porquanto era necessário

que em tudo fosse obediente ao Pai, inclusive no

tocante ao cumprimento da lei, para que a sua

própria justiça pudesse ser imputada aos que nEle cressem (Rom 5.19), por ter morrido sob a

lei no nosso lugar.

2º - A Nova Aliança só seria inaugurada após a morte de Jesus, posto ter sido estabelecida com base no seu sangue, que seria derramado na

cruz, e até aquele momento, Jesus, como

qualquer outro judeu, estava obrigado ao

cumprimento de toda a lei (Lc 22.20; Hb 9.11-18).

“Semelhantemente, depois da ceia, tomou o cálice, dizendo: Este cálice é a nova aliança em

meu sangue, que é derramado por vós. (Lc 22.20)

341

Quando o apóstolo João disse que a lei foi dada por intermédio de Moisés, mas que a graça e a

verdade vieram por meio de Jesus (Jo 1.17),

estava se referindo à Antiga e à Nova Aliança.

É fora de qualquer dúvida que aludia a coisas distintas entre si.

E ainda que tal distinção, não configure o que é fundamental em termos de contraste, podemos citar que a Nova Aliança não possui

uma prescrição variada de rituais e de

regulamentos cerimoniais, como a Antiga

Aliança possuía, e conforme está registrado nas páginas do Velho Testamento.

A Nova Aliança apresenta apenas dois

cerimoniais (ceia e batismo), e nem alude sequer quanto à forma de se realizar a

ministração de ambos.

Não poderíamos fechar esta seção do presente livro sem fazer menção aos capítulos 4 e 5 de

Gálatas, nos quais Paulo faz uma comparação

entre a Antiga e Nova Aliança, notadamente neste aspecto de que a Antiga representava

servidão ao jugo da Lei, e a Nova, liberdade em

Cristo.

342

Breve Comentário de Gálatas 4

Os falsos apóstolos que haviam fascinado os

gálatas transitavam como mestres da Lei, pessoas entendidas nos assuntos relativos ao

Deus que havia se revelado a Israel, e agindo

falsamente em nome dos apóstolos que estavam

em Jerusalém, sem estarem autorizados por eles, ou mesmo que isto fosse do seu

conhecimento, afirmavam que estavam

defendendo em nome deles a Lei de Moisés que

Paulo estava desprezando.

Veja a sutiliza dos argumentos do diabo. Paulo não estava falando contra a Lei, mas apenas

dizendo que ela havia sido dada para propósitos

completamente diferentes do relativo à justificação dos pecadores, ainda que

contribuísse até mesmo para este propósito

conduzindo os pecadores a Cristo, por

convencê-los acerca do pecado e da santidade que é devida a Deus.

Mas como Paulo havia demonstrado claramente que a Lei era apenas um servo de

um propósito muito maior, a saber, conduzir os pecadores a Cristo, então os falsos mestres

estavam se jactando de um conhecimento sem

entendimento, porque não conseguiam discernir o plano de salvação de Deus e mesmo

qual foi o Seu propósito quando estabeleceu a

Antiga Aliança.

343

Eles haviam tropeçado na Rocha de escândalo (Rom 9.33; I Pe 2.8) porque a confiança deles

estava na sua mera religiosidade e não

propriamente em Deus e na Sua vontade, tanto que eles haviam rejeitado a Cristo, e a promessa

que foi feita a Abraão, por causa do seu orgulho

nacional que os levava a crer que eram superiores a todos os homens e que o mero

ritualismo da lei que eles seguiam e que haviam

adulterado de várias maneiras era o padrão a ser

seguido para se agradar a Deus.

Quanta ilusão e engano havia da parte deles!

Eram na verdade guias cegos, nuvens sem água, mestres sequer da Lei que eles fartamente

transgrediam, mas mesmo assim, eles se

consideravam a luz e a esperança dos gentios, e não nosso Senhor Jesus Cristo.

As palavras que Paulo usou em Romanos 2 e 3, para se referir a estes judeus bem definem os

sentimentos e pensamentos deles a que nos

referimos.

“Mas é judeu o que o é no interior, e circuncisão a que é do coração, no espírito, não na letra; cujo

louvor não provém dos homens, mas de Deus.”

(Rom 2.29).

“29 É porventura Deus somente dos judeus? E não o é também dos gentios? Também dos

gentios, certamente,

344

30 Visto que Deus é um só, que justifica pela fé a circuncisão, e por meio da fé a incircuncisão.

31 Anulamos, pois, a lei pela fé? De maneira nenhuma, antes estabelecemos a lei.” (Rom

3.29-31).

À luz destes ensinos nós podemos ver quão iludidos estavam os judaizantes por se

considerarem os depositários de uma revelação melhor (a da Lei), que a do Evangelho de nosso

Senhor Jesus Cristo.

Porque dá-se exatamente o oposto, conforme Paulo estava demonstrando na sua

argumentação junto aos gálatas.

O Israel de Deus era menino debaixo da Antiga Aliança, mas debaixo da Nova o Israel de Deus,

que é o Seu povo remido, chegou à maturidade

espiritual, porque lhes foi revelado claramente todo o conselho de Deus relativo à salvação dos

pecadores. E a Sua graça tem sido derramada

abundantemente nesta nova dispensação.

Além disso estava determinado por Deus que a Antigo Aliança seria transitória, como de fato

foi, e a Nova é eterna (II Cor 3).

Mas o orgulho nacional do judeu não lhe permitia enxergar isto.

Como poderia um pagão, ainda que se convertesse a Cristo, pensar que poderia ser

345

superior aos judeus, que eram descendentes de

Abraão?

Como poderiam saber mais acerca de Deus se foi ao povo de Israel que Deus revelou a Sua

Palavra?

Deste modo, os falsos apóstolos judeus estavam impressionando os gálatas com estes

argumentos.

E foram tão convincentes nisto que eles se voltaram da graça para a Lei de Moisés, para

tentar fazer inultimente dela o meio da sua salvação.

Por isso Paulo disse aos gálatas que eles não deveriam esquecer que Jesus também era judeu

e que havia nascido sob a Lei, e que se fez

homem, sendo gerado no ventre de uma mulher, exatamente para o propósito de

cumprir perfeitamente a Lei que nós não

podemos guardar de tal forma perfeita, para que pudesse remir aqueles que cressem no Seu

nome.

O ato de remissão é um ato de compra de liberdade, de resgate de uma propriedade que

estava hipotecada.

Somente Jesus obteve méritos suficientes diante de Deus e era rico o suficiente para poder

pagar tão alto preço que nenhuma riqueza deste

mundo ou do universo poderia pagar, e nem

346

todos os anjos que se encontram sem pecado no

céu.

Somente Ele poderia morrer por todos os homens, porque o Salvador deles não somente

deveria expiar a culpa deles, como também ser o Cabeça destes remidos sustentando-os em

santificação pela própria força do Seu poder.

Quem dentre os homens e os anjos seria suficiente para isto?

O Salvador dos eleitos deveria ter riquezas e

poder suficientes para tornar a todos eles herdeiros de Deus, e para poder também batizá-

los com o Espírito Santo prometido.

Ora, sabemos que o Espírito Santo é a terceira pessoa da trindade, assim, Ele é também divino,

e qual dos anjos é superior ao Espírito de maneira que pudesse ter a presunção de tê-lo

debaixo da missão de honrá-los e de falar

somente aquilo que recebesse deles, assim como faz em relação a Cristo?

Nós vemos então que ninguém mais poderia ter morrido no lugar dos pecadores senão nosso

Senhor Jesus Cristo, porque até mesmo na

trindade estão claramente definidas as funções tanto do Pai, quanto do Filho, quanto do Espírito.

Então temos diante de nós um plano de salvação perfeitamente ordenado e planejado, e os

judeus estavam desconsiderando inteiramente

347

este plano de Deus, para afirmarem aquilo que

julgavam ser tal plano pela exclusiva

imaginação deles.

Não admira que sejam chamados de guias cegos pelo Senhor.

Por conseguinte Jesus nos resgatou até mesmo da Antiga Aliança, porque caso Ele não viesse

para revogá-la, os judeus permaneceriam ainda debaixo dela, e os gentios de todas as nações,

permaneceriam também nas densas trevas da

ignorância, e sem Deus no mundo.

E todos os que são resgatados pela fé, não o são

para uma relação de servidão à Lei como a maioria dos judeus na Antiga Aliança, porque

não conheciam de fato ao Senhor apesar de

fazer parte do povo da Aliança, mas para uma

relação filial, porque em Cristo todos os crentes são filhos de Deus, o que se comprova pelo fato

do Espírito Santo, que move os seus corações e

lábios a chamar a Deus de Pai, e tendo a

convicção firme e espiritual que é de fato o Pai deles, porque testifica juntamente com os seus

espíritos que todos os que foram remidos em

Cristo são verdadeiros filhos de Deus.

Santo Agostinho disse que todo homem tem certeza da sua fé, se ele tiver fé.

E assim se dá com os crentes, eles têm certeza da sua filiação, se são de fato nascidos de novo

348

pelo Espírito sendo filhos de Deus de fato e de

direito, conforme os méritos de Cristo.

