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OS IMPACTOS DO SETOR SUCROENERGÉTICO NOS MODOS DE VIDA DO MUNICÍPIO DE DELTA-MG
Jaqueline Borges Inácio Universidade Federal de Uberlândia - UFU
Rosselvelt José Santos Universidade Federal de Uberlândia - UFU
Resumo Procuramos analisar a dinâmica do setor sucroenergético no município de Delta no estado de Minas Gerais. Discutimos como os territórios se formam e são reordenados pela ação do capital sucroenergético, envolvendo o espaço urbano e rural. A partir da observação da paisagem e dos dados estatísticos, procuramos identificar e analisar as transformações decorrentes da reprodução do setor sucroenergético, materializado no município, pela expansão das lavouras de cana-de-açúcar. No campo, agimos procurando conhecer os sujeitos sociais da pesquisa. No município realizamos estudos referentes aos impactos sócio territoriais diretos e indiretos relativos ao cultivo da cana-de-açúcar. Palavras- chave: Cana de Açúcar. Modos de Vida. Território. Introdução O presente trabalho tem por objetivo, analisar a dinâmica do setor sucroenergético no
município de Delta, em Minas Gerais. O enfoque da pesquisa foi dado aos impactos
sócios territoriais gerados pela expansão das lavouras de cana-de-açúcar. Abordamos os
modos de vida locais e as suas mutações a partir das transformações das relações sociais
e de trabalho.
As primeiras lavouras de cana-de-açúcar foram cultivadas em Delta, quando ainda era
distrito do município de Uberaba-MG, na década de 1980, onde a produção era
administrada pelo Grupo Dedini, e somente duas décadas depois, é comprada pelo
Grupo Carlos Lyra do estado de Alagoas, um dos pioneiros no mercado globalizado de
produtos derivados da cana-de-açúcar. O então Grupo Carlos Lyra, começou a operar na
usina em meados do ano de 2002.
No início da década de 2000, as lavouras de cana-de-açúcar se expandem para os
municípios do Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba. No município de Delta, o cultivo da
cana-de-açúcar se estende para as áreas ocupadas pelas pastagens e lavouras de soja e
milho, reconfigurando a paisagem local.
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Neste contexto em que se evidencia o dinamismo da agricultura, podemos pensar nas
transformações do território. Segundo Saquet (2007) “no território há desigualdades,
desterritorialização e reterritorialização, a partir da combinação de fatores econômicos,
políticos e culturais, que substantivam, ao mesmo tempo, a identidade coletiva”.
Ao considerarmos o contexto de produção sucroenergética, procuramos analisar o
reordenamento do território, pois no município de Delta, com a aquisição da usina por
outro grupo de investidores, uma nova dinâmica de produção acaba afetando a
infraestrutura urbana, principalmente com a chegada de grandes contingentes de
trabalhadores.
O Grupo econômico ligado ao setor sucroenergético, no município de Delta, torna-se
um agente ativo, aproveita os incentivos governamentais de isenção de impostos e
redefinem o uso do espaço. Desse modo, adapta o local as condições necessárias ao
desenvolvimento do seu processo produtivo, sendo que as ações deste capital ocorrem,
no espaço local, desconsiderando os modos de vida dos antigos moradores. Para
Martins (1975, p. 19) “os objetivos do capital se confundem através dos valores que
geralmente são movidos pelas ações racionais que estão frequentemente associadas ao
“lucro”.
O discurso sustentando pelos empresários vinculados ao setor sucroenergético,
geralmente é de que a expansão da cana e a instalação da usina garantem melhorias
socioeconômicas aos lugares. No município de Delta, os discursos dos agentes
envolvidos com a reprodução do capital sucroenergético enfatizaram o aumento de
emprego e renda, infraestrutura das estradas e dos serviços públicos.
Trata-se de práticas recorrentes em que os agentes públicos e privados, criam programas
voltados ao social. Neles os moradores são movidos a acreditarem no progresso que as
usinas podem levar ao lugar, permitindo, inclusive algumas projeções pessoais,
associadas com algumas conquistas econômicas. Martins (1975, p.19), ainda afirma que
neste sentido “prevalecem tanto às ações, onde os fins pessoais coincidem com os do
capital, considerando os fundamentos pessoais (valores, emoções e rotina)”.