De modo que dizemos que são filhos não por merecimento, mas por direito, porque Jesus comprou tal direito na cruz não com os mérito

dos crentes, mas com os Seus próprios méritos.

Paulo chama a Lei cerimonial e civil do Antigo Testamento, e a própria Antiga Aliança de rudimentos fracos que os gálatas queriam

servir.

Eles eram pagãos antes de terem vindo a Cristo, isto é, não tinham nenhum conhecimento sobre

a vontade revelada de Deus nas Escrituras, e não eram contados em suas nações com o povo de

Israel, que era a única nação com a qual Deus

estava aliançado no Velho Testamento.

Não que Ele esteja agora propriamente aliançado com todas as nações da terra, mas na

dispensação da Lei nenhuma outra nação se

encontrava debaixo do regime teocrático, senão

Israel, de modo, que naquele tempo todas as demais nações eram consideradas pagãs.

Cada uma destas nações serviam aos seus falsos deuses, até que Cristo veio, e muitos destes

pagãos se converteram ao Deus vivo e verdadeiro, como foi o caso dos gálatas, de

maneira que deixaram os falsos deuses deles

para servirem unicamente ao Senhor que eles

349

passaram a conhecer pessoalmente pela

revelação do Espírito Santo em seus corações.

Mas ainda que alguns deles ou a maioria deles, apesar desta experiência pessoal com Deus, não

O conhecessem da maneira pela qual convém ser conhecido através de um amadurecimento

espiritual em santificação que nos habilita a

conhecer melhor qual é o Seu caráter e a Sua

vontade, no entanto todos os filhos de Deus, sem uma única exceção, são perfeitamente

conhecidos por Ele (II Tim 2.19).

Por isso, no ato de se voltarem para os rudimentos fracos da Antiga Aliança, tendo

uma vez sido revogados por Cristo, eles eram

mais indesculpáveis do que os próprios judeus, porque, afinal, não haviam sido educados nos

costumes deles.

Eles serviam a ídolos, e conheceram a santidade do Senhor pelo Espírito e pela palavra do

Evangelho, e agora estavam deixando uma

adoração espiritual, na liberdade do Espírito, por uma adoração cerimonial que se baseava

em guardar dias, meses, épocas e anos sagrados.

É provável que estivessem guardando as festas dos tabernáculos, o sábado sagrado com todas

as suas prescrições cerimoniais previstas na Lei de Moisés, e todas as demais festas e

celebrações judaicas, pensando que a salvação

de suas almas dependia disso.

350

Há movimentos denominados de congressos de santidade em nossos dias que estão afirmando a

necessidade do cumprimento destas

prescrições cerimoniais da Lei de Moisés para que os crentes possam ser santificados.

Eles incorrem no mesmo erro dos judaizantes fascinando o povo de Deus tanto quanto os

judaizantes haviam fascinado os gálatas, com

práticas errôneas de adoração na presente dispensação, porque tudo isto é uma afronta à

graça de Cristo, e ao seu trabalho de Redentor

que nos livrou para sempre do jugo da Lei, para que nos regozijássemos na liberdade que

conquistou para nós com tão alto preço.

Os judaizantes erravam por afirmar a guarda da Lei cerimonial para a justificação e estes

modernizantes erram por afirmarem o uso da Lei para a santificação.

Afinal qual é a eficácia destes usos para purificar o coração?

Qual é o poder do ritual para aumentar a nossa fé, amor, misericórdia e diligência?

Substituiremos a adoração verdadeira que é adoração dO que é invisível, pelo uso de coisas que são visíveis?

A verdadeira fé necessita de apoio do que é visível, uma vez que ela é a firme convicção do

que não se vê?

351

Não é pela fraqueza da carne, e por uma falta de andar verdadeiro na Palavra e no Espírito que

todas estas coisas são praticadas?

Afinal, não afirma nosso Senhor que a

verdadeira adoração é em Espírito?

A repreensão do apóstolo aos gálatas também se aplica a estes, e eles fariam bem em atentar para

ela e se arrependerem, abandonando de vez os

rudimentos fracos que foram abolidos por

Cristo na cruz.

Todo este cerimonial aponta para a Lei e dá honra à Lei. Aponta para a Antiga Aliança e

despreza a Nova. Exalta a Moisés e rebaixa a

Cristo. E todo crente instruído pela Palavra e

pelo Espírito abominará tais práticas e não poderá adorar a Deus na liberdade do Espírito.

Deus é espírito e deve ser adorado somente em espírito. Deus é verdade e deve ser adorado

somente em verdade. E a graça e a verdade foram trazidas por Cristo, de modo que não se

sirva mais a Deus nas bases de um antigo pacto

que Ele revogou.

Lembremos que Deus nunca prometeu salvar qualquer pessoa pela observância religiosa de cerimônias e rituais.

Aqueles que confiam em tais coisas servem um deus, que é a própria invenção deles, e não o

verdadeiro Deus.

352

O verdadeiro Deus tem isto para dizer: Nenhuma religião me agrada por meio da qual o

Pai não é glorificado pelo Filho.

Portanto, o que eles fazem, nesta nova dispensação não é obediência à Lei de Moisés, porque esta exigência já passou, mas idolatria,

porque não é culto direcionado àquilo que Deus

tem determinado para a Nova Aliança, mas

simples prazer carnal em realizar cerimônias e rituais não para obediência e aprazimento de

Deus, senão dos próprios desejos carnais deles.

Mas o pecado dos gálatas era ainda maior do que o destes dos chamados grupos de busca de

santidade baseada nos cerimoniais e rituais da Lei, porque estes como dissemos buscam

adorar a Deus e se santificarem por este meio, e

os gálatas procuravam prioritariamente usar

disto para serem justificados, isto é, para obterem a salvação que a maioria deles já havia

conquistado pela graça, mediante a fé em Cristo

Jesus.

E que nem mesmo a desobediência deles poderia desfazer, mostrando assim que a

salvação em Cristo não é um rudimento fraco, como o de estar aliançado nos termos da Antiga

Aliança, porque todo crente é nascido do

Espírito, é filho de Deus por adoção, e está firme e seguro na graça que o salvou, porque a sua

justificação não depende dele próprio senão

dAquele que o salvou, e que carrega nos Seus

353

próprios ombros todas as ovelhas que estavam

perdidas.

Por isso Paulo rogou humildemente aos gálatas, como um pai que insta com seu filho perdido, a

voltarem ao mesmo bom caminho em que andavam antes da sua perdição.

Ele havia desabafado no verso 11 dizendo que estava perplexo com o que eles haviam feito, e

receava então que não tivesse trabalhando em

vão em relação a eles.

Mas como que logo lembrando imediatamente da condição deles de terem sido feitos filhos de

Deus, tal como ele havia sido feito também, ele desce ao nível deles, não no que se refere ao

pecado, mas da miséria deles, e por um

momento também se sente miserável com eles,

ante a impotência de poder fazer por si mesmo algo em relação a eles, de modo que todo o seu

trabalho e cuidado por eles não se tornasse

infrutífero.

Assim, ele lhes fez recordar quão grande era o afeto que eles tinham por ele quando lhes

pregou o evangelho pela primeira vez, e como eles lhe haviam tratado tão bem, mesmo diante

da sua fraqueza na ocasião, provavelmente em

razão de alguma possível enfermidade, pois ele lhes diz que eles estavam dispostos até mesmo,

se possível fora, a arrancarem os seus próprios

olhos para darem ao apóstolo, podendo isto ser

354

uma referência a alguma enfermidade que

Paulo tivera nos olhos quando anunciou o

evangelho pela primeira vez na Galácia.

Ou isto foi o resultado de ferimentos produzidos pelo apedrejamento que ele havia sofrido dos

judaizantes naquela região.

O livro de Atos conta detalhes do que ocorreu ao apóstolo quando pregava o evangelho nas

cidades da Galácia (Perge, Derbe, Listra,

Antioquia da Psídia e Icônio).

Em todo o caso, não importa qual era o tipo de fraqueza, e sabemos que não era nada relativo a

pecados, porque se o fora o apóstolo não teria poder para ministrar a eles, e pecado não é

fraqueza mas rebelião.

Aquela fraqueza quanto à sua incapacidade e impotência pessoais, serviram aos propósitos de

Deus, porque o poder de Cristo, a Sua graça, se

aperfeiçoam na nossa fraqueza. De modo que

quando somos fracos então é que somos fortes, porque trocamos a nossa incapacidade pelo

poder do Espírito Santo, que nos assiste nas

nossas fraquezas.

Deste modo, Paulo chamou os gálatas de irmãos. Ele quis demonstrar que apesar de apóstolo de

Cristo ele não se envergonha de chamá-los de irmãos, desde o maior até o menor deles,

porque efetivamente o eram, assim como o

nosso Salvador também não se envergonha de

355

nos chamar de irmãos, apesar de ser o nosso

Senhor.

No amor cristão as diferenças se dissolvem. Na comunhão da lareira de Deus o pai é igual aos

filhos, e se tornam todos servos de Deus e

irmãos uns dos outros, porque esta será a

condição definitiva que todos os filhos de Deus terão no céu.

Assim como Cristo se rebaixou deixando a

glória dos céus, por amor dos eleitos, também devemos nos humilhar para que possamos ser

úteis àqueles que se encontram em miséria

espiritual.

Não devemos lhes falar do alto da nossa autoridade e importância, porque

esmagaríamos a cana quebrada e apagaríamos o

pavio fumegante, e certamente não é este o ministério do Senhor Jesus neste mundo,

porque tem se compadecido das nossas

misérias.

Quando o próprio Paulo havia pregado o evangelho a eles pela primeira vez, os gálatas

superaram por causa do seu amor a ele, a tentação que foi para eles vê-lo naquela

fraqueza.

Eles não o desconsideraram e nem o desprezaram como possivelmente estavam

fazendo agora, por causa dos argumentos dos

judaizantes, porque procuravam por todos os

356

meios desqualificar e rebaixar o apóstolo diante

dos seus olhos, afirmando que se fosse

verdadeiro ministro de Cristo não estaria sujeito

a tantas tribulações, fraquezas e perseguições, conforme costumava ocorrer com Paulo.

Estes falsos apóstolos se gloriavam das suas honrarias, das suas posses e conquistas

terrenas, alegando que eram bênçãos de Deus

por observarem a Lei de Moisés.

E agora os gálatas não haviam conseguido vencer a tentação de considerar Paulo alguém

que não era bem sucedido segundo os padrões

do mundo.

Assim, devem ter se escandalizado não

meramente em Paulo, mas principalmente no próprio Cristo, considerando-Lhe incapaz de

muar as circunstâncias de Paulo para melhor. E

isto não passava de um juízo carnal.

Por isso Paulo rogou que eles voltassem a ser como foram no princípio. Que não julgassem

segundo a aparência, e que não interpretassem

as tribulações como prova de um possível

desfavor de Deus.

Um verdadeiro amigo prevenirá o seu irmão que estiver errando, e se o irmão errado tiver algum

senso ele agradecerá ao seu amigo.

Na verdade o mundo odeia quem fala a verdade, e este é considerado um inimigo.

357

Mas entre amigos não deve ser assim, muito menos entre cristãos.

O apóstolo queria que os gálatas soubessem por que ele lhes tinha falado a verdade, para o próprio bem deles, e que não pensassem que ele

os repugnava.

Ele lhes falou a verdade porque os amava.

“17 Eles têm zelo por vós, não como convém;

mas querem excluir-vos, para que vós tenhais zelo por eles.

18 É bom ser zeloso, mas sempre do bem, e não somente quando estou presente convosco.

19 Meus filhinhos, por quem de novo sinto as dores de parto, até que Cristo seja formado em

vós;

20 Eu bem quisera agora estar presente convosco, e mudar a minha voz; porque estou perplexo a vosso respeito.” (Gál 4.17-20).

O apóstolo alerta aos gálatas sobre as reais intenções do judaizantes.

Eles protestavam que tudo o que estavam fazendo era por causa do zelo deles em relação aos gálatas.

Mas Paulo lhes disse qual era a real motivação por detrás daquele suposto zelo: eles odiavam a

358

doutrina de Paulo e queriam jogá-la fora da vida

dos gálatas. Eles queriam afastar os corações

deles do coração de Paulo. Eles queriam em

última instância afastá-los de Cristo.

Eles agiam movidos por inveja porque lhes incomodava o modo como o evangelho

avançava rapidamente no mundo, ganhando muito mais adeptos do que o judaísmo, que nos

dias de Jesus havia se transformado numa

religião pervertida baseada em mandamentos de homens, enfatuados em sua compreensão

carnal.

Enquanto a mensagem dos judaizantes estava completamente afastada da revelação das

Escrituras, o cristianismo nos dias de Paulo

seguia fielmente esta revelação, e o evangelho

estava plenamente em conformidade com tudo o que os profetas do Velho Testamento haviam

falado da parte de Deus a respeito dele.

Então que zelo era aquele que os judaizantes afirmavam ter pelos gálatas?

Aquilo que parecia um grande zelo era na verdade ausência de sinceridade e amor à verdade. E é costume dos sedutores insinuarem

muito afeto pelas pessoas, somente com a

intenção de ganhá-las para as causas deles.

Eles as adulam, e envolvem-nas com apelos emocionais e sentimentais, e procuram agradá-

las dando-lhes aquilo para o qual a natureza

359

delas está inclinada, sem levar em conta se estas

coisas estão em conformidade com a vontade

revelada de Deus.

O diabo não se importa nem um pouco em concordar com todos os nossos desejos e em

estimular a realização de todos os nossos

sonhos.

Neste sentido ele é o maior amigo dos pecadores, só que o que ele faz é agravar ainda

mais a miséria espiritual deles, e a culpa pelos seus pecados.

Ele usa sempre a mesma estratégia do Éden,

pois promete mundos e fundos, tal como fez descaradamente até com o próprio Jesus na

tentação do deserto.

Foi a mesma velha Serpente que prometeu onisciência divina a Adão e a Eva, e que

procurou se mostrar mais amigo deles do que o

próprio Deus, dizendo-lhes que eram livres e

deveriam fazer um bom uso da liberdade deles fazendo tudo o que desejassem, inclusive comer

do fruto da árvore do conhecimento do bem e do

mal.

Ele não disciplina, não cura feridas com remédios amargos, antes sempre sinaliza o que

é doce e agradável, promete riquezas, fama e honrarias, e não são poucos os que caem nos

seus laços vitimados pelas suas próprias cobiças

pecaminosas.

360

Então o trabalho do diabo é basicamente este de estimular a própria natureza decaída do homem

a pecar e a se desviar da verdade, não

importando que a Palavra de Deus seja transgredida e que os autênticos ministros que

Deus tem levantado para nos servir sejam

feridos por nossas ingratidões e rebeliões.

Foi assim que o diabo agiu no céu quando da sua queda e ele tem procurado ardorosamente

discípulos na terra entre os homens que estejam dispostos a seguir os seus passos.

O que os gálatas haviam feito então foi um ato de rebelião contra a verdade revelada, para seguirem após o diabo, virando as costas para o

Senhor que lhes havia salvado.

Deste modo, todo zelo verdadeiro deve ser

sempre zelo pelo bem (Gál 4.18), e um zelo sincero e bem disciplinado que exista não

somente na presença dos homens, mas em

todas as ocasiões da nossa vida, porque não é zelo para agradar a homens, mas para agradar a

Deus. Assim como um bom empregado é aquele

que tudo faz bem sem que o patrão esteja

presente.

O sentimento de Paulo em relação aos gálatas era o de que ele necessitaria gerar de novo neles

a vida de Cristo.

Isto não seria necessário quanto à regeneração, porque eles eram nascidos de novo pelo

361

Espírito, e por isso Paulo os chama de “meus

filhinhos”. Mas que eles necessitavam ser

renovados na Palavra da verdade, na vida e no

andar no Espírito, certamente isto era necessário em face do procedimento deles.

Isto era algo que havia deixado o apóstolo inteiramente perplexo. Eles haviam se afastado

da verdade em muito pouco tempo.

Todo pastor deveria ser como Paulo no esforço de formar Cristo no coração dos seus ouvintes.

Assim todo pastor é um pai espiritual que forma

Cristo nos corações dos seus ouvintes.

Os Gálatas haviam perdido a forma de Cristo, mas Paulo estava dizendo que estava disposto a

reformar Cristo neles, isto é, a formá-lo de novo

em seus corações.

Paulo expressa que gostaria de fazer isto estando presente entre eles, e mudando o seu

tom de voz, porque em face do arrependimento

que visse neles à medida que lhes expusesse

estas coisas, ele mudaria também o tom de suas palavras repreensivas.

Ele preferiria fazê-lo realmente com outro tom de voz porque é muito doloroso para todo pai ter

que corrigir duramente os seus filhos, à altura da gravidade dos erros que eles cometeram,

mas todo pai amoroso sempre abaixará o tom da

sua voz quando perceber um sincero

362

arrependimento no filho que se submeteu à sua

repreensão.

“21 Dizei-me, os que quereis estar debaixo da lei, não ouvis vós a lei?

22 Porque está escrito que Abraão teve dois filhos, um da escrava, e outro da livre.

23 Todavia, o que era da escrava nasceu segundo a carne, mas, o que era da livre, por promessa.

24 O que se entende por alegoria; porque estas são as duas alianças; uma, do monte Sinai,

gerando filhos para a servidão, que é Agar.

25 Ora, esta Agar é Sinai, um monte da Arábia, que corresponde à Jerusalém que agora existe, pois é escrava com seus filhos.

26 Mas a Jerusalém que é de cima é livre; a qual é mãe de todos nós.

27 Porque está escrito: Alegra-te, estéril, que não dás à luz; Esforça-te e clama, tu que não estás de parto; Porque os filhos da solitária são

mais do que os da que tem marido.

28 Mas nós, irmãos, somos filhos da promessa como Isaque.

29 Mas, como então aquele que era gerado segundo a carne perseguia o que o era segundo

o Espírito, assim é também agora.

363

30 Mas que diz a Escritura? Lança fora a escrava e seu filho, porque de modo algum o filho da

escrava herdará com o filho da livre.