Em relação à circulação de dinheiro, em Delta, alguns entrevistados afirmaram que
houve acréscimos na arrecadação, mas, não existe uma estratégia política para reverter
esses recursos na forma de benefícios para os seus moradores.
Para realizarmos os nossos estudos, buscamos apoio em referenciais teóricos, que estão
relacionados à temática. No campo estabelecemos aproximações com os sujeitos da
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pesquisa, onde procuramos vivenciar o cotidiano daqueles que estão sendo afetado
direto e indiretamente pela ação do capital, nesse caso, do setor sucroenergético.
Ademais visitamos algumas comunidades rurais, instituições de ensino e moradores da
cidade.
Caracterização da área de estudo O município de Delta se localiza na Mesorregião Geográfica do Triângulo Mineiro/Alto
Paranaíba na divisa dos Estados de Minas Gerais e São Paulo. Foi emancipado como
município no ano de 1995, pela Lei Estadual nº 12030, de 21 de dezembro de 1995,
possui uma população de aproximadamente 8.107 habitantes, de acordo com dados
obtidos pelo IBGE, 2010. Desse total de habitantes, 7.597 residem na área urbana e 510
na área rural, onde esse número no perímetro urbano tem um acréscimo de cerca de
40% no período de safra. (Fonte: Prefeitura Municipal de Delta-MG, 2010).
Mapa 01: Localização do Município de Delta-MG
Fonte: Geominas, 2010; Org. COSTA, R.S.2010.
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Os efeitos do setor sucroenergético no modo de vida local Com o desenvolvimento do setor sucroenergético no município de Delta, houveram
algumas mudanças relacionadas ao crescimento populacional do município. Na primeira
década do século XXI, de acordo com a necessidade de mão-de-obra para trabalhar nos
canaviais, ocorreram migrações de outros estados, principalmente do Maranhão, Paraíba
e Alagoas. As famílias que continuam chegando ao município residem na área urbana.
A maioria dos migrantes se estabelece na cidade a partir de redes de parentesco. Os
parentes que se fixaram no município possuem casas próprias, o que, em tese, diminui
os gastos desses trabalhadores com aluguel. Porém, existem casos de pessoas que não
conseguem moradia fixa na cidade, pois, mantém suas famílias nas regiões de onde são
oriundos. Desse modo, na época de safra, 40% da população de Delta vive em
condições de sazonalidade e com importante repercussão no território e nas
territorialidades do município.
Conforme Braga et al (2004): Territorialidade não é, por outro lado, sinônimo de raízes territoriais, já que é transportável e é dinâmica, como no caso de migrantes que se apropriam de novos territórios e reconstituem suas identidades territoriais em novos espaços. (BRAGA, et al, 2004,p.29).
Nesse processo encontramos vários desencontros que em alguns casos se traduzem em
contradições sócio territoriais. De acordo com informações obtidas em campo, uma das
alternativas encontradas para conter o índice de violência e prostituição envolvendo
adolescentes, pela comunidade local, foi agir conjuntamente e obter da usina algumas
medidas relacionadas à contratação de seus trabalhadores.
Como medida concreta para enfrentar o problema, a usina passou a empregar os
trabalhadores que trouxessem suas famílias. Também ofereceu subsídios para que os
trabalhadores e suas famílias adquirissem moradias fixas no município. Isso pode ter
contribuído para reduzir os índices de violência no município, mas efetivamente
contribuiu para que a usina melhorasse a produtividade do trabalho no corte e no plantio
da cana-de-açúcar.
Contudo, no ano de 2010, ao estabelecermos contato com uma escola pública do
município de Delta, passamos a conhecer as implicações da migração no funcionamento
da instituição de ensino e como a comunidade escolar age para atender a demanda dos
alunos migrantes. No relata de um dos membros da comunidade escolar, temos que:
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Atualmente a população de Delta é flutuante, porém, a escola procura atender aos alunos da melhor maneira possível, sem distinção, quanto à cultura dos mesmos. Todo início de ano aumenta o número de alunos na escola, pois, não existe escola rural no município, e estes alunos que residem nas fazendas e sítios estudam na cidade, são transportados por vans da prefeitura. Além disso, os professores procuram adaptar os alunos migrantes à sala de aula, mas não obtém êxito, existe um atraso no aprendizado desses alunos, pois, eles enfrentam uma situação de sazonalidade.i
Além disso, a escola tem que se art