31 De maneira que, irmãos, somos filhos, não da escrava, mas da livre.” (Gál 4.21-31).

Paulo demonstra nesta seção da epístola que o que estava ocorrendo com os gálatas era o

mesmo que havia ocorrido entre Ismael e

Isaque, filhos de Abraão, porque Ismael

zombava de Isaque porque era filho da mulher livre (Sara), e ele, filho de uma escrava (Agar).

De igual modo, os dois povos que haviam se

formado como descendência de Abraão, o terreno (Israel na Palestina) e o celestial (os

crentes) estariam na mesma condição relativa a

Isaque e Ismael, pois os que nasceram como

povo no Sinai, onde a Lei foi promulgada e Deus fez aliança com este Israel terreno através de

Moisés, viria a perseguir o povo nascido pela

aliança firmada no sangue de Jesus derramado no monte Sião, e cuja pátria não é a Jerusalém

terrena, mas a Jerusalém celestial.

Então não era nada surpreendente que aqueles judeus estivessem perseguindo a Igreja de

Cristo para sujeitá-la à escravidão da Lei.

Os gálatas deviam estar bem inteirados disto de maneira que entendessem qual era a verdadeira

natureza do assédio que estavam sofrendo da

parte dos judeus.

364

Deus havia profetizado que colocaria Israel em ciúmes com os gentios, porque em face do

endurecimento deles ele estenderia a salvação

aos gentios, e eles não concordariam, do ponto de vista religioso deles, que pagãos pudessem

ser aceitos por Deus, ainda que se convertendo

a Ele, fora dos termos da Aliança que havia sido feita no monte Sinai.

“19 Mas digo: Porventura Israel não o soube?

Primeiramente diz Moisés: Eu vos porei em ciúmes com aqueles que não são povo, Com

gente insensata vos provocarei à ira.

20 E Isaías ousadamente diz: Fui achado pelos que não me buscavam, Fui manifestado aos que

por mim não perguntavam.

21 Mas para Israel diz: Todo o dia estendi as minhas mãos a um povo rebelde e

contradizente.” (Rom 10.19-21).

Assim, como no dizer de Paulo, Agar e Sara representam alegoricamente duas alianças, duas dispensações diferentes.

Uma que gera filhos para servidão (Agar) porque não são nascidos segundo a promessa de Deus,

tal como fora Isaque.

E a Jerusalém terrena gerou filhos para servidão na Antiga Aliança, isto é, debaixo da Lei, porque

não havia naquela aliança nenhuma promessa

365

de Deus relativa à vida eterna, tal como há na

Nova.

Deus salvou naquela dispensação também pela graça, mediante a fé, mas não por alguma

promessa que houvesse naquela dispensação

para os que faziam parte da Antiga Aliança.

As promessas que encontramos nos profetas do Velho Testamento neste sentido se referem à

Nova Aliança que ainda seria inaugurada com a

morte de Jesus.

Elas apontavam para o futuro, e assim Agar, que é a Antiga Aliança não poderia jamais gerar um

Isaque, senão um Ismael, porque o filho da promessa foi prometido a Sara, a esposa daquele

que tinha as promessas a saber, Abraão.

A igreja é a noiva de Cristo, e é nEle que se cumprem as promessas de Deus relativas à vida

eterna celestial.

É em Cristo, que é o Isaque da Igreja, que se

cumpre a promessa de Deus de gerar filhos espirituais contados na Sua descendência. Deste

modo, os que não descendem de Cristo, não

podem ser contados como filhos de Deus, como verdadeiros judeus. Assim, quanto à geração de

filhos pela promessa divina, Isaque foi também

um tipo de Cristo na Antiga Aliança.

366

Aqueles que são nascidos por promessa são filhos da mulher livre (Sara que representa a

Jerusalém celestial).

Estes e somente estes podem contar com a liberdade porque nasceram por promessa, tal

como Isaque, da mulher estéril e que Deus

tornou abundantemente fecunda para trazer

muitos filhos espirituais à luz.

A Jerusalém celestial ainda não foi manifestada, e pode-se dizer dela que é uma mulher estéril,

por ora, tal como Sara, mas no momento

aprazado pelo Senhor ela estará cheia de filhos, filhos que viverão eternamente, porque o que

Deus tem prometido, cumprir-se-á a seu tempo.

Os judeus, que ainda hoje permanecem com seus filhos, resistindo à Aliança da Graça, por

estarem apegados à justiça da Lei, permanecem em estado de escravidão e não conhecerão a

liberdade dos filhos de Deus caso não se

convertam voltando-se para Cristo.

Enquanto isto, os gentios que não conheciam a revelação de Deus estão se convertendo pelo

mundo afora porque são filhos da promessa, e

vivem na liberdade do Evangelho, e não sob o

jugo da Antiga Aliança.

Devemos considerar que aqueles que são das obras da Lei, ainda em nossos dias, perseguem

aqueles que vivem na graça de Cristo.

367

Os próprios crentes legalistas são assassinos da graça, e apesar de livres, agem como se fossem

escravos porque querem viver debaixo da Lei,

não sabendo que em Cristo não estão mais debaixo da Lei e por isso não devem viver

debaixo dela, colocando-se debaixo de um jugo

do qual foram livrados pela promessa que Deus fez acerca dos seus filhos gerados na Nova

Aliança.

Deste modo ninguém se surpreenda caso encontre grande resistência da parte destes

legalistas, toda vez que pregar e ensinar a

doutrina da graça.

Eles têm pavor da liberdade da graça porque suas consciências são fracas e eles temem servir

a Deus na liberdade do Espírito.

Eles encontram na Lei um certo senso de segurança. Eles temem perder o mérito e louvor

pessoal pelo esforço próprio, pensando que

guardam todos os mandamentos, e não lhes agrada transferir toda a glória e louvor à graça

de Cristo.

Eles se sentem melhores e superiores a muitos comparando-se com eles, e não poderiam fazer

isto vivendo na graça, senão somente na Lei.

Eles fazem um uso inadequado da Lei, fora dos propósitos que Deus designou para ela, e

perseguirão movidos ou não pelo diabo, todos

aqueles que estiverem desfrutando da graça,

368

sob a falsa alegação de uma injusta acusação de

que exageram demais os méritos de Cristo, e a

depravação da natureza terrena.

Eles não gostam de ouvir a verdade que a graça faz de que são pecadores necessitados da misericórdia divina.

Não lhes agrada ouvir que sem Jesus nada poderão fazer, porque eles se iludem que tudo o

que se refere à vontade de Deus são eles

próprios que fazem, e é o dever deles fazê-lo, só

que são como Ismael e não como Isaque. São como Agar e não como Sara.

A Jerusalém deles é terrena e não celestial. E em vez de olharem o monte Calvário em Sião,

agrada-lhes mais voltar suas atenções ao Sinai,

uma vez que lhes agrada mais o pensamento de

um mediador como Moisés, que deixa muito para ser feito por eles, do que um Mediador

como Cristo, que nada deixou para ser feito por

eles nos assuntos relativos à sua redenção,

justificação, regeneração e até mesmo santificação.

Dizemos até mesmo santificação porque até nossas boas obras dependem da graça do

Senhor, porque é Deus quem realiza em nós

tanto o querer quanto o efetuar, de modo que podemos dizer como Paulo que trabalhamos

muito para o Senhor, todavia não nós mas a Sua

graça.

369

Na verdade, nada podemos fazer de nós mesmos para Deus, porque somos completamente

insuficientes para sequer vencer os poderes

espirituais que se levantam contra nós quando nos dispomos a fazer a Sua santa vontade, e

muito menos para reproduzirmos a vida

abundante de Jesus Cristo.

370

Breve Comentário de Gálatas 5

“1 Estai, pois, firmes na liberdade com que Cristo nos libertou, e não torneis a colocar-vos debaixo do jugo da servidão.

2 Eis que eu, Paulo, vos digo que, se vos deixardes circuncidar, Cristo de nada vos

aproveitará.

3 E de novo protesto a todo o homem, que se deixa circuncidar, que está obrigado a guardar

toda a lei.

4 Separados estais de Cristo, vós os que vos justificais pela lei; da graça tendes caído.

5 Porque nós pelo Espírito da fé aguardamos a esperança da justiça.

6 Porque em Jesus Cristo nem a circuncisão nem a incircuncisão tem valor algum; mas sim a

fé que opera pelo amor.

7 Corríeis bem; quem vos impediu, para que não obedeçais à verdade?

8 Esta persuasão não vem daquele que vos chamou.

9 Um pouco de fermento leveda toda a massa.

371

10 Confio de vós, no Senhor, que nenhuma outra coisa sentireis; mas aquele que vos inquieta, seja

ele quem for, sofrerá a condenação.

11 Eu, porém, irmãos, se prego ainda a circuncisão, por que sou, pois, perseguido?

Logo o escândalo da cruz está aniquilado.” (Gál

5.1-11).

Tendo argumentado no capítulo anterior quanto à liberdade que os crentes têm em Cristo

por serem filhos da promessa, da Jerusalém celestial, por terem sido libertados em Cristo da

condenação e da maldição da Lei, é dever deles

viverem para Cristo, não como escravos, mas como livres que são.

O crente é livre até mesmo da escravidão do seu próprio ego, da sua própria vontade, porque é

livre para poder escolher e viver segundo a vontade de Deus pelo poder do Espírito.

Portanto, uma vez que os gálatas retornassem à

obediência à verdade do Evangelho deveriam ter o devido cuidado de não retornarem a cair na

mesma sedução que lhes havia vencido e

removido da liberdade em que se encontravam, para serem sujeitados ao jugo de servidão que

lhes foi imposto pelos judaizantes.

A perseguição do filho da escrava ao filho da livre não é sem propósito, pois os que são

escravos querem também escravizar outros a

eles próprios.

372

Há poderes terríveis operando no mundo espiritual, e eles disputam pelo governo total de

nossas vontades e espíritos.

A carne sempre tentará trazer o crente de novo

à sujeição total que exercia sobre ele, quando andava no mundo sem Cristo.

O mundo também faz o mesmo tentando cativar totalmente a vontade e os afetos do crente nos

tesouros terrenos, sejam eles lícitos ou não.

Satanás, o diabo, dispensa comentários quanto a

isto, quer agindo diretamente, quer usando os seus ministros que se transfiguram em

ministros de justiça, para enganar os crentes.

A liberdade com que Cristo nos libertou é muito ampla, mas Paulo tem em mente aqui nesta

seção de Gálatas, a liberdade relativa ao jugo da Lei que havia sido colocado pelos judaizantes

sobre os crentes gálatas.

Aprouve a Deus salvar e libertar os pecadores através da fé, conforme revelou ao profeta Habacuque (2.4). Então a mensagem de salvação

e libertação do evangelho é a pregação da fé e

não das obras da Lei.

Nós não devemos evangelizar alguém que esteja a ponto de passar desta vida para outra, em seu leito de enfermidade, dizendo-lhe que se deseja

ir para o céu deve circuncidar o seu prepúcio, ou

então que deve guardar todos os dez

373

mandamentos da Lei de Moisés, ou qualquer

outra coisa diferente de que deve confiar apenas

em Cristo como seu Salvador, arrependendo-se

dos seus pecados, e crer no seu coração que Ele é o Senhor.

Se as forças lhe permitirem deve confessá-lo com a sua boca invocando o Seu nome, porque

Deus prometeu salvar todo aquele que

invocasse o nome do Seu Filho para que seja salvo.

É importante frisar que Paulo não estava combatendo a circuncisão como se ela fosse um

mal, pois poderia ser mantida por costume por

todo crente judeu que assim o desejasse, mas que este não pensasse nem de longe que há

alguma eficácia espiritual no ato da circuncisão

seja para que propósito for, muito menos para a

justificação.

Todo crente que não obedecesse isto, e

colocasse a sua confiança que o modo de agradar a Deus seria pela simples circuncisão do

prepúcio ou por qualquer outro expediente

carnal, segundo Paulo, estava com isto dando

uma prova do seu afastamento da comunhão com Cristo por esta grande ofensa feita a todo o

grande trabalho de expiação e redenção que Ele

fez em nosso favor, para que tributássemos a Ele e somente a Ele toda a glória por todos os atos

que foram operados em nós, relativos à

salvação, e uma declaração formal expressa de

374

que não desejamos depender dEle para

progredirmos em nosso amadurecimento

espiritual.

Estes muitos evangelhos que não ensinam que Cristo é o tudo da nossa salvação, e que é olhando sempre para Ele com os olhos

espirituais da fé, que progredimos

espiritualmente, sempre produzirão este efeito

de nos separar da comunhão com o Senhor, ainda que afirmemos que é em Seu nome que

nos submetemos às práticas que são estranhas

ao evangelho.

Uma vez estando separado da comunhão com o Senhor, por se entristecer e apagar a atuação do

Espírito Santo, com este pecado de ingratidão e de desconsideração para com Ele e com tudo o

que fez por nós, a consequência imediata é a de

se decair da graça, ou seja, ficar privado do

crescimento na graça, e das consolações da graça pelo Espírito.

A propósito, faremos bem em considerar que a graça não é uma filosofia, mas um poder, na

verdade, o maior poder operante neste mundo,

porque é por ela que se destrói o pecado, e que

se transforma progressivamente pecadores em santos, pelo processo da santificação.

Como o objetivo dos gálatas era o de serem justificados pela circuncisão, Paulo lhes

lembrou que isto era muito pouco ou quase

375

nada, porque segundo a justiça da lei, para a

justificação, é necessário cumprir

perfeitamente todos os demais mandamentos e

isto continuamente por toda a vida. E temos demonstrado anteriormente que isto é uma

tarefa impossível, porque o homem é pecador.

Nós não estamos tratando agora de um assunto sem importância. É uma questão que envolve

liberdade perpétua ou escravidão perpétua.

Porque a libertação da ira de Deus pelo ofício

amoroso de Cristo não é um benefício transitório, mas uma bênção permanente,

assim como o jugo da Lei, para os que

permanecem debaixo da maldição da Lei, por

não terem sido libertados por Jesus, não é um temporário mas uma aflição perpétua.

Contudo os gálatas haviam sido encantados e estavam cegos quanto a esta verdade que lhes

havia sido ensinada, mas na qual eles não haviam ficado firmes. Eles não permaneceram

firmes na graça, e decaíram da graça. Porque

não há outro modo de permanecer na graça a

não ser o de ficar firme nela, sem se deixar remover na mente ou no espírito, dando crédito

a doutrinas que afirmam o oposto da nossa

segurança em Jesus.

Este descaimento, como afirmamos anteriormente é consequente da desonra que se

dá ao poder do Senhor e à Sua graça, quando se

376

pensa que há outro modo de se agradar a Deus a

não ser pela fé.

A falta de fé naquilo que Deus tem afirmado é incredulidade, e isto é um pecado terrível.

Deixar de crer naquilo que a boca de Deus tem

proferido para se dar crédito ao homem ou ao diabo, é falta de fé, e é por isso que Paulo afirma

que é pelo Espírito da fé que aguardamos a

esperança da justiça, isto é, esta fé é operada

pelo Espírito, de modo que temos plena esperança da justiça (Gál 5.5) que temos

recebido em Cristo Jesus, e vale destacar que a

noção bíblica de esperança não é incerteza quanto ao futuro, mas segurança de que

receberemos tudo o que Deus nos tem

prometido. E Paulo afirma que não é ser judeu

ou gentio que tem qualquer valor, mas ter esta fé que opera pelo amor (Gál 5.6).

O amor é sobretudo a união do crente com Cristo que é a fonte do amor. Isto significa então que não é possível ter fé à parte da comunhão

com Cristo.

E se os gálatas estavam se desligando de Cristo para se ligarem aos judaizantes e ao ensino

pervertido deles, que fé eles poderiam ter?

Como uma fé que não atuava pelo amor poderia

aumentar?

Tal como a igreja de Éfeso citada em Apocalipse, os gálatas haviam abandonado o seu primeiro

377

amor, e como a igreja de Laodiceia tinham

deixado Cristo do lado de fora dos seus corações

batendo à porta para que se arrependessem.

O Senhor estava fazendo exatamente isto, através da epístola que Paulo escreveu aos

Gálatas.

Jesus mesmo o inspirou a isto para buscar as Suas ovelhas que haviam fugido do aprisco. O lobo tinha-lhes atacado e não poucas estavam

muito feridas.

A perplexidade de Paulo em relação aos gálatas estava fundada no fato de que eles vinham

correndo bem a carreira cristã, eles estavam progredindo na fé, e de repente, por terem

permitido serem removidos da sua própria

firmeza por darem ouvido aos judaizantes,

ficaram paralisados e impedidos de continuar a carreira que vinham efetuando.

Nós já citamos no início deste comentário que qualquer igreja está sujeita a isto, e os crentes

devem vigiar constantemente contra este perigo, especialmente os ministros do

evangelho, de modo que todo o trabalho que

tiverem realizado não seja perdido num instante

por um vento de falsa doutrina.

Lembremos que a nossa luta não é contra a carne e o sangue, mas contra Satanás que

semeia o joio do erro enquanto dormimos, isto

378

é, quando descuidamos na nossa vigilância e

diligência.

Paulo esclareceu aos gálatas que quem lhes havia persuadido àquela insensatez que eles

haviam cometido não fora o Senhor que os

chamou, mas o diabo através dos seus instrumentos, com o fim de separá-los da

comunhão com Cristo.

O diabo sabe quão difícil é a reconciliação de um crente desviado com o seu Senhor.

Por isso Satanás tudo fará para trazer dores aos crentes, por saber que não os terá mais consigo

no inferno depois que eles saírem deste mundo

Portanto eles deveriam ter muito cuidado com o fermento do erro, porque não é necessário

muito fermento para levedar toda a massa de

crentes, desviando-os da verdade.

Toda heresia deve ser resistida e rejeitada logo na sua origem.

Todo pastor fiel logo expulsará o lobo e o manterá distante do rebanho tão logo perceba

que ele está se aproximando.

Paulo não disse que os gálatas, que haviam decaído da graça por terem se circuncidado pensando obter a justificação que já haviam

alcançado em Cristo, de uma vez para sempre

no dia da conversão, que eles seriam

379

condenados, mas ele fez esta afirmação em

relação aos falsos apóstolos que lhes haviam

fascinado, porque seguramente eles não

conheciam pessoalmente a Cristo, e não haviam sido libertados por Ele da condenação eterna.

Há muitas considerações que podem ser feitas sobre o decair da graça, mas nós devemos ter em conta que não é possível alguém cair de uma

posição na qual nunca estivera dantes.

Então o versículo não se aplicaria a incrédulos,

por nunca terem estado debaixo da graça, senão da maldição da Lei.

Entretanto, podemos considerar, que se deixarmos de lado a mera interpretação de palavras, e levarmos em conta qual era a ideia a

que Paulo queria se referir, então nós podemos

admitir que haja também uma inclusão no

versículo daqueles que ainda não conhecendo a Cristo estavam tentando ser justificados pelo

simples ato da circuncisão, e não

exclusivamente pela fé.

Assim a palavra do apóstolo seria também uma advertência para estes gálatas incrédulos que

haviam se associado à igreja, pois uma vez que a

justificação por obras da Lei é impossível, eles estavam afastados da graça, e neste caso não

poderiam ter qualquer benefício de Cristo, por

não estarem ligados a Ele pela fé.

380

Assim, permanece verdadeiro que tanto num caso quanto noutro Cristo de fato de nada

aproveitará, conforme o dizer de Paulo, a

crentes justificados que se desviam da fé e àqueles que pensando estarem agradando a

Deus, no entanto não chegaram sequer a ser

justificados porque estão confiando em práticas religiosas para alcançarem a justificação que é

obtida somente pela graça, e mediante a fé.

Os profetas haviam predito que a morte do Messias faria com que Ele se tornasse numa Rocha de escândalo para os judeus, porque no

entendimento e expectativa carnais deles,

jamais admitiriam uma tal coisa, pois sempre

esperaram um Messias poderoso segundo o mundo e que lhes desse poder temporal sobre

as demais nações do mundo.

O Messias que eles esperavam era militar e político. E que grande decepção Jesus não se

tornou para eles em seu ministério terreno, e

eles se ofenderam e se escandalizaram nEle,

quando lhes afirmou que era o Messias prometido.

Eles não somente O rejeitaram como também O crucificaram por causa disto.

Por muitos anos, mesmo depois da morte de Jesus eles perseguiram todos os Seus

seguidores.

381

Todo aquele que pregava o evangelho era motivo de escândalo para os judeus e suscitava

a perseguição deles.

O verso 11 deve ser entendido da seguinte forma, porque o que ali se afirma é como se Paulo o dissesse deste modo, em outras palavras:

“Porém, irmãos, se é verdade que eu continuo a

anunciar que a circuncisão é necessária, por

que é que sou perseguido? Se eu anunciasse isso, então a minha pregação a respeito da cruz

de Cristo não causaria dificuldade para

ninguém.”.

Isto implica que é possível que os oponentes de Paulo podem ter até mesmo usado o seu nome

para enganar os gálatas, dizendo-lhes falsamente que Paulo dizia que a circuncisão era

necessária para a salvação. E isto explicaria a

defesa que ele fez ironicamente desautorizando

o que haviam falado a seu respeito.

“12 Eu quereria que fossem cortados aqueles

que vos andam inquietando.

13 Porque vós, irmãos, fostes chamados à

liberdade. Não useis então da liberdade para dar ocasião à carne, mas servi-vos uns aos outros

pelo amor.

14 Porque toda a lei se cumpre numa só palavra, nesta: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo.

382

15 Se vós, porém, vos mordeis e devorais uns aos outros, vede não vos consumais também uns

aos outros.

16 Digo, porém: Andai em Espírito, e não cumprireis a concupiscência da carne.

17 Porque a carne cobiça contra o Espírito, e o Espírito contra a carne; e estes opõem-se um ao

outro, para que não façais o que quereis.

18 Mas, se sois guiados pelo Espírito, não estais debaixo da lei.

19 Porque as obras da carne são manifestas, as quais são: adultério, prostituição, impureza,

lascívia,

20 Idolatria, feitiçaria, inimizades, porfias, emulações, iras, pelejas, dissensões, heresias,

21 Invejas, homicídios, bebedices, glutonarias, e coisas semelhantes a estas, acerca das quais vos

declaro, como já antes vos disse, que os que

cometem tais coisas não herdarão o reino de Deus.

22 Mas o fruto do Espírito é: amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé,

mansidão, temperança.

23 Contra estas coisas não há lei.

383

24 E os que são de Cristo crucificaram a carne com as suas paixões e concupiscências.

25 Se vivemos em Espírito, andemos também em Espírito.

26 Não sejamos cobiçosos de vanglórias, irritando-nos uns aos outros, invejando-nos uns

aos outros.” (Gál 5.12-26).

Ao se referir aos judaizantes no verso 12 dizendo: “Eu quereria que fossem cortados aqueles que vos andam inquietando.”, parece que o apóstolo

tinha em mente a circuncisão que eles tanto

prezavam e pregavam como o fim mesmo da

vida com Deus, e assim ele diz, já que eles gostam tanto de cortar os prepúcios, que eles

então se mutilem totalmente.

Parece que Paulo estava falando de modo irônico para deixar nos gálatas uma impressão bastante forte quanto à religião que eles

estavam querendo seguir: baseada na carne e

não no Espírito. Ele vai falar logo a seguir da luta

da carne contra o Espírito e do Espírito contra a carne.

Na ilustração do capítulo anterior ele havia demonstrado que é um princípio inalterável

esta luta entre o que é carnal e o que é espiritual no exemplo que ele havia fixado em Ismael e

Isaque, em Agar e Sara, entre a Jerusalém

terrena e a Jerusalém celestial, entre o escravo e

384

o livre, entre o nascido por promessa e o não

nascido por promessa.

Todas estas comparações tinham em vista conduzir ao entendimento de que o crente

estará sempre empenhado numa luta contra a carne (natureza terrena), não propriamente ele,

senão o Espírito que nele habita (nova natureza

obtida pela fé em Cristo).

Aquelas ilustrações do capítulo anterior tinham

em vista ensinar que o que é nascido da carne, não herdará o céu e tudo o que é espiritual,

celestial e divino, juntamente com o que é

nascido do Espírito.

Porque o que é nascido da carne é carne, e o que

é nascido do Espírito é espírito.

O homem não herdará o céu, a menos que tenha sido transformado em espiritual, e isto é uma

obra exclusiva do Espírito Santo que é dado

somente àqueles que creem em Cristo.

Foi somente a estes que Deus fez a promessa de conceder o Espírito, porque disse a Abraão que

daria esta bênção somente aos que estivessem

unidos ao seu descendente, que é Cristo,

verdade à qual Paulo já havia se referido no terceiro capítulo.

Ao chegar a este nível de argumentos na epístola, Paulo vai deixar de lado o assunto da

circuncisão para se concentrar na fonte que

385

havia dado causa ao problema dos gálatas. Ele

vai colocar o dedo na ferida para extirpar a

infecção que havia contaminado toda a igreja.

Ele fez o diagnóstico espiritual e afirmou a eles que haviam caído não por uma mera troca de

doutrina. Não foi meramente a circuncisão que

lhes havia afastado da comunhão com Cristo. Algo tinha acontecido com eles antes de terem

sido fascinados pelos judaizantes, e foi isto que

permitiu a facilidade de semear sua heresia entre eles.

Eles haviam feito um mau uso da liberdade que alcançaram em Cristo. Eles não usaram a liberdade da graça para crescerem no amor

servindo uns aos outros.

Antes, eles usaram esta liberdade para dar

ocasião às suas cobiças carnais.

Eles pensaram que ser livrado por Cristo significava liberdade para fazerem o que fosse

do agrado deles, isto é, para fazerem a vontade do ego. Eles perderam de vista o jugo e o fardo de

Jesus, que é a obediência devida a Ele. Eles

perderam de vista a cruz que deve ser carregada diariamente, e o dever da autonegação.

Contudo quem é suficiente para estas coisas? Então eles perderam também de vista a necessidade de se estar debaixo da influência do

Espírito Santo, praticando a Palavra de Deus

(andar no Espírito) para que então, estas coisas

386

ordenadas pelo Senhor possam ser cumpridas e

vividas.

A liberdade cristã não é liberdade para a carne, mas liberdade para a nova criatura. A carne deve

ser mortificada, e por isso foi crucificada juntamente com Cristo quando Ele morreu na

cruz do Calvário.

A nova criatura, esta sim, é livre, ela é celestial e não terrena.

Ela é responsável e perfeitamente santa.

É a semente da vida eterna que foi semeada no

coração do crente.

É a nova vida do céu que foi implantada nele, e que está destinada a crescer e a vencer a antiga

natureza, assim como a Nova Aliança revogou e

substituiu a Antiga.

Ela é o odre novo no qual o Senhor está

colocando o seu vinho celestial da verdadeira alegria.

É por viver e andar no Espírito, no crescimento progressivo da nova natureza, que os crentes

são habilitados e capacitados a viverem em unidade sendo um só corpo em Cristo, unidos

pelo vinculo do amor. E assim se cumpre o

propósito de Deus em relação a eles.

387

Porém, quando se deixam governar pela carne, e negligenciam os deveres que lhes são

ordenados na Palavra, quando deixam de ser

diligentes no hábito da santificação, esquecendo de purificar seus corações pela

Palavra, pelo poder do Espírito, e de

permanecerem continuamente nisto por todos os dias das suas vidas, então o que se verá são

todas as manifestações que são designadas por

obras da carne (dissensões, iras etc) e não o

fruto do Espírito, que é amor, paz etc.

Os que andam na carne jamais cumprirão a Lei, e se iludirão se pensarem que a estão

cumprindo.

Os que andam no Espírito têm cumprido a Lei, e por isso não estão debaixo da Lei (v. 18), porque

não há lei que possa ser contrária ao fruto do Espírito Santo (v. 23).

Como toda Lei se cumpre no amor (v. 14) que é fruto do Espírito, então nenhum crente deve negligenciar o dever de amar a Deus e ao

próximo, para que não seja achado em falta

quanto ao cumprimento da Lei. Porque se diz

que aquele que ama tem cumprido a Lei.

Quão distantes estavam os gálatas de compreenderem isto!

Quão distantes estão os crentes da nossa própria época, envolvidos com questões religiosas,

congressos, debates, estratégias e tantas outras

388

coisas que tratam de tudo e de todos, exceto do

dever de amar por um andar no Espírito.

É muito fácil errar esse alvo, e é aí que Satanás encontra facilidade para semear o joio.

Não basta somente defender a sã doutrina, é necessário praticá-la por um viver no amor de

Deus.

Aqueles que deixam este primeiro amor, que perdem de vista que o propósito de Deus é a

unidade espiritual dos seus filhos, e isto determina o dever de todos eles de serem

espirituais por um mortificar da carne e por um

andar no Espírito, que se traduz em andar

efetivamente debaixo da sua instrução e direção, sendo obediente à vontade de Deus

revelada na Palavra, podem estar certos que em

vez de aprovação estão sujeitos à repreensão e

correção de Cristo, por maiores que sejam as suas obras, e por maiores que sejam os seus

esforços para agradarem a Deus no tocante a

tudo o que façam até mesmo para cumprirem

os mandamentos da Lei, porque o farão de modo carnal e legalista, longe de uma verdadeira

obediência de coração, que é eminentemente

espiritual e celestial e não carnal e terrena.

É por isso que Paulo diz no verso 24 que: “os que são de Cristo crucificaram a carne com as suas

paixões e concupiscências”.

389

Ora se Deus sentenciou à morte a carne com suas paixões e cobiças na cruz, como podem os

crentes viverem debaixo desta influência, em

vez de se despojarem de tudo isto, uma vez que a vontade de Deus é que este corpo de morte de

pecado não seja apenas morto, mas também

lançado fora?

A nós é dado o dever de fazermos este trabalho de despojamento pelo Espírito Santo, em vez de

hospedarmos o velho homem que já foi morto

desde o dia que nos convertemos a Cristo e

passamos a pertencer a Ele.

Deste modo quanto mais uma igreja se torna carnal mais ela estará sujeita à influência das

falsas doutrinas.

Elas serão recepcionadas com muito maior

facilidade, porque é somente sendo espirituais que podemos discernir não somente estas

coisas, porque o homem espiritual discerne

todas as coisas, principalmente as coisas que são

do Espírito, porque elas se discernem espiritualmente.

Portanto é nosso dever nos interessarmos por esta luta do Espírito contra a carne, para

apoiarmos a parte que deve ser apoiada, e destruir a que deve ser despojada.

Paulo fala disto como sendo o dever não somente dos gálatas, mas de todos os crentes.

390

Nós devemos então estar profundamente interessados em aprender sobre o significado

de tudo o que se refere à nossa santificação, não

somente no que ela significa, isto é, qual é a natureza da verdadeira santificação, como

também em aprendermos o que devemos fazer

para nos santificarmos todos os dias das nossas vidas.

Se é por um andar no Espírito que se vence a cobiça da carne, então devemos nos empenhar firmemente em não apenas aprender o

significado disto, como também o modo correto

de praticá-lo.

A vida cristã não é uma vida contemplativa, não é uma mera devoção mística, porque é possível

ser isto e estar completamente distante da

verdade revelada.

Antes é uma vida que deve ser aprendida, antes de ser vivida.

É uma prática, é um hábito, é um constante crescimento na graça e no conhecimento de

Jesus (II Pe 3.18).

Paulo argumenta fortemente com os gálatas dizendo que se é pelos pecados, que são as obras

da carne, que os praticantes deles serão

deixados do lado de fora do céu, como podem os crentes, que ganharam o céu por Jesus Cristo,

permanecerem na prática destas mesmas obras

pecaminosas?

391

É dever de todos eles purificarem seus corações pela Palavra, mediante o poder do Espírito.

Lembremos sempre que é dito que é o Espírito que vence a carne, porque é Ele que luta contra

a carne, uma vez que somente Ele pode vencê-la.

Que nenhum crente se lance à obra de santificação sem depender do Espírito.

É andando nEle que somos libertados santificados. De modo que se afirma na Palavra

que onde está o Espírito do Senhor aí há liberdade, e que a santificação é do Espírito.

Como a salvação é pela graça, mediante a fé, então uma pessoa pode ser salva (justificada e

regenerada) com muito pouco evangelho, mas nenhum crente poderá prevalecer contra a

carne sem muito evangelho.

Todas as graças contidas no evangelho são necessárias ao seu amadurecimento espiritual,

e assim todo crente fará bem em se esforçar para não somente se inteirar delas, como

também em praticá-las no Espírito.

Como ser constante e perseverante na oração e na meditação da Palavra sem isto?

Como ser grato por tudo sem isto?

392

Como viver contente no Senhor em toda e qualquer circunstância sem isto?

Dizemos que não é fácil o aprendizado progressivo destas coisas.

É tarefa para toda a vida.

Elas devem ser sempre recordadas para que possam ser vividas porque somos limitados e dados a esquecer facilmente tudo o que

aprendemos, a não ser que isto se torne um

hábito pela prática constante.

Daí ninguém deve ficar constrangido, mesmo em programas formais de ensino, em repetir os

ensinos que já foram ministrados pelo próprio ou por outrem, porque nunca é demais

aprender e recordar continuamente a Palavra

de Deus.

Porque em vez de ser algo cansativo, neste caso é algo necessário, porque contribui para a

fixação da doutrina de maneira que nunca

sejamos desviados dela.

Nós vemos assim que não é pequena a tarefa de nos aplicarmos ao conhecimento da verdade.

Que nenhum ministro de Cristo se deixe vencer pela tentação de abreviar o seu dever de se inteirar devidamente de tudo o que se refere à

verdade revelada, para que assim tenha poder

não somente para instruir o povo do Senhor,

393

como para combater os contradizentes e os que

se opõem à sã doutrina.

Lembremos que o cristianismo não é somente deixar de fazer o mal, como também fazer o bem.

Nosso cristianismo não somente nos obriga a

mortificar o pecado, como também a viver em retidão, não somente se opondo às obras da

carne, como também e principalmente

produzindo o fruto do Espírito.

Então, se isto estiver acontecendo nós pertencemos realmente a Cristo, porque este é

o trabalho da sua graça operante em nós.

É muito fácil sabermos se estamos andando na carne ou no Espírito, isto é, se temos sido

crentes carnais ou espirituais, porque os que

andam na carne se inclinam para as coisas da carne, e os que andam no Espírito se inclinam

para o fruto do Espírito, de maneira que uma vez

detectada a nossa inclinação para a carne

devemos nos arrepender e em oração sincera e humilde pedir a Deus que nos perdoe e que nos

conduza a andar verdadeiramente no Espírito,

sabendo que isto exigirá de nós todo empenho e diligência em cumprir os deveres que nos são

ordenados na Palavra de Deus.

Consideradas todas estas coisas, lembremos ao desfrutar da liberdade que temos em Cristo, que

Satanás gosta de mudar esta liberdade em

licenciosidade.

394

O apóstolo Judas se referiu a homens que tinham convertido a graça do Senhor em

lascívia (Jd 4).

A carne pode argumentar falsamente a nós que já que não estamos debaixo da lei e sim da graça, então devemos aproveitar para viver no pecado

por sabermos que os nossos pecados foram

perdoados em Cristo, e que na condição de

crentes fomos livrados da condenação eterna.

Quanto perigo há para quem procede desta maneira.

Estas pessoas se esquecem que é exatamente por causa do pecado que o mundo de ímpios será destruído e condenado por Deus, e como

Ele poderia ficar indiferente a esta atitude,

mesmo que seja naqueles que se tornaram Seus

filhos pela fé em Cristo?

Certamente Ele os corrigirá e lhes fará sofrer o

dano a que Paulo se refere em I Cor 3.15, certamente quando comparecerem diante do

tribunal de Cristo para que cada um receba

segundo o que tiver feito por meio do corpo, ou

bem, ou mal (Rom 14.10; II Cor 5.10).

No seu Comentário da Epístola aos Gálatas Lutero afirmou muitas coisas interessante a

respeito desta seção da epístola, e dentre as

quais destacamos as seguintes:

395

Paulo colocou primeiro o fundamento doutrinal para que então pudesse construir sobre ele com

ouro, prata e pedras preciosas de boas obras.

Agora, não há nenhum outro fundamento

diferente de Jesus Cristo. Neste fundamento o apóstolo ergueu a estrutura das boas obras que

ele define aqui com as palavras “amarás o teu

próximo como a ti mesmo”.

Acrescentando tal preceito de amor o apóstolo

envergonhou os falsos apóstolos, como se ele estivesse dizendo aos gálatas: “eu descrevi para

vocês o que é a vida espiritual, e agora eu

também ensinarei o que são verdadeiramente as boas obras.

Eu estou fazendo isto para que você possa entender que as cerimônias tolas das quais os

falsos apóstolos praticam são muito inferiores

às obras do amor cristão”.

Os falsos mestre somente podem construir com madeira, feno e restolho porque eles pervertem

a pura doutrina.

Seria estranho que os falsos apóstolos que nunca foram tais campeões sérios na prática das

boas obras, que eles pudessem requerê-las.

A única exigência deles era que deveriam ser observadas a circuncisão, dias, meses, anos e

tempos. Eles não poderiam pensar em qualquer

outra boa obra.

396

A isto que é dito por Lutero podemos acrescentar que isto continua ocorrendo em

nossos dias, especialmente entre as religiões

que abundam em rituais, porque eles usam isto como escudo para disfarçar a incapacidade

deles de viverem em unidade harmoniosa em

amor, porque como poderiam ter isto se é um produto do Espírito Santo naqueles que são

verdadeiramente nascidos de novo e que andam

em retidão de vida?

Então estarão empenhados em muitas obras chamadas de caridade, enquanto não

conseguem viver e praticar entre eles próprios o verdadeiro amor cristão, que procede de um

coração puro, de uma boa consciência e de uma

fé não fingida, isto é autêntica, e recebida como

um dom de Deus, quando nos convertemos a Cristo.

Mas Lutero também nos ajuda a compreender bem isto a que estamos nos referindo:

O apóstolo exorta todos os cristãos a praticarem boas obras depois que eles abraçaram a pura

doutrina da fé, porque embora eles tenham sido

justificados, eles têm ainda a velha carne para

lhes impedir de fazer o bem.

Então se torna necessário que os pastores sinceros cultivem a doutrina das boas obras tão

diligentemente quanto a doutrina da fé, porque

Satanás é um inimigo mortal de ambos.

397

Não obstante a fé tem que vir primeiro porque sem fé é impossível saber o que é uma ação

agradável a Deus.

Paulo sabe explicar a lei de Deus.

Ele condensa todas as leis de Moisés em uma

breve oração.

A razão se ofende com a brevidade com que Paulo trata a Lei.

Então a razão deve olhar a doutrina da fé e suas obras verdadeiramente boas.

Servir um ao outro em amor, isto é, instruir o errado, confortar o aflito, elevar o caído, ajudar

o próximo de todos os modos possíveis, lutar e ser paciente com as fraquezas dele, suportar

sofrimentos, ingratidão na Igreja e no mundo, e

por outro lado obedecer o governo, honrar os pais, ser paciente em casa com uma esposa

resmungona e uma família incontrolável, estas

coisas não são consideradas como boas obras.

O fato é que elas são obras excelentes que o mundo não pode calcular possivelmente o verdadeiro valor delas.

Meu próximo são aquelas pessoas que necessitam da minha ajuda, como Cristo

explicou no décimo capítulo de Lucas.

398

Até mesmo se uma pessoa me fez alguma injustiça, ou me feriu de qualquer forma, ele

ainda é um ser humano com carne e sangue.

Contanto que uma pessoa permaneça um ser humano, ela deve ser objeto do nosso amor.

Quando a fé em Cristo é subvertida a paz e unidade se acabam na igreja.

Opiniões diversas e dissensões sobre doutrina e

um membro morde e devora o outro, isto é, eles condenam um ao outro até que eles são

consumidos... Quando a unidade do Espírito for

perdida não pode haver nenhum acordo em

doutrina ou vida. Erros novos aparecerão sem medida e sem fim.

Não é uma questão fácil ensinar fé sem obras, e ainda requerer obras.

A menos que os ministros de Cristo sejam sábios controlando os mistérios de Deus eles podem

confundir fé e boas obras facilmente.

Ambos, a doutrina da fé e a doutrina das boas obras devem ser ensinadas diligentemente, e

ainda de um tal modo que ambas as doutrinas fiquem dentro da esfera que Deus delimitou

para elas.

Se nós ensinarmos somente em palavras, como fazem nossos oponentes, nós perderemos a fé.

399

Se nós somente ensinamos sem praticar as boas obras as pessoas de fé virão a pensar que as boas

obras são supérfluas.

A luxúria da carne nunca está completamente extinta em nós.

Se levanta novamente e novamente e luta com o Espírito.

Nenhuma carne, nem no verdadeiro crente,

está tão completamente debaixo da influência do Espírito que não morderá ou devorará, ou

pelo menos negligenciará o mandamento do

amor.

À provocação mais leve enfurece e exige vingança, e odeia o próximo como um inimigo,

ou pelo menos não o ama tanto quanto deveria

ser amado.

Então o apóstolo estabelece esta regra de amor para os crentes.

Sirva um ao outro em amor.

Suporte as fraquezas de seu irmão.

Perdoe um ao outro.

Sem tal posicionamento e contenção da carne, enquanto nos doamos e perdoamos, não pode

haver nenhuma unidade porque ofender e

retribuir ofensas são inevitavelmente humanos.

400

Sempre que você estiver bravo com seu irmão por qualquer causa, reprima suas emoções

violentas pelo Espírito.

Seja paciente com a fraqueza dele e o ame.

Ele não deixa de ser seu próximo ou irmão porque ele o ofendeu.

Pelo contrário, ele agora mais do que nunca requer sua atenção amorosa, mais do que

dantes.

Quanto à concupiscência, ou luxúria, ou cobiça da carne citada por Paulo no verso 16, Lutero

citou inclusive a sua experiência pessoal para

descrever como lidou com isto:

“Quando eu era um monge eu pensei que sempre estaria perdido quando eu sentia uma

emoção má, luxúria carnal, ira, ódio, ou inveja.

Eu tentei aquietar minha consciência de muitas

formas, mas não funcionou, porque a luxúria sempre voltava e não me dava nenhum

descanso. Eu dizia a mim mesmo. Você permitiu

este e aquele pecado, inveja, impaciência, e

outros semelhantes. Seguir esta ordem sacra foi em vão, e todas suas boas obras são boas para

nada. Se naquele momento eu tivesse entendido

esta passagem, que a carne luta contra o Espírito e o Espírito contra a carne, eu poderia ter me

poupado do tormento por muitos dias do meu

ego. Eu teria dito a mim: Martinho, você nunca

401

estará sem pecado, porque você tem a carne.

Não desespere, mas resista à carne.

Eu me lembro como Staupitz dizia a mim: “eu prometi a Deus mil vezes que eu me tornaria um

homem melhor, mas eu nunca mantive minha promessa. De agora em diante eu não vou fazer

mais nenhum voto. A experiência me ensinou

que eu não posso mantê-los. A menos que Deus

seja misericordioso a mim por causa de Cristo e me conceda que seja santificado, eu não poderei

me levantar diante dEle." O seu desespero foi

agradável a Deus. Nenhum crente deve confiar

na sua própria justiça, e deve neste particular, imitar o exemplo de Davi (Sl 143.2; 130.3).

Todo mundo deve estar consciente da sua fraqueza e vigiar contra isto. Vigie e lute em

espírito contra a sua fraqueza. Até mesmo se

você não puder superar isto completamente,

pelo menos você deveria lutar contra isto.

De acordo com esta descrição um santo não é

ninguém que é feito de madeira e nunca sente qualquer luxúria ou desejos da carne. Um

verdadeiro santo confessa a retidão dele e ora

para que os pecados dele possam ser perdoados.

A Igreja inteira ora para o perdão de pecados e confessa que acredita no perdão de pecados.

Quando a carne começa a picar o único remédio é pegar a espada do Espírito, a Palavra de

salvação, e lutar contra a carne. Se você deixou a

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Palavra longe do alcance da vista, você está

desamparado contra a carne. Eu sei isto por ser

um fato. Eu fui assaltado por muitas paixões

violentas, mas assim que eu agarrava alguma passagem da Bíblia, minhas tentações me

deixaram. Sem a Palavra eu não poderia ter me

ajudado contra a carne.”

Quem dera que esta sinceridade e humildade

de Lutero, em seu testemunho pessoal com o fim de nos ajudar a entender a sã doutrina, a

verdade, estivessem em todos os ministros fiéis

de Cristo.

Como o rebanho seria ajudado se em vez de tentarem aparecer como super heróis da fé diante deles, confessassem as suas fraquezas

que são comuns a todos os homens, de maneira

que eles se sentissem incentivados a

progredirem em santificação.